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ANÁLISE DA RESPONSABILIDADE INDIRECTA DO ESTADO PELOS DANOS

CAUSADOS (OU INEXISTÊNCIA DESTA) EM ACTOS OU OMISSÕES PRATICADOS


POR DELEGATÁRIOS DE SERVIÇOS PÚBLICOS.

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INTRODUÇÃO

Análise da responsabilidade indirecta do Estado pelos danos causados (Ou


inexistência desta) em actos ou Omissões praticados por delegatários de serviços públicos,
tem sido objecto de reflexão de estudo e de investigação criminal a nível mundial.
Sendo a sua abordagem pouco profunda em Moçambique, achamos conveniente levar a
cabo, pois este problema agiganta-se cada vez mais e envolve enormes prejuízos além-fronteiras.
Embora de forma não acabada, o tema em causa já foi abordado por alguns académicos, a título
de exemplo Albano Macie no seu livro intitulado “Lições de Direito Administrativo
Moçambicano: Actividade administrativa e Garantias administrativas”.
Uma boa legislação é necessária para a regulação das relações socio-políticas dentro do
Estado, moldando significativamente a forma como a classe política e os empregados fazem a
gestão do bem Público - Privado.
Definir com precisão um conceito de serviços públicos constitui tarefa das mais árduas
para a doutrina moderna. Trata-se, afinal, de expressão plurívoca, cujo conceito sofreu diversas
mutações em decorrência da própria evolução das funções estatais, apresentando aspectos
diversos entre os elementos que o compõem. De facto, o conceito de serviço público é variável e
“flutua ao sabor das necessidades e contingências políticas, económicas, sociais e culturais de
cada comunidade, em cada momento histórico, como acentuam os modernos publicistas”.
Não se furtando de apresentar uma definição, CELSO BANDEIRA DE MELLO,
aproximando-se da noção mais actual a respeito do tema, conceitua esta espécie de serviço
estatal da seguinte maneira:
Serviço público é toda actividade de oferecimento de utilidade ou comodidade material
destinada à satisfação da colectividade em geral, mas fruível singularmente pelos administrados,
que o Estado assume como pertinente a seus deveres e presta por si mesmo ou por quem lhe faça
as vezes, sob um regime de Direito Público – portanto, consagrador de prerrogativas de
supremacia e de restrições especiais –, instituído em favor dos interessados definidos como
públicos no sistema normativo.
Facto é que o tema da responsabilidade civil do Estado tem recebido tratamento diverso
no tempo e no espaço, tendo sido elaboradas inúmeras teorias a respeito, inexistindo, contudo,
dentro de um mesmo direito, uniformidade de regime jurídico que abranja todas as hipóteses. O

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presente trabalho perquire, especificamente, a análise do quadro actual da responsabilidade
patrimonial extracontratual do poder concedente por danos causados por delegatárias de serviços
públicos, à vista da Constituição da República e da legislação pertinente, da moderna doutrina
administrativista e da jurisprudência recente dos tribunais superiores.

TEMA: Análise da responsabilidade indirecta do Estado pelos danos causados (Ou


inexistência desta) em actos ou Omissões praticados por delegatários de serviços públicos.

PROBLEMATIZAÇÃO

Os serviços públicos são precipuamente prestados pelo Poder Público, directamente ou sob
regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação. Este poder confere a
irrenunciável titularidade do serviço público ao Estado, podendo este delegar a sua execução
material a particulares, actuando sob o regime de colaboração.
Reflexo dos processos “desestatizantes” que passaram a ser implementados em Moçambique, por
influência da ideologia “neoliberal” (em que pesem as críticas a essa nomenclatura), em perfeita
sintonia com a previsão constitucional, a partir da primeira metade da década de 1990, a
prestação de serviços públicos vem sendo, cada vez mais, repassada à iniciativa privada, através
dos institutos da concessão e da permissão – formas de descentralização de serviços por
colaboração, que dão ensejo à chamada delegação poderes.
Ao passo em que tais modelos integram o perfil moderno da Administração Pública, que deve
primar pela eficiência dos serviços e comodidades oferecidos aos administrados,
indubitavelmente dão margem ao surgimento de situações jurídicas problemáticas, merecedoras
da devida tutela, no que tange à responsabilidade civil por danos causados a terceiros (usuários
ou não usuários dos serviços). São as vicissitudes da amplamente difundida “reforma do Estado”.
Destarte, discute-se a amplitude da responsabilidade do Estado pelos prejuízos
provocados por suas delegatárias de serviços públicos, “as pessoas jurídicas de direito público e
as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,
nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa”.

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Fazendo uma incursão ao que vem determinado na legislação em vigor em Moçambique,
o n.º 2 do art. 58 da CRM dispõe que “O Estado é responsável pelos danos causados por actos
ilegais dos seus agentes, no exercício das suas funções, sem prejuízo do direito de regresso nos
termos da lei”.
Com feito, prescreve o n° 1 do art. 483 do CC, aquele que, com dolo ou mera culpa, diz o
art. 483, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger
interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação”.
Primeiro, não existe ainda uma tal lei que regule a matéria do direito de regresso no nosso
ordenamento jurídico.
Segundo, esta norma representa uma regra geral de protecção dos particulares num
Estado de Direito Democrático, com a função reparadora, garantindo aos lesados o direito de
serem ressarcidos pelos danos causados pelos actos praticados pelos agentes públicos1.
Como tentativa de contribuir para este cenário, surgem várias questões do autor do
trabalho tais como:
Até que ponto as Pessoas Colectivas Públicas que causarem danos a terceiros na
prossecução do interesse Público respondem civilmente?

OBJECTIVOS
Objectivos gerais
Analisar o quanto a falta da responsabilização civil objectiva ou por risco do Estado traz
prejuízos para a sociedade em geral e apelar ao governo, a Assembleia da República, ao poder
judicial e a sociedade em geral relativamente as fraquezas do não enquadramento legal da
responsabilização civil objectiva ou por risco do Estado em Moçambique.
Objectivos específicos
 Determinar como se concretiza e em que casos existem tal direito de regresso
 Identificar os casos de responsabilidade por realização de actos lícitos, mas que a sua
execução imponha encargos a terceiros ou mesmo cause danos no Direito Moçambicano.
 Descrever a responsabilidade exclusiva dos agentes públicos causadores do dano,
verificando o nível de desenvolvimento ou da propagação dos danos.

1
MACIE, Albano, Lições de Direito Administrativo Moçambicano, Edição, Editora, Vol. III, Maputo, 2015, Pag.
365

4
 Avaliar as consequências da não responsabilização ao Estado e suas possíveis
desvantagens no que concerne ao desenvolvimento sócio-económico do país.

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