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Dulce Domingos Andrade

Transmissão vertical do HIV


Licenciatura em Ensino de Biologia
Universidade Pedagógica
Lichinga
2018
Dulce Domingos Andrade

Transmissão vertical do HIV

Licenciatura em Ensino de Biologia

Trabalho de investigação a ser apresentado


ao Departamento de Ciências Naturais,
Curso de Biologia para efeitos avaliativos,
leccionada pela dra: Francelina Gavicho
Uarrota

Universidade Pedagógica

Lichinga
2018
Índice

Introdução………………………………………………………… 4

Transmissão vertical do HIV………………………………………. 5

Conceito de transmissão vertical do HIV………………………….. 5

Modos de transmissão vertical do HIV…………………………………………….……5

Prevenção da transmissão vertical do HIV………………………… 6

Aconselhamento pré-teste…………………………………………..11

Princípios gerais da transmissão vertical (TV) do HIV……………. 12

Segurança dos antirretrovirais na gestação………………………… 14

Tratamento da infecção pelo HIV na gestação…………………….. 16

Conclusão…………………………………………………………... 17

Bibliografia………………………………………………………… 18
1.Introdução

Actualmente, a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é considerada


uma pandemia e um problema no contexto da saúde pública, sendo de difícil controlo
para Moçambique e outros países. O número de mulheres infectadas pelo HIV vem
crescendo e a humanidade encontra um cenário de feminização do HIV/SIDA.

O presente trabalho como tema: Transmissão vertical do HIV apresenta seguintes


objectivos:

1.objectivo Geral

➢ Descrever o processo de transmissão Vertical do IV


2.Objectivos Específicos:

➢ Modos de transmissão vertical do HIV;


➢ Mencionar os Princípios gerais da transmissão vertical (TV) do HIV;
➢ Avaliar criticamente a acção dos intervenientes da Saúde na prevenção do HIV.
O trabalho esta estruturado no seguinte: Introdução, Transmissão vertical do HIV,
prevenção da transmissão vertical do HIV, Princípios gerais da transmissão vertical
(TV) do HIV, Tratamento da infecção pelo HIV na gestação, conclusão e bibliografia.

Para a realização do trabalho priorizou-se ao metodo bibliográfico devidamente


mencionado.
2.Transmissão vertical do HIV

Logo que o HIV foi descoberto, os indivíduos mais acometidos caracterizavam-se por
serem homens e homossexuais; com a disseminação do vírus houve juntamente a
feminização, aumentando consideravelmente o número de mulheres portadoras do vírus
HIV.

Com isso, as crianças também começaram a ser diagnósticas como portadoras do vírus,
principalmente por meio da transmissão vertical ou materno-infantil.

O primeiro caso de transmissão vertical do vírus HIV foi diagnosticado em 1985 e os


dados do boletim epidemiológico do período de 1980 a 2006 demonstraram que esta via
de infecção foi responsável por 78,1% do total de crianças acometidas pelo vírus HIV
menores de 13 anos.(Ministério da saúde).

2.1.Conceito de transmissão vertical do HIV

Desta forma , a transmissão vertical é a infecção pelo vírus HIV passada da mãe para o
filho, durante o período da gestação no parto ou pelo aleitamento materno.

O maior índice de transmissão vertical ocorre durante o trabalho de parto ou no


momento do parto, totalizando cerca de 65%, enquanto os demais 35% ocorrem
intraútero, principalmente nos últimos meses de gestação e pela amamentação
considerada um risco adicional, sendo que o risco de transmissão pela amamentação
chega a 30% quando a mãe é infectada pelo vírus durante o período de aleitamento.

2.1.1Modos de transmissão vertical do HIV


➢ A transmissão vertical do HIV pode acontecer durante a gestação, parto e pela
amamentação da criança por mãe ou outra mulher que tem HIV;
➢ A mulher a pelo HIV pode passar o vírus para o feto na gravidez, no parto ou
durante a amamentação, se não fizer a prevenção da transmissão vertical - da
mãe para o filho;
➢ O vírus da Aids pode ser transmitido em toda e qualquer relação sexual – anal,
oral e vaginal – com penetração e sem camisinha;
➢ Transfusão de sangue;
➢ Materiais que perfuram ou cortam a pele( seringas, agulhas e outros materiais)

2.2.Prevenção da transmissão vertical do HIV

Conceito de prevenção é norteado por concepções biomédicas, que têm a saúde como
ausência de doenças e, segundo as quais, cabe ao profissional ensinar aos usuários a
forma de evitarem-se as patologias·

Quanto mais precoce o diagnóstico da infecção pelo HIV na gestante, maiores são as
chances de evitar a transmissão para o bebé.

O uso de medicamentos anti-retrovirais (AZT) em gestante e recém-nascido, a cesariana


programada e a substituição do aleitamento materno podem reduzir o risco de
transmissão do HIV da mãe para o filho.

Visando diminuir o número de infecções pelo HIV pela transmissão vertical, vários
estudos foram feitos e comprovou-se a eficácia da utilização dos antirretrovirais na
gestante e no recém-nascido como meio de profilaxia para o não desenvolvimento da
soro conversão do filho da mãe portadora do HIV.

Entretanto, antes do tratamento ou profilaxia é necessário o diagnóstico da paciente


ainda na fase de gestação. Desta forma, as recomendações do Ministério da Saúde
(2007) instruem que todas as gestantes devem ser estimuladas a realizar o teste anti-HIV
na primeira consulta de pré-natal e se possível no início do terceiro trimestre de
gestação, sendo admissível a utilização de testes rápidos se necessário.

Os testes sempre serão precedidos de aconselhamento pré-teste e pós-teste, juntamente


com o consentimento da gestante. Para as gestantes que chegam à maternidade sem
testes anti-HIV ou sem o resultado da sorologia é recomendada à realização do teste
rápido para diagnóstico.

Segundo Araújo, Farias & Rodrigues (2006), “ o diagnóstico precoce do HIV deve ser
alcançado especialmente pelas Unidades Básicas de Saúde da Família em virtude
dessas serem responsáveis por garantir uma boa cobertura pré-natal e pelo acesso
geográfico da população em relação à unidade”.

Sendo que o acompanhamento pré-natal adequado de uma gestante portadora do HIV é


iniciado pelo aconselhamento pós-teste e o apoio emocional no enfrentamento do
resultado para consigo e a família.

Szwarcwald (2003) verificou em um estudo que a adesão das gestantes à realização do


teste anti-HIV ainda é pequena, sendo considerada baixa a realização da testagem no
período pré-natal, sugerindo que existem limitações para a realização do
aconselhamento e testagem na atenção básica.

Assim, é importante atentar que há gestantes HIV positivas que fazem uso de
Antirretrovirais (ARV) por seu estado imunológico/clínico (TARV-Tratamento) e
outras que ingerem os ARV como meio de profilaxia da transmissão vertical sendo que
nesta segunda condição a paciente é avaliada após o término da gestação (duas
semanas) para retirada dos ARV por profissional especializado. Na Teoria
Antirretroviral (TARV) utilizada como profilaxia a idade gestacional recomendada para
que a paciente inicie o tratamento é a partir da 14° semana de gestação; já na TARV o
tratamento independe da idade gestacional, visto que o acometimento da paciente
prejudica igualmente a mulher e o feto, devendo ser tratada conforme avaliação médica.

O zidovudina (AZT) é medicamento de escolha para o uso na gestante, devendo sempre


que possível fazer parte da TARV na gestante infectada; antes do início da TARV é
necessária a realização da contagem de CD4+ e quantificação viral.

MINKOFF & AUGENBRAUN (1997) “afirmam que os efeitos adversos tanto para a
mulher como para o feto do uso do AZT no período gestacional não estão totalmente
explicáveis”.

Segundo o Ministério da Saúde (2007), “mesmo diante do frequente número de


utilização dos ARV durante a gestação não existem estudos que demonstrem as
consequências dessas drogas para o feto”.
A profilaxia com ARV pode ocorrer por meio da Monoterapia com AZT ou pelo uso da
TARV; quaisquer delas devem ser iniciadas a partir da 14º semana de gestação, sendo
que o AZT em sua forma intravenosa deve ser administrado durante o trabalho de parto
e no parto, sendo mantido até o clampeamento do cordão umbilical.

Mesmo nos casos em que a terapia com ARV não foi iniciada a gestante deve receber o
AZT intravenoso conforme descrito anteriormente. Todas as gestantes que estão sendo
medicadas com AZT devem ser avaliadas diante de exames periódicos como forma de
detectar possíveis alterações hepáticas e anemia associada ao regime terapêutico, bem
como a contagem de CD4 para determinar a profilaxia das infecções oportunistas (CDC,
1994).

O esquema de ARV utilizado na gestação e recomendado pelo Ministério da Saúde


(2007) constitui-se de: AZT e Lamivudina (3TC) associados com Nelfinavir (NFV) ou
Nevirapina (NVP), sendo que em algumas situações é necessário o uso conjunto da
quimioprofilaxia para as infecções oportunistas, conforme a avaliação médica.

É muito importante a assistência de enfermagem frente à adesão da gestante ao


tratamento, sendo que se constitui como base do prognóstico dela e do concepto, assim
como a verificação dos sinais e sintomas adversos junto à gestante e encaminhamento
das situações ao médico, visto que em alguns casos pelo grau e número de efeitos
adversos poderá ser necessária a suspensão dos ARV.

Orientar a gestante para que suspenda os ARV somente mediante a instrução médica,
pois alguns ARV – devido à meia-vida – devem ser suspensos antes que os outros.

Segundo MATURANA et al. (2007), “mulher deve ser informada sobre a importância
de se iniciar o uso do AZT oral após a 14º semana de gestação e sobre a possível
necessidade de se instituir o consumo de TARV combinada, o que será estabelecido
mediante avaliação criteriosa clínica e laboratorial; sendo a idade gestacional um
dado de suma importância para que a TARV se inicie no período adequado”.

Segundo as Recomendações para Profilaxia da transmissão Vertical e Terapia


Antirretrovial em Gestantes (2007) a profilaxia da transmissão vertical ocorre:

➢ Uso do AZT na gestante (profilaxia): 600 mg de AZT VO diários divididos em


três doses de 200mg ou 2 doses de 300mg; • Uso do AZT na parturiente: Frasco
ampola de AZT 200mg/20 ml, sendo 10mg/ml, devendo receber via endovenosa
a medicação desde o início do trabalho de parto até o clampeamento do cordão
umbilical. Nos casos de cesariana eletiva a recomendação é que a medicação
seja iniciada três horas antes do ato cirúrgico.
A administração do AZT endovenoso deve ser feito em acesso calibroso e exclusivo
com 2mg/kg na primeira hora de administração, seguido de infusão contínua de
1mg/kg/hora até o clampeamento do cordão umbilical. A medicação deve ser diluída em
SG5% e o gotejamento deve seguir a tabela abaixo:

O AZT em sua forma injectável (frasco ampola de 200mg/20 ml, sendo 10mg/ml)
possui estabilidade após a diluição de oito horas em temperatura ambiente e 24 horas
sob refrigeração.

Por ser medicação infundida e controlada, como citado na tabela acima, se instrui o uso
da bomba de infusão. Nos casos em que não esteja disponível o AZT em apresentação
endovenosa pode-se optar pela administração VO em solução, sendo administrados 300
mg VO no início do trabalho de parto e 300 mg VO a cada três horas até o
clampeamento do cordão.

Sendo a apresentação da solução se AZT VO de 200 ml (10 mg/ml), o total neste caso a
ser administrado é 30 ml, que equivale a 300 mg:

➢ AZT no recém-nascido: administrar AZT solução VO iniciando de preferência


até duas horas após o parto na dose de 2mg/Kg e a cada seis horas durante as
próximas seis semanas, totalizando 42 dias.
O indicado é que o recém-nascido receba o AZT o mais brevemente possível após o
parto, nos casos em que a mãe não recebeu o AZT durante o parto mesmo assim o
recém-nascido deverá recebê-lo conforme a indicação preconizada, entretanto,
impreterivelmente no máximo duas horas pós-parto.

Nos casos em que a criança não possui condições de receber a dosagem por VO poderá
ser administrado por via endovenosa seguindo a mesma orientação de
miligramagem/Kg.

Nos recém-nascidos prematuros a dosagem recomendada é de 1,5 mg/Kg IV ou 2mg/Kg


VO a cada 12 horas nas primeiras duas semanas e 2mg/Kg a cada oito horas por mais
quatro semanas; nas crianças nascidas com menos de 30 semanas espera-se quatro
semanas para modificar o esquema.
Todos os casos de gestantes HIV positivas diagnosticadas e crianças expostas, conforme
o protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde devem obrigatoriamente ser
notificados à Vigilância Epidemiológica por meio do preenchimento da “Ficha de
Investigação de Gestante HIV Positiva e Crianças expostas”; sendo que as crianças são
consideradas aquelas nascidas de mães HIV positivas ou que tenham sido amamentadas
por mulher HIV positiva.

A escolha da via de parto para a gestante HIV positiva é avaliada pelo médico que
acompanha a paciente, sendo que a recomendação do Ministério da Saúde (2007) é que
a partir da 34º semana gestacional a carga viral seja avaliada, tendo um resultado abaixo
de 1.000 cópias/ml poderá ser optado pelo parto vaginal, já nos casos em que a carga
viral for superior a 1.000 cópias/ml ou é desconhecida a via de escolha é a cesariana
electiva; para evitar a ruptura das membranas e dilatação maior que 3 a 4 cm a cesariana

preferencialmente deverá ser realizada entre a 38º e 39º semana (MATURANA et al.,
2007).

Os medicamentos ARV que a paciente estiver em uso não devem ser interrompidos,
independente do Jejum prescrito para o procedimento, e em pacientes que fazem uso de
ARV Estavudina (d4T) a mesma deve ser suspensa 12 horas antes do início da
administração do AZT injetável.

As gestantes que possuem cesariana electiva agendada e por ventura entrarem em


trabalho de parto anterior a data devem ser orientadas antecipadamente a qual serviço
procurar, bem como a equipe da maternidade deve estar apta a receber esta gestante.

A mãe HIV positivo bem como a criança devem ser encaminhadas ao alojamento
conjunto, não necessitando isolamento. No parto vaginal da paciente HIV positiva a
episiotomia deve ser evitada, conforme a possibilidade; a bolsa rota (por mais de quatro
horas) e o trabalho de parto prolongado aumentam o risco de transmissão vertical (2% a
cada hora). (Recomendações para Profilaxia da Transmissão Vertical e Terapia
Antirretroviral em Gestantes, MS/2007).

A realização do aconselhamento desempenha um importante papel na prevenção, no


diagnostico da infecção pelo HIV e outras DST, bem como no acompanhamento das
pessoas que vivem com HIV. Como parte essencial do processo de diagnóstico da
infecção, contribui para a adopção de comportamentos sexuais mais seguros, a redução
do impacto da revelação do diagnóstico, a melhoria do auto -cuidado e a promoção da
atenção integral.

O aconselhamento objectiva cuidar dos aspectos emocionais, tendo como foco a saúde
sexual, a saúde reprodutiva e a avaliação de vulnerabilidades, na perspectiva dos
direitos humanos. Essa pratica deve privilegiar:

➢ O estabelecimento de uma relação de confiança entre o profissional de saúde e a


usuária;
➢ O diálogo objectivo e claro sobre sexualidade, saúde sexual e reprodutiva e uso
de drogas; e
➢ A formulação compartilhada de estratégias de prevenção adequadas a
singularidade de cada usuária, considerando o contexto social, cultural e
económico em que esta vive.

Todos os profissionais da equipe de saúde, após capacitação especifica, podem realizar


o aconselhamento. E fundamental que esses profissionais:

➢ Assumam uma postura acolhedora em relação aos sentimentos difíceis que


surgem no momento do diagnostico e da vivencia da seropositividade;
➢ Disponham de informações actualizadas e tecnicamente correctas sobre DST,
HIV e aids;
➢ Estejam aptos a propor questões que facilitem a superação de dificuldades na
adopção de praticas sexuais seguras; e
➢ Percebam as necessidades da pessoa em atendimento, oferecendo, sempre que
possível, respostas a essas demandas e respeitando as singularidades.
Os diversos momentos de contacto da gestante com o serviço de saúde podem ser
aproveitados para a realização do aconselhamento, visando a reflexão sobre sua saúde
sexual e suas vulnerabilidades. A usuária deve ser esclarecida sobre a importância da
testagem para HIV na gestação, podendo, assim, decidir informada e livremente sobre a
realização dos testes.

2.3.Aconselhamento pré-teste
A abordagem inicial permite identificar o conhecimento das gestantes sobre aids, sifilis
e outras DST, iniciar o mapeamento das situações defense vulnerabilidade e de risco em
que elas possam estar inseridas e estimular a aceitação para a realização do teste. Esses
conteúdos deverão ser complementados e aprofundados após o resultado do teste,
propiciando uma abordagem sobre aspectos da vida pessoal, tais como praticas sexuais
e uso de drogas.

Nesse momento, e necessário investigar, em relação a gestante:

➢ Os seus conhecimentos sobre a infecção pelo HIV/aids e outras DST;


➢ As suas praticas sexuais, com e sem protecção (tipos de vinculo com parceria
sexual, orientação e praticas sexuais, dificuldades no uso de preservativo);
➢ O uso de drogas (tipo e formas de uso, contextos de utilização, hábitos dos
parceiros, dificuldades no uso de preservativos sob efeito de álcool e outras
drogas);
➢ O histórico de DST. Considerar também:
➢ A possibilidade de janela imunológica;
➢ A necessidade de esclarecimento sobre os testes de HIV e sífilis, como estes são
realizados, qual o significado dos resultados negativo, indeterminado e positivo;
➢ Os benefícios do diagnostico precoce na gravidez, tanto para o controle da
doença materna quanto para a prevenção da transmissão vertical, reforçando as
chances dessa prevenção;
➢ Que o teste anti-HIV e confidencial e sua realização, voluntaria.
Depois de prestar as orientações necessárias a testagem, o profissional de saúde devera
registar tanto a realização do aconselhamento como a oferta do teste anti-HIV no
prontuário da paciente, assinando-o logo após fazer as anotações.

2.4.Princípios gerais da transmissão vertical (TV) do HIV

A definição dos factores associados ao risco de TV do HIV e bastante complexa e


envolve a interacção de diversos aspectos. Sua patogenese esta relacionada a múltiplos
factores, entre os quais se destacam:

a) Factores virais
Diversos estudos têm demonstrado correlação entre a magnitude da carga viral e o risco
de transmissão vertical do HIV. Em relação aos subtipos virais, ainda não existem
resultados definitivos que tenham demonstrado sua interferência no risco de
transmissão, bem como em relação ao fenótipo viral.

Todavia, alguns estudos realizados na África sugerem que o subtipo C esteja associado
a um maior risco de transmissão intraútero.

b) Factores clínicos e imunológicos

O status clínico envolve a presença de manifestações relacionadas a imunodeficiência,


como, por exemplo, a presença de doenças oportunistas, que aumentam a complexidade
do manejo clínico da gestante, interferindo nas intervenções que reduzem o risco de
transmissão vertical.

A presença de DST, incluindo as vaginites, aumenta o risco de transmissão vertical do


HIV, o que justifica a importância de seu rastreamento e tratamento precoces. A sífilis,
por exemplo, pode acarretar dano placentário, aumentando o risco de transmissão
intraútero do HIV.

Outras coinfecções, como as hepatites virais e a tuberculose, estão associadas a maior


dificuldade de manejo clínico e, potencialmente, a maior risco de transmissão vertical.

Em relação as condições imunológicas, gestantes que apresentem contagens de LT-


CD4+ inferiores a 200 cels./mm3 tem indicação de tratamento antirretroviral
independentemente da idade gestacional e necessitam profilaxia de infecções
oportunistas.

Deve-se enfatizar que a TARV e eficaz na redução do risco de transmissão vertical.


Entretanto, alguns antirretrovirais apresentam importante risco potencial de
teratogenicidade e de toxicidade materna e fetal, devendo o esquema ser selecionado
com cautela.

c) Factores comportamentais
O uso de drogas ilícitas acarreta dano vascular placentario, aumentando a
permeabilidade da placenta e, consequentemente, o risco de passagem do HIV e de
transmissão intrautero. Em gestantes usuárias de drogas ilícitas, a terapia antirretroviral,
mesmo que profilática, deve ser iniciada o mais precocemente possível.

As praticas sexuais desprotegidas aumentam o risco de reinfecção pelo próprio HIV


(acarretando aumento na carga viral), alem da exposição a variantes resistentes do vírus
e da aquisição de outras DST.

d) Factores obstétricos

A transmissão do HIV por via intra-útero e maior no 3o trimestre da gestação, o que


justifica que toda gestante esteja em tratamento nesse período.

A realização de procedimentos invasivos durante a gestação, tais como amniocentese e


cordocentese, pode acarretar maior risco de TV, devido a lesão placentária.

O tempo de roptura das membranas amnióticas também esta associado ao risco de


transmissão vertical: quanto maior o tempo de roptura, maior será o risco de transmissão
do HIV, particularmente quando superior a 4 horas.

Factores associados ao trabalho de parto interferem directamente no risco de


transmissão. A presença de contractilidade uterina desencadeia microtransfusões
placentarias, levando ao maior contacto do feto com o sangue materno. Em decorrência
disso, a maior duração do trabalho de parto esta associada a maior risco de transmissão
vertical do HIV.

Na assistência ao trabalho de parto e no parto, manobras invasivas como amniotomia,


episiotomia e uso de forceps aumentam o risco de exposição a maior volume de sangue
materno, elevando o risco de transmissão vertical.

Em relação a via de parto, a cesariana electiva reduz o risco de transmissão vertical do


HIV.

e) Factores relacionados ao recém-nascido


A prematuridade e o baixo peso são factores de risco associados a transmissão vertical
do HIV.

f) Factores relacionados ao aleitamento materno

A amamentação esta associada a um risco adicional de 7 a 22% de transmissão. Por sua


vez, em casos de infecção materna aguda, o aleitamento natural aumenta a TV do HIV
para 29%.

2.5.Segurança dos antirretrovirais na gestação

A incidência de reacções adversas em gestantes e crianças expostas a medicamentos


antirretrovirais (ARV) para profilaxia da transmissão vertical do HIV e baixa. Alem de
pouco frequentes, os efeitos adversos geralmente são transitórios e de intensidade leve a
moderada, tanto nas gestantes quanto nas crianças.

Tais efeitos raramente determinam a suspensão da utilização dos ARV, ja que a eficácia
desses medicamentos na prevenção da transmissão vertical do HIV, amplamente
demonstrada na literatura, claramente sobrepõe-se aos riscos das reacções adversas aos
mesmos. As alterações fisiológicas que ocorrem durante a gestação podem afectar a
cinética da absorção, distribuição, bio transformação e eliminação dos medicamentos,
alterando potencialmente a susceptibilidade da gestante a toxicidade aos diferentes
fármacos.

A maior parte das informações relativas a segurança dos medicamentos na gestação e


oriunda de estudos realizados em animais, relatos de caso e registos de dados de ensaios
clínicos. Os dados pré-clínicos não se correlacionam necessariamente com os eventos
adversos em humanos.

Entre os antirretrovirais disponíveis, a zidovudina e a que mais apresenta dados


relativos a segurança na gestação; as informações sobre os outros antirretrovirais são
limitadas. A frequência de anemia observada em gestantes em uso de zidovudina para
profilaxia da transmissão vertical do HIV varia de 2 a 40% nos diferentes estudos,
incluindo esquemas proclíticos usados por períodos muito variáveis.

Entretanto, os autores de todos esses estudos descrevem que os casos de anemia foram
geralmente leves a moderados, raramente determinando suspensão dos medicamentos
ou interferindo de forma significativa na saúde das gestantes.

Foram descritas pancreatite, esteatose hepática e acidose láctica, com ocorrência de


óbito materno em mulheres que estavam em uso da combinação de didanosina com
estavudina como parte do seu esquema antirretroviral.

Tais síndromes tem semelhanças com outras mais raras, mas muito graves, que ocorrem
durante a gestação, como a síndrome HELLP (complicação da pré-eclampsia e
eclampsia associada a anemia hemolitica microangiopatica, hemólise, elevação de
enzimas hepáticas e plaquetopenia). Tais alterações podem estar associadas ao uso
prolongado de análogos de nucleosideos (acima de 6 meses de uso), e possivelmente
relacionam-se a toxicidade mitocondrial.

O uso de antirretrovirais pode estar associado ao desenvolvimento ou piora de distúrbios


metabólicos previamente existentes em adultos infetados pelo HIV, e a gestação por si
só e um fator de risco para intolerância a glicose.

Não se sabe se o uso de inibidores da protéase durante a gestação exacerba o risco de


desenvolvimento de alterações metabólicas na gestante ou na criança.

Uma avaliação sistemática do perfil lipídico de 248 gestantes em uso de profilaxia com
medicamentos antirretrovirais, na Itália, mostrou que os valores de colesterol total e de
triglicerides aumentaram progressiva e significativamente durante a gravidez e que, em
todos os trimestres da gestação, o aumento de triglicerides foi significativamente maior
nas mulheres que recebiam esquemas contendo inibidores de protéase.

Estudos observacionais sobre o uso de antirretrovirais e eventos indesejáveis da


gestação, particularmente parto prematuro e o consequente aumento de mortalidade
neonatal.

Em um estudo europeu, incluindo 3.920 pares mães -filho, a ocorrência de parto


prematuro foi de 17%. Os factores associados a prematuridade foram imunossupressão
materna grave, uso de drogas endovenosas e uso de esquemas profiláticos contendo
outros medicamentos antirretrovirais alem da zidovudina. A frequência de parto
prematuro também foi evidenciada por outros estudos com populações mais limitadas.

Em uma coorte composta por 11.321 crianças nascidas de mães infectadas pelo HIV,
acompanhadas no período entre 1989 a 2004, observou-se que a proporção de crianças
com baixo peso ao nascimento diminuiu de 35% para 21% e a de partos prematuros
diminuiu de 35% para 22% no decorrer do tempo, sugerindo um papel protector da
profilaxia antirretroviral nessa população. No mesmo estudo, quando foram analisadas
as 8.793 mães que possuíam registos de acompanhamento pré-natal, não houve
correlação entre uso de profilaxia antirretroviral e baixo peso ao nascimento. A
ocorrência de prematuridade foi associada a uso de drogas ilícitas, presença de aids, uso
de inibidores de protease durante a gravidez e infecção pelo HIV na criança.

2.6.Tratamento da infecção pelo HIV na gestação

Mulheres que apresentam repercussão clínica e/ou imunológica grave da infecção do


HIV tem indicação de tratamento, independentemente da gravidez e em qualquer idade
gestacional. Portanto, gestantes sintomáticas ou assintomáticas com contagem de LT-
CD4+ ≤ 350 cels./mm3 apresentam critérios de inicio de tratamento, conforme
recomendado para adultos que vivem com HIV, devendo inicia-lo com o objectivo de
tratar a doença ou reduzir o risco de progressão.

Em gestantes com indicação de tratamento antirretroviral, os principais objetivos da


TARV são:

➢ Reduzir o risco de progressão da doença, diminuindo a morbidade e a


mortalidade associadas ao HIV;
➢ Melhorar a qualidade de vida;
➢ Preservar e, quando possível, restaurar o sistema imunológico;
➢ Suprimir de forma sustentada a replicação viral, prevenindo a transmissão
vertical do HIV.
E essencial reforçar junto a gestante o impacto positivo do tratamento, no momento em
que se decide inicia-lo.
3.Conclusão

Chegando nos trâmites finas do trabalho, verificou-se que o enfermeiro tem um papel
fundamental na busca pela efectiva implementação dos cuidados preconizados para
promoção da saúde no contexto da tv do HIV, podendo actuar em todas as fases que
constituem a linha do cuidado, desde o período pré-concepcional, pré-natal, parto até o
puerpério.

O cuidado de enfermagem torna-se fundamental dentro desse cenário no que tange a


promoção da saúde em suas diversas vertentes, sejam elas como acções preventivas,
educativas ou holísticas.

O estudo mostrou que as mulheres portadoras do vírus necessitam de uma assistência


em saúde integral e de qualidade. Para que isto ocorra, o enfermeiro deve estar inserido
na rede de apoio através de acções educativas que proporcionem a essas mulheres o
empoderamento e autonomia sobre sua saúde.

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