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Fama, poder, riqueza e loucura

Agamenon Magalhães Júnior Ensaísta, gramático e educador

John Lennon, mentor do maior grupo musical da história (os Beatles), teve uma
infância muito pobre. Tornou-se multimilionário ainda jovem, no início da beatlemania. A
conta bancária do artista transformou-se tão rapidamente quanto sua personalidade. Lennon
deixou de ser um garoto empático e, num passe de mágica, permitiu que a arrogância
tomasse conta de seu comportamento. Em 1966, podre de rico e aclamado pelo mundo como
um gênio, escandalizou a todos com essas palavras: “Somos [os Beatles] mais populares do
que Jesus Cristo agora. Não sei quem vai acabar primeiro: o rock ou o cristianismo. Nada
contra Jesus, mas os discípulos dele eram estúpidos e medíocres. É o fato deles distorcerem a
coisa que, a meu ver, estraga tudo”. A riqueza e a fama não lhe fizeram bem. Surtou.
Ainda no mundo da música, outro exemplo de transformação foi o multifacetado
Michael Jackson. Assim como Lennon, Jackson conviveu com a pobreza na infância, mas foi
acumulando sucessos musicais à proporção que juntava alguns milhões e milhões de dólares.
Com o lançamento de Triller,
Triller, o disco mais bem-sucedido da indústria fonográfica, o cantor se
autoproclamou o maior semideus do pop. Pirou com tanto sucesso e popularidade, passou
por quatro dezenas de cirurgias plásticas para modificar o rosto (a fim de minimizar os traços
negros), tomou medicação para clarear a pele e, no decorrer de toda a vida, fez as maiores
bizarrices motivadas pelo impulso próprio de quem perdeu o juízo, o senso de harmonia
estética e a conexão com o mundo real.
O escritor norte-americano Ernest Hemingway, autor dos clássicos da literatura Por
quem os sinos dobram e O velho e o mar,mar, também manteve uma relação doentia com a fama.
Ele quis muito ser famoso, quando conseguiu – tornou-se ícone cultural de sua geração –
arrependeu-se. Chegava a relatar em frequentes entrevistas que duas coisas lhe faziam mal,
desagradavam-no na vida de escritor: primeiro, a fama; depois, a fortuna. Suicidou-se em
1961. Dizem que ele morreu reafirmando essa ojeriza à popularidade incomensurável.
Em Ensaios e estudos históricos,
históricos, o pedagogo e historiador John Dalberg-Acton (1834-
1902) escreveu: “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe de modo absoluto.
Os grandes homens são quase sempre homens maus”. Essa citação nos ensina que a natureza
humana é possível de degenerar por causa do excesso daquilo que o homem vive
perseguindo. A fama, o poder e a riqueza, em excesso, trazem na sua essência um tipo de
maldição que deforma a personalidade de quem se deixa levar por essas ilusões do mundo.
Frivolidade. São poucos os homens que conseguem manter a sanidade mental nas situações
em que o poder e a fama (ou o dinheiro) parecem ilimitados.
Que qualquer ambição de conquista seja motivo para que se lute até atingi-la, o
homem é limitado apenas por suas próprias fraquezas, mas se deve ter cuidado: que também
a loucura não seja o ônus do sucesso atingido.

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