Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
30/05/2017
O eu que eu nunca vi
Quando era mais jovem, jamais me peguei olhando pra mim mesmo. De
verdade! isto sempre foi uma grande dificuldade comparável apenas ao
que sinto quando tento fazer meu autorretrato. Bem, pra ser mesmo
sincero, não consigo sequer pintar outros rostos, nem mesmo fazer
caricaturas minimamente parecidas. Pois bem, hoje pela primeira vez, por
um breve instante, percebi que estava me vendo. Vi-me como se olhasse
outra pessoa. Engraçado, nem no espelho conseguia me ver assim. O mais
curioso é que, este que eu sou, nunca me pareceu com clareza, nem tão
presente fora de minhas lembranças. Sempre houve um eu presente que
me dizia haver um eu mais real do que aquela figura que sempre via e que,
de tanto ver, um dia me despertou pra perceber que uma imagem assim,
não poderia se esconder por tanto tempo. Por tanto tempo eu me vi sem
querer e agora foi engraçado me ver assim, pois parecia outra pessoa. Foi
quando percebi que ele, este meu eu, passara por mim, bem ali, como se
houvesse se descolado de um quadro que até então me era oculto.
19/07/2017
Tantos eus
Gosto, ou melhor, costumo perceber-me sempre ou quase sempre me
olhando a perguntar ou respondendo coisas. Hoje me peguei pensando
sobre o ser de cada um. Sobre ser e não ser, para ser mais exato, e da
forma como eu pensei não deu para não lembrar de Freud e sua
psicanálise. Pensei no Eu e olhei pra mim. Claro que este olhar tinha de ser
introspectivo, e como também não perceber e até aceitar, que ao olhar
assim para si, o que se faz, de fato, é olhar para todos nós outros,
desnudados. Não há repressor maior que aquele que reside dentro de cada
um. A questão está tão somente em como este consegue relacionar-se
consigo próprio. Digo “ele” porque penso (e quando digo penso,
propositalmente ignoro qualquer coisa que já tenha sido dita sobre isto)
que realmente acredito na pluralidade do ser. Há pessoas que apenas a
ignoram e pensam que são senhores de suas ações quando, na verdade,
suas ações estão muito mais para uma simples resolução desta equação.
Dentro de um apenas, reside tantos outros desconhecidos ou não.
Conhece-los seria o mais alto grau de uma ascendente caminhada para o
autocontrole e o domínio próprio.
02/08/2017
Música, matemática e futebol
De repente retomo um pensamento sobre a matemática e o “matrix”. Se
eu, como a Trinity recebesse um download de informações sobre como
tocar um piano e, da mesma maneira, alguém recebesse um download
sobre equações de 1˚ e 2˚ grau, estaria este em condição de resolver as
suas equações, ao passo que o mesmo não poderia acontecer comigo para
tornar-me um pianista. Reconheço que o outro até poderia tornar-se um
excelente e genial matemático, mas quanto a mim, jamais poderia tornar-
me um pianista. Meu argumento final só precisa dizer, em comparação,
que um professor de matemática poderá resolver suas equações desde que
não lhe faltem um lápis, uma mão e um cérebro pensante. No entanto,
ainda nesta minha comparação, recordemos dos geniais craques do
futebol: Nunca deixaram de ser craques, exceto quando engordaram e
ficaram velhos.
Por que, ó Ernest?
Hoje de manhã, quando o sol ainda dormia, fiquei sabendo de alguém que
havia cometido suicídio, enforcando-se. Tinha o rapaz vinte e nove anos, se
não me engano. De um salto, me vi procurando instintivamente a resposta
para uma pergunta que me vinha à mente: “Quem matou este rapaz?”
Com esta inquietação fui às redes e encontrei, impulsionado por um sopro
silábico, “A insustentável leveza do ser”, de Milan Kundera. Interessante e
trágica a condição humana! Digo pensando em Ernest Hemingway ou
sobre William Ernest Henley. Este, pelo trágico fim melancólico e pelas
experiências da guerra civil espanhola que, apesar de traumáticas lhe
deixaram marcar-se com o grito humanista do poeta inglês John Donne,
ao escrever o livro Por quem os sinos dobram, e um outro, William E.
Henley, por sua vez, não menor no drama de uma vida sofrida, embora
este, de modo relutante a ponto de lhe inspirar o poema “INVICTUS”, no
qual deixou-nos o grito desesperado de um guerreiro em plena batalha,
negando-se a dobrar diante dos infortúnios da vida: “Eu sou o mestre do
meu destino, o comandante da minha alma”. Terá sido, para aquele,
apenas os horrores e injustiças da guerra ou será que os amores perdidos e
as frustações da vida, cuja crueldade não foram para este capazes de o
destruir, que o levaram a tal desespero? Para Picasso, talvez tenha sido
suficiente pintar GUERNICA... não sei exatamente o quanto sublimou ou
sofreu; mas porque a ti, ó Ernest, não bastaram os teus livros? Por que
destes o manche da tua alma para que te levassem ao cadafalso cuja
corda seguravas em tuas mãos? Por que, a exemplo de Sir William, não
poderias ter sido também dela o Capitão? Por que, oh! Ernest?
O Tempo (Lucy)
O tempo é um pião que gira sem cessar. Quem nele se encontra, fora não
está; e quem de fora fica, sequer pode entrar. Dentro, fora. Com ele, sem
ele; fora disso ninguém pode ficar. 04/08/2017 (Antes de sair de casa).
09/08/2017
Se fosse a tua mãe, miserável?
Hoje, quarta-feira seguinte à da notícia daquele infeliz rapaz que cometera
suicídio, recebo outra também igualmente triste. Meu cunhado se
deparou, no dia de ontem, com um rapaz na rua, em pleno ataque
cardíaco. Disse minha esposa que ele, seu irmão, se pôs a aplicar
massagens cardíacas na vítima, porém as pessoas que estavam a sua volta
começaram a desencorajá-lo pedindo que parasse, pois não iria de nada
adiantar e, mais que isso, poderia ele se complicar com tal atitude.
Começaram a lhe dizer: “Esse aí? Já era!”. Enfim, cedendo à pressão
daquelas pessoas, dentre as quais, inclusive, havia uma mulher se dizendo
da área da saúde, meu cunhado deixou de fazê-lo e o SAMU, que já havia
sido acionado, só foi aparecer muito tempo depois. O rapaz já estava
morto quando eles chegaram. Cena triste, mas que nos faz refletir
profundamente sobre algumas coisas da vida. Hoje alguém está chorando.
Aquelas pessoas, talvez relatando uma cena com um certo entusiasmo
mórbido. Apenas alguém, um outro. Fosse aquele rapaz um ente querido
deles, será que teriam agido da mesma maneira? Arrisco a dizer que,
absolutamente não. É aí que eu não posso deixar de pensar, pensar,
pensar e repensar. O escritor norte-americano Ernest Hemingway
escreveu, em 1940, um romance intitulado “Por quem os sinos dobram”.
Na contracapa do livro encontra-se o texto do sermão de John Donne
(1624) que transcrevo abaixo e que foi o que inspirou o título de sua obra.
“Nenhum homem é uma ilha, um ser inteiro em si mesmo; todo homem é
uma partícula do Continente, uma parte da terra; se um pequeno Torrão
carregado pelo Mar deixa menor a Europa, como se todo um promontório
fosse, ou a Herdade de um amigo seu, ou até mesmo a sua própria,
também a morte de um único homem me diminui, porque eu pertenço à
Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram.
Eles dobram por ti.”
Um instante de alegria
Saindo da escola, à tarde, ao pegar a primeira rua depois do portão, vejo
alguns garotos brincando descontraidamente (são todos meus alunos).
Alguém me cumprimenta e, mais abaixo, outras pessoas conversam
animosamente enquanto seus olhares me acompanham, descendo e
pisando aquela sua rua de paralelepípedos. Chegando já na esquina, um
pensamento me sobrevém. A vida é breve! Pra ser sincero, já, desde o
portão da escola, meus pensamentos haviam nascido. Brotaram do
instante em que passei na frente da porta da diretoria e vi a Iracema
sentada (Iracema é a diretora da escola). Sim, porque me fez lembrar do
dia vinte e oito de junho quando por ali passei ao saber do falecimento da
minha mãe. Desta vez pensei em como quem outrora chorava, agora ria?
A satisfação do dever cumprido. Como me perdoar por isto? Talvez
dizendo pra mim mesmo: tristeza e consolo, estes dois são o mote da vida;
depois, aproveitar cada instante, o hoje, cada minuto da vida. Tudo vai
passar, pessoas, lugares, acontecimentos... (qual epitáfio quero pra mim?)
quais palavras eu quis dizer mas não disse? E os amores que eu senti e
ninguém soube. Neste ponto parei a pensar sobre os amores diante dos
quais me calei.
25/08/2017
Escolhendo um jeans
Novamente com meus pensamentos me pego descobrindo o quanto não
percebo o que já de longe poderia saber. Engraçado como algumas coisas
tão simples podem servir de faíscas e serem causas de grandes fogueiras
no pensamento. Pois bem, em meio a uma temperatura mais baixa e com
algumas roupas a mais, portanto, com meus olhos muito mais atentos ao
que as pessoas estão vestindo, me perdoem, não costumo observar tais
coisas sempre, mas, como disse, hoje o tempo frio deu uma forcinha. Vi um
senhor sentado a minha frente, usando uma calça jeans um pouco mais
grossa que as que costumo ver. Pensei numa que gosto de usar em dias
assim e daí comecei a pensar (sim, porque percebi que o tecido era de boa
qualidade, mesmo não entendendo muito do assunto): no que consiste a
qualidade de um jeans? Sim, pra mim que nunca entendi a diferença.
Resistência? Flexibilidade do tecido? (Estou pensando na lycra). De
repente, ali, encontrei definitivamente a minha resposta. Resistência,
beleza, caimento e flexibilidade. Agora já sei o que buscar ao comprar um
jeans.
06/09/2017
Conversa entre dois amigos
Hoje me peguei pensando fora dos trilhos. Na verdade, eu não apenas
pensava, mas, como estava com alguém do meu lado, deixei os
pensamentos tornarem-se palavras. Pois bem, sem mais delongas, vamos
direto ao assunto. Não quero outra coisa senão registrar aqui uma ideia
que me ocorreu depois que me despedi da pessoa com quem vinha
conversando. Falávamos sobre nós e como cada um havia chegado ali,
com suas experiências e conclusões sobre a vida. Conversa vai, conversa
vem, confissões, desabafos, enfim, foi assim que escutei algo que me
induziu a refletir depois. Ao falar sobre quando a Rose e eu havíamos
casados, ouvindo que fazia dez anos, com espanto, perguntou como quem
pergunta pra si mesma: “- Nossa! Como alguém consegue viver dez anos
com uma mesma pessoa?” Sobre isto eu pensei depois e cheguei a
seguinte conclusão: “- É justamente por isto que as pessoas se casam, pois
não se pode namorar eternamente.”
13/09/2017(Quarta-feira, 06:09)
A donzela
Estação Calmon Viana – Uma visão, um pensamento. Pode estar correto
ou não, entretanto, acho que é válido, pois em algum lugar, com certeza,
se aplica. Uma jovem sempre alegre e, aparentemente, descolada. Sempre
muito falante e cheia de vida. Agora percebo que, já por várias vezes, e
vejam que eu só a encontro uma vez por semana, quando não coincide
com algum feriado, traz ela uma carinha triste, mais velha e amadurecida.
Parece que envelheceu quase uns cinco anos. Então comecei a pensar o
porquê dessa tristeza e também do afastamento do seu grupo. Tirei umas
possíveis conclusões e isso me levou a pensar no quanto algumas dessas
alegres criaturas tem sucumbido no vazio das desilusões e como de um
salto, percebido o fim de uma transição de algo tão lindo que é sua
infância para um mundo tão cruel e implacável que é a vida adulta. Fico
pensando na frustação de uma jovem que acorda no dia seguinte e
percebe que o amor ou até mesmo a amizade que pensava possuir, tão
facilmente se desconstrói diante de breve instante o qual julgava tão
sólido. Quão fugaz essa vida, como dói. Que pena que esse tem sido o
caminho que muitas jovens trilham para, apenas depois, descobrir que não
era preciso gastar tanto para ser feliz.