O texto descreve como a autora se sente responsável por "tomar conta do mundo", observando detalhes da natureza como árvores, flores, formigas e abelhas. Ela afirma que toma conta do mundo desde criança de forma paciente e responsável, embora não receba dinheiro por isso. A autora ainda diz que espera um dia encontrar alguém a quem prestar contas por seu trabalho de observar o mundo.
O texto descreve como a autora se sente responsável por "tomar conta do mundo", observando detalhes da natureza como árvores, flores, formigas e abelhas. Ela afirma que toma conta do mundo desde criança de forma paciente e responsável, embora não receba dinheiro por isso. A autora ainda diz que espera um dia encontrar alguém a quem prestar contas por seu trabalho de observar o mundo.
O texto descreve como a autora se sente responsável por "tomar conta do mundo", observando detalhes da natureza como árvores, flores, formigas e abelhas. Ela afirma que toma conta do mundo desde criança de forma paciente e responsável, embora não receba dinheiro por isso. A autora ainda diz que espera um dia encontrar alguém a quem prestar contas por seu trabalho de observar o mundo.
THE NEW BLACK. Expressão inglesa que designa uma nova tendência, algo que está tão na moda que poderia até mesmo funcionar como um pretinho básico. Adoraria que este fosse um texto sobre jaqueta jeans, mas não é. “Se prepare, Ruth, a agressividade nas redes sociais é algo que você não pode imaginar.” Foi o que me disseram pouco antes da estreia do blog. Eu, fingindo não estar com medo, balancei a cabeça positivamente como quem diz “Tô sabendo, tô sabendo”. Mas, como diria Compadre Washington, “Sabe de nada, inocente”. Após a publicação do meu segundo texto quase desisti de tudo. Eu realmente não tinha dimensão do nível sem cabimento que as pessoas poderiam atingir para atacar algo que na maioria das vezes nem mesmo as provocou. Há muito tempo venho tentando digerir, mas não consigo. Achava que a agressividade vinha só de alguns leitores meio pancadas. Engano meu. Ela vem de todo lado: de quem lê, de quem não lê, de quem lê só o título e até de quem escreve. E eu pensava que isso acontecia porque o computador torna as pessoas intocáveis, assim como os carros, e que, por isso, elas canalizavam toda a sua agressividade para as redes sociais ou o trânsito. Engano meu. Está generalizado, como uma peste que se espalha pelo país, e ninguém faz nada para conter. Mesa de bar, fila de farmácia, ponto de ônibus. Discursos de ódio e ignorância estão por toda parte. Acho que existe um erro de conceito. As pessoas passaram a utilizar a agressividade como um artifício para aumentar a própria autoestima. Como as pessoas se sentem politizadas? Sendo agressivas. Como as pessoas se sentem informadas? Sendo agressivas. Como as pessoas se sentem engraçadas? Sendo agressivas. Como as pessoas se sentem menos ignorantes? Sendo agressivas. Entendam: pessoas inteligentes não jogam pedras. E pessoas equilibradas não berram, nem mesmo via Caps lock. Sempre me vem à mente aquela passagem de Sagarana, em que Augusto Matraga diz que vai para o céu “nem que seja a porrete”. As pessoas tentam reduzir a violência com agressividade. Tentam melhorar o país com agressividade. Tentam educar os filhos com agressividade. Tentam fazer justiça amarrando pessoas em postes. “Pra pedir silêncio eu berro, pra fazer barulho eu mesma faço.” Será que um dia essa gente vai entender que o antônimo de agressividade não é passividade? Mas é assim que está sendo. Porque argumentar dá muito trabalho. Pesquisar então, nem se fala. Articular um discurso está fora de questão. Tentar persuadir é bobagem. E tolerar… Tolerar é um verbo morto. Agressividade is the new black. Livro: Aprendendo a viver por Clarice Lispector
EU TOMO CONTA DO MUNDO
Sou uma pessoa muito ocupada: tomo conta do mundo. Todos os dias olho pelo terraço para o pedaço de praia com mar, e vejo às vezes que as espumas parecem mais brancas e que às vezes du- rante a noite as águas avançaram inquietas, vejo isso pela marca que as ondas deixaram na areia. Olho as amendoeiras de minha rua. Presto atenção se o céu de noite, antes de eu dormir e tomar conta do mundo em forma de sonho, se o céu de noite está es- trelado e azul-marinho, porque em certas noites em vez de negro parece azul-marinho. O cosmos me dá muito trabalho, sobretudo porque vejo que Deus é o cosmos. Disso eu tomo conta com al- guma relutância. Observo o menino de uns dez anos, vestido de trapos e macér- rimo. Terá futura tuberculose, se é que já não a tem. No Jardim Botânico, então, eu fico exaurida, tenho que tomar conta com o olhar das mil plantas e árvores, e sobretudo das vi- tórias-régias. Que se repare que não menciono nenhuma vez as minhas im- pressões emotivas: lucidamente apenas falo de algumas das mi- lhares de coisas e pessoas de quem eu tomo conta. Também não se trata de um emprego pois dinheiro não ganho por isso. Fico ape- nas sabendo como é o mundo. Se tomar conta do mundo dá trabalho? Sim. E lembro-me de um rosto terrivelmente inexpressível de uma mulher que vi na rua. Tomo conta dos milhares de favelados pelas encostas acima. Observo em mim mesma as mudanças de estação: eu claramente mudo com elas. Hão de me perguntar por que tomo conta do mundo: é que nasci assim, incumbida. E sou responsável por tudo o que existe, inclusive pelas guerras e pelos crimes de lesa-corpo e lesa- alma. Sou inclusive responsável pelo Deus que está em constante cós- mica evolução para melhor. Tomo desde criança conta de uma fileira de formigas: elas andam em fila indiana carregando um pedacinho de folha, o que não im- pede que cada uma, encontrando uma fila de formigas que venha de direção oposta, pare para dizer alguma coisa às outras. Li o livro célebre sobre as abelhas, e tomei desde então conta das abelhas, sobretudo da rainha-mãe. As abelhas voam e lidam com flores: isto eu constatei. Mas as formigas têm uma cintura muito fininha. Nela, peque- na, como é, cabe todo um mundo que, se eu não tomar cuidado, me escapa: senso instintivo de organização, linguagem para além do supersônico aos nossos ouvidos, e provavelmente para senti- mentos instintivos de amor-sentimento, já que falam. Tomei muita coisa das formigas quando era pequena, e agora, que eu queria tanto poder revê-las, não encontro uma. Que não houve matança de- las, eu sei porque se tivesse havido eu já teria sabido. Tomar conta do mundo exige também muita paciência: tenho que esperar pelo dia em que me apareça uma formiga. Paciência: observar as flores imperceptivelmente e lentamente se abrindo. Só não encontrei ainda a quem prestar contas.