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Produzido e publicado no Brasil


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Jesus, Eder Silva Machado de


Não é o fim [livro eletrônico]: uma introdução à esperança
escatológica / Eder Silva Machado de Jesus. -- Feira de
Santana, BA : Edição do autor, 2021.
580 Kb.

ISBN: 978-65-00-30377-3

1. Escatologia. 2. Tempos do fim. 3. Igreja.


I. Título.
CDD-236

Sueli Costa - Bibliotecária - CRB-8/5213


(SC Assessoria Editorial, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:


1. Escatologia bíblica 236

Créditos
Capa: Jéssica Lindemberg
Revisão: Cristiane Cavalcanti
Diagramação: SC Editorial
Contato com o autor:
rev.edersilva@yahoo.com.br
@eder.smachado (Instagram)
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e
punido pelo art. 184 do Código Penal. Nenhuma parte desta publicação
poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização
do autor.
Dedicatória Dedico este trabalho aos meus pais, por
todo o amor e dedicação para comigo, por terem sido a peça
fundamental para que eu tenha me tornado a pessoa que hoje
sou. A Tamara minha amada esposa. Aos meus queridos filhos
Pedro Arthur e Bernardo. Às minha irmãs Ester e Andréa, amo
vocês (Sempre juntos).
Agradecimentos

Ao Senhor Deus por sua graça e o seu amor. A Tamara minha


querida esposa, pois durante o trabalho de pesquisa e
composição foi muito compreensiva e me ajudou na digitação
de algumas partes. A Ester, minha querida irmã, revisou parte
dos textos e deu suporte na formatação.
Apresentação

É com alegria que recomendo e faço apresentação deste ENSAIO


ESCATOLOGICO. O nobre e ilustre amigo, escritor, tem ao longo
dos anos estudado, procurando crescer e ampliar sua visão
acerca do tema. E diga-se de passagem, ESCATOLOGIA é um
assunto amplo, suas falas bíblicas são simbólicas e por vezes
complexas, podendo assumir um tom apocalíptico literal e
profético ao mesmo tempo. As muitas linhas e correntes
escatológicas, descritas neste ENSAIO, nos convida a adentrar
um pouco mais neste fantástico assunto. Este ENSAIO não tem
por finalidade fechar uma linha doutrinária teológica determinante
acerca das coisas do fim, mas trazer de forma clara, sucinta e
objetiva uma visão panorâmica acerca do tema. Agradecemos
sua coragem em nos expor e nos partilhar de suas pesquisas e
ideias. Este material promete ser um, dentre muitos outros, que
teremos a partir desta obra e de outras que ensaiadamente virão
às nossas mãos.
Com alegria sempre.

Cláudio Giomar de Lima


Ministro Evangélico
Sumário Introdução

1. Hermenêutica e Método
Definição
Hermenêutica
Método alegórico
Método Histórico Gramatical
Escatologia Consistente – Albert Schweitzer (1875–1965)
Escatologia Realizada – Charles H. Dodd (1884–1973)
Escatologia Existencial – Rudolf Bultmann (1884–1976)
Teologia da Esperança – Jürgen Moltmann (1926 -)

2. Escatologia em Israel
Período Intertestamentário
Ideário Escatológico de Israel (At)
Daniel
As Setenta Semanas (9.24-27)

3. Escatologia no Novo Testamento


Escatologia nos Evangelhos
Mateus 24.3-41 – Charles C. Ryrie
Marcos 13.9-32 – Charles C. Ryrie
Lucas 21.7-41 – Charles C. Ryrie
Atos
Epistolas Paulinas
1 Tessalonicenses 4.13 – 17 / 5.2-9 – Charles C. Ryrie
Epístolas Gerais

4. Apocalipse
Principais Interpretações do Apocalipse
Características do Livro Apocalipse
Contexto Histórico de Apocalipse
Conteúdo do Livro
Apocalipse 19.20 / 20.1, 2, 5, 8 / 21.1-2 – Charles C. Ryrie

5. Escolas Escatológicas
Pós-Milenismo (Milenarismo)
Amilenarismo
Pré-Milenismo (Milenarismo)
Dispensacionlismo

Referências
Introdução

Zabatiero (2005) diz que todo fazer teológico deve ser prático,
ou seja, tem como finalidade orientar a ação cristã presente, em
resposta ao agir de Deus no decurso da história, ou seja, no
passado, presente e futuro.
A teologia sistemática se propõe a estudar e organizar de
maneira coerente as doutrinas bíblicas. Os termos por ela
abordados formam o arcabouço da dogmática cristã. Durante a
história não foram poucos os esforços da Igreja no sentido de
organizar os princípios que formam seu ensino teológico. O
estudo da escatologia é de certo salutar para o presente século.
Shedd (2001) observa que “A escatologia é uma das áreas da
teologia que, na prática, é a mais evitada. A razão é obvia:
ninguém pode afirmar com precisão como e quando acontecerão
os eventos previstos pelas Escrituras”. Não obstante, de sua
complexidade alguns conceitos centrais podem ser afirmados
devido à transparência que são tratados pelas Sagradas Letras.
Deste modo Eurico Bergstén (1980) fomenta que a “escatologia
é uma das grandes doutrinas bíblicas”.
Ao tratar deste assunto, termos como anticristo, retorno
iminente de Cristo, volta de Cristo, arrebatamento, grande
tribulação, reino de Deus, reino milenar, juízo final e eternidade
tornam-se recorrentes. Shedd (2001) afirma que “Quanto mais à
qualidade escatológica se manifestar no presente, maior será a
nossa certeza de que dela participaremos”. Kenneth L. Gentry Jr.
Ressalta “A tarefa prioritária da escatologia é explorar toda a
revelação da infalível Palavra de Deus, de forma a discernir o
divinamente ordenado, o profeticamente revelado, com vistas a
provocar ‘um chamado à ação e obediência no presente’” 1.
Zabatiero (2005) Argumenta: A face visível e compreensível da
verdadeira espiritualidade é a missão centrada no servir a Deus pelo
constrangimento do amor de Cristo. Assim, missão passa a ser apenas o
nome teológico da solidariedade, e a ação missionária manifesta
plenamente a liberdade cristã neste tempo escatológico em que vivemos.
De acordo com Pentecost (2006) “A adoção de diferentes
métodos de interpretação produziu as várias posições
escatológicas e dá conta das diversas concepções de cada
sistema em desafio ao estudioso da profecia”. Para Shedd
(2006) fundamentalmente a hermenêutica elucida em grande
parte a divergência sobre a escatologia que caracteriza o mundo
evangélico.
Diante disso muitas questões se deparam ao estudioso de
escatologia, sendo o método hermenêutico dos escritos
proféticos o de maior atenção. A metodologia empregada para
interpretar, sobretudo as profecias apocalípticas têm sido o ponto
de divergência entre as escolas escatológicas. Para Louis
Berkhof (2007) os que acreditam no retorno de Cristo antes do
milênio são denominados pré- milenistas; o autor observa ainda
que os que defendem que a sua segunda vinda ocorrerá após o
milênio são conhecidos como pós-milenistas, já os que crêem
que a Bíblia não autoriza a expectativa de um milênio, recebem o
nome de amilenistas.
Notas:
1 Ser espiritual é ser uma pessoa que tem no centro de sua vida o

próprio Messias Jesus, não o ego, a igreja ou se o próprio projeto de


vida. Somente nele encontramos a verdadeira humanidade e a vivemos
como projeto escatológico, no qual o futuro invadiu o presente e o
batizou com as águas da liberdade e do serviço a Deus. (ZABATIERO,
2005, p. 127)
1. Hermenêutica e Método
Definição

Leiner (1985) verifica que o conceito “escatologia” é de origem


recente. A teologia patrística e escolástica não faziam uso de um
termo definido. Portanto, sua primeira evidência situa-se em A.
Calov (1686). Mas o sentido preciso a este respeito foi
formulado, posteriormente por Schleiermacher. A partir de então
a escatologia passa a fazer parte do arcabouço da teologia,
dispondo de possibilidades que não dispunha no passado.
A escatologia2 merece uma atenção acurada por apontar para
o final da história da espécie humana e que esta terá uma
consumação. Destarte pode-se definir escatologia
epistemologicamente como uma palavra de origem grega,
significando “as últimas coisas” (εσχατος - eschatos) e “estudo” (
λόγος - logos) conforme afirma Strimple (2005).
Leiner (1985) conclui que: A escatologia se refere, como diz
seu próprio nome, às coisas ultimas. No último, porém, revela-se
não somente o fim, mas também a integralidade. E é justamente
na escatologia que essa integralidade se anuncia de modo
perfeitamente explícito. A escatologia se torna assim a
consciência crítica da teologia [...] a fé e a teologia se relacionam
com o todo. Tal relação não significa outra coisa a não ser que
estão orientadas para o que é último e definitivo, ou seja, para o
que é simplesmente decisivo e incondicionado.
As Escrituras fomentam que uma série de acontecimentos
catastróficos ocorrerá no fim dos tempos, estes são assuntos
pertinentes à escatologia, acrescenta Berkhof (2007). Sendo
assim, a escatologia3 é o estudo das últimas coisas ou dos
acontecimentos futuros, ressalta Campos (2005).
Hermenêutica

Indubitavelmente para se compreender um texto é necessário


o uso da interpretação, mesmo que esta aconteça de maneira
inconsciente. A Bíblia também participa deste processo por se
tratar de um texto com esta assertiva, Lopes (2004) lança a
proposta da significância do uso da hermenêutica.
A hermenêutica é definida pelo dicionário de Teologia (2007)
como a disciplina que estuda os princípios e as teorias sobre a
maneira que os textos devem ser interpretados, sobretudo os
textos sacros como a Bíblia. A hermenêutica também se
preocupa com o entendimento dos papéis e os relacionamentos
singulares entre o autor, o texto, o público-leitor original e o
posterior. Para Augustus N. Lopes (2004), ao apreciar um texto
bíblico deve-se levar em consideração que há vários
distanciamentos entre o leitor atual e documento em suas mãos.
Dessa forma, o hermeneuta, ao debruçar-se sobre as passagens
bíblicas, tenta minimizar os distanciamentos temporal, contextual,
cultural, linguístico, autoral, etc.
Em termos simples, a hermenêutica atualmente possui dois
métodos de interpretação4. O método alegórico, originalmente
usado pela escola de Alexandria, e o histórico gramatical, pela
escola de Antioquia.
Método alegórico

O método alegórico utiliza-se de analogias para tentar


descobrir o verdadeiro significado do texto e suas asserções
espirituais que para este método está além do sentido literal.
Assim, por meio de metáforas, símbolos e mitos, acreditam
expressar uma verdade mais profunda do texto bíblico. De forma
mais esclarecedora sobre o assunto, Lopes (2004, p. 92)
explicita que “Alegoria significa literalmente ‘dizer uma outra
coisa’, [...] as palavras estão dizendo uma outra coisa que não
aquela que parece obvia. [...] Interpretar uma passagem
alegoricamente é atribuir [...] um sentido que aparentemente não
está lá”.
Filo de Alexandria alcançou notoriedade por recorrer a este
método sob influência de Aristóbulo, o qual procurou conciliar a
lei mosaica com a filosofia grega, bem como, os judeus
platônicos do Egito. Posteriormente, Orígenes (185–253 d.C.)
pertencente à escola de Alexandria seguiu os mesmos princípios
de interpretação que Filo, complementa Pentecost (2006).
Método Histórico Gramatical

J. Dwight Pentecost em defesa ao método histórico gramatical


afirma que a escatologia apresenta um desenvolvimento da
interpretação no decorrer da história e tem como ponto de
partida o momento em que o povo de Israel retornou do exílio
babilônico, sob a liderança de Esdras (Ne 8.1-8)5. O autor ainda
desenvolve um traçado histórico apontando este método como
práxis judaica do Antigo Testamento, bem como dos intérpretes
contemporâneos de Jesus. Diante disso, os apóstolos
comumente faziam uso do literalismo para interpretar as
profecias veterotestamentárias e assim também faziam os pais
apostólicos.
Do período correspondente ao século VII ao XVI houve
ascensão do método alegórico, no entanto, a Reforma
Protestante recapitulou o método histórico gramatical (Literal).
Lopes (2004) acrescenta que este método procura alcançar o
sentido do texto pelo que o autor intencionava transmitir ao
escrevê-lo, ao mesmo tempo em que estudava as palavras
gramaticalmente em sua língua original (grego / hebraico),
levando em consideração o contexto histórico em que foi
redigido.
Escatologia Consistente – Albert Schweitzer (1875–1965)

Erickson (2010) contribui, o século XIX foi marcado por uma


intensa agitação teológica, devido a uma série de
acontecimentos como: a teoria da Origem das Espécies de
Charles Darwin, as críticas de Immanuel Kant, na filosofia,
demandando assim, respostas mais acuradas por parte dos
teólogos da época.
Desta forma foi iniciada uma busca mais intensa pelo Jesus
histórico, teólogos liberais disseminavam a ideia de que o reino
de Deus seria gradualmente espalhado pelo mundo por meio de
um desempenho ético. Erickson (2010) ressalta que alguns
teólogos não compartilhavam deste ponto de vista, um deles foi
Johannes Weiss (1892), o qual defendeu que Jesus era
completamente focado na apocalíptica, tendo em vista um
corolário futurista e por fim escatológico.
O autor acrescenta que Weiss acreditava que invés de um
reino ético de Deus no íntimo humano, o qual se desenvolveria
paulatinamente ao longo da história, este seria instituído
postumamente. Esta abordagem recebeu o nome de escatologia
consistente (ou radical). Por expor que a relevância de Jesus
Cristo encontra-se em discerni-lo como legitimamente foi.
Portanto, a ideia de que Jesus ensinou um reino ético foi extinta.
Nestes termos a hermenêutica aplicada é completamente
escatológica.
Para Schweitzer somente quando a imagem escatológica de
Jesus é projetada, sua vida e ensinos passam a ter sentido, e
suas instruções incidem em episódios vindouros. A noção
escatológica não era um plano alternativo de Jesus, que mudou
quando sua estratégia original se revelou impraticável. Pelo
contrário, o conceito escatológico era o cerne da mensagem de
Cristo. Enquanto os liberais criam que a humanidade mudaria de
forma antecipatória nos moldes daquilo que seriam no reino6 e o
difundiriam à sociedade. A escatologia consistente defendia que
é mediante o arrependimento que o homem se prepara para
receber o caráter do reino que viria não gradual e eticamente,
mas sobrenaturalmente, e isso aponta para uma dependência
total do que Deus faz não dos esforços humanos7.
Essa interpretação realística da Bíblia tornou-se popular.
Portanto, o foco era entender os ensinos8 de Jesus e dos
apóstolos da maneira como queriam comunicar. Infelizmente
Schweitzer concluiu que Jesus aguardava um final cataclísmico,
mediante o qual aconteceria a inauguração do Reino e chegou a
concluir que Jesus foi um apocalíptico iludido, acrescenta Shedd
(2006).
Escatologia Realizada – Charles H. Dodd (1884– 1973)

De acordo com Erickson (2010) a escatologia realizada,


semelhante à escatologia consistente, ponderava que o tema
escatológico permeava as Escrituras, porém enquanto a
consistente afirmava que os acontecimentos antecipados por
Jesus nunca ocorreram, a realizada defendia que tais
acontecimentos já haviam ocorrido, ou seja, via-os ocorrendo no
período em que foram escritos ou dentro do período bíblico.
Para Dodd, Jesus não falava de acontecimentos totalmente
futuros que ainda se cumpririam, mas das coisas que já haviam
chegado. Sendo assim, enquanto o dia do Senhor era um
acontecimento futuro para o AT, no NT esse dia já chegou. Deus
estabeleceu seu reino, a nova era está aqui. Aquilo que era
futuro no tempo das profecias do Antigo Testamento tornou-se
presente, e o conceito do dia do Senhor passou a ser a um
acontecimento histórico específico que já ocorreu.
A escatologia realizada9 propõe que ao invés de duas vindas
de Cristo, deve-se entender que há apenas uma; que as
predições de Jesus devem ser interpretadas à luz de suas
declarações de que o reino de Deus está aqui. Jesus não falava
de como seria, mas de como era.
Erickson (2010) observa que Dodd recebeu críticas por haver
exagerado seu argumento, posteriormente em suas obras
passou a dizer que o reino começara, não mais sobre aquele que
chegara, da inicialização em vez da realização.
Dodd10 negligenciou alguns textos que não podem ser
considerados como já cumpridos. Tais textos declaram que
esses acontecimentos são futuros. O grande discurso
escatológico, onde Jesus falou de sua segunda vinda e a
reflexão de Paulo sobre a parousia em 1Tessalonicenses.
Escatologia Existencial – Rudolf Bultmann (1884– 1976)

Erickson (2010) cita que baseado no existencialismo de Martin


Heidegger é que Bultmann interpretava o Novo Testamento. Para
Heidegger, o homem é confrontado continuamente com a
decisão entre passado e futuro. Seja para perder-se no mundo
das coisas e assim perder sua individualidade em meio à massa,
alcançando assim a existência inautêntica. Ou se entregar ao
futuro, abrindo mão de toda a segurança para alcançar a
existência autêntica.
Para o existencialismo o homem consegue a existência
autêntica ao libertar-se do cativeiro ao transitório e tangível por
sua própria decisão. De acordo com o Novo Testamento o
homem não pode libertar-se mediante seu próprio esforço, mas
isso deve vir como uma dádiva. Esta é a diferença encontrada
por Bultmann entre os ensinos do Novo Testamento e as
asserções existencialistas. Bultmann analisava a visão dos
autores do Novo Testamento acerca da realidade do universo
contendo três andares. Sendo que o andar superior é o céu,
habitado por Deus e pelos anjos. O andar intermediário é a
habitação humana. E o andar inferior é o inferno, a base de
operações do diabo e de seus assistentes demoníacos.
O método de desmitologização pode ser usado conforme o
fundamentalismo, de maneira literal. Ou rejeitando os elementos
míticos do Novo Testamento. Ou finalmente pela reinterpretação.
Esse último é o método utilizado por Bultmann11.
Bultmann procurava entender o mito pelo seu significado
existencial, em vez de literal. Entendendo que a pregação12
mítica embora pudesse ser entendida pelos seus locutores de
forma literal, expressam um significado mais relevante do que
esse. Ele entendia que o relato bíblico deveria ser distinguido
entre dois tipos de história.
Historie que se baseava na facticidade dos acontecimentos do
espaço e do tempo. Ou seja, mera história. E Geschichte é o
efeito ou impacto subjetivo que esses acontecimentos têm sobre
os participantes ou observadores, esta é a história significante.
Sendo assim, os evangelhos não são um registro dos ditos e
atos de Jesus, mas uma série de expressões das experiências
subjetivas dos discípulos.
Para Bultmann a cruz e a ressurreição são acontecimentos
escatológicos, não como ocorrências passadas, mas como
acontecimentos incluídos na proclamação13. Portanto, ele
afirmava que Jesus entendia o reino de Deus como futuro e
esperava sua chegada acompanhada de julgamento e
consumação escatológica no tempo próximo, ou seja, dentro do
período de vida da geração presente. Diferente dos
escatologistas realizados que afirmavam o cumprimento das
referências escatológicas no tempo em que foram pronunciadas,
Bultmann encontrava o significado delas no cumprimento que se
dava na experiência presente do crente. Contrapondo a idéia de
Bultmann quanto a Historie e Geschicht, Erickson (2010) usa a
assertiva paulina14. Afirmando que não há como obter a
Geschicht sem a historie.
Teologia da Esperança – Jürgen Moltmann (1926 -)

Erickson (2010) explica que Moltmann participou da Segunda


Guerra Mundial e foi um dos jovens que ficou preso num campo
de concentração inglês. Sendo liberto em 1948. Moltmann em
comum com muitos de seus contemporâneos tinha a esperança
de uma sociedade melhor, portanto, este passou a ser o foco de
sua teologia (a esperança).
Enquanto se refletia a respeito da imanência e da
transcendência de Deus, Moltmann relacionava Deus com a
história, como sendo aquele que está ligado ao futuro. Não mais
Deus Além ou dentro de nós, mas Deus à frente de nós.
Moltmann vê Cristo como a antecipação desse futuro (o futuro
de Deus). E o evangelho como o veículo que traz significado
universal ao evento Cristo, portanto, não apenas como
intermediador do fato, mas o gerador de esperança.
A igreja neste ponto é apresentada por Moltmann como
militante, pois não espera de forma pacífica, mas é chamada
para levar a efeito aquilo que há de vir, ou seja, a levar a efeito
esse futuro. Por isso a esperança cristã é uma esperança
criadora e militante.
Desta forma o cristão não fica inerte, mas milita no sentido de
trazer este futuro de Deus, o seu reino a existência. No entanto,
este futuro15 não é o resultado de nossos esforços, mas
enquanto a igreja se move em direção a este futuro, ele se move
em direção à igreja.
Notas: 2 A questão da escatologia é uma questão natural. Alguma
doutrina das últimas coisas não é coisa peculiar à religião cristã. Onde quer
que as pessoas tenham refletido seriamente sobre a vida humana, seja no
indivíduo, seja na raça, não inquiriram apenas donde ela surgiu e como
veio a ser o que é, mas também para onde está destinada. Elas levantaram
a questão: Qual é o fim ou o destino final do indivíduo, e qual a meta rumo
à qual a raça humana está se movendo? (BERKHOF, 2007, p. 611) 3 O
éscathos qualifica os fenômenos dos últimos tempos como tais. [...], mas
não é este o seu sentido autêntico. Na sua acepção precisa, escatológico
não se refere aos fatos do fim dos tempos como tais, mas qualifica uma
relação ou uma referência a esses fenômenos. [...] qualificam-se como
escatológicas as representações das coisas últimas, não as próprias coisas
últimas. Escatológicos se dizem os meios linguísticos, não os conteúdos
que eles imediatamente qualificam. (LEINER, 1985, p. 13-14) 4 Embora
diversos métodos de interpretação das Escrituras tenham sido propostos
no decorrer da história da interpretação, existem hoje apenas dois métodos
com influência vital na escatologia: o alegórico e o histórico-gramatical. O
método literal é geralmente tido como sinônimo de método histórico-
gramatical. (PENTECOST, 2006, p. 31-32) 5 Durante o exílio os judeus
substituíram a língua nativa, o hebraico, pelo aramaico. Quando voltaram à
sua terra, as Escrituras haviam-se tornado ininteligíveis para eles. Esdras
teve de explicar ao povo as Escrituras, olvidadas e indecifráveis.
Dificilmente poderíamos pôr em dúvida o fato de que a interpretação de
Esdras do que estava escrito fosse literal. (PENTECOST, 2006, p. 44) 6
Segundo Schweitzer, a preparação para a entrada no reino é a
transformação moral [...]. Em vez de espalhar-se gradualmente, o reino
está chegando repentinamente e com ele, o julgamento [...]. Enquanto os
liberais pensavam que a ética de Jesus era o meio de produzir o reino,
Schweitzer, em oposição, acreditava que o reino era determinado e
vindouro e que a ética era o meio de preparar-se para a entrada nele.
(ERICKSON, 2010, p. 29) 7 ibid 8 Os ensinos de Jesus baseiam-se de uma
descontinuidade entre as condições do presente e as do futuro [...]. A vinda
de Jesus seria um acontecimento surpreendente, envolvendo distúrbios
cósmicos. A chegada do reino seria um clímax absoluto – não uma
passagem gradual – e transformaria radicalmente as circunstâncias e o
caráter do homem. (ERICKSON, 2010, p. 30-31).
9 Surgiu a “escatologia realizada”, de Charles Dodd, que procurou
convencer seus leitores de que a escatologia encontrada no Novo
Testamento era mais que um acontecimento da expectativa profética do
Antigo Testamento. O reino de Deus, prometido nas Escrituras, já chegou
em Jesus [...]. As promessas sobre o fim foram cumpridas na época de
Jesus para elucidação da visão que o Novo Testamento apresenta sobre o
futuro. (SHEDD, 2006, p. 12) 10 “O futuro é agora” era um lema excelente
para o ministério de Jesus, segundo o entendimento de Dodd [...]. A
escatologia realizada é de certa forma uma reação a Schweitzer [...].
Considerava que Jesus falava, não daquilo que viria, mas daquilo que já
viera. (ERICKSON, 2010, p. 39) 11 Ibid 12 [...] ainda que aquela pregação
se refira a concepções que, hoje em dia, não são totalmente ininteligíveis,
expressam, não obstante, a consciência da finitude do mundo e do fim
iminente de todos nós, porque todos somos seres deste mundo finito.
(BULTMANN, 2005, p. 21).
13 [...] Jesus proclama a vontade de Deus e a responsabilidade do
homem, quando alude aos acontecimentos escatológicos; porém, não
porque seja um escatologista, proclama a vontade de Deus. Pelo
contrário, porque proclama a vontade de Deus é um escatologista.
(BULTMANN, 2005, p. 22) 14 “E, se Cristo não foi ressuscitado, é vã a
vossa fé, e ainda estais nos vossos pecados. Logo, também os que
dormiram em Cristo estão perdidos. Se é só para esta vida que
esperamos em Cristo, somos de todos os homens os mais dignos de
lástima.” 1Co 15.17-19.
15 Se o futuro for idêntico aos sucessos de nossa atividade, será um
futuro patético, pois nossas ações são tão ambíguas quanto nós
mesmos, na medida em que somos seres históricos. Movemo-nos em
direção ao futuro, e ele se move em direção a nós. O futuro tem valor
acima, além do atingido e do atingível, e isso se deriva da ressurreição
do Cristo crucificado e se relaciona com ela. (ERICKSON, 2010, p. 61)
2. Escatologia em Israel

Período Intertestamentário

RUSSEL (2008) informa que os escritos apocalípticos


elencados no período intertestamentário, caracterizam-se como
continuação e desenvolvimento das profecias
veterotestamentárias, bem como uma antecipação do Novo
Testamento. Portanto, estes escritos marcam a transição entre
AT e NT, pois as crenças assimiladas neste período formarão a
crença cristã, como a ideia do Messias e a vida após a morte.
Essa influência é percebida nos escritos de João em Apocalipse,
no capítulo treze de Marcos, bem como inúmeros apocalipses
que não foram inclusos no cânon do NT. Sendo assim é
perceptível a congruência entre os escritos apocalípticos judeus,
as esperanças e as expectativas cristãs. Esperava-se a repentina
intervenção divina para o estabelecimento do seu reino justo e
de paz. A vinda do messias que traria as bênçãos do paraíso; o
grande dia do julgamento; a nova era estava se aproximando e
com esta o reino de Deus.
Entre 165 a.C. a 90 d.C. a literatura judaica apocalíptica
medrou, sendo preparada pelas profecias do AT. Esta cresceu
num ambiente de opressão sob o reinado de Antíoco IV
(Epifânio), sobretudo durante a revolta dos Macabeus. Neste
período desenvolveu-se a ideia do segredo oculto que apenas
alguns eleitos recebiam de maneira que lhes era dado à
compreensão dos segredos dos céus. Vários escritos desta
época referem-se às tábuas celestes, nestas eram registrados os
segredos dos séculos, bem como previsão de eventos futuros.
Nestes escritos sempre se constata a ruína dos ímpios e a
vitória dos justos e o triunfo dos planos de Deus e sua vida com o
seu povo eternamente. Em muitos destes se acreditava a
permanência da tradição profética do Antigo Testamento. No
entanto, muitos trabalhavam no sentido de reler e reinterpretar as
profecias desses profetas16.
Ideário Escatológico de Israel (AT)

Leiner (1985) percebe que as concepções escatológicas estão


presentes no desenvolvimento da literatura do Antigo
Testamento, no entanto, um conceito predeterminado sobre
escatologia não possibilita a apreensão do complexo material
veterotestamentário oferecido. As expectativas escatológicas
reveladas no AT caracterizam o conteúdo da revelação
progressiva. Sendo assim não há uma construção escatológica
completa e minuciosa, mas a esperança de salvação nasce de
pequenos dados que vão sendo desenvolvidos até uma
escatologia plenamente desenvolvida.

No Antigo Testamento, boa parte da


esperança de Israel para o futuro está
ligada à sorte nacional e política da
nação. Israel esperava a restauração da
liberdade do domínio estrangeiro e a
recuperação da terra e da prosperidade
perdidas na guerra com a Assíria e com
a Babilônia. Alguns profetas e pessoas
do povo esperavam uma purificação
moral e religiosa e um futuro com
felicidade, glória e perfeição. Entre 760
e 700 a.C., os profetas Amós, Oséias,
Isaías e Miquéias anunciaram o castigo
de Deus para Israel e Judá. Eles
também entenderam que Deus estava
comprometido com seu povo e não o
abandonaria. (SMITH, 2001, p. 386-387)
Smith (2001) argumenta que havia uma
expectativa por parte dos profetas de
que algo iria acontecer de imediato
causando um rompimento com o
passado. A partir do exílio muitas
referências apontam para a vinda de
Deus no futuro17. Israel tinha
consciência de que o presente mundo
estava chegando ao seu desfecho final.
Kaiser (2007) acrescenta a declaração
de que Israel era filho de Javé, bem
como uma nação santa, foi assim
encontrada na promessa de uma
descendência davídica que reinaria
eternamente.
Leiner (1985) afirma que a expectativa de salvação é algo
inteiramente ligado a história de Israel18. Esse vínculo Salvação-
Evolução histórica é o grande diferencial entre a escatologia
bíblica das expectativas além Israel. A exemplo das profecias
egípcias que enxergavam a história num processo cíclico, de
salvação e desventura, enquanto a expectativa bíblica aponta
para uma evolução que aponta para o futuro salvífico.
Smith (2001) observa:
Descrições de terremotos, secas e
trevas, remanescentes do caos original,
eram muitas vezes usadas para ilustrar
a destruição futura do mundo (Is 24.4-6,
19-20, 23; 33.8, 9; 54.10; Jr 4.23-26; Os
8.7; 10.8).
O dia do Senhor é identificado a um dia
de escuridão e não de luz (Jl 1.10-20;
2.10-11, 30-31; 3.14-15; Am 5.18; 8.9-
10).
O julgamento vindouro abrange não
apenas a terra, mas o céu (Is 24.21, 23;
34.4; 65.17; 66.22).
Leiner (1985) enfatiza que os escritos do AT anunciam uma
mudança no curso da história, bem como uma situação nova do
estado em que se vive atualmente. Sendo assim, se espera uma
ação divina completamente diferente de tudo que é conhecido
hoje, uma intervenção inesperada, que revela um hiato entre a
situação presente e o futuro.
Kaiser (2007) diz que misturadas às declarações de juízo e
condenação, havia a perspectiva do reino eterno de Deus. Desta
forma as predições proféticas eram não apenas predições
desconexas e espalhadas a esmo, mas exortações a Israel
quanto a viver uma vida santa naquele período, entendendo que
o futuro pertencia a Deus e a seu Reino justo. Smith (2001)
observa que o dia do Senhor19 é caracterizado por desastres
ambientais, como terremotos, secas e escuridão, e que a nova
era será um período de renovação, transformação e purificação
do mundo, paz entre pessoas e animais (Is 11.6-9; 65.25; Jl 2.18-
19, 24; 3.18; Am 9.13-14; Zc 8.4-5, 12).
Smith (2001) propõe que a esperança de Israel no AT não
incluía nada que não pudesse ser levado a cabo neste mundo.
Os conceitos de era presente e o porvir se desenvolvem no
período intertestamentário. A expressão “nesta era ou na era que
há de vir” é Neotestamentária. É válido notar que a expressão
“reino de Deus” não aparece no AT. Contudo, o reinado de Deus
é expresso em nove textos (1Cr 29.11; Sl 22.28; 103.19; 145.11-
13; Dn 4.3, 32; Ob 21). O Senhor é chamado de rei 41 vezes no
AT. A ideia do reinado de Deus estava vinculada ao reino de
Davi. A perspectiva de que o Messias, o ungido ideal viria para
exercer as funções de um rei constituía o foco israelita. Deus
escolherá o portador da promessa dinástica de senhorio eterno
sobre Sião 20.
O autor acrescenta que a missão de Emanuel é descrita pelo
profeta Isaías capítulos 9 e 11. E este, cujo reino seria marcado
por sabedoria e luz. Reinando com justiça e retidão. Paz
universal e conhecimento de Deus imperariam. O Messias é
retratado como um renovo que brota do tronco de Jessé. O
Espírito do Senhor repousará sobre ele. Ele terá o espírito de
sabedoria e de entendimento, de conselho e de poder, de
conhecimento e de temor do Senhor. Suas decisões serão
corretas e justas. Ele trará a paz à criação em sua totalidade (Is
11.6-9) 21.
Daniel

Champlin (2001) afirma que o nome Daniel significa “Deus é o


meu juiz”. Este é o nome do profeta judeu que viveu no período
babilônico. Este livro aparece na secção chamada de Ketubim. O
NT incorpora vários aspectos deste livro em suas predições
apocalípticas.
Ellisen (2007) declara que nos seis capítulos iniciais de Daniel
são registrados acontecimentos de sabedoria ou poder
sobrenaturais (1.17-20; 2.28; 3.25-27; 4.33,34; 5.5; 6.22). Nas
quatro visões dos capítulos 7–12, ele descreve acontecimentos
sobrenaturais do trono de Deus (7.9ss), Gabriel revelando visões
do futuro (8.16; 9.21), Miguel de sentinela defendendo Israel
(10.21; 12.1), poderes espirituais desafiando nações pagãs
(10.13, 20) e uma descrição metafórica do próprio Senhor
(cap.10). A soberania de Deus sobre todos os poderes e
domínios.
Champlin (2001) informa que o livro foi escrito em hebraico,
porém muitos trechos em aramaico. O capítulo 10 merece maior
atenção devido seu relato de uma personagem diferenciada, os
estudiosos cristãos a aludem ao Messias.
Para Ellisen (2007) o livro de Daniel em diversos momentos é
tido como literatura “apocalíptica”. Os elementos apocalípticos de
Daniel não são uma imagem vaga, mas são explicados em
termos do mundo real; tampouco são meros decretos de
determinismo, mas lembretes do programa divino profetizado
para inspirar o povo de Deus a boas obras, bem como a ter
confiança esperançosa. É um livro “apocalíptico” por ser uma
“revelação” de Deus 22.
Champlin (2001) observa:
Os críticos partem do pressuposto de
que, no livro de Daniel, há reflexos de
uma teologia posterior, incluindo o
conceito dos anjos e a doutrina da
ressurreição, ideias que não teriam
atingido a forma apresentada no livro de
Daniel senão já na época dos
Macabeus. As ideias de Zoroastro
aparentemente influenciaram a
angelologia dos hebreus.

Ellisen (2007) diz que a linguagem empregada no livro


floresceu de 200 a.C até 110 d.C., dando destaque a visões de
imagens simbólicas de seres humanos e espirituais, com
significado vago. Nela eram também importantes as expectativas
de catástrofes cósmicas iminentes, em que as forças do bem
venceriam as do mal e proporcionariam o estabelecimento do
governo universal messiânico. Os profetas Isaías, Ezequiel,
Daniel e Zacarias certamente descrevem acontecimentos
sobrenaturais de caráter cósmico que resultam na era
messiânica. Daniel diz muito sobre o anticristo que aparece
muitas vezes no livro, representada por símbolos, que vão de um
“pequeno chifre”, até o título específico de “rei” e “desolador”, nas
últimas visões23.
As Setenta Semanas (9.24-27)

Para Champlin (2001) o propósito do capítulo nove é elaborar


a predição dos capítulos 7 e 8 a respeito do iminente fim. São
declarações simples e sem simbolismos, embora os dias das
semanas representem os anos.
Ellissen (2007) declara que o futuro de Jerusalém e da nação
de Israel foi esboçado para Daniel, enquanto ele ficava
entendendo que os setenta anos de cativeiro, profetizado por
Jeremias (Jr 29.10), quase tinham chegado ao fim. Aquele futuro
consistia em setenta períodos de sete, ou semanas (Dn 9.20-27),
dispostos em três grupos: (1) um grupo de sete semanas; (2)
outro grupo de sessenta e duas semanas; e (3) um grupo final de
uma semana.
Champlin (2001) ressalta “Este capítulo divide-se
naturalmente em três seções: vss 1-3, prólogo; vss 4-19, oração
introdutória escrita em um hebraico melhor do que o resto do
livro, e comparável a orações como as encontradas em Baruque
1-9 e Baruque 1-3 vss. 20-27, a visão propriamente dita”.
Ellisen (2007) informa que além do cronograma gentio, Daniel
também recebeu um cronograma judaico de acontecimentos
proféticos sobre Israel. Essas profecias são mais exatas quanto
aos anos e dias e localizam os acontecimentos principais da
restauração de Israel. No final, a transgressão de Jerusalém terá
fim, a iniquidade será expiada a “justiça eterna” será trazida e as
profecias terão o seu cumprimento (9.24). O cronograma das
“setenta semanas” 24. O termo shabu’a (gr. hepta), significa um
período de sete, seja de dias, anos conforme o contexto (Gn
29.28,29). Em Daniel 9, o profeta acabara de estudar a profecia
de Jeremias dos 70 anos de cativeiro de Israel, castigo resultante
da falha em guardar os anos sabáticos durante 490 anos (2Cr
36.21). Esse período adicional de 490 anos de provação sob o
domínio dos gentios enquadra-se simetricamente com o período
similar anterior.
Champlin (2001) diz que “o primeiro setenta corresponde à
duração do cativeiro babilônico. O segundo é calculado como
anos, ou seja, 70 x 7 = 490 anos. Este cálculo seria a maneira de
entender que os setenta anos profetizados por Jeremias são as
setenta semanas de anos, segue-se a estes o reinado
messiânico”.
Embora muitos decretos tivessem sido promulgados pelos reis
persas para permitir que Israel voltasse para a Palestina,
somente um deles visou à reconstrução de Jerusalém (Ne 2.1-8).
Os outros decretos de 538, 520 e 457 foram para a reconstrução
do templo e restauração do culto (Ed 1.1,2; 6.3; 7.11-28). O
decreto para reconstruir o muro da cidade foi dado por
Artaxerxes. Essa data, registrada com cuidado, estabelece
firmemente um ponto em que a contagem decrescente das
“setenta semanas” 25.
Notas: 16 Ibid.
17 A escatologia multifacetada do Antigo Testamento pode ser
comparada a uma corda com muitos fios. Cada fio da corda “escatológica”
representa um importante elemento de esperança. (SMITH, 2001, p. 381).
18 É a escatologia que determina o curso da história, o leva à
consumação e lhe confere sentido. (LEINER, 1985, p. 142).
19 Deus nunca permitiu que houvesse segurança no presente. Israel
jamais encontrou o seu “descanso”. Nenhum momento presente foi
alguma vez a consumação objetiva. Todo presente leva o carimbo que diz
“ainda não”. A existência de Israel foi sempre uma tentativa e uma
preliminar do que ainda estava por vir. (SMITH, 2001, p. 382).
20 Ibid 21 [...] Abraão marca o início da realização de um
empreendimento salvífico que Deus mesmo levará a cabo. [...] Deus
conduz a história de seu povo segundo o plano que traçou para atingir um
final escatológico. (LEINER, 1985, p. 144-145) 22 Ibid 23 Daniel 7.8-11 é
apresentado como um “pequeno chifre” (poder) cujas palavras são
julgadas pelo “ancião de dias” e queimado pelo fogo.
Daniel 8.9-25 é visto novamente como um “pequeno chifre” que se
opõe até ao “Príncipe dos príncipes”, e é “destruído, mas não pelo poder
dos homens” no último tempo da ira de Israel (v.19).
Daniel 11.36-45 é visto agora como “o rei” (no “tempo do fim”) que se
exalta acima de todos os deuses, tem uma vitória decisiva, na “terra
magnífica” e arma “suas tendas reais” no “belo e santo monte” de
Jerusalém (v. 45).
Daniel 12.1,11 seu tempo para profanar o santuário e o “poder do povo
santo” está designado como 1.260 dias ou três anos e meio (12.1,11; cp.
Apocalipse 11.2; 13.5). (ELLISEN, 2007, p. 309)
24
a. Sete “setes” (49 anos) – Reconstrução de Jerusalém em
tempos difíceis.
b. Setenta e dois “setes” (434 anos) – após esse tempo, o
Messias é “cortado” (retirado de cena), e JerusalémBasil,
destruída.
c. Um “sete” (7 anos) – época final do pacto entre “príncipe”
romano e Israel.
d. Meio “sete” (3 anos e meio) – período de abominação,
desolação e Jerusalém. (ELLISEN, 2007, p. 311).

25 Total de dias 69 X 7 = 483 anos ou 173.880 dias (ano bíblico = 360


dias, conforme Gn 7.11, 24; 8.4; Ap 11.3; 12.6; 13.5). Período de tempo: 1
de Nisã de 444 a.C. (5 de março) + 173.880 dias = 30 de março de 33
d.C. (Confira: 444 a.C. + 33 d.C. [sem ano 0] = 476 anos.
3. Escatologia no Novo Testamento

De acordo com LADD (2008) os hebreus aguardavam a


manifestação da realeza de Javé. De sorte que a noção a
respeito do reino de Deus já era participada durante o Antigo
Testamento, fundamentada na existência do Deus vivo e eterno.
Este, portanto, é o tema central da pregação de Jesus Cristo,
bem como o que os homens deveriam fazer para entrar no Reino
de Deus.
Conforme Coenen (2000): Basiléia tou theou é um conceito
dinâmico no ensino de Cristo, denota o exercício da soberania de
Deus na Sua atividade como Redentor e Juiz da humanidade, no
cumprimento das promessas messiânicas no AT. [...] denota,
primariamente, o exercício da soberania divina, a realização do
poder real.
Ladd (2008) observa que a palavra de Deus revela que o reino
é uma realidade espiritual presente (Rm 14.17/Cl 1.13/Mt 12.28;
21.31/Mc 10.15). O reino, ao mesmo tempo, é a herança que
Deus dará ao seu povo na vinda gloriosa de Cristo (Mt 25.34/Lc
12.32). No entanto, este reino é uma realidade futura que os
servos do Senhor entrarão no porvir (2Pe 1.11/Mt 8.11/1Co
15.50). As palavras que definem reino tanto no AT em hebraico
(Malkuth da raiz – KLM 2Cr 11.17; 12.1; Ed 4.5; 8.1/Dn 2.37;
5.26, 31; 8.23/Jr 49.34/Ne 12.22/Sl 103.19; 145.11,13), como no
NT em grego ( - Basileia – Mt 6.33; 7.21; 10.15;
21.31/Mc 9.47; 10.23; 14.25/Lc 11.52; 16.16; 19.11,12/) têm um
significado comum, representam posição, autoridade e
soberania. Coenen (2000) informa: [...] Basiléia [...] em Mateus ocorre
52 vezes, 16 em Marcos, 43 em Lucas, 5 no evangelho de João e 2 no
Apocalipse. Na literatura paulina há 19 ocorrências (incluindo cinco em
discursos de Paulo em Atos), sendo 7 as vezes em que aparece nos
demais escritos do Novo Testamento. Somente Mateus tem as formas
“reino dos céus” e “reino do pai”; Paulo tem “reino de Cristo e de Deus”.
[...] No total, há 144 ocorrências de Basiléia no NT com referência ao reino
de Deus, e 13 relativas aos reinos do mundo, ao de Satanás e ao da
Besta.

De acordo com o Dicionário Internacional de Teologia do


Antigo Testamento Malkuth27 significa poder soberano. A chave
linguística do Novo Testamento e o Novo Testamento Interlinear
identificam que em Mt 4.17 a palavra reino vem da palavra
Esta palavra é definida pelo Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento como realeza,
soberania.
Souza (2004) observa: O reino de Deus é o domínio soberano
e universal de Deus e é eterno. É também o domínio de Deus no
coração dos homens que voluntariamente, a ele se submetem
pela fé, aceitando-o como Senhor e Rei. É assim, o reino invisível
nos corações regenerados que opera no mundo e se manifesta
pelo testemunho dos seus súditos. A consumação do reino
ocorrerá com a volta de Cristo, em data que só Deus conhece,
quando o mal será completamente vencido e surgirão o novo céu
e a nova terra para a eterna habitação dos remidos de Deus.
Segundo Shedd (2006) Jesus foi questionado a respeito da
restauração do reino de Israel, ao que Jesus respondeu
reforçando seu ensino a respeito da missão de evangelização do
mundo, demonstrando que seu reino não viria até que todas as
pessoas ouvissem a respeito do Evangelho. Neste aspecto os
seus súditos de todos os cantões da terra devem vir, e estes
viverão em lealdade ao rei celestial.
Ladd (2008) Fomenta a ideia de uma sobreposição de duas
eras, para tanto chama atenção para as duas palavras
empregadas no Novo Testamento, que são traduzidas por
mundo. Kosmos e Aion. A primeira refere-se ao mundo físico,
estruturado no qual os homens vivem, a segunda palavra (Aion)
refere-se a um período, está mais vinculada a ideia de tempo.
Portanto, o Reino de Deus que terá a sua concretização plena na
era porvir (Aion), no futuro, invadiu o presente. Sendo assim,
muitas bênçãos inerentes ao reino podem ser desfrutadas aqui,
na presente era (Aion).
Escatologia nos Evangelhos
Conforme Feiner (1985) o NT está repleto de textos
escatológicos, bem como apocalípticos. É notória a influência da
tradição do AT, porém não se propõe uma recomposição da
tradição, e sim de uma interpretação da esperança
veterotestamentária como algo que já está em realização28. O
autor ainda apresenta às dificuldades de se entender as
perspectivas neotestamentárias, por se focarem num mundo que
está para além do nosso, tendo em vista que se trata de algo
invisível, e este por sua vez é sempiterno.
Shedd (2006) afirma que os discípulos semelhantes aos
cristãos atuais questionavam a respeito do fim dos tempos.
Jesus em suas palavras aclarou alguns acontecimentos que
sinalizarão o tempo do fim30. O autor acrescenta: Jesus falou
de nações lutando contra nações, de reinos levantando-se
contra reinos, de fome e terremotos em vários lugares,
juntamente com crises internacionais. Jesus acrescenta que a
perseguição caracterizará a época do princípio das dores (Mt
24.8-13). Jesus prediz tribulação [...], martírio, rejeição pelas
nações, o desvio da fé e o esfriamento do amor de muitos
cristãos escandalizados Feiner (1985) observa que um tema
central do NT em termos escatológicos é a realeza de Deus.
Este tema foi tratado pelos evangelistas, estes diferentemente
dos escritores do AT não temiam usar o nome de Deus. A
utilização do termo Basiléia expressa uma realidade espacial e
temporal, trata-se da soberania de Deus que é encontrada em
seu chamado e onde se responde a Ele com fé e amor.
Durante muito tempo Israel esperava a realeza de Deus,
principalmente por já estarem vivendo um longo tempo
debaixo do jugo de outras nações, e por sua vez subjugados
pelos seus ídolos. Portanto, ao aparecerem João Batista e em
seguida Jesus apresentando a vinda iminente do Reino de
Deus, esta mensagem foi recebida com ardor.
Ladd (2003) analisa que ao estudar os sinópticos a
escatologia é uma das questões mais difíceis pelo fato de se
levantarem diversos questionamentos a este respeito, e, no
entanto, as conclusões serem poucas. O autor nota que Jesus
pouco declara o destino daqueles que não terão parte no reino
futuro de Deus. Mas é perceptível a distinção entre as palavras
Hades (estado intermediário) e Geena (lugar de punição final).
Coenen (2000) observa que a etimologia da palavra hades
( ) é incerta, esta ocorre mais de 100 vezes na
septuaginta, na maioria das vezes para traduzir a palavra seol. O
mundo subterrâneo que recebe todos os mortos. É a terra de
trevas, onde não há lembrança de Deus. Sobretudo a idéia que
há nesta palavra é a de separação total com Deus. Do outro
lado, seol está não apenas nas fronteiras da vida, mas se
manifesta entre os viventes por meio de doenças, fraqueza,
prisão, opressão dos inimigos e morte. Portanto, morrer está
para além do processo biofísico, significa também, estar fora do
relacionamento com Deus. O judaísmo rabínico sob a influência
persa e helênica dá início ao conceito da imortalidade da alma, e,
por conseguinte o conceito do hades é alterado. Posteriormente,
surge a declaração de que os justos depois da morte entram na
bem-aventurança celestial, enquanto as almas dos ímpios são
punidas no hades. Sendo assim hades passa a ser não mais o
destino de todas as almas, mas o lugar de castigo para as almas
dos ímpios, mas não o destino final e sim uma antecipação do
sofrimento do fim.
Ladd (2003) ressalta que neste período os homens passam a
existir como sombras, não são almas extintas, mas são vidas
com pouca essência. O seol é conhecido como um lugar mais
profundo, as regiões mais baixas da terra. O seol não é tanto um
lugar, mas o estado dos mortos, este é o modo do AT asseverar
que a morte não é o fim da existência. O autor identifica a
palavra Geena como o lugar da punição final, esta palavra deriva
do hebraico “gê hinnom”, um vale localizado ao sul de Jerusalém
onde eram realizados sacrifícios a Moloque nos dias de Acaz e
Manassés (2Reis 16.3; 21.6). Este vale recebeu severas
ameaças de julgamento, por este motivo o vale de Hinom é
igualado ao inferno nos escritos apocalípticos. Geena é um lugar
de tormento e sofrimento, de fogo e trevas (Mt 7.23; 10.28;
13.42, 50; 22.13; 25.30,41/Mc 9.43, 48).
Bruce (2003) fala sobre a repentina vinda do Senhor relatada
em Lucas 17.22-37, semelhante aos acontecimentos que
incidiram na época de Noé, bem como aos fatos ocorridos em
Sodoma. No entanto, Marcos 13.5-32 chama atenção por
verificar que precedente a este é necessário a proclamação do
Evangelho por todo o mundo e um período de grande tribulação,
seguido por Marcos 13.33-37 onde se observa uma advertência
a vigilância por este dia ser incerto quanto a data.
Ladd (2003) diz que os discursos de Jesus a respeito da
apocalíptica, mais especificamente, estão registrados nos
sinópticos em Lucas 17. 22-37; 21 / Mateus 24 / Marcos 13. Em
resposta à pergunta dos fariseus e dos discípulos a respeito de
quais os sinais e quando aconteceria o fim dos tempos. Alguns
interpretam as palavras de Cristo utilizando o evangelho de
Lucas para interpretar Mateus e Marcos sobre a destruição do
templo como um acontecimento histórico ocorrido entre 67-70
d.C. com Tito. Porém, é mais provável que Jesus estivesse
respondendo a uma pergunta dupla: “Tendo Jesus saído do templo,
ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos para lhe
mostrar as construções do templo. Ele, porém, lhes disse: Não vedes tudo
isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não
seja derribada. No Monte das Oliveiras, achava-se Jesus assentado,
quando se aproximaram dele os seus discípulos, em particular, lhe
pediram: Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da
tua vinda e da consumação do século.” Mateus 24:1-3

Segue-se, então que Jesus ao declarar estas coisas se referia


tanto a um acontecimento histórico, quanto a uma predição
escatológica. Tendo em vista que a parousia29 aconteceria em
consequência dessas coisas.
Conforme Feiner (1985) a figura do Filho do Homem se
sobressai, seguida de seus anjos (Mc 13.26). Em reunião com os
seus eleitos de todas as partes do mundo, dos fins do orbe aos
extremos do céu (Mc 13.27). Em Marcos 13.27, os eleitos são
ajuntados no monte mais elevado da terra e depois arrebatados
até os céus, onde o Filho do Homem está assentado à destra de
Deus. O fim se efetua com o arrebatamento dos eleitos ao céu.
Deus, Jesus Cristo e os eleitos viverão juntos para sempre.
Ladd (2003) chama atenção para a ênfase empregada por
João para o dualismo vertical ou invés de enfatizar o
escatológico. Portanto, não faz sentido rejeitar o sentido
escatológico empregado por João apesar de a palavra reino
aparecer apenas duas vezes em seus escritos (Jo 3.3,5). Esses
versículos se caracterizam um equivalente à expressão dos
sinópticos.
Feiner (1985) conclui: Todo o NT reflete a convicção de que Deus
desempenha a função de juiz. À boa notícia se segue o anúncio de um
juízo, iminente e ameaçador. [...] João Batista anuncia o juízo iminente (Mt
3.7-10 = Lc 3.7s) [...] Ditos e discursos de Jesus propõem, com notável
rigor, o tema do juízo de Deus: Ou com recompensa ou com castigo. [...]
aquele que volta será também o juiz do grande juízo. Com esse juízo Jesus
ameaça as cidades de Israel.
Shedd (2006) declara que os evangelhos não aclaram
ordinariamente os eventos que ocorrerão n o f i m dos tempos,
no entanto, sugere as advertências de Cristo a respeito das
coisas que caracterizam o final.
Mateus 24.3-41 – Charles C. Ryrie

24.3 – “Neste discurso Jesus respondeu a duas das três


perguntas feitas pelos discípulos. Não diz quando sucederão
estas coisas; mas sim que sinal haverá da sua vinda nos
versículos 29-31 e fala dos sinais do fim dos tempos nos
versículos 4-28. Os versículos 4-14 relacionam características da
primeira metade da tribulação, ao passo que os versículos 15-28
tratam da segunda metade”.
24.15 – “abominável da desolação. Este é o “homem da
iniquidade” (2Ts 2.3), o anticristo, que na metade da tribulação
romperá a aliança feita com o povo judeu no início da tribulação
(Dn 9.27) e exigirá que eles (e o mundo todo) o adorem. Os que
resistirem serão perseguidos, e muitos serão martirizados; daí a
urgência das instruções nos versículos 16-22”.
24.22 – “Ninguém seria salvo. Lit., nenhuma carne se salvaria.
Os escolhidos. Os remidos durante o período da tribulação. Os
eleitos desta era (a igreja) terão sido arrebatados antes do início
desse período (1Ts 4.13-18)”.
24.25 – “Encontramos aqui uma advertência e também uma
predição”.
24.29 – “O sol se escurecerá. Estes fenômenos cósmicos que
acompanharão a volta do Filho do Homem são preditos em
Isaías 13.9-10 e Joel 2.31; 3.15”.
24.30 – “O sinal. Alguns comentaristas acreditam que é o
relâmpago do versículo 24; outros, que é a Shekinah, ou a glória
de Cristo; outros, ainda, preferem não especificar. [...] O próprio
Filho do Homem virá visivelmente (Ap 1.7)”.
24.34 – “Nenhuma pessoa do tempo em que Jesus proferiu
estas palavras viveu para ver tudo isto acontecer. No entanto, a
palavra grega usada pode significar raça ou família, um sentido
apropriado neste caso; [...] a raça judaica será preservada até a
volta do Senhor”.
24.37-39 – “Foram tempos de libertinagem e despreparo, como
serão os dias antes da segunda vinda. O dilúvio exterminou os
perversos [...]. Cristo fará o mesmo”.
24.40-41 – “Aquele que for tomado será levado para
julgamento e morte. Aquele que for deixado permanecerá para
receber as bênçãos do reino milenar”.
Marcos 13.9-32 – Charles C. Ryrie

13.9 – “Sinagogas. Eram usadas como local de reunião e


como tribunal. Às vezes os açoitamentos eram realizados ali
(2Co 11.24). Estas predições começaram a cumprir-se no livro de
Atos (veja At 4.5ss; 5.27; 12.1ss; 24.1ss; 25.1ss).
13.11 – “Vos denunciarem às autoridades”.
13.20 – “O remanescente eleito (salvo) de Israel durante os
dias da tribulação. Na segunda vinda de Cristo, estas pessoas
serão restauradas à Palestina (v. 27)”.
13.27 – “Aqueles que vierem a crer durante o período de sete
anos correspondentes à tribulação. Os escolhidos da Igreja terão
sido levados para o céu antes do início da tribulação (1Ts 1.10;
5.9-11; Ap 6.17). O termo escolhido(s) é usado para várias
pessoas ou grupos: Cristo (Is 42.1; 1Pe 2.6), Israel (Is 45.4), os
santos do milênio (Is 65.22), os santos da tribulação [...], os
santos da Igreja (Cl 3.12) e os anjos (1 Tm 5.21).
13.28 – “figueira. Aqui, não representa Israel [...], mas todos
os sinais da segunda vinda de Cristo, descritos nos versículos
14-23”.
13.29 – “O texto não diz o que está próximo. O sujeito da frase
pode ser a crise do fim dos tempos ou o próprio Cristo”.
13.32 – “Nem o Filho. Em sua humanidade, Jesus não sabia.
Para a limitação própria de Cristo”.
Lucas 21.7-41 – Charles C. Ryrie

21.7 – “A resposta de Cristo vislumbra dois acontecimentos


distintos – a destruição de Jerusalém no ano 70 e os dias da
tribulação pouco antes de sua segunda vinda. Os versículos 8-19
e 25-28 se referem particularmente ao período futuro, enquanto
os versículos 20-24 tratam do passado”.
21.19 – “Aqueles que suportarem a perseguição demonstrarão
a autenticidade da sua salvação (o que pode incluir a ideia de
sobreviver até o final do período de tribulação, conforme Mt
24.13)”.
21.24 – “O período do domínio gentio sobre Jerusalém,
provavelmente iniciado com Nabucodonosor (587 a.C.), que
certamente estava em vigor em 70 d.C. e que continuará até os
dias da tribulação”.
21.34-36 – “A segunda vinda de Cristo, que será inesperada e
universal; convém, portanto, vigiar”.
Atos

SHEDD (2006) afirma que em Atos 1.16 os discípulos


indagam a respeito do final dos tempos, concernente
estabelecimento do reino relacionado a Israel. Jesus contrapõe o
conceito dos discípulos com a urgência da proclamação do
Evangelho até os confins da terra. Em Atos 3.20-21, a pregação
de Pedro enfoca o arrependimento e o recebimento do
Evangelho como termos necessários para o estabelecimento da
esperança a respeito da vinda do Reino de Deus.
LADD (2003) trata a respeito do Kerigma escatológico,
afirmando que este sempre termina com um chamamento ao
arrependimento, com a promessa da salvação, e esta implica na
vida no porvir.
Epistolas Paulinas

Afirma Ladd (2003) que o pensamento paulino é estruturado


no dualismo entre a era presente e a era vindoura. No entanto,
os eventos da consumação escatológica começaram a ser
revelados na história. A morte, a ressurreição de Cristo e a
doação do Espírito Santo caracterizam-se eventos escatológicos.
Mediante esses acontecimentos o cristão vive no presente a vida
da nova era (2Co 5.17 Rm 6.3-4 Ef 2.6). Porém, os poderes que
os cristãos experimentam da vida futura, não podem ser
desfrutados plenamente, apesar de serem reais são
experimentadas parcialmente, isso alude à tensão escatológica
vivida pela igreja. Um tema característico do apóstolo Paulo é a
justificação, e esta doutrina é escatológica. Neste aspecto a
justificação é forense, em que Deus o justo juiz irá declarar a
inocência ou a culpa dos seres humanos. No entanto, para Paulo
essa justificação já aconteceu (Rm 5.1, 9; 8.1 / 1Co 6.11) para os
servos do Senhor, estes já foram justificados e livres da culpa,
por meio da morte de Cristo Jesus e pode ser recebida pela fé no
presente, o autor acrescenta: Em Cristo, o futuro tornou-se presente;
o julgamento escatológico aconteceu, com efeito, na história. Como,
conforme os sinópticos, o Reino escatológico de Deus está presente na
História, e, de acordo com João, a vida eterna escatológica está presente
em Cristo, assim como, conforme Atos (e também no ministério de
Paulo), a ressurreição escatológica já começou na ressurreição de Jesus,
[...] o juízo escatológico, em princípio, já ocorreu em Cristo, e Deus
absolveu seu povo.
Campos (2008) ressalta que os mortos estão aguardando a
ressurreição. Os salvos aguardam a primeira ressurreição para a
vida, e esta ocorrerá no arrebatamento e os ímpios aguardam a
segunda ressurreição para a morte, esta ocorrerá no juízo final.
Para Ladd (2003) em Paulo este tema é visto como o despir
do corpo, isto representa estar mais próximo a Deus. Paulo tinha
uma idéia bastante hebraica com relação ao sono dos mortos,
contrapondo a ideia grega do voo da alma, saindo da prisão
(corpo) para alcançar a genuína liberdade no mundo celestial.
Em 1Tessalonicenses 4.13; 1Coríntios 15.16 Paulo trata a morte
como sono, esta expressão era comum nas literaturas gregas e
hebraicas.
Bruce (2003) argumenta que Paulo não pôde permanecer em
Tessalônica, o período que seguiu a sua partida alguns dos
cristãos morreram, ao que o autor sugere que os tessalonicenses
não estavam preparados, portanto, procuraram esclarecimento
quanto o que ocorreria com os que morreram antes da vinda do
Senhor e por quanto tempo deveriam aguardar a parousia?
Diante disso Paulo os tranquilizou: Não quero, porém, irmãos, que
sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais
como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus
morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os
tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor:
que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos
os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e
com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em
Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos
arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos
ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos
uns aos outros com estas palavras.
1 Tessalonicenses 4:13-18
Langston (2007) observa “A segunda vinda de Jesus é a
consequência natural da sua primeira vinda, e também
consequência da natureza do cristianismo”.
Com relação ao retorno de Cristo, Ladd (2003) diz que Paulo
fez uso de três palavras. Parousia que pode significar presença
(Fp 2.12) ou vinda (1Co 16.17/ 2Co 7.7), termo usado para
designar a visita de pessoas proeminentes, especialmente reis e
imperadores. A vinda de Cristo é também um apokalypsis, ato de
desvelar ou descobrir algo. Neste aspecto sua vinda será a
revelação, para o mundo, da sua glória e do poder que lhe
pertencem (2Ts 1.7 / 1Co 1.7). O último termo usado por Paulo é
epiphaneia, ou aparição, seu retorno será visível. A vinda de
cristo não acontecerá secretamente, pelo contrário será a
entrada da glória de Deus na história (Tt 2.13).
Conforme Shedd (2006), o arrebatamento ocorrerá como
evento posterior à ressurreição dos crentes, no entanto, o
encontro com o Senhor nos ares acontecerá simultaneamente.
Neste aspecto esse encontro se realizará para acompanhar o
Senhor na sua descida dos ares para a terra. Para Ladd (2003),
esta ressurreição ocorrerá em tempo real a vinda de Cristo (1Ts
4.16 / 1Co 15.52), a transformação realizada nos que serão
ressuscitados, também ocorrerá nos que estiverem vivos em
Cristo (1Ts 4.15 / 1Co 15.51). O autor aclara: Esses corpos terão as
mesmas características daquele que Jesus tem depois da sua
ressurreição (Fp 3.21), sendo capazes de existir no ambiente celestial,
irradiados de glória e totalmente submissos ao controle do Espirito Santo
(1Co 15.44, 48-49). [...] Jesus parece distinguir entre duas ressurreições, a
dos justos e a dos injustos. Ele disse especificamente que haverá uma
ressurreição para “fora dos mortos” (Lc 20.35), isto é, dos salvos dentre
os perdidos.

Ladd (2003) observa que Paulo mais do que qualquer outro


autor neotestamentário escreve a respeito da ressurreição, por
acreditar que a salvação, é a salvação do homem todo, por
conseguinte, o é também do corpo (Rm 8.11, 18, 23 / Fp 3.21). O
corpo ressuscitado sob a ótica paulina transcende qualquer
experiência vivida na história. Paulo não pormenoriza como será
o corpo da ressurreição (glorificado), mas trata a respeito de
aspectos que diferem o corpo glorificado do corpo físico. O físico
é corruptível, frágil e traz desonra. O Corpo glorificado é
incorruptível, glorioso e poderoso. São definidos em termos
simples o corpo natural (psychikon soma) e o corpo espiritual
(pneumatikon soma - Rm 8.11, 23 / 1Co 6.14, 15 / 2Co 4.14; 5.4-
5 / Ef 1.14 / Fp 3.21 / 1Ts 4.16).
Shedd (2006) acrescenta: O apostolo Paulo informa que a
ocasião da ressurreição será marcada (provavelmente precedida)
pelo restabelecimento de Israel como povo de Deus pela
conversão geral da nação. Evidentemente a reconciliação e
conversão dos judeus que se esperava no início da época cristã
(At 1.8; Rm 1.16) ocorrerá no fim.
Ladd (2003) ressalta que Romanos 2 é o texto que Paulo se
detém para falar com maior ênfase a respeito do juízo. Neste
aspecto Paulo declara que os homens serão julgados segundo
as suas obras. Os justos para a vida eterna e os ímpios para ira
e o desprezo. Então acontecerá a consumação onde toda a
criação será reconciliada com Deus, consumação do triunfo
sobre os poderes malignos conquistados na morte de Cristo,
haverá a restauração da paz entre cosmos e Deus (Ef 1.10 / Fp
2.10— 11 / Cl 1.16-20; 2.14-15).
Para Shedd (2006) o juízo “demonstrará a qualidade da obra
de cada servo, bom ou mau, realizou nesta vida. Ela será
revelada pelo fogo do juízo. Então se constatará o direito de
receber um galardão ou ser salvo apenas como pelo fogo (1Co
3.13-15).”
Outro evento escatológico abordado por Ladd (2003) tem a
ver com a salvação de Israel, pois Paulo em Romanos 9–11
aclara que a rejeição de Cristo por parte de Israel faz parte do
propósito soberano de Deus para que a salvação alcançasse os
gentios. Portanto, fica a ideia de que provavelmente Israel
receberá a salvação mediante a fé no Cristo dos evangelhos.
1 Tessalonicenses 4.13 – 17 / 5.2-9 – Charles C. Ryrie

4.13 – “É o corpo (e não a alma) do cristão que morre (dorme)


durante o período entre a morte e a ressurreição”.
4.14 – “A certeza da ressurreição do cristão é baseada na
realidade da ressurreição de Cristo”.

4.16-17 – “Miguel é o único arcanjo citado por nome na Bíblia


(Jd 9). Os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro, quando o
Senhor vier buscar o seu povo (v. 17). Então os cristãos vivos
serão arrebatados. O arrebatamento dos cristãos, descrito nesta
passagem, envolve tanto os que tiverem morrido quanto aqueles
que estiverem vivos quando o Senhor retornar. Sua vinda, neste
momento se dará nos ares, não na terra, e acontecerá
imediatamente antes do início da grande tribulação (Ap 3.10) [...].
Esse período terminará com a volta de Cristo à terra (Mt 24.29-
30)”.
5.2 – “Um extenso período de tempo, que começa com a
grande tribulação e inclui os acontecimentos da segunda vinda
de Cristo e o reino milenar sobre a terra. [...] aqui Paulo se
concentra na parte inicial desse dia, que começará
inesperadamente”.
5.9 – “A angústia e a tribulação associadas ao início do dia do
Senhor, das quais o cristão será livre”.
Epístolas Gerais

Segundo Shedd (2006), Tiago reafirma a proximidade da vinda


do Senhor, mas os eleitos devem aguardá-la com paciência (5.7-
8) O apóstolo Pedro exorta em sua primeira carta a louvar o
Senhor devido à viva esperança que a ressurreição de Cristo
outorgou (1.3). Crentes verdadeiros são guardados por Deus
mediante a fé para a salvação preparada para ser revelada no
último tempo (1.35) em que Jesus será revelado (1.7). Pedro não
sugere que a igreja escapará do juízo purificador (4.1) pelo
contrário, se a “tribulação primeiro vem para nós, qual será o fim
para aqueles que não obedecem ao evangelho de Deus” (4.17).
A igreja sofrerá, sendo purificada pela perseguição, mas o
mundo sofrerá o terrível juízo de Deus devido ao ódio e a
maldade que os mundanos praticam contra os santos.
Ryrie (2007) acrescenta “Se até mesmo os cristãos precisam
ser julgados (por meio da purificação), que destino aguarda os
incrédulos, que serão castigados por seus pecados?”.
Shedd (2006) argumenta que o sofrimento de Jesus Cristo na
cruz afirma um princípio muitas vezes esquecido pelos cristãos
modernos. Aquele que sofreu pelo nome e testemunho de Cristo
não estará deleitando-se, ao mesmo tempo, nos prazeres
pecaminosos. A perseguição provoca a crise necessária a qual
outorga impulso para a santificação. A segunda carta de Pedro
se detém com mais afinco no tema da segunda vinda. Pode-se
sentir o problema da demora da parousia de Cristo porque
escarnecedores lançavam no rosto dos crentes a dúvida com
respeito ao fim total como eles esperavam.
Ryrie (2007) observa que “Pedro começa seu ataque àqueles
que duvidam da segunda vinda de Cristo referindo-se à
confiabilidade da Palavra de Deus conforme demonstrada na
criação”.
Shedd (2006) segue dizendo que os eleitos talvez ficaram
impressionados com a demora da chegada do fim, anulando a
esperança de Deus julgar este mundo e Cristo voltar. Pedro
rememora que a demora é sinal de paciência de Deus. Ele
permite ainda que anunciemos sua graça a parentes, vizinhos e
mesmo as nações. Um dia para o Senhor significa mil anos ou
mil anos um dia, porque Deus não muda de propósito.
Para Ryrie (2007), Pedro afirma que a aparente demora da
volta de Cristo se deve ao fato de Deus não considerar o tempo
da mesma forma que os homens e é desejo de Deus que mais
pessoas se arrependam.
Shedd (2006) argumenta: De fato Cristo voltará repentinamente
como ladrão (2Pe 3.10), a ocasião denominada aqui como “o dia
do Senhor”. Nessa data, “os céus passarão com estrepitoso
estrondo, os elementos se desfarão abrasados e a terra junto
com as obras que nela existem serão atingidas”. Todas essas
coisas serão desfeitas porque “os céus serão incendiados e os
elementos abrasados se derreterão” (3.10,12). A que se referem
essas predições relacionadas com a vinda de Cristo como
ladrão? Somente os distúrbios e cataclismas celestes como
Jesus e João os descreveram devem corresponder ao que
Pedro descreve aqui (Mt 24.29; Ap 6.12; 8.7). A quarta taça
predita por João em Apocalipse 16.8-9, derramada sobre o
mundo, queimará os homens. Tanto Pedro como João chamam
a restituição dos céus e da terra de “novo céu e nova terra” (Ap
2.11; Is 65.17; 66.22).
O autor observa ainda que esta passagem é a única no NT
que sugere que a data da vinda de Cristo depende também da
igreja. Os remidos não devem apenas aguardar como
expectadores o desfecho do fim, mas como cooperadores de
Deus, apressando ou retardando o dia do Senhor.
Para Ryrie (2007) o dia do Senhor terá início de forma
inesperada no começo da tribulação e findará no encerramento
do reino milenar, com a destruição dos céus e da terra antigos.
Shedd (2006) ressalta que a primeira carta de João lembra
aos cristãos da Ásia que o Anticristo virá. Acrescenta que muitos
anticristos surgiram dentro da igreja, isso dá uma base para crer
que já é a última hora. A manifestação de Cristo marcará a
transformação que os cristãos almejam – alcançarão sua
natureza e suas características.
Notas: 26 476 X 365.2421 [nº de dias do ano solar] = 173.855 dias ou 5
de março de 33 d.C. somando os 25 dias restantes aos 173.880.
Chegamos a 30 de março de 33 d.C. A data de 30 de março de 33 d.C. foi
o domingo de ramos em que Jesus entrou em Jerusalém e chorou, ao
censurá-los por não reconhecerem a “oportunidade” da visitação (Lc 19.41
— 44). (ELLISEN, 2007, p. 312) 27 Klm – Ser rei; reinar; dominar (também
usado para Deus). Fazer (alguém) rei, instalar (alguém) como rei. Tornar-
se rei. (KIRTS, 2004, p. 128) 28 Estes são os últimos dias (At 2.17; Hb 1,2);
esta a última hora (1Jo 2.18). Jesus Cristo é o último Adão (1Co 15.45).
(Feiner, 1985, p. 162) 29 [...] Surgirão falsos messias que enganarão
a muitos (Mt 24.5), guerras e rumores de guerra. Por isso Jesus
adverte que “ainda não é o fim” (Mt 24.6); “o fim não será de
imediato” Lc 21.9). (SHEDD, 2006, p. 25) 30 Para descrever a
vinda do Cristo que se espera, Mateus usa o termo parusia. [...]
Lucas, porém fala dos dias do Filho do Homem, não de sua
parousia. [...] é absolutamente certo que nesses passos, quando
falam do Filho do Homem, os evangelhos querem referir-se a
Jesus e que a vinda esperada é a parousia de Cristo. [...] o tema
da parousia é desenvolvido combinando simultaneamente três
grupos de lógia: em 17.20s se trata da vinda da realeza de Deus;
em 17.22-37 da vinda do Filho do Homem; em 18.1-8 da
invocação da sua vinda. (FEINER, 1985, p. 176-177)
4. Apocalipse

Precedentes elementares para a interpretação do apocalipse:

O livro do Apocalipse contém muitas alusões e


referências ao Antigo Testamento, principalmente aos livros
de Ezequiel, Daniel e Zacarias;

É um livro de visões. João tenta descrever figuras


representativas do futuro – imagens de eventos, locais que
lhe eram completamente desconhecidos. Portanto, cabe aos
pesquisadores um debruçar cuidadoso sobre os textos;

As profecias têm um modo singular de encaixar


eventos que não é facilmente entendido. Uma só profecia
pode ser aplicada a várias ocorrências separadas entre si
quanto às respectivas datas;
Principais Interpretações do Apocalipse

Idealista (simbólica ou espiritualizante) – Separa o


Apocalipse totalmente de qualquer referência a eventos – quer
dos dias de João, quer dos tempos do fim, ou de qualquer
período entre os dois. É considerada uma representação em
linguagem altamente figurada, dos grandes princípios do governo
divino e do bem que vence o mal, sendo que esses princípios
são aplicáveis a todos os tempos.
Erickson (2010) acrescenta: Essa interpretação tira o elemento
temporal da apocalíptica. Os símbolos ou acontecimentos
descritos não ocorrerão em qualquer ponto específico da história,
mas representam e apresentam “verdades eternas”, verdades
acerca da natureza da realidade ou da existência humana que
são continuamente presentes ou recorrem continuamente. Não se
pergunta delas: “Quando?”, mas sim, “O quê?”.

Preterista – Considera que o Apocalipse se refere aos seus


dias: a luta entre o cristianismo e o Império Romano. Toma por
certo que tudo foi cumprido durante o período em que foi escrito
e que a história foi narrada com figuras e símbolos a fim de
ocultar seu significado dos pagãos do século I.
Erickson (2010) diz: que “A abordagem preterista considera
que o cumprimento da apocalíptica ocorreu aproximadamente no
período contemporâneo ao registro bíblico dela. Sendo assim os
‘últimos tempos’ já teriam chegado quando o escritor bíblico os
descreveu”.
Histórica – Vê no Apocalipse a predição do período inteiro da
história eclesiástica, desde os tempos de João até o fim do
mundo. Um panorama ou uma série de quadros, que delineia os
passos sucessivos e as características mais notáveis da luta da
igreja até a vitória final.
Para Erickson (2010) “o historicista considera que a
apocalíptica pertence a acontecimentos que ainda eram futuros
na ocasião em que foram descritos (o período bíblico), mas que
já ocorreram e continuam a acontecer dentro da história da
igreja”.
Futurista – Centraliza o Apocalipse, na maior parte, no tempo
da vinda do Senhor e do fim do mundo. Essa interpretação
sustenta que maior parte do livro (cap. 4–22) revela eventos que
ainda são para ser cumpridos.
Segundo Erickson (2010): O futurista relaciona os elementos
proféticos e apocalípticos das Escrituras primariamente a um
tempo do fim quando todos os acontecimentos se sucederão. A
maior parte dele ainda acontecerá no futuro para nós, como
acontecia para os que viviam nos tempos bíblicos.
Características do Livro Apocalipse
Profético O livro do Apocalipse é um livro profético, pois
pertence ao gênero literário apocalíptico no qual a mensagem
divina é transmitida na forma de visões e sonhos. Foi escrito com
o propósito de desvendar o futuro e traçar o destino dos judeus,
dos gentios e da Igreja do Senhor Jesus Cristo.
Prático Embora haja o uso significativo de linguagem figurada,
encaixadas a estas estão algumas das advertências mais
salutares e das promessas mais preciosas da Bíblia. Este é o livro
do mais puro otimismo para o povo de Deus, por oferecer a
garantia da proteção divina e a eterna vida de bem—
aventurança.
Contexto Histórico de Apocalipse

Para Halley (2001) Apocalipse foi escrito sob o clarão lúgubre


dos mártires queimados. A igreja estava com 66 anos de idade.
Crescera sem precedentes. Sofrera, e ainda sofria perseguições
tremendas. Segundo Halley, a primeira perseguição ocorreu 30
anos antes de o Apocalipse ser escrito, foi instigada pelo
Imperador Nero (64-67 d.C.). Muitos cristãos foram crucificados,
lançados às feras, envoltos em roupas encharcadas em
materiais inflamáveis e queimados até a morte. A segunda
durante o império de Domiciano (95 d.C.) Mais de 40 mil cristãos
foram torturados e mortos. Foi durante esse período de
perseguição que João foi banido na ilha de Patmos. A terceira
perseguição imperial, a de Trajano (98 d.C.). João sobrevivera às
duas primeiras e agora passava por esta tentativa romana de
erradicar a fé cristã. “Parece claro que outorgou essas visões a
fim de preparar e confirmar a igreja para enfrentar os dias
terríveis do futuro imediato e para consolá-la com a certeza de
que ele governa tanto o início quanto o fim da história.”
Acrescenta o autor: Jesus domina o cenário do começo ao fim do livro.
Jesus, o Filho de Deus, que forneceu o meio para a igreja ser redimida e
reunida com seu Criador, continua a ser revelado por intermédio do livro
do Apocalipse. Sua Segunda Vinda, seu Reino milenar na terra e seu
julgamento do mundo são preditos aqui. E o Apocalipse descreve a vitória
final de Jesus sobre nosso inimigo, Satanás. Jesus estabelecerá seu
Reino eterno, e os santos redimidos reinarão com ele eternamente.
Conteúdo do Livro

Ladd (2003) – O livro de Apocalipse se distingue dos demais


livros da Bíblia por tratar de assuntos que não são abordados
pelos demais, fala sobre a visitação da ira de Deus, bem como a
vinda do reino, não mais parcialmente, mas o seu
estabelecimento; sendo assim a nova terra terá como centro a
cidade santa, a nova Jerusalém. Neste período os redimidos
gozarão do privilégio da vida eternal.
Feiner (1985) – Observa que o NT fala a respeito da nova
criação como criação transformada (Rm 8.19-23 2Co 5.17 Gl
6.16). Tendo em vista a destruição do antigo mundo (Ap 21.1-27 /
2Pe 3.7— 13). Após o último juízo haverá uma restauração ou
regeneração de todas as coisas.
Campos (2008) divide a ordem dos acontecimentos em:
O Princípio das dores;
O Arrebatamento da Igreja;
A Grande Tribulação;
O Armagedom;
A Segunda Vinda de Cristo;
O Milênio;
O Juízo Final;
O Novo Céu e a Nova Terra;
Em seu livro Teologia em perguntas e respostas o Pastor
Geraldo M. Campos analisa os últimos acontecimentos definindo
o princípio das dores como sendo um período de dias difíceis, de
decadência, e estes dias precederão o arrebatamento da Igreja.
O arrebatamento significa agarrar, arrancar, raptar, pegar à força.
Neste acontecimento a Igreja será arrebatada, os mortos
ressuscitarão e os salvos que estiverem vivos serão
transformados. Após o arrebatamento acontecerá a grande
tribulação, um período de sofrimento que a humanidade jamais
experimentou ao longo da sua história.
Feiner (1985) – Trata os acontecimentos apocalípticos como
um duplo momento. A primeira ressurreição, nesta os mártires
encontrarão justiça e triunfo, esses reinarão com Cristo durante o
Milênio. A segunda ressurreição dos mortos será para juízo
universal (Ap 20.11-15), nesta ressuscitam aqueles que não
tomaram parte na primeira ressurreição. A morte e o inferno
devolvem os mortos, e estes estarão diante de Deus para serem
julgados. Diante disso o livro da vida será aberto e este contém
os nomes dos eleitos.
Segundo Campo (2008) o final da grande tribulação é
marcado pela batalha do Armagedom (Monte Megido). Esta será
marcada pela insurgência maligna contra Deus, o retorno de
Cristo com o seu exército e vence os inimigos. A besta e o falso
profeta são lançados no lago de fogo e Satanás é aprisionado no
abismo por mil anos.
Conforme Langston (2007) Deus julgará a todos por meio de
Jesus Cristo. O objetivo do julgamento final não é descobrir, mas
revelar a verdade, ou seja, manifesta os grandes propósitos de
Deus, bem como trazer a tona os feitos dos homens.
Campos (2008) observa que o juízo final acontecerá após a
batalha final de Gogue e Magogue, neste evento Satanás será
derrotado e com a besta (anticristo) e o falso profeta serão
consumidos pelo fogo que descerá do céu (Ap 20.9,10).
Posteriormente o Novo Céu e a Nova Terra serão criados por
Deus, por conta de o antigo mundo haver sido destruído. Esta
nova criação será a habitação dos salvos (Ap 21.3,4)
Apocalipse 19.20 / 20.1, 2, 5, 8 / 21.1-2 – Charles C. Ryrie
.
19.20 – “A Besta e o Falso profeta serão os primeiros
ocupantes do lago de fogo; outros incrédulos, que se encontram
hoje no hades, se juntarão aos dois no final do milênio (20.14)”.
20.1 – “O lugar para onde todos os espíritos malignos serão
enviados no final (Lc 8.31)”.
20.2 – “A expressão em latim para mil anos é millenium, daí o
termo milênio. É o tempo em que Cristo reinará sobre a Terra (Is
2.3; Dn 7.14; Zc 14.9). Satanás não terá liberdade de agir (Ap
20.2), a justiça florescerá (Is 11.3-5), a paz será universal (Is 2.4)
e a produtividade da terra será grandemente multiplicada (Is
35.1-2). Ao final deste período, Satanás será solto para fazer
uma última tentativa de derrubar Cristo, mas não logrará sucesso
(Ap 20.7-9)”.
20.5 – “Os ímpios mortos serão ressuscitados e julgados
depois do milênio. Esta é a primeira ressurreição. A frase se
refere ao fim do versículo 4. Esta ressurreição inclui todos os
justos de todas as eras”.
20.8 – “Gogue e Magogue. Nomes simbólicos para os inimigos
universais de Cristo. Não se trata da mesma batalha descrita em
Ezequiel 38–39. O grande número de rebeldes será decorrente
dos muitos que nascerão durante o Milênio, os quais, mesmo
professando obediência ao Rei exteriormente, jamais o aceitarão
de fato”.
21.1 – “A presente criação será destruída a fim de ser
purificada de todos os efeitos do pecado (2Pe 3.7, 10, 12). Não
haverá mais mar, pois as condições climáticas e humanas serão
completamente diferentes”.
21.2 – “Esta cidade celestial será a morada de todos os santos
(Hb 12.22-24), a noiva de Cristo (Ap 21.9-10); hoje, é o lugar que
Cristo está preparando para o seu povo (Jo 14.2). Ao que
parece, durante o milênio a nova Jerusalém [...] pairará acima da
terra e será a morada de todos os cristãos na eternidade (Ap
21.1-8)”.
5. Escolas Escatológicas

Pós-Milenismo (Milenarismo)

ERICKSON (2010) explica que esta escola apresenta o reino


de Deus como uma realidade presente. O reino não se trata de
um império sobre o qual o Senhor reina, mas o governo de Cristo
no coração dos homens. A presença do reino é real em qualquer
lugar onde os homens creiam em Jesus Cristo, dediquem-se a
ele, e o obedeçam31.
GENTRY (2005) define o pós-milenarismo32 como o sistema
que fomenta a proclamação do Evangelho a maior parte da
humanidade para a salvação no presente. E este anúncio
produzirá o momento que antecede a vinda de Cristo,
posteriormente o Senhor retornará corpórea e visivelmente para
dar cabo à história, com a ressurreição geral e o juízo final.
ERICKSON (2010) Argumenta que a pregação do evangelho
eficaz, por meio da obra do Espírito em convencer e regenerar
os homens. Isso não quer dizer que a totalidade da população se
converterá, porém, todas as nações crerão. Haverá um
avivamento mundial, em que a conversão de cada cristão, como
resultado da salvação pela graça, mediante a fé, trará
transformação ao mundo. O Milênio ocorrerá à medida que cada
vez mais pessoas se submetem ao plano do Senhor e começam
a praticar os ensinos e modo de vida que ele estabeleceu. Neste
período cessarão os conflitos entre as nações, bem como o atrito
entre as raças e as classes sociais, havendo acordo entre
brancos, negros, índios, latinos e outros. Esta é uma
interpretação da profecia de que o lobo e o cordeiro se deitarão
juntos (Is 11.6).
Há também a esperança da conversão
de todas as nações do mundo, não na
totalidade, mas a grande maioria da
população de todos os povos da terra.
Assim será inaugurado um longo
período de paz entre os homens no
mundo que se identifica com o reino
milenar. (SHEDD, 2006, p. 23).
Os pós-milenaristas não são literalistas quanto ao tempo do
Milênio, o interpretam como um longo período, não
necessariamente mil anos. A paz esperada não acontecerá
repentinamente, mas o reino chegará gradualmente. Alguns pós-
milenistas afirmam que este período milenar abrange todo o
período da igreja. Outros pensam a era presente irá se misturar
com a era milenar. Para o pós-milenista o Milênio difere da era
presente apenas quanto ao grau. O casamento, a família e o
nascimento estarão presentes. Os problemas econômicos,
sociais e educacionais acontecerão, mas serão bastante
modificados e até mesmo eliminados. No fim do milênio haverá
um período de apostasia e explosão do mal que acontecerá com
a vinda do Anticristo33.
Os pós-milenistas não interpretam os
mil anos de Apocalipse 20 literalmente.
Alguns (como os amilenistas) acreditam
que durará todo o período da Igreja
entre a primeira e a segunda vinda. [...]
outros creem que o milênio não literal
começará com a divulgação mundial do
evangelho e a conversão da maioria da
humanidade. (SHEDD, 2006, p. 23).
Erickson (2010) declara que após o período de expansão do
Evangelho e cristianização das nações, Cristo retornará
fisicamente, e esta será seguida pela ressurreição geral e pelo
julgamento de todos. Mais um elemento, defendido apenas por
alguns pós-milenistas, é que a nação judaica se converterá.
Dessa forma o pós-milenarismo crê que certas profecias ainda
não foram cumpridas, as quais preveem a conversão de um
grande número de judeus, estes entrarão na igreja do mesmo
modo que quaisquer cristãos hoje.
GENTRY (2005) conclui sua defesa ao pós-milenarismo
dizendo: “agora não vemos senão um pequeno fluxo de
esperança. Mas esse, fluindo continuamente na história, se
tornará o rio da vida que um dia transbordará suas margens (Ez
47.1-12)”.
De acordo com a concepção pós-milenarista, o reino de Deus
será na terra, mas Cristo não terá voltado fisicamente. Os pós-
milenista entendem que o milênio esperado pode começar de
forma gradual, sem que se perceba de fato seu início.
Amilenarismo

Erickson (2010) ressalta que o sistema escatológico


conhecido como amilenismo é conhecido por afirmar que não
haverá um reino terreno de Cristo de mil anos de duração. O
amilenismo vê a segunda vinda de Cristo como o acontecimento
que inaugurará o final para todas as pessoas (cristãos ou não),
seguida pela ressurreição geral, pelo julgamento de todos os
homens. Não haverá nenhum milênio, portanto, esses
acontecimentos se seguirão em sequência rápida, sem intervalos
significativos, os mil anos em Apocalipse 20 são simbólicos e não
literais34. Outro modo de colocar isso é dizer que a referência
aos mil anos é atemporal. Alguns amilenistas consideram a
primeira ressurreição espiritual e a segunda física; outros
acreditam que as duas ressurreições espirituais.
Shedd (2006) observa que os amilenaristas acusam os pré-
milenaristas de entenderem mal a única passagem que fala do
milênio. De acordo com a interpretação amilenarista Apocalipse
20.6 não se refere ao recebimento do corpo espiritual tratado por
Paulo em 1Coríntios 15.44, mas a morte e a ressurreição com
Cristo no batismo (Rm 6.1-11 / Ef 2.1-10 / Cl 3.14). Sendo assim,
a interpretação dos textos apocalípticos não devem ser
interpretados literalmente.
Erickson (2010) diz que as profecias do AT não se cumprirão
num período terreno de mil anos; em vez disso, acontecerão na
história da igreja ou na nova terra. Muitos amilenistas duvidam
que a evangelização tenha êxito, os que creem e são salvos
serão um pequeno segmento da população mundial. O
amilenarista tem menor preocupação com detalhes e com a
sequência das últimas.
Robert B. Strimple (2005) célebre defensor do amilenarismo
sugere: Precisamos reconhecer que sob a ótica dos escritores do
Novo Testamento, os “Últimos dias” da história redentiva foram
inaugurados pela ressurreição e glorificação de Cristo, e o
derramamento pentecostal do Espírito Santo (At 2.16-21, “últimos
dias”; 1Co 10.11, “o fim dos tempos”; Hb 1.1,2, “nestes últimos
dias”; 1Pe 1.20, “nestes últimos tempos”). O todo da revelação
redentiva de Deus está estruturado em termos de promessa (AT)
e cumprimento (NT) e, por conseguinte, um sumário plenamente
adequado da escatologia bíblica precisa considerar o ensino de
toda a Bíblia!
De acordo com Erickson (2010) as ressurreições de
Apocalipse 20.4-5 é definida como sendo a primeira espiritual e a
segunda é física. Bem como o propósito do livro de Apocalipse
era gerar confiança nos cristãos que Cristo triunfaria sobre toda a
oposição. A primeira ressurreição simboliza a vitória dos
mártires. A segunda morte, normalmente entendida pelos
escatologistas de todas as correntes milenistas como uma morte
espiritual, corresponde à primeira ressurreição. Isso significa que
a primeira ressurreição, de modo semelhante, é espiritual.
Embora não seja mencionada, a primeira morte, embora não
esteja explicito, seria física. A esta corresponde à segunda
ressurreição, que também seria física.
Pré-Milenismo (Milenarismo)

Para Erickson (2010) ao estudar a respeito do pré-milenarismo


percebe-se a crença de que haverá um reino milenar e corpóreo
de Cristo na terra, bem como a interpretação literal do milênio de
Apocalipse 20. Este reino milenar será um período onde a
vontade de Deus será realizada plenamente entre os homens,
mas não da forma que o sistema pós-milenarista acredita, pois,
para estes haverá o reino milenar, porém Cristo não voltará
fisicamente. Os pré-milenaristas entendem que não haverá
dúvidas quanto ao início do milênio, pois o retorno de Cristo será
surpreendente e visível, consequentemente inconfundível.
Contrário à ideia pós-milenar que acredita no início gradual e
imperceptível do reino milenar.
Campos (2008) ressalta que os pre-milenaristas insistem
numa interpretação literal de Apocalipse 20.4-6. Portanto, Cristo
estará fisicamente presente durante o milênio, sendo assim o
reino milenar é futuro para essa escola escatológica.
Erickson (2010) observa que o milênio será precedido por uma
deterioração espiritual, de acordo com Mateus 24.12 que indica
uma crise espiritual antes de sua vinda. Portanto, essas
questões serão resolvidas de maneira sobrenatural, haverá uma
intervenção de Deus que iniciará o milênio. Os pré- milenaristas
acreditam que a grande tribulação antecederá o milênio, o que
tornará mais claro os efeitos do reino milenar. Os pré-
milenaristas diferem quanto se a igreja estará, ou não, na terra
neste período. Portanto, existem os pré-tribulacionistas
(acreditam que a igreja será arrebatada antes do milênio), os
meso-tribulacionistas (a igreja será arrebatada durante o milênio)
e os pós-tribulacionistas (o arrebatamento ocorrerá depois da
grande tribulação). Os pós-tribulacionistas acreditam numa única
vinda de Cristo que ocorrerá finalizando a tribulação e iniciando o
milênio. Os pré-tribulacionistas creem que a vinda de Cristo
ocorrerá em duas etapas, primeiro para a igreja, retirando os
santos da terra e depois para estabelecer o reino milenar com os
seus santos.
Para Olson (1981): O destino da Igreja rapidamente aproxima-se
do seu glorioso desfecho, e bem assim o destino do mundo de
modo geral, neste fim do Século Presente. O plano divino da
redenção chegará a sua conclusão exatamente como Deus o
havia planejado e do modo como está revelado nas Escrituras.
Esse plano prevê que todos os crentes falecidos, em Cristo,
serão ressuscitados dentre os mortos, e na mesma ocasião os
crentes que estiverem vivos, serão trasladados ou raptados para
se encontrarem com Cristo nos ares.

Erickson (2010) – Os pré-milenaristas acreditam que na


segunda vinda de Cristo, Satanás será preso por mil anos, sendo
impedido de influenciar as nações enganosamente. Contudo, ao
se aproximar o fim do milênio Satanás será solto por um breve
espaço de tempo para enganar as nações, mas posteriormente
será derrotado e lançado no lago de fogo por toda a eternidade.
Olson (1981) ressalta: A juntura destes “século” presente e o
vindouro fornece um nítido exemplo de sobreposição das
dispensações, isto é, que às vezes há um período transitório
entre uma e outra. As suas fronteiras não são bem demarcadas.
[...] uma boa parte da população da Terra terá desaparecido. [...]
O próprio Cristo voltará literalmente a esta Terra onde Ele esteve
durante 33 anos e pessoalmente reinará sobre a mesma por um
espaço de 1000 anos.
Erickson (2010) – as duas ressurreições de Apocalipse 20.4-6
são interpretadas como físicas, ou corpóreas. Porém, os
participantes da primeira serão os crentes, os não cristãos, no
entanto, não serão ressuscitados até o fim do milênio. A
ressurreição dos crentes é para que estes reinem com Cristo
durante o milênio, os ímpios ressuscitarão para o julgamento. Os
pré-milenaristas adotam a interpretação literalista principalmente
dos textos de Apocalipse, bem como uma interpretação futurista.
Para tanto a interpretação pré-milenar das ressurreições não
podem ser entendidas de outra maneira senão físicas. A primeira
abrange os apóstolos e os santos, bem como os mártires (Mt
19.28; 1Co 6.3). Neste texto a palavra grega ezesan é utilizada
para descrever as duas ressurreições, o que para os pré-
milenaristas não pode ser traduzida diferente por estar
empregada no mesmo contexto, e não dar nenhuma indicação
textual de mudança de sentido.
Segundo Olson (1981) “A terra será regida, não por
monarquia, nem por democracia, nem por autocracia, mas sim
por uma TEOCRACIA, isto é, o próprio Deus regerá o mundo na
Pessoa do seu Filho, o Senhor Jesus Cristo”.
Erickson (2010) acrescenta que o milênio diz respeito ao
controle absoluto de Cristo durante esse período, por
consequência todos se submeterão ao domínio do Messias, será
um período de justiça, de paz, a natureza será restaurada, não
haverá catástrofes naturais, os santos reinarão com Cristo (Fp
2.10-11 Is 2.4; 11.8,9; 65.25 Mq 4.3 Rm 8.22,23 Mt 8.26). Uma
interpretação distinta dos pré-milenaristas é a condição de Israel
durante o milênio, neste período Deus reassumirá seu
relacionamento com Israel, alguns pré-milenaristas defendem a
ideia de que a economia do AT será restaurada. Jesus se
assentará no trono de Davi, e reinará sobre o mundo, o culto no
templo e a ordem sacerdotal serão restaurados. Por outro lado,
outros acreditam que a igreja se tornou o Israel espiritual, dessa
maneira muitas profecias referentes a Israel se cumprem na
igreja, mas defendem a salvação do Israel (nação), Romanos
11.15-16.

Dispensacionlismo

Olson (1981) na introdução de sua obra “O plano de divino


através dos séculos” explica a respeito das dispensações
bíblicas, e define dispensação como a economia de Deus, a sua
administração universal. Estudar sobre as dispensações é
observar os diversos métodos utilizados por Deus em períodos
determinados para se relacionar com os seres humanos e levar a
cabo o seu propósito. Desta forma, as dispensações são sete,
sendo elas, inocência, consciência, governo humano, patriarcal,
a lei, graça e milênio (governo divino). O autor comenta: [...] uma
dispensação é um período probatório ou moral. [...] Cada dispensação
demonstra claramente o propósito de Deus, e cada uma inicia-se com
uma nova revelação dEle. Cada dispensação também manifesta a
desobediência do homem para com essa revelação e bem assim a
separação entre os obedientes e os desobedientes no fim do período. [...]
em conjunto com as dispensações verifica-se a presença das grandes
alianças ou pactos entre Deus e os homens.
(OLSON, 1981, p. 38-39) Erickson
(2010) comenta que a dispensação
“é uma mordomia da luz de Deus,
um passo na revelação da verdade
de Deus”. Nesta assertiva o autor
comenta os exemplos dos
personagens bíblicos que viveram
situações sobrenaturais de
chamamento divino, tais momentos
inauguraram um marco novo no
desenvolvimento do plano de
Deus.
Olson (1981) ressalta as oito alianças entre Deus e os
homens. A edênica (Gn 1.28), com Adão (Gn 3.14-21), com Noé
(Gn 9.1-17), com Abraão (Gn 12.1-3), com Moisés (Êx 19.1-25),
Palestínica (Dt 28.1; 30.3), com Davi (2Sm 7.16; 1Cr 17.7; Sl
89.27; Lc 1.32,33) e a nova aliança.
Campos (2008) sugere “a crença de que ocorrerá uma série
de dispensações. Estas dispensações são estágios sucessivos
na revelação divina de seus propósitos. Há provas claras na
Palavra de Deus”.
Ladd (2003) observa que a teologia dispensacionalistas divide
o retorno de Cristo em duas partes, a primeira secreta visível
apenas para a igreja antes da tribulação e a segunda gloriosa no
final da tribulação, onde Israel será salvo e o milênio será
iniciado. Sua vinda para os seus santos é o arrebatamento, sua
vinda com os seus santos é a revelação (1Ts 3.13).
Erickson (2010) afirma que a interpretação literalista da Bíblia
é a primeira doutrina dispensacionalista a ser observada.
Portanto, todas as profecias devem ser entendidas de maneira
literal, até em seus detalhes. Outra marca distintiva do
Dispensacionalismo é a distinção entre Israel e igreja, de acordo
com este sistema a aliança estabelecida entre Deus e Abraão é
indissolúvel. Portanto, quando a Bíblia usa o termo Israel este
deve ser interpretado o mais literal possível, sendo assim como
nação, jamais no sentido espiritual. A igreja surge e participa do
reino após Israel o haver rejeitado, a igreja é, portanto, o
substituto de Israel. Os dispensacionalistas distinguem reino de
Deus e reino dos céus. O reino dos céus é messiânico, judaico,
davídico. O reino de Deus é universal. Para os
dispensacionalistas o milênio é parte do propósito de Deus para
restaurar Israel (nação), ou seja, recebe uma interpretação
judaica.
Segundo Olson (1981) “O termo ‘milênio’ significa mil anos. É
usado seis vezes na passagem Apocalipse 20.1-7. É o tempo
durante o qual satanás será amarrado e lançado no abismo
enquanto Cristo reina em poder e glória sobre a terra”.
Champlin (2001) observa que os pré-milenistas defendem que
o livro de Daniel faz previsões a respeito do fim dos tempos, até
a segunda vinda de Cristo. Eles veem um parêntese entre 69ª e
a 70ª, este período corresponde a dispensação da graça. O autor
declara: Os pré-milenistas estão divididos quanto ao momento do
arrebatamento da igreja. Este ocorreria antes, ou após a tribulação?
Alguns chegam a pensar que o arrebatamento dar-se-á no meio da
tribulação. Os que pensam que a igreja será arrebatada antes da grande
tribulação supõem que Israel tornar-se-á novamente proeminente na
história humana e enfrentará o anticristo, [...] a nação será inteiramente
restaurada à sua terra. [...] Israel, embora convertido ao Senhor, não fará
parte da Igreja. [...] os que pensam que a igreja só será arrebatada depois
da grande tribulação, [...] creem que a nação fará parte integrante e
inseparável da Igreja.
Notas: 31 O reino de Cristo é espiritual, não geográfico (localizado
literalmente neste mundo) de modo que onde há indivíduos que recebem a
Cristo e reconhecem sua soberania sobra a vida deles, aí está o reino de
Deus. (SHEDD, 2006, p. 22-23).

32 [...] a confiança definitiva do pós-milenarista está na soberania de


Deus. (GENTRY, 2005, p. 21).
33 Haverá um curto lampejo de maldade antes da vinda do Senhor,
seguido pela ressurreição de todos, o julgamento e a consignação dos
homens ao estado permanente do céu e o inferno. (SHEDD, 2006, p. 23).
34 É irracional pensar que após a vitória de Jesus Cristo e a
concretização do seu reino soberano e eterno, houvesse nova
oportunidade para Satanás retomar o controle dos incrédulos que ainda
existem e para encabeçar uma revolta contra o reino estabelecido do
Senhor. Onde se conseguirá os rebeldes? Assim, os amilenistas descartam
a possibilidade de se realizar um milênio literal nos moldes de Apocalipse
20. (SHEDD, 2006, p. 22)
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