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Perfil Funcional da Comunicação e diagnóstico fonoaudiológico de cria


nças do espectro autístico: uso de um checklist
AUTORES:

Mariana de Almeida Neubauer, Fernanda Dreux Miranda Fernandes

ARTIGO ORIGINAL

CoDAS

versão On-line ISSN 2317-1782

CoDAS vol.25 no.6 São Paulo 2013

http://dx.doi.org/10.1590/S2317-17822014000100013

INTRODUÇÃO

O lugar da linguagem nos distúrbios incluídos no espectro do autismo é singular,


pois, ao contrário de outras alterações amplas do desenvolvimento, em que as
desordens de linguagem são sintoma ou consequência de outros déficits, distúrbios
ou transtornos, no espectro do autismo as alterações de linguagem correspondem a
um dos três critérios fundamentais para o diagnóstico.

Assim, elas têm sido investigadas por inúmeros autores há várias décadas( 1 ) e foram
objeto de revisões anteriores( 2 , 3 ). Esses estudos evoluíram para a noção de que o
ponto central das alterações de linguagem no espectro do autismo está relacionado
com seu uso funcional e passaram a contar com as contribuições das teorias
pragmáticas, que possibilitam a articulação da linguagem com os aspectos de
interação e cognição, ao longo do desenvolvimento, abrangendo exatamente a tríade
de domínios fundamentais para o diagnóstico dos Distúrbios do Espectro do
Autismo( 4 ).

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No que diz respeito aos aspectos de conceituação e diagnóstico, o conceito de
espectro do autismo( 5 ) inclui os eixos que compõem os sistemas de diagnóstico
propostos pela American Psychiatric Association para o Manual de Diagnóstico e
Estatística de Distúrbios Mentais( 6 ) e pela Organização Mundial da Saúde na
Classificação Internacional de Doenças( 7 ). Os critérios de diagnóstico sempre
envolvem a observação e a identificação de comportamentos, pois ainda não foi
identificado um marcador biológico para o autismo( 8 ).

A noção de espectro do autismo admite a complexa inter-relação entre os diversos


quadros clínicos e não apenas sua justaposição( 9 ). Mas ainda existe discussão a
respeito de quais, exatamente, são os distúrbios que devem ser incluídos no
espectro do autismo, embora haja pouca discordância a respeito da noção de que
existe um espectro.

As implicações de critérios diagnósticos fundamentados principalmente na


observação clínica têm sido amplamente discutidas( 10 ), assim como o diagnóstico
diferencial entre os diversos quadros que compõem o espectro do autismo( 11 ).

A noção de que a maior contribuição que a Fonoaudiologia pode oferecer, tanto para
as pesquisas a respeito da etiologia do autismo quanto para os processos
diagnósticos, é a determinação de um fenótipo de linguagem cada vez mais nítido
norteou pesquisas a respeito dos melhores critérios para a descrição da linguagem
dessa população, a melhor forma de obtê-los, alternativas para eliciar o melhor
desempenho e a análise minuciosa dos dados obtidos.

O objetivo desta pesquisa foi verificar a utilização de um checklist, em substituição


ao protocolo completo, como elemento de facilitação do processo de
acompanhamento clínico terapêutico. Foram sujeitos 50 crianças entre 3 e 12 anos
de idade, pacientes em atendimento semanal num serviço especializado. Os
procedimentos não envolvem a modificação de nenhum elemento da rotina de
reavaliações semestrais de cada paciente em atendimento, apenas o preenchimento,
pelas terapeutas, de um checklist verificando a frequência de ocorrência de cada
função comunicativa e sua forma de expressão. Os resultados buscaram comparar
estatisticamente as respostas obtidas no checklist com o desempenho de cada
criança revelado pelo protocolo do Perfil Funcional da Comunicação para verificar
se há equivalência na aplicação dos dois instrumentos na investigação da
comunicação de crianças e adolescentes do espectro do autismo.
MÉTODOS

O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética e Pesquisa da instituição, sob número
228-11. Participaram do estudo 50 crianças entre 3 e 12 anos, que estavam em
atendimento sistemático semanal há pelo menos seis meses (sendo no mínimo três
meses com a mesma terapeuta) e tinham diagnóstico incluído no espectro do
autismo.

Os critérios de inclusão estabelecidos na pesquisa foram: assinatura do Termo de


Consentimento Livre e Esclarecido por um responsável de cada um dos
participantes, diagnóstico incluído no espectro do autismo e idade da criança
inferior a 12 anos.

O material usado para o registro de dados foi: filmadoras digitais, mídia (mini-DVDs),
protocolos do Perfil Funcional da Comunicação (Anexo 1) e checklist de
Funcionalidade Comunicativa (Anexo 2).

Cada um dos sujeitos foi filmado entre abril e maio de 2012 a fim de que os dados
dessas filmagens fossem transcritos para o protocolo de Perfil Funcional da
Comunicação. Antes que as transcrições fossem feitas, as terapeutas
(fonoaudiólogas) foram solicitadas a responder ao checklist da Funcionalidade
Comunicativa. Depois de respondidos e entregues à pesquisadora, foram feitas as
transcrições dos dados das filmagens. Após a transcrição dos dados das filmagens
para o protocolo de Perfil Funcional da Comunicação, estes foram também
entregues à pesquisadora, a fim de compilar as informações em uma tabela para que
a comparação de dados pudesse ser realizada com a utilização de um método
estatístico.

RESULTADOS

Os 50 checklists da Funcionalidade Comunicativa foram preenchidos e foram


transcritas 50 filmagens nos protocolos de Perfil Funcional da Comunicação. Todas
as respostas do checklist da Funcionalidade Comunicativa foram tabeladas, assim
como os dados dos protocolos de Perfil Funcional da Comunicação.

Primeiramente, foi necessário igualar a forma de classificação dos resultados


apresentados em ambas as provas. Dessa forma, nas respostas do Perfil Funcional da
Comunicação, foi usado o conceito de quartil e ficou estabelecido que, se uma
função não acontecesse, seria classificada como "nunca ocorrente"; se acontecesse
de uma a quatro vezes, seria classificada como "raramente ocorrente"; se
acontecesse de cinco a 12 vezes, seria classificada como "muitas vezes ocorrente" e
se acontecesse 13 ou mais vezes, seria classificada como "frequentemente
ocorrente".

Com os resultados de ambos os testes seguindo o mesmo padrão, foi necessário


encontrar um parâmetro numérico para as respostas. Seguindo a escala de Likert,
foram atribuídos valores de zero a três para as respostas, sendo zero para "nunca",
um para "raramente", dois para "muitas vezes" e três para "sempre". Finalmente, para
encontrar as semelhanças ou diferenças de ocorrência das funções nas duas provas,
foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis.

Os resultados indicaram que, quando se compara a ocorrência de cada uma das


funções, tem-se resultados diferentes em nove das 20 funções comunicativas
(Tabela 1), sendo estas pedido de informação, protesto, comentário, autorregulatório,
performativo, não focalizado, jogo, narrativa e expressão de protesto, e em nove dos
50 sujeitos (Tabela 2).

Tabela 1 Diferenças significativas na comparação, com o teste de Kruskal-Wallis, da


ocorrência das funções no checklist e no Perfil Funcional da Comunicação em todos
os sujeitos

Valor
de p

PI 0,027

PR <0,000

C 0,004

AR <0,000

PE 0,002

NF 0,010

J 0,001

NA 0,022
Valor
de p

EP 0,001

Tabela 2 Diferenças significativas na comparação, com o teste de Kruskal-Wallis, da


ocorrência das funções no checklist e no perfil funcional da comunicação em cada
sujeito

Valor
de p

Sujeito
0,003
2

Sujeito 3 0,002

Sujeito
0,025
10

Sujeito
0,033
12

Sujeito
0,045
28

Sujeito
0,018
30

Sujeito
0,048
40

Sujeito
0,002
43

Sujeito
0,033
48

DISCUSSÃO
Desde o início da sua descrição, o autismo bem como seu diagnóstico e o tipo de
funções comunicativas utilizadas pela criança autista são estudados a fim de
encontrar informações cada dia mais completas sobre o assunto e os indivíduos do
espectro. É amplamente registrado na literatura( 12 ) que a procura por métodos
alternativos de diagnósticos que sejam eficientes e utilizem dados fornecidos pelos
pais de crianças do espectro do autismo aumenta rapidamente.

Apesar de existirem muitos estudos que comparem o Perfil Funcional da


Comunicação com testes diagnósticos( 13 ) e que identifiquem as funções
comunicativas mais usadas pela criança, este é o primeiro estudo que traz uma
análise comparativa entre o Perfil Funcional da Comunicação e o checklist de
Funcionalidade Comunicativa.

Os resultados do estudo indicaram incompatibilidade entre as provas em nove das


20 funções comunicativas e nove dos 50 sujeitos. Isso indica que o checklist mostra-
se eficiente como discriminação de um grupo de sujeitos de outro grupo, porém não
os caracteriza, ou seja, é possível saber que apresentam perfis pragmáticos
diferentes, porém não é possível identificar a frequência de ocorrência das funções.

O resultado também é sugestivo de que o checklist pode ser utilizado como uma
forma alternativa de avaliação, complementando o Perfil Funcional da Comunicação
a cada período de tempo.

CONCLUSÃO

A possibilidade de uma investigação minuciosa das habilidades de uso funcional da


comunicação de indivíduos do espectro do autismo a partir da utilização de
instrumentos simples e aplicáveis aos familiares ou terapeutas representa uma
importante alternativa para a avaliação fonoaudiológica dessa população. O checklist
pode ser usado como instrumento de complementação da avaliação periódica da
pragmática de pacientes do espectro do autismo, pois evidencia questões pontuais
de cada indivíduo, sendo indispensável o uso do Perfil Funcional da Comunicação
para um total conhecimento das funções utilizadas pelo paciente.

REFERÊNCIAS
1. Wetherby A, Prutting C. Profiles of communicative and cognitive-social abilities in
autistic children. J Speech Hear Res. 1984;27:364-77.

2. Fernandes FDM, Molini-Avejonas DR, Sousa-Morato PF. Perfil funcional da


comunicação nos distúrbios do espectro autístico. Rev CEFAC. 2006;8(1):20-6.

3. Fernandes FDM, Molini DR, Barrichelo VMO. Aspectos funcionais e correlatos


sociocognitivos na terapia fonoaudiológica para autismo infantil - um estudo preliminar.
Infanto Rev Neuropsiquiatr Infanc Adolesc. 1997;5(2):77-83.

4. Bernard-Opitz V, Ing S, Kong TY. Comparison of behavioural and natural play


interventions for young children with autism. Autism. 2004;8(3):319-32.

5. Barbaro J, Dissanayake C. Developmental profiles of infants and toddlers with autism


spectrum disorders identified prospectively in a community-based setting. J Autism Dev
Disord. 2012;42(9):1939-48.

6. American Psychiatric Association. Manual de diagnóstico e estatística de distúrbios


mentais (DSM - IV). São Paulo: Manole; 1994.

7. Organização Mundial da Saúde. Classificação Internacional de Doenças. 10a ed. Porto


Alegre: Artes Médicas; 1983.

8. Bedford R, Elsabbagh M, Gliga T, Pickles A, Senju A, Charman T, et al. Precursors to


social and communication difficulties in Infants at-risk for autism: gaze following and
attentional engagement. J Autism Dev Disord. 2012;42(10):2208-18.

9. Klin A. Asperger syndrome: an update. Rev Bras Psiquiatr. 2003;25(2):103-9.

10. Filipek PA, Steinberg-Epstein R, Book TM. Intervention for Autism Spectrum Disorders.
Neuro RX. 2006;3:207-16.

11. Howlin P. Outcome in high-functioning adults with autism with and without early
language delays: implications for the differentiation between autism and Asperger
syndrome. J Autism Dev Disord. 2003;33(1):3-13.

12. Schendel DE, Diquiseppi C, Croen LA, Fallin MD, Reed PL, Schieve LA, et al. The Study
to Explore Early Development (SEED): a multisite epidemiologic study of autism by the
Centers for Autism and Developmental Disabilities Research and Epidemiology
(CADDRE) network. J Autism Dev Disord. 2012;42(10):2121-40.

13. Fernandes FDM, Amato CAH, Balestro JI, Molini-Avejonas DR. Orientação a mães de
crianças do espectro autístico a respeito da comunicação e linguagem. J Soc Bras
Fonoaudiol. 2011;23(1):1-7.

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