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Artigo recebido em

22/01/2014
A morte de Vladimir
Aprovado em
14/02/2014 Herzog: narrativas do
trauma na memória
MARTA REGINA
MAIA
Universidade Federal de
Ouro Preto –
marta@martamaia.pro.br
Professora Adjunta III
do curso de Jornalismo
coletiva
da UFOP. Doutora em
Ciências da
Comunicação pela USP.
Marta Regina Maia e Thales Vilela Lelo
Líder do Grupo de
Pesquisa “Jornalismo, Resumo
Narrativas e Este trabalho faz uma discussão sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog a partir
Práticas Comunicacionais”
daqueles que sofreram torturas no regime militar. O principal objeto de análise será o
THALES VILELA
LELO documentário “Vlado: 30 anos depois”, produzido pela TV Cultura e dirigido por João
Universidade Federal de Batista de Andrade. A proposta metodológica se baseia em uma análise de conteúdo
Minas Gerais –
ancorada no paradigma indiciário, tomando o filme como um indicador da vida
thales.lelo@gmail.com
Mestrando em social (em diálogo com o contexto histórico no qual está inserido). As averiguações
Comunicação Social pela empreendidas indicam que as vítimas da ditadura narram suas histórias não por
UFMG. Membro do Grupo
de Pesquisa “Jornalismo, um desejo singular, mas por preocupação para com uma história que poderia ser
Narrativas e Práticas esquecida em razão da ausência de imagens que pudessem expressar suas dores, o
Comunicacionais”
que, entretanto, não impede a sua lembrança pelos meios de comunicação e pelo
jornalismo em especial.

Palavras-chave
Ditadura, memória, experiência.

Abstract
This paper performs a discussion about the death of journalist Vladimir Herzog
starting from whose who have suffered tortures in the military regime. The main
object of analysis is the documentary “Vlado: 30 anos depois”, produced by TV
Cultura and directed by João Batista de Andrade. The methodology is based on a
content analysis grounded in evidentiary paradigm, taking the film as an indicator
of social life (in dialogue with the historical context in which it is inserted). The
investigations undertaken indicate that the dictatorship’s victims narrate their stories
not by a singular desire, but by concern for a story that could be overlooked because
of the absence of images that could express their pain, which, however, does not
Estudos em Jornalismo preclude its remembrance by the media and journalism in particular.
e Mídia
Vol. 11 Nº 1 Keywords
Janeiro a Junho de 2014
ISSNe 1984-6924 Dictatorship, memory, experience.
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-6924.2014v11n1p21 21
E
ste ano, se estivesse vivo, Ao menos dois elementos contribuíram
Vladimir Herzog faria 77 para a enorme repercussão do caso. O
anos. Qual o poder desta primeiro é que Vlado nunca havia tido
lembrança para a história posições radicais, o que teria gerado
recente do Brasil? É que uma estranheza generalizada sobre sua
o assassinato deste jornalista simboliza detenção, e ainda, o segundo, é que era
a iniquidade de um período histórico um jornalista, pessoa de visibilidade
que ainda guarda lacunas e traumas em pública. Tendo assumido a direção de
processamento. A reverberação deste jornalismo da TV Cultura de São Paulo
acontecimento atinge o século XXI no dia 3 de setembro de 1975, havia
porque seus familiares, e a sociedade apresentado à direção da emissora um
de modo geral, ainda não conhecem os documento intitulado “Considerações
meandros deste e de muitos outros fatos gerais sobre a TV Cultura”, em que
que marcaram a ditadura militar no expunha sua preocupação com um
Brasil. telejornal que estimulasse a reflexão e que
O ano é 1975, o lugar é São Paulo. Pauloespelhasse os problemas, as esperanças
Egydio Martins era o governador e Ernesto e as angústias das pessoas (CULTURA
Geisel o presidente, após sucessivos RETRÔ, 2011). Acabou por sofrer uma
militares na presidência desde o dia 31 de espécie de campanha por alguns setores
março de 1964, em que as Forças Armadas da imprensa, que indicavam o domínio
- com o argumento de que o país estava “da esquerda na emissora do governo”
para se tornar uma ditadura sindicalista (DANTAS, 2012, p. 154). Conseguiu
ou comunista - resolveram tomar o poder. assim atrair a atenção de certos dirigentes
A partir de então o país viveu sob a égide que não aceitavam ninguém que não
1- Uma das de atos institucionais que implantaram seguisse estritamente as regras do jogo.
evidências de
que esta notícia mecanismos de cerceamento da liberdade A divulgação de sua foto, emblemática
ainda não foi e dos direitos constitucionais. do período ditatorial, em que aparece
devidamente “dada”
é a reportagem feita Os meios de comunicação sofrem, enforcado pelo cinto de seu macacão,
pelo jornalista Lucas
Ferraz, na Folha nestas décadas, as consequências da com as pernas dobradas, contribuiu
de S. Paulo, em repressão generalizada que o país para acirrar os ânimos no interior da
05/02/2012. Nesta
atravessa. A história de Vladimir Herzog, sociedade . Este acontecimento também
1
matéria, o jornalista
localiza, nos Estados entretanto, foi diferente de outras mostrou as tensões entre diferentes forças
Unidos, o fotógrafo
que tirou as fotos de histórias do período, em que pessoas que estavam no poder. Como mostra Elio
Herzog na época. O eram tiradas de suas casas sem qualquer Gaspari (2004), amparado em documentos
fotógrafo Silvaldo
Leung Vieira - que tipo de presença legal. Ele, que também da época, o presidente Geisel questionava
pela primeira vez teve seu domicílio e trabalho invadidos a falibilidade dos métodos utilizados
fala à imprensa
-, assume, nesta por policiais, conseguiu adiar por um pelas forças de repressão, com especial
reportagem, que dia a sua ida para “prestar depoimento” preocupação pela insubordinação militar
houve manipulação
e que isso o teria na sede do DOI-CODI, com pleno (dado que em São Paulo ela aparecia
levado a abandonar conhecimento dos familiares e colegas de de maneira mais evidente). Uma das
seu emprego público
em 1979, quando foi trabalho. Mal sabia que entraria naquele provas dessa indisciplina foi a demissão,
para uma viagem de lugar para nunca mais sair. pelo presidente, do Comandante do II
férias nos EUA. Exército, general Ednardo D’Avila Mello,
22
logo após a morte do operário Manoel sua morte, inúmeros livros, filmes,
Fiel Filho, ocorrida 84 dias após a morte reportagens e artigos científicos
de Herzog2. produzidos no Brasil e no exterior. No
“Mataram o Vlado!”, frase dita por caso específico deste trabalho, iremos nos
Clarice Herzog, sua esposa, logo que uma deter especialmente no documentário
comitiva da TV Cultura chegou em sua produzido pela TV Cultura “Vlado:
casa para justamente informar-lhe que a 30 anos depois”, sob a direção de João
2- O operário foi
situação do jornalista teria se agravado, Batista de Andrade. À parte todos dado como suicida,
foi sendo replicado em quase todos os outros documentos que foram utilizados “enforcado” por uma
meia, na mesma
lugares, evidenciando a necessidade de para esta análise, este documentário carceragem onde
se marcar este fato de maneira coletiva. surge como uma rememoração do Vladimir Herzog
fora encontrado
Uma proposta de D. Paulo Evaristo Arns acontecimento. A proposta metodológica igualmente
conseguiu esta proeza: um Ato Ecumênico baseia-se, inicialmente, em uma análise “enforcado”.
3-Vale registrar que o
na Catedral da Sé. Este evento, que reuniu
Se o acontecimento
rabino Henry Sobel,
mais de oito mil pessoas, representou também presente ao
Ato, deu a ordem

ainda repercute
uma das atividades que assinalam uma para que Herzog
reação mais articulada da sociedade civil fosse enterrado não

muito na sociedade,
na ala dos suicidas,
contra a ditadura, simbolizada por uma conforme tradição
frase da atriz Ruth Escobar no Ato: “Até judaica, mas sim no

quando vamos continuar enterrando é porque ainda há centro do cemitério


israelita.

muito há ser dito


nossos mortos em silêncio?”3 (GASPARI, 4- Vale ressaltar
a instalação, no
2004, p. 183). dia 18 janeiro de
2013, da Comissão
Se este acontecimento ainda repercute da Memória,
de conteúdo que toma o documentário
tão intensamente na sociedade é porque Justiça e Verdade
como um indicador da vida social, que dos Jornalistas
ainda há muito a ser dito, afinal os Brasileiros, presidida
não encerra em si mesmo os sentidos
documentos dessa época, além dos por Audálio Dantas,
possíveis, mas, ao contrário, dialoga que, em trabalho
depoimentos dos envolvidos e parentes, conjunto com
com o contexto histórico no qual está
só começam a vir à tona, de maneira comissões estaduais,
inserido (LEAL e ANTUNES, 2011). levantará os casos
efetiva, no ano de 2012, em que foi criada de violações dos
Como enfoque integrante será utilizado
a Comissão Nacional da Verdade4 (CNV), direitos humanos
o “paradigma indiciário” elaborado cometidos contra
com a tarefa hercúlea de avaliar os fatos jornalistas brasileiros
por José Luiz Braga (2008). O autor
políticos transcorridos na sociedade no período de 1964
sedimenta o desenho metodológico deste a 1988.
brasileira de 1946 até 1988. Bem diferente 5- Houve nova
paradigma oferecendo para os estudos em
do desenrolar histórico dos países tentativa de
Comunicação uma abordagem focada em reabertura de
vizinhos que passaram por ditaduras casos cujos corpos
estudos de caso, permitindo, por meio de
como o Chile, a Argentina e o Uruguai. não apareceram,
indícios provenientes de algum evento, entretanto o
Nesses países houve reconhecimento dos Supremo Tribunal
remontar a uma realidade complexa. Esta
crimes cometidos, enquanto no Brasil foi Federal foi contrário
tecitura intricada pode dar a ver “restos” a esta possibilidade
promulgada a Lei de Anistia em 1979, na sessão de
ainda inexplorados do fenômeno que
que teria anistiado todos que cometeram 29/04/2012,
necessitam, para além de sua descrição, revalidando a Lei da
crimes no período anterior5. Anistia, imposta pelo
um exame crítico que problematiza as
poder militar em
Contam-se, nestes 39 anos de possíveis correspondências. 1979.
23
Cabe destacar que os indícios memória do meu amigo e onde eu
vou falar daqueles anos de chumbo.
apreendidos em um evento não remetem
Esta será a cadeira dos depoimentos.
diretamente a realidade: é sua articulação É uma cadeira de diretor emprestada
(e a triagem de indícios realmente àqueles, que, com seus depoimentos
pessoais, a partir de sua vivência
relevantes para o entendimento de um
daqueles anos mudos do regime
caso) que permite inferir as conjunturas militar, vão ajudar a reconstruir
do fenômeno e seu contexto amplo. Nesse aqueles tempos, a prisão e a morte
do Vladimir Herzog, o Vlado. Este
sentido, após a avaliação do documentário será um filme certamente de poucas
“Vlado: 30 anos depois”, será feita imagens. É claro que nós vamos
uma reflexão sobre memória e notícia, ter imagens preciosas do Vlado, da
Clarice, do culto ecumênico que
indícios impressos no material que marcou aquela época, que marcou
despontam como possíveis inferências e praticamente o começo do fim
da ditadura, e foi realizado nesta
que apontam para categorias insolúveis
Catedral da Sé. Mas nós não temos
de apaziguamento da história que insiste as imagens dos torturadores, não
em se manter conflituosa. temos a imagem do medo, a imagem
dos aparelhos de repressão... Nós
temos sim, a imagem dos nossos, as
Direito à narração do trauma faces daqueles que nós perdemos e
que foram perseguidos, torturados e
Logo no início do documentário mortos (DEPOIMENTO, Vlado: 30
“Vlado: 30 anos depois”, há uma cena anos depois).
emblemática, protagonizada pelo diretor
do filme, João Batista de Andrade. Esta apresentação, primariamente,
Ela ocorre na Catedral da Sé, local visa construir, de maneira projetiva, um
onde aconteceu o culto ecumênico acordo quanto à compreensão do que
em homenagem a morte do jornalista. virá a seguir: trata-se da reconstituição,
Aponta-se, por enquanto, um elemento por meio de testemunhos daqueles que
que surge nestas primeiras imagens: o sofreram o trauma, da história apagada
discurso de apresentação (e justificativa) na memória e inscrita naqueles que
da proposta do documentário por parte a vivenciaram. Esta história muda,
do seu diretor. Cabe aqui uma transcrição silenciada (como frisa o diretor), é a
integral do trecho: daqueles que não tinham direito à fala no
Este é um filme que eu deveria ter período da ditadura militar. As imagens
feito há muito tempo. Um filme oficiais teriam encoberto experiências
sobre o jornalista Vladimir Herzog,
dissonantes ao que era veiculado na época
assassinado numa prisão militar há
30 anos atrás (sic) num inesquecível como legítimo; experiências daquilo que
25 de outubro de 1975. Vlado, como seria a real manifestação de um regime
era conhecido por familiares e
repressor que censurava corpos e os
amigos, era muito meu amigo, e sua
morte me chocou profundamente. faziam passar por vivências indescritíveis
Eu, que sempre filmava tudo, (a imagem do medo).
chocado, abatido com a morte do
amigo, não filmei nada. Fiquei Se o direito de voz destas testemunhas
sempre com esta sensação de que do horror estava cerceado, sua
havia uma falha na minha própria manifestação, no documentário, é a
carreira, na minha filmografia. É
uma falha que eu tento corrigir prova de que tais relatos compõem uma
agora neste filme que eu dedico à realidade contrastante à versão oficial dos
24
fatos. Mas se não há imagens para “provar” participa dela, frisa-se o fato de que, na
aquilo que foi obscurecido no período, e se própria construção lexical, denota-se a
as vivências são de ordem “pessoal”, como não equivalência entre o sujeito que sofre
é possível, por meio delas, reconstituir as algo e a ocorrência que gera o sofrimento.
texturas de uma época - dar a ver outra Este outro enfoque para o processo de
dimensão da história? Para Harvey Sacks experimentar, oriundo do pragmatismo
(2007), este recurso está não em uma filosófico, sublinha o caráter público e
qualidade transmissiva das vivências, social de cada “vivência”. Nesta mirada,
mas na impessoalidade e legitimação da a dinâmica intrínseca que perpassa as
experiência por meio de duas prescrições interações entre organismo e ambiente
que conformam sua manifestação na é reforçada, e mesmo havendo fases
linguagem ordinária: a participação nela internas de experimentação, diz-se que
daquele que galga o direito de relatá-la elas são uma nuance receptiva (DEWEY,
(ainda que indesejada), e a capacidade 2010) de um organismo que se vê em
ulterior de poder descrevê-la de forma uma atmosfera que intercambia com ele
“comum”. continuadamente. A esfera impessoal
Se o primeiro requisito soa da experiência, tal qual propõe Louis
correspondente às considerações Quéré (2010), afeta um corpo que reage
habituais que seriam feitas sobre o relato e que toma uma atitude e/ou assume uma
de uma experiência (talvez fosse dito: é postura. Este mesmo autor também diz,
evidente que só pode discorrer sobre um em outro texto, que “assumir uma atitude
trauma quem o vivenciou), por outro, significa iniciar um movimento, dar
neste caso em particular, um incômodo início a uma ação enquanto tacitamente
é gerado quando se diz que a narração da se projeta sua totalidade” (QUÉRÉ, 2011,
experiência é “comum” (ainda mais quando p. 153, tradução dos autores).
estão envolvidos choques profundos No processo acima descrito, está
– como os contados por aqueles que demarcada a antecedência do social não
estiveram nas sessões de tortura do DOI- só no ambiente comum de afetações
CODI). A magnitude de tal incômodo e nas atitudes organizadas de reação,
fica evidente também nas palavras de mas também na conduta que se pode
Sacks, que se espanta ao identificar tal assumir em face de uma experiência,
engrenagem na ação cotidiana: “relatos de extraída de um repertório partilhado e
experiências aparentemente ultrajantes, materializada em práticas inteligíveis de
as quais imaginaríamos que deixariam ação. Se “a expressão é uma manifestação
as pessoas sem palavras, ou sobre as encarnada nas ações, ou nos objetos
quais esperaríamos ouvir detalhes expressivos, (...) de tal maneira que
extraordinários, acabam sendo feitos de estes não existem previamente a esta
modo que percebemos a experiência como expressão” (QUÉRÉ, 1991, p. 81), é em
totalmente corriqueira” (2007, p. 170). seu “aparecer” no comum que emerge
Mas esta aparente incongruência pode sua participação em uma comunidade de
ser resolvida se voltarmos alguns passos comunicação que atribui uma carga de
atrás. Quando se diz que a experiência é motivações ao seu “provável” trajeto de
“de direito” de alguém quando esta pessoa revelação, interpretando tal conduta em
25
um campo de racionalidades “normais” da história ou ainda em seu surgimento
e segundo um conjunto de expectativas brusco em um curso de fala7.
recíprocas sob o processo de interação No enredo do documentário, a
e seus desdobramentos. De posse destas relevância e a gravidade dos testemunhos
considerações, dizer que uma experiência que entrecortam o filme mesclam-se
só é narrável por um ator que detenha em um “lugar de fala” (BRAGA, 1997)
6- No decorrer deste
tópico, os paralelos
seus direitos legítimos é dizer que este que, desde o discurso inicial do diretor,
entre o pragmatismo ator, em um caso específico, pôde ser passando pelas entrevistas que ele faz com
e a etnometodologia
serão traçados sem
agenciado a levar a cabo tal experiência populares indagando sobre a identidade
maiores explicações. detendo as competências para apreendê- de Vladimir Herzog aos pés da Catedral
Todavia, realça-se
que suas intersecções
la (tendo em conta que a “vivência” dele da Sé e caminhando em direção à maneira
ainda não estão de pode ser descrita, mas não transmitida como a vida do jornalista assassinado é
todo esclarecidas,
e particularmente
– por estar intimamente atrelada a um contada por amigos que acompanharam
em trabalhos como contexto). Ainda que propriamente uma sua trajetória e viveram com ele as
os de Louis Quéré
e Cédric Terzi
compreensão só desponte em retrospectiva experiências de tortura, indicam marcas
(2011) e Anne (tal qual Garfinkel (2006) havia sugerido), de uma história negligenciada no período
Rawls (2011),
são detalhadas
é quando o narrador remonta as origens ditatorial e em vias de desaparecimento
polêmicas que daquilo pelo qual passou e atribui uma na memória corrente dos brasileiros. Por
envolvem o emprego
de conceitos de
rede causal presumivelmente inteligível isto, a empreitada de João Batista não é
ambas correntes para quaisquer interlocutores que ouçam somente a de reconstituir a carreira moral
como equivalentes.
Sobretudo, tem-se
sua história6 que pode ser estabelecido um de um homem assassinado por um regime
aqui o cuidado de “trabalho interacional” de relatar e ouvir opressor, mas também a de remontar
não criar este tipo
de correspondência,
uma narrativa sobre uma experiência as experiências daqueles que foram
tratando somente sofrida. vítimas de traumatismos indesejados,
de aproximações
que já estejam
Nesta perspectiva, tratar como premissa dolorosos, que marcaram uma época. Por
mais assentadas na a “normalidade” de um relato como base esta razão, estas experiências, quando
atual conjuntura do
debate científico.
para o ato de “contar” uma história é dizer são contadas, encarnam uma dimensão
7- Sacks fala aqui que mesmo os traumas mais dolorosos ou comum, partilhada, não só na estrutura
de narrativas
trazidas à tona
os choques mais inesperados só são parte de sua narração, mas também na forma
em conversações de uma narrativa quando são parcialmente que adquirem no relato – a forma de uma
cotidianas, o que
aparentemente
digeridos (geram uma atitude), a ponto história silenciada e agora reconstituída.
passaria ao largo de poderem ser animados na fala para O prefácio da narrativa que dá vida
da atividade de
entrevistar (que de
outros interlocutores dentro de uma ao documentário é uma lembrança da
antemão já confere forma “habitual” de narração deste tipo biografia de Herzog, do seu casamento,
relevância a história
contada). Todavia,
de eventos. Como Sacks (1992, 2007) da viagem à Europa e do retorno ao Brasil
é interessante demonstra, a importância que uma logo no início da ditatura militar. Estes
utilizar a mesma
conceituação
experiência destas adquire, em seu relato, elementos são dispostos a fim de animar
neste caso porque, é derivada do espaço de tempo que ela as motivações de uma figura icônica,
resguardadas as
diferenças, as
escala para ser contada, da maneira como memorial, repleta de ideais e interesses
entrevistas também ela cria um campo de atração para si para com as classes desfavorecidas,
detém similaridades
para com as falas do
(instigando o ouvinte sobre detalhes da injustiçadas. A insubordinação,
dia-a-dia (tal qual ocorrência), dos preâmbulos e prefácios resistência e bondade de Vladimir Herzog
Sacks et al (2003)
concebem).
envolvidos na narração do evento ápice aparecem como insígnias de existência,
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uma aura que o recobriria ao longo de por causas ideológicas comuns nos
toda a vida e que estaria em claro contraste governos de Garrastazu Médici e Ernesto
à imagem de terrorista associada a ele por Geisel. Evidentemente, a textura que
órgãos oficiais ligados à ditadura nos idos amarra umas nas outras é a ilegitimidade
de 1970 (nos depoimentos iniciais de D. histórica dos tais atos cruéis que
Paulo Evaristo Arns, Rodolfo Konder, violentaram aqueles que agora descrevem
Fernando Morais e Miguel Urbano tal suas experiências em percursos mais ou
processo é intensificado). menos similares (da abordagem pelos
No transcorrer do filme, esta alcunha homens do DOI-CODI à chegada as
associada à Vlado se mescla exatamente instalações nas quais ocorreriam as séries
a história do país no ponto no qual sua de interrogatórios e de agressão por meio
carreira fica como pano de fundo de de “instrumentos” de tortura - ações estas
experiências de tortura vivenciadas que causariam degradação moral e física
e contadas por seus companheiros nestes sujeitos). Mas aquilo que confere a
(Diléia Frate, Paulo Markun, Frederico estes traumas uma maior autoridade é o
Pessoa, Rodolfo Konder, entre outros). seu grau intenso de indesejabilidade.
Sugestivamente, o título deste segmento As experiências então ganham as
do enredo é “Prisões”. Nele, Vlado é o colorações de um inesperado infortúnio,
ponto de referência de um trauma de um choque arrebatador que inviabilizava
escopo social. Este trauma, privatizado qualquer reação plausível. Exatamente
no regime militar, ganha contornos por isto elas se configuram como marcas
públicos na narração. As histórias dos insidiosas de um período histórico,
torturados, encadeadas umas nas outras, porque falam de um sofrimento
despersonalizam parcialmente as figuras causado ao outro, sem possibilidades de
dos narradores para convergir em uma impedimento ou evasão. No contexto
teia habitual de experiências legítimas do filme, as torturas devem ser sempre
de injustiça. Esta dor, experimentada lembradas porque nos remetem às
por Vlado e por tantos outros - tal qual horrendas ações promovidas por humanos
o documentário lembra - é o retrato de racionais, em aparente reciprocidade de
uma memória indesejada na história expectativas com seus pares, mas que,
do Brasil, ocultada nos anos de regime sob determinadas circunstâncias, podem
militar e resgatada de um possível provocar e gerar dilacerações profundas
desaparecimento na democracia dos anos em outros sujeitos. Sem uma constante
2000 (cabe lembrar que o filme foi rodado rememoração das consequências de
em 2005). tais atos, anteriormente camuflados no
Mas a carga dramática destas regime ditatorial, corre-se o risco que, em
entrevistas, dispostas em tom arrombo, eles voltem a assombrar uma
confessional (pelo plano fechado nas época, gerando, no processo, vozes que se
faces dos homens e mulheres que expiam tornam ruídos - não audíveis por aqueles
seus sofrimentos ante a câmera) detêm que não as consideram pertencentes a
legitimidade histórica não só por falarem indivíduos aos quais se deve demonstrar
de sequestros políticos, sessões de tortura qualquer solidariedade8.
brutais e até mesmo assassinatos movidos A palavra do testemunho de uma
27
experiência preenchida com estes matizes traumas vivenciados, das opressões
é, para Jacques Rancière, derivada sofridas injustamente, e da figura de um
da crença de que existem imagens jornalista assassinado em uma conjuntura
intoleráveis. Isto “primeiro porque é o de democracia inexistente. Agora
oposto da imagem que é idolatria, logo veremos como este “dispositivo sensível”
porque é a palavra do homem incapaz de (para usar uma vez mais um conceito de
falar, e, por último, porque é a do homem Rancière (2009)) é acolhido na memória
obrigado à palavra por uma palavra mais coletiva.
potente que a sua” (RANCIÈRE, 2009, p.
89, tradução dos autores). Vestígios de uma história:
As vítimas da ditadura contam suas memória e notícia
histórias não por um desejo singular, mas Como diz Maurice Halbwachs (1990),
por uma preocupação maior para com a memória necessita de sustentação
uma história que poderia ser esquecida para que seja revisitada. Na medida
em razão da ausência de imagens que em que um jornalista de reconhecida
poderiam expressar as mesmas dores competência foi morto, abriram-se
(tal como João Batista sublinha). Mas “a as portas dos meios de comunicação
imagem do medo”, lembrada no início, e dos suportes materiais para que
não é passível de acesso, e quaisquer essa lembrança pudesse ser alargada,
fotografias que captassem aquelas sessões em especial a partir da década de 80
de tortura provavelmente também não do século XX, que é quando ocorre
8- Ainda que
este artigo não conseguiriam atingir a natureza da a distensão política no Brasil. Para
pretenda esmiuçar dor infligida. Isto porque o sentimento Halbwachs, a vivência do coletivo é
esta questão,
é importante de inanição não é, da perspectiva do indispensável, pois o homem se define
destacar a base documentário, representado visualmente e se constrói pela cultura, já que se
destas proposições,
provenientes da em consonância a uma aspiração de encontra inserido em contextos sociais.
filosofia política registro. “A verdadeira testemunha Os familiares, os amigos, os jornalistas
de Jacques
Rancière (1996). é aquela que não quer testemunhar” e os defensores dos direitos humanos
O autor se ocupou (idem, p. 88, tradução dos autores), diz, no Brasil, portanto, não deixaram esta
particularmente
deste processo em tom crítico, Rancière. Isto porque tal história cair no esquecimento.
de ordenação presunção de maior realidade vinculada
dos corpos e de
às experiências indesejadas não as torna, Poucas são as sociedades nas quais
submissão de
determinados tenhamos vivido, seja em que tempo
efetivamente, mais reais. Para o autor, for, que não subsistam, ou que pelo
sujeitos às vozes de
autoridade. Nesses “uma imagem jamais vai só. Todas [sejam menos não tenham deixado algum
contextos, aqueles traço de si mesmas nos grupos mais
elas escritas ou em audiovisual] pertencem
sujeitos, antes recentes onde estamos mergulhados:
em reciprocidade a um dispositivo de visibilidade que regula a subsistência desses traços basta
de expectativas o estatuto dos corpos representados e do para explicar a permanência e a
com seus pares, continuidade do próprio tempo
passam a não tipo de atenção que merecem” (idem, p.
nesta sociedade antiga, e que nos seja
mais ser tratados 94, tradução dos autores). possível, a qualquer momento, nela
como figuras
dignas de respeito, Assim sendo, a realidade sensível que o penetrar através do pensamento.
transmutando-se, documentário pretende alçar à memória (HALBWACHS, 1990, p. 127)
em um regime
normativo, em coletiva, por meio das entrevistas com
ruídos opacos. vítimas de tortura, é a da licitude dos Os testemunhos do passado somente
28
reverberam na sociedade quando esta oficial do Exército. A TV Cultura, entre
acolhe estas lembranças. É preciso que inúmeras outras reportagens sobre o
existam pontos de contato suficientes assunto ao longo de sua história, produziu
entre o passado e o presente para que um Cultura Retrô (2011), em que Fábio
estas lembranças tenham sentido para Perez, apresentador do Hora da Notícia,
a memória coletiva. Radicalizando dirigido por Herzog no período de sua
ainda mais essa visão, Michael Pollak prisão, conta como ficou incomodado
(1989) argumenta que em momentos de por não poder relatar o acontecimento. E
crise há uma disputa entre a “memória é somente neste programa, 36 anos após
oficial” e as “memórias subterrâneas”, o ocorrido, que o apresentador consegue
o que garante o reconhecimento do simular a notícia:
campo problemático que determinadas Morreu na tarde de hoje, 25 de
outubro de 1975, no DOI-CODI, o
memórias suscitam, contribuindo jornalista Vladimir Herzog, da TV
também para estudos específicos, como Cultura. Informações de quem já
esteve preso ali levantam a suspeita
este aqui apresentado, que desconhece
de que o jornalista tenha morrido
a continuidade como fio condutor do em consequência de torturas brutais
processo histórico, em que “objetos de aplicadas por agentes do aparelho de
segurança do regime. (CULTURA
pesquisa são escolhidos de preferência RETRÔ, 2011)
onde existe conflito e competição entre
memórias concorrentes” (1989, p. 4).
É lícito observar, portanto, que há
Se o passado também se sustenta no
uma memória em disputa (POLLAK,
presente, podemos dizer que a história é
1989), sendo possível “distinguir entre
“arqueologia”, como diz Michel Foucault
conjunturas favoráveis ou desfavoráveis
(apud LE GOFF, 1999, p. 218), na qual
às memórias marginalizadas (...).
as práticas e as intrigas decorrentes
Conforme as circunstâncias, ocorre
conduzem à construção crítica e
questionadora do real. Ao rever os 30 a emergência de certas lembranças, a
anos entre a morte do Vlado e a inépcia ênfase é dada a um ou outro aspecto”.
de não-esclarecimento sobre o ocorrido, (POLLAK, 1989, p. 8). Se, na época
João Batista de Andrade fala de seu da morte de Vlado, os meios de
silêncio e do silêncio dos outros. Como comunicação eram proibidos de noticiar
argumenta Jacques Le Goff: “Devemos as torturas, os assassinatos e as prisões
fazer o inventário dos arquivos do silêncio, de inúmeros brasileiros, hoje, além
e fazer a história a partir dos documentos dos inúmeros materiais produzidos e
e das ausências dos documentos”. (1990, já citados, novas reportagens trazem
p. 220) à tona aspectos que ainda não foram
A única notícia que pôde ser dada devidamente esclarecidos.
à época, e somente dois dias após o A história reescrita por intermédio
assassinato de Herzog, foi essa: “Vladimir
desse dispositivo de análise, no caso,
Herzog, depois de confessar sua ligação
o documentário, procura mostrar
com o Partido Comunista Brasileiro,
falas e imagens daqueles que nunca se
se suicidou na cela enforcando-se com
calaram, que buscaram expor, mesmo
o cinto de seu macacão”. Esta é a nota
29
que de maneira clandestina, outro olhar para fazê-lo: donde seu papel crescente
sobre esse período histórico. Como na formação e reorganização, e portanto
reafirma o diretor, logo no início do no enquadramento da memória” (1989,
documentário, “não há imagens dos p. 11). Como ainda argumenta o autor:
torturadores (...), do medo e a imagem “Ele se dirige não apenas às capacidades
dos aparelhos de repressão”, posto que cognitivas, mas capta as emoções”. (1989,
p. 11)
a história oficial tratou de ocultar da
Se as memórias individuais (mesmo
sociedade as experiências traumáticas
participando de articulações sociais
que estariam inscritas nestas imagens.
organizadas) persistem na tentativa de
Como diz Michael Pollak “o trabalho de
contar essa história é porque a memória
enquadramento da memória se alimenta
social sobre esse acontecimento ainda não
pelo material fornecido pela história”
reflete todas as matizes possíveis de serem
(1989, p. 9), o que quer dizer, neste abarcadas. Se nossa memória se apoia na
caso, que a ausência de testemunhas do história vivida e não na história aprendida
discurso oficial sobre a ditadura militar (HALBAWACHS, 1990) é porque reflete
abre uma clivagem nesse processo. O as diversas relações humanas existentes na
silêncio que foi imposto pelo discurso sociedade e também porque pode conferir
oficial, de alguma maneira, contribuiu determinados sentidos a determinadas
para a construção de discursos não- épocas, participando ativamente da
hegemônicos sobre o acontecimento. construção da história.

O espaço público Considerações finais


ocupado por
memórias e
Ao discutir o processo de produção da
notícia, Fischman (1983) questiona, entre

reverberações outros aspectos, “como os repórteres


conferem sentido e significado às coisas
quando documentos com as quais tomam contato” (p. 24,

são colocados à
tradução dos autores). Esta indagação
não diz apenas do ponto de vista do
disposição repórter, mas da condição social em
que “os fatos” estão inseridos. Isto quer
dizer que os jornalistas são responsáveis
Como já falado, o que este documentário pela organização dos acontecimentos
apresenta então é uma dimensão comum transformados então em notícias, mas que
ao acontecimento “ditadura militar” a não estão sozinhos nesta tarefa. Há uma
partir dos relatos daqueles que passaram produção social do fato, sendo inúmeros
por essa experiência. Nas palavras de os fatores envolvidos neste processo.
Pollak, apesar dos entraves implicados Os meios de comunicação, como
na captação de lembranças pelos um dos lugares de constituição da
dispositivos confeccionados para esta memória coletiva, não conseguiram, à
finalidade, “o filme é o melhor suporte época da morte do jornalista Vladimir
30
Herzog, veicular estas informações, Ayres Britto, Ministro do Supremo
mas conseguem hoje, com o advento Tribunal Federal, ao proclamar seu voto
da Comissão Nacional e das Comissões contrário à revalidação da Lei da Anistia
estaduais da Verdade, dar vazão a (ver nota de rodapé nº 5), reforçou que
inúmeras reportagens que incidem sobre “os crimes hediondos não foram incluídos
este acontecimento. E não foi somente no texto da Anistia. Quem redigiu
pela presença da censura que esta e esta Lei não contemplou os crimes de
outras matérias sobre o período não torturadores” (2012). Acrescentando
puderam ser veiculadas; foi também pela ainda que “a humanidade tem o dever
impossibilidade das pessoas falarem, pois de odiar os seus ofensores porque o
lembranças traumatizantes “esperam o perdão coletivo é falta de memória e de
momento propício para serem expressas vergonha” (2012). A sociedade brasileira
(...). O longo silêncio sobre o passado, parece não se ausentar nesse sentido,
longe de conduzir ao esquecimento, é afinal, nas palavras de Jacques Le Goff, “a
a resistência que uma sociedade civil memória é um elemento essencial do que
impotente opõe ao excesso de discursos se costuma chamar identidade, individual
oficiais”. (POLLAK, 1989, p. 5) ou coletiva, cuja busca é uma das
O espaço público é então ocupado atividades fundamentais dos indivíduos e
por estas memórias e reverberações, na das sociedades de hoje” (1990, p. 44).
medida em que muitos documentos e O dispositivo sensível, que nomeia
depoimentos são, finalmente, colocados à Jacques Ranciére (2009), tanto pode ser o
disposição para jornalistas, historiadores, documentário que, mais do que apresentar
pesquisadores e a sociedade em geral. discursos, insiste em extravasar as
A própria história reforça sua condição experiências que não queriam ter “sido”,
conflituosa, em que vários grupos quanto pode ser a imagem de Vlado
disputam o seu enquadramento. No congelada em uma fotografia criada
caso específico, vale registrar que, após pelos aparelhos repressores e acionada
recomendação da CNV e atendendo como uma lembrança indesejada, mas
solicitação da família Herzog, a Justiça ainda não resolvida. Nesse sentido,
de São Paulo determinou a mudança do o documentário produzido pela TV
registro de óbito de Vlado. O atestado, Cultura e dirigido por João Batista de
que antes apresentava a causa da morte Andrade reconstitui uma experiência que 1- O nome imprensa
alternativa, também
por “asfixia mecânica”, teve sua redação é comum por afetar socialmente grupos chamada de nanica,
alterada para morte em decorrência em ação e que continua a reverberar na era utilizado para
classificar mais
“de lesões e maus-tratos sofridos em memória coletiva, em especial nos meios de uma centena
dependência do II Exército – SP (Doi- de comunicação e no jornalismo. de publicações
que surgiram
Codi)”. entre 1964 e 1980.
Opinião, Pasquim e
Movimento foram
os periódicos mais
importantes entre
esses jornais e
revistas, muitas vezes
de periodicidade
incerta. Sobre o tema
cf. Kucinski (1991).
31
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