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Ricardo Pereira; Girlane Almeida Bondan;

Luciano Zamperetti Wolski; Camila Menegali;


Ana Ester da Costa; Nárima Alemsan;
Letícia Cunico; Ingrid Weingärtner Reis;
Aliteia Franciane Biglieri; Denilson Sell;
Francisco Antonio Pereira Fialho;
Luiz Marcio Spinosa; Neri dos Santos

(Organizadores)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Perspectivas em engenharia, mídias e gestão do


conhecimento [livro eletrônico] : volume 3 /
organização Ricardo Pereira , Antonio Pereira
Fialho , Camila Menegali. -- 1. ed. --
Florianópolis, SC : Editora Arquétipos, 2023.
PDF

Modo de acesso: World Wide Web


Inclui bibliografia
ISBN 978-65-84549-16-6

1. Artigos - Coletâneas 2. Engenharia 3. Gestão


do conhecimento 4. Mídias digitais I. Pereira,
Ricardo. II. Fialho, Antonio Pereira.
III. Menegali, Camila.

23-149387 CDD-620
Índices para catálogo sistemático:

1. Conhecimento : Gestão : Engenharia 620

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-16-6
Copyright © 2023
Todos os direitos desta edição são
reservados à Editora Arquétipos.

Diretor Editorial Francisco Antonio Pereira Fialho


Projeto Gráfico Aliteia Franciane Biglieri
Editoração Aliteia Biglieri e Francisco Fialho
Revisão Ricardo Pereira e Ingrid Weingärtner Reis

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23-147278 CDD-658.575

7
SUMÁRIO

12 PREFÁCIO

15 CAPÍTULO 1

Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino


Superior: mediação dos processos de ensino e
aprendizagem em Metodologia do Trabalho
Científico.

47 CAPÍTULO 2

Educação digital: uma análise bibliométrica


(2019-2022) a partir do contexto da
transformação digital

79 CAPÍTULO 3

Objetivos do processo de combinação de


conhecimento: Uma revisão integrativa

105 CAPÍTULO 4

Método OACOMP: identificação e associação


de perfis funcionais de participantes de
cursos de capacitação online aos objetos de
aprendizagem
133 CAPÍTULO 5

Cultura do grátis: benefícios dos novos modelos


de negócios on-line na Economia da Mídia

159 CAPÍTULO 6

Inteligência emocional em organizações de


segurança pública: a percepção de gestores
de órgãos periciais

181 CAPÍTULO 7

Uma compreensão sobre as inteligências


humanas e sua relação com a psicologia
transpessoal

203 CAPÍTULO 8

Os desafios e as práticas inovadoras em


comunicação nas Organizações da Sociedade
Civil (OSC): uma revisão integrativa de literatura

235 CAPÍTULO 9

O Líder em Universidades Públicas Brasileiras


no Novo Mundo Digital
265 CAPÍTULO 10

Líderes Digitais na Gestão Universitária:


Competências requeridas no contexto de
Transformação Digital do Ensino Superior

CAPÍTULO 11
289
Análise da aplicação de tendências da
transformação digital ao mercado imobiliário

311 CAPÍTULO 12

A abordagem sistêmica na gestão de design


para portadores de transtornos mentais no
ambiente de trabalho.

337 ORGANIZADORES

349 AUTORES
PREFÁCIO

Ferramentas de pensamento digital

O desenvolvimento da humanidade pode ser visto


em suas ferramentas. Se o conhecimento é agora o fator
de criação de valor dominante, então precisamos de
ferramentas para aprender, trocar, estruturar, armazenar
e encontrar nosso conhecimento. Com a digitalização, as
pessoas desenvolveram ainda mais suas ferramentas e
novas ferramentas foram acrescentadas. As ferramentas do
século XXI são os meios digitais, com os quais processamos
e comunicamos informações em vez de objetos físicos.
Cada vez mais temos acesso ao suporte do pensamento
com inteligência artificial. Algoritmos mapeiam partes de
nosso conhecimento ou nos aliviam da tediosa avaliação
de grandes quantidades de dados.
O que isto significa para lidar com o conhecimento no
futuro?
Nossas ações deixam uma variedade de traços digitais
através de documentos, interações em redes sociais,
comunicação através de uma variedade de aplicações,
câmeras e sensores usados no corpo e o uso de outras mídias.
Todos estes traços tornam cada vez mais transparente quais
são os temas com os quais lido, como trabalho e aprendo,
como avalio os outros e como outros me avaliam, o que sei
e o que não sei. A pegada digital é difícil de ser escondida.
Portanto, não está longe para o gerente de conhecimento digital,
que me ajuda individualmente, a equipe, a organização e entre as
organizações a organizar o conhecimento, sistematizar (projetar)
experiências, atualizar automaticamente perfis de competência
e usá-los para fazer sugestões para treinamento integrado ao
trabalho e contato relacionado ao tópico com as pessoas. Se, neste
nível operacional, as pegadas de ação são avaliadas e curadas de
forma amplamente automatizada, então temos a liberdade de
refletir sobre o uso responsável do conhecimento, ou seja, fazer
o que os algoritmos não podem fazer. Devemos aprender a usar
as ferramentas digitais com responsabilidade e não esquecer a
comunicação direta de pessoa a pessoa.

Wiesbaden, April 2023

Klaus North

13
CAPÍTULO I

Gestão Pedagógica e Tecnológica


no Ensino Superior: mediação
dos processos de ensino e
aprendizagem em Metodologia do
Trabalho Científico

Luiz Carlos Cerquinho de Brito


Francisco Antonio Pereira Fialho
Zeina Rebouças Correa Thomé

doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-16-6.001
CAPÍTULO 01

RESUMO
Este artigo trata da análise da pesquisa em
andamento no estágio pós-doutoral em realização
na Programa de Pós-Graduação em Engenharia e
Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de
Santa Catarina (PPGEGC/UFSC), tendo por propósito a
inovação pedagógica e desenvolvimento de ambientes
virtuais de aprendizagem e gestão do processo
pedagógico para a disciplina Metodologia do Trabalho
Científ ico, ofertada na Universidade Federal do
Amazonas (UFAM). As bases teóricas e metodológicas
se conf iguram na articulação interdisciplinar, tendo
como autores principais: Levy (1997), Piaget (2013),
Ostrower (2009), Latour (2000), tratando da abordagem
da gestão do conhecimento, da inteligência coletiva
e dos processos de aprendizagem na perspectiva
construtivista e dos processos de criatividade. O objetivo
é apresentar e refletir sobre o processo da pesquisa
e o desenvolvimento pedagógico e tecnológico em
andamento. Em primeiro momento, tratamos das
referências conceituais e metodológicas centrais da
pesquisa, articulando o saber, a inovação dos processos
educacionais e tecnológicos com base na dinâmica do
ensino e aprendizagem no ensino superior. Na análise
dos resultados parciais, foi realizada a apreciação das
bases estruturantes da disciplina, sua proposição em
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

termos de ementário, objetivos e programa de conhecimentos


procedimentos metodológicos.
Palavras-chave: Ensino Superior. Inovação tecnológica e
pedagógica. Gestão do conhecimento.

1. INTRODUÇÃO

Na sociedade contemporânea, a inovação do ensino superior


se põe como necessidade de sobrevivência da própria instituição
Universidade em face a revolução tecnológica e a dinâmica de
produção, socialização, acesso e modo de interação dos indivíduos
com o conhecimento. Nesta sociedade das tecnologias digitais
de informação e comunicação/TDIC, o conhecimento, a ciência,
as relações humanas e os próprios sujeitos, são postos num
movimento de construção contínua a qual envolve múltiplos
fatores e demandas econômicas, sociais, culturais e também
subjetivas; dado que assim como a realidade os sujeitos também
se modificam e põem novas exigências formativas.
Para a inovação do ensino superior urge o investimento na
compreensão de que o conhecimento está inexoravelmente
na abertura para as questões que envolvem a diversificação e
diferenciação da vida humana, num intercâmbio planetário posto
no “mundo virtual”, cuja dinâmica e processos operativos põem
em novo patamar a presencialidade, as mediações, os objetos de
conhecimento e aprendizagem.
A perspectiva de inovação na Universidade corresponde
a aspectos bastante complexos, dada a própria natureza da
instituição universitária, voltada para a produção, socialização e

17
desenvolvimento de competências organizacionais e individuais,
na formação dos profissionais nos cursos de graduação e pós-
graduação. Em acordo com Tosta (2012), tanto a produção do
conhecimento deve ser orientada para problemas reais quanto
“A intenção da universidade deve ser de formar profissionais
preparados para inovar e não simples reprodutores do que já existe”
(Tosta, 2012; p. 209).
A criação de redes de comunicação, de comunidades virtuais
de aprendizagem fez ultrapassar a perspectiva da máquina-
computador como recurso ou canal de acesso aos espaços virtuais
da internet. Ao mesmo tempo, tratando de processos formativos, os
ambientes virtuais de aprendizagem não podem ser compreendidos
como repositórios. É preciso tratar tanto da base tecnológica, seus
mecanismos de aprendizagem orientado para uma nova cultura
digital como também a própria base epistemológica e estrutural do
conhecimento, os quais devem constituir parâmetros de inovação
dos currículos e das atividades de formação programadas, em
atendimento as demandas objetivas e subjetivas.
É neste contexto amplo que se ancoram as questões da
pesquisa em andamento no estágio pós-doutoral em realização
no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina, tendo
por campo experiencial a disciplina Metodologia do Trabalho
Científico/MTC oferecida para estudantes universitários no
primeiro semestre de ingresso em diversos cursos de graduação
da Universidade Federal do Amazonas.
A pesquisa se volta para a revisão dos objetivos e abordagem
programática da disciplina Metodologia do Trabalho Científico,
a partir de uma perspectiva de aprendizagem construtivista
e imbricada com o desenvolvimento de ambientes virtuais de
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

aprendizagem e de gestão do processo pedagógico. Neste sentido,


o projeto em andamento busca analisar e propor alternativas
efetivas para o desenvolvimento e gestão do processo pedagógico
e tecnológico no ensino superior, visando a qualificação dos
processos formativos dos estudantes universitários assim como a
sistemática organizacional das atividades docentes.
Este artigo está composto de cinco tópicos, a saber: 1) a
introdução; 2) a revisão da literatura com três sub-tópicos: 2.1.
O cenário do Ensino Superior e os desafios para a inovação
pedagógica e tecnológica; 2.2. Inovação, Ensino Superior e gestão
do conhecimento; 2.3. Construção do conhecimento e formação
do sujeito no Ensino Superior; 3) método e materiais de pesquisa;
4) apresentação, análise e discussão dos resultados parciais; 5)
conclusões.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. O cenário do Ensino Superior e os desafios


para a inovação pedagógica e tecnológica.

Nesses últimos dois anos (2020 e 2021), em razão da suspensão


das atividades do ensino presencial, justificada pela grave
situação da pandemia da covid-19, se tornou evidente as diversas
dificuldades do ensino superior no Brasil. São dificuldades tanto
relativas a própria gestão das Universidades, no que tange a parcas
condições tecnológicas e programas e estratégias educacionais de
inovação do ensino superior; e também fragilidade e desigualdade
na sociedade brasileira, quanto a malha de conexão à internet e

19
a situação de precariedade dos estudantes quanto ao acesso as
tecnologias digitais (Brasil, 2021).
As fragilidades das Universidades Federais, no período da
pandemia da covid-19, mostraram também que a formação dos
professores universitários apresenta sérias limitações quanto a
aplicação das tecnologias no campo pedagógico, seja no que
tange ao domínio da modalidade da educação a distância, seja
no domínio metodológico das mediações didáticas e tecnológicas
para a realização efetiva do ensino e aprendizagem nos cursos de
graduação e pós-graduação.
Com a pandemia, observa-se tanto a paralisação das atividades
de ensino presencial quanto a adoção de soluções apressadas e
de qualidade duvidosa como o intitulado “ensino remoto” (ERE),
implementado em diversas universidades brasileiras nos anos de
2020 e 2021, como alternativa ao enfrentamento das dificuldades
estruturais e pedagógicas para a adoção da modalidade da
educação a distância.
Vale ressaltar a análise do IPEA a qual aponta dois dilemas
para a Universidade. Primeiro a necessidade de superar a “rejeição
histórica da modalidade a distância, sua baixa utilização entre
elas”. Em segundo, a necessidade de superar o “conhecimento
precário sobre as condições sociais de seus alunos (...) sobre o uso
de computadores e os desafios reais sobre acesso à internet entre
estudantes e docentes” (BRASIL, IPEA, 2021, p. 08).
A indicação do IPEA (2021) aponta para dois problemas
recursivos nas Universidades Federais brasileiras. Primeiro a falta
de investimentos efetivos na inovação tecnológica e pedagógica
do ensino, compatíveis com as condições socialmente postas pelas
tecnologias digitais de informação e comunicação/TDIC. Segundo,
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

a falta de conhecimento e reconhecimento efetivo dos jovens


estudantes universitários, seja quanto as suas condições de acesso
as TDIC, seja a vivencia e convivência com os suportes físicos e
digitais como o celular, o computador e os diversos objetos lúdicos
de conhecimento como os jogos digitais, o audiovisual, o hipertexto
no qual se configuram a combinação de diversas linguagens
proporcionadas pela navegação e conexões no mundo digital.
No Brasil, entre os anos de 2017, 2019 e 2023, destacam-
se três orientações legais emanadas do Ministério da Educação;
estando tais orientações diretamente imbricadas a inovação dos
processos educacionais da educação básica e do ensino superior,
considerando as bases e exigências em decorrência da consolidação
da sociedade pautada nas tecnologias digitais de informação
e comunicação; como sendo base de orientação do processo
educacional voltado para a inclusão e formação tecnológica
necessária para o desenvolvimento humano e social.
O primeiro e principal documento é a Base Nacional Comum
Curricular/BNCC aprovada em 2018, visando a inovação curricular
da Educação Básicas Brasileira (da educação infantil ao ensino
médio), a qual sofreu reveses em sua implementação em razão
das dificuldades impostas pela pandemia da covid-19. No referido
documento consta a orientação para o investimento na área
tecnológica e sua aplicação no âmbito do processo pedagógico,
como condição de desenvolvimento da cidadania, da participação
dos jovens no mundo da cultura digital, do desenvolvimento de
competências para a inserção no complexo e desafiador mundo
do trabalho na sociedade das tecnologias digitais de informação
e comunicação. Apesar de estar voltada para a Educação Básica,
essa referência curricular é documento obrigatório para a inovação
curricular no ensino superior, considerando o necessário processo

21
de progressão, transição e integração curricular entre os níveis de
ensino.
Vejamos essas indicações da própria Base Nacional Comum
Curricular (2018) para a Educação Básica, 1) Utilizar diferentes
linguagens – verbal, corporal, visual, sonora e digital – para se
expressar e fazer com que o estudante amplie seu modelo
de expressão ao partilhar informações, experiências, ideias e
sentimentos em diferentes contextos, produzindo sentidos
que levem ao entendimento mútuo; 2) Compreender, utilizar
e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de
forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas
docentes, como recurso pedagógico e como ferramenta de
formação, para comunicar, acessar e disseminar informações,
produzir conhecimentos, resolver problemas e potencializar as
aprendizagens.
O segundo documento é a Portaria MEC Nº 2.117, de 6 de
dezembro de 2019, a qual em seu artigo. 2º orienta que “As IES
poderão introduzir a oferta de carga horária na modalidade de
EaD na organização pedagógica e curricular de seus cursos de
graduação presenciais, até o limite de 40% da carga horária total
do curso”.
No século vinte e um, na sociedade das tecnologias digitais
de informação e comunicação, o conhecimento e a aprendizagem
adentram por novas significações, linguagens, e modos de
interação e participação dos sujeitos, os quais não correspondem
mais às perspectivas tradicionais de currículo, de aprendizagem,
de assimilação e reprodução de conteúdo por meio de testes,
provas, em voga e predominante no ensino superior. E isso apesar
das propaladas “metodologias ativas”.
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

Por terceiro, destaca-se a Lei nº 14.533, recém sancionada


em 11 de janeiro de 2023, instituindo a Política Nacional de
Educação Digital, a qual apresenta eixos estruturantes e objetivos
diretamente relacionada com a escolarização e com o trabalho
universitário, a saber: “I - Inclusão Digital; II - Educação Digital
Escolar; III - Capacitação e Especialização Digital; IV - Pesquisa
e Desenvolvimento (P&D) em Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs) ”.
Em seu artigo terceiro, a citada Lei 14.533/2023 estabelece
que a Educação Digital Escolar “tem por objetivo garantir a
inserção da educação digital nos ambientes escolares, em todos os
níveis e modalidades, a partir do estímulo ao letramento digital e
informacional e à aprendizagem de computação, de programação,
de robótica e de outras competências digitais” (Brasil; 2023).
Eis um importante desafio para as Universidades, o que
requer o estabelecimento de uma nova inteligência organizacional,
de planejamento, elaboração de novos programas para o ensino
de graduação, enfatizando a necessária (e tardia) caminhada
para estabelecer a formação tecnológica como base central na
organização dos currículos dos cursos de graduação, dos processos
de ensino e aprendizagem.
É nesse sentido que a formação universitária deve se redefinir
requerendo novas abordagens conceituais e experimentações no
processo de ensino e aprendizagem, inserida num contexto de
flexibilização do tempo, do espaço e dos modos de agenciamentos
entre os atores de diferentes lugares, instituições e funções (Fialho
e Thomé, 2015). Com os sistemas virtuais de conhecimento,
informação e aprendizagem, a internet passa a se configurar
objetivamente como verdadeira estrutura de processamento,
transmissão, base de memória para conexões em um metamundo

23
virtual, heterogêneo, em transformação permanente, abrangendo
todos os sistemas virtuais de conhecimento, informação, formação,
aprendizagem e também ludicidade. (Lévy, 1997).
Não obstante, essas condições objetivas não são
automaticamente orientadas para os processos curriculares,
de ensino e de aprendizagem, o que exige das Universidades o
investimento acadêmico, tecnológico e pedagógico efetivos, em
políticas e programas institucionais, atentando para a formação
cidadã e dos profissionais que a sociedade contemporânea requer.

2.2. Inovação, Ensino Superior e gestão do


conhecimento

O termo inovação apresenta densa trajetória relacionada ao


mundo empresarial, como orientação da gestão e desenvolvimento
de produtos e serviços inovadores, e mais eficientes, do ponto de vista
econômico e atendimento às necessidades dos clientes (Echalar, Lima
e Oliveira, 2020).
Em seu desenvolvimento, especialmente a partir da década de
2000, o termo inovação foi sendo ampliado no mundo empresarial, e
desdobrando para outras áreas nas organizações sociais e institucionais,
nas as políticas públicas e também na gestão educacional, O que
se observa da trajetória histórico-conceitual, segundo os autores
acima, é vínculo da inovação com desenvolvimento tecnológico e
com a ressignificação do próprio desenvolvimento, articulado às
especificidades das demandas dos sujeitos e da necessidade, como
campos de projeção participativa, operação e acompanhamento de
processos e resultados, para os próprios sujeitos e organizações.
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

Em sua tese de doutorado Tosta (2012) trata das relações


da Universidade com o setor produtivo e com o governo, como
catalisadores da inovação tecnológica baseada em conhecimento,
enfatiza que a Universidade é definida como “organização intensiva
em conhecimento”, sendo este o seu capital próprio.
O conhecimento está embutido no conceito de
universidade. Gerir o conhecimento ou qualquer de seus
processos é uma atividade que requer metodologias
adequadas, planejamento estruturado, para que os objetivos
organizacionais sejam alcançados em qualquer área de
atuação. No que diz respeito à educação, o assunto torna-se
ainda mais importante, pelo fato de que o conhecimento é
o objetivo f inal desse tipo de instituição. Sendo que, além
de uma proposta pedagógica consistente, é necessária a
coordenação dos procedimentos adotados para a criação,
armazenamento e disseminação do conhecimento, bem
como o controle do mesmo. (Tosta, 2012; 56).

A indicação da importância do conhecimento para a educação


é fato incontestável e merece especificações quando se trata de
sua inserção nas complexas funções da Universidade. Além de
se constituir na base de um processo de gestão, da criação, do
armazenamento e disseminação, o conhecimento é a matéria
objetiva e subjetiva da inovação dos currículos, dos processos
pedagógicos, da seleção e produção de mediações didáticas e
tecnológicas para efetivar o ensino, a aprendizagem e a formação
no ensino superior.
É preciso pensar a Universidade como sistema complexo, onde
o conhecimento apresenta finalidades e processos específicos,
porém articulados. Na universidade o conhecimento é o fator
central da realização das funções universitárias, no ensino de
graduação, na pós-graduação, na pesquisa, no desenvolvimento
tecnológico, na socialização do conhecimento pela via da extensão

25
universitária. Todavia, em nenhuma dessas funções universitárias
(ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento tecnológico) o
conhecimento é apenas produto acabado, explícito, repertório fixo, mas
sim estrutura resultante de processos de apropriação, reconstrução,
experimentação e construção de novidades. Novidades, diga-se,
fundada tanto nas condições e necessidades subjetivas quanto
na objetividade das demandas da vida social, econômica, cultural,
histórica e contextualmente situadas.
Segundo salienta Garcia (2002), com sua perspectiva
construtivista, um “sistema complexo” corresponde a uma
representação da realidade, para que se possa analisar uma totalidade
organizada, no sentido de um funcionamento. O autor chama de
“funcionamento de um sistema o conjunto de atividades que pode
realizar (ou permite realizar) o sistema, como resultante da coordenação
das funções que desempenham suas partes constitutivas” (Garcia,
2002, p. 55). Eis um desafio hercúleo para as Universidade, proceder
o próprio diálogo e agenciamento interno do conhecimento, tendo
como referência a própria dinâmica e condições de existência na
sociedade contemporânea, num mundo determinado pelas condições
das tecnologias digitais de informação e comunicação.
A complexidade da abordagem do conhecimento é fator de
complexidade do “trabalho universitário, tanto em seus processos
laboratoriais em campos específicos da ciência, e também nas
atividades que “abrem a caixa preta” do conhecimento, no ensino,
na divulgação científica, na extensão. (Latour, 2000, p.35). Por isso,
também, os desafios internos da própria universidade em centrar
os processos de gestão do conhecimento nas suas especificidades
internas como fator da criatividade e da inovação.
Para Rocha Neto e Nehme (2012), a gestão do conhecimento (GC)
relaciona-se com a aprendizagem organizacional à medida em que o
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

compartilhamento e a geração de conhecimentos envolvem mudanças


nas formas de olhar a realidade, as demandas dos sujeitos, os métodos
de trabalho, favorecendo o acompanhamento e aperfeiçoamento das
finalidades e atualidade dos processos e resultados na inovação dos
resultados do trabalh o de organizacionais complexas.
Este seria o caso das Universidades, como instituição com
estrutura de monta e com funções de alta complexidade. Como
realizar a formação universitária em todas - ou quase todas - as
áreas do conhecimento e atuação profissional? Como realizar
as pesquisas de natureza científica, acadêmica, cultural, para o
desenvolvimento de competências e habilidades na formação
universitária, considerando as necessidades e condições postas na
sociedade contemporânea e nos processos de subjetivação?
Na pesquisa em andamento, a inovação diz respeito a
reestruturação do conhecimento e dos processos de mediação
tecnológica e pedagógica. Não é uma inovação configurada a priori,
mas dimensionada pelas condições objetivas e subjetivas, da relação
de humanos e não-humanos, agenciados no desenvolvimento da
disciplina Metodologia do Trabalho Científico, siglada no currículo
de diversos cursos de graduação da UFAM; ofertada no primeiro
semestre letivo para universitários (calouros) que ingressam na
Universidade. A perspectiva de inovação se alinha ao conceito de
processos criativos, no espaço vivencial que envolvem tensões,
associações, configurações e ordenações, interiores e exteriores,
“como força crescente que se reabastece nos próprios processos
dos quais se realiza” (Ostrower, 2009, p 27).
Na pesquisa em andamento, toma-se como referência para
a inovação do ensino superior a concepção, desenvolvimento e
implementação de sistema pedagógico e tecnológico, de revisão
e atualização do repertório da disciplina, de desenvolvimento de

27
situações didáticas e de aprendizagem, de desenvolvimento de
mediação de ensino e aprendizagem dimensionados em ambiente
virtual de aprendizagem.
Para tratar da inovação na citada disciplina, a pesquisa se
movimenta em abordagem interdisciplinar, entendidas como
convergentes aos objetivos e objetos do ensino de graduação.
Três estruturas são dimensionadas neste processo. Em primeiro,
a abordagem e experimentação didático e tecnológica com a
disciplina em tela, enquanto condição para pensar, conceber e
implementar a inovação no campo do ensino, da aprendizagem
e da mediação tecnológica no Ensino Superior. Em segundo a
abordagem epistemológica do ementário, conteúdo programático
e objetivos da disciplina, Metodologia do Trabalho Científico,
considerando a abordagem dos conhecimentos da disciplina
postos no campo virtual, no ciberespaço, como sinaliza Levy (1997).
Na abordagem tecnológica, destacamos a referência a
perspectiva da “inteligência coletiva” conforme cunhada por
Levy (1997), como aquela inteligência que está posta por meio da
rede mundial de computadores e do intercâmbio generalizado
de informações, conhecimentos e interações humanas. Mas
principalmente como aquela inteligência que se abre e se
agencia no compartilhamento dos registros, da documentação
e estabelecimento de procedimentos de colaboração, seja
utilizando os ferramentais disponíveis no ambiente virtual de
aprendizagem, seja pela construção coletiva de novos aportes,
conceitos explicativos, associações que demanda os processos
cognitivos e simbólicos, socialmente compartilhados e disponíveis
em comunidade de aprendizagem.
Como salienta Levy (1997), o conhecimento está diretamente
vinculado ao espaço e tempo de sua elaboração, num movimento
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

contínuo de transformação. “O sentido emerge e se constrói no


contexto, é sempre local, datado, transitório. A cada instante, um novo
comentário, uma nova interpretação, um novo desenvolvimento
pode modificar o sentido que havíamos dado a uma proposição
(por exemplo) quando ela foi emitida” (Levy, 1997, p.13).
Na base da fundamentação do desenvolvimento integrado
do tecnológico com o pedagógico, tomamos por referência as
“camadas” constituídas nos estudos, pesquisas e experiências
de formação postas no âmbito do trabalho desenvolvido pelo
Cefort/UFAM1, especialmente na criação de ambientes virtuais
de aprendizagem para a formação de gestores e Professores nas
mocidades da educação presencial e a distância.
A escolha da plataforma Moodle (Modular Object-Oriented
Dynamic Learning Environmen) para o desenvolvimento dos
ambientes virtuais tem por referência as experiências desenvolvidas
com o ensino presencial e a distância no Cefort/UFAM, voltado para
a construção de redes de formação híbrida (presencial, a distância
e presencial mediado), orientado para a construção de constituição
de comunidades de aprendizagem (Fialho e Thomé, 2015).
No endereço eletrônico do Cefort/UFAM encontra-se
o “Laboratório de Hipermídia de Aprendizagem, onde estão
hospedados os Ambientes Virtuais de Aprendizagem dos cursos
realizados pelo Cefort; consistindo em campo de interações,
registros, dialogicidade, acompanhamento e avaliação dos
processos formativos, em educação a distância e ensino presencial.
1 CEFORT – Centro de Formação, Desenvolvimento de Tecnologias e prestação de Ser viços para as Redes Públicas de
Ensino, localizado no endereço eletrônico https://cefort.ufam.edu.br/. O CEFORT se encontra em atividade desde o ano
de 2004, associado a Rede Nacional de Formação de Professores do Ministério da Educação; desenvolvendo pesquisas,
programas e mediações didáticas e tecnológicas para a formação dos profissionais da Educação Básica e para o En-
sino Superior na UFAM, tendo desenvolvido diversos trabalhos nos Estado do Amazonas, em Pernambuco, Maranhão,
Amapá, Goiás. No site do Centro está inserido o campo intitulado Laboratório Hipermídia de Aprendizagem, ancorando
ambientes virtuais de aprendizagem para o desenvolvimento dos programas, projetos nas modalidades a distância e
de mediação do ensino presencial, para a formação inicial e continuada de Professores.

29
Para além de um sistema de gerenciamento do ensino,
da aprendizagem e da avaliação, os Ambientes Virtuais de
Aprendizagem são entendidos como espaços de construção de
conhecimento, flexível e aberto às demandas de aprendizagem
dos sujeitos em formação. Significa dizer que o Ambiente Virtual de
Aprendizagem está aberto e conectado com a elaboração individual
e coletiva, configurando uma comunidade de aprendizagem imersa
num contexto de significação ampliado pela rede mundial de
computadores, o que possibilita pensar e objetivar procedimentos
de gestão do conhecimento construído na dinâmica do processo
de aprendizagem.

2.3. Construção do conhecimento e formação do


sujeito no Ensino Superior

Como ressaltado no item anterior por Tosta (2012), a


Universidade é uma “organização intensiva em conhecimento”,
especificado nas funções universitárias do ensino, da pesquisa,
da extensão e do desenvolvimento tecnológico. Circunscrito na
função do ensino, o conhecimento é especificado segundo as áreas
e campos de formação profissional, sendo o fator preponderante
quando se projeta e se planeja a matriz de um determinado Curso
de graduação. Seja em qual nível de escolarização for, a inovação
pedagógica e tecnológica passa necessariamente pela abordagem
de, no mínimo, três estruturas básicas: o conhecimento, o sujeito
da aprendizagem e o contexto social, cultural e histórico, o qual
dimensiona as condições e demandas efetivas dos processos
formativos. Na medida em que a pesquisa aqui refletida trata do
Ensino Superior, essas três estruturas apresentam especificidades
diretamente implicadas na inovação pedagógica e tecnológica da
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

disciplina “Metodologia do Trabalho Científico”, objeto de estudo e


desenvolvimento de ambiente virtual de aprendizagem.
Em Uma história social do conhecimento, Burke (2003) afirma
que desde a criação das Universidades do final da idade medieval
ao período de consolidação da sociedade moderna, o ensino
universitário foi sendo concebido como “sistema”, de organização
dos currículos, disciplinas, definição das referências dos materiais
impressos dispostos em bibliotecas (manuais, enciclopédias,
compêndios). Nesse sistema a ação fundamental é a do ensino,
num momento histórico (século 19) em que a psicologia moderna
ainda está em consolidação e a psicologia da aprendizagem ainda
não fora desenvolvida.
Essas referências visam evidenciar o padrão ainda em curso
na organização dos próprios cursos superiores nas universidades
brasileiras, onde o conhecimento ainda se encontra estruturado
de modo estanque, sem vínculo efetivo com as mudanças no
conhecimento, no sujeito e no contexto, centrando na transmissão e
não na apropriação, reconstrução e imbricado ao desenvolvimento
de habilidades e competências pelo aprendiz.
Especialmente no percurso do século 20 e na sociedade
contemporânea, torna-se evidente que o conhecimento, a ciência
e a aprendizagem não são estruturas fixas e definitivas, uma vez
que envolvem as mudanças contínuas na vida social, na cultura, na
produção tecnológica, implicando a vida econômica, as comunicações
e a subjetivação. Isso significa afirmar a obrigatoriedade na
abertura dos currículos, do ensino e da aprendizagem em face as
próprias mudanças postas na sociedade das TDIC, em especial no
Ensino Superior o qual se articula como a iniciação científica e com
ações voltadas para a socialização do conhecimento produzido na
própria universidade. Na sociedade contemporânea, como afirma

31
Levy, “Nenhum tipo de conhecimento, mesmo que nos pareça tão
natural, por exemplo, quanto a teoria, é independente do uso das
tecnologias intelectuais” (Levy, 1997, p. 75).
Imbricado às mudanças tecnológicas, destaca-se as mudanças
relativas aos próprios objetos do conhecimento, articulando diversas
linguagens, gêneros textuais e suportes digitais, implicados na
própria aprendizagem, requerendo formações dos professores e
estudantes no campo das tecnologias digitais. A este respeito, é
pertinente o que afirma Levy
Mas que nunca, a imagem e o som podem tornar-se os
pontos de apoio de novas tecnologias intelectuais. Uma
vez digitalizado, a imagem animada, por exemplo, pode ser
decomposta, recomposta, indexada, ordenada, comentada,
associada no interior de hiperdocumentos multimídias” (Levy,
2010, p. 103).

O conhecimento e a aprendizagem resultam de contínuos


investimentos, implicando tanto o desenvolvimento de competências
e habilidades quanto a criação de novos objetos de conhecimento,
linguagens e tecnologias, modos de associações, conexões, registros
e documentações.
Para o processo de escolarização e para o ensino superior, essa
realidadeobjetivaesubjetivaimpõeodesafiocontínuoderessignificação
e inovação das finalidades e da imbricação do conhecimento, das
linguagens e dos processos de aprendizagem num mundo virtual,
o qual não somente abriga e favorece o compartilhamento das
informações, mas condiciona a aprendizagem e o desenvolvimento
das habilidades social e historicamente requeridas.
Significa, neste caso, conceber a ação sistemática da
aprendizagem para além da reprodução e também da superação
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

dos “pontos” e dos “nós” característicos das informações,


conhecimentos disponíveis na rede mundial de computadores.
Significa pensar, projetar e implementar novos arranjos, de
informações, linguagens e flexibilização da aprendizagem,
condizente com os ritmos e interesses temáticos diversificados dos
estudantes.
Esta referência tomam o sujeito aprendiz como a base
central do processo pedagógico, considerando as singularidades e
diversidade postos na vivencia e convivência dos jovens que iniciam
os cursos de graduação na Universidade; como sujeitos com perfis
e subjetivação diferenciada pela participação efetiva no mundo
virtual e cultura digital, com ênfase nas manifestações, interações
e construções discursivas dos jovens.
O mundo dos streameres, dos youtubevers, e influencers, o
crescimento exponencial dos jogos digitais e de toda a estrutura
tecnológica, econômica e de quantitativo de jogadores a eles
relacionados, comprovam o fato de que os jovens vivenciam,
convivem e participam de modo inteiramente singular no mundo
contemporâneo. Um mundo em que as tecnologias não são mais
exclusivos e mecânicos recursos, mais as mediações que implicam
e condicionam a participação social, a cidadania e a própria
formação e escolarização em todos os níveis de educação e ensino.
Alberto Melucci, pesquisando a diversificação humana
ocorrida na era da informática, indica que as formas de vivência
e convivência fazem surgir novas formas de socialização e
subjetivação “O tempo cotidiano torna-se múltiplo e descontinuo
porque implica a passagem de um universo a outro da experiência;
de uma rede social a outra; da linguagem e dos códigos de um
determinado território e espaços sociais semântica e afetivamente
distintos (Melucci, 2004; p 61).

33
Convivendo e articulando os mundos da presencialidade e o
mundo da virtualidade, novos designs, objetos de conhecimento,
formas de interação, valores, configuram uma nova sociabilidade
juvenil, distinta da sociabilidade tecida em apenas 30 anos
passados. Uma sociabilidade, diga-se, tecida tanto pela busca de
diferenciação e individuação quanto pelo perfil de protagonista
da produção, consumo e da interatividade na internet e na cultura
digital.
Na articulação entre a abordagem de Piaget (2013) e Ostrower
(2009), é possível pensar o desenvolvimento e a aprendizagem
como contínua “adaptação criadora”, num processo que se efetiva
pela sucessiva construção e reconstrução dos esquemas de ação
e pensamento, envolvendo o ser consciente, intuitivo, sensível e
cultural. É uma adaptação que nada tem de linear e mecânica, posto
que ocorre em situações de incertezas, conflitos, desequilíbrios.
No contexto do ensino superior, em suas diferentes funções
de especificidades, esse processo de “adaptação criadora” se torna
condição, tanto para a inovação das atividades docentes como
para a inovação dos conhecimentos, das experiências formativas,
de aprendizagem e de desenvolvimento de competências e
habilidades pelos jovens estudantes universitários.

3. MÉTODO E MATERIAIS DE PESQUISA

A proposta metodológica e tecnológica da pesquisa se


engendra numa perspectiva interdisciplinar, voltada para os objetos
específicos, e, ao mesmo tempo, visando a integração de conceitos
e metodologias para a inovação da disciplina Metodologia do
Trabalho Científico na Universidade Federal do Amazonas.
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

O eixo propulsor da articulação metodológica se define pela


implementação de processos tecnológicos e pedagógicos, com
abertura para a criação dos participantes, equipe tecnológica,
pedagógica e pelos estudantes envolvidos no desenvolvimento
da disciplina, objeto de experimentação, acompanhamento e
revisão epistemológica (Piaget, 2013; Ostrower, 2009; Levy, 1997;
Garcia, 2012; Thomé e Fialho, 2015).
As referências indicadas permitem a articulação com
conceitos e operações dirigidas para os processos pedagógicos,
do currículo e da aprendizagem, articulados ao desenvolvimento
tecnológico dos ambientes virtuais de aprendizagem, tendo por
referência as bases conceituais, metodológica e pedagógicas
construídas no âmbito do Cefort/UFAM. Como salientando
anteriormente, estas bases se voltam para a concepção, projeção
e implementação de programas e projetos de formação de
professores nas modalidades presencial, a distância e presencial
mediado por ambiente virtual de aprendizagem, ancorados no
Laboratório de Hipermídia de Aprendizagem o referido Centro de
Formação.
A constituição de comunidade de aprendizagem, engendrada
e operada na perspectiva ativa do sujeito e nos processos de
criatividade requer uma abordagem metodológica de abertura
para a escuta, o diálogo, a ideação, a criação e implementação,
envolvendo sistematicamente os estudantes da disciplina
Metodologia do Trabalho Científico. Nesse sentido, toma-se por
referência as indicações do design thinking, como um processo,
Criativo interdisciplinar para encontrar respostas para
problemas da vida real (desde a criação de um artefato até
a busca de soluções para problemas sociais). A premissa
do Design thinking é que o ser humano tem um papel
central nesse processo. Começa com a identif icação de

35
suas necessidades e a ampla participação dos envolvidos
na construção das propostas (Reis; Pereira; Fialho, 2022, p
2, tradução nossa).

O desenvolvimento do ambiente virtual de aprendizagem


ocorre a partir do pressuposto da participação e colaboração
dos atores humanos e não-humanos, na interface com os
eixos estruturantes da disciplina em tela: o conhecimento, a
leitura, a organização do estudo, o processo de elaboração do
trabalho acadêmico.
Assim, o desenvolvimento da pesquisa envolve
fundamentalmente a experiência do pesquisador na
docência da Metodologia do Trabalho Científ ico; sendo esta
ação entendida como numa perspectiva de laboratório,
(Latour, 2012) da relação de atores humanos, em suas
funções específ icas (Professor e Estudantes) como os atores
não-humanos, implicados e implicadores do processo de
desenvolvimento pedagógico e tecnológico da disciplina,
tais como: a proposição objetivada da disciplina no Projeto
Político e Pedagógico, os planos de ensino já executados, a
abordagem dos objetos de conhecimento impressos, digitais,
audiovisuais e hipertextuais e abordagem do Ambiente
Virtual de Aprendizagem utilizado como piloto, ancorado no
Laboratório de hipermídia do Cefort.
Como estruturas organizadoras da pesquisa, do
desenvolvimento tecnológico e pedagógico, no período da
estágio pós-doutoral do EGC –UFSC, temos o seguinte:

1. A proposição de revisão conceitual e metodológica da


disciplina, consistindo na abordagem do objetivo geral e da
estrutura-eixos do ementário (de conhecimentos) da disciplina
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

MTC, convergente com a perspectiva de protagonismo do


sujeito jovem que ingressa na Universidade provindo do
Ensino Médio;
2. A proposição metodológica e tecnológica de desenvolvimento
da disciplina – presencial e no AVA piloto, abrigado no
projeto “Graduacao@UFAM, 1) Plano de Ensino, 2) Mediações
Didáticas e Tecnológicas; 3) Atividades e integração; 4)
Registro e documentação pedagógica do processo de ensino
e aprendizagem desenvolvimento na docência da disciplina
Metodologia do Trabalho Científico;
3. Desenvolvimento tecnológico do sistema digital com dois
ambientes virtuais de aprendizagem – a) Ambiente Virtual de
Aprendizagem; b) Ambiente Virtual de Gestão do ensino e da
Aprendizagem;

A proposição pedagógica e do sistema virtual de


gestão e aprendizagem será objetivada em programa, com
implementação após a etapa do estágio pós-doutoral; consistindo
no agenciamento institucional para a implementação do
programa nas demais turmas oferecidas semestralmente para
os cursos de graduação da UFAM; envolvendo os Professores
da disciplina no Departamento de Métodos e Técnicas/DMT/
FACED/UFAM.
A inserção no campo empírico da pesquisa teve como base
atuação do pesquisador na docência em uma das 20 turmas da
disciplina ofertada a partir de outubro de 2022 com conclusão
em fevereiro de 2023. A realização da disciplina tem ocorrido de
modo presencial e com mediação tecnológica em Ambiente
Virtual de Aprendizagem/AVA do Projeto graduacao@UFAM,

37
desenvolvido a partir da plataforma moodle, o ambiente virtual
de aprendizagem piloto está ancorando no endereço https://
cefort.ufam.edu.br/graduacao@ufam/login/index.php. (Site e
Laboratório de Hipermídia do Cefort/UFAM). A utilização deste
AVA se põe como o piloto, justif icado como a ancoragem das
experimentações visando a constituição do sistema digital
objeto da pesquisa e desenvolvimento tecnológico.

4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO


DOS RESULTADOS

Como resultado parcial da pesquisa em andamento,


apresenta-se a apreciação e análise prévia da disciplina
Metodologia do Trabalho Científico: a situação de gestão da oferta
das turmas, a situação posta quanto ao investimento na inovação;
as referências formais de estruturação da disciplina em termos de
proposição de objetivos, conhecimentos, atividades e referencia
didáticas.
É emblemática a situação de desatualização da disciplina
Metodologia do Trabalho Científico/MTC, siglada no Departamento
de Métodos e Técnicas da Faculdade de Educação/UFAM, no que
tange a carência em investimentos curriculares, pedagógicos,
tecnológicos de inovação programática da disciplina em questão.
Com carga horária de 60 horas, são oferecidas anualmente mais
de 40 turmas em dois semestres letivos, para os jovens estudantes
“calouros” que ingressam na Universidade.
Desde sua criação no início dos anos de 1980, a oferta da
disciplina foi aumentando em quantidade de turmas, seja pelo
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

requerimento dos cursos existentes, seja pelas demandas de novos


cursos de licenciaturas e bacharelados criados nas diversas áreas
do conhecimento, evidenciando o reconhecimento institucional
da importância da disciplina para a formação do universitário em
seu primeiro semestre letivo de ingresso na Universidade.
Não obstante, no próprio Departamento Acadêmico onde a
disciplina está siglada, essa importância apresenta controvérsias,
tendo apenas um projeto de inovação ao longo dos últimos trinta
anos, envolvendo um grupo de Professores no período de 1985
a 1988 . Após a aposentadoria da maioria dos professores que se
agrupavam em torno da disciplina, ocorre a fragmentação da oferta,
sem perspectiva integradora, tendo os Professores Substitutos
(temporários) como a base principal na docência da disciplina,
desde a década de 1990.
A proposição de inovação de Metodologia do Trabalho
Científico requer o investimento na análise da concepção, do
ementário e programa de conteúdo e atividades formativas,
objetivada em sumula constante no Projeto Político e Pedagógico
do Curso de Pedagogia, sendo a mesma súmula orientadora da
oferta da disciplina em cursos de graduação, nas diversas áreas de
conhecimento e profissionalização.
O objetivo geral da disciplina se define por proposição ampla
e eixos não congruentes: “Fornecer os pressupostos básicos de
iniciação à pesquisa para elaboração de trabalhos escolares/
relatórios aplicando os passos da metodologia científica, para
uma melhor convivência acadêmica e aumento do nível de
aproveitamento nos estudos” (UFAM, PPC,2019, p. 96).
Na ementa oficial da disciplina temos como eixos de
conteúdos “Metodologia da Leitura: Leitura e interpretação do

39
texto. Metodologia do trabalho científ ico em Ciências Humanas.
Ciência e ideologia. Normas de Apresentação do Trabalho
Científ ico; Organização e Elaboração de Plano de Estudo”
(UFAM, PPC,2019, p. 96).
Em primeira apreciação, constata-se a dispersão de eixos
estruturantes, tanto no objetivo como no ementário, ressaltando
ainda a fala de articulação e coerência entre ambos.
Já no objetivo geral, indica-se como eixos a pesquisa, a
metodologia de elaboração dos trabalhos acadêmicos, a convivência
acadêmica e ainda a perspectiva de melhor aproveitamento dos
estudos. No ementário apresenta-se o foco nas “ciências humanas
e ideologia”, leitura e normatização técnica da ABNT, sendo que a
disciplina é ofertada não somente para os cursos de humanidades,
mas também para os cursos das ciências exatas, biológicas, artes,
direito, arquitetura, entre outros.
Na análise do conteúdo programático e do processo
metodológico da disciplina, há ênfase na instrumentalização quanto
aos aspectos formais do trabalho científico, como fichamentos de
textos, resenhas, modelos de trabalho acadêmico e normatização
do trabalho acadêmico com base na ABNT. Salienta-se que há
limitações na abordagem conceitual da leitura, do estudo e do
próprio conhecimento; apresentando-se com limitações nas
referências do que seja o conhecimento acadêmico, seus tipos,
áreas, suas linguagens.
Não há, na estrutura programática da disciplina, referência
alguma sobre as novas modalidades de linguagens e formas de
organização, disponibilização e trabalho com o conhecimento,
disponível na internet; nem referência a pesquisa em banco de
dados de referências bibliográficas.
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

Após o período inicial de análise dos itens programáticos


da ementa, consulta aos planos de ensino dos últimos dois anos,
evidencia-se o descompasso principalmente com as referências da
cultura digital na qual se insere a própria rede de interlocuções e
manifestações dos estudantes.
No exercício da docência da disciplina, buscou-se estabelecer
novas configurações de eixos dos conhecimentos, das experiências,
metodologias e técnicas; constituindo desenho com indicações
de estruturas transversais e mutuamente determinantes,
para desdobramentos possíveis para a inovação na disciplina
Metodologia do Trabalho Científico.
Conforme a categorização em andamento na pesquisa, foram
dimensionadas duas estruturas principais de desenvolvimento da
pesquisa, envolvendo: 1) a experiência pedagógica na docência da
disciplina, visando o dimensionamento dos eixos de conteúdo e
abordagem de instrumentalização na disciplina em estudo; 2) a
experimentação tecnológica e pedagógica no ambiente virtual de
aprendizagem piloto, constituindo a base de desenvolvimento dos
apores de design, das ferramentas voltadas para a aprendizagem
customizadas na plataforma moodle.
Todo o processo de pesquisa e desenvolvimento tecnológico
envolve a etapa transversal de aprofundamento teórico
interdisciplinar, convergindo para os dois campos conexos, de
elaboração conceitual, proposição e intervenção, resultando na
proposição de dois campos, a saber: 1) A abordagem conceitual
e metodológica de base da disciplina – Leitura e Estudo –
Conhecimento, o Trabalho Acadêmico e a normatização – em
articulação com a as inovações postas pela linguagens e demandas
dos sujeitos, imersos na cultura digital; 2) A abordagem do
pedagógica e tecnológica do desenvolvimento do ambiente virtual

41
de aprendizagem, tendo como base fundante os mecanismos de
aprendizagem e a gestão do processo pedagógico.

5. CONCLUSÕES

O investimento em curso no andamento da pesquisa e


desenvolvimento tecnológico, confirma a necessidade de revisão
das bases do conhecimento, das finalidades e das mediações
tecnológicas configuradoras de novos processos de aprendizagem,
de desenvolvimento de habilidades e competências, socialmente e
subjetivamente requeridas para a formação dos universitários. Se de
um lado é obrigatório o investimento epistemológico e tecnológico
nas bases do conhecimento e competências que projetamos na
formação universitária, de outro lado urge o investimento na
gestão integrada e orgânica do desenvolvimento do ensino e
da aprendizagem, condizentes como as bases tecnológicas que
definem a sociedade contemporânea.
É obrigatório pensar a formação no Ensino Superior na
perspectiva de superação da gestão burocrática, de currículos,
de programas disciplinares, do ensino tradicional centrado no
personagem Professor. Tanto a produção do conhecimento posto
no mundo virtual quanto a própria participação e protagonismo
dos jovens no mundo da cultura, impõem a aprendizagem
como o centro do processo formativo e de construção do
conhecimento pelos estudantes universitários. Um cenário em
que as tecnologias, o conhecimento, as linguagens configuram
novos objetos de conhecimento, novos letramentos, implicando a
própria subjetivação como um “em aberto”, num movimento em
que o sujeito não pode mais ser considerado apenas como um
CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

receptor, posto que se apresenta com autoconsciência, formas de


interação, de criação, pautado nas novas dinâmicas da inteligência
coletiva, determinada pela sociedade das tecnologias digitais, de
informação, conhecimento e educação.

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43
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CAP. 1 - Gestão Pedagógica e Tecnológica no Ensino Superior

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coorientador, Neri dos Santos. Florianópolis, SC.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS. (2019). Projeto
pedagógico do curso de Licenciatura plena em Pedagogia.
Faculdade de Educação, Manaus. Disponível no endereço eletrônico
https://faced.ufam.edu.br/curso-de-pedagogia.html

45
CAPÍTULO 2

Educação Digital: Uma


Análise Bibliométrica (2019-
2022) a partir do contexto da
Transformação Digital

Ana Juliana Fontes


Natana Lopes
Márcio Vieira de Souza

doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-16-6.002
CAPÍTULO 02

RESUMO
A utilização do termo educação digital é cada vez mais
recorrente em diversas pesquisas no contexto educacional,
decorrente principalmente da pandemia de covid-19 e da
transformação digital. Contudo, a falta de clareza quanto
ao seu conceito ainda é um desafio, sendo muitas vezes
utilizado em discursos e pesquisas de forma simplista, sem
uma maior compreensão de seu emprego e dimensão,
gerando dúvida quanto a sua definição. Com base nessa
lacuna, a presente pesquisa objetiva verificar como o
termo educação digital está sendo utilizado na literatura
nacional e internacional, compreendendo alguns de seus
pilares e características. Para isso, será realizada uma
análise bibliométrica nas bases de dados Scopus e Web
of Science para mapear a ocorrência de publicações
durante os anos do pico da pandemia (2019-2022),
seguindo os indicadores bibliométricos de temporalidade,
conexões e centralidade entre as palavras-chave e termos,
principais redes de autores, produção por países, áreas do
conhecimento, frequência por maior número de citações.
Além dos indicadores, a partir da análise dos 20 artigos
mais citados em cada base identificou-se que as principais
abordagens para o termo se assemelham a: digitalização
da educação; uso de tecnologias digitais como meio;
processos de ensino-aprendizagem emergentes do
período pandêmico em quaisquer modalidades; e
CAP. 2 - Educação Digital: Uma Análise Bibiométrica (2019 - 2022)

métodos de ensino. Como principais contribuições deste estudo,


além de mapear e evidenciar abordagens semelhantes, destaca-
se importantes características, que devem ser consideradas em
conjunto ao termo “educação digital” como: a tecnologia digital, o
ensino e aprendizagem, modalidade, competências, alfabetização
digital, redes, ferramentas e plataformas, culturas, dimensões,
agentes, transformação digital, interação e engajamento.
Essas características evidenciadas enfatizam a importância e
necessidade de um novo olhar para o termo “educação digital”.
Olhar este, não apenas a partir da perspectiva tecnológica, mas
sim como um conjunto de características, pilares que contribuem
para maior efetividade do processo de ensino e aprendizagem e que
possam auxiliar no desenvolvimento de estudantes preparados
para a atual sociedade impactada pela transformação digital
que se caracteriza pelas conexões e redes.
Palavras-chave: Educação digital; transformação digital;
tecnologias educacionais; digitalização da educação.

1. INTRODUÇÃO

A evolução das tecnologias e das redes de comunicação


têm impulsionado mudanças na sociedade, as quais estão
marcadas pela conectividade que trazem uma nova consciência
de mundialização e de possibilidades para as redes de produção,
conhecimento e colaboração. Como decorrência desse movimento
surgem impulsos para o nascimento de novos paradigmas,
modelos, processos de comunicação educacionais e novos cenários
de ensino e de aprendizagem digital (Moreira, Henriques & Barros,
2020; Moreira & Schlemmer, 2020).

49
Ao passo que o uso de tecnologias educacionais (EduTech)
têm sido remodeladas para uma versão digital, juntam-se a
produtos e artefatos da cultura da contemporaneidade inovando e
alterando parte dos processos educacionais estabelecidos. Grande
parte disso, aconteceu mais fortemente devido a necessidade
de utilização de práticas alternativas da educação tradicional
presencial que foram impulsionadas pela pandemia de Covid-19,
as quais tornaram-se emergentes em todo o mundo contando
inclusive com investimentos consideráveis no setor, excedendo a
marca de 50 bilhões a partir de 2019 (Pappas, 2019).
O uso de tecnologias digitais, apesar de fazerem parte
da cultura e da transformação digital (Pappas, 2019), a qual a
sociedade está imersa, como todo processo de mudança, trazem
pontos positivos e negativos no decorrer de sua implementação
para todos os sujeitos envolvidos e instituições. A busca por maior
engajamento dos estudantes com conteúdos mais atrativos, o
maior uso de Metodologias Ativas (MAs) que estimulam práticas
colaborativas, de incentivo e de estímulo à autonomia dos
estudantes, o maior uso de mídias, Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC´s) e outras ferramentas no processo de ensino-
aprendizagem, podem ser considerados como pontos positivos
nesse processo, além de serem práticas da vivência cotidiana de
parte dos sujeitos envolvidos, transcorrem do espaço físico da sala
de aula para a múltiplos espaços e formas. Por outro lado, também
colocam em evidência que o contexto de ensino-aprendizagem
não é homogêneo, acentuam algumas lacunas de desigualdades
sociais, da falta de competências educacionais e digitais por parte
dos docentes e alguns alunos, denunciam instituições com pouco
apoio administrativo/técnico para gerir mudanças repentinas,
e dificuldade de acesso à internet por parte de alguns usuários
(Emejulu & Mcgregor, 2016; Laufer et al., 2021).
CAP. 2 - Educação Digital: Uma Análise Bibiométrica (2019 - 2022)

Mesmo que esse não seja o foco desse artigo, tais


considerações são importantes para contextualizar o uso do
termo “Educação Digital” que tem se tornado recorrente nesse
cenário, onde os rearranjos declarados provavelmente mudaram
de forma decisiva a forma de ensinar e aprender. E mesmo
que o termo conte com a mediação tecnológica (digital) para
contribuir e reconceituar os processos, na literatura, contudo,
são evidenciados o uso f requente de terminologias diferentes
para conceitos muito parecidos (Moreira & Schlemmer, 2020).
Dependendo do foco dos estudos, as def inições encontradas
de modo geral remetem-se a f ins tecnológicos ou ao potencial
pedagógico praticamente em abordagens isoladas (Moreira &
Schlemmer, 2020).
Fawns (2019) evidencia que o termo “educação digital” vem
se destacando de forma crescente, principalmente no período
pandêmico, sendo f requentemente utilizado no discurso
educacional e como estratégia pelas instituições de ensino.
Contudo, a falta de clareza quanto ao seu conceito ainda é um
entrave, muitas vezes o termo é utilizado de forma inequívoca,
gerando dúvida quanto a sua def inição (Fawns, 2019).
Uma visão da tecnologia educacional como “tecnologias
que fazem a educação” pode ser atraente para as autoridades
administrativas institucionais com sua promessa de racionalização
econômica e economia de custos. Ao mesmo tempo, usos retóricos
particulares do termo “digital” também podem ser aproveitados para
gerar capital cultural, fazendo com que os programas educacionais
pareçam mais atualizados e inovadores (Fawns, 2019). Por outro lado,
a transformação digital que decorre do uso de novas tecnologias
para resolver os desafios de produtividade, eficiência, comunicação,
entre outros, também impulsiona a “digitalização da educação”.

51
Na literatura também não há um acordo comum quanto
ao uso do termo “digitalização da educação”. Alguns autores
defendem que é um processo da educação digital. Trata-se
de uma transposição da educação tradicional presencial para
moldes com tecnologias digitais em quaisquer modalidades
de ensino (afinal entende-se que digitalizar é converter algo de
um formato analógico em um formato digital), sem que haja
uma curadoria desse percurso no sentido de considerar suas
diferenças (Kassymova et al., 2019; Laufer et al., 2021). Já, Fawns
(2019) Veletsianos et al. (2019) utilizam o termo não apenas como
uma transposição do analógico para o digital, mas como um
potencializador de inovação e efetivação das novas práticas de
ensino.
Diante desse panorama complexo, em que várias outras
abordagens acabam sendo utilizadas como sinônimo de educação
digital, há uma lacuna quanto a estudos em profundidade que
conceituem, delimitem e definam de forma consensualizada o
termo “Educação Digital”.
Assim, o artigo visa verificar como ele está sendo utilizado
na literatura, compreendendo alguns de seus pilares e
características. Para isso será realizada uma análise bibliométrica
(Araujo, 2006; Pinto et al., 2007) de artigos nas bases de dados
Scopus e Web of Science com o objetivo de mapear a ocorrência
de publicações em periódicos durante os anos do pico da
pandemia (2019-2022), seguindo os indicadores bibliométricos de
temporalidade, conexões e centralidade entre as palavras-chave e
de termos, principais redes de autores, produção por países, áreas
do conhecimento, frequência por maior número de citações
(considerando os 20 primeiros de cada base para uma análise
descritiva de suas abordagens para a “Educação Digital”).
CAP. 2 - Educação Digital: Uma Análise Bibiométrica (2019 - 2022)

2. TRANSFORMAÇÃO DIGITAL - NOVOS


PARADIGMAS NA EDUCAÇÃO

A transformação digital vem acarretando grandes


mudanças em várias esferas de nossa vida, como na educação,
no lazer, na atuação prof issional, entre outras (Dengler &
Mattes, 2018). O surgimento da internet, o avanço tecnológico,
a digitalização e a pandemia de Covid-19, em termos gerais, são
propulsores deste forte impacto na sociedade contemporânea,
alterando as condições de trabalho, a dinâmica e principalmente
os conhecimentos e competências necessários (Pacheco, Santos
& Wahrhaftig, 2020; Bejaković & Mrnjavac, 2020; Bartsch et al.,
2020).
Ela é definida como,
uma mudança cultural, tecnológica e da força de trabalho.
Dentro sua dimensão cultural, requer uma nova abordagem
de como os líderes do campus interagem uns com os
outros, bem como uma ênfase na gestão de mudanças
e um movimento em direção à agilidade e flexibilidade
institucional para atender necessidades que mudam
rapidamente. Para a TI, isso signif ica assumir um papel de
gestor estratégico e parceiro transformador em alinhamento
com a missão institucional. Os líderes e suas organizações
devem modelar a transformação digital adotando práticas
inovadoras e criando novas arquiteturas digitais que fornecer
agilidade e flexibilidade sem precedentes para permitir que
a instituição atingir seus objetivos estratégicos com rapidez
e ef iciência. Transformação digital também tem amplas
implicações para a força de trabalho institucional, exigindo
mudanças dramáticas nas habilidades do local de trabalho
em todos os níveis e desenvolvimento que permite que a
força de trabalho acompanhe o rápido ritmo de mudança
(Educase, 2018, p. 06, tradução nossa).

53
Além da consciência e compreensão de seu impacto, a
transformação digital requer práticas que envolvam a ação e a
mudança para ajustar e adaptar práticas consideradas tradicionais
para mediadas digitalmente. Somente o uso da tecnologia não
caracteriza a transformação digital, ela decorre de ações de
interação entre a estratégia e a tecnologia (Educase, 2018).
No contexto educacional a utilização de equipamentos
tecnológicos necessariamente não garante avanços decorrentes
da transformação digital, sendo primordial a tecnologia integrada a
estratégias institucionais para assim atingir os objetivos almejados
(Educase, 2018). Ela visa melhorar uma entidade desencadeando
mudanças significativas em suas propriedades por meio de
combinações de tecnologias de informação, computação,
comunicação e conectividade (Livari, Sharma & Ventä-Olkkonen,
2020), ampliando e modificando a percepção sobre diversos
paradigmas, no qual destaca-se neste estudo a “educação”.
O avanço tecnológico potencializou vários novos modelos,
práticas educacionais mediadas pelo digital como a educação
híbrida, on-line, a distância, entre diversas outras (Moreira &
Schlemmer, 2020). Assim, de acordo com Moreira e Schlemmer
(2020), as tecnologias digitais vêm reconfigurando os ecossistemas
educacionais, propiciando inovação, transformação e modernização,
contudo somente elas não transformam as práticas pedagógicas,
sendo primordial repensar o que consideramos por educação.
Atualmente a conectividade rompe as barreiras da sala
de aula e avança cada vez mais para um conceito de educação
em rede (Müller & Souza, 2020), que incentiva a construção do
conhecimento em novos espaços potencializados pela interconexão
das redes de dispositivos digitais (Nunes Rosa, Souza & Spanhol.,
CAP. 2 - Educação Digital: Uma Análise Bibiométrica (2019 - 2022)

2016). O que possibilita um olhar mais amplo sobre a mudança


desse paradigma no contexto educacional, o qual vai além do
avanço das tecnologias, mas sim sobre novos sentidos e olhares
para ressignificação das formas de ensinar e aprender de forma
significativa e emancipatória.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O artigo tem como base a análise bibliométrica, que se


utiliza de técnicas quantitativas e estatísticas de medição da
produção de conhecimento de textos científ icos baseados em
determinada temática dentro de uma área de conhecimento
ou mais (Araujo, 2006; Pinto, Ef rain-García, Barquín, & Moreiro
González, 2007) em conjunto com análises qualitativas da
produção. Para fazer essa mensuração, foi considerado os
seguintes indicadores bibliométricos: temporalidade, conexões
e centralidade entre as palavras-chave e de termos, principais
redes de autores, produção por países, áreas do conhecimento,
f requência por maior número de citações (Pinto et al., 2007).
A coleta e a análise dos dados, assim como a síntese de
resultados, foram realizadas em quatro etapas: (i) seleção da
base de dados, (ii) def inição de buscas sistemáticas (iii) coleta
dos dados e (iv) resultados e análise descritiva dos 20 artigos
mais citados em cada base de dados.
O levantamento dos artigos que baseiam a análise
bibliométrica desse trabalho levou em consideração a (i) seleção
em duas bases de dados: Scopus e Web of Science. A escolha
dessas bases ocorreu devido sua abrangência, relevância no
cenário científ ico, por serem multidisciplinares e consideradas

55
como as principais bases de referência de textos nacionais e
internacionais, além de serem compatíveis com formatos de
exportação para utilização dos dados em várias ferramentas de
apoio. Apesar dessas potencialidades, o estudo não é decisivo
para se def inir um estado da arte sobre o assunto, mas sim um
panorama inicial para reconhecer como o tema da “educação
digital” vem sendo trabalhado.
Após alguns testes e combinações, para realizar a
(ii) def inição de buscas sistemáticas foi utilizada a string
“(“digital education”) AND ( “teaching” ) AND (( “learning” OR
“e-learning”))”, considerando apenas textos de artigos de
revisões, sem delimitação de área específ ica, onde tais termos
poderiam estar no “tópico”, ou seja, presentes no título, resumo
e palavras-chave, na delimitação temporal dos anos de 2019
até 2022 (encerrando as buscas em 02/12/2022).
A (iii) coleta dos dados apresentou 278 artigos no total (150
Scopus e 128 Web of Science), sendo exportada para o programa
EndNote que após f iltragem dos duplicados, resultou em 115
artigos na Scopus e 128 na Web of Science. Tais resultados
foram demonstrados de forma visual com o apoio do software
Vosviewer e Canvas.
Como última etapa e parte dos resultados, foi realizada uma
(iv) análise descritiva dos artigos mais citados dentro das duas
bases de busca, 20 primeiros artigos em cada base (totalizando
40 artigos) que passaram pelos critérios de inclusão e exclusão
para montagem da matriz de síntese. Para a seleção desses
artigos e montagem da matriz de síntese foram estruturadas
duas etapas de f iltragem: a 1ª com a seleção de artigos que
tivessem no resumo o termo chave desse artigo “educação
digital”, depois a 2º fase contemplava a leitura em profundidade
CAP. 2 - Educação Digital: Uma Análise Bibiométrica (2019 - 2022)

dos artigos e aplicação de critérios de seleção. Para os critérios


de inclusão: artigos internacionais e nacionais (língua inglesa,
espanhola e português); acesso livre; no período relacionado;
tivessem possíveis def inições, conceituação, noções sobre o
termo educação digital; apenas artigos de revisão. E os critérios
de exclusão: não apresentar o termo educação digital no corpo
do texto; somente cita o termo sem def inir ou aprofundar;
apenas usa a educação digital como sinônimo para ações
durante a pandemia ou digitalização da educação; acesso
pago; em outras línguas.
Após essas fases, foram selecionados para serem estudados
e analisados na íntegra um total de 11 artigos para f inalmente
montar a matriz de síntese com aqueles selecionados. Essa
compilação tem o objetivo além de verif icar como o termo
está sendo usado na literatura, também é uma tentativa de
compreender algumas características em conjunto com outras
fundamentações teóricas para embasar preliminarmente
categorias e pilares para pensar a Educação Digital, que será
demonstrada no último tópico.

4. RESULTADOS DA ANÁLISE DOS DADOS:


MAPEAMENTO E PRINCIPAIS INDICADORES

Uma das motivações do trabalho e que acabou se


tornando uma evidência após o levantamento, foi que o termo
“Educação digital” estava sendo utilizado em discursos e
pesquisas de forma simplista, sem uma maior compreensão de
seu emprego e dimensão. Antes da delimitação temporal do
escopo (2019-2022) descrita nos procedimentos metodológicos,

57
foi realizado um levantamento prévio somente para checar e
verif icar a recorrência anterior do termo “Educação digital”, que
constatou-se não sendo tão expressiva, fato que é decorrente
principalmente do impacto da pandemia de Covid-19 , em
que as restrições de isolamento social fecharam as salas de
aulas presenciais, e como estratégia, o processo de ensino e
aprendizagem passou a ocorrer totalmente mediado pelas
tecnologias digitais.
Contudo, um fator relevante identif icado nesse
levantamento inicial está relacionado às datas das primeiras
publicações, as quais destacamos a primeira publicação na
Web of Science (“The digital-computer in education”, de
Henry F. Silberman), mas que se referia ao uso do computador
na educação, em 1962; e na Scopus, em 1983 (“R&S measuring
instruments for practice in the communications lab” de Erich
Stadler) que tratava do ensino de computação (informática). Já
aproximadamente em 1999 as pesquisas passaram a abordar
o uso das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem.
Nas pesquisas, o primeiro artigo que trata sobre o tema,
de Towndrow (1999) a tecnologia era utilizada apenas como um
meio na qual a educação digital preocupava-se com a aplicação
de tecnologias digitais, mas os educadores já tinham um papel
desaf iador em despertar o interesse e entusiasmo dos alunos
quanto ao uso de tais recursos. Nessa pesquisa importantes
questões como alfabetização digital já eram expostas pelo
autor. Quanto ao futuro do processo de ensino e aprendizagem,
Towndrow (1999) enfatizou que as tecnologias digitais iriam
desempenhar um grande papel na aprendizagem tanto
dentro como fora das salas de aula e que a educação digital
iria desempenhar um papel central na formulação de políticas
CAP. 2 - Educação Digital: Uma Análise Bibiométrica (2019 - 2022)

educacionais, no desenho curricular e na implementação para


garantir que as práticas de ensino não f iquem muito atrás da
tecnologia digital.
Gráf ico 01 - Publicações por ano

Fonte: Dados da pesquisa, produzido pelos autores (2022).

A partir desta primeira análise podemos perceber que


o uso do termo “Educação Digital” não é novo, todavia ainda
há disparidade na def inição de seu conceito, com def inições
simplistas (Fawns, 2019). Somente no período delimitado de
buscas - de 2019 até 2022- que o termo ganha peso e maior
recorrência, principalmente ao observar as quantidades de
publicações no ano de 2020 e 2021. É possível evidenciar a partir
do indicador bibliográf ico temporal (gráf ico 01, acima) que a
maior parte das pesquisas, de diversas áreas, usam o termo em
suas produções nos anos no ponto de pico da pandemia.
A partir da delimitação da string, com os resultados dos
artigos, além do indicador temporal, foi possível verif icar os
demais indicadores bibliométricos e construir visualizações
desses dados com a ferramenta VOSviewer e Canvas.

59
Figura 02 - Rede de palavras-chave.

Fonte: Dados da pesquisa, elaborada pelos autores utilizando o VOSviewer (2022).

A rede de conexões e centralidade das palavras-chave


(número mínimo de 5) com maior ocorrência nos artigos, conforme
ilustrado na figura 02 (acima) evidencia que a rede principal está
subdividida em seis clusters identificados por cores. Esses clusters
representam áreas diferentes de estudo agrupadas por nós, suas
similaridades e interações entre eles, sendo que o tamanho do
conceito está relacionado à sua frequência absoluta.
O termo “Educação Digital” se destaca no maior cluster
seguido pelos mais representativos: educação, Covid-19, ensino
e aprendizagem. É possível perceber que o termo se relaciona
com os demais, por meio de ligações entre as linhas. A relação
se dá basicamente pelo termo dentro dos nós que circundam as
temáticas de educação, competências educacionais e tecnologia
fazendo correlação (vermelho) com os níveis de educação (azul),
áreas de atuação (amarelo), contexto e sujeitos (verde). O que se
CAP. 2 - Educação Digital: Uma Análise Bibiométrica (2019 - 2022)

pode inferir que é um caminho para pensar numa delimitação para


seu uso a cocriação com esses campos.
Além das palavras-chave, outro fator mensurado foi a
coocorrência de termos no título e resumo. As linhas indicam
a tendência de aparecimento conjunto das palavras-chave nos
artigos analisados. A partir da análise da figura 03, destaca-se a
maior concentração nas seguintes palavras: Covid-19, práticas,
desenvolvimento e tecnologia digital. Pode-se verificar também
que além dos nós estarem próximos, a maioria apresenta uma
ligação por trás desses conceitos dentro do espaço conceitual do
campo.
Figura 03 - Coocorrência dos termos.

Fonte: Dados da pesquisa, elaborada pelos autores no VOSviewer (2022).

Outro fator importante nesta análise bibliométrica está


relacionado a autoria, a figura 04 representa a influência das
conexões de rede existentes entre os autores.

61
A importância das redes de coautoria é evidenciada pelo
número de autores que assinam cada artigo. O diâmetro do nó
traz os autores com maior representatividade (maior número
de publicações) quanto a temática de estudo por área de
conhecimento.
Figura 04 - Conexões de rede existentes entre os autores.

Fonte: Dados da pesquisa elaborada pelos autores no VOSviewer (2022).

Entre os autores com maior conexão de coautoria


destacam-se: Bauer Schmitz, C.; Berthon, M.; Boon, C.; Grassi,
P.; Adler, W.; Car, L.; Felmer, F.; Larribau, R.; Suppan, M. Além
desses, muitos outros autores surgem com número expressivo
de publicações sobre o termo, mas não conceituando-o , trazem
apenas expressão em suas publicações.
Os países que trazem maior publicações (gráf ico 02) são
Espanha, Rússia, Estados Unidos, China, Reino Unido, Inglaterra,
entre outros, provavelmente com relação a quantidade de
CAP. 2 - Educação Digital: Uma Análise Bibiométrica (2019 - 2022)

investimentos dos setores de educação e tecnologia, que


geograf icamente se dividiu 53% do mercado global de educação
digital para os Estados Unidos, em segundo lugar estão os países
asiáticos, com 22% do mercado mundial, o terceiro é a União
Européia (16%), e os demais apenas 9% (Pappas, 2019; Soroka,
2019).
Gráf ico 02 - Publicações por país.

Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelos autores (2022).

Outro indicador bibliométrico importante é o de


quantidade de artigos por área, conforme mensurado no gráf ico
03. Conforme ilustrado, as maiores concentrações de estudos
são nas áreas de ciências sociais (23,9%), ciência da computação
(32,2%) e engenharia (14,5%).

63
Gráfico 03 - Publicações por área.

Fonte: Dados da pesquisa elaborado pelos autores na Canvas (2022).

A área de educação (22,7%), como já era esperado, também


apareceu com uma forte participação nas produções. A área médica
também se destacou (6,8%), pois esse campo tem necessidade
por validar as formas de ensino e aprendizagem, com o intuito
de verificar se estratégias integrando das tecnologias digitais
que diferem do ensino tradicional são tão eficazes quanto para o
ensino-aprendizagem de procedimentos médicos e da saúde.

5. ANÁLISE DOS ARTIGOS MAIS CITADOS: PILARES


PRELIMINARES PARA PENSAR A EDUCAÇÃO DIGITAL

Após leitura dos vinte artigos mais citados nas bases Web of
Science e Scopus, e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão
CAP. 2 - Educação Digital: Uma Análise Bibiométrica (2019 - 2022)

aos 40 artigos mais citados foram selecionadas 11 pesquisas,


conforme ilustrado na matriz de síntese a seguir, para realização da
análise descritiva.
Tabela 01 - Matriz de Síntese - Artigos selecionados dentre os mais citados nas Bases Scopus e Web Of Science .

Fonte: Dados da pesquisa, elaborada pelos autores (2022).

65
Os artigos são referentes às duas bases, seguindo o indicador
de frequência de maior número de citação (considerado o número
da maior base) estão ordenados no quadro ao lado (tabela 01).
Conforme já mencionado, a análise de tais pesquisas objetivou
identificar pesquisas que delimitam e definem de fato o termo
“Educação Digital”, e verificar como ele está sendo utilizado na
literatura nacional e internacional de periódicos. Assim, tornou-se
possível compreender algumas de suas características, que foram
agrupadas em categorias, numa tentativa de reconhecer alguns
de seus prováveis pilares (Quadro 01), que são frutos das evidências
indicativas das análises dos artigos que serão indicadas nesse tópico.
Quadro 01 - Categorias das características para pensar a Educação Digital

Fonte: Dados da pesquisa, elaborado pelos autores (2022).

A maioria das pesquisas que não atenderam aos critérios


de inclusão não definiram ou não apresentaram sua percepção
quanto ao uso do termo “Educação Digital”. Os 11 estudos
selecionados para a matriz de síntese traziam alguma noção ou
definição para o termo a partir de pesquisas e de outros autores.
De modo geral, a “Educação Digital” em grande parte dos textos
selecionados se referiam às abordagens semelhantes com a
digitalização da educação; ou uso de tecnologias digitais como
meio; ou os processos de ensino-aprendizagem emergentes do
período pandêmico em quaisquer modalidades; ou ainda parte
de uma tendência ou ideologia derivada da transformação digital
para os métodos de ensino.
CAP. 2 - Educação Digital: Uma Análise Bibiométrica (2019 - 2022)

Com os impactos decorrentes da transformação digital não


se pode limitar-la ao uso da tecnologia apenas como um meio
para o processo de ensino e aprendizagem. Precisa-se de novos
olhares e novas perspectivas quanto ao seu uso, principalmente
considerando a cultura vigente como elemento direcionador dos
processos educacionais, que precisam ser revistos e adaptados
para que não sejam apenas uma transposição para o digital das
mesmas práticas e didáticas já feitas em sala de aula.
Mesmo que todo processo de mudança ocorra de forma
gradual e até substituindo algumas práticas, ferramentas
e tecnologias por outras de função semelhante, trazem o
intuito primeiro de inovar ou aprimorar quaisquer aspectos
de uma realidade, sejam, por exemplo, dar maior agilidade
no compartilhamento de conteúdo, ter maior autonomia
para acessar materiais, trazer plataformas e repositórios para
melhorar o fluxo e indexação de conteúdo e af ins. Contudo,
é preciso destacar a necessidade de um olhar crítico e que
considere a diversidade de fatores que compõem a realidade
dos agentes envolvidos para que uma nova conf iguração seja
implementada de fato.
Fawns (2019) discute em sua pesquisa os prós e contras
da tendência de distinguir entre digital e não digital,
argumentando que enquanto conceitos como “ Educação
Digital” podem ser úteis na medida em que incentivam as
pessoas a olhar mais de perto o design e a prática de ensino e
aprendizagem, tornam-se problemáticos quando usados para
encerrar ideias ou atribuir propriedades essenciais à tecnologia.
De acordo com o autor, a educação não pode ser inteiramente
on-line ou digital, uma vez que sempre envolve a combinação
de digital, biológico, material e social.

67
Corroborando com os estudos de Fawns (2019), Gourlay
(2021) e Maity, Sahu e Sen (2021), evidenciam a complexidade em
tentar distinguir a educação presencial do “distante mediado
digitalmente”. Os autores enfatizam que o envolvimento
digital é sempre – e inteiramente – um conjunto de práticas
materiais e incorporadas, e em certo sentido, não existe algo
como ‘aprendizagem virtual’, já que todo o engajamento e
processos em que consiste ocorrem por meio de práticas
sociomateriais e corporif icadas. O que possibilita refletir que
em relação à dimensão das realidades, seja virtual, aumentada,
mista, multissensorial e metaverso, a educação digital deve
se adequar às estruturas do meio, refletindo diretamente nos
tipos de produção e modos de operação e compartilhamento
dos conteúdos.
Além da percepção de Gourlay (2021) nas quais considera
um conjunto de práticas materiais e incorporadas, Laufer et al.
(2021) traz uma outra abordagem retratando a complexidade
do termo e de várias outras terminações que muitas vezes
são utilizados erroneamente como sinônimos. O autor
def ine a educação digital como a digitalização do ensino e
aprendizagem proporcionada pelas tecnologias educacionais,
enfatizando que o investimento com foco em tecnologia por
si só não pode melhorar a aprendizagem. Para isso, ele aborda
três pontos essenciais que devem ser levados em consideração:
acesso, colaboração e o resultado de aprendizagem (melhor
experiência). Outro ponto importante que de acordo com
Laufer et al. (2021) é necessário discutir são as desigualdades
relacionadas ao fosso digital (acesso desigual a recursos técnicos
e tecnologia) na qual a exclusão de oportunidades de acesso
às tecnologias digitais e a exclusão informacional impactam de
forma negativa a vida dos cidadãos.
CAP. 2 - Educação Digital: Uma Análise Bibiométrica (2019 - 2022)

Em relação ao uso de tecnologias, muitos autores tratam


a educação digital com semelhança a esse processo de acesso,
ou seja, com o uso de tecnologias na educação, considerando
primordialmente que ela seria ato de ensinar e aprender por meios
tecnológicos digitais (Hao et al., 2022; Brusamento, et al., 2019;
Martinengo et al., 2019; Maity, Sahu & Sen, 2021).
Outra percepção evidenciada na leitura é que o uso dessas
tecnologias digitais poderiam oferecer possibilidades de interação/
engajamento (Sousa et al., 2019), podendo inclusive diminuir as
barreiras geográficas e de tempo, já que esse modelo teria maior
flexibilidade (Brusamento et al., 2019; Moreira, Henriques & Barros,
2020; Sá et al., 2021). Importante colocar que os textos também
trazem que a “Educação Digital” não se trataria de uma nova
modalidade para competir com a educação presencial, educação
híbrida e educação a distância, ela pode na verdade acontecer em
qualquer uma delas, mas claro, fica mais evidente naquelas que
utilizam recursos digitais com maior recorrência (Semwal et al.,
2019; Brusamento et al., 2019; Martinengo et al., 2019).
Quanto aos métodos de ensino, a educação digital poderia
favorecer a alteração das práticas de ensino-aprendizagem (Maity,
Sahu & Sen, 2021), o acesso e a colaboração (Laufer et al., 2021) e a
implementação de métodos ativos (Sá et al., 2021). Claro que somente
o uso da tecnologia não seria responsável por uma transformação,
seria preciso promover práticas pedagógico-didáticas ativas e
construtivistas, que sustentem um conhecimento coletivo e uma
aprendizagem colaborativa que levem em consideração todo o
movimento das redes que envolvem esse processo, seja ela dos
agentes: discentes/docentes, instituições e da própria troca com o
meio digital (Moreira, Henriques & Barros, 2020) além das práticas
de colaboração e interação entre os agentes maior competências

69
e habilidades educacionais e pensar em uma alfabetização digital
para minimizar as diferenças nesses quesitos.
Tais características identificadas na literatura analisada
permite entender que a Educação Digital não deve se limitar
apenas ao uso da tecnologia na educação ou numa transposição de
processos para meios digitais, mas sim concordando com Sarakova
(2019) que diz que ela deve ser entendida como um processo e
um resultado, incluindo nessa premissa que ela é um formato de
ensino que pode ser utilizado em diversas possibilidades, que deve
considerar aspectos da cultura, do social, das articulações entre
as redes e as particularidades do meio no processo de ensino-
aprendizagem para que sua metodologia e recursos sejam de fato
agregadores de valor e conhecimento.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a pandemia de Covid-19 o termo “Educação Digital”


passou a ser utilizado de forma expressiva principalmente em
discursos das instituições de ensino e em pesquisas acadêmicas.
Contudo, mesmo não sendo um termo relativamente novo, há
disparidade na definição e compreensão de seu conceito. Muitas
vezes o termo é utilizado de forma inequívoca, com definições
simplistas. Com base nessas evidências, a pesquisa realizada
verificou como o termo “Educação Digital” está sendo utilizado na
literatura nacional e internacional de periódicos, compreendendo
alguns de seus pilares e características. Para isso foi realizada uma
análise bibliométrica na literatura nas bases de dados Scopus e Web
of Science. A partir de tal análise pode-se mensurar indicadores
de temporalidade, conexões e centralidade entre as palavras-
CAP. 2 - Educação Digital: Uma Análise Bibiométrica (2019 - 2022)

chave e termos, principais autores, produção por países, áreas do


conhecimento, frequência por maior número de citações.
Com bases na análise dos artigos selecionados pode-se
constatar a complexidade em relação a definição do termo, uma
vez que não é uma abordagem nova, contudo de acordo com
as pesquisas abordadas, passou a ser muito utilizado no período
pandêmico como uma alternativa, muitas vezes sem um prévio
planejamento, para manter o processo de ensino e aprendizagem,
mesmo com as restrições de isolamento social.
Na maioria dos estudos investigados o termo educação
digital acaba se limitando apenas ao uso da tecnologia como
um meio. Nas pesquisas selecionadas identificou-se que as
abordagens se assemelhavam com a digitalização da educação; ou
uso de tecnologias digitais como meio; ou os processos de ensino-
aprendizagem emergentes do período pandêmico em qualquer
modalidade; ou ainda parte de uma tendência ou ideologia
derivados da transformação digital para os métodos de ensino.
Levando em consideração o impacto da transformação digital,
acredita-se que é preciso desconsiderar definições simplistas, e
ampliarmos nossa percepção para além da tecnologia apenas como
um meio. Assim, as principais contribuições deste estudo foram o
mapeamento e evidenciar abordagens semelhantes. Identifica-se
também importantes características que devem ser consideradas
em conjunto ao termo “Educação Digital” como: a tecnologia
digital, o ensino e aprendizagem, modalidade, competências,
alfabetização digital, redes, ferramentas e plataformas, culturas,
dimensões, atores, transformação digital, interação e engajamento.
Destaca-se a importância em analisar a educação digital,
não apenas a partir da perspectiva tecnológica, mas sim como um

71
conjunto de características que contribuem para maior efetividade
do processo de ensino e aprendizagem e que possam auxiliar no
desenvolvimento de estudantes preparados para a atual sociedade
impactada pela transformação digital que se caracteriza pelas
conexões e redes. Para isso, devido a complexidade da temática
deste estudo, enfatiza-se a necessidade de pesquisas com maior
aprofundamento do tema, em outras bases específicas (como a ERIC)
para assim, elencar os pilares essenciais para a educação digital a partir
do contexto atual da sociedade.

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CAP. 2 - Educação Digital: Uma Análise Bibiométrica (2019 - 2022)

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CAPÍTULO 3

Objetivos do Processo de
Combinação de Conhecimento:
Uma revisão integrativa

Breno Jaime Amaral Souto


Regina Adriana Zanoello Ardigó
Patricia de Sá Freire

doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-16-6.003
CAPÍTULO 03

RESUMO
Este artigo apresenta uma revisão integrativa, com vistas
a identificar os objetivos do processo de combinação
de conhecimento. Para tal, foi realizada uma pesquisa
qualitativa, com objetivos exploratórios e também
descritivos. A partir de buscas realizadas nas bases de
dados eletrônicos Scopus e Web of Science, construiu-se
um portfólio de 51 documentos. Após a leitura dos resumos,
títulos e palavras-chave foram identificadas as publicações
que estavam aderentes ao objetivo da pesquisa. Os
resultados foram filtrados e, ao final do processo, sete
documentos foram analisados e apresentados. Chegou-se
à conclusão de que os autores consideram como objetivos
da combinação de conhecimento: codificar, classificar,
armazenar, recuperar, identificar, transmitir, agrupar,
combinar, selecionar, mitigar, compartilhar, sistematizar,
agregar, processar, comparar, colaborar e distribuir.
Palavras-Chave: Conhecimento. Espiral do Conhecimento.
Combinação do conhecimento.
CAP. 3 - Objetivos do processo de combinação de conhecimento: uma revisão integrativa

1. INTRODUÇÃO

O mundo dos negócios vem se mostrando mutativo e


desafiador, e as organizações cada vez mais necessitam se
adaptar às mudanças e ter diferenciais que sejam uma vantagem
competitiva. “À medida que muda o ambiente organizacional, como
se diz no jargão dos estrategistas, a organização precisa aprender a
executar novas tarefas e dar conta das antigas com mais rapidez e
eficácia” (Garvin et al., 1998, p. 58).
Entender como enfrentar esses desafios e se tornar uma
empresa que consegue melhorar seu desempenho, criar valor e
inovação, tem sido o foco de investimento das organizações.
A força impulsionadora para a mudança de uma economia
industrial para economia do conhecimento é o crescimento da
produtividade causado por inovações em tecnologia, organização
e administração (Crawford, 1994). O conhecimento organizacional
é estudado pelos teóricos Nonaka e Takeuchi (1997), Wiig (1993),
Leornard-Barton (1995), Choo (1998) Barclay e Murray (1997) e Sveiby
(1998), entre outros, sob o contexto da Gestão do Conhecimento.
Segundo Serrat (2008), apesar de as atividades da Gestão do
Conhecimento terem muitas disciplinas e abordagens diferentes,
a maioria delas apresenta pelo menos cinco processos comuns:
identificação, criação, armazenamento, compartilhamento e
utilização do conhecimento.
Stewart (1998, p. 5) afirma que “o conhecimento se tornou
um recurso econômico proeminente – mais importante que a
matéria-prima; mais importante, muitas vezes, que o dinheiro”.
Para Danveport & Prusak (1998), as organizações se mantêm
saudáveis quando geram e sabem utilizar conhecimentos. A partir

81
da interação com os ambientes, as organizações são capazes de
absorver informações e transformá-las em conhecimento, e para
isso sua ação tem como base a “combinação desses conhecimentos
com experiências, valores e regras internas” (Danveport & Prusak,
1998, p. 63).
É na espiral do conhecimento que se irá encontrar o terceiro
modo de conversão chamado combinação, que é a conversão de
conhecimento explícito para conhecimento explícito tendo como
resultado a criação de um novo conhecimento e foco deste trabalho
Para os autores Nonaka e Takeuchi (1997, p. 75), a combinação
do conhecimento “é um processo de sistematização de conceitos
em um sistema de conhecimento”. Devido à relevância acerca
do conhecimento, gerenciá-lo é uma ação que oferece desafios
(Svetlana, 2007). Segundo Starec et al. (2006), os elementos
essenciais para a competitividade de uma organização são: acesso
em tempo real a informações importantes para ajudar na tomada de
decisão; gerenciamento e integração eficaz de recursos humanos,
da informação e da comunicação; bem como ordenar, armazenar,
trocar e utilizar informações geradas interna e externamente à
organização.
Sabendo-se que o processo de combinação de conhecimentos
é dependente do compartilhamento do conhecimento entre
os indivíduos e as organizações, para estas um grande desafio
está em como motivar internamente o compartilhamento do
conhecimento entre os funcionários (Hong et al., 2011). Por exemplo,
a área de projetos nas organizações pode apresentar limitações
de tempo e recursos, e as mudanças vividas pelas equipes se
convertem em dificuldades para a gestão do conhecimento. Sob
a justificativa de estarem todos ocupados e pressionados com
os afazeres do projeto, as ações documentais (Purvis & Mccray,
CAP. 3 - Objetivos do processo de combinação de conhecimento: uma revisão integrativa

2003) e o compartilhamento de conhecimento acabam por serem


prejudicados (Carrillo, Al-Ghassani & Anumba, 2004).
Segundo Barson et al. (2000), um conhecimento
compartilhado de maneira deficitária pode resultar em falhas na
captura e significação de requisitos, tendo como consequências
a não combinação dos conhecimentos e, a partir daí, atrasos
no desenvolvimento de produtos e serviços, maiores custos
no desenvolvimento de processos e, no fim da cadeia, clientes
descontentes.
Desta forma, pode-se inferir quanto à necessidade de as
organizações tomarem consciência destas barreiras à combinação
dos conhecimentos e adotarem medidas resolutivas para definirem
com clareza os seus objetivos, motivando seus colaboradores ao
compartilhamento.
Considerando esse contexto, o presente artigo tem como
propósito, a partir da perspectiva da Gestão de Conhecimento e
dos autores Nonaka e Takeuchi, identificar os objetivos do processo
de combinação do conhecimento a partir da seguinte questão de
pesquisa: Quais são os objetivos do processo de combinação de
conhecimento mais utilizados na criação de novos conhecimentos?
Para respondê-la, foi realizada uma revisão integrativa de
maneira a tornar possível refletir acerca de como os estudos
científicos apontam os objetivos para a utilização da combinação
do conhecimento.
Além desta introdução, este artigo está organizado em quatro
partes onde, primeiramente, apresenta-se um referencial teórico
com conceitos e características sobre combinação de conhecimento
aos olhos de Nonaka e Takeuchi, criadores da teoria do espiral

83
do conhecimento, um modelo pelo qual empresas referenciam
seus processos de aquisição de novos saberes. Na segunda parte
apresentam-se os processos metodológicos utilizados para a
pesquisa; a terceira parte é composta pela contribuição do trabalho
através da apresentação e análise dos dados encontrados; e a
quarta parte traz os resultados obtidos nas considerações finais,
incluindo as limitações e oportunidades para trabalhos futuros.

2. COMBINAÇÃO DO CONHECIMENTO POR


NONAKA E TAKEUCHI

Ao olhar para o termo “conhecimento”, o sentimento é de que


seu significado é de propriedade de todos por ser, aparentemente,
de senso comum ou mesmo ser compreendido de formas
diferentes, em se tratando de áreas diversas. Faz-se relevante
entender o significado dentro de um determinado contexto para
a compreensão do cenário o qual deve ser tratado. Por conta desta
questão, a definição de conhecimento utilizada neste trabalho se
refere ao conhecimento organizacional.
Souza e Santos (2020, p. 105) def inem o conhecimento
organizacional como sendo a “capacidade de uma organização
de criar novo conhecimento, difundi-lo internamente como
um todo e incorporá-lo em produtos e processos.” Segundo os
autores, considerando a epistemologia, este conhecimento se
constitui no âmbito social, onde se deve considerar as formas
de conhecimento explícito e tácito levando em conta o contexto
no qual se encontram, tendo a possibilidade de ser integrado
em “regras, código de conduta, ética, rotinas organizacionais,
processos manuais, cultura organizacional ou produtos.”
CAP. 3 - Objetivos do processo de combinação de conhecimento: uma revisão integrativa

O entendimento de conhecimento passa necessariamente


pela compreensão do que é dado e informação. Assim como muitos
autores, Davenport e Prusak (1998) distinguem dados de informação
e de conhecimento, e relatam que estes se complementam. Para
esses autores, a concepção de dado é considerada como um
conjunto de fatos de determinado evento que pode ser facilmente
estruturado, organizado, dimensionado, armazenado e transferido.
Dados se transformam em informação quando pessoas lhe
atribuem significados.
A criação do conhecimento é “um processo que amplia
organizacionalmente o conhecimento criado pelos indivíduos,
cristalizando-o como parte da rede de conhecimentos da
organização” (Nonaka & Takeuchi, 1997, p. 63). Quando se fala em
conversão de conhecimento, os autores Nonaka e Takeuchi (1997)
são referência por criarem a “Teoria da Criação do Conhecimento
Organizacional”, na qual apresentam o modelo de “Espiral do
Conhecimento”.
Para criar e utilizar conhecimento organizacional, o
conhecimento precisa sofrer o que os autores chamam de
conversão. Converter conhecimento tácito em explícito e vice-
versa. O processo que materializa esta conversão é a espiral SECI
ou modelo SECI. Este modelo mostra como os conhecimentos
tácito e explícito podem se amplificar no contexto organizacional,
tanto em qualidade quanto em quantidade, seguindo um fluxo
do indivíduo para o grupo e do grupo para o nível organizacional
(Nonaka & Takeuchi, 2008, p. 23).
“O conhecimento é amplificado passando pelas quatro
formas de conhecimento” (Nonaka & Takeuchi, 2008, p. 23).
São elas: 1. Socialização; 2. Externalização; 3. Combinação; e 4.
Internalização, de acordo com o Quadro 1.

85
Quadro 1: Significados da Espiral do Conhecimento

Fonte: Adaptado Nonaka e Takeuchi (2008)

No Quadro 1 verifica-se a expressão de funcionamento


da espiral do conhecimento, apresentando as quatro formas
de conversão dispostas em ordem, obedecendo à ampliação
sequencial proposta na espiral. Para cada conversão podem-se ver
as dimensões epistemológica e ontológica propostas pelos dois
autores. Conforme eles, mostrando que a questão epistemológica
da criação do conhecimento está relacionada às diferenças do
conhecimento tácito com o conhecimento explícito.
A conversão é considerada um processo social, acontece de
maneira espiral e expansiva e surge quando ocorre “uma interação
entre conhecimento tácito e conhecimento explícito eleva-se
dinamicamente de um nível ontológico inferior até níveis mais
altos” (Nonaka & Takeuchi, 1997, p. 62). Ontologicamente, inicia
no nível individual ampliando para grupos e chegando ao nível
organizacional; esses níveis interagem entre si de forma interativa
CAP. 3 - Objetivos do processo de combinação de conhecimento: uma revisão integrativa

e contínua. Cada conversão apresenta uma maneira (como) de


acontecer o conhecimento, o que irá proporcionar resultados em
formatos de conhecimentos ampliados (novos conhecimentos).
A combinação é o terceiro modo de conversão, e como se
vê no Quadro 1, é a conversão de conhecimento explícito para
conhecimento explícito.
A “combinação é um processo de sistematização de conceitos
em um sistema de conhecimento” (Nonaka & Takeuchi, 1997, p. 75),
ou seja, o conhecimento explícito convertido em conhecimento
explícito; um processo que objetiva “a reconfiguração das
informações existentes através da classificação, do acréscimo, da
combinação e da categorização” (Nonaka & Takeuchi, 1997, p. 76)
com o objetivo de originar novos conhecimentos sistêmicos. Pode-
se ver esse modo de conversão de conhecimento nas organizações
atrelado às redes de informação codificadas, documentos ou
vários tipos de interação entre as pessoas e redes de comunicação
informatizadas (Nonaka & Takeuchi, 2008).
Segundo Nonaka e Takeuchi, (1997, p. 80), “o modo de
combinação é provocado pela colocação do conhecimento recém-
criado e do conhecimento já existente proveniente de outras seções
da organização em uma ‘rede’, cristalizando-os assim em um novo
produto, serviço ou sistema gerencial.”
Os mecanismos desse processo são a comunicação, a
difusão e a sistematização do conhecimento. A combinação
acontece em três fases distintas: na primeira ocorre a captura
e a integração; na segunda, a disseminação; e na terceira, a
edição e o processamento. Como exemplo, da construção de um
protótipo tem-se a criação de conhecimento sistêmico (Nonaka
& Takeuchi, 1997; Nonaka & Konno, 1998).

87
A teoria de Nonaka e Takeuchi aborda a combinação do
conhecimento e contribui de forma significativa para a criação do
conhecimento organizacional; é considerada um marco importante
na compreensão dos estudos científicos da Gestão do Conhecimento.
Entretanto, há um número reduzido de documentos acadêmicos que
abordam diretamente a combinação do conhecimento. Ela também é
conhecida principalmente por estar diretamente relacionada a teorias
no campo do processamento de informações, portanto se entende ser
este estudo relevante para analisar outras áreas onde a combinação está
presente e suas contribuições, análise que apresentar-se-á à discussão
em sessão posterior, diante dos trabalhos encontrados. Além do já
exposto, qual seja, identificar os objetivos do processo de combinação
do conhecimento para apoiar as organizações a tomarem medidas
resolutivas para definirem com clareza os seus objetivos, motivando
seus colaboradores ao compartilhamento de conhecimento.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura que


possibilita a síntese de vários estudos já realizados publicados,
possibilitando a geração de novos conhecimentos, pautados
nos resultados apresentados por pesquisas anteriores (Mendes
et al., 2008; Benef ield, 2003; Polit & Beck, 2006). Este estudo
classif ica-se como uma abordagem qualitativa, bibliográf ica,
com objetivo exploratório e descritivo.
Durante o planejamento e execução da revisão, os
pesquisadores utilizaram o protocolo de pesquisa PRISMA-P com
o intuito de facilitar o desenvolvimento da revisão sistemática. O
artigo foi elaborado a partir das seis etapas, propostas por Botelho,
CAP. 3 - Objetivos do processo de combinação de conhecimento: uma revisão integrativa

Cunha e Macedo (2011): na primeira etapa, identificar e definir o


tema e questão de pesquisa; na segunda, estabelecer critérios
para inclusão e exclusão; na terceira, estudos pré-selecionados
e selecionados; na quarta, categorizar os estudos selecionados;
posteriormente, na quinta etapa, a análise e interpretação dos
dados; e na sexta etapa, a revisão/síntese do Conhecimento.
A questão de pesquisa a ser respondida pela revisão
integrativa é a seguinte: Quais são os objetivos do processo de
combinação de conhecimento mais utilizados na criação de
novos conhecimentos?
Com base na pergunta de pesquisa foram selecionados
três termos de busca: “combinação do conhecimento”,
“combination of knowledge” e “knowledge management”. A
estratégia de busca, de acordo com Lopes (2002), é uma técnica
para possibilitar o encontro entre a pergunta de pesquisa e as
informações armazenadas nas bases de dados.
Como critérios de inclusão def iniram-se: estudos teóricos
ou empíricos; artigos que conceituam e/ou def inem ou
tenham elementos relacionados ao construto “combinação
de conhecimento”; artigos que possuam “combinação de
conhecimento” em seu título, resumo ou palavra-chave; artigos
nos idiomas: português, inglês e espanhol; estudos que tenham
acesso disponível; e também artigos publicados em journals
nacionais e internacionais.
Critérios de exclusão: Artigos que não se encontram nos
idiomas português, inglês ou espanhol, artigos publicados em
eventos ou capítulos de livro e artigos que não tenham em seu
título ou resumo as palavras-chave, e que não tenham relação
com a pergunta de pesquisa.

89
A seleção dos estudos aconteceu com busca nas seguintes bases
de dados: Scopus e Web of Science. E ocorreu em duas etapas: 1) leitura
dos títulos e resumos; e 2) leitura completa.
Foram observados um total de 1.040 artigos nas duas plataformas
e utilizaram-se como recorte autores com mais de 50 citações,
conforme o Quadro 2. A busca nas plataformas aconteceu no mês de
julho de 2020.
Quadro 2: Busca nas plataformas

Fonte: Elaborado pelos autores

O serviço de EndNote Web foi utilizado pelos pesquisadores


e auxiliou na organização das referências e citações dos artigos
selecionados (e na eliminação de referências duplicadas). Com base
na análise realizada no resumo das 51 publicações, foi possível concluir
que:

• 35 referências são repetidas;


• 13 não abordam o tema;
• 1 não possui acesso livre.

Após selecionadas as referências, foi realizada uma leitura


criteriosa em 27 artigos para identificar aqueles que abordam o tema
e que atendem à questão de pesquisa. E considerando os critérios de
inclusão e exclusão propostos na metodologia para extração de dados,
CAP. 3 - Objetivos do processo de combinação de conhecimento: uma revisão integrativa

foi criada uma planilha no Excel, a qual foi preenchida com sete artigos
selecionados após a leitura completa. Com uma leitura criteriosa dos
artigos, os autores identificaram 20 que não abordam ou não são
aderentes ao tema.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Em síntese, a amostra final deste estudo foi construída por


sete artigos científicos selecionados, levando-se em consideração os
critérios de inclusão e exclusão e as duas etapas de refinamento. Dado
o exposto, observa-se que, mesmo sendo um tema contemporâneo, já
existem publicações anteriores ao modelo de Nonaka e Takeuchi.
Quadro 3: Artigos selecionados para análise

Fonte: Elaborado pelos autores

91
No Quadro 3, apresentam-se os artigos selecionados para
análise, assim como uma síntese dos artigos com as seguintes
informações: autores e ano, título, local e a área onde foi publicado.
O artigo A1, denominado “Transactive Memory in
Organizational Groups: The Effects of Content, Consensus,
Specialization, and Accuracy on Group Performance”, tem como
objetivo examinar a relação entre os sistemas de memória transativa
e o desempenho em grupos maduros e contínuos, a partir de uma
metodologia qualitativa.
O artigo A2, “A formal analysis of knowledge combination
in multinational enterprises”, objetiva, a partir de um estudo de
caso, realizar uma análise formal da combinação de conhecimento
dentro de empresa multinacional (MNE).
Já o artigo A3, denominado de “Answering Clinical Questions
with Knowledge-Based and Statistical Techniques”, a partir de uma
pesquisa qualitativa, objetiva apresentar um sistema projetado
para satisfazer as necessidades de informação dos médicos que
praticam a medicina baseada em evidências.
O artigo A4, “Knowledge Risks in Organizational Networks:
An Exploratory Framework”, apresenta como objetivo construir um
quadro exploratório que possa facilitar o estudo dos vários tipos de
riscos do conhecimento que surgem dentro das redes. Foi utilizada
uma abordagem qualitativa.
O artigo A5, “Learning Bayesian Networks: The Combination of
Knowledge and Statistical Data”, tem como objetivo descrever uma
abordagem bayesiana para aprender redes bayesianas a partir de
uma combinação de conhecimento prévio e dados estatísticos. Para
alcançar o objetivo proposto, os autores usaram a abordagem mista.
CAP. 3 - Objetivos do processo de combinação de conhecimento: uma revisão integrativa

O artigo A6 tem como título “Combining Knowledge from


Different Sources, Channels and Geographical Scales”, e seu
objetivo é avançar a compreensão de como as empresas inovadoras
combinam conhecimento (1) de diferentes fontes, (2) acessado em
diferentes escalas espaciais e (3) adquiridos através de diferentes
canais. O artigo fez uso de uma abordagem qualitativa.
O artigo A7 intitula-se “The effect of social networking sites
and absorptive capacity on SMES’ innovation performance”. Este
artigo de negócios internacional tem como objetivo fornecer
informações a pequenas e médias empresas acerca da relevância
do ecossistema digital, focando o papel das redes sociais na relação
com a inovação e o conhecimento através de combinação de
conhecimentos, podendo ser utilizadas para fins comerciais. Para
isso, os autores utilizaram uma abordagem qualitativa.
Nos estudos realizados pelos pesquisadores, verificou-
se nas análises que a abordagem metodológica dos artigos
predominantemente é qualitativa, a qual busca captar o fato em
estudo a partir do cenário das pessoas nele envolvidas, considerando
todos os pontos de vista (Godoy, 1995).
Observou-se também que a maioria dos artigos é publicada a
partir dos anos 2000, e embora já existisse o conceito do construto
“Combinação do Conhecimento”, dos autores Nonaka e Takeuchi
(1997), nenhum dos artigos faz menção a eles ou ao modelo
desenvolvido por eles. Apesar disto, as áreas trazem o processo
de combinação, objetivando sua aplicação, considerando as
particularidades de cada área.
Em relação às áreas temáticas, foi possível perceber uma
variação delas. Apesar de este ser um conceito muito utilizado
pela Gestão do Conhecimento, observa-se que a essência do

93
conceito é a mesma, no entanto, aplicada de formas diferentes,
considerando a particularidade de cada área. Ao analisar os artigos
após leitura criteriosa, chegou-se à seguinte conclusão, relacionada
ao problema de pesquisa.
A combinação acontece em três fases distintas: na primeira
ocorre a captura e a integração; na segunda, a disseminação; e na
terceira, a edição e processamento. Como exemplo, da construção
de um protótipo tem-se a criação de conhecimento sistêmico
(Nonaka & Takeuchi, 1997; Nonaka & Konno, 1998).
Pôde-se, a partir dessas três fases, identificar os objetivos da
combinação dos conhecimentos no artigo A1, de Austin (2003), os
quais são: codificação, classificação, armazenamento e recuperação
de informações. O autor, ao se referir à memória externa, faz menção a
registrar acontecimentos em relatórios, computadores, blocos de notas,
entre outros, para serem acessados quando necessário. O processo se
formaliza quando o autor se refere a um sistema de memória transitiva
externa organizacional que, bem desenvolvido, pode fornecer
mecanismos para identificar novos conhecimentos específicos de
tarefas. O desempenho do grupo nesse caso depende de quanto os
membros são capazes de explorar a base de conhecimentos resumida
e quão bem conseguem reconfigurar essa base de conhecimento em
novas situações (Grifo nosso).
No artigo A2, de Buckley e Carter (2004), os autores utilizam
como objetivos: classificação, identificação, codificação e transmissão,
com o intuito de criar um sistema que atenda às necessidades de
uma estrutura empresarial para empresas multinacionais que deem
suporte aos processos de decisão para auxiliar a superar os obstáculos
que provêm da empresa multinacional (idioma, cultura, distancia,
normas etc.). A combinação se configura frente a uma comunidade de
prática e a um modelo analítico efetuado pelos autores (Grifo nosso).
CAP. 3 - Objetivos do processo de combinação de conhecimento: uma revisão integrativa

Já no artigo A3, de Demner-Fushman e Lin (2007), os objetivos


são: classificação, combinação, agrupamento, releitura e seleção,
com resultado de melhora em um sistema já existente para suporte
aos diagnósticos médicos, um sistema de perguntas e respostas
capaz de apresentar soluções rápidas através da combinação de
dados disponíveis e atualizados (Grifo nosso).
O artigo A4, de Trkman e Desouza (2012), parte de uma
revisão de literatura e aplica os objetivos formando o processo de
combinação de maneira clara ao utilizar: identificação, mitigação,
classificação, combinação, compartilhamento, sistematização,
agregação de dados e processamento, trazendo como resultado
uma estrutura que permite identificar, classificar, gerenciar e
até mesmo amenizar os possíveis riscos e potenciais impactos
prejudiciais destes riscos para as organizações ao compartilharem
conhecimento em organizações em rede. Um novo conhecimento
para auxiliar na leitura do que possa incorrer em riscos para a firma
(Grifo nosso).
Heckerman et al. (1995), no artigo A5, partem de uma
rede bayesiana já conhecida e utilizada na área estatística para
melhorar e ampliar essa rede, e para tanto os objetivos utilizados
foram: agregar dados, combinar dados, classificá-los e compará-
los, apresentando como resultado uma metodologia de rede
bayesiana que possibilita comparativos de várias abordagens, ou
seja, a criação de novos conhecimentos (Grifo nosso).
Na análise do artigo A6, de Grillitsch e Trippl (2013),
encontraram-se os seguintes objetivos: combinação. classificação,
identificação, colaboração formal, distribuição e agregação. Os
autores, de maneira bem robusta, efetuam a combinação para
criar fontes de conhecimento objetivando diferentes modos de
aprendizagem. A maneira como eles propõem a organização dos

95
dados evidencia claramente a criação de novos conhecimentos
extraídos de conhecimentos já formalizados (conhecimento
explícito) de diversas fontes. Apresentando os resultados desse
estudo, sugerem que as repercussões continuam importantes para
a circulação do conhecimento (Grifo nosso).
No artigo A7, de Scuotto et al. (2017), os autores utilizaram
vários objetivos, sendo eles: coleta de dados, combinação,
identif icação, transformação e exploração, que dão suporte
para o resultado de sua pesquisa, cumprindo o objetivo de que
pequenas e médias empresas tenham acesso a informações
para poderem explorar oportunidades usando intensivamente
o externo em combinação com o interno para aumentar sua
criação de valor e produtividade. Os autores fazem menção de
que estes estudos são limitados e necessitam ser utilizados com
cautela (Grifo nosso).
Dos sete artigos analisados, seis apresentam o mesmo
objetivo da combinação do conhecimento, que é a classif icação.
Encontraram-se 18 objetivos diferenciados entre os artigos
citados. Cinco deles (A3, A4, A5, A6 e A7) usam a combinação com
o objetivo de utilizarem conhecimentos de fontes já existentes
e melhorá-las, transformá-las ou acrescentá-las. Segundo os
autores Nonaka e Takeuchi (1997), novos conceitos podem
ser criados a partir da rede de informações e conhecimentos
codif icados. Os demais objetivos encontrados atendem ao tipo
de trabalho proposto pelos autores. Importante f risar que os
artigos analisados se utilizam da combinação para obter um
resultado ampliado e melhorado.
Percebe-se que os artigos analisados recorreram ao suporte
ou têm como base os recursos da Tecnologia da Informação
(TI). O trabalho em rede é facilitado através dos recursos de
CAP. 3 - Objetivos do processo de combinação de conhecimento: uma revisão integrativa

TI , podendo preservar os conhecimentos descentralizados e


disponíveis nos espaços onde são mais produzidos e/ou usados
(Davenport et al., 1998), e aprimoram a interatividade do usuário
no acesso aos registros de conhecimentos (Davenport & Prusak,
1998).
Quadro 4: Objetivos da Combinação do Conhecimento

Fonte: Elaborado pelos Autores

A partir das três fases propostas pelos autores Nonaka e


Takeuchi (1997), pôde-se identif icar os objetivos de combinação
do conhecimento existentes (Quadro 4): codif icar, classif icar,
armazenar, recuperar, identif icar, transmitir, agrupar, combinar,
selecionar, mitigar, compartilhar, sistematizar, agregar,
processar, comparar, colaborar, transformar e distribuir.
Esses dezoito objetivos de combinação do conhecimento
explícito, algumas vezes tratados como processos de gestão do
conhecimento, podem levar a novos conhecimentos.

97
Figura 1: Objetivos da combinação do conhecimento

Fonte: Elaborado pelos Autores

Ao serem identificados estes dezoito objetivos possíveis para


o processo de combinação do conhecimento a Figura 1, apresenta
um framework conceitual com os objetivos de combinação do
conhecimento encontrados a partir do estudo.
A pesquisa realizada atingiu o objetivo de identificar os objetivos
para apoiar as organizações a tomarem medidas resolutivas para
definirem com clareza os seus objetivos, motivando seus colaboradores
ao compartilhamento. E entende-se que, é uma contribuição para o
avanço dos estudos sobre a gestão do conhecimento e seus processos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo desenvolveu uma estrutura para analisar, a partir


de uma revisão integrativa, “Quais são os objetivos do processo
CAP. 3 - Objetivos do processo de combinação de conhecimento: uma revisão integrativa

de combinação de conhecimento mais utilizados na criação de


novos conhecimentos?”. Para avaliar os elementos contidos nos
artigos, foram utilizadas como base as considerações da Gestão
do Conhecimento, de Nonaka e Takeuchi (1997), onde a ação de
converter conhecimento explícito para conhecimento explícito
cria um conhecimento diferente daquele que o originou, e isto só
é possível através dos objetivos de combinação de conhecimento.
Este estudo está sujeito a várias limitações, algumas das quais
sugerem caminhos estimulantes para futuras pesquisas. Primeiro, o
estudo está limitado aos autores Nonaka e Takeuchi, devido à pouca
literatura relacionada ao tema. Segundo, o constructo Combinação
do conhecimento não possui um conceito definido em outras
áreas. O desenvolvimento conceitual é primordial para a utilização
de forma correta do construto, de acordo com Osigweh (1989), que
argumenta que “definições conceituais claras são essenciais para o
desenvolvimento da teoria”.
Os autores consideram objetivos da combinação de
conhecimento os processos: codificar, classificar, armazenar,
recuperar, identificar, transmitir, agrupar, combinar, selecionar,
mitigar, compartilhar, sistematizar, agregar, processar, comparar,
colaborar e distribuir, os quais consideram-se na análise, como
também seus sinônimos.
Foram encontrados sete artigos nos quais o processo utilizado
(objetivos) se configura em “combinação do conhecimento”. Os
resultados encontrados têm em comum o envolvimento da tecnologia
relacionada a desenvolver ou melhorar algum instrumento através
de sistemas computadorizados que resultaram em um sistema de
conhecimento. Os objetivos do processo estão contidos em maior
ou menor variedade em todos eles, configurando o processo tanto
em sua construção como em seu resultado.

99
A discussão realizada neste estudo indicou que a combinação
do conhecimento merece mais atenção de pesquisas futuras,
e nelas podem ser incluídas as questões: quais áreas utilizam a
“combinação do conhecimento”? Como é utilizada a “combinação
do conhecimento”? Quais áreas utilizam com o mesmo propósito a
Gestão do Conhecimento? É possível identificar sua aplicabilidade
em outras áreas mesmo que não esteja clara a combinação como
definição de processo?

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação


de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) –
Código de Financiamento 001.

OBSERVAÇÃO

O presente artigo foi publicado, em estágio preliminar, nos


anais do Ciki 2021 - XI Congresso Internacional de Conhecimento e
Inovação.

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103
CAPÍTULO 4

Método OACOMP: Identificação e


Associação de Perfis Funcionais
de Participantes de Cursos de
Capacitação online aos Objetos de
Aprendizagem

Thaís Regina Umbelino


Roberto Carlos dos Santos Pacheco

doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-16-6.004
CAPÍTULO 04

RESUMO
Na sociedade do conhecimento o principal valor das
organizações está nos ativos de conhecimento e,
especialmente, em seus colaboradores, que são os
principais ativos de conhecimento humano. A formação
de profissionais deixa então de ser uma transmissão de
conhecimento para se transformar em uma demanda
por aquisição de competências, fazendo-se necessário
oferecer ao colaborador, um processo de aprendizagem
que tome como base o seu contexto na organização,
oferecendo trajetórias de aprendizagem fundamentadas
na busca e aplicação direta dos conteúdos aprendidos.
Contudo, quando os programas de capacitação em
ambientes organizacionais são realizados de modo
online, tem-se o desafio de configurar os objetos de
aprendizagem aos diferentes perfis funcionais. Nesse
sentido, esse estudo partiu da seguinte questão de
pesquisa: como identificar e associar os perfis funcionais
de participantes de cursos de capacitação online aos
objetos de aprendizagem do curso? Para responder a este
questionamento, traçou-se como objetivo apresentar um
método para identificar e associar os perfis funcionais aos
objetos de aprendizagem de cursos de capacitação online.
O artigo de natureza tecnológica, utilizou da Metodologia
Design Science Research (DSR) para desenvolver como
artefato um método. O método apresentado mostrou
CAP. 4 - Método OACOMP: Identificação e Associação de Perfis Profissionais

trazer contribuições para a academia, sociedade e organizações


que desejam realizar a capacitação online específica de seus
colaboradores.
Palavras-chave: Competências Funcionais. Design Science
Research (DSR). Objetos de Aprendizagem. Capacitação em meio
organizacional. Ambientes de Aprendizagem Virtuais Adaptativos.
Educação Digital.

1. INTRODUÇÃO

Na economia do conhecimento o valor de uma organização


está pautado nos ativos do conhecimento provindos de agentes
não humanos e humanos. Sendo os agentes humanos as Pessoas
(colaboradores) que fazem parte da organização, um novo valor
passa-se a ser dado à dimensão pessoas (Freire, Pacheco, Aires &
Bresolin, 2019).
O conhecimento criado pelas pessoas é um recurso
essencial gerador de valor para a organização. As metodologias
de ensino inovadoras podem apoiar o desenvolvimento
desses conhecimentos com foco nas competências funcionais
específicas de cada um na organização, potencializando a
geração de valor (Steil, 2006).
O desafio é planejar e realizar a aprendizagem de adultos
no seu ambiente organizacional para a capacitação específica
a sua função. O ensino de adultos há muito se fundamenta
nos princípios da pedagogia, porém, para a aprendizagem de
adultos nas organizações, faz-se necessário revogar antigas
metodologias de ensino e aprendizagem no qual o aprendente é

107
apenas um ator passivo do conhecimento. Tornar este indivíduo
um agente ativo no seu processo de aprendizagem pode ser o
primeiro passo para o desenvolvimento de suas competências
cognitivas, comportamentais, e a iniciativa da transferência da
aprendizagem para a prática (Freire et al., 2019).
Quando se fala em capacitação e aprendizagem em meio
organizacional, cabe ressaltar que para este estudo conceitua-se
capacitação como a preparação de trabalhadores para a execução
de tarefas fragmentadas (Steil, 2006). E, aprendizagem em meio
organizacional como “a construção social que transforma o
conhecimento criado em nível individual em ações concretas
direcionando-o aos objetivos organizacionais” (Steil, 2006, p. 11).
Neste sentido, os autores Crossan, Lane e White (1999)
descrevem que a aprendizagem organizacional se apresenta
na organização de forma multinível: individual, grupal e
organizacional. Estando estes três níveis ligados por fatores
sociais e processos psicológicos: intuir, interpretar, integrar
e institucionalizar (4I’s). Para este artigo (assim como na
pesquisa utilizada como base para este estudo) a aprendizagem
organizacional se encontra em nível individual.
Partindo do escopo descrito acima, a literatura contribui
com os processos de aprendizagem adaptativa, que em âmbito
organizacional propõe-se a apoiar colaboradores no seu
processo de aquisição de conhecimento sobre o domínio de uma
aprendizagem específica (Talaghzi, Bennane, Himmi, Bellafkih
& Benomar, 2020). Posto isto, encontra-se na Metodologia da
Neoaprendizagem a possibilidade de oferecer a aprendizagem
de adultos no ambiente organizacional considerando o contexto
funcional do indivíduo. A Metodologia da Neoaprendizagem se
apresenta como “um caminho inovador para criar ambientes de
CAP. 4 - Método OACOMP: Identificação e Associação de Perfis Profissionais

aprendizagem propícios ao desenvolvimento de competências


e prontidão para a transferência do aprendizado para a prática”
(Bresolin & Freire, 2021, p.6). Para as autoras, o conhecimento se dá
de forma coprodutiva pela construção social entre os indivíduos
que se colocam no processo de aprendizagem.
Dito isto, entende-se que, capacitar pessoas dentro do
seu contexto organizacional, não pode ser simplesmente uma
tarefa de transmissão de conhecimento, em que o indivíduo seja
apenas o sujeito passivo no seu processo de aprendizagem. É
preciso criar uma relação entre o perfil funcional do indivíduo
e o tema que ele se dispõe a aprender, de forma a resultar em
uma real motivação pela construção dos novos conhecimentos
(Prado, Bresolin, Freire & Pacheco, 2021).
Pois bem, a Metodologia da Neoaprendizagem consegue
apoiar a realização da aprendizagem em meio organizacional
realizada de forma presencial, mas quando esta aprendizagem
se dá de forma online, garantir que ela seja orientada e
direcionado ao perfil funcional que cada indivíduo exerce dentro
da organização se torna uma tarefa mais complexa (Umbelino,
2022).
A Educação Digital (ED) que vai muito além das Tecnologias
de Comunicação e Informação (TICs) para o ensino, surge
como uma grande ferramenta de apoio para os processos de
aprendizagem online. No entanto, ressalta-se que o uso de
TICS por si só não assegura que o processo de aprendizagem
online consiga transformar o aprendente em um agente ativo
no seu processo de aprendizagem, fazendo-se necessário a
compatibilização das TICs para ensinar com metodologias de
ensino com foco nas competências necessárias e desejadas de
seus aprendentes (Costa, Pacheco & Carneiro, 2022).

109
Sendo assim, este artigo apontou como questão de estudo:
como identificar e associar os perfis funcionais de participantes
de cursos de capacitação online aos objetos de aprendizagem do
curso? Para responder a este questionamento, traçou-se como
objetivo apresentar um método para identificar e associar os perfis
funcionais aos objetos de aprendizagem de cursos de capacitação
online.
Além desta introdução este artigo está estruturado com
a seção dois que descreve brevemente os conceitos principais
relacionados ao tema, a seção três apresenta a metodologia
adotada no estudo, seguindo para a seção quatro que descreve o
resultado proposto, a seção cinco aborda a discussão acerca dos
resultados, e por fim, a seção seis descreve as considerações finais
e sugestões de estudos futuros.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Competência funcional no processo de


aprendizagem

Para este estudo buscou-se a compreensão acerca das


competências funcionais que atuam no processo da aprendizagem
em meio organizacional. Ainda no século passado, a literatura não
relacionava explicitamente o conceito de competências para a
aprendizagem em em meio organizacional. Contudo, os autores
Mager e Beach (1972) adentram neste conceito e passaram a
descrever sobre a obtenção de competências para realização
dos objetivos de aprendizagem de acordo com o padrão exigido.
CAP. 4 - Método OACOMP: Identificação e Associação de Perfis Profissionais

Para os autores, no momento que os tecnólogos educacionais


vinculavam diretamente os objetos de aprendizagem com a
exigência do trabalho, tinha-se um processo de aprendizagem a
partir de competências funcionais (Esquivel, 2016).
Partindo deste entendimento, Tyler (1969) e Taba (1962)
apresentaram a ideia do perfil funcional para qualquer processo
de aprendizagem desde o nível básico até o nível superior.
Concordante, Mager e Beach (1972) desenvolveram uma
metodologia de aprendizagem que vincula a formulação de
objetos de aprendizagem à lógica do desempenho no trabalho,
propondo que o planejamento curricular não pode ser baseado
em disciplinas ou temas, mas sim em ações, habilidades e
competências do indivíduo, possibilitando a passagem da
programação do “o quê saber” para a programação do “o que
fazer” e “como fazer”, uma vez que o aprendente adulto não mais
aprende com mesmos métodos utilizados na educação infantil,
e sim, ele aprende a aprender, fazendo (Pacheco, Freire, Bresolin,
Prado & Izidorio, 2019).

2.2 Objetos de Aprendizagem e Ambientes de


Aprendizagem Virtuais Adaptativos

Antes de adentrar no conceito de Objetos de Aprendizagem


utilizados para este estudo, faz-se necessário uma breve
conceitualização sobre a Metodologia da Neoaprendizagem.
A Metodologia da Neoaprendizagem é composta por quatro
conceitos teóricos: os quatro pilares da educação do século XXI
da UNESCO que se elencam em: aprender a conhecer, aprender

111
a fazer, aprender a conviver e aprender a ser (Delors et al., 1998),
os 4I’s da aprendizagem organizacional, que se fundamentam
em: intuir, interpretar, integrar e institucionalizar (Crossan et
al., 1999), os métodos ativos como Aprendizagem Baseada em
Problemas (ABP) e a Aprendizagem Experiencial de Kolb (1984).
Esta metodologia tem como princípio a construção social e
coprodutiva entre os envolvidos no processo de aprendizagem,
com o objetivo de motivar a construção do conhecimento por
parte do indivíduo que aprende (Bresolin & Freire, 2021).
É um processo de aprendizagem ativa, onde o mediador
da aprendizagem atua não somente como uma única fonte de
informação e conhecimento, mas também como orientador,
supervisor e facilitador do processo de aprendizagem (Prado et
al., 2021). Desta forma, o mediador proporciona aos indivíduos
aprendentes uma formação crítica, analítica e reflexiva, que
motiva a autonomia, curiosidade e responsabilidade pelo seu
processo de aprendizagem e tomadas de decisões individuais
ou coletivas (Freire & Bresolin, 2020).
Bresolin e Freire (2021, pág. 99) definem a Neoaprendizagem
como “uma plataforma metodológica andragógica de ensino
e aprendizagem experiencial e expansiva, que estabelece
caminhos de inovação para a tríade educacional (aprendente-
ensinante-instituição de ensino)”. É constituída por meio
do diálogo entre os princípios e diretrizes da aprendizagem
experiencial e expansiva, e serve como uma base metodológica de
ensino aprendizagem para a Universidade em Rede, sendo esta
acadêmica ou corporativa, de forma que apoie o atendimento às
mudanças requeridas pela tríade educacional.
A partir do entendimento de que a Metodologia da
Neoaprendizagem objetiva a criação de ambientes inteligentes
CAP. 4 - Método OACOMP: Identificação e Associação de Perfis Profissionais

que possibilitam a aprendizagem em meio organizacional a partir


de experiências reais motivadoras, assume-se a importância
de associar o perfil do indivíduo que aprende aos objetos de
aprendizagem do curso que ele se propõe a fazer, de forma
a disponibilizar ao aprendente um processo de capacitação
específica às suas necessidades funcionais (Umbelino, 2022).
O autor Wiley (2000) descreve os Objetos de Aprendizagem
(OAs) como um recurso digital que pode ser utilizado para
apoiar a aprendizagem virtual. Hodgins e Duval (2002) expõem
que os OAs podem ser uma entidade digital ou não que
apoiam a aprendizagem, educação ou treinamento. Vargo,
Nesbit, Belfer & Archambault (2003) descreve que os Objetos
de Aprendizagem são elementos de conhecimento, recurso
aprendido ou componente instrutivo apresentados por meio
de materiais online. Concordante Parrish (2004) apresenta
OAs como processos, estratégias, objeto orientado ou projeto
instrutivo realizados por meio de ambientes digitais para apoiar
aprendizagem baseada em casos, baseado em problemas,
aprendizagem colaborativa, etc.
Relacionado os Objetos de Aprendizagem à aprendizagem
adaptativa, Isaila (2011) expõe que estes podem ser utilizados de
forma independente, pois possuem conteúdos reutilizáveis, que
podem ser adaptados a diferentes contextos e objetivos. Seu uso
adequado pode levar a uma adaptação flexível e dinâmica do
conteúdo relacionado à aprendizagem de cada indivíduo.
Com relação à classificação dos Objetos de Aprendizagem,
Alarcón et al. (2015, p.4483) apontam que estes podem ser
“apostilas de palestras, livros didáticos, perguntas de teste e slides
de apresentação”. Juntamente com as respectivas versões online,
tem-se as tarefas interativas, casos, modelos, experimentos de

113
laboratório virtual, simulações e muitos outros recursos digitais
que possibilitam a educação e capacitação online.
Sobre os Ambientes de Aprendizagem Virtuais Adaptativos,
Talaghzi et al. (2020) descrevem que estes objetivam apoiar os
indivíduos na aquisição de conhecimentos e habilidades sob um
domínio específico de aprendizagem. Os autores apresentam
quatro critérios para adaptação da aprendizagem online: o objeto
de aprendizagem adaptado, critérios de adaptação, parâmetros
de adaptação e métodos/algoritmos de adaptação usados. Destes
quatro critérios, relaciona-se diretamente à pesquisa, os objetos de
aprendizagem adaptados (que se referem a o que adaptamos) e
os critérios de adaptação (que se referem a de acordo com o que
adaptamos).
Em apoio ao planejamento e realização de Ambientes de
Aprendizagem Virtual adaptáveis ao perfil de cada indivíduo que
se coloca em aprendizagem no seu meio organizacional, tem-se
aplicação da Educação Digital (ED) por meio de plataformas de ED.

2.3 Educação Digital e Plataformas de Educação


Digital

A Educação Digital (ED) por meio de plataformas e


ambientes digitais, atua nos ambientes de aprendizagem
virtuais ressignificando, reconstruindo os conceitos e práticas
educacionais. Ela possibilita a utilização de ambientes criativos
que permitem a interação e o desenvolvimento de competências
de acordo com o contexto funcional em que o participante
está inserido. Neste sentido, Costa et al. (2022, p.2) descrevem
CAP. 4 - Método OACOMP: Identificação e Associação de Perfis Profissionais

que a Educação Digital “representa um novo modelo de


ensino e aprendizagem capaz de atender aos objetivos sociais
e expectativas da emergente sociedade digital”. Relacionam
o processo de ensinar e aprender conforme a adequação ao
significado e ao desenvolvimento de competências, sendo o
processo de ensino e aprendizagem constituído pela cooperação
de diferentes tecnologias digitais, interligadas ou não por redes
de comunicação.
Quando se utiliza da Educação Digital como meio
para a realização de um curso de capacitação em ambiente
organizacional como foco no indivíduo que aprende, a ED pede
a compatibilização de metodologias e tecnologias do ensino de
conteúdos, de forma a realizar uma aprendizagem baseada em
competências (Costa et al., 2022). De Pablos, Colás, Gracia e Garcia-
Lázaro (2019) enfatizam que as tecnologias digitais proporcionam
à ED, novas ferramentas para o processo de aprendizagem em
escala, tornando possível realizar um ambiente que considere a
singularidade e experiência de cada indivíduo.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este artigo é de natureza tecnológica e apresenta como


resultado para resolução do problema de estudo, um método.
Motta (2017) descreve que um artigo tecnológico apresenta
e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados
relacionados à solução de um problema de ordem prática. Scafuto,
Costa, Mazieri e Pigola (2022) e Biancolino, Kniess, Maccarri e
Rabechini (2012) descrevem que um artigo tecnológico deve
seguir um rigor científico e metodológico na sua escrita.

115
Assim sendo, este artigo objetiva o desenvolvimento de
um artefato embasado cientif icamente pela metodologia
da Design Science Research (DSR). O artefato resultante
da DSR foi guiado pelas diretrizes indicadas por Hevner,
March, Park e Ram (2004) e etapas apresentadas por Peffers,
Tuunanen, Rothenberger e Chatterjee (2007). Peffers et
al. (2007) descreve que uma pesquisa realizada por meio
da metodologia DSR deve produzir um artefato relevante
para a solução do problema não resolvido até o momento.
Dresch, Lacerda e Cauchick (2015, p. 1124) expõem que esta
metodologia “estabelece um processo sistemático que tem
como objetivo projetar e desenvolver artefatos que tenham
condições de resolver problemas, mostrando-se, dessa forma,
com alta relevância também para o campo prático”.
Para o desenvolvimento da DSR, Peffers et al. (2007)
apresenta um modelo de processo composto por seis
etapas em sequência nominal a serem realizadas. As etapas
são: identif icação do problema e motivação, def inição dos
objetivos para a solução, design e desenvolvimento do
artefato, demonstração, avaliação e comunicação.
Inicia-se então a pesquisa realizando a identif icação
de um problema e a motivação de forma a justif icar o valor
da solução do mesmo. A segunda etapa acontece com a
def inição dos objetivos para realizar o artefato. Segundo
Peffers et al. (2007), os objetivos são identif icados a partir
da def inição do problema e do conhecimento que é possível
e viável realizar. Seguindo para a etapa seguinte, tem-se o
design e desenvolvimento do artefato, onde são determinadas
a funcionalidade e a arquitetura desejada do artefato para
depois criá-lo realmente.
CAP. 4 - Método OACOMP: Identificação e Associação de Perfis Profissionais

A etapa quatro da DSR, consiste em demonstrar a


utilização do artefato na resolução de uma ou mais instâncias
do problema. Para isso, exige-se a experimentação, simulação,
estudo de caso, prova ou outra atividade apropriada e requer-
se o conhecimento efetivo sobre como utilizar o artefato para
solucionar o problema. A etapa de número cinco, acontece
quase simultaneamente à etapa quatro, é a etapa de avaliação
sobre o artefato produzido. A avaliação pode acontecer por
comparação de funcionalidade do artefato com os objetivos
para a solução, medidas de desempenho quantitativas
objetivas, resultados de pesquisas de satisfação, feedback
ou simulações. E por f im, a etapa 6 consiste em comunicar
o problema e sua importância, ou seja, expor o artefato, bem
como sua utilidade, o rigor de seu design e sua ef icácia para
pesquisadores e outros públicos relevantes, como prof issionais
em exercício (Peffers et al., 2007; Umbelino, 2022).
Neste estudo, as etapas 1 e 2 da DSR serviram de base
para a identif icação do problema de pesquisa e construção do
referencial teórico respectivamente. As etapas 3, 4, 5 de DSR
aplicadas no artigo são demonstradas na seção seguinte.

4. RESULTADOS

O quadro a seguir demonstra com base nas diretrizes


apresentadas por Hevner et al. (2004) e nas etapas de Peffers
et al. (2007), as etapas da Design Science Research (DSR)
realizadas para cumprimeiro do objetivo proposto neste estudo:
Como resultado das etapas da DSR descrita abaixo,
apresenta-se na seção seguinte o Método OAComp.

117
Quadro 1 - Etapas da DSR

Fonte: Umbelino, 2022.


CAP. 4 - Método OACOMP: Identificação e Associação de Perfis Profissionais

5. DISCUSSÃO

Resgatando o objetivo deste artigo, apresenta-se na


f igura a seguir, o Método OAComp - Objetos de Aprendizagem
baseado em Competências organizacionais (Umbelino, 2022).
Figura 1. Etapas do Método OAComp

Fonte: Umbelino, 2022.

O Método é uma inovação para apoiar o desenvolvimento


de competências funcionais alinhadas às estratégias da
organização com base na Metodologia da Neoaprendizagem.
Acontece pela realização de quatro fases (Figura 1):
desenvolvimento de uma taxonomia para identif icar os
descritores de competências funcionais; integração da
taxonomia à plataforma do curso; integração dos perf is de
competências funcionais dos participantes à plataforma
do curso e categorização dos objetos de aprendizagem e
associação ao perf il funcional do participante.

119
Importante ressaltar, que para análise de viabilidade e
funcionalidade do método, foi feita a simulação de aplicação
na plataforma do curso de capacitação online oferecido pelo
Programa de Capacitação e Estudos Urbanos e Regionais para
Sustentabilidade (CEURS).
O curso realizado por meio da parceria entre academia,
legislativo e executivo federais, tem como objetivo oferecer a
capacitação em “Introdução a Municipalização da Agenda 2030”
para agentes municipais e da sociedade civil (CEURS, 2021). Os
Objetos de Aprendizagem do curso foram planejados a partir de
um plano de ensino e aprendizagem baseado em estratégias,
metodologias e ferramentas baseadas na Metodologia da
Neoaprendizagem.
Tendo em vista a capacitação dos agentes municipais
e a organização em que estão inseridos, para simulação
de aplicação do Método OAComp no CEURS, foi realizada
a taxonomia dos descritores de competências da unidade
funcional da Secretaria de Educação do Poder Executivo em
nível municipal. A taxonomia elaborada se apresenta de forma
descritiva, categorizada pela combinação de descritores de
unidades e funções organizacionais. Foi realizada com o
apoio de projetos de Arquitetura de Sistemas de Informação
(ASI) para Prefeituras Municipais (PMs), onde sob a orientação
de especialista de domínio de informação, estudantes
realizaram buscas em sites e literatura sobre a estrutura dessas
organizações públicas e elaboraram a def inição de missão,
processos e dados. Foi escolhido trabalhar com esse tipo de
projeto, pois este consegue por meio do escopo organizacional
e de forma hierárquica estruturar a organização por meio de
unidades funcionais (Umbelino, 2022).
CAP. 4 - Método OACOMP: Identificação e Associação de Perfis Profissionais

Figura 2. Simulação das Fase 2 e 3 aplicadas à Plataforma do CEURS

Fonte: Umbelino, 2022

Com os descritores de competências funcionais identificados,


simulou-se a projeção da taxonomia (Fase 2) e dos perfis de
competências funcionais dos participantes do curso (Fase 3) na
plataforma online do curso 1 do Programa CEURS (Figura 2).
A simulação destas fases juntamente com a fase quatro foram
direcionadas para avaliação por parte de especialistas do programa
CEURS.

5.1 Análise de viabilidade e funcionalidade do


método

A análise de viabilidade e funcionalidade do Método


OAComp se deu por meio de entrevistas estruturadas com
os dois especialistas do Programa CEURS. As funções que
os especialistas exercem no Programa são respectivamente
coordenação de tutoria do curso e user experience, sendo as

121
perguntas direcionadas aos especialistas de acordo com a
função de cada um.
A partir das entrevistas realizadas com os especialistas,
foi possível compreender que mesmo que a Metodologia da
Neoaprendizagem seja a base para o desenvolvimento do
curso de capacitação oferecido pelo Programa CEURS, foram
identif icadas algumas lacunas na plataforma online do curso
que podem ser preenchidas com a aplicação do Método
OAComp. Para entendimento destas lacunas, apresenta-se
a seguir quadro de parâmetros que justif icam a viabilidade e
funcionalidade do método OAComp.
Quadro 2. Parâmetros de viabilidade e funcionalidade do Método OAComp

Fonte: Umbelino, 2022.

O parâmetro “Registro dos participantes” da plataforma


CEURS realiza o registro e armazenamento dos dados dos
CAP. 4 - Método OACOMP: Identificação e Associação de Perfis Profissionais

participantes somente como fins estatísticos, o que não torna


possível a identificação e associação do perfil funcional dos
participantes do curso aos objetos de aprendizagem aderentes ao
seu contexto organizacional, pois todos os participantes inseridos
na plataforma, têm acesso integral às bases de casos, bases de
trabalhos, base Wiki e ao Moodle (ambiente de aprendizagem
do curso). Com a aplicação do Método OAComp consegue-se
por meio dos descritores de competências funcionais identificar
o perfil funcional do participante e direcioná-lo aos objetos de
aprendizagem aderentes ao seu perfil. O armazenamento do
“Registro dos participantes” na plataforma do curso influencia em
toda a interação que o participante terá no ambiente virtual, deste
modo os parâmetros “Seleção de casos”, “Seleção de conteúdos” e
“Realização de tarefas” também são realizados de forma integral
pelos participantes.
Considerando que a plataforma do curso CEURS foi planejada
e realizada com base na Metodologia da Neoaprendizagem,
reconhece-se que esta contempla os quatro pilares da UNESCO
(aprender a conhecer, aprender a conviver, aprender a ser e
aprender a fazer). Desse modo, os parâmetros “Seleção de casos”,
“Seleção de conteúdo” e “Realização de tarefas” foram analisados
com base nos cinco módulos que compõem a metodologia da
Neoaprendizagem (Umbelino, 2022). Posto isto, o curso 1 tem
em todos os seus módulos as “Atividades de engajamento”,
que tem como objetivo contemplar estratégias para acessar
a memória do participante em suas vivências e experiências
prévias e que se relacionam com os objetos de aprendizagem do
curso. Contudo, como os participantes realizam todas as tarefas
abordadas no curso, mesmo que estas não sejam aderentes ao
seu perf il funcional, por este motivo percebe-se facilmente que
o participante pode ser desmotivado a terminar o curso por

123
simplesmente não se identif icar ou se associar ao tema proposto
em uma determinada tarefa.
Outro ponto importante apontado por um dos especialistas
é quanto ao princípio da autonomia do participante do curso no
seu processo de capacitação. Tendo que a Neoaprendizagem visa
tornar o aprendente um agente ativo no seu processo de ensino
e aprendizagem, identificar o perfil funcional do participante e
direcioná-lo aos objetos de aprendizagem que façam parte do seu
contexto na organização, proporciona autonomia por parte do
participante sobre suas trilhas de aprendizagem no curso. Sendo
assim, o método proposto consegue apoiar o desenvolvimento
das “Atividades de engajamento” no sentido de possibilitar ao
participante do curso escolher a trilha de aprendizagem aderente
ao seu perfil funcional. Do contrário, se os participantes inseridos
na plataforma têm acesso integral às bases de casos, bases de
trabalhos, base Wiki e ao Moodle, eles não conseguem associar
os objetos de aprendizagem do curso ao contexto em que estão
inseridos cotidianamente, tão pouco conseguem realizar suas
trilhas de aprendizagem com autonomia.
Deste modo, o Método OAComp consegue suprir esta
lacuna no momento em que possibilita o direcionamento
do participante do curso aos objetos de aprendizagem com
aderência à sua função na organização, de forma a desenvolver
sua capacidade de expansão e prontidão sobre o seu processo
de aprendizagem juntamente com as atividades realizadas na
prática do seu contexto diário na organização. Pois quando o
participante consegue identificar sua trilha de aprendizagem, ele
passa a desenvolver uma capacidade de expansão e habilidade
de forma a transformar e transferir seu aprendizado para a
prática (Umbelino, 2022).
CAP. 4 - Método OACOMP: Identificação e Associação de Perfis Profissionais

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do presente estudo foi atendido a partir da


apresentação do Método OAComp, o qual mostrou conseguir
apoiar a identif icação e associação dos perf is funcionais aos
objetos de aprendizagem de cursos de capacitação online
em ambiente organizacional.
A partir do entendimento de que o valor da organização
está nos ativos de conhecimento provindos principalmente
dos seus colaboradores, a necessidade de desenvolver
indivíduos competentes é resultado do que é apresentado à
eles em relação à preparação para a realização de sua função.
Neste sentido, a exigência de capacitação específ ica sobre
a função desempenhada pelo colaborador em seu contexto
funcional, requer inovação nos processos de aprendizagem
em ambiente organizacional. Deste modo, este estudo
contribui academicamente para a inovação dos processos de
capacitação online em ambiente organizacional. De forma
prática, a contribuição deste estudo repercute à organização
quando esta, ao oferecer para o seu colaborador um curso de
capacitação online apoiada ao método OAComp, consegue
trabalhar de forma específ ica os objetos de aprendizagem do
curso relacionando-os adequadamente ao perf il funcional do
colaborador, refletindo positivamente no desenvolvimento
prof issional do indivíduo, consequentemente contribuindo
com o desenvolvimento da organização e até mesmo da
sociedade em que este faz parte.
Em relação a trabalhos futuros, o estudo pode ser
desenvolvido em termos conceituais, tecnológicos e
multidisciplinares (Umbelino, 2022). A literatura estudada

125
sobre os conceitos da Metodologia da Neoaprendizagem
descreve que há um consenso sobre a insuf iciência do
ensino formal para o processo de aprendizagem de adultos
enquanto desenvolvedores de competências e habilidades
necessárias para a formação de um novo perf il prof issional
(PRADO et al., 2021). Pacheco et al. (2019) descreve que é
necessário elaborar novos métodos de aprendizagem que
habilitem novos prof issionais para as novas exigências do
século XXI. Sob o aspecto tecnológico, sugere-se a aplicação
do método OAComp na própria plataforma do curso CEURS,
de forma a evoluir a plataforma e contemplar integralmente
os conceitos propostos pela metodologia do programa. De
forma a ser validado a consistência da proposta externamente,
sugere-se uma continuação da pesquisa por meio de uma
avaliação de desempenho na aplicação do método, uma
vez que o curso CEURS já ocorreu. Considerando a natureza
multidisciplinar da pesquisa, sugere-se trabalhar o tema
abordado para o planejamento e desenvolvimento de outros
cursos de aprendizagem em ambiente organizacional no
modo online. No que se refere ao desenvolvimento e utilização
de plataformas de ED, sugere-se o estudo para compreender
quais as reais necessidades das plataformas de educação
digital enquanto fornecedoras de cursos de aprendizagem
em escala de forma a satisfazer seus usuários.
Observação importante: Este artigo apresenta o
resultado da pesquisa de trabalho f inal intitulado “OAComp:
método de apoio à Metodologia da Neoaprendizagem na
utilização de perf is funcionais de participantes de cursos
online” Umbelino (2022), realizada no Programa de Pós-
Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC).
CAP. 4 - Método OACOMP: Identificação e Associação de Perfis Profissionais

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131
CAPÍTULO 5

Cultura do grátis: benefícios


dos novos modelos de
negócios on-line na Economia
da Mídia

Nárima Alemsan
Francisco Antonio Pereira Fialho
Maria José Baldessar

doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-16-6.005
CAPÍTULO 5

RESUMO
Ocorreram mudanças significativas no âmbito do
consumo e o universo on-line trouxe uma nova dinâmica
para o comércio e para os serviços. Produzir conteúdo
e divulgar nas mídias sociais de forma gratuita é um
indicador de sucesso de negócios tanto presenciais
quanto de negócios totalmente on-line. O presente artigo
visa discutir a relação entre a cultura do grátis e os novos
modelos de negócios na Economia da Mídia. O objetivo,
portanto, é responder à questão: quais os principais
benefícios dos modelos de negócios on-line imersos da
cultura do grátis na Economia da mídia? A metodologia
utilizada foi a revisão integrativa da literatura com
análise qualitativa. Os principais resultados encontrados
foram: infográfico com os principais aspectos e modelos
de negócios envolvidos dentro da Economia da Mídia
e também um quadro com os principais benefícios
encontrados. Pode-se concluir que a cultura do grátis
torna-se um importante pilar de estratégia digital de
gestores de marcas levando o conteúdo como elemento
atrativo ou isca digital para a confiança e em seguida a
fidelização da compra dos modelos de negócio digitais.
Palavras-chave: cultura do grátis; mídia; negócios on-line;
economia da mídia.
CAP. 5 -Cultura do grátis: benefícios dos novos modelos de negócios on-line na Economia da Mídia

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas ocorreram mudanças signif icativas


no ambiente das tecnologias de informação e também na
comunicação. Em outros tempos, em que a tecnologia não se
fazia tão presente, eram comuns as demonstrações presenciais
de produtos e oferta de amostras grátis para os consumidores
(Lowe, 2010).
Hoje, essa lógica continua e com o advento da Internet, o
grátis expandiu-se e tornou-se uma cultura difundida entre as
empresas no universo on-line. As transformações decorrentes
deste ambiente digital modif icaram as relações sociais de
uma certa maneira geral, afetando o consumo de produtos e
serviços e, consequentemente, as relações de valor envolvidas
no consumo midiático (Carvalho, 2016).
O autor McLuhan (1974) abordou que a nova tecnologia
introduzida pelo homem cria um novo ambiente na sociedade,
dentro do qual uma cultura vai se desenvolver ou moldar-se.
As tecnologias da atualidade afetam a forma como as pessoas
percebem o mundo à sua volta, e, a seu tempo, vão transformar
o próprio comportamento da sociedade. Estas transformações
promovem de uma certa maneira uma revolução em todos os
pilares da sociedade, religioso, político, cultural e econômico.
Neste sentido, a economia compartilhada na Mídia é um
aspecto a ser explorado. Assim, a economia compartilhada é
constituída por práticas comerciais que possibilitam o acesso
a bens e serviços, sem que haja, necessariamente, a aquisição
de um produto ou troca monetária (Botsman & Rogers, 2009).
Neste contexto, de economia compartilhada na Mídia, surgem

135
questões tais como: de que maneira ocorre a divulgação e
geração de conteúdo de alto valor? Como a cultura do grátis
representa um passo importante na gestão estratégica
de negócios on-line? Entre outras questões que surgem.
A informação na sociedade contemporânea é um bem de
grande consumo e de alto valor na atualidade. Entretanto,
somente informação por informação não soluciona. O Grátis
é gratuito, mas a f inalidade não. A palavra f ree em inglês tem
dois signif icados: a liberdade e o gratuito. Surgem, com isso,
novos modelos em criação principalmente no mundo on-line,
em que a informação é abundante e fácil de ser acessada e
compartilhada.
O objetivo do artigo é responder à seguinte questão:
quais os principais benef ícios dos modelos de negócios on-
line imersos da cultura do grátis na Economia da mídia? Para
entender melhor, é apresentado na sequência os principais
conceitos da Economia da Mídia, Marketing de Conteúdo e
Cultura do Grátis.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Economia da Mídia: novas perspectivas

A Economia da Mídia surge com o advento da Internet


e as novas formas de acesso às informações. De acordo com
o autor (Couldry, 2010) surgem novos hábitos de consumo
neste universo tecnológico. O autor af irma que:
CAP. 5 -Cultura do grátis: benefícios dos novos modelos de negócios on-line na Economia da Mídia

“A capacidade inata da Internet para unir contextos


anteriormente dispersos (pense no YouTube) facilita,
em princípio, a sustentação de algo como a mídia como
um ponto de referência comum. É mais plausível que
o desaf io tecnológico venha de dois fatores complexos
relacionados às, mas não diferentes das, mudanças
na tecnologia: os hábitos da mídia e as mudanças na
economia da mídia.” (Couldry, 2010, p. 56).

Assim, surgem os hábitos de consumo on-line, propagação


de conteúdos e consequentemente modelos de negócios on-
line são criados neste contexto explicado. Jenkins, Ford e Green
(2015) cita a respeito do panorama atual da economia da mídia é
direta: “se algo não propaga, está morto.”
Entrando no conteúdo de valor, Coutinho e Pereira (2009)
traçam um paralelo com o modelo de inovação sugerido por
(Prahalad & Ramaswamy, 2004) baseado, então, na co-criação
de valor.
Para esses autores, não se trata apenas de considerar o
processo de comunicação como uma oportunidade de, ao
atender os desejos do consumidor, criar muito valor para a marca,
mas de utilizar esse processo como base para que o consumidor
possa construir diferentes experiências ao redor da marca.
Assim, produzir conteúdo e divulgar nas mídias sociais
de forma gratuita é um indicador de sucesso de negócios
tanto locais quanto de negócios totalmente on-line. As novas
perspectivas da Economia da Mídia emergem para entender
como se dá a cultura do grátis. Um dos formatos gratuitos é
o conteúdo produzido, seja ele em vídeo, texto ou imagem. A
seguir, é apresentado o Modelo de Criação de Valor de Marca em
Mídia Social para compreender bem o contexto:

137
Figura 1 – Modelo de Criação do Valor de Marca em Mídia Social

Fonte: Adaptado de Prahalad e Ramaswamy (2004)

Assim, como apresentado na Figura 1 o Modelo de Prahalad


e Ramaswamy (2004) consiste em 4 pilares principais do
Ambiente de Mídia Social que são: processos organizacionais,
criação de valor de marca, valor para o consumidor e valor
para a empresa. Com base nesses quatro pilares da ambiência
digital, f ica fácil compreender em qual aspecto pode obter
melhorias no ambiente on-line e pensar nas estratégias mais
ef icazes. Portanto, no sentido de ambiência no digital traz
muito valor para as empresas com a produção de conteúdo.
Produzir conteúdo não é somente de influenciadores e
sim de empresas que buscam expandir seus mercados através
do on-line. Surge com muita pregnância o marketing de
conteúdo no consumo.
CAP. 5 -Cultura do grátis: benefícios dos novos modelos de negócios on-line na Economia da Mídia

2.2. Marketing de conteúdo

Os prof issionais de marketing utilizam a oferta de


brindes, descontos, bônus para atrair mais clientes na compra
de serviços, produtos ou cursos. Essa estratégia é conhecida
como “marketing de incentivo”. Despertando, assim o
interesse em lançar novas formas de consumo. Entretanto,
o sucesso de uma promoção é medido pelo ROI ou retorno
sobre investimento. O retorno sobre o investimento (ROI) é
uma das métricas de medição de desempenho e avaliação
mais utilizados na análise de negócios (Botchkarev, Andru &
Chiong, 2011).
Assim, existem inúmeros benef ícios de se utilizar o
Marketing de Conteúdo nas organizações. Para Järvinen
e Taiminen (2016) listaram os benef ícios do Marketing de
Conteúdo em cada uma dessas etapas descritas a seguir:
De suspeitos a prospectos: os potenciais clientes
originados pelo Marketing de Conteúdo são mais qualif icados
em relação aos advindos de outros meios, pois o consumo de
conteúdo pode indicar um interesse inicial na empresa;
De prospectos a leads: a qualif icação dos leads é facilitada
pela identif icação dos prospectos em formulários preenchidos
ao consumir algum conteúdo do site, e o conteúdo ainda
pode ser enviado pelos vendedores por outros canais como
o e-mail, ajudando na construção de um relacionamento
até que o potencial cliente esteja pronto para ir para vendas,
processo chamado de nutrição de leads;
De leads a negócios: as pesquisas mostram que, quanto mais

139
rápido um lead com interesse é abordado, maior a efetividade no
seguimento da negociação, e, para isso, entra a importância de se
ter uma ferramenta de TI - Tecnologia da Informação - para integrar
os leads interessados à equipe comercial.
Desta maneira, os dados podem ser utilizados
para formulação de estratégias de marketing com foco
no consumidor digital. Santos, (2019) af irmou que: o
incentivo a prática do marketing de conteúdo dentro das
organizações, sejam micro ou grandes empresas, visando
que as implementações de ações dessa natureza conduzem
a geração de resultados, deixando as empresas menos
suscetíveis a oscilações do mercado.
Assim, é imprescindível compreender, portanto, os
processos do Marketing de Conteúdo. O Marketing de
Conteúdo ajuda a enviar os leads mais lucrativos para as
vendas. Tigre, (2013, p. 125) af irma que “A tecnologia deverá
se aperfeiçoar tanto que será dif ícil assistir a algo ou
consumir qualquer coisa que de certa maneira não tenha
sido personalizada para as pessoas”. Sendo assim, a entrega
personalizada será fator de sucesso nos novos modelos de
negócios digitais trazendo forças. As três forças descritas por
Anderson (2017) são:

1. Ampla disponibilidade de ferramentas de


desenvolvimento;
2. Facilidade de acesso ao mercado;
3. Mecanismos de busca que permitem maior
independência do consumidor – atuam como fatores de
desconcentração do mercado.
CAP. 5 -Cultura do grátis: benefícios dos novos modelos de negócios on-line na Economia da Mídia

2.3. Consumo

O consumo é um conceito bem antigo e que hoje tem várias


discussões e críticas acerca deste tema. Para Marx e Alves (1983) o
consumo envolve o gasto de recursos e sua eliminação do mundo.
Desta maneira, o consumo expande-se no contexto das Mídias.
Hoje existe a necessidade de estar sempre conectado às novidades
que surgem nas Mídias. A exposição de marcas para o consumo
torna-se estratégica em meio a tantas lives, tutoriais, podcasts e
vídeos explicativos.
Sendo assim, é como se surgissem novas profissões orientadas
a este consumo muito mais fácil de trocar, de se comunicar e até
mesmo testar serviços e produtos para os fãs da marca. A tecnologia
contribui para diminuir as barreiras de espaço e tempo e para
interconectar consumidores, corroborando com o surgimento do
“boca a boca” on-line (Mangold & Faulds, 2009). Desta forma, o
marketing começa pela indicação e se espalha rapidamente nas
Mídias digitais.
A internet, com seus novos dispositivos e possibilidades, têm
impactado significativamente os processos de decisão de
compra dos consumidores. As mídias sociais mudaram a
forma como a sociedade se comunica, interage, compartilha
e conduz seus relacionamentos uns com os outros, e também
com empresas (Andrade, 2018, p. 294).

Tal impacto mencionado, molda a uma nova sociedade de


consumidores em volta de uma cultura inserida na mídia mais
conectada. Para Zygmunt Bauman (2008), esta sociedade de
consumidores “representa o tipo de sociedade que promove,
encoraja ou reforça a escolha de um estilo de vida e uma estratégia

141
existencial consumista, e rejeita todas as opções culturais
alternativas” (Bauman, 2008, p. 71).
Assim, Bauman (2008, p. 111) aborda o assunto mostrando
que “[...] a síndrome consumista envolve velocidade, excesso
e desperdício”. Entretanto, é possível apontar mais um ponto
importante do consumismo que é a influência das redes sociais nas
organizações e nos consumidores. Os estudos de Souza, da Silva,
Pinto, e Nascimento (2018) afirmam que: a influência das redes
sociais nas decisões de compra; as mídias sociais que precisam da
internet, são ferramentas da comunicação em que as pessoas se
relacionam com outras pessoas e que constroem suas identidades
pessoais através do consumo de informações, bens e serviços. O
consumo vai impactar nos novos modelos econômicos tendo como
origem a Cultura do Grátis descritos e definidos a seguir.

2.4. Cultura do Grátis

De acordo com Anderson (2017) são quatro os modelos


relacionados ao Grátis:
a) subsídios cruzados diretos;
b) o mercado de três participantes;
c) freemium;
d) mercados não monetários.

O autor diferencia quatro classificações do Grátis em modelos


de negócios: o primeiro é o modelo de subsídio cruzado, ou seja,
quando a compra de um produto subsidia outro produto oferecido
CAP. 5 -Cultura do grátis: benefícios dos novos modelos de negócios on-line na Economia da Mídia

gratuitamente. O segundo modelo proposto é o mercado de


três participantes, que é o modelo da propaganda, ou quando o
anunciante paga a uma segunda parte que pode ser o produtor
de informação ou conteúdo para que seja oferecido gratuitamente
para a terceira parte que é o consumidor final. A fim de compreender
melhor o processo, abaixo no Quadro 1 tem resumidamente as
definições da Cultura do Grátis:
Quadro 1 – Definições cultura do grátis

Fonte: Autoria própria (2023)

O quadro 1 mostra as definições dos principais conceitos acerca


da cultura do grátis. A base da discussão do artigo se dará pela
conceituação do autor Anderson. De acordo com o autor Anderson
nasceu uma das ferramentas de marketing mais poderosas do
século XX: dar uma coisa e ofertar a demanda por outra.
Nessa lógica, acontece uma relação de confiança maior ao ver
uma pessoa ou influenciadora divulgando um produto, serviço ou
até mesmo um curso on-line. Como pessoas, a tendência é repetir
ou seguir as dicas e instruções de alguém com maior influência

143
(pode ter mais seguidores, pode ser por relevância ou até mesmo
algum poder em específico). Desta forma, as pessoas tendem a
querer esta novidade quando a pessoa influenciadora divulga em
suas redes.
Figura 2 – Exemplo subsídios cruzados

Fonte: Ceruti (2020)

No exemplo dos Subsídios cruzados: a forma de oferecer


serviços e em seguida vender produtos ou oferecer sessões
gratuitas, cobrando outro serviço complementar. Como é mostrado
na Figura 2, as clínicas de estética utilizam bastante esta lógica:
quando dão sessões gratuitas e depois enviam uma oferta de um
serviço complementar e mais caro, por exemplo. Um dos exemplos
de mercado de 3 participantes é o conteúdo com anúncios de
marcas, mostrando conteúdo gratuito nas mídias e em seguida
cobrando dos anunciantes pela exposição (O Youtube é um
clássico exemplo em que diversas marcas anunciam e também os
produtores ganham pelos cliques destes anúncios).
CAP. 5 -Cultura do grátis: benefícios dos novos modelos de negócios on-line na Economia da Mídia

Em seguida, surgem novos modelos de negócios orientados


a toda esta sistemática. A seguir, alguns exemplos desses modelos
são evidenciados conforme mostra a Figura 3:
Figura 3 – Exemplos de negócios on-line da Cultura do Grátis

Fonte: Autoria própria (2023)

De acordo com a Figura 3, existem vários exemplos de negócios


on-line gerados a partir da Cultura do Grátis. O autor diferencia
quatro classificações do Grátis em modelos de negócios: o primeiro
é o modelo de subsídio cruzado, ou seja, quando a compra de
um produto subsidia outro produto oferecido gratuitamente. O
segundo modelo é o mercado de três participantes, que é o modelo
da propaganda, ou quando alguém (o anunciante) paga a uma
segunda parte (o produtor de informação – um canal no Youtube,
por exemplo) para que um determinado conteúdo seja oferecido
gratuitamente para a terceira parte que seria o consumidor. Já no
terceiro e quarto modelos, o Grátis é realmente gratuito. São os
novos modelos em criação principalmente no mundo on-line, em
que a informação é abundante e fácil de ser obtida.

145
A produção da informação é abundante, e é gerada muitas
vezes produzida pelo próprio usuário. O terceiro modelo, chamado
de freemium, consiste no acesso grátis de muitas pessoas com
uma pequena parcela de pessoas pagando para ter uma versão
paga premium, com mais recursos. Um exemplo do freemium é
o Spotify. O quarto e último modelo é voltado para mercados não-
monetários, em que as pessoas escolhem dar algo sem qualquer
expectativa de pagamento monetário. Um exemplo é o Wikipedia,
em que as pessoas colaboraram para a produção de um conteúdo
gratuito.
No final da discussão, o autor argumenta: o que é escasso
atualmente e deve ser valorizado para, consequentemente, custar
caro. Nesse sentido, a “informação não é um fenômeno abstrato
flutuante, porém está diretamente relacionada ao conhecimento
prático, à organização da produção e ao consumo, ou seja, à ação
do trabalho e, portanto, está incorporada em todos os produtos do
trabalho (Kon, 2007).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia utilizada para a coleta dos dados na literatura foi


a Revisão integrativa da literatura com caráter qualitativo. De acordo
com Whittemore e Knafl (2005) a revisão integrativa da literatura
requer uma questão e métodos bem definidos com uma busca
que englobe as fontes relevantes encontradas. Assim, analisou-se
artigos e livros da área nas bases de dados: Science Direct e Scopus.
Os principais termos pesquisados nas bases de dados com a string
de busca foram: “((“free culture”) AND (“benefits”) AND (“media
economy”) AND (“online business model”))”.
CAP. 5 -Cultura do grátis: benefícios dos novos modelos de negócios on-line na Economia da Mídia

Os anos escolhidos para a revisão integrativa foram: de 2019


a 2022 considerando somente a produção científica com acesso
aberto. Dos 519 artigos encontrados na busca, selecionou 6 artigos
para análise e discussão. Utilizou-se o App Parsifal para seleção,
organização e análise. Elencou-se, assim, os principais e os mais
relevantes artigos científicos e livros dentro da área de Mídia. Em
seguida, analisou-se de maneira qualitativa e criou-se por final, um
infográfico conceitual descritivo baseado nos conceitos da literatura
e na análise.
Os critérios para a seleção dos artigos foram os mais relevantes
e os que tiveram uma relação mais aprofundada com a cultura do
grátis considerando o contexto novo da Economia de Mídia. E para
apresentar os resultados do artigo adotou-se a criação de infográfico
compondo estruturas gráficas informacionais (Miranda, 2013).

4. RESULTADOS

Os resultados encontrados na pesquisa são sintetizados


na forma de um quadro demonstrativo conceitual contendo os
principais benefícios encontrados na literatura dos novos modelos
de negócios encontrados na Economia da Mídia com base na cultura
do grátis e um infográfico com os principais modelos de negócios on-
line bem como seus benefícios encontrados na literatura. No quadro
2 são apresentados os modelos de negócios no digital construídos
com base na cultura do Grátis.
Assim, como mostrado no Quadro 2, é possível afirmar que
existem diversos modelos de negócios vindos da cultura do grátis
no contexto de Economia da Mídia em que se tem o fácil acesso às
informações e compartilhamentos na era da transformação digital.

147
Quadro 2 - Modelos de Negócios com base na cultura do Grátis na Economia da Mídia

Fonte: Autoria própria (2023)


CAP. 5 -Cultura do grátis: benefícios dos novos modelos de negócios on-line na Economia da Mídia

Assim, como mostrado no Quadro 2, é possível afirmar que


existem diversos modelos de negócios vindos da cultura do grátis
no contexto de Economia da Mídia em que se tem o fácil acesso
às informações e compartilhamentos na era da transformação
digital.
Mercados de streaming, que experimentaram um
crescimento importante e chamaram a atenção para questões
novas e importantes na economia. Google, Apple e Netflix
entraram no mercado de streaming oferecendo apenas soluções
sem anúncios. Entretanto, empresas como Spotify, Deezer e Hulu
optaram por modelos de negócios mistos. (Carroni & Paolini, 2020).
Os benefícios encontrados são inúmeros para os gestores
de negócios que foram descritos no Quadro 2. No exemplo da
Monetização de conteúdo no Youtube tem como principais
benefícios: a produção personalizada de conteúdo e engajamento
da audiência de acordo com (Aboytes, Barth, & Fischer, 2022) e
que pode ser entendida como: um processo de aprendizagem
transformadora que marca diferentes fases, engajamento de ação
e discursos.
Já no caso do modelo de negócio de Dropshipping, a loja não
precisa manter um estoque de produtos e apenas intermedia a
operação e terceiriza o processo para fornecedores que armazenam
os produtos e posteriormente os distribuem de acordo com Fiscal
(2022). E, tem como principal benefício: a facilidade no processo
de vendas on-line.
A cultura do grátis torna-se uma importante estratégia de
gestores de marcas no digital levando o conteúdo gratuito como
elemento atrativo ou isca digital para a confiança e em seguida a
fidelização da compra de serviços, produtos ou até mesmo aulas.

149
Figura 4 – Infográfico dos principais aspectos da Cultura do Grátis na Economia da Mídia

Fonte: Autoria própria (2023)

O infográf ico, representado na Figura 4, demonstra diversos


aspectos envolvidos em que a Cultura do Grátis representa no
contexto da Economia da Mídia. Que entra desde a atenção do
público (Molina & Molina, 2022) gerando influência, abundância
até novos meios de distribuição democráticos e torna-se um
meio estratégico para as marcas no sentido de modif icar e
escalar os modelos de negócios na Economia da Mídia.
De acordo com Csordás et al. (2022): a inovação do
modelo de negócios é hoje uma prioridade, o que signif ica
uma renovação substancial do valor entregue aos clientes e
uma transformação signif icativa dos processos e atividades
da empresa. Têm-se, primeiramente, a atenção do público
com a geração de conteúdos de forma grátis, em seguida,
muita abundância de conteúdo.
CAP. 5 -Cultura do grátis: benefícios dos novos modelos de negócios on-line na Economia da Mídia

Para (Saulīte, Ščeulovs & Pollák, 2022, p. 24) o conteúdo: “é


um atributo significativo e o valor da marca sempre foi um forte
foco das publicações de mídia.” Neste contexto, a tendência é que
o futuro se tornará cada vez mais “grátis’’ em que os meios de
distribuição ficam democráticos (com o uso de celulares, câmeras
e em Apps, por exemplo).
No aspecto de gestão para negócios on-line torna-se uma
importante ferramenta estratégica e precisará de profissionais
especializados em traçar essas estratégias visando conversão
de vendas, aumentar a audiência, engajamento com a marca,
influência e aumento de lucro também. Assim, conforme a literatura
mostrou a cultura do grátis promove muitos impactos positivos
para a Economia da Mídia:

a) lucratividade do negócio on-line pela possibilidade de escala


(Mihailova, 2022) dos modelos de negócios implementados;
b) obtenção de maior receita em curto espaço de tempo;
c) alcance de diferentes públicos tornando o processo mais
personalizado e versátil de se alterar.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo atingiu o objetivo respondendo a questão de


pesquisa e com a discussão apresentada contribui com o avanço
do conhecimento no sentido de compreender melhor a cultura
do grátis cientificamente e quais são os novos modelos de
negócios on-line na Economia da Mídia que surgem no contexto
de transformação digital bem como seus benefícios. A cultura do
grátis passa a não ser só grátis e sim uma estratégia lucrativa dos

151
novos modelos de negócios no contexto da Economia da Mídia.
Alguns exemplos são: subsídios cruzados diretos; o mercado de três
participantes; freemium e mercados não monetários foram alguns
exemplos que o autor Anderson abordou para o grátis.
Diversos são os exemplos dos modelos de negócios on-
line com base neste contexto: lançamentos de cursos on-line,
monetização do Youtube, e-commerce, dropshipping entre outros
exemplos apresentados. Alguns desafios encontrados no presente
artigo foram: encontrar mais fontes recentes sobre quais são as
melhores estratégias e ações utilizadas dos novos modelos de
negócios na cultura do grátis.
Para trabalhos futuros recomenda-se: aplicar um estudo de
caso real com a teoria mais aprofundada e também pesquisar
em mais bases de dados. Também recomenda-se estudar melhor
como se dá a relação entre a cultura do grátis em diferentes setores
da Economia da Mídia em públicos distintos podendo criar um
modelo na ciência que facilite a gestão e estratégias da cultura do
grátis para profissionais da área e gestores de marca no digital.
A cultura do grátis, portanto, estabelece-se na Economia da
Mídia como uma estratégia inicial para as empresas e organizações
que passam a ver no digital uma fonte de escalar tanto o
alcance quanto a entrega de suas aulas ou até mesmo os cursos.
Potencializando, assim o consumo no ambiente digital. Sendo um
meio de distribuição democrático, muitas empresas têm o poder
da influência e que o conteúdo pode também ser distribuído
junto com os influenciadores. Esta nova cultura também oferece
novas formas de serviços oferecidos para a gestão da produção
de conteúdo gratuito gerada pelas empresas nas mídias. Os quais
podem ser: social media, criação de conteúdo, copy, tráfego, análise
de dados e gestão de conteúdo para as mídias.
CAP. 5 -Cultura do grátis: benefícios dos novos modelos de negócios on-line na Economia da Mídia

Desta maneira, pode-se concluir com a discussão e resultados


no artigo que a cultura do grátis torna-se uma importante estratégia
digital de gestores de marcas levando o conteúdo gratuito e on-
line como elemento atrativo ou isca digital para a confiança e
em seguida a fidelização da compra para os modelos de negócio
digitais no contexto da Economia da Mídia.

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157
CAPÍTULO 6

Inteligência Emocional em
Organizações de Segurança
Pública: A Percepção de
Gestores de Órgãos Periciais

Diana Carla Secundo da Luz


Zidalva de Souza Moraes
Francisco Antonio Pereira Fialho

doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-16-6.006
CAPÍTULO 6

RESUMO
O domínio da Inteligência Emocional (IE), adquirida
ao longo das interações profissionais e sociais permite
o uso inteligente e apropriado no enfrentamento das
condições emocionais como estresse, medo e ansiedade;
controlando e manejando as emoções diante de situações
de risco no contexto organizacional, gerando resultados
e desempenho positivos. O presente estudo visa verificar
a percepção da importância de um dos conceitos de
destaque do complexo constructo das competência
socioemocionais, a Inteligência Emocional-IE, pelos
gestores dos órgãos periciais. Para isso, é realizada uma
pesquisa exploratória, cujo procedimento metodológico
de revisão bibliográfica buscou analisar a influência e a
importância da Inteligência Emocional (IE) no sistema
de segurança pública, notadamente nos órgão periciais.
Para a pesquisa, fez-se uso do instrumento de avaliação
de IE baseado na adaptação da Escala de Inteligência
Emocional de Wong e Law (WLEIS). O resultado
alcançado mostra que 51% dos gestores concordam
totalmente e 45% dos gestores concordam parcialmente
com as afirmativas do instrumento de avaliação. Esse
resultado constata a percepção dos gestores de órgãos
periciais da importância da IE no ambiente de trabalho,
compreendendo as pessoas e as interações entre elas de
forma a obter resultados melhores para o bem comum.
CAP. 6 - Inteligência Emocional em Organizações de Segurança Pública. Percepção de Gestores de Órgãos Periciais

Palavras-chave: Inteligência Emocional; Gestão; Competências


Socioemocionais; Segurança Pública; Perícia Criminal.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo vem pautado nos desaf ios


contemporâneos enf rentados pelos indivíduos nas organizações,
em especial dos servidores nas organizações públicas, com
um recorte ainda mais especial para os órgãos de perícias
que compõem o sistema de segurança pública do País, sob
a perspectiva da necessidade de aquisição de um conjunto
de competências socioemocionais, mais especif icamente o
constructo Inteligência Emocional. Fato esse, que se alinha com
as tendências ligadas à gestão de pessoas e comportamento
organizacional. Segundo colocado por Gondim, Morais, Brantes
(2014) as competências socioemocionais exercem papel central
no processo de aquisição e desenvolvimento das competências
prof issionais, assegurando a atuação e permitindo realizar
ajustes no momento do enf rentamento das disputadas rotinas de
trabalho. Segundo descrito por Marin, Silva, Andrade, Bernardes
e Fava (2017), dentre os principais conceitos associados às
competências socioemocionais, o constructo da Inteligência
Emocional (IE) tem destaque e alta relevância sobre os demais.
O constructo Inteligência Emocional – IE é conceituado
por Salovey e Mayer (1990) como “a capacidade do indivíduo
monitorar os sentimentos e as emoções dos outros e os seus,
de discriminá-los e de utilizar essas informações para guiar o
próprio pensamento e ações”. Para Macedo e Silva (2020) seria
a gestão das emoções em si e nos outros. Segundo Goleman

161
(1999) a Inteligência Emocional (IE) é a maior responsável pelo
sucesso ou insucesso dos indivíduos tanto na vida prof issional
como na pessoal.
No contexto das organizações, Pereira, Melo, Soares e Nolasco
(2019) relatam que utilizar a IE promoverá a realização pessoal e
profissional do indivíduo, deixando-o focado nas suas qualidades
ao aumentar suas habilidades. Nas organizações públicas, onde
o ambiente de trabalho apresenta instabilidade decorrente de
mudanças administrativas e políticas recorrentes, limitando assim
atuação mais efetiva durante o processo de gestão, a aquisição e
o domínio das competências socioemocionais que formam a IE,
torna-se bastante relevante. Nessa perspectiva, as competências
esperadas de um gestor público são mais complexas que aquelas
requeridas para o setor privado (Pacheco, 2002).
Cabe aos gestores dos órgãos de perícias criminais a mesma
função complexa definida para os gestores do serviço público.
Apesar das limitações evidentes, a gestão do setor privado ajuda
a compreender as competências gerenciais necessárias no setor
público, desde que considere as especificidades intrínsecas para
cada uma. E, para os órgãos públicos, em função da presença das
incertezas e os desafios do setor, como recursos escassos, processos
lentos, barreiras políticas, o papel da Inteligência Emocional,
mediante o desenvolvimento das competências interpessoais e
intrapessoais para a prática gerencial preponderam em relação às
competências técnicas, sobretudo as intrapessoais para superar
as dificuldades (Macedo, 2018). Para Coelho (2018), o exercício da
função de gestor implica que se reprograme o modelo mental
tradicional para uma atuação mais humana nas organizações,
alterando o contorno das relações profissionais por meio das
habilidades ou competências que compõem o constructo
CAP. 6 - Inteligência Emocional em Organizações de Segurança Pública. Percepção de Gestores de Órgãos Periciais

Inteligência Emocional, proporcionando o bem estar das pessoas


que trabalham nesses ambientes.
O objetivo do presente estudo é identificar o nível de
inteligência emocional de gestores de dois órgãos de perícia
criminal considerando as dimensões: avaliação e expressão das
próprias emoções; avaliação e reconhecimento das emoções nos
outros; regulação das próprias emoções; e, por fim, utilização das
emoções para facilitar o desempenho.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Partindo do pressuposto de que para um futuro promissor


do indivíduo nas organizações de trabalho, não basta apenas
possuir as competências profissionais básicas a qualquer tarefa
que vier a exercer ou praticar. Torna-se importante ter o domínio
das competências socioemocionais, que na perspectiva afetivo-
emocionais estão relacionadas com os processos pessoais e
interpessoais, pois estas competências auxiliam no desenvolvimento
e na manifestação das demais competências, isto é, o domínio de
aspectos motivacionais e afetivos, em si e nos outros, assegura
a atuação de sua prática profissional em qualquer contexto de
trabalho (Gondim et al., 2014).
Segundo Marin et al. (2017) citando Lipnevich e Roberts
(2012) as competências socioemocionais são constructos que
estão relacionados com habilidades e competências gerados
por atributos não cognitivos, como: atitudes, crenças, qualidades
emocionais e sociais e traços de personalidade. Para Gondim et al
(2014), a partir da década de 1990, com o surgimento das políticas
de gestão por competências nas organizações, acompanhar o

163
desempenho profissional passou a ser um fator-chave, produzindo
uma necessidade nas pessoas desenvolverem competências
de modo a obterem resultados positivos, mediante adoção de
comportamentos e ações apropriadas.
Dentre os principais conceitos associados à competência
socioemocional, tem destaque e alta relevância sobre os demais, o
constructo da Inteligência Emocional (IE) (Marin et al., 2017). Diversos
autores, citados no trabalho publicado por Gondim et al. (2014),
definiram três grupos de competências socioemocionais (CSE)
fundamentais para promover melhor desempenho: (i) inteligência
cognitiva; (ii) inteligência emocional (IE) e; (iii) inteligência social,
onde a Inteligência Emocional e a Inteligência Social são definidas
como capacidades de reconhecer, entender e usar a informação
emocional em si próprio (no primeiro caso) e sobre os outros (no
segundo caso), preservando o bem-estar pessoal e a harmonia
nas relações interpessoais, predizendo assim o desempenho no
trabalho (Emmerling e Boyatiz, 2012).
Existem ao menos duas correntes teóricas associadas ao tema
Inteligência Emocional (IE) (Macedo e Silva, 2020). O constructo
Inteligência Emocional – IE foi conceituada como “a capacidade do
indivíduo monitorar os sentimentos e as emoções dos outros e os
seus, de discriminá-los e de utilizar essas informações para guiar o
próprio pensamento e ações” (Salovey e Mayer, 1990). Para Macedo
e Silva (2020) seria a gestão das emoções em si e nos outros.
A outra corrente teórica compreende o conceito de forma mais
ampla, defendendo o uso do termo Inteligência Socioemocional
(ISE) para se referir às habilidades pessoais, emocionais e sociais
que influenciam a capacidade do indivíduo de lidar com demandas,
desafios e pressões diárias da vida (Macedo e Silva, 2020).
CAP. 6 - Inteligência Emocional em Organizações de Segurança Pública. Percepção de Gestores de Órgãos Periciais

Macedo e Silva (2020) comentou modelos de IE que surgiram


e não se contradizem, mas analisam o construto sob perspectivas
diferentes. Ademais, defendem que as inteligências intrapessoal
(conhecer as próprias emoções) e interpessoal (conhecer as
emoções e as intenções de outros) fundamentaram os modelos de
IE que surgiram depois (Gardner, 2017). Assim, para Santos (2011),
na perspectiva cognitiva, a IE seria a capacidade do indivíduo, ante
uma situação, de pensar em alternativas antes de tomar decisões,
criando imagens mentais de tudo que o cerca.
Segundo Pereira et al. (2019), utilizar a IE nas organizações
torna bastante interessante, pois ela poderá aliar-se à realização
pessoal e profissional do indivíduo, ao identificar e trabalhar
o conjunto de habilidades pessoais a serem aplicadas nas
atividades da organização, deixando-o focado nas suas qualidades,
aumentando suas habilidades. Santos (2011) ressalta que para uma
organização ter sucesso deve estar aberta às relações com o meio
ambiente e devem-se considerar as diferenças dos indivíduos e as
especificidades com as quais as pessoas se relacionam.
Considerando as organizações públicas, observa-se que o
ambiente de trabalho no serviço público sofre variações decorrentes
das crises políticas, gerando flutuações no grau de confiança da
sociedade sobre o serviço prestado, além de conflitos e frustrações
na relação entre servidores públicos e cidadãos no momento da
prestação dos serviços, conforme relatado por Macedo (2018). Este
autor comentou sobre a importância da postura do gestor, de modo
a conciliar a garantia dos princípios constitucionais (legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência), a tomada
de decisão responsável na tentativa de alcançar o “controle de
resultados, dos gastos, da qualidade dos serviços e o controle
social” e o interesse público, em detrimento de interesses pessoais.

165
Nessa perspectiva, Macedo (2018) relatou que as competências
esperadas de um gestor público, seja ele federal, estadual ou
municipal, e sujeito a instabilidade decorrente de alterações
político-administrativas recorrentes são mais complexas do que
aquelas requeridas para o setor privado. Segundo Macedo (2018)
é comum gestores serem escolhidos por influência política para
cargos que exigem competência técnica específica.
As organizações públicas especializadas no controle da
violência, da criminalidade e da impunidade são responsáveis pela
manutenção da ordem pública no Estado Moderno. Para tanto, ao
tomar conhecimento sobre a prática de um fato com evidência
criminosa, deve promover a Justiça, apurando o fato ao utilizar um
conjunto de atividades encadeadas e interligadas que compõem o
Sistema de Justiça Criminal. Neste contexto, dentre organizações
relacionadas, destacam-se os órgãos da Criminalística, normalmente
denominados no Brasil de Polícias Científicas ou Técnicas, aos quais
competem analisar os vestígios criminais (perícia criminal) com o
objetivo de produzir a prova pericial.
Cabe aos gestores dos órgãos de perícias criminais a mesma
função complexa definida para os gestores do serviço público.
Segundo Macedo (2018) as competências gerenciais devem estar
alinhadas à estratégia organizacional. E o gestor competente
transforma conhecimentos, habilidades e atitudes em resultados,
por meio das pessoas, usando inclusive as referências do setor
privado para compreender as competências gerenciais do
setor público, mesmo que seja com limitações. Desta forma,
Macedo (2018) demonstrou que as competências interpessoais e
intrapessoais preponderam em relação às competências técnicas,
sobretudo nos órgãos públicos, em função de escassez de recursos,
processos lentos e barreiras políticas, tornando-as importante para
CAP. 6 - Inteligência Emocional em Organizações de Segurança Pública. Percepção de Gestores de Órgãos Periciais

lidar com as crises e desafios do setor, de modo a superar de tais


dificuldades ao criar um clima organizacional que favoreça obter
resultados positivos.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa bibliográf ica envolveu uma revisão de literatura


para aprofundar o conhecimento sobre o tema. Nesse sentido,
caracterizando-se como uma pesquisa qualitativa, o estudo
buscou fornecer uma contribuição teórica ao tema.
De acordo com Godoy (1995), foi através da realização de
estudos nas áreas das ciências sociais, mais especif icamente na
antropologia e na sociologia, onde os pesquisadores buscavam
realizar seus estudos no local natural dos indivíduos, onde eles
habitavam, de forma não intervencionista, que surgiu a pesquisa
qualitativa.
Considerando que a pesquisa qualitativa é um método de
pesquisa adequado para ser aplicado em investigações nesta
área, visto que é importante entender como gestores de órgãos
periciais percebem a relação da inteligência emocional com as
atividades laborais. Neste sentido Trvinõs (1987), relata que a
pesquisa qualitativa é capaz de analisar os aspectos implícitos no
desenvolvimento das práticas de uma organização e a interação
entre seus integrantes.
Na realização dos procedimentos metodológicos foi feito um
levantamento bibliográf ico, que segundo Cervo e Bervian (2002)
tem por f inalidade levantar todas as referências encontradas
sobre um determinado tema, a partir de material já publicado

167
sobre o assunto, ou seja; teses, dissertações, artigos, livros, entre
outras; tudo que possa contribuir para um primeiro contato com
o objeto de estudo investigado. De acordo com Mattar (2005), o
levantamento bibliográf ico é uma das maneiras mais rápidas
para ampliar os conhecimentos acerca de um problema de
pesquisa, tendo em vista a utilização de trabalhos já realizados
por outras pessoas. Observa-se que não existe nessa opção um
critério detalhado e específ ico para a seleção da fonte material,
basta tratar-se do tema investigado.
Neste contexto, o processo de coleta do material foi
realizado de forma não sistemática no período de março a maio
de 2022. As pesquisas foram feitas na base de dados Scielo,
além do Google Acadêmico, Portal de Periódicos, Banco de
Teses e Dissertações da Capes, fazendo uso dos descritores: (1)
“inteligência emocional”. (2) “competências socioemocionais”.
(3) “emotional intelligence”. Dentre os materiais recuperados,
foram selecionados aqueles que tinham relação com as
temáticas: serviço público, segurança pública, perícia criminal,
gestão pública e gestores.
Para caracterizar as competências relacionadas com a
Inteligência Emocional, necessárias a ação de gestão no contexto
dos órgãos de perícias foi realizada uma pesquisa de natureza
qualitativa, cujo método de coleta foi por meio do Google Forms
- um aplicativo de gerenciamento de pesquisa e coleta de dados
- baseado na adaptação da Escala de Inteligência Emocional de
Wong e Law (WLEIS) elaborada por Rodrigues, Rabelo e Coelho
(2011). O instrumento de coleta é constituído de 17 af irmativas
e objetiva identif icar o nível de inteligência emocional dos
participantes nas dimensões de: Avaliação e expressão das
próprias emoções; Avaliação e reconhecimento das emoções
CAP. 6 - Inteligência Emocional em Organizações de Segurança Pública. Percepção de Gestores de Órgãos Periciais

nos outros; Regulação das próprias emoções; Utilização das


emoções para facilitar o desempenho.
Quadro 01 - Afirmativas do instrumento adaptado da Escala de Inteligência Emocional de Wong e Law.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

No quadro 01 constam as af irmativas por dimensão


utilizadas no Google Forms para avaliar a inteligência
emocional (Rodrigues et al. 2011).

169
No Google Forms foi solicitado, ainda, informações sobre nome,
cargo ou função que ocupa e tempo de serviço no órgão pericial.
Foi disponibilizado um espaço para que os respondentes pudessem
registar algum comentário, opinião, relato de situação vivenciada, etc.
A pesquisa contou com a participação de 11 gestores que atuam
em dois órgãos de perícias do Nordeste brasileiro: Bahia e Rio Grande
do Norte. A técnica de amostragem utilizada para selecionar a amostra
foi a não probabilística por conveniência, visto que o questionário foi
disponibilizado apenas para os gestores de cargo de direção.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a análise das respostas obtidas a partir dos questionários


aplicados por meio do Google Forms verificou-se que onze ocupantes dos
cargos de gestão nos órgãos periciais responderam. Os dados referentes
ao perfil profissional dos respondentes constam no quadro 02.
Quadro 02 – Perfil profissional dos respondentes do questionário.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).


CAP. 6 - Inteligência Emocional em Organizações de Segurança Pública. Percepção de Gestores de Órgãos Periciais

Observando os dados do quadro 02 pode-se constatar que


houve uma equivalência quanto ao gênero dos respondentes;
a maioria tem mais de 15 anos de serviço na perícia criminal e
que há uma diversidade de nomenclatura para os cargos que os
gestores ocupam.
Os resultados do instrumento utilizado para auto avaliação
quanto a Inteligência Emocional, foi proposto por Rodrigues et
al. (2011), tendo como base a Escala de Inteligência Emocional
de Wong e Law (WLEIS). Para cada afirmativa proposta pelo
instrumento adaptado foi disponibilizado uma escala de
resposta tipo Likert com as respostas: Discordo totalmente,
Discordo parcialmente, Não concordo nem discordo, Concordo
parcialmente e Concordo totalmente, onde foram atribuídos
valores de 1 a 5, respectivamente.
Tabela 01 – Resultados da auto avaliação da Inteligência Emocional.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

171
A Tabela 01 mostra os resultados dos questionários obtidos
com a aplicação do Google Forms, no tocante a avaliação da
inteligência emocional (IE).
Observando a Tabela 01 pode-se perceber que, pelas respostas
dos gestores, os totais para cada afirmativa deram muito próximo
do total que é de 55 pontos para cada afirmativa. As afirmativas
que obtiveram menores valores foram: P5 - Reconheço as emoções
dos outros por meio do seu comportamento, que obteve-se 43
pontos; a P3 - Compreendo verdadeiramente o que sinto e a P8 -
Compreendo bem as emoções das pessoas que me rodeiam, que
obtiveram 44 pontos.
A afirmativa P3 está inserida na dimensão da avaliação e
expressão das próprias emoções, que refere-se à capacidade que
o indivíduo tem para entender as próprias emoções e expressar
as emoções de forma natural e autêntica (Rodrigues et al., 2011).
As afirmativas P5 e P8 estão inseridas na dimensão da
avaliação e reconhecimento das emoções nos outros. Esta
dimensão retrata a capacidade do indivíduo de perceber e
compreender as emoções das demais pessoas que estão ao seu
redor, de forma que possam desenvolver maior sensibilidade e
predição as emoções dos outros (Rodrigues et al., 2011).
Os maiores valores obtidos são referentes as afirmativas P12
– encorajo-me sempre a dar o meu melhor, que teve um total de
53 pontos e P11 - Sou uma pessoa que se auto motiva e P4 - Sei
sempre se estou ou não contente que, tiveram um total de 52
pontos.
As afirmativas P11 e P12 estão compreendidas na dimensão
de utilização das emoções para facilitar o desempenho, que está
CAP. 6 - Inteligência Emocional em Organizações de Segurança Pública. Percepção de Gestores de Órgãos Periciais

relacionada com a capacidade que o indivíduo tem de direcionar


suas emoções de forma a facilitar o desenvolvimento de suas
atividades e seu desempenho (Rodrigues et al., 2011).
A dimensão da regulação das próprias emoções, trata da
capacidade que o indivíduo tem de controlar suas emoções,
transformando rapidamente emoções negativas em emoções
positivas (Rodrigues et al., 2011).
O gráfico 01 apresenta a frequência de aparecimento dos
graus de concordância e/ou discordância relacionados com o
Google Forms que avalia a inteligência emocional.
Gráfico 01 – Representação do grau de concordância das afirmativas.

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

173
Observando o gráfico acima pode-se perceber que cerca de
51% dos respondentes concordam totalmente com as afirmativas
e, cerca de 45% concordam parcialmente com as afirmativas.
Tal resultado mostra que os gestores que responderam ao
questionário no Google Forms, em sua auto avaliação, conseguem
entender e expressar suas emoções de forma natural, são capazes
de compreender as emoções das pessoas que estão a sua volta,
tem facilidade de utilizar suas emoções para desenvolver-se no
tocante as atividades profissionais e, conseguem rapidamente
controlar suas emoções. Tais afirmativas estão de acordo como as
quatro habilidades centrais da inteligência emocional proposto por
Salovey e Mayer (1990), onde o indivíduo é capaz de identificar as
sensações que despertam as emoções, é capaz de facilitar o ato de
pensar, é capaz de controlar o medo e o temperamento.
Corroborando como exposto tem-se os relatos de gestores
que fazem referência a conhecer as próprias emoções, de saber
lidar com os sentimentos e a importância do autoconhecimento
para um bom desempenho das funções laborais.
No tocante ao espaço destinado a relatos de comentários,
opinião, relato de situação vivenciada de casos, pode-se perceber
que alguns gestores, cerca de 36,36% dos respondentes fizeram
algum comentário sobre a importância da inteligência emocional
para a atividade profissional e/ou pessoal. No quadro 03 encontram-
se a descrição dos relatos de gestores que citaram inteligência
emocional ou emoções ou sentimentos, ou autoconhecimento.
Assim, conforme os resultados apresentados no quadro 03,
os gestores dos órgãos de perícia têm consciência da importância
da inteligência emocional, das competências interpessoal e
intrapessoal, para uma gestão eficiente e uma boa relação com
os demais indivíduos. Corroborando esta afirmativa, Macedo
CAP. 6 - Inteligência Emocional em Organizações de Segurança Pública. Percepção de Gestores de Órgãos Periciais

(2018) coloca a necessidade do domínio das competências


socioemocionais, interpessoais e intrapessoais, para lidar com os
desafios e crises enfrentadas pelos gestores públicos, buscando a
obtenção de resultados positivos e a eficiência do serviço prestado.
Quadro 03 – Relatos de gestores sobre inteligência emocional

Fonte: Elaborado pelos autores (2023).

175
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento da presente pesquisa possibilitou analisar


a percepção dos gestores de órgãos periciais quanto à importância
do domínio das competências socioemocionais que caracterizam
o constructo Inteligência Emocional como um fator relevante para
o melhor desempenho nas organizações, inclusive nos órgãos
públicos. No entanto, mesmo sendo um assunto bastante relevante
nos ambientes organizacionais, constatou-se que os estudos
relacionados com esse tema ainda estão bastante restritos.
A partir dos dados coletados por meio de questionário enviado
por meio de Google Forms, onde foi avaliado por meio do uso da
escala Likert o grau de concordância ou discordância das afirmativas
do instrumento utilizado para avaliação da inteligência emocional,
foi possível perceber que a maioria dos gestores têm consciência da
importância da inteligência emocional para o controle das próprias
emoções, para o entendimento das emoções dos outros indivíduos
e como usar as emoções para um melhor desempenho no trabalho,
visto que 51% dos respondentes concordam totalmente com as
afirmativas e 45% concordam parcialmente.
Neste sentido, os relatos transcritos na seção dos resultados
corroboram com os resultados dos respondentes, uma vez que no
espaço livre destinado a opiniões, relatos de casos, entre outros;
alguns gestores descreveram que as emoções, sentimentos e o
autoconhecimento são importantes para enfrentar as dificuldades
tão recorrentes nos ambientes de trabalho, quanto lidar com as
emoções e sentimentos dos indivíduos que com eles se relacionam.
Assim, apesar da limitação do quantitativo de respondentes
do instrumento utilizado para auto avaliação quanto a Inteligência
CAP. 6 - Inteligência Emocional em Organizações de Segurança Pública. Percepção de Gestores de Órgãos Periciais

Emocional, percebe-se que o estudo realizado contribuiu para


a formação do conhecimento no tocante a importância da
Inteligência Emocional para organizações de Segurança Pública,
em especial órgãos periciais.
Como complemento do estudo realizado, sugere-se ampliar
a pesquisa aplicando o instrumento de auto avaliação quanto a
Inteligência Emocional a outros órgãos que compõem a Segurança
Pública, de forma a obter um diagnóstico de como gestores
da Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros percebem
o domínio das competências socioemocionais, a Inteligência
Emocional.

REFERÊNCIAS

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possibilidades. Revista de administração de empresas, 35, 57-63.
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e a sua relação com o ambiente organizacional. Humanidades &
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Rodrigues, N., Rebelo, T., e Coelho, J. V. (2011). Adaptação da
Escala de Inteligência Emocional de Wong e Law (WLEIS) e análise
da sua estrutura factorial e fiabilidade numa amostra portuguesa.
CAP. 6 - Inteligência Emocional em Organizações de Segurança Pública. Percepção de Gestores de Órgãos Periciais

Adaptação da Escala de Inteligência Emocional de Wong e Law


(WLEIS) e análise da sua estrutura factorial e fiabilidade numa
amostra portuguesa, (55), 189-207.
Salovey, P., e Mayer, J. (1990). Inteligencia emocional.
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Triviños, A.N.S. (1987). Introdução à pesquisa em ciências
sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas.

179
CAPÍTULO 7

Uma Compreensão sobre as


Inteligências Humanas e sua
Relação com a Psicologia
Transpessoal

Débora Cardoso da Silva


Ricardo Pereira
Francisco Antonio Pereira Fialho

doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-16-6.007
CAPÍTULO 7

RESUMO
O artigo apresenta as inteligências humanas como uma
conexão entre mente, coração, corpo e alma, baseadas
em estudos de diferentes abordagens e fontes de
conhecimento sobre a ciência da psicologia, em especial
a transpessoal. O artigo tem como intuito/objetivo
relacionar as inteligências humanas e a psicologia
transpessoal, embasada na visão integral do ser humano.
A inteligência pode ser compreendida como a forma do
indivíduo estabelecer relações, de conhecer, de perceber
e compreender. No trabalho, foram percebidos os níveis
de inteligência, racional, emocional, corporal, espiritual e
universal. O trabalho traz uma visão sobre o ser humano
integral, e a necessidade dos estudos em psicologia
integral, a partir da psicologia transpessoal, e da atuação
em psicoterapia.
Palavras-chave: Inteligência; Psicologia; Psicoterapia;
Transpessoal; Integral.

1. INTRODUÇÃO

A psicologia é uma ciência que estuda os aspectos


psicológicos do ser humano. Sendo que, o significado
da palavra psicologia é o estudo da psique, a qual está
CAP. 7 - Uma Compreensão sobre as Inteligências Humanas e sua Relação com A Psicologia Transpessoal

relacionada à mente ou alma; no Microsoft Thesaurus é apresentado


como referência à psiquê “eu: atman, alma, espírito, subjetividade,
eu superior, eu espiritual, espírito” (Wilber, 2000, p.7). Desta forma,
reconhecendo o significado de psique: alma, faz-se necessário
trazer o conceito original do estudo da psicologia: o estudo da alma.
Ao longo dos anos, a psicologia passou por transformações
até chegar a psicologia transpessoal. Para Abraham Maslow o
conceito de transpessoal tem ligação com o domínio capaz de
realizar a atualização do ser, e posteriormente atingir o reino da
transcendência (Parizi, 2006).
A psicologia humanista conhecida como terceira força, foi
considerada uma transição, uma preparação para uma ainda mais
elevada, quarta psicologia, transpessoal, transumana, centrada
mais no cosmos que nos desejos e interesses humanos, além do
humano, da identidade, da atualização do ser e do resto (Maslow,
1962, p. 128). Com a evolução da ciência é percebido a necessidade
de novas técnicas e ferramentas de atuação em psicoterapia,
assim como uma nova ou um retorno sobre a compreensão do ser
humano de forma integral.
O estudo apresentado pretende trazer um entendimento
acerca das inteligências humanas, sendo a razão ligada à mente
humana, a lógica e o raciocínio. A emoção ligada às sensações
dos sentimentos, sentidas no corpo, esse que desempenha os
comportamentos, as formas de reagir e agir nas situações, além
da questão espiritual, e como compreender esses aspectos na
psicologia transpessoal. De acordo com Biase e Rocha (2005, p. 7),
“quando a visão sistêmica e holística for assimilada pela ciência,
ela, de mãos dadas com a espiritualidade, se tornará a guardiã da
vida em nosso planeta e dominará as energias que possibilita a
sobrevivência e o triunfo da espécie humana”.

183
Diante de algumas dificuldades vivenciadas no âmbito
profissional, por falta de pesquisas e materiais na área da psicologia
sobre a 4ª e 5ª forças, o presente trabalho busca contribuir com
à área acadêmica e com os profissionais da área, trazendo maior
aprofundamento teórico sobre o tema. A pesquisa contribui para
a ampliação sobre a vida das pessoas, ao considerar que a não
abrangência no nível espiritual, pode causar problemas ou falhas na
compreensão e interpretação das experiências da vida das pessoas.
Pois, as pessoas possuem uma estrutura mais integradas, do que
apenas o aspecto físico.
Ademais, o mundo moderno nos apresenta consumismo
demasiado, busca de status social e também de poder, uma
necessidade exagerada sobre o corpo e a juventude, além o uso
inadequado do sexo e de drogas, a falta segurança em uma vida
superficial (Biase & Rocha, 2005). Para eles essas questões na vida
moderna, [...] “não conseguem preencher o vazio deixado pela
ausência da experiência de conexão cósmica, e de uma mitologia
capaz de responder aos anseios e desafios do mundo moderno” (p.28).
É essencial acompanhar a evolução humana, então mesmo
considerando a psicoterapia como um processo, de desenvolvimento
humano e de crescimento pessoal e profissional, as técnicas precisam
se adaptar à visão integral do ser. Assim, a pergunta que irá direcionar
a pesquisa é: qual a relação entre as inteligências humanas e a
psicologia transpessoal?
Com isso, considerando o contexto apresentado, o objetivo do
trabalho é identificar a relação entre as inteligências humanas e a
psicologia transpessoal. Para assim contribuir para uma compreensão
acerca das inteligências humanas, no âmbito da atuação em
psicoterapia transpessoal, baseada na visão integral do ser humano.
CAP. 7 - Uma Compreensão sobre as Inteligências Humanas e sua Relação com A Psicologia Transpessoal

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Psicologia Transpessoal

A atuação transpessoal, proporciona o desenvolvimento do


ser a nível mental, emocional, físico e vibracional. Vale considerar o
pensamento “tenho uma ideia singular da alma, isto é, que estamos
nela, ao invés da ideia usual de que a alma está em nós” (Hellinger,
2005, p. 57). A psicoterapia transpessoal trouxe para psicologia um
novo paradigma integrador:
Embora a maior parte destes processos represente novos
princípios no arsenal terapêutico ocidental, na realidade
eles são antigos; desde tempos imemoriais, eles têm tido
um papel importante nas práticas xamânicas, em rituais
de cura e em ritos de passagem. Eles estão sendo agora
redescobertos e reformulados em termos científ icos
modernos (Grof, 1997, p. 20).

Pois, a psicoterapia científica se apresenta de uma forma linear,


em que se percebe uma atuação em uma determinada causa, e essa
resulta em um determinado efeito (Hellinger, 2005). O autor afirma
que em contrapartida, a psicoterapia fenomenológica, mostra que
eu, enquanto terapeuta, posso me expor a um contexto sem intenção
e sem temer a situação, nem mesmo ter a intenção de curar.
Abraham Maslow foi fundamental para o surgimento da
psicologia transpessoal nos EUA, em sua trajetória intelectual
teve um descontentamento com as duas forças majoritárias
da psicologia no século XX, o behaviorismo também chamado
de Psicologia Experimental (“primeira força”) e a psicanálise
(“segunda força”) (Parizi, 2006).

185
Com isso, Maslow propôs:
O que chamou de “terceira força da psicologia”, a psicologia
humanista, que se propunha a 1) concentrar-se na experiência
humana, abandonando a pesquisa com animais; 2) enfatizar
que as experiências interiores dos seres humanos são tão ou
mais importantes que seus comportamentos observáveis
(embora esses não possam ser desprezados); 3) determinar o
que é o ser humano saudável e estudar seus aspectos positivos:
felicidade, paz de espírito, êxtase; 4) estudar os seres humanos
como organismos integrais, que não podem ser divididos
em partes para facilitar a observação; e 5) entender a “auto-
realização (Parizi, 2006, p. 112).

Neste sentido, o conhecimento acerca das inteligências


humanas, traz um olhar mais integral do ser, ao considerar a
dimensão espiritual, ou seja, para além, da razão, sensação, emoção
e sentimentos, somos seres vibracionais, emanamos também
energia e recebemos energias, tal qual afirmava Einstein: “tudo
é energia”. Desta maneira, o ser humano pode ser visto com esse
conhecimento, conhecido também como transpessoal, que por sua
vez, significa: “além da pessoa”. Em que, o invisível faz parte, assim
como o pensamento e a emoção que não são vistos, mas são tão
reais quanto a alma.
Assim como a psicologia transpessoal, surgiu a psicologia
integral, pois alguns autores, em especial Ken Wilber, sentiram a
necessidade de unir o conhecimento psicológico, com outras teorias
e práticas espirituais. Conforme Wilber (2000, p.16), “o empenho em
levar em conta e em aceitar cada aspecto legítimo da consciência
humana é o propósito de uma psicologia integral”. O autor aponta
que a psicologia transpessoal, na maioria das vezes foca somente nos
estados alterados da consciência, sem uma fundamentação teórica
coerente sobre o desenvolvimento das estruturas da consciência.
CAP. 7 - Uma Compreensão sobre as Inteligências Humanas e sua Relação com A Psicologia Transpessoal

2.2. Inteligências Humanas

Conforme o significado do dicionário razão é a capacidade para


resolver (alguma coisa) por meio do raciocínio; aptidão para raciocinar,
para compreender, para julgar; a inteligência de modo abrangente:
todo indivíduo é dotado ou faz uso da razão. Em outras palavras, “é a
própria inteligência, tem relação com a faculdade que tem o indivíduo
de estabelecer relações lógicas, de conhecer, de compreender e de
raciocinar” (Serra, 2004, p. 29).
Todo comportamento consciente ou toda ação desejada decorre
de um pensamento. Na maioria das vezes, as pessoas pensam antes de
agir, assim a ação desejada surge de um pensamento inicial, e depois
são feitas as atividades diárias, assim ocorre (pensamento – ação). Nesses
casos provavelmente o pensamento antecede a ação, entretanto há
exceções (Serra, 2004).
Desta forma, é feita uma segunda avaliação interna e caso essa
seja favorável, se a pessoa concluir que as consequências da ação
podem ser agradáveis e trouxerem prazer e satisfação, então, ela terá
obtido a segunda e a definitiva aprovação interna, que será emocional
(Serra, 2004).
Daniel Goleman, fala sobre a inteligência emocional, a qual a
resgatou levantando no passado da psicologia. No seu livro, intitulado
Inteligência Emocional, fala que:
Para obter sucesso não basta mais a tradicional inteligência racional,
nem o esforço físico no trabalho. O fundamental mesmo, segundo
ele, é “ter a habilidade nas relações pessoais e, em decorrência dela,
saber ouvir, praticar a empatia, trabalhar harmoniosamente em
equipe e ter a capacidade de reconhecer um sentimento (próprio
ou alheio) enquanto ele ocorre”. E que “a chave para tomar boas
decisões pessoais é ouvir os sentimentos” (Serra, 2004, p.33).

187
Ainda segundo o mesmo autor (2004, p. 32):
A emoção vem sendo mais reconhecida, anteriormente
considerada sentimentalismo e não era dada tanta importância,
considerada até mesmo bobagem. Isso pode ter acontecido,
por conta do crescimento de números de casos de estresse e
depressão nas pessoas, por outro lado a necessidade de obter
qualidade de vida e, por extensão, o que permitiu a atenção aos
aspectos emocionais do ser humano.

A inteligência emocional foi apresentada à academia pela


primeira vez por Salovey e Mayer no ano de 1990. Ela foi definida como:
A capacidade de perceber acuradamente, de avaliar e de
expressar emoções; a capacidade de perceber e/ou gerar
sentimentos quando eles facilitam o pensamento; a capacidade
de compreender a emoção e o conhecimento emocional; e a
capacidade de controlar emoções para promover o crescimento
emocional e intelectual (Mayer & Salovey, 1997, p. 15).

Quanto à inteligência corporal, essa é desenvolvida desde a vida


intra-uterina, o bebê sente as reações da mãe, e vai percebendo e se
expressando desde então. A teoria de Reich traz algumas percepções
e entendimentos sobre o desenvolvimento. O autor apresenta em sua
obra Cosmic superimposition, a seguinte afirmação: “a forma expressa
o movimento energético congelado, devemos aprender a ler na forma
do corpo o movimento energético corporal” (Calegari, 2001, p. 65).
Stanislav Grof, em seu trabalho de terapia psicolítica e com
a respiração holotrópica, pesquisou as vivências intra-uterinas e
perinatais. Observou-se que as vivências inconscientes organizavam-
se em sistemas superpostos ligados às fases do pré-parto, do parto e
do pós-parto imediato (Calegari, 2001). Assim, as primeiras vivências
traumáticas poderiam estar relacionadas a essa fase e contribuíram,
para as demais durante o desenvolvimento da criança. O corpo explica,
tem relação com as fases descritas por Reich e Louis, que conforme
CAP. 7 - Uma Compreensão sobre as Inteligências Humanas e sua Relação com A Psicologia Transpessoal

os traumas e situações vivenciadas, o sujeito irá desenvolver aspectos,


para conseguir lidar com o mundo interno e exterior.
Sobre o conceito de couraça, descreve:
A manutenção de estímulos que sejam nocivos à vida ou
signifiquem risco para o ego leva a estruturação de respostas
limitadoras da vida, que se tornam automáticas e, portanto,
inconscientes. Reich chamou de couraças esses mecanismos
inconscientes limitadores da pulsação vital (Calegari, 2001, p.65)”.

Os mecanismos protetores inconscientes (couraças são


automáticas, e tem ação para proteção da vida) e conscientes,
(proteção do ego, e preservação da identidade).
A inteligência espiritual, por sua vez, iniciamos com o conceito
apresentado por Dalai Lama, “o espírito é aquela parte de você onde
se encontram intuição, imaginação, intenção, propósito, vontade,
compreensão, conhecimento, sabedoria, inspiração, inteligência,
criatividade” (Serra, 2004, p.36). A palavra intuição vem do latim intueri,
que significa “ver por dentro”, ou, dito de forma mais ampla, “ver o que
está oculto para os outros”. O espírito é uma partícula invisível do ser.
Como aceitar ou explicar o invisível? Por exemplo: ondas magnéticas
elétricas e sonoras. Porém, é preciso considerar que os pensamentos,
emoções e sentimentos são tão invisíveis quanto o universo espiritual.
A empatia, o sentir no lugar do outro, é desenvolvido nas relações
interpessoais, quando uma alma se conecta também a outra alma,
essas que manifestam o campo espiritual, ou seja, como o micro e
macro cósmico. Essa inteligência pode ser desenvolvida pelo silêncio.
Conforme Einstein: “penso noventa e nove vezes e nada descubro;
deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade
se revela”. Como acessar por meio da meditação? A partir do olhar
para dentro, a uma permissão para parar de olhar o visível e olhar
para o invisível, olhar para si, e perceber sua própria subjetividade. A

189
inteligência espiritual pode ser percebida pela capacidade de integrar
duas outras capacidades, o quociente de inteligência (QI) e o quociente
emocional (QE), permitindo o pensar de forma criativa, promovendo
uma visão futura e contribuindo para que a pessoa possa executar
ações melhores (Rahmawaty et al., 2021).
Quadro 1. Descrição das 5 Inteligências pesquisadas

Fonte: Elaborado pelos autores (2022).


CAP. 7 - Uma Compreensão sobre as Inteligências Humanas e sua Relação com A Psicologia Transpessoal

A inteligência universal, por sua vez, pode ser chamada


também como inteligência inf inita, está conectada ao todo,
Deus, Criador, cosmo, e/ou universo. Em outras teorias: matriz
divina, ponto de campo zero, limite zero de ho’ oponopono. Amit
Goswami, do ativismo quântico, e o cientista Gregg Braden,
apresentam estudos recentes sobre ela, a partir do campo do
coração.
Como forma de sintetizar o conteúdo exposto, foi
construído um quadro com as descrições das inteligências que
foram investigadas (Quadro 1).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

No artigo utilizou-se como método a revisão narrativa. A


revisão narrativa possibilita a descrição de um tema específ ico,
acerca de um ponto de vista teórico ou contextualizado, (Botelho,
2011). É o tipo de revisão que não possui critérios estabelecidos
para serem usados na avaliação e a seleção dos trabalhos ocorre
de forma discricionária pelo revisor.
Quanto à abordagem é qualitativa, pois pretende
descrever os conteúdos encontrados sobre a temática com
palavras. Considerando que uma das características é ser
interpretativa, pois a pesquisa qualitativa é uma forma de
investigação interpretativa em que os pesquisadores fazem
uma interpretação do que enxergam, ouvem e entendem
(Creswell, 2010).
A produção do artigo, visa aprofundar o tema e com isso,
buscar compreender melhor, a partir da fundamentação teórica

191
sobre a ciência da psicologia transpessoal. Para a ampliação dos
estudos foram usados materiais como: livros, artigos, pesquisas
de dados em sites de revistas, bem como percepções acerca
do tema, vivenciados pela pesquisadora do presente artigo, na
prática em psicoterapia transpessoal.
As abordagens, devidamente relacionadas a objetividade
do trabalho, buscando a compreensão sobre as inteligências
humanas, atuantes nas pessoas. Em especial, Psicologia
Transpessoal, Psicologia Integral (Consciência, Espírito,
Psicologia, Terapia), Psicologia Reichiana, Psicossomática,
Regulação Mental e Emocional da Terapia Cognitivo
Comportamental (TCC). Além, dos estudos do subconsciente e
suas relações com a Consciência Inf inita e/ou Universal.

4. RESULTADOS

Diante da pesquisa realizada, foi construído um quadro com


as relações das inteligências humanas que foram investigadas
com a psicologia transpessoal. Segue abaixo:
Quadro 2 – Relação das IH com a Psicologia Transpessoal

Fonte: Elaborado pelos autores (2022).


CAP. 7 - Uma Compreensão sobre as Inteligências Humanas e sua Relação com A Psicologia Transpessoal

5. DISCUSSÃO

A partir dos dados pesquisados e experiências vivenciadas acerca


das IH, serão apresentadas algumas características das inteligências
estudadas e realizada sua apresentação, bem como interação delas
com a psicologia transpessoal.
Em relação a inteligência racional, num segundo momento, ainda
antes de praticar a ação, a pessoa antevê, imagina ou pressente (pré-
sente?) a satisfação que terá (ou não) se praticar a ação pretendida – já
agora utilizando critérios emocionais, e não mais aqueles puramente
racionais (Serra, 2004, p.25). Por exemplo: imaginar a situação e
perceber como seria se isso ou aquilo ocorresse.
Relaciona-se também com os estudos de QI quociente de
inteligência, com os aspectos de raciocínio lógico, habilidades
matemáticas e habilidades espaciais. Com isso, o exercício do pensar,
pode ser entendido como uma inteligência que é capaz de promover
a clareza a nível mental, associada a capacidade cerebral, a partir dos
neurônios, esses responsáveis pela manutenção da memória. Por Helô
D’Angelo (2016), 86 bilhões: esse é o número de neurônios que existem
no cérebro humano.
A consciência, por sua vez, faz parte em média de 5% a 12% da
pessoa (demais percentual está no subconsciente e inconsciente),
o que a pessoa tem ciência, o que está consciente a ela, o que ela
consegue perceber sobre si mesma. Sobre as influências herdadas,
como reagem às emoções, como conseguem dar nome aos seus
sentimentos.
As emoções são de ordem automática, ou seja, inconscientes,
abaixo da percepção, provocadas por estímulos externos, que estão

193
ligados a conteúdos mentais e ideias, a imagens e memórias da pessoa,
que geram uma reação emocional. Elas podem ser primárias, como:
medo, raiva, tristeza, alegria e nojo, são percebidas no corpo. Podem ser
negativas ou positivas, e as reações podem tanto se aproximar como
repelir, causando um afastamento, além de atacar ou fugir. Possuem
relação com os sentimentos, uma vez que, são as emoções que geram
os sentimentos e, esses, podem despertar outros tipos de emoções.
Os sentimentos podem ser compreendidos, quando a
consciência acerca do que está sendo sentido, ou seja, tornou-se
consciente, é o sentimento gerado pela emoção, assim a pessoa
que sente, consegue dar nome, exemplo: medo. Os sentimentos
são influenciados, principalmente, pela história de vida da pessoa,
suas crenças e padrões comportamentais, por suas experiências
vividas. Desta forma, cada ser tem uma reação diferente diante das
emoções. Com isso, explica-se o comportamento de cada pessoa,
diante da mesma emoção. Exemplo: Alguns perdem a calma
facilmente, enquanto outros conseguem manter a calma, mesmo
perante situações consideradas caóticas.
A técnica de meditação mais conhecida e utilizada na terapia
cognitivo-comportamental (TCC) é amplamente denominada
“treinamento de atenção plena”. Em virtude de sua efetividade
demonstrada de forma empírica em auxiliar os pacientes a lidarem
com emoções difíceis (Baer, 2003; Hofmann, e outros, 2010 apud et.
al. Leahy, 2013, p. 111).
Contudo, faz-se necessário reconhecer as emoções e os
sentimentos, para então trabalhar eles e ao tornar consciente
liberá-los e transformá-los, sempre que houver necessidade de
uma mudança. Para abrir espaço a novos sentimentos e padrões,
mais construtivos, e em ressonância com os sentimentos e ações
conscientes e positivas.
CAP. 7 - Uma Compreensão sobre as Inteligências Humanas e sua Relação com A Psicologia Transpessoal

Estudos recentes do Instituto de Matemática do Coração,


revelam que o coração tem em média 40 milhões de neurônios a
mais que o cérebro. “Há um cérebro no coração, metaforicamente
falando”, disse Dr. Rollin McCraty do Instituto HeartMath, uma
organização sem fins lucrativos que oferece tratamentos com
base na conexão entre o coração e o cérebro. “O coração contém
neurônios e gânglios que têm a mesma função que as do cérebro,
tais como a memória. É um fato anatômico”, disse ele.
Continuando: “o que as pessoas não sabem é que o coração
envia mais informações ao cérebro do que o cérebro envia ao
coração”, McCraty acrescentou. O Dr. J. Andrew Armour, que cunhou
o termo “cérebro coração”, em 1991, também chamou o coração de
“pequeno cérebro”. O que nos traz uma grande contribuição, para
compreensão dessa inteligência, e nos impulsiona a realizar mais
pesquisas.
Quanto às informações corporais, na teoria sobre linguagem
do corpo, fala sobre alguns comportamentos, que se manifestam
de acordo com o que a pessoa está pensando ou sentindo. Alguns
comportamentos, atitudes e/ou gestos, podem demonstrar que a
pessoa está confiante, ou se ela se sente insegura. Pode também,
mostrar que está com vontade de conversar ou terminar logo um
diálogo.
Na psicossomática, percebemos que a psique pode criar
somatizações no corpo físico, conforme padrões e programações
instaladas no sujeito. De acordo, com os sintomas e órgãos, que são
afetados, estão relacionados, podendo apresentar também relação
com os tipos de couraças.
As emoções congeladas no corpo necessitam ser liberadas,
nessa situação é importante o trabalho terapêutico, com intuito

195
de promover a liberação de sentimentos como medo e raiva, para
a deixar livre a energia vital e percorrer no corpo, trazendo saúde.
Assim, “a energia liberada nos move na direção do inconsciente
potencial ou pós-genital, onde estão os potenciais ainda não
atualizados: a capacidade de doação, criação artística, comunicação,
intuição, percepção energética e espiritualidade” (Calegari, 2001,
p.133).
Sobretudo: “aqui estão os sentimentos altruístas e
humanitários, a verdadeira capacidade de amar e a possibilidade
da compreensão intuitiva de Deus e do cosmo” (Calegari, 2001,
p.133). Nosso verdadeiro Eu, está vinculado então à direção natural
do desenvolvimento humano, e o contato com ele nos conecta ao
campo de energia e com o universo. De acordo com Calegari (2001,
p. 133): “começa a surgir na consciência o inconsciente transpessoal
por meio do qual experienciamos nossa identidade individual,
indestrutível e parte inseparável do Universo”.
Na inteligência espiritual pode-se perceber mundos tão
desconhecidos e por outro lado tão inspiradores e ricos de conteúdo.
Existem situações de repouso, cansaço, antes do sono, um estado
conhecido como inputs, o qual pode ser acessado o subconsciente,
neste estado, ficamos mais receptivos a outras percepções, sem
tanta lógica ou emoções.
Características das pessoas que desenvolvem a IEs: buscam
autoconhecimento; possuem excelente visão; apresentam valores
e ideias geniais; conseguem lidar com o improviso, devido a sua
criatividade e espontaneidade; conseguem perceber o integral;
gostam do que é diferente, inovador; acreditam em si mesmas; são
independentes e pró ativas; gostam de saber a origem das coisas,
são questionadoras; apresentam compaixão.
CAP. 7 - Uma Compreensão sobre as Inteligências Humanas e sua Relação com A Psicologia Transpessoal

Conforme o autor Floriano Serra (2004), seguem


questionamentos que giram em torno de uma consciência
ampliada, algumas perguntas que se fazem: que papel tenho
na vida?; quem sou realmente, em essência? o que quero, o que
busco, aonde quero chegar? Qual minha missão pessoal? Que
condições e critérios devo seguir? Pelo que acho que vale a pena
lutar e viver?
Contudo, a IEs é uma inteligência, muito atual, à medida
que mais pessoas despertam, e compreendem não apenas o
plano f ísico como real, mas que existe muito mais do que vemos,
em nossas limitações. Existe um plano espiritual, atuando a todo
momento. O que nos faz questionarmos a própria realidade.
Pesquisas apontam que a intuição, possui relação com as
vísceras, ou seja, pode ter conexão com o intestino, esse que
também vem sendo considerado um cérebro, que antes era visto
como mais primitivo. Com isso, apresentam mais características
e relações com os 3 tipos de inteligências, por Gilberto de Souza,
em estudo do livro: A Fonte, de Joseph Jaworski (2014).
Por f im, a inteligência universal pode ser conectada no
silêncio, no vácuo quântico, no nada que é o tudo (o campo das
inf initas possibilidades), assim como nas práticas meditativas.
De acordo com Jon Kabat-Zinn (1994 apud et. al. Leahry, 2013,
p. 112), que desenvolveu o método de redução do estresse com
base na atenção plena, esta é def inida como “a consciência que
emerge ao se prestar atenção propositadamente no presente e,
de forma não julgadora, à experiência que se desdobra momento
a momento.
Muitas práticas para elevar a consciência, entre elas
a meditação: mente serena, essas ligadas também aos

197
conhecimentos anteriormente citados nesse trabalho. Para eles é
fundamental identificar os nossos reais desejos e os manifestar nesse
espaço, onde a mágica acontece na nossa vida!
Diante do exposto acima, estar com a pessoa no consultório,
permite vê-la como um todo, a representação inicial da união de seu
pai e sua mãe, que formam o indivíduo, os papéis e funções em seu
dia a dia, pois sua história ultrapassa a dimensão física. É possível
perceber que a complexidade de um ser, suas memórias desde a vida
intrauterina, e até mesmo de vidas passadas.
Por outro lado, a possibilidade da progressão da memória e a
criação de um eu do futuro, a partir de processos de visualização. Esse
olhar contribui, para uma expansão da consciência da pessoa, a partir
do campo de atuação do profissional aberto, e integrando o aspecto da
inteligência espiritual, com ela a intuição, e um aumento significativo
da transformação e do efeito terapêutico.
Conforme Wilber (2000, p.146), “todas essas ondas e correntes
seguem rumo ao oceano do sabor único, impelidas ao longo desse
grande campo morfogenético pela força da persuasão gentil em
direção ao amor, isto é, impelidas por Eros, pelo Espírito em ação, pelo
amor que move o sol e as outras estrelas.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo permitiu um estudo acerca das inteligências humanas


(IH), e a possibilidade de integrá-las entre si. Ademais trouxe um olhar
sobre a relação das IH e a psicologia transpessoal (4ª força), que permite
a escrita através da transdisciplinaridade, relacionada a visão da nova
psicologia (5ª força).
CAP. 7 - Uma Compreensão sobre as Inteligências Humanas e sua Relação com A Psicologia Transpessoal

A proposta trouxe uma compressão sobre as IH (inteligência


racional - mental, emocional e sentimental, espiritual, corporal e
universal), de modo a contribuir com a psicoterapia transpessoal, e o
tratamento da pessoa como um todo. E ainda, a liberação de um padrão
antigo, para a criação de um novo, que proporciona saúde, bem-estar,
harmonia, amor e prosperidade. Permitindo o entendimento sobre a
saúde integral do ser humano.
O presente estudo mostra sua relevância ao contribuir com
a fundamentação da teoria relacionada à prática das técnicas e
vivências transpessoais, pois traz fidedignidade a essa ciência,
ainda tão desconhecida do universo acadêmico. Sendo assim, serão
abertos espaços para a mudança de paradigmas e se agregará com
estudos, que permitam o não julgamento ou críticas sobre o fazer da
psicoterapia transpessoal.
Essa prática é rica em sua experiência, motivo pelo qual se
justifica a escrita desse trabalho, para que as pessoas possam conhecer,
compreender, e expandir a consciência, sobre as limitações que existem
na própria vida universitária. Traz ainda a importância do registro
dessas experiências, bem como, do fazer profissional, para validar sua
efetivação. Podendo ser fonte de pesquisa, para novos profissionais,
que atuarão na área. Como sugestão para trabalhos futuros, propõem-
se: a) O aprofundamento sobre a inteligência corporal; b) O processo
de autocura, os processos terapêuticos de cura; c) A exploração dos
temas auto regulação e auto realização.
Por fim, importante mencionar que na área profissional é
permitido desenvolver e integrar o fazer dos psicólogos transpessoais,
de forma sistematizada, organizada e palpável. E ainda, a conexão do
ser pelo cérebro e coração, corpo e pela alma. “Razão e emoção não
conduzem ao sucesso e à felicidade se não estiverem alicerçadas na
dimensão espiritual, seja no trabalho, seja na vida pessoal” (Serra, 2004).

199
REFERÊNCIAS

Biase, F. D., Rocha, M. S. F. (2005) Ciência, Espiritualidade e


Cura: Psicologia Transpessoal e Ciências Holísticas. Rio de Janeiro:
Qualitymark.
Calegari, D. (2001) Da Teoria do Corpo ao Coração: uma visão do
homem a partir da energia cósmica. São Paulo: Summus.
D’angelo, H. (2016) Cérebro humano tem 16 tipos diferentes de
neurônios: Super Interessante. Disponível em: <https://super.abril.
com.br/saude/cerebro-humano-tem-16-tipos-diferentes-de-neuronios-
revela-estudo/>
Dicio: Dicionário Online de Português. Disponível em: https://www.
dicio.com.br/razao/
Grof, S. (1997) A Aventura da Autodescoberta. São Paulo: Summus
Editorial.
Hellinger, B. (2005). A fonte não precisa perguntar pelo caminho.
Patos de Minas: Atman.
Leary, R. L., Tirch, D., Napolitano, L. A. (2013) Regulação Emocional
em Psicoterapia. Porto Alegre: Artmed.
Maslow, A. (1962). Toward a psychology of being. Nova York: Van
Nostrand Reinhold.
Mayer J. D., & Salovey, P. (1997) What is emotional intelligence? In
P. Salovey & D. Sluyter (Eds.), Emotional development and emotional
intelligence: Implications for educators (pp. 3-31). New York: Basic Books.
Mccraty, R. (2014) Estrutura do coração é similar à do cérebro.
CAP. 7 - Uma Compreensão sobre as Inteligências Humanas e sua Relação com A Psicologia Transpessoal

Instituto HeartMath. EpochTimes. Disponível em: https://www.


epochtimes.com.br/estrutura-coracao-similar-cerebro/
Parizi, V. G. (2006). Psicologia transpessoal: algumas notas sobre
sua história, crítica e perspectivas. Psicologia Revista, 15(1), 109-128.
Preethaji & Krishnaji. Prática da Mente Serena. Disponível em:
<https://www.ooacademybrazil.com/2019/10/28/os-4-estagios-para-
manifestar-a-inteligencia-universal/> e https://www.youtube.com/
watch?v=C2ajRUnQr-Q
Rahmawaty, A., Rokhman, W., Bawono, A., & Irkhami, N.
(2021) Emotional Intelligence, Spiritual Intelligence and Employee
Performance: The Mediating Role of Communication Competence.
International Journal of Business and Society, 22.2: 734-752.
Serra, F. (2004) A Terceira Inteligência. São Paulo: Butterfly.
Souza, G. (2017) Os três tipos de inteligência: cérebro, coração
e intestino. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=DrbmanZ8Bis>
Wilber, K. (2000) Psicologia Integral: Consciência, Espirito,
Psicologia, Terapia. São Paulo: Cultrix.

Intuição:
“É quando você não sabe como sabe
Mas sabe que sabe
E saber que você sabe é tudo o que você precisa saber”
(Frei James Bettega)

201
CAPÍTULO 8

Os desafios e as práticas inovadoras


em comunicação nas Organizações
da Sociedade Civil (OSC): uma revisão
integrativa de literatura

Larissa Gaspar Coelho Pinto


Maria José Baldessar

doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-16-6.008
CAPÍTULO 8

RESUMO
As Organizações da Sociedade Civil (OSC) utilizam
Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação
(TIC) e estratégias de comunicação para construção
de relacionamento, captação de recursos, marketing
e prestação de contas junto aos seus stakeholders. No
entanto, planejar e aplicar uma estratégia de comunicação
representa um desafio para as OSC, uma vez que faltam
recursos humanos e financeiros para investir na área.
O presente artigo compõe um capítulo da dissertação
“Práticas estratégicas em Mídia e Conhecimento no
Terceiro Setor: um framework para criação de media lab
em Organizações da Sociedade Civil de Florianópolis” da
autora e o objetivo é analisar as publicações científicas
da última década que tratam do tema, por meio de uma
revisão integrativa de literatura nas bases indexadoras
Scopus, Web of Science e Scielo. A análise foi realizada
com 26 artigos que abordam a comunicação nas OSC
sob diferentes perspectivas. Para isso, os artigos foram
divididos em cinco categorias: (1) conceitualização; (2)
relação com variáveis; (3) comunicação/relacionamento
com stakeholders; (4) estudo de caso e (5) utilização
das TIC. O resultado mostra que, em diferentes países
do mundo, as OSC têm preocupações similares em
relação à comunicação - ainda que o contexto em que
estão inseridas e o nível de maturidade do setor sejam
CAP. 8 -Os desafios e as práticas inovadoras em comunicação nas Organizações da Sociedade Civil (OSC):

diferentes. De modo geral, cada vez mais as OSC estão dedicando


esforços para melhorar sua comunicação com stakeholders, de
forma online e offline e por meio de tecnologias digitais, visando
à inovação.
Palavras-chave: terceiro setor, inovação na comunicação,
organizações da sociedade civil, tecnologias digitais.

1. INTRODUÇÃO

A utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação


(TIC), bem como a implementação de uma estratégia de
comunicação integrada não são uma realidade para todas as
Organizações da Sociedade Civil (OSC) (PEACE LABS, 2017 e
Mobiliza e Reos Partners, 2020). Isso significa que apenas as OSC
que participam ativamente do ciberespaço têm acesso à ampla
comunicação com seus stakeholders, espaço este que, segundo
Lévy (1999) é de “sociabilidade virtual que origina novas formas
de relações sociais, com códigos, estruturas e especificidades
próprias”.
Pinto (2022) argumenta que, em um cenário de valorização
de habilidades digitais, de estratégias integradas de comunicação
e de utilização de TIC, as OSC necessitam de uma presença digital
sólida para preencher uma lacuna social, visando à inovação e à
sustentação financeira. Além de apoio político, social e econômico,
as OSC precisam compreender, com clareza, o papel das novas
tecnologias digitais e seus impactos na sustentabilidade, mais
precisamente nas atividades de comunicação e construção de
relacionamento, captação de recursos, marketing e prestação
de contas. O presente artigo integra a dissertação de mestrado

205
da autora e objetiva responder à pergunta “Quais são os
principais desaf ios da comunicação nas OSC e como elas
podem introduzir práticas inovadoras de comunicação para
engajar seus stakeholders? ”.
Para alcançar este f im, uma busca booleana foi realizada
em três bases indexadoras e as publicações científ icas, dos
últimos dez anos, resultantes da busca foram analisadas.
O artigo foi organizado em cinco tópicos principais que
descrevem a jornada desta revisão integrativa de literatura. O
primeiro tópico traz uma explicação conceitual sobre as OSC
e seu papel em sociedades democráticas; o segundo descreve
a metodologia utilizada para desenvolvimento da revisão
e o terceiro apresenta os resultados da busca e explica a
categorização desenvolvida para identif icar sinergias entre os
artigos. Os tópicos quatro e cinco retratam, respectivamente,
a discussão dos resultados e as considerações f inais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para compreender as diferentes abordagens das


publicações levantadas nesta revisão integrativa de literatura
e ser possível a sua categorização, fez-se necessário uma
compreensão sobre a origem e o contexto das OSC, que são
f ruto da organização autônoma da sociedade. Escudero (2020)
ressalta que “as OSC representam um conjunto heterogêneo
de instituições com características múltiplas de atuação e
interação com o Estado, com o mercado e os demais atores da
sociedade civil, resultado do processo de redemocratização
da sociedade brasileira”; enquanto Pereira (2006) destaca
CAP. 8 -Os desafios e as práticas inovadoras em comunicação nas Organizações da Sociedade Civil (OSC):

que “as organizações do Terceiro Setor são consequência da


evolução das sociedades em que a população se torna mais
participativa da realidade cotidiana, não deixando apenas
a cargo do Estado o trabalho de garantir o bem-estar das
pessoas”.
Tenório (2006) af irma que estas instituições trabalham
com causas e problemas sociais, que apesar de serem
sociedades privadas não tem como objetivo f ins econômicos,
e sim o acolhimento das necessidades da população carente.
Por este motivo, não é possível debater sobre a atuação das
OSC sem considerar o relacionamento com seus stakeholders,
como o Primeiro e o Segundo Setores.
Quadro 1: Diferença entre os Primeiro, Segundo e Terceiro Setores

Fonte: Pinto (2022), com base em Silva (2008)

A pesquisa elaborada pelo IBGE, “As Fundações privadas


e associações sem f ins lucrativos no Brasil”, principal estudo
sobre o universo das OSCs no país, utiliza um critério
internacional, desenvolvido pela ONU e pela universidade
americana John Hopkins, para def inir as organizações. Para
o enquadramento como Organização da Sociedade Civil é
necessário cumprir os cinco pré-requisitos abaixo:

207
1. Ser uma entidade privada fora do aparelho do Estado;
2. Não ter f ins lucrativos, ou seja, não distribuir eventuais
excedentes entre proprietários ou diretores, aplicando-os
na própria atividade;
3. Estar legalmente instituída;
4. Ser capaz de administrar suas próprias atividades; e
5. Ter participação voluntária, ou seja, serem constituídas
livremente a partir da vontade de qualquer grupo de
pessoas.

De modo geral, quanto mais reconhecimento recebem


da sociedade, mais as OSC necessitam de planejamento
estratégico para cumprir seus objetivos. Com base nas
colocações dos pesquisadores acerca da atuação das OSC,
sobretudo em regiões em desenvolvimento como o Brasil e
em momentos de crise, entende-se o quanto é necessário
compreender a articulação de sociedade em rede das
organizações e o papel da tecnologia da informação e dos
meios de comunicação nestas organizações.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

De acordo com Broome (1993), uma revisão integrativa


é um método de revisão específ ico que resume a literatura
empírica ou teórica para fornecer uma compreensão mais
abrangente de um fenômeno particular. Segundo Whittemore
e Knafl (2005), a revisão integrativa é o tipo mais amplo de
CAP. 8 -Os desafios e as práticas inovadoras em comunicação nas Organizações da Sociedade Civil (OSC):

revisão de pesquisa, pois inclui, simultaneamente, pesquisas


experimentais e não-experimentais e pode combinar dados
da literatura teórica e empírica.
A etapa de busca da literatura é essencial para aumentar
o rigor de qualquer tipo de revisão, pois pesquisas incompletas
e tendenciosas resultam em um banco de dados inadequados
com potencial para resultados imprecisos (Whittemore &
Knafl, p.550, 2005).
Embora inovação social e organizações sociais sejam
temas presentes entre as pesquisas acadêmicas, a abordagem
sobre a importância da cultura digital em OSC ainda é
incipiente. Assim, esta proposta vem estabelecer um diálogo
entre essas temáticas, fazendo com que haja um avanço em
relação a inovação social, comunicação e Terceiro Setor. As
def inições operacionais para realizar a revisão integrativa de
literatura, bem como seus resultados, serão apresentados nos
tópicos 2.2.1.1 e 2.2.1.2.
A intenção desta revisão integrativa de literatura é
constatar quais são os principais desaf ios das OSC e como elas
podem introduzir práticas inovadoras de comunicação para
engajar seus stakeholders. Para realizar a pesquisa, foram
escolhidas três bases indexadoras: Web of Science, Scielo e
Scopus.
Além disso, foi def inida uma busca booleana para cada
base, levando em conta suas particularidades. A Tabela 1 mostra
de forma esquemática a busca booleana e os resultados da
pesquisa em cada uma das bases. Os artigos foram agrupados
por base e importados para o Excel. Em seguida, foi feita uma
verif icação para identif icar os artigos duplicados.

209
Tabela 1: Busca booleana por base e resultados

Fonte: Elaborado pela autora (2021)


CAP. 8 -Os desafios e as práticas inovadoras em comunicação nas Organizações da Sociedade Civil (OSC):

Na fase de avaliação de dados, todos os resumos dos artigos


extraídos das bases foram lidos pela autora para verificar a relação
com o tema e, com base nos critérios da questão de pesquisa, foram
eliminados 59 (cinquenta e nove) artigos que não tratavam da temática
da comunicação ou que tratavam de outros aspectos da inovação
nas OSC. Após este filtro inicial, restaram 26 (vinte e seis) artigos para
leitura completa. Para auxiliar na tabulação de dados dos 26 artigos,
optou-se por categorizar os seguintes campos: ano do artigo, idioma
do artigo, país de origem do artigo, palavras-chaves utilizadas, título,
resumo, link para o pdf disponível online, nome dos autores e local de
publicação do artigo. Em seguida, iniciou-se a fase de leitura completa
e categorização dos artigos com base nas similaridades.

4. RESULTADOS

De modo geral, a amostra de 26 artigos se mostrou diversificada.


Houve publicações entre 2011 e 2020, com pelo menos duas
publicações por ano - com exceção do ano de 2017, que teve apenas
uma publicação. A seleção foi composta por 54 autores, sendo que
não houve repetições de autores por artigo. Além disso, identificou-
se que a maioria dos artigos analisados possui apenas um autor.
Em origem da publicação, Espanha (4), Estados Unidos (4) e África
do Sul (2) despontam em número de artigos publicados. Austrália,
Brasil, Canadá, China, Colômbia, Índia, Indonésia, Paquistão, Polônia,
República Tcheca, Rússia tiveram apenas uma publicação cada.
Sendo assim, os artigos foram publicados em três idiomas: inglês (21),
espanhol (4) e português (1). Do total, 18 artigos foram publicados em
revistas científicas e sete em congressos ou conferências. O principal
periódico foi o SAGE Journals, com três artigos e, em seguida, o Public
Relations Review, com dois artigos.

211
Para a análise de dados, Cooper (1998) destaca que os dados
das fontes primárias sejam ordenados, codificados, categorizados e
resumidos em uma conclusão unificada e integrada sobre o problema de
pesquisa. Para a categorização dos artigos em cinco temáticas principais,
utilizou-se a análise temática, estratégia que, de acordo com Souza (2019),
permite identificar, analisar, interpretar e relatar padrões a partir de dados
qualitativos. Tal recurso possui características como busca por padrões,
recursividade, flexibilidade, homogeneidade interna nas categorias/
temas e heterogeneidade externa entre as categorias/temas.
Para a autora, a análise temática possui seis fases: (1) familiarização
com dados, que envolve a transcrição e revisão dos dados; (2) geração de
códigos, que inclui a codificação dos aspectos interessantes dos dados
de modo sistemático em todo o banco; (3) busca dos temas, com objetivo
de reunir os códigos em temas potenciais; (4) revisão dos temas, para
verificar se se os temas funcionam em relação ao banco de dados como
um todo; (5) nomeação de cada um dos temas e (6) produção do relatório,
levando em conta a relação com pergunta de pesquisa e literatura; relato
científico da análise. Com base na leitura dos 26 artigos, definiu-se cinco
categorias principais conforme mostra a tabela 2.
Tabela 2: Categorização dos artigos
CAP. 8 -Os desafios e as práticas inovadoras em comunicação nas Organizações da Sociedade Civil (OSC):

Fonte: Fonte: Elaborado pela autora (2021)

5. DISCUSSÃO

A partir da categorização dos artigos em cinco temáticas principais,


é possível estabelecer uma interação entre as pesquisas e identificar
sinergias nas temáticas abordadas por autores de diferentes países - e
realidades, levando em consideração os termos utilizados nos artigos:
Organização de Sociedade Civil (OSC) – português, Organizaciones No
Lucrativas (ONL) – espanhol, e Non-Profit Organizations (NPO) – inglês,
mas que designam o mesmo tipo de organização. Na próxima seção,
serão discutidas as contribuições dos 26 artigos, com base nas categorias
de conceitualização, relação entre variáveis, comunicação/relacionamento
com stakeholders, estudos de caso e utilização das TIC.

5.1. Conceitualização

A primeira categoria, de “Conceitualização”, é composta por um


artigo que propõe uma discussão conceitual das abordagens sobre o

213
“Terceiro Setor”, “economia social” e “economia solidária” e da contribuição
das suas organizações, projetos e atividades para o desenvolvimento de
inovações sociais. Vieira et al. (2017) demonstram que os três conceitos
remetem à implementação de projetos e práticas orientados para a
resolução de problemas sociais e coletivos complexos, que não encontram
resposta pelo mercado e pelo Estado. Por esse motivo, as OSC passam a
ser consideradas um importante “laboratório” para o desenvolvimento de
inovações sociais.

5.2. Relação com variáveis

A categoria de “Relação entre variáveis”, segunda da amostra,


foi assim denominada por reunir artigos que associam inovação
em OSC com outras variáveis como “inteligência social” (Kong,
2015); “performance” (Anwar et al., 2020); “influência das doações”
(Ranucci & Lee, 2019) e “orientação para o cliente” (Hu, 2012).
Anwar et al. (2019) relacionaram inovação e performance em 309
organizações paquistanesas e demonstraram que a inovação se
tornou o principal impulsionador do sucesso e sobrevivência das
organizações, independentemente de seu tamanho e natureza.
Os resultados indicam que a inovação de processo e a inovação
organizacional têm influência positiva significativa no desempenho
das organizações, enquanto a inovação de produto e inovação de
marketing têm influência insignificante no desempenho. A pesquisa
também mostrou que as NPOs em mercados em desenvolvimento
ainda estão se apoiando em doações e apoio governamental em
vez de focar nas suas atividades de negócio.
De maneira similar, a pesquisa de Hu (2012) identif icou
que a inovação organizacional contínua é a única maneira
CAP. 8 -Os desafios e as práticas inovadoras em comunicação nas Organizações da Sociedade Civil (OSC):

de as organizações obterem uma posição vencedora em um


ambiente incerto. O autor coletou dados de 136 organizações
chinesas e validou sua hipótese de que a incerteza ambiental é
positivamente relacionada à inovação e à orientação ao cliente
em NPOs. Os resultados indicaram que a promoção da orientação
para o cliente pode aumentar a inovação organizacional.
Mais voltada ao tema da captação de recursos, o artigo de
Ranucci e Lee (2019) analisou a relação entre a influência dos
doadores e o investimento em inovação nas NPOs. Utilizando uma
amostra de organizações teatrais sem f ins lucrativos, os autores
conf irmaram sua teoria de que a dependência de doações é um
obstáculo à inovação de longo prazo, enquanto o tamanho da
rede de doadores estimula a inovação de longo prazo. Para eles,
a inovação de longo prazo requer um f inanciamento estável
e plurianual. Sendo assim, quando as organizações recebem
mais doações, é mais provável que elas “suavizem” as receitas
nos anos futuros, em vez de comprometer esses recursos em
projetos plurianuais de risco.
Os resultados indicam que, quando as NPOs dependem
cada vez mais de doações, elas se envolvem menos em inovação
porque não podem contar com essas doações para fornecer o
f inanciamento estável e plurianual necessário para inovar. No
entanto, à medida que sua rede de doadores cresce, o capital
social da organização ajuda a criar inovação de valor. Além disso,
à medida que uma NPO passa a contar com fontes mais estáveis
de receita, as preocupações com doações voláteis se atenuam
(Ranucci & Lee, 2019).
A pesquisa de Kong (2015) examinou 20 entrevistas
semiestruturadas em nove NPOs australianas e validou que
a inteligência social auxilia no desenvolvimento do capital

215
humano e no aprendizado organizacional para a inovação nas
organizações. Com um referencial teórico baseado na Gestão
do Conhecimento nas organizações, Kong define inteligência
social como conhecimento tácito dos ‘membros da organização’
e como a capacidade e habilidade para sentir e compreender as
necessidades dos stakeholders.
Como resultado, o autor demonstrou que a inteligência social
permite que membros de organizações adotem a capacidade única
de identificar, analisar, adquirir, utilizar e implantar conhecimento
externo de forma apropriada em suas organizações. Além disso, as
NPOs provavelmente terão um armazenamento mais sofisticado e
mais bem organizado de informações sociais e conhecimento de
seus stakeholders se tiverem uma inteligência social forte.

5.3. Comunicação/relacionamento com


stakeholders

Os cinco artigos da terceira categoria dialogam entre si, pois


reconhecem a importância de uma estratégia robusta de comunicação
tendo como foco os stakeholders da organização. Salmones e Herrero
(2013) e Regadera et al. (2018) analisam a estratégia de comunicação
com o enfoque num público particular. Os primeiros examinam as
OSC que utilizam celebridades em sua comunicação e os segundos
demonstram a importância do relacionamento com a imprensa.
Paralelamente, Wiggill (2011) propõe um modelo para que as OSC que
usufruem de poucos recursos possam implementar gestão estratégica
de comunicação com seus stakeholders; Waters (2011) avalia a relação
das OSC com doadores e Kwak (2014) analisa a comunicação com
stakeholders por meio de diferentes canais.
CAP. 8 -Os desafios e as práticas inovadoras em comunicação nas Organizações da Sociedade Civil (OSC):

Salmones e Herrero (2013) investigaram a parceria das NPOs


com celebridades para incentivar as doações. Os autores concluíram
que o efeito da celebridade na avaliação do “anúncio” é maior que
o efeito da percepção de expertise e confiabilidade da organização.
Em outras palavras: tanto nos setores com e sem fins lucrativos,
as celebridades são transmissores poderosos de sentimentos e
exercem uma forte influência sobre os consumidores. Contudo, os
autores apontam que é importante levar em consideração que a
celebridade tenha credibilidade para ser eficaz: quanto melhor for
o ajuste, mais credível será a celebridade. Se as pessoas perceberem
algum tipo de vínculo entre a celebridade e a causa social, a expertise
e a confiabilidade da celebridade não serão questionadas.
Já Regadera et al. (2018) analisaram a gestão comunicativa
de oito organizações valencianas durante a crise econômica da
Espanha em 2008 e a relação destas com a mídia tradicional. Para
os autores, os meios de comunicação são um stakeholder para as
organizações sociais pela capacidade de alcançar públicos amplos
e diferenciados, segmentando as mensagens. Além disso, as ONLs
necessitam dos meios de comunicação para chegar à cidadania,
sensibilizá-la e educá-la.
Wiggill (2011) determinou que a comunicação estratégica e a
gestão de relacionamento desempenham um papel importante
na gestão eficaz de NPOs. A coleta de dados foi feita com cinco
organizações sul-africanas e as entrevistas tiveram como objetivo: (1)
determinar as práticas, necessidades e restrições de comunicação
estratégica das NPOs selecionadas; e (2) comparar as práticas de
comunicação estratégica das NPOs selecionadas com as etapas
estratégicas de um modelo.
O estudo concluiu que a falta de conhecimento sobre a
gestão estratégica da comunicação, em particular no que se

217
refere ao seu objetivo e benefícios, é um obstáculo mais sério
para a implementação da gestão estratégica da comunicação nas
organizações entrevistadas do que a falta de fundos. Portanto, é
fundamental encontrar maneiras mais econômicas de praticar
a gestão estratégica da comunicação em NPOs, usando seu
componente de equipe atual (Wiggill, 2020). Sendo assim, ela
apresentou um novo modelo para ajudar as NPOs que não possuem
recursos para investir em práticas de comunicação.
Em seu artigo, Waters (2011) expressou que as organizações
estão cada vez mais percebendo a importância do cultivo de
doadores anuais, especialmente aqueles que podem ter o potencial
de fazer “doações significativas para a organização ao longo da
vida”. Ele coletou dados com 1.706 doadores de três hospitais
norte-americanos e atestou que os “maiores doadores” avaliaram
a relação com a organização mais fortemente que os “doadores
anuais” para quatro dimensões de relacionamento: confiança,
compromisso, satisfação e poder. A análise mostrou que existe
uma correlação muito forte (R = 0,79) entre as quatro dimensões
de relacionamento e o histórico de doação.
Os resultados do estudo de Waters mostraram que as
organizações precisam dedicar mais tempo ao desenvolvimento
de relacionamentos com seus doadores. Embora avaliem
o relacionamento positivamente, a teoria da comunicação
descreve várias estratégias específ icas que podem aumentar
a ef icácia do programa de arrecadação de fundos de uma
organização sem f ins lucrativos. Envolver os doadores em mais
conversas para que eles saibam que são apreciados ajudará a
encorajar mais lealdade no relacionamento, mas a organização
também deve demonstrar que está comprometida em ser social
e f inanceiramente responsável (Waters, 2011).
CAP. 8 -Os desafios e as práticas inovadoras em comunicação nas Organizações da Sociedade Civil (OSC):

Finalmente, Kwak (2014) apresenta uma pesquisa realizada


com 269 organizações polonesas e os meios de comunicação
utilizados por elas com seus vários grupos de stakeholders.
Segundo ela, as organizações utilizam diversas formas de
contato com seus stakeholders (direta e indireta, tradicional
e utilizando as últimas tecnologias), mas as formas mais
f requentes são face-a-face e telefone, além das redes sociais.
As organizações também alegaram realizar atividades com
objetivo de criar uma imagem positiva da organização perante
a sociedade - para 88% dos respondentes, as NPOs devem
conduzir atividades promocionais de forma intensa, visando a
um diálogo entre as organizações e seus stakeholders, cobrindo
informação, persuasão e feedback.

5.4. Estudo de caso

A quarta categoria agregou cinco artigos que tratam de


diferentes “Estudo de caso”. Ariza (2015) analisa a importância
da comunicação interna e de habilidades comunicativas para
atingir stakeholders em uma OSC do Caribe Colombiano e
Holtzhausen (2013), por sua vez, compila dados de entrevistas
com cinco organizações da Áf rica do Sul para analisar o
gerenciamento de identidade corporativa. Westley et al.
(2014) abordam cinco conf igurações para escalar a inovação
social em organizações canadenses, enquanto Díaz e Cambra
(2014) testam uma matriz de planejamento de comunicação
em organizações de saúde da Espanha. Por f im, Göttlichováa
e Soukalová (2015) propõem a união entre estudantes de
administração e marketing e OSC sem experiência na área,
promovendo parceria entre a academia e o Terceiro Setor.

219
Ariza (2015) faz uma abordagem reflexiva do uso da
comunicação no âmbito das organizações sociais de mulheres
afrodescendentes do Caribe colombiano como ferramenta para a
construção de novas lideranças em seus projetos. Em particular, faz-
se referência à experiência da Rede de Mulheres Afro-Caribenhas
(REMA) e aos resultados que a organização vem obtendo mediante
o enfoque de dois elementos-chave: liderança e comunicação em
suas organizações. Segundo a pesquisa, “se não há comunicação,
não há liderança eficaz” e “uma boa gestão da comunicação
leva direta e indiretamente à liderança”. Da mesma forma, “a
comunicação constrói acordos entre diferenças, acordos nos quais
se baseia a coexistência coletiva” (Ariza, 2015, p.43).
Paralelamente, Holtzhausen (2013) realizou uma pesquisa
qualitativa com a administração de cinco NPOs sul-africanas
preocupadas com inúmeras responsabilidades, tais como a
administração das organizações, comunicação e atividades do dia a
dia. A pesquisa sugere que há vontade e processos de planejamento
para abordar os principais problemas sociais na África do Sul, mas
há uma clara falta de conhecimento e habilidades para garantir
que os planos sejam implementados e concluídos com êxito.
Para essas organizações, a gestão de identidade corporativa
é usada para construir relacionamentos com diversos grupos de
interesse, mantendo-os constantemente informados sobre as
organizações e suas diversas funções. Por meio da comunicação,
os esforços são feitos para comunicar os valores e a filosofia das
organizações, a fim de gerar um senso de propriedade entre os
stakeholders, criando uma plataforma de confiança e construção
de relacionamento que possa garantir a sobrevivência das NPOs.
No estudo de caso realizado por Westley et. al (2014) com 24
representantes de organizações canadenses, os autores propuseram
CAP. 8 -Os desafios e as práticas inovadoras em comunicação nas Organizações da Sociedade Civil (OSC):

um modelo de cinco caminhos distintos de expansão com o objetivo


de estimular a discussão em torno das diferentes estratégias que
empreendedores sociais e NPOs usam para aprofundar seu impacto.
Os casos apresentados no artigo ilustram que, antes de entrar no
domínio da mudança de sistema, as organizações precisam construir
uma certa “plataforma” por meio da disseminação bem-sucedida
de suas ideias ou produtos. Sem esta plataforma de experiência,
conhecimento profundo da área e reputação estabelecida, seria
praticamente impossível “fazer a diferença” em uma escala maior.
Além disso, ser bem-sucedido na expansão permite que uma
organização identifique problemas e questões que não eram visíveis
antes e, portanto, identifique novas formas e abordagens para
mudar o sistema (Westley et al., 2014, p. 256).
A comunicação em organizações de saúde espanholas foi
o foco do estudo de caso de Díaz e Cambra (2014). Os autores
desenvolveram uma matriz de pesquisa e a aplicaram com cinco
organizações do âmbito da saúde. Como resultado, o estudo
mostrou que as organizações que possuem um departamento
específico de comunicação desenvolvem processos mais
metódicos, com atribuição de papéis e tarefas e um cronograma
de atividades que confere um certo caráter sistemático à gestão.
Porém, a maioria das organizações estudadas não possui um plano
anual de comunicação e apenas desenvolve planos específicos
para campanhas ou eventos especiais (em geral, para captação de
recursos).
Os autores Göttlichováa e Soukalová (2015) realizaram um
estudo com 404 NPOs da República Tcheca com objetivo de
validar uma solução para o aproveitamento do potencial criativo.
O modelo proposto tem como base a cooperação entre NPOs e a
esfera acadêmica em nível regional. Como resultado, demonstrou-

221
se que as organizações estão interessadas na ajuda de estudantes
universitários na esfera da promoção e marketing.
A parceria geraria uma maior flexibilidade e criatividade por parte
dos alunos, o que consequentemente aumentaria as suas possibilidades
de sucesso no mercado de trabalho. Por outro lado, a cooperação
mútua também ajudaria a aumentar a competitividade por parte
das NPOs. As organizações mostraram maior interesse em ajudar na
promoção na preparação e implementação dos seus projetos, sendo
que 173 (58%) prefere esta forma de cooperação; 69 (23%) organizações
gostariam de aproveitar a possibilidade de cooperação na forma de
análises realizadas como disciplina de projetos de bacharelado.

5.5. Utilização das TIC

A quinta e última categoria agrupou 11 artigos que debatem


a “Utilização das TIC” pelas OSC. O objetivo da pesquisa de Raman
(2016) era o de entender quais fatores influenciam a adoção de TIC em
NPOs indianas e como as tecnologias Social, Mobile, AnalyTIC e Cloud
(SMAC) impactam as NPOs no cumprimento de sua missão social. Os
resultados mostraram que a atitude de usar as TIC e a expectativa de
desempenho têm um impacto positivo na intenção comportamental
de usar uma nova tecnologia. A atitude da equipe de liderança e o
desempenho da tecnologia para um programa ou organização como
um todo importam na adoção de uma nova tecnologia. O estudo relata
que as tecnologias podem ajudar a melhorar a eficácia organizacional
enquanto as redes sociais podem ajudar nas necessidades de
financiamento.
Além de Raman (2016), a pesquisa de Jaskyte (2012) e Zorn et al.
(2012) analisam a utilização de tecnologias digitais de modo geral.
CAP. 8 -Os desafios e as práticas inovadoras em comunicação nas Organizações da Sociedade Civil (OSC):

A primeira identificou, por meio de uma análise documental de 124


organizações norte-americanas, que a tecnologia da informação
pode ser empregada para atrair doadores e gerenciar os recursos e
capacidades das NPOs de formas mais eficazes e eficientes e para
melhorar seus serviços e operações internas.
Por meio de uma pesquisa em grande escala entre 2.775
organizações neozelandesas, Zorn et al. (2012) revelaram que o
isomorfismo institucional, fatores ambientais e as características
organizacionais influenciam as decisões das NPOs em adotar um
site. Uma descoberta significativa foi discernir os principais usos
para os quais as NPOs usam as TIC: (a) fluxo de comunicação e
informação, que incluiu a troca de mensagens e informações
dentro e fora da organização; (b) envolvimento dos stakeholders,
que incluiu chegar aos membros e apoiadores de várias maneiras
por meio das TIC; e (c) aquisição de recursos, que incluiu a obtenção
de financiamento e informações de fontes governamentais.
O estudo de Isaeva e Sokolov (2020) investigou a atuação de
portais eletrônicos especiais dedicados às atividades das NPOs,
criados por elas mesmas, ou pelo Estado, para reunir informações em
um ecossistema regional para compartilhamento de informação.
Eles concluíram que os portais que são criados pelas próprias
organizações são financiados por fundos e o risco do modelo é
que, quando o fundo quebra, o conteúdo do portal é reduzido e
sua existência é ameaçada. Apesar de existirem organizações de
um lado e cidadãos querendo interagir com o outro, ainda falta
incentivo para que a interação aconteça de forma estratégica e
planejada. Segundo os autores, os portais funcionam mais como
um cartão de visita do que uma ferramenta real de interação.
A análise dos websites das 100 melhores NPOs - de acordo
com The Nonprofit Times (2013) - foi a intenção do estudo de Shin e

223
Qian (2016). O resultado sugere que as características de comunicação
dos sites estão positivamente associadas ao nível de arrecadação de
fundos das NPOs. Além disso, certas práticas de arrecadação de fundos
e comunicação, como resumo de campanha, mensagem do CEO,
oportunidades de voluntariado, compartilhamento (ou solicitação) de
informações, relatório anual e uso de mídia social, estão positivamente
associados ao nível de arrecadação de fundos.
Rodriguez et al. (2014) avaliaram o uso do Facebook como meio
de comunicação em 88 organizações sem fins lucrativos colombianas
e realizaram um estudo explicativo das variáveis que influenciam o
desenvolvimento do conteúdo do Facebook por tais entidades. Como
resultado, eles identificaram que as NPOs colombianas apresentam
um uso menor do Facebook como estratégia de comunicação
em comparação às Top NPOs on Facebook. Os dados mostram o
papel crescente das tecnologias da web nas relações públicas e,
particularmente, apontam que as mídias sociais estão se tornando
uma parte fundamental da estratégia de internacionalização destas
organizações.
Além do Facebook, o Twitter se apresenta como uma rede social
que possui grande potencial de mobilização de recursos nas OSC.
Svensson et al. (2016) analisaram 46 organizações e 36.039 tweets
e concluíram que plataformas de micro-blogging, como o Twitter,
oferecem oportunidades para que as organizações se comuniquem
diretamente com stakeholders a custos relativamente baixos. Embora
as plataformas de mídia social ofereçam oportunidades para gerar
diálogo e evocar engajamento com stakeholders, o uso bem-sucedido
do Twitter requer um comprometimento organizacional de recursos.
Uma das principais descobertas deste estudo foi a prevalência
de tweets com foco no uso organizacional do Twitter para construir
uma comunidade, envolvendo ativamente as partes interessadas no
CAP. 8 -Os desafios e as práticas inovadoras em comunicação nas Organizações da Sociedade Civil (OSC):

diálogo. Outro achado importante foi a frequência de tweets com


foco na comunicação unilateral, que emergiu como a função mais
prevalente da comunicação via Twitter. Por último, um terceiro achado
foi a falta de tweets pedindo explicitamente aos seguidores que ajam
e façam algo para apoiar a organização ou uma causa relacionada.
Ainda sobre redes sociais, a pesquisa de Wisataone (2018)
salientou a utilização do Instagram. A partir de uma análise de
discurso da conta de uma organização filantrópica islâmica, o autor
categorizou as temáticas postadas com mais frequência: fotos da
coleção do programa e fotos motivacionais. Embora a organização não
incentive diretamente as pessoas a fazerem doações, em seus posts, a
organização se esforça para desenvolver uma consciência de marca,
mostrando sua identidade organizacional por meio de logotipo e cor.
Almaraz et al. (2013) avaliaram 41 organizações espanholas e
verificaram que 65% alegam não aproveitar todas as vantagens que
as redes oferecem. Para as organizações, os valores percebidos na
utilização das redes sociais são: a proximidade, a difusão de mensagens,
a rapidez e a gratuidade. Os principais receios são a falta de controle,
o uso incorreto dos dados e a infração dos direitos humanos. A
principal expectativa das ONLs é interagir com o público em ações
de cooperação, participação e mobilização, seguida de compartilhar
informações, experiências e conhecimentos. Como resultado, o
estudo identificou a necessidade de que as organizações desenhem
um planejamento de comunicação com objetivos e estratégias para
conseguir medir resultados, algo que não existe na maioria das ONLs
analisadas.
O estudo de Santiso et al. (2019) explorou a utilização de omni-
channels pela Cruz Vermelha Espanhola com objetivo de fidelizar seus
voluntários. De acordo com os resultados obtidos, o fato de as NPOs
decidirem utilizar estratégias para contato com voluntários episódicos

225
ao longo da jornada pode explicar um aumento na fidelidade. Os
autores destacam que seria interessante explorar quais combinações
específicas de canais offline e online em cada uma das três fases da
jornada do voluntário (pré-evento, evento e pós-evento) podem fazer a
diferença na lealdade.
O objetivo principal da análise de Andres et al. (2018) consistiu
em explorar em que medida o comportamento de promotores que
explicam o sucesso de campanhas de arrecadação offline para causas
filantrópicas também podem explicar o sucesso de campanhas de
crowdfunding promovidas por NPOs de forma online. Os autores
analisaram 360 campanhas e os resultados revelam a forte ligação
entre a inclusão de informações adicionais sobre os adiantamentos e os
usos finais dos fundos arrecadados fornecidas pelas NPOs e o sucesso
das campanhas de crowdfunding. Para eles, a responsabilidade
digital e a transparência são fundamentais não só para minimizar a
assimetria de informação característica na relação entre as NPOs
e suas comunidades de doadores, mas também para fornecer e
compartilhar conteúdos que estimulem a criação de relações estáveis
e de longo prazo e tragam doações.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revisão integrativa de literatura demonstrou que, na última


década, pesquisadores de diversos países do mundo têm observado
as práticas de comunicação das Organizações da Sociedade Civil, com
objetivo de propor soluções para tais desafios. Como bem apontado
por Yunus (2010) no início deste artigo – e corroborado pelos 26 artigos
desta revisão -, os negócios sociais devem ser autossustentáveis
financeiramente para poderem focar na sua missão social. Para
CAP. 8 -Os desafios e as práticas inovadoras em comunicação nas Organizações da Sociedade Civil (OSC):

alcançar tal sustentação financeira e à própria inovação a longo


prazo, as organizações precisam se dedicar à comunicação com seus
stakeholders. Todos os artigos analisados ou (1) identificam problemas
cuja solução é a estratégia de comunicação ou (2) analisam soluções
de comunicação já implementadas e os resultados positivos obtidos
pela organização.
Este resultado mostra como uma estratégia planejada de
comunicação, seja ela online ou offline, auxilia nas práticas de gestão da
organização, como transparência, captação de recursos e construção
de relacionamento. Além disso, os resultados demonstram que se estas
estratégias estiverem alinhadas com a consciência organizacional e a
utilização sistemática das TIC, as chances de sustentação financeira
aumentam e, como consequência, as organizações podem focar na
inovação a longo prazo.
Para potencializar o amadurecimento da comunicação, as
OSCs precisam dedicar recursos humanos e financeiros para se
digitalizar e para pensar suas estratégias. Ainda assim, é necessário
que a academia comece a prestar mais atenção nessas organizações,
seja recomendando soluções ou pautando o tema, já que as
OSC desempenham um papel importantíssimo nas sociedades
democráticas.

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233
CAPÍTULO 9

O Líder em Universidades
Públicas Brasileiras no Novo
Mundo Digital

Sergio Luiz Gargioni


Neri dos Santos

doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-16-6.009
CAPÍTULO 9

RESUMO
Este artigo apresenta uma reflexão sobre os desafios do
atual líder em instituições públicas do Brasil neste novo
contexto que a transformação digital está trazendo para
os diferentes setores e, particularmente, na Educação. É
mais que notório que a Transformação Digital passa a
tomar conta de todas as atividades da vida humana. O
processo educacional não está fora disso, ao contrário,
teoricamente deveria ser o primeiro a promover mudanças
e implementar projetos nessa direção, especialmente no
ensino superior que está formando profissionais mais
próximos a ocupar posições de destaque no mercado de
trabalho. Adotou-se como método para operacionalização
da pesquisa a revisão narrativa de literatura possibilitando
maior discricionariedade aos revisores para seleção dos
estudos que foram utilizados no trabalho. A pesquisa
indica que há diversas iniciativas ocorrendo em dezenas
universidades em todo o mundo e no Brasil, especialmente
no redesenho dos cursos de formação de engenheiros,
conforme previsto pelas Diretrizes Curriculares dos Cursos
de Engenharia. Como pontos de reflexão, destaca-se que
a implementação efetiva dessas iniciativas, por exigir
mudanças importantes no status quo muito arraigado,
necessita de liderança com efetividade. Nas organizações
públicas brasileiras, envoltas em burocracia e controles
excessivos, o papel do líder torna-se ainda mais difícil.
CAP. 9 -O Líder em Universidades Públicas Brasileiras no Novo Mundo Digital:

Identificadas a abrangência e a complexidade do tema o foco


abordado foi destacar as principais características, as motivações
e as dinâmicas da atuação do líder e dos liderados, ponderando
aspectos normativos e culturais deste contexto que a liderança terá
que enfrentar sem, contudo, apresentar um modelo operacional.
Palavras-chave: Liderança Universitária; Líder; Universidades
Públicas; Transformação Digital em Universidades, Indústria 4.0.

1. INTRODUÇÃO

Bryman e Lilley (2009) apontam o baixo número de


estudos publicados sobre liderança universitária pública quando
comparado com o número de estudos sobre liderança em
empresas e nas organizações com finalidade lucrativa, levando
em conta que a grande maioria dos potenciais pesquisadores em
liderança estão vinculados a Instituições de Ensino Superior (IES).
Esses pesquisadores, porém, raramente atentam para o estudo da
liderança universitária e, ainda menos, para o perfil do líder nessas
entidades.
A Quarta Revolução Industrial impõe uma velocidade
vertiginosa de tecnologias disruptivas, que chegam e desaparecem
superadas por outras, num ritmo de crescimento jamais visto na
história da humanidade. São transformações que têm exigido um
desenvolvimento tecnológico profundo e exponencial, obrigando
governos, empresas, universidades e a sociedade a se reinventarem.
Mas, nesse mundo hiperconectado, é preciso que instituições
públicas também se adequem à nova realidade e sobretudo,
indivíduos estejam preparados para gerir as dificuldades e
oportunidades decorrentes. A Era Digital é marcada por avanços

237
emergentes em vários campos, incorporando um novo conceito
na sociedade e para os seres humanos. As Instituições de ensino
Superior configuram-se como um locus para estudar essa nova
era e aumentar a competência das pessoas (Schwab, 2017). As
universidades são as referências no ensino e na pesquisa, bem
como, no espaço intelectual e acadêmico que forma os cidadãos. É
também uma instituição tradicionalista, conservadora, burocrática,
fragmentada e resistente às mudanças, apresentando dificuldades
para buscar a inovação nos processos gerenciais e na disposição
torná-los efetivos conforme Vieira e Vieira (2004).
Neste contexto, faz-se necessário reinventar a educação, já
que o novo modelo de universidade tem, agora, que dar conta,
também, das demandas e das necessidades de uma sociedade
digital, democrática, inclusiva, permeada pelas diferenças e pautada
no conhecimento inter, multi e transdisciplinar. Sob esse aspecto,
construir os princípios da gestão universitária adequados é um dos
desafios principais que os líderes e os pesquisadores enfrentam, e
conhecer a história, os princípios e as características da sociedade
dará o suporte necessário nesta busca constante, dinâmica e
plural (Freire, 1996). A universidade precisa de pessoas que estejam
sempre à frente do seu tempo, líderes que saibam entender e
valorizar seu quadro discente, docente e técnico-administrativo,
que estejam preparados e atentos às exigências e que a sociedade
impõe (Sousa, 2014).
Ademais, as universidades públicas, apontam que o perfil da
academia possui peculiaridades que as tornam estruturas ainda
mais complexas do ponto de vista da governabilidade. Segundo
Ekman, Lingren e Packendorff (2018), não se trata de gerenciar
os conteúdos de ensino e pesquisa, sob a alçada de professores
e pesquisadores. Trata-se, sim, da existência de um bom
CAP. 9 -O Líder em Universidades Públicas Brasileiras no Novo Mundo Digital:

funcionamento da gestão, a fim de estabelecer estratégias e prioridades


em matéria de criação de perfis e do foco geral que a universidade
deve adotar (Ekman, Lindgren & Packendorff, 2018). Não basta o líder
entender somente dessa complexidade atual para conseguir o bom
funcionamento das rotinas, mas sobretudo, identificar os sonhos
dos alunos, seu potencial e visão de futuro e atuar fortemente para
romper as barreiras burocráticas, políticas e culturais na velocidade
necessária para permitir a resposta que a sociedade espera. Essa
sociedade em geral cada vez mais informada e consciente do papel
da Universidade Pública, passa a cobrar eficiência e eficácia em níveis
cada vez mais elevados. Assim, os desafios dos seus líderes devem ser
providos de uma bagagem muito especial. O artigo tem esse enfoque
e buscará oferecer uma contribuição orientativa para essa nova forma
de liderança. Nessa perspectiva, formula-se a seguinte pergunta de
pesquisa: Como contribuir com os líderes das universidades públicas
no novo mundo digital?
O artigo está composto por seis seções, no qual a primeira
é composta por essa introdução. Na segunda seção insere-se a
fundamentação teórica sobre o tema proposto. Na terceira seção,
apresentam-se os procedimentos metodológicos. Na quarta seção,
são apresentados os resultados alcançados, enquanto na quinta
são discutidos os resultados. Por fim, a sexta seção traz as devidas
considerações finais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os temas considerados nesta fundamentação teórica são


basicamente três: liderança e o líder, liderança nas universidades
públicas e transformação digital.

239
2.1. Liderança

A complexidade de liderar uma instituição educacional


e o atual contexto de transformação pelo qual está passando
a sociedade, afetando diretamente tais instituições e sua
relação com a sociedade, tornam a liderança um fator crucial
para a qualidade da educação, tanto para os processos de
avaliações formais do Ministério da Educação, quanto em
relação às demandas naturais das diferentes partes interessadas
(Gonçalves, Trevisol, Lopes, & Soethe, 2015). Destacam que as
organizações estão cada vez mais percebendo a importância
da liderança como fonte de vantagem competitiva e estão
investindo em seu desenvolvimento. Por isso, é pertinente
refletir mais detalhadamente acerca da atuação de líderes em
organizações, trazendo as principais conceituações relacionadas
ao tema, e analisar, de maneira mais específica, seu papel na
área educacional.
Entretanto, conceituar liderança não é tarefa fácil. Prova
disso é a infinidade de estudos relacionados ao tema que
apresentam as abordagens mais diversas ao tentar dar um
significado à palavra capaz abarcar, ao máximo possível, a
complexidade que representa o fenômeno em questão. Com
efeito, Lück (2014) destaca que, desde a década de 1950, estudos
têm sido realizados a respeito do tema, com diferentes enfoques,
dependendo da perspectiva das organizações e grupos sociais
relacionados.
Apesar da referida diversidade de abordagens, alguns
autores defendem que existem pontos de convergência que
podem ajudar na melhor compreensão do papel da liderança na
gestão. Dado essa diversidade e amplitude de conceitos, optou-
CAP. 9 -O Líder em Universidades Públicas Brasileiras no Novo Mundo Digital:

se por focar em estudos contemporâneos que situam a liderança


no contexto mais complexo da sociedade atual, selecionando
alguns mais relevantes para nosso objeto da pesquisa.
Grosso modo, a liderança pode ser classificada em dois tipos:
a formal e a informal (Lourenço, 2000). Nesse caso, a principal
diferenciação consiste em que esse papel pode tanto estar ligado
a um estatuto oficialmente reconhecido quanto independer deste.
Nesse sentido, uma primeira definição de liderança pode
ser feita em termos de relações interpessoais. Ela se traduz na
capacidade que determinado ator tem para levar seus parceiros de
trabalho a realizar determinados objetivos comuns da organização.
Vai nesse sentido a percepção de Schermerhorn Jr. (2007), que
destaca como ponto essencial a capacidade do líder de inspirar
outros a realizar tarefas. Destaca-se a palavra inspirar e de forma
similar, Wagner III e Hollenbeck (2002) conceituam a liderança em
termos de uso de influência simbólica e não coercitiva para dirigir
e coordenar as atividades dos membros de um grupo organizado
para a realização de objetivos do grupo. Neste contexto, associa-se o
atributo pessoal carisma que engloba habilidades de comunicação,
personalidade encantadora, empatia, capaz de inspirar confiança
e paixão, mobilizando pessoas a performarem com eficiência e
entusiasmo (Goleman, 1995).
Já a liderança formal, por outro lado, é marcada por cargos
e níveis hierárquicos dentro de organizações. Entretanto, possuir
um cargo não implica em, necessariamente, ser líder (possuir
competências de liderança). Essa diferença é costumeiramente
mencionada entre os termos “gestor” (ou “chefe”, “administrador”,
“diretor”, “gerente”) e “líder”. Rocha, Silva, Oliveira e Pinheiro
(2019) conceituam “gestor” como aquele com um cargo que lhe
oportuniza gerir os recursos da organização, com foco em suas

241
metas e objetivos; enquanto isso, o líder tem habilidade de envolver
as pessoas, sem impor poder, gerando influência e inovação sem,
necessariamente, possuir um cargo de gestão.
Para Malik, Khan, Bhutto e Ghouri (2011) a liderança eficaz
ajuda a gerenciar o desempenho dos funcionários, aumenta o seu
compromisso com a organização e direciona o comportamento
dos trabalhadores para alcançar o sucesso da organização.
Importante destacar que o conceito de liderança está ligado
ao processo de gestão enquanto o líder é o indivíduo com suas
características bem pessoais que exerce a liderança, isto é, conduz
o processo de liderança. Amernic e Craig (2013) afirmam que o
discurso do líder deve incentivar a construção de uma gestão
funcional e ética, por exemplo. As declarações dos líderes têm
potencial de influenciar os seguidores e revelar informações
importantes para transformação organizacional, sendo que
cada declaração dada por ele no ambiente de trabalho deve ser
devidamente ponderada e justa, para viabilizar a motivação coletiva
e fazer de cada funcionário um agente da transformação daí a sua
grande responsabilidade (Maak e Pless, 2009).

2.2. Os líderes e a liderança nas Universitária


Públicas

Segundo a literatura consultada, a liderança universitária é


formal e diversa nos diferentes níveis da instituição. Dessa forma,
ela envolve as seguintes perspectivas: (a) da universidade na sua
totalidade, representada pelos níveis mais altos da instituição,
como a Reitoria, Vice-Reitorias (ou Pró-Reitorias) e também os
CAP. 9 -O Líder em Universidades Públicas Brasileiras no Novo Mundo Digital:

conselhos superiores; (b) a perspectiva intermediária, referente


aos Centros de Ensino, que fazem a ligação entre a estrutura
superior e o nível mais baixo da liderança universitária, e também
as Coordenações de Curso; (c) por fim, a liderança exercida dentro
dos cursos universitários, que representam o nível mais básico da
estrutura de liderança universitária, exercido, por exemplo, nos
Departamentos ou de determinados grupos de disciplinas, ou ainda
nos Laboratórios vinculados a determinados cursos universitários
Boer e Goedegebuure (2009).
De acordo com Adriano e Ramos (2015), a liderança universitária
pode ser considerada um tipo de “liderança distribuída”, sendo o
caso definido por Fitzsimons, James e Denyer (2011) pela liderança
através da própria organização. Essa liderança seria usada para
resolver tensões entre “colegialismo” e “gerencialismo”, além
das dificuldades em conduzir uma equipe que não espera ser
influenciada por um líder (Adriano e Ramos (2015). Ao mesmo
tempo em que os colegiados são necessários para juntar opiniões
diversas eles dificultam a velocidade na tomada de decisão e
consequente impacto na eficiência e eficácia da gestão.
Contudo, os estudos sobre a liderança universitária são
relativamente recentes. Os fatores que motivaram a liderança
universitária a ser um aspecto desconsiderado pela própria academia
durante muitos anos podem ser mais bem compreendidos com
base na tensão entre o colegialismo e o gerencialismo nas IES.
Os líderes públicos enfrentam desafios cada vez mais difíceis
no presente, sendo os principais: a) a capacidade de se adaptar a
alterações, especialmente de mudanças no ambiente externo; b)
a adoção de tecnologias atualizadas como elementos essenciais
das ativida¬des organizacionais; e c) a capacidade de lidar com
problemas cada vez mais complexos. Ainda, as principais diferenças

243
entre organizações públicas em comparação com as privadas,
principalmente no que tange à criação de valor público, exigem
que os líderes públicos estimulem um aumento relevante no
desempenho dentro de suas organizações (Hintea, 2015).
Ekman et al. (2018), ao estudarem universidades públicas,
apontam que o perfil histórico de gestão da academia possui
peculiaridades que as tornam estruturas ainda mais complexas
do ponto de vista da governabilidade. Segundo os autores, não
se trata de gerenciar os conteúdos de ensino e pesquisa, sob a
alçada de professores e pesquisadores. Trata-se, sim, da exigência
de um excelente funcionamento da gestão, a fim de estabelecer
prioridades em matéria de criação de perfis e do tema geral de
foco que a universidade deve adotar.
No contexto da universidade preconizada pela estabilidade
funcional, por exemplo, há, ainda, componentes mais complexos
como a horizontalidade hierárquica que leva os docentes a
constituírem uma espécie de “comunidade”. Além disso, cada
professor tem alto nível de liberdade e de autonomia na convivência
com seus pares e desenvolvimento de suas atividades profissionais
– isso, em conjunto com os diversos conselhos consultivos e
deliberativos somados à departamentalização, minimizam
oportunidades de protagonismo individual (Giraldi & Silva, 2019).

2.3 Transformação Digital

A transformação digital, impulsionada pela evolução das


tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC), têm
alterado a forma como muitos produtos e serviços são projetados,
produzidos e entregues no mercado mundial, num fenômeno
CAP. 9 -O Líder em Universidades Públicas Brasileiras no Novo Mundo Digital:

conhecido como indústria 4.0 (4ª. Revolução Industrial). Na


educação, também é possível sentir os efeitos dessa transformação.
Os modelos tradicionais de ensino e aprendizagem nem sempre
produzem os resultados esperados e o uso das TDIC atuais podem
contribuir para melhorar esses modelos.
De fato, a transformação digital na educação é um tema que
alcançou um interesse acadêmico e institucional mais relevante
com a publicação em 30 de setembro de 2020 pela Comissão
Europeia do documento. Na realidade, o primeiro framework da
UE para a educação digital foi lançado em 2018, por meio do Plano
de Ação para a Educação Digital, com 11 ações centradas no setor
da educação formal. O Plano de Ação de 2018 contribuiu para um
diálogo político emergente e foi bem recebido pelos Estados-
Membros da UE, este documento de 2020 descreve as lições
aprendidas com a implementação do Plano de Ação de 2018 e
discute os últimos desenvolvimentos na educação digital. Explica
por que motivo é necessária uma ação mais forte em termos da
UE, levando em conta os primeiros dados da crise COVID-19 e os
desafios mais estruturais enfrentados pela educação digital na
Europa. Baseia-se em dados, pesquisa e documentos de política
educacional, publicados nos últimos dois anos e contribuições
recebidas por meio de extensas consultas às partes interessadas
dos representantes dos Estados-Membros da UE e países da EFTA,
organizações internacionais e paneuropeias de cúpula, membros
do Parlamento Europeu e o público em geral. As experiências
e implicações educacionais da crise do COVID-19 foram o foco
de uma consulta pública, que recebeu 2.716 respostas e mais de
130 posicionamentos. Portanto, esta é uma questão de interesse
global, que está afetando todos os países e, seguramente, irá afetar
o Brasil nesta terceira década do século 21.

245
Conforme mostra a Figura 01, abaixo, ao longo dos últimos dois
séculos, tem havido uma “corrida” entre tecnologia e educação.
Figura 01 – A corrida entre Educação e Tecnologia

Fonte: Baseado em “The race between technology and education” (Goldin & K atz, 2010)

Na revolução industrial ocorrida no século 19, a tecnologia


teve um desenvolvimento mais significativo do que a educação,
primeiro com as máquinas a vapor, na 1ª Revolução Industrial, que
permitiu um desenvolvimento significativo da indústria têxtil e
do transporte a vapor e, na sequência, com a eletricidade, na 2ª
Revolução Industrial, que permitiu um desenvolvimento fantástico
da indústria siderúrgica. Mas, rapidamente, a educação alcançou
a tecnologia, com a necessidades de capacitação técnica de mão-
de-obra para operar as máquinas que foram desenvolvidas.
CAP. 9 -O Líder em Universidades Públicas Brasileiras no Novo Mundo Digital:

Da mesma forma, está ocorrendo, atualmente, com o


advento da transformação digital. A transformação digital é um
conceito relativamente novo e alcançou grande popularidade
entre pesquisadores e profissionais nos últimos dois anos, mas que
foi significativamente acelerado pela pandemia do COVID-19. Na
perspectiva de uma evidente aceleração, estamos testemunhando
nos últimos anos uma verdadeira Revolução Digital que está
atingindo todas as organizações, sejam elas públicas ou privadas
e, com certeza atingirá as universidades. A transformação digital
é um processo de mudança disruptiva. Começa com a adoção e o
uso de tecnologias digitais, evoluindo para uma conversão holística
implícita de uma organização ou deliberada na busca pela criação
de valor (Henriette, Feki & Boughzala, 2016).
As diferentes definições de transformação digital, formuladas
por diversos autores, podem ser estruturadas em três categorias
distintas:

• Tecnológica – a transformação digital é baseada no uso de


novas tecnologias digitais, como mídias sociais, dispositivos
móveis, análises ou dispositivos incorporados (Horlach, Drews,
Schirmer & Böhmann, 2017); (Liere-Netheler, Packmohr &
Vogelsang, 2018); (Westerman, 2011).
• Organizacional – a transformação digital requer uma mudança
de processos organizacionais ou a criação de novos modelos
de negócios (Berman, 2012); (Bharadwaj, Sawy, Pavlou &
Venkatraman, 2013); (Day-yang, Shou-wei & Tzu-chuan, 2011);
(Fitzgerald, Kruschwitz, Bonnet & Welch, 2013); (Hess, 2016);
(Matt, 2015); (Westerman 2016).
• Social – a transformação digital é um fenômeno que está
influenciando todos os aspectos da vida humana, por

247
exemplo, melhorando a experiência do cliente (Henriette,
Feki, & Boughzala, 2015); (Karagiannaki, Vergados, & Fouskas,
2017); (Luna-Reyes & Gil-Garcia, 2014); (Mergel, Edelmann &
Haug, 2019).

Além disso, são necessárias transformações estruturais para
implementar a transformação digital, relacionadas à estratégia,
liderança e cultura organizacional. No caso específico das
universidades públicas essas transformações são mais complexas
e distribuídas, exigindo uma liderança mais efetiva.
Na realidade, a transformação digital exige que a liderança
das universidades públicas lide melhor com as mudanças em
geral, tornando a “transformação digital” em uma “competência
institucional essencial”, à medida que a universidade se torna
de ponta a ponta orientada para atender às demandas da
sociedade. Essa agilidade facilitará as iniciativas de digitalização
em andamento nas universidades públicas, mas não deve ser
confundida com elas, pois o futuro da educação será focado nas
mudanças transformativas.
Assim sendo, é fundamental que o futuro da educação
nas universidades seja focado na formação de profissionais com
competências para a “criação” e não na “execução” de tarefas, pois,
num futuro breve, muitas tarefas (de modo especial) repetitivas
passarão a ser realizadas por robôs ou computadores (Pfeiffer, 2015;
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro [FIRJAN], 2016 ).
Para atender essa demanda, estudos apontam a necessidade da
mudança de paradigma na educação. Por meio das diversas tecnologias
digitais, a educação 4.0 aparece como uma solução possível para motivar
professores e alunos e, ainda, diminuir os índices de evasão escolar. O
CAP. 9 -O Líder em Universidades Públicas Brasileiras no Novo Mundo Digital:

ensino com base no Learning by Doing (aprender fazendo), corrobora


com o conceito da educação 4.0 pois transforma o ambiente da escola
em centros de desenvolvimento de competências, prepara os alunos para
o uso dessas tecnologias que eles irão enfrentar no mercado de trabalho
(INOVAEDUC, 2018).
Carvalho Neto (2018, p. 31) apresenta a educação 4.0 como “uma
abordagem teórico-prática avançada para a gestão e docência na
educação formal que vem demonstrando, por evidência de pesquisas de
base científica e tecnológica, seu potencial transformador e inovador para
as instituições de ensino”. Segundo a INOVAEDUC (2018) a transformação
digital proporcionada pela indústria 4.0 tem sido marcada pelo
rompimento das barreiras físicas, biológicas e digitais, e acompanhada
de muitos desafios para diversos segmentos no mercado mundial,
inclusive no mercado de trabalho. Pesquisas realizadas mostram que
muitas profissões que existem atualmente (por exemplo, operador de
telemarketing, vendedor) não mais existirão num futuro próximo. Diante
disso, o conceito da Indústria 4.0 precisa e tem sido incorporado na
educação.
Na prática, as universidades e os educadores precisam transformar
seus métodos, de modo que possam oferecer aos seus alunos o preparo
necessário para que consigam um posto de trabalho na era digital. Para
os alunos, esse processo é mais simples, pois já usam seus smartphones
para ler, conversar e colaborar entre si de modo online. “As mudanças no
meio tecnológico são muito rápidas. Até 2030, esses alunos, que são muito
diferentes dos estudantes do século XX, atuarão em funções com outras
características e que exigirão competências e habilidades diferentes das
que são ensinadas hoje nas escolas.” (INOVAEDUC, 2018, p. 25).
O termo Education 4.0, no português, Educação 4.0, é uma resposta
às necessidades da “Indústria 4.0”, também conhecida como 4ª Revolução
Industrial, onde a linguagem computacional, a Inteligência Artificial, a

249
Internet das Coisas, os robôs, e muitos outros meios tecnológicos, se somam
para dinamizar os processos nos mais variados segmentos da indústria. Se
torna essencial que as universidades sejam capazes de preparar os alunos
para essa nova era guiada pela automação e pelo digital (EDUCAETHO
2020).
Segundo a escola de formação de professores EducaEthos (2020)
quatros pilares teóricos da Educação 4.0, inseridos a seguir e ilustrados
na Figura 02, dão a sustentação para um processo de ensino de sucesso:
(1) o modelo sistêmico é a avaliação que as instituições devem fazer do
cenário atual, onde pretendem chegar e qual a estratégia que deve ser
adotada para conseguir o sucesso na mudança da abordagem de ensino;
(2) a mudança do senso comum propõe a busca por referenciais teóricos
baseados em uma educação com base nos meios científicos tecnológicos,
que formarão uma base sólida para a elaboração das aulas com um novo
conceito; (3) gestão do conhecimento e do estudo das competências
e habilidades dos alunos; (4) a cibercultura que está relacionado com
a preparação e organização dos espaços de aprendizagem para que
atinjam o propósito da Educação 4.0.
Figura 02 – Os 4 Pilares da Educação.

Fonte: EducaEthos, 2020.


CAP. 9 -O Líder em Universidades Públicas Brasileiras no Novo Mundo Digital:

Portanto, salienta-se que digitalizar as informações, digitalizar


processos e funções que compõem as operações de uma
universidade pública não é suficiente. A transformação digital
é sobre pessoas, sobre o conhecimento das pessoas e com isso
melhorar a vida das pessoas, nas organizações e na sociedade. Esse
racional deve ser bem entendido pelo Líder, especialmente.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa se caracteriza como de natureza teórica em


relação ao tema abordado. Quanto aos seus procedimentos técnicos,
enquadra-se como um estudo bibliográfico, pois tratará de dados
e verificações provindas diretamente de trabalhos já realizados do
assunto pesquisado. Do ponto de vista dos objetivos, classifica-se
como exploratória e descritiva, pois buscará informações específicas
e características do que está sendo estudado (Gil, 2022).
A revisão de literatura significa, para o pesquisador, o
primeiro passo na busca por desenvolver um trabalho e construir
conhecimento em determinado contexto. Ela permite ainda uma
visão introdutória no desenvolvimento de um projeto de pesquisa
e retoma o conhecimento científico acumulado sobre o tema
Afonso et al. (2012). Ainda, permite ao pesquisador se familiarizar
ainda mais com o tema pesquisado, possibilitando-lhe a criação de
novos constructos e definições.
Neste estudo, optou-se pelo processo mais simplificado de
revisão de literatura, isto é, a modalidade narrativa mais subjetiva e
descritiva quando comparada com a integrativa. A razão é que há
reduzida disponibilidade de artigos publicados sobre o tema.

251
Neste caso específico, como o tema é muito recente, as
informações colhidas não estão em periódicos científicos como na
base de dados do portal da Capes, onde a pesquisa foi realizada
utilizando as palavras chaves sobre o tema proposto e somente
alguns poucos artigos foram encontrados. Todavia, são informações
reais e confiáveis suficientes para a abordagem que está sendo
proposta neste artigo.

4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E


DISCUSSÃO

O presente artigo resultou de uma avaliação bibliográf ica


disponível em torno dos assuntos liderança nas universidades
públicas e transformação digital, relacionando os temas com
a apresentação dos seus principais aspectos para sintetizar e
demonstrar a sua importância para a administração no âmbito
universitário. Foram apresentadas as teorias e selecionados
os textos considerados mais coerentes para a formulação da
revisão bibliográf ica, todavia ainda bastante tímida no que
diz respeito à quantidade e qualidade das publicações em
mídias clássicas da produção científ ica de referência. Mesmo
assim, consegue-se evidenciar as f raquezas das lideranças em
Universidades Públicas de dif ícil superação, especialmente
quando se observa o descompasso em relação à dinâmica da
sociedade em geral e a dif iculdade de conduzir a comunidade
interna tão diversa em todos os sentidos. Visões diversas,
ideologias múltiplas, e burocracia excessiva, sobretudo, são
componentes determinantes na inefetividade da liderança
nas Universidade Públicas brasileiras.
CAP. 9 -O Líder em Universidades Públicas Brasileiras no Novo Mundo Digital:

Os líderes de Universidades Públicas em geral são


demandados a enf rentar, permanentemente, desaf ios
relevantes que vão além das adaptações às mudanças
tecnológicas, como a escassez de recursos f inanceiros e o
complexo burocrático que dif icultam a tomada de decisões
mais rápidas e mais apropriadas; a pressão de demandas
de professores e demais colaboradores por remuneração
e melhores condições de trabalho; a adequação dos
movimentos da sociedade no que diz respeito à diversidade,
equidade e inclusão e todos os temas relacionados à retenção
de talentos e garantia de alta qualidade dos prof issionais
formados. Segundo Vieira, Barboza e Ramalheiro (2019), os
ocupantes de cargos de liderança, via de regra, os exercem por
obrigação em forma de rodízio, sem atratividade f inanceira
e prejuízo na sua atividade permanente de pesquisador, por
exemplo.
Embora todas as restrições, as universidades públicas
precisam inovar mais com iniciativas práticas para desenvolver
aspectos que estejam dif icultando o desenvolvimento dessas
instituições. Portanto, é imprescindível que mudanças
aconteçam a partir de intervenções criativas com para torná-
las menos burocráticas, mais dinâmicas e flexíveis, para que
possam alcançar plenamente sua missão institucional e, por
consequência, proporcionar à sociedade um maior grau de
satisfação.
Ainda que em seu quadro de professores e pesquisadores
que fazem parte da elite intelectual da sociedade, portanto,
protagonistas do novo pensamento e da inovação, há
fatores complexos que dif icultam às universidades públicas
alcançarem resultados mais satisfatórios, os processos de

253
liderança ainda sof rem com o excesso de controles que
acabam por prejudicar o andamento e atendimento das
necessidades, tanto internas como externas.
O próprio processo de escolha e de designação de Reitores e
estrutura de governança em todos os níveis de decisão privilegiando
o interesse interno da maioria e não, necessariamente, um projeto
arrojado e dinâmico de mudança que a sociedade proclama, faz
com que a energia das lideranças seja consumida só para manter
a “máquina” funcionando, podendo existir projetos isolados de
vanguarda, resultado de lideranças informais, na maioria das vezes.
Diante dos desafios enfrentados nas universidades, agora
ainda surgem as dificuldades com às novas tecnologias impostas
pelo mercado, os professores precisam reinventar suas aulas,
fazendo uso de ferramentas digitais, e compreenderem que a
sociedade vive um processo de transformação, de modo que novas
metodologias de ensino e aprendizagem se fazem necessárias.
Inserir as tecnologias em sala de aula que hoje é virtual, como regra,
não é um processo simples. Vai muito além de, simplesmente, usar
mais a internet e transferir informações por vídeo e por plataformas
digitais, mas sobretudo, inovar o processo pedagógico como um
todo, interpretando melhor o aluno, tanto em suas características
individuais quanto de grupo, como fruto da sociedade, a cada
admissão é diferente.
Conforme Pacheco, Santos e Wahrhaftig (2020), um dos
principais desafios enfrentados está na percepção da educação
digital como oportunidade. A mudança, entretanto, pode ocorrer
rapidamente, conforme pôde-se acompanhar desde o início da
pandemia do COVID-19: ainda que as Universidades, e até mesmo
o mercado de trabalho como um todo, já previssem e soubessem
que eventualmente teriam de dar mais atenção à transformação
CAP. 9 -O Líder em Universidades Públicas Brasileiras no Novo Mundo Digital:

digital, a urgência trazida pelas novas condições de vida gerou


impactos rápidos, permanentes e necessários às instituições. É
importante salientar que essa transformação é um processo e,
portanto, sem data de início e fim.
Ainda, Pacheco et al. (2020) trazem um exemplo de como a
transformação digital se dá nas organizações de ensino a partir
do processo de viabilização de uma banca de defesa de trabalhos
de conclusão de cursos de graduação e pós-graduação, usando as
etapas seguidas no Programa de Pós-Graduação em Engenharia
e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa
Catarina (PPGEGC/UFSC). Inicialmente, avaliam o passo a passo
que era necessário seguir antes da chegada da pandemia (Figura
3): um processo de 5 etapas, composto por 17 subetapas e 6 atores
(discente, secretaria, coordenação, orientador, examinadores e
público).
Figura 3 - Processo de organização de ensino, no modo tradicional.

Fonte: Pacheco, et al., 2020.

255
Já após a chegada da pandemia, a adaptação de todos esses
processos para a realidade virtual envolveu o uso de diversas
plataformas diferentes, conforme ilustrado na Figura 5.
Figura 5 – Processo de defesas de TCC “transformado”.

Fonte: Pacheco, et al., 2020.

A mudança não se limitou a fazer online o que se fazia


presencialmente – houve revisão do fluxo de tarefas de todo
o processo, tornando-o virtual e automatizado. A maioria das
instituições de Ensino Superior ainda é moldada à logica
industrial de educação, que remonta aos séculos XIX e XX.
Contudo, buscar a transformação digital em organizações de
qualquer natureza implica , necessariamente, em mudanças
estruturais na estratégia, no modelo e na prática da liderança
e, sobretudo, na cultura organizacional (Pacheco at al., 2020).
CAP. 9 -O Líder em Universidades Públicas Brasileiras no Novo Mundo Digital:

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo não teve a pretensão de exaurir o tema, muito


menos de apontar sugestões de fórmulas diretas aplicáveis para
melhoria incremental ou disruptiva na performance dos líderes
das universidades públicas, capaz de melhor efetivar projetos
inovadores na gestão como, por exemplo, novos conceitos e
metodologias na formação do profissional para a sociedade
impactada pela tecnologia digital.
Sobretudo, o objetivo foi expor o tema à reflexão, levantando
pensamentos e opiniões apontados por alguns autores e trazer um
ou outro exemplo pontual de iniciativas de novos procedimentos
operacionais. Líderes de todos os níveis de Universidade Públicas
mesmo das mais tradicionais precisam estar atentos e agirem com
presteza e acerto sobre o seu processo de liderança, porque escolas
menores e privadas ou mesmo públicas (raras) com gestão simples
e eficaz mais parecida com as privadas, como existentes em outras
partes do mundo, estão ofertando para a sociedade alternativas
bem mais promissoras, atraindo alunos destacados.
Afinal, com o ensino remoto e o mundo digitalizado, o
aluno pode obter conhecimento em fontes universais diferentes. A
titulação em si passa a ser menos relevante aos olhos do mercado
que privilegia a competência tanto técnica como socioemocional,
esta mais valorizada que no passado, por exemplo. Projeto de
mudança nas Universidades Públicas no Brasil requer líderes
autênticos capazes de agregar adeptos seguidores, tomados
de muita energia e resiliência, persistentes, comunicadores,
negociadores e sobretudo com muita coragem para romper as
barreiras existentes, algumas delas aqui apontadas de forma ainda
genérica, mas importantes para despertar a relevância do tema.

257
Estudos de casos com destaque em boas práticas, sobretudo, devem
fazer parte da lista de novas pesquisas que especialistas podem
eleger como foco para publicação de novos artigos científicos.

OBSERVAÇÃO

Este artigo foi publicado, em sua versão preliminar, nos Anais


do Congresso Internacional de Conhecimento e Inovação, CiKi 2021,
com título Os Desafios da Liderança nas Universidades Públicas na
Era Digital de Gargioni, S. L.; Rauen, T. R. S.; Nunes, F. P.; Santos, N. &
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263
CAPÍTULO 10

Líderes Digitais na Gestão


Universitária: Competências
requeridas no contexto de
Transformação Digital do Ensino
Superior

Cheryl Maureen Daehn


Solange Maria da Silva
Cristiano José Castro de Almeida Cunha

doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-16-6.010
CAPÍTULO 10

RESUMO
O contexto da transformação digital inseriu a universidade
pública em um processo inexorável de mudanças em
sua atuação de ensino, pesquisa e extensão, trazendo
para a gestão o desafio de identificar perfis de líderes
capazes de suportar esses momentos de travessia, da
era analógica para a digital, dentro da dicotomia que a
transformação digital inevitavelmente impõe. Por meio de
uma revisão integrativa de literatura, o objetivo do estudo
é identificar, a partir dos documentos recuperados nas
bases de dados Scopus e Web of Science, quais são as
competências requeridas ao líder na gestão universitária,
no contexto de transformação digital do ensino superior.
Os resultados revelam que o papel de e-leader ganha
nova conotação em sua atuação na gestão universitária,
sendo reposicionada com demandas diferentes e ainda
mais complexas, num cenário totalmente novo: o da
educação digital. São apontadas dezessete competências
requeridas ao perfil do líder digital, protagonista do
processo de transformação digital do ensino superior.
Palavras-chave: transformação digital, gestão
universitária, líder digital.
CAP. 10 -Líderes Digitais na Gestão Universitária: Competências para a Transformação Digital do Ensino Superior

1. INTRODUÇÃO

Para Pascuci et al. (2016), administrar a complexidade


interna e externa de uma organização acadêmica requer uma
abordagem diferente das tradicionais, que se pautam em
premissas funcionalistas e na otimização de resultados. No setor
socioeconômico, a transformação digital implica em mudanças
tecnológicas, organizacionais e sociais. Se, de um lado, a sociedade
digital demanda uma nova educação, de outro, a transformação
digital oferece às organizações do setor educacional uma gama
de instrumentos e recursos para digitalização e otimização de
processos administrativos, gerenciais, regulatórios e relacionais
com seu ecossistema de atuação. De modo geral, as dimensões
tecnológica, organizacional e social da transformação digital
provocam mudanças em diversas dimensões de uma organização
de ensino (Pacheco et al., 2020).
Nesse contexto, esta pesquisa se justifica pela importância
conferida à necessidade de compreender quais as competências
requeridas ao líder digital atuante na gestão universitária,
especialmente em um momento em que as instituições de ensino
superior são desafiadas pelo processo de transformação digital.
Além disso, as pesquisas acerca do tema ainda são escassas, sendo
a liderança digital um assunto emergente em estudos sobre
liderança. A temática também tem sido negligenciada dentro
do contexto universitário, especialmente no setor público, haja
vista a complexidade de tais instituições. Entretanto, a liderança
no processo de transformação digital das universidades promete
discussões frutíferas para a ciência, diante do novo perfil requerido
do líder. Nesse sentido, associado ao papel do líder no contexto da
transformação digital na gestão universitária, é possível extrair a

267
seguinte questão: quais são as competências requeridas ao líder
na gestão universitária no contexto de transformação digital do
ensino superior?

2. REVISÂO DE LITERATURA

2. 1. Transformação digital na educação superior

Krimpmann (2015, p. 1209) define transformação digital


como a “soma de tecnologias que transformam os processos
anteriormente físicos em processos que são, parcial ou totalmente,
ativados pela tecnologia”. Portanto, ocorre a transformação digital
quando novas estruturas (negócios, modelos mentais, práticas,
valores e crenças) podem ser formadas pela consolidação dos
efeitos gerados por várias inovações digitais (Krimpmann, 2015).
Vial (2019, p. 3), por sua vez, indica que transformação digital é o
“processo que visa melhorar uma instituição, desencadeando
mudanças consideráveis por meio da combinação de tecnologias
de informação, computação, comunicação e conectividade”. Assim,
à medida que as tecnologias digitais oferecem mais informações,
comunicação e conectividade, permitem, também, novas formas
de colaboração entre os diversos atores. Isso se apresenta como um
enorme potencial de inovação e desempenho nas organizações,
afetando indivíduos, organizações e sociedade (Vial, 2019).
Hausberg et al. (2019) detectam algumas deficiências de
pesquisa em transformação digital, entre outras, nas áreas do ensino
superior, nomeadamente sobre o efeito crítico que as tecnologias
digitais têm sobre as práticas de gestão e liderança. Apoiadas em
CAP. 10 -Líderes Digitais na Gestão Universitária: Competências para a Transformação Digital do Ensino Superior

um ambiente cada vez mais imerso na transformação digital, as


universidades estão enfrentando mudanças organizacionais
importantes em estruturas tangíveis e intangíveis.
Rodríguez-Abitia et al. (2020) propuseram uma estrutura para
avaliar o nível de maturidade digital em universidades, com base
em sua capacidade de fornecer uma infraestrutura de Tecnologia
de informação (TI) apropriada (conectividade de rede, dispositivos
de computação em laboratórios ou sistemas de empréstimo, salas
de aula equipadas), aplicar tecnologia ao processo de ensino e
aprendizagem (recursos educacionais abertos, aulas interativas,
inteligência artificial e robótica, plataformas 3D, repositórios e
simuladores virtuais) e fornecer plataformas de colaboração e
organizacionais para integrar processos e pessoas (sistemas de
fluxo de trabalho, educação social redes, sistemas de gestão
de aprendizagem integrados com sistemas de administração
acadêmica e comunidades virtuais). A capacidade das universidades
de atingir esses objetivos é comumente limitada por restrições
contextuais nos domínios político, social e econômico.

2.2. Liderança universitária

Northouse (2013, p. 5) afirma que a “liderança é um processo


pelo qual um indivíduo influencia um grupo de indivíduos para
alcançar um objetivo comum”. Propondo esta definição, indica
que o conceito de liderança diverge do conceito de gestão, porém,
como processo é semelhante de várias maneiras: ambas envolvem
influência, trabalhar com pessoas e alcance de metas. Em relação
à sua função, destaca que, enquanto a gestão busca fornecer

269
ordem e consistência às organizações, a liderança busca produzir
mudança e movimento (Northouse, 2013).
A liderança universitária é diversa nos diferentes níveis da
instituição. Dessa forma, a liderança universitária envolve as
seguintes perspectivas: (a) da universidade na sua totalidade,
representada pelos níveis mais altos da instituição, como a Reitoria,
Vice-Reitorias, Pró-Reitorias e, também, os conselhos superiores;
(b) a perspectiva intermediária, referente aos Centros de Ensino,
que fazem a ligação entre a estrutura superior e o nível seguinte
da liderança universitária, e também às Coordenações de Curso; (c)
por fim, a liderança exercida dentro dos Cursos universitários, que
representam o nível básico da estrutura de liderança universitária,
exercido, por exemplo, nos Departamentos de grupos de disciplinas
ou, ainda, nos Laboratórios vinculados a cursos universitários (Boer
& Goedegebuure, 2009).

2.3 Líderes digitais

A transformação digital não é somente sobre tecnologia,


mas também tem o lado humano em seu processo. Por isso, a
liderança é vista como uma questão fundamental, em especial,
nas organizações do conhecimento, com as universidades, pela
sua complexidade e pelas demandas especiais que recebe (Rocha
et al., 2021) de diferentes stakeholders.
Uma questão importante na liderança em Instituições de
Ensino Superior é que os líderes são frequentemente nomeados
dentro da academia. Ser um líder na educação superior tem mais
probabilidade de ser um caminho de carreira de liderança (em
CAP. 10 -Líderes Digitais na Gestão Universitária: Competências para a Transformação Digital do Ensino Superior

oposição a um caminho acadêmico ou de pesquisador) para o qual


existem programas formais de desenvolvimento de líderes (Lamm
et al., 2018).
Anteriormente, os papéis e responsabilidades dos líderes
eram relacionados à coordenação de atividades de ensino e
pesquisa dentro da universidade. As responsabilidades dos líderes
são agora mais complexas, diversificadas e mais orientadas para
o exterior. Por exemplo, os líderes contemporâneos têm grandes
responsabilidades de tomada de decisão (Morris & Laipple, 2015) e
isso tem impactos de longo alcance e relação com stakeholders.
Para se adequarem às oportunidades tecnológicas que se
apresentam, as instituições educacionais precisam desenvolver
recursos humanos, conhecimentos, competências e habilidades
relevantes e, portanto, seus líderes devem demonstrar o poder
em si mesmos para conquistar e reter talentos, além de propiciar
ambientes para que todos possam trabalhar de forma inter-
relacionada em busca de objetivos comuns (Tungpantong et al.,
2021).
O papel do líder nas instituições de ensino superior é tanto
o papel de liderança digital dos administradores quanto o papel
de liderança digital dos professores. No ensino, os líderes digitais
precisam desenvolver capacidades de pensamento estratégico
no que diz respeito à integração da tecnologia para ensino e
aprendizagem, para que a liderança docente possa ser eficaz e
efetiva, em um ambiente virtual (Arnold et al, 2018).
Abordagens seletivas e estratégicas de e-Leadership para a
adoção e uso de tecnologia educacional precisam progredir por
meio de pesquisa, desenvolvimento e treinamento, e a liderança
transformacional pode ser uma lente teórica importante para

271
ajudar os líderes na educação superior (em suas atividades
administrativas e acadêmicas) a aumentar o uso bem-sucedido da
tecnologia (Kolb, 2014). É necessário, contudo, estudar as lacunas
entre o conhecimento e a tecnologia (Vanderlinde et al. 2012).
Quando ocorrem mudanças, a organização pode fazer
melhorias para se manter alinhada com o ambiente atual e prever
o futuro de forma eficaz (Sripaisarn, 2018). Além disso, o papel das
pessoas, e que pode ser considerado essencial para impulsionar essa
mudança, é o papel do líder organizacional. Os líderes na era digital
são líderes de conscientização, líderes de mobilização de recursos,
líderes estruturais e líderes de operações. Isso inclui conscientizar
e persuadir as pessoas em vários setores da organização a se
articularem na transformação digital para ajudar a atingir as metas
organizacionais e aumentar o uso disseminado da tecnologia
digital em toda a organização (Tungpantong et al., 2021).

2.4 Competências do líder digital

Competência diz respeito ao conjunto de conhecimentos,


habilidades e atitudes (CHA). Trata-se, portanto, do somatório de
conhecimentos assimilados e das experiências vividas (Brandão
& Guimarães, 2001). Van Wart et al. (2019) propõem a definição de
e-liderança por meio das seguintes competências: (1) Habilidades
de comunicação (comunicação, clareza, prevenção de falhas
de comunicação, gerenciamento de fluxo de comunicação); (2)
Habilidades sociais (apoio dos líderes); (3) Habilidades de construção
de equipe (incluindo motivação da equipe, responsabilidade da
equipe e reconhecimento dos membros da equipe); (4) Habilidade
de gerenciamento de mudanças (abrangendo técnicas de mudança);
CAP. 10 -Líderes Digitais na Gestão Universitária: Competências para a Transformação Digital do Ensino Superior

(5) Conhecimentos tecnológicos (uso correto de TICs relevantes,


combinação de métodos tradicionais e virtuais, segurança tecnológica);
e (6) Confiabilidade (senso de confiança, honestidade, consistência,
continuidade, justiça, integridade, equilíbrio entre vida profissional e
pessoal e apoio à diversidade).
Em ambientes de trabalho virtuais ou remotos, os líderes devem
demonstrar um estilo de liderança mais inclusivo (Schwarzmüller et
al., 2018). Para os e-líderes, as habilidades sociais, como características
de uma comunicação face a face eficaz, podem não ser suficiente para
liderar em ambientes virtuais (Roman et al., 2019). Cortellazzo et al. (2019)
destacaram que os e-líderes devem desenvolver uma comunicação em
que os funcionários se sintam à vontade para apresentar suas ideias,
permitindo que eles participem do processo de tomada de decisão e
incentivar a autonomia, colaboração e responsabilidade, promovendo
um ambiente organizacional positivo com suas lideranças.
Esses autores também sugeriram que esse processo envolve
questões técnicas, como selecionar o melhor método para comunicar,
considerando a riqueza da ferramenta, as preferências do receptor,
e decidir sobre o uso de síncrono ou assíncrono dos métodos. Além
disso, Cortellazzo et al. (2019) enfatizam a importância de manter
normas claras de comunicação, tendo interação com as equipes,
fornecendo feedback positivo, evitando mensagens ambíguas, e
conduzir uma boa supervisão das contribuições de cada membro.
Por outro lado, a comunicação deficiente dos líderes pode levar
a situações desconhecidas, deixando os funcionários com um
sentimento de desamparo (Wojcak et al., 2016). O ambiente e-social
é a segunda propriedade importante de e-liderança (Roman et
al., 2019), ou seja, criar um ambiente de trabalho que propicie um
senso de conexão com o grupo, para aumentar a comunicação e a
colaboração através dos meios digitais.

273
Por meio de características sociais de e-liderança, o isolamento
entre os membros da equipe pode ser prevenido (Walther &
Bazarova, 2008), por meio do desenvolvimento de duas capacidades:
a propriedade e-change, que se refere à capacidade dos e-líderes
de fazerem mudanças notáveis necessárias para a adaptação das
TICs. Enquanto a propriedade e-team da e-Leadership diz respeito
às capacidades de um líder na criação de equipes responsáveis,
satisfeitas e eficientes em ambientes de negócios, bem como
às habilidades tecnológicas da e-liderança. É competência de
um e-líder, para estar ciente das novas tecnologias, ser capaz
de acompanhar desenvolvimentos tecnológicos relevantes, e
abraçando alto nível de segurança cibernética (Roman et al.,
2019). Por fim, outra característica importante da e-Leadership
é a capacidade de inovar. No entanto, os e-líderes precisam ter
cuidado para que essas mudanças contínuas não atrapalhem o
foco da empresa. Portanto, devem ser flexíveis, inovadores e ter
clareza sobre os objetivos da organização (Cortellazzo et al., 2019).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O método utilizado foi o da revisão integrativa, que consiste em


utilizar métodos explícitos e sistemáticos para identificar, selecionar e
avaliar criticamente os estudos sobre a temática escolhida, além de
sistematizar a coleta e análise de dados dos estudos incluídos na revisão
(Botelho, Cunha, & Macedo, 2011). Essa abordagem metodológica
foi escolhida por possibilitar a síntese e análise do conhecimento
científico já produzido sobre o tema investigado (Sordi et al, 2017), além
de minimizar o viés por meio de pesquisas bibliográficas exaustivas
de estudos publicados, explicitando as decisões, procedimentos e
conclusões dos revisores (Tranfield, Denyer, & Smart 2003).
CAP. 10 -Líderes Digitais na Gestão Universitária: Competências para a Transformação Digital do Ensino Superior

Tranfield, et. al. (2003) propõem três etapas para a revisão:


planejamento da revisão; condução da revisão; e relatório e
disseminação dos resultados da revisão.
1) Planejamento da Revisão: A pesquisa iniciou com a
identificação da necessidade da revisão e contextualização
do tema. A definição e contextualização do tema delimitam e
particularizam seu conteúdo, evitando ambiguidade que poderia
gerar desvio do foco da pesquisa (Botelho, Cunha, Macedo 2011;
Pereira, & Cunha, 2020). Nessa etapa, também, são definidos os
critérios que constituem o protocolo da revisão, contribuindo para
a objetividade da pesquisa, por meio de uma descrição explícita
dos procedimentos que serão adotados nas próximas etapas da
revisão.
2) Condução da Revisão: nesta etapa, definiu-se a estratégia
de busca, a seleção de fontes de informação (bases de dados),
delimitação temporal, idioma dos artigos, termos a serem
pesquisados, as ferramentas para coleta e organização das
informações e a definição dos critérios de inclusão e exclusão.
A string de busca (“digital transformation”) AND (leadership)
AND (university OR college OR “higher education”) orientou as
buscas nas bases de dados Scopus e Web of Science, filtrando por
título, resumo e palavras-chave; restringindo-se a artigos publicados
em periódicos em língua inglesa, espanhola e portuguesa, com
delimitação temporal (2017 até 20/09/2021).
Em seguida, as publicações foram exportadas para o
gerenciador bibliográfico Endnote web®, onde se procedeu a
remoção das publicações duplicadas, a leitura dos resumos,
palavras-chave e títulos das publicações, organizando-os para a
etapa de avaliação / seleção.

275
Tabela 1 - artigos selecionados por base de dados

Fonte: Elaboração própria (2021).

Na fase seguinte (seleção de dados), os artigos


selecionados na etapa anterior foram exportados para a
plataforma Rayyan®, onde se realizou a leitura integral.
Concluída essa etapa, foram considerados 18 estudos
adequados ao objetivo da pesquisa que foram categorizados
conforme relevância, palavras-chaves no título e no resumo.
3: Relatórios e Disseminação: O relatório foi elaborado a
partir da análise e discussão dos resultados, os quais serão
apresentados na próxima seção.

4. RESULTADOS

Os resultados obtidos podem ser visualizados no


Quadro 1, onde é apresentada a relação de autores, as
principais categorias e competências identif icadas nos
estudos levantados.
CAP. 10 -Líderes Digitais na Gestão Universitária: Competências para a Transformação Digital do Ensino Superior

Quadro 01 – Competências identificadas nas análises

Fonte: Elaboração própria (2021).

277
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O líder digital, no contexto da gestão universitária,


exige habilidades adicionais, novos entendimentos e uma
capacidade inovadora para rapidamente absorver, priorizar e
responder aos novos conhecimentos, lidando seletivamente
com níveis de informação excessivamente elevados (Reez,
2021). Essas novas habilidades não podem ser apenas
remodeladas a partir de atributos de liderança existentes,
pois os líderes precisam responder instantaneamente às
mudanças sistêmicas adaptativas complexas e emergentes
no ensino superior, que estão ocorrendo como resultado
dos avanços tecnológicos. Capacidades avançadas agora
são necessárias em liderança colaborativa e distribuída, que
combina colegialidade com autoridade, responsabilidade
com qualidade e inovação, prioridades de aprendizagem dos
alunos com marketing e f inanças e empreendedorismo com
risco (Jameson, 2018).
Novas capacidades e novas habilidades que podem ser
resumidas como “alfabetização futura” devem ser cultivadas.
Os líderes terão que desenvolver novas habilidades no
contexto de colaboração e cocriação. Os líderes devem estar
cientes das suposições, preconceitos e f iltros perceptivos
implícitos, muitas vezes não expressos, quando estão
fazendo seu trabalho. A previsão e a liderança abrangem
uma mentalidade antecipatória e habilidades metodológicas.
Fazendo uso diversif icado de tecnologias de previsão, isso
também pode levar a uma nova cultura de fazer avaliações
de segurança baseadas em dados, minimizando os riscos e
efeitos prejudiciais de novas previsões (Reez, 2021).
CAP. 10 -Líderes Digitais na Gestão Universitária: Competências para a Transformação Digital do Ensino Superior

Novas demandas de e-Leadership também estão surgindo


para níveis sof isticados de relacionamento interpessoal e
habilidades interculturais em que a capacidade de construir
altos níveis de conf iança em ambientes online é agora um
atributo cada vez mais essencial para uma liderança de
sucesso. Os líderes precisam responder fluentemente com
excelentes habilidades de comunicação para lidar com níveis
desaf iadoramente espontâneos de interatividade de mídia
social envolvendo funcionários e alunos de maneira que nunca
foi exigido dos líderes (Jameson, 2018).
Os e-Leaders precisam aplicar níveis rigorosos de análise
crítica, padrões de qualidade e seletividade no discernimento
das inovações institucionais mais adequadas, escolhendo entre
miríades de oportunidades de tecnologia educacional disponíveis
para melhorar o aprendizado e o ensino, simultaneamente
ajustando-se às tendências emergentes, aproveitando a
onda de inovação enquanto evitam riscos desnecessários
(Jameson, 2018). A síntese dos fatores de liderança digital para
a transformação de instituições de ensino superior digital é
distribuída em setes áreas, conforme Tungpantong et al. (2021)
aponta: visão; colaboração; liderança; habilidades de gestão;
adaptabilidade; criatividade/inovação; e alfabetização digital.
Líderes com essas características incentivam as instituições
de ensino superior a usar a tecnologia com sucesso e atingir
metas de transformação digital de forma mais ef iciente. Esses
fatores principais são os fatores-chave que contribuem para o
sucesso da adoção de estratégias para a transformação digital em
instituições de ensino superior. Frente aos desaf ios enf rentados
pela universidade contemporânea, Reez (2021) apontam que os
líderes precisam ser educados para compreender a incerteza.

279
Figura 01 - Habilidades digitais para o líder na gestão universitária

Fonte: Adaptado de Antonopoulou et al. (2020)

No que diz respeito às competências pessoais, habilidades


metodológicas, agilidade executiva, uma mentalidade preventiva e
pensamento estratégico representam capacidades cruciais para os
futuros líderes (Reez, 2021). Uma sociedade “superinteligente”, como
Keidanren (2018) descreve, requer que sejam quebradas barreiras
acerca de recursos humanos, pois, como nas reformas educacionais
e transformações digitais, é preciso dotar e ampliar os recursos
humanos com competências digitais que conduzam e viabilizem a
uma educação de qualidade (Rodríguez-Abitia et al., 2020). Nesse
aspecto, enquadra-se o papel do líder e os desafios relacionados ao
desenvolvimento de suas competências para cumprir com êxito a sua
tarefa de líder digital, num contexto de alta complexidade e grande
volume de dados. De forma complementar aos conhecimentos e
habilidades de e-Leadership, apontados por Jameson (2018), a figura
01 apresenta as habilidades digitais para o líder atuante na gestão
universitária, de acordo com Antonopoulou et al. (2020).
CAP. 10 -Líderes Digitais na Gestão Universitária: Competências para a Transformação Digital do Ensino Superior

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As universidades públicas estão historicamente inseridas


em um contexto de transformação permanente. Fundamentadas
na prática e na ação social, surgiram na condição de instituições
sociais que, gradativamente, passam a assumir um caráter de
organizações sociais. Desafiadas em seu cotidiano por entraves
políticos e econômicos, a realidade da universidade pública foi
surpreendida pelo cenário de emergência de saúde pública
mundial de COVID-19, que trouxe a imersão abrupta das instituições
no ambiente das tecnologias digitais.
Novas formas de pensar a educação nos tempos de pandemia
repercutiram em novas formas de pensar a gestão universitária.
A transformação digital começa a ser protagonista nos processos
de gestão das organizações e instituições, nomeadamente das
universidades públicas, impactando diretamente as práticas de
liderança. Mas agora, se potencializa a e-leadership onde o papel do
líder na universidade é reposicionado com demandas diferentes e
ainda mais complexas, num cenário totalmente novo: o da educação
digital.
Nesse sentido, este estudo teve por objetivo discutir quais são as
competências requeridas ao líder na gestão universitária, no contexto
de transformação digital do ensino superior. Os resultados foram a
identificação de competências requeridas ao perfil do líder digital,
sendo as principais envolvendo redes sociais, computação em nuvem,
big data, criatividade, capacidade de inovação, alfabetização digital,
ação colaborativa, adoção de práticas de gestão do conhecimento.
Além disso, o profissional que atua em e-leadership deve estar disposto
ao aprendizado constante, praticar a gestão da mudança, lidar com a
incerteza, desenvolver habilidades de cocriação, ter níveis sofisticados

281
de relacionamento interpessoal e habilidades interculturais, fomentar
a construção de laços de confiança, habilidades de comunicação e
valorizar sempre o elemento humano.
Finalmente, este estudo gerou contribuições acerca da liderança
digital nas universidades. As análises refletiram na identificação de
um campo ainda pouco explorado na literatura. A liderança é um dos
temas mais amplamente discutidos na ciência, abrangendo diversas
áreas do conhecimento. Entretanto, a pesquisa levantou um gap
acerca da liderança digital, especialmente no contexto universitário.
A liderança digital, ou e-leadership, é um termo ainda recente, que
vem surgindo com força em conjunto com o processo acelerado de
transformação digital que todas organizações vêm experimentando.
Comprovou-se, diante das constatações dos artigos pesquisados, que
estudos sobre liderança na gestão universitária são escassos. Assim,
a combinação do tema “liderança digital” e “gestão universitária” ou
“universidades” está ainda num processo embrionário em pesquisas
científicas.
Para futuras investigações, é pertinente focar na realização de
estudos empíricos, a fim de relacionar a teoria com a prática e ampliar
as discussões. Além disso, o estudo teve seu enfoque na liderança
digital na gestão universitária, sendo indicado que futuras pesquisas
explorem a interlocução do tema com as dimensões do processo
de transformação digital e os impactos na gestão do conhecimento
nas instituições de ensino superior públicas. Por fim, esta pesquisa
proporcionou contribuições teóricas acerca da liderança digital,
nomeadamente no contexto da gestão universitária, tópico ainda
pouco explorado na literatura e que pode prospectar em avanços
teórico-práticos para alavancar as ações sociais das IES, facilitando a
governança em rede e a coprodução de conhecimento por meio da
atuação efetiva do líder.
CAP. 10 -Líderes Digitais na Gestão Universitária: Competências para a Transformação Digital do Ensino Superior

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287
CAPÍTULO 11

Análise da Aplicação de
Tendências da Transformação
Digital ao Mercado Imobiliário

Giulia Platt Maffezzolli


Sergio Luiz Gargioni
Neri dos Santos

doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-16-6.011
CAPÍTULO 11

RESUMO
A transformação digital não engloba apenas o processo
de transformação, sendo resultado direto da mentalidade
de inovação incentivada dentro de uma organização. O
mercado imobiliário, de modo geral, não é considerado
referência na área de inovação, sendo um setor antigo
e tradicional. No entanto, existem ferramentas de
transformação digital sendo aplicadas nele, sendo o
objetivo deste trabalho realizar uma observação e análise
das tendências da transformação digital no mercado
imobiliário e sua possível referência em outras indústrias de
bens de consumo duráveis. O método aplicado é a revisão
sistemática de literatura, com o intuito de identificar
conceitos do tema e contextualizar seu panorama geral,
com posterior reflexão sobre a generalização para outros
segmentos industriais. Como resultado, descobre-se que
a generalização da aplicação das tendências é possível,
desde que avaliada em conjunto com as necessidades
de cada organização. Conclui-se também que, em um
cenário cada vez mais disruptivo, a transformação digital
é obrigatória para empresas que desejam manter-se
relevantes em seu setor, e as tendências estudadas são
aplicadas a todas as realidades, desde que devidamente
alinhadas ao resultado desejado.
CAP. 11 - Análise da aplicação de tendências da transformação digital ao mercado imobiliário

Palavras-chave: transformação digital; tendências; mercado


imobiliário; indústria.

1. INTRODUÇÃO

Inovações trazidas às empresas, atreladas à transformação


digital, promovem a melhoria de produtos e processos e
garantem que as mesmas se mantenham competitivas em um
cenário cada vez mais disruptivo. Independente da indústria
ou mercado estudado, a transformação é contínua, pois o
desenvolvimento de novas tecnologias e metodologias é
ininterrupto e acelerado.
A transformação digital é vista tanto como um processo
quanto como uma capacidade empresarial, que visa mudanças
contínuas e objetiva a modernização de organizações, aliada à
melhor desempenho no mercado e avanços tecnológicos de
impacto (Kwan, Stefanita & Gupta 2022). O investimento no
tema traz oportunidades de aumento de receitas e redução
de custos, além de benef ícios comprovados no atendimento
ao cliente e na própria imagem corporativa (Chaffey, 2015).
Os resultados são claros: empresas líderes digitais no Brasil,
alcançam taxa de crescimento do EBITDA até 3 vezes maior
que as demais (Martins, Dias, Castilho & Leite, 2019).
O mercado imobiliário, por sua vez, não apenas é
historicamente peça chave na economia brasileira, mas tem
seu desempenho atrelado à realização de sonhos da população.
O setor se relaciona com todas as etapas da construção de
imóveis, sendo que as imobiliárias têm papel fundamental na
aproximação de interesses de proprietários de imóveis, que

291
buscam vender ou alugar seu bem, e aqueles que querem
adquirir ou locar tais bens (Wissenbach, 2008). Além disso, é
um mercado considerado tradicional, que entra mais tarde na
transformação digital e encontra desaf ios em seu processo,
mas também grandes recompensas para aqueles que saem na
f rente.
O trabalho tem como objetivo realizar uma observação e
análise das tendências da transformação digital no mercado
imobiliário e a sua possível referência em outras indústrias,
sendo que este objetivo pode ser segmentado em três objetivos
específ icos: identif icar conceitos trazidos da literatura sobre
Transformação Digital; contextualizar o mercado imobiliário; e,
por f im, refletir sobre a generalização para outros segmentos
industriais.

2. A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL E O MERCADO


IMOBILIÁRIO

Como colocado por Kwan, Stefanita e Gupta (2022, p. 4),


seja por conta do coronavírus ou de outros desaf ios recentes,
os últimos anos foram marcados por diversas disrupções.
Essas descontinuações sociais, econômicas e tecnológicas
são vistas pelas grandes empresas como “uma oportunidade
de se transformar por meio de superalimentação da inovação,
aceleração do crescimento ou simplif icação radical das
operações” e claramente aumentaram em f requência,
incerteza e potencial impacto, o que forçou as organizações a
repensarem a natureza da sua transformação.
CAP. 11 - Análise da aplicação de tendências da transformação digital ao mercado imobiliário

A transformação pode ser vista então como o “processo


de adaptação às mudanças no ambiente de negócios como
resultado das disrupções”, buscando otimização, expansão ou
a reimaginação dos negócios, sendo que cada organização
def ine quais as suas metas (Kwan, Stefanita & Gupta, 2022, p.
6). A pandemia de COVID-19 forçou a adaptação de diversos
segmentos de mercado e, consequentemente, a aceleração
da transformação digital nos anos mais recentes como nunca
vista antes (D. Reis & R. Reis, 2021).
O mercado imobiliário, por sua vez, é o centro das atividades
relacionadas à construção civil, envolvendo imobiliárias,
construtoras, corretores, instituições f inanceiras e diversos
outros agentes. Destaca-se a área específ ica da construção
civil, onde engenheiros mecânicos ganham espaço. Esse termo
se refere às construções que interagem com a população, com
a comunidade, com a cidade, e engloba todas as atividades
de participação de engenheiros e arquitetos civis, junto de
prof issionais de outras áreas de conhecimento (Silva, Santos,
Marinho, Bueno & Catapan, 2012).
Conforme exposto por Solis (2019), uma pesquisa anual sobre
o estado da transformação digital apontou que “51% dos esforços de
transformação digital são impulsionados pela pressão do mercado
e oportunidades de crescimento”. Em 2022, outra pesquisa, essa
do B2B Stack, mostrou que mais da metade dos consumidores
do mercado imobiliário digital no Brasil são millennials, aqueles
nascidos entre 1980 e 1995 (Aqua, 2022). A transformação no perfil
do cliente acaba apontando para uma aceleração na necessidade
de modernização das imobiliárias (Nardini & Meyer, 2022).
São apontados também inúmeros benefícios da
transformação digital no mercado imobiliário, como o diferencial

293
competitivo das empresas, a potencialização das vendas, o maior
sucesso do cliente, a otimização de processos e também a tomada
de decisão estratégica (Aqua, 2022).
A crescente transformação se torna facilitadora para
o surgimento de novas empresas, nesse caso as proptechs,
as startups do mercado imobiliário, que vão tornar ele
mais digital, com mudanças contínuas e novos padrões de
consumo através dos novos modelos de negócios e inovações
tecnológicas (Silva & Balzer, 2020). É possível concluir então,
que essas empresas assumem um papel de facilitadoras na
jornada de transformação, e para isso elas se utilizam de e
criam tendências e ferramentas específ icas, apresentadas no
item 4.
A digitalização do setor foi também acelerada pelo
isolamento social causado pela pandemia. A disponibilidade
dos anúncios em plataformas de compra e venda ganhou mais
importância, assim como as fotos de qualidade e as descrições
completas, e o consumidor acaba tendo desde o início do
processo de busca mais informações que apoiam a tomada de
decisão (Leite, 2021).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia utilizada para elaboração do trabalho foi a


revisão sistemática de literatura, de abordagem qualitativa, natureza
básica e objetivos exploratórios, com o intuito de identificar conceitos
do tema e contextualizar o panorama geral da transformação digital
e suas tendências no mercado imobiliário e em outros mercados.
CAP. 11 - Análise da aplicação de tendências da transformação digital ao mercado imobiliário

Para a identif icação de conceitos trazidos da literatura


sobre Transformação Digital e a contextualização do mercado
imobiliário, foi realizada extensa pesquisa bibliográf ica, focada
na diversif icação de fontes e buscando aquelas mais atuais,
preferencialmente pós pandemia, uma vez que o evento
acelerou e modif icou o progresso da transformação ao redor
do mundo. As principais fontes bibliográf icas são artigos de
periódicos e trabalhos acadêmicos. A organização inicial dos
assuntos a serem abordados no texto norteou a pesquisa,
enquanto a análise dos materiais encontrados foi feita por
meio da leitura dos principais pontos e, naqueles observados
como de maior relevância, uma segunda leitura foi realizada,
aprofundada, para seleção de material para o texto.
Para a reflexão da generalização da aplicação de tendências
em outros segmentos industriais, foi utilizada não apenas a
pesquisa bibliográf ica que descreve o cenário das tendências
de transformação digital para outros segmentos industriais,
mas também a aplicação do conhecimento adquirido pela
autora ao longo dos estudos na graduação e na carreira na área.

4. TENDÊNCIAS DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL


NO MERCADO IMOBILIÁRIO

A transformação digital do mercado imobiliário tem


promovido o uso de diversas novas tecnologias, embora o
setor seja ainda um considerado tradicional. Para a análise,
foram selecionadas oito tendências: Agile, assinatura digital,
cloud computing, CRM, inteligência artif icial, manufatura
aditiva, QR Code e realidade virtual.

295
4.1. Agile

Agile é uma metodologia de gerenciamento de projetos


e times baseada no Manifesto Ágil (2001), que é composto
por quatro valores que def inem o mindset que times Agile
tem que buscar: indivíduos e interações acima de processos
e ferramentas; software funcional acima de documentação
completa; colaboração do cliente acima de negociação de
contratos; e responder à mudança acima de seguir um plano.
O foco é manter um processo flexível, que prioriza o
feedback dos times e dos usuários e com isso ganha valor
mais rápido do que no modelo de metodologia cascata, onde
o valor vem apenas depois da entrega f inal. O Agile é iterativo
e incorpora as mudanças durante o processo, com as entregas
incrementais (Hamilton, 2022).
No mercado imobiliário, o Agile prepara as empresas para
oferecer aos clientes soluções desenhadas para aumentar a
ef iciência em todo o ciclo de aquisição de imóveis (Bacetti,
2022). Já na indústria, se manifesta por meio de níveis de
estoque mais baixos, o que signif ica custos mais baixos, e um
sistema automatizado de produção, onde os colaboradores
se tornam operadores de máquinas (Vedois Tecnologia,
2022). Além disso, ele vai promover as revisões constantes do
produto entregue, que evitam custos de retrabalho.
O Agile, como metodologia de gerenciamento de
projetos, tem aplicação generalista e facilmente aplicável a
diferentes setores e indústrias. Encontram-se diversos relatos
de seu uso de forma personalizada e adaptada para cada
realidade, sem necessariamente reconhecimento do método
CAP. 11 - Análise da aplicação de tendências da transformação digital ao mercado imobiliário

pelo nome, já que ele representa principalmente uma forma


de pensar, que é voltada para a agilidade nas entregas e
satisfação do consumidor. Essa tendência se mostra não
exclusiva do mercado imobiliário ou de qualquer outro, e
cada vez mais substitui métodos mais tradicionais e menos
flexíveis de gerenciamento.

4.2. Assinatura digital

A assinatura digital representa uma forma de assinar


documentos online, ao mesmo tempo em que oferece
segurança, praticidade e economia (de tempo, dinheiro ou
papel) às partes que, por qualquer motivo, não podem se
encontrar presencialmente (Ferreira, 2022).
O uso da assinatura digital é relativamente similar para
todos os mercados. No imobiliário, que é historicamente
burocrático, ela vai simplif icar e agilizar a operação, ao
mesmo tempo em que garante a segurança de um processo
complexo (Aqua, 2022). Já na indústria, vai se manifestar
na forma de certif icados digitais, que são aplicados
na emissão de notas f iscais eletrônicas, reduzindo os
custos de impressão, reduzindo custo de armazenamento
de documentos, facilitando a compra de insumos dos
fornecedores e na formalização da venda de mercadorias
aos clientes (Certif icaminas, 2022).
Essa é, então, outra tendência não exclusiva do
mercado imobiliário, que pode ser aplicada em qualquer
empresa e que teve um boom de utilização promovido pela
pandemia, que impossibilitou os encontros presenciais.

297
4.3. Cloud computing

Segundo Magalhães (2018), “Cloud computing é uma


tecnologia que usa a conectividade e a grande escala da Internet
para hospedar diversos recursos, programas e informações”,
enquanto permite que o usuário acesse esses recursos por meio de
qualquer aparelho, sem a necessidade da instalação de qualquer
software ou arquivo além de um navegador de internet, já que
um servidor remoto armazena todos os dados e programas, e é
utilizado para conectar os dispositivos dos usuários.
No mercado imobiliário, essa tendência acaba resolvendo
três problemas históricos: a inconsistência em cadastros
espalhados por diversos sistemas e planilhas; a velocidade baixa
de sistemas antigos; e a disponibilidade e operacionalidade deles,
que não vão ficar fora do ar, não vão precisar de manutenção
específica e não vão prender o funcionário ao trabalho presencial,
já que muitas vezes eles podem ser utilizados só na rede local
(Galli, 2021).
Já na indústria, a aplicação do cloud computing é
feita desde o chão de fábrica até o produto final. No chão de
fábrica, é facilitado o acesso à informações da produção, como
a quantidade de peças produzidas ou tempo para produção.
Ele também é aplicado por exemplo no e-commerce, já que a
conexão das máquinas é feita pela nuvem (Brascloud, 2022).
Portanto, o cloud computing é uma tendência
multidisciplinar, que é aplicável e já aplicado em diversos
negócios e outras atividades particulares, e traz maior
velocidade e segurança ao usuário, ao mesmo tempo em que
reduz os custos operacionais.
CAP. 11 - Análise da aplicação de tendências da transformação digital ao mercado imobiliário

4.4. CRM (Customer Relationship Management)

Um CRM, acrônimo de Customer Relationship Management,


é uma ferramenta para gestão do relacionamento com o cliente.
É uma tecnologia multidisciplinar, aplicável a diversos times
de empresas de diferentes portes, que auxilia na organização,
automação e sincronização dos contatos de clientes e a própria
interação com os consumidores, diretamente da nuvem
(Salesforce, 2022).
A automação de processos libera os colaboradores para
focar em estratégias, enquanto sua produtividade é aumentada.
Além disso, há maior agilidade no atendimento ao cliente e a
padronização de processos, além de maior conf iabilidade na
extração de dados (Stefanini Group, 2020).
É uma ferramenta de ampla aplicação no mercado,
que se adapta às particularidades e necessidades de cada
empresa, sendo que com o uso de um CRM a empresa tem
otimização de custos e maior satisfação dos colaboradores e
dos clientes.

4.5. Inteligência artificial

Segundo Oracle (2022), a inteligência artif icial (IA) se


refere a sistemas ou máquinas que mimetizam a inteligência
humana para executar tarefas de maneira mais ef iciente e
podem se aprimorar iterativamente com base nas informações
que eles coletam, identif icando padrões e resolvendo
problemas. O objetivo do uso da IA é melhorar as habilidades
e contribuições humanas.

299
De acordo com Barbosa (2020a), no mercado imobiliário, a IA
deve automatizar o processo de gerenciamento de imóveis, o que
impacta em geração de leads qualificados, fazendo uma limpa nos
clientes potenciais; melhor experiência do usuário com fornecimento
de resultados personalizados para o cliente; aumento de eficiência em
processos internos e no tempo do cliente; suporte ao cliente com a
utilização de chatbots; e também análise de mercado, com IAs que
identificam oportunidades e fazem antecipações.
Na indústria, conforme colocado por Silvério (2022), a aplicação
da IA é focada em otimização da produção, automatizando trabalho
manual e repetitivo; redução de custos, por exemplo com chatbots
que realizem um primeiro atendimento ao cliente; prevenção de
riscos, uma vez que a IA pode identificar possíveis problemas e
oferecer soluções; redução de consumo de energia com o uso de IA
para monitoramento de máquinas; e controle de qualidade, já que a IA
facilita a identificação de defeitos em maiores amostragens de peças.
Ela também é encontrada aplicada diretamente ao produto final,
por exemplo em carros com piloto automático ou eletrodomésticos,
como um aspirador de pó que percorre a casa sozinho e outros
dispositivos inteligentes. De modo geral, é um campo novo e que
ainda tem bastante espaço para inovação, já que também tem grande
capacidade de aplicação em diversos negócios.

4.6. Manufatura aditiva

A manufatura aditiva é “um conjunto de tecnologias que fabrica


objetos tridimensionais diretamente de modelos digitais por meio de
um processo de adição de material, que pode ser polímero, cerâmica
ou mesmo metais” (Ford, 2014 como citado em Veit, 2018, p. 22).
CAP. 11 - Análise da aplicação de tendências da transformação digital ao mercado imobiliário

Conforme colocado por D’Aveni (2015), a manufatura aditiva não


oferece escalabilidade similar à de métodos como a moldagem por injeção,
de ritmo de produção de milhares de peças idênticas por hora. Mas, ao
contrário dos modelos de manufatura tradicionais, ela tem configuração
inicial de sistema mais simples e também oferece maior flexibilidade,
maior personalização dos objetos, e é então ótima para a produção de
itens únicos, como protótipos ou peças de reposição.
O mercado imobiliário investe aos poucos na impressão 3D de
edifícios completos, e acredita que o futuro da construção é híbrido e
industrializado, entre impressão 3D, módulos pré-fabricados e materiais
leves, o que significa que a mão de obra vai ser capacitada para a operação
de máquinas. Esse novo modelo apresenta vantagens como velocidade
na construção e redução de custos (Ceccon, 2020).
De acordo com Tamanini e Wiltgen (2022), na indústria de modo
geral, o uso da manufatura aditiva implica em diminuição de mão de obra;
menor tempo de fabricação; diversificação de máquinas; economia de
matéria-prima; e menor custo final.
A manufatura aditiva tem grande histórico de aplicações na
criação de peças únicas ou de baixa escala, mas o movimento atual é
de trazer escalabilidade ao negócio, dada a qualidade dos produtos e as
possibilidades de personalização e versatilidade na empregabilidade.

4.7. QR Code

O QR Code tem funcionamento similar ao de um código


de barras bidimensional, mas com maior capacidade para o
armazenamento de dados. É utilizado no dia a dia, em tickets de
estacionamento de shopping que são criados e validados com
base em um QR Code; cardápios de restaurantes online ou mesmo

301
obras em exposições, que dão ao visitante maiores detalhes sobre
elas (Henrique, 2018).
Seu uso apresenta diversas vantagens, como a facilidade para
receber pagamentos e a fácil promoção de produtos e serviços,
além de que pode ser integrado à plataformas de análise de dados
para avaliar a efetividade de seu uso (Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul [PUCRS] Online, 2021).
No mercado imobiliário, é comum o uso dos QR Codes em placas
de imóveis e terrenos e também em folhetos de divulgação, que vão
dar mais detalhes aos interessados (Aloh.in, 2022). Na indústria tem
diversas aplicabilidades, como por exemplo a busca de arquivos na
nuvem ou a classificação e manutenção de itens da produção.
A literatura de QR Codes é escassa, mas percebe-se que a
ferramenta vem ganhando bastante espaço no dia a dia de diversas
empresas, uma vez que o uso é completamente personalizável e
a criação de um QR Code já é simplificada, com vários sites que
oferecem esse serviço gratuitamente.

4.8. Realidade virtual

A realidade virtual envolve apresentar aos sentidos um ambiente


virtual, gerado por computador, que pode ser explorado e interagido
por uma pessoa (Virtual Reality Society [VRS], 2017). Embora exista
maior demanda em setores criativos, como de jogos ou eventos, várias
indústrias já aplicam essa tecnologia, desde os setores de saúde e
educação até o próprio mercado imobiliário (Hall & Takahashi, 2017).
Conforme colocado por Barbosa (2020b), no mercado
imobiliário ela é aplicada especialmente em tours virtuais, que
CAP. 11 - Análise da aplicação de tendências da transformação digital ao mercado imobiliário

simulam uma visita aos imóveis, e na vitrine virtual de propriedade,


que permitem maior interatividade do usuário com o ambiente e
podem ser aplicadas desde a construção do imóvel.
Na indústria, existem diversas aplicações (Associação de
Engenheiros Brasil - Alemanha [VDI], 2022), como suporte remoto
para instalação e manutenção de equipamentos; treinamento
imersivo de funcionários; demonstração virtual de produtos; testes
e análises de falhas no processo de produção pré-protótipo; e
o desenvolvimento e avaliação de processos que assegurem a
manufaturabilidade do produto pré-produção.
Como uma tendência da transformação digital, a literatura
mostra que a aplicação ainda está em estágios iniciais, sendo
principalmente utilizada para demonstrações virtuais de produtos.
Porém, existem diversas aplicações que vão garantir a economia
de recursos da empresa, segurança dos trabalhadores e sucesso
do cliente, que vai receber um produto melhor pensado e
testado. Portanto, é também uma tendência não exclusiva do
mercado imobiliário, que vai ganhando espaço conforme avanços
tecnológicos vão facilitando sua aplicação, tal qual a inteligência
artificial ou a manufatura aditiva, entre outras ferramentas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em um cenário cada vez mais disruptivo, a transformação digital


se torna protagonista no mercado, sendo obrigatória para empresas
que desejam se manter relevantes em seu setor. A transformação
digital não tem uma única face, e as tendências e ferramentas que
crescem com ela, não vão ser as mesmas para todo o mercado, sendo
que cada companhia precisa entender qual a sua necessidade e quais

303
as oportunidades dentro da sua atuação, para então definir o que
vai comandar sua transformação digital. Mesmo usando as mesmas
ferramentas, a sua aplicação varia, já que é personalizável frente a cada
realidade.
O mercado imobiliário já apresenta a incorporação de diversas
ferramentas de transformação digital na operação e as proptechs,
aceleram esse processo de transformação, buscando otimização de
custos e tempo, inovação e a satisfação do cliente.
As tendências analisadas são adaptáveis a diferentes segmentos,
e a escolha pela aplicação de cada uma das ferramentas comentadas
vem da busca pela satisfação do cliente, aliada à otimização dos
processos internos. Algumas, exigem investimentos mais altos:
este pode ser o caso da inteligência artificial, da manufatura aditiva
ou da realidade virtual. Outras tendências são de implementação
fácil e rápida, com poucos custos: como a assinatura digital, o cloud
computing, o QR Code e, em alguns casos, o CRM. Ainda, tendências
como a assinatura digital se tornaram de adesão obrigatória em
tempos de e pós pandemia, enquanto o uso de um CRM pode ser
considerado obrigatório para a empresa que quer se manter ou mover
para o topo de seu segmento. Cada situação e objetivos devem ser
avaliados individualmente, pois as tendências são aplicáveis a todas as
realidades, desde que devidamente personalizadas e alinhadas com o
resultado desejado.

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CAP. 11 - Análise da aplicação de tendências da transformação digital ao mercado imobiliário

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análise da incorporação residencial paulistana entre 1992 e 2007
(Dissertação de Mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo.

309
CAPÍTULO 12

A abordagem sistêmica
na gestão de design
para portadores de
transtornos mentais no
ambiente de trabalho

Aliteia Franciane Biglieri


Ricardo Pereira
Francisco Antonio Pereira Fialho

doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-16-6.012
CAPÍTULO 12

RESUMO
Com o Movimento da Reforma Psiquiátrica e as mudanças
nas leis brasileiras, os portadores de transtornos mentais
passaram a ter direitos como cidadãos. A possibilidade de
reinserção e reintegração na sociedade começou a ganhar
novos olhares e possibilitou o interesse de várias áreas das
ciências em analisar, pesquisar e validar projetos que os
beneficiem. A Abordagem Sistêmica da Gestão de Design
promove as inter-relações e integrações entre o todo
obtendo uma visão holística dos problemas existentes. O
objetivo deste artigo é demonstrar por meio de pesquisas
bibliográficas a realidade do sujeito em sofrimento
psíquico perante o trabalho. Como resultado obteve-se a
criação de Frameworks que propõe Processos de Interação
e Integração na relação Trabalhador – Empresa – Rede
Assistencial de Saúde afim de proporcionar uma visão
global da situação real e da evolução do quadro clínico.
Palavras Chaves: Abordagem Sistêmica; Gestão de Design;
Saúde Mental; Trabalho;

1. INTRODUÇÃO

Até há pouco tempo atrás, as pessoas portadoras de


transtornos mentais eram marginalizadas pela sociedade
CAP. 12 - A abordagem sistêmica na gestão de design para portadores de transtornos mentais no ambiente de trabalho.

e não tinham direitos como cidadãos, tornando-se incapacitadas


para as práticas laborais e sociais. Como afirma Costa e Lotta (2021):
“Entende-se a categoria de cidadão como uma identidade social
política, um sujeito reconhecido por um Estado-nação como parte
integrante de sua sociedade e que tem seus direitos civis, políticos
e sociais garantidos.” Enquanto por doente mental entende-se
um indivíduo considerado enfermo, irracional, que necessita ser
tutelado e normatizado (Costa e Lotta, 2021). Entretanto em 1988, o
Movimento da Reforma Psiquiátrica superou a exclusão social com
a aprovação da Lei 10.216/2001 que reconhece os direitos das pessoas
com transtornos mentais e modifica o modelo assistencial em saúde
mental. Costa e Lotta (2021) afirmam que por meio da política de
saúde mental, o Estado construiu a categoria dos usuários desses
serviços vinculada ao conceito de doentes mentais considerados
“loucos, degenerados, perigosos e incapazes” - indivíduos que
precisavam ser excluídos para não perturbar a ordem social. Essa
mudança garantiu que todas as pessoas pudessem usufruir dos
direitos da cidadania. Ao longo dos anos, essa categoria de doentes
mentais foi transformada, à luz das ideias de cidadania e inclusão.
(Costa e Lotta, 2021).
A Lei Brasileira de Inclusão das Pessoas com Deficiência (Lei
Federal nº 13.146/2015), em vigor a partir de janeiro de 2016 rompe
com a condição de incapacidade absoluta que era dada às pessoas
com transtornos mentais e passa a ser exceção à restrição de
direitos existenciais e de personalidade incluindo os direitos ao voto,
ao casamento, à educação, ao trabalho, à adoção, à sexualidade e
ao próprio corpo.
Esses direitos possibilitaram aos portadores a inclusão por
meio de uma visão sistêmica de tratamentos interdisciplinares
e multiprofissionais através da Rede de Assistência Psicossocial

313
do Sistema Único de Saúde - SUS e ganhou uma perspectiva de
reintegração psicossocial mediante os Programas de Reabilitação.
Estudos indicam que problemas de saúde mental têm se
tornado cada vez mais comuns, sendo que a ansiedade atinge
mais de 260 milhões de pessoas em todo o mundo. Segundo
a OMS, 9,3% da população brasileira sof re com ansiedade e
que 86% dos brasileiros sof rem com algum tipo de transtorno
mental (Passos, 2019).
O reconhecimento formal dos direitos, os conceitos e
práticas de transformação social, apresentam mudanças
culturais na forma como a loucura e o sof rimento mental são
vistos. Desta forma, os gestores, equipes de saúde, usuários,
familiares, redes de assistência, judiciário e sociedade,
precisam conhecê-los, discuti-los e exercê-los.
No ambiente de trabalho muitos prof issionais têm
percebido a dif iculdade de conciliar os sintomas e tratamento
psiquiátrico às exigências do ambiente laboral, das leis
trabalhistas e das exigências que o mercado impõe no quesito
produtividade. Isso signif ica que todos aqueles indivíduos
diagnosticados e em tratamento médico e medicamentoso
precisam de uma adaptação do ambiente de trabalho, cargas
horárias flexíveis, jornadas adaptadas ao seu caso clínico, entre
outros direitos.
Por conta dessa necessidade de informação e desta
visão sistêmica em torno da saúde mental é que pesquisas,
projetos e programas sociais vem sendo desenvolvidos a
f im de promover e facilitar a reintegração dos portadores
de transtornos mentais, principalmente, como fonte de
capacitação prof issional e geração de renda.
CAP. 12 - A abordagem sistêmica na gestão de design para portadores de transtornos mentais no ambiente de trabalho.

A Abordagem Sistêmica por meio da Gestão do Design que


defende o olhar panorâmico acerca do problema, que incentiva
a ação multi e interdisciplinar, a abrangência e visão holística da
realidade torna-se a ferramenta adequada a esta pesquisa.
Parte-se então para a seguinte reflexão: como os portadores
de transtorno mental podem desenvolver sua autonomia laboral,
social e financeira em um contexto social que não está preparado
para adaptar ou reintegrar este indivíduo no ambiente de trabalho
formal? Outra reflexão seria: Como fazer a gestão entre a capacidade
produtiva do portador e a realidade médica e diagnóstica a que
está inserido durante tratamento?
De modo a responder os questionamentos suscitados
no parágrafo anterior, este estudo propõe um framework com
informações sobre as diferentes variáveis e inter-relacionamentos
que envolvem a realidade laboral e da saúde mental do trabalhador
em sofrimento psíquico no trabalho, formal, informal e dos que
pleiteiam vagas de trabalho, afim de representar seu estado real
de capacidade laboral e produtiva, com o intuito de servir como
um prognóstico para análise e acompanhamento de sua evolução
durante o tratamento médico, terapêutico e medicamentoso,
buscando integração entre todos.
Assim com base nas pesquisas existentes na área da Gestão
do Design amparadas pela Abordagem Sistêmica e em conclusões
de pesquisas científicas de referência, este estudo propõe alinhar
as necessidades e problemática enfrentada pelos portadores
de transtornos mentais à visão holística em que se fundamenta
o pensamento e tratamento sistêmico. De forma a propor uma
metodologia de integração do trabalho, dos médicos, terapeutas e
das unidades de saúde assistenciais com base nos conhecimentos
teórico-práticos adquiridos por meio do conceito de Gestão e Design

315
Sistêmico por meio da proposta de Frameworks de Interação e
Integração entre o Trabalhador, a Empresa e a Rede Assistencial
de Saúde.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Saúde mental e trabalho

O entendimento da classif icação e especif icidades dos


transtornos e problemas relacionados à saúde mental se faz
de extrema importância para compreender os tipos existentes
de transtornos e o grau de sof rimento psíquico principalmente
associado ao trabalho.
Para Milhomens e Lima (2014, p. 378): As mudanças na
atenção à saúde mental brasileira, iniciadas pela Reforma
Psiquiátrica na década de 1980, proporcionaram a reconf iguração
das práticas em saúde mental e a criação de serviços territoriais
que oferecem alternativas aos manicômios com ações no campo
sociocultural com a criação de Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS), residências terapêuticas, Centros de Convivência e
Cooperativa (CECCO), entre outros.
Isso possibilita romper com o conceito de que a
“doença mental” torna os sujeitos incapazes de trocas sociais,
de convivência em liberdade e/ou de produzir algo válido do
ponto de vista social ou econômico o que favorece a defesa
de que a autonomia deve ser preservada e que a luta pela
permanência no ambiente de trabalho, mediante adaptações
práticas à realidade de cada portador de transtornos mentais,
deve se manter f irme e evolutiva.
CAP. 12 - A abordagem sistêmica na gestão de design para portadores de transtornos mentais no ambiente de trabalho.

Dentro do contexto que envolve o trabalho informal os


autores Andrade; Burali; Vida; Santos (2013) afirmam a importância
da relação entre loucura e trabalho no contexto brasileiro da
saúde mental em sua articulação com a economia solidária na
elaboração de uma política pública intersetorial de inclusão social
pelo trabalho. Destacando neste caso, uma das formas de inclusão
social e laboral dos portadores de transtornos mentais afim de
estimular a geração de renda e autonomia, além de promover o
conceito de produtividade coletiva do trabalhador em sofrimento
psíquico.
É importante contextualizar com a atualidade a construção do
prazer no trabalho e do sofrimento psíquico mediante aos últimos
acontecimentos globais conforme Costa et al. (2013) elencam o
pensamento de Antunes (1997) que traz para este debate a posição
que o trabalho ocupa na vida das pessoas suscitando a contradição
da “sociedade do trabalho sem trabalho”.
O desemprego e o subemprego, assim como a instabilidade
econômica para os trabalhadores informais e ainda mesmo para
os trabalhadores celetistas as exigências do trabalho atual e a
flexibilização do capital tem propiciado o advento de patologias
sociais, bem como o desenvolvimento de um sofrimento ético
ocasionado pela precarização do emprego (Mendes, 2007).
As mudanças na sociedade e no contexto do trabalho têm
instituído nas pessoas ansiedade, insegurança, medo do futuro,
imediatismo, perda de valores, sensação de abandono e frustrações.
(Costa et al., 2013)
De acordo com Costa et al. (2013, p. 13): “Dejours (1992) defende
que o sofrimento no trabalho surgiu como uma consequência da
Revolução Industrial do século XIX e começou a ser combatido

317
com a ascensão do movimento operário durante a Primeira Guerra
Mundial”. Explica que foi momento em que os trabalhadores
tomaram consciência de que poderiam reivindicar o direito
à segurança e à saúde. Costa et al. (2013, p. 13) complementa
uma afirmação de Dejours (2004) de que existem dois tipos de
sofrimento:
• O sofrimento criador, no qual o indivíduo acredita ter
liberdade para inovar no trabalho;
• O sofrimento patológico, que ocorre quando a carga psíquica
do trabalhador já está esgotada e pode levar a uma doença física
ou mental futura.
Ele afirma que o construto de prazer-sofrimento pode
ser montado de forma única com base em três fatores: o prazer
expresso pela valorização e reconhecimento; e o sofrimento pelo
desgaste com o trabalho.

2.2.. Pensamento Sistêmico

A Concepção Sistêmica segundo Capra (1986), enxerga o


mundo através de suas interrelações e integrações e é citado por
Vianna (2010, p. 93). “Sistemas são totalidades integradas, cuja
propriedades não podem ser reduzidas às unidades menores.”
(Capra apud Vianna, 2010, p. 93). Nessa abordagem são enfatizados
os princípios básicos de organização ao invés de se concentrar nos
elementos.
Aros (2016, p. 32) cita Bürdek (2006) que diz que pensar o
design sistematicamente quer dizer fazê-lo de forma integral e em
rede, ou seja, posicionando o design em uma perspectiva além do
CAP. 12 - A abordagem sistêmica na gestão de design para portadores de transtornos mentais no ambiente de trabalho.

sistema produtor-consumidor, não focando no objeto em si, mas


sim no sistema que o engloba.
Abordagem Sistêmica aplicada ao Design é a ênfase da teoria
moderna sobre o dinâmico de interação que ocorre dentro da
estrutura de uma organização (Figueiredo et al., 2018, p.05).
Figueiredo et al. (2018, p.6) cita a autora Krucken (2009) que
afirma que o principal desafio do design atualmente é desenvolver
ou suportar o desenvolvimento de soluções para questões de alta
complexidade, que exigem uma visão abrangente do projeto,
envolvendo produtos, serviços e comunicação de forma conjunta
e sustentável. A Abordagem Sistêmica permite considerar os
sistemas de valores sociais, culturais e éticos que constituem a
verdadeira essência do produto ou do serviço e que reconstituem
dignidade ao projeto dos bens, alargando as referências e não se
limitando apenas ao produto.
Os autores afirmam que durante a aplicação da Gestão do
Design “a Abordagem Sistêmica contribui para visualizar um
panorama holístico, entendendo a organização a ser estudada
como um sistema aberto, aonde as interferências ou problemas
detectados podem ser de ordem ambiental, social ou econômica
relativos a interferências e relações internas e externas à organização
e ao sistema de Gestão de Design”.
Para pensar e utilizar uma Abordagem Sistêmica, Figueiredo
et al. (2018, p.06) afirma que de acordo com Andrade et al. (2006),
deve-se buscar uma linguagem que satisfaça nossas necessidades
de pensar sistematicamente:
• Que leve a pensar mais no todo do que nas partes;
• Que enfatize mais os relacionamentos do que os objetos;

319
• Que promova o entendimento da realidade mais como redes
do que como hierarquia;
• Que permita ver círculos maiores de causalidade, em vez de
cadeias lineares de causa e efeito;
• Que focalize a dinâmica, os processos subjacentes, em vez
da estrutura estática;
• Que faça deixar de pensar e conceber o mundo como uma
máquina, e permita ver o mundo como um organismo vivo.

2.3. Gestão de design

Para iniciar a abordagem do conceito de Gestão do Design


vale a pena citar sua etimologia que segundo Aros (2016, p. 33), a
palavra Design é um termo polissêmico do inglês que, enquanto
verbo, tem o sentido de planejar, desenhar, criar, conceber. E que,
como substantivo, indica um processo projetual e uma prática
profissional; que busca a resolução de problemas com foco nas
pessoas (Mozota, 2011; Best, 2012).
Já a gestão, conforme Martins e Merino (2011), é um fenômeno
do mundo moderno que conduz as atividades de uma organização
mediante planejamento, execução e controle, com o intuito de
alcançar os objetivos organizacionais propostos (Aros, 2016, p. 33).
Aros (2016, p. 34) cita Martins e Merino (2011), Mozota (2011)
e Best (2012): “A Gestão de Design pode ser entendida como o
planejamento, implementação, gerenciamento e controle das
atividades de um programa de design em uma organização.” Assim
CAP. 12 - A abordagem sistêmica na gestão de design para portadores de transtornos mentais no ambiente de trabalho.

a Gestão de Design comtempla processos, projetos e pessoas.


A autora afirma que em um nível mais holístico, “a gestão de
design procura conectar design, inovação, tecnologia, gestão e
clientes, a fim de fornecer vantagem competitiva através da tríade
econômica, sociocultural e ambiental”.
Ao estudar a Gestão de Design busca-se compreender (ou
aplicar) seus conceitos na busca pela proposta de uma metodologia
inovadora de inclusão. Uma vez que tanto a Gestão quanto o Design
são meios para a resolução de problemas.
Para Aros (2016, p. 23) o design, como uma área multidisciplinar
voltada para o mercado na geração de produtos e serviços, é
múltiplo, fluido e dinâmico, portanto, seu processo projetual torna-
se igualmente complexo, tendo de gerenciar grande quantidade
de informações e variáveis em cada fase e etapa percorrida.
Segundo Aros (2016, p. 34) a Gestão de Design desenvolve-se
a partir de tomadas de decisões que podem ser compreendidas
como: Nível operacional, Nível tático e Nível estratégico.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1. Processo de design

O Processo de design foi brevemente citado no Referencial


Teórico no tópico de Gestão de Design por fundamentar esta
pesquisa por meio de sua metodologia inspirada nas etapas do
Design Thinking.

321
Souza (2017) é citado por Oliveira et al. (2022) expondo uma
figura que apresenta visualmente as etapas do Design Thinking.
Como pode ser visto abaixo:
Figura 01 – Processo de Design Thinking

Fonte: Souza (2017); Oliveira et al .(2022); Pereira et al. (2022, p. 50)

E complementado pelo Framework proposto por Biglieri et al.


(2022, p. 77) e adaptado do Modelo Human Centered Design – HCD
proposto pela Ideo em 2009 que une o Modelo HCD as etapas do
Design Thinking.
Figura 02 – Fases do HCD no desenvolvimento de projetos de inovação

Fonte: Biglieri et al. (2021p. 77)


CAP. 12 - A abordagem sistêmica na gestão de design para portadores de transtornos mentais no ambiente de trabalho.

A gestão de design a nível operacional é voltada para o


processo de design, e segundo Mozota apud Martins e Merino,
(2008, p. 101-102), correspondem a cinco fases com objetivos
def inidos, conforme quadro 02:
Quadro 02: Processos Criativos do Design

Fonte: MOZOTA apud MARTINS E MERINO (2008, p. 101-102)

Pereira et al. (2022, p. 27) expõe ainda outro Modelo/


abordagem que disponibilizam um conjunto de métodos/
técnicas/ferramentas que buscam operacionalizar ou servir
de passo-a-passo para fazer acontecer o processo de Design
Thinking que é o Double Diamond.
Micheli et al. (2018), citados por Pereira et al. (2022, p.
28), identif icaram, em uma revisão sistemática de literatura,
com consulta à especialistas, um total de 37 ferramentas e
atributos de Design Thinking. As ferramentas/métodos que
apresentaram maior ocorrência nos artigos são relacionadas
no quadro abaixo:

323
Quadro 3. Relação entre ferramentas de Design Thinking e atributos

Fonte: Micheli et al., 2018 citado por Pereira et al. (2022, p. 28)

Dentro das etapas do Design Thinking e de outras abordagens


de Processo de Gestão de Design abordados, pode-se dizer que estas
divisões propostas se enquadram na primeira fase, conhecida como
Empatia. Para ilustrar o conceito visual do tema segue figura abaixo:
CAP. 12 - A abordagem sistêmica na gestão de design para portadores de transtornos mentais no ambiente de trabalho.

Figura 03 – Fases do HCD no desenvolvimento de projetos de inovação

Fonte: Biglieri et al. (2021, p.79)

Durante este estudo aplicou-se a Fase da empatia, que é o


momento de ouvir, de escutar, de observar os sujeitos, a empresa,
as atividades, e tudo que envolve a realidade do trabalhador em
sof rimento psíquico.
E de acordo com o Modelo do HCD é uma fase abstrata
no início do tempo que tende a tornar-se concreta ao longo do
percurso quando evolui para o próximo passo que é a Def inição
do Problema ou Foco e que se enquadra no início da etapa: Criar.
Superado este início de percurso, começa-se a criar
alternativas para soluções utilizando processos de criatividade
como Brainstorm, mapa de empatia, mapa conceitual, mapa
mental e outros. É a fase de deixar as ideias fluírem af im de
encontrar as que melhor fazem sentido para a resolução do
problema.
Com as ideias principais selecionadas começa-se a etapa
de construção conhecida por Prototipação, af im de tirar do
papel a ideia selecionada e torna-la real, palpável, viva. Para
que na etapa de Teste, possa validar a propostas e testar o que
funciona e o que não funciona.

325
Depois dos testes, chega-se à etapa de implementação, onde
todos aprendem o que deu certo e o que não deu, e percebem o
que precisa ser mudado para funcionar. Então o ciclo retorna ao
início para que passe por todas as etapas novamente com outro
foco e fundamentado na experiencia adquirida afim de construir
melhorias.
Todos estes processos relatados e a construção do framework
de melhorias e soluções só pode acontecer se o trabalho
desenvolvido acontecer de forma holística com base na Abordagem
Sistêmica da Gestão de Design em que todos os colaboradores,
setores, departamentos e gestores possam contribuir.

4. RESULTADOS

A pesquisa buscou coletar dados teóricos acerca do tema


proposto afim de fortalecer a informação cientifica e validar a criação
de um framework capaz de comunicar o processo e etapas de
definição da situação real da saúde mental do trabalhador. Buscando
identificar informações base sobre seu sofrimento psíquico para uma
melhor interação entre a Empresa e a Rede Assistencial de Saúde.
Além de buscar promover uma melhor integração da realidade entre
o Trabalhador, a Empresa e a Rede Assistencial de Saúde
Através do Processo da Gestão do Design sob a perspectiva
da Abordagem Sistêmica de levantamento da situação real e
reconhecimento dos problemas existentes, pôde-se propor um
framework com variáveis e inter-relacionamentos que envolvem a
situação real da saúde mental do sujeito no ambiente de trabalho
formal e informal que também serve como base para a investidura de
candidatos para vagas no ambiente de trabalho.
CAP. 12 - A abordagem sistêmica na gestão de design para portadores de transtornos mentais no ambiente de trabalho.

Foi criado um Formulário de identif icação e um check-list


com informações-base para o reconhecimento da situação real
da saúde mental do sujeito. Este material serve para promover
a integração e interação entre o Trabalhador, a Empresa e a
Rede Assistencial de Saúde pois atua como ferramenta de
anamnese inicial e controle da evolução do acompanhamento
e tratamento do sujeito em sof rimento mental.
Durante este estudo percebeu-se algumas diferenças
importantes quanto à realidade do portador de transtorno
mental e o trabalhador em sof rimento psíquico. Existem aqueles
que já estão em situação formal de trabalho, os que estão
trabalhando informalmente, os que estão desempregados e
os que nunca trabalharam.
Em relação ao trabalho formal, em que são celetistas,
existem os trabalhadores que precisam de afastamento pelo
INSS, os que não precisam de afastamento e os que estão se
reintegrando depois do afastamento.
Existe ainda uma relação entre o trabalhador contratado,
operante ou não-operante, e, o trabalhador candidato que
busca pleitear uma vaga de trabalho. Este pode ser ou não
portador de transtorno mental ou estar em sof rimento
psíquico. Também existe a realidade dos trabalhadores
informais que passam pelo mesmo tipo de sof rimento, mas
em uma classif icação diferente de regras do trabalho, direitos
e deveres.
Percebeu-se durante a pesquisa que são muitos
condicionantes responsáveis pelo adoecimento mental e
f ísico do trabalhador. Por isso foram criadas algumas divisões
que serviram para compor um check-list de avaliação:

327
Figura 04 – Proposta de Formulário de Identificação e Check-list operacional

Fonte: elaborado pelos autores (2022)

Este check-list deve ser aplicado com o trabalhador,


pela empresa e redirecionado ao médico do trabalho ou rede
assistencial de saúde. Ele atua como ferramenta para anamnese
e controle do quadro evolutivo. Tem-se assim, uma distribuição
de responsabilidades sobre o quadro clínico do trabalhador
entre a empresa e a rede assistencial de saúde. Mantendo ambas
envolvidas e cientes da evolução clinica do trabalhador.
Estas são algumas das categorias propostas para iniciar um
check-up da situação real de trabalhadores dentro do ambiente
de trabalho afim de reconhecer a realidade em que está inserido
CAP. 12 - A abordagem sistêmica na gestão de design para portadores de transtornos mentais no ambiente de trabalho.

e propor soluções alternativas em conjunto com os envolvidos.


Como resultados deste estudo obtivemos o desenvolvimento
de um framework que demonstra a proposta de interação entre a
Empresa, o Trabalhador e a Rede Assistencial.
Figura 05 – Framework do Processo de Interação entre Trabalhador, Empresa e Rede Assistencial de Saúde

Fonte: elaborado pelos autores (2022)

Este framework ilustra a relação entre a Empresa, o Trabalhador


e a Rede Assistencial de Saúde. Hoje as empresas de Medicina
do Trabalho fazem a anamnese do trabalhador e as informações
repassadas para a empresa limitam-se a aprovado ou reprovado para

329
o cargo. Este framework busca enriquecer as informações mantendo
uma relação dentre as partes envolvidas gerando feedbacks
construtivos afim de manter este trabalhador no ambiente laboral.
Com base na Representação da Perspectiva Sistêmica do
Processo de Design proposto por Aros (2016, p. 39) percebido na Figura
06 abaixo, desenvolvemos um segundo Framework de como seria o
Processo de Interação e Integração entre a Empresa, o Trabalhador e a
Rede Assistencial de Saúde.
Figura 06 – Representação do Processo e Gestão de Design

Fonte: Aros (2016, p. 39)

Figura 07 – Framework do Fluxo de Integração entre Trabalhador, Empresa e Rede Assistencial de Saúde

Fonte: elaborado pelos autores (2022)


CAP. 12 - A abordagem sistêmica na gestão de design para portadores de transtornos mentais no ambiente de trabalho.

A troca de informações médicas, assim como, a de


informações do dia a dia do trabalhador e o seu próprio relato de
dif iculdades podem ser facilitadas através da aplicação destes
f rameworks uma vez que o enriquecimento de informações
das partes envolvidas aliam-se a divisão e ocupação de
responsabilidades promovendo uma solução mais ef iciente e
completa.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mais importante deste estudo foi empregar os conceitos e


conhecimento das ferramentas de Gestão de Design ao conceito
holístico que o Pensamento Sistêmico proporciona ao envolver
a Empresa, o Trabalhador e a Rede Assistencial de Saúde para
promover uma melhoria na comunicação, no acompanhamento
da saúde do trabalhador e no conhecimento da situação em que
se encontra o tratamento através da proposta deste Framework
de Interação e Integração das partes envolvidas.
Os Frameworks buscaram representar, de forma inicial,
o estado real em que se encontra o sujeito em sof rimento
psíquico para análise da capacidade laboral e produtiva, com o
intuito de servir como um prognóstico para acompanhamento
de sua evolução durante o tratamento médico, terapêutico e
medicamentoso, buscando integração entre todos.
Os estudos e as pesquisas no âmbito da saúde mental do
trabalhador devem continuar e o aprimoramento deste estudo
serviu de base para o desenvolvimento de novas publicações
que envolvem a realidade do portador de transtorno mental e o
trabalhador em sof rimento psíquico.

331
Este estudo conseguiu criar a base fundamental do panorama
que envolve a realidade do trabalhador em sofrimento psíquico no
ambiente de trabalho, pois inicia uma jornada de pesquisa para o
aprofundamento das questões relativas a todos os condicionantes e
variáveis que circundam a vida laboral de um portador de transtorno
mental.
Ter uma interação e um projeto de integração entre a Empresa,
o Trabalhador e a Rede Assistencial de Saúde proporcionam uma
visão mais ampla da realidade e das afirmativas para a evolução do
quadro clínico e a estabilidade de se manter o trabalho como fruto da
autonomia laboral, social e financeira em que foi proposta a primeira
reflexão deste estudo.
A proposta de um formulário de apresentação e de contato
do trabalhador, o check-list e os frameworks serviram também para
responder a segunda reflexão proposta neste estudo que foi: “Como
fazer a gestão entre a capacidade produtiva do portador e a realidade
médica e diagnóstica a que está inserido durante tratamento?”.
Estes elementos adequam o olhar sob a perspectiva dos três maiores
interessados: a Empresa, o Trabalhador e a Rede Assistencial de
Saúde, além de comunicar o andamento do processo, as decisões, as
afirmativas, propor feedbacks, devolutivas e evolução do quadro clínico
facilitando a comunicação entre todos e aumentando a percepção de
produtividade diante da capacidade real do sujeito trabalhador.

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação


de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) –
Código de Financiamento 001.
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Santa Catarina Programa de Pós Graduação em Engenharia
de Produção a Gestão de Design como uma Estratégia
Organizacional - Um modelo de integração do design em
organizações Rosane Fonseca de Freitas Martins. https://core.
ac.uk/download/pdf/30368164.pdf
Psicodinâmica Do Trabalho: Teoria, Método E BAIXAR
EBOOK Mendes, Ana Magnolia. (n.d.). Www.livrebooks.com.br.
Retrieved July 24, 2022, f rom https://www.livrebooks.com.br/
livros/psicodinamica-do-trabalho-teoria-metodo-e-mendes-
ana-magnolia-tpdu2mlcz0mc/baixar-ebook
Milhomens, A. E., & Lima, E. M. F. de A. (2014). Recepção
estética de apresentações teatrais com atores com
história de sof rimento psíquico. Interface - Comunicação,
Saúde, Educação, 18, 377–388. https://doi.org/10.1590/1807-
57622013.0951
Pereira, R., Menegali, C., & Fialho, F. A. P. (2022). (Re)
Pensando o Design Thinking. In Fialho, F., Pereira, R., Menegali,
C. (Re) Pensando o Design Thinking. 1. ed. Florianópolis:
Arquétipos, 2022, v. 1, p. 17-41.
Pesquisa mostra que 86% dos brasileiros têm algum
transtorno mental. (n.d.). VEJA. https://veja.abril.com.br/
saude/pesquisa-indica-que-86-dos-brasileiros-tem-algum-
transtorno-mental/
Vianna, J. C. T. (2005). O pensamento sistêmico e a
modelagem. Revista Didática Sistêmica, 1, 90–105. https://
periodicos.furg.br/redsis/article/view/1186

335
PERSPECTIVAS em engenharia, mídias e gestão do conhecimento
ORGANIZADORES

Ricardo Pereira
Girlane Almeida Bondan
Luciano Zamperetti Wolski
Camila Menegali
Ana Ester da Costa
Nárima Alemsan
Letícia Cunico
Ingrid Weingärtner Reis
Aliteia Franciane Biglier
Denilson Sell
Francisco Antonio Pereira Fialho
Luiz Marcio Spinosa
Neri dos Santos

337
ORGANIZADORES

RICARDO PEREIRA

Doutorando no Programa de Pós-


Graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento (EGC) da Universidade
Federal de Santa Catarina. Mestre
em Engenharia de Produção, na área
de inteligência organizacional pela
Universidade Federal do Santa Catarina (2009). Graduado
em Administração de Empresas (2002) e em Direito (2013),
ambos pela Universidade Federal de Santa Catarina, com
especialização/MBA em Gestão Global pela Universidade
Independente de Lisboa (2004). Pesquisador do Núcleo de
pesquisas ERGON, do Núcleo de Estudos e Desenvolvimento
em Conhecimento e Consciência (NEDECC) e Núcleo de
Pesquisas em Complexidade e Cognição, vinculados ao
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão
do Conhecimento (PPGEGC) da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC).
GIRLANE ALMEIDA BONDAN

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação


em Engenharia e Gestão do Conhecimento da
UFSC. É Mestra em Educação pela Universidade
de Brasília (UnB). Graduou-se em Turismo e
Hotelaria com especialização em Planejamento
e Gestão Hoteleira pela Universidade do Vale
do Itajaí. Realizou a implantação do Centro de Eventos do SESC
Pousada Rural em Lages SC quando atuou no Turismo Social
daquela unidade. Lecionou em Instituições de Ensino Superior e
de Educação Profissional na sua área de formação. Colaborou na
implantação do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, como
Diretora-Geral pro tempore do Câmpus Três Lagoas. Atualmente
exerce o cargo de docente do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
no Instituto Federal de Santa Catarina, tendo contribuído na
Gestão do câmpus e na Reitoria como coordenadora de Extensão
e Relações Externas e Diretora de Assuntos Estudantis da Pró-
Reitoria de Ensino, respectivamente.

LUCIANO ZAMPERETTI WOLSKI


Professor efetivo da Universidade do Estado de
Mato Grosso. Atualmente cursando doutorado
no Programa de Pós-Graduação em Engenharia
e Gestão do Conhecimento (PPGEGC) da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Atua na área de concentração da Engenharia de
Conhecimento (EC) com linha de pesquisa em
Teoria e Prática em Engenharia do Conhecimento.

339
CAMILA MENEGALI

Doutoranda em Design pela UFSC, mestra em


Engenharia e Gestão do Conhecimento na
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
na área de Mídia do Conhecimento, seguindo
a linha de pesquisa Mídia do Conhecimento
e Educação. Dedica-se ao estudo dos jogos
aplicados à aprendizagem, mais especificamente em como os
recursos que esse tipo de mídia possui podem contribuir com o
engajamento do estudante. Possui graduação em Design pela
Universidade Federal de Santa Catarina (2017), tendo como foco a
produção de ilustrações digitais e animações 2D e 3D. Atuou como
designer gráfico entre 2017 e 2020, trabalhando na produção de
materiais publicitários, marketing digital e diagramação.

NÁRIMA ALEMSAN

Doutoranda no programa de Pós em


Engenharia e Gestão do Conhecimento (EGC),
tem mestrado completo em Engenharia e
gestão do conhecimento (Mídia). Integra os
grupos: núcleo de Estudos e Desenvolvimentos
em Conhecimento e Consciência - NEDECC,
núcleo de Pesquisas em Complexidade e Cognição - NUCOG.
Lemme Lab | Inovação Digital & Gestão Visual - UFSC. Tem
graduação em Design Gráf ico pela UDESC. Palestrante. Área:
Design. Temas de interesse em publicações e ensino: UX/
UI, experiência do usuário, criatividade, processos de criação,
ciências humanas, branding, artes, cultura, design thinking,
transformação digital e inovação.
ANA ESTER DA COSTA

Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação


em Engenharia e Gestão do Conhecimento
-Universidade Federal de Santa Catarina.
Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa/CNPq do
Grupo de Coprodução de Commons Digitais
(CCD/EGC/UFSC). Integrante e pesquisadora
do Programa CEURS - Capacitação de Agentes Municipais na
Municipalização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
em coprodução com pesquisadores do Programa de Pós-
Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da
Universidade Federal de Santa Catarina (PPGEGC/UFSC).
Pesquisadora no Projeto MUNICIPA2030 - Sistema tutorial
baseado em jogos sérios para capacitação e conscientização sobre
a agenda 2030. Mestre em Administração pela Universidade do
Estado de Santa Catarina - Centro de Ciências da Administração e
Socioeconômicas - UDESC/ESAG. Especialista em Controladoria
e Finanças pela Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de
Santana/ Bahia. Graduada em Administração (2004) atuou como
consultora para o Ministério de Educação de Angola na área de
Recursos Humanos em projeto para Reconstrução de Angola
(até 2010), experiência em EAD (UAB – UFSC (Administração e
Administração Pública) e Unisul Virtual) e em coordenação e
supervisão de projetos de extensão.

341
LETÍCIA CUNICO

Docente no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC),


doutoranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento
(UFSC), tem mestrado em Administração (UFSC),
especialização em Docência para a Educação
Profissional (IFSC) e em Gestão Empresarial (FGV),
Bacharelado em Moda (UDESC). Membra dos grupos
de pesquisa (CNPQ): Modelagem em Gestão, Design e Processos – UFSC
e Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Sociais Aplicadas e
da Linguagem - GESIGN - IFSC. Atuou como diretora e coordenadora
de extensão no IFSC e no desenvolvimento de produtos no segmento
de confecção para marcas nacionais. Tem experiência em extensão,
curricularização da extensão, empreendedorismo, desenvolvimento de
produto, planejamento de coleção, eventos e gestão.

INGRID WEINGÄRTNER REIS

Possui mestrado em Ciências na área de Economia,


Organização e Gestão do Conhecimento, pelo
ProgramadeEngenhariadeProduçãodaUniversidade
de São Paulo. Especialista em metodologias de
Educação a Distância pelo Claretiano Centro
Universitario e Especialista em Modelos de Gestão de
Excelência pelo SENAC-SC em parceria com a Fundação Nacional da
Qualidade (FNQ). Possui experiência profissional em gestão de processos
e implementação de sistemas com consultoria em Universidades.
Atualmente é professora pesquisadora do Departamento de Ciências
Econômicas e Empresariais da Universidade Técnica Particular de Loja
– Equador. É membro do Núcleo de Acessibilidade Digital e Tecnologias
Assistivas, do grupo de pesquisa de Gestão do Conhecimento e do grupo
de pesquisa em Educação Arete na UTPL.
FRANCISCO ANTONIO PEREIRA
FIALHO
Doutor em Engenharia de Produção (UFSC).
Mestre em Engenharia de Produção e Ergonomia
(UFSC). Graduado em Engenharia Eletrônica
(PUCRio). Graduado em Psicologia pela UFSC.
Professor Titular da Universidade Federal de
Santa Catarina no Programa de Pós--Graduação
em Engenharia e Gestão do Conhecimento (PPGEGC/UFSC). Lidera
os grupos de pesquisa Núcleo de Estudos e Desenvolvimentos em
Conhecimento e Consciência (NEDEC2) e Núcleo de Pesquisas em
Complexidade e Cognição (Nucog), na UFSC.

ALITEIA FRANCIANE BIGLIERI

Mestranda do Programa de Pós-graduação em


Design da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), possui Especialização em Marketing, negócios
e vendas pela UNESPAR campus Fecea (2011) e é
Bacharel em Desenho Industrial pela Universidade
Estadual de Londrina (2005). É Pesquisadora Bolsista
CAPES e realizou Estágio Docência na Universidade Cidade Verde (UniCV)
em 2022. Atua nas áreas de Design Gráfico e Marketing. Prestou serviços
como professora conteudista de Design Editorial pela VG Educacional em
2019. Lecionou Processo Criativo para os cursos de tecnologia em Design
gráfico e Produção audiovisual em 2017 na Faculdade Eficaz. Trabalhou
como tutora online do curso superior de tecnologia em Marketing do
NEAD-Unicesumar. Suas áreas de concentração são a Gestão de Design, o
Design Thinking, a Design Science Research, a Saúde Mental e o Metaverso.

343
DENILSON SELL

Denilson Sell é professor no Programa de


Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento na UFSC e do Doutorado Profissional
em Administração da ESAG/UDESC. Atua
também como diretor e pesquisador no Instituto
Stela. Possui ampla experiência em Engenharia
e Gestão do conhecimento, Transformação Digital, Analytics, Big
Data e Inteligência artificial, desenvolvendo consultorias, projetos
e soluções analíticas no setor de óleo e gás (como na gestão de
riscos em operações integradas no Consórcio Libra/Petrobrás), no
setor elétrico (e.g. detecção de fraudes, gestão de redes de BT e MT,
previsão de cargas, entre outras com a CELESC), no setor financeiro
(e.g. gestão da ética e integridade no Itaú-Unibanco), saúde (e.g.
expertise location e gestão do conhecimento para a ANVISA e
entidades internacionais como a Organização Mundial da Saúde,
Organização Pan-Americana de Saúde e Centro Latino-Americano
de Perinatologia), setor educacional (e.g. aplicações de expertise
location e de inteligência artificial na gestão da pesquisa e da
evasão para mais de 40 universidades), além da criação de soluções
analíticas avançadas para organizações como Embraer, Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação, Ministério da Educação, dentre
outras organizações nacionais e internacionais.
LUIZ MARCIO SPINOSA

Pós-doutor em Inovação pela Universidade da


Califórnia em Berkeley (EUA), doutor e mestre
(DEA) em Informática e Produtrônica pela
Universidade d´Aix-Marseille (FR), especialista em
Inovação pela Universidade do Texas (EUA) e pela
Universidade Simon Fraiser (CAN), mestre em
Engenharia Mecânica e Bacharel em Ciências da Computação pela
UFSC. Atualmente professor e pesquisador na área de ecossistemas
de inovação e engenharia do conhecimento, coordenador do Grupo
de Pesquisa Modelos e Sistemas Nacionais de Inovação da Triple-
Helix Association originária da Universidade de Stanford (EUA),
pesquisador visitante da Universidade da Califórnia em Berkeley
(EUA) e diretor Acadêmico e Científico do LabCHIS (Unilivre/UFSC).
Foi professor titular da PUCPR, implantou e dirigiu a Agência
PUCPR de Inovação e o PUCPR Tecnoparque, diretor de Integração
e Planejamento Estratégico na mesma instituição. Também foi
pesquisador visitante do Núcleo de Apoio à Gestão da Inovação
do Paraná da FIEP, coordenador do MBA Internacional em Gestão
da Inovação da FIEP/SENAI, coordenador do Programa Estratégico
W-Class em TIC da SETI Governo do Paraná. Atuou em Programas
de Pós-graduação em Administração, Engenharia de Produção e
Sistemas e Gestão Urbana. Possui mais de 100 trabalhos científicos
e técnicos publicados. Participou em mais de 50 projetos nacionais
e internacionais de pesquisa e desenvolvimento. Desde 2019 ocupa
o cargo de diretor de CT&I da Fundação Araucária.

345
NERI DOS SANTOS

Graduado em Engenharia Mecânica pela


Universidade Federal de Santa Catarina (1976),
especialização em Engenharia de Segurança
do Trabalho pela Universidade Federal de Santa
Catarina (1977), Mestrado em Ergonomia pela
Université de Paris XIII (1982) - França, Doutorado
em Ergonomia da Engenharia; pelo Conservatoire National des
Arts et Metiers (1985) - França e Pós-doutorado em Engenharia
Cognitiva pela École Polytechnique de Montréal- Canadá. Ex-
Presidente da ABEPRO, Gestão 92/93 e 94/95. Ex-Decano da Escola
Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR
2015/2018. Atualmente é CEO do Instituto STELA e professor Sênior
do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (EGC/
UFSC). Faz parte do Conselho Editorial das seguintes revistas:
American Journal of Industrial Engineering, International Journal
of Knowledge Engineering and Management, Ação Ergonômica,
Gestão Industrial, INGEPRO Inovação, Gestão e Produção e Revista
de Ciência & Tecnologia. Tem experiência na área de Engenharia &
Gestão do Conhecimento, atuando principalmente nos seguintes
temas: Cognição, Gestão do Conhecimento e Inovação.
347
AUTORES
Luiz Carlos Cerquinho de Brito
Zeina Rebouças Correa Thomé
Ana Juliana Fontes
Natana Lopes
Márcio Vieira de Souza
Breno Jaime Amaral Souto
Regina Adriana Zanoello Ardigó
Patrícia de Sá Freire
Thaís Regina Umbelino
Roberto Carlos dos Santos Pacheco
Maria José Baldessar
Diana Carla Secundo da Luz
Zidalva de Souza Moraes
Débora Cardoso da Silva
Larissa Gaspar Coelho Pinto
Sergio Luiz Gargioni
Cheryl Maureen Daehn
Solange Maria da Silva
Cristiano José Castro de Almeida Cunha
Giulia Platt Maffezzolli

349
AUTORES

LUIZ CARLOS CERQUINHO DE


BRITO
Doutor em Educação (UFRGS), Mestre
em Educação (UFSC), graduado em
Pedagogia (UFAM). Professor Titular da
Universidade Federal do Amazonas em
Cursos de Graduação e no Programa de
Pós-Graduação em Ensino de Ciências e
Matemática (PPGECIM). Vice-líder do grupo de pesquisa
Comunicação, Tecnologia e Cultura na Educação Presencial
e a Distância (CEFORT).

ZEINA REBOUÇAS CORREA


THOMÉ
Doutora em Engenharia da Produção –
Mídia e Conhecimento (UFSC). Mestre
em Educação (UFSC). Graduação em
Pedagogia (UFAM). Professora Titular
da Universidade Federal do Amazonas
no Programa de Pós-Graduação em
Educação (PPGE) e no Programa de Pós-Graduação
em Ensino de Ciências e Matemática. Líder do grupo de
pesquisa Comunicação, Tecnologia e Cultura na Educação
Presencial e a Distância (CEFORT).
ANA JULIANA FONTES

Doutoranda no Programa Pós-graduação de


Engenharia e Gestão do Conhecimento, na
área de mídias do conhecimento (EGC - UFSC).
Mestrado em Jornalismo pela Universidade
Federal de Santa Catarina - UFSC (2014) e
graduação em Comunicação Social - Jornalismo
pela Universidade Federal do Pará - UFPA (2008). Tem experiência
em Comunicação visual/audiovisual, estrutura da informação,
estética, semiótica e divulgação C&TI. Membro Integrante do
Grupo de Pesquisa CNPQ Mídia e Conhecimento (LabMídia). Em
2012, recebeu juntamente com o Grupo Comunicacional de Belém
o Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação, na categoria
Grupo Inovador.

NATANA LOPES

Doutoranda no programa de Pós-graduação


em Engenharia e Gestão do Conhecimento.
Mestrado em Tecnologias da Informação
e Comunicação na Universidade Federal
de Santa Catarina (2019). Especialista em
Mídias Integradas na Educação - IFSC (2022).
Graduação em Tecnologias da Informação e Comunicação
(TIC/UFSC). Integrante do Grupo de Pesquisa CNPQ Mídia e
Conhecimento (LabMídia).

351
MÁRCIO VIEIRA DE SOUZA

Possui graduação em Comunicação Social


(Habilitação- Jornalismo) pela Universidade do
Vale do Rio dos Sinos (1985), especialização em
Educação (duas) (UFSC, UNISINOS). Mestrado em
Sociologia Política pela Universidade Federal de
Santa Catarina (1995) e Doutorado em Engenharia
de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002).
Tem experiência na área de mídia e conhecimento, comunicação,
sociologia política, Educação a Distância, mídias digitais, atuando
principalmente nos seguintes temas: comunicação e educação,
mídia e conhecimento, inovação na educação, educação em rede,
sociologia e tecnologia, redes e mídias sociais, Análise de redes
sociais (ARS), vídeo e democracia, desenvolvimento sustentável e
tecnologias da informação e da comunicação (TIC), metodologia
de pesquisa e metodologias ativas na educação. Foi chefe de
departamento do curso de jornalismo da UNIVALI-SC, foi professor
no Mestrado do Programa de Pós-graduação em Gestão em
Políticas Públicas da UNIVALI-SC. Foi professor permanente do
PPGTIC-UFSC. É professor Associado da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC) onde é um dos líderes do Grupo de
Pesquisa de Mídia e Conhecimento da UFSC (CNPq) e atua no
Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento (DEGC-
UFSC). É professor permanente no Programa de Pós-graduação
em Engenharia e Gestão do Conhecimento. É Coordenador do
LabMídia (laboratório de Mídia e conhecimento) da UFSC.
BRENO JAIME AMARAL SOUTO

Mestrando em Engenharia e Gestão do


Conhecimento pela Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), Bacharel em Serviço
Social (2020), pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), Pesquisador do Laboratório de
Engenharia da Integração e Governança Multinível
do Conhecimento e Aprendizagem Organizacional (ENGIN/UFSC/
CNPQ), Revisor da Revista E-Tech: Tecnologias para Competitividade
Industrial. O foco das pesquisas tem sido: Diversidade focado nas
relações étnicos-raciais no Mercado de Trabalho.

REGINA ADRIANA ZANOELLO


ARDIGÓ
Mestranda em Engenharia e Gestão do
Conhecimento pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC), Especialização em
Gestão Estratégica de Recursos Humanos pela
UNIVILLE e Graduada em Psicologia pela UNIVALI.
Pesquisadora do Laboratório de Liderança e
Gestão Responsável (LGR UFSC).

353
PATRÍCIA DE SÁ FREIRE

Doutora e Mestre em Engenharia e Gestão


do Conhecimento, é professora efetiva do
Departamento de Engenharia do Conhecimento
e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia e Gestão do Conhecimento e
do Programa de Pós-Graduação em Métodos e
Gestão da Avaliação da Universidade Federal de Santa Catarina.
Possui graduação em Educação, com habilitação em Tecnologias
da Educação. É especialista em Marketing e em Psicopedagogia.
Líder do ENGIN Laboratório de Engenharia da Integração e
Governança Multinível do Conhecimento e da Aprendizagem
e membro dos Grupos IGTI (Núcleo de Inteligência, Gestão e
Tecnologia para a Inovação/UFSC) e, do KLOM (Interdisciplinar em
Conhecimento, Aprendizagem e Memória Organizacional/UFSC). É
Editora do International Journal of Knowledge and Management
(IJKEM). É pesquisadora coordenadora dos projetos de pesquisa
que deram origem ao Modelo Universidade Corporativa em
Rede (UCR), Governança Multinível da Aprendizagem e do
Conhecimento, Modelo de Grupos Colaborativos, Ambiente de
aprendizagem 8C, Sistemas de priorização e recomendações
GUTAI e a Neoaprendizagem.
THAÍS REGINA UMBELINO

Possui Mestrado no Programa de Pós-Graduação


em Engenharia e Gestão do Conhecimento
(PPGEGC/UFSC), na área de concentração de
Gestão do Conhecimento e linha de pesquisa
Teoria e Prática em Gestão do Conhecimento
(Julho/2022). Especialização em MBA em Gestão
Financeira e Controladoria pela Faculdade Avantis (Julho/2019).
Graduação em Ciências Contábeis também pela Faculdade
Avantis (Julho/2017). Realizou pesquisas na área de Gestão do
Conhecimento, aprendizagem organizacional, capacitação e
treinamento específicos às competências funcionais, educação
digital e metodologias ativas de ensino. Tem experiência na área
contábil, financeira e administrativa de organizações privadas
e públicas. Planejamento e desenvolvimento de cursos de
capacitação organizacional e metodologias ativas na educação.
Atualmente é professora permanente no curso de Gestão
Empresarial da escola All Net (Região do Vale do Paraíba/SP).

355
ROBERTO CARLOS DOS SANTOS
PACHECO
Doutor em Engenharia de Produção (UFSC, 1996)
e professor do departamento de Engenharia do
Conhecimento da UFSC. Participou da criação
e coordena o Programa de Pós-Graduação em
Engenharia e Gestão do Conhecimento (EGC/
UFSC). Foi o pesquisador instituidor do Instituto
Stela. Atua em comissões de assessoria técnico-científicas (incluindo
CAPES, FAPESC, FAPEMIG, IEL, SBGC, OPS/BIREME). É pesquisador
nas áreas de engenharia e gestão do conhecimento, governo
eletrônico e interdisciplinaridade, plataformas e commons digitais.
É coeditor da 2ª Edição do Oxford Handbook de Interdisciplinaridade
(2017) e coeditor em obra da trilogia de Interdisciplinaridade no
País, liderada pelo Prof Arlindo Philipi Jr. Sua produção acadêmica e
tecnológica resulta da coprodução com mais de 600 colaboradores
e inclui mais de 200 publicações (entre artigos, livros, capítulos e
trabalhos em eventos), além de softwares e atividades técnicas de
assessoria e colaboração técnico-científica (incluindo organização
de diversos eventos). Nas atividades de formação, orientou 30
dissertações de mestrado e 28 teses de doutorado, além de 37 de
trabalhos de conclusão de graduação. Atualmente é líder do Grupo
de Pesquisa Coprodução de Commons Digitais.
MARIA JOSÉ BALDESSAR

Doutora em Ciências da Comunicação pela


Universidade de São Paulo (2006), Mestre em
Sociologia Política pela Universidade Federal de
Santa Catarina (1999), coordenadora do Grupo
de Pesquisa Geografias da Comunicação, da
Intercom e do grupo de pesquisa MidiaCon - Mídia
e Convergência, certificado pelo CNPq. É professora Associada
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É docente
permanente nos programas de Pós-Graduação de Engenharia e
Gestão do Conhecimento e no de Estudos da Tradução. Ministra
disciplinas na graduação em Jornalismo relacionadas ao jornalismo
online, economia da mídia e produção textual. Tem experiência na
área de Comunicação, com ênfase em Jornalismo Especializado
(Comunitário, rural, empresarial, científico, institucional), atuando
principalmente nos seguintes temas: jornalismo, internet,
hipermídia, jornalismo online, economia da mídia, história da
mídia, convergência digital, usabilidade e ensino de jornalismo.
Integra o Núcleo de Televisão Digital Interativa, onde coordena os
projetos de extensão, entre eles o www. www.cotidiano.ufsc.br.

357
DIANA CARLA SECUNDO DA LUZ

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em


Engenharia e Gestão do Conhecimento com
Ênfase em Segurança Pública na Universidade
Federal de Santa Catarina (PPGEGC/MINTER/
UFSC). Doutora em Ciência e Engenharia de
Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), Mestre em Química pela Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN), possui em Especialização em
Perícia Criminal pela Faculdade Câmara Cascudo, em Engenharia
de Segurança do Trabalho pela Universidade Potiguar (UnP) e
em Avaliações e Perícias da Engenharia pela Faculdade Osvaldo
Cruz. Graduada em Engenharia Civil pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN). Perita Criminal do Instituto Técnico-
Científico de Perícia do Rio Grande do Norte (ITEP/RN), atuando
como Chefe da Divisão de Segurança e Saúde no Trabalho (DSST/
ITEP/RN) e como Gerente de Projeto do Escritório Setorial de
Projetos do Instituto Técnico-Científico do Rio Grande do Norte
(ESP/ITEP/RN), além de atuar como professora do Departamento
de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN) lecionando a disciplina de Legislação e
Segurança do Trabalho.
ZIDALVA DE SOUZA MORAES

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em


Engenharia e Gestão do Conhecimento com
Ênfase em Segurança Pública na Universidade
Federal de Santa Catarina (PPGEGC/MINTER/
UFSC). Mestre em Segurança Pública, Justiça
e Cidadania pela Faculdade de Direito da
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Pós-Graduada em
Gerenciamento e Tecnologias Ambientais pela Escola Politécnica
da Universidade Federal da Bahia (EP/UFBA). Graduada em
Engenharia Química pela Escola Politécnica da Universidade
Federal da Bahia (EP/UFBA). Graduada em Química pelo Instituto
de Química da Universidade Federal da Bahia (IQ/UFBA). Atua
na Coordenação Técnica de Perícias Criminais no Instituto de
Criminalística do Departamento de Polícia Técnica da Secretaria
de Segurança Pública do Estado da Bahia.

359
DÉBORA CARDOSO DA SILVA

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em


Engenharia e Gestão do Conhecimento (PPEGC)
– Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
2022. Especialista em Psicologia Transpessoal
(ITECNE), 2020, atuou como monitora da turma
desde 03/2018. Concluiu a graduação em
Psicologia pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL),
Unidade Pedra Branca, 2014. Cursou Psicologia Humanista
Transpessoal, em Intercâmbio Acadêmico na Universidad del
Pacíf ico (UPA) no Chile, 2012. Durante a formação acadêmica
e prof issional adquiriu experiência em Psicologia, nas áreas de
saúde, hospitalar, clínica, projetos sociais, processos grupais,
além da psicologia do trabalho e organizacional, recrutamento
e seleção de pessoas. Também, possui experiência e atuou como
psicóloga clínica com equipe multidisciplinar na área da saúde,
e em grupos de manutenção da saúde e emagrecimento.

LARISSA GASPAR COELHO PINTO

Jornalista e mestre em Engenharia e Gestão


do Conhecimento pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC) e especialista em
Gestão da Inovação na Comunicação Digital
pela Faculdade Cesusc. Desenvolve pesquisas
relacionadas à inovação em mídia e inovação
social. Atuou como jornalista em veículos de comunicação, na
área de comunicação institucional e, mais recentemente, na
área de negócios de impacto social.
SERGIO LUIZ GARGIONI

Engenheiro Mecânico UFSC (1971). MSc


Engenharia Mecânica University of Illinois USA
(1973). MBA Executivo IMD Lausanne CH (1978).
Cursos de curta duração em gestão no Brasil
e no Exterior: FGV, FDC, INSEAD França, IMD
Suíça, IBGC e ENA. Aluno regular de doutorado
Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento da
UFSC, desde março de 2020. Professor do Departamento de
Engenharia Mecânica (EMC) desde 1972 com passagem pela
UnB (1976-1986). Chefe do EMC de setembro de 2018 a setembro
de 2020. Atualmente leciona disciplinas Projeto de Sistemas
da Qualidade e Construindo Carreira em Engenharia e orienta
estágios curriculares e TCC. Ainda no EMC foi Coordenador
de Estágios (2015-2017). Período 1975-2018 exerceu funções
executivas em paralelo à atividade docente em tempo parcial:
em Brasília no MEC e no CNPq; no Governo do Estado de Santa
Catarina: Secretário-Adjunto de Tecnologia, Energia e Meio-
Ambiente (1990 a 1993) e Presidente da FAPESC (2011-2018);
Sistema FIESC: Diretor IEL e Superintendente SESI (1993-2009);
Presidente CONFAP (2013-2017) paralelo FAPESC. Atualmente,
presidente Conselho de Administração do CIASC e da CERTI.
Conselheiro de Administração certif icado pelo IBGC (2010),
Membro da Academia Nacional de Engenharia (2017) e Doutor
Honoris Causa UDESC (2015).

361
CHERYL MAUREEN DAEHN

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação


em Engenharia e Gestão do Conhecimento
da Universidade Federal de Santa Catarina
(PPGEGC/UFSC), na área de concentração
Gestão do Conhecimento. Mestra em
Administração Universitária pelo Programa de
Pós-Graduação em Administração Universitária da Universidade
Federal de Santa Catarina (2019). Especialista em Controladoria
pela Universidade de Santa Cruz do Sul (2016). Bacharel
em Administração pela Universidade de Santa Cruz do Sul
(2012). Servidora pública federal, atuando na Coordenadoria
de Capacitação de Pessoas da Universidade Federal de Santa
Catarina (em afastamento para formação). Pesquisadora e
integrante do Grupo de Pesquisa NGS - Núcleo de Gestão para
a Sustentabilidade e participante do Projeto de Extensão para
Desenvolvimento de um Centro de Síntese em Educação Digital,
vinculados ao PPGEGC/UFSC.
SOLANGE MARIA DA SILVA

Professora Associado III da Universidade


Federal de Santa Catarina, vinculada ao
Departamento de Ciências da Administração,
ministrando disciplinas no Curso de Graduação
em Administração. É Professora do PPGEGC
(Programa de Pós-graduação em Engenharia e
Gestão do Conhecimento), com atuação na área de concentração
de Gestão do Conhecimento. Possui Pós-Doutorado (2018) junto
ao Programa de Pós-graduação em Gestão Urbana, com o
projeto intitulado “Ecossistemas empreendedores e de inovação
urbanos”, pela PUC, e Doutorado (2007) e Mestrado (1999), em
Engenharia de Produção e Sistemas, pela Universidade Federal
de Santa Catarina (Campus Florianópolis), e graduação em
Administração, pela Escola Superior de Administração e Gerência
ESAG/UDESC (1995). É subcoordenadora do LGR (Laboratório
de Liderança e Gestão Responsável) e membro dos Grupos de
Pesquisa da UFSC: ENGIN (Núcleo de Engenharia da Integração
e Governança do Conhecimento para a Inovação) e IGTI (Núcleo
de Pesquisa em Inteligência, Gestão e Tecnologia para Inovação).
Tem participado de diversos projetos de pesquisa e de extensão,
junto a organizações públicas e privadas, voltados ao Modelo
Universidade Corporativa em Rede, Gestão do Conhecimento
e da Inovação, dado o seu interesse nas áreas de Governança
Multinível, Gestão do Conhecimento, Gestão Estratégica e
de Processos, Liderança, Gestão da Inovação Tecnológica e
Educação Corporativa.

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CRISTIANO JOSÉ CASTRO DE
ALMEIDA CUNHA
Doutor em Administração de Empresas -
Rheinisch-Westfalische Technische Hochschule
Aachen (1988), mestre em Engenharia de Produção
pela Universidade Federal de Santa Catarina
(1981) e graduado em Engenharia Geológica pela
Escola de Minas e Metalurgia de Ouro Preto (1977).
Professor visitante do IGIA - França (1991). Ex-professor do Curso de
Pós-Graduação em Administração da UFSC. Ex-professor do Curso
de Pós-Graduação em Administração da FURB. Ex-professor do
Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC.
Atualmente, é professor do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal
de Santa Catarina. Coordenador do Laboratório de Liderança e
Gestão Responsável de UFSC. Tem experiência como consultor
na área de Administração, atuando principalmente nas seguintes
áreas: liderança, aprendizagem de executivos, reestruturação e
estratégia organizacionais.

GIULIA PLATT MAFFEZZOLLI

Engenheira Mecânica pela Universidade Federal


de Santa Catarina, ao longo da graduação se
envolveu em diversas atividades extracurriculares,
entre elas a presidência do Centro Acadêmico
do curso, equipes de competição e laboratórios
de pesquisa. Trabalhou como Head de Projetos
de uma startup de tecnologia para negócios imobiliários, e hoje
inicia uma carreira na área de Produto.
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PERSPECTIVAS | Volume 3
O desenvolvimento da humanidade
pode ser visto em suas ferramentas. Se o
conhecimento é agora o fator de criação
de valor dominante, então precisamos de
ferramentas para aprender, trocar, estruturar,
armazenar e encontrar nosso conhecimento.
Com a digitalização, as pessoas desenvolveram
ainda mais suas ferramentas e novas ferramentas
foram acrescentadas. As ferramentas do século XXI
são os meios digitais, com os quais processamos e
comunicamos informações em vez de o bjetos físicos.
Cada vez mais temos acesso ao suporte
do pensamento com inteligência artificial.
Algoritmos mapeiam partes de nosso
conhecimento ou nos aliviam da tediosa
avaliação de grandes quantidades de dados.
Klaus North
Wiesbaden Business School
2023 - Alemanha

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