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O Príncipe de Vidro

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Rating: Teen And Up Audiences


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Category: M/M
Fandom: 방탄소년단 | Bangtan Boys | BTS
Relationship: Jeon Jungkook/Kim Taehyung | V
Characters: Jeon Jungkook, Kim Taehyung | V, Original Characters
Additional Tags: One Shot, Alternate Universe - Fantasy, Prince Jeon Jungkook, Bad Boy
Kim Taehyung | V, he has a piercing!, Mirror Universe, Magic Mirrors,
Fairy Tale Elements, Magic Shop Owner Park Jimin (BTS), Supernatural
Illnesses, Happy Ending
Language: Português brasileiro
Stats: Published: 2024-01-21 Words: 8,870 Chapters: 1/1
O Príncipe de Vidro
by Tyunmeovv

Summary

Onde Jeon Jungkook, o príncipe do reino de Taiyou, misteriosamente atravessa um espelho e


entra no mundo real, onde conhece Kim Taehyung, no qual revela que toda a sua vida é uma
mentira. Ele faz parte de um livro de conto de fadas, e precisa urgentemente escapar da
morte.

Notes

"Se apaixonar é tão bom quanto engolir vidro"

See the end of the work for more notes


Era uma vez um mundo. Ele tinha suas belezas e defeitos, bondades e maldades, tristezas e
felicidades, assim como o nosso. Porém, dividiram-no em apenas dois reinos, um sendo o
completo oposto do outro.

Taiyou, conhecido também como o reino do Sol, era claro, vibrante e ensolarado. Seus
campos verdejantes esbanjavam vida, e o orgulho pulsava nos corações de grande parte da
população. Afinal, quem não se sentiria orgulhoso e honrado de morar num lugar tão belo
assim? Tolos são os que não desfrutam da beleza e prosperidade de Taiyou.

Enquanto isso, Tsuki era o reino da tão admirada, romântica e poética Lua. Escuridão, calma
e misticidade eram algumas de suas inúmeras características. As elegantes e frias trevas
pairavam pelos arredores das mais distintas paisagens, impedindo que todo e qualquer ser
vivo nascesse puro e inocente. Porém, o povo não reclamava de suas condições. Afinal,
poderia ser bem pior, não é mesmo? Inteligentes são os que ficam e aproveitam dos bens que
a terra ainda trazia.

Então meu jovem, em qual reino você gostaria de viver?

No Taiyou? Pois fique sabendo que ele não é muito receptivo.

E o futuro rei, Jeon Jungkook sabia muito bem disso. Naquele reino todos eram
estigmatizados por suas diferenças, e com ele sendo o príncipe herdeiro, a situação piorava
ainda mais.

O jovem de 20 anos tinha que ser certinho, educado e habilidoso em tudo que fazia, um
verdadeiro exemplo para a população de Taiyou. E isso era uma tarefa extremamente
complicada, exaustiva e deprimente de se cumprir. Manter a postura sem vacilar não era para
qualquer um.

Principalmente com a condição que Jungkook tinha.

Quando completou cinco anos de idade, o pequeno notou uma minúscula pintinha na palma
de sua mão. Porém, ela não era escura como as outras. Era meio esbranquiçada, algo como o
transparente delicado de uma taça de vidro. No começo, Jungkook nem se importou, apenas
ignorou o sinal e não contou para ninguém de sua família. Mas com o tempo, a ínfima
pontinha evoluiu para uma manchinha, que então passou a ocupar parte significativa da mão.

Com medo, e completamente desamparado, Jeon contou seu problema para a mãe, que não
hesitou em ajudá-lo. Seus pais começaram a procurar (em completo sigilo) por médicos,
curandeiros e até feiticeiros, tentando descobrir a origem e possível cura para essa espécie
de doença.

Não descobriram nada.

E Jungkook, desesperado por aquilo estar acontecendo justo consigo, começou a ficar triste e
melancólico, causando um isolamento entre ele e os outros habitantes da realeza do castelo.
Será que tudo iria piorar? Os sintomas evoluiriam para alguma dor? Ou ele iria
simplesmente morrer? Mas quando? Haveria uma cura?

Esses eram alguns dos pensamentos que surgiam em sua mente durante suas inúmeras noites
sem sono, apenas encarando sua mão bela porém transparente. Quando menos esperava, a
cristalização aumentava, acabando por engolir todo o membro e avançando até os pulsos
delicados.

O garoto teria enlouquecido se não fosse por Lillabeth. Ela era sua amiga, namorada e
confidente, a única além de sua família que sabia do seu segredo.

A moça havia sido adotada ainda bebê por uma das famílias reais, e Jungkook a conhecia
desde que eram pequenos. Ela imediatamente encantou Jeon com sua fofura, conquistando
sua amizade, e consequentemente seu coração. Não foi nenhuma tarefa impossível apesar das
inseguranças que seu segredo proporcionava.

Lillabeth era aquela que arduamente ajudava a manter a imagem de príncipe perfeito que
Jungkook mantinha em Taiyou. Sempre foi uma honra tê-la ao seu lado.

🌨🌨🌨

— Te peguei, seu bobão! Agora tá com você!

— Ei! Isso não é justo!

Jungkook e Lillabeth estavam entediados naquele sereno dia de domingo, e como não tinham
nada a fazer, acabaram por querer relembrar a infância e brincar de pega-pega.

O garoto agora corria atrás de sua namorada, perdendo-a imediatamente de vista num
labirinto de cercas vivas.

— Lilla! — ele gritou prolongando o 'a'. — Eu vou te encontrar e você vai ver só!

— Vou ver o que, meu amor? — ela respondeu ao longe com sua típica voz doce e amável.

— Ah, uma coisa terrível. Horrenda. — Jungkook falou num tom brincalhão enquanto girava
a cabeça, tentando identificar de que lado a voz dela tinha vindo.

— Tipo um Sombra?

— Pior.

— Nossa! Você faria isso com a sua namorada?

O moreno não respondeu, finalmente encontrando sua amada. Ela estava parada, agarrada a
uma das cercas e espiando o lado oposto, genuinamente pensando que Jungkook estaria por
ali, na outra extremidade.

Seus cabelos longos voavam ao vento quando Jeon silenciosamente a agarrou por trás, num
abraço fofo e apertado.

— Bú!

— AI! — ela gritou dando um pulinho. — Você quase me mata do coração, sabia!?

O moreno riu de sua reação, e ela logo em seguida fez um biquinho emburrado.

— Bem feito. — Jungkook disse em seu ouvido enquanto a abraçava pela cintura e distribuía
diversos beijinhos pela sua cabeça e pescoço. Lillabeth tinha o agradável perfume de alguma
fruta que ele ainda não conseguiu desvendar. Seriam morangos?

— Qual o cheiro do seu perfume?

— Você ainda não saiu dessa Jeon? — ela perguntou, rindo.

— Hmmm... Não.

— Então morra de curiosidade! Já disse que não vou revelar meus segredos tão facilmente.

—Aigoo! Você é muito cruel comigo, sabia? — dessa vez foi Jungkook quem fez um
biquinho.

— Você que é, prendendo uma pobre dama contra a sua vontade em seus braços fortes e
esmagadores.

— Dramática como sempre. — o garoto a soltou de seu abraço, revirando os olhos.

— Você é que é. Fica aí reclamando em vez de aproveitar as pequenas belezas da vida.

— Tipo o que?

— Tipo me beijar. — Lilla respondeu com um sorrisinho esperto.

Dito isso, ela voltou a correr pelo longo labirinto, segurando seu volumoso vestido com
ambas as mãos. Lillabeth ia em direção ao lugar favorito dos dois, a cerejeira no topo de uma
colina.

A garota adorava joguinhos, mas nada, nunca a faria brincar com os sentimentos de
Jungkook. Ele era muito precioso, e até frágil demais para isso. Todos os árduos treinos
físicos e mentais além da pressão emocional que ele sofria já bastavam para torná-lo um
jovem retraído e entristecido consigo mesmo.

— Kook-ah, me deixe ver suas mãos. Elas pioraram recentemente?

O moreno tirou lentamente a luva da mão esquerda e puxou a manga do casaco, revelando
talvez sua maior fraqueza.
Era lindo e estranho ao mesmo tempo. Apesar do vidro ser um material rígido, Jeon ainda
mantinha seus movimentos quase que sem restrições. Porém ele ainda continuava frágil.
Apesar daquele vidro curar-se como um tecido humano, era um processo lento e doloroso.
Digamos que ver sua própria mão trincada como um espelho não foi uma de suas melhores
experiências na vida. E a transparência também variava durante o dia, ganhando tons mais
azulados ou esverdeados dependendo de algum fator até agora desconhecido.

Sua deformidade já chegava até os cotovelos, e Jungkook acabou aceitando o fato de que
algum dia, provavelmente se transformaria por completo em vidro.

Poderia este ser seu destino, ou sua salvação?

🌨🌨🌨

Um bom presente. Era tudo que ele procurava.

Mas nada. Nenhum dos estabelecimentos satisfez sua busca. Era simplesmente frustrante.
Nem um objeto sequer chamou a atenção o suficiente do jovem príncipe.

Porém ainda lhe faltava uma loja para visitar. E seria ela quem mudaria sua vida para sempre.

Magic Shop. Era tudo o que dizia no letreiro velho e desbotado pelo tempo. Estranho.
Jungkook não se lembrava de ter visto aquele lugar, e ele conhecia o reino como a palma de
sua mão.

— Boa tarde meu lindo príncipe. Seja bem-vindo à Loja Mágica. — o jovem de cabelos rosa
desbotados imediatamente falou ao ouvir o sino da loja tintilar.

— Boa tarde... O que vocês vendem por aqui?

— Nós vendemos exatamente o que você procura, venha comigo por favor. — ele disse
educado, saindo extremamente apressado de trás da bancada e indo de encontro com o seu
amado cliente.

A primeira coisa que fez foi pegar Jungkook pela cintura, sentindo-a morna sob seus
dedinhos. O rosado começou a apresentar a loja normalmente, andando pelos corredores
vazios ainda agarrado ao príncipe. Ele não parou um segundo de flertar com o jovem.

O vendedor era o mais estranho que Jungkook já havia conhecido. E não era o fato da roupa
estampada de cetim dele ser extremamente sensual, muito menos ele em si que o fez pensar
isso. Foram suas atitudes ousadas, imediatamente o fazendo sentir-se diferente e
desconfortável.

— Com licença, mas posso olhar a loja sozinho, por favor? Quero pensar um pouco sobre o
que levar. — o mais novo disse educadamente.
— Oh, claro meu amado. Fique à vontade.

— Me chame apenas de Jungkook, por favor.

— Perdão Jungkook. Quando achar algo de seu interesse, pode me chamar.

Jungkook apenas meneou com a cabeça, podendo finalmente respirar tranquilamente ao


passear por todos os corredores. A loja era antiga assim como o seu exterior aparentava. Lá
vendia-se de tudo um pouco, variando desde roupas extravagantes até conjuntos de talheres
de primeira classe.

Jeon olhava para um conjunto de xícaras quando notou novamente o comportamento do


vendedor. Ele o olhava com volúpia, quase o comendo com os olhos. Suas pálpebras estavam
semicerradas, como um predador analisando a melhor maneira de atacar sua presa, não
parando de morder os lábios e mexê-los com os dedos por um minuto sequer. Jungkook
sentia-se quase despido com apenas aqueles flertes descarados. Suas bochechas ardiam de tão
quentes que estavam.

— Senhor! — o príncipe chamou, incerto de como apelidar o vendedor.

— Sim Jungkook? — o mais velho perguntou, praticamente brotando do lado de seu


cliente. — Pode me chamar de Jimin-ssi, se quiser.

— Hmm... Jimin-ssi. Eu acho que não há nada nesta loja que me satisfaça. Obrigado pela
atenção.

— Espere. Eu ainda tenho uma surpresa. — o rosado forçou, dando um belo sorriso ao
segurar o pulso do príncipe.

— Tudo bem. Mostre-me e eu irei embora.

— Venha comigo, por favor. — Jimin disse, envolvendo a cintura do mais novo novamente,
desta vez por poucos segundos.

Eles andaram até o fundo da loja, parando em frente a algo comprido coberto por um pano
branco. O rosado rapidamente puxou-o, revelando um espelho antigo porém muito bonito.

—Ta-dã. Conheça o bem mais precioso dessa loja.

— Mais precioso? O que este espelho tem de tão rico? — Jungkook perguntou enquanto
passava as mãos cobertas por luvas pela superfície da moldura oxidada.

— Não sei. O dono apenas disse que é muito mágico e especial.

— Eu não caio nessa. — Jeon disse cruzando os braços musculosos. — Jamais irei pagar caro
por uma coisa dessas.

— Não se preocupe com o preço, meu príncipe. Como você é o nosso primeiro cliente,
faremos ele de graça para você.
— Eu sou o primeiro cliente dessa loja?

— Sim, e é uma honra atendê-lo.

— Se é assim... Pode embrulhar que eu o levarei. — o moreno disse sorrindo pela primeira
vez desde que entrara na loja.

Ele apenas queria ir logo para casa, sentindo um mal pressentimento em estar ali.

— Ótimo, entregaremos em seu castelo então.

— Não precisa do endereço?

— Não. Sabemos exatamente onde você mora.

— Então, muito obrigado pelo atendimento. Tenha um bom dia, Jimin-ssi.

— Sou eu quem agradeço. — Jimin falou fazendo uma pequena reverência. — Só gostaria de
dizer uma última coisa.

— Prossiga.

— Suas luvas são realmente muito bonitas.

🌨🌨🌨

— Eu tenho a honra de dedicar este brinde à futura rainha, Lillabeth! Viva! Viva Lillabeth!

Com lindas expressões de contentamento no rosto, todos na festa brindaram aquele grande
dia, simplesmente felizes por estarem ali. E Jungkook não podia sentir-se diferente. Afinal,
hoje era o grandioso décimo nono aniversário de sua amada.

— Minha bela e honrada dama, aceita uma última dança com seu namorado? — Jeon
perguntou, estendendo gentilmente a mão para a sua amada.

— Mas é claro. Quem poderia recusar um pedido tão simples e encantador? — ela respondeu,
aninhando-se no braço dele e indo até o meio do salão ao seu lado.

O jovem príncipe certamente a amava mais que tudo no mundo.

— Jungkook! Mais devagar! Não consigo te acompanhar. — Lilla disse, dando um sorriso
bobo e desastrado como desculpa.

Ah, como era lindo. Parecia que o reino inteiro de Taiyou refletia-se no brilho daquele
sorriso. O que dizer dos olhos grandes e esverdeados, brilhando tanto quanto o verde mais
vibrante das mais belas plantas? E os fios macios e dourados, emoldurando seu delicado rosto
como o Sol primaveril que acolhia nossas peles finas e sensíveis? Para Jungkook, não havia
nada mais belo que essa combinação.

Eles dançaram a última música como se fosse a primeira, as mãos cobertas por luvas de cetim
transmitindo um calor familiar apesar do tecido. Terminaram a noite com um beijo, as línguas
esguias roçando-se lentamente uma na outra. Beijá-la todos os dias jamais se tornaria
cansativo.

— Meu amor, que presente é este que não cabe na palma de sua mão? — a moça perguntou,
subindo as escadas para os aposentos de seu namorado. Seu vestido azulado já cansava-lhe o
corpo, e a pobre garota queria apenas descansar.

— É algo muito especial. Tão lindo e precioso que reflete todo o nosso amor. — o garoto
respondeu, um sorriso enigmático estampando o rosto.

Chegando lá, ele pôs-se ao lado do espelho, esperando uma reação positiva da namorada.
Porém, ela mal olhou para o espelho, simplesmente o ignorando e procurando por outra
coisa. Era como se Lilla não tivesse enxergado o objeto.

— Cadê o presente?

— É esse espelho, lindo não? — Jeon disse tocando de leve na sua moldura.

— Ah, eu não estava esperando por isso. — ela respondeu estática.

— Você não gostou?

— Não sei. Acho que combina mais com você do que comigo.

— Sério? — ele perguntou cabisbaixo. Aquele com certeza não fora um bom presente.

— Ah, eu sabia que esta seria uma grande surpresa! Obrigada! — a moça comentou
repentinamente, apontando para a cômoda.

Lá havia uma pequena caixinha de veludo azul, certamente com um anel de diamantes a
esperando.

Jungkook não se lembrava de ter comprado ou sequer pensado em comprar um anel para ela.
Porém, pelo menos Lilla parecia ter gostado da ideia. A jovem correu até o móvel, pegando a
caixa e logo em seguida a abrindo.

— Jungkook-ah, você teria a honra de colocá-lo em meu dedo?

— Hmm. Claro. — e quase que automaticamente, Jeon o fez, presenteando sua namorada
com um anel nunca antes visto por ele. Ele era lindo e delicado, um pequeno diamante em
formato de coração o adornando.

— Obrigada meu amor! Esse foi o melhor presente de aniversário que eu poderia receber.
Certamente nosso casamento será o mais lindo que este reino já viu.
Casamento???

Jungkook estava extremamente perdido na conversa, porém apenas sorriu, erguendo a garota
eufórica no colo e a girando no lugar como um casal apaixonado.

🌨🌨🌨

Como Lillabeth recusou o presente que misteriosamente fora entregue em menos de um dia,
ele mesmo ficou com a moldura.

Jeon já estava preparado para ir dormir quando resolveu olhar-se no espelho, como qualquer
pessoa normal faria. O que ele não esperava era levar um susto.

Sua mão! De repente estava curada! Mas quando ele a olhou de novo, desta vez fora do
reflexo do objeto, nada além de vidro encontrava. Demorou uns bons segundos para
Jungkook perceber que a cura apenas existia no reflexo que o espelho produzia.

Lentamente o garoto aproximou-se mais do presente, receoso. Não é suposto um espelho


refletir exatamente o que vemos? Com delicadeza, ele encostou o dedo indicador no vidro,
surpreendendo-se que o material não era rígido. Parecia ser como água, as ondas
reverberando o frio e singelo toque.

O príncipe não pensou duas vezes em tocar de novo. E de novo. Tocou tantas vezes que
acabou pressionando o material, seus dedos terminando por atravessá-lo. E feito isso, ele foi
puxado, não tendo outra escolha senão passar para outro lado.

Para outro universo.

Jungkook deu um grito, assustado com o que acabara de acontecer. Seus aposentos, de
repente transformaram-se em um sótão qualquer, os móveis velhos e empoeirados
compartilhando espaço com uma cama branquinha e fofa. Ele piscou diversas vezes,
espantado, notando a presença de outra pessoa ali.

Um belo garoto estava deitado na cama, apoiado confortavelmente na cabeceira enquanto lia
tranquilamente um livro azul que descansava sobre seu colo.

Os dois se entreolhavam, ambos surpresos e com medo.

— J-jungkook? É você? — o moreno perguntou, levantando-se num impulso.

— Sou...? Mas como você sabe meu nome? Eu te conheço? Quem é você? Onde eu estou? —
Jeon questionou-se enquanto olhava ao redor ainda perdido.

— Isso só pode ser um sonho. — ele disse beliscando-se, querendo ter a certeza de que
aquilo não passava mesmo um sonho. — Ai! Não creio que isso é verdade.
O príncipe apenas piscou diversas vezes enquanto o outro se aproximava, tentando entender
exatamente o que estava acontecendo. A única coisa que sabia era que sua mão estava
misteriosamente curada, o vidro não passando de meras lembranças.

— Eu sabia que você era lindo, mas puta merda. Superou todas as minhas expectativas.

Jungkook quase se assustou com as palavras, encolhendo involuntariamente quando o


estranho tocou em sua bochecha, conferindo mesmo se o príncipe era real.

— Quem é você? E por que eu atravessei o espelho? — o garoto perguntou novamente,


inocente dentro de seu pijama amarelo e quentinho.

— Meu nome é Kim Taehyung. E não faço ideia de como isso aconteceu. Eu só estava lendo
o livro e boom. Você é de verdade.

Jungkook ignorou momentaneamente a frase de Taehyung, concentrando-se em quão lindo o


garoto era. Seus cabelos negros e brilhosos foram uma das primeiras coisas que lhe
chamaram a atenção. Eles eram tão longos e volumosos que formavam um mullet atrás da
cabeça, combinando perfeitamente com sua aparência aparentemente rebelde. Mas o prato
cheio e a futura perdição de Jeon foi o pequeno objeto metálico que havia no canto de seus
lábios. Um piercing. O garoto nunca tinha visto algo assim na vida. Era simplesmente
maravilhoso.

— Jungkook! Tá tudo bem? — Kim perguntou, estalando os dedos em frente ao rosto do


outro.

— Não. Eu ainda não entendi como vim parar aqui. E muito menos como você sabe quem eu
sou. A que reino pertences, meu jovem? — de repente perguntou, formal.

— Eu? Bom, se fosse pra ser de algum, com certeza eu queria ser do reino Tsuki. Não me
leve a mal mas aqueles reis são foda. Yoonseok se tornou minha nova religião.

— Tsuki? Tu és do reino inimigo? — Jungkook questionou repentinamente cordial,


afastando-se em posição de defesa.

— Não! Nada disso. Eu só queria ser de lá. — Taehyung disse se rendendo.—- Mas cá entre
nós, você me atrai muito mais. Quem sabe eu faça um esforço pra morar com você em
Taiyou.

O moreno estava simplesmente perdido naquela conversa. Tudo que ele conseguia fazer era
acompanhar o movimento daquele piercing, a pecinha metálica se movendo lentamente por
aquela perfeição de lábios. Por que de repente ele estava tão focado naquilo?

— Você tá mais perdido que cego em tiroteio, né? Eu também estou boiando, mas senta aqui
na minha cama que vou tentar explicar o que eu entendi.

Jungkook fez o que foi pedido e tentou não ter medo das palavras do jovem.

— Assim, você meio que veio de dentro desse livro. — ele disse folheando o objeto. — De
alguma forma, o espelho e ele estão conectados. Bem que a minha vó disse que esses
negócios eram do demônio.

— D-demônio?

— É. Sabe aquele cara que mora lá em baixo? Então. É ele mesmo. — Taehyung disse num
tom brincalhão, este que repentinamente se transformou numa expressão de preocupação. —
Ué. Cadê as palavras?

Kim, que estava folheando as páginas despreocupado, notou que o livro, antes recheado de
palavras, agora encontrava-se completamente em branco.

— Me dá isso aqui. — Jungkook de repente revoltou-se, arrancando o livro das mãos do


outro. — Você tá querendo me dizer que eu vim daqui de dentro? Como eu posso ter certeza
disso?

— Bom. Faça uma pergunta acerca de si próprio. Se eu souber essa informação, está
comprovado.

— Hmmm... Qual o meu maior medo? Além de morrer por causa da minha deformidade, é
claro.

— Primeiro de tudo, sua mão não é uma deformidade. Segundo, por algum motivo, neste
mundo você não é afetado por ela. Terceiro, tá ali seu maior medo. — o moreno respondeu,
apontando para a máquina velha em cima de uma bancada.

— Ah! Tem um microondas aqui? Tira ele daqui! — Jeon ordenou, abraçando seus joelhos
como uma criança com medo. O medo irracional por aquele aparelho era tão grande que ele
próprio mandou banir todos os microondas existentes no reino.

— Calma. Ele não vai ter fazer mal algum. Nem está ligado na tomada. — Kim disse fazendo
um afago leve na mão dele.

— Mesmo assim eu não gosto. — falou com um biquinho.

— Então vamos falar sobre outra coisa. Tipo o fato de todas as letras terem sumido do livro.

— Talvez ele não queira que você saiba o final.

— Mas isso não faz o menor sentido.

— Eu ter saído de dentro de um espelho também não faz. — o príncipe retrucou.

— Tá, você venceu. Mas de onde raios veio esse espelho? Não lembro dele em momento
algum da história.

— Eu comprei ontem de um vendedor muito estranho chamado Jimin-ssi. Seria o presente de


aniversário da Lilla, se ela não tivesse recusado. — Jungkook disse meio cabisbaixo.

— Jimin? Não lembro desse nome. Mas espera... Você deu um anel pra ela de aniversário.
Vocês estão noivos e tal. — ele disse com uma expressão de nítido desgosto.
— Noivos? Como assim? Eu não falei nada. Ela só falou de casamento do nada.

— Que estranho... Essa história está muito mal contada Jungkook.

— Aish. Eu só quero voltar pro meu quarto. — o príncipe declarou, cansado de tanto pensar.

— Ainda não, jovem príncipe. Não terminamos nossa discussão. — Taehyung declarou,
autoritário.

— Como assim 'ainda não'? Você não manda em mim!

— Não importa. Neste mundo sou eu quem dá as ordens.

— Então prossiga, Taehyung. — respondeu, arqueando as sobrancelhas.

— Você tem que terminar com essa tal de Lillabeth. Eu, como leitor onipresente neste livro,
sei que ela não é uma pessoa boa para você.

— Terminar com a minha namorada? Isso é uma absurdo inaceitável! Ela é o amor da minha
vida! A única que me entende. — Jungkook exclamou, incrédulo.

— Ela é maligna Jungkook-ah. Confie em mim. Eu estou lendo o livro e sei da verdade.
Estou por dentro de todos os assuntos do reino. E isso inclui a história dos coprotagonistas
também, o Yoongi e o Hoseok. Ah, como eles são gostosos. Aquela cena de sexo foi a melhor
de todo o livro. — o moreno admitiu, meio sonhador.

Jeon o encarava com uma expressão confusa e ao mesmo tempo abalada.

— Viu, você não sabe de nada. Nem sabia que os dois namoram.

—Espera. Os dois o quê!? M-mas... Ui. — o príncipe estremeceu ao imaginar a cena. —


Simplesmente repugnante. Sempre soube que o reino de Tsuki pertencia as mais profundas e
impuras trevas.

— Ah... Eu me esqueci desse detalhe. Vocês de Taiyou são preconceituosos...

— Aceitamos qualquer um no nosso reino. Desde que cumpra com suas obrigações.

— Obrigações estas que são extremamente preconceituosas. Felizmente, eu me apeguei a


você. Posso muito bem te ensinar algumas coisinhas...

— Não posso. Preciso ir embora. — ele disse já se levantando da cama. — Amanhã tenho
que acordar cedo para-

— Ai não enche. Deixa um pouco essa rotina pra lá. — Kim reclamou, empurrando o
príncipe de volta para o colchão. — Você não tem o mínimo de curiosidade em saber o
porquê de sua namorada provavelmente querer te destruir?

— Não. Ela jamais faria isso. Lillabeth me ama. Sempre amou. — Jeon afirmou, convicto de
suas palavras.
— Lillabeth nasceu no reino de Tsuki, meu principezinho. Ela é uma infiltrada. Nasceu com
o único objetivo de te destruir. Todo mundo sabe que você é o único herdeiro do trono. Se
morrer, ela tomará seu lugar. Mas antes vocês precisam se casar, é claro.

— E-ela jamais faria isso! Lilla é uma pessoa de bom coração.

— Jungkook, Jungkook... Você é muito ingênuo, sabia? — Taehyung falou, um sorriso


mínimo escapando-lhe dos lábios.

— Não sou não. — Jungkook negou com a cabeça, quase fazendo um biquinho no processo.

— É sim. Tão ingênuo que não descobriu o que eu quero até agora. — o moreno disse,
encarando as orbes brilhantes e escuras enquanto aproximava-se cada vez mais do
agora, pequeno príncipe.

Eles estavam a pouquíssimos centímetros de distância. Milímetros na verdade. Qualquer


movimento em falso e suas bocas estariam unidas.

— N-não.

Perto. Perto demais. Jungkook pensava, o coração começando a disparar. Desviou o olhar,
tentando recompor-se.

— Ah, qual é. Eu sei que você quer isso. — Kim sussurrou, segurando o queixo do outro ao
mesmo tempo em que umedecia os próprios lábios.

O outro nada respondeu, concentrado em tentar controlar-se. Ele não podia se deixar levar
por aquela atração repentina. Os dois se conheceram a menos de meia hora! Era impossível já
sentirem algo um pelo outro.

Mas parecia que Taehyung não estava se importando com aquilo. O garoto roçava levemente
seu piercing nos lábios alheios, causando-lhe uma fraqueza absurda. Com os olhos
entreabertos e a boca trêmula, Jungkook acabou cedendo a vontade de beijar o desconhecido.

Foi absolutamente único, as línguas completando-se com precisão como se fosse a milésima
vez que fizessem aquilo. Taehyung estava adorando aquilo, puxando o lábio inferior do
príncipe com os dentes enquanto o encarava desejosamente. Ele soltou o aperto no ombro,
deixando o garoto espalhar-se pela cama enquanto continuavam o beijo. Kim aproveitou o
momento e apoiou ambas as pernas ao lado de Jeon, uma em cada lado para não deixá-lo
escapar de seus toques invasivos.

As carícias continuaram, Jungkook deleitando-se ao sentir o pequeno piercing contra sua


língua indomável. Suas mãos haviam grudado-se nos fios brilhantes do outro, não querendo
nunca mais se separar daquela maciez. Por falta de ar, ambos se separaram, Taehyung
seguindo com uma trilha de beijos pelo pescoço alheio. Ele lambia a pele fervorosamente,
chupando-lhe a clavícula esquerda com gosto. O garoto não queria mais parar, permitindo-se
desabotoar o pijama de Jeon enquanto sentia o corpo esquentar.
Quando mordeu um dos mamilos, já rijos, Jungkook pareceu despertar de um transe, puxando
o cabelo do outro com força suficiente para doer e quebrar com o clima.

— O q-que você tá fazendo comigo?

— Acho que eu não preciso responder. — Taehyung respondeu, arrumando os fios


desalinhados. — E aí, vamos transar ou você vai continuar com esse cu doce de
principezinho hétero?

— M-mas eu sou hétero! — ele respondeu sério, apoiando-se com as mãos na cama por trás
das costas. O outro imediatamente começou a rir, praticamente gargalhando. A voz dele era
mesmo linda.

— Uma das melhores piadas que já ouvi na vida, sério. Conta de novo, por favor.

— Mas-

— Ah me poupe. — Kim disse, interrompendo-o com cara de debochado.

— Do que? Eu estou falando sério.

— Se você acha tanto isso, deixa eu te mostrar uma coisinha.

Taehyung, que estava gentilmente sentado em cima da barriga definida do jovem príncipe,
desceu mais um pouco e começou a rebolar com vontade em cima do colo dele, fazendo
Jungkook rapidamente ceder e apoiar apenas os cotovelos em cima do colchão. Ele fechou os
olhos, mordendo os lábios com força para não emitir qualquer som.

O garoto, não satisfeito com isso, deitou-se por cima dele, sussurrando com a voz grave em
seu ouvido.

— Pra um príncipe de conto de fadas, você é bem safado, sabia?

Jungkook não entendeu nada, apenas se permitiu gemer quando Kim voltou a chupar seu
pescoço de pele clara. O fato era que Jeon dormia sem quaisquer roupas íntimas, preferindo
sentir-se livre durante a noite para fazer o que bem entendesse.

— Hmm. P-para... Por favor. — ele pediu entre murmúrios. Seu corpo praticamente não lhe
respondia mais, e isso estava o assustando. Muito. Jamais havia se sentido assim, necessitado.

— Ok. Eu paro. Mas só hoje. — declarou com um sorriso brincalhão e maléfico. — Eu sei
que é muita informação pra sua cabecinha medieval absorver em uma só noite.

Dito isso, ele saiu de cima do outro, dando-lhe espaço para recuperar-se e partir de volta para
o mundo dentro do livro.

Para o seu mundo.


🌨🌨🌨

Jungkook conseguiu atravessar para o outro lado do espelho sem muitas dificuldades,
chegando lá exausto física e mentalmente. Não havia marca alguma do que havia ocorrido
naquele porão, o pescoço ainda intacto e a mão voltando a ser o que sempre foi.

De um azul frágil e errôneo.

Ele deitou-se na cama macia, os pensamentos girando em turbilhão dentro de sua cabeça.
Taehyung havia mexido consigo de um jeito que ninguém nunca havia se atrevido a fazê-lo.
O garoto nesse pouco tempo conseguiu o instigar, despertando sentimentos até então
desconhecidos.

Então ele gostava de homens também? Não podia ser verdade. O que os outros moradores do
reino iriam dizer? O grandioso príncipe de Taiyou, tão impuro quanto os repugnantes de
Tsuki.

E Lillabeth? Era tudo que o garoto contou? Taehyung seria alguém confiável para si? Ou
estava apenas o enganando por benefícios próprios?

Não, não. Sua namorada não poderia ser tudo aquilo. Traíra? Jamais. Eles se conheciam
desde pequenos. Impossível sua garotinha estar apenas planejando sua morte esse tempo
todo. Não fazia o menor sentido. Pensar naquilo lhe dava exaustão, então simplesmente
desistiu de entender e dormiu depois de algum tempo, tentando a todo custo esquecer os
assuntos complicados que de repente surgiram em seu caminho.

No dia seguinte, Jungkook sentia-se renovado, pronto até para enfrentar um Sombra se fosse
preciso. Estas criaturas, tão faladas no reino de Taiyou, na verdade pertenciam ao reino rival,
Tsuki. Elas assemelhavam-se, como o próprio nome dizia, à sombras, aparecendo durante
qualquer período do dia e assumindo diversas formas, desde humana até animalesca. Porém
todas elas tinham algo em comum, os olhos completamente brancos e a aparência negra,
fantasmagórica, não possuindo um contorno exato que as definisse.

As Sombras surgiram quando um mago muito poderoso de Tsuki fez um feitiço, querendo
atacar o reino oposto. No começo a magia deu certo, Taiyou sofrendo diversos ataques por
parte delas. O problema foi que com o tempo, elas rebelaram-se contra os próprios donos,
atacando qualquer um que passasse pelo caminho, independentemente da origem. Seus
poderes restringiam-se a uma força extremamente descomunal, quebrando árvores inteiras
com apenas uma simples investida. E suas fraquezas resumiam-se uma só: água potável. Da
água pura foram criadas, e da água pura que seriam destruídas.

A cada dia as visitas se tornavam mais frequentes, e isto preocupava os dois reinos em geral.
Logo se tornaria impossível enfrentar tantas criaturas ao mesmo tempo. Logo, mais mortes
viriam.

— Jungkook! Oh Jungkook, senti tanto a sua falta! — Lillabeth gritou ao longe, correndo e o
abraçando forte. Ela ainda estava com medo.
— O que aconteceu, minha vida? Por que está chorando? — Jeon perguntou assim que a
sentiu desmanchar-se em lágrimas.

— U-um Sombra me atacou durante a noite. Foi tão rápido que mal pude reagir. — ela
respondeu ainda aos prantos, descolando-se de seu amado apenas para mostrar o braço
enfaixado até o cotovelo.

— Respira fundo, por favor. — ele falou tentando acalmá-la, afagando seus longos fios
castanhos. — Vai ficar tudo bem. Logo iremos nos livrar desses monstros.

— Mas como? O exército já está trabalhando em novas estratégias?

— Sim. São assuntos confidenciais por enquanto, mas estamos cuidando disso.

Seu pai tinha grandes esperanças quanto ao novo plano de defesa, e a princípio, uma
considerável quantidade de magia seria utilizada.

— Que bom saber disso, meu príncipe. — Lilla sorriu, ainda agarrada a cintura de seu futuro
marido. — Mas podemos falar sobre outras coisas? O nosso casamento está próximo, e
precisamos aproveitar o máximo de tempo livre possível antes de ganharmos o dever de
comandar o reino juntos.

— Que tal um... Passeio de barco? — sugeriu. — Faz muito tempo que não exploramos a
zona Norte.

— Perfeito!

E assim, ele foram. Jeon alugou um dos barcos de passeio e remou até estarem bem longe da
terra firme, aproveitando a manhã para tomar Sol e conversar sobre coisas banais com sua
amada. Lillabeth ficava bela em qualquer traje, mas laranja era definitivamente a cor que
mais combinava consigo. Uma verdadeira flor rara e desejável.

Durante todo o percurso Jungkook ficou com as dúvidas martelando em sua cabeça, mas toda
que tentava lançar uma de suas perguntas, seu cérebro desmanchava o pensamento. Quando
tentou perguntar sobre seu futuro como rainha, a pergunta remeteu-se ao passado dos dois.
Falou sobre a infância dela, e acabou desviando-se para ideias de decoração para o
matrimônio. Falar sobre os pais dela? Nada disso, começaram a discutir sobre flores. Por fim,
acabou desistindo.

Uma hora de passeio foi concluída e um silêncio confortável os embalou, apenas os sons dos
pássaros ecoando alto para acalmar os corações aflitos. Lilla encontrava-se na beirada do
barco, brincando com algumas flores que haviam caído em seu cabelo durante o passeio.
Haviam muitas árvores floridas em torno do lago, e qualquer vento as carregava para longe,
às vezes até aterrizando nas águas límpidas. Seu passatempo por enquanto era deixá-las
boiando perfeitamente no lago de cor límpida, um pequeno sorriso surgindo-lhe nos lábios
toda vez que conseguia tal proeza. Jungkook simplesmente optou por admirá-la, o remo
parado durante a longa pausa que estavam fazendo longe do mundo.
Apesar da calmaria, por dentro o garoto estava enlouquecendo, questionando-se do porquê
suas perguntas não conseguiam sair pela sua boca. Era como se ele estivesse proibido de
expressar seus pensamentos em palavras. Cada frase distorcia-se em significados diferentes,
causando-lhe dor de cabeça.

Talvez seu destino não fosse questionar-se acerca da intenção das outras pessoas. Talvez,
Jungkook devesse apenas acreditar.

🌨🌨🌨

— Você voltou! — Taehyung exclamou ao ver o corpo alheio adentrar o sótão.

— Voltei? — perguntou-se ao olhar ao redor. — É, acho que sim.

— Vem cá. Sinta-se à vontade. — Kim chamou o príncipe, dando tapinhas na cama velha.

— Você... Sabe tudo o que eu faço? — Jungkook perguntou depois de algum tempo em
silêncio.

— Acho que não. Afinal é um livro, não um diário.

— Hmm.

— Mas eu li o seu encontro no lago com a Lilla. — admitiu logo em seguida.

— L-leu? — Jeon olhou para o outro lado, envergonhado. Era muito estranho saber que outra
pessoa havia "presenciado" o seu encontro romântico com detalhes.

— Sim. Até que foi fofo. — Taehyung comentou, seco.

— Eu tentei perguntar pra ela alguma coisa sobre o passado ou o nosso futuro juntos mas não
consegui. É como se fosse proibido de falar o que eu quero. As palavras simplesmente não
saem. — explicou.

— Eu acho que é porque você está em um livro. — Kim teorizou, pensativo. — Não dá pra
modificar uma história que já foi escrita. Sua vida é como um script. As falas já vêm prontas.

— Nossa. Eu nunca tinha pensado por esse lado. É quase como se eu fosse... Uma marionete.

— Não pense por este lado. Lembre que aqui, nesse mundo, você é livre. — Taehyung falou,
abrindo os braços o máximo que podia, quase batendo no rosto de Jungkook. — Pode fazer o
que quiser.

— Isso é tão complicado. — o príncipe admitiu, encolhendo-se no lugar involuntariamente.

— Não precisa ser. É só você confiar em mim.


— Eu ainda acho que a Lilla é uma pessoa boa.

— Aish. Mas que teimoso. — Taehyung balbuciou, tentando achar um jeito de convencer o
jovem príncipe.

— Eu amo ela.

— Ama mas é tudo uma mentira. O seu amor por ela é como um vidro Jungkook. Pode ser
lindo, mas se quebra facilmente. — Taehyung disse, melancólico. — Esqueça a Lillabeth e
fique aqui comigo.

— E-eu não posso fazer isso! — Jeon exclamou, surpreso com o pedido. — É errado.

— Errado de que maneira? Sair do livro ou querer ficar comigo? — perguntou, já quase certo
da resposta.

— Os dois.

— Eu posso te fazer mudar de ideia.

— Não...

— Como foi me beijar?

Ao ouvir aquela pergunta, Jungkook imediatamente ficou com as orelhas vermelhas,


lembrando-se do seu primeiro beijo com o garoto estranho mas muito, muito lindo. Aquele
piercing não sairia de seus pensamentos tão facilmente.

— Pelo silêncio, deve ter sido bom mesmo. — Taehyung riu, aproximando-se mais do Jeon
que estava cobrindo as orelhas com as mãos. — A gente pode fazer de novo se quiser.

— Sua persuasão não vai me fazer mudar de ideia. — ele negou, virando a cabeça e
recompondo a postura de superior. Seu coração batia acelerado, mas ninguém precisava saber
disso.

— Minhas palavras podem não te convencer, mas que tal a minha boca? — ele perguntou,
provocativo. Seus lábios macios já passeavam pelo pescoço do jovem príncipe, dando
pequenos selinhos que causavam grandes arrepios na pele alva e exposta.

Jungkook tentava resistir, imóvel e de olhos fechados, mas quando Taehyung começou buscar
pela sua cintura fina e curvilínea, seu primeiro instinto foi impedir-lhe, ambas as mãos
entrelaçando-se enquanto Kim mordia gentilmente o lóbulo da orelha alheia.

— Você é muito excitante, sabia? — perguntou ao pé do ouvido numa voz um pouco


manhosa, rindo debochado logo em seguida. Era extremamente prazeroso provocar o garoto.

Mas Jungkook repentinamente irritou-se, e por impulso, praticamente enforcou o outro,


tirando-lhe o sorrisinho bobo do rosto.
— E você é muito metido, sabia? — retrucou, acabando o entrelaço entre as mãos. — Se
achando no direito de fazer o que quiser comigo. Eu ainda sou um príncipe!

—Oh... Parece que eu despertei seu lado raivoso e agressivo... — Taehyung respondeu,
fingindo não sentir-se intimidado ou quiçá estrangulado. — Desculpa Jungkookie, não fiz por
mal.

O outro sequer mexeu-se, encarando-o com seus olhos negros. Ainda sentia uma dose de
deboche no tom de voz. Nada convincente em sua opinião.

— Eu não q-quis te provocar d-desse jeito... Desculpa. — ele falava sentindo a falta de ar, seu
rosto começando a ficar vermelho. Jeon imediatamente soltou-o, não vendo mais razão em
usar força física.

— Você está sendo muito falso comigo. — falou num tom verdadeiramente decepcionado. —
Eu pensei que você gostasse de mim.

— Mas eu gosto! De verdade. Eu só me empolguei demais em te conhecer. — disse com um


meio sorriso envergonhado. — Sinto muito. Eu prometo não fazer mais nada.

— Tem certeza que posso confiar em você? — o outro perguntou, com um pequeno biquinho
de indecisão formando-se nos lábios. Taehyung parecia ser alguém tão legal porém tão
promíscuo.

— Tenho. Eu não vou mais te forçar a nada, meu bebê.

— Bebê? Mas eu não s-

— É sim! — ele cortou-o com um sorriso. — Aqui pelo menos você é muito fofinho. Dá
vontade de te esmagar com esse pijaminha rosa.

Jungkook olhou para suas vestimentas e sorriu tímido, sentindo uma das bochechas serem
apertadas logo em seguida.

— Aigoo! Isso dói.

Ao ouvir os protestos, Taehyung optou partir para as cócegas, e começou a cutucar o garoto
por todo lado. Sem ter como escapar, Jeon começou a rir sem parar, fazendo sua risada
contagiante ecoar pelo cômodo. Era realmente engraçado ouvir um 'hahaha' tão perfeito
vindo dos lábios de alguém. Kim jamais pensou que poderia encontrar alguém assim em sua
vida. Um sorriso grande e adorável pertencente a uma pessoa que sequer deveria existir em
seu mundo. Surreal.

— Ah... Muito obrigado. — Jungkook agradeceu trêmulo depois que as cócegas cessaram.
Ele estava deitado na cama, ao lado do mundano que encontrava-se sentado, o olhando com
uma repentina devoção.

— Você promete voltar amanhã? — perguntou. Jeon apenas assentiu em resposta, erguendo-
se para ficar sentado.
— Por que preocupa-se com isso?

— Eu acabei de perceber que estou no final do livro. E se... Depois de tudo você
simplesmente desaparecer?

— Não tem o que fazer. — ele concluiu depois de alguns segundos. — Vamos ter que seguir
com nossas vidas como sempre foram.

— Mas eu não quero isso! — Taehyung falou mais alto, exaltando-se. — Agora que eu te
encontrei, não vou desistir assim tão fácil.

— O que quer dizer com 'agora que eu te encontrei'? Pensei que eu fosse só um personagem
qualquer de um livro.

— Eu costumo viajar muito quando leio alguma história. E eu consegui te imaginar com tanta
perfeição pelas descrições feitas que acabei me... Apaixonando.

— Ah... — Jungkook soltou, não sabendo o que dizer.

— E eu só te ataquei desse jeito porque pensei que você logo fosse sumir... Simplesmente se
esvair entre os meus dedos antes de acontecer qualquer coisa entre nós.

Ao dizer aquilo, Taehyung involuntariamente procurou pela mão de Jeon, que aceitou-a de
bom grado. Ao fazer aquilo, Jungkook imediatamente lembrou-se de sua amada, e resolveu
imitar o que sempre fazia com ela. Puxou o garoto para cima de si, ambos deitados um em
cima do outro com os lábios extremamente próximos. Nenhum dos dois teve a coragem de
dizer algo, o silêncio comunicando-se pelos dois.

Apenas aproveitaram o momento íntimo e dividiram o mesmo ar por algum tempo, adorando
ter um ao outro realmente de perto pela primeira vez. O príncipe tirou alguns fios rebeldes
que caiam-lhe nos olhos para tentar parecer mais apresentável, e simplesmente sorriu por de
repente sentir-se tão preocupado com a própria aparência. Taehyung era absolutamente
perfeito, não importava a ocasião, cabelo despenteado ou rosto amassado. Deveria sempre
aparentar uma beleza única e angelical apesar do piercing provocativo.

🌨🌨🌨

A partir do dia seguinte, as visitas de Jungkook tornaram-se praticamente diárias, ambos


aproveitando a companhia um do outro sob a cama para desabafar sobre suas vidas
completamente distintas.

Kim Taehyung, Jeon descobriu, já tinha suas 21 primaveras completas, e vivia com a tia em
Seoul, uma cidade do mundo real. Além disso, cursava Design Gráfico num lugar que
chamam de Universidade. Só com estes detalhes, o príncipe ficara boquiaberto e curioso,
cada dia querendo mais visitar o outro mundo, onde não havia reinos, príncipes e
tampouco Sombras para lhe ameaçar a vida.

Era tudo encantador demais aos olhos do mais jovem, mas Taehyung sequer deixou o garoto
sair do sótão. Seria muito perigoso ser pego andando pelas ruas com alguém que não
pertencia a seu universo, além do óbvio receio em algo acontecer com Jeon caso fique muito
longe de seu portal para voltar.

No fim, decidiram não arriscar. Ainda não eu hora para tal.

E junto com os pequenos encontros (que não se resumiam a apenas conversas serenas), o
casamento entre Jungkook e Lillabeth tornava-se cada vez mais próximo, com muitas
fofocas, discussões e preparativos rodeando o ar dentro e fora das imediações do castelo.

Para o príncipe, tudo começou a tomar um rumo muito monótono e entediante, cada frase
proferida saindo quase que estática, sem quaisquer sentimentos verdadeiros além do mais
puro tédio. Jungkook sentia-se enclausurado quando voltava para sua história, e desconhecia
completamente sua antiga emoção em viver como parte da alta realeza, chegando ao ponto de
desprezar a própria namorada. A paixão subitamente esvaiu-se, e agora só tinha olhos, corpo
e mente para uma única pessoa. Kim Taehyung.

O mais velho ocupava-lhe grande parte dos pensamentos, e ao invés de seguir negando sua
óbvia atração pelo garoto, acabou cedendo aos encantos do jovem rebelde de cabelos revoltos
e lábios tentadores. Sucumbir-se ao olhar castanho e profundo, somado a voz grossa e toques
macios era extremamente fácil, e Jungkook se deixou levar como se fosse uma pequena
borboleta ao pousar numa linda flor.

Mas nem tudo estava sendo descomplicado. As Sombras tornavam-se cada vez mais
agressivas, e seus ataques no reino bem mais frequentes que a semanas atrás. Sua "doença"
também avançava vorazmente, o vidro chegando-lhe até acima do cotovelo, começando a
restringir um pouco mais de seus movimentos. Era agoniante sentir-se frio por fora, e um
vazio literalmente o consumia aos poucos.

🌨🌨🌨

O dia do casamento finalmente chegou. Lillabeth estava mais animada do que nunca, tratando
de embelezar-se a manhã e tarde inteira para ficar perfeita durante a noite. O seu vestido fora
escolhido por si mesma e sua empregada, com o intuito de fazer uma surpresa para seu noivo.

Taiyou encobriu-se de flores naquele dia morno de sábado, e todos os habitantes pareciam
prontos para festejar a união do casal mais alegre e aclamado do reino. Exceto Jungkook. Ele
estava nervoso e com medo, as palavras de Taehyung martelando em sua mente.

"Se morrer, ela tomará seu lugar. Mas antes vocês precisam se casar, é claro."
Aquele perigo poderia mesmo ser real? Aqueles olhos grandes e esverdeados seriam capazes
de não amá-lo? Todos os anos de convivência, desde pequenos, não serviram de
absolutamente nada?

— Jungkook? — o empregado chamou, batendo na porta diversas vezes.

— Estou quase pronto. — falou ao pôr as típicas luvas brancas. Esconder sua deformidade
continuava sendo prioridade em sua vida.

— Ótimo. Te aguardo do lado de fora do salão.

Ao ouvir aquilo, Jeon suspirou pelo que devia ser a décima vez naquele dia. Não sabia se
deveria ir para a noite de núpcias com Lilla. Se adormecer junto a ela, poderia não despertar
no dia seguinte.

— Te vejo mais tarde. — ele falou para o espelho, pretendendo visitar Taehyung assim que o
casamento se encerrasse.

Com os passos leves, abriu a porta de seus aposentos e preparou-se para um dos dias mais
inesperados da sua vida. O casamento.

A cerimônia, que era para ser algo inesquecível, acabou tornando-se monótono aos seus
olhos. A decoração estava mesmo muito linda, a abóboda do castelo entupido de flores
belíssimas, além de todo o resto também. Os convidados da realeza ficavam boquiabertos
com tanto empenho, e todos pareciam mais concentrados em quaisquer outras coisas que no
príncipe recém-chegado. A mãe de Jungkook foi a única exceção, parecendo preocupada ao
vê-lo tão indiferente.

— Meu filho... Você parece tão infeliz. — ela falou ao segurar sua mão enferma. —
Aconteceu alguma coisa estes últimos dias? Ando tão ocupada quanto ao ataque dos Sombras
que não pude mais conversar.

— Está tudo bem... Só não acordei no meu melhor humor esta manhã. — respondeu
indiferente, surpreso por aquele diálogo com a mãe. Talvez esta cena não se encontrava no
livro.

— Tem certeza? Ultimamente você está mais cabisbaixo.

— Tenho tido muitos pesadelos. — mentiu, sabendo que a mãe nada podia fazer. — O ataque
é daqui a dois dias, e temos sofrido muita pressão pelo sucesso.

— Realmente, eu odeio isso, mas é um mal necessário para o reino.

Dito isso, a mulher de cabelos escuros endireitou-se e saiu dali como se nunca houvesse
começado aquela conversa. Jeon ficou confuso e piscou algumas vezes, interpretando aquilo
como parte do script da história. Talvez ela estivesse sendo solicitada em outro lugar afinal.

Como o habitual, a noiva demorou e quase atrasou-se, as conversas entre os convidados e


Jungkook transformando-se em monólogos cada vez mais intensos. Ele queria logo casar e
sumir dali. Pelo amor dos deuses.
Eles fizeram o protocolo comum em casamentos, os padrinhos e madrinhas chegando
primeiro no altar, em seguida o noivo e por último a noiva, acompanhada do pai de
Jungkook, já que a garota era órfã. Ambos pareciam as pessoas mais felizes do mundo,
finalmente concretizando o evento mais aguardado em suas vidas, o tão sonhado matrimônio.

Jeon ainda lembrava-se de quando eram pequenos, Lilla sempre fantasiando seu namoro,
casamento e até maternidade. O garoto não recordava-se com clareza, mas certamente devia
ter ficado feliz com isso, principalmente porque ela o compreendia tão bem, sempre tomando
cuidado com seus segredos e dando todo o amor necessário nos momentos mais difíceis na
jornada para tornar-se um verdadeiro príncipe.

Como raios toda aquela bela história havia se tornado em algo frio e cinzento? Por que seu
amor se esvaía a cada dia mais?

— Prometo estar contigo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na


pobreza, amando-te, respeitando-te e sendo-te fiel em todos os dias de minha vida, até que a
morte nos separe. — repetiram lentamente em uníssono.

Logo em seguida, imensos aplausos e gritos de alegria ecoaram pelo castelo. Finalmente
estavam casados.

Até que a morte nos separe. — Lillabeth repetiu. Ela tinha grandes planos para aquela noite.

🌨🌨🌨

Depois das congratulações dos familiares, andaram de carruagem pela cidade, distribuindo
diversos acenos para a população enquanto davam selinhos entre si para demonstrar seu amor
puro e mútuo. Seriam o casal mais lindo do mundo se não fosse pela falsidade de Jungkook.

Queria voltar ao logo para o castelo. Para os seus doces aposentos.

— Kookie! Ah! — ela riu, desesperada. — Não é pra você... Me fazer cócegas! — terminou
quase chorando de tanto rir, aliviada pela trégua.

— Pensei que você gostasse, Lill. — Jeon disse em cima de si, seu rosto expressando uma
típica face de cachorrinho inocente.

— Eu gosto, mas não é isto que fazemos na lua de mel, hum?

Não foi preciso mais nenhuma palavra para que Jungkook deixasse seu lado brincalhão para
um mais perverso, atacando sua esposa com beijos que logo tornaram-se quentes.

Suas mãos puseram-se a explorar o corpo feminino, puxando a saia do vestido para cima na
tentativa de tocar suas coxas desnudas. Nunca haviam tido relações sexuais, já que era uma
tradição no reino, e de repente aquela regra não valia mais, deixando-os loucos para
experimentar.

— Oh~

— Não! Sai daí! — ela tapeou a mão intrusa. — Ainda não.

— Onde então?

— Aqui... — Lilla sussurrou antes de beijá-lo nos lábios com volúpia, um monte escasso na
relação de ambos.

As línguas dançavam dentro do beijo, perseguindo uma a outra enquanto algo os caçava do
lado de fora. O perfume doce da garota o inebriava, causando quase que uma tontura a
medida que ficava mais e mais forte. Era delicioso.

— Finalmente o momento chegou... — murmurou contra os lábios alheios, trocando


rapidamente de posição com o marido num giro descomunal.

— O que...?

Lillabeth não respondeu, sorrindo grande quando o Sombra adentrou o quarto


sorrateiramente, este possuindo um tamanho muito maior que o comum. O monstro
agilmente pôs-se atrás da garota, e antes que Jeon pudesse fazer qualquer coisa, a criatura
transformou-se em uma adaga.

O desespero tomou conta, mas ele não atacou-a. Ao invés disso, juntaram-se, Lillabeth
empunhando a arma.

Seus olhos... Agora eram completamente brancos.

— Lill?

— Kookie... Eu sinto muito. — falou num tom quase sincero, e antes que Jeon pudesse
reagir, ela agarrou-o pelo pescoço. — Mas eu nunca te amei. Não foi um amor verdadeiro. —
admitiu com sinceridade, ainda pressionando o garoto contra o travesseiro. — Seus olhos de
jabuticaba nunca me atraíram. Eles não têm o que eu procuro, não são dignos para um rei. E
antes que me pergunte, meu amor, eu não sou humana.

— N-não?

— Não. Você foi ingênuo o suficiente para acreditar nas minhas mentiras, e nem sequer
suspeitou.

— O q-que você... É? — Jeon perguntou, lutando para livrar-se da mão o enforcando. Ela era
forte. Forte demais para uma mulher humana.

— Não é óbvio? — riu. — Sou uma Sombra. A primeira de todas. — admitiu com orgulho.
— Nasci com o propósito de te destruir, e eu não vou decepcionar meu pai. — ela sorriu,
erguendo a adaga negra.
Tudo que Jungkook fez foi fechar os olhos com força.

Mas o golpe não veio.

— Mas antes, você ainda tem curiosidade, não é Jungkook? Este perfume. — gesticulou para
o ar, carregado do cheiro adocicado. — Quer saber de que flor este meu perfume
pertence? — ela perguntou, preparando-se para atacá-lo.

Jungkook apenas assentiu com a cabeça, em choque.

— É da belíssima e adorável Higanbana*.

[N/A: *Conhecida aqui como Lírio-aranha, é a flor símbolo do Equinócio do Outono no


Japão. Culturalmente ligada com a morte devido a sua presença frequente em cemitérios, ela
também remete a dor, perda, saudades e abandono. Além disso, esta florzinha kawaii é
venenosa :3 e geralmente tem a cor vermelha]

— Agora que finalmente sabe, adeus meu amor. O reino de Taiyou agora me pertence.

E com um último sorriso maléfico, Lillabeth encerrou a vida de seu recém-marido com um
golpe certeiro no coração, despedaçando-o em milhares de pequenos cacos de vidro.

Porque Jeon Jungkook nunca passou disso. De um punhado de vidro frágil, pronto para ser
pisoteado e quebrado.

🌨🌨🌨

Não, este não podia ser o fim.

— Não, não, não. — Taehyung murmurava consigo mesmo enquanto revirava as páginas
finais do livro. Ele ainda não tinha encerrado a leitura, mas definitivamente Jungkook não
ressurgiria dos mortos em menos de dez páginas.

Em desespero, seu corpo ergueu-se da cama e fez a única coisa coerente que lhe restava.
Atravessar o espelho. Ir para o outro lado.

Em prantos e com o livro em mãos, ele pulou, rumo ao seu príncipe.

🌨🌨🌨

— Jungkook! — Taehyung gritou, correndo pelo castelo. — Jeon Jungkook!


Sem hesitar, o mais velho acabou adentrando a festa de casamento, exatamente no momento
do casamento, ambos os noivos no altar.

Graças a Deus — pensou. Os acontecimentos não ocorrem exatamente no mesmo horário em


que são lidos.

— Quem é você!? Mãos ao alto! — os guardas reais acusaram. Praticamente correndo ao


ataque do intruso.

— Taehyung? — Jungkook perguntou assim que o viu, soltando-se das mãos de sua futura
esposa. — Taehyung! — gritou, correndo ao seu encontro.

— Príncipe? Você conhece este jovem esfarrapado?

— Sim, ele é meu amigo. Deixem-no em paz.

— Jungkook, precisamos ir embora. O final do livro... — sussurrou entredentes, não citando


aquela palavra com 'M'. — Não é bom. — disse por fim.

— Então vamos. — concordou sem questionamentos, segurando a mão de Taehyung.

Juntos, correram para longe, fazendo os guardas enlouquecerem. Rapidamente o seguiram,


bradando por reforços e acusando aquilo como sequestro.

— Pra onde vamos?

— Para o espelho. O espelho é nossa única salvação. — Kim praticamente gritou, ofegante
por correr tão rápido.

Quando chegaram nos aposentos, não tiveram tempo de hesitar, jogando-se os dois contra o
espelho-portal.

Que se estilhaçou em mil cacos.

Para nunca mais voltarem.

🌨🌨🌨

— Taehyung.

— Jungkook.

— O espelho... — falou preocupado, ignorando todo o resto ao ajoelhar-se ao lado dos cacos.
— E-eu... Não posso mais voltar.

— Eu sei que é triste mas... Você agora pode pertencer a este mundo.
— Taiyou... — murmurou quase derramando lágrimas.

— Jungkookie. — o mais velho chamou, ajoelhando-se junto do amado. — Não sei como,
mas vamos superar isso.

— Tae-

— Vai dar tudo certo. Contos de fada sempre terminam bem.

E sem mais uma palavra, o mundano juntou ambas as testas num gesto romântico, calando-o
ao oferecer um beijo. O primeiro daquela nova vida.
End Notes

É isso aí meus amados, acabou a oneshot :(


Eu sei que o final não foi o mais concreto de todos, mas mas achei que a história estava
ficando comprida demais 😅
Se gostaram, não esqueçam da estrelinha, isso ajuda muito a autora a sentir-se motivada para
escrever mais 😊

Obs.: Não pretendo fazer um extra.

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