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fixado nem limitado numa tradição dada, o artista vai procurar vieses além da
antiguidade ou do classicismo. [...] O tempo da modernidade é o presente, distinto
do passado e do futuro, e simultaneamente portador dos dois. Esta nova concepção
do tempo conduz o homem a conferir um valor específico à época na qual ele vive".
• Não se trata apenas de colocar ao consumo das populações que se aglomeram nas
cidades grande variedade de mercadorias, mas do processo mediante o qual
palavras, pessoas e processos se tornam eles próprios mercadorias. O sentido é, aqui,
mais uma vez aquele empregado por Marx, fetichista e alienador, pelo qual as
coisas passam a exprimir algo que não é explícito, ou se travestem de uma
aparência que encobre uma essência. Daí, o recurso de Benjamin ao processo de
pensar a realidade por meio de alegorias, imagens condicionadas pelo fetiche da
mercadoria.
• "A intenção de Benjamin era derivar do fetichismo das mercadorias todas as
‘fantasmagorias’ do século XIX: a da própria mercadoria, cujo valor de troca
esconde seu valor de uso; a do processo capitalista em seu conjunto, em que as
criações humanas assumem uma objetividade espectral em relação a seus criadores;
a da cultura, cuja autonomia aparente apagou os traços de sua gênese, e a das
formas de percepção espaço-temporal — as fantasmagorias do tempo, ilustradas pelo
jogador e pelo colecionador, ou as do espaço, ilustrada pelos flâneurs".
• Dessa forma, entende-se que tanto a aparência quanto a essência ou o
inexprimível são partes integrantes da mesma realidade.
• Nesse sentido, em sua proposta de fabricação-ocultação da realidade, o sistema
produz as suas utopias, por meio das quais uma época é capaz de pensar o seu
futuro.
• Se o progresso foi uma utopia que embalou os sonhos do século XIX, os novos
inventos, fruto da aplicação da ciência à tecnologia, adquiriram aos olhos da
multidão o síafusde fantasmagorias, surgidas no mundo moderno para encantar a
humanidade.
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• as fantasmagorias, categorias benjaminianas que se equivalem ao fetiche da
mercadoria de Marx, como imagens produzidas socialmente, funcionam como
imagens de desejo coletivo. Este inconsciente coletivo corresponderia a um
correlato, na ordem da imaginação, da reificação no sistema de mercadorias. \
• Se o caminho do progresso é a trilha fadada a percorrer por uma humanidade
arrastada pelo turbilhão do capitalismo, o mito do "eterno retorno", ou a
experiência da "eterna repetição", é recordado por Benjamin pela figura do
trabalhador na usina. Condenado a repetir mecanicamente os mesmos gestos e a
nunca ver a tarefa encerrada (uma vez que a produção é contínua e o trabalho
parcelado, distanciando o operário do produto final), sua personagem é
comparada à de Sísifo, também ele condenado a uma tarefa inglória e destinada a
não ter fim.
• Benjamin via justamente no acelerado envelhecimento das invenções e novidades
brotadas do capitalismo a marca da modernidade. A moda, condenada a se
renovar sem cessar, figura como o "eterno retorno do novo ao ponto de ser,
igualmente, a paródia desta novidade”
• Uma coisa, contudo, é resgatar o senso crítico presente nas mentes iluminadas dos
pensadores que, de uma forma dialética, perceberam as transformações materiais e
as socialidades do seu tempo e cujo pensamento chegou até nós. Outra é perceber
que, de forma acrítica e não consciente, aquele turbilhão de mudanças influiu nos
atores sociais anônimos do processo sob a forma de senso comum, de representações
mentais e de um imaginário social.
• Múltipla, polifacetada, contraditória, descontínua, como experiência vital, ela
pressupõe mais de um olhar. Resguardado o direito de opção e de busca de
articulação entre as dimensões culturais com as condições concretas de existência, o
fio condutor desta análise é o que situa a modernidade na senda da constituição
do capitalismo.
• Nesse contexto (Europa Ocidental, no momento em que triunfava o sistema de
fábrica como a forma histórica mais adequada à realização da mais-valia, da
elevação da produtividade, da consolidação da dominação burguesa, do
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adestramento operário à disciplina do trabalho), a modernidade é um fenômeno do
domínio da cultura, da expressão do pensamento, das sensações, das mentalidades e
da ideologia. Sua base nascedoura é a transformação burguesa do mundo, que dá
margem a um novo sentir e agir.