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20/05/2023, 16:13 Tudo o que é sólido desmancha no ar « Filosofante

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Tudo o que é sólido desmancha Pesquisar

no ar
        Berman nasceu em Nova York. Estudou nas universidades de Columbia,
Oxford e Harvard. Desde 1960 é professor de teoria política e urbanismo na
City University, em Nova York. Na língua portuguesa temos editado além de
Tudo o que é sólido desmancha no ar dois outros livros: Aventuras no
marxismo (Companhia da Letras) e Um século em Nova York: espetáculos em
Time Square (Companhia das Letras). Em 2001 falou em um encontro
promovido pelas faculdades de Arquitetura e Letras da PUC/SP, poucos dias
antes dos atentados das Torres Gêmeas.

        Marshall Berman dedicou boa parte de sua vida à tentativa de decifrar o


que é, enfim, modernidade.
        O título da obra resenhada resume o pensamento do autor, ou seja, a
modernidade é capaz de desfazer o que até então era “eterno”. Berman
demonstra que a modernidade é um ambiente perigoso que une, mas
paradoxalmente coloca o homem em um turbilhão permanente de
Artigo (68)
desintegração aonde há contradições, lutas e muita angústia. Esse cenário é
designado por ele como Modernidade. curso de extensão (2)
                O objetivo do autor é mapear as tradições oriundas desse ambiente
Entrevista (3)
para compreender como elas podem enriquecer a modernidade atual e
detectar elementos que empobrecem o senso sobre o que é ou que possa Facapa (67)
ser a modernidade. Filosofia (79)
        Sempre com o intuito de oferecer ao leitor subsídios que comprovem
Jornada de Filosofia (5)
sua tese, Berman descreve o avanço das descobertas das ciências, indústria,
dos movimentos sociais que transformam a sociedade acelerando o ritmo da Notícias (21)
vida particularmente no século XX, período mais intenso de tais mudanças. A
Pós-Graduação (2)
análise que faz divide-se em três fases: (1) início do século XVI até o término
do século XVIII; (2) Revolução Francesa e (3) século XX. Resenha (3)
                Berman explora a experiência e obra de Jean-Jacques Rousseau que Revista Theoria (4)
teria sido o primeiro a usar a palavra moderniste ao estar profundamente
vídeos (4)
envolvido e perturbado com a situação em que vivia a sociedade e sua época
ao afirmar que ela estava a beira do abismo. Passando pelo século XIX, suas
descobertas tais como ferrovias, novas indústrias, jornais, telégrafos entre
outras aborda pensadores como Nietzsche, Marx entre outros. Ao citá-los
fica evidente o peso de suas opiniões reforçando a linha de pensamento do CITAÇÕES
autor. Para Nietzsche e Marx:

“A verdadeira moral zomba da


as correntes da história moderna eram irônicas e moral.”
dialéticas: os ideais cristãos da integridade da — Pascal
alma e a aspiração à verdade levaram a implodir o
próprio cristianismo. O resultado constitui os
eventos que Nietzsche chamou de “a morte de
GALERIA FLICKR
Deus” e “o advento do niilismo” (p.31).

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causando a crise de valores ambivalente as grandes possibilidades que o


homem tem diante de si.
                Em um breve resumo sobre Marx, o autor deixa bem claro seu
pensamento. A modernidade chegou, porém desumanizou o homem e o
escravizou, a classe dominante interessada no lucro oprime o homem, apesar
dos avanços científicos e minam pela força a existência humana. Esses relatos
certamente confirmam o desespero e a desestruturação do homem devido a
tantos conflitos que permeiam a psique atual, demonstrada pela
desumanização, banalização da vida e o caos social em que vivemos.
É no Manifesto do Partido Comunista que Marx expressa seus anseios e
desilusões. Somente a classe operária, a nova classe, poderia absolver, digerir
e se adaptar as novas ondas da modernidade, através da luta de classe.
                Tempos depois seria a vez de Nietzsche abordar os problemas da
modernidade. No turbilhão em que vive o homem, escreve em Além do Bem
e do Mal (1882). A história para ele é como um guarda roupas no qual
nenhuma vestimenta serve ao homem moderno. A única saída será o homem
que viverá para além do tudo isso: o “Além do homem”. Outros vultos
REVISTA THEORIA
falariam a mesma linguagem.
                No século XX, afirma Berman, nunca a arte, o teatro a dança, a
arquitetura, a pintura, a poesia chegaram ao mundo, ou desenvolveram-se
no passado. Ressalta, todavia, que o homem não sabe lidar com essa CINE PENSAMENTO
modernidade. Segundo o autor, essa perda de sentido culminou na Primeira
Grande Guerra.
        Passando pelos acontecimentos dos anos sessenta e setenta do século
XX e fazendo uma retrospectiva do pensamento modernista Berman alerta FALTA PENSAR
sobre o perigo de desprezar tais pensadores como Marx, Nietzsche,
Baudelaire e Dostoievski que conforme suas palavras sentiram o peso da
modernidade. Voltar a tais mentes pode ajudar-nos a construir a
modernidade hoje.
        Nesta introdução Berman abre o leque para questão tão primordial para
o homem pós moderno. Consegue trazer a luz fatos do passado que refletem
em nosso viver hoje. Provoca no leitor o surgimento de questões que dizem
respeito não só ao material, mas própria essência humana. É possível
desprezar o passado como algo obsoleto e construir um futuro digno?
                Em contra partida, Berman demonstra que houve aqueles que
apostaram afirmativamente na modernidade como John Cage, Lawrence
Alloway, Marshall McLuhan, Leslie Fiedler entre outros, ressaltando que tais
pós modernistas, como se intitulavam, deixaram a desejar quando não
trataram de modo crítico até onde esse novo caminho poderia chegar.
        Berman sem dúvida alguma domina o assunto e suas consequências. O
isolamento em que o homem passou a viver após 1970 é descrito em uma
citação indireta de Leibniz, ao compará-lo às mônodas. Seria relevante citá-lo
diretamente para que o leitor não familiarizado com a monodologia
entendesse do que se trata.
                Por último cita Michael Foucault em uma linguagem aparentemente
Freudiana quando diz que as modernas tecnologias do poder controlam até
mesmo os impulsos sexuais ornando a vida como seu maior objeto. Mais
uma vez o tema liberdade aparece e no pensamento de Foucault é mera
ilusão, pois quem faz parte do mecanismo da modernidade usufrui de seus
efeitos e poder. O sonho de liberdade contra as injustiças que a era moderna
trouxe consigo é mera utopia, pois tal tentativa colabora cada vez mais com
a cadeia na qual estamos aprisionados, usando uma linguagem foucaultiana.
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        A modernidade perdeu-se para Berman e é incapaz de voltar às suas


origens. Ao contrário dos modernistas do passado que contribuíram
beneficamente para o desenvolvimento das ciências sem destruir o meio
ambiente em que vivemos bem os vínculos emocionais, ou seja, nossa
identidade dá-lhe a sensação de rumamos para um caos. A solução talvez
para Berman seja voltar ao passado, aos primeiros modernistas ricos e
vibrantes para que se crie novamente forças a fim de que o homem possa
renovar-se para enfrentar o que está por vir.
                Berman é capaz de sintetizar períodos da história fazendo,
interrelacioná-los e acompanhar o desenvolvimento da tese principal. A
linguagem é clara, fácil de ser lida mas ao mesmo tempo trás a profundidade
necessária para estudantes e pensadores das diversas áreas do saber. A
introdução é cativante, estimulante e altamente reflexiva para o ambiente
filosófico. Tudo o que é sólido desmancha no ar é obra indispensável para se
entender o passado, o presente tão turbulento e quiçá ter um lampejo do
que nos aguarda.

BERMAN, Marshall. Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da


modernidade. SP: Companhia das Letras, 2001, p. 25-49.

Bernardo Rafael de Carvalho Pereira


Terceiro Período de Filosofia

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Marcadores: Berman, modernidade

Este artigo foi escrito por Bernardo em 20 de abril de 2010 às 18:35, e


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COMENTÁRIOS (2)

#1 escrito por Mariana


há 12 anos atrás

Parabéns, texto muito bom!

#2 escrito por Jordana


há 11 anos atrás

Parabéns pelo resumo, mto bom! Talvez devesse ter


desenvolvido um pouco mais as vertentes dos anos 60, mas
mesmo assim excelente!

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