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As Silhuetas do Século 20 - De 1900 - 1990

by Gabriela Lira
As silhuetas são parte fundamental para a construção correta da estética de uma época. Elas
possuem simbolismos que refletem o pensamento vigente em um dado período. Mas antes de mais nada,
precisamos fazer a diferenciação entre silhueta e biotipo.

Foto: Reprodução.

Biotipo x Silhueta - Qual a Diferença?


Biotipo está relacionado com a estrutura natural de seu corpo e isso depende de seu DNA, é ele quem
determina sua largura de ombros, altura, largura de quadril, cintura, etc.
A silhueta por sua vez, é uma forma construída, não natural, que pode ser adquirida por meio das roupas
e acessórios. Ela é o contorno do corpo.
Silhueta entre 1900-1907
Na virada do século 19, a silhueta vigente era em forma de S, e isso se estendeu até meados da primeira
década do século 20. A forma S, também chamada por ampulheta, destacava sobretudo a cintura
finíssima, conseguida por meio do uso de corsets e alguns enchimentos usados na altura do
quadril, que davam a impressão da mulher ser mais estreita do que realmente era. Os corsets garantiam
postura ereta e elevação do busto.

Foto: Reprodução.

Quadril, seios e cintura em destaque aparecem frequentemente ao longo da História da Moda, essas
partes do corpo feminino eram consideradas fundamentais para a reafirmação de gênero.
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O que se esperava da mulher dessa época era um temperamento dócil, subserviente e maternal, e o corpo
em S era a exata representação do romantismo desejado à figura feminina. As saias longas também
ajudavam as mulheres a parecerem mais altas.
Silhueta entre 1907-1914
Esse período manteve a cintura marcada, mas muito mais solta que os anos anteriores. Diversos vestidos
dessa fase podem ser comparados com os modelos da Regência (início do século 19), quando havia
demasiada marcação abaixo do busto.

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O volume passou a se concentrar na região do colo , e as saias eram mais afastadas das pernas. Na
parte superior do tronco havia muitos elementos de renda, recortes e outras firulas. Os babados das
mangas, antes usados no dia a dia, se destinaram para os vestidos noturnos, pois a nova moda eram
as mangas ajustadas ao braço. Era muito comum o uso de faixas na cintura.
Silhueta entre 1915-1917
Aqui começa a transição para a moda dos anos 20. A destruição da Europa com a eclosão da Primeira
Guerra Mundial (1914-1918), mudou profundamente a percepção de Moda e prioridades da sociedade.
A silhueta dessa fase começou a se diferenciar drasticamente dos modelos usados nos primeiros anos de
1900.
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Saias rodadas e com babados passaram a ser muito populares, assim como as mangas mais soltas e
curtas. Trajes esportivos ganharam de vez um lugar especial no guarda-roupa feminino. A silhueta dessa
época tendia a deixar a mulher mais achatada.
Silhueta entre 1918-1919
Transição direta para os anos 20. A linha da mulher passou a ser mais reta e a cintura mais baixa. A
silhueta passou a ser tubular, algo que se acentuou na década seguinte.
Em vestidos de festas era usual mangas curtas e transparentes. Os vestidos diurnos, por sua vez,
apresentavam muitos detalhes laterais.

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Silhueta na Década de 1920
Os anos 20 foram extremamente importantes para a emancipação feminina em diversos países,
especialmente nos Estados Unidos. A grande estética do período foi a de Flapper Girl, em
português, Melindrosa, que surgiu primeiramente em ilustrações e posteriormente ganhou forma na vida
real.

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A melindrosa tinha o corpo reto, totalmente o oposto do século passado. Para conseguir tal aspecto, as
mulheres usavam cintas e peças que comprimiam busto, quadril e coxas. As roupas soltas ajudavam elas a
parecerem mais magras e altas.

Foto: Reprodução.

No artigo, *Faces Of Feminisms: The Gibson Girl and The Head Flapper in Early Twentieth-Century
Mass Culture, Jenifer Palso diz o seguinte acerca da silhueta dos anos 20:

"Michelle Mock Murton vê as roupas restritivas do século XIX como uma forma de prisão mental igual
àquela estimulada pela imagem da melindrosa: 'Este fenômeno não é totalmente diferente da quimera do
século XX, que criava doenças sociais para as mulheres, como bulimia e anorexia nervosa".

Foto: Reprodução.

Há pesquisas que demonstram o aumento de bulimia e anorexia entre as mulheres dos anos 20, tudo
isso em pró da pressão estética que vendia a imagem do corpo esquio.
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Nos meados da década, as cinturas se tornaram baixíssimas. E o que essa silhueta pode nos dizer? A
mulher dos anos 20 desejava autonomia, por isso suas roupas eram mais leves e muitas delas pensadas
nos movimentos do Jazz.
A melindrosa sentia enorme vontade de se desvincular da construção de gênero, sem saber no entanto
que acabaria criando outra padronização.
Silhueta na Década de 1930
Nos anos 30, as mulheres continuaram a manter a ilusão de parecerem mais altas. Os recortes abaixo do
busto ajudavam nessa missão. Os ombros nessa década passaram a ter grande destaque.

Foto: Reprodução.

Os trajes noturnos apresentavam muitas vezes decotes profundos nas costas, e os materiais mais
utilizados na confecção dessas peças eram a seda e o cetim, que criavam um aspecto solto e fluído.
Havia presença constante de caudas longas.
Madame Grès trouxe o drapeado egípcio e Madeleine Vionnet o toque greco-romano das túnicas, para
a alta-costura.
Silhueta na Década de 1940
A silhueta de 1940 pode ser dividida em dois períodos distintos: antes e depois da guerra. Nos anos de
conflito, o estilo militar entrou em voga e o vestuário feminino recebeu alguns elementos masculinos,
especialmente no que diz respeito aos ombros.

Foto: Reprodução.
O corpo ideal na época correspondia à forma Y, com ombros acolchoados, cintura marcada e saias retas
de bainhas curtas. A escassez de materiais e o racionamento de tecidos, fez com que peças amplas
praticamente não existissem.

Foto: Reprodução.

O cenário acima mudou com o aparecimento do efervescente New Look de Christian Dior, que
conquistou Paris e o mundo. A silhueta de Dior bebeu da fonte da Era Titanic e também dos meados do
século 19, que são lembrados por suas crinolinas.

Foto: Reprodução. Versão de 1957 em comemoração aos 10 anos de New Look.

O New Look trouxe de volta saias amplas e extremamente rodadas, que iam até às canelas. Os ombros
continuaram a ser marcados, bem como a cintura.
Silhueta na Década de 1950
Os primeiros anos de 1950 mantiveram o New Look, e nos meados da década, os vestidos ultrarodados
eram a grande sensação. O vestido bicolor de Grace Kelly usado no filme Janela Indiscreta (1954)
representa o espírito romântico da época.

A moda housewife, isto é, o estilo dona-de-casa foi um produto do pós-guerra que pretendia trazer a
antiga feminilidade de volta às famílias americanas, e vender a mensagem de que o lugar da mulher era
dentro de casa cuidando do seu marido e de seus filhos.

Foto: Reprodução.

Usar anáguas era fundamental para a silhueta circular que lembrava as crinolinas do século passado.
A moda suburbana, por outro lado, apresentava jovens de estilo despojado e adeptas da calça jeans.
Os sutiãs em forma bullet bra deixavam os seios pontudos e chamativos.
Silhueta na Década de 1960
Os princípios de 1960 ainda tinham elementos da década passada, tais como: cores pastéis e saias
circulares, isso começou a mudar nos meados da década.
A grande característica de 1960 foi o vestido trapézio, que dava à mulher uma forma A.

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As cinturas eram soltas e o vestidos se tornaram mais curtos. Surgiu a minissaia, muito popular entre as
adolescentes. Saias e shorts curtos com meia-calça branca faziam parte da estética go-go dancer.

Foto: Reprodução.

Mary Quant e Yves Saint-Laurent, trouxeram a imagem da nova mulher: livre, independente e muito
questionadora. As mulheres dos anos 60 não mais queriam o visual romântico e frágil das housewifes dos
anos 50.
Silhueta na Década de 1970
Nos anos 70, o volume saiu do meio do corpo para outras partes. O grande símbolo da década,
inegavelmente foi a calça boca-de-sino, que era ajustada até a metade das canelas e depois abria.

O volume também apareceu em mangas, especialmente na parte inferior dos braços.

Foto: Reprodução.

O smoking de Yves Saint-Lauren se tornou muito popular e resgatou o aspecto pesado da alfaiataria à
moda feminina.
Silhueta na Década de 1980
A principal silhueta dos anos 80 é a do powerdressing, um movimento que buscou atender ao número
crescente de mulheres no mercado de trabalho e em altos postos de liderança.
Foto: Reprodução.

O powerdressing trouxe de volta os ombros exagerados e outros elementos típicos do vestuário


masculino. Blazers e calças eram indispensáveis.
Podemos dizer que existe algumas semelhanças entre essa estética e o estilo militar dos anos 40.
Silhueta na Década de 1990
A época mais difícil de definir a silhueta com certeza é a de 1990. A moda foi muito diversa nessa época,
e nem sempre conseguimos traçar um cenário que contemple todas as subculturas existentes.
Escolhi falar de duas silhuetas. A primeira delas esteve muito forte nos primeiros anos e, é típica do
estilo grunge.

Foto: Reprodução.

A silhueta do grunge era volumosa, ousava em sobreposições e trazia um certo toque de "desleixo". Era a
voz de uma juventude inconformada que queria se livrar dos exageros das décadas anteriores.

Foto: Reprodução.
A segunda silhueta esteve mais presente nas passarelas, e sobretudo em roupas dos finais da década.
As calças eram extremamente baixas e as peças justas ao corpo.

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