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ILUSTRAÇÃO DE MODA – UNIDADE 1

INTRODUÇÃO

É preciso ter um excelente traço de desenho para ser um profissional de


moda? Essa é uma pergunta comum para muitos alunos no início de sua
jornada na moda, e, de acordo com a minha experiência como estilista em
diversas marcas, tenho percebido que cada empresa possui seu jeito próprio
de trabalhar no setor de desenvolvimento. E não, não é preciso que o
profissional seja um expert em desenhos e ilustração, porém é essencial que
conheça os fundamentos históricos, as técnicas manuais e digitais, assim como
as proporções da figura humana, para poder comunicar suas ideias de forma
clara e concisa, estilizando conceitos, detalhando medidas e dimensões,
facilitando, assim, o processo produtivo e evitando erros. Nesta unidade você
terá uma visão desses recursos, englobando a história da ilustração de moda e
estudos da figura humana, focando primeiramente os membros superiores do
corpo.

UMA OLHADA NO PASSADO PARA REPRESENTAR O FUTURO

Conforme mudanças sociais e constantes inovações tecnológicas, o design de


moda tem evoluído para ilustrar novas estéticas e conceitos ao longo dos anos.

Os gestos das figuras refletem convenções sociais de cada época (por


exemplo a revolução sexual da década de 1960 fez com que o desenho de
moda se tornasse mais ousado (...) A tecnologia também entra em jogo,
ficando evidente na precisão ou na expressividade dos traços do desenho e
propiciando novos meios de reprodução gráfica. (BRYANT, 2012, p. 10).

Anos 1900–1910

Segundo Matharu (2012), durante o início do século XX houveram poucas


mudanças na aparência das mulheres, pois o look predominante era da
silhueta em forma de “s”, que mantinha o corpo aprisionado a um espartilho.
Hopkins (2011) destaca Paul Poiret como o primeiro designer de moda
moderno, o qual aboliu o espartilho e redefiniu a ilustração de moda chamando
o gravurista Paul Iribe para desenhar seus vestidos, publicados como Les
Robes de Paul Poiret em 1909. As gravuras foram destacadas por cores
vibrantes através do processo chamado pochoir.


Figura 1.1 - Les Robes de Paul Poiret
Fonte: Poiret / Pinterest.

Anos 1920

Segundo Bryant (2012), nos frenéticos anos 1920 a ilustração de moda


reproduzia um estilo de vida cada vez mais mecanizado, que incluía agora
roupas produzidas em escala. Com avanços no papel da mulher na sociedade,
que começou a trabalhar fora e ganhar seu próprio dinheiro, a figura feminina
passou a ser retratada de forma mais frívola e, de acordo com Matharu (2011),
era alongada, delgada, sem curvas e se assemelhava a um menino. Neste
contexto, desponta o grande nome Coco Chanel, precursora do look La
Garçone, o qual era predominantemente inspirado pelo guarda-roupa
masculino, refletia androginia, cabelos curtos e cores sóbrias, revolucionando a
moda feminina.

Figura 1.2 - Croqui pretinho básico feito por Chanel


Fonte: Chanel / Pinterest.

Anos 1930

Com a queda da bolsa de valores de 1929, o cinema de Hollywood eclodiu e foi


uma fuga da realidade de miséria e depressão do período. Para Matharu
(2011), as heroínas glamourosas dos filmes traziam sonhos e ostentação, o
que foi de forte influência para a moda e refletiu nos estilos de desenhos, que
ganharam mais texturas e uma interpretação mais rica e detalhista.
Figura 1.3 - Ilustração de Gerard Hartung, de 1932, mostrando a influência do
glamour de Hollywood
Fonte: Bryant (2012, p. 17).

Anos 1940–1950

Com a Segunda Guerra Mundial, a escassez e a austeridade se refletiram em


um estilo de desenho mais realista e preciso. Houve também o racionamento,
que fez com que o comprimento das saias diminuísse, recortes surgissem e a
silhueta fosse mais reta e quadrada.

Com o pós-guerra, a moda francesa precisava redescobrir as curvas femininas


e, em 1947, Christian Dior anunciou o new look, proclamando uma nova
feminilidade. “Os estilos de desenho se tornaram mais românticos, com linhas
mais fortes e expressivas. Os designers começaram a acrescentar amostras de
tecido e a posicionar a figura feminina no centro da página.” (HOPKINS, 2011,
p. 15)

No decorrer dos anos 1950, as mulheres continuaram a vestir o new look e os


desenhos deste período exibiam sofisticação e requinte, penteados
exuberantes passaram a aparecer estilizados nos croquis.

Figura 1.4 - New look, de Dior


Fonte: Hopkins (2011, p. 15).
Figura 1.5 - Ilustração de moda de 1950
Fonte: Deborah Rosa / Pinterest.

Anos 1960–1970

A elegância madura dos anos 1950 foi substituída pela imagem de uma
perpétua adolescência. As figuras femininas eram andróginas e lembravam a
silhueta de 1920, já as figuras masculinas ostentavam agora cabelos longos e
bolsa, indicando uma quebra de barreiras sexuais. (BRYANT, 2012)

Hopkins (2011) aponta que, nesta época, surgiram as canetas hidrográficas de


ponta fina e secagem rápida, que foram rapidamente adotadas pelos
designers. O efeito sobre os desenhos foi imediato e, em vez de pinceladas
aquareladas, os croquis passaram a ser mais geométricos, vigorosos e
lineares.

Figura 1.6 - Ilustração feita por Masahiko Satō, 1968/1970, Japão


Fonte: Satõ / Pinterest.

Com a fotografia de moda dominando os editoriais, as ilustrações foram saindo


de cena na década de 1970. Apesar disso, os estilos continuaram mudando e
evoluíram até chegar a uma expressão decorativa e psicodélica. As figuras
abstratas começaram a aparecer como as conhecemos hoje, com braços e
pernas exagerados e poses bastante sinuosas e dramáticas.

Anos 1980–1990–Atualidade
Nos anos 1980 houve um retorno do apreço pela ilustração de moda, e revistas
passaram a chamar ilustradores em vez de fotógrafos para matérias que
precisavam de características expressivas únicas. Os designers passaram a
utilizar, além do lápis de cor, tinta acrílica, giz pastel e oleoso, carvão e uma
variedade de nanquins. No fim dos anos 1980 surgiram os primeiros programas
de edição gráfica, que causaram um grande impacto na ilustração de moda nos
anos 1990.

Figura 1.7 - Ilustração original de John Galliano, 1990


Fonte: Galliano / Pinterest.

Figura 1.8 - Ilustração de Grant Cowan


Fonte: Cowan / Pinterest.

“Hoje, os desenhos de moda são tão diversos quanto a imaginação dos


ilustradores, mas continuam servindo como uma expressão única de estilo.”
(HOPKINS, 2011, p. 15).

Como citado na introdução, atualmente cada marca possui sua forma particular
de desenvolvimento de coleções, há equipes que preferem croquis totalmente
estilizados para melhor visualização, aprovação e descarte; e também equipes
que, por conta do tempo, preferem apenas esboços. Desenhos digitais
promovem a facilidade de acrescentar estampas e resultam em uma
visualização mais próxima do real.
Figura 1.9 - Desenho manual e gráfico
Fonte: Elaborada pela autora.

Figura 1.10 - Gráfico


Fonte: Elaborada pela autora.

VAMOS PRATICAR

“Acompanhando mudanças na visão de feminilidade, sexualidade, gênero,


política, e nos estilos de vida, os designers criaram silhuetas para expressar a
atitude dos tempos e para romper com as normas aceitas."

MATHARU, B. O que é design de moda? 1. ed. Porto Alegre: Bookman, 2011.

Indique qual dos contextos abaixo está retratando essas mudanças de forma
correta.

a) O século XX foi palco da evolução de muitas formas: das cinturas


acentuadas ao visual andrógino de 1920, chegando ao new look, criado por
Dior em 1937.

b) A Paris de 1900 a 1909 era o epicentro da indústria de luxo, que incluía


as áreas têxteis, joias e moda. Portanto, nesse período houveram muitas
alterações na silhueta feminina.
c) As ilustrações da figura feminina de cada década do século XX trazem
um visual completamente diferente das décadas anteriores, mostrando uma
evolução que está sempre quebrando padrões antigos.

d) Ao contrário das formas retangulares e soltas dos anos 1920, as roupas


dos anos 1930 mostraram uma evolução por conter cortes mais provocantes,
que mostravam mais o corpo.

e) A designer francesa Gabrielle Coco Chanel aderiu com elegância uma


nova forma de vestir, extremamente feminina, em 1920.

A FIGURA HUMANA E SEUS CÂNONES

Leonardo da Vinci conseguiu estabelecer, por meio de relações matemáticas,


proporções exatas da figura humana, são os denominados cânones. “Os
cânones são interessantes por reduzir o corpo a medidas simples e
memorizáveis.” (LAURICELLA, 2016, p. 10).

De acordo com Bryant (2012), a cabeça é frequentemente utilizada como


unidade de medida para determinar pontos de referências de diversas partes
do corpo. Esse estudo é utilizado como referência para designers e ilustradores
trabalharem a figura de moda.

Figura 1.11 - O homem vitruviano


Fonte: Azzardo / 123RF.

Características Anatômicas do Corpo Humano

A estrutura física do corpo é simétrica em torno de um eixo vertical. A cabeça


forma o vértice central para uma silhueta, que é triangular vista de frente. A
altura de um ser humano adulto é proporcional à altura de 7 cabeça e ½.
(BRYANT, 2012).

Ao desenhar uma pose, você está, de fato, traçando várias articulações e


ossos. Por exemplo, a linha do centro da frente é de fato a espinha dorsal, a
linha dos quadris é o alto do osso pélvico, e assim por diante.

Para se desenhar moda é preciso que tenhamos conhecimentos da anatomia e


articulações do corpo humano. A expressão da atitude - fragilidade, solidez,
energia ou prostração - depende da postura e de elementos como a inclinação
da cabeça sobre a coluna vertebral ou para onde aponta o pé. (JONES, 2011,
p. 98).

Figura 1.12 - Estrutura do esqueleto


Fonte: Bryant (2012, p. 53).

Desenho de Observação com Modelo Vivo

Ao desenhar e observar um modelo vivo você terá oportunidade de analisar e


aprender sobre anatomia, percebendo como os músculos e os ossos trabalham
juntos e se equilibram em diferentes movimentos e posturas. Esta prática irá
desenvolver sua coordenação entre mão e olho e aprimorar sua capacidade de
observar detalhes e de tomar decisões rápidas com tempo cronometrado.

PRATICANDO DESENHOS DE OBSERVAÇÃO DA FIGURA HUMANA

Agora que você já praticou desenho de observação de modelo vivo, pode


perceber como é o seu senso de proporções e suas habilidades intuitivas de
desenho. Quanto mais prática você exercer, mais sua percepção será apurada.

É importante você saber que há uma grande diferença entre as proporções


reais do corpo e nas ilustrações de moda. Primeiramente, vamos trabalhar com
figura humana mais próxima das proporções reais, no próximo exercício você
entenderá melhor a construção geral desta figura, decompondo-a em formas
geométricas simplificadas.

MEMBROS DO CORPO

Como você pode observar, para conseguirmos representar movimentos com


naturalidade, é essencial termos conhecimento sobre os ossos e as
articulações dos membros do corpo, e, para facilitar a aprendizagem, vamos
agora estudá-los separadamente.

Anatomia dos Membros Superiores

As mãos são os membros mais bem articulados do corpo, têm um conjunto de


ossos, oito do carpo e cinco do metacarpo, onde encontramos uma articulação
esférica (rotação); apenas os polegares possuem duas falanges, separados por
uma polia, os demais dedos possuem três. Os músculos do pulso controlam
todos os movimentos, menos a torção, que é controlada pelos antebraços, que
estão localizados entre os cotovelos e os pulsos, e são formados por dois
ossos extensos, rádio e ulna, também separados por uma articulação esférica.
Os braços são os mais extensos membros superiores, formados por apenas
um osso, o úmero. Os ombros são também conhecidos por cintura escapular,
formados pelos ossos da clavícula e escápula. (LAURICELLA, 2016).

Figura 1.15 - Anatomia do antebraço


Fonte: Balint Roxana / 123RF.

Estudos e Prática de Desenho de Observação dos Braços e Mãos

Os gestos das mãos e dos braços podem comunicar emoção, atitude e chamar
atenção para detalhes. É importante obtermos algumas percepções visuais,
como, por exemplo: quando a palma da mão está para cima, o dedo mínimo
fica mais próximo ao corpo, por causa da amplitude dos movimentos das mãos,
você raramente vê os cinco dedos ao mesmo tempo, assim a prática de
observação tornará o desenho muito mais consistente.

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