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PUBLICAÇÕES MATERONLINE

VOLUME 4
PSICOLOGIA PERINATAL
E DA PARENTALIDADE

PUBLICAÇÕES MATERONLINE

VOLUME 4

Rafaela de Almeida Schiavo


Editora Mater Online
2022

Instituto MaterOnline
Ficha catalográfica
Prefácio

As autoras dos capítulos deste e-book


demonstraram sua competência e qualificação
para obter o título de Psicóloga Perinatal e da
Parentalidade.

Os textos apresentados nesse e-book foram


supervisionais pela Professora Pós-Doutora
Rafaela de Almeida Schiavo.

"Para cuidarmos da saúde mental das


gerações futuras, precisamos primeiro cuidar
da saúde mental da geração presente de
mulheres no período perinatal"
(Schiavo, 2022).
Apresentação

Este é um e-book com apresentação de cinco


trabalhos realizados por Psicólogas Perinatais e da
Parentalidade formadas pelo Instituto MaterOnline.
O Instituto MaterOnline tem o objetivo de distribuir
conteúdos referentes à Saúde Mental Materna,
levar conhecimento científico de qualidade para o
maior número de profissionais.
O primeiro capítulo é da autora Laura de Oliveira
Pires, que dissertou sobre “Depressão pós-parto e o
desenvolvimento do apego na criança: possíveis
consequências”. Tema de relevância, uma vez que a
cada 4 mulheres no período perinatal, uma
apresenta sintomas de depressão.
A autora Maria dos Milagres Costa Lima,
dissertou sobre “Contribuições da psicologia
perinatal no ciclo gravídico puerperal”, tema
importante, uma vez que psicólogos precisam
saber como a psicologia compreende os
fenômenos psicológicos envolvidos no puerpério.
A autora Maristela de Melo Almeida, escreveu
um capitulo sobre “Mulheres e mulheres gestantes
vítimas de violências”, o tema deste capítulo reflete
sobre a necessidade de olhar para mulheres
vítimas de violência incluindo o período perinatal.
A autora Rayane K. S. Morais dissertou sobre a
“Feminilidade e maternidade á luz da reflexão
psicanalítica”, o texto apresenta uma discussão
sobre o quanto o papel de mãe e mulher se
confundem e é preciso espaço para cada coisa.
Apresentação

E por fim o trabalho de Taiana S. L. Silva é sobre


“Papel do psicólogo perinatal no parto”, onde a
autora reflete com o leitor sobre a importância da
Psicóloga Perinatal na cena de parto.

Desejo a todos uma ótima leitura.

Profa. Pós-Dra. Rafaela Almeida Schiavo


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Sumário

01 Depressão pós-parto e o desenvolvimento do apego na criança:


possíveis consequências
Laura Helena de Oliveira Pires...................................................................................7

02 Contribuições da psicologia perinatal no ciclo gravídico puerperal


Maria Dos Milagres Costa Lima................................................................................18

03 Mulheres e mulheres gestantes vítimas de violências


Maristela De Melo Almeida.........................................................................................33

04 Feminilidade e maternidade á luz da reflexão psicanalítica


Rayane Kelly Dos Santos Morais..............................................................................56

05 Papel do psicólogo perinatal no parto


Taiana Santos Lourenço da Silva............................................................................73
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CAPÍTULO 1
DEPRESSÃO PÓS-PARTO E O
DESENVOLVIMENTO DO APEGO NA
CRIANÇA: POSSÍVEIS
CONSEQUÊNCIAS
LAURA HELENA DE OLIVEIRA PIRES

Introdução

A depressão pós-parto caracteriza-se por um período de grandes


atribulações emocionais da mãe nos primeiros dias de vida de seu bebê. Os
principais sintomas são irritabilidade, falta de interesse pelo filho, culpa
excessiva, instabilidade de humor e emocional, choro fácil, sentimentos de
tristeza e cansaço e até mesmo ideação suicida. (BORSA; FEIL; PANIÁGUA,
2007)
O DSM-IV (2002) indica que o diagnóstico do Transtorno depressivo no
pós-parto tem as mesmas especificações do Transtorno de Depressão maior,
com a diferença do período, pois este primeiro acomete a mãe nos primeiros
quatro dias após o nascimento de seu filho.
Os fatores de risco da depressão pós-parto, em relação às diversas
culturas e áreas geográficas são, em sua maioria, similares, sendo estes o
estresse, dificuldades para lidar com o bebê e a personalidade deste, episódio
de depressão anterior, baixo apoio social, gravidez indesejada, adversidades
econômicas, perdas significativas, etc. (FONSECA; SILVA; OTTA, 2010)
Devido ao fato da gestação e do nascimento serem, muitas vezes, fases
de difícil adaptação para a mãe e a família, estes podem não saber lidar com a
doença e não buscam o auxílio adequado, não compreendendo, assim, o
complexo transtorno o qual enfrentam.
Para Winnicott ( 1988 apud BORSA; FEIL; PANIÁGUA, 2007) uma mãe que
se dedica inteiramente e consegue suprir todas as necessidades de seu bebê,
físicas e emocionais, proporcionando a ele uma adequada evolução remete-se
a uma mãe suficientemente boa, o que se mostra extremamente necessário
para que a criança possa iniciar o processo de desenvolvimento pessoal e real,
pois oferece um ambiente adequado para as necessidades mais primitivas da
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criança, fornecendo elementos para que seu ego se estruture.


Quanto a isto, Radke-Yarrow (1995 apud BRUM; SCHERMANN, 2006)
explana que uma interação tanto da criança quanto do ambiente resulta no
desenvolvimento infantil, sendo que quando as mães se apresentam
deprimidas o desenvolvimento dos filhos pode ser afetado.
Diante disso, para que a criança consiga ter um desenvolvimento
adequado é fundamental que o ambiente que ela está exposta possa
fornecer e suprir suas necessidades, garantindo as conquistas e etapas
essenciais para seu crescimento.
Um dos fatores que pode ser acometido com a depressão pós-parto
materna é o apego.
De acordo com Bowlby (1989) o apego trata-se de um vínculo no qual
se exprimem segurança e conforto em relação a sua figura de apego, figura
esta de seu cuidador primário, a qual geralmente é a mãe. É necessário
que haja uma base de apoio nesta figura para que a criança possa explorar
o mundo e desenvolver-se.
Para ele o apego e o afeto são fatores primários para um
desenvolvimento adequado, apesar de ainda estarem ausentes no
nascimento. (BRUM; SCHERMANN, 2004).
Para tanto, tal trabalho apresentará diversos estudos acerca do tema
depressão pós-parto e suas possíveis consequências ao bebê em relação
ao apego.
Este tema se mostra relevante para a análise das possíveis alterações
que ocorrem no campo familiar, de modo que o transtorno não afeta só a
mãe, mas sim a todos que estão envolvidos de forma direta ou indireta.
Devido a escassas pesquisas com referência ao apego quanto à depressão
pós-parto nos indexadores utilizados, tal trabalho apresenta relevância
quanto ao quadro de publicações existentes, auxiliando futuros estudos.
O propósito desta pesquisa refere-se à investigação das consequências
da depressão pós-parto no desenvolvimento do apego na criança, de
maneira a analisar diversas obras a fim de averiguar como tais
decorrências implicam no futuro desta criança.
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Pressupostos Metodológicos

A revisão sistemática de literatura propõe-se a analisar obras já


existentes, de maneira a explorar as diferentes visões encontradas. Desta
forma, uma questão será considerada como problema de pesquisa, de
forma a sistematicamente organizar dados destas obras primárias e
elencar seus principais resultados. Portanto, para a realização de uma
revisão sistemática de literatura é necessário que haja estudos
precedentes e um método de seleção definido. (ATALLAH; CASTRO, 1997)
Nesta revisão de literatura utilizaram-se os indexadores eletrônicos
Google Acadêmico e Scielo (Scientific Electronic Library Online) e foram
empregadas as palavras-chave depressão pós-parto, desenvolvimento
infantil, fatores psicológicos e apego, combinando as frases: depressão pós
parto e o desenvolvimento infantil, depressão pós-parto e fatores
psicológicos, depressão pós-parto e apego e o desenvolvimento do apego.
Optou-se por usar apenas artigos no idioma português para facilitar a
compreensão dos aspectos relevantes e não causar possível confusão com
termos estrangeiros, bem como somente pesquisas realizadas a partir de
2004, de modo a não utilizar dados obsoletos e inviabilizar a realização do
trabalho.
Por meio da vinculação destas palavras-chave, no indexador Google
Acadêmico surgiram milhares de trabalhos, os quais foram analisados até a
página cinco. No indexador Scielo foi utilizada a mesma combinação,
porém, apresentaram-se apenas 15 trabalhos. Destas duas bases de dados
foram selecionados 11 artigos, os quais englobam assuntos pertinentes ao
transtorno ou à relação mãe-bebê, bem como a paternidade e
desenvolvimento do apego por parte da criança.
Foi utilizado também o livro Uma base segura, de Bowlby (1989), visto
que este expõe os conceitos primários de apego, figura de apego e base
segura, essenciais para apresentação do tema e trata-se de um autor
unanimemente citado nos trabalhos com tal temática, justificando sua
utilização. Contudo, nos itens Resultados e Discussão tal livro não será
empregado, pois existem obras contemporâneas que cumprem a função
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de esclarecer estes conceitos numa visão concernente ao momento


histórico.
Para a seleção dos trabalhos que compuseram a presente revisão
bibliográfica, foram realizadas leituras das obras de acordo com o tema,
investigando primeiramente os itens resumo e introdução e
posteriormente, caso estes estivessem em conformidade com o objetivo
proposto, analisava-se o restante, de modo a assegurar sua utilização.

Resultados

Os artigos utilizados nesta revisão são unanimemente em língua


portuguesa e os delineamentos são: nove trabalhos de revisão de literatura
e dois de estudos de caso, em que nestes foram empregados os
instrumentos: Escala de Depressão pós-parto de Edimburgo, técnicas de
complemento de frases, entrevistas e triagens, Escala de disponibilidade
emocional, escala de apoio social, atendimentos psicoterápicos individuais
e Escala de apego adulto revisada de Collins.
Para melhor apresentação dos resultados, os temas foram divididos da
seguinte maneira: depressão pós-parto e repercussões na criança,
paternidade no contexto de depressão pós-parto materna e a teoria do
apego.
Quanto à primeira categoria, Carlesso e Souza (2010), Cambuí, Neme e
Abrão (2016), Alt e Benetti (2008), Borsa, Feil e Paniágua (2007), Schmidt,
Piccoloto e Müller (2005), Brum e Schermann (2006), afirmam que a
depressão pós-parto na mãe pode causar diversas consequências quanto
ao desenvolvimento cognitivo, emocional e psicológico da criança, podendo
essas interferirem de maneira abrupta durante todo o ciclo vital.
Ainda em relação à categoria de depressão pós-parto, Fonseca, Silva e
Otta (2010) asseguram que o transtorno citado não prejudica a relação
mãe-bebê, assim como não gera repercussões negativas a ambas as
partes.
Referente à paternidade no contexto de depressão pós-parto materna,
Silva e Piccinini (2009) apresentam resultados em que o auxílio paterno no
cuidado da criança pode agir como fator de proteção às possíveis
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consequências que o transtorno materno pode provocar.


A terceira categoria representa a teoria do apego, a qual Ramires e
Schneider (2010), Dalbem e Dell’Aglio (2005) e Brum e Schermann (2004)
descrevem os conceitos de tal teoria e concluem que a formação do apego
depende dos vínculos iniciais estabelecidos entre os cuidadores principais
e a criança, visto que muitas vezes a personalidade da criança também
interfere na díade.

Discussão

A depressão pós-parto na mãe pode causar diversas alterações na


díade mãe-bebê.
Alt e Benetti (2008) citam consequências quanto à formação do vínculo,
o desenvolvimento neurológico, cognitivo e psicológico para a criança, bem
como, já na adolescência, o desenvolvimento socioemocional.
Nessa mesma perspectiva Borsa, Feil e Paniágua (2007) esclarecem que
as falhas no desenvolvimento do bebê podem ser geradas por eventos
traumáticos em relação à mãe, como agressividade e instabilidade
emocional.
Schmidt, Piccoloto e Müller (2005) associam, ainda, a depressão materna
a transtornos de conduta, episódios depressivos, ligações inseguras, etc.
Outros tipos de desordens como autoimagem negativa, distúrbios do
apego, alterações na atividade cerebral e maior risco de transtornos
psiquiátricos são citados por Brum e Schermann (2006). Estes explicitam
ainda que mães que sofrem deste transtorno expressam mais afeto
negativo aos seus filhos.
Carlesso e Souza (2010) e Brum e Schermann, (2006) asseguram que
filhos de mães que apresentaram depressão pós-parto têm 29% de chance
de desenvolverem transtornos comportamentais e emocionais. Esse
número se mostra mais alarmante quando comparado ao de crianças cuja
mãe não teve depressão, sendo 8%.
O conceito winnicottiano de mãe suficientemente boa expressa que
esta deve se tornar um ambiente adequado para seu filho, de modo a
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ceder sua subjetividade ao bebê para que este possa construir sua própria.
Com isso, percebe-se que mães que sofrem de depressão pós-parto se
veem impossibilitadas de fornecer um bom ambiente aos filhos, podendo
causar as interferências supracitadas. Um intenso desamparo emocional
surge quando há a privação deste cuidado e de um ambiente
suficientemente bom que possa prover os cuidados vitais, causando
extrema frustração e desilusão. (CAMBUÍ, NEME; ABRÃO, 2016; BORSA,
FEIL; PANIÁGUA, 2007).
Contudo, Fonseca, Silva e Otta (2010), em seus estudos, encontraram
resultados em que a depressão pós-parto materna não altera a relação
mãe-bebê em suas vicissitudes, bem como tem baixas possibilidades de
interferências futuras.
A grande maioria dos estudos (ALT; BENETTI, 2008; BORSA; FEIL;
PANIÁGUA, 2007; SCHMIDT; PICCOLOTO; MÜLLER, 2005; BRUM;
SCHERMANN, 2006; CARLESSO; SOUZA, 2010; CAMBUÍ, NEME; ABRÃO
2016; SILVA; OTTA, 2010) discutiram sobre os impactos da depressão
materna na relação mãe-bebê, deixando, assim, de lado a perspectiva
paterna.
Neste sentido, Silva e Piccinini (2009) embasaram suas pesquisas na
relação paterna no contexto de depressão materna, sendo este o possível
moderador dos efeitos que o transtorno pode causar aos filhos, tornando-
se um essencial fator de proteção. Estar presente e cumprir a função de
principal cuidador da criança pode proporcionar o ambiente
suficientemente bom que a criança precisa para se desenvolver, bem como
prestar apoio emocional a mãe. O pai tem papel fundamental como
cuidador e intermediador da relação, porém, quando está ausente numa
situação de depressão materna ou simultaneamente depressão paterna,
podem se intensificar os comprometimentos na criança.
Com relação ao apego, é possível vislumbrar que falhas nos cuidados
iniciais da vida do bebê podem causar severas alterações quanto ao seu
padrão. (CARLESSO; SOUZA, 2010; DALBEM; DELL’AGLIO, 2005; RAMIRES;
SCHNEIDER, 2010; BRUM; SCHERMANN, 2004).
O bebê recém-nascido já possui uma imensa capacidade para interação.
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As características inatas da criança são variáveis importantes na


determinação dos estilos de interação, porém, ela necessita de um
ambiente mínimo esperado.
Por meio de um bom vínculo com as figuras de apego e um cuidado
apropriado na primeira infância, a criança consegue desenvolver confiança
em si mesma, modelo este que ela pode carregar para a vida toda.
(DALBEM; DELL’AGLIO, 2005).
Brum e Schermann (2004) expõem que crianças que apresentam um
apego seguro confiam mais no amor de seus pais e acreditam que estes
possam prover suas necessidades e satisfações, bem como enxergam o
mundo como um lugar protegido. Porém, quando os pais forçam uma
independência precoce na criança, como pode ocorrer na depressão pós-
parto, o oposto pode acontecer, criando extrema dependência, que pode
perdurar a vida toda.
Ainda, Ramires e Schneider (2010) expõem que os modelos de
representações que a criança desenvolve no primeiro ano de vida são
responsáveis por prover regras e quando estes modelos não são efetivos
acabam por interferir na organização da linguagem e do pensamento,
assim como nos relacionamentos e vínculos afetivos, na ansiedade e
intimidade, autonomia, autoestima e controle de suas emoções.
Ramires e Schneider (2010) apresentam um estudo no qual o resultado
demonstra correlação entre o apego das mães com seus cuidadores na
infância e dos seus filhos no presente.
Ainda de acordo com essas autoras, pais (função paterna) que servem
de base segura para os filhos oferecem possibilidades para que estes
explorem o mundo por meio da curiosidade, não só o externo, mas
também seu próprio mundo interno.
Portanto, o apego não se trata apenas da satisfação das necessidades
biológicas, demandando uma verdadeira relação de afeto e carinho para
que haja o desenvolvimento adequado da criança. (CARLESSO; SOUZA,
2010; DALBEM; DELL’AGLIO, 2005; RAMIRES; SCHNEIDER, 2010; BRUM;
SCHERMANN, 2004).
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Considerações Finais

Tal revisão visou investigar se haveriam consequências no


desenvolvimento do apego na criança quando exposta a uma mãe com
transtorno de depressão pós-parto, visto que na maioria das vezes esta é o
cuidador principal.
No início da vida do bebê é necessário que haja um ambiente
suficientemente bom para que este se desenvolva adequadamente e para
que as bases seguras de apego se estabeleçam. Contudo, mães que
apresentam depressão pós-parto se veem impossibilitadas de exercer um
cuidado satisfatório e construir vínculos. Essa ausência de proteção causa
extremo desamparo e angústia no bebê, o que faz com que o apego se
desenvolva com diversos prejuízos, tanto psicológicos quanto afetivos e
cognitivos.
Considera-se, portanto, que a depressão pós-parto materna pode
ocasionar diversas consequências quanto ao apego da criança,
consequências estas que perduram a vida toda, como interferências nos
relacionamentos futuros, distanciamento afetivo, sentimento de abandono,
entre outros.
Também, a função paterna diante da depressão pós-parto da mãe se
mostra extremamente importante, visto que o pai pode amenizar as
consequências que a criança pode sofrer devido ao transtorno, apoiando
esta mãe para uma melhor recuperação e fornecendo o ambiente
suficientemente bom que o bebê necessita para desenvolver-se, bem
como representar a figura de apego para este.
Faz-se necessário, então, que durante as primeiras consultas do pré-
natal os profissionais de saúde estejam atentos a possíveis sinais do
transtorno, assim como a atenção da família, a fim de tratá-los antes que
possam prejudicar o contexto familiar, mas principalmente a criança.
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REFERÊNCIAS

ALT, M. S.; BENETTI, S. P. C. Maternidade e Depressão: impacto na trajetória


de desenvolvimento. Psicologia em Estudo (Maringá), v.12, n.2, 2008.
https://doi.org/10.1590/S1413-73722008000200022

ATALLAH, A. N.; CASTRO, A. A. Revisão Sistemática da Literatura e


Metanálise: a melhor forma de evidência para tomada de decisão em
saúde e a maneira mais rápida de atualização terapêutica. Universidade
Federal de São Paulo. São Paulo- SP. 1997. Disponível em:
<http://www.centrocochranedobrasil.org.br/apl/artigos/artigo_531.pdf>
Maio/2017

BORSA, J. C.; FEIL, C. F.; PANIÁGUA, R. M. A relação mãe-bebê em casos de


depressão pós-parto. Psicologia.com.pt. 2007.

BOWLBY, J. Uma base segura: aplicações clínicas da teoria do apego.


Artes Médicas, Porto Alegre- RS. 1989.
BRUM, E. H. M.; SCHERMANN, L. Vínculos iniciais e desenvolvimento infantil:
abordagem teórica em situação de nascimento de risco. Ciência & Saúde
Coletiva, v. 9, n.2 2004. https://doi.org/10.1590/S1413-
81232004000200021

BRUM, E. H. M.; SCHERMANN, L. Vínculos iniciais e desenvolvimento infantil:


abordagem teórica em situação de nascimento de risco. Ciência & Saúde
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BRUM, E. H. M.; SCHERMANN, L. O impacto da depressão materna nas


interações iniciais. Revista Psico, v.37, n.2, p.151-158, 2006. Disponível
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<http://revistaseletronicas.pucrs.br/face/ojs/index.php/revistapsico/article/
viewFile/1429/1122> Mar/2017.
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CAMBUÍ, H. A.; NEME, C. M. B.; ABRÃO, J. F. A Constituição subjetiva e


saúde mental: Contribuições Winnicottianas. Ágora. v.XIX, n.1131-145,
2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/agora/v19n1/1809-4414-
agora-19-01-00131.pdf>Abr/2017

CARLESSO, J. P. P.; SOUZA, A. P. R. Dialogia mãe-filho em contextos de


depressão materna- revisão de literatura. Revista CEFAC, v.13, n.6, 2010.
https://doi.org/10.1590/S1516-18462011005000085

DALBEM, J. X.; DELL’AGLIO, D. D. Teoria do apego: bases conceituais e


desenvolvimento dos modelos internos de funcionamento. Arquivos
Brasileiros de Psicologia, v.57, n.1, p.12-24, 2005. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v57n1/v57n1a03.pdf> Mar/2017

DSM-IV- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.


Tradução Cláudia Dornelles. 4º Edição, Revista Artes Médicas. Porto Alegre,
2002.

FONSECA, V. R.; SILVA, G. A.; OTTA, E. Relação entre depressão pós-parto e


disponibilidade emocional materna. Caderno Saúde Pública, v.26, n.4,
p.738-746, 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/csp/v26n4/16.pdf> Mar/2017

RAMIRES, V. R. R.; SCHERMANN, M. S. Revisando alguns conceitos da Teoria


do Apego: comportamento versus representação? Psicologia: Teoria e
Pesquisa, v.26, n.1, p.25-33. 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26n1/a04v26n1.pdf> Maio/2017

SCHMIDT, E. B.; PICCOLOTO, N. M.; MÜLLER, M. C. Depressão pós-parto:


fatores de risco e repercussões no desenvolvimento infantil. Psico-USF, v.
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<http://www.scielo.br/pdf/pusf/v10n1/v10n1a08.pdf> Mar/2017
PUBLICAÇÕES MATERONLINE Página 17

SILVA, M. R.; PICCININI, C. A. Paternidade no contexto da depressão pós-


parto materna: revisando a literatura. Estudos de Psicologia, v.14, n.1,
2009.Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/epsic/v14n1/a02v14n1>Mar/2017
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CAPÍTULO 2
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA
PERINATAL NO CICLO GRAVÍDICO
PUERPERAL
MARIA DOS MILAGRES COSTA LIMA

Psicologia Perinatal em desenvolvimento

A psicologia de maneira geral, apresenta crescente visibilidade em


diferentes áreas. A perspectiva da atenção e acolhimento de tentantes,
gravidas e puérperas vem ao pouco ganhando espaço. Possibilitando
conhecer aspectos relacionados aos processos psicológicos em torno do
planejamento familiar, como nascimento, construção da maternidade e
paternidade, luto perinatal, alterações emocionais no ciclo gravídico puerperal,
sexualidade, aspectos psicológicos da infertilidade, maternidade e carreira e
questões típicas deste período como, ansiedade, estresse e depressão.
Estudos científicos apontam que o desenvolvimento da maternidade e
paternidade fazem parte do crescimento pessoal, sendo compreendido além
dos fatores biológicos. De acordo com Maldonado e Dickstein (2010, p.19), o
“filho da cabeça” existe antes do “filho da barriga”, pois a relação entre os pais
e o bebê começa bem antes do nascimento e da fecundação. Desta forma, a
pré-história da criança começa na história individual de cada um dos pais, as
representações parentais se iniciam na infância com as brincadeiras ou nas
fantasias dos adolescentes, possibilitando assim um ensaio de maternidade e
paternidade (ZORNING, 2010).
A gestação e o puerpério são eventos repletos de sentimentos e
representações para a futura mãe e toda a família. De tal modo, percebe-se
que a gestação e o puerpério são períodos da vida da mulher que envolve
alterações físicas, hormonais, psíquicas e representacionais, e assim podem
refletir diretamente na saúde mental dessas pacientes (CAMACHO et. al, 2006).
Dentre os transtornos psiquiátricos do puerpério, tem-se a depressão pós-
parto, a qual pode repercutir na interação mãe-bebê, visto que as bases do
desenvolvimento infantil, bem como o período crucial para o estabelecimento
do vínculo mãe-bebê ocorrem na mesma época do surgimento dos sinais e
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sintomas característicos da psicopatologia em foco.


Desta forma, o presente capitulo objetiva discutir acerca de temas
relacionados a perspectiva da psicologia perinatal (maternidade em
evolução; dinâmica da gravidez; psicopatologia do ciclo gravídico puerperal;
relação mãe bebê na depressão pós-parto; e atuação do psicólogo
perinatal no ciclo gravídico puerperal) neste período de desenvolvimento
da parentalidade.

A Maternidade em evolução

Segundo Leal (1992) a maternidade se apresenta como um importante


local para implementação do discurso psicológico. No entanto, há trinta
anos sua função restringia-se em oferecer serviços de obstetrícia que
objetivava a diminuição de mortes e sequelas de problemas perinatais para
as mães e para as crianças. O alargamento do campo de intervenção se
deu com o evoluir do discurso médico de forma que se passou a
contemplar não apenas seu crescimento e ganho de peso como também
aspectos implicados no desenvolvimento que envolvia qualidades dos
estímulos e dos aspectos relacionais com os cuidadores.
Uma grande lacuna existia na maternidade visto que estava voltada
unicamente para o nascer de crianças desconsiderando aspectos
imprescindíveis que permeiam o desenvolvimento saudável. O aumento de
cuidados com a mãe, segundo Leal (1992) é crescente e foram se dando
precocemente. Dispunha-se de uma tecnologia mais avançada o que
implicava no aumento das consultas diagnosticas e na importância de
saber o histórico da mãe: a existência de gravidez anterior, alimentação,
doenças antigas e recentes, estilo de vida bem como o aparecimento de
consultas para o planejamento familiar.
Nesse momento ampliava-se a qualidade diagnóstica facilitada pelo avanço
tecnológico. E na atualidade tornou-se de vital importância no ciclo gravídico-
puerperal da mulher a sua valorização por parte dos profissionais da equipe
que a assistem, necessitando ampliação da sua visão e não se restringindo a
aspectos biomédicos. Para isso, prima-se pela valorização do contexto, das
transformações emocionais experimentadas e da relação adequada entre os
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indivíduos envolvidos (mulher, família e cuidadores). E no processo de


transformação psíquica vivido, sintomas físicos podem se apresentar de forma
secundária em relação a conflitos e dificuldades sociais e ou emocionais não
resolvidas (LAGO et al, 2010).
A maternidade faz parte do ciclo da vida, sendo um marco do
desenvolvimento psicológico. A gravidez demanda para a mulher, a
reestruturação e o reajustamento de sua vida, tanto para as “mães de primeira
viagem” como para as mães que já passaram por tal experiência, a fim de que
essa experiência ocorra de modo saudável tanto para a mãe como para o
bebê.
Segundo Klein e Guedes (2008) a gravidez é um período de transformações
biopsicossocial, pois envolve grandes mudanças físicas e psíquicas, onde há
mudanças de papéis sociais. Deixa-se de ser apenas filho para ser filho e
mãe/pai, há toda uma mudança na rotina e nas expectativas tidas pela
sociedade e pelos próprios pais. Isto tudo dependerá da cultura onde se está
imerso e da família a qual se faz parte.
O processo de construção da maternidade inicia-se em etapas anteriores à
concepção e se prolonga após o nascimento do bebê. Sendo por meio das
primeiras relações e identificações da mulher, pela atividade lúdica infantil, da
adolescência, do desejo de ter um filho e da gravidez propriamente dita
(ZORNING, 2010).
Durante a gravidez a mulher passa por importantes reestruturações na sua
vida e nos papéis que desempenha. São vividas, neste período mudanças de
ordem biológicas, somáticas, psicológicas e sociais que influenciam tanto na
dinâmica psíquica individual como nas demais relações sociais da mulher.
Percebe-se no ambiente de trabalho a necessidade da suspensão de
determinadas atividades e logo após o nascimento do bebê (PICCININI et al.,
2006).
Considerando os diferentes arranjos familiares, a parentalidade vem alterar
as dinâmicas individuais no processo da maternidade e paternidade. Diante de
todas as mudanças e repercussões sociais, econômicas, emocionais,
psicológicas e fisiológicas que surgem na mulher com o período gestacional e
a maneira como a mulher lida com estas alterações deverá influenciar
fortemente a relação futura com a criança (PICCININI et al., 2006).
Segundo Quevedo et al. (2006) algumas mulheres apresentam dificuldades
para as adaptações emocionais que surgem com seu novo papel,
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acrescentando-se várias outras emoções. Assim, a medida que o bebê começa


a crescer surgem questões centrais relacionadas a vida e crescimento do filho,
ao envolvimento social emocional da mãe com o bebê, com a rede de apoio e
proteção e a mudança de identidade pessoal da mãe que passa de filha para
mãe.
Ainda de acordo com o autor citado acima, existe também a possibilidade
de algumas gestantes desenvolverem uma gravidez de risco. Esta considerada
de alto risco quando o risco de doença ou de morte antes ou após o parto é
maior que o habitual tanto para o concepto quanto para a mãe. A classificação
dos fatores de risco são determinados de acordo com o grau de risco. Sendo
necessário a participação de profissionais para realizar uma avaliação para
determinar se a gestante apresenta condições ou características que a tornam
(ou seu feto) mais propensa a adoecer ou morrer durante a gestação.
Quanto ao puerpério, Sarmento e Setúbal (2003) afirma que corresponde
a um estado de alteração emocional provisória, no qual existe uma maior
fragilidade psíquica na mulher, tal como no bebê, que por certo grau de
identificação permite as mães ligarem-se ao recém-nascido, adaptando-se ao
contato com ele e atendendo suas necessidades. O puerpério é caracterizado
também como um período que desperta muita ansiedade e sintomas
depressivos com a chegada do bebê.

Psicopatologia do ciclo Puerperal

Com a chegada do bebê existe um período necessário para que a mulher


sinta-se disponível para cuidar do bebê, mas algumas mulheres apresentam
dificuldades, podendo aparecer sintomas ligados ao humor, do tipo
depressivo, comuns no período pós-parto. Alguns sintomas às vezes são
considerados adaptativos, sendo denominado de disforia pós-parto ou baby
blues. (BRASIL, 2013). Além da disforia pós-parto, no período do ciclo
puerperal pode ter ocorrência de transtornos depressivos (depressão pós-
parto) e transtornos psicóticos (psicose puerperal).
A disforia pós-parto é considerado benigno e frequente, ocorrendo em 80%
a 85% das mulheres após o parto (YAMAGUCHI; PITA; MARTINS, 2007). Essa
labilidade emocional corresponderia ao fim da gestação psíquica, sendo uma
fase adaptativa da nova mãe, em função da experiência de separação que ela
passa a simbolizar com o bebê que está fora do seu corpo.
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Os sintomas da depressão pós-parto incluem: ansiedade, crises de choro,


fadiga, humor deprimido, irritabilidade, confusão e lapsos curtos de memória.
Vários fatores podem influenciar nesse processo depressivo específico, dentre
eles: fatores biológicos e fatores psicológicos (HARVEY, 2002).
Os fatores biológicos são resultantes da grande variação nos níveis de
hormônios sexuais – estrogênio e progesterona – e de uma alteração das
catecolaminas o que causa uma alteração no humor, podendo ter influência
no quadro depressivo (HARVEY, 2002).
Os fatores psicológicos que influenciam nesse quadro depressivo são
principalmente resultantes de sentimentos conflituosos da mulher em relação:
a si mesma, como mãe; ao bebê; ao companheiro; a si mesmo como filha (em
relação a sua própria mãe); fatores como condições do parto, estruturação
familiar e social da mulher, planejamento e aceitação da gravidez, podem
influenciar substancialmente no quadro depressivo de humor pós-parto
(HARVEY, 2002).
Vários fatores de risco estão relacionados com alterações no período de
Depressão Pós-Parto (DPP). Entre os principais fatores encontram-se: idade
inferior a 16 anos, história de transtorno psiquiátrico prévio, eventos
estressantes experimentados nos últimos 12 meses, conflitos conjugais,
estado civil de solteira ou divorciada, desemprego e ausência ou pouco
suporte social (HARVEY, 2002; YAMAGUCHI; PITA; MARTINS, 2007; GOMES et
al., 2010).
A depressão pós-parto pode se tornar uma depressão com consequências
bastantes graves, tanto para mulher quanto para o bebê, dentre elas destaca-
se a influência na relação mãe-bebê (HARVEY, 2002). Antes de ser
diagnosticada com Depressão Pós-Parto, deve-se considerar as características
de dois outros transtornos puerperais: melancolia pós-parto e psicose pós-
parto, para que só depois que se confirme o diagnóstico, encontre-se um
tratamento adequado que vise ajudar: mulher, bebê e família, com o intuito da
redução do máximo de danos possíveis para todos envolvidos nessa relação
depressiva de humor (SILVA, 2013).
Quanto a psicose puerperal o funcionamento psíquico materno mostra
grave comprometimento emocional. Apresenta sintomas psicóticos como
delírios, alucinações, agitação psicomotora e estado confusional. Requer
intervenções cuidadosas e criteriosas, sendo de grande importância a
participação paterna e dos demais familiares. Assim, é possível o surgimento
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de dificuldades do estabelecimento do vínculo mãe-bebê, levando a falhas


especialmente na continuidade dos cuidados dos filhos (Manual Técnico:
Método Canguru, 2013).
De acordo com Yamaguchi; Pita e Martins (2007) cerca de 1 a 2% das
puérperas desenvolvem psicose pós-parto. Durante os três primeiros meses
que se seguem ao parto, há um aumento de 10 a 20 vezes na incidência de
crises psicóticas. Em alguns casos, é necessária a internação hospitalar e
introdução de antipsicóticos.

Relação mãe bebê na depressão pós- parto

O período pós-parto é caracterizado como um momento de adaptação e


enfrentamento de novos desafios fisiológicos e psicológicos para a mãe na
qual é colocada diante do bebê real, o que vai provocar a reorganização de
sua relação com o bebê imaginário, cuja representação a mãe deixa de investir
progressivamente para investir agora no bebê real (BORSA et al, 2007;
CARLESSO; SOUZA, 2011; FERNANDES; CONTRIN, 2013).
Os efeitos da DPP na interação mãe-bebê podem apresentar-se de forma
diversificada. O impacto acerca dessa relação no desenvolvimento infantil está
associado à interação existente entre mãe e filho, o tempo de duração da DPP
e a intensidade em que o comportamento, a cognição e as emoções da
própria mãe foram modificados (FERNANDES; CONTRIN, 2013). Para os
referidos autores, a depressão pós-parto afeta a interação mãe-bebê na
medida em que o bebê percebe as mínimas deficiências do comportamento
materno até mesmo nas formas mais brandas de depressão.
A literatura relata ainda que as mães depressivas demonstram afeto
abatido ou apático, estimulam menos seus bebês, apresentam
comportamentos predominantemente deprimidos ou ansiosos, gastam
menos tempo olhando, tocando e falando com seus bebês. Relatam mais
dificuldades no cuidado com seus bebês, vocalizações significativamente
baixas para responder as vocalizações do bebê e expressam mais insatisfação
associada com seus filhos do que mães não depressivas. Também
demonstram menos comportamentos de brincar, comportamentos imitativos
das expressões faciais do bebê, como também menos espontaneidade e
menores níveis de atividade (SCHWENGBER; PICCININI, 2003; FRIZZO;
PICCININI, 2005; BORSA et al. 2007; FERNANDES; CONTRIN; 2013).
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De forma geral as mães com depressão pós-parto caracterizam-se por


apresentarem menor capacidade adaptativa de interagir com seus filhos,
menor capacidade de responder de forma direta os sinais da criança,
sentimentos que não é uma boa mãe e que não está cuidando direito do bebê
e pensamento de que tudo está recaído sobre ela (HARVEY, 2002).
No que se refere aos bebês de mães depressivas em relação aos bebês
de mães não-depressivas, os mesmos tendem a exibirem menos afeto positivo
(focalização da atenção nos brinquedos, sorrisos, vocalizações positivas e
busca de proximidade com a mãe) e mais afeto negativo (rejeição a
brinquedos, choro, vocalização negativas e afastamento da mãe), menos
atividade e costumam distanciar o olhar (FERNANDES; CONTRIN, 2013).
Apresentando-se também mais aborrecidos, ansiosos e menos felizes, mais
expressões de tristeza e raiva, menos expressões de interesse, uma aparência
depressiva com poucos meses de vida, como também com menor atenção e
menos responsivos nas relações interpessoais (SCHWENGBER; PICCININI,
2003; FERNANDES; CONTRIN, 2013).
As consequências da depressão pós-parto não ficam restritas somente ao
atraso no desenvolvimento dos primeiros anos de vida, como também podem
ocasionar alterações na interação mãe-bebê na primeira infância e
desencadear prejuízos no desenvolvimento cognitivo, emocional e social ao
longo prazo, ou seja, as manifestações comportamentais associadas à
depressão materna podem correr desde muito cedo como também repercutir
ao longo de desenvolvimento do bebê (CARLESSO; SOUSA, 2013; FERNANDES;
CONTRIN, 2013).
A severidade e cronicidade da DPP juntamente com outros fatores como o
conflito conjugal, a ausência de apoio e de uma atuação paterna relevante,
tendem a contribuir para a expansão do quadro depressivo em outras
relações. Mas, quando esta relação se estabelece de forma contrária, a figura
do pai e da família diante da DPP pode amenizar efeitos negativos da
depressão materna para o bebê (HARVEY, 2002). Assim, o papel do pai diante
da depressão materna poderá exercer função protetora para o
desenvolvimento do bebê, compensando parcialmente a interação mãe-bebê
negativa, além de possibilitar um modelo positivo, aumentando os cuidados
com o filho contribuindo para melhor desenvolvimento do bebê.
(FRIZZO;PICCININI, 2005; CASTRO et al, 2012).
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Atuação do Psicólogo Perinatal no ciclo gravídico Puerperal

Antes de se adentrar as possibilidades de atuação do psicólogo perinatal


faz-se necessário a compreensão que a atuação do profissional pode abranger
a assistência psicológica para a gestante e seus familiares, a produção de
conhecimentos psicológicos na área através de sua experiência e, a
contribuição de alguma forma para o aperfeiçoamento de outros psicólogos e
de outros profissionais da saúde (CAMPOS, 1995).
No contexto hospital Arrais e Mourão (2013) apresentam uma proposta de
atuação específica do Psicólogo em maternidade e UTI. Dentre possibilidades
de atuação destacam- se: ronda; atendimento individual às gestantes e
puérperas; atendimento de Familiares e acompanhantes; atendimento e
acompanhamento das famílias com bebês na UTIN; atendimento psicológico
de apoio a grupos (pais de UTIN, pais de bebês de 0 a 1 ano, casais grávidos,
puérperas em sofrimento psíquico); pré-natal psicológico; atendimento
domiciliar, Inter consultas e atendimento ao óbito perinatal.
As possibilidades de atuação dos psicólogos da perinatalidade podem ser
direcionadas também com ações para psicoterapia breve na gravidez e no
pós-parto; grupo de preparação para maternidade e paternidade; ações em
comunidades e outras frentes de trabalho; e grupos de apoio presenciais e
online quando os bebês nascem com problemas (MALDONADO, 2017).
O pré-natal psicológico é um modelo de prática dos psicólogos da
perinatalidade é voltado para maior humanização do processo gestacional, do
parto e da parentalidade. Possibilitando maior integração da gestante e da
família a todo o processo gravídico-puerperal, com ênfase psicoterápica na
preparação psicológica para a maternidade e paternidade e prevenção da
depressão pós-parto (ARRAIS; MOURÃO; FRAGALLE, 2014).

Considerações Finais

O presente capitulo possibilitou ampliar a visão concernente à relação aos


aspectos envolvidos no período gravídico puerperal. Percebe-se a importância
dos profissionais de saúde, como também a sociedade ser um meio de
suporte biopsicossocial durante o período gestacional e puerpério, pois
mudanças relevantes ocorrem neste período.
Aliado a isto, reflete-se a importância desde a gravidez de fatores protetores
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deste momento de crise e, consequentemente, protetores para o


desenvolvimento infantil desta criança, de modo que se minimizem as
consequências negativas sobre a tão importante relação mãe-bebê e sobre a
relação desta futura criança com seus pares e/ou pessoas com as quais
convivem.
Sendo importante pontuar a necessidade de maior produção cientifica
acerca do tema. Possibilitando com isto, novos estudos e possibilidade de
sensibilizar mais pessoas sobre a importância de melhor compreensão dos
processos envolvidos na maternidade e paternidade. Com isto, oportunizando
maior acolhimento e qualidade no atendimento com gestantes e puérperas.
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REFERÊNCIAS

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PUBLICAÇÕES MATERONLINE Página 31

CAPÍTULO 3
MULHERES E MULHERES GESTANTES
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIAS
MARISTELA DE MELO ALMEIDA

INTRODUÇÃO

A violência praticada contra as mulheres é fruto de uma evolução


histórica, muitas vezes também praticada no seu âmbito familiar, sendo um
quadro atual que se manifesta na sociedade devido à falta de informação e
conceitos socioculturais ainda enraizados. Vive-se em uma época em que as
mulheres já apresentaram muitas conquistas, neste caso seus direitos, tendo
por fim ganhado proteções em garantia do seu gênero. Tais conquistas são
oriundas de grandes batalhas para o combate e erradicação da violência
contra a mulher, dentre elas a Lei Maria da Penha e as políticas públicas de
combate a esta violência.
A mulher desde os primórdios da humanidade foi tratada com
desigualdade diante dos homens. A categoria de gênero é de grande
importância para se entender a história de opressão vivenciada por elas. No
Brasil a violência contra as mulheres tem raízes patriarcais e não é somente
um fenômeno das classes menos abastada, estando em todos os meios
sociais. De acordo com a Declaração das Nações Unidas, de 1949, sobre a
Violência Contra a Mulher, aprovada pela Conferência de Viena em 1993, a
violência se constitui em “[...] todo e qualquer ato embasado em uma situação
de gênero, na vida pública ou privada, que tenha como resultado dano de
natureza física, sexual ou psicológica, incluindo ameaças, coerção ou a
privação arbitrária da liberdade” (ADEODATO, 2006, p.2).
O estudo acerca deste tema é de grande relevância no cenário atual,
sendo notório o crescente aumento deste fenômeno entre a população
mundial, evidenciando-se um problema social e de saúde pública que afeta a
integridade física e psíquica da mulher, além de constituir uma flagrante
violação aos direitos humanos. Logo, a psicologia não pode se furtar de buscar
compreender esta problemática em face da magnitude de sua repercussão,
tanto no âmbito social quanto no que tange à saúde das mulheres vitimadas.
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Problematização

Qual a atuação do psicólogo em políticas públicas para o enfrentamento da


violência contra a mulher?

Objetivos

Geral: Realizar um resgate histórico sobre a violência contra a mulher.

Específicos
a) Apontar os tipos de violências contra mulheres; b) Identificar políticas
públicas de enfrentamento à violência contra a mulher; c) Investigar o
processo histórico; d) Explanar sobre o CREAS (Centro de Referência de
Assistência Social).

Justificativa

A violência contra a mulher tem exigido do poder público uma especial


atenção. Um grande avanço foi a promulgação da Lei 1340/2006, denominada
como Lei Maria da Penha, a qual representa um marco legal para coibir a
violência doméstica e familiar. Em seu art. 7º observa-se a existência de cinco
tipos de violência contra a mulher, as quais são: violência física, psicológica,
sexual, patrimonial e moral.
Gomes (2010) comenta que, com a entrada em vigor da Lei Maria da
Penha, a violência contra a mulher ganhou notória visibilidade no Brasil.
Aconteceram, desde então, mobilizações e políticas estruturadas, das quais
destacam a criação de Delegacias de Defesa da Mulher, Conselhos de Direito e
nos anos 2000 a Secretaria de Políticas para as Mulheres que possibilitou
assim consolidar uma rede de atendimentos a mulheres vítimas de violência.
A mulher que sofre de violência carrega consigo um sentimento de
tristeza, abandono e baixa autoestima, abalando sua integridade, moral, física
e psíquica. Muitas vezes sozinhas, as vítimas não vislumbram uma cura para
seu mal, sentem-se impotentes diante de tantos fatores concorrentes para
sua permanência neste ciclo vicioso da violência. No entanto, não se trata
apenas de um fenômeno recente, exclusivo do mundo contemporâneo, pois a
história traz exemplos de violência empreendida contra negros, mulheres,
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crianças, idosos, bem como da discriminação de gênero ainda presente tanto


na sociedade como no seio da família. Estas desigualdades têm propiciado e
justificado as situações de violência que ainda são cometidas pelo ser
humano.
Deste modo o interesse pelo tema partiu através das dúvidas surgidas
com relação ao alto índice de violência contra a mulher que vem surgindo a
cada dia. Esta condição vem se explicitando na sociedade, sendo um problema
grave que aos poucos tem chegado ao conhecimento da população. A
importância da presente pesquisa está no papel que a Psicologia assume
diante desta problemática, conhecendo os impactos da violência na vida das
mulheres que tiveram essa experiência, a fim de melhor compreendê-las e
acolhê-las, bem como pensar novas formas de intervir nestes casos.

Revisão Da Literatura

O presente trabalho traz em seu aporte teórico os seguintes tópicos:


definição do termo violência em um sentido mais amplo, construção histórica
da violência contra a mulher, os tipos de violências, as leis que amparam as
mulheres vítimas de violência (Lei Maria da Penha e Feminicídio). No
fechamento desta revisão da literatura são expostas políticas públicas de
enfrentamento à violência contra a mulher e a atuação do psicólogo nestas
políticas, explicitando o CREAS (Centro de Referência Especializado de
Assistência Social) dispositivo da Assistência Social que atende mulheres que
sofrem violência e local onde será acessado o público-alvo deste estudo.

Violência Contra A Mulher: Da Construção Histórica Aos


Enfrentamentos

Definição de violência

De acordo com o Dicionário Prático da Língua Portuguesa – Michaelis


(2008), violência é o emprego contra a vontade, de força, resistência ou
liberdade de pessoa ou coisa, até mesmo constrangimento físico e moral,
exercido sobre uma pessoa para obrigá-la submeter-se contra sua vontade a
algo.
Segundo Gauer (2000), a violência é um dos fenômenos mais angustiantes
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da sociedade. Atualmente há banalização e, consequentemente, indiferença,


sendo que os atos violentos são vistos como simples fato do dia-a-dia.
Rezende e Sacramento (2006) pontuam que o termo violência é utilizado
em muitos contextos sociais, podendo ser empregado tanto para homicídios
quanto para maus tratos verbais, emocionais e psicológicos. Quando se refere
à violência na esfera conjugal os maus tratos são: submeter à mulher a
práticas sexuais contra a sua vontade; isolamento social; acesso aos cuidados
de saúde; proibição do uso de meios de comunicação; intimidação; já no
ambiente de trabalho, manifesta-se quando ocorre assédio moral. Os autores
acrescentam que a violência pode estar atrelada à criminalidade sendo usada
para expressar o que ocorre no espaço público, quando é feita por
desconhecidos.
Para Dahlberg e Krug (2006), a definição de violência cobre uma gama de
resultados, incluindo privação e injúria psicológica. Existe um crescente
reconhecimento dos pesquisadores de incluir a violência que não somente
produza sofrimento ou morte, mas também que provoque um grande peso
em famílias, indivíduos e comunidades.
As autoras ainda trazem que muitas formas de violência contra idosos,
crianças e mulheres, podem resultar em sérios problemas sociais, físicos e
psicológicos. Sendo assim definir as consequências somente em termos de
morte ou ferimentos limita a compreensão total da violência na sociedade em
geral.
Conforme Andrade e Fonseca (2008), a violência é considerada um
fenômeno complexo e de difícil conceituação e pode ser entendida como todo
evento representado por relações, omissões e negligências realizadas por
indivíduos, ações, classes e nações que ocasionam danos morais, físicos,
emocionais e/ou espirituais a outra pessoa. De acordo com as autoras, as
raízes da violência se encontram nas estruturas políticas, sociais e econômicas,
bem como nas consciências individuais. No entanto, não se trata apenas de
um fenômeno recente, exclusivo do mundo contemporâneo, pois a história
traz exemplos de violência empreendida contra negros, mulheres, crianças,
idosos etc. Estas desigualdades têm propiciado e justificado as situações de
violência que ainda são cometidas pelo ser humano.
Tendo em vista a violência ser um fenômeno que faz parte da história, a
seguir será exposta, brevemente, a construção histórica da violência contra a
mulher, visto ser este o foco deste estudo.
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Tipos de violência contra a mulher

Buzzi (2014) explana que ao se falar em violência logo se remete à ideia


de violência física, a qual é exposta e por vezes denunciada. Porém, existem
outras formas de violência que estão em menor grau de evidência, mas nem
por isso são menos frequentes. Dentre elas estão: violência intrafamiliar;
violência física; violência doméstica; violência psicológica/moral; violência
sexual; violência econômica/ financeira; violência institucional e a violência
patrimonial.
Segundo Buzzi (2014) quando estas violências são cometidas contra a
vítima por conta da sua identidade de gênero, neste caso a mulher, onde há
distinção de raça, religião, idade ou qualquer outra condição, se está diante da
violência de gênero.
A Lei Maria da Penha (2006) define formas de violência doméstica e familiar
contra a mulher em seu Art. 7º:

I - A violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua


integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause


dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe
o pleno desenvolvimento; que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição
contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do
direito de ir e vir, assim como qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à
saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a


presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou
a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, impedindo-a de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou
à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
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IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure


retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure
calúnia, difamação ou injúria.
Para Casique e Furegato (2006), entre as formas de violência contra a
mulher citam-se a violência doméstica, a violência intrafamiliar e a violência no
trabalho. No caso da violência doméstica, a agressão advém do companheiro
ou de algum outro membro da família; já a violência intrafamiliar tem origem
entre os membros da família, independente se o agressor compartilhar ou não
o mesmo domicílio; e a violência no trabalho se manifesta através de
agressões físicas, psicológicas e sociais no contexto laboral.
Casique e Furegato (2006) citam que tanto na violência física, quanto na
psicológica e na social há consequências impactantes na saúde física e
emocional da mulher. Algumas delas são resultantes da violência praticada por
parceiros íntimos, sendo elas: físicas (lesões abdominais, contusões,
hematomas, fraturas, entre outras); sexuais e reprodutivas (fluxo vaginal
persistente, infertilidade, distúrbios ginecológicos, aborto espontâneo, morte
fetal e materna, entre outras) e as psicológicas (depressão, abuso de álcool e
drogas, ansiedade, fobias, baixa autoestima e sentimentos de vergonha e
culpa).
Cassab e Souza (2010) citam que a violência psicológica é caracterizada
por qualquer conduta que cause algum dano na autoestima, emocional ou lhe
prejudique o desenvolvimento pleno e o fato de tal violência ser reconhecida
através de uma Lei, constitui-se de um grande avanço. No entanto, a violência
psicológica está longe de ser respeitada pelas instituições policiais e os
serviços públicos de saúde como uma problemática grave. Os autores ainda
pontuam que a violência psicológica pode ser considerada a mais perversa,
em decorrência das marcas irremediáveis que deixa na vida da mulher,
persistindo por muito tempo e, às vezes, por toda a vida.

Lei Maria da Penha

A Lei Maria da Penha, em homenagem a uma mulher vítima de violência


doméstica, veio com a missão de proporcionar instrumentos adequados para
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enfrentar um problema que aflige uma grande parte das mulheres do Brasil e
no mundo, que é a violência. Hermann (2008, p.82) destaca que a Lei nº
11.340, de agosto de 2006:

[...] cria mecanismos para coibir a violência


doméstica e familiar contra a mulher, nos
termos do 8° do art. 226 da Constituição
Federal, da Convenção sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação
contra as Mulheres e da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência Contra a Mulher;
altera o Código de Processo penal, o
Código Penal e a Lei de Execução penal; e
dá outras providências.

Sobre a história da Lei Maria da Penha, Campos (2007) relata que em 1983
a biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes levou um tiro nas costas
que a deixou paraplégica aos 38 anos de idade, sendo que o autor do disparo
foi seu esposo, que após uma primeira tentativa ainda tentou matá-la por
eletrocussão. Tal caso chegou a Comissão Interamericana dos Direitos
Humanos da organização dos Estados Americanos, ocasião em que o Brasil foi
responsabilizado por omissão e negligência em relação à violência doméstica.
De acordo com Dias (2008), os ditos populares: “em briga de marido e
mulher ninguém mete a colher”, “mulher gosta de apanhar”, “ele pode não
saber por que bate, mas ela sabe por que apanha” parecem ter absolvido a
violência contra a mulher. No entanto, segundo a autora, isto é um engano
gerado pela dificuldade que as vítimas têm de denunciar estes agressores,
algumas vezes por medo, vergonha, por não conseguirem sustentar seus
filhos ou se manter sozinha.

Apesar de todos os avanços, da


equiparação entre o homem e a mulher
levada a efeito de modo tão enfático pela
Constituição, a ideologia patriarcal ainda
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Apesar de todos os avanços, da


equiparação entre o homem e a mulher
levada a efeito de modo tão enfático pela
Constituição, a ideologia patriarcal ainda
subsiste. A desigualdade sociocultural é
uma das razões da discriminação feminina,
e, principalmente, de sua dominação pelos
homens, que se veem como superiores e
mais fortes. O homem se tem como
proprietário do corpo e da vontade da
mulher e dos filhos. A sociedade protege a
agressividade masculina, constrói a
imagem da superioridade do sexo que é
respeitado por virilidade. Afetividade e
sensibilidade não são expressões da
masculinidade. Desde o nascimento é
encorajado a ser forte, não chorar, não
levar desaforo para casa, não ser
“mulherzinha”. Os homens precisam ser
super-homens, não lhes é permitido ser
apenas humanos. Essa errônea
consciência masculina de poder é que lhes
assegura o suposto direito de fazer uso de
sua força física e superioridade corporal
sobre todos os membros da família (DIAS,
2008, p.16).

Cavalcanti (2008) fala que com a Lei Maria da Penha abriram-se atuações
ao Ministério Público, sendo elas: Institucionais; Administrativas e Funcionais.
As institucionais dizem respeito à integração operacional que deve ser feita
entre o Ministério Público e as demais entidades envolvidas, sendo assim
todas as ações voltadas à violência contra a mulher devem ser elaboradas e
pensadas de forma articulada entre os órgãos responsáveis. Nas
administrativas, cabe ao Ministério público fiscalizar junto às entidades
públicas ou privadas que prestaram atendimentos a estas mulheres vítimas de
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violência, dados estatísticos. A autora ainda pontua sobre as atuações


funcionais, onde o leque de atuação é maior, uma vez que determinou que
nas causas cíveis ou criminais decorrentes da violência contra a mulher haja
obrigatória intervenção do Ministério Público.
De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ, 2017), no Dia
Internacional da Mulher (8 de março) deste ano o CNJ editou a Portaria n° 15
que instituiu a Política Judiciária Nacional de Enfrentamento à Violência contra
as Mulheres. O instrumento normativo consolida a campanha Justiça pela Paz
em Casa, lançada pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do CNJ,
ministra Cármen Lúcia. A campanha tem por objetivo discutir estratégias para
promover a cultura da paz e prevenir violência contra a mulher.
Gomes (2010) fala que com a entrada em vigor da Lei Maria da Penha a
violência contra a mulher ganhou notória visibilidade no Brasil. Aconteceram,
desde então, mobilização e políticas estruturadas, das quais destacam a
criação de Delegacias de Defesa da Mulher, Conselhos de Direito e nos anos
2000 a Secretaria de Políticas para as Mulheres que possibilitou assim
consolidar uma rede de atendimentos a mulheres vítimas de violência.

Feminicídio

De acordo com o Instituto Patrícia Galvão (2017), o feminicídio é o


assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher. Ele se expressa
como afirmação irrestrita de posse, igualando a mulher a um objeto, como
subjugação da intimidade e da sexualidade da mulher, por meio da violência
sexual associada ao assassinato, como destruição da identidade da mulher,
pela mutilação ou desfiguração de seu corpo.
O crime de feminicídio está previsto na legislação desde a entrada em
vigor da Lei nº 13.104/2015, que alterou o art. 121 do Código Penal (Decreto-
Lei nº 2.848/1940), para prever o feminicídio como circunstância qualificadora
do crime de homicídio. A Lei de Feminicídio foi criada a partir de uma
recomendação da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que
investigou a violência contra as mulheres nos Estados brasileiros, de março de
2012 a julho de 2013 (INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO, 2017).
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Como norma explicativa, foi acrescentado


o § 2°-A, esclarecendo que: “Considera-se
que há razões de condição de sexo
feminino quando o crime envolve: I –
violência doméstica e familiar; II-
menosprezo ou descriminação à condição
de mulher”. A lei acrescentou ainda o § 7º
ao art. 121 do CP estabelecendo causas de
aumento de pena para crime de
feminicídio. “A pena do feminicídio é
aumentada de 1/3 (um terço) até a metade
se o crime for praticado: I- durante a
gestação ou nos 3 (três) meses posteriores
ao parto; II-contra pessoa menor de 14
(catorze) anos, maior de 60 (sessenta)
anos ou com deficiência; III- na presença
de descendente ou de ascendente da
vítima” (AQUINO; KONTZE, 2015, p.10).

Campos (2015) relata que a categoria feminicídio é procedente da teoria


feminista o qual foi atribuído a Diana Russel, que em 1976 utilizou o termo
para referir a morte de mulheres por homens pelo fato de serem mulheres
como alternativa feminista ao termo até então atual, que era homicídio.
Conforme Pasinato (2011), as mortes classificadas como feminicídio
resultam de uma discriminação baseada no gênero. Uma característica que
define o feminicídio é não ser um fato isolado na vida das mulheres vítimas,
mas apresentar como um terror contínuo onde inclui uma gama de
manifestações de violência e privações a que estas mulheres são submetidas
ao longo de suas vidas.
Waiselfisz (2015) pontua que com base nos dados do Mapa da Violência
no Brasil 2015, entre 2003 e 2013 o número de vítimas do sexo feminino
passou de 3.937 para 4.762, acréscimo de 21,0% na década. Essas 4.762
mortes em 2013 representam 13 homicídios femininos diários. De acordo
ainda com o autor, o dia 25 de novembro de 2015 tem um significado especial
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para o combate à violência contra a mulher, havendo três motivos para essa
data. Primeiramente, a Campanha UNA-SE Pelo Fim da Violência contra as
Mulheres, lançada pelo secretário-geral das Nações Unidas, a qual é descrita
como um movimento solidário que tem como foco a igualdade de gênero.
Também o 25 de novembro foi instituído como o Dia Internacional de
Eliminação da Violência contra as Mulheres, sendo que em 1999 a Assembleia
Geral das Nações Unidades escolheu esse dia como lembrança do 25 de
novembro de 1960, quando as três irmãs Mirabal, ativistas políticas na
República Dominicana, foram assassinadas a mando do ditador Rafael Trujillo;
e, por último, os 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres,
referentes ao período de 25 de novembro a 10 de dezembro, datas em que
são celebrados o Dia Internacional para Eliminação da Violência contra
Mulheres e o Dia Internacional dos Direitos Humanos, respectivamente.
Pasinato (2011) cita que a violência contra as mulheres é definida como
universal e estrutural e fundamentada no sistema de dominação patriarcal.
Dessa forma, o feminicídio é apresentado como resultado das diferenças de
poder entre homens e mulheres, sendo também condição para a manutenção
dessas diferenças.
O Instituto Patrícia Galvão (2017) mostra que no Brasil o cenário mais
preocupante é o do feminicídio cometido por parceiro íntimo e que
geralmente é precedido por outras formas de violência. Tal ato trata-se de um
problema global e se caracteriza como crime de gênero ao carregar traços
como ódio, que exige a destruição da vítima, e também pode ser combinado
com as práticas da violência sexual, tortura e/ou mutilação da vítima antes ou
depois do assassinato.
Com uma taxa de 4,8 assassinatos em 100 mil mulheres, o Brasil está entre
os países com maior índice de homicídios femininos, ocupando assim a quinta
posição em um ranking de 83 nações, segundo dados do Mapa da Violência de
2015.
Segundo o Instituto Patrícia Galvão (2017), o principal ganho com a Lei do
Feminicídio (Lei nº 13.104/2015) é justamente tirar o problema da
invisibilidade. Além da punição mais grave para os que cometerem o crime
contra a vida, a tipificação é vista por especialistas como uma oportunidade
para dimensionar a violência contra as mulheres no país, quando ela chega ao
desfecho extremo do assassinato, permitindo, assim, o aprimoramento das
políticas públicas para coibi-la e preveni-la.
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De acordo com o Instituto Patrícia Galvão (2016), a partir da alteração do


Código Penal Brasileiro (que incluiu o feminicídio como uma forma qualificada
de homicídio), as diretrizes de tal documento abrangem o tipo penal, devendo
ser aplicadas a investigação, processo e julgamento de todas as mortes de
mulheres vítimas de violência, buscando as evidências que motivaram o
comportamento delitivo e resultaram da morte desta mulher.

Políticas Públicas De Enfrentamento À Violência Contra Mulher

De acordo com Coelho et al. (2014) para que seja exposto o processo
como se constituíram as políticas públicas de enfrentamento da violência é
necessário fazer uma retrospectiva sobre a conquista dos direitos das
mulheres no âmbito nacional e internacional, sendo que o marco foi a
Conferência Mundial do Ano Internacional da Mulher em 1975, na Cidade do
México. Logo após houve o lançamento da Década da Mulher (1975-1985),
quando ocorreu a convocação dos governos para a promoção da igualdade
entre homens e mulheres diante da lei, sendo assim teriam igualdade a
emprego, educação, salário, formação profissional e assistência social.
Conforme Coelho et al. (2014) existiu, ainda, na década de 1970 a
Convenção sobre a eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher que teve como principal compromisso a promoção e a proteção dos
direitos das mulheres. Na década de 1990 ocorreu a inclusão dos direitos das
mulheres na agenda mundial dos direitos humanos e na pauta política dos
governos. Os eventos mais significativos desse período foram: Conferência de
Viena e seu Programa de Ação (1993); Declaração das Nações Unidas sobre a
Eliminação da Violência Contra as Mulheres (1993); Conferência sobre a
População e Desenvolvimento e sua Plataforma de Ação; Convenção
Interamericana para Prevenir e Erradicar a Violência Contra a Mulher também
conhecida como Convenção de Belém do Pará (1994); IV Conferência da
Mulher em Beijing e a Plataforma de Ação Mundial da Mulher (1995) (COELHO
et al., 2014).
No período de 1992 a 2012 muitas alterações institucionais ocorreram no
país no que se refere às políticas de enfrentamento a violência contra as
mulheres. Como mostra o Relatório sobre o Progresso Das Mulheres no Brasil,
nos anos de 2003 a 2010, existiu uma produção crescente de estudos e dados
estatísticos sobre a incidência da violência contra as mulheres, na adoção de
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planos nacionais para enfrentar o problema e na criação de serviços públicos


especializados de atendimento.
De 1985 a 2002 a criação de Delegacias Especializadas de Atendimentos à
Mulher (DEAMs) e de Casas Abrigo foi o eixo principal da política de
enfrentamento à violência contra as mulheres. No ano de 1998 a elaboração
da Norma Técnica para a prevenção e tratamento dos agravos resultantes da
violência sexual marcou mais um avanço nas políticas públicas para as
mulheres. Tal Norma Técnica determinava o atendimento a mulheres vítimas
de violência sexual nos serviços de saúde, permitindo, assim, às adolescentes
e mulheres o acesso imediato a cuidados de saúde (BRASIL, 2011).
No ano de 2003 se deu a criação da Secretaria de Políticas para Mulheres,
sendo assim as ações para o enfrentamento à violência passam a ter um
maior investimento, neste sentindo foram criados serviços como: Defensorias
da Mulher; Centro de Referência de Atendimento às Mulheres; Serviços de
Responsabilização e Educação ao Agressor; as Promotorias Especializadas e as
Redes de Atendimento às Mulheres em situação de violência. Com a
construção do Plano Nacional de Políticas para Mulheres (PNPM) as ações de
enfrentamento a esta violência não mais se restringem as áreas da segurança
e assistência social, no entanto, envolvem diferentes setores do Estado para
assim garantir os direitos das mulheres a uma vida sem violência. Desse modo,
a consolidação das políticas públicas de enfrentamento à violência contra a
mulher foi efetivada quando ocorreu o lançamento do pacto Nacional pelo
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, em agosto de 2007 (BRASIL,
2011).

As políticas públicas desenvolvidas pela


Secretaria de Políticas para as Mulheres
têm o objetivo de superar as
desigualdades e combater todas as formas
de preconceito e discriminação. Sua
atuação desdobra-se em três linhas
principais de ação: (a) Políticas do Trabalho
e da Autonomia Econômica das Mulheres;
(b) Enfrentamento à Violência contra as
Mulheres; e (c) Programas e Ações nas
áreas de Saúde, Educação, Cultura,
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Participação, Igualdade de Gênero e


Diversidade (MARTINS; CERQUEIRA;
MATOS, 2015, p.9).

Martins, Cerqueira e Matos (2015) pontuam sobre a Rede de Atendimentos


às Mulheres em Situação de Violência, sendo que tais redes buscam fazer
frente à complexidade da violência, almejando contemplar o caráter
multidimensional do problema. Esta rede é constituída por órgãos de áreas
diversas, sendo eles: segurança, atendimento psicossocial, instituições do
sistema de justiça e saúde. Segundo os autores, a ampliação da rede de
atendimentos transformou o caráter das políticas públicas direcionadas às
desigualdades de gênero.
De acordo com Martins, Cerqueira e Matos (2015) e com base nos dados da
Central de Atendimento à Mulher da Secretaria de Políticas para as Mulheres,
elaborados no segundo semestre de 2013, os serviços disponíveis nas redes
de atendimento e enfrentamento são:

·Centros Especializados da Mulher: Atuam com ações e serviços de cunho


psicossocial, para auxiliar na ruptura das mulheres com situação de
violência. Neste caso os Centros de Referência de Atendimento à Mulher
acolhem, realizam acompanhamento psicológico e social e orientação
jurídica.
·Casa Abrigo em Rio do Sul/SC: Oferecem asilo e atendimento integral a
mulheres e mulheres gestantes em situação de risco de morte, devido à
violência doméstica. É um serviço sigiloso, temporário, onde estas
mulheres podem estar acompanhadas de seus filhos e depois que
adquirem condições retomam suas vidas.
·Atenção integral à saúde da mulher em situação de violência: Os serviços
de saúde especializados contam com uma equipe multidisciplinar nos
atendimentos a estas mulheres vítimas de violência: médicos, psicólogos,
assistentes sociais e enfermeiras. Sendo todos profissionais capacitados
para atender os casos de violência contra a mulher.
·A violência contra a mulher e a segurança pública: As Delegacias
Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) são encarregadas de
realizar ações de apuração, prevenção, investigação e enquadramento
legal.
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Nestes locais existe a possibilidade de registrar um Boletim de Ocorrência


(B.O) e a solicitação de uma medida protetiva no caso de violência.
·A violência contra a mulher e o sistema de Justiça: Com a Lei Maria da
Penha em 2006 todos os crimes de violência doméstica e familiar contra a
mulher perdem o caráter de menor potencial, sendo assim, não é mais
competência do Juizados Especiais Criminais (JECs) e as decisões passam a
ser do Supremo Tribunal Eleitoral (STF).

A atuação do psicólogo em políticas públicas para o enfrentamento da


violência contra a mulher

Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2013), o enfrentamento à


violência contra as mulheres é umas das maiores preocupações das políticas
públicas, sendo que avanços vêm ocorrendo para que se constitua uma rede
mundial que lide de forma justa, abrangente e suficiente com essa
problemática.
Foi elaborado pelo Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas
Públicas (CREPOP) um documento de referência para a atuação de psicólogos
(as) em serviços de atenção a mulher em situação de violência, em que
apresenta princípios éticos, técnicos e políticos norteadores para aqueles que
atuam ou pretendem atuar na área.
De acordo com CFP (2013), o documento de referências técnicas para a
prática de psicólogas (os) em programas de atenção à mulher em situação de
violência está dividido da seguinte forma:
Primeiro eixo: fala da Dimensão ético-política que tratará de diretrizes para
os profissionais no atendimento à mulher, cuja prática deve considerar além
do cuidado, as relações entre a sociedade, o estado e a criação das referidas
políticas públicas.
Segundo eixo: Psicologia e mulheres, que tem a preocupação de localizar
e esclarecer conceitos de gênero como elementos estruturantes, tendo como
base especificar o contexto de atuação das psicólogas (os).
Terceiro eixo: A Psicóloga (o) e a rede têm como principal objetivo focar no
trabalho do atendimento à mulher em situação de violência, fortalecendo as
redes de serviços que possam articular saberes, práticas e políticas,
viabilizando e pensando em estratégias para que todas tenham acesso com
equidade e integralidade.
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Último eixo: A gestão do Trabalho tem como papel fundamental apresentar os


desafios da gestão do trabalho desta rede. A distância entre os parâmetros
legais e sua aplicabilidade na realidade.

Princípios norteadores da prática profissional

CFP (2013) pontua que os princípios norteadores da prática das (os)


psicólogas (os) são o Código de Ética e os marcos legais. É importante também
o reconhecimento do trabalho multiprofissional, cabendo ao psicólogo
entender que a violência contra a mulher tem como caraterística principal a
violação dos direitos humanos, e que a questão de gênero é fundamental para
sua compreensão. Para o profissional é fundamental além de conhecer a Rede
de atendimento à mulher em situação de violência na perspectiva do seu
mapeamento, sendo de suma importância que também reconheça suas
fragilidades e as possibilidades de resolução. O CFP ainda pontua que o
psicólogo deve estabelecer reflexões com estas mulheres sobre a importância
da organização política e coletiva na busca pela garantia de seus direitos.
O Conselho Federal de Psicologia (2013) traz o fluxo de atendimentos da
rede de atenção às mulheres em situação de violência, sendo eles: Serviços de
saúde, onde englobam serviços específicos para atendimentos de emergência
às mulheres (unidades de saúde, hospitais e maternidades quando a caso de
gravidez e/ou abortamento); Centros e Núcleos de Referência para a Mulher
em Situação de Violência, que têm como função o acolhimento, o
acompanhamento e articulação da Rede; Delegacias Especializadas de
Atendimento à Mulher (DEAM), onde acontece o acolhimento e a orientação
de outros serviços; Hospital geral, o profissional de psicologia faz o
acompanhamento durante a internação e orientação; Abrigos a mulheres em
situação de violência com risco de perda de integridade e de vida; CREAS e
CRAS, atendimentos em caso de violência contra a mulher, criança e
adolescentes; Serviços educacionais, servem de espaço de articulação onde se
ocorrem frequentes denúncias de diversas violências; Coordenadoria da
Mulher, tem como função coordenar ações específicas do governo dirigidas às
mulheres; Conselhos Tutelares e Conselhos Municipais de Crianças e
Adolescentes, entidades de controle social para a proteçãodestas crianças e
adolescentes no caso de violência; Atendimentos do Poder Judiciário
existentes na localidade, as Varas de Infância, o Juizado Especial de Violência
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contra a Mulher, Varas de Família, da Juventude e Idoso, Ministério Público e


Defensorias, onde ocorre acolhimento a partir de procura espontânea;
Parcerias entre universidades e centros de referência; Organizações não
governamentais (ONG), onde são desenvolvidas atividades para mulheres,
crianças e adolescentes, apontando à promoção social.
Considerando que o foco desta pesquisa está nas mulheres vítimas de
violência atendidas pelo CREAS, a seguir são trazidas informações específicas
deste dispositivo da Assistência Social.

Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS)

O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), em união ordinária, nos


dias 11 e 12 de novembro de 2009, no uso da competência que lhe confere os
incisos II, V, IX e XIV do artigo 18 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 –
Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS); levando em consideração a
resolução do CNAS nº 145, de 15 de outubro de 2004, aprova a Política
Nacional de Assistência Social (PNAS) (CNAS, 2011).
De acordo com a Secretaria Nacional de Articulação Social - SNAS (2015), o
SUAS – Sistema Único de Assistência Social – foi construído em 2005 e partiu
da distinção do corte da população das cidades brasileiras aplicada pela
Política Nacional de Assistência Social de 2004 (ou PNAS/04). Este Sistema
possui uma tipificação composta por proteção básica e proteção especial,
sendo que dentro da proteção especial existe a média e a alta complexidade.
Conforme o CFP (2013), o CREAS se materializa dentro do Sistema Único
de Assistência Social (SUAS) como uma unidade de Proteção Social Especial de
média complexidade, tendo como objetivo promover a superação de
situações de violação de direitos. Junto com outros profissionais que
compõem este Centro de Referência, o psicólogo baseará seu trabalho na
dignidade, liberdade e integridade do ser humano, apoiado nos valores que
embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Desta forma, o
profissional da Psicologia trabalha em prol destes direitos violados, neste caso,
as mulheres em situação de violência (CFP, 2005).

O CREAS é a unidade pública estatal de


abrangência municipal ou regional que
tem como papel constituir-se em lócus de
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referência, nos territórios, da oferta de


trabalho social especializado no SUAS, a
família e indivíduos em situação de risco
pessoal ou social, por violação de direitos
(CFP, 2013, p.20).

O CREAS tem como demanda pessoas com direito violado, que sofrem
negligência e abandono, que foram ameaçadas ou sofreram maus tratos,
vítimas de violência ou que tenham sofrido discriminação de qualquer tipo.
Neste sentido não se pode deixar de citar o Programa de Atendimento
Especializado à Família e Indivíduo (PAEFI), sendo este um serviço voltado para
famílias e pessoas em situação de risco social ou com violação de direitos. Ele
oferece apoio, orientação e acompanhamento para superação de situações
mais graves, como exemplo: violência, abuso ou exploração sexual, trabalho
infantil, adolescentes em conflito com a lei. Esse serviço tem como objetivo a
reconstrução das relações sociais e familiares e a superação de padrões de
relacionamento (BRASIL, 2016).
Conforme o CFP (2013), os fenômenos sociais que transcorrem às pessoas
que chegam até ao CREAS não são somente direitos da população pobre. A
violação de direitos, o afastamento do convívio familiar, a fragilização ou
rompimento de vínculos, o agravamento de situações de risco pessoal e social,
as violências intrafamiliares ou domésticas acontecem em todas as classes
sociais. O público atendido no CREAS é encaminhado por promotores, juízes
ou conselheiros tutelares, a partir de denúncias.
O atendimento psicossocial realizado no CREAS tem um efeito terapêutico,
no entanto, vale lembrar que a psicoterapia não faz parte da sua proposta,
tendo em vista que há locais destinados como as Unidades de Saúde ou
Clínicas Escolas. Porém, em alguns momentos os profissionais não conseguem
fazer os encaminhamentos devido à falta de vagas, sendo assim, pela
importância deste tratamento, os psicólogos se propõem a realizar
psicoterapia (CFP, 2013).
Segundo o CPF (2013), a psicologia quando compôs as equipes de
referência do CREAS, contribuiu para um olhar no aspecto do sujeito em sua
relação na sociedade e na família. Cabe ao psicólogo apontar um
posicionamento ético-político, romper com hipóteses que servem à
manutenção da desigualdade posta, além de ter olhar e posicionamento
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críticos frente à realidade social. A intervenção da psicologia no campo social


requer a construção de estratégias que exige do profissional ir além dos
modelos teóricos, assumindo a função social e política da ação.

A Psicologia pode contribuir de maneira


diferenciada em sua intervenção, trazendo
para análise a subjetividade presente nos
fenômenos sociais, incluindo os reflexos
de conteúdo sociais, culturais e históricos
na constituição desse sujeito e de suas
relações. É preciso aprofundar o
conhecimento e compreensão de pessoas,
famílias e/ou grupos inserindo os
diferentes aspectos de constituição
individual e grupal e seus reflexos na
sociedade (CPF, 2013, p. 63-64).

O CFP (2013) cita as principais atividades realizadas pelo profissional de


psicologia no CREAS:
Acolhida: Contato inicial com a pessoa e/ou a família, momento de
estabelecimento de vínculos e de apresentar o serviço informando sobre o
que é ofertado. É de total importância a postura acolhedora dos profissionais
tornando o ambiente receptivo.
Acompanhamento Psicossocial: Nesta intervenção o foco está em conhecer
o indivíduo e/ou a família, levando em conta seu contexto social, cultural e as
dificuldades vivenciadas.
Entrevista: Este procedimento integra o acompanhamento psicossocial e
nele é realizado a coleta de dados, orientação e acolhida. É o momento de
estabelecer um contato individualizado e atento às demandas, priorizando o
registro das informações, assegurando a privacidade da família e de seus
membros.
Visita Domiciliar: Este é um momento mais concreto que pode estimular a
família para a construção e busca conjunta de meios para romper com o
quadro de violação. Permite visualizar a família e sua dinâmica em seu espaço
de socialização e convivência. A visita domiciliar se constitui em uma das
estratégias de aprofundamento do acompanhamento psicossocial.
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Intervenções grupais: É através desse espaço de expressão que


ressignificações se dão, as relações se estabelecem, a experiência de cada um
pode ser recriada e repensada, a comunicação pode trazer a superação de
situações vivenciadas. O trabalho com grupos propicia a construção e troca de
conhecimentos, fortalecimento e identificação de potencias, oportunidade de
construir enfrentamentos e a autonomia.
Articulação em Rede: Favorece a visão articulada, integrada, intersetorial e
a construção de respostas no enfrentamento das situações de violência.
Viabiliza o acesso dos destinatários aos direitos, inserindo-os em programas e
políticas públicas.
De acordo com o CFP (2013), dentre as atividades e responsabilidades
técnicas voltadas ao trabalho interno oferecido à população atendidas no
CREAS faz-se, ainda registro de informação (Prontuários e Relatórios Técnicos),
reunião de equipe e reunião para estudo de caso.
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CAPÍTULO 4
FEMINILIDADE E MATERNIDADE Á
LUZ DA REFLEXÃO PSICANALÍTICA
RAYANE KELLY DOS SANTOS MORAIS

INTRODUÇÃO

Sabe-se que as transformações históricas mudaram o papel da mulher na


sociedade. Até recentemente existia o aspecto santificador e romântico de ser
mãe, a mulher se encontrava delimitada a exercer a função essencial de
procriação. Nessa função, a mulher encontrava a renúncia de sexo e dedicava
ao dever materno incondicional para seus filhos. A mulher era, portanto,
vinculada de forma inevitável à função de mãe, de acordo com o que se
esperava dela nas representações sociais.
A psicanálise freudiana relaciona a maternidade à feminilidade, postulando
o ser mãe como resposta ao ser mulher. Entretanto vale a pena investigar se
essa equivalência posta por Freud entre o ser mulher e o ser mãe se mantem
na contemporaneidade. Nos interessa verificar como a teoria freudiana explica
a feminilidade, e se mesmo com as modernas histórias para algumas mulheres
a maternidade representa ainda a possibilidade de realização como pessoas.
A maternidade é um objeto sócio histórico que se modifica no tempo e
espaço da cultura, e por isso o amor materno não é um sentimento inato.
Portanto, ele não faz parte intrínseca da natureza feminina se é que podemos
falar de alguma natureza se tratando do ser humano. Se o amor é, um
sentimento construído de acordo com a história, ele pode existir ou não para
a mulher, dependendo da época, das circunstâncias em que vivem as mães e
da singular relação que uma mulher tem com o desejo de um filho.
Sendo assim, a concepção de maternidade como forma de realização para
a mulher vem sendo questionada na contemporaneidade. Com a adoção dos
métodos anticoncepcionais, a mulher passou a ter o direito de optar pelo seu
desejo de ser ou não mãe, com isso novos significados passaram então a
produzir novo sentido para as experiências femininas.
Esse tema propõe um desafio para a área da Psicologia, pois
investigaremos até que ponto as mulheres em sua constituição exercem a
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liberdade de escolher, principalmente quando a cultura traz consigo a ideia do


feminino na representação da maternidade. Assim, tratar sobre esse tema tem
também uma grande importância pois podemos discutir sobre as relações
entre a psicanálise e as transformações que ocorreram no papel da mulher ao
longo dos anos, no qual envolve em meio as questões sociais e culturais, o que
Freud considerava significativo em seus estudos no que tange o desejo da
mulher por um filho.
A partir do crescente posicionamento de mulheres que optam por não
viver essa experiência e assim como não cumprir uma das normas sociais mais
ligadas à constituição da identidade feminina, compreender qual o poder de
escolha do sujeito e das questões que isso acarreta, é de suma importância,
tanto para um entendimento maior sobre o tema, quanto para a prática clínica
com as mulheres.

Contexto histórico do universo feminino e maternidade

A partir das indagações sobre a temática que abrange o universo feminino


e maternidade na contemporaneidade, iremos discorrer sobre a construção
da identidade feminina, bem como, as transformações que ocorreram durante
este caminho percorrido pelas mulheres.
De acordo com Emidio (2011) a figura do feminino está presente na
sociedade, desde o início da civilização. Na antiguidade a cultura sempre se
referiu á mulher á variadas formas diferentes, desde a mais santificadora, até a
mais feiticeira, aquela em que não se podia confiar. A bíblia nos diz que a
mulher, representava por Eva, foi criada da costela do homem (Adão), e por
isso tinha o dever de cuidar do mesmo e não deixa-lo sozinho. Assim foi o
primeiro lugar da mulher na sociedade.
Após Eva cometer o pecado, a Igreja Católica por causa de seus costumes
morais e rígidas regras, passou a se referir a mulher por imagens negativas
como a de traidora, incompetente, etc. Desta forma, só eram atribuídas
imagens positivas a mulher quando a mesma se tornava esposa e mãe. A
imagem da mulher assemelhada a virgem Maria, era a de que a mulher se
santificava através da maternidade.
Dentro dessa construção do papel social da mulher, o lugar
ocupado por ela foi o de ‘companhia’ para o homem, aquela que satisfazia
seus desejos e obedecia às suas ordens. A mulher ocupou, então, o lugar de
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obediência ao seu marido: a ela sempre foi atribuído uma inferioridade em


relação ao homem. (EMIDIO, 2011, p.59).
Desde então, a mulher era vinculada de forma inevitável a tarefas
domésticas e a função de mãe, atribuindo-se a tais atividades unicamente
como dever feminino.
Segundo Emidio (2011), “o papel, reservado à mulher até então, era o de
esposa, dona de casa, cuidadora e mãe. Assim, foi se construindo um olhar
sobre a mulher que associava a essas ideias e que ligava esses papeis a sua
identidade”. (EMIDIO, 2011, p. 60).
No Brasil colônia, as mulheres eram consideradas peças fundamentais,
pois eram criadas para se casar, terem filhos. Importante observar que esta
era a única função do casamento, eliminando-se o prazer sexual. A partir das
mudanças ocorridas no contexto social, o papel da mulher na sociedade
começou a ser indagado. A mulher começou então a se questionar sobre a
sua posição e refletir sobre seus desejos e necessidades (EMIDIO, 2011).
Durante os séculos (XVIII-XIX) começaram a aparecer os novos meios de
trabalho dentro da lógica capitalista, surgindo assim a necessidade de uma
maior força de trabalho. Porém, a mão de obra feminina com baixo custo para
se obter maiores lucros.
Inseridas nesse novo mundo, as mulheres passaram a ser consideradas
força de trabalho e a ter representatividade no espaço do trabalho, como mão
de obra assalariada, porém de baixo custo. (EMIDIO, 2011, p.61).
A partir desta inserção as mulheres passaram a trabalhar, vivendo uma
dupla jornada, tendo que trabalhar, cuidar dos filhos, do marido, dos afazeres
domésticos. Emidio (2011) aponta que os movimentos feministas que
começaram a surgir a partir de 1950, trouxe uma nova ação para as mulheres.
Elas começaram então analisar sua posição na sociedade e buscar a partir
desta análise um novo lugar fora do lar. As mulheres passaram a desconstruir
a imagem de submissa, buscando garantir o direito à igualdade política, civil e
social.
“Operárias nas fabricas, consideradas como força de trabalho imbuídas
pela onda feminista que permeava o momento, também partiram para a luta
dos seus direitos, entre os quais a regulamentação das leis trabalhistas”.
(EMIDIO, 2011, p. 61).
Para Emidio (2011), as conquistas feministas, se deu tanto no contexto
histórico quanto no socioeconômico e político, o que fez com que a mulher
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começasse a construir a sua identidade, diferente daquela que a sociedade


esperava. Com todas essas mudanças, a sexualidade da mulher começou a
ser reconhecida, o prazer sexual da mulher que até então era tido como um
tabu, passou a ser discutido, bem como, a virgindade das mulheres que era
algo velado pela sociedade.
A sexualidade movimentava-se nessa época separando-se da exclusividade
da procriação e começava a mapear-se um posicionamento da mulher
enquanto sujeito com desejos e necessidades a serem satisfeitas. A
descoberta da pílula anticoncepcional na segunda metade do século XX,
marcou o fim do controle masculino sobre a sexualidade feminina (EMIDIO,
2011, p.63).
O casamento também passou por mudanças com a chegada do
Romantismo, ao invés da mulher se casar por obrigação, passou a se casar por
vontade própria, tinham a liberdade de falar sobre sexo e desejo.
Após este apanhado histórico, podemos ver que a mulher ocupou por um
longo período o lugar de submissa na sociedade, pois segundo Emidio (2011)
o processo para a construção da identidade social é longo e contínuo.
A partir do contexto histórico da feminilidade descrito por Emidio (2011),
podemos ver que a identidade da mulher sempre esteve ligada de alguma
forma a maternidade. Contudo, faz-se necessário discorrermos sobre a
construção social da maternidade para que possamos entender como a
questão do ser mãe percorre todo o contexto histórico social do feminino.
Para Emidio (2011), as relações entre mãe e filho na qual existe
atualmente, é totalmente diferente da relação que existia na sociedade por
volta do século XVIII. No período da antiguidade a idade média, a família era
regida mais pelo lado moral e social do que pelo sentimental, desta forma, os
valores faziam com que o relacionamento entre pais e filhos, fosse marcado
pela violência.
De acordo com Badinter (1985) devido a taxa elevada de mortalidade
infantil nesse período, os pais criavam um tipo de blindagem com qualquer
sentimento de afeto para com o filho, pois o intuito era se a criança morresse
não haveria tanto sofrimento.
Conforme Emidio (2011) a vida das mulheres na qual pertenciam as
classes mais nobres nesta época, era regida pelos seus empregados e
controlada pelos seus maridos, entregavam os seus filhos as amas de leite,
algumas por temer a morte de seu bebê, outras por terem outras prioridades.
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Já as mulheres das camadas mais baixas, dedicavam o seu tempo ao cuidado


de seus filhos, e dos filhos das mulheres das camadas mais nobres, pois
tinham que garantir o sustento básico da família, já que as condições de vida
eram precárias.
Contudo, em concordância com o autor podemos inferir que grande parte
do não cuidado das crianças daquela época, não se dava apenas pelo
desinteresse da mulher, mas como também por questões sociais, econômicas
e políticas que regiam no contexto. A partir disto, podemos considerar que o
sentimento entre mãe e filho no qual consideramos em nossa sociedade, é
construído pelos valores sociais que existem atualmente.
Segundo Ariès (2017) foi somente a partir do século XVII-XVIII que
começaram a surgir um novo olhar para a criança, para o seu
desenvolvimento, assim como, começaram a perceber também o valor da vida
destas para a sociedade. Contudo, começou a surgir então ideias
enaltecedoras no que tange as relações familiares, assim como a importância
da relação entre mãe-filho.
Um novo sentimento de infância havia surgido, em que a criança, por sua
ingenuidade, gentileza e graça, se tornava uma fonte de distração e de
relaxamento para o adulto, um sentimento que poderíamos chamar de
“paparicação”. (Ariès, 2017, p.100).
Com o surgimento da Renascença em meados dos séculos XV e XVI, foi
enaltecido o amor romântico, quebrando alguns protótipos da época.
Começou a surgir para a mulher a possibilidade do livre arbítrio na escolha
amorosa, na escolha do seu companheiro. Essa fase do Renascimento, trouxe
também, a inserção do amor materno, para servir de base para a constituição
da família moderna. (EMIDIO, 2011, p. 69).
De acordo com Emidio (2011) nesta época ocorreram também,
transformações no modelo de infância que havia na sociedade, levando a
surgir novos sentimentos em relação a mãe e ao amor materno. Assim sendo,
essas mudanças foram as que impulsionaram para a constituição da família
moderna. Com o advento das transformações em relação mãe-filho, as
atitudes das mães começaram a mudar, muitas mulheres começaram até
amamentar seu próprio bebê, ao invés de deixar que as amas de leite
fizessem isto.
Com a chegada da Revolução industrial, teve-se um novo olhar para a
família nuclear, pois nas antigas estruturas familiares a mulher tinha apenas a
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obrigação de servir o marido, pois os sentimentos de afeto e amor por este e


pelos filhos não era visto como algo necessário para a preservação do
casamento (EMIDIO, 2011, p. 71).
Para Emidio (2011), as mães tinham a responsabilidade de passar para os
seus filhos a educação moral, contudo, a mulher pobre que trabalhava nas
fábricas além de ter que conseguir educar seus filhos, tinham que conseguir
conciliar os afazeres domésticos, com a organização da família e sobre tudo
ajudar no orçamento familiar. Pois estes papeis foram atribuídos a mulher a
partir da construção social da maternidade, bem como da construção da
identidade feminina. Neste período, os homens satisfaziam apenas as
necessidades mais básicas, pois quando sentiam desejos sexuais se envolviam
com as prostitutas, destituindo as esposas das suas relações sexuais,
mantendo assim a imagem doce e santa que era atribuído a mulher/esposa
pela sociedade.
Dentro deste contexto, no inicio do século XIX, fascinadas pela importância
da maternidade e do papel ao qual foi atribuído a sua imagem, e convictas de
que este papel estava inerentemente ligado ao feminino, às mulheres
passaram então a ter mais cuidados com os filhos, com o lar, colocando o
homem na posição do que dita e estabelece para a mulher o papel de
cuidadora, responsável pelo andamento da organização familiar, ou seja,
aquela que zela pela família (EMIDIO, 2011, p. 73).
De acordo com Emidio (2011) com o advento da valorização da
maternidade, diversas teorias e manuais foram criados dando passo a passo
de como uma boa mãe deveria se comportar. Os manuais tentavam colocar
regras e ditar como eram as melhores maneiras de cuidar dos filhos,
atribuindo um padrão social para a maternidade, delegando a mulher a
exercer apenas este tipo de atividade.
“Hoje, em meio a todas essas construções ideológicas está a mulher,
muitas vezes perdida em sua posição de mãe e ao mesmo tempo poderosa e
insatisfeita, com atribuições importantes e sufocantes para ela e o filho”
(EMIDIO, 2011, p. 74). Para Emidio, de acordo com a perspectiva da sociedade
e da cultura dominante, é a mulher quem deve ensinar os valores aos seus
filhos, ficando a encargo da mesma que estes sejam saudáveis. Porém, em
nenhum momento, a sociedade se contrapôs, não pensou na subjetividade de
cada mulher, pois cada mulher se apropria de uma maneira a maternidade.
Entretanto, sabemos que o desejo de filho, ou seja, o de ser mãe não é
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igual para todas as mulheres, considerando que cada mulher lida com o seu
ser de maneira muito singular. Qual o desejo da mulher? Essa é uma pergunta
que Freud se fez e que trataremos no discorrer do texto. Mas como explicar
então quando uma mulher não nutre e nem demostra seu amor pelos filhos?
Campista e Caldas (2017) nos apresenta o trágico caso de Medeia, um
mito escrito por Eurípedes na Grécia antiga, que conta a história de uma
mulher importante e poderosa, que mata seus filhos quando é deixada pelo
pai dos mesmos. Apaixonada de forma avassaladora por Jasão, ela abandona
sua família e sua terra natal para viver esse amor, cometendo assim, vários
crimes durante a sua fuga. Ao chegar na Grécia o casal vive feliz, logo após
celebrando uma felicidade maior com o nascimento dos dois filhos. Porém,
como toda mulher, Medeia não esperava que Jasão fosse se interessar por
outra mulher, mas foi isso mesmo que aconteceu. Jasão se apaixonou por
Creuza, filha do rei de Corinto- Creonte, a ponto de abandonar Medeia para
casar-se com esta. A preferência de Jasão por outra mulher fez com que
Medeia perdesse o controle sobre si, pois este ato de Jasão foi uma violação
contra seus princípios. Abraçada pelo sentimento de ódio Medeia começa
então a tecer a sua vingança, para punir Jasão por desejar outra mulher.Com o
seu feitiço Medeia mata Creonte e Creuza e para fazê-lo sofrer tal como ela
própria havia sofrido, decide também matar os filhos, fruto de seu casamento
para depois fugir (CAMPISTA, CALDAS, 2017).
Segundo Campista e Caldas (2017) o amor na mulher é sublinhado pela
incerteza, pela procura do homem que seja o significado do que ela deseja. De
acordo com o contexto histórico social da mulher, podemos ver que era
solicitado que estas ficassem limitadas ao homem e aos filhos, porém ao
discorrer sobre o mito de Medeia, pode-se ver que a mesma dá provas de que
isto não lhe basta. Medeia considera que a maternidade não lhe é suficiente.
“Na liberdade, muitas vezes aparente, que permeia a contemporaneidade,
existe a possibilidade de que a mulher, viva o próprio desejo, de que viva a sua
subjetividade”. (EMIDIO, 2011, p. 75).
Portanto, desde a Grécia antiga que a mulher está dividida entre ser
mulher e mãe. “Á medida que a sociedade vai se modificando, surgem novos
sujeitos e novas necessidades e, consequentemente, novos direitos” (MATOS,
GITAHY, 2007, p.74). Portanto, com os avanços políticos significativos em
diversas áreas, as mulheres passam a defender outros estilos de vida,
reivindicando o direito de viver sua sexualidade de maneira mais livre e
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iautônoma. Atualmente o movimento feminista luta não só pelos direitos


sociais, mas por direitos sexuais e reprodutivos.
Leão e Monte (2013) caracterizam os direitos reprodutivos sendo os
princípios e as normas dos direitos humanos, no qual garante ao sujeito o
exercício individual, livre e responsável pela sua sexualidade e reprodução,
afirmando assim que é de livre direito de cada mulher optar ou não por ter
filhos, bem como ter ingresso aos meios necessários para a ação livre da sua
autonomia reprodutiva.
A natureza dos Direitos Reprodutivos envolve assegurar direitos relativos à
autonomia e autodeterminação das funções reprodutivas, que correspondem
às liberdades e aos direitos individuais. E direitos de dimensão social, como
aqueles relativos à saúde, educação, segurança, que têm como finalidade
proporcionar as condições e os meios necessários para a prática livre,
saudável e segura das funções reprodutivas e da sexualidade (Leão e Monte,
2013, p.03).
Como descrito por Matos e Gitahy (2007) as lutas das mulheres pelos
direitos sexuais e reprodutivos, começaram a surgir na metade do século XX.
Os direitos passaram a ser um objetivo comum para as correntes ideológicas
modernas, devido ser considerado fundamental frente as demandas que
começaram a surgir nos novos contextos sociais e culturais vivido pelas
mulheres na sociedade contemporânea.
Não é que grandes lutas foram reconhecidas para que a mulher se
emancipasse parcialmente da posição de inferioridade que esta ocupava no
casamento e o quanto o próprio Divórcio foi uma conquista?
Na década de 1970, as reivindicações que envolviam os Direitos
Reprodutivos estavam centradas nas reivindicações das mulheres pela
autonomia corporal, o controle da própria fecundidade e atenção especial à
saúde reprodutiva. Foi um período fortemente marcado pela luta em face da
descriminalização do aborto e pelo acesso à contracepção, onde a liberdade
sexual começou a ganhar espaço com o surgimento dos anticoncepcionais,
nos anos 1980 e 1990, além do exercício da maternidade e das novas
tecnologias reprodutivas, que passaram a ser incorporadas na agenda dos
direitos, tendo o seu uso garantido legalmente (DIAZ; CABRAL e SANTOS; 2004,
apud, LEÃO, MONTE, 2013, p.05).
Pode-se considerar, que cada vez mais na atualidade, com todos os
avanços ocorridos, com todo espaço que a mulher ganhou na sociedade, com
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todo seu direito de devir, muitas mulheres buscam por outros meios, algo que
as satisfaçam, que supra seu desejo. Nem todas as mulheres desejam filhos e
não pensam a maternidade como meio de suprir a sua falta. Porém, ainda há
controversas e a grande maioria das mulheres ainda vê a maternidade como
uma realização.
Contudo, após todo o arcabouço que até aqui foi construído, no que
concerne aos aspectos sociológicos da feminilidade e consequentemente da
maternidade, buscaremos na teoria psicanalítica as explicações sobre o
tornar-se mulher e a função do filho na economia libidinal de uma mulher na
contemporaneidade.

O filho como circuito de desejo da mulher na contemporaneidade

Freud ao longo de suas extensas pesquisas dedicou-se em discorrer sobre


a feminilidade. Para Birman (1999) percorrer esse longo trajeto cheio de
interrogações, é se aventurar, pois o território da feminilidade equivale a um
registro psíquico, que se remete ao falo e esse é justamente enigmático para a
psicanálise. Enquanto pelo falo o sujeito busca a totalidade, pela feminilidade o
que confere é a postura dirigida para o particular. Por isto, a feminilidade
endereça a singularidade do sujeito e as suas escolhas. O autor ainda diz que
“a feminilidade é o correlato de uma postura heterogênea que marca a
diferença de um sujeito em relação a qualquer outro” (BIRMAN, 1999, p. 10).
Valença (2003) salienta que os dias de hoje traz uma nova configuração
para a feminilidade, pois a mulher contemporânea tem o reconhecimento
social, podendo ser admirada e respeitada profissionalmente. Muitas
mulheres não se sentem envergonhadas em viver a sua sexualidade, sem
considerarem o casamento ou a maternidade como o que irá garantir-lhes a
feminilidade.
Anteriormente havia grandes diferenças e distanciamento entre feminino
e masculino, já na contemporaneidade, tais descrições, perderam esses
aspectos, tornando as definições entre os sexos ajustável, adaptável. Posto
isto, o modelo de feminilidade que se perdura na contemporaneidade é o da
mulher corpo-sexo, pois a mulher contemporânea vive a sua sexualidade, sem
nenhum problema em exibir seu corpo (VALENÇA, 2003).
Freud (1931/1996) citado por Campos (2015) em seu trabalho sobre a
Sexualidade Feminina, salientou como já vimos anteriormente, que um dos
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destinos para a feminilidade seria a maternidade. Para muitas mulheres,


tornar-se mãe, equivaleria ao tornar-se mulher e o bebê seria o substituto do
falo, vindo a tamponar imaginariamente sua falta.Assim estar grávida dá a
mulher a ilusão de completude.
Segundo Couto e Mattos (2015) ao tomar esse lugar de falo, a criança se
reconhece como significante do desejo materno, mas tal inscrição no desejo
da mãe não cessa o apetite da mãe fálica, da mãe como mulher. “Como objeto,
ela nunca ocupa o lugar adequado para preencher a falta da mãe porque
sempre há algo aquém e além” (COUTO; MATTOS, 2015, p. 147). De acordo
com Couto e Mattos (2015) a mulher pode ter uma identificação com a criança
colocando-a em uma posição de um objeto que apele a sua própria existência,
mas não um objeto que tampone por completo seu vazio. A maternidade
sendo uma condição ligada ao fato da mulher não ser toda, inscreve a criança
como um objeto que recobre onde a mulher está ausente sem inscrição para
ela mesma. Desta forma, é a representação do amor que coloca a criança na
posição de substituto da falta-a-ser feminina, permitindo-se desta forma que a
significação do falo apareça no imaginário do sujeito.
A independência das mulheres e sua entrada no mercado de trabalho, as
novas configurações familiares, o controle sobre seu corpo, no que se refere a
fertilidade, assim como as inovações na fecundidade, corrobora decisivamente
para a decisão das mulheres quanto a maternidade. Contudo, com a
desmistificação da maternidade, as mulheres passam então a encarar a
maternidade como uma escolha, harmonizando assim as expectativas de
realização pessoal e profissional (COUTO; MATTOS, 2015).
Atualmente a inserção da mulher no mercado de trabalho já é fato
consolidado, sendo possível ter satisfação para além da maternidade. Essa
possibilidade de opções deixa marcas indeléveis na relação mãe-bebê, uma
vez que a maioria das mulheres contemporâneas pode escolher entre casar
ou não, com o avanço da medicina e dos métodos contraceptivos, pode
escolher o momento de conceber filhos ou optar por não tê-los, pode viver
sua sexualidade fora do casamento e inclusive criar seus filhos sozinha, sem
que isso signifique exclusão social (HASHIMOTO; SIMÕES, 2012, p.18).
Desta forma pode-se inferir que o papel designado a mulher, sendo este
unicamente de mãe e esposa, atualmente não se mantém. Conforme descrito
pelos autores citados, a idealização simbólica fálica pode realizar-se através de
outros objetos.
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A inserção da mulher no mercado de trabalho, junto as novas técnicas de


controle de fertilidade, influenciam a decisão acerca da escolha pelo momento
mais apropriado para a mulher tornar-se mãe (OLIVEIRA et al. 2013).
Para Bessa (2015) os avanços científicos contribuíram para que a mulher
começasse a se posicionar frente aos seus desejos. A mulher pode fazer a
separação entre a sexualidade e a maternidade, pois, com a pílula
anticoncepcional a mulher pode evitar uma gravidez indesejada. Contudo, foi
possível para a mulher sustentar o desejo de ter ou não filho. O século XXI é
marcado, pelo desenvolvimento de técnicas cada vez mais sofisticadas que
criam a dependência entre a fertilização e a diferença entre os sexos.
As múltiplas maneiras de se viver, trouxe para a mulher contemporânea
as ambições pessoais, no qual esta pode optar por uma vida sem filhos, ter o
desejo para a maternidade, ou pode até mesmo realizar-se profissionalmente.
A liberdade de escolha vem trazendo grandes transformações nas condições
que foram construídas quanto a maternidade. Assim pode-se desconstruir as
representações sociais de que o desejo pelos cuidados materno é uma via
natural para todas as mulheres, pois muitas mulheres não esperam se realizar
com a maternidade, se indagando sobre a capacidade de conseguir se haver
com o papel de mãe e mulher (BADINTER, 2011).
De acordo com Miller (1993) citado por Santiago (2015) a disjunção entre
a maternidade e feminilidade, surge em torno da ideia de uma “mulher
verdadeira”, das quais tem como representação conforme citado em capítulo
anterior Medeia a personagem da mitologia grega, esta mata os filhos que
ama, não por ser uma mãe destruidora, mas sim para arrancar com este ato o
que é mais precioso do homem que ela julgava ser “seu”.
“Reconhece-se que há mulheres que elegem explicitamente a via da
recusa da maternidade, e outras que consentem com a maternidade com o
único objetivo de obter o estatuto privilegiado que ainda se atribui à mãe com
relação a mulher” (SANTIAGO, 2015, p. 77).
Para Badinter (2011), se algumas mulheres constatam, na maternidade
o destino desejado, do outro lado, tem aquelas mulheres que o desejo está
além da maternidade. Contudo, essas mulheres, almejam ser mais
independentes, se sentindo mais realizadas profissionalmente.
Na contemporaneidade, a identidade da mulher não está voltada
unicamente a maternidade, ao casamento e à procriação, pois esta vem
conquistando seu espaço, assumindo assim novos papeis e funções.
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Atualmente, a inserção da mulher no mercado de trabalho conforme já


sustentado por outros autores já é fato afirmado, provando desta maneira,
que é possível ter satisfação para além da maternidade (HASHIMOTO; SIMÕES,
2012).
Atualmente, as novas maneiras de se referir ao feminino, vem desnudando
os modelos culturais, sociais dos séculos passados, assim como refuta o
modelo de feminino proposto por Freud, embora não o limite. O destino de
cada mulher não se limita a maternidade, tendo em vista que existem outras
vias possíveis e desejáveis (BADINTER, 2011).
Segundo Almeida (2012), a noção de feminilidade, ao fim das elaborações
de Freud, possibilitou a psicanálise pensar os destinos do feminino marcado
pela singularidade do sujeito.
A singularidade e a riqueza da produção desse pensador é a de se
constituir, ela mesma, em uma tensão discursiva entre o determinismo
universal da lógica fálica e a feminilidade como enunciação singular (ALMEIDA,
2012, p. 39).
Por muitos anos as mulheres não conseguiam elaborar outras saídas para
se viver a além da via da maternidade. A liberdade pessoal em conjunto com a
liberdade sexual, fez a maternidade ser definitivamente uma escolha. Porém,
nem todas as mulheres, mesmo munidas de liberdade, tem a capacidade de
poder escolher ter filhos ou não, permitem que o desejo alheio (família,
sociedade, marido) prevaleça sobre o seu e consentem com a maternidade
sem deseja-la (ZALCBERG, 2017).
Segundo Zalcberg (2017) muitas mulheres se arrependem de terem tido
filhos. Essas só se dão conta de que tinham a escolha de não tê-los quando
ouvem outras mulheres que fizeram está opção, relatando inclusive da
liberdade que disfrutaram exatamente por não terem tido filhos. Essas
mulheres testemunham que tiveram o livre arbítrio de poder se dedicarem as
suas outras realizações conforme o seu desejo.
Nunes (2011), ao indagar o que querem as mulheres na contemporaneidade
irá dizer que: Muitas e diversas coisas, certamente, mas quando damos
ouvidos às suas queixas, como fez Freud com suas histéricas, descobrimos
que, antes de tudo, elas querem liberdade e condições que lhes permitam
desejar sem precisar pagar o alto preço da culpa (NUNES, 2011, p.114).
De acordo com todo o apanhado teórico, podemos verificar que não há
uma definição concreta que dê conta das respostas no que tange as questões
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da feminilidade. Assim, fica delegado à cada mulher elaborar maneiras de lidar


com a falta, assim como construir formas que consigam abarcar com a via do
desejo para além da maternidade.
Segundo Kehl (2016), as mulheres que procuravam a clínica psicanalítica
no final do século XX não eram as mesmas que procuraram Freud no final do
século XIX. Contudo, a teoria psicanalítica deve ser plástica o suficiente para
conduzir e compreender as mudanças sofridas pelos sujeitos na medida em
que a cultura da sociedade em que vivemos se modifica.
Ao ser indagado sobre a subjetividade feminina na clínica psicanalítica,
Valença (2003) irá dizer que os analistas não estão excluídos dos ideais da
sociedade, não estamos imunes a novas formas de subjetividade. As novas
configurações do existir assim como do relacionamento com o outro, refletem
na clínica e revelam suas consequências através do sofrimento psíquico. Desta
maneira, o terapeuta deve se posicionar frente a essas demandas, escutando,
acolhendo, levando o sujeito a se questionar sobre as consequências que as
escolhas produzem na vida e a elaborar outras formas satisfatórias de se viver
e de se haver com o seu desejo.

Considerações Finais

O presente capítulo foi estruturado de forma que fosse possível a


abordagem da questão central do estudo, sobre como se dá a feminilidade e
maternidade na representação e posicionamento social da mulher no mundo
contemporâneo.
Após o discorrer do exto, fica claro que a feminilidade em Freud está
marcada pelo momento no qual ele escrevia, embora as mulheres continuem
desejando filhos com as mesmas fantasias postas por Freud. Desta forma,
podemos inferir que se a maternidade era considerada pelo mesmo como o
destino “bem sucedido” para a feminilidade, é por que a cultura que
predominava em sua época não dava as mulheres outras opções como
encontramos contemporaneidade.
Ao investigarmos sobre o percurso da mulher desde antiguidade até a
contemporaneidade podemos dizer que o arcabouço teórico utilizado nos
possibilitou responder as nossas indagações, no que concerne a feminilidade
e a função da maternidade para as mulheres. Hoje em dia as mulheres não
precisam ser mães para terem um reconhecimento social, e podem ser
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admiradas cada vez mais como mulheres independentes dessas identidades.


Podemos inferir que a inserção da mulher no mercado de trabalho, os
avanços tecnológicos, a chegada dos métodos contraceptivos, os avanços da
medicina, foram fatores que permitiram que a mulher ampliasse o seu olhar
sobre as possibilidades e conquistasse o seu espaço na sociedade. Frente a
possibilidade de escolha, a mulher vem decidindo ou não em ter filhos,
podendo escolher por um par, ou até mesmo escolher por ter uma produção
independente, sem parceiro.
Atualmente, podemos inferir, que o papel o qual foi designado a mulher,
sendo unicamente mãe e esposa, não se mantém mais. Assim como, quanto a
teoria Freudiana no qual irá dizer que o acesso da mulher a feminilidade é o
desejo de um filho, podemos dizer que ela já não basta. A mulher
contemporânea pode realizar-se através de outros objetos, para além de um
filho, ficando desta forma, a critério de cada uma decidir ou não pela
maternidade.
Através deste estudo podemos verificar o quanto os psicólogos,
principalmente na prática clínica estão envolvidos nestas novas configurações
culturais, tendo em vista que essas configurações não acontecem da noite
para o dia, é um longo processo, no qual, somos convocados a nos posicionar
frente as demandas, escutando, acolhendo, auxiliando o sujeito a se
posicionar frente aos efeitos que estas mudanças produz em sua vida, levando
em consideração que, se a mulher contemporânea é resultado das
transformações que acontecem na sociedade, faz-se necessário pensar que
tal posição pode continuar a sofrer mudanças no decorrer do tempo.
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2018.
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CAPÍTULO 5
PAPEL DO PSICÓLOGO PERINATAL NO
PARTO
TAIANA SANTOS LOURENÇO DA SILVA

INTRODUÇÃO

O presente capítulo se refere a uma pesquisa bibliográfica sobre o papel


do psicólogo no parto, para a conclusão do curso de psicologia perinatal e da
parentalidade do instituto Materonline.
O período gestacional é caracterizado por ser uma fase cheia de significados
na vida de uma mulher, sendo vivenciada de forma subjetiva, ou seja, todas as
sensações vão depender de caraterísticas únicas de cada gestação, se foi
planejada, desejada, de forma acidental ou intermediada pela medicina,
consentida ou não consentida, estes fatores influenciarão de forma geral o
período gestacional.
Segundo a autora Arrais (2005) apesar de algumas mães e pais vivenciarem
este momento como uma alegria, outros podem vivenciar de forma negativa,
visto que, em torno da maternidade e paternidade as responsabilidades a
serem assumidas podem ser mais difíceis do que imaginavam, considerando a
mudança de papéis, ao se tornar mãe e o se tornar pai.
Os hormônios femininos, durante a gravidez, sofrem um aumento em sua
concentração, modificando o corpo da mulher para proporcionar o
crescimento adequado do bebê, o que pode trazer mudanças orgânicas e
comportamentais significativas para a mulher, inclusive o desencadeamento
ou a exacerbação de sintomatologia depressiva, podendo apresentar sintomas
como ansiedade, baixa concentração, irritabilidade, mudança no apetite,
insônia, hipersônica e perda de energia (BAPTISTA; BAPTISTA, 2005, p. 155-
156).
Assim como as mudanças físicas, emocionais ou sociais, a mulher grávida,
ou o casal que se torna grávido, tem que assumir um novo papel, as
mudanças do corpo, as emoções que surgem de repente, sem ao menos
esperar, os medos, as indecisões, a ambivalência, portanto em relação ao casal
grávido, pode ser destacado as mudanças na conjugalidade, segundo
Boukobza (apud PICCININI, 2008) sabe-se que o casal, que até então eram
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dois, e se constituíam apenas como como homem e mulher, passa, com a


parentalidade, ou seja, o ser mãe e o ser pai, e isso altera toda a rotina e
dinâmica desse casal.
Em meio a tantas mudanças, há também o âmbito profissional, a mulher
ou o casal que antes eram independentes, trabalhavam, e de certa forma,
conforme a necessidade e subjetividade, usufruíam e tinham planos ligado ao
fruto desse trabalho, ao verem que alguns objetivos precisam ser suspensos,
percebe-se que algumas atividades precisam ficar pendente, também há o
fato de a mulher deixar esse emprego e se dedicar ao filho, algumas retornam
ao trabalho, outra sentem medo de perderem o cargo que antes tinham ou
até mesmo a demissão, sendo assim surgem os sentimentos de insatisfação e
frustrações. Conforme afirma Smith (apud PICCININI et, al. 2008) esse
processo geralmente é esperado, pois a mulher volta-se mais para si mesma e
para o bebê, e as demais situações passam a recebem menos atenção.
Desta forma, uma gestação faz surgir as expectativas, de como será o
percurso gestacional, a descoberta do novo, o sexo e o nome do bebê, medo
em relação a própria capacidade em ser uma boa mãe, medo e ansiedade
para o momento do parto, assim como o apoio ou não da família, além do
pós-parto, Silva e Botti (2005) citam que o sentimento de incapacidade é
frequente nas gestantes, assim como nas puérperas, pois, se dedicam a cuidar
do bebê, e espera ter apoio e reconhecimento por isso, assim como os
retornos afetivos.
Nesse contexto, também há as gestações de risco, as síndromes e
problemas de saúde que podem ser ou não, compatíveis com a vida, o aborto,
o luto perinatal, a descoberta da infertilidade, ou seja, são muitas as situações
que demandam total apoio psicológico. Segundo Sarmento e Setubal (2003),
as alterações emocionais da gravidez, parto e puerpério estão amplamente
reconhecidas, sendo que a maioria dos estudos tende para a ideia de que
esse período é um tempo de grandes transformações psíquicas, em que
decorre uma importante transição existencial.
Portanto, o psicólogo perinatal surge neste contexto e demanda para
trazer contribuições científicas que visam o bem-estar, a saúde mental e
consequentemente a saúde física de gestantes, casais e a rede de apoio que
os cercam. Trabalhando de forma a levar conhecimento com intuito
intencional de prevenir alterações emocionais graves, assim como as
patologias de ordem psíquica.
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Humanização Do Parto

Quando se fala em humanização do parto, muitas pessoas têm em


mente que é o parto realizado em casa, ou na água. A humanização se
relaciona com o respeito, respeitar as escolhas da gestante, o plano de parto,
o que ela quer e o que não quer no dia do seu parto, tanto que podem e
existem cesáreas humanizadas.
Segundo Mattar (2012), a humanização do parto é um conjunto de
fatores e condutas, o que inclui a postura e ética dos profissionais da saúde,
que se inicia desde o acolhimento da gestante ou casal, a forma que lhes são
passados as informações e orientações. Pinheiro e Bittar (2012), define como
um acolhimento de forma integral, que se inicia desde o telefonema da
gestante ao hospital, sua entrada no hospital, e esse acolhimento deve ser de
todos os profissionais ali presentes, devendo ser voltado a gestante e seus
familiares, a humanização não está apenas em gestos ou como será o parto
em si, mas de como será a conduta dos profissionais em explicar quais os
procedimentos serão realizados, assim todo o trabalho envolvido. Portanto, a
humanização do parto inclui muitos fatores, mas acima de tudo é olhar para a
mulher como um ser único, respeitando sua subjetividade e escolhas, para
que ela tenha um parto saudável e o bebê um nascimento respeitoso.
Com a falta de humanização muitas mulheres sofrem a violência
obstétrica, definida por Juarez et al. (2012), como qualquer ato realizado por
profissionais da saúde que vá contra o corpo da mulher de forma
desumanizada, contra seus processos reprodutivos, com uso de intervenções
violentas e desrespeitosa.A falta de humanização no parto diz muito a respeito
do modelo de assistência médica, neste caso o de maior ênfase pode ser
destacado o modelo biomédico, na qual se enxerga a saúde como problemas
e patologias, ou seja, o corpo da mulher é visto como uma máquina, como um
ser incapaz, para isso são utilizados métodos que façam com que essa
máquina seja mais eficiente, conforme afirma Andrade e Aggio (2014), a
mulher é uma máquina e o médico é engenheiro:
Sendo o médico o que detém todo o saber sobre ela, negligenciando
informações, emoções, sentimentos, percepções e direitos da mesma no
gestar e parir, sendo impedidas de ter a presença de acompanhante, de
decidir a posição que querem ter seus bebês e de expressar suas emoções e
sentimentos, contrariando a Política Nacional de Humanização e mudando o
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foco da mulher para o procedimento, deixando-as mais vulneráveis à violência,


silenciada pelos profissionais e pela própria parturiente. Porém, a amarga
vivência e o trauma acompanham a mulher porta a fora da instituição
(ANDRADE E AGGIO, 2014, p. 03).
Portanto, nesse modelo a mulher é vista como um ser incapaz que
depende de outras intervenções para dar conta do trabalho de parto, como:
Tricotomia: é a raspagem dos pelos pubianos. É considerada desnecessária.
Episiotomia (episio ou pique): corte no períneo (região entre a vagina e o ânus)
feito com a intenção de facilitar a saída do bebê; Enema: é a lavagem intestinal.
É incômoda e constrangedora para muitas mulheres. Proibição de ingerir
líquidos ou alimentos leves durante o trabalho de parto. Manobra de Kristeller:
é um empurrão dado na barriga da mulher com o objetivo de levar o bebê
para o canal de parto. Soro com ocitocina para acelerar o trabalho de parto.
Posição da mulher deitada de barriga para cima: é a posição mais
desconfortável para a mulher e prejudica o fluxo de sangue e oxigênio para o
bebê, aumentando a intensidade da dor. Revisão rotineira, exploração do
útero ou lavagem rotineira do útero após o parto: podem causar infecção,
traumatismo e choque. (MINISTÉRIO PÚBLICO DE PERNAMBUCO, 2015, p. 13).
Conforme apresentado acima, são intervenções que muitas mulheres
sofrem e nem sempre tem as informações de que foram realizadas de forma
indevida, caracterizando como violência obstétrica. Isso é um fator que
corrobora para este tipo de violência ser pouco reconhecida, isso acontece
também por falta de informações e orientações médicas, assim, levar
informação desse tipo paras as gestantes também é papel do psicólogo
perinatal, visto que tem como objetivo contribuir para a prevenção e
consequentemente um futuro parto respeitoso.

Acompanhamento Da Gestante No Parto

Antes de discutirmos sobre o acompanhamento psicológico da parturiente,


temos que analisar em como este profissional pode auxiliar a gestante muito
antes do dia do seu parto. Seja qual for a área de atuação, o psicólogo atuará
de forma a promover a saúde mental da comunidade em si, assim se faz na
psicologia perinatal, mas aqui o propósito é promover saúde mental das
gestantes e sua rede de apoio.
Visto que a gestante passa por inúmeras mudanças físicas emocionais e
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sociais, é necessário o apoio psicológico, assim, Maldonado (1976) afirma que


as mulheres primípara, além de filha e mulher se torna mãe; até mesmo as
mulheres multíparas, pode ser notado uma mudança, já que ser mãe de um
filho se difere de ser mãe de dois, três ou mais. Ou seja, por aí já se nota as
inúmeras ondas de mudanças enfrentadas no período gravídico-puerperal.
Antes desse dia importantíssimo para as mulheres, que é o parto, o
psicólogo pode atuar em diversas instituições com o pré-natal psicológico,
auxiliando as gestantes. O pré-natal psicológico, é um acompanhamento
complementar para a gestante, tem como intuito levar informações sobre
saúde mental, para a mesma de forma preventiva. Arrais et, al. (2014) explica
que o pré-natal psicológico é uma forma diferente de abordar uma gestante,
são atendimentos voltado para maior humanização do processo gravídico-
puerperal e da construção da parentalidade. É uma modalidade difícil de ser
encontrada nas instituições que atendem essas gestantes, mas é algo que vem
sendo difundido e sendo mostrada a importância para saúde mental de
muitas mulheres.
O psicólogo perinatal pode atuar de diversas maneiras, se for à clínica com
o intuito de psicoterapia, ocorre de forma individual, contudo pode ser
realizado em grupo também. Utiliza- se, de intervenções para o atendimento a
gestantes, casais grávidos e a rede de apoio. Segundo, Arrais; Araújo e Schiavo
(2018) é uma intervenção que tem como principal objetivo a promoção de
saúde mental, por meio de orientação e acolhimento, para a prevenção de
doenças psíquicas. Assim como, dar voz a mães e pais para falarem de suas
experiências, alegrias, medos, angústias, expectativas e tristezas, e possam ter
uma troca com outras mães e pais.
Conforme as autoras Arrais; Araújo e Schiavo (2018) esclarecem, o pré-
natal psicológico é um espaço de trocas e aprendizado, aonde acontecerá
intervenções educativas, sobre diversos temas relacionados a maternidade. É
importante o profissional analisar a demanda desse grupo de gestantes, assim
como auxiliá-las diante das alterações emocionais significativas que podem
trazer prejuízos para a saúde mental, como os contextos potenciais de crise,
além de preparar a gestante emocionalmente para o parto. O psicólogo deve
oferecer suporte para que a gestante consiga se preparar para a maternidade,
esclarecendo suas dúvidas, para que a mesma consiga tomar decisões, assim
como assumir um novo papel diante da sociedade.
O acompanhamento psicológico também visa ser um momento de reflexão
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e compreensão das mudanças, bem como, um espaço para uma fala sem
julgamento sobre seu novo papel, que é a maternidade. Promover a saúde
mental é apresentar a gestante que aquele espaço e tempo é dela, e ali ela
pode relatar suas angústias diante do ser mãe. Além de auxiliar com casos
específicos, como o planejamento familiar, quando um casal decide ter filho, e
acontece alguma intercorrência, como a gestação de risco, prematuridade,
infertilidade, luto perinatal, entre outros casos que há um envolvimento
emocional muito grande e o psicólogo auxilia neste momento que pode ser a
felicidade de descobrir a gestação, igualmente como um período de dor e
sofrimento.
Segundo Cerávolo (2019) o verdadeiro papel do psicólogo acompanhando
uma gestante com o pré- natal psicológico, ou no dia tão importante, que é o
seu parto, é oferecer suporte emocional para a parturiente, ao pai do bebê e
sua rede de apoio; identificar gatilhos emocionais que possam influenciar no
dia do parto, independente da via escolhida; facilitar modificações
comportamentais necessárias para um bom parto; minimizar o sofrimento;
intervir quando necessário para que a tríade mãe-pai-bebê iniciem um vínculo
na primeira hora do bebê; identificar a qualidade do vínculo mãe com o bebê,
inclusive para que a mãe possa amamentar; identificar a necessidade de
maiores cuidado no pós-parto, de modo a evitar a depressão e outros
transtornos.
Outro papel fundamental do psicólogo perinatal é o empoderamento das
gestantes, nas últimas décadas, muito tem se usado o termo empoderamento,
na área da saúde é utilizado como dar força e voz de ação para mulheres
diante das incertezas e conceitos já existentes. Segundo Ferreira (2012) o
empoderamento de gestantes é um processo de dar voz para que elas sejam
capazes de tomar decisões e reconhecer seus direitos, a assumir o controle
sobre os fatores que podem afetar a sua saúde física, emocional e social.
Portanto, mulheres emponderadas são capazes de se sentirem
autorrealizadas, com autonomia e independência.
Com o empoderamento as gestantes têm mais energia e motivação para
buscar pelos direitos, assim como se impor e passar pelo período gravídico-
puerperal de forma mais tranquila e assim tem a autoeficácia que é primordial
para o empoderamento de uma gestante, visto que a autoeficácia é a
capacidade do sujeito para resolução de problemas e sentir-se capaz, o que
permite a gestante conseguir gerir suas emoções e sua gestação de forma
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eficiente. Deste modo, o psicólogo por meio de intervenções deve promover o


empoderamento de gestantes e sua rede de apoio. E no dia do parto? Qual
seria o papel do psicólogo junto da parturiente? Aqui vamos nos aprofundar
neste tema, visto que são muitas as necessidades e demandas das gestantes.

O Psicólogo Na Sala De Parto

Aqui falaremos sobre o dia do parto, de como é a atuação do psicólogo


perinatal, atuando diretamente nesse contexto. A importância deste
profissional no dia do parto se destaca principalmente em propiciar um
espaço que leve segurança a parturiente, ao pai e a rede de apoio.
Nem sempre os hospitais e maternidades terão um psicólogo perinatal, sendo
assim há duas formas que essa atuação ocorre, sendo a primeira delas o
profissional que atua na clínica com psicoterapia e a pedido da gestante para
acompanhá-la em seu parto, assim como a segunda forma de trabalho, que é
aquele profissional que atua diretamente dentro de hospitais e maternidades
e faze o acompanhamento de todos os partos ou apenas de casos específicos,
como gestações de risco. Ainda no ambiente hospitalar, o psicólogo poderá
acompanhar o parto se a gestante ou a equipe médica fizer alguma
solicitação.
O fato de ser o dia do parto, de ver o bebê, antes sua imagem era apenas
imaginária e pelos ultrassons, o parto traz emoções relacionadas ao bebê real,
surgindo expectativas e questionamentos, como “Será que vai ser como
imaginei? ” “Será que vou conseguir? ” “Meu bebê vai ser saudável? ”, ou seja,
uma mulher vivenciando tudo isso, em uma sala de parto com pessoas que
não conhece, muitas vezes deixando de ser sujeito e sendo vista como objeto
e reações apenas físicas, terá sofrimento e forte influência no trabalho de
parto. Algumas das parturientes não têm ninguém como acompanhante, para
dividir tudo o que está sentindo, isso torna mais difícil o momento de trabalho
de parto, conforme afirma Klaus e Kennell (1993) estar sozinha durante o
trabalho de parto, pode ser assustador e angustiante, visto que é um
momento em que ela deseja apoio, ser motivada e valorizada.
É importante salientar que um psicólogo perinatal na cena de parto, deve
ter um olhar empático e minucioso voltado não somente para a gestante, mas,
para sua rede de apoio também, neste caso são as pessoas que estão em
volta da gestante levando conforto, como o pai do bebê, os pais da mesma,
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amigos, etc. Muitas vezes a rede de apoio se encontra tão ansiosa e aflita, que
pode desfavorecer o momento da espera e do parto, visto que a gestante já
está propensa a essas emoções. Dessa mesma forma, o psicólogo perinatal
deve estar atento às necessidades da rede de apoio e a equipe de saúde,
muitos sentem a extrema necessidade de ter um psicólogo ali, pois, assim
sabem que a gestante estará mais tranquila, e consequentemente podendo
evitar as manifestações de angústia, ansiedade, choro, pânico e medo, que
podem atrapalhar o andamento do trabalho de parto.
As autoras e psicólogas Ismael e Guidugli (2015) explicam no livro, do
Nascimento à Morte: Novos Caminhos na Prática da Psicologia Hospitalar, que
a presença do psicólogo na sala de parto, dá a possibilidade da parturiente de
expressar suas emoções, como o medo, a expectativa, o desespero, a dúvida
sobre o bebê vir ao mundo saudável, se daria tudo certo no parto, ou se pode
acontecer algo que acometa sua saúde e a do bebê. Ou seja, conforme
afirmam, o psicólogo está ali para auxiliar a parturiente a vivenciar o parto no
presente, estar ali de verdade, porque muitas não conseguem se concentrar e
focar naquele momento, então o psicólogo entra com técnicas e acolhimento,
para que a parturiente consiga se manter tranquila e vivenciar o parto de
forma estável e se sentindo segura.
Conforme Ismael e Guidugli (2015) afirmam, terão casos em que as
gestantes não veem a necessidade da psicóloga na sala de parto, e essa
decisão deve ser prontamente respeitada, assim como se prontificar a estar lá
caso ela precise, como após o parto, ou em casos específicos, na primeira
visita ao bebê que se encontra na UTI neonatal. Sendo assim o importante é
respeitar o desejo e vontades dessa mãe, ou do casal. Quando o psicólogo é
aceito na sala de parto, de forma espontânea, sempre deve ter um olhar
sensível e apurado as necessidades da parturiente, com base na ética
profissional e respeitando a equipe médica, muitas vezes a parturiente não
consegue ver o que estão fazendo com o bebê após o parto e o psicólogo
pode verbalizar de forma tranquila, como:
Informações que dizem respeito: bebê estar sendo manuseado para a
limpeza de seu corpo, para ser examinado, o fato de ter feito xixi, de ser mais
cabeludinho como ela imaginava ou não, de ser preparado para pesar, ou seja,
satisfazer a curiosidade e necessidade da mãe de conhecer esse bebê antes
que este lhe seja efetivamente apresentado, uma vez que a mãe, com metade
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de seu corpo anestesiado, não encontra ali a condição autônoma para fazê-lo
por si só, ou seja, o momento é para ser cuidada (ISMAEL; GUIDUGLI, 2015, pg.
12).
Terão casos específicos, como nos casos de gestações de risco, e gestações
em que o bebê nascerá com algum tipo de síndrome ou deficiência física, e
que a situação é delicada, o psicólogo terá o mesmo papel, que é propiciar um
ambiente tranquilo e auxiliar a parturiente a vivenciar este momento de forma
mais saudável emocionalmente, porém, deve ter um olhar ainda mais
minucioso para as alterações emocionais. Deve oferecer todo suporte a
parturiente, casal ou rede de apoio, dando a possibilidade de compartilharem
seus sentimentos, que muitas vezes são de medo, tristeza e anseio pelo o que
está por vir, a vida com um bebê que traz consigo alguma doença, muitas
vezes ainda não aceita pelos pais.
Ismael e Guidugli (2015) afirmam que em qualquer gestação, logo que é
descoberta, são depositadas todas as expectativas e sentimentos nesse bebê
que está por vir, geralmente os pais depositam as expectativas que não
conseguiram realizar, ou seja, uma projeção de sonhos e objetivos, mas ao
descobrir que o bebê tem algum problema de saúde, nesse caso as autoras
Ismael e Guidugli (2015), apresentam a cardiopatia fetal, esses mesmos pais,
não sabem lidar com o mar de emoções. Visto que ali já se encontra muitos
sentimentos, além de toda ambivalência vivenciada no período gestacional,
terão que considerar um novo modelo de vida, com adaptações, os inúmeros
pensamentos de como lidar com o que não se esperava, além de vivenciar
constantemente que este bebê tem a possibilidade de não conseguir viver
após o parto, ou até mesmo antes.
Deve ser oferecido o completo apoio emocional a gestante e sua rede de
apoio, uma vez que o nascimento de um bebê saudável, para os pais é como
se fosse um espelho, conseguem se reconhecer, se veem e projetam suas
expectativas e decisões, Ismael e Guidugli (2015) explica que, ao receberem a
notícia de estarem gestando um bebê com algum problema de saúde, ocorre
uma frustração da criança idealizada desde a infância, e passa a verem o real,
neste caso o real não é o que queriam e esperavam.
Essa é, sem dúvida, uma clínica na qual a condição emocional das
pacientes traz à tona os mais diversos conflitos, dentre eles, o principal
pesadelo que uma mulher grávida poderia ter, o de gestar um bebê
malformado (ISMAEL E GUIDUGLI, 2015, p.15).
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Logo, o real papel do psicólogo na cena do parto é encorajar as mulheres a


tomarem suas próprias decisões, priorizando sua saúde mental e física, assim
como seus desejos e vontades, para que possam ter um parto cheio de
experiências positivas, obviamente que intercorrências podem acontecer, mas
o psicólogo se encontra ali, para ajudá-la a passar com maior força, vontade,
tranquilidade e saúde emocional, de forma a sair do parto com uma
experiência positiva, para que esta parturiente possa olhar para si e consiga
refletir e lembrar, que no parto ela vivenciou de verdade, sentiu medo,
angústia, felicidade, alegria, mas com a prioridade de conseguir lidar e manejar
todos esses sentimentos, não os deixando sobrecarregá-la e tomar conta do
seu próprio corpo.

O Acompanhante Da Parturiente

Conforme abordado anteriormente, há muitas mudanças emocionais


durante a gestação e a parturiente necessita de apoio psicológico, mas e
quanto ao pai do bebê que acompanha o trabalho de parto, seria necessário
apoio para ele também? Para Maldonado (1997), a paternidade é um processo
de transição, o que pode tornar um momento de crise, como uma
possibilidade de crescimento emocional, visto que esse pai terá que assumir
uma nova responsabilidade social. Assim como foi dito, o psicólogo perinatal
oferece apoio à parturiente e sua rede de apoio também, ou seja, o futuro pai
também passa por um processo de desajuste emocional, uma vez que tem o
peso da paternidade, uma mudança de papel, o filho que passa a ser pai.
Carvalho (2001) aponta que esse novo papel que o pai assumirá, ainda
tem muita relação com provedor da família, sendo que surge um peso de
responsabilidade, com questões econômicas e sociais. Já no âmbito emocional
o homem vive o que pode ser chamado de teste, como uma avaliação de um
modelo masculino, aonde esse pai vai buscar referências com seu modelo
parental, podendo ser seu pai, avô, um tio, e até mesmo uma reflexão de
como era sua relação com sua mãe. Ou seja, enquanto uma mulher gera um
bebê, e vai criando dentro de si um modelo de mãe, o pai gesta um modelo
ideal de paternidade, mesmo sabendo que não existe um modelo perfeito,
mas ambos buscam nessa transição física, emocional e social.
Alguns homens veem esse período como uma exclusão, acreditando que
o bebê tomará seu espaço afetivo, uma vez que a mãe estará voltada aos
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cuidados do filho, e consequentemente, a mãe e o bebê se tornam o centro


das atenções da família e amigos. Portanto, o homem vivência algumas
alterações emocionais, Maldonado (1997), ao caracterizar e descrever a
síndrome de couvade, também conhecida como gravidez psicológica, aonde
alguns homens tendo dificuldade em processar tais mudanças, acabam
experimentando alguns dos sintomas. Vale ressaltar que alguns homens não
acompanham o parto por receio, pela experiência de outras pessoas que o
desencorajam com crenças e estigmas, sendo assim o papel do psicólogo
durante o acompanhamento psicológico é orientar esse homem, ou qualquer
outro acompanhante, sendo que a escolha é unicamente dessa pessoa se
participará da cena do parto.
Em uma pesquisa com acompanhantes na cena do parto, Chandler e
Field (1997), apresentaram que tais acompanhantes relataram que o trabalho
de parto foi bem mais difícil do que imaginavam, além de dizerem que teve
momentos de se sentirem ansiosos e até mesmo com raiva, da forma que os
profissionais de saúde tratavam à parturiente. Já os aspectos positivos da
participação foram referentes a acharem que tiveram mais intimidade com a
parturiente, sensação de admiração e orgulho pela força e felicidade em ver o
bebê.
Desta forma, é possível compreender que os acompanhantes de uma
parturiente também passam pelo processo de alterações emocionais, sendo
assim, este deve ser compreendido e levado em conta a sua subjetividade,
pois cada um reagirá de uma forma, em relação à cena do parto, dependerá
de informações, orientações e a capacidade emocional de cada sujeito para
passar por esse processo.

A Importância Do Preparo Do Psicólogo Perinatal Para Entrada No


Centro Cirúrgico

Podemos dizer que não é recorrente vermos nos noticiários um psicólogo


atuando dentro de um centro cirúrgico, visto que nem toda instituição de
saúde tem este profissional presente, ou seja, ali não é o habitat natural do
psicólogo, porque geralmente está atuando em outras instituições, outras
áreas, e quando é na hospitalar, dificilmente estará no centro cirúrgico,
geralmente acompanha os pacientes com intervenções para prepará-los para
tal situação.
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É importante que se este profissional que conseguiu espaço nesta área de


atuação tome os devidos cuidados éticos, assim como respeito às regras do
ambiente hospitalar. Antes de iniciar este trabalho de extrema importância e
fazer parte da equipe, é imprescindível que tenha um profissional responsável
a lhe explicar todo funcionamento do centro cirúrgico, realizar um
treinamento antes, evitando que ocorra alguma atitude que possa
desfavorecer a presença do psicólogo junto da parturiente.
Um fator que não pode ser esquecido, o psicólogo perinatal que anseie
atuar diretamente com o acompanhamento da parturiente, deve se perguntar
se está preparado para estar em um centro cirúrgico. O mesmo não está
errado em buscar saber de suas condições pessoais, afinal, deve cuidar de si,
antes mesmo de cuidar do outro. Uma vez que não tenha condições, ou não
queira atuar dentro de um hospital ou maternidade, mas almeje atuar com a
psicologia perinatal, muitos profissionais acompanham a gestante de outras
formas, na clínica, na organizacional quando se tem a oportunidade, na área
escolar, na unidade básica de saúde, entre outras.
Ser psicólogo perinatal é ver de perto a maternidade acontecer, seja ela
de forma natural ou não, é enxergar os medos, angústias, fragilidades, choros,
os fantasmas do passado ressurgindo em meio ao mar de emoções, às vezes
até mesmo a morte, entretanto também é espaço para respeitar, enxergar
risos, coragem, alegria, pois, ali nasce uma mãe, um pai, seja o primeiro filho,
ou o segundo, terceiro, enfim nasce uma família. No parto, nasce histórias,
vidas sendo resinificadas, vividas, sentidas, amadas e acima de tudo, nasce
mais experiência de um profissional em uma profissão tão linda e cheia de
vida que é a Psicologia Perinatal.

Considerações Finais

Conforme apresentado neste capítulo, o apoio psicológico no período


gravídico puerperal é de extrema relevância, visto que coopera para
prevenção da saúde mental e consequentemente saúde física. Sendo assim o
psicólogo perinatal, é o profissional apto de saber científico para auxiliar em
relação as alterações emocionais em tal período, ele atuará como mediador
em um processo de escuta e reflexão. Conforme a pesquisa, o psicólogo na
cena de parto, contribui para uma gestante mais segura e tranquila, para que
assim possa vivenciar o parto de forma saudável, porque em trabalho de parto
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há maior vulnerabilidade emocional, como o medo e ansiedade, com o apoio


psicológico a gestante pode sentir tudo isso, porém, de forma que ela saiba
dominar e manter o controle, afinal qualquer mulher pode ter expectativas e
ficar ansiosa para ver o bebê, a diferença é que junto do apoio de um
profissional, essas emoções não dominam e sim estão ali de forma amena.
São poucas as gestantes que têm a oportunidade de serem
acompanhadas por um psicólogo, pois, há poucas instituições que conhecem
este profissional e sua importância. Desta forma, é necessário maior
reconhecimento desta classe, assim como políticas públicas, para dar maior
ênfase para a psicologia atuando nesse contexto, para que assim muitas
gestantes possam ser beneficiadas com prevenção e maiores informações a
respeito da prevenção de alterações de ordem psíquica e cuidado da saúde
mental. Portanto, é imprescindível o apoio psicológico em uma fase tão
importante para mulheres, homens, casais e famílias.

MENSAGEM DA AUTORA

Querido leitor (a), se você é um estudante, ou já é um psicólogo (a), se


você está por aqui, e já chegou ao fim dessa leitura e quer atuar na Psicologia
Perinatal, não tenha medo, como pode perceber, esta área necessita de
profissionais, visto a demanda de conflitos e mudanças na vida de uma
gestante e sua rede de apoio. Espero que você tenha gostado deste capítulo, e
queira aprender ainda mais.
Se você que está lendo é uma gestante, não tenha medo, seja lá qual for
sua decisão, mas se permita sentir, vivenciar, viva cada minuto, terá dor,
contração, não tem problema chorar, gritar, pedir ajuda, simplesmente sinta e
viva, e acima de tudo cuide da sua saúde mental.
E se você for pai, se permita sentir, tudo ao lado dessa gestante, viva cada
minuto dessa aventura, ah, se quiser chorar, você pode, não tem que ser forte
o tempo todo, mas tem que viver, aqui também está nascendo algo novo,
nasce um pai, nasce uma nova missão, não tenha medo, se precisar pode
pedir ajuda, pode ter medo também, mas pode ter amor, respeito, alegrias e
tudo isso vivido de forma saudável e tranquila.
Se você querido leitor é a rede de apoio que cerca uma gestante, não a
julgue, não a maltrate, mas a ame, apoie, abrace e às vezes simplesmente use
do silêncio, ele em algumas ocasiões tem as respostas, cuide dela, deles, do
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casal grávido, leve amor, não diminua a dor de perder e de amar o bebê que
se foi, mas a abrace e diga que a entende e se você não entende e está
sofrendo também, tudo bem, mas não a julgue, não tenha vergonha de dizer
que também precisa de ajuda, afinal todos nós precisamos em algum
momento.
Simplesmente se permitam, se consintam viver e conhecer este
profissional que ajudará a todos a passar por esse momento, que é a chegada
de um bebê de forma tranquila e saudável, a você mãe, pai e rede de apoio.
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