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Instituto Politécnico de Beja

Escola Superior Agrária de Beja

CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO


FUNCIONAMENTO DO PROCESSO DE TRATAMENTO DE
GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Ana Maria Ferreira Chaveiro Espinho

Orientadores:
Professora Maria Adelaide Almeida
Engenheiro Nuno Soares

Curso de Licenciatura em Engenharia do Ambiente

Beja, Setembro de 2011


CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO DE
TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Dedico este trabalho final ao meu pai,


que se tornou na minha estrela guia e no meu anjo da guarda.
Foi ele que me ensinou a ser quem eu sou hoje,
e foi por ele que nunca desisti de chegar ao fim
pois ele sempre acreditou nas suas filhas.
Pai, vou amar-te para sempre!

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO DE
TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

AGRADECIMENTOS

Terminado este trabalho, quero expressar os mais sinceros agradecimentos a todos os que, de
forma directa ou indirecta, contribuíram para que a sua realização fosse possível.
À Professora Maria Adelaide Almeida, um agradecimento muito especial, pelos conselhos e
incentivos que me deu, por toda a disponibilidade demonstrada sempre que foi necessário, por
todo o apoio, por todos os conhecimentos que me transmitiu, as dúvidas que esclareceu, e por
tudo aquilo que fez para que este trabalho decorresse sempre da melhor forma possível.
À empresa Simarsul, na pessoa Eng.ª Cristina Santos, pela possibilidade que me foi dada de
poder utilizar as instalações da Simarsul e ao Eng.º Nuno Soares por toda a disponibilidade,
atenção e colaboração prestada. Também agradeço a todos os operadores da ETAR do
Seixalinho que sempre se mostraram disponíveis para me ajudar e muitas vezes me
esclareceram dúvidas tendo demonstrado um enorme companheirismo de trabalho.
Ao laboratório de Águas da Escola Superior Agrária de Beja e respectivos funcionários por
terem disponibilizado o laboratório, todos os equipamentos, reagentes e material de
laboratório utilizados nos ensaios laboratoriais.
A todos os meus amigos principalmente à Andreia Galvão e Leonel Silva, pelas palavras,
companheirismo e pelos momentos de diversão.
Aos meus amigos de turma (Eva Gomes, Daniel Valente, Melody Resende, Márcia Farta, Cátia
Aleixo, Ana Rosa, Pedro Castanheiro, Andreia Guedelha, Tiago Santos, Francisco Santos, Cláudia
Colaço, Cláudia Pessoa e Clarisse Mourinha), que me ajudaram a não sentir tanta falta de casa e
que se mostraram ser amigos para toda a vida, que nunca irei esquecer.
Um obrigado á minha irmã, Maria José, e ao meu cunhado pela amizade demonstrada e pelo
apoio que sempre me souberam dar nos momentos mais difíceis da minha vida. Aos meus
sobrinhos, Rita e João, que sempre conseguiram fazer-me sorrir!
Um muito obrigado também aos restantes familiares, sobretudo á minha avó.

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Ao Luís, por cada minuto que eu estive ausente e que ele entendeu, de uma maneira directa
e/ou indirectamente esteve sempre presente e apoiou-me em tudo com a sua amizade,
paciência, compreensão e amor.
Finalmente, quero agradecer á minha mãe, pelo apoio incondicional, pelo esforço, pela enorme
paciência, compreensão, motivação e carinho. Pela educação que me deu e pela pessoa que me
ensinou a ser, sem ela não seria possível ter chegado onde cheguei.

A todos, MUITO OBRIGADA!

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

RESUMO

O tratamento de gorduras de Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR’s) tem como


objectivo a diminuição da deposição em aterro sanitário de produtos gerados pelos
tratamentos das ETAR’s e deste modo aumentar o tempo de vida útil dos aterros sanitários.
Avaliou-se o funcionamento do sistema de tratamento das gorduras da ETAR do Seixalinho
entre o período de Junho e Julho de 2011, recorrendo-se à informação cedida pela empresa
Simarsul e a testes laboratoriais realizados no laboratório de águas do Instituto Politécnico de
Beja.
Neste trabalho, os parâmetros CQO, pH, CBO 5 e gorduras realizados no laboratório de águas do
Instituto Politécnico de Beja demonstraram dados susceptíveis de serem bem tratados, tendo
sido sempre possível fazer comparação entre entrada/saída dos respectivos reactores e foram
de encontro ao que era esperado. Já na realização do ensaio de oxigénio presente nas
amostras, não se obteve os valores esperados uma vez que se esperava existir oxigénio nas
duas amostras referentes ao reactor “Carbofil” assim como se esperava ter um potencial redox
nestas amostras positivo e este não se verificou.

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

ABSTRACT

The treatment of fat Stations Wastewater Treatment (WWT) is aimed at reducing the landfill of
products generated by treatment of the WWT and so increases the lifespan of landfills.
We evaluated the operation of the treatment of fats from the WWT Seixalinho between June
and July 2011, by resorting to information offered by the company Simarsul and laboratory
tests performed in laboratory waters of the Instituto Politécnico de Beja.
In this paper, the parameters COD, pH, BOD 5 and fats performed in laboratory waters of the
Instituto Politécnico de Beja showed data that could be treated well and was always possible to
make comparison between input / output of its reactors and were against what was expected.
In the main test of oxygen present in the samples did not obtain the expected values was
expected since there is oxygen in the reactor for the two samples “Carbofil” just as expected
have a positive redox potential in these samples and this has not happened.

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LISTA DE SIGLAS

ETAR - Estação de Tratamento de Águas Residuais


Simarsul – Sistema Multimunicipal de Saneamento de Águas Residuais da Península de Setúbal
STV – Sólidos Totais Voláteis
SSV – Sólidos Suspensos Voláteis
CQO – Carência Química em Oxigénio
CBO5 – Carência bioquímica de oxigénio
S.B.R. – “Sequential Bach Reactor”
AGV – Ácidos gordos voláteis
O&G – Óleos e Gorduras
Tr – Tempo de retenção

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ÍNDICE GERAL

OBJECTIVO .............................................................................................................................. 1

1.INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 2

2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................................... 4

2.1 Os lípidos ....................................................................................................................... 4

2.2 Problemas operacionais causados por efluentes contendo óleos e gorduras.................... 8

2.3 Tratamento biológico de gorduras ................................................................................ 10

2.3.1 Tratamento biológico anaeróbio de gorduras ......................................................... 10

2.3.2 - Tratamento biológico aeróbio de gorduras ........................................................... 13

3. APRESENTAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO – ETAR DO SEIXALINHO ......................................... 14

3.1 ETAR do Seixalinho ....................................................................................................... 14

3.2 Caracterização da infra-estrutura.................................................................................. 15

3.3 Descrição resumida das etapas de tratamento da ETAR do Seixalinho ........................... 16

3.4 Desengorduramento .................................................................................................... 24

3.4.1 Aspectos Gerais: .................................................................................................... 24

3.5 Sistema de tratamentos de gorduras existente na ETAR do Seixalinho ........................... 26

3.5.1 Linha de tratamento .............................................................................................. 27

3.5.2 Características de dimensionamento ...................................................................... 30

4. MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................................... 32

4.1 Amostragem ................................................................................................................ 32

4.2 Amostras físico-químicas realizadas .............................................................................. 34

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DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

4.2.1 Determinação do pH.............................................................................................. 34

4.2.2 Determinação de potencial redox .......................................................................... 34

4.2.3 Determinação de azoto Kjedhal ............................................................................. 34

4.2.4 Determinação de fósforo total ............................................................................... 35

4.2.5 Determinação de carência bioquímica de oxigénio ao 5º dia ................................... 36

4.2.6 Determinação de carência química de oxigénio ...................................................... 36

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................ 37

6. CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 45

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 46

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Esquema do tratamento das gorduras (fonte: Simarsul, 2010) ................................ 10


Figura 2 - Esquema de tratamento da fase líquida da ETAR do Seixalinho ................................ 16
Figura 3 - Esquema de funcionamento de uma célula S.B.R. (fonte: Simarsul, 2010) ................ 17
Figura 4 – Esquema de funcionamento da fase líquida da ETAR do Seixalinho (fonte: Simarsul,
2010)..................................................................................................................................... 19
Figura 5 - Esquema de tratamento da fase sólida da ETAR do Seixalinho ................................. 21
Figura 6 – Esquema de funcionamento da fase sólida da ETAR do Seixalinho (fonte: Simarsul,
2010)..................................................................................................................................... 22
Figura 7 – Esquema de funcionamento do tratamento de gorduras ........................................ 27
Figura 8 – Esquema do digestor aeróbio das gorduras (fonte: Simarsul, 2010)......................... 29
Figura 9 – Esquema do digestor de gorduras (fonte: Simarsul, 2010) ....................................... 29
Figura 10 – Sistema de tratamento de gorduras ..................................................................... 33
Figura 11 – Esquema da amostragem ..................................................................................... 33
Figura 12 – Variação da CQO à entrada e saída do tanque de hidrólise .................................... 40
Figura 13 – Variação da CQO à entrada e saída do Carbofil ..................................................... 42
Figura 14 – Variação da CQO à entrada e saída do Carbofil ..................................................... 42

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Razões da variação do pH num reactor anaeróbio e sua possível correcção.Fonte:


(adaptado de Scriban, 1985) .................................................................................................. 12

Tabela 2 – Valores adoptados para o dimensionamento do tratamento das gorduras (fonte:


Simarsul, 2010) ...................................................................................................................... 30

Tabela 3 – Valores de eficiência de remoção (fonte: Simarsul, 2010)....................................... 31

Tabela 4 – Caracterização da água residual bruta afluente à ETAR .......................................... 37

Tabela 5 – Caracterização da água residual tratada................................................................. 37

Tabela 6 – Eficiência do tratamento ....................................................................................... 38

Tabela 7 – Variação da CQO á entrada e saída do tanque de hidrólise ..................................... 39

Tabela 8 – Concentração de gorduras ao longo do tratamento ............................................... 41

Tabela 9 – Variação da CQO á entrada e saída do Carbofil ...................................................... 41

Tabela 10 – Concentração de sólidos suspensos totais ............................................................ 43

Tabela 11 – Concentração de sólidos voláteis ......................................................................... 43

Tabela 12 – Variação da CBO5 ao longo do tratamento ........................................................... 44

Tabela 13 – Variação da concentração dos sólidos voláteis com o arejamento ........................ 44

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO DE
TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

OBJECTIVO

Este trabalho teve como objectivo geral estudar o processo de tratamento de gorduras da
ETAR do Seixalinho (Montijo) e averiguar quais os principais problemas no funcionamento
do tanque de hidrólise e no tanque de oxidação (Carbofil) de modo a propor possíveis
alterações com o objectivo de aumentar a eficiência do processo.

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1.INTRODUÇÃO

No quotidiano da nossa vida, a comunidade produz resíduos, tanto podem ser sólidos como
líquidos. A parte líquida pode-se considerar as águas residuais, às quais chamamos muitas vezes
“águas sujas”, isto é, estas águas ficaram contaminadas após utilização em diferentes fins. Uma
água residual pode ser urbana e industrial (Metcalf e Eddy, 2003).
O objectivo principal no tratamento de uma água residual, é a protecção do meio ambiente,
mas nem sempre é fácil, pois os meios económicos, políticos e sociais, vão influenciar em
muito, o funcionamento de um sistema de tratamento de águas residuais (Metcalf e Eddy,
2003).
As águas residuais são efluentes líquidos resultantes das diversas actividades, funções vitais ou
ocorrências ligadas à vida do homem e das comunidades humanas. Apresentam um aspecto
repulsivo, e para além disso são perigosas para a saúde humana, devido principalmente ao
elevado número de organismos patogénicos que podem conter, e classificam-se em:
- Águas residuais domésticas: as que provêm de instalações sanitárias, cozinhas e zonas de
lavagem de roupas e que se caracterizam por conterem quantidades apreciáveis de matéria
orgânica e por serem facilmente biodegradáveis e de composição pouco variável.
Águas residuais industriais: as que derivam da actividade industrial e que se caracterizam pela
diversidade dos compostos físicos e químicos que contêm, dependentes do tipo de indústria e
de processamento industrial, e por a sua composição ser sujeita, em geral, a uma acentuada
variabilidade.
- Águas pluviais: as que resultam da precipitação atmosférica caída directamente no local ou
em bacias limítrofes contribuintes e apresentam geralmente pequenos teores de matéria
poluente, particularmente de origem orgânica. Consideram-se equiparadas a águas pluviais as
provenientes de regas de jardim e espaços verdes, de lavagem de arruamentos, passeios, pátios
e parques de estacionamento, normalmente recolhidas por sarjetas, sumidouros e ralos (Dias,
2008).

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DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

A composição de uma água residual reflecte a sua constituição física, química e biológica. O
tratamento deste tipo de água é muito importante na prevenção da saúde pública, no combate
à poluição dos recursos hídricos e do ambiente em geral e na protecção das águas
subterrâneas. O seu tratamento é efectuado em Estações de Tratamento de Águas Residuais
(ETAR). As ETAR’s têm como objectivo tratar, permitindo uma possível reutilização destas,
através de um processo longo e faseado.
Na selecção do sistema de tratamento deve-se ter em atenção: o tipo de população servida
pelo sistema de tratamento, o caudal, a composição típica da água residual bruta a tratar
(concentração de CBO5, CQO e sólidos em suspensão), a presença ou não de substâncias tóxicas
(metais pesados, cianetos e sulfuretos) que em determinadas concentrações poderão afectar
os microrganismos presentes no tratamento biológico que possa ser introduzido, a necessidade
de afinação do efluente (remoção de nutrientes e desinfecção). Devem ser ainda consideradas
as concentrações finais pretendidas para cada componente, de modo a fixar o grau de
eficiência a atingir segundo o decreto-lei nº157/97 (Almeida, 1999).

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DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O principal objectivo de uma ETAR, é o tratamento de águas residuais, de modo a que o


efluente tratado possa sofrer uma deposição final de acordo com as normas estabelecidas,
evitando assim impactos adversos no ecossistema do meio receptor. No decurso deste
tratamento são produzidos resíduos, aos quais é necessário que se proceda ao seu tratamento,
para que não sejam encarados como matérias indesejáveis, mas sim como subprodutos,
podendo ser utilizados em outras áreas. Neste trabalho procura-se dar uma solução às
gorduras e óleos que resultam da operação de desengorduramento.
Os contaminantes como gorduras e óleos, encontram-se entre as maiores fontes de
contaminação do solo e das águas superficiais. Produzidas a partir de diversas actividades
industriais e domésticas, estas gorduras e óleos estão presentes em quantidades significativas
em vários efluentes, como por exemplo, os gerados por indústrias de processamento de
alimentos, de cosméticos e restaurantes em geral. Por apresentarem baixa degradabilidade na
natureza, as gorduras e óleos tem sido objecto de constantes pesquisas, com desenvolvimento
de tecnologias que visem um equilíbrio entre o binómio custo “versus” eficiência de remoção
(Veiga, 2003).

2.1 Os lípidos

De um modo bastante amplo, o termo lípido engloba numerosas substâncias gordurosas


existentes nos reinos vegetal e animal (do grego lipos, gordura). São substâncias untuosas ao
tacto, deixam manchas translúcidas sobre o papel (“mancha de gordura”), são insolúveis em
água e solúveis nos solventes orgânicos (éter, clorofórmio, benzeno, etc.). Indispensáveis à
alimentação do Homem e animais, os óleos e gorduras são também matéria-prima para a
fabricação de sabões, sabonetes e outros produtos de limpeza e beleza.

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Os lipídios podem ser classificados primeiramente em simples ou complexos. Os lípidos simples


por hidrólise originam um álcool e um ou mais ácidos gordos sendo que os lípidos complexos
por hidrólise libertam também ácido fosfórico, oses, etc. (Campos, 1997).
Os lípidos formam um grupo muito heterogéneo de compostos de estrutura muito diversa, e
que foram agrupados devido à sua insolubilidade na água e solubilidade nos solventes
orgânicos (éter, acetona, etc.) (Campos, 1997).
Os lípidos podem ser classificados como (Campos, 1997):
- Ácidos gordos;
- Glicerolípidos;
- Esfingolípidos;
- Céridos;
- Hidrocarbonetos;
- Lípidos poli-isoprénicos;
- Esteróis, esteróides e derivados;

Os lipídios são ésteres resultantes da reacção de esterificação de álcool e ácidos gordos de


cadeia mais ou menos longa que pode, em alguns casos, ser combinados com outros
elementos. A reacção de esterificação é o seguinte (Canler, 2001):

Álcool + ácidos gordos Ester + água

Na entrada do afluente bruto, os lipídios são principalmente de origem animal ou vegetal.


Também chamados de gordura são principalmente compostos de triglicéridos (Canler, 2001).
Nos lipídios simples, o álcool mais frequente é a glicerina, também chamada de glicerol (Veigas,
2003).
Falando agora de ácidos gordos, estes são definidos como qualquer ácido monocarboxilico
afilático que pode libertar-se por hidrolise a partir de óleos e gorduras saturadas, os mais
importantes possuem um número par de átomos de carbono (Campos, 1997).

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Os ácidos gordos servem como alimento para muitos microrganismos e são oxidados a dióxido
de carbono e água. Acredita-se que a taxa de oxidação aumente na presença de ligações
insaturadas. A taxa de ataque biológico sobre ácidos gordos de alta massa molecular é
frequentemente limitada pela sua solubilidade em água. Este é um problema particular em
digestão de lamas, onde materiais gordurosos tendem a flotar, separando-se através de
escumas (Sawyer, et al, 1994).
Nos processos de degradação biológica de substratos orgânicos, a cinética das reacções
envolvidas na metabolização das moléculas, é função, entre outras, do tamanho das cadeias de
carbono presentes, do número de ramificações e insaturações constituídas na molécula e da
complexidade estrutural da mesma. Sendo assim, os ácidos gordos, compostos por longas
cadeias serão mais facilmente metabolizados por processos naturais biológicos do que aqueles
de cadeias de mesmo tamanho, contendo apenas ligações carbono-carbono (c-c) simples
(gordura animal). Geralmente as ligações insaturadas de compostos orgânicos são mais
facilmente oxidadas por bactérias do que as saturadas, uma vez que as forças (forças intra-
moleculares que são mais instavéis) que envolvem uma ligação insaturada são menores
(Sawyer et al, 1994).
O grau de saturação da cadeia de carbono, significa a presença ou ausência de duplas ligações.
Fala-se de:
- Ácidos gordos saturados quando não há nenhuma ligação dupla na cadeia de hidro-carbono. A
cadeia alifática está saturada e sua fórmula é do tipo CnH2nO2;
- Ácidos gordos insaturados possuem uma ou mais ligações duplas (polinsaturados) (Canler,
2001).
Pode-se então classificar os ácidos gordos em saturados ou insaturados em relação à sua
facilidade de degradação biológica natural (Veigas, 2003).
O comprimento da cadeia de carbono, grau de saturação desta e isomerização terá uma
importante influência sobre as propriedades de ácidos gordos e lípidos. Com efeito:
- A insolubilidade em água dos ácidos gordos aumenta com o número de átomos de carbono
que constitui a molécula;

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- A biodegradabilidade dos ácidos gordos é facilitada quando eles contêm ácidos gordos
insaturados. Em contraste, ácidos gordos saturados tem mais estabilidade e sua assimilação é
mais difícil.
- O ponto de fusão aumenta com o comprimento da cadeia de carbono e diminui com o
número de ligações duplas. A temperatura de solidificação de alimentos gordurosos variar com
a composição dos ácidos gordos.
Ácidos gordos saturados são sólidos à temperatura normal. Em contraste, ácidos gordos
insaturados são líquidos à mesma temperatura, é o caso dos óleos (Canler, 2001) .
Os óleos e gorduras (que fazem parte do grupo dos lípidos), quando não são correctamente
removidos na operação de desengorduramento, são os responsáveis pelas alterações dos
parâmetros de controlo ambiental como pH, sólidos totais, carência bioquímica de oxigénio
(CBO), carência química de oxigénio (CQO), entre outros (Pereira, 2004)
Do ponto de vista químico, verifica-se que os óleos são formados, principalmente, por ésteres
de ácidos insaturados (ligações carbono-carbono com duplas ou triplas ligações), enquanto as
gorduras são formadas por ésteres de ácidos saturados (ligações carbono-carbono com apenas
ligações simples) (Veigas, 2003).
Os óleos e gorduras contidos nos afluentes interferem negativamente nos Sistemas de
Tratamento de Águas Residuais. Quando os tratamentos são biológicos, dificultam a
sedimentação das lamas, aumentam o tempo de retenção e o arejamento e quando os
tratamentos são físico-químicos, aumentam a quantidade de produtos floculantes com
significativo aumento na geração de lamas (Lie & Molin, 1991).
Desta forma, têm sido utilizados processos alternativos na redução da concentração de óleos e
gorduras contidos nesses afluentes.

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2.2 Problemas operacionais causados por efluentes contendo óleos e gorduras


- Problemas operacionais em redes de esgotos:
Efluentes das indústrias de alimentos, em geral, apresentam facilidade de degradação por via
biológica, uma vez que a maior parte da carga a ser digerida é de natureza orgânica
biodegradável.
Na preparação de alimentos, são diversas as operações que contribuem para a produção de
efluentes que contribuem para a deficiência da actividade dos microrganismos nos tratamentos
biológicos, tais como gordura animal, vegetal, detergentes e lubrificantes.
Podemos citar como exemplos, entre outras, as lavagens e desinfecções frequentes de
equipamentos e utensílios de cozinha, a lavagem de pavimento, quebra de embalagens
contendo óleos e gorduras e a lubrificação de correias transportadoras. A deficiência na
segregação de restos de alimentos, assim como a utilização actual de trituradores de alimentos
em lavatórios, contribui para a redução do tempo de retenção do efluente nas caixas de
gordura, obrigatória a todos os estabelecimentos que gerem efluentes que possam conter
gorduras/óleos. Como consequência directa, há o aumento da carga orgânica lançada nas
estações de tratamento biológico e/ou nas redes de esgotos a jusante.
Nas etapas de limpeza, o principal objectivo é a remoção de resíduos orgânicos e minerais
aderidos às superfícies, sendo as proteínas, gorduras, amido e os sais minerais, os principais
resíduos após a remoção dos sólidos de restos de alimentos.
As gorduras, à temperatura ambiente, encontram-se na forma sólida. Porém, a altas
temperaturas saturam rompendo-se ligações químicas e liquefazendo-se. Há assim uma grande
liberação de gordura quando, por exemplo, carnes gordas, tais quais as suínas, bovinas e de
aves, são levadas a serem fritas ou assadas em fornos. Estas gorduras, depositadas em
fritadeiras, assadeiras, bandejas e utensílios, serão posteriormente removidas através das
lavagens e esterilizações destes, com detergentes, água quente, etc. Os frequentes processos
de lavagens com água quente, ou seja, com temperaturas em torno de 80 a 90 °C, além de
promoverem a desinfecção dos utensílios, facilitam a remoção de óleos e gorduras presentes
nos mesmos. Quando gerados, estes efluentes gordurosos e quentes percorrem a superfície

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DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

interna das tubagens da rede de esgotos, propiciando a remoção superficial das gorduras ali já
depositadas, sob a forma sólida. À medida que estes efluentes perdem calor ou arrefecem, as
moléculas de gordura ali presentes retornam à forma sólida, entupindo as tubagens e
contribuindo para os constantes entupimentos de pias, ralos e redes de esgotos (Veigas, 2003).

- Redução e acumulação de óleos e gorduras em redes colectoras:


Gorduras presentes nos efluentes possuem um baixo coeficiente de biodegradabilidade. Além
disto, as gorduras podem solidificar a baixas temperaturas e causar problemas operacionais tais
como entupimentos nas redes colectoras, no sistema de bombeamento do efluente e nas
estações elevatórias, além de provocar o desenvolvimento de odores desagradáveis,
representando também, um sério problema para os processos de digestão biológica nas ETAR’s.
Teores elevados de óleos e gorduras (O&G) presentes no efluente, provocam a flotação das
lamas, o desenvolvimento de lamas com diferentes características físicas ou pobres em
actividade, ocasionando perda de biomassa do reactor através de processo de arraste,
diminuindo sua quantidade no interior do mesmo, assim como reduzindo a eficiência do
tratamento biológico. Além do mais, óleos e gorduras adsorvidos na superfície da lama, podem
limitar o transporte de substratos solúveis para a biomassa e consequentemente reduzir a taxa
de conversão de substrato (Veigas, 2003).

- As gorduras podem funcionar como um substrato para o crescimento de alguns organismos


filamentosos hidrofóbicos afectando a decantação das lamas (Canler, 2001).

- Nos tanques de arejamento, elas reduzem a transferência de oxigénio em dois diferentes


níveis: ao nível de floculação, por adsorção (criação de um filme de lípidos que reduz a
transferência de oxigénio dissolvido) e ao nível da superfície da bacia pela constituição de um
filme entre ar e água (Canler, 2001).

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

- Quando gorduras estão presentes em concentrações muito elevadas nas lamas, elas afectam
o desempenho de desidratação. Elas também penalizam a fase de espessamento pelo seu
rápido desenvolvimento no ambiente anaeróbico (Canler, 2001).

2.3 Tratamento biológico de gorduras

Os óleos e gorduras presentes nos efluentes são em regra removidos nas operações de pré-
tratamento existentes nas ETAR’s, nomeadamente no desengorduramento, pois a sua presença
no efluente vai comprometer o tratamento posterior, que geralmente ocorre por processos
biológicos.
Estes resíduos podem ser encaminhados para aterro ou tratados por processos biológicos
anaeróbios e aeróbios, como podemos ver na figura 1.

Figura 1 – Esquema do tratamento das gorduras (fonte: Simarsul, 2010)

2.3.1 Tratamento biológico anaeróbio de gorduras

Este tratamento é composto somente pela hidrólise das gorduras no reactor anaeróbio, como
podemos ver na figura 1, e consiste na quebra das ligações dos glicéridos, através da acção de

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

enzimas hidrolíticas, em ácidos gordos e glicerol. As enzimas hidrolíticas extracelulares


utilizadas no reactor de hidrólise degradam compostos de elevado peso molecular (hidratos de
carbono, proteínas e lípidos) em compostos monoméricos e oligoméricos solúveis (Silveira,
2009).
O bom funcionamento da hidrólise está dependente do contacto eficiente entre biomassa e o
susbstrato (Angelidaki e Sanders, 2004). O processo de hidrólise envolve várias fases, tais como:
produção de enzimas, difusão, adsorção, reacção e a desactivação da enzima (Vavilin et al.,
2008). Por sua vez a eficiência da actividade enzimática está dependente, de um modo geral, de
vários factores como composição e concentração do substrato, produção e estabilização das
enzimas, disponibilidade do substrato, pH, temperatura e concentração de ácidos gordos
voláteis (Silveira, 2009).
A função biológica das enzimas que actuam na hidrólise é basicamente catalisar a hidrólise de
triglicerídeos insolúveis para gerar ácidos gordos livres, mono e digliceróis e glicerol (Veigas,
2003).
Entre as características importantes no tratamento anaeróbio destacam-se: pH, alcalinidade,
nutrientes inorgânicos, temperatura e a eventual presença de compostos potencialmente
tóxicos (Soares & Hirata, 1999).
Entre os parâmetros importantes da hidrólise podemos citar:
- Temperatura: as bactérias são bastante sensíveis a variações, especialmente a elevações de
temperatura, as quais devem, portanto, sempre ser evitadas. O processo pode ocorrer nas
faixas mesofílica (15°C a 45ºC) ou termofílica (50°C a 65ºC) de temperatura. Muito mais
importante, porém, do que operar na temperatura óptima é operar sem variações significativas
na temperatura. As temperaturas mais distantes da ambiente provocam variações muito
grandes e afectam o processo (Scriban, 1985).
- pH: o pH é um dos factores mais importantes a ser mantido para se obter uma boa eficiência

do processo. No tratamento anaeróbio, a faixa de pH óptimo é o resultado das diversas


reacções que ocorrem no processo. A faixa de operação dos tanques de hidrólise é em pH entre
6.0 e 8.0, tendo como ponto óptimo pH 7.0 – 7.2. Fora destes limites, a hidrólise pode realizar-

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

se, mas com menor eficiência. As possíveis causas de variação do pH e suas possíveis
correcções resumem-se na Tabela 1 (Scriban, 1985).

Tabela 1 - Razões da variação do pH num reactor anaeróbio e sua possível correcção.Fonte:


(adaptado de Scriban, 1985)

- Alcalinidade: a alcalinidade é um indicador da estabilidade do processo, permitindo


antecipadamente determinar qual a tolerância em ácidos gordos voláteis para que o pH se
mantenha na gama pretendida, actua como a capacidade tampão do processo (Alves, 1998).
- Agitação: permite melhorar a produtividade assegurando boa homogeneidade do conteúdo
do tanque de hidrólise e facilitando as trocas térmicas. Além disso, ela permite assegurar, em
parte, a desgasificação dos resíduos. Essa agitação pode ser feita mecanicamente ou por
simples recirculação do efluente (Scriban, 1985).
- Nutrientes: a concentração de nutrientes presente no tanque de hidrólise tem uma
importância crucial no desempenho do processo, uma vez que são essenciais para assegurar o
crescimento microbiano e a síntese de enzimas. Os nutrientes necessários em maior
quantidade, durante o processo, são o azoto e o fósforo (Silveira, 2009). As concentrações de
carbono e azoto determinam, muitas vezes, o desempenho do processo, uma vez que um
destes elementos constitui normalmente um factor limitante. O carbono constitui a fonte de
energia para os microrganismos, enquanto que o azoto estimula o crescimento microbiano. Se

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

a concentração de azoto for limitante, as populações microbianas permanecem em número


reduzido demorando mais tempo a decompor o carbono disponível (Igoni et al., 2008)
As cargas volúmicas aplicadas ao reactor de hidrólise situam-se entre 5 e 10 kg de CQO/m3. As
condições ideais são um pH entre 6 e 8, a uma temperatura entre 30 e 40 ° C e um potencial
redox inferior a 350 mV.

2.3.2 - Tratamento biológico aeróbio de gorduras

A gordura passa primeiramente por um tratamento biológico anaeróbio onde as gorduras vão
ser hidrolisadas com enzimas chamadas hidroliticas (corte ao nível das ligações éster) para
formar glicerol e ácidos gordos (ver figura 1). As enzimas, em seguida, irão catalisar a hidrólise
destes ácidos gordos principalmente os de longa cadeia por uma sucessão de cortes oxidativos
(mecanismo de Beta-oxidação) para formar acetil um passo prévio da respiração, levando à
formação de CO2, água e a energia necessária para a multiplicação de células. Estas reacções
são anaeróbias e exigem um suprimento de oxigénio (Canler, 2001).
Ácidos gordos saturados ou insaturados, lançados durante a hidrólise são transformados em
ácidos gordos saturados antes da oxidação. Esta reacção de oxidação intracelular, leva à
degradação do ácido gordo e formação de CO2, água e biomassa. Esta reacção é mais eficiente
quando o comprimento da cadeia de ácidos gordos de carbono diminui e que o meio é aeróbio.
Em reactores de tratamento biológico aeróbio de gorduras, o sistema é estabilizado e adaptado
em relação ao substrato para degradar, recorrendo á biomassa do tratamento de lamas
activado (Canler, 2001).

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

3. APRESENTAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO – ETAR DO SEIXALINHO

O presente trabalho foi realizado no município do Montijo, freguesia do Seixalinho, tendo a


duração de dois meses. Decorreu entre o dia 6 de Junho de 2011 e 29 de Julho de 2011.

3.1 ETAR do Seixalinho

A estação de tratamento de águas residuais do Seixalinho, é actualmente gerida pela Simarsul.


A Simarsul, empresa do grupo Águas de Portugal, é concessionária do Sistema Multimunicipal
de Saneamento de Águas Residuais da Península de Setúbal e abrange os municípios de
Alcochete, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela, Seixal, Sesimbra e Setúbal.
Esta empresa procura e desenvolve soluções técnicas adequadas e com economia de escala,
através de uma gestão integrada e profissionalizada, racionalizando investimentos, tendo como
objectivo o cumprimento da licença de descarga para o rio Tejo. A Simarsul, com este
empreendimento, está a contribuir para a despoluição da Bacia do rio Tejo, para a preservação
dos ecossistemas associados, para a melhoria das condições sanitárias e da qualidade de vida
da população local, dando uma Nova Vida à Península de Setúbal.
Este sistema integrado de saneamento, com uma área total de 1.450 km 2, engloba a construção
e beneficiação de um conjunto de infra-estruturas, para permitir aumentar o nível de
atendimento em drenagem e melhorar o tratamento de águas residuais da população da
região. A ETAR do Seixalinho localiza-se no concelho de Montijo, freguesia de Montijo. A ETAR
está inserida no Subsistema do Seixalinho que inclui, além desta infra-estrutura, cerca de 6 km
de emissários e condutas elevatórias e 4 Estações Elevatórias (Simarsul, 2010).
A infra-estrutura tem uma capacidade, no ano horizonte de projecto, de 14.400 m 3/dia para
tratamento de águas residuais urbanas, correspondentes a 48.000 habitantes equivalentes
(Simarsul, 2010). Serve parte dos Concelhos de Montijo e Alcochete, e está desde concebida
para uma eventual ampliação para 65000 habitantes. O nível de tratamento instalado é

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

terciário dado que dispõe de desinfecção final e remoção de nutrientes, estando a ETAR
também dotada de um sistema de desodorização (Simarsul, 2010).
A visualização do esquema de tratamento da ETAR de Seixalinho pode ser visualizada na parte
dos anexos, onde se encontra o perfil hidráulico da mesma (anexo 1).

3.2 Caracterização da infra-estrutura

A fase líquida da ETAR é constituída por duas linhas paralelas, existindo ainda uma linha de
tratamento para a fase sólida e outra linha de tratamento de odores.
Os principais órgãos que compõem a ETAR são os seguintes:
• 1 equipamento compacto de recepção de efluentes de fossas sépticas;
• 1 tanque de hidrólise e 1 digestor aeróbio de gorduras;
• 2 tamisadores e 2 desarenadores/desengorduradores;
• 1 lagoa de equalização/homogeneização, com 4 arejadores;
• 4 SBR (reactor biológico sequencial) precedidos de selector biológico e com arejamento por
difusores;
• 1 sistema de desinfecção por ultravioleta;
• 1 espessador gravítico;
• 1 tanque de armazenamento de lamas;
• 2 centrífugas;
• 2 silos de armazenamento de lamas;
• 1 silo de cal;
• 1 sistema de desodorização por via química (Simarsul, 2010).

Reutilização
A ETAR está dotada de um sistema de reutilização de água de serviço, composto por um
reservatório e sistema de pressurização do efluente desinfectado, garantindo a qualidade
adequada para uso interno na ETAR (Simarsul, 2010).
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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

3.3 Descrição resumida das etapas de tratamento da ETAR do Seixalinho

Fase líquida

As águas residuais afluentes à ETAR são submetidas a uma operação de gradagem para
remoção de sólidos grosseiros. Trata-se de uma gradagem fina, mecânica e desarenamento em
estação compacta. O tratamento preliminar funciona em duas linhas, sendo que a gradagem a
montante é manual. Também no tratamento preliminar existe um medidor de caudal. Os
sólidos removidos são descarregados para telas transportadoras sendo colocados em
classificadores de areias, tendo como destino final aterros sanitários.
Em seguida os óleos e gorduras são removidos, por um separador de flutuantes equipados por
um braço raspador de superfície, sendo armazenadas num poço de gorduras para
posteriormente serem bombadas para o tratamento específico de gorduras.

Tamisagem Desarenamento/ Lagoa de


Desengordurame equalização
nto

Digestor de Tratamento
gorduras biológico

Desinfecção
UV

Figura 2 - Esquema de tratamento da fase líquida da ETAR do Seixalinho

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Após esta fase, o efluente é encaminhado para uma lagoa de equalização de caudais e
homogeneização de cargas em bacia de equalização devidamente agitada e arejada por
arejadores flutuantes. De seguida existe uma elevação do efluente para o tratamento biológico,
que se inicia no decantador primário circular onde se remove ainda, por sedimentação, os
sólidos de menores dimensões, constituindo as lamas primárias, as lamas extraídas do fundo do
decantador assim como as extraídas do tratamento de gorduras, que vão ser conduzidas para o
tanque de armazenamento de lamas para depois serem encaminhadas para um espessador.
Os efluentes decantados são então conduzidos para quatro células de lamas activadas em
regime de arejamento prolongado de funcionamento sequencial (S.B.R.).

Figura 3 - Esquema de funcionamento de uma célula S.B.R. (fonte: Simarsul, 2010)

Ou seja, o processo de funcionamento é igual ao funcionamento convencional das lamas


activadas, apenas todo o processo, decantação e arejamento, é realizado na mesma célula
mudando o tempo de funcionamento para cada etapa de tratamento. Apresenta algumas
vantagens interessantes em relação aos processos tradicionais de tratamento biológico,
nomeadamente os seguintes:
- Processo fácil de instalar, com decantação secundária integrada ⇒ Área de implantação cerca
de 40% inferior à de um sistema clássico por vala de oxidação.
- Processo optimizado e fiável, com ciclos de temporização óptima e adaptável em todo o
momento às circunstâncias da exploração.

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

- Fácil de explorar, com um automatismo simples e eficaz.


- Sistema articulado simples e robusto, extremamente fiável.
- Redução do custo de investimento, nomeadamente pela redução do conjunto tanques de
arejamento e decantadores secundários, evitando-se a construção de órgãos de decantação
secundária, e consequentemente uma importante redução da plataforma a construir, sem
alteração das condições de funcionamento (arejamento prolongado).
- Remoção parcial de fósforo e azoto pela via biológica: A tecnologia SBR permite, devido à
existência no mesmo órgão de condições anaeróbias, anóxicas e aeróbias, remover fósforo e
azoto pela via biológica, diminuindo assim a quantidade de reagentes a injectar.
- Outro aspecto não menosprezável é o facto de se evitar os consumos ligados à recirculação de
lamas, necessário num sistema de arejamento convencional.
Um ponto final sobre as diversas vantagens da solução técnica projectada reside no facto de
que a instalação foi dimensionada com uma margem de segurança suficiente que permitirá
receber caudais e cargas superiores às indicadas no caderno de encargos (correspondentes a 48
000 hab.eq)
À saída do tratamento biológico as águas clarificadas são submetidas a um tratamento de
afinação e remoção da poluição bacteriológica através da desinfecção por radiação ultravioleta,
a qual visa inibir os microrganismos patogénicos pela alteração do ADN das células destes,
incapacitando-os de se reproduzirem (Simarsul, 2010).

A ETAR de Seixalinho tem a descarga de efluente tratado através de um emissário no esteiro


Norte da enseada do Montijo, numa zona do Estuário do Tejo classificada como zona sensível
pelo Decreto-Lei nº 152/97, de 19 de Junho, devendo respeitar a legislação em vigor,
nomeadamente no que concerne à qualidade bacteriológica do efluente final, atendendo aos
usos actuais e vocacionados do meio receptor. Assim, o efluente tratado na saída da ETAR
deverá ter a qualidade a seguir indicada:
CBO5 <25 mg/l
CQO <125 mg/l

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

SST <25 mg/l


Coliformes fecais <1 000/100 ml
Óleos e Gorduras <15 mg/l
No entanto a ETAR de Seixalinho está dimensionada para garantir à saída da linha de
tratamento uma concentração em azoto total de 10 mg/l (Simarsul, 2010).

Figura 4 – Esquema de funcionamento da fase líquida da ETAR do Seixalinho (fonte:


Simarsul, 2010)

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Fase sólida

A fase sólida resulta da separação das gorduras no tratamento preliminar, da lavagem das
areias removidas também no tratamento preliminar, da hidrólise anaeróbia de gorduras,
seguida da digestão aeróbia das gorduras e da recolha de escumas dos reactores biológicos.
Todas estas lamas são enviadas para o tanque de lamas, onde ficarão armazenadas para
posterior tratamento. A lama em excesso extraída do tratamento biológico possui uma
concentração baixa em sólidos, pelo que é necessário proceder ao aumento desse valor, de
forma a reduzir o volume de lama a desidratar e, consequentemente, os custos de exploração.
As lamas biológicas são enviadas para os espessadores de lamas. Este pode ainda receber lamas
de fossas sépticas, provenientes do “poço de lamas de fossas sépticas”. As lamas do espessador
seguem então em direcção ao “tanque de homogeneização de lamas”.
Existem dois espessadores de lamas, um que recebe as lamas provenientes dos tratamentos
primários e outro que recebe as lamas provenientes do tratamento biológico.

Tratamento Biológico

Espessamento de lamas Polimero

Cal
Digestor de Armazenamento de
gorduras lamas

Silo de
Desidratação de lamas lamas

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Figura 5 - Esquema de tratamento da fase sólida da ETAR do Seixalinho

O tanque de homogeneização de lamas apresenta um volume de 270 m3, e destina-se a


proceder a um armazenamento e homogeneização de lamas antes de serem enviadas para a
desidratação.
As lamas são provenientes dos seguintes destinos:
- espessador de Lamas N.º1
- espessador de Lamas N.º2
- tratamento de Gorduras
- lamas das fossas sépticas (opcional)
O tanque de homogeneização das lamas está equipado com um arejador de forma a eliminar a
possibilidade das lamas entrarem em processo de anaerobiose, com consequente formação de
maus cheiros e destabilização das lamas para posterior desidratação.
A lama espessada e homogeneizada é desidratada mecanicamente por centrifugação de forma
a reduzir fortemente o seu teor de água, optimizada pela adição de um reagente (polímero),
obtendo-se uma lama de aspecto seco, passível de reutilização como fertilizante/adubo, depois
de devidamente estabilizada.
As lamas desidratadas são armazenadas em silos de descarga directamente para as viaturas de
transporte de lamas ao destino final, que neste caso é a valorização agrícola.
Caso se verifique que as lamas não se encontram estabilizadas poderá recorrer-se à sua
estabilização química através da adição de cal.

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Figura 6 – Esquema de funcionamento da fase sólida da ETAR do Seixalinho (fonte:


Simarsul, 2010)

Fase gasosa

Devido à natureza dos produtos tratados, uma estação de tratamento de águas residuais é,
naturalmente, uma fonte de odores. Estes odores têm as suas origens nos gases ou vapores
emanados por certos produtos contidos nas águas residuais, ou provenientes das
transformações efectuadas no decurso do tratamento.

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Os compostos principais que podemos encontrar com teores que resultam em odores
incómodos são os seguintes (Simarsul, 2010):
- Amoníaco e metilaminas
- H2S
O objectivo da desodorização é impedir a difusão para o exterior de poluentes atmosféricos,
eliminando-os, permitindo a libertação de ar tratado para o exterior da ETAR.
A linha de desodorização por lavagem química é formada pela seguinte sequência:
- 1 torre de lavagem química com ácido sulfúrico
- 1 torre de lavagem química com hipoclorito de sódio e soda caustica
O processo de desodorização aplicado na estação de tratamento é do tipo adsorção gás-líquido.
Os lavadores utilizados são torres de enchimento plástico que funcionam em contracorrente,
com a adição de reagentes de neutralização (ácido sulfúrico, hipoclorito e soda) (Simarsul,
2010).
O processo consiste na instalação de duas colunas de absorção com enchimento – igualmente
denominadas torres de lavagem – de tipo vertical, com escoamento em contracorrente,
nomeadamente:
- Na primeira torre de lavagem, é efectuada a “lavagem ácida”. A lavagem ácida, com ácido
sulfúrico, consiste numa reacção de neutralização, a qual elimina o amoníaco e as aminas.
- Na segunda torre de lavagem, é efectuada a “lavagem oxidante”. A lavagem oxidante, com
hipoclorito de sódio, elimina o sulfureto de hidrogénio, os sulfuretos orgânicos, os
mercaptanos, o amoníaco e as aminas, permitindo ainda neutralizar os ácidos gordos voláteis
(AGV). Nesta torre irá ainda efectuar-se a “lavagem alcalina”. A lavagem alcalina, com soda
elimina os ácidos carboxílicos, o sulfato de hidrogénio e também em parte o CO2.

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

3.4 Desengorduramento

3.4.1 Aspectos Gerais:

A etapa de desarenamento/desengorduramento é realizada conjuntamente em dois órgãos de


desenvolvimento longitudinal, que se realiza após a tamização como se pode ver na figura 2.
Este processo, que combina as duas funções, permite (Simarsul, 2010):
- a decantação natural das matérias pesadas com granulometria superior a 200 µm;
- a colocação em suspensão de matérias orgânicas menos densas que se tenham
eventualmente depositado;
- a recuperação dos flutuantes e de uma parte das gorduras;
A retenção das areias contidas numa água residual é muito importante, pois permite (Simarsul,
2010):
- evitar a abrasão dos equipamentos mecânicos, como, por exemplo, de bombas e centrifugas;
- evitar sobrecargas nas etapas seguintes do tratamento, nomeadamente em períodos
chuvosos, durante os quais a quantidade de areias que chega à estação pode atingir valores 5 a
7 vezes superiores aos normais;
- evitar a acumulação de areias nas etapas posteriores do tratamento (reactores biológicos,
tanques de lamas, etc.).
Por seu turno, a eliminação dos flutuantes, designada habitualmente por
“desengorduramento” permite (Simarsul, 2010):
- melhorar a qualidade, do ponto de vista visual, das superfícies dos órgãos a jusante;
- limitar a quantidade de flutuantes e gorduras susceptíveis de se agarrar, de se aglutinarem ou
de flutuar, nos órgãos de tratamento posteriores, e que podem criar problemas de colmatagem
e/ou de fermentação, com os consequentes riscos de produção de ácidos gordos voláteis, logo,
de se verificarem fenómenos de “bulking” no tratamento biológico.
A opção por um sistema de desarenamento/desengorduramento de planta rectangular prende-se
com as vantagens deste sistema, quando comparado com o equipamento de planta circular pelo

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

facto de permitir uma optimização do espaço de implantação. De facto, caso se opta-se por órgãos
de planta circular haveria um espaço perdido considerável entre eles.
Assim, o órgão de planta rectangular apresenta várias vantagens (Simarsul, 2010):
- Sistema de extracção de areias mais fiável e sem necessidade de recurso a bombas de
extracção de areias;
- Sistema mais compacto;
- Menores custos de construção civil;
- Inexistência de redes de difusão de ar fixas no interior do órgão, cuja avaria impõe que o
órgão seja colocado fora de serviço.
Os desengorduradores/desarenadores estão equipados, cada um, com dois arejadores
mecânicos submersíveis, os quais asseguram (Simarsul, 2010):
- a agitação necessária para evitar a decantação das matérias orgânicas;
- o arejamento por bolhas finas da massa líquida, provocando deste modo a flotação das
escumas e das gorduras.
Os flutuantes são recolhidos à superfície por braços raspadores, solidários com a ponte
raspadora, que os envia para uma caleira própria. Um conjunto de macacos hidráulicos,
associado a um sistema de detectores de fim-de-curso permite que a raspagem se faça apenas
no sentido apropriado (montante-jusante). Quando a ponte se desloca no sentido contrário, os
braços estão levantados.
As caleiras de recolha de flutuantes estão equipadas com um sistema de lavagem com água de
serviço, para facilitar o seu escoamento. A entrada em serviço das rampas de lavagem está
coordenada com o final da raspagem: a lavagem não dura mais que alguns segundos.
Os flutuantes assim recolhidos nos dois órgãos são enviados graviticamente para uma cuba em
betão, designada “fossa de gorduras”, a partir da qual serão bombeadas para o sistema de
tratamento de gorduras.
A jusante dos desarenadores / desengorduradores, está instalado um caudalímetro ultra-sónico
montado sobre canal Parshall, para medição dos caudais afluentes à ETAR.

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

3.5 Sistema de tratamentos de gorduras existente na ETAR do Seixalinho

Generalidades

As gorduras separadas numa ETAR são usualmente um subproduto de difícil e onerosa


evacuação. Por esta razão, a SIMARSUL solicitou que fosse incluída uma etapa de digestão
anaeróbia de gorduras, para que estas fossem decompostas em formas mais simples e outra
etapa de digestão aeróbia (figura 1) para que o produto resultante deste tratamento possa ser
evacuado com os restantes subprodutos da ETAR.
A “Degrémont” possui tecnologia própria neste tipo de tratamento, com algumas aplicações
em Portugal e diversas no estrangeiro. O Consórcio optou no caso da ETAR de Seixalinho pelo
sistema “Carbofil”, que consiste na oxidação dos ácidos gordos após hidrólise no tanque de
hidrólise, o qual tem como vantagens (Simarsul, 2010):
• Solução mais compacta;
• Solução com performance de degradação superior;
• Solução mais barata;
Assim, foi estratégia do Consórcio optar pela tecnologia “Carbofil”.

Concepção
Princípio
O sistema baseia-se no tratamento biológico das gorduras (figura 1), com uma biomassa
adaptada. O tratamento é efectuado em duas etapas:

1. Hidrólise das gorduras com enzimas. Nesta etapa as gorduras são transformadas em ácidos
gordos e glicerol. Esta primeira etapa é anaeróbia.

2. Oxidação de ácidos gordos e transformação de glicerol em dióxido de carbono e água. Este


tratamento necessita de oxigeno e de bactérias adaptadas ao substrato.

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Esta segunda etapa é a mais importante para o tratamento. As gorduras podem ser muito
diferentes de tempos a tempos; a eficiência do tratamento biológico está relacionada com a
capacidade de mistura e com a oxigenação.
Para se obter um tratamento óptimo, desenvolveu-se um sistema de mistura e arejamento
específico, patenteado em mais de 70 países.
O tratamento completo é constituído por:
− Hidrólise num tanque de anaerobiose
− Oxidação num reactor “Carbofil”.

3.5.1 Linha de tratamento

A linha de tratamento é constituída por um tanque de hidrólise e pelo “Carbofil”.

Tanque Tanque

Poço de anaeróbio aeróbio de

gorduras de hidrólise oxidação


“Carbofil”

Figura 7 – Esquema de funcionamento do tratamento de gorduras

Reactor de Hidrólise

O tanque de hidrólise deverá ser agitado para se obter uma gordura homogénea e uma boa
reacção de hidrólise. Este tanque apresenta também uma função de tanque tampão.
Uma vez que a hidrólise transforma as gorduras em ácidos gordos e glicerol, esta reacção pode
acidificar, razão pela qual pode ser necessário adicionar uma base para manter um pH neutro.

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Assim, o pH deverá ser monitorizado duas a três vezes por semana. Existe uma tubagem de
dosagem de soda cáustica para o tanque de hidrólise para eventual correcção do pH (Simarsul,
2010).
Uma vez que se trata de um tratamento biológico, poderá ser necessário adicionar azoto e
fósforo extra, tendo para tal sido previsto dosear uma mistura de nutrientes neste tanque de
hidrólise.
Uma vez que a hidrólise liquidifica as gorduras podemos utilizar uma bomba submersível
standard para alimentar o reactor “Carbofil” (ver figura 7), ou como foi o caso, por uma questão
de facilidade de exploração, previu-se uma bomba volumétrica de parafuso excêntrico instalada
no exterior do tanque (mais uma idêntica de reserva em armazém) (Simarsul, 2010).

Reactor de oxidação

A operação do reactor “Carbofil”® baseia-se na bombagem do líquido num plano vertical, sendo
esta a diferença em relação às turbinas clássicas que essencialmente misturam no plano
horizontal. Ar e, em consequência, oxigénio, são bombeados da superfície para o fundo do
tanque onde a transferência do gás para o líquido é maximizada (lei de Henry). Apenas é
necessária uma pequena quantidade de energia para injectar o ar directamente no fundo do
tanque (Simarsul, 2010).

O “layout” do reactor é extremamente simples. É composto por 4 elementos chave.

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Figura 8 – Esquema do digestor aeróbio das gorduras (fonte: Simarsul, 2010)

O tanque (4) serve para receber as gorduras a serem tratadas. A tremonha (3) cuja função
consiste em conduzir o caudal para o septo (2) e a turbina (1), accionada por um motor,
bombeia as gorduras no sentido descendente (Simarsul, 2010).
O “layout” hidráulico do reactor baseia-se na bombagem vertical do fluido idêntico a um tubo sob a
forma de “U”. Tal como indicado no “layout” abaixo, o caudal é criado pela turbina que suga o
líquido e o ar do topo para o fundo do tanque através do septo (2) (Simarsul, 2010).

O efluente sobe de novo (9) e depois para a superfície, para a zona em contacto com o ar. Esta
operação permite-nos garantir uma excelente mistura do líquido com o ar. No nível à
superfície, o líquido alimenta a tremonha por descarga de topo (5) (Simarsul, 2010).

(11) Injecção de ar

(10) Objectos estáticos (12) Pressurização

Figura 9 – Esquema do digestor de gorduras (fonte: Simarsul, 2010)

A entrada do afluente (8) em pequenas quantidades resulta numa saída do efluente tratado,
através do tubo ladrão, para o tanque de lamas. Esta é a melhor forma para estabilizar as

29
CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

bactérias num ambiente homogéneo, o que é essencial para manter a eficácia da


biodegradação (Simarsul, 2010).
A transferência de oxigénio para o líquido depende (Simarsul, 2010):
- Da injecção de ar: a descarga por superfície (5) no nível superior da tremonha (3), permite a
captura de aproximadamente. 100 % do ar necessário para a biodegradação dos resíduos. No
entanto, é possível melhorar a oxigenação com uma injecção de ar na parte superior do septo
exactamente abaixo da turbina (1). Além disso, esta injecção de ar melhora significativamente o
output da turbina de bombagem.
- O refinamento das bolhas: os obstáculos estáticos (10) colocados no septo criam turbulências
que resultam em bolhas muito pequenas.
- A pressão: graças a um caudal hidráulico no tanque que varre as bolhas de ar para o fundo do
tanque onde a pressão é máxima e onde a transferência de gás para o líquido é óptima (12).

3.5.2 Características de dimensionamento

No que se refere ao dimensionamento deste sistema, torna-se necessário realizar uma reflexão
sobre a capitação de gorduras. É indicado em várias literaturas que a capitação de gorduras é
de 35 g/hab.dia. A cada grama de gordura corresponde a 2,3 gramas de CQO (Canler, 2001).
Recorrendo a um estudo realizado em 60 ETAR’s em França, em que foi caracterizada a
produção de gorduras, no qual foi indicado que a produção média de gorduras foi de cerca de
4,5 g CQO/hab.d (Canler, 2001).
A Simarsul adoptou então os seguintes valores para o dimensionamento do tratamento de
gorduras:

Tabela 2 – Valores adoptados para o dimensionamento do tratamento das gorduras (fonte:


Simarsul, 2010)

30
CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Concentração Caudal CQO


Gorduras produzidas na ETAR de Seixalinho (g/l) (m3/dia) (kg/dia)
180 1,22 220

Assim, a linha de tratamento é composta por 2 tanques com as seguintes características:


- Volume do tanque de hidrólise: 13 m3
-
Volume do reactor “Carbofil”: 30 m3
O tanque de hidrólise é dimensionado num tempo de retenção mínima de 7 dias.
O reactor “Carbofil” é dimensionado para uma carga máxima de 10,8 Kg CQO/m 3/dia.
A eficiência de remoção constitui uma garantia para uma utilização normal e uma boa
manutenção, o pH e a relação carbono/azoto/fósforo deve ser correcta e a carga de poluição
deve situar-se entre 70 e 110 % dos parâmetros.

Tabela 3 – Valores de eficiência de remoção (fonte: Simarsul, 2010)

Parâmetros % eficiência de remoção


Gordura 90
CQO 80

A produção de biomassa que se observa geralmente nas nestas instalações é a seguinte


(Simarsul, 2010):
Relação de produção de biomassa: 0,2 kg DS/kg CQO;
CQO: 220 kg CQO/dia;
Produção de biomassa: 44 kg DS/dia

A saída da biomassa do “Carbofil” é efectuada através de uma tubagem de descarga de topo


para a cisterna de lamas espessadas, sendo a sua contribuição para a quantidade total de lamas
insignificante (Simarsul, 2010).

31
CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

4. MATERIAL E MÉTODOS

Apesar de terem sido facultados resultados de análises relativas ao CQO realizadas pelo
laboratório da Simarsul, achou-se necessário proceder a mais um conjunto de análises, visto
que as que foram facultadas mostraram-se insuficientes.

4.1 Amostragem
O trabalho experimental foi realizado no Laboratório de Controlo de Qualidade de Águas
Residuais da Escola Superior Agrária, tendo sido as amostras recolhidas na ETAR do Seixalinho
situada no distrito de Setúbal.
A amostragem na ETAR do Seixalinho decorreu no mês de Julho, tendo sido realizadas as
análises físico-químicas durante o respectivo mês de recolha. Tratou-se de uma amostra
pontual.
Após a recolha das amostras, em recipientes de plásticos, estes foram colocados num
recipiente hermeticamente fechado. Após a chegada ao laboratório foram preparadas as
amostras para a determinação dos vários parâmetros e foram guardados e devidamente
acondicionados no frigorífico. Segue-se, nas figuras 10 e 11 um esquema de onde foram
recolhidas as respectivas amostras.

Amostra A : entrada do reactor de Amostra B: entrada do Carbofil


hidrólise 32
CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Amostra C: saída do Carbofil

Figura 10 – Sistema de tratamento de gorduras

Esquema síntese do tratamento das gorduras:

Reactor de Hidrólise Carbofil

Amostra A: entrada do reactor de Hidrólise Amostra C: Saída do Carbofil

Amostra B: Entrada do Carbofil

Figura 11 – Esquema da amostragem

33
CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

4.2 Amostras físico-químicas realizadas


Os parâmetros analisados foram: pH, potencial redox, azoto Kjeldhal, fósforo total, CBO 5, CQO
e condutividade eléctrica. Os métodos e procedimentos experimentais respeitantes aos
parâmetros referidos encontram-se a seguir:

4.2.1 Determinação do pH

A determinação do pH das amostras foi efectuada imediatamente à sua chegada ao laboratório


utilizando um Potenciómetro WTW, modelo inolab, pH Level 1, de acordo com o indicado em
Standard Methods (2003).

4.2.2 Determinação de potencial redox

A determinação do potencial redox das amostras foi efectuada imediatamente à sua chegada
ao laboratório utilizando um Potenciómetro WTW, modelo inolab, pH Level 1, de acordo com o
indicado em Standard Methods (2003).

4.2.3 Determinação de azoto Kjedhal

O método utilizado foi o descrito no Standard Methods. Este método permite o doseamento do
azoto no estado trivalente negativo. Considera-se como azoto de Kjeldhal o azoto orgânico e
amoniacal contidos numa amostra, e passíveis de doseamento após mineralização. O azoto na
forma de azida, azina, azoico, hidrazona, nitroso, nitrico, oxina e semicarbazona não é
quantitativamente doseado.
O método baseia-se numa mineralização dos compostos orgânicos contidos na amostra, em
presença de ácido sulfúrico concentrado a quente, e em presença de sulfato de potássio, que
eleva o ponto de ebulição da mistura, e de selénio como catalizador.

34
CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

O sulfato de amónio formado é destilado em meio fortemente alcalino, o destilado recolhido


numa solução de ácido bórico com indicador e titulado com uma solução de ácido clorídrico de
concentração conhecida.
A concentração de azoto Kjeldhal (NKj), expressa em mg de azoto por litro, foi calculada pela
seguinte expressão:
(V1 - V2 )
NKj (mg N/L) =  c  14,01  1000
V0

onde:
V0- volume da amostra utilizado, mL;
V1 - volume de ácido clorídrico gasto na titulação da amostra, mL;
V2- volume de ácido clorídrico gasto na titulação do ensaio em branco, mL;
c- concentração da solução de ácido clorídrico, mol/L;

4.2.4 Determinação de fósforo total

O método utilizado foi o referido nos Standard Methods (2003), método de digestão ácida,
tendo sido apenas alterado o procedimento da digestão prévia da amostra.
O método consistiu na mineralização da amostra por via seca, e posterior solubilização do
resíduo mineralizado com ácido. As diversas formas de fósforo foram assim convertidas a
ortofosfato e este determinado através do método colorimétrico.
A concentração de fósforo expressa em mg P/100 mL de volume final, correspondente à
absorvância medida para a amostra, obteve-se a partir de uma curva de calibração.
A concentração de fósforo, expressa em mg P/L, foi calculado com base na seguinte expressão:

mg P (em 100 mL de volume final)


mg P / L = 1000
mL de amostra

35
CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

4.2.5 Determinação de carência bioquímica de oxigénio ao 5º dia

O método utilizado para a determinação da CBO 5 foi indicado no Standard Methods (2003),
método respirométrico.
O fundamento do método baseia-se na medição do oxigénio consumido pelos microrganismos
num recipiente fechado, incubado a uma temperatura de 20ºC ± 1 no escuro durante 5 dias,
com agitação constante

4.2.6 Determinação de carência química de oxigénio

O método utilizado para a determinação do CQO foi o indicado nos Standard Methods (2003),
método colorimétrico por refluxo fechado.
O método baseia-se numa oxidação química da matéria orgânica, usando um agente oxidante
forte, o dicromato de potássio (K2Cr2O7), em meio fortemente ácido a temperatura elevada. O
oxigénio consumido é lido por volumetria de retorno.

36
CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a avaliação do funcionamento do tratamento das gorduras, primeiramente recorreu-se à


informação disponível na base de dados da ETAR de Seixalinho. Nas tabelas 4 e 5 podemos
verificar a caracterização da água residual bruta afluente à ETAR, a caracterização da água
residual após o tratamento e na tabela 6 apresenta-se a eficiência de remoção.

Tabela 4 – Caracterização da água residual bruta afluente à ETAR

Parâmetro Entrada (mg/l) (*)

pH 7,705 (±0,45)

SST 265 (± 214)

SSV 226 (± 198)


CBO5 218 (± 122)
CQO 586 (±366)
Nt 71 (±13)
Pt 10 (±2)
Óleos e Gorduras 143 (± 89)
((*) Média + Desvio Padrão)

Tabela 5 – Caracterização da água residual tratada

Parâmetro Saída (mg/l) (*)

pH 7,493
(+/- 0,35)
SST 17
(+/- 7)
CBO5 11
(+/- 4)

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

CQO 49
(+/- 11)
Nt 21
(+/- 8)
Pt 4
(+/- 2)
Coliformes Fecais 2352
(+/- 4549)
Coliformes totais 8759
(+/- 11222)
E. Coli 1487
(+/- 2132)
((*) Média + Desvio Padrão)

Tabela 6 – Eficiência do tratamento

Parâmetros SST CBO5 CQO Nt Pt


% Remoção 94 95 92 70 65

No geral, pudemos concluir que a ETAR se encontra a funcionar bem, pois temos elevadas
eficiências de remoção e os parâmetros CBO5, CQO, SST, Nt e Pt cumprem os valores exigidos no
Decreto-Lei nº 152/97, de 19 de Junho, referente a descargas em zonas sensíveis.
Este trabalho teve como objectivo geral analisar o tratamento de gorduras da ETAR do
Seixalinho (Montijo) e averiguar quais os principais problemas no funcionamento do tanque de
hidrólise e no tanque de oxidação (Carbofil) de modo a determinar-se possíveis melhorias.
No que diz respeito ao tanque de hidrólise, ao longo do estudo deste trabalho, pode-se verificar
que uns dos parâmetros a ter em conta, quando se dimensiona, é a carga volúmica afluente ao
reactor, que segundo Canler (2001) deve-se situar entre 5 – 10 kg/m3.d, contundo não nos
foram facultados dados referentes à carga volúmica que se encontra a afluir ao tanque de
hidrólise.
Tendo em conta os critérios de dimensionamento usados pela Simarsul, tentou-se calcular a
carga volúmica, através do caudal de dimensionamento que aflui ao reactor, (pois não nos foi

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

facultado qual o caudal que neste momento aflui a este) e da concentração de CQO que aflui ao
reactor de hidrólise, que foi facultada nas análises laboratoriais. Temos então:
Caudal de dimensionamento que aflui ao reactor de hidrólise: 1,22 m3/d
Média da [CQO] que aflui ao reactor: 56134 mg/l (±57671) ≈ 56 kg/l

[ ]
Carga volúmica ≈ 17 kg/m3.d

Logo, se o caudal que estiver a afluir ao reactor de hidrólise for próximo do que foi considerado
no seu dimensionamento, este encontra-se sobredimensionado uma vez que temos elevada
carga volúmica no reactor, o que influência negativamente o funcionamento deste, pois os
microrganismos presentes não vão conseguir degradar a matéria que está a afluir. Por outro
lado se for menor, não teremos problemas a nível da matéria orgânica que está a afluir, ou seja
não será esse o nosso factor limitante do funcionamento deste sistema.
Contudo, através dos dados laboratoriais da CQO à entrada e à saída do tanque de hidrólise
verifica-se que esta sofre uma redução como pudemos ver na tabela 7 e na figura 12. Isto deve-
se ao facto de algum carbono ser oxidado pela biomassa presente no tanque.

Tabela 7 – Variação da CQO á entrada e saída do tanque de hidrólise

CQO mg/l O2
Entrada (*) 56134 (± 57671)
Saída (*) 36943 (± 14564)

((*) Média + Desvio Padrão)

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

60000
50000

CQO mg/l O2
40000
30000
20000
10000
0
Entrada Saída

CQO entrada CQO saída

Figura 12 – Variação da CQO à entrada e saída do tanque de hidrólise

Um outro parâmetro a ter em consideração para o bom desempenho do tanque de hidrólise é


o potencial redox. Na literatura consultada verificou-se que o potencial redox óptimo situa-se
na ordem dos -350 mV, pois neste valor tem-se a certeza que se está em condições de
anaerobiose total, que é um dos requisitos do funcionamento do tanque de hidrólise. Este dado
não nos foi facultado, contudo quando se procedeu à amostragem pontual e análise no
laboratório de águas do Instituto Politécnico de Beja verificou-se que o potencial redox à
entrada do tanque de hidrólise é de -310 mV. Apesar de ser negativo, não podemos concluir
com certeza que este é totalmente correcto uma vez que se trata de uma amostragem pontual
e o potencial redox deve ser medido logo após a amostragem, situação que não se verificou
podendo ter afectado o resultado final. No entanto, apesar de o resultado ser negativo é
ligeiramente superior ao valor encontrado na literatura, não nos deixando concluir com rigor de
que este seja o indicado para o bom funcionamento do reactor.
No “Carbofil” uma das exigências para o bom desempenho é a oxigenação, situação essa que
também não foi verificada uma vez que também se procedeu á medição do potencial redox
após a chegada ao laboratório e este foi de -308,9 mV, um valor negativo que indica ausência
de oxigénio na amostra. Apesar de o potencial redox não ter sido medido logo no local da
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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

amostragem, mesmo que este se altere nunca se alteraria tanto e como prova disso também se
realizou no laboratório a determinação do teor em oxigénio das três amostras e em ambas
obtivemos condições totais de anaerobiose.
Um dos problemas apontados pelo mau funcionamento do tratamento é que poderia haver
baixa concentração de gorduras a tratar, contudo quando se procedeu á determinação destas
no laboratório verificou-se que o problema não poderia ser falta de gorduras. Na tabela 8
podemos verificar a concentração de gorduras ao longo de todo o tratamento de gorduras.

Tabela 8 – Concentração de gorduras ao longo do tratamento

[gorduras] mg/l
Entrada do tanque de hidrólise 6567
Entrada do Carbofil 5274
Saída do Carbofil 4132

Quando se procedeu à análise da CQO, através dos dados que nos foram fornecidos verificou-se
que esta não diminui como seria de esperar, pois esperava-se que alguma matéria orgânica
fosse oxidada logo pela biomassa, como podemos verificar na tabela 9 e figura 13:

Tabela 9 – Variação da CQO á entrada e saída do Carbofil

CQO mg/l O2
Entrada (*) 36943 ( ± 14564)
Saída (*) 37116 ( ±32512)

((*) Média + Desvio Padrão)

41
CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

37150

37100

CQO (mg/l O2)


37050

37000

36950

36900

36850
Entrada Saída
CQO à entrada CQO à saída

Figura 13 – Variação da CQO à entrada e saída do Carbofil

Contudo, após nova análise do CQO no laboratório verificou-se que este diminui como se pode
ver na figura 14:

25000

20000
CQO mg/l O2

15000

10000

5000

0
Entrada Saída
CQO entrada do Carbofil

Figura 14 – Variação da CQO à entrada e saída do Carbofil

Esta discrepância de resultados pode dever-se ao facto de, como já foi referido anteriormente
em outros parâmetros, as amostras não serem compostas mas sim pontuais.

42
CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

O objectivo deste tratamento é conseguir juntar as lamas finais do tratamento das gorduras às
lamas resultantes dos restantes tratamentos da ETAR, para deste modo apenas se ter um
produto final que irá para valorização agrícola, contudo isto não se está a verificar pois as lamas
provenientes das gorduras não se encontram suficientemente concentradas promovendo a
destabilização das restantes lamas se forem juntas. Deste modo, procedeu-se á análise quer
dos sólidos totais quer dos sólidos voláteis, pois estes parâmetros não foram facultados pela
ETAR.
Ao analisar estes parâmetros verificou-se que não se justifica considerar haver falta de sólidos
como pudemos ver nas tabelas 10 e 11.

Tabela 10 – Concentração de sólidos suspensos totais

[ sólidos totais ] g/ml


Entrada do tanque de hidrólise 3,105
Entrada do Carbofil 3,588
Saída do Carbofil 4,125

Tabela 11 – Concentração de sólidos voláteis

[ sólidos voláteis ] g/ml


Entrada do tanque de hidrólise 2,427
Entrada do Carbofil 2,552
Saída do Carbofil 2,481

Também por curiosidade, e não por ser necessário, realizamos o ensaio da CBO 5 e obtivemos os
seguintes resultados:

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Tabela 12 – Variação da CBO5 ao longo do tratamento

[CBO5] mg/l
Entrada do tanque de hidrólise (*) 9550 (± 985)
Entrada do Carbofil (*) 9000 (± 283)
Saída do Carbofil (*) 9250 (± 1535)
((*) Média + Desvio Padrão)

Verificamos que os valores da CBO 5 não se alteram muito ao longo de todo o tratamento o que
já era de esperar uma vez que como o sistema está a funcionar debilmente não poderia haver
degradação da matéria. O que deveria de acontecer seria a diminuição da CBO 5 ou mesmo esta
aumentar à entrada do reactor do Carbofil (ver figura 11) pois no tanque de hidrólise, como se
está a decompor os lípidos em moléculas mais pequenas, estas também ficam biologicamente
degradáveis.
Ainda por curiosidade e para se poder quase confirmar que o sistema se encontra a funcionar
debilmente devido à falta de oxigénio procedeu-se a uma pequena experiência. Numa garrafa
de vidro colocou-se uma amostra do que está a afluir ao “Carbofil” com um arejador a
funcionar lá dentro e deixou-se a arejar a amostra durante uma semana. Passados esses dias
foi-se calcular os sólidos voláteis para ver se estes aumentavam em relação aos que obtivemos
quando calculamos os sólidos voláteis da amostra colhida na ETAR. Se esses aumentassem
significava que a biomassa também teria aumentado e que realmente existe um défice de
oxigénio no reactor de oxidação “Carbofil” e por consequência as lamas tornar-se-iam mais
concentradas, sendo esse o objectivo Os resultados obtidos confirmaram a nossa teoria como
se pode ver na tabela 13:

Tabela 13 – Variação da concentração dos sólidos voláteis com o arejamento

[SV] g ml antes do arejamento 2,552


[SV] g ml depois do arejamento 7,348

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DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

6. CONCLUSÃO

O processo de tratamento de gorduras instalado na ETAR do Seixalinho, tem como objectivo


diminuir a produção de produtos a serem depositados posteriormente em aterros sanitários,
de modo a que a ETAR só produza um produto final, que serão as lamas cujo objectivo é serem
reutilizadas para valorização agrícola. De acordo, com estes objectivos referidos avaliou-se o
funcionamento do processo de tratamento de gorduras, que está dividido em 2 fases: uma fase
que ocorre em anaerobiose e a segunda fase que requer condições de total aerobiose.
Para averiguar o bom desempenho tentou-se com os dados que foram facultados e com a
análise de mais parâmetros tentar então perceber o que estaria a correr mal.
De um modo geral e tendo em conta que os valores que temos resultam todos de amostras
pontuais pudemos concluir que o principal factor limitante neste processo é a ausência de
oxigénio no Carbofil. Neste reactor, onde ocorre a oxidação dos ácidos gordos é necessário
existir condições totais de aerobiose para que a reacção ocorra.
Em suma, hipoteticamente se o problema resultar da falta de oxigénio as medidas a tomar
deverão ser as seguintes:
- verificação do funcionamento dos arejadores;
- verificação do compressor, de modo a que seja possível confirmar se não existe nenhuma
obturação/entupimento do sistema de arejamento;
- instalação de uma sonda de medição de oxigénio, uma vez que o sistema não disponibiliza de
nenhum indicador do oxigénio disponível dentro do reactor;
- estudo da possibilidade de existir algum factor limitante que interfira na passagem do
oxigénio para o liquido.
É necessário ter em conta que os valores dos parâmetros aqui apresentados e discutidos não
podem ser tomados como conclusivos, pois resultam todos de amostras pontuais assim como a
falta de estudos aprofundados nesta temática.

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CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

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Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente, Mestrado em Engenharia
Ambiental.

48
CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO PROCESSO
DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Anexos
49
CONTRIBUIÇÃO PARA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FUNCIONAMENTO DO
PROCESSO DE TRATAMENTO DE GORDURAS DA ETAR DO SEIXALINHO

Anexo 1 – Perfil hidráulico da ETAR do Seixalinho

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