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Escola da Engenharia

DESAFIOS E PERSPECTIVAS
DA DISPOSIÇÃO DE REJEITOS
DA MINERAÇÃO
DESAFIOS E PERSPECTIVAS
DA DISPOSIÇÃO DE REJEITOS
DA MINERAÇÃO

Organizadora:
Luana Andrade

Belo Horizonte
2023

Escola da Engenharia
Nenhuma alteração poderá ser feita neste documento sem a permis-
são expressa por escrito da Effyía – Escola da Engenharia.
Qualquer referência a este documento, no todo ou em parte, em
qualquer documento ou página da web deverá fornecer a citação
completa da fonte, autor do artigo citado e um link de volta ao docu-
mento original em sua totalidade.
CRÉDITOS

Autores:

André Coelho
Bruno Delgado
Fábio Perlatti
Ian Paes
Juliana Fabre
Leonardo Machado
Luana Andrade
Mariana Pimenta
Tadeu Torquato
Thiago Oliveira
Wilfred Brandt

Revisores:
Eduardo Marques, Caroline Coldebella e
Guilherme D. Quintilhano

Designers:
Paula Coelho e Jordana Pimentel
AGRADECIMENTOS
Nada nos move mais do que o propósito de comparti-
lhar conhecimento e ver os profissionais e as áreas em
que atuamos evoluírem e crescerem. Nada nos alegra
mais do que encontrar empresas e profissionais que
compartilham com a gente deste propósito!

Por isso, queremos deixar nossos sinceros agradeci-


mentos aos profissionais, que de forma voluntária, con-
tribuíram tanto com a realização do I Workshop da En-
genharia Effyía – I WEE, que deu base para construção
deste material, quanto com a elaboração dos artigos
que o compõe.

Agradecemos também a cada uma das empresas e ins-


tituições que nos apoiou para construção de um debate
em torno do tema “Desafios e Perspectivas da Disposi-
ção de Rejeitos da Mineração” em especial aos nossos
patrocinadores: SRK Consulting, J Mendes, Aterpa, E+
Ambiental, GeoCoba, GeoSoluções, Gestão Engenharia,
Interchne, Maccaferri e NewVerse.

Por fim, agradecemos a todos os profissionais que par-


ticiparam e apoiaram nosso debate no I Workshop da
Engenharia Effyía – I WEE e enriqueceram as nossas
discussões.

Nosso muito obrigada e até a próxima edição!

Effyía – Escola da Engenharia


APRESENTAÇÃO

A Effyía – Escola da Engenharia é comprometida com a dis-


seminação de conhecimento de qualidade, auxiliando os
profissionais e organizações a aprenderem continuamen-
te. Temos o cuidado de envolver profissionais experts dos
assuntos e que atuam na área na elaboração e revisão de
cada material que produzimos.

Para provocar reflexões e debates sobre os “Desafios e


Perspectivas da Disposição de Rejeitos”, buscamos profis-
sionais de diferentes áreas, proporcionando uma visão sis-
têmica sobre o assunto. A ideia aqui é que você, que se
interessa por este tema, possa percorrê-lo em toda sua
complexidade, ampliando o seu campo de visão. Para isso,
você terá como base a experiência de profissionais que
vivenciam o tema de disposição de rejeitos da mineração
em seu cotidiano, como ele verdadeiramente é.

Este material está dividido em duas partes. Na parte 1, você


encontrará artigos sobre os aspectos gerais relacionados à
destinação de rejeitos da mineração, como: legislações e
normas aplicadas à disposição de rejeitos, licenciamento
ambiental de projetos da mineração, estudo de alternati-
vas técnicas e locacionais para destinação adequada dos
rejeitos. Já na parte 2 são apresentados os desafios e pers-
pectivas relacionados à disposição de rejeitos focando nas
características dos rejeitos, nos aspectos geotécnicos da
disposição de rejeitos filtrados em pilhas e no cenário da
disposição de rejeitos no Brasil na visão do órgão fiscaliza-
dor.

Esperamos que possa aproveitar e evoluir com mais este


conteúdo Effyía!

Boa leitura!
PARTE I – ASPECTOS GERAIS RELACIONADOS
À DESTINAÇÃO DE REJEITOS DA MINERAÇÃO

Legislações federais, normas e guias aplica-


01 dos à barragens e pilhas de mineração
Juliana Fabre - 01

Aspectos relacionados à regularização am-


02 biental de projetos de disposição de rejeitos
– contexto de minas gerais
Mariana Pimenta - 10

Estudo de alternativas tecnológicas para


03 destinação dos rejeitos da mineração
Wilfred Brandt e Luana Andrade - 22

Alternativas locacionais para projetos de


04 disposição de rejeitos
Thiago Oliveira - 26

Análise multicritério para estudo de alter-


05 nativas tecnológicas e locacionais para
SUMÁRIO

disposição de rejeitos da mineração


Thiago Oliveira e André Coelho - 36

PARTE II – DESAFIOS E PERSPECTIVAS


RELACIONADOS À DISPOSIÇÃO DE
REJEITOS EM EMPILHAMENTOS FILTRADOS

Particularidades Geotécnicas dos Rejeitos


06 da Mineração: embasamento para projetos
de empilhamento
Bruno Delgado - 44

Desafios e soluções em análises geo-


07 técnicas no contexto do projeto de
pilhas de rejeitos
Ian Paes - 56

Soluções operacionais da disposição dos


08 rejeitos em empilhamentos filtrados
Leonardo Machado e Tadeu Torquato - 64

Panorama dos desafios e perspectivas da


09 disposição de rejeitos em empilhamentos
filtrados na visão do órgão fiscalizador
Fábio Perlatti - 80
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

01
LEGISLAÇÕES FEDERAIS,
NORMAS E GUIAS APLICADOS
À BARRAGENS E PILHAS
DE MINERAÇÃO
Por: Juliana Fabre ¹

Panorama Geral
O Brasil é um país reconhecido mundialmente pelas
grandes obras de barragens, com muitos casos de su-
cesso em barragens dos segmentos de acumulação de
água e hidrelétricas. Devido à necessidade de se prezar
pelas seguranças dessas estruturas, associada a um au-
mento do apelo popular, em 2003 começou a ser elabo-
rada uma lei federal especifica para segurança de barra-
gens. Mais tarde, em 2010, finalmente foi publicada a Lei
nº 12.3342 , que estabeleceu a Política Nacional de Segu-
rança de Barragens (PNSB).

Sete anos após a publicação da PNSB, foi publicada a


Portaria nº 70.389/20173 pelo até então Departamento
Nacional de Produção Mineral (agora Agência Nacional
de Mineração – ANM), que regulamentou especifica-
mente a gestão e fiscalização de barragens de minera-
ção em âmbito federal.

1 FABRE, Juliana. Legislações e Normas Aplicadas às Barragens de Rejeito e Pilhas


- Roteiros de Estudo. Effyía – Escola da Engenharia. 2022. <https://effyia.com.br/
produto/legislacoes-e-normas-aplicadas-as-barragens-de-rejeito-e-pilhas/>
2 BRASIL. Casa Civil. Lei nº 12334, de 20 de setembro de 2010. Estabelece a
Política Nacional de Segurança de Barragens e estabelece outras providências.
Brasília, DF, 21 set. 2010
3 DNPM. Departamento Nacional de Produção Mineral. Ministério de Minas e Energia.
Portaria nº 70.389, de 17 de maio de 2017. Cria o Cadastro Nacional de Barragens de
Mineração, o Sistema Integrado de Gestão em Segurança de Barragens de Mineração
e estabelece outras providências. Diário Oficial da União nº 95, p. 68, Brasília, DF, 19
mai. 2017. 01
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Desde então, a legislação federal específica para barragens de mine-


ração sofreu diversas alterações, com resoluções complementares
sendo publicadas, principalmente ao longo dos últimos 5 anos, im-
pulsionadas pela ruptura da barragem B1 em Brumadinho-MG em
2019.

Após uma consolidação e entendimento quanto aos requisitos míni-


mos a serem exigidos pela ANM aos mineradores, foi publicada, em
fevereiro de 2022, a Resolução nº 954, que agrupou todas as legisla-
ções federais vigentes para barragens de mineração , sendo está a
resolução de referência para estas estruturas no Brasil.

No que tange às pilhas de estéril, estruturas importantes e com-


plementares às barragens na atividade de mineração, ao contrário
do que muitos acreditam, ainda não existem legislações específi-
cas para estes tipos de estrutura no país. Contudo, existe a NBR
13.029 de 20175 que apresenta os requisitos mínimos que devem ser
considerados em projetos de pilhas de estéril, e que, apesar de não
ter força de lei, se tornou um documento de referência para tais es-
truturas no Brasil.

GRANDE MARCO DA LEGISLAÇÃO FEDERAL:


Política Nacional de Segurança de Barragens
(PNSB)
A Política Nacional de Segurança de Barragens é destinada às barra-
gens de acumulação de água para quaisquer usos, de disposição
final ou temporária de rejeitos e de acumulação de resíduos indus-
triais. Além disto, a lei da PNSB criou o Sistema Nacional de Informa-
ções sobre Segurança de Barragens (SNISB), ferramenta fundamen-
tal para gestão de barragens por todo território nacional.

4 ANM. Agência Nacional de Mineração. Ministério de Minas e Energia. Resolução nº 95, de 07 de feve-
reiro de 2022. Consolida os atos normativos que dispõem sobre segurança de barragens de mineração.
Diário Oficial da União nº33, p. 49, Brasília, DF, 16 jan. 2022.
5 ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13029: Elaboração e apresentação
de projeto de disposição de estéril em pilha. Rio de Janeiro, 2017.

02
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Dentre alguns dos objetivos da PNSB, podemos destacar dois: i) ga-


rantir a observância de padrões de segurança de barragens de ma-
neira a reduzir a possibilidade de acidente e suas consequências e ii)
fomentar a cultura de segurança de barragens e gestão de riscos.

Para alcançar tais objetivos, a PNSB conta com instrumentos que se


complementam em todos os âmbitos de fiscalização, gestão e con-
trole de barragens pelo país, que estão indicados a seguir.

Figura 1 – Instrumentos da Política Nacional de Segurança de Barragens

Fonte: Autor.

Como Leis são instrumentos do Poder Legislativo, foi necessário que


a PNSB fosse regulamentada pelo Poder Executivo, que, no caso das
barragens, era representado pelas Agências Reguladoras das Ativida-
des, que possuem também o papel de Órgãos Fiscalizadores (ANM,
ANEEL, ANA).
03
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

A agência que regula a atividade minerária é a ANM – Agência Na-


cional de Mineração, que, até 2017, era o DNPM – Departamento
Nacional de Produção Mineral.

Mesmo com a publicação da PNSB em 2010, apenas em 2017 houve


regulação total das barragens vinculadas à atividade de mineração,
com a publicação da Portaria nº 70.389/2017², pelo DNPM/ANM. A pu-
blicação desta portaria foi impulsionada pela ruptura da Barragem
do Fundão, em Mariana, Minas Gerais, em 2015.

Outro marco importante na legislação brasileira foi a publicação da


Lei nº14.066 em 30 de setembro de 20206, que alterou diversos arti-
gos na PNSB original. Imediatamente após o acidente de Brumadi-
nho, foi criado um Projeto de Lei (PL) nº 5507 que propôs diversas
alterações, concomitantemente com a CPI instalada para investiga-
ção da ruptura da barragem, de onde surgiu a Lei nº 14.0666.

Em resumo, no âmbito federal, um empreendedor na atividade de


mineração que possui barragens para contenção de rejeitos ou se-
dimentos, precisa verificar a necessidade de atender à PNSB, que
está regulamentada pela ANM na Resolução nº 95³, publicada em
07 de fevereiro de 2022 – com complementos publicados em 2023.

É importante ressaltar que nem toda barragem existente dentro de


uma atividade minerária precisa atender todos os requisitos previs-
tos na legislação federal. Existem requisitos que precisam ser avalia-
dos para concluir quanto ao enquadramento ou não da estrutura à
PNSB e, consequentemente, a obrigatoriedade de atendimento à
ANM.

6 BRASIL. Lei nº 14.066, de 30 de setembro de 2020. Altera a Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010,
que estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), a Lei nº 7.797, de 10 de julho de
1989, que cria o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que
institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, e o Decreto-Lei nº 227, de 28 de fevereiro de 1967 (Códi-
go de Mineração). Diário Oficial da União nº189, p. 3, Brasília, DF, 1 out. 2020.

7 Projeto de Lei nº 550/2019. Altera a Política Nacional de Barragens para definir de forma mais clara os
responsáveis pela fiscalização e pela maior rigidez das obrigações dos empreendedores, nos aspectos
preventivos e nas medidas de atuação em situações de emergência; institui obrigação de contratar
seguro ou apresentar garantia financeira; institui sanção penal de indivíduos nos casos em que ficar
comprovado que as suas ações contribuíram para o desastre. 20 mar. 2019.

04
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Figura 2 – Critérios de Enquadra-


Para que uma barragem seja obriga-
mento na PNSB
da a atender os requisitos da ANM é
necessário que ela atenda ao menos
UM de cinco critérios. Quatro crité-
rios são ilustrados na Figura 2. O
quinto critério para a ANM é relacio-
nada à classificação quanto ao CRI
(Categoria de Risco) da estrutura.
Fonte: Paniago (2018)8

Critérios de Classificação de Barragens – PNSB

Conforme previsto na PNSB, a ANM apresenta os critérios de classifi-


cação para as barragens de mineração no Anexo IV da Resolução
95/2022³. De forma resumida, todas as barragens de mineração
devem ser classificadas quanto: i) a Categoria de Risco (CRI), que refle-
te características da própria estrutura e da sua gestão de segurança; ii)
ao Dano Potencial Associado (DPA), que reflete as consequências na
região a jusante numa eventual ruptura da barragem.

O fluxograma apresentado a seguir resume os critérios de como as


barragens são classificadas. Cada um dos critérios apresentados nos
retângulos azuis à direita, relaciona-se a uma tabela apresentada no
Anexo IV da resolução com itens mínimos a serem avaliados.

Figura 3 – Critérios de Classificação de Barragens Segundo a ANM

Fonte: Autor.

8 PANIAGO, Luiz. E-book Segurança de Barragens – Legislação Federal Brasileira Comentada.


Brasília, 2018
05
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

O Plano de Segurança de Barragens – PSB


Outro instrumento importante é o Plano de Segurança de Barragens,
definido pela na Resolução nº 95/22³ da ANM, como:
“instrumento da PNSB, de elaboração e implementação obrigatória pelo em-
preendedor, de atualização constante e que se trata de um repositório de
dados, informações e documentos da estrutura, composto, no mínimo, pelos
elementos indicados no Anexo II.”

No Anexo II desta resolução é apresentado o conteúdo mínimo do


PSB dividido em 6 Volumes. O que a ANM fez, como agência regula-
dora, foi organizar todos os 12 itens obrigatórios do PSB segundo a
Lei Federal nº 12.334/10¹, complementada pela nº 14.066/206. É impor-
tante ressaltar ainda que, cada agência reguladora (ANM, ANEEL,
ANA) tem seu modelo de PSB, mantendo, no mínimo, o exigido pela
PNSB.

Outros Instrumentos da ANM


Para uma melhor gestão de segurança das estruturas, a ANM estabe-
leceu diversos outros instrumentos legais. Alguns deles são:

A. Sistema Integrado de Gestão Barragens de Mineração - SIGBM


- É um sistema desenvolvido ainda pelo antigo DNPM com o
objetivo de gerenciar as barragens de mineração no território
nacional.

- É um Portal onde os empreendedores, os auditores e os


agentes da ANM inserem informações sobre todas as barra-
gens de mineração.

- Apresenta-se como um portal de informação, com um


módulo disponível ao público geral, que pode ser acessado
pelo link: https://app.anm.gov.br/Sigbm/publico.

06
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

B. Engenheiro de Registro (EdR)


- Desde 30 de junho de 2022 é obrigatória a nomeação de um En-
genheiro de Registros (EdR) para as barragens de mineração clas-
sificadas como DPA ALTO.

- Algumas das funções do EdR são descritas na Resolução nº


95/22³, mas podem e devem ser complementadas por guias e pa-
drões internacionais, como o GISTM.

C. Inspeções Regulares
- O empreendedor é obrigado a realizar inspeções em campo,
com frequência mínima quinzenal, em todas as suas estruturas
que não estejam com nenhum nível de emergência acionado.

- Todas as inspeções realizadas devem ser cadastradas no SIGBM.

D. Inspeções Especiais
- O empreendedor é obrigado a realizar inspeções em campo diá-
rias em todas as suas estruturas que estejam com algum nível de
emergência acionado.

- Todas as inspeções realizadas devem ser cadastradas no SIGBM


link: https://app.anm.gov.br/sigbm/publico.

E. Níveis de Emergência
- A ANM definiu Níveis de Emergência para classificar as estrutu-
ras perante sua criticidade.

- Atualmente existem 04 níveis: nível de alerta, nível de emergên-


cia 1, nível de emergência 2 e nível de emergência 3. Quando uma
barragem não se encontra em nenhum destes níveis, entende-se
que ela encontra-se em “nível normal”.

- Todos os critérios para enquadramento nestes níveis estão des-


critos no Artigo nº 41 da Resolução nº 95/223 da ANM.

07
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Normas aplicáveis
Todas as Normas Brasileiras publicadas pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT), apesar de não serem documentos legislati-
vos, passam a possuir força de lei quando referenciadas por uma de-
terminada legislação.

No âmbito de barragens de mineração, as resoluções da ANM preco-


nizam que a NBR 13.028 de 20179 seja seguida, tanto em projetos
quanto em auditorias e avaliações de segurança. Sua utilização se
torna então, obrigatória perante a lei.

Além disto, mais do que o dever legal, a utilização de Normas da


ABNT assegura uma qualidade técnica mínima no desenvolvimento
dos projetos de engenharia para barragens e, por isto, é essencial que
os profissionais da área conheçam seus requisitos mínimos.

No que tange às pilhas de estéril (PDEs), como mencionado anterior-


mente, não existem legislações especificas para este tipo de estrutu-
ra. Por outro lado, existe a NBR 13.029 de 20174 que também apresen-
ta os requisitos mínimos que devem ser considerados em pilhas de
estéril. Para as pilhas de rejeito, ainda não existe uma norma brasilei-
ra específica.

Guias de Boas Práticas


De forma complementar às normas da ABNT referentes aos projetos
destas estruturas, existem diversos Guias de Boas Práticas, nacionais
e internacionais, que apresentam critérios e requisitos de projeto,
operação e manutenção, que buscam uma melhor gestão das estru-
turas. Tais guias ganharam papel importante após a publicação da
Lei 14.066 de 20201, que incluiu estes guias de boas práticas como
instrumentos legais da PNSB.

9ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13028: Mineração – Elaboração e


Apre-sentação de Projeto de Barragens para Disposição de Rejeitos, Contenção de Sedimentos e
Reser-vação de Água. Rio de Janeiro. 2017. Link: <https://pedlowski.files.wordpress.com/2019/03/
nbr13028-2018.pdf
08
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Alguns documentos de referência são o Guia de Boas Práticas do


IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração), publicado em 2019, e o
Padrão Internacional de Gestão de Estruturas de Rejeito (GISTM),
publicado pelo ICMM (Conselho Internacional de Mineração e Metais)
em 2020, ambos documentos publicados como uma resposta à rup-
tura da barragem de B1, em Brumadinho-MG.

Considerações
finais
Observa-se que o arcabouço de legislações vigentes para barragens
e, especificamente, para barragens de mineração, é muito extenso no
Brasil. Muito ainda se tem a construir para a regulamentação das
pilhas de estéril e rejeito e é só uma questão de tempo para que
novas leis e normas surjam.

Atualmente, todo projeto ou documento de engenharia relacionada


com barragens precisa atender ao menos um artigo de alguma legis-
lação, federal ou estadual. Por isso, é muito importante que os profis-
sionais desta área conheçam os órgãos responsáveis pela regula-
mentação e fiscalização da atividade, estejam atentos às atualiza-
ções das legislações e saibam como é o funcionamento das leis no
Brasil.

09
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

02
ASPECTOS RELACIONADOS À
REGULARIZAÇÃO AMBIENTAL
DE PROJETOS DA MINERAÇÃO –
CONTEXTO DE MINAS GERAIS
Por: Mariana Pimenta

Contexto Geral do
Licenciamento Ambiental
O licenciamento ambiental é um processo administrati-
vo, que estabelece critérios e medidas de controle am-
biental a serem seguidas pelo empreendedor, visando à
adequação ambiental das atividades ou empreendi-
mentos e que se dá por meio da Avaliação de Impacto
Ambiental (AIA). Tanto o licenciamento ambiental
quanto a AIA são instrumentos da Lei 6.938/811, que
dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente.

Em âmbito federal, as principais diretrizes para o licen-


ciamento ambiental são dadas pelas Resoluções
CONAMA 01/862 e CONAMA 237/973. Já no âmbito de
Minas Gerais, o licenciamento ambiental é regido pela
Deliberação Normativa COPAM n. 217/20174.

1 BRASIL. Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981.Dispõe sobre a Política Nacional do Meio


Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 1981.
2 IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente. Resolução CONAMA 001, de 23 de
janeiro de 1986. Define as situações e estabelece os requisitos e condições para
desenvolvimento de Estudo de Impacto Ambiental – EIA e respectivo Relatório de
Impacto Ambiental – RIMA.
3 IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente. Resolução CONAMA Nº 237, de 19 de
dezembro de 1997. Dispõe sobre a revisão e complementação dos procedimentos e
critérios utilizados para o licenciamento ambiental
4 MINAS GERAIS. DELIBERAÇÃO NORMATIVA COPAM Nº 217, de 06 DE DEZEMBRO DE
2017. Estabelece critérios para classificação, segundo o porte e potencial poluidor, bem
como os critérios locacionais a serem utilizados para definição das modalidades de
licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades utilizadores de recursos
ambientais no Estado de Minas Gerais e dá outras providências. Assembleia Legislativa
do Estado de Minas Gerais, 2017. 10
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Para direcionar o licenciamento, além da classe da atividade


com base no potencial poluidor-degradador, já conhecido da
legislação federal, a Deliberação Normativa COPAM n.
217/20174 acrescenta uma novidade, que é o critério locacio-
nal, em que se classifica também a localização do empreen-
dimento. Os critérios locacionais de enquadramento podem
ser observados na Figura 1:

Figura 1 - Critérios vocacionais de enquadramento

Critérios Locacionais de Enquadramentos Peso

Localização prevista em Unidade de Conservação de


Proteção Integral, nas hipóteses previstas em Lei 2
Supressão de vegetação nativa em áreas prioritárias
para conservação, considerada de importância biológica
“externa” ou “especial”, exceto árvores isoladas.
2
Supressão de vegatação nativa, exceto árvore isoladas
1
Localização prevista em zona de amortecimento de
Unidade de Conservação de Proteção Integral, ou na
faixa de 3km do seu entorno quando houver zona de
amortecimento estabelecida por Plano de Manejo; 1
excluídas as áreas urbanas.

1
Localização prevista em Unidade de Conservação de
Uso Sustentável, exceto APA

1
Localização prevista em Reserva da Biofera, excluídas
as áreas urbanas

01
11
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Localização prevista em Corredor Ecológico formalmen-


te instituído, conforme previsão legal 1
Localização prevista em áreas designadas como Sítios
Ramsar 2
Localização prevista em áreas de drenagem a montan-
te de trecho de cursos d´água enquadramento em
classe especial
1
Captação de água superfical em Área de Conflito por
uso de recursos hídricos. 1
Localização prevista em área de alto ou muito alto grau
de pontecialidade de ocorrência de cavidades, confor-
me dados oficiais do CEACAV-ICMBio 1
Fonte: Adaptado de COPAM (2017)4

Caso não se enquadre em nenhuma das situações apresentadas, o


empreendimento terá critério locacional de enquadramento igual
a 0 (zero). Dessa forma, depois de analisado o potencial poluidor-
-degradador e os critérios locacionais é que se tem as modalidades
de licenciamento, como pode ser observado no Tabela 1.

12
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Tabela1 - Modalidades de licenciamento de acordo


com porte e potencial poluidor/degradador e critérios
locacionais de enquadramento.

Classe por porte e potencial


poluidor/ degradador
1 2 3 4 5 6

LAS - LAS - LAS - LAC1


0 cadastro cadastro RAS LAC2 LAC2

Cristérios LAS - LAS -


locacionais de 1 cadastro RAS LAC1 LAC2 LAC2 LAT
enquadramento

LAS - LAC1 LAC2


2 RAS LAC2 LAT LAT

Fonte: Adaptado de COPAM (2017)4


Em que:

LAT = Licenciamento Ambiental Trifásico: licenciamento no qual a


Licença Prévia – LP, a Licença de Instalação – LI e a Licença de
Operação – LO da atividade ou do empreendimento são concedidas
em etapas sucessivas;

LAC = Licenciamento Ambiental Concomitante: licenciamento no


qual serão analisadas as mesmas etapas previstas no LAT, com a
expedição concomitantemente de duas ou mais licenças;
LAC 1= análise, em uma única fase, das etapas de LP, LI e LO
da atividade ou do empreendimento;

LAC2 = análise, em uma única fase, das etapas de LP e LI do


empreendimento, com análise posterior da LO; ou, análise
da LP com posterior análise concomitante das etapas de LI e
LO do empreendimento.
LAS = Licenciamento Ambiental Simplificado: licenciamento
realizado em uma única etapa, mediante o cadastro de informações
relativas à atividade ou ao empreendimento junto ao órgão
ambiental competente, ou pela apresentação do Relatório
Ambiental Simplificado – RAS, contendo a descrição da atividade ou
do empreendimento e as respectivas medidas de controle
ambiental.
13
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

O que isso significa?

Significa que existirão processos que serão mais simples de licenciar


e processos que vão ser mais difíceis de licenciar, dependendo de
sua localização. Por exemplo, empreendimentos que estão no
critério locacional zero ou empreendimento que estão em áreas
com algum aspecto importante, mas que têm classes baixas,
podem ser licenciados com um mero cadastro ou por meio de uma
licença ambiental simplificada, que pode ser emitida de forma
expedita com estudos muito simples. Por outro lado,
empreendimentos que têm classes baixas, mas que estão em áreas
com aspectos locacionais de grande importância, precisarão passar,
no mínimo, pelo licenciamento concomitante de fase única.

Licenciamento de projetos
de mineração
No que diz respeito ao licenciamento de projetos de mineração,
de acordo com a Deliberação Normativa COPAM n. 217/20174,
tem-se que:

Art. 20 – Não será admitido o licenciamento na modalidade LAS/Cadastro


para as atividades minerárias enquadradas nas classes 1 ou 2.
Art. 23 – A operação da atividade minerária poderá ocorrer após a
obtenção de Guia de Utilização ou de título minerário junto a entidade
responsável pela sua concessão.

E de acordo com a Lei n. 23.291/20195 , que institui a Política


Estadual de Segurança de Barragens (PESB), tem-se que:

14
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Art. 6º – A construção, a instalação, o funcionamento, a ampliação e o


alteamento de barragens no Estado dependem de prévio licenciamento
ambiental, na modalidade trifásica, que compreende a apresentação
preliminar de Estudo de Impacto Ambiental – EIA – e do respectivo Relatório
de Impacto Ambiental – Rima – e as etapas sucessivas de Licença Prévia – LP
–, Licença de Instalação – LI – e Licença de Operação – LO –, vedada a emissão
de licenças concomitantes, provisórias, corretivas e ad referendum.

Estes são dois pontos bastantes importantes, que direcionam o licen-


ciamento ambiental de empreendimentos do setor. Além disso, exis-
tem outros aspectos que são muito relevantes e que podem repre-
sentar grandes desafios para o licenciamento de empreendimentos
minerários, que serão abordados a seguir.

Desafios para o licenciamento


de empreendimentos minerários:
Campos rupestres
Os campos rupestres são uma fitofisionomia bastante presente em
locais em que existem ou almeja-se implantar empreendimentos
minerários. Os campos rupestres constituem um ambiente mega
diverso e crítico, que cobre menos de 0,8% da área do país, mas que
contém mais de 15% da flora nacional, sendo 40% endêmica e com
presença de uma grande quantidade de espécies ameaçadas.

5 MINAS GERAIS. Lei nº 23.291, de 26 de fevereiro de 2019. Esta lei aplica-se a barragens destinadas à
acumulação ou à disposição final ou temporária de rejeitos e resíduos industriais ou de mineração e
a barragens de água ou líquidos associados a processos industriais ou de mineração. Assembleia
Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2019.

15
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

E por que esse tipo de vegetação


é crítico para empreendimentos
minerários?
Devido à presença de inúmeras espécies que serão extintas caso
venha a se acabar com os campos rupestres e a falta de legislação
específica que regulamente as medidas compensatórias e mitiga-
doras que assegura a conservação destas espécies, gera uma
grande incerteza.

Neste contexto, tem-se a Lei da Proteção da Vegetação Nativa6 , que


é mais conhecida como Código Florestal, que dispõe que a supres-
são de vegetação ou uso alternativo do solo depende da adoção de
medidas compensatórias e mitigadoras, assegurando a conserva-
ção das espécies. Entretanto, esta lei ainda carece de regulamenta-
ção e deixa muitos aspectos em aberto.

Outra regulamentação, a Lei da Proteção da Mata Atlântica7, que


abrange parte do Estado de Minas Gerais, incluindo o Quadrilátero
Ferrífero, dispõe que o corte e a supressão de vegetação estão veda-
dos quando abrigarem espécies da flora e da fauna silvestre amea-
çados de extinção. Esta e outras questões que envolvem a supres-
são de vegetação e recuperação dos campos rupestres, que ainda
não possui um protocolo científico consolidado, gera uma grande
insegurança jurídica para empreendimentos com licenciamento
ocorrendo em área com este tipo de vegetação.
Diante disso, é preciso pensar em alternativas para os empreendi-
mentos minerários, principalmente, aqueles relacionados à disposi-
ção de rejeitos, que demandam áreas nestas regiões críticas, de
forma a não pressionar ainda mais o ambiente já ameaçado.

6 BRASIL. Lei Federal nº12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa;
altera as Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de
dezembro de 2006; revoga as Leis nºs 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989,
e a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Diário Oficial da
União. Brasília/DF: DOU, 28 mai. 2012.

7 BRASIL. Lei Federal 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a utilização e proteção da
vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, e dá outras providências. Diário Oficial da União.
Brasília/DF: DOU, 26 dez. 2006.
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm
16
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

E, pelo que se tem visto no órgão ambiental, este acaba sendo um


fator nem sempre considerado nas análises de alternativas tecnoló-
gicas e locacionais e que começa a ser um problema, talvez não de
viabilidade ainda, mas, sem dúvida, de encarecer um projeto devido
a compensações não previstas.

Desafios para o licenciamento


de empreendimentos minerários:
Espeleologia
Normalmente, existe uma elevada probabilidade de ocorrência de
cavidades naturais nas áreas de mineração, o que consiste em um
desafio. Isto porque, existe vedação para o licenciamento de empre-
endimentos em que se registrem cavidades de máxima relevância
nos estudos espeleológicos, uma vez que estas não podem ser su-
primidas e precisam ter sua área de influência protegida. De acordo
com Decreto Federal n. 10.9358, de 12 de janeiro de 2022, tem-se que:

Art. 1º As cavidades naturais subterrâneas existentes no território


nacional deverão ser protegidas, de modo a permitir a realização de
estudos e de pesquisas de ordem técnico-científica e atividades de cunho
espeleológico, étnico-cultural, turístico, recreativo e educativo.

No Estado de Minas Gerais, toda espeleologia é regida pela


Instrução de Serviço Sisema 08/20179. Esta instrução estabelece
todo um fluxo, mostrando se a presença de cavidades irá ou não
alterar um projeto e gerar a necessidade de estudos. Estudos estes
que podem ser demorados, caros e que podem, inclusive, que
inviabilizar parte de projetos. Portanto, este é um ponto que
também necessita de muita atenção.

8 BRASIL. Decreto Federal nº 10.935 de 12 de janeiro de 2022. Dispõe sobre a proteção das cavidades
naturais subterrâneas existentes no território nacional. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2022.
9 Instrução de Serviço Sisema 08/2017. Procedimentos para análise dos processos de licenciamento
ambiental de empreendimentos e de atividades efetiva ou potencialmente causadoras de impactos
sobre cavidades naturais subterrâneas.

17
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Desafios para o licenciamento de


empreendimentos minerários:
Aspectos sociais

E o terceiro aspecto que representa um grande desafio para os em-


preendimentos minerários são os aspectos sociais. A licença social,
que durante muito tempo foi negligenciada, está cada vez mais em
voga. As comunidades tradicionais têm cobrado um posicionamen-
to cada vez maior, tanto das empresas quanto do próprio órgão am-
biental, sobre os impactos dos empreendimentos nas populações
de seu entorno.

Este é um assunto bastante sério e em Minas Gerais, por exemplo, já


houve um caso de uma licença ambiental que já havia sido emitida
e que foi suspensa devido a uma comunidade tradicional. Ou seja,
os aspectos sociais representam um risco, inclusive após o licencia-
mento ambiental.

Sobre este aspecto, existe toda a questão vinculada ao Programa de


Educação Ambiental e ao Diagnóstico Sócio Participativo (PE-
A/DSP), que são atividades relativamente novas. Sabe-se que estas
atividades podem melhorar muito a comunicação do empreendi-
mento e aceitação junto às comunidades tradicionais, mas percebe-
-se que ainda se encontram muito incipientes entre as mineradoras.

Observando estes três aspectos no contexto da mineração (campos rupestres,


espeleologia e social), verifica-se a importância de se unir equipes com diferentes
tipos de especialistas no momento do planejamento dos empreendimentos minerá-
rios e não só uma equipe técnica de Engenharia. É preciso estar muito atento não só
às alternativas locacionais, mas também às alternativas tecnológicas, quando apli-
cável, para o bom andamento do licenciamento ambiental de empreendimentos
minerários.

18
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Licenciamento de projetos
de disposição de rejeitos
da mineração

O licenciamento de projetos de disposição de rejeitos, passou por uma


mudança de legislação e de paradigma nos últimos anos. Isto por que,
depois das ocorrências dos rompimentos em Mariana (2015) e Bruma-
dinho (2019), houve a criação da Lei n. 23.291/20195, que estabelece a
Política Estadual de Segurança De Barragens de Minas Gerais. Além
disso, a Política Nacional de Segurança de Barragens também trouxe
várias novidades, dentre elas uma nova definição do que é barragem,
como pode ser observado na descrição a seguir:

I - barragem: qualquer estrutura construída dentro ou fora de um


curso permanente ou temporário de água, em talvegue ou em cava
exaurida com dique, para fins de contenção ou acumulação de
substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e sólidos,
compreendendo o barramento e as estruturas associadas; (Redação
dada pela Lei nº 14.066, de 202010)
II - reservatório: acumulação não natural de água, de substâncias
líquidas ou de mistura de líquidos e sólidos.

A Figura 2 apresenta um compilado com a classificação das estrutu-


ras de disposição perante a legislação vigente, de forma grosseira,
com exceções.

10 BRASIL. Lei nº 14.066, de 30 de setembro de 2020. Altera a Lei nº 12.334, de 20 de setembro de


2010, que estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), a Lei nº 7.797, de 10 de
julho de 1989, que cria o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de
1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, e o Decreto-Lei nº 227, de 28 de fevereiro
de 1967 (Código de Mineração). Diário Oficial da União nº189, p. 3, Brasília, DF, 1 out. 2020.

19
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Figura 2 - Classificação das estruturas de disposição


perante a legislação vigente

Barragem de rejeitos - Métodos de alteamento


BARRAGEM Empilhamento drenado
Disposição de rejeitos espessados / em pasta

Disposição de rejeitos filtrados PILHAS DE


Empilhamentos a seco (dry stacking) REJEITOS/
ESTÉRIL
Co-diposição

CÓDIGO
ESPECÍFICO Disposição em cava

Fonte: Autor

Além dos aspectos legais nacionais e estaduais, houve, ainda, a proi-


bição da existência de barragens em vários municípios em Minas
Gerais. Tal cenário levou a uma migração dos tipos de projeto de dis-
posição por parte das mineradoras. Quase que a totalidade dos pe-
didos de licenciamento passaram a ser de projetos de pilha de rejei-
tos que passam por algum tipo de desaguamento ou filtragem. Isto
representa uma preocupação e tem deixado os órgãos ambientais e
fiscalizadores atentos para que as soluções de hoje não se tornem
um problema amanhã.

Vê-se, portanto, a necessidade de uma real discussão sobre as alter-


nativas tecnológicas e locacionais para os projetos de disposição de
rejeitos. Antes, este era um capítulo do Estudo de Impactos Am-
bientais (EIA) ao qual não se dava a devida importância. Entretanto,
cada vez mais, os projetos estão sendo questionados, reavaliados e
indeferidos, porque não existe a discussão real de alternativas tec-
nológicas e locacionais. E isto se dá com o amparo da PESB, como
apresentado a seguir:

20
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Art. 8º – O EIA e o respectivo Rima, a que se refere o caput do art. 6º,


conterão:
I – a comprovação da inexistência de melhor técnica disponível e
alternativa locacional com menor potencial de risco ou dano ambiental,
para a acumulação ou para a disposição final ou temporária de rejeitos e
resíduos industriais ou de mineração em barragens;
(...)
§ 1º – No EIA e no respectivo Rima, serão priorizadas as alternativas de
disposição que minimizem os riscos socioambientais e promovam o
desaguamento dos rejeitos e resíduos.

Outro aspecto importante que PESB trouxe é que o órgão ambien-


tal deve avaliar não só os impactos ambientais, mas também o risco
e danos potenciais dos projetos a serem licenciados. Dessa forma,
passou-se a ter esta nova análise e a se priorizar as alternativas de
disposição que minimizem os riscos socioambientais e que promo-
vam desaguamento dos rejeitos resíduos.
E, diante deste cenário, licenciar uma barragem ainda é possível?

Sim, é possível! Desde que seja comprovada a inexistência de


melhor técnica. Ou seja, a lei apertou, mas não impediu. Entretanto,
o licenciamento obrigatoriamente será trifásico e existem obriga-
ções para cada fase, como dispõe a Política Estadual de Segurança
de Barragens.

Considerações
finais
Aqui fica um alerta de algo que é preciso entrar no radar das empre-
sas: o mais importante para qualquer projeto de mineração é a licen-
ça social. Então, mais do que nunca, é preciso se investir em equipes
multidisciplinares, bons estudos, buscar as melhores alternativas
tecnológicas e locacionais para os projetos e um bom relacionamen-
to e comunicação com a sociedade e comunidades tradicionais.

10 construir uma barragem ou qualquer projeto minerá-


Se almeja-se
rio, em que a comunidade não está de acordo, pode ser que ele
nunca seja construído ou efetivado.

21
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

03
ESTUDO DE ALTERNATIVAS
TECNOLÓGICAS PARA
DESTINAÇÃO DOS REJEITOS
DA MINERAÇÃO
Por: Wilfred Brandt e Luana Andrade

Há mais de 37 anos, a Resolução CONAMA 01/86 , dispõe que:


Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender à
legislação, em especial os princípios e objetivos expressos na Lei
de Política Nacional do Meio Ambiente, obedecerá às seguintes
diretrizes gerais:

I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização


de projeto, confrontando as com a hipótese de não execução do
projeto;
Seria isto um castigo ou a Engenharia adequada? O
estudo de alternativas tecnológicas não é um castigo.
Os Engenheiros de Minas, Engenheiros Geotécnicos e
especialistas da área precisam entender que o estudo
de alternativa tecnológica é a base para uma boa Enge-
nharia e para um projeto técnico e financeiramente
seguro.

Para Richard Feyman, Prêmio Nobel de Física, “para


uma tecnologia ser considerada bem-sucedida, a reali-
dade deve prevalecer sobre as relações públicas, pois a
natureza não pode ser enganada”. Portanto, a exigência
do estudo de alternativas tecnológicas tem como fun-
damento a definição de alternativas mais ambiental-
mente adequadas. Além disso, ela pode justificar a não
adoção de determinadas alternativas, que poderiam
parecer melhores à princípio, eliminando a subjetivida-
de e fornecendo segurança à sociedade e investidores.

1 CONAMA, Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 1, de 23 de janeiro de


1986. Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto
ambiental. Brasília, DF, 23 jan. 1986.
22
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Em um cenário em que se precisa minimizar as incertezas, se todos


adotam uma determinada tecnologia, o mercado acaba investindo
nela de “olhos vendados”. Por isso, o estudo de alternativas
também fomenta a inovação e nos ajuda a superar as tecnologias
consolidadas e ultrapassadas, devendo ser considerado uma opor-
tunidade de evolução por parte dos Engenheiros e investidores.

De forma geral, alguns fatores são mais capazes de gerar uma dis-
rupção tecnológica, tais como: demandas de sustentabilidade,
redução de custos, geração de riscos e acidentes. E a tecnologia
mais adequada dependerá de fatores técnicos, econômicos, de
mercado e legais de um dado momento.

No que diz respeito aos rejeitos da mineração, os acidentes e os as-


pectos legais têm nos direcionado a pensar em novas tecnologias.
E neste contexto, é preciso estar ciente que as alternativas depen-
dem do tipo de minério, do mercado e do produto, podendo con-
duzir à cenários que vão desde a não geração do rejeito ou até
mesmo à produção de novos tipos de rejeitos.

De fato, a escolha de uma alternativa tecnológica para destinação


dos rejeitos da mineração é algo bem complexo e o tópico a seguir
tem como objetivo auxiliar na sistematização dos estudos dessas
alternativas.

Por onde começar o estudo de


alternativas no que diz respeito
aos rejeitos da mineração?
De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei
n. 12.305/20102, os “rejeitos da mineração”, que são resíduos advin-

2 BRASIL. Casa Civil. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, DF, 02 ago.
2010.

23
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

dos do beneficiamento do minério, são considerados resíduos sóli-


dos3 e, portanto, para sua gestão ou gerenciamento deve ser obser-
vada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutili-
zação, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidose disposição
final ambientalmente adequada dos rejeitos.

Ao analisar a PNRS é possível até mesmo questionar a terminolo-


gia “rejeitos da mineração” uma vez que para ser considerado rejei-
to é preciso que tenham sido “esgotadas todas as possibilidades de
tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e
economicamente viáveis, não apresentando outra possibilidade
que não a disposição final ambientalmente adequada”2. E isto con-
siste, exatamente, no estudo de alternativas.
Não geração – existe alguma possibilidade de beneficiar o minério
de uma forma que não se gere resíduos?
Redução – existe alguma possibilidade de se beneficiar o minério
de uma forma que se reduza a geração de resíduos?
Reutilização – uma vez gerados os resíduos, eles são passíveis de
serem reutilizados em algum outro processo ou como um subpro-
duto sem que haja necessidade de promover algum tipo de trans-
formação física ou físico-química?
Reciclagem – não havendo a possibilidade de reutilizar, é possível
alterá-los física ou físico-quimicamente com vistas à transformação
em insumos ou novos produtos?

Tratamento dos resíduos sólidos - não havendo a possibilidade de


reciclar, existe algum tipo de processo que deixe os resíduos em
questão menos impactantes ao meio ambiente?
Disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos – pas-
sando por todas as etapas anteriores, qual a melhor forma de se
fazer a distribuição ordenada desses rejeitos, observando-se as
normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à
saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais
adversos?
3 Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas
em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder,
nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particula-
ridades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam
para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

24
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Considerações
finais
Conforme apresentado, quando avaliamos a fundo o estudo de
alternativas tecnológicas, a disposição final, seja em barragens,
pilha ou cavas, se torna a última opção para os resíduos da
mineração. Algumas alternativas já vêm sendo avaliadas e estudas,
tais como:
Aplicação na construção civil em obras locais – estudos de
materiais cerâmicos e casas construídas com os rejeitos da
mineração (UFMG4 e UFOP5);
Aplicação em obras de pavimentação6;
Criação de “tecnossolos, ou solos saudáveis a partir de
rejeitos e estéreis da mineração7.
Neste contexto, observa-se que o estudo de alternativas abre um
grande leque e possibilidades de soluções para um problema
complexo que é a destinação dos resíduos da mineração. Por isso, é
preciso ter sempre em mente: o estudo de alternativas não é um
castigo imposto pela Resolução CONAMA 01/861 e pelos órgãos
reguladores, e sim uma grande oportunidade de se executar a boa
Engenharia.

4 ANDRADE, Luana, CARVALHO, José M., FONTES, Wanna C., PEIXOTO, Ricardo, SEGADÃES, Ana M.
Assessment of the use potential of iron ore tailings in the manufacture of ceramic tiles: from tailin-
gs-dams to “brown porcelain”. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii-
/S0950061819303472. Acesso em: 25 set. 2023.
5 MACHADO, Nivia. UFOP constrói casas com rejeitos de mineração e siderurgia. Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2023/07/10/interna_gerais,1518517/ufop-constroi-casas-com-
rejeitos-de-mineracao-e-siderurgia.shtml Acesso em: 25 set. 2023.
6 VALE, Relacionamento Com A Imprensa -. Vale lança programa de infraestrutura viária com
doação de areia proveniente da mineração de ferro. Disponível em: https://www.vale.com/pt/w/
vale--lanca-programa-de-infraestrutura-viaria-com-doacao-de-areia-proveniente-da-mineracao-de-
ferro. Acesso em: 25 set. 2023.
7 NUNES, Aline et al. Criação de solos saudáveis a partir de rejeitos e estéreis da mineração: um possível
legado da mineração. Revista Brasil Mineral, São Paulo, v. 426, n. 2, p. 102-113, 01 fev. 2023. Mensal.
Dispo-nível em: https://www.brasilmineral.com.br/revista/426/?p=102. Acesso em: 25 set. 2023. |
Ruiz, F., Safanelli, J.L., Perlatti, F. et al. Constructing soils for climate-smart mining. Commun Earth
Environ 4, 219 (2023). https://doi.org/10.1038/s43247-023-00862-x

25
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

04
ALTERNATIVAS LOCACIONAIS
PARA PROJETOS DE DISPOSIÇÃO
DE REJEITOS

Por: Thiago Oliveira

O conceito de rejeitos está bem disseminado entre


os profissionais da mineração como sendo “todo e
qualquer material descartado durante o proces-
so de beneficiamento de minério”. Mas será que
conseguimos compreender a origem desse rejeito
e como seu processo de formação influencia em
suas características? Será que conhecemos a
cadeia minerária como um todo para ajudar no en-
tendimento do rejeito?

Pensar nestas perguntas é algo muito relevante,


pois, com certeza, o entendimento de toda a
cadeia minerária pode trazer muitos insights em
relação às características dos rejeitos e ajudar nas
análises das alternativas tecnológicas para destina-
ção e locacionais para disposição dos rejeitos. Tais
pontos são cada vez mais relevantes para o correto
desenvolvimento de um projeto desta natureza e
para sua aprovação em órgãos licenciadores. Neste
contexto, a Figura 1 ilustra de uma forma didática e
macro a cadeia da mineração, passando pelas
etapas de: pesquisa e planejamento de mina, ope-
ração da mina, beneficiamento do minério, vendas,
logística e cliente.

1 ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13028: Mineração -


Elaboração e apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos,

26
contenção de sedimentos e reservação de água – Requisitos. Rio de Janeiro, 14 de
nov. 2017.
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Figura 1 - Cadeia Minerária

Fonte: Autor

Ao se analisar toda a cadeia minerária, percebe-se que a geração de


rejeitos e as características dos rejeitos vão depender das característi-
cas da jazida, da forma que se opera a mina e do tipo de beneficia-
mento do minério. Isso pode parecer óbvio, mas, na maior parte das
vezes, é um fluxo que deveria ser melhor explorado dentro dos proje-
tos de engenharia de estruturas de disposição de rejeitos. É usual tra-
balhar nestes projetos com definições de parâmetros e premissas em
que as características dos rejeitos são uniformes. Todavia, quando
ocorre uma alteração na frente de lavra, ou quando as etapas de be-
neficiamento mineral são alteradas, o rejeito sairá com características
diferentes em cada uma dessas situações operacionais.

E no que diz respeito ao estudo locacional, que é uma das primeiras


fases de um projeto, a reflexão se repete. Será que estamos analisan-
do a localização de uma estrutura de forma sistêmica, conectada com
a cadeia minerária como um todo?E isso é de suma importância, pois

27
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

o momento vigente da mineração nos pede uma visão mais sistêmi-


ca e mais integrada de todas as áreas de atuação, seja devido às ques-
tões de sustentabilidade, sociais ou de governança, seja por questões
legais e de Engenharia cada vez mais complexas. Diante disso, pode-
mos fundamentar o estudo de alternativas locacional em seis pilares:

Momento da mineração;
Motivadores: legislação e boas práticas;
Definição estratégica e rota tecnológica;
Condições de contorno;
Ciclo de vida completo do projeto; e
Análises de alternativas.
Tais pilares não são exatamente uma regra, podem variar caso a caso.
Entretanto, de uma maneira geral, contemplam o que minimamente
deve ser considerado quando da elaboração de um estudo locacional
de alternativas. A seguir falaremos um pouco mais sobre cada pilar.

Momento da Mineração:
Sustentabilidade
Podemos afirmar que, atualmente, a palavra que define o momento
da mineração é: sustentabilidade. Alguns conceitos e aspectos têm
guiado o mercado neste sentido, tais como: economia circular, práti-
cas ESG (Environmental, Social and Governance) e os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável – ONU, descritos com um pouco mais
de detalhe a seguir.

Economia Circular: Este conceito associa o desenvolvimento econô-


mico a um melhor uso e aproveitamento dos recursos naturais, por
meio de novos modelos de negócios e da otimização dos processos
de produção. No contexto da mineração, como esta é uma atividade
com grande produção de resíduos sólidos, encontrar oportunidades
de transformar resíduos em matérias primas para outras cadeias
produtivas é um dos grandes objetivos deste conceito.

28
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

ESG (Environmental, Social and Governance): No Brasil, a agenda


ESG começou a direcionar formalmente decisões na Bolsa de Valores,
a B3, em 2012 e, desde então, as exigências de melhores práticas na
área ambiental, social e de governança corporativa só cresce. Dentro
da mineração, operar conectado ao ESG pode significar muitas ações
práticas de sustentabilidade (eletrificação de frota, redução no consu-
mo de água nova, ter energias renováveis, etc.), transparência com a
comunidade do entorno (reuniões com a comunidade, treinamento e
simulados em plano de ação emergencial, etc.), maior ações de diver-
sidade e inclusão (aumento do número de mulheres em cargos de
liderança, etc.) e implementação de aspectos institucionais de gover-
nança (engenheiro de registro, conselho independente de revisão de
rejeitos, etc.)

ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável): Criado pela ONU


em 2015, os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável (Figura 2)
têm o intuito de guiar governos e organizações público e privadas à
ações para erradicação da pobreza, proteção ao meio ambiente, valo-
rização das pessoas e outros pilares também ligados à sustentabilida-
de. Ter estes objetivos em mente ao longo da elaboração de qualquer
projeto ou estudo em estruturas de disposição de rejeitos conecta as
soluções de engenharia com a sustentabilidade e as questões socio-
ambientais.

Figura 2 - Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

Fonte: Estratégia ODS.2

2 Estratégia ODS. https://www.estrategiaods.org.br/wp-content/uploads/2018/08/ods.jpg.


Acesso em: 02/10/2023. 29
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

No contexto da sustentabilidade, foi modificado de Boger (2009)3


um fluxo mostrando o método de destinação dos rejeitos compara-
do com seu nível de sustentabilidade e a concentração que este
rejeito se encontra (Figura 3).

Figura 3 - Método de destinação dos rejeitos

Práticas de Concentração
Disposição (Teor de Sólidos)
de Rejeitos

Menos Disposição em rios


Sustentável
Disposição no mar Polpa
Barragens de Rejeitos
Disposição central espessada Espessado
Filtragem e Empilhamento Torta
Disposição em pasta em área
já minerada Pasta
Reuso de rejeitos Não se aplica
Mais Disposição em torta em área Torta
Sustentável já minerada

Fonte - Adaptado de Boger (2009)3

Por este fluxo, é possível observar alguns fatos: as duas alternativas


mais sustentáveis de destinação do rejeito são o seu reuso ou a sua
disposição, após o deságue, em área já minerada, o que já poderia
estar dentro de um plano de recuperação de áreas degradadas. Ao
inserirmos todo este contexto e momento da mineração até aqui
citados, o setor precisa buscar tratar o rejeito como um material que
ainda não foi descoberto seu potencial de uso antes de buscar um
local para sua disposição.

3 BOGER, David V. Rheology and the resource industries. Chemical Engineering Science, [S.L.], v. 64, n.
22, p. 4525-4536, nov. 2009. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.ces.2009.03.007.

30
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Motivadores: legislação
e boas práticas
Além da legislação atual vigente, já bastante difundida, que por si só
já é um grande motivador para realização dos estudos de alternativas
locacionais, desde 2020 a mineração conta com o Padrão Global da
Indústria para a Gestão de Rejeitos (GISTM, em inglês)4. O GISTM tem
como objetivo evitar qualquer dano às pessoas e ao meio ambiente
(zero dano), com tolerância zero para fatalidades humanas. Além
disso, exige que os empreendedores assumam a responsabilidade e
priorizem a segurança de suas estruturas de contenção de rejeitos em
todas as fases de sua vida útil.

Nas orientações de boas práticas do GISTM, existem dois requisitos


que dizem respeito especificamente à estudos locacionais de estrutu-
ras de disposição:

Requisito 3.2³

“Para novas estruturas de disposição de rejeitos, o Operador deve usar a


base de conhecimentos e realizar uma análise multicritério de
alternativas locacionais, tecnologias e estratégias viáveis para a gestão
de rejeitos. O objetivo dessa análise deve ser o de: (i) selecionar uma
alternativa que minimize os riscos para as pessoas e o meio ambiente ao
longo de todo o ciclo de vida das estruturas de disposição de rejeitos; e
(ii) minimizar o volume de rejeitos e de água em estruturas de disposição
de rejeitos externas. Essa análise deve ser revisada pelo Conselho
Independente de Revisão de Rejeitos (CIRR) ou por um revisor técnico
sênior independente.”

4 GLOBAL TAILINGS REVIEW (GTR). Padrão global da indústria para a gestão de rejeitos: minuta
final. International Council on Mining and Metals (ICMM), United Nations Environment Program
(UNEP), Principles for Responsible Investment (PRI), 2020, 42 p. Disponível em: https://globaltailingsre-
view.org/wp-content/uploads/2020/08/global-tailings standard_spreads_PT.pdf. Acesso em:
09/10/2023.

31
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Requisito 5.1³

“Para novas estruturas de disposição de rejeitos, incorporar o resultado


da análise multicritério de alternativas, incluindo o uso de tecnologias de
disposição de rejeitos no projeto das estruturas de disposição de
rejeitos.”

A criação do GISTM tem ajudado a alterar a cultura nas organizações


no que diz respeito à responsabilidade da empresa mineradora na
gestão de suas estruturas, de forma mais segura e consciente. Para
isso, cada estudo para implantação de uma nova estrutura de disposi-
ção deve estar muito bem fundamentada em critérios que garantam
não só sua segurança, mas também o menor impacto possível ao
meio-ambiente e às comunidades ao redor.

Definição estratégica e rota


tecnológica, ciclo de vida e
condições de contorno
Após observarmos questões relacionadas à sustentabilidade, legisla-
ção e boas práticas, a definição estratégica e de rota tecnológica irá
influenciar diretamente no estudo de alternativas locacionais.

A definição estratégica é necessária para confirmar que a disposição


final é a alternativa necessária para o rejeito em questão, não havendo
outro uso para este material. É recomendado que haja um estudo
sobre este tema para embasar todo o projeto de alternativa locacional.

A rota tecnológica deve ser explorada para definir se o rejeito passará


por algum tratamento prévio (adensamento, filtragem, etc.) que irá
alterar suas condições para a estrutura de disposição de rejeitos. Ge-
ralmente, este tipo de estudo possui uma interface muito forte com a
área de processo mineral/operação da unidade para confirmar qual a
melhor rota tecnológica para o rejeito em tela.

32
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Durante a etapa de estudo locacional, deve-se ter em vista a conside-


ração de todas as fases de vida da estrutura de disposição de rejeito
em estudo, perfazendo, mas não se limitando a: engenharia, constru-
ção, operação, monitoramento e fechamento.

Por fim, as condições de contorno, ou seja, as variáveis (características)


que possuem relação direta ou indireta com o estudo locacional
devem ser mapeadas e elencadas, se possível, como uma das primei-
ras etapas deste estudo. Abaixo, este autor colocou alguns exemplos
de condições de contorno que devem ser mapeados se são aplicáveis
ou não para o estudo locacional que estará sendo elaborado.

Distância Média de Transporte Cursos Hídricos.


(DMT) até a usina; Áreas de Interesse Cultural;
Forma de Disposição; Viabilidade Fechamento;
Limite de Propriedade; Qualidade Ar e Água;
Áreas de APP; Características Geométricas;
Comunidades; Desafios Construtivos;
Compliance legal; Imagem;
Custos de Implantação Modos de Falha; dentre outros
(CAPEX); aspectos.
Custos operacionais (OPEX);

Estas condições de contorno, darão base para o estabelecimento de


critérios para a análise multicritério de alternativas locacionais, uma
das recomendações do GISTM.

Análises de alternativas
Com base em todos os pilares anteriores, a execução das análises
comparativas entre as áreas previamente identificadas como poten-
ciais alternativas locacionais serão avaliadas perfazendo aspectos
multidisciplinares que são essenciais para escolha da melhor alterna-
tiva ou identificação de falhas fatais. Para este tipo de análise, este
autor sugere fluxo apresentado na Figura 4.

33
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Figura 4 - Fluxo para análise da melhor alternativa

Fonte - Autor

Considerações
finais
Qualquer estudo de alternativas locacionais deve ser realizado sob a
luz de uma visão mais holística, abrangendo todo negócio mineiro, ex-
pectativas da empresa, tendências da indústria, legislações vigentes,
boas práticas de engenharia, aspectos socioambientais, bem como a
avaliação de seu entorno através de variáveis diretas ou indiretas. Por
isso, é importantíssimo buscar ter um mínimo de conhecimento ou
visão de toda a cadeia minerária em que seu estudo está inserido,
mapear o máximo de condições de contorno possíveis, envolver uma
equipe multidisciplinar e não somente pensar na estrutura de disposi-
ção em si.

É recomendável que as equipes multidisciplinares participem de


todas as etapas do estudo, de forma a avaliar a alternativa em todos os
seus ciclos de vida por meio de metodologias de análises multicrité-
rios baseadas em ranqueamento de alternativas.

34
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Sempre que houver possibilidade, deve-se envolver o máximo de


partes interessadas e não somente a equipe de engenharia. Isto é
bastante relevante para que se possa debater adequadamente
com comunidades, órgãos legisladores, prefeituras e outros setores
que possuem relação direta ou indireta com o estudo locacional,
tendo sempre em mente a minimização dos riscos à comunidade e
ao meio ambiente.

“Para boas ideias e inovações reais, é necessário interação


humana, conflitos, argumentos e debates”

Margaret Heffernan, Professor of Practice at the


University of Bath School of Management

35
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

ANÁLISE MULTICRITÉRIO PARA

05
ESTUDO DE ALTERNATIVAS
TECNOLÓGICAS E LOCACIONAIS
PARA DISPOSIÇÃO DE REJEITOS
DA MINERAÇÃO
Por: Thiago Oliveira e André Coelho¹

CONCEITUAÇÃO GERAL

Existem uma infinidade de ferramentas que podem


ser utilizadas para auxiliar na tomada de decisão refe-
rente à seleção de alternativas locacionais, mas os
modelos de mensuração de valores são os mais rele-
vantes. Dentre estes podemos citar o método de aná-
lises de múltiplas considerações (Multiple Accounts
Analysis – MAA), que vem sendo utilizado com suces-
so neste tipo de avaliação.

O MAA consiste em avaliar as condições de contorno


citadas no artigo anterior que possuem relação direta
ou indireta com as alternativas em análise perfazen-
do considerações a respeito dos impactos em cada
alternativa. O processo de decisão é baseado em pon-
tuação de cada condição de contorno pela equipe
multidisciplinar com ponderações em relação aos
possíveis impactos técnicos, ambientais, socioeconô-
micos e de governança. Nesta lista de considerações,
que pode ser entendido como os critérios e premissas
do estudo, são definidos os “critérios de análise” rela-
tivos à cada alternativa, buscando perfazer todos os
ciclos de vida útil da estrutura, os critérios de avalia-
ção e a pontuação dos critérios de análises que
podem ser intitulados como “indicadores” ou critérios
de medição.

1 COELHO, André. Aspectos Geotécnicos Conceituais de Projetos de Pilhas de Rejeitos


Filtrados. Effyía - Escola da Engenharia, 2021.
<https://effyia.com.br/produto/aspectos-geotecnicos-conceituais-de-projeto-de-pilhas/>.
36
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Ao indicador deve ser definido qual será a “nota” de avaliação. Não


há uma definição usualmente estabelecida quanto a estas
pontuações. Recomenda-se que seja validado junto com a
mineradora este critério. Geralmente, adota-se uma pontuação que
reflita que quanto mais favorável a alternativa for em relação ao
impacto (condição de contorno) avaliado, melhor será a nota. Estes
autores trouxeram um exemplo em que foram definidas notas de 1
a 5, conforme Figura 1.

Figura 1 - Definição do fator dos indicadores

Definição dos indicadores

5 ótimo
Fator de escala

4 muito boa

3 boa
2 regular
1 ruim

Fonte: Autores.

É desejável que todas as condições de contorno mapeadas sejam


mensuráveis, situação que nem sempre é possível devido ao nível
de informações disponíveis para esta fase de estudo. Desta forma,
algumas condições de contorno podem ser mensuradas de forma
qualitativa (exemplo: sim ou não) pela equipe multidisciplinar.
Neste caso, os impactos neste tipo de situação são, geralmente,
definidos apenas as notas 1 ou 5, por não ser possível determinar
notas intermediárias.

Dentre as diversas condições de contorno mapeadas, algumas


podem possuir maior impacto que outras nas alternativas em
análise ou serem até mais relevantes. De forma a refletir estas
condições no estudo locacional, pode ser necessário a definição de
“pesos”.

37
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Mapeado, definido e pontuado cada condição de contorno para


cada alternativa, levando-se em conta o “peso” destes, multiplica-se
a “nota” pelo “peso” de cada alternativa, avaliando-se todos os
impactos julgados relevantes e faz-se a somatória. Ao final da
avaliação, a alternativa que obtiver a maior nota é considerada a
mais recomendada para ser adotada em seguir com maior
detalhamento de engenharia.

A seguir será apresentado um exemplo hipotético para facilitar a


compreensão do que foi citado até então.

Exemplo Hipotético
Para que a metodologia fique mais clara, considere o exemplo de
um estudo de alternativas técnico-locacional, considerando a
implantação das seguintes estruturas e áreas (Figura 2):
Figura 2 - Exemplo hipotético de um estudo
de alternativas técnico-locacional

Legenda:

Alternativas
A1 – Pilha de Rejeito
A2 – Pilha de Rejeito
A3 – Barragem de Rejeito

Fonte: Autor.

Para este estudo será envolvida uma equipe multidisciplinar


composta por:

38
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

RTFE – Responsável Técnico da Mineradora da alternativa que será definida


no estudo locacional
Geotécnico da mineradora responsável pelo monitoramento
Geotécnico da mineradora responsável pela elaboração do estudo locacional
Engenheiro de Operação Rejeitos (se houver)
Hidrólogo
Geólogo
Engenheiro Implantação Obras
Engenheiro de Registro (EdR)
Projetista ou Projetista de Registro (PdR)
Responsável pela Relações Comunidades
Engenheiro Ambiental
Engenheiro de Processo Mineral
Engenheiro de Operação de Mina

E a equipe multidisciplinar definiu que, para este caso, serão avalia-


das as seguintes condições de contorno:

Limite de Propriedade
Impactos Comunidades
Modos de Falha
Menor DMT
Características Geométricas
Compliance Legal
Áreas de APP
Áreas de Interesse Cultural
Forma de Disposição
Viabilidade Fechamento
Custos Implantação (CAPEX)
Custos Operacionais (OPEX)
Viabilidade Construtiva

Após a definição das condições de contorno e critérios a serem


analisados, a equipe multidisciplinar analisou as notas, variando de
1 a 5 para cada critério de análise e estabeleceu os pesos
estabelecidos para estes critérios, que são apresentados na Tabela 1.

39
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Tabela 1 - Critério de análise

Fonte: Autor.

Na sequência, obteve-se o somatório do produto entre a nota e o


peso de cada critério para cada alternativa, obtendo-se uma
pontuação total das áreas avaliadas, como pode ser observado na
Tabela 2.

40
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Tabela 2 - Pontuação total das áreas avaliadas

Fonte: Autor.

Após a análise realizada pela equipe multidisciplinar, é possível


chegar, de uma forma bastante objetiva, à melhor alternativa para
disposição, neste caso, envolvendo a tecnologia e a localização da
estrutura, como pode ser observada na Figura 3.

41
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Tabela 3 - Alternativa para disposição

Fonte: Autor.

Considerações
finais
Uma das primeiras etapas de um projeto de disposição de rejeitos é
o estudo para seleção das técnicas e locais para sua implantação.
Esta é uma etapa crítica que precisa ser realizada da forma mais
estratégica, abrangente e detalhada, pois pode ter um grande
impacto em etapas sucessivas do projeto e, consequentemente, no

42
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

sucesso da estrutura em qualquer ciclo que ela estiver. Um processo


de seleção pouco discutido ou pouco detalhado pode resultar em
atrasos substanciais nas futuras fases de projeto e/ou nas fases de
licenciamento ambiental e até resultar em falhas fatais não mapea-
das.

Desta forma, a aplicação de uma metodologia de seleção de alter-


nativas, através de um processo de decisão baseado em pontuação
e ponderação das considerações (metodologia MAA - método de
análises de múltiplas considerações), pode auxiliar bastante neste
processo de tomada de decisão e deve ser adotada perfazendo
sempre a existência de uma equipe multidisciplinar com o máximo
de identificação e mapeamento de condições de contorno que pos-
suem impactos diretos ou indiretos nas alternativas locacionais que
serão estudadas.

43
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

06
PARTICULARIDADES GEOTÉCNICAS
DOS REJEITOS DA MINERAÇÃO:
EMBASAMENTO PARA PROJETOS
DE EMPILHAMENTO
Por: Bruno Delgado

A indústria de mineração brasileira operou por muito tempo, dis-


pondo seus rejeitos em barragens alteadas para montante.
Nestas barragens, a construção inicia-se, normalmente, com um
dique de partida constituído, geralmente, de um maciço de solo
ou enrocamento compactado. Posteriormente, os rejeitos são lan-
çados até atingirem a altura de projeto por meio de alteamentos
sucessivos para se ampliar a capacidade de armazenamento da
barragem.

Em vários projetos, esses alteamentos são realizados


para montante, sendo um novo dique construído sobre
a praia de rejeitos previamente existente. Um esquema
deste tipo de disposição é apresentado na Figura 1.

Figura 1 - Esquema de disposição de rejeitos

Rejeitos Ciclonados arenosos


ou material de empréstimos

Rejeitos Finos

Fundação

Fonte: Autor

Nessas barragens de rejeitos alteadas para montante, os


sucessivos alteamentos são construídos com materiais
de empréstimo ou, como é mais frequente, com rejeitos
saturados dispostos hidraulicamente, inconsolidados e
sem controle de densificação. Nessas estruturas, o me-
canismo de controle para prevenir liquefação, por
44
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

exemplo, é essencialmente, a distância da linha freática para o barra-


mento, por meio da largura da praia formada entre a freática e o bar-
ramento na superfície do reservatório, buscando garantir, dessa
forma, uma condição de não saturação nos diques de alteamento, o
que pode, eventualmente, acarretar problemas de comportamento e
estabilidade da estrutura, notadamente em regiões de clima tropical
com alta pluviometria anual.

Hoje tais barragens estão proibidas no Brasil1 e se tem buscado técni-


cas mais seguras de disposição, como o empilhamento de rejeitos
filtrados. Nestes projetos, cujo esquema é apresentado na Figura 2,
existe um tratamento prévio da umidade dos rejeitos, por meio da
filtragem e posterior controle nas praças de secagem, seguido de
rigoroso processo de compactação do material depositado ao longo
da vida útil da pilha.

Figura 2 - Empilhamento de rejeitos filtrados


Estéril

Rejeito

Fundação

Fonte: Autor

Dessa forma, o monitoramento da estrutura não fica restrito, exclusi-


vamente, ao acompanhamento da linha freática e tem-se um maior
nível de controle em relação à densificação dos materiais, devido ao
processo de compactação. Além disso, nas pilhas de rejeitos filtrados,
no caso de uma eventual ruptura, é esperado que o nível de propaga-
ção do material rompido seja muito menor, pois o material se encon-
tra não saturado.

1 ANM. Agência Nacional de Mineração. Ministério de Minas e Energia. Resolução nº 13, de 08 de agosto
de 2019. Estabelece medidas regulatórias objetivando assegurar a estabilidade de barragens de minera-
ção, notadamente aquelas construídas ou alteadas pelo método denominado "a montante" ou por
método declarado como desconhecido e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12
ago. 2019.

45
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Ainda que os projetos de empilhamento de rejeitos filtrados, condi-


cionem menores níveis de risco, dada as condições de controle
mencionadas, rupturas podem acontecer em ambos os casos.
Neste sentido, é muito importante conhecer o comportamento ge-
omecânico dos rejeitos, e suas eventuais particularidades, funda-
mentando assim as tomadas de decisão nas fases de projeto e ope-
ração dessas estruturas de disposição. A seguir são apresentados
alguns aspectos e considerações relacionadas ao comportamento
desses materiais.

Particularidades dos Rejeitos


O arcabouço conceitual da Mecânica dos Solos dos Estados Críticos
(MSES) baseia-se na hipótese de que um mesmo solo (com a
mesma granulometria) apresenta sempre os mesmos parâmetros
últimos ou parâmetros de estado crítico, independentemente do
estado inicial do material (normalmente adensado ou sobreadensa-
do) ou da trajetória de tensão aplicada (drenada ou não drenada).
Ainda que os comportamentos intermediários possam ser distintos.

Materiais com a mesma granulometria, podem ter seu comporta-


mento afetado por aspectos microestruturais, relacionados a morfo-
logia dos grãos, condicionada pela mineralogia, e/ou pelo arranjo
das partículas (fábrica). Tais aspectos, podem definir comportamen-
tos distintos para os rejeitos, comparativamente aos normalmente
esperados para solos naturais, os quais passam-se a discutir.

a) Morfologia/Mineralogia
Os solos naturais são normalmente constituídos por grãos sólidos
mais arredondados, quer pelo intemperismo quer pelos agentes
transportadores naturais, comparativamente aos rejeitos, que foram
gerados em uma planta industrial de beneficiamento em intervalos
de tempo, que podem ser considerados instantâneos em compara-
ção aos períodos geológicos conducentes a formação dos solos

46
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

naturais. Por isso, os rejeitos têm uma tendência a terem grãos ligeira-
mente mais angulares do que os de um solo natural (ainda que com a
mesma curva granulométrica). A isso, acrescenta-se o fato, de que
diferentes rejeitos podem gerar diferentes morfologias de partículas a
depender da sua mineralogia.

A Figura 3, apresenta uma comparação de uma amostra de grãos de


rejeitos (advindos da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão) com
uma amostra de grãos de areia natural. Não é necessário um micros-
cópio para notar que as partículas são bem mais angulares nos rejeitos
do que na areia natural, embora tenham os mesmos tamanhos de
grãos (compatível com areia fina).

Figura 3 - Comparação dos grãos de rejeitos


com os de uma areia natural
Grãos de rejeitos Grãos de uma areia natural

Fonte: Autor Fonte: iStock2

b) Fábrica
Outra peculiaridade dos rejeitos (principalmente quando lançados por
disposição hidráulica) é a maneira como suas partículas se arranjam,
que tende a ser bastante distinta das verificadas em um depósito de

2 Acesso em: https://www.istockphoto.com/br

47
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

depósito de um solo natural. Isto porque, seu arranjo tende a ser


bem mais disperso nos rejeitos por disposição hidráulica do que os
normalmente verificados em depósitos sedimentares, por exem-
plo, que passaram por processos naturais de deposição a longo
prazo, ainda que sob os mesmos níveis de densificação iniciais.
Esse aspecto é denominado de fábrica, e a Figura 4 mostra um es-
quema comparando duas fábricas distintas, uma comumente as-
sociada a depósitos de rejeitos dispostos por lançamento hidráuli-
co, e outra para um solo natural sedimentar. Observa-se que, ainda
que para os mesmos índices de vazios iniciais (definidos pelas áreas
quadradas na Figura), os arranjos distintos podem implicar em
comportamentos divergentes, principalmente para condições
intermediárias.

Figura 4 - Comparação entre a fábrica normalmente observa-


da em depósitos de rejeitos disposto hidraulicamente, com a
comumente verificada para um solo natural sedimentar.

Mesmo estado
Rejeito Solo

Arranjos diferentes.
Fonte: Autor

48
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Influência da Morfologia,
Mineralogia e Fábrica no
Comportamento dos Rejeitos
Os aspectos microestruturais de morfologia/mineralogia e a fábrica,
podem influenciar o comportamento dos rejeitos em macroescala, ou
seja, no comportamento de um maciço de rejeitos como um todo.
Neste contexto, cabe salientar as seguintes particularidades:

- Dificuldade de amostragem: os rejeitos, de uma maneira geral,


possuem uma granulometria tipicamente de areia siltosa ou de silte,
sendo que os finos presentes na mistura são frequentemente não
plásticos. Estas características dificultam a coleta de amostras
indeformadas, principalmente a grandes profundidades nos
reservatórios de rejeitos inconsolidados, por isso, muitas vezes, são
coletadas amostras deformadas e os corpos de prova são remoldados
em laboratório, com grau de compactação similar ao encontrado in
situ3;

- A maior angularidade pode incrementar o ângulo de atrito,


condicionando comportamento dilatante (sob cisalhamento drenado)
até um determinado estado de tensão. No entanto, existe uma
tendência de que se desenvolvam níveis de tensão interparticulares
superiores, em aterros construídos com esse tipo de material com
partículas mais angulares, os quais espera-se não superem os limites
de tensão de quebra de cantos ou esmagamento de grãos.
Ultrapassado este estado de tensão conducente a quebra de grãos, os
materiais podem apresentar mudanças de comportamento, por isso,
são necessários estudos experimentais apropriados para se entender
previamente os estados de tensão limites para esses materiais,
buscando associar isso nos projetos por meio de modelos
constitutivos e análises computacionais, devidamente ajustados aos
dados experimentais4;

3 FONSECA, António Viana da; CORDEIRO, Diana; MOLINA-GÓMEZ, Fausto. Recommended Procedures to
Assess Critical State Locus from Triaxial Tests in Cohesionless Remoulded Samples. Geotechnics, [S.L.], v. 1,
n. 1, p. 95-127, 29 jul. 2021. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/geotechnics1010006.

4 FARIA, André de Oliveira. Avaliação comparativa de modelos constitutivos para um rejeito de minério
de ferro do Quadrilátero Ferrífero. 2022. 129 f. Dissertação (Mestrado em Geotecnia) - Escola de Minas,
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2022.

49
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

- A condição de estado não é função apenas do nível de compacidade,


mas, ainda, do estado de tensão corrente, e pode variar concomitante
o alteamento da estrutura devendo ser avaliada em comparação à
Linha de Estados Críticos (LEC);

- Os parâmetros de estado crítico no plano e-logp' são sensíveis não


apenas a granulometria, mas ainda a morfologia (condicionada pela
mineralogia) e pelo arranjo das partículas: isto leva a uma LEC não
linear, podendo ser transicional ou não. Essa transicionalidade
condiciona diversas LECs paralelas para os rejeitos compactados, o
que é algo bem conhecido em se tratando de solos ditos estruturados5
mas que foi percebido, recentemente, por alguns pesquisadores para
alguns tipos de rejeitos compactados6, sendo um aspecto que merece
ser adequadamente investigado para os diferentes tipos de rejeitos.

Considerações
finais
A mineralogia, com reflexo na morfologia, e o arranjo das partículas
são, portanto, particularidades que necessitam de bastante atenção
em relação aos rejeitos de mineração, pois são aspectos que podem os
distinguir, em termos de comportamento mecânico esperado, com-
parativamente a um solo natural.

5 COOP, Matthew. Limitations of a Critical State Framework Applied to the Behaviour of Natural and “Tran-
sitional” Soils. Advances In Soil Mechanics And Geotechnical Engineering, [S.L.], v. 6, n. , p. 115-155, 2015.
IOS Press. http://dx.doi.org/10.3233/978-1-61499-601-9-115.

6 VELTEN, Rodrigo Zorzal; CONSOLI, Nilo Cesar; SCHEUERMANN FILHO, Hugo Carlos; WAGNER, Alexia
Cindy; SCHNAID, Fernando; COSTA, João Paulo Rodrigues da. Influence of grading and fabric arising from
the initial compaction on the geomechanical characterisation of compacted copper tailings. Géotechni-
que, [S.L.], p. 1-12, 25 out. 2022. Thomas Telford Ltd.. http://dx.doi.org/10.1680/jgeot.22.00087.

50
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Isto não significa que todo o aparato conceitual da Mecânica dos Solos
não se aplica aos rejeitos. Entretanto, é preciso ter em mente que exis-
tem nuances a nível microestrutural, que precisam ser levadas em
consideração. Os conceitos da Mecânica dos Solos dos Estados Críti-
cos permanecem válidos, mas o padrão de comportamento dos mate-
riais precisa ser rigorosamente investigado, caso a caso, consoante os
tipos de rejeitos gerados.

Neste sentido, diversos estudos, com destaque para abordagens labo-


ratoriais, têm sido realizados para se avaliar a influência dessas pecu-
liaridades dos rejeitos em seu comportamento macroestrutural. Uma
lista com alguns destes estudos e suas principais conclusões é apre-
sentada no Quadro 1.

Quadro 1 - Lista de estudos

Título do Estudo Principais Conclusões Link do Estudo

Freire, A. Influência - A introdução de https://www.reposito


do teor de finos no finos altera, sobretu- rio.ufop.br/handle/12
comportamento do, a posição da LEC; 3456789/16945.
geomecânico de um e
rejeito de minério de
- Foi observada a não
ferro do Quadrilátero
linearidade da LEC:
Ferrífero. NUGEO,
Instabilidade a
UFOP: Ouro Preto,
baixas tensões.
2022.

Gomes, L. Avaliação - Não se percebe diferen-


https://www.reposito
da Influência dos ças significativas na LEC
rio.ufop.br/
Métodos de Recons- em função do método de
tituição de Amostras moldagem dos CPs;
nos Parâmetros de - Foi observada uma difi-
Estado Crítico de um culdade em se obter amos-
Rejeito de Minério de tras “fofas” pelo método
Ferro. Dissertação de Slurry Deposition; e
Mestrado em Enge-
nharia Geotécnica. - Observou-se uma signifi-
NUGEO, UFOP: Ouro cativa diferença em termos
Preto, 2022. de potencial de liquefação
embora os parâmetros
últimos sejam similares. 51
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Título do Estudo Principais Conclusões Link do Estudo

Delgado, B.; Viana da - Distintas LCNs, conso- Proceedings of the


Fonseca, A; Bittar, R.; ante o grau de compac- 1st International
Castilho, B.; Coelho, D. tação (com tendência Conference on
Geomechanical Beha- de convergência para Geotechnics of
viour of an Iron Ore altos níveis de tensão – Tailings and Mine
Tailings under High-S- retas de expansão); e Waste: Ouro Preto,
tress Levels for Dispo- 2023; and
sal by Dry Stacking. 1st - Não foi observado
International Confe- transicionalidade, mas https://www.reposito
rence on Geotechnics alguma quebra de grãos rio.ufop.br/handle/12
of Tailings and Mine para níveis de tensão 3456789/16478
Waste: Ouro Preto, muito elevados (bem
2023. acima dos esperados
para os projetos).
Oliveira, S. Influência
do estado de tensão
na obtenção dos parâ-
metros de estado críti-
co de rejeitos filtrados
de minério de ferro.
Dissertação de Mestra-
do em Engenharia
Geotécnica. NUGEO,
UFOP: Ouro Preto,
2022.

Consoli, N.; Silva, J.P.; - Distintas Linhas de https://doi.o


Wagner, C.; Carvalho, Consolidação Normal g/10.1007/s11440-023-
J.; Baudet, B.; Coop, M.; (LCNs), consoante o -01963-9
Scheuermann Filho, H.; grau de compactação
Sousa, G.; Cacciari, P. (com tendência de
Critical state analysis convergência para
of two compacted altos níveis de tensão –
filtered iron ore tailin- retas de expansão); e
gs with different gra-
- As LECs também
dings and mineralogy
apresentaram com-
at different stages of
portamento de con-
treatment. Acta Geote-
vergência para níveis
chnica, 2023.
de tensão elevados.
52
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Título do Estudo Principais Conclusões Link do Estudo

Coop, M.R. Limitations - Não obteve conver- https://ebooks.iospre


of a critical state fra- gência nem da LCN ss.nl/volumearticle/41
mework applied to the nem da LEC. 365
behaviour of natural - LEC não linear e transi-
and ‘transitional’ soils. cional.
Proc. of the 6th int.
symp. on deformation
characteristics of geo-
materials, 6. Nether-
lands. IOS Press: 115-
155, 2015.

Velten, R.; Consoli, N.;


Scheuermann Filho, H.;
Wagner, A.; Schnaid, F.; https://www.icevirtua
Costa, J.P. Influence of llibrary.com/doi/10.16
grading and fabric 80/jgeot.22.00087
arising from the initial
compaction on the
geomechanical cha-
racterisation of com-
pacted copper tailings.
Géotechnique, in
Press, 2022.

Viana da Fonseca, A.; - Bases alargadas e https://


Cordeiro, D.; Molina- lubrificadas: Reduz os www.mdpi.com/267
-Gómez, F. Recom- efeitos do atrito das 3-7094/1/1/6
mended Procedures to bases em contato com
Assess Critical State o corpo de prova (que
Locus from Triaxial podem inibir deforma-
Tests in Cohesionless ções);
Remoulded Samples.
- Topo e haste guiada:
Geotechnics, 1, 95–127,
Reduz efeitos de pe-
2021.
quenas excentricida-
des nos corpos de
prova;

53
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Título do Estudo Principais Conclusões Link do Estudo

- Instrumentação inter-
na (instalada no terço
médio dos CPs): Reduz
os efeitos de influência
de topo e base (particu-
larmente no domínio
das pequenas deforma-
ções);

- Célula de carga inter-


na: Maior precisão no
controle de aplicação da
carga; e

- Congelamento ao final
do ensaio: Aumenta a
precisão na determina-
ção do volume dos CPs
após os ensaios.

Faria, A. Avaliação - Análise exclusivamente https://


comparativa de mode- com base em Métodos de www.repositorio.ufo
los constitutivos para Equilíbrio Limite (MEL) p.br/
um rejeito de minério considerando resistência handle/123456789/1
de ferro do Quadriláte- ao cisalhamento não dre- 6080
ro Ferrífero. Disserta- nada de pico (Su,p) e resi-
ção de Mestrado em dual (Su,r): negligenciam o
Engenharia Geotécni- trabalho necessário para
ca. NUGEO, UFOP: produzir amolecimento
Ouro Preto, 2022 (softening) associado à
ruptura progressiva;

54
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Título do Estudo Principais Conclusões Link do Estudo

- Diversos modelos dispo-


níveis (nem todos imple-
mentados em programas
comerciais) foram ideali-
zados para modelagem de
amolecimento, incluindo:
NorSand, Imperial College,
UBCSAND, CASM (em
suas diversas versões),
modelos hipo-plásticos
(Byrne et al., 1995; Beaty
and Byrne, 1998, Wolffers-
dorff, 1996; Niemunis and
Herle, 1997). Mesmo mo-
delos simples podem ser
considerados: HSS (small-
-strain stiffness);

- Necessidade de definir
condições de contorno as
mais realistas possíveis:
zonas saturadas, recarga,
hidrogeologia, etc…;

- Necessidade de calibra-
ção por meio de instru-
mentação e ensaios de
campo e no caso de estru-
turas projetadas como as
pilhas de rejeitos filtrados
por meio de modelos
físicos com compensação
do fator escala em centrí-
fugas geotécnicas.

55
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

07
DESAFIOS E SOLUÇÕES EM ANÁLISES
GEOTÉCNICAS NO CONTEXTO DO
PROJETO DE PILHAS DE REJEITOS
Por: Ian Paes

Existe uma tendência mundial que aponta para a direção da utilização


de empilhamento de rejeitos desaguados para disposição de rejeitos
da mineração. Entretanto, a elaboração destes projetos, utilizando-se
das boas práticas da Engenharia, é algo que demanda um conheci-
mento técnico bastante especializado e um conhecimento minucioso
das características do rejeito e do seu comportamento. Neste contexto,
a seguir serão apresentados alguns desafios e soluções que podem ser
adotadas para o projeto destas estruturas.

Grandes desafios dos projetos


de empilhamento de rejeitos
Dimensão das pilhas e áreas
de disposição de rejeitos

As pilhas de rejeitos são estruturas de escala grande e cada


vez mais a indústria vem demandando que estas estruturas
aumentem em termos de volume e, consequentemente,
de altura, algo desafiador do ponto de vista da Engenharia.
Além disso, as áreas onde, geralmente, serão instaladas
estas estruturas de disposição, apresentam uma enorme
complexidade e variedade de condições topográficas e
muitas interferências, o que deixa os projetos também bas-
tante difíceis.

Hidrogeologia complexa (escala regional)

56
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

O footprint da estrutura abrange várias bacias de contribuição e tal-


vegues, tornando complexa a previsão da rede de fluxo permanente
que ocorrerá em serviço, necessitando de análises mais complexas.

Contribuição significativa da infiltração (clima tropical)

A infiltração de água é um grande desafio do projeto de pilhas, consi-


derando que o Brasil apresenta um clima tropical. A infiltração de
água antes, durante a formação da pilha e após o fechamento da es-
trutura pode aumentar o grau de saturação dos materiais dispostos e
trazer muitos desafios operacionais e de estabilidade, que precisam
ser previstos em projetos.

Estas estruturas em outros climas, onde não existe tanta precipita-


ção, apresenta um desafio menor, mas em climas tropicais deman-
dam soluções de Engenharia cada dia mais complexas.

Especificação da metodologia de densificação


dos rejeitos e controle QA/QC

A ocorrência de materiais fofos ou não densificamos o suficiente


pode gerar camadas com comportamento contrátil que, em
determinadas condições, podem ter perda de resistência. Como
densificar e como controlar a densificação para que se tenha certeza
de que o grau de compactação adequado foi atingido sem
desperdiçar recursos? Este é um parâmetro que deve ser muito bem
ajustado no momento do projeto e controlado ao longo de toda
operação da estrutura.

E como a engenharia pode nos


ajudar superar os desafios
apresentados?
57
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Alguns tipos de análises podem ser elaboradas em âmbito de projeto,


que vão nos auxiliar a lidar com esses desafios e riscos inerentes ao
projeto de empilhamento de rejeitos:

Análises de estabilidade e de Fluxo - Modelagem 3D

Finalidade: Verificação da influência de condições topográficas e


hidrogeológicas complexas e determinação de níveis de controle
de carga hidráulica nos piezômetros.

Para a elaboração de projetos de estruturas geotécnicas são necessá-


rias análises numéricas para avaliar a estabilidade da estrutura proje-
tada. Dentre as análises necessárias estão as análises de percolação e
de estabilidade, que usualmente são realizadas em modelos bidi-
mensionais. Entretanto, estas podem não representar corretamente
a estrutura a ser construída, por isso, muitas vezes é preciso recorrer
à modelagem tridimensional.

Os softwares mais utilizados para estas análises de percolação e esta-


bilidade em três dimensões são basicamente o RS3 e Slope 3D (Rocs-
cience), onde se gera a malha de elementos finitos para fazer análise
de fluxo e os modelos 3D.

Como resultado da análise de percolação, tem-se as vazões espera-


das nos dispositivos de drenagem da estrutura, bem como as poro-
-pressões na pilha, que é um dado fundamental para a realização da
análise de estabilidade e avaliação de seus níveis de segurança. Já a
análise de estabilidade tridimensional tem como um dos resultados
o mapa de fatores de segurança da estrutura, que é uma ferramenta
que apresenta graficamente as regiões com menores fatores de se-
gurança (VENTURIN, 2022)1. Exemplos de modelos gerados em análi-
ses de percolação e estabilidade 3D

1 VENTURIN, Amadeu. Análises de estabilidade e de Fluxo - Modelagem 3D. Roteiro de Estudos –


Unidade 1. Effyía – Escola da Engenharia. 2022. < https://effyia.com.br/produto/analises-de-estabilidade-
-e-de-fluxo-modelagem-3d/ >

58
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Figura 1 - Exemplo de modelos gerados em análises


de percolação e estabilidade 3D

Fonte: Autor

Análise de infiltração na zona não saturada


(regime transiente)
Finalidade: Verificação das condições de saturação/sucção
dos materiais ao longo da vida útil do empilhamento

O software mais utilizado para análise de infiltração na zona não satu-


rada é o Seep/W (Geostudio), onde é possível se gerar a malha de ele-
mentos finitos e se aplicar discretizações para capturar os efeitos de
umedecimento e secagem promovidos pela interação entre o solo e
a atmosfera na região vadosa.

A Figura 2 traz um exemplo de um modelo final gerado por meio da


simulação do processo de infiltração da água ao longo da formação
de uma pilha com total de 3,4 anos.

59
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Figura 2 - Modelo final gerado por meio da simulação


do processo de infiltração da água

Fonte: Autor

Observa-se zonas com maior umidade no interior da estrutura devido


a exposição das camadas na praça de trabalho em períodos chuvo-
sos, mas pode-se concluir que a pilha permanece não saturada e não
foram constatadas a formação de bolsões (zonas de saturação) nas
praças de disposição em nenhum estágio de construção. Dessa
forma, é possível entender para cada etapa de formação e de cons-
trução dessa estrutura, o quanto de água que vai infiltrar de fato na
estrutura e o quanto que vai escoar.

É óbvio que esta análise vai ser tão mais precisa quanto mais precisa
for a previsão de construção da pilha. Entretanto, este resultado nos
mostra que se as pilhas forem operadas de uma forma racional e pla-
nejada, evitando-se as anomalias de infiltração, é possível ter resulta-
dos de pilhas que não são saturadas. Isso coloca uma grande respon-
sabilidade na operação da pilha, pois sabemos que, se a operação for
bem executada, muitos problemas de estabilidade advindos da infil-
tração da água, deixarão de existir. Por isso, é bastante recomendado
que se analise o processo de infiltração de água no momento do pro-
jeto destas estruturas.

Análise de infiltração na zona não saturada


(regime transiente)
Finalidade: Previsão do desempenho da estrutura em termos de
deslocamentos, determinação de níveis de controle de desloca-
mento superficial.
60
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Usualmente as análises tensão deformação eram também realizadas


de forma bidimensional o que pode não representar corretamente a
estrutura analisada. Atualmente, a demanda por estudos tridimensio-
nais é crescente no meio geotécnico e são altamente recomendáveis
na avaliação do comportamento de estruturas como barragens e
pilhas, principalmente nas simulações das etapas construtivas e inter-
venções em estruturas existentes.

O software mais utilizado para análises tensão deformação 3D é o RS3


(Rocsience), onde é possível simular a formação da pilha em etapas e
aplicar diferentes parâmetros de rigidez: intervalo inferior, intervalo
médio e intervalo superior. Um resultado dessas análises pode ser ob-
servado na Figura 3.

Figura 3 - Resultado das análises

Fonte: Autor

61
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

As análises de tensões e deformações buscam avaliar as deformações


geradas em um maciço em função do carregamento ao qual foi sub-
metido. Dessa forma, esta análise permite compreender o comporta-
mento do solo e prever possíveis efeitos como deslocamentos excessi-
vos, recalques diferenciais, concentração de tensões, dentre outros
(CRUZ, 2021)2.

Para a realização desse tipo de análise é essencial que se conheça a


relação entre as tensões e deformações, denominada equação consti-
tutiva ou modelo constitutivo. Os modelos presentes na literatura, por
sua vez, se apoiam em parâmetros relacionados com as propriedades
mecânicas dos materiais estudados. Um modelo constitutivo que vem
ganhando destaque para estudo de comportamento de rejeitos e já
está presente em programas comerciais da área de geotecnia será
apresentado a seguir.

Modelagem constitutiva do comportamento


de rejeitos compactados (NorSand)
Finalidade: Previsão do comportamento dos rejeitos compactados
em uma diversidade de densidades e estados de tensão, determi-
nação do controle QA/QC (Quality Assurance and Quality Control)
a ser previsto no manual de operações.
Além das análises citadas, que nos ajuda a compreender aspectos
complexos do empilhamento de rejeitos, é preciso também entender
como esses materiais vão se comportar ao longo do tempo, além de
definir critérios de controle de qualidade e de aderência da compacta-
ção desses materiais.

Uma previsão bastante importante neste contexto é: Qual é o nível de


densificação é preciso alcançar para garantir a estabilidade da estru-
tura? Para isso, tem sido bastante utilizado o modelo constitutivo Nor-
Sand. Este modelo foi codificado em Visual Basic e é disponibilizado
numa planilha em Excel que vem junto ao livro do Jefferies e Been
(2016)3, acessível a todos.

2 CRUZ, Ângelo. Análises de Tensão X Deformação – Modelagem 3D. Roteiro de Estudos – Unidade 1.
Effyía – Escola da Engenharia. < https://effyia.com.br/produto/analises-de-tensao-x-deformacao-
-modelagem-3d/>
3 Rutledge, S. Jefferies M, Been K | Soil liquefaction: a cristal state approach, 2nd edition. Environ Earth Sci
75, 1014 (2016). https://doi.org/10.1007/s12665-016-5600-y.

62
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

O modelo constitutivo NorSand tem se consolidado como uma refe-


rência mundial para modelagem de liquefação em estruturas de dis-
posição de rejeitos e muitas outras classes de problemas geotécnicos.
Entretanto, é preciso salientar que para eficácia do modelo são neces-
sários dados de instrumentação e ensaios de campo de qualidade
para que se traduza com precisão a realidade da estrutura em estudo.

Considerações
finais
Diante dos desafios e soluções apresentadas, cabe destacar, para que
permaneça no radar de todos aqueles que realizam e acompanham os
projetos de empilhamento de rejeitos:

Ao se trabalhar com modelos 3D regionais obtém-se uma boa


representatividade das condições hidráulicas do lençol freático
da fundação, contribuindo para identificação dos principais
modos de falha relacionados a estabilidade global do empilha-
mento;

As análises de infiltração 2D no meio não saturado podem indi-


car regiões com potencial de aumento de saturação a curto e
longo prazo;

As análises tensão deformação 3D fornecem uma previsão de


deslocamentos que pode ser utilizada durante a formação da
pilha para controle de performance (método dos módulos de
deslocamento);

O comportamento dos rejeitos compactado é previsto em uma


diversidade de densidades e estados de tensão pelo modelo
constitutivo NorSand, podendo ser utilizado para definição dos
controles de qualidade e aderência para operação (QA/QC).

63
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

08
SOLUÇÕES OPERACIONAIS DA
DISPOSIÇÃO DOS REJEITOS EM
EMPILHAMENTOS FILTRADOS
Por: Leonardo Machado e Tadeu Torquato

A etapa de projeto de pilhas de rejeitos é bastante comple-


xa e demanda muito conhecimento e capacidade técnica.
Entretanto, o processo de empilhamento em si e as solu-
ções operacionais da disposição também são algo que
requer um rigor técnico bastante grande. No geral, pode-
mos dizer que o processo de empilhamento se dá similar-
mente às obras de terraplanagem, com o controle de cama-
das por meio das compactações executadas pelos equipa-
mentos de operação.

Para esclarecer sobre o passo-a-passo deste processo de


empilhamento, a seguir será apresentado um overview das
soluções operacionais adotadas em um case de um empi-
lhamento de rejeitos na região do Quadrilátero Ferrífero em
Minas Gerais, passando pelas seguintes etapas:

Etapa de pré-disposição

Filtragem do rejeito

Etapa de Construção da Pilha de Rejeitos

Supressão da vegetação e Limpeza superficial


Tratamento da fundação - Escavação do sole mole
Implantação dos tapetes drenantes e drenos
de fundo
Implantação dos sistemas de contenção de
sedimentos 64
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Etapa de Disposição na Pilha de Rejeitos

Ciclo de disposição de rejeitos

Etapa de Controle Tecnológico

Etapa de pré-disposição
Filtragem do rejeito
Conforme apresentado por Carvalho (2017)1, o termo dry stacking é
utilizado para a indicação de empilhamentos de rejeitos a seco filtra-
dos. Porém, ao contrário do que o termo induz ao entendimento,
este material não se encontra totalmente seco, contendo alguma
umidade.

Estes filtros prensas são compostos por tecidos, que recebem uma
pressurização, processo em que é reduzida a umidade do material.
Na Figura 1 é possível ver exatamente o filtro com as mangueiras por
onde ocorre a saída da umidade e o momento em que as placas se
abrem, liberando o rejeito filtrado. Na sequência, o material filtrado
cai em uma correia e é levado para os pátios de secagem ou direto
para as pilhas de rejeitos.
Figura 1 - Filtro Prensa

Fonte: Autor

1 CARVALHO, Wesley Durval Soares de. Sistema de disposição compartilhada de estéreis e rejeitos
desaguados da mina de Fernandinho. 2017. 163 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado em
Geotec-nia - Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2017. Disponível em:
http://www.repositorio.ufop.br/jspui/handle/123456789/9803. Acesso em: 11 out. 2023.

65
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Etapa de Construção
da Pilha de Rejeitos
Supressão da vegetação e Limpeza superficial

Antes de se iniciar o processo da disposição do rejeito, propriamente


dito, algumas obras de infraestrutura mínimas são necessárias.
Dessa forma, após a etapa de projeto e de obtenção da licença am-
biental, é preciso realizar a supressão da vegetação e a limpeza su-
perficial do terreno, como apresentado na Figura 2.

Figura 2 - Fase de supressão da vegetação e a


limpeza superficial do terreno

Fonte: Autor

Todo o processo de supressão vegetal é feito de uma forma bastante


lenta, com acompanhamento de uma equipe de meio ambiente,
para que ocorra o resgate de fauna e flora. Esta atividade é executada
por uma equipe independente, prezando-se pelo mínimo impacto
possível. Além disso, é removido também o topsoil e os restos de
raízes na região.

Tratamento da fundação -
Escavação do sole mole
Após a primeira limpeza da área, dá-se início ao processo de trata-
mento da fundação da pilha, demonstrado na Figura 3.

2 Camada superficial do solo


66
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Figura 3 - Processo de tratamento da fundação da pilha

Fonte: Autor

Muito se fala sobre o comportamento dos rejeitos e sobre as altas


tensões à que os rejeitos ficam submetidos, porém, não se pode es-
quecer da fundação da pilha. Fundação esta, que também estará
submetida a um elevado nível de tensões. Por isso, é preciso realizar
uma limpeza bastante criteriosa na região, retirando-se todo o mate-
rial com baixa resistência, principalmente, a aluvião e o colúvio.

É preciso muita atenção a esta fase, pois esta limpeza e tratamento


das fundações gera condições para a estabilidade ou para a instabili-
dade no processo de empilhamento de rejeitos. De acordo com Leão
(2021)3 fundações irregulares, com presença de descontinuidades e
materiais geológicos de baixa resistência, precisarão ser investiga-
das, uma vez que podem contribuir para a ruptura da fundação ou
mesmo a ruptura global da estrutura (fundação + pilha). 3

Etapa de pré-disposição
Com o terreno nivelado e estabilizado, o próximo passo é a implanta-
ção dos drenos de fundo. Estes drenos, que podem ser observados
na Figura 4, têm como principal finalidade dar direcionamento às
nascentes que existem na região e proporcionar drenabilidade ao
rejeito, que estará logo acima desse dreno de fundo.

3 LEÃO, Márcio. Aspectos Geológicos Conceituais de Projetos de Pilhas – Roteiro de Estudos| Unidade 1.
Effyía – Escola da Engenharia. 2021. < https://effyia.com.br/produto/aspectos-geologicos-conceituais-
-de-projetos-de-pilhas/> Acesso em: 11 de out. 2023.

67
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Figura 4 - Os drenos

Fonte: Autor.

Tais drenos são construídos, principalmente, nos fundos de vale,


fazendo-se um nivelamento do terreno e a transição com a utilização
de materiais agregados. No caso apresentado, se trata de um dreno
trapezoidal com utilização de brita nº. 2, brita nº. 0, um envelopamen-
to com bidim4 e uma ancoragem com a utilização de areia.

Após a construção desses drenos de fundo é necessário realizar sua


proteção, com o lançamento de uma camada de rejeitos acima
deles. Isto porque, caso ocorra alguma eventual contribuição de
chuva ou algo semelhante na região, estes drenos estarão protegi-
dos do carreamento de finos, evitando sua colmatação e até mesmo
perda de uma das seções do dreno. Portanto, a proteção desse dreno
com a implantação de camadas de 3 a 5 metros de rejeitos acima
deles é uma boa prática bastante importante.

Nesta fase, dá-se também a construção dos tapetes de areia, próxi-


mos ao pé da pilha, para garantir uma maior segurança e para não
saturação do pé dessa estrutura.

4 Manta geotêxtil que atua como elemento filtrante em sistemas de drenagem, permitindo que a água
acesse os drenos, mas filtrando as partículas.

68
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Implantação dos sistemas


de contenção de sedimentos
Por fim, em relação às obras de infraestrutura, são construídos os
diques ou sumps, que constituem os sistemas de contenção de sedi-
mentos. Estas estruturas são muito importantes, para contenção dos
sedimentos eventualmente carreados no processo de disposição de
rejeitos, evitando que eles atinjam os cursos d’água.

A seguir tem-se um exemplo de um dique em argila, Figura 5a, e de


um dique com o espaldar de montante construído em argila e com o
espaldar de jusante em enrocamento, Figura 5b.

Figura 5 - Diques para contenção de sedimentos

(a) Dique de argila (b) Dique com espaldar

Fonte: Autor.

Visão geral das obras


de infraestrutura
Por fim, na Figura 6 é possível ter uma visão geral das obras de infra-
estrutura para implantação de uma pilha de rejeitos, onde podem
ser observadas, principalmente, as regiões dos drenos de fundo. Na

69
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

cor ciano, são apresentados os drenos secundários. Alguns destes,


foram construídos em regiões onde, durante o período de obra,
foram identificadas nascentes que não estavam previstas inicial-
mente no projeto inicial. Dessa forma, foi feito um direcionamento
dessas drenagens para que elas seguissem o encaminhamento
dentro do dreno de fundo principal. Na parte hachurada tem-se os
tapetes de areia, mencionados anteriormente.

Figura 6 - Visão geral das obras de infraestrutura


para implantação de uma pilha de rejeitos.

Fonte: Autor.

70
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Etapa de Disposição de rejeitos


em uma pilha
Com as obras de infraestrutura finalizadas, como ocorre o processo
de disposição de rejeito? A título de exemplificação, as imagens a
seguir apresentam algumas pilhas de rejeito, que fazem parte de um
mesmo complexo e que são operadas concomitantemente, de
forma a tornar o processo de disposição mais eficiente.

Na Figura 7 é possível observar uma pilha de rejeitos em um estágio


mais avançado, que já tem alguns bancos formados e alguns taludes
já revegetados.

Figura 7 - Pilha de rejeitos em estágio mais avançado

Fonte: Autor.

A Figura 8 apresenta uma segunda pilha, que é toda dividida em se-


tores. A ideia dessa divisão é justamente melhorar a operacionaliza-
ção da disposição. Isto porque, dessa forma não é preciso liberar toda
uma camada de um nível para que seja realizado o empilhamento e
para que se tenha um controle mais aprimorado do processo de
compactação da pilha.

71
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Figura 8 - Pilha dividida em setores

Fonte: Autor.

Na Figura 9 é possível observar um processo de empilhamento em


uma região de fundo de vale, que é um grande desafio no início da
vida útil da pilha. Neste caso, após a implantação da infraestrutura
adequada, existe a necessidade de vencer o fundo de vale.

O processo de empilhamento em regiões como esta é algo bastante


complexo, que demanda muito tempo e é bem pouco produtivo. Isto
porque, o volume de rejeito direcionado para este local é bem baixo.
Além disso, neste tipo de região, existe bastante concentração de es-
coamento e, em eventuais períodos chuvosos, se tornam os pontos
mais críticos da disposição dos rejeitos.

72
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Figura 9 - Processo de empilhamento em região de fundo de vale

Fonte: Autor.

A seguir será melhor detalhado o ciclo de disposição de rejeito nas


pilhas, propriamente dito.

Ciclo de disposição de rejeitos


As tecnologias de filtro existentes atualmente ainda não têm capaci-
dade suficiente para retirada da umidade a ponto de se chegar na
umidade ótima para a compactação dos rejeitos. Dessa forma, o ciclo
de disposição começa com o tratamento da umidade na própria
pilha ou em praças de secagem. Esse processo é realizado com a uti-
lização de tratores agrícolas com lâminas que revolvem o solo e pro-
movem a perda de umidade. Na Figura 10 é possível visualizar uma
dessas praças de secagem.

73
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Figura 10 - Exemplo de praça de secagem

Fonte: Autor.

Diariamente, a umidade é aferida e a partir do momento em que a


umidade se aproxima da especificada em projeto, o material pode
ser empilhado e compactado. O processo de compactação se dá por
meio do lançamento de 40 centímetros de rejeito, o que gera uma
camada de, aproximadamente, 30 centímetros de rejeito compacta-
do. Após este processo, faz se a aferição da eficiência do processo de
compactação e atingindo-se os parâmetros de projeto, considera-se
o processo de empilhamento finalizado, partindo-se para a próxima
camada.

A fase de tratamento da umidade, conforme já mencionado, é um


grande gargalo neste ciclo de disposição. Por isso, o tempo entre a
retirada do material da filtragem e lançamento até a compactação
efetiva é de, pelo menos, 10 dias. Neste processo, as praças de seca-
gem são muito utilizadas, principalmente, no período de chuva.
Afinal, no período de chuva, como existe muita umidade do material,
não é possível realizar o processo de empilhamento.

74
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

A Figura 11 apresenta um resumo deste ciclo completo de disposição


de rejeitos filtrados em pilhas.
Figura 11 - Ciclo completo de disposição de rejeitos
filtrados em pilhas.

Fonte: Autor.

Controle Tecnológico
Ao longo de todo o processo de disposição existe um controle tecno-
lógico rigoroso. Nesta fase, é realizada a divisão de toda a área da
pilha em setores, para facilitar o controle. Define-se, portanto, qual o
volume será lançado em cada uma desses setores, procedendo-se a
um controle diário sobre a quantidade e a umidade do material, pre-
viamente tratado.

De forma geral, o que se prática de controle tecnológico, além do


controle diário da umidade, é que a cada 1.000 metros cúbicos de
rejeitos lançados na pilha, realiza-se ensaios de compactação através
do método Hilf. A partir de 20.000 metros cúbicos é feita a caracteri-
zação da granulometria completa do material, avaliação da compac-
tação pelo método Proctor e determinação da massa específica dos
solos.

75
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

A partir de 100.000 metros cúbicos é feita a coleta de um bloco inde-


formado, determina-se a permeabilidade e realizam-se o ensaio de
adensamento unidimensional e ensaios triaxiais. Esse é um controle
muito importante, pois o rejeito tem uma certa variabilidade. Então,
eventualmente, podem existir condições em que o material tenha a
granulometria um pouco diferente e o comportamento um pouco
variado e isso precisa ser mapeado, justamente, para que seja criada
uma estatística sobre o comportamento desse material.

A Tabela 1 traz um compilado do controle, com os ensaios e normas


utilizados, de acordo com o volume lançado nas pilhas

Tabela 1 - Resumo do controle, com os ensaios e normas


utilizados, de acordo com o volume lançado nas pilhas

Volume de rejeitos lançado nas pilhas


100m3
Controle de compacto pelo método Hilf, conforme NBR 12102/1991
20000m3
Ensaio de granulometrica completa, conforme NBR 7181/2018
Ensaio de compactação e caracterização do solo pelo método
Proctor, conforme NBR 6457/2016 e 7182/2020
Determinação da massa específica de solos, conforme NBR 6458/2017
Limite de plasticidade, conforme NBR 7180/2016
Limite de liquidez, conforme NBR 6459/2017
100000m3
Ensaio de determinação do coeficiente de permeabilidadede
solos argilosos à carga variável conforme NBR 14545/2021
Ensaio de adensamento unidimensional, conforma NBR 16853/2020
Ensaio triaxial, conforme ASTM 4767-11 (2020) / ASTM D7181-20

Fonte: Autor.
76
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Considerações Finais sobre


os desafios da disposição
dos rejeitos em pilhas
Umidade dos rejeitos e baixa performance da filtragem;
Empilhamento no período chuvoso e espaço para as
praças de secagem;
Plano de chuvas;
Definição dos melhores equipamentos para a disposição;
Pilhas de elevadas alturas.

A elevada umidade do rejeito, já mencionada anteriormente é, real-


mente, um grande gargalo. Isso porque, existe a necessidade de que o
rejeito seja tratado, para além do processo de filtragem, para que o em-
pilhamento seja realizado com sucesso. Associado a isso, o empilha-
mento no período chuvoso, também é um grande desafio. Principal-
mente, na região do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais em que se
tem muita precipitação e contribuições de água nas regiões em que
são destinadas aos sistemas de disposição de rejeitos.

Neste ponto, é importante se fazer um alerta, pois, muitas vezes, se


pensa em um projeto de pilha de rejeito, como uma estrutura formada
por taludes e bermas. Entretanto, é preciso se atentar para a operacio-
nalidade desse projeto, que é justamente pensar nas áreas disponíveis
também para se realizar a gestão e o manejo do rejeito, que são as
praças de secagem.

Ainda neste contexto, se no período chuvoso não é possível fazer o em-


pilhamento, onde o material que sai da filtragem será armazenado?
Pois a produção não para no período chuvoso. É necessário, portanto,
que as praças de secagem e os espaços para manejo do rejeito sejam
considerados no projeto, no licenciamento e em toda a vida útil da
pilha.

77
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

A definição do plano de chuvas, é também é um desafio operacional


muito grande no processo. Normalmente, os projetos que chegam
para área de operação não apresentam o processo de sequenciamen-
to de toda a drenagem da estrutura e ao longo da vida útil da pilha, ele
vem somente com a drenagem de fechamento da pilha, a drenagem
final. Então, o que fazer com a drenagem no período de disposição?

É importante, portanto, que este aspecto seja considerado no projeto


de Engenharia e é necessário um plano anual que contemple toda a
gestão de fluxos de água para que os impactos de carreamento de se-
dimentos não sejam grandes. Neste caso, é possível fazer, por exemplo,
o direcionamento adequado das drenagens superficiais, com a criação
de chicanas e campos de contenção de sedimentos próximos à região.

A definição dos melhores equipamentos para essa operacionalização


da pilha também é uma etapa muito importante e representa um de-
safio da disposição. Às vezes se tem a visão de que um equipamento
que tem capacidade maior vai ser o mais adequado para realizar a dis-
posição do material. Porém, alguns equipamentos não são apropria-
dos e não vão conseguir fazer todo o manejo do rejeito.

A Figura 12 demonstra um teste realizado com um caminhão fora de


estrada, com uma capacidade de 100 toneladas. O resultado foi que,
apesar de otimizar a quantidade de viagens a serem realizadas para
transporte do rejeito, o equipamento não é apropriado para transitar
nas praças de secagem e nas pilhas.

Figura 12 - Teste realizado com um caminhão fora de estrada

Fonte: Autor. 78
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Por fim, as pilhas com elevadas alturas, constituem o grande desafio


atual, afinal, a Engenharia ainda está no estado da arte do entendi-
mento do comportamento desse material. Como instrumentar e mo-
nitorar os aspectos geotécnicos em todas as camadas do empilha-
mento, garantindo a sua estabilidade e segurança ao longo de toda a
sua vida útil e após o encerramento das operações?

Muito se tem avançado nestas questões, muitos estudos e pesquisas


têm sido realizados, mas precisamos estar atentos e nos movimentan-
do para responder a estas perguntas de forma cada vez mais consis-
tente e precisa.

79
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

PANORAMA DOS DESAFIOS E

09
PERSPECTIVAS DA DISPOSIÇÃO
DE REJEITOS EM EMPILHAMENTOS
FILTRADOS NA VISÃO DO ÓRGÃO
FISCALIZADOR
Por: Fábio Perlatti

Panorama geral da atividade


minerária e da geração de rejeitos
A Agência Nacional da Mineração (ANM) iniciou suas ativi-
dades no Brasil em 1934, quando foi criado o então Depar-
tamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Desde
então, observa-se que a mineração no Brasil evoluiu a
passos largos, chegando hoje ao cenário apresentado pela
Figura 1.

Figura 1 - Mapa dos processos constantes da base da ANM

Fonte: Agência Nacional da Mineração (ANM).

80
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Detalhadamente, existem hoje mais de 100 mil áreas em pesquisa


no Brasil, mais de 35 mil minas ativas, considerando os títulos autori-
zativos, que seriam concessão, licenciamento, lavra garimpeira e
registro de extração. Praticamente 2.700 municípios, aproximada-
mente metade dos municípios do Brasil, têm mineração na atualida-
de e mais de 70 tipos diferentes de minerais são explorados no país.

Toda essa atividade e toda essa potência da mineração no país, além


de trazer a riqueza, traz também um grande desafio que são os rejei-
tos advindos do beneficiamento do minério. Em grande parte dos
minérios explorados, a proporção de rejeito gerada é muito elevada,
principalmente, quando se fala dos metálicos. E isso corresponde a
uma geração muito grande de rejeitos, como pode ser observado na
Figura 2.

Figura 2 - Gráfico Relação Rejeito x Minério

Fonte: IPEA (2012)1

1 Instituto De Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. DIAGNÓSTICO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DA ATIVIDA-
DE DE MINERAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS NÃO ENERGÉTICAS. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Apli-
cada (Ipea), 2012. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/7702. Acesso em: 02 out. 2023.

81
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Um estudo do IPEA (2012)1 traz alguns dados com estimativas de gera-


ção de rejeito ao longo do tempo com base na produção de minério,
bastante desafiadoras. Por estes dados, existiria uma geração de 500
milhões de metros cúbicos de rejeitos no ano de 2020 e uma previsão
de geração de 684 milhões de metros cúbicos em 2023, como pode
ser observado na Figura 3.

Figura 3 - Estimativa geração de rejeitos 2020-2030 (em mil m3)

Fonte: IPEA (2012)1

Panorama da disposição de
rejeitos em pilhas no Brasil
De acordo com dados atuais do Sistema Integrado de Gestão de Bar-
ragens de Mineração (SIGBM) existem hoje mais de 4,3 bilhões de
metros cúbicos de rejeitos armazenados em barragem. E a perspecti-
va é a de geração de mais 4,4 bilhões de metros cúbicos de rejeito

82
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

rejeito para o período de 2024 a 2030. Isto quer dizer que a quantidade
de rejeitos a se armazenar ou destinar irá dobrar até 2030 e a forma de
destinação ou disposição final desse rejeito é uma grande incógnita,
que se tem tentado delinear.

De acordo com relatório emitido pela FEAM (2017)2, no ano de 2016


92% dos rejeitos estavam dispostos em barragens, 5% em pilha e 1% de
outras formas. No entanto, tem-se observado que a tendência é de
uma diminuição da disposição em barragens e o aumento da disposi-
ção em pilhas de rejeito. E muitos são os fatores que têm levado as
empresas a optarem pela disposição de rejeitos filtrados em pilhas,
tais como: rompimentos de barragens, normativos mais rígidos, pres-
são social e questões ambientais.

Com o aumento no número dessas pilhas, acendeu-se um sinal ama-


relo dentro do órgão fiscalizador. E um grande sinal vermelho acen-
deu-se quando houve o deslizamento da Pilha Cachoeirinha, em 2022.
Com isso, a diretoria colegiada da ANM determinou uma ordem de
serviço para que fosse realizada uma campanha emergencial de fisca-
lização nas pilhas estéreis e de rejeitos, principalmente no estado de
Minas Gerais.

Em um compilado inicial da operação de pilhas chegou-se ao dado de


que só as 20 maiores empresas de Minas Gerais operam 237 pilhas
com mais da metade acima de 100 metros, tendo pilha com altura
acima de 300 metros. No que diz respeito ao volume, é possível dizer
que existem, ao menos, 3,9 bilhões de metros cúbicos de rejeitos já
dispostos em pilhas. Ou seja, só as 20 maiores empresas de Minas
Gerais têm quase o mesmo volume de rejeitos dispostos em pilha do
que o cadastrado no SIGBM, que estão dispostos em barragens.

Concluímos, então, que pilha não é uma coisa tão nova como se
pensa, é, na verdade, uma forma de disposição bastante antiga e já

2 Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM. INVENTÁRIO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA MINERAÇÃO:


ANO BASE 2015. Belo Horizonte: Fundação Estadual do Meio Ambiente, 01 nov. 2016. Disponível em:
http://www.feam.br/images/stories/2017/RESIDUOS/Inventario_Res%C3%ADduos_S%C3%B3lidos_Miner%
C3%A1rios_2016_Rev1_COM_FICHA.pdf. Acesso em: 02 out. 2023.
83
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

existem muitas pilhas no país. A grande questão é que não se tem


informações detalhadas dessas pilhas como se tem de barragens. E o
fato é que nos encontramos, no que diz respeito à disposição de rejei-
tos em pilhas, na mesma situação que estávamos com as barragens
em 2010, antes da Política Nacional de Segurança de Barragens.

Em uma análise mais geral do Relatório Anual de Lavra3, que é um é


um documento que consolida as informações sobre as atividades rea-
lizadas em uma mina, chegamos ao cenário apresentado da Figura 4.

Figura 4 - Dados sobre pilhas

Fonte: ANM. Relatório Anual de Lavra (RAL)3

Então, em uma análise preliminar, hoje a realidade do Brasil é que se


tem, no mínimo, seis vezes mais pilhas do que barragens em nosso
território. Obviamente, é preciso ainda filtrar essa base de dados para
se avaliar o que de fato são pilhas de rejeitos. Mas esse dado prelimi-
nar, nos aponta um enorme trabalho de entendimento dessa forma
de disposição pela frente. Não só entendimento em relação às pilhas
que estão sendo construídas agora, mas ao que já se tem do passado.
Qual idade e o estado dessas pilhas, com qual o material elas foram
construídas, como estão sendo operadas? É necessário depurar tudo
isso, para se ter uma visão melhor sobre as pilhas no Brasil.

3 ANM. Agência Nacional de Mineração. Relatório Anual de Lavra. Disponível em:


https://app.anm.gov.br/RAL/default.html

84
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

E temos aqui mais um desafio, pois quando se fala em barragens já


existe tanto um arcabouço regulatório como uma parte técnica, já
muito bem consolidada. Mas e para a pilha, o que existe de normativa,
que fundamente a fiscalização? Atualmente o que existe, de forma
bastante vaga, é a Norma Regulamentadora da Mineração – NRM 194,
estabelecida pela Portaria DNPM n. 237/20015, de 2001. Existem várias
propostas para esta regulamentação, mas ainda nada concreto,
portanto, percebe-se que o Brasil está muito atrasado em relação a
isso.

E, apesar de ter todo um conhecimento geotécnico por trás na


construção e de todo um detalhamento, existem muitas incertezas
em relação às pilhas. Sabe-se que as pilhas podem ser suscetíveis a
falhas assim como as barragens, como se viu no rompimento da pilha
de Cachoeirinha. E mais uma vez, se acende um alerta: o que fazer
com mais esse passivo da mineração? Como lidar com estas
estruturas de disposição do contexto do fechamento de mina?
Existem casos em que uma empresa foi obrigada a monitorar suas
pilhas de rejeitos por 40 anos, como lidar com isso?

Então, não basta de pensar na construção de uma pilha. Tem que se


ter uma visão holística sobre todo o ciclo de vida da mina, pensando
principalmente no fechamento e na reabilitação, não é só na
construção. É preciso pensar nessas estruturas de forma que quando
se for descomissionar, tenha-se a facilidade de comprovar que elas
não vão causar nenhum problema.

Então, mais uma vez, levanta-se a questão: por que não se pensar em
alternativas? De fato, se pensar em outras formas de destinação dos
rejeitos parece ser o melhor caminho, como apresentado no artigo de
alternativas tecnológicas.

4 Norma Reguladora de Mineração (NRM) – 19: Disposição de Estéril, Rejeitos e Produtos, 2001.
Disponível em: https://www.dnpm-pe.gov.br/Legisla/nrm_00.php
5 MME - Ministério De Minas e Energia e DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral. Portaria
nº 237, de 18 de outubro de 2001. Aprova as Normas Reguladoras de Mineração - NRM, de que trata o Art.
97 do Decreto-Lei nº 227, de 28 de fevereiro de 1967.

85
Desafios e Perspectivas da Disposição de Rejeitos da Mineração

Considerações
finais
Obviamente, é preciso avançar no conhecimento técnico em relação
às pilhas, pois como foi apresentado, existem muitas pilhas em nosso
país e pouquíssimos dados sobre elas. Precisamos de todo tipo de
base para conhecer o universo das pilhas no Brasil e trabalhar para
que se possa ter um panorama e uma fiscalização efetivos. Mas, sem
dúvidas, é preciso incentivar formas alternativas e mais sustentáveis
para destinação dos rejeitos, investindo-se em pesquisa e desenvolvi-
mento.

Por fim, fica aqui uma mensagem que é muito usada na questão do
fechamento de mina: é preciso começar com um fim em mente! A mi-
neração como um todo precisa ser pensada de forma holística, con-
templando-se todo o seu ciclo de vida e a etapa de destinação dos
rejeitos, não pode ser diferente.

86
CONHEÇA
OS AUTORES

ANDRÉ COELHO
Eng. Geotécnico, Mestre em Geotecnia
Atua como geotécnico master na elaboração
de projetos geotécnicos como os de barra-
gens, pilhas de estéril e de rejeitos, audito-
rias, revisões periódicas de segurança, planos
de segurança, acompanhamento técnico de
obras, dentre outros.

BRUNO DELGADO
Eng. Civil, Doutor em Engenharia Civil (Geotecnia)

Tem experiência com projetos e pesquisas em:


barragens e estruturas geotécnicas para disposi-
ção de rejeitos, solos tropicais, aterros sobre solos
moles, estabilidade de taludes e geomecânica
de vias férreas. É revisor de artigos científicos em
periódicos nacionais e internacionais, e integran-
te de grupos de pesquisa internacionais em cola-
boração interinstitucional.
FÁBIO PERLATTI
Eng. Agrônomo, M.Sc & PhD em Ecologia
e Recursos Naturais
Pós-Doutorado em Biogeoquímica do Solo, Espe-
cialista em Engenharia de Barragens e Geotecnia,
com mais de quinze anos de experiência em
temas relacionados com mineração e ambiente.
Atuou em diversas atividades de fiscalização mi-
neira. Desenvolve trabalhos com reaproveitamen-
to e novas alternativas para disposição de rejeitos,
estéreis focados na construção de tecnossolos,
buscando transformar “resíduos” em “recursos”,
devolvendo esses materiais ao meio ambiente de
forma sustentável, com soluções baseadas em En-
genharia Ecológica, Economia Circular e Soluções
Baseadas na Natureza.

IAN PAES
Eng. Civil, Mestre em Geotecnia

Engenheiro Geotécnico Sênior, Professor na Pós-


-Graduação da Fundação Gorceix (UFOP). Tem
experiência na área de Engenharia Civil, com
ênfase em Geotecnia.

JULIANA FABRE
Eng. Civil, Mestre em Geotecnia
Atua como engenheira geotécnica na área de pro-
jetos de geotecnia aplicados à mineração, bem
como monitoramento de barragens de rejeito e
sedimentos. Participou de grupo de pesquisa rela-
cionado à caracterização física e geomecânica de
rejeitos de minério de ferro do quadrilátero ferrífe-
ro de Minas Gerais (COPPE/2018 – 2020) e à resis-
tência ao cisalhamento de solos residuais e análise
de estabilidade de encostas (UFJF/2014 – 2016).
LEONARDO MACHADO
Eng. Civil, Mestre em Engenharia Geotécnica

Engenheiro Civil, doutorando e mestre em Enge-


nharia Geotécnica, e pós-graduado em Gerencia-
mento de Projetos. Ampla experiência em confec-
ção e gerenciamento de projetos geotécnicos de
pilhas de rejeito e estéril, barragens, estabilizações
de taludes, diques, sumps e baias de contenção de
sedimentos.

LUANA ANDRADE
Eng. Civil e Eng. Ambiental, Doutora em
Engenharia Civil
Atuou como consultora e liderou equipes de En-
genharia em projetos na área de meio ambiente,
mineração e disposição de resíduos sólidos. Foi
bolsista BTDI pela FAPEMIG, em parceria com a
VALE S.A., UFV, UFOP e CEFET/MG, para desenvol-
vimento de alternativas para o reaproveitamento
de rejeitos da mineração de ferro.

MARIANA PIMENTA
Bióloga e Eng. Ambiental, Mestre em
Sustentabilidade
Bióloga e Engenheira Ambiental, Especialista em
Tecnologia Ambiental e Mestre em Sustentabilida-
de. Experiência como analista de impacto ambien-
tal em processos prioritários.
TADEU TORQUATO
Eng. Civil, Mestre em Geotecnia e Esp. em
Gerenciamento de Projetos
Engenheiro civil, doutorando e mestre em geotec-
nia, com especialização MBA em Gerenciamentos
de Projetos. Atuação em gerenciamento de proje-
tos segundo o guia PMBOK, com sólida aplicação
em projetos de infraestrutura em mineração,
gestão de barragens de rejeito e geração de ener-
gia renovável, com atuação em usinas hidroelétri-
cas, parques eólicos, solares, barragens e pilhas de
rejeitos, inclusive na integração entre as áreas dos
projetos.

THIAGO OLIVEIRA
Eng. Civil, Especialista em Barragens
Possui mais de 10 anos de experiência na geotec-
nia e mais de 8 anos de experiência com projetos
de disposição de rejeitos. Na área de mineração,
desenvolveu e coordenou projetos de estruturas
de disposição de rejeitos no que tange a altea-
mentos, descaracterização/descomissionamento,
pilhas de co-disposição, novas estruturas, audito-
rias, revisões periódicas, cross-check, estudos de
ruptura hipotética, plano de ações emergenciais e
acompanhamento técnico de obras. Para depósi-
tos de estéril, desenvolveu e coordenou projetos
de novas estruturas.

WILFRED BRANDT
Eng. de Minas, Especialista em Fechamento
de Mina
Profissional com mais de 40 anos de experiência
na área de mineração e meio ambiente. Foi con-
sultor na área de mineração e meio ambiente da
UNESCO, PNUD e PNUMA e desenvolveu projetos
de Banco Mundial e BID, tanto no Brasil quanto
em países da América Latina. Fundador e diretor,
por 33 anos, da Brandt Meio Ambiente, onde é atu-
almente Conselheiro.
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para que você continue se aprimorando nesse as-
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