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capítulo 8

EXPANSÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM
EDUCAÇÃO NO BRASIL: UMA ANÁLISE A
PARTIR DAS TESES E DISSERTAÇÕES (2011-2019)

André Rodrigues Guimarães


José Almir Brito dos Santos
Laurimar de Matos Farias

Introdução

Neste capítulo apresentamos uma análise panorâmica da


produção acadêmica, em teses e dissertações, sobre a expansão
da Pós-graduação em Educação no Brasil. Para tanto, realizamos
pesquisa documental e bibliográfica. A parte documental considerou
os Planos Nacionais de Pós-graduação (PNPG), instituídos no Brasil,
bem como dados disponibilizados pelo Sistema de Informações
Georreferenciadas da CAPES (GEOCAPES), conforme analisados
nas duas próximas seções. A pesquisa bibliográfica se deu a partir do
levantamento teses e dissertações publicadas na Biblioteca Digital
Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), conforme análise
apresentada na terceira seção desse estudo.

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O levantamento de dados considerou o período 2011-2020,
definido em função da vigência do VI PNPG, com elevada expansão
dos cursos de mestrado e doutorado.

Os Planos Nacionais de Pós-graduação

A definição da formação em pós-graduação como estratégia


para o desenvolvimento econômico, ganha destaque no Brasil a
partir da década de 1970. Esse intensão se consolidou na formulação
do I PNPG, com abrangência no período 1975-1980. Tal plano
definiu como prioridade a capacitação, a preparação de mão de obra
qualificada em docência para a atuação prioritária nas instituições
de Educação Superior, interligando de forma processual as ações
e propostas educativas da pós-graduação para todo o sistema
universitário (Brasil 2010, p. 13).
Um dos eixos centrais no I PNPG era a expansão desse
nível formativo. Segundo Hostins (2006) esse plano tinha como
principais eixos: a institucionalização do sistema, a elevação dos
padrões de desempenho, a racionalização da utilização de recursos
e a organização de um plano de expansão, tendo em vista uma
estrutura mais equilibrada entre áreas do conhecimento e as regiões
geográficas, evitando disparidades.
A ênfase na necessidade de aproximação com o setor
produtivo ganhará destaque no II PNPG (1982). Ramalho e
Madeira (2015) indicam que nesse plano destaca-se a aproximação
sistemática do ensino de pós-graduação com o setor produtivo, uma
vez que já há uma tendência, ainda que silenciosa, de adequar este
sistema educativo às necessidades básicas do país, em especial as
da produção de ciência e tecnologia. Os autores afirmam que “não
se pode negar [...] que o 2º PNPG tenha dado ênfase à qualidade do
ensino superior e da pós-graduação, e buscado adequar o sistema
pós-graduado às necessidades do país [...], tornando bastante

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evidente sua vinculação com o setor produtivo” (p. 73, grifo nosso).
Assim, podemos visualizar, neste, uma tendência singular de uma
expansão com indícios a preferência de uma expansão produtiva.
Posteriormente, na década de 1980, nos primeiros anos do
período de redemocratização do país, novas ações regulamentadoras
vão ser implantadas na pós-graduação, da chamada Nova República,
com o advento do III PNPG (1986-1989). Este reitera, entre outros
pontos, “a importância da articulação entre as diversas instâncias
governamentais, a comunidade científica, as agências de fomento
e o setor produtivo na elaboração de políticas e na implementação
das atividades de Pós-graduação” (Ferreira e Moreira 2012, p. 24).
É a partir dele que se vai marcar uma associação entre os
resultados das avaliações e as ações de fomento e “a necessidade
de institucionalização da pesquisa como elemento indissociável
da pós-graduação e sua integração no sistema nacional de
ciência e tecnologia” (Mancebo 2008, p. 174). Nesse Plano, o
espaço estabelecido como centro da produção do conhecimento
é a universidade, o que reforça a função primordial desta no
desenvolvimento científico e tecnológico do país e vai exigir
dos profissionais da academia a necessidade de maior titulação
e qualificação, tendo em vista a otimização da produção de
conhecimento necessária ao atendimento prioritário das demandas
científicas nacionais.
Destacamos que o IV PNPG “não se tornou público fazendo
com que muitos estudiosos não o considerem como um plano
nacional da pós-graduação” (Ribeiro 2016, p. 81). Entretanto,
sua contribuição está em sua pela ênfase na expansão do sistema,
na diversificação do modelo de pós-graduação. Os documentos
oficiais confirmam tal assertiva quando afirma em documento da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) que: “aquele que seria o IV Plano, devido a problemas de
várias ordens, não chegou a ser implantado como Plano efetivo, mas
suas diretrizes e instrumentos pautaram as ações da CAPES de 1996
a 2004” (Brasil 2010, p. 13).

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Nessa perspectiva de elaborar um plano que estimule e
promova, de fato, uma pós-graduação que atenda as assimetrias
regionais presentes na política de pós-graduação nos planos
anteriores e comprovada por estudos realizados com essa análise
mais específica, a CAPES elabora o V PNPG (2005-2010) nesse
podemos constatar que ele tem como princípio a “introdução do
princípio de indução estratégica nas atividades de pós-graduação,
[...] o aprimoramento do processo de avaliação qualitativa da pós-
graduação [...] a expansão da cooperação internacional, o combate
às assimetrias [...], reforçando a assertiva do caput do parágrafo
(Brasil 2010, p. 16).
Vale destacar que no final da vigência do V PNPG os números
demonstram estatisticamente os avanços desse nível de formação,
onde já havia 57.270 docentes e 161.117 estudantes matriculados ao
final de 2009, sendo destes 103.194 alunos de mestrado e mestrado
profissional e 57.923 alunos de doutorado (Brasil 2010).
Esse mesmo documento apresenta um comparativo do
crescimento no número dos cursos de mestrado e doutorado em
um comparativo entre os anos de 1976 (vigência do I PNPG) e
2009 (vigência do V PNPG), os dados mostram que “de 1976 a
2009, houve um crescimento de 370,3 % no número dos cursos de
mestrado e 685,6% nos de doutorado” (Brasil 2010). Esses números
são significativos, mas ainda tímidos para a demanda crescente que
se apresentava.
Uma avaliação desse plano considerando suas características
que defendia: “a introdução do princípio de indução estratégica, o
combate às assimetrias e o impacto das atividades de pós-graduação
no setor produtivo e na sociedade, resultando na incorporação da
inovação no SNPG e na inclusão de parâmetros sociais no processo
de avaliação”, não se traduziram, concretamente, em números como
a proposta indicava. Embora se reconheça certos avanços nesse nível
educativo, os esforços precisam ser redobrados e as questões mais
pontuais ligados as assimetrias e a avaliação devem ser consideradas
pelas políticas de expansão no país (Brasil 2010, p. 16).

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O plano em vigor (2011-2020) reforça, em vários aspectos, o
que já vinha sendo proposto nos planos anteriores. Destaca-se que o
combate às assimetrias relacionadas à distribuição da pós-graduação
no território nacional e à necessidade da melhoria da qualidade da
educação básica é retomado e/ou mantido nesse VI PNPG (Brasil
2010, p. 16). Para além dessas questões já propostas nos PNPGs
anteriores o plano atual detalha e enfatiza que é preciso “mesclar
pós-graduação, o setor econômico e a sociedade” (Costa 2020, p. 4).

A expansão da pós-graduação em Educação: 2011-2019

Na presente seção analisamos o lugar ocupado pela área de


Educação na expansão recente da pós-graduação brasileira. Para
tanto consideramos dados disponibilizados pelo GEOCAPES. O
levantamento tem como marco temporal a vigência do VI PNPG,
sendo que os dados referentes ao ano 2020 não estavam disponíveis
até o momento de finalização desse capítulo.
Antes de analisarmos especificamente os números da
evolução dos Programas importa destacar que em estudo sobre a
expansão e financiamento da pós-graduação no Brasil, tendo como
recorte o período 2002-2018, Guimarães, Brito e Santos (2020)
evidenciam que o crescimento desse subsistema educacional,
cujo predomínio de atendimento está no setor público, não foi
acompanhado da necessária evolução orçamentária da União.
Assim, o aspecto positivo da expansão, na perspectiva de ampliação
do atendimento educacional, não se efetiva enquanto direito social,
estando muito mais afinado aos interesses hegemônicos do capital.
Em 2011 o Brasil registrou 3.128 Programas. No total 1.563
eram Programas com Mestrado Acadêmico (MA) e Doutorado
Acadêmico (DA), 1.175 com apenas MA e 52 com apenas DA.
Em tal ano registrou 338 Programas com cursos de Mestrado
Profissional (MP). Já em 2019 o total de Programas foi de 4.570,

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crescimento de 46%, com evolução bastante diferenciada entre
os distintos cursos e modalidades. Um dado que merece uma
observação e análise mais criteriosa, diz respeito aos programas
na modalidade profissional. Vale destacar que a partir de 2004,
com a instituição dos primeiros cursos, essa modalidade cresceu
significativamente. A título de exemplo, “de 2004 a 2009, houve um
crescimento de 35,9% no número de cursos de mestrado e de 34,4%
no de doutorado; enquanto o crescimento do número de cursos de
mestrado profissional foi de 104,2%” (Brasil 2010). A peculiaridade
dessa modalidade indica que o maior quantitativo de mestrado está
na esfera privada se considerar as dependências administrativas
(Municipal, estadual, federal e privada).
Para fins de melhor compreensão desse processo, passemos
a analisa-los conforme as modalidades dos cursos, comparando
sempre com os números específicos da área de Educação. Na tabela 1,
a seguir, estão expostos os dados da evolução dos Programas,
conforme a modalidade dos cursos.
Os dados demostram que a expansão da pós-graduação vem
sendo impulsionada pelos Programas Profissionais. O crescimento
do total de Programas foi de 46%, sendo que os Programas
com cursos Acadêmicos a evolução foi menor, com 34%, já os
Profissionais atingiram a surpreendente marca de 145%. No caso
da área de Educação essa tendência é mais acentuada: no total
a evolução foi de 64%, sendo 28% registrado nos Programas
Acadêmicos e 700% nos Programas Profissionais. Para Guimarães,
Brito e Santos (2020, p. 56) isso “revela uma expansão tendenciada à
Pós-Graduação demandada pelo mercado, já que [...] objetivam, no
geral, a qualificação de profissionais para a produção de pesquisas de
inovação cujos resultados possuam efeitos diretos e rentáveis”. No
caso específico da educação esse processo também é reforçado pela
lógica das pedagogias das competências, centrada no pragmatismo
pedagógico, com esvaziamento da formação acadêmica.

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Tabela 1 – Evolução dos Programas de pós-graduação em todas

170
as áreas e na Educação, por modalidade dos cursos (2011-2019)

TODAS AS ÁREAS EDUCAÇÃO


Ano
Acadêmico Profissional Total Acadêmico Profissional Total

2011 2.790 338 3.128 106 6 112

2012 2.947 395 3.342 112 9 121

2013 3.055 482 3.537 120 22 142

2014 3.199 549 3.748 125 30 155

2015 3.318 613 3.931 126 37 163

2016 3.474 703 4.177 128 42 170

2017 3.593 754 4.347 130 46 176

2018 3.598 765 4.363 130 46 176

2019 3.743 827 4.570 136 48 184

∆%
34% 145% 46% 28% 700% 64%
(2011-2019)

Fonte: Elaboração da pesquisa com base nos dados disponibilizados pelo GEOCAPES.

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Para Seron (2014) a pós-graduação brasileira tem sido
amparada por políticas cujos documentos orientam como esse
campo deve ser organizado e desenvolvido. Esses são modificados
em função das exigências de pesquisa, de formação e de mercado,
pois à medida que um documento geral é estruturado para a pós-
graduação, os documentos específicos tendem a ser reformulados no
sentido de atender às orientações gerais pré-determinadas. Em seu
estudo a autora evidencia a predominância do modelo heterônomo
de pós-graduação, calcado no interesse de órgãos externos ao setor
universitário, como o Estado e o mercado, que tendem a intervir
nesse espaço com vistas ao atendimento de seus interesses.
Na tabela 2 identificamos a expansão dos Programas com
cursos Acadêmicos. No âmbito geral, em todas as áreas, foram os
Programas exclusivamente com Doutorado quem apresentaram
maior evolução relativa, com 54%, porém, em termos absolutos
foram os Programas com Mestrado e Doutorado quem mais
cresceram, passando de 1.563 para 2.330, com 49%. O número
de Programas que possuíam apenas Mestrado tiveram o menor
crescimento relativo, 13%.
No caso específico da Educação registrou-se, no período
uma redução de 4% nos Programas que possuíam apenas Mestrado.
Já aqueles com Mestrado e Doutorado tiveram a maior expansão
registrada: 59%. Não há na série histórica Programas com apenas
curso de Doutorado.Esse processo de expansão em Programas
Acadêmicos é fundamental para a efetivação da educação enquanto
direito social. Porém, é necessário considerarmos também as
motivações desse processo. Lessa (2016) afirma que, no contexto
da influência, as políticas que permearam a pós-graduação, desde
o início tiveram dificuldades para distinguir se o foco seria garantir
a autonomia do conhecimento ou meramente replicar as políticas
neoliberais – e essa dúbia interpretação tem levado a pós-graduação
a curvar-se à lógica do mercado e afastar-se de seu sentido
emancipatório de produção de conhecimento.

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Tabela 2 – Evolução dos Programas de pós-graduação em todas as áreas e na Educação, por cursos acadêmicos (2011-2019)

172
TODAS AS ÁREAS EDUCAÇÃO
Ano
Mestrado Doutorado Mestrado e Doutorado Mestrado Doutorado Mestrado e Doutorado

2011 1.175 52 1.563 52 0 54

2012 1.230 53 1.664 51 0 61

2013 955 55 2.045 47 0 73

2014 1.080 58 2.061 52 0 73

2015 1.167 64 2.087 52 0 74

2016 1.292 76 2.106 54 0 74

2017 1.367 82 2.144 56 0 74

2018 1.320 83 2.195 52 0 78

2019 1.333 80 2.330 50 0 86

∆%
13% 54% 49% -4% - 59%
(2011-2019)

Fonte: Elaboração da pesquisa com base nos dados disponibilizados pelo GEOCAPES.

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Nascimento (2015) destaca em seu estudo que ideia de
que o avanço da ciência e tecnologia é um meio para superar o
subdesenvolvimento e alcançar o progresso encontra-se presente na
política adotada em documentos que balizam a pós-graduação no
Brasil. Fica bastante evidente que a percepção de desenvolvimento
presente em documentos oficiais, como os PNPG, na perspectiva
de integrar as atividades da pós-graduação ao sistema empresarial,
buscando a inovação e a utilização da tecnologia para ganhar
competitividade no mercado internacional, valorizando a ciência
pela sua força produtiva.
Como já apontado nessa seção esse processo ganha maior
efetividade com a expansão dos Programas Profissionais. A
tabela 3 apresenta os dados específicos dessa modalidade. Foram
os Mestrados que provocaram a acentuada expansão no período
de análise. Em 2011 havia 338 Programas exclusivamente com
tais cursos, em 2019 o número passou para 802, crescimento de
137%. No caso da Educação os Programas específicos Mestrados
Profissionais, passou de 6 para 47, evolução de 683%, no mesmo
interim.
Somente a partir de 2018, com a regulamentação dos
Doutorados Profissionais aparecem os primeiros Programas
com tais cursos, com número ainda limitado no âmbito geral e,
especialmente, na Educação. Esse cenário deverá ser alterado
significativamente nos aos vindouros, tendo em vista a continuidade
da lógica que orienta essa expansão mais adequada aos interesses
privados.
Para Benck (2014) a pós-graduação precisa se aproximar
dos demais níveis e etapas educacionais e ao mesmo tempo a
superação das assimetrias nesse nível de ensino. Para ela as muitas
contribuições dos pesquisadores e intelectuais da pós-graduação são
relevantes e tem ajudado no fortalecimento desse subsistema. Isso,
entretanto, não tem implicado no rompimento da lógica mercantil
instituída nacionalmente, o que pressupõe a necessária ampliação
do papel social do Estado, pois “sem o necessário financiamento
público serão aprofundadas as disparidades regionais na Pós-
Graduação brasileira” (Guimarães, Brito e Santos 2020, p. 68).

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Tabela 3 – Evolução dos Programas de pós-graduação em todas as áreas e na Educação,

174
por cursos profissionais (2011-2019)

TODAS AS ÁREAS EDUCAÇÃO


Ano
Mestrado Doutorado Mestrado e Doutorado Mestrado Doutorado Mestrado e Doutorado

2011 338 0 0 6 0 0

2012 395 0 0 9 0 0

2013 482 0 0 22 0 0

2014 549 0 0 30 0 0

2015 613 0 0 37 0 0

2016 703 0 0 42 0 0

2017 753 0 1 46 0 0

2018 763 1 1 46 0 0

2019 802 1 24 47 0 1

∆%
137% - - 683% - -
(2011-2019)

Fonte: Elaboração da pesquisa com base nos dados disponibilizados pelo GEOCAPES.

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Estudos sobre a Pós-graduação em Educação no Brasil:
análise de teses e dissertações da BDTD

Destacamos que as buscas no portal da BDTD nos indicaram


a existência de 13 dissertações e 3 teses cujo foco, de alguma forma,
se preocupou da análise da Pós-graduação em termos gerais. Deste
quantitativo, apenas 3 dissertações tratavam especificamente da área
de Educação. Em razão dos limites deste texto optamos por fazer
uma descrição geral das produções das teses, isso nos possibilita
ter uma dimensão geral das teses com temática correlata. Já para as
dissertações consideramos pertinente focar naquelas que buscaram
refletir a especificidade da área Educação.
No que tange as Teses encontradas, há uma tese publicados
em 2018 e outras duas em 2019. Silva (2018) analisou a criação,
institucionalização e expansão da pós-graduação brasileira a
partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) e da reforma do ensino superior instituída durante
o Regime Militar (1964-85). Precisamente com foco no processo de
Internacionalização enquanto fenômeno global, destacando a busca
pelo aperfeiçoamento humano e sua estreita relação com a produção
científica. Como resultado, é ressaltado que as agências de fomento,
como a CAPES, adotam políticas de expansão e consolidação
pós-graduação brasileira por meio de programas de cooperação
acadêmica internacional.
Para Silva (2018) tal busca se dá por ações estratégicas que
elevaram o número de doutores titulados, concedendo bolsas, auxílios
e outros mecanismos (como projetos conjuntos), para a formação
e capacitação de recursos humanos, promovendo a cooperação
internacional no Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG).
Destaca-se ainda o crescente investimento em áreas de interesse
nacional, fomentando o desenvolvimento científico e tecnológico,
com apoio à pesquisa, à inovação e, com isso, contribuindo para o

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estímulo e a valorização da educação, da ciência e da tecnologia e
incrementando a produção científica brasileira.
Moraes (2019) investiga a influência dos Projetos de
Doutorados Interinstitucionais (DINTER) na expansão do SNPG,
como pressuposto de formação de recursos humanos qualificados
com vistas à criação de novos cursos de pós-graduação. A autora
afirma que os principais resultados foram decisivos para a criação do
novos Programas, uma vez que muitos dos docentes que receberam
formação desfrutaram da oportunidade de colaboração e consultoria
para desenvolver estratégias futuras. O estudo revela que houve
inserção profissional bem-sucedida dos egressos, com vários deles
atuando como docentes e pesquisadores em Programas novos.
Magalhães (2019) analisou a expansão da pós-graduação
stricto sensu nas universidades federais sul-mato-grossenses no
período de 2003 a 2016. A autora aponta como resultado expressiva
expansão da pós-graduação nas universidades federais de Mato
Grosso do Sul, mais de 400% no número de matrículas e de titulações
de 2003 até 2016. De acordo com a pesquisa, esse processo ocorreu
pela combinação de políticas governamentais indutoras da expansão
da educação superior, de ações de indução por parte dos gestores
universitários e da própria ação docente. Destaca ainda que no
período analisado, os programas federais voltados para a expansão
das universidades federais, proporcionaram certa recuperação no
quantitativo de docentes, fator que também impactou positivamente
para a expansão da pós-graduação.
Magalhães (2019) destaca ainda que houve ação por parte
dos gestores das instituições analisadas com vistas à captação de
docentes para a pós-graduação. Essa intencionalidade estava expressa
em regulamentos, editais e documentos oficiais das Instituições de
Educação Superior (IES), nos quais a autora observou adequações
para atender aos itens destacados pela avaliação da CAPES. Ainda
há destaque para o engajamento docente no projeto de expansão da
pós-graduação.

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Após o apanhado geral proporcionado pela visão das teses,
passamos então às dissertações. Silva (2011) teve como foco a
análise da Pós-graduação em Educação a partir dos critérios da
avaliação trienal realizada pela CAPES. Entre os resultados, o autor
percebeu um entrelaçamento entre a trajetória da universidade e da
pós-graduação no Brasil. O autor também relacionou a sistemática de
avaliação vigente à época. Entre os documentos estão: Regulamento
para a avaliação trienal 2010 (2007-2009) e Documento da Área de
Educação 2009.
Já Moraes (2013) buscou em sua pesquisa conhecer a
distribuição dos Programas de Pós-Graduação em Educação
àquilo que a autora denominou ser mesorregiões e suas produções
científicas. A autora também buscou relacionar e existência e/ou
expansão de programas relacionados com indicadores sociais e
econômicos. Os apontamentos da pesquisa indicam a urgência da
necessidade de criação e ampliação de Programas de Pós-graduação
em Educação em mesorregiões como Norte e Nordeste, apontando,
ainda, a urgência de políticas que visem a indução de programas de
excelência nas referidas regiões.
Ferreira (2014), por sua vez, analisou o processo de criação
e institucionalização de Mestrados Profissionais em Educação
no Nordeste. O autor apontou a existência de forte tendência de
expansão dos Mestrados Profissionais em Educação no Brasil em
especial no Nordeste. Tal fato ocorre, sobretudo, a partir de 2012.
O autor destaca que detectou em sua incursão analítica que
há empecilhos no processo de criação e institucionalização de cursos
cuja presença da vinculação entre a educação e a formação para o
mercado de trabalho. Como resultado, o autor indica que os sujeitos
envolvidos relatam dificuldades à adequação do regime de trabalho
e estudo dos estudantes, problemas em relação às ferramentas
didáticas a serem utilizadas em sala de aula.
Em síntese, é consideravelmente reduzido o número de
estudos sobre a Pós-graduação em Educação no Brasil. São temas
relevantes e atuais e ainda são poucos desenvolvidos na academia,

A EDUCAÇÃO BÁSICA E SUPERIOR EM TEMPOS DE POLÍTICAS RESTRITIVAS ... 177


se considerarmos os bancos de dados utilizados para esse trabalho.
Teses e dissertações precisam ser protagonistas nessa temática,
visando a apropriação do conhecimento e as contribuições a
consolidação da pós-graduação em todas as regiões do país.

Considerações finais

O investimento em uma política de expansão da pós-


graduação no Brasil precisa considerar os aspectos que são
pontuais e que estão associados ao sucesso de qualquer política.
É fundamental avaliar a realidade e as especificidades das regiões
para definição destas políticas, uma vez que ainda temos uma pós-
graduação centrada nas regiões Sul e Sudeste enquanto Norte e
Nordeste acompanham, de longe, esta expansão. Nesse sentido,
Costa (2020, p.5) destaca que “o VI PNPG propõe analisá-las não
mais em termos de unidades da federação e de macrorregiões, e
sim a partir do critério de mesorregiões”, isto é, mais uma forma
de diminuir essas desigualdades e permite uma expansão mais
igualitária.
O panorama das políticas de expansão na Pós-graduação
brasileira, onde a instituição de Planos com metas e objetivos ligados
a forma de gestar e avaliar esse nível educativo contribuiu para
promover uma melhor formatação dessa política. Embora ainda não
tenha atingida sua plenitude de forma mais horizontal, já demonstra
um amadurecimento e avanços significativos, em especial, a
ampliação de número de programas e de vagas nas diversas regiões
do país. Muito se pode fazer, é preciso, então, considerar as lacunas
nas projeções e atendimento e superação nos itens que ainda estão
desconectados e descobertos de ações governamentais, seja da falta
de financiamento ou da regionalização dos programas e cursos para
atender os estudantes no seu próprio território.

178 Editora Mercado de Letras – Educação


É preciso destacar, também, que a expansão da pós-graduação
tem vinculação orgânica com os interesses neoliberais e mercantis.
Isso se evidencia na acentuada elevação de Programas Profissionais,
os quais estão mais afeitos aos interesses da formação de mão-de-
obra, conforme interesses do capital. Esse processo, danoso para a
formação humana e desenvolvimento social emancipador, é mais
intenso na área da Educação.
Nossa pesquisa indica que ainda é bastante limitado
número de estudos sobre a pós-graduação em educação no
Brasil, particularmente na última década. Assim, evidencia-se a
necessidade de pesquisas que busquem explorar fenômeno em
suas complexidades e contradições, com abrangência nacional e/ou
regional, bem como elucide as especificidades desse fenômeno.

Referências

BENCK, Simone Pereira Costa (2014). Os intelectuais e a política


de pós-graduação no Brasil à luz do processo de elaboração
dos PNPG 2005-2010 e PNPG 2011-2020. Tese de
Doutorado. Campinas: Universidade Estadual de Campinas,
Faculdade de Educação.
BRASIL (2010). Plano Nacional de Pós-graduação – PNPG 2011-
2020. Brasília: Ministério da Educação, Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES.
COSTA, Frederico Alves (2020). “Formação e Atuação em
Psicologia Social e a Política de Pós-graduação Brasileira.”
Psicologia: Ciência e Profissão, vol. 40, pp. 1-15.
FERREIRA, Diógenes Arruda (2014). O processo de criação e
institucionalização de mestrado profissional com foco em
educação no nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado
em Educação. Recife: Centro de Educação da Universidade
Federal de Pernambuco.

A EDUCAÇÃO BÁSICA E SUPERIOR EM TEMPOS DE POLÍTICAS RESTRITIVAS ... 179


FERREIRA, Marieta de Moraes e MOREIRA, Regina da Luz
(2012). CAPES, 50 anos: depoimentos ao CPDOC/FGV.
Rio de Janeiro: FGV.
GUIMARÃES, André Rodrigues; BRITO, Cristiane de Sousa.
SANTOS, José Almir Brito. Expansão e financiamento da
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A EDUCAÇÃO BÁSICA E SUPERIOR EM TEMPOS DE POLÍTICAS RESTRITIVAS ... 181

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