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Jaqueline Lima Valões [1], Márcio José Freire Ribeiro[2], Emmanuelle Arnaud
Almeida[3], Maria da Conceição Monteiro Cavalcanti[4]
[1] jack.valoes@gmail.com. [2] marcium2@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7304-2549. [3] emmanuelle.almeida@ifpb.edu.br.
[4] maria.cavalcanti@ifpb.edu.br. IFPB/PROFEPT.
Resumo
O presente artigo tem por objetivo investigar a metodologia de cálculo e publicização do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) para o ensino médio integrado (EMI) e para a Rede Federal de
Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT). O método utilizado foi a pesquisa documental. Foram
encontrados dois achados relevantes: o primeiro é a ausência de uma unidade de agregação do IDEB para
as escolas federais; o segundo é a exclusão do Ensino Médio Integrado (EMI) do cálculo agregado do IDEB
dos Estados. As principais conclusões foram: a) a ausência de cálculo e publicidade do IDEB no plano federal
gera prejuízos para a RFEPCT monitorar o alcance da meta nº 7 do Plano Nacional de Educação 2014-2024
(PNE); b) o cálculo e divulgação do IDEB agregado para o ensino médio federal poderia confirmar os bons
resultados obtidos pela RFEPCT em indicadores não censitários como PISA e ENEM; c) medidas como a
criação de uma unidade de agregação para o ensino médio federal e a inclusão do EMI no cálculo estadual nas
próximas edições do IDEB fortaleceriam essa proposta educacional ante a um cenário de recentes cortes de
investimentos na educação.
Palavras-chave: IDEB. Ensino Médio Integrado. Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica.
Abstract
This paper aims to investigate the methodology of calculation and disclosure of the Basic Education
Development Index (IDEB) for Professional Education Secondary Schools (EMI) and for the Federal Net of
Professional, Scientific and Technological Education (RFEPCT). The method used was documentary research.
Two relevant findings were found: the first one is the absence of an IDEB aggregation unit for Federal Schools;
the second is the exclusion of the Professional Education Secondary Schools (EMI) numbers from the State’s
IDEB calculation. The main conclusions were: a) the absence of calculation and publicity of the IDEB at Federal
level incurs losses for the RFEPCT to monitoring the achievement of the goal nº 7 of the National Education
Plan 2014-2024 (PNE); b) the calculation and dissemination of the IDEB for the Federal Professional Education
Secondary Schools could confirm the good results obtained by RFEPCT in non-census indicators such as PISA
and ENEM; c) measures such as the creation of an aggregation unit for the Federal Secondary Schools and the
inclusion of the EMI in the states calculation in the upcoming editions of IDEB, would strengthen this educational
proposal against a scenario of recent cuts in education’s investments.
Keywords: IDEB. Professional Education. Federal Net of Professional, Scientific and Technological Education.
o ensino profissionalizante promovido no âmbito A Fase I, lançada em 2006, tinha como proposta
federal, uma vez que inseriu uma série de mudanças ampliar a área de atuação da RFEPCT, por meio da
no ordenamento jurídico, possibilitando a expansão da criação de mais 38 unidades, priorizando sua instalação
RFEPCT (BRASIL, 2008). Tais instituições conquistaram em periferias de grandes centros urbanos e em
a autonomia administrativa, patrimonial, financeira, municípios interioranos mais distantes, mantendo a
didático-pedagógica e disciplinar. articulação com as potencialidades locais de mercado
De acordo com as Concepções e Diretrizes de trabalho (BRASIL, 2005, p. 4).
para os Institutos Federais de Educação Tecnológica A fase II, iniciada já em 2007, se propunha, como
(BRASIL, 2010), a expansão da RFEPCT refletiu meta, a criação de mais 150 novas instituições federais
a intencionalidade de promover uma educação de educação tecnológica, em um prazo de quatro anos
humanístico-técnico-científica, pública, verticalizada e (BRASIL, 2007b)
de qualidade, capilarizada em âmbito nacional, como A terceira fase da expansão da RFEPCT iniciou-se
o próprio documento explica: em 2011, com um projeto de criação de 208 novas
unidades até 2014, permanecendo o propósito
É uma instituição que articula a educação de superação das desigualdades regionais e na
superior, básica e profissional, pluricurricular e viabilização das condições para acesso a cursos de
multicampi, especializada na oferta de educação formação profissional e tecnológica como ferramentas
profissional e tecnológica em diferentes níveis e para melhoria de vida da população (BRASIL, 2016).
modalidades de ensino (BRASIL, 2010, p. 19). Como resultado, a expansão e interiorização das
instituições federais de EPT saltou de 144 unidades
O objetivo desses Institutos seria apoiar o em 2016 para 659 unidades em todo o país, em
desenvolvimento local e regional, integrando-se 2018. Isto representou a construção de mais de 500
à agenda pública na consolidação de políticas novas unidades, quantitativo maior do que o previsto
educacionais no campo da escolarização e da inicialmente nas três fases (BRASIL, 2016).
profissionalização. Dessa forma, buscar-se-ia a De acordo com o sítio oficial, a RFEPCT atualmente
melhoria do padrão de qualidade da educação está composta por 38 IFs, 02 Centros Federais de
brasileira em todo o território nacional com ações Educação Tecnológica (CEFETs), a Universidade
de desenvolvimento territorial sustentável, a fim Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), 22 escolas
de promover uma formação integral de cidadãos- técnicas, vinculadas às universidades federais, e o
trabalhadores emancipados (BRASIL, 2010). Colégio Pedro II. Considerando os respectivos campi
Moura (2007) traz uma análise, com base no associados a essas instituições federais, tem-se, ao
Censo Escolar do ano de 2005, que embora a oferta do todo, 661 unidades distribuídas entre as 27 unidades
Ensino Médio estivesse concentrada majoritariamente federadas do país (BRASIL, 2019a). Das instituições
nos sistemas e redes públicas de ensino (com 88,2%), que compõem a RFEPCT, o Ensino Médio é oferecido
os cursos técnicos corresponderiam a parcos 6,58% da nos IFs e Cefets.
oferta total. Estimando apenas a educação profissional Segundo Pacheco (2015), existe um nítido
técnica de nível médio, a participação do âmbito federal alinhamento entre o EMI, por sua proposta de
seria de cerca de 11,84% do número de matrículas formação humanística, e as bases formativas dos
nesses cursos, considerando o somatório total, que IFs. Para o autor, a concepção omnilateral do aluno
inclui as esferas pública e privada. que o EMI traz em sua gênese constitui-se em um
Dada a pouca representatividade do ensino dos princípios que fundamentam o projeto político
profissional técnico, tomou-se a decisão de ampliar o pedagógico dos IFs (PACHECO, 2015).
número de escolas federais de educação profissional e A RFEPCT é integrada por dois grandes blocos:
tecnológica, dando início a um processo de crescimento escolas que oferecem o EMI e escolas de Educação
que fosse capaz de gerar reflexos mais amplos para a Fundamental. Segundo o Conselho Nacional das
educação brasileira (BRASIL, 2010). Instituições da Rede Federal de Educação Profissional,
Souza e Costa e Silva (2016), a partir de pesquisa Científica e Tecnológica (CONIF) e o Fórum de
em documentos oficiais, dividiu a evolução da RFEPCT Dirigentes do Ensino (FDE) (2018), o EMI é ofertado em
em três fases: Fase I (2005-2007), Fase II (2007-2010) 620 das 661 unidades da RFEPCT, o que corresponde
e Fase III (2011-2014). a 93,7% de toda a Rede. Por sua vez, o EMI não é
oferecido apenas nos colégios de aplicação vinculados Segundo Fernandes (2007), os indicadores
às Universidades Federais. de desempenho de fluxo (promoção, repetência
Diante da radiografia da RFEPCT, pode-se afirmar e evasão) e de avaliações obtidas em provas
que o EMI é a modalidade de educação majoritária das devem ser combinados, uma vez que a relação de
escolas federais. interdependência entre tais processos se mostra
evidente. O sistema educacional ideal, para esse
2. 3 Anotações sobre a metodologia de autor, seria
cálculo do IDEB
aquele no qual todas as crianças e adolescentes
Um indicador é uma variável operativa, usada tivessem acesso à escola, não desperdiçassem
para aferir um conceito que não admite mensuração tempo com repetências, não abandonassem
direta (BORGES, 2018; FONSECA, 2010). Dito de outra os estudos precocemente e, ao final de tudo,
forma, serve para traduzir um conceito teórico de aprendessem. (FERNANDES, 2007, p. 7).
forma mensurável. No caso da educação, a qualidade
do ensino oferecido tem sido um terreno propício para O SAEB congrega as seguintes avaliações: a
criação de indicadores, dentre os quais se destaca o Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB),
IDEB. Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) e a
De acordo com Fernandes (2007), estabelecer um Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC),
indicador sintético de desenvolvimento educacional, esta última mais conhecida como Prova Brasil.
como o IDEB teria como grandes virtudes Enquanto a ANEB abrange escolas públicas e privadas
de forma amostral, a ANRESC contempla somente
a) detectar escolas e/ou redes de ensino cujos escolas públicas de educação básica.
alunos apresentem baixa performance e b) Conforme linha do tempo disponível no
monitorar a evolução temporal do desempenho sítio do o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
dos alunos dessas escolas e/ou redes de ensino. Educacionais (INEP), a despeito do SAEB vir sendo
(FERNANDES, 2007, p. 8). aplicado para o terceiro ano do Ensino Médio desde
1997, somente em 2017 a ANRESC do Ensino Médio
O IDEB se apresenta, portanto, como um indicador passou a compor o índice SAEB (INEP, 2019).
de qualidade para orientação às escolas, secretarias de A Portaria do Ministério da Educação nº 564, de
educação e aos gestores públicos, que se caracteriza 19 de abril de 2017, definiu as regras para edição do
por conjugar tanto aspectos quantitativos como SAEB do ano de 2017, estabelecendo que a prova de
qualitativos. Nesse sentido, o IDEB se mostra um proficiência seria aplicada a todos os alunos das séries
indicador desafiador por exigir um esforço equilibrado finais de cada ciclo da educação básica, ou seja, 5º,
entre aquisição de saberes apropriados ao ano escolar 9º anos do Ensino Fundamental e 3º ou 4º anos do
e ações que mantenham o aluno dentro da escola e na Ensino Médio (BRASIL, 2017a).
série apropriada. Além disso, a partir da edição 2017 a nomenclatura
Para compreender a metodologia adotada SAEB passou a referir-se a todas as provas aplicadas à
pelo IDEB, é necessário dissecar seus elementos educação básica, além de o público-alvo passar a ter
constituintes, que são o desempenho nas provas de abrangência censitária. É importante destacar que a
proficiência promovidas pelo Sistema de Avaliação da mudança do SAEB, de amostral para censitário, criou
Educação Básica (SAEB) e o índice de desempenho uma expectativa de resultados mais fidedignos em
escolar, o IDE, o qual diz respeito à taxa de aprovação relação às edições anteriores.
dos alunos. Avançando para o segundo indicador componente
O SAEB foi criado em 1990 e reúne provas e do IDEB, tem-se o Índice de Desempenho Escolar. Esse
questionários aplicados em escolas públicas e privadas índice é calculado a partir das informações obtidas pelo
no país, a fim de que técnicos, professores e demais INEP no censo da educação básica do ano de aplicação
profissionais da educação possam avaliar do SAEB e do imediatamente anterior.
O cômputo do indicador de desempenho escolar é
a qualidade da educação praticada no país, de
obtido através de um cálculo matemático que parte do
modo a oferecer subsídios para a elaboração, o
número total de estudantes matriculados na escola. O
monitoramento e o aprimoramento de políticas
índice de desempenho é obtido pela proporção entre
com base em evidências (INEP, 2019).
INEP optou pela divulgação do IDEB nas modalidades turmas multisseriadas, de correção de fluxo,
de agregação sintetizadas no quadro abaixo: de Educação Especial Exclusiva, de Educação
de Jovens e Adultos, de Ensino Médio Normal/
Quadro 1 – Unidades de agregação - IDEB 2017 Magistério, bem como as escolas indígenas que
não ministrem o ensino em Língua Portuguesa.
mostra urgente, visto que até o ano estabelecido para ______. Lei nº 8.948, de 8 de dezembro de
o alcance da meta PNE estão previstas apenas duas 1994. Dispõe sobre a instituição do Sistema
edições do IDEB, em 2019 e 2021. Nacional de Educação Tecnológica e dá outras
De outra sorte, o cálculo e divulgação do IDEB providências. Brasília, DF: Poder Executivo, 1994.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
consolidado para o Ensino Médio federal poderia
leis/l8948.htm. Acesso em 31 maio 2019.
atestar, de forma censitária, o que indicadores não
censitários, como o ENEM e o teste PISA, vêm ______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
mostrando: que a proposta de EMI praticada pela de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
RFEPCT se traduz em educação com excelente educação nacional. Brasília, DF: Poder Executivo,
qualidade, apresentando resultados superiores em 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
comparação às escolas privadas ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em 29 mai. 2019.
Nesse movimento de fortalecimento, a inclusão
das escolas estaduais que adotam o EMI no cálculo do ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
IDEB poderia elevar o índice do ensino médio desses Profissional e Tecnológica. Plano de Expansão da
Rede Federal de Educação Tecnológica – Fase I.
estados, visto que estas escolas têm sido igualmente
Brasília, DF: Ministério da Educação, 2005. Disponível
apontadas como escolas de desempenho superior em em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
comparação àquelas que não adotam a modalidade de docman&view=download&alias=96261-1-plano-
ensino integrado. expansao-rede-federal-fase-i&category_slug=setembro-
Em um momento crítico da educação pública 2018-pdf&Itemid=30192. Acesso em 20 jun. 2019.
do país, no qual a preocupação com o custo vem se
sobrepondo à qualidade do ensino ofertado, o cálculo e ______. Decreto nº 6.094, de 24 de abril de
divulgação do IDEB para RFEPCT e a inclusão do EMI 2007. Dispõe sobre a implementação do Plano de
no cômputo dos estados nos próximos ciclos do IDEB Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União
se mostram indispensáveis. Tais medidas permitirão Federal, em regime de colaboração [...]. Brasília, DF:
Presidência da República, 2007a. Disponível em: http://
um debate qualificado e oportuno sobre a proposta de
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/
EMI, sobretudo em um momento histórico de massivos decreto/d6094.htm. Acesso em 21 jun. 2019.
cortes de recursos na área educacional que vêm sendo
implementados pelos últimos governos do país. ______. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Profissional e Tecnológica. Chamada
Referências Pública MEC/SETEC n. º 001/2007. Chamada
pública de propostas para apoio ao Plano de
AFONSO, A. J. Para uma conceitualização alternativa Expansão da Rede Federal de Educação Tecnológica
de accountability em educação. Educ. Soc., Campinas, – Fase II. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2007b.
v. 33, n. 119, p. 471-484, jun. 2012. Disponível Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ edital_chamadapublica.pdf. Acesso em 20 jun. 2019.
arttext&pid=S0101-73302012000200008&lng
=en&nrm=iso. Acesso em 21 jun. 2019. ______. Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de
2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional,
BORGES, R. M. Indicadores educacionais em foco: Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais
análise frente à realidade brasileira. In: ROTHEN, J. de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras
C.; CUNHA, A. M. S. (Org.) Avaliação da educação: providências. Brasília, DF: Poder Executivo. Disponível
referências para uma primeira conversa. São em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
Carlos: Ed. UFSCar, 2018. Disponível em: https://www. 2010/2008/lei/l11892.htm. Acesso em 29 maio 2019.
edufscar.com.br/avaliacao-da-educacao-referencias-
para-uma-primeira-conversa. Acesso em 19 jun. 2019. ______. Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Profissional e Tecnológica. Concepção e
BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da Diretrizes dos Institutos Federais de Educação
República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, Tecnológica: um novo modelo em Educação Profissional
DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: e Tecnológica. Brasília, DF: Ministério da Educação,
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ 2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.
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