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Mais adiante, diz Meursault: ‘O sol caía quase a pique sobre a praia e o seu
brilho no mar era insustentável.’
Talvez essa seja uma reflexão que podemos ler na obra O estrangeiro, de
Camus. O não-engajamento de Meursault, assim como o de uma população conivente
com a necropolítica de Hitler, assim como o de qualquer um de nós nesta realidade, tem
consequências diretas ou indiretas sobre os outros. A decisão de uma pessoa engaja
toda a humanidade. Por isso a liberdade angustia, porque envolve responsabilidade.
Mais uma vez o Sol de Meursault e o absurdo da guerra
Uma outra leitura simbólica que pode ser feita dessa presença marcante do sol
no romance é considerar este excesso de luz que chega a ser insustentável como um
espelhamento do racionalismo excessivo da época.
Filha do tal século das luzes que tiraria o homem das trevas, a ciência moderna
construiu seus argumentos higienistas em consonância com o discurso imperialista e
todo o processo violento de colonização a consolidação do capitalismo mundial. Não há
nada de novo no discurso do líder do Partido Nazista. Talvez o que cause tanta comoção
é que toda a sua violência voltou-se para a própria Europa colonizadora. Aquela mesma
que detém a narrativa hegemônica da história.
A ciência moderna possui sua contribuição, assim como a luz do sol que acalenta
e ilumina. Mas em excesso ofusca e destrói. O brilho do céu talvez seja insustentável
assim como o percurso exclusivamente apolíneo. A razão não responde tudo. Muito
menos a razão cartesiana que se coloca como verdade única. Sigo em acordo com os
existencialistas humanistas que já não creem em Deus. A morte do Deus homem
branco, que se projeta numa posição superior aos humanos, é necessária. Mas me
pergunto: será que o desencantamento do mundo é o caminho de maior contribuição
para nós hoje?
BIBLIOGRAFIA