Também, saber é não andar. Sentir foi sempre para mim Uma maneira de pensar.
Por isso agora essa cantiga,
Que me lembrou, me entristeceu. Não sei se foi por ser antiga, Se por ser ela, ou eu ser eu.
Às vezes há um rodopio Das folhas secas num lugar. Não consigo ser eu a fio, Mas continuo sempre a olhar.
Fernando Pessoa
Responde aos itens que se seguem.
1 – Explicita dois sentimentos que o sujeito poético revela na primeira estrofe.
2 – Explicita os efeitos provocados pela evocação da “cantiga” (v.5).
3 – Interpreta o valor expressivo do verbo “olhar” (v.12), relacionando-o com o
sentido dos dois últimos versos do poema.
4 – Identifica, no poema transcrito, duas características temáticas da poesia de
Fernando Pessoa ortónimo, fundamentando a tua resposta com elementos textuais pertinentes. CORREÇÃO – EXEMPLOS DE RESPOSTAS
1 – São evidentes, nesta estrofe, a angústia do “eu” provocada pela incapacidade
de se compreender (“Não sei porque é que sou assim”) e a tristeza por concluir que pensar é causa de estagnação e indefinição (“saber é não andar”), assim como da incapacidade de sentir.
2 – A recordação da “antiga” cantiga incita a evocação nostálgica do passado
distante e irrecuperável, colocando o sujeito poético em confronto com a pessoa que é. Assim, a tristeza (“me entristeceu”) e a angústia existencial são as consequências da incapacidade de definir a causa desse estado de espírito (“Não sei”): ou pela certeza de não recuperar o passado ou por ser quem é no presente.
3 – O verbo “olhar” adquire o sentido de analisar, metáfora da autoanálise
permanente. Assim, de acordo com o sentido dos dois últimos versos, embora reconheça que pensar é causa da indefinição, o sujeito poético confessa a contínua procura de si mesmo (“continuo sempre a olhar”), da sua identidade.
4 – Neste poema, são evidentes características temáticas como a autoanálise e a
consequente dor de pensar (“Não sei porque é que sou assim”), que resultam na incapacidade de sentir sem pensar (“Sentir sempre foi para mim / Uma maneira de pensar”). Para além disso, é notória a nostalgia da infância, desencadeada pela lembrança da “antiga” “cantiga”, a provocar tristeza, angústia existencial (“me entristeceu”) e indefinição (“Não sei”).