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Prova 2, 6/11/2020
Luís Felipe G. Teixeira nº 11780040
Questões Gerais:
Questão 1) 2411/5000 caracteres
A desidratação é uma condição na qual a quantidade de água em um organismo está em níveis
menores do que o necessário para a sobrevivência de suas células e do funcionamento de suas
reações metabólicas. A partir de processos como transpiração e expiração, o corpo tende a
perder água e é necessário ingerir mais para manter suas quantidades no nível certo. Para que
haja ingestão de água, diversos sinais como o hormônio angiotensina II, boca seca e
osmorreceptores atuam para avisar que é necessário se hidratar.
Porém, para que uma solução aquosa hidrate um ser humano, ela precisa estar em uma certa
faixa de osmolaridade. Ingerir uma solução demasiadamente destilada causará, por osmose, a
diminuição da pressão sanguínea e a lise de células, que absorverão água até estourarem. Uma
solução concentrada demais, por outro lado, retirará água dos tecidos e, efetivamente,
desidratará o organismo, além de aumentar a pressão sanguínea. O que delimita a faixa de
osmolaridade possível são os rins, que têm capacidade de retirar solutos de líquidos que
ingerimos, até 0,40 mol/L (para Cl-). Mesmo uma substância isosmótica, como o soro fisiológico,
pode não ser adequada para a ingestão, pois no total aumentará a quantidade de íons no
corpo, desbalanceando o equilíbrio osmótico.
No caso da água da maioria dos mares, a concentração de sais varia por volta de 0,53 mol/L
(para Cl-), o que faz com que seja necessário expelir mais de 1L de água fisiológica para retirar
os sais contidos em 1L de água do mar. Por isso, ingerir água do mar acaba fazendo um ser
humano ter que urinar mais, para não aumentar drasticamente a quantidade de íons em seu
corpo, causando desidratação. Assim, a água do mar não é adequada para hidratar-se.
Para saber se urina humana poderia ou não ser usada como fonte de água, fazemos um
raciocínio parecido. A concentração da urina pode variar de maneira significativa,
principalmente em função da quantidade de água que está sendo ingerida. Portanto, em um
caso de stress hídrico como um naufrágio, a urina de um ser humano estaria bastante
concentrada (até quatro vezes a concentração do plasma sanguíneo). Isso incorre nos mesmos
problemas da água do mar, ou seja, os rins não têm a capacidade de eliminar o excesso de íons
ingeridos sem gastar maior volume de água do que foi bebido, causando assim desidratação.
Por isso, tanto água salina quanto urina não resolveriam o problema de desidratação sofrido
por um náufrago, pois o balanço de água necessário para eliminar osmólitos em ambas as
soluções ficaria negativo. Assim, a quantidade de água nas células e no espaço intersticial
continuaria abaixo do saudável, inclusive em muitos casos abaixando mais. Além disso, tanto a
água marinha quanto urina podem conter substâncias tóxicas ou laxativas e até agentes
patológicos, não sendo tão seguras quanto água mineral, filtrada, fervida ou congelada.
Questão 2) 3453/5000 caracteres
Ao longo da história evolutiva, dois grupos de mamíferos se readaptaram osmoticamente ao
ambiente marinho e lá vivem parcial ou totalmente. Estes são os pinípedes (focas, leões
marinhos etc.) e os cetáceos (golfinhos e baleias). Pensando que o Aquaman utilizaria das
mesmas estratégias que estes dois grupos de mamíferos, podemos imaginar seu
funcionamento fisiológico: todos os animais de ambos os grupos mantiveram sua condição
hiposmótica em relação à água salgada e, por isso, precisam de estratégias para que não haja
excesso de íons em seu organismo.
Pinípedes não bebem água do mar, sendo sua fonte de hidratação a predação de peixes
marinhos. Sendo sua presa também hiposmótica, não há necessidade de tanta preocupação
com a ingestão de água, desde que haja uma quantidade razoável de predação por dia. Porém,
mesmo com todos os cuidados, é inevitável que haja alguma ingestão de água salgada, nem
que seja a quantidade contida no interior de suas presas. Para resolver esse problema, os rins
dos pinípedes são reniculares, ou seja, compostos por diversas subunidades, o que aumenta
muito sua eficiência. Essa eficiência aumentada permite que não haja desidratação caso seja
ingerida água salgada.
Cetáceos como baleias, por outro lado, ingerem grande quantidade de água salgada
constantemente, pois a maioria se alimenta de animais isosmóticos em relação ao Oceano,
como crustáceos e moluscos. Para dar conta da imensa quantidade de íons ingeridos, os rins de
cetáceos são ainda mais reniculares e, por isso, ainda mais eficientes do que os de pinípedes.
Considerando esses grupos, mais bem estudados do que o Aquaman, o mais provável é que ele
também apresente rins reniculares, o que causaria um grande aumento em sua eficiência de
eliminação de osmólitos. Assim, o super-herói poderia não se desidratar ao beber água salgada
e talvez até bebê-la ativamente para se hidratar.
Porém, temos também de estudar outras possibilidades: e se Aquaman for, na realidade, um
réptil marinho disfarçado? Nesse caso, ele provavelmente apresentaria glândulas de sal:
glândulas exócrinas especializadas em excretar íons Na + e Cl-. Essas estruturas agem em
conjunto com os rins para expelir os sais em excesso ingeridos com a água marinha e são
importantíssimos para a osmorregulação desses répteis de água salgada. Essas estariam
localizadas nos olhos, no “bico”, na testa ou na língua do super-herói.
Da mesma maneira, considerando como certeza que o superhumano em questão possui
vértebras, ele poderia ser um peixe de água salgada, talvez um parente das sereias. Sendo um
peixe ósseo (Osteichthyes), sua Osmorregulação teria de ser ainda mais ativa, já que seu
organismo tenderia a perder água passivamente por osmose e ganhar solutos por difusão. Para
regular a concentração interna, o super-herói precisaria nesse caso excretar ativamente íons
por suas brânquias, além de produzir pouca urina. Por outro lado, se o Aquaman for um peixe
cartilaginoso (Chondrichthyes), a quantidade de excretas nitrogenadas osmoticamente ativas
em seu organismo fará com que ele fique iso ou hiperosmótico em relação ao Oceano, o que
resolverá problemas fisiológicos relacionados à osmose. Para permitir essa alta quantidade de
excretas, ele usaria ureia, uma substância nitrogenada menos tóxica que amônia, e mecanismos
de alívio dessa toxicidade como o TMAO.
Uma última possibilidade seria a de que Aquaman tivesse desenvolvido estratégias ainda novas
em mamíferos e outros vertebrados. Ele poderia, por exemplo, ter tido uma reversão
evolucionária a uma condição osmoconformadora. Essa estratégia, já utilizada por uma grande
quantidade de filos de invertebrados marinhos, o permitiria ter funcionamento fisiológico e
homeostático normal, mesmo com condições osmóticas internas altamente variáveis. Esse é o
caso, por exemplo, de organismos como os mexilhões. Esse tipo de reversão evolutiva já foi
observado em mamíferos vivendo em ambientes extremos, como é o caso de Oryx spp. e de
algumas gazelas, que reverteram à heterotermia do corpo para diminuir gastos de água em
ambientes desérticos.