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ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Adaptado da obra de Lewis Carrol e do


filme de animação dos Estúdios Disney - 1951

Peça dirigida por


Marina Dietz e Heloiza Ribas

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ATO I Cena 1

Um bosque em uma tarde de verão, Alice brinca com Diná, a sua gata de estimação. Sua irmã
se aproxima e a observa.

IRMÃ: Alice! O que estás fazendo?


ALICE: Brincando com Diná.
IRMÃ: Não disseste que ias ler?
ALICE: Ah! Cansei de ler.
IRMÃ: Então me dá o livro que ou te ler uma história bem bonita. Pode ser?
ALICE: (Entregando o livro para a Irmã) Claro!
(A irmã se acomoda, pega o livro e começa a ler uma história)
IRMÃ: Era uma vez um príncipe que sentiu desejo de sair pelo mundo e não levou junto
consigo senão um criado fiel.
(Alice volta a brincar com sua gata, sem prestar atenção na história) IRMÃ:
Alice!
ALICE: Oh! Estou ouvindo.
(Brincando com uma coroa de flores. A irmã volta a ler o livro)
IRMÃ: Um dia, ele cavalgava em uma grande floresta e, quando escureceu, vendo que não
havia por ali nenhuma hospedaria, ficou sem saber onde passaria a noite. Então avistou uma
moça que se dirigia a um casebre e, quando ele ...
(Alice pega sua coroa de flores e coloca em Diná, em seguida, deixa a coroa cair perto da irmã.
Alice ri)
IRMÃ: Alice! Você quer prestar atenção na história?
ALICE: Perdão! Mas como se pode prestar atenção a um livro que não tem gravuras?
IRMÃ: Ouça Alice! Há muitos e muitos livros neste mundo que não possuem gravuras.
ALICE: Nesse mundo pode ser, mas para mim os livros só teriam gravuras.
IRMÃ: Você claro! Está sonhando.
ALICE: Sonhando?
IRMÃ: Vamos mais uma vez! (Continua) ... Quando ele chegou mais perto, viu que a moça era
jovem e bonita. Iniciou a conversa com estas palavras! "Cara criança, será...”
ALICE: Essa historia é muito chata! Se esse livro tivesse figuras poderia enxergar melhor a
história.
(A irmã desiste da leitura)

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ALICE:

IRMÃ: Chega Alice! Acho que você precisa de um tempo para sonhar. Vou tomar um chá, você
quer?
Não, obrigado querida irmã. Não se irrite.
(A irmã sai de cena)
ALICE: Sonhando?! É isso Diná! (Pega a gata no colo) Se esse mundo fosse só meu, tudo nele
era diferente. Nada seria o que é, por que tudo era o que não é. E também tudo que é, por sua
vez, não seria. E o que não fosse seria. Não é? No meu mundo, você não diria miau, Diná.
Diria... Sim, Dona Alice. Você seria como nós, Diná. Os animais falariam. (Suspira) Oh! No meu
mundo Diná...

MÚSICA
Meu gatinho ia ter um lindo castelinho
E andar todo bem
vestidinho Nesse mundo só
meu minhas flores,
quanta coisa eu não diria as flores Contaria
historias para as flores
Se eu vivesse, nesse mundo, só meu
Passarinhos! Como vão vocês meus passarinhos?
Vocês iam ter milhões de ninhos
Nesse meu mundo, só meu
Poderia, num regato a rir ouvir
cantar, uma canção sem fim,
quem me dera, que ele fosse
assim, maravilhosamente só pra
mim.

(Entra o Coelho apressado, vestindo um colete segundando um relógio em uma das mãos)
ALICE: Oh! Diná é só um coelho de colete (arregala os olhos surpresa) e de relógio!
COELHO: Pelos meus bigodes estou atrasado! (olhando o relógio) É tarde! É tarde! É tarde!
ALICE: Oh! Que coisa! Como é que um coelho pode estar atrasado! Espere!
COELHO: É tarde! É tarde! Tão tarde até que arde! Ai, ai meu Deus! Alô adeus. É tarde! É tarde!
É tarde!
ALICE: Deve ser muito importante como um baile ou sei lá... Senhor Coelho espere!
COELHO: Não, não, não, não. Eu tenho pressa, eu tenho pressa. A festa ai, ai, ai, meu Deus!

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Alô Deus é tarde! É tarde! É tarde!
(O Coelho entra em um buraco. Alice se ajoelha e espia desconfiada.)

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ALICE:

Que lugar esquisito para uma festa! Eu acho Diná, que a gente não devia entrar, afinal
nós não fomos convidadas (entrando no buraco) e a curiosidade é uma coisa feeeeeeia.
(Blackout. Música tensa. Luzes piscam, a cortina se mexe, como se fosse uma tempestade)
ALICE: EM OFF - Adeus Diná! Adeeeussss!

CENA 2
Fundo preto. Acende um foco de luz em Alice, desmaiada e outro na Porta pequena, que está
no centro da cena. Alice acorda.

ALICE: Depois disso, eu ei de me acostumar a rolar da escada. Oh! Meu Deus será que eu caí e
passei pelo centro da teeerra. Oh! E se eu saísse do outro lado de cabeça para baixo! Oh! Mas
isso é tolice! Ninguém...
(O coelho passa correndo e entra na Porta, que está no centro da cena)
ALICE: Oh! Oh! Mas senhor Coelho espeeeere! Pare! ... Que coisa! Que coisa!
(Tentando abrir a porta) PORTA:
Uuuuuiii!!!
ALICE: Oh! Me desculpe!
PORTA: Oi! Não foi nada! É que me podias me amassar!
ALICE: É que eu estava seguindo...
PORTA: (Rindo) Essa é boa Hein? Amassar, maçaneta. hahahah ALICE:
Por favor!
PORTA: Um momento! Vamos ver o que é possível fazer! O que procuras tu?
ALICE: Eu, eu, procuro o coelho branco. E, e ...se puder me ajudar...
PORTA: Quem? Ou!
ALICE: Lá vai ele! Eu preciso passar! (Espiando pela maçaneta) PORTA:
Oh! És muito grande! Simplesmente impassável!
ALICE: Quer dizer impossível?
PORTA: Não! Impassável! Aqui nada é impossível! Ahahaha (rindo) Por que não tentas a garrafa
da mesa?
ALICE: Mesa?
(Acende foco em uma mesa com uma garrafa em cima) ALICE:
Oh!
(Vai até a mesa e pega a garrafa)
PORTA: Lê o rótulo! E serás dirigida diretamente na direção dele.

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(Lendo) Bebe-me!(Pensativa) Hum! Melhor olhar bem. Porque quando se bebe, de uma
garrafa marcada veneno. É quase certo fazer mal a gente, cedo ou tarde.
(A porta a observa curiosa) PORTA:
Quer explicar?
ALICE: Estava dando bons conselhos a mim mesma... Mas.... (bebe) Hum! Tem gosto de cereja...
(A atriz que faz a Alice abaixa-se um pouco, enquanto isso a porta aumenta um pouco)
ALICE:...mingau...
(Abaixa-se um pouco, enquanto isso a porta aumenta mais um pouco) ALICE:...abacaxi...
(Abaixa-se um pouco, enquanto isso a porta aumenta mais um pouco) ALICE:...de
Peru...
(Abaixa-se um pouco, enquanto isso a porta aumenta mais um pouco) ALICE:
Credo!!! O que eu fiz?
PORTA: hahaha Quase te apagaste como uma vela.
ALICE: (Surpresa se olhando) Mas olhe! Eu fiquei pequenina!
(Tentando passar pela porta e ela se vira)
PORTA: hahaha Não, não. hahaha (rindo) Esqueci de te dizer... ho, ho, (rindo ) Eu estou
trancado.

ALICE: Oh! Não! (desanimada sentando no chão)

PORTA: Mas tendo a chave...

ALICE: Que chave?

PORTA: Oh! Mas deixaste a chave lá em cima. (Os dois olham para cima. Alice estica o braço, na
tentativa inútil de pegar a chave)

ALICE: O que coisa! (pensativa) Mas o que é, que eu vou fazer?

PORTA: Pega o cofre, é lógico! (Surge o cofre, ela se espanta e abre o cofre).

ALICE: Oh! Coma-me! (Come)

ALICE: Tá bem! Mas eu só quero ver depois. OOOO!!! (A porta diminui repentinamente, dando
a impressão de que Alice aumentou de tamanho).

PORTA: Uaaau!

ALICE: O que foi que disse?

PORTA: Disse: Disparasse como um foguete. hahahaha

ALICE: Eu não acho graça nenhuma! (Começa a chorar) Nunca! Nunca mais eu saio daqui!

PORTA: Calma! Choro não ajuda! Não chore!

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ALICE:

(Alice chora muito.)

PORTA: Não! Pare! O frasco, o frasco ! (Alice pega o vidro e bebe o líquido. A porta fica do
tamanho normal e abre para Alice passar). Não adianta, tenho um coração muito mole!

ALICE: (Soluçando) Muito obrigado, dona Porta!

Blackout.

CENA 3
A CORTINA SE ABRE. Céu azul. País das maravilhas. Entra Dodô sendo empurrado por um
papagaio.

DODÔ:
Marinheiro eu sou, vivo sempre assim,

Navegando eu vou, pelo mar sem fim,

Nunca, nunca me interesso pelo tempo, pelo tempo

Nada, nada, nada, nada mais com fim.

Marinheiro eu sou, vivo sempre assim,

Pirilam, plam, plam, pirilam, plam, plam.

Nunca, nunca, me...

Terra à vista! E outras pessoas náuticas! Chegamos Piloto!

PILOTO: Onde estamos Dodô?

ALICE: Dodô?

DODÔ: Três pontos a estibordo. Já vamos atracar. Já vamos pisar terra firme! hahahah Para
terra eu vou virando assim, nossa roupa poderá secar

ALICE: Senhor Dodô, por favor, ajude-me. Por favor!

Dodô aparece cantando em cima de uma pedra cenográfica, que está no centro do palco. No
meio e alguns animais dançando na volta.

DODÔ:

Gira a roda sem parar

Pois rodando assim a nossa roupa vai secar

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Pula, pula, pula quem parar faz muito mal

Todos bem felizes nessa roda colossal

Salta, salta nessa grande confusão

Pois quem vive alegre não tem preocupação

Gira, gira, gira, por aqui e por ali

Tanta correria nesse mundo eu nunca

Vira, vira, vira, vira, sem parar

Pois virando assim, a nossa roupa vai secar

E roda, Ei! assim não pode secar!

(Alice está no chão, levanta e conversa com Dodô, entrando na roda) ALICE:

Secar?

DODÔ: Deve rodar com os outros, é o regulamento da corrida, não é?

ALICE: Mas como é?

DODÔ: Muito bem! Você vai secar num momento.

ALICE: Ninguém pode secar desse modo.

DODÔ: Bobagem! Não vê, que eu já tenho as penas sequinhas.

ALICE: Sim... mas ...

DODÔ: Vamos todos, Vamos com isso! Animem-se!

(O coelho passa, tropeça e cai)

ALICE: O coelho branco! O Senhor Coelho, Senhor coelho.

(Ele levanta abre o guarda chuva) COELHO:

Oh! Oh! É tarde! É tarde! É tarde!

ALICE: Não vá embora, espere por mim!

COELHO: É tarde! É tarde! É tarde! É tarde! É tarde! (Sai de cena. Alice sai correndo
empurrando um dos animais que estão na roda)

DODÔ: Ei cuidado, não empurre a dona sardinha, não empurre. Vamos embora pessoal, essa
menina é estranha!

(Todos saem de cena cantando. Alice procura o Coelho)

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ALICE: Seu coelho? O Seu Coelho! Que coisa! Parece que entrou aqui! Será que acaso se
escondeu?

(Ela procura, mas não encontra e nem percebe que atrás dela estão os bonecos gêmeos)

ALICE: Hum...Será que está aqui? (Vira à esquerda e os bonecos a imitando) Não está! Onde
então? (Vira à direita)

Alice: Não! Suponho que tenha... (Vira-se para trás e se depara com os bonecos) Oh! O mas
que bonecos engraçados. (Lê nos seus colarinhos) Tweedle-dee e Tweedle-dum.

Toca levemente na barriga de Tweedle-dee.

TWEEDLE-DEE: Oh! (Som de buzina)

TWEEDLE-DUM: Se nos toma por bonecos compre entrada, não?

(Ao final de cada fala se cutucam e dançam)

TWEEDLE-DEE: Do contrário, se nos toma como gente deve cumprimentar-nos!

(Dançam uma trilha curta e engraçada).

TWEEDLE-DEE e TWEEDLE-DUM: É lógico!

ALICE: É! Prazer em conhecê-los! Adeus! (Alice vira e ameaça sair, os bonecos fazem a volta e
para na frente dela)

TWEEDLE-DEE: Começou pelo fim!

TWEEDLE-DUM: É, logo que chega a visita diz:

Cantam trocando as mãos.

TWEEDLE-DEE e TWEEDLE-DUM:

Como passou?
E aperte a minha mão.
Diga o seu nome e as coisas
e as coisas como vão.

Pois é!

ALICE: Engraçado! Pois o meu nome é Alice, e eu procuro um coelho branco e por isso...

TWEEDLE-DEE: Não pode ir já!

TWEEDLE-DUM: Não! A visita mal começou.

ALICE: Eu sinto muito.

TWEEDLE-DEE: Quer brincar de esconde-esconde?

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TWEEDLE-DUM: Ou "Abotoa, abotoa, quem ficou com o botão?"

ALICE: Não, obrigado.

(Os bonecos fingem simulam a posição de lutadores antes de a partida começar)

TWEEDLE-DEE: Se demorar mais um pouco, vai ver uma batalha.

TWEEDLE-DUM: Uma batalha de boxe!

ALICE: São muito gentis, mas tenho que ir.

TWEEDLE-DEE: Por quê?

TWEEDLE-DUM: É!!! Por que?

ALICE: Porque estou seguindo um coelho branco.

TWEEDLE-DEE: Por quê?

TWEEDLE-DUM: É!!! Por que?

ALICE: Bem, estou curiosa para saber aonde ele vai.

TWEEDLE-DEE: Por quê?

TWEEDLE-DUM: É!!! Por que?

(Alice, sem paciência não responde. Após um período de silêncio no palco o diálogo segue)

TWEEDLE-DEE: Ela é curiosa.

TWEEDLE-DUM: As ostras também eram curiosas, né?

TWEEDLE-DEE: Sim, e lembra o que aconteceu com elas?

TWEEDLE-DUM: Coitadinhas.

TWEEDLE-DEE: Coitadinhas.

ALICE: Por quê? O que aconteceu com as ostras?

TWEEDLE-DUM: Você não está interessada.

ALICE: Mas, eu estou.

TWEEDLE-DEE: Não, não, você está com muita, muita pressa.

ALICE: Bem, talvez eu possa esperar um pouco.

TWEEDLE-DEE e TWEEDLE-DUM: Pode? Bem!

TWEEDLE-DEE: Elas ficaram curiosas para dar um passeio com a Morsa

TWEEDLE-DUM: A Morsa prometeu uma hora do recreio bem divertida.


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TWEEDLE-DEE: Mas na hora do lanche, o lanche era elas.

TWEEDLE-DUM: Coitadinhas das ostrinhas... foram comidas uma a uma.

ALICE: Ah, que horror! Que história triste.

TWEEDLE-DEE: Sim, mas tem uma moral.

TWEEDLE-DUM: Sim, uma moral muito boa,

ALICE: É... Teria uma moral bem legal se a gente fosse uma ostra. Bem, foi uma visita bastante
agradável... (ameaçando sair) TWEEDLE-DEE: Outra declamação!

ALICE: Sinto muito, mas...

TWEEDLE-DUM: Chama-se o "Pai William."

ALICE: Mas, eu realmente estou...

TWEEDLE-DEE: Primeiro verso.

Todo povo dizia “porquê” ao pai Guilhermino

“estás velho de mais”?

No entanto, você que tem tantos pinotes,

você acha que isso se faz, se faz, você

acha que isso se faz?

E então, o velhinho dizia para o povo:

“Faço isso tudo de novo, de novo, de novo, de novo, de novo.”

(Durante a música, Alice vai se afastando dos bonecos. Ao final, os bonecos saem de cena)

CENA 4
(Uma casa é iluminada no canto do palco. Alice se aproxima. Enquanto isso, na área escura do
palco, as flores entram discretamente e ficam congeladas na cena até a hora de suas ações)

ALICE: Quem será que mora aqui?

COELHO: EM OFF – Mariana!! Mariana!!

(Alice se aproxima da janela, até que o coelho aparece na janela)

COELHO: Mariana!!! Onde ela poderia ter colocado?

ALICE: O coelho!! (Feliz)

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(O Coelho abre a porta da casa e sai)

COELHO: Não adianta! Não posso esperar! Estou muito atrasado. É tarde, é tarde, é tarde!

ALICE: Com licença, senhor, mas... Mas estou tentando...

COELHO: Ora, Mariana! O que está fazendo aqui fora?

ALICE: Mariana?

COELHO: Não faça nada. Fique aí. Não, não! Vá procurar minhas luvas. Estou atrasado!

ALICE: Mas atrasado para o quê?

COELHO: Vai, vai, vai! Minhas luvas! (Empurrando Alice pra dentro da casa. O coelho toca uma
corneta para chamar atenção de Alice) Imediatamente! Tá ouvindo?

ALICE: Credo! Acho que a próxima a me dar ordens será a Dinah.

COELHO: (Olhando para o relógio) Ahhhhhhh! Não dá pra esperar. Já está tarde! (Corre para a
coxia)

ALICE: Espere por favor! Sr. Coelho!!

(O palco todo é iluminado. Entra uma borboleta com asas que lembram pão de sanduíche)

ALICE: (Observa curiosa) Ora, que borboletas estranhas.

ROSA: Você quis dizer borboleta-pão.

VIOLETA: São fatias de pão com manteiga.

ALICE: (Analisando atentamente a borboleta) Oh, sim, claro... Agora quem você acha... (Olha
para trás e não vê ninguém, apenas flores imóveis) Ora... Quem teria falado?

(Entra um cavalo com asas de mosca. Alice se assunta)

ALICE: Que mosca... Quer dizer, “moscavalo”? (Olha para trás esperando a aprovação da voz)

MARGARIDA: Claro.

ALICE: Me desculpe... mas, você... (Aponta para Margarida, que está imóvel)

ALICE: Oh, isso é tolice. Flores não podem falar.

TULIPA: Mas claro que podemos falar, minha querida.

ROSA: Desde que se tenha com quem falar.

VIOLETA: Ou sobre o que falar.

MARGARIDA: Também cantamos.

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ALICE: É mesmo? (Encantada)

TULIPA: Imagina se nós, lindas flores, não saberíamos cantar?

ROSA: O que seria da primavera sem as nossas canções?

VIOLETA: Oh, sim. Gostaria de ouvir uma música?

MARGARIDA: Podemos cantar aquela das Margaridas tímidas.

TULIPA: Não! Tem que ser o hit "Como é grande o meu amor por Tulipas?".

VIOLETA: E quem sabe “O show das Violetas”?

ROSA: Gosto mais de “Choram as Rosas”!

MARGARIDA: Oh, não, não, essa é brega.

ROSA: A minha?! A sua é mais ainda.

VIOLETA: Pra não desagradar ninguém, vamos de "O Gracioso Lírio-do-vale."

ROSA: Meninas!

TULIPA: Que tal o meu dueto com a Margarida? (Abraça a Margarida)

ROSA: Meninas!

MARGARIDA: Amei!

ROSA: Meninas!

VIOLETA: Escutem a rosa!

ROSA: Vamos cantar "O Jardim das Flores." Essa é a de todas nós. Comece com um "Lá",
maestro!

MÚSICA – O JARDIM DAS FLORES

CORO
Borboletas e tulipas se beijam E
enchem a terra de alegrias mil
Como as flores no jardim vicejam
Como o céu primaveril
Tantas flores, tantas cores vibrando
Tantas violetas a cantar
As tigrinhas e os leões brincando
Tudo vão, se há sonhar

As lagartas da floresta
Brigam como cão gato
Margaridas boas-vindas

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Na rede a sonhar
Sonhar...

Tudo pode-se aprender entre as flores


Sobretudo aquelas em botão
Quem aspira o aroma dessas flores
Sente o bater do coração

ALICE
Tudo pode-se aprender entre as flores
Sobretudo aquelas em botão
Quem aspira o aroma dessas flores
Sente o bater do coração

oh ohhhh

ALICE: (Bate palmas) Oh, que encantador!

ROSA: Obrigada, minha querida.

VIOLETA: De que tipo de jardim você vem?

ALICE: Oh, não venho de nenhum jardim.

MARGARIDA: Acha que ela é uma flor selvagem?

ALICE: Oh, não. Não sou uma flor selvagem.

TULIPA: De qual espécie - ou devemos dizer gênero - você é, minha querida?

ALICE: Bem, acho que me chamariam de... Alice Gênero Humano.

ROSA: Já viu alguma Alice dar flor assim?

VIOLETA: Vamos pensar... já viu alguma Alice?

MARGARIDA: Sim. E já reparou nas pétalas dela?

TULIPA: Que cor mais estranha!

ROSA: E sem fragrância.

VIOLETA: Olhem só para esses talos.

MARGARIDA: Bastante esqueléticos, eu diria.

TULIPA: Ah, apesar de tudo... Eu acho ela bonita.

ROSA: Quieta, Tulipa!

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ALICE: Mas eu não sou uma flor.

ROSA: Exatamente como eu suspeitei.

VIOLETA: Ela nada mais é do que uma simples "Mobile Vulgaris"

ALICE: Uma simples o quê?

MARGARIDA: Vulgarmente falando... Um matinho.

ALICE: Não sou um matinho!

TULIPA: É claro que não vai confessar.

ROSA: Bom, esperava que ela admitisse?

MARGARIDA: Pode imaginar? Que horror!

VIOLETA: Não a deixe ficar aqui e semear.

TULIPA: Agora vá. E não faça raízes...

ROSA: Não queremos ervas daninhas em nosso território.

VIOLETA: Mexa-se, mexa-se!

(As flores empurram Alice para longe)

ALICE: Tudo bem, se é isso o que vocês acham... (Indignada) Se tivesse do meu tamanho
normal, poderia colher cada uma de vocês, se quisesse! E acho que isso lhes daria uma lição!

(As flores saem de cena. Alice ajeita o vestido, se recompondo)

ALICE: (Ranzinza) Pode-se aprender muitas coisas com as flores... Hum! Parece-me que elas
poderiam aprender umas coisinhas sobre boas maneiras.

LAGARTA: EM OFF -

E,I,O,U

A, E, I, O, U

E, I, O, U

(A Lagarta entra cantando)

A, E, I, O,A

U, E, I, A

A, E, I, O, U

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LAGARTA: Quem és tu?

ALICE: Bem, eu, eu, eu... quase não sei, senhor. Já mudei tantas vezes desde a manhã,
percebe?

LAGARTA: Não. Explique-se!

ALICE: Acho que não posso me explicar, senhor... porque eu não sou eu, sabe.

LAGARTA: Não sei de nada.

ALICE: Bem, não posso ser mais clara, pois também não está claro para mim.

LAGARTA: Tu? Quem és tu?

ALICE: Bem, não acha que deveria me dizer primeiro o seu nome?

LAGARTA: Por quê?

ALICE: (Suspira, quase que desistindo de conversar) Meu Deus, tudo aqui é tão confuso.

LAGARTA: Não é não.

ALICE: Bem, para mim, é.

LAGARTA: Por quê?

ALICE: Bem, não consigo me lembrar das coisas que eu fazia, e...

LAGARTA: Recite.

ALICE: Hein? Oh, oh, sim, senhor. "Como Doth, a abelhinha ocupada, melhora a cada canela"...

LAGARTA: Pare! Não está sendo recitado correctamente. É assim:

(Um foco de luz acende sobre a Lagarta, uma trilha toca ao fundo enquanto ela recita
exageradamente)

Com que destreza o crocodilo


Não espadana a cauda
E na água rápida do Nilo
Como ele não se espalda
Que graça e que leveza aquela
Como ele é sedutor
E engole os peixes pela goela
Com riso encantador

ALICE: Muito bonita, mas nunca ouvi recitada assim.

LAGARTA: Eu sei. Eu a aperfeiçoei.

ALICE: Bem, se me permite...

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LAGARTA: Tu? Quem és tu?

(Alice se irrita e vira de costas. A Lagarta, com expressão de desprezo sai de cena. Alice ouve
soluços repetidas vezes).

ALICE: (Procurando) Ué, de onde será que vem este som? Quem está aí? Que som é esse? É
algum animal? Já chega! Para com esse barulho irritante.

SOL: (Saindo de trás das árvores. Tímida) Eu não consigo...

ALICE: Ah, aí está você!

SOL: (Tímida) Oi... HIP!

ALICE: Você não consegue parar de soluçar?

SOL: Não.

ALICE: Por quê?

SOL: HIP! Um dia acordei com muita fome, aí comi demais e fiquei assim! HIP!

ALICE: Coitadinha...

SOL: Já tentei de tudo o que foi possível pra acabar com esse problema, mas esse soluço não
para!

ALICE: Não se preocupe! Vou te ajudar! Você é daqui mesmo?

SOL: Sou do reino vizinho. Vim brincar por aqui e acabei perdida. HIP!

ALICE: (Pensativa) Qual caminho devemos seguir...

(Ouve-se uma música ao longe. Alice, curiosa, procura para saber de onde vem o som)

ALICE: Ora, quem estaria cantando...

(O Mestre Gato surge rapidamente) MESTRE

GATO: Perdeu alguma coisa?

SOL: HIP!

ALICE: (Assustada) Oh! Eu...eu estava... N-não. Eu, eu, eu quero dizer, eu, eu só... estava
querendo saber...

MESTRE GATO: Oh, está tudo bem. Uh, um momento, por favor. Segundo verso...
(Canta uma segunda parte da canção)

ALICE: Ora, ora, você é um gato.

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MESTRE GATO: Mestre Gato!

SOL: Olá, gatinho! HIP!

(Ameaça ir embora)

ALICE: Oh, espere! Não vá, por favor.

MESTRE GATO: Terceiro verso...

ALICE: Oh, não, não, não. Obrigado, mas... Mas eu só queria lhe perguntar para que lado devo
seguir...

MESTRE GATO: Bem, vai depender... de para onde vocês querem ir.

ALICE: Oh, isso realmente não importa, contanto que nós...

MESTRE GATO: Então não importa o lado que vocês vão. Oh, a propósito. (Para Alice) Se
realmente quer saber, ele foi por aquele lado.

ALICE: Quem?

MESTRE GATO: O Coelho Branco.

ALICE: Ele foi?

MESTRE GATO: Foi o quê?

ALICE: Foi por ali.

MESTRE GATO: Quem foi?

ALICE: O Coelho Branco.

MESTRE GATO: Que coelho?!

ALICE: Mas você não acabou de dizer... (Irritada) Que coisa!

SOL: HIP! Você sabe como posso dar fim ao meu soluço?

MESTRE GATO: Sol o que?

SOL: Soluço! Vai dizer que você não sabe o que é? HIP!

MESTRE GATO: E por que eu deveria saber?

SOL: Por que todo mundo tem, ora!

ALICE: É tipo assim... (pensa) Quando alguém está... (pensa) É um som que sai... (Pensa) É algo
assim Hip! (Alice, faz careta e tenta reproduzir o som, mas não sai parecido)

MESTRE GATO: Pois fiquei na mesma!

ALICE: Ai, faz aí Sol! Mostra pra ele!

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SOL: Está bem...

(Todos aguardam um tempo, mas nada acontece)

ALICE: Ué, cadê ?

SOL: (Feliz) Ainda bem! O soluço se... HIP! (Soluça alto)

MESTRE GATO: Ah! Agora entendi! Mas não. Nunca tive essa coisa.

(Sol fica triste)

SOL: O soluço é uma coisa que você só entende completamente depois que você sente.

ALICE: Não fique assim... Eu tenho certeza que conseguiremos resolver esse problema!

SOL: HIP!

MESTRE GATO: Porém, se eu estivesse procurando um coelho branco e uma solução para
soluço, perguntaria ao Chapeleiro Maluco.

ALICE: O Chapeleiro Maluco? Não, não, eu, eu acho que não...

MESTRE GATO: Ou, tem a Lebre... naquela direção. (Aponta para a direita)

ALICE: Uh, obrigado. Eu, eu acho que vou visitá-la.

MESTRE GATO: Claro que ele também é maluca.

ALICE: Mas eu não quero ficar entre malucos!

MESTRE GATO: Oh, não tem como evitar. Tudo aqui é maluco! (Ri) Deve ter percebido... que eu
não sou totalmente são. (Sai de cena cantando)

ALICE: Que coisa! Se as pessoas por aqui estão assim... É melhor não contrariar.

(Entra Dodô, sendo puxado pelo Piloto) DODÔ:

Olá, garota!!

ALICE: Dodô! Piloto! Como vão vocês?

PILOTO: Explorando novas terras e você?

SOL: Quem São? Hip!

ALICE: Um pessoal esquisito que conheci.

SOL: Quem sabe um pouco de esquisitice possa resolver o meu problema. HIP!

ALICE: Eles não me ajudaram, mas talvez possam te ajudar. Vamos tentar!

DODÔ: Então, menina. Continua atrás do coelho branco?

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ALICE: Continuo sim... Escute, Dodô. A minha amiga aqui gostaria muito da ajuda de vocês.

SOL: HIP!

DODÔ: O que houve?

PILOTO: (Curioso) É, o que houve?

SOL: Ataque de Soluço!

DODÔ: O que?

SOL: Um ataque!

DODÔ: SOCORRO! PILOTO, TEMOS UM ATAQUE! PREPARAR CANHÃO!

PILOTO: AI, MEU DEUS, A MENINA VAI ATACAR!

ALICE: Não, não, não! Ela está tendo um ataque...

SOL: ... De Soluço! HIP!

DODÔ: Ah! Sim... Mas por que não disse antes. A solução é fácil... É técnica infalível! Quantos
anos você tem?

SOL: Dez.

DODÔ: Para curar um soluço basta trancar a sua respiração e contar os números de sua idade.
Nesse caso, deves contar até dez.

ALICE: Que legal! Tente Sol!

SOL: Será que funcionará?

DODÔ: Esse método está na minha família há anos! Vamos lá? Feche os olhos. Tranque a
respiração. (Sol fecha os olhos e puxa ar) Agora vamos contar todos juntos.

TODOS: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10!

(Após um breve silêncio, ouve-se um soluço).

SOL: HIP! (Todos ficam tristes)

DODÔ: Desculpe, garota. Isso sempre funcionou comigo.

ALICE: Você costuma ter muito soluço.

DODÔ: Não. Nunca tive! Agora temos que ir... Vamos, Piloto!

(Dodô sai de cena sendo puxado pelo Piloto)

SOL: (desanima) Desista, Alice! Já tentei tudo o que podia...

ALICE: Eu não entendo. Soluço é algo que começa e geralmente termina sozinho.

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SOL: No meu caso, não. HIP!

(Começa a tocar a música: “Bom desaniversário pra mim”. Entram a Lebre, o Chapeleiro
Maluco e o Ratinho. Conforme dançam, vão montando uma mesa de aniversário, com bolo,
xícaras e bules).

LEBRE:
Um bom desaniversario pra mim
CHAPELEIRO:
Pra quem?
LEBRE:
Pra mim
CHAPELEIRO:
Pra ti?
Um bom desaniversario pra ti RATINHO:
Pra mim?
LEBRE: Sim
sim (É sim)
TODOS:
Vamos comprimentarmos com uma xícara de chá,
Com um desaniversario pra mim

(Ao terminar a canção Alice aplaude. Os três olham para Alice e em seguida se olham).

LEBRE: (Indo em direção a ela) Tá cheio!

RATINHO: Tudo cheio!

CHAPELEIRO: Não há vagas.

LEBRE: Não tem lugar!

RATINHO: Tudo cheio!

CHAPELEIRO: Tá cheio!

ALICE: Mas eu pensei que houvesse bastante lugar.

CHAPELEIRO: Ah, mas é muito grosseiro se sentar sem ser convidado!

LEBRE: Ah Eu diria que é feio! Realmente é mesmo, muito, muito feio.

RATINHO: Muito, muito, muito feio. É sim!

ALICE: Sinto muito!

SOL: Mas gostamos de ver vocês cantando e queríamos saber se poderiam me dizer...

LEBRE: (para Alice) Você gostou de nos ouvir catando? (para Sol) Você gostou de nos ouvir
catando? (para o Chapeleiro) Elas gostaram de nos ouvir catando!

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CHAPELEIRO: (Aperta as bochechas de Alice) Oh, que menina mais encantadora! Estou tão
emocionado com isso! Nunca recebemos elogios. Quer tomar uma xícara de chá?

LEBRE: Ah, sim, é mesmo, o chá. Tome uma xícara de chá. (Servindo o chá)

(Ratinho puxa uma cadeira e faz Alice e Sol sentaren)

ALICE: Seria muito agradável.

SOL: Que bondade sua. HIP!

(Todos se assustam com o soluço de Sol).

CHAPELEIRO: (Para Sol) O que houve com você?

SOL: Não consigo parar de soluçar... Hip!

LEBRE: Ihhhh!

CHAPELEIRO: Hmm... Dizem que puxar a língua pra fora com certa força pode fazer os soluços
pararem.

(Sol coloca a língua pra fora)

SOL: HIP!

LEBRE: Tampe os ouvidos. Isso dá certo!

(Sol tampa os ouvidos)

RATINHO: Leve um susto

CHAPELEIRO: É isso! Vamos dar um susto nela!

LEBRE: Mas como?

CHAPELEIRO: Assim! (Para Sol) BUHHH!!!!

SOL: HIP!

LEBRE: Então, vamos fazer ela rir! Todos fazendo cócegas, vamos lá!

(Todos fazem cócegas em Sol. Ela ri)

SOL: HIP!

CHAPELEIRO: Já sei! Sobrecarregar as terminações nervosas na boca com uma sensação doce
pode ser a solução. Pegue uma colher de chá com açúcar... melhor que isso.. USE CHÁ!!

LEBRE: CHÁ!!

(Lebre serve uma xicara de chá para Sol. Sol bebe e perde finalmente o soluço)

ALICE: Deu certo!?


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SOL: Deu certo!! (Feliz)

(Alice abraça forte Sol)

ALICE: Fico muito feliz por você, Sol.

SOL: Obrigado por tudo o que fizeram por mim, amigos. Não sei como agradecer.

CHAPELEIRO, LEBRE E RATINHO: Bobageeeeem!

ALICE: Não precisa agradecer, Sol. Fique bem!

SOL: Você também, Alice. Preciso ir. Boa sorte pra você durante a sua volta pra casa.

ALICE: Tchau, Sol!

(Sol sai de cena)

ALICE: Agora... Sinto interromper seu chá de aniversário.

(Lebre ameaça entregar a xicara de chá para Alice)

ALICE: Obrigado.

LEBRE: Aniversário?

RATINHO: Aniversário? (Ratinho ri) Minha querida, isto não é um chá de aniversário.

LEBRE: Claro que não.

CHAPELEIRO: Esta é uma festa de Desaniversário.

ALICE: Desaniversário? Oh, desculpem, mas não estou entendendo bem.

CHAPELEIRO: É muito simples. Agora, setembro tem 30 dias... (confuso) Não. Bem. Um
Desaniversário... Se você tem um aniversário, então, você... (Olha para a plateia e ri) Ela não
sabe o que é um Desaniversário! (Chapeleiro, Lebre e Ratinho riem)

RATINHO: Que boba!

ALICE: Bem, eu...

LEBRE: Vou esclarecer. Agora, provas estatísticas provam você tem somente um aniversário...

CHAPELEIRO: Imagine: só um aniversário em cada ano! Que horror, menino!

LEBRE: Ah, mas existem 364 Desaniversários em um ano.

CHAPELEIRO: É exatamente por isso que estamos reunidos aqui para festejar.

ALICE: Ora, então, hoje é meu Desaniversário também.

RATINHO: Ah é?

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LEBRE: Que coincidência!

CHAPELEIRO: Mas que mundo pequeno! Nesse caso...

LEBRE:
Um bom desaniversario pra mim
ALICE:
Pra mim?
CHAPELEIRO:
Sim sim
Um bom desaniversario
ALICE:
Pra mim?!
RATINHO: Sim
sim

CHAPELEIRO:
Agoa sopre a vela, mas não queimes o nariz TODOS:
Um bom desaniversario feliz!

RATINHO: (sonolento)

Brilha, brilha morceguinho.

Brilha bem devagarinho

Desce, desce, vem pousar

Lá no bule do meu chá

ALICE: (aplaudindo) Oh, foi tão lindo!

CHAPELEIRO: E, uh, e agora, minha querida. Estava dizendo que gostaria de procurar... Perdão.
(Enche a boca de biscoitos) Estava procurando que tipo de informação? (Falando de boca
cheia)

ALICE: Oh, sim. Veja, estou procurando um...

CHAPELEIRO: Limpe a xícara, limpe a xícara. (Pegando a xícara das mãos de Alice) Deixe isso!

RATINHO: Troca de lugar!!!

ALICE: Mas eu não usei minha xícara.

LEBRE: Beba tudo, beba tudo.

CHAPELEIRO: Mexa-se, mexa-se!

RATINHO: Beba, beba, vamos!

CHAPELEIRO: Gostaria de mais um pouquinho de chá?

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ALICE: Eu ainda não bebi, portanto não posso beber mais.

LEBRE: Ah, quer dizer que não pode tomar um pouco menos?

CHAPELEIRO: Sim. Sempre poderá tomar um pouco mais de nada.

RATINHO: É mais fácil tomar mais do que nenhum!

ALICE: Mas eu só quis dizer que...

CHAPELEIRO: E agora, minha querida, algo, uh, parece estar lhe perturbando. (Toma um gole
de chá) Uh, não vai nos dizer o que é?

LEBRE: Comece do princípio.

CHAPELEIRO: Sim, sim. E quando terminar... Pare. Ok?

ALICE: Bem, tudo começou quando estava sentada na beira do rio com Diná.

LEBRE: Muito interessante. Quem é Dinah?

ALICE: Ora, Dinah é minha gata.

RATINHO: Ah! Gato? GATO! GATO! GATO! (Sai correndo pelo palco! Confusão.)

CHAPELEIRO: Ele enlouqueceu!

LEBRE: Pegue a geléia. No nariz dele. Ponha no nariz dele.

CHAPELEIRO: No nariz dele, no nariz dele.

(Alice pega a geleia e esfrega delicadamente no nariz do Ratinho, que vai se acalmando)

LEBRE: Meu Deus! São essas coisas que me aborrecem.

CHAPELEIRO: Veja o problema que você arranjou?

ALICE: Mas, sério, eu não pensei que...

CHAPELEIRO: Ah, mas aí está o problema.

LEBRE: Se não pensa, não deveria falar.

(Alice ameaça tomar chá. Chapeleiro avança e retira a xícara de suas mãos)

CHAPELEIRO: Limpe a xícara, limpe a xícara.

LEBRE: Vamos, vamos, vamos! Mais chá!

RATINHO: Muda logo de lugaaaar!

ALICE: Mas eu ainda não...

RATINHO: Vamos, vamos, vamos.

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CHAPELEIRO: Pronto, minha querida, como estava dizendo...

ALICE: Oh, sim. Eu estava sentada na margem do rio com... com você-sabe-quem.

CHAPELEIRO: Eu sei?

ALICE: Quero dizer meu g-a-t-o.

CHAPELEIRO: (Oferece no mesmo tom de Alice) Chá?

LEBRE: Só meia xícara, se não se importar. (Quebra uma xícara ao meio e entrega para o
Chapeleiro servir)

CHAPELEIRO: (Servindo chá) Venha, venha, minha querida. Não quer chá?

ALICE: Ora, sim, sou apaixonada por chá, mas...

LEBRE: Se não quer chá, poderia ao menos conversar educadamente.

ALICE: Bem, estou tentando lhe perguntar...

LEBRE: Tive uma ótima idéia! Vamos mudar de assunto.

CHAPELEIRO: Qual a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha?

ALICE: Charada? (Pensativa) Deixe-me ver... Qual a semelhança entre um corvo e uma
escrivaninha?

CHAPELEIRO: Desculpe... O que disse?

ALICE: Qual a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha?

CHAPELEIRO: Qual é o quê?

LEBRE: Cuidado! Ela é totalmente doida.

ALICE: Mas, mas é a sua adivinhação boba!!! Acabou de dizer...

CHAPELEIRO: Calma!

RATINHO: Não fique nervosa.

LEBRE: Que tal uma xícara de chá?

ALICE: Tomar um chá, realmente! Desculpe só que estou sem tempo. Está na hora de ir
embora!

RATINHO: A HORA! A HORA!

LEBRE: Que horas são?

(Entra o Coelho Branco)

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COELHO: Não, não, não. Sem tempo, sem tempo.. É tarde! É tarde! Olá! Adeus! Estou atrasado.
Atrasado!!!

ALICE: O Coelho Branco!

COELHO: Oh, já perdi muito, muito tempo! É tarde, é tarde, é tarde!

(O Chapeleiro tira o relógio do Coelho)

CHAPELEIRO: Bem, não me admiro que esteja sem tempo. (Analisando) Ora, este relógio está
exatamente com dois dias de atraso.

COELHO: Dois dias de atraso?

CHAPELEIRO: Claro que está atrasado. Temos que dar uma olhada nisso. (Coloca o relógio
sobre a mesa e começa a analisa-lo) Ahá!!! Já sei o que está errado. Ora, este relógio está cheio
de maquinismos... Com molas e rodinhas! (Começa a despedaçar o relógio) COELHO: Oh, meu
pobre relógio. Oh, meus maquinismos e molas. Mas, mas, mas, mas...

CHAPELEIRO: Manteiga! Claro! Precisa de um pouco de manteiga. (Grita) Manteeeeeeeeeiga!

LEBRE: (Grita) Manteeeeeeeeeiga!

COELHO: (Pegando a manteiga) Mas, mas, manteiga?

CHAPELEIRO: (Pegando a manteiga das mãos do Coelho) Manteiga. Oh, obrigado. Manteiga.
Sim, isso está ótimo.

COELHO: (Desesperado) Oh, não, não! Não, não, não! Vai arrebentá-lo todo.

CHAPELEIRO: Oh, esta manteiga é das melhores. Do que está resmungando?

LEBRE: Chá?

CHAPELEIRO: (Despeja o chá no relógio) Não tinha pensado no chá. Claro!

COELHO: (Desesperado) Não, não! Chá não!

RATINHO: Açúcar?

CHAPELEIRO: Duas colheres. Sim, s...

(Ratinho lhe entrega duas colheres em vez do pote de açúcar)

CHAPELEIRO: Obrigado, sim.

COELHO: (Desesperado) Oh, por favor tenha cuidado!

LEBRE: (Alcançando o pote de geleia para o Chapeleiro) Geleia?

CHAPELEIRO: (Passa a geleia no relógio) Geleia! Tinha, me esquecido da geleia. Nunca sei onde
coloco a cabeça.

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COELHO: Não! Geleia não!

RATINHO: (Para o Coelho) Confia nele! (Alcançando o pote de mostarda para o Chapeleiro)
Mostarda?

CHAPELEIRO: (Pega o pote de mostrada) Mostarda, sim! Mos... (Para e larga o pote de
mostarda antes de coloca-la no relógio) Mostarda? Não sejamos tolos. Limão... (Pega o limão e
coloca no relógio) isso é diferente. (Fecha o relógio) Pronto! Agora vai funcionar.

(O relógio começa a tremer. Ouve-se um som alto de despertador. Todos tapam seus ouvidos
ficam assustados).

RATINHO: Olha!! Está maluco.

LEBRE: Oh, Meu Deus! Não vai dar boa coisa.

COELHO: O que vocês fizeram!

RATINHO: Está maluco. Relógio maluco.

COELHO: Oh, Meu Deus! Meu relógio!

CHAPELEIRO: Não consigo entender. A manteiga era a melhor.

RATINHO: Relógio maluco!!!!

LEBRE: Relógio maluco!!!

CHAPELEIRO: Veja. Acho que as molas...

LEBRE: Só tem um jeito de parar um relógio maluco.

(A Lebre retira um grande martelo debaixo da mesa e bate no relógio. O som de despertador
para. Após um breve silêncio, o Chapeleiro pega os pedaços do relógio e entrega nas mãos do
Coelho)

CHAPELEIRO: Dois dias de atraso. Não tem conserto.

COELHO: (Começa a chorar) Ai, meu relógio.

RATINHO: Já era!

CHAPELEIRO: Era seu?

COELHO: Era um presente de Desaniversário.

LEBRE: Bem, nesse caso.

(O Chapeleiro, a Lebre e o Ratinho abraçam o Coelho)

28
CHAPELEIRO, LEBRE E RATINHO: Um
bom Desaniversário feeliiiiz!

(Saem de cena cantando. Só Alice fica no palco)

ALICE: Sr. Coelho. Espere! Oh, aonde ele foi agora? Desaniversário... Esta é a festa de chá mais
estúpida em que já estive em minha vida. Bem, já vi tolices demais. Vou para casa. Direto para
casa. Run! Aquele coelho... Quem se importa aonde ele está indo? Ora, se não fosse por ele, eu
não estaria aqui. (suspira) Meu Deus! Quando chegar em casa, vou escrever um livro sobre este
lugar. Isso SE um dia eu realmente chegar. (Olha para os lados) Bem, estou perdida... Talvez
seja melhor ficar no mesmo lugar, até que alguém me ache. Acho que é um bom conselho...
Mas... Mas quem iria me procurar aqui? (Começa a chorar) É um bom conselho, mas se tivesse
juízo eu não estaria aqui. Mas... Mas esse é o meu problema. Sempre me dou bons conselhos,
mas muito raramente os sigo.

(Ouve-se a música do Mestre Gato ao longe. Alice, curiosa, procura para saber de onde vem o
som. Entra o gato)

ALICE: Oh, Mestre Gato é você!

MESTRE GATO: Esperava que fosse quem? O Coelho Branco por acaso?

ALICE: Oh, não, não, não. Não quero saber de coelhos. (Chorando) Quero ir para casa! Mas não
consigo achar meu caminho.

MESTRE GATO: Naturalmente... Você não pode ir pra casa. Você não acha o caminho porque
você não tem nenhum caminho. Todos os caminhos aqui pertencem a Rainha. Tudo aqui é
dela!

ALICE: Mas eu nunca encontrei nenhuma Rainha.

MESTRE GATO: Não encontrou?

ALICE: Não. Nunca vi uma.

MESTRE GATO: Nunca viu?!!! Oh, mas você deve ver! Ela ficará louca por você. Simplesmente
louca.

ALICE: Como posso encontrá-la?

MESTRE GATO: Bem, alguns vão por essa direção. (Aponta para a esquerda) Outros vão por
aquela direção. (Aponta para a direita) Mas, pessoalmente, prefiro por aqui!! (Aponta para as
duas direções)

ALICE: Não entendi essa última.

MESTRE GATO: Ah, é um atalho! Vem comigo! (O gato pega Alice pela mão e sai de cena)

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(A cortina se fecha. Entram as cartas carregando baldes de tinta, pincéis e uma roseira com
rosas brancas)

CARTA 1: É aqui. Acho que estamos seguros neste lugar.

CARTA 2: Trouxeste a tinta, Três?

CARTA 3: Está aqui!

CARTA 1: Só uma lata?

CARTA 3: Tem mais lá dentro se precisar.

CARTA 2: Mas você já devia ter trazido. Já pensou se a Rainha descobre?

CARTA 3: É, não tinha pensando nisso. Vou lá pegar.

CARTA 1: Não, não, não! Agora nós vamos começar a pintar.

CARTA 2: Temos que ser rápidos.

CARTA 3: Verdade. Logo, logo a Rainha aparece...

CARTA 1: ... E se essas rosas estiverem assim, branquinhas, não quero nem ver o que
acontecerá conosco.

CARTA 2: Ai, quero chorar!

CARTA 3: Não é hora pra isso!

CARTA 1: O mais triste é que sabemos que essas plantinhas vão parar de crescer.

CARTA 2: Na verdade, logo estarão mortas.

CARTA 3: A Rainha adora mudar.

CARTA 1: Bom, o que estamos esperando?

CARTA 2: Não sei!

CARTA 3: Vamos começar então!

(Começam a pintar as rosas de vermelho ao som da música. Entra Alice).

CARTAS:

Bom...Bom..Bom...Bom...

Vamos pintando, assim,

As rosas cor de carmim.

É bom pintar,

30
É bom passar a tinta até o fim.

Estamos pintando, sim, As

rosas cor de carmim.

Bom...Bom..Bom...Bom..

. Ooooh. Vamos

pintando, assim, As

rosas cor de carmim.

CARTA 3:

É triste ver

CARTA 2: Que

irão morrer

CARTA 1:

As rosas do jardim.

Ooooh. Terão um

triste fim, Todas

assim.

Assim, sim, sim, sim...

Sim, sim, sim, sim.

Vamos pintando, enfim,

As rosas cor de carmim.

ALICE:

Desculpe a vez,

Mas, senhor Três,

Por que cor de carmim?

Ãhn? Ooooh!

CARTA 3:

É, o fato é, moça, Plantamos as rosas

brancas por engano

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E a nossa...

CARTAS:

Rainha é assim, Só

quer cor de carmim.

CARTA 2:

Se ela chegar...

CARTA 1:

É nosso azar.

CARTAS:

Será o nosso fim.

ALICE:

Que horror!

CARTAS:

E como morrer é ruim, Pintamos

cor de carmim.

ALICE:

Oh, então, deixe-me ajudar.

Vamos pintar assim.

ALICE E CARTAS:

As rosas cor de carmim.

CARTAS: Silêncio, pois,


senão depois Será muito
ruim.

Mas, pintemos até o fim.

ALICE:
Sim, todas cor de carmim.

CARTA 2:
Nem azul.

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CARTA 3:
Nem verde.

ALICE:
Nem roxo, enfim.

ALICE E CARTAS:
Mas todas cor de carmim.

(Alice ri.)

ALICE: Pintar é muito divertido!

CARTA 1: É... então é melhor continuar nos ajudando!

CARTA 2: Se a Rainha vir essas rosas desse jeito vai fazer o maior estardalhaço.

CARTA 3: E cada um de nós perderá a cabeça rapidinho.

ALICE: Puxa!

CARTA 1: Estou tremendo de medo só de pensar.

CARTA 2: Não diga à Rainha o que você viu...

CARTA 3: (Implorando de joelhos) Por favor, garota! Será o nosso fim!

(Ouve-se uma marcha. Entra em cena o exército de cartas fazendo uma coreografia)

CARTA 1: Ufa! Era só o exercito de cartas.

CARTA 2: (risada nervosa) Vocês nos assustaram. Não é mesmo, Três?

CARTA 3: (risada nervosa) Sim, pensávamos que fosse... pensávamos que fosse a Ra..

(O coelho branco entra)

COELHO: ... quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, valete!

ALICE: O coelho!

(O Coelho sopra um clarim)

COELHO: Vossa Alteza Imperial, vossa Eminência, Vossa Excelência, vossa Real Majestade, a
Rainha de Copas! ............ E o rei.

CARTA 1: (Apavorado) A Rainha! (Esconde seu pincel)

CARTA 2: (Apavorado) A Rainha! (Esconde seu pincel)

CARTA 3: (Apavorado) A Rainha! (Esconde seu pincel)

ALICE: (Assustada) A Rainha! (Segurando o seu pincel)

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(Do fundo do auditório entra a Rainha acompanhada pelo Rei)

RAINHA: SILÊNCIOOOO! (Aproxima-se das rosas e observa atentamente. Furiosa) Quem estava
pintando minhas rosas de vermelho? (Silêncio) Quem estava pintando minhas rosas de
vermelho? Quem ousa pintar com tinta barata na cor de carmim?!

REI: Oh! Arruinaram o canteiro de flores Real!

RAINHA: Por pintar minhas rosas de vermelho alguém vai perder a cabeça!

CARTA 1: Oh, não, Majestade, por favor!

CARTA 2: Piedade! Pedimos piedade!!

CARTA 3: É tudo culpa dele! (Aponta para a carta 1)

CARTA 1: Minha não, Alteza!

RAINHA: (Aponta para a carta 1) TUUU?!!

CARTA 1: (Aponta para a carta 2) Do ás! Do ás!

CARTA 2: Não! O três! (Aponta para a carta 3) RAINHA:

(Aponta para a carta 3) O três. Foi ele?

CARTA 3: Eu não! O um!

RAINHA: Já chega! Cortem as cabeças deles!

REI: Vamos lá, pessoal! A rainha mandou!

ALICE: Oh, por favor, por favor. Eles só estavam tentando...

RAINHA: E quem é esta?

REI: Bem. Bem, deixe-me ver, minha querida. (analisando Alice) Com certeza não é copas. Uh,
será do naipe de paus?

RAINHA: Ora, é uma garotinha.

ALICE: Sim. E, e eu esperava...

RAINHA: OLHA PARA MIM! FALA DIREITO! PAAARA COM ESSAS MÃOS! VIRA OS PÉS PARA FORA
E FICA EM POSIÇÃO DE CORTESIA. ABRA A BOCA E DIGA SEMPRE: OOOH, MAGESTADE! (Alice
tenta fazer exatamente como a Rainha manda)

ALICE: Ooooh, Majestade!

RAINHA: Agora me diga... de onde vem, e para onde está indo?

ALICE: B-bem, eu estou tentando achar o caminho de minha casa.

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RAINHA: Seu caminho?!!!!! Todos os caminhos aqui são meus! SÓ MEUS!

ALICE: Bem, sim, eu,eu sei. Mas eu só estava pensando...

RAINHA: Faça reverência enquanto está pensando! Ganha-se tempo.

ALICE: (Fazendo a reverência) Ooooh, Majestade! Mas eu só ia perguntar...

RAINHA: Eu vou fazer as perguntas!

(O Gato aparece escondido)

MESTRE GATO: E aí, se deu bem com ela?

ALICE: Nem um pouco.

MESTRE GATO: O que disse?

ALICE: Eu disse, nem um pouco!

(O Gato some)

RAINHA: Com quem está falando?

ALICE: Com um gato, Majestade.

RAINHA: (Procurando) Gato? Onde?

(O Gato surge atrás da Rainha)

ALICE: (Apontando para as costas da Rainha) Aí ó! (A

Rainha procura. O Gato aparece em outro lugar e some)

ALICE: (Apontando para o Gato) Oh, lá está ele de novo!

RAINHA: (Procurando com raiva) Vou te avisar, menina... Que se eu perder minha paciência,
você perde sua cabeça! Está entendendo?!!!!!!!!!

(O Gato aparece escondido)

MESTRE GATO: Sabe, podemos deixá-la bem zangada. Vamos tentar?

(Ameaça ir em direção a Rainha, mas Alice o puxa)

ALICE: Oh, não, não!

MESTRE GATO: Ah, vai ser tão divertido. Enquanto ela falava com você eu amarrei um cadarço
no outro e uni seus pés. Na hora que ela for andar vai... pluft! hahaha (Com as mãos, faz a
simulação do impacto da queda. Ri.).

ALICE: Não, não, não!

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RAINHA: Agora, menina... (Rainha tenta dar um passo, mas cai no chão. Ao cair no chão,
ouvese um efeito sonoro de um forte estrondo)

CARTAS: (Assustadas) Ohhh!

ALICE: Oh, não!

COELHO: Ai, os meus bigodes!

(Silêncio)

REI: Meus Deus! Salvem a Rainha.

(As cartas rapidamente se posicionam ao redor da Rainha caída pelo chão. A Rainha levanta,
com um visual todo bagunçado e muito furiosa)

RAINHA: (Empurrando as cartas, que caem no chão) A CABEÇA DE ALGUÉM VAI ROLAR POR
ISTO!

(Olha furiosa para Alice)

RAINHA: (Apontando para Alice) A SUA! (Puxa a ar para gritar ainda mais alto) CORTEM-LHE A
CA... (O Rei a cutuca delicadamente)

REI: (Com a fala mansa) Mas, mas, mas, reflita, minha querida. Ela não poderia ter um
julgamento? Primeiro?

RAINHA: JULGAMENTO?

REI: (Nervoso) Bem, s... Só um, um pequeno julgamento? Pequenininho... Um julgamentinho...


com um jurizinho...

RAINHA: (pensativa) Hmmm... Está muito bem, então (Passando a mão na cabeça do Rei,
como se trata um cãozinho de estimação) QUE COMECE O JULGAMENTO!

(As cartas rapidamente trazem um púlpito ao centro do palco. A Rainha e o Rei ficam no
púlpito. Alice e o Coelho à direita, e, o júri formado de Cartas à esquerda. O Coelho toca o
clarim)

COELHO: Sua Majestade. (Faz reverência) Membros do júri. (Faz reverência) Súditos leais (Abre
um pergaminho, antes de iniciar a leitura o Rei o cutuca)........ Ah, e o Rei. (Lendo) A prisioneira
em questão é acusada de irritar Vossa Majestade, a Rainha de Copas, em uma simples
conversa, de forma intencional, premeditada, provocativa, e torturante... E, de outras formas,
incomodando nossa amada...

RAINHA: PARA DE FALAR! Vá para a parte em que eu perco minha paciência.

(O olhar do Coelho desce até o fim do pergaminho, procurando a parte que a Rainha pediu)

COELHO: ... Portanto, fazendo a Rainha perder a paciência.

RAINHA: (Para Alice) Agora, está pronta para sua sentença? Vou dizer agora...

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ALICE: Sentença? Oh, mas deve haver um veredito primeiro.

RAINHA: (Batendo o martelo) PRIMEIRO A SENTENÇA! O VEREDICTO DEPOIS.

ALICE: Mas não é assim que se faz!

RAINHA: QUEM MANDA AQUI?!

ALICE: Sois vós, Majestade. (Fazendo reverência)

RAINHA: Uh, sim, meu bem. CORTEM-LHE A CA... (O Rei a cutuca delicadamente)

REI: (Com a fala mansa) Mas reflita minha querida. Não chamamos nenhuma testemunha. Uh,
não poderíamos ouvir talvez uma ou duas? Talvez?

RAINHA: (Entediada) Oh, muito bem. (Gritando) MAS VAMOS LOGO COM ISSO!

REI: (Batendo com o martelo) Primeira testemunha. Primeira testemunha. Mensageiro, chame
a primeira testemunha!

COELHO: (Anunciando a entrada da Lebre) A Lebre Louca!

(A Lebre entra em cena carrega por duas cartas e tomando uma xícara de chá)

REI: Nos diga o que sabe este infeliz incidente?

LEBRE: Nada.

RAINHA: Absolutamente nada?!

LEBRE: Absolutamente nada!

RAINHA: NADA DE NADA?!

LEBRE: NADA DE NADA?!

RAINHA: (Para o Rei) ISSO É MUITO IMPORTANTE! Júri, tomem nota disso.

(As cartas do júri anotam em cadernetas e falam, quase sussurrando, ”Importante”)

ALICE: Claro que Vossa Majestade quis dizer “Sem importância”

RAINHA: SILÊNCIO! Próxima testemunha.

COELHO: (Anunciando a entrada do Ratinho) O Ratinho!

(O Ratinho entra em cena carrega por duas cartas e também se servindo de chá)

RAINHA: O que tem a dizer sobre isto?

RATINHO:

Brilha, brilha morceguinho.

37
Brilha bem devagarinho

RAINHA: (Para o Rei) Essa é a evidência mais importante que já tivemos. (Para os jurados, que
se assustam) TOMEM NOTA DISSO!

(As cartas do júri anotam em cadernetas)

CARTAS: Brilha, brilha, brilha, brilha, brilha, brilha...

ALICE: (indignada) Ora essa... Qual o próximo?

COELHO: (Anunciando a entrada do Chapeleiro) O Chapeleiro Maluco!

(O Chapeleiro entra em cena carrega por duas cartas e tomando uma xícara de chá. Ao chegar,
faz reverência e as lanças dos soldados fincam o seu traseiro)

CHAPELEIRO: Aiii!

RAINHA: TIRE O SEU CHAPÉU!

CHAPELEIRO: (Levando um grande susto) Oh, que coisa! Hehehe (Tira o chapéu. Debaixo dele,
há uma xícara de chá)

REI: E, onde você estava quando este crime terrível aconteceu?

CHAPELEIRO: Estava em casa tomando chá. (Tomando o chá que estava na sua cabeça) Sabe...
hoje é o meu desaniversário.

REI: (Animado) Ora, minha querida, hoje é seu Desaniverário também.

RAINHA: (Vaidosa) É?

REI: É.

CHAPELEIRO, LEBRE E RATINHO: É?!!!!

(Ratinho aparece com um bolo de aniversário com velinhas)

CHAPELEIRO, LEBRE E RATINHO: Um


bom desaniversário pra mim
RAINHA:
Pra mim?
CHAPELEIRO, LEBRE E RATINHO:
Sim sim

Um bom desaniversário
RAINHA:
Pra mim?!
RATINHO: Sim
sim

CHAPELEIRO:

38
Agora sopre a vela, mas não queimes o nariz.

(Rainha assopra as velas)

CHAPELEIRO, LEBRE E RATINHO: Um


bom desaniversário feliz!

(O Gato aparece usando um chapéu de aniversário na cabeça e batendo palmas)

ALICE: Oh! Majestade.

RAINHA: (Vaidosa) Sim, minha querida?

ALICE: (Apontando para o gato) Olhe! Ele voltou!

(O Gato some)

RAINHA: (Procurando) O quê... Quem?

ALICE: O Mestre Gato!

RATINHO: Ah! Gato? GATO! GATO! GATO! (Sai correndo pelo palco! Confusão.)

CHAPELEIRO: Ele enlouqueceu de novo!

LEBRE: Pegue ela! Segura ele!

CHAPELEIRO: Não deixa ele escapar!

LEBRE: Cadê a geleia?!

CHAPELEIRO: A geleia!!! A geleia!!

REI: (Gritando e batendo o martelo) A geleia!!! A geleia!! Por ordem do Rei!

RAINHA: Me deem a geleia. A geleia, rápido.

(Alice pega o vidro de geleia, o Chapeleiro pega a colher e atira geleia no rosto da Rainha)

(Silêncio)

(As cartas rapidamente entregam panos para a Rainha)

RAINHA: (Empurrando as cartas, que caem no chão) A CABEÇA DE ALGUÉM VAI ROLAR POR
ISTO!

(Todos nervosos. O Chapeleiro passa a colher para a Lebre, que por sua vez passa para Alice,
que já está com o vidro de geleia na outra mão)

RAINHA: (Furiosa aponta para Alice) VOCÊ!!! COOORTEM-LHE A CABEÇAAAAA!!!!!

(Música tensa, luzes piscam e a confusão é geral no palco. Todos correm e falam ao mesmo
tempo, em uma bagunça organizada)

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REI: (Gritando e batendo o martelo) Ouviram o que a “véia” disse?

RAINHA: CORTEM-LHE A CABEÇA!

(Neste momento Alice passa por todos os personagens que encontrou no País das Maravilhas.
Fugindo da Rainha, desce do palco e corre até o fundo do auditório. Todos correm atrás. A atriz
que fará o papel da Alice deve ser rápida e voltar para o palco sem ser percebida pelo público.
Blackout. A música se modifica)

IRMÃ: (EM OFF) Alice! Acorde Alice!!

(A luz acende. O cenário é o bosque em uma tarde de verão do início do espetáculo. Alice está
deitada, dormindo agitada)

IRMÃ: Alice, poderia gentilmente prestar atenção na história?

ALICE: (Acordando assustada) Hein? Com que destreza o crocodilo não espadana a cauda?...

IRMÃ: Alice, sobre o que está falando?

ALICE: Sinto muito. Mas você sabe, a lagarta disse...

IRMÃ: Lagarta? Oh, que sonhadora! Alice, eu... Oh, bem. Venha. Está na hora do chá.

ALICE: Está bem, irmã.

(Alice pega Diná e sai de cena com a sua irmã. A trilha cresce e em seguida o pano fecha com
um blackout).

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