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Canal Realidade Fantástica/Livros

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Curitiba - 2020

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A todos os que buscam pelo Mistério,
para que se inspirem nas vidas
daqueles que fizeram do Mistério
as suas vidas.

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Copyright@ 2020 Realidade Fantástica

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou
transmitida em qualquer formato ou por quaisquer meios, gráfico, eletrônico ou
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de informação ou sistema de recuperação de dados, sem a permissão escrita dos
editores.

Esta edição é publicada pelo Canal Realidade Fantástica.


Informações: realidadefantastica.com.br / realidadefantastica@gmail.com

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Salloum Junior, Jamil


Grandes figuras do esoterismo e do ocultismo [livro eletrônico] /
Jamil Salloum Jr.. – Curitiba : Realidade Fantástica, 2020.
PDF
ISBN 978-65-00-05704-1
Esoterismo 2. Ocultistas - Biografia I. Título.
20-39286 CDD-133.092

Índices para catálogo sistemático: 1. Ocultistas : Biografia 133.092


Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

1ª edição
Editor: Realidade Fantástica
Diagramação: Márcio Slompo
Coordenação: Marcos Kusnick
Revisão: Jamil Salloum Jr.

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Sumário

PREFÁCIO ..................................................................................... 6
EDGARD CAYCE – O Profeta Adormecido ...................................... 8
G. I GURDJIEFF – E o quarto caminho............................................13
O MISTÉRIO DO CONDE DE SAINT-GERMAIN ................................ 19
HELENA BLAVATSKY – A mãe do esoterismo moderno .................. 27
PAPUS – Mago, ocultista e iniciador ............................................. 40
RUDOLPH STEINER – O místico universal ...................................... 51
ELIPHAS LEVI – E o despertar dos magos ...................................... 58
STANISLAS DE GUAITA – E o cabalismo rosacruz ........................... 67
ALEXANDRA DAVID-NÉEL – E o misticismo tibetano ......................76
CAGLIOSTRO – O grande mestre do oculto....................................84
NICHOLAS ROERICH – Um mensagerio da Grande F. Branca...........99
PAUL BRUNTON – E o Oriente Secreto ........................................ 113
MARIE CORELLI – A grande romancista do esoterismo ................. 123
LOUIS-CLAUDE DE SAINT-MARTIN – O mestre desconhecido ....... 131
DARIO VELLOZO – Pioneiro do ocultismo no Brasil ...................... 145

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Prefácio

Este é o primeiro livro do Canal Realidade Fantástica1,


canal no Youtube dedicado ao Ocultismo, ao Esoterismo e às
Paraciências, que granjeou considerável sucesso junto a
pessoas de vários países e prossegue em sua missão de
devolver às Ciências Ocultas seu lugar de destaque, como
uma área privilegiada do saber humano. Após reiterados
pedidos de nosso público para que muitos dos textos dos
documentários do Canal fossem disponibilizados,
resolvemos atender esse anseio, tendo como resultado a
presente publicação.

Neste livro o leitor vai encontrar todos os textos dos


documentários da série “Grandes Figuras do Esoterismo e do
Ocultismo”. Os textos, bem como as pesquisas que lhes
deram origem, são da autoria do nosso colega do Canal, Jamil
Salloum Jr., transformados em vídeo através do trabalho de
narração, arte e edição dos demais integrantes do Realidade
Fantástica, Marcos Kusnick e Márcio Slompo.

Nossa esperança com este primeiro volume, que deverá


ser seguido por outros, é oferecer subsídios para um estudo
sério do Ocultismo em uma época pautada pela pesquisa

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superficial e pelo pseudo-esoterismo. Como o leitor
verificará, embora os textos sejam fundamentados, estão
longe de constituir uma pesquisa exaustiva, limitando-se a
apresentar algumas das personalidades mais importantes do
Ocultismo, detalhes de suas vidas e as contribuições que
deram à Espiritualidade. Indicamos também, ao final de cada
biografia, uma bibliografia básica sobre cada biografado,
para os que desejarem se aprofundar em sua vida e obra.

De Edgar Cayce a Madame Blavatsky, desta a Papus,


passando por pessoas como Saint-Germain e Cagliostro, ao
brasileiro Dario Vellozo, vamos viajar juntos numa
descoberta fantástica pela vida de alguns arautos das
Ciências Ocultas, os quais, apesar de incompreendidos pela
maioria – como ocorre com todos os que estão na vanguarda
- deram suas vidas pela elevação espiritual da humanidade

Nosso desejo com essa publicação é estimular


pesquisas mais profundas neste campo fascinante, a saber: o
Esoterismo e o Ocultismo. E possa a vida e os feitos de cada
um dos biografados inspirar o leitor no sentido de seguir-
lhes os passos, na apaixonante busca pela Verdade.

Os Editores

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EDGARD CAYCE
O PROFETA ADORMECIDO

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Edgar Cayce, que ficou conhecido como o maior
clarividente do século XX e um dos maiores profetas da
história, ao lado de Nostradamus, nasceu em 18 de março
de 1877 na pequena cidade americana de Hopkinsville.

Ainda criança, começou a desenvolver uma estranha


capacidade: podia decorar o conteúdo de livros inteiros
simplesmente adormecendo sobre eles. Mais tarde, já adulto,
perdeu a voz por causa de uma doença nas cordas vocais.
Seguindo a sugestão de um amigo, deixou-se hipnotizar por
um hipnólogo que estava visitando sua cidade e, para
surpresa de todos, quando em transe, o próprio Cayce dia-
gnosticou corretamente seu problema e receitou os proce-
dimentos adequados para sua cura.

Após esta experiência, fizeram-se outras para


descobrir se, em transe, Cayce podia diagnosticar e curar
outras pessoas. Mais uma vez, para espanto geral, Cayce fa-
zia diagnósticos corretos utilizando o linguajar técnico dos
médicos. Para isso, só precisava do nome do doente,
independente de ele estar em sua cidade ou em outro país.
Além do mais, podia receitar uma infinidade de remédios,
incluindo alguns que estavam sendo produzidos em
laboratórios e não tinham sido ainda entregues ao
conhecimento do público.

Quando posto em transe e informado do nome do


doente, Cayce invariavelmente começava seu monólogo com
a frase: “sim, vemos o corpo...”, e a partir daí podia dar com

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precisão tratamentos que se mostravam eficazes em mais de
noventa por cento dos casos. Cientistas, médicos e
especialistas confirmaram os diagnósticos de Cayce e
chegaram a reconhecer que os conhecimentos médicos
daquele camponês simples estavam além da ciência da
época.

Ao despertar de seu sono hipnótico, Cayce de nada se


recordava e se comportava como um simples cidadão do
interior dos Estados Unidos. Sua fama se espalhou para além
de sua terra natal e Cayce começou a receber pedidos de
ajuda de todas as partes do mundo. Atendia a todos,
prescrevendo tratamentos à distância. Inclusive, pessoas
famosas estavam entre os consultados, como o inventor
Tomas Edison e o então presidente americano Woodrow
Wilson.

Não bastando suas leituras médicas, descobriu-se


que Cayce, em transe, podia falar de qualquer assunto,
quando questionado. Até sobre prospecção de petróleo foi
consultado, dando com acerto os locais, profundidade e até
o número de camadas da terra que deveriam ser perfuradas
para que os poços fossem estabelecidos, sempre com acerto
surpreendente.

Parecia mesmo que Cayce tinha acesso a uma fonte


ilimitada de conhecimento. Assim, fez também profecias,
hoje famosas, que se cumpriram invariavelmente, como do
início e fim da I e II Guerras Mundiais, o surgimento do

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nazismo, os conflitos raciais dos EUA, as datas dos
falecimentos de dois presidentes americanos, a extinção
da Liga das Nações, a grande depressão econômica dos EUA
em 1929, o fim do comunismo na Rússia e o surgimento da
China como grande potência econômica e cultural. Além
disso, Cayce previu o ressurgimento, entre 1968 e 1969, do
que, segundo ele, seria uma parte da perdida Atlântida. De
fato, nesta época, perto da Ilha de Bimini, nas Bahamas,
surgiu o agora famoso corredor de pedras submerso, que
muitos atribuem como sendo fruto de obra humana muito
antiga.

Há também profecias que ainda não se cumpriram,


como a que fala do desaparecimento do Japão e de Nova
Iorque em convulsões cataclísmicas e a gradativa união
política das nações após muitos distúrbios geológicos e
climáticos. Edgar Cayce ainda falou de temas cosmológicos,
astrológicos, vidas passadas e demais assuntos metafísicos.
Uma vez, quando em transe, Cayce foi questionado sobre a
fonte de seu conhecimento. Disse ele que acessava o que no
Hinduísmo é chamado de Registros Acásicos, uma espécie de
biblioteca vibracional cósmica, que contém o passado, o
presente e mesmo o futuro, uma vez que naquele nível,
segundo Cayce, só existe um contínuo agora. Sendo assim, o
tempo seria uma ilusão.

Fato interessante é que o clarividente nunca cobrou


pelos seus milhares de diagnósticos, embora aceitasse

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doações. Segundo a Fundação Edgar Cayce, ele fez quase
15.000 leituras sobre variados assuntos, todas transcritas e
preservadas no arquivo de sua Fundação, compondo uma
impressionante biblioteca. Em vida o clarividente construiu
uma universidade e um hospital na cidade de Virginia
Beach, onde suas leituras poderiam orientar novos
tratamentos médicos e o avanço da ciência psíquica. Ambas
as instituições ainda existem e contam com milhares de
membros.

Sua obra e realizações continuam vivas até hoje, como


também o questionamento de milhares de pessoas que
passam a conhecer um pouco que seja de sua história. Afinal,
quem foi realmente aquele simples camponês que parecia
tudo conhecer?

Quem foi o Profeta Adormecido?

Bibliografia

Sobre Edgard Cayce:

 Edgar Cayce - O Homem do Mistério. Thomas Sugrue -


Editora Record.
 O Livro de Edgar Cayce. Mark Thurston e Christopher
Frazel. Editora Roca.
 Fundação Edgar Cayce (www.edgardcayce.org)

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G. I GURDJIEFF
E O QUARTO CAMINHO

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No início da década de 1920 um homem misterioso
chegou à França. Dotado de conhecimentos extraordinários
e notáveis poderes psíquicos, encantou os europeus com um
método para o autoconhecimento que confrontava
diretamente todas as convenções da época. Era George
Ivanovich Gurdjieff, que apresentou ao mundo o Quarto
Caminho.

Gurdjieff nasceu na Armênia entre 1866 e 1877. Desde


cedo teve paixão por descobrir o Mistério por trás de todas
as tradições, o que o fez partir sozinho, quando mais velho,
em uma perigosa jornada pelo Oriente em busca de místicos,
santos, sábios, bruxos e feiticeiros. No entanto, esta parte de
sua vida está envolta em segredo. O pouco que ele contou,
além de testemunhos de pessoas que o conheceram, permite
deduzir que ele esteve no Tibete, na China, Índia e demais
países da Ásia. Sua passagem pelo Oriente Médio também é
uma possibilidade. Sabe-se que em suas andanças e
pesquisas contatou uma misteriosa fraternidade secreta
oriental conhecida como “Irmandade Sarmoung”, e consta
que foi lá que adquiriu seus conhecimentos, apresentados
depois ao mundo como o “Quarto Caminho.”

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O famoso filósofo e metafísico russo P. D. Ouspensky,
que já havia feito sucesso no Ocidente com o intrigante livro
Tertium Organum, relata em outra obra fascinante, Fragmentos
de um Ensinamento Desconhecido, como foi seu encontro
com Gurdjieff na Rússia em 1913 e no que consistia os
ensinamentos do sábio armênio. Foi justamente à época do
encontro com Ouspensky que Gurdjieff começou sua
carreira pública e montou sua escola, atraindo seus primeiros
estudantes, dos quais Ouspensky tornou-se o mais famoso.

A Escola ficou conhecida como o “Instituto para o


Desenvolvimento Harmonioso do Homem.” Por conta da
revolução Bolchevique, Gurdjieff deixou a cidade de Pe-
trogrado em 1917 e com um punhado de estudantes fez uma
inacreditável jornada a pé pelo Cáucaso, fundando vários
grupos de seu Instituto em cidades da Rússia. Procurou
estabelecer-se na cidade de Essentuki, mas a guerra com a
Turquia naquela época o obrigou a se retirar novamente, e
foi com 14 alunos que ele recomeçou sua peregrinação pela
Rússia, Geórgia e Turquia. Neste trajeto conheceu o casal de
artistas Alexandre e Jeanne de Salzmann, os quais foram
aceitos como seus alunos e com os quais criaria mais tarde
suas apresentações de dança e música esotéricas.

Na França, no início da década 1920, Gurdjieff esta-


beleceu-se definitivamente e instalou-se no famoso Prieuré, a
sede de sua escola. A partir dali excursionou por toda a
Europa e Estados Unidos, com palestras e apresentações de

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dança mística. Mas afinal, o que ensinava Gurdjieff? O que é
o Quarto Caminho?

Esta via diz que para além dos métodos físico,


emocional e intelectual, existe um quarto, a da psicologia
esotérica, onde o homem é convidado a lembrar-se de si.
Segundo Gurdjieff, o homem no geral é um autômato
inconsciente de sua verdadeira natureza. É preciso que ele
aplique a lembrança de si, desperte para sua natureza radical
e construa, assim, sua própria imortalidade consciente.
Nenhum conhecimento que não colabore para o Conhece-te a
Ti Mesmo é relevante para Gurdjieff, pois conhecer-se a si
mesmo é conhecer tudo. Para proporcionar isso, o sábio
armênio criou uma série de exercícios que envolvem
concentração, meditação, respiração, auto-inquirição e
esforço consciente.

Gurdjieff disse:
“O Conhece-te a ti mesmo adquire um sentido parti-
cularmente profundo e é um dos símbolos que levam ao
conhecimento da verdade. O estudo do mundo e o estudo
do homem dão suporte um ao outro. Ao estudar o mundo e
suas leis, o homem estuda a si mesmo e, estudando a si
mesmo ele estuda o universo (...) Nenhum de vocês
percebeu a coisa mais importante que eu apontei…
nenhum de vocês notou que não se lembra de si mesmo.
Para observar-se verdadeiramente é necessário, antes de
tudo, lembrar-se de si mesmo.”

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Uma das partes mais interessantes do trabalho
de Gurdjieff foi trazer para o Ocidente as danças sagradas do
Oriente, de inspiração Sufi e Dervixe. Segundo o que se sabe,
ele teria encontrado entre a misteriosa Irmandade Sarmoung
a prática destas danças como instrumento de despertar. Com
a apresentação destas danças ao grande público, o filósofo
Gurdjieff despertava não só nos praticantes, mas também na
audiência, uma espécie de catarse de consciência. Essas
danças foram apresentadas por ele e por seus alunos na
Europa e nos Estados Unidos, com muito sucesso.

Gurdjieff também foi responsável por introduzir no


Ocidente a sabedoria do Eneagrama, uma ferramenta
milenar para o autoconhecimento, hoje muito utilizada não
só em Psicologia, mas também no meio corporativo.

Entre as poucas obras que Gurdjieff deixou, destaca-se


“Encontro Com Homens Notáveis”, sua autobiografia, onde de
forma um tanto velada relata seus anos de busca pelo
conhecimento. Este livro foi tão marcante que foi
transformado em filme, de mesmo nome, em 1979, dirigido
por Peter Brook. Outro livro seu famoso é a monumental
obra “Relatos de Belzebu a Seu Neto: Uma Crítica Objetivamente
Imparcial da Vida do Homem”. Trata-se de uma alegoria
cósmica de difícil compreensão, que só pode ser apreendida
pelo leitor iniciado.

Gurdjieff morreu em 1949, deixando um tesouro de


conhecimentos e grupos de estudo espalhados pelo mundo.

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É considerado um dos mestres espirituais mais influentes do
século XX.

Bibliografia

De Gurdjieff:

 Encontros com Homens Notáveis. Ed. Pensamento


 A Vida Só é Real Quando “Eu Sou”. Ed. Horus.
 Relatos de Belzebu a Seu Neto. Ed. Horus.
 Gurdjieff Fala a Seus Alunos. Ed. Pensamento.

Sobre Gurdjieff:

 Nossa Vida com Gurdjieff. Thomas de Hartmman. Ed.


Pensamento.
 Os Ensinamentos de G. I. Gurdjieff, P. D. Ouspensky e
Maurice Nicoll. Berry Bogson. Ed. Madras.
 O Trabalho de Gurdjieff. Kathleen Riordan Speeth. Ed.
Cultrix.
 Os Mestres de Gurdjieff. Rafael Lefort. Ed. Dervish.
 Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido. P. D.
Ouspensky. Ed. Pensamento.

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O MISTÉRIO DO
CONDE DE SAINT-GERMAIN

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O famoso filósofo Voltaire, quando uma vez indagado
sobre o Conde de Saint-Germain, respondeu: “Trata-se de um
homem que tudo sabe e que nunca morre.” Tal foi o furor que este
personagem causou na Europa séculos atrás, circulando
livremente entre os mais poderosos governos da época,
aconselhando reis e rainhas, causando espanto com sua
riqueza e conhecimentos aparentemente ilimitados, sua
juventude irreal e seus dotes artísticos. Suas invenções
científicas e experimentos de Alquimia desafiavam a
compreensão da época. Seu nome se tornou eternizado como
sinônimo de mistério, sobrenatural, fantástico e magia.

Quem foi o Conde de Saint-Germain? Será ele uma


lenda ou um fato histórico?

A história registra o aparecimento deste homem


abruptamente na metade do século XVIII nas principais
cortes da Europa e nos salões sociais. Era como se tivesse
aparecido do nada e não possuísse passado. Apresentava-se
como um conde de nobre linhagem. Falava alemão, inglês,
italiano, português, espanhol, francês, grego, latim, sânscrito,
árabe e chinês com tal fluência que em cada país era aceito

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como nativo. E até seus piores detratores admitiram que o
conde possuía conhecimentos quase inacreditáveis em cada
área do saber.

As primeiras aparições registradas de Saint-Germain


datam de 1743, em Londres, mas há depoimentos de apare-
cimentos anteriores, conforme veremos. Desta data em
diante quase todos os reinos da Europa receberam Saint-
Germain e o encarregaram de missões diplomáticas. Para
estas usou vários nomes, sendo, contudo, o de Saint-Germain
o mais frequente e com o qual entrou para a história. Para
uns, tratava-se de um aventureiro, para outros, de um bruxo,
para outros ainda, um espião dos governos ou agente duplo.

Para o povo, no entanto, era o amigo dos pobres, que


curava as doenças de graça e prodigalizava dinheiro aos
necessitados. Já para os ocultistas, tratava-se de um dos
Mestres secretos da humanidade. Jean-Jacques Rousseau
encontrou Saint-Germain e declarou ser o conde "a mais
fascinante e enigmática personalidade que já conheci". O Rei Luís
XV por ele se encantou e lhe possibilitou todo um anexo no
palácio de Versalhes para experimentos de Alquimia e testes
científicos. Madame d'Adhemar, biógrafa e dama da corte de
Maria Antonieta, também encontrou Saint-Germain em
vários momentos e dele deixou preciosos relatos. Enfim, os

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depoimentos se multiplicam, cobrindo as atividades do
Conde em vários reinos da Europa.

Saint-Germain tornara-se um fenômeno público,


contudo, o que mais se comentava era sobre sua aparente
imortalidade. De onde surgiu essa lenda? Madame
d'Adhemar registrou em seu diário, no dia 12 de maio de
1821, ter reencontrado o conde em Paris, depois de mais de
50 anos sem vê-lo e, para seu terror, Saint-Germain
incrivelmente não tinha envelhecido nem um segundo. O
famoso libertino Giacomo Casanova jurou ter conhecido o
conde de Saint-Germain em Veneza em 1710, usando o nome
de Marquês de Montferrat, e tê-lo reencontrado com a
mesma aparência em 1775. Muitos relatos, registrados por
testemunhas da época, falam da mesma coisa e criaram a
impressão de que o conde aparentemente nunca morria,
conforme a famosa frase de Voltaire.

Analisando os documentos que registram suas


múltiplas aparições na Europa, constata-se que, inexpli-
cavelmente, Saint-Germain cobriu um período de quase 200
anos, aparecendo, interferindo em assuntos importantes dos
países, e depois desaparecendo, sem que ninguém jamais
pudesse encontrá-lo. Na Rússia, no reinado de Pedro III, há
também registro de sua passagem. Todos os que o viram

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nesses vários períodos atestaram tratar-se sempre do mesmo
homem, apesar da impossibilidade do fato.

Saint-Germain também influiu muito nas Sociedades


Ocultistas daquele período, que o reconheceram como um
dos seus Guias e Instrutores. Sabe-se, especialmente, da
participação dele em Cenáculos Rosacruzes e Maçônicos. Um
clérigo registrou em um documento a participação de Saint-
Germain na Convenção Maçônica de Wilhelmsbad, em 1782,
na companhia de outros três místicos famosos da época:
Cagliostro, Saint-Martin e Mesmer.

Saint-Germain provou ser um Mestre em Alquimia,


Cabala, Astrologia e praticamente todas as demais Ciências
Ocultas, maravilhando os místicos que o encontraram. Em
1779 Saint-Germain chegou a Altona, em Schleswig, na
Alemanha, onde o Príncipe Carlos de Hesse-Kassel residia,
tornando-se Mestre e protegido do príncipe. Este príncipe
alemão esteve ligado ao surgimento dos famosos Manifestos
Rosacruzes do século XVII e colaborou na publicação da
célebre obra “Símbolos Secretos dos Rosacruzes”, o que permite
supor uma influência de Saint-Germain nesses acontecimen-
tos e uma profunda ligação dele com o Rosacrucianismo.

O Conde de Saint-Germain teria morrido em 1784 no


Castelo de Hesse-Kassel, contudo, como já visto, ele reapa-
receu em datas posteriores a pessoas selecionadas, como em

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1821 para Madame d'Adhemar, em Paris. Seu túmulo jamais
foi encontrado. O Barão de Grafer, um dos discípulos de
Saint-Germain, registrou em suas memórias que o conde
teria dito a ele em 1788 que desapareceria da Europa e que
iria para a região do Himalaia. Eis as palavras finais de Saint-
Germain, conforme o registro do Barão de Grafer:

“Vou descansar. Preciso descansar. Dentro de 85 anos as


pessoas novamente porão os olhos em mim. Adeus, amo-
vos!"

O mais interessante é que exatamente 85 anos depois,


em 1873, chegou em Nova Iorque a famosa ocultista russa
Helena Petrovna Blavatsky para fundar, dois anos depois, a
Sociedade Teosófica e maravilhar o mundo com seus
conhecimentos e poderes psíquicos. Segundo seu colega e
íntimo colaborador, Henry Steel Olcott, entre os Mestres da
Grande Fraternidade Branca que a ajudaram em sua missão,
constava o Conde de Saint-Germain...

Há uma pintura do Conde feita pelo famoso pintor


italiano Pietro Antonio Rotari. Ela foi feita quando da
passagem de Saint-Germain por São Petersburgo na Corte de
Pedro III, em maio de 1762. É seu único retrato conhecido.
Todos os demais, principalmente os mais modernos, podem
ser considerados fantasiosos. No século XX muitos
movimentos se apropriaram do nome de Saint-Germain e o

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ligaram a doutrinas nunca por ele promulgadas ou apoiadas,
a ponto de Saint-Germain ter se tornado quase um
personagem “pop” do pseudo-Esoterismo.

Contudo, as únicas fontes confiáveis a respeito dele


permanecem sendo as Escolas Iniciáticas que historicamente
com ele tiveram alguma relação, mas elas, segundo regras
tradicionais, permanecem discretas.

O único livro sério sobre o Conde de Saint-Germain


foi escrito pela pesquisadora teosófica Isabel Cooper-Oakley,
colaboradora de Madame Blavatsky. A obra, intitulada “O
Conde de Saint-Germain”, foi publicada em 1912 e reúne ex-
tensivas pesquisas em registros governamentais, públicos e
privados sobre o conde. Em português, foi publicada pelas
editoras Pensamento e Mercuryo, fora de catálogo
atualmente. Atribui-se ainda o livro “A Santíssima Trinosofia”
à autoria de Saint-Germain, mas este fato permanece
duvidoso. O livro é, contudo, uma alegoria alquímica muito
interessante.

Grande amigo dos homens, protetor dos pobres,


mestre dos místicos e mediador entre governos, visando
sempre a paz, Saint-Germain deslumbrou seus
contemporâneos. Sua aparente longevidade ainda é tema de
disputas. Em uma moeda comemorativa do século XVIII, em
sua homenagem, há esta inscrição:

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"Como Prometeu, ele roubou o fogo,
Pelo qual o mundo existe e que tudo respira;
A natureza obedece sua voz, por ela vive e morre.
Se não é o próprio Deus, um Deus poderoso o inspira. "

Bibliografia

De Saint-Germain:

 A Santíssima Trinosofia. Ed. Mercuryo

Sobre Saint-Germain:

 O Conde de Saint Germain. Isabel Coopler Oakley.


Ed. Pensamento

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HELENA BLAVATSKY
A MÃE DO ESOTERISMO MODERNO

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Como um meteoro fulgurante, ela passou pelo mundo
no final do século XIX. Não deixou ninguém indiferente à sua
poderosa personalidade. Erudita, iniciada e mártir, o nome
Blavatsky há mais de um século é sinônimo de misticismo,
Ocultismo e Esoterismo. Considerada uma mestra por
milhões, mesmo após 100 anos de sua morte continua
despertando paixões e causando assombro. Que magia
envolvia Madame Blavatsky?

Helena Petrovna von Hahn nasceu na Ucrânia,


em Ekaterinoslav, Império Russo, em 30 de julho de 1831,
em uma família culta e aristocrática. Cedo surpreendeu a
família com uma inteligência penetrante, vontade indomável
e espantosos poderes psíquicos. Ela relatou que desde
pequena tinha visões psíquicas de um oriental muito alto,
que a encarava com olhos fulgurantes. Parecia um gigante a
zelar por ela.

Após um casamento malsucedido aos 17 anos com um


velho general russo, de onde conseguiu seu célebre
sobrenome – Blavatsky - Helena resolveu sair da Rússia e

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iniciou sozinha um périplo de viagens e aventuras pelo
mundo difícil de acreditar, considerando a época e as
restrições culturais às mulheres de então. Há registros de sua
passagem em vários continentes, notadamente na Ásia,
África, Extremo, Médio e Próximo Oriente, Europa e nas
Américas.

Aos 20 anos Blavatsky estava em Londres, quando um


encontro inesperado finalmente deu sentido à sua busca. Ele
ocorreu no Hyde Park em 12 de agosto de 1851. A jovem
Helena contemplava encantada uma comitiva de príncipes
indianos em visita à sede do império britânico. Para seu
espanto, um dos delegados indianos, o mais alto deles,
subitamente dirigiu-se até ela. Blavatsky o reconheceu
imediatamente. Era o oriental cujos olhos a impressionavam
em visões desde a infância.

Tratava-se de um homem de aparência venerável, de


cerca de 40 anos e com pouco mais de dois metros de altura.
Havia nascido no Punjab, Índia, sendo o último rei de um dos
clãs Rajputs. No mundo oculto era conhecido pelo nome
iniciático de El Morya e considerado um dos maiores entre
os que zelam pelos destinos da humanidade. Ele revelou à
jovem Blavatsky o propósito de sua vida, por que ela tinha
sido escolhida pela Hierarquia Oculta e o que se esperava
dela. Daí ter sido ela protegida desde criança.

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Iniciou-se então o treinamento místico de Blavatsky e
ele foi a razão de suas viagens pelo mundo. Tratava-se de
uma fase preparatória. Suas poderosas e inatas faculdades
psíquicas foram finalmente postas sob seu controle e seu
entendimento. Todo traço de mediunidade em si foi
aniquilado e transformado em domínio consciente e ativo
das forças cósmicas. Por numerosos anos, ela foi treinada nos
maiores arcanos do conhecimento esotérico. Tal treinamento
obrigou Blavatsky a se deslocar até mesmo para o Tibete,
sendo a primeira mulher ocidental a entrar no proibido país.

A passagem de Blavatsky pelo Tibete é hoje


confirmada. Ela esteve nas montanhas Karakoran, na capital
Lhasa e em um retiro perto da cidade do Panchen Lama,
Shigatse. Foi-lhe proposto o estudo de antigos manuscritos
em sânscrito, tibetano e na língua internacional dos iniciados,
conhecida pelo nome de Senzar. Ela foi ainda iniciada no
saber de numerosas Escolas Iniciáticas que ainda têm no
Tibete o seu centro oculto.

Helena Blavatsky recebeu atenção e apoio de muitos


Mestres, de várias nacionalidades, da Grande Fraternidade
Branca. Além do seu Mestre pessoal, outro Grande Mestre a
tomou sob sua tutela: o Mestre Kut-Hu-Mi, então nascido no
Kashmir. Associado do Mestre Morya em muitas atividades

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ocultas, Kut-Hu-Mi estava ligado no final do século XIX a
várias associações esotéricas na condição de líder supremo.

Há muito tida como morta pelos seus parentes,


Blavatsky foi finalmente considerada pronta, após nume-
rosos anos de preparação, e enviada de volta ao Ocidente,
sozinha e com uma terrível responsabilidade.

Que missão lhe havia sido imposta?

O Ocidente no final do século XIX estava dividido por


três forças muito marcantes, que colocavam a humanidade
em grande confusão: primeiro, havia o materialismo
científico, oriundo do Renascimento europeu e com auge nas
teses de August Comte, que não deixava outra esperança
para o homem do que a dissolução no nada após uma curta
vida. A segunda força era formada pelos dogmas religiosos
tradicionais, notadamente os cristãos, que convidavam a
uma fé pouco razoável, popularizando a imagem de um
Deus externo e antropomórfico, que emulava as paixões
humanas. A terceira força era a súbita aparição do
espiritismo, cujos espantosos fenômenos explodiram nos
Estados Unidos e na Europa a partir de 1848 e não
encontravam explicação razoável nem na ciência, nem na
religião. Os médiuns se proliferavam, despertando assombro
e paixões.

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Foi neste quadro confuso que deu-se a aparição
pública de Blavatsky em 1874, aos 42 anos, nos Estados
Unidos. Sua primeira intervenção foi no campo do
espiritismo. Naquela época os EUA estavam em polvorosa
com os fenômenos de materialização de pessoas mortas,
proporcionados por dois médiuns que moravam em uma
pequena fazenda na cidade de Chittenden, em Vermont.
Pobres e analfabetos, os irmãos William e Horacio Eddy
tinham, contudo, uma estranha faculdade: em sua presença,
sem que nada fizessem, materializavam-se formas físicas
perfeitas de pessoas. As formas possuíam inteligência,
podendo falar e interagir fisicamente com as pessoas.
Geralmente apareciam parentes já mortos das pessoas que
visitavam os Eddy e, naturalmente, a fazenda tornou-se
lugar de peregrinação nacional. O país estava em ebulição e
só se falava nisso.

O grande jornal americano Dayli Graphic comis-


sionou uma testemunha independente para investigar se
tratava-se de fraude ou verdade. Foi escolhido um cético e
experiente advogado, que tinha prestado serviços importan-
tes ao governo dos EUA e era, inclusive, condecorado na
Guerra da Secessão: o Coronel Henry Steel Olcott. Após
conviver com os Eddy por cerca de sete meses, Olcott

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confirmou a veracidade dos fenômenos e produziu seu
famoso livro: “People From the Other World” (Gente de Outro
Mundo). Tudo indicava que os mortos estavam, de fato,
voltando à vida!

E foi na fazenda dos Eddy que Blavatsky encontrou


Olcott, aquele que viria a se tornar seu companheiro de
missão. Blavatsky escreveu:

“Fui enviada pela minha Loja para a América com um


propósito definido e mandada aos Eddy. Lá encontrei
Olcott apaixonado pelos espíritos. Recebi ordens de fazê-lo
saber que os fenômenos espíritas sem a filosofia do
Ocultismo eram perigosos e ilusórios. Provei a ele que tudo
o que os médiuns podiam fazer através dos chamados
espíritos, outros poderiam fazer à vontade sem qualquer
espírito. O homem possui poderes ocultos de natureza tal
que podem fazer dele um deus na terra, se ele souber como
desenvolvê-los adequadamente. Recebi ordens de começar a
contar ao público a verdade sobre os fenômenos espíritas.”

De fato, Blavatsky podia reproduzir todos os


fenômenos espíritas, mas oferecia a explicação esotérica para
a gênese dos fenômenos, que residiam no próprio homem e
não nos mortos.

Olcott associou-se a Blavatsky na difusão do


extraordinário conhecimento esotérico por ela trazido do

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Oriente. Rapidamente, a insólita dama russa tornou-se uma
celebridade em vários países. Sua erudição parecia não
conhecer limites. Discutia com cientistas nos termos da
ciência, que saíam derrotados em suas próprias áreas por
aquela estranha mulher. Filósofos viam nela um gênio da
filosofia, enquanto os ocultistas reconheceram nela uma
mestra única. Todas as áreas das Ciências Ocultas não só
eram por ela conhecidas, como podia demonstrar, por
maravilhosos fenômenos, tudo o que afirmava. As religiões
do mundo eram suas conhecidas e remontadas, por inúmeras
comparações, a uma mesma identidade. Falava do Sufismo
como o centro do Islamismo, da Cabala como o centro do
Judaísmo; da Gnose como o centro do Cristianismo, da
mística dos Vedas como o centro tanto do Hinduísmo como
do Budismo; explicava ainda o Yoga em termos tão
profundos que espantava os próprios expoentes desta antiga
filosofia, e a comparava com o saber das velhas religiões
nórdicas do Ocidente.

E quando era questionada sobre a origem de seu saber


e de seus poderes, Blavatsky dizia que devia tudo aos
Mestres que a instruíram e que a humanidade possuía um
tesouro de conhecimento oculto zelosamente guardado por
eles. E que era chegado o momento de abrir um pouco os

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portais ao grande público, considerando a nova fase do
planeta.

Para o fomento destes conhecimentos foi criada a


Sociedade Teosófica, em Nova Iorque, em 8 de setembro de
1875 por Blavatsky, Olcott e William Quan Judge, com o
lema: “Não Há Religião Superior à Verdade”. Teosofia, segundo
Blavatsky, constitui-se na Sabedoria Divina, universal e
liberta de quaisquer dogmas, ao contrário da Teologia, que
estuda a Verdade, mas que a colore com os dogmas e
reflexões de um sistema específico.

A Sociedade Teosófica rapidamente se difundiu por


outros países. Célebres homens da ciência, como o cientista
William Crookes, o inventor Tomas Edison e o astrônomo
Camille de Flamarion a ela se associaram. Blavatsky e Olcott
se mudaram para a Índia, onde firmaram a sede da
Sociedade na bela cidade de Adyar, no estado de Madras,
onde ainda hoje permanece.

A missão de Blavatsky consistia também em revelar


tanto conhecimento oculto quanto a humanidade estava
preparada para receber no período, reorientando a ciência, as
religiões e a fenomenologia espírita. Para isso foram por ela
publicados muitas obras, destacando-se duas monumentais,
que marcaram a história. “Ísis sem Véu: Uma Chave-Mestra

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para os Mistérios da Antiga e Moderna Ciência e Teologia”, que
foi publicada em 1877. E em 1888 veio “A Doutrina Secreta -
Síntese da Ciência, Religião e Filosofia”, retomando e
expandindo o conteúdo do livro anterior. Ambos os livros
são de grande riqueza e profundidade e compostos de vários
volumes. Um estudo independente provou que seria
humanamente impossível a uma só pessoa condensar tanto
conhecimento como citar tantas passagens de obras
espalhadas pelo mundo (algumas muito antigas), com acerto
e precisão. O estudo para compor as obras levaria uma vida...

Mesmo obras constantes em bibliotecas distantes e


inacessíveis à época foram citadas por Blavatsky. Henry
Olcott, conta, em uma biografia, como sua colega quase não
possuía obras de referência e acessava os livros de que
precisava na Luz Astral, lendo-os como se os tivesse em
mãos. Seus Mestres também a ajudaram, inspirando e em
alguns casos ditando passagens inteiras.

Ambas as obras abalaram a ciência, a teologia e o


espiritismo. Nelas é revelada uma Sabedoria até então
proibida para a humanidade, mas que ainda hoje é pouco
compreendida. Nos livros discute-se o homem como reflexo
do universo e este como a condensação do Ser Universal; os
sete corpos sutis do ser humano e sua ligação com as sete

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raças e os sete chakras; as doutrinas ocultas de muitas
sociedades místicas e as escrituras sagradas de todas as
religiões citadas, comparadas entre si. Ambos os livros
possuem milhares de páginas e hoje são publicados em
vários volumes em quase todo o mundo, constituindo-se por
mais de 100 anos best-sellers absolutos. No Brasil, são
publicados pela Editora Pensamento.

A vida de Helena Blavatsky foi também carregada de


injúria, sofrimento e ataques, vindos principalmente da
esfera religiosa, os quais apressaram sua morte. A famosa
Sociedade para a Pesquisa Psíquica de Londres criou um
comitê especial para investigar Helena Blavatsky. Como
resultado, em dezembro de 1886, Richard Hodgson preparou
um relatório acusando-a de ser "uma das maiores impostoras
da história”. Contudo, depois de exatos 100 anos, em 1986, a
mesma Sociedade para a Pesquisa Psíquica reconheceu que o
relatório Hodgson fora arquitetado para desacreditar
Blavatsky e, finalmente, a inocentou. O fato confirma as
múltiplas perseguições que Blavatsky atraiu por desafiar os
dogmas tanto da ciência como da religião.

Antes de morrer em Londres, em 1891, Blavatsky disse


que sua missão havia terminado e que apenas dentro de um
século seu trabalho seria reconhecido. Hoje sabe-se que seus

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livros previram boa parte das descobertas científicas do
século XX e influenciaram pessoas como Piet Mondrian, Paul
Gauguin, Gustav Mahler, Jean Sibelius, Alexander Scriabin,
Rudolf Steiner, Mahatma Gandhi, Bernard Shaw, Aldous
Huxley, entre outros. Segundo a escritora Eunice Layton,
Albert Einstein tinha uma cópia de “A Doutrina Secreta” em
sua escrivaninha....

A melhor e mais completa biografia já escrita sobre ela


é o livro “Helena Blavatsky - A Vida e a Influência Extraor-
dinária da Fundadora do Movimento Teosófico Moderno”. De
grande envergadura e escrito com riqueza de fontes pela
historiadora Sylvia Cranston, trata-se do mais acurado
estudo sobre Blavatsky disponível no mundo. Nele é possível
entender por que Blavatsky é uma das personalidades mais
importantes dos últimos séculos e, igualmente, uma das
mulheres mais marcantes da história conhecida. No Brasil, é
publicado pela Editora Teosófica.

O famoso pintor e iniciado russo, Nicholas Roerich,


produziu em 1946 um quadro chamado “O Mensageiro”, em
homenagem à Blavatsky, a enviada dos Mestres da Grande
Fraternidade Branca no século XIX. De fato, Blavatsky é hoje
reverenciada por milhões como a “Mãe do Esoterismo
Moderno”. Foi o legado desta extraordinária iniciada, que
afirmou:

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“Há um caminho íngreme e cheio de espinhos, rodeado de
perigos de todo tipo – mas ainda assim um caminho. É ele
que leva até o Coração do Universo. Para aqueles que
vencem, há uma recompensa de valor indescritível: o poder
de abençoar e salvar a humanidade. Para aqueles que são
derrotados, há outras vidas em que o êxito poderá ser
alcançado.”

Bibliografia

De Blavatsky:

 A Doutrina Secreta (6 volumes). Ed. Pensamento.


 Ísis Sem Véu (4 volumes). Ed. Pensamento.
 A Voz do Silêncio. Ed. Teosófica.
 A Chave para a Teosofia. Ed. Teosófica.

Sobre Blavatsky:

 Helena Blavatsky - A Vida e a influência Extraordinária


da Fundadora do Movimento Teosófico Moderno. Sylvia
Cranston. Editora Teosófica.
 Raízes do Oculto. A Verdadeira História de Madame H. P.
Blavatsky. Henry Steel Olcoot. Editora Gnose.
 A Vida de Helena Blavatsky. A. P. Sinnet. Ed. Civilização
Brasileira

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PAPUS
MAGO, OCULTISTA, INICIADOR

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No céu das Ciências Ocultas, uma das estrelas mais
brilhantes é a do médico francês Gerard Anaclet Vincent
Encausse. Mais conhecido no mundo esotérico como
“Papus”, seu nome iniciático, ele passou para a história do
Esoterismo como uma alma de conhecimentos e poderes
notáveis e ajudou a renovar o Ocultismo e o Esoterismo com
vistas ao século XX.

De seu infatigável labor se beneficiam gerações de


buscadores que encontram em suas orientações um guia
seguro para a evolução espiritual.

Gerard Encausse nasceu em 13 de julho de 1865, em


Coruña, na Espanha, mas sua família se mudou pouco tempo
depois para a França, fixando residência em Paris. O jovem
Gerard mostrou desde cedo um brilhantismo e uma
inteligência superior, além de uma infatigável sede de saber.
Decidiu tornar-se médico e aos 17 anos já estava aprovado na
Faculdade de Medicina de Paris.

Paralelamente aos estudos na faculdade, Gerard


passava horas na Biblioteca Nacional de Paris e na Biblioteca
do Arsenal. Lá acessava manuscritos antigos e meio

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esquecidos, alguns medievais, que tratavam de assuntos
como Alquimia, Cabala e astrologia. Familiarizou-se também
com a antiga filosofia grega e com a sabedoria indiana e
espantou-se ao saber que a humanidade tinha um passado
tão poderoso e avançado, inclusive em tecnologia.

“Por que isso tudo é tão pouco conhecido?”, perguntava-se.

Gerard iniciou-se ainda no conhecimento deixado


pelo químico, alquimista e hermetista Louis Lucas.
Aprofundou-se também nas notáveis obras do iniciado
francês Alexandre Saint-Yves d'Alveydre e estudou com
muita dedicação o material deixado pelo mestre ocultista
Eliphas Levi, que já naquela época era um farol para muitos
estudantes de Esoterismo na Europa.

Em sua caminhada, Gerard encontrou outros jovens


com a mesma paixão pelo Ocultismo e que se recusavam a
cair no frio materialismo da ciência de então ou enredar-se
nos dogmas sem saída das religiões tradicionais.
Rapidamente, ele afirmou-se como o líder de um grupo de
profundos estudiosos em Esoterismo, Ocultismo e
paraciências. Os fenômenos do espiritismo e o que seria o
início da parapsicologia foram objetos de estudo do grupo de
Gerard, além da Teosofia, movimento liderado pela grande
iniciada russa Helena Blavatsky.

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Mas um encontro daria um direcionamento definitivo
às atividades esotéricas de Gerard e refletiria mesmo na
história esotérica ocidental. Ele conheceu e ficou amigo de
Pierre Augustin Chaboseau, outro estudante de medicina e
também um apaixonado pelo Esoterismo. Para espanto
mútuo, tanto Gerard como Chaboseau descobriram que
ambos eram depositários, por vias diversas, da mesma
Iniciação em uma das mais prestigiosas tradições místicas do
Ocidente: o Martinismo. O Martinismo é uma tradição
mística judaico-cristã, que visa, através de práticas e estudos
especiais, liberar o homem de sua ignorância e restaurar seu
direito divino à Iluminação. Tem sua origem no célebre
iniciado francês do século XVII, Louis-Claude de Saint-
Martin, mais conhecido pelo pseudônimo de “Filósofo
Desconhecido”. Por sua elevada sabedoria naquela época as
obras de Saint-Martin chamaram a atenção em vários países.

Tanto Gerard como Chaboseau eram detentores do


grau martinista de “Superior Incógnito”. Após o espanto
inicial, e considerando isso como um sinal auspicioso, Gerard
teve então a ideia de dar ao Martinismo, que até então era
transmitido de mestre a discípulo, em sigilo, o que ele nunca
tivera até então: as feições de uma Ordem Iniciática
estruturada e aberta para iniciar todos os que quisessem
receber sua sabedoria transcendente. Para isso,
primeiramente Gerard e Chaboseau permutaram suas

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iniciações, confirmando-se mutuamente na Tradição
Martinista. Como resultado, em 1888 surgiu a Ordem
Martinista, que se tornaria uma das mais importantes escolas
iniciáticas do Ocidente, ao lado da Rosacruz e da Maçonaria.

A iniciação martinista foi logo transmitida ao grupo


liderado por Gerard e em 1891 foi constituído um Conselho
Supremo para a Ordem, composto de 21 Iniciados,
experientes em Esoterismo, Ocultismo e Cabala. Gerard foi
eleito o Grande Mestre da Ordem, assumindo o pseudônimo
de “Papus”. Este nome foi retirado do Nuctemeron, um
manuscrito iniciático atribuído a Apolônio de Tyana. Na
obra, Papus é o nome do Anjo da Primeira Hora, dedicado à
cura. Muitos dos colegas de Papus fizeram o mesmo,
assumindo nomes iniciáticos representativos de suas
aspirações profundas.

Além de Papus e Chaboseau, o Supremo Conselho


Martinista era formado de pessoas de grande destaque, que
se tornaram famosas no Ocultismo ocidental contem-
porâneo, como Stanislas de Guaita, Victor-Emille Michellet,
Oswald Wirth, Charles Barlet, Josephine Peladan, Paul Sedir,
Chamuel, Marc Haven entre outros. Rapidamente a Ordem
foi estruturada com graus, iniciações e ensinamentos.

Apesar de todo esse labor, Papus ainda não havia se


graduado em medicina e contava com pouco mais de 20 anos,

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mas já se afirmava como um líder no meio ocultista europeu.
Inaugurou a “Escola Livre Superior de Ciências Herméticas”,
desejando com ela criar uma Universidade que ministrasse
estudos místicos a quem desejasse recebê-los, a exemplo das
universidades profanas. Ajudou ainda o amigo Stanislas de
Guaita a restaurar a Ordem Kabalistica da Rosa-Cruz, onde
a Cabala era o tema principal dos estudos. Finalmente, em
1887, Papus graduou-se como Doutor em Medicina, com
uma elogiada tese sobre as analogias histológicas entre os
órgãos.

Para melhor divulgar as atividades martinistas, Papus


fundou revistas de divulgação da Ordem: “A Iniciação”,
“Misterya” e “O Véu de Ísis”, todas dedicadas às Ciências
Ocultas, que por muitos anos se constituíram em um tesouro
de conhecimentos iniciáticos e hoje são célebres no mundo
do Esoterismo.

Através do labor infatigável e administração eficiente


de Papus, a Ordem Martinista expandiu-se e as primeiras
Lojas foram criadas. Em poucos anos a Ordem estava
implantada no mundo. A Revista “A Iniciação” de 1898
informava o número de 113 Lojas Martinistas, em quase
todos os continentes. Todos os iniciados martinistas
operavam sob a autoridade iniciática de Papus, o qual
também associou-se, ele mesmo, a inúmeras Escolas

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Iniciáticas, como a Rosacruz, a Maçonaria, a Igreja Gnóstica,
os Iluminados, os Babistas e muitos outros, afirmando-se
assim como um mestre em muitas áreas do Esoterismo.

Apesar de sua juventude, o nome de Papus era


pronunciado nos meios esotéricos com respeito e admiração.
Ainda cedo, já tinha lançado alguns livros de envergadura e
erudição, que lhe deram notoriedade em vários países. Obras
como “O Tratado Elementar de Ciências Ocultas”, o “Tratado
Elementar de Magia Prática”, o “Tarô dos Boêmios” e outras. E
isso tudo antes de completar 23 anos!

O caminho iniciático de Papus passou pelo domínio


da Magia Cerimonial, que atuava com as forças elementares,
direcionadas pela vontade treinada do mago para inúmeros
fins. Atuou também na Teurgia, cujos ritos estabeleciam uma
comunicação psíquica com as Hostes Angélicas. Finalmente,
aprofundou-se na Mística, a comunhão direta com o Grande
Arquiteto do Universo, ou Deus. Este último caminho foi
inaugurado graças ao seu encontro com o misterioso
taumaturgo e curador francês Philippe de Lyon, famoso por
possuir poderes crísticos, como a cura instantânea de várias
doenças pelo simples comando de sua voz, e até alguns casos
de ressurreição de mortos. O Mestre Phillipe também
dominava os quatro elementos e podia tanto provocar uma

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tempestade como cessá-la pela sua vontade, além de muitos
outros feitos extraordinários.

Phillippe de Lyon seria o Mestre Espiritual de Papus e


rapidamente foi apresentado às escolas lideradas pelo jovem
Mago. Com o Mestre, Papus foi à Rússia a convite da então
família imperial daquele país. Fizeram ao todo três viagens,
em 1901, 1905 e 1906. Enquanto Mestre Phillippe
prodigalizou muitas curas na Rússia, sendo mesmo honrado
por Nicolau II com o título de “médico imperial”, Papus
tornou-se conselheiro do Czar. Seria muito comentada uma
cerimônia ocultista privada, na qual Papus, a pedido de
Nicolau II, teria invocado a presença espiritual do avô do
líder russo, o Czar Alexandre III, o qual teria aconselhado
Nicolau sobre o que fazer diante dos motins que se
espalhavam por Moscou e ameaçavam se transformar em
uma revolução. Rasputin, já implantado na corte de Nicolau,
temia e invejava Papus, vendo nele um obstáculo à influência
que desejava ter sobre a família imperial.

Papus teria dito que a chegada de Rasputin à corte


seria o início do fim do Império Russo. Além disso, Papus
disse ao Czar Nicolau II que a revolução russa não ocorreria
enquanto ele, Papus, estivesse vivo, por ocasião da cerimônia
oculta realizada em benefício do país. Coincidência ou não,

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Papus morreu em 1916 e a revolução só estourou em 1917,
com um trágico fim para a família imperial.

Outro empreendimento ocultista de envergadura de


Papus foi a organização da Grande Convenção Espiritualista
Internacional de Paris, em 1908. O evento reuniu nada menos
do que 30 organizações iniciáticas do mundo todo e foi
presidido por Papus. O secretário da Convenção foi outro
iniciado martinista, Victor Blanchard, que retomaria a ideia
de Papus décadas depois, originando a hoje famosa
Federação Universal das Ordens e Sociedades Iniciáticas, a
FUDOSI.

Como médico, Papus notabilizou-se por inúmeras


curas. Aplicava a Alopatia para as doenças puramente
físicas, a Homeopatia para as doenças psíquicas e a Magia
para os distúrbios de origem espiritual. Sua fama como
clarividente e profeta também se espalhou pela França, tendo
previsto com acerto inúmeros fatos importantes na política
do país, como a renovação da Câmara dos Deputados, em
1914. Mas uma dessas predições ficaria famosa: ao visitar o
ateliê de seu amigo, o desenhista Guilonmet, Papus ficou
impressionado com o retrato de uma bela dama, toda de
negro. Vendo na Luz Astral, predisse que ela causaria luto e
ruínas, concluindo que ela morreria tragicamente. A profecia

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se cumpriu. O retrato era de Mata Hari, a famosa espiã dos
países baixos.

Papus morreu em 1916, deixando uma obra


impressionante e uma bibliografia esotérica imponente, que
lhe valeu o apelido de “O Balzac do Ocultismo.” Já a Ordem
Martinista, fundada por ele e Chaboseau, encontra-se hoje
praticamente em todo o mundo, prodigalizando seus
excelsos ensinamentos a muitos buscadores.

Muitas correntes originaram-se da Ordem Martinista


de Papus, atuando de forma benéfica no mundo. A maior e
mais bem estruturada, e que remonta ao Supremo Conselho
original da Ordem, é conhecida como “Tradicional Ordem
Martinista”, administrada pela Antiga e Mística Ordem
Rosacruz, AMORC. Assim, como no passado,
Rosacrucianismo e Martinismo continuam caminhando
estreitamente ligados...

Nas exéquias fúnebres de Papus, seu discípulo, o


famoso ocultista Paul Sedir, disse:

"Imitemos esse Iniciador, que desejou não ser mais do que


um amigo para nós e que foi bastante forte ao ponto de nos
esconder suas dores e seus desgostos sob um perpétuo
sorriso. Enxuguemos nossas lágrimas; elas o reteriam nas
sombras; regozijemo-nos, como ele próprio há três dias o
fez, por rever finalmente face a face o Todo Poderoso

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Terapeuta, o autêntico Pastor das Almas, o Amigo Eterno,
o Bem Amado de quem ele foi fiel servidor. Digamos juntos
a Gérard Encausse um ‘até logo’ vibrante; vamos dar a ele,
por nossas boas vontades doravante infalíveis, a única
recompensa digna das tão longas penas que ele suportou
por nós"

Bibliografia

De Papus:

 Tratado Elementar de Magia Prática. Ed. Pensamento.


 Tratado de Ciências Ocultas (2 volumes). Ed. Três.
 ABC do Ocultismo. Ed. Martins Fontes.
 Taro dos Boêmios. Ed. Ícone.
 A Cabala. Ed. Martins Fontes.
 A Reencarnação. Ed. Pensamento.

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RUDOLPH STEINER
O MÍSTICO UNIVERSAL

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Filosofia, Esoterismo, medicina, educação,
agricultura, arte, matemática, arquitetura, religião e política
são algumas das áreas do saber humano que foram
dominadas e transformadas por um só homem, tornando-as
em seu ideal mais nobre. Este homem foi uma das figuras
mais marcantes do século XX e conhecido nos meios
ocultistas como um de seus maiores representantes. Estamos
falando de Rudolph Steiner.

Steiner nasceu em Kraljevec, um pequeno e pacato


condado na fronteira austro-húngara, em 1861. Apaixonado
pela vida no campo, cedo dedicou-se a apreciar as belezas da
natureza, o que lhe desenvolveu uma visão filosófica
incomum. Isso o levou a doutorar-se aos 22 anos em Filosofia,
com trabalhos dedicados a Fichte, um dos maiores nomes do
Idealismo Alemão. Ainda antes dos 24 anos, Steiner
aprofundou-se na vida e obra de Goethe a ponto de ser
reconhecido como um dos maiores especialistas sobre o
grande escritor alemão, e de poder explicar minuciosamente
o pensamento e os detalhes teóricos do célebre autor.
Paralelamente ao seu labor filosófico, Steiner abriu-se para o
pensamento místico, pois desde sua juventude desenvolveu

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de forma natural certos sentidos psíquicos, possibilitando-
lhe ver e ouvir o que outros não podiam.

Foi apenas natural que, imbuído desta vantagem, ele


procurasse unir-se a algum movimento onde esses assuntos
fossem tratados com seriedade. A escola escolhida foi a
Sociedade Teosófica, fundada em 1875 pela famosa ocultista
russa, Helena Petrovna Blavatsky. Dedicando-se com afinco
à Teosofia, Steiner rapidamente tornou-se um de seus
maiores expoentes na Europa e uma autoridade reconhecida.
Steiner permaneceu na Sociedade Teosófica por 10 anos, mas
resolveu dela desligar-se ao entender que os ensinamentos
originais de Helena Blavatsky já não eram mais perpetuados
em sua essência pelos então líderes teosóficos. Contudo,
inspirado pela Teosofia, Steiner fundou a Sociedade
Antroposófica.

Segundo ele, a Antroposofia - A Sabedoria do Homem


- coloca o ser humano como o centro da busca que deverá
levá-lo ao conhecimento e vivência da Verdade Universal.
Incorporando conceitos da Teosofia de Blavatsky e
agregando suas próprias reflexões e descobertas, Steiner
montou um edifício filosófico imponente, com grandes
consequências práticas para a humanidade.

A partir daí seu nome entraria para a história. Disse


Steiner:

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“A Antroposofia, o corpo de conceitos derivados da Ciência
Espiritual, coloca o Antrophós (Homem) como parti-
cipante efetivo do mundo espiritual através de seus corpos
superiores, tornando assim evidente no mesmo o conceito
do Theós (Deus).”

Rudolph Steiner tinha também o desejo de reformar


muitas áreas da atuação humana à luz da Antroposofia, pois
eram, segundo ele, muito materialistas. Para isso, além dos
ensinamentos esotéricos, filosóficos e metafísicos próprios da
Antroposofia, ele criou, por exemplo, a Medicina
Antroposófica, a qual era inspirada na Homeopatia e possuía
uma farmacopeia própria. Este sistema de cura original trata
do doente e não da doença, enxergando o ser humano como
um ente holístico. Steiner criou ainda a Agricultura
Biodinâmica, semelhante à Agricultura Orgânica, mas que
inclui muitos conceitos esotéricos, enfatizando as pers-
pectivas espirituais dos alimentos.

Não bastando, Steiner, preocupado com a nota


materialista da educação de seu tempo, que se destinava a
entulhar o cérebro de conceitos e apenas preparar o
estudante para o exercício competitivo de uma função
remunerada, criou a Pedagogia Waldorf, um sistema
educacional completamente diferente onde a criança é
educada desde cedo em contato com a natureza e de forma
holística, desenvolvendo suas fases corporal, intelectual,
artística e espiritual. Nela o jovem é preparado a pensar por
si mesmo e não pelos outros.

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Semelhantemente, um sistema político mais ético e
espiritual foi pensado por Steiner, visando uma humanidade
livre da corrupção e devolvendo à política o seu conceito
original e elevado. Steiner ainda criou novos conceitos em
arte e arquitetura, pois entendia que essas áreas colaboravam
muito com o refinamento espiritual do ser humano. Este
último conceito ficou notabilizado na arquitetura da sede da
Sociedade Antroposófica, projetada por ele, o Goetheanum,
erigido em Dornach, Suíca, no início da década de 1920.
Inteiramente em madeira, sua arquitetura priorizava as
curvas e a energia das formas. Mas a exemplo do que ocorreu
com a Escola de Pitágoras, em Crotona – escola da qual
Steiner reviveu alguns conceitos – o surpreendente edifício
antroposófico foi destruído em 1922 por um incêndio
criminoso - tal qual acontecera com a antiga sede de
Pitágoras. Felizmente, em 1928 o Goetheanum foi reerguido,
em concreto, respeitando os conceitos originais do primeiro
edifício. Construído no mesmo lugar do original, ainda hoje
é a sede mundial da Antroposofia, e inclui salas de aula,
teatro, biblioteca e escritórios em uma belíssima paisagem.

Rudolph Steiner foi ainda um grande clarividente.


Podia acessar os Arquivos Acásicos no éter cósmico e dali
extrair informações com facilidade. Esse fato era notado nas
suas extraordinárias palestras, as quais ele dava sem
consultar qualquer fonte física, abordando toda sorte de
temas esotéricos e filosóficos com elegância e profundidade.

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A autoridade espiritual, filosófica, artística e científica
de Steiner se espalhou por muitos países e a Antroposofia
ganhou filiais em várias partes do planeta. Sua obra literária
foi vasta, assim como os livros inspirados em sua filosofia,
que continuam sendo escritos abundantemente.

Rudolph Steiner faleceu em 30 de março de 1925,


deixando um legado riquíssimo e espantoso, levando em
consideração que partiu da mente de um só homem. A
Sociedade Antroposófica por ele fundada é uma das escolas
espirituais mais respeitadas do Ocidente e conta com um
profícuo trabalho de regeneração da humanidade que é
reconhecido mundialmente, com aplicações práticas em
vários setores da vida humana.

Já a Pedagogia Waldorf é hoje reconhecida pela


Unesco e têm escolas em todos os continentes. Como no
passado, ela ainda combate a educação materialista com uma
forma mais refinada de instrução. Já a Medicina
Antroposófica, a exemplo da Homeopatia, granjeou
reconhecimento e hoje forma médicos holísticos em muitas
partes do planeta, assim como a Agricultura Biodinâmica
conta com entusiásticos aplicadores nos quatro cantos do
orbe.

Místico, filósofo, terapeuta, artista e cientista, Rudolph


Steiner desejou reconstruir a humanidade por meio de uma
nova filosofia, baseada sobretudo no amor desinteressado,
pois assim foi sua vida, uma perpetua doação de si mesmo.

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Pois Steiner afirmou:
“O Ocultismo diz: o amor é para o mundo o que é o Sol
para a vida exterior. Nenhuma alma poderia mais crescer
se o amor fosse eliminado do mundo. O amor é o Sol moral
do mundo. Não seria absurdo, para uma pessoa que tem
prazer e interesse no crescimento das flores de um prado,
desejar que o Sol desaparecesse do mundo? Assim, é uma
atitude sábia semear tanto amor quanto possível na Terra.
Não há nada mais sábio do que promover o amor na Terra.”

Bibliografia

De Steiner:

 As Manifestações do Karma. Ed Antroposófica.


 A Ciência Oculta. Ed Antroposófica.
 Filosofia da Liberdade. Ed Antroposófica.
 Educação Prática do Pensamento. Ed Antroposófica.
 O Conhecimento Iniciático. Ed Antroposófica.
 A Fisiologia Oculta. Ed Antroposófica.

Sobre Steiner:

 Rudolf Steiner. Johannes Hemleben. Ed Antroposófica.


 A Filosofia de Rudolf Steiner. Andrew Welburn. Ed.
Madras

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ELIPHAS LEVI
E O DESPERTAR DOS MAGOS

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Os ocultistas europeus que fizeram história no século
XIX e influenciaram as gerações posteriores, como Papus e
Stanislas de Guaita, sempre apontavam um nome com
gratidão e reverência, vendo nele um Mestre reconhecido:
Eliphas Levi.

Se Papus é reconhecido como o renovador do


Ocultismo europeu, Eliphas Levi é visto nada menos como o
responsável pelo seu despertar. Cabalista, mago, ocultista,
historiador, filósofo, poeta e artista, qual é a verdadeira
história por trás desse homem a quem gerações de
buscadores espirituais proclamam como o maior Ocultista do
século XIX?

Alphonse Louis Constant nasceu em Paris em 8 de


fevereiro de 1810, em uma família simples. Ingressou no
presbitério da Igreja Católica de Saint-Louis em L´lle e, mais
tarde, no Seminário de Saint-Nicolas du Chardonnet.
Decidido pela carreira eclesiástica, foi transferido para o
seminário de Issy para cursar Filosofia e, na sequência, esteve
em Saint-Sulpice, onde estudou Teologia. Ordenado Diácono
em 19 de dezembro de 1835, Alphonse Constant quase foi

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ordenado sacerdote, se não fosse pelo amor que sentiu por
uma jovem, sua protegida. Em função disso, teve que
abandonar a vida religiosa, para o choque de seus familiares
e amigos.

Assim, após mais de duas décadas de vida eclesiástica,


Alphonse deixou o seminário para enfrentar o mundo, e é
neste período que o Grande Mistério começou a se instalar
em sua vida. Após tentar a vida através de vários trabalhos,
sobretudo como pintor e jornalista, em 1839 Alphonse sentiu-
se atraído para o Convento de Solesmes, na época presidido
por um abade herege. Na biblioteca do Convento, que
dispunha de mais de vinte mil volumes, Alphonse
mergulhou no estudo das religiões, do gnosticismo e também
do Ocultismo, Cabala e Astrologia. A mística cristã apareceu-
lhe sob outros contornos, e quando deixou o mosteiro, levou
consigo maior iluminação.

Na historiografia oculta, aventa-se que foi também


neste período que Alphonse fez sua iniciação na misteriosa
Fraternidade da Rosa+Cruz, assim como conheceu os
mistérios martinistas. Mais tarde ele viria ainda a ser iniciado
na Maçonaria. Os ensinamentos de Grandes Iniciados, como
Raimundo Lulio e Henry Cornelle Agripa foram-lhe
revelados, além da Santa Cabala, da qual ele se tornou um
Mestre e propagador. A partir daí, assumiu o pseudônimo

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místico de Eliphas Levi, nome com o qual se eternizaria. Seu
saber passou a ser tão profundo, sua erudição tão
espetacular, e seus poderes místicos tão desconcertantes, que
lhe valeram a perseguição da Igreja Católica, que antes o
acolhera e a qual, não obstante, ele nunca deixaria de
defender.

Acusado de apostasia, heresia e mesmo


insubordinação política, chegou a ser preso, mas a Luz que
doravante brilhava em sua alma não podia mais ser refreada.
Várias viagens levaram-no a contatar ocultistas em vários
lugares da Europa, notadamente o filósofo e matemático
franco-polonês Josef Maria Hoëné-Wronski, que era também
um grande Iniciado, e o famoso místico inglês Edward
Bulwer Lytton, autor de inúmeros livros de sucesso,
sobretudo da novela rosacruz Zanoni, considerada o maior
romance ocultista da modernidade.

O encontro de Eliphas Levi e Bulwer Lytton ocorreu


em 1854, em Londres, e juntos realizaram inúmeras
cerimônias ocultistas secretas, trocando conhecimentos e
habilidades. Muitos registros dessas cerimônias foram,
posteriormente, parar na mão de Papus, um dos discípulos
póstumos de Eliphas Levi. Uma cerimônia mística, contudo,
seria muito comentada pelos discípulos de Levi: junto com
Lytton, Eliphas Levi teria realizado uma operação de Alta

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Magia onde uma comunicação psíquica teria sido
estabelecida com três Grandes Mestres da humanidade:
Jesus, São João e Apolônio de Tyana. Como resultado, as
chaves da interpretação do Livro do Apocalipse, da Bíblia, e
sobretudo dos setes selos, teria sido entregue aos dois
Adeptos. De fato, em seus escritos, Eliphas Levi sempre
afirmava que o Apocalipse de São João é um livro cabalístico
e somente compreensível com as chaves fornecidas pela
Cabala.

Mas foi no ano seguinte, 1855, que surgiu o livro que


é considerado um divisor de águas dentre as publicações
esotéricas dos últimos séculos. Eliphas Levi publicou o seu
“Dogma e Ritual de Alta Magia.” Sublime, poético, erudito,
desconcertante, não faltam adjetivos para caracterizar esta
obra, de leitura obrigatória para todo estudante de
Esoterismo. Nela Eliphas expõe tanto o Dogma do
Ocultismo, como o Ritual pelo qual as Leis Cósmicas operam,
estando nas mãos do autêntico iniciado o controle e o
domínio de saber tão prodigioso. Aventa-se que este livro
tenha sido confeccionado num ambiente Rosacruz, a Ordem
principal à qual Eliphas Levi pertencia. De todo modo, desde
sua publicação, foi imediatamente aclamado e nunca mais
deixou de ser reimpresso, sendo ainda hoje um livro
procuradíssimo, tanto por curiosos como por verdadeiros
estudantes.

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Diz Eliphas Levi no Prólogo:

“Descobertos os grandes segredos da religião e da ciência


dos magos, com a consequente revelação da unidade do
dogma universal ao mundo, o fanatismo é destruído e os
milagres explicados pela razão. O verbo humano, criador
das maravilhas humanas, casa-se com o verbo divino para
sempre e produz a cessação da antinomia universal,
fazendo-nos entender que a harmonia é decorrente da
analogia dos contrários.”

Um dos grandes axiomas místicos de Eliphas Levi,


constantes neste livro, e que desconcerta muitos leitores não-
iniciados, é:

“O Diabo é Deus visto ao contrário.”

Em outras palavras, o diabo é apenas a ausência de


Deus, assim como a escuridão não é um ente positivo, mas
ausência de luz. O diabo, segundo Eliphas Levi, é a
ignorância quando não iluminada pela sabedoria. Assim, o
homem carrega em si Deus e o diabo, a sabedoria e os vícios.
O livre-arbítrio lhe foi dado para vencer um em benefício do
outro.

No “Dogma e Ritual de Alta Magia” encontram-se


também desenhos admiráveis de simbologia oculta,
ilustrando princípios cósmicos, todos da pena do próprio

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Eliphas Levi. Três deles entrariam para o inconsciente
coletivo dos leitores ao redor do mundo: A figura de
Baphomet, ou Bode de Mendes, associada pelos não-iniciados a
Satanás, e que assusta muitos ainda hoje, é na verdade um
arquétipo esotérico antigo, que representa a iniciação. Sua
explicação oculta é dada por Eliphas Levi no livro.

Outro emblema muito famoso é o Selo de Salomão,


estilizado por Levi. Ali temos o entrelaçamento do
macrocosmo e do microcosmo, a Lei Mística que diz que
“Tudo está em Tudo”. Por fim, o Pentagrama associado ao
nome de Deus em hebraico ou Tetragramaton. Neste belo
símbolo tem-se o homem completo e iniciado, aquele que
encontrou Deus.

A partir de então, outros livros magistrais seriam


publicados por Eliphas Levi, com o mesmo sucesso: “O
Grande Arcano”, “História da Magia”, “A Chave dos Grandes
Mistérios”, “As Origens da Cabala”, “Os Paradoxos da Sabedoria
Oculta” etc. Muitos desses livros estão hoje traduzidos em
inúmeras línguas e no Brasil vieram a lume pela Editora
Pensamento.

No Livro “Curso de Filosofia Oculta”, temos publicada


parte da correspondência iniciática trocada entre Eliphas
Levi e um de seus mais avançados discípulos, o Barão
italiano Nicolas de Spedalieri, martinista e estudioso da

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Cabala. Posteriormente, o Barão Spedalieri transmitiria
muitos escritos de seu mestre à fantástica iniciada russa
Helena Blavatsky, a qual citou Levi em vários de seus livros.
Alguns historiadores aventam que Eliphas Levi e Blavatsky
chegaram a se encontrar, uma vez que ambos eram
mensageiros da Grande Fraternidade Oculta que dirige os
destinos espirituais da humanidade: a Grande Fraternidade
Branca.

A esta altura, Eliphas Levi já era uma celebridade,


sendo contatado por estudantes ocultistas e mesmo
detratores de vários países. Aclamado, odiado, temido,
perseguido, sempre se manteve humilde, preferindo a
caridade ao invés da vingança. Ele foi o Mestre em torno do
qual orbitou a próxima geração de ocultistas europeus,
liderados por Papus.

Eliphas Levi faleceu em 31 de maio de 1875, tendo sido


força para os fracos, cura para os enfermos, sabedoria para os
ignorantes e Mestre para os ocultistas. Seu nome é sinônimo
do Mistério e da Magia, permanecendo brilhando na
constelação cósmica daqueles que se apaixonaram pela
Verdade.

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Bibliografia

De Eliphas Levi:

 Dogma e Ritual de Alta Magia. Ed. Pensamento


 A História da Magia. Ed. Pensamento
 A Chave dos Grandes Mistérios. Ed. Pensamento
 As Origens da Cabala. Ed. Pensamento
 A Ciência dos Espíritos. Ed. Pensamento
 Curso de Filosofia Oculta. Ed. Pensamento
 O Grande Arcano. Ed. Pensamento
 Os Paradoxos da Sabedoria Oculta. Ed. Pensamento

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STANISLAS DE GUAITA
E O CABALISMO ROSACRUZ

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A bele époque do Esoterismo francês do século XIX fez
surgir personagens de vulto como Eliphas Levi, Saint-Yves
d'Alveydre, Papus, Charles Barlet entre outros e que muito
contribuíram para o redespertar do Esoterismo e do
Ocultismo ocidentais na modernidade e, certamente, uma
das maiores colunas deste edifício místico foi a nobre figura
de Stanislas de Guaita.

Mago, ocultista e, sobretudo, cabalista, ele foi um


Mestre para muitos e um colega fiel para uma elite de
iniciados. Seu trabalho, em sua curta vida, ainda reverbera
em milhares de corações agradecidos pelas gemas ocultas
que ele soube dispensar tão dadivosamente.

Marie Victor Stanislas de Guaita nasceu em 6 de abril


de 1861 em Alteville, na Lorraine Francesa. Em um Colégio
de Jesuítas, em Nancy, onde estudava, Guaita teve como
colega o célebre escritor Maurice Barrès, e ambos
costumavam ficar até alta madrugada na leitura de poemas
inspiradores. Aqueles momentos elevavam a alma de Guaita
e permitiram sua comunhão com o inefável. Mas um novo
desejo brotava com violência na alma do jovem poeta: o

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desejo pelo oculto e pelo esotérico, pelas chaves iniciáticas
que permitem alcançar a Verdade.

Com a conclusão do ensino médio, Guaita moveu-se


para Paris para cursar a Faculdade de Direito e lá conheceu
as obras do grande mago cabalista Eliphas Levi, encontrando
nelas o que antes buscara em vão. Além disso, colocou-se em
contato com os esoteristas parisienses. Um deles, em especial,
chamou sua atenção. Era Joséphin Péladan, que já naquela
época escrevia obras místicas assinando como “Sar Mérdack”
(o título místico “Sar”, usado por Péladan, significa “Filho de
Rá” ou “Filho do Sol” e era usado pelos reis da antiga
Assíria). O título seria retomado mais tarde, após a morte de
Péladan, pelos dignitários da famosa “Federação Universal
das Ordens e Sociedades Iniciáticas”, a FUDOSI. Em Sar
Mérdack, Guaita encontrou um guia e um iniciado
inspirador. Assim como Eliphas Levi, Joséphin Péladan
estava ligado à Tradição Rosacruz, mas devia seus
conhecimentos ao seu irmão, Adrien Péladan, médico
homeopata que fora iniciado em um dos ramos europeus da
Ordem, situado na cidade francesa de Tolouse. Já o iniciador
de Adrien foi, provavelente, Firmin Boissin, que era
Comendador da Ordem Rosacruz de Tolouse.

Com a amizade estabelecida entre Joséphin e Guaita,


seguiu-se uma troca de cartas entre os dois místicos,

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versando sobre assuntos esotéricos variados, sobretudo a
Cabala. Não tardou para que, provavelmente através de
Adrien Péladan, Guaita contatasse Firmin Boissin e, por meio
dele, o ramo Rosacruz de Tolouse, sendo lá iniciado. Em
consequência, recebeu a missão de restaurar uma seção da
Ordem dedicada ao estudo da Cabala: surgiu então a Ordem
Cabalística da Rosacruz, que teria muito prestígio na elite dos
iniciados europeus. Essa Ordem iniciava seus afiliados no
estudo profundo da Cabala, concedendo os graus de
licenciado, mestre e doutor em Cabala. O Conselho Supremo
da Ordem era composto por 12 Iniciados, 6 visíveis e 6
invisíveis. O Supremo Conselho era ainda formado por três
Câmaras, todas submetidas ao Grão Mestre da Ordem:
Guaita. Pouco antes de se iniciar na Rosacruz, Guaita
conheceu o famoso mago Papus e logo se inseriu no grupo
liderado pelo célebre médico místico.

Com Papus, Guaita assumiu a missão de reavivar o


Esoterismo na Europa. Além disso, ajudou Papus a
estabelecer a Ordem Martinista, outra Ordem iniciática que
teria um elo muito estreito com a Ordem Cabalística da
Rosacruz. Juntas, as duas tradições, Martinismo e
Rosacrucianismo, deram continuidade à sua associação de
outros tempos, num formato mais moderno e com maior
difusão. A lista dos iniciados aumentou rapidamente.

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Assim como Papus, Guaita mal completara 20 anos e
já se afirmava como um líder no meio esotérico europeu.
Seus estudos rosacruzes e cabalísticos lhe proporcionaram
uma série de iluminações que o tornaram um verdadeiro
guia para muitos estudantes. Quando Papus fundou a
Universidade Livre de Ciências Ocultas e a Escola de
Magnetismo de Lyon, Guaita ajudou-o na liderança do
empreendimento e ministrava aulas de hebraico, Cabala,
tarô, astrologia, história oculta, magia e medicina oculta.

A Universidade formava um círculo externo de


recrutamento para a Ordem Martinista, da qual Papus era o
Grão Mestre. Esta, por sua vez, era o círculo intermediário
para uma Ordem ainda mais interior: a Ordem Cabalística da
Rosacruz. Assim, a grande massa de interessados era filtrada
paulatinamente e só os verdadeiramente merecedores alcan-
çavam o conhecimento final.

De ascendência nobre e tendo herdado consideráveis


propriedades, Guaita podia passar todo seu tempo dedicado
às pesquisas ocultistas e ao gerenciamento das Ordens e
atividades místicas. Possuía em Paris uma bela mansão com
uma estupenda biblioteca esotérica, palco de muitas reuniões
proveitosas. Já em sua cidade natal, Alteville, herdara um
castelo, no qual passava metade do ano. Lá ele tinha um
laboratório de Alquimia, o qual, segundo a lenda, era

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guardado por um espectro diáfano que assustava os
empregados do castelo.

Autores célebres do misticismo como Paracelso, Jacob


Boehme, Martines de Pasqually, Fabre d´Olivet, Louis-
Claude de Saint-Martin, Abade Tritheme e muitos outros, de
várias épocas, foram estudados em profundidade por
Guaita, que também possuía faculdades clarividentes que lhe
permitiam consultar na Luz Astral as informações de que
precisava.

Apesar de seu conhecimento, suas capacidades


psíquicas, sua posição eminente nas Ordens Esotéricas,
Stanislas de Guaita era humilde e uma alma simples. Vivia
de forma quase ascética. Disse ele:

"A sabedoria é o único egoísmo permitido, a glória é a única


realidade aceitável quando ela é conquistada nas alturas.
Não devemos deixar que a vida nos lastime, que entorpeça
pelas circunstâncias exteriores o esforço de perfeição in-
dividual. O mago deve libertar-se do mundo, e não sofrer
nele."

Outra atividade digna de nota de Stanilsas de Guaita foi


unir forças com Papus e todos os ocultistas a eles associados,
em uma guerra sem tréguas contra a magia negra, muito
praticada na época e mantida viva graças ao medo e à
superstição. Julgou-se necessário retirar os magos negros de

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seus covis, expô-los à luz do conhecimento e denunciá-los
ante o tribunal da Verdade. Assim, o Abade Boullan,
suspeito de atividades sombrias, foi investigado por uma
comissão de ocultistas designada por Guaita. Descobriu-se,
efetivamente, que o abade dedicava-se a missas negras, com
práticas deletérias que incluíam orgias e demais ações
prejudiciais à saúde psíquica dos praticantes. Boulan era
discípulo de outro mago negro já desmascarado no passado
por Eliphas Levi, Eugênio Vintras. Foi baseada nessa ação
salutar de Guaita e seus associados, que nasceu o seu
surpreendente livro “O Templo de Satã”. Apesar do nome, a
obra destinou-se a desnudar a prática da magia negra, seus
artifícios, apetrechos e procedimentos, além de revelar que,
apesar da existência e da prática do mal no mundo, o mesmo
tira seu poder do egoísmo e da ignorância. O diabo nada
mais é do que o obstáculo interior a vencer. A sombra no
interior do homem. Basta um pouco de luz para que as trevas
se dissipem, basta um pouco de sabedoria para que o mal se
transforme em bem. Sobre os magos negros, declarou Guaita:

“Nós os condenamos ao Batismo da Luz.”

Com relação a toda a sua atividade iniciática, uma vez


interrogado por Oswald Wirth sobre as consequências de seu
trabalho, Guaita ainda afirmou:

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“Quando esses Iniciados chegam a praticar, passando pela
Terra, algum bem a seus semelhantes, isto é, a seus irmãos
menores, acreditai, eles nada mais têm a desejar e possuem
em verdade a paz profunda da Rosa+Cruz!"

Seu projeto literário deu nascimento a outro livro, um


marco no Esoterismo: em 1886, com apenas 25 anos e já com
tanto labor e autoridade mística, Guaita lançou a obra “No
Umbral do Mistério”. De imediato sucesso no meio ocultista, o
livro ganhou sucessivas reedições ampliadas, e selou a
autoridade de Guaita como mestre ocultista. Discípulo
apaixonado de Eliphas Levi, Guaita colocou nesta obra uma
síntese dos conceitos da alta magia. Tanto este livro, bem
como “O Templo de Satã” foram lançados no Brasil em
português pelas editoras Martim Claret e Planeta. No
momento, fora de catálogo.

Em 1897, pressentindo que sua vida seria curta e em


breve faria sua passagem para os planos espirituais, Guaita,
já acamado e com muitas dores, chamou seu mais amado
companheiro, Papus, para lhe transmitir a direção da Ordem
Cabalística da Rosacruz. Pouco depois, com 36 anos, renascia
no Reino Cósmico. Seu passamento foi lamentado por uma
constelação de iniciados e estudantes de Esoterismo.

Com um labor iniciático incansável, líder no meio


esotérico, combatente das forças vis e da superstição,
ansiando pela iluminação de seus semelhantes, Guaita foi

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um marco na história do Esoterismo moderno, tendo sido
uma das mais belas flores naquilo que o historiador esotérico
Christian Rebisse chamou de “o roseiral dos magos”. Nada
mais justo que para homenagear Stanislas de Guaita,
encerremos esta breve biografia com a proclamação de
abertura que consta no seu livro “No Umbral do Mistério”,
talvez a mais bela sentença iniciática já emitida, um
verdadeiro brado e convite a todos os homens desejosos de
iluminação:

“Sursum Corda! Esse é o clamor das Almas que aspiram


à Imortalidade. Essa é a divisa dos Hierarcas que labutam
pela Ascensão. É o Verbo dos Chamados que serão Eleitos!
O Triângulo Divino flameja por sobre os cumes. Em
direção a ele se eleva a dupla Escada de Jacó, cujos altos
degraus perdem-se entre as nuvens, desaparecidos em meio
ao nevoeiro. Aqueles que se encontram abaixo perdem-nos
de vista, enquanto eles, no alto, recebem a Iniciação.”

Bibliografia

De Guaita:

 No Umbral do Mistério. Ed. Martin Fontes


 Templo de Satã (2 volumes). Ed. Três

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ALEXANDRA DAVID-NÉEL
E O MISTICISMO TIBETANO

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Tibete... o misterioso telhado do mundo, a terra das
neves, proibida por séculos aos estrangeiros. Reino de magia
e mistério que embalou a imaginação dos ocidentais por
séculos. Pouquíssimos foram os que conseguiram entrar
nesta terra de misticismo e voltaram com notícias fidedignas
sobre o que testemunharam.

Coube a uma mulher francesa no início do século XX,


em uma época de machismo e preconceito, a façanha de não
só entrar no Tibete, mas nele viver por 14 anos, percorrendo-
o de ponta a ponta. Não bastando, ela foi a primeira mulher
europeia consagrada com o honroso título de Lama. Sábia e
erudita para alguns, bruxa para outros, Mestre para muitos,
ela abriu ao mundo ocidental o fascinante acervo dos
mistérios tibetanos, dos quais ela foi uma testemunha
privilegiada. Seus livros, sobre suas surpreendentes
experiências no Tibete, são hoje um monumento à sua
memória.

Quem foi ela?

Louise Eugénie Alexandrine Marie David, que tomou


mais tarde o nome de Alexandra David-Néel, nasceu em
Paris em 1868. Espírito libertário e irrequieto, Alexandra
nunca se submeteu a nada nem a ninguém, e parece já ter
nascido com uma paixão por viagens e explorações. Aos três

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anos decidiu explorar sozinha os bosques de Vincennes, e de
fuga em fuga, fez sozinha, na adolescência, giros pela
Europa, para a preocupação de seus pais, que não podiam
controlá-la. O coração de Alexandra não descansava. Algo a
chamava para o Extremo Oriente... sonhava com suas
estranhas veredas, seus sábios, místicos e saltimbancos.
Enquanto não podia concretizar este sonho, por volta dos 19
anos Alexandra descobriu o Budismo e por ele se apaixonou,
decidindo estudar o Sânscrito e frequentar as aulas no
colégio de França do famoso orientalista Ed. Foucaus.
Frequentou ainda o Museu Guimet, em Paris, absorvendo
tudo o que se relacionava com o Extremo Oriente.

Finalmente, de posse de uma pequena herança, em


1890 Alexandra partiu sozinha para a Índia e o Ceilão. Seus
sonhos finalmente se realizariam. Uma vez lá, evitou as
estradas batidas dos turistas e misturou-se com o povo, para
melhor aprender os seus costumes. Na Índia aproveitou para
aperfeiçoar seu Sânscrito e dialetos hindus. Em uma breve
estada na África do Norte, Alexandra conheceu seu futuro
marido, Philippe-Neel, e com ele casou-se na Tunísia, em
1904. O casamento não duraria muito, mas a amizade
conservou-se durante toda a vida de ambos.

As primeiras viagens de Alexandra David-Néel pelo


Oriente e a autoridade que começara a adquirir acarretou-lhe
sua primeira grande missão. Como falava fluentemente o
sânscrito, o hindi e já aprendia o tibetano, o ministério da

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instrução pública britânico encarregou Alexandra de tentar
contatar o XIII Dalai Lama, Thubten Gyatso, na época exilado
em uma região do Himalaia, devido aos distúrbios políticos
no Tibete.

Para isso, Alexandra chegou a escalar o Himalaia e


enfrentar inclemências climáticas assombrosas, mas
finalmente conseguiu uma entrevista com o famoso buda-
vivo do Tibete, o qual não só a recebeu, mas se espantou com
o conhecimento que ela já tinha do budismo tibetano. Com
isso, David-Néel foi a primeira mulher não-tibetana a ser
recebida por um Dalai Lama. Encantada com o sucesso e
sentindo que o Tibete a chamava ainda mais fortemente, de
1912 a 1914 Alexandra tentou quatro vezes entrar no
proibido país, sendo todas as vezes expulsa pelos ingleses,
que então dominavam o Tibete.

Nessas tentativas, David-Néel disfarçou-se de


homem, de mendigo e praticou várias modalidades do yoga
tibetano. Nessa época, David-Néel foi também recebida em
audiência pelo segundo líder mais poderoso do Tibete, o IX
Panchen Lama, Thubten Choekyi Nyima, também exilado na
fronteira do Tibete. O Panchen Lama igualmente se
surpreendeu com a audaciosa europeia que desbravava a
terra das neves e parecia conhecer tanto do budismo. Em
função disso, a mãe do Panchem Lama chegou a ceder à
Alexandra uma cabana a 3.900 metros de altitude, onde ela
viveu secretamente vários meses em práticas espirituais.

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Em suas andanças pela fronteira do Tibete, por vezes
acessando regiões tibetanas, David-Néel chegou a
testemunhar rituais secretos dos yogues tibetanos e aprender
de muitos Lamas alguns segredos esotéricos, com práticas
especiais. Um deles lhe foi muito útil em suas peregrinações
em temperaturas abaixo de zero. Alexandra foi iniciada no
misterioso yoga do fogo, chamado em tibetano de tumo,
ensinado secretamente em algumas escolas do budismo
tibetano. Incrivelmente, ele possibilita ao praticante criar
calor interno e externo, ficando assim imune a baixas
temperaturas, a ponto de poder meditar nu na neve,
derretendo-a ao seu redor pelo calor irradiado. A proeza, tida
como ficção quando David-Néel a relatou em seus livros, só
foi comprovada recentemente, quando o atual Dalai Lama, o
XIV, Tenzin Gyatso, autorizou um grupo de cientistas
americanos estudar praticantes desta e de outras técnicas
secretas do budismo tibetano.
Mas proezas ocultas ainda maiores esperavam para
ser testemunhadas por David-Néel dentro do Tibete.
Quando finalmente conseguiu acessá-lo, ela visitou vários
mosteiros, conferenciando com Lamas, anacoretas e yogues.
Pôde então constatar fenômenos assombrosos, como os
praticados por uma categoria de Lamas chamados
“lugompa”. Eram Lamas que, em estado de transe,
conseguiam correr a uma velocidade sobre-humana, sendo
empregados como mensageiros, pois podiam percorrer o
país sem se cansar. David-Néel conta em um de seus livros
seu primeiro encontro com um destes Lamas, que parecia

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percorrer e mesmo saltar amplos espaços de terra, como se
dotado de poderosas molas nos pés. O Lama foi avistado ao
longe e passou por David-Néel em velocidade impossível
para um humano. Foi percebido que o Lama estava em
estado de transe, com os olhos semicerrados e fixando algum
ponto no horizonte.
Uma das práticas místicas mais secretas do budismo
tibetano foi tentada pessoalmente por Alexandra: a criação
de formas-pensamento dotadas de inteligência própria. A
prática chama-se “tulpa”. Em seu relato, Alexandra conta
como, após extenuantes esforços e com visualização
persistente, conseguiu materializar a forma fluídica, quase
sólida, de um monge, que deveria lhe servir como criado.
Como não tinha sido iniciada plenamente nesta prática, tida
como muito perigosa pelos mestres tibetanos, Alexandra
perdeu o controle de sua criação, que se voltou contra ela.
Uma luta psíquica de várias semanas se seguiu, até que ela
conseguisse dissolver a forma. Assim, Alexandra aprendeu
como é delicado a prática de poderes psíquicos sem uma
iniciação completa.

Finalmente, em 1924, após 12 anos de peregrinações


pelo Tibete, vivendo toda sorte de aventuras, Alexandra, com
56 anos de idade, chegou a Lhasa, a cidade proibida, capital
do Tibete. Fazia mais de uma década desde que ela
encontrara pela primeira vez o Dalai Lama na fronteira do
país. A proeza chegou mesmo a ser noticiada em um jornal
da Europa, o Le Matin. Em Lhasa, Alexandra visitou os três

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maiores mosteiros do mundo, Sera, Drepung e Ganden, bem
como a famosa escola de medicina tibetana, o Chakpori, e
ainda o misterioso oráculo oficial do Tibete, Nechung. Trata-
se de um monge clarividente que em um estado alterado de
consciência consegue antever fatos e eventos. Uma prática de
precognição. Nechung serve especialmente ao Dalai Lama e
ao governo tibetano e está em operação ainda hoje, em
benefício do atual líder do Tibete. Indagado sobre por que se
utiliza desta forma antiga e mesmo mágica para governar, o
atual Dalai Lama respondeu que só o faz por uma única
razão: “Nechung nunca errou.”

Mas os tempos de aventuras e misticismo estavam


acabando para David-Néel. Por questões políticas, não era
mais possível a estrangeiros permanecerem no Tibete, país
que se protegia de contatos estrangeiros, com medo de
invasões, o que efetivamente ocorreria anos depois, com a
invasão da China. David-Néel voltou à sua França, onde foi
recebida como heroína. Deu várias conferências sobre suas
aventuras no Tibete, budismo e fenômenos psíquicos.
Escolheu para morar, na isolada região de Digne, um casarão
que batizou com o nome tibetano de Samten Dzong, que
significa “cidadela da solidão”. Algumas pessoas que a
visitaram testemunharam o fascínio de sua personalidade.
Por exemplo, a escritora Marie Borrély relatou que
Alexandra materializou para ela um lótus em flor, além de
ter falado de outras capacidades psíquicas que aprendera
com os tibetanos.

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Em Samten Dzong Alexandra escreveu muitos de seus
célebres livros, que a eternizaram em todo o mundo. Os mais
famosos são: “Viagem de Uma Parisiense a Lhasa”, “Tibete:
Magia e Mistério”, “Iniciações Lamaístas”, “O Lama das Cinco
Sabedorias” e “Ensinamentos Secretos do Budismo Tibetano.” A
maioria conta com tradução para o português, embora fora
do prelo. Ao todo, a obra de David-Néel conta com 27
volumes, a maioria sobre a sabedoria do extremo Oriente.
Alexandra David-Néel morreu em sua fortaleza da
solidão em 8 de setembro de 1969, aos 101 anos, com
saudades do Tibete. Até o dia de sua morte permaneceu
ativa, escrevendo livros, artigos e planejando conferências.
Peregrina, exploradora, filósofa, saltimbanco, mística e
erudita, Alexandra David-Néel proporcionou ao Ocidente
um pouco do aroma mágico que exala da terra das neves, o
Tibete. Sua última viagem, rumo ao invisível, marcou o início
de sua derradeira missão: explorar a região cósmica, a mais
fascinante de todas as terras...
Bibliografia

De David-Neel:

 Tibete: Magia e Mistério. Ed. Hemus


 O Lama das Cinco Sabedorias. Ed. Pensamento
 Iniciações Tibetanas. Ed. Pensamento
 Reencarnação e Imortalidade. Ed. Ibrasa
 O Budismo do Buda. Ed. Ibrasa
 A Força do Nada. Ed. Pensamento

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CAGLIOSTRO
O GRANDE MESTRE DO OCULTO

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No século XVIII, quando a Europa mal se recuperara
do impacto da aparição do Conde de Saint-Germain, que
deslumbrou pelos seus poderes e longevidade inexplicáveis,
surgiu logo na sequência outro ser que despertou o mesmo
fascínio e que aparentava possuir os mesmos poderes de
Saint-Germain.

Sábio, mago, taumaturgo, curador, conselheiro de


reis, seus talentos eram tantos que chegou a ser chamado de
“divino” pelo povo. Era o Conde Alessandro di Cagliostro.
Assim como Saint-Germain, Cagliostro surgiu repen-
tinamente, não possuindo passado, como se tivesse vindo do
nada. Apresentou-se como conde e sua atuação principal
deu-se de 1777 a 1789. Tratava-se de um homem de estatura
abaixo da média, rosto muito belo e vasta cabeleira negra.
Possuía porte majestoso e olhos que impressionavam pelo
brilho insustentável. Em sua presença, experimentava-se
uma sensação de autoridade e poder, e não raro seus
interlocutores tremiam ante uma majestade que não
conseguiam explicar.

Possuía erudição aparentemente ilimitada e podia


discorrer sobre os mais variados assuntos, antigos e
modernos. Dominava inúmeros idiomas, incluindo línguas
orientais. Alegou ter viajado, antes de sua chegada à Europa,

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por inúmeros países, mas não deu detalhes sobre seu
passado. Disse, contudo, que passara pelo Egito.
Apresentou-se como um homem casado, no caso, com
Lorenza Feliciani, que silenciosamente lhe ajudava em seus
afazeres e secundava o marido em tudo. Ninguém sabia sua
nacionalidade, pois parecia pertencer a várias etnias.
O primeiro registro sobre Cagliostro fala de sua
aparição pública em Londres, em 1777. Dono de fortuna
aparentemente ilimitada, vestia-se e se portava com
simplicidade. Ocupava-se com Alquimia, medicina e
filantropia. Suas curas espantosas, pelas quais não cobrava,
se tornaram tão famosas que sua casa era literalmente
invadida de manhã à noite por multidões e isso se repetiu em
cada país onde ele se instalou. Cagliostro dava preferência
aos deserdados pela sorte, aos desgraçados e aos doentes
irrecuperáveis, mas atendia também membros da alta
sociedade. Os milagres se multiplicavam. Cegos
enxergavam, paralíticos andavam e todo tipo de doenças
eram resolvidas pelo conde. Ele curava pelo simples
comando de sua voz ou por remédios alquímicos preparados
especialmente segundo uma fórmula própria, nunca
descoberta. Aconselhava com paciência e mitigava também
os problemas existenciais dos que o procuravam. Para o povo
pobre, era um deus que havia chegado à Terra e se lembrara
deles.
Não demorou muito e as cortes da Europa começaram
a falar do misterioso estrangeiro. O famoso escritor Johann

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Wolfgang von Goethe ficou tão impressionado com o Conde,
que tentou desvendar seu mistério, sem sucesso. Como
Goethe, outros procuraram deslindar o segredo, obtendo
como resultado um mistério maior ainda.

Cagliostro não dependia da ajuda nem da bajulação


dos grandes e mesmo afrontava a hipocrisia da alta
sociedade. Mas esta corria até ele. Diplomatas, altas figuras
da corte e mesmo do clero frequentavam sua casa, fascinados
pela sua pessoa. Um autor contemporâneo, Georgeil, em suas
memórias, atesta a passagem de Cagliostro pela França com
as seguintes palavras:
“Os refinados da corte de Luis XVI se chocavam com suas
brusquidões e pensavam em ir embora; mas o olhar de
Cagliostro era tão majestoso, sua palavra tão cativante, que
rápido esqueciam essa ideia e só pensavam em ficar, tanto
era viva e penetrante a impressão que esse homem dava.
Sua autoridade se impunha; uma grandeza, um poder
misterioso irradiava-se dele, e todos saíam de sua casa
proclamando com delírio suas qualidades.”

Cagliostro falava com desenvoltura sobre todas as coisas:


religião, ciência, filosofia, moral, política, apresentando
pontos de vista originais e inovadores. Combatia tanto os
dogmas da religião como da ciência da época. Espiões e
enviados das autoridades procuravam descobrir o mistério
daquele homem que estava alvoroçando as sociedades. Seria
Saint-Germain renascido? Ou era um discípulo deste?
Tratava-se de um espião estrangeiro, um charlatão ou um

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perigoso manipulador? Como conseguia suas curas? Como
dominava tantos assuntos? Qual a explicação para seu
magnetismo irresistível? Já os círculos de Iniciados, em todos
os países em que esteve, receberam Cagliostro como um
líder. Era visto como um Mestre de todas as Ordens Ocultas.
Pelos sinais que dava e alusões que fazia, parecia que sua
Ordem-Mãe era o Rosacrucianismo. Contudo, sua ação nas
Sociedades Místicas concentrou-se principalmente na
Maçonaria. Esta Ordem espalhava-se pela Europa e outros
continentes, tornando-se rapidamente universal. Reunindo
homens de bem e entusiastas pesquisadores do espiritual,
multiplicava-se em vários Ritos.
Mas parecia surgir certa dúvida entre muitos maçons
quanto às verdadeiras origens de sua organização. Para
alguns, ela teria sido propiciada pelo Rosacrucianismo, para
outros, era paralela a este e tão antiga quanto. Para ajudá-los,
Cagliostro fundou o Rito Maçônico Egípcio, no qual ocupou
a posição de “Grande Copta”. As Lojas deste rito
multiplicaram-se e ele tinha a particularidade de aceitar
mulheres em condições de igualdade com os homens.
Cagliostro disse que não só conhecia a origem da Maçonaria
como poderia restaurar nela todos os seus arcanos. Em seu
Rito Maçônico Egípcio, Cagliostro utilizava-se de Columbas,
jovens vestais que tinham por missão constituírem-se como
mensageiras e símbolos da pureza interior e da clarividência
da alma. Prodígios psíquicos ocorriam durante as cerimônias
e a assembleia era elevada a estados psíquicos de grande
ascensão. A Loja-Mãe do Rito chamava-se “A Sabedoria

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Triunfante” e ficava na cidade francesa de Lyon. O seu
edifício foi consagrado em 25 de julho de 1785 e o Templo
teve sua sagração em 20 de agosto de 1786. Os ensinamentos
tratavam de teorias e práticas especiais que, em síntese,
proclamavam que o homem tinha sido criado à imagem e
semelhança de Deus, sendo uma extensão particularizada da
própria Divindade, mas precisava tomar consciência disso.

O homem, a mais perfeita das obras da Divindade,


poderia comandar todos os seres, incluindo os anjos, mas
trabalhos especiais seriam necessários para ele despertar, ou
lembrar, seus atributos e poderes íntimos. O resultado seria
o homem triplamente regenerado, com Deus consagrando
nele a Mestria e tornando-o um Eleito. A obra estaria
completa, o círculo fechado. Como um Agente da Divindade
na Terra, o homem participaria do plano de regeneração
originalmente concebido pelo Absoluto.

A Maçonaria Egípcia de Cagliostro foi instalada em


vários países, incluindo São Petersburgo, à época capital da
Rússia. A convite do Príncipe Adam Poninski, maçom e
alquimista, Cagliostro foi à Polônia, gozando da amizade e
da admiração do monarca daquele país, Stanislas-Auguste
Poniatowski. Segundo De Saltzmann, em carta ao martinista
Jean Baptiste Wilermoz, Cagliostro foi para a Polônia para
restaurar as verdadeiras Ciências Ocultas.

A Alquimia atraía muitos naquele país, assim como a


Cabala. Sobre a Alquimia, Cagliostro dizia a seus discípulos:

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“Na parte de baixo da escada estão os sopradores [os
alquimistas operativos e materialistas, voltados à
transmutação dos metais]. Eles formam legião. Já o
alquimista místico, é bem diferente. Seu laboratório é
menos atulhado: apenas os símbolos e os sonhos o ocupam.
O místico procura a Grande Obra em si; seu atanaor é o ser
humano.”

Cagliostro referia-se à Alquimia espiritual e iniciática,


defendida pelos rosacruzes, em contraposição ao
experimentalismo material que grassava na época. Um
documento da época, Lettres sur La Suisse adresses à madame
M. par um voyageur français2, escrito por de Laborde, fala das
operações místicas de Cagliostro em Varsóvia e da grande
reputação que lá alcançou.
Fosse em São Petersburgo, Varsóvia, Lyon ou Paris, ou
ainda em Estrasburgo, onde quer que estivesse, as multidões
seguiam aquele homem majestoso. De reis a miseráveis
esfarrapados, ele recebia a todos. Falava e o Mundo
Espiritual obedecia à sua voz.
Muitos ainda foram testemunhas de uma estranha
qualidade de Cagliostro: a bilocação. Era visto em dois ou
mais lugares ao mesmo tempo e na mesma hora, realizando
coisas diferentes. Segundo acuradas análises, era o mesmo
homem. Graças a todos esses prodígios, Cagliostro era
chamado de “divino” pelo povo. Curiosamente, assim como

2
Cartas sobre a Suíça endereçadas à madame M. por um viajante francês. N.
do R.

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Saint-Germain teve um discípulo da alta sociedade, que
atuava também como protetor e intermediário, Cagliostro
igualmente teve o seu. Tratava-se do francês Louis René
Édouard, Cardeal de Rohan, bispo católico de Estrasburgo,
político e descendente dos reis da Bretanha. Rohan secundou
e promoveu incessantemente o conde, usando de sua
influência política e religiosa para que Cagliostro fosse
recebido e, muitas vezes, ouvido nas cortes. O cardeal
admirava tanto Cagliostro que encomendou com o notável
escultor Jean-Antoine Roudoun, um busto de Cagliostro, que
foi talhado à perfeição. É a melhor e mais fiel representação
do Conde já feita, encontrando-se hoje na Galeria Nacional
de Arte, em Washington, EUA.
Mas o sucesso e a adoração devotados em toda parte a
Cagliostro geraram consequências. O ódio e a inveja
acompanharam-no em toda a sua carreira pública. Os
médicos o detestavam pelas suas curas inexplicáveis; os
religiosos o odiavam pela luz que ele trazia, que parecia
contradizer os dogmas aceitos; os poderosos se sentiam
humilhados por aquele homem que tudo sabia e que não
dependia de ninguém; os políticos queriam-no destruído,
pois ele perturbava a ordem estabelecida com seus conselhos
e ideias avançadas. Processado vezes sem conta, envolvido
sem culpa em escândalos como o famoso “Caso do Colar”,
Cagliostro acabou preso, com sua esposa, na Bastilha, lá
ficando por seis meses, só para depois ser libertado com
pedidos de desculpas e sob a ovação do povo. Ainda assim,
teve que deixar a França. Cagliostro tudo suportava em

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silêncio e não se vingava de seus inimigos. Chegou mesmo a
intervir para que alguns deles, desmascarados, fossem
tratados com clemência pela justiça de seus países. O mal e
os maus o exasperavam, mas ele oferecia silêncio e perdão.

No entanto, seus opositores nunca recuaram e


finalmente apelaram para o mais temido, poderoso e pior de
todos os poderes da época: a Inquisição católica. Tentaram
provar que Cagliostro era não apenas um charlatão e um
escroque, mas também um agente do diabo, o que perturbou
a Igreja. Para isso, reuniram relatórios forjados, testemunhas
compradas e todo tipo de documentos falsos alegando que o
Conde dedicava-se à magia negra, à lascívia e a orgias
durante seus rituais.

Mesmo que Cagliostro contasse com amigos e


admiradores que eram clérigos católicos, estes eram minoria
e secretamente estudantes de misticismo. Portanto, o Cardeal
de Rohan, ameaçado de ruína, nada pôde fazer por
Cagliostro diante da Igreja. Assim, o relatório dos que
desejavam a destruição de Cagliostro foi finalmente aceito
por Roma. Em 27 de setembro de 1789 a Congregação de
Cardeais do Santo Ofício reuniu-se com o Papa Pio VI e com
o Cardeal Francesco Saverio de Zelada para condenar
Cagliostro. O Papa e os Cardeais acharam-se vítimas de uma
conspiração que nunca existira: dos maçons, dos iluminados,
dos ocultistas, de satanistas, de toda sorte que os inimigos de
Cagliostro fizeram por bem criar e atiçar no clero
supersticioso da época. Cagliostro foi ainda apontado pela

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Inquisição como o profanador do único culto verdadeiro, o
Cristianismo. Pio VI contou com a ajuda da então rainha de
Nápoles e, aproveitando a estada de Cagliostro na Itália,
finalmente um mandato de prisão foi expedido. A temida
Polícia da Inquisição entrou em ação, prendendo o conde e
sua esposa em Roma no mesmo ano de 1789.

A Loja Egípcia de Cagliostro na Itália foi saqueada e os


arquivos, bem como materiais ritualísticos, foram
confiscados pelo clero. Cagliostro e sua esposa foram
separados. Sabe-se que a Condessa di Cagliostro, Lorenza
Feliciani, foi internada no Convento Santa-Appolonia do
Transtevere, e de lá transferida mais tarde para local
desconhecido, onde morreu ignorada. Já Cagliostro, foi
aprisionado em segredo no calabouço do Castelo de Saint-
Ange. Em 1791, o Cardeal Zelada transferiu-o para a
Fortaleza de San-Leo. Os relatos dos guardas e dos poucos
que tiveram acesso a Cagliostro traduzem cenas
horripilantes de uma verdadeira crucificação: em uma cela
úmida e escura, torturado sem compaixão, exposto à fome, à
falta de higiene e todo tipo de agressões, o Mestre definhava.
Seus gritos de dor pelas torturas impostas eram ignorados.
Interrogado vezes sem conta pelos cardeais e pelo próprio
Papa Pio VI, afirmava o que sempre tinha dito: ele era uma
Força em missão na Europa, sua obra era o Bem e a
regeneração dos homens, seus semelhantes. Ocupava-se da
medicina e da caridade, e aconselhava os reis quando
solicitado. Seu apanágio era a Verdade Universal.

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A sentença de heresia foi mantida. Condenado à morte,
Cagliostro teve sua sentença comutada para prisão perpétua.
Além disso, a Igreja ocupou-se de destruir-lhe a reputação
junto a seus discípulos e ao povo que o amava. Encomendou
relatos e testemunhos, e surgiram livros escritos por clérigos
sobre Cagliostro, com histórias absurdas e pitorescas. Um
passado foi construído para ele: Cagliostro não passava de
um charlatão de nome Giuseppe Giovanni Battista Vincenzo
Balsamo, picareta profissional e hábil prestigitador, nascido
em Albergheria, Palermo, bairro judaico. Até sua conde-
nação, levara uma vida de aventureiro e saltimbanco, eivada
de farsas e estelionato.
Por terem sido publicadas sob a autoridade da Igreja,
esses relatos gozaram com o tempo de grande aceitação e,
infelizmente, foi baseado neles que Cagliostro foi
considerado, mesmo por historiadores, pelos dois séculos
seguintes. Todos os outros documentos e relatos que
diferissem da versão que estava sendo adotada pela Igreja,
incluindo um livro publicado na época em que Cagliostro
passou por Trento, foram destruídos. Este último livro foi
escrito por um observador imparcial e anônimo, que sem
tomar partido, relatou apenas o que viu e testemunhou,
ratificando tudo de prodigioso que se contava sobre
Cagliostro: sua bondade, filantropia, seus poderes
miraculosos, sua sabedoria. O livro chamava-se “Liber
memorialis de Caleostro cum esset Roboreti”, ou, simplesmente,
“O Evangelho de Cagliostro.” Todos os exemplares desta obra
foram caçados pela Inquisição, junto com tudo que se

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referisse a Cagliostro, e queimados em 04 de maio de 1791 no
Auto de Fé contra o conde, presidido pelo Papa Pio VI em
pessoa.

E assim Cagliostro passou para a história. Um


escroque, charlatão, impostor, feiticeiro e falso profeta. Os
círculos de Iniciados, como os rosacruzes, martinistas e
maçons, sempre reivindicaram a correção da imagem de
Cagliostro. Mas foi preciso esperar dois séculos para que um
desses iniciados conseguisse resgatar a imagem do conde.
No início do século XX, Marc Haven, pseudônimo
místico de Henry Emmanuel Lalande, médico francês,
martinista e rosacruz, amigo e colaborador do famoso
ocultista Papus e um dos principais componentes do
Esoterismo francês da bele époque, empreendeu anos de
pesquisas em arquivos e bibliotecas de toda a Europa, junto
a antigas famílias e mesmo nos arquivos religiosos,
localizando tudo o que escapou do escrutínio da Inquisição:
relatos, documentos, matérias em periódicos, livros etc.
Conseguiu mesmo localizar um exemplar do anônimo
Evangelho de Cagliostro, tido como extinto.
O resultado foi a estupenda obra historiográfica
“Cagliostro – Le Maitre Inconu”, editado na França em 1912 e
publicado a partir de 2005 no Brasil pela Editora Madras,
com o nome: “Cagliostro: O Grande Mestre do Oculto.” Ela é
tida como a obra que reabilitou Cagliostro para o mundo
profano e para as massas, e revelou sua verdadeira imagem.
Trata-se da mais completa e, na verdade, a única obra a

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reconstituir a imagem de Cagliostro a partir de pesquisa
histórica criteriosa e moderna, sendo um manancial de
informações, documentos e relatos sobre o homem que
deslumbrou a Europa no século XVIII. A única outra obra
séria sobre Cagliostro, editada apenas em língua portuguesa,
é “Alessandro Cagliostro”, de Ana Rimoli de Faria Doria e
publicada em dois volumes pela editora da Ordem Rosacruz,
AMORC. O livro é na verdade uma condensação da obra de
Marc Haven, mais as impressões da autora.

Marc Haven concluiu, pela análise dos fatos, que o que


impressiona na história de Cagliostro é que em toda parte em
que ele teve que sofrer alguma injustiça da parte do homem
ou de uma lei, homem ou lei tombaram. De fato, a longa lista
de seus inimigos, cujos nomes e atividades são relacionadas
no livro de Haven, pereceu logo após seus ataques e
maldades. Pouco após a prisão de Cagliostro na Bastilha e
exílio da França, ocorreu a Revolução Francesa e a destruição
da ignominiosa prisão. Para coroar, após a condenação de
Cagliostro por Roma, a Inquisição Católica conheceu sua
ruína, assim como a Igreja começou a perder seu poder
milenar. Assim se expressou Haven:
“Cagliostro, fiel à sua tarefa, desprezando seus sofrimentos
e lutas, levou a Luz até o pé do Vaticano, que a rejeitou e a
extinguiu com o sangue do Apóstolo: ali também a taça das
iniqüidades estava cheia. Mas foram os últimos atos da
Inquisição e o início da derrota de Roma. A fortaleza San-
Leo, que testemunhou as torturas de Cagliostro, foi derru-

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bada já em 1796; no ano seguinte Napoleão trouxe o golpe
fatal à autoridade papal.”

Cagliostro foi um daqueles mestres secretos da


humanidade, enviado à Europa e destinado à mesma linha
de trabalho de Saint-Germain. Daí a similaridade de suas
missões. Tratava-se de um Mestre do mesmo quilate de
Saint-Germain, não um discípulo deste.
Segundo fontes da Sociedade Teosófica, a mística russa
Helena P. Blavatsky costumava usar por vezes no pescoço
uma joia mística dada pelos seus Mestres. A joia teria
pertencido a Cagliostro.
Em um dos documentos do Santo Ofício, encontrado por
Marc Haven, vemos a explicação definitiva que o misterioso
iniciado deu aos seus torturadores. Uma verdadeira elegia e,
sem dúvida, uma das mais belas proclamações já dadas por
um Mestre, em qualquer época. Emocionante, desconcer-
tante e mística, certamente Cagliostro não a escreveu para os
clérigos, seus algozes, mas para aqueles que podiam
compreendê-lo: os Iniciados. E é para estes que colocamos
aqui um extrato, com o qual encerramos esta homenagem:
"Não sou de nenhuma época e de nenhum lugar; fora do
tempo e do espaço, meu ser espiritual vive sua eterna
existência e eu me torno aquele que eu desejo.

Participando conscientemente no ser absoluto, regulo


minha ação segundo o meio que me rodeia. Meu nome é o
de minha função, porque sou livre.

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Meu país é aquele em que fixo momentaneamente meus
passos. Eu falo e sua alma estremece ao reconhecer antigas
palavras; uma voz, que está em vocês e que se calara há
muito tempo, responde ao apelo da minha; eu ajo e a paz
volta aos seus corações; a saúde, a seus corpos; a esperança
e a coragem, a suas almas.

Todos os homens são meus irmãos; todos os países me são


caros; eu os percorro para que, em toda parte, o espírito
possa descer e encontrar um caminho para vocês.

Como o vento do sul, como a brilhante luz do sul que


caracteriza o pleno conhecimento das coisas e a comunhão
ativa com Deus, vou para o norte, para a bruma e o frio,
abandonando em meu caminho algumas parcelas de mim
mesmo, diminuindo a cada estação, mas deixando-lhes um
pouco de claridade, um pouco de força, até que eu tenha
enfim parado e fixe definitivamente o termo de minha
carreira, na hora em que a rosa florescer sobre a cruz. Eu
sou Cagliostro!”

Bibliografia

Sobre Cagliostro

 Cagliostro – O Mestre do Oculto. Marc Haven. Ed.


Madras
 Alessandro Cagliostro (2 volumes). Ana Rímoli de Faria
Doria. Ed. AMORC

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NICHOLAS ROERICH
UM MENSAGEIRO DA
GRANDE FRATERNIDADE BRANCA

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Entre os grandes iniciados que a humanidade
conheceu no século XX, poucos suspeitam que um dos
maiores ocultava-se sob uma personalidade bem conhecida
no campo cultural e artístico. Pintor, escritor, historiador,
arqueólogo, poeta e líder intelectual, ele é considerado no
mundo místico como tendo sido em sua época um dos
principais canais da Fraternidade Oculta dos Mestres da
humanidade, a Grande Fraternidade Branca, para a qual
cumpriu diversas missões.

Nicholas Roerich nasceu em São Petersburgo, Rússia,


em 1874. Cedo demonstrou qualidades incomuns que lhe
permitiram, mais tarde, frequentar simultaneamente a
Universidade de São Petersburgo, a Escola de Direito, a
Faculdade de História e Filologia, a Academia de Artes e o
Instituto de Arqueologia. Paralelamente ao seu labor
intelectual, iniciou carreira como pintor, ganhando cedo
notoriedade na Rússia, que o reconheceu como um dos seus
maiores artistas.

Roerich também esteve na Europa, aperfeiçoando seus


estudos. Neste ínterim, mostrou grande interesse pelo
Ocultismo, familiarizando-se com o legado de sua
compatriota, Helena Blavatsky, fundadora da Teosofia.

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Aventa-se que ele tenha sido iniciado também em outras
tradições místicas, cuja natureza permanece misteriosa. Sabe-
se que por ocasião de seu casamento com Helena Roerich, em
1901, uma iniciação comum foi dada a ambos, transformando
o casal, nos anos que se seguiriam, em uma referência em
estudos esotéricos.

Helena Roerich, aliás, foi responsável pela tradução de


várias obras de Helena Blavatsky para o russo. Logo após o
seu casamento, sabe-se que tanto Nicholas como Helena
foram contatados por um dos maiores representantes da
Grande Fraternidade Branca: o Mestre El Morya, muito
conhecido pelo seu trabalho anterior com Helena Blavatsky.
Ele encarregou o casal de algumas missões. Helena Roerich
fundou o movimento conhecido como Agni Yoga, um yoga
esotérico baseado no despertar da chama divina no ser
humano. Já Nicholas Roerich, foi comissionado para explorar
melhor as antigas tradições espirituais da Rússia e,
principalmente, da Ásia, transmitindo essa sabedoria por
meio de suas qualidades artísticas.

Uma das primeiras manifestações públicas como


resultado desse contato sublime foi o livro “Folhas do Jardim
de Morya”, uma obra notável de instruções espirituais que
teve sua composição iniciada antes da revolução russa de
1917 e sua conclusão após o levante, com o casal Roerich já
exilado nos EUA. O livro obteve sucesso mundial e consiste
em comunicações do Mestre Morya dada ao casal Roerich,

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delineando as etapas do caminho espiritual e conselhos para
os ciclos que a humanidade viria a passar.

No primeiro tomo da obra, podemos ler um extrato


que lança uma luz sobre a missão dada aos Roerich:
“Eu estou dando a vocês um ensinamento para o amanhã,
preparando-os para uma nova vida. Evitem os mortos em
espírito – novos ajudantes chegam em número crescente.
Manifesta reverência ao Templo. Eu estou chamando os
sábios.”

A partir daí Nicholas Roerich deu seguimento a diversos


projetos. Entre os mais famosos estão duas expedições ao
Extremo Oriente, que ocorreram de 1925 a 1935 e contaram
com o apoio oficial do governo dos Estados Unidos. Aliás, o
presidente Franklin Delano Roosevelt tornou-se especial-
mente interessado pelo misticismo que envolvia Nicholas
Roerich e chegou a manter correspondência com Helena
Roerich, instruindo-se no conteúdo do livro “Folhas do Jardim
de Morya”, que tinha chamado-lhe a atenção.

O objetivo destas duas expedições de Roerich ao Oriente


foi mapear, estudar e conservar o legado religioso, artístico,
científico e cultural dos povos visitados, de forma que os
vários conflitos e guerras entre eles não destruíssem este
grande patrimônio. Foi também promover o que Roerich
chamou de “União Sagrada do Leste”, ou seja, a paz e a
integração entre os povos do Oriente, tendo como resultado

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uma região irmanada por laços permanentes de paz e
cooperação mútua.

Sabe-se que o projeto das expedições originou-se em um


comando dado a Roerich pela Grande Fraternidade Branca,
o que explica algumas missões paralelas e mais secretas, que
ele desempenhou durante suas viagens pelo Oriente. Uma
delas foi o transporte de uma misteriosa joia mística
conhecida nas tradições orientais como “Pedra Chintamani”,
que estaria desde tempos imemoriais sob guarda da Grande
Fraternidade Branca, no Tibete. Citada em muitos textos
sagrados do Oriente, tal pedra seria na realidade um
fragmento oriundo do sistema interplanetário de Sírius,
vindo à terra por meio de um meteorito ou de outra forma,
possuindo poderosas propriedades magnéticas.

A pedra foi enviada ao Ocidente por meio de Nicholas


Roerich para ajudar com suas irradiações no estabelecimento
e manutenção da Liga das Nações, que antecedeu a
Organização das Nações Unidas - ONU, e que deveria unir
todos os países em um ideal de paz e cooperação mútua. Em
duas de suas famosas pinturas, Roerich retratou-se
transportando a misteriosa pedra ao Ocidente. Logo após o
término da Segunda Guerra Mundial, Nicholas Roerich foi
instado a restituir a “Pedra Chintamani” ao seu local de
origem, quando ficou claro que o projeto original da Liga das
Nações foi desvirtuado pelos interesses e jogos de poder dos
homens.

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Outra missão esotérica desempenhada por Roerich por
conta de suas expedições ao Oriente foi-lhe dada pela Ordem
Rosacruz, AMORC. Roerich era iniciado no Rosacrucianismo
e possuía fortes ligações com esta tradição, tendo se tornado
membro da AMORC. A Ordem Rosacruz tinha sido
restaurada na América em 1915 por Harvey Spencer Lewis,
um dos maiores místicos do Ocidente moderno. Lewis
exercia na época a função de Imperator, ou líder mundial da
AMORC, com contatos e alianças místicas no mundo todo. O
Imperator da AMORC tornou Nicholas Roerich legado da
Ordem para o Tibete e pediu a Roerich que trouxesse certos
documentos e mensagens para a AMORC, enviadas pela
Grande Fraternidade Branca, o que de fato Roerich dessem-
penhou, entregando à Harvey Spencer Lewis textos e joias
enviadas pelos Mestres para ajudar no estabelecimento e
missão da AMORC no Ocidente.

Uma das correspondências de Roerich para Harvey


Spencer Lewis, escrita de um dos mosteiros da Grande
Fraternidade Branca no Himalaia, é datada de 7 de maio de
1933 e foi publicada pelo Imperator da AMORC na revista de
divulgação da Ordem, “The Rosicrucian Digest”, em julho do
mesmo ano.

Por conter interessantes informações esotéricas, dela


extraímos o seguinte trecho:
“Estimado Amigo e Frater,

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Nestes dias de Armageddon, todos os servos da luz devem
estar estreitamente unidos, espalhando grandes centelhas
benéficas para a irmandade.

Cumprindo o seu pedido, com grande prazer envio para o


seu museu em San Jose da Califórnia oito objetos tibetanos
muito raros do nosso mais sagrado mosteiro, o sublime
templo dos altos protetores da Grande Fraternidade
Branca.

Verdadeiramente, as mais antigas de todas as organizações


de luz devem permanecer alertas em suas torres de vigia.

Por favor, transmita a todos os irmãos e irmãs da jurisdição


norte-americana minhas saudações cordiais.”

Outra grande contribuição de Nicholas Roerich à


elevação espiritual da humanidade foram suas fascinantes
pinturas. O famoso escritor H.P. Lovecraft referiu-se
numerosas vezes às “estranhas e desconcertantes pinturas de
Nicholas Roerich.”

De fato, elas têm um efeito inexplicável no expectador,


apelando para sua natureza interior. Os quase 10 mil quadros
de Roerich estão espalhados pelo mundo todo. Um pequeno
acervo está concentrado em um museu que leva o seu nome,
em Nova York.

Destacamos a seguir cinco de seus quadros mais


místicos, dando-lhes o seu significado esotérico:

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Neste quadro, vemos um autorretrato de Nicholas Roerich
com suas roupas de iniciado, sentado em uma posição comumente
adotada por rosacruzes e maçons, tendo atrás de si templos que
talvez refiram-se aos redutos secretos da Grande Fraternidade
Branca no Tibete, que ele visitou pessoalmente.

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Esta é uma das mais esotéricas obras de Roerich. Chama-se “Mãe
do Mundo”. Refere-se à Divindade vista sob a polaridade
feminina, como energia passiva e acolhedora. Trata-se da Mãe
Divina, conceito tornado famoso pelo místico indiano
Ramakrishna. Simboliza também a Sabedoria, ou Sofia, a Ísis
egípcia. Por isso ela encontra-se velada, pois só mostra sua face
àqueles que a conquistaram, os Sábios. Ela é cultuada por dois
buscadores na parte de baixo do quadro.

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Intitulado “O Mensageiro”, este quadro de Roerich homena-
geia Helena Petrovna Blavatsky, que exerceu um papel parecido
ao de Roerich no século XIX, como emissária da Grande Frater-
nidade Branca ao Ocidente.

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Com o nome de “Madona Oriflama”, este é um dos mais
famosos quadros de Roerich. Representa uma vestal em um
mosteiro sagrado, empunhando a Bandeira da Paz, criada por
Roerich. Note-se uma cidade mística, provavelmente no Himalaia,
atrás da janela da vestal, e os monogramas crísticos nos braços da
poltrona.

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Neste quadro Roerich retrata o mestre El Morya, um dos
sábios da Fraternidade Branca sob cujas ordens ele e sua esposa
atuaram.

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A citada Bandeira da Paz, mostrada em um dos
quadros, integrou um pacto assinado na Casa Branca, na
presença do presidente Roosevelt, em 15 de abril de 1935.
Mais tarde, foi assinado por outros países e encontra-se ainda
em vigor, embora nem sempre seja respeitado. O pacto
determina que em períodos de guerra, as instituições
científicas e culturais, como museus, bibliotecas, edifícios e
monumentos históricos sejam poupados da destruição. Para
isso, cada instituição a ser protegida hastearia a bandeira da
paz, constituindo-se, portanto, em zona neutra. O pacto
enseja ainda a união cultural e pacífica de todas as
instituições do mundo. Seu símbolo, a Bandeira da Paz, traz
três esferas vermelhas rodeadas por um círculo da mesma
cor. Roerich não deu uma interpretação oficial do desenho,
mas a mais aceita traz as três esferas simbolizando passado,
presente e futuro envolvidos sob a proteção do círculo da
eternidade.
Podemos também avançar numa interpretação mais
mística. O círculo é símbolo universal para a Divindade, a
Sabedoria Absoluta. As três esferas referem-se à Lei do
Triângulo, também universal, ficando as duas cores
utilizadas, o branco e o vermelho, relacionadas às duas fases
mais importantes da operação alquímica: o “albedo e o
rubedo”.
Nicholas Roerich teve apoio de muitas grandes
personalidades, como Albert Einstein, H. G. Wells e Bernard
Shaw.

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Nicholas e Helena Roerich radicaram-se por 20 anos
no belo Vale de Kulu, aos pés do Himalaia, na Índia. De lá
Roerich continuou escrevendo e pintando, bem como
mantendo sua ligação com os Grandes Mestres que o
comissionaram em uma bem-sucedida missão em benefício
do Ocidente. Lá ele morreu, em 1947, rodeado pelas
montanhas que ele tanto amou e cujos mistérios ele penetrou.

Seja como artista ou como místico, Nicholas Roerich


conquistou amor e admiração mundiais, mas sua verdadeira
história ainda está para ser contada ao grande público. A
história de um dos mensageiros dos mestres da Grande Loja
Branca, um emissário que lutou, sofreu e sorriu ao lado de
seus irmãos humanos e cujo único desejo sempre foi
beneficiar a humanidade, e para a qual deixou um legado de
valor incalculável.

Bibliografia

De Roerich:

 Shambala – Em Busca da Nova Era. Ed Nova Era.

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PAUL BRUNTON
E O ORIENTE SECRETO

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Ele era um jornalista cético e agnóstico na Londres do
início do século XX, mas se transformou em um dos filósofos
místicos mais respeitados de sua geração. Além disso, foi um
dos maiores exploradores modernos do Oriente. Seus livros,
publicados no mundo todo, ainda são uma fonte de luz para
milhões.

Paul Brunton nasceu em Londres em 1898 sob o nome


de Raphael Hurst. Decepcionado com os dogmas das reli-
giões, bateu em muitas portas em sua busca inicial. As
dúvidas e a falta de comprovação o arrasavam por dentro,
transformando-o em um homem cético, crítico e amar-
gurado. Já adulto e trabalhando como jornalista em Londres,
certa tarde Brunton encontrou um indiano de aspecto nobre
em uma livraria da cidade. Fascinado com o homem, rapi-
damente ambos tornaram-se amigos. O nome do indiano nu-
nca foi revêlado por Brunton em suas autobiografias, mas
durante vários encontros privados ele contou a Brunton que
a Índia estava degenerando há séculos, mas ainda era
habitada por seres extraordinários, divididos em duas
classes: os Yogues: raros em uma multidão de impostores; e
os Rishis, maiores que os Yogues e verdadeiros iluminados.

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Brunton nunca mais viu o indiano, mas, meses mais
tarde, outro encontro iniciou sua verdadeira busca. Conver-
sando com um amigo, Brunton surpreendeu-se ao ouvir dele
as seguintes palavras:

“Estou certo que um dia você irá em busca dos Yogues na


Índia, dos Lamas no Tibete e dos Monges Zen no Japão.
Então, você terá material vasto para escrever estranhas
recordações.”

Abismado com estas palavras, Brunton não julgava que


uma viagem ao Oriente lhe fosse possível naquele momento.

Doze meses depois desembarcava em Bombaim, Índia...

A Índia na época de Brunton ainda era colônia britânica.


Ele logo entendeu que se quisesse realmente conhecer a
verdadeira Índia, oculta aos estrangeiros, deveria deixar seus
preconceitos ocidentais e viver como um indiano, frequentar
seus lugares tradicionais, adotar seus costumes, respeitar e
procurar sinceramente conhecer sua cultura. E assim o fez.
Inicialmente, deparou-se com a imagem horrenda que o país
ainda hoje apresenta aos estrangeiros: miséria inimaginável,
superstições degradantes e um crescente materialismo à
moda ocidental.

Mas Paul Brunton persistiu em busca da verdadeira


sabedoria da Índia. Em sua jornada espiritual solitária pelo
país, enfrentando todo tipo de dificuldades, devassou desde

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grandes cidades até aldeias miseráveis; penetrou em selvas
misteriosas e explorou cavernas enigmáticas; entrou em lu-
gares que nunca antes tinham recebido um pé ocidental.

E neste grande périplo encontrou quatro categorias bem


distintas de homens:

 A primeira era composta por farsantes e charlatães


travestidos de místicos; pseudo-yogues e eficazes
prestidigitadores. Formavam legião e não passavam
de hábeis mendigos em busca de algumas moedas.
Estavam por toda a parte;
 A segunda categoria, menos abundante, porém mais
interessante, era composta de fazedores de prodígios:
pessoas que possuíam poderes reais que resistiam a
todos os testes. Brunton presenciou demonstrações
que o deixaram atônito: telepatia, telecinese, clari-
vidência etc. Nessa categoria estavam os famosos
faquires, nome que designa um místico mulçumano;
não hindu;
 Na terceira categoria, extremamente reduzida e
localizada com muita dificuldade, estavam os poucos
e verdadeiros Yogues. Sábios e esquivos, não ligavam
para dinheiro ou fama e fugiam a todo contato.
Alguns viviam em cavernas, outros na mata, ou no
Himalaia. Junto a eles, Brunton sentiu uma trans-

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missão de força nunca antes experimentada e pre-
senciou poderes reais que tocavam a alma.

Mas ainda não bastou para Brunton. Seus dilemas


existenciais e suas dúvidas continuavam. Apesar de ter
testemunhado maravilhas que abalaram seu ceticismo, nada
do que Brunton vira até então foi suficiente, nada tocou-lhe a
alma ou transformara-o.

Foi no auge de seu desânimo, quando cogitava em


abandonar a Índia, que Brunton encontrou o que buscava.
Ele finalmente localizou um Rishi, um daqueles seres
extremamente raros que seu amigo de Londres disse serem
os mais sábios dos homens. Segundo o informe de um líder
espiritual que Brunton conheceu, na Índia de então só havia
dois autênticos Rishis vivos. E Brunton achou um deles.

Foi aos pés dele, no fundo de uma selva no Sul da Índia,


aos pés da montanha sagrada de Arunachala, a montanha do
Santo Lume, que Paul Brunton finalmente encontrou a paz.
Ele conheceu Sri Ramana Maharishi, um dos últimos super-
homens da Índia e, segundo seus discípulos, um verdadeiro
iluminado.

Ramana Maharishi nasceu 1879. Aos 16 anos teve uma


súbita experiência de consciência cósmica e abandonou a
família. Meditou em silêncio e sozinho por 20 anos na selva,
em templos abandonados e mesmo ao relento, até fixar sua

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iluminação e sentir que deveria ensinar. A notícia de que a
Índia tinha produzido um grande iluminado correu entre os
indianos e muitos foram conhecer o estranho asceta que não
possuía nada, a não ser uma tanga, mas que transformava as
pessoas apenas pelo olhar. Nas raras vezes em que falava,
Ramana desconcertou os eruditos e escolásticos que nele
encontraram respostas para os mais intricados problemas
teológicos; indianos de todas as seitas e até adeptos de outras
religiões tinham experiências profundas na presença de
Ramana, que passou a ser chamado de Maharishi: Grande
Sábio. De fato, Ramana praticamente não falava, mas
mudava as pessoas e as guiava pelo silêncio, pelo poder de
seu olhar e de sua presença.

Brunton chegou a Ramana desconfiado e cético, como de


praxe. Preparou uma lista de perguntas com dilemas que o
importunaram a vida toda. Perguntas como:
“Se há Deus, por que tanto horror e sofrimento no mundo?
Como impedir as guerras entre as nações? O homem é um
fenômeno transitório que do nada veio e a este retornará?
Se o homem tem uma alma divina, por que permanece em
ignorância e pratica o mal? Qual o mistério da consciência
humana? Qual o sentido da vida? Como alcançar a
verdadeira paz?”

Preparado para crivar o sábio com essas perguntas,


Brunton foi instado a simplesmente ficar na presença de
Ramana por algum tempo, antes de tentar falar com ele.

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Surpreendido com o mutismo do sábio, Brunton percebeu
que este permanecia silente, mas de olhos abertos, como que
absortos no infinito, rodeado de seus discípulos em um
ambiente embalado por aroma de incenso.

Na primeira hora Brunton foi tentado a abandonar o


lugar. O que estava fazendo ali? Por que Maharishi não se
comunicava? Mas assim que sua ansiedade baixou e seu
intelecto acalmou, Paul Brunton viveu a mais estranha
experiência de sua vida. Percebeu que uma a uma suas
perguntas foram caindo por si mesmas, como se fossem
irrelevantes. Sentiu uma paz tão imensa e verdadeira jamais
experimentada, e uma alegria sem causa, como se tudo já
estivesse perfeito. Por fim, perdeu a consciência e
experimentou um estado de beatitude que palavra alguma
poderia descrever. Ao voltar a si, finalmente entendeu como
Ramana instruía e transformava seus discípulos.

Brunton ficou meses na presença de Ramana Maharishi,


bebendo de sua sabedoria. E coube a Brunton apresentar
Maharishi ao mundo e fazê-lo ser seguido e mesmo
admirado no Ocidente, inclusive por personalidades
famosas, como o psiquiatra Carl Gustav Jung, o dramaturgo
William Stoddart e o sanscritista Heinrich Zimmer.

Tendo achado a paz, Brunton voltou ao Ocidente, mas


planejou e executou novas viagens ao Oriente e, como seu
outro amigo de Londres previra, contatou Lamas tibetanos,

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monges zen do Japão, taoístas da China entre outros. Sua
vida foi um peregrinar sem fim pelo Oriente.

Brunton também fez uma interessante viagem ao Egito e


lá se tornou o primeiro e o último homem a conseguir
autorização para pernoitar sozinho na Câmara do Rei,
localizada no centro da Pirâmide de Quéops. Na misteriosa
câmara, sozinho, Brunton teve uma arrebatadora experiência
mística. Experimentou um desdobramento psíquico e foi
guiado aos recintos secretos da Grande Pirâmide, ainda não
descobertos. Nesta experiência, foi-lhe revelada a verdadeira
finalidade da Grande Pirâmide: trata-se de uma antiga
estrutura iniciática construída em período anterior ao que a
arqueologia atual defende, com técnicas ainda hoje
desconhecidas. Brunton aprendeu ainda que sob a pata
esquerda da Esfinge estão guardados registros da construção
e da finalidade da Pirâmide, bem como documentos de
origem atlante que, quando descobertos, vão reescrever a
história. Foi-lhe dito que, na hora certa, tais tesouros serão
reencontrados pela humanidade....

Os livros de Paul Brunton sobre suas viagens e reflexões


tornaram-se rapidamente best-sellers em vários países e
ainda hoje são um guia inspirado para todos os buscadores.
Todos foram traduzidos ao português pela Editora Pen-
samento, mas apenas alguns encontram-se atualmente
disponíveis.

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Após seu grande período de viagens, Brunton se
refugiou na tranquila Vevey, na Suíça, e de lá continuou
escrevendo. Famoso e procurado por muitos buscadores do
mundo todo, Brunton sempre se esquivou e preferiu o manto
de discípulo, nunca o de Mestre.

Paul Brunton morreu em 1981, aos 83 anos, em seu


refúgio suíço, tendo deixado cerca de 20 mil páginas de
reflexões espirituais, que ainda estão sendo publicadas. Ele
criou o termo “Eu Superior” como sinônimo para a Fonte de
Sabedoria Divina no interior de cada ser, pois afirmava que
esse ponto, no âmago de cada um, é o ponto onde o homem
finito encontra o infinito e responde ao absoluto, ao inefável
Ser, reagindo àquilo que transcende sua própria existência.

Na história moderna do Esoterismo e do Ocultismo, o


nome de Paul Brunton brilha com uma luz especial. Dos
sagrados recessos do Oriente ele soube trazer as gemas
preciosas, adaptadas à sede ocidental. Experimentou a
Verdade e desejou torná-la disponível aos seus leitores,
lembrando-os de que ela só poderia ser alcançada no interior
do homem, pela prática do silêncio e da meditação profunda.

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Bibliografia

De Brunton:

 A Índia Secreta. Ed. Pensamento.


 O Egito Secreto. Ed. Pensamento.
 A Realidade Interna. Ed. Pensamento.
 A Sabedoria Oculta Além da Ioga. Ed. Pensamento.
 A Busca do Eu Superior. Ed. Pensamento.
 Um Eremita no Himalaia. Ed. Pensamento.
 Mensagem de Arunachala. Ed. Pensamento.
 A Sabedoria do Eu Superior. Ed. Pensamento.
 O Caminho Secreto. Ed. Pensamento.
 A Crise Espiritual do Homem. Ed. Pensamento.
 Ideias em Perspectiva. Ed. Pensamento.

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MARIE CORELLI
A GRANDE ROMANCISTA
DO ESOTERISMO

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O Esoterismo e o Ocultismo também produziram,
além de obras técnicas sobre o tema, romances iniciáticos:
Um gênero de literatura que alia uma história real ou fictícia,
geralmente romanceada, com princípios esotéricos autên-
ticos. O tempo provou ser este um dos melhores métodos
para a difusão de alguns rudimentos das Ciências Ocultas
entre as massas despreparadas, a fim de familiarizá-las com
esses temas especiais, minimizando preconceitos e orien-
tando o público para horizontes mais vastos de conheci-
mento.

Coube a uma mulher inglesa do século XIX o papel de


ter se tornado um arauto do Esoterismo por meio dos
romances ocultistas, conquistando corações e mentes em
toda a Europa e, posteriormente, em várias partes do mundo.
Reverenciada pelos iniciados, ela é, não obstante, menos
conhecida hoje em dia, embora permaneça brilhando como
um diadema no altar das ciências esotéricas. Mística iniciada,
é aclamada por gerações de ocultistas, sendo seus livros
ainda hoje uma referência e fonte de conhecimentos
especiais.

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Marie Corelli nasceu em 1885 em Londres como Mary
Mackay. Aos 11 anos foi enviada pelos pais a um convento
na França, para completar sua educação, tendo retornado à
Inglaterra em 1870. Desde cedo Marie mostrou notável
aptidão para a música e para a escrita. E foi como musicista
que ela tentou iniciar uma carreira, sob o nome de Marie
Corelli.

Contudo, quis o seu o destino, ou melhor, o seu


karma, que ela fosse direcionada desde cedo para os estudos
ocultistas. Como se deu sua iniciação e preparação neste
campo ainda está envolto em segredo, que ela fez questão de
manter durante toda a vida. O pouco que permitiu que o
público soubesse revelou, contudo, que Corelli fora cedo na
vida iniciada em um ramo da Ordem Rosacruz da Europa. O
historiador do Esoterismo Willy Schrodter revela que Corelli
fora introduzida no Rosacrucianismo por um Conde
Armênio de nome Heliobas. Mais tarde, Corelli colocou esta
sua experiência iniciática em seu primeiro livro, intitulado
“A Romance of Two Worlds”, lançado em 1886 e que se tornou
grande sucesso literário. O título da obra, “Um Romance de
Dois Mundos”, é sugestivo, pois alude, na verdade, à tran-
sição de Corelli do mundo profano ao mundo do Esoterismo.
A partir deste livro, sua prolífica pena não parou mais,
brindando o público com dezenas de novelas cujo sucesso
superava progressivamente os lançamentos anteriores, ao
ponto de Corelli se tornar uma verdadeira celebridade em

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vários países, consagrando-a como a maior escritora de ficção
do seu tempo, superando em aclamação e número de leitores
até gigantes literários de sua época, como Arthur Conan
Doyle, H. G. Wells e Rudyard Kipling.

Os livros de Marie Corelli romperam mesmo os


portões do Palácio de Buckingham, fazendo da família real
britânica leitora assídua de seus livros.

Hoje sabe-se que Corelli foi uma alta iniciada


rosacruz, com uma missão específica em sua época:
familiarizar o público, de uma forma insuspeita, com
conceitos capitais que são objeto de estudo do Ocultismo. Os
temas recorrentes em sua obra são o poder do magnetismo
espiritual, a aura, a projeção psíquica, o corpo astral, a
reencarnação, a cura mística e mais as faculdades psíquicas
latentes no ser humano, como a clarividência, a
clariaudiência, a telepatia etc. Corelli alude também, em
alguns de seus livros, à jornada iniciática do buscador,
quando o discípulo, só e desamparado, encontra um Mestre
que o guia para os arcanos do conhecimento superior. Ela
também se esforçou para apresentar em alguns de seus livros
uma compreensão mais mística do Cristianismo, e sua
missão nesse sentido foi, sem dúvida, contrabalançar os
dogmas rígidos que, em sua época, submergiam os
ensinamentos esotéricos de Jesus em crenças puramente
confessionais.

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Naturalmente, para tornar esses temas palatáveis ao
público, em uma época onde tanto a ciência como a religião
eram muito mais dogmáticas do que nos dias de hoje, Corelli
envolveu habilmente esses assuntos esotéricos em romances
cujas histórias souberam capturar a imaginação e o coração
dos leitores.

Marie Corelli escreveu mais de 30 livros. Destacamos


aqui alguns dos que mais desvelaram alguns arcanos do
Esoterismo. Em primeiro lugar está, naturalmente, sua
primeira obra, “A Romance of Two Worlds”. Após este,
merecem destaque: “Vendetta: A Story of One Forgotten”;
“Ardath: The Story of a Dead Self”; “The Master-Christian”; “The
Secret Power”; “The Sorrow of Satan”; “Sempitern Life”; “Life
Everlasting” e “The Strange Visitation of Josiah McNasson: A
Ghost Story.”

Destes, alguns chegaram a ser traduzidos para o


português já na primeira metade do século XX pelo Círculo
Esotérico da Comunhão do Pensamento, através de sua
editora, a Pensamento. Todos estão hoje fora de catálogo,
sendo praticamente inencontráveis em nosso idioma, a não
ser em raros sebos. Já o livro de Corelli “The Sorrow of Satan”,
foi publicado no Brasil na década de 1970 pela Editora
Juniper sob o título “Réquiem para Satã – O Grande Romance do
Ocultismo”. Apesar do nome, a obra, naturalmente, não alude
à existência do diabo, desacreditada por todos os esoteristas
e ocultistas, mas usa a figura mitológica de Satã como

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alegoria para a luta da alma do discípulo esotérico contra
suas próprias sombras interiores, até que seu ego possa ser
absorvido pela consciência da iluminação. Este livro também
está fora de catálogo no Brasil.

Talvez o livro mais místico de Corelli seja “Everleasting


Life”, publicado no Brasil na década de 1980 pela editora da
Ordem Rosacruz, AMORC sob o título de “Vida Sempiterna”,
sendo o único livro da autora ainda em catálogo na língua
portuguesa. Na introdução, Corelli revela, mais do que em
todos os seus livros, o objetivo iniciático de suas obras,
permitindo ao leitor entrever a grande missão que lhe foi
incumbida. Também sugere que se trata de uma história real,
velada pelo manto da ficção.

A maioria dos livros de Correlli, mesmo após quase


100 anos de sua criação, continuam publicados e muito lidos
em outros idiomas. Nada menos do que nove deles foram
adaptados para o cinema no início do século XX, a maioria
pelos estúdios americanos Fox e Paramount. E mesmo em
plena hecatombe da II Guerra Mundial, o célebre primeiro-
ministro inglês Winston Churchill encontrou tempo para ler
as obras de Marie Corelli, de quem era fã.

Algumas das obras de Corelli também foram adap-


tadas para o teatro. E em 2007 lançou-se o filme britânico
Angel, baseado em um livro de Elizabeth Taylor, que se trata,

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na verdade, de uma biografia velada de Marie Corelli. O
filme foi estrelado por Romola Garai no papel de Corelli e foi
dirigido por François Ozon.

Marie Corelli faleceu em 1924. Viveu uma vida


reclusa, à margem da curiosidade pública, embora tenha se
envolvido em prolíficas causas sociais. Amada pelos leitores
de vários países, atacada pelos críticos acadêmicos, que não
entendiam os temas de seus livros, tratados pelo termo
pejorativo de “sobrenaturais”, foi, não obstante, uma estrela
em seu tempo e continua sendo guia e inspiradora para
milhões de buscadores místicos, que encontram em suas
obras um vasto horizonte de conhecimento arcano.

Marie Corelli é hoje considerada por muitos autores


como precursora dos livros da “Nova Era”. De todo modo,
todos os místicos têm com ela uma dívida de gratidão, pelo
seu labor incansável em disseminar de forma séria conceitos
do Ocultismo para o grande público, preparando a
humanidade para uma maior tomada de consciência.

Em um de seus livros, Marie Corelli escreveu:

“Então você está cansado da sua vida? Mais uma razão


para você viver. Qualquer um pode morrer. É muito fácil
dar o último suspiro. A vida é heroísmo. Faça a sua parte,
não importa o quão ruim seja a peça. Todas as melhores,
maiores, mais puras e dignas coisas da vida estão além de
todo valor do mercado. Os dons dos deuses não estão à
venda."

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Bibliografia

De Corelli:

 Vida Sempiterna. Ed. AMORC


 Réquiem Para Satã - O Grande Romance do Ocultismo.
Ed. Juniper.

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LOUIS-CLAUDE DE SAINT-MARTIN
O MESTRE DESCONHECIDO

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A França dos séculos 17 e 18 foi um palco em ebulição
de personagens místicos que influenciaram de forma deci-
siva os destinos ocultos da Europa e também do mundo. Foi
um período privilegiado de enviados cósmicos, destinados a
acordar os sonolentos e promover maior expansão de cons-
ciência. Nomes como Saint-Germain, Franz Mesmer e Ales-
sandro Cagliostro são amplamente conhecidos e revêren-
ciados por místicos no mundo todo.

Mas há um Mestre desta época que também atuou na


França e que preferiu ficar incógnito durante sua vida,
ganhando mais notoriedade apenas após sua morte. Ele foi
considerado o mais puro, o mais inspirado dos filósofos de
sua época. Amava a humanidade e envidou esforços para
inspirar os homens a recuperar seus títulos e direitos divinos
originais. Mestre, iniciador, ocultista e, sobretudo, místico,
Saint-Martin deu origem àquela que é uma das mais
influentes Escolas Esotéricas do mundo, o Martinismo, que
hoje se estende pelo mundo, iniciando milhões nos mistérios
de seus ensinamentos.

Louis-Claude de Saint-Martin nasceu em 1743 na cida-


de francesa de Amboise, Tourraine, numa família nobre.
Tendo perdido cedo sua mãe, foi criado por uma madrasta

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que o iniciou na leitura do teólogo Jacques Abbadie, cuja obra
tinha laivos de misticismo e, sobretudo, promulgava o
conhecimento de si mesmo. Dotado de uma natureza
profundamente contemplativa, Saint-Martin aprofundou-se
também, durante seu crescimento, na leitura e meditação da
obra de Pascal e com ela concluiu que, havendo um Criador
e uma criatura, e nesta uma alma divina que fazia a criatura
participar da realeza de seu Criador, nada mais era
necessário para ser sábio...

Por insistência do pai, Saint-Martin cursou Direito,


mas chocado com as artimanhas, trapaças e perturbações
mundanas que orbitavam esta profissão, dedicou-se em seu
período universitário mais ao estudo de filósofos como
Voltaire, Montesquieu e Rosseau. Contudo, não encontrou
neles nada de válido, pois por se tratar de autores não-
iniciados, achou que suas doutrinas não deslindavam os
mistérios da existência.

Praticando por curto tempo o direito e não mais


suportando sua atmosfera, Saint-Martin aprofundou-se tam-
bém no estudo dos números e de seu simbolismo, bem como
nas bases naturais da razão. Mas, logo entendeu que só nos
estudos arcanos encontraria a Verdade pela qual ansiava.
Assim, Saint-Martin desligou-se da carreira jurídica antes
mesmo de iniciá-la e a trocou pela vida militar, e por uma
única razão: em tempos de paz, esta profissão deixava aos

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soldados muito tempo livre, o que convinha ao seu principal
interesse: as pesquisas místicas.

Integrando o Regimento de Foix, Saint-Martin viu-se


lotado na guarnição de Bordeaux e lá quis a Providência, ou
a sincronicidade, ou mesmo o bom karma, que Saint-Martin
travasse amizade com outro Oficial, M. de Grainville. Este,
sabendo dos interesses místicos de Saint-Martin, revelou ao
jovem que ele, Grainville, pertencia a uma elevada escola
esotérica, conhecida como Ordem dos Cavaleiros Maçons
Elus Cohen do Universo. Esta Ordem fora trazida à Europa
pelo grande iniciado de origem marrana Martinès de
Pasqually e colocada sob os auspícios da Maçonaria
Universal, sem, contudo, responder aos demais Ritos,
gozando de total independência. Seu estabelecimento deu-se
por volta do ano de 1754. Tratava-se de uma Ordem com
ensinamentos muito especiais, cuja origem era reputada por
alguns como sendo o próprio Martinès, e por outros como
anterior a ele e muito antiga.

De todo modo, a Ordem propunha por meio de


ensinamentos teóricos e práticos restaurar no ser humano
todos os seus direitos divinos primitivos, perdidos desde a
queda na matéria, mutação esta que aprisionou o corpo
glorioso de que o ser humano outrora desfrutava em uma
armadura de carne, sujeito às leis do tempo e do espaço, em
uma dimensão limitadora, a matéria.

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A missão da Ordem dos Sacerdotes Eleitos do
Universo era, então, reintegrar o homem em todos os seus
primitivos poderes e libertá-lo por meio da Grande Luz que
já era, por herança, dele. O termo Elus Cohen significa
“Sacerdotes Eleitos” e tem sua origem em um termo bíblico
antigo, os “co-hã-nin”, membros do clero a serviço do Templo
de Salomão em Jerusalém. Elus Cohen pode ainda ser
interpretado como “Cavaleiro-Sacerdote”, um cruzado a
serviço do Bom Combate dentro de si mesmo, destinado a
conquistar a Terra Santa da sua própria alma.

Como todas as ordens iniciáticas, a Ordem dos Elus


Cohen não era religiosa, mas valia-se de um raro misticismo
de origem judaico-cristã, praticando uma teurgia cabalística
por meio de complexas cerimônias que colocavam seus
iniciados em contato com as Hostes Angélicas, as quais
tornavam-se a principal fonte de instrução dos membros.
Através de inúmeras purificações pessoais, práticas de
virtudes, orações, meditações e estudos, os iniciados eram
ainda instruídos no traçado de círculos operativos em
momentos astrais propícios, a fim de que um Portal Cósmico
fosse, por correspondência, aberto, para que pudessem se
elevar psiquicamente à esfera angélica e receber os
ensinamentos diretamente dos anjos.

A Ordem transmitia ainda uma rica cosmogonia,


explicando aos estudantes o porquê da Criação, como se dera
a emancipação do homem do Círculo Divino, além da

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manifestação de demais seres também partícipes da
Divindade, como os anjos, e sua função na Hierarquia
Cósmica. Falava ainda do nascimento do mal e de sua
constituição ilusória, chamando atenção para o triunfo do
Bem. O Gênesis da Bíblia era compreendido à luz da Cabala
e demais doutrinas próprias da Ordem, sendo este então
desvelado em seus verdadeiros elementos, proporcionando
a sabedoria nele escondida e por tantos mal interpretada.

Enfim, este ramo especial da Maçonaria promulgava


uma verdadeira Teosofia, ou Sabedoria Divina, em
contraposição ao filosofismo e ao ateísmo que grassavam na
época. Assim como a Maçonaria de Cagliostro, a Ordem dos
Elus Cohen reivindicava, pois, o verdadeiro núcleo esotérico
da Maçonaria. Sob o impulso de seu Grão Mestre, Martinès
de Pasqually, as Lojas desta Ordem começaram a se espalhar
pela Europa e seu quadro de membros ampliou-se.

Entusiasmado com a revelação de Grainville, logo


Saint-Martin bateu nos Portais do Templo e foi aceito por
Martinés de Pasqually. A afeição mútua foi tão forte que
Pasqually fez de Saint-Martin seu secretário particular. Certo
dia, quando o Mestre e discípulo estavam andando juntos
por uma das ruas de Bordeaux, Martinés falou a Saint-
Martin: “Contempla todas estas pessoas. Não sabem por que
caminham, mas tu saberás!” Nesta época, Saint-Martin tinha
pouco mais de 20 anos e era um iniciante no estudo do
Ocultismo, mas prometia muito, o que não deixou de ser

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observado pelo Grão Mestre. E tanto era verdade que o
progresso de Saint-Martin na Ordem foi rápido.

No final de 1768 Saint-Martin recebeu de uma só vez


os três Graus iniciais dos Elus Cohen pela espada de Balzac,
avô do romancista Honoré de Balzac, que era um iniciado na
Ordem. E atingiu, após anos de perseverantes estudos, o
último Grau da Ordem, que tinha o título de Reau-Croix,
tornando-se um líder no meio dos martinesistas.

Em 1772, contudo, sem aviso prévio e sem explicar sua


motivação, o Grão Mestre Martinès de Pasqually partiu em
missão para a ilha de São Domingos, no Haiti e lá
subitamente faleceu ou, como é chamado na terminologia
maçônica, passou ao Oriente Eterno.

Pegos de surpresa, Saint-Martin e seus condiscípulos


decidiram pela continuidade da Ordem dos Elus Cohen.
Algum tempo depois, contudo, Saint-Martin, observando
que a Ordem estava em excelentes mãos, sob a liderança de
seu condiscípulo e grande iniciado, Jean Baptiste Willermoz,
decidiu seguir um caminho próprio.

Saint-Martin amava e admirava seu primeiro Mestre,


Martinès, mas seu coração ansiava por mais conhecimentos,
através de um método que fosse menos complexo e mais
condizente com sua natureza íntima. Assim, fez uma série de
viagens pela Europa, entrando em relação com muitos
místicos. Durante elas, dedicou-se com todas as forças a

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combater a doutrina materialista dos enciclopedistas e a
visão superficial da ciência, a qual, segundo ele, se atinha
apenas à análise indutiva e fragmentária dos fenômenos
externos e das leis secundárias, não se elevando às causas
ativas onde as Leis Primárias poderiam ser conhecidas de um
modo abarcante e inclusivo.

Foi no ano de 1788 que deu-se outro acontecimento


decisivo na vida de Saint-Martin: ele encontrou seu segundo
Mestre, ainda que póstumo; aquele que iria dar rumo
definitivo ao seu caminho e consolidar sua jornada iniciática.
Saint-Martin conheceu, por meio de seu amigo, um grande
místico, Rodolphe de Salzmann, as obras de Jacob Boehme, o
Teósofo Teutônico. Boehme vivera quase dois séculos antes
de Saint-Martin e se destacara por ter proposto uma filosofia
profundamente mística, através de uma série de iluminações
que recebera ao longo da vida. Associado aos Rosacruzes,
Boehme tornou-se o guia místico de toda uma geração.

Maravilhado com o conteúdo sublime dos ensina-


mentos de Boehme, Saint-Martin considerou o teósofo a
maior luz que a humanidade conhecera, estando atrás
apenas daquele que fora a própria Luz, ou seja, o Cristo,
chamado na escola de Martinés de Pasqually como “Grande
Reparador”. Estudando profundamente a obra de Boehme e
penetrando em suas luzes esotéricas, Louis-Claude de Saint-
Martin considerou que as doutrinas de Boehme casavam-se
perfeitamente com as de seu primeiro Mestre, Martinès de

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Pasqually, e que, agora, um sistema perfeito podia ser cons-
tituído para dar ao homem todos os privilégios que já eram
seus, mas que ele, pela ignorância, pensara ter perdido.

Constituía-se, assim, pelas mãos de Saint-Martin, um


caminho capaz de levar o ser humano à iluminação, uma
Senda que, dispensando a complexidade das cerimônias
teúrgicas de sua primeira escola, se concentrava
precipuamente no que Saint-Martin chamou de Senda
Cardíaca, ou seja, no mergulho ativo no interior de si mesmo,
produzindo uma Alquimia que dissolveria o velho homem
na luz de um Novo Homem, doravante conhecido como
“Homem-Espírito”.

Ocultando-se sob o pseudônimo de “Filósofo


Desconhecido”, Saint-Martin passou a lançar obras que
abalaram profundamente leitores em toda a Europa, gerando
uma onda de entusiasmo por seus ensinamentos. Das
cidades de Toulouse, Versailles, Lyon, Estrasburgo, Amboise
e Paris, Saint-Martin conclamava seus leitores a deixarem de
ser “Homens da Torrente”, cegos andarilhos do mundo, e se
tornassem “Homens de Desejo”, buscadores ferventes da
mística interior, para que, finalmente, após um trabalho
especial, se convertessem em “Homens-Espírito”, ou seja,
iluminados.

O método para isso mesclava os conhecimentos da


Escola de Martinés de Pasqually com a de Jacob Boehme.
Saint-Martin divulgava também a existência do Liber H. - o

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Livro do Homem, no qual tudo e todas as coisas estavam
escritas. A posse, a leitura e a compreensão deste livro
tornavam qualquer ser humano livre para sempre.
Naturalmente, tal Livro não era outra coisa que o próprio
homem, em sua essência íntima. Anjo caído, deve o homem
descobrir o caminho de volta à Imensidão de onde partiu.
Preso no tempo e no espaço, é mergulhando em si mesmo
que ele pode recuperar sua dimensão eterna. O Homem-
Espírito, perfeitamente iniciado e consciente do peso, do
número e da medida de todas as coisas, ou seja, do alfabeto
cósmico da Leis Primárias que sustentam a Criação, pode,
por sua vez, tornar-se um colaborador ativo do Grande
Arquiteto do Universo, comandando a Criação e colabo-
rando com a Hierarquia Angélica.

Com tais ensinos sublimes, constituiu-se em volta de


Louis-Claude de Saint-Martin um círculo íntimo de estu-
dantes, presencial e mesmo por correspondência, que
apelavam ao Mestre para receber mais Luz. Cada um, no
momento apropriado, era por Saint-Martin iniciado nesta
que foi chamada por Saint-Martin de Sociedade dos Íntimos.
Os discípulos de Saint-Martin passaram a ser conhecidos
com o tempo como “martinistas”. Eles recebiam uma
preciosa tripla herança: da Escola de Martinés de Pasqually,
da Escola de Jacob Boehme e a síntese das duas feita pelo
próprio Saint-Martin.

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Segundo alguns historiadores do Martinismo, foi o
próprio Saint-Martin quem definiu o símbolo de sua
Sociedade de Íntimos, conhecido como Pantáculo Martinista.
Para os iniciados, em sua significação plena, ele resume as
principais Leis Esotéricas da Sociedade de Saint-Martin. Os
discípulos de Saint-Martin, quando plenamente iniciados,
recebiam o grau de “Superior Incógnito” e eram instados a
trabalhar pela regeneração da humanidade no silêncio e
discrição, assim como fazia seu Mestre.

Por volta de 1803, visitando um amigo, Louis-Claude


de Saint-Martin contou-lhe que estava partindo para o
Oriente Eterno. De fato, no dia 13 de outubro do mesmo ano,
na cidade de Aulnay, Saint-Martin retirou-se ao seu quarto e
lá, silenciosamente, fez tranquilamente sua transição às
Esferas Superiores.

Por meio de linhas iniciáticas transmitidas de Mestre


a discípulo, o Martinismo chegou ao século XIX e, na mesma
França que viu a maior parte do labor de Saint-Martin, na
cidade de Paris, dois jovens estudantes de medicina que
haviam recebido a iniciação martinista por vias diferentes, e
que ainda não se conheciam, travaram contato: Gerard
Encausse, que já era conhecido pelo nome místico de Papus,
e Pierre Augustin Chaboseau. Após a surpresa do encontro e
da descoberta de sua origem iniciática comum, ambos
trocaram iniciações e se confirmaram mutuamente na
Tradição Martinista.

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Ciente do precioso legado, Papus, com a colaboração
de Chaboseau decidiu reavivar a Sociedade de Saint-Martin
através de uma Ordem plenamente estruturada, capaz de
perenizar os ensinamentos do Filósofo Desconhecido. Nas-
ceu a Ordem Martinista, que agremiou uma plêiade de
místicos valorosos contemporâneos de Papus e, com o
tempo, se espalhou pelo mundo, estando hoje presente em
quase todos os continentes. O mesmo pantáculo de Saint-
Martin foi adotado como símbolo da Ordem, pelo qual ela é
universalmente conhecida.

A Ordem Martinista fundada por Papus e seus colegas


ocultistas protege e perpetua a herança mística deixada por
Saint-Martin. A maior Ordem Martinista da atualidade e que
remonta ao Conselho Supremo Original desta Fraternidade,
que foi presidido por Papus, é a Tradicional Ordem
Martinista, que opera no seio da Ordem Rosacruz-AMORC.
Nela, homens e mulheres estudam e são iniciados nos Graus
e nas práticas próprias desta bela tradição, em perfeita
liberdade de pensamento.

Quanto aos livros de Saint-Martin, destinados ao


grande público, são hoje publicados em vários idiomas.
Profundas e luminosas, estas obras trazem um apanhado dos
ensinamentos místicos de Saint-Martin e de Martinès de
Pasqually, constituindo-se num verdadeiro tesouro
iniciático. São publicadas no Brasil pela Tradicional Ordem
Martinista por meio da Editora da AMORC. Podem ser

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conseguidas diretamente na Grande Loja da AMORC, em
Curitiba, em seus Organismos Afiliados espalhados pelo
Brasil, ou pelo site da Organização (www.amorc.org.br).

Saint-Martin disse certa vez que todos os místicos


falam a mesma língua porque vêm do mesmo país.
Acrescentou ainda, resumindo sua missão:
"Desejei fazer o bem, mas sem fazer barulho, pois senti que
o barulho não fazia bem, e que o bem não fazia barulho."

Louis-Claude de Saint-Martin é hoje amado por milhões


de martinistas que, profundamente gratos, veem nele o
iniciado perfeito, um verdadeiro Superior Incógnito que,
como outros, esteve na Terra para iluminar os homens, seus
irmãos. Em sua memória, consignamos aqui um trecho de
seus escritos, onde Saint-Martin resumiu poeticamente a
condição do homem da torrente, aquele que não conhece a si
mesmo, bem como exaltou a alegria de todos que descobrem
o segredo de sua verdadeira origem. Disse ele:

“Princípio dos seres, todos estão ligados a ti. É a ligação


secreta contigo que lhes dá valor, qualquer que seja o lugar
e a posição que ocupem. Tua palavra subdividiu-se desde a
origem, como uma torrente que, do alto das montanhas,
precipita-se sobre rochas pontiagudas. Assim, todos os
raios de tua palavra fazem brilhar aos olhos do sábio tua
luz viva e sagrada; ele vê tua ação produzir e animar todo
o universo. Objetos sublimes de meus cânticos, serei

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muitas vezes forçado a desviar de vós o meu olhar. Gritos
de dor, misturai-vos a meus cantos de alegria. Provas
irrefutáveis sobre as verdades primeiras já não foram
manifestadas às nações? Se ainda vos restam dúvidas, ide
purificar-vos nessas fontes. Depois retornareis para unir
vossa voz à minha. E juntos celebraremos as alegrias do
homem de desejo, que terá tido a felicidade de chorar pela
verdade.”

De Saint-Martin:

 Dos Erros e da Verdade – Ed. AMORC


 O Ministério do Homem-Espírito – Ed. AMORC
 O Novo Homem – Ed. AMORC
 O Templo do Coração – Ed. AMORC
 O Homem de Desejo – Ed. Martins Fontes

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DARIO VELLOZO,
PIONEIRO DO OCULTISMO NO BRASIL

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A história do Ocultismo no Brasil ainda está para ser
contada e não é nossa intenção proceder aqui a uma pesquisa
deste gênero, que demandaria um mais amplo estudo. Desde
seu descobrimento oficial, é muito provável que o Brasil
tenha recebido em diferentes épocas pessoas de outros países
que professavam privadamente o Ocultismo, sem, contudo,
criar algum movimento de ampla escala.

No âmbito das Escolas Iniciáticas, cabe à Maçonaria o


papel de ter sido o primeiro movimento ocultista a operar
mais amplamente em terras brasileiras, estando suas
primeiras atuações localizadas na época do Brasil Imperial.
De fato, registra-se a presença de uma Loja Maçônica na
Bahia em 1797, a Loja Cavaleiros da Luz. A primeira Loja
regular foi, contudo, a Loja União, em 1800, sediada no Rio
de Janeiro e ligada a um Oriente da França.

Contudo, carecia-se de um nome marcante que atu-


asse abertamente junto ao grande público, professando os
ideais do Ocultismo. Este papel coube a um brasileiro no final
do século XIX e começo do século XX, que propagaria
fortemente o Ocultismo entre o público. Falamos de Dario

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Vellozo, pessoa extraordinária, versátil e mesmo genial, além
de um grande ocultista. Infelizmente, ele é hoje uma figura
semiesquecida por muitos brasileiros, inclusive esoteristas,
pelo que desejamos oferecer nossa pequena contribuição
trazendo à luz novamente sua venerável efígie.

Dario Persiano de Castro Vellozo nasceu no Rio de


Janeiro em 1869. Ainda com 16 anos mudou-se com a família
para Curitiba, capital no Paraná, cidade em que viveria a
vida toda a partir de então, e que testemunharia todo o seu
labor cultural e iniciático. Dario trabalhou como funcionário
público e até tipógrafo no Jornal “Dezenove de Dezembro”,
o jornal mais antigo do Paraná. A partir de 1890, viu seu
interesse pela literatura aumentar tanto que colaborou com
diversos jornais e revistas, inclusive algumas ligadas à
educação. Interessou-se muito pelo Movimento Simbolista,
movimento literário que opunha-se ao positivismo, ao
realismo e ao naturalismo, advogando o retorno do ideal, do
sutil e mesmo do etéreo e onírico à vida humana.

Assim é que Dario Vellozo tornou-se um dos grandes


nomes do Movimento Simbolista no Paraná, ao lado de
figuras como Emiliano Pernetta, Rocha Pombo, Nestor de
Castro, entre outros.

Em 1898, Vellozo tornou-se professor de História Uni-


versal e do Brasil no Ginásio Paranaense, tendo sido também

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professor da Escola Normal e um dos membros fundadores
do Instituto Histórico e Geográfico Paranaense.

É aqui que a vida iniciática de Dario Vellozo começa a


despontar. Por conta de sua iniciação na Maçonaria, ocorrida
anos antes, em 1898 Dario Vellozo já tinha uma pujante
atividade maçônica. Em função de seu contato com a
Maçonaria, Dario soube da existência de um famoso grupo
de esoteristas na França que estava realizando uma grande
difusão das Ciências Ocultas, liderados pelo célebre ocultista
Dr. Gerard Encausse, mais conhecido pelo nome místico de
Papus. Assim, Dario Vellozo entrou em contato com o grupo
de Papus e passou a assinar a Revista L´Initiation, uma das
revistas dedicadas a difundir as ciências ocultas e divulgar a
Ordem Martinista, Ordem fundada anos antes por Papus e
Augustin Chaboseau. Esta Ordem é uma autêntica cavalaria
espiritual, criada para perpetuar os ensinamentos e a
iniciação mística de Louis-Claude de Saint-Martin, o Filósofo
Desconhecido, que se tornou célebre no século XVIII pelos
seus escritos esotéricos.

Assim é que, na Revista Ramo de Acácia, ano IV, nº 28,


de 1911, publicada por Dario Vellozo, encontramos uma
declaração sua sobre os seus primeiros tempos de estudos
ocultistas:

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“Traduzi e entrei a publicar no Clube Curitibano as
primeiras notícias que me vinham de Teosofia e Ocultismo.
Estudei Papus, Barlet, De Guaita, Sedir, Saint-Yves
d'Alveydre, Fabre d'Ollivet, Court de Gébelin ...”

Já na Revista do Clube Curitibano (Club Coritibano)


de 1898, ano IX, nº 9, vemos publicado um artigo seu de nome
“Ciência Oculta”, que é na verdade uma carta de Dario
Vellozo ao seu amigo e companheiro de Iniciação, João
Itiberê. Neste artigo Dario Vellozo dá uma ideia mais clara
de sua paixão pelo Esoterismo e pelo Ocultismo. Eis um
trecho:

“Temos subido, por vezes, em deliciosas palestras, aos


sonhos magnificentes do Grande Arcano, abrindo lótus de
confidências, lírios de idílios mortos (...) Temos descido à
noite das idades extintas, das civilizações apagadas,
perdidas naquela assombrosa terra inolvidável do Oriente
e do Egito, - terra do Ganges, terra do Eufrates, terra do
Nilo! Temos, ainda, peregrinos que somos do Sonho e da
Arte, entrado nas necrópoles de Mênfis, nos templos de
Elora, jardins suspensos da Babilônia! - Por vezes, uma
estrela cintila, - rubi feérico, engastado num zainfe de ônix;
é a flama dos atanores brilhando nos castelos da Idade
Média; é o fanal do alquimista, perpetuando os ensina-
mentos da Arte espargírica. Por vezes, entre as ameias
ruídas das torres abandonadas, erra um espectro: o Astró-
logo interpreta o simbolismo dos pentagramas celestes."

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Por meio da revista L´Initiation, de Papus, Dario soube
da existência de um ocultista com atuação na América do Sul.
Tratava-se de H. Girgois, então Supremo Delegado da
Ordem Martinista para a América do Sul e diretor da Loja
Marinista Luz Astral, de Buenos Aires. Entrando em contato
com Girgois, e após algumas correspondências trocadas
entre ambos, Dario recebeu a autorização para formar um
núcleo preliminar de estudos martinistas no Brasil, uma
espécie de antecâmara da Ordem Martinista.

Assim, em 3 de maio de 1900 Dario Vellozo e outros


fundaram o “Grupo Independente de Estudos Esotéricos Luz
Invisível”, que operaria em um dos salões do Clube
Curitibano. A carta patente confirmando o grupo chegou em
10 de junho do mesmo ano - a Carta IX-39. Entre os
postulantes ao Martinismo que o frequentavam, encontra-
mos célebres nomes da vida paranaense e brasileira de então,
como Euzebio Siveira da Motta, Reynaldo Machado,
Emiliano Pernetta, João Itiberê, Ermelino de Leão, Generoso
Borges, Josefina Rocha, Mario Tourinho, Augusto Stresser,
Georgina Mongruel, Martha Silva Gomes, Florentina Vital
Macedo, Noemia do Amaral Gutierrez, entre muitos outros.
O Centro Martinista floresceu...

Dario Vellozo ligou-se ainda a outra organização asso-


ciada à Ordem Martinista de Papus, a saber: a Sociedade

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Alquímica da França, dirigida pelo célebre alquimista
François Jollivet Castellot, o qual dedicava-se a experiências
de Alquimia. Conta-se, inclusive, que teria conseguido em
laboratório a transmutação de chumbo em ouro. Embora não
haja dados disponíveis, é possível ainda que Dario tenha se
ligado à outra Ordem muito próxima do Martinismo de
Papus, a Ordem Cabalística da Rosacruz.

Assim, pelas mãos de Dario Vellozo, a Tradição


Martinista aportou pela primeira vez em terras brasileiras.
Buscador infatigável, pesquisador incansável, apaixonado
pelo Ocultismo, Dario Vellozo desejava expandir ainda mais
as Ciências Ocultas no Brasil. Portanto, no âmbito de sua
afiliação maçônica, no mesmo ano em que fundou o Núcleo
Martinista Luz Invisível, Dario, em associação com outros
colegas, criou a Loja Maçônica Luz Invisível, afiliada ao
Grande Oriente do Brasil e que operava o Rito Escocês
Antigo e Aceito. O objetivo de Dario com essa Loja Maçônica
era torná-la não só um centro de estudos do Esoterismo
maçônico e da prática da caridade, mas também que ela fosse
uma câmara preliminar de recrutamento para o Núcleo
Martinista.

Na Revista Esfinge, editada por Dario Vellozo em 1899


e possivelmente a primeira revista esotérica do Brasil, vamos
encontrar, a partir do seu número 09, reproduzidos na capa

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os símbolos da Ordem Martinista, da Maçonaria e da
Sociedade Alquímica da França, as três organizações a que
ele se ligara. Nela ele escreveu:

"O Brasil não podia conservar-se alheio ao belo movimento


que se tem acentuado na Europa e se vai acentuando na
América. Os arautos do século XX proclamam a Renas-
cença do Espírito, a Era Nova da Alma. Os templos da
Ciência Oculta iluminam-se; sábios e pensadores
agrupam-se em Centros de Estudos Esotéricos, conti-
nuando as tradições da Kabbala, da Gnose, da Rosa+Cruz...
Os Símbolos da Maçonaria fulgem nos Santuários; e a
Alma das Tradições surge numa aspiração radiosa."

É importante ressaltar que das três ordens místicas às


quais Dario se afiliou no final do século XIX, atualmente
apenas a Ordem Martinista continua ativa. A Ordem
Cabalística da Rosacruz e a Sociedade Alquímica da França
adormeceram na primeira metade do século XX.

Graças ao seu labor iniciático, em 1905 Dario Vellozo


recebeu o título de “Mestre em Hermetismo”, assinado pelo
próprio Papus. No ano seguinte, 1906, Dario participou em
Buenos Aires do "Congresso do Livre Pensamento",
encontrando pela primeira vez fisicamente seu iniciador
martinista, H. Girgois. Por meio dele sua iniciação martinista
se completou e Vellozo recebeu diretamente da França, pelas
mãos de Papus, os Rituais Tradicionais da Ordem, mais a

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Carta 141, que o tornou Delegado Geral da Ordem Martinista
para o Brasil.

Mas a caminhada iniciática de Dario estava ainda por


atingir o seu zênite. Dentro dos seus estudos ocultistas, uma
das tradições que apaixonava Dario Vellozo era a Pitagórica.
Entusiasta da civilização grega clássica, ele sabia que
Pitágoras tinha sido um iniciado egípcio e que a famosa
Escola de Crotona não tinha sido uma mera escola de
filosofia, mas uma Escola Iniciática de Ocultismo. E foi
novamente pelas mãos de Papus que Dario decidiu encetar a
terceira fase da sua caminhada mística. No seu livro Horto
de Lysis, Dario Vellozo escreveu em certa parte:

"Os estudos de Teosofia e Ocultismo encetei-os em maio de


1896, com a leitura do Tratado Metódico de Ciência
Oculta, de Papus. À página 1062, dessa obra, se me depa-
raram pela primeira vez os Versos Dourados, traduzidos do
grego por Fabre d'Ollivet.”

Os Versos Dourados a que Dario se refere consistem em


um escrito iniciático tradicionalmente atribuído a Pitágoras.
Já conhecidos no século III antes de Cristo e amplamente
citados na antiguidade, fornecem uma rota para o discípulo
que aspira a perfeição.

Animado pelas luzes da iniciação pitagórica, Dario


Vellozo resolveu renovar essa iniciação no século XX. Assim

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é que fundou em 1909, com um grupo de alunos, colegas de
estudos esotéricos, livres-pensadores e outros, o Instituto
Neo-Pitagórico. A ideia era reviver no século XX, na
modernidade, as Escolas Iniciáticas gregas, assim como o
labor edificante dos antigos templos gregos. Mais
importante, reviver a iniciação pitagórica para todo o mundo
moderno.

A ideia foi tão bem-sucedida que, em 1918, ocupando


uma quadra inteira do bairro Vila Izabel, foi construída a
sede mundial do Instituto. O complexo consiste em um
tempo em estilo grego, chamado “Templo das Musas”, um
amplo bosque e demais construções anexas. O Bosque foi
chamado por Dario de “Retiro Saudoso”; o local onde se
erigiu o Templo foi nominado de “Horto de Lysis”. E na
residência que abrigava Dario e sua família, havia um
santuário de estudos particulares de Dario, que recebeu o
nome de “Cela de Apolônio.”

O Instituto Neo-Pitagórico rapidamente tornou-se um


dos centros, senão o principal centro, da vida cultural do
Paraná. Além de sede das atividades ocultistas de Dario –
maçônica, martinista e pitagórica– sediava um movimento
de revivescência das artes no mais elevado sentido, sempre
remetendo à cultura grega clássica, tida por Dario como um
modelo de pureza e sublimidade.

Assim é que Dario Vellozo e seus alunos costumavam


comemorar a abertura das estações, quando, vestidos como

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os antigos gregos, realizavam cerimônias especiais no
Instituto. Por vezes, Dario e seu grupo desfilavam na famosa
Rua das Flores, no centro de Curitiba. Vestidos de togas
gregas, com louros nos cabelos, desciam a rua distribuindo
flores e poemas aos transeuntes espantados. Algumas das
alunas do Instituto costumavam ainda, nessas ocasiões, se
vestir de musas gregas.

O Instituto Neo-Pitagórico virou um centro não só


nacional, mas mundial dos estudos pitagóricos. O Templo
das Musas recebeu personalidades célebres das artes, da
filosofia, da ciência e até da política. O Instituo formou ainda
uma magnífica biblioteca com livros de várias áreas, com
atenção especial à filosofia, literatura e Ocultismo. Dario,
como diretor-presidente do Instituto, costumava se
corresponder com alunos pitagóricos de vários países. No
Instituto iniciava discípulos no Pitagorismo, no Martinismo
e nas Ciências Ocultas em geral. Promovia, no Templo das
Musas, reuniões públicas e reservadas. As reuniões públicas
ocorriam sempre no primeiro domingo de cada mês, a partir
das 15h, tradição que se mantém até hoje, initerruptamente.

O lema do Instituo Neo-Pitagórico, bem como seus


estatutos, elaborados por Dario Vellozo, rezam o seguinte:
ESTUDO – PERSEVERANÇA – BONDADE

O Instituto Neo-Pitagórico é frateria destinada ao estudo,


ao desenvolvimento das faculdades superiores do Ser, ao
altruísmo, inspirado nos Versos de Ouro de Pitágoras, para

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a Cultura, para a Verdade, para a Justiça, para a Liberdade,
para a Paz, para a Fraternidade e para a Harmonia. O
I.N.P. não reconhece distinções de raça, nacionalidade,
fortuna e posição social, nem credo religioso, filosófico ou
político.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

A Amizade – por base. O Estudo – por norma. O


Altruísmo – por fim.

BASES FUNDAMENTAIS

I – Rebuscar as normas da Harmonia Cósmica;

II – Realizar a Arte (Idealismo); e a Ciência (Verdade);


desvendar o Mistério;

III – Respeito mútuo – Liberdade absoluta – Fraternidade


incorruptível.

O Instituto Neo-Pitagórico também criou uma editora


própria, por meio da qual dezenas de livros foram
publicados, versando principalmente sobre filosofia, poesia
e Ocultismo. Muitos deles, da própria pena de Dario Vellozo,
ainda estão disponíveis pela editora do Instituto Neo-
Pitagórico. Destacamos os livros “Atlântida”; “Esquifes”; “No
Limiar da Paz” e a coletânea “Obras”. O último livro escrito
por Dario Vellozo foi “Jesus Pitagórico”, em que tece as

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relações do Avatar cristão com a doutrina mística de
Pitágoras.

Entre as várias revistas que Dario deu à luz, citamos:


“Esfinge”; “Ramo de Acácia”; “Mirto de Acácia”; “Luz de Kro-
tona” e “A Lâmpada.” “A Esfinge” foi dedicada principalmente
às Ciências Ocultas e ao Martinismo. “Ramo de Acácia” divul-
gou o labor maçônico de Dario, enquanto “Mirto de Acácia”
mesclou os assuntos maçônicos ao neo-pitagorismo. Já “A
Lâmpada”, a última das revistas publicadas por Dario,
concentrou-se eminentemente no seu período neo-
pitagórico.

Após uma vida dedicada às Ciências Ocultas e à Alta


Cultura, Dario Vellozo faleceu em 28 de setembro de 1937, na
cidade de Curitiba. Consternada, a sociedade paranaense
chorou a perda do filósofo. O Jornal Gazeta do Povo, à época,
noticiou, em um trecho, o seguinte:
“Faleceu o professor Dario Vellozo. O Paraná, ontem à
tarde, cobriu-se de luto, com a morte do vulto proeminente
e ilustre que era Dario Vellozo, o mestre das gerações
ginasiais, o doutrinador do Retiro Saudoso, o evocador
inigualável e apaixonado da serena beleza da Arte e da
sabedoria dos helenos, o incansável e talvez o último dos
Pitagóricos.”

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Assim é que neste ano de 20193, o Instituo Neo-Pitagórico
completa 110 anos de atividade ininterrupta, sem ter falhado
uma única vez em suas reuniões. Ao lado do Círculo
Esotérico da Comunhão do Pensamento, fundado em São
Paulo no mesmo ano de 1909, o Instituto Neo-Pitagórico
pode ser considerado a primeira Escola Esotérica genuína-
mente brasileira, permanecendo como sede mundial do
pitagorismo místico, sendo ainda o seu Templo das Musas
considerado por alguns como o único templo grego do
mundo em atividade.
O Templo, aliás, é hoje considerado patrimônio cultural
da cidade de Curitiba. As reuniões do Instituto prosseguem
como desde o início. As públicas continuam a ocorrer todo
primeiro domingo de cada mês, às 15h, podendo frequentá-
las qualquer pessoa. Estimulamos vivamente nossos amigos
do Canal Realidade Fantástica de fora de Curitiba, em vindo
à capital paranaense, conhecerem mais este local iniciático,
tão importante na história do Ocultismo, pedaço vivo da
história do Esoterismo mundial e brasileiro.4
É útil destacar ainda que na década de 1970, o segundo
presidente do Instituo Neo-Pitagórico, Dr. Rosala Garzuze,
materializando um desejo antigo do amigo e mestre Dario
Vellozo, criou um curso por correspondência que cobre as
ciências ditas heterodoxas ou ocultas. É composto de 7 graus.
O 1º Grau é dedicado à Iniciação aos Estudos Filosóficos; o 2º

3
O texto foi escrito na data aludida. N. do R.
4
www.pitagorico.org.br

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aborda a História das Religiões; o 3º trata da Parapsicologia;
o 4º de Teosofia; o 5º é dedicado ao Ocultismo; o 6º
compreende o estudo da Hierologia. Finalmente, o 7º Grau
abre os estudos do Pitagorismo. O Curso, em forma de
monografias e no idioma português, é enviado a todo o
mundo por correspondência.
É útil destacar também que em 2006 o premiado cineasta
e roteirista paranaense Rui Vezzaro lançou o documentário
“Cinerário”, dedicado à vida e obra de Dario Vellozo. O filme
conta com depoimento de professores, pesquisadores e
pitagóricos modernos. Belíssimo, o filme merece ser visto por
todo buscador do Esoterismo.
Martinista, Maçom, Ocultista, Pitagórico, além de poeta,
filósofo, livre-pensador... um eterno professor de homens foi
Dario Vellozo. Do primeiro ao último alento sua vida foi
servir às Forças Superiores para a edificação da humanidade.
Pioneiro do Ocultismo no Brasil, pai, esposo, amigo, irmão e
iniciador, sua venerável figura permanece viva no espírito
dos incontáveis que se beneficiaram de todo o seu labor
místico. Ele vive ainda em seu Templo das Musas,
monumento imorredouro ao seu sonho: o de erguer a
humanidade para os mais altos píncaros da consciência.
Encerramos esta breve biografia com um de seus poemas
místicos, de título “Na Câmara da Rosa+Cruz”, retirado de
suas Obras Completas, Vol. III. Possam suas sublimes
sentenças tocarem o coração de todos os buscadores sinceros:

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Cela de Apolônio, 02 de abril de 1933.

Genuflexo, o alquimista ora e medita.


A Grande Obra o preocupa, o arcano
Da existência, a Fênix, soberano
Anseia de dar ouro à alma precita.

A prece do Teurgo ao bem concita.


No atanor, ao púrpuro, após insano
Labor, o ouro aparece; no oceano
Da vida o ouro do amor corre e palpita.

Mas, não é esse o arcano que procura


Na câmara púrpura, triste e só,
O servo humilde que seguiu Jesus.

É o mistério da Fênix que da escura


Mansão da morte exsurge; e faz do pó
A rosa da esperança, o ouro da Cruz!

Bibliografia

De Dario Velloso:

 Cinerário e Outros Poemas. Ed. INP


 No Limiar da Paz. Ed. INP
 Atlântida. Ed. INP

Sobre Dario Velloso:

 Dario Vellozo – Cronologia. Erasmo Pilotto. Ed. Imprimax

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Conheça o Canal Realidade Fantástica

www.youtube.com/realidadefantastica
Vídeos semanais sobre Esoterismo, Ocultismo e Paraciências.

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