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Nome: _____________________________ Data: __.__.

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Eu me sentia invisível

“Nasci no Líbano, em 1988, fruto de um relacionamento entre uma


muçulmana e um cristão de famílias tradicionais da Síria. Meus pais
haviam se conhecido na terra natal deles mas foram alvo de feroz
preconceito por romperem as barreiras que separavam suas
religiões. Aí resolveram se mudar para Beirute e ali formaram uma
família, com meus irmãos e eu. Nunca imaginaram, porém, que
viveríamos como apátridas, sem ser reconhecidos oficialmente
como cidadãos em nenhum país. De um lado, o Líbano não concedia
nacionalidade a crianças de pais estrangeiros. De outro, os cartórios sírios não reconheciam casamentos inter-
religiosos, como no caso dos meus pais. E assim passei toda a minha infância e adolescência, até os 28 anos
de idade, sem nenhum registro nem documento, sentindo-me inferior, invisível aos olhos da sociedade.

Foi um suplício encontrar uma escola que nos aceitasse sem que tivéssemos um número de
identidade. (falar da RG) Ou RNE Acabamos contando com a boa vontade de um único colégio e, desse modo,
pudemos estudar. Certos hospitais se recusavam a nos atender, mesmo em caso de emergência. Uma vez, no
meio de uma crise alérgica grave, precisei ser internada às pressas. Só me atenderam depois de uma amiga
subornar (perguntar se a rigidez das normas promovem a corrupção e o suborno) os médicos para me
registrarem com o nome dela. E muitos obstáculos iam surgindo. Fui impedida de integrar uma equipe
profissional de basquete e de viajar com meus colegas. Sem passaporte, não podia sair do país. O mais doído
foi deixar de lado o sonho de cursar medicina. Nenhuma faculdade no Líbano permitia minha matrícula. Com
muito custo e insistência, aos 22 anos, fiz a graduação em sistemas de informação e o mestrado em
administração. Mas, mesmo qualificada e falando quatro idiomas, virei assistente em uma construtora.
Sempre ganhei menos do que os meus colegas, por não ser registrada.

Uma existência sem documento é envolta em medo. Vivia com um pavor que só bandidos têm: ser
parada no meio da rua pela polícia. Pois apenas o fato de estar ali já seria ilegal. Aos 16 anos, comecei a me
mexer para tentar mudar essa situação e escrevi para todas as embaixadas em Beirute que encontrei no
Google. Foram dezenas de e-mails contando minha história e pedindo ajuda. Fui ignorada por dez anos, até
que, em 2004, o governo brasileiro me ofereceu um documento especial para viajar ao Brasil e ser registrada
como refugiada. Tudo o que tinha escutado sobre o Brasil se resumia a futebol, carnaval e violência. Aos 26
anos, embarquei para Belo Horizonte com meus irmãos, de 24 e 28. Moramos na casa de uma família que
generosamente nos acolheu. E aí, finalmente, recebi um número de CPF e uma carteira de trabalho, o início
do processo de meu reconhecimento como cidadã. No meio do caminho, meu irmão acabou morrendo de
forma estúpida, em um assalto, ainda sem nacionalidade, o que só fez acentuar em mim a necessidade de
seguir em frente.

Por todo o barulho que fiz em torno de minha história, um dia fui convidada pela ONU
para ser um dos rostos da campanha I Belong (Eu pertenço). Rodei dezenas de cidades e
países e recentemente escrevi uma biografia (Maha Mamo: a Luta de uma Apátrida
pelo Direito de Existir, em coautoria com Darci de Oliveira).

Eu me sentia invisível: ampliando o vocabulário Permitido o uso em sala de aula. www.ensinarportugues.com


Em 2017, o Brasil aprovou em uma legislação imigratória o reconhecimento da chamada apátrida, um dos
pioneiros no mundo. Um ano depois, eu e minha irmã nos tornamos as primeiras reconhecidas aqui segundo
essa lei, o dia mais pleno de minha vida, sem exagero. Ganhei RG, passaporte, o direito de ter uma casa em
meu nome e me casar no papel. Se tiver filhos, serão brasileiros, com muito orgulho. Demorou, mas hoje
posso dizer, com todas as letras, que não me sinto mais invisível.

A administradora Maha Mamo passou 28 anos de seus 33 anos sem pátria nem documentos, até virar
brasileira.

Depoimento dado a Julia Braun. Revista Veja. 14 de abril de 2021.

Fonte: https://veja.abril.com.br/mundo/ela-passou-28-anos-sem-patria-nem-documentos-eu-me-
sentia-invisivel/

Para saber mais:


- Campanha I Belong: https://www.unhcr.org/ibelong/

- Livro: Maha Mamo – A luta de uma apátrida pelo direito de existir

Praticando o
1. A definição da palavra apátrida é: aquele que perdeu sua nacionalidade de origem e não adquiriu outra.

Em Português, o prefixo a/an, significa: negação, afastamento.

Exemplos: O cachorrinho não sobreviveu porque nasceu sem cérebro. → Ele nasceu acéfalo.

Complete as frases abaixo com as palavras que usam os sufixos a/na.

amoral – analfabeto – ateu – afônico

a) Eles não estudaram, não sabem ler nem escrever, são ____________________________.

b) Se você não acredita na existência de Deus, você é ______________________________.

c) José não se opõe nem concorda com as regras, ele é _____________________________.

d) Elas cantaram tanto no karaokê que agora estão ________________________________.

2. As duas frases a seguir foram retiradas do texto. Observe as partes grifadas e explique por que a
primeira frase está no masculino plural e a segunda no feminino plural.

a. “Aí resolveram se mudar para Beirute e ali formaram uma família, com meus irmãos e eu.”

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b. “Um ano depois, eu e minha irmã nos tornamos as primeiras reconhecidas aqui segundo essa lei, o dia
mais pleno de minha vida, sem exagero.”

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3. A definição mais usual do verbo acabar é ter fim, levar a cabo.

Porém, no dia a dia, as pessoas costumam usá-lo em expressões como “... meu irmão acabou morrendo de
forma estúpida, em um assalto...”

O que o uso do verbo “acabar” na expressão destacada traz à frase?

a. a ideia de fim

b. a ideia de que no final o fato aconteceu

Porém, também é possível usar apenas um verbo: “...meu irmão morreu de forma estúpida, em um
assalto...” sem mudar muito o significado da frase.

Faça conforme o exemplo:

a. “Acabamos contando com a boa vontade de um único colégio e, desse modo, pudemos estudar.”

- “................................................. com a boa vontade de um único colégio e, desse modo, pudemos estudar.”

b. Ele acabou confessando que não gostava de trabalhar online.

- Ele............................................. que não gostava de trabalhar online.

c. Elas acabaram revelando o dia da festa surpresa.

- Elas ........................................... o dia da festa surpresa.

d. De tanto ouvir as notícias, ele acabou acreditando que fosse verdade.

- De tanto ouvir as notícias, ele .................................................. que fosse verdade.

e. O pai falou tanto, mas tanto que ele acabou desistindo de viajar para outro país.

- O pai falou tanto, mas tanto que ele ................................... de viajar para outro país.

f. Nós acabamos gastando muito com nossas compras hoje, disse o marido à esposa.

- Nós ............................................ muito com nossas compras hoje, disse o marido à esposa.

4. Escolha no quadro a seguir o verbo que substitua o do texto sem alterar o sentido:

decidir, ter, sonhar, dividir, quebrar, dar

a. “Meus pais haviam se conhecido”

→ “Meus pais____________ se conhecido”.

b. “mas foram alvo de feroz preconceito por romperem as barreiras que separavam suas religiões”.

→ “mas foram alvo de feroz preconceito por_____________ as barreiras que _______________suas


religiões”.

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c. “Aí resolveram se mudar para Beirute”

→ “Aí ________________ se mudar para Beirute”.

d. “Nunca imaginaram, porém, que viveríamos como apátridas”.

→ “Nunca _________________ porém, que viveríamos como apátridas”.

e. “De um lado, o Líbano não concedia nacionalidade a crianças de pais estrangeiros.”

→ De um lado, o Líbano não _____________ nacionalidade a crianças de pais estrangeiros.

5. Qual das palavras a seguir substitui a grifada sem alterar o sentido?

- “Aí resolveram se mudar para Beirute e ali formaram uma família, com meus irmãos e eu”.

a. Logo b. Pois c. Então

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Gabarito

1. a) analfabetos; b) ateu; c) amoral; d) afônicas.

2. a) Segundo a norma culta, quando existem substantivos de gêneros diferentes, prevalece o


masculino plural: um irmão é uma irmã;

b) Não existem substantivos de gêneros diferentes. Ela é a irmã são mulheres.

3. Pergunta: b

a. contamos; b. confessou; c. revelaram; d. acreditou; e. desistiu; f. gastamos.

4. a. tinham; b. quebraram, dividiam; c. decidiram; d. pensaram; e. dava.

5. c.

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