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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO LUSÍADA DE BENGUELA

CURSO: DIREITO FORENSE

DISCIPLINA: ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL

O DOCENTE: Dr. ABEL VIEGAS

MAGISTRATURA JUDICIAL

5º ANO: 1º SEMESTRE

LOBITO
2023
INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO LUSÍADA DE BENGUELA

CURSO: DIREITO FORENSE

DISCIPLINA: ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL

MAGISTRATURA JUDICIAL
OS INTEGRANTES DO GRUPO:
 ADÃO ALEXANDRE
 ALBERTINA PAULO
 CLAUDETH RALHA
 ELIANA NHANI
 JERÓNIMO GAIETA
 JOSE TIBERIO
 LAYDINARA CAMILO
 MADALENA CHIACA
 MANUEL CHACUSSANGA
 MARIA MORENO
 MIRIAN ISATA
 QUÉLVIA PAMBO
 REBECA LUANICA
 ROSALINA NETO
 SILGIA DA SILVA
 STÉNIO SANTOS
 TÂNIA SANTOS
 ZEFERINA BUTA

Trabalho Científico em cumprimento às Exigências da


Disciplina de Ética e Deontologia Profissional do 5º
Ano Curricular do Curso de Direito Forense ministrada
pelo Professor Dr. Abel Viegas.

LOBITO
2023 / 2024
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ÍNDICE
PENSAMENTO ......................................................................................................................... 4
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 5
1.1. Contextualização ..................................................................................................... 5
1.2. Objetivos do Estudo ................................................................................................ 6
1.3. Justificativa .............................................................................................................. 6
1.4. Metodologia ............................................................................................................. 6
2. LEI ORGANICA DA MAGISTRATURA ............................................................................ 8
3. DAS GARANTIAS DA MAGISTRATURA E DAS PRORROGATIVAS DO
MAGISTRADO ......................................................................................................................... 9
3.1. Garantias da Magistratura ........................................................................................ 9
3.2. Prerrogativas do Magistrado.................................................................................... 9
4. DO CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA ............................................................. 10
4.1. A Magistratura Judicial: Deveres, Vedações e Infrações ...................................... 12
4.1.1. O Poder Judicial ..................................................................................... 12
4.1.2. Procuradoria Geral da República ............................................................ 13
4.1.3. O Tribunal Constitucional ...................................................................... 13
4.1.4. O Conselho Superior da Magistratura Judicial ....................................... 13
4.1.5. Os Tribunais ........................................................................................... 13
4.2. Direitos e Deveres ................................................................................................. 14
4.3. Vedações ................................................................................................................ 14
4.4. Infrações ................................................................................................................ 15
4.4.1. Classificação das infracções ................................................................... 15
4.4.1.1. Infrações Graves .................................................................................. 16
4.4.1.2. Infrações Leves .................................................................................... 17
4.5. Incumprimento Injustificado ................................................................................. 18
5. CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 19
5.1. Síntese dos Principais Pontos ................................................................................ 19
5.2. Contribuições do Estudo........................................................................................ 19
5.3. Perspectivas para Futuras Pesquisas ...................................................................... 20
5.4. Conclusão Geral .................................................................................................... 20
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 21

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PENSAMENTO

“A essência dos direitos humanos e direito a ter direitos,


tendo a lei que ser breve para que os indoutos possam
compreendê-la facilmente.”

John Locke, Evelyn hall (s.d.)

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1. INTRODUÇÃO

Nos termos da CRA e das demais leis ordinárias que regem a vida do Estado e,
somente o Estado enquanto pessoa colectiva que representa o direito de todos, é reconhecido
o poder da administração da justiça em nome desta colectividade estando vedada a qualquer
particular fazer a justiça por mãos próprias. Deste modo, estabelece o nº1 do art.174º da CRA
a função jurisdicional, que é exercida pelos magistrados judiciais, propriamente o juiz. O
magistrado judicial ou juiz é o profissional forense investido com poderes de soberania, cuja
actividade central consistirá na administração da justiça, reconhecida pelo Estado. A figura
institucionalizada do juiz tem relação com o nascimento das civilizações, uma vez que
conflitos surgem naturalmente e a ideia de um terceiro, tido como neutro, é essencial para
constituir uma visão de livre parcialidade.

De facto a necessidade de existência de um indivíduo “neutro” tornou-se, desde a


antiguidade, objecto de reflexão. Uma vez que o próprio filósofo Sócrates o entendia quando
apresentou quatro características entendidas por ele como fundamentais. A principal tarefa
dos juízes é a de julgar as causas submetidas a julgamento com fundamento na constituição e
na lei. Os juízes, titulares de órgãos de soberania, são independentes: A sua independência é
assegurada pela existência de uma lei orgânica que materializa e disciplina a conduta do
magistrado judicial, a inamovibilidade, a irresponsabilidade e pela não sujeição a quaisquer
ordens ou instruções, salvo o dever de acatamento das decisões proferidas em via de recursos
por tribunais superiores.

1.1. Contextualização

No cerne da actividade jurisdicional está a interpretação e aplicação das leis que


regem uma sociedade. Essa tarefa, contudo, vai além da simples decodificação de normas
legais. O juiz, ao proferir suas decisões, encontra-se imerso em um contexto complexo, onde
cada caso apresenta nuances próprias, demandando não apenas conhecimento técnico, mas
também uma análise ética refinada. A contextualização desta pesquisa parte do
reconhecimento da complexidade inerente à magistratura, destacando a natureza
multifacetada das decisões judiciais. A globalização e a evolução social trazem consigo
desafios adicionais, ampliando o escopo das responsabilidades do magistrado. Em uma
sociedade cada vez mais plural, o juiz de direito é confrontado com situações que exigem uma
compreensão sensível dos valores éticos e morais prevalentes. A contextualização deste
estudo visa iluminar esse panorama desafiador, no qual a ética e a moral desempenham um
papel decisivo na construção de uma justiça efetiva.
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1.2. Objetivos do Estudo

O escopo deste estudo abraça uma abordagem abrangente para explorar os valores
éticos e morais que orientam o juiz de direito. Primeiramente, o objetivo é analisar os
princípios éticos fundamentais que norteiam a actuação do magistrado. Este enfoque inclui a
imparcialidade, independência e integridade, entre outros, princípios que não só permeiam a
literatura jurídica, mas também representam pilares essenciais para a legitimidade do sistema
judiciário.

Em segundo lugar, pretende-se explorar a interação dinâmica entre a ética jurídica e


a moral social. A análise irá examinar como o magistrado, ao aplicar a lei, dialoga com os
valores e normas internalizadas pela sociedade em que está inserido. Esse diálogo constante
entre ética e moral se reflete nas decisões judiciais e é crucial para a construção de uma
jurisprudência alinhada com as expectativas sociais.

1.3. Justificativa

A justificativa para esta pesquisa é ancorada na necessidade premente de


compreender, analisar e discutir os fundamentos éticos e morais que sustentam as decisões
judiciais. Em uma era de crescente desconfiança nas instituições, a transparência sobre os
valores que orientam o juiz de direito é vital para a preservação da confiança na justiça. Além
disso, este estudo se justifica pela relevância contemporânea do tema, considerando as rápidas
transformações sociais e a necessidade de adaptação do judiciário a essas mudanças.

Adicionalmente, a pesquisa busca preencher eventuais lacunas na literatura existente,


fornecendo uma contribuição significativa para a compreensão dos desafios éticos enfrentados
pelos juízes em um mundo em constante evolução. Ao trazer à tona questões éticas e morais
que muitas vezes escapam da atenção convencional, a pesquisa propõe uma análise crítica e
reflexiva sobre a magistratura e seu papel na sociedade contemporânea.

1.4. Metodologia

A metodologia adotada neste estudo envolve uma abordagem interdisciplinar que


combina revisão sistemática da literatura e análise de casos emblemáticos. A revisão da
literatura será conduzida para estabelecer uma base teórica sólida, explorando as principais
correntes de pensamento sobre ética jurídica e a interação entre ética e moral.
Simultaneamente, a análise de casos emblemáticos permitirá uma aplicação prática desses
conceitos, ilustrando como os princípios éticos se desdobram em situações jurídicas concretas.

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A coleta de dados será realizada por meio de fontes bibliográficas, incluindo obras
clássicas sobre ética jurídica, jurisprudência relevante e estudos contemporâneos. A
abordagem qualitativa será empregada na análise de casos, buscando identificar padrões
éticos e morais recorrentes e compreender como esses elementos são aplicados na prática.

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2. LEI ORGANICA DA MAGISTRATURA

A Lei Orgânica da Magistratura assume uma importância fundamental na


estruturação e eficácia do sistema judicial de um país, desempenhando um papel vital em
diversos aspectos. Primeiramente, ela estabelece as bases para a seleção e nomeação dos
magistrados, garantindo critérios transparentes e meritocráticos. Isso contribui para a
formação de um corpo judiciário qualificado e comprometido com a aplicação imparcial da
lei.

Além disso, a lei define as prerrogativas e responsabilidades dos magistrados,


conferindo-lhes autonomia e independência para decidir casos de acordo com a legislação
vigente e princípios de justiça. Essa independência é crucial para evitar interferências externas
e preservar a integridade do processo judicial, promovendo a confiança da sociedade no
sistema legal.

A Lei Orgânica também desempenha um papel significativo na manutenção da ética


e conduta dos magistrados. Ao estabelecer padrões éticos e deveres profissionais, ela garante
que os juízes actuem com integridade e imparcialidade, fortalecendo a credibilidade do
judiciário.

A disciplina e responsabilidade dos magistrados são igualmente abordadas,


proporcionando mecanismos para lidar com condutas inadequadas e garantindo que a justiça
seja administrada de maneira eficiente e ética. Isso inclui procedimentos para a
responsabilização civil e criminal, assegurando que os magistrados estejam sujeitos a medidas
apropriadas em caso de violações éticas ou legais.

Em síntese, a importância dessa lei transcende a mera regulamentação burocrática,


permeando aspectos cruciais para a integridade, independência, ética e eficiência do sistema
judiciário, desempenhando um papel central na preservação do Estado de Direito e na
consolidação da democracia em uma nação.

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3. DAS GARANTIAS DA MAGISTRATURA E DAS PRORROGATIVAS
DO MAGISTRADO

As garantias da magistratura e as prerrogativas do magistrado são elementos


fundamentais para assegurar a independência e o bom funcionamento do Poder Judiciário.
Essas proteções são geralmente delineadas em leis orgânicas específicas e são essenciais para
garantir que os magistrados possam desempenhar suas funções de maneira imparcial e eficaz.
Aqui estão alguns aspectos comuns relacionados a essas garantias e prerrogativas:

3.1. Garantias da Magistratura

1. Estabilidade no Cargo: Os magistrados muitas vezes gozam de estabilidade no


cargo, o que significa que não podem ser removidos arbitrariamente. Isso protege os
juízes contra pressões externas e contribui para a independência judicial.

2. Irredutibilidade de Vencimentos: Para evitar influências externas, os salários dos


magistrados geralmente são irredutíveis durante o exercício de suas funções,
garantindo estabilidade financeira.

3. Inamovibilidade: A inamovibilidade impede a transferência arbitrária de magistrados


para locais inconvenientes, preservando sua independência ao decidir casos sem receio
de retaliação.

3.2. Prerrogativas do Magistrado

1. Imunidade Judicial: Os magistrados frequentemente desfrutam de imunidade


judicial, protegendo-os contra processos judiciais por suas decisões no exercício de
suas funções.

2. Prerrogativa de Julgar: Os magistrados têm a prerrogativa de julgar casos de acordo


com a lei e a Constituição, sem interferências externas, promovendo a imparcialidade
nas decisões judiciais.

3. Acesso a Informações e Documentos: Para garantir um julgamento justo, os


magistrados têm o direito de acessar informações e documentos relevantes para o caso
em análise.

4. Assessoramento Técnico: Os magistrados podem contar com assessoramento técnico


para compreender questões complexas, garantindo decisões fundamentadas.

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4. DO CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA

A ética, derivada do grego "ethos" (caráter), refere-se ao estudo dos princípios


morais que orientam o comportamento humano. No contexto jurídico, a ética está
intrinsecamente ligada aos valores e normas que regem a conduta dos profissionais do Direito.
Ela não se limita apenas à obediência às leis, mas abrange uma reflexão mais profunda sobre
o que é moralmente correto e justo. No exercício da magistratura, a ética orienta o juiz a
considerar não apenas a legalidade estrita, mas também a equidade e a justiça substantiva.

Os códigos de ética da magistratura são documentos que estabelecem os princípios


éticos e as normas de conduta que os magistrados devem observar em seu exercício
profissional. Esses códigos visam garantir a integridade, a imparcialidade e a responsabilidade
dos membros do Poder Judiciário. Entretando os magistrados judiciários em Angola não
possuim um código de etica mas ainda assim regem-se pelos principios monitorizados pelo
conselho superior da magistratura , detalhes que possam variar entre diferentes jurisdições,
alguns princípios comuns geralmente são encontrados em muitos códigos de ética da
magistratura, para realidade de Angola, na Constituição da República (CRA), e o Estatuto
Orgânico dos Magistrados , Lei nº 7/94 de 29 de Abril:

1. Independência e Imparcialidade: Os magistrados são orientados a decidir casos com


base exclusivamente na lei e nos fatos apresentados, sem influências externas,
pressões políticas ou preconceitos pessoais.

2. Integridade e Honestidade: É esperado que os magistrados ajam com integridade e


honestidade em todos os aspectos de sua vida, evitando condutas que possam
comprometer a confiança na instituição judiciária.

3. Respeito às Partes e Advogados: Os magistrados devem tratar todas as partes


envolvidas nos processos judiciais com respeito e imparcialidade, garantindo um
tratamento equitativo a todas as partes.

4. Sigilo e Discrição: A preservação do sigilo nas deliberações judiciais e a discrição em


relação às informações confidenciais são princípios comuns nos códigos de ética.

5. Recusa de Favores e Presentes: Os magistrados são frequentemente orientados a


recusar favores, presentes ou benefícios que possam comprometer sua independência
ou imparcialidade.

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6. Proibição de Actividades Políticas Partidárias: Para preservar a independência do
Poder Judiciário, muitos códigos proíbem a participação ativa em atividades políticas
partidárias por parte dos magistrados.

7. Atualização Profissional: Os magistrados são encorajados a buscar educação


continuada e manter-se atualizados sobre desenvolvimentos jurídicos para aprimorar
suas habilidades profissionais.

8. Transparência: A actuação do magistrado deve ser transparente, documentando-se


seus actos, sempre que possível, mesmo quando não legalmente previsto, de modo a
favorecer sua publicidade, excepto nos casos de sigilo contemplado em lei.

O magistrado, obedecendo o segredo de justiça, tem o dever de informar ou mandar


informar aos interessados acerca dos processos sob sua responsabilidade de forma útil,
compreensível e clara.

Cumpre ao magistrado, na sua relação com os meios de comunicação social,


comportar-se de forma prudente e equitativa e cuidar especialmente:

Para que não sejam prejudicados direitos e interesses legítimos de partes e seus
procuradores; E de abster-se de emitir opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou
de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos, sentenças ou acórdãos, de órgãos
judiciais, ressalvada a crítica nos autos, doutrinária ou no exercício do magistério.

O magistrado deve evitar comportamentos que impliquem a busca injustificada e


desmesurada por reconhecimento social, mormente a autopromoção em publicação de
qualquer natureza.

Cumpre ao magistrado ostentar conduta positiva e de colaboração para com os


órgãos de controlo e de aferição de seu desempenho profissional.

9. Pontualidade: O zelo pelo cumprimento dos prazos. É certo que há um acúmulo


muito grande de processos na Justiça. O juiz não é o responsável por esse desacerto
mas, no que depende dele, deve esforçar-se para que as causas não contem tempo por
quinquênio ou decênio, como verberou Rui Barbosa. Se por qualquer razão ocorre
atraso, no início de uma audiência, o juiz tem o dever de justificar-se perante as partes.
Não pode achar que é natural deixar os cidadãos plantados numa sala contígua, a
espera.

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10. Juiz natural: O princípio do Juiz natural é o mais basilar mandamento de um Estado
de Direito, trata-se do direito inerente a cada sujeito de ser julgado por um juiz
escolhido por regras previamente estipuladas, segundo o princípio, apenas a lei
anterior ao facto pode indicar o juiz da causa, assim quando o código de processo civil
passa a organizar a competência para o processamento das causas, está a materializar o
princípio do juiz natural. Refere à existência de juízo adequado para o julgamento de
determinada demanda, conforme as regras de fixação de competência, e à proibição de
juízos extraordinários ou tribunais de exceção constituídos após os factos, vide art.
1410º CPC.

11. Imparcialidade: A imparcialidade é um alicerce central na actuação do juiz de


direito. Ela refere-se à capacidade de decidir de maneira justa, sem favorecimentos ou
preconceitos. A importância desse princípio reside na garantia de tratamento
equitativo a todas as partes envolvidas em um litígio, assegurando que a justiça seja
cega e que cada caso seja decidido com base em seus méritos legais.

Famosos juristas como John Rawls e sua teoria da justiça como equidade, destacam a
imparcialidade como um elemento vital na construção de uma sociedade justa. Rawls
argumenta que, em um estado de ignorância, onde não conhecemos nossa posição na
sociedade, buscaríamos princípios que beneficiem a todos, reforçando a importância da
imparcialidade na formulação de princípios éticos.

Contudo, a busca pela imparcialidade enfrenta desafios éticos significativos. O juiz,


como ser humano, é suscetível a influências externas e a preconceitos inconscientes. O
desafio reside em reconhecer e mitigar esses elementos que possam comprometer a
imparcialidade. Autores como Ronald Dworkin abordam a necessidade de constantemente
revisar e aprimorar os processos judiciais para garantir que sejam verdadeiramente imparciais.

4.1. A Magistratura Judicial: Deveres, Vedações e Infrações

4.1.1. O Poder Judicial

O Poder Judicial é composto pela Procuradoria Geral da República, Tribunal


Constitucional, Conselho Superior da Magistratura Judicial e Tribunais.

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4.1.2. Procuradoria Geral da República

A Procuradoria-Geral da República é uma instituição pública com a função de


representar o Estado, nomeadamente no exercício da acção penal, na defesa dos interesses de
outras pessoas singulares e colectivas, na defesa da legalidade no exercício da função
jurisdicional e na fiscalização da legalidade na fase de instrução preparatória dos processos e
no que toca ao cumprimento das penas. Por seu turno, o Ministério Público é o órgão da
Procuradoria-Geral República essencial à função jurisdicional do Estado, integrado por todos
os magistrados do Ministério Público nas suas diversas categorias. A sua consagração na Lei
Fundamental ocorre no capítulo IV, sob a epígrafe “Poder Judicial”, máxime, nos artigos 185º
a 191º da Constituição da República de Angola (www.pgr.ao).

4.1.3. O Tribunal Constitucional

O Tribunal Constitucional é responsável pela administração da justiça em matéria


jurídica e constitucional. É responsável por considerar se as leis ratificadas em tratados
internacionais e quaisquer normas são inconstitucionais, bem como considerar os recursos de
todas as decisões de outros tribunais que tenham sido evocadas durante o julgamento por sua
natureza constitucional (www.tribunalconstitucional.ao).

4.1.4. O Conselho Superior da Magistratura Judicial

O Conselho Superior da Magistratura Judicial é o orgão constitucional ao qual


compete a superior gestão e a disciplina da Magistratura Judicial. É presidido pelo juíz
Presidente do Tribunal Supremo e composto por 3 juristas nomeados pelo Presidente da
República; 5 juristas designados pela Assembleia Nacional e 10 juízes eleitos entre si, pelos
Magistrados Judiciais.

4.1.5. Os Tribunais

Os tribunais são órgãos de soberania dotados de poderes para administrar a justiça e


cumprir os deveres jurisdicionais. Devem garantir e zelar pelo cumprimento das leis e pela
proteção dos direitos. Com a criação dos Tribunais, de Contas, Supremo Tribunal Militar e
Constitucional, o Tribunal Supremo apenas trata e se constitui na instância máxima da
Jurisdição Comum da República de Angola. Aliás, corolário disso mesmo é o que refere o n.º
1, do artigo 181.º, da Constituição, segundo o qual, “o Tribunal Supremo é a instância judicial
superior da jurisdição comum”. O Tribunal Supremo da República de Angola é constituído
pelo Presidente, Vice-Presidente e pelos demais Juízes Conselheiros.

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4.2. Direitos e Deveres

Desempenhar a sua função com integridade, seriedade, imparcialidade, igualdade,


dignidade, competência e diligência;

 Guardar segredo profissional, nos termos da lei;


 Comportar-se na vida pública e privada de acordo com a dignidade e o prestígio do
cargo que desempenham;
 Tratar com urbanidade e respeito todos os intervenientes nos processos,
nomeadamente o representante do Ministério Público, os profissionais do foro e os
funcionários;
 Comparecer pontualmente às diligências marcadas, pronunciar despachos e lavrar
sentenças e acórdãos nos prazos legalmente estabelecidos;
 Abster-se de manifestar por qualquer meio, opinião sobre processo pendente de
julgamento seu ou de outrem, ou fazer juízo sobre despachos, votos ou sentença de
órgãos Judiciais, ressalvada a crítica nos autos no exercício da judicatura ou em obras
técnicas;
 Abster-se de aconselhar ou instruir as partes em qualquer litígio e sob qualquer
pretexto, salvo nos casos permitidos pela lei processual;
 Os demais que lhes for estabelecido por lei

4.3. Vedações

A luz do art. 27 ada Lei 7/94 de 29 de Abril, a referida lei inclui vedaç es, ou seja,
restriç es ou proibiç es que os magistrados devem seguir para preservar a integridade do
sistema judiciário. Algumas das vedaç es incluem

1. Participação em Actividades Políticas Partidárias: Magistrados são frequentemente


proibidos de se envolverem em atividades político-partidárias para manter a
independência do Poder Judiciário e evitar conflitos de interesse.

2. Aceitação de Presentes e Favores: Para evitar qualquer influência indevida, os


magistrados são muitas vezes impedidos de aceitar presentes, favores ou benefícios
que possam comprometer sua imparcialidade ou integridade.

3. Manifestações Polêmicas ou Públicas: Códigos de ética muitas vezes vedam


manifestações públicas que possam comprometer a imparcialidade ou prejudicar a
imagem do Poder Judiciário.

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4. Atuação em Causas que Possam Gerar Conflito de Interesses: Magistrados são
geralmente impedidos de atuar em casos nos quais eles tenham interesse pessoal ou
que possam gerar conflito de interesses.

5. Comentários sobre Processos em Andamento: A divulgação de informações ou


comentários sobre casos em andamento pode ser vedada para preservar a integridade
do processo judicial e evitar pré-julgamentos.

6. Atividades Comerciais e Empresariais: Códigos de ética podem proibir magistrados


de se envolverem em atividades comerciais ou empresariais que possam comprometer
sua independência ou gerar dúvidas sobre sua imparcialidade.

7. Relações Inadequadas: Magistrados podem ser vedados de manter relações


inadequadas que possam prejudicar a imparcialidade ou a dignidade do cargo.

8. Uso Indevido de Informações: comum haver vedaç es contra o uso indevido de


informações privilegiadas ou confidenciais adquiridas no exercício da função.

4.4. Infrações

4.4.1. Classificação das infracções

As infrações disciplinares cometidas pelos magistrados judiciais assumem a


categoria de muito graves, graves e leves, em função das circunstâncias de Infrações muito
graves.

Constituem infrações muito graves os actos praticados com dolo ou negligência


grosseira que, pela reiteração ou gravidade da violação dos deveres e incompatibilidades
previstos no presente Estatuto, se revelem desprestigiantes para a administração da justiça e
para o exercício da judicatura, nomeadamente:

a) A recusa em administrar a justiça, ainda que com fundamento na falta, obscuridade ou


ambiguidade da lei ou dúvida insanável sobre o caso em litígio, desde que este deva
ser juridicamente regulado;
b) A intromissão, mediante ordens ou pressões de qualquer tipo ou natureza, nas funções
de outro magistrado, com o fim de alcançar, por meio de decisão favorável, vantagens
ilegítimas para si ou para outrem;
c) exercício de qualquer actividade incompatível com a função, ainda que o magistrado
judicial se encontre na situação de jubilação;

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d) A inobservância do dever de se declarar impedido ou de acionar os mecanismos de
impedimento legalmente previstos, visando prejudicar, favorecer e propiciar vantagens
ou benefícios processuais ou económicos para qualquer das partes;
e) A revelação ilegítima de factos ou dados conhecidos no exercício das suas funções,
que causem prejuízo à tramitação de um processo, a qualquer pessoa ou à imagem ou
prestígio do sistema de justiça;
f) A falsidade ou omissão relevante na prestação de dados e elementos constantes de
solicitações ou requerimentos de licenças, declarações de compatibilidade,
retribuições, ajudas económicas ou quaisquer outros documentos que possam servir
para apreciação de uma pretensão ou para o cumprimento de um dever legal do
requerente;
g) A utilização abusiva da condição de magistrado judicial para obter vantagens pessoais,
para si ou para terceiro, de autoridades, funcionários ou profissionais de outras
categorias;
h) A prática de atividade político-partidária de caráter público;
i) incumprimento reiterado dos deveres legais de apresentação de declaração de
rendimentos e património.

4.4.1.1. Infrações Graves

1 - Constituem infrações graves os atos praticados com dolo ou negligência grosseira


que revelem grave desinteresse pelo cumprimento dos deveres funcionais, nomeadamente:

a) não acatamento das decisões proferidas pelos tribunais superiores por via de recurso;
b) excesso ou abuso de autoridade, ou grave falta de consideração e respeito devidos aos
cidadãos e a todos aqueles com quem se relacione no exercício das suas funções;
c) A revelação pública e ilegítima, fora dos canais ou meios de informação judicial
estabelecidos, de factos ou dados conhecidos no exercício da sua função ou por causa
dela;
d) incumprimento injustificado, reiterado ou revelador de grave falta de zelo profissional,
dos horários estabelecidos para os atos públicos, bem como dos prazos estabelecidos
para a prática de ato próprio do juiz, designadamente quando decorrerem seis meses
desde o fim do prazo para a prática do acto;
e) incumprimento injustificado de pedidos de informação, deliberações ou provimentos
funcionais do Conselho Superior da Magistratura e dos presidentes dos tribunais,
dadas no âmbito das suas atribuições de organização e com a forma legal;

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f) exercício de atividade compatível com o exercício de funções de magistrado judicial
com autorização obtida mediante a prestação de elementos falsos;
g) A prestação de informações falsas relativas à carreira profissional ou ao exercício da
função;
h) retardamento injustificado da redução a escrito e do depósito de decisões proferidas,
bem como da devolução à respetiva secretaria de processos judiciais retidos pelo
magistrado judicial quando sobre os mesmos deixe de ter jurisdição;
i) A interferência ilegítima na atividade jurisdicional de outro magistrado;
j) acesso a bases de dados pessoais disponibilizadas para o exercício funcional, não
livremente acessíveis ao público, para fins alheios à função;
k) A utilização do conteúdo das bases de dados pessoais referidas na alínea anterior para
fins alheios à função;
l) Qualquer das condutas elencadas no artigo anterior que não reúna todos os
pressupostos enunciados no respetivo proémio e que, por esse motivo, não seja
considerada falta muito grave.

2 - Constitui ainda infração grave a formulação, por magistrado judicial, de pedidos


de informação, instruções, decisões ou provimentos fora do âmbito das respetivas atribuições
de organização.

4.4.1.2. Infrações Leves

Constituem faltas leves as infrações praticadas com culpa leve que traduzam uma
deficiente compreensão dos deveres funcionais, nomeadamente:

a) A ausência ilegítima e continuada por mais de três dias úteis e menos de sete dias úteis
da circunscrição judicial em que esteja colocado;
b) exercício de atividade compatível com o exercício de funções de magistrado judicial,
sem obter, quando exigível, a pertinente autorização;
c) incumprimento injustificado, reiterado ou revelador de falta de zelo profissional, dos
horários estabelecidos para os atos públicos, bem como dos prazos estabelecidos para
a prática de acto próprio do juiz, designadamente quando decorrerem três meses desde
o fim do prazo para a prática.

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4.5. Incumprimento Injustificado

A aferição do incumprimento injustificado ponderação concreta do volume e


caraterísticas do serviço a cargo do juiz, incluindo o número de processo findos, as
circunstâncias do exercício de funções, a percentagem de processos em que as decisões foram
proferidas com atraso, bem como a ponderação, em concreto, sobre se, face a estas
circunstâncias e às condições pessoais, teria sido razoável exigir ao magistrado
comportamento diferente.

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5. CONCLUSÃO

5.1. Síntese dos Principais Pontos

Em síntese, a Lei Orgânica da Magistratura, aliada aos códigos de ética e às


prerrogativas, constitui o alicerce fundamental para o exercício responsável e imparcial da
função judicial em qualquer nação. A relevância desses instrumentos legais reside na
salvaguarda da independência do Poder Judiciário, garantindo que os magistrados possam
desempenhar suas funções sem temor ou favor. A estabilidade no cargo, a irredutibilidade de
vencimentos e a inamovibilidade conferem a necessária autonomia para que os juízes possam
decidir de acordo com a lei, sem receios de represálias externas.

Os códigos de ética, por sua vez, delineiam os princípios morais e as normas de


conduta que regem a actuação dos magistrados. Ao proibir a participação em atividades
político-partidárias, evitar aceitação de presentes e favores, e vedar manifestações públicas
controversas, esses códigos preservam a imparcialidade e a integridade do judiciário. A
transparência nas relações com as partes e o respeito aos advogados e demais envolvidos no
processo fortalecem a confiança da sociedade na imparcialidade do sistema judicial.

As vedaç es complementam esse arcabouço ético ao proibir práticas que possam


comprometer a integridade do magistrado, como o envolvimento em actividades comerciais e
empresariais, a aceitação de favores que possam influenciar suas decisões, e o uso inadequado
de informações privilegiadas.

Em última análise, essa legislação específica busca consolidar a justiça, promovendo


a equidade, a imparcialidade e a integridade no âmbito judicial. Ao garantir que magistrados
actuem com ética e independência, essas normativas contribuem significativamente para a
preservação do Estado de Direito e para o fortalecimento da confiança da sociedade no
sistema judicial de uma nação. Nesse contexto, a observância rigorosa dessas leis orgânicas,
c digos de ética e vedaç es é essencial para assegurar alicerces s lidos para a administração
da justiça e para o pleno funcionamento do sistema judicial.

5.2. Contribuições do Estudo

Este estudo contribui para uma compreensão mais aprofundada dos desafios éticos
enfrentados pelos magistrados, independentemente do contexto específico. Ao oferecer uma
análise objetiva da interseção entre moralidade e responsabilidade social, o estudo
proporciona insights valiosos que podem ser aplicados em diversas realidades judiciais. As

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contribuições específicas incluem uma abordagem pragmática para integrar ética jurídica e
moral social, visando decisões judiciais mais equitativas e culturalmente sensíveis.

5.3. Perspectivas para Futuras Pesquisas

Ao considerar as perspectivas para futuras pesquisas, é crucial explorar mais a fundo


a eficácia das abordagens éticas na prática judiciária. Investigações sobre como programas de
formação e diretrizes éticas são recebidos e implementados pelos magistrados podem fornecer
insights valiosos sobre as melhores práticas e áreas de melhoria.

Além disso, estudos comparativos entre diferentes sistemas judiciais e tradições


éticas podem enriquecer a compreensão das variações culturais na aplicação da moralidade e
responsabilidade social. Uma análise mais ampla, considerando diferentes jurisdições,
permitiria identificar padrões gerais e promover um diálogo intercultural sobre ética
judiciária.

5.4. Conclusão Geral

Este estudo, permitiu oferecer ao grupo uma síntese profunda dos temas explicitados:

Destacando no entanto as prerrogativas e garantias dos magistrados judiciais, bem


como os seus Deveres, Vedações e infrações, realçando a importância do reconhecimento do
impacto social das decisões judiciais.

Desta feita, elevamos a importância ao máximo, conferindo maior realce aos


princípios norteadores que balizam a atuação do Poder Judiciário. Essa abordagem permite
uma iluminação focalizada, enfatizando a essência de uma decisão concisa em conformidade
não apenas com a convicção individual do magistrado, mas também com os preceitos
fundamentais consagrados na lei magna. Dessa maneira, reafirmamos a relevância da ei
Orgânica da Magistratura, dos c digos de ética e das vedaç es como a bússola normativa que
direciona a conduta do magistrado, viabilizando uma jurisdição imparcial, ética e alinhada aos
fundamentos constitucionais.

Por conseguinte, a observância estrita dessas normativas não apenas resguarda a


dignidade do Poder Judiciário, mas também solidifica a confiança da sociedade na
imparcialidade e probidade do sistema judicial. Em um cenário jurídico onde a ética e a
independência são preceitos inalienáveis, a ei Orgânica, os c digos de ética e as vedaç es se
entrelaçam como fundamentos incontestáveis, erigindo o alicerce jurídico para a plena
realização da justiça.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CANOTILHO, J. J. G. (2018). Direito Constitucional. Coimbra: Almedina.

REALE, M. (2002). Teoria Tridimensional do Direito. São Paulo: Saraiva.

SANTOS, B. D. S. (2002). Toward a New Legal Common Sense: Law,


Globalization, and Emancipation. London: Butterworths.

VERDE, R. (2015). O Papel do Juiz na Sociedade Angolana. Luanda: UEA


Edições.

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