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Receptores

Introdução
Sabemos que receptores são circuitos eletrônicos capazes de, a partir de um sinal complexo,
produzir um sinal útil. Esse sinal complexo é formado por uma onda eletromagnética de alta freqüência
e por um sinal de áudio que atua como modulador. O receptor separa estes dois sinais transformando o
sinal de áudio num sinal audível.
Para conseguir isso, entretanto, o sinal complexo deve sofrer algumas modificações, pois na
entrada do receptor chegam sinais de várias emissoras, dos quais será escolhido apenas um.

Figura 1 – Diagrama em blocos do receptor completo

Após a seleção, estes sinais são amplificados (chegam com amplitude muito pequena) e temos
também necessidade, muitas vezes, de filtrar o sinal de ruídos estranhos à transmissão.
Tudo isto é feito em várias etapas, por circuitos que estão representados em blocos no diagrama
da figura 1.

Obs.: embora o bloco do amplificador de FI seja único, ele será formado por vários estágios (mínimo de
dois).

Circuito de Sintonia
Constituído por um circuito LC paralelo que entra em ressonância para uma dada freqüência.
Para a freqüência de ressonância, o circuito comporta-se como um circuito aberto, enquanto que as
demais freqüências são desviadas pela bobina para a terra. Um circuito de sintonia típico é mostrado na
figura 2.

Figura 2 – Circuito de sintonia

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Na antena do aparelho receptor estão presentes as ondas portadoras de todas as emissoras, entre
as quais, apenas uma nos interessa. Para conseguir isolar esta estação, usamos o circuito de sintonia,
composto das bobinas L1, L2 e do condensador variável Cv.
As ondas de rádio de todas as estações encontram-se na antena, sendo então encaminhadas para o
interior do aparelho, onde circulam em L1. Devido à proximidade existente entre os enrolamentos L1 e L2
, as correntes que atravessam L1, induzem em L2 outras correntes com características idênticas.
De fato, podemos considerar que as ondas portadoras captadas em L1 também estão presentes em
L2 e portanto, afetam o circuito ressonante formado por esta bobina e por Cv.

Figura 3 – Circuito de sintonia para duas faixas

Desejamos sintonizar uma estação com freqüência de por exemplo 1000 KHz. Primeiramente,
devemos girar o eixo do condensador variável até que o circuito formado por L2 e Cv entre em
ressonância nessa freqüência. A seguir, a corrente elétrica devida a essa freqüência induz em L2 uma
tensão que é enviada ao resto do aparelho. As portadoras das demais estações são desviadas para a terra
através de L2 .
Do mesmo modo, se desejarmos sintonizar outra estação deveremos mudar o valor de Cv a fim
de obtermos nova freqüência de ressonância do circuito de sintonia.
O enrolamento L1 pelo fato de estar permanentemente ligado à antena, recebe o nome de
BOBINA DE ANTENA, enquanto que L2 e Cv são chamados respectivamente BOBINA DE SINTONIA e
CONDENSADOR DE SINTONIA.
Se o aparelho possuir mais de uma faixa de ondas, o condensador variável poderá ter mais de
uma seção e também, condensadores variáveis menores em paralelo para ajuste fino de freqüência. Estes
condensadores são chamados trimmers (figura 3).

Amplificador de RF
O sinal recebido na antena do receptor é de pequena amplitude, devido à distância que
normalmente existe entre o transmissor e o receptor.Esse sinal se aplicado diretamente aos estágios
seguintes do receptor apresentará uma relação sinal/ruído muito baixa, prejudicando a qualidade da
reprodução.
Para que isso não ocorra, é introduzido entre o estágio de entrada e o estágio misturador um
amplificador de RF, ou seja, um amplificador que opera na região de freqüências altas características das
emissões de radiodifusão.
Nos aparelhos de boa qualidade o capacitor variável possui três seções: no circuito de sintonia,
no circuito oscilador e no próprio amplificador de RF, desta forma sua banda-passante fica exatamente

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na freqüência sintonizada nos outros dois estágios (figura 4). Neste circuito já estão interligados o
circuito de sintonia e o amplificador de RF, respectivamente indicados por 1 e 2.

Figura 4 – Amplificador de RF

Observe na figura 5 que o circuito produz uma banda-passante de 10 KHz de largura; os 5 KHz
que existem de cada lado da freqüência central da portadora de cada emissora, servem para impedir que
os sinais de uma emissora misturem-se aos de outra.

Figura 5 – Banda passante do amplificador de RF em um receptor

Note que o valor do capacitor Cv varia inversamente com a freqüência, isto é, para freqüências
maiores o valor do capacitor variável deve ser diminuído, abrindo-o mais.
Agora vamos examinar o funcionamento do circuito da figura 4, onde o transistor tem como
função amplificar o sinal de RF vindo do circuito de sintonia e injetado em sua base.
Os sinais de RF captados pela antena, são selecionados pelo circuito ressonante em paralelo
formado pelo secundário da bobina (L2 ) e pelo capacitor variável Cv.
Como a impedância de entrada de um transistor trabalhando em emissor comum não é alta
(menor que 1 KΩ), e a impedância total entre os pontos C e D é da ordem de 60 KΩ, retiramos o sinal
para a base através de uma derivação na bobina, derivação esta que deverá estar próxima do terminal
ligado à terra. A base estando ligada a uma derivação com poucas espirais, tem um casamento de
impedância necessário para que não haja perdas do sinal entre um estágio e outro.
Assim, para uma freqüência F1 qualquer, já selecionada pelo circuito de sintonia, obtem-se o
circuito equivalente ilustrado na figura 6.
Os resistores R1, R2 e RE determinam o ponto de trabalho para tensão contínua de transistor T1.
Além disso, o resistor de emissor funciona como carga para o circuito do oscilador local.
O capacitor C tem a função de desacoplar a tensão contínua de polarização de base. Na figura 6,
repare também, que o circuito ressonante está no primário, sendo formado por L1 e C1. O enrolamento
L2 funciona como secundário e acopla o sinal de RF à base de transistor.

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Figura 6 – Circuito equivalente para um amplificador sintonizado numa freqüência

Como os resistores R1 e R2 estão ligados à base através da bobina L2, teremos nessa bobina tanto
a tensão alternada (RF) como a contínua de polarização.
Na maioria das rádios de ondas médias, as bobinas L1 e L2 são enroladas com um núcleo de
ferrite para aumentar o efeito indutivo da bobina. O único inconveniente é que o rádio torna-se diretivo,
isto é, recebe muito bem sinais que cheguem perpendicularmente ao eixo da bobina e muito mal sinais
que cheguem paralelamente ao eixo (figura 7).

Figura 7 – A antena com núcleo de ferrite tem uma certa diretividade

Conversor ou Misturador
O misturador tem como função converter o sinal de RF recebido na antena em uma freqüência
mais baixa, conhecida como freqüência intermediária (FI). Isto é feito porque sinais de freqüência
elevada, são difíceis de serem trabalhados e além disso, para cobrir toda a faixa de RF com ganho
constante, necessitaríamos amplificadores de banda muito larga.
O sinal recebido na antena está na faixa de ondas médias, entre 525 e 1620 KHz. Após o
misturador, teremos uma única freqüência de 455 KHz que será a freqüência de FI.
Os misturadores podem ser classificados em passivos e ativos. Passivos são aqueles que usam a
não linearidade dos diodos e ativos são aqueles que se utilizam das características de transistores,
válvulas, FETs, ou outros dispositivos não lineares.
A conversão ocorre pelo processo de batimento entre duas freqüências.
Quando aplicamos duas freqüências Fa e Fb sobre um elemento não linear qualquer, haverá um
batimento entre elas, aparecendo na saída além de Fa e Fb, outras freqüências resultantes do batimento
tanto da soma como da diferença de Fa e Fb.

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Dessa forma temos na saída as freqüências Fa, Fb, Fa + Fb, Fa – Fb, nFa + nFb, nFa – nFb, onde
nFa e nFb são as harmônicas das freqüências Fa e Fb.
Na figura 8, temos um exemplo de misturador passivo formado por um diodo e da curva da
corrente no diodo.

Figura 8 – Conversor de freqüência passivo (diodo como elemento não linear)

Repare que na entrada do misturador temos dois geradores que simulam os sinais recebidos da
antena (Fa) e do oscilador local (Fb). Na saída temos todas as combinações possíveis resultantes do
batimento de Fa e Fb.
Quando aplicamos sobre um elemento não linear qualquer, duas freqüências Fa e Fb diferentes,
sendo as duas de mesma amplitude, o elemento não linear age como um somador algébrico de nível, isto
é, se num determinado instante os sinais tiverem amplitudes com fases idênticas, é feita uma soma dos
sinais. Se tiverem amplitudes com fases inversas, haverá uma subtração dos sinais.
Na figura 9, temos um conversor com os dois geradores em série e com mesma amplitude, mas
com freqüências diferentes. Observe que Fb é maior que Fa.

Figura 9 – Conversor simplificado (FB > FA)

Na figura 10 temos a soma gráfica dos sinais Fa e Fb. Nos pontos onde há coincidência de fase
(1, 8 e 9), é feita uma soma dos sinais, ao mesmo tempo em que o diodo conduz com maior intensidade
de corrente.
Já nos pontos onde a tensão resultante Vs está abaixo de 0,6 V, o diodo não conduz, bem como
nos trechos em que a tensão está abaixo do eixo zero e portanto negativa.
Como podemos observar na figura 10, o sinal na saída não é senoidal e nem tem uma forma
definida. Se no lugar da carga resistiva (Rc) mostrada na figura 9, colocássemos um circuito LC,
ressonante na diferença Fa-Fb, obteríamos apenas essa combinação e iríamos rejeitar as demais,
inclusive Fa e Fb.
Em aparelhos comerciais é usado como elemento não linear um transistor, que além de funcionar
como conversor também amplifica o sinal.

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O sinal do oscilador local é injetado na junção base-emissor e o sinal de antena é injetado na base
do transistor. No coletor colocamos um circuito LC paralelo ressonante na freqüência intermediária, que
será obtida do batimento de Fa e Fb.

Figura 10 – Conversão – demonstração gráfica

Esse tipo de conversor terá um ganho, que depende do nível de sinal gerado no oscilador local. A
variação desse ganho é mostrada na figura 11.

Figura 11 – Ganho de conversão em função do nível de sinal do oscilador local

Como o receptor cobre uma faixa de freqüências relativamente extensa, de 520 a 1625 KHz, para
se conseguir uma sintonia de boa qualidade em toda a faixa, devemos variar a freqüência do
amplificador de RF e do oscilador local ao mesmo tempo, de maneira que a diferença entre Fa e Fb seja
constante.
Para variar a freqüência, temos que variar o capacitor (circuito de sintonia), porque nele
conseguimos uma variação uniforme, tanto no circuito de RF como no oscilador local.
Para conseguirmos variar simultaneamente o circuito de RF e o oscilador do local, usamos um
capacitor variável com dupla seção comandado por um único eixo, sendo uma seção usada no oscilador
local e outra no amplificador de FR. Isto é mostrado na figura 12.
Quando giramos o eixo do condensador variável, o valor de cada seção não varia uniformemente,
isto se deve ao fato de que o tamanho das placas e a distância entre elas não é uniforme, sofrendo
portanto pequenas variações. Conseqüentemente, a freqüência do oscilador local não varia
uniformemente bem como a diferença Fa-Fb não é constante.

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Podemos corrigir esta falta de uniformidade em dois pontos, um em freqüências baixas (FB) e o
outro em freqüências altas (FA). Nas freqüências baixas, a correção é feita variando-se a posição do
núcleo da bobina do oscilador e nas altas, o ajuste é feito através do trimmer (condensador variável)
colocado em paralelo com cada umas das seções do variável de sintonia.

Figura 12 – Esquema do conversor com capacitor variável com duas seções


(Cva Antena e Cvo Oscilador)

As variações das capacitâncias de cada uma das seções e as correspondentes variações de


freqüências e tensões dos circuitos de sintonia, do oscilador local e da freqüência intermediária (FI) são
mostradas na tabela I.
Nas demais freqüências, F1, F2 e F3, por outro lado, o erro pode aumentar, chegando em alguns
pontos até a 4 KHz para mais ou para menos.
Para a freqüência de FI, a amplitude de erro depende da uniformidade do condensador, e sendo
este de boa qualidade, o erro será mínimo.
A figura 13 ilustra a variação do desvio de freqüência em relação aos pontos de freqüências F1,
FB, F2, FA e F3.
Repare que o gráfico passa por zero nos pontos FB e FA, isto é, nesses pontos o erro é nulo.

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A)
ROTAÇÃO
DO CVa CVo
EIXO DO (ANTENA) (OSCILADOR)
VARIÁVEL
30O 250 pF 247 pF
600 240 pF 242 pF
1200 100 pF 98 pF
1800 65 pF 66 pF
2700 39 pF 41 pF
3300 25 pF 23 pF

B)
F1 (KHz) F2 (KHz)
FREQÜÊNCIA F2 – F1 = FI ERRO ∆ F
DADA MEDIDA
F1 520 978 458 KHz +3 KHz
FB 796 1251 455 KHz 0
F2 1072 1525 453 KHz - 2 KHz
FA 1348 1803 455 KHz 0
F3 1625 2084 459 KHz + 4 KHz

C)
POSIÇÃO
VF1 VF2 V RESULTADO
(fig. 10)
0 0 0 0
1 + 0,8 V + 1,0 V + 1,8 V
2 + 1,0 V 0 + 1,0 V
3 0 - 1,0 V - 1,0 V
4 - 0,8 V 0V - 0,8 V
5 - 0,9 V + 1,0 V + 0,1 V
6 0 0 0
7 + 0,8 V - 1,0 V - 0,2 V
8 + 1,0 V 0 + 1,0 V
9 0 + 1,0 V + 1,0 V
10 - 0,8 V 0 - 0,8 V
11 - 0,8 V - 1,0 V - 1,8 V
12 0 0 0

Tabela I
A) Valor do capacitor variável em função da rotação do seu eixo, B) Resumo do erro de rastreio e C)
Níveis injetados no conversor

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O erro de rastreio varia de receptor para receptor, porém, em todos eles, nos pontos FB e FA
temos a curva passando pelo zero (0) e portanto erro nulo.
O erro de rastreio ou sintonia, deve ser medido em cinco pontos: F1, FB, F2, FA e F3.
Inicialmente sabemos que F1 e F3 são as freqüências extremas com valores respectivos de 520 e
1625 KHz.

Figura 13 – Representação gráfica do erro de rastreio

A freqüência central F2 está localizada no ponto intermediário entre F1 e F3 e portanto :

F1 + F3 520 + 1625
F2 = = = 1072 KHz
2 2

Através do valor de F2, agora podemos calcular FB que é um ponto intermediário entre F1 e F2, e
também o valor de FA que é um valor intermediário entre F2 e F3.

F1 + F2 520 + 1072
FB = = = 796 KHz
2 2

F2 + F3 1072 + 1625
FA = = = 1348 KHz
2 2

resumindo temos:

F1 = 520 KHz que é o extremo inferior da faixa.

FB = 796 KHz que é o ponto de calibração inferior.

F2 = 1072 KHz que é a freqüência central da faixa.

FA = 1348 KHz que é o ponto de calibração superior.

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F3 = 1625 KHz que é o extremo superior da faixa.

Para que possamos medir o erro em diversas freqüências, sintonizamos o gerador em F1, com o
receptor sintonizado para máxima tensão de saída.
Com um frequencímetro medimos a freqüência do oscilador e pela diferença entre a freqüência
da antena e do oscilador, temos a freqüência de FI prevista de 455 KHz.
A diferença entre a freqüência lida e prevista nos dará o erro de rastreio. Temos como exemplo,
na tabela IB um erro de + 3 KHz para F1 (o erro foi para mais). Já em F2 o erro foi de – 2 KHz, isto é,
para menos.

Resumindo, o erro de rastreio é a diferença entre a freqüência de FI prevista na saída do


misturador e o valor medido dessa mesma freqüência. Veja que em FB e em FA não houve erro, pois
esses pontos foram calibrados para erro nulo. Nesses dois pontos a freqüência de FI é exatamente 455
KHz.
Devido a isso, as emissoras com freqüências próximas a FB e FA têm boa qualidade de som,
enquanto aquelas que operam em freqüências mais afastadas desses pontos têm pior qualidade de
recepção, pois a freqüência resultante cai fora do centro da banda-passante de FI, tornando a banda-
passante mais estreita.

Oscilador Local
Os osciladores em geral, podem ser descritos como circuitos, que a partir de uma tensão DC
produzem sinais senoidais.
Empregam-se normalmente circuitos LC como osciladores, e dependendo dos valores dos
componentes e da alimentação contínua, podemos obter freqüências e formas de onda variadas, de
alguns Hertz a Megahertz e ondas tais como: senoidais, quadradas, dente-de serra, etc. Podemos também
ter geradores de freqüências fixa ou variável.
Como em rádio desejamos sinais senoidais e de freqüência variável, usamos osciladores LC onde
tanto o valor dos condensadores como o das bobinas podem ser variados.
São usados normalmente três tipos de osciladores: Armstrong, Hartley e Colpitts, cada um deles
possuindo várias versões.
Como já vimos anteriormente, o oscilador local do receptor deve gerar freqüências de maneira a
cobrir toda a faixa, de modo que o sinal recebido na antena subtraído do sinal do oscilador local seja
constante.
Os osciladores funcionam com uma realimentação positiva de sinal, isto é, uma parte do sinal de
saída de um amplificador é desviada e enviada para a entrada, com fase igual ao sinal que já existe nessa
entrada. Observamos portanto, que é feita uma realimentação positiva.

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Figura 14 – Diagrama em bloco de um oscilador básico

Um oscilador divide-se em três partes:

a) AMPLIFICADOR: é formado por um elemento ativo, transistor ou válvula e tem a função de


amplificar o sinal injetado em sua entrada. Normalmente é usado um transistor em montagem emissor
comum, que além de amplificar defasa o sinal da saída em 1800 em relação ao sinal de entrada.
Se o sinal na entrada tem fase positiva, esta aparecerá na saída com fase negativa e vice-versa.
No exemplo da figura 14 o amplificador tem ganho de 200 vezes, ou seja, o sinal de entrada é
multiplicado por 200. Se na entrada tivermos um sinal de 2 mV, este aparecerá na saída com um valor
de 400 mV.
b) FILTRO PASSA-FAIXAS: forma o elo de realimentação e determina como função principal, a
freqüência de operação do oscilador, de maneira que só haja realimentação nesta freqüência. Além
disso, gira a fase do sinal em 1800 corrigindo a defasagem introduzida pelo amplificador, de forma que o
sinal seja realimentado sempre com a mesma fase, mantendo assim o ciclo de oscilação.

c) ATENUADOR: sua principal função é controlar o índice de realimentação do sinal. Para que
isso ocorra, o atenuador deve possuir um fator de atenuação igual e contrário ao ganho de tensão do
amplificador. No nosso exemplo esse fator deverá ser 200. Com isso o sinal injetado na entrada terá
sempre a mesma amplitude, evitando-se desse modo a saturação na saída.

Por exemplo, se aplicássemos na entrada uma tensão de 2 mV e tendo o amplificador um ganho


de 200 vezes, teríamos na saída 400 mV. Se este nível fosse aplicado à entrada sem atenuação e
novamente amplificado teríamos agora na saída uma tensão de 80 V. Prosseguindo neste ciclo o
transistor ficaria saturado.

Para evitar que isto ocorra, o sinal de realimentação é atenuado a fim de manter o sinal de saída
constante e sem saturação.
Por outro lado, se tivermos muita realimentação o sinal de saída também irá se saturar, e se
tivermos pouca realimentação o circuito deixará de oscilar ou oscilará intermitentemente. Por esse
motivo devemos prever um nível de realimentação adequado. Para que o oscilador funcione
corretamente, o ganho total da malha amplificador/atenuador deverá ser maior do que 1.
Antes de estudarmos cada tipo de oscilador, lembre-se que os osciladores devem possuir as seguintes
características:
a) Logo que seja ligada a alimentação contínua, iniciar seu ciclo de operação automaticamente.

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b) Ter boa estabilidade de freqüência (manter a freqüência constante) mesmo sob variações da
tensão de alimentação ou variações de temperatura.
c) Ser de fácil ajuste, tanto em amplitude como em freqüência.
d) Fornecer a forma de onda desejada sem distorção.
e) Manter a tensão de saída constante.

Vejamos agora como funcionam os tipos de osciladores citados:

1) OSCILADOR ARMSTRONG

Quando ligamos a chave CH, aplicamos a tensão de alimentação Vcc entre o coletor e o emissor,
conseqüentemente, irá circular uma corrente IC do emissor para o coletor, devido às cargas minoritárias.
A variação de corrente IC que circula em L1 faz surgir em torno da mesma um campo
eletromagnético. Como IC tende a aumentar, as linhas de campo aumentam envolvendo também L2. A
indução eletromagnética provocada por L1 em L2 provoca surgimento de tensão em L2 , fazendo com
que aumente a corrente de base IB e também IC, fazendo aumentar novamente o campo em L2.
Após algum tempo, a bobina descarrega seu campo sobre o condensador CV, criando um campo
elétrico sobre o mesmo que faz surgir uma tensão com polaridade oposta à da bobina. Desta forma, a
base fica negativa em relação ao emissor, levando o transistor ao corte, cessando a corrente de coletor e
eliminando o campo eletromagnético sobre L1 e L2, terminando desse modo o ciclo de oscilação.

Figura 15 – Oscilador Armstrong simplificado

O transistor, que tem função de amplificador, ao mesmo tempo em que amplifica o sinal injetado na
base, roda a fase do sinal em 1800 de tal forma que se o sinal na base é positivo, fará aparecer no coletor,
negativo e vice-versa.
A freqüência de operação do oscilador é determinada por L2 e por CV que formam um filtro
ressonante em paralelo. Desse modo, só é induzida na base do transistor a tensão que esteja na
freqüência de ressonância. Para outras freqüências não haverá realimentação, pois serão todas curto-
circuitadas para o chassis.
A bobina L1 forma o elo de realimentação (que devolve o sinal de saída para a entrada) de maneira a
manter a oscilação. Normalmente L1 e L2 são enroladas no mesmo núcleo, a bobina L1 é enrolada de
maneira que rode a fase em 1800, a fim de que a realimentação do coletor para a base se dê na mesma
fase. A distância d entre L1 e L2 funciona como um atenuador, quanto maior ou menor essa distância,
maior ou menor será a tensão realimentada.

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Para que o sinal de saída fique sem distorção, o fator de realimentação deve ter um valor menor ou
igual ao da saída e deve ter fase oposta.

2) OSCILADOR HARTLEY

Estes osciladores existem em dois tipos: SÉRIE e PARALELO. No oscilador Hartley em série as
correntes contínuas e alternadas passam por um mesmo trajeto através da parte inferior da bobina L
(figura 16).

Figura 16 – Diagrama simplificado do oscilador Hartley série


No oscilador Hartley em paralelo, as correntes CA e CC fazem caminhos diferentes, sendo que
só a corrente alternada circula através da bobina L1 (figura 17).

Figura 17 – Diagrama simplificado do oscilador Hartley paralelo

O oscilador Hartley não usa bobina de realimentação, como é o caso do oscilador Armstrong. O
Hartley é formado por uma bobina L, com uma derivação central que a divide em duas partes L1 e L2. A
realimentação da saída para a entrada é aplicada no extremo inferior da bobina, sendo que entre os
pontos 1 e 2 o sinal ficará defasado de 1800 em relação ponto B.
A bobina L em conjunto com o condensador variável forma o filtro que determina a freqüência
de oscilação do circuito. A bobina L1 mais o condensador C funciona como elo de realimentação da
saída para a entrada.

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O sinal de saída pode ser retirado através de um acoplamento indutivo com a bobina L ou através
de RE, caso em que não será usado o condensador CE.

3) OSCILADOR COLPITTS

Tem o mesmo princípio de funcionamento que o oscilador Hartley paralelo (figura 17), só que
utiliza um divisor capacitivo ao invés de um indutivo. No oscilador Hartley a realimentação é retirada de
uma derivação na bobina, enquanto que neste é retirada do ponto de junção dos dois capacitores.
O sinal de saída é realimentado para a entrada através do condensador C3 e aplicado ao extremo
inferior da bobina L. O sinal aplicado no ponto C sofre rotação de fase de 1800. Se o semiciclo é positivo
no ponto C, é negativo no ponto A e vice-versa.
O filtro que determina a freqüência do oscilador é formado por L em paralelo com o condensador
equivalente de C1 e C2 em série. A realimentação é retirada do ponto B entre os dois condensadores
(figura 18).
A grande vantagem do oscilador Colpitts sobre os demais é a sua estabilidade em freqüência
devido a variações de temperatura. Esta estabilidade ainda pode ser melhorada utilizando-se
condensadores com compensação térmica.
Para variarmos a freqüência, podemos fazer C1 ou C2 variáveis, desta forma o sinal de saída
pode ser retirado tanto do emissor como do choque de RF, ligado em série com a fonte de alimentação
Vcc.

Figura 18 – Diagrama simplificado do oscilador Colpitts

Amplificador de FI
O amplificador de FI tem a finalidade de amplificar e filtrar o sinal obtido pela mistura do sinal
de RF, com o sinal do oscilador local.
Ele é formado na realidade por dois amplificadores iguais e sintonizados ambos na freqüência
central de FI (455 KHz) e tendo banda-passante de 10 KHz, isto é, 5KHz a mais ou a menos da
freqüência central. Um esquema típico é mostrado na figura 19.

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Figura 19 – Esquema simplificado de um amplificador de FI

Além de amplificar e filtrar o sinal, o amplificador de FI tem três outras características:


Sensibilidade, Seletividade e Controle Automático de Ganho.
A sensibilidade é definida como sendo a capacidade de receber sinais fracos e reproduzi-los com
a mesma fidelidade dos sinais recebidos com maior intensidade. Ela também está relacionada com o
ganho dos amplificadores e com o ruído gerado nos mesmos.
Já a seletividade é definida como sendo a capacidade que o receptor tem de separar os sinais
induzidos na antena, relacionando somente a freqüência desejada e rejeitando as demais. Essa rejeição é
obtida nos amplificadores de FI pela sua banda estreita.
Outro fator que influi na seletividade é a rejeição do sinal imagem.
Ao sintonizarmos uma emissora, o sinal poderá ser recebido em três pontos diferentes do dial
sendo: um ponto correspondente à freqüência central, outra à freqüência central acrescida do dobro do
valor da freqüência de FI e finalmente, o ponto correspondente à freqüência central menos o dobro da
freqüência de FI.
Se o amplificador de FI tiver boa seletividade, estas duas freqüências imagens não serão
amplificadas ficando situadas fora da banda-passante do amplificador.
O amplificador de FI na realidade é formado por dois transistores montados em configuração
emissor comum (figura 19), sendo o primeiro amplificador formado por T2 e o segundo por T3.
O primeiro estágio vai desde o coletor de T1 até o coletor de T2. O segundo estágio vai do coletor
de T2 à entrada do detetor.
Como filtro de FI é utilizado um transformador com relação 1:1, sendo o primário formado por
L1 com C1 em paralelo e o secundário por L2 com C2 também em paralelo. Tanto o primário como o
secundário formam circuitos ressonantes na freqüência de FI (455 KHz), veja a figura 20.

Figura 20 – Transformador de FI com primário e secundário sintonizador

O secundário possui três terminais, sendo que a saída do meio é uma derivação com baixa
impedância, de onde é retirado o sinal para ser aplicado às bases dos transistores T2 e T3, pois estando
estes ligados em emissor comum, possuem baixa impedância de entrada.

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Detetor

O detetor possui três funções básicas:


a) Demodular o sinal recebido pela antena, isto é, separar o sinal de áudio do sinal de RF da
portadora.
b) Selecionar a mensagem através do filtro passa-faixas e desviar a portadora para o chassis.
c) Fornecer a tensão de controle para o Controle Automático de Ganho.

Temos dois tipos diferentes de demoduladores, um para transistores tipo NPN e o outro para
circuitos com transistores PNP. Na figura 21 temos um demodulador para transistores NPN e na figura
22 um demodulador para transistores PNP.

Figura 21 – Demodulador ou detetor de AM e CAG em rádio que usa transistores NPN

Note que as principais diferenças entre os dois tipos é a posição do diodo, a polaridade da tensão
de alimentação e tensão do CAG. Repare também a polaridade do sinal demodulado obtido na saída dos
dois demoduladores.
O diodo é principal elemento do demodulador. Dependendo de sua posição deixará passar um
dos semiciclos da portadora, bloqueando o outro.
No outro lado do diodo, no ponto B aparece uma tensão de RF pulsante, cujo envoltório
corresponde ao sinal de áudio (mensagem transmitida).
O filtro na saída do demodulador, formado por R1, C1 e C2 é um filtro RC do tipo passa-baixas,
com freqüência de corte em torno de 50 KHz. Nesse filtro são cortadas todas as freqüências acima dessa
faixa, inclusive à portadora de 455 KHz.

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Figura 22 – Demodulador ou detetor de AM e CAG em rádio que usa transistores PNP
Conforme mostra a figura 22, na saída do filtro, no ponto C temos um sinal de amplitude
variável correspondente ao sinal modulante, variando somente do eixo zero para cima. Após o capacitor
de acoplamento, o nível DC é bloqueado, restando somente o sinal AC que corresponde ao sinal de
áudio.
O potenciômetro P é usado como carga para o detetor e sua principal função consiste em variar o
nível de sinal que será injetado no estágio seguinte, atuando portanto como potenciômetro de volume.

Controle Automático de Ganho (CAG)


A função do CAG é controlar o ganho de receptor automaticamente.
Ao ouvirmos uma emissora de ondas médias localizada a grande distância do receptor, teremos
na antena um sinal de baixa intensidade, podendo estar abaixo de 100 µV. Porém, se a emissora estiver
próxima do receptor, o sinal poderá ser de 1 mV. Teríamos então uma reprodução com pequena
amplitude no primeiro caso e com excessiva amplitude no segundo.
Assim, quando o sinal recebido na antena é muito forte o CAG age no sentido de reduzir o ganho
dos amplificadores. Quando o sinal recebido é fraco, o CAG age de modo a aumentar o ganho dos
amplificadores, mantendo a saída constante.
Para tanto, o sinal de RF presente no ponto B (saída do detetor) das figuras 21 e 22, é
transformado em um nível CC variável, sendo realinhado para a entrada onde vai controlar o ganho dos
amplificadores de RF e FI. Isso é mostrado em blocos na figura 23.
Observe que o CAG é mais eficiente nos pontos onde o sinal de RF tem baixo nível, ou seja, no
amplificador de RF e no primeiro amplificador de FI. Já no segundo amplificador de FI, a eficiência do
CAG é menor, pois ali o sinal já sofreu diversas amplificações.

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Figura 23 – Pontos onde é aplicado o sinal do CAG

Amplificador de Áudio
O amplificador de áudio possui três funções básicas.

a) Amplifica o sinal de áudio que aparece na saída do detetor, sinal que como vimos é de pequena
amplitude.
b) Converte a tensão de entrada em potência de saída, com nível suficiente para excitar o alto
falante.
c) Casa a impedância de saída do amplificador com a carga, que no caso será o alto-falante.

O sinal de áudio na saída do detetor é de baixo nível, sendo normalmente da ordem de 10 mV.
Para os rádios domésticos e mesmo para os usados por radioamadores, a potência de saída normalmente
está na faixa de 1 a 5 W, que apresenta um nível razoável de áudio.
Os amplificadores de potência de áudio podem ser formados por um único circuito integrado (para
pequenas potências) ou por circuitos formados por componentes discretos, como por exemplo, usando
dois transistores em par complementar, que formam um circuito simples e com ótimo desempenho.

Figura 24 – Amplificador de potência com par complementar e duas baterias

Como desejamos retirar o sinal de saída de um ponto com baixa impedância (8 ohms por
exemplo), usaremos como saída o ponto de junção dos dois emissores (ponto A da figura 24).
Na figura 24 temos um exemplo de amplificador simplificado usando um par complementar.
O circuito é alimentado por duas fontes separadas, Vcc1 e Vcc2. Na entrada do amplificador está
ligado um gerador de áudio com uma forma de onda senoidal, que durante o semiciclo positivo irá fazer
T1 conduzir e T2 entrar em corte. Com isso, irá circular uma corrente saindo do pólo positivo de Vcc1,
passando através de RL e da junção emissor-coletor de T1, voltando ao pólo negativo.

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Durante o semiciclo negativo, acontece o contrário, T1 indo ao corte e T2 passando a conduzir.
Pelo fato de T2 ser PNP, só conduzirá quando a base estiver negativa em relação ao emissor. Nestas
condições, irá circular uma corrente do emissor para o coletor T2 através de RL e voltando ao pólo
negativo de Vcc2.
A corrente em RL aumenta em função do aumento da tensão do gerador de entrada e desse modo,
a tensão criada em RL também é senoidal.
Durante o semiciclo positivo, a corrente circula através de RL, indo do ponto A para o ponto B
(figura 24), fazendo aparecer uma tensão AC sobre RL, sendo o ponto A positivo em relação ao ponto B.
No semiciclo seguinte, a corrente circula em sentido contrário e, por sua vez, a tensão em RL terá
polaridade contrária.
Devemos notar que pelo fato do sinal ser retirado dos emissores, não haverá inversão de fase
com relação ao sinal de entrada.
Na figura 25 temos o esquema completo de um amplificador de áudio para pequena potência (da ordem
de 2 W).
O transistor T1 funciona como amplificador de tensão, ou pré-amplificador. Nele o sinal de saída
do detetor é inicialmente amplificado para um nível de tensão suficiente para excitar a base de T2.
O transistor T2 tem a função de excitador ou “driver”, convertendo a variação de tensão em sua
base, em variação de corrente no seu coletor, e excitando as bases de T3 e T4 que fornecem a potência de
saída.

Figura 25 – Amplificador de áudio com par complementar

O resistor ajustável R3 ajusta a tensão de polarização a fim de que os transistores operem num
mesmo ponto quiescente (em descanso), produzindo assim um ganho simétrico e evitando distorções por
intermodulação cruzada (Cross-Over).
Os diodos têm a função de estabilizar as tensões nas bases de T3 e T4 para fazê-los operar em
classe AB ou B e funcionam também como estabilizadores térmicos, mantendo as correntes de base
constantes.

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