Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ÁFRICA E SUAS DIÁSPORAS


DISCIPLINA:
A ÁFRICA MEDITERRÂNEA ANTIGA: UMA OBSERVAÇÃO ATRAVÉS
DA ARQUEOLOGIA

ALUNO: CARLOS NÉRI


PROF. PROFESSOR GILBERTO DA SILVA FRANCISCO
Introdução:
O curso de África e suas diásporas ofertado pela Universidade Federal
de São Paulo tem proporcionado diversas leituras importantes sobre a
história do continente africano no contexto do Mediterrâneo e de suas
relações culturais e econômicas com o Oriente. Autores como Bernal, Raisa
Sagredo, Léopold Senghor e outros, direcionaram nosso olhar para uma
realidade pluricultural do mediterrâneo.
Os estudos arqueológicos validam as pesquisas sobre a interrelação
entre o Egito e a Grécia, entre a Grécia e os povos do Oriente, entre Egito e
Oriente. Essa expansão comercial e cultural entre as civilizações do
mediterrâneo e os confins da Ásia, revela o quanto, a ideia de que os limites
do mediterrâneo foram estreitos, até a época de Alexandre.
É interessante notar que, alguns estudos importantes, apontam os
Egípcios como negros, bem diferente dos retratos dos filmes de Hollywood,
que apresentavam os egípcios como pessoas brancas, dessa forma a antiga
mentalidade ariana que indica uma pré-história europeia, branca e sem
mistura, passa a não ter mais sentido, a não ser para justificar a colonização
e o branqueamento dos povos.
Esse trabalho consiste em uma síntese bibliográfica dos autores
utilizados no curso de África e suas diásporas e nas orientações teóricas da
aula do professor Gilberto da Silva, como trabalho obrigatório da disciplina
de África mediterrânea antiga: Uma observação através da arqueologia.
I – África e povos do mediterrâneo

A pré-história europeia possui uma dinâmica interrelacional, cuja


diversidade dos cenários, apontam para uma pluriversidade dos povos do
mediterrâneo, Bernal (2005) descreve as relações culturais entre gregos e
os povos do Oriente Próximo, da mesma forma que Heródoto, historiador
grego, descreve os etíopes na África. Entendemos, através das leituras, que
a visão estreita dos gregos, por exemplo, em relação aos orientais e até
mesmo em relação aos egípcios, não era estreita, como pensava Gusdorf
(1967), mas que as diversas culturas se relacionavam e conhecimentos
eram construídos através dessas relações.
As leituras de Bernal (2005), Sagredo (2017) e Lima Vaz (1967) apoiam as
linhas de pesquisa que apontam para as relações entre gregos, africanos e
povos orientais, da mesma forma que defende uma gênese negra do Antigo
Egito, assim como para a contribuição dos povos africanos e asiáticos na
construção da civilização ocidental.
“O epicentro da História se situa em Atenas ou em Roma [...]”, afirma
Gusdorf (1967, p.20).1 cujas imagens e histórias nos gera fascínio. Para
Gusdorf esses particularismos epistemológicos que selecionam os lugares e
fatos privilegiados repousam sobre a ficção do classicismo, que exclui a
contribuição da Ásia e África no desenvolvimento da riqueza cultural
mediterrânica
Se realizarmos uma leitura atenta de Diop em seu “the African Origino of
Civilization” (1974) poderemos flexionar nossa curiosidade epistemológica
em direção aos conjuntos de pesquisam que apontam para uma civilização
ocidental miscigenada em sua origem e de uma origem negra do Egito,
dessa forma, poderemos reunir subsídios teóricos para refutar o modelo
ariano que fomentou o racismo. Diop nos aponta que o velho Heródoto,
viajante e investigador, um missionário da curiosidade, já destacava os
traços negroides da população egípcia em verossimilhança com os Etíopes.
Tais testemunhos fornecem os fundamentos teóricos para formar, um
consenso entre muitos estudiosos do Egito Antigo, entre eles, Gaston
Maspero, que conforme afirma Diop, sustenta a tese da africanidade dos
egípcios e da contribuição do Egito na formação da Grécia antiga, sobretudo
sobre os domínios dos Ptolomaicas exerceram controle do Egito, a religião e
a astrologia que os Egípcios herdaram dos povos orientais, foram
culturalmente assimiladas pelos gregos. Dessa forma, compreendemos que
a corrente da raça ariana, não pode ser viável, do ponto de vista de uma
ciência comprometida com fatos históricos, que ideologicamente, foram
propositadamente descreditados.
Camuri aponta, conforme Braudel, que as negações no mediterrâneo,
proporcionava as interações entre os povos, o assentamento de colônias e o
comercio de diversos produtos, que formam a riqueza material deixada por
esse povos. O Egito, por exemplo, expandiu suas relações culturais com os
gregos, durante a invasão de Alexandre e no período a dinastia ptolomaica,
manteve diversas relações comerciais e culturais com outros povos, dando
um grande impulso a economia do Egito com o grande fluxo de mercadorias
que eram exportadas via mediterrâneo.
A arqueologia irá reconstruir o espaço mental social da África,
especialmente o Egito em suas conexões com gregos e povos do Oriente,
através dos artefatos encontrados. Mokhtar (2010) esclarece que algumas
técnicas e objetos de arte de Alexandria, assim como peças do ateliê egípcio
se assemelhavam com objetos gregos, assim como pintores e escritores
gregos que se inspiravam na arte egípcia.
Alexandria, por sua vez, conhecida pela sua biblioteca, atraiu diversos
pensadores, escritores e filósofos do mundo mediterrâneo, diversos
pensadores e cientistas gregos estiveram em Alexandria, podemos afirmar,
que os livros da biblioteca de Alexandria traziam eram compostos por
conhecimentos oriundos de diversas parte do mundo conhecido, a religião,
por exemplo, que se reconstruía conforme os traços das diversas formas de
simbolismo, como a assimilação grega da religião egípcia.
II – Conclusão

As leituras propostas para a disciplina África mediterrânica, serviram


como um referencial que amplia os conhecimentos da disciplina anterior,
gregos, romanos e africanos. As primeira leituras nos proporcionaram um
outro viés de conhecimentos sobre as origens da civilização ocidental nos
direcionando para um olhar não eurocêntrico que reafirma as contribuições
dos povos do Oriente próximo e da África no desenvolvimento civilizacional
do mediterrâneo.
Aprendemos, conforme Camuri, ao citar Braudel, que as pequenas
comunidades gregas, da Ásia Menor e da África do Norte, se valiam da
proximidade territorial e das navegações que facilitavam no comércio, no
fluxo de mercadorias e do estabelecimento de colônias. Conforme os relatos
dos antigos gregos, como Heródoto, existiam conexões entre gregos e
etíopes, assim como os Egípcios, sobretudo após a conquista do império de
Alexandre e a expansão da dinastia ptolomaica, fortaleceu o trânsito no
mediterrâneo.
A arqueologia ao desvendar o mundo antigo, resgatando e estudando
artefatos, fortalece os estudos que apontam para as conexões culturais no
mediterrâneo, segundo os arqueólogos, diversas peças, artefatos, esculturas
e pinturas revelam as conexões entre os saberes egípcios e gregos,
demonstrando como essas civilizações estavam próximas e como eles
trocavam informações e construíam e reconstruíam suas obras, cuja
materialidade e simbolismo não nos deixa enganar, ou seja, das relações
pluriversais das comunidades mediterrânicas na formação da cultura
ocidental, da qual somos herdeiros.
III – Bibliografia

BERNAL. Martin, et al. REPENSANDO O MUNDO ANTIGO.


IFCH/UNICAMP, n.49, Abril de 2005.
GUSDORG, George. Les Sciences Humaines et la Pensée
Occidentale II: Les Origines des Sciences Humaines. Ed. Payot, Paris,
1967.
MOKHTAH, Gamal. História Geral da África, parte II. Unesco,
Brasilia, 2010.
SAGREDO, Raisa Barbosa Wentelemn. Raça e Etnicidade: questões
e debates em torno da (des)africanização do Egito Antigo. Dissertação
de Mestrado, UFSC, 2017.
CAMURI, Allan Arthur de Sousa. Integração e conectividade
comercial entre Gregos e egípcios na região de Naucrátis.
Temporalidades, 2020!

Você também pode gostar