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ESTUDO SISTEMÁTICO DOS LIVROS PROFÉTICOS

DO ANTIGO TESTAMENTO
(MÓDULO II – PROFETAS MENORES)

Walmir P. Medeiros

AGOSTO / 2016
I – Introdução

Apesar de vivermos em um tempo com volumes exorbitantes de informações


acarretando em maior instrução formal e acesso a diferentes configurações de culturas,
não evidenciamos mudanças estruturais significativas que façam as diversas formas de
organização social romper com heranças degradantes de ignorância e intransigência.
Nesse contexto, se faz fundamental uma investigação aprofundada das Sagradas
Escrituras, elemento norteador dos mecanismos de sustentação de todas as sociedades
ocidentais e de certa forma algumas das orientais, como as islâmicas, por exemplo.

O presente estudo tem como objetivo oferecer uma abordagem sistematizada dos
livros proféticos do Antigo Testamento, assim definidos didaticamente pelas diferentes
áreas do saber teológico, apresentado de maneira sucinta, clara e objetiva os temas
bíblicos enfatizados, através de uma postura teológica reformada, relacionando os
ensinamentos retirados das diversas narrativas ao atual contexto social; discutindo,
problematizando e esclarecendo algumas das complexas demandas existentes em nosso
tempo à luz das Sagradas Escrituras, buscando soluções na Palavra de Deus para os
diferentes desafios existentes.

Somente pela conscientização crítica adquirida pela instrução sistemática dos


ensinamentos sagrados contidos na Bíblia seremos capazes de romper, pelo menos
individualmente, ou ao menos, como corpo de Cristo, com a situação social, moral,
econômica e espiritual degradante que se apresenta nos tempos atuais. Temos como
cristãos a necessidade de nos reformamos continuamente buscando entender a vontade
de Deus para nossas vidas. Que a aprendizagem bíblica adequada adquirida com essa
série de lições contribua no alcance desse propósito, fundamentado cristãos na genuína
fé como instrumentos valiosos na obra evangelizadora e na edificação da igreja através
do Espírito Santo, para exaltação do nome de Jesus Cristo e glória de Deus.
II – Lições
Lição 1: A Grandeza do Amor de Deus
Texto base: (Oséias 1: 1-11, 2: 1)

Introdução: Oséias, que significa ajuda ou livramento, foi profeta em Israel na segunda
metade do século VIII, após o reinado de Jeroboão II (considerado o mais próspero que
todo Reino do Norte já teve), sendo, talvez com exceção de Jonas, o único profeta
escritor desse reino. As circunstâncias de seu casamento são essenciais para o
entendimento de seu ministério profético, já que o comportamento de Gômer
simbolizava o adultério espiritual de Israel e a quebra da aliança com Javé. O
relacionamento de Oséias com sua esposa representava a ligação de Javé com o Israel
desleal.

Temas principais:

 Casamento de Oséias como símbolo da relação de Deus com o Seu povo: Ao


permitir que Oséias casasse com uma prostituta e tivesse filhos com ela, Javé estava
sinalizando para nação o juízo iminente que os acometeria. Assim como a mulher
de Oséias havia se prostituído, após ser resgatada por ele de um bordel, e por isso
abandonada, Deus abandonaria a nação ao juízo dos sanguinários assírios.
Quebrarmos nossa aliança com o Senhor é algo muito sério que pode nos trazer
terríveis consequências. (vers. 4, 5, 6, 8 e 9; Oséias 2: 2, 5, e 7).

 Amor de Deus evidenciado em sua fidelidade para com um povo adúltero:


Mesmo provada à traição de Gômer, com a concepção de filhos fora do casamento,
o Senhor ordena a Oséias comprar sua esposa a libertando da escravidão. Mesmo
com as nossas falhas, o Senhor continua nos amando e quer cuidar de nós para
sermos plenamente restaurados. (Oséias 3: 1-5).

 Amor e graça como agentes geradores de arrependimento e confissão: Apesar


do justo juízo de Deus, havia uma promessa de restauração. Não importa o quanto
somos abomináveis, o Senhor está sempre disposto a nos perdoar. Ele nos ama
incondicionalmente. E esse grande amor revela as nossas falhas e limitações, nos
levando ao arrependimento e confissão de pecados, nos dando uma vida plena de
aliança com Ele através da salvação que adquirimos pelo sacrifício de Cristo.
(Oséias 14: 1-4).
Lição 2: Aprendendo a Perceber os Alertas de Deus
Texto base: (Joel 1: 1-15)

Introdução: O Livro de Joel foi escrito com objetivo de explicar uma praga de
gafanhotos que sobreveio ao interior de Judá enfatizando o prometido “Dia do Senhor”,
quando Deus julgaria todas as nações da Terra. Joel tem como propósito conclamar o
povo de Judá ao arrependimento e confissão antes que o julgamento se agravasse e não
houvesse mais possibilidade de reversão.

Temas principais:

 Gafanhotos como prenúncio de futuro julgamento: A praga de gafanhotos não


era apenas mais uma catástrofe natural. Aliada a grande seca que a sucedeu, a
ausência de alimentos e até mesmo de animais disponíveis para manutenção dos
sacrifícios no templo em Jerusalém, apontava para algo terrivelmente maior que e
era o grande dia do juízo de Deus. Esse dia não ofereceria um alívio ou livramento
para aqueles que se arrogavam imunes, mas seria de avassaladora destruição.
Aprendemos com os profetas que o juízo sempre começa com a casa de Deus
através dos constantes alertas que as Sagradas Escrituras nos fazem. (vers. 9, 10,
14, e 15).

 Obediência e submissão como condição para reversão de calamidades: Por


amor aos salvo, o Senhor, em certas ocasiões, refreia seu julgamento para que
possamos ter a possiblidade de arrependimento e salvação. A providência de Deus
opera essa obra em nosso favor a fim de obtermos a possibilidade de anunciarmos o
evangelho, alcançando aqueles que ainda não tiveram oportunidade de redenção.
Fidelidade a Deus é elemento indispensável para sobrevivermos em um mundo
hostil e dominado por toda sorte de pecados. (Joel 2: 12-18).

 Promessa de restauração progressiva e contínua: Assim como o público de Joel,


somos alertados a esperar o Dia do Senhor, que já se aproxima, e o seu
cumprimento está em contínua progressão. No pentecoste, deu-se início a esse
processo que culminará com a redenção dos eleitos e com a benção de sermos
totalmente aperfeiçoados para vivermos eternamente em comunhão com nosso
Salvador e Senhor. (Joel 2: 28-32; Atos 2: 16-21; Romanos 10: 12-13).
Lição 3: Práticas que Aperfeiçoam a Santidade
Texto base: (Amós 4: 1-3)

Introdução: Amós, que significa “como suportar” ou “colocar uma carga em” foi
profeta em Israel entre 760-745 a.C., durante o reinado de Jeroboão II, período de maior
riqueza e prosperidade material de toda história do Reino de Israel . Ele era um pastor e
produtor de figos de Tecoa (vila a cerca de 16 km ao sul de Jerusalém). Sua origem foi
fundamental para a validação de seus oráculos, pois sua condição social lhe conferia
independência para proclamar a mensagem de Deus livremente, sem associação a
qualquer grupo de interesses. Os ensinamentos de Amós afirmam no A.T. os conceitos
de serviço e ação social, fundamentais para o desenvolvimento espiritual de qualquer
cristão genuíno.

Temas principais:

 Interesse social como condição para crescimento espiritual: Vivemos tempos de


extremo individualismo onde somos condicionados a voltar nossa atenção única e
exclusivamente para os nossos interesses materiais. A percepção de diferentes
realidades é fundamental para rompermos com a atrofia espiritual gerada por tais
práticas. A preocupação com o próximo nos obriga a refletirmos sobre nossa
realidade, apontando nossas falhas e nos despertando para a prática de justiça
social. (vers. 1).

 Ação social objetivando aperfeiçoamento e santidade: O desenvolvimento de


nossa santidade está diretamente ligado à maneira que servirmos ao próximo. A
prática cristã nos propicia essa dádiva. Quanto mais servimos, maior nosso
aperfeiçoamento e progressão espiritual. Buscamos o bem, porque somos gratos a
Deus e entendemos o propósito de nosso chamado. (Amós 5: 11-15).

 Doutrina bíblica propiciando robustez e perseverança cristã: O cumprimento


das ordenanças estabelecidas na Palavra de Deus é um desafio diário para todos
nós. Buscamos servir ao nosso próximo porque sabemos que temos a obrigação de
fazê-lo e isso só é possível com os esclarecimentos estabelecidos pelas Sagradas
Escrituras. A cada dia somos mais solidificados, conscientes de nossas
responsabilidades e fortalecidos na fé, usufruindo de condições adequadas para uma
firme e bem sucedida caminhada cristã. (Amós: 7: 7-9).
Lição 4: Advertências Contra Hostilidade
Texto base: (Obadias 1: 1-14)

Introdução: As visões de Obadias foram registradas com objetivo de condenar os


edomitas por seu orgulho e teimosia em não ajudar Israel em vários momentos da
história tratando seus irmãos com brutalidade e intransigência. A profecia de Obadias a
respeito da retribuição divina contra Edom por ajudar e se vangloriar na desgraça de
seus irmãos serve de advertência a todos as nações e também a indivíduos, já que
corremos o risco de recebermos retribuições por nossas ações cruéis. Deus não deixará
impune qualquer forma de desumanidade.

Temas principais:

 Presunção e insolência como forma de condenação: Edom se achava totalmente


autossuficiente. Por serem descendentes de Esaú (filho mais velho de Isaque que
vendeu sua primogenitura (Gênesis 25: 27-24)), consideravam-se superiores aos
seus irmãos israelitas tratando-os com repugnância e desdém. Ao invés de ajuda-los
em momentos de dificuldades decidiram colaborar alegremente com a desgraça
deles. A maneira como tratamos as pessoas reflete muito do que nós somos e
seremos cobrados por isso. (vers. 3).

 Confiança depositada em mecanismos mentirosos e falhos: Muitos hoje confiam


em suas relações, influências e “esquemas” objetivando garantia de segurança e
bem estar. Para que isso ocorra acreditam que se necessário for devem prejudicar
outros indivíduos não importando as consequências, afinal, creem que os fins
justificam os meios. A confiança nas nossas próprias forças e relações humanas é o
primeiro passo para a desgraça total e plena. (vers. 7-8, Jeremias 17: 5).

 Inevitável retribuição através de desgraça e desolação: Os edomitas foram


severamente castigados por todo mal causado aos seus irmãos. Nos séculos que
sucederam a profecia de Obadias foram completamente aniquilados e assimilados
por outros povos perdendo para sempre sua identidade étnica. Terrível coisa é cair
nas mãos do Deus Vivo! (Hebreus 10: 31). Devemos seguir os ensinamentos de
Cristo para não sermos alvos de igual sentença. Termos uma postura humana e
agregadora, onde o amor e a misericórdia sejam elementos fundamentais para as
nossas avaliações, é essencial para superarmos rivalidades e vivermos a verdade e
plenitude do evangelho da graça. (vers. 12-14, Gálatas 6: 7-10).
Lição 5: O Valor de Uma Oportunidade
Texto base: (Jonas 1: 1-10)

Introdução: Ao contrário de outros livros proféticos, Jonas tem como característica a


narrativa de um episódio da vida desse controverso profeta. Após ter o prazer de
profetizar a expansão das fronteiras nacionais de Israel (II Reis 14: 25) durante o
reinado de Jeroboão II (793 – 753 a.C), Jonas recebe a missão de alertar os gentios de
Nínive – que ele considerava criminosos cruéis e selvagens – sobre o risco iminente de
destruição. Para Jonas isso era inadmissível, pois alguns deles podiam se converter e
assim receber a mesma graça reservada a Israel por Javé. O livro de Jonas reafirma a
soberania e graça de Deus dedicando inteiramente sua mensagem a expansão das boas
novas do evangelho para outros povos além de Israel.

Temas principais:

 Soberania de Deus estabelecida por amor e compaixão: Não havia nada de


surpreendente em Deus usar de compaixão para com os ninivitas. Ele já tinha
demonstrado misericórdia imerecida com o próprio Israel abençoando o reinado de
um monarca perverso, usando Jonas para profetizar isso. (II Reis 14: 25). Por que
então Deus não poderia abençoá-los? Se Deus foi capaz de perdoar os cruéis
ninivitas por um ato de arrependimento, o que não poderia fazer pelo seu próprio
povo? (Jonas 3: 10).

 Ira divina como instrumento de reflexão e cautela: Da mesma forma que Deus
estava condenando os ninivitas por suas inúmeras transgressões Ele também
condenaria Israel em um futuro próximo. O que eles poderiam fazer para evitar tal
calamidade? O exemplo dos ninivitas responde essa questão. Parece que para Jonas
Deus não havia se irado o suficiente com quem merecia. Os Juízos de Deus são
sempre equilibrados, objetivando a restauração do Seu povo. Será que temos
legitimidade de requere de Deus implacável justiça? (Jonas 4: 1-5).

 Calamidade propiciando alívio e proteção: Jonas ainda nutria esperança que


Deus destruiria a cidade de Nínive, por isso, resolveu se retirar. O Senhor
providencia um abrigo para o profeta, o que o deixa muito feliz, mas logo em
seguida destrói o objeto de tanta satisfação. Jonas estava recebendo o tratamento
que ele desejava para Nínive. Tanto o abrigo de Jonas quanto o arrependimento de
Nínive por si só eram incapazes de oferecer proteção. Somente pela graça divina
eles poderiam obter restauração. Devemos ser gratos a Deus por seus atos de
misericórdia e nos compadecermos daqueles que se encontram em piores condições
que nós. (Jonas: 4: 6-10, João 15: 12).

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