Lista Extra - Tendências Contemporâneas - Litaretura

Pacotes
2024
AULA 07
Tendências Contemporâneas: Gerações de 1930 e 1945 e Pós-Modernismo
Professora Luana Signorelli
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Profa. Luana Signorelli
Lista Complementar de Questões – Tendências Contemporâneas:

Gerações de 1930 e 1945 e Pós-Modernismo
Lista Complementar sem Comentários
1. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 4o Simulado 2022) Leve
em consideração o excerto abaixo e responda ao comando.
"Ressentido, Fabiano condenara os sapatos de verniz que ela usava nas festas, caros e inúteis.
Calçada naquilo, trôpega, mexia-se como um papagaio, era ridícula. Sinha Vitória ofendera-se
gravemente com a comparação, e se não fosse o respeito que Fabiano lhe inspirava, teria
despropositado. Efetivamente os sapatos apertavam-lhe os dedos, faziam-lhe calos. Equilibrava-se
mal, tropeçava, manquejava, trepada nos saltos de meio palmo. Devia ser ridícula, mas a opinião de
Fabiano entristecera-a muito. Desfeitas essas nuvens, curtidos os dissabores, a cama de novo lhe
aparecera no horizonte acanhado."
Vidas secas de Graciliano Ramos é um romance de 30. Nesse sentido, identifique a alternativa a partir
da qual é possível estabelecer o vínculo do trecho com a visão dessa obra.
a) Era preciso cortar os gastos com objetos supérfluos. Assim, o ideal era começar pelo vestuário pouco
usado e também o mobiliário da casa.
b) Sinha Vitória e Fabiano não estavam se entendendo fazia muito tempo. A briga pelos sapatos foi o
desenlace que desencadeou o divórcio.
c) Os sapatos representam concomitantemente a submissão a convenções não naturais e o sofrimento
de uma opressão humilhante.
d) A comparação de Fabiano com o papagaio é um resgate do zoomorfismo naturalista, sendo que o
protagonista é rebaixado ao nível de incapaz.
e) Fabiano não quer usar os sapatos, pois estava devendo dinheiro a seu patrão. Por isso, pretendida
vendê-los para quitar sua dívida.
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2. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 7o Simulado 2022) Leia
o trecho abaixo, extraído da novela "A hora da estrela" (1977) da modernista Clarice Lispector, a fim
de responder ao comando.
Saiu da casa da cartomante aos tropeços e parou no beco escurecido pelo crepúsculo — crepúsculo
que é hora de ninguém. Mas ela de olhos ofuscados como se o último final da tarde fosse mancha de
sangue e ouro quase negro. Tanta riqueza de atmosfera a recebeu e o primeiro esgar da noite que, sim,
sim, era funda e faustosa. Macabéa ficou um pouco aturdida sem saber se atravessaria a rua pois sua
vida já estava mudada. E mudada por palavras — desde Moisés se sabe que a palavra é divina. Até para
atravessar a rua ela já era outra pessoa. Uma pessoa grávida de futuro. Sentia em si uma esperança
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AULA 07 – TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: GERAÇÕES DE
1930 E 1945 E PÓS-MODERNISMO: LISTA COMPLEMENTAR
tão violenta como jamais sentira tamanho desespero. Se ela não era mais ela mesma, isso significava
uma perda que valia por um ganho. Assim como havia sentença de morte, a cartomante lhe decretara
sentença de vida. Tudo de repente era muito e muito e tão amplo que ela sentiu vontade de chorar.
Mas não chorou: seus olhos faiscavam como o sol que morria.
Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino (explosão) sussurrou
veloz e guloso: é agora é já, chegou a minha vez!
E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a — e neste mesmo instante em
algum único lugar do mundo um cavalo como resposta empinou-se em gargalhada de relincho.
A partir do excerto, é possível caracterizar a prosa clariciana a partir de algumas características. Entre
os seus traços estilísticos apontados nas opções abaixo, assinale o que NÃO se verifica na passagem
supracitada.
a) Narrador intruso.
b) Ironia.
c) Coloquialismo.
d) Metalinguagem.
e) Crítica ao maquinário.
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em consideração o excerto abaixo para julgar as afirmações.
"O Chefe das Relações Públicas, um jovem de baixa estatura, atarracado, sorriso e olhos
extremamente brilhantes, ajeitou o nó da gravata vermelha e bateu de leve na porta do Secretário do
Bem-Estar Público e Privado:
— Excelência?
O Secretário do Bem-Estar Público e Privado pousou o copo de leite na mesa e fez girar a poltrona
de couro. Suspirou. Era um homem descorado e flácido, de calva úmida e mãos acetinadas. Lançou um
olhar comprido para os próprios pés, o direito calçado, o esquerdo metido num grosso chinelo de lã
com debrum de pelúcia.
— Pode entrar — disse ao Chefe das Relações Públicas que já espiava pela fresta da porta.
Entrelaçou as mãos na altura do peito. — Então? Correu bem o coquetel? (...)"
TELLES, Lygia Fagundes. Seminário dos ratos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009 (p. 151).
I – O excerto chega a apresentar viés cômico, e até absurdo, uma vez que é desconstruído o papel de
soberania e imponência das autoridades.
II – Nesse conto fantástico modernista, a função burocrática no poder torna-se ridicularizada e
infantilizada.
III – A participação efetiva no parlamento se faz mediante o comum acordo entre os membros
partidários.
Quanto aos itens acima, a sequência correta é:

a) I e II.
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b) I e III.
c) II e III.
d) I, II e III.
e) Nenhuma.
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4. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 9o Simulado 2022) O
romance de 30, da segunda geração modernista brasileira, ficou conhecido pela sua crítica social. Entre
os trechos abaixo, identifique a opção que pode ser classificada nesse gênero.
a) "Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores. Em falso receio, desfalam no nome dele
dizem só: o Que-Diga. Vôte! não… Quem muito se evita, se convive. Sentença num Aristides — o que
existe no buritizal primeiro desta minha mão direita, chamado a Vereda-da-Vaca-Mansa-de-Santa-Rita
— todo o mundo crê:"
b) "— O sr. pensa que eu tenho alguma fábrica de dinheiro? (O diretor diz essas coisas a ele, mas olha
para todos, como que a dar uma explicação a todos. Todas as caras sorriem.) Quando o seu filho esteve
doente, eu o ajudei como pude. Não me peça mais nada. Não me encarregue de pagar as suas contas:
já tenho as minhas, e é o que me basta... (Risos.)"
c) "Voltando ao capim. Para tal exígua criatura chamada Macabéa a grande natureza se dava apenas
em forma de capim de sarjeta — se lhe fosse dado o mar grosso ou picos altos de montanhas, sua alma,
ainda mais virgem que o corpo, se alucinaria e explodir-se-lhe-ia o organismo, braços pra cá, intestino
para lá, cabeça rolando redonda e oca a seus pés — como se desmonta um manequim de cera."
d) "E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue. João
Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos. Nesse momento
parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer-
lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito."
e) "A natureza dotara Aurélia com a inteligência viva e brilhante da mulher de talento, que se não
atinge ao vigoroso raciocínio do homem, tem a preciosa ductilidade de prestar-se a todos os assuntos,
por mais diversos que sejam. O que o irmão não conseguira em meses de prática, foi para ela estudo
de uma semana."
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5. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1o Provão de Bolsas
EsPCEx/ESA/EEAR)
E como eu palmilhasse vagamente

uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos

que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
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lentamente se fossem diluindo

na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu

para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Influenciada por poetas como Dante e Camões, a obra Claro Enigma, de Carlos Drummond de Andrade,
embora modernista, retoma temas da tradição clássica: preocupação com a forma poética e a estética;
e a métrica e a versificação são valorizadas. Assinale outro trecho da poesia da geração modernista de
45 que apresenta essas características:
a) “O branco açúcar que adoçará meu café /nesta manhã de Ipanema /não foi produzido por mim/
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.” (Ferreira Gullar – O açúcar).
b) “Trabalhou todo o dia, tanto! /desde a madrugada! /Descansa entre as flores, cavalinho branco, /de
crina dourada!” (Cecília Meireles – É isto ou aquilo)
c) “— A quem estais carregando, /irmãos das almas, /embrulhado nessa rede? /dizei que eu saiba.”
(João Cabral de Melo Neto – Morte e Vida Severina).
d) “Tinham lá coragem? Imaginou o soldado amarelo atirando-se a um cangaceiro na catinga. Tinha
graça. Não dava um caldo” (Graciliano Ramos – Vidas secas).
e) “Brilha a lua no céu, brilham estrelas, /Correm perfumes no correr da brisa, /A cujo influxo mágico
respira-se /Um quebranto de amor, melhor que a vida!” (Gonçalves Dias – Leito de folhas verdes).
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EsPCEx) Leia o trecho de Viva o povo brasileiro de João Ubaldo Ribeiro.
Sem conseguir resolver para onde olhar durante todo esse tempo, Dafé se admirou de haver tanta
ciência naquela gente comum, se admirou também de nunca ter visto nos livros que pessoas como
essas pudessem possuir conhecimentos e habilidades tão bonitos, achou até mesmo a mãe uma
desconhecida, misteriosa e distante, em seu saber antes nunca testemunhado. Quantos estudos não
haveria ali, como ficavam todos bonitos fazendo ali suas tarefas, agora também ela ia ser pescadora!
Até pouquinho, estivera meio convencida, porque ia ser professora e portanto sabia muito mais coisas
do que todos eles juntos, mas se via que não era assim. Tinha gente que pescava o peixe, gente que
plantava a verdura, gente que fiava o pano, gente que trabalhava a madeira, gente de toda espécie, e
tudo isso requeria grande conhecimento e muitas coisas por dentro e por trás desse conhecimento —
talvez fosse isto a vida, como ensinava vô Leléu, quanta coisa existia na vida! Que beleza era a vida,
cada objeto um mundão com tantas outras coisas ligadas a ele e até um pedaço de pano teve alguém
para prestar atenção só nele um dia, até tecê-lo e acabá-lo e cortá-lo, alguém que tinha conhecimentos
tão grandes como esses pescadores e navegadores, mas já se viu coisa mais bonita neste mundo do
nosso Deus? Dafé sentiu até um pouco de vontade de dançar, deu uns tapinhas acelerados na borda
do barco, deu uns gritinhos, sapateou de emoção, correu de um lado para o outro, vendo aqui o peixe
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que vinha, ali o anzol sendo iscado, acolá o plaf-plaf das chumbadas engolidas pela água — mas oba,
oba, oba, esta vida não é uma beleza cheia de novidades? Agora ela também queria trabalhar de
navegadora e pescadora. Mas também queria ser professora. E o que é que ela queria mesmo? Queria
ser tudo, isso sim! Porque cada ofício tem o seu conhecimento da vida, quantos lados tem a vida, vô
Leléu?
João Ubaldo Ribeiro – Viva o povo brasileiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, p. 206.
Nesse fragmento, constata-se um processo de

a) menosprezo de formas menos eruditas de conhecimento sem ciência.
b) valorização do trabalho por meio da observação da sabedoria popular.
c) declínio comercial do ciclo do cacau na Bahia e substituição pela pesca.
d) hierarquização do ponto de vista adulto em detrimento do infantil.
e) degradação do meio ambiente pela pesca ilegal baleias.
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EsPCEx)
A pequena
Ela chegou prodigiosamente serena. Entre cliente e médico, o nervoso era o médico. Nervosíssimo,
por sinal. Almerinda sorria: “Pode dizer. Eu já sei”. Doutor Walter, acendendo o cigarro com a mão
trêmula, pergunta: “Sabe?”. E Almerinda:
– Sei. Isto é, adivinhei. Estou conformada e, até, satisfeita. Quando vinha para cá, no táxi, eu pensei
que o câncer pode ser, às vezes, um bom negócio, um altíssimo negócio. No meu caso, por exemplo.
Pálido, o médico pergunta: “Mas como?”. Almerinda continua no mesmo tom leve, frívolo, que o
fascina:
– Eu sempre fui muito presa, sempre. Saí do colégio interno e me casei logo. Só conheci um único
homem, que foi o meu namorado, meu noivo e é meu marido. Não vivi nada. – Exalta-se,
acrescentando: – Mas agora é diferente. Agora eu tenho câncer. Vou morrer. Posso fazer tudo, porque
ninguém condenará uma morta, uma quase-morta.
Ergue-se. Apanha em cima da mesa a bolsa. E, súbito, se torce num riso de alucinação:
– Estou livre! Livre! Adeus!
Encaminha-se para a porta. Ele, porém, mais rápido, barra-lhe o caminho. Segura Almerinda pelos
dois braços e a sacode:
– O que eu não te diria nunca, vou te dizer agora: eu te amo, eu te amo, eu te amo!
Na sua histeria, ela se debate, ainda. Doutor Walter esmaga seu riso com um beijo de louco.
Fim
Duas horas depois, no consultório em penumbra, ela mexe, com os dedos, nos cabelos do doutor
Walter; diz: “Eu não vivia antes. Agora vivo. Comecei a viver contigo”. Então, o médico apanha as mãos
de Almerinda, beija uma e outra, e confessa, junto à sua orelhinha:
– Meu anjo, eu menti. O que tens não é câncer, é úlcera.
Ela não se mexe. Na sua alma não há espanto, nem ressentimento. Do fundo do sonho, responde:
– Bendita úlcera!
RODRIGUES, Nelson. Pouco amor não é amor: contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 7-13.
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Esta crônica do modernista, também dramaturgo, Nelson Rodrigues, é dividida em subpartes, que
levam títulos. Levando em consideração o contexto, como pode ser interpretada a última fala?
a) Ironia.
b) Paráfrase.
c) Metalinguagem.
d) Metonímia.
e) Catacrese.
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EsPCEx)
A escola das facas

O alísio ao chegar ao Nordeste
baixa em coqueirais, canaviais;
cursando as folhas laminadas,
se afia em peixeiras, punhais.
Por isso, sobrevoada a Mata,

suas mãos, antes fêmeas, redondas,
ganham a fome e o dente da faca
com que sobrevoa outras zonas.
O coqueiro e a cana lhe ensinam,

sem pedra-mó, mas faca a faca,
como voar o Agreste e o Sertão:
mão cortante e desembainhada.
MELO NETO, João Cabral de. Obra completa: volume único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 429.
Em relação a esse fragmento, pode-se afirmar que

a) as “folhas laminadas” podem ser entendidas como personificação do trabalho humano do corte,
bem como “o dente da faca” significa uma comparação.
b) na expressão “suas mãos, antes fêmeas” está pressuposta a questão de gênero e de temporalidade,
remetendo-se a mulheres que antes não podiam trabalhar e agora podem.
c) no verso “com que sobrevoa outras zonas”, o termo destacado alude unicamente à Zona da Mata,
região geográfica marcada pela presença de florestas.
d) há um subentendido de que o processo de educação campesina parte de um ensino mais brando
rumo ao embrutecimento.
e) o vento alísio transporta a umidade oceânica para o interior do Nordeste, como os trabalhadores
espalham-se pela região, e a escola das facas está associada ao corte da cana.
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EsPCEx) Julgue as afirmações a seguir em relação à Literatura Brasileira Contemporânea.
I. O que caracteriza esse período é o retorno às formas clássicas, como é o caso dos sonetos de Carlos
Drummond de Andrade.
II. O lugar de fala é um tipo de expressão que aponta para o reconhecimento, geralmente usado em
textos os quais retratam vivências pessoais.
III. Abordando traços reflexivos, muitas obras desse movimento são impregnados de memorialismo,
por exemplo, o diário de Carolina Maria de Jesus.
IV. A geração mimeógrafo publicava textos curtos, que exploravam referências visuais como tipografias
e linguagem coloquial.
A sequência de itens INCORRETOS é:

a) I.
b) II e III.
c) III e IV.
d) II, III e IV.
e) I, II, III e IV.
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EsPCEx)
Cadeia
E, por mais que forcejasse, não se convencia de que o soldado amarelo fosse governo. Governo,
coisa distante e perfeita, não podia errar. O soldado amarelo estava ali perto, além da grade, era fraco
e ruim, jogava na esteira com os matutos e provocava-os depois. O governo não devia consentir tão
grande safadeza.
Afinal para que serviam os soldados amarelos? Deu um pontapé na parede, gritou enfurecido.
Para que serviam os soldados amarelos? Os outros presos remexeram-se, o carcereiro chegou à grade,
Fabiano acalmou-se:
– Bem, bem. Não há nada não.
Havia muitas coisas. Ele não podia explicá-las, mas havia. Fossem perguntar a seu Tomás da
Bolandeira, que lia livros e sabia onde tinha as ventas. Seu Tomás da Bolandeira contaria aquela
história. Ele, Fabiano, um bruto, não contava nada. Só queria voltar para junto de Sinha Vitória, deitar-
se na cama de varas. Por que vinham bulir com um homem que só queria descansar? Deviam bulir com
outros.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. Rio de Janeiro: Record, 2019.
Quanto ao trecho lido, é correto afirmar que

a) Tomás da Bolandeira era um amigo do protagonista que, por sua instrução, poderia servi-lo como
advogado de defesa.
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b) Fabiano, o narrador em primeira pessoa, critica o governo da época, defendendo um retorno do

monarquismo.
c) Sinha Vitória, a esposa de Tomás da Bolandeira, era a mulher desejada por Fabiano, com quem ele
tinha um caso.
d) Fabiano, o protagonista, reflete sobre as instâncias do poder de tal forma que seus pensamentos
confundem-se com a fala do narrador.
e) Sinha Vitória era a leal esposa de Fabiano, quem ia levar comida ao marido e, por ser em grande
quantidade, sobrava para os outros presos.
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EsPCEx)
Ele entrou tarde no restaurante. Certamente ocupara-se até agora em grandes negócios. Poderia
ter uns sessenta anos, era alto, corpulento, de cabelos brancos, sobrancelhas espessas e mãos
potentes. Num dedo o anel de sua força. Sentou-se amplo e sólido.
Perdi-o de vista e enquanto comia observei de novo a mulher magra de chapéu. Ela ria com a boca
cheia e rebrilhava os olhos escuros.
No momento em que eu levava o garfo à boca, olhei-o. Ei-lo de olhos fechados mastigando pão
com vigor e mecanismo, os dois punhos cerrados sobre a mesa. Continuei comendo e olhando. O
garçom dispunha os pratos sobre a toalha. Mas o velho mantinha os olhos fechados. A um gesto mais
vivo do criado ele os abriu com tal brusquidão que este mesmo movimento se comunicou às grandes
mãos e um garfo caiu. O garçom sussurrou palavras amáveis abaixando-se para apanhá-lo; ele não
respondia. Porque agora desperto, virava subitamente a carne de um lado e de outro, examinava-a
com veemência, a ponta da língua aparecendo – apalpava o bife com as costas do garfo, quase o
cheirava, mexendo a boca de antemão. E começava a cortá-lo com um movimento inútil de vigor de
todo o corpo. Em breve levava um pedaço a certa altura do rosto e, como se tivesse que apanhá-lo em
voo, abocanhou-o num arrebatamento de cabeça. Olhei para o meu prato. Quando fitei-o de novo, ele
estava em plena glória do jantar, mastigando de boca aberta, passando a língua pelos dentes, com o
olhar fixo na luz do teto. Eu já ia cortar a carne de novo, quando o vi parar inteiramente.
LISPECTOR, Clarice. O jantar. In: Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
O conto costuma ser uma narrativa breve que condensa significado. A partir do texto acima, pode-se
afirmar que o trecho é predominantemente
a) descritivo, captando uma situação cotidiana.
b) narrativo, relatando grandes feitos heroicos.
c) opinativo, expondo o julgamento da autora.
d) dissertativo, tentando formular uma tese.
e) injuntivo, enumerando ações a serem cumpridas.
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EsPCEx) Leia o trecho abaixo, retirado do romance "Vidas secas" de Graciliano Ramos, para responder
à questão.
Viu as nuvens que se desmanchavam no céu azul, embirrou com elas. Interessou-se pelo voo dos
urubus. Debaixo dos couros, Fabiano andava banzeiro, pesado, direitinho um urubu.
Sentou-se, apalpou as juntas doídas. Fora sacolejado violentamente, parecia-lhe que os ossos
estavam deslocados.
Olhou com raiva o irmão e a cachorra. Deviam tê-lo prevenido. Não descobrir neles nenhum sinal
de solidariedade: o irmão ria como um doido, Baleia, séria, desaprovava tudo aquilo. Achou-se
abandonado e mesquinho, exposto a quedas, coices e marradas.
Ergueu-se, arrastou-se com desânimo até a cerca do bebedouro, encostou-se a ela, o rosto virado
para a água barrenta, o coração esmorecido. Meteu os dedos finos pelo rasgão, coçou o peito magro.
O tropel das cabras perdeu-se na ladeira, a cachorrinha ladrou longe. Como estariam as nuvens?
Provavelmente algumas se transformavam em carneirinhos, outras eram como bichos desconhecidos.
No trecho, é correto inferir que o menino mais novo:

a) quis chamar a atenção do pai enquanto este trabalhava, mas acaba por se atrapalhar, provocando
um constrangimento que a criança sente no íntimo.
b) apresenta uma rixa grave contra o irmão e, tentando alertar o pai por causa do comportamento
inadequado do gêmeo, é repreendido pela mãe.
c) desrespeita uma regra familiar que era a de acompanhar o pai no trabalho, sofrendo por causa disso
uma série de retaliações.
d) escolta Baleia em uma caçada de preás; porém, como o pai não é favorável, chega a chamar o irmão
mais velho para vigiar o grupo.
e) ressente-se contra a família por não entendê-lo, pois está passando pelo momento da pré-
adolescência e encontra dificuldade de aceitação.
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13. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT EsPCEx 2021)
Considere o texto a seguir para responder às próximas três questões. Consistem em exercícios de
interpretação de texto.
Amanheceu um dia sem luz — mais um — e há um grande silêncio na rua. Chego à janela e não
vejo as figuras habituais dos primeiros trabalhadores. A cidade, ensopada de chuva, parece que desistiu
de viver. Só a chuva mantém constante seu movimento entre monótono e nervoso. É hora de escrever,
e não sinto a menor vontade de fazê-lo. Não que falte assunto. O assunto aí está, molhando, ensopando
os morros, as casas, as pistas, as pessoas, a alma de todos nós. Barracos que se desmancham como
armações de baralho e, por baixo de seus restos, mortos, mortos, mortos. Sobreviventes mariscando
na lama, à pesquisa de mortos e de pobres objetos amassados. Depósito de gente no chão das escolas,
e toda essa gente precisando de colchão, roupa de corpo, comida, medicamento. O calhau solto que
fez parar a adutora. Ruas que deixam de ser ruas, porque não dão mais passagem. Carros submersos,
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aviões e ônibus interestaduais paralisados, corrida a mercearias e supermercados como em dia de

revolução. O desabamento que acaba de acontecer e os desabamentos programados para daqui a
poucos instantes.
Este, o Rio que tenho diante dos olhos, e, se não saio à rua, nem por isso a imagem é menos
ostensiva, pois a televisão traz para dentro de casa a variada pungência de seus horrores.
Sim, é admirável o esforço de todo mundo para enfrentar a calamidade e socorrer as vítimas,
esforço que chega a ser perturbador pelo excesso de devotamento desprovido de técnica. Mas se não
fosse essa mobilização espontânea do povo, determinada pelo sentimento humano, à revelia do
governo incitando-o à ação, que seria desta cidade, tão rica de galas e bens supérfluos, e tão miserável
em sua infraestrutura de submoradia, de subalimentação e de condições primitivas de trabalho?
Mobilização que de certo modo supre o eterno despreparo, a clássica desarrumação das agências
oficiais, fazendo surgir de improviso, entre a dor, o espanto e a surpresa, uma corrente de afeto
solidário, participante, que procura abarcar todos os flagelados.
Chuva e remorso juntam-se nestas horas de pesadelo, a chuva matando e destruindo por um
lado, e, por outro, denunciando velhos erros sociais e omissões urbanísticas; e remorso, por que
escondê-lo? Pois deve existir um sentimento geral de culpa diante de cidade tão desprotegida de
armadura assistencial, tão vazia de meios de defesa da existência humana, que temos o dever de
implantar e entretanto não implantamos, enquanto a chuva cai e o bueiro entope e o rio enche e o
barraco desaba e a morte se instala, abatendo-se de preferência sobre a mão de obra que dorme nos
morros sob a ameaça contínua da natureza; a mão de obra de hoje, esses trabalhadores entregues a si
mesmos, e suas crianças que nem tiveram tempo de crescer para cumprimento de um destino
anônimo.
No dia escuro, de más notícias esvoaçando, com a esperança de milhões de seres posta num raio
de sol que teima em não romper, não há alegria para a crônica, nem lhe resta outro sentido senão o
triste registro da fragilidade imensa da rica, poderosa e martirizada cidade do Rio de Janeiro.
Carlos Drummond de Andrade. Os dias escuros.
Texto publicado no extinto jornal 'Correio da Manhã' no dia 14 de janeiro de 1966.
Disponível em: https://tinyurl.com/yyreypmm. Acesso em: 06 ago. 2020.
É possível depreender que o narrador

a) está falando de um problema exclusivamente típico dos anos 60.
b) comenta sobre um desastre de ordem tanto natural quanto social.
c) sente medo diante da ameaça iminente das tempestades.
d) critica o fato de o governo estadual não investir em educação.
e) rejubila-se diante da ajuda humanitária em tempos difíceis.
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Assinale a alternativa que indica uma ironia.
a) “Amanheceu um dia sem luz — mais um — e há um grande silêncio na rua.”
b) “Ruas que deixam de ser ruas, porque não dão mais passagem.”
c) “abatendo-se de preferência sobre a mão de obra que dorme nos morros”
d) “Chuva e remorso juntam-se nestas horas de pesadelo”
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e) “a chuva cai e o bueiro entope e o rio enche e o barraco desaba e a morte se instala”
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Assinale a afirmação correta quanto ao sentido global do texto.
a) O ser humano se conscientiza plenamente apenas depois do improviso.
b) O desastre natural viabiliza com que instituições externas forneçam ajuda ao país.
c) A natureza nem sempre é benévola ao ser humano, embora este a trate bem.
d) A ação antrópica do ser humano destrói a natureza e a chuva é um reflexo disso.
e) Os seres humanos deveriam ser mais humanitários a despeito de tragédias naturais.
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Considere o texto abaixo para se responder à questão.
“A solidão rural só abria a boca para bocejar.

Fora tudo cantava. Até o carro de boi sob os fardos arrobados: quanto mais pesado, mais cantava.
Ele profanava com essa tristeza ociosa a alegria gritante da natureza tropical.
Costumava dizer que suas ações não tinham equilíbrio porque o coração lhe pesava mais do que
a cabeça. Parecia-lhe o contrapeso da hereditariedade promíscua.”
ALMEIDA, José Américo de. A bagaceira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.
A partir do excerto acima, é possível caracterizá-lo como:

a) poesia épica.
b) poesia lírica.
c) romance de 30.
d) romance de 45.
e) diário pessoal.
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Considere o texto abaixo para responder à próxima questão.
“Conceição tinha vinte e dois anos e não falava em casar. As suas poucas tentativas de namoro
tinham-se ido embora com os dezoito anos e o tempo de normalista; dizia alegremente que nascera
solteirona.
Ouvindo isso, a avó encolhia os ombros e sentenciava que mulher que não casa é um aleijão...
– Esta menina tem umas ideias!
Estaria com razão a avó? Porque, de fato, Conceição talvez tivesse umas ideias; escrevia um livro
sobre pedagogia, rabiscara dois sonetos, e às vezes lhe acontecia citar o Nordau ou o Renan da
biblioteca do avô.”
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QUEIROZ, Rachel de. O quinze. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016.
O romance de 30, para além da questão sertaneja, também manifestava:

a) conservações de valores.
b) mudanças nos costumes.
c) busca por igualdade.
d) experimentalismo na forma.
e) psicologismo científico.
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Considere a estrofe a seguir para responder à questão.
“O branco açúcar que adoçará meu café

nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.”
GULLAR, Ferreira. O açúcar. Disponível em: https://tinyurl.com/y4ykrjct. Acesso em: 06 ago. 2020.
A partir do poema, depreende-se que

a) o eu lírico parte de uma aparentemente cena cotidiana para estabelecer uma crítica social.
b) há alienação no entendimento do eu lírico incapaz de enxergar a realidade para além dele.
c) se trata de uma reunião social entre amigos, sendo que há um produtor de açúcar entre eles.
d) há um deleite do eu lírico que toma o seu café despropositadamente à beira da praia.
e) como expressão da literatura contemporânea, o trabalhador tem lugar de fala.
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Considere o poema abaixo para responder à questão.
A ROSA DE HIROXIMA
Rio de Janeiro, 1954
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
13
Pensem nas mulheres

Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
MORAES, Vinicius. A rosa de Hiroxima. Disponível em: https://tinyurl.com/yyrn9tz5. Acesso em: 06 ago. 2020.
A partir do texto acima, julgue os itens a seguir.
I – O poema aborda uma situação interdisciplinar que foi o bombardeamento de uma cidade japonesa
em decorrência da Segunda Guerra Mundial.
II – A barbárie humana chegou a um ponto limítrofe em que os seres perdem sua essência, como é o
caso da “antirrosa”.
III – As sequelas do século XIX continuaram no século XX, embora a ciência tivesse progredido muito.
A sequência de itens corretos é:

a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I e III.
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Sobre Carlos Drummond de Andrade, julgue as afirmações a seguir.
I – Embora estivesse em pleno modernismo, chegou a escrever poesia reavendo formas clássicas, como
soneto, por exemplo “Oficina irritada” e “Legado”, sonetos presentes na obra Claro enigma.
II – Em sua fase intimista, escreveu não só poesia como também prosa, destacando-se com contos,
crônicas e novelas, sendo a principal “A hora da estrela”.
III – Didaticamente sua obra é dividida em três gerações: a heroica e indianista; a pessimista e mórbida
e depois a abolicionista e social.
Está correto o que se afirma em:
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a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I e III.
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“Mas tinha cometido um erro, O primeiro engano seu nesse dia, O equívoco que decide do destino e
ajeita caminho à grandeza dos homens e dos burros.”
O fragmento acima, de Guimarães Rosa, marca

a) a braveza do animal equiparada à humana.
b) os limites da ambientação regional.
c) o positivismo que rebaixava a metafísica.
d) o zoomorfismo do movimento naturalista.
e) apego do sertanejo pelo animal de estimação.
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Leia o trecho de “São Bernardo” de Graciliano Ramos presente a seguir.
Padilha assobia no alpendre. Onde andará Padilha?

Se eu convencesse Madalena de que ela não tem razão... Se lhe explicasse que é necessário
vivermos em paz... Não me entende. Não nos entendemos. O que vai acontecer será muito diferente
do que esperamos. Absurdo.
Há um grande silêncio. Estamos em julho. O nordeste não sopra e os sapos dormem. Quanto às
corujas, Marciano subiu ao forro da igreja e acabou com elas a pau. E foram tapados os buracos de
grilos.
Repito que tudo isso continua a azucrinar-me.
O que não percebo é o tique-taque do relógio. Que horas são? Não posso ver o mostrador assim
às escuras. Quando me sentei aqui, ouviam-se as pancadas do pêndulo, ouviam-se muito bem. Seria
conveniente dar corda ao relógio, mas não consigo mexer-me.
O que o trecho mostra é um narrador que se revela

a) o orgulho de um homem conservador cuja única preocupação era o casamento atribulado, pois a
esposa Madalena o traíram com seu amigo Padilha.
b) uma paz espiritual de quem entendeu que passava por dificuldades no relacionamento, mas estava
disposto a conversar com a mulher para melhorar.
15
c) uma desordem mental que faz o personagem rememorar episódios antigos, pessoas famílias e passa
se preocupar com a passagem do tempo.
d) um desconcerto familiar, pois não consegue se entender com a esposa nem com os amigos,
afastando todos e acaba por provocar o divórcio.
e) a falta de caráter de Paulo Honório, que foi capaz de cometer crimes para se casar com a mulher,
chegando a matar o seu ex-companheiro.
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Leia a primeira parte do poema “Psicologia da composição” de João Cabral de Melo Neto para
responder à questão.
Saio de meu poema

como quem lava as mãos.
Algumas conchas tornaram-se,

que o sol da atenção
cristalizou; alguma palavra
que desabrochei, como a um pássaro.
Talvez alguma concha

dessas (ou pássaro) lembre,
côncava, o corpo do gesto
extinto que o ar já preencheu;
talvez, como a camisa

vazia, que despi.
Nesse poema, depreende-se que o eu lírico

a) certifica-se de que o seu poema se relaciona a coisas materiais, como a camisa ou animadas, como
o pássaro, endossando a materialidade de seu objeto.
b) vale-se de recursos enfáticos como a comparação para descrever o processo de seu trabalho
artístico, o qual resulta em um efeito quase natural.
c) conjuga-se na primeira pessoa do singular, o que faz com que a sentimentalidade esteja bem
presente no poema, pois o eu lírico escreve com amor.
d) sublima o poema, que considera como que cristalizado, impedindo com isso que ele atinja um grau
de movimento e fique preso no imobilismo.
e) alude à concha importante para os barrocos e também para os parnasianos, pois ela é símbolo último
da perfeição a qual tentam alcançar.
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Sobre a segunda geração modernista brasileira, assinale o que for correto.
a) Marca o surgimento de novas formas de se fazer a arte literária, especialmente com lugar de fala,
retrato das minorias e ressignificações.
b) Representa o aperfeiçoamento de técnicas estilísticas, junto ao retorno do regionalismo, e é comum
haver tendências variadas a depender do gênero e do(a) escritor(a).
c) Sua principal crítica foi contra o movimento do Parnasianismo, pois os escritores não queriam mais
se vincular à arte passadista.
d) Em relação à primeira geração, que veio antes, essa de agora se diferencia porque criam uma nova
proposta para expor um manifesto inovador: o orfismo.
e) Profundamente abalados com os choques vivenciados a partir da experiência entre guerras, os
autores passaram a escrever prosa quanto poesia de cunho mais social.
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Leia o trecho em seguida para responder à questão.
Viver é muito perigoso… Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo
se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar
consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo. Montante, o mais supro, mais sério
— foi Medeiro Vaz. Que um homem antigo… Seu Joãozinho Bem-Bem, o mais bravo de todos, ninguém
nunca pôde decifrar como ele por dentro consistia. Joca Ramiro — grande homem príncipe! — era
político. Zé-Bebelo quis ser político, mas teve e não teve sorte: raposa que demorou. Sô Candelário se
endiabrou, por pensar que estava com doença má.
Nessa passagem, o narrador descreve uma situação em que

a) se junta um grupo de cangaceiros com personalidades diferentes, mas que, embora estejam agindo
em ambiente rural, suas histórias de vida refletem no universalismo.
b) o caráter do ser humano se resume ao seu meio, bando e proveniência, já que o determinismo da
obra faz com que pessoas parecidas se unam.
c) era preciso pensar estrategicamente para formar um agrupamento de jagunços, que
intencionalmente agiam de má-fé, para o que precisavam se preparar.
d) é pintada de maneira pitoresca um grupo de amigos que se encontra para um debate político, pois
no Estado Novo era comum haver comícios.
e) os soldados se preparam para ir lutar na Segunda Guerra Mundial, tanto é que precisam primeiro se
conhecerem para formar uma boa convivência.
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A principal diferença entre a poesia da segunda geração modernista para a primeira é:
a) já que não conseguiram se unir, a segunda geração se opõe radicalmente à primeira, pois
consideravam que o início modernista no Brasil foi anticrítico.
b) na primeira geração modernista houve o impacto apenas da Primeira Grande Guerra, ao passo que
na segunda o artista intelectual também já havia sido devastado pela outra.
c) porque apenas oito anos separam uma geração da outra, muitos escritores da primeira ainda
escreviam na segunda, apenas mudando suas características.
d) na segunda geração modernista resgata-se valores do final do século XIX, tanto é que ficaram
conhecidos como autores que produziram romance de 30.
e) na segunda geração voltou a haver rigor formal em algumas vertentes e nela verifica-se maior
preocupação social do que em relação à primeira.
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Entre os trechos abaixo, assinale entre as obras do autor modernista da segunda geração, Graciliano
Ramos, aquele no qual se observa a retomada de um valor presente no movimento literário do
Naturalismo Brasileiro, que é o zoomorfismo.
a) “Coloquei-me acima da minha classe, creio que me elevei bastante. Como lhes disse, fui guia de
cego, vendedor de doce e trabalhador alugado. Estou convencido de que nenhum desses ofícios me
daria os recursos intelectuais necessários para engendrar esta narrativa.”
b) “A notícia veio de supetão: iam meter-me na escola. Já me haviam falado nisso, em horas de zanga,
mas nunca me convencera de que realizassem a ameaça. A escola, segundo informações dignas de
crédito, era um lugar para onde se enviavam as crianças rebeldes.”
c) “O cochicho risonho afastava-se, chegava-me aos ouvidos como o chiar de um rato. Chiar de rato,
exatamente. Chiar de rato ou carne assada na grelha. Parecia-me que aquilo estava chiando dentro de
mim, que a minha carne se assava e chiava.”
d) “Fabiano aligeirou o passo, esqueceu a fome, a canseira e os ferimentos. As alpercatas dele estavam
gastas nos saltos, e a embira tinha-lhe aberto entre os dedos rachaduras muito dolorosas. Os
calcanhares, duros como cascos, gretavam-se e sangravam.”
e) “Macunaíma pediu para ela ficar mais tempo com os olhos fechados e carregou tejupar marombas
flechas picuás sapicuás corotes urupemas redes, todos esses trens pra um aberto do mato lá no teso
do outro lado do rio. Quando a velha abriu os olhos estava tudo lá e tinha caça peixes, bananeiras
dando, tinha comida por demais.”
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Os escritores que se empenharam ao escrever romance de 30 foram:
18
a) Gonçalves de Guimarães; Álvares de Azevedo; Gonçalves Dias e José de Alencar.

b) Gonçalves de Guimarães; Graciliano Ramos; Guimarães Rosa e Rachel de Queiroz.
c) Graça Aranha; Monteiro Lobato; Lima Barreto e Euclides da Cunha.
d) Graciliano Ramos; José Américo de Almeida; José Lins do Rego e Rachel de Queiroz.
e) Ronald de Carvalho; Mário de Andrade; Oswald de Andrade e Manuel Bandeira.
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Leia atentamente o trecho abaixo extraído do livro “Água-viva” de Clarice Lispector.
Não é confortável o que te escrevo. Não faço confidências. Antes me metalizo. E não te sou e me
sou confortável; minha palavra estala no espaço do dia. O que saberás de mim é a sombra da flecha
que se fincou no alvo. Só pegarei inutilmente uma sombra que não ocupa lugar no espaço, e o que
apenas importa é o dardo. Construo algo isento de mim e de ti – eis a minha liberdade que leva à morte.
O texto expressa uma curiosa relação entre narrador e leitor que é a seguinte:
a) a empatia pelo receptor é expressa, tentando lhe conduzir pelo árduo caminho da leitura.
b) o interesse não é mais agradar o público-alvo, mas sim se eximir da responsabilidade.
c) a preocupação de incluir o leitor no texto expressa o afeto necessário para o bem-estar.
d) a indiferença conduz ao isolamento do leitor que demonstra uma apatia doentia.
e) o rancor de não conseguir escrever como deseja faz com que o autor zombe do leitor.
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Leia o excerto do poema a seguir, presente em “Morte e vida severina” de João Cabral de Melo neto,
a fim de responder às próximas 2 questões.
— Desde que estou retirando

só a morte vejo ativa,
só a morte deparei
e às vezes até festiva;
só a morte tem encontrado
quem pensava encontrar vida,
e o pouco que não foi morte
foi de vida Severina
(aquela vida que é menos
vivida que defendida,
e é ainda mais Severina
para o homem que retira).
19
Penso agora: mas por que

parar aqui eu não podia
e como Capibaribe
interromper minha linha?
ao menos até que as águas
de uma próxima invernia
me levem direto ao mar
ao refazer sua rotina?
Na verdade, por uns tempos,
parar aqui eu bem podia
e retomar a viagem
quando vencesse a fadiga.
Ou será que aqui cortando
agora minha descida
já não poderei seguir
nunca mais em minha vida?
O uso que faz o eu lírico do verbo “retirar” pode ser compreendido como:
a) assim como na expressão idiomática “retiro o que eu disse”, o termo remete-se à interiorização.
b) o deslocamento de tirar de um lugar e pôr em outro o seu corpo social porque não lhe agrada.
c) a necessidade de operar uma migração por causa de uma série de situações de vulnerabilidade.
d) o desejo de espairecer depois de uma longa jornada de trabalho ao viajar para uma praia litorânea.
e) diz respeito ao processo de “severinização” da vida, ao qual todo ser humano pode estar submetido.
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Severino deseja vencer as adversidades, porque tem o objetivo de ver o mar, o que para ele representa
vida. De fato, quando alcança seu destino, é significativo o nascimento de uma criança. Acerca dessa
obra, pode-se afirmar que é:
a) realista, publicada em 1881, com o subtítulo de “memórias póstumas”.
b) naturalista, publicada em 1890, com o subtítulo de “crônica de saudades”.
c) modernista, publicada em 1955, com o subtítulo “um auto de Natal”.
d) modernista, publicada em 1960, com o subtítulo: “diário de uma favelada”.
e) contemporânea, publicada em 2002, com o subtítulo “o santo e a porca”.
_____________________________________________________________________________________
Leia o trecho do poema a seguir para responder à questão, retirado da obra “Romanceiro da
Inconfidência” de Cecília Meireles.
O país da Arcádia
jaz dentro de um leque:
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existe ou se acaba
conforme o decrete
a Dona que o entreabra,
a Sorte que o feche.
É sonho que guarda

em pálpebra leve,
diáfana e parada,
a emoção campestre
de suspiro d'água
em flor que fenece.
- Desejo que afaga.
- Dom que se oferece.
(Ó rápida aljava,
não sejas tão breve,
que o amor chega, passa
e logo se esquece!)
Sendo uma obra modernista, apesar de se referir ao movimento árcade, trata-se de uma crítica a ele,
porque:
a) cometer um crime que é matar com a aljava é um ato que destrói o idealismo Árcade, movimento
que em seu contexto histórico só presenciou harmonia.
b) viver na Arcádia pode parecer a metáfora de um sonho, quando no fundo se transforma em aljava,
pois o carpe diem não se sustenta mais.
c) experienciar uma revolta emancipatória como a conjuração inspirou os poetas engajados, que
prefiram viver em berço esplêndido, negando a cidade.
d) presenciar o fim da Arcádia é constatar o risco que ela estava correndo, na tentativa de recuperá-la
em um movimento posterior, a partir da relação com o Parnaso.
e) criticar os costumes da sociedade burguesa, que se vestia com demasiada pompa, por exemplo,
usando leques, era o principal objetivo do movimento.
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Os poetas que ficaram conhecidos como neossimbolistas na segunda geração modernista foram:
a) Florbela Espanca, Camilo Pessanha e Eugênio de Castro.
b) Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Graciliano Ramos.
c) Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Murilo Rubião.
d) Cecília Meireles, Vinicius de Moraes e Murilo Mendes.
e) Paulo Leminski, Ana Cristina Cesar e Cacaso.
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Sobre a narrativa de Clarice Lispector, pode-se afirmar que
a) leva em consideração o lugar de fala feminino, pois uma de suas personagens é Maria Bonita.
b) atinge um aperfeiçoamento de técnica ao usar o fluxo de consciência, empregando mais intimismo.
c) representa uma parte da geração de 1945 que é regionalista, pois volta-se para o interior.
d) usa como principal técnica o neologismo, a partir do processo de formação de novas palavras.
e) escreve obras históricas que revelam um ato de resistência contra o regime militar da época.
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Leia o trecho abaixo, retirado da obra “A hora da estrela” de Clarice Lispector para responder à
questão.
Ela era calada (por não ter o que dizer) mas gostava de ruídos. Eram vida. Enquanto o silêncio da
noite assustava: parecia que estava prestes a dizer uma palavra fatal. Durante a noite na rua do Acre
era raro passar um carro, quanto mais buzinassem, melhor para ela. Além desses medos, como se não
bastassem, tinha medo grande de pegar doença ruim lá embaixo dela – isso, a tia lhe ensinara. Embora
os seus pequenos óvulos tão murchos. Tão, tão. Mas vivia em tanta mesmice que de noite não se
lembrava do que acontecera de manhã. Vagamente pensava de muito longe e sem palavras o seguinte:
já que sou, o jeito é ser. Os galos de que falai avisavam mais um repetido dia de cansaço. Cantavam o
cansaço. E as galinhas, que faziam elas? Indagava-se a moça. Os galos pelo menos cantavam. Por falar
em galinha, a moça às vezes comia num botequim um ovo duro. Mas a tia lhe ensinara que comer ovo
fazia mal para o fígado.
Quanto à protagonista, que se chama Macabéa, assinale aquilo que for INCORRETO.
a) Seu nome advém de uma passagem bíblica, mostrando que para a autora a religiosidade é relevante.
b) É uma mulher insegura e marcada pela ensinamentos limitantes de uma educação familiar.
c) Tenta compensar com sua existência uma falta espiritual que não sabe contornar por outras vias.
d) Como um bicho, sente que sua expressão de linguagem é limitada, ainda mais porque é mulher.
e) Vive um constante emparedamento, pois para qualquer direção que se vire parece haver um
impedimento.
_____________________________________________________________________________________
Leia o poema abaixo para responder à questão.
Não te deixes destruir…

Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
22
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
CORALINA, Cora. Aninha e Suas Pedras.
Disponível em: https://tinyurl.com/86etx774. Acesso em: 06 jun. 2021.
Nesse poema, a mensagem final é a:

a) incoerência.
b) inconstância.
c) impaciência.
d) resignação.
e) resiliência.
_____________________________________________________________________________________
Leia a crônica abaixo, de autoria de Rubem Braga, para responder à questão.
AS BOAS COISAS DA VIDA

Uma revista mais ou menos frívola pediu a várias pessoas para dizer as “dez coisas que fazem a
vida valer a pena”. Sem pensar demasiado, fiz esta pequena lista:
- Esbarrar às vezes com certas comidas da infância, por exemplo: aipim cozido, ainda quente, com
melado de cana que vem numa garrafa cuja rolha é um sabugo de milho. O sabugo dará um certo gosto
ao melado? Dá: gosto de infância, de tarde na fazenda.
- Tomar um banho excelente num bom hotel, vestir uma roupa confortável e sair pela primeira vez
pelas ruas de uma cidade estranha, achando que ali vão acontecer coisas surpreendentes e lindas. E
acontecerem.
- Quando você vai andando por um lugar e há um bate-bola, sentir que a bola vem para o seu lado
e, de repente, dar um chute perfeito – e ser aplaudido pelos servente de pedreiro.
- Ler pela primeira vez um poema realmente bom. Ou um pedaço de prosa, daqueles que dão
inveja na gente e vontade de reler.
- Aquele momento em que você sente que de um velho amor ficou uma grande amizade – ou que
uma grande amizade está virando, de repente, amor.
- Sentir que você deixou de gostar de uma mulher que, afinal, para você, era apenas aflição de
espírito e frustração da carne (...).
- Viajar, partir…
- Voltar.
- Quando se vive na Europa, voltar para Paris, quando se vive no Brasil, voltar para o Rio.
23
- Pensar que, por pior que estejam as coisas, há sempre uma solução, a morte – o assim chamado
descanso eterno.
Ao final, o narrador revela-se

a) sonhador, porque fala a partir de uma condição que não tem as coisas relatadas, no entanto deseja
tê-las.
b) controverso, pois apresenta toda uma lista de coisas atraentes e empolgantes, quando no fundo
mantém ceticismo.
c) pragmático, já que superou uma etapa juvenil da vida em que são feitas projeções para se mostrar
mais realista.
d) irônico, já que debocha de uma revista onde trabalhou, mas o demitira, fazendo na verdade uma
lista maldosa.
e) melancólico, uma vez que sabe que não vai conseguir nenhum dos desejos citados e apenas está
fantasiando.
_____________________________________________________________________________________
Leia o trecho abaixo para responder à questão.
Até que enfim parou de chover. As nuvens deslisa-se para o poente. Apenas o frio nos fustiga. E
varias pessoas da favela não tem agasalhos. Quando uns tem sapatos, não tem palitol. E eu fico
condoida vendo as crianças pisar na lama. (...) Percebi que chegaram novas pessoas para a favela. Estão
maltrapilhas e as faces desnutridas. Improvisaram um barracão. Condoí-me de ver tantas agruras
reservadas aos proletarios. Fitei a nova companheira de infortunio. Ela olhava a favela, suas lamas e
suas crianças pauperrimas. Foi o olhar mais triste que já presenciei. Talvez ela não mais tem ilusão.
Entregou sua vida aos cuidados da vida.
Nesse excerto, a narradora revela uma visão de mundo que é:

a) pessimista, sendo que não enxerga mais nenhuma expectativa e espera a vida cumprir sua própria
finalidade.
b) desoladora, vendo-se obrigada a ter que roubar o alimento de sua nova companheira, expondo um
ato desumano.
c) aguda, delatando condições extremas, mas sem com isso abandonar sua capacidade de sentir
empatia.
d) esperançosa, pois – apesar de viver na miséria – organiza um grupo social capaz de ajudar as crianças
carentes.
e) crítica, porque o relato serve de documento para apresentar uma pauta política contra as
autoridades.
_____________________________________________________________________________________
24
Exemplos de canção de protesto foram interpretados por:
a) Roberto Carlos; Erasmo Carlos e Wanderleia.
b) Chico Buarque; Geraldo Vandré e Aldir Blanc.
c) Caetano Veloso; Gilberto Gil e Preta Gil.
d) Jorge Mautner; Torquato Neto e Waly Salomão.
e) Chacal; Chico Alvim e Tom Zé.
_____________________________________________________________________________________
Leia um trecho da crônica “A poesia das coisas mais simples”, de autoria de Moacyr Scliar, a fim de
Todo mundo o conhecia como “o velho Braga”, e isso, acho, desde que ele era jovem jornalista
[...].
Assim era Braga: um homem que tratava as palavras com sensibilidade, com sabedoria e com
maestria. Por isso era grande; não porque se desse importância. No Recife, Braga morou algum tempo
na famosa pensão de dona Berta, mãe de Noel Nutels, notável sanitarista, já falecido. Um dia apareceu
ali um camundongo. Foi uma correria; ao final, Braga liquidou o roedor com um grosso canudo de
papelão. Eu sabia que isto ainda serviria para alguma coisa útil, disse, mostrando o conhecido canudo:
era o seu diploma universitário.
Este homem amável, um pouco retraído, sabia ver poesia nas coisas simples. E a camisa que ficou
ondulando ao vento, num varal de fundo de quintal, dá agora adeus a um de nossos maiores escritores.
Nesse sentido, a crônica pode ser compreendida como um gênero que:

a) reinventa o mundo a partir de um olhar lúdico, no caso, porque lembra do velho Braga quando ele
não era velho, mas apenas uma criança.
b) ridicularia o papel do ser humano, que foi ludibriado pelo movimento arisco do animal, apesar de
ser um homem estudado e erudito.
c) ostenta o estilo memorialista, em particular, ao homenagear um amigo que já morreu, sendo que
era seu colega de profissão quando era jornalista.
d) representa a realidade, mas não mais com precisão, porque não mais caracteriza situações heroicas,
mas sim o cotidiano mecânico.
e) retrata com criticidade as situações banais, sendo que nesse caso ainda são explorados fatores como
o humor e a inversão de valores.
_____________________________________________________________________________________
Leia o poema de Manoel de Barros abaixo para responder à questão.
25
O mundo meu é pequeno, Senhor.

Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas.
Seu olho exagera o azul.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe, Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos.
BARROS, Manoel de. Sombra-boa I. Disponível em: https://tinyurl.com/z8we7f5b. Acesso em: 06 jun. 2021.
A perspectiva brincalhona do poeta subverte a ordem inclusive de classes gramaticais, pois transforma
palavras que são ______ em ______. Preenchendo-se a lacuna, tem-se:
a) substantivos | verbos.
b) verbos | substantivos.
c) adjetivos | substantivos.
d) substantivos | adjetivos.
e) verbos | adjetivos.
_____________________________________________________________________________________
Sobre as escritoras brasileiras contemporâneas, associe as informações da primeira coluna com as da
segunda.
(1) Marina Colasanti Teve de conciliar os estudos com o trabalho de empregada

doméstica, e hoje é Doutora em Literatura Comparada pela UFF.
Destaca-se o seu livro de contos chamado “Olhos d'água” (2014).
(2) Adélia Prado Nasceu em Divinópolis e formou-se em Filosofia. As suas
características principais são: linguagem coloquial, vocabulário
simples, poemas leves e marcantes. Sua obra-prima é “Bagagem”
(1975).
(3) Conceição Evaristo Tem ascendência ítalo-brasileira, mas nasceu mesmo em Asmara,
uma cidade da Eritreia. Uma de suas principais obras é: “Eu sei,
mas não devia” (1995).
A ordem correta é:
a) 1 – 2 – 3
b) 2 – 1 – 3
c) 2 – 3 – 1
d) 3 – 2 – 1
26
e) 3 – 1 – 2
_____________________________________________________________________________________
Leia o trecho do poema “Nota social”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.
Numa árvore do passeio público

(melhoramento da atual administração)
árvore gorda, prisioneira
de anúncios coloridos,
árvore banal, árvore que ninguém vê
canta uma cigarra.
Canta uma cigarra que ninguém ouve
um hino que ninguém aplaude.
Canta, no sol danado.
O poeta entra no elevador

o poeta sobe
o poeta fecha-se no quarto.
O poeta está melancólico.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013 (p. 43).
Mesmo estando em um livro de 1930, obra de uma fase juvenil, esse poema já expressa algumas
questões importantes para o poeta, como:
a) crítica social e memorialismo infantil.
b) veneração da tecnologia e nacionalismo.
c) valorização da música e perda do senso estético.
d) descaso com a natureza e crítica à propaganda.
e) ironia e desespero frente à falta de sentido da vida.
_____________________________________________________________________________________
Leia o trecho abaixo para responder à questão, excerto final do romance “Viva o povo brasileiro” de
João Ubaldo Ribeiro.
No céu de Amoreiras nada se via, a não ser as constelações de janeiro em seu passeio inexorável.
Mais acima desse céu de Amoreiras, onde tudo existe e nada é inacreditável, o Poleiro das Almas,
vibrando de tantas asas agitadas e tantos sonhos brandidos ao vento indiferente do Universo, quase
despenca da agitação que o avassalou, enquanto a terra latejava lá embaixo e as alminhas faziam força
para descer, descer, descer, descer, descer, descer, porque queriam brigar. Por que queriam brigar?
Não se sabe, nada se sabe, tudo se escolhe. Tudo se escolhe, como sabem as alminhas agora tiritando
no frio infinito do cosmos, que as balança como as arraias empinadas pelos meninos de que têm
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saudades. Almas brasileirinhas, tão pequetitinhas que faziam pena, tão bobas que davam dó, mas
decididas a voltar para lutar. Alminhas que tinham aprendido tão pouco e queriam aprender mais,
como é da natureza das alminhas, e tremeram outra vez quando lá embaixo três ladrões correram da
velha canastra, a qual foi soterrada pelo sangue, pelo sangue, pelo sangue, pela argamassa que é a
mesma coisa, pelo suor que é a mesma coisa, pelas lágrimas que são a mesma coisa, pelo leite do peito
que é a mesma coisa. Isso lá em cima, Deus sorrindo ou não, porque embaixo, muito embaixo sob os
ares de Amoreiras, tudo acontecia ou estava sempre podendo acontecer. O sudeste bateu, juntou as
nuvens, começou a chover em bagas grossas e ritmadas, todos os que ainda estavam acordados
levantaram-se para fechar suas janelas e aparar a água que viria das calhas. Ninguém olhou para cima
e assim ninguém viu, no meio do temporal, o Espírito do Homem, erradio mas cheio de esperança,
vagando sobre as águas sem luz da grande baía.
RIBEIRO, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
Depreende-se do texto que

a) na modernidade o fatalismo que é típico do fim do século passado é superado e a vida se tornou
mais leve.
b) a figura de Deus está personificada, pois tudo estava sendo feito de acordo com Sua vontade sem
maiores percalços.
c) as almas brasileiras encarnam um destino nacional que é progressista, sem olhar para trás nem se
arrepender.
d) é papel do escritor reconduzir a humanidade à sua essência espiritual, perdida no tempo
contemporâneo.
e) o ser humano será capaz de vencer o sofrimento da vida existencial quando conseguir enxergar um
sentido superior.
_____________________________________________________________________________________
45. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Chivunk EsPCEx 2021)
Leia as informações abaixo sobre Cecília Meireles.
I – Foi uma poetisa da segunda geração modernista cuja obra foi marcada por intimismo.
II – Como um de seus trabalhos principais, encontra-se “Romanceiro da Inconfidência” (1953).
III – Além de poesia histórica e sentimental, também escreveu literatura infantil.
Estão corretas as afirmações:

a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I, II e III.
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Considere o texto abaixo para responder à questão.
Quando voltou para casa, seu maior pensamento era que tinha a boa notícia para dar à mãe: o
que o homem tinha falado — que o Mutúm era lugar bonito... A mãe, quando ouvisse essa certeza,
havia de se alegrar, ficava consolada. Era um presente; e a ideia de poder trazê-lo desse jeito de cor,
como uma salvação, deixava-o febril até nas pernas. Tão grave, grande, que nem o quis dizer à mãe na
presença dos outros, mas insofria por ter de esperar; e, assim que pôde estar com ela só, abraçou-se a
seu pescoço e contou-lhe, estremecido, aquela revelação. A mãe não lhe deu valor nenhum, mas mirou
triste e apontou o morro; dizia: — "Estou sempre pensando que lá por detrás dele acontecem outras
coisas, que o morro está tapando de mim, e que eu nunca hei de poder ver..." Era a primeira vez que a
mãe falava com ele um assunto todo sério.
Quanto ao trecho, é correto afirmar que

a) o trecho explora a situação de uma criança que quer impressionar a mãe, mas ela se encontra em
outro estado de espírito.
b) no sertão nordestino brasileiro, a condição de vulnerabilidade assolava as personagens que
precisavam se mudar de região.
c) é mencionado no trecho que a mãe valorizava muito o filho, fazendo com que ele participasse da
dinâmica familiar.
d) as personagens, sobretudo a mãe, gostavam muito do lugar onde viviam, especialmente dos montes,
os quais achavam belos.
e) o filho servia como mensageiro da mãe, ganhando em troca favores, como é o caso de poder passar
mais tempo com ela.
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“São Bernardo” e responda ao que se pede.
“Comecei a sentir ciúmes. O meu primeiro desejo foi agarrar o Padilha pelas orelhas e deitá-lo
fora, a pontapés. Mas conservei-o para vingar-me.
Arredei-o de casa, a bem dizer prendi-o na escola. Lá vivia, lá dormia, lá recebia alimento, boia
fria, num tabuleiro.
Estive quatro meses sem lhe pagar o ordenado. E quando o vi sucumbido, magro, com o colarinho
sujo e o cabelo crescido, pilheriei:
— Tenha paciência. Logo você se desforra. Você é um apóstolo. Continue a escrever os
contozinhos sobre o proletário.
O infeliz defendia-se. Com as humilhações continuadas, limitava-se por fim a engolir em seco.
Um dia chorou, pediu-me soluçando que lhe arranjasse uma colocação no fisco estadual.”

a) o protagonista é um narrador em terceira pessoa, um benevolente fazendeiro que ajudava os seus
funcionários.
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b) o protagonista é um narrador em terceira pessoa, e mantém relações conflituosas com o servidor

Padilha.
c) o protagonista é um narrador em primeira pessoa, e foi por meio de Padilha que conhece sua
namorada Marina.
d) o protagonista é um narrador em primeira pessoa, e ajuda o colega Padilha a conseguir um emprego
no funcionalismo público.
e) o protagonista é um narrador em primeira pessoa, revelando personalidade conturbada e
menosprezando a ideologia do colega.
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48. (ITA – 2020 – 1ª fase) Leia as asserções destacadas e, em seguida, assinale a alternativa correta:
I. Em “Senhor Diretor”, Maria Emília é uma mulher marcada por uma rígida repressão sexual.
II. Em “A Sauna”, após repassar sua vida a limpo, o narrador protagonista se arrepende de seus atos
egoístas e mesquinhos.
III. Em “WM”, os fatos da vida de Wlado não são revelados ao leitor.
IV. Em “Seminário dos ratos”, a invasão dos ratos simboliza uma aterrorizante ameaça ao poder
representado pelo Secretário do Bem-Estar Público e Privado e pelo Chefe de Relações Públicas.
a) ( ) são todas asserções verdadeiras.

b) ( ) I, III e IV são falsas.
c) ( ) I e II são verdadeiras.
d) ( ) I e IV são verdadeiras.
e) ( ) são todas asserções falsas.
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49. (ITA – 2019) Leia o poema de autoria de Cecília Meireles.
“Epigrama n. 04”
O choro vem perto dos olhos

para que a dor transborde e caia.
O choro vem quase chorando
como a onda que toca a praia.
Descem dos céus ordens augustas

e o mar chama a onda para o centro.
O choro foge sem vestígios,
mas levando náufragos dentro.
(MEIRELES, Cecília, Viagem/Vaga música. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.p.43)
30
O texto
I. aproxima metaforicamente um fenômeno humano e um fenômeno natural a partir da identificação

de, pelo menos, um traço comum a ambos: água em movimento.
II. sugere que, enquanto o movimento do choro é ligado à variação das emoções, o movimento da onda
deve-se a forças naturais, responsáveis pela circularidade marítima.
III. ameniza o dramatismo do choro humano, pois, quando acomete o sujeito, ele passa naturalmente,
como a onda que volta ao mar.
IV. leva-nos a perceber que o choro contido tem um impacto emocional que o torna desolador.
Estão corretas:
a) I e II apenas;
b) I, II e IV apenas;
c) I, III e IV apenas;
d) II e III apenas;
e) todas.
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50. (ITA – 2019) São Bernardo, de Graciliano Ramos, é obra representativa da Geração de 30. Em
relação ao protagonista, podemos dizer que
a) mesmo sendo um proprietário de terras de perfil feudal, não se envolve sexualmente com as
serviçais da fazenda.
b) por ter cometido assassinatos para tornar-se o dono de sua propriedade, é um homem sem nenhum
traço de humanidade.
c) ele próprio reconhece que as muitas agruras pelas quais passou até enriquecer acabaram por lhe
dar uma alma agreste.
d) após se tornar senhor da fazenda, esquece-se do passado e abandona, até mesmo, a sua pobre mãe
de criação.
e) mesmo com a morte trágica da esposa, não chega a questionar o sentido dos atos que praticou ao
longo da vida.
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51. (ITA – 2018) O texto abaixo é uma das liras que integram Marília de Dirceu, de Tomás Antônio
Gonzaga.
1.
Em uma frondosa
Roseira se abria
Um negro botão!
Marília adorada
31
O pé lhe torcia
Com a branca mão.
2.
Nas folhas viçosas
A abelha enraivada
O corpo escondeu.
Tocou-lhe Marília,
Na mão descuidada
A fera mordeu.
3.
Apenas lhe morde,
Marília, gritando,
Co dedo fugiu.
Amor, que no bosque
Estava brincando,
Aos ais acudiu.
4.
Mal viu a rotura,
E o sangue espargido,
Que a Deusa mostrou,
Risonho beijando
O dedo ofendido,
Assim lhe falou:
5.
Se tu por tão pouco
O pranto desatas,
Ah! dá-me atenção:
E como daquele,
Que feres e matas,
Não tens compaixão?
(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu & Cartas Chilenas. 10. ed. São Paulo: Ática, 2011.)
Haicai tirado de unia falsa lira de Gonzaga

Quis gravar “Amor”
No tronco de um velho freixo:
“Marília” escrevi.
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 20 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.)
O poema abaixo retoma imagens presentes nas liras de Marília de Dirceu e no haicai de Manuel
Bandeira, apresentados acima.
Passeio no bosque
32
o canivete na mão não deixa

marcas no tronco da goiabeira
cicatrizes não se transferem

(CACASO. Beijo na boca. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000.)
Algumas pessoas, ao gravarem nomes, datas etc., nos troncos das árvores, buscam externar afetos ou
sentimentos. Esse texto, contudo, registra uma experiência particular de alguém que, fazendo isso,
a) se liberta das dores amorosas, pois as exterioriza de alguma forma.
b) percebe que provocará danos irreversíveis à integridade da árvore.
c) busca refúgio na solidão do espaço natural.
d) se dá conta de que é impossível livrar-se dos sentimentos que o afligem.
e) encontra dificuldade em gravar o tronco com um simples canivete.
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52. (ITA – 2015) O poema abaixo, de João Cabral de Melo Neto, integra o livro A escola das facas.
A voz do canavial
Voz sem saliva da cigarra,
do papel seco que se amassa,
de quando se dobra o jornal:

assim canta o canavial,
ao vento que por suas folhas,

de navalha a navalha, soa,
vento que o dia e a noite toda

o folheia, e nele se esfola.
Sobre o poema, é INCORRETO afirmar que a descrição

a) compara o som das folhas do canavial com o da cigarra.
b) põe em relevo a rusticidade da plantação de cana de açúcar.
c) destaca o som do vento que passa pela plantação.
d) associa o som do canavial com o amassar das folhas de papel.
e) faz do vento a navalha que corta o canavial.
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53. (ITA – 2015) O poema abaixo, de Alice Ruiz, faz parte do livro Jardim de Haijin.
passeio no Ibirapuera
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uma cerejeira florida

interrompe a conversa
No texto, NÃO há
a) sentimento de amor pela natureza, exacerbado e de raiz romântica.
b) emoção estética despertada pela vegetação naquele que passeia.
c) descrição de parte da flora que integra o parque do Ibirapuera.
d) surpresa, durante o passeio pelo parque, causada por uma beleza inesperada.
e) referência a um local específico, o parque situado na cidade de São Paulo.
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54. (ITA – 2011) Considere o poema abaixo, “A cantiga”, de Adélia Prado:
“Ai cigana ciganinha,

ciganinha, meu amor”.
Quando escutei essa cantiga
era hora do almoço, há muitos anos.
A voz da mulher cantando vinha de uma cozinha,
ai ciganinha, a voz de bambu rachado
continua tinindo, esganiçada, linda,
viaja pra dentro de mim, o meu ouvido cada vez melhor.
Canta, canta, mulher, vai polindo o cristal,
canta mais, canta que eu acho minha mãe,
meu vestido estampado, meu pai tirando boia da panela,
canta que eu acho minha vida.
(Em: Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.)
Acerca desse poema, é INCORRETO afirmar que

a) a poeta tem consciência de que seu passado é irremediavelmente perdido.
b) existe um tom nostálgico, e um saudosismo de raiz romântica.
c) a cantiga faz com que a poeta reviva uma série de lembranças afetivas.
d) predomina o tom confessional e o caráter autobiográfico.
e) valoriza os elementos da cultura popular, também uma herança romântica.
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55. (ITA – 2011) Considere o poema abaixo, de Ronaldo Azeredo:
34
Esse texto
I. explora a organização visual das palavras sobre a página.

II. põe ênfase apenas na forma e não no conteúdo da mensagem.
III. pode ser lido não apenas na sequência horizontal das linhas.
IV. não apresenta preocupação social.
Estão corretas
a) I e II.
b) I, II e III.
c) I e III.
d) II e IV.
e) todas.
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56. (ITA – 2010) Na obra Quaderna (1960), João Cabral de Melo Neto incluiu um conjunto de textos,
intitulado “Poemas da cabra”, cujo tema é o papel desse animal no universo social e cultural
nordestino. Um desses poemas é reproduzido abaixo:
Um núcleo de cabra é visível

por debaixo de muitas coisas.
Com a natureza da cabra
Outras aprendem sua crosta.

em certos atributos roucos
que têm as coisas obrigadas
a fazer de seu corpo couro.
35
A fazer de seu couro sola.

a armar-se em couraças, escamas:
como se dá com certas coisas
e muitas condições humanas.
Os jumentos são animais

que muito aprenderam da cabra.
O nordestino, convivendo-a,
fez-se de sua mesma casta.
Acerca desse poema, NÃO se pode afirmar que:

a) o poeta vê a cabra como um animal forte e que influencia outros seres que vivem em condições
adversas.
b) aquilo que a cabra parece ensinar aos demais seres é a resignação e a paciência diante da
adversidade.
c) a cabra oferece uma espécie de modelo comportamental para aqueles que precisam ser fortes para
enfrentar uma vida dura.
d) a cabra é um animal resistente ao meio hostil em que vive, assim como outros animais também o
são, como o jumento.
e) há no poema uma aproximação entre a cabra e o homem nordestino, pois ambos são fortes e
resistentes.
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57. (ITA – 2010) O poema abaixo faz parte da obra Livro sobre nada (1996), de Manoel de Barros:
A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá

mas não pode medir seus encantos.
A ciência não pode calcular quantos cavalos de força
existem
nos encantos de um sabiá.
Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare.
Os sabiás divinam.
É certo dizer que estamos diante de um poema

a) que mostra que o estudo dos sabiás tem mais a ver com adivinhação do que com informação.
b) no qual o autor mostra que a ciência é muito limitada para entender a anatomia do sabiá.
c) segundo o qual a ciência consegue entender a anatomia do sabiá, mas não explicar por que ele nos
encanta.
d) que mostra que há mistérios na natureza que a ciência tenta desvendar, como o encanto de um
sabiá.
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e) que afirma ser impossível um saber acerca do sabiá.
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58. (ITA – 2009) Leia o poema abaixo, “Na contramão”, de Chacal.
ela ali tão sem

eu aqui sem chão
nós assim ninguém
cada um na mão
Acerca desse poema, considere as seguintes afirmações:
I. Ele possui uma das marcas mais típicas da poesia contemporânea, que é a brevidade.
II. É notória a informalidade da linguagem, que afasta o poema da tradição culta e erudita.
III. Há um sentimentalismo contemporâneo que filtra os excessos da expressão sentimental.
IV. Existe a persistência do tema do desencontro amoroso (tradicional na literatura).
Está(ão) correta(s)
a) apenas a I.
b) apenas I e II.
c) apenas I, II e III.
d) apenas III e IV.
e) todas.
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59. (ITA – 2007) O conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa, faz parte do livro
Sagarana, de 1946. Nesse texto, o personagem central vive aquilo que aparentemente é um processo
de conversão cristã, que se inicia quando ele
a) é socorrido por um casal pobre, após ele ter sido vítima de uma emboscada, na qual quase morreu.
b) conversa com um padre, que lhe diz que o que aconteceu com ele foi um sinal de Deus para que ele
desse outra direção a sua vida.
c) vive cerca de sete anos no povoado do Tombador, levando uma vida de trabalho e de oração.
d) resiste ao convite de Joãozinho Bem-Bem para entrar no bando de cangaceiros, tentação essa a que
não foi fácil resistir.
e) enfrenta, sozinho, o bando de Joãozinho Bem-Bem, que estava prestes a cometer uma atrocidade
contra uma família de inocentes.
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60. (IME – 2019)
37
Becos de Goiás
Beco da minha terra...
Amo tua paisagem triste, ausente e suja.
Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.
Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio.
E a réstia de sol que ao meio-dia desce, fugidia,
e semeia polmes dourados no teu lixo pobre,
calçando de ouro a sandália velha,
jogada no teu monturo.
Amo a prantina silenciosa do teu fio de água,

descendo de quintais escusos
sem pressa,
e se sumindo depressa na brecha de um velho cano.
Amo a avenca delicada que renasce
na frincha de teus muros empenados,
e a plantinha desvalida, de caule mole
que se defende, viceja e floresce
no agasalho de tua sombra úmida e calada.
Amo esses burros-de-lenha

que passam pelos becos antigos. Burrinhos dos morros,
secos, lanzudos, malzelados, cansados, pisados.
Arrochados na sua carga, sabidos, procurando a sombra,
no range-range das cangalhas.
E aquele menino, lenheiro ele, salvo seja.

Sem infância, sem idade.
Franzino, maltrapilho,
pequeno para ser homem,
forte para ser criança.
Ser indefeso, indefinido, que só se vê na minha cidade.
Amo e canto com ternura

todo o errado da minha terra.
Becos da minha terra,
discriminados e humildes,
lembrando passadas eras...
Beco do Cisco.
Beco do Cotovelo.
Beco do Antônio Gomes.
Beco das Taquaras.
Beco do Seminário.
Bequinho da Escola.
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Beco do Ouro Fino.

Beco da Cachoeira Grande.
Beco da Calabrote.
Beco do Mingu.
Beco da Vila Rica...
Conto a estória dos becos,

dos becos da minha terra,
suspeitos... mal afamados
onde família de conceito não passava.
“Lugar de gentinha” - diziam, virando a cara.
De gente do pote d’água.

De gente de pé no chão.
Becos de mulher perdida.
Becos de mulheres da vida.
Renegadas, confinadas
na sombra triste do beco.
Quarto de porta e janela.
Prostituta anemiada,
solitária, hética, engalicada,
tossindo, escarrando sangue
na umidade suja do beco.
Becos mal assombrados.

Becos de assombração...
Altas horas, mortas horas...
Capitão-mor - alma penada,
terror dos soldados, castigado nas armas.
Capitão-mor, alma penada,
num cavalo ferrado,
chispando fogo,
descendo e subindo o beco,
comandando o quadrado - feixe de varas...
Arrastando espada, tinindo esporas...
Mulher-dama. Mulheres da vida,

perdidas,
começavam em boas casas, depois,
baixavam pra o beco.
Queriam alegria. Faziam bailaricos.
- Baile Sifilítico - era ele assim chamado.
O delegado-chefe de Polícia - brabeza -
dava em cima...
Mandava sem dó, na peia.
No dia seguinte, coitadas,
39
cabeça raspada a navalha,

obrigadas a capinar o Largo do Chafariz,
na frente da Cadeia.
Becos da minha terra...

Becos de assombração.
Românticos, pecaminosos...
Têm poesia e têm drama.
O drama da mulher da vida, antiga,
humilhada, malsinada.
Meretriz venérea,
desprezada, mesentérica, exangue.
Cabeça raspada a navalha, castigada a palmatória,
capinando o largo,
chorando. Golfando sangue.
(ÚLTIMO ATO)
Um irmão vicentino comparece.

Traz uma entrada grátis do São Pedro de Alcântara.
Uma passagem de terceira no grande coletivo de São Vicente.
Uma estação permanente de repouso - no aprazível São Miguel.
Cai o pano.
CORALINA, Cora. Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. 21ª ed. - São Paulo: Global Editora, 2006.
O poema se inicia em um processo descritivo e passa para o descritivo-narrativo. Isso se confirma

pelo(a)
a) contraste entre o uso abundante de adjetivos concomitante ao parco uso de formas verbais nas
primeiras estrofes em relação à recorrência de formas verbais indicativas de ação conjugadas,
predominantemente, no pretérito imperfeito do modo indicativo nas estrofes finais.
b) uso de verbos conjugados na primeira pessoa do singular do modo indicativo nas primeiras estrofes
em contraste com os verbos conjugados em terceira pessoa do pretérito imperfeito do indicativo nas
estrofes finais.
c) frequência com que aparecem, no início do poema, palavras cujos significados estão associados à
tristeza e ao abandono dos becos em contraste com o final do poema em que comparecem forças
preocupadas em garantir ordem na vida pública.
d) fato de que a escritora se conforma ao processo mais tradicional na construção dos poemas.
e) necessidade de dar ao poema um tom realista, afastando-o do romantismo tradicionalmente
associado às formas poéticas como um todo.
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61. (IME – 2019) Considere os versos do poema “O elefante”, transcritos abaixo:
40
“Esse passo que vai

sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.”
Acerca de “vento”, “folhas” e “formiga”, pode-se afirmar que

a) significam a procura do poeta por novos “sítios”, ou seja, novo público, futuros leitores do poema.
b) são comparados ao “livro” que o poeta pretende escrever sob a paz das cortinas.
c) não constituem elementos naturais capazes de compreender e espelhar a natureza do “elefante”.
d) estão presentes no poema com o objetivo de exaltar o comportamento humano que só se mostra
“sob a paz das cortinas / à pálpebra cerrada”.
e) eles não ignoram o que o homem ignora.
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62. (AFA – 2020)
Mulheres de Atenas
Mirem-se no exemplo
Daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam

Se banham com leite, se
Arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas; cadenas
Mirem-se no exemplo
Sofrem pros seus maridos
Poder e Força de Atenas
(...)
41
Elas não têm gosto ou vontade

Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm
Presságios
O seu homem, mares,
Naufrágios
Lindas sirenas, morenas
As jovens viúvas marcadas

E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se
Encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas, serenas
(HOLANDA, Chico Buarque de. Meus caros amigos. LP, 1976. Phonogram/Philips)
Considere as afirmativas acerca da canção de Chico Buarque, texto III.
I. Na segunda estrofe, há a presença de uma gradação que reforça o grau de submissão da postura
feminina.
II. Todas as ocorrências do pronome “se”, ao longo do texto, justificam-se pelo seu teor de
reflexividade, realçando, assim, as ações e os gestos próprios das mulheres.
III. Os últimos versos da 1ª e 3ª estrofes destacam atributos da cidade de Atenas, por meio da utilização
de prosopopeia, recurso recorrente em textos poéticos e musicais.
IV. Na quarta estrofe, há uma estrutura antitética que se dá no plano imaginário e inconsciente das
mulheres.
Estão corretas apenas

a) I e III.
b) I, II e III.
c) I e IV.
d) III e IV.
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63. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5o Simulado ESA 2023)
Considere o poema a seguir.
OPACO
Noite. Certo
42
muitos são os astros.

Mas o edifício
barra-me a vista.
Quis interpretá-lo.
Valeu? Hoje
barra-me (há luar) a vista.
Nada escrito no céu,

sei.
Mas queria vê-lo.
O edifício barra-me
a vista.
Zumbido
de besouro. Motor
arfando. O edifício barra-me
a vista.
Assim ao luar é mais humilde.

Por ele é que sei do luar.
Não, não me barra
A vista. A vista se barra
a si mesma.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Claro enigma. São Paulo: Companhia das Letras, 2012 (p. 39).
Assinale o que for correto quanto à visão global do poema.

a) A presença de versos monossilábicos está condicionada ao versilibrismo.
b) O eu lírico usa uma linguagem telegráfica até para endossar as limitações.
c) Na última estrofe, a dupla negação marca atitude taciturna do eu lírico.
d) O uso de parênteses na segunda estrofe é irônico e pleonástico.
e) O ritmo frenético da cidade desorienta o eu lírico a ponto de ele pensar em suicídio.
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64. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5o Simulado EsPCEx
2023) Leia o trecho abaixo.
— Cale-se ou expulso a senhora da sala.

Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me
obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser o objeto do ódio
daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia,
amava-o como uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto, com a cólera de quem
ainda não foi covarde e vê um homem forte de ombros tão curvos. Ele me irritava. De noite, antes de
dormir, ele me irritava.
43
Eu tinha nove anos e pouco, dura idade como o talo não quebrado de uma begônia.
LISPECTOR, Clarice. Os desastres de Sofia. In: A Legião Estrangeira. São Paulo, Ática, 1977, p. 11-25
Este conto modernista caracteriza a relação entre uma criança e seu professor. Nesse sentido,
depreende-se que
a) Sofia está aprendendo a escrever, mas tem dificuldades, e o professor se torna uma perturbação no
momento quando lhe força a caligrafia.
b) o professor não pretende quebrar nenhum protocolo escolar ao se envolver com uma aluna,
sobretudo tão jovem.
c) Sofia é uma mulher empoderada a qual deseja desmistificar o professor de que todas as meninas na
sala gostavam.
d) a narradora madura analisa como se sentia na infância, especialmente em uma situação que
provocava uma tensão erótica.
e) Sofia é uma narradora que se intromete no ponto de vista autoritário do professor, o qual lhe deu
um castigo como punição.
_____________________________________________________________________________________
2023) Após a leitura da passagem, responda ao que se pede.
Essa chácara do homem ficava meio ocultada, escurecida pelas árvores, que nunca se viu plantar
tamanhas tantas em roda de uma casa. Era homem estrangeiro. De minha mãe ouvi como, no ano da
espanhola, ele chegou, acautelado e espantado, para adquirir aquele lugar de todo defendimento, e a
morada, donde de qualquer janela alcançasse de vigiar a distância, mãos na espingarda; nesse tempo,
não sendo ainda tão gordo, de fazer nojo. Falavam que comia a quanta imundície: caramujo, até rã,
com as braçadas de alfaces, embebidas num balde de água.
ROSA, Guimarães. O cavalo que bebia cerveja. In: Primeiras estórias.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001 (p. 109).
Acerca do regionalismo da terceira geração modernista, marque a opção correta.

a) Ele se limita à região geográfica, especialmente Quebrangulo, onde nasceu o autor.
b) Diz respeito ao psicologismo, representando a vida interior das personagens.
c) Faz um mapeamento de fauna e flora, a fim de descrevê-los para a coroa portuguesa.
d) Ele se universaliza, mas guardando suas particularidades, como as crenças em superstições.
e) Faz uso do descritivismo detalhado, explicando o zoomorfismo do ser humano.
_____________________________________________________________________________________
2023)
44
Pouco mais adiante, debaixo de um marizeiro, de copa arrastando no chão, lá estava uma destas
piscinas que o curso e a correnteza do rio cavava nas suas margens. E foi aí, com tio Juca, que bebeu,
antes do seu banho, um copo cheio de remédio para o sangue, dormido no sereno, que entrei em
relação íntima com o engenho de meu avô. A água fria do rio, àquela hora, deixou-me o corpo
tremendo. Meu tio então começou a atirar-me para o fundo, ensinando-me a nadar.
REGO, José Lins do. Menino do engenho. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/2p96cwky. Acesso em: 25 jul. 2022.
O exemplo acima caracteriza a vertente do romance de 30, da qual fazem parte também as obras
abaixo. Identifique a única exceção.
a) Guimarães Rosa – Grande sertão: veredas.
b) Graciliano Ramos – Vidas secas.
c) Rachel de Queirós – O quinze.
d) José Américo de Almeida – A bagaceira.
e) Jorge Amado – Capitães da areia.
_____________________________________________________________________________________
2023) Após a leitura, responda ao que se pede.
"O senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir,
instantaneamente – depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão."
(Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas).
Nesse romance de Guimarães Rosa, o narrador Riobaldo Tatarana conversa com um médico, a quem
chama de "senhor". Em sua explicação sobre o meio, é correto afirmar que:
a) é um lugar com seus próprios costumes.
b) há defesa do meio citadino.
c) implica no misticismo religioso.
d) limita-se aos domínios geográficos.
e) mergulha-se na mente do personagem.
_____________________________________________________________________________________
68. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Simulado Inédito
Premonição EsPCEx 2023) Sobre o Modernismo Brasileiro, identifique a opção correta.
a) A Semana de Arte Moderna inaugura uma fase que ficou conhecida como heroica.
b) A primeira geração modernista ainda se espelhava em movimentos tradicionais.
c) O romance de 30 retomava questões naturalistas, como a representação do grotesco.
d) A geração de 1945 produz obras simplistas sem complexidade formal.
45
e) A principal poeta da terceira geração modernista brasileira foi Clarice Lispector.
_____________________________________________________________________________________
ESA) Quanto à segunda geração modernista, julgue os itens.
I – A poesia é marcada pelo retorno a escolas passadistas, como Parnasianismo e Simbolismo.

II – A prosa é fortemente influenciada por movimentos do fim do século XIX, como Realismo e
Naturalismo.
III – Os autores ficaram entre duas influências principais: o heroísmo e o vanguardismo.

a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I e III.
_____________________________________________________________________________________
ESA) O exemplo abaixo é retirado do romance "Grande sertão: veredas", do autor da terceira geração
modernista, Guimarães Rosa.
"Como que era urco, trouxo de atarracado, reluzia um cru nos olhos pequenos, e armava um
queixo de pedra, sobrancelhonas; não demedia nem testa. Não ria, não se riu nem uma vez; mas,
falando ou calado, a gente via sempre dele algum dente, presa pontuda de guará. Arre, e bufava, um
poucadinho."
Quanto a linguagem, depreende-se que ela é

a) objetiva e jornalística.
b) calculada e artificial.
c) prolixa e técnica.
d) rústica e seca.
e) brincalhona e afetiva.
_____________________________________________________________________________________
EsPCEx) A partir da leitura, responda ao que se pede.
46
A catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas.
O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.
- Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria
responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário - e a obstinação
da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o
vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2019.
A agrura da paisagem faz com que Fabiano

a) decida se retirar com a família.
b) reconsidera abandonar o trabalho.
c) agrave seu relacionamento com a esposa.
d) desconte a impotência no mais próximo.
e) se torne mais parecido com o animal.
_____________________________________________________________________________________
72. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1o Provão de Bolsa
EsPCEx) A partir do poema "Recordar é preciso", de Conceição Evaristo, responda ao que se pede.
O mar vagueia onduloso sob os meus pensamentos

A memória bravia lança o leme:
Recordar é preciso.
O movimento vaivém nas águas-lembranças dos meus marejados olhos transborda-me a vida,
salgando-me o rosto e o gosto.
Sou eternamente náufraga,
mas os fundos oceanos não me amedrontam
e nem me imobilizam.
Uma paixão profunda é a boia que me
emerge.
Sei que o mistério subsiste além das águas.
O texto acima apresenta uma importante característica da literatura contemporânea, que é:

a) prosaísmo.
b) formas breves.
c) lugar de fala.
d) tecnologia.
e) memorialismo.
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47
73. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Último Provão de
Bolsas EsPCEx)
Parecia uma patuscada de gorilas vadios. O estalido das galhofas infernais.

Estralejava o apito agudo, a canalhada de sete fôlegos; fi-fi-iú-iúiú...
Lúcio, suspeitoso, saltou a janela.
E, em sua dúplice organização moral, em sua sensibilidade contraditória, ria-se e comovia-se.
Era um retirante que levava a mãe inválida escanchada no pescoço.
Já tão falto de forças, não tinha outro meio de carregá-la.
Acuado pela surriada vexatória, fraqueava. Passou-lhe uma nuvem pelos olhos. Desequilibrou-se.
E ambos, mãe e filho, caindo de borco, beijaram, sem querer, a Terra da Promissão...
ALMEIDA, José Américo de. A bagaceira. 37. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.
Em um primeiro momento, a visão que Lúcio tem dos transeuntes é:

a) piedosa.
b) preconceituosa.
c) engajada.
d) hesitante.
e) desinteressada.
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74. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Último Provão de Bolsa
EsPCEx)
PISTAS
Não pode ser uma ilusão fantástica
o que nos faz domingo após domingo
visitar os parentes, insistir
que assim é melhor, que de fato um bom
emprego é meio caminho andado.
Não pode ser verdade
que tanto afã escave na insolvência.
Há voos maravilhosos de ave,
aviões tão belos repousando nos campos
e o que é piedoso no morto:
não seu sexo murcho,
mas suas mãos empenhadas sobre o peito.
PRADO, Adélia. Bagagem. 44. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003 (p. 23).
Ligando o título do poema à sua mensagem, pode-se inferir que o eu lírico

a) não gosta muito assim de seus parentes.
b) nega o emprego que tem por não ser bom.
c) reluta em aceitar uma vida predeterminada.
d) tem certos medos, como andar de avião.
48
e) tem temor pela morte e faz uma oração.

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75. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Operação Max Wolff:
Revisão por Questões – parte 2)
Motivo
Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
– não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
– mais nada.
MEIRELES, Cecília. Motivo. Disponível em: <http://www.napontadoslapis.com.br/motivo-poema-de-cecilia-
meireles.html>. Acesso em: mai. 2019
A autora qualifica seu ofício como poetisa como:

a) um fardo a ser suportado.
b) uma maneira de ajudar as pessoas.
c) um meio-termo equilibrado.
d) uma tarefa messiânica.
e) uma interpretação de saberes divinos.
_____________________________________________________________________________________
76. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Revisão de Véspera
EsPCEx 2023)
Qualquer coisa agitava-se em mim e era certamente meu corpo apenas. Mas num doce milagre
tudo se torna transparente e isso era certamente minha alma também. Nesse instante eu estava
verdadeiramente no meu interior e havia silêncio. Só que meu silêncio, compreendi, era um pedaço do
49
silêncio do campo. E eu não me sentia desamparada. O cavalo de onde eu caíra esperava-me junto ao
rio. Montei-o e voei pelas encostas que a sombra já invadia e refrescava. Freei as rédeas, passei a mão
pelo pescoço latejante e quente do animal. Continuei a passo lento, escutando dentro de mim a
felicidade, alta e pura como um céu de verão. Alisei meus braços, onde ainda escorria a água. Sentia o
cavalo vivo perto de mim, uma continuação do meu corpo. Ambos respirávamos palpitantes e novos.
Uma cor maciamente sombria deitara-se sobre as campinas mornas do último sol e a brisa leve voava
devagar. É preciso que eu não esqueça, pensei, que fui feliz, que estou sendo feliz mais do que se pode
ser. Mas esqueci, sempre esqueci.
LISPECTOR, Clarice. Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Clarice Lispector é uma escritora da terceira geração modernista conhecida pelo uso do fluxo de
consciência, o que faz com que a personagem se sinta “verdadeiramente no seu interior”. O principal
elemento que contribui para o fato de a protagonista Joana se sentir assim é:
a) propensão ao zoomorfismo.
b) abandono da família.
c) comportamento doentio.
d) uma lembrança feliz.
e) atenção à sensorialidade.
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77. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Hora da Verdade
CBMERJ 2023)
Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar
meu novo modo de ser – se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que
se transformar para eu caber nele.
Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como
se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de
mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a
ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar.
Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa
encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 2020.
A personagem manifesta um drama que

a) confere objetividade às ações executadas.
b) destoa da vanguarda cubista modernista.
c) critica quem sonha com o que nunca pode ter.
d) expõe a angústia de um ser com fobia social.
e) reflete as diferenças entre ser e não ser.
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78. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2023) Leia
o trecho abaixo.
50
Sentiu-se um galho seco, espetado no ar. Quebradiço, coberto de cascas velhas. Talvez estivesse
com sede, mas não havia água por ali perto. E sobretudo a certeza asfixiante de que se um homem a
abraçasse naquele momento sentiria não a doçura macia nos nervos, mas o sumo de limão ardendo
sobre eles, o corpo como madeira próxima do fogo, vergada, estalante, seca. Não podia acalentar-se
dizendo: isto é apenas uma pausa, a vida depois virá como uma onda de sangue, lavando-me,
umedecendo a madeira crestada. Não podia enganar-se porque sabia que também estava vivendo e
que aqueles momentos eram o auge de alguma coisa difícil, de uma experiência dolorosa que ela devia
agradecer: quase como sentir o tempo fora de si mesma, abstraindo-se.
LISPECTOR, Clarice. Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (p. 16).
Joana, protagonista neste romance, tem uma concepção da vida que pode ser qualificada como
a) promissora.
b) conformada.
c) desoladora.
d) efêmera.
e) impessoal.
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79. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2023) Os
versos abaixo foram selecionados da obra drummondiana. Assinale a opção que contém um traço de
memorialismo.
a) "Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. /Tempo de absoluta depuração. /Tempo em
que não se diz mais: meu amor. /Porque o amor resultou inútil."
b) "Tive ouro, tive gado, tive fazendas. /Hoje sou funcionário público. /Itabira é apenas uma fotografia
na parede. /Mas como dói!"
c) "Lutar com palavras /é a luta mais vã. /Entanto lutamos /mal rompe a manhã. /São muitas, eu pouco.
/Algumas, tão fortes /como o javali."
d) "O mundo, /meu bem, /não vale /a pena, e a face serena /vale a face torturada. /Há muito aprendi
a rir, /de quê? de mim? ou de nada?"
e) "— Está sonhando? Olhe que a sopa esfria! /Eu estava sonhando... /E há em todas as consciências
este cartaz amarelo: 'Neste país é proibido sonhar'."
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80. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2023)
Todos abaixo são escritores da segunda geração modernista brasileira. Encontre a exceção.
a) Lygia Fagundes Telles.
b) Graciliano Ramos.
c) José Américo de Almeida.
51
d) Rachel de Queiroz.
e) José Lins do Rego.
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81. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2023) A
partir da leitura responda ao que se pede.
Eu passava o dia inteiro rondando os oficiais nas suas confidências. Contavam a história de uns
carpinas num engenho do Brejo.
– O senhor de engenho só mandava para eles bacalhau, na janta e no almoço. Passavam o dia
inteiro bebendo água com a boca seca. Um dia um deles disse para o negro que não gostava de
bacalhau, que não aguentava mais aquilo. No outro dia o tabuleiro com a comida chegou: era peru. E
peru de tarde. E a semana toda, peru. Num domingo, o mestre saiu para dar umas voltas nos arredores.
Viu um negro com uma porção de urubus nas costas:
– O que é isto, moleque?
– É peru pros carpinas.
Os oficiais anoiteceram e não amanheceram na propriedade. E rebentou ferida pelo corpo deles.
Estiveram para morrer um tempão.
(Menino de engenho. Rio de Janeiro, José Olympio, 2000)
É possível inferir que o narrador desse trecho:

a) denuncia uma cena de crueldade.
b) insurge contra o senhor do engenho.
c) ataca os malfeitores da ação.
d) se indigna diante da injustiça.
e) descreve cientificamente a patologia.
_____________________________________________________________________________________
o poema a seguir.
Viagem antiga
Aqui e ali
reses pastando imóveis
como num presépio
a mata ocultando o xixi das fontes
uma cidadezinha de nariz pontudo
furava o céu
depois sumia-se lentamente numa curva
e a gente olhava olhava
52
sem nenhuma pressa

porque o destino daquelas nossas primeiras viagens era sempre
o horizonte
QUINTANA, Mario. Esconderijos do tempo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013 (p. 29).
Estão apontadas a seguir características aleatórias. A que é típica na obra de Mario Quintana e que
pode ser observada no poema acima é:
a) Linguagem elíptica.
b) Solecismo irrefletido.
c) Mundo lúdico.
d) Palavras de calão.
e) Niilismo non sense.
_____________________________________________________________________________________
Considere o seguinte texto, de autoria de Marina Colasanti.
Um diário é um amigo? Uma companhia? Também. Mas é sobretudo a duplicação da gente

mesmo, espelho que não se apaga quando o rosto se retrai ou muda, álbum de retratos que conserva
muito mais que um belo sorriso e a paisagem de fundo. Quieto, compreensivo, calmo, o diário está
ali, aberto e limpo. Oferecendo seu espaço, no qual você vai desenhar a sua vida e ele apenas...
receber. Ele não tem recriminações a fazer, ele não diz que a culpa é sua, ele não encosta dedos na
ferida. Como uma cama, como um mar, ele recebe. Você escreve muito se a emoção é forte, vai e
volta e repete e repisa o mesmo assunto. Ninguém conta seu tempo, ninguém conta suas páginas.
Você pode escrever até a mão cansar, até a alma aliviar. Você pode escrever e escrever e escrever. Ele
aceita (...).
COLASANTI, Marina. Fonte: O pensador. Disponível em: https://tinyurl.com/4pdzawu8.
Acesso em: 19 jun. 2022;
A preferência pelo gênero diário foi um importante lugar de fala para a literatura contemporânea.
Outra autora reconhecida pela produção dele foi:
a) Conceição Evaristo.
b) Alice Morley.
c) Carolina Maria de Jesus.
d) Angélica Freitas.
e) Aline Bei.
_____________________________________________________________________________________
53
passagem abaixo é retirada do romance "São Bernardo", de Graciliano Ramos.
(...) Não, eu não posso escrever de outra maneira. Também sei ser alegre, mas não aqui. A alegria
também está comigo: nos bares, na praia, com os amigos, em outras viagens. [Mas por que não levá-
la para a escrita?] Não, não posso. Se não sangra, a minha escrita não existe. Se não rasga o corpo,
tampouco existe. Insisto na dor, pois é ela que me faz escrever. [Mas por que não tenta? Se não pode
escrever sem dor, ao menos escreva sem peso, sem culpa. Tire o cimento dos ombros. Seja leve,
escreva palavras leves.] Não sei. Vacilo, não tenho certeza se é esse o caminho, mas prometo: tentarei.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2009 (p. 227).
Quanto ao narrador, assinale o que for INCORRETO.

a) Escreve uma obra para se reconciliar, mas tem dificuldade.
b) Está na primeira pessoa e narra experiências subjetivas.
c) Vive atormentado pelos sentimentos de culpa e ciúmes.
d) Amava profundamente a esposa, cuja morte não pôde evitar.
e) Julga ter tido momentos felizes na vida, mas o leitor pouco os conhece.
_____________________________________________________________________________________
Assinale a opção que contiver apenas obras de autoria de Guimarães Rosa, da terceira geração
modernista.
a) "Grande sertão: veredas"; "Tutameia" e "Macunaíma".
b) "Primeiras estórias", "Sagarana" e "Usina".
c) "Grande sertão: veredas"; "Primeiras estórias" e "Campo geral".
d) "Grande sertão: veredas"; "Sagarana" e "Vidas secas".
e) "Primeiras estórias"; "Tutameia" e "A hora da estrela".
_____________________________________________________________________________________
Cecília Meireles é uma autora que foi classificada como neossimbolista. Identifique os versos em que
são observadas características que mais se aproximem deste movimento do fim do século XIX.
a) "Ando à procura de espaço /para o desenho da vida. /Em números me embaraço /e perco sempre a
medida." (Canção excêntrica).
b) "Eu não tinha este rosto de hoje, /assim calmo, assim triste, assim magro, /nem estes olhos tão
vazios, /nem o lábio amargo. /Eu não tinha estas mãos sem força" (Retrato).
c) "Chão verde e mole. Cheiros de selva. Babas de lodo. /(...) Carros de bois, falas ao vento, braços,
foices. /Os passarinhos bebem do céu pingos de chuva. (Lembrança rural).
54
d) "És precária e veloz, Felicidade. /Custas a vir e, quando vens, não te demoras. /Foste tu que ensinaste
aos homens que havia tempo, /e, para te medir, se inventaram as horas." (Epigrama n. 2).
e) "Toda vestida de preto, /solto o grisalho cabelo, /escondida atrás do leque, /velhinha, a chorar de
medo, /Dona Maria Primeira /passeia pela cidade." (Da Rainha Louca).
_____________________________________________________________________________________
Itamar Vieira Junior é uma das mais importantes vozes da literatura brasileira contemporânea. Leia
abaixo um trecho de sua obra, "Torto arado" (2019).
O gerente queria trazer gente que “trabalhe muito” e “que não tenha medo de trabalho”, nas
palavras de meu pai, “para dar seu suor na plantação”. Podia construir casa de barro, nada de alvenaria,
nada que demarcasse o tempo de presença das famílias na terra. Podia colocar roça pequena para ter
abóbora, feijão, quiabo, nada que desviasse da necessidade de trabalhar para o dono da fazenda,
afinal, era para isso que se permitia a morada. Podia trazer mulher e filhos, melhor assim, porque
quando eles crescessem substituiriam os mais velhos.
VIEIRA, Itamar Vieira. Torto arado. São Paulo: Todavia, 2019 (p. 28).
Pela narração, justifica-se uma lógica de trabalho em que:

a) trata o ser humano como ferramenta descartável.
b) destaca a imprescindibilidade das famílias.
c) reforça os vínculos afetivos formados com aquela gente.
d) fornece o respaldo necessário para a instalação.
e) preocupa-se com o bem-estar dos trabalhadores.
_____________________________________________________________________________________
A principal diferença entre a segunda e a terceira gerações modernistas brasileiras é:
a) a segunda geração se baseia na crise de 1929, ao passo que a terceira geração é muito marcada
pelos conflitos da Guerra Fria.
b) a segunda geração se situa entreguerras, enquanto a terceira geração não experienciou a presença
de guerras.
c) a segunda geração se preocupa mais com as questões locais, e as diferenças tendências da terceira
geração já situam-na mais próxima da literatura contemporânea.
d) a segunda geração é marcada pelos protestos sociais e pelo nacionalismo e a terceira geração pela
crítica e a denúncia social.
e) a segunda geração está entusiasmada com o progresso e a tecnologia e a terceira geração se
evidencia mais vanguardista.
55
_____________________________________________________________________________________
Leia a passagem abaixo.
Imerge na banheira como no mar. Um mundo morno se fecha sobre ela silenciosamente,
quietamente. Pequenas bolhas deslizam suaves até se apagarem de encontro ao esmalte. A jovem
sente a água pesando sobre o seu corpo, para um instante como se lhe tivessem tocado de leve o
ombro. Atenta para o que está sentindo, a invasão da maré. Que houve? Torna-se uma criatura séria,
de pupilas largas e profundas. Mal respira. O que houve? Os olhos abertos e mudos das coisas
continuam brilhando entre os vapores. Sobre o mesmo corpo que adivinhou alegria existe água —
água. Não, não... Por quê? Seres nascidos no mundo como a água. Agita-se, procura fugir. Tudo — diz
devagar como entregando uma coisa, perscrutando-se sem se entender. Tudo.
Nesse exemplo, a linguagem clariciana, para representar o interior das personagens, está usando os
seguintes recursos:
a) urbanismo e surrealismo.
b) intimismo e abordagem fantástica.
c) fluxo de consciência e regionalismo.
d) monólogo interior e verossimilhança.
e) linguagem entrecortada e estranhamento.
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Guimarães Rosa é um autor da terceira geração modernista brasileira conhecido pela representação
dos costumes populares, sobretudo, de crendices e superstições. Identifique entre as alternativas
aquela que NÃO disser respeito a essa característica.
a) "Vovó Izidra acendia a vela benta, queimava ramos bentos, agora ali dentro era mais forte. Santa
Bárbara e São Jerônimo salvavam de qualquer perigo de desordem, o Magnificat era que se rezava!"
b) "Vivi meio recluso, indo de longe em longe a algum baile, ou teatro, ou palestra, mas a mor parte do
tempo passei-a comigo mesmo."
c) "De em de, camisinha dele e calça do Dito furtaram, para enterrar, com brinquedos dele. Mas
Mãitina foi remexer em seus guardados, trouxe uns trens: boneco de barro, boneco de pau, penas
pretas e brancas".
d) "Aquilo, quem entendia? Nem os outros prodígios, que vieram se seguindo. O que ela queria, que
falava, súbito acontecia. Só que queria muito pouco, e sempre as coisas levianas e descuidosas, o que
não põe nem quita"
56
e) "O senhor vê, nos Gerais longe: nuns lugares, encostando o ouvido no chão, se escuta barulho de
fortes águas, que vão rolando debaixo da terra."
_____________________________________________________________________________________
Leia um trecho do poema "Uma faca só lâmina".
UMA FACA SÓ LÂMINA

(ou: serventia das ideias fixas)
Assim como uma bala

enterrada no corpo,
fazendo mais espesso
um dos lados do morto;
assim como uma bala

do chumbo mais pesado,
no músculo de um homem
pesando-o mais de um lado;
qual bala que tivesse um vivo mecanismo,

bala que possuísse
um coração ativo
igual ao de um relógio
submerso em algum corpo,
ao de um relógio vivo
e também revoltoso,
relógio que tivesse

o gume de uma faca
e toda a impiedade
de lâmina azulada.
MELO NETO, João Cabral de. Textos escolhidos pela ABL.
Disponível em: https://tinyurl.com/2mub8dmj. Acesso em: 26 jun. 2022.
Os elementos no poema vão se ligando por associação lógica. Tal encadeamento contrapõe:
a) a dureza de aparelhos tecnológicos com a sentimentalidade subjetiva.
b) os instrumentos controláveis com o destino inexorável dos seres vivos.
c) as frias matérias com o ser humano inextrincavelmente angustiado.
d) os mecânicos objetos com uma vida temporalmente marcada.
e) a ineficiência de equipamentos com o sujeito funcional.
57
_____________________________________________________________________________________
Carlos Drummond de Andrade é um poeta modernista, cuja obra costuma ser classificada em fases, já
que é extensa. Versos que se enquadram na sua primeira fase são:
a) "Autor da rosa, não me revelo, sou eu, quem sou? /Deus me ajudara, mas ele é neutro, e mesmo
duvido"
b) "Que fazer, exausto, /em país bloqueado, /enlace de noite /raiz e minério? /Eis que o labirinto /(oh
razão, mistério) /presto se desata".
c) "Tua memória, pasto de poesia, /tua poesia, pasto dos vulgares, /vão se engastando numa coisa fria
/a que tu chamas: vida, e seus pesares."
d) "a máquina do mundo se entreabriu /para quem de a romper já se esquivava /e só de o ter pensado
se carpia."
e) "Quando nasci, um anjo torto /desses que vivem na sombra /disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida."
_____________________________________________________________________________________
Lygia Fagundes Telles é uma autora modernista que chegou à longevidade. Faleceu em 3 de abril de
2022 e sua obra é um marco profundo para o lugar de fala feminino. Quanto às suas obras, assinale o
que NÃO for correto sobre as protagonistas.
a) "Seminário dos ratos" – Euclídea.
b) "As meninas" – Ana, Clara e Lia.
c) "Ciranda de pedra" – Virgínia.
d) "Verão no aquário" – Raíza.
e) "Senhor diretor" – Maria Emília.
_____________________________________________________________________________________
Leve em consideração um trecho do capítulo "As contas".
Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é
do chão não se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria a gaveta do amo,
cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar
os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco. Transigindo com outro, não seria roubado tão
descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. E rendia-se: Aceitava o cobre e ouvia conselhos.
Era bom pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca aberta, vermelho, o pescoço inchando. De repente
estourava - Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver sem comer. Quem é do chão
não se trepa.
58
A repetição do ditado popular destaca a

a) revolta que o personagem sentia no seu íntimo contra o próprio patrão.
b) tentativa de autoconvencimento de que se subordinar era o mais sensato.
c) preparação de uma luta de classes que ia ser travada pelas injustiças.
d) frustração de quem precisou passar fome para que pudesse economizar.
e) possibilidade de autopromoção se o personagem se dedicasse com afinco.
_____________________________________________________________________________________
Considere o poema a seguir para responder à próxima questão.
PEQUENA CANÇÃO DA ONDA

Os peixes de prata ficaram perdidos,
com as velas e os remos, no meio do mar.
A areia chamava, de longe, de longe,
Ouvia-se a areia chamar e chorar!
A areia tem rosto de música

e o resto é tudo luar!
Por ventos contrários, em noite sem luzes,

do meio do oceano deixei-me rolar!
Meu corpo sonhava com a areia, com a areia,

desprendi-me do mundo do mar!
Mas o vento deu na areia.

A areia é de desmanchar.
Morro por seguir meu sonho,
Longe do reino do mar!
MEIRELES, Cecília. Viagem e vaga música. In: Obra poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1983 (p. 145).
O eu lírico se apresenta apenas nas últimas três estrofes, demonstrando que

a) a areia é indeterminada e o vento é vago, como elementos parnasianos.
b) a areia personifica o resultado de seus projetos antes idealizados.
c) chegar nos objetivos não acarreta necessariamente em satisfação.
d) a personagem é guiada pela música que ela diz ouvir da praia.
e) a personagem nada e morre na praia, sem ter atingido o que queria.
_____________________________________________________________________________________
59
Compare os textos a seguir.
TEXTO I
No fim de um ano de trabalho, joão obteve uma redução de quinze por cento em seus
vencimentos. joão era moço. Aquele era seu primeiro emprego.
Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se.
Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.
No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário
reduzido, podia pagar um aluguel menor.
Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava
mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.
GIUDICE, Victor. O arquivo. Fonte: site pessoal do autor.
Disponível em: http://victorgiudice.com/contos.html. Acesso em: 26 jun. 2022.
TEXTO II
Com a comunidade judaica Esther não tem nenhum contato. Recusam-na. Uma vez ela vai ao
cinema Baltimore. Quer assistir a um filme iídiche: Uma Carta da Mamãe. Sabe que é um filme bom,
um filme triste. E quer chorar um pouco. Toma um táxi. Chega cedo. Mas já uma pequena e barulhenta
multidão comprime-se diante da bilheteria. Quando ela se aproxima, faz-se silêncio; à sua passagem,
afastam-se. Ela vê uma senhora gorda cuspir no chão.
SCLIAR, Moacyr. Ciclo das águas. Porto Alegre: L&PM; edição de bolso, 2002.
Representantes da literatura contemporânea, os textos evidenciam comportamentos humanos que

podem ser taxados respectivamente de:
a) bonificação e identidade.
b) gratificação e linchamento.
c) resignação e acolhimento.
d) alienação e preconceito.
e) enlouquecimento e racismo.
_____________________________________________________________________________________
Considere o excerto a seguir.
Se aumenta o salário mínimo, aumenta também a prestação da casa própria. Daí reajustam o
preço da gasolina, do trem, do pão e vira uma inflação que não precisa ser economista para adivinhar
que é pior para todo mundo. Depois se você trabalhar nas horas extras que perde reclamando
aumento, é lógico que aumenta seu salário sem inflação, sem confusão, sem piquete no portão, nem
nada, digo mal?
BUARQUE, Chico. Fazenda modelo: uma novela pecuária. São Paulo: Círculo do Livro, 1974 (p. 52).
60
A literatura de resistência usava linguagem cifrada, por vezes elíptica, como no exemplo, porque
a) precisava escapar à censura.
b) pretendia ser vanguardista.
c) se espelhava na tropicália.
d) desejava obscurecer o texto.
e) preocupava-se com o estilo.
_____________________________________________________________________________________
98. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Mentoria EsPCEx
2023)
Noturno à janela do apartamento

Silencioso cubo de treva:
um salto, e seria a morte.
Mas é apenas, sob o vento,
a integração na noite.
Nenhum pensamento de infância,

nem saudade nem vão propósito.
Somente a contemplação
de um mundo enorme e parado.
A soma da vida é nula.

Mas a vida tem tal poder:
na escuridão absoluta,
como líquido, circula.
Suicídio, riqueza, ciência...

A alma severa se interroga
e logo se cala. E não sabe
se é noite, mar ou distância.
Triste farol da Ilha Rasa.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. Rio de Janeiro: Record, 1993.
Até pela fase drummondiana na qual se situa, esse poema revela que o eu lírico se encontra em um
estado de espírito
a) perturbado, cujo desespero leva ao suicídio.
b) melancólico, mas apelando para o memorialismo.
c) confuso, enxergando pelo menos uma tênue luz.
d) musical, pois faz uma serenata em sua varanda.
61
e) apaixonado, pois está esperando pela amada.
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99. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Mentoria EsPCEx 2023,
adaptado) Fabiano no capítulo "Contas" sente que quer se revoltar com o patrão, mas sabe no seu
íntimo que não pode, pois sua família depende dele. Identifique abaixo uma passagem que manifesta
essa sua resignação.
a) “Sinha Vitória mandou os meninos para o barreiro.”
b) “Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou.”
c) “Na porta, virando-se, enganchou as rosetas das esporas”
d) “Para que tanto espalhafato? — Hum! hum!”
e) “foi até a porta de uma bodega, com vontade de beber cachaça”
_____________________________________________________________________________________
2023)
Ficou inerme no canto da rua, talvez descansando das emoções, e viu entre as pedras do esgoto
o ralo capim de um verde da mais tenra esperança humana. Hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia
de minha vida: nasci.
(A verdade é sempre um contato interior inexplicável. A verdade é irreconhecível. Portanto não
existe? Não, para os homens não existe.)
Voltando ao capim. Para tal exígua criatura chamada Macabéa a grande natureza se dava apenas
em forma de capim de sarjeta — se lhe fosse dado o mar grosso ou picos altos de montanhas, sua
alma, ainda mais virgem que o corpo, se alucinaria e explodir-se-lhe-ia o organismo, braços pra cá,
intestino para lá, cabeça rolando redonda e oca a seus pés — como se desmonta um manequim de
cera.
Prestou de repente um pouco de atenção para si mesma. O que estava acontecendo era um
surdo terremoto? Tinha-se aberto em fendas a terra de Alagoas. Fixava, só por fixar, o capim. Capim
na grande Cidade do Rio de Janeiro. À toa. Quem sabe se Macabéa já teria alguma vez sentido que
também ela era à-toa na cidade inconquistável. O Destino havia escolhido para ela um beco no escuro
e uma sarjeta. Ela sofria? Acho que sim. Como uma galinha de pescoço mal cortado que corre
espavorida pingando sangue. Só que a galinha foge — como se foge da dor — em cacarejos
apavorados. E Macabéa lutava muda.
Vou fazer o possível para que ela não morra. Mas que vontade de adormecê-la e de eu mesmo ir
para a cama dormir.
Então começou levemente a garoar. Olímpico tinha razão: ela só sabia mesmo era chover. Os
finos fios de água gelada aos poucos empapavam-lhe a roupa e isso não era confortável.
Pergunto: toda história que já se escreveu no mundo é história de aflições?
62
Algumas pessoas brotaram no beco não se sabe de onde e haviam se agrupado em torno de
Macabéa sem nada fazer assim como antes pessoas nada haviam feito por ela, só que agora pelo
menos a espiavam, o que lhe dava uma existência.
(Mas quem sou eu para censurar os culpados? O pior é que preciso perdoá-los. É necessário
chegar a tal nada que indiferentemente se ame ou não se ame o criminoso que nos mata. Mas não
estou seguro de mim mesmo: preciso perguntar, embora não saiba a quem, se devo mesmo amar
aquele que me trucida e perguntar quem de vós me trucida. E minha vida, mais forte do que eu,
responde que quer porque quer vingança e responde que devo lutar como quem se afoga, mesmo
que eu morra depois. Se assim é, que assim seja).
Macabéa por acaso vai morrer? Como posso saber? E nem as pessoas ali presentes sabiam.
Embora por via das dúvidas algum vizinho tivesse pousado junto do corpo uma vela acesa. O luxo da
rica flama parecia cantar glória.
(Escrevo sobre o mínimo parco enfeitando-o com púrpura, jóias e esplendor. É assim que se
escreve? Não, não é acumulando e sim desnudando. Mas tenho medo da nudez, pois ela é a palavra
final.)
Enquanto isso, Macabéa no chão parecia se tornar cada vez mais uma Macabéa, como se
chegasse a si mesma.
Este é um melodrama? O que sei é que melodrama era o ápice de sua vida, todas as vidas são
uma arte e a dela tendia para o grande choro insopitável como chuva e raios.
Apareceu portanto um homem magro de paletó puído tocando violino na esquina. Devo explicar
que este homem eu o vi uma vez ao anoitecer quando eu era menino em Recife e o som espichado e
agudo sublinhava com uma linha dourada o mistério da rua escura. Junto do homem esquálido havia
uma latinha de zinco onde barulhavam secas as moedas dos que o ouviam com gratidão por ele lhes
planger a vida. Só agora entendo e só agora brotou-se-me o sentido secreto: o violino é um aviso. Sei
que quando eu morrer vou ouvir o violino do homem e pedirei música, música, música.
Macabéa, Ave Maria, cheia de graça, terra serena da promissão, terra do perdão, tem que chegar
o tempo, ora pro nóbis, e eu me uso como forma de conhecimento. Eu te conheço até o osso por
intermédio de uma encantação que vem de mim para ti. Espraiar-se selvagemente e no entanto atrás
de tudo pulsa uma geometria inflexível. Macabéa lembrou-se do cais do porto. O cais chegava ao
coração de sua vida.
Macabéa pedir perdão? Porque sempre se pede. Por quê? Resposta: é assim porque assim é.
Sempre foi? Sempre será. E se não foi? Mas eu estou dizendo que é. Pois.
Via-se perfeitamente que estava viva pelo piscar constante dos olhos grandes, pelo peito magro
que se levantava e abaixava em respiração talvez difícil. Mas quem sabe se ela não estaria precisando
de morrer? Pois há momentos em que a pessoa está precisando de uma pequena mortezinha e sem
nem ao menos saber. Quanto a mim, substituo o ato da morte por um seu símbolo. Símbolo este que
pode se resumir num profundo beijo mas não na parede áspera e sim boca-a-boca na agonia do prazer
que é morte. Eu, que simbolicamente morro várias vezes só para experimentar a ressurreição.
Acho com alegria que ainda não chegou a hora de estrela de cinema de Macabéa morrer. Pelo
menos ainda não consigo adivinhar se lhe acontece o homem louro e estrangeiro. Rezem por ela e
que todos interrompam o que estão fazendo para soprar-lhe vida, pois Macabéa está por enquanto
solta no acaso como a porta balançando ao vento no infinito. Eu poderia resolver pelo caminho mais
fácil, matar a menina-infante, mas quero o pior: a vida. Os que me lerem, assim, levem um soco no
estômago para ver se é bom. A vida é um soco no estômago.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 2020.
63
O destino de Macabéa se revela trágico, especialmente porque

a) ela ouve uma profecia funesta de Madame Carlota, momento depois do qual se suicida.
b) ela não consegue se casar com o francês, tendo que se casar com Olímpico.
c) passa por um processo de animalização por meio do qual será escarnecida.
d) no momento de sua morte encontra a grandeza que não adquirira em vida.
e) há um apagamento de sua pessoa, cujo protagonismo é assumido pelo narrador.
_____________________________________________________________________________________
101. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Viradão ESA 2023)
Todas as obras abaixo são drummondianas. Encontre a exceção.
a) “Esconderijos do tempo” (1980).
b) “Antologia poética” (1962).
c) “Claro enigma” (1951).
d) “A rosa do povo” (1945).
e) “Alguma poesia” (1930).
_____________________________________________________________________________________
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES

Noturno citadino
Um cartaz luminoso ri no ar.
Ó noite, ó minha nêga
toda acesa
de letreiros!... Pena
é que a gente saiba ler... Senão
tu serias de uma beleza única
inteiramente feita
para o amor dos nossos olhos.
O poema emprega como principal figura de linguagem o(a):

a) paradoxo.
b) metonímia.
c) prosopopeia.
d) sinestesia.
e) catacrese.
_____________________________________________________________________________________
64
Quanto ao título do poema, é possível afirmar que é:
a) irônico sobre o modo de vida nas cidades.
b) intertextual a partir de obras musicais.
c) ambíguo quanto às classes morfológicas.
d) parodístico quanto a um livro romântico.
e) metalinguístico, refletindo sobre seu fazer poético.
_____________________________________________________________________________________
CENA ANTIGA
Amanhece o dia entre neblinas, quando o Bem e o Mal se encontram para mais um duelo.
Escolhem as armas nos estojos, aproximam-se para o encontro ritual, encaram-se. Os padrinhos que
aguardam ao lado do campo, escuros como as gralhas que saltitam entre restolhos, são instados a
partir. Que não haja testemunhas.
Afastados estes, Bem e Mal guardam as armas, se envolvem em suas capas e caminham até a
taverna mais próxima. Ali, frente a canecos cheios, discutirão estratégias e trocarão conselhos durante
dias ou séculos, até o próximo duelo.
Marina Colasanti é uma escritora contemporânea. Nesse sentido, o teor alegórico de sua crônica pode
representar:
a) a reunião boêmia entre amigos.
b) o apelo à estética do expressionismo.
c) o diálogo com movimentos anteriores.
d) a negação de todo o passado.
e) a reconciliação de gerações.
_____________________________________________________________________________________
105. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Viradão EsPCEx 2023)
Não obtive, porque elas não me tentavam e porque me orientei num sentido diferente. O meu
fito na vida foi apossar-me das terras de S. Bernardo, construir esta casa, plantar algodão, plantar
mamona, levantar a serraria e o descaroçador, introduzir nestas brenhas a pomicultura e a avicultura,
adquirir um rebanho bovino regular.
65
Tudo isso é fácil quando está terminado e embira-se em duas linhas, mas para o sujeito que vai
começar, olha os quatro cantos e não tem em que se pegue, as dificuldades são terríveis. Há também
a capela, que fiz por insinuações de padre Silvestre.
Ocupado com esses empreendimentos, não alcancei a ciência de João Nogueira nem as tolices
do Gondim. As pessoas que me lerem terão, pois, a bondade de traduzir isto em linguagem literária,
se quiserem. Se não quiserem, pouco se perde. Não pretendo bancar escritor. É tarde para mudar de
profissão. E o pequeno que ali está chorando necessita quem o encaminhe e lhe ensine as regras de
bem viver.
— Então para que escreve?
— Sei lá!
O pior é que já estraguei diversas folhas e ainda não principiei.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 107. ed. Rio de Janeiro: Record, 2019.
Paulo Honório, narrador desse romance, diz que no começo de sua carreira “as dificuldades são
terríveis”. No entanto, ele
a) encontrou uma mulher e se apaixonou.
b) cria um grupo companheiro de amigos.
c) é o próprio responsável por atos ignominiosos.
d) expulsa de suas terras os ex-escravos.
e) ajuda outras pessoas a escreverem.
_____________________________________________________________________________________
Encontra-se uma ironia no seguinte trecho:
a) “plantar algodão, plantar mamona, levantar a serraria e o descaroçador”.
b) “Há também a capela, que fiz por insinuações de Padre Silvestre”.
c) “Tudo isso é fácil quando está terminado”.
d) “e lhe ensine as regras de bem viver”.
e) “O pior é que já estraguei diversas folhas”.
_____________________________________________________________________________________
— E de onde que o estais trazendo,

irmãos das almas,
onde foi que começou
vossa jornada?
— Onde a Caatinga é mais seca,
66
irmão das almas,

onde uma terra que não dá
nem planta brava.
— E foi morrida essa morte,
irmão das almas,
essa foi morte morrida
ou foi matada?
— Até que não foi morrida,

irmão das almas,
esta foi morte matada,
numa emboscada.
— E o que guardava a emboscada,
irmão das almas
e com que foi que o mataram,
com faca ou bala?
— Este foi morto de bala,
irmão das almas,
mas garantido é de bala,
mais longe vara
MELO NETO, João Cabral. Morte e vida severina. Disponível em: https://tinyurl.com/2v2wr8hx.
Acesso em: 29 jul. 2022.
O irmão das almas é uma personagem alegórica que carrega uma mensagem:
a) profética.
b) esperançosa.
c) apática.
d) ameaçadora.
e) caluniosa.
_____________________________________________________________________________________
A diferença entre “morte morrida” e “morte matada” alude a um importante fato na história, que é
o(a):
a) festividade.
b) religião.
c) sincretismo.
d) suicídio.
e) matrimônio.
_____________________________________________________________________________________
67
TEXTO PARA AS PRÓXIMA 2 QUESTÕES
No Meio do Caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
ANDRADE, Carlos Drummond. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013 (p. 36).
Uma característica da fase gauche da obra drummondiana que se verifica no poema é:

a) memorialismo passadista.
b) a ironia cínica.
c) experimentalismos formais.
d) repetições linguísticas.
e) crise existencial.
_____________________________________________________________________________________
Apesar do cansaço da vida cotidiana, o eu lírico não se deixa abater. Nesse sentido, a pedra funciona
como um(a):
a) amuleto.
b) crítica.
c) antropofagia.
d) banalidade.
e) epifania.
_____________________________________________________________________________________
68
– Acho que era. E cantada por um homem chamado Caruso que se diz que já morreu. A voz era
tão macia que até doía ouvir. A música chamava-se “Una Furtiva Lacrima”. Não sei por que eles não
disseram lágrima.
“Una Furtiva Lacrima” fora a única coisa belíssima na sua vida. Enxugando as próprias lágrimas
tentou cantar o que ouvira. Mas a sua voz era crua e tão desafinada como ela mesma era. Quando
ouviu começara chorar. Era a primeira vez que chorava, não sabia que tinha tanta água nos olhos.
Chorava, assoava o nariz sem saber mais por que chorava. Não chorava por causa da vida que levava:
porque, não tendo conhecido outros modos de viver, aceitara que com ela era “assim”. Mas também
creio que chorava porque, através da música, adivinhava talvez que havia outros modos de sentir,
havia existências mais delicadas e até com um certo luxo de alma. Muitas coisas sabia que não sabia
entender. (...).
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (p. 56).
Macabéa não sabia italiano, mas foi capaz de se encantar com a música. Isso porque a arte tem um
potencial orientado para o(a):
a) tragédia.
b) catarse.
c) tropicalismo.
d) privilégio.
e) contracultura.
_____________________________________________________________________________________
Clarice Lispector é uma autora conhecida pelo seu intimismo. Entre os trechos abaixo, identifique o
mais psicológico.
a) “E cantada por um homem chamado Caruso“.
b) “A voz era tão macia que até doía ouvir“.
c) “tentou cantar o que ouvira”.
d) “Não chorava por causa da vida que levava”.
e) “aceitara que com ela era ‘assim’.”.
_____________________________________________________________________________________
Uvas, deve ter ainda um cacho na geladeira, eu não disse? Rosadas. Fico lavando minhas uvas,
mãezinha mandou uma caixa enorme. Distribuí tudo. “Abandonei minha filhinha num pensionato de
freiras pobres, num quarto de chofer em cima da garagem e fui viver com um homem que me
apunhala pelas costas”, disse minha mãe à tia Luci num dos seus dias de punição que começam na
segunda e vão até domingo. Número um, imaginar Mieux manejando punhais, coitadinho. Deixa-me
69
rir. Usa no máximo aqueles palitinhos plásticos de espetar azeitona. Número dois, isto não é mais o
quarto do chofer.
TELLES, Lygia Fagundes. As meninas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009 (p. 42).
No trecho observa-se uma importante característica da autora, que é o(a):

a) resistência cultural.
b) teatro crítico social.
c) fluxo de consciência.
d) linguagem nonsense.
e) poesia marginal.
_____________________________________________________________________________________
Hoje você é quem manda

Falou, tá falado
Não tem discussão, não
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado

E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
BUARQUE, Chico. Apesar de você. Fonte: Letras Mus.
Disponível em: https://tinyurl.com/yp74uf7v. Acesso em: 29 jul. 2022.
70
Essa letra de música se classifica como canção de protesto. Nesse sentido, a mensagem final
a) faz com que a revolução venha por meio do amor.
b) se dirige par ao perigo de uma revolta armada.
c) menciona o exílio como mecanismo de proteção.
d) é uma linguagem prolixa que esconde o sentido.
e) se volta para os grandes exemplos do passado.
_____________________________________________________________________________________
Entre os autores abaixo, assinale o que for moçambicano.
a) António Lobo Nunes.
b) Corsino Fortes.
c) José Eduardo Agualusa.
d) Jefferson Tenório.
e) Luís Bernardo Honwana.
Gabarito
1. C 13. B 25. A 37. B 49. B 61. E 73. B 85. C 97. A 109. E

2. D 14. C 26. E 38. C 50. C 62. C 74. C 86. E 98. C 110. E
3. A 15. E 27. D 39. B 51. D 63. B 75. C 87. A 99. B 111. B
4. B 16. C 28. D 40. E 52. E 64. D 76. E 88. C 100. E 112. B
5. C 17. B 29. B 41. A 53. A 65. D 77. E 89. E 101. A 113. C
6. B 18. A 30. C 42. D 54. A 66. A 78. B 90. B 102. C 114. A
7. A 19. D 31. C 43. E 55. C 67. A 79. B 91. D 103. C 115. E
8. E 20. A 32. B 44. E 56. B 68. A 80. A 92. E 104. E
9. E 21. A 33. D 45. E 57. C 69. D 81. A 93. A 105. C
10. D 22. C 34. B 46. A 58. E 70. E 82. C 94. B 106. D
11. A 23. B 35. B 47. A 59. A 71. D 83. C 95. C 107. A
12. A 24. E 36. E 48. D 60. A 72. E 84. D 96. D 108. D
71
Lista Complementar com Comentários
em consideração o excerto abaixo e responda ao comando.
"Ressentido, Fabiano condenara os sapatos de verniz que ela usava nas festas, caros e inúteis.
Calçada naquilo, trôpega, mexia-se como um papagaio, era ridícula. Sinha Vitória ofendera-se
gravemente com a comparação, e se não fosse o respeito que Fabiano lhe inspirava, teria
despropositado. Efetivamente os sapatos apertavam-lhe os dedos, faziam-lhe calos. Equilibrava-se
mal, tropeçava, manquejava, trepada nos saltos de meio palmo. Devia ser ridícula, mas a opinião de
Fabiano entristecera-a muito. Desfeitas essas nuvens, curtidos os dissabores, a cama de novo lhe
aparecera no horizonte acanhado."
Vidas secas de Graciliano Ramos é um romance de 30. Nesse sentido, identifique a alternativa a partir
da qual é possível estabelecer o vínculo do trecho com a visão dessa obra.
a) Era preciso cortar os gastos com objetos supérfluos. Assim, o ideal era começar pelo vestuário pouco
usado e também o mobiliário da casa.
b) Sinha Vitória e Fabiano não estavam se entendendo fazia muito tempo. A briga pelos sapatos foi o
desenlace que desencadeou o divórcio.
c) Os sapatos representam concomitantemente a submissão a convenções não naturais e o sofrimento
de uma opressão humilhante.
d) A comparação de Fabiano com o papagaio é um resgate do zoomorfismo naturalista, sendo que o
protagonista é rebaixado ao nível de incapaz.
e) Fabiano não quer usar os sapatos, pois estava devendo dinheiro a seu patrão. Por isso, pretendida
vendê-los para quitar sua dívida.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de autor e obra do cânone e
conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Fabiano e Sinha Vitória formam uma família de retirantes. Não é como se
eles precisassem cortar gastos com mobiliário, eles sequer tinham dinheiro para isso. Inclusive, o grande
sonho de Sinha Vitória era ter uma cama e não dormir mais numa esteira.
Alternativa B: incorreta. Eles não se separam.
Alternativa C: correta – gabarito. No trabalho como sertanejo, Fabiano usava alpercatas, sandálias
de couro que representava a resistência contra a seca do sertão. Em outros momentos de maior liberdade,
andava descalço no solo quente, o que também se assemelhava à adaptação de cascos de animal. Assim,
Fabiano odiava quando tinha que calçar sapatos de festa, pois via aquilo como uma privação de sua
identidade, além de não ver utilidade nesse costume.
Alternativa D: incorreta. Sua comparação com o papagaio não é vista como um rebaixamento por
todos, tanto é que Sinha Vitória se ofende. A família tem dois animais de estimação dos quais gostam
muito.
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Alternativa E: incorreta. Fabiano de fato não tinha um bom relacionamento com seu patrão, mas
isso é porque era explorado por ele.
Gabarito: C.
2. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 7o Simulado 2022) Leia
o trecho abaixo, extraído da novela "A hora da estrela" (1977) da modernista Clarice Lispector, a fim
de responder ao comando.
Saiu da casa da cartomante aos tropeços e parou no beco escurecido pelo crepúsculo — crepúsculo
que é hora de ninguém. Mas ela de olhos ofuscados como se o último final da tarde fosse mancha de
sangue e ouro quase negro. Tanta riqueza de atmosfera a recebeu e o primeiro esgar da noite que, sim,
sim, era funda e faustosa. Macabéa ficou um pouco aturdida sem saber se atravessaria a rua pois sua
vida já estava mudada. E mudada por palavras — desde Moisés se sabe que a palavra é divina. Até para
atravessar a rua ela já era outra pessoa. Uma pessoa grávida de futuro. Sentia em si uma esperança
tão violenta como jamais sentira tamanho desespero. Se ela não era mais ela mesma, isso significava
uma perda que valia por um ganho. Assim como havia sentença de morte, a cartomante lhe decretara
sentença de vida. Tudo de repente era muito e muito e tão amplo que ela sentiu vontade de chorar.
Mas não chorou: seus olhos faiscavam como o sol que morria.
Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino (explosão) sussurrou
veloz e guloso: é agora é já, chegou a minha vez!
E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a — e neste mesmo instante em
algum único lugar do mundo um cavalo como resposta empinou-se em gargalhada de relincho.
A partir do excerto, é possível caracterizar a prosa clariciana a partir de algumas características. Entre
os seus traços estilísticos apontados nas opções abaixo, assinale o que NÃO se verifica na passagem
supracitada.
a) Narrador intruso.
b) Ironia.
c) Coloquialismo.
d) Metalinguagem.
e) Crítica ao maquinário.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: correta. Por exemplo, no trecho “o Destino (explosão) sussurrou veloz e guloso”, a
colocação entre parênteses é uma intrusão.
Alternativa B: correta. O trecho está repleto de ironias, como o fato de Macabéa morrer no
crepúsculo, hora de ninguém, no entanto, a hora dela, da estrela. Principalmente, o trecho revela a ironia
trágica no fato de Macabéa morrer justamente no momento quando sai toda feliz da sua consulta com a
vidente.
73
Alternativa C: correta. O que se observa na repetição do termo: “sim, sim”, o que não deixa de
dialogar com essa palavra tão importante desde o início da narrativa.
Alternativa D: incorreta – gabarito. A metalinguagem é a função de linguagem quando o código se
remete a si mesmo, o que não está explícito na passagem acima.
Alternativa E: correta. É irônico o fato de ser logo um carro da marca Mercedes ao atropelar
Macabéa. A hora é da estrela por causa da marca do carro, uma máquina cujo poder sobrepuja a própria
vida humana.
Gabarito: D.
em consideração o excerto abaixo para julgar as afirmações.
"O Chefe das Relações Públicas, um jovem de baixa estatura, atarracado, sorriso e olhos
extremamente brilhantes, ajeitou o nó da gravata vermelha e bateu de leve na porta do Secretário do
Bem-Estar Público e Privado:
— Excelência?
O Secretário do Bem-Estar Público e Privado pousou o copo de leite na mesa e fez girar a poltrona
de couro. Suspirou. Era um homem descorado e flácido, de calva úmida e mãos acetinadas. Lançou um
olhar comprido para os próprios pés, o direito calçado, o esquerdo metido num grosso chinelo de lã
com debrum de pelúcia.
— Pode entrar — disse ao Chefe das Relações Públicas que já espiava pela fresta da porta.
Entrelaçou as mãos na altura do peito. — Então? Correu bem o coquetel? (...)"
TELLES, Lygia Fagundes. Seminário dos ratos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009 (p. 151).
I – O excerto chega a apresentar viés cômico, e até absurdo, uma vez que é desconstruído o papel de
soberania e imponência das autoridades.
II – Nesse conto fantástico modernista, a função burocrática no poder torna-se ridicularizada e
infantilizada.
III – A participação efetiva no parlamento se faz mediante o comum acordo entre os membros
partidários.
Quanto aos itens acima, a sequência correta é:

a) I e II.
b) I e III.
c) II e III.
d) I, II e III.
e) Nenhuma.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de movimentos literários e julgamento
de itens.
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Afirmação I: correta. Uma das personagens inclusive é nomeada de Secretário do Bem-Estar

Público e Privado, como se fosse possível regular a partir do exterior as relações humanas mais íntimas,
quando no fundo é descorado e flácido. O Chefe das Relações Públicas é baixo e atarracado. São
caricaturais.
Afirmação II: correta. O Secretário do Bem-Estar Público e Privado está tomando leite e usa uma
espécie de pantufa.
Afirmação III: incorreta. O Secretário do Bem-Estar Público e Privado suspira com ar de impaciência
quando o Chefe das Relações Públicas chega com uma pauta.
Gabarito: A.
4. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 9o Simulado 2022) O
romance de 30, da segunda geração modernista brasileira, ficou conhecido pela sua crítica social. Entre
os trechos abaixo, identifique a opção que pode ser classificada nesse gênero.
a) "Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores. Em falso receio, desfalam no nome dele
dizem só: o Que-Diga. Vôte! não… Quem muito se evita, se convive. Sentença num Aristides — o que
existe no buritizal primeiro desta minha mão direita, chamado a Vereda-da-Vaca-Mansa-de-Santa-Rita
— todo o mundo crê:"
b) "— O sr. pensa que eu tenho alguma fábrica de dinheiro? (O diretor diz essas coisas a ele, mas olha
para todos, como que a dar uma explicação a todos. Todas as caras sorriem.) Quando o seu filho esteve
doente, eu o ajudei como pude. Não me peça mais nada. Não me encarregue de pagar as suas contas:
já tenho as minhas, e é o que me basta... (Risos.)"
c) "Voltando ao capim. Para tal exígua criatura chamada Macabéa a grande natureza se dava apenas
em forma de capim de sarjeta — se lhe fosse dado o mar grosso ou picos altos de montanhas, sua alma,
ainda mais virgem que o corpo, se alucinaria e explodir-se-lhe-ia o organismo, braços pra cá, intestino
para lá, cabeça rolando redonda e oca a seus pés — como se desmonta um manequim de cera."
d) "E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue. João
Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos. Nesse momento
parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer-
lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito."
e) "A natureza dotara Aurélia com a inteligência viva e brilhante da mulher de talento, que se não
atinge ao vigoroso raciocínio do homem, tem a preciosa ductilidade de prestar-se a todos os assuntos,
por mais diversos que sejam. O que o irmão não conseguira em meses de prática, foi para ela estudo
de uma semana."
Comentários
Questão de conhecimento de autores e obras do cânone; conhecimento de movimentos literários
e identificação de trecho.
Alternativa A: incorreta. É um excerto de “Grande sertão: veredas” do modernista da terceira
geração, Guimarães Rosa.
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Alternativa B: correta – gabarito. É um trecho do romance de 30 “Os ratos”, de autoria de Dyonélio

Machado. A imitação do gênero dramático é irônica, uma vez que a personagem assume uma aparência
quando sua essência diz o contrário.
Alternativa C: incorreta. A partir da alusão à personagem Macabéa, conclui-se que o trecho é da
novela “A hora da estrela”, da escritora modernista da terceira, geração Clarice Lispector.
Alternativa D: incorreta. Há, sim, crítica social nesse trecho. Porém, trata-se de um romance
naturalista, no caso, “O cortiço” de Aluísio de Azevedo, o que se infere a partir da menção do português
João Romão.
Alternativa E: incorreta. Pela menção à Aurélia, sabe-se que é uma passagem do romance
romântico urbano “Senhora”, de José de Alencar.
Gabarito: B.
EsPCEx/ESA/EEAR)
E como eu palmilhasse vagamente

uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos

que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo

na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu

para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Influenciada por poetas como Dante e Camões, a obra Claro Enigma, de Carlos Drummond de Andrade,
embora modernista, retoma temas da tradição clássica: preocupação com a forma poética e a estética;
e a métrica e a versificação são valorizadas. Assinale outro trecho da poesia da geração modernista de
45 que apresenta essas características:
a) “O branco açúcar que adoçará meu café /nesta manhã de Ipanema /não foi produzido por mim/
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.” (Ferreira Gullar – O açúcar).
b) “Trabalhou todo o dia, tanto! /desde a madrugada! /Descansa entre as flores, cavalinho branco, /de
crina dourada!” (Cecília Meireles – É isto ou aquilo)
c) “— A quem estais carregando, /irmãos das almas, /embrulhado nessa rede? /dizei que eu saiba.”
(João Cabral de Melo Neto – Morte e Vida Severina).
76
d) “Tinham lá coragem? Imaginou o soldado amarelo atirando-se a um cangaceiro na catinga. Tinha

graça. Não dava um caldo” (Graciliano Ramos – Vidas secas).
e) “Brilha a lua no céu, brilham estrelas, /Correm perfumes no correr da brisa, /A cujo influxo mágico
respira-se /Um quebranto de amor, melhor que a vida!” (Gonçalves Dias – Leito de folhas verdes).
Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de autores e obras do cânone e
identificação de trecho.
Alternativa A: incorreta. Ferreira Gullar (1930-2016) é um poeta que começa a escrever no
modernismo de 45, mas estende sua carreira até o contemporâneo. Se aproxima do movimento concreto
e produz obras que exploram tanto o som quanto a grafia das palavras. Posteriormente, adota lirismo
exacerbado. Esse poema em particular tem temática social.
Alternativa B: incorreta. Cecília Meireles (1901-1964) é uma poetisa com grande preocupação com
o interior. Suas obras são bastante introspectivas e filosóficas. Dá muita atenção à musicalidade – o som
das poesias. Estes são versos infantis, do poema “O cavalinho branco” do livro É isto ou aquilo. Embora o
trecho fale de trabalho, constatamos traços infantis no uso do diminutivo.
Alternativa C: correta – gabarito. João Cabral de Melo Neto (1920-1999) foi um poeta recifense
que tratou de temas sociais e tinha obsessão pelo objetivo e por formas geométricas. Poeta de forma
equilibrada de escrever, com forte rigor estético e racionalismo na escrita, seus versos são sintéticos.
Nesse seu poema, há preocupação com a forma e com a métrica, pois a escansão dos versos se
divide num esquema regular de 7-4-7-4: “A / quem / es / tás / car / re / gan (do) (7 sílabas poéticas) + ir /
mãos / das / al (mas) (4 sílabas poéticas), + em / bru / lha / do / nes / sa / re (de)? (7 sílabas poéticas) + di
/ zei / que eu / sai (ba)" (4 sílabas poéticas). Na teoria literária, os versos com 7 sílabas poéticas também
são popularmente conhecidos como redondilhas maiores.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: a obra Vidas secas de Graciliano Ramos constitui em prosa, não
poesia. Isso poderia ser constatado pela ausência da representação de barras para indicar a separação
dos versos. Em todo caso, Graciliano Ramos se enquadra no romance de 30.
Alternativa E: incorreta. Atenção: são autores e obras do Romantismo, e não Modernismo. Isso
pode ser constatado por meio de características como o idealismo em expressões como “brilha a lua”,
“correm perfumes”, “influxo mágico” e “quebranto de amor”, que também invocam sensualidade.
Gabarito: C.
EsPCEx) Leia o trecho de Viva o povo brasileiro de João Ubaldo Ribeiro.
Sem conseguir resolver para onde olhar durante todo esse tempo, Dafé se admirou de haver tanta
ciência naquela gente comum, se admirou também de nunca ter visto nos livros que pessoas como
essas pudessem possuir conhecimentos e habilidades tão bonitos, achou até mesmo a mãe uma
desconhecida, misteriosa e distante, em seu saber antes nunca testemunhado. Quantos estudos não
haveria ali, como ficavam todos bonitos fazendo ali suas tarefas, agora também ela ia ser pescadora!
Até pouquinho, estivera meio convencida, porque ia ser professora e portanto sabia muito mais coisas
do que todos eles juntos, mas se via que não era assim. Tinha gente que pescava o peixe, gente que
77
plantava a verdura, gente que fiava o pano, gente que trabalhava a madeira, gente de toda espécie, e
tudo isso requeria grande conhecimento e muitas coisas por dentro e por trás desse conhecimento —
talvez fosse isto a vida, como ensinava vô Leléu, quanta coisa existia na vida! Que beleza era a vida,
cada objeto um mundão com tantas outras coisas ligadas a ele e até um pedaço de pano teve alguém
para prestar atenção só nele um dia, até tecê-lo e acabá-lo e cortá-lo, alguém que tinha conhecimentos
tão grandes como esses pescadores e navegadores, mas já se viu coisa mais bonita neste mundo do
nosso Deus? Dafé sentiu até um pouco de vontade de dançar, deu uns tapinhas acelerados na borda
do barco, deu uns gritinhos, sapateou de emoção, correu de um lado para o outro, vendo aqui o peixe
que vinha, ali o anzol sendo iscado, acolá o plaf-plaf das chumbadas engolidas pela água — mas oba,
oba, oba, esta vida não é uma beleza cheia de novidades? Agora ela também queria trabalhar de
navegadora e pescadora. Mas também queria ser professora. E o que é que ela queria mesmo? Queria
ser tudo, isso sim! Porque cada ofício tem o seu conhecimento da vida, quantos lados tem a vida, vô
Leléu?
João Ubaldo Ribeiro – Viva o povo brasileiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, p. 206.
Nesse fragmento, constata-se um processo de

a) menosprezo de formas menos eruditas de conhecimento sem ciência.
b) valorização do trabalho por meio da observação da sabedoria popular.
c) declínio comercial do ciclo do cacau na Bahia e substituição pela pesca.
d) hierarquização do ponto de vista adulto em detrimento do infantil.
e) degradação do meio ambiente pela pesca ilegal baleias.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário. João Ubaldo Ribeiro (1941-
2014) foi escritor e ganhou o Prêmio Camões 2008. Sua obra é reconhecida na
Alemanha, onde ocupou uma cátedra docente na Universidade de Tübingen.
Em 1993 foi eleito para a cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras.
Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: Dafé reconhecia na sabedoria
popular uma forma de ciência até mesmo superior àquela encontrada nos
livros.
Alternativa B: correta – gabarito. No trecho, o Nego Leléu leva a neta
para observar o trabalho do povo, pelo qual ela se torna apaixonada, enquanto
criança, tomando consciência de que a vida tem seus vários lados, vários saberes, várias ciências.
Alternativa C: incorreta. Informações extratextuais: não temos elementos suficientes para afirmar
isso.
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário: a criança se mostra extremamente inteligente, consciente,
curiosa, indagadora: “quantos lados tem a vida?”.
Alternativa E: incorreta. Há uma ciência por trás do trato do peixe. Embora haja um comércio
ligado à baleia nesse livro, ele não é mencionado nesse trecho.
Gabarito: B.
78
EsPCEx)
A pequena
Ela chegou prodigiosamente serena. Entre cliente e médico, o nervoso era o médico. Nervosíssimo,
por sinal. Almerinda sorria: “Pode dizer. Eu já sei”. Doutor Walter, acendendo o cigarro com a mão
trêmula, pergunta: “Sabe?”. E Almerinda:
– Sei. Isto é, adivinhei. Estou conformada e, até, satisfeita. Quando vinha para cá, no táxi, eu pensei
que o câncer pode ser, às vezes, um bom negócio, um altíssimo negócio. No meu caso, por exemplo.
Pálido, o médico pergunta: “Mas como?”. Almerinda continua no mesmo tom leve, frívolo, que o
fascina:
– Eu sempre fui muito presa, sempre. Saí do colégio interno e me casei logo. Só conheci um único
homem, que foi o meu namorado, meu noivo e é meu marido. Não vivi nada. – Exalta-se,
acrescentando: – Mas agora é diferente. Agora eu tenho câncer. Vou morrer. Posso fazer tudo, porque
ninguém condenará uma morta, uma quase-morta.
Ergue-se. Apanha em cima da mesa a bolsa. E, súbito, se torce num riso de alucinação:
– Estou livre! Livre! Adeus!
Encaminha-se para a porta. Ele, porém, mais rápido, barra-lhe o caminho. Segura Almerinda pelos
dois braços e a sacode:
– O que eu não te diria nunca, vou te dizer agora: eu te amo, eu te amo, eu te amo!
Na sua histeria, ela se debate, ainda. Doutor Walter esmaga seu riso com um beijo de louco.
Fim
Duas horas depois, no consultório em penumbra, ela mexe, com os dedos, nos cabelos do doutor
Walter; diz: “Eu não vivia antes. Agora vivo. Comecei a viver contigo”. Então, o médico apanha as mãos
de Almerinda, beija uma e outra, e confessa, junto à sua orelhinha:
– Meu anjo, eu menti. O que tens não é câncer, é úlcera.
Ela não se mexe. Na sua alma não há espanto, nem ressentimento. Do fundo do sonho, responde:
– Bendita úlcera!
RODRIGUES, Nelson. Pouco amor não é amor: contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 7-13.
Esta crônica do modernista, também dramaturgo, Nelson Rodrigues, é dividida em subpartes, que
levam títulos. Levando em consideração o contexto, como pode ser interpretada a última fala?
a) Ironia.
b) Paráfrase.
c) Metalinguagem.
d) Metonímia.
e) Catacrese.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/Gramática aplicada à Literatura.
Alternativa A: correta – gabarito. A ironia é tanto uma figura de linguagem quanto um efeito de
texto. No caso, uma úlcera é uma doença, mas a personagem a considera como uma benção, mais branda
que um câncer. No fundo, ela é uma bênção, porque foi o pretexto que permitiu o envolvimento amoroso
entre a paciente e o médico.
79
Alternativa B: incorreta. Paráfrase é um processo de reescritura de um texto utilizando as suas

próprias palavras. No caso, as palavras são da personagem.
Alternativa C: incorreta. Metalinguagem é uma função de linguagem centrada no código. É a
linguagem se remetendo a ela mesma. Porém, pode ser um filme se remetendo a ele mesmo; ou uma
fotografia se remetendo a ela mesma; trata-se de algo se remetendo a si mesmo.
Alternativa D: incorreta. A metonímia é uma figura de linguagem que significa a parte pelo todo.
“Bendita” é um adjetivo e “úlcera”, um substantivo. Nenhuma delas representa a parte da outra.
Alternativa E: incorreta. A catacrese ocorre quando se transfere a uma palavra o sentido de outra
pela semelhança de significado entre elas. Exemplos: pé da mesa, dente de alho.
Gabarito: A.
EsPCEx)
A escola das facas

O alísio ao chegar ao Nordeste
baixa em coqueirais, canaviais;
cursando as folhas laminadas,
se afia em peixeiras, punhais.
Por isso, sobrevoada a Mata,

suas mãos, antes fêmeas, redondas,
ganham a fome e o dente da faca
com que sobrevoa outras zonas.
O coqueiro e a cana lhe ensinam,

sem pedra-mó, mas faca a faca,
como voar o Agreste e o Sertão:
mão cortante e desembainhada.
MELO NETO, João Cabral de. Obra completa: volume único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 429.
Em relação a esse fragmento, pode-se afirmar que

a) as “folhas laminadas” podem ser entendidas como personificação do trabalho humano do corte,
bem como “o dente da faca” significa uma comparação.
b) na expressão “suas mãos, antes fêmeas” está pressuposta a questão de gênero e de temporalidade,
remetendo-se a mulheres que antes não podiam trabalhar e agora podem.
c) no verso “com que sobrevoa outras zonas”, o termo destacado alude unicamente à Zona da Mata,
região geográfica marcada pela presença de florestas.
d) há um subentendido de que o processo de educação campesina parte de um ensino mais brando
rumo ao embrutecimento.
e) o vento alísio transporta a umidade oceânica para o interior do Nordeste, como os trabalhadores
espalham-se pela região, e a escola das facas está associada ao corte da cana.
80
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Atenção: “o dente da faca” não é uma comparação, mas sim uma
catacrese. Ou seja, figura de linguagem que ocorre quando se transfere a uma palavra o sentido de outra
pela semelhança de significado entre elas. Exemplos: barriga da perna, pé da cama etc.
Alternativa B: incorreta. Não há dados suficientes no poema para se afirmar isso.
Alternativa C: incorreta. Cuidado: questão interdisciplinar. Ainda que as informações geográficas
estejam corretas, a alternativa peca pelo absolutismo em “unicamente”. Isso porque o termo “zona” no
poema tem duplo sentido, podendo se remeter, sim, à região geográfica da Zona da Mata (chamada assim
por constituir em um local por onde passa a Mata Atlântica e onde são comuns plantações de cana, cacau,
tabaco etc.), mas também pode aludir à noção geral de “zona”, isto é, área ou espaço delimitado.
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário, desde cedo, uma educação voltada para a brutalidade e a
dureza da vida, o que pode ser inferido a partir do verso “sem pedra-mó, mas faca a faca”. Com isso, o eu
lírico quer dizer que a faca não precisa estar afiada, amolada; ela é usada bem como for encontrada, pois
maior é a necessidade do trabalho.
Alternativa E: correta – gabarito. As peixeiras e as facas são ambas instrumentos de trabalho,
porém, a primeira utilizada no litoral e a segunda no interior. O trabalho humano está presente em mais
de uma região geográfica e trata-se de um trabalho específico: o trabalho braçal que envolve o manuseio
de facas.
Gabarito: E.
EsPCEx) Julgue as afirmações a seguir em relação à Literatura Brasileira Contemporânea.
I. O que caracteriza esse período é o retorno às formas clássicas, como é o caso dos sonetos de Carlos
Drummond de Andrade.
II. O lugar de fala é um tipo de expressão que aponta para o reconhecimento, geralmente usado em
textos os quais retratam vivências pessoais.
III. Abordando traços reflexivos, muitas obras desse movimento são impregnados de memorialismo,
por exemplo, o diário de Carolina Maria de Jesus.
IV. A geração mimeógrafo publicava textos curtos, que exploravam referências visuais como tipografias
e linguagem coloquial.
A sequência de itens INCORRETOS é:

a) I.
b) II e III.
c) III e IV.
d) II, III e IV.
e) I, II, III e IV.
81
Comentários
Questão de julgar itens/conhecimento sobre o movimento literário.
Item I: incorreto. Cuidado: de fato, Carlos Drummond de Andrade escreveu sonetos e houve esse
retorno às formas clássicas, principalmente em Claro Enigma (1951). Nesse livro, tanto os sonetos são
escolhidos como forma, quanto a terza rima, um tipo de rima italiana usada por Dante Alighieri na Divina
Comédia no poema “A máquina do mundo”. Porém, Carlos Drummond de Andrade é da segunda geração
modernista brasileira, e não da Literatura Brasileira Contemporânea.
Item II: correto. Geralmente, são textos que admitem liberdade de expressão e pensamento e
costumam viabilizar oportunidades para grupos marginalizados. É o caso do rap, por exemplo.
Item III: correto. O diário de Carolina Maria de Jesus se chama Quarto de despejo: diário de uma
favelada (1960), sendo que a autora o escreveu numa condição de semianalfabetismo e vulnerabilidade
social. Ela escreveu também Diário de Bitita (1986).
Item IV: correto. O mimeógrafo é considerado o “avô da impressora”. Autores desse período foram
Paulo Leminski e Ana Cristina Cesar.
Sequência de itens INCORRETOS: I.

Gabarito: E.
EsPCEx)
Cadeia
E, por mais que forcejasse, não se convencia de que o soldado amarelo fosse governo. Governo,
coisa distante e perfeita, não podia errar. O soldado amarelo estava ali perto, além da grade, era fraco
e ruim, jogava na esteira com os matutos e provocava-os depois. O governo não devia consentir tão
grande safadeza.
Afinal para que serviam os soldados amarelos? Deu um pontapé na parede, gritou enfurecido.
Para que serviam os soldados amarelos? Os outros presos remexeram-se, o carcereiro chegou à grade,
Fabiano acalmou-se:
– Bem, bem. Não há nada não.
Havia muitas coisas. Ele não podia explicá-las, mas havia. Fossem perguntar a seu Tomás da
Bolandeira, que lia livros e sabia onde tinha as ventas. Seu Tomás da Bolandeira contaria aquela
história. Ele, Fabiano, um bruto, não contava nada. Só queria voltar para junto de Sinha Vitória, deitar-
se na cama de varas. Por que vinham bulir com um homem que só queria descansar? Deviam bulir com
outros.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. Rio de Janeiro: Record, 2019.

a) Tomás da Bolandeira era um amigo do protagonista que, por sua instrução, poderia servi-lo como
advogado de defesa.
b) Fabiano, o narrador em primeira pessoa, critica o governo da época, defendendo um retorno do
monarquismo.
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c) Sinha Vitória, a esposa de Tomás da Bolandeira, era a mulher desejada por Fabiano, com quem ele
tinha um caso.
d) Fabiano, o protagonista, reflete sobre as instâncias do poder de tal forma que seus pensamentos
confundem-se com a fala do narrador.
e) Sinha Vitória era a leal esposa de Fabiano, quem ia levar comida ao marido e, por ser em grande
quantidade, sobrava para os outros presos.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Por mais que Fabiano esteja cogitando pedir ajuda a Tomás da Bolandeira,
exatamente por causa de sua instrução, não há dados para afirmar que são amigos.
Alternativa B: incorreta. O narrador desse romance não é em primeira pessoa, mas sim em terceira
pessoa. Pelo contrário: Fabiano não critica o governo, mas apresenta uma crença ingênua nele,
acreditando que o governo seria capaz de tirá-lo da cadeia. Acredita que o abuso do poder consiste apenas
no exercício do soldado amarelo, mas não no do governo. Fabiano não tem consciência de que fazem
parte do mesmo sistema. O narrador denuncia a sua visão de mundo limitada. No fundo,
independentemente da classe do soldado, esse trecho pretende indicar que o abuso do poder faz parte
dos problemas humanos no geral. Ou seja, é um problema ao qual todos podem estar sujeitos.
Alternativa C: incorreta. Sinha Vitória era a esposa de Fabiano. Tomás da Bolandeira é um vizinho
abastado a quem o casal constantemente admira e inveja.
Alternativa D: correta – gabarito. Isso ocorre por meio do uso da técnica do discurso indireto livre,
de forma a demonstrar esses questionamentos, o que pode ser observado no trecho: “Afinal para que
serviam os soldados amarelos?”; “Para que serviam os soldados amarelos?” e “Por que vinham bulir com
um homem que só queria descansar?”.
Alternativa E: incorreta. Não há dados suficientes para afirmar isso. Ela é mencionada como
lembrança de Fabiano, com quem ele queria estar.
Gabarito: D.
EsPCEx)
Ele entrou tarde no restaurante. Certamente ocupara-se até agora em grandes negócios. Poderia
ter uns sessenta anos, era alto, corpulento, de cabelos brancos, sobrancelhas espessas e mãos
potentes. Num dedo o anel de sua força. Sentou-se amplo e sólido.
Perdi-o de vista e enquanto comia observei de novo a mulher magra de chapéu. Ela ria com a boca
cheia e rebrilhava os olhos escuros.
No momento em que eu levava o garfo à boca, olhei-o. Ei-lo de olhos fechados mastigando pão
com vigor e mecanismo, os dois punhos cerrados sobre a mesa. Continuei comendo e olhando. O
garçom dispunha os pratos sobre a toalha. Mas o velho mantinha os olhos fechados. A um gesto mais
vivo do criado ele os abriu com tal brusquidão que este mesmo movimento se comunicou às grandes
mãos e um garfo caiu. O garçom sussurrou palavras amáveis abaixando-se para apanhá-lo; ele não
83
respondia. Porque agora desperto, virava subitamente a carne de um lado e de outro, examinava-a
com veemência, a ponta da língua aparecendo – apalpava o bife com as costas do garfo, quase o
cheirava, mexendo a boca de antemão. E começava a cortá-lo com um movimento inútil de vigor de
todo o corpo. Em breve levava um pedaço a certa altura do rosto e, como se tivesse que apanhá-lo em
voo, abocanhou-o num arrebatamento de cabeça. Olhei para o meu prato. Quando fitei-o de novo, ele
estava em plena glória do jantar, mastigando de boca aberta, passando a língua pelos dentes, com o
olhar fixo na luz do teto. Eu já ia cortar a carne de novo, quando o vi parar inteiramente.
LISPECTOR, Clarice. O jantar. In: Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
O conto costuma ser uma narrativa breve que condensa significado. A partir do texto acima, pode-se
afirmar que o trecho é predominantemente
a) descritivo, captando uma situação cotidiana.
b) narrativo, relatando grandes feitos heroicos.
c) opinativo, expondo o julgamento da autora.
d) dissertativo, tentando formular uma tese.
e) injuntivo, enumerando ações a serem cumpridas.
Comentários
Alternativa A: correta – gabarito. Como se fosse uma lente de aumento de uma situação do
cotidiano: um jantar em um restaurante. O narrador observa outros clientes e os descreve. O senhor de
sessenta anos come de boca aberta, aparentemente sem etiqueta, por exemplo.
Alternativa B: incorreta. Esse seria o gênero épico, em que são relatadas grandes aventuras de
heróis. Não é o caso: a cena retrata é banal, cotidiana.
Alternativa C: incorreta. Cuidado: as descrições são da personagem e não da autora.
Alternativa D: incorreta. A tese é um posicionamento de caráter opinativo. A personagem não
pretende comprovar nenhuma tese, mas sim descrever um episódio.
Alternativa E: incorreta. O texto injuntivo é aquele no qual se estabelecem algumas diretrizes,
ordens etc. Exemplo: manuais, receitas. Não é o caso.
Gabarito: A.
EsPCEx) Leia o trecho abaixo, retirado do romance "Vidas secas" de Graciliano Ramos, para responder
à questão.
Viu as nuvens que se desmanchavam no céu azul, embirrou com elas. Interessou-se pelo voo dos
urubus. Debaixo dos couros, Fabiano andava banzeiro, pesado, direitinho um urubu.
Sentou-se, apalpou as juntas doídas. Fora sacolejado violentamente, parecia-lhe que os ossos
estavam deslocados.
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Olhou com raiva o irmão e a cachorra. Deviam tê-lo prevenido. Não descobrir neles nenhum sinal
de solidariedade: o irmão ria como um doido, Baleia, séria, desaprovava tudo aquilo. Achou-se
abandonado e mesquinho, exposto a quedas, coices e marradas.
Ergueu-se, arrastou-se com desânimo até a cerca do bebedouro, encostou-se a ela, o rosto virado
para a água barrenta, o coração esmorecido. Meteu os dedos finos pelo rasgão, coçou o peito magro.
O tropel das cabras perdeu-se na ladeira, a cachorrinha ladrou longe. Como estariam as nuvens?
Provavelmente algumas se transformavam em carneirinhos, outras eram como bichos desconhecidos.
No trecho, é correto inferir que o menino mais novo:

a) quis chamar a atenção do pai enquanto este trabalhava, mas acaba por se atrapalhar, provocando
um constrangimento que a criança sente no íntimo.
b) apresenta uma rixa grave contra o irmão e, tentando alertar o pai por causa do comportamento
inadequado do gêmeo, é repreendido pela mãe.
c) desrespeita uma regra familiar que era a de acompanhar o pai no trabalho, sofrendo por causa disso
uma série de retaliações.
d) escolta Baleia em uma caçada de preás; porém, como o pai não é favorável, chega a chamar o irmão
mais velho para vigiar o grupo.
e) ressente-se contra a família por não entendê-lo, pois está passando pelo momento da pré-
adolescência e encontra dificuldade de aceitação.
Comentários
Alternativa A: correta – gabarito. O trecho é narrado de maneira muito lúdica, pois a personagem
é uma criança. Ele desagrada o pai, motivo pelo qual se sente constrangido. Tentando evitar a situação,
detém-se em aspectos da natureza, como é o caso da contemplação das nuvens. Sente-se julgado pelo
irmão mais velho e até mesmo pela cadela Baleia.
Alternativa B: incorreta. Os irmãos não são gêmeos entre si, até porque há um mais velho e outro
mais novo.
Alternativa C: incorreta. Passa por vários sofrimentos, mas não é retaliado.
Alternativa D: incorreta. O irmão mais velho não vigia o grupo, mas sim caçoa do irmão mais novo.
O pai na verdade se concentra no trabalho.
Alternativa E: incorreta. Não é um pré-adolescente, mas sim uma criança. No livro, é nomeado
apenas como “o menino mais novo”.
Gabarito: A.
Considere o texto a seguir para responder às próximas três questões. Consistem em exercícios de
interpretação de texto.
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Amanheceu um dia sem luz — mais um — e há um grande silêncio na rua. Chego à janela e não
vejo as figuras habituais dos primeiros trabalhadores. A cidade, ensopada de chuva, parece que desistiu
de viver. Só a chuva mantém constante seu movimento entre monótono e nervoso. É hora de escrever,
e não sinto a menor vontade de fazê-lo. Não que falte assunto. O assunto aí está, molhando, ensopando
os morros, as casas, as pistas, as pessoas, a alma de todos nós. Barracos que se desmancham como
armações de baralho e, por baixo de seus restos, mortos, mortos, mortos. Sobreviventes mariscando
na lama, à pesquisa de mortos e de pobres objetos amassados. Depósito de gente no chão das escolas,
e toda essa gente precisando de colchão, roupa de corpo, comida, medicamento. O calhau solto que
fez parar a adutora. Ruas que deixam de ser ruas, porque não dão mais passagem. Carros submersos,
aviões e ônibus interestaduais paralisados, corrida a mercearias e supermercados como em dia de
revolução. O desabamento que acaba de acontecer e os desabamentos programados para daqui a
poucos instantes.
Este, o Rio que tenho diante dos olhos, e, se não saio à rua, nem por isso a imagem é menos
ostensiva, pois a televisão traz para dentro de casa a variada pungência de seus horrores.
Sim, é admirável o esforço de todo mundo para enfrentar a calamidade e socorrer as vítimas,
esforço que chega a ser perturbador pelo excesso de devotamento desprovido de técnica. Mas se não
fosse essa mobilização espontânea do povo, determinada pelo sentimento humano, à revelia do
governo incitando-o à ação, que seria desta cidade, tão rica de galas e bens supérfluos, e tão miserável
em sua infraestrutura de submoradia, de subalimentação e de condições primitivas de trabalho?
Mobilização que de certo modo supre o eterno despreparo, a clássica desarrumação das agências
oficiais, fazendo surgir de improviso, entre a dor, o espanto e a surpresa, uma corrente de afeto
solidário, participante, que procura abarcar todos os flagelados.
Chuva e remorso juntam-se nestas horas de pesadelo, a chuva matando e destruindo por um
lado, e, por outro, denunciando velhos erros sociais e omissões urbanísticas; e remorso, por que
escondê-lo? Pois deve existir um sentimento geral de culpa diante de cidade tão desprotegida de
armadura assistencial, tão vazia de meios de defesa da existência humana, que temos o dever de
implantar e entretanto não implantamos, enquanto a chuva cai e o bueiro entope e o rio enche e o
barraco desaba e a morte se instala, abatendo-se de preferência sobre a mão de obra que dorme nos
morros sob a ameaça contínua da natureza; a mão de obra de hoje, esses trabalhadores entregues a si
mesmos, e suas crianças que nem tiveram tempo de crescer para cumprimento de um destino
anônimo.
No dia escuro, de más notícias esvoaçando, com a esperança de milhões de seres posta num raio
de sol que teima em não romper, não há alegria para a crônica, nem lhe resta outro sentido senão o
triste registro da fragilidade imensa da rica, poderosa e martirizada cidade do Rio de Janeiro.
Carlos Drummond de Andrade. Os dias escuros.
Texto publicado no extinto jornal 'Correio da Manhã' no dia 14 de janeiro de 1966.
Disponível em: https://tinyurl.com/yyreypmm. Acesso em: 06 ago. 2020.
É possível depreender que o narrador

a) está falando de um problema exclusivamente típico dos anos 60.
b) comenta sobre um desastre de ordem tanto natural quanto social.
c) sente medo diante da ameaça iminente das tempestades.
d) critica o fato de o governo estadual não investir em educação.
e) rejubila-se diante da ajuda humanitária em tempos difíceis.
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Comentários
Questão de interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Cuidado com o absolutismo “exclusivamente”. A carência na
infraestrutura, não só a do Rio de Janeiro, infelizmente continua sendo um problema social no século XXI.
Alternativa B: correta – gabarito. Ao começar um problema de enchentes por causa da chuva, o
narrador toca no quesito de que a chuva atinge de maneiras variadas a sociedade, tanto em relação ao
centro quanto à periferia. Porém, são nessas situações (como se fossem apenas nelas) que é permitido ao
ser humano se sentir como um todo, pois todos sofrem consequências diante de tragédias naturais e é
preciso unir esforços em comum para poder superá-las.
Alternativa C: incorreta. Não é bem medo, mas sim revolta; nem é iminente, a chuva já estava
acontecendo no momento de produção do texto.
Alternativa D: incorreta. Não só a educação, mas a infraestrutura como um todo.
Alternativa E: incorreta. Pelo contrário: critica o fato de que a ajuda humanitária tenha que nascer
apenas de tragédias.
Gabarito: B.
Assinale a alternativa que indica uma ironia.
a) “Amanheceu um dia sem luz — mais um — e há um grande silêncio na rua.”
b) “Ruas que deixam de ser ruas, porque não dão mais passagem.”
c) “abatendo-se de preferência sobre a mão de obra que dorme nos morros”
d) “Chuva e remorso juntam-se nestas horas de pesadelo”
e) “a chuva cai e o bueiro entope e o rio enche e o barraco desaba e a morte se instala”
Comentários
Alternativa A: incorreta. Percebe-se mediante o “mais um” um recurso fático e uma certa
intromissão do narrador, mas não ironia.
Alternativa B: incorreta. Com isso quer se dizer que as estruturas perdem as suas funções diante
de forças incontroláveis da natureza.
Alternativa C: correta – gabarito. Como se fosse preferível que tragédias naturais abatam certas
classes sociais e não outras. Já que as comunidades são construídas em lugares desfavorecidos
naturalmente, nada melhor que culpar a própria natureza por desastres naturais. A ironia resiste em não
conseguir enxergar que não se trata apenas de uma tragédia social, mas sim também humana. Logo, pode-
se falar de ironia trágica.
Alternativa D: incorreta. Aqui há uma crítica e não ironia.
Alternativa E: incorreta. Nesse trecho, observa-se a figura de linguagem do polissíndeto, isto é,
repetição do síndeto (conectivo) “e”, com o intuito de enfatizar.
Gabarito: C.
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Assinale a afirmação correta quanto ao sentido global do texto.
a) O ser humano se conscientiza plenamente apenas depois do improviso.
b) O desastre natural viabiliza com que instituições externas forneçam ajuda ao país.
c) A natureza nem sempre é benévola ao ser humano, embora este a trate bem.
d) A ação antrópica do ser humano destrói a natureza e a chuva é um reflexo disso.
e) Os seres humanos deveriam ser mais humanitários a despeito de tragédias naturais.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Cuidado com o absolutismo “plenamente”.
Alternativa B: incorreta. Não há informações suficientes para se afirmar isso.
Alternativa C: incorreta. O texto não aborda o comportamento do ser humano para com a
natureza, mas, em todo caso, a natureza não tem vontade de própria. Não é como se ela estivesse
querendo se vingar do ser humano.
Alternativa D: incorreta. A ação antrópica até pode destruir a natureza, mas este não é o assunto
do texto. De qualquer maneira, as chuvas não são reflexo das ações humanas, mas sim fazem parte dos
fenômenos naturais.
Alternativa E: correta – gabarito. O narrador critica uma ajuda humanitária dissimulada que só
vem apenas depois de desastres, no caso, de ordem natural, por causa da chuva, quando no fundo no
cotidiano a tendência é não perceber as mazelas e os problemas sociais.
Gabarito: E.
Considere o texto abaixo para se responder à questão.
“A solidão rural só abria a boca para bocejar.

Fora tudo cantava. Até o carro de boi sob os fardos arrobados: quanto mais pesado, mais cantava.
Ele profanava com essa tristeza ociosa a alegria gritante da natureza tropical.
Costumava dizer que suas ações não tinham equilíbrio porque o coração lhe pesava mais do que
a cabeça. Parecia-lhe o contrapeso da hereditariedade promíscua.”
ALMEIDA, José Américo de. A bagaceira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.
A partir do excerto acima, é possível caracterizá-lo como:

a) poesia épica.
b) poesia lírica.
c) romance de 30.
d) romance de 45.
e) diário pessoal.
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Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Não é poesia, mas sim um texto escrito em prosa. Além do mais, não é
épico, porque não narra grandes feitos heroicos, mas sim uma cena de ócio.
Alternativa B: incorreta. Não é poesia quanto mais sentimental.
Alternativa C: correta – gabarito. Romance de cunho social e crítico que privilegiou como figura
representada o sertanejo e o regionalismo: “solidão rural”.
Alternativa D: incorreta. Essa classificação sequer existe.
Alternativa E: incorreta. Não há registro pessoal, pois o ponto de vista é em 3ª pessoa do singular,
e não 1ª.
Gabarito: C.
Considere o texto abaixo para responder à próxima questão.
“Conceição tinha vinte e dois anos e não falava em casar. As suas poucas tentativas de namoro
tinham-se ido embora com os dezoito anos e o tempo de normalista; dizia alegremente que nascera
solteirona.
Ouvindo isso, a avó encolhia os ombros e sentenciava que mulher que não casa é um aleijão...
– Esta menina tem umas ideias!
Estaria com razão a avó? Porque, de fato, Conceição talvez tivesse umas ideias; escrevia um livro
sobre pedagogia, rabiscara dois sonetos, e às vezes lhe acontecia citar o Nordau ou o Renan da
biblioteca do avô.”
QUEIROZ, Rachel de. O quinze. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016.
O romance de 30, para além da questão sertaneja, também manifestava:

a) conservações de valores.
b) mudanças nos costumes.
c) busca por igualdade.
d) experimentalismo na forma.
e) psicologismo científico.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: no trecho, afronta à ideia de que a mulher precisava
necessariamente se casar.
Alternativa B: correta – gabarito. A modernização nos costumes também se evidencia no choque
de gerações. O romance dessa época procurava retratar temas ligados à realidade nacional,
especialmente preocupada com as mudanças sociais e políticas do período.
89
Alternativa C: incorreta. A questão ainda não era feminista. O feminismo enquanto movimento
social irá surgir nos Estados Unidos em 1960.
Alternativa D: incorreta. Essa foi a geração de 22 e não de 30.
Alternativa E: incorreta. Em algumas obras a partir da geração de 35, mas O quinze é um romance
de 30, publicado exatamente nesse ano.
Gabarito: B.
Considere a estrofe a seguir para responder à questão.
“O branco açúcar que adoçará meu café

nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.”
GULLAR, Ferreira. O açúcar. Disponível em: https://tinyurl.com/y4ykrjct. Acesso em: 06 ago. 2020.
A partir do poema, depreende-se que

a) o eu lírico parte de uma aparentemente cena cotidiana para estabelecer uma crítica social.
b) há alienação no entendimento do eu lírico incapaz de enxergar a realidade para além dele.
c) se trata de uma reunião social entre amigos, sendo que há um produtor de açúcar entre eles.
d) há um deleite do eu lírico que toma o seu café despropositadamente à beira da praia.
e) como expressão da literatura contemporânea, o trabalhador tem lugar de fala.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e
conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. Ferreira Gullar é um poeta da terceira geração modernista.
Ferreira Gullar (1930-2016) começa a escrever no modernismo de 45, mas estende sua carreira até o
contemporâneo. Se aproxima do movimento concreto e produz obras que exploram tanto o som quanto
a grafia das palavras. Posteriormente, adota lirismo exacerbado.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: há tomada de consciência. É como se o eu lírico se
incomodasse: como posso beber tranquilamente o meu café, se não fui eu quem produzi nem o açúcar
que está nele nem o café em si?
Alternativa C: incorreta. Não há dados suficientes para se afirmar isso.
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Alternativa D: incorreta. Não se sabe se o eu lírico está à beira da praia, e em todo o caso não é
despropositadamente. O eu lírico toma uma refeição e a partir dela surge uma reflexão social.
Alternativa E: incorreta. O eu lírico não coincide com o trabalhador. O poema fala justamente do
desconforto de classe do eu lírico.
Gabarito: A.
Considere o poema abaixo para responder à questão.
A ROSA DE HIROXIMA
Rio de Janeiro, 1954
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
MORAES, Vinicius. A rosa de Hiroxima. Disponível em: https://tinyurl.com/yyrn9tz5. Acesso em: 06 ago. 2020.
A partir do texto acima, julgue os itens a seguir.
I – O poema aborda uma situação interdisciplinar que foi o bombardeamento de uma cidade japonesa
em decorrência da Segunda Guerra Mundial.
II – A barbárie humana chegou a um ponto limítrofe em que os seres perdem sua essência, como é o
caso da “antirrosa”.
III – As sequelas do século XIX continuaram no século XX, embora a ciência tivesse progredido muito.
A sequência de itens corretos é:

a) I.
b) II.
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c) III.
d) I e II.
e) I e III.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/julgar itens.
Item I: correto. Não só Hiroxima, mas também Nagasaki foi atingida por esse conflito. Os poetas
da segunda geração modernista se preocupavam com questões sociais e se colocavam frequentemente a
seguinte pergunta:
Item II: correto. O prefixo “anti-“ transmite a ideia semântica de negação. Como se fosse possível
a uma rosa deixar de ser rosa. Porém, em um contexto de guerra, ainda mais contexto esdrúxulo de um
bombardeamento de níveis catastróficos, tende-se a anulações: é o caso da repetição do termo “sem”.
Item III: incorreto. A Segunda Guerra Mundial produziu armas científicas, de forma que mesmo a
ciência passou por certa distorção.
Gabarito: D.
Sobre Carlos Drummond de Andrade, julgue as afirmações a seguir.
I – Embora estivesse em pleno modernismo, chegou a escrever poesia reavendo formas clássicas, como
soneto, por exemplo “Oficina irritada” e “Legado”, sonetos presentes na obra Claro enigma.
II – Em sua fase intimista, escreveu não só poesia como também prosa, destacando-se com contos,
crônicas e novelas, sendo a principal “A hora da estrela”.
III – Didaticamente sua obra é dividida em três gerações: a heroica e indianista; a pessimista e mórbida
e depois a abolicionista e social.
Está correto o que se afirma em:

a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I e III.
Comentários
Questão de conhecimento de autor do cânone/julgar itens. Questão inspirada da prova da EsPCEx
2018.
Afirmação I: correta. Na segunda geração modernista, surgiu uma tendência chamada de
neoparnasianismo, que pregava o retorno ao rigor formal.
Afirmação II: incorreta. “A hora da estrela” (1977) é uma novela de autoria de Clarice Lispector e
não de Carlos Drummond de Andrade.
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Afirmação III: incorreta. Essas são as gerações românticas, e não a divisão por fases da obra de
Drummond.
Gabarito: A.
“Mas tinha cometido um erro, O primeiro engano seu nesse dia, O equívoco que decide do destino e
ajeita caminho à grandeza dos homens e dos burros.”
O fragmento acima, de Guimarães Rosa, marca

a) a braveza do animal equiparada à humana.
b) os limites da ambientação regional.
c) o positivismo que rebaixava a metafísica.
d) o zoomorfismo do movimento naturalista.
e) apego do sertanejo pelo animal de estimação.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autores e obras do cânone. Questão
inspirada na prova da EsPCEx 2020.
Alternativa A: correta – gabarito. Nessa generalização, o narrador de Guimarães Rosa exalta a
personagem de Sete-de-Ouros, do conto “O burrinho pedrês” da obra Sagarana.
Alternativa B: incorreta. Não limites, mas sim expansão. O ambiente rural é uma possibilidade de
abertura para o conhecimento da existência humana. A prosa modernista de Guimarães Rosa opera o
trânsito entre o exterior e o íntimo de suas personagens.
Alternativa C: incorreta. O positivismo é uma tendência do século XIX que não se encontra na prosa
de Guimarães Rosa nem no Modernismo de 1945 no geral.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: zoomorfismo é a comparação do ser humano com o animal, mas
geralmente na tentativa de rebaixá-lo.
Alternativa E: incorreta. Não há dados suficientes para se afirmar que era o animal de estimação.
Gabarito: A.
Leia o trecho de “São Bernardo” de Graciliano Ramos presente a seguir.
Padilha assobia no alpendre. Onde andará Padilha?

Se eu convencesse Madalena de que ela não tem razão... Se lhe explicasse que é necessário
vivermos em paz... Não me entende. Não nos entendemos. O que vai acontecer será muito diferente
do que esperamos. Absurdo.
93
Há um grande silêncio. Estamos em julho. O nordeste não sopra e os sapos dormem. Quanto às
corujas, Marciano subiu ao forro da igreja e acabou com elas a pau. E foram tapados os buracos de
grilos.
Repito que tudo isso continua a azucrinar-me.
O que não percebo é o tique-taque do relógio. Que horas são? Não posso ver o mostrador assim
às escuras. Quando me sentei aqui, ouviam-se as pancadas do pêndulo, ouviam-se muito bem. Seria
conveniente dar corda ao relógio, mas não consigo mexer-me.
O que o trecho mostra é um narrador que se revela

a) o orgulho de um homem conservador cuja única preocupação era o casamento atribulado, pois a
esposa Madalena o traíram com seu amigo Padilha.
b) uma paz espiritual de quem entendeu que passava por dificuldades no relacionamento, mas estava
disposto a conversar com a mulher para melhorar.
c) uma desordem mental que faz o personagem rememorar episódios antigos, pessoas famílias e passa
se preocupar com a passagem do tempo.
d) um desconcerto familiar, pois não consegue se entender com a esposa nem com os amigos,
afastando todos e acaba por provocar o divórcio.
e) a falta de caráter de Paulo Honório, que foi capaz de cometer crimes para se casar com a mulher,
chegando a matar o seu ex-companheiro.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Madalena não trai Paulo Honório com Padilha. No trecho, o protagonista
se mostra preocupado tanto com Padilha quanto com a esposa Madalena. Paulo Honório aproxima-se de
Luís Padilha, um dono da fazenda São Bernardo. Luís Padilha era viciado em jogos e mulheres. Fazendo
com que Luís Padilha continuasse em um rumo depravado e decadente, Paulo Honório consegue sua
falência financeira.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: o narrador mostra-se preocupado.
Alternativa C: correta – gabarito. Com o intuito reconstrutivo, essa obra é escrita pelo protagonista
Paulo Honório em meia idade, quando já cometeu crimes – até assassinatos – para conseguir o que queria
(tomar São Bernardo) e sua esposa Madalena já havia se suicidado. A narrativa é cheia de digressões.
Alternativa D: incorreta. Não provoca o divórcio, mas sim o suicídio da esposa Madalena.
Alternativa E: incorreta. Padilha não é ex-companheiro de Madalena.
Gabarito: C.
Leia a primeira parte do poema “Psicologia da composição” de João Cabral de Melo Neto para
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Saio de meu poema

como quem lava as mãos.
Algumas conchas tornaram-se,

que o sol da atenção
cristalizou; alguma palavra
que desabrochei, como a um pássaro.
Talvez alguma concha

dessas (ou pássaro) lembre,
côncava, o corpo do gesto
extinto que o ar já preencheu;
talvez, como a camisa

vazia, que despi.
Nesse poema, depreende-se que o eu lírico

a) certifica-se de que o seu poema se relaciona a coisas materiais, como a camisa ou animadas, como
o pássaro, endossando a materialidade de seu objeto.
b) vale-se de recursos enfáticos como a comparação para descrever o processo de seu trabalho
artístico, o qual resulta em um efeito quase natural.
c) conjuga-se na primeira pessoa do singular, o que faz com que a sentimentalidade esteja bem
presente no poema, pois o eu lírico escreve com amor.
d) sublima o poema, que considera como que cristalizado, impedindo com isso que ele atinja um grau
de movimento e fique preso no imobilismo.
e) alude à concha importante para os barrocos e também para os parnasianos, pois ela é símbolo último
da perfeição a qual tentam alcançar.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Não se certifica (tem certeza), até porque utiliza repetidamente o termo
“talvez”.
Alternativa B: correta – gabarito. O recurso enfático é a comparação, mediante o uso do conectivo
“como”. A temática do poema é metalinguística.
Alternativa C: incorreta. Por mais que o eu lírico fale do seu trabalho, o foco é justamente no
trabalho, objetivamente, e não em sua sentimentalidade.
Alternativa D: incorreta. O poema tem movimento porque é um processo. Tem a dureza da concha
e a leveza do pássaro ao mesmo tempo.
Alternativa E: incorreta. O nome do movimento literário barroco teria se inspirado em uma concha
de formato incomum e Olavo Bilac tem um poema em que fala sobre conchas, mas se o poema modernista
fosse perfeito, o eu lírico não precisaria lavar a mão quando termina sua feitura. No entanto, faz isso,
como quem tivesse cometido um crime.
95
Gabarito: B.
Sobre a segunda geração modernista brasileira, assinale o que for correto.
a) Marca o surgimento de novas formas de se fazer a arte literária, especialmente com lugar de fala,
retrato das minorias e ressignificações.
b) Representa o aperfeiçoamento de técnicas estilísticas, junto ao retorno do regionalismo, e é comum
haver tendências variadas a depender do gênero e do(a) escritor(a).
c) Sua principal crítica foi contra o movimento do Parnasianismo, pois os escritores não queriam mais
se vincular à arte passadista.
d) Em relação à primeira geração, que veio antes, essa de agora se diferencia porque criam uma nova
proposta para expor um manifesto inovador: o orfismo.
e) Profundamente abalados com os choques vivenciados a partir da experiência entre guerras, os
autores passaram a escrever prosa quanto poesia de cunho mais social.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Essas são características da literatura contemporânea e não da segunda
geração modernista.
Alternativa B: incorreta. Essas são características da terceira geração modernista e não da segunda.
Alternativa C: incorreta. Essas são características da primeira geração modernista e não da
segunda.
Alternativa D: incorreta. O orfismo é sinônimo de primeira geração modernista portuguesa.
Alternativa E: correta – gabarito. Portanto, os escritores da segunda geração modernista sentiam
urgência em retratar temas sociais e no geral mostravam-se apreensivos.
Gabarito: E.
Leia o trecho em seguida para responder à questão.
Viver é muito perigoso… Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo
se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar
consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo. Montante, o mais supro, mais sério
— foi Medeiro Vaz. Que um homem antigo… Seu Joãozinho Bem-Bem, o mais bravo de todos, ninguém
nunca pôde decifrar como ele por dentro consistia. Joca Ramiro — grande homem príncipe! — era
96
político. Zé-Bebelo quis ser político, mas teve e não teve sorte: raposa que demorou. Sô Candelário se
endiabrou, por pensar que estava com doença má.
Nessa passagem, o narrador descreve uma situação em que

a) se junta um grupo de cangaceiros com personalidades diferentes, mas que, embora estejam agindo
em ambiente rural, suas histórias de vida refletem no universalismo.
b) o caráter do ser humano se resume ao seu meio, bando e proveniência, já que o determinismo da
obra faz com que pessoas parecidas se unam.
c) era preciso pensar estrategicamente para formar um agrupamento de jagunços, que
intencionalmente agiam de má-fé, para o que precisavam se preparar.
d) é pintada de maneira pitoresca um grupo de amigos que se encontra para um debate político, pois
no Estado Novo era comum haver comícios.
e) os soldados se preparam para ir lutar na Segunda Guerra Mundial, tanto é que precisam primeiro se
conhecerem para formar uma boa convivência.
Comentários
Alternativa A: correta – gabarito. Esse é um trecho do romance “Grande sertão: veredas” (1956)
de Guimarães Rosa. No trecho, é descrito como o grupo de cangaceiros foi formado a partir da reunião
de personalidades diferentes. Mas a sentença “Viver é muito perigoso” nominaliza o verbo no infinitivo,
o que faz com que seu sentido se generalize, ampliando-se para o universalismo e não se restringindo
apenas ao regionalismo.
Alternativa B: incorreta. O determinismo é uma teoria do fim do século XIX mais presente em obras
naturalistas.
Alternativa C: incorreta. Não há dados suficientes no texto para se afirmar isso. Trata-se de um
julgamento de valor.
Alternativa D: incorreta. Não é pitoresco, no sentido de romântico, tampouco essa obra é
diretamente política.
Alternativa E: incorreta. Os cangaceiros lutam no sertão.
Gabarito: A.
A principal diferença entre a poesia da segunda geração modernista para a primeira é:
a) já que não conseguiram se unir, a segunda geração se opõe radicalmente à primeira, pois
consideravam que o início modernista no Brasil foi anticrítico.
b) na primeira geração modernista houve o impacto apenas da Primeira Grande Guerra, ao passo que
na segunda o artista intelectual também já havia sido devastado pela outra.
c) porque apenas oito anos separam uma geração da outra, muitos escritores da primeira ainda
escreviam na segunda, apenas mudando suas características.
97
d) na segunda geração modernista resgata-se valores do final do século XIX, tanto é que ficaram
conhecidos como autores que produziram romance de 30.
e) na segunda geração voltou a haver rigor formal em algumas vertentes e nela verifica-se maior
preocupação social do que em relação à primeira.
Comentários
Questão teórica de conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Tanto a primeira geração modernista brasileira quanto a segunda foram
críticas, mas cada uma à sua maneira.
Alternativa B: incorreta. A segunda geração modernista (1930) se situa entre guerras, pois a
Segunda Guerra Mundial começa em 1939. Mas já havia um pressentimento, que tornava a atmosfera
mais pessimista.
Alternativa C: incorreta. Isso é verdade, mas nem sempre mudavam de todo suas características.
A dica é analisar caso a caso.
Alternativa D: incorreta. Está tudo certo, mas o comando remete-se ao gênero da poesia e não da
prosa.
Alternativa E: correta – gabarito. Se a primeira geração modernista estava preocupada em inovar,
o resgate a formas mais tradicionais vai se verificar na segunda.
Gabarito: E.
Entre os trechos abaixo, assinale entre as obras do autor modernista da segunda geração, Graciliano
Ramos, aquele no qual se observa a retomada de um valor presente no movimento literário do
Naturalismo Brasileiro, que é o zoomorfismo.
a) “Coloquei-me acima da minha classe, creio que me elevei bastante. Como lhes disse, fui guia de
cego, vendedor de doce e trabalhador alugado. Estou convencido de que nenhum desses ofícios me
daria os recursos intelectuais necessários para engendrar esta narrativa.”
b) “A notícia veio de supetão: iam meter-me na escola. Já me haviam falado nisso, em horas de zanga,
mas nunca me convencera de que realizassem a ameaça. A escola, segundo informações dignas de
crédito, era um lugar para onde se enviavam as crianças rebeldes.”
c) “O cochicho risonho afastava-se, chegava-me aos ouvidos como o chiar de um rato. Chiar de rato,
exatamente. Chiar de rato ou carne assada na grelha. Parecia-me que aquilo estava chiando dentro de
mim, que a minha carne se assava e chiava.”
d) “Fabiano aligeirou o passo, esqueceu a fome, a canseira e os ferimentos. As alpercatas dele estavam
gastas nos saltos, e a embira tinha-lhe aberto entre os dedos rachaduras muito dolorosas. Os
calcanhares, duros como cascos, gretavam-se e sangravam.”
e) “Macunaíma pediu para ela ficar mais tempo com os olhos fechados e carregou tejupar marombas
flechas picuás sapicuás corotes urupemas redes, todos esses trens pra um aberto do mato lá no teso
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do outro lado do rio. Quando a velha abriu os olhos estava tudo lá e tinha caça peixes, bananeiras
dando, tinha comida por demais.”
Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de autores e obras do cânone e
identificação de trecho.
Alternativa A: incorreta. Esse é um trecho do romance “São Bernardo” (1934). Na passagem, o
protagonista faz uma reflexão sobre sua vida e sua classe e não se compara a um animal. Pelo contrário:
sua educação fez com que ele aprendesse a ler, o que lhe propiciou a escrita do livro.
Alternativa B: incorreta. Esse é um trecho da obra “Infância” (1945). Nessa
passagem, o autor ainda menino recorda como foi seu ingresso na escola. Porque se
educa, distancia-se do animal.
Alternativa C: incorreta. Cuidado: a mera alusão a animais não torna o texto
zoomorfista. Esse é um trecho do romance “Angústia” (1936), conhecido por ser
psicológico. Luís da Silva associa o riso de Marina, sua ex-namorada, com o chiado de
ratos, o que se internaliza, fazendo com que se acentue o seu trauma.
Alternativa D: correta – gabarito. Zoomorfismo é, literalmente, assumir a forma de animal. Nesse
trecho de “Vidas secas”, um romance de 30, os pés de Fabiano se assemelham aos cascos de animais.
Alternativa E: incorreta. Esse sequer é um trecho de Graciliano Ramos, mas sim do romance
“Macunaíma” (1928), de Mário de Andrade, o que se infere a partir da menção ao nome da personagem.
Gabarito: D.
Os escritores que se empenharam ao escrever romance de 30 foram:
a) Gonçalves de Guimarães; Álvares de Azevedo; Gonçalves Dias e José de Alencar.
b) Gonçalves de Guimarães; Graciliano Ramos; Guimarães Rosa e Rachel de Queiroz.
c) Graça Aranha; Monteiro Lobato; Lima Barreto e Euclides da Cunha.
d) Graciliano Ramos; José Américo de Almeida; José Lins do Rego e Rachel de Queiroz.
e) Ronald de Carvalho; Mário de Andrade; Oswald de Andrade e Manuel Bandeira.
Comentários
Questão de autores do cânone/conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. Todos foram escritores românticos e não modernistas.
Alternativa B: incorreta. Apenas Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz escreveram romance de 30.
Gonçalves de Guimarães é um escritor da primeira geração romântica e Guimarães Rosa é um escritor da
terceira geração modernista.
Alternativa C: incorreta. Todos foram escritores pré-modernistas e não modernistas.
Alternativa D: correta – gabarito. Lembrando que o romance de 30 coincide com a segunda
geração modernista e também foi conhecido como neorrealista, justamente porque sua característica
principal foi retomar alguns pontos do Realismo, como a denúncia social.
Alternativa E: incorreta. Todos foram escritores da primeira geração modernista e não da segunda.
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Gabarito: D.
Leia atentamente o trecho abaixo extraído do livro “Água-viva” de Clarice Lispector.
Não é confortável o que te escrevo. Não faço confidências. Antes me metalizo. E não te sou e me
sou confortável; minha palavra estala no espaço do dia. O que saberás de mim é a sombra da flecha
que se fincou no alvo. Só pegarei inutilmente uma sombra que não ocupa lugar no espaço, e o que
apenas importa é o dardo. Construo algo isento de mim e de ti – eis a minha liberdade que leva à morte.
O texto expressa uma curiosa relação entre narrador e leitor que é a seguinte:
a) a empatia pelo receptor é expressa, tentando lhe conduzir pelo árduo caminho da leitura.
b) o interesse não é mais agradar o público-alvo, mas sim se eximir da responsabilidade.
c) a preocupação de incluir o leitor no texto expressa o afeto necessário para o bem-estar.
d) a indiferença conduz ao isolamento do leitor que demonstra uma apatia doentia.
e) o rancor de não conseguir escrever como deseja faz com que o autor zombe do leitor.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: não sente empatia pelo leitor, pois parece não demonstrar
o menor interesse por ele.
Alternativa B: correta – gabarito. O narrador é transparente no sentido de revelar que o que tem
para dizer não vai agradar e no fim se transforma numa instância fora do texto, “isento de mim e de ti”.
Alternativa C: incorreta. Pelo contrário: o narrador parece passar por um mal-estar, pois não se
sente no clima para agradar o leitor.
Alternativa D: incorreta. O isolamento é do narrador, não necessariamente do leitor.
Alternativa E: incorreta. Não há dados suficientes para se afirmar isso.
Gabarito: B.
Leia o excerto do poema a seguir, presente em “Morte e vida severina” de João Cabral de Melo neto,
a fim de responder às próximas 2 questões.
— Desde que estou retirando

só a morte vejo ativa,
só a morte deparei
e às vezes até festiva;
100
só a morte tem encontrado

quem pensava encontrar vida,
e o pouco que não foi morte
foi de vida Severina
(aquela vida que é menos
vivida que defendida,
e é ainda mais Severina
para o homem que retira).
Penso agora: mas por que
parar aqui eu não podia
e como Capibaribe
interromper minha linha?
ao menos até que as águas
de uma próxima invernia
me levem direto ao mar
ao refazer sua rotina?
Na verdade, por uns tempos,
parar aqui eu bem podia
e retomar a viagem
quando vencesse a fadiga.
Ou será que aqui cortando
agora minha descida
já não poderei seguir
nunca mais em minha vida?
O uso que faz o eu lírico do verbo “retirar” pode ser compreendido como:
a) assim como na expressão idiomática “retiro o que eu disse”, o termo remete-se à interiorização.
b) o deslocamento de tirar de um lugar e pôr em outro o seu corpo social porque não lhe agrada.
c) a necessidade de operar uma migração por causa de uma série de situações de vulnerabilidade.
d) o desejo de espairecer depois de uma longa jornada de trabalho ao viajar para uma praia litorânea.
e) diz respeito ao processo de “severinização” da vida, ao qual todo ser humano pode estar submetido.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Cuidado: o texto de João Cabral de Melo Neto se passa no interior
(sertão), mas não é de todo subjetivo. Pelo contrário: a vida severina é uma tentativa de generalização.
Alternativa B: incorreta. Não é porque não lhe agrada, mas sim porque necessita.
Alternativa C: correta – gabarito. “Morte e vida severina” é um poema narrativo que trata de um
retirante nordestino, saindo do interior de Pernambuco e tentando chegar a Recife. No meio do caminho,
depara-se com várias adversidades, como fome e morte.
Alternativa D: incorreta. Não se trata de um conforto, mas sim de uma necessidade.
Alternativa E: incorreta. Nem todo ser humano; especificamente o retirante. O sofrimento e a
morte são aspectos humanos, mas nem tudo pode ser universalizado.
101
Gabarito: C.
Severino deseja vencer as adversidades, porque tem o objetivo de ver o mar, o que para ele representa
vida. De fato, quando alcança seu destino, é significativo o nascimento de uma criança. Acerca dessa
obra, pode-se afirmar que é:
a) realista, publicada em 1881, com o subtítulo de “memórias póstumas”.
b) naturalista, publicada em 1890, com o subtítulo de “crônica de saudades”.
c) modernista, publicada em 1955, com o subtítulo “um auto de Natal”.
d) modernista, publicada em 1960, com o subtítulo: “diário de uma favelada”.
e) contemporânea, publicada em 2002, com o subtítulo “o santo e a porca”.
Comentários
Questão de conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. “Memórias póstumas de Brás Cubas” é um romance de Machado de Assis.
Alternativa B: incorreta. Esse subtítulo é da obra “O Ateneu” (1888), de Raul Pompeia.
Alternativa C: correta – gabarito. Uma das características dessa obra é mesclar o gênero teatral
medieval do auto e o poema prosaico modernista.
Alternativa D: incorreta. Esse é o subtítulo da obra “Quarto de despejo”, de Maria Carolina de
Jesus.
Alternativa E: incorreta. Esse é o título de uma peça teatral de Ariano Suassuna.
Gabarito: C.
Leia o trecho do poema a seguir para responder à questão, retirado da obra “Romanceiro da
Inconfidência” de Cecília Meireles.
O país da Arcádia
jaz dentro de um leque:
existe ou se acaba
conforme o decrete
a Dona que o entreabra,
a Sorte que o feche.
É sonho que guarda

em pálpebra leve,
diáfana e parada,
a emoção campestre
102
de suspiro d'água
em flor que fenece.
- Desejo que afaga.
- Dom que se oferece.
(Ó rápida aljava,
não sejas tão breve,
que o amor chega, passa
e logo se esquece!)
Sendo uma obra modernista, apesar de se referir ao movimento árcade, trata-se de uma crítica a ele,
porque:
a) cometer um crime que é matar com a aljava é um ato que destrói o idealismo Árcade, movimento
que em seu contexto histórico só presenciou harmonia.
b) viver na Arcádia pode parecer a metáfora de um sonho, quando no fundo se transforma em aljava,
pois o carpe diem não se sustenta mais.
c) experienciar uma revolta emancipatória como a conjuração inspirou os poetas engajados, que
prefiram viver em berço esplêndido, negando a cidade.
d) presenciar o fim da Arcádia é constatar o risco que ela estava correndo, na tentativa de recuperá-la
em um movimento posterior, a partir da relação com o Parnaso.
e) criticar os costumes da sociedade burguesa, que se vestia com demasiada pompa, por exemplo,
usando leques, era o principal objetivo do movimento.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. Cuidado com absolutismos. Não foi só harmonia, porque o Arcadismo
Brasileiro coincidiu com a Inconfidência Mineira, um período de muita perseguição, tortura e violência.
Alternativa B: correta – gabarito. O país da Arcádia é um país ambíguo. A crítica perpassa o
revisionismo histórico, pensando como que o Século das Luzes (XVIII), conhecido por valorizar a razão,
converteu-se em uma “caça às bruxas”. Não há mais espaço cabível para o uso de latinismos árcades, que
eram pacíficos e idealistas.
Alternativa C: incorreta. O fugere urbem não é um latinismo aludido nesse poema.
Alternativa D: incorreta. Cuidado com informações extratextuais: não há informações suficientes
para se afirmar isso.
Alternativa E: incorreta. A burguesia é uma classe que vai ascender no século XIX. O Arcadismo
criticou a classe social da aristocracia, mas seus objetivos não param por aí.
Gabarito: B.
Os poetas que ficaram conhecidos como neossimbolistas na segunda geração modernista foram:
a) Florbela Espanca, Camilo Pessanha e Eugênio de Castro.
103
b) Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Graciliano Ramos.

c) Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Murilo Rubião.
d) Cecília Meireles, Vinicius de Moraes e Murilo Mendes.
e) Paulo Leminski, Ana Cristina Cesar e Cacaso.
Comentários
Questão de autores do cânone/conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. Esses são autores simbolistas portugueses.
Alternativa B: incorreta. Só Graciliano Ramos é um autor da segunda geração modernista, mas ele
não foi neossimbolista, mas sim neorrealista.
Alternativa C: incorreta. São autores da segunda geração modernista, mas Carlos Drummond de
Andrade e João Cabral de Melo Neto, por exemplo, estão mais próximos do neoparnasianismo.
Alternativa D: correta – gabarito. O neossimbolismo é a tentativa de, em plena segunda geração
modernista, retomar temas como: musicalidade, misticismo, antimaterialismo, antirracionalidade,
loucura etc.
Alternativa E: incorreta. Esses são autores da poesia marginal, uma tendência da década de 1960.
Gabarito: D.
Sobre a narrativa de Clarice Lispector, pode-se afirmar que
a) leva em consideração o lugar de fala feminino, pois uma de suas personagens é Maria Bonita.
b) atinge um aperfeiçoamento de técnica ao usar o fluxo de consciência, empregando mais intimismo.
c) representa uma parte da geração de 1945 que é regionalista, pois volta-se para o interior.
d) usa como principal técnica o neologismo, a partir do processo de formação de novas palavras.
e) escreve obras históricas que revelam um ato de resistência contra o regime militar da época.
Comentários
Questão de conhecimento de autora e obra do cânone, inspirada na prova da EsPCEx 2012.
Alternativa A: incorreta. Maria Bonita é uma cangaceira brasileira, companheira de
Lampião. Cuidado: a prosa da terceira geração modernista pode ser regionalista, urbano ou
intimista, e a de Clarice Lispector se enquadra nessas últimas duas classificações.
Alternativa B: correta – gabarito. O fluxo de consciência é uma forma estilística na
qual se discerne um caminho de pensamento dentro da cabeça da personagem.
Alternativa C: incorreta. O escritor regionalista principal da terceira geração
modernista foi Guimarães Rosa e não Clarice Lispector.
Alternativa D: incorreta. Quem também emprega essa técnica vai ser Guimarães Rosa. Lembrando
que são autores da mesma geração, mas que apresentam estilos bem diferentes.
Alternativa E: incorreta. Clarice Lispector falece em 1977, mas suas obras não são históricas e sua
resistência não é um apelo direto.
Gabarito: B.
104
Leia o trecho abaixo, retirado da obra “A hora da estrela” de Clarice Lispector para responder à
questão.
Ela era calada (por não ter o que dizer) mas gostava de ruídos. Eram vida. Enquanto o silêncio da
noite assustava: parecia que estava prestes a dizer uma palavra fatal. Durante a noite na rua do Acre
era raro passar um carro, quanto mais buzinassem, melhor para ela. Além desses medos, como se não
bastassem, tinha medo grande de pegar doença ruim lá embaixo dela – isso, a tia lhe ensinara. Embora
os seus pequenos óvulos tão murchos. Tão, tão. Mas vivia em tanta mesmice que de noite não se
lembrava do que acontecera de manhã. Vagamente pensava de muito longe e sem palavras o seguinte:
já que sou, o jeito é ser. Os galos de que falai avisavam mais um repetido dia de cansaço. Cantavam o
cansaço. E as galinhas, que faziam elas? Indagava-se a moça. Os galos pelo menos cantavam. Por falar
em galinha, a moça às vezes comia num botequim um ovo duro. Mas a tia lhe ensinara que comer ovo
fazia mal para o fígado.
Quanto à protagonista, que se chama Macabéa, assinale aquilo que for INCORRETO.
a) Seu nome advém de uma passagem bíblica, mostrando que para a autora a religiosidade é relevante.
b) É uma mulher insegura e marcada pela ensinamentos limitantes de uma educação familiar.
c) Tenta compensar com sua existência uma falta espiritual que não sabe contornar por outras vias.
d) Como um bicho, sente que sua expressão de linguagem é limitada, ainda mais porque é mulher.
e) Vive um constante emparedamento, pois para qualquer direção que se vire parece haver um
impedimento.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autora e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta – gabarito. O povo dos Macabeus era guerreiro, mas o seu uso no livro
evidencia uma ironia: Macabéa é uma personagem extremamente simples, sem força e que ao final do
livro falece. As obras modernistas não tendem a ser religiosas.
Alternativa B: correta. Na passagem acima, evidencia-se como que Macabéa fica presa a alguns
ensinamentos de sua tia, que limitam seu comportamento e confundem sua mente, não lhe preparando
para a vida real.
Alternativa C: correta. O que se infere a partir do trecho: “já que sou, o jeito é ser.”
Alternativa D: correta. O que se depreende da reflexão sobre as galinhas.
Alternativa E: correta. Macabéa encontra várias dificuldades em sua vida: no trabalho, ao se
expressar, ao se relacionar, ao entender as pessoas etc.
Gabarito: A.
105
Leia o poema abaixo para responder à questão.
Não te deixes destruir…

Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
CORALINA, Cora. Aninha e Suas Pedras.
Disponível em: https://tinyurl.com/86etx774. Acesso em: 06 jun. 2021.
Nesse poema, a mensagem final é a:

a) incoerência.
b) inconstância.
c) impaciência.
d) resignação.
e) resiliência.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/semântica.
Alternativa A: incorreta. Incoerência é não ter nexo, e o poema é motivador.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: o poema tenta gerar uma base sólida.
Alternativa C: incorreta. O eu lírico instrui no sentido de que viver é um processo; em nada
adiantaria ter impaciência se o que se almeja é um projeto sério e a longevidade.
Alternativa D: incorreta. Resignação significa demissão voluntária, desistência, subordinação e o
poema prega o contrário disso.
Alternativa E: correta – gabarito. Quase no sentido pedagógico, o eu lírico dá uma série de leves
conselhos para se alcançar mais força e superação na vida. Lembrando que Cora Coralina é uma poetisa
contemporânea conhecida por suas simplicidade e sensibilidade.
Gabarito: E.
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Leia a crônica abaixo, de autoria de Rubem Braga, para responder à questão.
AS BOAS COISAS DA VIDA

Uma revista mais ou menos frívola pediu a várias pessoas para dizer as “dez coisas que fazem a
vida valer a pena”. Sem pensar demasiado, fiz esta pequena lista:
- Esbarrar às vezes com certas comidas da infância, por exemplo: aipim cozido, ainda quente, com
melado de cana que vem numa garrafa cuja rolha é um sabugo de milho. O sabugo dará um certo gosto
ao melado? Dá: gosto de infância, de tarde na fazenda.
- Tomar um banho excelente num bom hotel, vestir uma roupa confortável e sair pela primeira vez
pelas ruas de uma cidade estranha, achando que ali vão acontecer coisas surpreendentes e lindas. E
acontecerem.
- Quando você vai andando por um lugar e há um bate-bola, sentir que a bola vem para o seu lado
e, de repente, dar um chute perfeito – e ser aplaudido pelos servente de pedreiro.
- Ler pela primeira vez um poema realmente bom. Ou um pedaço de prosa, daqueles que dão
inveja na gente e vontade de reler.
- Aquele momento em que você sente que de um velho amor ficou uma grande amizade – ou que
uma grande amizade está virando, de repente, amor.
- Sentir que você deixou de gostar de uma mulher que, afinal, para você, era apenas aflição de
espírito e frustração da carne (...).
- Viajar, partir…
- Voltar.
- Quando se vive na Europa, voltar para Paris, quando se vive no Brasil, voltar para o Rio.
- Pensar que, por pior que estejam as coisas, há sempre uma solução, a morte – o assim chamado
descanso eterno.
Ao final, o narrador revela-se

a) sonhador, porque fala a partir de uma condição que não tem as coisas relatadas, no entanto deseja
tê-las.
b) controverso, pois apresenta toda uma lista de coisas atraentes e empolgantes, quando no fundo
mantém ceticismo.
c) pragmático, já que superou uma etapa juvenil da vida em que são feitas projeções para se mostrar
mais realista.
d) irônico, já que debocha de uma revista onde trabalhou, mas o demitira, fazendo na verdade uma
lista maldosa.
e) melancólico, uma vez que sabe que não vai conseguir nenhum dos desejos citados e apenas está
fantasiando.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário. Rubem Braga (1913-1990) foi um escritor e jornalista.
Foi embaixador do Brasil em Marrocos e é um exímio cronista que já caiu na prova da EsPCEx 2001.
Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: a frase final da crônica volta-se para o pessimismo mais do
que para uma visão sonhadora.
107
Alternativa B: correta – gabarito. Um ceticismo quase mórbido, se for levado em consideração o

apego à morte, como tentativa de solução, aludida no último parágrafo.
Alternativa C: incorreta. Cuidado com informações extratextuais: não há dados suficientes para se
afirmar isso.
Alternativa D: incorreta. Atenção: é sim, irônico, no início, ao chamar uma tal revista de fútil, mas
não menciona se trabalhou lá.
Alternativa E: incorreta. Parte-se do pressuposto de que não são só fantasias, mas sim lembranças.
Gabarito: B.
Leia o trecho abaixo para responder à questão.
Até que enfim parou de chover. As nuvens deslisa-se para o poente. Apenas o frio nos fustiga. E
varias pessoas da favela não tem agasalhos. Quando uns tem sapatos, não tem palitol. E eu fico
condoida vendo as crianças pisar na lama. (...) Percebi que chegaram novas pessoas para a favela. Estão
maltrapilhas e as faces desnutridas. Improvisaram um barracão. Condoí-me de ver tantas agruras
reservadas aos proletarios. Fitei a nova companheira de infortunio. Ela olhava a favela, suas lamas e
suas crianças pauperrimas. Foi o olhar mais triste que já presenciei. Talvez ela não mais tem ilusão.
Entregou sua vida aos cuidados da vida.
Nesse excerto, a narradora revela uma visão de mundo que é:

a) pessimista, sendo que não enxerga mais nenhuma expectativa e espera a vida cumprir sua própria
finalidade.
b) desoladora, vendo-se obrigada a ter que roubar o alimento de sua nova companheira, expondo um
ato desumano.
c) aguda, delatando condições extremas, mas sem com isso abandonar sua capacidade de sentir
empatia.
d) esperançosa, pois – apesar de viver na miséria – organiza um grupo social capaz de ajudar as crianças
carentes.
e) crítica, porque o relato serve de documento para apresentar uma pauta política contra as
autoridades.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autora e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. A narradora infere que essa poderia ser talvez a visão da mulher, sua nova
companheira, mas não compartilha necessariamente dessa mesma visão.
Alternativa B: incorreta. Ela não chega a cometer crime; pelo contrário, chama a nova moradora
de companheira, numa atitude solidária.
Alternativa C: correta – gabarito. Trata-se de um trecho da obra “Quarto de despejo: diário de uma
favelada”, de Maria Carolina de Jesus. A narradora expressa um duro cotidiano, cheio de vulnerabilidades
108
sociais, em que sujeitos periféricos precisam se adaptar para poder sobreviver, já desde a infância, que
por isso acaba por ser perdida.
Alternativa D: incorreta. Não há menção à formação de um grupo social, mas sim é descrita a
chegada de novos moradores na comunidade.
Alternativa E: incorreta. Em várias outras passagens, a narradora faz críticas a políticos, mas não
nesse trecho.
Gabarito: C.
Exemplos de canção de protesto foram interpretados por:
a) Roberto Carlos; Erasmo Carlos e Wanderleia.
b) Chico Buarque; Geraldo Vandré e Aldir Blanc.
c) Caetano Veloso; Gilberto Gil e Preta Gil.
d) Jorge Mautner; Torquato Neto e Waly Salomão.
e) Chacal; Chico Alvim e Tom Zé.
Comentários
Questão de conhecimento de autores do cânone/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Esse grupo formou a Jovem Guarda, focado no estilo e na moda.
Alternativa B: correta – gabarito. Chico Buarque e Milton Nascimento cantaram “Cálice”; Geraldo
Vandré cantou “Para não dizer que não falei das flores” e Aldir Blanc e João Bosco cantaram “Alferes”.
Lembrando que a canção de protesto foi um gênero de resistência comum durante o regime militar.
Alternativa C: incorreta. Os dois primeiros integraram o movimento da Tropicália, e Preta Gil é
inclusive filha de Gilberto Gil.
Alternativa D: incorreta. São autores da contracultura. Jorge Mautner também era músico e Waly
Salomão fazia documentários.
Alternativa E: incorreta. Chacal e Chico Alvim estão mais ligados à poesia marginal, ao passo que
Tom Zé à Tropicália.
Gabarito: B.
Leia um trecho da crônica “A poesia das coisas mais simples”, de autoria de Moacyr Scliar, a fim de
Todo mundo o conhecia como “o velho Braga”, e isso, acho, desde que ele era jovem jornalista
[...].
109
Assim era Braga: um homem que tratava as palavras com sensibilidade, com sabedoria e com
maestria. Por isso era grande; não porque se desse importância. No Recife, Braga morou algum tempo
na famosa pensão de dona Berta, mãe de Noel Nutels, notável sanitarista, já falecido. Um dia apareceu
ali um camundongo. Foi uma correria; ao final, Braga liquidou o roedor com um grosso canudo de
papelão. Eu sabia que isto ainda serviria para alguma coisa útil, disse, mostrando o conhecido canudo:
era o seu diploma universitário.
Este homem amável, um pouco retraído, sabia ver poesia nas coisas simples. E a camisa que ficou
ondulando ao vento, num varal de fundo de quintal, dá agora adeus a um de nossos maiores escritores.
Nesse sentido, a crônica pode ser compreendida como um gênero que:

a) reinventa o mundo a partir de um olhar lúdico, no caso, porque lembra do velho Braga quando ele
não era velho, mas apenas uma criança.
b) ridicularia o papel do ser humano, que foi ludibriado pelo movimento arisco do animal, apesar de
ser um homem estudado e erudito.
c) ostenta o estilo memorialista, em particular, ao homenagear um amigo que já morreu, sendo que
era seu colega de profissão quando era jornalista.
d) representa a realidade, mas não mais com precisão, porque não mais caracteriza situações heroicas,
mas sim o cotidiano mecânico.
e) retrata com criticidade as situações banais, sendo que nesse caso ainda são explorados fatores como
o humor e a inversão de valores.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/teoria literária. Moacyr Scliar (1937-2011) foi um
escritor brasileiro. Em 2003 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Escreveu predominantemente
contos, romances e literatura infanto-juvenil. Seu romance Max e os felinos (1981) guarda semelhanças
com o filme “As aventuras de Pi” (2012). Ele já caiu na prova da EsPCEx 2002.
Alternativa A: incorreta. Não há dados suficientes para saber se Braga foi um amigo de infância do
narrador.
Alternativa B: incorreta. Não chegou a ser ludibriado, pois acabou por acertar o animal, ainda que
tivesse sido com seu diploma.
Alternativa C: incorreta. O memorialismo é uma tendência presente na literatura contemporânea,
mas não nessa crônica. Nem se sabe ao certo se Braga é um amigo íntimo do narrador.
Alternativa D: incorreta. Continua representando com precisão a realidade, até porque o texto
está cheio de descrições. Retrata o cotidiano, mas esse texto não é uma crítica à mecanização da vida.
Alternativa E: correta – gabarito. A crônica é uma lente de aumento na vida cotidiana. A partir dos
fatos mais simples, reflexões complexas podem ser elaboradas. Nesse trecho, há humor, porque Braga
inesperadamente mata um camundongo, logo com um objeto que deveria ser importante, que é o seu
diploma. Por causa disso, há inversão de valores: todo o símbolo do saber acadêmico se reduz a uma
ferramenta/arma, tendo a sua utilidade sido reduzida a isso.
Gabarito: E.
110
Leia o poema de Manoel de Barros abaixo para responder à questão.
O mundo meu é pequeno, Senhor.

Tem um rio e um pouco de árvores.
Nossa casa foi feita de costas para o rio.
Formigas recortam roseiras da avó.
Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas.
Seu olho exagera o azul.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves.
Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio.
Quando o rio está começando um peixe, Ele me coisa
Ele me rã
Ele me árvore.
De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos.
BARROS, Manoel de. Sombra-boa I. Disponível em: https://tinyurl.com/z8we7f5b. Acesso em: 06 jun. 2021.
A perspectiva brincalhona do poeta subverte a ordem inclusive de classes gramaticais, pois transforma
palavras que são ______ em ______. Preenchendo-se a lacuna, tem-se:
a) substantivos | verbos.
b) verbos | substantivos.
c) adjetivos | substantivos.
d) substantivos | adjetivos.
e) verbos | adjetivos.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/Gramática aplicada à
Literatura.
Alternativa A: correta – gabarito. Nos versos “Ele me rã” e “Ele me
árvore”, por causa do uso do pronome oblíquo na segunda posição, infere-se
que a classe morfológica em seguida fosse um verbo pronominal, quando no
fundo o que aparecem são substantivos, logo animais. Manoel de Barros é um
poeta modernista conhecido por ser o poeta das coisas simples, resgatando a
valorização da natureza.
Alternativa B: incorreta. É o contrário.
Alternativa C: incorreta. O que é incluído no jogo são os substantivos e não os adjetivos.
Alternativa D: incorreta. A ordem entre substantivos e adjetivos não se altera, pois são os
substantivos que são importantes para o jogo.
Alternativa E: incorreta. Verbos sim, mas adjetivos não.
Gabarito: A.
111
Sobre as escritoras brasileiras contemporâneas, associe as informações da primeira coluna com as da
segunda.
(1) Marina Colasanti Teve de conciliar os estudos com o trabalho de empregada

doméstica, e hoje é Doutora em Literatura Comparada pela UFF.
Destaca-se o seu livro de contos chamado “Olhos d'água” (2014).
(2) Adélia Prado Nasceu em Divinópolis e formou-se em Filosofia. As suas
características principais são: linguagem coloquial, vocabulário
simples, poemas leves e marcantes. Sua obra-prima é “Bagagem”
(1975).
(3) Conceição Evaristo Tem ascendência ítalo-brasileira, mas nasceu mesmo em Asmara,
uma cidade da Eritreia. Uma de suas principais obras é: “Eu sei,
mas não devia” (1995).
A ordem correta é:
a) 1 – 2 – 3
b) 2 – 1 – 3
c) 2 – 3 – 1
d) 3 – 2 – 1
e) 3 – 1 – 2
Comentários
Questão de conhecimento de autoras do cânone/associar colunas.
(3) Conceição Evaristo. É uma escritora preta, sendo importante para ela o lugar de fala. Outras
obras importantes são: “Ponciá Vivêncio” (2003) e “Becos da memória” (2006).
(2) Adélia Prado. Sua poesia é conhecida por retratar o cotidiano a partir do olhar feminino, como
é o caso do poema “Com licença poética”, em que estabelece intertextualidade com o “Poema de sete
faces” de Carlos Drummond de Andrade.
(1) Marina Colasanti. É seis vezes ganhadora do Prêmio Jabuti e “Passageira em trânsito” é
considerada sua magnum opus. Seu estilo é marcado por uma escrita fluida e concisa, e também escreveu
literatura infanto-juvenil.
Gabarito: D.
Leia o trecho do poema “Nota social”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.
Numa árvore do passeio público

(melhoramento da atual administração)
árvore gorda, prisioneira
112
de anúncios coloridos,
árvore banal, árvore que ninguém vê
canta uma cigarra.
Canta uma cigarra que ninguém ouve
um hino que ninguém aplaude.
Canta, no sol danado.
O poeta entra no elevador

o poeta sobe
o poeta fecha-se no quarto.
O poeta está melancólico.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013 (p. 43).
Mesmo estando em um livro de 1930, obra de uma fase juvenil, esse poema já expressa algumas
questões importantes para o poeta, como:
a) crítica social e memorialismo infantil.
b) veneração da tecnologia e nacionalismo.
c) valorização da música e perda do senso estético.
d) descaso com a natureza e crítica à propaganda.
e) ironia e desespero frente à falta de sentido da vida.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Atenção: por mais que essas sejam características drummondianas
também, elas não se verificam nesse poema.
Alternativa B: incorreta. Não há veneração da tecnologia; pelo contrário: o poeta entra
melancolicamente no elevador, sabendo que irá conduzir sua vida igualmente melancólica.
Alternativa C: incorreta. Não perda do senso estético, mas sim tentativa desesperada de recuperá-
lo, voltando a ouvir sons naturais, como é o caso do canto da cigarra.
Alternativa D: incorreta. Não é descaso com a natureza, mas sim um alerta para o risco de ela se
perder.
Alternativa E: correta – gabarito. O passeio público é melhorado, mas quando o eu lírico entra na
vida privada, subindo pelo elevador e se isolando, encontra-se melancólico. O fechar-se para o quarto é
também o fechar-se para a vida, pois o eu lírico se sente desajustado. É a fase gauche de Carlos Drummond
de Andrade.
Gabarito: E.
Leia o trecho abaixo para responder à questão, excerto final do romance “Viva o povo brasileiro” de
João Ubaldo Ribeiro.
113
No céu de Amoreiras nada se via, a não ser as constelações de janeiro em seu passeio inexorável.
Mais acima desse céu de Amoreiras, onde tudo existe e nada é inacreditável, o Poleiro das Almas,
vibrando de tantas asas agitadas e tantos sonhos brandidos ao vento indiferente do Universo, quase
despenca da agitação que o avassalou, enquanto a terra latejava lá embaixo e as alminhas faziam força
para descer, descer, descer, descer, descer, descer, porque queriam brigar. Por que queriam brigar?
Não se sabe, nada se sabe, tudo se escolhe. Tudo se escolhe, como sabem as alminhas agora tiritando
no frio infinito do cosmos, que as balança como as arraias empinadas pelos meninos de que têm
saudades. Almas brasileirinhas, tão pequetitinhas que faziam pena, tão bobas que davam dó, mas
decididas a voltar para lutar. Alminhas que tinham aprendido tão pouco e queriam aprender mais,
como é da natureza das alminhas, e tremeram outra vez quando lá embaixo três ladrões correram da
velha canastra, a qual foi soterrada pelo sangue, pelo sangue, pelo sangue, pela argamassa que é a
mesma coisa, pelo suor que é a mesma coisa, pelas lágrimas que são a mesma coisa, pelo leite do peito
que é a mesma coisa. Isso lá em cima, Deus sorrindo ou não, porque embaixo, muito embaixo sob os
ares de Amoreiras, tudo acontecia ou estava sempre podendo acontecer. O sudeste bateu, juntou as
nuvens, começou a chover em bagas grossas e ritmadas, todos os que ainda estavam acordados
levantaram-se para fechar suas janelas e aparar a água que viria das calhas. Ninguém olhou para cima
e assim ninguém viu, no meio do temporal, o Espírito do Homem, erradio mas cheio de esperança,
vagando sobre as águas sem luz da grande baía.
RIBEIRO, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
Depreende-se do texto que

a) na modernidade o fatalismo que é típico do fim do século passado é superado e a vida se tornou
mais leve.
b) a figura de Deus está personificada, pois tudo estava sendo feito de acordo com Sua vontade sem
maiores percalços.
c) as almas brasileiras encarnam um destino nacional que é progressista, sem olhar para trás nem se
arrepender.
d) é papel do escritor reconduzir a humanidade à sua essência espiritual, perdida no tempo
contemporâneo.
e) o ser humano será capaz de vencer o sofrimento da vida existencial quando conseguir enxergar um
sentido superior.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. João Ubaldo
Ribeiro (1941-2014) foi escritor e ganhou o Prêmio Camões 2008. Sua obra é reconhecida na Alemanha,
onde ocupou uma cátedra docente na Universidade de Tübingen. Em 1993 foi eleito para a cadeira 34 da
Academia Brasileira de Letras.
Alternativa A: incorreta. Não necessariamente mais leve, porque a reiteração do termo “pelo
sangue” indica que muito foi preciso para que a violência fosse superada, isso se ela de fato foi. Nessa
obra, as alminhas podem retornarem e reencarnarem, reiniciando um novo ciclo.
Alternativa B: incorreta. Deus está sorrindo ou não. O trecho não chega a ser conclusivo.
Alternativa C: incorreta. Elas podem olhar para trás e se arrepender. Faz parte do crescimento
humano e é o que nos torna mais empáticos.
114
Alternativa D: incorreta. Se essa essência está perdida ou não, ela pode ser encontrada a partir da
amplitude do olhar. O escritor, por meio do seu papel estético, pode fazer isso, mas não necessariamente.
Alternativa E: correta – gabarito. O que se infere do trecho “Ninguém olhou para cima e assim
ninguém viu, no meio do temporal, o Espírito do Homem, erradio mas cheio de esperança”. A mensagem
final é positiva. Basta saber olhar.
Gabarito: E.
Leia as informações abaixo sobre Cecília Meireles.
I – Foi uma poetisa da segunda geração modernista cuja obra foi marcada por intimismo.
II – Como um de seus trabalhos principais, encontra-se “Romanceiro da Inconfidência” (1953).
III – Além de poesia histórica e sentimental, também escreveu literatura infantil.

a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I, II e III.
Comentários
Questão de julgar itens/conhecimento sobre autor e obra do cânone.
Afirmação I: correta. Além de intimismo, outras características de sua poesia são: musicalidade,
linguagem sensorial e introspecção.
Afirmação II: correta. Obra modernista que repensa o período literário do Arcadismo e fatos
históricos importantes do século XVIII, como a Conjuração Mineira.
Afirmação III: correta. Dessa fase, destaca-se o livro “É isto ou aquilo?” (1964).
Gabarito: E.
Considere o texto abaixo para responder à questão.
Quando voltou para casa, seu maior pensamento era que tinha a boa notícia para dar à mãe: o
que o homem tinha falado — que o Mutúm era lugar bonito... A mãe, quando ouvisse essa certeza,
havia de se alegrar, ficava consolada. Era um presente; e a ideia de poder trazê-lo desse jeito de cor,
como uma salvação, deixava-o febril até nas pernas. Tão grave, grande, que nem o quis dizer à mãe na
presença dos outros, mas insofria por ter de esperar; e, assim que pôde estar com ela só, abraçou-se a
115
seu pescoço e contou-lhe, estremecido, aquela revelação. A mãe não lhe deu valor nenhum, mas mirou
triste e apontou o morro; dizia: — "Estou sempre pensando que lá por detrás dele acontecem outras
coisas, que o morro está tapando de mim, e que eu nunca hei de poder ver..." Era a primeira vez que a
mãe falava com ele um assunto todo sério.
Quanto ao trecho, é correto afirmar que

a) o trecho explora a situação de uma criança que quer impressionar a mãe, mas ela se encontra em
outro estado de espírito.
b) no sertão nordestino brasileiro, a condição de vulnerabilidade assolava as personagens que
precisavam se mudar de região.
c) é mencionado no trecho que a mãe valorizava muito o filho, fazendo com que ele participasse da
dinâmica familiar.
d) as personagens, sobretudo a mãe, gostavam muito do lugar onde viviam, especialmente dos montes,
os quais achavam belos.
e) o filho servia como mensageiro da mãe, ganhando em troca favores, como é o caso de poder passar
mais tempo com ela.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento sobre autor e obra do cânone e
conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: correta – gabarito. O filho chega feliz em casa com uma mensagem para a mãe.
Espera ansiosamente um momento que pudesse estar a sós com ela para contar o que sabia. E, quando
conta a informação, frustra-se, pois a mãe não tem a mesma visão que ele acerca do mesmo fato.
Alternativa B: incorreta. Trata-se de um trecho do livro “Campo geral” de Guimarães Rosa. Logo,
ainda que fosse sertão, seria o mineiro e não o nordestino. Lembrando que este modernista já caiu na
prova da EsPCEx 2015.
Alternativa C: incorreta. Pelo contrário: a criança ao final do trecho tem a impressão de que era a
primeira vez que a mãe estava compartilhando com ele uma informação realmente séria, relevante.
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário: ela tem a sensação de que os montes escondem algo que
ela jamais seria capaz de ver.
Alternativa E: incorreta. Ele era, sim, uma espécie de mensageiro. Porém, o trecho deixa a
entender que o tempo que passavam juntos não servia como uma espécie de lucro ou recompensa, mas
sim da relação filial.
Gabarito: A.
“São Bernardo” e responda ao que se pede.
“Comecei a sentir ciúmes. O meu primeiro desejo foi agarrar o Padilha pelas orelhas e deitá-lo
fora, a pontapés. Mas conservei-o para vingar-me.
116
Arredei-o de casa, a bem dizer prendi-o na escola. Lá vivia, lá dormia, lá recebia alimento, boia
fria, num tabuleiro.
Estive quatro meses sem lhe pagar o ordenado. E quando o vi sucumbido, magro, com o colarinho
sujo e o cabelo crescido, pilheriei:
— Tenha paciência. Logo você se desforra. Você é um apóstolo. Continue a escrever os
contozinhos sobre o proletário.
O infeliz defendia-se. Com as humilhações continuadas, limitava-se por fim a engolir em seco.
Um dia chorou, pediu-me soluçando que lhe arranjasse uma colocação no fisco estadual.”

a) o protagonista é um narrador em terceira pessoa, um benevolente fazendeiro que ajudava os seus
funcionários.
b) o protagonista é um narrador em terceira pessoa, e mantém relações conflituosas com o servidor
Padilha.
c) o protagonista é um narrador em primeira pessoa, e foi por meio de Padilha que conhece sua
namorada Marina.
d) o protagonista é um narrador em primeira pessoa, e ajuda o colega Padilha a conseguir um emprego
no funcionalismo público.
e) o protagonista é um narrador em primeira pessoa, revelando personalidade conturbada e
menosprezando a ideologia do colega.
Comentários
Questão baseada na prova da EsPCEx 2015. Nesse ano e nessa prova, só caiu o movimento literário
do Modernismo (foram 5 questões!).
Alternativa A: incorreta. O narrador é em terceira pessoa e não em primeira.
Alternativa B: incorreta. O narrador é em terceira pessoa e não em primeira.
Alternativa C: incorreta. Para acertar esse tipo de questão, as duas partes da alternativa precisam
estar corretas. Porém, não precisa dominar o enredo do livro para a EsPCEx e além do mais são
informações extratextuais. A namorada de Paulo Honório, protagonista de “São Bernardo”, é Madalena e
não Marina.
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário: parece negar ajuda a ele, pois Padilha ao fim do trecho se
vê na necessidade de fazer este pedido.
Alternativa E: correta – gabarito. Primeira pessoa, sim, o que se observa a partir da conjugação dos
verbos. Personalidade conturbada, porque admite sentir ciúme. E menospreza a opinião de Padilha
quando usa diminutivo em “contozinhos”.
Gabarito: A.
48. (ITA – 2020 – 1ª fase) Leia as asserções destacadas e, em seguida, assinale a alternativa correta:
I. Em “Senhor Diretor”, Maria Emília é uma mulher marcada por uma rígida repressão sexual.
II. Em “A Sauna”, após repassar sua vida a limpo, o narrador protagonista se arrepende de seus atos
egoístas e mesquinhos.
117
III. Em “WM”, os fatos da vida de Wlado não são revelados ao leitor.

IV. Em “Seminário dos ratos”, a invasão dos ratos simboliza uma aterrorizante ameaça ao poder
representado pelo Secretário do Bem-Estar Público e Privado e pelo Chefe de Relações Públicas.
a) ( ) são todas asserções verdadeiras.

b) ( ) I, III e IV são falsas.
c) ( ) I e II são verdadeiras.
d) ( ) I e IV são verdadeiras.
e) ( ) são todas asserções falsas.
Comentários
Questão de julgar itens/verificação de leitura.
Afirmação I: verdadeira. Maria Emília é uma mulher de 61 anos que, quando passa por uma banca
de jornal e vê um casal em uma pose sensual, começa a pensar na sua própria vida. Ela é uma senhora
moralista e virgem. Também quando vai ao cinema começa a comparar a vida com a da amiga Mariana,
que teve uma vida com vários amores.
Afirmação II: falsa. Culpa e não arrependimento. Só as lágrimas e o remorso não são suficientes
para fazerem o narrador mudar seu comportamento e suas ações.
Afirmação III: falsa. Os irmãos Wlado e Wanda se confundem; é Wlado que é o paciente no hospital
psiquiátrico.
Afirmação IV: verdadeira. É um mecanismo de higiene às avessas: ao mesmo tempo que são
animais repugnantes, são eles que devoram todos os políticos, bons e ruins, permitindo uma possível
restauração de uma nova ordem.
Gabarito: D.
49. (ITA – 2019) Leia o poema de autoria de Cecília Meireles.
“Epigrama n. 04”
O choro vem perto dos olhos

para que a dor transborde e caia.
O choro vem quase chorando
como a onda que toca a praia.
Descem dos céus ordens augustas

e o mar chama a onda para o centro.
O choro foge sem vestígios,
mas levando náufragos dentro.
(MEIRELES, Cecília, Viagem/Vaga música. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.p.43)
O texto
118
I. aproxima metaforicamente um fenômeno humano e um fenômeno natural a partir da identificação

de, pelo menos, um traço comum a ambos: água em movimento.
II. sugere que, enquanto o movimento do choro é ligado à variação das emoções, o movimento da onda
deve-se a forças naturais, responsáveis pela circularidade marítima.
III. ameniza o dramatismo do choro humano, pois, quando acomete o sujeito, ele passa naturalmente,
como a onda que volta ao mar.
IV. leva-nos a perceber que o choro contido tem um impacto emocional que o torna desolador.
Estão corretas:
a) I e II apenas;
b) I, II e IV apenas;
c) I, III e IV apenas;
d) II e III apenas;
e) todas.
Comentários
Afirmação I: correta. A poesia aproxima choro e ondas.
Afirmação II: correta. Em “O choro vem quase chorando / como a onda que toca a praia”, o
primeiro verso mostra a variação das emoções; o segundo, o movimento das marés.
Afirmação III: incorreta. O sentimento humano não é amenizado, uma vez que “o choro foge sem
vestígios / mas levando náufragos dentro”; desse modo, o sentimento é potencializado, principalmente
ao aproximar a ideia de sofrimento e de perda de orientação simbolizada pela imagem do náufrago.
Afirmação IV: correta. “O choro (...) cala” indica que há contenção do sentimento; porém, por
tragar náufragos, a dor é desoladora.
Gabarito: B.
50. (ITA – 2019) São Bernardo, de Graciliano Ramos, é obra representativa da Geração de 30. Em
relação ao protagonista, podemos dizer que
a) mesmo sendo um proprietário de terras de perfil feudal, não se envolve sexualmente com as
serviçais da fazenda.
b) por ter cometido assassinatos para tornar-se o dono de sua propriedade, é um homem sem nenhum
traço de humanidade.
c) ele próprio reconhece que as muitas agruras pelas quais passou até enriquecer acabaram por lhe
dar uma alma agreste.
d) após se tornar senhor da fazenda, esquece-se do passado e abandona, até mesmo, a sua pobre mãe
de criação.
e) mesmo com a morte trágica da esposa, não chega a questionar o sentido dos atos que praticou ao
longo da vida.
Comentários
119
Questão teórica sobre conhecimento de autor e obra do cânone.

Alternativa A: incorreta. Paulo Honório se envolve sexualmente com Rosa, serviçal da fazenda.
Alternativa B: incorreto. Paulo Honório é uma personalidade de difícil trato, porém apresenta
humanidade quando decide se casar.
Alternativa C: correta – gabarito. Durante o processo de elaboração do livro, Paulo Honório
percebe que as dificuldades enfrentadas ao longo de seus dias ficaram acarretaram a forma “seca” em
que vive.
Alternativa D: incorreta. Durante o processo de elaboração do livro, Paulo Honório revê a própria
existência, lembrando-se da mãe.
Alternativa E: incorreta. O livro é escrito por Paulo Honório exatamente em uma tentativa de
questionar quais atos dele culminaram na decisão de Madalena.
Gabarito: C.
51. (ITA – 2018) O texto abaixo é uma das liras que integram Marília de Dirceu, de Tomás Antônio
Gonzaga.
1.
Em uma frondosa
Roseira se abria
Um negro botão!
Marília adorada
O pé lhe torcia
Com a branca mão.
2.
Nas folhas viçosas
A abelha enraivada
O corpo escondeu.
Tocou-lhe Marília,
Na mão descuidada
A fera mordeu.
3.
Apenas lhe morde,
Marília, gritando,
Co dedo fugiu.
Amor, que no bosque
Estava brincando,
Aos ais acudiu.
4.
Mal viu a rotura,
E o sangue espargido,
120
Que a Deusa mostrou,

Risonho beijando
O dedo ofendido,
Assim lhe falou:
5.
Se tu por tão pouco
O pranto desatas,
Ah! dá-me atenção:
E como daquele,
Que feres e matas,
Não tens compaixão?
(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu & Cartas Chilenas. 10. ed. São Paulo: Ática, 2011.)
Haicai tirado de unia falsa lira de Gonzaga

Quis gravar “Amor”
No tronco de um velho freixo:
“Marília” escrevi.
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 20 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.)
O poema abaixo retoma imagens presentes nas liras de Marília de Dirceu e no haicai de Manuel
Bandeira, apresentados acima.
Passeio no bosque
o canivete na mão não deixa
marcas no tronco da goiabeira
cicatrizes não se transferem

(CACASO. Beijo na boca. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000.)
Algumas pessoas, ao gravarem nomes, datas etc., nos troncos das árvores, buscam externar afetos ou
sentimentos. Esse texto, contudo, registra uma experiência particular de alguém que, fazendo isso,
a) se liberta das dores amorosas, pois as exterioriza de alguma forma.
b) percebe que provocará danos irreversíveis à integridade da árvore.
c) busca refúgio na solidão do espaço natural.
d) se dá conta de que é impossível livrar-se dos sentimentos que o afligem.
e) encontra dificuldade em gravar o tronco com um simples canivete.
Comentários
Questão de literatura comparada/interpretação de texto literário.
Alternativa A: incorreta. Ao afirmar que “cicatrizes não se transferem”, fica claro que o eu-lírico
não se liberta das dores amorosas.
Alternativa B: incorreta. O eu-lírico faz uso metafórico do tronco da árvore, como uma referência
a ele próprio.
121
Alternativa C: incorreta. A intenção do eu-lírico não é se refugiar, mas sim se livrar de sentimentos
que o fazem sofrer.
Alternativa D: correta – gabarito. Quando diz que “cicatrizes não se transferem”, o eu-lírico mostra
que não é possível se livrar dos sofrimentos advindos dos sentimentos amorosos.
Alternativa E: incorreta O eu-lírico emprega o canivete de maneira metafórica, indicando uma
tentativa de tirar de dentro de si os sentimentos que lhe fazem mal.
Gabarito: D.
52. (ITA – 2015) O poema abaixo, de João Cabral de Melo Neto, integra o livro A escola das facas.
A voz do canavial
Voz sem saliva da cigarra,
do papel seco que se amassa,
de quando se dobra o jornal:

assim canta o canavial,
ao vento que por suas folhas,

de navalha a navalha, soa,
vento que o dia e a noite toda

o folheia, e nele se esfola.
Sobre o poema, é INCORRETO afirmar que a descrição

a) compara o som das folhas do canavial com o da cigarra.
b) põe em relevo a rusticidade da plantação de cana de açúcar.
c) destaca o som do vento que passa pela plantação.
d) associa o som do canavial com o amassar das folhas de papel.
e) faz do vento a navalha que corta o canavial.
Comentários
Alternativa A: correta. Os versos “Voz sem saliva da cigarra, / (…) assim canta o canavial” deixam
nítida a relação entre o som das folhas do canavial e da cigarra.
Alternativa B: correta. Os elementos aproximados ao som das folhas do canavial indicam a
rusticidade, elemento típico da poesia de João Cabral de Melo Neto: “voz sem saliva”, “papel seco” e
“navalha”.
Alternativa C: correta. O poema é composto de aproximações relativas ao som do vento que passa
pela plantação: “ao vento que por suas folhas, / de navalha a navalha, soa, / vento que o dia e a noite
toda / o folheia, e nele se esfola”.
Alternativa D: correta. A associação é nítida nos versos “de quando se dobra o jornal: / assim canta
o canavial”.
122
Alternativa E: incorreta – gabarito. O vento não corta o canavial; seu som é que se aproxima de uma
navalha: “ao vento que por suas folhas, / de navalha a navalha, soa”.
Gabarito: E.
53. (ITA – 2015) O poema abaixo, de Alice Ruiz, faz parte do livro Jardim de Haijin.
passeio no Ibirapuera
uma cerejeira florida
interrompe a conversa
No texto, NÃO há
a) sentimento de amor pela natureza, exacerbado e de raiz romântica.
b) emoção estética despertada pela vegetação naquele que passeia.
c) descrição de parte da flora que integra o parque do Ibirapuera.
d) surpresa, durante o passeio pelo parque, causada por uma beleza inesperada.
e) referência a um local específico, o parque situado na cidade de São Paulo.
Comentários
Alternativa A: correta – gabarito. Pelo que está escrito no texto, não é possível afirmar que a autora
tenha um sentimento amoroso em relação à natureza, tampouco que esse sentimento seja de raiz
romântica, já que não há idealização da natureza. Por isso, a alternativa correta é alternativa A.
Alternativa B: incorreta. O ato de interromper a conversa ao ver a cerejeira indica que a natureza
gera uma emoção no eu lírico, que interrompe o passeio para visualizar o que está ocorrendo.
Alternativa C: incorreta. É possível saber que há cerejeiras no parque do Ibirapuera, portanto, há
descrição de parte da flora do parque.
Alternativa D: incorreta. Há surpresa no fato da conversa ser interrompida para observar a beleza
da natureza.
Alternativa E: incorreta. Há de fato referência a um local específico, que é o parque do Ibirapuera
em São Paulo.
Gabarito: A.
54. (ITA – 2011) Considere o poema abaixo, “A cantiga”, de Adélia Prado:
“Ai cigana ciganinha,

ciganinha, meu amor”.
Quando escutei essa cantiga
era hora do almoço, há muitos anos.
A voz da mulher cantando vinha de uma cozinha,
ai ciganinha, a voz de bambu rachado
123
continua tinindo, esganiçada, linda,

viaja pra dentro de mim, o meu ouvido cada vez melhor.
Canta, canta, mulher, vai polindo o cristal,
canta mais, canta que eu acho minha mãe,
meu vestido estampado, meu pai tirando boia da panela,
canta que eu acho minha vida.
(Em: Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.)
Acerca desse poema, é INCORRETO afirmar que

a) a poeta tem consciência de que seu passado é irremediavelmente perdido.
b) existe um tom nostálgico, e um saudosismo de raiz romântica.
c) a cantiga faz com que a poeta reviva uma série de lembranças afetivas.
d) predomina o tom confessional e o caráter autobiográfico.
e) valoriza os elementos da cultura popular, também uma herança romântica.
Comentários
Alternativa A: incorreta – gabarito. No poema, através da canção, a poetisa afirma ser capaz de
reencontrar a mãe, o vestido estampado, o pai e “minha vida”. Portanto, seu passado não está
irremediavelmente perdido. Ele pode ser retomado a partir do contato com a canção.
Alternativa B: correta. A alternativa B não apresenta incorreções, pois ao retomar seu passado e a
relação que ela tinha com a cantiga e seu cotidiano, imprime-se um tom de nostalgia e saudosismo ao
poema.
Alternativa C: correta. A alternativa C não apresenta incorreções, pois através da cantiga, a poetisa
revive elementos de seu passado, como expresso nos três últimos versos.
Alternativa D: correta. A alternativa D não apresenta incorreções, pois por ser escrito em primeira
pessoa e tratar de lembranças do passado, fica claro o tom confessional e o caráter autobiográfico.
Alternativa E: correta. A alternativa E não apresenta incorreções, pois ao dar valor à cantiga, um
elemento da cultura popular, valoriza por consequência elementos populares.
Gabarito: A.
55. (ITA – 2011) Considere o poema abaixo, de Ronaldo Azeredo:
124
Esse texto
I. explora a organização visual das palavras sobre a página.

II. põe ênfase apenas na forma e não no conteúdo da mensagem.
III. pode ser lido não apenas na sequência horizontal das linhas.
IV. não apresenta preocupação social.
Estão corretas
a) I e II.
b) I, II e III.
c) I e III.
d) II e IV.
e) todas.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de movimentos literários e julgar itens.
O item I está correto, pois a palavra “velocidade” vai se materializando aos poucos, como se
estivesse entrando na folha. Assim, a organização visual das letras é importante para a compreensão do
poema.
O item II está incorreto, pois a ideia de velocidade tem a ver com os conceitos do futurismo,
movimento que inspira a poesia concreta.
LEMBRE-SE: A organização visual chamativa é uma característica da poesia concreta.
O item III está correto, pois é possível ler o poema na vertical também, de cima para baixo, sem
prejuízo de seu significado.
O item IV está incorreto, pois a denúncia do tema da “velocidade” é comum aos escritores
modernistas, que se preocupam com o aceleramento da vida no século XX.
Gabarito: C.
125
56. (ITA – 2010) Na obra Quaderna (1960), João Cabral de Melo Neto incluiu um conjunto de textos,
intitulado “Poemas da cabra”, cujo tema é o papel desse animal no universo social e cultural
nordestino. Um desses poemas é reproduzido abaixo:

por debaixo de muitas coisas.
Com a natureza da cabra
Outras aprendem sua crosta.

em certos atributos roucos
que têm as coisas obrigadas
a fazer de seu corpo couro.
A fazer de seu couro sola.

a armar-se em couraças, escamas:
como se dá com certas coisas
e muitas condições humanas.
Os jumentos são animais

que muito aprenderam da cabra.
O nordestino, convivendo-a,
fez-se de sua mesma casta.
Acerca desse poema, NÃO se pode afirmar que:

a) o poeta vê a cabra como um animal forte e que influencia outros seres que vivem em condições
adversas.
b) aquilo que a cabra parece ensinar aos demais seres é a resignação e a paciência diante da
adversidade.
c) a cabra oferece uma espécie de modelo comportamental para aqueles que precisam ser fortes para
enfrentar uma vida dura.
d) a cabra é um animal resistente ao meio hostil em que vive, assim como outros animais também o
são, como o jumento.
e) há no poema uma aproximação entre a cabra e o homem nordestino, pois ambos são fortes e
resistentes.
Comentários
Alternativa A: correta. A alternativa A não apresenta incorreções, pois o poeta de fato apresenta
a cabra como um animal forte que “arma-se em couraças” e com quem “outras naturezas aprendem”,
pois espelhando-se em seu comportamento, os homens podem aprender.
Alternativa B: incorreta – gabarito. Não há no poema referências à ideia de “resignação” ou de
“paciência”. Pelo contrário, há uma referência a “a armar-se em couraças, escamas”, ou seja, colocar uma
armadura, o que costuma significar embate. Por isso, a alternativa incorreta é alternativa B.
126
Alternativa C: correta. A alternativa C não apresenta incorreções, pois no trecho “O nordestino,

convivendo-a, / fez-se de sua mesma casta” fica claro que o homem aprendeu com a cabra como se
comportar diante de certas situações: armando-se.
Alternativa D: correta. A alternativa D não apresenta incorreções, pois no poema, há comparação
entre a cabra e o jumento em “Os jumentos são animais / que muito aprenderam da cabra”.
Alternativa E: correta. A alternativa E não apresenta incorreções, pois, assim como na alternativa
C, o trecho “O nordestino, convivendo-a, / fez-se de sua mesma casta” comprova a relação entre o homem
e a cabra.
Gabarito: B.
57. (ITA – 2010) O poema abaixo faz parte da obra Livro sobre nada (1996), de Manoel de Barros:
A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá

mas não pode medir seus encantos.
A ciência não pode calcular quantos cavalos de força
existem
nos encantos de um sabiá.
Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare.
Os sabiás divinam.
É certo dizer que estamos diante de um poema

a) que mostra que o estudo dos sabiás tem mais a ver com adivinhação do que com informação.
b) no qual o autor mostra que a ciência é muito limitada para entender a anatomia do sabiá.
c) segundo o qual a ciência consegue entender a anatomia do sabiá, mas não explicar por que ele nos
encanta.
d) que mostra que há mistérios na natureza que a ciência tenta desvendar, como o encanto de um
sabiá.
e) que afirma ser impossível um saber acerca do sabiá.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário. Manoel de Barros nasceu em 1916 em Cuiabá em
família com propriedade rural em Corumbá. Formou-se bacharel em Direito em 1941. É conhecido como
“o poeta das coisas simples”. Faleceu em 2014, aos 97 anos.
Alternativa A: incorreta. O poeta afirma que a ciência é capaz de estudar o sabiá em diversos
aspectos. O que fica à cargo da emoção é o porquê dele nos encantar.
Alternativa B: incorreta. Ele afirma no primeiro verso que “ciência pode classificar e nomear os
órgãos de um sabiá”.
Alternativa C: correta – gabarito. Na primeira estrofe do poema fica explícito que “ciência pode
classificar e nomear os órgãos de um sabiá / mas não pode medir seus encantos”.
127
Alternativa: incorreta. O poema não afirma que compreender a razão do encanto do sabiá seja
uma função da ciência, tampouco sua pretensão.
Alternativa E: incorreta. Há saberes, os científicos, que é possível nomear. O que não se pode ter
é o saber acerca do seu encantamento sobre nós.
Gabarito: C.
58. (ITA – 2009) Leia o poema abaixo, “Na contramão”, de Chacal.
ela ali tão sem

eu aqui sem chão
nós assim ninguém
cada um na mão
Acerca desse poema, considere as seguintes afirmações:
I. Ele possui uma das marcas mais típicas da poesia contemporânea, que é a brevidade.
II. É notória a informalidade da linguagem, que afasta o poema da tradição culta e erudita.
III. Há um sentimentalismo contemporâneo que filtra os excessos da expressão sentimental.
IV. Existe a persistência do tema do desencontro amoroso (tradicional na literatura).
Está(ão) correta(s)
a) apenas a I.
b) apenas I e II.
c) apenas I, II e III.
d) apenas III e IV.
e) todas.
Comentários
O item I está correto, pois a brevidade das formas é de fato um traço da poesia contemporânea.
O item II está correto, pois há traços de linguagem coloquial no poema, como na expressão “na
mão”.
O item III está correto, pois o contemporâneo de fato é um momento de dificuldade na expressão
dos sentimentos nas relações interpessoais.
O item IV está correto, pois o desencontro amoroso nesse poema fica evidente em “ela ali” e “eu
aqui”, na oposição dos pronomes demonstrativos.
Gabarito: E.
128
59. (ITA – 2007) O conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa, faz parte do livro
Sagarana, de 1946. Nesse texto, o personagem central vive aquilo que aparentemente é um processo
de conversão cristã, que se inicia quando ele
a) é socorrido por um casal pobre, após ele ter sido vítima de uma emboscada, na qual quase morreu.
b) conversa com um padre, que lhe diz que o que aconteceu com ele foi um sinal de Deus para que ele
desse outra direção a sua vida.
c) vive cerca de sete anos no povoado do Tombador, levando uma vida de trabalho e de oração.
d) resiste ao convite de Joãozinho Bem-Bem para entrar no bando de cangaceiros, tentação essa a que
não foi fácil resistir.
e) enfrenta, sozinho, o bando de Joãozinho Bem-Bem, que estava prestes a cometer uma atrocidade
contra uma família de inocentes.
Comentários
Questão teórica de conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. O momento em que Augusto Matraga se reencontra com sua
religiosidade é quando, após sofrer uma surra, é resgatado por um casal que o cura e reaproxima de Deus.
Alternativa B: incorreta. O padre não encara aquilo como um sinal de Deus. Apenas afirma que
sempre é tempo de mudar e converter-se para o caminho do bem.
Alternativa C: incorreta. Sua conversão se dá no momento anterior, em que está se curando da
surra.
Alternativa D: incorreta. Ele já iniciara seu processo de conversão quando se encontra com
Joãozinho.
Alternativa E: incorreta. Esse é apenas seu momento de redenção suprema, não de conversão.
Gabarito: A.
60. (IME – 2019)
Becos de Goiás
Beco da minha terra...
Amo tua paisagem triste, ausente e suja.
Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.
Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio.
E a réstia de sol que ao meio-dia desce, fugidia,
e semeia polmes dourados no teu lixo pobre,
calçando de ouro a sandália velha,
jogada no teu monturo.
Amo a prantina silenciosa do teu fio de água,

descendo de quintais escusos
sem pressa,
e se sumindo depressa na brecha de um velho cano.
Amo a avenca delicada que renasce
129
na frincha de teus muros empenados,

e a plantinha desvalida, de caule mole
que se defende, viceja e floresce
no agasalho de tua sombra úmida e calada.
Amo esses burros-de-lenha

que passam pelos becos antigos. Burrinhos dos morros,
secos, lanzudos, malzelados, cansados, pisados.
Arrochados na sua carga, sabidos, procurando a sombra,
no range-range das cangalhas.
E aquele menino, lenheiro ele, salvo seja.

Sem infância, sem idade.
Franzino, maltrapilho,
pequeno para ser homem,
forte para ser criança.
Ser indefeso, indefinido, que só se vê na minha cidade.
Amo e canto com ternura

todo o errado da minha terra.
Becos da minha terra,
discriminados e humildes,
lembrando passadas eras...
Beco do Cisco.
Beco do Cotovelo.
Beco do Antônio Gomes.
Beco das Taquaras.
Beco do Seminário.
Bequinho da Escola.
Beco do Ouro Fino.
Beco da Cachoeira Grande.
Beco da Calabrote.
Beco do Mingu.
Beco da Vila Rica...
Conto a estória dos becos,

dos becos da minha terra,
suspeitos... mal afamados
onde família de conceito não passava.
“Lugar de gentinha” - diziam, virando a cara.
De gente do pote d’água.

De gente de pé no chão.
Becos de mulher perdida.
Becos de mulheres da vida.
130
Renegadas, confinadas
na sombra triste do beco.
Quarto de porta e janela.
Prostituta anemiada,
solitária, hética, engalicada,
tossindo, escarrando sangue
na umidade suja do beco.
Becos mal assombrados.

Becos de assombração...
Altas horas, mortas horas...
Capitão-mor - alma penada,
terror dos soldados, castigado nas armas.
Capitão-mor, alma penada,
num cavalo ferrado,
chispando fogo,
descendo e subindo o beco,
comandando o quadrado - feixe de varas...
Arrastando espada, tinindo esporas...
Mulher-dama. Mulheres da vida,

perdidas,
começavam em boas casas, depois,
baixavam pra o beco.
Queriam alegria. Faziam bailaricos.
- Baile Sifilítico - era ele assim chamado.
O delegado-chefe de Polícia - brabeza -
dava em cima...
Mandava sem dó, na peia.
No dia seguinte, coitadas,
cabeça raspada a navalha,
obrigadas a capinar o Largo do Chafariz,
na frente da Cadeia.
Becos da minha terra...

Becos de assombração.
Românticos, pecaminosos...
Têm poesia e têm drama.
O drama da mulher da vida, antiga,
humilhada, malsinada.
Meretriz venérea,
desprezada, mesentérica, exangue.
Cabeça raspada a navalha, castigada a palmatória,
capinando o largo,
chorando. Golfando sangue.
131
(ÚLTIMO ATO)
Um irmão vicentino comparece.

Traz uma entrada grátis do São Pedro de Alcântara.
Uma passagem de terceira no grande coletivo de São Vicente.
Uma estação permanente de repouso - no aprazível São Miguel.
Cai o pano.
CORALINA, Cora. Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. 21ª ed. - São Paulo: Global Editora, 2006.
O poema se inicia em um processo descritivo e passa para o descritivo-narrativo. Isso se confirma

pelo(a)
a) contraste entre o uso abundante de adjetivos concomitante ao parco uso de formas verbais nas
primeiras estrofes em relação à recorrência de formas verbais indicativas de ação conjugadas,
predominantemente, no pretérito imperfeito do modo indicativo nas estrofes finais.
b) uso de verbos conjugados na primeira pessoa do singular do modo indicativo nas primeiras estrofes
em contraste com os verbos conjugados em terceira pessoa do pretérito imperfeito do indicativo nas
estrofes finais.
c) frequência com que aparecem, no início do poema, palavras cujos significados estão associados à
tristeza e ao abandono dos becos em contraste com o final do poema em que comparecem forças
preocupadas em garantir ordem na vida pública.
d) fato de que a escritora se conforma ao processo mais tradicional na construção dos poemas.
e) necessidade de dar ao poema um tom realista, afastando-o do romantismo tradicionalmente
associado às formas poéticas como um todo.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de autor e obra do cânone;
conhecimento do movimento literário e Gramática aplicada à Literatura.
Alternativa A: correta – gabarito. Enquanto que nas 6 primeiras estrofes há uso abundante de
adjetivos e poucas formas verbais, nas seguintes predominam verbos indicativos de ação,
predominantemente, no pretérito imperfeito do modo indicativo (“começavam”, “baixavam”, “queriam”,
“faziam”, “dava”, entre outros), surpreendendo o leitor pela mudança no gênero empregado, que passa
do descritivo para o descritivo-narrativo. Assim, é correta a opção A, pois o eu lírico, nas estrofes finais,
associa à descrição a narração de fatos passados.
Alternativa B: incorreta. Centra-se na 1ª pessoa.
Alternativa C: incorreta. Ao longo do poema, mesclam imagens ruins e boas, pois todas são
lembranças regionais da terra do eu lírico. Ao fim, o impacto no leitor é o outro: é como se o poema fosse
uma peça de teatro, o que associamos ao uso do vocabulário: “ato”.
Alternativa D: incorreta. Não necessariamente.
Alternativa E: incorreta. Até puxa para certo realismo, sim, falando de descrições torpes e até
mesmo de prostitutas, mas cuidado com o absolutismo: “como um todo”.
Gabarito: A.
132
61. (IME – 2019) Considere os versos do poema “O elefante”, transcritos abaixo:
“Esse passo que vai

sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.”
Acerca de “vento”, “folhas” e “formiga”, pode-se afirmar que

a) significam a procura do poeta por novos “sítios”, ou seja, novo público, futuros leitores do poema.
b) são comparados ao “livro” que o poeta pretende escrever sob a paz das cortinas.
c) não constituem elementos naturais capazes de compreender e espelhar a natureza do “elefante”.
d) estão presentes no poema com o objetivo de exaltar o comportamento humano que só se mostra
“sob a paz das cortinas / à pálpebra cerrada”.
e) eles não ignoram o que o homem ignora.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Trata-se do processo de mecanização da ação humana.
Alternativa B: incorreta. Contrasta a vida natural, dos seres da natureza, à vida tida como mecânica
do homem.
Alternativa C: incorreta. Pelo contrário: consiste no processo da desnaturalização do homem.
Alternativa D: incorreta. O sentido desses versos é que só se fazem mostrar para quem quer ver,
isto é, tem um significado oculto, não tão óbvio. Como o homem sofre de uma vida mecanizada, ele se
tornou incapaz de notar a vida natural, de perceber-se como ser natural.
Alternativa E: correta – gabarito. Os termos “vento”, “folhas”, e “formiga” são associados ao que
é imperceptível ao ser humano, mergulhado que está no cotidiano alienante. São os únicos elementos
que “reconhecem o talhe”, algo “que os homens ignoram”. Assim, é correta a alternativa E: “eles não
ignoram o que o homem ignora”.
Gabarito: E.
62. (AFA – 2020)
133
Mulheres de Atenas
Mirem-se no exemplo
Vivem pros seus maridos
Orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam

Se banham com leite, se
Arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas; cadenas
Mirem-se no exemplo
Sofrem pros seus maridos
Poder e Força de Atenas
(...)
Elas não têm gosto ou vontade

Nem defeito, nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm
Presságios
O seu homem, mares,
Naufrágios
Lindas sirenas, morenas
As jovens viúvas marcadas

E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se
Encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas, serenas
(HOLANDA, Chico Buarque de. Meus caros amigos. LP, 1976. Phonogram/Philips)
Considere as afirmativas acerca da canção de Chico Buarque, texto III.
I. Na segunda estrofe, há a presença de uma gradação que reforça o grau de submissão da postura
feminina.
II. Todas as ocorrências do pronome “se”, ao longo do texto, justificam-se pelo seu teor de
reflexividade, realçando, assim, as ações e os gestos próprios das mulheres.
III. Os últimos versos da 1ª e 3ª estrofes destacam atributos da cidade de Atenas, por meio da utilização
de prosopopeia, recurso recorrente em textos poéticos e musicais.
134
IV. Na quarta estrofe, há uma estrutura antitética que se dá no plano imaginário e inconsciente das
mulheres.
Estão corretas apenas

a) I e III.
b) I, II e III.
c) I e IV.
d) III e IV.
Comentários
Afirmação I: correta. Gradação é uma figura de linguagem que ocorre quando há a
apresentação de ideias que progridem, de maneira ascendente ou descendente. No caso, a gradação
ocorre no verso: “Se ajoelham, pedem, imploram”.
Afirmação II: incorreta. Em “Mirem-se”, “Se ajoelham, pedem, imploram“ e “Vestem-se de
negro, se /Encolhem /Se conformam e se recolhem”. O erro está no termo “gestos próprios das
mulheres”, pois essas ações poderiam ter sido praticadas por qualquer um.
Afirmação III: incorreta. Prosopopeia ou personificação é uma figura de linguagem que ocorre
quando se atribuem características humanas a seres inanimados ou irracionais. São os maridos que
são orgulho e raça de Atenas, força e poder de Atenas. Atenas = maridos (parte pelo todo). Portanto,
seria metonímia e não personificação.
Afirmação IV: correta. Antítese (oposição conciliável) presente nos versos: “Têm medo apenas
/Não têm sonhos, só têm /Presságios”.
Gabarito: C.
_____________________________________________________________________________________
63. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5o Simulado ESA 2023)
Considere o poema a seguir.
OPACO
Noite. Certo
muitos são os astros.
Mas o edifício
barra-me a vista.
Quis interpretá-lo.
Valeu? Hoje
barra-me (há luar) a vista.
Nada escrito no céu,

sei.
Mas queria vê-lo.
135
O edifício barra-me
a vista.
Zumbido
de besouro. Motor
arfando. O edifício barra-me
a vista.
Assim ao luar é mais humilde.

Por ele é que sei do luar.
Não, não me barra
A vista. A vista se barra
a si mesma.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Claro enigma. São Paulo: Companhia das Letras, 2012 (p. 39).
Assinale o que for correto quanto à visão global do poema.

a) A presença de versos monossilábicos está condicionada ao versilibrismo.
b) O eu lírico usa uma linguagem telegráfica até para endossar as limitações.
c) Na última estrofe, a dupla negação marca atitude taciturna do eu lírico.
d) O uso de parênteses na segunda estrofe é irônico e pleonástico.
e) O ritmo frenético da cidade desorienta o eu lírico a ponto de ele pensar em suicídio.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Só há um verso monossilábico: "sei".
Alternativa B: correta – gabarito. A linguagem é cortada para imitar a técnica telegráfica, comum
método de comunicação no Modernismo. O eu lírico reforça o fato de que o edifício barra sua vista, como
se sua visão de mundo fosse limitada. A linguagem também imita esse obstáculo.
Alternativa C: incorreta. O eu lírico não se revela melancólico.
Alternativa D: incorreta. O uso de parênteses é enfático, até porque provoca uma ruptura sintática.
Alternativa E: incorreta. O suicídio não está explícito no poema.
Gabarito: B.
_____________________________________________________________________________________
2023) Leia o trecho abaixo.
— Cale-se ou expulso a senhora da sala.

Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me
obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser o objeto do ódio
daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia,
amava-o como uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto, com a cólera de quem
ainda não foi covarde e vê um homem forte de ombros tão curvos. Ele me irritava. De noite, antes de
dormir, ele me irritava.
136
Eu tinha nove anos e pouco, dura idade como o talo não quebrado de uma begônia.
LISPECTOR, Clarice. Os desastres de Sofia. In: A Legião Estrangeira. São Paulo, Ática, 1977, p. 11-25
Este conto modernista caracteriza a relação entre uma criança e seu professor. Nesse sentido,
depreende-se que
a) Sofia está aprendendo a escrever, mas tem dificuldades, e o professor se torna uma perturbação no
momento quando lhe força a caligrafia.
b) o professor não pretende quebrar nenhum protocolo escolar ao se envolver com uma aluna,
sobretudo tão jovem.
c) Sofia é uma mulher empoderada a qual deseja desmistificar o professor de que todas as meninas na
sala gostavam.
d) a narradora madura analisa como se sentia na infância, especialmente em uma situação que
provocava uma tensão erótica.
e) Sofia é uma narradora que se intromete no ponto de vista autoritário do professor, o qual lhe deu
um castigo como punição.
Comentários
Alternativa A: incorreta. O conto não deixa claro que matéria o professor lecionava.
Alternativa B: incorreta. Como o conto é narrado na primeira pessoa do singular, a partir do ponto
de vista da aluna, não se sabe o que pensava ou sentia o professor.
Alternativa C: incorreta. Sofia é uma criança de 9 anos que se apaixona pelo professor e quer
chamar a atenção dele.
Alternativa D: correta – gabarito. Infere-se que ela seja madura, pelas análises que faz. A menina
se envolve numa relação hierárquica de dominação e pensa no professor à noite antes de dormir.
Alternativa E: incorreta. O professor deu uma ordem, mas não necessariamente autoritária, nem
pune Sofia com um castigo.
Gabarito: D.
_____________________________________________________________________________________
2023) Após a leitura da passagem, responda ao que se pede.
Essa chácara do homem ficava meio ocultada, escurecida pelas árvores, que nunca se viu plantar
tamanhas tantas em roda de uma casa. Era homem estrangeiro. De minha mãe ouvi como, no ano da
espanhola, ele chegou, acautelado e espantado, para adquirir aquele lugar de todo defendimento, e a
morada, donde de qualquer janela alcançasse de vigiar a distância, mãos na espingarda; nesse tempo,
não sendo ainda tão gordo, de fazer nojo. Falavam que comia a quanta imundície: caramujo, até rã,
com as braçadas de alfaces, embebidas num balde de água.
ROSA, Guimarães. O cavalo que bebia cerveja. In: Primeiras estórias.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001 (p. 109).
137
Acerca do regionalismo da terceira geração modernista, marque a opção correta.

a) Ele se limita à região geográfica, especialmente Quebrangulo, onde nasceu o autor.
b) Diz respeito ao psicologismo, representando a vida interior das personagens.
c) Faz um mapeamento de fauna e flora, a fim de descrevê-los para a coroa portuguesa.
d) Ele se universaliza, mas guardando suas particularidades, como as crenças em superstições.
e) Faz uso do descritivismo detalhado, explicando o zoomorfismo do ser humano.
Comentários
Questão teórica de conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo-MG, tampouco o regionalismo
modernista é limitante.
Alternativa B: incorreta. O regionalismo até pode se encontrar com a vertente do intimismo, mas
não nesse caso. O narrador está na terceira pessoa.
Alternativa C: incorreta. Essa é uma característica da literatura de informação quinhentista.
Alternativa D: correta – gabarito. Universaliza-se, porque no meio do sertão há o estrangeiro. Por
outro lado, a crendice popular é uma das principais características na obra de Guimarães Rosa, a partir de
transmissão de conhecimento oral, como a fofoca da mãe.
Alternativa E: incorreta. Esse é um aspecto naturalista.
Gabarito: D.
_____________________________________________________________________________________
2023)
Pouco mais adiante, debaixo de um marizeiro, de copa arrastando no chão, lá estava uma destas
piscinas que o curso e a correnteza do rio cavava nas suas margens. E foi aí, com tio Juca, que bebeu,
antes do seu banho, um copo cheio de remédio para o sangue, dormido no sereno, que entrei em
relação íntima com o engenho de meu avô. A água fria do rio, àquela hora, deixou-me o corpo
tremendo. Meu tio então começou a atirar-me para o fundo, ensinando-me a nadar.
REGO, José Lins do. Menino do engenho. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/2p96cwky. Acesso em: 25 jul. 2022.
O exemplo acima caracteriza a vertente do romance de 30, da qual fazem parte também as obras
abaixo. Identifique a única exceção.
a) Guimarães Rosa – Grande sertão: veredas.
b) Graciliano Ramos – Vidas secas.
c) Rachel de Queirós – O quinze.
d) José Américo de Almeida – A bagaceira.
e) Jorge Amado – Capitães da areia.
Comentários
138
Alternativa A: incorreta – gabarito. O romance de 30 se liga à segunda geração modernista, e esse

romance regionalista é da terceira geração.
Alternativa B: correta. Nesse romance, Fabiano e sua família compõem um grupo de retirantes
que devem enfrentar as dificuldades.
Alternativa C: correta. Trata-se de uma obra de 1930, mas que fala de uma grande seca no
Nordeste no ano de 1915. Conceição é uma personagem importante pelo seu protagonismo feminino.
Alternativa D: correta. Nesse romance, Soledade é uma menina sertaneja e retirante que chega
no engenho de Dagoberto. Eles e o pai de Dagoberto – Lúcio – vão formar um triângulo amoroso.
Alternativa E: correta. Obra que trata de uma gangue de meninos de rua em Salvador, liderada
por Pedro Bala.
Gabarito: A.
_____________________________________________________________________________________
2023) Após a leitura, responda ao que se pede.
"O senhor ri certas risadas... Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir,
instantaneamente – depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão."
(Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas).
Nesse romance de Guimarães Rosa, o narrador Riobaldo Tatarana conversa com um médico, a quem
chama de "senhor". Em sua explicação sobre o meio, é correto afirmar que:
a) é um lugar com seus próprios costumes.
b) há defesa do meio citadino.
c) implica no misticismo religioso.
d) limita-se aos domínios geográficos.
e) mergulha-se na mente do personagem.
Comentários
Alternativa A: correta – gabarito. E o narrador ainda deixa claro para o interlocutor que não é
preciso concordar: ele apenas está apresentando como que para ele é seu sertão.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: trata-se de uma obra regionalista.
Alternativa C: incorreta. Cuidado com informações extratextuais.
Alternativa D: incorreta. O sertão não é limitado, mas sim um conceito abrangente.
Alternativa E: incorreta. Não é uma obra psicologista.
Gabarito: A.
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139
68. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Simulado Inédito
Premonição EsPCEx 2023) Sobre o Modernismo Brasileiro, identifique a opção correta.
a) A Semana de Arte Moderna inaugura uma fase que ficou conhecida como heroica.
b) A primeira geração modernista ainda se espelhava em movimentos tradicionais.
c) O romance de 30 retomava questões naturalistas, como a representação do grotesco.
d) A geração de 1945 produz obras simplistas sem complexidade formal.
e) A principal poeta da terceira geração modernista brasileira foi Clarice Lispector.
Comentários
Questão teórica de conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: correta – gabarito. A Semana de Arte Moderna inaugura a primeira geração
modernista, conhecida como fase heroica. Trata-se de um heroísmo às avessas, pois o modelo é
Macunaíma, um herói sem caráter.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: criticava movimentos rigorosos como o Parnasianismo.
Alternativa C: incorreta. Em alguns casos, como a animalização de Fabiano em "Vidas secas", mas
nem sempre. Cuidado com generalizações.
Alternativa D: incorreta. É uma geração conhecida pelo aperfeiçoamento formal. Um exemplo vai
ser o uso de fluxo de consciência na prosa de Clarice Lispector.
Alternativa E: incorreta. Ela escreveu prosa e não poesia.
Gabarito: A.
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ESA) Quanto à segunda geração modernista, julgue os itens.
I – A poesia é marcada pelo retorno a escolas passadistas, como Parnasianismo e Simbolismo.

II – A prosa é fortemente influenciada por movimentos do fim do século XIX, como Realismo e
Naturalismo.
III – Os autores ficaram entre duas influências principais: o heroísmo e o vanguardismo.

a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I e III.
Comentários
Questão de teórica de conhecimento de movimentos literários/julgar itens.
Afirmação I: correta. Como é o caso do neoparnasianismo (João Cabral de Melo Neto e Carlos
Drummond de Andrade) e o neossimbolismo (Cecília Meireles e Vinicius de Moraes).
140
Afirmação II: correta. Tanto é que o romance de 30 foi chamado de neorrealista pela sua denúncia
social. Porém, no ápice do regionalismo, as personagens que sofrem se associam aos animais,
assemelhando-se ao zoomorfismo naturalista.
Afirmação III: incorreta. A geração modernista conhecida por ser vanguardista é a primeira.
Gabarito: D.
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ESA) O exemplo abaixo é retirado do romance "Grande sertão: veredas", do autor da terceira geração
modernista, Guimarães Rosa.
"Como que era urco, trouxo de atarracado, reluzia um cru nos olhos pequenos, e armava um
queixo de pedra, sobrancelhonas; não demedia nem testa. Não ria, não se riu nem uma vez; mas,
falando ou calado, a gente via sempre dele algum dente, presa pontuda de guará. Arre, e bufava, um
poucadinho."
Quanto a linguagem, depreende-se que ela é

a) objetiva e jornalística.
b) calculada e artificial.
c) prolixa e técnica.
d) rústica e seca.
e) brincalhona e afetiva.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de movimentos literários e Gramática
aplicada à Literatura.
Alternativa A: incorreta. Não há imparcialidade.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: é espontânea e fluida.
Alternativa C: incorreta. Essa seria a linguagem de algumas obras pré-modernistas, como é o caso
de "Os sertões", de Euclides da Cunha.
Alternativa D: incorreta. Não é uma linguagem concisa.
Alternativa E: correta – gabarito. Brincando com superlativos e diminutivos, faz com que a
linguagem seja carregada de afeto.
Gabarito: E.
_____________________________________________________________________________________
EsPCEx) A partir da leitura, responda ao que se pede.
A catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas.
141
O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.
- Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria
responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário - e a obstinação
da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o
vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.
A agrura da paisagem faz com que Fabiano

a) decida se retirar com a família.
b) reconsidera abandonar o trabalho.
c) agrave seu relacionamento com a esposa.
d) desconte a impotência no mais próximo.
e) se torne mais parecido com o animal.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Eles são retirantes, mas não é o que se evidencia no trecho.
Alternativa B: incorreta. O trabalho não foi mencionado.
Alternativa C: incorreta. É com o filho mais novo.
Alternativa D: correta – gabarito. As vulnerabilidades sofridas ocasionam comportamentos
agressivos; em consequência, Fabiano se irrita com o próprio filho.
Alternativa E: incorreta. Não nessa passagem.
Gabarito: D.
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72. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1o Provão de Bolsa
EsPCEx) A partir do poema "Recordar é preciso", de Conceição Evaristo, responda ao que se pede.
O mar vagueia onduloso sob os meus pensamentos

A memória bravia lança o leme:
Recordar é preciso.
O movimento vaivém nas águas-lembranças dos meus marejados olhos transborda-me a vida,
salgando-me o rosto e o gosto.
Sou eternamente náufraga,
mas os fundos oceanos não me amedrontam
e nem me imobilizam.
Uma paixão profunda é a boia que me
emerge.
Sei que o mistério subsiste além das águas.
O texto acima apresenta uma importante característica da literatura contemporânea, que é:
142
a) prosaísmo.
b) formas breves.
c) lugar de fala.
d) tecnologia.
e) memorialismo.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Não há aproximação com a prosa.
Alternativa B: incorreta. Não é um haicai. O poema é formado por uma única estrofe.
Alternativa C: incorreta. Por mais que Conceição Evaristo represente personagens femininas em
sua prosa, não há dados para fazer essa inferência a partir do poema.
Alternativa D: incorreta. Nenhum equipamento tecnológico é abordado.
Alternativa E: correta – gabarito. A memória ocupa lugar de destaque, como forma de se voltar
criticamente para o passado, com consciência.
Gabarito: E.
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73. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Último Provão de
Bolsas EsPCEx)
Parecia uma patuscada de gorilas vadios. O estalido das galhofas infernais.

Estralejava o apito agudo, a canalhada de sete fôlegos; fi-fi-iú-iúiú...
Lúcio, suspeitoso, saltou a janela.
E, em sua dúplice organização moral, em sua sensibilidade contraditória, ria-se e comovia-se.
Era um retirante que levava a mãe inválida escanchada no pescoço.
Já tão falto de forças, não tinha outro meio de carregá-la.
Acuado pela surriada vexatória, fraqueava. Passou-lhe uma nuvem pelos olhos. Desequilibrou-se.
E ambos, mãe e filho, caindo de borco, beijaram, sem querer, a Terra da Promissão...
ALMEIDA, José Américo de. A bagaceira. 37. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.
Em um primeiro momento, a visão que Lúcio tem dos transeuntes é:

a) piedosa.
b) preconceituosa.
c) engajada.
d) hesitante.
e) desinteressada.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Achava que eles eram "gorilas vadios" e a sua caminhada o incomodava,
por ser ruidosa.
143
Alternativa B: correta – gabarito. O que se infere da animalização.

Alternativa C: incorreta. Não era militante.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: depois que vê-los passar é que se sente assim: "ria-se e comovia-
se."
Alternativa E: incorreta. Sente-se transtornado.
Gabarito: B.
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74. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Último Provão de Bolsa
EsPCEx)
PISTAS
Não pode ser uma ilusão fantástica
o que nos faz domingo após domingo
visitar os parentes, insistir
que assim é melhor, que de fato um bom
emprego é meio caminho andado.
Não pode ser verdade
que tanto afã escave na insolvência.
Há voos maravilhosos de ave,
aviões tão belos repousando nos campos
e o que é piedoso no morto:
não seu sexo murcho,
mas suas mãos empenhadas sobre o peito.
PRADO, Adélia. Bagagem. 44. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003 (p. 23).
Ligando o título do poema à sua mensagem, pode-se inferir que o eu lírico

a) não gosta muito assim de seus parentes.
b) nega o emprego que tem por não ser bom.
c) reluta em aceitar uma vida predeterminada.
d) tem certos medos, como andar de avião.
e) tem temor pela morte e faz uma oração.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Só não vê sentido em vê-los sempre, como se fosse uma obrigação
religiosa.
Alternativa B: incorreta. Apenas não acredita que isso deve ser o determinante na vida.
Alternativa C: correta – gabarito. O que se infere pela reiteração da expressão "Não pode ser".
Alternativa D: incorreta. O avião é mencionado no sentido metafórico, como um caminho para
uma nova possibilidade.
Alternativa E: incorreta. O poema não é uma oração.
Gabarito: C.
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144
75. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Operação Max Wolff:
Revisão por Questões – parte 2)
Motivo
Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
– não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
– mais nada.
MEIRELES, Cecília. Motivo. Disponível em: <http://www.napontadoslapis.com.br/motivo-poema-de-cecilia-
meireles.html>. Acesso em: mai. 2019
A autora qualifica seu ofício como poetisa como:

a) um fardo a ser suportado.
b) uma maneira de ajudar as pessoas.
c) um meio-termo equilibrado.
d) uma tarefa messiânica.
e) uma interpretação de saberes divinos.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Não é um afazer que é visto como obrigação.
Alternativa B: incorreta. Pode até ser, mas indiretamente.
Alternativa C: correta – gabarito. Para Cecília Meireles, escrever é fonte de vida e inspiração,
aproximando-se da música.
Alternativa D: incorreta. O Modernismo não tende a ser idealizado.
Alternativa E: incorreta. Não se relaciona à religiosidade.
Gabarito: C.
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145
76. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Revisão de Véspera
EsPCEx 2023)
Qualquer coisa agitava-se em mim e era certamente meu corpo apenas. Mas num doce milagre
tudo se torna transparente e isso era certamente minha alma também. Nesse instante eu estava
verdadeiramente no meu interior e havia silêncio. Só que meu silêncio, compreendi, era um pedaço do
silêncio do campo. E eu não me sentia desamparada. O cavalo de onde eu caíra esperava-me junto ao
rio. Montei-o e voei pelas encostas que a sombra já invadia e refrescava. Freei as rédeas, passei a mão
pelo pescoço latejante e quente do animal. Continuei a passo lento, escutando dentro de mim a
felicidade, alta e pura como um céu de verão. Alisei meus braços, onde ainda escorria a água. Sentia o
cavalo vivo perto de mim, uma continuação do meu corpo. Ambos respirávamos palpitantes e novos.
Uma cor maciamente sombria deitara-se sobre as campinas mornas do último sol e a brisa leve voava
devagar. É preciso que eu não esqueça, pensei, que fui feliz, que estou sendo feliz mais do que se pode
ser. Mas esqueci, sempre esqueci.
Clarice Lispector é uma escritora da terceira geração modernista conhecida pelo uso do fluxo de
consciência, o que faz com que a personagem se sinta “verdadeiramente no seu interior”. O principal
elemento que contribui para o fato de a protagonista Joana se sentir assim é:
a) propensão ao zoomorfismo.
b) abandono da família.
c) comportamento doentio.
d) uma lembrança feliz.
e) atenção à sensorialidade.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Joana se sente mais próxima do animal do que dos seres humanos porque
ela é incomum e sente que não se encaixa. O animal é um elemento externo com o qual ela se identifica.
Alternativa B: incorreta. Ela não se incomoda com nenhum tipo de abandono, o que se infere do
trecho: “E eu não me sentia desamparada”.
Alternativa C: incorreta. Cuidado com informações extratextuais.
Alternativa D: incorreta. Do que ela se lembra é de ter caído do cavalo.
Alternativa E: correta – gabarito. Do início ao final do trecho, Joana se revela uma pessoa
hipersensível. Quando ela ouve o silêncio dentro de si é quando ela se encontra com o seu interior.
Gabarito: E.
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77. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Hora da Verdade
CBMERJ 2023)
Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar
meu novo modo de ser – se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que
se transformar para eu caber nele.
146
Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como
se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de
mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a
ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar.
Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa
encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 2020.
A personagem manifesta um drama que

a) confere objetividade às ações executadas.
b) destoa da vanguarda cubista modernista.
c) critica quem sonha com o que nunca pode ter.
d) expõe a angústia de um ser com fobia social.
e) reflete as diferenças entre ser e não ser.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de técnicas literárias
Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: é subjetividade.
Alternativa B: incorreta. A personagem deseja fragmentar-se.
Alternativa C: incorreta. O texto traz reflexões individuais e não críticas.
Alternativa D: incorreta. A personagem não é antissocial.
Alternativa E: correta – gabarito. No primeiro parágrafo, pensa em como o mundo teria que se
adaptar a ela caso ela se fragmentasse. No segundo parágrafo, esboça hipóteses.
Gabarito: E.
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o trecho abaixo.
Sentiu-se um galho seco, espetado no ar. Quebradiço, coberto de cascas velhas. Talvez estivesse
com sede, mas não havia água por ali perto. E sobretudo a certeza asfixiante de que se um homem a
abraçasse naquele momento sentiria não a doçura macia nos nervos, mas o sumo de limão ardendo
sobre eles, o corpo como madeira próxima do fogo, vergada, estalante, seca. Não podia acalentar-se
dizendo: isto é apenas uma pausa, a vida depois virá como uma onda de sangue, lavando-me,
umedecendo a madeira crestada. Não podia enganar-se porque sabia que também estava vivendo e
que aqueles momentos eram o auge de alguma coisa difícil, de uma experiência dolorosa que ela devia
agradecer: quase como sentir o tempo fora de si mesma, abstraindo-se.
LISPECTOR, Clarice. Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (p. 16).
Joana, protagonista neste romance, tem uma concepção da vida que pode ser qualificada como
a) promissora.
b) conformada.
c) desoladora.
d) efêmera.
147
e) impessoal.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Não é uma visão esperançosa.
Alternativa B: correta – gabarito. Joana entende que, se não viver a vida imediatamente, nunca vai
vivê-la. E começa a aceitar os pequenos momentos como parte de sua experiência.
Alternativa C: incorreta. Não é de todo pessimista.
Alternativa D: incorreta. A vida não é necessariamente breve para personagem.
Alternativa E: incorreta. Não é porque ela tem consciência temporal da vida que sua perspectiva
irá se tornar impessoal.
Gabarito: B.
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79. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2023) Os
versos abaixo foram selecionados da obra drummondiana. Assinale a opção que contém um traço de
memorialismo.
a) "Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. /Tempo de absoluta depuração. /Tempo em
que não se diz mais: meu amor. /Porque o amor resultou inútil."
b) "Tive ouro, tive gado, tive fazendas. /Hoje sou funcionário público. /Itabira é apenas uma fotografia
na parede. /Mas como dói!"
c) "Lutar com palavras /é a luta mais vã. /Entanto lutamos /mal rompe a manhã. /São muitas, eu pouco.
/Algumas, tão fortes /como o javali."
d) "O mundo, /meu bem, /não vale /a pena, e a face serena /vale a face torturada. /Há muito aprendi
a rir, /de quê? de mim? ou de nada?"
e) "— Está sonhando? Olhe que a sopa esfria! /Eu estava sonhando... /E há em todas as consciências
este cartaz amarelo: 'Neste país é proibido sonhar'."
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/identificação de trecho.
Alternativa A: incorreta. Nesse trecho, há pessimismo. A modernidade é um período quando o ser
humano perdeu as crenças e os sentimentos.
Alternativa B: correta – gabarito. Trecho do poema "Confissão do Itabirano", em que o eu lírico
autobiográfico rememora as experiências na mineira cidade natal de Itabira.
Alternativa C: incorreta. É um trecho autobiográfico.
Alternativa D: incorreta. Passagem de "Cantiga de enganar", expressa reflexões existenciais.
Alternativa E: incorreta. Há uma crítica social quanto às arbitrariedades políticas. O poema
"Sentimental" foi publicado em Alguma poesia (1930).
Gabarito: B.
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148
Todos abaixo são escritores da segunda geração modernista brasileira. Encontre a exceção.
a) Lygia Fagundes Telles.
b) Graciliano Ramos.
c) José Américo de Almeida.
d) Rachel de Queiroz.
e) José Lins do Rego.
Comentários
Alternativa A: incorreta – gabarito. Autora que estava viva e produzindo na terceira geração
modernista e na literatura contemporânea. Faleceu em 3 de abril de 2022.
Alternativa B: correta. Autor nordestino de Alagoas, escreveu romances de 30, como "São
Bernardo" (1934) e "Vidas secas".
Alternativa C: correta. Paraibano, sua obra-prima é "A bagaceira", sobre as agruras dos retirantes.
Alternativa D: correta. Escreveu "O quinze" (1930), sobre uma grande seca que teve no Nordeste
em 1915.
Alternativa E: correta. Paraibano, suas obras mais importantes são "Menino do engenho" (1932)
e "Fogo morto" (1943).
Gabarito: A.
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partir da leitura responda ao que se pede.
Eu passava o dia inteiro rondando os oficiais nas suas confidências. Contavam a história de uns
carpinas num engenho do Brejo.
– O senhor de engenho só mandava para eles bacalhau, na janta e no almoço. Passavam o dia
inteiro bebendo água com a boca seca. Um dia um deles disse para o negro que não gostava de
bacalhau, que não aguentava mais aquilo. No outro dia o tabuleiro com a comida chegou: era peru. E
peru de tarde. E a semana toda, peru. Num domingo, o mestre saiu para dar umas voltas nos arredores.
Viu um negro com uma porção de urubus nas costas:
– O que é isto, moleque?
– É peru pros carpinas.
Os oficiais anoiteceram e não amanheceram na propriedade. E rebentou ferida pelo corpo deles.
Estiveram para morrer um tempão.
(Menino de engenho. Rio de Janeiro, José Olympio, 2000)
É possível inferir que o narrador desse trecho:

a) denuncia uma cena de crueldade.
b) insurge contra o senhor do engenho.
c) ataca os malfeitores da ação.
d) se indigna diante da injustiça.
149
e) descreve cientificamente a patologia.
Comentários
Alternativa A: correta – gabarito. Diante da reclamação de que sempre comiam a mesma coisa,
passaram a entregar carne de urubu para os trabalhadores, situação a partir do qual eles adoeceram.
Alternativa B: incorreta. O narrador em si não manifesta nenhum protesto.
Alternativa C: incorreta. As falas do narrador se mesclam às das personagens.
Alternativa D: incorreta. O narrador narra objetivamente a injustiça.
Alternativa E: incorreta. Não é um romance cientificista, mas sim um romance de 30.
Gabarito: A.
_____________________________________________________________________________________
o poema a seguir.
Viagem antiga
Aqui e ali
reses pastando imóveis
como num presépio
a mata ocultando o xixi das fontes
uma cidadezinha de nariz pontudo
furava o céu
depois sumia-se lentamente numa curva
e a gente olhava olhava
sem nenhuma pressa
porque o destino daquelas nossas primeiras viagens era sempre
o horizonte
QUINTANA, Mario. Esconderijos do tempo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013 (p. 29).
Estão apontadas a seguir características aleatórias. A que é típica na obra de Mario Quintana e que
pode ser observada no poema acima é:
a) Linguagem elíptica.
b) Solecismo irrefletido.
c) Mundo lúdico.
d) Palavras de calão.
e) Niilismo non sense.
Comentários
Alternativa A: incorreta. A linguagem não é enrolada nem repetitiva.
150
Alternativa B: incorreta. Solecismo significa falha ou erro gramatical, esp. de sintaxe, cometido
quase sempre por quem desconhece as regras da língua (dicionário Aulete).
Alternativa C: correta – gabarito. O eu lírico reflete uma viagem a partir do ponto de vista de uma
criança, que enxerga na realidade um jogo.
Alternativa D: incorreta. A palavra "xixi" é mencionada, porque se adota a perspectiva da criança.
Alternativa E: incorreta. Não há ceticismo nem dadaísmo nesse poema, tampouco são comuns na
obra de Quintana como um todo.
Gabarito: C.
_____________________________________________________________________________________
Considere o seguinte texto, de autoria de Marina Colasanti.
Um diário é um amigo? Uma companhia? Também. Mas é sobretudo a duplicação da gente

mesmo, espelho que não se apaga quando o rosto se retrai ou muda, álbum de retratos que conserva
muito mais que um belo sorriso e a paisagem de fundo. Quieto, compreensivo, calmo, o diário está
ali, aberto e limpo. Oferecendo seu espaço, no qual você vai desenhar a sua vida e ele apenas...
receber. Ele não tem recriminações a fazer, ele não diz que a culpa é sua, ele não encosta dedos na
ferida. Como uma cama, como um mar, ele recebe. Você escreve muito se a emoção é forte, vai e
volta e repete e repisa o mesmo assunto. Ninguém conta seu tempo, ninguém conta suas páginas.
Você pode escrever até a mão cansar, até a alma aliviar. Você pode escrever e escrever e escrever. Ele
aceita (...).
COLASANTI, Marina. Fonte: O pensador. Disponível em: https://tinyurl.com/4pdzawu8.
Acesso em: 19 jun. 2022;
A preferência pelo gênero diário foi um importante lugar de fala para a literatura contemporânea.
Outra autora reconhecida pela produção dele foi:
a) Conceição Evaristo.
b) Alice Morley.
c) Carolina Maria de Jesus.
d) Angélica Freitas.
e) Aline Bei.
Comentários
Alternativa A: incorreta. É uma prosadora, tendo escrito contos como "Olhos d'água" (2014) e o
romance "Ponciá Vivêncio" (2003). Também escreve poemas.
Alternativa B: incorreta. O nome está incorreto, é Helena Morley. Ela sim escreveu o diário "Minha
vida de menina".
Alternativa C: correta – gabarito. Autora contemporânea que publicou "Diário de Bitita" e "Quarto
de despejo: diário de uma favelada". Escreve a partir do lugar de fala de uma catadora de lixo, que narra
suas vulnerabilidades sociais.
151
Alternativa D: incorreta. Angélica Freitas escreve poesia e é conhecida por ser feminista. Sua obra
mais importante é "Um útero é do tamanho de um punho" (2012).
Alternativa E: incorreta. Aline Bei publicou seu primeiro romance em 2017: "O Peso do Pássaro
Morto". Tem 35 anos e já é uma autora premiada.
Gabarito: C.
_____________________________________________________________________________________
passagem abaixo é retirada do romance "São Bernardo", de Graciliano Ramos.
(...) Não, eu não posso escrever de outra maneira. Também sei ser alegre, mas não aqui. A alegria
também está comigo: nos bares, na praia, com os amigos, em outras viagens. [Mas por que não levá-
la para a escrita?] Não, não posso. Se não sangra, a minha escrita não existe. Se não rasga o corpo,
tampouco existe. Insisto na dor, pois é ela que me faz escrever. [Mas por que não tenta? Se não pode
escrever sem dor, ao menos escreva sem peso, sem culpa. Tire o cimento dos ombros. Seja leve,
escreva palavras leves.] Não sei. Vacilo, não tenho certeza se é esse o caminho, mas prometo: tentarei.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2009 (p. 227).
Quanto ao narrador, assinale o que for INCORRETO.

a) Escreve uma obra para se reconciliar, mas tem dificuldade.
b) Está na primeira pessoa e narra experiências subjetivas.
c) Vive atormentado pelos sentimentos de culpa e ciúmes.
d) Amava profundamente a esposa, cuja morte não pôde evitar.
e) Julga ter tido momentos felizes na vida, mas o leitor pouco os conhece.
Comentários
Alternativa A: correta. "São Bernardo" (1934) é um romance de 30. Seu narrador, Paulo Honório,
é um fazendeiro que cometeu atrocidades ao longo da vida para assumir o cargo no qual se encontra.
Escreve uma obra como se fosse um acerto de contas.
Alternativa B: correta. Entre os atos cometidos por Paulo Honório encontram-se assassinato e
casamento.
Alternativa C: correta. Acaba por provocar a morte da esposa, Madalena, por ser obsessivo.
Alternativa D: incorreta – gabarito. Paulo Honório se casa porque desejava ter um herdeiro, mas
não foi por amor.
Alternativa E: correta. Isso porque eles são pouco descritos. Paulo Honório é um homem
sobrecarregado e suas dúvidas fazem parecer que está enlouquecendo.
Gabarito: D.
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Assinale a opção que contiver apenas obras de autoria de Guimarães Rosa, da terceira geração
modernista.
152
a) "Grande sertão: veredas"; "Tutameia" e "Macunaíma".

b) "Primeiras estórias", "Sagarana" e "Usina".
c) "Grande sertão: veredas"; "Primeiras estórias" e "Campo geral".
d) "Grande sertão: veredas"; "Sagarana" e "Vidas secas".
e) "Primeiras estórias"; "Tutameia" e "A hora da estrela".
Comentários
Alternativa A: incorreta. "Macunaíma: um herói sem nenhum caráter" (1928) é uma obra de Mário
de Andrade.
Alternativa B: incorreta. "Usina" (1936) é um romance de 30 de autoria de José Lins do Rego.
Alternativa C: correta – gabarito. "Grande sertão: veredas" (1956) é a obra-prima de Guimarães
Rosa. Riobaldo Tatarana conta suas aventuras a um médico em forma de diálogo. "Sagarana" (1946) é um
livro de contos, do qual se destacam "O burrinho pedrês" e "A hora e a vez de Augusto Matraga". "Campo
geral" (1964) é a primeira parte de uma novela. Conta como Miguilim sofreu o luto pela morte do irmão
Dito, mas acaba por amadurecer.
Alternativa D: incorreta. "Vidas secas" (1938) é um romance de 30 de autoria de Graciliano Ramos.
Alternativa E: incorreta. "A hora da estrela" (1977) é uma novela de Clarice Lispector.
Gabarito: C.
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Cecília Meireles é uma autora que foi classificada como neossimbolista. Identifique os versos em que
são observadas características que mais se aproximem deste movimento do fim do século XIX.
a) "Ando à procura de espaço /para o desenho da vida. /Em números me embaraço /e perco sempre a
medida." (Canção excêntrica).
b) "Eu não tinha este rosto de hoje, /assim calmo, assim triste, assim magro, /nem estes olhos tão
vazios, /nem o lábio amargo. /Eu não tinha estas mãos sem força" (Retrato).
c) "Chão verde e mole. Cheiros de selva. Babas de lodo. /(...) Carros de bois, falas ao vento, braços,
foices. /Os passarinhos bebem do céu pingos de chuva. (Lembrança rural).
d) "És precária e veloz, Felicidade. /Custas a vir e, quando vens, não te demoras. /Foste tu que ensinaste
aos homens que havia tempo, /e, para te medir, se inventaram as horas." (Epigrama n. 2).
e) "Toda vestida de preto, /solto o grisalho cabelo, /escondida atrás do leque, /velhinha, a chorar de
medo, /Dona Maria Primeira /passeia pela cidade." (Da Rainha Louca).
Comentários
Alternativa A: incorreta. Nesses versos, predomina a linguagem metafórica, misturando um
elemento concreto (desenho) com um abstrato (vida).
Alternativa B: incorreta. Poema autobiográfico e descritivo.
Alternativa C: incorreta. Versos descritivos quanto à paisagem externa.
Alternativa D: incorreta. O poema se estrutura em forma de diálogo com a Felicidade, que está
sendo personificada.
153
Alternativa E: correta – gabarito. Primeiro, a Rainha Maria I enlouquece e depois ela morre.
Mesmo assim, continua vagando pela cidade (de preto, em próprio luto) e velha (com cabelos grisalhos),
como assombração. Loucura, morte e personagens femininas são questões importantes para o
Simbolismo.
Gabarito: E.
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Itamar Vieira Junior é uma das mais importantes vozes da literatura brasileira contemporânea. Leia
abaixo um trecho de sua obra, "Torto arado" (2019).
O gerente queria trazer gente que “trabalhe muito” e “que não tenha medo de trabalho”, nas
palavras de meu pai, “para dar seu suor na plantação”. Podia construir casa de barro, nada de alvenaria,
nada que demarcasse o tempo de presença das famílias na terra. Podia colocar roça pequena para ter
abóbora, feijão, quiabo, nada que desviasse da necessidade de trabalhar para o dono da fazenda,
afinal, era para isso que se permitia a morada. Podia trazer mulher e filhos, melhor assim, porque
quando eles crescessem substituiriam os mais velhos.
VIEIRA, Itamar Vieira. Torto arado. São Paulo: Todavia, 2019 (p. 28).
Pela narração, justifica-se uma lógica de trabalho em que:

a) trata o ser humano como ferramenta descartável.
b) destaca a imprescindibilidade das famílias.
c) reforça os vínculos afetivos formados com aquela gente.
d) fornece o respaldo necessário para a instalação.
e) preocupa-se com o bem-estar dos trabalhadores.
Comentários
Alternativa A: correta – gabarito. Tão descartável que não podia demonstrar marcas de que sua
vida é temporal. Viviam em habitações precárias, feitas de barro, porque – se fosse necessário irem
embora – seria mais fácil destruir a casa depois. Trabalhavam de domingo a domingo e não tinham direito
aos próprios bens, a não ser que trabalhassem em suas hortas domésticas no tempo livre, completamente
exaustos. Nesse sentido, o livro é importante como denúncia do trabalho escravo contemporâneo.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: as famílias são dispensáveis.
Alternativa C: incorreta. O gerente não cria nenhum vínculo afetivo com as famílias, que muito
bem poderiam ir embora, de acordo com as necessidades.
Alternativa D: incorreta. Não oferece sequer salário. As famílias podiam ficar nas terras da fazenda
Água Negra, a troco de ter um lugar para morar. Porém, sem infraestrutura, sem ordenado e sem direitos.
Quando a nova geração ganha consciência, rebela-se.
Alternativa E: incorreta. Apenas se acha que pode prejudicar seu lucro. Por exemplo, quando leva
Belonísia ao hospital, porque acha que pode perder futuramente sua mão de obra.
Gabarito: A.
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154
A principal diferença entre a segunda e a terceira gerações modernistas brasileiras é:
a) a segunda geração se baseia na crise de 1929, ao passo que a terceira geração é muito marcada
pelos conflitos da Guerra Fria.
b) a segunda geração se situa entreguerras, enquanto a terceira geração não experienciou a presença
de guerras.
c) a segunda geração se preocupa mais com as questões locais, e as diferentes tendências da terceira
geração já situam-na mais próxima da literatura contemporânea.
d) a segunda geração é marcada pelos protestos sociais e pelo nacionalismo e a terceira geração pela
crítica e a denúncia social.
e) a segunda geração está entusiasmada com o progresso e a tecnologia e a terceira geração se
evidencia mais vanguardista.
Comentários
Alternativa A: incorreta. A Guerra Fria não é único conflito experienciado na terceira geração
modernista (1945-1960).
Alternativa B: incorreta. Na terceira geração modernista, no contexto internacional estava
ocorrendo a Guerra Fria (1947-1991) e Guerra do Vietnã (1959-1979).
Alternativa C: correta – gabarito. A segunda geração modernista é regionalista. Essa tendência
ainda continua na terceira geração, que já conta com outras mais, como intimismo e urbanismo (esta
contrária ao regionalismo, inclusive). A profusão de tendências e estilos começada nessa geração se
estende até ao contemporâneo.
Alternativa D: incorreta. As informações são válidas para a primeira e a segunda geração
modernista, respectivamente.
Alternativa E: incorreta. A geração modernista que vai ser predominantemente vanguardista é a
primeira.
Gabarito: C.
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Leia a passagem abaixo.
Imerge na banheira como no mar. Um mundo morno se fecha sobre ela silenciosamente,
quietamente. Pequenas bolhas deslizam suaves até se apagarem de encontro ao esmalte. A jovem
sente a água pesando sobre o seu corpo, para um instante como se lhe tivessem tocado de leve o
ombro. Atenta para o que está sentindo, a invasão da maré. Que houve? Torna-se uma criatura séria,
de pupilas largas e profundas. Mal respira. O que houve? Os olhos abertos e mudos das coisas
continuam brilhando entre os vapores. Sobre o mesmo corpo que adivinhou alegria existe água —
água. Não, não... Por quê? Seres nascidos no mundo como a água. Agita-se, procura fugir. Tudo — diz
devagar como entregando uma coisa, perscrutando-se sem se entender. Tudo.
155
Nesse exemplo, a linguagem clariciana, para representar o interior das personagens, está usando os
seguintes recursos:
a) urbanismo e surrealismo.
b) intimismo e abordagem fantástica.
c) fluxo de consciência e regionalismo.
d) monólogo interior e verossimilhança.
e) linguagem entrecortada e estranhamento.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Ela não propõe uma outra realidade para o texto poder ser classificado
como surrealista, nem há dados suficientes na passagem para afirmar que é um ambiente urbano.
Alternativa B: incorreta. É um texto intimista (que se volta para o interior da personagem), mas
não é fantástico (presença de elementos absurdos ou animalescos).
Alternativa C: incorreta. As obras claricianas tendem a ser urbanistas e não regionalistas.
Alternativa D: incorreta. É um registro a partir de memórias e não da realidade tal qual ela é
(verossimilhança).
Alternativa E: correta – gabarito. Pula-se de assunto para o outro rapidamente, como se fossem
gatilhos. No fim, a personagem se estranha a si mesma.
Gabarito: E.
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Guimarães Rosa é um autor da terceira geração modernista brasileira conhecido pela representação
dos costumes populares, sobretudo, de crendices e superstições. Identifique entre as alternativas
aquela que NÃO disser respeito a essa característica.
a) "Vovó Izidra acendia a vela benta, queimava ramos bentos, agora ali dentro era mais forte. Santa
Bárbara e São Jerônimo salvavam de qualquer perigo de desordem, o Magnificat era que se rezava!"
b) "Vivi meio recluso, indo de longe em longe a algum baile, ou teatro, ou palestra, mas a mor parte do
tempo passei-a comigo mesmo."
c) "De em de, camisinha dele e calça do Dito furtaram, para enterrar, com brinquedos dele. Mas
Mãitina foi remexer em seus guardados, trouxe uns trens: boneco de barro, boneco de pau, penas
pretas e brancas".
d) "Aquilo, quem entendia? Nem os outros prodígios, que vieram se seguindo. O que ela queria, que
falava, súbito acontecia. Só que queria muito pouco, e sempre as coisas levianas e descuidosas, o que
não põe nem quita"
e) "O senhor vê, nos Gerais longe: nuns lugares, encostando o ouvido no chão, se escuta barulho de
fortes águas, que vão rolando debaixo da terra."
156
Comentários
Alternativa A: correta. É uma reza popular em ocasiões de chuvas fortes. É um trecho de "Campo
geral" (1964).
Alternativa B: incorreta – gabarito. Trecho do romance realista "Memórias póstumas de Brás
Cubas" (1881) de Machado de Assis. São descritos costumes burgueses, como os de ir em festas e em
bailes.
Alternativa C: correta. Quando o irmão de Miguilim morre, Mãtinã faz um feitiço para ele. É uma
trecho de "Campo geral" (1964).
Alternativa D: correta. É um trecho do conto "A menina de lá", presente em "Primeiras estórias"
(1962). Trata-se de uma menina vidente: tudo o que ela dizia, acontecia.
Alternativa E: correta. É um trecho de "Grande sertão: veredas" (1946). Consiste no costume de
posicionar o ouvido no chão para ouvir a natureza e fazer profecias.
Gabarito: B.
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Leia um trecho do poema "Uma faca só lâmina".
UMA FACA SÓ LÂMINA

(ou: serventia das ideias fixas)
Assim como uma bala

enterrada no corpo,
fazendo mais espesso
um dos lados do morto;
assim como uma bala

do chumbo mais pesado,
no músculo de um homem
pesando-o mais de um lado;
qual bala que tivesse um vivo mecanismo,

bala que possuísse
um coração ativo
igual ao de um relógio
submerso em algum corpo,
ao de um relógio vivo
e também revoltoso,
relógio que tivesse

o gume de uma faca
e toda a impiedade
de lâmina azulada.
157
MELO NETO, João Cabral de. Textos escolhidos pela ABL.

Disponível em: https://tinyurl.com/2mub8dmj. Acesso em: 26 jun. 2022.
Os elementos no poema vão se ligando por associação lógica. Tal encadeamento contrapõe:
a) a dureza de aparelhos tecnológicos com a sentimentalidade subjetiva.
b) os instrumentos controláveis com o destino inexorável dos seres vivos.
c) as frias matérias com o ser humano inextrincavelmente angustiado.
d) os mecânicos objetos com uma vida temporalmente marcada.
e) a ineficiência de equipamentos com o sujeito funcional.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Não é um poema sobre tecnologia.
Alternativa B: incorreta. O destino não é fatalista.
Alternativa C: incorreta. O foco não é no sentimento. João Cabral de Melo Neto é conhecido por
ser um autor objetivo.
Alternativa D: correta – gabarito. A bala (objeto) atravessa o corpo, em um movimento mecânico
(gatilho disparado). Um relógio também se revolta, porque age constantemente. A bala e a faca são
armas, como ideias fixas. O tempo atinge as vidas, como se as perfurasse.
Alternativa E: incorreta. Não é um poema pragmático.
Gabarito: D.
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Carlos Drummond de Andrade é um poeta modernista, cuja obra costuma ser classificada em fases, já
que é extensa. Versos que se enquadram na sua primeira fase são:
a) "Autor da rosa, não me revelo, sou eu, quem sou? /Deus me ajudara, mas ele é neutro, e mesmo
duvido"
b) "Que fazer, exausto, /em país bloqueado, /enlace de noite /raiz e minério? /Eis que o labirinto /(oh
razão, mistério) /presto se desata".
c) "Tua memória, pasto de poesia, /tua poesia, pasto dos vulgares, /vão se engastando numa coisa fria
/a que tu chamas: vida, e seus pesares."
d) "a máquina do mundo se entreabriu /para quem de a romper já se esquivava /e só de o ter pensado
se carpia."
e) "Quando nasci, um anjo torto /desses que vivem na sombra /disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida."
Comentários
Alternativa A: incorreta. Trecho do poema "Anúncio da rosa", presente no livro "A rosa do povo"
(1945), obra da maturidade. É uma reflexão metalinguística sobre o papel do poeta.
158
Alternativa B: incorreta. Trecho do poema "Áporo", presente no livro "A rosa do povo" (1945),
obra da maturidade. Trata-se de uma crítica contra a exploração de minério de ferro em sua cidade natal,
Itabira-MG.
Alternativa C: incorreta. Trecho do poema "Remissão", presente no livro "Claro enigma" (1951),
obra da maturidade. Consiste na primeira estrofe de um soneto, fase em que Drummond podia ser
considerado de neoparnasiano.
Alternativa D: incorreta. Trecho do poema "Máquina do mundo", presente no
livro "Claro enigma" (1951), obra da maturidade. Expressão retirada do poema épico
"Os Lusíadas" (1572), de Luís Vaz de Camões, é um diálogo do Modernismo com o
Classicismo. A máquina é uma epifania (revelação) que aparece para o poeta, em
ocasião de caminha melancólica pela cidade.
Alternativa E: correta – gabarito. Trecho do "Poema de sete faces", presente
no livro "Alguma poesia" (1930), obra da juventude. Nesse caso, o poeta se intitula
como gauche (desajustado).
Gabarito: E.
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Lygia Fagundes Telles é uma autora modernista que chegou à longevidade. Faleceu em 3 de abril de
2022 e sua obra é um marco profundo para o lugar de fala feminino. Quanto às suas obras, assinale o
que NÃO for correto sobre as protagonistas.
a) "Seminário dos ratos" – Euclídea.
b) "As meninas" – Ana, Clara e Lia.
c) "Ciranda de pedra" – Virgínia.
d) "Verão no aquário" – Raíza.
e) "Senhor diretor" – Maria Emília.
Comentários
Questão teórica de conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta – gabarito. Essa personagem aparece nesse conto, mas ela não é a
protagonista. Nesse conto, predominam personagens masculinas, marcadas pelas suas funções. Euclídea
é uma assistente de cozinha, personagem secundária que aparece só no fim do enredo.
Alternativa B: incorreta. O livro conta a história de três amigas – Lorena, Lia e Ana Clara – que
vivem em um pensionato de freiras para universitárias. Cada uma delas apresenta um perfil diferente e
se questiona acerca de questões muito próprias.
Alternativa C: incorreta. Virgínia é uma menina em etapa de amadurecimento. Sua vida passa por
várias transformações, porque sua família se desmembra: sua mãe fica doente e o padrasto se suicida.
Vai morar com o pai, em cuja casa há uma ciranda de anões de jardim.
Alternativa D: incorreta. Raíza vive um intenso verão, tão escaldante que parece capaz de derreter
suas lembranças. É uma menina que tem que lidar com um pai que virou alcoólatra e sua relação complexa
com a mãe, que é escritora.
Alternativa E: incorreta. Conto presente no livro "Seminário dos ratos" (1977). Trata-se de uma
ironia: apesar do pronome de tratamento do título, a protagonista é uma mulher. Maria Emília, aos 61,
159
impacta-se ao ver em uma banca de jornal uma capa de revista com um casal se beijando. Escreve uma
carta indignada para o diretor, mas expõe fatos de sua vida também.
Gabarito: A.
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Leve em consideração um trecho do capítulo "As contas".
Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é
do chão não se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria a gaveta do amo,
cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar
os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco. Transigindo com outro, não seria roubado tão
descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. E rendia-se: Aceitava o cobre e ouvia conselhos.
Era bom pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca aberta, vermelho, o pescoço inchando. De repente
estourava - Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver sem comer. Quem é do chão
não se trepa.
A repetição do ditado popular destaca a

a) revolta que o personagem sentia no seu íntimo contra o próprio patrão.
b) tentativa de autoconvencimento de que se subordinar era o mais sensato.
c) preparação de uma luta de classes que ia ser travada pelas injustiças.
d) frustração de quem precisou passar fome para que pudesse economizar.
e) possibilidade de autopromoção se o personagem se dedicasse com afinco.
Comentários
Alternativa A: incorreta. O trecho mostra Fabiano pensando, tentando fazer conta e decidindo de
onde mais podia cortar de seus hábitos cotidianos, a fim de economizar.
Alternativa B: correta – gabarito. A reiteração do provérbio "quem é do chão não se trepa" é uma
reflexão mental que Fabiano se força a repetir para manter os pés no chão e não fazer nenhum
investimento precipitado, nem se rebelar, porque sabia que precisava do trabalho.
Alternativa C: incorreta. O personagem se mostra resignado.
Alternativa D: incorreta. O trecho em si não fala da fome sofrida pela família de retirantes. Pelo
contrário, o particípio indica uma ação acabada: "Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho".
Alternativa E: incorreta. A passagem não defende a meritocracia.
Gabarito: B.
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Considere o poema a seguir para responder à próxima questão.
160
PEQUENA CANÇÃO DA ONDA

Os peixes de prata ficaram perdidos,
com as velas e os remos, no meio do mar.
A areia chamava, de longe, de longe,
Ouvia-se a areia chamar e chorar!
A areia tem rosto de música

e o resto é tudo luar!
Por ventos contrários, em noite sem luzes,

do meio do oceano deixei-me rolar!
Meu corpo sonhava com a areia, com a areia,

desprendi-me do mundo do mar!
Mas o vento deu na areia.

A areia é de desmanchar.
Morro por seguir meu sonho,
Longe do reino do mar!
MEIRELES, Cecília. Viagem e vaga música. In: Obra poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1983 (p. 145).
O eu lírico se apresenta apenas nas últimas três estrofes, demonstrando que

a) a areia é indeterminada e o vento é vago, como elementos parnasianos.
b) a areia personifica o resultado de seus projetos antes idealizados.
c) chegar nos objetivos não acarreta necessariamente em satisfação.
d) a personagem é guiada pela música que ela diz ouvir da praia.
e) a personagem nada e morre na praia, sem ter atingido o que queria.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Como elementos simbolistas e não parnasianos. Por isso, parte da poesia
de Cecília Meireles pode ser caracterizada como neossimbolista.
Alternativa B: incorreta. Cuidado: a areia é personificada, porque chama e chora. Porém, não por
causa de projetos previamente idealizados, mas sim pela não concretização dos mesmos.
Alternativa C: correta – gabarito. O eu lírico sonha com a areia e até chega na praia. Todavia, longe
do mar, o seu sonho morre e agora precisa viver sem sonhos.
Alternativa D: incorreta. O mar também é fonte de música. Essa música a guia também durante o
poema. A musicalidade, inclusive, é uma das principais temáticas na obra de Cecília Meireles.
Alternativa E: incorreta. A frustração advém de não conseguir se satisfazer, mesmo tendo chegado
na praia.
Gabarito: C.
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161
Compare os textos a seguir.
TEXTO I
No fim de um ano de trabalho, joão obteve uma redução de quinze por cento em seus
vencimentos. joão era moço. Aquele era seu primeiro emprego.
Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se.
Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.
No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário
reduzido, podia pagar um aluguel menor.
Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava
mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.
GIUDICE, Victor. O arquivo. Fonte: site pessoal do autor.
Disponível em: http://victorgiudice.com/contos.html. Acesso em: 26 jun. 2022.
TEXTO II
Com a comunidade judaica Esther não tem nenhum contato. Recusam-na. Uma vez ela vai ao
cinema Baltimore. Quer assistir a um filme iídiche: Uma Carta da Mamãe. Sabe que é um filme bom,
um filme triste. E quer chorar um pouco. Toma um táxi. Chega cedo. Mas já uma pequena e barulhenta
multidão comprime-se diante da bilheteria. Quando ela se aproxima, faz-se silêncio; à sua passagem,
afastam-se. Ela vê uma senhora gorda cuspir no chão.
SCLIAR, Moacyr. Ciclo das águas. Porto Alegre: L&PM; edição de bolso, 2002.
Representantes da literatura contemporânea, os textos evidenciam comportamentos humanos que

podem ser taxados respectivamente de:
a) bonificação e identidade.
b) gratificação e linchamento.
c) resignação e acolhimento.
d) alienação e preconceito.
e) enlouquecimento e racismo.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/literatura comparada.
Alternativa A: incorreta. Não é bonificação, pelo contrário: "joão" tem um corte em seu salário.
Alternativa B: incorreta. Linchamento no segundo texto, sim. Mas gratificação no primeiro, não.
Alternativa C: incorreta. Resignação no primeiro texto, sim. Mas acolhimento no segundo, não.
Alternativa D: correta – gabarito. No primeiro trecho, o personagem se chama "joão". É tão
insignificante que até o seu nome próprio é representado com letra minúscula. Dedica-se sua vida a um
emprego que vai prejudicá-lo até o final. Acaba perdendo a sua personalidade e se transformando em um
arquivo da firma. No segundo texto, Esther procura acolhimento em uma comunidade judaica. Porém, é
extremamente rejeitada e as pessoas demonstram preconceito e repugnância contra ela.
Alternativa E: incorreta. O personagem do primeiro texto aceita sua condição de subordinado. Não
enlouquece, mas sim vai se humilhando gradualmente. No segundo texto, é uma situação específica de
antissemitismo.
Gabarito: D.
162
_____________________________________________________________________________________
Considere o excerto a seguir.
Se aumenta o salário mínimo, aumenta também a prestação da casa própria. Daí reajustam o
preço da gasolina, do trem, do pão e vira uma inflação que não precisa ser economista para adivinhar
que é pior para todo mundo. Depois se você trabalhar nas horas extras que perde reclamando
aumento, é lógico que aumenta seu salário sem inflação, sem confusão, sem piquete no portão, nem
nada, digo mal?
BUARQUE, Chico. Fazenda modelo: uma novela pecuária. São Paulo: Círculo do Livro, 1974 (p. 52).
A literatura de resistência usava linguagem cifrada, por vezes elíptica, como no exemplo, porque
a) precisava escapar à censura.
b) pretendia ser vanguardista.
c) se espelhava na tropicália.
d) desejava obscurecer o texto.
e) preocupava-se com o estilo.
Comentários
Alternativa A: correta – gabarito. A linguagem dá várias voltas e se esvazia de seu sentido, até para
imitar discursos políticos. Trata-se de uma resistência artística contra as represálias sofridas. Chico
Buarque chegou a usar o pseudônimo de Juninho de Adelaide e se exilou em 1969.
Alternativa B: incorreta. "Fazenda modelo" (1974) é um livro inovador na forma como um todo,
mas não nesse trecho especificamente.
Alternativa C: incorreta. A Tropicália é uma manifestação artístico-cultural dos anos 1960-1970.
Representa a rebeldia e anarquia da Contracultura e é uma parte da resistência cultural. Porém, não é o
que justifica a linguagem elíptica nesse trecho em particular.
Alternativa D: incorreta. Atenção: não era um desejo, mas sim uma necessidade.
Alternativa E: incorreta. A linguagem é popular e representa um senso comum.
Gabarito: A.
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2023)
Noturno à janela do apartamento

Silencioso cubo de treva:
um salto, e seria a morte.
163
Mas é apenas, sob o vento,

a integração na noite.
Nenhum pensamento de infância,

nem saudade nem vão propósito.
Somente a contemplação
de um mundo enorme e parado.
A soma da vida é nula.

Mas a vida tem tal poder:
na escuridão absoluta,
como líquido, circula.
Suicídio, riqueza, ciência...

A alma severa se interroga
e logo se cala. E não sabe
se é noite, mar ou distância.
Triste farol da Ilha Rasa.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. Rio de Janeiro: Record, 1993.
Até pela fase drummondiana na qual se situa, esse poema revela que o eu lírico se encontra em um
estado de espírito
a) perturbado, cujo desespero leva ao suicídio.
b) melancólico, mas apelando para o memorialismo.
c) confuso, enxergando pelo menos uma tênue luz.
d) musical, pois faz uma serenata em sua varanda.
e) apaixonado, pois está esperando pela amada.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Cuidado com informações extratextuais.
Alternativa B: incorreta. Não pensa na família, o que se infere do verso: “Nenhum pensamento de
infância”.
Alternativa C: correta – gabarito. É esse o sentido da vida ainda circulante e do farol ainda que
raso, da ilha, mesmo que rasa.
Alternativa D: incorreta. Embora o “noturno” do título seja ambíguo, o eu lírico está refletindo
Alternativa E: incorreta. Não é um poema sentimental.
Gabarito: C.
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99. (Estratégia Militares 2022 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Mentoria EsPCEx 2023,
adaptado) Fabiano no capítulo "Contas" sente que quer se revoltar com o patrão, mas sabe no seu
164
íntimo que não pode, pois sua família depende dele. Identifique abaixo uma passagem que manifesta
essa sua resignação.
a) “Sinha Vitória mandou os meninos para o barreiro.”
b) “Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou.”
c) “Na porta, virando-se, enganchou as rosetas das esporas”
d) “Para que tanto espalhafato? — Hum! hum!”
e) “foi até a porta de uma bodega, com vontade de beber cachaça”
Comentários
Alternativa A: incorreta. Sinha Vitória despista os filhos para poder conversar de administração
com o marido.
Alternativa B: correta – gabarito. “Amunhecar” significa fraquejar das mãos, cair. Fabiano sentia
tanto a pressão que ele a somatizava.
Alternativa C: incorreta. Trecho predominantemente descritivo.
Alternativa D: incorreta. Fabiano tentava se convencer de que a situação não era tão ruim.
Alternativa E: incorreta. Fabiano replicava para si um ciclo vicioso.
Gabarito: B.
_____________________________________________________________________________________
2023)
Ficou inerme no canto da rua, talvez descansando das emoções, e viu entre as pedras do esgoto
o ralo capim de um verde da mais tenra esperança humana. Hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia
de minha vida: nasci.
(A verdade é sempre um contato interior inexplicável. A verdade é irreconhecível. Portanto não
existe? Não, para os homens não existe.)
Voltando ao capim. Para tal exígua criatura chamada Macabéa a grande natureza se dava apenas
em forma de capim de sarjeta — se lhe fosse dado o mar grosso ou picos altos de montanhas, sua
alma, ainda mais virgem que o corpo, se alucinaria e explodir-se-lhe-ia o organismo, braços pra cá,
intestino para lá, cabeça rolando redonda e oca a seus pés — como se desmonta um manequim de
cera.
Prestou de repente um pouco de atenção para si mesma. O que estava acontecendo era um
surdo terremoto? Tinha-se aberto em fendas a terra de Alagoas. Fixava, só por fixar, o capim. Capim
na grande Cidade do Rio de Janeiro. À toa. Quem sabe se Macabéa já teria alguma vez sentido que
também ela era à-toa na cidade inconquistável. O Destino havia escolhido para ela um beco no escuro
e uma sarjeta. Ela sofria? Acho que sim. Como uma galinha de pescoço mal cortado que corre
espavorida pingando sangue. Só que a galinha foge — como se foge da dor — em cacarejos
apavorados. E Macabéa lutava muda.
Vou fazer o possível para que ela não morra. Mas que vontade de adormecê-la e de eu mesmo ir
para a cama dormir.
165
Então começou levemente a garoar. Olímpico tinha razão: ela só sabia mesmo era chover. Os
finos fios de água gelada aos poucos empapavam-lhe a roupa e isso não era confortável.
Pergunto: toda história que já se escreveu no mundo é história de aflições?
Algumas pessoas brotaram no beco não se sabe de onde e haviam se agrupado em torno de
Macabéa sem nada fazer assim como antes pessoas nada haviam feito por ela, só que agora pelo
menos a espiavam, o que lhe dava uma existência.
(Mas quem sou eu para censurar os culpados? O pior é que preciso perdoá-los. É necessário
chegar a tal nada que indiferentemente se ame ou não se ame o criminoso que nos mata. Mas não
estou seguro de mim mesmo: preciso perguntar, embora não saiba a quem, se devo mesmo amar
aquele que me trucida e perguntar quem de vós me trucida. E minha vida, mais forte do que eu,
responde que quer porque quer vingança e responde que devo lutar como quem se afoga, mesmo
que eu morra depois. Se assim é, que assim seja).
Macabéa por acaso vai morrer? Como posso saber? E nem as pessoas ali presentes sabiam.
Embora por via das dúvidas algum vizinho tivesse pousado junto do corpo uma vela acesa. O luxo da
rica flama parecia cantar glória.
(Escrevo sobre o mínimo parco enfeitando-o com púrpura, jóias e esplendor. É assim que se
escreve? Não, não é acumulando e sim desnudando. Mas tenho medo da nudez, pois ela é a palavra
final.)
Enquanto isso, Macabéa no chão parecia se tornar cada vez mais uma Macabéa, como se
chegasse a si mesma.
Este é um melodrama? O que sei é que melodrama era o ápice de sua vida, todas as vidas são
uma arte e a dela tendia para o grande choro insopitável como chuva e raios.
Apareceu portanto um homem magro de paletó puído tocando violino na esquina. Devo explicar
que este homem eu o vi uma vez ao anoitecer quando eu era menino em Recife e o som espichado e
agudo sublinhava com uma linha dourada o mistério da rua escura. Junto do homem esquálido havia
uma latinha de zinco onde barulhavam secas as moedas dos que o ouviam com gratidão por ele lhes
planger a vida. Só agora entendo e só agora brotou-se-me o sentido secreto: o violino é um aviso. Sei
que quando eu morrer vou ouvir o violino do homem e pedirei música, música, música.
Macabéa, Ave Maria, cheia de graça, terra serena da promissão, terra do perdão, tem que chegar
o tempo, ora pro nóbis, e eu me uso como forma de conhecimento. Eu te conheço até o osso por
intermédio de uma encantação que vem de mim para ti. Espraiar-se selvagemente e no entanto atrás
de tudo pulsa uma geometria inflexível. Macabéa lembrou-se do cais do porto. O cais chegava ao
coração de sua vida.
Macabéa pedir perdão? Porque sempre se pede. Por quê? Resposta: é assim porque assim é.
Sempre foi? Sempre será. E se não foi? Mas eu estou dizendo que é. Pois.
Via-se perfeitamente que estava viva pelo piscar constante dos olhos grandes, pelo peito magro
que se levantava e abaixava em respiração talvez difícil. Mas quem sabe se ela não estaria precisando
de morrer? Pois há momentos em que a pessoa está precisando de uma pequena mortezinha e sem
nem ao menos saber. Quanto a mim, substituo o ato da morte por um seu símbolo. Símbolo este que
pode se resumir num profundo beijo mas não na parede áspera e sim boca-a-boca na agonia do prazer
que é morte. Eu, que simbolicamente morro várias vezes só para experimentar a ressurreição.
Acho com alegria que ainda não chegou a hora de estrela de cinema de Macabéa morrer. Pelo
menos ainda não consigo adivinhar se lhe acontece o homem louro e estrangeiro. Rezem por ela e
que todos interrompam o que estão fazendo para soprar-lhe vida, pois Macabéa está por enquanto
solta no acaso como a porta balançando ao vento no infinito. Eu poderia resolver pelo caminho mais
166
fácil, matar a menina-infante, mas quero o pior: a vida. Os que me lerem, assim, levem um soco no
estômago para ver se é bom. A vida é um soco no estômago.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 2020.
O destino de Macabéa se revela trágico, especialmente porque

a) ela ouve uma profecia funesta de Madame Carlota, momento depois do qual se suicida.
b) ela não consegue se casar com o francês, tendo que se casar com Olímpico.
c) passa por um processo de animalização por meio do qual será escarnecida.
d) no momento de sua morte encontra a grandeza que não adquirira em vida.
e) há um apagamento de sua pessoa, cujo protagonismo é assumido pelo narrador.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Ela não se suicida, é atropelada por um Mercedes amarelo.
Alternativa B: incorreta. Ela não se casa, é uma mulher pela qual os homens não se interessam.
Alternativa C: incorreta. Não é com sentido jocoso. A comparação é por causa da luta pela
sobrevivência.
Alternativa D: incorreta. Ela não encontra tal grandeza em nenhum momento.
Alternativa E: correta – gabarito. Os únicos minutos de estrela de Macabéa se convertem em
longas reflexões no narrador.
Gabarito: E.
_____________________________________________________________________________________
Todas as obras abaixo são drummondianas. Encontre a exceção.
a) “Esconderijos do tempo” (1980).
b) “Antologia poética” (1962).
c) “Claro enigma” (1951).
d) “A rosa do povo” (1945).
e) “Alguma poesia” (1930).
Comentários
Alternativa A: incorreta – gabarito. Esse é um livro de Mario Quintana e não de Carlos Drummond
de Andrade.
Alternativa B: correta. Trata-se de uma reunião selecionada pelo próprio poeta.
Alternativa C: correta. Obra da maturidade, que conta com a presença de “Máquina do mundo”.
Alternativa D: correta. Obra da maturidade, de cunho social.
Alternativa E: correta. Obra da juventude em que o poeta ainda se caracterizava como gauche.
Gabarito: A.
_____________________________________________________________________________________
167

Noturno citadino
Um cartaz luminoso ri no ar.
Ó noite, ó minha nêga
toda acesa
de letreiros!... Pena
é que a gente saiba ler... Senão
tu serias de uma beleza única
inteiramente feita
para o amor dos nossos olhos.
O poema emprega como principal figura de linguagem o(a):

a) paradoxo.
b) metonímia.
c) prosopopeia.
d) sinestesia.
e) catacrese.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Não é a oposição inconciliável.
Alternativa B: incorreta. Não é a parte pelo todo.
Alternativa C: correta – gabarito. Como é o caso do cartaz rindo e da noite sendo chamada por um
apelido afetivo.
Alternativa D: incorreta. Não é a junção de sensações.
Alternativa E: incorreta. Não é a junção de dois termos para a formação de um terceiro.
Gabarito: C.
_____________________________________________________________________________________
Quanto ao título do poema, é possível afirmar que é:
a) irônico sobre o modo de vida nas cidades.
b) intertextual a partir de obras musicais.
c) ambíguo quanto às classes morfológicas.
d) parodístico quanto a um livro romântico.
e) metalinguístico, refletindo sobre seu fazer poético.
168
Comentários
Alternativa A: incorreta. Não é um poema crítico.
Alternativa B: incorreta. É um sentido de noturno, mas não o único.
Alternativa C: correta – gabarito. Isso porque o termo “noturno” pode se classificar tanto como
um substantivo quanto como um adjetivo.
Alternativa D: incorreta. Não existe tal alusão. Mario Quintana é um escritor modernista.
Alternativa E: incorreta. Em outras obras de Quintana sim, mas não nesse. Exemplos: “Os poemas”
e “Eu fiz um poema”.
Gabarito: C.
_____________________________________________________________________________________
CENA ANTIGA
Amanhece o dia entre neblinas, quando o Bem e o Mal se encontram para mais um duelo.
Escolhem as armas nos estojos, aproximam-se para o encontro ritual, encaram-se. Os padrinhos que
aguardam ao lado do campo, escuros como as gralhas que saltitam entre restolhos, são instados a
partir. Que não haja testemunhas.
Afastados estes, Bem e Mal guardam as armas, se envolvem em suas capas e caminham até a
taverna mais próxima. Ali, frente a canecos cheios, discutirão estratégias e trocarão conselhos durante
dias ou séculos, até o próximo duelo.
Marina Colasanti é uma escritora contemporânea. Nesse sentido, o teor alegórico de sua crônica pode
representar:
a) a reunião boêmia entre amigos.
b) o apelo à estética do expressionismo.
c) o diálogo com movimentos anteriores.
d) a negação de todo o passado.
e) a reconciliação de gerações.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Não é um grupo coletivo, mas sim a reunião de figuras opostas.
Alternativa B: incorreta. Nessa vanguarda, pessoas podem se transformar em animais, mas
predomina o absurdo, o grotesco e o deformado.
Alternativa C: incorreta. Não é uma citação explícita, apenas uma alusão ao costume do duelo.
Alternativa D: incorreta. Não é absolutista.
Alternativa E: correta – gabarito. Nem mesmo valores antagônicos estão dispostos mais a brigar
entre si. Preferem ir para o bar!
Gabarito: E.
_____________________________________________________________________________________
169
Não obtive, porque elas não me tentavam e porque me orientei num sentido diferente. O meu
fito na vida foi apossar-me das terras de S. Bernardo, construir esta casa, plantar algodão, plantar
mamona, levantar a serraria e o descaroçador, introduzir nestas brenhas a pomicultura e a avicultura,
adquirir um rebanho bovino regular.
Tudo isso é fácil quando está terminado e embira-se em duas linhas, mas para o sujeito que vai
começar, olha os quatro cantos e não tem em que se pegue, as dificuldades são terríveis. Há também
a capela, que fiz por insinuações de padre Silvestre.
Ocupado com esses empreendimentos, não alcancei a ciência de João Nogueira nem as tolices
do Gondim. As pessoas que me lerem terão, pois, a bondade de traduzir isto em linguagem literária,
se quiserem. Se não quiserem, pouco se perde. Não pretendo bancar escritor. É tarde para mudar de
profissão. E o pequeno que ali está chorando necessita quem o encaminhe e lhe ensine as regras de
bem viver.
— Então para que escreve?
— Sei lá!
O pior é que já estraguei diversas folhas e ainda não principiei.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 107. ed. Rio de Janeiro: Record, 2019.
Paulo Honório, narrador desse romance, diz que no começo de sua carreira “as dificuldades são
terríveis”. No entanto, ele
a) encontrou uma mulher e se apaixonou.
b) cria um grupo companheiro de amigos.
c) é o próprio responsável por atos ignominiosos.
d) expulsa de suas terras os ex-escravos.
e) ajuda outras pessoas a escreverem.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Casa-se com Madalena por interesse, para conseguir um herdeiro.
Alternativa B: incorreta. O grupo de colegas na verdade é uma aliança favorável a ele.
Alternativa C: correta – gabarito. Como matar os vizinhos para conseguir suas terras, alastrando
seu reino, não satisfeito com o que já tinha.
Alternativa D: incorreta. De todas as atrocidades, essa é uma das que ele não comete.
Alternativa E: incorreta. Nem ele mesmo parece saber seu propósito com a escrita.
Gabarito: C.
_____________________________________________________________________________________
170
Encontra-se uma ironia no seguinte trecho:
a) “plantar algodão, plantar mamona, levantar a serraria e o descaroçador”.
b) “Há também a capela, que fiz por insinuações de Padre Silvestre”.
c) “Tudo isso é fácil quando está terminado”.
d) “e lhe ensine as regras de bem viver”.
e) “O pior é que já estraguei diversas folhas”.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Enumeração de implementações que de fato foram feitas em sua fazenda.
Alternativa B: incorreta. Não há uma ironia, ele foi sincero: não é religioso, mas construiu uma
capela mesmo assim para agradar.
Alternativa C: incorreta. Não é o contrário do que se quer dizer: realmente, o produto final é mais
fácil do que o processo.
Alternativa D: correta – gabarito. Nem ele mesmo conheceu esse “bem viver”, já que se
embruteceu.
Alternativa E: incorreta. Ele realmente duvida de sua qualidade literária.
Gabarito: D.
_____________________________________________________________________________________
— E de onde que o estais trazendo,

irmãos das almas,
onde foi que começou
vossa jornada?
— Onde a Caatinga é mais seca,
irmão das almas,
onde uma terra que não dá
nem planta brava.
— E foi morrida essa morte,
irmão das almas,
essa foi morte morrida
ou foi matada?
— Até que não foi morrida,

irmão das almas,
esta foi morte matada,
numa emboscada.
— E o que guardava a emboscada,
171
irmão das almas

e com que foi que o mataram,
com faca ou bala?
— Este foi morto de bala,
irmão das almas,
mas garantido é de bala,
mais longe vara
MELO NETO, João Cabral. Morte e vida severina. Disponível em: https://tinyurl.com/2v2wr8hx.
Acesso em: 29 jul. 2022.
O irmão das almas é uma personagem alegórica que carrega uma mensagem:
a) profética.
b) esperançosa.
c) apática.
d) ameaçadora.
e) caluniosa.
Comentários
Alternativa A: correta – gabarito. Ao falar de um assassinado, expõe mais riscos aos quais Severino
está correndo em sua jornada, para além de toda a vulnerabilidade social já sofrida.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário.
Alternativa C: incorreta. Comunica um fato atormentador.
Alternativa D: incorreta. Não é uma acusação.
Alternativa E: incorreta. Não é uma mentira.
Gabarito: A.
_____________________________________________________________________________________
A diferença entre “morte morrida” e “morte matada” alude a um importante fato na história, que é
o(a):
a) festividade.
b) religião.
c) sincretismo.
d) suicídio.
e) matrimônio.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Apenas no final da narrativa, celebra-se o nascimento do filho de José.
Alternativa B: incorreta. Não se trata de uma crença religiosa.
Alternativa C: incorreta. Não predomina a mescla cultural.
172
Alternativa D: correta – gabarito. De tanto desespero, há um momento em que Severino considera

em se suicidar, mas é dissuadido por José.
Alternativa E: incorreta. Não há casamento.
Gabarito: D.
_____________________________________________________________________________________
TEXTO PARA AS PRÓXIMA 2 QUESTÕES
No Meio do Caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
ANDRADE, Carlos Drummond. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013 (p. 36).
Uma característica da fase gauche da obra drummondiana que se verifica no poema é:

a) memorialismo passadista.
b) a ironia cínica.
c) experimentalismos formais.
d) repetições linguísticas.
e) crise existencial.
Comentários
Alternativa A: incorreta. O poema se projeta no futuro.
Alternativa B: incorreta. Não predomina o contrário do que se quer dizer.
Alternativa C: incorreta. Não se trata de um poema vanguardista.
Alternativa D: incorreta. Embora elas existam, não é isso que faz do eu lírico um desajustado.
Alternativa E: correta – gabarito. A pedra é uma metáfora para um obstáculo que se encontra no
caminho, o que faz mais sentido ainda se o poema for considerado na sua fase juvenil.
Gabarito: E.
_____________________________________________________________________________________
173
Apesar do cansaço da vida cotidiana, o eu lírico não se deixa abater. Nesse sentido, a pedra funciona
como um(a):
a) amuleto.
b) crítica.
c) antropofagia.
d) banalidade.
e) epifania.
Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autores e obras do cânone
. Alternativa A: incorreta. A pedra é metafórica; não é guardada nem carregada.
Alternativa B: incorreta. É um elemento de conciliação.
Alternativa C: incorreta. É um poema da segunda geração modernista e não da primeira.
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário: é notável.
Alternativa E: correta – gabarito. É um acontecimento significativo que marca o eu lírico a ponto
de o fato permanecer em sua memória.
Gabarito: E.
_____________________________________________________________________________________
– Acho que era. E cantada por um homem chamado Caruso que se diz que já morreu. A voz era
tão macia que até doía ouvir. A música chamava-se “Una Furtiva Lacrima”. Não sei por que eles não
disseram lágrima.
“Una Furtiva Lacrima” fora a única coisa belíssima na sua vida. Enxugando as próprias lágrimas
tentou cantar o que ouvira. Mas a sua voz era crua e tão desafinada como ela mesma era. Quando
ouviu começara chorar. Era a primeira vez que chorava, não sabia que tinha tanta água nos olhos.
Chorava, assoava o nariz sem saber mais por que chorava. Não chorava por causa da vida que levava:
porque, não tendo conhecido outros modos de viver, aceitara que com ela era “assim”. Mas também
creio que chorava porque, através da música, adivinhava talvez que havia outros modos de sentir,
havia existências mais delicadas e até com um certo luxo de alma. Muitas coisas sabia que não sabia
entender. (...).
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (p. 56).
Macabéa não sabia italiano, mas foi capaz de se encantar com a música. Isso porque a arte tem um
potencial orientado para o(a):
a) tragédia.
b) catarse.
c) tropicalismo.
174
d) privilégio.
e) contracultura.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Não é um trecho pessimista.
Alternativa B: correta – gabarito. É um termo grego que significa purificação de sentidos, como
indica a própria lágrima caindo.
Alternativa C: incorreta. É uma manifestação artístico-cultural dos anos 60-70 na música, motivada
pela cultura hippie.
Alternativa D: incorreta. Não é um luxo de classe, mas sim da sensibilidade.
Alternativa E: incorreta. É o desbunde. Tendência anárquica de poetas como Waly Salomão.
Gabarito: B.
_____________________________________________________________________________________
Clarice Lispector é uma autora conhecida pelo seu intimismo. Entre os trechos abaixo, identifique o
mais psicológico.
a) “E cantada por um homem chamado Caruso“.
b) “A voz era tão macia que até doía ouvir“.
c) “tentou cantar o que ouvira”.
d) “Não chorava por causa da vida que levava”.
e) “aceitara que com ela era ‘assim’.”.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Enrico Caruso é o cantor da música que tocava na Rádio Relógio.
Alternativa B: correta – gabarito. O íntimo é alcançado pela imagem sensorial.
Alternativa C: incorreta. Tentativa de imitação.
Alternativa D: incorreta. Justificativa pela vida da personagem.
Alternativa E: incorreta. Consiste na resignação de Macabéa, um ser que não foi feito para a vida
social. Nordestina, deslocada, datilógrafa.
Gabarito: B.
_____________________________________________________________________________________
Uvas, deve ter ainda um cacho na geladeira, eu não disse? Rosadas. Fico lavando minhas uvas,
mãezinha mandou uma caixa enorme. Distribuí tudo. “Abandonei minha filhinha num pensionato de
freiras pobres, num quarto de chofer em cima da garagem e fui viver com um homem que me
apunhala pelas costas”, disse minha mãe à tia Luci num dos seus dias de punição que começam na
175
segunda e vão até domingo. Número um, imaginar Mieux manejando punhais, coitadinho. Deixa-me
rir. Usa no máximo aqueles palitinhos plásticos de espetar azeitona. Número dois, isto não é mais o
quarto do chofer.
TELLES, Lygia Fagundes. As meninas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009 (p. 42).
No trecho observa-se uma importante característica da autora, que é o(a):

a) resistência cultural.
b) teatro crítico social.
c) fluxo de consciência.
d) linguagem nonsense.
e) poesia marginal.
Comentários
Alternativa A: incorreta. Não nesse trecho.
Alternativa B: incorreta. Faz parte da terceira geração modernista, mas a autora escreve prosa.
Alternativa C: correta – gabarito. O que constata pela linguagem acionada por gatilhos nominais e
menção à etapa psicanalítica da infância.
Alternativa D: incorreta. Não é uma obra dadaísta.
Alternativa E: incorreta. É um texto em forma de prosa, e não verso.
Gabarito: C.
_____________________________________________________________________________________
Hoje você é quem manda

Falou, tá falado
Não tem discussão, não
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado

E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
176
Onde vai se esconder

Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
BUARQUE, Chico. Apesar de você. Fonte: Letras Mus.
Disponível em: https://tinyurl.com/yp74uf7v. Acesso em: 29 jul. 2022.
Essa letra de música se classifica como canção de protesto. Nesse sentido, a mensagem final
a) faz com que a revolução venha por meio do amor.
b) se dirige par ao perigo de uma revolta armada.
c) menciona o exílio como mecanismo de proteção.
d) é uma linguagem prolixa que esconde o sentido.
e) se volta para os grandes exemplos do passado.
Comentários
Alternativa A: correta – gabarito. Nada seria capaz de deter a euforia do povo, que faz sua
resistência por meio da paz e do amor, influência da cultura hippie.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: o samba é uma festa.
Alternativa C: incorreta. Embora o próprio Chico Buarque tenha ido para a Itália, esse dado não é
aludido no texto.
Alternativa D: incorreta. A linguagem é popular.
Alternativa E: incorreta. Ele se projeta para o futuro.
Gabarito: A.
_____________________________________________________________________________________
Entre os autores abaixo, assinale o que for moçambicano.
a) António Lobo Nunes.
b) Corsino Fortes.
c) José Eduardo Agualusa.
d) Jefferson Tenório.
e) Luís Bernardo Honwana.
Comentários
Questão de conhecimento de autores do cânone.
Alternativa A: incorreta. Ele é um escritor português.
Alternativa B: incorreta. Ele é um escritor cabo-verdiano.
177
Alternativa C: incorreta. Ele é um escritor angolano.

Alternativa D: incorreta. Ele é um escritor brasileiro, autor de "O avesso da pele".
Alternativa E: correta – gabarito. Ele é autor de "Nós matamos o cão tinhoso!".
Gabarito: E.
Considerações Finais
Eu me coloco à disposição de vocês para sanar eventuais dúvidas.

Tenho a meta de responder ao Fórum de Dúvidas, com a qualidade e profundidade exigidas, assim
como podem me encontrar em redes sociais. Além disso, também temos Sala VIP.
Versão Data Modificações Professora

1 10/04/2023 Entrega da primeira versão do texto. Luana Signorelli
Professora Luana Signorelli
/luana.signorelli Professora Luana @profa.luana.signorelli

Signorelli
Luana Signorelli @luanasignorelli1
178

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Lista Complementar de Questões – Tendências Contemporâneas:

Lista Complementar sem Comentários

Quanto aos itens acima, a sequência correta é:

E como eu palmilhasse vagamente

se misturasse ao som de meus sapatos

lentamente se fossem diluindo

a máquina do mundo se entreabriu

Nesse fragmento, constata-se um processo de

A escola das facas

Por isso, sobrevoada a Mata,

O coqueiro e a cana lhe ensinam,

Em relação a esse fragmento, pode-se afirmar que

A sequência de itens INCORRETOS é:

Quanto ao trecho lido, é correto afirmar que

b) Fabiano, o narrador em primeira pessoa, critica o governo da época, defendendo um retorno do

No trecho, é correto inferir que o menino mais novo:

aviões e ônibus interestaduais paralisados, corrida a mercearias e supermercados como em dia de

É possível depreender que o narrador

“A solidão rural só abria a boca para bocejar.

A partir do excerto acima, é possível caracterizá-lo como:

QUEIROZ, Rachel de. O quinze. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016.

O romance de 30, para além da questão sertaneja, também manifestava:

“O branco açúcar que adoçará meu café

A partir do poema, depreende-se que

Pensem nas mulheres

A partir do texto acima, julgue os itens a seguir.

A sequência de itens corretos é:

Está correto o que se afirma em:

O fragmento acima, de Guimarães Rosa, marca

Padilha assobia no alpendre. Onde andará Padilha?

O que o trecho mostra é um narrador que se revela

Saio de meu poema

Algumas conchas tornaram-se,

Talvez alguma concha

talvez, como a camisa

Nesse poema, depreende-se que o eu lírico

Nessa passagem, o narrador descreve uma situação em que

a) Gonçalves de Guimarães; Álvares de Azevedo; Gonçalves Dias e José de Alencar.

— Desde que estou retirando

Penso agora: mas por que

É sonho que guarda

Não te deixes destruir…

Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Nesse poema, a mensagem final é a:

AS BOAS COISAS DA VIDA

Ao final, o narrador revela-se

Nesse excerto, a narradora revela uma visão de mundo que é:

Nesse sentido, a crônica pode ser compreendida como um gênero que:

O mundo meu é pequeno, Senhor.

(1) Marina Colasanti Teve de conciliar os estudos com o trabalho de empregada

Numa árvore do passeio público

O poeta entra no elevador

O poeta está melancólico.

Depreende-se do texto que

Estão corretas as afirmações:

Quanto ao trecho, é correto afirmar que

Quanto ao trecho lido, é correto afirmar que

b) o protagonista é um narrador em terceira pessoa, e mantém relações conflituosas com o servidor

a) ( ) são todas asserções verdadeiras.

49. (ITA – 2019) Leia o poema de autoria de Cecília Meireles.

O choro vem perto dos olhos

Descem dos céus ordens augustas