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ECOSSISTEMA ÂNIMA
RUAN CAETANO COSTA
Rio de Janeiro
2022
RUAN CAETANO COSTA
Rio de Janeiro
2022
Este trabalho é dedicado aos meus amigos,
família e igreja que sempre me deram o apoio
necessário para que eu chegasse até aqui e me
tornasse quem eu sou hoje. Soli Deo Gloria.
AGRADECIMENTOS
À Deus, pelo amor e graça derramada sobre a minha vida, bem como por iluminar a
minha mente nos momentos difíceis, dando-me força e coragem para seguir e guiando todos os
meus passos.
Agradeço aos meus pais, Monica e Rafael, e aos meus saudosos avós Maria Celina e
Elpídio que sempre acreditaram em mim e investiram na minha educação, e com humildade e
honestidade, ajudaram a formar o homem que sou hoje. A vocês, todo o meu amor e a minha
gratidão.
Ao meu orientador. Emílio, que me auxiliou e esteve presente sempre que necessário,
contribuindo com o desenvolvimento do trabalho, obrigado pela dedicação e paciência durante
o projeto. Seus conhecimentos fizeram grande diferença no resultado final deste trabalho.
À minha amiga e namorada Nicole, obrigado pelo apoio, carinho e incentivo durante
esses 4 anos de faculdade e por ser um dos motivos de não desistir.
Por fim, quero agradecer a todos os meus amigos, com quem divido todas as minhas
alegrias e angústias, especialmente ao Explana: Abraão, Eduardo, Felipe, Gabriel, Marlon,
Mateus, Pedro, Renan e Samuel.
À minha igreja, minha segunda casa onde cresci e amadureci com a ajuda de meus
pastores, líderes e amigos, que sem dúvida tiveram um papel fundamental na formação do meu
caráter, meu mais sincero agradecimento.
“O espírito humano precisa prevalecer sobre a tecnologia”.
(Albert Einstein)
RESUMO
O presente artigo, tem por intuito apresentar as considerações realizadas sobre o emprego das
Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARPs), observando as suas capacidades de emprego a
partir da Revolução nos Assuntos Militares (RAM), bem como seus reflexos à luz do Direito
Internacional para o impacto na Segurança Internacional. O trabalho aborda na introdução do
artigo um breve contexto para situar o leitor sobre o assunto a ser abordado. Na sequência, são
apresentados os termos e as definições do que vem a ser uma ARP, além de uma breve História
das plataformas precursoras das aéreas não tripuladas. Assim, busca-se saber como essas
plataformas têm sido empregadas no cenário mundial atualmente? Ainda, são apresentadas as
possibilidades e limitações das ARPs, e examina-se o debate atual sobre os argumentos que
apoiam e que condenam a utilização da plataforma. Por fim, conclui-se no sentido de pensar-
se em um horizonte possível sobre esse uso.
This article aims to present the considerations made about the use of Remotely Piloted Aircraft
(RPA), observing their employment capabilities from the Revolution in Military Affairs
(RMA), as well as their reflections in the light of International Law for the impact on
international security. The essay on the introduction of the article consider a brief context to
situate the reader on the subject. Following, the terms and definitions of what constitutes an
RPA are presented, aside from a brief history of the precursor platforms of unmanned aerials.
Therefore, we seek to know how these platforms have been used in the world scenario today.
Furthermore, the possibilities and limitations of RPAs are presented, and the current debate on
the arguments that support and condemn the use of the platform is examined. Finally, it is
concluded in the sense of thinking about a possible horizon about this use.
1 INTRODUÇÃO…………………………………………………………………… 11
1.1 Objetivo Geral………………..…………………………………………………….. 12
1.2 Objetivos Específicos………………………………………………………………. 12
1.3 Hipótese…………………………………………………………………………….. 12
2 CONTEXTO HISTÓRICO……………………………………………………….. 13
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………... 26
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………… 27
11
1.INTRODUÇÃO
Deste modo, o presente trabalho parte de uma leitura acerca dos avanços de proliferação
das plataformas aéreas não tripuladas, e como isso tem influenciado o cenário mundial, bem
como o uso dessa tecnologia ser vista como uma forma de segurança e como também uma
ameaça. O estudo tem o intuito de familiarizar o leitor sobre o uso das Aeronaves Remotamente
Pilotadas (ARPs) e entender como isso afeta a estrutura militar e a Segurança Internacional.
12
Diante disso, este trabalho tem como objetivo geral analisar como as ARPs
repercutiram na formulação da segurança internacional voltado para as ameaças da guerra
irregular. Fazendo uso de uma abordagem multidisciplinar, proveniente dos campos de estudo
das Relações Internacionais, Estudos Estratégicos e Direito Internacional, a pesquisa teve como
motivação a seguinte pergunta de pesquisa: Como o uso das ARPs repercutiu na atividade de
Segurança Internacional?
Logo, a pesquisa parte da hipótese a partir da observação de que diversos países já
identificam a importância das ARPs como uma plataforma versátil e que pode ser desenvolvida
cada vez mais para combate, além de possíveis aprimoramentos tecnológicos militares,
trazendo uma mudança no conceito de guerra.
(1) Descrever o uso embrionário das ARPs desde o séc. XX até os conflitos atuais;
(2) Entender o desenvolvimento do emprego das ARPs a partir da revolução nos assuntos
militares;
2. CONTEXTO HISTÓRICO
Vários nomes já foram utilizados para descrever aeronaves não tripuladas, conhecida
comumente como “drone”. Trata-se de uma plataforma aérea sem um piloto a bordo, sendo
controlada por uma central de comando e controle (C2) via satélite, podendo estar a quilômetros
de distância (DALAMAGKIDIS, 2015).
Dentre a variedade de nomes, Remotely Piloted Vehicle (RPV) foi um dos primeiros
nomes utilizados para se referir a plataforma durante a Guerra do Vietnã. Unmanned Aerial
Vehicle (UAV) traduzido para Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) no português, foi o
termo mais utilizado pela Federal Aviation Administration (FAA) e pela U.S. Air Force
(USAF), além de Unmanned Aerial Vehicle (UAS). Enquanto os britânicos nomeiam a
plataforma de Remotely Piloted Aircraft (RPA), um termo que pode ser utilizado para se referir
a plataforma e também a quem opera a mesma (DALAMAGKIDIS, 2015).
Além deste termo, os Estados Unidos também tem investido fortemente nos últimos
anos em uma nova classe de plataformas não tripuladas, os Micro Aerial Vehicle (MAV), que
são aeronaves com aproximadamente 15 (quinze) centímetros com a capacidade de serem mais
furtivas (DIAS, 2015)
Dentro das várias nomenclaturas e categorias que se pode dar a plataforma ou
aeronave, neste trabalho, utiliza-se o termo Aeronave Remotamente Pilotada (ARP) como
terminologia para referir-se às plataformas aéreas operadas remotamente.
primeiras aeronaves não tripuladas para assuntos militares, como pode ser visto na figura 1 que
foi o possível primeiro ataque aéreo não tripulado.
Existem relatos que a primeira aeronave não tripulada surgiu antes da invenção do
avião2. Em 1849, o exército austríaco utilizou balões carregados com explosivos controlados
por fusíveis para bombardear Veneza3, e esperaram o vento soprar na direção certa para
acontecer o ataque. Durante a Guerra Civil Americana (1861-1865) e durante a 1ª Guerra
Mundial, houve o desenvolvimento da “bomba voadora”, que foi uma maneira semelhante à
usada pela Áustria (ALVES NETO, 2008 apud DIAS e ROSSA, 2015).
1
https://www.openculture.com/2021/09/the-first-air-raid-in-history.html
2
Em 1906 foi criado o primeiro avião que conseguiu decolar com seus próprios recursos, conhecido como 14-bis.
3
A Primeira Guerra de Independência Italiana foi travada em 1848 e 1849 entre o Reino da Sardenha e o Império
Austríaco.
15
4
A Fieseler Fi 103, também conhecida por Vergeltungswaffe 1 e FZG-76, mas mais conhecida pela sigla V-1, é
uma bomba voadora, sendo o primeiro míssil moderno guiado usado em tempo de guerra.
5
Em 1940 ocorreu a Batalha da Grã-Bretanha que fez parte da campanha militar travada durante a Segunda Guerra
Mundial, onde a Força Aérea Real defendeu o Reino Unido contra uma série de ataques realizados pela força aérea
da Alemanha Nazista.
16
Curto
No quadro é possível analisar sobre as ARPs de longo e curto alcance de alta e baixa
tecnologia e alguns exemplos. As ARPs de longo alcance conseguem atingir em uma única
direção mais de 300km, consistente com o que o limite do Missile Technology Control Regime
(MTCR) permite para Categoria I e Mísseis de categoria II e com a divisão entre mísseis
internos veículos movidos a combustão, que têm maior alcance, e veículos elétricos movidos a
bateria, que têm alcances mais curtos (DAVIS et al., 2014).
Nesta análise, como no MTCR, consideramos um sistema de longo alcance se ele pode
voar mais de 300 km em um sentido. Contudo, muitos sistemas capazes de voar longas
distâncias, como o iraniano Ababil ou RQ-7 Shadow, são restritos em operação a locais dentro
da linha de visão de suas estações terrestres, normalmente dezenas de milhas. Apesar dessas
especificações não serem o enfoque desta pesquisa e deste tópico, vale dizer que a aposta neste
tipo de ferramenta é uma tendência em estado crescente (DAVIS et al., 2014).
17
Costa (2020) afirma que o ponto de mudança no emprego das ARPs foi o ataque de 11
de setembro de 20016, que desencadeou a Guerra ao Terror7, onde os EUA investiram
fortemente no desenvolvimento de armamentos nos conflitos do Afeganistão8 e Iraque9,
utilizando as ARPs controladas via satélite e empregado-as para vigilância e ataques aéreos
(COSTA, 2020).
As guerras no Afeganistão e no Iraque têm sido longas e custosas, com 4.485 soldados
norte-americanos mortos no Iraque e mais de 2.147 mortos no Afeganistão. Na esteira
desses conflitos, os VANTs armados desempenham um papel central nas operações
militares norte-americanas. Em vez de empregar tropas no teatro de operações da
Líbia, por exemplo, Washington desencadeou inúmeros ataques por meio de seus
VANTs armados. Os mísseis que atingiram o comboio do ditador líbio, Muammar
Kadafi, não foram disparados por militares acampados no deserto ou por um piloto de
F-18 sobrevoando o país, mas por um combatente munido de um controle remoto,
sentado em segurança, no interior de um prédio comum nos arredores de Las Vegas.
(HARDING, 2013 apud MAGALHÃES, 2018).
O ex-presidente dos EUA, Barack Obama, empregou ARPs armadas em alguns países
como Líbia, Somália, Iêmen, Paquistão e Irã com uma intensidade que não ocorreria em casos
de aviões tripulados. Isso acontece devido a perda de uma ARP ter um impacto menos relevante
do que a perda de um piloto, que pode gerar uma grande repercussão internacional (DOWD,
2013).
Segundo Whitlock (2011), com o emprego das ARPs, ocorre um número significativo
de perdas de vidas em meio à população civil, onde caracteriza violações nos direitos
internacionais. A Brookings Institution, empresa dos EUA responsável por realizar pesquisas
sobre temas como política internacional, estima que, além de 2.700 militantes de um grupo
terrorista assassinados por ARPs armadas no Paquistão, cerca de 400 civis podem ter sido
mortos (WHITLOCK, 2011).
Dessa forma, as ARPs vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de escoltar e apoiar
aeronaves tripuladas que possuam relevância para a conclusão de missões. Esse apoio se daria
6
Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 foram uma série de ataques suicidas contra os Estados Unidos
coordenados pela organização fundamentalista islâmica al-Qaeda em 11 de setembro de 2001.
7
Guerra ao Terror foi a campanha militar desencadeada pelo então presidente George W. Bush dos Estados
Unidos, em resposta aos ataques de 11 de setembro.
8
A Guerra do Afeganistão que teve seu início em 2001, foi um conflito que se estendeu por 20 anos, sendo iniciado
pela invasão no Afeganistão por tropas lideradas pelos Estados Unidos.
9
Em 2003, as forças dos Estados Unidos e do Reino Unido iniciaram a Guerra do Iraque com o principal objetivo
de diminuir o poder do regime de Saddam Hussein.
18
na forma de bombardeios, controle do espaço aéreo, e além disso, seria possível realizar
combate aéreo em conjunto com outras ARPs e caças tripulados. Com a possibilidade de utilizar
as ARPs como sacrifício, colocando-as na linha de frente para receber o ataque no lugar das
aeronaves tripuladas e ter a chance de interceptar o inimigo dando uma segurança maior para o
combatente e tendo uma reposição mais rápida para seguir com os próximos ataques (COSTA,
2020).
Este capítulo tem o objetivo de abordar as ARPs na Revolução dos Assuntos Militares
(RAM) e como alguns países têm buscado desenvolvimento para operações militares como uma
forma de mecanizar a guerra, e também explanar o que o Direito Internacional diz sobre a
plataforma usada em guerras e conflitos. Além de abordar uma correlação entre as ARPs e a
Segurança Internacional e como essa plataforma pode ser benéfica para os países que as
utilizam, e também os impactos que uma guerra desumanizada pode ter.
Assim como ocorreu na corrida armamentista durante a Guerra Fria, ainda hoje é notório
o incentivo à pesquisa e desenvolvimento de armas, além de um grande investimento
orçamentário como é visto na figura 2, com o objetivo de uma diminuição de grandes exércitos
por tecnologia militar equiparável. De acordo com Elhefnawy (2018), Liddell Hart projetava
que essa ampliação de tecnologia militar, ao longo dos tempos terminaria com a chamada era
da guerra total, já naquela época sendo idealizando uma revolução nos assuntos militares.
19
Algo que era bastante observado entre os militares foi a dependência de cálculos
manuais para efetuar ações de ataque precisos, podendo ter a certeza da eficácia do tiro, sendo
assim, era necessário o auxílio humano para realizar esta tarefa. Consequentemente, com as
mudanças nos equipamentos militares e o avanço na tecnologia, passaram a ser empregadas
munições guiadas, gerando menor necessidade de habilidade humana e dando uma garantia na
eficiência do tiro (HURST, 2018).
Contudo, é perceptível que o papel dos soldados nas guerras vem sofrendo reavaliações,
e a evolução da tecnologia tem sido um grande influenciador para essa mudança. Com a
20
É importante compreender que mesmo que haja algum país utilizando ARPs, deve haver
o entendimento de que não podem existir violações aos tratados internacionais que foram
firmados desde a constituição da ONU (1945), declaração da Assembleia Geral da ONU (1970);
dentre outros acordos.
Quando uma Alta Parte Contratante estude, desenvolva, adquira ou adote uma nova
arma, ou novos meios ou métodos de combate, terá a obrigação de verificar se seu
emprego, em certas condições ou em todas as circunstâncias, estaria proibido pelo
presente Protocolo ou por qualquer outra norma de Direito Internacional aplicável a
essa Alta Parte Contratante (BRASIL, 1993).
Contudo, vale ressaltar que este foi inspirado na conhecida “Cláusula Martens”, do
prefácio da IV Convenção de Haia de 1907, que previa que:
Até que um código mais completo de leis de guerra seja editado, as Altas
Partes Contratantes consideram este expediente para declarar que em casos não
incluídos nas Regulações adotadas por elas, os habitantes e combatentes permanecem
sob a proteção dos princípios do direito das nações, como resultado dos costumes
estabelecidos entre as nações civilizadas, das regras de humanidade e dos ditames da
consciência pública (AMARAL et al., 2018 apud YALE LAW SCHOOL, 2011).
Sendo assim, independente da ação realizada, deve ser observado o direito internacional
humanitário, que possui como princípio a preservação da pessoa humana em área de conflitos;
lembrando, sempre, dos males que a guerra traz a ambos participantes, tanto nos segundos que
a antecipam, durante e após a guerra (AMARAL, 2018).
Posto isso, a insistência pela continuidade da guerra vai de contra a tudo que o princípio
da soberania no contexto internacional define. Neste instante, as potências passam a adotar um
papel retrógrado mediante as legislações internacionais que preveem e ignoram os direitos
humanos conquistados pela sociedade organizada. E o uso das aeronaves remotamente
pilotadas conseguem piorar o quadro da problemática (AMARAL, 2018).
22
Segundo historiadores, as guerras sugerem que com exceção das armas nucleares,
nenhum novo sistema de armas por si só muda a natureza fundamental da guerra. Sobretudo,
novos sistemas podem gerar mudanças significativas em guerras. Muitas armas fizeram
mudanças parecidas que resultaram em diversas mudanças táticas, (exemplo, tanques, porta-
aviões). Com isso, inimigos se adaptam às mudanças, inovando por sua vez e limitando o
impacto do novo instrumento (DAVIS et al., 2014).
Na maioria das vezes, a proliferação das ARPs armados deve ser vista de forma
comparável à disseminação da maioria dos sistemas de armas convencionais: eles aumentam
as capacidades, mas o fazem de maneira e medida evolutiva, possuindo benefícios e limitações,
como pode ser observado no quadro 2.
23
No quadro 2 é visto um breve resumo de como alguns países têm utilizado suas
plataformas, contra quem e a motivação para a utilização, além dos benefícios e limitações que
resultam no emprego das ARPs. Como em um exemplo recente, em 2021, ocorreu um ataque
aéreo dos EUA no noroeste da Síria que resultou na morte do líder da Al Qaeda Abdul Hamid
al-Matar, a ARP utilizada foi do modelo MQ-9, o ataque teve como objetivo interromper a
capacidade da organização terrorista de planejar e realizar ataques e conter a sua força na Síria.
(STARR, 2021).
Além disso, os modelos mais recentes além de executarem diversas tarefas militares de
forma vantajosa em relação às anteriores, hoje possuem maior desempenho e segurança,
principalmente quando comparadas às aeronaves que precisam de humanos para pilotarem
dentro dela (DOWD, 2013).
Ou seja, estas armas são controladas de locais distantes dos alvos a serem atingidos,
além de promoverem maior segurança e menor mortalidade para o exército que a utilizar.
Portanto, o uso de tecnologias como estas promovem à sociedade atacante maior durabilidade
no conflito e, por óbvio, aumentam as chances daquele conflito ter um resultado positivo no
24
que lhe foi proposto e diminui os males que uma guerra pode acarretar em uma sociedade
(COSTA, 2020).
Desse modo, a tecnologia age de forma precisa e não expõe quem ataca; trazendo a
instabilidade somente para quem está sofrendo o ataque, devido a sua capacidade de vigilância
em tempo real, maior tempo de sobrevoo. O governo americano defende que o uso deste tipo
de armas contribui para o aumento da segurança de sua nação, tendo em vista que os alvos são
os criminosos comuns perseguidos, como terroristas (DAVIS et al., 2014).
Neste ponto, o Direito Internacional Humano (DIH) concorda com os Estados Unidos,
onde possui isso ratificado no livro branco de defesa do governo americano, que por mais que
vise em trazer a dignidade humana a um patamar superior ao que é presente na legislação da
maior parte dos países e corroborado pela ONU, terroristas por atacarem o Estado merecem ser
capturados, julgados ou abatidos, consequentemente pelo fato de acontecer isso, sua nação terá
uma maior segurança. Portanto, apesar dos riscos da ARP como arma para o princípio da
humanidade, a questão das execuções sumárias não se opõe quando referente às pessoas que
contribuem para o clima de terror no Estado (ETZIONI, 2013; ISIKOFF, 2013).
Locais que recebem aparatos militares independente de seus fins e interesses, se tornam
alvos. Com isso, questionamentos surgem à luz disso, quando vêm à tona episódios de
colocação de suprimentos e armas em mesquitas, escolas e residências. Criando a possibilidade
de se tornarem alvos legítimos para as ARPs de combate, sendo essa uma prática comum dos
chamados terroristas (DIAS, 2015 apud WEST, 2012).
Os autores que escrevem sobre o DIH enfatizam que essa transmutação pode,
indiretamente, atingir civis não envolvidos em conflitos armados, mulheres e crianças,
normalmente utilizadas como escudos humanos, só sendo viável se houvesse perigo
de derrota para a Força Regular (DIAS, 2015).
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Abbot (2012) apud Dias (2015) alega que há autores que se pronunciam no sentido de
que as ARPs de combate matam pessoas inocentes em quase 100% dos casos. Ou seja, nessa
etapa, compreende-se que os ataques por essas plataformas contribuem também, como uma
banalização da violência e da humanidade; afinal, os inimigos passam a ter uma postura de
alvos vistos através de uma tela, sob uma distância segura para o atacante (DIAS, 2015 apud
ABBOT, 2012).
Além disso, existe a opinião pública sobre o tema que também é, em certa medida,
influenciadora em meio aos conflitos, tanto para o uso, quanto o não uso dos ARPs; contudo,
os que são contrários aos VANT de combate argumentam que estes atuam como “fomentadores
de ressentimentos locais e ferramentas para recrutamento e radicalização de membros, em
sentido contrário à minimização dos danos a que se propõem.” (DIAS, 2015 apud BOWCOTT,
2012).
Há também quem considere o uso das ARPs em combates militares como maior
provocador de prejuízos econômicos do que outros meios quando colocado em análise mediante
as consequências de um conflito armado, considerando que muito dinheiro tem sido investido
em ARPs mundialmente e esse número segue em crescimento ano após ano; o custo de uma
plataforma acaba sendo considerado descartável se comparada a uma aeronave tripulada que
seria cumulativo, ao passo que aeronaves tripuladas permanecem mais tempo em serviço
(DIAS, 2015).
Acima de tudo, as ARPs podem produzir malefícios maiores, pois intimidam de maneira
constante as populações dentro dos países atacados pela plataforma. Esse terror estatal no
emprego das ARPs pode ser visto nos nomes escolhidos para as plataformas: Predator
(“Predador”) e Reaper (referente ao Grim Reaper, ou “Anjo da Morte”). Os civis os escutam e
são psicologicamente condicionados por eles: não ficam apenas aterrorizados com as ARPs que
os sobrevoam, muitos acabam se radicalizando (SLUKA, 2013).
Sluka (2013) aponta que enquetes no Afeganistão e no Paquistão mostram que o desejo
de revidar contra os EUA aumenta após cada ataque de ARPs, até mesmo nos civis. Quando
perguntaram a Faisal Shahzad, o paquistanês naturalizado norte-americano que tentou colocar
uma bomba em Times Square em maio de 2010, como ele justifica um ato que poderia ter
levado à morte de crianças, ele replicou: “Quando os VANT atacam, não veem crianças, não
26
veem ninguém. Matam mulheres, crianças; matam todos. […] Faço parte da resposta. […]
Estou me vingando pelo ataque” (SLUKA, 2013).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de aeronaves remotamente pilotadas como poder bélico é uma grande aposta nos
assuntos militares de diversos países, e existe a possibilidade de sua representatividade
aumentar cada vez mais nos próximos anos. As ARPs têm se tornado parte do dia a dia militar
em um período onde a tecnologia avança em modo exponencial e abre brecha para que conflitos
armados sejam realizados com ataques de maior precisão. Ou seja, mesmo que exista opiniões
contrárias ao seu uso, as quais abordam esta ação como banalizadora da violência, países que
possuam orçamento e facilidade de obter essa tecnologia, sempre tentarão fazer uso de alguma
forma, pelas circunstâncias benéficas que trazem a sua estratégia de guerra.
Todavia, é possível observar uma falha na legislação internacional quando não se fala
de um acordo feito, especificamente, para este tipo de armamento; fazendo com que, em certa
medida, alguns países façam o uso incessante deste tipo de arma, podendo ocasionar mortes
desnecessária de civis que não estavam envolvidos no conflito.
Desse modo, quando for observado maior explanação sobre a temáticas e conferências
internacionais ocorrerem para debater sobre este tema específico, onde será definido o que os
países poderão fazer, ou não fazer, de fato; sem que haja dúvida à luz do que tange aos direitos
humanos, poderá ser melhor abordado em artigos científicos como este.
Por fim, deve-se frisar que por mais revolucionário que este avanço tecnológico seja,
atrelado com as potencialidades de armas, pode resultar em uma menor humanidade e
racionalidade, apenas com o objetivo de vencer. Se não for bem observado poderá gerar danos
irreversíveis ao mundo, podendo, a depender da tecnologia utilizada, propiciar o final dos
tempos. As ARPs são úteis aos interesses dos Estados, pois são nada mais que a realidade do
mundo atual.
27
REFERÊNCIAS
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(VANT) armados à luz do direito internacional dos conflitos armados. Coleção Meira Mattos:
revista das ciências militares. Rio de Janeiro, v. 9, n. 34, p. 189-200, jan./abr. 2015.
DOWD, Alan D. Drone Wars: Risks and Warnings. Pennsylvania: Strategic Studies Institute,
2013.
ELHEFNAWY, Nader. Technological hype and the military balance. SSRN Electronic
Journal, [s.l.], p.1-24, 2018. Elsevier BV.
28
ETZIONI, A. O grande debate sobre os VANT. Military Review: edição brasileira, p. 79-92,
mai-jun 2013.
GETTINGER, Dan. The Drone Databook. New York: Bard College, 2019. 353 p. The Center
for the Study of the Drone.
ISIKOFF, M. Exclusive: Justice Department memo reveals legal case for drone strikes on
americans. NBC News, New York, Fev 04, 2013.
PLAVETZ, Ivan. Revolução nos céus e na guerra; UAVs. In: Revista Tecnologia e Defesa,
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SLUKA, J. A. A morte que vem de cima: os VANT e a perda de corações e mentes. Military
Review: edição brasileira, n. 3, p. 28-35, mai-jun 2013.
STARR, Barbara. US kills senior al Qaeda leader in Syria airstrike. 2021. Disponível em:
https://edition.cnn.com/2021/10/22/politics/us-kills-al-qaeda-leader-syria-airstrike/index.html.
Acesso em: 01 jun. 2022.
WHITLOCK, Craig. U.S airstrike that killed american teen in Yemen raises legal, ethical
questions. The Washington Post. 22 out. 2011.