Você está na página 1de 8

70

SOBRE MÉTODOS DE LEITURA DE IMAGEM NO ENSINO DA


ARTE CONTEMPORÂNEA
doi: 10.4025/imagenseduc.v3i2.20238

Gustavo Cunha Araujo*


Ana Arlinda Oliveira**

* Universidade Federal de Mato Grosso − UFMT. gustavocaraujo@yahoo.com.br


* Universidade Federal de Mato Grosso − UFMT. aarlinda@terra.com.br

Resumo
O ensaio analisa os métodos de leitura de imagem dos teóricos em arte/educação
Edmund Feldman, Robert Ott, Michael Parsons e Abigail Housen, por
considerarmos serem os pioneiros em estudos sobre leitura de imagem no ensino
da arte contemporânea. Utiliza como metodologia a revisão bibliográfica
pertinente ao tema e discorre sobre as implicações desses métodos para o
surgimento da Proposta Triangular para o ensino da arte, ocasionando mudanças
teórico-metodológicas neste ensino. As reflexões construídas à luz das teorias que
fundamentam este estudo trouxeram importantes apontamentos sobre a temática
abordada neste trabalho, contribuindo para o debate educacional sobre o tema.
Palavras-chave: Leitura de Imagem. Ensino da Arte. Proposta Triangular.
Metodologia.

Abstract. About image reading methods in the art education contemporary.


The essay analyzes the methods of image reading of the theoreticians in
art/education Edmund Feldman, Robert Ott, Michael Parsons and Abigail
Housen, because we believe they are the pioneers in research on teaching reading
in the image of contemporary art. Methodology uses as the relevant literature to
the subject and discusses the implications of these methods for the emergence of
Triangular Proposal for the teaching of art, leading theoretical and methodological
changes in this school. The reflections built according to the theories that underlie
this study provided important notes about the topic covered in this work,
contributing to the educational debate on the subject.
Keywords: Image Reading. Art Education. Triangular Proposal. Methodology.

teórico-metodológicas para o ensino da arte no


Brasil.
Introducão
As reflexões foram construídas em diálogo
com autores como (BARBOSA, 2011, 2008,
Na pesquisa em questão, analisamos alguns 2002, 1998, 1991, 1988; DAL’MASO, 2011;
métodos de leitura de imagem no ensino da arte FELDMAN, 1993; FERRAZ; FUSARI, 2010;
de importantes teóricos da arte/educação, entre KEHRWALD, 2006; LÉLIS, 2004; OSINSKI,
os quais ressaltamos Edmund Feldman, Robert 2001; OTT, 1989, 1997; PARSONS, 1998, 1992;
Ott, Michael Parsons e Abigail Housen, por SARDELICH, 2006), o que de fato, trouxeram
entendermos serem os pioneiros em estudos apontamentos sobre o objeto de estudo
sobre a leitura de imagem no ensino da arte elencado neste trabalho, contribuindo para
contemporânea e por terem influenciado o pesquisas sobre a temática abordada.
surgimento da Proposta Triangular para o Os esclarecimentos teóricos sobre a
ensino da arte, modificando as práticas temática abordada são necessários à pesquisa,
uma vez que pretendemos entender que

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.


71

implicações os métodos de leitura de imagens Nessa discussão, em seu estudo, kehrwald


propostos no ensino da arte elegidos e (2006) nos chama a atenção para o termo
analisados neste estudo trouxeram para a analfabetismo visual, pelo fato de, segundo ele,
Proposta Triangular para o ensino de arte desde a escola, não termos muito contato (ou
brasileiro nos dias atuais, ocasionando mudanças quase nenhum) com obras de arte, muito menos
teórico-metodológicas nesse ensino nos dias com métodos de leitura de imagens que nos
atuais e, consequentemente, no trabalho de pudessem “ensinar a ler imagens”.
imagens pelo professor de Artes. Nessa perspectiva, utilizadas e consonância
O texto encontra-se estruturado em três com textos escritos ou não, as imagens
partes, a saber: na primeira, apresentamos necessitam de serem “lidas”, pois
brevemente os métodos de leitura de imagens
no ensino da arte de importantes teóricos dessa é preciso levar em conta que as obras de
área, contudo, sem aprofundar especificamente arte nos remetem, muitas vezes, a objetos
em cada método. Em seguida, apresentamos já vistos, a formas ou fatos do cotidiano e
reflexões à luz das teorias que fundamentam este passamos a identificar aspectos comuns
entre os mesmos. Essas nuanças passam
trabalho, sobre esses métodos relacionados com
despercebidas a um olhar desacostumado.
o surgimento da Proposta Triangular, No entanto, um olhar educado para ver
ocasionando mudanças teóricas e metodológicas [...] perceberá as semelhanças e diferenças,
para o ensino da arte nos dias atuais. Por fim, fará analogias e, por consequência,
são desenvolvidas algumas considerações sobre identificará as inter-relações, isto é, o
as reflexões construídas sobre o objeto de intertexto (KEHRWALD, 2006, p. 28-29).
estudo exposto neste trabalho.
Optamos pela pesquisa qualitativa, de Nessa citação, a autora utiliza o termo
caráter interpretativo e descritivo (BOGDAN; intertexto para se referir a dois textos quando
BIKLEN, 1999; LUDKE; ANDRÉ, 2011), por trabalhados juntos na educação: o texto
entendermos que são adequadas para o escrito/verbal e o texto visual/imagético.
propósito desta pesquisa. Como pesquisadores
em educação, devemos incorporar novas teorias Decodificar um texto é entrar em sua
e conhecimentos, possibilitando a produção de trama, na sua textura, no seu tecido, ler um
novas interpretações e reflexões. texto pictórico é adentrar em suas formas,
linhas, cores, volumes e particularidades,
Um olhar sobre os métodos de leitura de na tentativa de desvelar um código milenar
que muitas vezes não está explícito, nos é
imagens no ensino da arte
desconhecido e, por vezes, nos assusta.
Por ser um sistema simbólico, de
O termo leitura de imagens começou a ser representação, a subjetividade contida na
discutido no campo educacional no final dos arte proporciona uma infinidade de
anos 1970, devido à disseminação de aparelhos leituras e interpretações que dependem as
audiovisuais e pelo surgimento de teorias sobre a informações do leitor, das suas
percepção e psicologia da forma – Gestalt – e da experiências anteriores, das suas vivências,
semiótica (SARDELICH, 2006). lembranças, imaginação, enfim, do seu
Na medida em que essa discussão foi se repertório de saberes (KEHRWALD,
desenvolvendo no cenário educacional do 2006, p. 24-25).
ensino da arte, foi sendo necessário um
entendimento da leitura visual, ou seja, da Desse modo, em diálogo com Calado (1994,
compreensão dos códigos incorporados e p. 55), as imagens “[...] enquanto sistemas
presentes nas imagens, o que, de fato, implicou simbólicos são ricas e instáveis, o que quer dizer
no surgimento, já nos anos 1980, de termos que comportam um grande número de níveis de
como alfabetização visual e gramática visual, significação”. Quando inserida nas artes visuais,
ressaltados por autores como Dondis (2003) e é relevante pontuar que “aprender a ler os
Barbosa (1988; 1991) e, mais recentemente, códigos do sistema de representação das artes
Pedagogia da Imagem e Cultura Visual, por visuais é tão importante quanto o entendimento
Barros (1997), Barbosa (2002; 2008; 2011) e dos sistemas numéricos e de escrita”
Hernandez (2000). (KEHRWALD, 2006, p. 28).

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.


72

Sobre esse assunto, Araújo & Oliveira Tabela 1. Método de leitura de imagem de
(2012) esclarecem que a leitura de imagem se Edmund Feldman.
relaciona diretamente com o estudo do
alfabetismo visual, pelo fato de ser importante e Estágios Descrição
necessário o indivíduo buscar compreender a
comunicação de informações ou ideias por meio Descrever Identificar o que se vê na obra
visual, apenas o que está evidente.
da decodificação dos elementos figurativos
Identificar na obra elementos da
presentes nas imagens, o que vai ser
Analisar composição visual, estabelecendo
fundamental para o ato de se comunicar relações entre os elementos.
visualmente na sociedade contemporânea. Dar sentido ao que observou na
Interpretar obra, procurando identificar quais
Estudar o alfabetismo visual é os sentidos, ideias, sentimentos e
compreender melhor os significados e expressões intencionadas pelo
representações que as imagens, em seus autor.
mais diferentes níveis e formas, podem Emitir juízo de valor sobre a obra,
nos oferecer, analisadas no contexto Julgar se ela é importante ou não, se tem
educativo, por meio de métodos de leitura qualidade estética.
de imagens de áreas como as Artes Visuais Fonte: Elaborada pelos autores.
(ARAÚJO; OLIVEIRA, 2012, p. 95).

Nesse sentido, ampliam-se aqui as Ao contrário dos demais estágios analisados


posteriormente, Edmund Feldman cita o último
discussões em torno dos métodos de leitura de
estágio, “julgar”, que segundo ele, é o qual o
imagem voltados para o ensino da arte, que
influenciaram o surgimento da Proposta indivíduo emitirá julgamento, entendimento da
obra observada, informando se a mesma tem
Triangular, modificando as práticas
qualidade estética em sua composição visual, ou
teórico-metodológicas para o ensino da arte no
Brasil. não.
Nessa sequência breve, na década de 80
Para iniciarmos, apresentamos alguns
surge um método que propunha o
conceitos de métodos de leitura de imagens que
entendemos ser os mais pertinentes para o desenvolvimento estético e o conhecimento da
arte, baseado na produção artística, crítica,
ensino de arte contemporâneo, surgidos
estética e história da arte (OTT, 1989; 1997),
inicialmente nos anos de 1970 nos Estados
Unidos. Tal recorte temporal deve-se ao fato de através de seis estágios, descritos na tabela 2:
ser a partir desse momento que os estudos sobre
a leitura de imagem na arte e educação foram
produzidos no contexto educacional.
Nessa linha de pensamento, nos anos 1970
o teórico Edmund Burke Feldman, em sua obra
intitulada Becoming Human Through Art: Aesthetic
Experience In The School propõe uma metodologia
de leitura de imagem no ensino da arte que
deveria ser aprendida pelo indivíduo por meio
da técnica, da crítica e da criação (FELDMAN,
1993), ou seja, “[...] sua metodologia propõe
formar um olhar crítico e trabalhar a construção
de uma pessoa mais crítica em termos de arte”
(LÉLIS, 2004, p. 40).
Tabela 2. Método de leitura de imagem de
Nesse método, a obra de arte deveria ser Robert William Ott.
analisada por um método comparativo de Estágios Descrição
leitura: a leitura de duas ou mais obras visuais,
com o objetivo do indivíduo apontar as Aquecer/ Preparação do material visual/obra
diferenças e semelhanças visuais entre as obras Sensibilizar de arte que será apreciado.
analisadas, seguindo quatro estágios de análises, Descrever Descrever os aspectos formais da
como pode ser visto na tabela 1: imagem.
Analisar os conceitos formais da obra

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.


73

Analisar visual, como o artista organizou a sua Tabela 3. Método de leitura de imagem de
composição visual. Michael Parsons.
O leitor interpreta a obra visual, Estágios Descrição
Interpretar apontando que sentimentos lhe são
trazidos, ideias ou sensações. Favoritismo/ Seleção de uma obra visual ou parte
É ampliado ao leitor o conhecimento Preferência/ dela que goste.
Fundamentar da obra visual por meio do contexto, Gosto Pessoal
da história da obra. Escolha de imagens ou obras
Revelar O fazer artístico (produção) sobre a Beleza/ visuais que são “bonitas” ou o tema
obra observada. Realismo é “bonito”.
Fonte: Elaborada pelos autores. A expressão do artista é importante
Expressão para compreender as intenções dele
Este método ficou conhecido como Image ao produzir a obra visual; que
Watching, “olhando imagens”, do teórico Robert sentimentos, ideias ou sensações a
William Ott, sistematizado em sua obra Art obra expressa.
Education: An International Perspective. Lélis (2004, Interesse pelo estilo e composição
p. 41) apresenta uma análise interessante desse Estilo/Forma visual da obra, buscando relacionar
método: com a expressividade dela.
Entender a validade da obra
No primeiro estágio o aluno deverá apenas Juízo/ segundo seu contexto social e
olhar o objeto e descrevê-lo. No segundo, Interpretação/ histórico, buscando compreender
deverá destacar os elementos e a estrutura Autonomia os sentidos e experiência que ela
da linguagem plástica, para perceber como trazem ao leitor.
Fonte: Elaborada pelos autores.
a composição foi feita. No terceiro, o
educando fará diversas interpretações do
objeto, expressando seu sentimento em Na tabela 3 é interessante observar que o
relação a ele. No quarto momento, o primeiro estágio, favoritismo/preferência/ gosto
conhecimento do aluno será ampliado pessoal, é semelhante ao estágio de
com informações sobre o objeto, o artista aquecimento/sensibilização de Robert Ott, ao
e o conjunto de sua obra, utilizando o citar a seleção de uma obra de arte ou qualquer
acervo bibliográfico da escola, da família e parte dessa obra para a apreciação por parte do
da comunidade, bem como o material indivíduo.
didático-pedagógico do professor. Na É possível notar também, nessa mesma
última etapa, o aluno, agora mais
tabela, similaridade entre os estágios
informado e suficientemente afastado da
obra como modelo e referência, cria um interpretação, de Robert Ott e Edmund
novo trabalho, usando qualquer linguagem Feldman, com o estágio expressão, de Michael
artística, seja ela verbal, gestual (cênica), Parsons, ao informar que por meio da expressão
plástica ou musical. do artista da obra, é possível compreender as
suas ideias, sentimento e sensações
Contudo, interessante notar nessa citação intencionadas na obra.
que a autora não ressalta o primeiro estágio A metodologia proposta por Abigail
pontuado por Robert Ott, aquecimento/ Housen se refere ao desenvolvimento da
sensibilização, talvez pelo fato de não considerar compreensão dos estágios de leitura de imagem
como primeiro estágio a preparação da obra de pelo indivíduo, em quatro fases, indicadas na
arte que será apreciada, o que de fato, vai ao tabela 4:
encontro com os estágios propostos pelos
teóricos Edmund Feldman e Abigail Housen
que, também, não citam esse aquecer/
sensibilizar em seus métodos.
Seguindo esse raciocínio, nos anos 1980,
Michael Parsons, em sua obra Compreender a Arte Tabela 4. Método de leitura de imagem de
(PARSONS, 1992) propôs um método que se Abigail Housen.
baseava na compreensão das imagens pela Estágios Descrição
pessoa em diferentes cinco estágios,
apresentados na tabela 3: Descritivo/ Como a obra visual foi feita, sua
Narrativo/ composição, como o artista a

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.


74

Construtivo produziu. assumindo outras denominações como


Quem é o artista que produziu a Abordagem e Proposta Triangular, teve na
Classificativo obra, em que ano e época a pesquisadora em arte/educação Ana Mae
obra foi feita, quais os materiais Barbosa a sua principal pioneira e referência nos
e procedimentos utilizados na estudos sobre leitura da imagem na arte e
sua produção.
educação no Brasil. Na tabela 5, elencamos essa
Interpretativo Que sensações, ideias ou
Proposta para melhor entendimento:
sentimentos a obra expressa.
Recriativo Fazer artístico baseado na
Tabela 5. Proposta Triangular para o ensino da
mesma obra visual observada.
arte, de Ana Mae Barbosa.
Fonte: Elaborada pelos autores.
Eixos Descrição
Norteadores
Nessa tabela que os estágios interpretação,
Contextualização da obra de arte.
de Edmund Feldman e Robert Ott, e o estágio
Contextuali- Conhecer/analisar a história da
expressão, de Michael Parsons, são semelhantes zação obra e o contexto de sua produção,
ao estágio interpretativo, de Abigail Housen, ao bem como o artista e época em que
pontuar quais intenções do artista estão foi produzida, relacionando-a com
expressas na obra visual por ele produzida. o contexto atual, pensando a obra
Ao olharmos para as metodologias de arte de uma forma mais ampla,
analisadas, concordamos com Iavelberg (2003) para, consequentemente, ampliar o
quando ressalta que todas essas propostas se conhecimento em arte.
referem, basicamente, aos aspectos estruturais Apreciação, percepção,
do desenvolvimento estético, portanto, da sensibiliza-ção, leitura de imagem
composição e linguagem visual da obra. Leitura da por meio da gramática visual.
Contudo, a Proposta Triangular para o ensino da Obra de arte/ Conhecer os elementos visuais da
Apreciação obra, para descobrir e discutir
arte, complementa esse desenvolvimento ao
questões que ela revela. Conhecer a
incluir a contextualização, além de ter sido a obra e compará-la com obras e
responsável pela incorporação do termo “leitura artistas de outras épocas ou não,
de imagem” ao vocabulário dos professores de interpretando-a subjetivamente.
Artes (KEHRWALD, 2006). Momento de criação, produção, de
representação e expressão artística.
A Proposta Triangular para o ensino da arte Fazer artístico A obra observada é uma boa
referência para estimular o
As metodologias para a leitura de imagem indivíduo a criar artisticamente,
no ensino da arte enunciadas neste trabalho, experimentando diferentes
surgidas ao longo dos anos na história do ensino linguagens, sem que seja uma cópia
ou modelo estereotipado da obra
da arte, particularmente a partir da década de
observada. Deve-se preservar a
1970, e que influenciaram teórico e criatividade e a livre expressão na
metodologicamente as práticas pedagógicas para criação de uma nova obra.
este ensino nas escolas brasileiras, tiveram como Fonte: Elaborada pelos autores.
principal impulsionador o movimento de arte e
educação surgido nos Estados Unidos nos anos De acordo com a tabela 5, podemos notar
1960, conhecido como DBAE – Disciplined Based que o eixo contextualização da Proposta
Art Education (BARBOSA, 1988, 1991; Triangular, de Ana Mae Barbosa, é similar aos
OSINSKI, 2001; RIZZI, 2002), que trabalhou estágios fundamentar, de Edmund Feldman, e
diversas formas de se pensar arte por meio do descritivo/narrativo/construtivo e classificativo,
conhecimento e pelo desenvolvimento do fazer de Abigail Housen, ao contextualizar a obra de
artístico, da leitura da obra de arte e da sua arte, os artistas, suas obras, época da produção
história. da obra, entre outros, fundamentais para a
Nesse sentido, podemos afirmar que essas ampliação do conhecimento em arte.
propostas e estudos sobre a leitura da imagem Outra similaridade encontrada nessa
no ensino da arte foram fundamentais para que Proposta com as metodologias de leitura de
uma metodologia deste ensino no Brasil fosse imagem analisadas neste manuscrito, se refere ao
criada. Inicialmente com o nome de eixo fazer artístico, que encontra consonância
Metodologia Triangular e, posteriormente,

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.


75

com os estágios revelar, de Robert Ott, e O objetivo deste ensaio foi analisar os
recriativo, de Abigail Housen, referindo-se à métodos de leitura de imagem de importantes
produção artística baseada na obra visual teóricos da arte/educação, como Edmund
observada. Feldman, Robert Ott, Michael Parsons e Abigail
Essa proposta surgiu no final da década de Housen, por entendermos serem os pioneiros
1980, tendo sido colocada em prática no Museu em estudos sobre leitura de imagem no ensino
de Arte Contemporânea da Universidade de São da arte contemporânea, buscando entender quais
Paulo, no período de 1987 a 1993. Segundo implicações trouxeram para a Proposta
Barbosa (1991), um currículo que atendesse as Triangular no ensino da arte, ocasionando
reais necessidades de aprendizagem e mudanças teórico e metodológicas para este
conhecimento em arte deveria relacionar a ensino nas escolas brasileiras, voltadas para o
triangulação: fazer arte (criação/produção), a trabalho com a leitura de imagens pelo professor
análise ou decodificação da obra de arte (leitura de Artes.
de imagens/apreciação) e contexto ou Desse modo, podemos afirmar que as
informação (História da Arte/contextualização). concepções desses autores acerca da leitura de
No entanto, a Proposta Triangular ganhou imagem no ensino da arte são voltadas para a
reconhecimento na educação básica nas escolas estética da leitura visual, apresentando ora
brasileiras no momento em que os Parâmetros similaridades com os eixos norteadores da
Curriculares Nacionais (PCN) a consideram Proposta Triangular, ora discrepâncias, mas,
como importante concepção orientadora das contudo, direcionados a um mesmo objetivo:
mudanças curriculares. Contudo, os PCN, no contribuir para a construção do conhecimento
segmento de Arte, denominam essa Proposta em arte.
como produção, fruição e reflexão Esses métodos de leitura e análise de
(KEHRWALD, 2006), o que, de fato, não deixa imagens contribuíram para a mudança nas
de se assemelhar aos eixos contextualizar, leitura práticas pedagógicas do professor de Artes, ao
e fazer dessa mesma Proposta. enfatizar a interpretação das imagens e suas
Importante ressaltar que no início deste significações, colocando-o como importante
século, o ensino da arte vem se caracterizando mediador no processo de ensino e aprendizagem
como um ensino multi e interculturalista, muito do aluno para o trabalho com imagens nas aulas
devido aos estudos sobre a diversidade e cultura de Artes.
visual surgidos nos últimos anos (BARBOSA, De acordo com as reflexões construídas
2002, 2008, 2011; DAL’MASO, 2011; neste texto, é possível afirmar que essas
HERNANDEZ, 2000), influenciando teórico e propostas, na verdade, tinham o objetivo de
metodologicamente o ensino da arte, no que orientar os professores de Artes para
toca à interpretação de imagens, importantes trabalharem com leitura de imagens em sala de
para os processos de ensino e aprendizagem em aula, o que, de fato, se tornou mais significativa
arte (BARBOSA, 2002; 2008). no início do século 21, com o avanço de estudos
Na esteira dessas reflexões, podemos sobre a Cultura Visual, quando a Proposta
afirmar que o debate educacional no ensino da Triangular passou a enfatizá-la cada vez mais na
arte nos dias atuais sobre a Proposta Triangular educação escolar.
está voltado para a questão da cultura visual, da
multiplicidade de imagens presentes numa Referências
sociedade cada vez mais tecnológica e imagética,
à qual estamos inseridos e pertencemos, ARAÚJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Leitura de
influenciando as práticas pedagógicas dos imagens e alfabetismo visual: revendo alguns
professores de Artes, que passam a ser sujeitos conceitos. Revista Domínios da Imagem, v.
importantes na mediação do processo de 5, n. 10, p. 89-96, 2012.
construção do conhecimento do aluno
relacionado à arte sobre o mundo visual. ARNHEIM, R. Arte e percepção visual: uma
psicologia da visão criadora. 16. ed. São Paulo:
Pioneira Thomson Learning, 2005.
Considerações finais

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.


76

BARBOSA, A. M. A cultura visual antes da


cultura visual. Educação. Porto Alegre, v. 34, n. KEHRWALD, I. P. Ler e escrever em artes
3, p. 293-301, 2011. visuais. In: NEVES, I. C. B.; et al. (Orgs.). Ler e
escrever: compromisso de todas as áreas. 7. ed.
______. A. M. Arte/Educação
Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006, p.
contemporânea: consonâncias internacionais.
23-33.
São Paulo: Cortez, 2008.
______. Inquietações e mudanças no ensino KELLNER, D. Lendo criticamente: em direção
da arte. São Paulo: Cortez, 2002. a uma pedagogia pós-moderna. In: SILVA, T. T.
(Org.). Alienígenas na sala de aula: uma
______. Arte-educação: conflitos/acertos. São
introdução aos estudos culturais em educação.
Paulo: Max Limonad, 1988.
Petrópolis: Vozes, 1995, p. 104-131.
______. A imagem no ensino da arte. São
Paulo: Perspectiva, 1991. LÉLIS, S. C. C. Poéticas visuais em
______.Tópicos/Utópicos. Belo Horizonte: construção: o fazer artístico e a educação (do)
C/Arte, 1998. sensível no contexto escolar. 2004. 191f.
Dissertação (Mestrado em
BARROS, A. M. Da pedagogia da imagem às Educação)-Universidade de Campinas,
práticas do olhar: uma busca de caminhos Campinas, 2004.
analíticos. 1997. 536f. Tese (Doutorado em
Educação)-Universidade Federal do Rio de LUDKE, M.; ANDRE, M. Pesquisa em
Janeiro, Rio de Janeiro, 1997. educação: abordagens qualitativas. 13. ed. São
Paulo: EPU, 2011.
BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K.
Investigação qualitativa em educação: uma OSINSKI, D. R. B. Arte, história e ensino:
introdução à teoria e aos métodos. Tradução de uma trajetória. São Paulo: Cortez, 2001.
Maria João Alvarez. Porto: Porto Editora, 1999.
OTT, R. W. Aprendendo a olhar: a educação
CALADO, I. A utilização educativa das orientada pelo objeto em museus e escolas. São
imagens. Porto: Porto Editora, 1994. Paulo: MAC, 1989.

DAL’MASO, E. M. Ensino da arte sob a ótica ______. Ensinando crítica nos museus. In:
de professoras e alunos do ensino médio. BARBOSA, A. M. (Org.). Arte-Educação:
2011. 171f. Dissertação (Mestrado em leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997.
Educação)-Universidade Federal de Mato
Grosso, Cuiabá, 2011. PARSONS, M. Mudando direções na arte
contemporânea. São Paulo: SESC-SP, 1998.
DONDIS, D. A. Sintaxe da linguagem visual.
2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ______.Compreender a arte. Lisboa: Presença,
1992.
FELDMAN, E. B. Metodologia de trabalho.
São Paulo: USP, 1993. RIZZI, M. C. S. Caminhos Metodológicos. In:
BARBOSA, A. M. (Org.). Inquietações e
FERRAZ, M. H. C T. e FUSARI, M.. F. R. Arte mudanças no ensino da arte. São Paulo:
na educação escolar. 4. ed. São Paulo: Cortez, Cortez, 2002, p. 63-70.
2010.
SARDELICH, M. E. Leitura de imagens, cultura
HERNANDEZ, F. Cultura visual, mudança visual e prática educativa. Cadernos de
educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Pesquisa, v. 36, n. 128, p, 451-472, 2006.
Artmed, 2000.

IAVELBERG, R. Para gostar de aprender


arte: sala de aula e formação de professores. Recebido em: 23/03/2013
Porto Alegre: Artmed, 2003. Aceito em: 21/05/2013

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.


77

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.

Você também pode gostar