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São Luís - MA
2023
NOEMY PRAZERES SOUSA
São Luís - MA
2023
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente ensaio tem como objetivo analisar a manifestação da Morte na
obra Os Degraus do Paraíso (1965), do escritor maranhense Josué Montello, visa
destacar como a Morte tem uma presença constante na obra e se manifesta em
diversas situações, de forma que transforma os rumos da narrativa.
Partindo dos estudos do filósofo alemão Arthur Schopenhauer,
especificamente de suas considerações a respeito da morte, presente na obra
Metafísica do Amor, Metafísica da Morte (2000), em que ele concebe a Morte para
além da não-existência e sobre como o ser humano está intrinsecamente
relacionado com a questão do fim, percebo que a ideia de morte em Schopenhauer
está presente na obra Os Degraus do Paraíso, principalmente evidenciada na
personagem Mariana. Dessa forma, discorro sobre a forma de estabelecimento da
figura da Morte.
Também noto uma grande outra questão da Morte na obra: o suícidio, que é
objeto de estudo de Schopenhauer. Para o filósofo, quando o ser humano está
diante de situações extremas, de angústias existenciais, ou seja, quando a vida se
torna um fardo difícil, começa o desejo pelo fim. O ser humano é movido pela
vontade e o suicídio é a última demonstração dessa vontade inerente ao ser, dessa
maneira, o desejo de morrer torna-se uma forma de escape. Diante disso, no
momento de disseminação da gripe espanhola na cidade de São Luís, onde impera
o desespero e o medo, surge o desejo pela Morte, como forma de escape:
Quem podia dispor de um abrigo no interior da ilha, nas casas de sítio ou
nas palhoças de beira de estrada, tratara de fugir da Morte. E a Morte não
raro acompanhava os fugitivos, aparecendo-lhes de repente na Maioba, no
Anil, na Jordoa, em São José de Ribamar, e obrigando os sobreviventes a
novas fugas para lugares ainda mais apartados. Na Rua dos Afogados, um
senhor louro tinha-se atirado da janela do mirante, depois de gritar que
estava doente. E não fora esse o único caso do medo da Morte, a impelir
ao suicídio. Um oficial da Polícia, sentindo-se febril, encostara o cano da
arma na cabeça e dera ao gatilho, diante dos companheiros estupefatos.
Um funcionário do Tesouro, gripado havia dois dias, amanhecera enforcado
na escápula da rede. E mais de um corpo amanhecera boiando na orla da
Praia do Caju. (MONTELLO, 1986, pp. 46 e 47)
Nessa obra, o suicídio é buscado não só como uma maneira de fuga diante
da realidade e do medo que assola as pessoas, mas também como uma tentativa
de escape para os sofrimentos existenciais, como evidencia o seguinte trecho:
-Deixe-me em paz, já lhe disse… Quero ficar só… Por favor, não me
atormente… Eu não posso mais viver… A vida para mim é insuportável…
Já sofri muito… Se Deus não me der a morte, hei de busca-la… com
minhas mão… (Montello, 1986, p.97)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das considerações expostas neste ensaio, concluo que a Morte se
manifesta de diversas maneiras e formas ao longo da narrativa, de início é
evidenciada de forma física, através da doença que assola a cidade e leva consigo
pessoas que se reduzem depois à cadáveres amontoados em carros ou jogados
pelas ruas de São Luís, também aparece de forma espiritual, simbolizada na
mudança psicológica de D.Mariana e quando leva consigo sua vontade de viver.
Ao compreender a morte como mais do que um simples fim, Schopenhauer
entende que o ser humano possui uma relação com o fim da existência e em certos
momentos sempre há a lembrança da finitude. Dessa forma, através dos diálogos
das personagens, a Morte ganha uma espécie de protagonismo e assim vai
definindo os rumos que toma a narrativa, já que através de uma morte a história se
desenrola, mudando a vida de D. Mariana:
Se a morte de Teobaldo levou a senhora a se afastar do catolicismo, ferida
no seu amor materno, a morte de Morena é uma razão mais forte para que
regresse à verdadeira fé. Deus operou aqui um milagre. Falo-lhe como filha
e como religiosa. E sei agora que só vim aqui a mando de Jesus.
(MONTELLO, 1986, p.378)
Por fim, destaco que a Morte ganha na obra um importante papel e se torna
um acontecimento complementar que define a vida dos personagens, pois é temida
e lembrada em muitos momentos:
A morte, sempre a morte. E por que? Acaso a vida, com as maravilhas
criadas por Deus, não tinha valor? Se tinha, qual o sentido da lembrança da
morte, a cada momento? (MONTELLO, 1986, p.345)
REFERÊNCIAS