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Conta a professora e filósofa Lucia Helena Galvão esta estória, de um príncipe

cujo pai, o rei, tinha um conselheiro, um sábio ancião que, de forma serena,
sempre repetia a máxima de vida segundo a qual “tudo acontece para o
melhor, nada acontece por acaso”.
O príncipe cresceu ouvindo o jargão do ancião. Jovem e imediatista, achava

que o sábio não tinha razão e que as coisas eram absolutamente casuais.

Portanto, aquele conselheiro não tinha sabedoria alguma.

Certo dia, seu pai falece e ele assume o poder. Logo pensa em dispensar o

conselheiro derrotista e conformista que só sabia repetir sua velha máxima.

Em uma bela ocasião, o novo rei resolve ir caçar com seus homens e, junto

com eles, o sábio. O novo rei pretendia, na primeira oportunidade em que o

ancião repetisse o jargão, se livrar dele.

Quando chegaram ao meio da floresta, o tempo sofre uma reviravolta, e uma

ventania violenta toma conta e derruba um galho, que bate contra a testa do

novo monarca, derrubando-o do cavalo e resultando em um corte profundo na

testa.

Caído no chão, meio atordoado, e com todos em volta para acudi-lo, o rei se

levanta e reclama: “Que absurdo, como pôde acontecer uma coisa dessas

comigo? Me machuquei inutilmente”.

Logo, o sábio conselheiro chega perto dele e fala: “Não se


preocupe. Tudo acontece para o melhor, nada é por acaso”.
Indignado com o sábio, o rei ordenou a seus homens que cavassem um

buraco, amarrassem o ancião e o deixassem para os chacais comerem. “Agora

quero ver se ele vai achar que é para o melhor”, disse o monarca.
Ao ir embora, o rei se perde de sua comitiva pela floresta e escuta de longe um

barulho. Pensando serem seus homens, ele vai até os comandados e encontra

um grupo de bandidos, que o aprisionam. Os ladrões estavam fazendo um

culto a uma divindade e teriam que entregar um ser humano em sacrifício.

Os bandidos levam o novo rei para o altar e, no momento de sacrificá-lo,

percebem na testa dele um corte. Reclamam que, para servir de sacrifício à

divindade, o ser humano deve estar íntegro fisicamente. Então o mandam

embora, pois aquele homem não mais servia.

No mesmo momento, o novo rei lembra-se da sabedoria do velho sábio e

admite que o conselheiro tinha razão.

Mais tarde, ao reencontrar seus homens, ele vai em busca


do conselheiro, afirmando que cometera uma injustiça. Ao
chegar no poço, retira o sábio de lá e lhe pede desculpas,
dizendo que a ferida o salvou.
O velho disse: “É, aqueles bandidos que tentaram te matar passaram por aqui

também. Só não conseguiram me achar pois eu estava dentro do buraco. Tudo

acontece para o melhor, nada é por acaso”.

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