Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SEABRA FAGUNDES - o Contrôle Dos Atos Adm Pelo PJ
SEABRA FAGUNDES - o Contrôle Dos Atos Adm Pelo PJ
que aqui poderia ter a propósito da O sr. Pires de Lima é ardoroso par-
descentralização e personalização de tidário da tutela administrativa, nas
serviços públicos, é a dístinção - na amplíssimas bases que a consagra o
qual por várias vezes insiste o autor vigente direito administrativo portu-
- entre subordinação hierárquica e guês e cujas numerosas aplicações êle
tutela administrativa. próprio se incumbe de descrever com
sólido conhecimento de causa. O que
Se a autarquia local é, por defini-
nos parece, porém, difíril é explicar
ção, independente e se orienta por li-
a tutela como consequéllcia da própria
vre deliberação, há de se concluir, com
autonomia do órgão tut€lado. Isso pa-
o autor, que "a indepeJldência é a re-
rece insinuado em alguns trechos e,
gra, e a tutela a exceção. E' o que salvo engano, claramente afirmado à
resulta do próprio conceito de autar- pág. 25. Ali se diz que através das au-
quia" (p. 33). Os poderes de tutela
tarquias o Estado procura realizar
são, assim, por sua natureza, limitados seus próprios fins de modo indireto.
e objetivam certos fins, que o sr. Pires Portanto, "o problema da tutela já não
de Lima, depois de discutir algumas tem independência absoluta; resta ape-
opiniões a respeito, resume neste con- nas saber em que medida deve o Estado·
ceito de tutela administrativa: "Tõda intervir junto dos órgãos da autarquia.
a ingerência do Govêrno na atividade Em princípio, essa intervenção resulta
dos órgãos autárquicos. com o fim de da própria Idéia descentralizadora e,
coordenar os serviços descentralizados logicamente, deverá ser tanto maior,
com os serviços nacionais e de proteger quanto maior fôr a descentralização".
os interêsses das autarquias-" (ps. O que a nós se afigura evidente é,
33/34). Diga-se de passagem que, ao contrário, que as idéias de autono-
para o autor, tôda e qualquer utili- mia e de tutela se repelem. A tutela é
zação dos poderes de tutela para obten- justamente a limitação da autonomia.
ção de vantagens políticas - o grande Sua existência é a prova de que o po-
inconveniente prático da tutela em der público central reconhece que a
tôda parte - constitui:::á abuso de que autonomia só é vantajosa em têrmos
SUa doutrinação teórica não toma co- restritos, peiada, subjugada ao seu
nhecimento. Esta é, a fundamental constante poder je veto, inspeção ou
contradição em que, inevitàvelmente, anulação. Há, porém, certa vantagem
incidem os propugnadores dos sistemas para os defensores da tutela em apre-
de tutela sôbre o govêrno local: um sentá-la como emanação da própria au-
dos seus pressapostos é a ignorância, tonomia: usa-se, em tal caso, o pres-
inexperiência, prodigalidade, espírito de tígio das idéias de autonomia e descen-
clã dos administrador::ls locais, isto é, tralização para se fazer exatamente o
a freqüência com que exercem o poder contrário do que elas implicam.
público local sob influências e com pro- Sem dúvida, não haveria tutela, se
pósitos estranhos ao serviço público; não houvesse ôrgãos autárquicos (ao
entretanto, quando se trata do exer- menos nominalmente), porque a subor-
cício dos poderes de tut.ela, os adminis- dinação pura e simples dispensaria
tradores, que dêles dispõem, nos são qualquer outro sistema de contrôle por
apresentados como homens públicos mo- parte das autoridades centrais. Mas
delares, incapazes do menor desvio, isso mostra apenas que, juridicamente,
autêntica encarnação das virtudes CÍ- para certos efeitos, se deve distinguir
vicas e da ciência da administração. entre tutela e subordinação hierár-
E' certo que sempre existem recursos quica. N a realidade contudo, tanto
ao menos de certos atos tutelares, o uma como outra conduzem ao mesmo
que, porém, não basta para , .
corrigir resultado prático, diferindo somente
todos os abusos que na pratIca se ve- em grau ou quantidade: no primeiro
rificam. caso, o prisioneiro não pode sair do
,.
- 401_
cubículo; no segundo, pode passear pelo haverá diferença prática entre autar-
pátio da prisão ... quia e órgão subordinado.
A despeito das considerações que pre-
Apenas queremos, com esta observa- cedem - e que se aplicam às autar-
ção, acentuar que o problema da descen- quias locais portuguêsas, submetidas a
tralização administrativa nunca poderá uma tutela extensa e profunda - , re-
ser devidamente estudada através de comendamos vivamente 2. leitura da
critérios puramente formais: é essen- monografia do sr. Antonio Pedrosa Pi-
cial verificar-se qual a extensão efetiva res de Lima, vasada em estilo claro e
dos poderes conferidos aos órgãos de- boa linguagem.
clarados autônomos; do contrário, não Víto-r Nunes Leal.