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BIBLIOGRAFIA

>- M. SEABRA FAGUNDES - o Con- equilibrada, límpida e penetrante in-


trôle dos .4. tos Administmti- teligência.
vos 'Felo Púdlyr Judiciário - Não teria cabimento, repetimos, nes-
Segunda Edição (atualizada) ta oportunidade, uma nova apreciação
- José KOllfino, editor - Rio de obra tão familiar a todos quantos
de Janeiro - 507 págs. lidamos com a literatura jurídica por
dever de ofício. Cumpre dizer, entre-
Ao ensejo da segunda edição, que tanto, que o livro reaparece muito am-
aparece nove anos depois da primeira, pliado, bastando notar-se que às 347
já não teria cabimento uma apreciação páginas da primeira edição se contra-
da obra em que o Desembargador Mi- põem 507 da segunda. A maior parte
guel Seabra Fagundes fez sua estréia dos acréscimos se verificou nas notas,
como escritor de direito administrativo desenvolvimento indispensável do tex-
e, ao mesmo tempo, se consagrou mes- to, cuja redação é muito concisa. No
tre incontestado da especialidade. Com próprio texto, porém, foram feitas vá-
a publicação dêsse livro, que deu início rias adições, que por vêzes podem ser
a abundante produçã!> de alto valor ci- reconhecidas, como nas notas, pela
entífico, o nome do modesto magistra- aposição de letras à primitiva nu-
do, que já grangeara reputação em seu meração.
Estado natal, conquistou definitiva- Mas não são somente os acréscimos
mente os meios jurídicos de todo o país. que caracterizam esta segunda tiragem,
Em pouco tempo a obra e autor se completamente atualizada em função
tornariam clássicos, de citação obri- dos novos textos constitucionais e le-
gatória em alegações forenses, traba- gais e de novas contribuições da juris-
lhos de doutrina e decisõe<>. judiciária~. prudência e de doutrina aparecidas
E' bastante compulsar a coleção da desde a primeira edição. A atualiza-
Revista de Direito Administrativo, ção empreendida pelo autor consistiu,
fundada em 1945, vam que se tenha em vários pontos, em autêntica refu-
idéia da ampla ~colÍ1ida das contri- são do trabalho anterior, completamen-
buições científicas de Seubra Fagun- te restrito em alguma~ de suas passa-
des, hoje egresso voluntário da judica- gens e muitas vezes melhorado em por-
tura, reengajado nas fileiras da advo- menores de estilo.
cacia.
Não quer isto dizer que o Desembar-
osegrêdo dêsse êxito que o elevou gador Se abra Fagundes tenha sentido
ao mais alto posto da carreira judi- necessidade de alterar a redação por
CIarIa em seu Estado, que o creden- haver modificado 9.1guns de seus pon-
ciou ao carg:J de Consuitor Geral da tos de visVl. Muito p€lo contrário.
República na fase pré-constitucional Tais alterações, ou foram devidas às
do atual Govêrno, que o sagrou auto- exigências da atualização da obra, ou
ridade de primeiro tomo em direito refletem preocupação de aperfeiçoa-
administrativo não resulta somente da mento, ou consistem precisamente na
sua sólida cultura jurídica, fruto de refutação daqueles que sustentaram
incansável e metódico esfôrço, mas opmlOes divergentes das do autor.
igualmente, em magna parte, da sua "Nenhuma das objeçõf\s conhecidas aos
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tlOSSOS pontos de vista deixou de ser português, tão pobre de boas mono-
analisada no lugar próprio" - escla- grafias".
rece o prefácio, acentuando a firmeza Para os leitores portuguêses o livro
de convicção que presIdiu à feitura do deve ser de grande utilidade, porque
livro, resultado de paciente estudo. O examina com minúcia, bom senso e co-
próprio signatário desta nota mereceu nhecimento da matéria as normas le-
a honra de algumas réplicas, tôdas gais relativas à tuteIa administrativa
dignas de meditação e às quais POSSI- sôbre as autarquias .locais (províncias,
velmente ainda terá oportunidade de concelhos e freguezias) , procurando
se referir. identificar e desenvolver os princípios
Ao terminarmos o rEexame, na se- que as norteiam. A Exposição é me-
gunda edição, da conceituada obra do tódica, começando, nos três primeiros
Desembargador Seabra Fagundes, fica- capítulos, pela indicação sucinta da
mos com a sensação de estar compul- divisão administrativa portuguêsa e
sando um livro novo, embora conhe- pela conceituação de autarquia local
cido nas suas teses principais, pela e de descentralização. N os dois seguin-
abundância dos seus novos subsídios tes o autor define a tutela, acentuando
doutrinários e jurisprudenciais e pela a distinção entre tutela administrativa
segurança com que, em muitos pontos, f! tutela jurídica e ·mtre tutela admi-
especialmente nos que provocaram con- nistrativa e poder hiel'árquico. No
trovérsia, o autor aduziu novos argu- sexto capítulo estuda cada uma das
mentos em abono da sua opinião. formas por Que se manifesta a tutela
1l:sse meticuloso e paternal cuidado administrativ~ - tutela. regulamentar,
com que foi preparada a segunda edi- tutela corretiva (preventIva e repres-
ção de O Contrôle dos A.tos Adminis- siva) , tutela substitutiva, tutela ins-
t-naltivos pelo Poder Judwiário merece pectiva - e procura definir a natu-
o nosso caloroso aplauso e constitui reza jurídica UO fltO de tutela. Os
exemplo a ser seguido pelos nossos au- dois capítulos seguintes E'ão dedicados,
tores de obras jurídicas. respectivamente, aos recursos cabíveis
dos atos de tutela e às autoridades in-
Vítor Nunes Leal.
cumbidas da ação tutelar. Nos dois
últimos, trata o autor da dissolução dos
"ANTÔNIO PElDROSA PIRES DE LIMA
órgãos das autarquias locais (penali-
- A Tutela Administrativa
dade a que se deve seguir, em prazo
nas Autarquias Locais - Ti-
curto, a investidura de outros, pela
pografia Comerdal - Anadia
mesma formá da anterior) e, finalmen-
1940 - 125 págs.
te, do t'egime de tutela, Que é a suspen-
O autor escreveu esta monografia são temporária da autonomia da au-
para se habilitar à prornoção à 1.a ca- tarquia local \0 que, entre nós se cha-
tegoria do quadro geral administrativo maria regime de ·intervenção).
dos serviços externos do Ministério do Para os leitores brasileiros o inte-
Interior de Portugal. Seu estudo re- rêsse da obra é duplo: ao mesmo
fere-se, portanto, à olganização e ao tempo que 110S ilustra sôbre um as-
direito de seu país, conquanto utilize pecto tão importante da vida adminis-
ensinamentos e conceitos de alcance trativa de Portugal, eeclarecendo por-
doutrinário mais amplo. Segundo as menores: que só seriam possíveis em
palavras do prefaciador, Prof. Marcelo tratamento monográfico, permite-nos
Caetano, "o triunfo obtido sem favor avaliar a extensão dos caminhos di-
de nenhuma espécie uas provas a que vergentes que seguiram o municipalis-
foi submetido fala com suficiente elo- mo português e o brasileiro, embora
quência dos méritos do já distinto fun- fôsse êste, na origem, simples trans-
cionário", cuja dissertação "enriquece plantação daquele. Outro ponto que
a biblioteca do direito administrativo merece nossa atenção, pelas aplicações
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que aqui poderia ter a propósito da O sr. Pires de Lima é ardoroso par-
descentralização e personalização de tidário da tutela administrativa, nas
serviços públicos, é a dístinção - na amplíssimas bases que a consagra o
qual por várias vezes insiste o autor vigente direito administrativo portu-
- entre subordinação hierárquica e guês e cujas numerosas aplicações êle
tutela administrativa. próprio se incumbe de descrever com
sólido conhecimento de causa. O que
Se a autarquia local é, por defini-
nos parece, porém, difíril é explicar
ção, independente e se orienta por li-
a tutela como consequéllcia da própria
vre deliberação, há de se concluir, com
autonomia do órgão tut€lado. Isso pa-
o autor, que "a indepeJldência é a re-
rece insinuado em alguns trechos e,
gra, e a tutela a exceção. E' o que salvo engano, claramente afirmado à
resulta do próprio conceito de autar- pág. 25. Ali se diz que através das au-
quia" (p. 33). Os poderes de tutela
tarquias o Estado procura realizar
são, assim, por sua natureza, limitados seus próprios fins de modo indireto.
e objetivam certos fins, que o sr. Pires Portanto, "o problema da tutela já não
de Lima, depois de discutir algumas tem independência absoluta; resta ape-
opiniões a respeito, resume neste con- nas saber em que medida deve o Estado·
ceito de tutela administrativa: "Tõda intervir junto dos órgãos da autarquia.
a ingerência do Govêrno na atividade Em princípio, essa intervenção resulta
dos órgãos autárquicos. com o fim de da própria Idéia descentralizadora e,
coordenar os serviços descentralizados logicamente, deverá ser tanto maior,
com os serviços nacionais e de proteger quanto maior fôr a descentralização".
os interêsses das autarquias-" (ps. O que a nós se afigura evidente é,
33/34). Diga-se de passagem que, ao contrário, que as idéias de autono-
para o autor, tôda e qualquer utili- mia e de tutela se repelem. A tutela é
zação dos poderes de tutela para obten- justamente a limitação da autonomia.
ção de vantagens políticas - o grande Sua existência é a prova de que o po-
inconveniente prático da tutela em der público central reconhece que a
tôda parte - constitui:::á abuso de que autonomia só é vantajosa em têrmos
SUa doutrinação teórica não toma co- restritos, peiada, subjugada ao seu
nhecimento. Esta é, a fundamental constante poder je veto, inspeção ou
contradição em que, inevitàvelmente, anulação. Há, porém, certa vantagem
incidem os propugnadores dos sistemas para os defensores da tutela em apre-
de tutela sôbre o govêrno local: um sentá-la como emanação da própria au-
dos seus pressapostos é a ignorância, tonomia: usa-se, em tal caso, o pres-
inexperiência, prodigalidade, espírito de tígio das idéias de autonomia e descen-
clã dos administrador::ls locais, isto é, tralização para se fazer exatamente o
a freqüência com que exercem o poder contrário do que elas implicam.
público local sob influências e com pro- Sem dúvida, não haveria tutela, se
pósitos estranhos ao serviço público; não houvesse ôrgãos autárquicos (ao
entretanto, quando se trata do exer- menos nominalmente), porque a subor-
cício dos poderes de tut.ela, os adminis- dinação pura e simples dispensaria
tradores, que dêles dispõem, nos são qualquer outro sistema de contrôle por
apresentados como homens públicos mo- parte das autoridades centrais. Mas
delares, incapazes do menor desvio, isso mostra apenas que, juridicamente,
autêntica encarnação das virtudes CÍ- para certos efeitos, se deve distinguir
vicas e da ciência da administração. entre tutela e subordinação hierár-
E' certo que sempre existem recursos quica. N a realidade contudo, tanto
ao menos de certos atos tutelares, o uma como outra conduzem ao mesmo
que, porém, não basta para , .
corrigir resultado prático, diferindo somente
todos os abusos que na pratIca se ve- em grau ou quantidade: no primeiro
rificam. caso, o prisioneiro não pode sair do
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cubículo; no segundo, pode passear pelo haverá diferença prática entre autar-
pátio da prisão ... quia e órgão subordinado.
A despeito das considerações que pre-
Apenas queremos, com esta observa- cedem - e que se aplicam às autar-
ção, acentuar que o problema da descen- quias locais portuguêsas, submetidas a
tralização administrativa nunca poderá uma tutela extensa e profunda - , re-
ser devidamente estudada através de comendamos vivamente 2. leitura da
critérios puramente formais: é essen- monografia do sr. Antonio Pedrosa Pi-
cial verificar-se qual a extensão efetiva res de Lima, vasada em estilo claro e
dos poderes conferidos aos órgãos de- boa linguagem.
clarados autônomos; do contrário, não Víto-r Nunes Leal.

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