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Escola Municipal Emilinha Borba.

Disciplina: Português.
Gêneros textuais: crônica, tirinhas e poema.

A Última Crônica

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao
balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta.
Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou
do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de
seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida.
Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer um flagrante
de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me
simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a
cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu
quereria o meu último poema”. Não sou poeta e Estou sem assunto. Lanço então um
último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas
mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na
contenção de gestos e palavras, deixa-se acentuar pela presença de uma negrinha de seus
três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à
mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade
ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno da mesa a instituição tradicional da
família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a
fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do
bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço
de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se
aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois
se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da
naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O
homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho — um
bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que
o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e
filha, obedecem em torno da mesa um pequeno ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico
preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera.
A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de
mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia
do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a
um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força,
apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada,
cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “parabéns pra você, parabéns
pra você...”
Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra
finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando
para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo, limpa o farelo de bolo que lhe cai no
colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do
sucesso da celebração. De súbito, dá comigo a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele
se perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o
olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
(Fernando Sabino. In: Para gostar de ler. São Paulo: Ática, 1979-1980.)
01. Que tipo de narrador o texto “A última crônica” apresenta? Justifique sua resposta.

02. Retire do primeiro parágrafo as informações abaixo:

a) Quem entra no botequim?

b) Onde fica o botequim?

c) O cronista entra no botequim para quê?

d) Na verdade, o que ele faz nesse lugar?

e) O que ele deseja?

03. Sobre o trecho: “Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição
tradicional da família, célula da sociedade.”, responda:

a) Quem são esses “três seres esquivos”?

b) Onde eles estão?

c) Levante hipóteses a respeito do que eles estão fazendo ali.

04. O que o pai pede ao garçom?

05. No trecho “A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se
aguardasse a aprovação do garçom.”, explique a ansiedade da mãe ao esperar a
aprovação do garçom.

06. Por que o garçom não aprovaria o pedido do pai?

07. Observe que ao descrever a cena que está diante dos olhos, o narrador-personagem
questiona: “Por que não começa a comer?” Por quê? Levante hipóteses.
08. Há no texto uma passagem que denota claramente a pobreza dos personagens. Qual?
Comente-a.

09. Que sentimentos o autor expressa para com a personagem-menina, ao usar os


diminutivos – arrumadinha, menininha, fitinha?

10. Explique o que sentiu o narrador-personagem quando o pai sorri para ele.

“Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba,


constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se
abre num sorriso.”

11. O cronista costuma ter sua atenção voltada para os fatos do dia-a-dia ou veiculados em
notícias de jornal e os registra com humor, sensibilidade, crítica e poesia. Ao proceder
assim, qual dos seguintes objetivos o cronista espera atingir com seu texto?

(A) Informar os leitores sobre um determinado assunto.


(B) Entreter os leitores e, ao mesmo tempo, levá-los a refletir criticamente sobre a vida e os
comportamentos humanos.
(C) Dar instruções aos leitores.
(D) Argumentar, defender um ponto de vista e persuadir o leitor.

TEXTO 2:

12. Na tirinha acima, o que Mônica, Cebolinha e Cascão pretendiam fazer escondidos no
bolo?

(A) Brincar de esconde-esconde.


(B) Fazer a Magali chorar.
(C) Fazer uma surpresa de aniversário para Magali.
(D) Imitar a Magali.
13. De acordo com o seu conhecimento, a principal característica da personagem Magali é

(A) não gostar de tomar banho.


(B) falar de um jeito diferente.
(C) gostar de bater no Cebolinha.
(D) gostar muito de comer.

14. A expressão fisionômica de Magali, no primeiro quadrinho, indica que ela está

(A) cansada.
(B) desanimada.
(C) alegre.
(D) aborrecida.

15. Em que consiste o humor da tirinha?

TEXTO 3

Poema de Aniversário

Procurei no dicionário,
Com paciência e cuidado,
O real significado
Da palavra aniversário.
Aquele livro pesado,
Mestre dos visionários,
"Pai dos burros" batizado,
Pareceu-me sectário,
Ao responder meu chamado.
Deveras decepcionado,
Joguei o meu dicionário
Na estante, empoeirado,
Para pregar, solitário,
O meu significado
Da palavra aniversário.
Diz assim, o verbete lendário,
Ontem, por mim criado:
"Aniversário: Espécie de relicário,
Muitíssimo bem guardado
Nas folhas do meu diário,
Dos versos que eu escrevi,
Com todo amor, e não li,
Durante o ano passado."

Carlos Eduardo Drummond

16. A expressão “Pai dos burros” foi utilizada pelo eu poético para se referir

(A) ao diário.
(B) ao aniversário.
(C) ao relicário.
(D) ao dicionário.
17. Para que o eu poético pegou o dicionário?

18. Comente a afirmativa: “Os textos I, II e III abordam o mesmo tema, mas apresentam
características estruturais diferentes”.

TEXTO 4:

(QUINO, J. L. Mafalda. Tradução de Mônica S. M. da Silva, São Paulo: Martins Fontes, 1988.)

Reprodução da fala do último quadrinho:

“Desse jeito você nunca vai terminar de ler um livro tão grosso!"

19. Observe as afirmativas:

I - O efeito de humor provocado pela tirinha é decorrente da consulta ao dicionário pelo pai
de Mafalda para tirar uma dúvida, e não ler o livro, como a filha pensou.

II - No segundo quadrinho, o pai demonstrou que a leitura do dicionário o desagradou, fato


que decepcionou muito a filha Mafalda, conforme se observa no terceiro quadrinho.

III - A construção do sentido expresso na tirinha só é completada com a leitura da


linguagem verbal do último quadrinho.

É CORRETO o que se afirma em:

(A) I e II.
(B) I e III.
(C) I, II e III.
(D) II e III.

20. O efeito de humor foi um recurso utilizado pelo autor da tirinha para mostrar que o pai
de Mafalda:

(A) revelou desinteresse na leitura do dicionário.

(B) tentava ler um dicionário, que é uma obra muito extensa.

(C) causou surpresa em sua filha, ao se dedicar à leitura de um livro tão grande.

(D) queria consultar o dicionário para tirar uma dúvida, e não ler o livro, como sua filha
pensava.
HABILIDADES CONTEMPLADAS NESSA ATIVIDADE:

*Localizar informações explícitas em um texto.

* Inferir o sentido de uma palavra ou expressão a partir de um contexto.

* Inferir uma informação implícita em um texto.

*Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.

*Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que


tratam do mesmo tema, em função das condições em que foram produzidos e daquelas em
que serão recebidos.

*Fazer antecipações e levantar hipóteses sobre assuntos, finalidade, público-alvo etc., a


partir de conhecimentos prévios e/ou de marcas textuais visíveis na superfície do texto.

*Reconhecer os elementos da narrativa:


- Narrador (foco narrativo);
- personagem (principal e secundários) e suas características físicas;
- tempo/espaço da narrativa;
- aspectos descritivos do tempo/espaço da narrativa.

*Reconhecer aspectos característicos de uma crônica, como sua periodicidade, linguagem


(informal, objetiva, poética.), fatos cotidianos ou assuntos de interesse geral.

* Reconhecer o eu poético e suas características.

*Comparar textos, estabelecendo relações entre eles (assunto/tema e estrutura).

GABARITO:

01. Narrador-personagem. Porque o cronista conta um fato do qual ele participa e ainda
podemos detectá-lo pelo maior número de verbos escritos em 1ª pessoa.

02.
a) O cronista entra no botequim.
b) O botequim fica na Gávea.
c) O cronista entra no botequim para tomar um café junto ao balcão.
d) Na verdade, ele está adiando o momento de escrever.
e) Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco
ou do irrisório no cotidiano de cada um; recolher da vida diária algo de seu disperso
conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida, do
circunstancial, ao episódico; do acidental, torno simples espectador e lanço então um
último olhar fora de si.
03.
a) Esses “três esquivos” são o pai, a mãe e a filha.
b) Eles estão no botequim.
c) Estão celebrando o aniversário da filha.

04. Aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma.

05. A mulher suspira, depois de ver o garçom se afastar para atendê-los, olhando para os
lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali.

06. Porque poderia ter comprado um bolo inteiro e não apenas uma fatia.

07. Devido ser o aniversário da filha, a mãe ainda vai retirar de sua bolsa as velinhas para
colocá-las no bolo e o pai as acenderá, depois cantarão parabéns pra você, só então
começará a comê-lo.

08. A passagem é a seguinte “Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-
se, a sua compostura de humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acentuar
pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no
vestido pobre, os três compunham a tradicional família, célula da sociedade.”
COMENTÁRIO – Por ser uma família humilde, se comportavam de forma simples,
gesticulando e usando palavras de seu meio, e a maior presença de sua pobreza era
denotada no fato de a menina está toda arrumadinha, laço de fita no cabelo e vestida com
uma roupa característica de pessoa pobre.

09. Comoção, compaixão, carinho.

10. Ele se sentiu muito feliz e preferiu que a sua última crônica: fosse pura como aquele
sorriso.

11. (B)

12. (C).

13. (D).

14. (C).

15. O humor da tirinha consiste em Magali ficar desesperada, achando que seus amigos
estragaram o bolo.

16. (D).

17. O eu poético pegou o dicionário para procurar o significado da palavra aniversário.

18. Os três textos abordam o mesmo tema: aniversário. O primeiro é uma crônica. O
segundo é uma tirinha. O terceiro é um poema.

19. (B).

20. (D).

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