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Colégio Estadual Dr.

Henrique Santillo

Aluno(a): Data:
Série/Turma: 1ª Série “D” Turno: Matutino
Disciplina Língua Portuguesa Bimestre: 1º
Professora: Carolina Fernandes Pinel
Crônica
A Última Crônica de Fernando Sabino.
A Última Crônica
(Fernando Sabino – 1923 - 2004)

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou
adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um
ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo
de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial,
ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num
acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a
cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”.
Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem
uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da
parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença
de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa:
mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que
compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para
algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom,
inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando
imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e
depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença
ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão,
larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua
frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual.
A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e
espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve
a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no
mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando
num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você…”. Depois a mãe recolhe as
velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo.
A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao
colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá
comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a
cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

QUESTÃO 01. Localize no texto os seguintes elementos da narrativa:

a) Foco narrativo (narrador-personagem ou narrador-observador):

b) Lugar onde a história se passa:

c) Personagens:

QUESTÃO 02. Qual a profissão do narrador do texto?

QUESTÃO 03. No texto "A última crônica", o autor Fernando Sabino começa mostrando, aparentemente, uma
rotina que foi modificada inicialmente por qual acontecimento?
a) A compra de um cafezinho.
b) A humildade do pai da criança.
c) A chegada de um casal com sua filha.
d) A comemoração de um aniversário.

QUESTÃO 04. A finalidade do autor ao entrar no botequim foi:


a) antecipar o momento de escrever.
b) tomar um café para depois escrever.
c) relaxar sua mente após um dia de trabalho.
d) buscar algo que fugisse da realidade.

QUESTÃO 05. O autor faz uma descrição corriqueira no cotidiano dos brasileiros trazendo uma reflexão sobre
alguns problemas sociais. Uma temática social apresentada pelo texto é:
a) a mobilidade urbana.
b) os direitos das minorias na sociedade.
c) a desigualdade econômica.
d) os problemas educacionais.

QUESTÃO 06. O narrador descreve a cena onde se passa a história com uma grandeza de detalhes que faz
o leitor realmente crer que ele estava lá apreciando. Qual trecho do texto é possível concluir que o casal que
entrou tentava ser discreto no botequim?
QUESTÃO 07. A descrição é um relato detalhado sobre algo ou alguém, que acontece através da enumeração de
características ou eventos. Qual dos adjetivos abaixo NÃO é uma característica da menina de três anos apresentada pelo
texto?
a) Tímida.
b) Ousada.
c) Curiosa.
d) Simples.

QUESTÃO 08. Qual o trecho do texto revela que a família não estava ali apenas para comer?
a) “... toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa.”
b) “Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.”
c) “Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se...”
d) “A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras...”

QUESTÃO 09. O autor escreveu o texto em primeira pessoa, transmitindo a impressão de que realmente viveu
a situação. Ele se posicionou em relação à cena, demonstrando sua sensibilidade e seus sentimentos. Escreva abaixo um
trecho que está escrito em primeira pessoa.

QUESTÃO 10. No trecho: “Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual.”, o
que o autor quis se referir ao falar um “discreto virtual”?

QUESTÃO 11. No trecho: “... quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente
doméstico...”, as palavras grifadas introduzem ideia de:
a) adição.
b) oposição.
c) explicação.
d) alternância.

QUESTÃO 12. O narrador usa alguns diminutivos quando se refere à criança, como, por exemplo: “arrumadinha,
perninhas, negrinha ...”. Esse uso como forma de nomear as coisas pelo narrador demonstra
a) tamanho.
b) exultação.
c) compaixão.
d) alegria.

QUESTÃO 13. Sobre o texto, assinale a alternativa FALSA:


a) Os pais em algum momento ficaram envergonhados pela situação.
b) O narrador avista pureza naquela situação vivenciada no botequim.
c) A criança contemplou aquele momento de forma deslumbrante.
d) O retrato da realidade presente nesta crônica se revela pela altivez.

QUESTÃO 14. Localize no texto uma expressão que mostra uma atitude de cuidado da mãe com sua filha.
QUESTÃO 15. Há uma linguagem informal em:
a) “O pai se mune de uma caixa de fósforos...”
b) “Ninguém mais os observa além de mim.”
c) “Parabéns pra você, parabéns pra você…”
d) “... o pai risca o fósforo e acende as velas.”

QUESTÃO 16. Localize no texto a que / quem os termos grifados estão se referindo:
a) “Passo a observá-los.”

b) “... inclinando-se para trás na cadeira...”

c) “... que merecem uma crônica.”

d) “... larga-o no pratinho...”

e) “... torna a guardá-las na bolsa....”

QUESTÃO 17. No trecho: “... muito compenetrada, cantando num balbucio...”, a palavra grifada poderia ser
substituída, sem alteração de sentido, por:
a) concentrada.
b) amorosa.
c) temerosa.
d) tímida.

QUESTÃO 18. O trecho abaixo cuja palavra grifada introduz ideia de oposição é:
a) “... mas acaba sustentando o olhar...”
b) “O pai, depois de contar o dinheiro...”
c) “Assim eu quereria minha última crônica...”
d) “... ou do irrisório no cotidiano de cada um.”

QUESTÃO 19. A finalidade do texto “A última crônica” de Fernando Sabino é:


a) criticar o governo ausente nas políticas públicas.
b) fazer uma análise crítica das situações cotidianas.
c) informar fatos do dia a dia relevantes para a sociedade.
d) apresentar um ponto de vista sobre um assunto polêmico.

QUESTÃO 20. Em sua opinião, que lição de vida o texto traz para o leitor?

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