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de mulheres no Brasil
28 DE NOVEMBRO DE 2023
Entre 2011 e 2022, o país registrou um total de 350 mil agressões
sexuais contra mulheres. Em 42,5 mil casos, o autor era o cônjuge ou
namorado da vítima
Adriana Amâncio
• VIOLÊNCIA
• Histórias de violência sexual praticada por parceiros
1 DE CADA 8
agressões sexuais foram praticadas
por cônjuge ou namorado
6,1 mil
42,5 mil registros
de agressões sexuais praticadas por cônjuge
ou namorado entre
2011 e 2022
5,0
4,6
4,7
4,2
3,4
3,2
2,9
2,6
2,5
1,9
1,5 mil
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
2022
2011
FONTE SINAN
Eu pensava: eu sou mulher dele, satisfazendo ele em casa, ele não vai mais
procurar mulher fora. Então, mesmo sem vontade, eu deitava com ele”
Um dia, Bárbara acordou sentindo algo gelado no pescoço. Ao abrir os
olhos, viu que o marido empunhava uma faca sobre a sua garganta. As
ameaças armadas não pararam. Em uma segunda investida, ela foi
acordada com uma arma apontada para a sua cabeça.
“Aí eu fiquei com medo e falei com a minha mãe e com algumas amigas.
Um grupo de mulheres me chamou para reuniões, foi me dando força. A
minha mãe e o meu irmão me ajudaram, alugando um lugar seguro,
comprando comida pra mim, e eu deixei ele”, recorda. “Enquanto ele só
me batia, eu estava levando, mas quando ele passou a me ameaçar com
arma, tive medo e achei que pudesse acordar morta qualquer dia”
Frases do tipo “o seu marido fez isso, mas é um bom pai” ou “qual o
homem que nunca fez isso no casamento?’ são exemplos da
revitimização que acontece justamente onde as mulheres deveriam
encontrar acolhimento.
“As mulheres têm medo de realizar a denúncia e serem
responsabilizadas pela violência sofrida ou naturalizada, como algo que
simplesmente acontece dentro do casamento”, reforça Isabela.
“É muito difícil para uma mulher lidar com o fato de que o seu marido, o
amor da sua vida, seja um agressor. Por isso, há muitas idas e vindas,
ela pondera muitas coisas antes de denunciar”, avalia Isabela.
“Ele me procurava para fazer sexo, eu dizia que não, mas ele insistia e
me penetrava, mesmo sem que eu estivesse lubrificada. Era uma dor
horrível”, relata Joyce.
Eu botava uma roupa para sair, ele dizia: ‘você vai dar para outro’ e começava a
me bater. Eu tinha consciência de que sofria violência, mas eu sonhava com uma
família. Eu achava que o problema estava comigo, mas depois vi que ele é que era
um agressor”
Segundo Isabela Del Monde, o caso de Joyce descortina um ponto
nebuloso que favorece a invisibilidade do estupro marital, o artigo 213
da Lei 12.015, de 2009, que altera o Código Penal e define o estupro
como “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro
ato libidinoso.”
“Eu tenho certeza que muitos juízes diriam, nesse caso da entrevistada,
que ela deveria não ter praticado [sexo], se ela não quisesse. Se não
houve violência armada ou grave ameaça, não houve estupro. Esse
elemento caracterizador do crime, muitas vezes, vai impedir que a
violência sexual no casamento seja registrada como estupro marital”,
analisa a advogada.
Para a psicóloga e diretora de Saúde do MeToo Brasil, Mariana Luz, a
dificuldade de abordar o estupro marital tem impacto na saúde mental
das vítimas.