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Lista de links para o clipping de Um Memorial para Antígona
no TUSP
Acesso Irrestrito:
Ed
https://www.acessoirrestrito.com.br/post/um-memorial-para-antigona-relaciona
-tragedia-grega-a-lei-da-anistia
F
Cartão de Visita:
PD
https://cartaodevisita.com.br/conteudo/44616/um-memorial-para-antigona
Dica de Teatro:
https://dicadeteatro.com.br/comite-escondido-apresenta-peca-um-memorial-par
a-antigona-que-relaciona-tragedia-grega-a-lei-da-anistia/
Estadão:
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https://www.estadao.com.br/cultura/monsters-of-rock-apresenta-kiss-e-scorpion
s-confira-outras-atracoes-como-bebel-gilberto-e-liniker/
Guia Folha:
https://guia.folha.uol.com.br/teatro/2023/04/teatro-em-sp-um-memorial-para-a
ntigona-esta-entre-as-estreias-da-semana.shtml
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Indica SP:
https://www.indicasp.com.br/post/agenda-de-s%C3%A3o-paulo-de-abril-de-202
3
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Infoteatro: https://infoteatro.com.br/peca/um-memorial-para-antigona/
Palco Clássico:
http://palcoclassico.blogspot.com/2023/05/um-memorial-para-antigona.html
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21/10/2023, 19:59 Um memorial para a amnésia | Revista Rosa 8
aassooR
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Rosa
Ed
Um memorial para a amnésia
Márci
o Selig
mann
-Silva
F
O que a Tebas mítica, que serve de cenário para o con ito entre os -
PD
lhos de Édipo e o déspota Creonte na tragédia de Sófocles, tem a ver
com o Brasil de 1979? A peça Um memorial para Antígona, do grupo te-
atral comitê escondido, com direção de Vicente Antunes Ramos, junta
esses dois espaços e temporalidades para encenar um teatro sobre —
o esquecimento. 1 Sete atores se alternam declamando passagens de
textos inspiradas no drama do autor grego e que são intercaladas com Cena de Um memorial para Antígona.
(Foto: Matheus Brant.)
trechos de discursos realizados no Congresso Nacional de Brasília
te r
quando do debate, em 1979, em torno da criação da Lei de Anistia. Há
também testemunhos de ex-presos políticos, depoimentos e obras de
parentes de familiares de mortos e desaparecidos ecoam do palco. Em
um bem encenado e amarrado teatro pós-dramático brechtiano, é
através das palavras que as ações são anunciadas. Ecoando a estru-
as
e entrelaça os con itos tebanos da tragédia com a história de um país Um memorial para Antígona
marcado pela prática de enterrar suas histórias de violência. Na ver- Um memorial para a amnésia — Márcio
são apresentada, transformando o enredo da tragédia de Sófocles, os Seligmann-Silva
cidadãos tebanos, após o assassinato de Antígona, reúnem-se para a Da garganta que berra —
Miguel Antunes Ramos e
inauguração de uma estátua em sua homenagem. Um paralelo claro é Vicente Antunes Ramos
estabelecido entre a homenagem a uma heroína realizada por inicia-
tiva do próprio déspota que a condenou à morte, Creonte, e, por outro
di
condenada à morte por ter desrespeitado o decreto de Creonte que dramático brechtiano, é
proibia o enterro de Polinices e tinha realizado por conta própria os
através das palavras que
devidos rituais fúnebres para seu irmão, no Brasil a Lei da Anistia per-
mitiu que corpos de desaparecidos assassinados pelo estado perma-
as ações são anunciadas.
necessem sem o devido enterro. Por um lado, em Tebas, a lei de Cre-
onte desrespeitava o direito natural de se enterrar um parente, reali-
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https://revistarosa.com/8/memorial-para-a-amnesia 1/10
21/10/2023, 19:59 Um memorial para a amnésia | Revista Rosa 8
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saparecia com as suas vítimas, impedindo os funerais, e repetia esse
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tipo de decreto arbitrário ao anistiar os criminosos, barrar as investi-
gações jurídicas e o esclarecimento dos assassinatos, a demarcação
dos locais onde os corpos foram escondidos etc. Lá e cá, a injustiça
triunfa. Lá e cá, corpos insepultos poluem o ar da política, determi-
R
Ed
nando uma suspensão da democracia. Mas, se na Grécia mítica a vitó-
ria de Creonte é uma vitória de Pirro, já que ele perdeu seu lho, He-
mon, que acaba se suicidando após a morte de sua amada Antígona, e
perde a sua esposa, que também se suicida, a situação no Brasil é bem
diferente.
É importante saber que essa peça foi concebida durante o fatídico
F
ano de 2019 e deveria ter sido estreada em 2020. Ela acabou sendo
apresentada apenas em 2023: após a pandemia, já no início do ter-
ceiro governo de Lula e em um momento que muitos exclamam “Sem
PD
anistia”, referindo-se aos crimes cometidos pelo governo de 2019–
2022, que levaram à morte centenas de milhares de brasileiros por
conta do negacionismo contra as devidas medidas sanitárias que de-
veriam ter sido tomadas de modo célere diante da pandemia de covid-
19. As questões que serviram de estopim para o tema da peça, a reite-
rada prática, no Brasil, de se anistiar os criminosos que servem ao Es-
tado, o fato de termos eleito um presidente entusiasta da tortura, as-
te r
sumiram entrementes um signi cado ainda mais carregado.
Isso sobretudo se lembrarmos do crime ocorrido em 25 de maio
de 2020 em Minneapolis, quando um policial branco assassinou, es-
trangulando de modo bárbaro e diante das câmaras, o afro-americano
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https://revistarosa.com/8/memorial-para-a-amnesia 2/10
21/10/2023, 19:59 Um memorial para a amnésia | Revista Rosa 8
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A empatia com os vencedores bene cia […] sempre os que ora
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dominam. Isso diz tudo para o materialista histórico. Todos
os que até hoje foram vencedores vão junto ao cortejo triunfal
dos dominantes, que marcham sobre aqueles que jazem hoje
no chão. Os espólios, como de costume, são levados no cor-
tejo triunfal. São os chamados bens culturais. O materialista
R
Ed
histórico os observa sempre com o devido distanciamento.
Pois todos os bens culturais que ele contempla têm uma ori-
gem sobre a qual não pode re etir sem horror. Devem a sua
existência não apenas ao esforço dos grandes gênios, que os
criaram, mas também à corveia anônima dos
contemporâneos destes. Não há um documento da cultura
que não seja ao mesmo tempo um documento da barbárie. E
F
assim como a cultura não está livre da barbárie, assim
também ocorre com o processo de sua transmissão, na qual
PD
ela é passada adiante. Por isso, na medida do possível, o ma-
terialista histórico dela se afasta ao máximo. Ele considera
que a sua tarefa é escovar a história a contrapelo. 3
neste país. A uma população sem direito à memória corresponde tam- econômica.
bém uma população sem direito à identidade e às cidadanias social e
econômica. A uma polícia genocida correspondem práticas amnésicas
para lidar com as memórias dos espezinhados. A história do genocí-
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21/10/2023, 19:59 Um memorial para a amnésia | Revista Rosa 8
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típicos deste país pontuado por golpes e por continuidades das elites.
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O mote da peça é a frase repetida com ênfase: “Passado abandonado
não se torna passado”. Nossas elites se perpetram no poder e suas his-
tórias unilaterais também. Elas precisam dessa pseudo-história para
se manterem no poder. Se no século XXI minorias (majoritárias, é ver-
R
Ed
dade) estão conseguindo se empoderar e estão enfrentando o poder
patriarcal branco, a resposta tem sido uma enorme onda neofascista.
Como o escritor sobrevivente do campo de concentração de Da-
chau, Robert Antelme formulou em 1948: “Quando o pobre torna-se
proletário, o rico torna-se SS ”. Essa também tem sido a prática nas
burguesias latino-americanas, e o Brasil merece destaque nessa prá-
F
tica. Essa eterna reiteração e ostentação do poder e de seu cetro co-
manda a construção de estátuas a militares e bandeirantes, com des-
taque, é claro, para o Monumento às bandeiras de Victor Brecheret no
PD
parque do Ibirapuera em São Paulo. Sob suas centenas de toneladas,
séculos de histórias de horror são reiteradamente sufocadas.
Talvez por conta desse sufocamento das narrativas da memória A memória sufocada
da maior parte da população — aliado ao fato de que essa peça foi brota aos jorros.
praticamente reescrita durante a pandemia, quando os brasileiros su-
focavam por conta da necropolítica o cial — atores (com ou sem
máscaras imaginárias contra a covid) respiram de modo insistente
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por bocas entreabertas em Um memorial para Antígona. Frases são en-
trecortadas por respirações, ruídos estridentes impedem que ouça-
mos parte dos textos recitados. É como se estivéssemos diante de um
dispositivo enguiçado de produção crítica da memória. A memória
as
sufocada brota aos jorros. Um corpo em agonia emite sons que de-
nunciam histórias de horror e de memoricídios.
Mas essa peça também é resultado de um belo trabalho de pes-
quisa. Apresentando os debates em torno da criação e votação da Lei
de Anistia em 1979, ela faz um trabalho psicanalítico de escavação em
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https://revistarosa.com/8/memorial-para-a-amnesia 4/10
21/10/2023, 19:59 Um memorial para a amnésia | Revista Rosa 8
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Srs. senadores, Srs. deputados, membros da Comissão Mista
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da Anistia. Estamos aqui reunidos para examinar matéria im-
portante para os rumos que toma a nação, a saber, o projeto
de Lei n. 6.683, a chamada Lei da Anistia, enviado para o Con-
gresso Nacional pelo Sr. João Batista Figueiredo, o Presidente
da República neste ano de 1979. Que se registre aqui este mo-
R
Ed
mento histórico em que este Congresso, em Comissão Mista,
se reúne para debater esta lei. Com o selo da liberdade, a
Anistia é o mais belo movimento que já se estruturou no país
depois da instalação do arbítrio, principalmente pela
espontânea congregação de entidades civis e parcelas des-
comprometidas da sociedade aberta no rme compromisso
de erguer os direitos da pessoa humana acima de desentendi-
F
mentos e guerras, e rmar um pacto de esquecimento capaz de
gerar uma nova solidariedade pelo futuro. Srs. Membros da
PD
Comissão Mista da Anistia, declaro aberta a sessão
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21/10/2023, 19:59 Um memorial para a amnésia | Revista Rosa 8
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Anistia, já foi dito, não é perdão. Porque perdoar pressupõe
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humilde gratidão de quem é perdoado. Como sabemos todos
nós, reunidos aqui, não é bem disso que se trata. Foi, então,
sugerido, que se desse à palavra ANISTIA outra conotação — a
de esquecimento. Acontece, porém, que aqueles que se apo-
deraram do poder sofreram apenas algumas baixas. Por con-
R
Ed
seguinte, se anistia é esquecimento, o que têm a esquecer é,
relativamente, pouco E muito pouco diante do que, de nós,
será exigido em matéria de esquecimento. Porque teremos de
esquecer o Pau de Arara. A Câmara de Sons. A Cadeira do
Dragão. A Geladeira. Os choques elétricos. O isolamento. Os
estupros. As cicatrizes que marcaram para sempre o corpo e a
mente de tantas e tantas vítimas de terrível repressão que
F
varreu o país de ponta a ponta. Que se abateu como algo de
diabólico sobre toda a nação. As paredes úmidas das celas e
PD
das salas de tortura guardarão para sempre o eco dos gritos de
agonia e as manchas de sangue, do suor e das lágrimas da-
queles de quem tentaram arrancar con ssões e delações.
https://revistarosa.com/8/memorial-para-a-amnesia 6/10
21/10/2023, 19:59 Um memorial para a amnésia | Revista Rosa 8
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que se colocam do lado da luta pelo m da sociedade de exploração,
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tem se mostrado particularmente avessa às lutas pela democracia no
Brasil, ao menos até o governo Bolsonaro (quando o STF se tornou a
única instância na Praça dos Três Poderes mais preservada do fas-
cismo). A cassação da presidenta Dilma, em 2016, e a prisão do candi-
R
Ed
dato potencialmente vencedor das eleições presidenciais, Lula, em
2018 são dois casos eloquentes nesse sentido. A esfera do direito, que
habita os palácios de justiça kafkianos, gigantes e neoclássicos, tem
apoiado muitos regimes ditatoriais, como foi o próprio caso do regime
hitlerista, com seus “grandes” juristas. Na peça, não por acaso, ouvi-
mos repetido o mote: “Teve muito choque elétrico por entre essas co-
F
lunas gregas.”
Junto com esse processo mnemônico e de construção da justiça
vem também um processo de busca pela verdade dos fatos horrendos
PD
de então. Os cadáveres insepultos devem ser localizados, identi ca-
dos e seus familiares devem ter o direito de nalmente enterrá-los de-
volvendo a dignidade aos que foram assassinados de modo indigno.
O guerreiro de Polinices está assombrado por suas memórias. Ele Ele está traumatizado,
está traumatizado, lembrando que o traumatizado é aquele que está lembrando que o
tomado por “memória demais”. O paradoxo é que os traumatizados
traumatizado é aquele
no Brasil têm esse “excesso” mnemônico sem a contraparte de locais e
te r
datas para inscreverem essas memórias. Não se trata de se reivindicar
que está tomado por
novos monumentos gigantes e pesados, mas de se propor espaços e “memória demais”.
dispositivos de memória ao molde de antimonumentos, que apresen-
tem justamente esse trabalho de memória enquanto trabalho de luto
as
Sim, sim, mais que uma estátua, hoje deveríamos estar aqui
inaugurando um buraco. Um monte de terra, e um buraco
com sete palmos de profundidade, vazio. Se houvesse pelo
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menos uma cova, uma cova que nunca pudesse ser fechada.
Se marcasse aqui o lugar onde ele caiu… talvez eu pudesse
olhar para esse buraco e gritar dentro dele.
história:
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21/10/2023, 19:59 Um memorial para a amnésia | Revista Rosa 8
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Algum dia, vocês vão ver, vamos construir o nosso, o verda-
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deiro memorial de Antígona. De Antígona e de Polinices. E de
todos os mortos. Lá estará a terra, lá estará o cetro — não
restará nenhuma dúvida, então, sobre a queda de Creonte.
Isso daqui é pouco, muito pouco. E lá estará escrito: Para que
nunca mais se esqueça: Passado abandonado não se torna pas-
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Ed
sado. (para Ismene) Você se esqueceu de tudo.
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PD
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✵
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Notas
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✵✵✵
https://revistarosa.com/8/memorial-para-a-amnesia 8/10
21/10/2023, 20:17 UM MEMORIAL PARA ANTÍGONA
PALCO CLÁSSICO
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PALCO CLÁSSICO
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Peças baseadas em textos da Antiguidade clássica encenadas no eixo Rio-São Paulo
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UM MEMORIAL PARA ANTÍGONA
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PD
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Elenco: Danilo Arrabal, Giovanna Monteiro, Julia Pedreira, Joy Catharina, Rafael Sousa Silva, Sheila
Almeida, Victor Rosa
Composição sonora: Mariana Carvalho
Desenho e operação de som: May Manão
Cenário: A. Hideki Okutani
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SINOPSE
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21/10/2023, 20:17 UM MEMORIAL PARA ANTÍGONA
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cena, 7 atores manipulam documentos sobre a criação da Lei da Anistia de 1979, ao mesmo tempo em que,
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através de depoimentos das personagens gregas, contam o mito da Antígona, fazendo com que o mito
grego ecoe na história nacional. (divulgação)
NOTA BENE
Ed
Em 2020, o novo processo do grupo, Um memorial para Antígona, teve sua estreia adiada em virtude da
pandemia. Desse processo interrompido, nasceu Antígona Sonora, uma produção online sobre a qual
escrevi aqui. Em 13 de setembro de 2022, o Itaú Cultural recebeu em São Paulo a peça ainda em
processo, que estreou no TUSP em 20 de abril de 2023.
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PD
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COMENTÁRIO
Pego emprestada a palavra “cantata” do material de divulgação sobre a peça Um memorial para
Antígona, do coletivo Comitê Escondido, para descrever com brevidade a primeira metade do espetáculo,
nM
que me seduziu como não acontecia há algum tempo. A cenografia minimalista, composta de sete cadeiras
diferenciadas, atribuída cada qual a uma das sete personagens, com a projeção de suas identidades se
apagando à medida que cada uma ocupa o respectivo assento, convida à subsequente tensa orquestração
de sons guturais opressores, compondo, assim, a densa ambientação psicológica dessa reengenharia
nacional da Antígona de Sófocles.
A montagem do encenador Vicente Antunes Ramos é demandante, cobra do espectador que seja
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21/10/2023, 20:17 UM MEMORIAL PARA ANTÍGONA
PALCO CLÁSSICO
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Crédito: Matheus Brant
“Através do som, buscamos evidenciar outros sentidos, que estão ali, mas que não notamos quando lemos
essas palavras. É como se, através do som, a gente pudesse criar fissuras, buracos, e o espectador tem que
preencher o que vê e ouve. Trazemos essas palavras à tona, mais uma vez, e essas palavras não são o que
te r
esperávamos que fossem, mas aquilo que elas mesmas sabem ser. O som é o modo de ativá-las em cena”.
A trama da tragédia clássica grega está em cena, mas também como fato de um passado recente, em que
Antígona, morta pela causa do direito de enterrar o irmão Polinices, converteu-se já em monumento,
as
estátua que simboliza a superação das diferenças políticas, ao passo que Ismene, a irmã receosa, ainda
vive. Já não há Creonte, mas o Inaugurador do memorial. Não há Polinices, mas um Guerreiro seu. Não
há Etéocles, mas um Guarda. Antígona ainda mantém uma Seguidora.
“Sobre o papel da Ismene, também houve uma reflexão no processo de imaginá-la como uma figura muito
nM
brasileira, de certo modo, como uma pessoa que pactuou em nome do possível. A peça tenta muito
discutir essa ideia do possível e ela pareceu essa figura estratégica pra gente discutir. A peça tenta
tematizar uma tragédia dela”.
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21/10/2023, 20:17 UM MEMORIAL PARA ANTÍGONA
PALCO CLÁSSICO
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PD
Crédito: Jéssica Mangaba
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O trabalho do Comitê Escondido com documentos da história recente do Brasil tem como mote a frase
repetida várias vezes na peça: “passado abandonado não se torna passado”. O coletivo assume a tarefa de
mobilizar e não deixar cair no esquecimento a violência perpetrada durante o período da ditadura militar
no Brasil (1964-1985). Também constrói uma contestação intelectualizada à anistia dos autores desses
as
“A peça é sobre memória. Parte da situação ficcional da criação de uma estátua para Antígona, um evento
importante, no qual toda a cidade se reúne para rememorar essa personagem, essa história. A questão da
nM
construção de memoriais também é central na história do Brasil, na forma como lidamos com os traumas
da ditadura militar. Existem pouquíssimos centros de memória no país, ainda mais se compararmos com
a Argentina ou o Chile, que tiveram ditaduras próximas à nossa. Isso evidencia uma escolha: a de esquecer
para seguir em diante”.
https://palcoclassico.blogspot.com/2023/05/um-memorial-para-antigona.html 4/7
21/10/2023, 20:17 UM MEMORIAL PARA ANTÍGONA
PALCO CLÁSSICO
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7 maio 2023
A metade final da montagem não reteve tanto minha atenção. Fiquei com a impressão de discursividade
as
em excesso. Em mais de um momento pensei que a peça acabaria ali. A mensagem tinha sido dada: é
preciso ir contra jogar uma pá de cal sobre os mortos da ditadura. De fato, a palavra de ordem “sem
anistia!” é muito atual.
Renata Cazarini
nM
Se quiser fazer uma leitura pertinente ao tema, o Comitê Escondido recomenda o capítulo
“Monumentos à deriva”, de Maurício Lissovsky e Ana Aguiar.
COMENTÁRIOS
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