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Volume 01

Porto Alegre/RS, 2019


Copyright © 2019, by Editora GFM.
Direitos Reservados em 2019 por Editora GFM.
Editoração: Cristiano Poleto
Organização Geral da Obra: Cristiano Poleto; Julio Cesar de Souza Inácio
Gonçalves; Fernando Periotto
Diagramação: Espaço Histórico e Ambiental
Revisão Geral: Angela Gunther
Capa: Espaço Histórico e Ambiental

CIP-Brasil. Catalogação na Fonte

Cristiano Poleto; Julio Cesar de Souza Inácio Gonçalves; Fernando Periotto


(Organizadores)
ANAIS do 5º Simpósio sobre Sistemas Sustentáveis - Vol. 1 / Cristiano Poleto;
Julio Cesar de Souza Inácio Gonçalves; Fernando Periotto (Organizadores) – Porto
Alegre, RS: Editora GFM, 2019.
1.537p.: il.; 29,7 cm
ISBN 978-85-6030-896-5

É AUTORIZADA a livre reprodução, total ou parcial, por quaisquer meios, sem


autorização por escrito da Editora ou dos Organizadores.

2
Comissão Organizadora

Dr. Cristiano Poleto – UFRGS (PRESIDENTE)


Dr. Julio Cesar de Souza Inácio Gonçalves – UFTM
Dr. Fernando Periotto – UFSCar

Comissão Científica

ÁLVARO JOSÉ BACK – EPAGRI


AMANDA GONCALVES KIELING – UNISINOS
CÍNTIA SOARES – UFSC
CLAUDIA TELLES BENATTI – UEM
CRISTHIANE MICHIKO PASSOS OKAWA – UEM
CRISTIANO POLETO – UFRGS
EDNA POSSAN – UNILA
EDSON CAMPANHOLA BORTOLUZZI – UPF

3
ELIZABETE YUKIKO NAKANISHI BAVASTRI – UFPR
EVERTON SKORONSKI – UDESC
FELIPPE FERNANDES – UFRGS
FERNANDO OLIVEIRA DE ANDRADE – UTFPR
FERNANDO PERIOTTO – UFSCar
HELDER RAFAEL NOCKO – EnvEx Engenharia e Consultoria
JOEL DIAS DA SILVA – FURB
JOSÉ ANTONIO TOSTA – UFES
JULIO CESAR DE SOUZA INÁCIO GONÇALVES – UFTM
LARICE NOGUEIRA DE ANDRADE – UFES
MARCELO GIOVANELA – UCS
MARIA DE LOS ANGELES PEREZ LIZAMA – UNICESUMAR
MAURICIO VICENTE ALVES – UNOESC
MICHAEL MANNICH – UFPR
RENATO MIRANDA – USP
VIVIANE TREVISAN – UDESC

4
Realização

Organização

Apoio

5
Lista dos Artigos publicados como
RESUMOS
nos ANAIS

Artigo Título do Resumo Autores


URBANIZATION OF THE GLOBAL SOUTH: MAYARA BORMANN AZZULIN; VALDIR
5SSS103
BRAZILIAN URBAN HISTORY FERNANDES

DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS SUSTENTÁVEIS


APLICADOS A ALUNOS DE GRADUAÇÃO DO CURSO
5SSS105 LUCAS QUIOCCA ZAMPIERI
DE ENGENHARIA CIVIL NA UNOESC EM JOAÇABA -
SC

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE MISTURAS DE


JÉSSICA LETICIA SAVARIS; FABIANO ALEXANDRE
SOLO-CIMENTO PLÁSTICO UTILIZANDO SOLO
5SSS107 NIENOV; LUCAS QUIOCCA ZAMPIERI; GISLAINE
ARGILOSO PARA USO EM FUNDAÇÕES DE OBRAS
LUVIZÃO
DE PEQUENAS CARGAS EM EDIFICAÇÕES RURAIS

THALES EDUARDO TAVARES DANTAS; HENRIQUE


EMERGY ANALYSIS AND CIRCULAR ECONOMY: AN
5SSS109 ROGÉRIO ANTUNES DE SOUZA JUNIOR; SEBASTIÃO
EPS OPEN-LOOP RECYCLING SYSTEM CASE STUDY
ROBERTO SOARES

RONI MATHEUS SEVERIS; THALES EDUARDO


DETERMINANT FACTORS FOR SUSTAINABLE
5SSS110 TAVARES DANTAS; LUIZ GUSTAVO SAVI;
MOBILITY HABITS OF URBAN COMMUTERS
SEBASTIÃO ROBERTO SOARES

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA E CAPACIDADE DE


REGENERAÇÃO TÉRMICA, QUÍMICA E LETÍCIA REGGIANE DE CARVALHO COSTA; LUANA
5SSS112
ULTRASSÔNICA DE CARVÃO ATIVADO EXAURIDO DE MORAES RIBEIRO; LILIANA AMARAL FÉRIS
COM TETRACICLINA

GESTÃO E SUSTENTABILIDADE: PRÁTICAS NIDIANNE NASCIMENTO; ANDRÉ VILHENA;


RENOVÁVEIS QUE AUXILIAM NO CARLOS EDUARDO PEREIRA CRUZ; AMANDA
5SSS118
DESENVOLVIMENTO DOS ESPAÇOS AMBIENTAIS BEATRIZ SOUSA SENA; MARCOS TULIOS FROTA
NOS MÓDULOS ACADÊMICOS LADISLAU; TAMIRES RIOS

6
A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA IMAGEM DA
NICOLE CENTURION; MAYARA BORMANN
5SSS121 CIDADE A PARTIR DA ABORDAGEM DOS
AZZULIN; ADRIAN JEDYN
PAGAMENTOS POR SERVIÇOS AMBIENTAIS

ANÁLISE DO “DIREITO AO SOL” NOS PLANOS


SAIONARA DIAS VIANNA; CELINA MARIA BRITTO
5SSS125 DIRETORES DE PELOTAS-RS, EM ZONAS
CORREA
RESIDENCIAIS

CIBELE BILIBIO; ALINE SCHUCK RECH; JULIO CESAR


APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA PARA RECH; JAKCEMARA CAPRARIO; FABIANE
5SSS127
DESSEDENTAÇÃO DE SUÍNOS ANDRESSA TASCA; NIVEA MORENA GONÇALVES
MIRANDA

LUCAS GABRIEL TEIXEIRA GOUVEIA; CAROLINE


ADSORÇÃO DE CO2 UTILIZANDO ZEÓLITA Y EM
5SSS133 BORGES AGUSTINI; OSCAR W. PEREZ-LOPEZ;
LEITO FIXO
MARILIZ GUTTERRES SOARES

CARACTERIZAÇÃO GENOTÍPICA DE CEPAS DE


ESCHERICHIA COLI ISOLADAS DE ÁGUA DE EVANGELISTA, P. A.; SOUZA, M. A. M.; PIMENTEL
5SSS145
IRRIGAÇÃO E SUSCEPTIBILIDADE A AGENTES FILHO, N. J.
SANITIZANTES

FELIPE STEMPKOWSKI CAPPELARO; LÉA BEATRIZ


VIABILIDADE ECONÔMICA PARA INSTALAÇÃO DE
DAI-PRÁ; LUCIANO FRANCISCO FLORES ROSA;
5SSS149 UMA USINA DE RCD EM UM MUNICÍPIO DO SUL
MARCHELLO LUIZ GRANDO; PAMELA LISE GHESLA;
DO BRASIL
LUCIANA PAULO GOMES

RENATURALIZAÇÃO E RECUPERAÇÃO DAS ÁREAS VIVIANE CARVALHO BRENNER; CECILIA BALSAMO


5SSS153
DEGRADADAS NA BACIA DO RIO GRAVATAÍ ETCHELAR

INUNDAÇÃO E EROSÃO NA COSTA NORTE DO RIO


HUMBERTO DIAS VIANNA; SAIONARA DIAS
5SSS154 GRANDE DO SUL - BRASIL. ESTUDO DE CASO: A
VIANNA; LAURO JULIO CALLIARI
MARÉ METEOROLÓGICA DE OUTUBRO DE 2016

KEVIN CASSOL CRAVO; GISELE CATRINE S. DA


RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE
SILVA; MARCO AURÉLIO DOS SANTOS; PAMELA
5SSS158 CANOAS: GESTÃO E AVALIAÇÃO DE ÁREAS
LISIE GHESLA; LÉA BEATRIZ DAI-PRÁ; LUCIANA
IRREGULARES DE DISPOSIÇÃO FINAL
PAULO GOMES

PROPOSTA DE PLANO DE GERENCIAMENTO DE


BONIOLO, V. R.; EVANGELISTA, P.A.; GRIGOLETTO,
5SSS165 RESÍDUOS SÓLIDOS PARA O MUNICÍPIO DE
F.; PERIOTTO, F.
CAMPINA DO MONTE ALEGRE, SP

O USO DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES


ALINE DE GODOY; KÉTINI MAFALDA SACON
AMBIENTAIS (SIA) COMO FERRAMENTA PARA O
5SSS167 BACCIN; ADRIANO GOMES DA SILVA; VANIA
DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES VOLTADAS À
ELISABETE SCHNEIDER
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

5SSS177 EFICIÊNCIA EM AEROGERAÇÃO DE MICRO E BAIXA GABRIELLI DE CARLI DA SILVA; TAINÃ BLOSS

7
POTÊNCIA EM ZONAS URBANAS LANIUS; ALINE BARUFFI

ANÁLISE DE SEDIMENTOS EM DOIS


5SSS180 RESERVATÓRIOS DESTINADOS À IRRIGAÇÃO DE PERIOTTO, F.; ROMÃO, R. M.; DAL FARRA, S.
GRÃOS NA REGIÃO DE BURI, SUDOESTE PAULISTA

REMOÇÃO DE DICLOFENACO EM SOLUÇÃO PAOLA DEL VECCHIO; GIOVANI SPIAZZI PRIGOL;


5SSS201
AQUOSA POR ADSORÇÃO EM CARVÃO ATIVADO LILIANA AMARAL FÉRIS

HIDROGEOLOGIA NA COXILHA SÃO JOSÉ, DIMITRI TALLEMBERG SOARES; SAMUEL OLIVEIRA


5SSS216 CAÇAPAVA DO SUL: DIAGNÓSTICO GEOFÍSICO E BITENCOURT; RUI SERGIO SARAIVA DUARTE
GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS - RS JUNIOR

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A IMPLANTAÇÃO DE


VIVEIRO FLORESTAL EXPERIMENTAL DA ESPÉCIE ISLANE DE SOUSA; GUSTAVO DA SILVA CASTRO;
5SSS229
CACAU (THEOBROMA CACAO), NA E. M. ZILDA ANDRÉ VILHENA DE OLIVEIRA
ARNS NEUMAN-AM

MARCOS ALBERTON DACOREGIO; DAYANE


PRODUÇÃO DE ÁGUA PARA REUSO: UMA
GONZAGA DOMINGOS; BEATRIZ L. S. K. DALARI;
ALTERNATIVA PARA MINIMIZAR O IMPACTO
5SSS238 ANA SILVIA DE LIMA VIELMO; JULIANA BARDEN
AMBIENTAL E ECONÔMICO NA INDUSTRIA DE
SCHALLEMBERGER; CRISTIANE LISBOA GIROLETTI;
REFRIGERANTES
SUZANA CIMARA BATISTA

ÁREAS PRESERVADAS: ESPAÇOS NÃO-FORMAIS DE CISNARA PIRES AMARAL; BIBIANA DA CRUZ


5SSS250
APRENDIZADO – RELATO DE EXPERIÊNCIA SANTOS; MATEUS DIOVANI VIDAL MARTINS

PRODUÇÃO DE BIOCARVÃO COMO LARISSA FIRMINO DE LIMA; MARIA CRISTINA


5SSS255 APROVEITAMENTO ALTERNATIVO DE CASCAS DE BORBA BRAGA; CARLOS EDUARDO RODRIGUES
LARANJA BARQUILHA

ESTIMATIVA DA TEMPERATURA INTERNA DO


ANTONIO GABRIEL PONTES DOS REIS; JULIANA
CACHO DE BANANA PRATA, UTILIZANDO TRÊS
DOMINGUES LIMA; EDUARDO NARDINI GOMES;
5SSS283 DIFERENTES TIPOS DE PROTEÇÃO DO CACHO
AUGUSTO YOSHIKAZU AKAMINE; AUGUSTO
PARA CONTROLE DO “CHILLING” NO ANO DE 2019
TAVARES ANHESCHIVICH
NO VALE DO RIBEIRA/ SP

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO USO E OCUPAÇÃO


EDLA LETÍCIA ANTUNES BRIZOLA DOS SANTOS;
DO SOLO E SEUS EFEITOS NA QUALIDADE DA
VÂNIA ELISABETE SCHNEIDER; GEISE MACEDO
5SSS285 ÁGUA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO
DOS SANTOS; WILLIAM LUAN DECONTO; DENISE
ARCADA EM UM RESERVATÓRIO NO MUNICÍPIO
PERESIN
DE CAMBARA DO SUL – RS

ANÁLISE DAS CARACTERISTICAS FISIOGRÁFICAS DA


5SSS289 MORGANA VAZ DA SILVA; LAÍS MOREIRA MIGUEL
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JACUI-RS

APLICAÇÃO DE OZÔNIO PARA REMOÇÃO DE MIB E GABRIELLE RAMOS ARAGÃO DE ARAÚJO; RAMIRO
5SSS292
GEOSMINA DE ÁGUAS DE ABASTECIMENTO G ETCHEPARE

8
CONCEPÇÃO DA INFRAESTRUTURA SANITÁRIA JACQUELINE CARRIL FERREIRA; GABRIELLE RAMOS
5SSS293
URBANA BASEADA NO ENFOQUE SISTÊMICO ARAGÃO DE ARAÚJO; DANIEL COSTA DOS SANTOS

MATHEUS NEVES DE ARAUJO; THIAGO VINICIUS


USO DA CAVITAÇÃO HIDRODINÂMICA PARA
5SSS299 RIBEIRO SOEIRA; JULIO CESAR DE SOUZA INÁCIO
REMOÇÃO DE SUBSTÂNCIAS HÚMICAS
GONÇALVES; DEUSMAQUE CARNEIRO FERREIRA

PIERRE LUZ DE SOUZA; RUBIA FLORES ROMANI;


RECUPERAÇÃO DE BIOMETANO A PARTIR DE
5SSS301 TIAGO NASCIMENTO SILVA; CASSIA BROCCA
BIOGÁS DE ATERRO SANITÁRIO: ESTUDO DE CASO
CABALLERO

KIANE HELOISA SANTANA SOUSA; ANNA


ESTUDO DE IMPLANTAÇÃO DE BACIA DE CAROLINA FERNANDES OLIVEIRA; ÉRICA DE
5SSS306
EVAPOTRANSPIRAÇÃO EM ESMERALDAS - MG SOUSA PINTO; SUELLEN CRISTINA COELHO
BARBOSA

AVALIAÇÃO DE N-ALCANOS EM SEDIMENTOS JÚLIA ARDUIM; PAULO RICARDO FARIAS MANETTI;


5SSS307
SUPERFICIAIS DA PRAIA DA CAPILHA (RS, BRASIL) PEDRO JOSÉ SANCHES FILHO

9
Lista dos RESUMOS EXPANDIDOS
sobre IDEIAS de Graduandos no
5SSSinovador
publicados nos ANAIS

Artigo Título do Artigo 5SSSinovador Autores


KÉTINI MAFALDA SACON BACCIN; DENISE
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO PARA RECUPERAÇÃO
PERESIN; ALINE DE GODOY; FERNANDA
5SSSinovador101 DE UM CORPO HÍDRICO LOCALIZADO NO
MARCON ANGHEBEN; VANIA ELISABETE
MUNICÍPIO DE CAXIAS DO SUL/RS
SCHNEIDER

RACEWAY PONDS COMO ALTERNATIVA PARA ANGÉLICA DE PAOLI SCHMIDT; LUCAS


5SSSinovador102
REMEDIAÇÃO DE CO2 ATMOSFÉRICO FUCHS DE SOUZA; CRISTIANO POLETO

10
Lista dos ARTIGOS COMPLETOS
publicados nos ANAIS

Artigo Título do Artigo Completo Autores


INFERÊNCIAS PALEOCLIMÁTICAS PARA O
GABRIELLI TERESA GADENS MARCON; MARGOT
HOLOCENO DO SUL DO BRASIL EM AMBIENTES
5SSS101 GUERRA SOMMER; JOÃO GRACIANO
INFLUENCIADOS POR DIFERENTES REGIMES
MENDONÇA-FILHO
HIDROLÓGICOS

POTENCIAL DE ECONOMIA DE ÁGUA E ENERGIA


5SSS102 LUCAS NIEHUNS ANTUNES; ENEDIR GHISI
EM EDIFICAÇÕES ESCOLARES

VIABILIDADE DA IMPLEMENTAÇÃO DE UM
SISTEMA AUTOMATIZADO DE
5SSS104 MARCELO DALMÉDICO IORIS; ENEDIR GHISI
REDIRECIONAMENTO DE ÁGUA FRIA QUE SERIA
DESPERDIÇADA NO BANHO

GEORREFERENCIAMENTO E ANÁLISE LUIZ PAULO PRONER; LUCAS QUIOCCA


5SSS106 MICROBIOLÓGICA DOS POÇOS SEMI-ARTESIANOS ZAMPIERI; FABIANO ALEXANDRE NIENOV;
DO MUNICÍPIO DE LACERDÓPOLIS – SC GISLAINE LUVIZÃO

ESTUDO PARA UTILIZAÇÃO DE RESÍDUO GERADO GUILHERME RAUSCHKOLB; FABIANO


5SSS108 PELA FABRICAÇÃO DE CELULOSE E PAPEL NO ALEXANDRE NIENOV; LUCAS QUIOCCA
MELHORAMENTO DE SOLO ZAMPIERI; GISLAINE LUVIZÃO

UTILIZAÇÃO DE CARVÃO ATIVADO GRANULAR


LETÍCIA REGGIANE DE CARVALHO COSTA; LUANA
5SSS111 COMO SÓLIDO SORVENTE NO TRATAMENTO DE
DE MORAES RIBEIRO; LILIANA AMARAL FÉRIS
ÁGUAS CONTAMINADAS COM TETRACICLINA

FABIO JUNIOR ZUANAZZI; ALINE SCHUCK RECH;


JULIO CESAR RECH; JAKCEMARA CAPRARIO;
ANÁLISE DO POTENCIAL DE APROVEITAMENTO DE
5SSS113 FABIANE ANDRESSA TASCA; NIVEA MORENA
ÁGUA PLUVIAL PARA UM CENTRO UNIVERSITÁRIO
GONÇALVES MIRANDA; ALEXANDRA RODRIGUES
FINOTTI

O PAPEL DOS INSTRUMENTOS URBANÍSTICOS NA


CRISTINA MARIA CORREIA DE MELLO; MARIA DO
5SSS114 PROMOÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DA
CARMO DE LIMA BEZERRA
HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO BRASIL

11
DANIEL OLIVEIRA DE AZEVEDO SAMPAIO; JORGE
UMA VISÃO GERAL SOBRE A AVALIAÇÃO DO CICLO LUIS AKASAKI; CAMILA CASSOLA ASSUNÇÃO;
5SSS115
DE VIDA NO CONTEXTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL THÁSSIA DIAS ZANARDO RUFATO; MAURO
MITSUUCHI TASHIMA

EDUCAÇAO AMBIENTAL NO ENSINO FORMAL NILVA LÚCIA RECH STÉDILE; ANA MARIA PAIM
5SSS116
PARA O CORRETO MANEJO DE RESÍDUOS CAMARDELO; FERNANDA MEIRE CIOATO

PROPOSIÇÃO DE DIRETRIZES PARA ESTUDOS LEONARDO MONJARDIM AMARANTE; LUCIANA


AMBIENTAIS CONSIDERANDO A HARUE YAMANE; RENATO RIBEIRO SIMAN;
5SSS117
VULNERABILIDADE AMBIENTAL PARA EXTRAÇÃO GILSON SILVA FILHO; FERNANDA APARECIDA
DE ROCHAS ORNAMENTAIS VERONEZ

DISTRIBUIÇÃO VERTICAL E VARIAÇÃO


NICTEMERAL DE ALGUMAS VARIÁVEIS FÍSICAS E MARCO VINICIUS MARTINS; SIMONE CATERINA
5SSS119
QUÍMICAS DA ÁGUA NO DELTA DO JACUÍ, LAGO KAPUSTA; CRISTIANO POLETO
GUAÍBA, RS

INTERAÇÃO ENTRE CONDICIONANTES DA


5SSS120 MORFOLOGIA URBANA PARA O SUSIÊ GHESLA; IZABELE COLUSSO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

ANÁLISE ECONÔMICA E DE SATISFAÇÃO DOS


USUÁRIOS DE UM SISTEMA DE APROVEITAMENTO
5SSS122 JÉSSICA KUNTZ MAYKOT; ENEDIR GHISI
DE ÁGUA PLUVIAL EM UMA EDIFICAÇÃO
MULTIFAMILIAR EM FLORIANÓPOLIS

ANÁLISE DA PERDA DE RENDIMENTO DE TATIANE BARBOSA BRETAS; JULIANNO PIZZANO


5SSS123 MÓDULOS SOLARES FOTOVOLTAICOS AYOUB; ALESSANDRA ZARPELLON TEIXEIRA;
RESULTANTE DO AQUECIMENTO MARCIO MENDES CASARO

GERAÇÃO DE MATERIAL COM CARACTERÍSTICAS


STEPHANIE ABISAG SÁEZ MEYER PIAZZA;
5SSS124 DE CONCRETO UTILIZANDO RESÍDUOS DA
URIVALD PAWLOWSKY; VSÉVOLOD MYMRINE
PRODUÇÃO DE PAINÉIS DE MDF, CELULOSE E CAL

CONSIDERAÇÕES ACERCA DO IMPACTO HUMANO


GABRIELLI TERESA GADENS MARCON;
COMO UM FATOR IMPORTANTE NA
5SSS126 VERIDIANA RIBEIRO; MARGOT GUERRA-
DECOMPOSIÇÃO DAS CAMADAS SUPERFICIAIS DE
SOMMER
TURFEIRAS HOLOCÊNICAS

A PROTEÇÃO À CORROSÃO DO AÇO CARBONO GUILHERME KUSLER POSSANI; EDUARDO LUIS


5SSS128
NUMA PERSPECTIVA SUSTENTÁVEL SCHNEIDER; LISETE CRISTINE SCIENZA

ESTUDO EXPERIMENTAL DA VIABILIDADE DE


LARISSA VIDIGAL GUIDINI; MARCELO MARQUES;
5SSS129 UTILIZAÇÃO DE UM SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO
FERNANDO OLIVEIRA DE ANDRADE
DE PEIXES DO TIPO RANHURA VERTICAL

5SSS130 REMOÇÃO DO CORANTE ÁCIDO AZUL GABRIELI COELHO DE SOUZA HEIMOSKI


COLORNYLON A-R COM ADSORVENTES OBTIDOS RIBEIRO;THIAGO ALVES BARBOSA; CATIA

12
DE CASCA DE BANANA PRATA ROSANA LANGE DE AGUIAR

GABRIELLE CRISTINE KRATZ; TAYNARA THAÍS


AGREGANDO VALOR A RESÍDUOS TÊXTEIS
FLOHR; BRENDA TERESA PORTO DE MATOS;
5SSS131 ATRAVÉS DE MÃO DE OBRA QUALIFICADA E
GRAZYELLA CRISTINA OLIVEIRA DE AGUIAR;
OCIOSA
CATIA ROSANA LANGE DE AGUIAR

JEAN CARLOS FANTONI; ANIKA EGELKAMP;


IMPRESSÃO BOTÂNICA DE SUBSTRATOS TÊXTEIS GRAZYELLA CRISTINA OLIVEIRA DE AGUIAR;
5SSS132
DE ALGODÃO, POLIAMIDA E SEDA FERNANDA STEFFENS; CATIA ROSANA LANGE DE
AGUIAR

ESTUDO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁGUA DE


LAVAGEM DE FILTROS DE AREIA EM UMA JÉSSICA BALBINOT ZORTÉA; LISETE CRISTINE
5SSS135
ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA COM SCIENZA; VINÍCIUS MARTINS
OBJETIVO DE REÚSO

CRESCIMENTO DE ÁRVORES EM UMA FLORESTA


5SSS136 SOB SISTEMA DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL NO HENRIQUE JOSÉ BORGES DE ARAUJO
ACRE

DIMENSIONAMENTO DE SISTEMA DE DETENÇÃO


5SSS137 NATÁLIA MAZIERO RAISER; AUGUSTO ROMANINI
HÍDRICA UTILIZANDO GALÕES PLÁSTICOS

GERAÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DE RESÍDUOS DO MAURÍCIO CABRAL PENTEADO; GABRIEL MENON


5SSS138 PROCESSAMENTO INDUSTRIAL DE ERVA-MATE DE LIMA; FELIPE RAFAEL ZARPELLON; WALDIR
COMO FONTE ALTERNATIVA DE COMBUSTÍVEL NAGEL SCHIRMER

MATHEUS VITOR DINIZ GUERI; SAMUEL NELSON


ESTABILIDADE DE UM PROTÓTIPO DE
MELEGARI DE SOUZA; GABRIEL MENON DE
5SSS139 BIODIGESTOR ANAERÓBIO DIGERINDO RESÍDUO
LIMA; WALDIR NAGEL SCHIRMER; OSVALDO
ALIMENTAR
KUCZMAN

LORENA MIZUE KIHARA; THIAGO VINICIUS


PROCESSO DE BAIXO CUSTO PARA IDENTIFICAR E
5SSS140 LOURO; HELIANA BARBOSA FONTENELE; CARLOS
CARACTERIZAR ROTAS PARA CICLISTAS
ALBERTO PRADO DA SILVA JUNIOR

DIMENSIONAMENTO DE MICROSSISTEMA DE
EVELLYNN SATO SIRQUEIRA; AUGUSTO
5SSS141 RETENÇÃO HÍDRICA UTILIZANDO MATERIAIS DE
ROMANINI
FÁCIL ACESSO – CAIXAS PLÁSTICAS DE HORTIFRÚTI

ANÁLISE DA PEGADA DE CARBONO DE UMA


ANA CAROLINA GODOY ALBINO; DANIEL
5SSS142 FAZENDA SITUADA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO
SILVEIRA PINTO NASSIF
ALTO PARANAPANEMA

AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE NA
ADELI BEATRIZ BRAUN; ADAN WILLIAM DA SILVA
5SSS143 REMEDIAÇÃO DE ÁREAS CONTAMINADAS:
TRENTIN; CAROLINE VISENTIN; ANTÔNIO THOMÉ
INDICADORES, FERRAMENTAS E MÉTODOS

13
ANÁLISE DE SUJIDADES EM MÓDULOS ANDRÉ HERNANDES SCHNORR; BRUNA STEIL
5SSS144 FOTOVOLTAICOS USANDO DETECÇÃO POR BONEBERG; JOÃO BATISTA DIAS; FERNANDA
TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA HAEBERLE

ESTUDO COMPARATIVO DE AMOSTRAGEM


TUANE ALVES DA SILVA KEMPFER; AMANDA
DISCRETA E AMOSTRAGEM POR MULTI
5SSS146 GONÇALVES KIELING; MARCELO OLIVEIRA
INCREMENTO EM ÁREA CONTAMINADA POR
CAETANO; RENATA ESTER DOS SANTOS ZAPATA
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

TRATAMENTO NANOCERÂMICO COMERCIAL ECO- CARINA CARRARO; GABRIEL ADRIANE GARCIA;


5SSS147 AMIGÁVEL NA PROTEÇÃO À CORROSÃO DA LIGA GIOVANA SANTOS BARBOSA; LISETE CRISTINE
AA2024 SCIENZA

USO DE BIOFILTROS PARA REMOÇÃO DE 17β- GRAZIELA TAÍS SCHMITT; AMANDA GONÇALVES
5SSS148
ESTRADIOL KIELING; MARCELO OLIVEIRA CAETANO

COMPOSTAGEM DE LODOS GERADOS EM NADINE VERGARA SCHORR; LÉA BEATRIZ DAI-


5SSS150 ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO PRÁ; PAMELA LISIE GHESLA; VINÍCIUS MARTINS
EMPREGANDO AERAÇÃO FORÇADA POSITIVA MARQUES; LUCIANA PAULO GOMES

METODOLOGIAS PARA MONITORAMENTO DOS


CECILIA BALSAMO ETCHELAR; RODRIGO DA
5SSS151 PROCESSOS EROSIVOS NO BANHADO GRANDE -
SILVA FERRAZ; LAURINDO ANTONIO GUASSELLI
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GRAVATAÍ

PANORAMA DA BACIA DO RIO DOCE QUANTO À


FABIANO HENRIQUE DA SILVA ALVES; GABRIELA
5SSS152 COBERTURA POR PLANOS MUNICIPAIS DE
SOARES PEREIRA; ANDERSON DE ASSIS MORAIS
SANEAMENTO BÁSICO (PMSB)

MICRORGANISMOS NA VALORIZAÇÃO DE
ANDRÉIA MONIQUE LERMEN; PAULA BETINA
5SSS155 RESÍDUOS AGROINDUSTRIAIS PARA OBTENÇÃO DE
HARTMANN; ANA PAULA DOS SANTOS FARIAS
BIOPODUTOS: UMA BREVE REVISÃO

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM INDÚSTRIAS DO


MUNICÍPIO DE SÃO LEOPOLDO POR MEIO DE HENRIQUE LISBÔA DA CRUZ; FERNANDO
5SSS156
FERRAMENTA ADAPTADA: Uma metodologia de SERENOTTI; CARLOS ALBERTO MENDES MORAES
auxílio à gestão ambiental municipal

ESTUDO DA APLICAÇÃO DO PROGRAMA DE


HENRIQUE LISBÔA DA CRUZ; ISMAEL NORBERTO
5SSS157 PRODUÇÃO MAIS LIMPA EM UMA INDÚSTRIA DE
STRIEDER; CARLOS ALBERTO MENDES MORAES
INJEÇÃO DE POLÍMEROS

EMISSÕES GASOSAS A PARTIR DE MOTOR NÃO-


DOUGLAS LUIZ MAZUR; GABRIEL MENON DE
RODOVIÁRIO DE PEQUENO PORTE OPERANDO
5SSS159 LIMA; JULIANNO PIZZANO AYOUB; WALDIR
COM MISTURAS DE GASOLINA E ÁLCOOIS ANIDRO
NAGEL SCHIRMER
DE DIFERENTES MATÉRIAS-PRIMAS

REMOÇÃO DOS POLUENTES EMERGENTES


LAURA DA SILVA DEMBOGURSKI; MORGANA
5SSS160 PARACETAMOL E DICLOFENACO SÓDICO POR
ROSSET; LILIANA AMARAL FÉRIS
ADSORÇÃO EM CARVÃO ATIVADO EM PÓ

14
O USO DO GEOPROCESSAMENTO PARA ANÁLISE E
DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS SOCIAIS
MÁRCIA GOUVEIA DE OLIVEIRA; MARGARETE
5SSS161 OCASIONADOS PELA TOPOGRAFIA DA VILA
APARECIDA PEREIRA
BURACO DA CORUJA DO MUNICÍPIO DE
CONTAGEM - MG

ESTUDO DE CASO LEED NC PLATINUM DA


5SSS162 EDIFICAÇÃO “VA CASA NA PRAIA”: ATRIBUTOS ROBERTO KLINTWORT; TAMILY ROEDEL
QUALITATIVOS E QUANTITATIVOS

SISTEMA DE BIORRETENÇÃO PARA CONTROLE PAULO ROBERTO FRANZ; FABIANA CAMPOS


5SSS163 QUALITATIVO DO ESCOAMENTO PLUVIAL PIMENTEL; RUTINEIA TASSI; GABRIELA GAZZOLA;
ORIUNDO DE UMA VIA DE TRÁFEGO PAULA FENSTERSEIFER; CAROLINE DBOER DIAS

ANÁLISE DA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS MARIA ISABEL FERREIRA DOS SANTOS; RAFAEL
5SSS164 URBANOS (RSU) NO MUNICÍPIO DE SANTA ROBERTO DA SILVA; CÍCERO JOELSON VIEIRA
CRUZ/PB SILVA

PLANO DE GESTÃO DA ÁGUA PARA O NOVO CRISLAINE FLORZINO FLOR; JORGE MANUEL
5SSS166 AEROPORTO INTERNACIONAL DE RODRIGUES TAVARES; RODRIGO DE ALMEIDA
FLORIANÓPOLIS/SC MOHEDANO

LUIZ CLÁUDIO BITTENCOURT; LUDMILLA


GESTÃO DE RUÍNAS URBANAS NO AMBIÊNTE DA
5SSS168 SANDIM TIDEI DE LIMA PAULETO; MICHELLE
CIDADE CONTEMPORÂNEA
FERNANDA TASCA

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL SOB O OLHAR DE SUAS THIAGO DUTRA; TATIANA SOUZA DE CAMARGO;
5SSS169
MÚLTIPLAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DIOGO ONOFRE G DE SOUZA

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA E THIAGO DUTRA; DIOGO ONOFRE SOUZA; KAREN


5SSS170
SIGNIFICATIVA PARA UM MUNDO COMPLEXO TAUCEDA

TÉCNICAS SUSTENTÁVEIS PARA MANEJO DAS


BIANCA VARGAS ACUNHA; GRAZIELA ROSSATTO
5SSS171 ÁGUAS PLUVIAIS: APLICAÇÃO NA
RUBIN; ANDRÉ LUIZ LOPES DA SILVEIRA
INFRAESTRUTURA VERDE

DIMENSIONAMENTO DE UM PAVIMENTO RÍGIDO


EDUARDA BIFFI; DIANA BAVARESCO PUTON;
5SSS172 COM INCORPORAÇÃO DE RESÍDUO PARA PARADA
ALICIA BALEN; PAULO CÉSAR PINTO
DE ÔNIBUS

ANA RUTE PEREIRA ALEXANDRE; CÍCERO


UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE CERÂMICA JOELSON VIEIRA SILVA; HÉLYDA RUAMA LOPES
5SSS173 VERMELHA ADICIONADO AO CONCRETO PARA RAMOS; MARIA ISABEL FERREIRA DOS SANTOS;
MELHORIA DAS SUAS PROPRIEDADES NAYANNE MARIA GONÇALVES LEITE; VALDECIR
TEOFILO MORENO

ESTRATÉGIAS PARA MITIGAÇÃO DE ÁREAS RENATA ESTEVAM; RENATO MEIRA DE SOUSA


5SSS174 DEGRADAS PELA DISPOSIÇÃO INADEQUADA DE DUTRA; LUCIANA HARUE YAMANE; RENATO
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E REJEITOS RIBEIRO SIMAN

15
GRAZIELA TAÍS SCHMITT; EMANUELE CAROLINE
USO DE BIOMASSAS PARA TRATAMENTO DE ARAUJO DOS SANTOS; REGINA CÉLIA ESPINOSA
5SSS175
EFLUENTES POR ADSORÇÃO: UMA REVISÃO MODOLO; CARLOS ALBERTO MENDES DE
MORAES; MARCELO OLIVEIRA CAETANO

INDICADORES E CORRELAÇÕES DOS ASPECTOS E LETÍCIA GABRIELA SCHAEFER; ALINE BARUFFI;


5SSS176 IMPACTOS AMBIENTAIS DOS CANTEIROS DE ROBERTO DOS SANTOS RITTER; DOUGLAS LUÍS
OBRAS CARISSIMO ROBALDO

PAULA FENSTERSEIFER; CAROLINE DE BOER


POTENCIAL DE REDUÇÃO DE TEMPERATURA NA DIAS; ELAISE GABRIEL; RUTINEIA TASSI;
5SSS179 SUPERFÍCIE EXTERNA DE MORADIAS UTILIZANDO JOAQUIM CESAR PIZZUTTI; ROGÉRIO CATTELAN
FACHADAS VERDES ANTOCHEVES DE LIMA; DANIEL GUSTAVO
ALLASIA PICCILLI

ELABORAÇÃO DE MODELO CONCEITUAL PARA ALCIONE APARECIDA DE ALMEIDA ALVES;


UMA ÁREA DE DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ANDREI CORTES CARDOSO; ANDRÉIA MONIQUE
5SSS181
URBANOS EM UM MUNICÍPIO DA REGIÃO DAS LERMEN; LAÍS ANDRESSA FINKLER; NAIARA
MISSÕES/RS JACINTA CLERICI; RAÍSSA ENGROFF GUIMARÃES

PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS E INDICADORES


PRISCILLA VITÓRIA NUNES FERREIRA; MARIA DA
5SSS182 BIOLÓGICOS NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA
GRAÇA VASCONCELOS
ÁGUA DO CÓRREGO SUCURI, UBERLÂNDIA - MG

AVALIAÇÃO EM SISTEMA DE TRATAMENTO DE GUILHERME RUFATTO SCHMIDT; LUCIANO


5SSS183
GASES DE CALDEIRA PESKE CERON; YASMINI CHAVES DE MELLO

YASMINI CHAVES DE MELLO; LUCIANO PESKE


AVALIAÇÃO DE SISTEMA DE FILTRAÇÃO EM
5SSS184 CERON; GERTI WEBER BRUN; GUILHERME
SIDERURGIA
RUFATTO SCHMIDT

CRISTIANO COSTA DE SOUZA; ALAN VINICIUS


USO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS NA PREDIÇÃO
5SSS185 HEHN; ATILIO EFRAIN BICA GRONDONA; LUIS
DA GERAÇÃO DE RSU – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
ALCIDES SCHIAVO MIRANDA

A SUSTENTABILIDADE ORIENTADA AO DESIGN EM


IAGO MACHADO CORREA SANTIAGO; ALFREDO
5SSS186 INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ENSINO SUPERIOR NO
JEFFERSON DE OLIVEIRA
BRASIL

ARTHUR DA FONTOURA TSCHIEDEL; LUCAS


A BARRAGEM ROMPEU, E AGORA? IMPACTOS
CAMARGO DA SILVA TASSINARI; JÉSSICA RIBEIRO
IMEDIATOS E DE CURTO PRAZO A JUSANTE E A
5SSS187 FONTOURA; LUCIANA DA SILVA MIERES; LUIZ
MONTANTE DE UMA BARRAGEM DE
HENRIQUE GASTON ZAGO; FERNANDO
ABASTECIMENTO URBANO DE ÁGUA
MAINARDI FAN

PÂMELA VEZZOSI DE BARROS; JÚLIA CABRAL


CÁPSULAS DE CAFÉ: UMA ALTERNATIVA DE
5SSS188 MENDONÇA; GABRIEL MARINHO DOS SANTOS
REAPROVEITAMENTO
BARBOSA; JULIANA YOUNG

16
JULIANA SILVA ROCHA; ROSÂNGELA MARIA
EMPODERAMENTO DE MULHERES CAMPONESAS PINTO MOREIRA; ELIANE TOMIASI PAULINO;
A PARTIR DA ESTRUTURAÇÃO ECONÔMICA, LETÍCIA MEDEIROS GIMENEZ; NATÁLIA DOS
5SSS189 PRODUTIVA E SOCIAL, COM FOCO NA PRODUÇÃO SANTOS SALES; ANA LUISA FARIA CAETANO DE
AGROECOLÓGICA E DIVERSIFICADA DE PAULA; MARIANA CAMPIDELLI FERREIRA;
ALIMENTOS REBECA SANTOS VIEIRA; ISABEL TEJADA
VERGARA

SEPARAÇÃO DO FIO METÁLICO DO


LUCIANA KAERCHER; CARLOS ALBERTO MENDES
5SSS190 RECOBRIMENTO DE PLÁSTICO EM FIOS ELÉTRICOS
MORAES
E DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS

ESTUDO PRELIMINAR DE ESTABILIDADE DE LUIS FERNANDO MURILLO BERMÚDEZ; LAURA


BARRAGENS: SIMULAÇÃO TEÓRICA DA ALTURA MARIA CANO FERRREIRA FAIS; JOSÉ GILBERTO
5SSS191
DOS SEDIMENTOS DEPOSITADOS A MONTANTE DE DALFRÉ FILHO; ANDRÉ LUÍS SOTERO
UMA PEQUENA BARRAGEM HIPOTÉTICA SALUSTIANO MARTIM

FATORES REALACIONADOS A ALAGAMENTOS NA


5SSS192 BACIA HIDROGRÁFICA URBANA DO RIO BIANCA DUARTE; BARBARA FRANZ
ALCÂNTARA EM SÃO GONLALO/RJ

ANÁLISE DOS ALAGAMENTOS DO BAIRRO ICARAÍ MATHEUS BARBOSA CYPRIANO; BARBARA


5SSS193
NO MUNICÍPIO DE NITERÓI/RJ FRANZ

VANIA ELISABETE SCHNEIDER; JULIANO


RESPONSABILIDADE SOCIAL UNIVERSITÁRIA:
RODRIGUES GIMENEZ; BIANCA BREDA;
5SSS195 ESTUDO DE CASO DA UNIVERSIDADE DE CAXIAS
MORGANA VIGOLO; SOFIA HELENA ZANELLA
DO SUL, RS
CARRA

APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE DISPERSÃO E


EMPACOTAMENTO DE PARTÍCULAS PARA
PRODUÇÃO DE CONCRETO DE ALTO
5SSS196 DANIELA LADINO CHAVES; JORGE LUÍS AKASAKI
DESEMPENHO COM SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DO
AGREGADO MIÚDO POR CINZA DA MADEIRA DE
EUCALIPTO (CME)

BRUMADINHO: ANÁLISE RISCOS DIMITRI TALLEMBERG SOARES; CLAUDIA


5SSS197 SOCIOAMBIENTAIS SEGUNDO A NOÇÃO DE TALLEMBERG; RUI SERGIO SARAIVA DUARTE
RACISMO AMBIENTAL JUNIOR

UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM EDUCAÇÃO


AMBIENTAL PARA A RECUPERAÇÃO DE MATA
5SSS198 RAFAEL PEREIRA MACHADO
CILIAR: O EXEMPLO DO CÓRREGO DA TOCA,
TERESÓPOLIS, RJ

UTILIZAÇÃO DE PÓ DE VIDRO RECICLADO EM


TAINÁ REJANE PETTER; TATIANE ISABEL
5SSS199 SUBSTITUIÇÃO E ADIÇÃO DO CIMENTO PORTLAND
HENTGES; EDUARDO ROBERTO BATISTON
NA PRODUÇÃO DE CONCRETO

17
IAGO DOS SANTOS SOARES; CLEILSON DO
ELETROCOAGULAÇÃO: CLARIFICAÇÃO DA ÁGUA
5SSS200 NASCIMENTO SOUZA; LIBERTALAMAR BILHALVA
RESIDUAL DOS LABORATÓRIOS DE QUÍMICA
SARAIVA; ANA MENA BARRETO BASTOS

REMOÇÃO DE TURBIDEZ NA CAPTAÇÃO DE ÁGUAS


ELÍS GOMES DE SOUZA; RAMON LUCAS
5SSS203 SUPERFICIAIS PARA ABASTECIMENTO: UMA
DALSASSO
REVISÃO SOBRE AS TECNOLOGIAS UTILIZADAS

UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL


RODRIGO BARCELOS PINTO; FELIPE ARIEL
5SSS204 NA PRODUÇÃO DE ARTEFATOS CONSTRUTIVOS E
KÖHLER
APLICAÇÃO EM H.I.S.

OTIMIZAÇÃO DE METODOLOGIA POR SPE/GCMS


FLÁVIA DOS SANTOS FERREIRA; PEDRO JOSÉ
5SSS205 PARA DETERMINAÇÕES DE HORMÔNIOS SEXUAIS
SANCHES FILHO
EM MATRIZES AQUOSAS

CÁPSULAS DE CAFÉ: UMA ALTERNATIVA DE


5SSS206 REAPROVEITAMENTO COM ARTESANATO NO THAYANNE BARBOSA TEIXEIRA; JULIANA YOUNG
MUNICÍPIO DE CAÇAPAVA DO SUL, RS

FERNANDA DAGOSTIN SZYMANSKI; MASATO


KOBIYAMA; ARIELI LAURINDO BELLETINI; SOFIA
VELOCIDADE MÉDIA DOS RIOS MONTANHOSOS
5SSS207 MELO VASCONCELLOS; FELIPE MACIEL PAULO
DA REGIÃO SUL DE SANTA CATARINA, BRASIL
MAMÉDIO; MAURÍCIO ANDRADES PAIXÃO;
CLÁUDIA WEBER CORSEUIL

RECUPERAÇÃO DE COAGULANTE DE LODO LEONEL NADAL DE OLIVEIRA; RICARDO NADAL


INDUSTRIAL POR VIA ÁCIDA ALTERNATIVA E DE OLIVEIRA; DJALMO DUTRA DOS SANTOS
5SSS208
DESTINAÇÃO PARA O MATERIAL NÃO NETO; ROGÉRIO FERREIRA JÚNIOR; RICHARD
SOLUBILIZADO THOMAS LERMEN; RODRIGO DE ALMEIDA SILVA

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE PRODUÇÃO DE LARISSA FERNANDA FINAZZI DA COSTA;


5SSS209 PECTINASE A PARTIR DO RESÍDUO DA CASCA DA DOUGLAS SOLIGO FRACASSO; DAIANA
MAÇÃ POR FERMENTAÇÃO DE ESTADO SÓLIDO MAFFESSONI; MARLENE GUEVARA DOS SANTOS

ANA LUIZA BERTANI DALL’AGNOL; LOUISE HOSS;


GUILHERME PEREIRA SCHOELER; CAROLINA
O SANEAMENTO BÁSICO NOS COREDES SUL E FACCIO DEMARCO; THAYS FRANÇA AFONSO;
5SSS210 CAMPANHA: UMA COMPARAÇÃO ENTRE OS CASSIA BROCCA CABALLERO; ANITA RIBAS
CENSOS 2000 E 2010 AVANCINI; MARCELA DA SILVA AFONSO;
DIULIANA LEANDRO; MAURIZIO SILVEIRA
QUADRO

CAROLINA FACCIO DEMARCO; THAYS FRANÇA


AFONSO; ANITA RIBAS AVANCINI; ANA LUIZA
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS: USO DE BERTANI DALL'AGNOL; CASSIA BROCCA
5SSS211
MACRÓFITAS NA FITORREMEDIAÇÃO CABALLERO; GUILHERME PEREIRA SCHOELER;
LUISE HOSS; MAURIZIO SILVEIRA QUADRO;
ROBSON ANDREAZZA

18
THAYS FRANÇA AFONSO; CAROLINA FACCIO
DEMARCO; GUILHERME PEREIRA SCHOELER;
RECUPERAÇÃO DE ÁREA DE MINERAÇÃO ANA LUIZA BERTANI DALL’AGNOL; LOISE HOSS;
5SSS212
DEGRADADA: USO DE FITORREMEDIAÇÃO? CÁSSIA BROCCA CABALLEIRO; ANITA RIBAS
AVANCINI; ROBSON ANDREAZZA; ADELELIR JOSÉ
STRIEDER

GUILHERME PEREIRA SCHOELER; ANA LUIZA


BERTANI DALL’AGNOL; MÉLORY MARIA
FERNANDES DE ARAÚJO; LOUISE HOSS;
PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO:
5SSS213 CAROLINA FACCIO DEMARCO; THAYS FRANÇA
DIAGNÓSTICO DE ARROIO DO PADRE/RS
AFONSO; CASSIA BROCCA CABALLERO; DIULIANA
LEANDRO; MAURIZIO SILVEIRA QUADRO;
ROBSON ANDREAZZA

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DOS COMPOSTOS ANITA RIBAS AVANCINI; ESTER SCHIAVON


5SSS214 LÍQUIDOS ORIUNDOS DA COMPOSTAGEM DE MATOSO; VANESSA SACRAMENTO CERQUEIRA;
RESÍDUOS AGROENERGÉTICOS SÉRGIO DELMAR DOS ANJOS E SILVA

LOUISE HOSS; LARISSA LOEBENS; VITÓRIA


EFEITOS DO PROCESSO DE OZONIZAÇÃO NO SOUSA; ANA LUIZA BERTANI DALL’AGNOL;
TRATAMENTO DE LIXIVIADO DE ATERRO GUILHERME SCHOELER; CAROLINA FACCIO
5SSS215
SANITÁRIO ATRAVÉS DE ANÁLISE DE COR, PH E DEMARCO; THAYS FRANÇA AFONSO; CASSIA
FITOTOXICIDADE BROCCA CABALLERO; NATALI RODRIGUES DOS
SANTOS; MAURIZIO SILVEIRA QUADRO

IMPACTOS DOS PROCESSOS DANRLEI DE MENEZES; MASATO KOBIYAMA;


5SSS219 HIDROSSEDIMENTOLÓGICOS NA BACIA FRANCIELE MARIA VANELLI; LUANA LAVAGNOLI
HIDROGRÁFICA DO RIO MAQUINÉ/RS MOREIRA

MURILO DE SOUZA FERREIRA; JULIO CESAR DE


SOUZA INÁCIO GONÇALVES; THIAGO VINICIUS
EFEITO DE SURFACTANTE ANIÔNICO SOBRE O
5SSS220 RIBEIRO SOEIRA; DEUSMAQUE CARNEIRO
COEFICIENTE DE REAERAÇÃO SUPERFICIAL
FERREIRA; MÁRIO SERGIO DA LUZ; CRISTIANO
POLETO

INDICADORES DE PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO DÉBORA CAMARGO STRADA; HERNANE TEIXEIRA


5SSS221 SOBRE O ESGOTO APLICADOS À GESTÃO DA DA SILVA; HALLISON DANIEL DO CARMO
OCIOSIDADE DE REDES MARQUES; MARCUS POLETTE

ANÁLISE DA VAZÃO MÁXIMA NA SIMULAÇÃO DAS TARCISIO BARCELLOS BELLINASO; VANIA


5SSS222
CARACTERÍSTICAS FÍSICAS EM UMA BACIA ELISABETE SCHNEIDER

PROCEDIMENTOS REFERENTES AO PLANO DE


PREVENÇÃO E PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO EM MATEUS PINTO DA SILVA; FELIPE MACIEL PAULO
5SSS224
EDIFICAÇÃO COMERCIAL DE MÉDIO PORTE NO RIO MAMÉDIO; GABRIELE LOHMANN
GRANDE DO SUL

5SSS225 ALTA EFICIÊNCIA NA FILTRAÇÃO TANGENCIAL DE LUCIANO PESKE CERON; GUILHERME RUFATTO

19
PARTICULADOS DE DETERGENTE EM PÓ SCHMIDT; YASMINI CHAVES DE MELLO

RESISTÊNCIA MECÂNICA E FLEXÃO DE TECIDOS DE


LUCIANO PESKE CERON; GUILHERME RUFATTO
5SSS226 FIBRA DE VIDRO APLICADOS NA FILTRAÇÃO DE
SCHMIDT; YASMINI CHAVES DE MELLO
PARTICULADOS

ESTER SCHIAVON MATOSO; ANITA RIBAS


CARACTERÍSTICAS BIOMÉTRICAS E ÍNDICE DE
AVANCINI; NATHAEL LAUFER; VERONICA
5SSS227 CLOROFILA DE PLANTAS DE CANA-DE-AÇÚCAR EM
MASSENA REIS; SÉRGIO DELMAR DOS ANJOS E
FUNÇÃO DO USO DE BACTÉRIAS DIAZOTRÓFICAS
SILVA

RELAÇÃO ENTRE SÓLIDOS VOLÁTEIS E ATIVIDADE


ELAINE CRISTINA LATOCHESKI; MARIA CRISTINA
5SSS228 METANOGÊNICA ESPECÍFICA DE LODOS
BORBA BRAGA
ANAERÓBIOS

CARACTERIZAÇÃO DE SUCATAS DE
COMPUTADORES PORTÁTEIS E APLICAÇÃO DE
EDUARDA TOBOLSKI; MILENA MÜLLER LOTTICI;
5SSS230 PROCESSAMENTO FÍSICO E QUÍMICO NA
CARLOS ALBERTO MENDES MORAES
RECUPERAÇÃO DE METAIS ORIUNDOS DE PLACAS
DE CIRCUITO IMPRESSO

AMANDA VECILA CHEFFER DE ARAUJO; HARIEL


BIOPOLIETILENO: EFEITO DA RECICLAGEM MARÇAL KOPS HUBERT; LUIZ HENRIQUE ALVES
5SSS232
PRIMÁRIA NAS PROPRIEADES MECÂNICAS CÂNDIDO; VINÍCIUS MARTINS; ADEMIR JOSÉ
ZATTERA; LISETE CRISTINE SCIENZA

METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO E RITA DOS SANTOS SOUSA; JUNIOR JOEL DEWES;
5SSS233 CLASSIFICAÇÃO DE ÁREAS COM PROCESSOS CHARLES RODRIGO BELMONTE MAFFRA;
EROSIVOS EM MARGENS DE RESERVATÓRIOS FABRÍCIO JAQUES SUTILI

VIABILIDADE ECONÔMICA DE UMA OBRA PARA


RITA DOS SANTOS SOUSA; JUNIOR JOEL DEWES;
5SSS234 CONTROLE DE PROCESSOS EROSIVOS COM
FABRÍCIO JAQUES SUTILI
TÉCNICAS DE ENGENHARIA NATURAL

HORTA ESCOLAR: UMA ALTERNATIVA


DANIEL DAS CHAGAS DE AZEVEDO RIBEIRO;
INTERDISCIPLINAR PARA A EDUCAÇÃO
5SSS235 CAMILA GREFF PASSOS; TANIA DENISE MISKINIS
AMBIENTAL E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS SEM
SALGADO
AGROTÓXICOS

COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE O MODELO ISLSCP II


UNH/GRDC COMPOSITE MONTHLY RUNOFF E A MARIANA TOSI CORRÊA; ALFONSO RISSO;
5SSS236 BASE HYDROBASINS PARA ESTIMATIVA DE VAZÕES ALEXANDRE BELUCO; RITA DE CÁSSIA MARQUES
DE LONGO PERÍODO EM BACIAS HIDROGRÁFICAS ALVES; LAURINDO GUASSELLI
DO RIO GRANDE DO SUL

MAPEAMENTO DA FRAGILIDADE AMBIENTAL NA ARYCÉLIA DA SILVA VIEIRA; JOSEMAR MOREIRA


5SSS237 BACIA HIDROGRÁFICA TRANSFRONTEIRIÇA RIO DA SILVA; STÉLIO SOARES TAVARES JÚNIOR;
TACUTU: SEDE DO MUNICÍPIO DO BONFIM/RR VLADIMIR DE SOUZA

20
MARCOS ALBERTON DACOREGIO; DAYANE
GONZAGA DOMINGOS; BEATRIZ LIMA SANTOS
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS EM KLIENCHEN DALARI; ANA SILVIA DE LIMA
5SSS239
UMA COOPERATIVA DE ENERGIA ELÉTRICA VIELMO; JULIANA BARDEN SCHALLEMBERGER;
CRISTIANE LISBOA GIROLETTI; RAFAEL
FEYJAPPUR

HENRIQUE SBECKER LEITE PRIMEIRO; BEATRIZ


LIMA SANTOS KLIENCHEN DALARI; CRISTIANE
USO DE DREGS E GRITS NA HIGIENIZAÇÃO DE LISBOA GIROLETTI; DAYANE GONZAGA
5SSS240
LODOS DE ESGOTO SANITÁRIO DOMINGOS; ANA SILVIA DE LIMA VIELMO;
JULIANA BARDEN SCHALLEMBERGER; MARIA
ELIZA NAGEL HASSEMER

VITOR RAMOS FREDENHAGEM VICTORIA;


BEATRIZ LIMA SANTOS KLIENCHEN DALARI;
PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO
DAYANE GONZAGA DOMINGOS; CRISTIANE
5SSS241 AMBIENTAL PARA UMA EMPRESA DE PRODUTOS
LISBOA GIROLETTI; JULIANA BARDEN
SANEANTES NA CIDADE DE SÃO JOSÉ
SCHALLEMBERGER; ANA SILVIA DE LIMA
VIELMO; MARIA ELIZA NAGEL HASSEMER

USO DE SENSORIAMENTO REMOTO PARA ANÁLISE CASSIA BROCCA CABALLERO; CAROLINA FACCIO
DA RELAÇÃO ENTRE VARIAÇÕES NO DEMARCO; PIERRE LUZ DE SOUZA; THAYS
5SSS242 ARMAZENAMENTO DE ÁGUA TERRESTRE E FRANÇA AFONSO; ANA LUIZA BERTANI
PRECIPITAÇÃO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO DALL’AGNOL; GUILHERME PEREIRA SCHOELER;
SUL LOUISE HOSS

FRANCIELE SALING VIEIRA; SUYANNE ANGIE


UMA EXPERIÊNCIA DE COMPOSTAGEM
5SSS243 LUNELLI BACHMANN; MATHEUS FELIPE
ACELERADA NO IFRS – CAMPUS FELIZ
PEDROTTI; CRISTIANE INÊS MUSA

CRESCIMENTO DE MUDAS ORGÂNICAS DE MARINA COSTA ALVES; ESTER SCHIAVON


5SSS244 MORANGUEIRO COM O USO DE SUBSTRATOS MATOSO; ANITA RIBAS AVANCINI; ROBERTA
ALTERNATIVOS MARINS NOGUEIRA PEIL

MARINA COSTA ALVES; ESTER SCHIAVON


PRODUÇÃO DE PROPÁGULOS DE MORANGUEIRO
5SSS245 MATOSO; ANITA RIBAS AVANCINI; ROBERTA
COM O USO DE BIOFERTILIZANTES
MARINS NOGUEIRA PEIL

HORMÔNIOS E SUA PRESENÇA NO AMBIENTE MARIANA GOMES OLIVEIRA; RENATA BULLING


5SSS246
AQUÁTICO MAGRO; EMILI SCHUTZ

RENATA BULLING MAGRO; MARIANA GOMES


DIAGNÓSTICO FÍSICO CONSERVACIONISTA-DFC DA
5SSS247 OLIVEIRA; ALVARO JOÃO ZONTA NETO; EMILI L.
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MAROMBAS (SC)
D. SCHUTZ

CAPTAÇÃO DA ÁGUA DE CHUVA PARA FINS BENEDITO FRANCIANO FERREIRA RODRIGUES;


5SSS248 POTÁVEIS NA REGIÃO AMAZÔNICA, APÓS O MILTON ANTÔNIO DA SILVA MATTA; RENATA DA
EMPREGO DE FILTROS DE SEIXO, AREIA E CARVÃO COSTA E SILVA CRESPIM; FABÍOLA DE ALMEIDA

21
DARONCH; JOSÉ FERNANDO PINA ASSIS

PROTAGONISTAS AMBIENTAIS,
CISNARA PIRES AMARAL; BIBIANA DA CRUZ
5SSS249 SUSTENTABILIDADE E CRITICIDADE NA ESCOLA DE
SANTOS; EDUARDA SARTURI DOS SANTOS
EDUCAÇÃO BÁSICA – Relato de Experiência

CARACTERIZAÇÃO DE DISPONIBILIDADE HÍDRICA E


SABRINA BAESSO CADORIN; ÁLVARO JOSÉ BACK;
5SSS251 CRITÉRIOS DE OUTORGA FRENTE AO CULTIVO DE
GUSTAVO JOSÉ DEIBLER ZAMBRANO
ARROZ IRRIGADO

CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E AMBIENTAL ÁLVARO JOSÉ BACK; LUCAS KISTER AMARAL;


5SSS252 DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DA LAJE, SABRINA BAESSO CADORIN; CLÁUDIA WEBER
EXTREMO SUL DE SANTA CATARINA CORSEUIL

CAPTAÇÃO E USO DE ÁGUAS PLUVIAIS: UM IGOR MORO LIMA; LUANE PEREIRA


ESTUDO DE VIABILIDADE PARA UM CAMPUS STRADIOTTO; VINICIUS MARTINS REX; GABRIELA
5SSS253
UNIVERSITÁRIO EM SÃO CAETANO DO SUL, SÁ LEITÃO DE MELLO; ANDRÉ LUIZ DE LIMA
ESTADO DE SÃO PAULO REDA

O DESAFIO DA GESTÃO INTEGRADA DOS


5SSS256 RECURSOS HÍDRICOS PARA GARANTIR A EFICÁCIA RITA DE CASSIA ALMEIDA DA COSTA
DOS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA

NOÇÃO COMPLEXA DE SAÚDE COMO CAMINHO


5SSS257 AO ENSINO DE SISTEMAS SUSTENTÁVEIS: UMA FRANCISCO MILANEZ; VERA M. T. TRINDADE
NOVA ÓTICA

ANA PAULA JAMBERS SCANDELAI; RENAN


TRATAMENTO INTENSIFICADO DE LIXIVIADO DE
SOUZA DE SYLLOS; JAQUELINE PIRÃO ZOTESSO;
5SSS258 ATERRO SANITÁRIO POR OZONIZAÇÃO, OXIDAÇÃO
LÚCIO CARDOZO FILHO; CÉLIA REGINA GRANHEN
EM ÁGUA SUPERCRÍTICA E TROCA IÔNICA
TAVARES

JAQUELINE PIRÃO ZOTESSO; DANIELLY CRUZ


TRATAMENTO DE EFLUENTE DE LAVANDERIA
5SSS259 CAMPOS MARTINS; ENEIDA SALA COSSICH;
HOSPITALAR POR FOTOCATÁLISE HETEROGÊNEA
CÉLIA REGINA GRANHEN TAVARES

TRATAMENTO DE EFLUENTE DE LAVANDERIA


HOSPITALAR POR MEIO DO PROCESSO UV/H2O2 JAQUELINE PIRÃO ZOTESSO; ENEIDA SALA
5SSS260
EM DIFERENTES CONFIGURAÇÕES DE REATORES COSSICH; CÉLIA REGINA GRANHEN TAVARES
VISANDO AO SEU REUSO

A INTERSEÇÃO ENTRE ÁREAS NA CONSERVAÇÃO E


ANDRESSA OLIVEIRA DOS SANTOS; RITA DE
5SSS261 NA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS: UMA
CASSIA ALMEIDA DA COSTA
PERCEPÇÃO EXTERNA NECESSÁRIA

UTILIZAÇÃO DE CONSTITUINTES METÁLICOS NA MARIA DA GRAÇA VASCONCELOS; HUGO GOMES


5SSS262 AVALIAÇÃO AMBIENTAL DA REPRESA AMADOR AMARAL; ARTHUR DIAS FREITAS; ANGÉLICA
AGUIAR ll - MG PEREIRA DA CUNHA

22
EVANISA FÁTIMA REGINATO QUEVEDO MELO;
ANA PAULA SCHUSTER; GUILHERME AMARANTE
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A IMPORTÂNCIA DOS ZANOTTO; ISABELA RODIGHERO; MARCIA
5SSS263
MONUMENTOS ARQUITETÔNICOS CRISTINA HUTHER; THAIS MARIA ROSSETTO;
JHULIA ARENT KUHN; RICARDO HENRYQUE
REGINATO QUEVEDO MELO

GUILHERME JORDÃO CARDOSO; FRANCO TURCO


ESTUDO DE MODELAGEM PARA BUFFON; JOÃO PEDRO ENDRES; LUCAS
5SSS264 MONITORAMENTO HIDRLÓGICO NA BACIA DO RIO CARVALHO VIER; FÁBIO AUGUSTO HENKES
MADEIRA HUPPES; RICARDO HENRYQUE REGINATO
QUEVEDO MELO

FÁBIO AUGUSTO HENKES HUPPES; LUCAS


CARVALHO VIER; MÁRCIO TOCHETTO; CLEOMAR
COMO AS LEGISLAÇÕES AMBIENTAIS REGINATTO; JOÃO PEDRO ENDRES; RODRIGO
5SSS265
ENVOLVENDO O AR EVOLUÍRAM? HENRYQUE REGINATO QUEVEDO MELO;
GUILHERME JORDÃO CARDOSO; RICARDO
HENRYQUE REGINATO QUEVEDO MELO

JOÃO PEDRO ENDRES; RODRIGO HENRYQUE


REGINATO QUEVEDO MELO; LUANA CAROLINE
GIRARDI BASSO; GUILHERME JORDÃO CARDOSO;
5SSS266 SOLO: UMA REVISÃO DE LEGISLAÇÃO
CLEOMAR REGINATTO; LUCAS CARVALHO VIER;
FÁBIO AUGUSTO HENKES HUPPES; RICARDO
HENRYQUE REGINATO QUEVEDO MELO

RICARDO HENRYQUE REGINATO QUEVEDO


MELO; EVANISA FATIMA REGINATO QUEVEDO
IMPACTOS DA CICLOVIA NA SUSTENTABILIDADE MELO; RODRIGO HENRYQUE REGINATO
5SSS267
DE UMA CIDADE DE MÉDIO PORTE COM GIS QUEVEDO MELO; JOÃO PEDRO ENDRES; LUCAS
CARVALHO VIER; FÁBIO AUGUSTO HENKES
HUPPES; GUILHERME JORDÃO CARDOSO

UMA NOVA GERAÇÃO DE RESERVATÓRIOS DE


DETENÇÃO E RETENÇÃO ATRAVÉS DA JULIANA CAROLINE DE ALENCAR DA SILVA;
5SSS268
INFRAESTRUTURA VERDE E AZUL. NOVAS PAULO RENATO MESQUITA PELLEGRINO
POSSIBILIDADES DE RESERVAÇÃO

ANA PAULA JAMBERS SCANDELAI; GIOVANNA


EFEITO DA TOXICIDADE AGUDA DO HERBICIDA
AYANE IRIGUCHI; FRANCIELE FRANÇA DE
5SSS269 COMERCIAL À BASE DE GLIFOSATO A TRÊS NÍVEIS
FIGUEIREDO; THABATA KAROLINY FORMICOLI DE
TRÓFICOS
SOUZA FREITAS

AVALIAÇÃO DA GERAÇÃO, COLETA E DESTINAÇÃO SANDILEIA RECALCATTI; GISLAINE LUVIZÃO;


5SSS270 FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES NO SCHEILA LOCKSTEIN; FABIANO ALEXANDRE
MUNICÍPIO DE JOAÇABA – SC NIENOV; LUCAS QUIOCCA ZAMPIERI

5SSS271 MAPEAMENTO DA SUSCETIBILIDADE À GABRIELA GUTTERRES BERWANGER; ANGÉLICA

23
INUNDAÇÃO EM PORTO ALEGRE-RS DE PAOLI SCHMIDT; JOÃO PAULO DELAPASSE
SIMIONI

DANIELLY CRUZ CAMPOS MARTINS; TAINÁ


TIEMY HIROTA CÂMARA; THAÍS MAYUMI
TRATAMENTO DE EFLUENTE DE SALÃO DE BELEZA
5SSS272 TANAKA; CLÁUDIA TELLES BENATTI; MARIA
PARA O FIM DE REUSO
ANGÉLICA SIMÕES DORNELLAS DE BARROS;
CÉLIA REGINA GRANHEN TAVARES

DANIELLY CRUZ CAMPOS MARTINS; ANA PAULA


POTENCIAL DE REUSO DE ÁGUAS CINZAS: UM JAMBERS SCANDELAI; LUIZ ROBERTO TABONI
5SSS273
ESTUDO DE REVISÃO JUNIOR; MARIA ANGÉLICA SIMÕES DORNELLAS
DE BARROS; CÉLIA REGINA GRANHEN TAVARES

A TUTELA AMBIENTAL E A PROMOÇÃO DOS


MARIA CELESTE CABERLON MAGGIONI; ISRAEL
5SSS274 VALORES DA SUSTENTABILIDADE POR MEIO DA
CABERLON MAGGIONI
APLICAÇÃO DOS DEVERES CONSTITUCIONAIS

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA: UMA


MARIA CELESTE CABERLON MAGGIONI; ISRAEL
5SSS275 ALTERNATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO
CABERLON MAGGIONI
SUSTENTÁVEL

THAÍS STRIEDER MACHADO; FLÁVIA MELARA;


JONATAN RAFAEL DE MELLO; HANSEL BIONDO
DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO DA SILVA; PEDRO PAULETTE TRANCOSO DE
5SSS276 ADSORVENTE A BASE DE QUITOSANA E SÍLICA BRITTO; LARISSA CRESTANI; INGRIDY
PARA REMOÇÃO DE CORANTE TÊXTIL ALESSANDRETTI; GABRIEL DAMINI; LUCAS
KAYSER DA SILVA; GIOVANA MARCHEZI;
JEFERSON STEFFANELLO PICCIN

A VARIABILIDADE NA QUANTIFICAÇÃO DE
ARTHUR DA FONTOURA TSCHIEDEL; LUCIANA DA
5SSS277 CARBONO FLORESTAL EM INVENTÁRIOS DE
SILVA MIERES; DENISE WOLF
EMISSÃO

AVALIAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO


DIEGO FERRAZ GONÇALVES; FELIPE MACIEL
5SSS278 SISTEMA TRISTEZA, NA CIDADE DE PORTO
PAULO MAMÉDIO; GABRIELE LOHMANN
ALEGRE-RS

EVALUCIÓN DE LA ADICIÓN DE GLICERINA EN LA


MARÍA ISABEL GARCÍA RODRIGUEZ; ANDREIA
5SSS279 PRODUCCIÓN DE BIOGÁS A PARTIR DE RESIDUOS
CRISTINA FURTADO
ORGÁNICOS

RAFAEL CALORE NARDINI; EDUARDO NARDINI


DIAGNÓSTICO DO CONFLITO DE USO DO SOLO EM
GOMES; RIGOBERTO PRIETO LÁZARO CAINZOS;
5SSS280 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DA
ROSANA KOSTECKI DE LIMA; LUCIANO NARDINI
MICROBACIA ÁGUA SÃO MATEUS, FIGUEIRA – PR
GOMES

EDUARDO NARDINI GOMES; ANTONIO GABRIEL


5SSS281 ANÁLISE TEMPORAL DA FREQUÊNCIA DE
PONTES DOS REIS; JULIANA DOMINGUES LIMA;
COBERTURA DE CÉU EM REGISTRO/SP/BRASIL NO
AUGUSTO YOSHIKAZU AKAMINE; SILVIA HELENA

24
PERÍODO DE 2013 A 2018 MODENESE GORLA DA SILVA; AUGUSTO
TAVARES ANHESCHIVICH

OLIVEIRA, ISIS HELENA SOARES DE; GUARINO,


AVALIAÇÃO DE RENDIMENTO E TERMOGRAFIA DO ERNESTINO DE SOUZA GOMES; MIURA,
5SSS282
CARVÃO VEGETAL DE BAMBUSA TULDOIDES ADALBERTO KOITI; BIERHALS, DAIANA FONSECA;
CUNHA, HENRIQUE N. DA; CRUZ, NIDRIA DIAS

JULIANA DOMINGUES LIMA; NATÁLIA DE SOUZA


BRAVO; DANILO EDUARDO ROZANE; EDSON
WASTE MANAGEMENT TO INCREASE GROWTH OF
5SSS284 SHIGUEAKI NOMURA; SILVIA HELENA
BANANA SEEDLINGS IN THE FIELD
MODENESE GORLA DA SILVA; EDUARDO
NARDINI GOMES

A CIÊNCIA EM AÇÃO: CIDADANIA ECOLÓGICA E JULIANA SILVA FRANÇA; FERNANDA


5SSS286
SUSTENTABILIDADE MONTEBRUNE; MARCOS CALLISTO

ALESSANDRA JAINE MORAES DE OLIVEIRA;


METODOLOGIA DE REVISÃO ENERGÉTICA
SAMARA CORREA MENDES; LUCAS KISTER
5SSS287 BASEADA NA NBR ISO 50001 APLICADA EM UM
AMARAL; BARBARA JANAINA MORAES DE
EMPREENDIMENTO FRIGORÍFICO
OLIVEIRA; NILZO IVO LADWIG

DRENAGEM URBANA CONVENCIONAL VERSUS ROBERTO TAKESHI NAKAHASHI; MURILO


5SSS288 DRENAGEM URBANA SUSTENTÁVEL: BREVE CAMILLO; MARIANA BORGES ALBUQUERQUE;
REVISÃO DE CONCEITOS CRISTHIANE MICHIKO PASSOS OKAWA

COMPARAÇÃO ENTRE OS MODELOS DE ELEVAÇÃO


SRTM E TOPODATA NA DELIMITAÇÃO DA REDE LAÍS MOREIRA MIGUEL; MORGANA VAZ DA
5SSS290
DRENAGEM E LIMITE DE BACIA HIDROGRÁFICA DO SILVA
RIO JUCU-ES

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA REGIÃO NOROESTE JEFERSON ROSA SOARES; RENAN DE ALMEIDA


5SSS291 DO RIO GRANDE DO SUL: PERCEPÇÃO DOS BARBOSA; SANDRA MARA MEZALIRA; JOSÉ
GESTORES PÚBLICOS VICENTE LIMA ROBAINA

BRUNA GEIZA SANTOS CARNEIRO; GERSON


IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES QUE INFLUENCIAM
5SSS294 BRENO FERNANDES MAURICIO; KEROLIN
A QUALIDADE DO AR DE BELO HORIZONTE
FERREIRA XAVIER; MARIANE COSTA FERREIRA

ESTUDO DE IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS DE FERNANDO NOVAES CORNACHIONI DELCI;


5SSS295
DRENAGEM SUSTENTÁVEL EM SANTA MARIA - DF MARIA ELISA LEITE COSTA; SÉRGIO KOIDE

THOMAS GABRIEL BINDER; GUILHERME


VARIAÇÃO DA EROSIVIDADE DA CHUVA NA BACIA
5SSS296 MOREIRA; DENISE BERWANGER; ANDERSON
DO RIO SANTA MARIA (RS)
AUGUSTO VOLPATO SCCOTI; CARINA PETSCH

ANÁLISE DE PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS NA MATHEUS SANTIAGO VIEIRA; ELTON SOUZA


5SSS297
LAGOA FEIA, EM FORMOSA, GOIÁS OLIVEIRA

5SSS298 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO EM ÁREAS DE LAGOS JOSEMAR MOREIRA DA SILVA; ARYCÉLIA DA

25
E LAGOAS NO PERÍMETRO URBANO DO SILVA VIEIRA; VLADIMIR DE SOUZA
MUNICÍPIO DO BONFIM-RR

JULIANA BARDEN SCHALLEMBERGER; CAROLINE


EMILIANO; MALVA ANDREA MANCUSO; BEATRIZ
5SSS300 ANÁLISE HISTÓRICA DE VAZÕES DO RIO TURVO/RS LIMA SANTOS KLIENCHEN DALARI; DAYANE
GONZAGA DOMINGOS; ANA SILVIA DE LIMA
VIELMO

MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS: ESTUDO DA REDE


DE DRENAGEM E DE SOLUÇÕES DE BAIXO GABRIELA SEKEFF MARQUES; MARIA ELISA LEITE
5SSS302
IMPACTO NA REGIÃO ADMISTRATIVA COSTA; SERGIO KOIDE
CANDANGOLÂNDIA

QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS E ÉLVIO CAETANO; ROMEU E SILVA NETO; VICENTE
SUBTERRÂNEAS PARA DESSEDENTAÇÃO DE DE PAULO SANTOS DE OLIVEIRA; CAIO
5SSS303
PRODUÇÃO ANIMAL: UMA REVISÃO HENRIQUE RIBEIRO CAETANO; ANGÉLICA DE
BIBLIOGRÁFICA SOUZA FERREIRA GOMES

AVALIAÇÃO DA CINÉTICA DE CRESCIMENTO DE


THAIS MAGALHÃES POSSA; ADRIANA
CIANOBACTÉRIA EM DIFERENTES CONDIÇÕES
5SSS304 GONÇALVES DA SILVA MANETTI; MARIA ISABEL
EXPERIMENTAIS UTILIZANDO EFLUENTE DE
QUEIROZ
LATICÍNIOS

O GEOPROCESSAMENTO APLICADO AO
GUILHERME MOREIRA DA SILVA; DENISE
MAPEAMENTO TEMÁTICO: O CASO DA BACIA
5SSS305 BERWANGER; THOMAS GABRIEL BINDER;
HIDROGRÁFICA SANGA DO CHORÃO,
ROMÁRIO TRENTIN; CARINA PETSCH
TUPANCIRETÃ/RS

THAÍS STRIEDER MACHADO; FLÁVIA MELARA;


JONATAN RAFAEL DE MELLO; LARISSA CRESTANI;
AVALIAÇÃO DE PROCESSO ALCALINO PARA
5SSS308 INGRIDY ALESSANDRETTI; GABRIEL DAMINI;
OBTENÇÃO DE QUITOSANA FÚNGICA
LUCAS KAYSER DA SILVA; JEFERSON
STEFFANELLO PICCIN

ANÁLISE MULTICRITÉRIO E MULTIOBJETIVO DE


PRIORIZAÇÃO DE PROJETOS EM ESTAÇÕES DE FELIPE DO NASCIMENTO MARTINS; DANIELA
5SSS309
TRATAMENTO DE EFLUENTES NA BACIA NOGUEIRA SOARES
HIDROGRÁFICA DO RIO PARACATU (MG)

RELATÓRIO TÉCNICO: ESTUDO DE CASO SOBRE


ENCHENTES E INUNDAÇÕES NA BARRAGEM ANNA CAROLINA FERNANDES OLIVEIRA; ÉRICA
5SSS310
SANTA LÚCIA E APLICAÇÃO DE SISTEMA DE DE SOUSA PINTO
DRENAGEM

DESEMPENHO TÉCNICO DE BLOCOS


ELIZABETE YUKIKO NAKANISHI; GABRIELA DO
5SSS311 INTERTRAVADOS COM INCORPORAÇÃO DE
PRADO SÁ BRITO
RESÍDUO DE PNEUS

26
JACQUELINE DE ALMEIDA BARBOSA FRANCO;
DESENVOLVIMENTO DO TRIPÉ DA
ARY FRANCO JUNIOR; FERNANDA CAMILA
5SSS312 SUSTENTABILIDADE ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO
MARTINEZ DELGADO; SIMONE ANDRÉA
AMBIENTAL
FUREGATTI; ROSANE BATTISTELLE

CARACTERIZAÇÃO PRELIMINAR DA COMPOSIÇÃO


ELISSANDRO VOIGT BEIER; MARIA EUGÊNIA
5SSS313 FITOGEOGRÁFICA DO MORRO TRÊS IRMÃOS,
MOREIRA COSTA FERREIRA; FELIPPE FERNANDES
TERRA RICA-PR

LEVANTAMENTO DE TÉCNICAS DE CONTROLE DE


BÁRBARA DORICO ROSSITTO; SIMONE ANDREA
5SSS314 EROSÃO LAMINAR, POSSÍVEIS DE SE APLICAR EM
FUREGATTI
TALUDES DE JUSANTE DE BARRAGENS DE TERRA

TEORIA DOS REFÚGIOS FLORESTAIS APLICADA AO ELISSANDRO VOIGT BEIER; MARIA EUGÊNIA
5SSS315
MORRO TRÊS IRMÃO, TERRA RICA-PR MOREIRA COSTA FERREIRA; CRISTIANO POLETO

CORRELAÇÕES ENTRE CARACTERIZAÇÃO


FELIPPE FERNANDES; ELISSANDRO VOIGT BEIER;
5SSS316 GRANULOMÉTRICA E CONCENTRAÇÃO DE METAIS
CRISTIANO POLETO
EM SEDIMENTOS DE FUNDO

27
Artigos publicados como
RESUMOS
nos ANAIS do
5º Simpósio sobre Sistemas Sustentáveis

Volume 01

Porto Alegre/RS, 2019

28
5SSS103
URBANIZATION OF THE GLOBAL SOUTH: BRAZILIAN URBAN
HISTORY

Mayara Bormann Azzulin1, Valdir Fernandes2


1Universidade Tecnológica Federal do Paraná e-mail: azzulin@alunos.utfpr.edu.br; 2Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, e-mail:vfernandes@utfpr.edu.br

Keywords: Urbanization; Industrialization; Brazil.

Abstract
In the field of urban studies, theories regarding industrialization originated in the work of Lefebvre are common,
specifically based in his work "The Urban Revolution". It relates the beginning of this process to the expansion of
the capital, which is particular to the phenomenon of industrial development in the global north. But in Brazil, the
development is somewhat different, and this perspective is essential to understand the urban phenomenon.
Although industries had a major role in the growth of cities, the societal aspect and the strategic expansion during
the militaristic rule had a defining role in this process. As a comparative measure, this study will attempt to analyse
a few exemples with different industrialization development. A concise analysis on the history of the emergence of
some brazilian’s cities will be made, comparing it to the model of industrialization suggested by Lefebvre. Finally,
it is concluded that despite the fact that a large part of the studies relating industrialization to urbanization, in the
brazilian case, the state and religion had major influence in forming and the consolidation of large urban settings

Seção: Plano diretores e gerenciamento do espaço urbano

Acknowledgements

This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) -
Finance Code 001.

29
5SSS105
DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS SUSTENTÁVEIS APLICADOS
A ALUNOS DE GRADUAÇÃO DO CURSO DE EGENHARIA CIVIL
NA UNOESC EM JOAÇABA - SC
Lucas Quiocca Zampieri1
1Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-mail: lucas.zampieri@unoesc.edu.br;

Palavras-chave: Ensino superior; projetos sustentáveis; conscientização.

Resumo
O ensino superior no Brasil vem buscando o seu aprimoramento e inovações com técnicas que possam proporcionar uma
melhor experiência e engajamento dos acadêmicos nas atividades propostas pelos professores. A ideia de metodologias
que façam os alunos trabalharem com pensamentos críticos visa proporcionar uma vivência prática e disruptiva dos
métodos tradicionais de ensino. Durante os semestres letivos de 2018/1, 2018/2 e 2019/1, o professor M.e Eng. Civil
Lucas Quiocca Zampieri, propôs aos alunos da 7ª fase de Engenharia Civil da Universidade do Oeste de Santa Catarina,
campus de Joaçaba, o desenvolvimento de um pensamento ambientalmente sustentável, onde, os acadêmicos, divididos
em grupos, teriam que desenvolver uma prática sustentável concebida desde o projeto até a execução. O tema central,
sustentabilidade, foi escolhido por possibilitar a aplicação em praticamente todos os nossos atos, podendo ser uma coisa
simples, que faça a diferença apenas para uma pequena comunidade, ou grandes gestos, que mudem a vida de muita
gente. Segundo a revista Em discussão! (2012) do Senado Federal, o termo “desenvolvimento sustentável” foi utilizado
pela primeira vez em 1987, por Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega e que atuou como presidente
de uma comissão da Organização das Nações Unidas. Ela publicou um livro (Our Common Future) onde escreveu em
partes: "Desenvolvimento sustentável significa suprir as necessidades do presente sem afetar a habilidade das gerações
futuras de suprirem as próprias necessidades". A metodologia de ensino aqui apresentada foi organizada pelo professor
no primeiro encontro do componente curricular, quando, foi proposta a divisão da turma em vários grupos. Cada grupo
nesse primeiro dia deveria delimitar todo o seu plano de atividades, objetivos, cronograma e metodologia de
desenvolvimento. Todos os projetos foram desenvolvidos em um período de cerca de três meses, durante o período
extraclasse, sempre com o acompanhamento das atividades pelo professor. No total durante os três semestres letivos
foram alcançados noventa e sete alunos devidamente matriculados. Com o acontecimento desse projeto os alunos
tiveram a oportunidade de presenciar e desenvolver um pensamento ambientalmente sustentável, organizar o seu tempo
(cronograma) para o desenvolvimento das atividades, uma visão empreendedora em um novo mercado e quem sabe até
desenvolver um novo produto para comercializar. Ao final de todos os semestres os grupos apresentaram seus trabalhos
escrevendo um artigo científico e de forma oral com apresentação de seminário. Dentre os trabalhos desenvolvidos se
podem citar alguns como: Fabricação de estufa sustentável a partir de garrafa pet; Implantação de Cisterna em
residências unifamiliares; Reaproveitamento de serragem em blocos de concreto leve; Compostagem doméstica;
Reutilização de pneus para confecção de mesas e bancos; Utilização da folha e pseudocaule da bananeira na fabricação
de painéis recicláveis para uso na construção civil; Fabricação de telhas sustentáveis feitas a partir de garrafa Pet; Fossa
Séptica sustentável com pneus reutilizados; Projeto sustentável de horta em caixa de isopor com irrigação por
capilaridade do solo; Projeto "Puff Ecológico a Partir de Garrafas Pets – Uma Experiência Sociambiental Inovadora";
Casa de Cachorro de caixas de leite; Desenvolvimento de um Aplicativo de Localização de Postos de Coleta de
Resíduos. Sempre que possível os produtos desenvolvidos foram entregues a comunidade para utilização da população
em geral, para creches ou entidades sem fins lucrativos. Ao final, os acadêmicos apresentaram o seguinte comentário
“Baseado no trabalho desenvolvido, é perceptível a necessidade de se destinar corretamente os resíduos gerados pela
sociedade buscando a sustentabilidade.”. Desta forma, foi criada a atividade visando desenvolver no acadêmico a visão
prática empreendedora (criação de um novo produto) e ambientalmente sustentável.

Agradecimentos
O Autor gostaria de agradecer a todos os acadêmicos que foram envolvidos nos projetos durante o componente curricular de
Saneamento Básico II da Unoesc, campus de Joaçaba, nos semestres letivos de 2018/1, 2018/2 e 2019/1 pelo apoio recebido.

30
5SSS107
ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE MISTURAS DE SOLO-
CIMENTO PLÁSTICO UTILIZANDO SOLO ARGILOSO PARA USO
EM FUNDAÇÕES DE OBRAS DE PEQUENAS CARGAS EM
EDIFICAÇÕES RURAIS
Jéssica Leticia Savaris1, Fabiano Alexandre Nienov2, Lucas Quiocca Zampieri3, Gislaine Luvizão4
1Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-mail: jeeh_savaris@hotmail.com; 2Universidade do Oeste de Santa
Catarina, e-mail: fabiano.nienov@unoesc.edu.br; 3Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-mail:
lucas.zampieri@unoesc.edu.br; 4Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-mail:
gislaine.luvizao@unoesc.edu.br;

Palavras-chave: Solo-cimento; Solo Residual; Areia artificial.

Resumo
O conceito de desenvolvimento sustentável ganhou destaque em todas as atividades produtivas. A busca por novos
produtos e processos que aliem economia aos interesses ambientais é uma realidade em qualquer profissão. O solo-
cimento é um material que pode ser caracterizado como sustentável devido ao volume incalculável de solo disponível e
por substituir materiais que demandam técnicas produtivas mais elaboradas e, por consequência, mais poluidoras. Solo-
cimento é o produto endurecido resultante da mistura íntima de solo, cimento e água, em proporções estabelecidas por
meio de dosagem racional, executada de acordo com as normas aplicáveis ao solo em estudo. Quando seguidas as
especificações, o resultado é um produto resistente e durável, efeitos das reações de hidratação do cimento. As misturas
ideais de solo, cimento Portland e água, nas devidas proporções, conferem ao material determinadas características de
desempenho semelhantes aos materiais utilizados tradicionalmente em algumas vertentes da Engenharia Civil, como é o
caso de fundações. Para se chegar em uma dosagem correta devem-se estudar as variáveis que resultam em propriedades
específicas para cada caso, tais como quantidade de cimento, quantidade de água e, principalmente, o tipo de solo
disponível no local de aplicação. No presente estudo foi avaliado o comportamento de misturas de solo-cimento plástico
(SCP), para utilização em elementos de fundações onde não há necessidade em absorver grandes cargas. O solo utilizado
foi classificado como silte argiloso (classificação segundo a HRB como sendo um A7-5) de formação residual, e
substituição parcial desse solo por areia industrial proveniente da britagem de rocha basáltica. Foram realizados ensaios
de granulometria - por peneiramento e sedimentação, limites de consistência – especificamente limites de liquidez e
plasticidade, e também densidade real dos grãos. Para os limites de consistência foram obtidos os seguintes valores:
Limite de Liquidez de 63% e Limite de Plasticidade de 48%. O peso específico real dos grãos em 2,87 g/cm³. Definiu-se
quatro traços com diferentes porcentagens de solo e areia industrial, sendo A - Areia industrial e S - Solo, (A40/S60;
A50/S50; A60/S40; A70/S30). As proporções de adição de cimento do tipo CPV foram de 8%, 10% e 12%. A
quantidade de água adicionada na mistura foi o suficiente para torná-la fluída (estado de argamassa). A variação do teor
de umidade variou entre 34 a 45%. Quanto maior a proporção de solo na mistura maior foi a quantidade de água para
tornar a mistura fluída. Para a moldagem dos corpos de prova com a mistura de solo-cimento plástico optou-se em
utilizar moldes de 5 x 10 cm (diâmetro x altura). Após o período inicial de 36 horas de cura, ocorreu a desforma dos
corpos de prova. Os corpos de prova desformados foram devidamente identificados e armazenados dentro de sacos
plásticos individuais e fechados. Esse procedimento tem como objetivo evitar a perda de água durante o processo de cura
ao longo do tempo. Foi avaliada a influência das variações por meio da moldagem de 4 corpos de prova por traço,
submetidos ao ensaio de resistência a compressão simples (RCS) em 7, 14 e 28 dias. Obteve-se resultados que
comprovaram a melhoria na estabilidade com a adição de cimento. O traço que apresentou maior valor de resistência a
compressão simples foi o traço A70/S30 com 12% de adição de cimento, que atingiu aos 28 dias de cura valor de RCS
de 3,35 MPa. Mistura contendo menor concentração de cimento e areia industrial como é o caso da mistura A40/S60
com 8% de adição de cimento obteve valor na RCS de 1,0 MPa. Há potencial para a utilização da mistura estudadas em
fundações submetidas a pequenas cargas como por exemplo casas e em edificações rurais (galpões) mediante estudos
mais elaborados para a determinação de uma dosagem mais eficiente, visando estabilização aliados a custos reduzidos.

31
5SSS109
EMERGY ANALYSIS AND CIRCULAR ECONOMY: AN EPS OPEN-
LOOP RECYCLING SYSTEM CASE STUDY
Thales Eduardo Tavares Dantas1, Henrique Rogério Antunes de Souza Junior2, Sebastião Roberto Soares3
1Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: thalestavaresd@gmail.com; 2Universidade Federal de Santa
Catarina; Universidade Estadual de Santa Catarina, e-mail: henique.junior@posgad.ufsc.br 3Universidade
Federal de Santa Catarina, e-mail: sr.soares@ufsc.br

Key-words: Circular Economy, Emergy Analysis, EPS.

Abstract

We live in society based on “extract, produce dispose” mentality, which is commonly referred to as Linear Economy, and can
be linked to a different global environmental problems. Circular economy (CE) is a novel concept that opposes that mentality.
It describes a regenerative system in which, resource input and waste, emission, and energy leakage are minimized by slowing,
closing, and narrowing material and energy loops. Reuse, repairing, reconditioning, remanufacturing and recycling are ranked
between the most important activities used by supply chains in alignment with the principles of CE. Although research about
CE presents a large array of general frameworks and literature review, few studies focus on how to measure the “circularity” of
products, services, or whole supply chains effectively. Scientific literature classified few methodologies as well-equipped to
evaluate the benefits and trade-offs of circular production systems. Among the commonly cited methodologies there is Emergy
Analysis (EMA). EMA is an environmental accounting methodology based on systems theory and thermodynamics. It
encompasses the evaluation of all energy from natural environment embodied in the development of processes and services.
Emergy, also referred to as embodied energy, can be defined as total amount of available energy previously used, directly or
indirectly, to make a service or product. Emergy synthesis is an important tool for measuring CE-related systems, since its
holistic accounting method of a whole supply chain can assign environmental impacts more fairly, which in turn can
discourage inefficient and unnecessary resource depletion. This paper applies that methodology to access the environmental
burdens and potential benefits of an EPS open-loop recycling system. The product system here analyzed is part of business of
an enterprise in southern Brazil. The company gathers EPS waste from various locations and different first use functions to
recycle it into skirting boards. The system is well-aligned with CE, since it reduces the extraction of virgin raw materials for
EPS production (mainly petroleum), optimizes the use of the EPS, and lowers the rate of material to be disposed. However,
this system is highly dependent on logistics due to the large distances the EPS must be transferred until it gets to the enterprise.
This paper analyzed the possible trade-off between the environmental gains of recycling and the impact caused by the logistic
network of the system. Two scenarios were created, in order to better analyze the environmental impacts of the EPS open-loop
recycling system. Scenario 1 describes business as usual, e.g. the production of skirting boards based on recycled EPS,
counting with all the upstream phases of the system, such as sorting, pelletizing, degasification, among others. Scenario 2
describes the production of the same skirting board using virgin EPS. Emergy tables show that scenario 1, even though it has a
big logistic network, is still less impacting (lower total emergy) as scenario 2. That results shows that the scenario 2 applies
higher pressure on the environment through the extraction and use of recourses. Emergy indicator were also calculated.
Environmental Yield Ratio and Environmental Loading Ratio translate the benefits of scenario 1 over scenario 2 when it
comes to its environmental performance and load. A third indicator, Emergy Sustainability Index, show that the system
analyzed is not environmentally sustainable in the long run, since it is highly dependent on non-renewable resources. This
paper highlights the importance of that last result, since that, through the eyes of CE, the recycled EPS skirting board product
system is highly beneficial for society. However, EMA shows that downsides of the circular product system. This paper raises
the importance of the CE related discussion. It elects EMA as a suitable methodology to evaluate the benefits and trade-offs of
CE. Shows the environmental impacts of a recycled EPS product system, and lastly, raises the discussions on what is held as
less impactful to the eyes of CE and EMA.

Acknowledgments

The authors would like to thank Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) and the
Universidade Federal de Santa Catarina for the support.

32
5SSS110
DETERMINANT FACTORS FOR SUSTAINABLE MOBILITY HABITS
OF URBAN COMMUTERS
Roni Matheus Severis1, Thales Eduardo Tavares Dantas2, Luiz Gustavo Savi3, Sebastião Roberto Soares 4
1
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)/Grupo de Pesquisa em Avaliação do Ciclo de Vida (CICLOG),
e-mail: eng.severis@hotmail.com; 2UFSC/CICLOG, e-mail: thalestavaresd@gmail.com; 3UFSC/CICLOG, e-mail:
gustavosavi94@gmail.com; 4UFSC/CICLOG, e-mail: sr.soares@ufsc.br

Keywords: Urban mobility; Sustainability; LCA.

Abstract
Transportation is a hotspot activity accounting for a massive amount of greenhouse gas emissions worldwide.
Nonetheless, there is still an intense and rising demand for urban commuting, especially in developing countries
like Brazil. The solution to these issues is consistently associated with sustainable lifestyles, and three determinant
factors are enablers of sustainability in mobility habits: attitudes, facilitators, and infrastructure. The aim of this
study was twofold: to explore the main determining factors for the adoption of mobility habits by commuters, and
to analyze the potential environmental impacts of these different alternatives of urban mobility. First, the key
factors for the adoption of transport habits in an urban environment were identified from a literature review. Next,
scenarios with transport habits practiced by a generic user were created, such as going to work, shopping, and
practicing leisure activities. Three transport alternatives were analyzed: bicycle, private car (either individual or
shared) and public bus. The functional unit considered for this study was the mobility of one commuter to his or her
destinations using one alternative of transport for each location for a period of one month. SimaPro v. 8.3.0.0 and
inventory data from the ecoinvent database v. 3.3 were used for the life cycle impact assessment (LCIA), along
with the ReCiPe midpoint method v. 1.12 (World ReCiPe H/A). Two impact categories were selected from the
LCIA method: climate change and particulate matter formation. This study was conducted from a bottom-up
approach. The main findings indicated that the use of individual cars contributed most to the environmental impact
of a commuter’s transport lifestyle. Regarding climate change, exhaust emissions accounted for the largest share of
impact from private car use. Bus use presented a high impact on particulate matter formation, mostly from exhaust
emissions. Nonetheless, public transportation and bicycle use were identified as mobility alternatives with the
lowest environmental impacts. Regarding car use, it lowered one’s environmental impacts only when the vehicle
was shared among users. The major activities related to the determinant of attitudes was the consumer’s intention to
engage in a particular transport habit. The identified facilitator factors that ruled the mobility choice were the level
of income, information, and time available for commuting. Infrastructure determinants tend to direct transport users
to a particular mode because the constructed environment will remain for a much longer time. Thus, that
determinant factor indicated a relationship of preferable mobility choices given their availability. Space for the
circulation of non-motorized vehicles and less polluting alternatives were sustainable infrastructure to be
considered in urban environments. In conclusion, short-distance mobility habits repeated several times presented a
great variation in potential environmental impacts, which indicates that commuters may reduce their environmental
impacts by changing their commuting choice. The findings from the present study also enable users to reshape their
transport lifestyle, opting for the less impacting mode of transport. These results also make it possible for decision-
makers to consider a given set of attitudes from users, facilitator keys, and infrastructure factors to promote more
sustainable transport lifestyles.

Acknowledgments
The authors would like to thank the National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) and the Federal
University of Santa Catarina (UFSC) for supporting this study.

33
5SSS112
AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA E CAPACIDADE DE REGENERAÇÃO
TÉRMICA, QUÍMICA E ULTRASSÔNICA DE CARVÃO ATIVADO
EXAURIDO COM TETRACICLINA

Letícia Reggiane de Carvalho Costa1, Luana de Moraes Ribeiro2, Liliana Amaral Féris3
¹Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail:leticiaregicar@hotmail.com;²Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, e-mail:luana.mori@hotmail.com; ³Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail:
liliana.feris@gmail.com

Palavras-chave: carvão ativado; tetraciclina; técnicas de regeneração.

Resumo
A adsorção por carvão ativado é amplamente usada para remover poluentes orgânicos das águas e águas residuais.
No entanto, a competitividade econômica do processo de adsorção depende da reutilização do adsorvente saturado.
Nesse contexto, o objetivo desse estudo foi avaliar a viabilidade dos métodos de regeneração de carvão ativado
exaurido com tetraciclina, investigando a capacidade de sucessivos ciclos de adsorção/dessorção. Para isso foram
realizados ensaios em batelada empregando três técnicas regenerantes - térmica, química e ultrassom, onde através
delas foram avaliadas diferentes condições experimentais. Os CAG virgem, saturado e regenerado foram
caracterizados através da sua estrutura física, distribuição de micro e mesoporos e microscopia eletrônica de
varredura. Observou-se uma diminuição na área superficial, além de uma diferença aparente na estrutura após a
regeneração. Este resultado foi provavelmente causado pela impregnação da tetraciclina aos poros do carvão e,
também, pelo desgaste do material após os suscessivos ciclos. Para todas as técnicas empregadas, a eficiência de
regeneração alcançou valores acima de 85%. Foram escolhidos como métodos de maior viabilidade para o estudo
dos ciclos de adsorção/dessorção, os seguintes tratamentos: térmico a 200 °C (TTM1), solução de metanol 100%
(TSV1), água deionizada 100% com aquecimento a 60°C (TSV4), ultrassom 5 minutos (TUS1) e ultrassom 20
minutos (TUS3). Durante os treze ciclos realizados, a capacidade de regeneração do carvão ativado e remoção de
tetraciclina diminui. Este comportamento é decorrente dos tipos de mecanismos envolvidos nestas técnicas de
regeneração. Ainda, o mesmo pode ser atribuído à deposição tanto do poluente já adsorvido e não regenerado como
de impurezas na superfície do carvão ativado. De forma geral, TTM1 manteve-se com resultados consistentes até o
sexto ciclo, apresentando uma capacidade regenerativa de 90%. Em relação aos outros tratamentos, o limite
estabelecido de 60% foi atingido no sétimo, sexto e quarto ciclo para TUS1, TSV1 e TUS3 e, TSV4
respectivamente. Portanto, com base nos resultados apresentados, o TTM1 foi selecionado como o agente
regenerativo ótimo, garantindo que o CAG possa ser regenerado e usado repetidamente no tratamento da água.

Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer à Universidade Federal do Rio Grande do Sul - departamento de Engenharia Química
e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pelo apoio recebido.

34
5SSS118
GESTÃO E SUSTENTABILIDADE: PRÁTICAS RENOVÁVEIS QUE
AUXILIAM NO DESENVOLVIMENTO DOS ESPAÇOS AMBIENTAIS
NOS MÓDULOS ACADÊMICOS
Nidianne Nascimento1, André Vilhena2, Carlos Eduardo Pereira Cruz3, Amanda Beatriz Sousa Sena4,
Marcos Tulios Frota Ladislau5, Thamiris Felipe de Souza6
1.
Profª Dra, IFAM-CMC, nidianne.nascimento@ifam.edu.br; 2. Profº Drº, IFAM-CMC,
andre.vilhena@ifam.edu.br; 3.Acadêmico, IFAM-CMC, e-mail:cp79455@gmail.com; 4.Acadêmica, IFAM-CMC, e-
mail: senaa0263@gmail.com. ; 5,6. TAD, IFAM-CMC, e-mail: clqa.cmc@ifam.edu.br;

Palavras-chave: Educação Ambiental; Resíduos Sólidos; SGA.

Resumo
A Educação Ambiental estabelece que o desenvolvimento sustentável deve ser estimulado ou melhor, habituado a
educação elementar, o indivíduo tem-se a aderir atitudes sustentáveis em pequenas ações de seu dia-a-dia, como
realizar coleta seletiva em casa, economizar energia e água favorecendo os recursos que se encontram a disposição
de todos. Assim, disseminando essas ações pode-se incentivar e criar uma sociedade sustentável. É por meio da
Educação Ambiental que se desperta a preocupação para um tema tão delicado no nosso dia-a-dia. É por meio dela
que se pode criar uma sociedade mais sustentável, saudável e responsável. Além de incentivar atividades
sustentáveis, a Educação Ambiental proporciona outros benefícios, como: construção de uma sociedade consciente,
melhora da qualidade de vida e saúde, consumo consciente e preservação dos recursos naturais. Todas essas
atividades desempenham um bom papel na sociedade sustentável. Um dos fatores que necessitam de uma atenção
mais constante são os resíduos sólidos, onde a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) os define como “todo
material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade”. O descarte desse
resíduo não significa que ele não tem mais valor, mas sim que não é mais necessário para quem o descartou.
Contudo, existem grandes chances desse resíduo ainda ser útil para outras pessoas, em sua forma original ou
transformado. Tais formas de reuso ou descarte desses rejeitos se baseiam na reciclagem, compostagem, aterro
sanitário e incineração, de fato que a maioria dos rejeitos gerados recebem esses tratamentos e que uma
porcentagem infelizmente não recebe esses cuidados, e que são descartados à deriva nos ambientes naturais. Nesta
vertente voltada a preocupação com o meio ambiente é de extrema importância esta apropriação de renovação de
elementos e para isso se faz necessário estabelecer formas de reduzir e propiciar mecanismos disponíveis no
processo de ensino aprendizagem em laboratórios de química nos cursos de ensino básico técnico e tecnológico de
modo a preservar esse bem precioso que nos oferece vários recursos e reutilizá-los com a inclusão de ferramentas
de gestão eficientes para as comunidades adjacentes com o propósito de disseminar o conhecimento e preservar as
práticas laboratoriais sustentáveis. Porém existem sistemas ambientais que proporcionam “reparos” a esses danos
que afetam o meio ambiente e formas de aplicações em vários espaços onde vão ser bastantes úteis. Deste modo
empregou-se a metodologia baseada na pesquisa foi a aplicabilidade da Gestão Ambiental que visa ordenar as
atividades humanas para que estas originem o menor impacto possível sobre o meio e para uma boa gestão focando
nas seguintes etapas: políticas ambientais, planejamento, verificação e ação corretiva e análise crítica, com o
público estudado de 350 estudantes regularmente matriculados e usuários dos laboratórios. Neste viés foi definida
uma proposta de Sistema de Gestão Ambiental (SGA) aplicada a redução de riscos de acidentes ecológicos e a
melhoria significativa na administração dos recursos energéticos, materiais e humanos, o que propiciou um impacto
positivo direto na administração dos elementos químicos, ademais na preservação dos espaços ambientais
controlados proporcionou benefícios viáveis e seguros para o dia a dia dos indivíduos de determinado espaço no
módulo de conhecimento interdisciplinar de forma acurada e renovável.

35
5SSS121
A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA IMAGEM DA CIDADE A PARTIR
DA ABORDAGEM DOS PAGAMENTOS POR SERVIÇOS
AMBIENTAIS
Nicole Centurion1, Mayara Bormann Azzulin2, Adrian Jedyn3
1Pontifícia Universidade Católica do Paraná, e-mail: centurion.nicole@gmail.com; 2Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, e-mail:azzulin@alunos.utfpr.edu.br; Pontifícia Universidade Católica do Paraná, e-mail:
adrian.jedyn@pucpr.edu.br.

Palavras-chave: urbano; rural; imagem da cidade.

Resumo
Entre os fatos urbanos que formam a imagem da cidade, destacam-se os elementos antrópicos e os naturais,
representados metaforicamente pelo contraste entre o cinza urbano e a diversidade de cores do meio ambiente. A
urbanização é um fenômeno global e ocorre de formas distintas em cada localidade, mas é percebida pelo
observador de forma similar quanto a estas cores. Visto a crescente retórica acerca da importância dos serviços
ecossistêmicos, relacionados às áreas naturais, para a manutenção da vida humana, este trabalho tem o intuito de
avaliar a importância do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) em áreas urbanas para a formação da imagem
de um novo (ideal) urbano. O objetivo é levantar e compreender as contribuições do PSA a configuração da
imagem do ambiente urbano sustentável. Observou-se dois exemplos da aplicação do PSA: o primeiro na
revitalização de áreas verdes urbanas, e o segundo pela integração urbano-rural por meio da demanda populacional
por alimentos produzidos de forma sustentável. No primeiro exemplo, observa-se o vínculo entre habitantes e áreas
verdes urbanas, de tal modo que no ínterim do espaço previamente cinza, o verde pontua diversas áreas da cidade; e
no segundo, por meio de estratégias como PSA, consolida-se a percepção da complementariedade urbano-rural para
a manutenção do metabolismo das cidades, desta forma ampliando o espectro cromático urbano. Assim sendo,
nota-se o reconhecimento que as áreas verdes integram as cidades, por meio de seu uso, ou até pela valorização das
áreas urbanizadas, resultando, na integração entre o cinza e as diversas cores.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo
financiamento de bolsa do Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições Comunitárias de Ensino Superior (PROSUC),
e à Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Paraná, pelo financiamento de
bolsa do Programa de Demanda Social (DS-CAPES).

36
5SSS125
ANÁLISE DO “DIREITO AO SOL” NOS PLANOS DIRETORES DE
PELOTAS-RS, EM ZONAS RESIDENCIAIS
Saionara Dias Vianna1, Celina Maria Britto Correa2
1Universidade Federal de Pelotas - UFPEL, e-mail: sdiasvianna@gmail.com; 2Universidade Federal de Pelotas -
UFPEL, e-mail: celinab.sul@terra.com.br

Palavras-chave: Legislação urbanística; Direito ao sol; Envelope Solar

Resumo
Este trabalho apresenta um estudo que aborda o tema do direito legal à garantia do acesso solar à todas as
habitações e ao entorno imediato utilizando como objeto de análise o I, II e III Plano Diretor da cidade de Pelotas-
RS. A garantia do acesso solar é assegurada através das legislações urbanísticas, ainda que de forma implícita, por
meio dos índices urbanísticos propostos nesses regramentos que regem as questões urbanas das cidades. Apesar
disso, a aplicação desses instrumentos por si só, não garante o nível mínimo recomendado de insolação nas
fachadas e coberturas das residências. Esta pesquisa visa, verificar se na evolução da legislação urbanística da
cidade de Pelotas se garantiu o direito ao sol, ainda que de maneira subliminar, com o intuito de apontar revisões e
estratégias para garanti-lo como suporte à qualidade ambiental. Para isto, foram definidos três recortes urbanos
localizados em zonas residenciais que mantiveram suas características quanto ao uso do solo ao longo dos três
planos diretores do município, em distintas configurações de lotes regulares predefinidos através de características
como orientação solar, área e testada, utilizando o método do Envelope Solar. Os envelopes solares foram
construídos no software Rhinoceros com o uso dos aplicativos Grasshopper e DIVA em seis horários de acesso
solar no período em que se concentram os melhores horários de insolação, buscando a garantia do nível mínimo de
insolação de duas horas, conforme sugerido na Carta de Atenas (1933). Posteriormente, os envelopes solares foram
transportados para o software Google Sketch UP no qual foram gerados os modelos computacionais tridimensionais
dos volumes edificados decorrentes da aplicação dos máximos índices urbanísticos propostos por cada Plano
Diretor buscando identificar qual o período em que as edificações têm menor percentual de volume excedente aos
limites do envelope solar. Os resultados obtidos nas análises indicaram que não se verificou na evolução da
legislação urbanística do município a garantia do “Direito ao Sol” nos lotes destinados à habitação. O estudo
concluiu a necessidade de uma revisão ou adaptação da legislação urbanística em vigor afim de proporcionar a
garantia das condições de controle e acesso solar as edificações e entorno imediato.

Agradecimentos

Os Autores gostariam de agradecer ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de


Pelotas pelo apoio ao desenvolvimento do trabalho;
À Capes, MEC do Brasil, pelo auxílio financeiro em forma de bolsa de estudo.

37
5SSS127
APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA PARA
DESSEDENTAÇÃO DE SUÍNOS
Cibele Bilibio1, Aline Schuck Rech1, Julio Cesar Rech1, Jakcemara Caprario2; Fabiane Andressa Tasca2 e
Nívea Morena Gonçalves Miranda2
1
Universidade do Contestado – UnC – Concórdia. E-mail: admencantare@gmail.com; aline.schuck@unc.br;
juliocesar@unc.br 2 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. E-mail: jakcemara@hotmail.com;
fabitasca@gmail.com; niveamgm@homail.com;

Palavras-chave: Aproveitamento de água de chuva; Dessedentação animal; Desenvolvimento sustentável.

RESUMO: Introdução: A água é um recurso natural renovável e ocupa 70% do planeta Terra. Porém, uma pequena porcentagem é
potável e distribuída de forma irregular no planeta. Os seus usos são múltiplos, mas quando analisamos o consumo de água no
sistema agroindustrial, o volume utilizado para dessedentação de animais é alto. De acordo com Palhares (2019) alguns fatores que
influenciam o consumo de água para dessedentação de animais envolvem as características do animal (tipo, tamanho, peso, idade,
genética, nível de atividade e estado fisiológico), zootécnicos (tipo de dieta, ingestão de matéria seca, ingestão de sal, taxa de ganho
de peso, % de forragem e proteína na dieta) e ambientais (umidade, temperatura, velocidade do vento e qualidade da água). O
consumo de água por suínos está entre 5 a 35L diários envolvendo as seguintes fases: leitões, fêmeas em gestação e lactação, machos
e animais em crescimento e terminação. As fases de gestação e lactação exigem mais consumo de água (20 a 40L). Desta forma, esse
artigo traz informações sobre o potencial aproveitamento de água de chuva para uma pocilga que abriga porcos em fase de
terminação. Material e Métodos: Nesta pesquisa foi dimensionado o volume da cisterna de água de chuva para uma pocilga para
dessedentação de 1250 de suínos em fase de terminação. A pocilga possui 1620m² de área está localizada em Concórdia, meio Oeste
Catarinense, região com expressiva produção e exportação de suínos. Na fase de terminação os suínos (aproxim. 150 quilos)
consomem um volume de 7 a 10L por dia (PALHARES, 2019). Adotou-se um consumo médio de 10L por animal. Desta forma, o
projeto deverá suprir a dessedentação dos animais, com volume de 12.250L ou 12,2m³ por dia. Aplicou-se o método indicado por
Oliveira et al. (2012) para a determinação do volume da cisterna e também para a área de telhado necessário para instalação do
sistema de captação. A disponibilidade pluviométrica, obtidos do site EMBRAPA Suínos e Aves de Concórdia, no período de 2015 a
2018, possui média mensal de 160mm. Resultados e Discussão: Ao aplicar a equação Oliveira et al. (2012) o volume da cisterna
proposta é de 201,3m³ e deverá suprir o volume consumido em 15 dias (mínimo recomendado pelo autor). A pocilga possui área de
1620m², porém a área de 1.446m² é suficiente para captar o volume necessário sugerido no projeto (Tabela 1).

Tabela 1. Dados de dimensionamento para identificação do volume da cisterna e área necessária na pocilga.
Vc= (Nd x Ndia) + 10% Vc = volume da cisterna (m³);
Vc= 201,3m³ Nd = volume de demanda diária;
A= (Vc/Preci_período) x C Ndia = número de dias de armazenagem, sugerido 15 dias;
A= 1.446m² A = área m²;
Preci_período = média do mês (mm);
C = Coeficiente de escoamento, valor indicado pelo autor de 1,5.

Antes da construção de cisternas deve-se observar a legislação vigente quanto ao local e a distância das edificações existentes,
sistemas de produção de suínos e aves e divisas, para minimizar possíveis conflitos e riscos de contaminação (OLIVEIRA et al.,
2012). Se o uso da água de captação for usado para dessedentação animal, o sistema deve conter três processos básicos: coleta,
filtração (pré e filtro) e armazenamento. Cuidados com as cisternas também são necessários, incluindo limpezas periódicas
(reservatório, calhas, telas e tubos) e desinfecção para garantir a qualidade mínima para dessedentação dos animais. A aplicação de
processos de tratamento aplicados à água está ligado ao uso ou aos fins. O material empregado na construção das cisternas pode ser
PEAD (Polientileno de Alta Densidade), PVC (Cloreto de Polivinila), alvenaria ou concreto armado e fibra de vidro. Esses sistemas
devem ser fechados, a fim de evitar entrada de partículas indesejáveis. Ao construir cisternas para o armazenamento de água pluvial,
as propriedades podem tornar-se autossuficientes no fornecimento de água aos suínos, porém o único limitante é a frequência e
volume de precipitado. Considerações Finais: As cisternas de armazenamento de água pluvial podem ser aplicadas em diferentes
regiões, permitem economia financeira ao proprietário e autossuficiência hídrica para as propriedades (OLIVEIRA et al., 2012). O
único limitante está relacionado ao regime pluviométrico da região. No oeste Catarinense existe um grande plantel de criadores
suínos, resultando em um grande volume para dessedentação e manutenção das propriedades. O uso de cisternas é alternativa viável
para suprimento das necessidades básicas de uma propriedade produtora de suínos.
Referências Bibliográficas
PALHARES, J. C. Consumo de água na produção animal brasileira (2019). In. Produção Animal e Recursos Hídricos: Tecnologias para manejo de
resíduos e uso eficiente dos insumos. Editor Técnico: Julio Cesar Pascale Palhares. EMBRAPA, 212p.
OLIVEIRA et al. (2012). Aproveitamento da água da chuva na produção de suínos e aves. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 42p.

38
5SSS133
ADSORÇÃO DE CO2 UTILIZANDO ZEÓLITA Y EM LEITO FIXO

Lucas Gabriel Teixeira Gouveia1, Caroline Borges Agustini2, Oscar W. Perez-Lopez3, Mariliz Gutterres
Soares4
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: lucas.g4briel@gmail.com; 2Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, e-mails: carol.b.agostini@gmail.com; 3Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mails:
perez@enq.ufrgs.br; 4Universidade Federal do Rio Grande do Sul e-mails: mariliz@enq.ufrgs.br

Palavras-chave: Adsorção de CO2; Zeólita Y; Captura e armazenamento de carbono (CCS).

Resumo
O CO2 apresenta a maior contribuição para o aumento no aquecimento global e gases do efeito estufa, o que tem
despertado interesse no desenvolvimento de técnicas capazes de capturar e armazenamento de carbono (CCS) e
futuro reaproveitamento. Os sistemas utilizados atualmente, à base de amônia, ainda necessitam de melhorias
quanto ao desempenho e reutilização no processo frente à redução no custo energético em etapas de regeneração do
material. Zeólitas são aluminosilicatos com elevada área superficial, poros bem definidos, estabilidade térmica,
seletividade de forma e capacidade de troca iônica, favorecendo a sua aplicação industrial em processos de catálise
e adsorção. Sendo assim, o objetivo principal do presente trabalho foi a utilização da zeólita Y como material
adsorvente de CO2 em leito fixo. As análises de adsorção CO2 foram realizadas em um processo contínuo em
equipamento multipropósito (SAMP3) equipado com um detector de condutividade térmica (TCD). Os ensaios
foram realizados em reator tubular de quartzo em formato de U à 50 °C com uma mistura gasosa variando em 5 e
10 % de CO2 em He, com uma vazão de 30 mL min-1 e massas de adsorvente variando em 0,05 e 0,25 g. A zeólita
foi calcinada e caracterizada por TGA-DTA, difração de raio X e tamanho de poros, a área específica e volume dos
poros. Observou-se que os ensaios com menor massa de adsorvente apresentaram rápida saturação, atingindo o
equilíbrio após decorrido aproximadamente 50 s. Ao passo que, para os ensaios com maior massa, o processo de
adsorção ocorreu de forma mais lenta, deslocando o equilíbrio em torno de 25 s em relação à curva com menos
adsorvente. No ensaio com maior massa, no período entre 25 e 50 s, apesar do processo de adsorção já está
ocorrendo, praticamente todo CO2 inserido no reator foi capturado, alterando levemente o sinal do TCD. Após esse
período, o sinal iniciou a aumentar rapidamente, até atingir o equilíbrio, em aproximadamente 150 s após o início.
O estudo de diferentes concentrações de CO2 mostrou que, para uma maior concentração de CO2 na alimentação,
mais rápido o equilíbrio é atingido, favorecido pelo aumento da força motriz da transferência de massa.
Comparando os diferentes teores de alimentação de CO2, observou-se um aumento no tempo de saturação em 100 s
para o experimento com 5 %. Os ensaios com menor massa e concentração de CO2 apresentaram maior capacidade
de adsorção. Foram obtidos valores de adsorção de 25,15 mg de CO2/g de catalisador para o teste com 5 % de CO2
e 0,05 g de adsorvente frente a 3,13 mg de CO2/g de catalisador para o teste com 10% de CO2 e 0,25 g de
adsorvente. Portanto, com base nos resultados apresentados, a utilização da zeólita Y comercial para a adsorção de
CO2 apresentou resultados positivos atingindo valores máximos de remoção de 25 mg de CO2 por g de adsorvente.
Além disso, o material apresentou como ponto positivo a elevada cinética de adsorção com aproximadamente 200 s
até o equilíbrio e alta estabilidade térmica, preferível para materiais com essa empregabilidade, mostrando-se
promissora a utilização da zeólita Y para a finalidade de CCS.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a CAPES e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul apoio recebido.

39
5SSS145
CARACTERIZAÇÃO GENOTÍPICA DE CEPAS DE Escherichia coli
ISOLADAS DE ÁGUA DE IRRIGAÇÃO E SUSCEPTIBILIDADE A
AGENTES SANITIZANTES
Evangelista, P. A.1, Souza, M. A. M.2, Pimentel Filho, N. J.3
1Universidade de São Paulo, e-mail: patriciaaevangelista@gmail.com.br; 2Universidade Federal de São Carlos,
e-mail: mmandradesouza@gmail.com; 3Universidade Federal de São Carlos, e-mail: natanpimentel@ufscar.br

Palavras-chave: Enteropatógenos; Virulência bacteriana; Microbiologia de águas.

Resumo
A água de irrigação pode ser veículo para disseminação de bactérias patogênicas nos alimentos e em cursos d’água.
Hortaliças e frutas consumidas in natura e sem a devida sanitização, quando contaminadas com bactérias
termotolerantes, resultam em intoxicações alimentares severas. Escherichia coli diarreiogênicas podem estar
associadas à infecção intestinal tanto em crianças como em adultos, principalmente nos países em
desenvolvimento. A Fazenda Lagoa do Sino, onde está inserido o campus da UFSCar, possui uma área de 643 ha
com uma produção intensiva de soja, milho e trigo. Em menor escala tem-se pequenas hortas, pomar e um sistema
agroflorestal em vias de implantação, cuja a irrigação é efetuada por um tanque acoplado a um trator. A água
utilizada neste processo provém das lagoas da Fazenda. O objetivo do trabalho foi efetuar uma caracterização
genotípica de fatores de virulência associados às cepas de E. coli isoladas das águas das lagoas da Fazenda, bem
como testar a susceptibilidade a agentes sanitizantes. Os isolados de E. coli, obtidos entre os anos de 2015 e 2016,
foram submetidos à extração de DNA e, posteriormente, à caracterização genotípica quanto a presença de genes
associados à patogenicidade utilizando a técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR). Os agentes sanitizantes
testados foram: vinagre de álcool 1:30 (v/v), vinagre de vinho branco 1:30 (v/v), hipoclorito de sódio 1:60 (v/v),
desinfetante de alimentos 1%, suco de limão 1:1 (v/v), bicarbonato de sódio (125 mg/L), álcool 96 % e álcool 70
%. Todos os 17 isolados de E. coli apresentaram pelo menos um dos genes de virulência estA, stx1 e/ou stx2 e aatA
indicando a natureza enterotoxigênica (ETEC), enterohemorrágica (EHEC) ou enteroagregativa (EAEC) dos
isolados. Foram classificados como EHEC, 12 isolados (70,6 %), cepas capazes de sintetizarem a toxina Shiga.
Destes, em 41,1 % foi detectada presença combinada dos genes stx1 e stx2. Enquanto 23,5 % possuem apenas o
gene stx1, 5,9 % dos isolados avaliados apresentaram apenas o gene stx2. Apesar de nenhum isolado possuir o
gene eltB, quatro isolados (23,5 %) foram classificados como ETEC por apresentarem o gene estA que confirma a
capacidade do isolado em produzir enterotoxina termoestável. Por possuir o gene aatA um isolado (5,9 %) foi
classificado como EAEC. Os genes eaeA, ial e bfpA não foram identificados em nenhum isolado avaliado e,
consequentemente, nenhum isolado foi classificado como EPEC ou EIEC. Isolados de E. coli quando expostos ao
limão apresentaram 88,2 % de sensibilidade. Resultado semelhante foi observado quando álcool 96 % foi utilizado,
resultando na inibição e 82,4% de isolados. Os isolados submetidos ao hipoclorito de sódio apresentaram 64,7 % de
sensibilidade. Ainda que desinfetante de alimentos tenha em sua composição a presença do cloro, a recomendação
da dose indicada pelo fabricante não foi suficiente para inibir o crescimento da maioria dos patotipos desta
pesquisa: EHEC e ETEC. Ao bicarbonato de sódio, 58,8 % das cepas foram resistentes. O vinagre de álcool, o
vinagre de vinho branco e o álcool 70 % não produziram efeito significativo na inibição. Para o patotipo EHEC, o
álcool 96 % e o limão foram os mais eficientes na inibição. Já para o patotipo ETEC, o limão foi o mais eficiente. E
para o patotipo EAEC, o hipoclorito de sódio, o álcool 96%, o desinfetante de alimentos e o limão foram os mais
eficazes para inibição da multiplicação. Assim, considerando a incidência de genes de virulência em E. coli
isolados na Fazenda Lagoa do Sino e o perfil de resistência aos agentes sanitizantes, pode-se concluir que as águas
das lagoas não encontram-se apropriadas para uso na irrigação de hortaliças e frutas.

40
5SSS149
VIABILIDADE ECONÔMICA PARA INSTALAÇÃO DE UMA USINA
DE RCD EM UM MUNICÍPIO DO SUL DO BRASIL
Felipe Stempkowski Cappelaro1, Léa Beatriz Dai Prá1, Luciano Francisco Flores Rosa1, Marchello Luiz
Grando1, Pamela Lise Ghesla1, Luciana Paulo Gomes1
1Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail: felipescappellaro@gmail.com; biadaipra@gmail.com;
lucianoffrosa@gmail.com; Tchellogrando@hotmail.com; pamelaghesla@yahoo.com.br; lugomes@unisinos.br

Palavras-chave: Usina de reciclagem de RCD; Gestão de RCD; Construção Civil.

Resumo
O crescimento populacional em todo cenário mundial, inclusive no Brasil, tem causado preocupações relacionadas às
questões ambientais, dentre elas, os resíduos sólidos tem sido alvo de discussões na questão de seu aproveitamento
através da reciclagem. Neste cenário, a construção civil, para satisfazer a demanda por novos empreendimentos e
também reformas e melhorias em prédios já existentes, tem crescido e gerado milhares de toneladas de resíduos sólidos
que podem ser aproveitados. Apesar dos esforços para redução de custos das construções, o nível de desperdícios e
sobras de materiais ainda são grandes, e todo este material, chamado de Resíduos Sólidos de Construção e Demolição
(RCD), precisa de um sistema de gestão que minimize ao máximo os riscos e impactos ambientais que eles causam. Para
que isto aconteça, existe a possibilidade de instalação de usinas de Reciclagem de RCD, com capacidade suficiente para
armazená-los, tratá-los e transformá-los em materiais que possam ser reaproveitados, gerando emprego e renda. Neste
contexto, o objetivo deste estudo foi verificar a viabilidade econômica para implantação de uma Usina de RCD na cidade
de Gramado-RS, pesquisando as diretrizes de instalação e buscando os meios necessários para solucionar o desperdício
dos resíduos gerados na construção civil do município, levando em consideração os fatores econômicos, ambientais e
técnicos. Os RCD são, em sua grande maioria, classificados como Classe II - Inertes e no Brasil constituem 70% do
volume gerado. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA) (BRASIL, 2010), a geração de resíduos de construção
vem crescendo significativamente, e os principais responsáveis por esta geração são: Executores de reformas, ampliações
e demolições; Construtores de edificações novas e térreas ou de múltiplos pavimentos; e Construtores de novas
residências individuais. De acordo os dados da ABRECON, existem usinas de reciclagem no Brasil desde 1986, mas a
quantidade de Usinas só aumentou após a publicação da Resolução CONAMA 307 (NIERO, 2016). O método proposto
para a elaboração desta pesquisa foi desenvolvido em três etapas: Avaliação da Gestão atual do município de Gramado;
Diretrizes necessárias para a instalação de uma usina de RCD no município; e Avaliação Econômica para a instalação e
manutenção de uma Usina de RCD. O projeto da usina previu a utilização de sistema de pré-beneficiamento, sendo
importante a sua aquisição para redução de finos, triagem e empilhamento do RCD, sendo recomendável uma
armazenagem e empilhamento superior a 860m³, necessários para a produção nominal de dois dias do britador;
alimentação do britador continuamente, a partir do RCD triado; carregamento de veículos; e empilhamento de agregado
reciclado. Na projeção da usina, foram estimados alguns processadores característicos de operações unitárias, tais como:
alimentador vibratório, britador de mandíbulas, transporte de correias, peneiras vibratórias, extrator de metal e um
moinho de martelos, assim como a mão de obra e todos os valores estimados para implementação. Como resultado, no
projeto inicial foi prevista uma Usina com capacidade de reciclar 30 toneladas por hora de RCD e levando em
consideração os custos para compra de equipamentos, manutenção da empresa e custos operacionais, o retorno
financeiro se daria a partir de 36 meses. Este estudo mostrou o quanto o desperdício de RCD no Brasil ainda é alto e que
outros países já vem há muito tempo praticando a reciclagem e possuindo uma gestão estruturada sobre estes resíduos,
mostrando sua importância. Os resultados corroboraram para a possibilidade de instalação de Usinas de Reciclagem de
RCD em pequenos municípios do Brasil, com probabilidade de retorno financeiro e reduzindo o impacto ambiental que a
atividade causa.

Referências
BRASIL. 2010. Manual para implantação de sistema de gestão de resíduos de construção civil em consórcios públicos. Brasília/DF: MMA,
2010, 63p.
NIERO, J. 2016. Reciclagem de resíduos da construção civil. Disponível em: http://www.fecomercio.com.br/noticia/reciclagem-de-residuos-
da-construcao-civil-economiza-recursos-naturais-e-reduz-custos. Acesso em 04/06/2017.

41
5SSS153
RENATURALIZAÇÃO E RECUPERAÇÃO DAS ÁREAS
DEGRADADAS NA BACIA DO RIO GRAVATAÍ
Viviane Brenner1, Cecilia Balsamo Etchelar2
1UFRGS, brenner.vivi@gmail.com; 2 UERGS, cecibalsamo@gmail.com.

Palavras-chave: Degradação ambiental; Renaturalização.

Resumo
O rio Gravataí localizado na região metropolitana de Porto Alegre, teve parte do seu leito alterado no final da
década de 60 através de uma retificação de cerca de 20 km que transformou seus meandros em um canal retilíneo.
A retificação inicial se deu através do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), posterior a
interrupção da construção do canal na altura do Banhado Grande, proprietários rurais retificaram cerca de 6 km por
conta própria na intenção de drenar parte do banhado e ampliar suas áreas de cultivo.
O processo de retificação do leito do Gravataí, tanto pelo DNOS quanto pelos proprietários gerou uma série de
impactos em todo o sistema da bacia hidrográfica. Muitos estudos realizados no âmbito da bacia apontam para uma
mudança hidrológica do padrão de suas vazões, levando do rio Gravataí e para a formação de processos erosivos do
próprio canal de drenagem e processos voçorocamentos na área de banhado que compreende uma importante
nascentes deste manancial.
Ao analisar-se o comportamento padrão das vazões, em uma escala temporal maior (69 anos) pode-se
comprovar o aumento das vazões após a retificação do rio Gravataí. Na medida em que o objetivo inicial do DNOS
ao retificar o Gravataí era justamente o aumento da velocidade de escoamento da água e a drenagem do Banhado
Grande, podemos afirmar que, infelizmente, essa intervenção vem cumprindo fielmente seus objetivos de criação.
A bacia do Gravataí sofre inúmeros impactos decorrentes da pressão antrópica destes, as inundações urbanas são as
mais notáveis ao atingir grande parte da população a jusante do rio.
Assim sendo, os passivos ambientais do canal retificado do Gravataí tornaram-se mais relevantes do que o
cumprimento do objetivo proposto pelo DNOS com sua abertura. A variação tão extrema das vazões dá margem a
necessidade de se repensar o traçado do curso retificado do Gravataí. O trecho retilíneo favorece ainda mais o
escoamento acelerado da montante para jusante, impedindo o Banhado Grande de cumprir sua função na bacia de
“esponja” ao absorver os grandes picos de pluviosidade e liberar a água de forma lenta e natural.
A renaturalização de canais retificados não cimentados possibilita a geração de feedbacks positivos em todo o
sistema da bacia. Ao possibilitar o retorno das planícies meândricas equilibram-se o sistema de vazão e deposição,
e ao se restaurar os processos erosivos e de voçorocamento possibilita-se o processo de reidratação e recuperação
do solo, a restituição da paisagem a diminuição do assoreamento a jusante das erosões e da drenagem do Banhado
Grande.
Através das problemáticas elencadas nos estudos da bacia, fazem-se necessárias intervenções em busca de
minimizar os passivos ambientais dessas retificações. Neste sentido, existe um panorama das possibilidades de
intervenções ao longo de toda a área retificada (cerca de 26 km), consistindo-se em obras não estruturais, baseadas
em técnicas de bioengenharia, visando a renaturalização do sistema minimizando as perdas ecossistêmicas e a
geração de impactos negativos.
Para a renaturalização em cursos d’água as técnicas de bioengenharia são fundamentais para garantir
intervenções de baixo impacto e resultados de reestabelecimento das áreas de preservação permanente nas margens.
O efeito proporcionado por essas técnicas e, os resultados conseguidos ficam na dependência tanto do tipo de
material e modelo de construção. A implantação de em canteiro experimental construído no Sul do Brasil, uma
parede Krainer de 40 metros de extensão, e 1,3 m de altura com o objetivo de estabilizar dois trechos de um arroio
obteve resultados que confirmaram o sucesso dos processos de restauração por bioengenharia destes ambientes
fluviais.

42
5SSS154
INUNDAÇÃO E EROSÃO NA COSTA NORTE DO RIO GRANDE DO
SUL - BRASIL. ESTUDO DE CASO: A MARÉ METEOROLÓGICA DE
OUTUBRO DE 2016
Humberto Dias Vianna1, Saionara Dias Vianna2, Lauro Julio Calliari3
1Universidade Federal do Rio Grande, e-mail:hvianna@furg.br; 2Universidade Federal de Pelotas, e-
mail:sdiasvianna@gmail.com; 3Universidade Federal do Rio Grande, e-mail: lcalliari@log.furg.br

Palavras-chave: Inundação; eventos extremos; erosão praial.

Resumo
Marés meteorológicas são comuns na costa do Rio Grande do Sul (RS). Geralmente, esses eventos provocam
erosão costeira. Eventos responsáveis simultaneamente por erosão e inundação expressiva são pouco frequentes.
Analisa-se aqui que um estudo de caso de uma maré meteorológica que provocou erosão costeira e uma inundação
incomum no litoral norte do RS. O assunto é enfocado no sentido de verificar a situação meteo-oceanográfica e os
impactos associados ao fenômeno. Dados de ventos, ondas e nível foram utilizados. Fotos e vídeos do evento
serviram para a identificação das altitudes inundadas, em Modelos Digitais de Superfície, e para a reconstituição da
maré meteorológica no pacote Simulate Water Level Rise/Flooding, do software Global Mapper V.15. Perdas
sedimentares foram estimadas para um balneário planejado e outro sem planejamento urbano, a partir de fotos
aéreas levantadas com veículo aéreo não tripulado. O evento teve duração superior a 48 horas. Os ventos atingiram
velocidades médias máximas de 42 km/h e as rajadas chegaram a 93 km/h. A altura significativa das ondas atingiu
9,5 m, e a máxima 14,8 m. Os volumes erodidos foram de 0,54 m³/m e 3,54 m³/m respectivamente para o balneário
planejado e o sem planejamento urbano algum. Altitudes médias de 2,00 m foram inundadas e as águas
ultrapassaram 200 m além das dunas frontais. A reconstrução do evento demonstrou que os balneários adjacentes
às desembocaduras foram os mais impactados.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a CAPES, a Universidade Federal do Rio Grande pelo apoio recebido.

43
5SSS158
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE CANOAS: GESTÃO
E AVALIAÇÃO DE ÁREAS IRREGULARES DE DISPOSIÇÃO FINAL
Kevin Cassol Cravo1, Gisele Catrine S. da Silva1, Marco Aurélio dos Santos1, Pamela Lisie Ghesla1, Léa
Beatriz Dai-Prá1, Luciana Paulo Gomes1
1Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, e-mail: kevinccravo@hotmail.com; gisele.catrines@gmail.com;
mas7rs@gmail.compamelaghesla@yahoo.com.br; biadaipra@gmail.com; lugomes@unisinos.br

Palavras-chave: Resíduos Sólidos Urbanos; Disposição inadequada de RSU; Gestão Ambiental.

Resumo
A geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) tem crescido devido ao aumento da população, aliado às práticas de
consumismo, se tornando um problema ambiental a ser gerenciado. No Brasil, este fato contribui para o descarte inadequado,
hábito ainda comum por parte da população. Estes resíduos são de diferentes categorias, desde os facilmente biodegradáveis,
como restos de alimentos; até contaminantes químicos e biológicos, ambos poluentes que causam a contaminação do solo, do
ar e dos corpos hídricos. Contudo, cabe ao município a responsabilidade de legislar e organizar os assuntos relativos à proteção
do meio ambiente e saneamento básico de sua população residente. Neste caso, existe o sistema de Gerenciamento Integrado
de Resíduos Sólidos Urbanos – GIRSU, que tem como objetivo organizar as etapas operacionais envolvidas desde a geração
dos resíduos pela população e serviços e setores da economia instalados no município, o acondicionamento, a coleta e
transporte, o reaproveitamento, tratamento e disposição final de RSU. Sendo assim, este trabalho possuiu como objetivo
realizar a avaliação de áreas utilizadas para descarte irregular de RSU no município de Canoas-RS, propondo alternativas de
recuperação de acordo com o GIRSU adotado pelo município. Realizou-se a pontuação de 12 áreas escolhidas que eram foco
do descarte inadequado e a proposição de soluções para os casos classificados como mais graves. O município de Canoas fica
localizado na região metropolitana de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Como método, empregou-se a
avaliação criada por Silva Jr. (2009), onde foram analisados critérios Ambientais: Uso do solo, proximidade a cursos d’água
relevantes, e proximidade a núcleos residenciais urbanos; Técnicos: idade da área de descarte, permeabilidade do solo natural,
e facilidade de acesso de veículos pesados; Econômico: distância percorrida pelos equipamentos, e custo de investimento em
infraestrutura; Político-Social: Acesso às áreas através de vias com baixa densidade de ocupação e inexistência de problemas
com a comunidade local. Cada critério possuía um peso distinto, no somatório total, conforme seu grau de importância. Os
pesos são 10 (dez) para os critérios ambientais, 8 (oito) para os critérios técnicos, 7 (sete) para os critérios econômicos e 5
(cinco) para os critérios político-sociais. Posteriormente, os locais foram avaliados e foi dada uma nota conforme o tipo de
atendimento, sendo 10 (dez) quando o atendimento era total, 5 (cinco) quando parcial e 0 (zero) quando o critério não foi
atendido. Por fim, após a contabilização da pontuação de cada área, realizou-se a classificação final, definida pelas seguintes
faixas: de 702 a 780 pontos (90% a 100%) não preocupante, de 390 a 702 pontos (50% a 90%) moderadamente preocupante e
de 0 a 390 pontos (0 a 50%) muito preocupante. Para a análise, considerou-se os locais catalogados pela Secretária Municipal
de Serviços Urbanos de Canoas, sendo escolhidos 12 locais dentre os 90 registrados. Entre os resíduos sólidos encontrados, a
maior parte era composta por Resíduos Sólidos Domésticos (RSD) e por Resíduos de Construção e Demolição (RCD), também
contendo podas de árvores e resíduos volumosos (principalmente móveis descartados). Os resultados mostram que três áreas
apresentaram pontuação abaixo de 390 pontos, o que as caracterizou como áreas muito preocupantes, e nove áreas com
pontuação entre 390 e 702 pontos, caracterizando-as como moderadamente preocupantes. A área que recebeu a maior
pontuação foi pontuada com 645 pontos (82,7%). Já a área pior pontuada, situada no Quadrante Sudoeste, recebeu 305 pontos
(39,1%). Verificou-se que a proximidade com o Rio Gravataí e com os núcleos residenciais urbanos, além dos relatos de
incômodo dos moradores próximos da área, foram os critérios mais relevantes que determinaram a menor pontuação das áreas
classificadas como muito preocupantes. Como o critério ambiental teve maior peso na pontuação, a proximidade tanto desses
núcleos quanto dos cursos d’água afetaram consideravelmente no resultado da avaliação. Diante desta realidade, a realização
da limpeza nas áreas, instalação de equipamentos urbanos (bancos e lixeiras, utilizando materiais recicláveis) e de lixeiras de
grande porte para o acondicionamento correto dos RSU gerados pela comunidade, foram algumas alternativas propostas para
minimização dos impactos ambientais apontados nesta avaliação. Também é necessário manter o corte de grama e
ajardinamento nestas áreas a fim de evitar formação de mata densa, visto que a mesma pode contribuir para o descarte
irregular. Para uma determinada área onde foi identificado um grande volume de RSU descartado e presença de tráfego de
caminhões, sugere-se a instalação de grandes contêineres de coleta para rejeitos e obras de infraestrutura que promovam
harmonia entre os moradores da comunidade, trazendo aos hábitos da população a reeducação e conscientização. Conclui-se
com este trabalho que a adoção de medidas de infraestrutura e de gestão ambiental, ligadas ao GIRSU municipal, podem
auxiliar na redução de pontos de descarte irregular de RSU, melhorando as características municipais e a vida da população.

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PROPOSTA DE PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
PARA O MUNICÍPIO DE CAMPINA DO MONTE ALEGRE, SP
Boniolo, V. R.1, Evangelista, P.A.2, Grigoletto, F.3, Periotto, F.4
1Universidade Federal de São Carlos, e-mail: rainer.engambiental@gmail.com; 2Universidade de São Paulo, e-
mail: patriciaaevangelista@gmail.com; 3Universidade Federal de São Carlos, e-mail: baboletto@gmail.com,
4Universidade Federal de São Carlos, e-mail: ferperiotto@yahoo.com.br

Palavras-chave: Gestão integrada; Gerenciamento ambiental; Destinação de resíduos.

Resumo
A problemática que envolve os resíduos é motivo de discussões há algumas décadas, seja em âmbito nacional ou
internacional. O manejo ambientalmente adequado de resíduos sólidos deve ir além do simples depósito ou
aproveitamento, deve ir à busca da resolução da causa fundamental do problema, procurando mudar os padrões não
sustentáveis de produção e consumo, reforçando a adoção dos conceitos de não geração, redução, reutilização, logística
reversa, reciclagem e tratamento, bem como, adequada disposição final dos rejeitos, em todas as etapas do
desenvolvimento. A Política Nacional dos Resíduos Sólidos foi instituída pela Lei nº 12.305/ 2010 e prevê para todos os
municípios, a elaboração do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) e, constitui-se como
instrumento legal para que os municípios tenham acesso aos recursos orçamentários da União, destinando-os para
empreendimentos e serviços associados à limpeza urbana e ao manejo dos resíduos sólidos ou para serem favorecidos
por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal finalidade. A cidade de Campina
do Monte Alegre, localizada sudoeste paulista, está entre as 45% das cidades brasileiras que não possuem o PMGIRS. O
objetivo deste trabalho foi elaborar uma proposta de PMGIRS para este município. Os dados para a caracterização
municipal foram obtidos na Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Campina do Monte Alegre (SMA) e na
Cooperativa Recicla Campina com aplicações de questionários semiestruturados e entrevistas formais e informais com os
diversos atores envolvidos na gestão. Foram realizadas visitas em campo para obtenção de um cenário sobre as
condições do manejo dos resíduos e para avaliar a atual infraestrutura local. Para caracterizar os resíduos depositados no
aterro sanitário local foi efetuada a determinação da composição gravimétrica, utilizando a técnica do quarteamento,
conforme estabelecido pela NBR 10007/2004. A partir do diagnóstico efetuado, foi elaborado um planejamento para
suprir as deficiências encontradas na gestão dos resíduos, dividida em emergencial (até dois anos) curto prazo (3 a 6
anos), médio prazo (8 a 11 anos) e longo prazo (11 a 16 anos). Na determinação gravimétrica constatou-se que cerca de
41% dos rejeitos encaminhados ao aterro são constituídos principalmente por fraldas e papéis provenientes de sanitários.
Os materiais orgânicos representam 34% dos rejeitos dispostos no aterro. Verificou-se, ainda, que 18% dos resíduos
oriundos da coleta regular podem ser reciclados. Em maiores quantidades foram encontrados os resíduos plásticos (9%) -
embalagens e garrafas PET; papel e papelão (6%) - folhas sulfites, cadernos, livros e embalagens; vidros (2%) - garrafas,
copos e pratos e, por fim, metais (1%) - latinhas e embalagens de desodorantes. Entres as proposições efetuadas
destacam-se: intensificar a fiscalização no município quanto à destinação de entulhos em locais inadequados; contratação
de um fiscal ambiental municipal, através de concurso público; erradicação dos depósitos irregulares de materiais de
descarte em logradouros públicos; aumento no contingente da frota utilizada para a coleta de resíduos; incentivo à
separação dos resíduos orgânicos; acréscimo de um dia no calendário de dias da coleta municipal; redução-meta de 45%
dos resíduos submetidos ao aterro sanitário; implantação de ecopontos; instalação de contêineres de coleta em setores do
município; discussão de investimento em programas de educação ambiental; discussão sobre o decreto de consumo
obrigatório de composto orgânico nas compras públicas; oferecer destino adequado aos resíduos de poda do manejo da
arborização urbana; ampliação dos pontos de coleta de pilhas e baterias; implantação de pontos de coletas em
estabelecimentos públicos e em escolas para os resíduos eletrônicos; formalização de parceria com empresa capacitada
para oferecer tratamento e/ou disposição adequada aos resíduos coletados e implantação de pontos de entrega voluntária
de pneumáticos. Importante enfatizar que se faz imprescindível o incentivo quanto à participação popular, além de
empresas e demais atores envolvidos na discussão das ações aqui propostas. Por fim, constatou-se que o município
estudado carece de investimentos e de gestão adequada quanto ao manejo de resíduos sólidos, havendo urgência na
implantação de um PMGIRS, contudo, ao acontecer tal implantação, não se encerram as discussões referentes às
possíveis avanços nesse setor, devendo o mesmo ser revisado a cada quatro anos, conforme orienta a legislação.

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O USO DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES AMBIENTAIS (SIA) COMO
FERRAMENTA PARA O DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES
VOLTADAS À EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Aline de Godoy1, Kétini Mafalda Sacon Baccin2, Adriano Gomes da Silva3, Vania Elisabete Schneider4

1Universidade de Caxias do Sul Região dos Vinhedos - CARVI, e-mail: agodoy@ucs.br; 2Universidade de Caxias
do Sul Região dos Vinhedos - CARVI, e-mail: kmsbaccin@ucs.br; 3Universidade de Caxias do Sul, e-mail:
agsilva11@ucs.br; 4Universidade de Caxias do Sul, e-mail: veschnei@ucs.br;

Palavras-chave: Educação Ambiental; Sistema de Informações; Monitoramento Ambiental;

Resumo
A educação ambiental, diariamente, vem sendo aprimorada como um instrumento legal no processo educativo. A
utilização de ferramentas e métodos frente as mudanças atuais no meio ambiente, são necessárias na medida que a sua
preservação ganha relevância no cenário ambiental. Os recursos naturais, a poluição e a preservação da biodiversidade,
se tornam preocupações cada vez mais presentes no planejamento e no desenvolvimento territorial dos mais diferentes
usos e ocupações do solo. A instalação de empreendimentos hidrelétricos, em particular podem resultar em uma série de
impactos nos meios físico, biótico e antrópico. Neste sentido, o monitoramento pré e pós instalação destes
empreendimentos é um condicionante estabelecido pelos órgãos ambientais de avaliar a curto, médio e longo prazo, o
resultado da intervenção na fauna sobre um determinado corpo hídrico. Os monitoramentos geram uma gama de
informações, que podem ser utilizadas tanto para pesquisas quanto para atividades educacionais, como um potencial para
aprimorar as competências dos estudantes, desde que sistematizados e tornados acessíveis ao público de interesse. Os
Bancos de Dados permitem a sistematização das informações ambientais, constituindo-se em ferramenta de gestão de
fácil acesso para futuros profissionais e pesquisadores da área. Neste contexto, o Sistema de Informações Ambientais das
Hidrelétricas instaladas na Bacia Taquari-Antas (SIA Hidrelétricas), desenvolvido pelo Instituto de Saneamento
Ambiental da Universidade de Caxias do Sul (ISAM/UCS), armazena e organiza dados provindos de programas de
monitoramentos por empreendimentos hidrelétricos da região, referentes a água, clima, fauna e geografia da Bacia
Hidrográfica Taquari-Antas (RS). O SIA está situado em um servidor web, e seu acesso pode ser realizado a qualquer
momento e local, permitindo ao usuário os dados de armazenamento das informações complementares, realizados nos
monitoramentos. O objetivo do sistema é fornecer informações de forma eficaz e consistente aos órgãos ambientais,
como a Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (FEPAM), as hidrelétricas da região e ao
público em geral. A interface do SIA gerencia os dados brutos fornecendo indicadores, análises estatísticas, relatórios,
consultas nos índices de qualidade e diversidade, relaciona as legislações e georreferencia todas as informações prestadas
através de um webmapa, localizado na página inicial do sistema. O acesso ao mapa permite ao usuário a interagir com o
ambiente virtual do SIA, encontrando os pontos que foram amostrados, os limites das bacias hidrográficas, as barragens
e outros fatores, disponibilizando uma análise da interpretação dos dados, além de ter uma relação completa da
taxonomia da fauna descrita, em forma de tabela ou árvore filogenética. Todos os dados incorporados no sistema, visam
uma aprendizagem mais significativa aos usuários, a fim de proporcionar maior divulgação das informações para a
população, sobre o clima, a fauna e a situação dos rios da sua região. As informações do SIA, quando inseridas em um
contexto escolar, revelam horizontes de oportunidades de pesquisas, pois os usuários têm acesso aos módulos do sistema,
inclusive a utilização do índice de Shannon para compreender a diversidade de espécies em relação ao manejo do local,
além de incentivar a educação ambiental para os jovens, futuros agentes da ciência. Neste cenário, o sistema apresenta-se
como uma importante e potencial ferramenta para o acesso dos fatores ambientais, tornando mais significativa a
aprendizagem, o desenvolvimento de habilidades e competências, e propiciando a construção do conhecimento,
principalmente no que diz respeito a sensibilização ambiental.

Agradecimentos
Os Autores agradecem ao órgão de fomento - FAPERGS, ao Instituto de Saneamento Ambiental (ISAM), aos técnicos do
Sistema de Informações Ambientais (SIA) e a Universidade de Caxias do Sul pelo apoio recebido.

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EFICIÊNCIA EM AEROGERAÇÃO DE MICRO E BAIXA POTÊNCIA
EM ZONAS URBANAS
Gabrielli De Carli da Silva1, Tainã Bloss Lanius 2, Aline Baruffi3
1Universidade Anhnaguera, e-mail: taggaenergia@outlook.com; 2Universidade Uninter, e-mail:
taina_bl@outlook.com; 3Universidade Anhanguera, e-mail: alinebaruffi@hotmail.com

Palavras-chave: aerogeradores, micrigeração, energia.

Resumo
A Aerogação de micro e baixa potência ainda é uma alternativa pouco usual na região interiorana do Rio Grande do
Sul. Estudos apontam que, do perfil familiar que opta pela microgeração de energia em suas residências, empresas
ou indústrias, 95% utiliza a Energia Fotovoltaica (COLAFERRO, 2018). Os principais motivos da não-utilização
do sistema de geração eólica é a falta de pesquisas relacionadas ao potencial de vento em zonas urbanas de cidades
com relevo distinto ao litorâneo (de potencial já conhecido), além da pouca demanda de Aerogeradores de micro e
baixa potência, que suprem as necessidades de famílias e empresas de zona urbana. Através de canais de vento,
aerogeradores instalados em alturas específicas, é possível produzir energia para abastecimentos consideráveis, que
vão desde residências unifamiliares, até empreendimentos de 50 unidades, bem como a produção para indústrias,
comércio, prédios públicos, creches e escolas. A pesquisa está sendo feita na cidade de Passo Fundo – RS, a 720m
do nível do mar, região do Planalto Médio, ao Norte do Estado. Uma produção realizada a 54 metros de altura, com
ventos variantes, que vão de 20km/h, até 120km/h, demonstram a capacidade de produções desse tipo. O potencial
energético do mesmo, é de 8000W, e fará o abastecimento de um empreendimento de 17 pavimentos, com 24
unidades, sendo a geração, de finalidade de uso para áreas comuns do condomínio. Além disso, o estudo realizado
em 3 principais pontos da cidade, aponta o potencial energético para a aerogeração de micro e baixa potência para
áreas públicas do referido município, tais como: parques, avenidas, iluminação pública e futuramente, a
aerogeração para prédios públicos do município. Outro fator de interesse é o investimento a ser feito na
aerogeração, que se torna compatível com os sistemas fotovoltaicos existentes. Com valores aproximados, torna-se
mais vantajoso migrar para a microgeração de energia eólica, se comparado ao tempo de geração em pico de um
sistema solar (em média 4,3h/pico para a região Sul do país) versus a incidência de vento da mesma região,
ampliando, assim, o número de horas de energia gerada pelo referido sistema.

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5SSS180
ANÁLISE DE SEDIMENTOS EM DOIS RESERVATÓRIOS
DESTINADOS À IRRIGAÇÃO DE GRÃOS NA REGIÃO DE BURI,
SUDOESTE PAULISTA
Periotto, F.1, Romão, R. M.2, Dal Farra, S.3
1Universidade Federal de São Carlos, docente, e-mail: ferperiotto@yahoo.com.br; 2Universidade Federal de São
Carlos, estudante de graduação em Engenharia Ambiental, e-mail: remdrl@hotmail.com; 3Universidade Federal
de São Carlos, técnica de laboratório, e-mail: sodalfarra@hotmail.com

Palavras-chave: Interior paulista; Insumos agrícolas; Lagos artificiais.

Resumo
Um dos fenômenos mais significativos do início do século XXI é o agravamento das condições ambientais do
planeta, nesse contexto, os ecossistemas aquáticos estão vulneráveis a diferentes agentes poluidores. Em
reservatórios destinados à irrigação de cultivos de grãos, através da tecnologia de pivôs centrais, frequentemente, os
insumos agrícolas lixiviados em seus entornos são carreados para seus corpos através da água e de sedimentos em
solução. A Fazenda Lagoa do Sino, onde está inserido o mais novo campus da Universidade Federal de São Carlos,
apresenta um cenário de relevante produção agrícola e possui reservatórios de água destinados a esse fim, irrigação.
O objetivo do trabalho, baseado nessas justificativas foi desenvolver um método analítico capaz de avaliar,
inicialmente, aspectos físico-químicos dos sedimentos estudados e, posteriormente, verificar a presença de
pesticidas nesses sedimentos, sendo assim possível relacionar tal contaminação com uso e ocupação do solo,
particularmente ligados às atividades agrícolas. Para tanto, até o momento foram realizadas coletas de duas
amostras de sedimentos em dois reservatórios pertencentes ao campus Lagoa do Sino, UFSCar, localizado no
município de Buri, sudoeste paulista. A coleta de ambas as amostras foi procedida utilizando um tubo de material
PVC, o qual atingiu a superfície do sedimento e aprofundado até atingir 15 centímetros de profundidade, em cada
um dos respectivos lagos. Após foi encaixado um CAP na extremidade oposta desse tubo de coleta de maneira a
gerar pressão e fixar o sedimento no interior do mesmo. Em sequencia, as amostras foram transferidas do tubo para
um balde de 20 litros e, assim, transportados ao laboratório. As temperaturas foram medidas no local,
posteriormente, em laboratório, os pH’s das amostras foram mensurados e, por fim, conforme norma ABNT NBR
9898, foram conservadas a 4ºC. Após uma semana, o teor de umidade foi mensurado. As amostras restantes foram
devidamente armazenadas para as próximas análises a serem brevemente realizadas, visando determinações
diversas já programadas, como: parâmetros de fosfato, nitrito, potássio, matéria orgânica, análise de pesticidas
organoclorados, organofosforados, organosulfurados e organometálicos e, por fim, metais do sedimento: zinco,
manganês, ferro, alumínio e cobre. Outras análises físico-químicas, como carbono e sólidos totais, também serão
efetuadas. Desde já, com os aspectos do entorno dos reservatórios estudados, se faz a importante menção que há
urgência em ampliar as bordas das matas ciliares desses reservatórios estudados e de suas nascentes, visando
melhorar a qualidade da água que neles chegam e que é utilizada constantemente nas atividades agrícolas da
fazenda.

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5SSS201
REMOÇÃO DE DICLOFENACO EM SOLUÇÃO AQUOSA POR
ADSORÇÃO EM CARVÃO ATIVADO
Paola Del Vecchio1, Giovani Spiazzi Prigol1, Liliana Amaral Féris1
1
Departamento de Engenharia Química - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
e-mail: paola.dvecchio@gmail.com

Palavras-chave: Adsorção; Diclofenaco sódico; Contaminantes Emergentes.

Resumo

Introdução

Poluentes emergentes são substâncias oriundas da atividade antropogênica; estão disseminadas no meio ambiente e no
abastecimento de água potável e seus efeitos a longo prazo ainda são, em grande parte, desconhecidos. Englobam-se nesta
categoria fármacos, hormônios, esteroides, surfactantes, pesticidas, desinfetantes e produtos de cuidado pessoal. Os fármacos
merecem grande atenção enquanto contaminantes, visto que processos convencionais de tratamento de efluentes não
conseguem removê-los com eficiência, e seu efeito cumulativo pode ser danoso a organismos vivos e aos ecossistemas. Dentre
os fármacos já detectados em corpos hídricos e estações de tratamento de água encontra-se o diclofenaco (DCF), um anti-
inflamatório vastamente utilizado no tratamento de diversos sintomas e que não requer prescrição médica. Ele é o composto
apresenta a maior toxicidade aguda na classe dos anti-inflamatórios não esteroides. Entre os processos de tratamento
disponíveis, a adsorção apresenta características promissoras sob os aspectos econômicos e de eficiência de remoção de
poluentes. Neste contexto, o presente estudo teve por objetivo avaliar a remoção de DCF de soluções aquosas através da
adsorção em carvão ativado comercial granular.

Metodologia

Foram utilizadas soluções aquosas de diclofenaco sódico e carvão ativado comercial (16-10 mesh) nos experimentos. Os
experimentos foram realizados em batelada, consistindo na investigação da influência do tempo de adsorção e da concentração
de sólido adsorvente, com o objetivo de se encontrar condições operacionais otimizadas. O estudo cinético foi realizado pelo
ajuste dos modelos não lineares de pseudoprimeira ordem (PPO) e pseudosegunda ordem (PSO) aos dados. Além disto, foi
construída uma isoterma de equilíbrio (298 K) para este sistema e os modelos de Freundlich e Langmuir foram ajustados aos
dados experimentais. O pH utilizado em todos os experimentos foi o natural da solução, próximo a 5,5.

Resultados

Os melhores resultados foram obtidos no tempo de contato de 90 minutos e com a concentração de sólido adsorvente de 8 g L-
1
, a partir dos quais a remoção (%) permaneceu constante. Com estas condições obteve-se 80,3 % de remoção do poluente. O
modelo cinético que apresentou melhor ajuste aos dados experimentais foi o de pseudoprimeira ordem (R²=0,994), com os
parâmetros q1 de 1,399 mg g-1 e k1 igual a 0,021 min-1. Na avaliação das isotermas, o modelo de Freundlich apresentou o
maior coeficiente de determinação (R²), igual a 0,99, com os parâmetros n igual a 2,411 e kF de 0,900 L mg-1, indicando que
houve formação de múltiplas camadas de adsorvato na superfície do carvão e predominaram os mecanismos de fisissorção.

Conclusões

Os resultados obtidos indicam que o processo de adsorção proposto apresenta grande eficiência e potencial para aplicação no
tratamento de águas contaminadas com diclofenaco, sobretudo em etapas de polimento em ETAs.

Agradecimentos

Os Autores gostariam de agradecer à CAPES, ao CNPq e à UFRGS pelo apoio recebido.

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5SSS216
HIDROGEOLOGIA NA COXILHA SÃO JOSÉ, CAÇAPAVA DO SUL:
DIAGNÓSTICO GEOFÍSICO E GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS -
RS
Dimitri Tallemberg Soares1, Samuel Oliveira Bitencourt2, Rui Sergio Saraiva Duarte Junior3
1 Universidade Federal do Pampa, e-mail: dimitri.tallemberg@gmail.com; 2 Universidade Federal do Pampa, e-mail:
olisamuel@gmail.com; 3Universidade Federal do Pampa, e-mail: ruiduarte@unipampa.edu.br

Palavras-chave: Águas subterrâneas. Gestão de Recursos Hídricos. Geofísica. Caçapava do Sul.

Resumo
Questionar a gestão dos recursos hídricos a partir de parâmetros físico-químicos e biológicos na localidade Coxilha
São José do município de Caçapava do Sul, é o desafio deste trabalho. A partir de propriedades das águas
subterrâneas e de conceitos da gestão pública de recursos é proposta uma avaliação da potencialidade de utilização
para o consumo humano de água de aquíferos pertencentes a região, a qual não é atendida por abastecimento
público. Caçapava do Sul está localizada na região de três bacias hidrográficas: Baixo Jacuí, Rio Camaquã e
Vacacaí-Vacacaí Mirim. Sob a área de estudo encontra-se um aquífero cristalino, que é composto principalmente
por rochas ígneas e metamórficas, em especial, graníticas que possuem alto grau de fraturamento e falhamento. A
metodologia do trabalho aplicou levantamentos bibliográficos, aplicação de métodos geofísicos, caracterização
estrutural através de dados de imagens de satélite, trabalho de campo, bem como, coleta e análises de águas
subterrâneas. Como resultados foi possível, num primeiro momento, comparar os parâmetros químicos
identificados com os limites estabelecidos para os padrões de potabilidade em relação ao consumo humano. Além
disso, foram identificados e analisados padrões de compartimentação da hidrodinâmica subterrânea com auxílio da
geofísica, isto é, a análise geofísica mostrou-se também adequada para a verificação de variabilidade geológica
local e, consequente, controle estrutural do armazenamento e mobilidade da água subterrânea. Foi verificado que os
poços do local não interceptam estruturas secundárias entrecruzadas, logo, a vazão dos poços, provavelmente, deve
ser baixa e, consequentemente, a utilização de águas subterrâneas na área fica restrita a poços com grandes
profundidades, onde há presença de fraturas. Assim, apesar de suficiente disponibilidade hídrica em poços
tubulares profundos, estes não vem sendo recorrentemente utilizados devido ao seu alto custo de perfuração. Os
padrões físico-químicos, em sua maioria se mostraram dentro do padrão de potabilidade. A bactéria Escherichia
Coli, mostra-se presente em todos os poços analisados, sendo possível concluir que esses apresentam
contaminações antrópicas. Provavelmente, essa contaminação ocorre pela condição precária que os poços se
encontram, onde, nenhum dos 5 poços está dentro de condições necessárias para o sua utilização visando
abastecimento público sem prévio tratamento. Por fim, baseado no supracitado, verifica-se a elevada necessidade
de uma tomada de decisão quanto a construção de uma adutora até o local ou a instalação de um simplificado
sistema de tratamento a abastecimento. Em função da distância existente entre o local e a extremidade da atual
rede de distribuição, do gradiente topográfico que tornaria necessária uma série de bombas de recalque e do
conjunto de resultados deste trabalho, verifica-se que, provavelmente, o tratamento simplificado da água de poços
da região é uma solução mais adequada.

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5SSS229
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A IMPLANTAÇÃO DE VIVEIRO
FLORESTAL EXPERIMENTAL DA ESPÉCIE CACAU (THEOBROMA
CACAO), NA E. M. ZILDA ARNS NEUMAN-AM
Islane de Sousa 1, Gustavo da Silva Castro 2, André Vilhena de Oliveira 3
1.
Arquiteta e Urbanista, Discente do Curso de Nível Técnico em Meio Ambiente, IFAM-CMC,
e-mail: islanedesousa-arq.urb@hotmail.com; 2.Discente do Curso de Nível Técnico em Meio Ambiente, IFAM-CMC, e-mail:
gustavocastro2110@gmail.com; 3. Profº Drº, IFAM-CMC, andre.vilhena@ifam.edu.br

Palavras-chave: Educação Ambiental; Germoplasma Vegetal; Banco de Sementes.

Resumo
A conceituação de semente para viveiro florestal é bastante variável e depende do ponto de vista de vários
observadores sobre o tema, sejam eles técnicos, cientistas pesquisadores, fazendeiros ou cidadãos comuns.
Geralmente, a semente é tida como uma unidade de reprodução sexual das plantas. Para objetivos de conservação
em extenso período, considera-se como semente a estrutura de vida latente, composta por central embrionária,
tegumento externo, tegumento interno, radícula e hilo, além dos tecidos de proteção, ou a unidade envolta por
estruturas que compõem o fruto. A semente se estabelece na forma mais simples, comum e eficiente de
conservação das informações genéticas vegetais utilizados pelo ser humano em prol de negócios, pesquisas e
sobrevivência alimentar.
O germoplasma é a prática de armazenamento de sementes cujo termo é seguramente definido como a base
física da herança genética, transmitida de uma geração para outra através de células reprodutivas. No
armazenamento em longo prazo, é representado pela própria semente e cada amostra de semente de uma
determinada matriz corresponde a um acesso. Para se falar de banco de dados em germoplasma buscou-se entender
a fundo o Comportamento fisiológico, a viabilidade e a longevidade das sementes alvos de estudo, a Theobroma
Cacao, também buscou-se compreender os tipos de sementes quanto a elas serem ortodoxas, intermediárias e
recalcitrantes para então se classificar a Theobroma Cacao num resultado final de análise e preservação de sua
estrutura em banco de germoplasma vegetal. O cacau destaca-se como uma das espécies nativas da Amazônia de
grande potencial por não necessitar de grandes áreas desmatadas para reproduzir bons frutos, desenvolve-se melhor
em mata fechada, sendo, portanto, uma cultura extremamente conservacionista de solos, fauna de frutos robustos e
com altos potenciais que auxiliam na saúde. Pouco mecanizada, é uma cultura que proporciona um alto grau de
geração de emprego, é uma planta de clima quente e úmido que prefere o solo argilo-arenoso, possui duas fases de
produção de frutos: temporão (março a agosto) e safra (setembro a fevereiro), sua propagação se dá por sementes e
de forma vegetativa (assexuada). Encontrou no sul da Bahia um dos melhores solos e clima para a sua expansão e
teve bom desenvolvimento em solo e clima do Amazonas, o cacau foi, portanto, à espécie escolhida para a
implantação de um viveiro experimental na Escola Municipal Zilda Arns Neuman, Localizada na Rua Raio de Luz,
s/nº, no bairro Lago Azul, Zona Norte na cidade de Manaus – AM.

Agradecimentos

Os autores de forma cordial agradecem ao Instituto Federal do Amazonas, Campus Manaus Centro (IFAM-CMC) pelo apoio
do profissional André Vilhena em orientação e correção de textos e pelas instalações de ensino que possibilitaram o sucesso no
desenvolvimento do projeto; A Escola Municipal Zilda Arns Neuman, em Manaus – AM, por disponibilizar a área e auxiliar na
implantação do projeto, e por fim, aos organizadores do 5º Simpósio sobre Sistemas Sustentáveis que proporcionaram a
oportunidade de participação neste congresso.

51
5SSS238
PRODUÇÃO DE ÁGUA PARA REUSO: UMA ALTERNATIVA PARA
MINIMIZAR O IMPACTO AMBIENTAL E ECONÔMICO NA INDUSTRIA
DE REFRIGERANTES
Marcos Alberton Dacoregio1, Dayane Gonzaga Domingos2, Beatriz L. S. K. Dalari2, Ana Silvia De Lima
Vielmo2, Juliana Barden Schallemberger2, Cristiane Lisboa Giroletti, Suzana Cimara Batista1
1Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL, e-mail: marcos.dacoregio@hotmail.com;
2UniversidadeFederal de Santa Catarina, e-mail: day_domingos_@hotmail.com.
Palavras-chave: Tratamento de água; Reuso; Impacto Ambiental.

Resumo
Em resposta a esses desafios crescentes com os padrões climáticos, concorrência pelo suprimento de água e a escassez de água,
muitos governos estão procurando soluções para manter os serviços de fornecimento com qualidade, e uma das alterativas
propostas é o uso de fontes alternativas de água (SMITH et al., 2018). A reutilização de águas residuais é uma prática como
uma prática racional que contribui para a proteção ambiental. Esta técnica está comumente relacionada com a redução do
consumo de água e os seus elevados custos de tratamento (GUTTERRES e AQUIM, 2013). Desta forma vários estudos estão
sendo realizados sobre a reutilização de águas de diversos setores industriais como a manufatura têxtil (ROSI et al., 2007),
agricultura e irrigação (KAMIZOULIS, 2008), alimentos (VALDERRAMA et al., 2012), reciclagem de plásticos
(BORDONALLI e MENDES, 2009), fabricação de papel (WEBER et al., 2010), refinaria de petróleo (MOHAMMADNEJAD
et al., 2012) e indústria petroquímica (HANSEN et al., 2018). Ao fornecer uma fonte adicional de suprimento, o reuso de água
tem o potencial de apoiar o setor da saúde pública, reduzir impactos ambientais derivados do processo de extração de fontes
naturais, como por exemplo águas superficiais e águas subterrâneas (HARTLEY, TORTAJADA, BISWAS, 2019). Os sistemas
de reutilização no local podem conter fontes alternativas de água como: águas cinzas, águas pluviais e águas negras, para
aplicações não potáveis como: refrigeração, descarga de vasos sanitários, processamento industrial, irrigação e outras
(RUPIPER, LOGE, 2019). Deste modo a pesquisa foi realizada com a utilização de águas retiradas durante a execução da
retrolavagem de filtros de purificação. A caracterização do efluente bruto foi realizada com análises de cloro residual (método
iodométrico), coliformes fecais (método de tubos múltiplos com cultura de Caldo Fluorocult LMX), pH (método
potenciométrico), sólidos totais dissolvidos (SST) (método gravimétrico de acordo com Standard Methods) e turbidez
(Turbidímetro Spectroquant Nova 60 – MERCK). Para determinar o volume de sólidos sedimentáveis, utilizou-se de cone
Imhoff medindo as primeiras 6 horas de sedimentação e posteriormente 12, 24, 48 e 72 horas a pH e temperatura ambiente.
As análises de pH, SST e coliformes fecais foram de 7,32, 187,6 (mg L-1) e ausente, respectivamente, se mostraram dentro das
legislações vigentes. Já Cloro residual e turbidez apresentaram valores acima do permitido, sendo de 1,3 mg L1 e 277 FAU,
respectivamente. Desta forma seguiu-se com os ensaios de decantação. Com 24 horas de sedimentação já foi possível verificar
a redução em parâmetros com o cloro residual e turbidez, chegando a valores de 0,5 mg L-1 e 35,2 FAU. Já nos ensaios
subsequentes com o cone Imhoff, observou que a sedimentação se estabilizou com aproximadamente 48 horas, chegando a
valores de 30 mL de material sedimentado. O valor para a turbidez foi reduzido a 87%, mas ainda não era satisfatório para o
reuso. Tendo em vista que esse trabalho visa reutilizar o efluente gerado na empresa, o tratamento proposto para este efluente
necessitaria apenas de uma decantação seguida pela dosagem com cloro, o que possibilitaria o reuso desta água para a limpeza
de pisos, calçadas, irrigação de jardins e nos vasos sanitários, gerando uma economia mensal calculada no valor de R$ 247,50
reais.
Referências Bibliográficas
BORDONALLI, Angela Cristina Orsi et al. Reuso de água em indústria de reciclagem de plástico tipo PEAD. Engenharia Sanitária e Ambiental, 2009.
GUTTERRES, Mariliz; DE AQUIM, Patrice Monteiro. Wastewater reuse focused on industrial applications. In: Wastewater Reuse and Management. Springer,
Dordrecht, 2013. p. 127-164.
HANSEN, Éverton et al. Water and wastewater minimization in a petrochemical industry through mathematical programming. Journal of cleaner production, v. 172, p.
1814-1822, 2018.
HARTLEY, Kris; TORTAJADA, Cecilia; BISWAS, Asit K. A formal model concerning policy strategies to build public acceptance of potable water reuse. Journal of
environmental management, v. 250, p. 109505, 2019.
KAMIZOULIS, George. Setting health based targets for water reuse (in agriculture). Desalination, v. 218, n. 1-3, p. 154-163, 2008.
MOHAMMADNEJAD, Shahin et al. Water pinch analysis for water and wastewater minimization in Tehran oil refinery considering three contaminants. Environmental
monitoring and assessment, v. 184, n. 5, p. 2709-2728, 2012.
ROSI, Ornella Li et al. Best available technique for water reuse in textile SMEs (BATTLE LIFE Project). Desalination, v. 206, n. 1-3, p. 614-619, 2007.
RUPIPER, Amanda M.; LOGE, Frank J. Identifying and overcoming barriers to onsite non-potable water reuse in California from local stakeholder
perspectives. Resources, Conservation & Recycling: X, p. 100018, 2019.
SMITH, Heather M. et al. Public responses to water reuse–Understanding the evidence. Journal of environmental management, v. 207, p. 43-50, 2018.
VALDERRAMA, C. et al. Winery wastewater treatment for water reuse purpose: Conventional activated sludge versus membrane bioreactor (MBR): A comparative
case study. Desalination, v. 306, p. 1-7, 2012.
WEBER, Cristiano Corrêa; CYBIS, Luiz Fernando; BEAL, Lademir Luiz. Conservação da água aplicada a uma indústria de papelão ondulado. Eng. Sanitária e
Ambiental, v. 15, n. 3, p. 291-300, 2010.

52
5SSS250
ÁREAS PRESERVADAS: ESPAÇOS NÃO-FORMAIS DE
APRENDIZADO – RELATO DE EXPERIÊNCIA
Cisnara Pires Amaral1, Bibiana da Cruz Santos2, Mateus Diovani Vidal Martins3
1Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, e-mail: cisnara@yahoo.com.br; 2Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, e-mail: bibi.dacruz@hotmail.com;

Palavras-chave: Educação Ambiental; aprendizado; entretenimento.

Resumo
O presente trabalho faz referência a um projeto interdisciplinar com o nome de “ Entretenimento, Conhecimento
Científico e Aprendizado no Parque Zampereti”, realizado entre os cursos de Ciências Biológicas e Educação
Física em parceria com a Prefeitura Municipal de Santiago, tem como intuito realizar as analogias entre o
conhecimento científico e as interações que se estabelecem no referido parque, salientando as diferentes relações
entre a fauna e a flora e as diversas possibilidades de aprendizagem. Através de práticas de orientação, os alunos
interagem com a natureza, realizam atividade física, relacionam os conhecimentos vistos em sala de aula com a
prática, além de trabalharem a Educação Ambiental (EA) em espaço não-formal. Dessa forma, a EA não deve ser
limitada a um conteúdo ou disciplina específica, deve sim transitar entre as diversas áreas do conhecimento, sendo
trabalhada independentemente da idade dos educandos e de acordo com o contexto, possibilitando a mediação e
construção do conhecimento em conjunto entre alunos e professores (BRANCALIONE, 2016). A atividade tem
como público-alvo alunos do ensino fundamental, médio, EJA e Graduação, realizada uma vez por semana, sendo
que os acadêmicos de Educação Física realizam uma atividade laboral com o grupo. Cada grupo recebe um mapa
de orientação, realizando um percurso identificando diferentes prismas, e suas relações ecológicas. Os discentes
fotografam a interação, o número do prisma, além de realizarem uma foto do grupo em cada ponto estabelecido. Ao
término do trajeto o grupo se reúne nas mesas do parque, auxiliados pelos acadêmicos de Ciências Biológicas
recebem uma pasta com as fotos das interações biológicas e uma folha A4 com todas as fotos existentes na pasta,
identificando em cada interação o número do prisma, discutindo aspectos relacionados com as interações vistas. O
projeto já recebeu 6 visitas desde sua estreia em agosto, totalizando uma amostra de 210 discentes, para sua
avaliação realiza-se um questionário com os seguintes itens: gostou da atividade, a atividade proporciona
conhecimentos científicos, o mapa torna acessível a atividade de orientação, as atividades interdisciplinares
facilitam o aprendizado, o conteúdo de botânica (plantas) se tornou mais fácil. Após coleta de dados observamos
que 100% dos discentes gostaram da atividade, 92,5% salientaram que a atividade proporcionou conhecimentos
científicos, 96% apreciaram trabalhar com mapa para facilitar a trajetória, 98% concordaram que as atividades
interdisciplinares facilitam o aprendizado e 93.5% observou que o conteúdo de plantas tornou-se mais acessível
com a atividade realizada. Nota-se que os discentes primam por atividades realizadas em espaços não-formais, que
facilitem a interdisciplinaridade e o intercâmbio entre diferentes disciplinas. Entendemos a importância de
proporcionar conhecimento em espaços pouco aproveitados e explorados, como um parque utilizado somente aos
finais de semana para passeios em família. As áreas preservadas auxiliam os estudos, tornam o conhecimento
diferenciado, proporcionando a relação entre conhecimentos vistos nos livros didáticos com o cotidiano,
oportunizam a conscientização e a importância da preservação ambiental para manutenção do equilíbrio do planeta.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a Secretária do Meio Ambiente e Prefeitura Municipal de Santiago pelo apoio e incentivo
ao projeto.

53
5SSS255
PRODUÇÃO DE BIOCARVÃO COMO APROVEITAMENTO
ALTERNATIVO DE CASCAS DE LARANJA
Larissa Firmino de Lima1, Maria Cristina Borba Braga2, Carlos Eduardo Rodrigues Barquilha3
1Universidade Federal do Paraná, e-mail: larissa.lflima@gmail.com; 2Universidade Federal do Paraná, e-mail:
cristinabraga01@gmail.com; 3Universidade Federal do Paraná, e-mail: ce.barquilha@gmail.com

Palavras-chave: Biocarvão; cascas de laranja; valorização de resíduos.

Resumo
Desde a década de 1980, o Brasil é o maior produtor de laranjas do mundo, sendo que, a produção de 2017 chegou
a 17,5 milhões de toneladas. Adicionalmente, estima-se que para a extração de 1 litro de suco de laranja, principal
mercado desta fruta, cerca de 2 quilogramas de resíduos são gerados. O resíduo, que é constituído das cascas e do
bagaço, tem como principal destino os aterros sanitários. Devido a elevada acidez característica das frutas cítricas,
opções de destinação mais sustentáveis, como a compostagem e os biodigestores, não são viáveis para este tipo de
resíduo. Desta forma, este trabalho objetiva a produção de biocarvão como alternativa atrativa para o
aproveitamento e valorização das cascas de laranja. O biocarvão é um material sólido gerado a partir da pirólise de
matéria-prima rica em carbono, em temperatura controlada e em ambiente anóxico ou com baixas concentrações de
oxigênio. Este material pode ser produzido a partir de uma imensa variedade de biomassa, incluindo resíduos
agrícolas e resíduos sólidos orgânicos, como as cascas de laranja. O biocarvão pode ser utilizado para
melhoramento do solo com o intuito de aumentar a produtividade agrícola por meio do enriquecimento em
carbono, aumento da atividade microbiana, retenção de água e diminuição da lixiviação de nutrientes,
especialmente em regiões tropicais. Tendo em vista que este material é majoritariamente constituído de carbono e
caracterizado como altamente resistente à decomposição, o biocarvão desacelera o retorno do carbono à atmosfera
e atua como sequestrador deste gás. Além disso, a carbonização da biomassa resulta na geração de estruturas
aromáticas e poliméricas, assim como na formação de poros decorrente da volatilização de matéria orgânica. Desta
forma, o uso do biocarvão também pode ser aplicado para adsorção de contaminantes no solo, no ar e na água.
Espera-se a partir da produção de biocarvão de cascas de laranja seja uma forma de agregar valor comercial a este
resíduo, além de proporcionar uma ferramenta para o gerenciamento e gestão de resíduos sólidos.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a Fundação CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, e a
Universidade Federal do Paraná pelo apoio recebido.

54
5SSS283
ESTIMATIVA DA TEMPERATURA INTERNA DO CACHO DE BANANA PRATA,
UTILIZANDO TRÊS DIFERENTES TIPOS DE PROTEÇÃO DO CACHO NO
CONTROLE DO “CHILLING” PARA O ANO DE 2019 NO VALE DO RIBEIRA/ SP
Antonio Gabriel Pontes dos Reis1, Juliana Domingues Lima2, Eduardo Nardini Gomes2, Augusto Yoshikazu
Akamine1; Augusto Tavares Anheschivich1
1Universidade Estadual Paulista, Campus Experimental de Registro, e-mail: agp.reis@unesp.br; 2Universidade Estadual
Paulista, Campus Experimental de Registro, e-mail: juliana.d.lima@unesp.br.
Palavras chave: Banana; proteção do cacho, temperatura.
A banana é uma das frutas tropicais mais consumidas do mundo, devido sua facilidade de ingestão, quantidade de nutrientes, vitaminas e
formas de preparo. No Brasil, o seu cultivo abrange todas as regiões desde a costa litorânea as planícies do interior, com grande ênfase da
produção direcionada para o consumo interno (SILVA, 2003). A mesorregião do Brasil com maior produção é o litoral sul paulista (Vale do
Ribeira) com cerca de 810236 toneladas, correspondendo a 76,33% da produção do Estado de São Paulo, que é o maior produtor nacional
(IBGE, 2018). Contudo, a região do Vale do Ribeira sofre com a ocorrência de baixa temperaturas, já que as condições térmicas ideais para o
cultivo estão entre 15ºC e 35ºC. Ainda que possível, fora desses intervalos, a produção encontra obstáculos para alcançar seu pleno potencial
(MONTEIRO, 2009). A exposição a temperaturas abaixo do limite por curto período pode ocasionar o “chilling” ou “friagem” da banana.
Essa alteração consiste na floculação de seiva nas camadas superficiais causando a coloração escura na casca do pseudofruto, baixa
modificação de amido e açúcares, descoramento da epiderme, dificultando a maturação, deixando a endocarpo acinzentado, prejudicando a
palatabilidade, diminuindo sua qualidade (PAIVA, 2011). Existem métodos para prevenção desta injúria, a exemplo do ensacamento do
cacho, que consiste na proteção desde o início do seu desenvolvimento, visando o aumento do seu tamanho, redução do tempo entre a
inflorescência e a coleta, acréscimo no tamanho, contenção da temperatura no frio, raspagem causada pelas folhas e proteção contra insetos
(COSTA, 2002). Nos estudos mais recentes com invólucros que retém calor, busca-se nas propriedades físico-química a melhor alternativa
para esse propósito (LIMA 2018). Tendo em vista a problemática enfrentada neste processo de redução de injúrias por baixa temperatura,
procurou-se monitorar a temperatura do ar dentro do cacho, utilizando três formas de proteção do cacho na época do inverno. Foram
realizados quatro tratamentos de proteção térmica do cacho com três repetições cada: T1 que consiste apenas de espuma de polietileno
expandida 5mm; T2 que consiste da sobreposição de um filme de polietileno com aditivo térmico de espessura de 5µm e espuma de
polietileno expandida de 5mm; T3, papel kraft de 7 µm, polietileno azul de 5 µm perfurado e polietileno preto de 8 µm e TSP, testemunha
representado por controle sem qualquer proteção. O experimento foi conduzido em uma propriedade produtora de banana localizada no
município Jacupiranga-SP onde foram instalados 12 termopares de CuCo (tipo T, com termoelemento positivo (TP): Cu100%,
termoelemento negativo (TN): Cu55%Ni45%, com faixa de utilização: -270°C a 400°C, da empresa Alutal) acoplados a um micrologger
CR1000 da Campbell Sci, operando na frequência de médias de temperatura de 5 minutos (média de 300 leituras de 5segundos). Após o
monitoramento das medidas experimentais em cada tratamento, foram geradas equações de estimativa do ganho de temperatura dentro de
cada cacho protegido (T1, T2 e T3). Foi utilizado o software PC400 da Campbell Sci para programar o Datalogger, e do software Origin 6.0,
que realizou toda a parte gráfica e estatística do trabalho. O período de medições foi de 21/06/2019 das 8h até 06/09/2019 às 15,33h. Desse
período retirou-se quatro intervalos que apresentaram temperaturas que pudessem causar o “chilling”. A estatística descritiva deste intervalo
de tempo indicou que a temperatura mínima foi de 4,43ºC e máxima de 16,92ºC, com variação de temperatura de 12,38ºC. Desses dados
foram ajustadas equações lineares de estimativa da temperatura interna do cacho em função do tratamento testemunha, obtendo elevados
coeficientes de determinação, que indicam a elevada qualidade do ajuste, superior a 0,982. No primeiro intervalo utilizado para validação
obteve-se temperatura mínima 5,32ºC e máxima 18,41ºC, com variação térmica de 13,09ºC. As equações apresentam os seguintes resultados
T1 e T2 apresentaram subestimativa acentuada e super dimensionamento nas faixar iniciais e terminais do período. No segundo, os dados
obtidos foram os seguintes: temperatura mínima 6,64ºC; máxima 17,91ºC, com variação térmica de 11,28ºC. As equações estimadas
apresentaram os seguintes resultados: T1 apresentou subestimativa na maioria do intervalo com maior espalhamento, T2 apresentou certa
proporcionalidade de dados extravasados em relação aos medidos, T3 apresentou alta superestimativa com um curto espaço de subestimativa
com baixo espalhamento na região central do intervalo. Dentre as equações ajustadas, a T2 apresentou melhores indicativos estatísticos com
menores espalhamentos em relação às outras.
Referências bibliográficas
PAIVA, A. et al. Disponível em<http://respostatecnica.org.br/dossie-tecnico/downloadsDT/NTY3Mw==> Acesso em 08/10/2019.
CATI - disponível em:<http://www.cati.sp.gov.br/portal/produtos-e-servicos/publicacoes/acervo-tecnico/aspectos-climatologicos-na-cultura-da-banana>Acesso em 07/10/2019 às
15:39:00
COSTA, J.N. M.; FILHO, J. A. S.; KLUGE, R. A. 2002 Efeito do ensacamento de cachos de banana ‘Nanicão’ na produção e no intervalo entre inflorescência e colheita. Pesquisa
Agropecuária Brasileira, v. 37, p. 1575-1580.
LIMA, J. D.; ROZANE, D. E. ; GOMES, E. N. ; MODENESE-GORLA DA SILVA, S. H. M. G. ; MORAES, W. da S. ; Kluge, R. A. 2019. Influence of bunch bagging on the
development of banana Prata (AAB) and prevention of chilling injury in the field. Australian Journal of Crop Science, v. 13, p. 895-902.
MONTEIRO, J. E. B. A. 2009. Agrometeorologia dos Cultivos: O fator meteorológico na produção agrícola. 1. ed. Brasília-DF: Instituto nacional de meteorologia, 546 p
TRINDADE, A. V. et al. 2004. O cultivo da bananeira. 1 Ed. Cruz das almas: Embrapa, 279 p. v. único.

55
5SSS285
AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E
SEUS EFEITOS NA QUALIDADE DA ÁGUA DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO ARROIO ARCADA EM UM RESERVATÓRIO
NO MUNICÍPIO DE CAMBARA DO SUL – RS
Edla Letícia Antunes Brizola dos Santos1, Vânia Elisabete Schneider 2, Geise Macedo dos Santos3, William
Luan Deconto4, Denise Peresin5
1Universidade de Caxias do Sul - UCS, e-mail: brizolaleticia@gmail.com; 2 Universidade de Caxias do Sul - UCS,
e-mail: veschnei@ucs.br; 3 Universidade de Caxias do Sul - UCS, e-mail: gmsantos5@ucs.br; 4
Universidade de Caxias do Sul - UCS, e-mail: wldeconto@ucs.br; 5 Universidade de Caxias do Sul - UCS, e-mail:
deniseperesin@gmail.com

Palavras-chave: Reservatórios; Índice de Qualidade da Água de Reservatórios – IQAR; Índice de Estado Trófico – IET.

Resumo
O uso e ocupação do solo pode impactar diretamente a qualidade da água variado conforme o seu uso, a carga
orgânica lançada, o arraste de partículas e nutrientes disponíveis. Atividades como a construção de reservatórios
altera significativamente a dinâmica destes locais quanto ao fluxo de água, pela transformação de um ambiente
lótico em lêntico, com isso modifica as condições da qualidade da água muitas vezes elevando a produtividade
deste sistema, ocasionando o processo conhecido por eutrofização. Dessa forma, o presente trabalho teve como
objetivo, avaliar a influência do uso e ocupação do solo sobre a qualidade da água e o grau de trofia um
reservatório localizado no município de Cambará do Sul, através da análise do IQAr (Índice de Qualidade da Água
em Reservatórios) e do IET (Índice de Estado Trófico) pela comparação em dois períodos distintos, sendo uma
coleta em época de chuvas intensas em junho de 2019 e a outra em época de seca em agosto de 2019. Para a
elaboração do mapa de uso e cobertura do solo utilizou-se imagens do satélite CBERS-4 de 2019. A classificação
da imagem ocorreu de forma não supervisionada, a partir da separação automática das classes pelo algoritmo
Isoclust do Idrisi Selva. Foram classificadas 4 classes principais de uso, sendo elas: área de mata nativa, áreas de
campo, área de silvicultura e lâmina d’água. O IQAr apresentou a classificação como criticamente degradado a
poluído tanto para o período chuvoso quanto para o período seco. Quanto ao IET, apresentou grau de trofia
mesotrófica, com presença de produtividade intermediária que podem implicar sobre a qualidade da água em níveis
aceitáveis pelo enquadramento do corpo hídrico.

56
5SSS289
ANÁLISE DAS CARACTERISTICAS FISIOGRÁFICAS DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO JACUI-RS
Morgana Vaz da Silva1, Laís Moreira Miguel2
1Universidade Federal de Pelotas, e-mail: morgana.silva@ufpel.edu.br; 2Universidade Federal do Paraná, e-
mail: lais.miguel@ufpr.br

Palavras-chave: bacia hidrográfica; modelo digital de elevação; enchentes

Resumo
A bacia hidrográfica, de acordo com a Política Nacional de Recursos Hídricos é a unidade de planejamento ambiental e
de gerenciamento de recursos hídricos, sendo também prevista no Código Estadual de Meio Ambiente do Rio Grande do
Sul, pela Lei 11.520 de 3 de agosto de 2000. Mediante a importância dos recursos hídricos e da necessidade de uma
gestão efetiva, diversos estudos tem sido realizados para caracterizar bacias hidrográficas, uma vez que se entende a
mesma como a unidade de planejamento mais adequada para garantir o uso eficiente dos recursos hídricos.
As características fisiográficas de uma bacia hidrográfica constituem elementos de grande importância para avaliação do
seu comportamento hidrológico, pois, ao se estabelecerem relações e comparações entre estas características e os dados
hidrológicos conhecidos, podem-se determinar indiretamente os valores hidrológicos em locais sem dados.
O comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica é função de suas características fisiográficas, tais como forma,
relevo, área, perímetro, rede de drenagem, solo, dentre outros e do tipo da cobertura vegetal. Além das características
físicas e também as bióticas, principalmente àquelas relacionadas com a cobertura vegetal do solo desempenham
importante papel nos processos relacionados à fase terrestre do ciclo hidrológico, influenciando, dentre outros, a
infiltração, a evapotranspiração e os escoamentos superficial e subsuperficial e a quantidade de água produzida como
deflúvio.
Atualmente, as técnicas de geoprocessamento são muito utilizadas para avaliação de diversos parâmetros morfométricos
de bacias de drenagem e de bacias hidrográficas, pois proporcionam um ambiente flexível e constituem uma ferramenta
poderosa para a manipulação e análise da informação espacial. Pelo exposto acima, o objetivo deste trabalho foi avaliar a
suscetibilidade a enchentes da bacia hidrográfica do rio Jacui-RS, através de suas características fisiográficas.
A área de estudo foi a bacia hidrográfica do rio Jacui-RS, situada na porção centro-norte do Estado do Rio Grande do
Sul, entre as coordenadas geográficas 28°08' a 29°55' de latitude Sul e 52°15' a 53°50' de longitude Oeste. De acordo
com o IBGE (2010), possui aproximadamente 80% de mata atlântica e aproximadamente 20% do bioma pampa.
O modelo digital de elevação (MDE) utilizado foi obtido do projeto TOPODATA, onde os dados disponibilizados
passaram por um processamento computacional para refinamento no tamanho do pixel de 90 para 30m, sendo
interpolados pelo método de krigagem, derivados dos dados Shuttle Radar Topography Mission (SRTM). A partir do
MDE, com o auxílio do software QGIS versão 3.4, foram geradas as seguintes informações, área de drenagem e
perímetro da bacia hidrográfica, a hidrografia numérica e o comprimento do rio principal.
De posse desses dados, computou-se o coeficiente de compacidade (kc) ou índice de Gravelius que é a razão entre o
perímetro da bacia e a circunferência de um círculo de área igual à da bacia. O fator de forma (kf) é a relação entre a
largura média da bacia e o comprimento do eixo da bacia (da foz ao ponto mais longínquo da área). O índice de
circularidade (Ic) que relaciona o perímetro à área da bacia. Estes índices são amplamente utilizados a fim de avaliar a
suscetibilidade da bacia hidrográfica a enchentes.
A área de drenagem e o perímetro da bacia hidrográfica obtidos foram, respectivamente de 16.119,48 km² e 1.117,096
km. O coeficiente de compacidade obtido foi de 2.46, de acordo com a literatura valores distantes de 1 indicam que a
bacia é mais alongada e a sua tendência a gerar enchentes é mais lenta, o fator de forma (kf = 0.12) encontrado colabora
com estes resultados, pois um kf baixo também indica a menor suscetibilidade da bacia a ocorrência de enchentes.
Outro índice analisado, foi o índice de circularidade, que tende para a unidade à medida que a bacia se aproxima da
forma circular e diminui à medida que a forma torna-se alongada, o valor encontrado foi de IC=0.16.
A partir dos resultados obtidos, concluiu-se que a bacia hidrográfica do rio Jacui-RS, de acordo com suas características
fisiográficas, não apresentou suscetibilidade a ocorrência de enchentes. E a utilização do software Qgis mostrou-se
extremamente útil e eficiente para auxiliar na obtenção das características físicas de uma bacia hidrográfica.
Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a Universidade Federal de Pelotas e a Universidade Federal do Paraná pelo apoio recebido.

57
5SSS292
APLICAÇÃO DE OZÔNIO PARA REMOÇÃO DE MIB E GEOSMINA
DE ÁGUAS DE ABASTECIMENTO
Gabrielle Ramos Aragão de Araújo1, Ramiro G Etchepare2
1Universidade Federal do Paraná, e-mail: gabrielleramos330@gmail.com; 2Universidade Federal do Paraná, e-
mail: ramiro.etchepare@ufpr.br;

Palavras-chave: Ozonização; Qualidade de água; Desinfecção;

Resumo
No Brasil, o setor de saneamento ambiental enfrenta uma série de desafios relacionados à escassez quali-
quantitativa da água, especialmente em virtude de uma disponibilidade hídrica bastante heterogênea, de uma
demanda crescente e da deterioração dos mananciais pelo lançamento de esgotos domésticos sem tratamento ou
com tratamento deficiente. No âmbito dos sistemas de abastecimento de água, as estações de tratamento (ETAs)
são projetadas principalmente para remoção de partículas suspensas e micro-organismos, por técnicas de tratamento
convencionais de “ciclo completo” – coagulação, floculação, sedimentação, filtração, cloração e fluoretação. No
entanto, tais processos têm se mostrado ineficazes na remoção de diversos contaminantes, como compostos
orgânicos sintéticos, compostos inorgânicos, micropoluentes, algas e seus produtos de excreção. Entre estes
compostos, estão aqueles que resultam em alterações na qualidade organoléptica da água, como o gosto e odor, e
que acabam levando a rejeição da água distribuída por parte da população abastecida, e a consequente busca por
fontes de água, por vezes menos seguras. É possível identificar essa alteração na qualidade da água por meio de
dois indicadores, a Geosmina e 2-metilisoborneol (MIB), produtos de excreção de algas e cuja presença em
mananciais, e até mesmo em águas tratadas distribuídas, ocorre especialmente após períodos mais quentes do ano.
Tais compostos, que possuem limiares de percepção em concentrações inferiores a 5 ηg.L−1, não são facilmente
removidos pelas técnicas convencionais de tratamento supracitadas, e portanto, existe a necessidade de pesquisa,
desenvolvimento e aplicação de novas técnicas para a remoção destes contaminantes. Uma das alternativas em
potencial é o uso da oxidação avançada por ozônio, por ser um forte agente oxidante, atuar na remoção de micro-
organismos e consequentemente reduzir a demanda por cloro na desinfecção final da água. Apesar de o ozônio ser
usado no tratamento de água há décadas, em países como França, Estados Unidos, Holanda, Japão e Coreia do Sul,
não existe no Brasil aplicações em ETAs, e desta forma, são necessários estudos de parâmetros operacionais e de
projeto adaptados a realidade local. O presente trabalho visa a integração da ozonização com as técnicas de
tratamento físico-químico convencionais para a oxidação final de águas brutas e remoção de MIB e Geosmina.
Serão determinados parâmetros operacionais, como o pH do meio (reação direta por ozônio molecular ou indireta
por radical hidroxila), tempo de contato e concentração de ozônio. Os resultados esperados incluem a obtenção de
uma água com maior qualidade organoléptica em termos de clarificação, gosto e odor, a obtenção de parâmetros de
processo e a geração de know-how e know-why da aplicação da técnica de ozonização no tratamento de água, muito
importante no cenário nacional.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), a Companhia
de Saneamento do Paraná (SANEPAR) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR) pelo apoio recebido.

58
5SSS293
CONCEPÇÃO DA INFRAESTRUTURA SANITÁRIA URBANA BASEADA
NO ENFOQUE SISTÊMICO
Jacqueline Carril Ferreira 1, Gabrielle Ramos Aragão de Araújo 2, Daniel Costa dos Santos 3
1Universidade Federal do Paraná, e-mail: jacqcarril@gmail.com; 2Universidade Federal do Paraná, e-mail:
gabrielleramos330@gmail.com; 3Universidade Federal do Paraná, e-mail: dcsantos.dhs@ufpr.br

Palavras-chave: Infraestrutura sanitária; sistemas prediais; sustentabilidade hídrica.

Resumo
A busca da universalização dos serviços de saneamento ambiental no Brasil tem sido uma aspiração para alguns entes civis e
públicos, no Brasil, em especial nas décadas recentes. Tem havido, sem dúvida, uma maior sensibilização e mobilização para
ampliar tais serviços e a promulgação da Lei n° 11.445 de 2007 exemplifica bem este momento. No entanto, muitos entraves
têm ocorrido dadas as peculiaridades da história e cultura brasileiras, os quais de natureza política, de práticas de gestão, de
cultura de concepção e projeto da infraestrutura sanitária em cidades, de vieses econômicos, dentre tantas outras variáveis,
modulando o caminho rumo ao bem estar social e à qualidade ambiental.
Em realidade, atuar na área do saneamento ambiental é atuar em um campo complexo, pois engloba preocupações referentes às
demandas sociais, ambientais e econômicas e envolve questões tecnológicas como a infraestrutura sanitária das áreas coletivas
urbanas e das edificações. O saneamento ambiental lida, portanto, diretamente com as pessoas, com os ecossistemas urbanos,
com as políticas públicas, com os planejamentos econômicos, enfim, trata de realidades diversas associadas ao ciclo do uso da
água em áreas urbanas. Neste contexto, a supracitada infraestrutura sanitária tem um papel fundamental no ciclo da água no
meio urbano, uma vez que a mesma é composta pelos subsistemas de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, de
drenagem urbana e os prediais hidráulicos sanitários. No entanto, a visão reducionista está ainda muito presente no espectro
das sociedades, em especial as ocidentais. E os reflexos desta visão se espraiam nas atividades humanas desde as formas de
concepção até o efetivo desenvolvimento das mesmas. No setor do saneamento ambiental a influência da visão reducionista é
muito clara em diversos aspectos. Na cultura brasileira de concepção, no projeto e na execução da infraestrutura sanitária, por
exemplo, os planejadores, projetistas, executores e gestores de um dado subsistema não discutem com estes agentes de outros
subsistemas. Em outras palavras, os atores responsáveis pelos estágios de concretização dos subsistemas de abastecimento de
água usualmente não discutem com os colegas responsáveis pelos sistemas de esgotamento sanitário e de drenagem urbana no
intuito de buscarem eventuais soluções otimizadas, e tampouco os atores responsáveis por estes sistemas de esgotamento e
drenagem conversam entre si. E mais distante ainda deste cenário parecem estar os (as) projetistas dos subsistemas prediais
hidráulicos sanitários, pois poucas são as relações entre estes e os demais com o objetivo de planejar e materializar a
infraestrutura sanitária sob o olhar sistêmico. Esta cultura, portanto, de olhares diversos e dissociados entre si, pode explicar
em parte a dificuldade de universalizar o saneamento ambiental no Brasil. Isto porque tais olhares e abordagens desconexos
inviabilizam a prospecção de potenciais relações otimizantes entre todos os subsistemas da infraestrutura sanitária, fato que
dificulta que estas possam atender um maior percentual da população demandante. Diante desta realidade de dificuldades de
universalização dos serviços de saneamento ambiental no Brasil, em parte resultante destes olhares desconexos entre os
diversos agentes responsáveis em questão, conforme comentado, cabe propor a hipótese que a concepção da infraestrutura
sanitária, como um sistema, se poderia prospectar e explorar interdependências e sinergias entre os subsistemas, no sentido de
que a mesma tenha a sua capacidade ampliada para o atendimento da população. Para trilhar uma linha de ação à luz desta
perspectiva, portanto, várias são as variáveis envolvidas, assim como inúmeras são as relações que podem se estabelecer entre
as mesmas, configurando-se desta forma um cenário complexo que impõe a consideração de diversas abordagens. Uma
abordagem que se destaca dentre estas é a gestão integrada das águas urbanas (Integrated Urban Water Management, IUWM)
que, em realidade, entende o ciclo do uso da água no meio urbano como um sistema complexo. Outros arcabouços teóricos
pertinentes são a resiliência, a gestão da demanda, a abordagem “blue green”, aos projetos urbanos sensíveis, ao planejamento
estratégico, aos sistemas naturais de tratamento de esgoto, dentre outros. Isto posto, objetiva este trabalho discutir sobre a
possibilidade de incrementar o desempenho da infraestrutura sanitária quando concebida a partir de intervenções de
sustentabilidade hídrica nos sistemas prediais hidráulicos sanitários. Neste sentido, o método de investigação constou do
desenvolvimento de um estudo de caso que enfocou o planejamento da infraestrutura sanitária para uma determinada área
urbana de um município brasileiro. Os resultados da investigação indicaram que ao associar medidas de sustentabilidade
hídrica nas edificações ao planejamento da infraestrutura sanitária, indicadores de desempenho desta foram melhorados.
Todavia, algumas sinergias negativas podem ocorrer, fato que pode reduzir o desempenho da infraestrutura sanitária.
Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) pelo financiamento de bolsas de estudos.

59
5SSS299
USO DA CAVITAÇÃO HIDRODINÂMICA PARA REMOÇÃO DE
SUBSTÂNCIAS HÚMICAS
Matheus Neves de Araujo1, Thiago Vinicius Ribeiro Soeira2, Julio Cesar de Souza Inácio Gonçalves3,
Deusmaque Carneiro Ferreira4
1 Universidade Federal do Triângulo Mineiro, e-mail: matheusnevesaraujo1@gmail.com; 2 Universidade Federal
do Triângulo Mineiro, e-mail: tvribeiro88@hotmail.com; 3 Universidade Federal do Triângulo Mineiro, e-mail:
sig.julio@gmail.com; 4 Universidade Federal do Triângulo Mineiro, e-mail: deusmaque@hotmail.com

Palavras-chave: Cavitação Hidrodinâmica; Processo Oxidativo Avançado; Substâncias Húmicas

Resumo
As substâncias húmicas são os principais constituíntes de matéria orgânica do solo e das águas superficiais e são
possívelmente as macromoléculas orgânicas mais abundantes encontradas na Terra. Elas são compostas de uma
mistura complexa envolvendo ácidos fúlvicos, ácidos húmicos e humina provenientes da decomposição de resíduos
de plantas e animais por atividade microbiana. A presença das substâncias húmicas em águas não apresenta riscos
diretos associados. Entretanto, sua interação com poluentes e compostos agroindustriais pode acarretar diversos
danos à saúde humana e do meio ambiente. Apesar dos avanços na área de tratamento destes efluentes, poucos
estudos investigam a remoção de substâncias húmicas das águas. O objetivo deste trabalho foi avaliar a remoção de
substâncias húmicas, medido em Carbono Orgânico Total (COT), empregando a cavitação hidrodinâmica
combinado com processo oxidativo avançado (POA). Para este estudo foi utilizado peróxido de hidrogênio PA 50%
m/m como POA. Os experimentos foram realizados em um sistema de cavitação hidrodinâmica em laboratório com
capacidade para tratar 9 litros de solução húmica. A concentração das soluções húmicas foi fixada a 100 ppm. No
total foram realizados 20 experimentos, cada experimento foi caracterizado pelo par: pH (2,5; 3,0; 3,5; 4,0 e 5,5) e
peróxido de hidrogênio (0; 1; 15 e 30 mL) e as amostras foram coletadas nos tempos 0, 3, 6, 9, 12 e 15 minutos. Os
resultados mostram uma boa eficiência de remoção de COT para faixas de pH mais ácidas (34-36% para pH entre
2,5-3,0 e 15 mL de peróxido de hidrogênio). Este resultado indica a existência de um ponto ótimo de dosagem de
peróxido de hidrogênio combinado a cavitação hidrodinâmica para a oxidação das subistâncias húmicas. Estudos
de decantação por um período de 24 horas destes experimentos também foram realizados. Os resultados mostram
uma alta eficiência de remoção de COT para faixas de pH mais ácidas (aproximadamente 90% para pH entre 2,5-
3,0) a partir dos 3 primeiros minutos de experimentos. Isso pode ser explicado pelo fato de que, em soluções
ácidas, a cavitação hidrodinâmica consegue romper estruturas moleculares suspensas no meio líquido, favorecendo
a sedimentação. Este estudo mostrou que a cavitação hidrodinâmica aliada a processo oxidativo avançado é capaz
de remover substâncias húmicas presentes nos corpos d’água e que o controle do pH é fator crucial para garantia da
ótima eficiência de remoção.

60
5SSS301
RECUPERAÇÃO DE BIOMETANO A PARTIR DE BIOGÁS DE
ATERRO SANITÁRIO: ESTUDO DE CASO
Pierre Luz de Souza1, Rubia Flores Romani2, Tiago Nascimento Silva3, Cassia Brocca Caballero4
1Universidade Federal de Pelotas, e-mail: pierresouzals@gmail.com; 2Universidade Federal de Pelotas, e-mail:
fgrubia@yahoo.com.br; 3 Biotérmica Energia S/A, e-mail: tsilva@solvi.com, 4Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, e-mail:cassiabrocca@gmail.com

Palavras-chave: Resíduos Sólidos; Recuperação de Energia; Potencial Energético.

Resumo
O aumento da geração de resíduos sólidos urbanos tem gerado preocupações ambientais, entre elas a disposição
ambientalmente correta destes. Portanto, práticas que promovam a valorização destes resíduos, reintroduzindo-os no processo
produtivo, devem ser fomentadas. O biogás pode ser utilizado para a produção de energia térmica (aquecer, secar, resfriar) e/ou
energia elétrica. Além disso, a partir de processos de purificação, pode-se obter o biometano, que devido a elevada
concentração de CH4, pode ser injetado em gasodutos e/ou uso veicular. O aproveitamento dos gases gerados em aterros
sanitários, principalmente do biometano, além de contribuir para a redução dos gases de efeito estufa, é uma alternativa para a
valorização destes resíduos. Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi quantificar o volume de biometano produzido em um
aterro sanitário da região noroeste do estado do Rio Grande do Sul e analisar a demanda de um mercado específico por
combustíveis gasosos, principalmente gás natural e gás natural veicular e, existindo essa demanda, o possível interesse na
substituição destes por biometano. A determinação da geração de biogás no aterro sanitário foi realizada através do modelo
CDM Tool (Methodological Tool: Emissions from Solid Waste Disposal Sites — SWDS), disponibilizado pela ONU, que é a
metodologia que deve ser utilizada por projetos envolvendo emissão de biogás que buscam registro no âmbito do MDL
(Mecanismo de Desenvolvimento Limpo). Para determinar o potencial de geração de biometano, considerou-se a técnica de
Adsorção com Modulação de Pressão (PSA). Já a demanda de biometano na região do estudo foi determinada através de
questionários que foram enviados para empresas da região. O modelo CDM Tool permitiu modelar a produção de biogás no
período compreendido entre os anos de 2011 e 2040, obtendo-se um volume de biogás acumulado de 94.980.873,46 m³. Para o
mesmo período o volume acumulado de biometano foi de 37.992.349,38 m³, com uma produção anual média de 1.266.411,6
m³. Foi possível identificar o aumento da produção de biogás nos primeiros 16 anos, alcançando o pico de produção de biogás
no ano de 2026, estimado em 6 milhões de m³. Observou-se que a geração do biogás segue o comportamento de uma curva,
crescente até o ano de 2026, quatro anos antes do encerramento previsto das atividades do aterro. O decaimento após o pico
pode ser explicado, principalmente, pelo estágio do processo de decomposição dos resíduos. O pico de geração de biometano
se dará no ano de 2026, ano pico também da produção de biogás. O volume total de biometano gerado neste ano será de
aproximadamente 2.383.147,9 m³, o que corresponde aproximadamente a 40% do volume do biogás coletado. Neste mesmo
ano a média de produção de biometano será de aproximadamente 276 m³/h. A produção anual média de geração de biometano
no período considerado será de 1.266.411,6 m³/ano. Os resultados obtidos neste estudo sugerem que existiria uma alta de
produção de biometano que poderia ser utilizada na região de estudo como substituto ao gás natural (GN) ou gás natural
veicular (GNV). Quanto a demanda por biometano na região do estudo, poucas empresas afirmaram que utilizam
combustíveis gasosos em seus processos. Das empresas que demonstraram interesse na utilização de Gás Natural como
substituto ao Gás Liquefeito de Petróleo, estas demandariam 200.975m³/ano de GN para a substituição total do gás utilizado
atualmente, valor abaixo da produção de biometano calculada para o aterro em estudo. Nenhuma das empresas optaram pelo
biometano como um gás alternativo, o que pode ser consequência de este ser um combustível novo e ainda pouco difundido no
país. Como pode ser utilizado como substituto ao GN, a geração de biometano que ocorrerá no aterro, supriria a necessidade
atual das empresas que demostraram interesse em utilizar o Gás Natural em seus processos. Devido ao fato de poucas empresas
aderirem e responderem o questionário, supõe-se que a demanda por estes combustíveis possa ser maior. O volume de
biometano gerado teria capacidade para atender boa parte das empresas da região de estudo, desde que tenham interesse na
substituição. Para tanto, seria necessária divulgação das vantagens do emprego deste combustível, principalmente em relação
as questões econômicas, técnicas e ambientais. A falta de interesse do uso do biometano por parte das empresas participantes
deste estudo pode ser explicada pela possível escassez de conhecimento dos consumidores, já que poucos estudos têm sido
realizados nessa temática, o que pode vir a gerar uma resistência quanto ao consumo deste gás. Para superar esses desafios,
sugere-se que mais estudos sejam realizados e divulgados quanto ao uso de biometano como substituto ao GN, dando ênfase
aos aspectos econômicos que permeiam essa troca. Além disso, maior divulgação e incentivos do governo ao uso do biometano
também são alternativas eficazes para aumentar o conhecimento e o uso deste gás.

61
5SSS306
ESTUDO DE IMPLANTAÇÃO DE BACIA DE
EVAPOTRANSPIRAÇÃO EM ESMERALDAS - MG

Kiane Heloisa Santana Sousa1, Anna Carolina Fernandes Oliveira2, Érica de Sousa Pinto3, Suellen
Cristina Coelho Barbosa4
1Centro Universitário UNA, e-mail: sousa.kiane@gmail.com; 2Centro Universitário UNA, e-mail:
annacarolinafoliveira@gmail.com; 3Centro Universitário UNA, e-mail: erica.sousa.pinto@gmail.com ;4Centro
Universitário UNA, e-mail: suellencoelho97@gmail.com

Palavras-chave: bacia; evapotranspiração; Esmeraldas;

Resumo
Esmeraldas é um município localizado na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. De acordo com o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sua população atual (2017) é de 69.010 habitantes. Segundo dados da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais cerca de 20% da população recebe algum tipo de saneamento básico. Sendo o esgoto
não tratado, em sua maior parte, despejado nas ruas. (ALMG, 2016). A falta de saneamento pode gerar odores desagradáveis
através da degradação da matéria orgânica presente no efluente, realizada por bactérias anaeróbicas, além da transmissão de
doenças através de patógenos (patógenos: micro-organismos presentes no intestino de humanos e animais). Uma alternativa
para a falta de saneamento é a implantação de uma bacia de evapotranspiração
(BET) ou tanque de evapotranspiração (Tet) que é um sistema de tratamento não convencional. Este método é uma proposta
por permacultores (permacultores: sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis e produtivos em
harmonia e equilíbrio com a natureza) para tratamento de efluentes e consiste em um procedimento plantado, onde ocorre a
decomposição anaeróbia da matéria orgânica, mineralização e adsorção dos nutrientes e de água pelas raízes.
O presente trabalho utilizou-se de revisão bibliográfica, a partir da qual foram pesquisados, em literaturas referentes ao tema,
dados que deram suplementação necessária para fazer as devidas conclusões a respeito do tratamento de esgoto doméstico
através de bacias de evapotranspiração, que evita que os resíduos sejam despejados de maneira incorreta no meio ambiente,
evitando doenças. Através de estudos realizados, foi possível concluir que 2 metros cúbicos de bacia são suficientes para
atender cada morador, de forma que não existirão extravasamentos e a bacia irá funcionar eficientemente. Desta forma, a
largura equivale a dois metros e a profundidade a um metro (PAMPLONA E VENTURI, 2004). Uma vez que a casa onde será
implantado o projeto contém cinco moradores, e que o comprimento deve ser dado pelo próprio número de residentes, o
cálculo do dimensionamento se dá pela seguinte fórmula: (LxPxC) 2x1x5 = 10 m³.Sendo:L: largura; P: profundidade; C:
comprimento. Uma vala deve ser aberta ao redor do tanque, com 25 centímetros de largura e 15 cm de profundidade ou a borda
do tanque deve ser estendida cerca de 10 centímetros acima do solo. Após o cálculo do dimensionamento, a escavação, o
posicionamento com relação ao sol e impermeabilização do tanque, as camadas internas devem ser construídas, sendo elas
especificadas: 1 - Câmara anaeróbia; 2-Dutos de inspeção; 3- Camadas porosas de materiais; 4- Proteção da Bacia (MULCH);
5- Plantio. Dentro do tanque ocorrem alguns processos químicos e físicos. O primeiro é a fermentação, e as responsáveis por
esse processo são as bactérias anaeróbias. Elas utilizam o Gás Carbônico (CO2) como fonte de oxigênio para degradar a
matéria orgânica presente no esgoto, de forma que a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) seja removida, tornando a água
limpa. Ocorrem algumas reações no interior das células microbianas que geram energia para as bactérias. As bactérias
anaeróbias são as responsáveis pela geração do mau cheiro, que provém do gás sulfídrico e do gás metano,. Porém, a bactérias
ficam retidas no fundo do tanque, não permitindo que o odor saia e se espalhe no ambiente, além do fato de que o sistema gera
pouco gás e os dutos de inspeção são responsáveis por dispersar o gás gerado. O segundo processo é a percolação do efluente,
que ocorre de forma descendente (de baixo para cima). A água entra pela parte inferior da bacia, passa pelas camadas de
entulho, areia e brita e vai sendo filtrada. Desta forma, os dejetos humanos ficam retidos nessas camadas e a água chega ao
solo para ser absorvida pelas raízes das plantas cerca de 99% limpa. Após essa absorção, a água passará pelas folhas das
espécies e será liberada no ambiente em forma de vapor. A manutenção do tanque se dá pela constante reposição da proteção
do solo com folhas secas, o mesmo nunca deverá ficar desprotegido, de forma a evitar que a água da chuva cause alagamentos.
Além disto, deve-se evitar o uso contínuo de materiais de limpeza fortes, pois os mesmos podem matar as bactérias que são
responsáveis pelo bom funcionamento do sistema.
A partir dos estudos realizados nas referências bibliográficas utilizadas, foi possível observar que a bacia de evapotranspiração
é um método eficiente para o tratamento de água negra doméstica, de implantação viável principalmente em áreas rurais ou
periurbnas, como no caso da cidade de Esmeraldas, onde, em maioria, não há tratamento de esgoto e o mesmo acaba sendo
jogado diretamente nas ruas e em rios.

62
5SSS307
AVALIAÇÃO DE N-ALCANOS EM SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DA
PRAIA DA CAPILHA (RS, BRASIL)
Júlia Arduim1, Paulo Ricardo Farias Manetti2, Pedro José Sanches Filho3
1 Instituto Federal Sul-rio-grandense Campus Pelotas, e-mail: juliaarduim@hotmail.com; 2 Universidade Federal
de Pelotas, e-mail: paulo.manetti@hotmail.com; 3 Instituto Federal Sul-rio-grandense Campus Pelotas, e-mail:
pjsans@ibest.com.br

Palavras-chave: HAs; contaminação; GC MS;

Resumo
Os hidrocarbonetos são listados como alguns dos principais contaminantes ambientais nos dias de hoje. Essas
substâncias são formadas naturalmente ou através da combustão incompleta de matéria orgânica, apresentam
grande dispersão e são considerados indicadores geoquímicos em relação aos níveis e fontes de contaminação em
ambientes hídricos. Uma vez nestes ambientes, os hidrocarbonetos alifáticos, principalmente os n-alcanos
acumulam-se nos sedimentos, tendo em vista suas propriedades hidrofóbicas. Para análises destes contaminantes
ambientais foram coletadas 5 amostras da Praia da Capilha, a qual faz parte da Lagoa Mirim, que é um dos
principais corpos hídricos da região Sul do Brasil e possui grande importância para agricultura, indústria e pecuária.
Neste estudo, foram realizados testes físico-químicos (matéria orgânica e granulometria) para caracterização do
sedimento. Foram utilizadas metodologias para a extração, pré concentração e clean up de hidrocarbonetos,
combinando etapas de extração por solvente sob ultrassom (15 minutos) e em soxhlet (4 horas), seguidas por
fracionamento em coluna líquida preparativa e os extratos analisados por cromatografia gasosa acoplada a
espectrometria de massas. Foram observadas linearidades para n-alcanos acima de 0,98. O método é considerado
preciso, para maioria dos analitos, apresentando valores entre 0,1 e 9,8% para RSD%. Os limites de detecção para
n-alcanos variaram de 0,02 a 0,28 mg kg-1. Para o cálculo de recuperação, o resultado médio obtido foi de 67,0% ±
8,9% para hexadeceno, este valor está em acordo com o recomendado pela União Europeia e pela Environmental
Protection Agency (USEPA). A matéria orgânica variou entre 0,05 ± 13,7% e 0,2 ± 4,8%, indicando sedimentos
inorgânicos. A análise de granulometria mostrou um sedimento homogêneo, com a maioria dos grãos ≤ 0,125 mm,
caracterizando-se em uma areia fina e facilitando a adsorção dos n-alcanos nesta matriz. Foram encontrados, de
forma geral, n-alcanos entre C12 e C34 e o Σ n-alcanos variou de 22,2 mg kg-1 ± 1,0% a 32,0 ± 7,0%. Pode-se
perceber, que o somatório de n-alcanos aumenta para os pontos que estão mais próximos a intensa atividade
antropogênica. A presença majoritária são dos compostos C16, C18 e C20, que indicam o aporte de resíduos de
combustíveis fósseis. Foram calculados o índice de preferência de carbono (IPC), que representa a predominância
ímpar/par em hidrocarbonetos alifáticos e caracterizam os insumos petrogênicos ou biogênicos e a razão terrígeno
aquática (RTA) que caracteriza as fontes biogênicas como, terrestre ou aquática. De modo geral, os valores para o
IPC, neste trabalho encontraram-se na faixa de 1,3 a 1,5, indicando fontes mistas para matéria orgânica com forte
colaboração petrogênica. O que está em acordo com a razão MCNR/Σ n-alcanos que variou de 0,2 ± 0,1% a 0,4 ±
0,2%, confirmando uma contaminação recente por derramamento de óleos e combustíveis. O RTA apresentou
valores que variaram de 1,0 ± 0,5% a 1,6 ± 0,8%, indicando uma contribuição de fontes biogênicas mistas, tanto
aquáticas como terrígenas aos sedimentos. Os níveis e distribuição de hidrocarbonetos nos sedimentos superficiais
da Praia da Capilha permitiram caracterizar a matéria orgânica de origem mistas, tanto petrogênica como
biogênica. De forma geral, as baixas concentrações de matéria orgânica e n-alcanos, indicaram sedimentos não
contaminados. Estes dados servirão de base para o monitoramento da Lagoa Mirim em estudos futuros, dado a
importância deste ambiente hídrico para a região Sul do Brasil e para o mundo.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a PROPESP, ao Instituto Federal Sul-rio-grandense, ao Grupo de Pesquisa em
Contaminantes Ambientais e ao Programa de Pós Graduação em Engenharia e Ciências Ambientais, pelo apoio recebido.

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RESUMOS EXPANDIDOS sobre
IDEIAS de Graduandos no
5SSSinovador
publicados nos ANAIS do
5º Simpósio sobre Sistemas Sustentáveis

Porto Alegre/RS, 2019

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5SSSinovador101
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO PARA RECUPERAÇÃO DE UM CORPO
HÍDRICO LOCALIZADO NO MUNICÍPIO DE CAXIAS DO SUL/RS
Kétini Mafalda Sacon Baccin1, Denise Peresin1, Aline de Godoy1, Fernanda Marcon Angheben1, Vania
Elisabete Schneider1
1Universidade de Caxias do Sul, Instituto de Saneamento Ambiental. Caxias do Sul - RS. kmsbaccin@ucs.com

Palavras-chave: Biomanipulação; Jardim de Macrófitas; qualidade da água.

Introdução

O município de Caxias do Sul tem uma relação história e ambiental com o Rio Tega, uma vez que o crescimento do
perímetro urbano ocorreu, primeiramente, no seu entorno. Contudo, o desenvolvimento da área urbana de uma maneira geral
aconteceu sem que fossem adotadas infraestruturas de saneamento adequadas, utilizando-se do rio como meio de escoamento
dos seus resíduos. Fato este que contribui com a contaminação e toxicidade do ambiente aquático, pela presença de coliformes
fecais e metais pesados provenientes dos efluentes domésticos e das atividades galvanotécnicas. A influência antrópica, através
do lançamento constante de efluentes prejudica a autodepuração do rio, tornando mais difícil a sua recuperação natural
(CORNELLI, 2016).
As nascentes do Rio Tega localizam-se no perímetro urbano do município de Caxias do Sul/RS, e percorre um trecho
de aproximadamente cerca de 34 km de área urbana, o que equivale a 40% de sua extensão, passando pelos limites dos
municípios de Flores da Cunha e Nova Pádua, até desaguar no Rio das Antas. A sub-bacia do Rio Tega possui um perímetro de
116,81 km² e drena uma área de 294,76 km2 (SCHMITZ et al, 2017), sendo um dos principais afluentes da Bacia Hidrográfica
do Taquari-Antas, que abrange uma área de 26.428 km2, equivalente a 9% do território estadual (FEPAM, 2019). O trecho
nomeado como Rio das Antas está localizado em uma região de baixa densidade populacional, com predomínio da pecuária e
da agricultura, mas que conta com polos industriais altamente desenvolvidos, como os municípios de Caxias do Sul,
Farroupilha, Bento Gonçalves e Garibaldi, que concentram em torno da metade dos 1.135.000 habitantes que ocupam a bacia
Taquari-Antas e 57% dos estabelecimentos industriais (LORENTIS, 2004; LEITE et al., 2003). É relevante pensar que a bacia
se insere em cerca de 9% do território estadual, concentra aproximadamente 16% da população e 20% do PIB (LEITE et al.,
2003).
Segundo Sutil (2018), o encontro com o Rio das Antas a foz do Rio Tega causa importantes reflexos no corpo hídrico,
principalmente com relação a presença de coliformes fecais e metais pesados, o que sobrecarrega o recurso, pois a qualidade
de suas águas também é afetada por outros formadores que percorrem uma zona industrial de alto potencial poluidor e por
arroios que drenam importantes áreas urbanas, como o Burati (Bento Gonçalves e Farroupilha), Biazus (Farroupilha) e
Marrecão (Garibaldi) (LARENTIS et al., 2008). No geral, as águas da bacia Taquari-Antas são usadas para o abastecimento
público e industrial, irrigação, produção de energia e aquicultura. Neste contexto, alternativas de recuperação de recursos
hídricos, através da fitorremediação, vem sendo estudadas, a exemplo, o processo de fitoextração no qual as plantas aquáticas,
por características fisiológicas, extraem da água metais pesados e contaminantes armazenando-os em seus tecidos. As
macrófitas se destacam por serem hiperacumuladoras de metais pesados, capazes de concentrar níveis elevados desses
elementos em sua biomassa, quantidades que seriam tóxicas a outras espécies cultivadas sob condições idênticas (PIO et al.,
2013; MIRZA et al., 2014; ROMEIRO et al., 2007).
Ao longo dos anos estudos têm mostrado a capacidade biossorvente de macrófitas, como o trabalho realizado por
Schneider (2009), no qual um lago em situação de eutrofização foi submetido a biomanipulação através de “jardins” de
macrófitas das espécies: Salvinia sp, Eichhornia crassipes e Pistia stratiotes, o que propiciou ao lago uma melhora
significativa na disponibilidade de oxigênio e na remoção do excesso de nitrogênio amoniacal e fósforo. Além disso, o uso de
macrófitas na remediação de ambientes contaminados por metais pesados possui vantagens interessantes como baixo tempo de
equilíbrio e capacidade máxima de remoção, similar ou superior a outros biossorventes, além do fato de estarem disponíveis na
natureza e oferecerem uma remediação mais econômica (MÓDENES, et al., 2013). Segundo Gonçalves Jr. (2008), essas
plantas aquáticas tornam-se importantes bioindicadores e removedores de metais pesados tóxicos, como Cd, Pb e Cr presentes
em biofertilizantes provenientes de dejetos suínos, uma vez que, esses oligoelementos são encontrados em maiores
concentrações no sistema radicular em comparação a parte aérea.
A partir deste cenário, a escolha do local de estudo deve-se a necessidade de recuperação ambiental do Rio Tega e de
redução dos seus impactos no Rio das Antas. Optou-se pela instalação do experimento no barramento da CGH Dona Maria
Piana, localizada no município de Caxias do Sul/RS, aproveitando a mudança do sistema lótico para lêntico, em decorrência do

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empreendimento. O sistema lêntico possibilita uma interação mais significativa das macrófitas com ecossistema aquático,
favorecendo o seu crescimento e, consequentemente, a retirada do excesso de nutrientes orgânicos e metais. A espécie de
macrófita a ser utilizada é a Eichhornia crassipes, que foi escolhida devido a sua disponibilidade na natureza e a sua robustez,
fato que colabora com integridade do projeto durante as mudanças no nível da água pelas cheias do rio.

Objetivo

Esta proposta tem como objetivo avaliar a eficiência da macrófita aquática Eichhornia crassipes Mart. (Solms), 1883, na
retirada de metais pesados presentes no corpo d’água e sedimento do Rio Tega, no trecho do barramento da CGH Dona Maria
Piana, localizada no município de Caxias do Sul/RS.

Materiais e Método

A área de estudo está situada no Rio Tega - município de Caxias do Sul/RS, no reservatório da Central de Geração
Hidrelétrica (CGH) Dona Maria Pianna. A coleta dos espécimes aquáticos será realizada no lago da Universidade de Caxias do
Sul - Campus Universitário da Região dos Vinhedos, o qual dispõe naturalmente das plantas. Os quadros flutuantes de
contenção das macrófitas serão construídos com policloreto de vinila (PVC), com tamanho aproximado de 1 m x 1 m, para
evitar a flutuação desgovernada, estes serão fixados às margens do rio por cordas, formando uma “corrente” de jardins o que
facilitará também a manutenção dos mesmos, conforme esquema apresentado na Figura 1.

Figura 1: Esquema representativo da disposição dos jardins de macrófitas no represamento da CGH Dona Maria
Pianna, no Rio Tega.

O experimento terá duração de um ano. Serão realizadas coletas de amostras das macrófitas a cada 4 meses,
contemplando todas as estações, sempre preservando uma parcela do jardim para que este seja novamente preenchido. Após a
coleta, às macrófitas serão compostadas e endereçadas ao Laboratório de Análises e Pesquisas Ambientais (LAPAM) da
Universidade de Caxias do Sul, para análise dos metais Cobre, Cromo, Níquel e Zinco que foram incorporados a biomassa. A

66
digestão das amostras será realizada pelo método 3050-B, proposto por Environmental Protection Agency (EPA) e leitura dos
resultados pelo equipamento de ICP-OES.
Para o acompanhamento da efetividade do experimento e verificação do aporte de nutrientes que está sendo
disponibilizados aos jardins, serão coletadas amostras de água em pontos localizados a montante dos quadros flutuantes, no
barramento e a jusante, nos mesmos períodos das coletas das macrófitas. As amostras serão coletadas e transportadas seguindo
o definido no Guia Nacional de Coleta e Preservação de Amostras (ANA, 2011). As amostras de água superficial, serão
encaminhadas para o mesmo laboratório, seguindo metodologia proposta pelo Standard Methods for the Examination of Water
and Wastewater (AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, 2012). A quantificação dos metais, por sua vez, será
realizada em espectrômetro de absorção atômica com chama Analyst 200 da Perkin Elmer. Além dos metais serão realizadas
análises de fósforo total, DBO, DQO, nitrogênio total e coliformes termotolerantes.

Resultados Esperados

Os grandes centros urbanos geram um risco ambiental elevado para os recursos hídricos, a partir disso, com este
estudo é esperado uma minimização dos impactos ambientais e ecológicos, que se refletem na qualidade das águas do Rio
Tega. Espera-se que ocorra redução das concentrações dos parâmetros analisados, em função da retenção dos mesmos na
biomassa das macrófitas, assim como foi observado por Rodrigues (2016), onde a incorporação dos metais, ocorre em todas as
espécies estudas, encontrados em sua maioria nas raízes da planta associados as cargas negativas das paredes celulares,
evitando a transferência dos elementos para a parte área, o que a torna tolerante ao ambiente contaminado. A redução do aporte
de contaminantes no recurso hídrico, colaborará desta forma, com a autodepuração do rio, reduzindo desta forma os reflexos
negativos no Rio das Antas.
A recuperação do corpo hídrico é um problema complexo e multidisciplinar, e requer planos de manejo efetivos de
reabilitação ambiental, e soluções de médio e longo prazo, associado a redução do lançamento de todos os tipos de efluentes.
Com a redução da contaminação e toxicidade do ecossistema, espera-se contribuir com a recuperação da biota aquática,
ampliando sua heterogeneidade e dinâmica de interações, reestruturando assim a cadeia trófica.

Referências

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68
5SSSinovador102
RACEWAY PONDS COMO ALTERNATIVA PARA REMEDIAÇÃO
DE CO2 ATMOSFÉRICO
Angélica de Paoli Schmidt¹, Lucas Fuchs de Souza2, Cristiano Poleto3

¹Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: angelica.de.p.schmidt@gmail.com;


2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: souza.lf@outlook.com.br;
3
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: cristiano.poleto@ufrgs.br

Palavras-chave: Microalgas; Raceway ponds; biocombustíveis de algas.

Introdução
A qualidade do ar vem sendo impactada devido ao crescente aumento na frota de veículos e processos industriais. Nos
grandes centros urbanos o aumento na concentração de poluentes atmosféricos, principalmente NO, NO2, O3, SO2, PM10, CO, e
CO2, estão sendo associados a diversos problemas de saúde, como doenças cardiovasculares e respiratórias, com efeitos agudos
e crônicos.
Dessa forma, pode-se inferir que o petróleo é um dos principais vilões do meio ambiente, devido a sua grande
utilização como fonte de energia não renovável. Entretanto, atualmente já existem diversas fontes de energias renováveis, mais
conhecidas como biocombustíveis, sendo um deles o biodiesel produzido a partir da soja, milho, mamona e diversas outras
fontes de óleos vegetais. Nessa perspectiva, as microalgas surgiram como uma nova fonte de biodiesel, as quais são
organismos aquáticos, unicelulares e fotossintetizantes, possuindo como vantagens, para produção desse biocombustível, um
crescimento acelerado e elevado rendimento, com algumas algas podendo chegar a 80% de óleo por peso seco. Dessa forma,
possuem a capacidade de produzir no mínimo 30 vezes mais energia por hectare do que outras culturas terrestres, ou seja,
possuem a vantagem de ocuparem pouco espaço para uma grande produção.
Atualmente existem duas técnicas principais para produção de microalgas em larga escala, que são o uso de raceway
ponds e fotobiorreatores. Os sistemas abertos, ou raceway ponds, são basicamente um conjunto de canais onde ocorre a
recirculação da biomassa e do meio de cultivo, em um sistema com chicanas, sendo que normalmente não se utilizam materiais
transparentes para a sua construção, o que reduz o custo de investimento. O seu funcionamento ocorre de forma contínua, com
aplicação da biomassa após o motor, que produz a recirculação, e retirada da biomassa imediatamente antes do motor. Em
comparação com fotobiorreatores os raceway ponds são mais baratos, apresentando menores custos de construção e operação,
e manutenção facilitada, como a retirada do acúmulo de biofilme nas paredes dos canais. Entretanto, a produtividade de
biomassa nos sistemas abertos é menor, quando comparados aos fotobiorreatores, ocupam uma área maior e, devido aos
problemas de contaminação com microrganismos, devem ser operadas em tempos reduzidos. Os fotobiorreatores consistem em
colunas, com difusores de ar no fundo que possuem a função de incorporar o CO2 e agitar o sistema. Esses tipos de reatores
ocupam uma área reduzida, em relação ao seu volume, e permitem um maior controle da temperatura, pH, agitação,
concentração de CO2, concentração O2 e do efeito de fotoinibição, causado por períodos longos de exposição solar.
Apesar de não ser possível controlar, da forma mais eficaz, os parâmetros essenciais ao crescimento das microalgas,
devido principalmente às condições ambientais, o sistema de raceway ponds é muito utilizado para este tipo de produção
porque é muito econômico realizar a instalação e gerir o processo. Sendo assim, essa se torna a justificativa de escolha para um
projeto da disciplina de Avaliação e Controle da Poluição Atmosférica, com objetivo de remediar um dos poluentes de maior
atenção ambiental no mundo e em grandes cidades, como no caso de Porto Alegre.
Porto Alegre é a capital do estado do Rio Grande do Sul no Brasil, com uma população estimada em 1.483.771
habitantes (IBGE), é uma cidade que ainda tem grandes fontes de CO2, principalmente na área central onde concentra-se a
circulação de automóveis e ônibus, sem nenhum monitoramento na área central de qualidade de ar, com grande parte da
população exposta aos poluentes que podem acarretar danos à saúde.

Projeto
A espécie escolhida para o cultivo foi a alga Chlorella minutissima, de água doce, unicelular, que possui uma rígida
parede celular e contém um alto teor de clorofila, comparado a qualquer outra alga. Além disso, essa microalga possui um teor
de óleo, em percentual de peso seco, de 57%, sendo; dessa forma, uma das espécies de grande atenção para produção de
biodiesel. Posto isto, a escolha desta espécie se justifica por dois motivos, o primeiro é que a cidade de Porto Alegre não possui
fonte para água salgada, sendo sua principal fonte a água doce do lago Guaíba, e a utilização de um espécie de água doce não
acarretaria em maiores custo de cultivo, e o segundo ponto seria seu elevado teor de óleo, o qual poderia tornar possível a

69
venda da biomassa gerada para produção de biodiesel.
Portanto se escolheu o método de cultivo raceway ponds, devido ao menor custo de construção, manutenção facilitada
e por ser um sistema aberto, o que torna o sistema possível para a realidade do Brasil, onde se implementa projetos, porém não
se faz manutenções preventivas. Dessa forma o CO2 presente na atmosfera tenderá a se diluir na água e poderá ser utilizado por
essas microalgas. Entretanto, como o método será implantado no centro da cidade de Porto Alegre algumas características do
método serão modificadas, como o modo de agitação das algas e de circulação, porém o princípio de funcionamento será
semelhante. Primeiramente, não será possível a utilização de tanques com chicanas, já que se planeja coloca-los nas calçadas,
onde não poderão ocupar muito espaço, e não será possível a utilização de um motor com hélices para agitar o sistema, devido
a possibilidade de furto e aumento na manutenção. Nesse sentido, propõe-se utilizar um bomba para proporcionar a circulação
da água, onde a agitação se dará pela formatação de entrada e saída da água nos tanques, com a entrada inclinada na parede
lateral do tanque, na parte inferior, e a saída na parte superior na parede lateral oposta, como indicado na Figura 1, com essa
configuração esperasse que ocorra uma homogeneização da biomassa nos tanques.

Figura 1: Exemplificação de tanques, com formatação meramente ilustrativa.

A tubulação que se inicia no tanque inferior, a inclinação é de forma a garantir uma melhor circulação da água, assim
como o formato do tanque em ondulações. No tanque à direita na Figura 1, há o sistema de filtração para retirada de biomassa,
com o concentrado utilizado para venda e o diluído que é recirculado. A vantagem da utilização da filtração é de sua eficiência
de colheita elevada, ideal para reduzidas frequências de manutenções, porém requer limpezas e ou trocas de membranas. O
sistema também conta com uma segunda bomba em paralelo, para recircular parte das microalgas, de forma a garantir o
funcionamento continuo sem a necessidade de se obter novos organismos. No entanto deve-se atentar a potência da bomba e
optar por uma com baixa rotação, para não causar a morte das algas, sendo a entrada e saída das tubulações na parte superior
dos tanques, do final e começo do circuito.
A instalação das bombas para recirculação do diluído e algas para os tanques, deve ser dimensionada, assim como
suas tubulações, por profissionais da área de hidráulica, para evitar o superdimensionamento e custos desnecessários. Como os
tanques podem ser conectados ao longo de uma região, será necessário apenas uma bomba por região implantada, pois como o
processo contará somente com CO2 atmosférico o crescimento das algas será reduzido.
Em relação a configuração dos tanques e seu dimensionamento, deverá se optar por aquele que favoreça a circulação
dentro do mesmo, como o perfil ondulado apresentado na Figura 1. Nesse sentido, é claro que deverá se realizar testes pilotos
para se encontrar um sistema que garanta essa configuração de menor investimento e maior eficiência. Com relação a literatura
encontra-se capacidades de tanques com dimensões de 3,8 m³, 25 m² e 0,15 m para a profundidade da cultura, que favorecem o
crescimento das algas. Dessa maneira, os testes deverão partir de valores semelhantes para obtenção do sistema desejado.
Os tanques podem ser confeccionados de materiais poliméricos, como plásticos (PVC), pois como se usará tubulações
para transferir as algas de um tanque para o outro, será necessário a utilização de ácidos, por exemplo, para a limpeza dos
tanques e tubulações quando necessário. Dessa forma, a escolha do material deve levar em conta sua resistência ao produto

70
químico que será utilizado para limpeza. Como o sistema conta com a recirculação, no momento da limpeza para o fluxo nas
membranas pode ser utilizado a filtração convencional (Dead End), pois assim não se gerará efluentes ácidos, sendo necessário
posteriormente a correção do pH da água de recirculação e a limpeza ou troca da membrana, se necessário. O material
escolhido também deverá apresentar superfícies lisas, com a finalidade de reduzir eventuais danos ao atrito das células e
facilitar a limpeza. Desse modo, visando um material mais barato, pode-se optar por tanques de PVC.
Os efluentes industriais têm sido utilizados como meio de cultivo de microalgas. As vantagens são claras, diminuem-se os
custos de produção de microalgas e ao mesmo tempo trata-se o efluente. A atmosfera contém somente 0,03-0,06% de dióxido
de carbono o que provoca um crescimento algal muito lento, no entanto, os efluentes podem ser uma alternativa para recarga
dos tanques, na realização da fotossíntese, crescimento celular e formação da biomassa das algas. Simultaneamente, também
traz vantagens de remoção de fósforo, metais pesados, nitrogênio, dependendo da espécie da microalga, melhorando a
qualidade de um efluente após um tratamento secundário. Autores sugerem que a melhor escolha para o tratamento de
efluentes que utilizem microalgas é usar altas concentrações iniciais destes microrganismos para minimizar o tempo de
retenção hidráulica. Nesse contexto, como forma de proporcionar nutrientes as algas podem-se utilizar o efluente de estações
de tratamento de esgoto com concentrações mais elevadas de nutrientes.

Considerações Finais
Com a implementação desse projeto espera-se que haja uma redução na concentração de CO2 em locais de maior
movimentação de veículos, mais especificamente no centro da cidade. Consequentemente, a partir da redução desse poluente
espera-se uma redução nos casos de doenças respiratórias e cardiovasculares na Região Metropolitana de Porto Alegre, que
compõe o maior conjunto de pessoas que frequentam a cidade. A partir dessa redução no número de doenças esperasse que
haja uma redução no custo com saúde pública, o que configura uma maior economia dos gastos públicos tornando a
implementação do projeto mais viável. Além desses possíveis benefícios que pode trazer esse projeto, espera-se que com a
utilização de efluentes de estações de tratamento de esgotos, onde se tenha uma maior concentração de nutrientes, que haja
uma economia no tratamento de esgotos, o qual não necessitará de uma etapa a mais para redução de nutrientes para o
posterior descarte em corpos hídricos. Também possui uma maior produção de biodiesel quando comparado a agricultura, que
utiliza grande extensão de áreas para uma menor produtividade de biodiesel em comparação com as microalgas, mesmo as que
possuem baixo teor de óleo há uma maior produtividade de biodiesel e menor uso da terra. Nesse sentido, há uma clara
economia no setor de saúde relacionado aos investimentos e também em saneamento básico, essa medida diminuirá ainda mais
tais gastos, além dos gastos com o cultivo das espécies, já que não necessitará comprar nutrientes para repor.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e ao Professor Dr. Cristiano
Poleto, o qual ministra a disciplina de Avaliação e Controle da Poluição Atmosférica na UFRGS, pelo apoio e incentivo
recebido para concepção do projeto.

71
ARTIGOS COMPLETOS
publicados nos ANAIS do
5º Simpósio sobre Sistemas Sustentáveis

Volume 01

Porto Alegre/RS, 2019

72
5SSS101
INFERÊNCIAS PALEOCLIMÁTICAS PARA O HOLOCENO DO SUL
DO BRASIL EM AMBIENTES INFLUENCIADOS POR DIFERENTES
REGIMES HIDROLÓGICOS

Gabrielli Teresa Gadens Marcon1, Margot Guerra Sommer2, João Graciano Mendonça-Filho3
1Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, e:mal:gabrielli-marcon@uergs.edu.br; 2Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, e-mail: Margot.sommer@ufrgs.br; 3Universidade Federal do Rio de Janeiro, e-mail:
Graciano@geologia.ufrj.br

Palavras-chave: pluviosidade; palinofácies; Holoceno.

Resumo
A matéria orgânica preservada em depósitos provenientes de ambientes continentais constitui excelente arquivo das alterações
ambientais e climáticas sob as quais esses depósitos se originaram, e diversas ferramentas de investigação costumam ser
utilizadas para acessar tais informações, dentre as quais a análise palinofaciológica e organogenoquímica da materia orgânica
contida nos sedimentos e rochas sedimentares. O presente trabalho é resultado de um estudo realizado em ambientes
continentais influenciados por diferentes regimes hidrológicos e teve como principal objetivo demonstrar a utilidade dessas
análises para a obtenção de dados paleoclimáticos relativos à pluviosidade. A área de estudo repousa sobre os basaltos da
Formação Serra Geral e se localiza na região do Alto Uruguai do Estado do RS, mundialmente conhecida por suas riquezas
minerais, tais como os geodos contendo ametista e as fontes termais contendo água mineral. A metodología utilizada integra as
técnicas de palinofácies e geoquímica orgánica, complementadas por datação radiocarbônica. Os resultados foram obtidos a
partir de três perfis sedimentares, com idades correlacionáveis entre si, e permitiram observar que existe uma tendência à
diminuição relativa nos níveis de pluviosidade na região, mas a escala de tais alterações é também altamente influenciada pelo
regime hidrológico do ambiente deposicional que deu origem ao registro sedimentar em cada local. Com base nos dados
alcançados a conclusão do presente estudo aconselha o estabelecimento de políticas de médio e longo prazo envolvendo um
melhor gerenciamento dos recursos naturais locais na região investigada.

Introdução
Em rochas sedimentares, a matéria orgânica representa a menor porção da fração sedimentar e deriva direta ou indiretamente
da parte orgânica dos organismos (TISSOT & WELTE, 1984). A presença de compostos orgânicos no sedimento se deve a
uma série de fatores de natureza biológica, física, química e geológica atuando, de forma inter-relacionada, na produção,
acumulação e preservação da matéria orgânica e faz parte do Ciclo do Carbono Orgânico na natureza. (TRAVERSE, 1994). A
matéria orgânica preservada em depósitos provenientes de ambientes estritamente continentais constitui excelente arquivo de
mudanças nas condições deposicionais, ambientais, ecológicas e climáticas sob as quais esses depósitos se originaram, e
diversas ferramentas de investigação costumam ser utilizadas para acessar tais informações (MARCON, 2014a).
De acordo com Tyson (1995), a análise de palinofácies compreende a caracterização qualitativa e quantitativa da
matéria orgânica particulada, a qual se subdivide em três grupos principais: fitoclastos, palinomorfos e MOA (matéria orgânica
amorfa). Cada partícula orgânica individual comporta-se como uma partícula sedimentar e, por isso, as análises
palinofaciológicas baseiam-se na abundância relativa de tais partículas (MENEZES et al., 2008). Estudos geoquímicos, dentre
os quais se destaca a análise de COT (carbono orgânico total), fornecem dados sobre a quantidade e o estado de preservação da
matéria orgânica presente no sistema deposicional, constituindo-se num parâmetro importante para determinar o conteúdo
orgânico em rochas sedimentares, e servindo como ferramenta complementar da analise palinofaciológica (MENDONÇA-
FILHO et al., 2010).
No presente trabalho foram realizadas análises palinofaciológicas e organogeoquímicas no estudo de sedimentos
provenientes de lagos rasos de altitude (em Ametista do Sul) e de uma turfeira (em Iraí), ambos localizados na região do Alto
Uruguai (noroeste do Estado do RS), e com idades correlacionáveis entre si. O principal objetivo foi demonstrar a utilidade
dessas análises para a obtenção de dados paleoclimáticos relativos à pluviosidade. Os dados acessados também permitiram
avaliar a extensão da influência dos regimes hidrológicos sobre os ambientes estudados, agregando novas informações às
interpretações paleoclimáticas e paleoambientais previamente inferidas.

73
Material e Métodos
A área de estudo repousa sobre os basaltos da Formação Serra Geral (Bacia vulcano-sedimentar do Paraná), e se localiza na
região do Alto Uruguai do Estado do RS, mundialmente conhecida por suas riquezas minerais, tais como os geodos contendo
ametista, em Ametista do Sul, e as fontes termais contendo água mineral, em Iraí (DUARTE et al., 2009). Embora Ametista do
Sul e Iraí sejam municípios vizinhos e estejam a uma distância de apenas dezenas de quilômetros um do outro, os resultados
obtidos no presente estudo revelaram diferenças nos regimes hidrológicos que regeram esses ambientes ao longo do Holoceno.
Em Iraí, a área amostrada é frequentemente inundada pelas cheias do Rio Uruguai, enquanto que em Ametista o mesmo não
acontece, pois o local está no topo de morros e não sofre influência de outros corpos d’água adjacentes; isso se dá,
principalmente, devido a diferenças no relevo, conforme demonstrado na Figura 1.

Figura 1 - Mapa de localização dos municípios de Ametista do Sul e Iraí. Em destaque mapa geológico 3D (adaptado de
Gomes, 1996, p. 23) mostrando as diferenças no relevo dos municípios vizinhos de Ametista do Sul e Iraí, os quais são
caracterizados por vários conjuntos de derrames basálticos, representados na figura por traços horizontais de cores
diversas.

No município de Iraí, além das fontes termais contendo agua mineral, registra-se a ocorrência de uma área de turfeira,
que apresenta uma camada superficial mais rica em sedimentos e água, conhecida popularmente na região como “lama
medicinal” ou “barro medicinal”. Trata-se de um sedimento escuro, de odor característico, e rico em matéria orgânica, o qual é
extraído de um poço, aberto com finalidades comerciais, em uma área de charco. Essa “lama” tem sido utilizada há décadas
com fins terapêuticos junto aos balneários do municipio, mas ainda não teve suas propriedades medicinais comprovadas
científicamente, embora seja explorada económicamente. No presente estudo foram realizadas análises obtidas a partir de 25
amostras provenientes de um perfil sedimentar de 115 cm de profundidade, extraído da referida área de turfeira, e identificado
como T3 - Iraí.
Para o presente estudo também foram selecionados dois lagos rasos de altitude, que correspondem ao primeiro tipo de
“sílica gossan” descrito por Hartmann (2008) em Hartmann el at. (2010). Esses corpos d’água são circundados por vegetação
nativa que secam em épocas de estiagem prolongada. Ambos os lagos estão localizados no topo dos morros e logo abaixo deles
existem duas minas de extração de Ametista. Para as análises foram utilizadas 14 amostras do perfil sedimentar T1 (65 cm de
profundidade) e 17 amostras do perfil T2 (80 cm de profundidade). Os perfis foram identificados como T1 - Mina do Museu e
T2 - Mina Modelo, de acordo com o nome popularmente dado às minas de extração de ametista, localizadas logo abaixo do
local onde os mesmos foram extraídos.

74
O processamento químico das amostras, a confecção das lâminas organopalinológicas e a contagem e classificação da
matéria orgânica particulada (MOP) embasaram-se nos trabalhos de Tyson (1995), Mendonça-Filho (1999) e Mendonça-Filho
et al. (2010, 2011). A análise palinofaciológica convencional reconhece três grupos principais de MOP: Grupo Fitoclasto,
Grupo Palinomorfo e Grupo Produto Amorfo (= MOA).
O equipamento utilizado para a determinação de COT (Carbono Orgânico total) é o analisador SC 144DR da LECO,
que quantifica, simultaneamente, o conteúdo de carbono e enxofre através de um detector de infravermelho.
A datação radiocarbônica utilizou a técnica radiométrica AMS (Accelerator Mass Spectrometry) e foi realizada pelo
Beta Analytic Radiocarbon Dating Laboratory (Miami, Florida, EU). No texto e imagens a Idade Radiocarbônica
Convencional é citada como “AP” (Antes do Presente), sendo que a palavra “Presente” refere-se ao ano 1950 da Era Cristã
para efeitos de datação radiocarbônica. Todas as idades citadas para os perfis sedimentares T1, T2 e T3 foram calibradas e são
correlacionáveis entre si (Figura 2).

Figura 2 – Esquema demonstrando a profundidade e as idades estimadas para os três testemunhos analisados. As
linhas em vermelho e verde fazem a correlação entre a profundidade e as idades aproximadas dos testemunhos T1, T2 e
T3.

Resultados e Discussão
As análises palinofaciológicas realizadas para os três testemunhos (T1 - Mina do Museu, T2 - Mina Modelo e T3 -
Iraí) revelaram uma ampla dominância do Grupo Fitoclasto, tanto de partículas lenhosas como não lenhosas. O Grupo
Palinomorfo, o segundo em dominância, abrangeu esporomorfos terrestres e algálicos, esses últimos de origem exclusivamente
dulciaquícola. O Grupo Produto Amorfo, por sua vez, foi pouco expressivo e derivou, em grande parte, de tecidos vegetais em
estado avançado de degradação (Figura 3 e 4).

75
Figura 3: Resultado das análises palinofaciológicas realizadas para os Testemunhos de Ametista do Sul, demonstrando
o percentual aproximado dos três principais grupos da matéria orgânica.

Figura 4: Resultado das análises palinofaciológicas realizadas para o Testemunhos de Iraí, demonstrando o percentual
aproximado dos três principais grupos da matéria orgânica.

A comparação entre os resultados, obtidos da análise palinofaciológica da MOP, proveniente de ambientes


deposicionais distintos, correspondentes respectivamente aos lagos rasos associados a gossan e aos sedimentos turfosos,
evidenciou que a vegetação em tais ambientes demonstrou uma evolução diferenciada. Enquanto que em Ametista do Sul a
diversidade e a abundância da vegetação aumentaram em direção ao Recente, em Iraí a vegetação associada ao ambiente de
deposição sofreu uma redução nesses dois aspectos. A avaliação da diversidade vegetacional em Ametista do Sul foi
estabelecida através do aumento dos padrões de diversificação dos esporos e grãos de polens, enquanto que para Iraí, a perda
de diversidade pôde ser inferida pela diminuição progressiva dos padrões de organização epidérmica das cutículas presentes no
sedimento.
Em Ametista do Sul, a vegetação evoluiu concomitantemente com a sedimentação dos lagos rasos no topo dos
morros, onde o processo de sucessão ecológica levou ao aumento da diversidade vegetacional. O fato da área estar localizada
no topo de morros e ser de difícil acesso, não gerou interesse económico pela mesma, que se mantém preservada da
interferencia antrópica até então.
Em Iraí, o mesmo processo sucessional não pôde ser observado, pois a vegetação foi inicialmente mais exuberante do
que a atualmente preservada no local, onde a remoção da vegetação para extração da lama medicinal resultou em uma
paisagem atualmente dominada por gramíneas e algumas poucas árvores. Essa interferência antrópica sobre o entorno da área
de estudo pode ser observada no registro sedimentar, especialmente a partir do intervalo de 15 cm de profundidade, que
corresponde aos últimos 101 anos AP, até a camada mais rasa (Topo). A partir daí fica difícil distinguir as causas naturais da
interferência antropogênica no sistema, não somente porque ocorre redução significativa nos padrões de organização
epidérmica das cutículas, mas porque a razão carbono/enxofre aumenta muito nessas camadas, onde os valos de COT e ST
estão entre os mais baixos de todo o perfil sedimentar. Possivelmente as atividades antropogênicas de drenagem de água para

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extração da lama medicinal junto ao poço estejam afetando as camadas mais superficiais da turfeira, resultando num intervalo
de oxidação cujas causas não são de origem natural ou climática, mas “cultural”, de acordó com Marcon et al. (2015). Em
longo prazo, as medidas de drenagem de agua do poço e remoção da vegetação do entorno podem resultar no
comprometimento da sustentabilidade da turfeira e, consequentemente, na manutenção do recurso “lama medicinal”.
A análise de palinofácies foi particularmente efetiva nas interpretações de eventos de precipitação e de sucessão
vegetacional para os lagos rasos de altitude de Ametista do Sul. A alta percentagem de elementos algálicos no registro
sedimentar desses corpos d’água e a expressiva variação observada em suas freqüências ao longo dos testemunhos foram
decisivas para as interpretações de cunho paleoclimático estabelecidas para eles.
Entre os elementos algálicos Botryoccocus predominou amplamente nos intervalos basais, tendendo a decrescer
progressivamente em direção ao topo em ambos os perfis sedimentares (T1 e T2); o mesmo ocorreu com o grupo “outras
algas” (Spyrogira, Debaria, Mougeotia, Zignema e Desmídia), assim denominado por englobar elementos dulciaquículas
numericamente menos expressivos que Botryoccocus. A partir da análise da frequencia dos elementos algálicos foi possível
estimar uma curva do nível de agua para os dois lagos (T1 e T2) ao longo do Holoceno (Figura 5). A análise comparativa entre
os resultados obtidos indica que houve, de maneira geral, mais umidade no passado (Holoceno inicial e médio), subsidiada por
eventos de alta pluviosidade, do que a atualmente observada no registro sedimentar do Recente.
Os eventos mais intensos de precipitação, inferidos através das análises de palinofácies, puderam ser correlacionados
aos eventos Bond, (BOND et al., 1997; BOND et al., 2001), especialmente os eventos 9.4 ka, 8.2 ka e 7.4 ka (MARCON et al.,
2014 a, b). O processo de acumulação de água no gossan e o inicio da sedimentação dos lagos de Ametista do Sul teriam sido
consequência, portanto, de tais eventos (MARCON et al., 2014 a, b).
O perfil sedimentar T1 - Mina do Museu tem idade estimada em 7963 anos AP (probabilidade média), ou cerca de 8.0
ka. Observando a Figura 5, no perfil da esquerda, podemos perceber que houve três picos de alta precipitação em idades como
7.6 ka, 6.5 ka e 5.9 ka (respectivamente 60, 45 e 30 cm de profundidade). Entretanto, todo o período de 8.0 ka (Base) até 5.7 ka
(25 cm) é marcado por uma pluviosidade elevada. A partir de 5.6 ka (20 cm) o nível de agua do lago decresse, seguindo
progressivamente abaixo da média até o Recente (Topo). Pode ter sido a partir de cinco mil anos atrás que o lago do perfil T1
adquiriu o metabolismo intermitente com estiagem longa, que é observado na atualidade.
O perfil sedimentar T2 - Mina Modelo tem 9542 anos AP (probabilidade média), ou cerca de 9.5 ka. Na Figura 5, no
perfil da direita, são observados picos de alta pluviosidade em idades como 8.6 ka, 7.7 ka, 7.4 ka e 5.4 ka (respectivamente 65,
50, 45 e 15 cm de profundidade). Da mesma forma que no perfil sedimentar anterior, este também apresenta um período de
pluviosidade elevada, que vai de 9.2 ka à 6.8 ka; depois disso o nível de água do lago decresse; ocorre um pico de pluviosidade
novamente em 5.4 e outro mais próximo ao Recente; entretanto, atualmente, embora seja mais profundo que o da Mina do
Museu, o lago da Mina Modelo também seca se houver uma estiagem prolongada (mais de quatro meses sem chuva). Assim
como no lago do perfil T1, foi por volta de cinco mil anos atrás que o lago do perfil T2 passou a ser intermitente com estiagem.
Os eventos de pluviosidade elevada ocorrem entre 9.2 ka e 5.4 ka, sendo que os eventos que são coincidentes entre os
dois lagos, datam entre 8.0 ka e 6.0 ka, aproximandamente. No início de sua sedimentação, esses corpos d’água não eram
intermitentes, pois havia umidade suficiente para que permanecessem saturados de água. O lago da Mina do Museu, por ser
mais raso, teve um ciclo mais curto (7963 anos AP), enquanto o lago da Mina Modelo, por ser um pouco mais profundo, teve
um ciclo mais longo (9542 anos AP). A profundidade de cada um desses alagados também influenciou na continuidade do
registro, o qual parece ter sido encerrado pela sedimentação quase completa do lago da Mina do Museu, mas ainda tem
continuidade no lago da Mina Modelo.

77
Figura 5 – Perfil sedimentar dos testemunhos T1-Mina do Museu e T2-Mina Modelo, demonstrando as variações do
nível de água do alagado através do Holoceno e os picos de precipitação.

A principal diferença entre o registro desses dois lagos rasos está nas camadas do topo, pois enquanto o lago da Mina
Modelo registra a continuidade dos eventos de precipitação para o Recente, embora menos intensos e mais desregulados em
relação ao passado, o lago da Mina do Museu registra o estabelecimento de uma fase crescente e contínua de grande estiagem
em direção ao Recente. O lago da Mina do Museu encontra-se atualmente bastante preenchido por sedimentos, embora ainda
permaneça saturado de água durante os períodos chuvosos. Contudo, é possível inferir que, em comparação ao passado, esse
lago pode estar sucumbindo ao seu próprio “metabolismo sedimentar” (ESTEVES, 2011), e isso pode estar influenciando no
registro do Recente, ao ponto da lâmina d´água não ser suficiente para acumular uma biota algácea significativa para compor o
registro fóssil, por exemplo. Nesse caso, pode estar faltando profundidade para o lago acumular algas, mas não estar faltando
chuva, necesariamente. Por outro lado, no caso do T2 - Mina Modelo é possível perceber que o lago ainda acumula uma biota
razoável de algas dulciaquícolas, mas o nível da agua vem oscilando abaixo da média desde 6.8 mil anos atrás até o Recente,
demonstrando que os níveis de precipitação elevada do início do Holoceno não tem se repetido, pelo menos, nos últimos cinco
mil anos.
De qualquer forma, é possível afirmar, com segurança, que os lagos rasos de altitude de Ametista do Sul, em virtude
de sua posição isolada no topo de morros, atuam como um tanque de captação de água meteórica e, por isso fornecem dados
confiáveis sobre eventos de elevação e redução da precipitação, sendo excelentes registros da pluviosidade pretérita, à
semelhança de espeleotemas (BERNAL et al, 2016; STRÍKES et al., 2011), e outros registros proxy de alta resolução
(SALLUM et al., 2012).
Nos sedimentos de Iraí, a fração orgânica mais bem representada é constituída por elementos derivados de plantas
terrestres, característica essa típica da matéria orgânica preservada em turfeiras. Os parâmetros organogeoquímicos foram
particularmente úteis nas interpretações de eventos de anoxia e de vigência de regimes hidrológicos para os sedimentos
turfosos de Iraí, que responderam melhor a essas análises porque dispunham de uma quantidade bem maior de carbono
orgânico e enxofre em sua constituição quando comparados com os sedimentos dos lagos rasos de Ametista do Sul.
O perfil T3 - Iraí tem 10.586 anos (probabilidade média) e, em virtude do regime hidrológico diferenciado, não foi
possível constatar aquí os mesmos eventos de precipitação dos perfis sedimentares de Ametista do Sul. Nesse tipo de ambiente,
turfoso e úmido, os teores de umidade eram subsidiados por diferentes variáveis, tais como o lençol freático, a água da chuva,
ou eventos de transbordamento do Rio Uruguai. Por isso, nenhuma estiagem chegou a secar o local completamente, pois
quando uma variável “falhava”, era compensada pela outra. A frequencia muito baixa de algas, contudo, indica que a lâmina
d’água não foi espessa o bastante para o desenvolvimento desse tipo de biomassa, embora o ambiente redutor e anóxico da

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turfeira também possa ter limitado a expansão desse grupo.
O período entre 10.586 e 6.392 anos AP (115 a 75 cm) é caracterizado pela forte influência do lençol freático e da
chuva, e o período entre 5.867 anos AP até o Recente apresenta uma influência crescente dos eventos de transbordamento do
Rio Uruguai (Figura 6).
No período que ocorre entre 10.586 até 8.908 anos AP (Base até 99 cm) o teor de COT e ST é muito alto, indicando a
presença de um ambiente redutor, anóxico e estagnado, típico de uma turfeira; entretanto, a presença de algas, mesmo que
reduzida, indica que este ambiente não era tão anóxico quanto viria a se tornar mais adiante, talvez porque pluviosidade desse
período contribuiu com um certo aporte de agua para o ambiente (Figura 6). As alterações que viriam a ocorrer na camada
seguinte (95 cm), quando a biota algácea desaparece, podem ter relação com uma anomalia de enxofre que ocorreu aos 99 cm
de profundidade (8.908 anos AP). Contudo, enquanto não se esclarecerem as causas de tal evento “anômalo”, as demais
inferências referentes ao mesmo são meramente especulativas (BRITO et al, 2016), embora sua origem possa estar associada a
eventos que excedem os limites locais, tanto em escala de distância (NARANJO & STERN, 2004) como em escala de
profundidade (FREITAS et al., 2011).
No período que ocorre entre 8.489 a 6.392 anos AP (95 a 75 cm) é inferido que houve a predominancia de um
ambiente altamente redutor, estagnado e anóxico, em virtude da completa ausência de algas no sedimento; acredita-se que
foram essas as características que impediram o desenvolvimento desses microorganismos, do que propriamente a falta de
umidade, pois os teores de COT permaneceram elevados, indicando que não houve oxidação da MO (Figura 6). A umidade foi
mantida pelo lençol freático e a turfeira permaneceu isolada do rio Uruguai, por mais algum tempo.
O evento que ocorreu entre 5.867 anos AP (70 cm) até o Recente foi caracterizado por um predomínio maior de
grupos algáceos, indicando que passou a haver um aumento significativo do aporte de agua no ambiente, possivelmente
proveniente do transbordamento do rio Uruguai (Figura 6), que passou a ter uma conexão com a área de estudo (atualmente, a
área é inundada nas épocas que o rio Uruguai transborda).
Foi observado que o período de maior aporte de água na turfeira em Iraí está associado aos eventos de
transbordamento do Rio Uruguai, que passam a predominar definitivamente a partir dos 70 cm de profundidade (5.867 anos
AP), possivelmente em virtude do leito do rio ter se aproximado da área de deposição através da erosão das margens e/ou pela
remoção de alguma barreira previamente existente entre o rio e o ambiente turfoso (Figura 6). Esses eventos de
transbordamento acabaram por introduzir mais água e mais sedimento que o habitual no ambiente deposicional; num primeiro
momento o aumento do número de algas pode dar a impressão que o aumento do aporte de água foi causado, simplesmente,
por uma pluviosidade mais intensa. Se utilizásemos os mesmos criterios das interpretações de Ametista do Sul, o desfecho
seria esse, provavelmente. Entretanto, o aumento significativo da sedimentação na turfeira indica uma fonte de natureza
diferente para Iraí.
As ingressões cada vez mais freqüentes do Rio Uruguai sobre a área e o aumento do aporte de água acabaram por
tornar a turfeira gradativamente mais fluida próximo à superficie; de modo que, no sentido base-topo, as características típicas
de uma “turfa” são substituídas pelas de um “sedimento turfoso”, ou seja, a lama orgânica síltica de “propriedades medicinais”,
como é popularmente conhecida a “lama medicinal” de Iraí.

79
Figura 6 – Variação nos teores de COT e ST e na percentagem de algas do testemunho T3-Iraí. A curva verde
representa o regime hidrológico predominante não-fluvial (lençol freático, chuvas). A curva azul representa o período
de vigência do regime hidrológico fluvial (rio Uruguai). O círculo amarelo entre as duas curvas indica o momento em
que possivelmente houve alteração da vigência hidrológica e o ponto de interrogação infere as possíveis causas dessa
mudança.

A ingressão de água do rio sobre a área de deposição possivelmente contribuiu com uma umidade adicional no
sistema, diluindo o conteúdo orgânico do depósito sedimentar, o que resultou na consequente redução dos teores de COT e ST
no sedimento e no aumento do número de elementos algáceos, dando a impressão de aumento da pluviosidade nos últimos 5.9
mil anos até o Recente. Embora tenha sido registrada a presença de elemento algálicos na turfeira de Iraí, essa é bastante
inexpressiva quando comparada à dos lagos rasos de altitude de Ametista do Sul, uma vez que se tratam de ambientes
diferentes. Logo, o grupo das algas não permite a inferencia de um nível de água para a turfeira de Iraí, em virtude da sua baixa
frequencia. De qualquer forma, a sua presença, associada a outros fatores já descritos, pode indicar o momento em que o rio
Uruguai passou a interferir sobre a área.
É possível inferir também que os episódios de transbordamento do rio Uruguai estejam associados ao aumento da
pluviosidade; então, nesse caso, os eventos de Iraí estariam indicando que o periodo de aumento das chuvas teria tido início há
5.9 mil anos atrás, estendendo-se até o Recente. Tais resultados não concordam, completamente, com aqueles obtidos para
Ametista do Sul. Embora o T1-Mina do Museu também indique um pico de chuva há 5.9 mil anos atrás, a tendencia geral,
demonstrada pelos dois perfis sedimentares (T1 e T2) é de uma redução relativa da pluviosidade, pelo menos nos últimos cinco
mil anos.
A discrepância entre os períodos de maior umidade, inferidos para Ametista do Sul e Iraí, pode estar diretamente
relacionada ao tipo de ambiente deposicional e aos regimes hidrológicos predominantes em cada uma dessas áreas. Em Iraí, o
ambiente deposicional é ora subsidiado por agua do lençol freático, ora por agua da chuva, ora pelas águas do rio Uruguai, mas
em nenhum momento há o registro de “estiagem”, porque esse é um ambiente “aberto” e continuamente subsidiado por
umidade, oriunda de fontes diversas. Contrastando com ele, temos o ambiente deposicional fechado de Ametista do Sul, cujo
nível de umidade depende exclusivamente da pluviosidade. A posição topográfica de cada uma das áreas analisadas também
tem grande influência sobre o registro, pois o isolamento hidrológico dos lagos de Ametista do Sul é resultado de sua

80
localização no topo de morros. Os sedimentos turfosos de Iraí, por sua vez, estão localizados em uma área de relevo baixo,
próxima às margens de um rio, o que torna esse sistema deposicional mais exposto a influências diversas. Nesse caso, o
transbordamento do rio Uruguai poderia ser resultado de um pico de pluviosidade que, há 5.9 mil anos, rompeu ou erodiu uma
barreira que possivelmente existía entre este curso d’água e a área em questão; posteriormente, eventos menores de
transbordamento não tiveram dificuldade de acessar a área.
A partir de tais inferencias, mantem-se a interpretação de que existe uma tendencia à diminuição relativa na
pluviosidade, com base nos dados fonecidos pelos perfis sedimentares de Ametista do Sul, uma vez que o regime hidrológico
predominante nos lagos rasos de altitude daquela área permite a compilação de dados pluviométricos um tanto mais precisos
que em Iraí, pelos motivos já descritos.
Os resultados obtidos em áreas de pesquisa relativamente próximas, tais como os lagos rasos de altitude de Ametista
do Sul e os sedimentos turfosos de Iraí, foram diferenciados porque em ambientes continentais estritos, onde os depósitos
sedimentares abrangem áreas pouco extensas, a influência climática é muito mais localizada do que nos ambientes marinhos ou
costeiros, cujos depósitos sedimentares abrangem áreas de grande extensão. Essas evidências permitem ratificar que as
generalizações climáticas em ambientes continentais devem estar baseadas na investigação de mais de uma área de estudo e, se
possível, abarcando várias áreas dentro de uma mesma região a fim de se obter uma resolução mais acurada das alterações
climáticas e ambientais ocorridas.
Em geral, em ambientes continentais que evoluíram sem a influência de variações eustáticas e caracterizados por áreas
de extensão limitada, os dados paleoambientais, paleoecológicos e paleoclimáticos poderão oscilar largamente em virtude das
variáveis físicas, químicas e biológicas influentes no sistema deposicional e dependerão amplamente do regime hidrológico e
da topografia locais, além das condições edáficas resultantes da interação de tais fatores. Talvez, em virtude disso, os
resultados obtidos por diferentes pesquisas, utilizando os mais variados dados proxy, podem levar a resultados divergentes,
dificultar a correspondência entre os dados levantados e até mesmo impedir uma analogia positiva entre os ambientes
deposicionais estudados, nos quais a idade radiométrica pode vir a ser o único dado correspondente.
Enfim, as generalizações paleoambientais, paleoecológicas e paleoclimáticas devem levar em consideração as
características particulares dos ambientes que estão sendo analisados, buscando explicações para os resultados divergentes
encontrados através de comparações entre as distintas variáveis que atuam sobre os sistemas deposicionais estudados. Portanto,
ambientes deposicionais distintos podem responder de maneira distinta às mesmas variáveis, não significando,
necessariamente, contradições no registro. Tais constatações podem ser também extrapoladas para ambiente análogos do
passado geológico a fim de permitir uma melhor integração de dados contemporâneos aparentemente pouco correlacionáveis.

Comentários Finais
Com base nas análises realizadas em Ametista do Sul, pôde-se observar uma redução relativa da pluviosidade local, o
que permite projetar a possibilidade de um estresse hídrico progressivo para aquela região, sendo aconselhável o
estabelecimento de políticas de médio e longo prazo envolvendo um melhor gerenciamento dos recursos hídricos locais. De
acordo com o modelo descrito por Hartmann (2008) e Hartmann et al. (2010), a ocorrência de lagos associados a sílica gossans
no topo de morros, localizados logo acima de minas de extração de ametista, é um fenomeno relativamente comum na região
de Ametista do Sul. Se a constatação do presente estudo se estender aos demais lagos asociados a sílica gossans da região, o
cenário futuro acerca do estresse hídrico local torna-se objeto de estudos mais urgentes e aprofundados.
A partir das análises realizadas em Iraí, pôde-se observar uma alteração nas características do sedimento turfoso,
causada incialmente por ação fluvial (70 À 15 cm) e posteriormente por ação antrópica (15 cm até o Topo). A oxidação das
camadas superficiais da turfeira permitem projetar a perda progressiva do conteúdo orgânico e geoquímico que possivelmente
confere à “lama medicinal” suas propriedades terapêuticas, sendo aconselhável, portanto, o estabelecimento de políticas de
manejo adequado de tal recurso, sob o risco do município perder essa fonte de renda complementar, em médio e longo prazo. É
importante ressaltar que as análises palinofaciológicas e organogeoquímicas revelaram o alto conteúdo orgânico do sedimento
analisado; contudo, a confirmação de suas propriedades terapêuticas ainda depende de estudos mais detalhados e de análises
mais diversificadas.
Nos últimos 100 anos, a atividade antrópica em Iraí pode estar acelerando o processo de diminuição do conteúdo
orgânico nos sedimentos turfosos, através da drenagem dos depósitos para remoção da “lama medicinal”; o que pode resultar
em uma maior exposição dos sedimentos à oxidação. Adicionalmente, também houve a remoção gradativa da vegetação do
entorno, que era fonte importante do carbono orgânico sedimentar; isso pode influenciar, no longo prazo, sobre o teor
orgánico da referida “lama”, dado que as análises palinofaciológicas comprovaram a ampla dominância de fitoclastos sobre os
demais grupos da MO. Uma alternativa seria o reflorestar o entorno da área que circunda a turfeira, especialmente a mata ciliar
junto ao rio Uruguai.

81
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Lucas Niehuns Antunes1, Enedir Ghisi2
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Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: lucas_niehuns@hotmail.com; 2Universidade Federal de Santa
Catarina, e-mail: enedir.ghisi@ufsc.br

Palavras-chave: Edificações escolares; Índices de consumo; Potencial de economia

Resumo
Este trabalho tem como objetivo avaliar o potencial de economia de água potável e energia elétrica em escolas públicas
estaduais da Região Metropolitana de Florianópolis. Foram analisados dados de consumo de água e energia de cem escolas e
escolhidas duas destas para análise da implantação de um sistema de aproveitamento de água pluvial e mudanças no sistema de
iluminação artificial. Uma das escolas escolhidas possui índices elevados de consumo de água e energia (17,13 litros/aluno.dia
e 15,09 kWh/aluno.mês), enquanto a outra possui baixos índices de consumo (3,12 litros/aluno.dia e 4,80 kWh/aluno.mês). O
potencial de economia de água potável por meio do aproveitamento de água pluvial foi calculado com auxílio do programa
Netuno 4, enquanto as mudanças no sistema de iluminação artificial tiveram como base cálculos realizados por meio do
método dos lúmens. Dessa forma, foi proposta a mudança na quantidade das lâmpadas existentes e a troca destas por lâmpadas
mais eficientes. Na escola com consumos elevados, obteve-se potencial de economia de água potável variando de 32,68 a
62,46% com o aproveitamento de água pluvial, o que representa redução no consumo de água potável entre 2.996 e 5.431
litros/dia. O tempo de retorno do investimento para a implantação do sistema variou de 20 a 36 meses. Com relação à energia
elétrica, o potencial de economia foi de 62%, com redução mensal de 4.121 kWh. O tempo de retorno do investimento para as
mudanças no sistema de iluminação foi de 5 meses. Na escola com baixos consumos, foram obtidos potenciais de economia de
água potável entre 53,31 e 78,14% com o aproveitamento da água pluvial, representando redução no consumo de água potável
de 542 a 1.574 litros/dia. O período de retorno do investimento variou de 46 a 83 meses. Quanto à energia elétrica, houve
aumento de 348 kWh (13%) no consumo mensal, devido à insuficiência nos níveis de iluminação das salas de aula da escola.
Os resultados deste trabalho confirmam que, com análise prévia da edificação e por meio de estratégias sustentáveis, é possível
obter redução expressiva nos consumos de água potável e energia elétrica em edificações escolares, principalmente em escolas
com elevados consumos.

Introdução
Os princípios do desenvolvimento sustentável estão se tornando cada vez mais relevantes para a sociedade, onde organizações
e indivíduos têm papel relevante a desempenhar. As instituições de ensino podem atuar como agentes na promoção desses
princípios na sociedade. Segundo Mora et al. (2017), muitas instituições de ensino estão cada vez mais conscientes do seu
impacto no meio ambiente e tentando entender as necessidades ambientais e as implicações de suas operações. Por essa razão,
há vários estudos que destacam a importância da sustentabilidade e por que as instituições de ensino precisam tornar seus
ambientes mais sustentáveis (Berardi et al. 2017; Katsaprakakis e Zidianakis 2017).

Devido ao crescimento da população e consequente aumento da demanda de água e energia, há crescente preocupação com a
escassez de tais recursos. Assim, o uso racional de água e energia em edifícios está se tornando cada vez mais necessário. Um
dos tipos de edificação com elevado consumo de água e energia são as escolas, foco principal deste trabalho. Vários estudos na
literatura mostram o consumo de água e energia em instituições de ensino. Ilha et al. (2008) compararam o consumo de água
em diversos tipos de instituições educacionais no Brasil, obtidos por diferentes autores, e o consumo variou de muito baixo,
por exemplo, 0,51 litros/pessoa/dia (Werneck 2006), a muito elevado, 81,1 litros/pessoa/dia (Oliveira e Gonçalves 1999).

Em outros países, há também grande variação no consumo de água. Almeida et al. (2015) analisaram o consumo de água em
23 escolas em Portugal e observaram grande variação, mesmo em escolas com características semelhantes, sugerindo que o
comportamento do usuário desempenha papel importante na sua eficiência. Farina et al. (2011) enfatizam que o consumo de
água depende da idade dos alunos. Os autores obtiveram média igual a 48 litros/aluno/dia nas escolas para alunos de até 6
anos. Nas escolas para alunos de 6 a 11 anos, obtiveram 18 litros/aluno/dia. Os autores afirmam que essa diferença pode ser
devida ao fato de crianças até 6 anos precisarem de mais serviços, como lavação de roupas e cozimento de alimentos, enquanto
crianças de 6 a 11 anos consomem água principalmente em banheiros.

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Outro recurso que possui elevado consumo nas escolas é a energia. Nos Estados Unidos, por exemplo, 13% do total de energia
consumida em edifícios comerciais é usado em instituições educacionais (Pérez-Lombard et al. 2008). Dascalaki e
Sermpetzoglou (2011) encontraram consumo de energia em escolas variando de 49,5 a 90,8 kWh/m²/ano de acordo com as
zonas climáticas da Grécia. Tae-Woo et al. (2012), por sua vez, verificaram consumo de energia variando de 42 a 112
kWh/aluno/mês em escolas de ensino fundamental na Coréia do Sul. No Brasil, também há grande variação. Pietrobon et al.
(1997) obtiveram consumo de energia variando de 95,29 a 116,60 kWh/m²/ano, enquanto Góes (2010) obteve consumo de 5,92
a 35,46 kWh/m²/ano. A grande variação de consumo pode ser decorrente das condições climáticas, hábitos dos usuários,
características e idade dos edifícios, período de funcionamento, entre outros, como mostra Khoshbakht et al. (2018) e Tae-Woo
et al. (2012).

Considerando o elevado consumo de água e energia nas escolas, e também sua grande variação, torna-se cada vez mais
necessário utilizar estratégias para reduzir o consumo desses recursos. Fasola et al. (2011) avaliaram o uso de aparelhos
eficientes e o uso de água pluvial em escolas no Brasil e verificaram potencial de economia de água potável igual a 72,7%.
Outros resultados significativos na economia de água potável com o uso de água pluvial nas escolas foram relatados por
Marinoski e Ghisi (2008), Ghisi e Ferreira (2007), entre outros. No que diz respeito à economia de energia nas escolas,
Katsaprakakis e Zidianakis (2017) encontraram reduções de até 77,65%, melhorando a eficiência energética nas escolas da
Grécia. Dascalaki e Sermpetzoglou (2011) avaliaram diferentes cenários de conservação de energia em escolas na Grécia e
obtiveram economia de energia variando de 1,6 a 69,5%. Outros resultados significativos foram obtidos por Berardi et al.
(2017), Mora et al. (2017) e AlFaris et al. (2016).

Por meio da análise de outros estudos, percebe-se a importância da aplicação de estratégias para a redução do consumo de água
e energia nas escolas. Embora existam vários estudos que demonstram a eficiência de estratégias sustentáveis para reduzir o
consumo de água e energia, os métodos utilizados são geralmente diferentes, levando a resultados heterogêneos. Assim, este
estudo tem como objetivo apresentar um método para medir o consumo de água e energia em escolas, bem como avaliar a
implementação de estratégias sustentáveis (por exemplo, aproveitamento de água pluvial e melhorias no sistema de iluminação
artificial) para estimar o potencial de economia de água e energia.

Método
O estudo é baseado em duas análises principais. Primeiramente, foi avaliado o consumo de água e energia das escolas públicas
(ensino fundamental e médio da Região Metropolitana de Florianópolis). Foram coletados dados de consumo de água para 62
escolas e dados de consumo de energia para 100 escolas. Dados sobre consumo de água e energia, número de alunos, horário
de funcionamento, tipo de ensino e detalhes sobre os edifícios foram obtidos por meio de solicitação à Coordenadoria Geral de
Educação de Santa Catarina.

Em segundo lugar, duas escolas foram selecionadas como estudos de caso: uma com elevado consumo de água e energia e
outra com baixo consumo. Nas duas escolas, foram implementadas estratégias para reduzir o consumo de água potável usando
água pluvial para fins não potáveis e estratégias para reduzir o consumo de energia por meio da melhoria do sistema de
iluminação. Análises de viabilidade de investimento foram realizadas. A razão para selecionar duas escolas foi identificar a
viabilidade econômica de acordo com o consumo de água e energia de cada escola. O consumo de água potável e energia per
capita foram estimados por meio das Equações 1 e 2, respectivamente.

Cágua = (Ca x 1000) / (E x D) (1)


Cenergia = (Ce x 22) / (E x D) (2)

Onde: Cágua é o consumo diário de água potável per capita em cada escola (litros/aluno/dia); Cenergia é o consumo mensal de
energia per capita em cada escola (kWh/aluno/mês); Ca é o consumo total de água potável no período analisado (m³); Ce é o
consumo total de energia no período analisado (kWh); E é o número de estudantes em cada escola; D é o número de dias
letivos durante o período analisado; 22 é o número de dias úteis ao longo de um mês.

Estratégia para reduzir o consumo de água potável

Sistema de aproveitamento de água pluvial


Considerou-se que a água pluvial seria utilizada para usos não potáveis, como descarga de vasos sanitários, mictórios, limpeza
de áreas externas e irrigação de jardins. O programa Netuno, versão 4, foi usado para avaliar o potencial de economia de água
potável (Ghisi e Cordova 2014). Os dados de entrada para as simulações computacionais são: precipitação diária, área de
captação, demanda total de água, demanda de água pluvial, número de consumidores e coeficiente de escoamento superficial.
Simulações para diferentes capacidades de reservatórios foram executadas.

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Os dados de precipitação foram obtidos da Agência Nacional de Águas. Assim, a precipitação diária durante um período de 12
anos (2002 a 2013) foi usada nas simulações. A demanda total de água foi obtida com base no consumo de água nas escolas.
Foram considerados alguns cenários, com consumo mínimo, máximo e médio de água nas escolas e demanda de água pluvial
igual a 60%, 70% e 80% da demanda total de água . Essa porcentagem foi definida com base em outros estudos, como
Marinoski e Ghisi (2008), Fasola et al. (2011) e outros. A área de captação é igual à área do telhado das escolas. O coeficiente
de escoamento foi definido de acordo com o material do telhado.

Análise econômica
A economia financeira mensal devido à redução do consumo de água potável com o uso de água pluvial foi calculada por meio
da Equação 3. A tarifa de água foi obtida do serviço local de água e saneamento.

Eágua = [Cmensal x (Pecon / 100) x Vágua] - Cbomba (3)

Onde: Eágua é a economia financeira mensal devido à redução do consumo de água potável por meio do uso de água pluvial
(R$); Cmensal é o consumo médio mensal de água (m³); Pecon é o potencial de economia de água potável usando água pluvial
(%); Vágua é a tarifa de água cobrada pela concessionária de água (R$/m³); Cbomba é o custo mensal de energia devido ao uso de
motobombas (R$).

Estratégia para reduzir o consumo de energia

Níveis de iluminação nas salas de aula


A avaliação dos níveis de iluminação nas salas de aula foi realizada através de medições usando o luxímetro MLM-1011. As
medições foram realizadas nas superfícies de trabalho (mesas a 0,75 m acima do nível do chão) e também no quadro negro. Em
cada escola, uma sala de aula para cada orientação solar foi escolhida para análise. Essa avaliação seguiu as diretrizes da NBR
ISO/CIE 8995:2013 - Iluminação de locais de trabalho (ABNT, 2013).

Iluminação natural e artificial (diurna)


O número mínimo de pontos necessários para a medição dos níveis de iluminação foi calculado por meio da Equação 4.

N = {(C x L) / [Hm x (C + L)] + 2}² (4)

Onde: N é o número mínimo de pontos necessários para verificar os níveis de iluminação (adimensional); L é a largura da sala
de aula (m); C é o comprimento da sala de aula (m); Hm é a altura entre o plano de trabalho e as luminárias (m).

A classificação indicada na Tabela 1, onde EM é a iluminância média exigida pela NBR ISO/CIE 8995:2013, foi considerada
para avaliar o sistema de iluminação.

Iluminação artificial (noturno)


Para o cálculo da iluminância média devido apenas à iluminação artificial, as medições foram feitas à noite, com todas as
lâmpadas acesas. Os níveis de iluminância foram medidos de acordo com a NBR 5382 (ABNT 1985).

Intervalo de iluminância Zona Classificação


< (70% EM - 50 lux) insuficiente ruim
(70% EM - 50 lux) a 70% EM transição inferior regular
70% EM a 130% EM suficiente bom
130% EM a 2.000 lux transição superior regular
> 2.000 lux excessivo ruim
Tabela 1: Classificação do sistema de iluminação.
Fonte: ABNT (1992)

Melhorias no sistema de iluminação artificial


As melhorias propostas para o sistema de iluminação artificial foram realizadas utilizando o método dos lúmens. O número de
lâmpadas para atender a iluminância necessária na sala de aula foi estimado por meio da Equação 5. O coeficiente de utilização
(Cut) depende do material e da forma da luminária e da refletância do teto, parede e superfície de trabalho das salas. Tais
refletâncias foram obtidas da NBR ISO/CIE 8995:2013. O fator de depreciação da lâmpada (Fd), por sua vez, depende das

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condições de limpeza. O Fd utilizado neste estudo foi de 0,8 (sala limpa), enquanto o coeficiente de utilização foi obtido em
Cotrim (2009).

N = (A x EM) / (Cut x Fd x φlumin) (5)

Onde: N é o número de lâmpadas para fornecer a iluminância necessária na sala de aula; A é a área da sala de aula (m²); EM é a
iluminância necessária na sala de aula (lux); Cut é o coeficiente de utilização da luminária (adimensional); Fd é o fator de
depreciação da lâmpada (adimensional); φlumin é o fluxo luminoso da lâmpada (lúmen).

Análise econômica
A economia financeira mensal devido à redução do consumo de energia através da melhoria do sistema de iluminação foi
calculada por meio da Equação 6.

Eenergia = [(ΣP1 x tuso1) - (ΣP2 x tuso2)] x Venergia (6)

Onde: Eenergia é a economia financeira mensal devido à redução do consumo de energia, melhorando o sistema de iluminação
(kWh); ΣP1 é a potência total das lâmpadas existentes (kW); ΣP2 é a potência total das novas lâmpadas (kW); tuso1 é o tempo de
uso mensal atual das lâmpadas existentes (horas); tuso2 é o tempo de uso mensal das novas lâmpadas, considerando a redução
no tempo de uso (horas); Venergia é a tarifa de energia cobrada pela concessionária de energia (R$/kWh).

Análise da viabilidade de investimento


O período de retorno, o valor presente líquido e a taxa interna de retorno foram calculados para a captação de água pluvial e
melhorias no sistema de iluminação por meio das Equações 7 a 9, respectivamente.

(7)
(8)
=0 (9)

Onde: I0 é o investimento inicial (R$); VPL é o valor presente líquido (R$); TIR é a taxa interna de retorno; Bn são as
economias mensais (R$); Cn são os custos mensais relevantes, excluindo os custos iniciais (R$); i é a taxa de juros; n é o
número de meses; Ft é o fluxo de caixa no período t (R$); t é o enésimo período no tempo em que o dinheiro será investido.

Resultados

Consumo de água potável


Dados de consumo de água de janeiro de 2016 a maio de 2017 foram obtidos para 62 escolas. O consumo médio de água per
capita nas escolas de ensino médio foi de 9,66 litros/aluno/dia, enquanto a média no ensino fundamental foi de 7,94
litros/aluno/dia. A Tabela 2 mostra o consumo médio de água potável e o desvio padrão de acordo com o tipo de ensino e o
período de funcionamento. Pode-se perceber que o desvio padrão é elevado devido à grande variação encontrada no consumo
de água nas diferentes escolas analisadas. Em relação ao período de funcionamento, o consumo médio nas escolas em período
integral (manhã, tarde e noite) foi de 8,41 litros/aluno/dia, enquanto as escolas operando apenas no período da manhã e da
tarde tiveram média de 9,23 litros/aluno/dia.

A análise estatística dos dados foi feita através do teste de shapiro-wilk, a fim de determinar se as amostras seguem
distribuição normal ou não. O nível de significância do teste (α) foi considerado igual a 0,05. Nota-se que todos os p-valores
encontrados (variando de 1,028e-07 a 0,003672) são menores que 0,05. Assim, pode-se afirmar com nível de significância de
5% que as amostras não seguem distribuição normal.

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Consumo médio Desvio
Número
Características de água potável padrão p-valor
de escolas
(l/aluno/dia) (l/aluno/dia)
Ensino fundamental 25 7,94 5,76 0,001222
Tipo de
Ensino médio 8 9,66 10,42 0,003672
ensino
Fundamental e médio 29 9,30 6,56 0,000121
Total 62 8,80 6,93 1,028e-07
Integral 33 8,41 7,12 5,889e-06
Período
Manhã e tarde 29 9,23 6,79 0,000349
Total 62 8,80 6,93 1,028e-07
Tabela 2: Consumo médio de água potável de acordo com o tipo de escola e período de funcionamento.

Como as amostras foram não paramétricas pelo teste de shapiro-wilk, o teste kruskal-wallis foi usado para testar a hipótese
nula de que todos os conjuntos de dados têm funções de distribuição iguais contra a hipótese alternativa de que pelo menos
dois conjuntos de dados têm diferentes funções de distribuição. Na relação consumo de água versus tipo de escola, p-valor é
igual a 0,5883, com qui-quadrado igual a 1,0612 e graus de liberdade igual a 2. Na relação consumo de água versus período de
funcionamento, p-valor é igual a 0,3268, com qui-quadrado igual a 0,96144 e graus de liberdade igual a 1. Como ambos os p-
valores foram maiores que 0,05 (superior ao nível de significância), assume-se que não há diferenças significativas entre o
consumo de água nas escolas em relação ao tipo de educação ou período de funcionamento. Observou-se que o consumo per
capita varia de muito baixo (0,81 litros/aluno/dia) a muito elevado (35,42 litros/aluno/dia). A média encontrada para as escolas
foi de 8,80 litros/estudante/dia. Essa variação pode ser considerada normal, como também relatado em outros estudos (Almeida
et al. 2015; Farina et al. 2011; Ilha et al. 2008).

Consumo de energia
Os dados de consumo de energia de janeiro de 2016 a maio de 2017 foram obtidos para 100 escolas. A média foi de 7,15
kWh/aluno/mês nas escolas de ensino médio, enquanto média igual a 5,30 kWh/aluno/mês foi obtida para as escolas de ensino
fundamental. A Tabela 3 mostra o consumo médio de energia e o desvio padrão de acordo com o tipo de escola e o período de
funcionamento. Mais uma vez, pode-se perceber o elevado desvio padrão devido à grande variação no consumo de energia nas
escolas. Segundo Almeida et al. (2015), essa variação em relação ao tipo de educação ocorre principalmente devido ao
comportamento do usuário e também à idade dos alunos.

Em relação ao período de operação, o consumo médio foi de 6,89 kWh/aluno/mês nas escolas de tempo integral e 5,13
kWh/aluno/mês nas escolas que operam de manhã ou à tarde. Nas escolas que operam apenas à noite, o consumo médio de
energia foi de 9,85 kWh/aluno/mês. Este elevado consumo nas escolas noturnas pode ser devido ao maior uso de iluminação
artificial. O consumo per capita variou de baixo (como 0,31 kWh/aluno/mês) a muito elevado (como 66,47 kWh/aluno/mês). O
consumo médio de energia per capita considerando todas as escolas foi de 6,10 kWh/aluno/mês. A variação no consumo de
energia também pode ser considerada normal, como visto em outros estudos (Tae-Woo et al. 2012; Dascalaki e Sermpetzoglou
2011).

Consumo médio
Número de Desvio padrão
Características de energia p-valor
escolas (kWh/aluno/mês)
(kWh/aluno/mês)
Ensino fundamental 42 5,30 3,62 1,676e-09
Tipo de
ensino Ensino médio 11 7,15 5,26 1,833e-05
Fundamental e médio 47 6,57 9,56 2,24e-12
Total 100 6,10 7,21 2,2e-16
Integral 47 6,89 9,48 1,954e-12
Período Manhã e tarde 50 5,13 3,42 3,676e-10
Noturno 3 9,85 9,43 0,4074
Total 100 6,10 7,21 2,2e-16
Tabela 3: Consumo médio de energia de acordo com o tipo de escola e período de funcionamento.

Para o teste shapiro-wilk, observa-se que apenas um dos conjuntos de dados (período de operação: noturno) tem distribuição
normal (p-valor igual a 0,4074). Os outros conjuntos de dados não seguem distribuição normal (p-valores entre 2,2e-16 e
1,833e-05). Assim, o teste de Kruskal-Wallis foi utilizado novamente para a análise estatística entre os conjuntos de dados. Na
relação consumo de energia versus tipo de escola, p-valor é igual a 0,2293, com qui-quadrado igual a 2,9456 e graus de

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liberdade igual a 2. Na relação consumo de energia versus período de operação, p-valor é igual a 0,723, com qui-quadrado
igual a 0,6486 e graus de liberdade igual a 2. Como ambos os p-valores foram maiores que 0,05 (acima do nível de
significância), assume-se que não há diferenças significativas entre o consumo de energia de escolas em relação ao tipo de
educação ou período de funcionamento.

Seleção de duas escolas como estudos de caso


As duas escolas foram selecionadas com base em seu consumo per capita, sendo escolhidas uma escola com elevado consumo
de água e energia e outra com baixos consumos. As escolas escolhidas são chamadas aqui de Escolas A e B. A Escola A possui
elevado consumo de água e energia (17,13 litros/aluno/dia e 15,09 kWh/aluno/mês) quando comparada às demais, enquanto a
Escola B tem baixo consumo de água (3,12 litros/aluno/dia) e consumo moderado de energia (4,80 kWh/aluno/mês).

A Escola A é composta apenas por pavimento térreo com área construída igual a 5.635 m², servindo 451 alunos em três
períodos (manhã, tarde e noite), oferecendo ensino fundamental e médio aos alunos. Cerca de 40% da área construída está
interditada devido à má estrutura do prédio causada pela falta de manutenção. A Escola B também é composta apenas por
pavimento térreo, mas sua área construída é igual a 1.550 m². A escola tem 576 alunos e funciona em três turnos (manhã, tarde
e noite), oferecendo ensino fundamental e médio para os alunos. As seções 3.4 e 3.5 mostram os resultados para as duas
escolas escolhidas como estudos de caso.

Aproveitamento de água pluvial


A fim de determinar o potencial de economia de água potável por meio do aproveitamento de água pluvial, a precipitação
diária foi utilizada. A precipitação média anual do período foi de 1766 mm. A área de coleta de água pluvial da Escola A foi
considerada igual à área total da cobertura da parte não interditada da escola, que é igual a 3.240 m². O número de
consumidores é a soma do número de alunos e funcionários, que é igual a 532 pessoas (451 alunos e 81 funcionários).
Diferentes cenários foram analisados, considerando o consumo médio, mínimo e máximo. O consumo médio no período
analisado foi de 14,27 litros/pessoa/dia, enquanto os consumos mínimo e máximo foram 10,85 e 28,45 litros/pessoa/dia,
respectivamente.

A Figura 1 mostra o potencial de economia de água potável de acordo com a demanda de água pluvial, o consumo de água e a
capacidade do reservatório. Os pontos pretos no gráfico indicam a capacidade ideal do reservatório. Foi escolhido reservatório
com capacidade de 30.000 litros, dividido em dois tanques de fibra com capacidade de 15.000 litros cada. O potencial de
economia de água potável devido ao uso de água pluvial variou de 32,68% a 62,46%. Se o sistema fosse implementado,
haveria economia de água potável variando de 2.996 a 5.431 litros/dia.

Figura 1: Potencial de economia de água potável na escola A.

Na Escola B, a área de cobertura é igual a 1.550 m² e o número de consumidores igual a 628 pessoas (576 estudantes e 52
funcionários). O consumo médio de água no período analisado foi de 2,86 litros/pessoa/dia, enquanto os consumos mínimo e

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máximo foram 1,45 e 3,84 litros/pessoa/dia, respectivamente. Foi selecionado volume de reservatório de 15.000 litros. O
potencial de economia de água potável com o uso de água pluvial variou de 53,31% a 78,14%. Se o sistema fosse
implementado, haveria economia de água potável variando de 542 a 1.574 litros/dia. Apesar de apresentar elevado potencial de
economia de água potável, o volume de água que pode ser economizado é baixo, visto que o consumo de água nessa escola
também é baixo.

Análise econômica
A motobomba selecionada para a Escola A tem potência igual a 368 W. O tempo de operação diário foi estimado em 4 horas.
O número de dias de operação em um mês foi considerado igual a 22. A tarifa cobrada pela CELESC foi de R$ 0,549/kWh
incluindo todos os impostos. O custo mensal de energia devido ao uso da motobomba foi de R$ 17,78. A economia mensal
obtida nos nove cenários foi calculada. Foram calculados o período de retorno, valor presente líquido e taxa interna de retorno,
utilizando taxa de retorno mínima aceitável igual a 1% ao mês, inflação igual a 0,16% ao mês e vida útil de 20 anos. A tarifa
de água cobrada pela CASAN foi de R$ 10,33 por m³.

O investimento inicial do sistema de captação de água pluvial para a Escola A (reservatórios, motobombas, filtros, tubulações,
conexões, freio d’água, boia de nível, válvula solenoide, boia flutuante para sucção, clorador, chave boia e mão-de-obra) foi de
R$ 28.032,93, enquanto a economia mensal variou de R$ 910,81 a R$ 1.665,89. O período de retorno variou de 20 a 36 meses,
enquanto o valor presente líquido variou de R$ 65.946,20 a R$ 141.787,56 e a taxa interna de retorno variou de 3,43% a 6,05%
ao mês. A implementação do sistema obteve bons resultados econômicos, uma vez que a taxa interna de retorno é superior à
taxa mínima aceitável de retorno em todos os cenários.

A motobomba selecionada para a Escola B também tem potência igual a 368 W. Considerando o tempo de operação igual a 2
horas por dia (devido ao menor consumo), estimou-se que o custo mensal de energia devido ao uso das motobombas é igual a
R$ 8,89. O investimento inicial foi de R$ 18.461,04 e a economia mensal variou de R$ 159,14 a R$ 479,08. Para alguns
cenários (considerando o consumo mínimo de água) não houve período de retorno. Para outros cenários (consumo médio e
máximo), o período de retorno variou de 46 a 83 meses. O valor presente líquido variou de R$ 1.294,20 a R$ 31.573,72 e a
taxa interna de retorno variou de 0,91% a 2,80% ao mês. Os resultados mostram que como o consumo atual de água da Escola
B é baixo, pode-se afirmar que não há necessidade do sistema de captação de água pluvial.

Estratégias para redução do consumo de energia

Níveis de iluminância nas salas de aula


Cada sala de aula da Escola A tem densidade de potência instalada igual a 13,17 W/m². A escola possui salas de aula
orientadas a sul e norte, portanto, duas salas de aula (uma para cada orientação solar) foram escolhidas para a avaliação dos
níveis de iluminância. O número mínimo de pontos necessários para a verificação dos níveis de iluminância diurna foi igual a
14. No entanto, optou-se por uma malha de 25 pontos dividida em áreas aproximadamente iguais. O mesmo foi aplicado para a
Escola B. De acordo com a NBR ISO/CIE 8995:2013 - Iluminação de locais de trabalho, a iluminância média exigida para
salas de aula é de 300 lux, enquanto a iluminância média necessária para os quadros é de 500 lux.

A Figura 2 mostra os níveis de iluminância medidos na sala de aula da Escola A orientada a sul e também a variação da
iluminância de acordo com a distância medida a partir da janela. As cores indicam a classificação do nível de iluminância
(ruim, regular ou bom, conforme a Tabela 1). Os pontos cinza e laranja representam as iluminâncias mínima e máxima,
respectivamente. Durante o dia, os níveis de iluminação são muito mais elevados nas mesas perto da janela e diminuem à
medida que se afastam da janela. Além disso, há variação muito maior entre os valores mínimo e máximo próximos da janela.
Essa variação tende a diminuir à medida que a distância da janela aumenta. Nota-se também que, quando as lâmpadas estão
apagadas (apenas iluminação natural), a maior parte da sala de aula permanece com iluminação insuficiente. Quando as
lâmpadas estão acesas (iluminação natural + artificial), a classificação varia entre regular e boa. Assim, é possível concluir que
o sistema de iluminação da sala de aula funciona regularmente, atendendo aos requisitos da norma.

90
Figura 2: Níveis de iluminância na sala de aula com orientação sul da escola A.

Na sala de aula com orientação norte, verificou-se comportamento muito semelhante ao da sala de aula com orientação sul. A
sala de aula com orientação norte obteve 60% de iluminação insuficiente quando considerada apenas a luz natural, enquanto na
sala de aula com orientação sul essa insuficiência foi de 48%.

Os níveis de iluminância na Escola B também foram medidos. A escola possui salas de aula com orientações leste, sul e norte.
Assim, três salas (uma de cada orientação) foram escolhidas para a avaliação dos níveis de iluminância. As salas de aula com
orientação leste e sul, devido à sua baixa densidade de potência instalada (apenas 2,48 W/m²), na sua maioria possuem
iluminâncias insuficientes. A sala de aula com orientação norte possui densidade de potência instalada igual a 9,72 W/m² e
atingiu classificações de iluminância entre regular e bom no período diurno.

A Tabela 4 resume os resultados encontrados para as iluminâncias nas salas de aula de ambas as escolas. O sistema de
iluminação nas salas de aula da Escola A tem bom desempenho, atendendo ao padrão tanto durante o dia quanto à noite.
Quanto ao sistema de iluminação na Escola B, o desempenho está bem abaixo do exigido pela norma, e a iluminação é
insuficiente em grande parte das salas de aula, tanto durante o dia quanto à noite. Assim, mudanças no sistema de iluminação
nesta escola são extremamente necessárias.

Orientação da Área com iluminância insuficiente (%) Iluminância à noite


Escola
sala de aula Ilum. natural Ilum. natural + artificial (lux)
Norte 60 0 327
A
Sul 48 0 327
Leste 64 60 94
B Sul 64 48 76
Norte 64 0 257
Tabela 4: Resumo da avaliação dos sistemas de iluminação.

Melhorias no sistema de iluminação artificial


Nas salas de aula da Escola A existem lâmpadas tubulares fluorescentes de 40W com vida útil igual a 7.500 horas e fluxo
luminoso igual a 2.600 lm (eficiência igual a 65 lm/W). A proposta contempla a substituição por lâmpadas LED tubulares de
20W com vida útil média de 25.000 horas, fluxo luminoso igual a 1.850 lm (eficiência luminosa igual a 92,5 lm/W) e
temperatura de cor igual a 6.500 K.

91
Como as cores da sala de aula são claras (teto branco, paredes e planos de trabalho em cor creme), as refletâncias do teto,
paredes e planos de trabalho foram consideradas como 0,7, 0,5 e 0,1, respectivamente. O número mínimo de lâmpadas
necessárias para atender a iluminância necessária foi igual a 18. No entanto, 20 lâmpadas (dez luminárias com duas lâmpadas
cada) por sala de aula foram adotadas para obter melhor simetria das luminárias. A nova iluminância média para as salas de
aula da Escola A, para o início da operação do sistema, foi 435 lux, atendendo a exigência de 300 lux da NBR ISO/CIE
8995:2013. Para os corredores, foi proposto substituir as lâmpadas existentes por lâmpadas do mesmo fluxo luminoso, porém
com menor potência. Além disso, foi proposta a instalação de sensores de movimento.

A Tabela 5 resume a economia de energia devido às melhorias no sistema de iluminação da Escola A. Os resultados mostram
grande potencial de economia de energia (62%), ou seja, 4.121 kWh por mês, o que representa economia mensal equivalente a
R$ 2.262,58.

Potência Tempo
Potência Tempo Redução
instalada mensal de Economia Potencial de
instalada mensal atual mensal no
Ambiente após uso após mensal economia
existente de uso consumo
mudanças mudanças (R$) (%)
(W) (horas) (kWh)
(W) (horas)
Salas de aula 7.680 4.800 330 330 950 521,77
Corredores 3.065 1.800 720 352 1.573 863,69
62
Área interditada 2.219 2.219 720 0 1.598 877,13
Total 4.121 2.262,58
Tabela 5: Potencial de economia de energia na escola A.

Para a Escola B, melhorias também foram propostas para salas de aula e corredores. A lâmpada escolhida foi novamente a
LED tubular de 20W. O número mínimo de lâmpadas necessárias para cada sala de aula é igual a 18. No entanto, novamente
por razões de simetria, considerou-se 20 lâmpadas por sala de aula. As novas iluminâncias médias para o sistema de
iluminação das salas de aula leste, sul e norte, respectivamente, foram de 438, 444 e 434 lux. Para os corredores houve a
substituição das lâmpadas fluorescentes compactas de 20W por lâmpadas LED compactas de 9W com o mesmo fluxo
luminoso (810 lumens), além do uso de sensores de movimento para diminuir o uso das lâmpadas.

A Tabela 6 mostra a economia de energia devido às melhorias no sistema de iluminação da Escola B. É importante notar que,
embora haja aumento no consumo, as mudanças propostas para o sistema de iluminação são extremamente necessárias, visto
que os atuais níveis de iluminamento na maioria das salas de aula estão muito abaixo do nível exigido pela NBR ISO/CIE
8995:2013.

Potência Tempo Tempo


Potência
instalada mensal mensal de Redução mensal Economia
instalada Potencial de
Ambiente após atual de uso após no consumo mensal
existente economia (%)
mudanças uso mudanças (kWh) (R$)
(W)
(W) (horas) (horas)
Salas de aula 2.762 4.800 330 330 -673* -369,22*
Corredores 580 261 720 352 326 178,82 -13*
Total -347* -190,40*
*O sinal negativo indica aumento no consumo de energia.
Tabela 6: Potencial de economia de energia na escola B.

Análise econômica
Os custos totais do investimento inicial na Escola A foram de R$ 9.818,09. A economia mensal foi estimada em R$ 2.262,43;
portanto, o período de recuperação foi de apenas 5 meses. O valor presente líquido foi igual a R$ 10.504,30 e a taxa interna de
retorno foi de 4,91% ao mês. Portanto, é possível perceber que as melhorias propostas, além de necessárias, também são
economicamente viáveis e resultam em curto período de retorno. No estudo de retrofit realizado por Mahlia et al. (2011) na
Universidade da Malásia, por exemplo, o período de retorno variou de 9 a 28 meses. Nos cenários de conservação de energia
avaliados por Dascalaki e Sermpetzoglou (2011) em escolas na Grécia, o período de retorno variou de 29 a 218 meses. O custo
total do investimento inicial na Escola B foi de R$ 11.498,03. Como há aumento no consumo de energia e, consequentemente,
aumento nos custos mensais após as melhorias, não há retorno financeiro.

92
Considerações finais
As estratégias propostas para a Escola A são extremamente necessárias e economicamente viáveis, principalmente devido ao
elevado consumo de água e energia. Por outro lado, as melhorias propostas para a Escola B não trazem bons retornos
financeiros, sendo economicamente inviável para alguns cenários. No entanto, as melhorias no sistema de iluminação, mesmo
com aumento no consumo, são necessárias para ajustar os níveis de iluminamento nas salas de aula aos requisitos da NBR
ISO/CIE 8995:2013.

Segundo Berardi et al. (2017), as instituições educacionais devem ser desafiadas a repensar e reconstruir suas políticas e
práticas ambientais, a fim de contribuir para o desenvolvimento sustentável nos níveis local, nacional e internacional. Assim,
os resultados deste estudo mostram que a implementação de estratégias para reduzir o consumo de água e energia pode ser
economicamente e ambientalmente viável e potencial contribuinte para políticas e práticas sustentáveis em instituições
educacionais.

Conclusão
A análise dos consumos de água e energia está se tornando cada vez mais importante para as comunidades científicas e
políticas brasileiras, principalmente devido ao elevado gasto público com consumo de água e energia em edifícios públicos.
Assim, vários estudos foram desenvolvidos com o objetivo de propor estratégias que ajudem a reduzir o consumo desses
recursos. Os resultados deste estudo servem de estímulo para a implementação de estratégias sustentáveis que tragam
economia para os cofres públicos. Foi possível perceber que algumas escolas possuem grande potencial de economia de água e
energia. No entanto, antes de qualquer retrofit, é necessário estudar minuciosamente o consumo e as condições dos edifícios, a
fim de obter resultados preliminares da eficiência das melhorias propostas. Neste estudo, percebeu-se que as mudanças
propostas para a Escola A se mostraram muito mais viáveis economicamente do que as da Escola B.

Com base em análise preliminar da edificação escolar, é possível obter redução significativa no consumo de água e energia.
Assim, esse tipo de edificação tem grande potencial para contribuir com o escopo ambiental e econômico, trazendo economia
significativa para os cofres públicos. Por meio de estratégias sustentáveis, podem ajudar no combate à escassez de recursos
hídricos e também reduzir significativamente os impactos gerados no processo de geração de energia utilizada na iluminação
artificial.

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94
5SSS104
VIABILIDADE DA IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA
AUTOMATIZADO DE REDIRECIONAMENTO DE ÁGUA FRIA QUE
SERIA DESPERDIÇADA NO BANHO
Marcelo Dalmédico Ioris1, Enedir Ghisi2
1Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: marcelo.ioris@posgrad.ufsc.br; 2Universidade Federal de
Santa Catarina, e-mail: enedir.ghisi@ufsc.br

Palavras-chave: Aquecedor de passagem a gás; Redirecionamento de água; Desperdício no banho

Resumo

Em apartamentos que possuem aquecedores de passagem a gás como forma de aquecimento da água, há desperdício de água
nos segundos iniciais do banho por conta dos grandes comprimentos de tubulação entre os chuveiros e o aquecedor que os
alimentam. A água contida nesta tubulação, com o tempo, sofre perdas térmicas. Ao acionar o chuveiro, esta água potável, por
estar fria, é desperdiçada pelos usuários. Este trabalho analisa a viabilidade econômica da implementação de um sistema
automatizado que evita este desperdício no banho redirecionando a água para o reservatório inferior de água potável da
edificação. Primeiramente, verificaram-se os volumes desperdiçados por meio de projetos hidrossanitários de 46 apartamentos
diferentes. Com base nos comprimentos de tubulação entre os chuveiros e os aquecedores de cada apartamento foi possível
quantificar que em média, 6,95 litros de água ficam em repouso nas tubulações. Em oito destes 46 apartamentos, foi possível
medir os desperdícios in loco por meio da coleta de água nos segundos iniciais de um banho. Observou-se que 9,28 litros de
água são desperdiçados até que a temperatura da água atinja 30ºC. Este trabalho também sugere como deve ser o sistema
automatizado para evitar este desperdício, bem como a configuração e compatibilização do sistema em escala predial. O
sistema automatizado foi testado e validado por meio de um protótipo realizado na Universidade Federal de Santa Catarina. A
partir dos custos envolvidos com a elaboração do protótipo foi possível estimar os custos com o sistema para instalação em
uma edificação. A partir dos desperdícios identificados na pesquisa de campo foi possível obter estimativas na economia
financeira com água ao longo do tempo, caso uma edificação seja equipada com o sistema. A análise econômica foi simulada
com a instalação do sistema em um ou dois chuveiros por apartamento para edifícios de 4, 6, 8, 10, 12 e 16 pavimentos tipo.
Para as análises de cinco anos com a instalação de um e dois sistemas por apartamento economizando no mínimo,
respectivamente, 2,6 litros e 5,0 litros de água por banho, o sistema é viável. Os resultados deste trabalho confirmam que
instalar o sistema automatizado para evitar o desperdício da água fria inicial do banho é uma solução economicamente viável.

Introdução

O acelerado crescimento populacional nos últimos anos atraiu a preocupação de países mundialmente desenvolvidos quanto à
disponibilidade de água potável no futuro próximo. Apesar de ser um bem renovável, considerando-se as premissas do ciclo
hidrológico, é de suma importância a preservação e economia deste imprescindível recurso. Estima-se que atualmente mais de
70% da água doce disponível no mundo é destinada para a agricultura, e que menos de 10% utiliza-se para o uso doméstico
(UNESCO, 2016). Apesar do uso residencial limitar-se a valores baixos comparados ao setor agrário, estudos que visam a
economia e a utilização racional da água que tem este destino são de extrema importância.

Segundo Barreto (2008), que realizou estudo sobre o perfil do consumo residencial e usos finais da água, identificou-se que na
cidade de São Paulo, o chuveiro é o destino de aproximadamente 14% do consumo total de água de uma residência. Para a
região de Florianópolis, no trabalho de Ghisi e Oliveira (2007), o chuveiro correspondeu a 39,2% da demanda total. Dados
como a população, o clima, a estação do ano, o dia da semana e a edificação são de suma importância para determinar o perfil
de uso de água (ZHOU et al., 2002). Essas variações são notadas nos diferentes países e cidades do mundo, como se pode
identificar na Tabela 1 (JENSEN, 1991; WRF, 2016; GHISI; OLIVEIRA, 2007; GATO-TRINDAD; JAYASURLYA, 2011;
BEAL; STEWART, 2011).

De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2018), 65%
dos domicílios brasileiros possuíam chuveiros elétricos no ano de 2017. Em pesquisa de distribuição energética realizada por
Brecht (2016), verifica-se por meio da Figura 1, que 4,5% das residências brasileiras aqueciam água do banho por meio de gás
natural em 2014. Para o ano de 2030 a previsão é que este valor passe a ser de 14%.

95
Palmieri (2013) cita que a geração de água quente, pelos métodos convencionais, utilizando energia elétrica, acarreta em
sobrecarga no sistema de geração, transporte e distribuição de energia elétrica. Somado a isto, o uso da eletricidade para o
aquecimento da água do banho normalmente é feito nos horários de ponta, o que afeta os custos com energia elétrica. Como se
pode identificar na Figura 2, o chuveiro é o principal uso final de energia elétrica nas residências brasileiras.

Uso final (%)


Ponto de consumo
Denmark United States Palhoça Greater Melbourne South East Queensland
Banhos 20,0 23,0 39,2 31,0 31,0
Vaso sanitário 20,0 24,0 28,0 19,0 16,0
Lavagem de roupas 15,0 17,0 7,2 26,0 19
Lavagem de louças 20,0 1,0 20,8 - 3,0
Outros 25,0 38,0 4,8 24,0 31,0
Total 100 100 100 100 100
Tabela 1: Uso final de água potável no setor doméstico nos diferentes países e cidades.

Figura 1: Domicílios que aquecem água para o banho por fonte de aquecimento (período 2005-2030).

Figura 2: Consumo de energia elétrica por equipamento.

Segundo Ferreira (2014), o percentual de residências no Brasil que dispõem de aquecedores a gás é ainda muito baixo, não
alcançando 1%. Entretanto, com a expansão das redes distribuidoras de gás e os históricos de crise energética do país, espera-

96
se que o setor cresça cada vez mais.

Com exceção dos aquecedores a gás do tipo fluxo balanceado, que consistem em um sistema hermeticamente fechado, a NBR
13103 (ABNT, 2000) recomenda que a instalação dos aparelhos de aquecimento a gás seja feita em lugares com boa
ventilação. Esta recomendação faz com que as residências sejam projetadas de forma que os aparelhos sejam instalados nas
áreas de serviço. Consequentemente, esta conformação estabelece geralmente que os comprimentos de tubulação de água
quente da fonte aquecedora até os aparelhos sanitários sejam elevados. Esta água que fica acumulada na tubulação entre o
chuveiro e o sistema de aquecimento sofre perdas térmicas com o passar do tempo e acaba sendo desperdiçada pelo usuário por
não ser aquecida antes de chegar até o chuveiro. Ressalta-se que este mesmo desperdício ocorre também em sistemas auxiliares
para aquecimento solar, seja ele por meio de energia elétrica ou a gás, quando este não é dotado de um sistema recirculador.

Alternativas ecológicas já foram propostas para esta problemática, como por exemplo, coletar esta água manualmente com um
recipiente e destinar para irrigação ou descarga de vasos sanitários (ECODESENVOLVIMENTO, 2015). Porém, esta é uma
prática que depende da boa vontade e conscientização dos usuários. Assim sendo, este trabalho propõe a instalação de um
sistema automatizado que direcione para o reservatório inferior de água potável das edificações a água fria presente nas
tubulações que seria desperdiçada, envolvendo o mínimo de interação entre o sistema e o usuário. Pretende-se que o sistema
seja de baixo custo, que cause pequenas intervenções no modo como as instalações usuais são projetadas e que se adapte às
técnicas hidrossanitárias utilizadas no Brasil.

O objetivo deste trabalho é analisar a viabilidade econômica da implementação de um sistema automatizado próximo ao
chuveiro que recircule a água fria dos instantes iniciais do banho até que a temperatura preestabelecida pelo usuário seja
atingida.

Materiais e Métodos

Com a colaboração de escritórios de engenharia em Florianópolis, foi possível mensurar, por meio das plantas baixas e
desenhos isométricos de treze projetos hidrossanitários digitais, o comprimento de tubulação entre o aquecedor de passagem e
os chuveiros dos apartamentos. As plantas baixas foram utilizadas para se obter os comprimentos horizontais da tubulação, que
passam pelo contrapiso ou forro. Os desenhos isométricos foram utilizados para se obter os comprimentos verticais de
tubulação que passam pelo interior das paredes ou shafts dos cômodos. O volume de água desperdiçado no banho foi
determinado por meio de equação multiplicando-se a área interna das tubulações pelo comprimento total medido em planta.
Para comparar e comprovar que a água desperdiçada nos segundos iniciais do banho é, em parte, a água que fica em repouso
nas tubulações entre o aquecedor e o chuveiro, foram selecionados três condomínios situados em Florianópolis, para medições
in loco: Villa Vitória, Plaza Saint Tropez e Ilha Ventura. Primeiramente, a temperatura da água do chuveiro era previamente
medida para se certificar de que ninguém havia utilizado a instalação nos minutos precedentes à medição. O procedimento
consistiu em abrir o registro de pressão de água quente do chuveiro do banheiro do apartamento a ser analisado, e proceder
com a coleta da água com um aparato. Enquanto isso, media-se a temperatura da água logo na saída do chuveiro com um
termômetro à prova de água. O termômetro conectado a um notebook estava programado para receber e registrar medições de
temperaturas a cada segundo. As medições de temperaturas eram monitoradas simultaneamente à coleta de água e quando o
termômetro marcasse a temperatura de 30ºC procedia-se com o fechamento do registro de pressão. O volume de água coletado
era então medido para posterior comparação com os dados constatados em projeto. O tempo que a água levou para atingir
temperatura de 30ºC foi também utilizado para se obter a vazão do chuveiro. Sempre que possível, eram realizadas mais de
uma coleta e medição para o mesmo chuveiro.

Com a finalidade de validar e testar a ideia proposta, elaborou-se um protótipo da instalação hidráulica e eletrônica. Com a
cooperação do Departamento de Automação e Sistemas (DAS) da UFSC, foi cedida para a construção do protótipo uma planta
que fora utilizada em trabalhos anteriores. A planta disponibilizada já continha uma tubulação de água fria em PVC e com uma
tubulação de água quente em PPR de diâmetro de 25mm, que é alimentada por placas solares juntamente com o auxílio de um
boiler. Estas duas tubulações são responsáveis por abastecer o chuveiro do protótipo.

Os componentes eletrônicos que devem ser instalados para o funcionamento do sistema automatizado foram conectados em
uma placa de madeira. Esta placa removível é composta também pela saída da tubulação para o chuveiro e da saída da
tubulação que destinará a água que é desperdiçada no banho para o reservatório inferior de água potável da edificação,
conforme ilustra a Figura 3. Para comprovar o funcionamento do protótipo foi posicionada uma câmera termográfica em frente
ao protótipo para capturar as imagens das faixas de temperatura na qual a água estava fluindo pela tubulação de água quente.

A Figura 4 ilustra um sistema usual de instalação de um chuveiro com as modificações necessárias para conformar o sistema

97
automatizado. Em edificações multifamiliares com aquecimento da água por meio de aquecedores de passagem a gás,
normalmente o chuveiro é abastecido por um sub-ramal de água fria que vem do reservatório da edificação, e outro sub-ramal
de água quente oriundo do aquecedor de passagem. A água circula pelo misturador, onde a água fria e a água quente se
misturam, e seguem para o chuveiro.

Figura 3: Protótipo instalado junto à estrutura no nível do solo.

Para o sistema automatizado proposto são necessárias algumas modificações na conformação das tubulações do sub-ramal de
água quente e logo após o misturador, conforme sugerido na Figura 4. O sensor de temperatura que identifica a temperatura na
qual a água quente está passando pela tubulação deve ser instalado em um ponto próximo ao registro de pressão de água
quente. Além disso, o sistema deve possuir duas válvulas solenóides nas posições sugeridas na Figura 4. Por último, deve
haver o sistema de coleta de água do chuveiro, uma tubulação que coleta a água que passa pela válvula solenóide 2, que será de
mesmo diâmetro da tubulação do sub-ramal. Em seguida esta tubulação será conectada a uma tubulação vertical, responsável
por coletar a água de todos os chuveiros das unidades habitacionais e direcioná-la ao reservatório inferior de água potável da
edificação com o auxílio de tubulações de maiores diâmetros, quando necessário. Os diâmetros destas tubulações que
direcionam a água para o reservatório inferior de água potável dependerão da quantidade de chuveiros da edificação e serão
determinados por meio do método recomendado pela NBR 5626 (ABNT, 1998). A conexão destas tubulações com o
reservatório inferior de água potável deve ocorrer a uma altura acima da entrada de água da concessionária.

98
Figura 4: Esquema da instalação hidráulica da ideia proposta.

O funcionamento do sistema automatizado resume-se em direcionar a água para o seu devido fim conforme a temperatura na
qual ela fluirá pelo sensor de temperatura. Caso a temperatura da água seja inferior a uma temperatura pré-definida em
programação, como por exemplo, 40ºC, as válvulas solenóides permanecem no seu estado inicial, ou seja, a válvula solenóide
1 fechada e a válvula solenóide 2 aberta, conforme mostra a Figura 4, direcionando a água para o reservatório inferior de água
potável da edificação.

Quando toda a água fria que estava em repouso na tubulação de água quente for direcionada para o reservatório inferior de
água potável, começará a fluir a água quente provinda do aquecedor de passagem. Com isso o sensor identifica temperatura
maior que 40ºC e envia um sinal para que o microcontrolador mande a informação para o módulo relé acionar as válvulas e
fazer a troca simultânea dos estados delas, ou seja, liberando o fluxo da água quente para o chuveiro e interrompendo o fluxo
de água para o reservatório inferior de água potável.

Por fim, foi realizada uma análise econômica dos custos de implantação do sistema e do período de retorno do investimento
gerado pela economia de água ao longo do tempo. Todos os fluxos de caixas são simulados com os custos iniciais, como
materiais e mão de obra. A economia que será proporcionada por uma estimativa de economia de água que o sistema
automatizado proposto fornece ocasiona menores custos nos gastos mensais de água de um edifício e, portanto, serão as
entradas mensais do fluxo de caixa. Com os fluxos de caixa é possível de se obter o valor presente líquido (VPL), o payback
descontado e a taxa interna de retorno (TIR) para avaliar se o investimento é viável. Considerou-se a instalação do sistema
automatizado para todos os chuveiros de uma edificação e também para apenas um sistema automatizado por apartamento.

A análise financeira foi realizada para edifícios de alturas diferentes com todos os apartamentos iguais em planta, todos com
um térreo e um pavimento subsolo onde se encontra o reservatório inferior de água potável. Para as análises destes edifícios
consideraram-se cenários favoráveis e desfavoráveis. Para os cenários favoráveis consideram-se maior economia proposta pelo
sistema levando em conta os dados encontrados em medição in loco e para os cenários desfavoráveis, menor economia de água
do sistema levando em conta os valores de desperdícios encontrados por meio dos projetos. A economia total de água será em
relação ao custo com água que todo o edifício teria ao longo do mês.

O valor da taxa de água para estimar a economia financeira de água foi obtido através dos valores de tarifa aplicados pela
Companhia Catarinense de Água e Saneamento (CASAN) para o mês de maio de 2017, categoria residencial "B". Também
foram considerados os valores de impostos como PIS e COFINS aplicados nas tarifas de água, assim como a taxa de esgoto,
que é de 100% do total consumido em água. É importante ressaltar que a CASAN aplica reajuste tributário na tarifa de água a
cada doze meses. Portanto, na projeção do fluxo de caixa para os anos futuros foi considerada a mediana obtida dos últimos
cinco reajustes praticados pela CASAN. Os custos com energia para o funcionamento do sistema foram desconsiderados por
causa dos baixos consumos que os equipamentos eletrônicos utilizados exigem. A vida útil das instalações hidráulicas e

99
eletrônicas do sistema automatizado costuma ser maior que dez anos, portanto, o período de análise do projeto adotado foi de
cinco anos, e a taxa mínima de atratividade adotada foi de 0,53% ao mês, valor encontrado para a taxa Selic do mês de maio de
2018.

Resultados e Discussões

A Tabela 2 mostra os volumes de desperdícios encontrados nas duas formas de medição (em projeto e in loco) para os três
condomínios. Para os apartamentos analisados, a média encontrada para desperdício de água até que a água que sai do chuveiro
sofra alguma variação na temperatura é de 6,33 litros. E para a água sair do chuveiro a uma temperatura de 30ºC, ocorre
desperdício de 9,28 litros de água em média.

Desperdício in loco (litros)


Desperdício
Projeto em planta Na variação de
Ao atingir
(litros) temperatura da água
30ºC

Condomínio Ilha Ventura (2 quartos) 9,55 7,80 11,11


Condomínio Ilha Ventura (3 quartos) - 7,87 10,34
Condomínio Villa Vitória (2 quartos) 7,68 5,62 10,33
Condomínio Villa Vitória (3 quartos) 6,77 5,04 8,55
Condomínio Villa Vitória (4 quartos) - 5,63 8,25
Condomínio Plaza Saint Tropez (WC) 3,89 4,66 7,48
Condomínio Plaza Saint Tropez (WC Suíte) 5,34 7,69 8,94
Tabela 2: Comparação do volume de água desperdiçado mensurado em planta com o medido in loco.

A Figura 5 apresenta o volume de água presente no interior da tubulação entre o chuveiro mais afastado e seu respectivo
aquecedor de passagem de todos os apartamentos dos projetos analisados. Observa-se que o volume de água nas tubulações
entre os chuveiros mais afastados de seus respectivos aquecedores de passagem é de 6,95 litros em média. No entanto, variou
de 2,84 a 12,92 litros.

100
.
Figura 5: Volume de água presente na tubulação entre o chuveiro mais afastado e seu respectivo aquecedor dos
apartamentos analisados.

A Figura 6 ilustra um esquema genérico de como se distribui o desperdício de água potável que ocorre no banho. O intervalo
azul corresponde à faixa de desperdício da água de temperatura fria (Tc) que se encontra na tubulação de água quente que
sofreu perdas térmicas dentro do intervalo de tempo de um banho e outro. Lutz (2011) denomina-o como desperdício
estrutural. O intervalo na cor amarela corresponde ao volume de água desperdiçado que está mais quente, porém ainda não
atingiu temperaturas (Th) adequadas para o banho. Estes dois intervalos serão diferentes de um projeto para o outro conforme
o material da tubulação e isolamento utilizados e são denominados, de acordo com Lutz (2011), desperdícios comportamentais.
Por último, o intervalo de desperdício na cor vermelha é uma faixa de desperdício que dependerá das condições climáticas da
região, da temperatura do ambiente e da diferença de aceitabilidade térmica de um usuário para outro.

101
Figura 6: Esquema genérico do perfil de desperdício de água ao iniciar um banho.

O protótipo do sistema que visa evitar desperdício de água do banho foi instalado e testado nos meses de abril e maio de 2018
em horários em que a água contida no boiler já estivesse quente o suficiente para poder causar alguma variação no sensor de
temperatura. No dia do teste verificou-se que a temperatura da água do boiler encontrava-se a aproximadamente 27ºC. Com
isso alterou-se a programação para ocorrer a troca dos estados das válvulas quando a temperatura da água identificada pelo
sensor de temperatura atingisse 26ºC. Para poder acompanhar esta mudança na temperatura foi utilizada uma câmera
termográfica (FLIR B400). Ao identificar que a água iria variar de uma temperatura ambiente de 23ºC para aproximadamente
27ºC foi possível ajustar a escala da câmera, conforme ilustrado nas Figuras 7 e 8, entre os valores de 22,5 e 28,7ºC.

Na Figura 7 é possível visualizar o instante em que toda a água fria que estava em repouso na tubulação já escoou e a água que
circula pela prumada de água quente está ainda a uma temperatura inferior a 26ºC, portanto, sendo direcionada para tubulação
que destina a água para o reservatório inferior de água potável.

Figura 7: Visualização do protótipo por meio da câmera termográfica (Temperatura da água menor que 26ºC).

102
Figura 8: Visualização do protótipo por meio da câmera termográfica (Temperatura da água maior que 26ºC).

A Figura 8 ilustra o momento em que água superou a temperatura de 26ºC, de modo que ocorreu a troca simultânea dos
estados das válvulas solenóides passando assim a destinar a água para o chuveiro. Ressalta-se que para aplicações reais em um
sistema predial, o algoritmo da programação seria ajustado para realizar a troca dos estados das válvulas solenóides do sistema
automatizado em uma temperatura entre 40ºC e 50ºC, deixando esta temperatura à escolha do usuário do sistema automatizado.

Para contabilizar a economia de água com o sistema estimou-se a população dos edifícios em quatro pessoas por apartamento,
consumindo em média 100 litros de água por dia. Para o cenário favorável foi considerada uma economia de 10,0 litros por
pessoa por dia proporcionada pelo sistema. Este valor foi estimado conforme os dados que se encontraram nas medições in
loco considerando que a temperatura para realmente iniciar o banho seria maior do que 30ºC, que foi a temperatura analisada
nas medições E para cenários desfavoráveis foram considerados economias de 4,0 e 7,0 litros por pessoa por dia
proporcionadas pelos sistemas. Para a tarifa de água dos meses do primeiro ano de análise considerou-se o mês de maio de
2018. Para os meses dos anos seguintes do fluxo de caixa, foi utilizada a tarifa de água atual com reajuste de 7% ao ano, que é
o valor da mediana, arredondando-se as casas decimais, encontrada para os últimos cinco reajustes tributários aplicados pela
concessionária local de água. A taxa mínima de atratividade adotada foi de 0,53% ao mês. Por meio de um fluxo de caixa de
cinco anos obtiveram-se os valores de valor presente líquido, taxa interna de retorno e payback descontado.

Foi possível verificar o mínimo de água que o sistema deve economizar para que seja viável no caso da aplicação de dois
sistemas por apartamento, que foi o único caso que não se mostrou viável para os três cenários de desperdício. A Figura 9
ilustra que para apartamentos em que o sistema economizará mais de 5,0 litros é viável aplicar até mesmo dois sistemas
automatizados por apartamento.

Figura 9: Relação entre o VPL e economia de água para instalação de dois sistemas automatizados por apartamento em
um edifício de quatro pavimentos tipo.

A Tabela 3 mostra os resultados encontrados para economia de 5,0 litros aplicando dois sistemas automatizados por
apartamento e considerando consumo de 100 litros por habitante por dia.

103
Logo, com VPL maior que zero para todos os edifícios analisados, tempo de retorno menor que cinco anos e TIR maior que a
TMA, este seria o pior cenário possível para a análise nas condições abordadas. Fazendo ainda mais simulações é possível
concluir que com a instalação de apenas um sistema automatizado por apartamento, o investimento é viável caso o sistema
evite desperdício no chuveiro de no mínimo 2,60 litros por banho.

Número de pavimentos tipo do edifício


Parâmetro 4 6 8 10 12 16
Economia de 5 litros de água (cenário desfavorável)
VPL (R$) 135,86 210,91 287,59 120,62 156,69 228,83
TIR (%) 0,59 0,59 0,59 0,55 0,55 0,55
Payback descontado (meses) 58,86 58,82 58,79 59,59 59,56 59,52
Tabela 3: Análise econômica para cada edifício com dois sistemas automatizados e economia de 5 litros por banho.

Conclusões

Por meio deste trabalho foi possível validar o funcionamento de um sistema automatizado que evita o desperdício de água do
banho e verificar a viabilidade econômica de sua implementação em edifícios.

Mediante a medição do desperdício de água do banho por meio dos projetos, verificou-se que nos apartamentos onde os
aquecedores de passagem a gás encontravam-se próximos aos banheiros, o desperdício pode ser bastante reduzido, como por
exemplo, de 2,84 litros. Para casos em que a edificação foi projetada sem levar em consideração este inconveniente, verificou-
se que é possível ocorrer desperdícios de aproximadamente 13,00 litros. Em média, o desperdício de água encontrado por meio
de projeto é de 6,95 litros. Concluiu-se, porém, por meio das medições in loco, que o desperdício que realmente ocorre na
unidade habitacional é maior do que o desperdício ocasionado pela água quente que fica em repouso na tubulação e que se
esfria com o tempo, pois há também o tempo de demora para a água atingir temperaturas aceitáveis para o usuário.

Nas medições in loco foi possível identificar para os chuveiros analisados que em média, para a água sair do chuveiro a uma
temperatura de 30ºC, são desperdiçados 9,28 litros de água. Conclui-se também que dependendo da aceitação térmica do
usuário, bem como, da temperatura ambiente do banheiro na hora do banho, é possível ocorrer desperdícios de água ainda
maiores nos segundos iniciais do banho. Com um número maior de dados de apartamentos de diferentes condomínios, seria
possível obter correlações melhores entre o desperdício verificado em planta e o desperdício verificado in loco. Estas
correlações permitiriam obter equações para estimar o desperdício de água que realmente iria ocorrer no edifício todo. Deste
modo, seria possível dimensionar com maior precisão a quantidade de água que seria direcionada para o reservatório inferior
de água potável e por consequência, o valor da altura do reservatório reservada para armazenar esta água ou se for o caso, a
necessidade de um reservatório extra.

Na fase de construção do protótipo foi possível validar o funcionamento do sistema proposto para assim estimar os custos com
equipamentos eletrônicos e prever os custos com tubulações e conexões hidráulicas. Estes custos identificados são dados
bastante relevantes para se ter uma análise econômica confiável. Ressalta-se ainda que o custo com estes equipamentos
eletrônicos pode ser bastante reduzido se optar-se por importá-los. O objetivo deste trabalho não foi construir um produto final;
portanto, na relação dos custos com equipamentos hidráulicos e eletrônicos do sistema automatizado foram levantados os
preços das peças necessárias apenas para o funcionamento do protótipo.

Por meio da análise econômica foi possível concluir que a instalação do sistema em edificações é viável. Deve-se considerar
que o maior custo do sistema proposto, que é com os componentes eletrônicos, pode ser bastante reduzido viabilizando ainda
mais o investimento. A maioria das hipóteses e estimativas consideradas para as análises foram bastante conservadoras. Ou
seja, em todas as análises se procurou estimar valores no sentido de inviabilizar a instalação do sistema. Mesmo assim, quase a
totalidade dos resultados se demonstrou viável. Pode-se concluir que para os edifícios propostos para a análise, se em cada
banho tomado ocorrer desperdício de no mínimo cinco litros de água, é conveniente instalar o sistema automatizado em até
dois chuveiros por apartamento. Porém, para que o investimento seja recuperado mais rapidamente é aconselhável que seja
instalado apenas um sistema automatizado por apartamento, tendo em vista que até mesmo para economias de 2,6 litros de
água por banho é possível o investimento ter retorno em até cinco anos e apresentar valor presente líquido maior que zero e
taxa interna de retorno maior que a taxa mínima de atratividade.

104
Tendo em vista que o sistema automatizado elimina o desperdício de água fria que haveria por meio das tubulações de água
quente, não faz sentido prever isolamento térmico das tubulações para ter de conservar a temperatura da água por um maior
período de tempo no interior destas tubulações. Caso a análise econômica tivesse ainda considerado a redução que haveria nos
custos totais com isolamento das tubulações, a implementação do sistema se tornaria ainda mais viável economicamente.

Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer o apoio fornecido pela Universidade Federal de Santa Catarina.

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105
5SSS106
GEORREFERENCIAMENTO E ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DOS
POÇOS SEMI-ARTESIANOS DO MUNICÍPIO DE LACERDÓPOLIS –
SC
Luiz Paulo Proner1, Lucas Quiocca Zampieri2, Fabiano Alexandre Nienov3, Gislaine Luvizão4
1Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-mail: luizpaulo_proner@hotmail.com; 2Universidade do Oeste de
Santa Catarina, e-mail: lucas.zampieri@unoesc.edu.br; 3Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-
mail:Fabiano.nienov@unoesc.edu.br; 4Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-
mail:gislaine.luvizao@unoesc.edu.br

Palavras-chave: Águas subterrâneas, Padrões microbiológicos, Potabilidade.

Resumo
Neste estudo foram mapeados e analisados 24 poços semi-artesianos no município de Lacerdópolis – SC a fim de avaliar a
qualidade da água consumida pela população lacerdopolitana. Os padrões microbiológicos avaliados e os seus respectivos
resultados foram: bactérias heterotróficas, onde um dos poços analisados apresentou valores acima dos permitidos; coliformes
totais, presentes em onze amostras; e coliformes termotolerantes, constatados em três poços do total de análises. Os padrões
tiveram como parâmetro os valores definidos pela PRC n° 5, de 28 de setembro de 2017 do Ministério da Saúde. Após a
obtenção dos resultados das análises de água, realizou-se o feedback aos proprietários e usuários dos poços, alertando-os sobre
a importância dos cuidados com o poço, com o sistema de distribuição, reservatório e a água em si, principalmente aos que
apresentaram qualquer tipo de alterações, estando dentro ou não dos padrões estipulados pela portaria, os quais representaram
71% do total de poços analisados. Ainda foram obtidas informações referentes à profundidade e vazão de cada perfuração,
constatando a presença de perfurações entre 54 e 744 metros de profundidade, as quais atingiram vazões entre 1.000 e 50.000
litros/hora.
Introdução
Apenas 2,5% da água do planeta é doce, 31,1% desta porcentagem em forma líquida e o restante em forma sólida. De toda
água na forma liquida, 96% está em reservas subterrâneas. Portanto, há uma significativa importância ao tratar deste tema
(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2007).
As águas subterrâneas estão presentes nos aquíferos, constantemente reabastecidos através da infiltração da água superficial
pelos vazios entre os grãos de solo ou de rocha e protegidos dos agentes poluidores. Portanto, pode-se atribuir à estas águas
uma maior qualidade físico-química e bacteriológica em relação às águas superficiais.
Tendo isso como uma regra, a população que utiliza a água subterrânea para consumo, em sua maioria, não toma precauções
quanto ao controle de sua potabilidade. Contudo, atualmente, sabe-se que vários fatores podem comprometer a qualidade da
água, como por exemplo: o destino final dos resíduos das fossas, dos esgotos domésticos e industriais, dos lixões, a utilização
de agrotóxicos na agricultura, poços mal instalados ou abandonados, vazamento de combustíveis, entre outros fatores (MMA,
2007).
Relevante a isso, a Organização Mundial da Saúde (2014, apud ONU Brasil, 2014) publicou um relatório sobre questões de
investimento em qualidade de água e saneamento básico, visando medidas preventivas e não mais corretivas, ou seja, buscando
evitar os problemas ao invés de precisar solucioná-los mais tarde. Segundo a organização, para cada dólar investido em
qualidade de água e saneamento, são economizados 4,3 dólares em custos de saúde no mundo, os quais podem ser reaplicados
no investimento, atingindo maior número de pessoas.
Ressalta-se que a água possui suma importância para origem e manutenção da vida dos seres vivos e do planeta; portanto,
como objetivo deste trabalho, buscou-se quantificar, localizar e avaliar os poços do município de Lacerdópolis, bem como
realizar análises de bactérias e coliformes nas amostras de água coletadas em cada poço, com a finalidade de verificar a
qualidade da água consumida pela população e despertar a conscientização desta, para a importância do recurso vital que é a
água.
Aquíferos
De acordo com a Hidrogeologia - ciência que estuda as águas subterrâneas, seus movimentos, propriedades, sua interação com
o meio físico e biológico e os impactos das ações humanas sobre a qualidade destas águas – os aquíferos são as regiões de
concentração de água localizados em áreas subterrâneas, podendo ser classificados quanto aos tipos de vazios em que ele se
encontra e a sua posição com relação a estrutura que o circunda (MMA, 2007).
Com relação aos vazios, o MMA (2007) classifica os aquíferos como (Figura 1):

106
a) Poroso: a água fica armazenada entre os grãos que compõem a rocha, tendo funcionalidade semelhante à uma esponja.
Formaram-se em regiões de rochas sedimentares como, por exemplo, os arenitos do Sistema Aquífero Guarani.
b) Fissural: a água circula pelas fissuras que surgiram após o faturamento de rochas consideravelmente impermeáveis (rochas
ígneas e metamórficas), adotando como exemplo os basaltos, que estão sobre os arenitos do Guarani.
c) Cársticos: a água forma como se fossem rios subterrâneos, ou seja, fendas com aberturas consideráveis em rochas
carbonáticas (sedimentares, ígneas ou metamórficas).

Figura 1: Classificação quanto aos vazios. Ministério do Meio Ambiente (2007).

De acordo com o MMA (2007), quanto a posição e estrutura, os aquíferos se classificam em (Figura 2):

a) Livre: localizado mais próximo à superfície, sob pressão atmosférica, onde apenas a região inferior do aquífero é
impermeável.
b) Confinado: localizado entre duas camadas praticamente impermeáveis, submetendo a água à uma pressão maior comparada
aos aquíferos livres.
c) Suspensos: é semelhante à um aquífero livre, podendo ser formado sobre uma camada impermeável ou semipermeável que
não armazena e nem transmite água.

Figura 2: Classificação devido à posição e estrutura. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (2010).

Para a NBR 12244 (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1992), aquíferos são uma formação ou grupo de formações
geológicas portadoras e condutoras de água subterrânea.
Classificação dos Poços
De acordo com Tood (1959, apud Vasconcelos, 2014) a definição de poço d'água como sendo "um furo ou cava, geralmente
vertical, escavado no terreno para trazer água subterrânea até a superfície".
Para a captação destas águas profundas, presentes nos aquíferos, são perfurados poços d’água, podendo variar de nome e
tipologia de acordo com a profundidade e o seu sistema de operação, classificados pela Agencia Nacional de Águas como
(Figura 3):

a) Poço simples: perfurado manualmente e capta água dos lençóis freáticos, atingindo no máximo 20 metros de profundidade,
sendo que a água presente no lençol freático estará constantemente em contato com o meio externo, ou seja, possui grande
chances de contaminação.
b) Poço semi-artesiano: possui profundidades maiores que o poço simples, constituído por tubo metálico ou de concreto,
evitando a contaminação da água por agentes externos, sendo que este necessita de bombeamento para trazer a água
subterrânea a superfície.

107
c) Poço artesiano: também é tubular e detentor de proteção contra contaminação, contudo, atinge profundidades que variam
bastante, podendo atingir até 2.000 metros, captando águas de aquíferos mais profundos, não necessitando de bombas para
a captação da água devido à grande pressão exercida sobre ela.

Figura 3: Classificação dos poços. HIDROSAM (2018).

Segundo Todd (1959, apud Vasconcelos, 2014), a palavra artesiano é derivada do francês "artésien" referindo-se a Artois, uma
província no norte da França onde foram perfurados os primeiros poços profundos a atingir aquíferos confinados, em torno do
ano de 1750, sendo o nome artesiano usado para poços com escoamento livre.
Recarga dos Aquíferos
As águas subterrâneas, assim como as águas superficiais, também possuem um ciclo hidrológico, portanto, existem regiões
onde ocorrem a recarga destes aquíferos, já que a água que é retirada de lá, em algum momento precisa ser reabastecida
(MMA, 2007).
Referente as regiões de recarga, significa toda e qualquer região onde existe a possibilidade de a água infiltrar até encontrar o
aquífero, seja através do solo ou de fendas nas áreas impermeáveis oriundas das movimentações ou formações da rocha com o
passar dos anos (MMA, 2007).
As regiões de recarga são os locais onde pode ocorrer a poluição destes aquíferos, sem a devida precaução, pode-se contaminar
a água que será consumida por dezenas, centenas ou milhares de pessoas (MMA, 2007).
Padrões de Potabilidade da Água
A PRC n° 5, de 28 de setembro de 2017 do Ministério da Saúde determina que, a água para consumo humano é considerada
toda àquela que se destinada à ingestão, preparação e produção de alimentos e à higiene pessoal, independentemente da sua
origem.
Ainda de acordo com o Anexo 1 da PRC n° 5, de 28 de setembro de 2017, é possível verificar o Quadro 1, o qual define
padrões microbiológicos da água para consumo humano:

Quadro 1 - Padrões microbiológicos. Anexo XX, PRC n° 5, de 28 de setembro de 2017.


Tipo de água Parâmetro VMP (1)
Escherichia coli (2) Ausência em 100 mL
Água para consumo humano Na saída do tratamento
Coliformes totais (3) Ausência em 100 mL
NOTAS:
(1) Valor máximo permitido.
(2) Indicador de contaminação fecal.
(3) Indicador de eficiência de tratamento.

Os resultados para coliformes totais e termotolerantes foram obtidos através do “Multiple-tube procedure”, método
padronizado de acordo com a Standard Methods 9223 (2017).
Em relação à contagem das bactérias heterotróficas, o procedimento adotado foi o “Heterotrophic plate count” de acordo com
os parâmetros da SM 9215 A, B (2017).
Bactérias Heterotróficas
A determinação de bactérias heterotróficas pode ser utilizada como um dos parâmetros para aferir a integridade do sistema de

108
distribuição (reservatório e rede). Alterações bruscas ou níveis acima da contagem determinada devem ser avaliadas,
recomendando-se que não se ultrapasse o limite de 500 UFC/ml. Embora a maioria dessas bactérias não sejam de origem
patogênica, podem representar riscos à saúde humana, além de prejudicar a qualidade da água, provocando sabores e odores
desagradáveis (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2013).
Coliformes
Os coliformes são uma extensa classe de bactérias encontradas no ambiente, incluindo o intestino dos seres vivos, auxiliando
na digestão de alimentos, e consequentemente, presente também nas fezes do homem e de outros animais de sangue quente
(FUNASA, 2013).
Existem dois grupos destas bactérias coliformes: as de origem fecais e não fecais, conhecidas como coliformes termotolerantes
e coliformes totais, respectivamente (FUNASA, 2013).
De acordo com a FUNASA (2013), os coliformes totais são: “bacilos gram-negativos, aeróbios ou anaeróbios facultativos, não
formadores de esporos, oxidase-negativos, capazes de desenvolver na presença de sais biliares ou agentes tensoativos que
fermentam a lactose com produção de ácido, gás e aldeído a 35,0 ± 0,5°C em 24-48 horas.”
Enquanto que os coliformes termotolerantes fermentam a lactose a 44,5 ± 0,2°C em 24 horas, tendo como principal
representante a Escherichia coli, de origem apenas fecal (FUNASA, 2013).
Materiais e Métodos
A área de abrangência deste estudo foi o município de Lacerdópolis – SC, com projeção de população de 2.245 habitantes,
com 68.892 km² de extensão e IDH de 0,781 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2018).
Foram mapeados 24 poços semi-artesianos (indicados pelos números: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20,
21, 22, 24, 25, 28 e 31) dentro do perímetro do município, sendo que estes abastecem a grande maioria da população.
Para obtenção da localização (coordenadas geográficas) dos poços do município, foi utilizado um GPS portátil (Figura 4, a).
Após a coleta das coordenadas, estas foram transferidas para o google earth e identificadas com seu devido número referente à
coleta das amostras de água (Figura 5, b).

(a) (b)
Figura 4: (a) GPS. (b) Mapa com a localização dos poços. Adaptado de Google Earth (2019).

Coleta das Amostras


As amostras foram coletadas o mais próximo possível da saída do poço, posição 1 e posição 2 (Figura 5).

109
Figura 5: Locais de coleta.

A posição 1, identificada em vermelho na Figura 5, identifica o ponto de coleta realizado diretamente na saída do poço
conforme Figura 6.

Figura 6: Coleta diretamente na saída do poço.

A posição 2 da Figura 5, na cor verde, refere-se ao local de coleta das amostras na entrada da caixa d’água, conforme Figura 7.

Figura 7: Coleta diretamente na saída do poço.

Com base na Figura 4 (b), referente à posição de coleta das amostras, os poços de número: 4, 5, 9, 11, 12, 17, 28, tiveram as
amostras coletadas na posição 1; enquanto que os poços identificados como: 1, 2, 3, 7, 8, 13, 14, 15, 16, 18, 19, 20, 21, 22, 24,
25 e 31, na posição 2.
Sobre o local onde foram realizadas as análises das amostras, estas foram divididas da seguinte forma:

a) As amostras: 1, 2, 3, 4, 5, 9, 11, 12, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 25, 28 e 31, foram coletadas pelos autores deste artigo e
direcionadas ao laboratório de saneamento da Universidade do Oeste de Santa Catarina, campus de Joaçaba.

110
b) As amostras: 7, 8, 13, 14, 15 e 16, foram coletadas pelos autores com auxílio do agente da vigilância sanitária do município
de Lacerdópolis – SC, portanto, as análises das amostras foram realizadas pelo LACEN/SC (Laboratório Central de Saúde
Pública).
Informações e Condições dos Poços
Além das amostras de água coletadas em cada poço, foram analisadas as condições em que os poços se encontram, verificando
as proximidades e o estado de conservação da estrutura.
Para complementar a análise e obter maiores informações referente aos poços, foram levantadas algumas informações como
vazão e profundidade.

Resultados e Discussão
Com o término da coleta das amostras e todos os resultados das análises obtidos, foi possível a compilação dos dados e
avalição de uma forma geral e individualmente.
Inicialmente serão apresentados os dados do georrefereciamento de cada poço do município de Lacerdópolis – SC, no formato
de tabelas, com os dados de latitude e longitude.
Em um segundo momento, os resultados da análise microbiológica são resumidos e informados no formato de texto com os
respectivos percentuais de incidência para o universo total de poços analisados, assim como, possíveis intervenções para
mitigar os problemas apresentados.
Por fim, explana-se sobre os dados de vazão e profundidade dos poços, concluindo com as considerações finais.

Georreferenciamento
Essa etapa teve como objetivo mapear com informação geográfica locando com suas coordenadas conhecidas os poços
analisados. Este processo inicia-se com a obtenção das coordenadas (através do GPS, apresentado na Figura 4, a) conhecidos
como pontos de controle.
No Quadro 2, apresentam-se as coordenadas geográficas dos poços mapeados no munícipio de Lacerdópolis.

Quadro 2 - Coordenadas dos poços.


Nº do poço Latitude Longitude
01 27°16'15.8"S 51°31'40.1"W
02 27°16'41.9"S 51°31'31.2"W
03 27°16'52.5"S 51°31'49.7"W
04 27°16'28.9"S 51°33'29.3"W
05 27°16'19.5"S 51°32'43.7"W
06 27°16'05.9"S 51°33'16.6"W
07 27°15'54.9"S 51°34'51.6"W
08 27°16'01.6"S 51°34'39.7"W
09 27°15'50.8"S 51°35'09.2"W
11 27°15'41.2"S 51°33'47.6"W
12 27°15'40.6"S 51°33'27.9"W
13 27°15'45.4"S 51°33'56.0"W
14 27°15'44.4"S 51°33'31.2"W
15 27°14'44.5"S 51°34'46.8"W
16 27°15'59.9"S 51°34'24.0"W
17 27°15'42.3"S 51°33'21.9"W
18 27°14'04.3"S 51°33'43.4"W
19 27°14'02.0"S 51°35'49.6"W
20 27°13'54.7"S 51°35'42.1"W
21 27°14'25.0"S 51°32'36.5"W
22 27°14'10.9"S 51°36'11.5"W
24 27°13'04.6"S 51°36'17.3"W
25 27°12'40.6"S 51°37'02.9"W
28 27°12'27.8"S 51°37'44.4"W
29 27°14'15.0"S 51°36'33.9"W
30 27°15'58.9"S 51°35'58.0"W
31 27°15'16.4"S 51°33'56.5"W
33 27°15'38.4"S 51°32'49.2"W

111
Resultados das Análises de Bactérias Heterotróficas
Avaliando de uma forma geral e adotando o parâmetro de 500 UFC/ml da PRC n° 5, de 28 de setembro de 2017, Anexo XX,
como limite máximo permitido para cada amostra, pode-se observar que dentre os 24 poços avaliados, somente o poço de
número 2 ultrapassou o valor máximo determinado.
De maneira mais detalhada, pode-se afirmar que 29,16% das amostras não apresentaram sequer a presença de bactérias
heterotróficas, enquanto que 66,68% apresentaram resultados entre os níveis mínimo e máximo e apenas 4,16% resultaram em
valores acima do permitido.
É importante observar que a detecção deste grupo de microrganismos nas amostras coletadas, não torna-as impróprias para o
consumo humano, mas permite uma avaliação das condições higiênico-sanitárias dos poços e redes de distribuição analisados.
Geralmente, a maioria das bactérias heterotróficas, não são patogênicas. No entanto, alguns membros desse grupo, podem ser
considerados como patógenos. Além disso, vale lembrar que estas conferem à água, sabores e odores desagradáveis,
acompanhados da formação de películas e limo.
Como pôde-se observar, a grande maioria das amostras, com exceção de uma, obtiveram resultados abaixo do limite
estabelecido pela PRC n° 5, de 28 de setembro de 2017, atestando um considerável senso de higiene e periodicidade de
manutenção dos poços pelos usuários. Contudo, ainda assim foram repassadas instruções para a realização constante de
limpeza e averiguação das condições dos poços, sistema de distribuição e reservatório, a fim de evitar possíveis contaminações
e proliferações destas bactérias.

Resultados das Análises de Coliformes Totais


Um dos parâmetros para considerar uma água potável para consumo humano, de acordo com a PRC n° 5, de 28 de setembro de
2017, é considerar como 0 (zero) o número mais provável (NMP) para cada 100 ml de amostra. Comparando os resultados
encontrados com as diretrizes da PRC n° 5, de 28 de setembro de 2017, pode-se conferir que nem todos os pontos de coletas
satisfizeram esse padrão: 11 poços, ou seja, 45,83% do total apresentaram resultados positivos para coliformes totais.
Conforme citado anteriormente, o grupo dos coliformes totais não possuem características patogênicas, contudo, representa
que a água em questão entrou em contato com matéria orgânica em decomposição, portanto, é considerada inapta ao consumo
humano.
Os motivos não podem ser relatos ao certo, mas há uma grande possibilidade da contaminação ser proveniente da grande
quantidade de material orgânico depositado sobre o solo nas proximidades dos poços, os quais se encontram perfurados em
regiões de plantio e criação de gado.
Realizaram-se as seguintes sugestões junto aos proprietários dos poços: refazer as análises, realizar a higienização periódica do
sistema de distribuição e do reservatório e cuidados com a utilização do solo e preservação do poço.

Resultados das Análises de Coliformes Termotolerantes


Verifica-se que 3 poços, dos 24 analisados, apresentaram resultados insatisfatórios com relação à PRC n° 5, de 28 de setembro
de 2017, a qual sugere que este parâmetro analisado não ultrapasse o valor de 0 (zero) para a contagem de NMP/100 ml de
água.
Diversos fatores podem estar relacionados à contaminação da água, como por exemplo, o fato deles estarem localizados em
meio à uma área de cultivo de produtos agrícolas, ou em áreas destinadas à pecuária, ou seja, o solo destas áreas possuem
contato direto com material fecal, o qual pode infiltrar através solo e fendas do aquífero até encontrar a água que os poços
coletam.
Assim como para os resultados de coliformes totais, a PRC n° 5, de 28 de setembro de 2017 também sugere que sejam refeitas
as análises até que estas apresentem resultados negativos, cabendo aos proprietários à responsabilidade da recoleta de amostras
e da adoção ou não das medidas preventivas e corretivas repassados a eles.

Medidas Mitigadoras
Pôde-se perceber que para a maioria da população do município de Lacerdópolis, não falta conhecimento em relação às
precauções quanto à captação e utilização da água proveniente dos poços; porém, estes demonstram falta de consciência para a
importância deste recurso natural vital para todos. Portanto, como forma de melhoria para a qualidade da água e
consequentemente, de vida aos usuários dos poços analisados, seria relevante a adoção de medidas para a conscientização da
população quanto aos cuidados com os poços e análises de água a serem executadas periodicamente, buscando auxílio com a
vigilância sanitária do município para tal acontecimento.

Vazão dos Poços Analisados


As informações foram obtidas com as empresas que executaram os poços ou com os proprietários.
Observou-se que as vazões entre 1.000 e 10.000 litros/hora são as mais comuns entre os poços, apresentando 45,83% do total.
As vazões correspondidas entre o intervalo de 10.000 e 20.000 litros/hora representam 45,83% e acima disso, encontram-se
8,34% dos valores obtidos, chegando até o valor máximo de 50.000 litros/hora.

112
Profundidade dos Poços
As profundidades finais dos poços variam entre 54 e 744 metros, apresentando a maioria destes, profundidade entre 30 e 100
metros, um total de 41,67% dos poços; em menor quantidade, entre 100 e 205 metros existem 20,83% das perfurações, 20,83%
na ordem dos 400 metros e 16,67% com profundidades superiores a 500 metros, atingindo a profundidade máxima encontrada
de 744 metros.
Observou-se que não existe relação direta entre estes dados de vazão e profundidade, pois perfurações que captaram água mais
profundamente, nem sempre atingiram vazões maiores do que os poços mais superficiais.

Considerações Finais
No presente trabalho foram pesquisados e georreferenciados 24 poços semi-artesianos ativos para captação de águas
subterrâneas no munícipio de Lacerdópolis – SC, sendo que estes abastecem a maioria da população.
As profundidades finais dos poços variam entre 54 e 744 metros, apresentando a maioria destes, profundidade entre 30 e 100
metros, um total de 41,67% dos poços.
Para valores encontrados referentes à vazão de água de cada poço em L/h, foram obtidos dados que variam entre 1.000 e
50.000. Os valores predominantes encontram-se entre 1.000 e 20.000 L/h, constituindo 91,66% dos valores obtidos.
Com base nos resultados demonstrados, é possível concluir que as amostras não apresentaram grandes níveis de indicadores
patogênicos, ou seja, poucas amostras resultaram em presença de coliformes termotolerantes e altos níveis de bactérias
heterotróficas. Entretanto, aproximadamente 46% das amostras apresentaram coliformes totais, indicando a presença de
matéria orgânica na água.
De um modo geral, pode-se concluir que aproximadamente 57% dos poços apresentaram resultados satisfatórios para a
caracterização da água como potável.
Sobre as condições da estrutura dos poços, analisando-os visualmente, constatou-se que devido à ação do tempo e a falta de
manutenção, o corpo e a tubulação superficial da bomba submersa, apresentaram ferrugem e limo.
Conclui-se que, para a maioria da população do município de Lacerdópolis, não falta conhecimento em relação às precauções
quanto à captação e utilização da água; porém, estes demonstram falta de consciência para a importância deste recurso natural
vital para todos.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a Prefeitura Municipal de Lacerdopólis – SC, aos proprietários e consumidores dos poços
analisados.

Referências Bibliográficas

Agência Nacional de Águas - ANA. 2016. Poços para Captação das Águas Subterrâneas. Brasília. 21 p.

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subterrânea. Rio de Janeiro, 1992.
COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS – CPRM. Aquíferos. Brasília, 2010. Disponível em:
<http://www.cprm.gov.br/publique/ Redes-Institucionais/Rede-de-Bibliotecas---Rede-Ametista/Canal-Escola/Aquiferos -
1377.html> Acesso em: 01 mar. 2019.

Eaton, A. D., et al. 2017. Standard Methods – For the examination of water e wastewater. 23. ed. Washington: Centennial
Edition.

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01 mar. 2019.

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em: 06 maio 2019.

LABORATÓRIO CENTRAL DE SAÚDE PÚBLICA – LACEN/SC. 2016. Manual de orientações para coleta de água e
amostras ambientais. Santa Catarina.

113
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA. 2007. Águas Subterrâneas: um recurso a ser conhecido e protegido.
Brasília, 2007.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria de Consolidação nº 5, de 28 de setembro de 2017 – ANEXO XX, Brasília,


DF, 03 out. 2017. Seção 1, p. 360

ORGANIZAÇÃO DAS NACÕES UNIDAS – BRASIL - ONU Brasil. OMS: Para cada dólar investido em água e
saneamento, economiza-se 4,3 dólares em saúde global. Brasília, 2014.

Vasconcelos, M. B. 2014. Poços para captação de águas subterrâneas: revisão de conceitos e proposta de nomenclatura.
Ceará. XVIII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas. p. 1-12.

114
5SSS108
ESTUDO PARA UTILIZAÇÃO DE RESÍDUO GERADO PELA
FABRICAÇÃO DE CELULOSE E PAPEL NO MELHORAMENTO DE
SOLO
Guilherme Rauschkolb1, Fabiano Alexandre Nienov2, Lucas Quiocca Zampieri3, Gislaine Luvizão4
1Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-mail: guilhermerausch@hotmail.com; 2Universidade do Oeste de
Santa Catarina, e-mail: fabiano.nienov@unoesc.edu.br; 3Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-mail:
lucas.zampieri@unoesc.edu.br; 4Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-mail:
gislaine.luvizao@unoesc.edu.br;

Palavras-chave: Solo-cal; Solo-resíduo-cal; Resíduo celulose

Resumo
O presente trabalho tem por finalidade estudar o comportamento de misturas de solo com a implementação de cal e resíduo
provindo da fabricação de celulose, bem como avaliar a resistência a compressão simples e a influência do tempo de cura das
misturas nas resistências obtidas. Foram realizados ensaios de caracterização do solo utilizado, de modo a classificá-lo e obter
suas propriedades. Adotou-se misturas de solo-resíduo-cal, com teores de 5% e 10% de cal e variações de 20%, 30% e 40% de
resíduo, estudou-se os limites de consistências de cada mistura e foram moldados corpos de prova com os diferentes teores,
com curas aos 7, 28, 90 e 150 dias. Após tempo de cura as amostras foram submetidas ao ensaio de resistência a compressão
simples (RCS). A mistura que apresentou melhor resultado em relação a RCS foi a amostra contendo 50 % de Solo, 40 % de
Resíduo e 10 % de Cal. Os resultados obtidos nas idades de 7, 28, 90 e 150 dias de cura foram respectivamente de 221,92 kPa,
273,22 kPa, 265,64 e 339,60 kPa. A mistura contendo 60 % de Solo, 30 % de Resíduo e 10 % de Cal, obteve-se na RCS aos 7,
28, 90 e 150 dias de cura valores de 205,27 kPa, 253,85 kPa, 255,83 kPa e 304 kPa respectivamente.

Introdução
Em tempos que a preocupação com o clima e o meio ambiente mundial, os diversos setores da indústria geradores de resíduos,
tem tido cada vez maiores dificuldades em adequar-se as exigências ambientais. A reutilização de tais resíduos na construção
civil, tem se tornado uma alternativa eficiente e lucrativa de descarte de diversos resíduos.
Neste trabalho, há um enfoque no estudo do comportamento de misturas de solo-cal e resíduo provindo da fabricação de
celulose e papel.
Em pavimentações, a estabilização de solos por meio de misturas que possam melhorar as suas características, no reforço do
subleito e para a construção de bases e sub-bases, mostra ser um campo promissor para reutilização de resíduos.
Para compreender o comportamento de misturas de solo-cal com a implementação de resíduos é necessário realizar estudos por
meio de ensaios de laboratório, permitindo que através desses ensaios obtenha-se parâmetros e análises.
Segundo Instituto Brasileiro de Árvore (2017), o Brasil está entre os principais produtores de celulose, papel e painéis de
madeira no mundo, com exportações que trazem inegável contribuição para a balança comercial e geram muitos empregos e
renda em todas as regiões do País.
No entanto, esse setor da indústria se depara com grandes problemas, quando se trata da destinação dos resíduos gerados na
fabricação de papel. Segundo IBÁ (2017), o setor gerou 47,8 milhões de toneladas de resíduos em 2016.
Parte dos resíduos gerados, como as lamas de cal, não dispõe de uma destinação apropriada, ficando à deriva de depósitos.
O trabalho se propõe por estudar o comportamento mecânico de misturas de solo, cal e resíduo provindo da fabricação de
celulose em diversos teores, visando melhorar as características do solo.

Utilização dos resíduos da indústria de celulose e papel e cal no melhoramento de solos


A avaliação sobre o uso de materiais refugados da indústria de papel e celulose se faz importante para assegurar um
desempenho aceitável e satisfazer critérios de engenharia, ambientais e econômicos. Os resíduos não devem apresentar efeitos
negativos ao desempenho dos pavimentos, nem ameaçar o meio ambiente. Assim, devido também à grande importância da
construção rodoviária para o comércio e para a mobilidade das pessoas, estudos criteriosos devem ser desenvolvidos para que
não se permita que os pavimentos se tornem simplesmente um “aterro sanitário longitudinal” (SIDRONIO, 2010, apud
SOUZA, 2012).
No Brasil existem diversos estudos sobre melhoramento de solo quimicamente, no entanto, ainda é recente a ideia de
incorporar resíduos as misturas, destacando-se o trabalho de Molina (2004) com a utilização de lama de calcário e dregs,
Sidronio (2010) com a utilização de resíduo da fabricação de papel e Souza (2012) também, com a utilização de resíduo da

115
fabricação de papel.
No estudo desenvolvido por Molina (2004), utilizou-se um resíduo da indústria de papel, constituída por lama-de-cal e dregs
na proporção de 10:1, respectivamente. Os resultados dos estudos demonstraram que a adição do resíduo não melhora as
propriedades mecânicas das misturas compactadas, necessitando da adição de estabilizante como a cal, para melhorar suas
características.
Molina (2004), substituiu o solo por cal e resíduo, com porcentagens de 5% e 10% de cal e 40% de resíduo, com isso, observou
parâmetros de compactação de solo-resíduo-cal similares as misturas solo-cal, com diminuição na massa especifica seca
máxima e aumento da umidade ótima. Observou-se também, o aumento das reações pozolânicas da cal e do resíduo com o
solo, desenvolvidas ao longo do tempo. Quando a adição do resíduo, observou-se um aumento da expansão das misturas,
entretanto, os valores de expansão mantiveram-se inferiores aos limites permitidos para a utilização das misturas para as
camadas de base.
Souza (2011), estudou o comportamento mecânico de misturas de resíduos da fabricação de papel e solo da região de
Joaçaba/SC e verificou que para misturas contendo apenas solo e resíduo a resistência a compressão simples não varia muito
com maiores teores de resíduo, já nas misturas contendo cal e resíduo, há ganhos de resistência consideráveis, com teores de
30% de resíduo e 15% de cal a resistência alcançou um pico máximo de 0,966MPa.
Segundo Dalla Rosa (2009), o aproveitamento de materiais residuais constitui-se, ultimamente, numa área de estudo em
expansão, em diversos lugares do mundo, principalmente devido as perspectivas de racionalização e conformidade ambiental
que o tema envolve.
Ainda Dalla Rosa (2009), relata que, a técnica de estabilização de solos proporciona o melhoramento de um material já
existente, e assim, em geotecnia, é muito difícil falar do aproveitamento de determinado produto, residual ou não, sem falar em
estabilização de solos.
Conforme Carvalho (2006), o maior aproveitamento de resíduos industriais em outros segmentos de produção representa uma
contribuição para o desenvolvimento sustentável. Dentro deste contexto, verificam-se grandes oportunidades de uso de
resíduos da indústria de papel e celulose, uma vez que, estudos recentes têm demonstrado algumas poucas iniciativas de
reaproveitamento para uso na construção civil.

Parâmetros e resultados
O solo utilizado nas misturas foi fornecido pela indústria Celulose Irani, na cidade de Vargem Bonita, Santa Catarina, assim
como, o resíduo utilizado. Em seguida realizou-se a caracterização dos materiais utilizados e desenvolveu-se os ensaios
experimentais.
O resíduo utilizado nos ensaios é a lama de cal, proveniente da indústria Celulose Irani, na localidade de Vargem Bonita, Santa
Catarina. E a cal utilizada é CH III hidratada, da marca Cal CEM.
A preparação das amostras seguiu as recomendações da NBR 6457 (ABNT, 2016). O solo coletado foi seco ao ar. Em seguida,
realizou-se o desmanche dos torrões de solo, com auxílio de almofariz e mão de Grahl, evitando a quebra dos grãos.
Posteriormente, o material foi colocado em sacos plásticos e armazenado até sua utilização
As composições das misturas foram adotadas por substituição de solo, descritas na Tabela 1. Sendo S = Solo, R = Resíduo e C
= Cal.

Composições
Mistura Solo
Resíduo (%) Cal (%)
(%)
S100-R0-C0 100 0 0
S95-R0-C5 95 0 5
S90-R0-C10 90 0 10
S80-R20-C0 80 20 0
S75-R20-C5 75 20 5
S70-R20-C10 70 20 10
S70-R30-C0 70 30 0
S65-R30-C5 65 30 5
S60-R30-C10 60 30 10
S60-R40-C0 60 40 0
S55-R40-C5 55 40 5
S50-R40-C10 50 40 10
Tabela 1: Composição das misturas

116
Para o ensaio de granulometria seguiu-se a NBR 7181 (ABNT, 2017), sendo dividida em peneiramento, com a lavagem do
solo e sedimentação. No Gráfico 1, está representada a curva granulométrica do resíduo. A classificação textural que leva em
conta a granulometria da amostra dividida em argila, silte e areia o solo ficou classificado como argila. Para a classificação no
método H.R.B, a qual leva em conta os limites de Attenberg necessários para o cálculo do índice de grupo
(IG). O solo é classificado como A7-5. E para o S.U.C.S o solo se classifica como uma argila pouco plástica arenosa.

Gráfico 1: Distribuição granulométrica - Resíduo

As classificações do solo utilizado e sua granulometria são apresentadas na Tabela 2.

Parâmetros
Argila - < 0,002 mm (%) 67,28
Silte - 0,002 a 0,0075 mm (%) 29,54
Areia fina - 0,0075 a 0,42 mm
1,3
(%)
Areia média - 0,42 a 2 mm
1,69
(%)
Areia grossa - 2 a 4,8 mm (%) 0,19
Pedregulho - > 4,8 mm (%) -
Limite de Liquidez - LL (%) 46
Limite de Plasticidade - LP
36
(%)
Peso específico real dos grãos
2,75
(g/cm³)
Classificação textural Argila
H.R.B. A7-5
Argila pouco
S.U.C.S.
plástica arenosa

Tabela 2: Parâmetros do solo

O solo apresenta limite de liquidez, de 46% e limite de plasticidade de 36%. Por meio do índice de plasticidade conclui-se que
se trata de um solo medianamente plástico. O peso específico real dos grãos foi determinado através das prescrições
estabelecidas na norma DNER-ME 093/1994. O procedimento resultou em um valor da densidade real de 2,75 g/cm³.
Para o ensaio de Limite de Plasticidade respeitou-se a NBR 7180 (ABNT, 2016), realizado o ensaio obteve-se os valores de
Limite de Plasticidade de cada mistura apresentados no Gráfico 2.

117
Gráfico 2: Limite de Plasticidade Gráfico 3: Limite de Liquidez

Os valores de limite de plasticidade das misturas são influenciados pela adição cal e resíduo. Introdução de cal e resíduo nas
misturas o limite de plasticidade em geral aumenta comparado ao solo natural. Nas misturas S70-R30-C0 e S60-R40-C0
ocorreu redução do valor de LL comparado com os valores obtidos apenas com o solo.
Para o ensaio de Limite de Liquidez respeitou-se a NBR 6459 (ABNT, 2017), realizou-se os ensaios de Limite de Liquidez de
cada mistura e encontrou-se os valores apresentados no Gráfico 3.
Através do Gráfico 3 podemos ser observar que todas as misturas tiveram seu limite de liquidez maior em relação ao solo.
Também pode ser observado que quando adicionado maior quantidade resíduo e cal as misturas, há uma redução do valor do
limite de liquidez, da menor adição para a maior adição.
Esse comportamento não ocorre nas misturas S75-R20-C5, S70-R20-C10 e S65-R30-C5, S60-R30-C10, em que os valores se
mantém constante.
O Índice de Plasticidade se dá pela diferença entre o Limite de Liquidez e o Limite de Plasticidade, que é apresentado no
Gráfico 4.

Gráfico 4: Índice de Plasticidade

Conforme aumenta-se a quantidade de adição de cal nas misturas reduz o índice de plasticidade, ocasionado pelo aumento da
plasticidade. Quando aumentado a quantidade de resíduo das misturas S80-R20-C0 e S70-R30-C0 o índice aumentou e da
mistura S70-R30-C0 para S60-R40-C0 o índice diminuiu, e para as misturas S75-R20-C5, S70-R20-C10 e S65-R30-C5, S60-
R30-C10, novamente os valores se mantiveram.
Realizou-se o ensaio de compactação (Ensaio de Proctor) de cada mistura, seguindo-se as orientações da NBR 7182 (ABNT,
2016), que estabelece as diretrizes para o ensaio. Utilizou-se a energia normal para a compactação.
Os valores de umidade ótima estão apresentados do Gráfico 5. Pode ser observado que ocorreu redução da umidade ótima de
compactação das misturas quando comparadas ao solo sem adição. Combinação isolada de resíduo ocorre redução da umidade
ótima da adição de 20, 30 e 40% de resíduo. A combinação de cal mais a adição de resíduo nas mesmas proporções ocorre
aumento da umidade ótima.
No Gráfico 6 pode ser observado os valores de massa específica seca do solo e solo mais misturas. Quando se tem combinação
de solo, resíduo e cal ou somente cal o valore é menor ao valor obtido somente para o solo.

118
Gráfico 5: Umidade ótima Gráfico 6: Massa específica

Nas misturas com adição apenas de resíduo ao solo o valor foi superior ao valor obtido apenas com o solo, adição de 20, 30 e
40% de resíduo sem adição de cal. Tanto a umidade ótima e a massa específica seca sofrem alterações com a adição de resíduo
e cal.
Para a realização do ensaio de massa específica do resíduo seguiu-se as prescrições da norma NBR 16605 (ABNT, 2017),
utilizou-se como reagente a querosene. Realizado o ensaio, a massa específica do resíduo resultou em 2,73 g/cm³ e a massa
específica da cal em 2,41 g/cm³.
Para a verificação das medições de pH de cada mistura, misturou-se 100 g das coposições, adicionou-se água na mesma
proporção de massa de sólidos e agitou-se a mistura. Após aferiu-se as medições com um pH-metro com eletrodo, realizado as
leituras, obteve-se os dados demostrados no Gráfico 7.
Ao analisar o Gráfico 7, constata-se que se trata de um solo ácido com 4,07 de pH e o resíduo apresenta valores de pH básico
de 12,44. A substituição de cal em 5% no solo o pH passa a ser de 4,07 para 12,21 (S95-R0-C5). Misturas contendo apenas
solo e resíduo em 20, 30 e 40% os valores de pH da mistura passa a ser de 7,73 (S80-R20-C0), 8,39 (S70-R30-C0) e 11,29
(S60-R40-C0).

Gráfico 7: Valores de pH

Para o ensaio de pozolanicidade seguiu os critérios estabelecidos na NBR 5752 (ABNT, 2014). Foram realizados ensaios para
material pozolânico passante na peneira 0,425mm e na peneira 0,075mm. A confecção da argamassa seguiu-se as
recomendações da NBR 7216 (ABNT, 1996), conforme recomenda a NBR 5752 (ABNT, 2014).
A NBR 12653 (ABNT, 2015), estabelece o mínimo de 90% de índice de atividade pozolânica para que o material seja
considerado pozolânico. Os valores obitdos ficaram abaixo do critério estabelecido pela NBR 5752, obteve-se para o material
passante na peneira de 0,425 mm atividade pozolânica de 73% e para o material passante na peneira número 0,075 mm de
75%, não sendo material pozolânico.
Para obter resultados de resistência a compactação das misturas, foram moldados corpos de prova baseado no ensaio de
compactação. Moldaram-se as misturas em molde cilíndrico de 5 cm de diâmetro e 10 cm de altura em prensa manual. Foram
moldados 4 corpos de prova por mistura para 7, 28, 90 e 150 dias de cura. Sendo moldadas as misturas de acordo com a Tabela
3.

119
Composições
Mistura
Solo (%) Resíduo (%) Cal (%)
S95-R0-C5 95 0 5
S90-R0-C10 90 0 10
S75-R20-C5 75 20 5
S70-R20-C10 70 20 10
S65-R30-C5 65 30 5
S60-R30-C10 60 30 10
S55-R40-C5 55 40 5
S50-R40-C10 50 40 10
Tabela 3: Misturas para moldagem dos corpos de prova

As misturas compostas somente de solo e solo-resíduo não foram efetuadas em virtude de não ocorrer cimentação. Para a
determinação da quantidade de material (solo+resíduo+cal+água) necessário a cada corpo de prova, baseou-se na massa
específica seca e umidade ótima, obtido no ensaio de Proctor de cada mistura. A compactação ocorreu em prensa manual,
constituída de 3 camadas e tendo o cuidado para que o corpo de prova atinge-se grau de compactação mínimo de 95%
comparado ao Proctor de cada mistura. Para a cura dos corpos de prova, vedou-se em sacos plásticos, a fim de evitar a perda de
umidade no processo de cura.
Vinte e quatro horas antes do rompimento os corpos de prova foram colocados em imersão em água. Foram moldados 128
corpos de prova, sendo 16 para cada mistura em estudo, dos quais 4 foram rompidos a 7 dias, 4 rompidos a 28 dias, 4 rompidos
a 90 dias e 4 rompidos a 150 dias.
As misturas contendo 5% de cal não obtiveram cimentação para os tempos de cura de 7 dias e 28 dias. Essa mistura no tempo
de 7 e 28 dias se desintegraram quando foram imersos, devido ao baixo teor de material cimentante e a baixa idade de cura dos
CP’s. Já na idade de 90 dias as misturas, S95-R0-C5 e S75-R20-C5, foi possível realizar o rompimento. As misturas, S65-R30-
C5 e S55-R40-C5 se desintegraram na idade de 90 dias. Para a idade de 150 dias, foi possível obter valores de resistência para
todas as misturas, inclusive as misturas contendo 5% de cal, demonstrando assim, uma melhora no efeito cimentante, conforme
aumenta o tempo de cura. Os resultados de RCS são apresentados no Gráfico 8.
Observa-se acréscimo na RCS com misturas contendo 10% de cal aliadas com a adição de resíduo, demonstraram melhora nas
reações cimentantes, permitindo a obtenção de melhores resultados na RCS. Esse comportamento pode ser observado nas
misturas S70-R20-C10, S60-R30-C10 e S50-R40-C10 em o desempenho foi melhor do que nas misturas com apenas 5% de cal
na mistura, apenas solo e com o resíduo e com 10% de cal na mistura contendo apenas solo.
Em relação ao tempo de cura, para misturas contendo 10% de cal e resíduo, observa-se um acréscimo de RCS entre os 7 dias e
28 dias, após uma estabilização entre 28 dias e 90 dias e após os 90 dias novamente evolução na RCS.

Gráfico 8: Misturas para moldagem dos corpos de prova

Nos traços contendo 5% de cal mais resíduo em 30 e 40% obtém-se valores de RCS somente aos 150 dias de cura e com 20%
de resíduo aos 90 dias. Nas misturas com 5% de cal e apenas solo valores são possíveis apenas em 90 dias de cura e não ocorre
evolução entre 90 dias até 150 dias de cura. Para composição com 10% de cal e apenas solo ocorre redução dos valores de
RCS ao longo do tempo de cura até os 150 dias.
Para as moldagens dos corpos de prova avaliou-se também a porosidade. No Gráfico 9, apresenta-se a variação da porosidade
média das misturas, nas idades de 7, 28, 90 e 150 dias de cura. Verifica-se que a porosidade varia em função das composições
das misturas, conforme aumenta a quantidade de resíduo aumenta a porosidade, variando de 49,01% na mistura S90-R0-C10 a

120
53,04% na mistura S50-R40-C10. Também a variação na porosidade em relação a idade de cura de cada mistura, porém, com
variações menores, chegando a 1,50% na mistura S90-R0-C10.

Gráfico 9: Porosidade

No Gráfico 10, que apresenta a relação entre resistência e Vv/Vres., para as misturas contendo 10% de cal em sua composição.
Quanto menor a relação entre Vv/Vres. e maior o tempo de cura, maior a resistência obtida, partindo de 201,87 kPa na mistura
S70-R20-C10 e alcançando na mistura S50-R40-C10 339,60 kPa, ou seja, quanto maior a quantidade de resíduo na mistura e
maior tempo de cura, maior a resistência obtida.

Gráfico 10: Relação entre RCS e Vv/Vres

A absorção consistiu em pesar os corpos de prova antes e após a imersão em água para determinar. Os dados de alguns corpos
de prova das misturas contendo 5% de cal não foram obtidos, em virtude da perda de material no período de imersão dos
corpos de prova. O Gráfico 11, apresenta a média dos valores obtidos de cada mistura e a variação com as idades de cura.

Gráfico 11: Absorção

Observando o Gráfico 11, verificamos que a absorção ficou abaixo de 1% na maioria das misturas com exceção das

121
composições S75-R20-C5, S65-R30-C5 e S50-R40-C10 na idade de 150 dias e na composição S50-R40-C10 com 7 dias. Com
o avanço das idades de cura há menores valores de absorção para 7, 28 e 90 dias, já na idade de 150 dias ocorre acréscimo na a
absorção. Destaque pode ser apontado na mistura S50-R40-C10 com valor obtido de 2,03%.

Considerações Finais
A partir da análise e discussão dos resultados, e a avaliação da influência do tempo de cura sobre a resistência à compressão
simples do material estudado, obteve-se as seguintes conclusões.
Ao substituir parte do solo por resíduo, acompanhado ou não da cal, proporciona mudanças no comportamento do solo,
apresentando comportamentos próprios e variados, ligados aos teores utilizados.
Apesar das misturas contendo 5% de cal não apresentar cimentação nas idades de 7 e 28 dias, nas idades de 90 e 150 dias
ocorreu cimentação, porém gerou resistências com valores menores. Para as misturas contendo 10% de cal, obteve-se valores
já nas idades iniciais, alcançando 108,98 kPa e ao incluir resíduo a composição alcançou o valor de 221,92 kPa, e aos 150 dias
de tempo de cura o resultado alcançado foi de 339,60 kPa, demonstrando melhora a medida que o tempo de cura aumenta.
No ensaio do pH-metro, constatou-se que o resíduo aumenta o pH das misturas, porém é necessária uma grande quantidade de
resíduo para alcançar valores de pH básico.
Em relação a porosidade, observou-se que a implementação de resíduo as misturas aumentam seu valor, quanto maior a
quantidade de resíduo, ligado a variação da massa específica seca de cada mistura, maior é a porosidade.
Com relação ao Vv/Vres., observou-se que quanto menor a relação entre Vv/Vres. maior a resistência obtida, ou seja, quanto
maior a quantidade de resíduo na mistura, maior é a resistência obtida.
Quanto a pozolaneidade do resíduo, constatou-se que o material não é pozolânico

Referências Bibliográficas
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desempenho com cimento Portland aos 28 dias. Rio de Janeiro, 2014
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utilização na construção rodoviária. Dissertação (mestrado), Escola de Engenharia São Carlos, Universidade de São Paulo. São
Carlos, 2004.

122
5SSS111
UTILIZAÇÃO DE CARVÃO ATIVADO GRANULAR COMO SÓLIDO
SORVENTE NO TRATAMENTO DE ÁGUAS CONTAMINADAS COM
TETRACICLINA
Letícia Reggiane de Carvalho Costa¹, Luana de Moraes Ribeiro², Liliana Amaral Féris³
¹Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: leticiaregicar@hotmail.com; ²Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, e-mail:luana.mori@hotmail.com; ³Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-
mail:liliana.feris@gmail.com

Palavras-chave: adsorção carvão ativado granular; compostos farmacêuticos; tetraciclina.

Resumo
Em virtude da ampla utilização de produtos farmacêuticos, sua persistência a biodegradação e da remoção ineficiente dos
mesmos pelos processos convencionais de tratamento, a acumulação desses compostos no meio ambiente tem se tornado um
aspecto ambiental mundialmente relevante. Percebe-se, assim, a importância do estudo de técnicas de remoção destes
compostos da água. O presente trabalho estudou a remoção do fármaco tetraciclina (TC) em solução aquosa pelo processo de
adsorção em batelada utilizando o carvão ativado granular (CAG) como sólido adsorvente. Visando a obtenção das melhores
condições operacionais do processo, foram avaliadas a influência do pH, tempo de contato entre as fases e concentração de
sólido adsorvente. Além disso, afim de avaliar a dinâmica do processo, isotermas de adsorção foram construídas em três
temperaturas diferentes (25, 35 e 45°C) variando-se a concentração inicial de TC. Os dados foram ajustados aos modelos de
Freundlich, Langmuir, Sips e Redlich-Peterson. Os experimentos em batelada mostraram que as condições experimentais mais
adequadas à adsorção foram: pH 4, tempo de contato de 90 minutos e concentração de sólido adsorvente 3 g.L-1. Nessas
condições foi possível obter 92,7% de remoção. No estudo de equilíbrio, o modelo que melhor descreve o comportamento do
processo é Redlich-Peterson, ajustando-se satisfatoriamente aos dados nas três temperaturas estudadas. De forma geral, foi
verificado que o processo de adsorção em batelada utilizando o CAG como sólido adsorvente é eficiente, apresentando
potencial de aplicação como alternativa de tratamento de água e efluentes contaminados com fármacos.

Introdução
O contínuo crescimento industrial e populacional expõe o meio ambiente a diversos poluentes emergentes como
fármacos, pesticidas, metais pesados, corantes, derivados do petróleo, dentre outros. Nos últimos anos, a presença dessas
substâncias nocivas é detectada em diversas matrizes aquosas como, águas de superfície, lençóis freáticos, estações de
tratamento de efluentes domésticos e industriais e águas de abastecimento (gilart et al., 2012).
Dentre os poluentes apontados como contaminantes críticos de águas e efluentes estão os fármacos que, apresentam
caráter cumulativo e são biologicamente ativos. Dessa forma, podem afetar principalmente as funções do sistema endócrino e
provocar diversas doenças em seres humanos e animais, além de modificar e comprometer o equilíbrio natural dos sistemas
aquáticos (américo et al., 2012; massaro, 2011).
Muito utilizada devido suas propriedades antibióticas, a tetraciclina é um medicamento pertencente da família das
tetraciclinas (tcs) derivada de hidrocarbonetos aromáticos polinucleares. Atua tanto na medicina humana quanto na medicina
veterinária por causa do seu amplo espectro de ação com seu poder bacteriostático e de suas vantagens econômicas (daghrir
and drogui, 2013), agindo contra uma grande variedade de microrganismos, desde bactérias gram-positivas até gram-negativas,
estendendo-se a organismos anaeróbicos e protozoários (pereira-maia et al., 2010; viñas et al., 2004; wu et al., 2017). Em
adição ao uso terapêutico, é bastante usada como um suplemento alimentar em animais confinados (chen and lin, 1998), em
conservação de alimentos e controle microbiológico de fermentações (hirsch et al., 1998).
Mesmo com a evolução das estações de tratamento de água e efluentes domésticos e industriais, esses compostos
farmacêuticos ainda apresentam uma significativa resistência aos tratamentos. Sendo assim, pode-se considerar que a
eliminação total desses microcontaminantes por métodos convencionais de tratamento é incompleta(maia, 2017). Diante disso,
a otimização do processo torna-se fundamental para garantir a remoção efetiva desses poluentes, levando em consideração o
uso de novas tecnologias. Uma das alternativas disponíveis, com grande potencial de aplicabilidade para contornar os
problemas ambientais provenientes da poluição por esses compostos, é o processo de adsorção, amplamente explorada na
literatura (chayid and ahmed, 2015; de franco et al., 2017; nairi et al., 2017; pezoti et al., 2016).
A escolha do sólido adsorvente é de suma importância para a eficiência e viabilidade do processo. Dentre os sólidos

123
utilizados como adsorventes, o carvão ativado comercial apresenta algumas vantagens como baixo custo, elevada área
superficial, estrutura e distribuição dos poros favoráveis ao processo, estabilidade térmica e, ainda, a possibilidade de
regeneração (sá da rocha et al., 2012; zanella, 2012).
Portanto, o objetivo deste trabalho é estudar o potencial de remoção tetraciclina em carvão ativado granular utilizando a
técnica de adsorção através de uma solução sintética contaminada com o fármaco.

Materiais e Métodos

Especificações do reagente e do sólido adsorvente


O material adsorvente utilizado na pesquisa foi o carvão ativado (êxodo cientifica), com granulometria entre 1,40 e 1,00
mm. A tetraciclina foi obtida comercialmente através da empresa sigma aldrich com teor de pureza maior que 98%.

Ensaios de adsorção
Os ensaios de adsorção foram realizados utilizando frascos schott de 250 ml, com 100 ml de solução de tc (20 mg.l-1). Em
todos os ensaios o adsorvente foi colocado no frasco após a solução, e os parâmetros estudados (ph, concentração de sólido
adsorvente e tempo de contato) foram aplicados. Os frascos foram introduzidos em um agitador de wagner sob a rotação de
28±2 rpm. Todos os ensaios foram realizados em duplicata.

Determinação do ph da solução
Para A Determinação Do Ph Foram Realizados Experimentos Em Frasco Schott, Onde Misturou-Se 100 Ml Da Solução
De Tetraciclina E 0,1 G Do Carvão Ativado Comercial Durante 30 Minutos. O Ajuste De Ph Em Valores Pré-Estabelecidos (2-
10) Foi Realizado Utilizando Hcl Ou Naoh 0,1 M. Ao Final Do Tempo Previsto, As Soluções Foram Filtradas E A
Determinação Da Quantidade Residual De Tetraciclina Foi Realizada Por Espectrofotometria Em Um Espectrofotômetro
Uv/Visível (Thermo Scientific, Genesys 10s Uv-Vis) Utilizando O Comprimento De Onda De 357 Nm.

Determinação do tempo de residência


Para este estudo, o tempo foi variado nos valores pré-determinados entre 0 e 300 minutos, com o ph ajustado no valor em
que ocorreu o maior índice de remoção no ensaio anterior e concentração de sólido adsorvente igual a 1 g.l-1.

Determinação da concentração de sólido


Para avaliar o efeito da concentração de carvão, experimentos foram realizados com diferentes concentrações de sólido,
variando de 0,5-10 g.l-1. O ph e o tempo de contato utilizados foram os considerados ideais, obtidos de acordo com o que foi
mencionado nos itens anteriores.

Isotermas de sorção
Com as melhores condições obtidas nos ensaios de adsorção, foram construídas isotermas variando-se a concentração
inicial de tetraciclina. Os experimentos foram realizados em triplicata, em três diferentes temperaturas (25, 35 e 45°c) e
agitação de 200 rpm, utilizando-se 100 ml de solução por ensaio, durante 24 horas. Transcorrido o tempo de sorção, as
soluções foram filtradas, centrifugadas e analisadas em um espectrofotômetro uv/visível (thermo scientific, genesys 10s uv-
vis). Após ensaio de adsorção, para estabelecer a correlação mais apropriada para as curvas de equilíbrio de tetraciclina em
todas as temperaturas, quatro modelos de isotermas foram utilizados: langmuir, freundlich, sips e redlich-peterson.

124
Resultados e Discussão
Ensaios de adsorção em batelada
Determinação do ph da solução
A figura 1 apresenta o efeito do ph sobre o ensaio de adsorção realizado com o carvão ativado granular e solução sintética
de tetraciclina.
Diante dos dados apresentados na figura 1, observa-se que entre a faixa de ph avaliada (2-10), o maior percentual de
remoção para a tetraciclina ocorreu em ph 4, onde foi possível obter 56%. Neste ph a concentração residual atinge valor de 8,7
mg.l-1, e uma capacidade de adsorção do sólido (qe) de 3,7 mg.g-1.
Nota-se que houve uma diminuição na remoção da tetraciclina em phs menores que 4 e phs acima de 6. Esse decréscimo
na eficiência de remoção pode ser explicado de acordo com a distribuição das espécies químicas da tc, uma vez que a mesma
possui cargas em uma faixa ampla de ph com um ponto isoelétrico em valores entre 4 e 6.
Outra explicação para a redução da adsorção da tc deve-se ao fato de que a superfície do sólido esteja carregada
negativamente, portanto, há uma diminuição da força eletrostática atrativa entre a superfície do adsorvente e as espécies de tc
(h3l+, hl− e l2−) o que, consequentemente, irá diminuir a capacidade de adsorção do sólido (rivera-utrilla et al., 2013).
Uma tendência semelhante ao efeito do ph foi encontrada para remoção de tc por adsorção em carvão ativado obtido a
partir de resíduos de processamento industrial de tomate (sayğili and güzel, 2016).
Nesse contexto, o ph escolhido como mais adequado neste estudo foi o ph 4, que apresentou melhor percentual de
remoção comparado aos demais.

Figura 1: efeito do ph sobre o ensaio de adsorção de tetraciclina utilizando cag como adsorvente. Condições do
ensaio: concentração inicial da solução: 20 mg.l-1 de tetraciclina; tempo de residência: 30 minutos; concentração do
sólido: 1 g.l-1.

Determinação do tempo de residência

Este estudo foi realizado com o objetivo de determinar o tempo ótimo de residência para o carvão ativado usado na
sorção de tc em solução aquosa, utilizando os parâmetros ph 4 e 1 g.l-1 de sólido. A figura 2 apresenta o efeito do tempo de
sorção na remoção de tc.

125
Figura 2: efeito do tempo de residência sobre o ensaio de adsorção de tetraciclina utilizando cag como adsorvente.
Condições do ensaio: concentração inicial da solução: 20 mg.l-1 de tetraciclina; ph inicial: 4; concentração do sólido: 1 g/l-1.

Analisando a figura 2, observa-se que a velocidade de adsorção é mais rápida nos estágios iniciais do processo, ao passo
que é mais lenta próxima ao equilíbrio, onde a concentração de tetraciclina no meio reacional tende a permanecer constante.
Analogamente, observa-se um decaimento da concentração residual de tc até que esta se mantém constante ao longo do tempo.
Este comportamento ocorre, pois no início, há uma grande quantidade de sítios vazios presentes na superfície do carvão,
resultando em uma rápida adsorção. Quando ocupados pelo adsorvato, estes sítios livres tendem a diminuir, levando ao ponto
de equilíbrio do processo, atingido no instante onde não há mais transferência de massa ocorrendo entre a fase fluida e a fase
adsorvida no sólido (de franco et al., 2017).
Neste trabalho, o tempo do processo estudado para a tc e o tempo e equilíbrio foram estabelecidos em 90 e 175 minutos,
respectivamente. Neste último, a concentração residual de tc foi de 8,3 mg.l-1 e atingiu-se uma capacidade de adsorção de 12,7
mg.g-1.
Em comparação com outros fármacos, a tc atinge o equilíbrio em um período de tempo relativamente semelhante.
Rheiheimer (2016), no seu estudo com paracetamol, encontrou o tempo de residência de 180 minutos. Já de franco e seus
colaboradores (2017) concluíram que, para a amoxicilina e o diclofenaco de sódio, a estabilidade se inicia a partir de 150 e 180
minutos de contato entre adsorvato e adsorvente, respectivamente.

Determinação da concentração de sólido


A influência da concentração de carvão ativado foi determinada sob as condições de ph 4, 25 °c e tempo de 90 minutos.
Os resultados referentes às concentrações residuais (mg.l-1) e remoção (%) podem ser observados na figura 3.

Figura 3: efeito da concentração de sólido adsorvente cag sobre o ensaio de adsorção de tetraciclina. Condições do
ensaio: concentração inicial da solução: 20 mg.l-1 de tetraciclina; ph inicial: 4; tempo de residência: 90 minutos.

126
De acordo com tal (figura 3), percebe-se que com o aumento da concentração de sólido adsorvente no sistema, a remoção
do fármaco em estudo aumenta gradualmente até que, a partir de uma dada concentração de sólido, o percentual de remoção
ficou aproximadamente constante, se estabilizando com uma concentração de sólido adsorvente de 3 g.l-1. Nessa concentração,
a remoção alcança um valor máximo de 92,7% com uma concentração residual de tc de 1,5 mg.l-1.
O fenômeno ocorrido no processo pode ser explicado através da avaliação do comportamento da área total de adsorção e
a disponibilidade de sítios ativos para que a adsorção ocorra. À medida que se aumenta a quantidade de sólido no sistema, há
também um aumento na área de adsorção, o que consequentemente acarreta no aumento do número de sítios disponíveis na
superfície do carvão para a adsorção. No entanto, ao se atingir o limite físico no sistema, a concentração de sólido não exerce
mais uma grande influência sobre a remoção, uma vez que as interações entre soluto-soluto são mais fortes que as interações
soluto-adsorvente.
A remoção de tc a partir da casca de melão foi estudada por husk (2018). O autor avaliou o efeito da variação da massa de
adsorvente (0,2–1,0 g) no processo de remoção de tetraciclina e observou que a máxima remoção de tc, aproximadamente
77%, foi obtida utilizando 0,8 g do sólido adsorvente, sendo o resultado encontrado neste trabalho bastante satisfatório em
comparação.

Isotermas de adsorção
Para observar o efeito da temperatura, foram determinadas as isotermas de adsorção em três diferentes temperaturas (25,
35 e 45°c) com diferentes concentrações, utilizando as condições operacionais ótimas encontradas nos itens anteriores. A
figura 4 apresenta os dados experimentais de equilíbrio em todas as temperaturas estudadas para a tetraciclina.

Figura 4: isotermas experimentais em 25, 35 e 45 °c. Condições do ensaio: ph inicial: 4; concentração do sólido: 3 g/l-
1
; tempo de residência: 24 horas; temperaturas: 25, 35 e 45°c; agitação: 200 rpm.

Como pode ser observado, à medida que se aumenta a temperatura no processo de 25 para 45 °c, houve também um
aumento na capacidade de adsorção da tc de 161,5 para 234,6 mg.g-1 respectivamente. Visto isso, é considerado que o processo
de adsorção é endotérmico. Este fenômeno geralmente ocorre devido ao aumento na taxa de difusão molecular e à diminuição
da viscosidade da solução com o aumento da temperatura, facilitando a difusão da molécula de adsorvente através da camada
limite externa nos poros internos do adsorvente (song et al., 2013). Alguns autores estudando adsorção de fármacos em carvão
ativado também encontraram que o aumento da temperatura influenciou positivamente a adsorção (ahmad and kumar, 2010;
sousa, 2015).
Conforme mencionado anteriormente, para estabelecer a correlação mais adequada para as curvas de equilíbrio e estimar
os parâmetros das isotermas, os dados experimentais foram modelados para as isotermas de langmuir, freundlich, sips e
redlich-peterson. A tabela 1 apresenta as constantes e os coeficientes de correlação dos modelos estudados e, na figura 5 é
mostrada a comparação entre os dados experimentais do equilíbrio de adsorção e valores preditos pelo modelo de isoterma de
redlich-peterson, considerada a de melhor resultado.

127
Parâmetros 25 °C 35 °C 45 °C
QM* 227,80 249,07 295,84

Langmuir K L* 1 0,003 0,004 0,006


R² 0,988 0,999 0,991
2
K F* 6,65 8,24 14,97

Freundlich N 2,12 2,20 2,39


R² 0,959 0,959 0,963
QM* 204,88 222,18 317,89
1
K L* 0,001 0,001 0,010
Sips
N 1,20 1,27 0,88
R² 0,990 0,994 0,992
KR*1 0,52 0,69 2,34
3
AR* 0,000 0,000 0,017
Redlich-Peterson
Β 1,33 1,24 0,89
R² 0,994 0,996 0,993
*(MG.G-1); *1(L.MG-1); *2 (MG.G-1).(L.MG-1)1/N); *3(L.MG-1) Β
Tabela 1: parâmetros dos modelos de isotermas ajustados aos dados experimentais nas temperaturas de 25, 35 e
45°C.

Figura 5: isotermas de redlich-peterson ajustados aos dados experimentais nas temperaturas de 25, 35 e 45 °C.

Analisando os dados obtidos (tabela 1) e os modelos plotados nas figuras 5, conclui-se que o modelo de redlich-peterson
é o que apresenta uma melhor predição dos dados do experimento, em todas as temperaturas avaliadas, com r² acima de 0,99.
Este modelo de isoterma é a combinação das equações de langmuir e freundlich, resultando em um mecanismo híbrido de
sorção, no qual em baixas concentrações de adsorvato a isoterma de redlich-peterson se aproxima à equação de langmuir e em
altas, freundlich. Além disso, a análise do parâmetro β demonstra que nas três temperaturas estudadas o mesmo se aproxima de
1, indicando a validade do modelo e a tendência de aproximação ao modelo de langmuir (pezoti et al., 2016).

128
Alguns estudos presentes na literatura confirmaram a representação bem-sucedida de dados isotérmicos de adsorventes
por isotermas do parâmetro como redlich-peterson comparado a isotermas de dois parâmetros como langmuir e freundlich (lin
and juang, 2009; pezoti et al., 2016; srivastava et al., 2006).

Considerações Finais
Neste trabalho, estudou-se o processo de adsorção da tetraciclina utilizando como adsorvente o carvão ativado granular.
Os resultados indicaram que nas melhores condições estudadas para o processo para uma concentração inicial da tc de 20
mg.l-1 (ph de 4,0; massa de adsorvente 0,3 g; tempo de contato de 90 minutos) foi obtido em média, uma remoção de 92% da
tetraciclina presente em solução. Verificou-se que o modelo de isoterma de redlich-peterson foi mais adequado para o processo
de adsorção nas três temperaturas estudadas, sendo capaz de modelar o comportamento crescente e sutil apresentado pelo
sistema devido às cargas eletrostáticas da molécula de tetraciclina. Visto tudo que foi abordado, com base nos resultados
analisados, pode-se concluir que o carvão ativado granular é um adsorvente promissor para remover tc em soluções aquosas.

Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer à Universidade Federal do Rio Grande do Sul - departamento de Engenharia Química
e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pelo apoio recebido.

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130
5SSS113
ANÁLISE DO POTENCIAL DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA
PLUVIAL PARA UM CENTRO UNIVERSITÁRIO
Fabio Junior Zuanazzi1, Aline Schuck Rech1, Julio Cesar Rech1, Jakcemara Caprario2; Fabiane Andressa
Tasca2; Nívea Morena Gonçalves Miranda2; Alexandra Rodrigues Finotti2
1
Universidade do Contestado – UnC – Concórdia. E-mail: fabio.ti@unc.br; aline.schuck@unc.br; juliocesar@unc.br
2
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. E-mail: jakcemara@hotmail.com; fabitasca@gmail.com;
niveamgm@hotmail.com; alexandra.finotti@ufsc.br

Palavras-chave: Desafios hídricos; Preservação ambiental; Reuso pluvial.

Resumo
A água é um dos elementos naturais essenciais ao desenvolvimento do ser humano, de animais e vegetais, cuja conservação e
preservação pode garantir o bem-estar das futuras gerações. Apesar da água ser um bem público essencial para a manutenção
da vida, este recurso possui pouca valorização do seu potencial de aproveitamento. Pensando nisso, devem-se buscar fontes
alternativas de aproveitamento e reaproveitamentos da água, tema que tem sido cada vez mais estudado no mundo em virtude
do panorama de escassez hídrica em muitas cidades. O aproveitamento da água de chuva mostra-se como destas fontes
alternativas, principalmente em substituição da água potável para fins menos exigentes, possibilitando uma economia
significativa do consumo de água tratada. Nesse contexto na adoção de práticas de reuso de águas pluviais para fins não
potáveis, esta pesquisa analisou o potencial de aproveitamento de água da chuva na Universidade do Contestado (UnC)
localizada no Oeste Catarinense. A região possui precipitação média entre 1800 à 2000 mm por ano, mas está sujeita a
períodos de ausência total de chuvas em decorrência da atuação dos bloqueios atmosféricos. Desta forma, tem-se um grande
potencial para aproveitamento desta água para fins não potáveis. Para o desenvolvimento desta pesquisa foram analisados
dados de precipitação regional e o consumo de água na instituição para verificar o volume a ser suprido e a capacidade de
reservação. Aplicou-se o método de Azevedo Neto e de Simulação para determinação do volume das cisternas. Na sequência
foram verificadas as áreas de telhados aptos para a instalação do sistema coletor de águas pluviais. Ao final da coleta de dados
e cálculos realizados, constatou-se que é possível atingir o volume de demanda de água não potáveis com a atuação constante
do sistema, e por consequência gerar uma economia a partir de R$ 3 mil reais na fatura mensal. Este valor pode ser utilizado
para a modernização dos sistemas hidráulicos do campus, que apresentam muitas rupturas devido ao desgaste das tubulações,
trazendo uma economia de água potável ainda maior. Esta ideia também pode ser replicada nas demais unidades da UnC,
contribuindo para a gestão dos desafios relacionados aos recursos hídricos.

Introdução
A água é um dos elementos naturais essenciais ao desenvolvimento do ser humano, de animais e vegetais, cuja
conservação e preservação pode garantir o bem-estar das futuras gerações. Pensando nisso, devem-se buscar fontes alternativas
de aproveitamento e reaproveitamentos da água, tema que tem sido cada vez mais estudado no mundo em virtude do panorama
de escassez hídrica em muitas cidades. O aproveitamento da água de chuva mostra-se como fontes alternativas e torna-se mais
viável quando o consumo de água não potável é elevado. Desta forma, a água potável pode ser utilizada apenas para fins
nobres (uso humano), sendo substituída pela água pluvial em atividades menos exigentes, como a lavagem de calçadas e
veículos, rega de jardins, plantas ou parques, uso em descargas sanitárias e enchimento de lagoas ornamentais, recreacionais,
dentre outros. Estabelecimentos de maior porte, tais como indústrias, edifícios públicos, escolas e universidades, consomem
notáveis volumes de água potável para fins não potáveis e o reuso pluvial pode fornecer uma economia significativa do
consumo de água tratada, contribuindo também na resolução dos desafios hídricos de abastecimento de água vivenciados por
muitas cidades. Outras vantagens do reuso de águas da chuva incluem a redução do escoamento superficial nas áreas urbanas, a
reservação de água para situações de emergências, o uso mais racional da água potável, a redução do consumo energético
associado à produção, tratamento e distribuição da água potável, bem como a melhoria da preservação ambiental.
Em geral, os projetos de captação de água pluvial podem ser considerados simples. Envolvem sistemas de coletas (calhas
e condutores verticais), filtros para a remoção de impurezas e reservatórios. O dimensionamento para este sistema segue
principalmente duas normativas brasileiras, a NBR 10844/1989 (Instalações Prediais de Águas Pluvias) e NBR 15527/2007
(Água de chuva - Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis - Requisitos). Nesta última NBR
também são apresentados os métodos usuais de dimensionamento, dentre os quais o método de Rippl, método de Azevedo
Neto, método prático Alemão, método prático Inglês, método prático Australiano e o método da Simulação. O método da

131
simulação, de acordo com Pedroni (2013) estima o volume a ser reservado considerando a área de coleta, a precipitação, o
coeficiente de escoamento e uma porcentagem de eficiência, considerando a perda da primeira água pelo sistema de limpeza.
Nesse contexto na adoção de práticas de reuso de águas pluviais para fins não potáveis, esta pesquisa analisou o potencial
de aproveitamento de água da chuva na Universidade do Contestado (UnC), localizada no Oeste Catarinense. Esta região
apresenta importantes volumes de precipitação, mas está sujeita a períodos de ausência total de chuvas em decorrência da
atuação dos bloqueios atmosféricos, afetando de forma negativa a região (LOPES et al., 2012). Desta forma, o reuso de águas
pluviais pode demonstrar alta viabilidade para a universidade, podendo ser replicado para outros tipos de edificações na região.

Material e Métodos
Local de Estudo
Esta pesquisa foi realizada na Universidade do Contestado – UnC, Campus de Concórdia localizada entre as coordenadas
27º13’05”S e 51º59’43”W, com aproximadamente 691m de altitude. A figura 1 ilustra a imagem área e a localização da
instituição no município de Concórdia. De acordo com IBGE (2010), Concórdia possui uma população estimada em 68.621
habitantes, com área de 797 km², precipitação média entre 1800 a 2000 mm por ano, IDH de 0,80 e um PIB estimado de R$
2.165.405,31 (x1000).
A instituição de ensino recebe acadêmicos de toda a região da AMAUC (Associação dos Munícipios do Alto Uruguai
Catarinense). A AMAUC possui 14 municípios associados, envolvendo uma população estimada de 340 mil habitantes. O
campus universitário possui multi instalações, com consumos de água diferenciados em cada prédio, atendendo atualmente a
1023 acadêmicos e 180 funcionários e técnicos. A universidade também fornece serviços à população por meio de clínica de
fisioterapia, Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ), Núcleo de Serviços Psicológicos (NSP) e também o laboratório de prestação
de serviços de qualidade de leite cru. A Tabela 1 apresenta as informações gerais sobre a instituição de ensino.

Tabela 1: Informações gerais sobre a instituição de ensino. Fonte: Autores (2019).


Dados da Instituição Características Informações Gerais
10 edificações, campo de futebol e
Área total construída 40000 m²
estacionamentos
Área de telhado dos 03 blocos Telhas de barro portuguesa 40x24
5921 m²
selecionados cm; fibrocimento 80x240x0,6 cm
Funcionários efetivos (Técnicos
60 46 mulheres 14 homens
Administrativos, estagiários e terceiros)
Funcionários horistas (coordenadores e
120 80 homens e 40 mulheres
professores)
Total de cursos presenciais 2019/1 14 -
Alunos ativos - presenciais 2019/1 1023 -
Total de cursos EAD 2019/1 09 -
34 banheiros masculinos
Total de Banheiros 72 34 banheiros femininos
04 banheiros unissex
Peça com válvula de descarga
Total de vasos sanitários 178
(média 12 L)
Cuba modelo cerâmico padrão
Total de pias nos banheiros 104
volume 5L
Total de mictórios 38 Com válvula de pressão
Total de chuveiros 14 Modelo ducha

132
Figura 1: Localização da Universidade do Contestado. Fonte: GEDEQ (2019).

A definição da elaboração de um projeto de captação pluvial deve-se ao fato do grande volume consumido pela
instituição ao longo dos anos. A instituição possui diversos prédios, com amplas possibilidades de implantação do sistema de
captação de água de chuva. Porém, a seleção da área de implantação do sistema de captação será para três blocos devido tanto
ao elevado fluxo de alunos nestes pontos como também pela facilidade da implantação do sistema nas estruturas já existentes,
as quais foram construídas recentemente.
O sistema de captação de água foi projetado para três blocos (com denominação local de A, C e D). Estes pontos
possuem grande circulação de estudantes e, no caso de implantação do projeto, não haverá necessidade de modificação
estrutural dos telhados, apenas a instalação de calhas e condutos verticais e horizontais para o direcionamento das águas até o
sistema de limpeza e armazenagem. Os três blocos são apresentados na figura 2. As áreas dos telhados do Bloco A, C e D são
2.574,00 m², 1.187,00 m² e 2.160,00 m², respectivamente.

133
Figura 2. Localização dos blocos para implantação do sistema de captação do sistema pluvial. Fonte: Adaptado do
Google (2019).

A tabela 2 traz as informações gerais das áreas em que será projetado o sistema de captação de água pluvial.

Tabela 2: Características gerais dos blocos selecionados para o dimensionamento do sistema pluvial. Fonte: Autores
(2019).
Bloco A Bloco C Bloco D
Área geral do prédio 5.314,63 m² 2.785,12 m² 4.893,30 m²
Área do telhado 2.574,00 m² 1.187,00 m² 2.160,00 m²
Total de acadêmicos 514 45 464
Total de Banheiros 06 08 14
Total de vasos
21 44 48
sanitários
Total de pias nos
18 20 38
banheiros
Total de mictórios 10 08 15

Ao total, esses blocos possuem 113 vasos sanitários, 76 pias e 33 mictórios. Isso representa 63% dos vasos sanitários,
73% das pias e 87% dos mictórios operantes na universidade. Atualmente, as peças sanitárias são as principais consumidoras
de água, no total são 334 unidades. Em média, um vaso sanitário utiliza 12 L por descarga nos modelos mais antigos e 6 L nos
modelos mais novos, com a modernização da peça e válvulas. Já as pias utilizam de 200mL a 1L de água para cada vez que é
acionada, de acordo também com o modelo e a pressão da tubulação. Essas medidas foram obtidas após testes de acionamento
em diferentes pias da área de estudo. Já os chuveiros utilizam em torno de 15 L/min. Esses consumos oscilam de acordo com o
tempo de utilização e também do funcionamento da válvula e a vida útil da peça. As seguir são apresentadas as características
dos blocos selecionados.
- Bloco A possui 45 salas de aula e cerca de 550 acadêmicos e professores, além destas salas há também a clínica de
fisioterapia, que consome semanalmente cerca de 750L de água em um equipamento chamado turbilhão resultando em 3000L
mensais, e o laboratório de concreto que utiliza água para preparação de materiais e limpeza do local, onde não foi possível
estimar o consumo.
- Bloco C é composto por 5 laboratórios e o centro de informática, biblioteca, laboratórios de rádio e televisão e o
auditório principal com capacidade para 270 pessoas. Diariamente as salas de informática são utilizadas por aproximadamente
45 acadêmicos e professores, a biblioteca é utilizada por acadêmicos de todos os blocos, já a utilização do restante da estrutura
depende da ocorrência de eventos não contabilizados.
- Bloco D possui 27 salas de aula que são utilizadas por cerca de 500 acadêmicos e professores, Núcleo de Psicologia
(NSP), Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ), rádio UnC 106.3 Fm., coordenações dos cursos de Direito, Pós-graduação e

134
Mestrado, e também os laboratórios de análise de qualidade de leite, e, pesquisas em alimentos e água, que no momento está
em desuso. O laboratório de leite utiliza além dos banheiros, aproximadamente 150L por dia em suas cubas de aquecimento de
amostras resultando em 3000L mensais.

Análise e procedimento adotado


Para o desenvolvimento deste projeto foi necessário verificar a disponibilidade pluviométrica regional e comparar com o
consumo das instalações gerais do campus. A disponibilidade pluviométrica foi obtida através do histórico disponibilizado pela
EMBRAPA Suínos e Aves, de Concórdia, no período de 2015 a 2018 (Tabela 3). Observa-se que a média mensal de
precipitação foi semelhante para todos os anos, o que mantém a garantia de armazenamento do volume estimado da
cisterna/reservatório para todos os anos. As chuvas de verão são mais intensas na região, o que permite maior reservação de
água nesse período. O ano de 2015 apresentou uma média mensal superior aos demais, desta forma, volumes excedentes
podem ser armazenados ou descartados.

Tabela 3. Informações sobre precipitação local e consumo de água pela instituição. Fonte: Autores (2019).
DADOS DA EMBRAPA CASAN
Precipitação média mensal Consumo médio mensal
Ano
(mm) (m³)
2015 231,00 392
2016 158,00 500
2017 159,00 1036
2018 144,00 830

O histórico de consumo de água da instituição foi disponibilizado pela CASAN (Companhia Catarinense de Água e
Saneamento), concessionária local de tratamento de água. Os dados analisados da instituição também são referentes ao período
de 2015 a 2018 são apresentados na figura 3.

Figura 3: Consumo mensal de água potável pela instituição nos últimos 04 anos. Fonte: Autores (2019).

O consumo de água potável em 2017, a partir de março superou o valor médio mensal de 1.000m³, muito acima dos
valores dos anos anteriores. O ano de 2018 apresentou a maior variação no consumo de água entre os meses, sendo que, o
volume consumido de maio para junho tem uma queda expressiva, e em julho ocorre o aumento do consumo, voltando a
reduzir em setembro, mantendo-se até dezembro. Uma possível causa desse elevado consumo e variação da água está
relacionada às constantes interrupções no abastecimento municipal. Após as interrupções, o retorno da água pelas tubulações
empurra o ar acumulado, sendo contabilizado no hidrômetro como se fosse a água entrando no sistema do campus. Um
segundo problema ocasionado pelo ar na tubulação é o rompimento da mesma devido ao excesso de pressão. Com o
rompimento da tubulação, a água é desperdiçada, sendo que por vezes o conserto da ruptura é demorado. Não menos
importante, são os problemas com válvulas e outros sistemas presentes que vão se desgastando de acordo com a frequência de
utilização e tempo de instalação.
Após a verificação do consumo na instituição e a disponibilidade hídrica, apresentam-se os cálculos necessários para
execução deste artigo. Foram utilizadas duas normativas brasileiras especificas para a elaboração dos cálculos para o

135
dimensionamento do sistema de captação e da cisterna. Na tabela 4 são apresentadas as equações necessárias para o
dimensionamento dos coletores verticais e horizontais, e o volume de cisterna do sistema. As equações foram extraídas das
NBR 10844/89 e 15527/07.

Tabela 4: Fórmulas utilizadas no dimensionamento do sistema. Fonte: Autores (2019).


Definições Equações Unidade/medida
A = área de coleta de projeção (m²);
Vazão de projeto
C = Coeficiente de escoamento superficial da cobertura;
Equação de i = declividade da calha (m/m);
Manning-Strickler K = 60.000;
Equação de n = Coeficiente de rugosidade;
V= 0,042 x P x A x T P= precipitação medial anual (mm);
Azevedo Neto
Q =Vazão de projeto (L/min);
Método de V= A x P x C x η fator de S =área da seção molhada (m2);
Simulação captação Rh = raio hidráulico (m);
V= volume de água aproveitável e/ou volume de água
do reservatório (L);
Equação de Chuva T= número de meses de pouca chuva ou seca;
intensa para o η fator de captação = eficiência do sistema de captação,
município de Para 5≤ t ≤ 120 minutos levando em conta o dispositivo de descarte de sólidos e
Concórdia o desvio de escoamento inicial, caso este último seja
utilizado.

Resultados e Discussão

Estima-se que a cada acadêmico e professor vá ao banheiro ao menos uma vez por período de aula, gerando um consumo
de 12L de água para uma descarga do vaso sanitário. Isto resulta em 13.200L (13,2m³) de consumo diário para as 1100
pessoas, considerando apenas o consumo de água nos blocos selecionados (A, C e D), de segunda a sexta feira e durante 20
dias de um mês. O consumo total de água ao mês resulta em 264.000L (264m³) de consumo apenas nos vasos sanitários. Para a
utilização nas pias de lavação esta água deve passar por tratamento e cloração. Portanto o volume total estimado de consumo
nestes 3 blocos pode atingir os 300m³, somando o consumo dos vasos sanitários, limpezas e os demais consumidores.
Inicialmente, foram desenvolvidos os cálculos para o dimensionamento de cisternas. Utilizando a fórmula de Azevedo
Neto é possível chegar ao volume mínimo de cisterna necessário para atender a um período sem precipitação, a variável T da
equação que se refere ao tempo em meses sem chuva ou com seca, foi desprezada, pois na região de estudo ocorre chuvas com
frequência e volume mensal com um bom potencial de aproveitamento, logo, esse volume determinado pela equação de
Azevedo Neto estipula o volume considerando a chuva distribuída no mês.
Para estimar o volume total que pode ser coletado pelo sistema, foi utilizado o método de simulação, empregando
coeficiente de escoamento igual a 0,8 e eficiência do sistema igual a 85%, ou seja, 15% do volume coletado é referente às
primeiras águas (First flush), responsável pela limpeza do telhado e sistema de coleta. Para estas duas situações, foi utilizado
144mm de precipitação, correspondente a média do ano de 2018, estes resultados estão apresentados na tabela 5.
A precipitação utilizada para a vazão de projeto e, dimensionamento de calha e condutos foi de 112,88mm/h, obtida
através da equação de chuvas intensas do município de Concórdia, indicando um período de 12 minutos de precipitação
intensa, apresentada na tabela 4. Para cálculo para dimensão de calha e conduto vertical adotou-se, uma descida a cada 12m de
distância, sendo a pior situação que poderia haver.

Tabela 5: Resultados de dimensionamentos para os blocos. Fonte: Autores (2019).

136
Características Bloco A Bloco C Bloco D
Área de coleta (m²) 2.574 1.187 2.160
Vazão de Projeto (L/min) 3.874 1.786 3.250
Dimensão de calha Semicircular ᴓ 100mm ou retangular 15x10cm
Comprimento de calhas (m) * 240 m 100 m * 200 m
Diâmetro de conduto
- 100 -
Vertical (mm)
Condutores verticais para os
20 14 18
dois lados do bloco (m)
Volume mínimo de cisterna -
38
Azevedo Neto (m³)
Volume mensal coletado -
579
Método de Simulação (m³)
* Refere-se implantação de calhas e condutores verticais para os dois lados do prédio.

Utilizando o dimensionamento de Azevedo Neto disponível na NBR 15527/07, observa-se que o volume dimensionado
para o reservatório é de 38m³. Porém o volume resultante calculado supre apenas 3 dias de consumo, assim é indicado que seja
instalado volume para atender ao menos 10 dias de consumo, para isso é necessária a instalação de cisternas que comportem
em torno de 150m³. De forma a atender a demanda dos 10 dias, pode ser adotado o volume 140m³, utilizando 7 caixas de 20m³
de armazenamento, as caixas de 20m³ são amplamente utilizadas para este fim pois são encontradas com maior facilidade para
comércio, estendendo-se para um maior período caso o volume de cisterna for maior ou o consumo seja diminuído.
Para o outro método, o de Simulação o volume calculado foi de 579m³, muito superior ao dimensionado utilizando a
equação de Azevedo Neto. O método de Simulação prevê o volume acumulado total mensal. O volume de captação pode ser
diluído e armazenado em várias caixas de águas que podem ser instaladas próximas das áreas de consumo. A adoção de vários
pontos de armazenamento poderá reduzir a aplicação de tubulação condutora de água deixando de causar transtornos voltados
a obras no campus.
A figura 4 demonstra a possível locação para as cisternas, bem como os locais onde necessita a instalação de calhas de
coleta e os dutos horizontais. O bloco C é o único onde já estão executadas as calhas e os condutos verticais. Os locais para as
instalações das cisternas são próximo ao bloco A e próximo ao bloco D, ocupando espaços que não são utilizados para
estacionamentos, aulas e/ou outros fins acadêmicos. Após o armazenamento, é necessário o bombeamento da água até as
caixas já instaladas na parte superior dos blocos, e a alteração do abastecimento das pias dos banheiros e dos bebedouros
locados próximo ás salas de aula.

Figura 4. Localização das calhas, condutos horizontais e caixas de armazenamento. Fonte: Autores (2019).
Antes da reservação da água pluvial nas caixas, é necessária a instalação de filtros para remoção de impurezas.
Atualmente no mercado comercial há modelos simples que permitem a remoção de materiais grosseiros, antes da água ser
armazenada. Outra possibilidade é a instalação de um filtro simples, composto por uma caixa d’água com britas de diferentes
tamanhos. Pela localização dos prédios, os principais poluentes estão relacionados com poeiras e fezes de pássaros. Ambos os
métodos de filtragem sugeridos nessa pesquisa possuem baixo custo. Há também a necessidade de instalação de um dispositivo
de desinfecção por cloro, ozônio ou ultravioleta.

137
Outra situação que deve ser avaliada futuramente é o orçamento dos materiais necessários e os demais projetos para
execução do sistema, para então avaliar o real custo de implantação e após a implantação, a redução na tarifa paga a
concessionária. Na figura 6 é possível verificar que no ano de 2018, em apenas 02 meses o volume útil que poderia ser
coletado, ficou abaixo da linha de 300m³. O volume reservado pode ser direcionado para o consumo dos banheiros, clínica de
fisioterapia, laboratório de leite e demais gastos com limpeza dos blocos utilizados. Utilizando a faixa de tarifa cobrada pela
concessionaria, que inicia a partir dos 50m³ e tem valor de R$10,7866/m³ para edificações de cunho público, é possível estimar
um valor acima de R$3.300,00 com a utilização constante do sistema suprindo os 300m³ demandados ou mais.

Figura 5: Volumes de captação em relação à precipitação de 2018. Fonte: Autores (2019).

Considerações Finais

O intuito da elaboração deste trabalho foi investigar o potencial de coleta e aproveitamento de águas pluviais em 03
edificações do campus da UnC Concórdia. O projeto quantificou que o volume mínimo de cisterna deve ser de 38 m³, o que
supriria até 03 dias do consumo, estendendo para um período maior com o aumento deste volume, já o método de simulação
propôs o volume total que o sistema pode captar durante um mês utilizando toda a área de telhado considerada. Este volume
pode gerar uma economia acima de R$3 mil reais mensais com o funcionamento constante do sistema.
Recomenda-se que para futuros estudos na área, seja feito o levantamento orçamentário do sistema, e projetos
complementares de contemplam as instalações de coleta e distribuição da água, que não foram realizados neste trabalho. Após
melhor detalhamento e previsão dos custos, pode-se executar o projeto e expandi-lo para o restante da estrutura do campus
para que não necessitam de água potável. Os resultados evidenciaram que a implantação de um sistema de coleta e reutilização
acarreta em um montante considerável de economia de água tratada e, consequentemente, os valores respectivos podem ser
utilizados na melhoria da infraestrutura, como na renovação de equipamentos desgastados e desatualizados que consomem
bastante água. Esta ideia também pode ser replicada nas demais unidades da UnC, contribuindo para a gestão dos desafios
relacionados aos recursos hídricos.

Agradecimento

Os autores agradecem a Universidade do Contestado - UNC pela concessão dos dados necessários para exceção desta
pesquisa e também a Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior - CAPES, pela concessão bolsas de
pesquisas em nível de mestrado e doutorado concedidos a Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

138
Referências Bibliográficas

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10844: Instalações prediais de águas pluviais. Rio de
Janeiro, 1989.

______. NBR 15527: Água de chuva - Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis - Requisitos.
Rio de Janeiro, 2007.

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Acesso: 04/06/2019. Disponível:


http://www.cnpsa.embrapa.br/meteor/

Hagemann, S. E.; (2009). Avaliação da qualidade da água da chuva e da viabilidade de sua captação e uso. Dissertação de
Mestrado em Engenharia Civil, Recursos Hídricos, da Universidade Federal de Santa Maura – UFSM. Santa Maria – RS, 141p.

Lopes, A. R. D. B. C., Scheibe, L. F., & Pellerin, J. R. G. M.; 2012. Aspectos Socioambientais e Gestão dos Recursos Hídricos
na Bacia do Rio do Peixe/SC. Águas Subterrâneas, pp. 1-4.

Pedroni, G. P.; (2013). Aproveitamento de água da chuva em uma escola pública de Caxias do Sul. Trabalho de Conclusão
de Curso – TCC apresentado ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS,
86p.

Prefeitura Municipal De Concórdia (2013). Plano Municipal de Saneamento Básico – PMSB. 901 p. Acesso: 02/04/2019.
Disponível: https://concordia.atende.net/#!/tipo/pagina/valor/97

Tomaz, P.; (2007). Aproveitamento de água de chuva em áreas urbanas para fins não potáveis.6º Simpósio Brasileiro de
Captação e Manejo de Águas de Chuva. Belo Horizonte – MG, 24p.

139
5SSS114
O PAPEL DOS INSTRUMENTOS URBANÍSTICOS NA PROMOÇÃO
DA SUSTENTABILIDADE DA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL
NO BRASIL
Cristina Maria Correia de Mello1, Maria do Carmo de Lima Bezerra2
1Universidade de Brasília, e-mail:cristina.mello.cmc@gmail.com; 2Universidade de Brasília, e-mail:
macarmo@unb.br

Palavras-chave: Habitação de Interesse Social; Habitação sustentável; Instrumento urbanístico.

Resumo
A habitação é vista como um dos elementos indispensáveis para a conquista do direito à cidade sustentável que tem se
colocado como objetivo dos Planos Diretores urbanos no país. A discussão sobre o que vem a ser uma habitação sustentável,
tem ocupado pouco espaço na vasta literatura urbanística sobre sustentabilidade, dando a entender que o provimento de
moradia, seja em que condições ocorra, já atenderia a necessidade habitacional e, por decorrência, os objetivos de
sustentabilidade estariam sendo alcançados. A discussão que traz o artigo se remete à dificuldade de transpor os conceitos de
sustentabilidade para interpretação e aplicação dos instrumentos urbanísticos introduzidos pelo Estatuto da Cidade, que se
aliam com a promoção de habitação sustentável, procurando identificá-los e associando a qual dimensão da sustentabilidade
eles remetem. Parte-se da leitura e contraposição entre os conceitos teóricos de cidades sustentáveis e dos instrumentos
urbanísticos capazes de promover condições de uso e ocupação do solo que propiciem diversidade social e de perfis de famílias
na cidade, garantindo a todos o aceso aos serviços e equipamentos urbanos. Apesar dessas dimensões se remeterem a análises
de diferentes campos disciplinares, o recorte aqui será o do ordenamento territorial. A experiência brasileira de moradia social
dos conjuntos habitacionais é discutida para verificar que tipos de uso de instrumentos urbanísticos os ampara e quais
resultados em termos de sustentabilidade alcançam. Para tal, foram analisados os instrumentos urbanísticos: Zonas Especiais
de Interesse Social - ZEIS de vazio; Operações Urbanas Consorciadas - OUC e Outorga Onerosa do Direito de Construir –
OODC, como prováveis instrumentos capazes de promover os atributos que favorecem a sustentabilidade das habitações. Por
fim, para verificar a efetividade, foram estudados os casos de ZEIS de vazio no Distrito Federal-DF, OUC no município de São
Paulo e a OODC em Palmas. Como resultado, pôde-se observar que existe potencial de adoção dos instrumentos para criação
de zonas de habitação de interesse social em condições de melhor inserção no tecido urbano, mas que a sua aplicação ainda
vem ocorrendo subordinada aos interesses imobiliários de maior rendimento do solo, dificultando a adoção dos instrumentos a
serviço de uma política habitacional consistente, inclusiva e diversificada em busca da sustentabilidade.

Introdução
Durante vários anos, a concepção de desenvolvimento urbano esteve desvinculada da ideia de proteção ambiental. Somente a
partir da década de 1980 começou a ser desenvolvido o conceito de sustentabilidade, que passou a priorizar um
desenvolvimento que harmonizasse os aspectos sociais, econômicos e ambientais. Nesse contexto, se passa a discutir os
atributos da cidade sustentável associando a apregoada qualidade de vida da população, sempre dito como objetivo do
planejamento urbano, a práticas eficientes voltadas para a melhoria do desenvolvimento econômico e preservação do meio
ambiente. (RUEDA, 2000 e ROGERS, 2001).
No Brasil, principalmente nas metrópoles, a construção de complexos habitacionais de interesse social está muitas vezes
disposta no território de forma desintegrada ao contexto da cidade, atendendo a um grupo pré-determinado da população
(geralmente definido pela renda familiar), sem infraestrutura básica de comércios e serviços essenciais, transporte e lazer,
cercada de espaços vazios e/ou subutilizados. Em muitas cidades inexiste uma associação entre os instrumentos de gestão
urbana e a política habitacional, o que leva a pensar a habitação como uma edificação. Faltam assim, elementos básicos que
corroborem para a configuração de um provimento habitacional sustentável, com foco na habitação de interesse social, o que
torna necessária a busca de parâmetros que possam contribuir para a sua sustentabilidade.
Decorre da prática acima apontada, o processo de segregação dos conjuntos habitacionais que leva à fragmentação do tecido
urbano, gerando cidades dispersas e a exclusão social da população de baixa renda. Uma cidade dispersa é criticada, sobretudo,
da perspectiva da ecologia, considerando que as mobilidades centro/periferia colocam em risco a sustentabilidade urbana e
diminuem a eficiência econômica das cidades. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005)
Diante do exposto, este artigo objetiva analisar se a experiência nacional mais recorrente de habitação social atende ao conceito
de sustentabilidade, mostrando caminhos por meio da utilização de instrumentos para que as formas de provimento
habitacional possam contribuir para a construção de um novo paradigma de desenvolvimento urbano.

140
Metodologia
A metodologia utilizada se inicia a partir da revisão literária dos principais conceitos sobre o tema, destacando atributos e
instrumentos necessários para o alcance da qualidade de vida nas cidades, considerando como base pesquisa bibliográfica onde
se destacam autores como: RIBAS, 2003; ROGERS & GUMUCHDJIAN, 2001; SACHS, 2002; SANTOS & HARDT, 2013; e
TUDELA,1997.
Buscou-se uma construção de um conjunto de características recorrentes nos estudos sobre cidades sustentáveis, quando se
adotou aqueles afetos às cidades resilientes e cidades compactas, por responderem aos aspectos pelos quais perpassam o
conceito de sustentabilidade social e ambiental, que de algum modo, melhor se adequam às ações de natureza do planejamento
urbano.
Os atributos de sustentabilidade das cidades compactas e resilientes foram correlacionados aos instrumentos urbanísticos
capazes de auxiliar na sua obtenção, ou seja, no ordenamento territorial, dentre elas a alocação da habitação nas cidades. As
informações encontradas foram sistematizadas em quadros de análise com o intuito de, tanto apoiar a avaliação, quanto
subsidiar novas configurações urbanas promotoras de moradia sustentável.
Posteriormente, foram escolhidos casos de estudo onde considerou os instrumentos urbanísticos selecionados a fim de verificar
sua eficiência no provimento da habitação sustentável. Após a análise dos resultados, foram procedidas estratégias e
recomendações para as contribuições dos estudos das políticas públicas de provimento da moradia de baixa renda no Brasil.

Discussão e Resultados
Os estudos teóricos sobre sustentabilidade indicam que as características necessárias para a criação de habitações mais
sustentáveis, considerando os parâmetros de cidades resilientes e compactas, estariam relacionadas ao provimento da moradia
em um contexto de diversidade social e de usos do solo, evitando a segregação e proporcionando um espaço dotado de
serviços, equipamentos sociais e atividades econômicas que seja facilitador do acesso da população à toda cidade. Diante do
avanço da concepção de sustentabilidade, aumentam as críticas das formas que tradicionalmente vem sendo utilizadas para
provimento da habitação social no Brasil, sendo necessário verificar quais instrumentos e medidas as habitações podem se
utilizar para alcançar a forma mais eficiente de sustentabilidade.
O direito a cidades sustentáveis foi introduzido no Brasil em 2001 por meio da Lei n°10.257/01 – Estatuto das Cidades, quando
se refere ao direito à cidade e ao papel social da propriedade. Assim, pode-se inferir que, ao introduzir o direito à moradia em
seu Art. 2°, não estaria falando apenas de um tipo de moradia ou do exclusivo acesso à casa própria, mas sim, que a moradia
seja um dos elementos indispensáveis para o direito à cidade sustentável assegurada as necessidades das pessoas referenciadas
na qualidade de vida e na justiça social. É certo que essa visão significa um grande avanço sobre o que se considerava antes a
cidade, mas deve-se levar em conta que no Estatuto a visão de sustentabilidade ambiental é reduzida, dado que sua ênfase está
na sustentabilidade social ( RIBAS,2003).

Instrumentos passiveis de facilitar a alocação de áreas de habitação de interesse social nas cidades
O estudo dos instrumentos do Estatuto considerou aqueles que possuem a capacidade de flexibilização de parâmetros de uso e
ocupação do solo, com possibilidade de favorecer áreas para alocação de habitação social melhor localizada na cidade. Se
destacou: Zonas Específicas de Interesse Social – ZEIS de vazios, Operações Urbanas Consorciadas - OUC e Outorga Onerosa
do Direito de Construir - OODC. As ZEIS de vazio são capazes de permitir habitações em áreas mais bem localizadas na
cidade, dotadas de infraestrutura urbana essencial para a população por poderem se antecipar a uma ocupação que torne essas
áreas proibitivas do ponto de vista econômico; já as OUCs, trabalham com a possibilidade de modificação de índices e
características do uso e ocupação do solo, com alterações edilícias e a concessão de incentivos para as operações que visem a
constituição de um tecido urbano de mix social; e, as OODC, dispostas no Plano Diretor de cada município, onde pode fixar
áreas para aumento do coeficiente de aproveitamento básico mediante contrapartida do beneficiário, considerando a
infraestrutura da área e o aumento da densidade esperada, possibilitando incentivos para a habitação social. A questão, porém,
é como aplicar esses instrumentos de forma eficiente para a cidade.
Esses instrumentos possuem suas características em separado, mas podem ser utilizados em conjunto, potencializando os
atributos esperados para as áreas onde serão alocadas habitações de interesse social. As ZEIS, assim como, também, as OUCs,
se utilizadas com foco na ideia de promover uma estrutura urbana mais sustentável, podem proporcionar melhor mobilidade
com incentivo ao transporte ativo (bicicleta, pedestre), resultando na redução do número de viagens pelos transportes
automotores e consequente redução da emissão de poluentes. Para os atributos de criação de políticas habitacionais no centro,
ou em outras centralidades na cidade, se pode gerar uma estrutura urbana multifuncional com empregos, equipamentos
públicos e serviços distribuídos pelos diversos bairros da cidade.
A título de exemplo de como esses instrumentos melhores poderiam ser utilizados para gerar esses atributos na estrutura
urbana, pode citar que:
Em relação as ZEIS de vazio, para que se constituam numa reserva de terras de caráter sustentável, é preciso que sigam alguns

141
critérios: (a) as áreas vazias ou subutilizadas devem possuir infraestrutura e equipamentos públicos adequados; (b) as áreas
devem ser de fácil integração às condições existentes no entorno, com boa localização e inserção urbana, e deve primar pela
preservação de atributos ambientais significativos; (c) deve possuir segurança geológica e geotécnica; (d) não possuir
restrições à ocupação e à regularização; (e) permitir diversidade de classes sociais; (f) garantir diversidade de usos, com
variedade nas formas e dimensões do parcelamento; (g) incentivar o processo de participação da população; (h) possuir
autonomia na determinação de regras de parcelamento, uso e ocupação do solo compatíveis com habitação de interesse social;
(i) áreas com porcentagem mínima destinada à HIS variando de 70 a 80%, podendo o restante ser de livre comercialização; (j)
permitir o acesso aos transportes púbicos; e (k) possuir planejamento compartilhado entre as várias esferas do governo.
Tem sido estudado que, para uma adoção desse instrumento de forma efetiva, deve-se adotar alguns índices, quais sejam: (i)
Qualidade de Vida Urbana – IQVU, composto por indicadores que qualificam o território em termos de acesso à serviços, meio
ambiente, infraestrutura, equipamentos e segurança; (ii) avaliação da inserção urbana; (iii) distância para os equipamentos
públicos e de lazer. Esses critérios locacionais contribuem, de forma a garantir, não só a unidade habitacional, mas a moradia
no conceito amplo do acesso à cidade;

Para as OUCs, é essencial que se defina o polígono de sua aplicação e especifique a finalidade das transformações estruturais,
melhorias sociais e ambientais estabelecidas pelo planejamento da área. Em todas as situações, mas, em especial se o objetivo
é contemplar na área habitação de interesse social, alguns critérios devem ser contemplados a saber: (a) ter em conta as
transformações que a dinâmica da cidade necessita para que a área ocupe esse espaço; (b) definição de mecanismos
urbanísticos que orientem a ação do mercado produtor imobiliário na direção do desenvolvimento urbano pretendido; (c)
definir estoque de potencial adicional de construção reservado e vinculado à unidade habitacional de interesse social; (d)
padrões urbanísticos em consonância com a previsão do mix de rendas a ser atendido; (e) aumento do potencial construtivo do
lote, coeficiente de aproveitamento e/ou mudanças de uso de seus terrenos, de modo a viabilizar os capitais privados e atender
aos objetivos do planejamento; (f) planejar o produto a ser disponibilizado, considerando preço/ qualidade do produto e o
posicionamento do setor econômico frente ao mercado alvo; (g) associação entre o projeto urbano e a gestão. Em relação às
áreas de habitações, deve-se ainda: (h) prever a proximidade das redes de transportes, centros de compras e serviços,
equipamentos educacionais e de lazer e locais com concentração de empregos; (i) fixar as dimensões máximas e mínimas das
unidades habitacionais e o número de banheiros e vagas de garagem que possa garantir, ou não, a formatação de
empreendimentos para as várias faixas de renda; (j) aplicação da cota máxima de coeficiente, que pode vir acompanhado de
uma diversificação das dimensões das unidades, resultando numa variedade de produtos formatados para diferentes públicos; e
(k) adensamento populacional com diversidade de renda.
Deve-se ainda ter em conta que o sucesso da operação é dado pelo volume de recursos que ela pode gerar e pela quantidade de
infraestrutura que ela é capaz de implantar com os recursos obtidos por meio da venda de Certificados de Potencial Adicional
de Construção – CEPAC. As ações são estabelecidas com a ajuda de exceções à Lei de Uso e Ocupação do Solo- LUOS,
concedidas pelo poder municipal, que favorece a adesão consorciada por meio do: (a) direito adicional de construir; (b)
regularização e construções, (c) reformas e/ou ampliações. O empreendedor arca com contrapartidas, financeira ou não, para
usufruir dessas exceções ou benefício. O poder público utiliza essa arrecadação de recursos para investir em ações de
estruturação, configuração, qualificação e melhoria urbana das áreas definidas para atuação da OUC, segundo um
planejamento previamente aprovado. Levando sempre em consideração que se trata de uma parceria público-privada, para que
a OUC obtenha maior alcance ambiental, urbanístico e social é preciso: (i) fugir da armadilha arrecadatória e da lógica
tributarista e/ou especulativa que muitas vezes acabam se sobrepondo às decisões e interesses públicos; (ii) garantir a
recuperação e distribuição da mais-valia gerada pelo próprio investimento público, e, assim, regular distorções de valorização
fundiária e/ou imobiliária geradas por esses mesmos investimentos; (iii) promover, sob controle social, formas de ocupação
mais intensa, qualificada e inclusiva do espaço urbano, articuladas à medida que racionalizem e democratizem a utilização das
redes de infraestrutura e o acesso aos equipamentos sociais, inclusive solo urbanizado, habitação e meio ambiente.

Para as OODC, existem alguns mecanismos básicos que contribuem para o seu êxito na promoção de espaços que respondam
aos atributos de sustentabilidade urbana e habitacional que foram aqui apresentados, como: (a) lei de zoneamento, indicando as
zonas que poderão trabalhar acima do coeficiente único, considerando a infraestrutura existente; (b) possibilidade do particular
transferir o seu direito de construir não utilizado até o limite do coeficiente único; e (c) a manutenção da proporção entre os
solos públicos e privados, constituindo na concessão onerosa acima do coeficiente único por meio de doação de áreas ao poder
público ou do equivalente em dinheiro.
O instrumento visa o controle do adensamento pelo poder público, e que esse, quando ocorra, se dê nos termos do interesse
coletivo e com a restauração do equilíbrio entre imóveis de uso público e uso privado. A outorga não precisa, necessariamente,
ser aplicada na sua zona objeto de trabalho. Ademais, a onerosidade da outorga possibilita a redistribuição das mais valias do
processo de urbanização das cidades, permite a recomposição do equilíbrio de áreas de uso público e particular, possibilita a
sustentabilidade das cidades, o controle da densidade construtiva, promove a redistribuição das oportunidades imobiliárias na
cidade e contribui para o combate da especulação imobiliária. (OLIVEIRA, 2015).
Para a adoção de qualquer um desses instrumentos é preciso que eles estejam definidos no Plano Diretor do município, que é o

142
direcionador da política de desenvolvimento urbano a ser seguida, no qual serão expostos os parâmetros indispensáveis à sua
aplicação.

Avaliação da aplicação dos instrumentos urbanísticos estudados.


Para cada um dos instrumentos analisado foi estudado um exemplo de sua aplicação com o intuito de observar a eficiência de
seu emprego no que tange ao objetivo pretendido no planejamento de sua definição. Para as ZEIS de vazio foi utilizado o caso
do Distrito Federal, para a OUC foi empregado o caso de São Paulo e para as OODC foi analisado o exemplo de Palmas.

Exemplo de ZEIS de vazio, no Distrito Federal.


No Plano Diretor de Ordenamento Territorial- PDOT do DF foram selecionadas 13 áreas1 ainda não ocupadas, dispostas em
toda extensão do Distrito Federal, com capacidade para atendimento de aproximadamente 105 mil famílias, conforme Figura 1.
(SEGETH, 2017).

LEGENDA:
Oferta de áreas habitacionais aaaaaaaa
Oferta de áreas habitacionais estudadas
Figura 1: Áreas definidas nas Estratégias de Regularização Fundiária (PDOT) e de Oferta de Áreas Habitacionais no DF. Fonte:
PDOT.2009.

A avaliação considerou a inserção das poligonais destinadas à habitação pelo PDOT tendo em conta alguns critérios que são
consoantes com o que foi identificado anteriormente para uma localização habitacional sustentável, como: (i) proximidade com
o tecido urbano já existente; (ii) presença de infraestrutura e (iii) proximidade de centralidades urbanas, ou seja, que tenham
acesso a empregos e serviços. Das 13 áreas estudadas foi observado que apenas uma delas atende a esses critérios que aqui se
chamará de `integrada à estrutura urbana consolidada`. Três áreas podem ser consideradas significativamente integradas, 5 são
significativamente segregadas e 6 áreas são segregadas (SEGETH, 2017). De acordo com a Figura 2, podemos observar como
exemplo as áreas: Cana do Reino I (Região Administrativa - RA Vicente Pires), Crixá (RA São Sebastião), Etapa 4 do Riacho
Fundo (RA Riacho Fundo II) e Áreas Livres QNJ de Taguatinga ( RA Taguatinga)

1
As áreas selecionadas no Caderno de ZEIS da SEGETH são: Áreas Livres QNJ Taguatinga (RAIII); Áreas Livres Água
Quente (RA XV); Áreas Livres Nova Colina (RA V); Área DER (RA V); Áreas Livres Mestre D´armas – Grotão (RA VI);
Cana do Reino I (RA XXX); Cana do Reino II ( RA XXX); Quadras 9, 11, 13 e 15 (RA XVII); Vargem da Benção Qd. 117 e
118 ( RAXV); QNR 06 (RA IX); Etapa 3 Riacho Fundo II (RAXXI); Vargem da Benção (RAXVI) e Setor Meireles (RAXIII).

143
Áreas Livres QNJ – RA III Etapa 4 Riacho Fundo II – RA Crixá – RA XIV São Sebastião
Cana do Reino 1 – RA XXX –
Taguatinga XXI Riacho Fundo II (SIGNIFICATIVAMENTE
Vicente Pires
(INTEGRADA) (SIGNIFICATIVAMENTE SEGREGADA)
(SEGREGADA)
INTEGRADA)
Figura 2: Mapa de conectividade de alguns exemplo das áreas estudadas para habitação de interesse social. Fonte: Caderno ZEIS
SEGETH 2017.

Mesmo sem essas áreas terem sido ocupadas em sua integralidade, tendo em conta a avaliação de sua localização desfavorável,
novos estudos para demarcação de ZEIS vazias foram procedidos pelo GDF. Assim, quando da definição de áreas para o
Programa Habitacional - Habita Brasília foram selecionadas mais 8 áreas2, visualizadas na Figura 3. Utilizando os mesmo
critérios anteriores pode-se afirmar que dessas, 5 áreas são integradas e 3 áreas relativamente integradas. Vale destacar que,
como o Distrito Federal possui muitas áreas de fragilidade ambiental, essas áreas consideraram para sua definição as diretrizes
do Zoneamento Econômico Ecológico – ZEE, ponderando tanto a diversificação produtiva quanto os condicionantes
ambientais. Figura 2.

Quadras 100 ímpares – RA XII


QNL Taguatinga – RAIII Subcentro Recanto das Emas - Residencial Pipiripau – RA
Samambaia
Taguatinga RA XV Recanto das Emas VI Planaltina
(CONECTADA)
(CONECTADA) (CONECTADA) (CONECTADA)

Quadras 19 e 20 de
Vargem da Benção – RA XV Bonsucesso – RA XIV São
Subcentro Recanto das Emas - Sobradinho – RA V
Recanto das Emas Sebastião
RA XV Recanto das Emas Sobradinho
(SIGNIFICATIVAMENTE (SIGNIFICATIVAMENTE
(CONECTADA) (SIGNIFICATIVAMENTE
CONECTADA) CONECTADA)
CONECTADA)
Figura 3: Mapa de conectividade. Exemplo das áreas do Habita Brasília para criação de ZEIS de vazios. Fonte: Caderno ZEIS
SEGETH 2017.

A preocupação quanto à conectividade das áreas é essencial para o combate à exclusão social. A falta de conectividade com o
tecido urbano constituído dificulta o acesso à serviços básicos para a população, como infraestrutura de transporte e
abastecimento e rede de serviços públicos essenciais. Assim, observa que os critérios locacionais que devem ser obtidos para
que a ZEIS de vazio se constitua em reserva de terras sustentáveis nem sempre foram atendidos nas reservas de terra
estabelecidas pelo PDOT do Distrito Federal. Na maioria dos casos, as áreas não possuem infraestrutura e equipamentos
públicos. Geralmente, foram locadas com as seguintes características: (i) às margens das cidades onde já concentram
população de baixa renda, dificultando assim, a diversidade de classes sociais; (ii) foram locadas sem o estudo ambiental da

2
Áreas do Habita Brasília selecionadas no Caderno de ZEIS da SEGETH são: QNL Taguatinga – RAIII; Vargem da Benção –
RA XV; Quadras ímpares – RA XII; Residencial Pipiripau – RA VI; Centro Urbano Recanto das Emas – RA XV e Quadras 19
e 20 de Sobradinho – RA V.

144
área; e (iii) não possuem fácil integração com a malha da cidade já existente, portanto, o acesso à infraestrutura é difícil.
Mesmo no caso daquelas que foram consideradas conectadas elas o são se considerada as cidades já existentes, mas em relação
ao emprego e à diversidade de faixas de renda isso não ocorre devido a uma característica marcante do Distrito Federal, que é a
segregação sócio espacial. Assim, apesar da tentativa de melhoria da conectividade, buscando áreas mais centralizadas, o caso
de criação de ZEIS no DF esbarra com o problema do espraiamento das cidades e a blindagem do Plano Piloto para com as
camadas mais pobres da população. Sendo assim, a busca da habitação mais sustentável no caso do DF é uma etapa longa a ser
percorrida onde, muitas ZEIS não estão conseguindo cumprir a função da criação de habitações mais sustentáveis, e funcionam
mais como um instrumento ideológico do que como efetivação do direito à cidade.

Exemplo de Operações Urbanas Consorciadas – OUC no município de São Paulo.


Em São Paulo foi estudado o caso das OUCs - Operação Urbana Faria Lima e Operação Urbana Centro. Na OUC Faria Lima a
observação foi realizada em relação a Habitação de Interesse Social, quando se previu que 10% dos recursos arrecadados
seriam destinados à provisão de habitações para a baixa renda. Entretanto, após 6 anos de sua aprovação, não existe ainda
nenhum edifício destinado à moradia popular na área demarcada para a Operação Urbana, e pior, ocorreu uma expulsão da
população de baixa renda para um terreno mais periférico, gerando a continuidade do processo de transferência da população
de baixa renda para a franja da cidade, diminuindo assim, a esperança da obtenção de habitações de interesse social mais
sustentáveis.
A Operação Urbana Centro tinha o objetivo de repovoar e requalificar o centro por meio do adensamento habitacional, com a
transformação dos imóveis não edificados ou subutilizados, ao mesmo tempo em que seria introduzido melhoria na mobilidade
urbana e criação de uma rede de espaços públicos adequados a moradores locais. Para tal, previu um fornecimento de 10% a
mais de subsídio no coeficiente de aproveitamento aos empreendimentos resultantes de remembramento de terrenos, em
determinadas áreas, de forma a gerar recursos para essas adequações. Essa decisão acabou favorecendo a demolição e a
intervenção das edificações ao invés da requalificação e da conservação das características existentes na ocupação urbana,
gerando o aumento do valor dos imóveis da região e a expulsão da população da área. A requalificação não garante a
manutenção dos moradores mas torna a inclusão no processo mais provável. Deve-se ter em conta que a aplicação dos recursos
obtidos com a Operação deve ser investidos na própria Operação, de forma a garantir a não-expulsão da população de baixa
renda da área e favorecendo o seu acesso à cidade.
Assim, apesar dos exemplos da OUC em São Paulo acima citados adotarem alguns dos critérios necessários para que se
alcance localização habitacional considerada sustentável, outros critérios não adotados, dentre eles: (i) ausência de produtos
formatados para públicos de várias classes sociais; (ii) associação entre o projeto urbano e a gestão; e (iii) otimização do uso
das redes de transporte coletivo; interferiram no êxito do objetivo de atendimento dos interesses sociais.

Exemplo de Outorga Onerosa do Direito de Construir - OODC em Palmas.


No caso estudado de Outorga Onerosa do Direito de Construir – OODC em Palmas – TO, se verificou a sua capacidade em
atender aos objetivos traçados pelo Estatuto da Cidade para sua adoção, quais sejam, o controle das densidades urbanas em
favor de otimização de infraestruturas e qualidade ambiental com redistribuição das vantagens obtidas com valorização do
solo. Em Palmas, de acordo com o Plano Diretor - LC n°155/2007, poderá utilizar um coeficiente de aproveitamento maior,
variável conforme a zona de uso, mediante contrapartida financeira. Pode-se ainda definir um estoque de potencial construtivo
para cada setor com base na infraestrutura existente e no aumento da densidade. A contrapartida financeira pode ser empregada
em qualquer região da cidade, desde que utilizada para projetos de regularização fundiária, habitação de interesse social,
reserva de terras, áreas de interesse ambiental, dentre outras, ou ser revertida por meio de bens ou serviços (BRASIL, 2005).
Esse no caso seria a relação com o tema da habitação de interesse social.
A avaliação levou a identificar que, por várias omissões da legislação da OODC de Palmas, a definição dos estoques não segue
nenhuma relação com a infraestrutura existente nas áreas, mas sim a delimitação dos limites máximos permitidos para os lotes
constante na legislação. Isso leva à possibilidade do uso indiscriminado do instrumento que, ao não ser controlado pelo poder
público, tem causado problemas de infraestrutura, de mobilidade e de falta de equipamentos urbanos, afetando assim, a
qualidade de vida da população.
É importante levar em consideração que Palmas, sendo uma cidade ainda com bastante área disponível para construção, talvez
esse instrumento não seja o mais apropriado, pois, ao invés de ser utilizado em terrenos subutilizados para adensamento de
áreas centrais, apenas resulta na verticalização dos edifícios, provocando sobrecarga para a infraestrutura da cidade e
manutenção dos vazios urbanos, que podem se tornar ainda objeto de especulação imobiliária. Nesse caso, a OODC favorece à
especulação imobiliária em detrimento do adensamento populacional, trazendo impactos territoriais consideráveis e
influenciando na busca da sustentabilidade.
Assim, em Palmas, não foram utilizados os mecanismos básico da Outorga Onerosa do Direito de Construir como: (i) a fixação
de um coeficiente de aproveitamento único; (ii) a indicação das zonas que poderão trabalhar acima do coeficiente único,
considerando a infraestrutura existente; (iii) a transferência do seu direito de construir não utilizado; e (iv) a manutenção da
proporção entre os solos públicos e privados, constituindo na concessão onerosa acima do coeficiente único, o que está
resultando em futuros problemas com a especulação imobiliária e com a infraestrutura, devido ao adensamento em

145
determinados locais.

Considerações Finais
A discussão sobre a busca de habitação de interesse social sustentável visa corrigir algumas práticas no provimento da
habitação que levou a segregação socioespacial nas cidades. A sustentabilidade da habitação lança questionamento quanto a:
densidade, a configuração urbana, a relação casa/ trabalho, a localização e provimento dos equipamentos públicos de serviço e
de lazer; a política de transportes e o mix social de modo a combater a segregação socioespacial. Assim, como se ver, é uma
questão de planejamento urbano e remete a necessária integração entre política habitacional e política urbana.
O estudo de instrumentos previstos no Estatuto da Cidade que podem ser utilizados para enfrentar esse desafio indicou que a
ZEIS vazia, a OUC e a OODC podem levar à constituição e/ou correção de tecidos urbanos mais sustentáveis desde que
atendidos os critérios que, também, foram identificados. Entretanto, os estudos procedidos para analisar como esses
instrumentos estão sendo adotados no país, tomando como amostra três cidades: Brasília, São Paulo e Palmas, mostrou um
quadro preocupante onde em nenhuma das situações os objetivos pretendidos foram alcançados. Nos casos da OUC e OODC
ainda se percebeu uma aplicação que vem favorecendo a especulação imobiliária e não a sustentabilidade que se pretende
alcançar.
Sendo assim, por meio dos exemplos da criação de ZEIS no Distrito Federal, da utilização das Operações Urbanas
Consorciadas em São Paulo e da Outorga Onerosa do Direito de Construir em Palmas, podemos observar que muitas vezes não
são questões técnicas que têm impedido uma melhor estruturação das formas urbanas. Os instrumentos foram criados desde
2004, mas falta visão estratégica que pondere todo o território em prol de todos os grupos sociais, tratando de novas ofertas
urbanas, tanto das habitacionais quanto das infraestruturas, considerando a malha da cidade já existente e realizando
intervenções por meio da limitação da expansão, preenchendo os espaços vazios, provocando uma maior atratividade das zonas
centrais construídas, investindo na mobilidade da cidade e na interação entre a estrutura urbana e a rede de transporte público
em busca da equidade territorial e funcional.

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147
5SSS115
UMA VISÃO GERAL SOBRE A AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA
NO CONTEXTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Daniel Oliveira de Azevedo Sampaio1, Jorge Luis Akasaki2, Camila Cassola Assunção3, Thássia Dias
Zanardo Rufato4, Mauro Mitsuuchi Tashima5
1Universidade Estadual Paulista (UNESP), e-mail: daniel.oliveira.oas@hotmail.com; 2 UNESP, e-mail:
jorge.akasaki@gmail.com; 3 UNESP, e-mail: camila.cassola.assuncao@gmail.com; 4 UNESP, e-mail:
thata_zanardo98@hotmail.com; 5 UNESP, e-mail: maumitta@gmail.com

Palavras-chave: Avaliação do Ciclo de Vida (ACV); lajes; resíduos de borracha de pneu.

Resumo
A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) vem ganhando destaque como ferramenta de análise dos impactos ambientais de
produtos e serviços, principalmente a partir de 1997, quando foi normatizada pela ISO (International Organization for
Standardization). Esse método se destaca por analisar todos os processos envolvidos na produção, desde a extração da matéria-
prima até o descarte final, possibilitando a preferência por materiais e processos mais sustentáveis do ponto de vista ambiental.
A área de construção civil é responsável por expressivos impactos ao ambiente, causados pelos vários estágios do processo
construtivo, fases operacionais e descarte. Com isso, é possível notar que seria de grande importância uma integração da ACV
aos diversos processos da construção civil, a fim de colaborar para o desenvolvimento sustentável. A ACV também pode
auxiliar pesquisas de desenvolvimento de novos materiais de construção, como compósitos com substituição de matérias-
primas comuns por resíduos de processos industriais, já que a ACV é capaz de determinar se esses novos materiais realmente
são menos prejudiciais ao meio ambiente. Nesse trabalho realizou-se uma revisão bibliográfica, buscando em estudos, normas,
manuais, artigos, livros, dissertações e teses informações importantes sobre o tema, bem como as aplicações, limitações e
recomendações sobre a execução da ACV, servindo como uma base confiável para estudos futuros nessa área, ao entender os
desafios e propor soluções para que a ACV seja cada vez mais empregada no setor da construção civil, propiciando um terreno
fértil para avanços em sustentabilidade.
Introdução
A Avaliação do Ciclo de Vida é uma técnica desenvolvida para analisar e comparar produtos e serviços semelhantes ou
equivalentes, de forma holística, a partir do ponto de vista ambiental. Os estudos de ACV podem abranger todas ou considerar
apenas algumas etapas do ciclo de vida do produto ou serviço, para reduzir o tempo de análise dos impactos, tendo
denominações diferentes dependendo do seu conteúdo. Esse método é capaz de analisar diversas categorias de impacto
ambiental, além de facilitar a identificação de processos ou fases operacionais em que os impactos ambientais sejam mais
severos, sendo uma excelente ferramenta para auxiliar tomadas de decisões de empresas e partes interessadas (INSTITUTO
BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA - IBICT, 2018). A ACV pode ser utilizada para
planejamento estratégico de organizações e indústrias, para selecionar indicadores e técnicas de medição de impactos
ambientais mais eficientes, e auxiliar no marketing de, por exemplo, uma decisão política de grande impacto (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT, 2009a). De acordo com Guinée, Haes e Huppes (1993), essa avaliação
também pode ser utilizada para auxiliar a introdução ou forçar a exclusão de produtos do mercado. Além disso, a ACV
também pode ser utilizada como ferramenta para realizar a certificação ambiental de produtos (ecollabeling) ou para elaborar
Declarações Ambientais de Produto (DAP). Os rótulos ambientais são fornecidos por uma terceira parte, imparcial, que avalia
os produtos e serviços, para que estes atendam a critérios ambientais transparentes, com base no ciclo de vida dos mesmos,
diferenciando produtos e serviços mais sustentáveis dentro de uma categoria específica (GEN, 2019). Já as DAP buscam
evidenciar os impactos ambientais de cada fase do ciclo de vida do produto, de acordo com os requisitos definidos pelas
Regras de Categoria de Produto (RCP) da categoria em que se enquadra. Com isso, os consumidores tem todas as informações
necessárias para adquirir o produto que mais se adeque às suas exigências, de acordo com a perspectiva ambiental
(CESPEDES, 2017; EDP BRASIL, 2019).
A ACV estabelece inventários de fluxo de matéria e energia com a complexidade necessária para cada caso, fornecendo
resultados numéricos que podem ser relacionados às categorias de impacto ambiental e permitindo a comparação entre
produtos e serviços similares. A ACV é normatizada pela série de normas ISO 14040, que estabelecem os princípios, a
estrutura e os requisitos de uma ACV, e apresentam alguns exemplos de como aplicar essa análise (SOARES; SOUZA;
PEREIRA, 2006). De acordo com a NBR ISO 14044 (2009b), os estudos de ACV devem incluir quatro etapas: definição de
objetivo e escopo, análise de inventário, avaliação de impacto e interpretação dos resultados.
Existe também um documento, chamado ILCD Handbook (EC-JRC, 2010), que fornece orientações para o planejamento e

148
desenvolvimento de estudos de ACV, e pode ser utilizado como uma introdução aos conceitos fundamentais e princípios da
ACV. De acordo com esse documento, a ACV pode ser realizada em ciclos iterativos entre as fases de definição de objetivo e
escopo, análise de inventário, avaliação de impactos e realizando verificações de integridade, sensibilidade e consistência até
que seja obtida exatidão do sistema e alcançada a completude dos resultados do inventário. Algumas dificuldades são
encontradas durante a execução, contribuindo para resultados incertos. Desta forma, todas as simplificações, considerações, e
critérios de corte realizados no sistema devem ser deixados claros no corpo do estudo, para nortear a tomada de decisão e
permitir assim uma transparência dos resultados. A Figura 1 mostra que a iteratividade faz parte da estrutura da ACV.

Figura 1: Fases de uma ACV.


Fonte: ABNT (2009a).

A fase de avaliação de impactos consiste em agrupar os dados do inventário em categorias de impacto específicas e indicadores
de categoria. A escolha dos métodos, bem como a avaliação dos impactos, pode gerar subjetividades na fase de avaliação do
impacto de ciclo de vida (AICV), de acordo com a NBR 14040 (ABNT, 2009a). Bueno et al. (2016) estudaram cinco métodos
de AICV para um estudo de caso de paredes não estruturais: EDIP 97/2003, CML 2001, Impact 2002+, ReCiPe 2008, e as
recomendações do ILCD Handbook. O objetivo era analisar a sensibilidade dos resultados da ACV com o uso destes diferentes
métodos. A conclusão do estudo foi que a escolha do método pode afetar os resultados, devido a diferenças intrínsecas nos
métodos de caracterização e a fatores regionais e temporais, permitindo, por exemplo, uma manipulação do estudo pelas partes
interessadas, que podem optar pelo método que favoreça um determinado produto, fazendo com que este pareça mais adequado
ambientalmente. Os autores recomendam que um método unificado de avaliação de impacto global seja desenvolvido, para
compatibilizar a consistência dos diferentes estudos.
Evangelista et al. (2018) corroboram com os autores, recomendando o uso de várias perspectivas de análise para que o
resultado da avaliação seja o mais preciso possível, possibilitando uma tomada de decisão mais acertada. Mendes, Bueno e
Ometto (2015) evidenciam a importância de se realizar uma comparação entre os métodos AICV e conferir se os modelos e
fatores de caracterização representam os impactos ambientais em diferentes regiões do mundo.
A preocupação acerca dos problemas ambientais entrou em pauta nas discussões globais a partir da década de 1960. O receio
com as limitações de matérias-primas e recursos energéticos despertou o interesse de contabilizar o gasto de energia e de
projetar o uso de fontes de recursos no futuro, o que culminou no desenvolvimento do que seria a ACV.
A primeira avaliação com metodologia semelhante à ACV foi realizada em 1969 nos Estados Unidos, encomendada pela
Coca-Cola, em uma comparação de recipientes de bebidas para determinar qual contêiner tinha as liberações mais baixas para
o ambiente e utilizado menos recursos naturais. Este estudo quantificou os combustíveis e matérias-primas utilizados e as
cargas ambientais dos processos de fabricação de cada opção de embalagem. Outras empresas na Europa e nos Estados Unidos
realizaram ciclos de vida comparativos similares no início dos anos 1970. Naquela época, a maioria das fontes disponíveis
eram provenientes de dados públicos, tais quais documentos governamentais ou documentos técnicos, visto que não havia
como obter os dados industriais. Essa análise ficou conhecida como Resource and Environmental Profile Analysis (REPA)
(CURRAN, 2006).
Em 2002, a Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental (SETAC) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) se juntaram para criar a Iniciativa do Ciclo de Vida (Life Cycle Iniciative - LCI), uma parceria internacional para
colocar o pensamento sobre o ciclo de vida em prática. A missão da Iniciativa do Ciclo de Vida é desenvolver e disseminar
ferramentas práticas para a avaliação de oportunidades, riscos e trade-offs (ato de escolher uma coisa em detrimento de outra)
associados a produtos e serviços durante todo o seu ciclo de vida para alcançar o desenvolvimento sustentável (UNEP, 2005).

149
A ACV deu seus primeiros passos no Brasil em 1994, quando o Grupo de Apoio à Normalização Ambiental (GANA) criou um
subcomitê sobre esse tema (SEO e KULAY, 2006). Em 1998 foi lançado o livro Análise de Ciclo de Vida Produtos –
Ferramenta Gerencial da ISO 14000, de José Chehebe, o primeiro sobre a ACV em português (CHEHEBE, 1997).
Em 2002 foi criada Associação Brasileira de Ciclo de Vida (ABCV). A ABCV busca incentivar a ACV em vários setores,
como os centros de pesquisa e as indústrias. A entidade realiza cursos sobre ACV e organiza o Congresso Brasileiro de Gestão
do Ciclo de Vida – CBGCV (ABCV, 2019). Já em 2003, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
(IBICT) acrescentou uma linha temática sobre a ACV em seu portfólio, tendo como foco fomentar de bases de dados do país, e
desde 2012 o instituto tem tido destaque em promover e difundir o conhecimento sobre ACV, realizando parcerias com o Joint
Research Centre (JRC) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) (IBICT, 2018).
Desde 2004, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) passou a utilizar a ACV para realizar a
Avaliação de Conformidade de processos, produtos, pessoal e serviços, se tornando essencial para garantir a confiabilidade em
relação ao desempenho ambiental. Em 2010, o Inmetro lançou o Programa Brasileiro de ACV (PBACV) visando produzir um
sistema reconhecido internacionalmente sobre os inventários de ciclo de vida (ICV) da indústria do país, apoiar trabalhos
acerca do tema, auxiliar na disseminação do pensamento do ciclo de vida e identificar as principais categorias de impactos
ambientais para o Brasil (INMETRO, 2019).
Buscando dar suporte ao desenvolvimento nacional sustentável, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) lançaram, em 2018,
uma chamada para apoiar projetos de pesquisa voltados a construção de inventários de ciclos de vida. Os principais objetivos
dessa chamada foram fomentar a produção científica e divulgação de informações no contexto da ACV, contribuir para o
enriquecimento do Banco Nacional de Inventários do Ciclo de Vida (SICV), e buscar soluções para os desafios propostos pelos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da agenda 2030 da ONU (IBICT, 2018).
O incentivo ao crescimento da construção civil é interessante para melhor desenvolver a infraestrutura de países, suprir déficits
habitacionais e gerar empregos. Investir no setor é uma das alternativas para melhorar a economia. No entanto, o crescimento
deve ser acompanhado de um desenvolvimento sustentável, preservando recursos naturais e evitando externalidades negativas.
Segundo Godoy e Saes (2015):
Externalidade negativa é uma falha de mercado referente à degradação dos recursos naturais,
definida como o custo resultante de ações particulares sobre os demais, mesmo que estes últimos
não tenham contribuído com os malefícios. As emissões de gases de efeito estufa são um exemplo
de externalidade negativa, uma vez que provoca danos a terceiros, mesmo que não sejam
responsáveis pelas emissões.
Desenvolvimento sustentável é aquele capaz de suprir as necessidades da sociedade atual sem comprometer as necessidades
das gerações futuras (NAÇÕES UNIDAS, 1987). É interessante buscar alternativas para o modelo econômico atual, onde a
matéria-prima extraída é transformada e em seguida descartada (AZEVEDO, 2015). Desta maneira, mostra-se interessante
integrar os estudos da ACV aos diversos processos da construção civil.
O setor da construção civil é responsável por uma significante contribuição nos impactos ambientais de uma nação (YUSOF;
IRANMANESH, 2017), visível em atividades de extração e processamento de matéria prima, bem como no transporte, na
utilização da obra finalizada e no processo de demolição. O setor consome algo entorno de 14% a 50% da matéria-prima
extraída da natureza, 16% dos recursos hídricos e 40% de toda fonte de energia, gera de 40% a 70% dos resíduos sólidos e é
responsável por cerca de 10% das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera (MEDEIROS; DURANTE; CALLEJAS,
2018; TAVARES, 2006; ROODMAN et al, 1995). No que diz respeito a um dos compósitos da construção civil, o concreto é o
terceiro material mais utilizado no mundo, e a construção civil é um dos setores socioeconômicos com maior impacto no meio
ambiente (MARCELINO-SADABA et al., 2017).
De acordo com Medeiros, Durante e Callejas (2018), esse cenário mostra que o ramo da construção civil tem potencial para
buscar soluções sustentáveis que reduzam os impactos gerados, sendo a ACV um ótimo método de avaliar e indicar possíveis
melhorias nas etapas construtivas das obras civis. Utilizar materiais alternativos, como resíduos ou fibras naturais, pode
contribuir para o crescimento da oferta de materiais, além de reduzir o consumo de matérias-primas não renováveis. No setor
da construção civil também podem ser realizados estudos comparativos entre materiais com funções semelhantes, análises de
processos construtivos ou operacionais de forma isolada e de edificações e obras como um todo.

Objetivos
Reunir informações sobre a Avaliação do Ciclo de Vida interligada à construção civil, passando pelo seu histórico, seus
atrativos, pelo panorama atual no Brasil e em outros países, a fim de criar bases para tornar efetiva a ACV como ferramenta de
apoio à sustentabilidade ambiental no Brasil, trazendo os principais desafios e soluções encontrados pelos autores para que esta
técnica seja empregada com maior intensidade na área de construção civil

Material e Métodos
O procedimento metodológico utilizado foi uma revisão bibliográfica sistemática em alguns dos principais periódicos

150
científicos internacionais, utilizando a plataforma ScienceDirect. Para a pesquisa de artigos, foram utilizadas as seguintes
palavras-chave: Life Cycle Assessment, LCA e Civil Construction.
Para a comparação entre os métodos, considerações e limitações encontradas em cada estudo de ACV, as seguintes
informações foram identificadas: Produto ou serviço avaliado; Local de origem (País de origem do produto avaliado); Ano de
realização do estudo; Método de AICV utilizado; Limitações e desafios encontrados; Soluções propostas.

Resultados e Discussão
Tendo em vista que as particularidades de diferentes regiões de estudo influenciam na escolha de métodos de AICV, o presente
estudo proporcionou um levantamento das aplicações dos principais métodos de AICV em algumas regiões do mundo,
apresentando esses dados na Tabela 1.

151
Referência Título do artigo País de origem Método de AICV
A life cycle assessment of recycled
Yin et al. Austrália
polypropylene fibre in concrete SimaPro 8.0
(2016) (Ocenia)
footpaths
Global Warming
Potential (GWP);
A closed-loop life cycle assessment of
Ding, Xiao e Tam China Cumulative Energy
recycled aggregate concrete utilization in
(2016) (Ásia) Demand (CED);
China
Consumption of Primary
Mineral Resources(CMR)

Christoforou et al. Cradle to site Life Cycle Assessment (LCA) Chipre


CML 2001
(2016) of adobe bricks (Europa)

Stafford et al. Life cycle assessment of the production Brasil


ReCiPe v.1.06.
(2016) of cement: A Brazilian case study (América do Sul)

Life cycle assessment of natural and


Rosado et al. Brasil
mixed recycled aggregate production in Impact 2002+
(2017) (América do Sul)
Brazil

Vitale et al. Life cycle assessment of the end-of-life Itália


Impact 2002+
(2017) phase of a residential building (Europa)

Buildings environmental impacts' CML v4.1;


Häfliger et al. Suiça
sensitivity related to LCA modelling Global Warming
(2017) (Europa)
choices of construction materials Potential (GWP)

Life cycle assessment of natural building


materials: the role of carbonation, CML v3.04;
Arrigoni et al. Itália
mixture components and transport in the Cumulative Energy
(2017) (Europa)
environmental impacts of hempcrete Demand (CED)
blocks

Life cycle assessment of low temperature


Santos et al. França
asphalt mixtures for road pavement CML 2001
(2018) (Europa)
surfaces: A comparative analysis

Environmental performance analysis of Cumulative Energy


Evangelista et al. Brasil
residential buildings in Brazil using life Demand (CED);
(2018) (América do Sul)
cycle assessment (LCA) ILCD 2011

Pons et al. Life cycle assessment of earth-retaining Espanha


ReCiPe 2008
(2018) walls: An environmental comparison (Europa)

Life cycle assessment of concrete made


Kurda, Silvestre e Brito Portugal
with high volume of recycled concrete CML
(2018) (Europa)
aggregates and fly ash

Tabela 1: Métodos de AICV utilizados nos estudos, de acordo com o país de origem.

Em seguida, foi realizado o levantamento, em função do produto ou do serviço, os resultados, limitações, desafios e soluções
de cada um dos artigos revisados. As informações encontradas estão apresentadas na Tabela 2.

152
Referência Produto ou Limitações e desafios encontrados Soluções propostas
serviço avaliado
A literatura sobre a ACV da reciclagem de resíduos plásticos é muito Simplificações considerando que as quatro composições de calçada possuam os mesmos
limitada e fortemente influenciada pelos tipos de produtos finais, procedimentos de descarte e expectativa de vida no contexto australiano;
Yin et al. Calçadas de
fontes de obtenção do plástico e por características locais dos Recolhimento de dados junto a empresas e busca em artigos científicos;
(2016) concreto
procedimentos de coleta e reprocessamento dos resíduos plásticos; Recomendação de analisar as fases de uso e de fim de ciclo de vida quando os processos de
Falta de dados nas bases de dados utilizadas. reciclagem dos materiais utilizados for mais frequente.
Aplicação da teoria do berço ao berço;
Simplificações considerando que os impactos de concreto com agregado reciclado e concreto
com agregado natural possuam os mesmos impactos ambientais na fase de construção, serviço
Ding, Xiao e Ciclo fechado do A análise comparativa entre estruturas de concreto com agregado e demolição;
Tam agregado reciclado e concreto com agregado natural é limitada a condições Simplificação com relação à função de ambos concretos;
(2016) reciclado ambientais não agressivas. Comparação de cenários de acordo com a produção dos agregados;
Dados extraídos através de entrevistas com operadoras e fabricantes locais e do banco de dados
chinês;
Consideração dos impactos relacionada ao descarte em aterros.
Utilização do software GaBi que permite utilização de ampla quantidade de modelos de ACIV;
Christoforou Desconsideração da produção de resíduos no sistema;
et al. Tijolos de adobe Falta de estudos sobre o impacto ambiental da produção de adobe. Dados obtidos de produtores locais de adobe e da literatura;
(2016) Utilização de diferentes cenários de produção para conseguir avaliar a influência do transporte
no desempenho ambiental dos tijolos de adobe.
As fases de uso e descarte não foram consideradas, devido a falta de Dados indisponíveis foram obtidos de médias brasileiras, regulações nacionais, ou de regiões
um uso específico e de alternativas de descarte no Brasil; semelhantes;
Stafford et Produção de Escassez de estudos científicos sobre impactos ambientais da A comparação deste estudo com o cenário padrão foi feita muito cautelosamente, já que os
al. cimento em uma produção de cimento no Brasil; métodos para avaliar as categorias de impacto propostas ainda estavam em desenvolvimento;
(2016) fábrica brasileira As categorias de impacto de esgotamento de recursos não puderam A substituição dos combustíveis por equivalentes alternativos é uma opção para reduzir os
ser comparadas com outros estudos, já que usualmente estudos impactos ambientais, mas levando em conta a distância entre a origem desses novos
sobre a indústria de cimento utilizam o método CML. combustíveis e a fábrica
Agregados
Rosato et al. naturais e Utilização de dados genéricos para o inventário; Utilização sempre que possível de dados brasileiros;
(2017) agregados Não confiabilidade de alguns dados. Cortes nas fronteiras do sistema para maior confiabilidade de dados.
reciclados mistos
Metodologia de expansão do sistema para evitar alocação;
Verificação da sensibilidade dos resultados obtidos para os impactos relacionados ao aço ao se
Alocação ligada à utilização dos materiais de demolição.
Vitale et al. Fim de vida de um variar o cenário da metodologia de expansão do sistema.
Importância da reciclagem do aço para os impactos ambientais e
(2017) edifício residencial Comparação dos efeitos da quantidade de resíduos tratada no desempenho ambiental
possível sensibilidade de dados. Recomendação de técnicas adequadas de demolição seletiva, aumentando a qualidade e
quantidade de resíduos enviados para tratamento.
Dificuldade de definir a vida útil de referência dos materiais e de Uma harmonização entre as diferentes bases de dados existentes. Na Europa, a ECO Platform se
destaca como uma ferramenta para este propósito;
Häfliger et destacar as consequências da incorporação do módulo D das EPDs no
Casas familiares Se um longo período de estudo de referência for escolhido, o foco dos impactos ambientais
al. cálculo da ACV nas construções;
recém construídas estará nos materiais de isolamento, bem como em portas e janelas;
(2017) Definir a influência do período de estudo de referência no produto Se um período reduzido for escolhido, os materiais de concreto e alvenaria serão a principal
ou serviço estudado. prioridade para reduzir o impacto ambiental dos edifícios.
Falta de dados e incertezas sobre a fase de fim do ciclo de vida; Análise “do berço ao portão”, excluindo a fase de fim do ciclo de vida;
Impactos indiretos decorrentes da mudança do uso da terra causada Os dados sobre os blocos foram obtidos diretamente com o fabricante. Os dados secundários
Arrigoni et pelo cultivo do cânhamo não foram incluídos no estudo, devido ao dos processos foram obtidos em artigos científicos e na base de dados Ecoinvent;
Blocos de
al. alto nível de incerteza que afeta a modelagem desse aspecto; O efeito de uma variação do conteúdo de aglutinante nas propriedades mecânicas e na
canhâmo
(2017) Estudos anteriores assumiram uma carbonatação completa durante o resistência a fungos e bactérias precisa ser mais investigado;
ciclo de vida do produto, que é uma estimativa extremamente Materiais à base de cânhamo devem passar por avaliações mais abrangentes se o seu uso se
otimista. disseminar para um mercado mais amplo no futuro.
Busca por utilização de dados mais atuais possíveis e serem geográficos e tecnologicamente
Inexistência de alguns dados de inventário de ciclo de vida (ICV) na representativos;
Mistura asfáltica Utilização do banco de dados do Ecoinvent 3.2 e relatórios disponíveis publicamente;
Santos et al. literatura;
de baixa Simplificações quanto a alguns impactos ambientais de fases de produção com falta de
(2018) Falta de informações na literatura sobre algumas fases da
temperatura informações na literatura;
construção. Análise de cenários para verificação da sensibilidade de dados e busca pelas melhores
alternativas.
Abordagem metodológica do cone invertido;
Evangelista
Habitações típicas Barreiras devido à ausência de estrutura metodológica, critérios e Utilização do banco de dados do Ecoinvent v3.01 e coleta de dados brasileiros como o consumo
et al.
brasileiras aplicações práticas da ACV no Brasil. de água e energia durante etapas do ciclo de vida de cada edifício;
(2018) Recomendação de utilização de múltiplas perspectivas de análise de resultados.
Uso da matriz pedigree para definir a incerteza total ao utilizar certos dados;
Incerteza relacionada com a utilização de um banco genérico de Utilização apenas do banco de dados Ecoinvent para precisão de resultados;
dados, com imprecisão relacionada com a localização geográfica, Normalização das categorias de danos utilizando o conjunto de normalização Europa ReCiPe H /
Pons et al. Paredes de tecnologia utilizada e fator temporal de coleta de dados; H (pessoa/ano) para fornecer uma visão global do impacto ambiental total causado;
(2018) retenção de terra Incertezas geradas pela combinação de indicadores ambientais pelo Análise de incerteza probabilística utilizando simulações de Monte Carlo;
método de LCIA ReCiPe 2008; Abordagem endpoint para obter resultados globais e mais fáceis de comparar;
Dificuldade em interpretar categorias de impacto de midpoint. Recomendação de triturar o concreto na fase final de vida das paredes de retenção para
permitir sua carbonatação reduzindo impactos ambientais.
Concreto com alto Algumas categorias de impacto ambiental não foram consideradas por não serem significativas
volume de para atividades da construção;
Kurda, Falta de estudos detalhados sobre o impacto ambiental das matérias
agregados Recolhimento de dados de empresas de Portugal;
Silvestre e primas utilizados;
reciclados de Utilização de banco de dados genéricos para completeza dos dados;
Brito (2018) Falta de algumas informações fornecidas por empresas. Utilização do método NativeLCA para selecionar conjuntos de dados genéricos mais apropriados
concreto e cinzas
volantes para a aplicação.

Tabela 2: Limitações, desafios e soluções de cada estudo.

153
As adaptações realizadas por cada autor de acordo com as características de seus trabalhos formam soluções para diminuir as
incertezas. Mendes, Bueno e Ometto (2015) confirmam a possibilidade de desenvolvimento de modelos de ACV direcionados
a particularidades de diferentes regiões de estudo através de métodos de AICV que abordem categorias específicas de impacto
ambiental.
A falta de uma base de dados de referência e a subjetividade da etapa de AICV, que pode ser realizada através de diversos
métodos e selecionando diferentes categorias de impacto, depende do grupo de profissionais responsáveis, e pode levar a
incertezas ou então a estudos enviesados. As soluções propostas nos trabalhos revisados foram a criação de uma base de dados
unificada, que permita a inserção de dados e especificações regionais, e o incentivo à realização novos estudos de ACV nas
áreas estudadas, para que os bancos de dados sejam abastecidos com informações e a qualidade dos estudos seja aprimorada.
Por não existirem bancos de dados completos para cada área da construção civil pesquisada, bem como para cada contexto
regional específico, são necessárias soluções como a coleta de dados em instituições, empresas locais, utilização de bancos de
dados genéricos disponíveis em softwares específicos para ACV e busca de dados adicionais em outros artigos científicos.
Como mostrado na revisão bibliográfica do presente trabalho, a completeza dos dados referentes ao inventário do ciclo de vida
foi alcançada através da utilização de diversas fontes de dados.
Os trabalhos realizados em ambiente europeu se preocuparam em tornar os dados os mais representativos possíveis para as
regiões avaliadas através de pesquisas locais, juntamente com as de fontes de dados já disponíveis para estas mesmas regiões.
A variação do cenário de aplicação da ACV foi realizada através da identificação de processos ou fluxo de produtos cuja
variação das características produziam resultados diferentes para o meio ambiente. Ao realizar modificações e procedimentos
sistemáticos, verifica-se nessas publicações que foi possível estimar os efeitos das escolhas feitas durante as fases da ACV e
das diferentes opções de materiais e processos de produção. Desta maneira, pode-se verificar o melhor cenário para que um
novo material ou processo produtivo contribua para a diminuição de impactos ambientais.
Alguns pesquisadores ainda encontraram dificuldade com relação à falta de pesquisas dentro da área da construção civil
analisada, dificultando assim a definição do escopo e escolhas como critério de corte para a realização da ACV. Nesses casos
os autores recomendam a realização de mais estudos nessas áreas para que os inventários disponíveis sejam preenchidos com
mais informações, possibilitando estudos mais precisos através da diminuição das incertezas.

Comentários finais
No contexto brasileiro, e também em outros países, a escassez de dados e estudos regionais sobre ACV de diversos materiais
utilizados no setor da construção civil foi uma das principais limitações encontradas, como observado na Tabela 2. Conclui-se
então ser necessário continuar o investimento em pesquisas focadas na realização da ACV dentro da construção civil, visto que
o setor abrange diversas áreas com características particulares a cada uma delas. A busca por adaptações de modelos para as
diferentes realidades encontradas por cada estudo de ACV contribui para auxiliar o desenvolvimento de pesquisas futuras, e,
portanto, essas inovações devem ser difundidas no meio científico. Medidas como a chamada realizada pelo MCTIC e o CNPq,
para enriquecer os bancos de dados de inventários de ciclos de vida no Brasil são de extrema importância, pois permitem que
os estudos sejam cada vez mais exatos, evitando simplificações e utilização de dados genéricos, propiciando assim o
desenvolvimento das indústrias em sintonia com a sustentabilidade. Esta pesquisa buscou identificar alguns dos desafios e
apontar algumas soluções propostas em trabalhos científicos mais recentes, mostrando como o conteúdo das ACVs varia
bastante conforme sua região de aplicação e a área de interesse.
De acordo com a Tabela 1, percebe-se que não há uniformidade na escolha dos métodos AICV, seja em estudos realizados em
continentes diferentes ou dentro de um mesmo país. Como cada método analisa certas categorias de impacto, que nem sempre
são as mesmas, os autores podem encontrar dificuldades para comparar os diferentes estudos, complicando a tomada de
decisão baseada nos resultados obtidos.
A ACV, apesar das limitações e desafios apresentados, pode ser identificada como uma boa ferramenta para a realização de
análise de materiais e sistemas isolados, e para a comparação de materiais diferentes com a mesma função, contribuindo para o
desenvolvimento de materiais alternativos, podendo estes serem provenientes da adição de resíduos. Ou seja, ACV pode ser
considerada um bom acessório para o desenvolvimento sustentável dentro da construção civil.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) pelo apoio recebido.

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156
5SSS116
EDUCAÇAO AMBIENTAL NO ENSINO FORMAL PARA O
CORRETO MANEJO DE RESÍDUOS
Nilva Lúcia Rech Stédile1, Ana Maria Paim Camardelo2, Fernanda Meire Cioato3
1Universidade de Caxias do Sul, e-mail: nlrstedi@ucs.br; 2Universidade de Caxias do Sul, e-mail:
ampcamar@ucs.br; 3Universidade de Caxias do Sul, e-mail: fmcioato@ucs.br

Palavras-chave: Educação Ambiental; Saúde Ambiental; Resíduos Sólidos.

Resumo
Este trabalho parte do pressuposto de que a segregação correta dos resíduos é fundamental para a redução dos impactos desses
sobre o meio ambiente. O objetivo do estudo foi analisar a eficácia de um programa de educação ambiental no
desenvolvimento de aprendizagens para o correto manejo de resíduos. Trata-se de uma pesquisa-ação desenvolvida em duas
escolas públicas de ensino fundamental em Caxias do Sul. Na primeira, denominada Escola A, foi desenvolvida uma gincana
nas séries iniciais envolvendo 268 estudantes do primeiro ao quinto ano. Na segunda, denominada Escola B, foram realizadas
atividades específicas por turma, com um total de 378 alunos da educação infantil ao do primeiro ao quinto ano. Os resultados
mostraram que a gincana favoreceu a incorporação de ideias, a problematização de situações, a construção e ressignificação de
conceitos e a compreensão dos desafios socioambientais no manejo dos resíduos. Em ambas as escolas, o jogo, a oficina, a
pesquisa e o estudo de caso se constituíram nas tecnologias educativas mais efetivas para o desenvolvimento de formas
adequadas de manejo dos resíduos gerados nas escolas e nas residências. A educação ambiental, quando planejada e
incorporada ao cotidiano escolar, é um potente recurso de aprendizagem, facilitando a construção de conhecimento
significativo para defesa do meio ambiente e para formação de agentes ambientais mirins.

Introdução
No decorrer das últimas décadas foi se construindo o que no momento se estabeleceu como um grande desafio para o
modelo de desenvolvimento capitalista vigente: a conciliação entre o padrão de consumo e a qualidade ambiental da vida na
sociedade. O efeito da geração exacerbada de resíduos, a inadequada segregação e o destino incorreto são inversamente
proporcionais aos fatores condicionantes à sadia qualidade de vida e a sustentabilidade (Brasil,1999), especialmente se
considerado que grande parte das doenças que acometem a população brasileira tem como força motriz a qualidade ambiental.
Conforme a Organização Mundial da Saúde, estima-se que 24% da carga global de doenças e mais de um terço das doenças
que acometem o público infantil, devam-se a fatores ambientais modificáveis (OMS, 2006). Devido a isso, os profissionais de
saúde precisam incluir no rol de suas competências a educação ambiental, numa ação intersetorial com profissionais da
educação.
Um dos problemas a serem enfrentados é o manejo e o destino ambientalmente correto dos resíduos. Estudiosos
ressaltam a percepção dos resíduos domiciliares como algo descartável, sujeira e sem utilidade (Vieira, Silveira e Rodrigues,
2012). Essa percepção possivelmente é um dos fatores que influenciam no fato dos cidadãos não realizarem a correta
segregação, inclusive dos resíduos de serviços de saúde (Cunha, Barbosa, Fontenele, Lima, Franco e Fechine, 2017), o que
acaba comprometendo o ciclo produtivo e a saúde dos catadores de resíduos (e a população em geral pelo comprometimento da
qualidade ambiental), evidenciando o não entendimento da relação entre resíduos e saúde (Hammes, Stedile e Camardelo,
2016).
Os catadores encontram-se expostos a diversos riscos físicos, químicos e biológicos em suas atividades. Conforme as
autoras supracitadas, as condições de trabalho dos catadores são permeadas por diversas formas de precariedade laboral:
contato direto com os resíduos; trabalho árduo; baixa renda; falta de equipamentos; precária infraestrutura dos ambientes de
trabalho, diversidades de resíduos, incluindo os perigosos. Apesar das condições de trabalho serem precárias e inadequadas,
essas não são destacadas como um dos maiores motivos de insatisfação no trabalho. Esses trabalhadores ressaltam o
preconceito, a discriminação e a incompreensão pelo tipo de trabalho, como os principais aspectos que dificultam a sua
realização (Hammes, Stedile e Camardelo, 2016; Coelho, Beck, Silva, Prestes, Camponogara e Peserico, 2017).
Nesse contexto, o sistema educativo é desafiado a trabalhar os temas ambientais em diferentes esferas para a
compreensão da interface entre comportamento antrópico, consequências ambientais e efeitos na saúde e qualidade de vida,
especialmente se considerado que grande parte dos resíduos de uma cidade advém das residências. Assim, a EA sobre os
resíduos pode desenvolver habilidades para o correto manejo na escola e nas residências de alunos e professores.
A Educação Ambiental (EA) implica na construção de conhecimentos, habilidades, atitudes concernentes às
competências direcionadas para a conservação do meio ambiente em todos os níveis do processo educativo (Brasil, 1999). Essa

157
percepção da necessidade de mudanças atitudinais frente à realidade ambiental desenvolve-se, entre outras situações, quando o
ensino formal aborda a EA transitando entre as diferentes disciplinas.
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a EA objetivam, entre outros, a construção da responsabilidade
cidadã, na reciprocidade das relações dos seres humanos entre si e com a natureza (Brasil, 2012). Tanto a Política Nacional de
EA quanto as DCN afirmam que a EA tem que atingir capilaridade, ou seja, os atores devem imprimir ao desenvolvimento
individual um caráter social em sua relação com o meio ambiente, transformando-se em agentes ambientais, visando
potencializar a prática de promover ética e cidadania ambiental (Brasil, 1999; Brasil, 2012).
No que tange ao desenvolvimento da compreensão integrada do meio ambiente de forma interdisciplinar, Pelicioni
(2015) aponta que a abordagem curricular nas áreas de conhecimento aparece ainda de forma compartimentada, o que dificulta
o aprofundamento do pensamento crítico-reflexivo dos estudantes de forma integral e transversal acerca da temática.
Nesse cenário, estratégias de EA fazem-se necessárias por serem essas caracterizadas como processos coletivos, com
propósito de desenvolver potencialidades essenciais na relação cidadão e meio ambiente, para construção de valores
socioambientais, com o objetivo final de melhorar a qualidade de vida e ambiental da coletividade e garantir sua
sustentabilidade (Pelicioni, 2015). Atividades eficazes que tornem evidente a inter-relação saúde e ambiente propõem capacitar
indivíduos para o compromisso com o meio ambiente, em um primeiro momento, pelo entendimento do processo de
desequilíbrio ambiental para que, posteriormente sejam executadas estratégias de educação na saúde (Beserra, Alves, Pinheiro
e Vieira, 2010).
Importante destacar que a EA não pode ser desenvolvida de qualquer forma. Evidências apontadas por Bomfim,
Anjos, Floriano, Figueiredo, Santos e Silva (2013, p. 27), ao analisarem a questão da transversalidade dos temas “saúde” e
“ambiente” em projetos de cursos e documentos oficiais sobre educação mostram que:

[...] os textos, de maneira geral, são pouco atraentes; pouco práticos; apresentam dificuldades em
dar pistas de ação; não mostram bem as diferentes interfaces com as diferentes áreas; não facilitam
a visualização do sentido em que ocorre a trans e a interdisciplinaridade; apresentam-se em alguns
momentos lacunares ou superficiais; e têm uma proposta de educação comportamentalista. Nesse
limite, a educação serve mais à conformação do que à transformação da realidade; responsabiliza
demasiadamente o indivíduo e isenta o Estado; promove uma cidadania passiva, que alcança a
compreensão do direito, mas não a sua realização.

Dessa forma, busca-se analisar a efetividade de um projeto de educação ambiental implementado em duas escolas de
ensino fundamental no desenvolvimento de aprendizagens para o correto manejo de resíduos sólidos. A construção dos
programas de educação ambiental envolveu toda a comunidade escolar (estudantes, professores, funcionários) e pais, no
desenvolvimento das temáticas “manejo dos resíduos sólidos” e “papel do catador como agente ambiental”, como forma de
maximizar a probabilidade de desenvolvimento de comportamentos compatíveis com a proteção ambiental e a saúde pública.

Material e Métodos
O percurso metodológico deste trabalho pode ser descrito, quanto ao objetivo, como pesquisa-ação, de natureza
qualitativa, que inclui a elaboração e a aplicação de duas propostas pedagógicas executadas em duas escolas. A pesquisa-ação
se caracteriza pelo envolvimento dos participantes de modo cooperativo na resolução de um problema coletivo (Gil, 2018).
Conforme o mesmo autor, a análise qualitativa busca um diagnóstico para um problema específico em uma situação específica,
com o objetivo de alcançar um resultado prático. No contexto desse estudo, foi desenvolvida um programa educativo na forma
de uma gincana (Escola A) e atividades pedagógicas diversificadas, como por exemplo atividades lúdicas e ensino com
pesquisa (Escola B), para favorecer o desenvolvimento de conhecimento, habilidades e atitudes para o correto manejo dos
resíduos e para o entendimento do papel e importância do catador como agente ambiental.
A gincana, desenvolvida na Escola A, é considerada uma técnica educativa que se utiliza da pedagogia ambiental com
a estratégia grupal na tentativa de mediar a relação homem e natureza, consigo mesmo e com outros homens (Luzzi, 2012). Na
Escola B foram desenvolvidas diferentes atividades lúdicas, oficinas e ensino com pesquisa por série escolar, para desenvolver
a capacidade de estudar um problema em grupo, estimular a discussão e o debate, e aprofundar a discussão de um tema
chegando a conclusões (Masseto, 2012). Houve o cuidado de estabelecer uma relação com os conteúdos integrantes do
currículo, definidas após reuniões com direção e professores, optando-se por metodologias de aprendizagem ativa, visto que os
estudantes foram atores e protagonistas nos processos de aprendizagem.
Definiram-se as estratégias de ensino-aprendizagem dirigidas a estudantes da educação infantil e do 1° ao 5º ano de
duas escolas de ensino fundamental do município de Caxias do Sul. A escolha das escolas para a realização das propostas deu-
se pelo fato dessas localizarem-se em dois bairros identificados como os de maior grau de mistura de resíduos pelo sistema de
coleta seletiva do município (Codeca, 2017); e serem escolas da rede municipal de ensino.
As atividades foram elaboradas e executadas no período de outubro de 2017 a novembro de 2018, como parte do
projeto de pesquisa “Segregação de Resíduos Sólidos Urbanos em Caxias do Sul: Proposição e Implementação de um Projeto

158
de Educação Ambiental”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob número CAAE: 69990817.9.0000.5341. O processo
foi desenvolvido por uma equipe interdisciplinar, a qual envolvia pesquisadores e acadêmicos das áreas da Enfermagem,
Serviço Social, Psicologia, Sociologia e Direito. Para o desenvolvimento da EA a interdisciplinaridade foi considerada um
conceito chave devido à complexidade das questões que envolvem o ambiente (Beserra et al., 2010).
A dinâmica de elaboração do projeto que compôs as atividades desenvolvidas nas escolas A e B obedeceu a uma
ordem cronológica. Para facilitar o entendimento do processo planejado, o mesmo está representado por meio de etapas, as
quais podem ser observadas no Quadro 1.

Etapas Dinâmica de desenvolvimento


Definição juntamente com a Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul dos bairros a serem desenvolvidas as
atividades de educação ambiental. Esses foram devido ao maior grau de mistura dos resíduos provenientes dos
Reunião com a Codeca
mesmos, levando em conta os dados de uma caracterização dos resíduos sólidos da coleta municipal desenvolvida em
projeto anterior.
Os bairros identificados com o maior grau de mistura de resíduos sólidos no Município foram mapeados e
diagnosticados quanto à presença de instituições comunitárias (escolas, unidade básica de saúde, igrejas e clubes) com
possibilidade de implementação do programa. Foram selecionadas escolas para a execução das atividades, devido ser
Mapeamento dos bairros
um ambiente de aprendizagem, o público encontrar-se em um período de vida no qual ocorre ampla construção de
conhecimento e pelo fato das crianças serem multiplicadoras natas. A escolha das escolas seguiu os critérios de
localização e ser da rede municipal de ensino.
Reunião com a Secretaria A Secretaria de Educação do Município foi contatada para a apresentação da proposta, bem como para a definição das
Municipal de Educação escolas e encaminhamento da equipe de pesquisa às escolas selecionadas.
As propostas de atividades na forma de gincana e de tarefas didáticas por série escolar foram elaboradas
considerando-se estratégias de: solução de problemas e estudo de caso, pela exigência de um pensamento reflexivo a
Elaboração das atividades partir de um problema; de oficinas, pela ênfase na construção, reconstrução e aprofundamento de conhecimentos
previamente adquiridos; ensino com pesquisa, pela participação ativa dos estudantes e a consideração dos
conhecimentos prévios, dos quais há discussão do objeto e o confronto com a realidade (Anastasiou e Alves, 2015).
A apresentação da proposta para as escolas ocorreu na Escola A para a direção e professores em um dia de reunião
Contato com as escolas e
com todos os professores do ensino fundamental I e na Escola B para a direção, que se responsabilizou pela
apresentação do Programa
socialização e definição das atividades com os professores de cada série.
A escolha das atividades foi realizada em equipe: direção, professores e pesquisadores, conforme o plano pedagógico
Escolha das atividades
das séries escolares, facilidade de envolvimento com os estudantes e disponibilidade de tempo.
O planejamento das atividades foi realizado coletivamente e desenvolvido conforme cronograma específico para cada
Planejamento de cronograma
escola.
Escola A – Professores e pesquisadores participaram durante todo o processo de desenvolvimento das tarefas.
Desenvolvimento das atividades Escola B – Professores atuaram no desenvolvimento das atividades e os pesquisadores na fase inicial e final do
processo.
Realizada de forma processual, ao longo da realização de cada atividade e mediante feedback dos participantes das
Avaliação das atividades respectivas ações. Também foi utilizado um questionário de avaliação de conhecimentos prévios e conhecimentos
construídos ao longo do processo.
Quadro 1 – Planejamento da execução das atividades das escolas A e B

Na Escola A as atividades foram desenvolvidas no período da manhã, em dias letivos e em um sábado, esse com
participação dos pais. Participaram 268 estudantes do 1° ao 5° ano, organizados em dez equipes, com integrantes das diferentes
turmas de maneira transversal, as quais foram denominadas com nomes das associações de reciclagem do Município.
Participaram da dinâmica das atividades 10 professores, cada um responsável por uma equipe e cerca de 80 pais de alunos.
A dinâmica de desenvolvimento de cada tarefa que compôs a gincana obedeceu a seguinte ordem: boas-vindas e
orientações quanto a tarefa a ser realizada; respostas aos questionamentos e dúvidas; apresentação de conceitos conforme as
características das tarefas; execução das ações com auxílio dos professores responsáveis por cada equipe que também era
acompanhada pelos pesquisadores. Posteriormente, houve a execução das atividades que eram pontuadas de acordo com a sua
importância e relação com os temas: reciclagem; redução; reutilização de resíduos; preservação ambiental; e papel do catador.
As tarefas foram realizadas em salas específicas (QG’s) para cada equipe e as propostas que demandavam a integração de
todas as equipes foram executadas na quadra de esportes da escola. Em cada QG, para o desenvolvimento das práticas, havia
um pesquisador que explicava o objetivo e as atividades e um professor responsável pelo grupo.
As atividades realizadas na Escola B foram organizadas e executadas conforme a série escolar, da educação infantil ao
5º ano do ensino fundamental, e trabalhadas por turma, totalizando 378 estudantes envolvidos dos turnos da manhã e tarde. As
atividades da temática ambiental e dos resíduos sólidos foram incorporadas e relacionadas ao conteúdo programático de cada
série, assim os novos conceitos foram sendo introduzidos à medida que os estudantes também aprendiam conteúdos do plano
curricular. A atividade com os pais foi desenvolvida em um sábado, com 41 participantes. Foram utilizadas as estratégias
pedagógicas de solução de problemas, painel, fórum, oficinas e ensino com pesquisa propostas por Anastasiou e Alves (2015),
por envolver integração, trabalho em grupo, mobilização em busca de soluções, levantamento de hipóteses, análise de dados,
além da habilidade de desenvolver argumentos consistentes acerca das questões ambientais.
As atividades foram registradas por meio fotográfico, por gravação de vídeos e diários de bordo escritos pelos
pesquisadores. Os dados foram organizados e analisados para entendimento do impacto das atividades no desenvolvimento das

159
habilidades requeridas para o correto manejo dos resíduos. Para identificação das aprendizagens dos estudantes nas
apresentações, utilizou-se a técnica de Myers (2008), para análise da conversação e da fala, que leva a compreensões mais
claras, descobrindo o que eles tomaram como sentido relevante à temática do meio ambiente.

Resultados e Discussão

Os resultados estão organizados em dois grupos, conforme as propostas pedagógicas trabalhadas nas escolas A e B.

a) Gincana
Em cada dia programado da gincana foram desenvolvidas atividades com as 10 equipes. No conjunto, possuíam como
foco central a significação de conceitos sobre a segregação correta dos resíduos e seu efeito para o meio ambiente. A interação
permanente entre os pesquisadores, os professores, os estudantes e os gestores escolares, bem como com os objetos de
aprendizagem selecionados coletivamente para cada tarefa, contribuiu para a ressignificação de conceitos e para formação de
agentes ambientais mirins.
As atividades realizadas com as equipes estão apresentadas no Quadro 2.

Etapa Atividades Competências/aprendizagem Descrição


Desenvolver curiosidade, estimular a Apresentação para os estudantes da proposta, abordando: tema; proposta;
Explicação da gincana participação e a aprendizagem em relação ao duração; formação das equipes; sorteio do nome da equipe; proposição da
tema primeira tarefa da gincana (criação do crachá e escolha do líder da equipe)
1ª Desenvolver o espírito de equipe Elaboração de um crachá da equipe com 100% de material reciclável. Os
Confecção dos crachás Compreender na prática o conceito de quesitos avaliados foram: identificação da equipe; presença da identificação
“reutilizar” do membro da equipe; criatividade; relação com o tema
Escolha dos líderes Desenvolver espírito de equipe Escolha do líder e vice-líder para representar a equipe
Desenvolver espírito de equipe e compreender a
As equipes elaboraram um grito de guerra com a temática ambiental. A
Grito de guerra necessidade do trabalho em equipe em relação à
criatividade de cada equipe foi avaliada
problemática ambiental
Confecção do mascote da equipe com a identificação de nome que represente
Entender o conceito de “reutilizar”
o grupo. Os materiais deviam ser 100% recicláveis. Foram avaliados os
Criação do mascote Selecionar um aspecto/elemento ou objeto
quesitos: utilização de materiais recicláveis; criatividade; relação com a
representativo da temática ambiental
temática

No quadro da sala foram desenhadas quatro lixeiras representativas dos
Compreender a segregação correta dos resíduos
Roda de conversa sobre resíduos “orgânicos”, “recicláveis”, “perigosos” e “rejeito”. Houve um bate-
Diferenciar os tipos de resíduos
segregação dos resíduos papo sobre quais os tipos de resíduos de caráter domiciliar que devem ser
Classificar os tipos de resíduos
descartados de forma adequada em cada uma
Cada estudante recebeu um tipo de resíduo escrito em um bilhete e fixaram
Prática de segregação
Realizar a segregação adequada dos resíduos nas lixeiras adequadas, conforme a atividade anterior, seguida da discussão
dos resíduos
final dos resultados.
As equipes assistiram o curta-metragem “Um plano para salvar o planeta” e o
Compreender os conceitos: reduzir, reciclar e
Curta-metragem e vídeo vídeo “Man”, no cinema da Universidade sobre a relação entre ação antrópica,
reutilizar
resíduos sólidos e meio ambiente

Conhecer a atividade laboral dos catadores e
Bate-papo com catadores de uma associação de reciclagem do Município
Conversa com catadores perceber a sua importância como agente
sobre suas atividades laborais
ambiental
Diferenciar os tipos de resíduo Caracterização de resíduos recicláveis coletados no bairro no dia da atividade
Oficina de segregação
Classificar os resíduos e exemplificação do destino correto de demais tipos de resíduos domiciliares
de resíduos
Realizar a segregação adequada dos resíduos para estudantes e seus familiares
Oficina de brinquedos Entender o conceito de “reutilizar” Confecção de brinquedos a partir de resíduos recicláveis
4ª Oficina de elaboração
Compreender a importância do trabalho do Elaboração de vídeo por pais e estudantes sobre o papel do catador como um
de vídeo para os
catador para o meio ambiente agente ambiental
catadores
A partir de uma trilha, os estudantes tinham que responder perguntas acerca
Trilha ecológica sobre Compreender o processo de reciclagem dos
da temática dos resíduos sólidos. Um dado indicava quantas casas os
os resíduos resíduos e a logística reversa
jogadores poderiam avançar a medida dos acertos
As equipes criaram uma fantasia com 100% material reciclável para um
Construção da fantasia Apreender o conceito de “reutilizar”
desfile. Foram avaliadas de acordo com a criatividade e relação com o tema
5ª Desfile para integração das equipes e avaliação, por uma comissão, do grito
Socializar o entendimento dos conceitos por
Desfile de guerra e das fantasias, com os critérios: utilização 100% materiais
meio da roupa idealizada
recicláveis; estética; criatividade
Entrega das medalhas de primeiro, segundo e terceiro lugar conforme as
Divulgação dos
6ª Promover a integração das equipes pontuações das tarefas e de medalhas de participação para todos os
vencedores
estudantes, reconhecendo-os como agentes ambientais mirins
Compreender a importância do trabalho do Todos os estudantes assistiram à peça teatral “Não acaba na lata” realizada
7ª Teatro
catador para o meio ambiente pela Companhia “Tem Gente Teatrando” no teatro da Universidade
Quadro 2 – Descrição das competências/aprendizagens e de cada atividade realizada

160
Foram diversificadas as estratégias de ensino-aprendizagem desenvolvidas pelas equipes na gincana, sendo, em sua
maioria, tarefas que exigiam a participação em conjunto e o envolvimento dos estudantes, com destaque para as oficinas. A
dinâmica dessa técnica de ensinagem é mais potente no desenvolvimento de conceitos do que a simples transmissão de
informações (Luzzi, 2012; Masseto, 2012; Anastasiou e Alves, 2015; Pelicioni, 2015), uma vez que uma oficina se caracteriza
como uma estratégia pedagógica “em que o espaço de construção e reconstrução do conhecimento são as principais ênfases. É
lugar de pensar, descobrir, reinventar, criar e recriar, favorecido pela forma horizontal na qual a relação humana se dá”
(Anastasiou e Alves, 2015, p. 103).
Diferentes aprendizagens foram desenvolvidas, tais como: trabalhar em equipe; ampliar a compreensão sobre os
problemas ambientais da atualidade; entender o papel de cada um na redução, reciclagem e reutilização dos resíduos;
ressignificar os conceitos de reduzir, reutilizar, segregar, resíduo perigoso e rejeito. Duas competências foram fundamentais:
manejar adequadamente os resíduos (o que exigiu habilidades para diferenciar, segregar e classificar adequadamente os
mesmos) e a compreensão do papel do catador e a sua importância na proteção do meio ambiente.
Percebeu-se que, das atividades realizadas que possuíam como proposta a construção de um objeto, como a
confecção do mascote e da fantasia, houve maior envolvimento e interação entre os membros das equipes, possivelmente
motivados também pela obtenção dos pontos correspondentes às tarefas. Em conjunto discutiam as possibilidades de realizar a
tarefa proposta, reconhecendo a relação entre sujeito e coletivo na atividade, que constrói a significação cultural dos objetos de
conhecimento (Luzzi, 2012).
Acerca da tarefa de confecção de uma mascote, três equipes desenvolveram super-heróis para 161epresenta-las; as
demais equipes construíram animais, máquinas e um ser humano. A ideia de personagens com superpoderes para simbolizar a
relação com o meio ambiente permite supor que os estudantes possuíam a percepção de que a problemática ambiental pode ser
resolvida por ações de “super-heróis”. Isso significa, de certa forma, transferir a responsabilidade pela redução da geração e,
principalmente, pela segregação adequada a outros, sem a percepção clara da responsabilidade individual frente às questões
ambientais. Com base nessa constatação, o papel individual e intransferível de cada indivíduo no enfrentamento da
problemática dos resíduos foi reforçado nas diferentes atividades.
Em outra tarefa houve uma diversidade de propostas de fantasias confeccionadas. As características das ideias, que
associam o pensar na resolução dos problemas ambientais por meio de símbolos fictícios, também puderam ser percebidas a
partir das fantasias. No entanto, nesse contexto, a presença de super-heróis pode representar também um sentimento de
empoderamento da equipe para lidar com o manejo dos resíduos.
A tarefa da segregação dos resíduos realizada posteriormente à explicação dialogada sobre o manejo e o destino
ambientalmente correto, por meio da estratégia de solução de problemas, permitiu aos estudantes classificar os resíduos
corretamente nas lixeiras (orgânico, reciclável, perigoso e rejeito), em quase sua totalidade. Identificou-se que os estudantes
possuíam conhecimento prévio sobre a segregação dos resíduos orgânicos e recicláveis e as suas simbologias. Os termos
“resíduos perigosos” e “rejeito” foram conceitos novos introduzidos em uma relação direta entre informação, aprendizagem
para mudança de conduta e transformação cultural.
Vale destacar o contato direto das crianças com os catadores pelo grau de participação dos estudantes (Etapa 3). Esse
foi um método ativo, construtivo, dialógico e interativo, de interesse sobre o descarte adequado dos resíduos e a sua atividade
laboral. Os estudantes formularam perguntas como: “Você já ficou doente”? e “Vocês encontram muitos resíduos colocados
errados?”, e em exemplificações de situações familiares das quais os resíduos foram dispostos de maneira adequada no
dispositivo, como o acondicionamento de cacos de vidro em uma embalagem rígida para a proteção do catador. Diante disso,
pode ser considerada uma aprendizagem com real significado, à medida que os participantes puderam incluí-las na estrutura de
seu conhecimento prévio (Ausubel, 1980).
A escolha pela realização de oficinas decorreu desse conceito de aprendizagem significativa. A oficina, por exigir a
participação de todos os membros das equipes e o exercício de atividades práticas, permitiu o acesso a conhecimentos prévios
e à ressignificação de conceitos.
O conjunto das oficinas realizadas com estudantes, pais e familiares permitiu a aproximação da comunidade escolar à
temática dos resíduos e o fortalecimento do papel de cada indivíduo, independente da faixa etária, no processo de manejo dos
resíduos, o que inclui desde a geração até o destino final ambientalmente correto. Portanto, todo indivíduo é responsável pelo
resíduo gerado em todo o seu ciclo de vida.
Os jogos lúdicos possibilitaram a participação, a interação e a tomada de decisões. O jogo foi estrategicamente
elaborado. Esse define tanto um objeto (o jogo em si), quanto a atividade de experimentá-lo (o ato de jogar). Segundo
Vasconcellos, Carvalho e Araújo (2018), é uma atividade que traz satisfação, exige participação ativa do jogador, é
experimentado socialmente, favorecendo a interação social e, por conseguinte, a aprendizagem. No caso dos resíduos, o jogo
possibilitou a interação dos jogadores entre si e desses com os conceitos que estavam sendo construídos nas diferentes
atividades da gincana.
Para Pelicioni (2015) é papel do educador desenvolver o potencial dos indivíduos por meio de situações que
estimulem o seu crescimento. Observou-se resultado satisfatório de aprendizagem pela qualidade, forma de participação e
pelos acertos dos estudantes às questões relacionadas à temática. A preocupação com o descarte inadequado dos resíduos e o

161
trabalho do catador foi verificada pelos questionamentos formulados pelas crianças em relação à dificuldade das atividades
laborais desses profissionais.
Assim, a educação ambiental, por meio de uma gincana para formação de agentes ambientais mirins, pode ser
considerada uma técnica educativa potente, uma vez que os estudantes se sentiram multiplicadores responsáveis pela proteção
ambiental, o que pode ser percebido nas afirmações: “É a medalha mais importante que eu já tive, vou mostrar para toda a
minha família”, “Essa medalha eu vou guardar para sempre” e “Agora nós somos agentes ambientais mirins”.

b) Atividades pedagógicas por séries


As atividades foram selecionas pelos professores e gestores da Escola e desenvolvidas ao longo de um trimestre, em
cada série escolar. Em um dia programado com a escola, as turmas socializaram os resultados das atividades desenvolvidas
para as demais turmas e para os pesquisadores. A dinâmica desse dia deu-se por apresentação de resultados pelos estudantes,
por série, e de uma oficina com grupos de alunos, na seguinte ordem: i) apresentação e socialização de conhecimentos
apreendidos por cada turma; ii) oficina de segregação de resíduos sólidos desenvolvida pelos pesquisadores; iii) bate-papo
sobre o papel do catador para o meio ambiente com base em uma apresentação sobre as condições das associações de
reciclagem municipal; e iv) análise, debate e significados compreendidos do curta-metragem ‘Um plano para salvar o planeta’
(Sousa, 2011) e do vídeo Man (Cutts, 2012).
Os resultados das atividades realizadas com as turmas estão apresentados no Quadro 3.

Estratégias Aprendizagens Habilidades desenvolvidas

-Compreensão dos tipos dos resíduos conforme cor


-Painel “A gente aprendeu as cores dos lixos, para separar e o lixo orgânico e seletivo, das lixeiras
-Oficina 1 e fizemos um monte de brinquedos recicláveis” -Diferenciação de resíduos orgânicos e recicláveis
-Compreensão do conceito de reutilizar

-“Fizemos uma pesquisa de quanto tempo o lixo leva para se decompor. E a


gente trouxe algumas coisas de casa para mostrar para vocês nesse cartaz” -Entendimento do tempo de decomposição de
Ensino com -“O jornal demora oito anos, e o papelão demora de seis a oito anos” diferentes tipos de resíduos
pesquisa -“A lata de metal demora mais de cem anos para se decompor, e a lata de
alumínio de quatrocentos para mais” -Compreensão do conceito de reutilizar
-“O plástico demora para se decompor na natureza quatrocentos anos”
-“A profe deu um desafio que é produzir explicações com materiais
Solução de recicláveis” Compreensão do conceito de gerar resíduo
problemas -“Fazer multiplicações, por exemplo, 2x3 é igual a 6, como 2+2+2 é 6, e
depois nos desafiou a fazer um jogo, e um... algum brinquedo”
-“Nós aprendemos que é muito importante separar o lixo”
-“A gente viu o vídeo da Turma da Mônica, que falava sobre o lixo, sobre
reciclagem”
-“No vídeo da Turma da Mônica tinha os três ‘R’s”
-*P1: “Aí, a separação do lixo, cada cor representa um...”. Resposta: “Um
lixo” -Entendimento dos conceitos de reduzir, reciclar e
Fórum -P1: “O que a gente põe no lixo vermelho?” Resposta: “Plástico” reutilizar
-P1: “E o que ensina este vídeo?” Resposta: “Sobre os três ‘R’s’” -Diferenciação das lixeiras conforme a sua cor
-P1: “Quais são os três ‘R’s’”? Resposta: “Reduzir, reciclar e reutilizar!”
-P1: “E essas cores das lixeiras vocês lembram? O que é a verde?” Resposta:
“Vidro!!”
-P1: “A vermelha?” Resposta: “Plástico!!”
-“E aí, a gente aprendeu as cores das lixeiras”
-“Por que a maioria das pessoas, na verdade todo mundo, acha que é
importante separar o lixo, mas tem quatro famílias que não separam?”
-“Bom, muita gente das famílias, que a gente fez a pesquisa, respondeu que
produzem na sua casa muito mais lixo seletivo. Quando o correto seria lixo
orgânico. Por quê? O lixo seletivo, muitas vezes, quando as pessoas não -Percepção da importância de segregar os resíduos
separam, ele polui o meio ambiente e o lixo orgânico não, porque ele pode se -Utilização dos resíduos orgânicos como
-Estudo de caso transformar em composto para as fazendas” fertilizantes naturais para o solo
-Ensino com -“Algumas famílias disseram que o container de lixo tem no bairro delas e 34 -Compreensão das consequências da segregação
disseram que não tinha, que passava o caminhão. [...] E também tem um
pesquisa problema, que a prefeitura não botou um container em todos os bairros, só os incorreta para o ambiente
principais” -Entendimento da relação da separação dos
-“Eu acho muito importante que a gente separe o nosso lixo, porque se a gente resíduos por vivência realística
botar tudo junto vai poluir ainda mais. E tem muita gente que polui o meio
ambiente, as praias também jogando lixo nos mares, rios, isso pode matar
alguns animais. Então eu acho muito importante a gente separar o lixo, porque
isso é muito bom para o planeta”
-“A gente fez um rolo de papel higiênico, que a gente fez um porta-lápis. Que -Compreensão do conceito de reutilizar

162
a gente fez de bichinho [...]” -Conhecimento da tipologia dos resíduos conforme
Oficina 2 -“Eu, aqui no colégio, eu tinha uma cordinha, daí eu tinha trazido um potinho cor das lixeiras
de iogurte, aí eu furei em casa e eu botei a cordinha. E minha mãe já tinha
feito para mim ver (telefone), e eu fiz um igual”
-“A gente fez com pote de iogurte, com tampinha e com canudinho e com
umas outras coisas (chocalho)”
-“Lixo de plástico é no amarelo e o verde é de casca de fruta”
-“É, a gente, a prof. recortou lixo para botar uns no lixo amarelo e outros no
verde”.
-**P2: “E quais que vão no lixo amarelo Pedro...” Respostas: “Papel, garrafa”,
“As tampinhas”
-P2: “E no lixo verde, Pedro, o que vai?” Respostas: “A casca de fruta”, -Diferenciação dos resíduos orgânicos e recicláveis
-Painel
“Farelo de lápis, casca de maça e casca de banana” -Diferenciação das lixeiras conforme a sua cor
-Oficina
-P2: “Vocês fizeram um bicho”. Com copinhos de...?” Resposta: “Iogurte” -Compreensão do conceito de reutilizar
-P2: “E o que vocês estudaram sobre o Egito? O que vocês usaram pra fazer a
pirâmide?” Respostas: “A gente usou caixa de leite”, “E, e a gente usou caixa
de ovo, e, e”, “E tampinha dos... dos...”, “Das bebidas e prendedor para as
pernas”
-“Nós trabalhamos em aula sobre onde devemos separar o lixo, na lixeira
correta, e também aprendemos a diferenciar lixo e resíduo”
-“Lixo: é o que foi jogado fora e não serve mais para uso, por exemplo
bateria”
-“Resíduo é o que foi descartado, mas pode ser usado novamente para
fabricação de novos produtos”
-“Devemos descartar o lixo na lixeira correta. Amarelo é para metal, por -Diferenciação dos conceitos lixo e resíduo
exemplo: talheres, latinhas de refrigerante e panelas” -Diferenciação dos recipientes de
Painel -“A lixeira vermelha, plástico, é usada, como exemplo: embalagem de acondicionamento (lixeira) conforme a sua cor
produtos de limpeza, copos de plásticos, copos de iogurte e sacos de -Conhecimento da segregação adequada dos
embalagens” resíduos
-“A lixeira branca é para resíduos hospitalares e seringas e agulhas”
-“A lixeira verde é para vidro. Exemplo: copos, cacos de vidro, xícaras e taças
de vidro”
-“A lixeira marrom é para restos de comida, por exemplo, depois que você
comeu a maçã para jogar o cabinho fora, a casca da banana, casca da
bergamota, a casca da manga e muitas outras coisas”
Legenda: *P1 – professora 1; **P2 – professora 2
Quadro 3 - Descrição das competências adquiridas a partir das estratégias de aprendizagem desenvolvidas

Das atividades de aprendizagem resultaram diversos produtos como porta-lápis (pinguim) e de personagens (caipira);
animais (cobra e camelos); pirâmide egípcia, vários tipos de brinquedos; folders explicativos sobre o manejo e tipos de
resíduos; mostra de resíduos perigosos eletrônicos; cartazes com exemplos de resíduos orgânicos e recicláveis; pesquisa
bibliográfica sobre tempo de decomposição dos resíduos na natureza e pesquisa realizada com familiares sobre a reciclagem.
Esses produtos construídos pelos estudantes a partir dos resíduos sólidos e sobre a reciclagem foram expostos na escola. Para
entender a temática ambiental, as produções envolveram conteúdos de diferentes áreas, mostrando-se eficaz o trabalho com os
resíduos sólidos de forma interdisciplinar.
Percebeu-se que as estratégias de “estudo de caso” e “ensino com pesquisa”, foram as que possibilitaram maior
compreensão dos estudantes na relação entre o tema dos resíduos e a prática de reciclagem no cotidiano. Essas técnicas
educativas, por exigirem uma dinâmica de mobilização dos indivíduos e reunirem a teoria com a prática, possibilitaram que os
estudantes entendessem de maneira mais significativa essa problemática e o papel de cada um na sua solução. Isso pôde ser
percebido pelo posicionamento crítico das crianças frente à realidade em relação aos resíduos (Anastasiou e Alves, 2015).
Quanto aos folders elaborados pelos estudantes foram diversas as ideias apresentadas, como a separação adequada dos
resíduos, o tempo de decomposição dos materiais no ambiente, a importância da reciclagem para o meio ambiente e a relação
entre resíduo, poluição e desastres ambientais. Como esses apresentaram perfis com diferentes informações, optou-se por
separar palavras-chave ao longo dos textos dos folders explicativos, por meio do Programa WordClouds, a fim de se obter uma
demonstração ilustrativa das principais palavras utilizadas nessa atividade, resultando o que é apresentado na Figura 1.
Conforme a ilustração, os termos mais utilizados foram: lixo; orgânico; seletivo; separar; importante; jogar; lixeira;
anos; papel; vidro; plástico; ambiente; natureza; poluição; e mundo. Esse conjunto de palavras aponta para duas grandes
habilidades fundamentais para mudança de comportamento frente aos resíduos: a separação dos resíduos seletivos (reciclável)
e a destinação correta, especialmente do orgânico. Como a questão da compostagem do resíduo orgânico também foi objeto de
trabalho, há probabilidade de que os mesmos possam ter um destino mais adequado do que o aterro sanitário ou a sua mistura
com os recicláveis, o que é bem comum nos bairros onde o programa de educação ambiental foi desenvolvido.

163
Figura 1: Principais palavras utilizadas pelos estudantes na elaboração dos folders

De maneira geral, as atividades favoreceram a construção dos conhecimentos, habilidades e atitudes acerca da
separação adequada dos resíduos sólidos, da classificação dos resíduos quanto a sua tipologia, da diferenciação das lixeiras por
coloração e dos conceitos “reduzir” e “reutilizar”. Verificou-se que as técnicas de educação ambiental utilizadas contribuíram
para a aprendizagem de maneira satisfatória pela participação e envolvimento dos alunos na apresentação, pelo domínio de
conceitos e pela qualidade dos trabalhos realizados.

Considerações Finais
A gincana, as atividades lúdicas e a pesquisa desenvolvida pelos estudantes proporcionaram oportunidades ímpares
para que esses pudessem problematizar diferentes situações vividas, buscando a compreensão dos desafios socioambientais e a
sua transformação. Dessa forma, pode-se dizer que as experiências foram capazes de favorecer a incorporação de ideias, a
construção e a ressignificação de conceitos e a percepção sobre formas de agir mais saudáveis e sustentáveis, especialmente em
relação aos resíduos sólidos.
Dentre as atividades selecionadas destacam-se o jogo, a oficina, o ensino com pesquisa e o estudo de caso, que se
constituíram como tecnologias educativas potentes para o desenvolvimento de novas formas de atuar no manejo dos resíduos,
bem como para o entendimento do papel do catador como agente ambiental. A interação com o catador mostrando sobre o seu
trabalho, as condições em que é realizado e a forma como o resíduo chega até esse trabalhador foram consideradas
fundamentais para a consolidação do papel de cada um na correta segregação dos resíduos.
As principais habilidades desenvolvidas dizem respeito a capacidade de classificar os resíduos, segregar
adequadamente, reconhecer o papel do catador, diferenciar “lixo” de “resíduo”; reduzir a geração; propor formas de reuso e
utilizar resíduos orgânicos para compostagem.
Conceitos como: resíduo, rejeito, perigoso, reutilização, redução, reciclagem, segregação, sustentabilidade, proteção ambiental
e cidadania permearam todas as atividades desenvolvidas de forma a colaborar na consolidação de novos conhecimentos.
Espera-se que os participantes se tornem multiplicadores, de tal forma que possam desempenhar o papel de agentes ambientais
mirins, consolidando novas formas de relação com o ambiente.
Assim, a gincana e as atividades pedagógicas se constituíram, nessa experiência, como potentes recursos para
aprendizagem e contribuíram para uma experiência ativa e participativa, facilitando a construção de conhecimento significativo
em coletividade, na defesa do meio ambiente e da qualidade de vida.

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4E4199D?sequence=1.

165
5SSS117
PROPOSIÇÃO DE DIRETRIZES PARA ESTUDOS AMBIENTAIS
CONSIDERANDO A VULNERABILIDADE AMBIENTAL PARA
EXTRAÇÃO DE ROCHAS ORNAMENTAIS
Leonardo Monjardim Amarante1, Luciana Harue Yamane2, Renato Ribeiro Siman3, Gilson Silva Filho4,
Fernanda Aparecida Veronez5
1Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail:leonardo@monjardim.com; 2Universidade Federal do Espírito
Santo, e-mail:lucianayamane@gmail.com; 3Universidade Federal do Espírito Santo, e-
mail:renato.siman@ufes.br; 4Centro Universitário São Camilo, e-mail: silva.filho.gilson@gmail.com; 5Instituto
Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, e-mail: fveronez@ifes.edu.br

Palavras-chave: Rochas Ornamentais; Estudos Ambientais; Vulnerabilidade Ambiental

Resumo
Muitos projetos do setor de mineração de rochas ornamentais implantados são distintos dos projetos descritos durante os
Estudos Ambientais. Isso dificulta ou impede a comparação entre os impactos previstos e aqueles verificados após a conclusão
do empreendimento. Além disso, as perturbações provocadas pelas atividades de mineração, quando iniciadas, proporcionam
diferentes respostas do meio em função das características naturais e humanas do local. Este trabalho de pesquisa considera o
conceito de vulnerabilidade ambiental avaliando a qualidade dos Estudos Ambientais e sua concordância com as resoluções e
melhores práticas do setor, com o propósito de verificar a compatibilidade com as características ambientais, sociais e
econômicas de cada região, além de sugerir diretrizes para os termos de referência que norteiam a elaboração desses estudos.
Para o desenvolvimento desta pesquisa foram aplicadas ferramentas que consideram 8 Variáveis Legais utilizadas para a
análise da concordância com a legislação e 5 Variáveis Técnicas para a análise dos aspectos técnicos abordados. Foram
consideradas as empresas com maior volume de produção de minério do estado do Espírito Santo identificadas com licenças de
operação válidas, e passíveis de serem analisados os Estudos Ambientais. Das 267 empresas que realizam extração de rochas
ornamentais, foram avaliados 65 Estudos Ambientais, onde 26% apresentaram concordância “baixa” com as Variáveis Legais,
72% foram classificados com “média” concordância e apenas um estudo ambiental foi classificado com “alta” concordância
com os requisitos relativos à legislação. Sobre as Variáveis Técnicas avaliadas, 64,5% dos estudos foram classificados com
“baixa” concordância e 35,5% com “média”, nenhum estudo foi classificado com “alta” concordância, o que sugere a carência
de profissionais capacitados na elaboração de relatórios, planos e projetos neste setor. No quesito vulnerabilidade, 33% das
jazidas encontram-se em áreas de “muito baixa” vulnerabilidade e 26% em áreas de “baixa” vulnerabilidade. Sendo assim,
59% das áreas de empresas mineradoras de rochas ornamentais foram instaladas em locais com vulnerabilidade favorável para
operação e extração. Por outro lado, 22% das jazidas encontram-se em áreas de “alta” ou “muito alta” vulnerabilidade,
indicando a necessidade de Estudos Ambientais compatíveis com esses índices (devendo apresentar qualidade técnica e legal).
Somente 19% das pedreiras estão em áreas de “média” vulnerabilidade. Os resultados indicaram que muitas empresas
mineradoras não contemplaram itens fundamentais e de importância significativa na avaliação de impactos ambientais, tais
como: a definição de área de influência indireta, descrição dos impactos e proposição de medidas sobre o meio antrópico, além
da definição de programas de monitoramento. Ademais, defende-se que a determinação do tipo de Estudo Ambiental não
deveria ser somente baseada no porte do empreendimento e sua produção mensal (metros cúbicos), mas também considerar a
vulnerabilidade ambiental das áreas de influência direta e indireta. Portanto, torna-se essencial que os estudos sejam revisados
pelo órgão ambiental competente por meio de Termos de Referência de acordo com a vulnerabilidade ambiental.

Introdução
Os Estudos Ambientais fazem parte do processo de licenciamento ambiental podendo ser mais amplos, e acompanhados de
audiência pública, ou mais simplificados, porém com estrutura semelhante, no caso de empreendimentos com menores
impactos ambientais. O órgão licenciador, portanto, pode facultar a apresentação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA)
acompanhado do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) e exigir o Relatório de Controle Ambiental (RCA), ou Plano de
Controle Ambiental (PCA) acompanhado do Projeto de Recuperação de Área Degradada (PRAD), e todos devem ser
elaborados a partir de um Termo de Referência (TR) (CONAMA, 1997). Comum a todos os estados e regulamentado pela
Resolução CONAMA 001/1986, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) são
exigidos no licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades que possam causar significativos impactos ambientais,
como por exemplo, a extração de rochas ornamentais (CONAMA, 1986).

166
No entanto, segundo Bragagnolo et al. (2017), a qualidade dos Estudos de Impacto Ambiental é muito variável, pois a
participação do público geralmente é fraca, a capacidade institucional é baixa, faltam diretrizes técnicas, as medidas
mitigadoras prescritas são frequentemente negligenciadas e os potenciais impactos sociais raramente são avaliados.
Em concordância com a baixa qualidade dos EIA, o estudo realizado pelo The World Bank Group (2016) aponta como uma
das fragilidades do licenciamento ambiental a falta de critérios de padronização para a realização e a avaliação dos estudos de
impacto ambiental, evidenciado, dentre outros, pela falta de critério para definição das áreas direta e indiretamente afetadas.
Dessa forma, observa-se a carência da compatibilização dos Estudos Ambientais com a caracterização da vulnerabilidade
ambiental de cada área estruturada de forma científica. Percebe-se que a problemática em questão não foi sistematizada com
um viés metodológico, sendo descritas muitas vezes de forma genérica, tornando limitada a tomada de decisão e a proposição
de soluções para a definição de Estudos Ambientais decorrentes da vulnerabilidade ambiental (Almeida et al. 2014a).
Diante do exposto, a seguinte lacuna foi identificada: como determinar critérios específicos para os Termos de Referência, a
partir do Mapa de Vulnerabilidade proposto pelo Zoneamento Ecológico e Econômico, de forma a realçar os elementos críticos
e essenciais para elaboração dos Estudos Ambientais referentes à extração de rochas ornamentais que considerem as
características locais? Para responder esta pergunta, o presente trabalho teve como objetivo avaliar as diretrizes e qualidade,
por meio de variáveis técnicas e legais, dos Estudos Ambientais necessários ao licenciamento de empreendimentos de extração
de rochas ornamentais, para então, reforçar a importância de Termos de Referência (TR) específicos, com diretrizes que
realcem os itens de maior relevância em diferentes níveis de vulnerabilidade.

Materiais e Métodos

Estudos Ambientais
Foram avaliados 65 Estudos Ambientais disponibilizados pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
(IEMA-ES), que atendiam aos critérios de inclusão descritos a seguir, foram selecionados para avaliação por meio de uma
amostragem não probabilística, pelo método de conveniência:
 Empresas que estão entre as 100 principais produtoras do estado, definidas pelo Anuário Mineral Estadual (DNPM,
2015), independente do porte, por serem mais impactantes;
 Empresas com as licenças ambientais válidas no Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) no
período entre 2013 e 2017, pois continuam impactando;
 Empresas que desempenham a atividade de extração de rochas ornamentais em fase de operação e tenham sido
submetidas/enquadradas à apresentação de estudos simplificados como RCA/PCA/PRAD no período entre 2013 e
2017, sem AIA (Avaliação de Impacto Ambiental);
 Empresas que possuem Estudos Ambientais disponibilizados para consulta pública na biblioteca do IEMA.

Metodologia da pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida em 4 etapas metodológicas, conforme detalhado a seguir.

Etapa 1 - Avaliação da qualidade dos Estudos Ambientais


Para a avaliação da qualidade dos Estudos Ambientais foi elaborado um conjunto de Variáveis Legais e Técnicas com base em
duas listas de verificação propostas por Zanzini (2001) e Almeida et al. (2014b), além dos critérios técnicos abordados por
Sánchez (2013).
As Variáveis Legais (VL) verificaram a concordância com a legislação pertinente e o licenciamento ambiental (Instruções
Normativas, Resoluções e Termos de Referência), sendo divididas em 8 (oito) Variáveis Legais: VL1: Informações sobre o
empreendimento; VL 2: Limites geográficos; VL3: Diagnóstico ambiental; VL 4: Qualidade ambiental; VL 5: Impactos
ambientais; VL 6: Medidas ambientais; VL 7: Programas de monitoramento; e VL 8: Multidisciplinaridade e habilitação da
equipe. A atribuição dos pesos a estas oito variáveis totaliza uma nota 100 e com exceção das variáveis 6 e 7, cada variável
recebeu peso 10.
Já as Variáveis Técnicas (VT) avaliaram a concordância com os aspectos técnicos (melhores práticas do setor) segundo
Sánchez (2013), sendo consideradas 5 (cinco) Variáveis Técnicas: VT 1: Tipo de abordagem; VT 2: Qualidade dos mapas,
figuras e anexos; VT 3: Estrutura do estudo; VT 4: Estilo de escrita; e VT 5: Enunciado dos impactos.
Os pesos atribuídos para essas variáveis também totalizam uma nota 100 conforme, porém os pesos atribuídos para as variáveis
são diferentes, sendo: VT1 e VT4 receberam peso 25%, VT3 recebeu peso 20% e VT2 e VT5 receberam peso 15%.

Etapa 2 - Cálculo dos Índices de Concordância e da correlação entre as variáveis.


Os valores assumidos pelos Estudos Ambientais e pelas Variáveis Legais e Técnicas foram avaliados mediante o cálculo de
Índices de Concordância (Equações 1 a 6) que variam de 0 a 1, e foram divididos em 5 classes de concordância, de acordo com
a classificação apresentada na Tabela 1.

167
Intervalo Classificação
0,0 ≥ 0,2 Muito baixa
0,2 ≥ 0,4 Baixa
0,4 ≥ 0,6 Média
0,6 ≥ 0,8 Alta
0,8 ≥ 1,0 Muito alta
Tabela 1: Classes de concordância propostas para os Índices de Concordância

Índices de Concordância Legal


A concordância dos Estudos Ambientais com os aspectos legais e de licenciamento foi estimada por meio do Índice de
Concordância Legal do Estudo (LCE). O índice é a relação entre o somatório da nota atribuída durante a análise a cada variável
legal ((𝐿)𝑗) e o somatório do máximo valor que cada variável legal poderia asumir (𝑉(𝐿)𝑗), como mostra a Equação 1. Este índice
atribui quanto o estudo está em conformidade com a legislação segundo os pesos dados.
(1)

A quantificação da concordância de cada variável legal com a legislação foi estimada por meio do Índice de Concordância
Legal da Variável (LCv). Seu valor expressa a relação entre o somatório da nota atribuída durante a análise a cada item que
compõe a Variável Legal (𝑖(𝐿)𝑗) e o máximo valor que essa variável pode assumir (𝑉(𝐿)) apresentado pela Equação 2.
(2)

A fração de Estudos Ambientais que cumprem um determinado item de uma Variável Legal foi calculada por meio do Índice
de Concordância Legal do Item (LCI), onde 𝐼(𝐿)𝑗 é o número de Estudos Ambientais analisados que cumpriram o j-ésimo item da
variável legal e n o número total de Estudos Ambientais que compuseram o estudo (vide Equação 3). O item só é considerado
cumprido quando recebe a totalidade da nota atribuída a ele.
(3)

Índices de Concordância Técnica


A concordância técnica dos Estudos Ambientais foi calculada por meio do Índice de Concordância Técnica do Estudo (TCE). O
índice é a relação entre a soma da nota atribuída para cada variável técnica (𝑣(𝑇)𝑗) e o somatório do máximo valor que cada
variável técnica pode alcançar (𝑉(𝑇)𝑗) de acordo com a Equação 4. Em outras palavras, o resultado vai atribuir o quanto o estudo
está em conformidade com as melhores práticas de elaboração.
(4)

O cálculo da concordância de cada variável técnica com as melhores práticas de avaliação de impacto ambiental disseminadas
internacionalmente foi ponderado por meio do Índice de Concordância Técnica da Variável (TCV). Assim, este índice é dado
pela Equação 5 e revela a relação entre a soma da nota atribuída durante a verificação de cada item que compõe a variável
técnica (𝑖(𝑇)𝑗) e o valor máximo que essa variável pode assumir (𝑉(𝑇)).
(5)

O cumprimento de um determinado item de uma variável técnica dos diversos Estudos Ambientais foi estimado por meio do
Índice de Concordância Técnica do Item (TCI), onde 𝐼(𝑇)𝑗 é o número de Estudos Ambientais analisados que cumpriram o j-
ésimo item da Variável Legal e n o número total de Estudos Ambientais em questão conforme mostrado na Equação 6. O item
é considerado cumprido quando recebe a totalidade da nota atribuída a ele.
(6)

Análise de Variação
Para determinar a correlação entre as variáveis, o tratamento dos dados foi realizado de forma quantitativa com uso de técnicas
de estatística descritiva. Para a validação do conjunto de dados foi realizada a Análise de Componentes Principais (Principal
Componentes Analysis – PCA) que encontra variáveis hipotéticas (componentes) que agregam o máximo possível da variância
presente nos seus dados multivariados. Estas novas variáveis são combinações lineares das variáveis originais. PCA pode ser
usada para reduzir o conjunto de dados a apenas duas variáveis. Também foi realizado o cálculo representando os
agrupamentos principais, em termos de relação determinada pela correlação de Spearman sob 5% de significância.

168
Etapa 3 - Análise dos índices regionalizados e dos fatores condicionantes da vulnerabilidade ambiental
Para identificar o nível de vulnerabilidade ambiental dos 15 principais polos de produção de granito no Espírito Santo, utilizou-
se o software ArcGIS através dos seguintes passos:
 Criação dos polígonos representativos dos principais polos de mineração;
 Aplicação da ferramenta Extract by mask em Spatial Analysis Tools que extraiu as informações do raster Zoneamento
Ecológico e Econômico (ZEE) para os polígonos;
 Utilização da ferramenta Raster Calculator para identificar a contagem de pixels pertencentes aos níveis de
vulnerabilidade ambiental dentro de cada polígono que representa um polo;
 Estimativa de percentagem das zonas através da contagem total e de cada categoria.

Foi realizado o cruzamento das coordenadas das frentes de lavra licenciadas e dos principais polos por meio do software
ArcGIS possibilitando a categorização das jazidas por microrregiões e municípios, além da comparação entre os polos
mapeados pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e a realidade das jazidas licenciadas no estado.
A compatibilidade entre a qualidade dos Estudos Ambientais e o nível de vulnerabilidade ambiental foi analisada por meio dos
produtos do Sistema de Informações Geográfica e da regionalização dos índices de vulnerabilidade com o georreferenciamento
das empresas mineradoras.

Etapa 4 - Elaboração de diretrizes para Termos de Referência segundo a vulnerabilidade ambiental


As Variáveis Legais ou Técnicas avaliadas no presente estudo foram agrupadas e consideradas concordantes com o Termo de
Referência disponibilizado pelo órgão ambiental. Porém, as variáveis apresentadas pelos Estudos Ambientais que estiveram
em desacordo com as características ambientais da região foram realçadas como diretrizes para TR específicos considerando os
níveis de vulnerabilidade ambiental estabelecidos pelo Zoneamento Ecológico e Econômico.

Resultados e Discussão

Etapa 1 - Avaliação da qualidade dos Estudos Ambientais


Os resultados obtidos na avaliação da qualidade dos Estudos Ambientais serão apresentados separadamente por variável, sendo
inicialmente discutidas as Variáveis Legais, e posteriormente, as Variáveis Técnicas.

Variáveis Legais (VL)


Os resultados relacionados à concordância das Variáveis Legais com a Resolução CONAMA 001/86 e com o Termo de
Referência para elaboração de PCA/PRAD estão representados na Figura 1, que contém as médias das variáveis aplicadas nos
Estudos Ambientais, de acordo com os valores calculados para o Índice de Concordância Legal do Estudo.

Figura 1: Média dos valores apresentados para cada Variável Legal (VL).
Legenda: VL1 = Informações sobre o empreendimento; VL2 = Limites Geográficos; VL3 = Diagnóstico ambiental; VL4
= Qualidade ambi- ental; VL5 = Impactos ambientais; VL6 = Medidas Ambientais; VL7 = Programas de
monitoramento; VL8 = Multidisciplinaridade e habilitação da equipe;

Na Figura 1, é possível observar as variáveis que são atendidas ou não nos estudos ambientais. VL5 e VL7, que tratam dos
impactos ambientais e dos programas de monitoramento, obtiveram as menores médias (0,08 e 0,03, respectivamente)
demonstrando a necessidade de elaboração mais criteriosa nesses aspectos. Já VL8, que trata da multidisciplinaridade da
equipe envolvida, se destacou positivamente como o item mais atendido em concordância legal (média 0,94) nos 65 Estudos
Ambientais analisados.
A Figura 2 apresenta a distribuição e limites dos valores, formados pelo primeiro e terceiro quartil e pela mediana. As hastes
inferiores e superiores se estendem, respectivamente, do quartil inferior até o menor valor não inferior ao limite inferior e do
quartil superior até o maior valor não superior ao limite superior. Os pontos fora destes limites são considerados valores

169
discrepantes (outliers) e são denotados separadamente.

Figura 2: Distribuição e limites dos valores em cada Variável Legal (VL).


Legenda: VL1 = Informações sobre o empreendimento; VL2 = Limites Geográficos; VL3 = Diagnóstico ambiental; VL4
= Qualidade ambiental; VL5 = Impactos ambientais; VL6 = Medidas Ambientais; VL7 = Programas de
monitoramento; VL8 = Multidisciplinaridade e habilitação da equipe.

Conforme observado na Figura 2, analisando a Variável Legal (VL1), que trata sobre informações do empreendimento, as
informações sobre o porte geralmente são apresentadas apenas no formulário de enquadramento por meio da relação entre os
parâmetros área útil (hectare) e produção mensal (m3/mês). Portanto, na maioria dos casos essas informações não são
abordadas no conteúdo dos Estudos Ambientais sendo registradas no momento de requerimento para licença ambiental.
Vale ressaltar que, nenhum empreendimento estudado foi enquadrado para apresentação de EIA-RIMA, pois é comum os
empreendimentos de mineração de rochas ornamentais limitarem as áreas de intervenção para se enquadrarem em estudos mais
brandos, com Termos de Referência menos abrangentes e que não demandam audiência pública. Sendo assim, foi possível
verificar duas licenças ambientais da mesma empresa mineradora em áreas contíguas. Esse parâmetro deveria ser um limitante
para expansão da área de intervenção pelo órgão ambiental.
Conforme destacou Dias e Sanchez (2001), o tipo e quantidade de informações a serem coletadas, assim como a extensão da
área de estudo devem ser suficientes para que, nas etapas seguintes do estudo ambiental, possam ser relacionadas entre o
projeto proposto e o meio no qual será inserido.
Apenas nove Estudos Ambientais (14%) apresentaram o histórico do empreendimento como item do Estudo Ambiental. Para
cada uma das jazidas estudadas deveria ter sido apresentado o histórico de sua localização, as suas características, os trabalhos
necessários e planejados, quantificados e datados por meio de um relatório sucinto justificando a seleção do local, bem como
mostrando os trabalhos que foram realizados para sua definição.
A definição dos limites geográficos está relacionada ao tipo de estudo em que o empreendimento foi enquadrado. Por exemplo,
mineradoras que apresentam PCA/PRAD se limitam em definir coordenadas da área útil do empreendimento, já aquelas
enquadradas para apresentação de EIA/RIMA devem indicar os limites geográficos como: área de intervenção direta e indireta.
Sendo assim, o enquadramento interfere diretamente na abrangência territorial dos Estudos Ambientais.
A Variável Legal (VL2) analisa a apresentação dos limites geográficos por meio da definição das áreas de intervenção direta e
indireta. Observou-se que 12 Estudos Ambientais (18%) não apresentaram definições com vértices que delimitam as áreas de
intervenções diretas e indiretas, prejudicando a análise territorial dos órgãos fiscalizadores. Apenas seis empreendimentos
identificaram com clareza a área de intervenção indireta, e 72% dos Estudos Ambientais se limitaram a apresentar apenas a
área de intervenção direta do empreendimento.

170
Concordando com Cureau et al. (2004), a delimitação da área de influência não deve ter apenas como referência as obras de
infraestrutura definitivas projetadas, e sim, a provável abrangência espacial de todos os impactos significativos decorrentes das
intervenções no ambiente nas diversas fases do projeto, bem como a influência dos fatores ambientais nas mudanças das
características ambientais diretamente relacionadas a atividade de lavra, como a mudança na composição mineralógica do solo,
que altera a viscosidade da água do lençol freático e dos corpos hídricos locais. Sánchez (2013) defende ainda que a área de
influência é a área geográfica na qual são detectáveis os impactos de um projeto. Sendo assim, ela não deveria ser estabelecida
antes de se iniciarem os estudos, exceto como hipótese a ser verificada.
Sobre a Variável Legal (VL3) e os diagnósticos ambientais apresentados, 77% descrevem os meios físico e biótico sem
abordar o meio antrópico na área de influência. Portanto, sem propor medidas ambientais compatíveis com o empreendimento
voltadas para a comunidade do entorno. Dos empreendimentos estudados, 86% apresentaram a síntese do resultado sobre o
diagnóstico ambiental, atendendo a variável legal (VL4).
No que se refere ao monitoramento e gestão dos impactos sobre o meio antrópico, os dados obtidos neste estudo vão ao
encontro da pesquisa de Rabelo (2014) sobre a importância dos indicadores sociais, cujo uso, todavia, ainda não está tão
desenvolvido como o de outros indicadores ambientais.
Apenas 5% dos estudos classificaram os impactos como positivos/negativos, diretos/indiretos, imediatos/médio/longo prazo,
temporários ou permanentes. Nenhum estudo abordou a importância, magnitude e reversibilidade dos impactos identificados.
Sendo assim, a Variável Legal (VL5) assumiu valores enquadrados na classe de concordância com a legislação considerada
como “baixa”.
Assim como destacou Dias e Sanchez (2001), os dados obtidos revelam que atribuir valor, importância e significado aos
impactos identificados e previstos é uma tarefa carregada de subjetividade, afinal, depende de critérios de importância e da
escala de valores que norteiam o julgamento de indivíduos ou grupo social. As decisões de aprovação ou reprovação de um
projeto, bem como a composição das condicionantes que comporão a licença ambiental, dependem diretamente do resultado da
avaliação de impacto e sua interpretação.
O sistema de licenciamento do Canadá pode ser citado como um bom exemplo, por definir formalmente os critérios a serem
empregados para a determinação da significância dos impactos, além de considerar a extensão geográfica, a magnitude, a
duração, frequência, irreversibilidade e o contexto ecológico como critérios de significância defendido por Sadler (1996).
As medidas ambientais que compõem a Variável Legal (VL6), em geral, são propostas para os meios físico e biótico apenas. O
fato do diagnóstico ambiental não contemplar o meio antrópico faz com que a sociedade no entorno não seja avaliada com
impacto positivo, fazendo uso de proposta de medidas compatíveis com o empreendimento. Além disso, das medidas
propostas, em nenhum estudo avaliado foi esclarecido com clareza a responsabilidade objetiva de execução das mesmas.
A Variável Legal (VL7), que se refere aos programas de monitoramento, foi contemplada apenas em quatro Estudos
Ambientais, propondo o monitoramento utilizando programas com parâmetros e prazos estabelecidos para amostragem em
meios físico e biótico. Nenhuma mineradora se propôs a realizar monitoramento do meio antrópico.
As variáveis (VL5 e VL7), relativas à identificação, previsão e interpretação dos impactos ambientais, além da apresentação e
indicação de programas de monitoramento, foram as que obtiveram menores índices e constituem parte fundamental nos
Estudos Ambientais.
Das equipes que elaboraram os estudos analisados, 77% foram consideradas multidisciplinares (VL8) sendo compostas
geralmente por dois profissionais, dentre geólogos, engenheiros agrônomos, florestais, de minas, geógrafos e técnicos
ambientais, no entanto, observou-se que 78% dos Estudos Ambientais das principais jazidas de extração de rochas ornamentais
do ES foram elaborados por cinco empresas de consultoria ambiental. De acordo com Farias (2002), foi constatado que as
grandes empresas de mineração dispõem de pessoal qualificado e em número suficiente para o atendimento das questões
ambientais de seus empreendimentos. As médias e pequenas empresas de mineração apresentam um quadro técnico
insuficiente e necessitam de uma melhor qualificação na questão meio ambiente/mineração, ou até mesmo da contratação de
uma equipe de consultores.
De forma geral, no quesito legal, as principais falhas estão relacionadas ao diagnóstico ambiental e à proposição de medidas
mitigadoras dos impactos negativos e programas de monitoramento. Glasson et al. (2013) indicaram como falha dos estudos de
impacto ambiental, o inadequado monitoramento dos impactos que não se concretizaram, na prática, mas que pesaram na
tomada de decisão da viabilidade ambiental do empreendimento e que criaram expectativas na população afetada.

Variáveis Técnicas (VT)


As Figuras 3 e 4 consolidam os resultados relacionados à concordância das Variáveis Técnicas com fundamentos técnicos e
científicos preconizados para Estudos Ambientais enquadrados e relacionados às mineradoras. Os gráficos apresentam as
médias (Figura 3) e os limites das variáveis aplicadas nos Estudos Ambientais (Figura 4), de acordo com os valores calculados
para o Índice de Concordância Técnica do Estudo (TCE).

171
Figura 3: Média dos valores apresentados para cada Variável Técnica (VT).
Legenda: VT1 = Tipo de abordagem; VT2 = Qualidade dos mapas, figuras e anexos; VT3 = Estrutura do estudo; VT4 =
Estilo de escrita; VT5 = Enunciado dos impactos.

Figura 4: Distribuição e limites dos valores em cada Variável Técnica (VT).


Legenda: VT1 = Tipo de abordagem; VT2 = Qualidade dos mapas, figuras e anexos; VT3 = Estrutura do estudo; VT4 =
Estilo de escrita; VT5 = Enunciado dos impactos.

Como pode ser observado nas Figuras 3 e 4, a Variável Técnica (VT1) referente ao tipo de abordagem dos estudos, classifica-
os como “dirigidos” em 55% do total e 45% como “exaustivos”. Os estudos apresentaram padronização de estilo (VT4), escrita
culta da língua portuguesa, porém, com escrita pouco objetiva. Com relação aos estudos classificados como “exaustivos”
através da (VT1), não houve pontuação, quando observada a compartimentação excessiva do texto. Fica claro nos resultados
deste trabalho, um processo de monopolização dos estudos por um corpo de especialistas, socialmente reconhecidos, como
detentores da competência necessária à produção ou à reprodução de um corpus deliberadamente organizado de conhecimento,
garantindo a eficácia de uma estrutura rígida, compartimentada e, contudo, apresentada de maneira subjetiva em Estudos
Ambientais de baixa qualidade.
Sobre a qualidade dos mapas, figuras e anexos (VT2), apenas uma mineradora, de um total de 65, apresentou estudo ambiental
com elementos ilustrativos para apresentação dos dados de maneira explicativa, correlacionada com o texto e obedecendo às
normas técnicas. As demais empresas de mineração apresentaram os elementos de maneira autoexplicativa, porém, sem
correlação com o texto, ou fora das normas, o que revela um problema de elaboração. De acordo com Martinelli (1994), a
cartografia não possui função meramente ilustrativa devendo constituir uma maneira lógica de revelar, sem ambiguidades, o
conteúdo de forma dirigida, abrangente, esclarecedora e crítica. Sabendo da importância da comunicação visual, que não pode
ser menosprezada pela geografia, a qualidade dos mapas, figuras e anexos deve facilitar a compreensão do significado da
realidade que envolve sociedade e natureza.
Com relação à estrutura dos estudos (VT3), 98% dos estudos contém sumário paginado, apenas 9% apresentaram lista de
figuras, tabelas e anexos. A existência de sumário paginado facilita identificar os assuntos constituintes do relatório e se o
mesmo abrange todo o Termo de Referência, que não cita quais seriam as exigências no uso de sumário, apesar de ter sido
considerada neste trabalho como parte importante.
A Variável Técnica (VT5) relaciona o enunciado dos impactos, se sintéticos, autoexplicativos e se descrevem o sentido da
alteração. Todos os 65 estudos analisados foram enquadrados na classe de concordância considerada “alta”. Os enunciados dos
impactos foram ao encontro das recomendações de Sánchez (2013), que aponta a necessidade de estes serem suficientemente

172
precisos para evitar ambiguidades na sua interpretação, sintéticos, autoexplicativos e, descrevendo o sentido da alteração.

Etapa 2 - Cálculo dos Índices de Concordância e da correlação entre as variáveis.


Como as Variáveis Legais foram analisadas separadamente das Variáveis Técnicas, foi aplicada a correlação entre o Índice de
Concordância Legal do Estudo e o Índice de Concordância Técnica do Estudo para verificar se existe relação entre a qualidade
técnica e a qualidade legal. Foram escolhidos os índices de concordância do estudo, visto que englobam os índices de
concordância de cada variável, sendo um resultado global da análise.
Apesar dos índices de concordância apresentarem valores superiores, e com menor variabilidade quando comparados aos
índices, sugere-se o incremento dos valores em ambos, principalmente na concordância técnica, com o objetivo de aumentar os
índices e garantir a concordância. Vale ressaltar que o aumento dos índices em totalidade significa concordância com os
termos, padrões e legislação, resultando em maior potencial para a tomada de decisão assertiva sobre a viabilidade de
licenciamento do empreendimento de mineração.
Os índices de concordância apresentados na Figura 5 indicam falhas em projetos ambientais para o setor de mineração de
rochas ornamentais no estado do Espírito Santo.

Figura 5: Gráfico bloxpot dos dados obtidos através de índices de concordância.

Na Figura 5 é possível observar através dos cálculos que o aumento e/ou queda dos índices se comportam de maneira aleatória
e sem correlação, com baixo grau de dependência entre as variáveis. Dessa forma, verifica-se que não existe correlação entre
os índices, verificado por meio do valor de correlação encontrado, igual a 0,1246, o que não é significante a um nível de 1% de
probabilidade de erro estatístico. Vale ressaltar que os índices são valores globais da análise de cada estudo ambiental para
empreendimentos de mineração de rochas ornamentais.
Ao observar os valores obtidos para os índices de qualidade dos Estudos Ambientais apresentados na Figura 5, fica claro,
nestes casos, que os estudos são mais desenvolvidos legalmente do que tecnicamente, porém, é evidente a necessidade de
melhorarem em ambos aspectos, para que a avaliação dos impactos ambientais seja compatível com necessidade e o potencial
poluidor dos empreendimentos.

Etapa 3 - Análise dos índices regionalizados e dos fatores condicionantes da vulnerabilidade ambiental
Considerando a vulnerabilidade ambiental de Espírito Santo apresentada pelo Zoneamento Ecológico e Econômico, e a
espacialização das jazidas estudadas, 33% encontram-se em áreas de “muito baixa” vulnerabilidade e 26% em áreas de “baixa”
vulnerabilidade. Sendo assim, 59% das áreas de empresas mineradoras de rochas ornamentais foram instaladas em locais com
vulnerabilidade favorável para operação e extração, mesmo assim demandam apresentação de Estudos Ambientais
qualificados.
Por outro lado, 22% das jazidas encontram-se em áreas de “alta” ou “muito alta” vulnerabilidade ambiental, indicando a
necessidade de Estudos Ambientais compatíveis com esses índices (devendo apresentar qualidade técnica e legal) de acordo
com os Termos de Referência específicos sugeridos neste estudo que serão apresentados no tópico a seguir. O total de 19% das
pedreiras foram locadas em áreas de “média” vulnerabilidade.
Na Figura 6 está apresentada a relação entre as Variáveis Técnicas e Legais quando associadas à classificação de
vulnerabilidade do ZEE-ES, explicitada em cada empreendimento observado (65 observações foram plotadas com base no

173
ZEE).

Figura 6: Relação entre as variáveis observadas e a condição de vulnerabilidade local de cada empreendimento.

Como pode ser observado na Figura 6, as variáveis VT1, VT2 e VL4 estão mais discrepantes em relação às demais quando
associadas à relação com a classificação do ZEE. A análise dos índices regionalizados mostrou que independente da faixa de
vulnerabilidade ambiental, a qualidade legal é majoritariamente média. Já entre qualidade técnica e vulnerabilidade oobservou-
se que independente da faixa de vulnerabilidade, a qualidade técnica é majoritariamente baixa.
Dentre os polos de extração de rochas ornamentais, foi possível identificar aqueles que se enquadram em situações
predominantes de vulnerabilidade ambiental, indicando potenciais áreas para adequação de Termos de Referências e análise
para instalação de novos empreendimentos. A Figura 7 apresenta um gráfico que possibilita analisar a situação de
vulnerabilidade ambiental das principais áreas ou polos de extração mineral do Espírito Santo, o que indica consequentemente
o tipo de estudo ambiental, além do nível de exigência para qualidade a serem apresentados em cada região.

Figura 7: Situação de vulnerabilidade ambiental dos polos de extração de rochas ornamentais do Espírito Santo em
porcentagem (%).

174
Na Figura 7 observa-se os níveis de vulnerabilidade ambiental em polos de extração de rochas ornamentais no estado, onde os
níveis variaram majoritariamente entre baixo e muito baixo, favorecendo o desenvolvimento da atividade de forma sustentável,
caso as medidas de controle sejam executadas e monitoradas em campo.
Algumas jazidas de granito verde são localizadas na região centro-oeste com condições favoráveis de vulnerabilidade,
enquanto que outras jazidas regionalizadas no sul de estado concentram a extração de granitos cinzas e mármores em situação
de vulnerabilidade crítica. Observou-se que as regiões mineradoras situadas no Norte do Espírito Santo apresentam níveis
baixos de vulnerabilidade, favoráveis para instalação de jazidas. Já as regiões do Sul apresentam níveis críticos de
vulnerabilidade para atividades com alto potencial poluidor. Os Polos: Fundão, Castelo, Iconha, Itaóca – Vargem Alta, Santa
Angélica, e Mimoso do Sul apresentaram níveis altos de vulnerabilidade, indicando a necessidade de estudos ambientais de
alta qualidade e com elaboração criteriosa, o EIA.

Etapa 4 - Elaboração de diretrizes para Termos de Referência segundo a vulnerabilidade ambiental


Considera-se que deve existir compatibilidade entre a qualidade dos Estudos Ambientais e a situação de vulnerabilidade
ambiental das áreas, e que a utilização de Termos de Referência genéricos é um fator limitante para a aplicação de estudos
personalizados, visto que um TR inespecífico compromete todo o processo de avaliação de impacto ambiental, a começar pela
qualidade dos Estudos Ambientais apresentados.
Dessa forma, propõe-se que tanto os números de itens a serem abordados quanto os níveis de complexidade dos Estudos
Ambientais devem crescer de forma proporcional à situação de vulnerabilidade ambiental.
A Tabela 2 apresenta, portanto, sugestões de conteúdo a serem abordados em casos de vulnerabilidade “baixa e muito baixa”,
“média” e “alta e muito alta”.

Variáveis Descrição Vulnerabilidade ambiental


“baixa e “média” “alta e
muito muito
baixa” alta”
Informações sobre o Trazer informações sobre o porte do empreendimento X X X
empreendimento Apresentar o histórico do empreendimento X
Limites geográficos Definir a área de influência direta X X X
Definir a área de influência indireta X X
Descrever o meio físico nas áreas de influência X X X
Diagnóstico ambiental Descrever o meio biótico nas áreas de influência X X X
Descrever o meio antrópico nas áreas de influência X X X
Qualidade ambiental Sintetizar os resultados sobre o diagnóstico ambiental X
Impactos ambientais Identificação dos impactos positivos/negativos X X X
Identificar os impactos diretos/indiretos X X
Identificar os impactos imediatos/médio/longo prazos X
Identificar os impactos temporários/permanentes X
Prever a magnitude dos impactos X X
Interpretar a importância dos impactos X X
Determinar o grau de reversibilidade dos impactos X
Determinar as propriedades cumulativas e sinérgicas dos impactos X
Medidas ambientais Apresentar as medidas ambientais sobre o meio físico X X X
Apresentar as medidas ambientais sobre o meio biótico X X X
Apresentar as medidas ambientais sobre o meio antrópico X X X
Relacionar o fator ambiental e as medidas (meios físico, biótico e antrópico) X
Mencionar a responsabilidade de execução das medidas X X X
Programas de Apresentar programas de monitoramento do meio físico X X X
monitoramento Apresentar programas de monitoramento do meio biótico X X X
Apresentar programas de monitoramento do meio antrópico X X X
Indicar os parâmetros utilizados no monitoramento do meio físico X X
Indicar os parâmetros utilizados no monitoramento do meio biótico X X
Indicar os parâmetros utilizados no monitoramento antrópico X X
Indicar rede de monitoramento de amostragem do meio físico X
Indicar rede de monitoramento de amostragem do meio biótico X
Indicar rede de monitoramento de amostragem do meio antrópico X
Indicar o período de amostragem de cada parâmetro monitoramento do meio físico X
Indicar o período de amostragem de cada parâmetro monitoramento do meio biótico X
Indicar o período de amostragem de cada parâmetro monitoramento do meio antrópico X
Multidisciplinaridade e Equipe multidisciplinar X X X
habilitação da equipe
Tabela 2: Relação de itens fundamentais nos Termos de Referência para a elaboração de Estudos Ambientais em áreas
de vulnerabilidade ambiental

A Tabela 2 mostra que em todos os níveis de vulnerabilidade ambiental, alguns itens foram considerados fundamentais e, por
esse motivo, estão contidos em todas as propostas de constituição dos Termos de Referência específicos.
Quando o empreendimento de mineração estiver em área de vulnerabilidade “média”, a proposta é de que o Termo de
Referência contemple todos tópicos e itens abordados em áreas de vulnerabilidade “baixa”, acrescido da definição da área de

175
influência indireta (independente do enquadramento do estudo). O presente estudo defende que nessas áreas deve ser realizada
a definição imparcial da magnitude dos impactos, se são diretos ou indiretos, e a importância dos mesmos. Defende ainda, que
os programas de monitoramento e estudos de empreendimentos situados em áreas de “média” vulnerabilidade deveriam indicar
parâmetros de monitoramento dos meios físico, biótico e antrópico.
É importante ressaltar ainda que muitos estudos analisados neste trabalho não contemplaram todos os itens indicados para a
constituição de Termos de Referência para áreas de vulnerabilidade “baixa”. Fica claro que ainda há a necessidade de um
esforço significativo para o atendimento de itens que deveriam ser considerados básicos na elaboração de Estudos Ambientais
em mineradoras de rochas ornamentais.
Para áreas de vulnerabilidade “alta” e “muito alta” são sugeridos que se mantenham todos os tópicos e itens listados na Tabela
2. Isso significa dizer que, os Estudos Ambientais em áreas com esses níveis de vulnerabilidade devem atender todas as
Variáveis Legais e Técnicas abordadas neste estudo. É necessário assegurar que em áreas altamente vulneráveis, os critérios de
elaboração dos Estudos Ambientais sejam os mais rigorosos possíveis e baseados em estudiosos do sistema de AIA. Para todos
os níveis de vulnerabilidade devem ser considerados, além dos meios físico e biótico, o meio antrópico e as medidas de
controle compatíveis com os projetos propostos, além de programas de monitoramento que contenham indicadores e
metodologias de amostragem.

Considerações finais
No que se refere às concordâncias legais e técnicas conclui-se que existem falhas que comprometem a apresentação e a análise
dos impactos ambientais inerentes aos empreendimentos. Os índices de concordância demonstraram que os Estudos
Ambientais analisados apresentam qualidade questionável no que tange ao rigor tanto legal quanto técnico.
Foi possível observar por meio dos cálculos dos Índices de Concordância que o aumento e/ou queda dos índices ocorrem de
maneira aleatória e sem correlação revelando que não há uma relação entre a qualidade dos Estudos Ambientais e o nível de
vulnerabilidade ambiental no local da jazida.
A relação entre Qualidade Legal e vulnerabilidade ambiental também evidenciou que, independente da faixa de
vulnerabilidade, a qualidade legal é majoritariamente “média”. Já entre Qualidade Técnica e Vulnerabilidade, independente da
faixa de vulnerabilidade, a qualidade técnica é majoritariamente “baixa”.
O mapeamento das áreas vulneráveis mostrou que 22% das jazidas encontram-se em áreas de “alta” ou “muito alta”
vulnerabilidade, indicando a necessidade de Estudos Ambientais com alta qualidade técnica e legal.
Para uma maior efetividade dos instrumentos de Avaliação de Impactos Ambientais, o trabalho defende que a determinação
dos tipos de estudo ambiental, sejam eles relatórios, planos ou projetos, não deveria ser feita considerando apenas o porte do
empreendimento, mas também a vulnerabilidade ambiental das áreas de influência direta e indireta.

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177
5SSS119
DISTRIBUIÇÃO VERTICAL E VARIAÇÃO NICTEMERAL DE
ALGUMAS VARIÁVEIS FÍSICAS E QUÍMICAS DA ÁGUA NO DELTA
DO JACUÍ, LAGO GUAÍBA, RS
Marco Vinicius Martins1, Simone Caterina Kapusta2, Cristiano Poleto3
1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: marcohidrogeologia@gmail.com; 2 Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus Porto Alegre, e-mail:
simone.kapusta@poa.ifrs.edu.br; 3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: cristiano.poleto@ufrgs.br

Palavras-chave: Perfil 24h; Nictemeral; Lago Guaíba.

Resumo
A Área de Proteção Ambiental Estadual Delta do Jacuí (APAEDJ), constituída por terras públicas e privadas, engloba uma
porção significativa do complexo hídrico formado pelos rios Caí, dos Sinos, Gravataí e Jacuí. Nesse sentido, a análise e a
obtenção de dados são essenciais, tanto para acompanhar a qualidade da água, como para fornecer subsídios para diversas
decisões. A coleta de amostras em ecossistemas aquáticos envolve a medição ou verificação de parâmetros de qualidade de
água, que pode ser contínua ou periódica, utilizada para acompanhamento da condição e controle da qualidade do corpo
d’água. No presente trabalho foram avaliadas variáveis físicas e químicas da água em um ponto amostral, na margem esquerda
do Canal Navegantes, localizada no Delta do Jacuí, em Porto Alegre, RS. Os valores de pH, oxigênio dissolvido e saturado,
temperatura, turbidez e condutividade elétrica foram obtidos na água superficial, água de fundo e camada intermediária, com o
auxílio de equipamentos portáteis, em um perfil de 24h. Através da análise de variância, verificou-se que para pH e oxigênio
dissolvido, os valores médios na água superficial foram significativamente mais elevados do que na água de fundo. Para a
condutividade elétrica e turbidez os valores médios registrados, foram similares, considerando a profundidade. A variação
nictemeral foi verificada para todas as variáveis. Provavelmente a integração de diversos fatores e processos influenciaram os
resultados obtidos, tais como os processos de produção e respiração, trocas entre as interfaces atmosfera-água e água-
sedimento, agitação promovida pela navegação e atuação do vento.

Introdução
A qualidade da água dos ecossistemas aquáticos é resultado da interação entre processos naturais (KLEEREKOPER,
1990) e intervenções de origem antropogênica (TUNDISI & MATSUMURA-TUNDISI, 2008). A crescente deterioração da
qualidade das águas, afetando diretamente a vida aquática, bem como a utilização deste recurso pelos seres humanos, tem
levado à busca de estratégias para proteção e manutenção da qualidade dos ecossistemas aquáticos (HANISCH & FREIRE-
NORDI, 2015), tais como a criação de unidades de conservação ambiental, o enquadramento de corpos hídricos, entre outras.
Deve-se considerar que a gestão adequada dos recursos hídricos, com o objetivo de preservação e sustentabilidade, só é
efetiva, se for subsidiada através de um monitoramento cuidadoso das suas fontes e da sua qualidade (ARTIOLA, 2004). Nesse
sentido, além das variações espaço-temporais das variáveis da água, a análise das variações nictemerais (variações ao longo
das 24h do dia) também são importantes, uma vez que em ambientes rasos essas alterações podem ser maiores do que as que
ocorrem em um ciclo anual (ESTEVES et al., 1988; TALLING et al.,1957 apud BOZELLI et al., 1992).
Variação nictemeral para temperatura da água, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, pH e nitrito foram detectados
por Diemer et al. (2010) em ambiente de criação de peixes nativos em tanques-rede, no reservatório Itaipu Binacional. Os
autores não encontraram variação para amônia e fósforo total. Em estudo realisado por Fulan et al. (2009) os autores
observaram variação na abundância de macroinvertebrados bentônicos, no período de 24 horas, correlacionada positivamente
com o oxigênio e negativamente com a temperatura na estação seca. Portanto, verifica-se que o estudo das variações
nictemerais são importantes para o conhecimento da dinâmica do ambiente.
O Delta do Jacuí, localizado na porção norte do Lago Guaíba à leste do estado do Rio Grande do Sul, é formado pelo
encontro dos rios Gravataí, dos Sinos, Jacuí, Taquari e Caí. Esse sistema deltaico apresenta ambientes peculiares, que atuam
como um imenso filtro natural, contribuindo para a qualidade das águas do Guaíba e com a produtividade de pescado (RIO
GRANDE DO SUL, 2017). Nesse sistema tem-se a Área de Proteção Ambiental Estadual Delta do Jacuí (APAEDJ) e o Parque
Estadual Delta do Jacuí (RIO GRANDE DO SUL, 2005).
No entanto, o aporte de carga dos rios formadores, principalmente dos rios Gravataí e Sinos, bem como o contínuo
lançamento de efluentes doméstico e industrial têm provocado um progressivo decréscimo da qualidade da água do Lago
Guaíba, associado a situações de conflito de usos (GUERRA, 1999). Destaca-se ainda que a água para o abastecimento público

178
do município de Porto Alegre é captada no Lago, e que diversos episódios de alteração no gosto e cor da água tem sido
relatados pela população, principalmente, durante o verão.
Estudos sobre a qualidade da água no Delta do Jacuí e Lago Guaíba têm sido desenvolvidos ao longo dos anos, podendo-
se citar os trabalhos de Bendati et al. (2000), Andrade et al. (2012), Andrade e Giroldo (2014), Acquolini (2017), Andrade
(2018), Andrade et al., (2018), no entanto, “devido a importância do Lago Guaíba, os estudos ainda são escassos”
(ANDRADE, 2018). Destaca-se também o Plano da Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba (RIO GRANDE DO SUL, 2016) e o
Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental Estadual Delta do Jacuí (RIO GRANDE DO SUL, 2017a) homologado pela
Portaria SEMA N° 20 de 2017 (RIO GRANDE DO SUL, 2017b), bem como o monitoramento efetuado pelo Departamento
Municipal de Água e Esgotos (DMAE) no município de Porto Alegre.
Visando colaborar com subsídios para o entendimento dos processos ocorrentes no sistema deltaico, a composição
analisou a variação nictemeral de algumas variáveis físicas e químicas da água.

Material e Métodos
A Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba situa-se à leste do Estado do Rio Grande do Sul, entre as coordenadas geográficas
de 29º55' à 30º37' de latitude Sul e 50°56' à 51°46' de longitude Oeste (RIO GRANDE DO SUL, 2017). Com uma área de
2.523,62 km² abrange municípios como Canoas, Guaíba, Porto Alegre, Tapes, Triunfo e Viamão, com população total
estimada em 1.293.880 habitantes (RIO GRANDE DO SUL, 2017).
O Lago Guaíba apresenta 496 km2 de superfície e é formado pelos rios Jacuí (84,6%), dos Sinos (7,5%), Caí (5,2%) e
Gravataí (2,7/%), recebendo ainda, a contribuição de diversos arroios situados às suas margens (ROSSATO & MARTINS,
2001). Em sua parte norte localiza-se o sistema deltaico Delta do Jacuí, com uma área de 47,18 km² (MENEGAT et al., 2006).
O ponto amostral deste texto localiza-se no Delta do Jacuí, Lago Guaíba, Porto Alegre, RS à margem esquerda do Canal
Navegantes, em área próxima, porém não inserida no PEDJ.
Em 2008, através da Resolução CRH 50 (RIO GRANDE DO SUL, 2008) foi aprovado o enquadramento para essa região
como águas de classe 3, o que de acordo com o Plano da Bacia do Lago Guaíba, deverá ser alcançado em 10 anos, passando da
atual classe 4 para classe 3 (SEMA/DRH/FEPAM, Comitê do Lago Guaíba, 2016).
A campanha amostral foi realizada nos dias 04 e 05 de maio de 2018, em um ponto amostral que apresenta profundidade
de 3,40m. As amostras foram obtidas com uma garrafa de Van Dorn horizontal, em três profundidades contemplando água
superficial (0,20m de profundidade), intermediária (1,70m de profundidade) e de fundo (3,30m de profundidade). As coletas
foram efetuadas com intervalo de uma hora, durante o período de 24h. Em cada amostra foram obtidos os valores de
temperatura (ºC), pH, oxigênio dissolvido (mg/L), oxigênio saturado (%), condutividade (µS/cm), com a utilização de um
Medidor Multiparâmetro AK88 ̶ Akso e a turbidez (NTU), utilizando um Turbidímetro TU430.
Para os valores de oxigênio dissolvido e oxigênio saturado, devido a problemas metodológicos, não foi possível avaliar os
resultados no período compreendido entre 3h e 7 h do processo de análise.
Análises de variância simples (ANOVA) foram efetuadas para comparar as variáveis entre as profundidades e entre os
horários. Quando a ANOVA foi significativa, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey com intervalo de confiança de
95% (p <0,05).

Resultados e Discussão
A temperatura desempenha um papel crucial no meio aquático, influenciando uma série de variáveis físicas e
químicas, consequentemente as comunidades biológicas (CETESB, 2016; ESTEVES & FURTADO, 2011; LUZ; GUASELI &
TONIOLO, 2015). O aumento da temperatura pode, por exemplo, acelerar o processo de eutrofização de determinado corpo
d’água (LUZ; GUASELI & TONIOLO, 2015).
Variações nictemerais na estrutura térmica são acompanhadas por alterações na concentração de gases, nas mais
diversas profundidades (TUNDISI & MATSUMURA-TUNDISI, 2008).
Neste trabalho, considerando as profundidades da coluna d’ água avaliada, não foram detectadas diferenças
significativas (p ≥0,05) entre os valores médios obtidos, não sendo verificada uma estratificação térmica estável. Para estas
condições de uniformidade na coluna d’água a propagação térmica pode acontecer de maneira muito eficiente, não havendo
barreira física (ESTEVES & BARBIERI, 2011).
Abrangetemente, os valores médios mais elevados foram detectados às 13 h e às 14 h, por conseguinte os menores
valores no período noturno (Figuras 1 e 2).

179
30,0

25,0

20,0
T [ºC]

15,0

10,0

5,0

0,0
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
hora da coleta

Figura 1: Valor médio e desvio padrão da temperatura ao longo de 24 h, Delta do Jacuí Lago Guaíba, outono de 2018.

No horário de 13 h a diferença entre a água da superfície e a do fundo foi de 0,8 ºC e para o horário de 14 h a
diferença foi de 1,0 ºC. No período entre 20h e 8h observou-se uma inversão térmica, com a temperatura da água do fundo
mais elevada do que a registrada na superfície, oscilando essa diferença entre 0,1ºC a 0,5ºC (horário das 3 h e 5 h da
madrugada). As 9 h e 10 h da manhã as temperaturas foram similares e a partir das 11 h a temperatura da superfície foi mais
elevada quando comparada com a do fundo, devido à atuação da temperatura do ar e incidência solar (Figura 2).

28

27

26

25
T [ºC]

24

23
Sup
22
Med
21
Fun
20
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Hora da coleta

Figura 2: Valores da temperatura e profundidades ao longo de 24 h, Delta do Jacuí Lago Guaíba, outono de 2018. SUP:
superfície; MED: profundidade média e FUN: fundo.

Em ambientes aquáticos, as oscilações de pH podem influenciar diversos processos, tais como na precipitação e
toxicidade de elementos químicos, na solubilidade de nutrientes, na fisiologia de diversas espécies (PORTO et al., 1991;
ESTEVES & MARINHO, 2011; CETESB, 2016),bem como na distribuição e abundância de organismos (BEGON et al,
2007).
O valor médio de pH (7,1) na superfície do ponto amostral, foi significativamente mais elevado do que na água do
fundo (6,9). Esse valor é similar ao encontrado por outros estudos desenvolvidos no Canal Navegantes (MARTINS et al.,
2017; ANDRADE, 2018), e estão de acordo com a Resolução CONAMA nº 357/2005, que estabelece que o pH deve ficar
entre 6 e 9 (BRASIL, 2005), faixa favorável a uma ampla variedade de vida (ESTEVES, 2011). A diferença registrada entre a
superfície e a água do fundo, pode ter sido influenciada pelos processos de oxidorredução ocorrentes na interface sedimento-
água. De acordo com Esteves (2011) os processos ocorrentes nessa interface são intensificados devido à maior disponibilidade
de matéria orgânica o que pode promover alterações nos valores de pH. A atuação da turbulência e a hidrodinâmica, em
ambientes aquáticos pouco profundos, também pode aumentar esse intercâmbio entre a água e o sedimento (BAUMGARTEN
et al., 2001).
Considerando a variação nictemeral, foram registrados dois picos, um às 14 h e outro às 18 h, quando foram
detectados valores mais básicos de pH (figuras 3, 4), salienta-se no entanto que esses valores estão de acordo com o constante
na Resolução CONAMA nº 357/2005 (BRASIL, 2005).

180
9,0
8,5
8,0
7,5
7,0
pH

6,5
6,0
5,5
5,0
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
hora da coleta

Figura 3: Valor médio e desvio padrão do pH ao longo de 24 h, Delta do Jacuí Lago Guaíba, outono de 2018.

Os valores médios de pH foram, significativamente, mais elevados às 14 h e 18 h, quando comparado com os demais
horários Elevadas taxas fotossintéticas com consequente consumo do gás carbônico, podem promover a elevação do pH
(BAUMGARTEN et al., 2005), o que pode ter ocorrido no horário das 14 h, sendo que nos demais horários provavelmente a
devido à nebulosidade, os resultados ficaram estáveis ao longo do período analisado. A coleta das 18h foi realizada após a
passagem de um barco, o que pode colaborado para esse resultado, no entanto, não foram verificadas alterações para as demais
variáveis nesse horário.

7,5
pH

6,5 Sup
Med
Fun
6
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Hora da coleta
Figura 4: Valores do pH e profundidades ao longo de 24 h, Delta do Jacuí Lago Guaíba, outono de 2018. SUP:
superfície; MED: profundidade média e FUN: fundo.

O oxigênio dissolvido, proveniente principalmente do processo de fotossíntese e da atmosfera que segundo


Kleerekoper (1990) ocorre através da atuação do vento, correntes e agitação da água, é um dos parâmetros mais importantes na
caracterização dos ecossistemas aquáticos (ESTEVES & FURTADO, 2011). A dissolução desse gás na água depende
principalmente das condições de temperatura e da pressão atmosférica (TUNDISI & MATSUMURA-TUNDISI, 2008). A taxa
de reintrodução de oxigênio é influenciada pelas características hidráulicas do corpo hídrico e é proporcional à velocidade da
água (CETESB, 2016).
Os processos de decomposição da matéria orgânica, respiração de organismos aquáticos, perdas para a atmosfera e
oxidação de íons metálicos contribuem para a redução da concentração de oxigênio na água (ESTEVES & FURTADO, 2011),
assim como o aumento da concentração de material em suspensão, devido aos episódios de intensa pluviosidade e consequente
drenagem para os corpos hídricos (TUNDISI & MATSUMURA-TUNDISI (2008). O oxigênio dissolvido é indispensável para
os organismos aeróbios, especialmente para os peixes, onde a maioria das espécies requerem concentrações superiores a 4,0
mg/L (VON SPERLING, 2005).
Nesta pesquisa, o valor médio de oxigênio dissolvido (mg/L) na superficie (5,8mg/L) foi, significativamente, mais
elevado (p<0.05) do que o registrado na água do fundo (5,3mg/L). Considerando a Resolução CONAMA nº 357 (BRASIL,
2005), o resultado da água superficial pode ser classificado como de classe 2, uma vez que para essa classificação os valores de
oxigênio dissolvido não podem ser inferiores a 5 mg/L. Na água do fundo foram registrados valores inferiores à 5 mg/L.
O valor médio de oxigênio dissolvido (mg/L) na superficie foi similar aos resultados de Andrade et al. (2018) no

181
Canal Navegantes, localizado a jusante do ponto amostral. Considerando os rios formadores do Delta do Jacuí, e que
influenciam o local de amostragem, verifica-se que os valores médios obtidos foram superiores aos registrados para a foz dos
rios Gravataí e dos Sinos e inferiores à foz dos rios Jacuí e Caí (BENDATTI et al., 2000; ANDRADE et al., 2018), o que
colabora com a colocação dos autores citados de que esse resultado deve-se provavelmente à diluição devido às contribuições
dos rios Jacuí e Caí, bem como um processo de autodepuração ocorrente no ambiente (BENDATTI et al., 2000; ANDRADE
et al., 2018).
A diferença significativa registrada para a água superficial e a água do fundo, provavelmente é decorrente do processo
de decomposição da matéria orgânica, na interface sedimento-água (BAUMGARTEN & NIENCHESKI, 2010), que atua na
diminuição dos valores na água do fundo, bem como da maior oxigenação da superfície através da atuação do vento,
fotossíntese, entre outros fatores. Essa diferença entre superfície e fundo parece se manter ao longo do período amostrado
(Figura 6).
Em relação à variação nictemeral, os valores de oxigênio dissolvido oscilaram ao longo do período amostral,
apresentando uma tendência de valores mais elevados no período entre às 13h e 16h, mas não se verificou um padrão definido
(Figuras 5, 6). Provavelmente a atuação do vento, com consequente turbulência da água (TUNDISI & MATSUMURA-
TUNDISI, 2008), atuação das ondas, devido à navegação, bem como as condições de cobertura de nuvens, que podem
influenciar a fotossíntese dos organismos colaboram para esse resultado. As concentrações de oxigênio dissolvido geralmente
diminuem durante o período noturno, em função dos processos de decomposição e respiração (MELLANBY, 1982), podendo
apresentar teores críticos nesse período (DIEMER et al., 2010), no entanto, devido à problemas metodológicos, não foi
possível avaliar os resultados de oxigênio dissolvido no período das 3h às 7h.

7,0
Oxigênio dissolvido (mg/L)

6,0

5,0

4,0

3,0

2,0

1,0

0,0
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 8 9 10 11 12
hora da coleta
Figura 5: Valor médio e desvio padrão de oxigênio dissolvido (mg/L) ao longo de 24 h, Delta do Jacuí Lago Guaíba,
outono de 2018.

7
Oxigênio dissolvido (mg/L)

Sup
4
Med
Fun
3
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 8 9 10 11 12
Hora da coleta
Figura 6: Valores do oxigenio dissolvido (mg/L) e profundidades ao longo de 24 h, Delta do Jacuí Lago Guaíba, outono
de 2018. SUP: superfície; MED: profundidade média e FUN: fundo.

Para o oxigênio saturado a interface ar-água tem uma importância fundamental nos ecossistemas aquáticos, sua
dissolução é muito rápida e depende dessas interações, ou seja, da temperatura da água e da pressão atmosférica, nestas
condições a camada mais superficial da coluna d’água apresentam valores próximos à saturação (TUNDISI &
MATSUMURA-TUNDISI, 2008).

182
O valor médio oxigênio saturado (%), similar ao dissolvido, na superfície foi significativamente mais elevado do que
o registrado no fundo (p<0.05), seguindo o mesmo padrão de distribuição (Figuras 7, 8).
90,0
80,0
Oxigênio saturado (%)

70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 8 9 10 11 12
hora da coleta
Figura 7: Valor médio e desvio padrão de oxigênio saturado (%) ao longo de 24 h, Delta do Jacuí Lago Guaíba, outono
de 2018.

90

85

80

75
Oxigênio saturado (%)

70

65

60

55
Sup
50
Med
45
Fun
40
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 8 9 10 11 12
Hora da coleta
Figura 8: Valores do oxigenio saturado e profundidades ao longo de 24 h, Delta do Jacuí Lago Guaíba, outono de 2018.
SUP: superfície; MED: profundidade média e FUN: fundo.

A condutividade é a expressão numérica da capacidade de uma água conduzir a corrente elétrica, e está relacionada
com as características geoquímicas e com as condições climáticas da região, mas pode ser influenciada pelo estado trófico,
principalmente em ambientes sobre influência das modificações produzidas pela atividade antrópica (TUNDISI &
MATSUMURA-TUNDISI, 2008; ESTEVES et al., 2011).
De maneira geral, ambientes aquáticos de água doce apresentam teores de condutividade na faixa de 10 à 100 µS/cm
(VON SPERLING, 2007 apud PIRATOBA et al., 2017), sendo que os valores superiores a 100 µS/cm podem indicar
ambientes alterados (CETESB,2016), uma vez que a decorrência da decomposição de matéria ou carga orgânica de origem
antropogênica deve ser tratada como possibilidade.
No presente trabalho, o valor médio de condutividade foi de 88,6µs/cm , conforme pode ser visualizado na Figura 14,
sendo que os valores registrados nas três profundidades foram similares (p>0,05). Eles foram semelhantes aos obtidos a jusante
do ponto amostral em estudos desenvolvidos por Andrade (2018), que analisou dados do período de 2000 à 2014, e por
Martins et al. (2017), e inferior aos valores obtidos por Andrade (2018) no ponto relativo a montante, localizado na foz do rio
Gravataí (valor médio de 185,6 µS/cm). Salienta-se que em determinados horários verificou-se valores de condutividade
superiores ou próximos à 100 µS/cm. Essa variável não está especificada na Resolução CONAMA nº 357 de 2005 (BRASIL,
2005).
A variação nictemeral para a condutividade também passou por verificações, com valores mais elevados, Figuras 9 e
10, nos horários da 1 h e 2 h, o que talvez possa ser resultado de um provável processo de decomposição.

183
120,0

110,0
Condutividade (µs/cm)

100,0

90,0

80,0

70,0

60,0

50,0

40,0
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
hora da coleta

Figura 9: Valor médio e desvio padrão da condutividade (µS/cm) ao longo de 24 h, Delta do Jacuí Lago Guaíba, outono
de 2018.

130

120

110
Condutividade (µs/cm)

100

90

80

70 Sup
Med
60
Fun
50
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
hora da coleta
Figura 10: Valores da condutividade e profundidades ao longo de 24 h, Delta do Jacuí Lago Guaíba, outono de 2018.
SUP: superfície; MED: profundidade média e FUN: fundo.

A turbidez da água é a medida de sua capacidade em dispersar a radiação e está relacionada com a concentração de
partículas em suspensão (ESTEVES & BARBIERI, 2011). A elevada turbidez pode influenciar na fotossíntese e
consequentemente nas comunidades biológicas aquáticas. Além disso, afeta adversamente os usos doméstico, industrial e
recreacional de uma água (CETESB, 2016). A ressuspensão de sedimentos de fundo pode incrementar os níveis de poluição
em corpos d’água, visto que substâncias tóxicas agregadas aos sedimentos, principalmente finos, são lançadas na coluna
d’água pelos fluxos de turbulência (NICOLODI, 2007; NICOLODI et al., 2010).
Os valores médios de turbidez foram relativamente baixos, oscilando entre 8,6 NTU e 9,6 NTU (Figura 11), no
entanto as diferenças não foram significativas (p>0,05). Os resultados obtidos foram inferiores aos registrados por Andrade et
al. (2018), no período de 2000 à 2014, que encontrou valores médios de 38,9 NTU na foz do Rio Gravataí (montante) e de
31,1 NTU no Canal Navegantes (jusante), e aos de Martins et al. (2017) que obtiveram uma média de 20,60 NTU.
A variação nictemeral da turbidez não mostrou um padrão definido (Figuras 11, 12). De uma maneira geral, os valores
significativamente mais elevados foram os registrados às 22h, 23h, 01, 02, 03, 06, 07, 10, 11 e 12h, enquanto que os menores
valores foram registrados entre 13h e 20h. Além de fatores naturais da hidrodinâmica e atuação do vento, esse resultado pode
ter sido influenciado pelo trânsito de embarcações, com consequente formação de ondas, o que de acordo com Nicolodi (2007)
tem potencial para gerar turbulência junto ao fundo.

184
14,0

12,0

10,0
Turbidez (NTU)

8,0

6,0

4,0

2,0

0,0
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
hora da coleta

Figura 11: Valor médio e desvio padrão da turbidez ao longo de 24 h, Delta do Jacuí Lago Guaíba, outono de 2018.

14

12

10
Turbidez (NTU)

4 Sup
Med
2
Fun

0
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Hora da coleta

Figura 12: Valores da turbidez e profundidades ao longo de 24 h, Delta do Jacuí Lago Guaíba, outono de 2018. SUP:
superfície; MED: profundidade média e FUN: fundo.

Considerações Finais
Durante o desenvolvimento do estudo, verificou-se que não ocorreu uma estratificação térmica estável, uma vez que os
valores de temperatura registrados nas três profundidades avaliadas foram similares. Para condutividade e turbidez, os valores
obtidos nas diferentes profundidades também foram similares, enquanto que para pH, oxigênio dissolvido (OD) e oxigênio
saturado (%), os valores médios foram mais elevados na superfície que os registrados no fundo.
A variação nictemeral foi verificada para todas as variáveis. Para a temperatura, os valores mais elevados foram
observados às 13 h e 14 h, enquanto que no período entre 20 h e 8 h observou-se uma inversão térmica, com a temperatura da
água do fundo mais elevada do que a registrada na superfície. A variação nictemeral de pH foi mais pontual, tendo sido
observados dois picos às 14 h e 18 h, quando foram detectados valores mais básicos de pH, salienta-se no entanto que esses
valores estão de acordo com o constante na Resolução CONAMA nº 357/2005 (BRASIL, 2005). Valores mais elevados de
condutividade ocorreram no horário de 1h e 2h, provavelmente devido ao processo de decomposição e a inexistência do
processo de produção. Para a turbidez verificou-se a variação nictemeral, mas não foi possível identificar um padrão.
Provavelmente a integração de diversos fatores e processos influenciaram os resultados obtidos, tais como os processos
de produção e respiração, trocas entre as interfaces atmosfera-água e água-sedimento, agitação promovida pela navegação e
atuação do vento. Destaca-se que o presente trabalho foi efetuado em um único perfil e que para maiores inferências torna-se
necessária a realização de campanhas amostrais adicionais.

Agradecimentos
Os autores agradecem ao Clube de Regatas Almirante Tamandaré, pela cedência do espaço para a realização das coletas.

185
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187
5SSS120
INTERAÇÃO ENTRE CONDICIONANTES DA MORFOLOGIA
URBANA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Susiê Ghesla1, Izabele Colusso2
1Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, e-mail: susieghesla@hotmail.com;
2 Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, e-mail: icolusso@unisinos.br;

Palavras-chave: Planejamento sustentável; vazios urbanos; desenho urbano

Resumo
Ao longo dos tempos, os centros urbanos vêm passando por intensas transformações estruturais. A dinâmica das cidades é
alterada de acordo com as necessidades e particularidades das pessoas de cada tempo, o que acarreta em impactos
significativos no ambiente natural, atual e futuro, que por diversas vezes deixa de ser visto como parte essencial para o
desenvolvimento de um centro urbano. As cidades atuais têm grandes desafios para implantar a sustentabilidade como uma
diretriz de desenvolvimento urbano, pois além de exigir uma ampla compreensão dos âmbitos social, ambiental e econômico,
diversas cidades precisam, novamente, passar por importantes transformações estruturais, e o crescimento horizontal disperso é
um dos principais fatores a serem repensados. As cidades dispersas geram grandes problemas às administrações municipais e
ao meio natural, pois além da segregação social e econômica, se tornam cidades onerosas, devido a necessidade de levar
infraestrutura de qualidade à maiores distâncias, assim como utilizam o solo de forma irracional e desmedida. Ao contrário de
uma cidade que se desenvolve de forma compacta e coordenada, onde as distâncias a serem percorridas são menores, a
densidade populacional é maior, o sistema de transporte público é integrado com redes de transporte não motorizados, é uma
cidade multifuncional, diversa e menos segregada, onde o consumo da terra é realizado de maneira equilibrada e responsável,
além de serem cidades menos onerosas, tendo em vista que a infraestrutura necessária para atender a sua demanda é bem
menor.
Usufruir de uma cidade sustentável no futuro, requer o entendimento de que todos estes fatores precisam estar totalmente
interligados, quando existir equidade e qualidade de vida para toda a sua população, junto com a capacidade de recuperação
dos recursos naturais do meio em que vivem.
A cidade de Gramado é hoje um dos principais destinos turísticos do Sul brasileiro e se tornou uma cidade turística,
exatamente pelas experiências que proporciona aos turistas, abrangendo espaços naturais e públicos que encantam quem passa
pela cidade, assim como o estilo arquitetônico baseado na sua colonização italiana e alemã. A cidade recebe hoje,
aproximadamente 6 milhões de turistas por ano.
Este artigo busca, portanto, a partir de um estudo de caso sobre a cidade de Gramado, relacionar a forma da cidade, os vazios
urbanos, o crescimento e densidade populacional, com intuito de demonstrar o quanto estes fatores têm influência na qualidade
de vida das pessoas e no meio natural em que vivem, além de ser um aporte ao planejamento urbano da cidade, a fim de
minimizar os impactos causados pelo homem e atingir ainda melhores resultados econômicos, sociais e ambientais, que é uma
das essências do contexto turístico da cidade.
Este estudo apresentará através dos levantamentos que o município segue próxima a uma linha de crescimento horizontal
compacto, porém tencionada a crescer de maneira dispersa pelos extremos da classe social, podendo criar problemas para a
governança pública e afetando a qualidade de vida população. Seguir crescendo de forma compacta e aliar a isso um
planejamento e desenvolvimento urbano sustentável, densificando e ocupando o solo de maneira responsável, pode significar
uma cidade mais conectada e coordenada, com mais vitalidade e com menos tempo de deslocamentos, com menos necessidade
de infraestrutura. Uma cidade com um senso de comunidade mais ativo e pronta para continuar recebendo, com experiências
ainda mais interessantes, os seus visitantes.

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Introdução
Ao longo dos tempos, as cidades passaram por intensas transformações. Com o intuito de satisfazer suas necessidades, o ser
humano impacta espaços naturais transformando-os em territórios repletos de áreas construídas, com edificações,
pavimentações, equipamentos, entre outros. (GARCÍA; SEGUEL, 2019). Os territórios estão cada vez mais urbanos, a intensa
migração de pessoas do meio rural para o meio urbano, com início no período industrial e que acontece até o hoje de forma
acentuada, faz as cidades atuais comportarem mais da metade da população do planeta, (SILVA; ROMERO, 2013). Desde
então, diversos impactos são causados devido ao uso, nem sempre responsável, da terra, dos recursos naturais e da dinâmica
criada para o transporte. Com estes impactos, o ser humano ultrapassa o consumo consciente, saturando a capacidade de
regeneração dos sistemas ambientais.
Diversos centros urbanos foram se desenvolvendo, levando em consideração apenas estas necessidades humanas, o que
acarretou, além dos impactos já citados, um crescimento horizontal desordenado e desconectado. Tendo em vista que as
cidades ainda estão recebendo população do meio rural, se entende como urgente a necessidade de regeneração de diversas
cidades, além de um planejamento voltado para o desenvolvimento urbano sustentável, que busque resultados no uso
consciente do solo, evitando desperdícios e a utilização irracional dos recursos, além da expansão urbana dispersa e
desenfreada. (CASTANHEIRA; BRAGANÇA; MATEUS, 2014).
As cidades que se desenvolvem de forma dispersa, basicamente perdem a essência de uma cidade, que é o contato, a
comunicação entre as pessoas e atividades, além de aumentar a segregação social e diminuir a qualidade de vida da população
local. (RUEDA, 1997). Logo, a regeneração dos centros urbanos está diretamente relacionada a um uso do solo compacto e
denso, a uma cidade diversa e multifuncional, além do uso racional dos recursos naturais. Estes aspectos criam uma base coesa
para o desenvolvimento urbano sustentável, com resultados sociais, econômicos, culturais e ambientais.
Os centros urbanos de pequeno porte não estão livres destes problemas de desenvolvimento urbano, como acontece na cidade
de Gramado, na Serra Gaúcha brasileira. Devido a grandes construções, principalmente para atender a rede turística, sua
principal economia, traz mão de obra de fora da cidade, que permanece após o término do projeto e assim, inúmeros
loteamentos irregulares se desenvolvem, em contraponto aos condomínios de luxo existentes na cidade. Estes agentes sociais
acabam tencionando a cidade a crescer de maneira dispersa. Os condomínios de luxo e os loteamentos de baixa renda acabam
se afastando do centro da cidade, por diferentes motivos, obrigando a cidade a se expandir horizontalmente de maneira não
planejada e muito menos, pensada de forma sustentável.
A cidade de Gramado se tornou uma cidade turística, exatamente pela experiência com o meio natural e arquitetônico que a
cidade proporciona aos turistas, porém a falta de um planejamento efetivo pode, como bem salientou Salvador Rueda (1997),
ameaçar a continuidade da cidade se algum dos recursos chegarem ao seu limite. Sendo assim, busca-se aqui, iniciar uma linha
de planejamento que relaciona a forma da cidade, os vazios urbanos, o crescimento e densidade populacional, com intuito de
demonstrar o quanto estes fatores têm influência na qualidade de vida das pessoas, além de contribuir dando suporte ao
planejamento urbano da cidade, em busca de um desenvolvimento sustentável, para que não se perca sua essência e relação
com o espaço natural.

Conceituação
O termo 'forma urbana' é associado a diversas situações e ciências, sendo interpretado de forma geral como morfologia urbana
ou como a área urbanizada de uma cidade. Neste estudo, ‘forma urbana’ tratará da forma da mancha urbana, ou seja, a forma
da área urbanizada e consolidada da cidade, ou seja, o estado macroscópico de sua área construída e consolidada, incluídas
áreas aglomeradas (que devem ser avaliadas em conjunto), como resultado do processo de produção e consumo do território,
tanto do aspecto político quanto social e econômico, definida pelos seus limites territoriais, pela sua densidade e pela maneira
como as atividades se distribuem no território.
Uma forma urbana concentrada, compacta ou monocêntrica, tende a aglomerar atividades; uma forma
dispersa, policêntrica, tende a distribuir atividades. Esta relação entre forma urbana e localização de atividades é de extrema
importância, pois confere a existência de forças locacionais, que impulsionam o desenvolvimento de determinadas e diferentes
maneiras.

Densidade Urbana
A densidade é utilizada como um indicador para mostrar o grau de compactação ou dispersão de uma população num
determinado espaço, ou seja, tem uma influência significativa na forma urbana que as cidades tendem a assumir.
A densidade urbana representa o número total de pessoas para uma determinada área. Normalmente utilizado no âmbito urbano
por pessoas/km². Neste estudo a densidade urbana possui um papel fundamental, pois ela é um dos principais fatores que nos
mostra a forma com que uma cidade está crescendo e assim se consegue pensar e planejar de maneira equilibrada no futuro da
mesma.

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Vazios Urbanos
A utilização do solo pouco equilibrada, pode criar vazios urbanos em uma cidade, que são espaços rodeados de infraestrutura,
porém sem uso. Estas áreas acabam gerando despesas desnecessárias aos municípios, além de aumentar o deslocamento das
pessoas. São espaços que muitas vezes se tornando áreas inseguras aos moradores e pedestres, além de serem um fator
importante para a relação da forma urbana de uma cidade.
A densidade demográfica é um indicador pouco específico, pois não ilustra a maneira como as densidades se distribuem dentro
da área urbanizada, ignorando a existência de vazios urbanos. Neste caso, a densidade residencial, que mostra a relação entre a
população residente e a área bruta que ocupa, sem descontar as vias, áreas verdes, usos institucionais e áreas comerciais.
Geralmente, excluem-se áreas verdes de uso esporádico (jardim botânico, zoológico, etc.), lagos, rios e usos industriais. É mais
utilizada para o dimensionamento e localização da infraestrutura, dos equipamentos sociais e de serviços públicos (esgoto, luz,
água, escolas, transporte coletivo, parques, etc.).

Cidade compacta x Cidade dispersa


Os dois conceitos, estão diretamente relacionados a forma urbana de uma cidade, que é a estrutura física, a junção dos espaços
livres e construídos da mesma, incluindo áreas verdes e vias.
A cidade dispersa, é um modelo de cidade desconectado, onde a circulação é basicamente por transporte individual, longos
deslocamentos acabam sendo necessários, baixas densidades e a criação de grande número de vazios urbanos, devido ao
crescimento sem um bom planejamento. As cidades dispersas geram grandes problemas às administrações municipais, pois
além da segregação social e econômica, se tornam cidades onerosas, devido a necessidade de levar infraestrutura de qualidade
à maiores distâncias.
A essência de uma cidade é o contato, a troca e a comunicação entre as pessoas, em uma cidade dispersa o risco de se perder
esta essência é muito grande. São nestes itens que nos deparamos com a cidade compacta.
A cidade compacta é conectada e coordenada, as distâncias a se percorrer são menores, a densidade populacional é maior, o
transporte público é mais expressivo, o consumo do solo é pensado de maneira mais equilibrada e assim, o custo destas cidades
são bem menores, pois a infraestrutura necessária para abranger toda a cidade, é menor.

Cidade Sustentável
A cidade sustentável exige uma ampla compreensão dos âmbitos social, ambiental e econômico. Para poder-se usufruir de uma
cidade com desenvolvimento sustentável no futuro é preciso, efetivamente, entender que estes fatores precisam estar
totalmente interligados. Um município se tornará sustentável quando existir equidade e qualidade de vida para todos os seus
moradores, junto com a capacidade de recuperação dos recursos naturais do meio em que vivem, sem que a geração atual
comprometa os recursos das gerações futuras. (NOSSO FUTURO COMUM, 1987).

Material e Método
Área de estudo
Esta análise ocorreu na cidade de Gramado, região sul do Brasil, a qual tinha uma estimativa para 2018 (IBGE) de 35.875
habitantes, sendo aproximadamente 90% localizados em área urbanizada, que conta com uma superfície de 4260 ha, quase 18
% da área territorial total da cidade, que é de 23782 ha.
A cidade de Gramado é um dos principais destinos turísticos do Brasil, recebe aproximadamente 6 milhões de visitantes por
ano, quase 160 vezes mais do que a população local.

Método
Para este estudo, em primeiro momento, coletou-se dados sobre o número de população e a área urbanizada de três momentos
distintos ao longo de crescimento territorial da cidade de Gramado, para que fosse possível obter o índice de forma da cidade
para os três momentos e assim entender se o município cresce horizontalmente de maneira compacta ou dispersa, podendo
utilizar estas informações para iniciar um planejamento urbano sustentável.
Para que fosse possível chegar nos valores que serão apresentados, foi feito um polígono contornando a área urbanizada da
cidade e um círculo que contém no seu interior este polígono por completo. Obtendo estas duas áreas, se divide a área
urbanizada pela área do círculo e quanto maior for a porcentagem adquirida, mais compacta é a cidade, ou neste caso, o
período analisado. Com estas informações, é possível verificar a quantidade de áreas de expansão urbana que a cidade possui,
além dos vetores de crescimento urbano, que indicam a direção que a cidade está tomando.
Tendo em vista o objetivo de relacionar a forma da cidade com o seu crescimento, vazios urbanos e densidade demográfica,
primeiro buscou-se entender como vinha acontecendo o crescimento horizontal da cidade e junto a isso, um levantamento
sobre os vazios urbanos que a cidade possui, que para este artigo são considerados aqueles lotes com mais de 1000 m² de área,
além de um levantamento baseado em dados do IBGE 2010 sobre a densidade populacional.

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Resultados e Discussões
Histórico e levantamentos
A colonização da cidade de Gramado aconteceu no ano de 1875, por imigrantes portugueses, porém hoje, a influência da
cultura alemã e italiana são bem mais expressivas. Na época, o município ainda fazia parte da cidade de Taquara e assim
permaneceu até o ano de 1954, quando foi emancipado. Com o passar dos anos a cidade foi tomando forma e trinta anos
depois, no ano de 1984, Gramado possuía aproximadamente 953 ha de área urbanizada, além de uma área circular de
aproximadamente 1826 ha (Figura 1).

Figura 1: Imagem aérea de Gramado com a delimitação da área urbanizada e circular no ano de 1984. Fonte.
Adaptado de Google Earth, 2018.

Devido ao fato de o município estar localizado próximo à cidade de Taquara, que já era uma cidade de maior desenvolvimento
na época, Gramado começou a receber um grande número de visitantes e por consequência, novos moradores foram se
estabelecendo ao longo dos campos de grama verde, o que deu origem ao nome da cidade. Anos depois, com o município se
desenvolvendo, no ano de 1999, a cidade já havia triplicado em área urbanizada, chegando a aproximadamente 2983 ha e uma
área circular próxima a 6390 ha (Figura 2), com uma população de aproximadamente 28 mil habitantes, segundo o SEBRAE
2018.

Figura 2: Imagem aérea de Gramado com a delimitação da área urbanizada e circular no ano de 1999. Fonte.
Adaptado de Google Earth, 2018.

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Nos anos seguintes a linha de crescimento da área urbanizada da cidade e população, desacelerou. Atualmente, o município
que está localizado a aproximadamente 120km da capital, Porto Alegre, possui uma extensão total de pouco mais de 23782 ha
de área e uma área urbanizada de pouco mais de 4260 ha, com uma área circular de aproximadamente 7265 ha (Figura 3) e
uma população de 36456 habitantes, segundo o SEBRAE 2018.

Figura 3: Imagem aérea de Gramado com a delimitação da área urbanizada e circular dos dias atuais. Fonte. Adaptado
de Google Earth, 2018.

Levando em consideração os dados expostos acima, chega-se aos índices de forma do município de Gramado para os anos
apresentados neste estudo, os quais mostram se a cidade possui um crescimento horizontal difuso ou compacto, ponto inicial
importante para se planejar uma cidade com a perspectiva de menor impacto ambiental.
No ano de 1984, com as áreas expostas chegou-se um índice de forma de 52%, que mostrava uma cidade em uma linha tênue
entre crescimento compacto e disperso, porém, o município se encontrava em início de formação, mas que nos anos seguintes
percebeu-se que declinou um pouco mais para um avanço horizontal disperso. Tendo chegado, em 1999, a um índice de forma
de 46%, e mostra uma cidade que teve seu desenvolvimento direcionado pela via de principal acesso à cidade, a RS 115, em
direção a cidade vizinha de Três Coroas.
Nos últimos anos, percebe-se que a evolução territorial do município retorna a um eixo de equilíbrio no crescimento horizontal
entre uma cidade dispersa e compacta, mesmo possuindo “braços” de uma expansão típica do crescimento disperso e que gera
grandes áreas de expansão urbana, temos o melhor índice de forma dos três anos estudados. Atualmente a cidade possui um
índice de 58%.
A cidade de Gramado possui no Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI) a possibilidade de criação de núcleos
urbanos, que são áreas que não fazem parte da área urbanizada da cidade, porém possuem infraestrutura própria. A diferença é
que cada um dos núcleos possui índices urbanísticos característicos e individuais.
Hoje, o município conta com 6 núcleos urbanos já instalados, que normalmente são condomínios de luxo ou loteamentos de
baixa renda (Figura 4). Pode-se perceber que adotar este tipo de expansão poderá ocorrer o enfraquecimento do crescimento
compacto que vinha se desenhando até então, pois, além de tencionar a cidade a crescer horizontalmente de forma difusa,
também gera maiores despesas ao município. Estes fatores consequentemente, dificultam o atendimento de infraestrutura
nestas novas áreas, enquanto que espaços mais próximos das áreas já consolidadas acabam ficando vazios ou subutilizados e
ainda mais onerosos para a cidade.

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Figura 4: Mapa de Gramado com a delimitação da área territorial urbana e da área urbanizada (de estudo). Fonte. As
autoras.

O município de Gramado é predominantemente urbano e com uma área territorial total de 237,827 km², porém com 42,602
km² de área urbanizada, apenas 17,91% do município (Figura 4). Quase 90% de sua população vive na zona urbana e 10%
reside na zona rural da cidade. O crescimento médio anual gira em torno de 0,2% ou 491 pessoas por ano e segundo o IBGE
2010, a média de pessoas por domicílio fica por volta de 2,79, o que significa que a base familiar da cidade é, de no máximo,
três pessoas.
A cidade é hoje, um dos principais destinos turísticos do Brasil, principalmente devido ao estilo pitoresco das edificações do
centro da cidade, a topografia ímpar que mexe com a imaginação e encanta os visitantes, além dos centros de entretenimento e
eventos que o município proporciona durante vários momentos do ano.

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Densidade Urbana
Considerando a densidade urbana bruta, pode-se perceber que nos bairros próximos ao centro e ao longo das principais vias de
acesso da cidade é onde se concentram o maior número de setores densificados. Porém, a densidade demográfica total do
município chega a quase 136,00 hab/km², segundo o IBGE 2010, o que representa uma cidade ainda muito pouco densificada e
se for considerada a taxa de crescimento médio, percebe-se que essa densificação não terá um aumento significativo nos
próximos anos.
O principal motivo que faz com que a densidade do município não seja alta, é o fato de que nas zonas residenciais a maior taxa
de ocupação (TO) permitida é de 50% e a maior TO dentre todas as zonas urbanísticas da cidade é de 65%. Estes índices
forçam os lotes a permanecerem com muitos espaços livres, além das áreas de cada lote que, obrigatoriamente, precisam ser
utilizadas como APPAs. A exigência sobre APPA é positiva sobre o PDDI da cidade de Gramado, pois demonstra a
preocupação do município com as áreas verdes e a serem preservadas, obrigando o proprietário a disponibilizar uma
porcentagem do lote para este fim. Uma taxa de ocupação baixa faz com que a densificação de cada lote ou área sejam muito
baixas e assim a cidade se obriga a expandir horizontalmente, e este crescimento se acontecer sem planejamento, acaba sendo
de forma dispersa.

Figura 5: Mapa de densidade demográfica por setores. Fonte. Imagem do IBGE - 2010.

Vazios Urbanos de Gramado


Quando se fala em vazios urbanos, para este estudo, arbitra-se aqui, áreas maiores do que 1.000 m², devido ao fato, de que
muitos loteamentos da cidade possuem lotes que quase atingem esta metragem. O centro e os bairros próximos a ele, não
possuem vazios urbanos de acordo com a metragem estipulada, são áreas consolidadas, centrais e com muitos lotes de uso
comercial, porém todos os lotes edificados (Figura 6).

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Figura 6: Mapa de Gramado da área de estudo, demarcando vazios urbanos. Fonte. As autoras.

O município de Gramado possui 2,44% de vazios na área urbanizada, o que significa pouco mais de 1.000 km² de espaços
livres que ainda podem ser utilizados aproveitando a infraestrutura já existente no seu entorno. Além disso, 30,66% da área de
estudo, configura área de expansão urbana, espaços ainda sem infraestrutura completa e pouco edificados, mas se considerada
a taxa de crescimento anual da população e estes espaços já pertencentes ao tecido da cidade e prontos para receberem o
restante de infraestrutura necessária, pode-se perceber que a cidade de Gramado poderia pensar em um crescimento de área
urbanizada menos significativo para os próximos anos. Repensar estes espaços com diversidade de usos e equilibrando o uso
do solo, antes de seguir crescendo horizontalmente sem se preocupar com estas áreas, ajudaria a governança pública a manter
uma cidade mais conectada, menos onerosa, menos segregada e com uma ocupação do solo responsável. Este pensamento é
reforçado pelo professor da Universidade de Burgos, Fernando García Moreno Rodríguez (2019), ao afirmar que o
desenvolvimento sustentável precisa estar fundamentado em um crescimento econômico e uma organização territorial
equilibrada, baseada principalmente em uma estrutura urbana policêntrica.
O município de Gramado possui ainda, as Áreas de Preservação Permanente Ambiental (APPA), espaços não edificáveis, mas
que poderiam ser muito significativos para a cidade com uso até mesmo informativo e de consciência ambiental para a
população. Hoje são tratadas como áreas que não podem ser utilizadas, apenas protegidas, visando manter o caráter
paisagístico já reconhecido na cidade.
Considerando todos os itens expostos, podemos perceber uma cidade já consolidada na parte central, mas que conta com
grandes quantidades de km² para crescimento horizontal. A relação entre todos estes levantamentos apresenta uma cidade com
forma relativamente compacta, mas com potencial significativo para utilizar o solo de maneira ainda mais responsável,
conectado e ordenado, com diversidade de usos em novas centralidades e com menos segregação social e econômica.

Considerações Finais
A cidade de Gramado é hoje, um dos principais pontos turísticos do estado do Rio Grande do Sul, porém, um bom

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planejamento sobre desenvolvimento sustentável poderia proporcionar a valorização e novos olhares voltados ao município. Os
gramadenses chegam a receber até 2,5 milhões de turistas por ano (GRAMADO TUR, 2019), potencial incrível para que
Gramado pudesse fomentar também o conhecimento e o dia a dia de uma cidade sustentável.
O que se tem hoje, é um número de vazios urbanos pouco expressivo, porém, a quantidade de áreas de expansão é bastante
significativa, aliado ao fato de que a taxa de crescimento populacional é baixa, aproximadamente 491 pessoas por ano,
entende-se que a maneira como a cidade vai tratar a ocupação do seu solo daqui para a frente é de extrema importância para
um possível desenvolvimento sustentável.
O fato de que os núcleos urbanos sejam condomínios de luxo e principalmente, loteamentos de baixo poder socioeconômico,
mostra que a cidade está sendo tencionada pelos extremos da classe social, aumentando a segregação e onerosidade para a
governança pública. A cidade precisa aumentar os investimentos em transporte público, em coleta de resíduos sólidos,
pavimentação, entre outros, pois afasta a população das áreas mais desenvolvidas e completas de infraestrutura.
O município está mais próximo a um eixo de crescimento horizontal compacto, que se bem planejado e desenvolvido,
densificando e ocupando o solo de maneira responsável, pode significar uma cidade mais conectada e coordenada, com menos
tempo de deslocamentos, com menos necessidade de infraestrutura, uma cidade com um senso de comunidade mais ativo.
Além de aliar todo o seu potencial turístico a um desenvolvimento sustentável.

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5SSS122
ANÁLISE ECONÔMICA E DE SATISFAÇÃO DOS USUÁRIOS DE UM
SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL EM UMA
EDIFICAÇÃO MULTIFAMILIAR EM FLORIANÓPOLIS
Jéssica Kuntz Maykot1, Enedir Ghisi2
1Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: jessica.k.maykot@gmail.com; 2Universidade Federal de Santa
Catarina, e-mail: enedir.ghisi@ufsc.br
Palavras-chave: Aproveitamento de água pluvial; satisfação do usuário; análise econômica.

Resumo
Este artigo apresenta uma análise de viabilidade econômica e de satisfação dos usuários quanto ao sistema de aproveitamento
de água pluvial de uma edificação residencial multifamiliar localizada em Florianópolis. Foram estimados os usos finais da
água nos apartamentos por meio de questionários, bem como o potencial de economia de água potável por meio do percentual
de água potável que pode ser substituído por água pluvial. Também foram efetuadas simulações utilizando o programa
computacional Netuno (versão 4), além de análises econômicas do sistema, considerando diferentes demandas de água pluvial.
Também foram realizadas análises relacionadas à satisfação do usuário quanto à água pluvial utilizada no sistema de
aproveitamento e a importância referente à economia de água potável. Estimou-se que os chuveiros são responsáveis pelo
maior consumo de água nos apartamentos (55,8%), seguidos dos seguintes aparelhos: máquina de lavar roupas (19,7%); bacias
sanitárias (9,4%); torneira da cozinha (6,8%); lavatórios (6,7%) e outros que contribuem com percentuais menores de
consumo. O sistema mais viável financeiramente, com menor período de retorno e maior taxa interna de retorno, corresponde
ao dimensionado para atender somente às bacias sanitárias dos apartamentos, e cujos reservatórios inferior e superior
apresentem capacidades de 16,00 m³ e de 2,53 m³, respectivamente. De modo geral, os moradores expressaram satisfação com
relação ao sistema de aproveitamento de água pluvial existente.

Introdução
A água é um recurso utilizado na maioria das atividades realizadas pelo homem. Todos os sistemas de engenharia que
proporcionam conforto ao ser humano utilizam esse recurso (FERREIRA et al., 2008). A água é um recurso abundante, todavia
uma parcela muito pequena da água do planeta é doce, e um percentual ainda inferior é viável para o consumo humano
(AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2012). Além disso, a distribuição da água não é homogênea. O Brasil, por exemplo,
detém entre 15.000 e 50.000 m³ de recursos hídricos renováveis per capita. Porém, alguns países africanos e do Oriente Médio
encontram-se em situação de escassez absoluta, com disponibilidade de recursos hídricos variando entre 0 e 500 m³ (WWAP,
2015). O crescimento populacional também pode agravar a disponibilidade hídrica. Prevê-se que, em 2050, haja 2,22 bilhões
de pessoas a mais no planeta em comparação com o número atual (UNITED NATIONS, 2017). Ademais estuda-se a
ocorrência de um aumento significativo da demanda por água nos próximos anos pelos setores agrícola, industrial e de
produção de energia (WWAP, 2017).
Em geral, o Brasil apresenta elevado potencial de economia de água potável (GHISI et al., 2007; LIMA et al., 2011; MAIA et
al., 2011; SANTOS; FARIAS, 2017). Considerando as cinco regiões brasileiras, o potencial de economia de água potável por
meio do aproveitamento da água pluvial varia de 48% a 100% (GHISI, 2006). No estado de Santa Catarina, em edificações
residenciais, estima-se que o potencial de economia de água potável varie de 23% a 100% (GHISI et al., 2006). De acordo com
Lopes et al. (2016) é possível economizar entre 75 e 471 L/residência.dia utilizando água pluvial em residências catarinenses.
A lei 8.080, sancionada em Florianópolis exige o uso de fontes alternativas de abastecimento de água nas edificações
(FLORIANÓPOLIS, 2009). A cidade apresenta elevado potencial de economia de água potável por meio do aproveitamento da
água pluvial principalmente em fevereiro (73%) (GHISI et al., 2006). Uma pesquisa conduzida em um condomínio residencial
na cidade mostra que é possível economizar até 17% da água potável por meio do aproveitamento da água pluvial (GHISI;
FERREIRA, 2007). Pesquisas em edifícios públicos na mesma cidade mostram que entre 56% e 86% da água potável utilizada
nas edificações poderia ser substituída por água pluvial (KAMMERS; GHISI, 2006; PROENÇA; GHISI, 2010).
Em residências, o maior consumo de água potável tende a ocorrer nos chuveiros (MARINOSKI et al., 2014; WILLIS et al.,
2009; LOH; COGHLAN, 2003; RATHNAYAKA et al., 2015; BARRETO, 2008). O percentual de água consumido em bacias
sanitárias também se mostra significativo. Nos trabalhos de Rathnayaka et al. (2015) e de Matos et al. (2014) a bacia sanitária
ocupa o terceiro lugar dentre os aparelhos com maior percentual de consumo de água potável no setor residencial. Em escolas e
edifícios de escritório, a bacia sanitária aparece com um percentual de consumo de água ainda maior se comparado aos
percentuais resultantes de estudos em residências (PROENÇA; GHISI, 2010; FASOLA et al., 2011).
Apesar das vantagens do uso de sistemas de aproveitamento de água pluvial, é necessário estudar a viabilidade econômica de

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implantação desse tipo de solução. Athayde Júnior et al. (2008) verificaram que a implantação do sistema somente é viável em
edificações de alto padrão, onde as tarifas de consumo de água são superiores. Segundo Dòmenech e Saurí (2011), somente há
viabilidade econômica na implantação de sistemas de aproveitamento de água pluvial quando o consumo de água é elevado.
Matos et al. (2015) apontam que há viabilidade econômica para implantação do sistema de aproveitamento de água pluvial em
edificações comerciais.
Os sistemas de aproveitamento de água pluvial em edificações possibilitam o uso mais racional da água potável. Porém, em
geral, os métodos de dimensionamento propostos na NBR 15527 (ABNT, 2007) podem subdimensionar ou superdimensionar
os reservatórios (RUPP et al., 2011). Além disso, nem sempre os sistemas fornecem água com características visuais
adequadas (MENDEZ et al., 2011). Nesse sentido, este artigo tem por objetivo realizar avaliações financeira e de satisfação do
usuário relacionadas a um sistema de aproveitamento de água pluvial localizado em uma edificação multifamiliar em
Florianópolis, Santa Catarina. Além disso, serão estudados: os usos finais da água nos apartamentos da edificação,
dimensionamento dos reservatórios do sistema de aproveitamento de água pluvial e análise de respostas dos moradores sobre o
sistema de aproveitamento de água pluvial e economia de água.

Método
Características da área de estudo e descrição da edificação
A pesquisa foi realizada em um edifício multifamiliar localizado em Florianópolis, formado por 14 pavimentos, e que dispõe
de um sistema de aproveitamento de água pluvial que atende às bacias sanitárias do condomínio. No inverno, ocorrem as
menores precipitações na cidade, enquanto, no verão, ocorrem as máximas precipitações em três meses consecutivos (NIMER,
1989). As Figuras 1 e 2 mostram, respectivamente, as médias de precipitação obtidas por meio da estação meteorológica da
EPAGRI/CIRAM e a fachada do edifício.

Figura 2: Fachada do edifício.


Figura 2: Médias mensais, máximos e mínimos de precipitação em Florianópolis (dados de 2000 a 2015).

Coleta de dados
Foram utilizados dados de precipitação registrados diariamente de 2000 a 2015 e fornecidos pela EPAGRI/CIRAM. A área
disponível para captação da água pluvial é de 561,60 m².
Foram coletados dois tipos de dados de consumo de água nos apartamentos: primeiramente foram feitas leituras diárias nos
hidrômetros individuais dos apartamentos. As leituras foram feitas no verão de 2018 por 21 dias, a partir das 22h. Calculou-se
o consumo diário de água por apartamento por meio da diferença entre leituras realizadas em dias consecutivos. Também
foram registradas as leituras dos hidrômetros na mesma data e hora de início e término do questionário, procedimento melhor
detalhado na seção 2.3. Além disso, foram coletados dados do consumo de água dos apartamentos de 2011 a 2018.

Usos finais da água


Estimaram-se os usos finais da água por meio de um questionário, preenchido em um período de 24h, com informações de
frequência, tempo de uso e vazão nos pontos de consumo dos apartamentos.

Experimento piloto
Foram elaborados dois questionários diferentes, aplicados em dois experimentos piloto a fim de determinar o questionário que
minimizou o erro quanto às respostas dos moradores sobre o consumo de água. O questionário mais preciso foi aplicado ao
maior número de apartamentos possível.

Consumo de água
O consumo de água nas torneiras e chuveiros onde foi conduzido o experimento piloto foi estimado por meio do produto entre
a vazão de água no ponto de consumo e o tempo de uso do aparelho. O consumo das máquinas de lavar roupas e louças foi
obtido junto aos fabricantes por meio de informações de marca e modelo dos aparelhos.
As bacias sanitárias dos apartamentos são de caixa acoplada com duplo acionamento da descarga: três litros de água são

198
consumidos acionando o fluxo parcial e seis litros, com o acionamento do fluxo total.
Estimou-se o consumo de água para beber considerando o número de copos de água (200 ml) consumidos diariamente pelos
moradores. Não foi considerado o consumo de água mineral. Calculou-se o consumo de água potável nos apartamentos por
meio da soma dos consumos diários de água para beber, utilizado nas máquinas de lavar louças e roupas, nos chuveiros e nas
torneiras.
Embora a água potável possa ser consumida nas bacias sanitárias, não é possível quantificar separadamente os volumes de
água potável e de água pluvial utilizados nesses aparelhos. Isso ocorre pois não há medição da água pluvial utilizada ou
medição individual da água potável necessária para atender à demanda de uso das bacias sanitárias. Portanto, o consumo nas
bacias sanitárias foi contabilizado separadamente do consumo da água nos apartamentos.

Cálculo das vazões


As vazões de torneiras e chuveiros foram calculadas por meio da razão entre o volume de um recipiente e o tempo necessário
para enchê-lo. As torneiras foram abertas até a metade de suas máximas aberturas a fim de obter um fluxo médio de água. O
registro do chuveiro foi aberto por completo. As vazões finais foram obtidas por meio da média entre três medições
consecutivas em cada um dos aparelhos.

O primeiro questionário
O primeiro questionário foi desenvolvido de modo a permitir que os moradores respondessem sobre seus consumos diários de
água em cada aparelho de consumo, além de questões associadas à satisfação com relação ao sistema de aproveitamento de
água pluvial da edificação. Os participantes também expressaram suas opiniões com relação à importância da economia de
água. Esse questionário foi aplicado a uma família de 5 pessoas. Depois de respondido, calculou-se o consumo de água sem
contar o consumo nas bacias sanitárias. Para verificação, o consumo de água registrado por meio do hidrômetro durante o dia
foi utilizado como valor de referência.

O segundo questionário
Um segundo questionário composto de duas partes foi aplicado à mesma família mencionada na subseção anterior. A primeira
parte, de preenchimento individual, questionou os participantes sobre suas opiniões particulares e hábitos relacionados ao
consumo de água. A segunda parte visou monitorar o consumo de água nos apartamentos durante 24 horas. O questionário foi
desenvolvido para permitir o registro do tempo de uso em um aparelho hidrossanitário logo que ele fosse utilizado. Também se
reservou uma área para o registro do tipo de fluxo utilizado na bacia sanitária durante o período de monitoramento. Nos
questionários da cozinha e da área de serviço solicitou-se para que os moradores registrassem marca e modelo das máquinas de
lavar roupas e louças. Os moradores também marcaram o número de copos de água consumidos durante o monitoramento.
Pediu-se para que os participantes escrevessem seus nomes nos questionários a fim de serem identificados no caso da não
compreensão de algum dado.
O segundo questionário forneceu resultados mais precisos do que o primeiro. Portanto, aquele foi utilizado para dar
continuidade ao experimento nos outros apartamentos.

Procedimento experimental
O segundo questionário foi aplicado aos moradores de fevereiro a abril de 2018. Primeiro, perguntou-se aos moradores sobre a
possibilidade de completar e entregar o questionário. Na data de entrega, o procedimento experimental foi detalhadamente
explicado. Posteriormente, o dia do monitoramento foi agendado. Esclareceu-se que o monitoramento deveria ser finalizado 24
horas após o início. Além disso, os moradores foram instruídos a manterem o consumo de água o mais próximo possível do
consumo diário, e a enviarem fotografias ao pesquisador das torneiras e chuveiros utilizados durante o monitoramento.
O consumo de água no apartamento foi calculado como explicado na subseção 2.3.1. A fim de obter as vazões das torneiras e
chuveiros nos pontos de consumo, as fotografias enviadas pelos moradores foram analisadas e as vazões máximas foram
consideradas, conforme especificações dos fabricantes. Todavia, o consumo de água estimado utilizando esses valores foi
muito superior ao medido no hidrômetro. Dessa forma, foram medidas vazões nas torneiras das áreas comuns da edificação,
devido a impossibilidade de efetuar medições em alguns apartamentos. Portanto, as vazões usadas para as torneiras da cozinha
e da área de serviço correspondem à média entre a vazão da cozinha obtida no experimento piloto, e a vazão medida na
cozinha da área comum da edificação. A vazão nos lavatórios foi estimada como a média entre a vazão dos lavatórios do
experimento piloto e a vazão medida nas áreas comuns. Para os chuveiros a gás, considerou-se a vazão obtida no chuveiro do
experimento piloto. Para os chuveiros elétricos, foram utilizadas vazões especificadas pelos fabricantes.

Diferenças entre o consumo medido e estimado


A água potável transportada por meio do sistema de aproveitamento de água pluvial é medida no hidrômetro geral da
edificação, e é rateada mensalmente entre os moradores da edificação. Portanto, o consumo de água obtido por meio do
questionário deve ser o mais próximo possível do consumo registrado por meio dos hidrômetros. Assim, admitiu-se a
inexistência de erros de registro no questionário associados ao consumo de água nas bacias sanitárias. Considerou-se erro a

199
diferença entre o consumo de água resultante do questionário e o consumo de água registrado no hidrômetro.

Percentual de consumo nos pontos de uso


Calculou-se o percentual de água consumida nos pontos de uso por meio da proporção entre o consumo diário de água no
aparelho hidrossanitário e o consumo total diário de água no apartamento, resultante do monitoramento. O percentual diário de
água consumida por ponto de uso corresponde ao percentual médio diário de água consumida em cada ponto de consumo dos
apartamentos da edificação.
O consumo diário médio de água na edificação foi estimado por meio da soma do consumo médio diário de água nos
apartamentos. Esses consumos foram estimados por meio da proporção entre a soma dos consumos diários de água do
apartamento e o número de hidrômetros lidos.

Potencial de economia de água potável


Percentual de água não potável que pode ser substituída por água pluvial
O potencial de economia de água potável na edificação por meio do uso de água pluvial foi calculado considerando dois
cenários: a soma dos percentuais de água utilizados nas bacias sanitárias, tanques da área de serviço, e máquinas de lavar
roupas dos apartamentos; e considerando que o sistema de aproveitamento de água pluvial apenas atenderia as bacias sanitárias
(situação atual do sistema de aproveitamento de água pluvial da edificação).

Capacidade do reservatório de água pluvial


Embora já exista um reservatório de água pluvial na edificação, o método usado no projeto não é conhecido. Além disso,
buscou-se verificar a viabilidade de o sistema não apenas suprir a demanda nas bacias sanitárias, mas também na máquina de
lavar roupas e torneira do tanque da área de serviço.
O dimensionamento do reservatório de água pluvial foi realizado por meio do programa “Netuno”, versão 4 (GHISI;
CORDOVA, 2014). Foram fornecidos alguns dados de entrada, como: dados diários de precipitação, desvio da porção inicial
de escoamento (2 mm) (ABNT, 2007); área de captação (561,60 m²); consumo diário de água potável per capita; número total
de moradores da edificação; coeficiente de runoff de 0,85 para telhas de fibrocimento (DTU, 2002); percentual de água potável
a ser substituída por água pluvial; capacidade dos reservatórios superior e inferior de água pluvial. O consumo diário de água
potável foi estabelecido por meio da proporção entre o consumo de água médio mensal da edificação (dados de séries
históricas de consumo de água), e do produto entre o número de moradores da edificação e o número de dias do mês.
Foram simuladas diversas capacidades de reservatórios em intervalos de 1000 litros para cada cenário (subseção 2.4.1). As
capacidades ideais de reservatório foram aquelas cuja última variação de volume provocou um aumento no potencial de
economia de água potável igual ou inferior a 0,21% para o uso da água pluvial nas bacias sanitárias, máquinas de lavar roupas
e torneira dos tanques da área de serviço, e 1,1% quando o sistema de aproveitamento de água pluvial foi dimensionado para
atender somente às bacias sanitárias. As máximas capacidades simuladas para os reservatórios inferiores foram iguais a 30 m³
e as capacidades dos reservatórios superiores de água pluvial corresponderam às respectivas demandas diárias de água pluvial,
conforme o cenário simulado.

Satisfação dos usuários


Os participantes foram questionados individualmente sobre os usos total e parcial das descargas das bacias sanitárias, bem
como sobre a aparência da água utilizada nesses aparelhos. Também foram questionados acerca da satisfação quanto ao
sistema de aproveitamento de água pluvial, o conhecimento relacionado à existência do sistema na edificação, satisfação
quanto à pressão da água nos pontos de consumo e questões sobre economia de água. No questionário, foram registrados:
nome, idade, número de moradores no apartamento e gênero.
Houve grande diversidade de respostas uma vez que as questões foram dissertativas. A fim de facilitar a interpretação dos
dados, as respostas foram categorizadas pelo pesquisador. Sobre a importância da economia de água, por exemplo, as respostas
foram inclusas em pelo menos uma das seguintes categorias: “preservação do recurso”, “garantir abastecimento à população” e
“economia financeira”.
Após a coleta dos dados, as respostas foram transferidas para uma planilha eletrônica, e resumidas por meio de tabelas e
gráficos de frequência.

Análises econômicas
O programa Netuno, versão 4 (GHISI; CORDOVA, 2014) também foi utilizado para estimar a taxa interna de retorno, o
payback e o valor presente líquido. Primeiro, analisou-se a viabilidade do sistema existente na edificação (considerando as
capacidades dos reservatórios existentes, conforme projeto hidrossanitário). Posteriormente, foram efetuadas análises
financeiras de dois outros sistemas propostos (Cenários 1 e 2). Na segunda e terceira simulações as capacidades consideradas
corresponderam às capacidades ideais.
Uma vez que muitos custos não puderam ser obtidos para o ano de construção do edifício, foram realizadas análises
econômicas com base em custos de 2018. A Eq. (1), proposta por Tomaz em 2010 (TOMAZ, 2010), foi utilizada para calcular

200
os custos dos reservatórios construídos em concreto reforçado. O valor, em dólares (de 2010) foi convertido para reais e
corrigido para os dias atuais, considerando a inflação de 2011 a 2018.

(1)
Onde: C é o custo do reservatório de água pluvial (US$) e V é a capacidade do reservatório (m³).

Foram considerados custos de concretagem, fabricação, instalação e remoção das formas dos reservatórios (TCPO, 2010).
Foram incluídos custos de mão de obra para a instalação de componentes do sistema (SINAPI, 2018). Além disso, foram
considerados custos para a limpeza dos reservatórios, estimados com base nas despesas do condomínio ao longo da operação
do sistema (R$ 500,00 por reservatório e limpeza a cada seis meses). Estimou-se os custos das tubulações considerando que
estas representam aproximadamente 15% da soma de custos de reservatórios e acessórios do sistema de aproveitamento de
água pluvial.
Para a inflação, considerou-se uma taxa mensal cuja inflação anual corresponda a 4,0% (BRASIL, 2017). A taxa mínima de
atratividade foi obtida por meio de médias mensais da taxa SELIC, de 2011 a maio de 2018, conforme dados da Receita
Federal (BRASIL, 2018). Considerou-se um período de análise de 20 anos, correspondente à vida útil do sistema (ATHAYDE
et al., 2008; ANTUNES, 2017).
Foram consideradas especificações das motobombas conforme o projeto sanitário, e tarifas de energia da concessionária local.
O tempo diário de operação da motobomba foi estimado de acordo com a demanda de água pluvial estabelecida - Eq. (2). O
custo mensal de energia elétrica para operação da motobomba é dado pela Eq. (3).

(2)
(3)

Onde: Top.npu é o tempo diário de operação da motobomba (h/dia); CMmês é o consumo médio mensal de água na edificação,
incluindo o volume de água gasto nas bacias sanitárias (m³); Pnpu é a demanda de água para fins não potáveis (%); Qbomba é a
vazão do conjunto motobomba, especificada no projeto e igual a 2,18 m³/h; Cmensal é o custo de energia mensal para operação
das motobombas (R$); Pmp é a potência das motobombas (kW); Tfunc. é o tempo diário de operação das motobombas (h/dia);
Nd/mês é o número de dias no mês quando a bomba está operando, e VCELESC é o custo da energia elétrica cobrado pela CELESC
(R$/kWh).

As tarifas de água e de esgoto foram obtidas da CASAN. No caso da edificação estudada a tarifa é de R$ 7,7314 por m³ de
água consumida. A taxa de esgoto corresponde a 100% do valor da tarifa de água. Também foram considerados dois impostos:
o PIS (1,65%) e o COFINS (7,60%), taxas referentes às contas de água em 2018. Uma análise econômica completa deve
incluir análises dos benefícios do uso da água pluvial, como a redução dos custos nas contas de água, prevenção de possível
escassez de água potável e preservação ambiental. No entanto, a análise econômica conduzida e apresentada nesse artigo não
quantifica os dois últimos benefícios. Para tanto, seriam necessárias análises mais complexas, que desviam dos principais
objetivos desse estudo.

Resultados e discussão
Dados históricos do consumo de água na edificação
A edificação onde foram realizados os experimentos foi inaugurada em 2009. Estiveram disponíveis para análise, dados de
consumo de água dos apartamentos de 2011 a março de 2018. Assim, foram calculadas médias de consumo mensal de água
ano a ano por apartamento. Os consumos diários médios foram obtidos por apartamento por meio dos dados de consumos
médios mensais. Por fim, estimou-se o consumo médio de água per capita para a edificação. Também foram calculadas médias
mensais de consumo de água e a média do consumo mensal total de água, em relação aos dados mensais totais disponíveis
(Tabela 1). A Figura 3 mostra as médias, máximos e mínimos dos consumos mensais de água.

201
Ano Média Mensal de Consumo (m³)
2011 10,96
2012 13,43
2013 13,29
2014 12,73
2015 12,65
2016 13,04
2017 12,95
2018 11,98
Média
12,63
Total
Figura 3: Médias, máximos e mínimos mensais de consumo de água por
Tabela 1: Consumos médios mensais de água nos apartamento (dados de 2011 a 2018 que excluem o consumo de água nas
apartamentos do edifício, separados por ano e bacias sanitárias).
média total.

Existem 150 moradores na edificação (três moradores por apartamento, em média). O consumo médio de água per capita foi
de 157 L/pessoa/dia considerando dados de consumo de janeiro de 2011 a março de 2018. A Figura 4 mostra a distribuição de
frequências para o consumo médio mensal de água de 2011 a 2018 e a Figura 5 mostra as médias diárias de consumo de água
per capita a cada ano do período de análise.

Figura 4: Histograma referente às médias mensais de consumo de água Figura 5: Consumo médio diário per capita (não
nos apartamentos (não inclui consumo de água nas bacias sanitárias). inclui consumo de água nas bacias sanitárias).

Leituras diárias
As leituras diárias dos 56 hidrômetros na edificação indicam a tendência de haver menor consumo de água nos finais de
semana. O consumo médio diário de água nos apartamentos foi de 427 L, e a média diária de consumo per capita foi de 154 L.
O consumo máximo diário de água foi de 1788 L, e, em alguns apartamentos não houve consumo registrado (apartamentos
desocupados durante o período de leitura). É importante enfatizar que os consumos de água obtidos por meio das leituras
diárias não incluem a porção de água consumida nas bacias sanitárias.

Experimento piloto
A aplicação do primeiro questionário no primeiro experimento piloto mostrou que a diferença entre os consumos de água foi
maior que 39% do consumo de água registrado por meio do hidrômetro. Essa diferença é reflexo de estimativas equivocadas
por parte dos moradores sobre seus respectivos hábitos de consumo. A aplicação do segundo questionário (segundo
experimento piloto) reduziu essa diferença para aproximadamente 5,6%.

Vazões nos pontos de consumo


Nos chuveiros dos apartamentos (com exceção dos chuveiros com sistema elétrico de aquecimento) foi considerada a vazão
medida no chuveiro do apartamento 1001 (9,42 L/min). A Tabela 2 mostra as vazões utilizadas no estudo.

202
Torneiras da cozinha Torneira do Torneiras dos Chuveiros com
Torneirado Torneira na área da
Pontos de uso e da área de serviço lavatório da área lavatórios das aquecimento a
lavabo (L/s) churrasqueira (L/s)
(L/s) de serviço (L/s) suítes (L/s) gás (L/min)
Vazões usadas
para todos os 0,077 0,063 0,063 0,063 0,079 9,42
apartamentos
Vazões usadas no
0,069 0,073 0,076 0,048 0,079 9,42
experimento piloto
Tabela 2: Vazões utilizadas para o cálculo do consumo de água nos apartamentos.

Consumo diário de água nos pontos de uso dos apartamentos


Dentre os 56 apartamentos da edificação, 23 aceitaram participar do monitoramento do consumo de água. De modo geral, os
moradores completaram o questionário uma única vez. Muitos afirmaram ausência frequente em finais de semana quando
comparado com os dias úteis. Uma vez que apenas dois apartamentos monitoraram o consumo de água em um fim de semana,
esses dados não serão considerados separadamente dos consumos obtidos em dias de semana.
Após o cálculo do consumo diário de água nos apartamentos e após compará-lo com o consumo registrado utilizando
hidrômetros, verificou-se que 15 apartamentos apresentaram diferenças entre os consumos de água real e estimado menor que
25%. Outros apartamentos participantes apresentaram dados com erros maiores, razão pela qual foram desconsiderados. Tais
erros podem ser resultantes de estimativas equivocadas quanto ao tempo de uso dos aparelhos, imprecisões nas vazões, elevado
consumo de água na máquina de lavar roupas (uma vez que os fabricantes geralmente fornecem consumo máximo de água do
equipamento). A ordem dos usos finais obtidos se assemelha à ordem obtida em trabalhos realizados em edificações
residenciais na Austrália (WILLIS et al., 2009; LOH; COGHLAN, 2003). Ghisi et al. (2015) também verificaram que o
chuveiro foi o ponto de uso com maior consumo de água em residências em Florianópolis. A Figura 6 mostra o percentual de
água utilizada por aparelho hidrossanitário em relação ao consumo total médio de água em um apartamento.

Figura 6: Usos finais da água nos apartamentos.

Potencial de aproveitamento de água pluvial


Dois cenários associados a diferentes capacidades de reservatórios inferiores foram dimensionados. O primeiro deles visa
atender o uso da água nas bacias sanitárias, torneira da área de serviço e máquina de lavar roupas (percentual da demanda total
a ser substituída por água pluvial igual a 30%). O segundo cenário será dimensionado para que o reservatório atenda somente o
uso nas bacias sanitárias (percentual da demanda total a ser substituída por água pluvial igual a 9,4%).
A demanda total de água (173 L/pessoa/dia) foi calculada assumindo que o consumo médio diário de água per capita (157 L)
seja igual a 90,6% da demanda total de água. O percentual restante correspondeu à porção do consumo de água utilizada nas
bacias sanitárias.
Verificou-se que, em 2018, residiram 150 pessoas na edificação de estudo. Entretanto, três apartamentos estavam desocupados.
Assim, para efetuar as simulações, foram considerados 3 moradores por apartamento desocupado, totalizando 159 moradores.
A simulação do primeiro cenário mostrou que a capacidade ideal para o reservatório inferior é 20 m³ e que o potencial de
economia de água potável correspondente seria de 6,5%. Para o cenário 2, o reservatório deveria apresentar capacidade de 16,0
m³ (com potencial de economia de água potável de 5,0%). Nota-se que o potencial de economia de água potável nesse estudo é
inferior aos potenciais de economia obtidos em outros estudos, não somente em Florianópolis, mas também em outras regiões
do Brasil (LIMA et al., 2011; MAIA et al., 2011; SANTOS; FARIAS, 2017; GHISI et al., 2006; GHISI; FERREIRA, 2007).
Isso ocorre devido à pequena área de captação existente na edificação em relação à quantidade de moradores. A Figura 7
mostra os resultados obtidos.

203
Figura 7: Volume do reservatório inferior de água pluvial versus potencial de economia de água potável por cenário simulado.

O volume do reservatório existente na edificação tem capacidade muito maior do que as capacidades encontradas por meio das
simulações (30,9 m³, com potencial de economia de água potável de 6,1%). Dessa forma, concluiu-se que o reservatório
inferior de água pluvial instalado na edificação foi superdimensionado.

Análise econômica
O consumo médio mensal de água, proveniente do consumo de água a longo prazo na edificação corresponde a 12,63 m³
(90,6% do consumo total médio mensal). Dessa forma, o consumo médio total mensal de água, incluindo o volume utilizado
nas bacias sanitárias é de 13,91 m³. A Tabela 3 mostra os resultados da análise econômica.

Máquina de lavar roupas, Somente bacias sanitárias (potencial de Somente bacias sanitárias (potencial de
Indicadores
bacias sanitárias e tanque economia de água potável: 5,0%) economia de água potável: 6,1%)

Valor presente líquido (R$) 50.160,03 47.723,07 24.551,62

Payback (meses) 67 57 131

Taxa interna de retorno ao


2,07 2,34 1,25
mês (%)
Tabela 3: Resultados das análises financeiras, conforme diferentes potenciais de economia de água potável.

A análise econômica mostra que todos os cenários são economicamente viáveis. Dentre os três cenários, nota-se que o cenário
correspondente ao sistema de aproveitamento de água pluvial existente na edificação é o menos viável economicamente,
devido à elevadas capacidade de armazenamento do reservatório de água pluvial. O cenário 2 mostrou-se o mais viável
economicamente, uma vez que apresentou maior taxa interna de retorno e menor tempo de retorno do investimento.

Satisfação dos usuários


Os questionários de satisfação foram preenchidos em 27 apartamentos. Foram obtidas 31 respostas do gênero feminino
(55,4%) e 25 do gênero masculino (44,6%). A média de idade da amostra populacional foi de 49 anos, variando entre 14 e 94
anos. Em média, residem 3 pessoas por apartamento, porém o número de moradores variou de um a cinco.
Analisando as questões relacionadas com os hábitos dos moradores quanto ao uso das descargas parcial e/ou total das bacias
sanitárias, observa-se que a maioria dos moradores utiliza o fluxo parcial da descarga e muitos admitem que um único fluxo
parcial é suficiente para o transporte de sólidos. No entanto, 82% dos participantes afirmaram utilizar o fluxo total da descarga.
Os moradores mostraram-se satisfeitos com a aparência da água pluvial utilizada nas bacias sanitárias. Doze moradores
afirmaram ter notado sinais de turbidez na água utilizada nas bacias sanitárias. A maioria afirmou que a causa foi a limpeza
incorreta do reservatório de água pluvial. Apenas dois participantes expressaram insatisfação quanto à pressão da água em
pontos de uso.
Com relação ao uso racional da água, verificou-se que 21,4% dos participantes desconheciam a existência de um sistema de
aproveitamento de água pluvial na edificação, e 7,1% deles não responderam à questão. As Figuras 8 e 9 mostram o percentual
de respostas quanto à função do sistema de aproveitamento de água pluvial e sobre a importância na economia de água,

204
respectivamente.
Quase metade dos participantes sabem que o sistema de aproveitamento de água pluvial fornece água apenas às bacias
sanitárias. Em geral, os moradores associaram a importância da economia de água com a possibilidade de escassez do recurso,
sendo insuficiente para suprir a demanda da população. No entanto, 20% dos moradores afirmaram que a economia de água
também representa economia financeira na conta de água. Todos os participantes compreendem a importância da economia de
água, porém 6% admitiram poder economizar mais ou que não se preocupam em economizá-la. Alguns dos participantes não
responderam se geralmente economizam água (16%). Muitos participantes afirmaram tentar economizar (78%), porém muitas
respostas assemelharam-se à seguinte afirmação: “sempre que posso, economizo água” ou “economizo água sempre que
possível”. Essas declarações, entretanto, são muito subjetivas para definir se os moradores estão ou não preocupados com a
economia do recurso.

Figura 8: Respostas sobre a função do sistema de


aproveitamento de água pluvial existente. Figura 9: Respostas sobre os fins de uso do sistema de água
pluvial existente.

Conclusões
Nota-se que o reservatório de água pluvial existente na edificação está superdimensionado, resultando em gastos
desnecessários e maior período de retorno do investimento. A capacidade do reservatório inferior de água pluvial poderia estar
próxima de 20 m³ - a fim de suprir parte da demanda de água necessária para uso na máquina de lavar roupas, torneira do
tanque e bacias sanitárias dos apartamentos - ou próxima de 16 m³ - para atender somente às bacias sanitárias dos
apartamentos. Além disso, o maior potencial de economia de água potável dentre os cenários simulados foi de 6,50%, com um
reservatório inferior de capacidade igual a 20 m³.
A análise de satisfação dos usuários quanto à água pluvial utilizada nas bacias sanitárias mostrou boa aceitabilidade por parte
dos participantes. Mesmo quando se notou sinais de turbidez na água a maioria dos participantes não expressou insatisfação.
A análise econômica provou a viabilidade de instalação do sistema de aproveitamento de água pluvial. O cenário mais viável
foi aquele cuja água pluvial foi utilizada para suprir apenas as bacias sanitárias. Dentre os cenários analisados, o sistema de
aproveitamento de água pluvial instalado na edificação foi o menos viável economicamente.
Alguns fatores não favorecem a implementação de sistemas de aproveitamento de água pluvial em Florianópolis. Um deles é o
sistema tarifário utilizado no município. Uma vez que a concessionária local cobra uma taxa fixa quando o consumo de água é
menor ou igual a 10 m³ mensais, a implantação de sistemas de aproveitamento em edificações cujo consumo é inferior a esse
valor não apresenta viabilidade financeira. Além disso, a instalação de sistemas de aproveitamento de água pluvial em edifícios
não é tão atraente para construtoras, uma vez que provoca um aumento no custo do empreendimento sem retorno direto para a
empresa. Dessa forma, para difundir o uso desse tipo de solução que promove o uso mais racional da água, são necessárias
mudanças de mentalidade dos consumidores. Mudanças no método de cobrança da água, especialmente em edificações com
baixo consumo de água, e a criação de políticas públicas que incentivem o uso racional da água também podem incentivar o
uso desse tipo de sistema.

Agradecimentos
Os autores agradecem ao apoio da Universidade Federal de Santa Catarina e aos moradores da edificação de estudo, pela
colaboração nos monitoramentos do consumo de água e preenchimento dos questionários.

205
Referências Bibliográficas
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207
5SSS123
ANÁLISE DA PERDA DE RENDIMENTO DE MÓDULOS SOLARES
FOTOVOLTAICOS RESULTANTE DO AQUECIMENTO
Tatiane Barbosa Bretas1, Julianno Pizzano Ayoub2, Alessandra Zarpellon Teixeira3, Marcio Mendes
Casaro4
1Universidade Estadual de Ponta Grossa, e-mail: tatianebbretas@gmail.com;
2Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná, e-mail: juliannopa@hotmail.com;
3Universidade Tecnológica Federal do Paraná, e-mail: ale_zt@yahoo.com.br;
4Universidade Tecnológica Federal do Paraná, e-mail: casaro@utfpr.edu

Palavras-chave: Módulos Fotovoltaicos; Energia Solar; Rendimento;

Resumo
A energia renovável, crescente nas últimas décadas, oferece a possibilidade de geração de eletricidade e calor praticamente
sem emissões, a preços baixos e operando de maneira sustentável. A radiação solar é uma das chamadas energias renováveis,
conhecida como energia limpa ou energia verde. O seu custo de implantação ainda é alto, mas vem sendo reduzido nos últimos
anos, tornando mais viável o investimento nessa fonte. A forma de utilização de energia gerada por irradiação é muito
diversificada. O estudo neste trabalho deu-se em geração de energia por meio de painéis solares fotovoltaicos e seu rendimento
em relação ao aquecimento. Os resultados experimentais obtidos apontam que o rendimento de um painel solar fotovoltaico
decai aproximadamente em 18% da sua potência de pico quando aquecido, confirmando dados literários que apontam que o
rendimento real dos painéis pode variar significativamente quando consideradas as temperaturas dos painéis expostos ao sol,
afetando dessa forma a eficiência na geração de energia elétrica.

Introdução

Em meio à crise energética e a crescente busca por energias renováveis é de grande importância debater sobre fontes
alternativas de energia. Nesse contexto, a energia solar vem ganhando cada vez mais espaço, visto que consiste em fácil
implementação, possuí baixo custo de manutenção e é uma fonte renovável e ideal para locais onde as radiações solares são
abundantes. Essa forma de energia, se devidamente acondicionada, é uma das tecnologias mais importantes para o
desenvolvimento sustentável e hoje é responsável por grande parte da energia renovável disponível na Terra. No entanto, no
Brasil existe um atraso nesta área quando comparado a outros países, apesar de apresentar vasta área geográfica e localização
potencialmente favoráveis para o desenvolvimento de sistemas fotovoltaicos. (LANDIN et al, 2010).
Pesquisas revelam que até 2012 os geradores eram relativamente caros, e a utilização era de módulos de pequeno porte,
em sistemas autônomos em locais distantes da rede elétrica. A fabricação nacional era praticamente nula. Apesar de incentivos
governamentais e desenvolvimento tecnológico, no início de 2015 o Brasil ainda apresentava um nível de fabricação e
instalação de geradores fotovoltaicos muito baixo, não condizente com o tamanho da população do país e com suas
potencialidades e necessidades, representando apenas 0,01% da capacidade de geração global do país (SOLENERG, 2015). De
acordo com o Ministério de Minas e Energia, a irradiação média anual brasileira varia entre 1.200 e 2.400kWh/m²/ano. A
conversão direta de energia solar em energia elétrica ocorre nas células solares por meio do efeito fotovoltaico, a partir da
geração de uma diferença de potencial elétrico por intermédio da radiação solar. O efeito fotovoltaico ocorre quando a energia
provinda do sol (fótons) incide sobre átomos de silício, no caso das placas solares, promovendo a emissão de elétrons, gerando
corrente elétrica (GUERRINI, 2001). Neste sentido, módulos solares fotovoltaicos têm sido utilizados como geração
alternativa de energia elétrica. Além de ser caracterizado como uma geração distribuída, um sistema fotovoltaico não produz
poluentes evitando impactos ambientais e sociais. Módulos fotovoltaicos são, portanto, um investimento na geração de energia
provinda de fontes renováveis e que possibilita um desenvolvimento sustentável (CASARO, 2010).
Considera-se alto o custo dos sistemas geradores, principalmente em função dos custos dos módulos fotovoltaicos.
Assim, as propriedades que levam a geração devem ser aproveitadas ao máximo. Os controladores MPPT (Maximum Power
Point Tracking) são utilizados como forma de otimização do funcionamento dos painéis por meio de controle de nível de
tensão e corrente adequados. Outra alternativa para maximização é o rastreamento do sol com estruturas móveis, como por
exemplo na utilização de um circuito eletrônico microcontrolado para orientação do painel em função da radiação solar
incidente. No entanto, o ponto de operação da tensão e da corrente do painel e a sua direção não são as únicas variáveis que
afetam o rendimento da conversão de energia. O aquecimento das células fotovoltaicas também é apontado como causa da
redução deste rendimento.

208
Durante o processo de conversão da energia solar em eletricidade, nas placas solares, aproximadamente 80% a 90% da
energia incidente é convertida em calor. Quando não dissipado, esse calor resulta no aumento da temperatura de operação das
células. Isto provoca um decréscimo na conversão da energia solar em eletricidade. São aproximadamente 0,45% de queda do
rendimento para cada Kelvin (K) acrescido a partir das condições padrões de teste (25°C, 1kW/m2 e 1,5 de massa de ar). Esse
decréscimo pode variar dependendo da tecnologia usada na fabricação das placas (RUTHER, 2004). Objetivou-se então neste
trabalho analisar o impacto do aquecimento das células fotovoltaicas sobre o rendimento da conversão da energia solar em
elétrica.

Energia Solar

A energia solar é a energia obtida a partir da utilização de radiação eletromagnética proveniente do sol. A radiação solar é
uma das chamadas energias renováveis, particularmente do grupo não-poluente, conhecida como energia limpa ou energia
verde e tem sido aproveitada desde os tempos antigos, utilizando diferentes tecnologias que evoluíram ao longo do tempo.
Atualmente, a radiação solar pode ser explorada por meio de sensores, tais como células fotovoltaicas, heliostatos ou coletores
térmicos que podem transformá-la em energia elétrica ou térmica (CABRAL, 2012).
A intensidade da radiação solar no nível da atmosfera, também conhecida como constante solar, é de cerca de1.367
kW/m2. O estado da atmosfera é o responsável pela forma em que tal radiação atingirá a Terra. Parte da radiação é refletida;
outra é absorvida pela atmosfera. Existe ainda uma terceira que primeiramente atinge a superfície terrestre e então é
parcialmente absorvida e parcialmente refletida novamente para a região atmosférica. As características que determinam como
a radiação alcançará a superfície estão todas relacionadas com a distância que os raios solares percorrem atravessando a
atmosfera, a umidade do ar e a nebulosidade. A média mundial irradiada é de cerca de 165 W/m2, considerando as 24 horas do
dia. Este valor pode ser contabilizado como 5 mil vezes maior que a necessidade energética da humanidade (DESERTEC,
2016).
A Figura 1 ilustra a energia que chega em um plano horizontal na superfície do planeta, concentrando-se principalmente
nas áreas equatoriais.

Figura 1: Insolação média anual Global


Fonte: NASA, 2016

209
Em 2014 a energia solar foi responsável por aproximadamente 30% da nova capacidade energética de fontes renováveis
mundial (IEA, 2015). De acordo com Ren21, o seu custo de implantação ainda é alto, mas vem sendo reduzido nos últimos
anos, tornando mais viável o investimento nessa fonte. Mais de 60% de toda a capacidade fotovoltaica do mundo foi instalada
nos últimos três anos, atingindo 177 GW de capacidade total.
A forma de utilização de energia gerada por irradiação é muito diversificada. Para o presente projeto, todo estudo
fundamentou-se de acordo com as características específicas para a energia solar fotovoltaica

Efeito fotovoltaico

A conversão direta de energia solar em energia elétrica é realizada nas células solares através do efeito fotovoltaico, que
consiste na geração de uma diferença de potencial elétrico através da radiação. O efeito fotovoltaico ocorre quando fótons
(energia que a luz do sol carrega) incidem sobre átomos (no caso átomos de silício), provocando a liberação de elétrons,
gerando corrente elétrica. Este processo não depende da quantidade de calor, pelo contrário, o rendimento da célula solar cai
quando sua temperatura aumenta (GUERRINI, 2001).

Dados de Módulos Fotovoltaicos Comerciais

Tratando-se de módulos fotovoltaicos destaca-se a importância do estudo do seu rendimento. Da energia solar incidente,
cerca de 80 a 90% destina-se ao aquecimento das placas fotovoltaicas, enquanto que apenas 10 a 20% podem ser convertidos
em eletricidade. A máxima quantidade de eletricidade que pode ser então extraída de um módulo fotovoltaico dito o
rendimento de conversão do mesmo (RAUSCHENBACH, 1980).
Pode-se expressar o equilíbrio entre a energia incidente na célula fotovoltaica (radiação solar) e a energia liberada pela
célula (saída de eletricidade e fluxo de calor) através do balanço de energia deste processo. A temperatura específica atingida é
conhecida como temperatura de operação ou temperatura de equilíbrio (RAUSCHENBACH, 1980).
Segundo Rodrigues et al (2015), um procedimento utilizado para calcular a temperatura da célula via balanço energético é
a determinação da Temperatura Nominal de Operação da célula, ou NOCT, definida como a temperatura da célula sob
irradiância solar de 800W/m², temperatura ambiente de 20°C, velocidade do vento de 1 m/s, painel sem carga elétrica (circuito
aberto) e montado em estrutura aberta, com posição normal em relação ao sol do meio dia. De acordo com a Canadian Solar
(2016), um dos principais fabricantes de módulos fotovoltaicos no mundo, a Temperatura Nominal de Operação da Célula
(NOCT) é de aproximadamente 45±2°C.
Considerando o balanço energético, nota-se um aumento na temperatura dos módulos fotovoltaicos quando a radiação
incidente não é convertida em energia elétrica, acarretando menor rendimento dos módulos PV (LAU, 2012). Dá-se então a
importância de avaliação do comportamento dos painéis fotovoltaicos em altas temperaturas, sendo considerado um aspecto
relevante na escolha das tecnologias e avaliação do seu desempenho (RODRIGUES et al, 2015).
Fabricantes disponibilizam em datasheet o rendimento dos módulos fotovoltaicos de acordo com a temperatura das células
fotovoltaicas incidente. Segundo Makriedes (2009, 2010), essa característica pode ser avaliada através do coeficiente de
temperatura de potência máxima dos painéis, expresso em %/ºC. Tal coeficiente representa a perda do rendimento de
conversão (em %) para cada grau Celsius acima das condições padrão de teste, e varia de acordo com cada tecnologia. Dessa
forma, o rendimento real dos painéis pode variar consideravelmente quando consideradas as temperaturas dos painéis expostos
ao sol. Segundo dados da Canadian Solar, apresentados na Tabela 1, para um módulo PV de potência nominal máxima de
260W tem-se um decréscimo de 0,43% na potência máxima do modulo PV a cada 1ºC elevado.

Tabela 1: Características da temperatura em um módulo fotovoltaico


Specification Data
Temperature Coefficient (Pmax)
-0.43% / °C
Temperature Coefficient (Voc)
-0.34% / °C
Temperature Coefficient (Isc)
0.065% / °C
Nominal Operating Cell Temperature
45 ± 2°C
Fonte: Canadian Solar, 2015.

O módulo apresenta rendimento de 16,16%, como especificado no datasheet do fabricante (CANADIAN SOLAR, 2016).

Resultados Práticos

210
Por meio da literatura realizou-se um estudo sobre o aumento da temperatura nos módulos solares fotovoltaicos.
Posteriormente, coletou-se dados práticos do decaimento da potência em relação a temperatura. O experimento foi realizado na
UTFPR–Ponta Grossa em um dia com grande incidência de luz solar por um período de uma hora das 11h30 ás 12h30, com
painéis solares fotovoltaicos Solarex-MSX70 de 70 Watt pico (Wp), reostato 6,0Ω para variar o valor da resistência no circuito
a fim de obter a maior potência em determinada temperatura, e osciloscópio Tektronix DPO 3014 para visualização e análise
dos valores de tensão, corrente e potência. Todos os equipamentos foram fornecidos pelo departamento de Eletrônica.
Coletou-se onze dados de tensão e corrente em diferentes temperaturas, variando de 32°C a 75°C, possibilitando o cálculo da
potência gerada. Com os dados obtidos, plotou-se um gráfico, Gráfico 1, da potência versus temperatura.

Gráfico 1: Gráfico do comportamento da potência devido ao aumento de temperatura nos painéis solares

Por meio do Gráfico 1 pode-se comprovar o decréscimo da potência ocasionado pelo aumento da temperatura no
painel fotovoltaico, resultando em uma perda de 18,54% do rendimento da conversão da energia solar em elétrica. A partir
desse gráfico foi possível traçar uma linha de tendência, Gráfico 2, e uma equação da reta a qual nos fornece a potência em um
dado ponto em relação à temperatura fornecida.

211
Gráfico 2: Linha de tendência e equação da reta da Potência versus Temperatura

Comentários finais

Com esse experimento comprova-se a perda significativa de rendimento na conversão da energia solar em elétrica. Esta
perda é diretamente proporcional ao aquecimento dos painéis, resultando em grande impacto em sistemas solares. A fim de
minimizar essa perda na conversão, já que é grande a importância da energia solar perante a geração distribuída e os benefícios
ao meio ambiente, pesquisas sobre o resfriamento dos painéis solares em operação devem ser desenvolvidas.

Agradecimentos

Os Autores gostariam de agradecer a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, e a Universidade Estadual do Centro
Oeste do Paraná pelo apoio recebido.

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213
5SSS124
GERAÇÃO DE MATERIAL COM CARACTERÍSTICAS DE
CONCRETO UTILIZANDO RESÍDUOS DA PRODUÇÃO DE PAINÉIS
DE MDF, CELULOSE E CAL
Stephanie Abisag Sáez Meyer Piazza1, Urivald Pawlowsky2, Vsévolod Mymrine3
1Universidade Federal do Paraná, e-mail: s.meyer.piazza@gmail.com; 2Universidade Federal do Paraná, e-mail:
urpawl@gmail.com; 3Universidade Tecnológica Federal do Paraná, e-mail: seva6219@gmail.com

Palavras-chave: Resíduos industriais; reaproveitamento; resistência uniaxial.

Resumo
O objetivo deste artigo é avaliar a resistência uniaxial de um novo material, com características de concreto, gerado a partir de
resíduos industriais da produção de painéis de MDF, celulose e cal, oriundos de indústrias localizadas na região metropolitana
de Curitiba - Paraná. Para tal foram gerados corpos de prova com diferentes proporções destes resíduos a fim de verificar seus
efeitos sobre suas propriedades mecânicas durante os períodos de cura de: 3, 7, 14 e 30 dias. Foram desenvolvidas 7
composições utilizando como matérias-primas os resíduos da produção de painéis de MDF (cinzas, lodo físico-químico e
areia), resíduos de celulose (dregs, grits e lama de cal) e resíduos da produção de cal (RPC). Para cada composição foram
moldados 20 corpos de prova com diâmetro de 20mm e altura de 20mm, com o auxílio de uma prensa manual, compactados
até a pressão de 10 MPa e permanecendo nessa pressão durante 30 segundos, totalizando, assim, 140 corpos de prova. Para
avaliação dos resultados dos ensaios de resistência à compressão uniaxial prevaleceram as demandas das normas brasileiras.
Dentre as composições verificou-se que as composições 6 e 7 superaram os valores estabelecidos nas normas (> 4,0 e > 6,0
MPa), alcançando valores de resistência de 6,84 e 6,96 MPa aos 30 dias de cura, respectivamente. Logo, os corpos de prova
com teores de resíduos de cerca de 40-45 % em massa de resíduo de cinza, 20% de RPC e na ausência de resíduos de celulose
resultaram em níveis de resistência mecânica apropriados para a finalidade de aplicação destes produtos na construção civil.
Além disso, são economicamente atrativos devido ao baixo custo das matérias-primas (resíduos industriais) e aos grandes
benefícios ambientais, por evitar a incorreta disposição dos mesmos.
Introdução
O Brasil destaca-se no cenário mundial por possuir extensas áreas florestais nativas com possibilidade de manejo
adequado e florestas plantadas com perspectivas de crescimento entre as mais sustentáveis do mundo. O setor brasileiro de
florestas tornou-se, nos últimos anos, um dos mais relevantes no cenário global. Com uma área de 7,84 milhões de hectares de
árvores plantadas, é responsável por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais e 6,2% do PIB industrial, além de
que é um dos segmentos com maior potencial de contribuição para a construção da economia verde. Cabe destacar ainda que o
país ocupa a posição de segundo maior produtor de celulose no cenário mundial (IBA, 2018).
A grande quantidade de resíduos gerados por tonelada nas indústrias de painéis e de celulose, o rigor das novas
legislações e processos de licenciamento ambiental, bem como, o potencial de reaproveitamento desses materiais, levam a
hipótese de que seja possível incorporá-los como matéria-prima em compósitos destinados à construção civil (MARTINS,
2007; BRASIL, 2010). Essa seria uma técnica de tratamento aplicada aos resíduos que permite ganhos econômicos e
ambientais, sem prejudicar a produção dos setores de painéis e de celulose.
A comprovação da viabilidade técnica do uso destes resíduos pode representar uma alternativa para o aumento da vida
útil dos aterros industriais e, também, a geração de novo material parecido ao concreto para produção de componentes de
construção como, por exemplo, blocos estruturais ou de vedação, que não utilizam tratamento térmico na produção e cura,
além, de poupar recursos naturais para esse fim (GEMELLI et al., 2001; LOUZADA et al., 2009).
Além da questão de minimização dos resíduos, cabe destacar que houve a proibição da queima do lodo de estações de
tratamento físico-químico de efluentes em caldeiras, especificada pelo Artigo 3 da Resolução SEMA 42, de 22 de julho de
2008 (IAP, 2008), o que também impulsiona às indústrias a buscar novas formas de disposição e reaproveitamento do resíduo
gerado.
O reaproveitamento de resíduos industriais em geral para confecção de produtos para a construção civil tem sido estudado
por muitos pesquisadores no Brasil e no mundo. Dentre os novos materiais produzidos, com inserção total ou parcial de
resíduos, e as possíveis utilizações estão: fabricação do cimento, agregados leves, tijolos cerâmicos, agregados ao concreto e
argamassa, entre outros (PRIM et al, 1998; MAGALHÃES et al, 2004; OLIVEIRA e HOLANDA, 2004; BORGO, 2007;
MENEZES et al, 2007; MYMRIN et al, 2014; MYMRIN et al, 2016; WOLFF et al., 2015, GASPARETO e TEIXEIRA, 2017,
MINE, 2019).
Sendo assim, este artigo apresenta uma proposta de reaproveitamento dos resíduos da indústria de painéis de MDF (lodo

214
físico-químico, areia e cinzas), dos resíduos da indústria de celulose (dregs, grits e lama de cal) e dos resíduos da produção de
cal (RPC) a fim de gerar um novo produto de construção civil com características de concreto e avaliar a resistência uniaxial
do novo material gerado, segundo as normas técnicas brasileiras.

Material e Métodos
As coletas dos resíduos utilizados na pesquisa foram realizadas em três indústrias. A amostragem dos resíduos sólidos
visando ser representativa obedeceu a norma NBR 10.007 (ABNT, 2004).
Os resíduos cinzas, lodo físico-químico e areia foram coletados em uma indústria de painéis de MDF, a qual está
localizada em Araucária, Paraná. Na Figura 1 é apresentada a indústria e os referidos resíduos.

Figura 1: Indústria de painéis de MDF e respectivos resíduos: areia, lodo físico-químico e cinzas

Os resíduos dregs, grits e lama de cal foram provindos de uma indústria de celulose, também localizada em Araucária,
Paraná. Na Figura 2 são apresentados os locais onde os resíduos foram coletados.

Figura 2: Indústria de celulose e locais de coleta dos resíduos: dregs, grits e lama de cal

E por fim, o resíduo da produção de cal (RPC) foi coletado em uma empresa que está localizada em Almirante
Tamandaré, Paraná (Figura 3).

215
Figura 3: Indústria de cal e local de coleta do RPC

Os resíduos foram secos em estufa por 24h e peneirados a fim de se obter granumoletria de 0,3 mm. Na Figura 4
abaixo apresenta-se suas características antes e após a estufa, e as peneiras utilizadas no processo.

Figura 4: (a) resíduos antes e após 24h na estufa; (b) peneiras para obtenção de granulometria adequada

Os resíduos foram analisados conforme sua perda ao fogo e suas características químicas e mineralógicas pelas
técnicas de fluorescência de raios X (FRX) e difratometria de raios X (DRX), respectivamente.
A análise de perda ao fogo (PF) foi determinada pela calcinação a 1000ºC por 2 horas. A PF é expressa em percentual
em massa e foi determinada pela razão entre a diferença da massa antes e depois da queima, e a massa inicial do material. As
massas antes e depois da queima foram medidas com a balança marca Marte, modelo AS5500C, INMETRO 203649760,
capacidade de 0,01 – 5000,00 g e precisão de 0,01 g (2 casas decimais).
A análise química semiquantitativa por fluorescência de raios X (FRX) foi realizada pelo Laboratório de Análises de
Minerais e Rochas do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná (LAMIR/UFPR), que certifica a emissão
do laudo de resultados em conformidade às normas e métodos de preparação das amostras, e cumprimento dos procedimentos
operacionais, de leitura e interpretação dos dados através do seguinte equipamento e recurso: a) Espectrômetro de
fluorescência de raios-X (FRX), marca PANalytical, modelo Axios Max, tubo de raios-X de Rh; Mri
73 b) Software para interpretação SuperQ 5.3.
Os ensaios de DRX também foram conduzidos pelo LAMIR/UFPR, ao qual foram fornecidos cerca de 15 g de cada
amostra seca, com uso do seguinte equipamento e software de interpretação: a) Difração de Raios X, marca Panalytical,
modelo EMPYREAN, com detector X’Celerator, tubo de cobre; b) Software para análise mineralógica qualitativa X’Pert
Highscore Plus, marca PANalytycal, com banco de dados PDF-2.
Após a caracterização dos resíduos coletados, os mesmos foram misturados em diferentes proporções, conforme
apresentado na Tabela 1. Os resíduos de celulose forem misturados (mix) com proporções de acordo com a sua geração,
sabendo que a produção é de 240 ton/mês de dregs, de 90 ton/mês de grits e de 900 ton/mês de lama de cal, e que esta relação
por dia seria de 8:3:30 ton/dia, resultando em um somatório de 41 ton/dia. Com isso, temos, em porcentagem que os valores de
cada componente na mistura deve ser de 20, 7 e 73%, respectivamente.

216
Tabela 1: Composições dos corpos de prova
RPC CELULOSE
Nº MDF (%)
(%) (%)
CINZA LODO AREIA MIX
1 20 30
2 30 20
3 37 10 3 25 25
4 35 15
5 15 35
6 45 15 20 20 0
7 40 40 0 20 0

Os materiais foram pesados em balança digital de dois dígitos e colocados em graal de porcelana para melhor
homogeneização. A balança utilizada era da marca MARTE AS 5500C. Depois de triturado com o pistilo, conforme a NBR
5.738 (ABNT, 2003), a mistura uniformemente homogênea foi colocada no molde de aço para a confecção do corpo de prova
(CP). Cabe ressaltar que o molde utilizado na confecção dos CPs foi fabricado em aço, material não absorvente e
quimicamente inerte aos resíduos trabalhados, com as seguintes dimensões internas: 20 x 60 mm. Após a mistura ser colocada
no molde, ela foi submetida à prensagem manual em prensa uniaxial, por 30 segundos, sob pressão de 10 MPa. Tendo em vista
os recursos disponíveis, foi utilizada uma prensa manual para a sua compactação (Figura 5).

Figura 5: Molde de aço e prensa manual para confecção dos corpos de prova

Após prensagem, os CPs foram desmoldados e identificados (Figura 6). Suas dimensões conferidas e anotadas no
registro de dados. Para cada tipo de composição foram confeccionados 20 corpos de prova (CPs), variando entre 10 e 12
gramas de acordo com as proporções requeridas e com dimensões de 20 mm x 20 mm, totalizando, assim, 140 corpos de prova.
Os corpos de prova foram guardados, a uma temperatura ambiente e livre de intempéries até a data dos respectivos ensaios
conforme a NBR 5.738 (ABNT, 2003).
Após o tempo de cura (tempo após sua confecção), 5 corpos de prova de cada composição foram submetidos ao teste
de resistência à compressão uniaxial. O rompimento dos corpos de prova foi realizado na prensa EMIC DL 10000 cel Trd 28
do Laboratório de Materiais (LaMats) do Departamento de Engenharia Mecânica da UFPR, conforme apresentado na Figura 6.

217
Figura 6: Prensa EMIC utilizada para análise de resistência à compressão uniaxial

A resistência à compressão uniaxial (fc) segue as diretrizes da norma NBR 5.739 (ABNT, 2007), cujos valores são
calculados conforme a Equação 1 abaixo, conforme Eq. (1) abaixo:

(1)

Onde: fc é a resistência à compressão uniaxial (MPa), F é força máxima alcançada (N) e D é o diâmetro do corpo de prova
(mm).
Os corpos de prova devem possuir características que atendam as normas brasileiras NBR 7.170 (ABNT, 1983) e NBR
6.136 (ABNT, 2006). A primeira norma trata da resistência dos tijolos maciços enquanto a segunda se refere a resistência de
blocos de concreto.

Resultados e Discussão
As características químicas e mineralógicas evidenciadas pelas técnicas FRX e DRX, respectivamente, bem como sua
perda ao fogo estão apresentadas na Tabela 2.
Quanto maior o teor de PF maior a perda de massa e em geral espera-se o aumento da porosidade aparente, com
possíveis deformações e surgimento de falhas e trincas no corpo de prova, bem como aumento na absorção de água (MINE,
2019). Benlalla et al. (2015) afirmam ainda outros possíveis comprometimentos de parâmetros críticos da qualidade do produto
final quando utilizados materiais de alto PF, como: redução da densidade, contração linear e redução da resistência mecânica
do material. Porém esse problema já foi contornado ajustando a composição dos corpos de prova através da incorporação de
outros tipos de resíduos, com propriedades complementares (MONTEIRO et al., 2008; MYMRIN, 2017).
Nota-se que os maiores valores de PF evidenciados foram o do lodo físico-químico da indústria de painéis de MDF e
dos resíduos de celulose (dregs, grits e lama de cal). Porém nas composições propostas foram adicionados outros resíduos a
fim de verificar sua influência nas propriedades mecânicas do novo material formado. Além disso, a presença de carbonatos
(CaCO3) verificados nas análises de DRX do lodo físico-químico e dos resíduos de celulose justificam seus altos valores de
PF, visto que uma vez calcinado há eliminação do gás carbônico (CO2). De acordo com Torres et al (2018), a perda ao fogo
inclui os gases liberados após a decomposição/transformação de determinados componentes a 1000°C (carbonatos, perda de
cristalinidade dos argilominerais liberando água a partir das hidroxilas (OH−), matéria orgânica, sulfetos e sulfatos,
principalmente).
Rodrigues et al (2016) obtiveram resultados semelhantes com perda ao fogo para os dregs de 42,80% e no FRX
resultou concentrações de CaO (32,60%), Na2O (8,34%), MgO (5,85%) e SiO2 (3,01%). Da mesma forma os resultados são
semelhantes para os grits, cujo FRX resultou concentrações de CaO (53,30%), Na2O (1,10%), MgO (0,56%) e SiO2 (0,34%). E
também para a lama de cal com resultados de FRX de concentrações de CaO (53,10%), Na2O (1,70%), MgO (0,88%) e SiO2
(1,68%). O teor mais elevado de óxido de cálcio nos resíduos grits e na lama de cal é uma característica do processo, uma vez
que são removidos após a etapa de caustificação, onde é adicionada cal para recuperação da soda cáustica.

218
Tabela 2: Análises de caracterização dos resíduos

Perda ao
Indústria Resíduos FRX DRX
Fogo

SiO2 – 66,5%
Fe2O3 – 6,8% Quartzo – SiO2
Cinzas 11,04 %
Al2O3 – 3,1% Hematite – Fe2O3
K2O – 2,4%

Lodo físico- CaO – 7,3% Calcite – CaCO3


85,48 %
químico Al2O3 – 2,9% Quartzo – SiO2
MDF
SiO2 – 52,3%
Al2O3 – 12,6%
Quartzo – SiO2
Fe2O3 – 7,8%
Areia 11,63 % Calcite – CaCO3
CaO – 6,7%
Anorthite – (Ca,Na) (Al, Si)2 Si2 O8
K2O – 2,6%
MgO - 2,3%

CaO – 37 %
Calcite – CaCO3
Na2O – 8,1%
Dregs 40,93 % Hydromagnesite – Mg5(CO3)4 (OH)2 (H2O)4
SO3 – 4,5%
Nitromagnesite – (Mg(H2O)6)(NO3)2
Fe2O3 – 3,5%

Celulose CaO – 53,9 % Calcite – CaCO3


Grits 37,34 % Na2O – 3,0% Portlandite – Ca(OH)2
SiO2 – 2,3% Quartzo – SiO2

CaO – 53,7% Calcite – CaCO3


Lama de cal 43,52 %
Na2O – 0,9% Aragonite – CaCO3

Óxido de cálcio – CaO


CaO – 55,3% Periclase – MgO
Cal RPC 12,37 % MgO – 29,5% Portlandita – Ca(OH)2
SiO2 – 2,1% Quartzo – SiO2
Dolomita – CaMg(CO3)2

Observa-se que o dregs possui maior concentração de impurezas, como o Na2O, MgO e SiO2. Isso ocorre devido ao
dregs ser o primeiro resíduo a ser removido na etapa de recuperação de reagentes, fazendo com que os demais componentes
sejam precipitados juntamente com o CaCO3. Como são removidos em etapas posteriores do processo, o teor de impurezas nos
grits e lama de cal é comumente inferior ao encontrado no dregs (RODRIGUES et al., 2016).
Os óxidos de sódio, silício, alumínio, enxofre, magnésio e ferro presentes no dregs apresentam diversas procedências,
tais como: sais de reposição (Na2SO4), silicatos e aluminatos dos refratários da caldeira de recuperação, corrosão do digestor e
partículas de combustão incompleta (MARTINS, 2007).
A análise mineralógica sugere que os três resíduos de celulose (dregs, grits e lama de cal) analisados têm potencial
para serem utilizados como matéria-prima alternativa para o cimento, dado que o CaCO3 é o componente encontrado em maior
proporção na fabricação do cimento (AMARAL, 2013). Entretando, de acordo com Rodrigues et al (2016), a elevada perda ao
fogo indica que a utilização desse material em formulações de produtos cerâmicos sinterizados deve ser limitada, a fim de que
não seja prejudicada a resistência mecânica, em função do aumento na porosidade. Entretando, no presente estudo foi avaliado
sua influência sobre material com características de concreto.
A respeito dos resíduos da produção de painéis de MDF, principalmente referente as cinzas provindas da queima da
madeira, a presença de óxido de silício é comum de acordo Gluitz e Marafão (2013). Além disso, a presença de SiO2 evidencia
resultados clássicos característicos de uma estrutura cristalina (quartzo). A análise do lodo físico-químico proveniente do
tratamento de efluentes da indústria apresentou, através da DRX, a presença mineralógica de calcite e quartzo. Enquanto 50%
da composição da areia era quartzo, evidenciado pela presença de óxido de silício (SiO2).
A caracterização do RPC está de acordo com o apresentado por Silva (2014), o qual obteu como composição química

219
do RPC o óxido de cálcio não hidratado (CaO), hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), restos de carbonato de cálcio e magnésio não
queimados (CaCO3 e MgCO3), óxido de magnésio não hidratado (MgO) e traços de óxidos Al2O3, SiO2, Fe2O3. Os resíduos da
produção de cal podem ser utilizados como material na construção civil, porém ressalta-se que há perda da reatividade ao
longo do tempo, daí a recomendação de emprego logo após a produção, evitando-se o armazenamento prolongado. O
aproveitamento da cal residual como aglomerante depende das suas características a serem determinadas em laboratório,
tomando-se como referência os requisitos e critérios da especificação para a cal industrial (SILVA, 2014). Cabe destacar que a
definição pelo uso do RPC foi baseada em dois itens: suas propriedades aglomerantes e sua disponibilidade em grande
quantidade; além, é claro, de minimizar seu impacto junto ao meio ambiente através de sua reutilização.
Após a caracterização dos resíduos, os corpos de prova foram confecionados nas proporções apresentadas na Tabela 1
e identificados conforme apresentado na Figura 7.

Figura 7: Corpos de prova confeccionados e identificados

Os resultados das análises de resistência à compressão uniaxial são apresentados na Tabela 3. As análises foram
realizadas nos tempos de cura de 3, 7, 14 e 30 dias, ou seja, no referido período após sua confecção.

Tabela 3: Análises de resistência à compressão uniaxial dos corpos de prova


Resistência após ___ días
(MPa)
Nº MDF RPC CELULOSE
(%) (%) (%)
CINZA LODO AREIA MIX 3 7 14 30
1 15 35 0,41 3,17 4,24 4,46
2 20 30 0,67 3,59 4,25 4,50
3 37 10 3 25 25 0,91 4,1 4,35 4,6
4 30 20 1,14 4,20 4,89 5,33
5 35 15 1,19 4,28 5,36 5,88
6 45 15 20 20 0 1,55 6,02 6,36 6,84
7 40 40 0 20 0 5,25 6,13 6,74 6,96

As normas classificam os resíduos da seguinte maneira:


 NBR 7.170:1983 - Tijolos maciços: Classe A > 1,5 MPa, Classe B > 2,5 MPa e Classe C > 4,0 MPa
 NBR 6.136:2006 - Blocos de concreto para vedação: Classe A ≥ 2,0 MPa, Classe B ≥ 3,0 MPa, Classe C ≥ 4,0 MPa e
Classe D ≥ 6,0 MPa

Como esperado, as resistências à compressão uniaxial dos corpos de prova foram aumentando ao longo das idades de
rompimento. A resistência à compressão está diretamente relacionada à sua estrutura interna e com estes valores pode-se
verificar seu respectivo desempenho mecânico e consequente durabilidade. Isso se deve ao fato de que com o passar do tempo
ocorre uma maior interação química dos componentes, reduzindo o volume de espaços vazios que deixavam o material mais
frágil. Assim, há formação de novas estruturas cristalinas que aumentam a resistência do material (MYMRIN et al., 2014).
Quanto à composição química, sabe-se que os constituintes C3S - alita (3CaO.SiO2 – silicato tri-cálcio) e a C2S - belita
(2CaO.SiO2 – silicato di-cálcio) são os mais diretamente responsáveis pelo crescimento da resistência (SILVA, 2014).
Mymrin et al. (2016) em seu trabalho utilizando lodo físico-químico de uma indústria de tintas e impressão de papéis
decorativos e cinza da queima de madeira, juntamente com resíduo da construção de cal (RPC), alcançaram valores de
resistências à compressão uniaxial de até 7,28 MPa, na idade de 90 dias. As análises, por hora, foram realizadas até os 30 dias

220
de cura, mas devido ao crescimento das resistências evidenciado neste estudo existe a possibilidade de se alcançar valores
como este na referida idade.
Pedroso et al (2017) também realizaram testes de resistência uniaxial com materiais formados a partir de resíduos de
celulose e cal juntamente com resíduos de construção. Eles obtiveram resistências similares às obtidas nesse estudo, variando
entre 1,65 a 5,97 MPa após 30 dias de cura de acordo com a proporção de resíduos utilizada.
Na presença de resíduos de celulose (composições nº 1 a 5) a melhor resistência verificada, aos 30 dias de cura, foi a
composição número 5, com 35% de RPC e 15% do mix de celulose A cal auxilia na formação de novas estruturas químicas e
mineralógicas, devido ao seu caráter aglomerante (SILVA, 2014). Por isso foi verificado um aumento progressivo das
resistências dos materiais conforme maior proporção de RPC na composição.
A respeito da areia notou-se que sua presença em maior quantidade (composição nº6) apenas infuenciou a resistência aos 3
primeiros dias iniciais após a confecção do corpo de prova (1,55 MPa), porém, posteriormente, a resistência do material
aumentou, alcançando, inclusive, valores similares ao obtidos na ausência da areia (composição nº7).
Verificou-se que aos 30 dias de cura os melhores resultados de resistência à compressão uniaxial foram das composições
6 e 7, cujos valores foram de 6,84 a 6,96 MPa. Estes valores os enquadraram na classe C da NBR 7.170 (ABNT, 1983) e classe
D da NBR 6.136 (2006). Nota-se que a presença de resíduos de celulose nos corpos de prova resultou em menores valores de
resistência.
Logo, os CPs com teores de resíduos de cerca de 40-45 % em massa de resíduo de cinza, 20% de RPC e na ausência de
resíduos de celulose resultaram em níveis de resistência mecânica apropriados para a finalidade de aplicação destes produtos
na construção civil, além de serem economicamente atrativos devido ao baixo custo das matérias-primas (resíduos industriais)
e aos grandes benefícios ambientais, por evitar uma possível incorreta disposição dos mesmos.

Conclusões
Composições com 40-45% de resíduos de cinza, 20% de resíduos de cal e sem resíduos de celulose apresentaram os melhores
resultados de resistência à compressão uniaxial, atingindo valores de 6,84 e 6,96 MPa aos 30 dias de cura, após sua confecção.
Estes valores não apenas atendem as normas brasileiras para tijolos maciços e blocos de concreto de vedação, como excedem o
valor mínimo requerido (1,5 e 2,0 MPa). Sendo assim, os mesmos são apropriados para serem utilizados na construção civil.
Além disso, o aproveitamento de resíduos industriais é uma importante prática ambiental e de sustentabilidade uma vez que
favorece a não ocorrência de sua má disposição e confere valor agregado aos mesmos.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e ao Programa de Pós-graduação em Engenhraia
de Recursos Hídricos e Ambiental (PPGERHA) pelo apoio recebido. Agradecimentos também a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de doutorado.

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223
5SSS126
CONSIDERAÇÕES ACERCA DO IMPACTO HUMANO COMO UM
FATOR IMPORTANTE NA DECOMPOSIÇÃO DAS CAMADAS
SUPERFICIAIS DE TURFEIRAS HOLOCÊNICAS
Gabrielli Teresa Gadens Marcon1, Veridiana Ribeiro2, Margot Guerra-Sommer3
1Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, e:mal:gabrielli-marcon@uergs.edu.br; 2Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, e-mail: very.ribeiro@yahoo.com.br; 3Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail:
Margot.sommer@ufrgs.br

Palavras-chave: turfeira; impacto antrópico; Antropoceno.

Resumo
O presente estudo apresenta os resultados de uma análise palinofaciológica e organogeoquímica realizada em uma turfeira
proveniente do sul do Brasil, onde as informações obtidas da superfície sugerem que o impacto da ação humana sobre o
ambiente deposicional pode ter dado origen a um horizonte de oxidação semelhante àqueles descritos como sendo um
"kultureller trockenhorizont” por pesquisadores europeus que observaram a existencia de um aumento da decomposição nas
camadas superficiais dos perfis sedimentares provenientes das turfeiras e áreas pantanosas úmidas daquele continente. O
objetivo principal do trabalho visa analisar se as alterações observadas nas camadas superficiais da turfeira estudada foram
realmente causadas por ação antrópica e, por isso, se assemelha ao "kultureller trockenhorizont”, ou traduzindo, ao “horizonte
cultural”, descrito acima. A área de estudo está localizada em Iraí, município do noroeste do RS, conhecido por suas águas
termais minerais, e pela popular “lama medicinal”, que é utilizada em associação aos banhos nas estações termais da cidade. A
metodología utilizada integra as técnicas de palinofácies e geoquímica orgánica, complementadas por análise sedimentológica
e datação radiocarbônica. Os resultados foram obtidos a partir um perfil sedimentar (T3-Iraí), datado em 10.586 anos AP, e
permitiram constatar a preocupante interferencia antrópica sobre o sistema deposicional, bem como a necessidade da adoção de
medidas de gestão ambiental e manejo eficientes para a preservação das turfeiras e demais áreas pantanosas úmidas do planeta
com potencial para acúmulo de grande quantidade de materia orgánica e retenção de gases do efeito estufa.

Introdução
O termo “antropoceno” foi proposto inicialmente por Crutzen & Stoermer (2000) para ilustrar uma época geológica
que refletia a intensidade da ação humana sobre a superfície da Terra. A ideia ganhou força e foi criado um Grupo de Trabalho
pelo Antropoceno junto à Comissão Internacional de Estratigrafia que vem discutindo, desde 2009, diversas propostas no
intuito de formalizar essa época junto à Tabela do Tempo Geológico. As principais conclusões e recomendações sobre o
Antropoceno foram apresentadas em 2016, no 35º Congresso Geológico Internacional, que ocorreu na África do Sul, e
compiladas em um artigo publicado por Zalasiewicz et al. (2017).
O conceito de Antropoceno enfatiza o papel central do homem na modificação e equilíbrio da Terra, especialmente
através de radioisótopos derivados de testes nucleares e da introdução de materiais tecnológicos (como os plásticos, por
exemplo). A data escolhida para o início dessa época não é um consenso, mas dois terços dos cientistas consideram que
deveria ser em torno de 1950, especialmente em virtude do advento da bomba nuclear, e por ser o início da “Grande
Aceleração” (SILVA et al., 2018). Aproximadamente um terço da comunidade científica recomendou a utilização do plutônio-
239 como o indicador estratigráfico mais apropriado para essa época (SILVA et al., 2018), embora o registro sedimentar
contendo tanto macro- como microplásticos misturados aos sedimentos seja hoje uma das evidências estratigráficas mais
marcantes do Antropoceno (ZALASIEWICZ et al., 2016).
Alguns pesquisadores, entretanto, consideram que o Antropoceno começou há muito mais tempo atrás (entre 8.000-
5.000 anos antes do presente - AP) com o surgimento da agricultura, o desflorestamento consequente disso, e a domesticação
de animais; eventos que resultaram no aumento dos níveis de gás carbónico (CO2) e metano (CH4) atmosféricos
(RUDDIMAN, 2003, 2013). Outros acreditam que o Antropoceno começou com a Revolução Industrial e a invenção da
máquina a vapor, acontecimentos que produziram um incremento bem mais intenso nos níveis de CO2 e CH4 atmosféricos do
que o advento da agricultura (CRUTZEN, 2002).
Independentemente do evento limítrofe que venha a ser definido como o marco de início do Antropoceno, o que
sabemos é que não existem dúvidas que a ação humana vem produzindo uma série de impactos no planeta e deixando sua
marca no registro sedimentar. Um dos problemas enfrentados em relação a esse registro tem sido observado junto às turfeiras
holocênicas, as quais algumas vezes apresentam um aumento da oxidação nas camadas próximas à superfície, interpretadas
como sendo representativas de um ambiente mais seco e oxidado para o Holoceno tardio (VON BULOW, 1929). Entretanto,

224
esse aumento da oxidação pode ser resultante de uma aceleração do processo de decomposição das camadas superficiais das
turfeiras, causado por ação antrópica (SJOGREN et al., 2007; CHAMBERS et al., 2007). Em relação a tais camadas em
turfeiras, von Bulow (1929) nomeou as mesmas de "Trockenhorizont kultureller", referindo-se já naquela época a um
“horizonte cultural” que era resultado da ação antrópica sobre o ambiente deposicional. Nesse sentido, pesquisadores como
Sjogren et al. (2007) e Chambers et al. (2007) também sugerem cautela no estudo de turfeiras holocênicas, em virtude da
influencia antrópica sobre o ambiente de deposição e, consequentemente, com a geração de um horizonte de informações
alteradas.
Tendo por base as constatações referentes ao "Trockenhorizont kultureller", e a complexidade de informações que
permeiam o Antropoceno, o presente estudo apresenta os resultados de uma análise palinofaciológica e organogeoquímica
realizada em uma turfeira proveniente do sul do Brasil, onde as informações obtidas das camadas superficias sugerem que o
impacto da ação humana sobre o ambiente deposicional pode ter dado origen a um horizonte de oxidação semelhante àqueles
descritos como sendo um “horizonte cultural” por von Bulow (1929) e pesquisadores como Sjogren et al. (2007) e Chambers et
al. (2007).
A análise de palinofácies compreende a caracterização qualitativa e quantitativa do tipo de matéria orgánica
particulada presente nas rochas e depósitos sedimentares, a qual se subdivide em três grupos principais: fitoclastos,
palinomorfos e matéria orgânica amorfa (Tyson, 1995). A análise geoquímica, por sua vez, serve como ferramenta
complementar da análise palinofaciológica, pois é através dela que se definem os parámetros que determinam o conteúdo
orgânico das rochas e depósitos sedimentares, os quais são obtidos medindo os teores de carbono orgânico total (COT) e
enxofre total (ST) presentes no sedimentos (MENDONÇA-FILHO et al., 2010).
Os dados provenientes das análises palinofaciológicas e organogeoquímicas foram obtidos a partir de um perfil
sedimentar proveniente de uma área de turfeira localizada em Iraí (Figura 1), municipio do Rio Grande do Sul onde afloram
fontes termais contendo água mineral, um dos atrativos turísticos daquela região, a qual repousa sobre as rochas ígneas
pertencentes à Formação Serra Geral, constituinte da Bacia vulcano-sedimentar do Paraná. Essa unidade litoestratigráfica
também abriga o principal aquífero da região (conhecido como aquífero fraturado), de onde se originam as fontes termais,
provenientes de surgências localizadas em fraturas presentes nas rochas basálticas, em vales cuja altitude encontra-se
geralmente abaixo de 230 m (FREITAS et al., 2011). Além da água mineral, a popular “lama medicinal” é também um dos
atrativos dos balneários, sendo frequentemente utilizada em associação aos banhos nas estações termais (HOFF et al., 2005).
Este sedimento de coloração escura e odor característico é proveniente da mesma área onde está localizada a turfeira que é
objeto de estudo desse trabalho, sendo extraída de um poço aberto nas proximidades. Este trabalho tem por objetivo discutir se
as alterações observadas nas camadas superficiais da turfeira de Iraí podem corresponder a um “horizonte cultural”
("Trockenhorizont kultureller"), no qual a interferencia antrópica sobre o ambiente de deposição pode alterar a informação
geológica.

Figura 1 – Mapa de localização do município de Iraí

225
Material e Métodos
A área de estudo ocorre na superfície dos basaltos, próxima às margens do rio Uruguai, e está localizada dentro de uma
propriedade privada. A turfeira se estende por uma área de aproximadamente um hectare, em local de relevo mais baixo que o
solo circundante. A “lama medicinal” é extraída de um poço, aberto com finalidade comerciais, numa das extremidades onde
se encontra a turfeira. Nesse local a área é bastante aberta (sem vegetação) e está frequentemente saturada em água, sendo
frequente a sua drenagem (Figura 2)

Figura 2 – Área de coleta em Iraí. A) Imagem da área do poço de onde é retirada a “lama medicinal”. B) Imagem geral
da área próxima ao poço com indicação do Rio Uruguai. C) Aspecto do sedimento turfoso que aflora na superfície. D)
Imagem mostrando que a turfeira ocorre em um nível mais baixo do terreno. E) Imagem geral da área onde ocorre a
turfeira.

No presente estudo foram realizadas análises obtidas a partir de 25 amostras provenientes de um perfil sedimentar de
115 cm de profundidade, extraído da referida área de turfeira e identificado como T3 - Iraí.
O processamento químico das amostras, a confecção das lâminas organopalinológicas e a contagem e classificação da
matéria orgânica particulada (MOP) embasaram-se nos trabalhos de Tyson (1995), Mendonça-Filho (1999) e Mendonça-Filho
et al. (2010, 2011). A análise palinofaciológica convencional reconhece três grupos principais de MOP: Grupo Fitoclasto,
Grupo Palinomorfo e Grupo Produto Amorfo (= MOA).
O equipamento utilizado para a determinação de COT (Carbono Orgânico total) é o analisador SC 144DR da LECO,
que quantifica, simultaneamente, o conteúdo de carbono e enxofre através de um detector de infravermelho.
De acordo com o método proposto por Folk e Ward (1957), as análises granulométricas embasaram-se na técnica de
peneiramento e pipetagem com intervalos de classe de 1 e ¼ de φ (phi) respectivamente, da escala de Wentworth (1922). Ao
final dessa mesma rotina obtém-se a classificação das amostras segundo o diagrama de Shepard (1954).
A datação radiocarbônica utilizou a técnica radiométrica AMS (Accelerator Mass Spectrometry) e foi realizada pelo
Beta Analytic Radiocarbon Dating Laboratory (Miami, Florida, EU). No texto e imagens a Idade Radiocarbônica
Convencional é citada como “AP” (Antes do Presente), sendo que a palavra “Presente” refere-se ao ano 1950 da Era Cristã
para efeitos de datação radiocarbônica. Todas as idades citadas para o perfil sedimentar T3 foram calibradas (Figura 3).

226
Figura 3 – Estrutura cronológica do perfil sedimentar T3-Iraí, exibindo a idade radiocarbônica das camadas, calibrada
em anos AP (antes do presente). As análises realizadas pelo Beta Analytic estão na Base e na camada de 101 cm. As
demais idades foram calculadas como probabilidade mediana, interpoladas (*) e extrapoladas (**), em relação àquelas
datadas pelo Beta Analytic.

Resultados e Discussão
As análises palinofaciológicas revelaram uma ampla dominância do Grupo Fitoclasto (78%), característica típica da
matéria orgânica preservada em turfeiras, onde a fração orgânica melhor representada nos sedimentos é predominantemente
constituída por elementos derivados de plantas terrestres. A frequência do do Grupo Produto Amorfo foi bem menos
expressiva (7.5%) e derivou, em grande parte, de tecidos vegetais em estado avançado de degradação. O Grupo Palinomorfo
foi o segundo em dominancia (14.5%) e abrangeu esporomorfos terrestres e algálicos, esses últimos de origem exclusivamente
dulciaquícola.
As análises radiométricas revelaram que o perfil sedimentar T3 - Iraí tem uma idade média de 10.586 anos AP. A
análise combinada de dados palinofaciológicos, geoquímicos e sedimentológicos permitiram constatar que esse tipo de
ambiente deposicional era subsidiado ora por agua do lençol freático, ora por agua da chuva, ora pelas águas do rio Uruguai,
mas em nenhum momento houve o registro de “estiagem”, exatamente porque se trata de um ambiente “aberto” e
continuamente sustentado por umidade oriunda de fontes diversas. Nas camadas mais basais do perfil (da Base até os primeiros
75 cm – 6392 anos AP) o ambiente de deposição da turfeira foi predominantemente redutor e anóxico, sendo subsidiado pelo
lençol freático e pela pluviosidade. A partir da camada de 70 cm de profundidade (5.867 anos AP), se observou um período de
aumento considerável do aporte de agua nos sedimentos, que pode estar associado aos eventos de transbordamento do Rio
Uruguai.

227
Os parâmetros organogeoquímicos foram particularmente úteis nas interpretações acerca do conteúdo orgánico
presente nos sedimentos e seu nível de preservação. Observando a Figura 4b é possível observar que, nas porções basais do
perfil sedimentar T3, os teores de carbono orgânico total (COT) e de enxofre total (ST) são bastante elevados, especialmente
quando comparados aos valores obtidos para as camadas mais superficiais da turfeira. Os valores elevados de COT e ST dos
níveis basais (Figura 4a) estão asociado a eventos de anoxia e a presença de um ambiente altamente redutor, condições
favoráveis à preservação da matéria orgánica. A razão carbono/enxofre (C:S) é também menor nas camadas mais próximas à
base (Figura 4a), o que, por sua vez, corroboraria a tendencia redutora do ambiente de deposição. De acordo com Berner
(1995) e Borrego et al. (1998) a razão C:S<3 indica ambiente oxidante, enquanto a razão C:S>3 indica ambiente redutor. Como
nem sempre a razão “menor que três” indica seguramente um ambiente redutor, pois valores extremamente baixos de COT e
ST também chegam ao mesmo resultado, conveciona-se que a razão C:S mais baixa é indicativa de ambiente redutor quando
analisada contextualmente, levando em consideração os teores de COT e ST, bem como as variações desses teores ao longo do
perfil sedimentar. Observando novamente a Figura 4a, o que se destaca é a grande diferença entre a razão C:S das três camadas
mais superficiais (10-5-0 cm) e a razão C:S das camadas mais abaixo. A razão C:S é bastante alta na superficie da turfeira, o
que é indicativo da presença, se não de ambiente oxidante, pelo menos de processos oxidantes.
A partir do intervalo de 10 cm de profundidade até a camada mais rasa (topo), as análises revelaram algumas
alterações na dinámica de deposição do perfil T3 que dificultam a distinção entre as causas naturais e a interferência antrópica
no sistema, simplesmente porque estas últimas parecem provocar perturbações dramáticas no registro sedimentar.
No intervalo de 10-0 cm os teores de COT e ST diminuem consideravelmente, chegando a atingir os valores mais
baixos de todo o perfil na profundidade de 10 cm (Figura 4a); em virtude disso a razão carbono/enxofre aumenta
substancialmente. De acordo com Tyson (2001) existe uma tendência em se considerar que os valores de COT e ST mais
baixos costumam ocorrer em fácies óxicas e, por isso, a redução dos teores de COT e ST nas camadas mais superficiais estaría
relacionada ao aumento da oxidação. Na turfeira de Iraí tais procesos oxidativos poderiam ser resultantes, das atividades
antrópicas de drenagem do depósito sedimentar e remoção da vegetação circundante para a extração da "lama medicinal" que,
coincidentemente, se intensificaram nos últimos 50-80 anos, idade compatível com a das camadas superficiais. O mais antigo
balneário de Iraí, ainda em funcionamento na cidade, é o Balneário Olvaldo Cruz, inaugurado em 1935 (IRAÍ, 2019). O poço
aberto nas proximidades da turfeira, com a finalidade de extrair a “lama medicinal” para fins comerciais junto aos balneários
da cidade pode estar sendo explorado desde a fundação do antigo balnerário, ou mesmo antes disso, pois já haviam “estações
de banhos” instaladas no municipio desde 1914 (IRAÍ, 2019).
Adicionalmente, a interferência antrópica na dinâmica da paisagem, através da remoção da vegetação local
circundante à turfeira, que pode ter sido a principal fonte de carbono orgânico sedimentar no passado, poderia estar
contribuindo para a redução no teor orgânico dos sedimentos ao longo do tempo. Isto é evidenciado pelas analises
palinofaciológicas que revelaram uma alta percentagem de partículas do grupo fitoclasto ao longo de todo o perfil,
especialmente cutículas que, além de abundantes e bem preservadas, apresentaram padrões variados de organização celular,
revelando a existência de grande diversidade florística; entretanto, tais padrões são encontrados nas camadas mais profundas
apenas; nas camadas superficiais (10-5-0 cm), a diversidade no padrão de cutículas é menor, com predomínio de gramíneas.
As alterações observadas nas camadas da superficie da turfeira de Iraí são um fenômeno relativamente comum que
vem sendo observado em turfeiras holocênicas em alguns lugares do mundo, especialmente no continente europeu. De acordo
com Sjogren et al. (2007) quando os perfis de turfa eram examinados, na maioria dos casos, a forte decomposição das camadas
superiores era considerada apenas um incômodo perturbador, mas não um objeto de estudo. Granlund (1932 apud SJOGREN
et al., 2007) teria observado camadas como essas em turfeiras de regiões pantanosas no sul da Suécia e elaborado uma
explicação para o fenômeno tendo por base alterações nas condições climáticas. Entretanto, quem levantou a possibilidade da
ação antrópica interferindo sobre esses ambientes foi von Bülow (1929), que afirmou ter sido o impacto humano a principal
causa do “kultureller Trockenhorizont” que ele encontrou nas turfeiras dos pântanos do norte da Alemanha. O termo alemão
“kultureller trockenhorizont”, cunhado por von Bülow (1929), traduz-se no sentido de um “horizonte cultural” onde é
observado esse aumento da decomposição nas camadas superficiais das turfeiras, resultante da ação antrópica sobre o ambiente
de deposição.
Sjogren et al. (2007) estudando turfeiras de altitude nas montanhas Jura, nos alpes suíços e nos alpes eslovenos,
depararam-se com o mesmo fenômeno e decidiram investigá-lo. Segundo os autores, a ocorrência de uma camada de turfa
decomposta próxima à superfície sugere um efeito geral: o aumento da decomposição; contudo, podem haver variações na
dinâmica, no padrão, nas causas e conseqüências entre diferentes partes da Europa, onde esse fenómeno é observado, as quais
podem estar relacionadas a processos específicos, como tipo de solo, uso da terra, clima predominante, etc. São oferecidas seis
explicações possíveis para a presença de uma camada de turfa decomposta perto da superfície; quais sejam: (1) drenagem das
turfeiras ou áreas úmidas adjacentes; (2) remoção da cobertura vegetal, superficial e cincundante; (3) pastagem e pisoteio de
gado sobre a turfa; (4) respostas autógenas da própria turfeira às injúrias sofridas; (5) aumento do influxo de sedimentos para
dentro da turfeira, e (6) alterações no clima (SJOGREN et al., 2007). À exceção do clima, todas as demais explicações
elencadas por Sjogren et al. (2007) estão diretamente relacionadas a atividades humanas; por isso mesmo tais autores
recomendam uma visão mais cautelosa sobre o desenvolvimento de estudos futuros em turfeiras.

228
T3 - IRAÍ a b
Análise Organogeoquímica
PROF COT ST Razão
cm % % C:S
0 4.47 0.10 44.7
5 7.20 0.13 55.38
10 2.80 0.06 46.6
15 4.70 0.65 7.23
20 4.88 0.29 16.82
25 4.70 0.90 5.22
30 6.38 0.50 12.76
35 4.39 0.48 9.14
40 5.92 0.50 11.84
45 6.15 0.70 8.78
50 5.35 0.24 22.29
55 5.41 0.30 18.03
60 4.96 0.25 19.84
65 5.65 0.50 11.3
70 5.90 0.24 24.58
75 6.37 0.26 24.5
80 7.90 0.33 23.93
85 12.80 0.89 14.38
90 16.02 0.89 18
95 12.10 1.10 11
99 3.10 4.70 0.65
103 18.10 1.16 15.60
106 23.00 1.99 11.55
110 27.10 2.15 12.60
115 18.40 5.10 3.60
Figura 4 – (a) Resultados das anáises organogeoquímicas, demonstrando o percentual de COT e ST de cada uma das
camadas amostradas, seguidas pela razão COT:ST (PROF = profundidade); (b) Diagrama demonstrando a frequencia
de COT e ST do perfil sedimentar T3-Iraí (P – profundidade).

O aumento da decomposição nas camadas superiores da turfeira de Iraí (10-5-0 cm), causado possivelmente em virtude dos
processos de extração da “lama medicinal”, resultaram em um “horizonte cultural”; no qual o aumento da oxidação não foi
resultado de alterações climáticas, mas sim causado por ação antrópica. Tal constatação não é só preocupante em virtude da
influencia que tais ações exercerão sobre a qualidade e manutenção da “lama medicinal” que é fonte de renda para aquele
município e cujas “propriedades terapéuticas” possivelmente dependem do conteúdo organogeoquímico dos sedimentos.
Talvez a mais perturbadora das constatações seja tomar consciencia que a “mão humana” mexe até mesmo no equilibrio do
registro sedimentar. Todos sabemos que o registro geológico é incompleto e que interpretar a história da Terra no “tempo
geológico” é como ler um livro cuja maioria das páginas foram arrancadas. Entretanto, o “kultureller Trockenhorizont” é o
mesmo que ler um livro bastante confuso, onde cada linha da história foi reescrita por cima, e por um novo protagonista. Este
poderia ser o limite do Antropoceno para as turfeiras e demais áreas pantanosas e úmidas do planeta, onde o fenômeno do
“horizonte cultural” é observado. Essa proposta leva em consideração o fato da informação referente a esse horizonte já estar
alterada por causas antrópicas no registro sedimentar e se apóia na ideia de Ruddiman (2018), o qual defende que o
Antropoceno não seja reconhecido formalmente e que o termo seja usado de forma mais flexível para indicar um período muito
mais amplo que se inicia com as primeiras intervenções do homem no equilíbrio do planeta. Como o aparecimento do homem,
em diferentes partes do globo, não é um fenômeno que ocorreu simultâneamente, os registros de seus impactos nem sempre
serão sincrônicos; porém, a capacidade dos seres humanos se tornarem um “agente geológico” não deve ser desprezada.
Outro fator preocupante em relação às turfeiras holocênicas se apóia na possibilidade das mesmas serem uma
importante fonte de CH4; portanto, preservá-las seria também prevenir a perda de metano para a atmosfera. Análises realizadas
por McGlue et al. (2012), na Lagoa Gaíva (margem oeste do rio Paraguai, fronteira entre Brasil e Bolívia), levantaram dados
que apóiam a hipótese de Singarayer et al. (2011), a qual sugere que as zonas úmidas do hemisfério sul tornaram-se uma fonte
importante de CH4 desde 5000 anos atrás. A Turfeira de Iraí merece especial atenção, não apenas como um valioso registro do
Holoceno do sul do Brasil, mas como uma importante fonte de retenção de metano, datada em mais de 10 mil anos.

229
Esse fato reforça a importância de ações de manejo bem planejadas das turfeiras e demais áreas pantanosas úmidas,
com o objetivo de preservar seu potencial como fonte de recursos orgânico-minerais e reservatórios de metano, uma vez que a
interferência humana pode desestabilizar a delicada homeostase desses ambientes. Em virtude disso, enfatizamos a necessidade
da adoção de medidas de gestão ambiental para a turfeira de Iraí, que é a provável fonte de origem da “lama medicinal”
utilizada pelo município, sob risco de perder ese recurso, em médio e/ou longo prazo, caso nenhuma providência seja adotada.

Considerações Finais
O presente trabalho apresentou os resultados de análises palinofaciológicas e organogeoquímicas realizadas em uma
turfeira proveniente do municipio de Iraí, onde as informações obtidas das camadas superficias demonstraram que o impacto
da ação humana sobre o ambiente deposicional deu origen a um horizonte de oxidação semelhante àqueles descritos por von
Bulow (1929) e Sjogren et al. (2007) como sendo um “kultureller Trockenhorizont”, ou um “horizonte cultural”, no qual as
camadas da superficie apresentam um aumento da decomposição. As alterações observadas nessas camadas são um fenômeno
relativamente comum que vem sendo observado em turfeiras holocênicas do continente europeu e agora também no sul do
Brasil. Tal constatação é preocupante porque demonstra os efeitos da ação antrópica sobre o registro sedimentar, alerta sobre o
fato das turfeiras serem potenciais fontes de metano, e enfatiza quanto à necessidade da adoção de medidas de gestão
ambiental e manejo eficientes para a preservação das turfeiras e demais áreas pantanosas úmidas do planeta com potencial para
acúmulo de grande quantidade de materia orgánica e retenção de gases do efeito estufa. Por último, é proposto que o
“kultureller Trockenhorizont” correspondesse a uma espécie de limite do Antropoceno para aquelas regiões em que a
influência humana alterou todo o registro sedimentar das camadas superficiais de turfeiras e demais áreas pantanosas
assemelhadas.
Embora as alterações climáticas em curso desde o início do Holoceno não dependam diretamente da ação humana, os
processos antrópicos têm interferido de maneira irremediável não somente sobre os ecossistemas, mas também sobre os
depósitos sedimentares, prejudicando a integridade do registro sedimentar para o Recente. Portanto, em um contexto global,
pode se considerar que os fenômenos climáticos estão além do alcance humano, mas em um contexto local, a interferência
antrópica sobre o registro sedimentar parece potencializar os efeitos do clima, criando uma espécie de “ruído antrópico” no
ambiente deposicional que pode dificultar a interpretação dos dados e a elucidação dos fatores verdadeiramente influentes.
Nem por isso a magnitude de um evento climático de proporções globais deve ser desconsiderada, uma vez que os mecanismos
de regulação do clima estão interligados de forma a transpor as fronteiras e os limites humanos. Se por um lado a “culpa” dos
seres humanos sobre as mudanças climáticas parece estar vinculada apenas ao prejuízo que eles causam a si mesmos quando
interferem sobre ecossistemas já fragilizados por fenômenos naturais que estão além do seu controle, por outro, diferentes
registros encontrados no Holoceno tardio têm demonstrado que as atividades antrópicas têm um efeito bem menos “passivo”
sobre o controle climático do que se imagina.
Os efeitos da civilização humana sobre a deposição e o sepultamento dos sedimentos e da matéria orgânica sedimentar
suscitam a possibilidade de considerarmos que o registro de nosso passado recente não resulta apenas de processos
deposicionais naturais, mas da ação antrópica, inaugurando assim novas formas de interpretar o registro do Holoceno tardio a
partir da perspectiva da “pegada ecológica”. A intensificação das atividades humanas decorrentes da aceleração do processo
civilizatório pode estar interferindo não somente na história do planeta, mas também na forma como essa história é “contada”
através do registro sedimentar. Isso pode ter efeitos negativos no discernimento das gerações futuras sobre o destino da Terra e
gestão de seus recursos naturais, porque obstrui a interpretação do passado e, consequentemente, a projeção do futuro.

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232
5SSS128
A PROTEÇÃO À CORROSÃO DO AÇO CARBONO NUMA
PERSPECTIVA SUSTENTÁVEL
Guilherme Kusler Possani1, Eduardo Luis Schneider2, Lisete Cristine Scienza3
1
LAMATES (Laboratório de Materiais e Tecnologias Sustentáveis) - Departamento de Materiais- Escola de Engenharia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul; e-mail: guilhermepossani@hotmail.com
2
PPGE3M (Programa de Pós-graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e Materiais) - Universidade Federal do
Rio Grande do Sul; e-mail: 00096217@ufrgs.br
3
LAMATES - PPGE3M - Universidade Federal do Rio Grande do Sul; e-mail:lisete.scienza@ufrgs.br

Palavras-chave: Aço carbono; Corrosão, Sustentabilidade.

Resumo
A degradação de metais pela ação do meio no qual estão expostos conduz a perdas de propriedades, principalmente mecânicas
e térmicas, entre outras, comprometendo o desempenho dos mesmos em condições normais de uso. Como consequência disto,
vários custos diretos e indiretos estão relacionados aos processos corrosivos. As medidas mitigatórias para conter a corrosão
metálica envolvem o uso de revestimentos (metálicos, cerámicos, poliméricos ou compósitos), inibidores de corrosão
(compostos orgânicos ou inorgânicos), proteção catódica (por corrente impressa ou anodo de sacrifício), bem como
considerações de projeto e remoção de espécies agressivas do meio, quando isto é possível. Em se tratando do aço carbono,
metal de maior consumo e emprego em diferentes setores tecnológicos, a corrosão é extretamente deletéria, exigindo o uso de
sistemas de proteção efetivos. Alguns métodos ainda muito usados atualmente na proteção à corrosão de aços carbono são
baseados na cromatização ou na fosfatização da superfície. Na cromatização faz-se o uso de Cr6+, o qual é reconhecido por sua
toxicidade e ação carcinogênica, o que fez com que a legislação internacional exigisse a sua substituição por compostos menos
tóxicos. Os processos à base de fosfatos sofrem restrições devido ao lodo e efluentes gerados, ricos em fosfatos, os quais são
prejudiciais ao ecossistema quando presentes nos cursos de água em quantidades excessivas. Nas últimas décadas a química
verde na área de tratamentos de superfícies metálicas tem enfatizado a importância na proteção do meio ambiente e da saúde
humana de maneira econômica, evitando o uso de substâncias tóxicas e minimizando a geração de resíduos. Os atuais avanços
nesta área convergem para o desenvolvimento de sistemas de proteção capazes de inibir a corrosão de múltiplos modos, agindo
de maneira sinérgica com os componentes que atuam no sistema, empregando compostos naturais, que podem ser considerados
eco-amigáveis desde a sua obtenção até a sua disposição final. Um novo tipo de revestimento de conversão química baseado na
nanotecnologia consiste na formação de óxidos de titânio e zircônio, e não contém metais como cromo, chumbo ou níquel, e
compostos orgânicos. Inibidores "verdes" denominados de green inhibitors abrangem compostos de terras raras, como sais de
cério e lantânio, polímeros orgânicos, extratos de plantas, mel, quitosana e proteínas, entre outros. Apesar dos vários estudos
apontarem uma aplicação promissoras de diversos produtos "verdes", em termos de proteção à corrosão há um ceticismo
quanto ao seu emprego em larga escala relativo a sua eficácia protetora e reprodutibilidade de resultados. O desenvolvimento
de novos produtos abrange muitas áreas da ciência dos materiais, exigindo um entendimento básico de química fundamental,
metalurgia e eletroquímica a fim de compreender os aspectos microestruturais, de superfície e as propriedades de transporte
dentro através dos revestimentos, entre outros fatores relacionados ao processo corrosivo. Os resultados dos estudos atuais têm
apontado a eficácia do emprego de inibidores naturais baseados em compostos naturais como a quitosana, a
carboximetilcelulose e ácido tânico, encorajando, assim, as pesquisas no aprimoramento dos sistemas de proteção à corrosão.

Introdução

Corrosão é um processo de degradação espontânea resultante de reações químicas ou eletroquímicas do meio sobre um
metal, revertendo-o sua forma termodinâmica mais estável. Este processo resulta em perda de propriedades do material, o que
conduz a perda e substituição do material em serviço, perda de tempo em operações de manutenção, paradas não previstas no
processo e falhas severas em algumas estruturas, que, em alguns casos, pode conduzir prejuízos à saúde e à vida. A corrosão é,
sem dúvida, um dos maiores problemas globais. Estruturas de aços, tais como pontes, plantas industriais, trilhos de trem,
tubulações industriais, pecas, veículos, navios, etc. são todas afetadas pela ação do meio ambiente. A Figura 1 ilustra a
corrosão ocorrendo em diferentes situações cotidianas.

233
Figura 1: Situações diversas envolvendo a corrosão de metais.

Diariamente toneladas de metais são destruídas pela corrosão, e frequentemente necessitam de reparos, consumindo
com isto uma grande quantidade de energia. Isto inevitavelmente conduz a perdas diretas e indiretas sob aspectos econômicos,
de segurança e ambientais, o que torna o desenvolvimento de sistemas de proteção efetivos para substratos metálicos uma
questão de primordial importância. Goni e Mazumder (2019) apresentaram a subdivisão dos custos de corrosão conforme
ilustrado na Figura 2.

Figura 2: Subdivisão dos custos da corrosão. (Adaptado de GONI e MAZUMDER, 2019)

Aspectos básicos da corrosão e mecanismos de proteção

Em termos básicos, a maioria dos metais e ligas usados na engenharia, tais como o ferro, cobre, alumínio e zinco, por
exemplo, são oxidáveis, isto é, possuem a tendência termodinâmica natural de retornarem ao seu estado original na natureza,
ou seja, sua forma oxidada. Estes metais quando expostos a meios que contém água (Figura 3), como a atmosfera ou soluções
aquosas, comuns para a maioria das aplicações envolvendo artefatos metálicos, o mecanismo de ataque será governado sob
aspecto eletroquímico.

Figura 3: Esquema representando o processo de corrosão do ferro em presença de umidade

234
As reações redox entre o metal e o oxigênio, em presença de água, envolverão reações anódicas e catódicas que, para
o caso do ferro, principal elemento dos aços, podem ser escritas como segue (DENNIS et al., 2015):

Anódica: Fe(s)  Fe2+ (aq) + 2e- (1)

Catódica: O2 (g) + 2H2O (l) + 4e-  4OH- (2)

Global: 2Fe2+ (aq) + 4OH-  2Fe(OH)2 (3)

4Fe(OH)2 (s) + O2 (g)  2Fe2O3.H2O (s) + H2O (l) (4)

Ligas estruturais tendem a ser mais suscetíveis à corrosão desde que elas são frequentemente heterogêneas em termos
de microestrutura superficial e faces cristalográficas expostas, permitindo que meias-células de corrosão se estabeleçam ao
longo da região exposta da superfície metálica. As reações de corrosão representadas nas equações (3) e (4) estão fortemente
abaixo da perspectiva termodinâmica devido a uma contribuição entálpica substancialmente isotérmica e, assim, os esforços
para inibir a corrosão concentram-se principalmente em restringir o transporte de carga e massa a fim de dificultar as meias-
reações de corrosão representadas nas equações (1) e (2).
A proteção à corrosão de superfícies metálicas visa a minimizar o consumo de recursos naturais através do aumento
da vida útil dos materiais metálicos, o que induz a um menor consumo energético, de água e outros recursos naturais,
contribuindo ainda para uma menor geração de resíduos. Em geral, a corrosão pode ser retardada por diferentes mecanismos:
isolamento do metal do meio agressivo (usando revestimento ou agentes formadores de filme), compensando a perda de
elétrons da estrutura corroída (proteção catódica), promovendo a passivação da superfície, ou por compostos capazes de inibir
as reações anódicas e/ou catódicas da corrosão (inibidores) (DENNIS et al., 2015; SHEHATA et al., 2017). Os atuais avanços
nesta área convergem para o desenvolvimento de sistemas de proteção capazes de inibir a corrosão de múltiplos modos, agindo
de maneira sinérgica com os componentes que atuam no sistema. Obviamente o fator custo precisa ser considerado em termos
de desenvolvimento industrial, mas a sustentabilidade rapidamente emerge como um critério de considerável significância.
A utilização de recursos renováveis e recicláveis, a proteção do ambiente natural, a criação de um ambiente
saudável e não tóxico e a procura de qualidade estão incluídas no chamado desenvolvimento sustentável. A Diretiva EU IPPC
(Integrated Pollution Prevention and Control-96/61/CE) aponta para o desenvolvimento da “melhor técnica disponível”
requerido como um rótulo para diferentes setores industriais, obviamente incluindo o da proteção à corrosão (BENEDETTI et
al., 2003).
O conceito de "verde" evoluiu ao longo do tempo para um contexto mais amplo de sustentabilidade, onde o foco
inicial em questões ambientais passou a se concentrar no uso de materiais mais ecológicos e em tornar os revestimentos mais
sustentáveis, empregando materiais naturais e processos mais limpos que produzam formulações eco-amigáveis.
Paralelamente há um esforço significativo para encontrar materiais mais seguros para aplicações em que trabalhadores e
usuários finais possam ser expostos a produtos químicos perigosos (ASMARA et al., 2018). As tendências atuais têm focado
estudos de sistemas de proteção envolvendo inibidores “verdes”, sais de terras raras, revestimento sol-gel à base de
organosilanos e revestimentos nanocerâmicos, estão entre as novas tendências. Certamente o desenvolvimento de novos
produtos requer um entendimento básico da química fundamental bem como dos parâmetros que influenciam os tratamentos
efetuados (FIGUEIRA et al., 2016), os quais envolvem fatores relacionados às características do meio corrosivo, incluindo
esforços mecânicos, como àqueles pertinentes ao metal a ser protegido. Assim, é necessário desenvolver sistemas particulares
para cada situação específica. Neste trabalho foi dada especial atenção ao tratamento nanocerâmico e aos inibidores verdes na
proteção à corrosão do aço carbono.

A nanotecnologia e a corrosão

O aço carbono é um substrato versátil para várias aplicações. A fim de promover a resistência à corrosão e a adesão de
um revestimento orgânico (tintas, por exemplo), pré-tratamentos são efetuados em superfícies metálicas. Entre os tratamentos
comuns destacam-se aqueles de conversão química, ou seja, revestimentos inorgânicos oriundos da reação química entre o
metal e um eletrólito específico, tais como a fosfatização e a cromatização. Tais tratamentos têm limitações relevantes. Na
fosfatização os banhos concentrados de fosfatos têm efeitos prejudiciais na ecologia das águas subterrâneas e superfíciais (o
fósforo é a causa mais comum da eutrofização de águas em lagos e reservatórios), o lodo gerado do tratamento de efluentes da
fosfatização é classificado como resíduo perigosos. Além disso, as camadas de conversão por fosfatização são porosas e
requerem uma posterior selagem com ácido crômico (MOHAMADLOO et al., 2013). Na cromatização, o cromo hexavalente
presente nas formulações é comprovadamente carcinogênico, mutagênico e tóxico para reprodução, de forma que o uso de
revestimentos de cromatos tem sido fortemente limitado por autoridades regulatórias internacionais, dando suporte para
alternativas ecológicas (POKOMY et al., 2016).

235
Em anos recentes novas tecnologias para substituir os tratamentos à base de cromatos e fosfatos têm sido propostas.
Tratamentos à base de organosilanos tem apresentado proteção à corrosão e adesão de tintas razoável para diversos substratos,
porém são de afinidade restrita a certas tintas, as soluções de silanos terem curta vida útil e o substrato torna-se mais suscetível
à corrosão localizada, inviabilizando o seu uso em aplicações em larga escala (ADHIKARI et al., 2011; MOHAMADLOO et
al., 2012).
Tratamentos de superfícies baseados em nanopartículas de cerâmicas obtidos por conversão química têm sido
propostos como uma alternativa para adesão de tintas substituindo a fosfatização para superfícies metálicas pintadas. As
vantagens dos tratamentos nanocerâmicos incluem o fato de que não requerem aquecimento (economia de energia), não
necessitam de rígido controle de parâmetros, são de simples utilização, formam muito pouco lodo (operações de disposição são
simples e de baixo custo) e não são agressivos ao meio ambiente (ABRASHOV et al, 2015). Estes tratamentos permitem a
conversão de uma fina camada (espessura < 50 nm) nanoestruturada de óxido de metais como titânio e zircônio (DRONIOU,
2005). Podem ser obtidos a partir de um método sol-gel ou por imersão em uma solução de H2ZrF6. Estes revestimentos
encontram uso crescente em várias aplicações industriais para providenciar resistência ao uso e erosão, proteção à corrosão e
isolamento térmico (MOHAMADLOO et al., 2013). Estes pré-tratamentos são considerados mais ecológicos em termos de
redução do consumo de energia, bem como de custos com tratamento e disposição de efluentes, limpeza e manutenção. Além
disso, são compatíveis com diversos substratos metálicos e oferecem o benefício da construção leve, por produzir uma camada
de espessura nanométrica (SCHULTZ e SCHULTZ, 2013).
Kerstner et al. (2014) comprovaram a eficiência de um tratamento nanocerâmico comercial na susbtituição da
fosfatização para aços carbono pintados. Wu et al. (2018) apontaram como desvantagem o fato do revestimento não ter
coloração, o que pode dificultar um controle visual da evidência direta de formação da camada em uma linha de produção, por
exemplo. Esta característica pode ser contornada pela adição de polímeros solúveis em água e outros auxiliares atóxicos no
banho nanocerâmico a fim de atribuir cor ao revestimento. Segundo Mohammadloo et al. (2014) parâmetros como pH,
temperatura e tempo de imersão influenciam fortemente na morfologia e resistência à corrosão dos revestimentos
nanocerâmicos em aços carbono, definindo uma melhor performance anticorrosiva para pH de 5,0, temperatura de 20ºC e
tempo de imersão de 90 s. Os banhos nanocerâmicos podem conter aditivos orgânicos para aumentar a adesão de revestimentos
orgânicos sobre eles, surfactantes ou outros aditivos inorgânicos, tais como cobre e manganês, a fim de aumentar a espessura
da camada, modificar a sua estrutura, ou adicionar uma funcionalidade como autorreparação (self-healing) (MILOSEV e
FRANKEL, 2018). O trabalho de Santos (2016) mostrou os efeitos benéficos na qualidade da barreira protetora nanocerâmica
para aço SAE 1006 pela adição de polietilenoglicol no banho nanocerâmicos.

Os inibidores "verdes" (green inhibitors)

O uso de inibidores de corrosão tem se mostrado ser o meio mais efetivo e prático para reduzir a corrosão metálica
(DHARMARAJ et al., 2017). Inibidores de corrosão são definidos como substâncias capazes de prevenir e controlar a corrosão
quando presentes no meio em quantidades muito pequenas. Podem atuar por (i) formando um filme adsorvido na superfície do
metal, (ii) produzindo produtos de corrosão que passivam a superfície, e (iii) formando precipitados que podes eliminar ou
inativar um constituinte agressivo (GONI e MAZUMDER, 2019). Infelizmente, a maioria dos inibidores efetivos para mitigar
a corrosão é altamente tóxica, aumentando a preocupação com o meio ambiente, ocasionando restrições ao uso de tais
produtos. A toxicidade pode surgir em ambos os processos de síntese e de aplicação do produto. Fatores envolvendo o
tratamento de materiais e efluentes contaminados, transporte, acondicionamento e disposição dos produtos, além das questões
envolvendo a segurança e saúde humana, são adicionados aos custos do controle da corrosão, encorajando o emprego de
sistemas eco-amigáveis com eficiência aceitável (EL-HADDAD et al., 2019). Dentro deste contexto surgem os chamados
“inibidores verdes” (green inhibitors).
Assim, os inibidores verdes incluem compostos não tóxicos para o ser humano, com baixo impacto ambiental,
biodegradáveis e com eficiência e relação custo-benefício aceitáveis. Os extratos de partes de diversas plantas (ex. manga,
laranja, tabaco, cebola, batata-doce, bambu, pimenta preta, erva-mate, etc.) tais como folhas, cascas, sementes, frutos e raízes,
ou ainda rejeitos e subprodutos de processos da agroindústria, tem sido relatados como inibidores eficazes da corrosão de
metais como o aço carbono em diferentes ambientes agressivos (SHARMA, 2018). Exemplos incluem aminoácidos,
alcalóides, flavonóides, polifenóis, o que inclui compostos como cisteína, quitosana, ácido tânico, caboximetil celulose, ácido
ascórbico, pectina, e muitos outros. O Quadro 1 apresenta alguns exemplos de inibidores naturais para o aço carbono. Estudos
atuais têm apontado a eficácia de compostos naturais como a quitosana, a carboximetilcelulose e ácido tânico.

236
Quadro 1: Exemplos de “green inhibitors”
Inibidor Breve descrição Referências
Quitosana Polissacarídeo catiônico obtido da desacetilação da Solomon et al., 2018
quitina (oriunda de exoesqueleto de crustáceos). Gupta et al. 2018
Verma et al., 2018
Ácido tânico Ácido pertencente à classe dos taninos (oriundos de Oki et al., 2013
diversos vegetais), composto de glucose e ácidos Benali, 2013
fenólicos (C76H52O46). Dargahi et al., 2015
Kaco et al., 2018
Xu et al., 2019
Carboximetilcelulose Polímero aniônico derivado da celulose muito solúvel em Manimaran et al., 2013
(CMC) água, normalmente se apresenta na forma de sal sódico. Bayol et al., 2008
AlAhmary et al., 2018
Umoren et al, 2018
Extratos de cascas e Extrato de casca de laranja, manga e maracujá. Rocha e Gomes, 2017
sementes de frutas Extrato de semente de mamão formosa. Marinho et al., 2018
Resíduos de biomassa. Marzorati et al., 2019
Extratos de flores ou Extrato da Cammelia sinensis. Teixeira et al, 2015
folhas Extrato de Adhatoda vasica. Dharmaraj et al., 2017
Extrato de erva-mate e chá verde Silva et al., 2018
Extrato de folha de café Araújo et al., 2018

Apesar da natureza promissora dos inibidores verdes em termos de eficiência, custo e sustentabilidade, existe uma
grande lacuna tecnológica relacionada ao mecanismo de proteção, reprodutibilidade de resultados, estabilidade dos compostos
e produção industrial em larga-escala. No entanto estas dificuldades e obstáculos devem ser superados com constante
crescimento dos estudos científicos nesta área.

Considerações finais

O grande desafio atual da engenharia consiste em dar continuidade à evolução tecnologica sem comprometer a
disponibilidade de recursos para as gerações futuras desenvolvendo produtos e processos que sejam economicamente viáveis,
eficientes e sustentáveis, visando reduzir ao máximo o impacto ambiental desde sua produção até o seu descarte. Materiais
“verdes” (ecologicamente corretos), materiais recicláveis, novas e mais limpas tecnologías e o uso de materiais biodegradáveis,
são algumas soluções para esse problema. Em se tratando de proteção à corrosão, o desenvolvimento de sistemas de proteção
eco-amigáveis envolve a eliminação do uso de substâncias tóxicas, promovendo o emprego de espécies biodegradáveis, não
tóxicas, oriundas de fontes naturais e que sejam capazes de proporcionar efeito sinérgico, ampliando a eficacia na proteção de
materiais metálicos. O emprego de inibidores naturais, como aqueles oriundos de extratos de plantas, compostos híbridos do
tipo organosilanos e os tratamentos à base de nacocerâmicas têm se mostrado promissores e, cada vez mais, vem ganhando
espaço junto aos mais variados setores da economia mundial, encorajando as pesquisas no aprimoramento dos sistemas de
proteção à corrosão.

Agradecimentos

Os autores agradecem o suporte financeiro recebido da CAPES PROEX Proc. n. 23038.00341/2019-71.

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239
5SSS129
ESTUDO EXPERIMENTAL DA VIABILIDADE DE UTILIZAÇÃO DE
UM SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES DO TIPO RANHURA
VERTICAL
Larissa Vidigal Guidini1, Marcelo Marques2, Fernando Oliveira de Andrade3
1Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Curitiba, e-mail: larissa_gui@hotmail.com;
2Universidade Estadual de Maringá – Campus Umuarama, e-mail: mmarques@uem.br;
3Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Curitiba, e-mail: fandrade@utfpr.edu.br.

Resumo
O objetivo deste trabalho foi avaliar a viabilidade do uso de um sistema de transposição de peixes (STP) do tipo ranhura
vertical, mediante a realização de experimentos em modelo reduzido na escala 1:40. Os ensaios foram realizados usando uma
geometria típica de STP, adotando-se um valor de vazão constante de 0,6 l/s para declividades do canal de 1,5% e 3,0%. Esses
valores foram adotados com base nas condições operacionais possíveis do laboratório de hidráulica da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná – Campus Curitiba. Foram medidos os níveis de água e as velocidades em diferentes posições e
calculada a potência dissipada por unidade de volume dos tanques. Os resultados obtidos para potência dissipada em cada
tanque permitiram concluir que a estrutura selecionada promove dissipação em excesso, quando comparada aos níveis
limítrofes para dimensionamento, e pode não ser completamente adequada para a utilização prática nas condições hidráulicas
simuladas. Também se observaram velocidades elevadas nas regiões das ranhuras que dificultariam o transporte dos peixes a
montante. As medições de níveis de água e das dimensões dos vórtices mostraram que o padrão do escoamento é adequado
para possibilitar o desenvolvimento da capacidade de nado e o descanso dos peixes.

Palavras-chave: Sistemas de transposição de peixes; Escadas de peixes do tipo ranhura vertical

Abstract
The objective of this study was to evaluate the feasibility of using a fish transposition system (STP) of the vertical slot type, by
performing experiments in a 1:40 scale physical model. The tests were performed using a typical STP geometry, adopting a
constant flow rate for channel slopes of 1.5% and 3.0%. The water levels and velocities were measured at different positions
and the energy dissipation rate per unit volume was calculated for all tanks. The results for the energy dissipation rate in each
tank allowed to conclude that the selected structure promotes excessive dissipation, when compared to the threshold levels for
design, and may not be completely adequate for practical use in the simulated hydraulic conditions. High speeds were also
observed in the vertical slots entrance regions, which would make it difficult the upstream fish transport. Measurements of
water levels and vortices dimensions have shown that the flow pattern is adequate to allow development of swimming capacity
and resting conditions for the fish.

Keywords: Fish bypass systems; Vertical slot fishways

Introdução

Sistemas de transposição de peixes (STP) são estruturas hidráulicas construídas para permitir que os peixes superem um
obstáculo à migração (Guo et al., 2012). Estes dispositivos favorecem a reprodução dos peixes, permitido que se desloquem
em direção às cabeceiras dos rios durante a piracema (Sanagiotto, 2011). Além disso, os STPs se destinam a equilibrar as
funções ecológicas de montante e jusante de um rio, desempenhando um papel insubstituível na proteção dos peixes e seu
habitat. Um projeto adequado desses sistemas requer conhecimentos interdisciplinares e deve combinar as características
hidráulicas e hidrodinâmicas da estrutura com a capacidade natatória dos peixes (Guo et al., 2012).
No Brasil há pouco conhecimento sobre as espécies de peixes e suas características, como por exemplo, a capacidade
natatória e suas rotas de migração. Entretanto, sabe-se que muitas das espécies de piracema não conseguem utilizar os
mecanismos de passagem de forma eficiente (Coletti, 2005). Na ausência do conhecimento das espécies alvo, o STP deve ser
projetado de forma versátil e com possibilidades de modificações (Larinier, 2001). Neste contexto, experimentos mostram que
quando bem projetada, estruturas do tipo escada com ranhura vertical operam com baixa seletividade, podendo ser atravessada

240
de forma satisfatória por várias espécies (Larinier, 2008).
A escada do tipo ranhura vertical consiste em um canal retangular com fundo inclinado, dividido em tanques por meio de
septos e ranhuras. A água escoa por esse canal, passando de um tanque para o outro através das ranhuras (Alvarez-Vazquez et
al., 2007). Parte do escoamento é revertido para montante, criando regiões de recirculação nos tanques que possibilitam o
descanso dos peixes antes de continuar a transpor o sistema (Guo et al., 2012). Para determinar a eficiência do sistema,
variáveis hidráulicas, tais como os níveis de água, e hidrodinâmicas, tais como velocidade e turbulência, devem ser observadas.
Uma das etapas mais importantes no desenvolvimento do STP é comparar as variáveis hidráulicas e hidrodinâmicas com dados
da ictiofauna, a partir da escolha de um modelo geométrico adequado (Mao et al., 2012).
As variáveis normalmente consideradas na avaliação da eficiência de um STP do tipo ranhura vertical são a velocidade na
ranhura, o nível de água, o padrão do escoamento e a potência dissipada por unidade de volume. A velocidade na ranhura é um
critério muito importante, pois atravessá-la requer que o peixe alcance sua velocidade de explosão, isto é, sua velocidade
máxima. Desta forma, faz-se necessário que a velocidade na ranhura seja menor que a velocidade de explosão da espécie alvo
(Bermúdez et al., 2010; Sanagiotto et al., 2012). A profundidade dentro dos tanques também é um critério importante, pois está
associada com a perda de carga ao longo do STP (e consequente dissipação de potência por unidade de volume dos tanques) e
também assegura o conforto para o peixe ao longo de seu caminho. Desta forma, devem ser atendidos valores mínimos, para
que na existência de obstáculos não sejam formadas regiões com velocidades muito altas ou situações de elevada aeração
(Sanagiotto et al., 2012).
Uma maneira de otimizar os projetos e definir as características adequadas do escoamento é a simulação mediante o uso
de modelos reduzidos em laboratório. No presente trabalho, avaliaram-se as características do escoamento em um modelo de
uma escada de peixe do tipo ranhura vertical na escala 1:40, por meio de medição dos níveis de água, dos valores de
velocidade em pontos de interesse, do cálculo da potência dissipada nos tanques e da visualização do escoamento. Os valores
obtidos no modelo foram convertidos em valores de protótipo e comparados com características biológicas de três espécies de
peixes encontradas no Brasil, com o objetivo de avaliar a viabilidade de aplicação prática do STP estudado.

Materiais e métodos

Neste estudo foi construído um modelo reduzido de um STP do tipo ranhura vertical junto ao laboratório de hidráulica da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR - Campus Curitiba), considerando-se um fator de escala de 1:40 e
semelhança de Froude, com o objetivo de converter os resultados do modelo em valores de protótipo. A escolha das dimensões
do modelo teve como base as dimensões do canal disponível no laboratório e sua geometria foi inspirada no modelo
experimental de Tolentino et al. (2014).
A estrutura do modelo consistiu em um canal fabricado em acrílico transparente com 7,7 cm de largura, 25 cm de
profundidade e 4,9 m de comprimento. Também integrou a estrutura um sistema de bombeamento, que permitiu a recirculação
da água no canal. A água foi bombeada de um reservatório inferior até a entrada do canal na parte mais elevada, por onde
escoava até retornar ao reservatório inferior.
O canal foi segmentado em tanques por meio de anteparos de acrílico, fabricados sob medida. Foram construídos 10
tanques com 10 cm de comprimento na direção longitudinal e com septos transversais de 6,0 cm e 0,5 cm. A declividade no
canal pôde ser controlada de acordo com a necessidade, sendo adotadas as inclinações de 1,5% e 3%. A vazão foi mantida
constante em 0,6 L/s durante todos os experimentos. Este valor foi obtido pela média de cinco medições realizadas através do
método direto volumétrico. Ressalta-se que os valores de vazão e declividades foram adotados com base nas características dos
equipamentos disponíveis no laboratório de hidráulica da UTFPR - Curitiba. A Figura 1 ilustra a planta baixa do tanque típico
do STP usado nos experimentos. As dimensões ilustradas na figura estão em cm e o sentido do escoamento é da esquerda para
a direita.

241
Figura 1: Planta baixa do tanque típico do STP utilizado na escala 1:40. As dimensões estão em cm.

A profundidade do escoamento foi medida com uma ponta limnimétrica, posicionada em dois pontos de medição em cada
tanque. Os pontos foram localizados no centro do tanque, distantes 2 cm entre si na direção longitudinal. Com as medidas
obtidas, calculou-se a média das profundidades para cada tanque e comparou-se com a do tanque anterior para obter a perda de
carga ao longo da escada. A potência dissipada por unidade de volume, PV, foi calculada de acordo com a seguinte equação:
, (1)

onde Q é a vazão, 𝛾 é o peso específico da água, 𝛥h a perda de carga entre dois tanques consecutivos, ym é a profundidade
média do escoamento, B é a largura do tanque e L é o comprimento de cada tanque.
Para determinação dos módulos das velocidades utilizou-se um tubo de Pitot posicionado em seções escolhidas na
ranhura e em um plano horizontal. Desta forma, o módulo da velocidade, v, foi calculado mediante a medida da pressão
estática, p, e da pressão de estagnação, p0, de acordo com a Equação 2. Nessa equação, g é a aceleração da gravidade e 𝛾 é o
peso específico da água:
. (2)

Na região das ranhuras, as medições de velocidade foram realizadas nas entradas dos tanques 2, 6 e 9, para inclinações de
1,5% e 3,0%, em diferentes profundidades, de modo que pudesse ser traçado um perfil da velocidade na seção transversal. As
medições de velocidade do escoamento na direção horizontal foram realizadas em um único plano horizontal no tanque 6, onde
o escoamento se encontrava estabilizado, a 6 cm de distância do fundo.

Tabela 1: Valores característicos de velocidade de nado de espécies de peixes brasileiras (Santos, 2007)

Velocidade prolongada (m/s) Velocidade de


Comprimento Velocidade crítica
explosão
(cm) (m/s) min. máx. (m/s)

Mandi 19 1,29 0,95 1,24 -

Piau 16 1,32 1,12 1,68 1,58

Curimba 29 1,23 1,16 1,60 1,78

242
Com base na semelhança de Froude foram calculados os valores de velocidade no protótipo, os quais foram comparados
com os dados da ictiofauna. Apesar da escassez na literatura especializada sobre características básicas da atividade natatória
em peixes neotropicais, o estudo de Santos (2007) avaliou as velocidades de três espécies típicas brasileiras: Pimelodus
maculatus, Leporellus vittatus, Prochilodus costatus, conhecidos respectivamente como mandi-amarelo, piau e curimba. O
primeiro é um peixe da ordem siluriformes, e os demais da ordem dos characiformes, comumente encontrados nos rios
brasileiros. Dessa forma, este trabalho se beneficiou desses dados para realizar comparações entre as velocidades do
escoamento no STP e as velocidades limítrofes dos peixes.
A Tabela 1 mostra os valores característicos de velocidade limite de nado das três espécies citadas. Observa-se que as
velocidades características são classificadas em crítica, prolongada e de explosão (Santos, 2007). A velocidade de explosão é
aquela em que o peixe consegue manter por alguns segundos e está associada com a capacidade de atravessar o escoamento
nas ranhuras, onde a velocidade do escoamento é máxima. Portanto, esta velocidade foi comparada com as velocidades do
escoamento na região das ranhuras verticais dos tanques 2, 6 e 9. As velocidades chamadas de prolongada e crítica são
velocidades médias que o peixe consegue desempenhar ao longo de um trajeto. Estas foram comparadas com a velocidade na
região do escoamento principal no STP, medida em um plano horizontal no tanque 6.

Resultados e discussões

As medições da profundidade da água mostraram uma maior estabilidade do escoamento nos tanques 4, 5 e 6, localizados
na região central do STP, onde ocorreu uma variação da profundidade média na ordem de 6,25 a 7,0 mm entre os tanques, em
valores de modelo. Um comportamento mais uniforme nessa região era esperado, uma vez que nos tanques iniciais e finais o
escoamento sofre influências das condições de contorno de entrada e saída do canal, respectivamente.
Com base nas profundidades medidas do escoamento, calculou-se a dissipação de potência por unidade de volume para
cada tanque, para os dois valores de declividades no canal, mediante uso da Equação 1. Os resultados obtidos foram
convertidos para valores de protótipo e comparados com o valor limite de 0,191 kW/m3 proposto por Bell (1973). A Figura 2
ilustra a comparação da taxa de dissipação de energia por unidade de volume para todos os tanques do STP, numerados de 1 a
10 no sentido do escoamento, para as declividades i=1,5% e 3%.

Figura 2: Taxa de dissipação de energia por unidade de volume para os tanques 1 a 10 para i=1,5% e 3%.

Observou-se que a taxa de dissipação de energia foi superior ao valor limite proposto por Bell (1973), encontrando-se
dentro do limite apenas as medidas dos tanques 2 e 3 para i = 1,5% e dos tanques 1 e 2 para i = 3,0%. Notou-se também um
aumento significativo da dissipação de potência no trecho final do canal, entre os tanques 8 a 10. É provável que este
comportamento anômalo esteja relacionado com um pequeno desnível existente entre o final do modelo do STP e o fundo do
canal, o qual induziu a uma diminuição abrupta da profundidade na saída, com consequente aumento na taxa de energia
dissipada nesta região.

243
Obedecer ao limite de 0,191 kW/m3 é critério fundamental para que os peixes possam utilizar o sistema sem sofrer
desorientação e fadiga, visto que na situação de muita energia dissipada o peixe necessita de grande esforço para realizar a
transposição para montante. Portanto, consideradas as características do regime hidráulico adotadas nos experimentos (vazão e
declividades), o STP em estudo não seria totalmente adequado para uma eventual aplicação prática.
Os módulos de velocidade foram medidos com um tubo de Pitot, mediante uso da Equação 2, na entrada das ranhuras dos
tanques 2, 6 e 9, localizadas nas regiões inicial, central e final da estrutura do STP, respectivamente. Foram realizadas
medições ao longo de verticais nas ranhuras, espaçadas em um intervalo de 5 mm, obtendo-se os perfis da velocidade na seção
transversal destas ranhuras. Com base nestes perfis, a velocidade média da vertical foi calculada para as ranhuras dos tanques
2, 6 e 9. A partir da escala do modelo e com uso do critério de semelhança de Froude, calcularam-se os valores de protótipo
das velocidades médias nas ranhuras. A Tabela 2 mostra os valores de velocidade média medidos no modelo e calculados para
o protótipo, para as ranhuras dos tanques 2, 6 e 9, para as declividades de 1,5 e 3%.

Tabela 2: Velocidades médias medidas no modelo e calculadas para o protótipo na entrada das ranhuras dos tanques
2,6 e 9 para as declividades i= 1,5 e 3%.

i = 1,5% i = 3,0%
Velocidade média na ranhura (m/s) Velocidade média na ranhura (m/s)
Tanque modelo protótipo Tanque modelo protótipo

2 0,41 2,61 2 0,43 2,73

6 0,47 2,96 6 0,65 4,09

9 0,57 3,61 9 0,72 4,57

Os resultados obtidos das velocidades médias, para os valores de protótipo, foram comparados com os dados da
ictiofauna mostrados na Tabela 1. O escoamento nas ranhuras requer que o peixe desempenhe velocidades elevadas, portanto,
as comparações foram realizadas com as velocidades características de explosão das espécies. Observou-se que o maior valor
de velocidade das espécies estudadas foi de 1,78 m/s, correspondente a velocidade de explosão do curimba. Este valor é
inferior a todas as velocidades médias calculadas para o protótipo, o que leva a crer que as três espécies de peixes estudadas
teriam dificuldades na transposição do escoamento de jusante para montante nas regiões das ranhuras, considerando as
condições hidráulicas simuladas no experimento. Cabe ressaltar que os rios brasileiros apresentam uma ictiofauna bastante
diversa, de modo que as comparações realizadas aqui não representam um comportamento universal, visto que foram usadas
somente três espécies como base do estudo.
Medições de velocidade também foram realizadas na chamada região principal do escoamento, que compreende o tanque
central do STP de número 6, em um plano horizontal a uma profundidade de 60 mm do fundo do canal. As velocidades foram
medidas em um intervalo de 5 mm na direção longitudinal do escoamento, do início ao fim do tanque 6. Os resultados
mostraram que as velocidades nessa região são da ordem de 4 m/s para a declividade de 3%, e variam de 1 a 3 m/s, para a
declividade de 1,5% (sendo todos valores de protótipo). Comparando esses resultados com os dados da ictiofauna da Tabela 1,
percebe-se que as velocidades na região principal de escoamento superam em quase todos os pontos as velocidades
prolongadas das espécies em estudo, que variam de 0,95 a 1,6 m/s. Portanto, essa análise também indica que os peixes teriam
dificuldades em transpor o escoamento de jusante para montante, dadas as condições hidráulicas simuladas. A Figura 3 ilustra
as velocidades medidas e convertidas em valores de protótipo, para uma linha longitudinal na região de escoamento principal
do tanque 6, para declividades de 1,5 e 3%.

244
Figura 3: Velocidades na região central do escoamento, na direção longitudinal do tanque 6, para i=1,5% e 3%.

A visualização do escoamento também foi realizada com base no tanque 6, mediante a injeção de um corante e posterior
filmagem de seu comportamento na superfície da água. Esses registros mostraram a formação de uma região de recirculação de
água e uma região de escoamento principal. Constatou-se a formação de um vórtice com tamanho médio de 80 mm na
dimensão longitudinal e 44 mm na dimensão transversal. Convertendo essas dimensões para valores de protótipo, estima-se
vórtices médios de 3,2 m de comprimento por 1,76 m de largura. Ao analisar o comprimento médio das espécies estudadas por
Santos (2007), onde é relatado ser inferior a 30 cm, percebe-se que a região de recirculação seria adequada para a utilização
prática do STP, visto que esta possibilitaria espaço suficiente para o descanso dos peixes.

Considerações finais

Os resultados desse trabalho experimental, em modelo reduzido na escala 1:40, mostraram que os principais parâmetros
hidráulicos do escoamento não são favoráveis para uma eventual utilização de um protótipo do STP com a geometria adotada e
nas condições hidráulicas simuladas. Os valores de taxa de dissipação de energia por unidade de volume permitiram concluir
que a estrutura dissipa energia em excesso, uma vez que o limite proposto de 0,191 kW/m3 foi ultrapassado em quase todos os
tanques estudados. Uma forma de atenuar esse problema seria modificar a geometria dos tanques, de modo a diminuir a
dimensão longitudinal em relação a transversal.
Também se observou velocidades médias muito elevadas nas regiões das ranhuras 2, 6 e 9, quando comparadas as
velocidades de explosão das espécies estudadas, o que dificultaria o transporte dos peixes a montante. De forma semelhante, as
velocidades obtidas na região central do STP, em um plano horizontal no tanque 6, também superaram as velocidades
características prolongadas das espécies base, sugerindo uma inadequação do uso desse STP nas condições hidráulicas
testadas. A visualização do escoamento permitiu concluir que os vórtices formados nos tanques possuem dimensões adequadas
para proporcionar regiões de descanso para as espécies de peixes estudadas.
Este estudo utilizou dados de ictiofauna referentes a apenas três espécies de peixes, que não é representativa da enorme
diversidade encontrada nos rios brasileiros. Entretanto, os dados utilizados foram considerados suficientes para atingir os
objetivos propostos no escopo deste trabalho. Cabe observar também que existe uma escassez de informações disponíveis na
literatura especializada em ictiofauna.
Em estudos futuros recomenda-se que os experimentos sejam realizados para diferentes valores de vazão, com o objetivo
de observar a influência da variação da vazão no escoamento, estabelecendo assim uma vazão ótima para a geometria do STP.
Outra sugestão seria a construção de um modelo com possibilidade de alteração das posições dos anteparos durante o estudo,
para que assim pudesse ser analisada a otimização da configuração geométrica do modelo. Por fim, aconselha-se realizar o
estudo para inclinações maiores do que as utilizadas do presente trabalho, de modo que estrutura de transposição não necessite
de dimensões longitudinais amplas, o que facilitaria o transporte dos peixes nas duas direções.

Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer a CAPES, CNPq e a Fundação Araucária e a Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, campus Curitiba (UTFPR-CT).

245
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Transposição de Peixes do tipo Ranhura Vertical. In: XXVI Congresso Latino-americano de Hidráulica, 2014.

246
5SSS130
REMOÇÃO DO CORANTE ÁCIDO AZUL COLORNYLON A-R COM
ADSORVENTES OBTIDOS DE CASCA DE BANANA PRATA
Gabrieli Coelho de Souza Heimoski Ribeiro1, Thiago Alves Barbosa2, Catia Rosana Lange de Aguiar3
1Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: gabiheimoski@hotmail.com ; 2Universidade Federal de Santa
Catarina, e-mail: thiagobjgab@gmail.com ; 3Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail:
catia.lange@ufsc.br

Palavras-chave: adsorção; efluente têxtil; corante ácido.

Resumo
A indústria têxtil, segunda maior indústria transformadora do Brasil, é conhecida pela sua importância econômica, mas
também pelos impactos ambientais que pode causar ao meio ambiente caso não hajam tratamentos de efluentes adequados,
visto seu volume de efluentes gerados, por meio de processos de beneficiamento, que envolvem preparação, tingimento e
acabamentos. O efluente têxtil vem sendo muito bem tratados, porém, sempre há uma parcela de corante residual, que pode
provocar danos ou impedir o reuso desta água. Este estudo avaliou a remoção do corante ácido azul Colornylon A-R por meio
de um processo de adsorção com casca de banana triturada (CB) e seca a 60, 100 e 200 °C. Avaliando os resultados obtidos,
percebeu-se que a CB possui potencial de remoção do corante ácido azul de solução aquosa. A melhor eficiência obtida foi
com a CB seca a 100 °C em pH 5,0, que também mostrou que este processo de adsorção é regido pelos modelos cinético de
pseudo-segunda ordem e isotérmico de Freundlich, com ajuste muito próximo a 100%. Ao observar a superfície do adsorvente
com auxílio de microscopia eletrônica de varredura percebeu-se que o adsorvente apresenta poros que corroboram com o
processo de adsorção. A análise feita com o auxílio de FTIR também indicou a presença de grupos carbonila e hidroxila. Estes
estão presentes em toda estrutura do carboidrato da casca de banana na forma de celulose, hemicelulose, lignina e derivados. O
estudo demonstrou excelentes resultados e indicam que há grande potencialidade para estudos futuros, com diferentes classes
de corantes, elementos cromóforos, misturas de corantes e auxiliares presentes nos processos de beneficiamento têxtil, que
podem causar prejuízos ambientais mas não podem ser excluídos dos processos.

Summary
The textile industry, the second largest manufacturing industry in Brazil, is known for its economic importance, but also for the
environmental impacts that can cause the environment if there are no appropriate effluent treatments, given its volume of
effluents generated through processing processes, which involve preparation, dyeing and finishing. Textile effluents have been
treated very well, but there is always a portion of residual dye that can cause damage or prevent the reuse of this water. This
study evaluated the removal of Colornylon A-R blue acid dye by means of an adsorption process with shredded banana peel
(CB) and dried at 60, 100 and 200 ° C. Evaluating the obtained results, it was noticed that the CB has potential to remove the
blue acid dye from aqueous solution. The best efficiency obtained was with dry CB at 100 ° C at pH 5.0, which also showed
that this adsorption process is governed by Freunlich's pseudo-second order and isothermal kinetic models, with adjustment
very close to 100%. By observing the surface of the adsorbent with the aid of scanning electron microscopy, it was noticed that
the adsorbent has pores that corroborate the adsorption process. FTIR analysis also indicated the presence of carbonyl and
hydroxyl groups. These are present throughout the carbohydrate structure of banana peel in the form of cellulose,
hemicellulose, lignin and derivatives. The study has shown excellent results and indicates that there is great potential for future
studies, with different dye classes, chromophor elements, dye mixtures and auxiliaries present in textile processing processes,
which can cause environmental damage but cannot be excluded from the processes.

Introdução

Nos últimos anos as questões ambientais tem se tornado um assunto de grande importância para a comunidade científica. A
reflexão sobre as práticas industriais, em um cenário marcado por diversas formas de contaminação do meio ambiente, inclui
desenvolvimento de novas tecnologias sustentáveis proveniente de recursos naturais, garantindo a qualidade de vida das
gerações futuras. A sustentabilidade pode ser entendida como a capacidade de atender as necessidades atuais sem comprometer
a capacidade de gerações futuras atenderem suas próprias necessidades (BELTRAME et al., 2016).

247
O efluente gerado pelas indústrias, e despejados em recursos hídricos, está associado ao termo de sustentabilidade. A
contaminação da água, se dá no despejo de efluentes em esgoto. A indústria têxtil, consome um grande volume de água nos
seus processos de beneficiamento, gerando efluentes contaminados com corantes. A consequência do descarte inadequado
desses efluentes pode levar a contaminação de solos, de recursos hídricos e afetar a vida aquática, uma vez que o efluente têxtil
possui forte coloração e diferentes elementos químicos que compõem o corante.

No entanto, fica claro que a contaminação de águas naturais tem sido um dos grandes problemas da sociedade moderna. A
economia de água em processos industriais tem ganhado uma grande atenção devido ao valor agregado que tem sido atribuído
a este bem, por meio de princípios como consumidor pagador e poluidor pagador recentemente incorporados na legislação
(KUNZ et al., 2002). Devido à preocupação com o meio ambiente tem se buscado alternativas sustentáveis para tratar os
efluentes para sua reutilização nas atividades industriais ou mesmo devolver ao meio ambiente.

Das variadas formas de tratar os efluentes, a adsorção é um processo que tem apresentado eficiência satisfatória. Desta forma,
a adsorção tornou-se então um dos métodos mais populares para remover poluentes encontrado em resíduos líquidos e gasosos,
ganhando importância como um processo de separação e purificação nas últimas décadas (CORDEIRO et al., 2018). É um
fenômeno de transferência de massa, a qual estuda a habilidade da superfície sólida e a sua interação, de natureza química e
física, com substâncias existentes em fluidos líquidos, no qual possibilita a separação de componentes existente desses fluidos.

Os componentes adsorvidos concentram-se sobre a superfície externa, e quanto maior for esta superfície externa por unidade
de massa sólida, mais favorável será a adsorção (NASCIMENTO, et al., 2014). As principais vantagens do uso dessa técnica
são flexibilidade e simplicidade de modelagem e operação do sistema, resistência aos contaminantes tóxicos, simples processo
de separação, além da possibilidade de aplicação de adsorventes alternativos. Atualmente, pesquisadores têm estudado
adsorventes efetivos e de baixo custo com elevadas capacidades de adsorção na remoção de poluentes orgânicos (SANTOS,
2013). O tamanho e a temperatura de secagem dos adsorventes usados no tratamento de efluentes possuem vários significados
no processo. Há diversos estudos apresentando o efeito dessas variáveis no método da adsorção de corantes em vários
adsorventes.

Corantes usados na indústria têxtil para tingimento de tecidos, são compostos que correspondem dois componentes: o grupo
cromóforo, responsável pela cor do corante, e o grupo funcional, que se liga às fibras do tecido, também conhecido como
grupo solubilizante ou substantivo. Há uma grande variedade de corantes têxteis, e que são classificados pela sua natureza
química ou em termos de sua aplicação ao tipo de fibra (SOARES, 1998). Os corantes ácidos correspondem ao grupo de
corantes aniônicos portadores de um a três grupos sulfônicos. Este grupo substituinte ionizável torna o corante solúvel em
água, e têm vital importância na interação do corante e fibras naturais e sintéticas, como lã e poliamida, através de ligações
iônicas (GUARATINI, et al., 2000).

Considerando que nem toda a fração de corante empregada em um processo de tingimento é adsorvida pela fibra, pode-se
afirmar que este corante residual, principalmente em processamento de cores intensas, é descartado juntamente com o efluente
têxtil e é necessário que seja removido por meio de processos convencionais ou avançados. O processo de adsorção é bastante
estudado e empregado na remoção dos corantes residuais e este estudo objetiva o potencial de uso de cascas de banana como
adsorvente para remoção de corante ácido de efluentes têxteis.

Materiais e Métodos

OBTENÇÃO DOS ADSORVENTES

Para a obtenção dos adsorventes utilizados no presente estudo, foram coletadas amostras de casca de banana (CB), do tipo
prata, adquiridas no mercado do município de Blumenau. As amostras de casca de banana foram devidamente lavadas e
cortadas em pedaços de aproximadamente 3 x 3 cm e secas em estufa por 24 horas em temperatura de 60 °C. A seguir, as
amostras de casca de banana foram trituradas em moinho de facas da marca Solab. Alíquotas das amostras secas a 60 °C foram
introduzidas em estufa a 100 °C durante 2 horas, para obtenção dos adsorventes secos a 100°C e em forno mufla a 200 °C

248
durante 2 horas para obtenção dos adsorventes secos a 200°C. Ao final da obtenção dos adsorventes, todos foram
acondicionados em dessecador para posteriormente serem empregados nos processos de adsorção.

CARACTERIZAÇÃO
Granulometria

Para conhecer as dimensões do adsorvente de casca de banana, foi realizado um ensaio de análise granulométrica utilizando
um moinho de facas da marca Solab, com abertura de peneira de 2,00 mm. Os ensaios foram realizados no laboratório de
Processamento de Materiais (LPM) do curso de engenharia de materiais da UFSC Blumenau.

Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) acoplada a um espectro de energia dispersiva (EDS)

Através da Microscopia Eletrônica de Varredura é possível obter a microfotografia da estrutura física das amostras de carvão
analisadas, bem como a identificação qualitativa e quantitativa da composição química das amostras. Este ensaio foi realizado
no Laboratório Central de Microscopia Eletrônica - LCME da UFSC Florianópolis, utilizando um microscópio eletrônico de
varredura, equipado com EDS (Espectrometria de Energia Dispersiva de raios X), empregando-se o adsorvente de CB seco a
100 °C, por apresentar bons resultados de eficiência de adsorção.

Espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR)

Os diferentes carvões utilizados no estudo foram analisados por FTIR para identificar os grupos funcionais orgânicos
presentes. Esta análise FTIR foi realizada no equipamento espectrofotômetro de Infravermelho localizado no Laboratório de
Análise Térmica e Espectroscopia (LTE) do curso de Engenharia de Materiais da UFSC Blumenau.

PROCESSOS DE ADSORÇÃO

Eficiência de Remoção

Para a determinação da eficiência de adsorção, os testes foram efetuados em shaker, em temperatura ambiente aproximada de
25 °C. Os ensaios foram realizados em frascos de erlenmeyer de 250 mL, com 100 mL de solução sintética de corante,
elaborada a partir do corante ácido Azul Colornylon A-R, com concentração inicial de 30 mg/L. Para cada adsorvente foram
analisados três valores de pH, sendo eles 5, 7 e 9, que foram corrigidos com soluções de hidróxido de sódio e ácido acético.

Após o preparo e o ajuste de pH, 3 mL da solução inicial foram retiradas para análise. Em seguida, foram adicionados 3,0 g/L
de adsorvente na solução sintética que foi conduzida ao shaker por 24 horas, sob rotação aproximada de 80 rpm. Alíquotas da
solução final foram retiradas nos tempos de 12 e 24 horas, filtradas e analisadas. Todas as análises foram realizadas em
espectrofotômetro da marca Bel Photonics, modelo UV-M51, em comprimento de onda de 630 nm.
Os dados obtidos usando esta metodologia foram utilizados para determinar a eficiência de adsorção, comparando-os com a
solução inicial. A capacidade de adsorção dos adsorventes foi calculada aplicando as equações (1) e (2) que descrevem,
respectivamente, a concentração de corante no adsorvente e a eficiência de remoção do corante da solução inicial.

qe=[(Co-Ce)V]/m (1)

R%=[(Co-Cf)/Co] 100 (2)

Onde, qe = concentração de corante no adsorvente no equilíbrio (mg/g), Co = concentração inicial de corante em solução
(mg/L), Ce = concentração de corante na solução no equilíbrio (mg/L), V = volume em L, m = massa em g, Cf = concentração
final de corante na solução (mg/L), R = eficiência de remoção de corante (%).
Após a determinação do melhor resultado da eficiência de remoção do corante da solução, o adsorvente de CB seca a 100 °C
em pH 5 foi selecionado para determinar a cinética e a isoterma de adsorção, respectivamente.

Cinética de adsorção

Para a determinação da cinética de adsorção, foram realizados processos de adsorção que seguem a mesma metodologia
descrita anteriormente na eficiência de remoção. No entanto, para esse processo, alíquotas foram coletadas de hora em hora,
até que o ponto de equilíbrio fosse atingido, que foi observado em aproximadamente 8 horas. Para analisar a cinética de
adsorção, foram empregados os modelos cinéticos de pseudo-primeira ordem e pseudo-segunda ordem, de acordo com as
equações 3 e 4, respectivamente.

249
(3)

(4)

Onde, qe = concentração de corante no adsorvente no equilíbrio (mg/g), qt = concentração de corante no adsorvente no tempo t
(mg/g), t = tempo(h), k1 = constante de velocidade de adsorção (min-1), k2 = constante de velocidade de pseudo-segunda-
ordem (g mg-1 min-1).

Isoterma de adsorção

Para a determinação das isotermas, novamente os ensaios foram semelhantes ao da eficiência de remoção de corante. No
entanto, desta vez diferentes concentrações iniciais foram avaliadas, sendo elas 5, 10, 20 e 40 mg/L. O processo de adsorção
ocorreu durantes 4 horas, intervalo de tempo determinado pelos ensaios cinéticos. Foram aplicados os modelos das equações
da isoterma de Langmuir e da isoterma de Freundlich para cálculo das isotermas, conforme equações 5 e 6, respectivamente.

(5)

(6)

onde, qe = concentração de corante no adsorvente no equilíbrio (mg/g), qt = concentração de corante no adsorvente no tempo t
(mg/g), KL= constante de Langmuir, qm=. quantidade máxima de soluto adsorvido para a formação de uma monocamada
completa (mg/g), kf e nf = constantes de Freundlich.

Resultados e discussão

GRANULOMETRIA

Todos os adsorventes foram peneirados conforme descrito na metodologia, para conhecer o tamanho máximo das suas
partículas. A casca de banana foi peneirada ao final do próprio processo de trituração em moinho de facas da marca Solab, com
abertura de peneira 2,00 mm, onde todas as partículas utilizadas forma de dimensão menor ou igual a 2,00 mm.

MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV) ACOPLADO A UM ESPECTRO DE


ENERGIA DISPERSIVA (EDS)

A Figura 1 apresenta as fotomicrografias obtidas a partir da análise de microscopia eletrônica para o adsorvente CB
seco a 100 °C.

250
a b

c d
Figura 1: Fotomicrografia das partículas do adsorvente CB seca a 100 °C (a) com aumento de 500x, (b) com aumento
de 1.000x, (c) com aumento de 2.000x e (d) com aumento de 10.000x.

Na Figura 1, é possível observar diversos ângulos e ampliações do adsorvente que possibilitam identificar as suas
características. A superfície do adsorvente é predominantemente lisa, sem presença relevante de fissuras. Contém saliências,
reentrâncias e poros nitidamente delineados. Na análise complementar, utilizando EDS, foram observados picos de baixa
intensidade de C, O e N, inerentes à casca de banana.

ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO POR TRANSFORMADA DE FOURIER (FTIR)

A espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier foi empregada para verificar os grupos funcionais presentes na
amostra de casca de banana ativada em temperatura de 100 ºC. A figura 2 mostra o gráfico do espectro obtido com seus picos
apresentando os grupos funcionais presentes no adsorvente.

251
Figura 2: Espectroscopia de infravermelho do adsorvente casca de banana ativada a 100 °C.

A banda na região de 2967 cm-1 a 2843 cm-1 corresponde aos grupos funcionais CH-OH, -CH e -CH2. O pico na região de
1734 cm-1 pode ser atribuído à ligação C=O. A banda larga na região 2933 cm-1 a 2847 cm-1 é causada pelas vibrações C-H. A
frequência de grupos S=O próximo da banda 1000 cm-1 ou grupos O-H próximo a banda 1053 cm-1. O grupo éter pode ser
atribuído a bandas próximo de 1000 cm-1 a 800 cm-1. O grupo funcional C=O também foi encontrado em estudos realizados
por Boniolo (2008) e Yamaura (2008). A tabela 1 mostra os grupos funcionais identificados na amostra da casca de banana.

Tabela 1: grupos funcionais encontrados na amostra de casca de banana prata seca a 100 °C.
Banda de adsorção (cm-1 ) Grupo Funcional Função orgânica

2967 cm-1 a 2843 cm-1 CH-OH, -CH e -CH2 Alcanos alifáticos e álcoois vinílicos

1734 cm-1 C=O Aldeídos, ésteres e cetonas

2933 cm-1 a 2847 cm-1 C-H Alcanos alifáticos

1053 cm-1 C-H Alcanos alifáticos

Os principais grupos responsáveis pela adsorção de corantes, segundo Boniolo (2008), são grupos carbonila e hidroxila. Estes
estão presentes em toda estrutura de carboidrato da casca de banana na forma de celulose, hemicelulose, lignina e derivados,
que totalizam carga negativa favorável para fixação dos íons metálicos de carga positiva.

EFICIÊNCIA DE REMOÇÃO

Os resultados de eficiência de adsorção do corante ácido azul colornylon A-R com CB, secas nas temperaturas de 60, 100 e
200 °C, nos períodos de 12 e 24 horas, podem ser observados na Figura 3.

252
Figura 3: Eficiência de adsorção do corante ácido para adsorvente de casca de banana secos a 60, 100 e 200 °C.

Por meio da Figura 3, é possível observar que a diferença da eficiência de adsorção entre o período de 12 e 24 horas não é
importante, o que corrobora com um período de adsorção mais curto. O melhor resultado de remoção do corante foi com o
emprego da CB seca a 100 °C em pH 5, que chegou próximo a 70%. Os resultados de eficiência de adsorção foram próximos
em pH 5 e 7 porém piores quando o pH de adsorção foi alcalino. Com o emprego da CB seca a 200 °C, os resultados não
foram satisfatórios, sendo que esta temperatura de secagem não é adequada para este processo de adsorção, possivelmente
carbonizando e volatilizando elementos importantes para o processo de adsorção. Sugere-se efetuar o processo futuramente em
ambiente livre de oxigênio, evitando assim a carbonização da casca de banana.

CINÉTICA DE ADSORÇÃO

Para entender melhor o processo de adsorção, foi avaliada a cinética de adsorção do adsorvente com o melhor resultado de
eficiência de adsorção, com CB seca a 100 °C em pH 5. Foram verificados os ajustes aos modelos cinéticos de pseudo-
primeira ordem e pseudo-segunda ordem, que podem ser observados na Figura 4.

a b
Figura 4: Cinética de pseudo-primeira ordem (a) e pseudo-segunda ordem (b) da adsorção do corante ácido com CB
100 °C em pH 5.

253
Ao analisar os resultados dos ajustes dos modelos cinéticos às suas respectivas equações, observa-se que o processo de
adsorção foi regido pelo modelo de pseudo-segunda ordem, com um ajuste próximo a 100%, com R2 = 0,9983. O modelo
matemático da cinética de pseudo-segunda ordem considera que a etapa limitante do processo é a adsorção no sólido
envolvendo atrações eletrostáticas a partir da troca ou compartilhamento de elétrons entre o adsorvente e adsorvato.

ISOTERMAS DE ADSORÇÃO

Foi também avaliado qual o modelo de isoterma de adsorção que melhor se ajustou ao adsorvente de CB seco a 100 °C, em
processo de adsorção em pH 5,0. Os dados experimentais da variação de qe (mg/g) em função de Ce (mg/L) foram ajustados
pelos modelos de Langmuir e Freundlich. Os resultados podem ser vistos na figura 5.

a b
Figura 5: Isotermas de adsorção do corante ácido azul Colornylon A-R com CB seca a 100 °C, em pH 5; (a) Langmuir;
(b) Freundlich

Na figura 6, observa-se que o modelo de Freundlich se ajustou melhor para a adsorção do corante ácido com a casca de banana
apresentando um coeficiente de ajuste de 0,9775. A constante de Freundlich resultou em um valor de n = 0.437, o que indica
que a intensidade da adsorção não é favorável. A Isoterma de Freundlich descreve o equilíbrio em superfícies heterogêneas,
consequentemente não assume a capacidade de monocamada (CARVALHO et al. 2010). Esse fenômeno pode também ser
explicado por meio do conceito de fisissorção, que proporciona a formação de multicamadas.

Comentários finais

Com os resultados obtidos por meio deste estudo, é possível afirmar que a CB é um elemento que pode ser empregado com
adsorvente para remoção do corante ácido azul de efluentes têxteis. Os melhores resultados de obtidos foram com os
adsorventes secos a 60 e 100 °C. Sem maiores tratamentos, já foi possível uma eficiência de remoção do corante na ordem de
70%, o que representa um resultado positivo, principalmente quando são avaliadas possibilidades de reuso de efluentes e
mesmo a qualidade final quando estes são lançados nos corpos receptores, como rios e lagos. Os modelos cinético e isotérmico
que regem o processo de adsorção do corante ácido azul com a CB foram os modelos de pseudo-segunda ordem e Freundlich,
com ajuste próximo a 100%, o que pode explicar de forma segura como acontece o processo de adsorção. Também foi possível
identificar poros nos adsorventes por meio da análise de microscopia, o que corrobora com os resultados obtidos. Este estudo
ainda deve seguir com diferentes ativações do adsorvente, diferentes temperaturas de adsorção e novas metodologias, como
coluna de adsorção, por exemplo.

Agradecimentos
Os Autores agradecem ao CNPQ pela bolsa PIBIC e à UFSC pela disponibilização dos laboratórios para os ensaios e análises.

254
Referências Bibliográficas

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zeólita sintética. Química Nova.
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teóricos e aplicações ambientais. Biblioteca de Ciências e Tecnologia.
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contendo emulsões oleosas.
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CORDEIRO, J. L. C.. 2018. Purificação de efluentes contaminados pelo corante azul de metileno, utilizando a coroa do
abacaxi com superfície modificada. Anais Seminário de Iniciação Científica, n. 20.
BONIOLO, M. R. 2008. Biossorção de urânio nas cascas de banana. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

255
5SSS131
AGREGANDO VALOR A RESÍDUOS TÊXTEIS ATRAVÉS DE MÃO
DE OBRA QUALIFICADA E OCIOSA
Gabrielle Cristine Kratz1, Taynara Thaís Flohr2, Brenda Teresa Porto de Matos3, Grazyella Cristina
Oliveira de Aguiar4, Catia Rosana Lange de Aguiar5
1Universidade Federal de Santa Catarina – Campus Blumenau, Acadêmica. e-mail: gabrielleckratz@live.com;
2Universidade Federal de Santa Catarina – Campus Blumenau, Acadêmica. e-mail: tataflohr@gmail.com;
3Universidade Federal de Santa Catarina – Campus Blumenau, Professora. e-mail: brenda.matos@ufsc.br;
4Universidade Federal de Santa Catarina – Campus Blumenau, Professora. E-mail: grazyella.oliveira@ufsc.br;
5Universidade Federal de Santa Catarina – Campus Blumenau, Professora. e-mail: catia.lange@ufsc.br

Palavras-chave: resíduos têxteis; sustentabilidade; artesanato.

Resumo
Os materiais têxteis empregados nos mais diversos produtos, sejam de vestuário, decoração ou mesmo técnicos, em geral são
produzidos com fibras naturais e químicas, divididas em fibras sintéticas e artificiais. No caso das fibras sintéticas, o maior
volume produzido e comercializado ainda é o de fibras provenientes de recursos não renováveis, como o petróleo. De acordo
com os resultados obtidos por meios de outros estudos, as fibras naturais se degradam rapidamente em solo, enquanto as fibras
sintéticas, produzidas via polímeros oriundos do petróleo, apresentam degradação lenta, causando sérios danos ambientais, o
que justifica estudos que desenvolvem alternativas que corroboram para a minimização destes danos. Além da poluição gerada
pelo descarte incorreto de resíduos, há um alto índice de poluição oriundo dos processos de fabricação das indústrias têxteis,
que utilizam em larga escala matérias-primas extraídas da natureza e geram um elevado consumo de água e energia. De acordo
com estimativas, cerca de 30% dos tecidos são descartados ainda no processo de corte, ou seja, tecidos recém fabricados que
acabam sendo destinados para lixões ou aterros sanitários, causando um grande desperdício financeiro e uma poluição
ambiental decorrente de tecidos que ainda estão em boas condições para a geração de novos produtos. Tomando como base de
estudo tais impactos ambientais causados pela produção e descarte de têxteis, elaborou-se este projeto com o objetivo de
destinar corretamente esses resíduos por meio do aumento do ciclo de vida destes produtos, utilizando técnicas artesanais para
agregar valor ao que era resíduo, transformando-o em um novo produto que será utilizável novamente, auxiliando na
diminuição da extração de matéria-prima, bem como o descarte de resíduos em lixões e aterros sanitários. Obteve-se como
foco a utilização de matérias-primas oriundas dos processos de corte, sendo esta considerada uma matéria-prima de qualidade
de modo que agregue maior valor ao produto final produzido por técnicas artesanais. Para que possa ser atingido o objetivo
deste estudo, estão sendo desenvolvidas oficinas mediante um processo de interação social com uma comunidade de pessoas
que vivem em um lar de idosos, empregando, portanto, mão de obra ociosa na fabricação de artesanato com resíduos têxteis.
As oficinas também agregam para o desenvolvimento cognitivo dos idosos envolvidos, auxiliando na criatividade,
autoconfiança e na integração social dos mesmos. Deste modo, pode-se afirmar que, este estudo visa corroborar com o
conceito de sustentabilidade, que trabalha o tripé economia, ambiente e sociedade. Produtos, como almofadas, porta-copos e
jogos americanos, já foram confeccionados para uso próprio, incentivando o correto destino dos resíduos têxteis.

INTRODUÇÃO

Os têxteis estão presentes no nosso dia a dia, por meio de aplicações diversas, tais como vestuário, cama, mesa, banho e
decoração, além de usos técnicos; assim, são muito importantes. De acordo com cada aplicação, o ciclo de vida destes
materiais é variável, e, quando não há políticas de destino de resíduos sólidos ou mesmo de educação ambiental, o seu descarte
após o uso pode resultar em impactos ambientais significativos. A indústria têxtil, principalmente, em paralelo com a indústria
do vestuário, são grandes responsáveis pela economia mundial e determinantes de hábitos e comportamentos de consumo na
sociedade. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, em 2017 foi produzido cerca de 1,3 milhão de
toneladas de têxteis no Brasil (ABIT, 2018); com base nessa perceptível produção desenfreada, pode-se afirmar que a indústria
têxtil segue um modelo econômico de produção linear: “extrair, transformar e descartar” (AMARAL, 2018). Este modelo
econômico teve seu início em 1970 devido à crise do petróleo, após a percepção da necessidade de um novo planejamento
estratégico para as indústrias do setor têxtil, chamado de movimento fast fashion, que introduziu um novo conceito de
consumo para o crescimento econômico e trouxe grandes impactos ambientais (LEGNAIOLI, 2019).

256
O conceito fast fashion é um modelo de vendas que visa atender as tendências rotineiras do mercado, deste modo, caracteriza-
se pela rápida produção, consumo e, também, rápido descarte, devido à necessidade de manter-se sempre em tendências atuais.
Este modelo auxiliou para que houvesse a acessibilidade da moda, pois, em virtude da produção em larga escala, os preços são
mais baixos e acessíveis, porém a alta produção causa impactos negativos no meio ambiente, uma vez que, com o consumo
acelerado, o descarte de resíduos têxteis também aumenta (ESTEVÃO, 2019). Além da contaminação propiciada pelos
descartes incorretos dos resíduos têxteis, a indústria têxtil gera um alto índice de poluição ao longo da sua cadeia produtiva,
devido à utilização em larga escala de matérias-primas extraídas da natureza, desencadeando, assim, perturbações ao
ecossistema, elevado consumo e poluição de água, consumo de energia e emissões atmosféricas de poluentes. Com base nesses
fatores, a indústria têxtil está no segundo lugar no ranking das mais poluentes, perdendo apenas para a indústria do petróleo
(MENEGUELLI, 2017).

De acordo com a Fundação Ellen MacArthur, numa perspectiva mundial, aproximadamente 2.625 kg de roupas são queimadas
ou enviadas para aterros a cada segundo, isso é equivalente a 8.782.000.000 kg de roupas descartadas anualmente
(REICHART; DREW, 2019). No Brasil, há cerca de 32 mil empresas têxteis; correlacionando a produção com a população em
2014 (aproximadamente 204 milhões de pessoas), o consumo por pessoa foi de 10,3 quilos. Deste total de consumo anual, 170
mil toneladas acabam tornando-se resíduos têxteis, e 80% disto acabam não sendo reaproveitados e nem reciclados, sendo
descartados em lixões ou em aterros sanitários, causando assim um retardo para o desenvolvimento sustentável, o qual poderia
estar fornecendo matéria-prima para outros fins e gerando rendas (AMARAL, 2018). Fundamentados nessas informações,
percebe-se a necessidade crescente do incentivo a práticas sustentáveis, para que ocorra a minimização de impactos
ambientais, estes que são causados pelo consumo descontrolado e descarte inadequado, e a maximização econômica através da
diminuição de extração de recursos naturais, gerando benefícios para a sociedade.

Torna-se cada vez mais importante o reconhecimento de que os recursos naturais são finitos e de que nós dependemos deles
para a nossa sobrevivência humana, deste modo, estes devem ser utilizados com qualidade, e não em quantidade (WWF-
BRASIL). Neste âmbito, emerge a adequação do desenvolvimento sustentável, que, de acordo com as Nações Unidas, pode-se
definir como “o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, garantindo a capacidade de atender as
necessidades das futuras gerações, é o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.” A sustentabilidade também
é conhecida como um tripé formado pelo que é considerado ecologicamente correto, economicamente viável e socialmente
responsável. Deste modo, afirma-se que, atualmente, é extremamente importante obter uma gestão sustentável, analisar um
produto como um todo, ou seja, analisar desde o seu processo até a obtenção do produto final, buscando verificar a
possibilidade de recuperação ou reciclagem do mesmo. Tal análise, além de averiguar possíveis diminuições de poluição,
acarreta também em redução de custos, o que é bastante benéfico, pois se sabe que, para a indústria, é imprescindível reduzir o
gasto de energia e de água utilizados impropriamente, reduzir a utilização de aterros sanitários e, principalmente, a exploração
dos recursos naturais, o que acarreta menores custos industriais e diminuição de impactos ambientais (AMARAL, 2018).

Com a análise de processo de acordo com a gestão sustentável, pode-se afirmar que, além da preocupação com o consumo e o
descarte adequado, é de extrema importância que a escolha das matérias-primas a serem empregadas no decorrer do processo
têxtil deve priorizar as que irão gerar menor impacto ao meio ambiente, corroborando, assim, com uma política compatível
com a ideia de sustentabilidade.

Na indústria têxtil, pode-se utilizar como exemplo de matérias-primas o poliéster e o algodão, que, no contexto atual, são as
fibras mais comumente empregadas na produção de tecidos (AMARAL, 2018). Elas provém de fontes diferentes e são
classificadas como sintéticas e naturais, respectivamente. O tempo de decomposição das fibras sintéticas é muito longo; em
números, a fibra de poliéster leva mais de 100 anos para se decompor, é um tempo extremamente elevado para ser absorvido
pela natureza, colaborando, pois, com a escassez dos recursos naturais. As fibras naturais são menos poluidoras em relação a
este processo de decomposição, pois, por serem biodegradáveis, levam menos tempo para se decomporem (AMARAL, 2018).
Porém, fibras sintéticas, muitas vezes, possuem um custo de produção mais baixo, contribuindo para uma produção em massa,
gerando, entretanto, um grande número de resíduos.

Com base no desenvolvimento sustentável e para manter um ecossistema harmonioso, considera-se ideal a implementação de
um processo cíclico, dando opções para que tudo que venha a ser retirado da natureza volte a ela sem prejudicá-la,
corroborando com a Economia Circular, concebida como a utilização de resíduos como insumos para a produção de novos
produtos (ECYCLE, 2019). Haja vista a importância do estudo dessa problemática, o objetivo deste projeto reside na
minimização de impactos ambientais através do aumento do ciclo de vida de substratos têxteis, utilizando mão de obra
qualificada e ociosa, em parceria com um lar de idosos, para a fabricação de artesanatos que serão utilizados pelo próprio lar.
Deste modo, ao se realizar este projeto, contribui-se também para que ocorra uma interação social, através de oficinas com essa
comunidade envolvida, fortalecendo o tripé da sustentabilidade: economia, ambiente e sociedade, além de conscientizar os
envolvidos sobre o correto destino dos resíduos têxteis.

257
OBJETIVO

Promover atividades de fabricação de artesanatos com idosos, moradores de um lar de repouso, por meio de técnicas que
aumentam o ciclo de vida de substratos têxteis, bem como conscientizar os envolvidos sobre os impactos que os resíduos
sólidos têxteis podem causar ao meio ambiente.

METODOLOGIA

Levantamento de Instituições

Segundo as novas diretrizes nacionais da graduação em Engenharia, o engenheiro a ser formado deverá ter uma atitude
cooperativa, dialógica e interacionista, dotado de conhecimentos técnico-científicos e sociotécnicos que o capacitem à
resolução de problemas, considerando os aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
O Centro de Blumenau, da Universidade Federal de Santa Catarina, foi criado sob essa perspectiva, com o intuito de propiciar
aos futuros engenheiros perceber as interações da engenharia com o meio sociocultural e a complexidade das relações da
tecnologia e da ciência com outras dimensões da vida humana associada.
Ao se propor a formar profissionais atentos às situações do seu entorno, que trabalhem democraticamente e que impulsionem o
desenvolvimento regional inclusivo, identificando problemas e transformando-os em soluções inovadoras, viáveis e
sustentáveis, os projetos de extensão tornaram-se ferramentas importantes para proporcionar aos acadêmicos a aquisição dessas
competências. Isso porque tais projetos potencializam a familiarização com a realidade local e a interação efetiva com a
comunidade, setores produtivos e governamentais.
Por esse motivo, nesta etapa do projeto foram elencadas, por meio de internet, as instituições que abrigam idosos no município
de Blumenau - SC, para o desenvolvimento da ação de extensão. Ao se efetuar este levantamento, uma instituição mostrou-se
interessada em aplicar o projeto, e, a partir deste aceite, foi então desenvolvido um processo de interação social com a direção,
para que os envolvidos pudessem conhecer e articular-se a toda a rede sociotécnica.

Coleta de resíduos têxteis

A região do Vale do Itajaí, onde está localizada a cidade de Blumenau, é considerada o segundo maior polo têxtil e de
confecção do país, abrigando um grande número de indústrias têxteis, dos mais diversos segmentos.
O contato com empresas do segmento têxtil/confecção foi realizado com algumas empresas da região de Blumenau por meio
de ofício, onde se questionou a possibilidade de doação de resíduos de confecção, e uma empresa respondeu ao
questionamento. Os resíduos sólidos foram fornecidos por uma indústria têxtil, fabricante de artigos de cama, mesa e banho,
contatada pela equipe de trabalho, antes do início das oficinas. Os materiais obtidos foram retalhos em tecido plano, malha e
enchimento de travesseiros, além de fios de meias que foram recebidos de uma empresa de meias da região, fazendo-se, assim,
um mix de fibras de poliéster e resíduos de meias, conforme a Figura 1.

Figura 1: Mix de fibras de poliéster e resíduos de meias

Apresentação das atividades aos responsáveis pelo lar de repouso

Para dar início ao projeto, agendou-se uma visita ao lar de repouso para a equipe conhecer a instituição e apresentar as
atividades planejadas aos responsáveis pelo lar. Para a apresentação, foram utilizados slides com a explicação sobre fibras,
dados de degradação de materiais têxteis e o objetivo do projeto, tal como as ideias de artesanato que poderiam ser realizadas

258
junto aos idosos. Ao apresentar as ideias de artesanato, foi aberto um diálogo com os responsáveis e gestores do lar, elencadas
sugestões do que seria ideal e útil para os envolvidos e, a partir disto, iniciou-se o planejamento das oficinas.

Aplicação de oficinas de artesanato para os idosos

Com periodicidade quinzenal, as oficinas acontecem, pois o projeto ainda está em andamento, no período vespertino, com
cerca de 10 idosos participantes, além de colaboradores da instituição para auxiliarem no desenvolvimento das atividades,
junto às duas alunas extensionistas. Durante os trabalhos, estão sendo utilizados materiais como: resíduos de tecidos diversos,
enchimento de travesseiro e fios de meia, linhas, agulhas, canetas de tecido, aviamentos, tesouras e colas variadas.
Para a execução da parte prática foi, inicialmente, feito um levantamento de propostas de produtos a serem confeccionados,
assim, após a aprovação das mesmas, iniciou-se o processo de confecção das peças, com recorte de tecidos e elaboração da
base do artesanato na universidade, pois serviços que dependem de máquinas de costura são realizados previamente. Então, as
bases do artesanato e demais aviamentos foram entregues aos participantes para que realizassem sua montagem, com auxílio e
acompanhamento das alunas, conforme pode ser observado na Figura 2. Devido a dificuldades motoras dos idosos envolvidos,
decidiu-se que todos os artesanatos que necessitarem de agulhas ou tesouras serão realizados prévia ou posteriormente à
oficina, conforme as etapas de confecção.

Figura 2: Execução das atividades práticas

As peças confeccionadas até o momento foram: porta-copos, almofadas diversas e jogo-americano, com objetivos de uso
próprio ou para que venham a ser presenteados a familiares ou amigos dos idosos envolvidos com o projeto. Como este é um
projeto que ainda está sendo desenvolvido, pretende-se ainda, no decorrer dos próximos encontros, realizar a confecção de
babadores e necessaires, todos a pedido dos participantes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os responsáveis demonstraram interesse pelo projeto, por ser também uma oportunidade de interação e até mesmo de
aprendizado para os moradores do lar, compreendendo que trabalhos manuais venham auxiliar no desenvolvimento cognitivo
dos idosos e reduzir o risco de demência (BERNARDES, 2010).
Por meio das práticas realizadas com frequência quinzenal, estão sendo desenvolvidas peças de artesanato com resíduos
sólidos têxteis, onde os idosos podem desenvolver habilidades manuais e praticar sua criatividade, aplicando técnicas de
customização.
Devido a problemas cognitivos e de coordenação, alguns idosos necessitam de maior auxílio, porém todos apresentaram
aptidão para desenvolver o artesanato proposto até então e ficaram satisfeitos com o resultado. Os que possuem maior
facilidade propõem-se a auxiliar aqueles com menor capacidade, proporcionando assim uma interação social.
Como em cada oficina há cerca de 10 idosos participantes, costuma-se realizar em média 10 peças por encontro. No primeiro,
foram montados porta-copos, que podem ser observados na Figura 3, onde inicialmente foram cortadas bases em um tecido
com maior resistência e confeccionados fuxicos em tecido plano. Desta forma, os participantes colaram os fuxicos na base e os
enfeitaram de acordo com sua criatividade. Esse encontro foi direcionado para que a equipe pudesse ter conhecimento das
habilidades de cada participante e analisar sua reação com atividades inovadoras, considerando a rotina do lar.

259
Figura 3: Porta copos realizados no 1º encontro

No segundo encontro foram montadas almofadas em formato de coração, conforme a Figura 4, trazendo-lhes a visão de afeto.
Nestas os participantes puderam fazer colagem de aviamentos e escrever seu nome, preenchendo-as, subsequentemente, com
fibra de poliéster e resíduos de meia.

(b)

(a)

Figura 4: Almofadas em formato de coração, participante com seu produto (a), almofadas finalizadas (b)

Foram também desenvolvidas almofadas de patchwork, apresentadas na Figura 5, com colagens de seus respectivos nomes e
também formas para customizar as mesmas, sendo estas posteriormente preenchidas com os resíduos de meias, misturadas com
fibras de enchimento de travesseiros, como pode ser observado na Figura 6.

Figura 5: Montagem das almofadas de patchwork

260
Figura 6: Preenchimento de almofadas

A resposta das oficinas vem sendo positiva, os participantes mostram-se motivados quando são iniciadas e, ao fim delas, ficam
entusiasmados pelo artesanato que produziram, que poderá ser para uso próprio ou para presentear entes queridos. Procura-se
trabalhar com os nomes de cada idoso, como pode ser observado na Figura 7, para que assim, em casos de Alzheimer, eles
possam relembrar a sua identidade. O trabalho manual auxilia no desenvolvimento motor e o trabalho criativo desenvolve o
desempenho intelectual e diminui o risco de demência, devido ao exercício mental requerido durante a realização dos
artesanatos (BERNARDES, 2010).

Figura 7: Almofadas decoradas com o nome dos idoso

Considerando os resultados de cada um dos encontros, observou-se que houve a reutilização de aproximadamente 0,5 kg de
tecido e 1,2 kg de enchimento, mix de resíduos de fibra de poliéster e resíduos de fios de meia, conforme a Figura 1. Assim,
com a realização destas atividades com 10 idosos, pôde-se verificar que foram empregados cerca de 0,17 kg de resíduos têxteis
por produtos feitos. Deste modo, considerando que o estado de Santa Catarina possui aproximadamente 300 municípios e
aferindo que cada um destes possui ao menos um lar de repouso com, em média, 10 idosos, se cada lar proporcionasse no
mínimo duas oficinas de reutilização de resíduos têxteis mensais, similarmente ao presente estudo, em um ano, estima-se que
seriam reutilizados em torno de 12.240 kg de resíduos, com participação de, no mínimo, 3.000 idosos em aproximadamente 24
encontros. Extrapolando esta ideia a nível nacional, cerca de 5.570 municípios atingidos, a marca chega a 227.256 kg de
resíduos reaproveitados ao ano e 55.700 idosos participantes. Ou seja, cerca de 220 toneladas de resíduos têxteis poderiam
estar sendo reaproveitadas na fabricação de artesanato com a valoração dos resíduos, e ganhos socioambientais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Blumenau, considerada um grande polo têxtil nacional, produz uma grande quantidade de resíduos têxteis e, considerando o
problema gerado a partir do descarte inapropriado destes, a orientação à população corrobora com o conceito de
sustentabilidade, demonstrada a importância da reutilização de rejeitos têxteis para conservação ambiental.
No Brasil, a estimativa de resíduos têxteis é de 170 mil toneladas/ano. Desse total, em torno de 20% são reaproveitadas na

261
produção. Técnicas de reciclagem e reutilização de resíduos têxteis, como artesanatos, reduzem a produção de excedentes, já
que o mesmo material retorna à cadeia produtiva. Assim, o resíduo, que antes não tinha serventia e era descartado, agora pode
ser reutilizado e reduz o impacto ambiental causado pela indústria têxtil.
O trabalho realizado demonstrou que é possível unir os três pilares economia, ambiente e sociedade, a partir da utilização de
mão de obra qualificada e ociosa e resíduos industriais cedidos por empresas têxteis da região. Realizando oficinas em uma
casa de repouso de Blumenau, foi possível agregar conhecimento aos envolvidos, tanto referente ao descarte de retalhos por
parte dos idosos, quanto o desenvolvimento social e cultural das alunas. Ao reduzir a produção de excedentes, existe um
impacto econômico que pode se tornar muito significativo se o trabalho for expandido a mais cidades e lares, visando que em
aproximadamente 4 encontros já foram foram reaproveitados cerca de 10 kg de resíduos em oficinas com aproximadamente 10
idosos.

AGRADECIMENTOS

Os Autores agradecem o Lar de Repouso “Amigos do Tempo” pela possibilidade do contato com seus moradores. A
Universidade Federal de Santa Catarina, pela bolsa de extensão Probolsa.

Referências Bibliográficas

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economy.Gest. Prod. v. 25, n. 3, p. 431-443,

BERNARDES, J. 2010. Maior atividade pode prevenir demência em idosos. Disponível em:
http://www.usp.br/agen/?p=32838. Acesso em: 26 jul. 2019.

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https://www.metropoles.com/colunas-blogs/ilca-maria-estevao/estudo-alerta-para-os-impactos-ambientais-do-fast-fashion.
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MENEGUELLI, G. 2017. Moda: A indústria que ocupa o 2º lugar no ranking das mais poluentes. Disponível em:
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REICHART, E.; DREW, D. 2019. Os impactos econômicos e sociais da Fast Fashion. Disponível em:
https://wribrasil.org.br/pt/blog/2019/02/os-impactos-economicos-e-sociais-da-fast-fashion. Acesso em: 26 jul.2019.

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https://www.wwf.org.br/participe/porque_participar/sustentabilidade/. Acesso em: 26 jul. 2019.

262
5SSS132
IMPRESSÃO BOTÂNICA DE SUBSTRATOS TÊXTEIS DE
ALGODÃO, POLIAMIDA E SEDA
Jean Carlos Fantoni¹, Anika Egelkamp2, Grazyella Cristina Oliveira de Aguiar3, Fernanda Steffens4, Catia Rosana
Lange de Aguiar5
1 Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: jeancfantoni@gmail.com; 2 Hochschule Niederrhein, University of
Applied Sciences, e-mail: anika.egelkamp@stud.hn.de; 3 Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail:
grazyella.oliveira@ufsc.br; 4 Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: fernanda.steffens@ufsc.br; 5 Universidade
Federal de Santa Catarina, e-mail: catia.lange@ufsc.br

Palavras-chave: Sustentabilidade, impressão botânica, pigmentos naturais.

Resumo
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma alternativa sustentável para o processo de estamparia no segmento têxtil, a
partir da utilização de pigmentos naturais presentes em cascas, folhas e flores. Isto justifica-se devido aos impactos ambientais
causados pelas indústrias que utilizam corantes e pigmentos sintéticos, fabricados a partir da utilização de compostos químicos,
que muitas vezes não são devidamente tratados durante o processo, gerando, entre outros, cores residuais. Assim, neste estudo,
dois substratos têxteis, malha e tecido plano, nas respectivas composições: 96% poliamida 4% elastano; 100% algodão e 100%
seda, foram impressos com elementos botânicos. Os pigmentos naturais utilizados são provenientes da casca de cebola, folha
de eucalipto e pétalas de rosas vermelhas. Para melhorar a impregnação e fixação dos pigmentos foi utilizado como mordente
sulfato de ferro (Fe ), onde o mesmo permaneceu em repouso durante três horas em uma solução de 2 g/L juntamente com
os pigmentos naturais. Os testes de solidez foram realizados de acordo com as normas ABNT NBR ISO 105-C06: 2010 e
ABNT NBR ISO 105-X12. Dentre os três pigmentos naturais utilizados, os melhores resultados foram obtidos a partir da casca
de cebola, que apresentou ótimos resultados de solidez a lavagem.

Abstract
This work aims to present a sustainable alternative to the printing process in the textile segment, from the use of natural
pigments present in peels, leaves and flowers. This is justified due to the environmental impacts caused by industries using
synthetic dyes and pigments, made from the use of chemical compounds, which are often not properly treated during the
process, generating, among others, residual colors. Thus, in this study, two textile substrates, knitted and woven fabric, in the
respective compositions: 96% polyamide 4% elastane; 100% cotton and 100% silk, were print using botanical elements.
Natural pigments used come from onion skin, eucalyptus leaf and red rose petals. To improve the impregnation and fixation of
the pigments was used as mordant iron sulphate (FeSO4), which it remained at rest for three hours in a solution of 2 g/L
together with the natural pigments. Fastness tests were performed according to the standards ISO 105-C06: 2010 and ISO 105-
X12. Among the three natural pigments used, the best results were obtained from onion peel, which presented excellent results
of fastness test.

Introdução

É remota a utilização de artigos têxteis com coloração a partir da utilização de corantes naturais. No Egito, o vestuário
dos faraós já possuía adornos coloridos. Além disso, presume-se que corantes naturais como o índigo sejam utilizados há mais
de 4000 anos, sendo por muitos considerado como o corante mais antigo que se tem notícia (MACHADO DE ARAÚJO,
2006). Entretanto, a partir da primeira revolução industrial ocorre a grande transformação da indústria química, onde os
corantes sintéticos começaram a ser produzidos, com o objetivo de melhorar a má solidez, a má reprodutibilidade e o
manchamento que eram obtidos utilizando corantes naturais.
Os substratos têxteis podem adquirir cor por meio de pigmentos ou corantes. O que os diferencia é que os pigmentos
são insolúveis e aplicados na superfície do substrato e fixados com uma resina sintética para o processo de estamparia. Já os
corantes são solúveis ou dispersos em água e se difundem no interior da fibra durante o processo de tingimento (SALLEM,
2010).
Para aplicar cor em um substrato têxtil, pode-se utilizar a tecnologia de tingimento ou estamparia. Tratando-se
especificamente da estamparia, refere-se a uma técnica caracterizada como um acabamento secundário, que consiste em colorir
uma determinada área através da impressão de uma padronagem (raporte) em um substrato, tinto ou não, por meio de
pigmentos contidos dentro de uma pasta base juntamente com solventes, sem a necessidade de lavagens após o processo

263
(FREITAS, 2002). As técnicas de estamparia convencional podem ser realizadas com auxílio de quadros ou cilindros, onde,
independente do método, ocorre a transferência do pigmento contido na pasta para o material têxtil. Com o auxílio de
temperatura, ocorre a evaporação do solvente, permanecendo no substrato somente a resina e o pigmento. A principal diferença
entre os métodos supracitados, é que no processo utilizando quadros a alimentação da pasta pode ser realizada manualmente, e
para ocorrer a impregnação é necessário passar uma barra de impressão de um lado para o outro sobre o raporte. No processo
utilizando cilindros, a pasta com o pigmento e a rasqueta encontram-se dentro dos mesmos. Durante o processo, os cilindros
rotacionam e a rasqueta impulsiona a pasta para seu exterior, resultando na impregnação do substrato (YAMANE, 2008).
De acordo com a investigação de Soares, os efluentes de uma estamparia podem gerar de 60 a 600 mg/L de Demanda
Bioquímica de Oxigênio (DBO) e são utilizados entre 41,8 a 250,6 litros de água para cada quilograma de substrato têxtil
processado (SOARES, 1998).
Na técnica de estamparia por meio de sublimação, o desenho é impresso em um papel apropriado, e a seguir, com o
auxílio de uma prensa térmica, a determinada temperatura e pressão, após o posicionamento do papel sobre o material têxtil,
ocorre a transferência do desenho. Este processo apresenta baixo custo e elevada flexibilização, gerando como descarte o papel
impregnado de resíduo (PIMENTEL, GUERRA E JÚNIOR, 2018).
Portanto, verifica-se que os impactos ambientais causados pelos processos de beneficiamento da indústria têxtil e a
utilização de pigmentos sintéticos contidos na pasta utilizada nos diferentes métodos de estampar podem se tornar muito
prejudiciais quando não devidamente tratados (DE AGUIAR, MISSNER e DE AGUIAR, 2018). Além disso, a conscientização
ambiental por parte da população tem se intensificado muito no decorrer dos anos, alterando, por exemplo, seus métodos de
consumo. Assim, tem se verificado que a sociedade está se informando e procurando por artigos produzidos através de
processos ecologicamente corretos e preferentemente sustentáveis (PIMENTEL, GUERRA E JÚNIOR, 2018.
Uma alternativa aos processos convencionais de estamparia é a impressão botânica, que é uma técnica de estamparia
sustentável, onde utilizam-se pigmentos naturais extraídos de flores, cascas, folhas e sementes, entre outros, permitindo o
desenvolvimento de padronagens exclusivas e complexas. A transferência do pigmento natural para o substrato têxtil acontece
por meio do contato entre ambos e a aplicação de calor. A coloração obtida irá depender da matéria-prima utilizada e do tipo
de substrato têxtil, resultando em tons e sobretons, com uma gama de cores finais que variam de vermelho, azul, lilás, verde,
amarelo e marrom, sem o uso de corantes ou pigmentos sintéticos. Para a obtenção de um resultado de melhor fixação da
impressão no substrato têxtil, normalmente recomenda-se o uso de mordentes, que são capazes de fortalecer as ligações
químicas entre o pigmento e o material a ser pigmentado. Os mordentes, em geral, são sais alcalinos e podem ser aplicados
diretamente no substrato têxtil ou no pigmento natural, antes, durante ou após o tingimento. A escolha do momento correto da
sua aplicação dependerá do resultado que se pretende alcançar no final do processo de estamparia (FERREIRA, 2018).
Ressalta-se que, a sua utilização irá implicar na alteração da cor do pigmento natural durante o processo de impressão para o
substrato têxtil (PIMENTEL, GUERRA e JÚNIOR, 2018).
Desta forma, este estudo tem como objetivo a realização da impressão botânica em dois substratos têxteis,
nomeadamente tecido de malha e tecido plano, de diferentes composições, com vistas a proporcionar um método de impressão
único e sustentável, e a respectiva avaliação de solidez a lavagem dos resultados obtidos.

Materiais e Métodos

Materiais
Foram utilizados dois substratos têxteis: tecido plano, na cor branca, composição 100% algodão e 100% seda; e
malha, na cor branca, composição 96% poliamida e 4% elastano. Como detergente foi empregado o auxiliar têxtil Tissocyl ON
BR. Os pigmentos naturais utilizados foram pétalas de rosas vermelhas da família Rosaceae, folhas de eucalipto da família
Myrtaceae e cascas de cebola da família das Liláceas, conforme ilustrado na Figura 1. O mordente empregado foi Sulfato de
Ferro (Fe .

Figura 1: Pigmentos naturais: (a) pétalas de rosas; (b) cascas de cebola; c) folhas de eucalipto.

264
Métodos
Preparação e aplicação do mordente
Para a aplicação do mordente de Fe sobre os pigmentos naturais foi utilizado 2,0 gramas do mordente dissolvidos
em um béquer com 1L de água deionizada, sob agitação.
A seguir foram retiradas alíquotas de 250 mL da solução de mordente e inseridos os pigmentos naturais, de forma a
ficarem totalmente submersos durante 3 horas, em temperatura ambiente, conforme observado na Figura 2.

Figura 2: Pigmentos naturais em solução de mordente: (a) cascas de cebola; (b) pétalas de rosas vermelhas; (c) folhas
de eucalipto.

Impressão botânica
Para a realização do processo de impressão botânica, os substratos têxteis foram submersos em um recipiente
contendo uma mistura de água e 2 g/L do detergente Tissocyl on BR durante 1 hora. Após este intervalo de tempo, os tecidos
foram lavados em água corrente. A seguir, o excesso de água foi removido e então foi aplicado sobre os substratos os
pigmentos naturais junto com o mordente. A disposição dos pigmentos naturais (cascas, flores e folhas) sobre os tecidos se deu
de forma aleatória, a fim de formar impressões criativas e únicas (Figura 3-a). Em seguida, o tecido foi dobrado (Figura 3-b).

Figura 3: Impressão botânica de tecido de algodão com cascas de cebola: (a) disposição das cascas sobre o tecido; (b)
“envelopamento” do pigmento natural.

Posteriormente, os tecidos foram enrolados em cilindros de alumínio e amarrados com barbante de algodão, com o
objetivo de aplicar pressão entre o substrato têxtil e o pigmento natural, conforme apresentado na Figura 4-a e Figura 4-b,
respectivamente.

265
Figura 4: Formação dos cilindros: (a) amarração com barbante; (b) cilindro finalizado.

Após a finalização dos cilindros, foi aquecido 1,35 L de água até a temperatura de 84 °C. Em seguida, os cilindros
foram inseridos na água aquecida, que foi levada ainda a fervura e mantida nesta temperatura durante 1 hora, como pode ser
observado na Figura 5.

Figura 5: Fervura dos cilindros.

Depois de 1 hora em fervura, os cilindros foram retirados da água, o barbante foi desenrolado e os pigmentos naturais
foram eliminados. Os tecidos foram lavados com água corrente e secos em temperatura ambiente.

Solidez a lavagem
Para avaliar a solidez das impressões botânicas, tanto a alteração, quanto a transferência de cor, foram realizadas
análises de solidez após a lavagem na temperatura de 40°C, conforme a norma ABNT NBR ISO 105-C06: 2010. As análises
ocorreram após 1, 5 e 10 lavações. Para a avaliação do resultado da solidez foi utilizado a escala de cinzas Marca James Heal,
cujas notas variam de 1 a 5, sendo “1” considerado péssimo, e “5” ótimo.

Solidez à fricção
As análises de solidez a fricção foram realizadas em equipamento destinado para este fim, da marca Kimak, conforme a
norma ABNT NBR ISO 105-X12. Esta análise tem por objetivo avaliar a resistência da cor e sua transferência para um tecido
testemunha, após um ciclo de fricções. Para a avaliação do resultado de solidez foi utilizado a escala de cinzas, cujas notas
variam entre 1 a 5.

Resultados e Discussão
As seguir são apresentados os resultados obtidos da impressão botânica realizados em tecido de malha e tecido plano,
utilizando como pigmento natural cascas de cebola, pétalas de rosas e folhas de eucalipto.

Impressão Botânica
A impressão botânica, por tratar-se de um processo manual e que depende exclusivamente do tipo de pigmento e da
maneira como este é disposto sobre o substrato, permite a obtenção de padronagens exclusivas. Após a realização do processo

266
de impressão botânica sobre as malhas e os tecidos planos, utilizando diferentes pigmentos naturais, obteve-se os mais diversos
efeitos. A Figura 6 ilustra os resultados obtidos, tanto para tecidos planos de algodão (Figura 6a-b), malhas de poliamida
(Figura 6c-d) e tecido de seda (Figura 6-e), variando o pigmento natural (casca de cebola, pétalas de rosas vermelhas e folhas
de eucalipto). O resultado foi a obtenção de padronagens singulares, conforme observado na Figura 6.

a b c d e
Figura 6: Impressão botânica: (a) pétalas de rosas em tecido de algodão; (b) folhas de eucalipto em tecido de algodão;
(c) pétalas de rosas em malha de poliamida; (d) cascas de cebola em malha de poliamida; (e) folhas de eucalipto em
tecido de seda.

Ao efetuar a análise visual dos tecidos após a impressão botânica, pode-se perceber que, utilizando o mesmo pigmento
natural, mas alterando a composição do substrato, os resultados obtidos são diferentes. Isto corrobora com o estudo realizado
por Pimentel, Guerra e Júnior (2018), onde afirma-se que a fixação dos corantes naturais está diretamente relacionada com a
natureza química da fibra têxtil que está sendo utilizada. Isto ocorre, por exemplo, com as amostras de algodão e a poliamida,
que quando impressas com as pétalas de rosa apresentaram resultados visuais diferentes, embora tenham sido impressos com o
mesmo elemento (Figura 6a e Figura 6c). O mesmo é observado para a impressão realizada com as folhas de eucalipto, seja em
tecido plano de algodão ou de seda (Figura 6b e Figura 6e), que também apresentam visualmente diferenças, apesar de
utilizado o mesmo pigmento.

Análise de solidez a lavagem


Após a realização das lavagens, as amostras foram avaliadas por meio de comparação em escala de cinza para a
determinação de notas de solidez a transferência. No que diz respeito a alteração de cor, como o efeito obtido pela impressão
não é uniforme, devido as estampas, a avaliação foi visual, sem a atribuição de notas. A solidez a alteração, após lavagem a 40
°C, apresentou alteração de cor, conforme pode ser observado na Figura 7. Por ser um processo natural e sem acabamentos de
fixação por meio da utilização de produtos químicos, este resultado pode ser considerado aceitável. Porém, é importante que o
consumidor final seja informado da alteração, caso o processo venha a ser aplicado para fins comerciais.

267
Figura 7: Comparação das amostras sem lavação e após os testes de lavações.

Após avaliação de solidez a lavação a 40 °C, as amostras foram analisadas por comparação em escala de cinza e os
resultados podem ser observados na Tabela 1.

Tabela 1: Avaliação da impressão botânica no substrato têxtil após 1, 5 e 10 lavagens.


Lavações Substrato natural Substrato têxtil Alteração Transferência
1 Pétalas de rosas Tecido de 2/3 4/5
5 vermelhas algodão 2 4/5
10 2 4/5
1 Folha de eucalipto Tecido de 3 4/5
5 algodão 2 4/5
10 2 4/5
1 Pétalas de rosas Malha de 3/4 4/5
5 vermelhas poliamida 2 4/5
10 2 4/5
1 Casca de cebola Malha de 4/5 4/5
5 poliamida 4 4/5
10 3 4/5
1 Folha de eucalipto Tecido de seda 2/3 4/5
5 2/3 4/5
10 2/3 4/5

Ao analisar os resultados de transferência de cor das amostras após 1, 5 e 10 lavagens, pode-se verificar que todas as
impressões apresentaram solidez a transferência considerada ótima, ou seja, com notas aceitáveis para comercialização.
Entretanto, relativo à alteração de cor, os resultados não foram tão satisfatórios, como pode ser observado na Tabela 1. Com
exceção da impressão com cascas de cebola, os demais pigmentos naturais não garantem a solidez à alteração após lavação.
Porém, considerando que são processos de impressão botânica, com a utilização de pigmentos naturais e sem a utilização de
elementos químicos de fixação após impressão, os resultados podem ser considerados aceitáveis. Entretanto, como mencionado
anteriormente, em caso de comercialização de produtos provenientes desta técnica, é necessário a notificação da alteração de
cor após a lavação, orientando o consumidor de que o produto é desenvolvido a partir de impressão botânica, utilizando
elementos naturais, evidenciando o apelo sustentável, e que podem sofrer alteração após sucessivas lavagens.

268
Análise de solidez a fricção

A Tabela 2 apresenta os resultados referentes a solidez à fricção a seco.

Tabela 2: Avaliação de solidez à fricção a seco.


Pigmento natural Substrato têxtil Transferência
Pétalas de rosas vermelhas Tecido de algodão 5
Folha de eucalipto Tecido de algodão 5
Pétalas de rosas vermelhas Malha de poliamida 4/5
Casca de cebola Malha de poliamida 4/5
Folha de eucalipto Tecido de seda 5

Os resultados de solidez à fricção a seco obtidos foram excelentes, demonstrando que os tecidos estampados com
impressão botânica podem ser utilizados juntamente com tecidos de outra cor, sem que ocorra transferência de cor entre eles.

Considerações Finais
É possível efetuar processos de estamparia aplicando a técnica de impressão botânica. Os resultados mostraram que, as
impressões obtidas apresentam caráter único e exclusivo, de acordo com o pigmento utilizado e sua forma de distribuição.
Dentre os três pigmentos naturais estudados, casca de cebola, pétalas de rosas e folhas de eucalipto, os substratos impressos
com casca de cebola apresentaram os melhores resultados, revelando-se como um pigmento natural promissor.
Especificamente tratando-se da avaliação dos resultados de solidez a alteração e transferência de cor, impressões botânicas
com casca de cebola apresentaram os resultados considerados aceitáveis pelo mercado têxtil.
Para que o processo de impressão botânica utilizando mordente de sulfato de ferro possa vir a ser utilizado de forma
comercial, é importante que sejam efetuados estudos mais aprofundados, utilizando inclusive diferentes mordentes, pré-
tratamentos ou mesmo elementos fixadores pós impressão, visando a busca por melhores resultados de solidez. Entretanto, a
prerrogativa é a impressão sustentável, visando produtos que sejam mais amigos do ambiente.

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cinzas.
YAMANE, Laura Ayako. Estamparia têxtil. 2008. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

269
5SSS135
ESTUDO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁGUA DE LAVAGEM DE
FILTROS DE AREIA EM UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE
ÁGUA COM OBJETIVO DE REÚSO
Jéssica Balbinot Zortéa1, Lisete Cristine Scienza2, Vinícius Martins3
1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul/PPGE3M, e-mail: jessica.zortea@gmail.com; 2 Universidade
Federal do Rio Grande do Sul/PPGE3M, e-mail: lisete.scienza@ufrgs.br; 3 Instituto Federal Sul-Rio-
Grandense/Sapucaia do Sul (IFSUL), e-mail: vmartins@sapucaia.ifsul.edu.br.

Palavras-chave: Reúso de água. Efluente. ETA.

Resumo
Nos centros urbanos e industriais, a escassez de recursos hídricos é um grande problema, decorrente principalmente do
aumento da demanda e da falta de manejo sustentável desse recurso natural essencial. Segundo a ONU, de todo o consumo que
fazemos da água doce, 70% vai para agricultura, em especial para a irrigação, 22% para a indústria e 8% para o uso doméstico.
Investir em pesquisas e projetos na gestão de demanda e reúso de águas industriais, representa não apenas uma forma
sustentável de reduzir impactos ambientais, mas também a economia de custos de captação e tratamento de água e tratamento
de efluentes. As perdas com as lavagens de filtros de areia na Estação de Tratamento de Águas (ETA) do presente estudo
chegam a 4%. Considerando, que esta unidade em estudo trata aproximadamente 197.088 ton/mês, a água perdida somente na
limpeza dos filtros é de aproximadamente 7.883,52 ton/mês, o que equivale a cerca de 26 horas de produção ao mês. O
objetivo deste trabalho é avaliar a possibilidade de reuso da água de lavagem dos filtros, considerando a minimização de
impactos ambientais e economia de consumo de água. Os ensaios de caracterização da água mostram que há pequenas
modificações a fazer em relação à dosagem de produtos químicos, já que os parâmetros da água de lavagem dos filtros quando
comparados aos da água a ser clarificada, diferem pouco. A razão de recirculação aceitável pelo processo e a análise
econômica contemplando o custo das instalações do sistema de recuperação de água de lavagem, também precisa ser analisado.

Keywords: Water reuse. Effluent. ETA.

Abstract
In urban and industrial centers, water scarcity is a major problem, stemming mainly from increased demand and the lack of
sustainable management of this essential natural resource. According to the UN, of all our freshwater consumption, 70% goes
to agriculture, especially irrigation, 22% to industry and 8% to domestic use. Investing in research and projects in the
management of industrial water demand and reuse represents not only a sustainable way of reducing environmental impacts,
but also saving water and effluent collection and treatment costs. Losses with sand filter washes at the Water Treatment Plant
(ETA) of the present study reach 4%. Considering that this unit under study treats approximately 197,088 tons / month, the
water lost only in filter cleaning is approximately 7,883.52 tons / month, which is equivalent to about 26 hours of production
per month. The objective of this work is to evaluate the possibility of reuse of filter washing water, considering the
minimization of environmental impacts and economy of water consumption. Water characterization tests show that there are
slight modifications to be made with respect to the dosage of chemicals, as the parameters of filter wash water compared to
those to be clarified differ little. The acceptable recirculation ratio and the economic analysis contemplating the cost of wash
water recovery system installations also be studied.

Introdução

A escassez de recursos hídricos é um grande problema para a sociedade, decorrente principalmente do aumento da
demanda e da falta de manejo sustentável desse recurso natural. Segundo a ONU, de todo o consumo que fazemos da água
doce, 70% vai para agricultura, em especial para a irrigação, 22% para a indústria e 8% para o uso doméstico. O setor
industrial é o setor que mais tem incentivado pesquisas para otimização do uso da água, pois vivencia além do problema de
carência de água, o alto custo do tratamento dos efluentes gerados.
A Estação de Tratamento de Água (ETA) do presente estudo tem por finalidade produzir água tratada, nas
especificações adequadas para cada tipo de utilização, visando atender as necessidades de consumo de um complexo

270
petroquímico.
O processo de filtração na empresa é efetuado após a clarificação. A clarificação tem por objetivo remover as
partículas coloidais que foram floculadas, reduzindo assim, a cor e a turbidez da água e obtendo-se água clarificada (AC). A
filtração consiste na passagem da água clarificada por um leito de areia, com granulometria pré-determinada e uma vazão pré-
fixada, com a finalidade de reter partículas suspensas, normalmente flocos de pequenas dimensões que não foram retidos na
clarificação. Grande parte dessas partículas são retidas pelo leito de areia, pois seu diâmetro é maior que os poros existentes no
leito. Este material retido diminui os espaços de passagem da água, permitindo que flocos menores ainda sejam retidos.
Com isso, ocorre uma gradativa diminuição de seções livres para a passagem de água, acarretando um aumento da
perda de carga gerada pela camada filtrante. Quando a camada filtrante está bastante colmatada as partículas podem ser
arrastadas pela água filtrada, aumentando a turbidez na saída do filtro. Quando isto ocorre, indica que o filtro está saturado e
necessita ser lavado.
Os filtros de areia do presente estudo são do tipo rápido e por gravidade. São construídos em concreto armado, com
boias em estrutura de magnésio, duas entradas com comportas para admissão de água a filtrar, duas canaletas coletoras de água
de lavagem, um fundo falso, uma canaleta inferior ao fundo falso para admissão de água e ar (Figura 1). Para contralavagem
dos filtros, o fundo falso é feito de lajotas pré-moldadas onde estão rosqueados os aspersores de plástico. Sobre o fundo falso
estão colocadas sucessivamente o leito suporte e a camada filtrante. Os filtros dispõem de um controle automático de nível, de
modo a equilibrar a perda de carga e manter o leito sempre inundado (dados disponibilizados pela ETA).

Figura 1: Modelo do filtro de areia utilizado na ETA.


3
A empresa possui cinco filtros de areia operando em paralelo com vazão unitária de 305 m /h que irão servir para o
fornecimento de água de lavagem dos próprios filtros, água de alimentação da desmineralização e água potável.
A contralavagem dos filtros é feita com água e ar em 3 fases:
a) Descolmatação: com uma pequena vazão de ar, tem a finalidade de expandir o leito de areia, com o intuito de desprender
as impurezas de maiores dimensões.
b) Lavagem com água e ar: com a mesma vazão e mais ar, objetiva através da vibração que comunica os grãos de areia
desprender todas as impurezas e arrastá-las.
c) Lavagem final: com maior vazão de água objetiva a retirada de toda o material retido no leito de areia.
Na Tabela1 abaixo é possível verificar a relação do tempo e vazão em cada etapa da lavagem.

Tabela 1: Tempo e vazão de cada etapa de lavagem dos filtros.


Tempo Vazão (m3/h)
Etapas
(min) (Nm³/h)

Operação --- 305

Descolmatação 2 1520

271
Lavagem 420
6
(água + ar) 1520
Lavagem (água+água) 10 840

Espera 3 ---

A lavagem dos filtros é feita mediante a passagem de água tratada em sentido contrário ao da filtração, com vazão
bem acima da vazão de operação proporcionando a expansão do leito filtrante e desprendimento do material sólido retido e
levando a produção de grande volume de água residual, em um curto espaço de tempo. Normalmente, a lavagem dos filtros é
realizada em intervalos de 180 horas, com um total de água gasta na limpeza de cada filtro de 840 m3, para o equivalente de 18
minutos.
Em sistemas de tratamento de água com ciclo completo, segundo Di Bernardo e Dantas (2005), a maior fonte de
resíduos, em termos volumétricos, são as águas de lavagem de filtros e, em termos mássicos, as águas do descarte de lodo dos
decantadores. Os teores de sólidos contidos na água de lavagem de filtros variam entre 0,004 a 0,1% e entre 0,1% a 4% para o
lodo dos decantadores. Dessa forma, a concepção de um tratamento diferenciado para a água proveniente das lavagens de
filtros se justifica devido as menores concentrações de sólidos, viabilizando a recirculação da mesma.
Na ETA do presente trabalho, as perdas com as lavagens de filtros e descargas de decantadores alcançam em média,
7% do volume captado, sendo 4% na Água de Lavagem dos Filtros (ALF) e 3% na água dos decantadores. Considerando que a
ETA trata aproximadamente 197.088 ton/mês, a água perdida somente na limpeza dos filtros é de aproximadamente 7.883,52
ton/mês, o que equivale a cerca de 26 horas de produção, gerando grandes volumes de resíduos em um curto espaço de tempo.
Assim, sob a ótica da minimização de impactos ambientais, otimização do uso da água e economia no tratamento de efluentes,
o reúso da água de lavagem de filtros possui um grande potencial.
Os efluentes das ETAs possuem um alto potencial poluidor e o seu descarte direto ou indiretamente nos corpos de
água pode representar riscos à saúde humana devido a presença de agentes patogênicos e metais pesados, problemas
ambientais como a inibição da atividade biológica e mudanças de cor, turbidez e concentração de sólidos dos corpos d’águas
receptores (DI BERNARDO E ESCALIZE, 1999).
No Brasil, grande parte do lodo dos decantadores e das lavagens de filtros são descartados em rios. Atualmente, na
empresa do presente estudo, os efluentes da lavagem dos filtros de areia seguem como esgoto pluvial sem qualquer tratamento.
No processo de coagulação-floculação da água bruta, um dos produtos químicos dosados é o sulfato de alumínio. Dessa forma,
sais de alumínio estão presentes nos efluentes da lavagem dos filtros de areia e a toxidade desse metal, assim como o acúmulo
de alumínio em peixes e outros animais, ainda é pouco estudada (CORDEIRO,2008).
Além de ser um problema ambiental, essa situação é insustentável também do ponto de vista legal, pois os lodos de
ETA são classificados como resíduos sólidos pela NBR 10004 (ABNT, 2004) e seu descarte in natura no meio ambiente é
vedado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, disposta pela Lei nº 12305 (BRASIL, 2010).
Uma alternativa de destinação da ALF de ETA é a reutilização na própria estação. Essa medida reduz o consumo de
água, reduz o descarte inadequado no meio ambiente e melhora o processo de sedimentação dos flocos, proporcionando a
economia de produtos químicos e energia elétrica, e consequentemente, a redução dos custos de tratamento de água. A
recirculação pode ser contínua ou não, com ou sem processo de clarificação.
A prática de recirculação da água de lavagem de filtros pode gerar alguns problemas no processo de tratamento de
água e implicar risco à saúde da população consumidora, associado principalmente a presença de cistos e oocisto de
protozoários. Segundo Bernardo e Paz (2010), reduzir a turbidez da água é uma das formas mais eficaz para a remoção de
protozoários, já que os mesmos apresentam facilidade em aderir a matéria orgânica e inorgânica que compõe a turbidez. Nesse
contexto, a filtração rápida representa a principal etapa do tratamento responsável pela remoção de protozoários (HELLER,
2004) e assim, a corrente de água de lavagem de filtros, pode possuir concentrações mais elevadas de cistos ou oocistos do que
a própria água bruta. Uma alternativa para reduzir os riscos dos protozoários é pelo meio de um tratamento adicional da ALF
antes da recirculação. A necessidade desse tratamento depende de vários fatores, como os contaminantes existentes na ALF, a
capacidade da ETA em remover adequadamente as partículas adicionadas pela ALF e a qualidade da água bruta, e deve ser
avaliado em um estudo mais detalhado.
De uma forma geral, é recomendado que o aproveitamento da ALF seja cuidadosamente analisada, cuidando
principalmente da razão, ou seja a porcentagem, de recirculação de ALF. Estudos indicam que a razão de recirculação seja
mantida abaixo de 10% em relação a vazão total captada de água bruta da ETA, sendo essencial que cada processo defina a
razão ideal através de estudos preliminares, com o intuito de não impactar a qualidade final da água tratada (KAWAMURA,
2000).
Em vista do grande volume perdido, da baixa concentração de sólidos e do potencial de reaproveitamento das ALF,
além dos prejuízos ambientais, legais e econômicos do descarte inadequado das mesmas, o objetivo deste trabalho é avaliar o
potencial de reaproveitamento das ALF da ETA. A ideia inicial do projeto é adicionar a água de lavagem dos filtros ao tanque

272
de água bruta.

Material e Métodos

Para iniciar o estudo sobre aproveitamento da ALF (Água de Lavagem dos Filtros) da ETA, foi realizado
primeiramente a caracterização da mesma. Estudar as características das águas a serem reutilizadas é de suma importância para
determinar a sua melhor forma de tratamento. Para isso foi planejada uma campanha de coleta de amostras da ALF de dois
filtros durante o processo de contralavagem. Esta caracterização foi necessária também para verificar se o tempo atual de
lavagem dos filtros estaria sendo efetivos para sua limpeza.
As coletas foram realizadas durante a lavagem de dois filtros de areia (A e B), utilizando como tempo de campanha
120 e 180 horas, respectivamente. As amostras foram coletadas junto a calha principal, logo acima do batente de expurgo. Este
ponto foi considerado o mais representativo, pois se situa no local onde a água verte. As amostras eram coletadas por meio de
balde sendo a coleta feita de 50 em 50s, a última coleta foi de 60s, totalizando o tempo de 16 minutos (Tabela 2). A amostra
composta 1 (C1) corresponde a mistura de frações proporcionais das amostras representativas da lavagem dos filtros.

Tabela 2: Tempo de descarga e volumes coletados para caracterização


Número da amostra Tempo de descarga (s) Volume coletado (mL)
1 50 1000
2 100 1000
3 150 1000
4 200 1000
5 250 1000
6 300 1000
7 350 1000
8 400 1000
9 450 1000
10 500 1000
11 550 1000
12 600 1000
13 650 1000
14 700 1000
15 750 1000
16 800 1000
17 850 1000
18 900 1000
19 960 1000
C1 - 2000

Foram realizadas 19 coletas da água de lavagem dos filtros A e B. O prazo de 180 horas para cada lavagem foi o
escolhido por ser o utilizado normalmente pela ETA. Já o prazo de 120 horas foi escolhido pois o filtro já estava colmatado,
em função da dosagem excessiva e progressiva de polieletrólito, polímero floculante que é dosado na água a ser clarificada, a
montante do filtro.
O volume de cada amostra coletada foi de 1000 ml. As amostras foram armazenadas em frascos previamente
preparados e rotulados. Cada amostra foi homogeneizada via agitação antes da análise de turbidez. Após a análise de turbidez,
uma amostra final no volume de 2000 ml foi composta (C1).
Foram realizadas as seguintes análises da água de lavagem do filtro: turbidez, cor, pH, sólidos totais dissolvidos,
sólidos suspensos, condutividade, cloretos, sulfatos, alumínio, manganês e ferro.
Além disso, o efeito do reuso da água de lavagem de filtros foi avaliado através de ensaios de coagulação/floculação
realizados em Jar Test (Figura 2) utilizando as dosagens de produtos químicos em uso no período da amostragem. Foram
realizados dois ensaios, sendo um somente com a água bruta e o outro com a mistura da água bruta + 5% de ALF da amostra

273
C1, para comparar a influência da mesma na clarificação e evidenciar a redução do agente coagulante. O valor de 5% de ALF
foi escolhido seguindo a recomendação de outros trabalhos científicos de utilizar uma razão de recirculação menor que 10%.
Os ensaios foram realizados em equipamento de Jar Test, modelo 218-6LDB da marca Ethiktechnology, com jarros do tipo
béquer de 2 litro cada e misturadores individuais. Foram avaliadas cinco diferentes dosagens de sulfato de alumínio: 15, 20, 25,
30 e 35 ppm. Os ensaios seguiram o seguinte padrão:
1° - Agitação rápida à 100 rpm durante 1 minuto;
2° - Agitação à 50 rpm durante 3 minutos;
3° - Agitação à 30 rpm durante 5 minutos;
4° - Agitação à 15 rpm durante 7 minutos;
5° - Repouso durante 20 minutos.

Figura 2: Equipamento de Jar Test utilizado.

Resultados e Discussão

Os resultados apresentados na Tabela 3 e Figura 3, comprovam que a turbidez é mais alta nos primeiros momentos da
lavagem dos filtros A e B, sendo reduzida ao longo do processo. É possível verificar que durante a etapa de descolmatação a
turbidez da água apresenta seus maiores valores, devido ao desprendimento das partículas com ajuda do ar.

Figura 3: Gráfico representando os valores de turbidez da ALF em função do tempo.


Tabela 3: Valores de turbidez da ALF referentes aos filtros A e B
FILTRO A FILTRO B
Tempo (s) Turbidez (NTU) Tempo (s) Turbidez (NTU)
50 72,4 50 85,4
100 65,9 100 77,8
150 63,5 150 72,9

274
200 60,5 200 64,6
250 34,8 250 33,7
300 17,4 300 24,1
350 8,6 350 15,2
400 7,06 400 10,9
450 6,62 450 8,16
500 4,12 500 4,78
550 2,22 550 3,55
600 1,13 600 2,29
650 1,05 650 1,31
700 1,04 700 1,17
750 0,92 750 1,05
800 0,86 800 0,93
850 0,77 850 0,87
900 0,72 900 0,81
960 0,69 960 0,78

A caracterização da água de lavagem dos filtros e da água bruta é mostrada na Tabela 4. Nota-se que essa corrente
apresenta maior dureza e alcalinidade, maior turbidez, maior concentração de alumínio, ferro total e manganês. As demais
características, como cor, pH e teor de matéria orgânica, apresentam uma variação que não possibilita caracterizar claramente a
diferença. Os resultados indicam principalmente a presença de produtos químicos utilizados no processo de tratamento, o que
indica um potencial de reutilização da água de contralavagem dos filtros no processo inicial de tratamento da ETA.

Tabela 4: Caracterização física e química da água de lavagem dos filtros da ETA.


Parâmetros ALF FiltroO A ALF Filtro B C1
Turbidez (NTU) 18,44 21,59 12,1
Cor Aparente (Pt-Co) 71 83,5 64
Sólidos Totais (mg/L) 16 18 28
Sólidos Suspensos (mg/L) 18,4 25,0 15,6
Sólidos Dissolvidos (mg/L) 42,7 51,3 48,9
pH --- --- 6,8
Condutividade (µS/cm²) --- --- 294,1
Alumínio (mg/L) --- --- 0,25
Ferro (mg/L) ---- --- 0,62
Manganês (mg/L) --- --- 0,18

O primeiro ensaio de Jar test foi realizado somente com água bruta com turbidez inicial de 8,47 NTU e pH
de 6,91. Os resultados da redução de turbidez podem ser vistos na Tabela 5.
Tabela 5: Relação da concentração de sulfato de alumínio com a redução da turbidez da AB.

Concentração de Redução de
Volume de solução de Turbidez (NTU)
Al2(SO4)3 (ppm) Turbidez (%)
Al2(SO4)3 (mL)
15 1,14 6,24 26,33%

275
20 1,52 6,40 24,44%

25 1,9 4,68 44,75%

30 2,27 3,96 53,25%

35 2,65 3,12 63,16%

O segundo ensaio de Jar test foi realizado com a mistura de água bruta mais 5% de ALF. A turbidez inicial
da água bruta estava um pouco mais elevada do que no teste 1, de 15,7 NTU e pH de 6,96. A turbidez da mistura C1
de ALF estava em 12,1 NTU. Os valores resultantes desse teste são apresentados na Tabela 6.

Tabela 6: Relação da concentração de sulfato de alumínio com a redução da turbidez da AB + ALF.

Concentração de Redução de
Volume de solução de Turbidez (NTU)
Al2(SO4)3 (ppm) Turbidez (%)
Al2(SO4)3 (mL)

15 1,14 14,7 6,37%

20 1,52 15,20 3,18%

25 1,9 15,1 3,82%

30 2,27 12,4 21,02%

35 2,65 6,08 61,27%

O tratamento da ALF proposto é um tanque de equalização para promover a clarificação do efluente. A ALF seria
adicionado ao tratamento continuamente com uma razão de recirculação abaixo de 10%, para não comprometer o tratamento
da água. Será necessário a coleta desse efluente em um tanque e posterior bombeamento para o tanque de chegada da água
bruta. A recirculação seria uma solução para diminuir as perdas nos processos de tratamento da água, visando uma melhor
eficiência em termos de volume produzido, além de diminuir o passivo ambiental ocasionado pelo descarte de ALF em corpos
d’água. Os ensaios de sedimentação são usuais para verificar a velocidade na qual as partículas decantam, esta velocidade é
determinante no dimensionamento da unidade de tratamento de água de lavagem de filtro. Como ocorre lavagem nos filtros em
intervalos de no máximo 24 horas, a aceleração do processo de sedimentação é indispensável
O Sistema de Recuperação de Água de Lavagem quando em operação reduzirá as perdas de água envolvidas no
processo de tratamento e pode também reduzir a dosagem de sulfato de alumínio. O sistema de recuperação deve retornar a
ALF no ponto de água coagulada do processo de tratamento. A ETA em estudo produz em média 640 L/s de água tratada e
uma redução de 1 mg/L de adição de coagulante significam toneladas do produto no final de um mês.

276
Considerações finais

Devido ao fato da água bruta utilizada nos testes de jarro apresentar diferente turbidez nos dois dias analisados, a
eficiência do ensaio foi avaliada por intermédio de redução de turbidez. Apesar da redução da turbidez ter sido menor no
segundo teste, é possível notar que na dosagem de 35ppm de agente coagulante o resultado foi muito semelhante nos dois
testes, mesmo com a maior turbidez de água bruta no segundo teste. Também foi possível observar, que no teste da mistura
AB+ ALF a floculação se iniciou mais rápido.
Para um estudo mais preciso das características da água bruta e água de lavagem dos filtros e suas variabilidades
normalmente são indicados a realização de Jar Tests ou ensaios em estações piloto por, no mínimo, um ano antes de avançar
com a implementação de projetos. Como dados laboratoriais consistentes são obtidos através de várias realizações de
experimentos para se obter uma reprodutibilidade de resultados, se faz necessário a realização de estudos mais aprofundados
para garantir a qualidade da água mantida hoje pela ETA.
De um modo geral, há grandes possibilidades de concretizar o projeto, levando em consideração os estudos técnicos e
as análises realizadas, aliado a uma análise econômica, sendo uma alternativa para reduzir o uso de recursos hídricos, evitar o
descarte de efluentes inadequados e diminuir o consumo de energia elétrica. Ainda se faz necessário todo estudo do retorno
financeiro do projeto do Sistema de Recuperação de Água de Lavagem e da melhor razão de recirculação para a ETA em
questão.

Referências Bibliográficas

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277
5SSS136
CRESCIMENTO DE ÁRVORES EM UMA FLORESTA SOB SISTEMA
DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL NO ACRE

Henrique José Borges de Araujo


Embrapa Acre, henrique.araujo@embrapa.br

Resumo
O diâmetro do fuste das árvores é uma medida de grande importância silvicultural por permitir múltiplos cálculos
dendrométricos, entre estes o volume, portanto, o crescimento do diâmetro é fundamental na determinação do crescimento
volumétrico das árvores. O objetivo deste estudo é avaliar por meio de cintas dendrométricas o crescimento de espécies
madeireiras comerciais em uma floresta de produção sustentável (manejo florestal) no estado do Acre. Por cinco anos, foram
monitoradas 509 árvores distribuídas em cinco classes diamétricas (DAP variando de 9,5 cm a 140,0 cm) e pertencentes a 27
espécies. O crescimento individual diamétrico médio foi de 0,542 cm ano-1 e o volumétrico de 0,053 m3 ano-1. Em geral, as
correlações entre o crescimento diamétrico com o DAP e as condições ambientais (ecológicas e fitossanitárias) das árvores
foram muito baixas.
Palavras-chave: Cintas dendrométricas; espécies madeireiras amazônicas; manejo florestal.

Abstract
The diameter of the trees is a measure of great silvicultural importance and allows multiple dendrometric calculations, the
volume between them, thus the growth of the diameter is essential in determining the volumetric growth of trees. The objective
of this study is to evaluate by dendrometric bands the growth of commercials timber species in a sustainable production forest
(forest management) in the state of Acre, Brazilian Amazon region. For five years were monitored 509 trees distributed in five
diameter classes (DBH ranging from 9.5 cm to 140.0 cm) and belonging to 27 species. The individual average diameter growth
was of 0.542 cm year-1 and the volumetric growth of 0.053 m3 year-1. In general, the correlations between the diameter growth
with the DBH and the environmental conditions (ecological and phytosanitary) of trees were very low.
Key words: Amazonian timber species; dendrometric bands; forest management.

Introdução

O crescimento das árvores consiste no aumento das dimensões das suas partes (troncos, galhos e raízes) em um
determinado período de tempo, provocando mudanças quanto ao tamanho e forma (HUSCH et al., 1982). Entre estas
dimensões citam-se o diâmetro do tronco e da copa, a altura, o volume, a biomassa e a área basal (FIGUEIREDO FILHO et al.,
2003; PRODAN et al., 1997). O crescimento é influenciado pelas características inerentes a cada espécie e a interação, de
forma isolada ou em conjunto, com fatores do ambiente como os climáticos, edáficos, topográficos, competição com outras
plantas, idade, estações do ano e condições microclimáticas (IMANÃ ENCINAS et al., 2005; POORTER & BONGERS, 1993;
ZANON & FINGER, 2010).
O estudo do crescimento das árvores possibilita conhecer o potencial de produção de uma determinada área, o que é
essencial para o planejamento da produção de madeira e a tomada de decisões sobre as demandas do mercado (COSTA et al.,
2008; HOSOKAWA et al., 1998).
O diâmetro do fuste das árvores é uma medida básica de grande importância silvicultural que permite múltiplos
cálculos e estimativas dendrométricas, tais como o volume e a área basal. A importância do diâmetro também se deve ao fato
de ser uma medida de fácil obtenção e com menores erros de medição (CAMPOS & LEITE, 2009; SOARES et al., 2006).
Para avaliar o crescimento diamétrico de árvores em florestas tropicais muitos métodos são utilizados, citando-se:

278
parcelas amostrais permanentes em inventários contínuos; análises dos anéis de crescimento; datação por radiocarbono;
densitometria por raios X; predições através de modelos matemáticos de regressão; dendrômetros de alta precisão; e cintas, ou
bandas, dendrométricas (COSTA et al., 2008; HIGUCHI et al., 2003; MATTOS et al., 2010; SILVA et al., 2002).
O objetivo deste estudo é avaliar por meio de cintas dendrométricas o crescimento diamétrico e volumétrico, bem
como as interações (correlações) deste crescimento com o DAP e os fatores ambientais, de espécies madeireiras comerciais
manejadas em uma área de floresta no estado do Acre.

Material e Métodos

A área do estudo localiza-se no município de Senador Guiomard, estado do Acre, a cerca de 110 km da capital Rio
Branco. Possui 430 hectares, se insere no Projeto de Colonização Pedro Peixoto e é parte da reserva legal de pequenas
propriedades de um projeto de pesquisa em manejo florestal comunitário (ARAUJO & CORREIA, 2014). A área possui
topografia plana; solos de baixa fertilidade com alto teor de argila; hidrografia formada por pequenos igarapés semi-perenes;
clima do tipo Aw (Köppen), tipicamente tropical, bastante quente e úmido, composto de estações de seca (maio a outubro) e de
chuva (novembro a abril) bem definidas; temperatura média anual em torno de 25ºC; precipitações anuais entre 1.800 a 2.200
mm; umidade relativa do ar elevada, acima dos 80%, em média; cobertura florestal típica da floresta tropical primária densa
semi-perenifólia de terra firme amazônica (ACRE, 2006).
As etapas da implantação e monitoramento das cintas dendrométricas foram: 1. Mapeamento: prospecção da área do
estudo para localizar e georreferenciar as árvores com o uso de receptores GPS; 2. Mensuração e caracterização ecológica e
fitossanitária das árvores: foi tomado o CAP (circunferência à altura do peito, 1,30 m do solo), com uso de trena métrica
comum; estimada a altura3 comercial do fuste; realizada caracterização e classificação quanto à: qualidade do fuste
(aproveitamento total, parcial e sem aproveitamento); posição sociológica (dominante, intermediária e suprimida); condição de
luminosidade (muita luz, moderada luz e pouca luz); presença de cipós no fuste e galhos (alta, moderada, baixa e ausente);
presença de plantas epífitas e parasitas no fuste e galhos (alta, moderada, baixa e ausente); infestação de cupins no fuste e
galhos (alta, moderada, baixa e ausente); defeitos do fuste (sem defeitos e ao menos um defeito (partes ocas, podres,
rachaduras, galhos quebrados e tortuosidade)); estado fitossanitário geral da árvore (bom, regular e ruim); e local sujeito a
alagação (sim e não); 3. Instalação das cintas: montagem, colocação e posicionamento da cinta na altura do DAP (diâmetro à
altura do peito, 1,30 m do solo). O material da cinta foi o alumínio flexível com largura de 1,20 cm e espessura de 0,04 cm,
contendo uma mola helicoidal metálica de 5,0 cm de comprimento e diâmetro de 0,6 cm, com garras de fixação, permitindo a
distensão com o crescimento da árvore (Figura 1); 4. Medição das cintas: tomada da distância entre dois orifícios da cinta
(pontos de medição) utilizando paquímetro analógico de aço de 6" (Figura 1). A medida tomada refere-se ao CAP, portanto, no
cálculo do crescimento diamétrico faz-se a conversão para DAP.

3Em regra, as estimativas de altura do fuste comercial da árvore foram feitas apenas com a vista desguarnecida, sem auxílio de instrumentos
de medição, tendo como referenciais comparativos as árvores circunvizinhas.

279
Figura 1. Instalação da cinta dendrométrica (a); cinta dendrométrica instalada e ajustada no fuste da árvore (b);
detalhe mostrando os orifícios de medição das variações do crescimento (c); e medição da distância entre os orifícios
com paquímetro (d). Fotos: próprio autor.

Preliminarmente, foram selecionadas 31 espécies madeireiras de importância comercial: amarelão (Aspidosperma


vargasii A. DC.); angelim (Hymenolobium sp.); angelim-amargoso (Vatairea sp.); angico (Parkia sp.); aroeira (Astronium
lecointei Ducke); bálsamo (Myroxylon balsamum (L.) Harms); breu-vermelho (Tetragastris altissima (Aubl.) Swart.); cambará
(Erisma uncinatum Warm.); catuaba (Qualea tesmannii Milldbr.); cedro (Cedrela odorata L.); cerejeira (Amburana acreana
(Ducke) A.C.Sm.); cernambi-de-índio (Drypetes sp.); copaíba (Copaifera multijuga Hayne); cumaru-cetim (Apuleia leiocarpa
(Vogel) J.F.Macbr.); cumaru-ferro (Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.); fava-orelinha (Enterolobium schomburgkii (Benth.)
Benth.); imbirindiba (Terminalia sp.); ipê-amarelo (Handroanthus serratifolius (Vahl) S.O.Grose); jatobá (Hymenaea
courbaril L.); jequitibá (Cariniana sp.); jitó (Guarea pterorhachis Harms); jutaí (Hymenaea oblongifolia Huber); maçaranduba
(Manilkara bidentata (A.DC.) A.Chev); manitê (Brosimum alicastrum Sw.); marupá (Jacaranda copaia (Aubl.) D. Don.);
pereiro (Aspidosperma macrocarpon Mart.); roxinho (Peltogyne sp.); samaúma (Ceiba pentandra (L.) Gaertn.); sucupira-
amarela (Vatairea sericea (Ducke) Ducke); tauari (Couratari macrosperma A.C. Sm.); e violeta (Platymiscium trinitatis
Benth.). A nominação das espécies foi com base no trabalho de Araujo & Silva (2000), tendo sido os nomes científicos
atualizados e aferidos em bases de dados disponíveis na web: Lista de Espécies da Flora do Brasil, MOBOT (Missouri
Botanical Garden) e NYBG (New York Botanical Garden).
Os critérios de seleção das espécies foram, além da reconhecida qualidade da madeira e o alto interesse comercial, a
ocorrência significante na área do estudo e os quantitativos volumétricos definidos em POA’s (Planos Operativos Anuais) do
manejo comunitário do PC Pedro Peixoto entre 1997 a 2006, em que foram manejados cerca de 150 hectares a uma intensidade

280
exploratória média efetiva de 5 m3 ha-1 com ciclo de corte de 10 anos.
As árvores (unidades amostrais) foram tomadas aleatoriamente na área do estudo. Foi estabelecida para cada espécie
uma intensidade amostral de 46 árvores (12 para as três primeiras classes e 05 para as duas ultimas) distribuídas em cinco
classes de CAP a partir de 30,0 cm: I. 30 ≤ CAP ≤ 90 cm (9,5 ≤ DAP ≤ 28,7 cm); II. 91 ≤ CAP ≤ 150 cm (28,8 ≤ DAP ≤ 47,7);
III. 151 ≤ CAP ≤ 210 cm (47,8 ≤ DAP ≤ 66,8 cm); IV. 211 ≤ CAP ≤ 270 cm (66,9 ≤ DAP ≤ 85,9 cm); e V. CAP > 270 cm
(DAP > 85,9 cm).
O incremento diamétrico anual (IDA) foi calculado a cada duas avaliações, de maneira a conter as informações sobre
a diferença das distâncias entre os orifícios (pontos) de medição da cinta dendrométrica e o período de tempo em que ocorreu
esta diferença. É dado pela expressão (1):
Dp n  Dp n 1
( ) 365
IDA n  Int (1)
π
Em que: IDAn = incremento diamétrico anual da enésima avaliação, em cm ano-1
Dpn = distância entre pontos de medição da cinta na enésima (n) avaliação, em cm
Dpn-1 = distância entre pontos de medição da cinta na avaliação anterior (n-1), em cm
Int = intervalo de tempo entre as medições "n" e "n-1", em dias, dado por (2):

Int  Dt n  Dt n 1 (2)

Dtn = data de medição da enésima (n) avaliação da cinta


Dtn-1 = data de medição da avaliação anterior (n-1) da cinta
365 = número de dias do ano
π = 3,1416 (constante de conversão de CAP em DAP)

Foram realizadas para as espécies e ao conjunto das árvores, por meio de gráficos de dispersão e regressão dos dados,
análises das relações funcionais entre o incremento diamétrico anual médio (IDAm) e o DAP médio (DAPm), utilizando o
coeficiente de determinação (R2) para aferição do grau de associação entre as variáveis. Para as variáveis da caracterização
ambiental e o IDAm, o grau de associação foi determinado pelo coeficiente de correlação linear de Pearson (α). Nos
procedimentos de cálculo de α foi fornecido um atributo numérico (em ordem crescente, ou seja, das situações entendidas
como menos favoráveis às mais favoráveis ao crescimento diamétrico das árvores) aos dados nominais de cada característica
ambiental de modo a formar um par com a variável IDAm das unidades amostrais. Os gráficos de dispersão e análises de
regressão dos dados foram efetuados em Microsoft Excel 2010 e as análises das correlações α no programa SAS 9.2.
O volume das árvores (V) foi calculado com os dados do DAP e altura comercial do fuste (H) obtidos na etapa de
mensuração e caracterização ambiental. O V pode ser calculado individualmente a cada árvore ou de modo conjunto às
espécies ou grupo de árvores (nesses casos foram utilizados os dados médios do DAP e H de cada conjunto). O V é dado pela
expressão (3):
DAPn 2 π
Vn = H n 0,874 (3)
40000
Em que: Vn = volume da enésima árvore (ou média do grupo de árvores), em m3
DAPn = DAP da enésima árvore (ou média do grupo de árvores), em cm
π = 3,1416 (constante)
Hn = altura comercial do fuste da enésima árvore (ou média do grupo de árvores), em m
40000 = constante
0,874 = fator de forma (FIGUEIREDO et al., 2009)

O incremento volumétrico anual (IVA) foi calculado com base no IDA. Corresponde a diferença dos volumes de duas
avaliações seqüenciais, ou seja, dos volumes calculados entre uma avaliação inicial (com o DAP e H obtidos na etapa de

281
implantação das cintas dendrométricas) e outra do ano seguinte (com o DAP inicial, acrescido do IDA, e H inicial, sem
considerar o crescimento em altura do fuste4). O IVA é dado pela expressão (4):

IVA n = Vn -Vn-1 (4)


Em que: IVAn = incremento volumétrico anual da enésima avaliação, em m3 ano-1
Vn = volume da árvore (ou média do grupo de árvores) na enésima avaliação (n), em m3
Vn-1 = volume da árvore (ou média do grupo de árvores) na avaliação anterior (n-1), em m3

Resultados e Discussão

O estudo compreendeu seis avaliações, a primeira ao final de 2008 e a ultima nos meses de maio e junho de 2014.
Cabe destacar que a primeira avaliação foi desconsiderada por haver falhas de medição, assim, o estudo possui cinco
avaliações válidas. Em 2010 o número de cintas instaladas alcançou 957, entretanto, houveram empecilhos imprevistos (citam-
se o fim da parceria com alguns proprietários e abertura de roçados onde haviam árvores com cintas) e a ultima avaliação
totalizou 509 unidades amostrais efetivas (Figura 2).

I. 9,5 ≤ DAP ≤
28,7 cm
145

II. 28,8 ≤ DAP ≤


47,7 cm
156
Classes diamétricas

III. 47,8 ≤ DAP


≤ 66,8 cm
125

IV. 66,9 ≤ DAP


≤ 85,9 cm
49

V. DAP > 85,9


cm
34

0 50 100 150 200


Número de árvores

Figura 2. Distribuição por classe diamétrica das unidades amostrais (árvores).

As 509 unidades amostrais efetivas abrangeram 27 espécies, ficando, portanto, quatro espécies (angelim, bálsamo,
jatobá e sucupira-amarela) ausentes da seleção feita a priori. Os dados dendrométricos médios das árvores por classe
diamétrica foram os seguintes5: I. 9,5 ≤ DAP ≤ 28,7 cm (19,2 cm; 145; 6,0; 31,3%; 10,0 m; 140; 4,4; 43,8%); II. 28,8 ≤ DAP ≤
47,7 cm (38,4 cm; 156; 5,7; 14,8%; 16,9 m; 154; 6,3; 37,3%); III. 47,8 ≤ DAP ≤ 66,8 cm (55,7 cm; 125; 5,1; 9,1%; 19,1 m;
124; 7,9; 41,5%); IV. 66,9 ≤ DAP ≤ 85,9 cm (75,0 cm; 49; 5,7; 7,6%; 20,4 m; 48; 7,6; 37,3%); V. DAP > 85,9 cm (99,6 cm;
34; 14,6; 14,7%; 18,7 m; 34; 6,5; 34,5%); Classes em conjunto (44,5 cm; 509; 23,2; 52,3%; 16,0 m; 500; 7,5; 47,0%).
As cinco avaliações válidas geraram quatro séries de IDAm com a média geral de 0,542 cm ano-1. Na literatura

4 Devido a dificuldade prática de medição e obtenção do dado, no cálculo do IVA proposto não é considerado o crescimento em altura do
fuste, muito embora este ocorra e possa ter efeito, mesmo que reduzido, no seu volume.
5 Os dados entre parênteses, na ordem de apresentação, referem-se a: DAP médio; número de dados gerador do DAP médio; desvio padrão

() do DAP médio; coeficiente de variação % (cv%) do DAP médio; H médio; número de dados gerador do H médio; desvio padrão () do
H médio; coeficiente de variação % (cv%) do H médio. Embora os dados de altura sejam estimativas com precisão limitada (feitas sem o uso
de instrumentos), entende-se que o grande número de observações lhes conferem robustez satisfatória.

282
constam dados bastante diversos quanto às taxas de crescimento diamétrico de florestas naturais no Brasil e em outros países,
os deste estudo estão dentro dos padrões observados. Costa et al. (2008) encontrou na Floresta Nacional do Tapajós o
crescimento diamétrico médio variando entre 0,350 a 0,550 cm ano-1. Silva et al. (2002) encontrou em uma área não explorada
próxima a Manaus-AM a média de 0,164 cm ano-1. Segundo De Graaf (1986), a taxa média de crescimento diamétrico das
árvores em uma floresta no Suriname variou de 0,100 a 0,400 cm ano-1 e 0,600 a 1,000 cm ano-1, respectivamente em áreas
exploradas sem e com tratamentos silviculturais. Estudos de crescimento diamétrico após a colheita em florestas da Costa Rica
e na Guiana Francesa relatam taxas variando de 0,250 a 0,600 cm ano-1 (FINEGAN & CAMACHO, 1999; GOURLET-
FLEURY et al., 2004).
A Tabela 1 mostra, por classe diamétrica, os IDAm (média das médias das séries) e a relação proporcional (percentual)
entre estes e as classes (DAP médio do centro das classes), e os parâmetros estatísticos simples:

Tabela 1. Parâmetros do crescimento diamétrico das árvores monitoradas por classe diamétrica.
Classe diamétrica n IDAm  cv% DAPc P
I. 9,5 ≤ DAP ≤ 28,7 cm 145 0,604 0,585 96,9 19,1 3,16
II. 28,8 ≤ DAP ≤ 47,7 cm 156 0,543 0,490 90,3 38,3 1,42
III. 47,8 ≤ DAP ≤ 66,8 cm 125 0,609 0,534 87,7 57,3 1,06
IV. 66,9 ≤ DAP ≤ 85,9 cm 49 0,595 0,482 81,0 76,4 0,78
V. DAP > 85,9 cm 34 0,740 0,683 92,3 95,5 0,77
Total 509 - - -
Em que: n = número unidades amostrais (árvores) gerador dos dados; IDAm = incremento diamétrico anual médio, em cm ano-1;  = desvio
padrão do IDAm, em cm ano-1; cv% = coeficiente de variação percentual do IDAm, em %; DAPc = DAP médio do centro de classe, em cm; P
= relação proporcional entre o IDAm e DAPc, em %.

Os IDAm observados por classes diamétricas revelaram não haver tendências expressivas de aumento ou diminuição
entre as classes, exceto para a maior que se apresentou acima das demais. Isso indica pouca intensidade para as correlações
entre o porte do indivíduo e o crescimento diamétrico. Contudo, quando se observa a relação proporcional (percentual) entre os
IDAm e as classes diamétricas (DAP do centro das classes) verifica-se um crescimento mais acentuado e ascendente no sentido
das maiores para as menores classes (Figura 3).

0,800 4,0%
(a) (b)
0,700 3,0% P = -0,0003DAP + 0,0307
IDAm (cm ano )
-1

2
R = 0,7356
P (%)

*P<0,05; ANOVA
0,600 2,0%
IDAm = 0,0017DAP + 0,521
2
0,500 R = 0,4918 1,0%
*P<0,05; ANOVA

0,400 0,0%
0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120
DAP (cm) DAP (cm)

Figura 3. Dispersão dos dados e regressão ajustada entre o incremento diamétrico anual médio (IDAm) e DAP (a) e
entre a proporção percentual do IDAm (P%) e DAP (b), utilizando o DAP do centro das classes diamétricas.

Os gráficos de dispersão dos dados médios e as análises de regressão (função linear) comprovam que o grau de
associação no primeiro caso (IDAm com o DAP do centro de classe) é inferior e menos acentuado do que no segundo caso
(proporção do IDAm com o DAP do centro de classe), uma vez que os R2 foram, respectivamente, de 0,4918 e de 0,7356.
Como em regressão linear o R2 é o quadrado de α (SHIMAKURA, 2006), os valores de α serão, respectivamente ao primeiro e

283
ao segundo caso, de 0,7013 e de -0,8577 (negativo por ser descendente) e classificados quanto à intensidade em "moderado
positivo" e "forte negativo" (TOLEDO & OVALLE, 1995).
Os cálculos por espécie possibilitaram o ranking destas quanto aos seus IDAm (Tabela 2). Por sua vez, os dados de
DAPm, altura média do fuste (Hm) e IDAm permitiram o cálculo (expressão (3)) do volume individual inicial médio (V0m) e do
volume individual final médio (Vfm) (um ano após). A diferença entre o Vfm e o V0m, portanto, exprime o incremento
volumétrico anual médio (IVAm) das espécies. Observa-se que o ranking do IDAm não tem similaridade com o do IVAm, o que
se deve às diferentes médias dendrométricas das espécies.

Tabela 2. Parâmetros dendrométricos e do crescimento diamétrico e volumétrico das espécies monitoradas, ranqueadas
em ordem decrescente ao crescimento diamétrico.
N Espécie n DAPm Hm IDAm  cv% V0m Vfm IVAm
1. Marupá 9 29,8 17,7 1,562 0,341 21,8 1,078 1,194 0,116
2. Roxinho 4 30,5 14,5 1,421 0,445 31,4 0,927 1,015 0,088
3. Jequitibá 7 60,7 17,3 1,283 0,370 28,9 4,368 4,554 0,187
4. Fava-orelinha 10 68,7 18,9 1,022 0,309 30,2 6,123 6,307 0,184
5. Angico 28 41,1 12,1 1,013 0,260 25,7 1,409 1,479 0,070
6. Samaúma 32 50,5 15,1 0,735 0,156 21,2 2,644 2,722 0,078
7. Cumaru-cetim 33 47,0 18,3 0,696 0,347 49,9 2,774 2,857 0,083
8. Copaíba 31 49,5 12,0 0,672 0,062 9,2 2,012 2,067 0,055
9. Cedro 15 28,3 10,6 0,657 0,236 35,9 0,585 0,612 0,028
10. Angelim-amargoso 15 42,1 17,4 0,616 0,311 50,5 2,122 2,184 0,063
11. Cambará 5 70,2 26,8 0,612 0,380 62,2 9,071 9,230 0,159
12. Jutaí 25 51,5 20,5 0,554 0,039 7,0 3,730 3,810 0,081
13. Cerejeira 20 31,3 14,7 0,533 0,016 3,0 0,990 1,024 0,034
14. Pereiro 5 54,9 17,6 0,459 0,190 41,3 3,643 3,705 0,061
15. Amarelão 16 43,8 22,8 0,434 0,055 12,8 3,000 3,060 0,060
16. Ipê-amarelo 29 44,3 19,0 0,421 0,134 31,7 2,561 2,610 0,049
17. Tauari 25 48,0 22,7 0,408 0,134 32,9 3,592 3,653 0,061
18. Violeta 14 41,4 17,1 0,406 0,140 34,5 2,007 2,047 0,040
19. Catuaba 23 45,2 17,6 0,405 0,114 28,0 2,462 2,506 0,044
20. Cumaru-ferro 12 42,0 13,5 0,400 0,070 17,6 1,641 1,672 0,031
21. Aroeira 19 50,6 26,4 0,390 0,096 24,6 4,627 4,698 0,072
22. Maçaranduba 18 35,8 12,2 0,372 0,053 14,3 1,072 1,095 0,023
23. Manitê 19 27,9 13,1 0,344 0,163 47,4 0,695 0,712 0,017
24. Breu-vermelho 30 43,1 8,0 0,311 0,093 29,9 1,020 1,035 0,015
25. Cernambi-de-índio 17 40,0 16,9 0,265 0,061 23,2 1,865 1,889 0,025
26. Imbirindiba 17 47,9 15,8 0,249 0,081 32,6 2,492 2,518 0,026
27. Jitó 31 48,0 11,7 0,245 0,063 25,8 1,843 1,862 0,019
Total 509 - - - - - - - -
Em que: N = posição hierárquica da espécie quanto ao incremento diamétrico; n = número de unidades amostrais (árvores) gerador dos
dados; DAPm = DAP individual médio, em cm; Hm = altura individual média do fuste, em m; IDAm = incremento diamétrico anual médio,
em cm ano-1;  = desvio padrão do IDAm, em cm ano-1; cv% = coeficiente de variação percentual do IDAm, em %; V0m = volume individual
inicial médio com base no DAPm e Hm, em m3; Vfm = volume individual final médio com base no DAPm + IDAm e Hm, em m3; IVAm =
incremento volumétrico individual anual médio, em m3 ano-1; DAPm e Hm são os iniciais com base no DAP e altura do fuste tomados no
momento da caracterização das árvores; IDAm é referente à média das médias das séries de avaliações das espécies; ressalva-se que algumas
espécies apresentaram um baixo n (p.ex.: cambará, pereiro e roxinho), o que pode afetar a representatividade dos seus dados; o cálculo do
Vfm não considerou o crescimento em altura do fuste.

As relações funcionais entre o IDAm (média das séries de incremento) e o DAPm, para as árvores agrupadas por

284
espécies, revelaram um baixo o R2, portanto, um baixo grau de associação entre as variáveis. Quando analisadas
individualmente (por árvore), as relações do IDAm com o DAP apresentaram um R2 ainda menor (quase nulo). Deste modo, os
baixos R2 encontrados (ambos por função quadrática) confirmam que o crescimento diamétrico das árvores de maiores
diâmetros não apresenta diferenças expressivas com as de menores diâmetros6 (Figura 4).

1,8 4
2
IDAm = 0,001DAP m - 0,0929DAP m + 2,7072
(a) (b)
1,6 3,5
2
IDAm = 0,00003DAP - 0,0035DAP + 0,6696
2
R = 0,1949 2
1,4 R = 0,0022
n = 27 3
n = 484

IDAm (cm ano )


1,2 ns
IDAm (cm ano )

P>0,05; ANOVA

-1
-1

ns
2,5 P>0,05; ANOVA
1
2
0,8
1,5
0,6
0,4 1

0,2 0,5

0 0
20 30 40 50 60 70 80 0 20 40 60 80 100 120 140 160
DAPm (cm) DAP (cm)

Figura 4. Dispersão dos dados e regressão ajustada entre o incremento diamétrico anual médio (IDAm) e DAP médio
(DAPm) por espécie (a) e entre IDAm e DAP individuais do conjunto das árvores do estudo (b).

De modo análogo, as relações funcionais entre os dados individuais do IDAm e do DAPm de cada espécie, mostraram,
em geral, que são fracos os níveis de associação destas variáveis. Por meio de regressão linear simples, a maioria das espécies
apresentou um baixo R2 (os dados entre parênteses referem-se ao R2 e respectivo número de pares de dados gerador): amarelão
(0,0004; 15), angelim-amargoso (0,3200; 15), angico (0,0965; 27), aroeira (0,0722; 12), breu-vermelho (0,0495; 29), cambará
(0,4284; 5), catuaba (0,0002; 23), cedro (0,1383; 15), cerejeira (0,3321; 19), cernambi-de-índio (0,3511; 17), copaíba (0,0355;
30), cumaru-cetim (0,0287; 31), cumaru-ferro (0,0290; 12), fava-orelinha (0,3773; 10), imbirindiba (0,2925; 17), ipê-amarelo
(0,0021; 29), jequitibá (0,7421; 7), jitó (0,0182; 29), jutaí (0,0045; 25), maçaranduba (0,3575; 18), manitê (0,1247; 12),
marupá (0,4855; 7), pereiro (0,7803; 5), roxinho (0,5485; 4), samaúma (0,3477; 32), tauari (0,0378; 25) e violeta (0,1021; 14).
Os resultados da caracterização das árvores em campo foram (os dados entre parênteses referem-se ao número de
árvores e % em relação ao total de árvores): 1. Qualidade do fuste: aproveitamento total (418; 86,2%), parcial (62; 12,8%), sem
aproveitamento (5; 1,0%); 2. Posição sociológica: dominante (122; 25,1%), intermediária (263; 54,1%) e suprimida (101;
20,8%); 3. Condição de luminosidade: muita luz (131; 27,0%), moderada luz (252; 51,9%) e pouca luz (103; 21,2%); 4.
Presença de cipós: alta (6; 1,2%), moderada (59; 12,1%), baixa (90; 18,5%) e ausente (331; 68,1%); 5. Presença de plantas
epífitas e parasitas: alta (1; 0,2%), moderada (21; 4,3%), baixa (66; 13,6%) e ausente (398; 81,9%); 6. Infestação de cupins:
alta (1; 0,2%), moderada (17; 3,5%), baixa (38; 7,8%) e ausente (430; 88,5%); 7. Defeitos do fuste: sem defeitos (421; 86,6%)
e ao menos um defeito (65; 13,4%); 8. Estado fitossanitário geral: bom (443; 91,2%), regular (42; 8,6%) e ruim (1; 0,2%); e 9.
Local sujeito a alagação: sim (15; 3,1%) e não (471; 96,9%).
Os α entre as características ambientais (incluindo o DAP) e o IDAm revelaram, em geral, relações funcionais muito
baixas (Tabela 3).

6 O crescimento diamétrico aqui referido é o absoluto (em cm ano-1), entretanto, diferente disso, conforme a Figura 3, o crescimento
diamétrico proporcional ao diâmetro das árvores (em %) é menor nas de maiores diâmetros do que nas de menores diâmetros.

285
Tabela 3. Correlação linear entre as características ambientais das unidades amostrais do estudo e o incremento
diamétrico anual médio (IDAm).
Característica da árvore α np F0
Condição de luminosidade 0,2206 482 **
Posição sociológica 0,2025 482 **
Presença de plantas epífitas e parasitas 0,1470 482 **
Infestação de cupins 0,1115 482 *
Qualidade do fuste 0,0787 481 ns
Estado fitossanitário geral da árvore 0,0547 482 ns
Presença de cipós 0,0206 482 ns
DAP -0,0002 484 ns
Defeitos do fuste -0,0636 482 ns
Local sujeito a alagação -0,1638 482 **
Em que: α = coeficiente de correlação linear; np = número de pares de dados gerador do α; F0 = nível de significância estatística pelo teste F;
ns = α não significativo (p > 0,05 de H0); * = α significativo ao nível de 5% de probabilidade (p < 0,05 de H0); ** = α significativo ao nível
de 1% de probabilidade (p < 0,01 de H0); o IDAm é referente à média das médias individuais das séries de avaliações das unidades amostrais.

Considerações Finais

As baixas relações funcionais (α e R2) entre o DAP (individualmente e em grupos) e as características ambientais das
árvores com o IDAm demonstram ausência de padrões que correlacionem estas variáveis com o crescimento das árvores.
Entretanto, quando as árvores foram observadas agrupadas por espécie as diferenças comparativas se evidenciaram, indicando
haver padrões de crescimento distintos.
Ainda que realizado em áreas restritas ao estado do Acre e para um número mediano de espécies quando comparado
ao potencial de espécies manejáveis da região, entende-se que os resultados deste estudo se constituem em bons indicativos
para a Amazônia visto que esta, embora de enorme extensão territorial, é considerada um bioma único, relativamente
homogêneo quanto ao clima, hidrografia, topografia, tipos edáficos, etc. e, especialmente, quanto ao ecossistema florestal.

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287
5SSS137
DIMENSIONAMENTO DE SISTEMA DE DETENÇÃO HÍDRICA
UTILIZANDO GALÕES PLÁSTICOS
Natália Maziero Raiser1, Augusto Romanini2
1UNEMAT SINOP/MT, Graduanda do Curso de Engenharia Civil, e-mail: natalia_raiser@hotmail.com;
2Universidade de Cuiabá – FACISAS, Professor, Bacharel em Engenharia Civil, Mestrando na Universidade
Federal de Ouro Preto – Mestrado Profissional NUGEO/UFOP, e-mail: augusto.romanini@gmail.com

Palavras-chave: Drenagem; microrreservatório; infiltração

Resumo
A pesquisa procurou dimensionar e analisar a viabilidade de implantação de um microrreservatório de detenção em lotes na
cidade de Sinop – MT utilizando material de fácil acesso, galões plásticos, determinando o impacto da vazão deste sistema na
área de estudo. Realizou-se ensaios nos meses de Março, Abril e Maio, sendo escolhido um dia de cada mês. Com os tempos
obtidos nas leituras foi possível fazer os cálculos de infiltração e vazão do sistema, que possui médias de 5,81E-4 m/s e 7,11E-
4 m³/s respectivamente, constatando que o mesmo é eficaz em um curto intervalo de tempo e que a área lateral da estrutura tem
considerável interferência na infiltração.

Introdução
Na década de 70 houveram incentivos do governo para colonização de terras no estado de Mato Grosso que eram consideradas
inacessíveis, e com a promessa de terras férteis, benefícios fiscais e financeiros. Desde então alguns dos municípios do estado
vêm mostrando crescimentos a cada ano, como é o caso de Sinop, cidade de estudo.
Conforme apresentado por Tucci (2001), na região norte de Mato Grosso, onde está situada a cidade de Sinop, a média anual
de chuvas podem variar de 2000 mm e 3000 mm. No verão há a predominancia de chuvas, pois mais de 70% do total das
intensidades pluviométricas acontecem entre novembro e março, e o inverno é muito seco e as chuvas atípicas.
O município vem se desenvolvendo de forma rápida e junto ao crescimento nota-se um sistema de drenagem ineficiente, que
não foi planejado e projetado para tal progresso, ocasionando as inundações nas ruas e avenidas principais, e
consequentemente trazendo prejuízos à população, como congestionamentos e contaminação da água. Além disso, por causa
das constantes construções de edificações e pavimentação, houve uma redução substancial das áreas permeáveis.
Diante da ineficiência de uma rede de drenagem urbana de Sinop nos períodos de chuvas, buscou-se analisar e dimensionar um
dispositivo de detenção hídrica a nível urbano empregando material de fácil acesso (galões plásticos), investigando a
viabilidade e aplicabilidade do dispositivo e seus efeitos no sistema de drenagem do local estudado.

Revisão Bibliográfica
Segundo Silva (2016), em meados do século XIX que os sistemas de drenagem começaram a ser implantados, quando o
desenvolvimento das cidades trouxeram prejuízos à população por meio de ocorrências de cheias e o alastramento de doenças
de veiculação hídrica. Para fins de drenagem urbana, consiste basicamente em projetar os componentes segundo estimativas de
vazões máximas associadas a tempos de duração e retorno da chuva de projeto, e cujo o propósito é transferir o escoamento
para a jusante o mais rápido possível.
De acordo com Scarpazza (2011), uma concepção inadequada dos projetos de drenagem, por profissionais que apenas
entendem o processo como sendo o escoamento da precipitação o mais rápido possível e não visam o crescimento do volume
que deve ser escoado, que acabam trazendo consequências graves para uma cidade, como as situações de inundações,
transtornos para a população e propagação de enfermidades.
Conforme Canholi (2014), as medidas não convencionais em drenagem urbana podem ser compreendidas como estruturas,
obras, dispositivos ou mesmo como ideias particularizadas de projeto, cuja a aplicação não se encontra ainda difundida. São
recursos que diferem do pensamento tradicional de canalização, mas podem estar relacionada a ela, para harmonização e
otimização do sistema de drenagem. Nos planos mais frequentemente aplicados, destacam-se aqueles que visam aprimorar o
processo da infiltração; reter os escoamentos em reservatórios; ou desacelerar o fluxo nas calhas dos córregos e rios.
O processo de infiltração promove a diminuição dos volumes escoados empregando recursos que criam e auxiliam a
distribuição das águas pluviais no solo, por meio da aplicação de fluxos subterrâneos que simultaneamente armazenam e
retardam o escoamento superficial e ampliam a recarga dos lençóis freáticos, sendo capaz, dependendo das circunstâncias
locais e intensidade das chuvas, de suprir totalmente o escoamento superficial (NAKAZONE, 2005).
De acordo com Silva (2016), diversos estudos vêm sendo apresentados com o intuito de analisar as vantagens e impactos
dessas novas técnicas de gerência do escoamento superficial, a considerar: valas e planos de infiltração, poço de infiltração,

288
pavimentos permeáveis e microrreservatórios de detenção. Dentre esses sistemas usados para o amortecimento de vazões de
pico, sobressaem os microrreservatórios de detenção.
Para evitar os problemas relacionados aos alagamentos de uma forma sustentável, a medida adotada é a mais próxima possível
de sua origem. Uma providência sugerida é o manejo das vazões na saída dos lotes, através de microrreservatório de detenção
(TASSI, 2002).
Conforme Agra (2001), os microrreservatórios de detenção ocupam um espaço disponível no lote, de fácil construção,
constituído por diversos materiais, acessíveis ou não, e tem por finalidade o armazenamento do volume temporário,
amortecendo o escoamento superficial e os picos de vazões, distribuindo-o no tempo.

Metodologia
Local de Estudo
A área escolhida para a implantação do dispositivo sofre com problemas de drenagem nos períodos de chuvas, sendo os meses
que estão em análise, Março e Abril essas são comumente frequentes na região, já no mês de Maio o índice pluvial diminui. E
o local está situado entre os blocos H e I da UNEMAT, Jardim Imperial, na cidade de Sinop no norte do Mato Grosso.
A região estudada apresenta um clima tropical, com duas estações bem definidas, sendo uma de seca no inverno e outra
chuvosa no verão, possuindo um relevo plano, suavemente ondulado e conforme Lacerda Filho et al. (2004) o município está
inserido na Bacia dos Parecis que está coberta discordantemente por areias, siltes e argilas.
Bezzera e Crispim (2014) calssificaram o solo local como A-5 e com uma condutividade média in situ , corrigida para a
temperatura de 20º C, de 2,68E-5 m/s, por mais que a classificação indique caracteristicas de solo argiloso, em termos de
condutividade hiráulica , assemelha-se com caracteristicas de areia fina.
Para implantação do dispositivo no local de estudo deve-se levar em consideração algumas condicionantes.
Segundo exposto por Urbonas e Stahere (1993), citado por Manual de Drenagem de Porto Alegre (2005, p. 32), é indicado o
método criado pela Swedish Association dor Water and Sewer Works (1983), que está associado com uma pontuação referente
ao local de análise. Os valores para o sistema de contagem pode ser acessado na Tabela 6.3 do mesmo manual: “Sistema de
pontuação para avaliação de possíveis locais de implantação de dispositivos de infilltração e/ou percolação”.
Ainda conforme o manual, a soma dos pontos informa o resultado da avaliação da área, se o total for menor que 20, deve ser
descartada; entre 20 e 30, candidata a receber um dispositivo; e se o total for maior que 30, pode ser considerada excelente.
Desta forma, analisando a pontuação por item, temos que:
Razão entre área impermeável contribuinte e área de infiltração: 5; natureza da camada de solo superficial de matéria orgânica
intermediária: 5; solo subsuperficial de areia siltosa ou lemo: 5; a declividade da superfície de infiltração menor que 7%: 5;
sem cobertura vegetal (solo nu): -5; O grau de tráfego na superfície de infiltração com pouco tráfego de pedestres: 5.
Portanto, o local de estudo fica classificado como um candidato a receber um dispositivo de infiltração, com um total de 20
pontos.

Materiais
Os materiais empregados na construção do protótipo foram: material granular (areia e brita nº 01), 6 galões plásticos, arame
liso, tela verde e linha. Além disso, foi utilizado mangueira e um medidor de nível eletrônico para as medições.

Métodos
Dimensionamento
Na construção do sistema, foi estipulado um volume, delimitado pela quantidade de galões empregados na montagem, desta
maneira, conseguindo determinar a área drenada que o protótipo atinge, através da Equação 1, com um tempo de retorno de 10
anos, baseado no Manual de Drenagem de Porto Alegre (2005):

(1)

Onde:
V = volume (m³);
A = área drenada para a jusante do empreendimento/área da bacia (ha);
AI = área permeável que drena a precipitação para os condutos pluviais (%).
Como é um local onde a drenagem de 100% de superfície impermeável para trincheira de infiltração, utiliza-se AI = 80%.

Aplicando o volume do microrreservatório de aproximadamente 0,43 m³ na Equação 1, é encontrado o resultado da área da


bacia atingida, que é de 12,66 m².

Montagem da Estrutura
A construção do reservatório foi realizada em janeiro de 2019 e consistiu primeiramente com a escavação da vala, com

289
dimensões 0,91mX0,86mX0,55m. Posteriormente, com a deposição do material granular (areia e brita nº 01) na base para o
assentamento do conjunto. O esquema do protótipo montado pode ser visto na Figura 1.

Figura 1: Esquema protótipo – escala 1:10.

Antes da armação foram necessários criar orifícios nos galões para a passagem de água, em seguida foi feita a montagem da
estrutura, com o agrupamento dos 6 galões plásticos vinculados através de arames e envoltos pela tela verde, atingindo as
dimensões 0,81mX0,76mX0,28m. Por fim foi feita a aplicação de mais uma camada de material granular (brita nº 01) e outra
de solo natural.
A Figura 2 apresenta o sistema montado na região de estudo.

Figura 2: Equipamento montado.

Medições
Para coleta de dados foi realizado ensaio de campo usando um medidor de nível eletrônico de 4 níveis com distância de 12,5
cm entre eles, sendo o 1º o último nível do medidor e o 4º o primeiro nível, conforme apresentado na Figura 3. Com os
resultados obtidos das medições foi necessário a aplicabilidade de algumas fórmulas.
As medições dos tempos de cada nível foram executadas nos dias de 21 de Março, 09 de Abril e 03 de Maio de 2019, sendo
realizadas 3 leituras em um dia. Foi levado em consideração para a escolha das datas o período chuvoso na região, época que
proporciona a condição crítica de uso do sistema, em termos de vazão e saturação do solo. E todos os valores foram obtidos
com a ajuda de um crônometro.

290
Figura 3: Medidor de nível.

De acordo com Carvalho et al. (2012), para os testes de infiltração recomenda-se que sejam ensaiados no mínimo duas vezes,
de preferência na mesma data, como também, mantendo a mesma vazão de água a cada ensaio.
Conforme Carvalho (2008), o processo de infiltração tem como função manter a vazão dos cursos de água durante o período de
seca e diminuir o escoamento superficial, assim, reduzindo as áreas de inundações e possíveis erosões. Desta forma, para o
cálculo da taxa de infiltração (I) é expressa pela Equação 2.

(2)

Onde:
V = volume infiltrado (m³);
A = área de infiltração (m²), que corresponde à área das paredes verticais da estrutura mais a área do fundo do reservatório;
t = variação de tempo (min).
Para o cálculo da vazão (Q):

(3)

Onde:
V = volume do microrreservatório (m³);
t = variação de tempo (min).

Para as contas de Infiltração e Vazão empregou-se o volume para cada nível individualmente, assim, as dimensões usadas são
0,91mX0,86mX0,125m, resultando em um volume de aproximadamente 0,10 m³.

Método Racional
Através do método racional, que estabelece uma relação entre a chuva e o escoamento superficial (deflúvio), é possível
analisar a área da bacia contribuinte do sistema, que é dada pela Equação 4 (TOMAZ, 2002):

(4)

Onde:
Q = vazão máxima (m³/s);
C = coeficiente de deflúvio (entre 0,85 e 0,95);
i = máxima intensidade da precipitação (mm/h) (Equação 5);
A = área da bacia contribuinte em km²
A formulação da intensidade da precipitação (mm/h) para a cidade de Sinop elaborada por Botan e Crispim (2014) é calculada
pela Equação 5.

(5)

291
Onde:
Tr = período de retorno (anos);
T = tempo de concentração da bacia (min).

Resultados e Discussão
Leituras
Tabela 1. Leituras Correspondentes ao Dia 21 de Março de 2019.
Dia 21/03/2019
Níveis 1º Leitura (s) 2º Leitura (s) 3º Leitura (s)
A (4º-3º) 53 67 74
B (3º-2º) 282 293 333
C (2º-1º) 1247 1469 1620

Tabela 2. Leituras Correspondentes ao Dia 09 de Abril de 2019.


Dia 09/04/2019
Níveis 1º Leitura (s) 2º Leitura (s) 3º Leitura (s)
A (4º-3º) 35 67 97
B (3º-2º) 324 399 415
C (2º-1º) 1851 2132 2336

Tabela 3. Leituras Correspondentes ao Dia 03 de Maio de 2019.


Dia 03/05/2019
Níveis 1º Leitura (s) 2º Leitura (s) 3º Leitura (s)
A (4º-3º) 34 73 44
B (3º-2º) 338 499 558
C (2º-1º) 2316 2920 3178

Nota-se que quando o nível do microrreservatório esta em A, para qualquer um dos dias, o seu tempo é bem menor quando
comparado aos níveis B e C, isso se deve pela área de contato que a água tem com as paredes do microrreservatório, que com o
passar do tempo vai diminuindo a área de contato que a água tem com o solo, assim, aumentando o tempo que a água é
infiltrada pelo solo.

Infiltração
Conforme a Equação 2, os valores obtidos da infiltração estão dispostos nas Tabelas 4, 5 e 6, também, a relação tempo e
infiltração pode ser melhor observada nas Figuras 4, 5 e 6, de acordo com seus respectivos dias. Observa-se que em todos os
casos a infiltração diminui com o passar do tempo. Isso porque a água preenche os vazios no solo abaixo do
microrreservatório.

Tabela 4. Valores de Infiltração no Dia 21 de Março de 2019.


Infiltração (m/s)
Níveis 1º Leitura 2º Leitura 3º Leitura Média
A (4º-3º) 0,00151 0,00119 0,00108 1,26E-03
B (3º-2º) 0,00028 0,00027 0,00024 2,65E-04
C (2º-1º) 0,00006 0,00005 0,00005 5,59E-05

292
Tabela 5. Valores de Infiltração no Dia 09 de Abril de 2019.
Infiltração (m/s)
Níveis 1º Leitura 2º Leitura 3º Leitura Média
A (4º-3º) 0,00228 0,00119 0,00082 1,43E-03
B (3º-2º) 0,00025 0,00020 0,00019 2,13E-04
C (2º-1º) 0,00004 0,00004 0,00003 3,83E-05

Tabela 6. Valores de Infiltração no Dia 03 de Maio de 2019.


Infiltração (m/s)
Níveis 1º Leitura 2º Leitura 3º Leitura Média
A (4º-3º) 0,00235 0,00109 0,00181 1,75E-03
B (3º-2º) 0,00024 0,00016 0,00014 1,80E-04
C (2º-1º) 0,00003 0,00003 0,00003 2,90E-05

Figura 4: Relação Tempo e Infiltração – Dia 21 de Março de 2019.

293
Figura 5: Relação Tempo e Infiltração – Dia 09 de Abril de 2019.

Com o microrreservatório cheio, a água irá infiltrar pelas laterais e pela base, procurando um caminho mais fácil e rápido para
percorrer. Consequentemente nos níveis seguintes o tempo irá aumentar, pois essa área irá diminuir, sendo incapaz de atender a
água que precisa ser infiltrada. Assim, verifica-se que a infiltração nos níveis superiores são maiores e ocorrem de modo mais
acelerado que nos níveis inferiores.

294
Figura 6: Relação Tempo e Infiltração – Dia 03 de Maio de 2019.

Vazão
De acordo com a Equação 3, os resultados encontrados para a vazão são encontrados nas Tabelas 7, 8 e 9, como também, a
relação tempo e vazão pode ser melhor vista nas Figuras 7, 8 e 9, de acordo com seus respectivos dias.
Constata-se que assim como a infiltração a vazão reduz com o passar do tempo, isto é, o volume de água demora mais para
escoar e isto pode estar associado ao processo de saturação do solo.

Tabela 7. Valores de Vazão no Dia 21 de Março de 2019.


Vazão (m³/s)
Níveis 1º Leitura 2º Leitura 3º Leitura Média
A (4º-3º) 0,00185 0,00146 0,00132 1,54E-03
B (3º-2º) 0,00035 0,00033 0,00029 3,25E-04
C (2º-1º) 0,00008 0,00007 0,00006 6,85E-05

Tabela 8. Valores de Vazão no Dia 09 de Abril de 2019.


Vazão (m³/s)
Níveis 1º Leitura 2º Leitura 3º Leitura Média
A (4º-3º) 0,00280 0,00146 0,00101 1,75E-03
B (3º-2º) 0,00030 0,00025 0,00024 2,61E-04
C (2º-1º) 0,00005 0,00005 0,00004 4,69E-05

295
Tabela 9. Valores de Vazão no Dia 03 de Maio de 2019.
Vazão (m³/s)
Níveis 1º Leitura 2º Leitura 3º Leitura Média
A (4º-3º) 0,00288 0,00134 0,00222 2,15E-03
B (3º-2º) 0,00029 0,00020 0,00018 2,20E-04
C (2º-1º) 0,00004 0,00003 0,00003 3,55E-05

Figura 7: Relação Tempo e Vazão – Dia 21 de Março de 2019.

296
Figura 8: Relação Tempo e Vazão – Dia 09 de Abril de 2019.

297
Figura 9: Relação Tempo e Vazão – Dia 03 de Maio de 2019.

A partir dos valores médios da vazão e com o uso das Equações 4 e 5, fez-se o reconhecimento da área da bacia contribuinte do
protótipo. Assim, utilizando o período de retorno de 10 anos e um tempo de concentração da bacia de 10 minutos, obtém-se a
intensidade de precipitação para a cidade de Sinop/MT de 108 mm/h. E a área de contribuição da bacia é de aproximadamente
25,03 m².
Correlacionando a área que o dispositivo atende, que é de 12,66 m², com a área de contribuição da bacia que foi de 25,03 m², é
possível interpretar que a cada 25,03 m² de área da bacia, o protótipo atinge 12,66 m². Logo, pode-se dizer que o
microrreservatório deixa de sobrecarregar o sistema público de drenagem em aproximadamente 50,58% em relação aos 10
minutos de intensidade de precipitação.

Considerações Finais
Com os elevados índices pluviométricos na região estudada e juntamente com um sistema de drenagem insatisfatório foi
implementado e averiguado um microrreservatório de detenção hídrica utilizando um material que é de fácil acesso – galões
plásticos. Para este trabalho foram realizadas leituras durante três meses seguidos, desta forma determinando os valores de
infiltração e vazão da estrutura montada, que contribuíram para a análise do dispositivo no local instalado.
A partir dos resultados mostrados, conclui-se que o sistema é eficaz nos primeiros 10 minutos de chuva como um dispositivo
de infiltração, nos tempo seguintes como um dispositivo de detenção.
Também constatou-se que a área lateral do protótipo tem importante influência no sistema, uma vez que quando o dispositivo
se encontra cheio de água, a mesma tem maior área de contato com o solo, assim, ocorrendo maiores infiltrações nos primeiros
níveis.
Visto que o dispositivo pode ser uma alternativa eficaz para reduzir a sobrecarga pluvial na macrodrenagem indica-se a
inserção de mais microrreservatório em lotes com configurações similares ao deste trabalho, buscando minimizar os problemas
relativos aos alagamentos, contribuindo para a sociedade do município de Sinop – MT.

Agradecimentos
Agradeço a Universidade do Estado de Mato Grosso e aos professores por todos ensinamentos e contribuições importantes que
tornaram possível a realização deste artigo.

298
Referências Bibliográficas
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299
5SSS138
GERAÇÃO DE BIOGÁS A PARTIR DE RESÍDUOS DO
PROCESSAMENTO INDUSTRIAL DE ERVA-MATE COMO FONTE
ALTERNATIVA DE COMBUSTÍVEL

Maurício Cabral Penteado1, Gabriel Menon de Lima2, Felipe Rafael Zarpellon3, Waldir Nagel Schirmer4
1
Universidade Estadual do Centro-Oeste, e-mail: mauriciocabralpenteado@gmail.com;
2
Universidade Estadual do Centro-Oeste, e-mail: gabrielmenon@gmail.com;
3
Leão Alimentos e Bebidas, e-mail: felipezarpellon@hotmail.com;
4
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), e-mail: wanasch@hotmail.com

Palavras-chave: biogás; digestão anaeróbica; energias renováveis.

Resumo
Considerando a geração de resíduos e subprodutos durante o processamento da erva-mate, surge a necessidade de se buscar
tecnologias de tratamento que possibilitem a valorização de substratos desta natureza. Neste contexto, objetiva-se avaliar o
potencial de geração de biogás a partir destes resíduos e o seu aproveitamento energético, para isto, foram analisadas as
características físico-químicas do substrato e os mesmos foram organizados em duas misturas com diferentes relações S/I, aqui
chamadas de tratamentos A e B, para que posteriormente fossem submetidos a testes de BMP e análise técnica do
aproveitamento térmico do biogás. Deste modo, foi possível verificar que a geração de biogás aumentou de forma proporcional
à adição de inóculo ao meio, por isso, o Tratamento B com a relação S/I igual a 1:5, foi o qual possuiu o maior potencial de
geração de biogás. Porém, mesmo este tratamento sendo identificado como a melhor condição deste trabalho, o mesmo
alcançou apenas 42,25 NmL.gsv-1, com respectivo teor de metano de 23,1 %, valores estes que destacam a baixa
biodegrabilidade dos substratos aqui estudados. Adicionalmente a estes resultados, em uma análise posterior e para o cenário
avaliado, verificou-se a inviabilidade do aproveitamento energético do biogás, pois o potencial energético possível de ser
obtido a partir do biogás representa apenas 1% da demanda energética desta unidade industrial.

Introdução
O consumo de bebidas produzidas à base de erva-mate vem crescendo anualmente (BASTOS e TORRES, 2003), o que implica
diretamente em uma geração de resíduos cada vez maior neste setor. Gonçalves et al. (2007) afirmam que, no processamento
da erva-mate, são geradas quantidades significativas de resíduos, os quais são geralmente queimados em caldeiras ou
destinados para a agricultura na forma de adubo. Visando ao atendimento de metas ambientais e econômicas cada vez mais
restritivas e/ou exigentes, surge a necessidade de se buscar novas tecnologias de tratamento para resíduos desta natureza, já que
as metodologias mais difundidas atualmente são onerosas ou, ainda, podem não atender de forma satisfatória aos padrões
ambientais de disposição final.
Segundo Liew, Shi e Li (2012), diferentes compostos orgânicos, como resíduos alimentares e dejetos de animais vêm sendo
muito utilizados como substrato para a digestão anaeróbica. Além disso, a biomassa lignocelulósica proveniente de resíduos
florestais e agrícolas (como é o caso da erva-mate) também tem se destacado como importante substrato para a digestão
anaeróbica, dada a sua elevada disponibilidade.
A digestão anaeróbia é o processo que possibilita a conversão biológica da maioria dos resíduos orgânicos na ausência de
oxigênio. Para que este processo ocorra, são necessárias condições que favoreçam as diferentes espécies de bactérias
responsáveis pela degradação do composto orgânico. A digestão ocorre principalmente em quatro fases, hidrólise, acidogênes,
acetogênese e metanogênese; em cada etapa, enzimas são liberadas por bactérias específicas, propiciando a degradação da
matéria orgânica. Um dos produtos da digestão anaeróbia é o biogás, uma mistura de gases que apresenta alto poder energético
(LASTELLA et al., 2002).
O biogás apresenta variações em sua composição, mas, em geral, é composto por metano (CH4, 60% em volume), dióxido de
carbono (CO2, 40% em volume) e outros gases em nível de traço como o sulfeto de hidrogênio (H2S), oxigênio (O2), nitrogênio
(N2), monóxido de carbono (CO) e água (H2O) (CIOABLA et al., 2012).
Para a avaliar a produção de biogás, o potencial bioquímico de metano (BMP) e a quantidade de substrato disponível devem
ser considerados (DEUBLEIN e STEINHAUSER, 2010). O teste BMP é um ensaio de curta duração (1 a 2 meses) que tem a
finalidade de determinar o potencial de geração de metano (ou biogás) e a respectiva degradação dos substratos. As principais
vantagens do teste são simplicidade no desenvolvimento do ensaio, baixo custo, rapidez e precisão na obtenção de resultados
(LABATUT, ANGENENT e SCOTT, 2011; KELLY et al., 2006).

300
Quando o biogás apresenta alta concentração de metano o mesmo é utilizado como fonte de energia para diferentes processos,
cabe salientar que o uso de combustíveis renováveis contribui para a mitigação de poluentes atmosféricos e gases de efeito
estufa (GEE) emitidos pela queima de combustíveis fósseis. O Brasil é um dos países signatários da 21ª Conferência das partes
(COP-21); no acordo, o país comprometeu-se em reduzir 43% das emissões de GEE até 2030, adequando sua matriz energética
a fim de que ela seja constituída por 45% de fontes renováveis (BRASIL, 2015). A própria Política Nacional de
Biocombustíveis (RenovaBio), lançada pelo Governo Federal em 2017, busca reconhecer o papel estratégico de todos os tipos
de biocombustíveis na matriz energética do Brasil, tanto para a garantia energética quanto para a minimização de gases de
efeitos estufa (BRASIL, 2017).
Neste contexto, o presente trabalho se insere na proposta de valorização de resíduos orgânicos industriais, contribui para
redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e busca estudar o potencial de geração de biogás a partir de resíduos do
processamento da erva-mate.

Material e Métodos

Caracterização dos substratos

Os substratos utilizados no presente estudo (pó-verde, borra, fibras da torração e efluente líquido do processamento de erva-
mate) foram coletados na empresa Leão Alimentos e Bebidas, na cidade de Fernandes Pinheiro (PR). A unidade realiza o
processamento da erva-mate e a posterior produção de bebidas derivadas da erva. O pó-verde é um subproduto resultante da
padronização do corte das folhas; as fibras da torração são resíduos sólidos oriundos do processo de torrefação da erva-mate; já
a borra é o resíduo da extração no processo produtivo. Esses resíduos são orgânicos e atualmente são utilizados como adubo
em uma propriedade rural; já o subproduto é vendido ao mercado por um preço “simbólico” para produção de chimarrão.
Neste estudo, foram avaliados diferentes tratamentos dos substratos sólidos buscando identificar a melhor combinação em
termos de potencial de geração de biogás. De modo a relacionar a produção de biogás com as características dos substratos e
suas misturas, foram realizadas análises de umidade, pH, sólidos totais (ST), sólidos voláteis (SV) de acordo com o Standard
Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 2005) em todos os tratamentos antes e após a biodigestão
(ensaios em regime de batelada). A análise de sólidos voláteis visa à determinação da presença de matéria orgânica
biodegradável em um resíduo; complementarmente à análise de SV, buscando ratificar a biodegrabilidade do substrato, foi
analisada a razão holocelulose/lignina de acordo com a metodologia proposta por Alves (2008). Além disso, foram
determinados ainda os teores de Carbono Orgânico Total (COT) por meio do método volumétrico do dicromato de potássio e
Nitrogênio Total (NT) utilizando o micrométodo de liga de Raney, ambos os métodos são considerados pelo Ministério da
Agricultura como os mais adequados para determinação de COT e NT (BRASIL, 2014).

Teste BMP e monitoramento do biogás

O BMP é um teste de biodegradabilidade do resíduo e consiste em utilizar reatores em escala de bancada em regime de
batelada com uma pequena parcela do substrato sob condições controladas de temperatura, acompanhado de um inóculo rico
em microrganismos anaeróbicos. O resultado é comumente expresso em termos de volume de biogás gerado (ou metano) por
unidade de matéria orgânica adicionada ao reator (OWEN et al., 1979; STEINMETZ et al., 2016). Como biodigestores, foram
utilizados frascos de borossilicato com volume total de 250 mL, dotados de tampas confeccionadas em nylon com manômetros
para monitoramento e válvulas para descarga e coleta de biogás (Figura 1).

301
Figura 1: Esquema simplificado do reator utilizado no teste BMP

Os ensaios compreenderam as seguintes misturas de substratos: mistura (A) pó-verde + borra + fibras da torração + efluente
líquido; mistura (B) pó-verde + borra + efluente líquido. O efluente líquido (efluente residual e sem valor comercial, destinado
à estação de tratamento da indústria) foi utilizado para a padronização da umidade dos ensaios, mantida em ≈90%. Segundo
Yuan et al. (2014), resíduos com elevados teores de umidade apresentam características mais favoráveis à biodigestão,
implicando em uma maior geração de biogás. Cada mistura foi avaliada em diferentes proporções com o inóculo (relação
substrato/inóculo em massa de sólidos voláteis): 5 gsv:1 gsv, 1 gsv:1 gsv e 1 gsv:5 gsv, todos em triplicata. Como inóculo, foi
utilizado lodo coletado em reator UASB da estação de tratamento de efluentes domésticos da cidade de Irati-PR. O volume
total de cada tratamento (misturas A e B com inóculos), foram preenchidos conforme mostra a tabela 1. Foram ainda adotados
“brancos”, ou seja, frascos também em triplicata contendo apenas 100 mL de inóculo sem nenhum substrato, de modo a se
obter a produção líquida de biogás para cada mistura ao final do processo de biodigestão.

Tratamento A B
Mistura A (mL) Inóculo (mL) Mistura B (mL) Inóculo (mL)
S/I 5:1 104 4 104 2
S/I 1:1 130 18 130 9
S/I 1:5 104 60 104 30
Tabela 1: Volume das misturas e inóculo para os tratamentos A e B

Antes da incubação, uma corrente de N2 foi recirculada no headspace dos frascos durante 3 minutos de modo a manter a
anaerobiose do sistema. Uma vez selados, os reatores foram incubados em um equipamento de banho-maria (QUIMIS®), sob
temperatura constante de 37ºC durante todo o período de biodigestão (30 dias para cada tratamento, suas triplicatas e
respectivos brancos), conforme a figura 2.

302
Figura 2: Reatores incubados em banho-maria

O biogás foi monitorado diariamente, com o objetivo de mensurar a geração de biogás. As variáveis controladas durante o
período de incubação foram pressão manométrica e pressão atmosférica local, utilizando dados do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET). A partir desses dados, a pressão manométrica dos reatores foi convertida em volume de biogás gerado
(acumulado no “headspace”) nas condições normais de temperatura e pressão (CNTP).
O biogás gerado em cada reator foi coletado com o auxílio de uma seringa de 60 mL e transferido para um analisador portátil
de gases (Columbus Instruments®) para a determinação da concentração de metano em cada tratamento. Os dados obtidos
nesta etapa foram necessários para a determinação do potencial energético do biogás gerado a partir de cada tratamento.

Análise Do Potencial Térmico Do Biogás

O biogás proveniente do processo de biodigestão pode ser aproveitado na forma de energia térmica de duas formas: a partir do
aproveitamento da perda de calor dos geradores (cogeração) ou através da sua queima direta (BLEY JUNIOR, 2015). Quando
rico em metano, o biogás é uma fonte renovável de energia que pode ser utilizada para substituir combustíveis de origem fóssil
(OLIVEIRA, 2004), como o gás liquefeito de petróleo (GLP), gás natural (GNV), cavaco, etc., comumente utilizados na
geração de energia no meio industrial. No presente estudo, o GLP é o combustível atualmente utilizado na geração de calor em
caldeira durante o processamento da erva-mate; entretanto devido ao seu elevado custo e consumo, é necessário analisar
alternativas para substituição deste combustível por outros de menor custo e, se possível, de origem renovável.
Para realizar uma análise técnica do aproveitamento de biogás produzido a partir da digestão anaeróbia dos resíduos gerados
anualmente no processamento da erva-mate, utilizou-se as melhores condições identificadas na etapa laboratorial de avaliação
do potencial de geração de biogás. A partir desses dados, foi realizada a estimativa do volume de biogás gerado anualmente a
partir dos resíduos da empresa (Equação 1) (KUNZ e OLIVEIRA, 2006).

V anual = P BMP ∗ SV ∗Q anual (1)

Onde: Vanual é volume anual de biogás possível de ser gerado a partir das melhores condições identificadas no teste BMP
(m³.ano-1), PBMP o maior potencial de geração de biogás entre os tratamentos analisados nos testes BMP (m³.tonsv-1), SV a
concentração de sólidos voláteis do tratamento com maior potencial de geração de biogás identificado a partir do teste BMP e
Qanual produção anual dos resíduos presentes no tratamento com maior potencial de geração de biogás (ton.ano-1).

A Equação 2 (ACÁCIO e NASCIMENTO, 2014) foi utilizada para quantificar o potencial de energia instalada, ou seja, a
quantidade máxima de energia que pode ser obtida por meio do biogás gerado a partir da biodigestão de resíduos do
processamento da erva-mate.

E= PCI ∗ ρ∗V anual (2)

Onde: E é o potencial energético instalado (MJ), PCI o poder calorífico inferior (MJ.Kgbiogás-1, calculado a partir da NBR
15.213), ρ a densidade do biogás (Kg.m-3, calculada a partir da NBR 15.213) e Vanual o volume anual de biogás possível de ser
gerado a partir das melhores condições identificadas no teste BMP (m³.ano-1).

303
O valor do potencial energético instalado foi comparado à quantidade de energia que é atualmente utilizada a partir do GLP. A
partir desta comparação, foi possível verificar se o volume de biogás gerado anualmente é suficiente para suprir a demanda
energética da empresa e, assim, substituir o GLP.
Posteriormente, para complementar a avaliação da intercambialidade do biogás gerado a partir da digestão anaeróbia dos
resíduos da erva-mate e o GLP, atualmente utilizado no processamento industrial, foram determinados os parâmetros poder
calorífico superior e índice de Wobbe, através da metodologia estabelecida pela NBR 15213 (ABNT, 2008), que normatiza a
determinação destas propriedades dos combustíveis gasosos. Esta é uma análise importante uma vez que, o índice de Wobbe
representa o potencial de aquecimento de um gás e indica a intercambialidade entre gases (SANDFORT et al., 2017), enquanto
o poder calorífico superior, é o total de energia liberada como calor após a combustão completa do gás (ABNT, 2008), ou seja,
quanto maior o valor do poder calorífico maior será o potencial de utilização de um gás como combustível.

Resultados e Discussão

Caracterização físico-química dos resíduos(substratos)

A Tabela 2 apresenta os valores da caracterização físico-química dos substratos (individuais) utilizados neste estudo.

Pó verde Borra Fibras Torração Efluente líquido


Umidade (%) 9,1 62,7 2 -
pH 5,93 * 5,88 * 6,96 * 6,8
Sólidos Voláteis (%) 29,34 22,85 24,63 0
* Dados fornecidos pela empresa Leão Jr.
Tabela 2: Caracterização físico-química dos resíduos e inóculo.

Caracterização físico-química das misturas pré e pós biodigestão

A tabela 3 apresenta a caracterização físico-química inicial e final dos biodigestores para os diferentes tratamentos (misturas A
e B com inóculo) nas três proporções (razão S/I - substrato/inóculo) avaliadas.

Proporção S/I 5:1


Pré-Ensaio Pós-Ensaio
Trat. A Trat. B Inóculo Trat. A Trat. B Inóculo
Umidade (%) 89,1 90,4 88,9 89,5 90,7 91,0
pH 6,5 6,7 6,5 5,5 5,5 7,3
Sólidos Voláteis (%) 73 73 52 73 72 49

Proporção S/I 1:1


Pré-Ensaio Pós-Ensaio
Trat. A Trat. B Inóculo Trat. A Trat. B Inóculo
Umidade (%) 89,4 90,1 89,1 90,1 91,1 92,1
pH 6,5 6,6 6,7 5,7 5,5 7,0
Sólidos Voláteis (%) 78 79 50 76 77 49

Proporção S/I 1:5


Pré-Ensaio Pós-Ensaio
Trat. A Trat. B Inóculo Trat. A Trat. B Inóculo
Umidade (%) 89,3 90,2 92,1 92,1 91,1 89,6
pH 6,8 6,9 6,6 5,8 5,6 8,5
Sólidos Voláteis(%) 84 87 49 67,7 75,1 43,1
Tabela 3: Caracterização inicial e final dos biodigestores para todos os ensaios

304
O pH é um dos principais fatores que influenciam a geração de biogás. Weiland (2010) relata que a faixa de pH mais favorável
à geração de metano é de 6,5 a 8,5, porém, o intervalo ideal é entre 7,0 e 8,0. Pela Tabela 3, vê-se que todos ensaios possuíam
pH próximo à neutralidade antes do início da incubação. Na biodigestão a formação de metano ocorre por meio das fases de
hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese (DEUBLEIN e STEINHAUSER, 2008). Na etapa de acidogênese, são
formados ácidos que reduzem o pH do tratamento (WEILAND, 2010); contudo, durante as fases posteriores do processo, o
excesso de ácido é consumido e o pH é reestabelecido próximo à neutralidade (DEUBLEIN e STEINHAUSER, 2008). Esse
comportamento, de fato, pode ser observado nos valores iniciais e finais de pH dos biodigestores contendo apenas inóculo. Por
outro lado, considerando a natureza lignocelulósica dos resíduos utilizados nos tratamentos A e B, é provável que o tempo
adotado para os ensaios (30 dias) não foi suficiente para contemplar todas as etapas da digestão, o que impossibilitou a
neutralização completa dos ácidos formados nas fases iniciais do processo. Dada a difícil degradação de resíduos
lignocelulósicos, deve-se adotar um tempo maior para que a digestão ocorra de forma adequada (POHL, HEEG e MUMME,
2013) e os valores de pH sejam reestabelecidos à neutralidade.
Outra análise importante para avaliar a estabilidade da digestão anaeróbia é a relação dos macronutrientes Carbono/Nitrogênio
(C/N). No presente estudo, os valores obtidos nesta análise foram de 27:1 e 40:1 para as misturas A e B, respectivamente.
Reffatti et al. (2006), ao analisarem resíduos de erva-mate (folhas e caule) reportam valores semelhantes aos encontrados no
presente estudo; os autores ainda destacam que estes substratos apresentam uma relação C/N rica, situada no intervalo de 28 a
50:1. Deve-se destacar que, para favorecer a biodigestão de um substrato, a relação C/N deve estar na faixa entre 25 e 35:1.
Quando a relação é considerada “pobre” (menor que 25:1) devem ser adicionados materiais ricos em carbono, por outro lado,
para relações “ricas” (valores maiores que 35:1) deve-se optar por adicionar substratos ricos em nitrogênio (HERNÁNDEZ e
LÓPEZ, 2016). Considerando os elevados teores de carbono nos resíduos do processamento da erva-mate, pode-se afirmar que
a mistura destes resíduos com lodo de esgoto é positiva para o balanceamento dos macronutrientes da digestão anaeróbia, pois
o lodo de esgoto, utilizado como inóculo nos tratamentos A e B, é um substrato rico em nitrogênio com relação C/N de 6:1
(DEUBLEIN e STEINHAUSER, 2008).
A análise de sólidos voláteis pode ser utilizada para determinar a biodegrabilidade de um resíduo (Bayard et al., 2015); para
esta análise, valores superiores a 70% são considerados altos e, na maioria das vezes, implicam em um maior potencial de
geração de biogás de um substrato (DIESEL et al., 2002). Porém, é importante ressaltar que embora os ensaios de sólidos
voláteis sejam utilizados, muitas vezes, para determinar a biodegrabilidade de um resíduo, esta avaliação não pode ser
generalizada para todos os tipos de substratos, pois ela não considera a natureza recalcitrante de alguns compostos em
condições anaeróbias (Rodriguez et al., 2005). Os valores de sólidos voláteis obtidos no presente estudo apresentados na
Tabela 3 são similares àqueles obtidos por Silva et al. (2018) que, ao analisarem amostras de erva-mate, reportam teores de
sólidos voláteis próximos a 80%; neste caso, estes valores correspondem às porções de baixa biodegrabilidade do substrato
formadas principalmente por lignina e celulose. Um exemplo de resíduos com baixa biodegrabilidade são os lignocelulosóicos,
constituídos principalmente de lignina, celulose e hemicelulose (CHENG e LIU, 2010), como é o caso dos resíduos aqui
estudados. Deste modo, é necessário buscar outros métodos complementares aos sólidos voláteis para avaliar de forma mais
precisa a biodegrabilidade deste substrato. Segundo Achour (2008), o potencial de biodegradação de um substrato pode ser
determinado por meio da relação Holocelulose/Lignina (H:L).
Os resultados das análises de Holocelulose (Celulose + Hemi-Celulose) e Lignina realizadas para os tratamentos A e B, bem
como a respectiva relação H:L estão dispostos na tabela 4.

Parâmetro Tratamento A Tratamento B


Holocelulose (%) 51,03 48,07
Lignina (%) 36,43 29,31
H:L 1,4 1,64
Tabela 4: Análise de Holocelulose e Lignina para os tratamentos A e B

Caracterizando amostras de resíduo do processo produtivo de bebidas à base de erva mate, Sozim et al. (2011) encontraram
valores semelhantes aos obtidos no presente estudo (48,42% e 41,94%, para holocelulose e lignina, respectivamente). A
relação H:L apresenta valores mais altos quando o analito possui maior concentração de substâncias facilmente
biodegradáveis, ou seja, quanto maior for a relação H:L mais alta será a geração de biogás (ALVES, 2008). Wang et al. (1997),
utilizaram a relação H:L para analisar o grau de estabilidade de resíduos alimentares, reportando valores de 5,86 antes dos
substratos serem biodigeridos, e 0,57 após estabilizados. Considerando que no presente estudo, a análise dos parâmetros de
Holocelulose e Lignina foram realizadas antes da biodigestão dos tratamentos, pode se afirmar que os valores da relação H:L
apresentados na tabela 4 ratificam a baixa biodegrabilidade dos tratamentos analisados, pois mesmo antes de serem
biodigeridos, já possuem valores próximos aos considerados como estabilizados por Wang et al (1997).

305
Geração de biogás resultados quantitativos e qualitativos

Na figura 3 estão apresentadas as curvas de geração diária líquida de biogás (desprezando os valores de geração de biogás a
partir do inóculo) para os dois tratamentos (A e B), dentro do período de 30 dias do ensaio.

Figura 3: Geração diária líquida média para cada tratamento

A geração líquida diária máxima foi igual a 5,04 NmL.gsv-1 e 12,32 NmL.gsv-1, para os tratamentos A e B, respectivamente.
Pela figura 3 é possível observar que em todos os ensaios, os tratamentos apresentaram maior volume de geração de biogás nos
primeiros dias de digestão; após o quinto dia de incubação, a geração diária de biogás caiu consideravelmente para todos os
ensaios. De fato, segundo Cremonez et al. (2015), é nos primeiros dias da biodigestão em que ocorre a degradação de forma
rápida dos compostos com maior biodegrabilidade; a reação desacelera quando começa a ser degradada a parcela do substrato
que contém celulose e hemicelulose.
A Figura 4, apresenta a geração acumulada líquida de biogás (em NmL.gsv-1) para cada tratamento analisado nos 30 dias de
seus respectivos ensaios.

Figura 4: Geração acumulada líquida média em cada tratamento

Pela Figura 4, vê-se que os maiores potenciais de geração de biogás para o Tratamento A foi de 14,25 NmL.gsv-1, e de 42,25
NmL.gsv-1 para o Tratamento B, ambos na proporção S/I de 1/5. Segundo Angelidaki et al.(2009), a relação substrato/inóculo
deve ser estudada caso a caso, pois, a razão ideal para cada substrato depende da biodegrabilidade do resíduo e concentração
do inóculo. Deste modo, destaca-se que nem sempre uma maior concentração de inóculo resultará em um aumento na geração
de biogás (NEVES, OLIVEIRA e ALVES, 2003).
Quando comparado a outros estudos, o potencial de geração de biogás dos resíduos aqui estudados (e nas condições adotadas

306
no presente trabalho) é considerado baixo. Souza et al. (2010), por exemplo, avaliaram o potencial de geração de biogás a
partir de resíduos lignocelulósicos provenientes da bananicultura, reportando uma geração acumulada de biogás de 244
NmL.gsv-1 em 35 dias de ensaio; valores substancialmente superiores aos encontrados no presente estudo. O diferencial do
estudo feito por Souza et al. (2010) com relação a este trabalho, é o emprego de um pré-tratamento (hidrólise) buscando
facilitar a geração do biogás. Tal procedimento prévio é bastante difundido na literatura, porém, não foi aqui empregado, com
o objetivo de analisar a viabilidade da geração de biogás a partir do uso in natura do substrato estudado. Numa breve
comparação com outros resíduos industriais, destaca-se o estudo realizado por Caillet e Adelard (2019), que teve como
objetivo analisar o potencial de geração de metano a partir da vinhaça, resíduo do processamento da cana de açúcar. Os autores
reportaram um potencial de geração de metano igual a 322,95 NmLCH4.gsv-1 após 50 dias de ensaio, novamente, valor muito
superior ao obtido no presente estudo levando em consideração ainda que o teor de metano determinado por Caillet e Adelard
(2019) foi de 65 %.
A figura 5 expressa os teores de CH4 e CO2 obtidos de todos os ensaios. As análises foram realizadas no primeiro, décimo
quinto e no último dia de incubação, uma vez que a determinação da composição do biogás das amostras dependia do acúmulo
de biogás nos biodigestores.

100%

75%
Teor de CH4/CO2

50%

25%

0%
B :1
A :1
B :1
A :1
B :1
A :1
B :1
A :1
B :1
A 1
B :1
A :1
B :5
A :5
B :5
A 5
B :5
5
1:

1:

1:
5
5
5
5
5
5
1
1
1

1
1
1
1
1

1
A

C O2 por razão S/I


Tratamentos agrupados
CH4

Figura 5: Teor de CH4 e CO2 durante os ensaios

A partir da figura 5, é possível verificar que o ensaio com maior teor de metano corresponde à relação substrato/inoculo igual a
1:5, tanto para o tratamento A (22%) como para o tratamento B (23%). Deste modo, é possível afirmar que mesmo nas
melhores condições, o biogás estudado no presente estudo apresentou baixo teor de metano, pois, na maioria dos casos, sua
concentração no biogás é de aproximadamente 60% (CIOBLA et al. 2012). Deve-se destacar que a reduzida concentração de
metano no biogás está relacionada à baixa biodegrabilidade dos resíduos lignocelulósicos aqui estudados, fato que está ligado à
natureza recalcitrante de compostos como a lignina (CREMONEZ et al., 2013). Além disso, observando a figura 5, é possível
perceber o aumento na concentração de metano ao longo dos ensaios. Souza et al. (2010) ao analisar a geração de metano a
partir de resíduos lignocelulósicos, reportam que o acréscimo no teor de metano ao decorrer do tempo se deve ao período de
adaptação do inóculo ao substrato utilizado.

Análise técnica de aproveitamento térmico do biogás

Para a análise técnica da viabilidade de substituição do GLP pelo biogás gerado a partir da digestão anaeróbica dos resíduos do
processamento da erva-mate, foram considerados os valores de geração anual de resíduos, concentração de sólidos voláteis,
potencial de geração de biogás e teor de metano, referentes ao tratamento B com a relação S/I igual 1:5, pois este foi o ensaio
que apresentou maior potencial de geração de biogás.
Deste modo, considerando que a geração anual dos resíduos que compõem o tratamento B é de aproximadamente 3,1 mil
toneladas por ano (LEÃO JR., 2019), estimou-se que o volume anual de biogás passível de ser gerado a partir destes substratos
é de 5,12 mil m³ por ano. Adicionalmente, utilizando o teor de metano presente no biogás aqui estudado, foram determinados
por meio da NBR 15.213, os valores de densidade 1,56 Kgbiogás.mbiogás-3 e PCI 4,94 MJ.Kgbiogas-1. A partir destes parâmetros, foi

307
possível verificar que o potencial energético instalado no empreendimento é de aproximadamente 39,6 mil MJ.ano-1, ou seja,
este é o valor máximo de energia térmica possível de ser obtida a partir do volume anual de biogás estimado anteriormente.
Quando comparado à atual demanda energética da empresa, 3,8 milhões de MJ.ano-1 (LEÃO JR., 2019), vê-se que o potencial
energético instalado representa apenas 1% da demanda energética total do empreendimento, valores este que evidenciam a
inviabilidade do biogás substituir o GLP neste processo produtivo e para o cenário avaliado.
Complementarmente à esta análise, foram observados outros parâmetros do biogás, já que a sua utilização em queima direta é
menos restritiva com relação aos seus parâmetros qualitativos quando comparada a outros usos mais nobres (como a conversão
do biogás para biometano para geração de energia elétrica). No Brasil, os requisitos mínimos para classificação do biogás
como biometano são definidos pela Resolução da Agência Nacional de Petróleo nº 8, de 2015, onde constam os teores
máximos e mínimos para algumas variáveis como CH4 (%), CO2 (%), Poder Calorífico Superior (kJ/m³) e índice de Wobbe
(kJ/m³) (ANP, 2015). Nesta resolução, o teor mínimo de CH4 requerido é de 90% e o máximo de CO2 é de 3 %, valores
bastante distintos dos encontrados no presente estudo (para o metano as concentrações máximas foram de 22 e 23% nos
tratamentos A e B, respectivamente, ambos na proporção S/I de 1:5). Já no caso da queima direta, o pré-requisito fundamental
para utilização é que a qualidade do gás se mantenha constante e possua teor de metano superior a 50 % (PROBIOGAS, 2016).
Deste modo, é possível observar que, também em termos qualitativos, mesmo nas melhores condições do presente estudo, a
utilização do biogás gerado a partir de resíduos da erva-mate fica sujeita à purificação para atender aos pré-requisitos de
aproveitamento via queima direta.
A partir do teor de metano do tratamento B 1:5, também foi calculado o Índice de Wobbe, o que resultou em 7533,1 kJ/m³.
Considerando que este valor é cerca de seis vezes menor do que os 46500 kJ/m³ correspondentes ao GLP, é evidente que o
biogás gerado no presente estudo apresenta menor potencial energético que o atual combustível utilizado na empresa, o que, na
prática, implicaria em uma baixa intercambialidade entre esses combustíveis (ANP, 2008; SANDFORT et al., 2017).
Além disso, o Poder Calorífico Superior (PCS) calculado para o tratamento B 1:5 foi de 5482 kJ/m³, valor bem abaixo dos
35000 kJ/m³ referentes ao GLP (ANP, 2008). Deste modo, o baixo PCS indica que, para gerar quantidades equivalentes de
energia em queima direta, seria consumido um volume muito maior de biogás do que de GLP (LOBATO, 2011).

Considerações Finais
A indústria de processamento de erva-mate possui uma geração de efluentes considerável e, por este motivo, soluções
ambientalmente corretas devem ser adotadas para o adequado tratamento e disposição dos seus resíduos. A biodigestão de
substratos é uma solução comumente adotada para tratar diversos resíduos, porém, apresenta dificuldades operacionais quando
os substratos possuem característica predominantemente lignocelulósicas.
A análise da razão holocelulose/lignina retratou de forma satisfatória a baixa biodegrabilidade dos substratos. Fato este que
pode ser evidenciado pela baixa geração de biogás para os dois tratamentos estudados; o Tratamento B possuiu o maior
potencial de geração de biogás alcançando apenas 42,25 NmL.gsv-1, com respectivo teor de metano de 23,1 %.
As análises aqui realizadas ratificam a inviabilidade de substituir o GLP pelo biogás gerado a partir de resíduos do
processamento da erva-mate. Deste modo, deve-se buscar soluções alternativas para disposição e tratamento destes resíduos.
Segundo Sozim et al. (2013), um método corretamente adequado para dispor estes substratos é a compostagem, pois estes
resíduos apresentam alto teor de carbono e contribuem para o balanço de nutrientes no solo.
Adicionalmente aos dados obtidos no presente estudo, deve-se frisar que apesar de os autores terem conhecimento da
característica lignocelulósica dos resíduos, os mesmos optaram por não realizar um pré-tratamento para facilitar a biodigestão,
mesmo sabendo que este é um requisito fundamental para digestão de substratos semelhantes àqueles aqui estudados. Esta foi
uma condição adotada propositalmente para verificar como os resíduos se comportariam em situações críticas e mais próximas
à realidade do dia-a-dia operacional da empresa geradora dos substratos avaliados.

Agradecimentos
Os autores agradecem ao Ministério da Educação no âmbito do Programa de Educação Tutorial pela bolsa concedida e à
empresa Leão Alimentos e Bebidas pelo suporte oferecido durante a realização da pesquisa.
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310
5SSS139
ESTABILIDADE DE UM PROTÓTIPO DE BIODIGESTOR
ANAERÓBIO DIGERINDO RESÍDUO ALIMENTAR
Matheus Vitor Diniz Gueri1, Samuel Nelson Melegari de Souza2, Gabriel Menon de Lima3, Waldir Nagel
Schirmer4, Osvaldo Kuczman5
1
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, e-mail: mgueri@hotmail.com;
2
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, e-mail: samuel.souza@unioeste.br;
3
Universidade Estadual do Centro-Oeste, e-mail: gabrielmenon@gmail.com;
4
Universidade Estadual do Centro-Oeste, e-mail: wanasch@hotmail.com;
5
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, e-mail: osvaldokuczman@hotmail.com

Palavras-chave: biogás, digestão anaeróbia, energias renováveis, metano.

Resumo
A geração de resíduo alimentar cresce conforme aumenta a demanda por alimentos, ou seja, está atrelada a toda a cadeia de
produção alimentar. Isso evidencia que novas técnicas devem ser desenvolvidas para assegurar o manejo e tratamento
adequado destes resíduos. A digestão anaeróbia de resíduos alimentares surge então como uma alternativa promissora para o
tratamento dos resíduos alimentares que simultaneamente promove a geração de energia limpa e renovável. Sendo assim, o
presente estudo teve, como objetivo principal, analisar a eficiência de um protótipo de biodigestor anaeróbio, verificando o
potencial de reaproveitamento energético de resíduos alimentares. Para tanto, desenvolveu-se um protótipo de biodigestor
anaeróbio de 408 L, adaptado com mecanismos de agitação e controle de temperatura, operando em modo de alimentação
semi-contínuo com os resíduos alimentares. Foi verificado o potencial operacional do protótipo de biodigestor anaeróbio com
base nas informações obtidas na literatura, tendo como variáveis de controle os sólidos, pH, ácidos graxos voláteis (AGV),
alcalinidade, relação acidez volátil e alcalinidade total (AV/AT) e carga orgânica. O esquema de alimentação do biodigestor
após a partida do processo de digestão anaeróbia foi gradativamente elevando-se, respeitando os limites aceitáveis
representados pelas variáveis de controle, sendo relação AV/AT e pH. As análises eram realizadas conforme foram coletadas 3
vezes por semana, ao longo dos períodos de estabilização. Após estabilizado e alcançado o potencial máximo do biodigestor,
foi possível obter reduções da DQO e SV, respectivamente, os percentuais de 82,34 e 90,22% para o experimento semi-
contínuo. Foi possível alcançar a produção específica de metano de 0,444 Nm3 CH4.kgSVr-1 no experimento semi-contínuo. A
produção diária do biodigestor semi-contínuo foi, em média, de 220 Lbiogás.d-1; e a produção volumétrica de biogás média foi de
0,540 L.Lr-1d-1. Também verificou-se a estabilidade do biodigestor semi-contínuo, que apresentou em média a relação AV/AT
de 0,49

Introdução
O Brasil apresenta uma elevada geração de biomassas residuais, tais como resíduos sólidos urbanos, resíduos alimentares,
resíduos da agroindústria, resíduos agrícolas e lodos de depuradoras. Assim, é evidente que o manejo adequado destes resíduos
ser assegurado para minimizar possíveis impactos ao meio ambiente. Neste contexto, o processo de digestão anaeróbia como
forma de tratamento e a recuperação energética do biogás caracterizam-se como ferramenta fundamental, uma vez que reduz a
carga contaminante dos resíduos e contribui para a segurança energética.
Os resíduos alimentares (RA) são gerados em grandes quantidades, principalmente nos estabelecimentos do segmento de
alimentação, tais como restaurantes comerciais e coletivos, churrascarias, pizzarias, lanchonetes e bares. Sua composição varia
de acordo com os hábitos alimentares locais. No Brasil, geralmente compõem-se de cereais, carnes, massas, embutidos, ovos,
frutos e verduras, originados das sobras dos alimentos preparados e não consumidos e dos alimentos que são servidos e não
consumidos (ZANDONADI & MAURICIO, 2012). Além disso, a geração de RA é inerente ao crescimento populacional, pois
está ligada a todas as etapas da cadeia alimentar: assim, quanto maior a demanda por alimentos maior será a geração de
resíduos alimentares (ZHANG et al., 2014).
Os RA podem ser aproveitados por diferentes rotas tecnológicas que promovem a recuperação energética e de nutrientes.
Dentre elas, a rota biológica tem se apresentado com maior relevância, principalmente pelo processo de digestão anaeróbia
(DA), uma vez que mineraliza a matéria orgânica e simultaneamente produz o biogás contendo metano (CH4) que pode ser
aproveitado energeticamente e um efluente rico em nitrogênio, fósforo e outros minerais que pode ser utilizado para melhorar a
fertilidade e textura dos solos (WOON & LO, 2016).
A DA consiste em um processo microbiológico natural que proporciona interações enzimáticas e metabólicas sobre compostos
orgânicos (biomassa residual), convertendo-os principalmente em matéria estabilizada, metano (CH4) e dióxido de carbono

311
(CO2). Neste processo, a formação do metano ocorre em ambientes onde o oxigênio, o nitrato e o sulfato não estejam
disponíveis como aceptores de elétrons (TCHOBANOGLOUS et al., 1993; CHERNICHARO, 2007; PITK et al., 2013). Vale
ressaltar que no processo de DA também pode ocorrer a etapa de redução de sulfatos (sulfetogênese), especialmente quando a
degradação ocorre em substratos ricos em proteínas. As Bactérias Redutoras de Sulfato (BRS) envolvidas nessa etapa são
capazes de utilizar toda a cadeia de ácidos graxos voláteis (AGV), hidrogênio, metanol, etanol, glicerol, açucares, aminoácidos
e acetato para o seu metabolismo, tornando-as concorrentes em comum por substrato com as acetogênicas e metanogênicas,
perturbando a relação simbiótica que há entre estes microrganismos, levando a uma menor eficiência geral no processo e,
consequentemente, menores teores de metano (CHERNICHARO, 2007).
A DA representa um sistema ecologicamente balanceado, em que diversos microrganismos operam simbioticamente em duas
etapas: digestão ácida e digestão metanogênica (TCHOBANOGLOUS et al., 1993). Entretanto, outro aspecto relevante que
pode afetar a simbiose entre os microrganismos envolvidos refere-se às taxas de degradação que devem ser iguais em ambos os
estágios, para que o processo seja eficiente. Caso contrário, se no primeiro estágio o processo for rápido demais, a
concentração de ácidos e de gás carbônico eleva-se e o pH cai abaixo de 7,0, assim a fermentação ácida ocorre também no
segundo estágio. Portanto, se o segundo estágio ocorrer demasiadamente rápido, evidenciando que muitos microrganismos do
primeiro estágio estão presentes no segundo estágio, a produção de metano diminui e se faz necessário introduzir novos
microrganismos do segundo estágio para restabelecer o equilíbrio (DEUBLEIN e STEINHAUSER, 2008).
O parâmetro que é frequentemente utilizado para verificar o equilíbrio ecológico em sistemas anaeróbios é a concentração de
ácidos graxos voláteis (AGV). Os AGV são produtos intermediários do processo de digestão anaeróbia, provenientes da
degradação de carboidratos, proteínas e lipídeos e se caracterizam por serem de baixo peso molecular, como o propionato, o
butirato e outros compostos mais reduzidos que o acetato, como os ácidos de cadeias curtas (AQUINO e CHERNICHARO,
2005). Quando o sistema se apresenta equilibrado, com uma população de bactérias metanogênicas suficiente e em condições
favoráveis, os AGV são consumidos logo após serem formados e, portanto, não se acumulam no sistema e o pH permanece
neutro. Por outro lado, com o sistema sob condições de estresse e limitações cinéticas dos microrganismos metanogênicos, os
AGV são gerados a uma taxa maior do que são consumidos, acumulando-se no meio e causando uma queda no pH,
provocando o azedamento do biodigestor e o cessamento da atividade dos microrganismos metanogênicos (CHERNICHARO,
2007). Dessa forma, os ácidos graxos voláteis (AGV) e a alcalinidade se tornaram importantes indicadores da estabilidade em
biodigestores anaeróbios. A acidez volátil, quantificada em “mg de ácido acético por litro”, indica a concentração de ácidos e
mede a capacidade do processo fermentativo anaeróbio em resistir à elevação do pH quando uma base é adicionada. A
alcalinidade total, quantificada em “mg de carbonato de cálcio por litro”, indica a concentração de álcalis participantes na
fermentação e mede a capacidade do sistema em resistir ao abaixamento do pH quando da adição de ácidos. Os dois
indicadores são os mais importantes para o monitoramento de processos anaeróbios (AMANI et al., 2010). Portanto, é
necessário dosar a quantidade de substrato a ser adicionada ao biodigestor, na qual a referência estimativa é a relação de ácidos
voláteis versus alcalinidade (AV/AT) existente na fermentação, cujo valor, conforme Sánchez et al. (2005), deve ficar entre 0,1
a 0,5 para que o sistema mantenha o equilíbrio nas reações de produção e de consumo dos compostos.
A DA de RA é um processo complexo que deve simultaneamente digerir carboidratos, proteínas e gorduras em um sistema de
simples estágio. O processo é influenciado estreitamente por diversos parâmetros-chave, como temperatura, pH, concentração
de AGV, de amônia, de nutrientes, entre outros. É extremamente importante manter os parâmetros-chave em níveis
apropriados por um longo tempo de operação (ZHANG et al., 2014).
Neste contexto, o presente estudo objetivou avaliar a eficiência de um protótipo de biodigestor anaeróbio operado em modo de
alimentação semi-contínuo com os resíduos alimentares.

Material e Métodos
O presente estudo foi desenvolvido na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE (campus Cascavel – PR),
utilizando um protótipo de biodigestor anaeróbio para a conversão de RA em biogás. Esta parte do estudo foi desenvolvida de
forma exploratória para melhor compreender a máxima eficiência do protótipo de biodigestor anaeróbio, de acordo com as
cargas orgânica e volumétrica aplicadas.
O protótipo de biodigestor anaeróbio, com volume de 408 L, foi projetado e montado pela empresa BioKöhler® Biodigestores,
do município de Marechal Cândido Rondon – PR. A fabricante disponibilizou o protótipo com câmara de digestão, serpentina
interna de aquecimento, balão vinil de 1m³ para o armazenamento do biogás, agitador mecânico com temporizador e painel
elétrico de controle. Na UNIOESTE, o biodigestor foi complementado com “boiler” de aquecimento da água de recirculação
pela serpentina interna do biodigestor para manutenção da temperatura; também foi instalado um manômetro em tubo tipo U
para monitorar a pressão interna do biodigestor. O aquecimento da água foi feito com três termostatos de potência 200 W,
buscando manter a temperatura interna do biodigestor constante em 29±0,5ºC e impedir que as oscilações de temperatura
ambiente interferissem no processo de digestão.

312
Legenda: 1 – Entrada; 2 – Saída; 3 – Motor elétrico; 4- Painel de controle; 5 – Sensor de temperatura; 6 – Eixo de rotação; 7 –
Pás de agitação; 8 – Serpentina interna de aquecimento; 9 – Câmara de digestão; 10 – Biogás; 11 – Manômetro.
Figura 1. Foto e esquema do protótipo de biodigestor anaeróbio.

Conforme apresentado na Figura 1, o eixo vertical de rotação era dotado de quatro pás de agitação, duas no fundo e duas na
altura intermediária do biodigestor. O eixo também era equipado com um redutor de velocidade conectado ao motor elétrico
com potência de 24 V, acionado por um temporizador durante 15 minutos a cada hora, totalizando vinte acionamentos do
agitador por dia, de modo a promover a homogeneidade da biomassa.
As serpentinas internas serviam para conduzir a água aquecida do boiler para dentro do biodigestor promovendo a troca de
calor da água com a biomassa e manter a temperatura interna constante à 29±0,5ºC. A eletrobomba era responsável pela
recirculação da água e acionadas pelo painel de controle, integrado ao sensor de temperatura, que acionava a recirculação
quando o sensor de temperatura média temperaturas abaixo de 28,5ºC e desativada quando o sensor atingia 29,5 ºC.

Partida do protótipo de biodigestor anaeróbio e frequência de alimentação

A partida do processo anaeróbio no biodigestor protótipo foi realizada com o auxílio do efluente de um biodigestor anaeróbio
em operação, alimentado com dejetos da suinocultura de uma cooperativa da região. A inoculação se deu na proporção de
1:210:195 (v/v) de substrato (resíduos alimentares), inoculo e água, respectivamente, conforme sugerido por Foster-Carneiro,
Perez e Romero (2008). A partir disso, arbitrou-se uma baixa carga orgânica e monitorou-se o pH e a relação AV/AT, para
orientação quanto ao nível da carga a ser aplicada. A partir dos resultados obtidos, foi-se variando a frequência e intensidade
da carga orgânica a ser adicionada para o desenvolvimento e adaptação dos microrganismos presentes nos compostos em
fermentação. Se os resultados do pH e relação acidez volátil e alcalinidade total (AV/AT) apresentavam-se adequados, a carga
era continuamente aumentada; caso contrário, reduzia-se a carga. O biodigestor recebeu alimentações diárias (exceto aos
sábados e domingos) de substrato com as mesmas características, variando-se apenas os volumes que foram gradativamente
aumentados até atingir a estabilização do processo, quando foi possível obter os maiores teores de metano. Os indicadores para
o aumento diário de carga orgânica e de estabilidade do processo foram o pH, relação AV/AT e produção de biogás.
Para o processo de alimentação, primeiramente efetuou-se o descongelamento dos resíduos alimentares nos respectivos dias de
alimentação, nas quantidades necessárias para alimentar o biodigestor e coletar amostras às análises físico-químicas de entrada.
Após o biodigestor ser alimentado, no duto de saída (Figura 1) era expurgada uma quantidade próxima do substrato inserido,
coletando-se uma amostra e armazenando-a para ser submetida às análises de caracterizações físico-químicas de saída ou a
submetia aos ensaios pertinentes à estabilidade do biodigestor.

Análises físico-químicas e produção de biogás

Para controle da estabilidade e identificação da máxima capacidade do protótipo de biodigestor anaeróbio, foram
realizadas as análises físico-químicas ao longo das semanas. As análises realizadas foram pH, relação AV/AT, sólidos (ST

313
e SV), relação C/N e demanda química de oxigênio (DQO). A medição da vazão do biogás foi realizada por meio de um
medidor de gás natural fabricado pela LAD Indústria® modelo G1, com vazão horária máxima e mínima variando em
2,30 e 0,02 m³, respectivamente.

Resultados e discussão
As características do RA utilizado no experimento estão apresentadas na Tabela 1, juntamente com os dados obtidos por
diferentes autores que também utilizaram RA como substrato para a produção de biogás. Todos os dados foram validados
estatisticamente, apresentando coeficiente de variação inferior a 0,5%.

Tabela 1. Caracterização comparativa do resíduo alimentar


Parâmetro Zhang et al., 2007 Zhang et al., 2011 Zhang et al., 2013b Presente Estudo
pH NC 6,5 4,2 5,98
ST 30,9% 18,1% 23,1% 15,28%
SV 26,35% 17,1% 21,0% 13,02%
SV/ST 85,30% 94% 100% 85,21%
C/N 14,8 13,2 24,5 18,81
C total 46,78% 46,67% NC 44,4%
N total 3,16% 3,54% NC 2,36%
NC: Nada consta.

Segundo Zhang et al. (2007), não existem variações significativas entre o efluente e afluente do processo de DA quanto à
concentração de nutrientes. De fato, os microrganismos consomem nutrientes em seus respectivos metabolismos, ainda assim,
os micro e macro nutrientes permaneceram em níveis bastante semelhantes. Neste estudo, obteve-se um pH de 5,98 para os
resíduos alimentares, valores dentro dos limites encontrados na literatura, assim como Zhang et al. (2013b) encontraram o
valor de 4,2 para os resíduos alimentares, valores significativamente ácidos que podem inibir a atividade dos microrganismos.
Quanto à fração orgânica dos resíduos alimentares, evidenciada pela concentração de sólidos voláteis, obteve-se o percentual
de 85,21 %, valor próximo aos encontrados por Zhang et al. (2007) e Zhang et al. (2011), que encontraram 85,30 e 94 %,
respectivamente. Isso evidência, portanto, a presença de materiais passíveis de serem convertidos em metano.
Quanto à relação C/N, foi encontrado o valor de 18,81 que é ligeiramente próximo ao limite inferior desejado à DA, dado que a
relação C/N é referente à capacidade de digestão, em que uma relação adequada para o desenvolvimento dos microrganismos
estaria numa faixa de 20 a 30 (VERNA, 2002). Ainda assim, nota-se que o valor obtido neste estudo está próximo aos
encontrados na literatura para resíduos alimentares. Isso se deve às concentrações de carbono e nitrogênio, que foram bastante
similares às encontradas por Zhang et al. (2007) e Zhang et al. (2011).
Os resíduos alimentares são considerados substratos orgânicos promissores para a DA, devido ao alto potencial na produção de
metano (NEVES, OLIVEIRA e ALVES, 2006). No entanto, inibições podem ocorrer ao se biodigerir unicamente resíduos
alimentares por longo tempo de operação. As razões para a inibição são o desbalanceamento de nutrientes na fermentação, isto
é, os elementos traço (Zn, Fe, Mo, etc.) são insuficientes, os macronutrientes (Na, K, etc.) são excessivos (ZHANG et al.,
2011; EL-MASHAD e ZHANG, 2010) e a relação C/N dos restos de alimentos, ao valor de 18,81, está dentro dos limites
compatíveis (SOSNOWSKI et al., 2003).
Xu e Li (2012) mencionam vantagens da co-digestão quando comparadas às digestões anaeróbias conduzidas com substrato
único (monodigestão). Zhang et al. (2013a) encontraram que a co-digestão de resíduos alimentares com dejetos bovinos não
somente aumenta a capacidade de carga orgânica, mas também promove o rendimento de metano em digestão semi-contínua.
A alta capacidade tampão da co-digestão foi observada devido ao aumento da concentração de amônia dos dejetos. Além da
amônia, a alcalinidade de bicarbonatos é fundamental na DA, pois é um parametro que possibilita a neutralização dos ácidos
formados durante o processo e o tamponamento do pH, em eventuais acúmulos de ácidos voláteis no biodigestor
(CHERNICHARO, 2007).
A composição das substâncias orgânicas, tais como proteínas e carboidratos, constituem-se normalmente da parte mais
facilmente disponível aos microrganismos, por outro lado, compostos lignocelulósicos caracterizam-se por serem de difícil
degradação. Conforme a literatura, resíduos alimentares são ricos em lipídios, com cerca de 5,0 g L-1 (ZHANG et al, 2013a).
No entanto, os lipídeos são de difícil biodegradação, sendo considerados fator limitante nestes processos. Alguns
pesquisadores atribuem a falência da DA à alta concentração de lipídeos (NEVES, OLIVEIRA e ALVES, 2006; OHA e
MARTIN, 2010).

314
Partida do protótipo de biodigestor anaeróbio

Promoveu-se a DA dos resíduos alimentares em um protótipo de biodigestor anaeróbio, projetado e construído especificamente
para operar a DA de resíduos alimentares. Devido a este protótipo de biodigestor anaeróbio ser um modelo novo, o qual não
havia sido testado anteriormente, houve a necessidade de identificar qual carga orgânica seria a mais adequada para o sistema.
Assim, desde a partida do biodigestor foram necessárias 5 etapas para estabilizá-lo, devido a instabilidades encontradas no
sistema por sub ou superutilização relacionada à carga orgânica adcionada.
Cabe salientar que o parâmetro carga orgânica volumétrica é um fator fundamental a ser estudado em biodigestores anaeróbios,
dado que a eficiência do sistema está atrelada à máxima capacidade de carga orgânica que o biodigestor pode suportar. Por
outro lado, a aplicação de cargas demasiadamente elevadas nos biodigestores anaeróbios leva ao acúmulo de ácidos graxos
voláteis no meio. Por consequência, instabilidades no processo e eventuais falhas no sistema podem ocorrer (FERREIRA,
2015). Sob esta perspectiva, buscou-se encontrar a melhor carga orgânica volumétrica que o protótipo de biodigestor pudesse
suportar, sendo incrementadas progressivamente, de modo a obter a real eficiência e estabilidade do sistema.

Etapa de estabilização 1

A partida da fermentação no biodigestor protótipo deu-se simultaneamente com a adição de água e inóculo. Foi iniciada a
alimentação do biodigestor com a carga orgânica de 0,30 gSVL-1rd-1. Essa carga, aumentada gradativamente por 56 dias, atingiu
1,18 gSVL-1rd-1, porém, o pH caiu de 7,25 para 5,90. Segundo Li et al. (2010), a queda pode ser atribuída à alta taxa de hidrólise
e o acúmulo de ácidos graxos voláteis que cessam a produção de biogás com o pH abaixo de 6,5. Com um pH de 5,8, o teor de
metano era de 50% e o de gás carbônico 47%, resultado típico de fermentações sob “stress” de ácidos graxos voláteis. Para
corrigir o pH em intervalo adequado à fermentação anaeróbia, de 6,5 a 7,2, (APPELS et al., 2011), foi adicionado 627 g de cal
hidratada (1,54 g de cal por litro de substrato em fermentação) diluída em água. Um dia após a adição da cal, o pH elevou-se
para 7,5 retomando as condições favoráveis ao desenvolvimento microbiano.

Etapa de estabilização 2

Após a correção do pH, gradativamente retomou-se o aumento de carga objetivando, pela segunda vez, atingir o limite de
estabilidade, referenciada na relação acidez/alcalinidade e atingir o período de coleta de dados. O aumento de carga ocorreu no
período de 90 dias; após esse período, repetiu-se a carga para sair do efeito de seu aumento, quando é necessário operar o
biodigestor, no mínimo, por um tempo igual ao tempo de retenção hidráulica (TRH), que nesta fase estava em 103 dias. Ao
final deste período, com a relação AV/AT igual a 0,04, constatou-se que o biodigestor estava subutilizado, ou seja, a carga
orgânica aplicada estava aquém de sua capacidade de digestão, uma vez a relação adequada de AV/AT para o processo de DA
está numa faixa de 0,1 a 0,5, e valores muito abaixo desse limite representam baixa produção de ácidos orgânicos no processo,
os quais são substrato das metanogênicas, implicando em menores produções de metano.

Etapa de estabilização 3

Iniciou-se o novo período de aumento de carga, com o objetivo de utilizar a capacidade plena do biodigestor, que se estendeu
por 60 dias, quando apresentou uma relação AV/AT de 0,25. Este valor é considerado adequado em relação à estabilidade na
produção e consumo de ácidos na fermentação anaeróbia (SÁNCHEZ et al., 2005). Conforme os autores, o valor da relação
deve situar-se entre 0,1 e 0,5 (AMANI et al., 2010; CABBAI et al., 2013). Aguardando sair da influência do aumento de carga,
manteve-se a alimentação com carga orgânica estimada em 1,27 gSVL-1.rd-1 por cerca de 60 dias. Após, iniciou-se o período de
coleta de amostras para avaliar o desempenho do biodigestor. Entretanto, 30 dias depois, com um pH de 6,84, a relação AV/AT
apresentou o valor de 0,9, sinalizando um eminente colapso da fermentação (SILVA,1977; SÁNCHEZ et al., 2005).
Imediatamente, suspendeu-se a alimentação para evitar a queda do pH e falência do processo. Concluiu-se que o biodigestor
não apresentava condições de digerir a referida carga e que nova tentativa deveria ser feita para adequá-lo a uma carga factível
de digestão.

Etapa de estabilização 4

Após identificar o iminente colapso do biodigestor, para manter a atividade microbiana, o biodigestor foi alimentado com
menor volume e em apenas um dia por semana por cerca de um mês. Além da redução da frequência, também houve redução
na carga orgânica, traduzida em menor volume de alimentação diária. Para acompanhar a resposta da fermentação nestas
condições, obtiveram-se alguns valores da relação AV/AT neste período, mostrada na Figura 2. Foram feitas 8 observações,
realizadas arbitrariamente ao longo das semanas, durante o período de recuperação.

315
0.9
0.8
AV/AT

0.7
0.6
0.5
0.4

1 2 3 4 5 6 7 8

Observações

Figura 2. Relação AV/AT durante o período de estabilização do protótipo de biodigestor anaeróbio.

A frequência de alimentação foi reduzida em 86%, restrita a quatro operações. A estratégia adotada promoveu uma redução de
31% na carga orgânica adicionada, promovendo a elevação na alcalinidade no biodigestor, conforme apresentada na Figura 2.
Nos 35 dias corridos do período de recuperação, a relação AV/AT reduziu-se de 0,97 para 0,39, retomando as condições de
equilíbrio seguro, sinalizada pela variável. A rotina de alimentação do biodigestor foi de segunda a sexta feira.

Etapa de estabilização final

Com uma relação AV/AT de 0,36, iniciou-se um novo período de alimentação regular, aumentando-se gradativamente o
volume de alimentação, considerando a razão entre os ácidos e a capacidade tampão da biomassa em fermentação. O objetivo
foi atingir a estabilização sustentável e explorar a capacidade máxima do biodigestor em digerir os resíduos alimentares. A
estabilidade do biodigestor foi atingida 90 dias depois, com uma carga orgânica em DQO de 0,82 gL-1rd-1 e em sólidos voláteis
de 0,80 gL-1rd-1. Noventa dias foi o tempo necessário para o biodigestor sair do efeito de elevação da carga orgânica e iniciar o
período de coleta de dados. Neste período, a fermentação manteve uma relação AV/AT média de 0,37. O longo período
aguardado para o início da coleta de dados deveu-se ao elevado teor de sólidos totais do substrato adicionado, que fez com que
a alimentação diária fosse de apenas 2,5 L, para um biodigestor de 408 L, resultando em TRH de 163 dias. A partir do
momento em que se alcançou a estabilidade do biodigestor e constatou-se que o mesmo estava sendo alimentado com uma
carga orgânica volumétrica adequada, deu-se inicio à fase de coleta de dados e análises, que resultou nos dados apresentados
na Tabela 2.

316
Tabela 2. Caracterizações dos parâmetros do protótipo de biodigestor anaeróbio.
Características Unidade Valor
Frequência alimentação dias semana-1 5,000
Massa restos ingestão em b.u* kg 1,125
Volume Alimentação Ld-1 2,500
ST entrada % 15,285
ST saída % 1,950
Redução ST % 87,000
pH saída - 8,020
AV/AT - 0,491
Temperatura °C 29,433
DQO entrada g.L-1 129,760
DQO saída g.L-1 21,778
SV entrada g.L-1 130,293
SV saída g.L-1 12,704
Redução DQO % 82,342
Redução SV % 90,222
DQO por litro gL-1 107,381
SV por litro gL-1 117,589
DQO por dia gd-1 268,453
SV por dia gd-1 293,973
Volume Biodigestor L 408,000
C. Orgânica por dia gDQO d-1 324,400
C. Orgânica por dia gSV d-1 325,733
C. Orgânica por vol. biodigestor gDQOL-1 rd-1 0,795
C. Orgânica por vol. biodigestor gSVL-1 rd-1 0,798
Biogás por dia Ld-1 220,470
Biogás por vol. biodigestor LL-1 rd-1 0,540
CH4 por dia Ld-1 130,000
CH4 por volume biodigestor LL-1 rd-1 0,319
CH4 por DQO consumida Lg-1 DQOc 0,506
CH4 por SV consumidos Lg-1 SVc 0,444
*b.u: base úmida

Considerações finais
Os resíduos alimentares mostraram-se promissores à produção de metano, devido a sua grande disponibilidade bem como por
suas características biodegradáveis, verificadas no processo de digestão anaeróbia. Os resíduos alimentares apresentaram, em
média, teor de sólidos voláteis na faixa de 85,21% e a relação C/N de 18,4, os quais, conforme a literatura, são favoráveis ao
processo de digestão anaeróbia. No entanto, constataram-se complicações ao biodigerir os resíduos alimentares isoladamente,
representado pelas oscilações no parâmetro AV/AT, que indicou instabilidades durante o processo de digestão anaeróbia no
biodigestor protótipo.
O protótipo de biodigestor anaeróbio foi bastante eficiente na remoção de matéria orgânica dos resíduos alimentares, na ordem
de 82,34 % na DQO e de 90,22 em SV. No entanto, foram necessárias algumas etapas até encontrar a carga orgânica adequada
de alimentação do biodigestor protótipo, representada pela estabilidade baseada na relação AV/AT, a qual apresentou o valor
médio de 0,49.
Conclui-se, portanto, que os resíduos alimentares podem ser utilizados no processo de digestão anaeróbia, sendo aconselhável
que sejam codigeridos com outros substratos. Sugere-se, ainda, mais estudos utilizando cosubstratos alternativos.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer à BioKöhler® Biodigestores pela contribuição com o protótipo de biodigestor anaeróbio e
à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela concessão da bolsa, apoios fundamentais para
viabilização deste trabalho.

317
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319
5SSS140
PROCESSO DE BAIXO CUSTO PARA IDENTIFICAR E
CARACTERIZAR ROTAS PARA CICLISTAS
Lorena Mizue Kihara1, Thiago Vinicius Louro2, Heliana Barbosa Fontenele3, Carlos Alberto Prado da
Silva Junior4
1Universidade Estadual de Londrina, e-mail: lorenamizue@gmail.com; 2Universidade Estadual de Londrina, e-
mail: tvinicius.louro@uel.br; 3Universidade Estadual de Londrina, e-mail: heliana@uel.br, 4Universidade
Estadual de Londrina, e-mail: cprado@uel.br

Palavras-chave: Ciclistas; mobilidade; Protótipo GNSS

Resumo
A caracterização e análise de dados de viagens dos usuários dos sistemas de transportes é uma demanda recorrente em estudos
prévios de transporte e planos de mobilidade urbana. A aquisição e tratamento destes dados demandam investimentos que
muitas vezes podem inviabilizar a geração de informações fidedignas dos deslocamentos urbanos. Os investimentos para
realizar bons planos de mobilidade, por exemplo, podem afetar sensivelmente cidades em países emergentes e têm causado
certas distorções entre os projetos e as reais necessidades da população na área de estudo. Esta pesquisa demonstra o potencial
de um processo que envolve um protótipo de receptor GNSS e o tratamento dos dados georreferenciados em uma plataforma
de serviços online para caracterizar e avaliar o ambiente construído na área urbana para ciclistas. Para demonstrar isto foi
construído um protótipo de receptor GNSS que georreferencia as viagens de ciclistas. Estes dados de viagem gerados foram
analisados por meio da plataforma online Google e um software de sistema de informações geográficas (SIG). Este processo se
revela confiável em termos de precisão e acurácia das informações fornecidas pelo protótipo de receptor, bem como apresenta
evidências de que tanto o protótipo quanto a plataforma de serviços online podem contribuir para que gestores públicos
identifiquem as reais necessidades de projeto e construção em termos de sistemas de transporte e mobilidade.

Introdução

Diversos estudos têm indicado que os dados pessoais de viagens contidos em aparelhos de smartphones podem contribuir de
forma significativa para o planejamento de sistemas de transportes. Por outro lado, para ter sucesso no acesso a essas
informações é preciso entender algumas dificuldades inerentes de cada região do planeta. Por exemplo, em cidades de países
desenvolvidos, onde as diferenças socioeconômicas são menores, os técnicos de planejamento de sistemas de transportes
podem ter mais fácil acesso a estes dados para fins de projetos ou melhorias no ambiente urbano. Em outro extremo deste
contexto, em países emergentes, as dificuldades em relação à obtenção de dados de viagens são aquelas decorrentes do acesso
da população a aquisição de smartphones sofisticados, com receptores de sinal do sistema de navegação global por satélite
GNSS, do termo em inglês Global Navigation Satellite System. Sendo assim, o aspecto socioeconômico pode inviabilizar a
proposição de sistemas que atendam uma parcela significativa da população.

Entretanto, as informações relativas às viagens dos usuários dos diversos sistemas de transporte urbanos podem ter um impacto
significativo no planejamento, projeto, construção e manutenção destes sistemas. A partir de dados confiáveis em termos de
espaço e tempo é possível implementar uma série de medidas que podem otimizar a operação e a manutenção, como por
exemplo, oferecer serviços em just-in-time em termos dos diversos sistemas, tais como: transportes coletivos e aplicativos de
viagem.

Ao avaliar o impacto dos dados de viagens pessoais sob o ponto de vista dos sistemas de transporte não motorizados os
benefícios poderiam ter uma abrangência socioeconômica muito ampla. Cidades de pequeno e médio portes, com perspectivas
de crescimento das demandas de deslocamento urbano poderiam gerenciar melhor seus investimentos para priorizar e cativar
mais viagens por modos de transporte não motorizados. Porém, é necessário obter informações a respeito dos deslocamentos
nos diversos sistemas de transporte. Nas duas últimas décadas o uso de aparelhos receptores de sinal do sistema GNSS tem-se
se tornado uma realidade em função da redução dos custos destes aparelhos. Entretanto, questões financeiras na maioria das
cidades do planeta também podem inviabilizar investimentos em larga escala para uso destes receptores.

320
Outra questão importante é que para tratar e organizar os dados relativos aos receptores GNSS é preciso usar pacotes
computacionais de sistemas de informação geográficas (SIG) ou GIS, do termo em inglês Geographic Information System.
Esses softwares possuem licenças que podem custar alguns milhares de dólares americanos, bem como valores anuais para
mantê-los funcionando ou atualizados. Mais uma vez, questões relativas a altos valores de investimento podem inviabilizar a
geração de planos de transportes que sejam abrangentes para toda a população de uma região. Sendo assim, o uso de
tecnologias disponíveis a baixo custo para tratar e visualizar informações relativas às viagens são necessárias para não
imobilizar recursos que poderiam ser úteis em outros setores urbanos.

Em tempos recentes têm-se produzido uma série de avanços em termos de plataformas de prototipagem eletrônica. Essas
plataformas permitem projetar e construir diversos componentes e aparelhos eletrônicos a baixo custo. Esses aparelhos podem
conter sensores com as mais variadas finalidades, ser portáteis e, principalmente, custar menos de 10% do valor de um
aparelho similar comercial. Ainda nesta linha, plataformas online têm oferecido uma série de serviços que podem ser usados
como ferramentas para gerar mapas temáticos que, em um primeiro momento, podem ser úteis para a tomada de decisões,
como por exemplo: qual local implantar uma via para o trânsito de pedestres ou para ciclistas? Em quais vias fazer melhorias
em função do reduzido orçamento disponível?

Sendo assim, o objetivo deste estudo foi projetar, construir e testar o uso de um protótipo de receptor de sinais do sistema
GNSS, bem como usar a plataforma de serviços online Google para gerar mapas temáticos que permitissem caracterizar as
rotas preferidas de viagem georreferenciadas a partir do protótipo. Assim, foi usada uma amostra de ciclistas em um
experimento controlado. Este procedimento permitiu visualizar e caracterizar as linhas de desejo de viagens. Há duas questões
de pesquisa neste estudo e elas podem ser apresentadas da seguinte forma: i) se existem várias marcas e modelos de aparelhos
receptores de sinal GNSS disponíveis no mercado, por que investir tempo e recursos financeiros em um protótipo de receptor
de sinais GNSS? e ii) se há vários pacotes computacionais para construir mapas temáticos e gerar informações úteis aos
técnicos responsáveis pelo planejamento de transportes, uma plataforma de serviços online poderia gerar também mapas
temáticos com informações úteis ao planejamento de sistemas de transportes? A resposta prévia a estas duas questões é: os
custos de aquisição dos receptores GNSS e de softwares de SIG podem inviabilizar muitos trabalhos técnicos que envolvem
planejamento e melhorias dos sistemas de transporte urbano em regiões que os gestores públicos precisam decidir de forma
seletiva a aplicação de recursos financeiros.

Referencial teórico

Se fosse possível obter os dados de viagens de todos os cidadãos os sistemas de transportes poderiam ter seus custos
generalizados reduzidos. Para isto seria necessário extrair dados de viagens e transformá-los em informações úteis ao
planejamento. Estes dados na atualidade, segundo pesquisas mais recentes, estão em smartphones. Os dados captados e
armazenados em smartphones por sensores GNSS e acelerômetros poderiam ser convertidos em informações úteis por meio de
uma série de ferramentas que incluem lógica computacional, algoritmos para derivar informações de viagens, redes relacionais
de Markov, redes dinâmicas Bayesianas, inteligência artificial e, mais recentemente, aprendizagem de máquina ou Learning
Machine. Todas estas técnicas estão sendo estudadas e aprimoradas para usos em diversas áreas de planejamento urbano,
transportes inteligentes e mobilidade, conforme Liao et al. (2007), Gong et al. (2014), Hui et al. (2017), Gong et al. (2018) e
Prelipcean e Yamamoto (2018). Para que estas ferramentas possam ser uma realidade ainda é preciso torná-las acessíveis em
termos de procedimentos operacionais e custo. Por outro lado, existem estudos sobre dispositivos e/ou processos que possam
identificar dados de viagens de forma similar aos receptores GNSS, sistemas VHF para monitoramento de veículos e seres
vivos e smartphones. Estas pesquisas têm testado e avaliado aparelhos e ferramentas computacionais para gerar dados
espaciais e temporais de viagens urbanas, estudos clínicos e monitoramento de animais, conforme sugerem Noury-Desvaux et
al. (2011), Quaglietta et al. (2012), Abraham et al. (2012) e Forin-Wiart et al. (2015).

Aparelhos Receptores GNSS e Planejamento de Sistemas de Transportes

Uma das etapas fundamentais do planejamento de sistemas de transporte requer investimentos para coletar e tratar dados, que
auxiliarão a tomada de decisão em termos de proposição de projetos e melhorias. Estes dados para serem realmente úteis
precisam ser confiáveis, pois caso contrário poderão gerar soluções equivocadas e defasadas em termos de espaço e tempo.
Algumas técnicas de coleta de dados envolvem questões relativas a preferências declaradas e reveladas por parte dos usuários.
A técnica de preferência revelada pode ser muito útil em termos de obtenção das informações reais a respeito dos

321
deslocamentos urbanos realizados nos diversos sistemas de transporte. Esta técnica exige um bom planejamento e pode
demandar um contingente razoável de entrevistadores bem treinados para alcançar êxito.

A partir da disponibilidade comercial de aparelhos receptores dos sinais GNSS muitas pesquisas de preferências reveladas
foram conduzidas e os dados têm-se se mostrado confiáveis. Diversos pesquisadores têm usado aparelhos receptores dos sinais
GNSS para validar métodos que possam identificar, caracterizar e gerar mecanismos para auxiliar na tomada de decisão sobre
sistemas de transportes, principalmente aqueles sistemas destinados a pedestres e ciclistas. Entre estes autores podem ser
citados Harvey et al. (2008), Stopher et al. (2008) e Gong (2014) e Gehl e Svarre (2018).

Para conduzir pesquisas por meio de receptores GNSS em larga escala são necessários aparelhos que podem custar alguns
milhares de dólares americanos e softwares específicos para tratamento dos dados. No entanto esta etapa do planejamento
precisa ser realizada, pois gera informações imprescindíveis para propor soluções abrangentes no local de estudo em questão.
Sob o ponto de vista dos custos de investimento, tanto receptores GNSS quanto smartphones ainda são caros. Além disso,
smartphones podem armazenar informações pessoais sigilosas e a extração de dados dos aparelhos poderia comprometer o
sigilo pessoal de seus proprietários.

Segundo Prelipcean e Yamamoto (2018) existem pelo menos dois métodos automatizados que podem gerar dados de viagens:
dados baseados em equipamentos dedicados e em smartphones. Segundo estes autores, um equipamento dedicado é aquele
projetado especificamente para captar e armazenar dados das viagens realizadas por uma pessoa num determinado período. A
geração de dados tanto por equipamentos dedicados quanto por smartphones pode envolver esforços consideráveis de
desenvolvimento.

Plataformas de Prototipagem Eletrônica

A prototipagem eletrônica ganhou uma nova perspectiva a partir de meados dos anos 2000 com o advento das plataformas de
código aberto. Estas plataformas trouxeram um novo panorama de possibilidades em termos de pesquisa, processo de ensino-
aprendizagem, desenvolvimento industrial, comunicação máquina-a-máquina, automação e robótica. Para o caso de pesquisas
nas engenharias o uso de sensores e atuadores conectados a microcontroladores tornou possível o uso de dispositivos
eletrônicos por um custo mais acessível aos professores de todos os níveis de ensino, pesquisadores e desenvolvedores de
tecnologia industrial.

Entre as plataformas de prototipagem mais conhecidas na atualidade podem ser citadas o Arduino, Raspberry Pi e ESP8266. A
principal vantagem destas plataformas é a possibilidade de projetar e construir aparelhos eletrônicos e computacionais a preços
acessíveis. Dentre estas plataformas o Arduino é a mais conhecida e estudada. Parte deste sucesso é devido ao fato da
plataforma ser de código e construção abertos.

Outra vantagem da plataforma Arduino é o uso de uma linguagem de programação padrão baseada na linguagem C/C++.
Trata-se de uma linguagem muito conhecida e sua conversão para linguagem de máquina é feita pela Arduino IDE da sigla em
inglês, Integrated Development Environment. Além disso, o Arduino possui um microcontrolador ATMEL AVR e vários pinos
de entrada e saída. Nestes pinos podem ser ligados sensores e/ou atuadores para medir temperatura e umidade; estimar
distância; controlar servomotores; receber sinais do sistema GNSS etc. Estes sensores e atuadores funcionam mediante o uso
de programação e bibliotecas que expande as possibilidades de aplicação, segundo Blum, (2016), Geddes (2017), de Oliveira
(2017) e Stevan Junior (2018).

Em função de custos mais acessíveis várias pesquisas têm usado o Arduino como microcontrolador eletrônico. Bukman (2016)
desenvolveu um sistema de segurança residencial funcional e de baixo custo. Todos os componentes usados neste sistema de
segurança estavam disponíveis em lojas de componentes eletrônicos em cidades brasileiras na época da realização do estudo.
Uma aplicação vantajosa para experimentos realizados com estufas de laboratórios de pesquisa foi desenvolvida por Capelli
(2014). Neste estudo o microcontrolador Arduino garantiu acesso remoto as estufas por meio do sistema operacional Ubuntu
12.04, realizando assim uma aplicação de IoT, do termo em inglês Internet of Things.

Com relação a prototipagem de receptores GNSS, existem várias pesquisas desenvolvidas que permitiram testar o uso destes
receptores em diversas aplicações. Quaglietta et al. (2012) e Forin-Wiart et al. (2015) realizaram testes com sistemas de

322
monitoramento baseados em receptores GNSS capazes de monitorar animais em ambientes selvagens. A motivação para
realizar estes estudos foi reduzir os custos de monitoramento em projetos com baixo orçamento e a possibilidade de rastrear
simultaneamente mais indivíduos. Os autores relataram que com base nos resultados os sistemas desenvolvidos parecem ser
confiáveis mesmo em animais que vivem a maior parte da sua vida em ambientes aquáticos. Uma questão na pesquisa de
Quaglietta et al. (2012), que tem forte relação com esta que é apresentada aqui, é o fato de ter sido usada a plataforma de
serviços online Google para representar, por meio de mapas, os deslocamentos dos animais que estavam sob monitoramento.

A questão da acessibilidade à cidade pode ser um importante campo de aplicação para o desenvolvimento de protótipos e até
mesmo produtos que possam contribuir para melhorar o acesso, por exemplo, ao transporte público. Segundo Collares e Lima
(2018) a tecnologia dos microcontroladores Arduino pode gerar soluções para problemas urbanos de acessibilidade e
mobilidade. Segundo estes autores há muito espaço para pesquisas com protótipos como a que foi desenvolvida para auxiliar
deficientes visuais no transporte público. Liao et al. (2007) projetaram um sistema que pode construir mapas automaticamente
a partir de sensores de sinais GNSS. Este sistema é capaz de reconhecer locais significativos de um usuário do sistema de
transporte, as atividades associadas a estes lugares, inferir o modo de transporte e detectar possíveis erros do usuário ou novos
comportamentos.

A segurança no trânsito demanda investimentos em equipamentos e pessoal especializado. Uma aplicação cada vez mais
recorrente dos microcontroladores de baixo custo como o Arduino está na área de engenharia de segurança viária. Walker et al.
(2014) avaliaram se um ciclista, por meio de sua vestimenta, poderia influenciar o comportamento dos condutores de veículos
motorizados durante as ultrapassagens. Estes autores usaram um sensor ultrassônico acoplado em uma placa Arduino Uno para
medir as distâncias de ultrapassagem dos veículos em relação a um ciclista em uma rota regular de deslocamento. O
procedimento permitiu concluir que a vestimenta do ciclista pouco influencia o comportamento dos motoristas durante as
ultrapassagens.

Aplicações da Plataforma Online Google em Análise de Sistemas de Transportes

O Google é uma empresa de serviços que desenvolve uma série de produtos que variam de softwares a hardwares dos mais
variados tipos e funcionalidades. Entre os mais conhecidos serviços de software do Google podem ser citados: Google Search;
Google Scholar; SketchUp; Google Docs; YouTube; Google Chrome; Google Maps e Google Earth. Estes dois últimos
serviços possuem sua base de funcionamento na internet, mas também podem ser usados, offline. Estas ferramentas da
plataforma Google estão disponíveis sem custos para funcionamento, porém com algumas restrições.

O uso de dados que podem auxiliar a tomada de decisões em relação ao planejamento de transportes é fundamental para que
haja consonância entre as propostas e as necessidades dos usuários. Porém, a análise dos dados pode onerar e inviabilizar a
geração de informações para fins de análise de sistemas de transporte. Uma das formas de viabilizar este processo é o uso de
plataformas de serviço de baixo custo de acesso, tais como: Google; OpenStreetMap etc.

A extração de dados de elevação do terreno pode ser fundamental para uma série de abordagens sobre as características de uma
região ou de uma infraestrutura de transporte, por exemplo, uma rodovia. Wang et al. (2017) obteve informações, por meio do
Google Earth, das cotas altimétricas de um grupo de rodovias para fins de reconhecimento do perfil, classificação de
segmentos e otimização das rotas. Segundo estes autores os dados de elevação disponibilizados pelo Google Earth são
confiáveis para aplicações em sistemas de transporte.

A construção de mapas temáticos para análises espaciais é uma poderosa ferramenta de análise em setores que envolvem
questões ambientais, análises de riscos, uso e ocupação do solo e sistemas de transportes e mobilidade. Aliado a estas
possibilidades de visualizações das variáveis tem-se a IoT. As plataformas de IoT para gerenciamento de Smart Cities ainda
são complexas e podem requerer investimentos relativamente altos. Alvazrez-Campana et al. (2017) desenvolveram um
sistema piloto baseado em informações mapeadas no Campus of International Excellence da Escola de Engenharia da
Universidade Politécnica de Madri. Os mapas de calor, a localização da rede de sensores e as rotas dos usuários foram
confeccionados por um sistema similar às Plataformas Google ou OpenStreetMap. Ainda segundo estes autores, existe
potencial para implantar rede de sensores para serviços de Smart City por meio destas plataformas online.

É possível afirmar que a implantação e manutenção de sistemas de transportes dependem de informações espaciais ao longo do
tempo. Com os avanços da microeletrônica e prototipagem é possível coletar, agregar e analisar dados de uma série de

323
variáveis que podem gerar soluções de transportes mais alinhadas com as necessidades dos usuários. Segundo Voutos et al.
(2017) os parâmetros ambientais mais relevantes para as análises de um dado sistema são influenciados por suas características
espaciais. Segundo estes autores uma rede de sensores, baseados na plataforma Arduino, conectada a um sistema SIG Web de
software aberto pode ser crucial para apresentar informações espaciais e as correlações entre as variáveis preditivas de
comportamento ambiental.

Método

A pesquisa consistiu na realização de viagens experimentais para identificar e caracterizar as rotas preferidas por ciclistas. Para
isso foi utilizado um protótipo de aparelho receptor dos sinais do sistema GNSS para georreferenciar as rotas preferidas pelos
ciclistas. Este protótipo foi desenvolvido por Kihara et al. (2019). O georreferenciamento das viagens permitiu criar mapas
temáticos por meio da plataforma online Google e de um software de SIG, bem como caracterizar as rotas usadas pelos
ciclistas que participaram do experimento.

Protótipo de Receptor GNSS segundo Kihara et al. (2019)

O protótipo desenvolvido e testado por Kihara et al. (2019) foi construído por meio de prototipagem eletrônica com o
microcontrolador Arduino Uno. O protótipo que está representado na Figura 1, é capaz de receber sinais dos satélites dos
diversos sistemas de posicionamento, tais como: GPS, GLONASS, Galileo e Beidou. Além disso, os dados de longitude,
latitude, altitude, velocidade instantânea, direção do deslocamento, hora de gravação e número de satélites são
automaticamente registrados em um SD Card. Posteriormente estas informações podem ser organizadas em uma planilha
eletrônica e tratadas para fins de análise e planejamento.

Figura 1: Protótipo de receptor GNSS, conforme Kihara et al. (2019).

Identificação das Rotas pelo Protótipo

O experimento de identificação das rotas preferidas pelos ciclistas foi realizado no Campus da Universidade Estadual de
Londrina (Campus UEL). Neste campus existem vias para veículos motorizados, ciclofaixas, calçadas e vias exclusivas para
pedestres. Na Figura 2 tem-se o local de estudo, a representação do menor caminho entre o Centro de Tecnologia e Urbanismo
(CTU) e a Agência de Inovação Tecnológica (AINTEC), bem com as ciclofaixas existentes.

324
Figura 2: Campus UEL e menor caminho entre o CTU e a AINTEC.

Para avaliar o uso do protótipo na identificação das rotas preferidas por ciclistas foram realizadas 33 viagens por voluntários
que frequentam regularmente o Campus UEL, mas foram válidas 31 dessas viagens. O controle deste procedimento foi feito
com um GPS Garmin eTrex30®. As viagens foram realizadas em uma mesma bicicleta, na qual foi embarcado o protótipo
desenvolvido por Kihara et al. (2019) e o GPS de Controle. Na Figura 3 tem-se a bicicleta e os aparelhos embarcados. Todas as
viagens tiveram como origem o CTU e destino a sede da AINTEC. A única restrição aos ciclistas participantes, por questões
de redução do risco de acidentes, foi que eles não poderiam ultrapassar os limites do Campus UEL. Os participantes assinaram
um termo de consentimento livre e esclarecido e eram perguntados se conheciam o campus. Em seguida era revelado a eles que
deveriam ir e voltar do CTU até a AINTEC e que poderiam usar o caminho que desejassem. Este procedimento permitiu
revelar as preferências de viagem dos ciclistas.

Figura 3: Aparelhos receptores instalados na bicicleta.

325
Mapas Temáticos das Rotas e Preferências Reveladas

Os mapas temáticos para representar as rotas das 31 viagens foram confeccionados na plataforma de serviços online Google e
um software de SIG. Este procedimento permitiu comparar a qualidade dos mapas e realizar uma avaliação do processo de
identificação das características das rotas pelos dois sistemas. O SIG usado neste estudo permite confeccionar mapas temáticas
e fazer análise relacionadas a sistemas de transporte, é uma versão acadêmica e, portanto, só pode ser empregada para fins de
ensino e pesquisa. Sua licença é vitalícia, teve custo de 25% da versão profissional, a qual possui valor de $12.000,00 (doze
mil dólares americanos). A plataforma de serviços online Google permitiu confeccionar mapas temáticos para fins de análise e
planejamento de sistemas de transportes. Existem algumas limitações nesta plataforma, mas que podem ser contornadas por
meio de artifícios de manipulação dos dados gerados.

Na plataforma Google não é possível construir mapas temáticos com mais de dez camadas e cada camada não pode ultrapassar
2000 registros. Para representar as rotas das 33 viagens registradas pelos dois receptores GNSS os arquivos foram divididos em
cinco planilhas com no máximo 2000 registros.

Feitos os ajustes nos arquivos foi construído um mapa temático em cada sistema de representação para as 31 viagens
consideradas válidas. O GPS comercial usado para controle gera um arquivo em formato gpx. Este formato pode ser
manuseado tanto em um Software de SIG quanto na plataforma de serviços online Google. O protótipo de receptor GNSS
também pode gerar arquivo gpx, mas este tipo de arquivo tem a problemática de precisar ser aberto primeiro em um SIG.
Sendo assim, para o protótipo optou-se por gerar arquivos em formato .csv, do termo em inglês comma-separated values. Este
tipo de arquivo conhecido como valores separados por vírgula também pode ser aberto pelos sistemas citados anteriormente
após algumas adaptações para transformá-lo em planilha eletrônica.

Resultados e Discussão

Neste item são apresentados os resultados e as análises sobre o uso do protótipo de receptor dos sinais GNSS e da plataforma
de serviços online Google, que neste estudo representam uma ferramenta conjunta de baixo custo operacional. São
apresentados os dados relativos a construção dos mapas temáticos criados pela plataforma online Google e por um SIG. Por
fim, são feitas análises sobre as características das rotas preferidas pelos ciclistas, tendo como referência o mapa temático
construído na plataforma Google.

Mapas Temáticos pela Plataforma Google e SIG TransCAD

A identificação das rotas usadas pelos usuários da bicicleta como meio de transporte pode revelar uma série de detalhes úteis
para fins de planejamento de infraestrutura cicloviária e operação ao longo do tempo. Na Figura 4 estão as rotas preferidas
pelos ciclistas no experimento proposto neste estudo. O mapa temático representado na Figura 8 é uma imagem do tipo jpeg e
foi construída na plataforma online Google pelo uso do Google My Maps e Google Earth Pro. Para fins de visualização das
rotas seria suficiente usar o Google My Maps. Os elementos gráficos da plataforma Google são captados por satélites e
compreendem: prédios; vias; arborização etc. A plataforma permite observação na forma de sobrevoo, que torna a experiência
mais realista e permite caracterizar melhor o local. O SIG TransCAD® por sua vez cria mapas temáticos conforme a Figura 5.
O mapa da Figura 5 é uma imagem em formato png, mas o software TransCAD também permite gerar arquivos em formato
kmz que podem ser visualizados no Google Earth Pro.

326
Figura 4: Mapa temático das rotas pelo protótipo criado na plataforma Google.

Figura 5: Mapa temático das rotas pelo GPS comercial criado no SIG-TransCAD.

327
Os sistemas usados para gerar as Figuras 4 e 5 criaram imagens relativamente similares em termos de qualidade e informação,
porém os custos relativos são muito diferentes. As imagens geradas pela plataforma Google podem ser consideradas de baixo
custo ou custo quase nulo se comparados aos investimentos necessários para a aquisição de sistemas de informações
geográficas nos moldes de um SIG-TransCAD. Ressalta-se que não é objetivo deste estudo desestimular a aquisição de
softwares SIG, mas demonstrar que é possível realizar estudos preliminares e até mesmo conclusivos com dados
georreferenciados a partir de um processo relativamente simples e de baixo custo. É possível avaliar que os dois mapas
apresentam as mesmas informações em termos de localização das rotas preferidas e da infraestrutura do Campus UEL.

Características Reveladas das Rotas

As características das rotas preferidas pelos ciclistas participantes do experimento foram analisadas por meio do mapa temático
criado na plataforma Google. Conforme pode ser observado na Figura 4, o trecho mais usado pelos ciclistas é parte de uma via,
que teoricamente, é exclusiva para pedestres, mas tem pouquíssima sinalização que indique esta condição. A preferência dos
ciclistas em circular por este tipo de via é justificada, uma vez que o tráfego de veículos motorizados é restrito a veículos
institucionais com velocidade reduzida, possui boa pavimentação, permite circulação sem interrupções e tem muitos atrativos
para a vida acadêmica.

Os demais trechos usados compreendem as passarelas cimentadas que cruzam espaços gramados e os estacionamentos de dois
centros de estudo. É possível avaliar que a rota de ida e volta mais usada pelos participantes do experimento é ligeiramente
diferente do menor caminho, sugerido pela plataforma Google, entre o CTU e a AINTEC, conforme as Figura 2 e 4. Isto
evidencia que os ciclistas conhecem o local do experimento, não tiveram problemas para pedalar na contramão de algumas vias
para motorizados, circular por estacionamentos, sobre as calçadas e as passarelas que cortam os trechos gramados. Além disso,
pode-se observar, para caso específico deste estudo, que poucos ciclistas fizeram uso das ciclofaixas implantadas em 2017,
conforme as Figuras 2 e 4. Isto pode evidenciar que faltaram informações úteis para projetar as ciclofaixas de forma a atender
as preferências de viagem dos ciclistas.

Com relação ao conforto do ambiente e locais com atrativos para pedalar, é possível afirmar que o percurso mais escolhido
pelos ciclistas possui a menor distância dentre as 31 rotas usadas, trechos mais arborizados, de acordo com a Figura 4, menor
coeficiente médio de variação das cotas altimétricas, conforme a Tabela 3 e pontos com maior atratividade para a vida
acadêmica (biblioteca central; restaurante universitário; lanchonetes; centro poliesportivo e, principalmente, os acessos às salas
de aula dos centros de estudo). Ressalta-se que os locais com maior atratividade podem ser visualizados nos mapas temáticos
das Figuras 2 e 4 e melhor observados diretamente na plataforma online Google. Uma vez que os autores conhecem
relativamente bem o local de estudo, é possível afirmar que as imagens vistas na plataforma Google na tela de um computador
com as rotas georreferenciadas pode revelar muitas informações para aqueles que estudam o ambiente urbano construído, mas
podem passar despercebidas sem esta informação online e/ou visitas ao local.

Tabela 3 - Média do coeficiente de variação (CV) das altimetrias das rotas preferidas pelos ciclistas
Percurso No de Ciclistas Média do CV
Mais usado 24 2,12
Outro 7 2,66

Sendo assim, é possível identificar, por meio do protótipo de receptor GNSS e da plataforma Google que os ciclistas
preferiram usar as vias que são mais convenientes às suas atividades acadêmicas, necessidades de alimentação e de esporte e
lazer. Vale ressaltar que na parte sul do campus, de acordo com a Figura 8, está representada uma viagem (ciclista 1) por vias,
que possuem boa pavimentação, pouco tráfego de veículos motorizados, mas nenhum local atrativo. Além disso, trata-se do
maior caminho, dentre os 31 escolhidos, entre o CTU e a AINTEC.

Considerações Finais

Apesar das pesquisas recentes indicarem que dados provenientes de smartphones são uma tendência para obter informações
úteis ao planejamento de transporte e mobilidade, é possível evidenciar algumas dificuldades em relação à disponibilidade

328
destas informações, conforme relatado neste estudo. O uso de tecnologias confiáveis e de baixo custo pode representar um
diferencial na oferta de infraestrutura e operação de sistemas de transporte que atenda às necessidades da população de uma
região, principalmente naqueles locais onde há dificuldades de acesso às tecnologias móveis e a internet.

Com relação ao tratamento e análise dos dados georreferenciados, a plataforma de serviços online Google mostrou-se versátil,
confiável e promissora. Pois substitui dentro de certos limites os sistemas de informações geográficas (SIG) em análises
preliminares para fins de planejamento de transporte e mobilidade. Isto evita, em um primeiro momento, os investimentos
relativamente altos na aquisição de pacotes computacionais caros, que também demandam técnicos especializados para
manuseio e atualizações anuais onerosas. Com base nos mapas temáticos confeccionados na plataforma online foi possível
identificar uma série de características relativas às rotas preferidas pelos ciclistas participantes do experimento. Ficou claro
pelas análises que as ciclofaixas implantadas na área de estudo possuem pouca atratividade, pois demandam maior distância de
viagem, estão em locais com razoável tráfego de veículos motorizados e possuem pouca arborização. Isto pode evidenciar a
falta de informações aos projetistas a época do planejamento das ciclofaixas.

O processo proposto neste estudo pode contribuir para aprimorar os sistemas de transporte sustentáveis e, consequentemente a
mobilidade urbana. Como por exemplo, em pequenas e médias cidades, em países emergentes, onde há forte pressão para a
implantação de sistemas de transporte e mobilidade sustentáveis que melhorem a qualidade de vida da população. Por outro
lado, estas cidades possuem demandas em diversas áreas e podem ter dificuldades para lidar com investimentos para aquisição
de dados para planejamento de transportes e mobilidade. Sendo assim, o processo que envolveu o uso de um protótipo de
receptor GNSS e a plataforma de serviços online Google, é acessível e pode ser reproduzido em larga escala devido aos custos
envolvidos. Além disso, é possível afirmar que este processo é viável para conduzir estudos que possam revelar as preferências
de viagem e alocar de forma conveniente investimentos em sistemas de transporte e mobilidade urbana sustentáveis.

Agradecimentos

Os autores agradecem as agências de fomento à pesquisa CNPq e CAPES, a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a
todos os ciclistas que contribuíram no experimento das viagens de bicicleta.

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330
5SSS141
DIMENSIONAMENTO DE MICROSSISTEMA DE RETENÇÃO
HÍDRICA UTILIZANDO MATERIAIS DE FÁCIL ACESSO – CAIXAS
PLÁSTICAS DE HORTIFRÚTI
Evellynn Sato Sirqueira1, Augusto Romanini2
¹Evellynn Sato Sirqueira
Graduanda em Engenharia Civil, Universidade do Estado de Mato Grosso, Sinop, Mato Grosso, Brasil,
evellynnsato@hotmail.com
²Augusto Romanini
Professor, Facisas - Universidade de Cuiabá, Bacharel em Engenharia Civil, Mestrando na Universidade Federal
de Ouro Preto – Mestrado Profissional NUGEO/UFOP, E-mail: augusto.romanini@gmail.com

Palavras-chave: inundações; infiltração; vazão.

Resumo
Com a crescente urbanização dos últimos anos, as cidades passaram a enfrentar diversos problemas ambientais, sociais e de
infraestrutura. Dentre eles, a drenagem urbana e as inundações. Com o passar do tempo, a cidade Sinop-MT teve um
crescimento significativo no número de edificações, ruas pavimentadas e calçadas. Esse processo, tornou uma parcela da
superfície do município impermeável, dificultando a infiltração das águas pluviais, resultando em um grande volume de água
escoando na superfície. A pesquisa buscou avaliar e dimensionar um sistema de retenção hídrica a nível urbano, utilizando
material de fácil acesso – caixa plástica de hortifrúti -, verificando o impacto da vazão deste dispositivo no sistema de
drenagem a nível da área de estudo. Com as leituras do tempo de infiltração e vazão do dispositivo realizadas em 4 dias
alternados, sendo 3 realizadas no decorrer do mês de março e uma no mês de maio do ano de 2019, constatou-se que o sistema
é eficaz para retenção da vazão em um pequeno intervalo de tempo e que a área lateral do dispositivo tem significativa
interferência na infiltração. Os valores médios obtidos, neste dispositivo para as vazões estão entre 9,75E-04 m³/s e 1,05E-03
m³/s, enquanto a taxa de infiltração máxima é de 7,80E-04 m/s.

Introdução
A Revolução Industrial que teve início no século XVIII foi o principal evento que transferiu a sociedade mundial rural para as
cidades. Uma vez que a população migrava para os grandes centros em busca de melhores condições de vida por meio de
empregos ofertados pelas indústrias. O processo de industrialização e sua expansão pelo mundo, fez com que a população
mundial se tornasse urbanizada. Em 1900, 13% da população mundial era urbana, e atualmente essa porcentagem é de 50%.
No Brasil, a população que mora em área urbana chega a 83%. (TUCCI, 2008).
Com a crescente urbanização dos últimos anos, as cidades passaram a enfrentar diversos problemas ambientais, sociais e de
infraestrutura. Dentre eles, os problemas das águas urbanas, que englobam o sistema de abastecimento de água e esgotos
sanitários, a drenagem urbana e as inundações.
O sistema de drenagem adotado pelas cidades até a década de 1970 tinha como único conceito o escoamento da água em
menor tempo.
Esta forma de pensamento condicionou o sistema de drenagem urbana existente em todas as cidades brasileiras, e foi
caracterizada pela implantação de galerias de águas pluviais e seus acessórios e por retificação e canalização de corpos d’água,
que reduziram drasticamente o tempo de percurso do escoamento superficial e o tempo de pico dos hidrogramas, trazendo
graves consequências principalmente para áreas à jusante (TUCCI, PORTO e BARROS, 1995).
Contudo, soluções técnicas de drenagem urbana mais modernas e sustentáveis passaram a colocar de lado o conceito de
“escoar a água precipitada o mais rápido possível” e incorporam estratégias de retenção e infiltração para solucionar os
problemas de drenagem mais próximo do local de geração do escoamento. Estas medidas são chamadas medidas
compensatórias de drenagem. (DA SILVA JUNIOR, DALL’AGNOL e BARROS, 2015).
As medidas de correção e/ou prevenção podem ser divididas em soluções estruturais e não estruturais.
As medidas não estruturais são aquelas em que se procura reduzir os danos pela introdução de normas, regulamentos e
programas que visem disciplinar a ocupação territorial, o comportamento de consumo das pessoas e as atividades econômicas
(CANHOLI, 2005).
Ainda segundo Canholi (2005), as medidas estruturais baseiam-se propriamente em obras de engenharia subdividida em

331
intensivas e extensivas. As intensivas podem ser classificadas como aceleração de escoamento, retardamento do fluxo, desvio
de escoamento, ações individuais visando tornar as edificações à prova de enchentes. Por sua vez, as medidas extensivas
correspondem aos pequenos armazenamentos disseminados na bacia, à recomposição de cobertura vegetal e ao controle de
erosão do solo, ao longo da bacia de drenagem.
Por mais que as medidas de controle mostram eficácia, o gerenciamento da drenagem urbana ainda tem sido falho em diversas
cidades do país, não atendendo a necessidade básica de escoamento de água. Como é o caso da cidade de Sinop-MT, que nos
últimos anos teve crescimento significativo no número de edificações, com ruas pavimentadas e calçadas na região central e
em bairros mais afastados. Esse processo, tonou uma parcela da superfície do município impermeável, dificultando a
infiltração das águas pluviais, resultando em um grande volume de água escoando na superfície e nas tubulações de drenagem.
As inundações podem ser classificadas em inundações ribeirinhas: que são inundações naturais que ocorrem no leito maior dos
rios; e inundações em razão da urbanização: que ocorrem na drenagem urbana por causa do efeito da impermeabilização do
solo, canalização do escoamento ou obstruções ao escoamento (TUCCI, 2008).
O sistema de drenagem de Sinop tem se mostrado ineficiente, ocasionando inundações em alguns pontos do município,
principalmente nas áreas centrais onde o volume perdido durante a drenagem escoa sobre as ruas, sendo seu curso determinado
pelo traçado destas, ou na maioria das vezes ficando armazenado entre os cruzamentos das ruas, dificultando a passagem dos
veículos e pedestres. (SCARPAZZA, 2011).
Canholi (2005) afirma que uma das formas de mitigar o problema, é considerar que “o sistema de drenagem deve ser entendido
como parte de um abrangente processo de planejamento urbano e, portanto, coordenado com os demais planos, principalmente
os de saneamento básico (água e esgoto), uso do solo e transporte”.
Na tentativa de minimizar os efeitos da urbanização sobre o ciclo hidrológico, o papel da engenharia é realizar o planejamento
dos sistemas de drenagem urbana e adotar medidas de controle para o bom funcionamento deste sistema.
Desta maneira, buscou-se avaliar e dimensionar um sistema de retenção hídrica a nível urbano, utilizando material de fácil
acesso – caixa plástica de hortifrúti -, verificando o impacto da vazão deste dispositivo no sistema de drenagem a nível da área
de estudo.
Segundo Tassi (2002), o uso de micro reservatórios de detenção é uma das alternativas consideradas para o controle de cheias
urbanas, com a finalidade principal de promover a redução do pico das enchentes, através do amortecimento conveniente das
ondas de cheias, pelo armazenamento temporário dos volumes escoados.
A realização destas estruturas pode se dar nos lotes residenciais e comerciais ou junto do sistema de microdrenagem da rede
pública.

Metodologia
O projeto se baseou na construção de um protótipo de micro reservatório de retenção hídrica utilizando materiais de fácil
acesso – caixas plásticas de hortifrúti.

Local de Estudo
O Local escolhido para a análise do projeto, trata-se da área entre os blocos H e I na Universidade do Estado de Mato Grosso,
UNEMAT campus Imperial, em Sinop.
De acordo com Bezerra e Crispim (2014), o solo do local é classificado como A-5 e apresenta uma condutividade hidráulica
média (corrigida com temperatura de 20ºC) de 2,68x m/s. Por mais que o solo da região apresente carcteristicas de solo
argiloso, em termos de coeficiente de conduitividade hidráulica o resultado se assemelha a areias finas.
Com a altitude de 384 m acima do nível do mar, a cidade possui um relevo plano, levemente ondulado. O regime de chuvas é
equatorial e caracteriza-se por um período seco no inverno e um período chuvoso no verão. Os meses que mais chovem na
região são: janeiro, fevereiro e março e os que menos chovem são: junho, julho e agosto. (SINOP EM DADOS, 2015).

Avaliação do Local
O Manual de Drenagem de Porto Alegre (2005) cita o método desenvolvido pela Swedish Association dor Water and Sewer
Works em 1983, e apresentado por Urbonas e Stahere (1993), onde a característica do local é associada a uma pontuação. Os
valores para a soma são de acordo com a Tabela 6.3 do Manual: “Sistema de pontuação para avaliação de possíveis locais de
implantação de dispositivos de infiltração e/ou percolação” (Manual de Drenagem de Porto Alegre, 1993, página 33).
A somatório dos pontos informa o resultado da avaliação. Se o valor obtido for menor que 20 pontos, o local deve ser
descartado; se o valor estiver entre 20 e 30, o local é um candidato a receber um dispositivo de infiltração; e se o total for
maior que 30, o local poder ser considerado excelente.

Materiais
Os materiais utilizados na montagem do protótipo foram: caixas plásticas de hortifrúti, material granular (areia e pedra brita
nº1), arame liso e tela verde.
Para as medições, usou-se: mangueira e um medidor de nível d’água.

332
Dimensionamento
Baseado no Manual de Drenagem de Porto Alegre (2005), o método para encontrar o volume do reservatório de infiltração
para um tempo de retorno de 10 anos, é:

(1)

Onde: V: volume em m³; A: área drenada para a jusante do empreendimento/ área da bacia (ha); AI: área impermeável que
drena a precipitação para os condutos pluviais (%). Como trata-se de um local onde a drenagem de 100% de superfície
impermeável irá para trincheira de infiltração, utiliza-se AI = 80%.

Montagem da estrutura
Para a realização do protótipo, o dimensionamento foi baseado na montagem da estrutura das caixas plásticas, que obteve as
dimensões 0,65mX0,65mX0,30m, totalizando um volume de 0,12675m³.
O protótipo foi construído em dezembro de 2018. O procedimento seguiu o passo a passo apresentado Sirqueira e Romanini
(2019). O processo é dividido na etapa de montagem do protótipo, escavação da vala e instalação.
A vala escavada possui a dimensão de 1,10mX1,10mX0,55m, totalizando um volume total de 0,6655m³. A montagem ocorreu
conforme as Figuras 1 e 2:

Figura 1: Planta da estrutura montada. Fonte: Acervo Próprio, 2019.

Figura 2: Corte da estrutura montada. Fonte: Acervo Próprio, 2019.

Medições
Carvalho et al. (2012) afirma que os ensaios de infiltração devem ser realizados com o enchimento do reservatório utilizando
uma vazão de água que garanta o seu rápido enchimento.

333
É preciso verificar as medidas da escavação: comprimento, largura e profundidade, e abastecer e esvaziar o micro reservatório
no mínimo duas vezes, tentando simular a estação chuvosa que corresponde às menores taxas de infiltração, momento em que
o sistema de infiltração é solicitado.
Faz-se necessário então, adotar um sistema apropriado para avaliar o rebaixamento do nível da água no reservatório (sensor de
nível d’água) e considerar o mesmo referencial e variação de tempo para cada ensaio. Portanto, foi usado um medidor de nível
eletrônico que apresenta 4 níveis com uma distância de 12,5 cm de um nível para o outro.

Figura 3: Medidor de nível. Fonte: Acervo Próprio, 2019

Vale enfatizar, que não é indicado direcionar a mangueira para as paredes do reservatório, para evitar riscos de perda de
resistência e erosão do solo.
Realizando os procedimentos acima, encontra-se a taxa de infiltração (I) pela Equação 2.

(2)

Onde: V: volume do micro reservatório (m³); A: área de infiltração (m²), que corresponde à área das paredes verticais das
estruturas mais a área do fundo do reservatório; : intervalo de tempo para medir a variação no nível da água na estrutura
(min).

Sabe-se que a vazão é encontrada por:

(3)

Onde: V: volume do micro reservatório (m³); : intervalo de tempo para medir a variação no nível da água na estrutura (min).

Para os cálculos de Infiltração e Vazão utilizou-se o volume de cada nível separadamente. Sendo assim, as dimensões são:
1,1m X 1,1 m X 0,125 m, totalizando 0,15125 m³.

Método Racional
Para a análise da vazão em relação a área drenada, SILVEIRA e GOLDENFUM (2007) apresentam a fórmula do Método
Racional Modificado. Através da Equação 4 é possível realizar a análise da área da bacia contribuinte do sistema.

(4)

Onde: Q: vazão máxima em m³/s; C: Coeficiente de escoamento médio superficial ponderado (entre 0,85 e 0,95); i: máxima
intensidade da precipitação em mm/h (Equação 5); A: área da bacia contribuinte em km².

334
(5)

Onde: T: período de retorno (anos); t: tempo de concentração da bacia (minutos); a, b e c: parâmetros IDF de Talbot (Segundo
Botan e Crispim (2014), para Sinop os valores dos parâmetros são: a= 2681,00; b= 0,15; c=25,20).

Resultados e Discussão

Avaliação do Local
A pontuação total do local estudado foi de 20 pontos, que podem ser divididos em:
Razão entre área impermeável e área de infiltração = 5;
Natureza da camada de solo superficial de matéria orgânica intermediária = 5;
Solo subsuperficial de areia siltosa ou lemo = 5;
A declividade da superfície de infiltração menor que 7%= 5;
A cobertura vegetal não existente (solo nu) = -5;
O grau de tráfego na superfície de infiltração com pouco tráfego de pedestres = 5.

Desta maneira, o local fica classificado como um candidato a receber um dispositivo de infiltração.

Dimensionamento
Com o valor do volume do micro reservatório (da vala) de 0,6655m³, apresentado na montagem da estrutura, é possível
encontrar o valor da área da bacia atingida (conforme a equação 1), de 19,57 m².

Leituras
As leituras foram realizadas em 4 dias alternados, sendo 3 realizadas no decorrer do mês de março e uma no mês de maio. A
Figura 4 apresenta o regime das chuvas do ano de 2017 e aponta uma diferença de aproximadamente 200 mm entre o mês de
Março (Mês 03) e o mês de Maio (Mês 05).

Figura 4: Adaptado de Climograma de Sinop. Fonte: Climate – Data.Org, 2017.

As mudanças de níveis são apresentadas nas tabelas seguintes. De acordo com a Figura 3, do nível 4 para o nível 3 será
representado por A, do nível 3 para o nível 2 será representado por B e do nível 2 para o nível 1 será representado por C.
A Tabela 1 mostra como foram os resultados dos tempos obtidos para a mudança de um nível para o outro, no dia 06 de
Março, todos medidos com um crônometro.

335
Tabela 1: Tempo das leituras realizadas no dia 06 de Março de 2019 (em segundos)
Dia 06/03/2019
Níveis 1ª Leitura 2ª Leitura 3ª Leitura
A (4-3) 53 81 55
B (3-2) 410 499 594
C (2-1) 981 1220 1425
Fonte: Acervo próprio, 2019.

Para o dia 10 de Março de 2019, a Tabela 2 demonstra os resultados encontrados. Foram realizadas duas leituras, por conta da
chuva que ocorreu em seguida.

Tabela 2: Tempo das leituras realizadas no dia 10 de Março de 2019 (em segundos)
Dia 10/03/2019
Níveis 1ª Leitura 2ª Leitura 3ª Leitura
A (4-3) 50 56
Não
B (3-2) 626 774
realizada
C (2-1) 1743 2162
Fonte: Acervo próprio, 2019.

Os valores auferidos no dia 20 de Março estão expostos na Tabela 3. Realizou-se duas leituras.

Tabela 3: Tempo das leituras realizadas no dia 20 de Março de 2019 (em segundos)
Dia 20/03/2019
Níveis 1ª Leitura 2ª Leitura 3ª Leitura
A (4-3) 51 63
Não
B (3-2) 584 672
realizada
C (2-1) 1555 1825
Fonte: Acervo próprio, 2019.

Os resultados do dia 05 de Maio de 2019 estão apresentados na Tabela 4.

Tabela 4: Tempo das leituras realizadas no dia 02 de Maio de 2019 (em segundos)
Dia 02/05/2019
Níveis 1ª Leitura 2ª Leitura 3ª Leitura
A (4-3) 31 43 51
B (3-2) 552 630 714
C (2-1) 1460 1837 1880
Fonte: Acervo próprio, 2019.

É possível verificar com as leituras realizadas, que no primeiro nível (A) ocorre menor tempo de infiltração em todas os 4 dias
ensaiados. Nota-se que para o nível intermediário (B) esse tempo aumenta de 10 a 14 vezes, e do nível intermediário para o
nível final (C) o tempo é um pouco mais que o dobro. Nota-se também, que o tempo máximo que ocorre as maiores vazões
(níveis A e B) está em torno de 774 segundos, atestando que em casos de chuvas intensas em pequenos intervalos, o sistema é
eficaz.

Infiltração
Os valores médios de infiltração para as leituras realizadas nos dias 06, 10 e 20 de Março e dia 02 de Maio, podem ser
observados na Tabela 5.

336
Tabela 5: Valores médios de infiltração
06/03/19 10/03/19 20/03/19 02/05/19
Níveis
Infiltração (m/s)
A(4-3) 1,41E-03 0,001627 0,001525 2,15E-03
B(3-2) 1,75E-04 0,000124 0,000138 1,37E-04
C(2-1) 7,20E-05 4,45E-05 5,12E-05 5,05E-05
Fonte: Acervo Próprio, 2019.

É possível observar que a infiltração diminui com o passar do tempo, ou seja, com maior tempo, menor a infiltração. Isso está
relacionado com a água que preenche os vazios no solo abaixo do reservatório. Esta relação é observada na Figura 5.

Figura 5: Relação tempo e infiltração dos valores médios. Fonte: Acervo Próprio, 2019

Constata-se que a infiltração nos níveis superiores é maior e ocorrem de modo mais rápido que nos níveis inferiores. Quando o
dispositivo está totalmente cheio, a água (buscando o caminho mais fácil para percorrer) infiltra pela lateral e pela base.
Nos níveis seguintes, o tempo aumenta, pois a área lateral diminui e a área da base passa a ser insuficiente para atender a
quantidade de água a ser infiltrada. Isso é comprovado pelas dimensões do dispositivo, uma vez que, somando os 4 lados do
protótipo, a área lateral total é de 2,42 m², enquanto a área da base é de apenas 1,21 m².
Verifica-se também, que no dia 02 de Maio de 2019, o regime de chuvas na região é menor, e com isso, a infiltração inicial foi
maior que o analisado nos dias anteriores. Contudo, a sequência das leituras seguintes, continuaram com o mesmo formato,
onde a infiltração diminui com o tempo.

Vazão
Os valores da vazão encontrada, também comprovam que quanto mais o tempo passa, menor a vazão, ou seja, o volume de
água demora mais para escoar.
Os valores médios de vazão para os dias 06, 10 e 20 de Março e 02 de Maio são apresentados na Tabela 6.

Tabela 6: Valores médios de vazão


06/03/19 10/03/19 20/03/19 02/05/19
Níveis
Vazão (m³/s)
A(4-3) 2,49E-03 0,002863 0,002683 3,79E-03
B(3-2) 3,09E-04 0,000219 0,000242 2,42E-04
C(2-1) 1,27E-04 7,84E-05 9,01E-05 8,88E-05
Fonte: Acervo Próprio, 2019.

337
Os resultados de vazão para os dias analisados podem ser visualizado na Figura 6.

Figura 6: Relação tempo e vazão dos valores médios. Fonte: Acervo Próprio, 2019

De acordo com os resultados médios de vazão obtidos, realizou-se a análise da área da bacia contribuinte do sistema por meio
das Equações 4 e 5. Com o período de retorno de 10 anos e o tempo de concentração na bacia de 10 minutos, o valor
encontrado para a intensidade de precipitação, segundo os parâmetros IDF de Talbot da cidade de Sinop, é de 108 mm/h.

Utilizando o coeficiente de escoamento da área que contribui para a estrutura de 0,95, a área resultante é de 38,8 m².
Comparando esta dimensão com o valor de 19,57 m², anteriormente apresentado no Dimensionamento do protótipo, é possível
compreender que a cada 38,8 m² de área da bacia, o dispositivo atende 19,57 m².

Sendo assim, o dispositivo deixa de encaminhar para o sistema de drenagem público em torno 50,44% da água pluvial nos
minutos em que opera como dispositivo de infiltração (os 10 minutos do pico inicial da chuva).

Teor de umidade
Realizando o ensaio de teor de umidade de amostras do solo da superfície do reservatório, antes e depois das leituras, obteve-se
os resultados apresentandos na Tabela 7.

Tabela 7: Teor de umidade


Dia 10/03/19
Antes das Leituras Depois das Leituras
29,46% 36,9%
Dia 02/05/19
Antes das Leituras Depois das Leituras
6,92% 29,89%
Fonte: Acervo Próprio, 2019.

É possível verificar que no dia 10 de Março de 2019, o solo da superfície já estava com um significtivo teor de umidade antes
de realizar as leituras. Isto está relacionado ao fato da ocorrência de chuvas constantes neste período do ano na cidade de
Sinop-MT. Já no dia 02 de Maio de 2019, o solo apresentava umidade menor antes de relizar as leituras, o que indica a
diminuição da ocorrência de chuvas na região.

338
Conclusão
Com base nos resultados apresentados, pode-se concluir que o dispositivo opera na retenção da vazão por um pequeno
intervalo de tempo, atendendo o primeiro momento do pico da chuva. Ou seja, o dispositivo funciona nos primeiros 10 minutos
com um dispositivo de infiltração, e nos tempos posteriores a este, como um dispositivo de retenção. Em ambos os casos a
inserção de diversos dispositivos com configurações similares pode contribuir para reduzir a sobrecarga hidraúlica do macro
sistema de drenagem.

As informações obtidas pelo ensaio do teor de umidade realizado antes e depois das medições, indicam que a quantidade de
água já existente no solo só interfere nas primeiras mudanças de níveis, onde a água preenche todo o reservatório. Apesar do
dia 02 de Maio de 2019 evidenciar menor teor (antes das leituras) que o dia 10 de Março de 2019, o tempo total de infiltração
da segunda leitura teve uma diferença de apenas 325 segundos, confirmando que a maior interferência neste caso é infiltração
pela área lateral e não o teor de umidade.

Indica-se para pesquisas futuras o dimensionamento de 2 protótipos. Um com a área da base maior que a área lateral e outro
com a área lateral maior que a área da base, afim de realizar uma comparação do tempo de infiltração em ambos os casos.

Agradecimentos
Agradecemos o apoio da Universidade do Estado de Mato Grosso, UNEMAT, que disponibilizou o espaço para a realização do
projeto, bem como os professores da instituição que colaboraram com a realização deste trabalho.

Referências Bibliográficas
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BOTAN, J., & CRISPIM, F. A. (2014). Determinação da curva de intensidade-duração-frequência das precipitações máximas
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municipio/localizacao-geografica/285104. Acesso em: 23 Abril 2018.
DA SILVA JUNIOR, G. P., DALL'AGNOL, G., & BARROS, M. G. (2015). Bacia De Detenção Como Medida Mitigadora
Para Redução Do Escoamento Pluvial Em Um Loteamento Urbano.
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Controle Pluvial na Fonte. Bacia de Retenção.
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TASSI, R. (Dezembro de 2002). Efeito dos microrreservatórios de lote sobre a macrodrenagem urbana.
TUCCI, C. E. (2008). Águas Urbanas. Desenvolvimento urbano.
TUCCI, C. E., PORTO, R. L., & BARROS, M. T. (1995). Drenagem Urbana. Porto Alegre, RS: Universidade/UFRGS.

339
5SSS142
ANÁLISE DA PEGADA DE CARBONO DE UMA FAZENDA SITUADA
NA BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO PARANAPANEMA
Ana Carolina Godoy Albino1, Daniel Silveira Pinto Nassif 2
1Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, e-mail: carolinagodoyalbino@gmail.com; 2Universidade Federal
de São Carlos - UFSCar, e-mail: daniel.nassif@ufscar.br

Palavras-chave: mudanças climáticas; efeito estufa; agropecuária

Resumo
A necessidade de mitigação devido ao crescimento das emissões de gases do efeito estufa é notória. O auge do setor
agropecuário para as mudanças climáticas é a necessidade de aumento na produtividade, fazendo com que não ocorra perdas
drásticas de produção decorrente de eventos extremos, atendendo as demandas atuais e futuras de alimento. O objetivo deste
trabalho é identificar práticas no setor produtivo de uma fazenda situada na bacia hidrográfica alto Paranapanema analisando
suas emissões de dióxido de carbono equivalente e calculando a pegada de carbono do setor agrícola e pecuário, propondo
ações para diminuir os valores obtidos. No setor agrícola e pecuário obteve-se 1,09 e 56590,14, respectivamente, de emissões
de toneladas de dióxido de carbono equivalente. Tais valores foram analisados de diversas formas, como por exemplo, parte
agrícola analisada por cultura e por tipo de manejo, para melhor compreensão das atividades de maior emissividade facilitando
na possibilidade de usar ferramentas, como a agricultura de precisão e manejo adequado de pastos para diminuir os valores
calculados.

Key words: climate changes; greenhouse effect; agriculture and livestock

Abstract
The need for mitigation due to the growth of greenhouse gas emissions is notorious. The pinnacle of the agricultural sector for
climate change is the need for increased productivity, without occurring drastic production losses occur due to extreme events,
meeting current and future demands. The objective of this work is to identify practices in the productive sector of a farm
located in the Alto Paranapanema watershed by analyzing its carbon dioxide equivalent emissions and calculating the carbon
footprint of the agricultural and livestock sector, following with proposals actions to decrease the obtained values. In the
agricultural and livestock sector of the analyzed farm, 1.09 and 56590.14 tCO2e were obtained, respectively, to the carbon
dioxide equivalent emissions. The values were analyzed in various ways, for example, agricultural part analyzed by crop and
management type, to better understand the activities of higher emissivity, for later facilitate in the possibility of using precision
agriculture tools and appropriate pasture management to decrease the values calculated.

Introdução
A pegada de carbono é um indicador cada vez mais utilizado para contabilizar as emissões de gases de efeito de estufa
(GEE). O aumento da concentração de tais gases ocasiona no aumento da temperatura da superfície terrestre, devido a
capacidade dos mesmos de reter esses gases (SILVA, 2006).
Nas últimas décadas, começaram a ser feitos inúmeros estudos com relação a pegada de carbono e isso é dado a
crescente conscientização da população com o desafio das mudanças climáticas. Alguns desses estudos, têm como base a
relação entre os gases do efeito estufa e o dióxido de carbono (CO2), tendo como unidade de comparação o CO2eq (CO2
equivalente) comparando-os pelo potencial de aquecimento global, por exemplo, CO2 = 1, CH4 = 25, N2O = 298, HFC-125 =
3.500 (SANTOS, 2013; GHG Protocol, 2017).
O setor agrícola, além de ser suscetível aos impactos com relação a mudanças climáticas é, atualmente, incumbido de
grande parte das emissões de GEE. De acordo com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) o fluxo anual
médio dos GEE foi de 10 a 12 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (GtCO2eq) entre os anos de 2000 e 2010 (MOZZER,
2010; IPCC, 2014).
Nessa situação, o estudo da pegada de carbono da produção agrícola e pecuária tem por principal importância a
identificação de práticas que possuem alto grau de emissividade de GEE, e que poderá possibilitar, assim, um suporte para
análise de estratégias que reduzem as emissões, sendo esse o primeiro passo para uma produção menos poluente e mais
consciente.

340
Objetivo
A presente pesquisa tem por objetivo quantificar os gases do efeito estufa causadas diretamente e indiretamente pela
produção agropecuária de uma fazenda situada na bacia hidrográfica do alto do Paranapanema.

Metodologia
As análises foram conduzidas com base na área produtiva (agricultura e pecuária), levando em consideração a época
da safra 2017/2018, de uma fazenda localizada na bacia hidrográfica do alto Paranapanema (lat.: 23º 35’ 58,01’’ S; long.: 48º
31’ 46,66’’ O; alt.: 649m), da qual tem como principal tipo de solo, segundo a IAC (2014), o argissolo vermelho amarelo.
A fazenda foi dividida inicialmente em cinco subáreas, que serão consideradas como os limites operacionais, sendo
elas: sequeiro, área irrigada, área de pastagem, fruticultura e secagem e armazenagem de grãos, com áreas de 167,9; 212,4;
17,1; 1,81; 3,53 hectares, respectivamente. Devido à falta de dados precisos a área de fruticultura foi desconsiderada das
análises, para evitar uma possível subestimação ou superestimação das emissões.
Portanto as áreas de análise foram: sequeiro, área irrigada, área de pastagem e secagem de grãos (Anexo I).
A metodologia utilizada para contabilizar as emissões foi a The Greenhouse Gas Protocol – A corporate accounting
and reporting standard, ou simplesmente, GHG Protocol, compatível com as normas da International Organization for
Standardization (ISO) e com as metodologias aplicadas pelo IPCC.
Ela consiste em uma contabilização por escopos, sendo escopo 1 as emissões referentes aos limites operacionais
delimitados, escopo 2 as emissões pelo consumo energético e escopo 3 as emissões referentes a tudo que acontece fora dos
limites operacionais delimitados.
O cálculo é feito através de um editor de planilhas (Microsoft Office Excel). Como base para o preenchimento utiliza-
se o Agriculture Guidance, que é um complemento ao GHG Protocol específico para o setor agrícola.
Para cada área de análise, foram necessárias algumas adaptações de acordo com a metodologia para que houvesse uma
contabilização mais exata, essas adaptações serão apresentadas ao longo dos próximos tópicos.

Produção agrícola

Nessa etapa, foi dividido em duas sub etapas de análise, sendo elas: produção de grãos (milho, trigo e soja) e mudança
do uso do solo.

Produção de grãos
Os dados coletados para essa parte foram: área de cultivo em irrigação e em sequeiro para cada grão, produção anual
de cada grão, insumos utilizados para preparo do solo, da semente, plantio, controle de plantas competidoras, controle de
pragas e fungos, fertilização e por fim colheita.
Para herbicidas, pesticidas e fungicidas foi necessário analisar a concentração de cada componente do produto,
segundo cada fabricante, para obter a massa exata de cada elemento, como exemplificado na tabela 1.

Insumo Nome Volume (L) Concentração (g/L) Massa (Kg)


Outros
684 0,65664
ingredientes
Herbicida
Ácido - Glifosato 960 360 0,3456
Round up
Sal - Glifosato 480 0,4608
Tabela 1. Exemplo para cálculo de massa de biocidas utilizados na produção (Adaptado de Adapar [s/d]).

Para os adubos NPK (Nitrogênio, Fósforo, Potássio), Boro e Zinco utilizados na produção, aplicou-se fatores de
emissão para a produção e não aplicação dos mesmos, isso foi necessário porque a metodologia só considera emissão referente
a massa de Nitrogênio existente no fertilizante desconsiderando os outros componentes.
Esses fatores de emissão (tabela 2) foram obtidos no software SimaPRO de análise de ciclo de vida, utilizando o
banco de dados EcoInvent 3.0, com o método ILCD -International Reference Life Cycle Data System.

341
Fator de emissão
Componente
(tCO2e/ton. de ingrediente)
Nitrogênio 6.01

Fósforo 1.88

Potássio 0.89

Boro 0.09

Zinco 1.17
Tabela 2. Fatores de emissão para os componentes do fertilizante (Adaptado de SimaPRO, 2019).
Por fim, para considerar a energia gasta pelos pivôs na irrigação, foi requerido as contas dos meses de outubro de
2017 a setembro de 2018, considerando o consumo de outubro de 2017 a março de 2018 para a cultura da soja e da segunda
quinzena de abril a setembro de 2018 para a cultura do trigo.
A cultura do milho não foi considerada para o consumo de energia dos pivôs, pois foi plantado integralmente em áreas
de sequeiro. O que foi gasto com armazenamento foi dividido igualmente entre as três culturas.

Mudança do uso do solo


Na parte de mudança do uso do solo a metodologia considera quando a mudança ocorre por alteração no tipo de
atividade do solo, por exemplo de floresta para área de cultivo e considera a emissão natural de carbono de cada solo para a
atmosfera.
Na época de análise, estava em vigor um processo de regularização para as áreas de preservação permanente da
fazenda, portanto 205,95 hectares da área agrícola foi convertida em floresta.
Neste caso, tem-se o processo de remoção de carbono da atmosfera por meio das árvores, sendo contabilizados em
remoções de CO2 biogênico. Para isso foi utilizado as eq. 1, 2 e 3, e para a emissão de carbono pelo solo a eq. 4. Todas as
equações foram obtidas no relatório de 2006 do IPCC, capítulo 2 e 4.

Em que: ∆CB: Mudança anual carbono em terras convertidas (ton. C/ano); ∆CG: Aumento anual dos estoques de
carbono na biomassa devido ao crescimento da terra convertida em outra categoria de uso da terra (ton. C/ano); ∆CC: Mudança
inicial de carbono em terras convertidas (ton. C/ano); ∆CL: redução anual de carbono devido a perdas produzidas por culturas e
outras perturbações (ton. C/ano); B: Estoque de carbono antes e depois da conversão (ton. C/ha); ∆A: Área convertida
(ha/ano); Gtotal: Crescimento médio anual de biomassa (ton. C/ha. Ano); R: Redução de biomassa subterrânea e aérea para um
tipo específico de vegetação; Iv: Aumento anual médio para um tipo específico de vegetação; BCEF: Fator de conversão e
expansão de biomassa para conversão do aumento líquido anual em volume (incluindo casca); Lorg: Perda anual de carbono dos
solos orgânicos (ton. C/ano); EF: fator de emissão para o tipo de clima (ton. C/ha.ano).

342
Na tabela 3 pode ser observado os fatores adotados para cada fórmula e suas respectivas referências.

Fator (Sigla) Valor Unidade Referência

R 0,24 - IPCC (2006)

Gtotal 10 Ton. C/ha.ano IPCC (2006)

CF 0,47 Ton. C/ha.ano IPCC (2006)

BCEF 0,45 (m³ de madeira)-1 IPCC (2006)

EF (clima tropical) 1,36 - IPCC (2006)

Bantes 69 Ton. C/ha Agriculture Guidance (2019)

Bdepois* 72,74 Ton. C/ha MACHADO (2016)

* média dos valores de floresta e campo antrópico devido ao tempo de reflorestamento.


Tabela 3. Fatores das equações

Área de pastagem
Para a área de pastagem foi considerado os animais existentes na fazenda, sendo vacas, ovelhas, cordeiros e carneiros,
a massa corporal e a dieta (pastagem, concentrado, silagem etc.). No caso dos ovinos, além da pastagem existe uma dieta
controlada com soja, trigo, milho, vitaminas e sais minerais, portanto, da mesma forma que se contabilizou os fertilizantes no
tópico 3.1.1, com fatores de emissão, contabiliza-se a dieta da pastagem.
O milho, soja e trigo são provenientes da própria fazenda, portanto, os fatores de emissão utilizados foram as pegada
de carbono de cada grão, já da vitamina e sais minerais foi retirado do software SimaPRO, utilizando o banco de dados
EcoInvent 3.0, com o método International Reference Life Cycle Data System (ILCD), que no caso é 0,3981 tCO2e/ton. de
ingrediente.
No pasto foi utilizado fósforo como fertilizante, portanto para contabilizá-lo foi utilizado o fator de emissão
apresentado no tópico 3.1.1.
No momento de calcular a pegada da área de pastagem foi necessário estimar a produtividade da forragem dos pastos,
devido a inexistência desse controle na fazenda. Para isso foi retirado da literatura a produtividade média (Tabela 4) dos
principais tipos de forragem de pasto (Massai, Mombaça, Braquiária, Tanzânia) e, a partir delas, foi feito uma média das
quatro.

Forragem Produtividade (ton. MS/ha) Fonte


Massai 16 MACHADO et al. (2010)
Mombaça 33 MACHADO et al. (2010)
Braquiária 14 EMBRAPA, (1984)
Tanzânia 26 MACHADO et al. (2010)
Tabela 4. Produtividade média das principais forragens de pasto da fazenda analisada (Fonte própria).

Secagem e armazenagem de grãos


No processo de secagem de grãos, a fazenda não possui controle da massa de madeira de eucalipto utilizada para
combustão no processo de secagem, entretanto, possuem o controle da umidade inicial do grão e a umidade final do grão.
Portanto, para descobrir a massa, em toneladas, de madeira utilizada, basta fazer um balanço de massa e energia
(equações 5 e 6).

343
dM
=M S -M e (5)
dt
dU  ˆ s -M e *H
ˆe
=Q+M s *H (6)
dt
Em que: dM/dt: Variação de massa (Kg); Ms: Massa de saída de água (Kg); Me: Massa de entrada de água (Kg); Q:
calor inserido no sistema (lenha) (MJ); He: entalpia de entrada (MJ); Hs: Entalpia de saída (MJ); dU/dt: Variação de energia
com o tempo (MJ).

Obtendo a variação de energia necessária da lenha para evaporar determinada quantidade de água, divide-se esse valor
pela energia específica (poder calorífico) da lenha utilizada, neste caso, 11,4408 MJ/ton. de madeira, considerando 25% de
umidade, obtendo assim o valor em toneladas de eucalipto utilizada.

Resultados Obtidos
Área agrícola
As emissões correspondentes a área agrícola foi dividida de duas formas, uma com a pegada de carbono da área
irrigada e área de sequeiro (tabela 5) e outra uma pegada de carbono por cultura da fazenda, sendo milho, trigo e soja (tabela
6).

Área Emissões (tCO2e) Produtividade (ton. grão) Pegada (tCO2e/ton. grão)

Irrigada 10,67 1245,37 8,57E-03

Sequeiro 127,42 1514,63 8,41E-02

Tabela 5. Emissões e pegada de carbono separada em área irrigada e sequeiro.

Emissões Produtividade Pegada


Cultura
(tCO2e) (ton. grão) (tCO2e/ton. grão)

Milho 119,03 480 2,48E-01

Soja 11,34 1680 6,75E-03

Trigo 7,72 600 1,29E-02

Tabela 6. Emissões e pegada de carbono por cultura.

Como observado na tabela 5, as emissões da área de sequeiro são consideravelmente maiores que as de irrigação, isso
se dá pelo fato de que a área cultivada sem irrigação é 10% maior que a irrigada, além de as três culturas serem cultivadas,
sendo a do milho cultivada integralmente, em sequeiro.
A cultura do milho possui maior emissão por tonelada de grão devido à grande quantidade de nitrogênio presente nos
fertilizantes sintéticos aplicados. Quando comparados com a cultura de soja e trigo é 90% e 70% maior que a quantidade de
nitrogênio aplicada, respectivamente.
Com relação a quantidade de biocidas aplicado, tem-se que a cultivar do milho é a que possui maior volume aplicado
por área cultivada, sendo 8063,40 L/ha e o trigo com a menor volume por área cultivada, sendo 853,5 L/ha.
Portanto, devido a maior necessidade de insumos da cultivar do milho, a mesma possui maior emissão por tonelada
produzida, aumentando consequentemente a emissão por tonelada de grão do sequeiro.

Mudança no uso do solo


Com relação a mudanças no uso do solo, obteve-se a emissão de 1045,16 tCO2e devido as características do solo e um
resgate/remoção de 1329,99 tCO2e correspondente a área de cultivo que foi alterada pelo reflorestamento.

Área de pastagem
Para as emissões que se referem a área de pastagem foram calculadas duas pegadas de carbono, uma para a

344
produtividade média de matéria seca do pasto, segundo a literatura, e outra com relação ao número de animais (tabela 7).

Emissão (tCO2e) 56590,14

Nº de animais 70

Produção do pasto (ton. MS) 380,25

Pegada (tCO2e/ ton. MS) 148,82

Pegada (tCO2e/animal) 808,43

Tabela 7. Emissão e pegada de carbono da área de pastagem.

Secagem e armazenagem de grãos

Por fim, ao analisar a secagem e armazenagem de grãos utilizou-se os valores de consumo energético da casa de
armazenagem mais a quantidade de lenha utilizada. Ao colocar a categoria do eucalipto na aba de combustão estacionária foi
considerado que ele era lenha para queima direta. Portanto, obteve-se os resultados apresentados na tabela 8.

Emissão (tCO2e) Total seco (ton. grão) Pegada (tCO2e/ton. grão)

70,12 2760 2,54E-02

Tabela 8. Emissão para secagem e armazenagem de grãos.

Esperava-se um valor maior na emissão proveniente da secagem de grãos, entretanto, a baixa emissividade pode ser
explicada pela quantidade mínima de eucalipto utilizado, sendo de 14,25 toneladas.

Considerações finais
Ao longo do projeto esperava-se que a pegada de carbono segue uma sequência, do maior para o menor, de secagem e
armazenagem de grãos, área de pastagem, área irrigada e por fim área de sequeiro. Entretanto, pelos resultados apresentados
pôde-se observar que na verdade a maior pegada de carbono foi a da área de pastagem, seguida de área de sequeiro e irrigada e
por fim área de secagem e armazenagem de grãos.
Essa diferença pode ser explicada pela superestimação da quantidade de insumos em algumas áreas e subestimação
em outras quando desenvolvida a análise prévia.
Entretanto, conclui-se que todos os objetivos específicos foram alcançados com êxito e os resultados obtidos foram
favoráveis possibilitando analisar possíveis atitudes que diminuam as emissões e por consequência as pegadas de carbono.
Por fim, para que ocorra uma diminuição na pegada de carbono em todos as áreas de análises, pode-se levar em
consideração:
- Uma atualização no maquinário utilizado, visto que, as máquinas (tratores, plantadeiras, carretas, adubadora, pivôs etc.) são
extremamente antigos, tendo pelo menos 20 anos de uso;
- A utilização de ferramentas de agricultura de precisão, analisando a real necessidade do uso de cada biocida, fertilizante e
adubos;
- Utilização de adubos orgânicos ao invés de somente adubos nitrogenados sintéticos;
- Reaproveitamento dos dejetos de animais para utilização de um biodigestor para secagem de grãos ou até mesmo a utilização
de energia elétrica em conjunto à queima da lenha;
- Melhor manejo das áreas de pastagem, visto que as mesmas possuem pouca manutenção e cuidados.

345
Referências Bibliográficas

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Acesso em: 02 dez. 2017.

346
347
ANEXO I. Limites Operacionais da Fazenda analisada
5SSS143
AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE NA REMEDIAÇÃO DE
ÁREAS CONTAMINADAS: INDICADORES, FERRAMENTAS E
MÉTODOS
Adeli Beatriz Braun, Adan William da Silva Trentin, Caroline Visentin, Antônio Thomé
Universidade de Passo Fundo – Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil e Ambiental, e-mails:
adelibeatrizbraun@hotmail.com; adan_trentin@hotmail.com;
caroline.visentin.rs@gmail.com; thome@upf.br

Palavras-chave: Remediação sustentável; Gerenciamento; Padronização

Resumo
Considerações de sustentabilidade são cada vez mais importantes no gerenciamento de áreas contaminadas, para que os
impactos ambientais gerais e os aspectos socioeconômicos associados aos locais contaminados e à aplicação dos processos de
remediação sejam considerados, incluindo os efeitos sobre as pessoas que vivem dentro e ao redor dos locais. Contudo, como
avaliar e incorporar a sustentabilidade no contexto da remediação de áreas contaminadas é um grande desafio, e é por isso que
a disseminação dos conceitos da remediação sustentável é bastante lenta e ainda pouco difundida. Neste sentido, este estudo
objetivou diagnosticar, caracterizar e analisar os indicadores, ferramentas e métodos desenvolvidos para avaliar a
sustentabilidade na remediação de áreas contaminadas no contexto específico da remediação sustentável. Para tanto, foi
realizada uma ampla revisão bibliográfica, de forma sistemática, por meio de buscas em bases de dados de periódicos
científicos, na rede mundial de computadores e estudos de casos. A pesquisa indicou que existem diversos indicadores,
ferramentas e métodos já desenvolvidos neste contexto, porém, sem um conjunto definido ou padronizado, sendo que, cada
estudo os elenca de forma específica conforme sua abordagem. Desta forma, esta área de estudo precisa ser mais explorada a
fim de consolidar a sua abordagem no contexto da remediação sustentável.

Introdução

Dentro da evolução no campo da remediação, a abordagem tradicional do gerenciamento de áreas contaminadas baseada quase
que exclusivamente no risco, tempo, custo e eficiência de descontaminação, foi substituída pelos conceitos de manejo
sustentável. O foco mais recente neste contexto tem sido a disseminação e incorporação do termo “remediação sustentável”
(Pollard et al., 2004; Rizzo et al., 2016).
A remediação sustentável consiste em um campo de estudo emergente, e o crescente interesse e desenvolvimento dos seus
conceitos representa o avanço e a maturidade da indústria de remediação de áreas contaminadas (Hou et al., 2014a; Hadley;
Harclerode, 2015). O amplo propósito da remediação sustentável consiste em reduzir os impactos ambientais, econômicos e
sociais, e otimizar e/ou maximizar os benefícios a longo prazo da aplicação das técnicas de remediação, em um processo de
tomada de decisão equilibrado (Cundy et al., 2013; Rizzo et al., 2016).
A avaliação da sustentabilidade na remediação é um componente-chave de integração de informações diversas para apoiar
as tomadas de decisões sobre remediação sustentável (Rosén et al., 2015). Conforme Hou et al. (2014b), o objetivo principal da
avaliação da sustentabilidade na remediação é de coletar informações para que os tomadores de decisão e as partes interessadas
possam gerenciar sistemas complexos com uma visão holística. Para Gibson et al. (2005), a avaliação da sustentabilidade ao
mesmo tempo que busca uma abordagem geral de sustentabilidade, contribui para definir as especificidades da sustentabilidade
em circunstâncias particulares.
Alternativamente, a avaliação da sustentabilidade na remediação é bastante complexa e normalmente envolve uma grande
quantidade de informações de diferentes fontes, como dados concretos de investigações no local, análises de pegada ambiental,
análises econômicas e sociais, além de informações que refletem visões e preferências entre os envolvidos (Rosén et al., 2015).
Desta forma, a avaliação da sustentabilidade na remediação é um processo que requer um conjunto de critérios individuais a
serem acordados pelos que realizam a avaliação, definindo o que é relevante para as perspectivas do projeto e para as partes
interessadas (Bardos et al., 2018).
A avaliação da sustentabilidade na remediação busca identificar os impactos e os benefícios de um projeto de remediação
(Song et al., 2018); abordar e equilibrar tanto as dimensões locais quanto regionais/globais, e cobrir tanto perspectivas de curto
prazo quanto de longo prazo (Hou et al., 2014b; Hou et al., 2018); e gerenciar, informar, comparar, selecionar, verificar
desempenho e otimizar as soluções e processos de remediação ideais (Bardos et al., 2018).
De forma geral, a avaliação da sustentabilidade na remediação é facilitada pelo uso de indicadores, ferramentas e métodos

348
que podem ser usados para garantir a praticidade da remediação sustentável. Contudo, ainda não há um conjunto de
indicadores, ferramentas ou métodos comumente aceitos e padronizados neste contexto, ou um grau estabelecido de como
estes contribuem ou afetam a sustentabilidade, além de haver grande deficiência na avaliação dos impactos sociais. Portanto, é
importante que indicadores, ferramentas e métodos sejam diagnosticados e analisados a fim de orientar seus usos nas
abordagens da remediação sustentável.
Desta forma, este estudo objetivou diagnosticar, caracterizar e analisar os indicadores, ferramentas e métodos
desenvolvidos para avaliar a sustentabilidade na remediação de áreas contaminadas no contexto específico da remediação
sustentável. No sentido de apoiar o alcance deste objetivo, foi realizada uma ampla revisão bibliográfica, de forma sistemática,
por meio de buscas em bases de dados de periódicos científicos, na rede mundial de computadores e estudos de casos.

Indicadores de sustentabilidade para utilização no contexto da remediação de áreas contaminadas

Os indicadores correspondem a um pré-requisito e a base para apoiar a avaliação da sustentabilidade de projetos de


remediação. Os indicadores considerados e utilizados na elaboração e implementação da remediação sustentável devem ser
desenvolvidos junto com os profissionais e todas as partes interessadas envolvidas no processo (Ugwu et al., 2006; Cappuyns,
2016; Anderson et al., 2018).
Um indicador é uma característica única ou uma medida específica observável, que expressa um aspecto ambiental, social
ou econômico e resulta em um efeito de sustentabilidade. Estes indicadores podem ser medidos ou valorados para monitorar e
comparar o desempenho de diferentes opções de remediação de acordo com os critérios em questão e em relação a um local
específico (NICOLE, 2012; Beames et al., 2014; Virkutyte; Varma, 2014). Além disto, os indicadores podem ser úteis para
educar todos os envolvidos no processo, entender a sustentabilidade e monitorar o seu progresso (Ugwu et al., 2006).
Portanto, os indicadores precisam ser mensuráveis e/ou comparáveis, além de eficazes, para permitir essa avaliação (Ugwu
et al., 2006; NICOLE, 2012). Além destas características, o indicador de sustentabilidade deve apresentar alguns outros
atributos, tais como: específico, pois deve segmentar uma área específica para consideração e análise; compreensível, sendo
que, deve ter um objetivo de desempenho claro que seja facilmente compreensível pelas partes interessadas, e possa ser
realmente alcançado com os métodos a serem aplicados no projeto; relevante, uma vez que, deve ser selecionado com vista em
uma contribuição significativa para a meta geral ou estratégia associada ao projeto de remediação; oportuno, porque deve ser
alcançado dentro de um prazo adequado ou sujeito às limitações do tempo do projeto; e prático, pois deve possibilitar a
aplicação a situações reais e o seu uso pelas partes interessadas (Ugwu et al., 2006; Reddy; Adams, 2015).
De forma geral, os indicadores podem ser objetivos ou subjetivos, com abordagens qualitativas ou quantitativas (Reddy;
Adams, 2015; Tilla; Blumberga, 2018). Tilla e Blumberga (2018) trazem uma lista de indicadores qualitativos e quantitativos
genéricos para a remediação sustentável, sendo que, para os indicadores qualitativos elencam um conjunto de subcritérios
associados à dimensão ambiental, social e econômica, respectivamente: ambiental - qualidade do ar, do solo e da água,
biodiversidade, mudanças climáticas e esgotamento de recursos; social - saúde humana, educação, emprego, valores culturais e
organização de transporte; e econômica - investimentos, projeto de remediação e custo de remediação (Tilla; Blumberga,
2018). Já Mulligan et al. (2013) trazem exemplos de indicadores qualitativos e quantitativos para as três dimensões da
sustentabilidade - ambiental, social e econômica.
Neste contexto, embora não haja um conjunto de indicadores padronizado, a lista de indicadores para a remediação
sustentável apresentada pelo SuRF-UK é a mais conhecida e frequentemente utilizada nos estudos (SuRF-UK, 2011). O
conjunto de subcategorias e indicadores nas categorias ambientais, sociais e econômicas do SuRF-UK está elencado no Quadro
1.

Quadro 1 - Lista de indicadores ambientais, sociais e econômicos do SuRF-UK.

349
350
Contudo, a fim de adaptar às especificidades de cada estudo e contexto, as subcategorias e indicadores chave elencados
pelo SuRF-UK já sofreram algumas variações, como por exemplo as evidenciadas em Mulligan et al. (2013), Cappuyns
(2016), Hou et al. (2018), Huysegoms e Cappuyns (2017) e Song et al. (2018). Cappuyns (2016), por exemplo, visto a ênfase
nos aspectos sociais em seu estudo, refinou as subcategorias de indicadores sociais do SuRF-UK.
Hou et al. (2014b) identificaram, para os impactos sociais e econômicos, sete indicadores: custo do ciclo de vida, impacto
no emprego, aumento do valor da propriedade, remuneração dos empregados, fatalidade relacionada ao trabalho, lesões
relacionadas ao trabalho e impacto no trânsito local. Já Hou et al. (2014c), Hou e Al-Tabbaa (2014) e Hou e Li (2018)
apresentaram em seus estudos considerações de sustentabilidade, representativas das dimensões ambientais, sociais e
econômicas, as quais foram analisadas quanto a sua importância e que podem ser utilizadas para indicar e avaliar o nível de
sustentabilidade do processo de remediação.
Harclerode et al. (2015) destacaram em seu estudo dez principais categorias de impacto social nos processos de
remediação: saúde e segurança, vitalidade econômica, colaboração das partes interessadas, benefícios à comunidade em geral,
alívio ao impacto comunitário indesejável, justiça social, valor dos serviços ecossistêmicos e de recursos naturais,
gerenciamento de solos baseados em risco e soluções corretivas, impactos sociais regionais e globais, e contribuição para
políticas e iniciativas locais e regionais de sustentabilidade.
Para Reddy e Adams (2015), os indicadores de sustentabilidade ambiental, social e econômica que podem ser considerados
para o projeto de remediação incluem: para os indicadores ambientais os gases de efeito estufa e outras emissões atmosféricas;
contribuições para as mudanças climáticas; uso de recursos de água potável; impactos ao solo; utilização de recursos naturais
brutos; impactos nas águas superficiais ou subterrâneas; uso de materiais reciclados ou reaproveitados, e geração geral de
resíduos. Para os indicadores sociais o aprimoramento da estética da comunidade; aprimoramento dos recursos de qualidade de
vida, com melhores oportunidades de transporte ou instalações recreativas; participação pública na tomada de decisão;
oportunidades de treinamento educacional e profissional; e interação entre grupos comunitários. Para os indicadores
econômicos a criação de empregos diretos e indiretos dentro da comunidade; investimento direto e indireto na comunidade;
facilitação de subsídios do governo para o projeto e a comunidade como um todo; tributação de longo prazo e geração de
receita aprimorada dentro da comunidade; grau de maior e melhor uso alcançado pela propriedade remediada; e aumento do
potencial da área e propriedades próximas devido a atividade de remediação.
O’Connor et al. (2019) em seu estudo recente identificaram diferentes aspectos da gestão socioambiental. Foram extraídas
nove variáveis divididas em dois componentes principais: impactos locais e generalizados. Já na gestão social foram elencados
doze aspectos divididos em três componentes: inclusão na comunidade, ganho econômico e saúde, segurança e bem-estar.
Indo ao encontro da abordagem dos indicadores, têm-se também, neste contexto, as melhores práticas de gestão (Best
Management Practices - BMPs), as quais correspondem a práticas/ações/objetivos que vão de acordo com o conceito de
remediação sustentável, e que, se aplicadas podem reduzir os impactos globais de uma atividade de remediação (ASTM,
2013a). A avaliação da BMPs é realizada em quatro etapas, incluindo pré-avaliação, priorização, seleção e implementação de
BMPs. A ASTM fornece uma lista extensa de BMPs verdes e sustentáveis, divididas em diferentes categorias de consideração
e fases do processo de remediação (ASTM, 2013a; ASTM, 2013b).

Ferramentas de avaliação da sustentabilidade na remediação de áreas contaminadas

As ferramentas de suporte à decisão, comumente denominadas de DSTs (do inglês, Decision Support Tools), são utilizadas em

351
projetos de remediação para auxiliar na avaliação objetiva dos indicadores, e acima de tudo, na tomada de decisão complexa
sobre a sustentabilidade. Estas ferramentas compõem abordagens escalonadas, as quais incluem análises qualitativas
relativamente simples, semiquantitativas ou totalmente quantitativas (Smith; Kerrison, 2013; Reddy; Adams, 2015; Anderson
et al., 2018)
As ferramentas de avaliação qualitativas consistem geralmente em documentos ou manuais de orientação quanto à seleção
adequada das alternativas, incluindo critérios relevantes e impactos potenciais sobre o meio ambiente, a sociedade e a
economia. As ferramentas semiquantitativas classificam e pontuam potenciais fatores, resultando em uma média ponderada ou
pontuação cumulativa, a qual permite uma comparação numérica direta entre várias alternativas de remediação. Já as
ferramentas quantitativas são utilizadas especialmente no caso de projetos de remediação mais complexos, onde uma ampla
gama de parâmetros e dados de entrada específicos precisa ser cuidadosamente avaliada (Reddy; Adams, 2015).
De forma geral, as ferramentas semiquantitativas e quantitativas fornecem avaliações mais rigorosas, detalhadas/criteriosas
e complexas/avançadas dos impactos da sustentabilidade na remediação (Reddy; Adams, 2015). Contudo, dependendo da
região, da complexidade do projeto e das análises exigidas, dos recursos disponíveis e habilidade dos operadores, ainda é
provável que a utilização de abordagens qualitativas seja dominante, recomendada e/ou suficiente, em razão do custo,
simplicidade e facilidade de uso, em comparação com abordagens quantitativas ou semiquantitativas (Smith; Kerrison, 2013;
Li et al., 2019).
Nos últimos anos uma série de ferramentas de avaliação de sustentabilidade, de tipo e escopo variados, estão disponíveis,
sendo desenvolvidas especificamente para ajudar os tomadores de decisão (profissionais e pesquisadores) a realizarem
avaliações de sustentabilidade na remediação de áreas contaminadas (Holland et al., 2011; Hou et al., 2014b; Anderson et al.,
2018). Estas ferramentas foram desenvolvidas especialmente por organizações governamentais, consórcios de especialistas em
remediação, consultorias privadas e instituições de pesquisa (Anderson et al., 2018).
As ferramentas atualmente disponíveis podem ser de domínio público, vendidas como software para fins lucrativos, ou
limitadas ao uso dentro de uma organização particular, as quais oferecem diferentes níveis de abrangência, complexidade e
análise (Holland et al., 2011; Beames et al., 2014; Reddy; adams, 2015). Além disto, as ferramentas podem variar de simples
árvores de decisão ou planilhas, tabelas ou gráficos no Excel, a avaliações completas do ciclo de vida (Reddy; Adams, 2015;
Huang et al., 2016).
Muitas agências, organizações e estudos categorizam, listam e definem o conjunto de ferramentas existentes (Bardos et al.,
2002; Ness et al., 2007; SuRF-UK, 2010; ITRC, 2011a,b; Čuček et al., 2012; Harclerode et al., 2015; Reddy; Adams, 2015;
Cappuyns, 2016). Outros estudos buscam desenvolver estruturas de avaliação da sustentabilidade dos projetos de remediação,
incorporando na tomada de decisão as diferentes ferramentas já desenvolvidas (Halog, Manik, 2011; Kalomoiri; braida, 2013;
Yasutaka et al., 2016; Hou et al., 2017; Zheng et al., 2019). Já no contexto mais prático, um número considerável de estudos já
tem sido realizado utilizando diferentes ferramentas para analisar os impactos de técnicas de remediação, avaliando-as e
classificando-as quanto à sustentabilidade (Hou et al., 2014a; Anderson et al., 2018), conforme elencado no Quadro 2.
Dentre as ferramentas desenvolvidas, a ACV junto com a análise multicritério são as mais comumente utilizadas para a
avaliação da sustentabilidade no campo da remediação (Hou et al., 2018; Hou; LI, 2018). A ACV é o tipo dominante pois leva
em consideração o impacto do ciclo de vida das atividades de remediação (Hou et al., 2014b; Søndergaard; Owsianiak, 2018).
Além do mais, a ACV é recomendada na maioria das vezes por apresentar uma avaliação rápida, simples e comparativa dos
sistemas existentes; por incluir uma ampla gama de categorias de impacto; por avaliar os efeitos ambientais através das
fronteiras geográficas e da escala de tempo, evitando o deslocamento dos impactos de um lugar para outro ou de uma geração
para a outra; por identificar oportunidades para reduzir os impactos futuros da remediação e onde melhorias específicas seriam
mais vantajosas; por fornecer uma comparação de diferentes opções de correção durante o seu processo de seleção; e por ter
sido estabelecida com padrões internacionais e metodologias profissionais (Reddy; Adams, 2015; Hou; Li, 2018). Neste
sentido, já se têm buscado avanços para a estrutura da ACV, com uma avaliação que vai além dos aspectos ambientais apenas,
incluindo também o custeio do ciclo de vida e a avaliação do ciclo de vida social (Ness et al., 2007; Halog; Manik, 2011).
Em virtude desta variedade de ferramentas existentes e seus usos específicos, segundo Pollard et al. (2004), a integração de
mais de uma ferramenta por estudo se faz útil e necessária para a tomada de decisão. A decisão de qual ferramenta ou
combinação de ferramentas utilizar depende em grande parte dos contaminantes presentes na área, das características do local
contaminado, dos requisitos das agências locais, do nível de julgamento e entendimento dos profissionais envolvidos, da
disponibilidade e o custo da ferramenta, e das análises e dados esperados (Forum, 2009; Beames et al. 2014; Bardos et
al., 2016).

352
Quadro 2 - Lista de ferramentas de avaliação da sustentabilidade na remediação utilizadas em diferentes estudos de
caso.
Ferramenta utilizada Fonte
(Hou et al., 2014b; Hou et al., 2014a; Rosén et
LCA (Life Cycle Assessment – Avaliação de Ciclo de Vida -
al., 2015; Hou et al., 2017; Visentin et al., 2019;
ACV)
Zheng et al., 2019)
MCA (Multi-Criteria Analysis - Análise multicritério) (Smith; Kerrison, 2013; Zheng et al., 2019)
SEFA (Spreadsheets for Environmental Footprint Analysis -
(Huang et al., 2016)
Planilhas para análise de pegada ambiental)
(Smith; Kerrison, 2013; Rosén et al., 2015;
CBA (Cost Benefit Analysis - Análise de custo benefício)
Zheng et al., 2019)
SiteWise™ (Yargicoglu; Reddy, 2013)
SCORE (Sustainable Choice Of Remediation - Escolha (Rosén et al., 2015)
sustentável de remediação)
(Cappuyns, 2013; Beames et al., 2014)
CO2 Calculator (Calculadora de CO2)
SRT (Sustainable Remediation Tool - Ferramenta de Remediação
(Yargicoglu; Reddy, 2013; Beames et al., 2014)
Sustentável)
REC (Risk reduction, Environmental Merit and Cost - Redução
(Cappuyns, 2013; Beames et al., 2014)
de risco, mérito ambiental e custo)
SSEM (Social Sustainability Evaluation Matrix - Matriz de
(Beames et al., 2014)
avaliação da sustentabilidade social)
GoldSet (Golder Sustainability Evaluation Tool - Ferramenta de
(Mulligan et al., 2013)
avaliação de sustentabilidade da associação Golder)
GREM (Green Remediation Evaluation Matrix - Matriz de (Yargicoglu; Reddy, 2013)
Avaliação de Remediação Verde)
BATNEEC (Best Available Technique Not Entailing Excessive
Costs - Melhor técnica disponível que não implica custos (Cappuyns, 2013)
excessivos)
HHRS (Human Health Risk Assessment - Avaliação de risco à
(Hou et al., 2017; Zheng et al., 2019)
saúde humana)
NEB (Net Environmental Benefit - benefício ambiental líquido) (Efroymson et al., 2004; Hou et al., 2017)

MIVES (Integrated Value Model for Sustainable Assessment -


(Trentin et al., 2019)
Modelo de valor integrado para avaliação sustentável)
Fonte: Elaborado pela Autora

De forma geral, as ferramentas de avaliação da sustentabilidade podem ser aplicadas tanto aos solos quanto às águas
subterrâneas, auxiliando diretamente na escolha da alternativa de remediação (Beames et al., 2014). Elas variam nos
indicadores que usam (ambiental, social ou econômico), a base de análise utilizada (qualitativa, quantitativa e
semiquantitativa), e como os resultados são exibidos (planilhas, tabelas ou gráficos) (Huang et al., 2016).
Portanto, já existem várias ferramentas de apoio à decisão para a escolha de alternativas de remediação mais sustentável.
No entanto, são necessários, cada vez mais, instrumentos flexíveis o suficiente para abordar a gama completa de indicadores
nas três dimensões da sustentabilidade, sendo aplicáveis desde a concepção do projeto até o reuso da área (Forum, 2009;
Huysegoms; Cappuyns, 2017). As ferramentas ideais neste contexto da remediação sustentável devem ser rápidas e fáceis de
usar pelos profissionais e técnicos de remediação, exigir capital ou recursos humanos mínimos, e direcionar para decisões de
gerenciamento robustas (Forum, 2009; Smith; Kerrison, 2013; Li et al., 2019).

Métodos de remediação sustentável

Os métodos/estruturas/quadros (mais comumente denominados de frameworks no inglês) são formas conceituais e sistemáticas
de tomada de decisão que auxiliam na avaliação da sustentabilidade de um projeto de remediação quanto aos aspectos
ambientais, sociais e econômicos. Além disto, ajudam a avaliar os indicadores de sustentabilidade de um projeto de
remediação (Reddy; Adams, 2015).

353
Embora que ainda não tenha sido desenvolvido um método padronizado universalmente aceito, várias agências e
organizações em diversos países têm sido ativas no desenvolvimento de estruturas para facilitar a avaliação da sustentabilidade
na remediação de áreas contaminadas, conforme Quadro 3 (Reddy; Adams, 2015; Ridsdale; Noble, 2016; Rizzo et al., 2016;
Slenders et al., 2017; Braun, 2018).

Quadro 3 - Métodos de avaliação da sustentabilidade na remediação.


Métodos Origem Ano Fonte
USEPA Estados Unidos 2008 (USEPA, 2012)
ASTM Estados Unidos 2013 (ASTM, 2013b)
ITRC Estados Unidos 2011 (ITRC, 2011b)
NICOLE Holanda 2010 (NICOLE, 2010)
SuRF-US Estados Unidos 2011 (Holland et al., 2011)
SuRF-UK Reino Unido 2010 (SuRF-UK, 2010)
SuRF-ANZ Austrália e Nova Zelândia 2011 (Smith; Nadebaum, 2016)
SuRF-Taiwan Taiwan - (Huang et al., 2016)
Fonte: Elaborado pela Autora.

O método desenvolvido pelo SuRF-UK já é aceito e endossado por reguladores do Reino Unido, citado em publicações
regulatórias do país e faz parte da orientação geral sobre remediação (Li et al., 2019). Além disto, vem sendo aplicado em
diferentes estudos para avaliação da sustentabilidade de técnicas de remediação (Gill et al., 2016; Li et al., 2019), além de ser
usado como base para estruturas de remediação sustentável em vários outros países (Rizzo et al., 2016 ) e corresponder a um
dos impulsionadores do recente padrão ISO sobre remediação sustentável (Nathanail et al. 2017).
De forma geral, conforme Braun (2018), os métodos são estruturados por meio de representações gráficas, diagramas,
fluxogramas ou esquemas com formas, setas e símbolos. Além do mais, os métodos normalmente apresentam um processo de
tomada de decisão escalonada, dividido em etapas. Os métodos, por consistirem de processos de tomada de decisão, utilizam-
se dos indicadores e ferramentas durante as suas etapas para auxiliar na análise da sustentabilidade do projeto de remediação.

Considerações finais

Para realizar a avaliação da sustentabilidade de um projeto de remediação, é essencial que os indicadores sejam representativos
de todas as três dimensões do tripé da sustentabilidade - ambiental, econômica e social. No entanto, comparados com as
dimensões ambientais e econômicas, os indicadores sociais ainda não foram incorporados tão amplamente na avaliação da
sustentabilidade, além de que os impactos e benefícios sociais são ponderados de forma diferente dependendo dos grupos de
interesse, do país e da região.
Assim como os indicadores, as ferramentas também possuem limitada consideração dos aspectos sociais. Embora que um
claro aumento é notado em ferramentas e estudos mais recentemente desenvolvidos, são necessários processos mais
transparentes para avaliar a esfera social da remediação sustentável. A predominância de fatores subjetivos, e a falta de
informação quantitativa, ainda são vistos como as principais barreiras para a integração de indicadores sociais nas ferramentas
de avaliação da remediação sustentável.
Quanto aos métodos de avaliação da sustentabilidade na remediação, pode-se concluir que estes foram desenvolvidos
especialmente em países/regiões ou por agências onde as discussões sobre a remediação sustentável estão em um processo
mais avançado, como Estados Unidos e Europa. A nível de Brasil, por exemplo, embora existam algumas iniciativas voltadas à
remediação sustentável como o SuRF-Brasil e NICOLE Brasil, a abordagem voltada às questões de sustentabilidade e às ações
efetivas ainda são bastante limitadas. Sendo assim, não são identificados, no país, métodos desenvolvidos para a análise da
sustentabilidade na remediação de áreas contaminadas.
Portanto, para que a remediação sustentável continue avançando e que sua abordagem se torne cada vez mais consolidada,
ela deve ser vista, sobretudo por gerentes e pesquisadores, como uma nova maneira de pensar sobre o gerenciamento de áreas
contaminadas e um fator-chave na tomada de decisão. Além disto, são preciso mais estudos que orientam a avaliação da
sustentabilidade na remediação a fim de consolidar e padronizar um conjunto de indicadores, ferramentas e métodos neste
contexto.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer ao Grupo de Pesquisa em Geotecnia Ambiental da Universidade de Passo Fundo, à
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do
Rio Grande do Sul (FAPERGS) pelo apoio recebido.

354
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357
5SSS144
ANÁLISE DE SUJIDADES EM MÓDULOS FOTOVOLTAICOS
USANDO DETECÇÃO POR TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA
André Hernandes Schnorr1, Bruna Steil Boneberg2, João Batista Dias3, Fernanda Haeberle4
1Laboratório de Energia Solar Fotovoltaica - UNISINOS, e-mail: andrehschnorr@gmail.com; 2 Laboratório de
Energia Solar Fotovoltaica - UNISINOS, e-mail: bruna.steil.boneberg@gmail.com; 3 Laboratório de Energia
Solar Fotovoltaica - UNISINOS, e-mail: joaobd@unisinos.br; 4 Laboratório de Energia Solar Fotovoltaica -
UNISINOS, e-mail: fernandahaeberle@gmail.com

Palavras-chave: Energia solar fotovoltaica; Sujidade; Termografia infravermelha.

Resumo
A busca por maior eficiência aplicada às energias alternativas sempre apresentou algo novo, como a criação de novos
materiais para a utilização em células fotovoltaicas, buscando uma melhor produtividade. No entanto, o entendimento da
estrutura em módulos cristalinos que possuem três diodos de derivação pode melhorar a energia gerada pelos módulos
fotovoltaicos. Este trabalho tem como foco mostrar em um estudo, os efeitos da sujeira, detectada pela termografia
infravermelha, na instalação de sistemas de energia solar, utilizando os gráficos I-V e P-V. Nesse caso, os ensaios foram
realizados em módulos no Laboratório de Energia Solar na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, UNISINOS, em São
Leopoldo, Brasil. Como resultado, este trabalho mostra que é essencial usar a termografia por infravermelho para detectar a
sujidade e o impacto devido ao seu acúmulo nos módulos. Como resultados foi possível verificar que o local onde a sujeira se
encontra, influencia nas perdas totais de geração do módulo fotovoltaico, sendo esta sujeira detectável através de inspeções
termográficas, técnica esta que tornou possível a verificação de perdas mesmo quando não havia percepção visual desta sujeira.
Foi possível chegar a um ponto comum em que a localização da sujidade fica diretamente atreladas as perdas e a estrutura do
módulo fotovoltaico, inclusive podendo verificar como o layout da instalação pode influenciar em perdas nos módulos. A
detecção de um hot-spot e sua caracterização de localização e forma, demonstra de forma simulada, como esta anormalidade
influencia nas perdas deste módulo, sendo que no experimento realizado para cada interrupção de parcial de strings em
diferentes diodos de by-pass, há perdas proporcionais de geração de energia.

Introdução
Com o aumento da taxa de crescimento populacional e a melhoria da qualidade de vida, tornou-se essencial a busca
por energias alternativas que possam atender a demanda atual e futura da rede elétrica pública. A energia solar fotovoltaica
surge como uma solução para este problema, a qual pode ser apresentada na forma de projetos centralizados (por exemplo,
usinas de energia) ou projetos descentralizados (instalações em telhados com potência inferior a 75 kWP).
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) (2019), agência que regulamenta a distribuição de energia
elétrica no Brasil, a capacidade total de geração de eletricidade atingiu a marca de 165 GW em 2019, sendo apenas 1,27%
dessa capacidade total produzida a partir de energia solar. Enquanto isso, o Ministério de Minas e Energia do Brasil (MME)
(2007) anunciou que se espera um aumento na demanda de eletricidade em 200% pelos próximos 30 anos.
Além disso, o incentivo de ações regulatórias que estabelecem as medições de rede no Brasil, onde um sistema de
painéis solares ou outros geradores de energias renováveis conectados à rede permitem que seu excesso de energia produzida
seja transferido para a rede, proporcionam aos consumidores a oportunidade de compensação do custo da energia extraída da
concessionária. Assim, a energia solar fotovoltaica tornou-se uma das soluções energéticas mais promissoras para os desafios
deste milênio.
O presente trabalho analisa o comportamento de módulos fotovoltaicos de tecnologia de silício cristalino com padrões
uniformes de sujidades, sendo a identificação das anomalias térmicas causadas feitas através de detecção por inspeção
termográfica. Por meio deste estudo foi possível coletar os dados de energia gerada e obter as curvas I-V (corrente versus
tensão) e P-V (potência versus tensão) para cada situação de ensaio, analisando como cada padrão de sujidade influencia nas
perdas de produtividade do módulo e consequentemente o quanto a limpeza nos módulos minimiza as perdas de rendimento.

Efeitos da sujidade no desempenho de sistemas fotovoltaicos


A energia solar é uma fonte temporalmente intermitente e, dentro dessa temática, há uma busca constante, em todo o
mundo, por melhorias em projetos visando o aumento da eficiência de sistemas solares. O desenvolvimento de novos materiais
para a fabricação de células de módulos fotovoltaicos e a procura por um layout ideal de instalação desses dispositivos para
reduzir as perdas por sujidades são exemplos de alternativas para aumentar a eficiência desses sistemas. A detecção por meio

358
de inspeção termográfica de anomalias relacionadas à sujeira acumulada ou depositada em módulos fotovoltaicos tornou-se um
recurso importante para minimizar as perdas de eficiência e indicar as necessidades de intervenções e mudanças no projeto ou
no layout de uma instalação.
De acordo com Braga (2018), os efeitos da sujidade têm sido observados em áreas com alta disponibilidade de
radiação solar, como em áreas desérticas, e são uma das razões pela qual tem crescido a preocupação com a diminuição da
produção de eletricidade em uma instalação solar fotovoltaica. O estudo de Hickel et al. (2016), realizado na região semiárida
do estado da Bahia, apresentou os impactos da sujidade no coeficiente de desempenho global (PR) de alguns módulos
fotovoltaicos de distintas tecnologias. Os resultados mostraram que a sujeira reduz o PR em 10% para módulos de tecnologia
de silício multicristalino (p-Si), em 4,3% para o silício microcristalino (μc-Si) e silício amorfo (a-Si), em 2,8% para as
tecnologias CIGS (Disseleneto de Cobre, Índio e Gálio) e, também, em 2,6% para o silício monocristalino (m-Si). Tais
resultados de perdas no desempenho global dos sistemas são referentes à sujidade natural e ocorrem pelo fato de que a película
de sujeira acumulada interfere na diminuição do aproveitamento dos índices de radiação solar pelas células para a conversão de
energia.

Ponto de Anomalia Térmica (PAT) e design de projetos


Devido as possíveis sujidades acumuladas e depositadas em módulos fotovoltaicos, o uso incorreto do layout de uma
linha string, poderá reduzir a energia gerada. A deposição de qualquer substância (solo, folhas, etc.) acima dos módulos
impactará em resultados negativos de geração de energia, independentemente do tamanho do projeto solar. Assim, é
importante estudar os impactos do posicionamento dos módulos fotovoltaicos com o objetivo de auxiliar no processo de
limpeza, minimizando as perdas de geração.
As sujidades acumuladas em dispositivos de conversão fotovoltaica resultam nos chamados hot-spots ou Pontos de
Anomalia Térmica (PAT). Basicamente, os pontos quentes são áreas de temperatura elevada que afetam apenas parte do
módulo fotovoltaico, resultando em uma diminuição localizada na eficiência, gerando menor potência elétrica e uma
aceleração da degradação dos materiais na área afetada. Uma célula fotovoltaica sombreada capta um menor índice de
irradiância, produzindo, consequentemente, um menor valor de corrente elétrica, afetando assim a corrente de todas as células
conectadas em série.
A possibilidade de utilizar um processo de manutenção preditiva para localizar este aquecimento nas células pode ser
realizada com inspeção termográfica, a qual apresenta como vantagem a continuidade da produção de energia elétrica do
módulo durante a atividade de inspeção. Esta é uma técnica considerada não invasiva e, através da análise da imagem
termográfica, é possível medir a necessidade de intervenção ou não em um determinado módulo.
Segundo Buerhop et al. (2012), os principais tipos de defeitos em módulos fotovoltaicos que são passíveis de detecção
através da inspeção termográfica são de microfissuras ou fraturas em células, diodo de by-pass em curto circuito, solda
defeituosa (geralmente entre as células) e células em curto-circuito. O efeito causado nas células com sujidade é justamente o
mesmo quando a célula está em curto-circuito, pois o fato de uma célula não estar gerando tensão e corrente igual as demais,
faz com que todas as células de uma string sejam afetadas com a perda de geração de potência.
Conforme Bejan e Zane (2007), a lei construtiva usa o termo design como um substantivo que descreve uma
configuração ou um padrão. Dessa forma, se o layout dos módulos fotovoltaicos ou a configuração interna cria mais barreiras
que limitam a produção de corrente elétrica, tornam-se necessárias melhorias no projeto da instalação para permitir que os
dispositivos de geração fotovoltaica operem de forma mais eficiente, extraindo o melhor desempenho possível dos sistemas
fotovoltaicos.
Para proteger os dispositivos e reduzir as perdas por hot-spots, quando os módulos fotovoltaicos estão produzindo
energia, geralmente, os módulos cristalinos de 60 células possuem três diodos de by-pass, sendo divididas 20 células para cada
diodo. Quando uma célula é sombreada, todas as 20 células de um diodo podem ser anuladas. Isso depende de quão sombreada
possa estar uma única célula solar.
Os efeitos da sujidade e de sombreamentos no módulo são semelhantes, tendo em vista que ambos geram
consequências similares de perdas de rendimento e de produtividade dos módulos. (KAPLANI, 2012). A presença de hot-spots
em células sombreadas pode ser mais evidente ou não, sendo dependente de fatores como a emissividade da sujeira e da
concentração da mesma no módulo. Nesse caso, a "sombra" pode ser qualquer coisa acima de uma ou mais células. Portanto,
se houver apenas uma célula sombreada, ela pode representar uma perda de 33% na produção de energia elétrica de um painel,
consequentemente, 33% de toda a sequência de módulos se o design utilizado for no modo paisagem. No entanto, quando a
sujeira cobre toda a parte inferior do painel na posição vertical, a porcentagem de perdas pode ainda ser superior.

Materiais e Métodos
Para a análise dos efeitos de diferentes padrões de sujidades em módulos fotovoltaicos, foram utilizados dois módulos
de silício multicristalino de um sistema fotovoltaico conectado à rede. Este sistema está instalado no Laboratório de Energia
Solar Fotovoltaica da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Os módulos do sistema são orientados para o norte
geográfico e com um ângulo de inclinação igual a 20° em relação ao plano horizontal, na cidade de São Leopoldo, Brasil.

359
Um traçador de curva I-V e P-V, desenvolvido por Abe et al. (2018), e uma câmera termográfica da marca Flir,
modelo P20, foram utilizados para a obtenção do comportamento elétrico dos módulos e verificação das anomalias térmicas,
respectivamente. Os módulos utilizados nos ensaios são da marca Sun Edison e do modelo SE-P265NPB-A4, com as suas
características técnicas apresentadas na Tabela 1. Os dados de tensões de circuito aberto (VOC) e de máxima potência (VMPP),
as correntes de curto-circuito (ISC) e de máxima potência (IMPP) e a potência no ponto de máxima potência (PMPP) são
apresentados para a irradiância de 1000 W/m².

Modelo ISC IMPP VMPP VOC PMPP


SE-P265NPB-A4 9,24 A 8,63 A 30,7 V 37,8 V 265 W
Tabela 1: Principais características do módulo fotovoltaico utilizado (SUNEDISON, 2005).

Os ensaios experimentais foram realizados para diferentes padrões de sujidade, conforme exemplificado na Figura 1,
onde os tipos de sujidades simuladas seguem os seguintes padrões: (a) Não há sujidade; (b) Todas as células da vertical; (c)
Meia célula na horizontal; (d) Uma célula na horizontal (e) Duas células na horizontal; (f) Duas células e meia na horizontal;
(g) Três células na horizontal; e (h) Todas as células na horizontal.

Figura 1: Diferentes padrões uniformes de sujidade aos quais o módulo cristalino foi submetido, considerando a
posição de retrato.

As formas de disposição das sujidades foram baseadas na forma construtiva dos módulos fotovoltaicos e também nos
tipos estudados em trabalhos publicados como de Braga (2018) e Hickel et al. (2016). Pelo sistema de aquisição das medidas é
possível coletar os dados referentes à perda de energia e as curvas I-V e P-V para cada situação de ensaio, tanto do módulo
com sujidade quanto do módulo padrão utilizado como referência. Assim, pode-se verificar como cada padrão de sujidade
influencia nas perdas de produtividade do módulo e consequentemente como a quantidade de limpeza dos mesmos minimiza
nessas perdas, uma vez que a estrutura comercial costuma utilizar módulos com três diodos de by-pass.
Para realizar a inspeção termográfica, alguns parâmetros foram determinados de acordo com o manual de termografia
do Infrared Training Center (ITC) (2014). Dentre eles está a emissividade de 0,92, a distância do objeto de acordo com a
estrutura do equipamento e o ângulo, cuja reflexão não influenciou na detecção da sujeira padrão, como é possível verificar na
Figura 2.

360
Figura 2: Posicionamento da câmera termográfica e módulos fotovoltaicos inspecionados.

Inicialmente, foi realizada uma inspeção termográfica na instalação, preliminar ao ensaio de sujidade, a fim de
verificar se os módulos em estudo não apresentam problemas ou defeitos já existentes. Durante a inspeção na instalação,
observou-se um hot-spot no centro do sensor de radiação posicionado no topo do módulo em estudo. Na Figura 3 é possível
observar como apresenta-se a anomalia térmica no sensor. Percebe-se pela figura que tal anomalia ocorre apenas no
dispositivo de medição de irradiância, não havendo esse tipo de defeito nos módulos em que são realizados os ensaios de
sujidade.

PAT

Figura 3: Inspeção termográfica preliminar aos ensaios de sujidade.

Para a realização dos ensaios são necessários alguns ajustes, a fim de garantir a realização do experimento com a
minimização ou extinção de influências externas. Na Figura 4 é apresentado o fluxograma do processo.

361
Figura 4: Fluxograma do processo de ensaio de sujidade.

As etapas do fluxograma foram criadas conforme as necessidades de realização do experimento, a fim de que não haja
influências externas e que as combinações sempre retratem de forma igualitária o comportamento dos módulos em relação ao
ambiente. Por isso é necessário, para realizar as medições, sempre utilizar os parâmetros de comparação com o módulo de
referência posicionado ao lado, pois isto assegura que os resultados sejam comparados de maneira correta.
O monitoramento termográfico da homogeneização da temperatura é um dos principais fatores que deve ser
verificado. Conforme mostra a Figura 5, é possível visualizar a mudança de temperatura dos módulos após a limpeza dos
mesmos. Durante o experimento, foram plotadas curvas características no decorrer dos processos de aquecimento e
resfriamento do módulo, mostrando a distorção dos resultados quando a homogeneização da temperatura não é seguida da
maneira correta.

Figura 5: Processo de aquecimento dos módulos fotovoltaicos após limpeza.

362
Resultados e Discussões

Curvas I-V e P-V do módulo fotovoltaico


Ao conduzir as inspeções e a extração das curvas I-V e P-V, conforme proposto na metodologia, foi possível
chegar a padrões que relacionam a sujidade à diminuição da eficiência dos módulos fotovoltaicos sendo que essas
interrelações podem ser verificadas pelas curvas da Figura 6. É possível observar no comportamento das curvas em (a) que
não há redução na tensão e potência geradas pelo módulo, pois o mesmo está limpo neste ensaio. Por outro lado, nas
curvas indicadas como (b, c, d, e) há redução na tensão e potência, sendo estas dependentes do padrão de sujidade
aplicado. Para os padrões de sujidade (g) e (h), os valores de tensão e corrente medidos ficaram abaixo da faixa de valores
obtidos no traçador de curvas, sendo considerados neste estudo como Sem Resultados (SR). Isso significa que a potência
e, consequentemente, as curvas I-V e P-V apresentaram grandes distorções, não sendo gerado um gráfico significativo
para a realização da comparação.

Figura 6: Curvas I-V e P-V para os diferentes padrões de sujidades.

Realizando a análise das curvas apresentadas, foi possível verificar que, quando sombreadas, as células que são
ligadas em um mesmo diodo de by pass apresentam curvas que se comportam de forma análoga. Já quando duas linhas de
células com diodos de by pass diferentes são sombreadas, os valores de potência do módulo ficam praticamente nulos,
demonstrando que quanto mais células de diferentes strings são afetadas, maiores serão as perdas. O sombreamento de
apenas três células com diodos distintos é suficiente para deixar o módulo todo ineficiente e, no caso de um arranjo
conectado em série, pode deixar a série toda sem produção de energia.
A comparação entre as curvas dos diferentes padrões de sujidade é mostrada na Tabela 2, onde são apresentados
os principais índices que representam a produtividade de um módulo fotovoltaico. Os resultados são comparados aos
valores de referência, referentes ao módulo limpo, conforme a Figura 1. O uso da referência se faz necessário tendo em

363
vista que a irradiância incidente varia durante o período entre as medições.

Padrão ISC (A) IMPP (A) VMPP (V) VOC (V) PMPP (W) Pot. (%)
(a) 7,44 7,04 26,5 34,2 187 100
Ref. 7,37 6,78 26,9 33,8 182 100
(b), (d) e (e) 7,39 6,76 17,3 33,5 117 64
Ref. 7,12 6,74 25,9 33,3 175 100
(c) 7,13 6,67 16,8 33,3 112 64
Ref. 7,13 6,66 26,2 33,4 175 100
(f) 7,09 3,36 19,9 33,1 67 38
(g) e (h) SR SR SR SR SR SR
Nota: SR significa sem resultado
Tabela 2: Valores extraídos das curvas características para os diferentes padrões de sujidade.

Inspeção Termográfica
A termografia infravermelha foi aplicada aos módulos em cada etapa da atividade, sendo possível verificar a
presença das anomalias térmicas resultantes dos diferentes padrões aplicados de sujidades. Na Figura 7 são identificadas
as anomalias de padrão (b), (d) e (h). As imagens termográficas foram realizadas em diferentes tempos de equalização de
temperatura e, por esse motivo, verifica-se que a anomalia térmica referente ao padrão de sujidade (b) é mais evidente, já
que o tempo de contato entre a sujeira e o módulo foi maior em comparação aos padrões (d) e (h).

Figura 7: Imagens termográficas para os padrões de sujidade (b), (d) e (h).

Considerações finais
Para a verificação de perda de potência em módulos fotovoltaicos, o ensaio de sujidade torna-se um importante aliado
para o aumento do entendimento do comportamento dos diferentes padrões de deposição de sujeiras e a detecção das mesmas
para a quantificação dessas perdas. A verificação do comportamento das curvas I-V e P-V dos módulos para as diferentes
formas de sujeira aplicada também tornou possível definir o impacto que a deposição de detritos na parte frontal do módulo
pode gerar. Conhecer as perdas no potencial de geração de energia elétrica auxilia na tomada de decisões e escolhas de
projetos, no que diz respeito ao design e ao plano de manutenção associado.
Em relação ao posicionamento em que os módulos foram colocados, o fato de se ter células com sujeira forçada em
diferentes linhas em série ou strings é mais prejudicial à produtividade do módulo do que a deposição de sujeiras em células de
mesma linha em série ou string. O comportamento da curva I-V e da curva P-V foi semelhante, em relação à quantidade de
células que foram sujas, para as células em série, porém, quando afetadas as células de mais de uma string, o módulo
apresentou perdas mais expressivas.
Também foi importante demonstrar que a técnica de termografia infravermelha é fundamental para a conservação da
eficiência dos módulos, considerando que a detecção do hot-spot no módulo, causada por sujidades, pode indicar a necessidade
de um processo de manutenção corretiva do painel fotovoltaico e, neste caso, estabelece-se um plano de manutenção corretiva
ou de limpeza de forma mais assertiva, com uma periodicidade mais adequada para cada tipo de condição de instalação do
conjunto.

Agradecimentos
Agradecemos a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de

364
estudos que permitiu o desenvolvimento da pesquisa e a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) pelo suporte
acadêmico.

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365
5SSS146
ESTUDO COMPARATIVO DE AMOSTRAGEM DISCRETA E
AMOSTRAGEM POR MULTI INCREMENTO EM ÁREA
CONTAMINADA POR RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
Tuane Alves da Silva Kempfer1, Amanda Gonçalves Kieling2, Marcelo Oliveira Caetano3, Renata Ester dos
Santos Zapata4
1Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail: tuane_alves@yahoo.com.br; 2Universidade do Vale do Rio dos
Sinos, e-mail: amandag@unisinos.br; 3Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail: mocaetano@unisinos.br;
4Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail: renata@lzambiental.com.br

Palavras-chave: Remediação; Amostragens; Solo.

Resumo
A conscientização ambiental da sociedade e os requisitos legais para novas políticas ambientais evoluíram muito ao longo dos
últimos anos. Anos atrás, não havia a preocupação onde os resíduos sólidos urbanos (RSU) seriam descartados por parte de
setores privados e públicos, os mesmos eram destinados de forma incorreta, sem estudos e planejamento ambientais em vários
locais. Esta destinação incorreta trouxe impactos ambientais negativos para essas áreas. Para diminuição destes impactos, o
gerenciamento das mesmas, se dá através de metodologias que identifiquem quais são os possíveis contaminantes e onde estão
localizados, visando à contribuição para a remediação das mesmas. Inicialmente na remediação, selecionar uma amostragem
adequada para ser executada na área é de fundamental importância para o êxito do projeto, pois na amostragem que se obterá
amostras a serem analisadas quimicamente e fisicamente. O principal objetivo deste trabalho foi de analisar e comparar o
método de amostragem discreta (AD) e amostragem por multi incremento (AMI) numa área contaminada por resíduos sólidos
urbanos na cidade de Porto Alegre- RS. Nessa área foram selecionadas duas unidades de decisão (UD1 e UD2) e amostrados
solos de acordo com cada método. Após a coleta, as amostras foram enviadas para laboratório, onde as mesmas foram secas
em estufa, e moídas. No método de amostragem discreta (AD) as mesmas foram quarteadas e na amostragem por multi
incremento (AMI) foram obtidas através da metodologia de bolo retangular japonês bidimensional. Por último, as amostras de
solo foram caracterizadas pelas técnicas de pH, condutividade elétrica (CE) e fluorescência de raio-x (FRX) qualitativa e
semiquantitativa. Nos resultados de pH, as duas metodologias obtiveram resultados semelhantes, na UD1 a AD1 foi de (pH
8,26) e da AMI1 (pH 8,61) e na UD2, a média AD2 foi de (pH 8,33) e da AMI2 (pH 9,06). Para os resultados da CE, a UD1
obteve valores com altas variações entre si, pois resultou na média da AD1 (1274 μS.cm-1) e na AMI1 (707 μS.cm-1), já na
UD2 os valores se mostraram menos incoerentes da UD anterior. Nas análises de FRX qualitativa e na semiquantitativa os
resultados demonstraram a presença de silício (Si), alumínio (Al) e ferro (Fe) como elementos majoritários (>50%).

Introdução
Com o aumento da geração de resíduos sólidos urbanos (RSU) pela sociedade, a disposição final dos mesmos deve ser
controlada e ambientalmente correta. Durante alguns anos, muitos desses RSU foram destinados incorretamente em lugares
que não estavam preparados para recebê-los, causando grandes impactos ambientais negativos. (ROCHA; ROCHA;
LUSTOSA, 2013). No processo de decomposição de material orgânico e inorgânico é gerado o lixiviado cujas altas
concentrações de metais pesados podem contaminar solo e água alterando a qualidade dos mesmos. (SIZIRICI; TANSEL,
2015).
Nessas áreas possivelmente contaminadas deve ser realizado um gerenciamento ambiental para que as mesmas possam ser
recuperadas, revitalizadas e utilizadas para outros fins. Para isso, num primeiro momento deve ser realizado análises do solo
dessas áreas, verificando quais os elementos que ali estão presentes. A amostragem é uma das principais e mais importante
técnicas a serem executadas num diagnóstico ambiental, pois, a partir da execução correta consegue se resultados mais
confiáveis. (CELESTE, 2010).
Nos métodos de amostragens, destaca-se a amostragem discreta (AD) que é uma metodologia usual muito utilizada em áreas
contaminadas, geralmente é realizada apenas uma AD na área e enviada para preparação de análises químicas e físicas, há
estudos que declaram que essa amostragem apresentam resultados não tão precisos, afirmando que são resultados muito
heterogêneos e incoerentes. (ITRC, 2012).
Na metodologia de amostragem por multi incremento (AMI) sugerida pelo ITRC (2012), o método consiste em atingir uma
estimativa representativa do local, ou seja, o objetivo da mesma é obter dados mais confiáveis estimando a concentração média

366
do local contaminado, ou seja, na AMI se obtêm amostras mais homogêneas e com dados menos variáveis. (ITRC, 2012). O
preparo da AMI em laboratório, consiste em espalhar a amostra numa fôrma e repartir-la em vários quadrados (mínimo 30)
onde com uma colher quadrada com dimensões de 16 mm de largura, com laterais e sem cortes, retirando de 1 a3 g de
subamostra de cada quadrado na fôrma formando uma amostra de 100 g. A especificação da dimensão da colher se deve para
ser possível representar toda a parte da unidade de decisão (UD) no incremento. Celeste (2010) comparou as vantagens e
desvantagens entre as metodologias citadas anteriormente, e concluiu que a amostragem por multi incremento (AMI) é um
método mais subdividido, obtendo-se menos amostras para serem analisadas em laboratório, pois em campo, é realizada as
subamostragens compondo uma amostra apenas. Já na amostragem discreta (AD), pode ser realizado mais amostragens
aumentando o valor em análises químicas no estudo de gerenciamento ambiental. Em contra partida, na AMI não se identifica
exatamente em qual local pode estar a maior concentração dos contaminantes no local, pois é uma amostra extremamente
homogênea. (ITRC, 2012).
O objetivo deste trabalho foi de comparar a eficiência dos métodos de amostragens de uma área contaminada por disposição
inadequada de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) a partir da amostragem discreta (AD) e da amostragem por multi incremento
(AMI) e avaliar a influência do método de amostragem nos resultados da análise química.

Materiais e Métodos
A execução do trabalho foi realizada em diferentes etapas, que podem ser visualizadas na Figura 1.

Figura 1: Etapas das metodologias de amostragem de solo. Elaborado pelos autores.

367
O local de estudo está localizado no bairro Humaitá na cidade de Porto Alegre- RS. Conforme Quadrado e Martins (2013), o
bairro era um lixão a céu aberto nos anos 70, onde foram enterrados em torno de um milhão de toneladas de Resíduos Sólidos
Urbanos (RSU) nesse local. O solo do bairro Humaitá foi classificado como Associação de Gleissolos, Planossolos e Tipos de
Terreno. (BRASIL, 2008). De acordo com a EMBRAPA, esses solos têm características de possuírem permeabilidade lenta,
sinais de hidromorfismo, argilosos, altos teores de sódio, altos teores de ferro livre, podendo ser encontrados teores de
magnésio, sódio, cálcio, sendo que o pH natural do solo pode ser encontrado na faixa neutra a alcalina. (BRASIL, 2018).

Amostragens
As amostragens foram realizadas em duas unidades de decisão (UD1 e UD2), cada uma com tamanho de 27 x 27 m. Cada
unidade de decisão (UD) foi dividida em quatro cavas, sendo que a distância entre cada uma foi de 5 m aproximadamente.
Cada cava foi aberta com retroescavadeira, resultando numa profundidade de 4,50 m. A profundidade de cada cava foi
determinada para atingir a cota inferior da massa de RSU enterrados no local, conforme Figura 2.

Figura 2: Cava para amostragem. Elaborado pelos autores.

Preparo das Amostras


Na Amostragem Discreta (AD), foi realizada uma amostragem em cada cava, ou seja, 4 amostragens em cada UD, conforme
Figura 3. Como descrito anteriormente foram estudadas a UD1 e a UD2, portanto o total de amostras discretas foi de 8
amostras independentes.
Foram realizados cálculos da média e do desvio padrão para amostragens discretas (AD) em cada unidade de decisão (UD).
Resultando na nomenclatura: AD1- amostra discreta da unidade de decisão 1 (UD1); AD2- amostra discreta da unidade de
decisão 2 (UD2). Na amostragem por multi incremento (AMI): AMI1- amostragem por multi incremento da unidade de
decisão 1(UD1) e AMI2 amostragem por multi incremento da unidade de decisão 2 (UD2).
Na Amostragem por Multi Incremento (AMI), foram realizadas 9 subamostras em cada cava totalizando 36 subamostras em
cada UD, sendo homogeneizadas após as subamostras tornando-se apenas uma amostra em cada UD, conforme Figura 4. Ou
seja, ao total (UD1) e (UD2) resultaram em 2 amostras incrementais. Tanto na metodologia AD e na AMI cada amostra
finalizada teve o peso de ± 2 kg.

Figura 3: UD utilizado para AD. Figura 4: UD utilizado para AMI.


Elaborado pelos autores. Elaborado pelos autores.

Nas duas metodologias estudadas, as amostras coletadas foram enviadas para laboratório e secas em estufas na temperatura de
100°C, posteriormente moídas com almofariz e pilão até passar toda a amostra na peneira de malha < 2 mm. Após essas etapas,
a AD e AMI seguiram etapas diferentes. Cada AD foi colocada numa bandeja e quarteada conforme a (NBR 10007:2004) até a
amostra resultar em ± 100 g, conforme Figura 5.
Na metodologia da AMI cada amostra foi colocada numa bandeja e realizada uma subamostragem incremental, onde espalhou-

368
se a amostra uniformemente sobre a bandeja e dividiu-se em 35 quadrados, retirando 3 g de incremento de cada um deles,
totalizando ± 100 g, sendo que esses incrementos representam a estimativa do nível médio dos contaminantes da UD,
conforme Figura 6.

Figura 5: UD utilizado para AMI. Figura 6: UD utilizado para AMI.


Elaborado pelos autores. Elaborado pelos autores.

Análises Químicas
As amostras foram submetidas as análises de:
Potencial Hidrogeniônico (pH) e Condutividade Elétrica (CE): Foram realizados nas dez amostras de solo leituras de pH e
CE, as análises ocorreram conforme o Manual de Métodos de Análise do Solo da EMBRAPA (2011). As leituras de pH foram
realizadas no pHmetro digital de bancada da marca Tecnal e as leituras de CE no condutivímetro de marca Digimed DM3.
Fluorescência de Raios- X (FRX): As amostras de solo foram analisadas qualitativamente no espectrofotômetro por Energia
Dispersiva Modelo EDX 720 HS da marca Shimadzu e semiquantitativamente no espectrofotômetro por Energia Dispersiva
Modelo Epsilon 1 da marca Malvern Panalytical.

Resultados e Discussão
Os resultados da análise de pH podem ser visualizados na Figura 7. Observando-se todos os valores das duas unidades de
decisão nas diferentes amostragens, os mesmos podem ser classificados como pH alcalino. Esse resultado era esperando, pois
conforme Ferreira (2011) solos do tipo planossolos apresentam pH na faixa alcalina. Nos dois valores da UD1 não se observou
grande variação dos resultados. Na UD2 houve uma pequena variação entre a AD2 e a AMI2, que por ser uma metodologia
mais distribuída, pode ter acrescentado no proceso de subamostragem mais elementos que favoreceram para elevação do pH.

Figura 7: Resultados do pH das amostras. Elaborado pelos autores.

Na Figura 8 visualizam-se os resultados da CE para as amostras na UD1 e na UD2. Percebe-se diferença considerável (44,5%)
nos resultados da UD1. Não era esperado que esses valores ficassem tão divergentes, pois a área corresponde a mesma UD, e a
distância de cada cava é de 5 m. Na UD2 os valores resultaram em dados mais próximos, tendo uma diferença de 14,9%.

369
Figura 8: Resultados da CE das amostras. Elaborado pelos autores.

FRX qualitativa: O elemento em maior quantidade encontrado nas amostras de solo (UD1 e UD2) foi o silício (Si). Como
elementos em menor quantidade (5% < x > 50%) foram encontrados ferro (Fe) e alumínio (Al). Para os elementos traços, todas
as amostras da UD1 e UD2 resultaram em elementos como o cobre (Cu), zinco (Zn) e o manganês (Mn). Esses elementos
encontrados qualitativamente nas amostras, podem ser encontrados naturalmente em solos. (EMBRAPA, 2018). Não foram
identificados diferentes elementos entre as amostras de solo, não ter variações entre os mesmos já eram esperados, pois as
amostras são pertencentes ao mesmo local e contaminadas por resíduos sólidos urbanos (RSU).

FRX semiquantitativa: De acordo com a Figura 9, os resultados com maiores concentrações encontrados foram do aluminio
(Al), sílicio (Si) e ferro (Fe), os mesmos elementos encontrados em maior quantidade na análise de FRX qualitativa. A
diferença de percentuais das ADs e das AMIs nos elementos alumínio (Al) e silício (Si) foram de < 1% nas respectivas UDs.
Já o elemento ferro (Fe) teve variação 2% na UD1 e 5% na UD2. Os resultados apresentados mostram que os resultados
obtidos nos dois métodos não apresentaram variação considerável, justificando, o uso da amostragem por multi incremento
(AMI), pois a mesma é mais vantajosa em relação à quantidade de amostragens a serem realizadas em campo e também, pela
quantidade de análises a serem executadas em laboratório. (ITRC, 2012).

Figura 9: Resultados de Al, Si e Fe para UD1 e UD2. Elaborado pelos autores.

Na Figura 10, são apresentados os resultados do elemento manganês (Mn). Na UD1, a AD1 teve uma variação de 49,6% em
relação à AMI. Essa variação se deve ao valor de uma das amostras AD ter apresentado um valor muito acima das demais,
contribuindo para o aumento da média que pode ser um resultado superestimado e incoerente. Destaca-se que os pontos dentro
da UD1 estavam distantes em aproximadamente 5 metros, o que sinaliza alta heterogeneidade na distribuição do Mn na
amostragem discreta (AD). Na UD2 a média das amostragens discretas e o valor da AMI foram coerentes, pois obtiveram uma
variação entre eles de 2,6%.

370
Figura 10: Resultados para o elemento Manganês (Mn) na UD1 e na UD2. Elaborado pelos autores.

Considerações Finais
Os resultados apresentados neste trabalho indicam diferenças entre a amostragem por multi incremento (AMI) e a amostragem
discreta (AD). Para os resultados de pH, os valores foram coerentes entre si e apresentaram pH alcalino. Para os resultados da
condutividade elétrica (CE), os valores foram bem variados na UD1 e coerentes na UD2. Tanto na análise de FRX qualitativa e
semiquantitativa, os mesmos elementos majoritários foram encontrados. Comparando as duas metodologias estudadas, as
mesmas foram capazes de detectar os mesmos elementos, mostrando a eficiência das duas análises. Pode-se afirmar que a AMI
se mostra favorável para as concentrações médias dos contaminantes do local, pois apresentou vários resultados próximos da
amostragem discreta (AD). A desvantagem da AMI foi de não identificar pontualmente os pontos com maior contaminação,
como a AD identificou quando realizada em vários pontos. No entanto, cabe ressaltar que na prática não se realiza AD em
vários pontos em função do custo associado à quantidade de amostras a serem analisadas. Portanto, a AMI poderia ser utilizada
em áreas a serem remediadas, pois se consegue obter dados satisfatórios com menor custo e tempo.

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372
5SSS147
TRATAMENTO NANOCERÂMICO COMERCIAL ECO-AMIGÁVEL
NA PROTEÇÃO À CORROSÃO DA LIGA AA2024
Carina Carraro1,2, Gabriel Adriane Garcia1, Giovana Santos Barbosa1, Lisete Cristine Scienza1,2
1
LAMATES (Laboratório de Materiais e Tecnologias Sustentáveis) - Departamento de Materiais - UFRGS
2
PPGE3M - Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
e-mail: carina.carraro@ufrgs.br; lisete.scienza@ufrgs.br

Palavras-chave: alumínio, corrosão, nanocerâmico.

Resumo
Atualmente existe uma preocupação ambiental no sentido de utilizar produtos não tóxicos e compatíveis com o meio ambiente,
evitando impactos e passivos ambientais, assegurando a saúde humana, criando assim a necessidade de desenvolver
tecnologías limpas direcionadas aos tratamentos de superficies metálicas contra a corrosão. O processo de revestir a superfície
com uma camada nanocerâmica tem se mostrado potencialmente eficaz, porém muitas são as variáveis a serem consideradas e,
entre estas, encontram-se as diferentes composições dos substratos metálicos, que influenciam de forma significativa na
formação da camada protetora e sua subsequente proteção. Os revestimentos de conversão baseados na nanotecnologia
proporcionam reduzido impacto ambiental, alta eficiência de processo e melhores resultados quando comparados a alguns
tratamentos convencionais, garantindo redução de custos, enquadrando-se como uma tecnologia sustentável aplicada ao
tratamento de superficies metálicas. O presente estudo consistiu em avaliar o efeito de algumas variáveis operacionais (pré-
tratamento do substrato, composição e pH da solução e o tempo de imersão) na proteção à corrosão da liga AA2024
proporcionada por revestimentos nanocerâmicos comerciais (à base de Zr/Ti obtidos por conversão química), buscando
elucidar os mecanismos de proteção à corrosão, fornecendo subsídios que assegurem à indústria um tratamento substituto da
cromatização hexavalente, reconhecido pela sua elevada toxicidade. Na avaliação da proteção foram considerados o
monitoramento do potencial de circuito aberto em função do tempo, curvas de polarização, exposição à névoa salina e
microscopia eletrônica de varredura. Constatou-se que o tratamento nanocerâmico efetuado deslocou o potencial de corrosão
para valores mais catódicos (ativos) e ocasionou uma pequena redução nas densidades de corrente. Sob exposição à névoa
salina, o tratamento efetuado demonstrou proteção inferior à obtida com o tratamento de cromatização. Os resultados obtidos
demonstraram que o tratamento nanocerâmico deve ser otimizado a fim de providenciar efetiva proteção à corrosão,
considerando a natureza específica do metal a ser protegido.

Abstract
Currently there is an environmental concern to use non-toxic and environmentally compatible products, avoiding
environmental impacts and passives, ensuring human health, thus creating the need to develop clean technologies directed to
the treatment of metal surfaces against corrosion. The process of coating the surface with a nanoceramic layer has been shown
to be potentially effective, but many variables must be considered such as the different compositions of the metal substrates,
which significantly influence the formation of the protective layer and its subsequent protection. Nanotechnology-based
conversion coatings provide reduced environmental impact, high process efficiency and better results when compared to some
conventional treatments, ensuring cost savings, as so as sustainable technology applied to the treatment of metal surfaces. The
present study consisted of evaluating the effect of some operational variables (substrate pretreatment, solution composition and
pH and immersion time) on corrosion protection of AA2024 alloy provided by a commercial nanoceramic coating (Zr/Ti based
coatings) obtained by chemical conversion), seeking to elucidate the corrosion protection mechanisms, providing subsidies that
ensure the industry a substitute treatment of hexavalent chromatizing, recognized for its high toxicity. In the protection
evaluation, the monitoring of open circuit potential as a function of time, polarization curves, salt spray exposure and scanning
electron microscopy were considered. It was found that the nanoceramic treatment shifted the corrosion potential to more
cathodic (active) values and caused a small reduction in the current densities. Under exposure to saline media, the treatment
showed lower protection in relation to that one obtained with the chromatizing treatment. The results showed that the
nanoceramic treatment should be optimized to provide effective corrosion protection, considering the specific nature of the
metal to be protected.

373
Introdução

A corrosão é a reação química de um metal com o meio, causando a degradação de suas propriedades. A corrosão
representa custos substanciais diretos (reparos, reprocessamento, reposição, etc.) e indiretos (contaminação do meio ambiente,
perda de vida humana e animal, etc.), de modo que seu efeito deve ser minimizado com medidas preventivas. Questões
ambientais, de segurança e de custos têm sido atualmente consideradas no que diz respeito à utilização de alguns tratamentos à
base de cromatos (cromatização) e fosfatos (fosfatização) muito empregados na proteção de metais contra a corrosão. Por esta
razão têm aumentado as pesquisas no desenvolvimento de tratamentos de superfícies que utilizem e/ou produzam substâncias
menos tóxicas e prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente. Assim, o controle da corrosão passou a se constituir num
elemento essencial para o desenvolvimento sustentável, envolvendo questões como a seleção e desenvolvimento de materiais
resistentes à corrosão, revestimentos e inibidores ecológicos.
O alumínio constitui o material metálico mais importante, depois do aço carbono, para várias aplicações de engenharia,
devido as suas propriedades de alta resistência à corrosão, boas propriedades mecânicas, baixa densidade, boa condutividade
térmica e elétrica, boa refletividade à luz e ao calor e baixa toxicidade, entre outras. (PANOSSIAN, 1993). Pode ser facilmente
transformado através de processos metalúrgicos normais, sendo viável à indústria manufatureira a obtenção de artefatos deste
metal em qualquer forma que seja requerida. Como é um metal altamente reativo, forma facilmente uma película fina e
contínua de óxido inerte (Al2O3) em presença do ar, que protege o metal contra a corrosão. A durabilidade do alumínio permite
sua utilização em diferentes aplicações e, ao fazê-lo, pode entrar em contato com ambientes agressivos capazes de romper a
camada de óxido protetor (camada passiva) e ocasionar a corrosão do metal. Na atmosfera, os tipos mais comuns de corrosão
do alumínio são: corrosão por pites, corrosão em frestas, galvânica, intergranular, esfoliação, filiforme e corrosão sob tensão.
A fim de alcançar elevada resistência mecânica, o alumínio é ligado com outros elementos para formar ligas, o que afeta
também a sua resistência à corrosão. Um dos tratamentos mais utilizados e mais eficientes para proteger alumínio e suas ligas
consiste na utilização de cromo hexavalente para produzir uma camada de cromatos na superfície do metal. Porém, a utilização
do cromo hexavalente está com os dias contados. Vigoram atualmente algumas diretivas que visam à preservação do meio
ambiente e a procura por métodos e processos ecologicamente corretos. Neste sentido, uma nova geração de processos de
tratamentos superficiais nanotecnológicos tem sido investigada para substituir processos como a fosfatização e a cromatização,
com melhoria significativa tanto no campo ecológico como na questão econômica. Estes processos são isentos de níquel,
manganês, fósforo, zinco e cromo (KERSTNER et al., 2014).
Os revestimentos nanocerâmicos consistem na formação de uma camada de conversão química, com espessura em
escala nanométrica (usualmente inferior a 50 nm), que consiste numa estrutura cerâmica do tipo óxido metálico, com metais
como Zr e Ti, onde o revestimento é obtido em curto espaço de tempo (DRONIOU, 2006). A característica nanocerâmica faz
com que a camada obtida seja mínima, uniforme e capaz de proporcionar resistência à corrosão bem como aderência na
aplicação de revestimentos orgânicos (BOSSARDI, 2007). Mas, como em todos os tratamentos de superfícies, este também
apresenta desvantagens: necessita de um maior controle operacional do banho e pode ocorrer a formação de camadas com
defeitos devido à alta porosidade. Além disso, a composição, o estado metalúrgico e o pré-tratamento dado ao metal são
parâmetros que também devem ser considerados.
Assim como ocorre nos processos corrosivos de ligas de alumínio, onde a presença de intermetálicos contendo Cu, Zn,
Mg, Mn, Si tornam a liga suscetível à corrosão localizada (PENG et al., 2016), a deposição de revestimentos de conversão de
Zr e Ti também é fortemente influenciado pela existência de partículas de segunda fase na microestrutura, as quais originam
sítios preferenciais de deposição de TiO2/ZrO2, podendo dar origem a uma deposição heterogênea. Santa Coloma et al. (2015)
relatam que intermetálicos que contém cobre, presentes nas ligas da série 2XXX, tem caráter catódico em relação à matriz,
originando sítios preferenciais de nucleação. Cerezo et al. (2013) destacam que a simples presença de cobre na superfície
metálica desempenha um importante papel como elemento iniciador do processo de formação do filme de ZrO2. Investigando a
formação da camada de conversão nanocerâmica na liga AA6016, Milosev e Frankel (2018) propuseram o mecanismo de
deposição apresentado na Figura 1.

374
Figura 1: Mecanismo de deposição de revestimento nanocerâmico (adaptado de Milosev e Frankel, 2018)

O propósito do presente estudo consiste em avaliar a utilização de um revestimento nanocerâmico comercial indicado
para a proteção à corrosão de substratos não ferrosos, neste caso a liga AA2024, muito utilizada na indústria aeronáutica.
Diferentes variáveis operacionais foram consideradas e os estudos incluíram técnicas eletroquímicas, ensaios acelerados de
corrosão e microscopia eletrônica.

Procedimento experimental

Materiais
Chapas da liga de alumínio AA2024 foram cedidas pela empresa Embraer. A composição nominal desta liga, em %
(m/m) é a seguinte: 93,0 Al, 0,5 Si, 0,5 Fe, 3,8-4,9% Cu, 0,3-0,9% Mn, 1,2-1,8% Mg, 0,25% Zn, 0,45% outros (Panossian,
1993)
Os reagentes utilizados foram fornecidos pela empresa Klintex Insumos Industriais Ltda e são os seguintes:
Nanotex ZR 14: é um composto de camada livre de fosfatos, é livre de componentes orgânicos e aumenta a resistência à
corrosão de superfícies metálicas;
Saloclean 667 N: é um desengraxante alcalino, utilizado para remoção de óleos e sujidades de metais não ferrosos por
processo de imersão.
Como meio corrosivo foi utilizada uma solução de NaCl 0,1 M com pH de 5.8-6.0 para os ensaios eletroquímicos, e de
5% (m/v) para o ensaio em câmara de névoa salina.

Preparação das amostras


As amostras de alumínio da liga AA 2024 foram lixadas com lixas d’água #600 e #1200, lavadas abundantemente
com água deionizada e secados com o secador. Após a preparação da superfície, as amostras de alumínio são submetidas ao
tratamento nanocerâmico, identificado por CK., descrito como segue: (i) imersão dos corpos de prova na solução 50 g/L de
desengraxe (SaloClean 667 N) por 10 minutos na temperatura de 70± 10°C, (ii) imersão na solução 50 g/L nanocerâmica
(Nanotex ZR14) com pH entre 4.5 e 4.9, durante 60 s em temperatura ambiente de 24± 5°C, e (iii) lavagem com água
deionizada e secagem.
A aplicação do revestimento foi realizado pelo processo de imersão do corpo de prova (devidamente tratado) na solução
nanocerâmica com diferentes tempos, concentrações e pHs, variando conforme o ensaio, seguido de secagem. As variáveis
operacionais estudadas são apresentadas na Tabela 1.

375
Tabela 1. Variáveis operacionais consideradas no estudo

Concentração (% v/v) pH Tempo de imersão Condição de secagem

30 s, 1 min*, 2 min, 5 min Fluxo de ar quente por 2 min*


3,9
5* Secagem em dessecador por 10 dias
4,8*
Estufa a 100ºC por 90 min

10 5,1 60 s Fluxo de ar quente


*Condição padrão

Ensaios de corrosão e caracterização


As curvas de polarização potenciodinâmicas foram conduzidas no Laboratório de Corrosão, Proteção e Reciclagem de
Materiais (LACOR) da UFRGS. Os ensaios foram realizados em duplicata, utilizando-se um potenciostato Autolab PGSTAT
302 com a célula de três eletrodos convencional, que utiliza a amostra como eletrodo de trabalho (área de teste de 0,95 cm2),
um contraeletrodo de platina e um eletrodo Ag/AgCl como eletrodo de referência. Os ensaios foram conduzidos à temperatura
ambiente, sob aeração natural e sem agitação, aplicando potenciais no intervalo de -0.15 até +0.15 V, com velocidade de
varredura de 10 mV/s. O potencial de circuito aberto (EOCP) foi registrado durante 300 s antes de iniciar a polarização do
eletrodo. Em todos os ensaios uma amostra somente lixada foi utilizada para efeitos comparativos.
O ensaio de névoa salina foi realizado em conformidade com a norma ASTM B117-18 (solução de NaCl 5±1% (m/v),
temperatura de 35±2 ºC, pH entre 6,5 e 7,2) em uma câmara da marca Bass modelo USC, no LACOR-UFRGS.
A análise por microscopia eletrônica de varredura (MEV) foi realizada no Laboratório de Design e Seleção de Materiais
(LDSM) da UFRGS, com um microscópio Hitachi, empregando uma voltagem de 10 kV para imagens e 5 kV para análise por
Espectroscopia por Dispersão de Energia (EDS).

Resultados

O comportamento do potencial de circuito aberto em função do tempo de imersão é apresentado na Figura 2.


Constatou-se que, com exceção do tempo de 2 min, a alteração da concentração de 5% para 10%, ou do pH de 3,9 para 4,8, ou
mesmo os demais tempos de imersão testados não alteraram o potencial em relação à amostra não tratada (lixada). Além disso,
uma boa estabilidade é verificada ao longo do tempo de 5 min, mantendo o potencial em torno de 0,480 V(Ag/AgCl).
Resultados semelhantes foram encontrados em um estudo prévio (CARRARO et al, 2018), onde foi constatada boa
estabilidade mesmo por longos períodos (vários dias) de imersão, embora naquelas circunstâncias a superfície tenha se
apresentado severamente atacada.

376
Figura 2: Comportamento do potencial de circuito aberto em função do tempo de imersão da liga AA2024 em solução
de NaCl 0,1M, considerando diferentes variáveis.

Na Figura 3 são mostradas as curvas de polarização da liga AA2024, realizados em meio de NaCl 0,1 M e tempo de
imersão na solução nanocerâmica por 1 min, em duas diferentes concentrações da solução nanocerâmica CK 5% (50 mL/L) e
CK 10% (100 mL/L). Em relação ao corpo de prova não tratado (somente lixado) observa-se que, sob polarização dinâmica, o
tratamento nanocerâmico deslocou o potencial de corrosão para valores mais negativos (catódicos), sendo este efeito mais
acentuado para a solução de 5%. Uma pequena redução nas densidades de corrente também foi constatada, sendo este efeito
mais evidente para a solução CK 5%. De forma análoga, o pH de 4,8 (pH original da solução) mostrou melhor resultado do que
quando ajustado para pH 3,9, como mostra a Figura 4. Uma vez que a densidade de corrente está relacionada com a velocidade
do processo corrosivo, a menor concentração e o maior pH direcionam para uma melhor proteção. Obviamente fica
demonstrado que é necessário considerar estas duas variáveis afim de obter um melhor desempenho do revestimento.

377
Figura 3: Curvas de polarização da liga AA2024 em solução de NaCl 0,1M, submetida ao tratamento nanocerâmico CK
durante 1 min, considerando duas concentrações da solução.

Figura 4: Curvas de polarização da liga AA2024 em solução de NaCl 0,1 M, submetida ao tratamento nanocerâmico
CK 5% e durante 1 min, considerando diferentes pHs.

Na Figura 5 representamos ensaios de curvas de polarização da liga 2024, realizados em meio de NaCl 0,1M e
concentração 5% (50 mL/L) da solução nanocerâmica, com diferentes tempos de imersão na solução nanocerâmica CK.
Observa-se que o tempo de imersão de 1 min ocasionou o deslocamento do potencial de corrosão para valores mais catódicos e
maior redução nas correntes anódicas e catódicas comparado às demais amostras e também à amostra não tratada (somente

378
lixada). Com relação ao processo de secagem (Figura 6), os resultados indicam o emprego de fluxo de ar quente como
procedimento mais adequado.

Figura 5: Curvas de polarização da liga AA2024 em meio NaCl 0,1 M, submetida ao tratamento nanocerâmico CK 5%
e pH 4,8, considerando diferentes tempos de imersão.

Figura 6: Curvas de polarização da liga AA2024 em meio NaCl 0,1 M, submetida ao tratamento nanocerâmico CK 5%,
pH 4,8 e tempo de 1 min, considerando diferentes condições de secagem.

379
A Figura 7 mostra o aspecto das amostras lixada, com tratamento nanocerâmico CK (padrão) e cromatizada após 48 h
de exposição à névoa salina. As amostras lixada e com tratamento CK apresentaram corrosão branca generalizada em todo a
superfícies, enquanto que a amostra cromatizada apresentou corrosão branca em poucos pontos localizados. Estes resultados
mostraram que o tratamento nanocerâmico efetuado não apresentou eficiência equivalente ao tratamento de cromatização.

LIXADA NANOCERÂMICO CK CROMATIZADA


Figura 7: Aspecto da superfície das amostras após 48 h de exposição á névoa salina.

A Figura 8 mostra os resultados da análise obtida por MEV. Constata-se o tratamento nanocerâmico CK não alterou a
morfologia da superfície, ou seja, a morfologia foi definida pelo pretratamento efetuado, o que já era esperado considerando
que o revestimento tem espessura nanométrica. A análise por EDS , Figura 8(c), evidencia a presença de Al, O, Cu e Mg, ou
seja, os elementos majoritários da liga e seus óxidos. Não foi detectada a presença de Zr ou Ti, sugerindo que não houve
formação da camada nanocerâmica. Contudo, é necessário considerar que a técnica de EDS não é indicada para a análise de
filmes finos.

380
(a) (b)

(c)
Figura 8: Imagens de MEV da superfície da liga AA2024 após o pré-tratamento (a) e após o tratamento nanocerâmico
CK (b). Análise química por EDS da superfície com tratamento CK (c).

Conclusão

As pesquisas atuais apontam para o desenvolvimento de tecnologias mais limpas na proteção à corrosão de metais. O
tratamento nanocerâmico comercial estudado demonstrou pouco efeito na proteção à corrosão da liga de alumínio AA2024. As
variáveis testadas incluiram a concentração e o pH da solução nanocerâmica, o tempo de imersão, bem como as condições de
secagem. Embora uma pequena redução nos valores de densidade de corrente tenha sido obtido para o tratamento CK padrão,
não foi uma variação apreciável em relação à amostra não protegida. Na exposição à névoa salina a amostra com o tratamento
CK apresentou proteção inferior comparada ao tratamento à base de cromatos. O principal propósito do corrente estágio desta
investigação consiste em identificar as causas do baixo desempenho e executar medidas para otimizá-lo. Uma destas consiste
na incorporação de sais de cobre e inibidores de corrosão naturais (green inhibitors) nos banhos nanocerâmicos, previstos na
continuidade do presente estudo.

Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio recebido das empresas EMBRAER e KLINTEX Insumos Industriais Ltda, o suporte
financeiro recebido da CAPES PROEX Proc. n. 23038.00341/2019-71, ao CNPq e UFRGS pelas bolsas de iniciação científica
e também aos laboratórios LACOR e LDSM da UFRGS pela infraestrutura disponibilizada.

381
Referências bibliográficas

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382
5SSS148
USO DE BIOFILTROS PARA REMOÇÃO DE 17β-ESTRADIOL
Graziela Taís Schmitt1, Amanda Gonçalves Kieling2, Marcelo Oliveira Caetano3
1Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, e-mail: grazi_gts@hotmail.com; 2Universidade do Vale do
Rio dos Sinos - Unisinos, e-mail: amandag@unisinos.br; 3Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, e-
mail: mocaetano@unisinos.br

Palavras-chave: Biofiltros, 17β-estradiol (E2), biodegradação.

Resumo
Dentre as substâncias químicas denominadas desreguladores endócrinos (DE), chama-se atenção para os estrogênios, os quais
se encontram no meio ambiente em concentrações muito pequenas, na ordem de ng/L e µg/L. Estrogênios são substâncias que
interferem na atividade hormonal feminina e por serem excretados pela urina e fezes chegam ao esgoto sanitário, corpos
hídricos e consequentemente em um sistema cíclico e de constante acumulação. Isso acontece, pois os processos convencionais
de tratamento de água e esgoto não eliminam essas substâncias. Esse fato é de extrema preocupação, uma vez que alguns
hormônios podem aumentar as chances de câncer de mama, próstata e testículo, além de causar alterações no sistema
endócrino e no meio ambiente. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o potencial de remoção de
estrogênios em soluções aquosas através de biofiltros, sendo enfatizado o estrogênio natural 17β-estradiol (E2). Como
alternativa para a biodegradação desse composto, avaliou-se a bactéria Bacillus thuringiensis a qual apresentou potencial para
biodegradação de E2. Filtros ativados biologicamente com essa bactéria e contendo como substrato cinza de casca de arroz
(CCA) e carvão ativado (CA) foram monitorados durante 20 dias. Os resultados demonstram remoções superiores a 80% para
o E2 em ambos biofiltros. A quantificação do E2 em todas as amostras foi realizada através da técnica de extração em fase
sólida (SPE) e cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas (LC-MS/MS). Este estudo permitiu inferir a
capacidade de remoção de E2 por bactérias presentes em biofiltros e o possível uso dessa tecnologia como alternativa de
controle e remoção dessa substância durante o tratamento de água

Introdução
O número de contaminantes emergentes (CEs) e desreguladores endócrinos (DEs) lançados no meio aquático está crescendo
continuamente e vem despertando preocupações mundiais, principalmente devido aos potenciais riscos para a saúde humana e
o meio ambiente. Estes compostos compreendemos hormônios naturais e sintéticos, produtos farmacêuticos e de higiene
pessoal, pesticidas, drogas ilícitas e outros produtos químicos industriais. (Campos; Queiroz; Roston, 2019; Riva et al., 2018).
Dentre essas substâncias, os estrogênios vêm recebendo atenção, por se tratarem de compostos ativos em concentrações de
ng/L e µg/L. Embora existam três formas de estrogênio natural (estrona, 17β-estradiol e estriol), o 17β-estradiol ou E2 possui a
maior atividade estrogênica biologicamente ativa. (Nazari; Suja, 2016).
Esse hormônio é excretado através das fezes e urina (humanas e de animais), é persistente no meio ambiente, acumula-se no
solo, sedimento e ao longo da cadeia trófica e é constantemente detectados em águas superficiais, estações de tratamento de
esgoto e água, representando sério risco ao ser humano e animais.(Vilela; Bassin; Peixoto, 2018; Ying; Kookana; Ru, 2002). .
Diversos estudos verificaram a presença do E2 em diferentes matrizes ambientais. (Bai et al., 2018; Campanha et al., 2015;
Can et al., 2014; Castiglioni et al., 2018; Ghiselli, 2006; Lopes et al., 2010; Luo et al., 2014; Montagner et al., 2019;
Montagner; Jardim, 2011; Moreira et al., 2009).
A presença de CEs em águas aduzidas para as estações de tratamento de água (ETAs) representa atualmente um desafio às
companhias de saneamento, pois os processos convencionais nas ETAs são dedicados a remoção de sólidos, matéria orgânica e
microorganismos, portanto, torna-se necessária a adoção de novas tecnologias para remoção desses compostos.
Nesse contexto, uma tecnologia promissora é o uso de filtros ativados biologicamente (biofiltros), como filtros de areia ou
filtros de carvão ativado granular. O biofiltro funciona como um biorreator no qual combinam dois processos: adsorção e
biodegradação. A principal característica desse sistema está na capacidade em remover compostos biodegradáveis através da
ação dos microrganismos. (Borges et al., 2016). Ao combinar esses dois mecanismos, ocorre a remoção e degradação dos
compostos alvo, aumentando assim o potencial dessa tecnologia para aplicação como tratamento terciário de água. (Sbardella
et al., 2018). A biodegradação tem sido considerada a principal via de remoção de CE nesses sistemas. Portanto, a biofiltração
consiste na remoção dos compostos em um reator de biofilme de leito fixo, por meios filtrantes granulares, não necessitando a
entrada significativa de energia e produtos químicos, se tornando uma tecnologia para o tratamento de água. (Zhang et al.,
2019). Salienta-se que após o processo de biofiltração, é necessária uma desinfecção final para garantir a segurança microbiana
no sistema de distribuição. (Seredynska-Sobecka et al., 2006).
A biofiltração está se tornando uma tecnologia alternativa para o tratamento de água potável pois pode utilizar meios filtrantes

383
granulares existentes e produzir água de alta qualidade sem produtos químicos adicionais.
Muitas pesquisas utilizam o carvão ativado (CA) como adsorvente no processo. Contudo, devido ao impacto ambiental
negativo gerado pela sua produção industrial, observam-se estudos sobre adsorventes alternativos como alguns resíduos
industriais e agrícolas. A cinza de casca de arroz (CCA) possui como características a insolubilidade em água, estabilidade
química, alta resistência e uma estrutura granular e porosa, apresentando-se como um material adsorvente. (Ngah; Hanafiah,
2008).
Considerando esses aspectos, o presente estudo tem por objetivo avaliar a capacidade da bactéria Bacillus thuringiensis em
biodegradar E2; avaliar a capacidade de ativação biológica de adsorventes por meio de biofiltros e a possibilidade de
valorização de um resíduo industrial visando o uso de um adsorvente de baixo custo.

Material e Métodos

Inóculo com a bactéria


Uma cepa contendo a bactéria Bacillus thuringiensis foi cedida pela Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da
Cunha (LIBERATO), onde era mantida em meio de congelamento. Para reativar a cepa, se preparou o caldo Tryptic Soy Broth
(TSB), da marca Kasvi, utilizando 30 g/L em água deionizada, conforme orientação do fabricante. O caldo foi homogeneizado
até sua completa dissolução e autoclavado a 121 ºC, durante 15 min. A cepa foi então inoculada em um Erlenmeyer contendo
100 mL de caldo TSB e incubado em estufa (23ºC, 24 h).

Preparo da solução de 17β-estradiol


A partir do padrão analítico de E2 (grau de pureza > 98%, Sigma Aldrich Merck), foram preparadas soluções fortificadas na
concentração de 100 µg/L de E2 em água ultrapura obtida pelo sistema Ultra Pure Water.

Biodegradação de 17β-estradiol
Conforme Spohr (2014), a bactéria Bacillus thuringiensis possui potencial em consumir hormônios, portanto essa bactéria foi
utilizada nos ensaios de biodegradação e biofiltração.
Os experimentos de biodegradação do E2 foram divididos em três grupos (24, 48 e 72 horas). Onde para cada grupo foram
utilizados seis frascos de Erlenmeyer de 250 mL contendo 180 mL de solução fortificada de E2 e 20 mL de agua peptonada a
0,1%. Em capela de fluxo laminar, ajustou-se a turvação das bactérias para 0,5 McFarland (1,5 x 108 UFC/mL) em solução
salina estéril (NaCl 0,85%) e se adicionou 200 μL da suspensão bacteriana em cada Erlenmeyer. Todos os experimentos foram
esterilizados (120°C por 15 min).
Os frascos de Erlenmeyer foram incubados a 23 ºC, em ambiente escuro, durante seu respectivo tempo de incubação. As
soluções foram centrifugadas (centrifuga modelo Centrifuge 5430 R) a 7800 rpm por 20 min e o sobrenadante foi recolhido.
A quantificação foi realizada por LC-MS/MS e a porcentagem de remoção (%Rem) foi calculada pela Equação 1.

Onde: Ce é a concentração final do composto (mg/L) e Co é a concentração inicial da solução (mg/L).

Filtros ativados biologicamente


Para os ensaios de bancada, foram utilizados dois filtros, conforme esquema ilustrado na Figura 1. Os filtros foram
confeccionados em colunas de vidro (borosilicato) de 15 cm, com diâmetro interno de 2,5 cm e preenchidos com uma camada
única de CCA e CA até uma altura de 10 cm, totalizando um volume de preenchimento 24,5 cm³ para ambos os filtros.
Considerando que os valores de massa específica aparente dos materiais são diferente, utilizou-se 5,07 g de CCA e 10,4 g de
CA.
Os substratos utilizados nos filtros foram escolhidos com base na sua caratectização realizados previamente (Tabela 1). A CCA
é resultante do processo de combustão em caldeira de uma empresa gaúcha que utiliza casca de arroz como combustível. O
material atravessa por meio de uma grelha deslizante a fornalha que está a 900 °C durante 9 minutos. O carvão ativado
utilizado é proveniente da empresa Brascarbo Agroindustrial Ltda., derivado da casca de coco.

384
Figura 1: Representação esquemática dos filtros

CCA CA
Distribuição Granulométrica Distribuição heterogênea Distribuição heterogênea entre 0,05 e 3,35mm,
entre 0,05 e 3,35 mm com 50% das partículas entre 0,22 e 0,56mm
Área Superficial (m2/g) 43,006 573,462
Volume de microporos (cm3/g) 12,378 185,014
Volume de mesoporos (cm3/g) 9,025 34,083
Massa Específica Real (g/cm3) 2,16 2,08
Tabela 1: Caracterização dos adsorbentes
Fonte: Kieling (2016)

Para o processo de ativação biológica dos filtros, se adicionou 50 mL de água peptonada e 200 μL da suspensão bacteriana
ajustada na escala 0,5 McFarland em ambos os filtros. Após esse processo de ativação biológica, os filtros passam a ser
denominados como biofiltros neste trabalho. O monitoramento dos biofiltros e o crescimento do biofilme foi acompanhado
durante 20 dias.

Microscopia óptica
O monitoramento da adesão das bactérias ao material adsorvente foi realizado através de microscopia óptica. As observações
foram realizadas por meio do microscópio óptico da Zeiss, modelo Primo Star, com câmera acoplada (Axiocan, modelo ERc
5s) para a obtenção das imagens.

Remoção de 17β-estradiol por biofiltração


Após o período de maturação (20º dia), as duas configurações de biofiltros foram expostas a solução fortificada de E2 sob
fluxo continuo. Onde se realizou a biofiltração 1 L da solução fortificada a uma vazão de 10 mL/min. A quantificação foi
realizada por LC-MS/MS.

Preparo das amostras e análise em sistema cromatográfico


As extrações foram realizadas utilizando-se bomba de vácuo (Tecnal) e sistema manifold da Supelco com capacidade para 12
extrações simultâneas. Utilizou-se cartuchos de extração de sílica tipo C8 (130 mg, 3 mL, Agilent), os quais foram
condicionados com 7 mL de acetonitrila, 5 mL de metanol e seguido por 5 mL de água ultrapura. 1 L de amostra foi percolado
no cartucho, a uma taxa de fluxo de 5 mL/min, sob vácuo. Na etapa de clean up se adicionou 5 mL de água ultrapura e os

385
cartuchos foram secos por 5 min sob vácuo. O analito foi então eluído em 10 mL de acetonitrila e evaporados até a secura em
banho seco e reconstituídos em 1 mL de metanol.
A determinação do E2 foi realizada utilizando-se cromatógrafo líquido, modelo 1260, marca Agilent com detector de espectro
de massas (MS) single quadrupolo, modelo 6120, também da marca Agilent. Coluna Zorbax XDB-C18 (2,1 x 150 mm x 5
μm). A fase móvel foi composta de uma solução de formiato de amônio 5 mM marca VETEC, ácido acético glacial 0,1 %,
marca Synth, ambos com grau analítico e acetonitrila grau HPLC.
A espectrometria de massa foi realizada em polaridade positiva para o E2. As amostras lidas em triplicata, com tempo de
corrida de 25 minutos.
A curva analítica foi traçada pelo método da adição de padrão externo a partir de uma solução estoque.

Resultados e Discussão

Biodegradação de 17β-estradiol
Observou-se que no tempo de 72 horas, se tem o melhor desempenho de biodegradação (Figura 2). Esse fato pode estar
associado a meia vida do E2que é de 2 a 3 dias (Ghiselli, 2006). Outro fato que pode estar relacionado com essa maior
biodegradação ao passar do tempo, é em relação ao consumo da matéria orgânica (como elementos nutricionais) pelas
bactérias ali presentes, induzindo o uso do E2 como fonte de carbono e energia, propiciando assim, uma maior taxa de
degradação.

Figura 2: Biodegradação do 17β-estradiol ao longo do tempo

Spohr et al. (2014), avaliaram a biodegradação do E2 em 8, 16 e 72 horas através do Bacillus thuringiensis e verificaram que
essa bactéria apresenta baixa capacidade de biodegradação em pouco tempo de contato com o hormônio, apresentando uma
remoção de apenas 3,2% em 8 horas. Já para um tempo de 72 horas, os autores relatam uma remoção de 64,3 %. Valor muito
próximo ao encontrado neste trabalho para o mesmo tempo de incubação, reafirmando o potencial da bactéria Bacillus
thuringiensis em biodegradar E2.
Ferreira et al. (2016) isolaram bactérias presentes em sedimento marinho e identificaram como Bacillus thuringiensis, com
base em sua caracterização morfológica e características filogenética. Evidenciaram a capacidade dessa bactéria em
biodegradar Fenantreno (PHE), um hidrocarboneto aromático policíclico, e o Imidacloprida (IMI), um pesticida, apresentando
uma remoção quase completa para o PHE (97,3%) após 10 dias e remoção de 78% para o IMI, após 11 dias.
Borges et al. (2016) realizaram o experimento de biodegradação por meio do sistema batch, contendo biofilme proveniente de
filtros biológicos de carvão e evidenciaram valores de biodegradação próximos a 90% para diclofenaco e naproxeno e 99%
para ibuprofeno. Os autores constaram a dominância de bactérias do gênero Bacillus. Esse gênero é composto por
microrganismos considerados ubíquos, podendo ser isolados do solo, da água doce e salgada e de alimentos.
Czajka e Londry (2006) verificaram que estrogênios se ligaram a sedimentos de lagos, particularmente à matéria orgânica.
Desse modo, a fim de compreender o papel da biodegradação no destino dos estrogênios, os autores destacam que é importante
avaliar o potencial de transformação ou mineralização de estrogênios sob condições aeróbias e anaeróbias, e avaliar os efeitos
das condições ambientais nas taxas de biodegradação.
Em vista dos resultados obtidos, pode-se dizer que Bacillus thuringiensis apresenta capacidade para biodegradar uma ampla
variedade de contaminantes emergentes e representa o uso de linhagens específicas de microrganismos capazes de metabolizar
CE, representando uma proposta a ser utilizada para o tratamento de agua.

386
Presença de biofilme nos biofiltros
Silva (2011) esclarece que a adesão das células microbianas e o grau de desenvolvimento do biofilme dependem de
propriedades como, superfície de aderência, porosidade do material, características do meio, morfologia das células, entre
outros. Outro fator limitante para formação de biofilme é o tempo de contato das células e substrato. Neste estudo, foi possível
verificar um rápido desenvolvimento de biofilme, em apenas 17 dias (Figura 3). De acordo com Westphalen, Corção e Benetti
(2016), o biofilme ideal deve apresentar uma espessura que seja suficiente para biodegradação e que não cause a colmatação e
excessiva perda de carga no biofiltro.
Fu et al. (2019) verificaram a presença de biofilme nos leitos de carvão ativado, e relatam que a remoção dos compostos alvos
pode ser devido a bioadsorção e biodegradação do biofilme.

Figura 3: Desenvolvimento de biofilme nos biofiltros


(A) Filtro com CCA após 17 dias; (B) Filtro com CA após 17 dias

Microscopia óptica
Material sólido e líquido foram coletados do interior de cada biofiltro, com o intuito de avaliar o desenvolvimento e a estrutura
do biofilme que estava se formando, e observar possíveis alterações e contaminações que pudessem ocorrer ao longo do
experimento.
Por meio da microscopia óptica observou-se a presença de bactérias, na maioria em forma de bastonetes, caracterizando e
confirmando a presença de Bacillus. Na Figura 4 é possível notar a presença de bactérias aderidas à superfície da CCA, já para
o CA, devido a limitação do microscópio, não foi possível analisar o grão inteiro, necessitando moer o grão, mas, nota-se um
crescimento de bactérias em volto aos grânulos do CA.

Figura 4: Microscopia dos biofiltros após 17 dias


(A) Microscopia com aumento de 1000x – CCA; (B) (A) Microscopia com aumento de 10x – CA

387
Von Sperling (2009) relata que filtros com processos aeróbios, a presença de bactérias contribui para uma boa eficiência do
processo, já estas possuem alta capacidade de consumir material orgânico. Coutinho, Barbieri e Pavani (2000) destacam que o
CA é um material carbonoso poroso e possui uma área superficial interna e porosidade altamente desenvolvida. Bem como a
CCA, que também possui uma estrutura granular e porosa. (Ngah; Hanafiah, 2008). Apontando que ambos materiais
apresentam boas características morfológicas para a imobilização de bactérias.

Biofiltração
Conforme Westphalen, Corção e Benetti (2016) a biofiltração envolve dois mecanismos de remoção de contaminantes:
adsorção nos sítios ativos do adsorvente e biodegradação. De acordo com a Tabela 2, se obteve um percentual de remoção
acima de 80% para ambos biofiltros. Resultados semelhantes foram encontrados por Borges et al. (2016), o qual constatou a
remoção expressiva de fármacos através da biofiltração em carvão ativação, atingindo valores superiores a 80%. Bundy et al.
(2007) também realizaram a biofiltração em carvão ativado, com uma concentração de E2 de 1 μg/L, atingindo remoções de
94% para cafeína, 95% trovafloxacina e 93-95% para estradiol, com um tempo de filtração de 22 minutos.

Concentração final %
Adsorvente Desvio Padrão
(µg/L) Remoção
CCA 17,26 83% 2,59
CA 14,28 86% 10,56
Tabela 2: Remoção de 17β-estradiol após biofiltração

Minillo (2013) observou o potencial de metabolização de microcistinas por componentes microbianos presentes nos biofiltros,
atingindo reduções de 70%. No que diz respeito a redução de compostos farmacêuticos ativos em efluentes de estações de
tratamento de esgoto Sbardella et al. (2018), atingiram remoções de 78, 89, 83 e 79% de antibióticos, betabloqueadores, drogas
psiquiátricas e uma mistura de outros grupos terapêuticos, respectivamente, através de carvão ativado biologicamente, e
relatam que os biofiltros podem ser utilizados como tratamento terciário independente.
Westphalen, Corção e Benetti (2016) mencionam que os organismos crescidos em biofiltros são capazes de degradar
compostos orgânicos problemáticos, como os compostos odoríferos 2-metilisoborneol (MIB) e geosmina, a cianotoxina
microcistina, subprodutos da desinfecção, agrotóxicos e hormônios.
Li et al., (2019) construiram em escala de laboratório um sistema que constituía em um sistema Wetland, tanque de
estabilização, filtro com carvão ativado e um tanque de saída, conectados em serie. Usando esse sistema, os autores relatam
boas remoções, acima de 90% para cafeína, DEET, paracetamol e triclosan e a adsorção e biodegradação foram consideradas
os principais mecanismos de remoção.
O processo de carvão ativado biologicamente adsorve compostos com hidrofobicidade, baixa solubilidade em água e maior
peso molecular. (Fu et al., 2019). Aquino, Brandt e Chernichar (2013) relatam que os hormônios naturais são facilmente
removidos (eficiências de remoção >80%), possivelmente devido a sua grande tendência para sorção (valores elevados de
logKow), sendo classificados como compostos orgânicos hidrofóbicos, à favorável cinética de biodegradação (elevados valores
de Kbio) e por serem moderadamente solúveis em água.
A biodegradação completa de hormônios depende da quebra do anel fenólico, conforme relatado por Gesell et al. (2001), e,
consequente, formação de metabolitos, sendo que a comprovação da formação destes metabolitos não foi realizada neste
estudo. Além disso, dependendo das condições oxidantes/redutoras do meio, pode ocorrer a conversão de um estrogênio em
outro, conforme verificado por Machado (2010), o qual menciona que supostamente possa ter ocorrido esse fenômeno em seu
estudo, pois houve um aumento da concentração de estrona com a diminuição da concentração de E2.
Deste modo, a remoção de E2 em ETA depende extremamente do sistema de tratamento e das condições operacionais
adotadas. Salienta-se que os efluentes de biofiltros geralmente apresentam resíduos de microrganismos, em função do
desprendimento de organismos associados ao biofilme. Assim, a pós-desinfecção é recomendada para garantir a qualidade
microbiológica da água. (Simpson, 2008; Westphalen; Corção; Benetti, 2016)
Neste estudo, atingiu-se remoções elevadas a partir de uma solução fortificada. Logo, sugere-se que o uso de biofiltros podem
ser aplicados em ETAs, tendo em vista que a concentração de E2 no meio ambiente é inferior a utilizada nesses experimentos.
Além disso, esse estudo apresenta a possibilidade de se isolar um microrganismo específico em biodegrdar hormônios, o que já
foi proposto também por Borges et al. (2016). Essas medidas podem ser então aplicadas, visando um aumento na qualidade do
tratamento da água.

Considerações Finais
Sobre as condições empregadas no presente estudo, foi possível analisar o potencial de ativação biológica da CCA e do CA
através da bactéria Bacillus thuringiensis, como agente biodegradador de E2, demonstrando que o uso da biofiltração pode ser
um método explorado no controle e remoção de hormônios e outros desreguladores endócrinos em estações de tratamento de

388
água e de esgoto. Bem como evidenciar a importância dessa bactéria como agente degradador de E2 e possivelmente de outros
hormônios.

Agradecimento
Os autores deste trabalho agradecem à FAPERGS pelo apoio ao desenvolvimneto deste estudo.

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390
5SSS150
COMPOSTAGEM DE LODOS GERADOS EM ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE ESGOTO EMPREGANDO AERAÇÃO FORÇADA
POSITIVA
Nadine Vergara Schorr1, Léa Beatriz Dai-Prá1, Pamela Lisie Ghesla1, Vinícius Martins Marques1,
Luciana Paulo Gomes1
1Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, e-mail: nadine.vschorr@gmail.com; biadaipra@gmail.com;
pamelaghesla@yahoo.com.br; vini1309@gmail.com; lugomes@unisinos.br

Palavras-chave: Lodo anaeróbio; compostagem; umidade.

Resumo
Um dos principais problemas ambientais urbanos é a disposição final do lodo gerado através do tratamento de esgotos.
Transformar estes resíduos em um insumo agrícola é uma forma muito promissora e ambientalmente correta de reciclagem
para o lodo de esgoto. Para isso, o biossólido deverá ser submetido a processos de tratamentos para remoção ou redução de
elementos orgânicos potencialmente tóxicos e de agentes patogênicos, devendo se enquadrar nos critérios estabelecidos nas
legislações vigentes. Surge assim, essa pesquisa objetivando-se avaliar o tratamento através da compostagem utilizando
aeração forçada positiva, para produzir composto orgânico com fins agrícolas. No projeto foi avaliada a aplicabilidade sanitária
e agronômica do produto gerado a fim de verificar o cumprimento dos valores limites estabelecidos pela Instrução Normativa
n° 25 do MAPA (BRASIL, 2014) e da resolução CONAMA 375/2006. Nesta pesquisa foi testada a compostagem utilizando
lodo anaeróbio de um reator UASB juntamente com podas de árvores, sendo que a característica variável foi a umidade do
lodo de esgotamento sanitário (experimentos foram realizados com lodo úmido (91%) e lodo seco (50%)). Os parâmetros de
monitoramento da compostagem foram: pH, umidade, temperatura, Nitrogênio, Carbono, Potássio, Fósforo, Coliformes totais
e termotolerantes e teste de germinação. Para cada mistura foram construídas 2 pilhas e o acompanhamento se deu por um
período de 90 dias. Ao final do processo pode-se concluir que ambas as pilhas atingiram os limites estabelecidos da legislação,
apenas a análise microbiológica ficou fora da especificação, o que torna necessário um processo suplementar de higienização.
Então, a compostagem utilizando o lodo úmido tem potencial para ser uma solução de tratamento deste resíduo.

Introdução
Atualmente, um dos principais problemas ambientais urbanos é a disposição final do lodo gerado através do tratamento de
esgotos. Segundo Luduvice et al. (1995), o lodo é o principal subproduto do tratamento de esgotos, podendo, em princípio,
conter qualquer produto que tenha sido utilizado na área de drenagem da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) onde foi
produzido.
A gestão deste resíduo é bastante complexa, embora o lodo represente apenas de 1% a 2% do volume do esgoto tratado, o seu
gerenciamento representa até 60% dos custos operacionais de uma ETE. (VON SPERLING, 2001). O destino final do lodo é
uma atividade de grande importância e complexidade que, quando mal executada, pode comprometer os benefícios ambientais
e sanitários esperados do sistema. (VON SPERLING, 2001). Segundo a Lei no 9.605 de 12/02/98, a responsabilidade dos
problemas ocorridos pelo destino incorreto é sempre dos geradores do resíduo, que podem ser enquadrados em crimes
ambientais. (BRASIL, 1998).
A compostagem empregando o lodo de ETE é uma opção correta para a estabilização dos resíduos, no âmbito econômico e
ambiental, existindo a perspectiva de aplicação na agricultura. (METCALF; EDDY, 1991). Os benefícios da compostagem
deste lodo são muitos, sendo alguns deles: economia de área em aterro sanitário; reaproveitamento agronômico da matéria
orgânica; e reciclagem de nutrientes para o solo. (PELEGRINO, FLIZIKOWSKI, SOUZA, 2008).
Surge assim, esta pesquisa, objetivando a avaliação do tratamento do lodo da ETE da Universidade do Vale do Rio dos Sinos -
Unisinos, através do processo de compostagem. O método proposto é o da aeração forçada positiva, para produzir um
composto orgânico com fins agrícolas. No projeto, foi avaliada a aplicabilidade sanitária e agronômica do produto,
comparando o desempenho da utilização de lodo seco e lodo úmido, a fim de verificar o cumprimento dos valores limites
estabelecidos pela legislação.

Material e Métodos
A ênfase do presente estudo foi a produção de um biocomposto, executado através da compostagem, utilizando lodo de UASB
da Estação de Tratamento de Esgoto da Unisinos. Foi utilizado lodo úmido, recém retirado do reator, e lodo seco, disposto há
uma semana em leitos de secagem. O sistema de compostagem utilizado nessa pesquisa foi o processo de pilhas estáticas com

391
aeração forçada positiva, por apresentar baixo investimento inicial, controle de odores, rápida estabilização do composto e
controle satisfatório de temperatura e aeração.

Sistemas de Aeração e Pátio de Compostagem


Para o desenvolvimento deste estudo, utilizaram-se as recomendações de Fernandes e Silva (1999). O sistema de aeração
utilizado para este experimente era composto de canos de PVC de 50 mm de diâmetro, com orifícios, para a saída de ar, de
aproximadamente 15 mm. Foi adicionada uma camada de aproximadamente 20 cm de material estruturante seco (folhas e poda
de árvores), para evitar entupimento dos orifícios. A mistura foi posteriormente adicionada e as pilhas foram recobertas com
uma fina camada de aproximadamente 3 cm de agente estruturante, evitando assim, problemas de odores no local. Conforme
recomendações de D’Almeida e Vilhema (2000), para não sofrer influências pluviométricas, o pátio era coberto e a estrutura
também era impermeabilizada e com inclinação suficiente para drenagem de possíveis lixiviados.

Montagem das pilhas


O experimento foi realizado utilizando uma mistura de lodo de UASB com podas e folhas de árvores. Nas primeiras duas
pilhas foi utilizado lodo disposto no leito de secagem há uma semana, e nas outras duas pilhas foi utilizado lodo recém gerado.
O intuito da variação do teor de umidade dos resíduos foi comparar o desempenho dos dois sistemas, já que a disposição do
lodo e secagem em leitos de secagem constitui uma etapa usual nas ETE. As pilhas foram montadas no sistema de aeração,
foram identificadas: lodo disposto em leitos de secagem - PS1 e PS2; lodo recém gerado - PU1 e PU2, e as coletas foram
realizadas nos pontos marcados, conforme a Figura 3.

Figura 3 – Montagem das pilhas de compostagem e suas identificações

Para a montagem das pilhas, o lodo foi retirado do leito de secagem da ETE da UNISINOS. Os resíduos de podas e folhas de
árvores foram coletados no local e, por apresentar uma pequena granulometria, não foi necessária a utilização de um triturador.
Para definição das misturas a serem preparadas nas pilhas, adotou-se as referências estudadas, onde a relação C:N ideal para o
início do processo de compostagem está entre 25/1 e 35/1. (ZUCCONI; BERTOLDI, 1986; LOPEZ-REAL, 1994; FONG,

WONG, WONG, 1999; KIEHL, 2004). Para o cálculo desta relação ótima, empregou-se a
(1, indicada por Brito (2016).

(1)

Onde: M = Massa da amostra (kg); C = Carbono (%); N = Nitrogênio (%); U = umidade da amostra (%).
Através dos valores encontrados na literatura (GUEDES et al., 2006; FERNANDES; SILVA, 2008), adotou-se inicialmente os
valores de Carbono e Nitrogênio. Para o Lodo adotou-se, respectivamente, 32,5% e 3,0% e para as Podas, 51,0% e 1,1%,
respectivamente. As umidades foram: 91%, 50% e 30%, para Lodo Úmido, Lodo Seco e Podas. A

indica a composição, em massa, dos constituintes das misturas a compostar, relação C/N e a quantidade de carbono, nitrogênio
e umidade do lodo e podas utilizados na Equação 1.

392
Tabela 6- Quantidade de resíduos em cada pilha, relação C/N e quantidade de C, N nos lodos e podas
Pilhas Lodo (kg) Podas de árvores (kg) Mistura total da pilha (kg) C/N
PS1 90,8 96,22 187,02 23,26
PS2 93,35 98 191,35 23,18
PU1 193 72 265 29,06
PU2 200 87 287 30,42
Carbono 32,52% 51,00%
Nitrogênio 3,02% 1,10%
Umidade úmido 91% -
Umidade seco 50% -
Umidade podas 30%

Operação da compostagem e monitoramento


Na definição dos parâmetros de análise e frequências de monitoramento, nas pilhas de compostagem, foram considerados os
seguintes tempos: T0 – logo após a montagem das pilhas de compostagem, realizado amostra única; T processo – tempo
durante o processo de compostagem, definido em 90 dias, com frequência diária e semanal; e T final – produto final, amostra
única. As análises realizadas foram definidas de acordo com a Figura 4 e a metodologia utilizada está descrita na Tabela 7 -
Metodologia utilizada para as análises

Figura 4 - Fluxograma dos parâmetros de análises

Tabela 7 - Metodologia utilizada para as análises


Análise Metodologia
pH EPA 9045D
Nitrogênio Total Kjeldahl SM 4500-NH3 B / SM 4500-NH3 C
Carbono Oxidação pelo dicromato de potássio
Umidade SM 2540 G.

393
Fósforo SM 4500-P B / SM 4500-P E
Potássio EPA 3050
E. coli Substrato Cromogênico Enzimático, utilizando a seladora Colilert IDEXX
Teste de Germinação Manual de Regras para Análise de Sementes que consta no MAPA/2009

A temperatura foi monitorada em todos os dias úteis, através de um termômetro químico com faixa de uso de -10°C a 110°C.
A umidade e o pH foram monitoradas semanalmente, com a utilização de um equipamento medidor de pH, umidade e luz, com
faixa de pH em 3,5 – 9,0, e umidade de 0 – 100%.
O sistema de aeração forçada foi utilizado no sexto (6º), décimo quinto (15º), vigésimo segundo (22º) e trigésimo (30º) dia de
compostagem. A suspensão da aeração foi devido à estabilização da temperatura a partir do trigésimo dia de compostagem.
O monitoramento de temperatura, pH e umidade e a coleta de amostras, para os testes e análises, foram realizadas em cinco
pontos de amostragem (Figura 2), sendo quatro na base da pilha, um em cada face e um no topo da pilha. Estes cinco pontos
consistiram em uma amostra composta, em cada pilha.

Teste de germinação
Para realizar a análise de maturação do composto obtido, após o processo de compostagem, foi realizado o teste de germinação
utilizando sementes de alface (Lactuca sativa). Para realizar o teste foi coletado o extrato aquoso do biocomposto, seguindo a
metodologia de Silva e Villas Bôas (2007). Para a obtenção do extrato aquoso foi realizado uma diluição 1:100, do composto
gerado, e misturado sob agitação por 30 minutos. Após a mistura, foi realizada uma filtração à vácuo e o filtrado se utilizou
como extrato aquoso. Este procedimento foi realizado em triplicata para o material produzido, utilizando para cada placa 25
sementes de alface selecionadas de maneira aleatória. As sementes foram distribuídas nas placas de Petri, sobre o papel filtro, e
adicionou-se 6 mL de extrato aquoso, substrato para conservar as sementes úmidas, e outra placa utilizando apenas água
destilada para o controle. (SILVA e VILLAS BÔAS, 2007).
Foi seguido o especificado no Manual de Regras para Análise de Sementes, que consta no MAPA (BRASIL, 2009), para a
realização de procedimentos como: duração do teste, número de dias para realizar a primeira contagem, temperaturas mínimas
e máximas e também demais especificações gerais, conforme mostra a Tabela 8.

Tabela 8 - Recomendações do manual de "Regras para Análise de Sementes"


Espécie botânica Substrato Temperatura °C Primeira contagem (dias) Segunda contagem (dias)
Lactuca sativa SP 20 a 15 4 7
Legenda: SP = Sobre Papel
Fonte: Adaptado de MAPA (BRASIL, 2009).

Conforme Velho (2016), foi analisado no teste de germinação, o Percentual de Germinação (PG) e o Índice de Velocidade de
Germinação (IVG). Para a obtenção do PG foram utilizadas as determinações conforme o Manual de Regras para Análise de

Sementes, o cálculo pode ser verificado na (2. Para o IVG, foi utilizada a fórmula

de Maguire, de acordo com a (3.

(2)

Onde: NG = Número de sementes germinadas; NT = Número total de sementes para germinar.

(3)

Onde: G1 até Gn = Número de placas germinadas durante o período de tempo compreendido por T1 até Tn.

Resultados e Discussão
Este capítulo tem a finalidade de apresentar os resultados obtidos ao longo do período experimental, comparando e discutindo
os resultados obtidos por outros autores.

394
Caracterizações iniciais das pilhas de compostagem (T0)
Após a montagem das pilhas foi realizado uma amostra e para essa se considerou a caracterização inicial (T0). Após 90 dias de
compostagem foi retirada uma nova amostra para caracterização final (T final). A caracterização físico-química inicial foi
fundamental para prever o comportamento das pilhas ao longo do processo de compostagem. A eficiência do processo pode ser
determinada comparando-se a caracterizações iniciais e finais. A caracterização físico-químicas inicial das pilhas está descrita
na Tabela 10.

Temperatura
A temperatura foi avaliada levando em consideração os cinco pontos monitorados em cada pilha. A Figura 5 mostra a
comparação das médias obtidas das pilhas secas (PS1 e PS2) e as médias obtidas das pilhas úmidas (PU1 e PU2).

Figura 5 - Comparação das médias de temperatura das pilhas secas e pilhas úmidas

De acordo com Pereira Neto (2007) a temperatura é um dos indicadores mais seguros da eficiência do processo de
compostagem, demostrando um equilíbrio biológico do sistema. Quando a temperatura atinge valores acima dos 45ºC, a
atividade microbiológica mesofílica é suprimida pela implantação de uma comunidade microbiana termofílica. (TIQUIA,
2005). Como nenhuma pilha ultrapassou a temperatura de 45°C fica evidente que não houve fase termofílica na compostagem
de nenhuma pilha. Segundo Kiehl (1985), a fase termófila é onde a temperatura aumenta até o máximo valor e onde acontece,
consequentemente, a destruição dos organismos patogênicos.
De acordo com Fernandes e Silva (2001), se a pilha, em compostagem, registrar temperatura da ordem de 40-60ºC no segundo
ou terceiro dia, significa que o ecossistema está bem equilibrado e que a compostagem tem todas as chances de ser bem-
sucedida. Então, pode-se concluir que todas as pilhas apresentaram um ecossistema equilibrado.
A aeração é o principal mecanismo capaz de evitar altos índices de temperatura durante o processo de compostagem, aumentar
a velocidade de oxidação, diminuir a liberação de odores e reduzir o excesso de umidade de um material em decomposição.
(PEREIRA NETO, 1994; KIEHL, 2004). Como a temperatura não obteve valores muito altos, a aeração não foi muito
frequente. O sistema foi aerado no sexto, décimo quinto, vigésimo segundo e trigésimo dia após a compostagem por um
período de 2h. A aeração deve ser muito bem controlada, uma vez que um suprimento excessivo de ar pode fazer com que a
perda de calor seja mais intensa do que a produção de calor microbiano. (LAU et al., 1992). Além disso, Kader et al. (2007)
afirmam que a aeração excessiva pode aumentar a emissão de gases poluentes como a amônia e o óxido nitroso.
Segundo Kiehl (1985), a estabilização completa do composto ocorre quando a matéria orgânica for humificada a temperatura
baixará mais ainda, mantendo-se igual ou próxima do ambiente, assim, se atingiu a estabilização completa do composto, com a
matéria orgânica humificada. Isso vai de encontro com as ideias de Vinneras e Jonsson (2002), que salientam que à medida que
os estoques de C são exauridos, a temperatura decresce gradualmente, até igualar-se à temperatura ambiente. De acordo com
Zucconi e Bertoldi (1986), nesta fase, surgem novamente as comunidades mesófilas, que irão atuar na humificação do
composto.
Analisando o gráfico pode-se concluir que atingiu-se a fase de estabilização, pois a partir do trigésimo dia todas as pilhas
mantiveram as temperaturas constantes, iguais às temperaturas ambientes, em torno de 28°C até o final da compostagem,
então, o teor de umidade não influenciou expressivamente no parâmetro temperatura, ao longo do processo de compostagem.

Umidade
O parâmetro umidade foi monitorado semanalmente, utilizando o medidor de umidade e pH em solos, nos pontos P1, P2, P3,
P4 e P5 em cada pilha. Na Figura 6, é apresentada uma comparação utilizando as médias obtidas das pilhas secas e pilhas
úmidas.

395
Figura 6 - Comparação das médias de umidade das pilhas secas e pilhas úmidas

A faixa de umidade ótima para obter um máximo de decomposição está entre 40 a 60%, principalmente durante a fase inicial,
pois é necessário que exista um adequado suprimento de água para promover o crescimento dos organismos biológicos
envolvidos no processo e para que as reações bioquímicas ocorram adequadamente durante a compostagem. (MERKEL,1981).
A umidade inicial das pilhas iniciou com valores médios de 45% para PS1, 51% para PS2, 60% para PU1 e 64% para PU2 e
percebe-se que a média das umidades das pilhas não ultrapassou a faixa estipulada como ótima, pela literatura, durante o
período de compostagem nas pilhas secas. Nas pilhas úmidas, obteve-se uma média ligeiramente maior que a indicada no
início no processo, porém diminui ao longo dos dias. A diminuição do teor da umidade pode estar associada ao período de
aeração das pilhas no primeiro mês de compostagem.
Em todas as quatros pilhas de compostagem o ponto que apresentou o menor índice de umidade foi o ponto P1, ou seja, o
ponto em cima da pilha. O ponto P1 era composto a maior parte pelos resíduos de podas que estavam mais secos que o lodo,
isso pode explicar a menor umidade neste ponto de monitoramento.
Observou-se, na pesquisa, que nenhuma pilha apresentou maus odores, vetores e lixiviados ao longo do processo de
compostagem. Conclui-se que a umidade obtida ao logo do processo foi suficiente para manter uma condição operacional
satisfatória, do ponto de vista sanitário, mesmo nas pilhas úmidas. Vale ressaltar que o pátio é coberto, portanto as pilhas não
sofreram influência da chuva.
Considerando que as reações ocorridas no processo de compostagem são exotérmicas, percebe-se, também, que ao longo do
tempo, na média, o teor de umidade diminuiu.

pH
O parâmetro pH foi monitorado semanalmente utilizado o medidor de umidade e pH em solos, nos pontos P1, P2, P3, P4 e P5,
em cada pilha. Na Figura 7 é possível verificar uma comparação utilizando as médias obtidas das pilhas secas e pilhas úmidas.

Figura 7 - Comparação das médias de pH das pilhas secas e pilhas úmidas

Em geral, todas as pilhas de compostagem apresentaram evolução semelhante. No início do processo, em T processo, o pH

396
médio inicial das pilhas secas foi de 7,9 e para as pilhas úmidas foi de 7,8.
A faixa de pH considerada ótima para o desenvolvimento dos microrganismos responsáveis pela compostagem situa-se entre
5,5 e 8,5, uma vez que a maioria das enzimas encontram-se ativas nesta faixa de pH. (RODRIGUES et al., 2006). Percebe-se
que a faixa onde começou o monitoramento da compostagem está de acordo com a faixa ideal encontrada na literatura. Tanto
nas pilhas secas como nas úmidas, observou-se tendência de aumentar o pH próximo ao quadragésimo dia, após o início do
processo de compostagem, onde as pilhas secas atingiram um pH máximo de 8,1 e as pilhas úmidas atingiram um pH de 8,0.
Os ácidos orgânicos e os traços de ácidos minerais que se formam no início da compostagem reagem com bases liberadas da
matéria orgânica, gerando compostos de reação alcalina. (SHARMA et al., 1997; JAHNEL, MERLLONI, CARDOSO, 1999;
DAI PRÁ, 2006). Ocorre também à formação de ácidos húmicos, que também reagem com os elementos químicos básicos,
formando humatos alcalinos. Desta forma, o pH do composto aumenta na medida que o processo se desenvolve atingindo,
muitas vezes, níveis superiores a 8,0. (KIEHL, 2004).
Então, analisando os resultados obtidos em todas as pilhas, o aumento do pH pode ser explicado através geração de compostos
alcalinos ao longo do processo de compostagem, indo de encontro com as ideias dos autores estudados.
Comparando os resultados obtidos pelo autor supracitado, as pilhas apresentaram um comportamento muito semelhante,
obtendo um pH ao final do processo próximo da neutralidade, ou seja, indicativo de estabilização, tanto nas pilhas secas como
nas pilhas úmidas.

Tamanho e volume das pilhas


Uma pilha de compostagem deve ter um tamanho suficiente para impedir a rápida dissipação de calor e umidade e, ao mesmo
tempo, permitir uma boa circulação de ar. (RODRIGUES et al., 2006). A Tabela 9 apresenta a metragem, altura e volume das
pilhas.
Tabela 9: Variação de volume das pilhas de compostagem
Base inicial Altura Volume Base final Altura Volume Variação de Variação de
Pilha
(m) inicial (m) inicial (m³) (m) final (m) final (m³) volume (%) volume média
PS1 1,50 0,95 0,48 1,50 0,40 0,20 58%
56%
PS2 1,55 0,95 0,49 1,55 0,45 0,23 53%
PU1 1,30 0,80 0,35 1,30 0,40 0,17 50%
50%
PU2 1,30 0,80 0,35 1,30 0,40 0,17 50%

Observa-se que as alturas das pilhas secas em T0 foram maiores que as pilhas úmidas. As pilhas secas obtiveram 0,95m de
altura enquanto que as pilhas úmidas apresentaram 0,80m. Por conter maior teor de umidade, as pilhas úmidas foram mais
trabalhosas de montar, pois exigiam mistura frequente do lodo úmido com os resíduos das podas.
Nunes (2003) verificou que, em pilhas com dimensões de 2,60 m de comprimento, 2,00 m de largura e 1,00 m de altura, as
temperaturas mantiveram-se entre 40ºC e 55ºC por um longo período, sendo registradas elevações médias de 10ºC,
imediatamente após a incorporação de dejetos aos substratos maravalha e serragem.
A altura reduzida das pilhas montadas pode ter sido um fator que contribuiu para as pilhas não atingirem maiores temperaturas,
pois de acordo com Valente et al. (2009) uma altura mínima de 0,80 m deve ser respeitada, abaixo da qual não existem
condições adequadas para a formação e manutenção da temperatura.
A Figura 8 mostram uma visão geral das pilhas em T0 e em Tfinal, onde é possível verificar a diminuição de volume das
pilhas.

397
Figura 8 - Visão geral do pátio de compostagem em T0 e Tfinal
A diminuição de volume ocorreu conforme esperado e constatado também nas pesquisas de Gorgati (2001), que obteve uma
redução de 47% do volume no início do processo e Amorim (2002), que afirma que houve redução de volume em pilhas
montadas no verão e inverno.

Caracterizações finais das pilhas de compostagem (T final)


A caracterização final obtida em Tfinal é referente às análises realizadas após os 90 dias de compostagem.
Baseado na Instrução normativa n° 25 do MAPA (BRASIL, 2014), que rege os padrões de referência que os fertilizantes
devem apresentar foi realizada um comparativo com o produto final obtido.
Na resolução CONAMA 375/2006, que regulamenta o uso de lodo de ETE em solo agrícola, verifica a ótica sanitária e
ambiental e não a qualidade do produto aplicado no solo agrícola. Com os parâmetros que foram monitorados nesta pesquisa
somente o parâmetro E. coli poderá ser comparado com esta resolução.
Em Tfinal, os compostos gerados a partir de cada pilha foram analisados pelo laboratório particular IQA e as análises
microbiológicas e teste de germinação foram realizados no Laboratório de Saneamento Ambiental da Unisinos.
A seguir, serão caracterizados os compostos em parâmetros físicos, químicos, microbiológicos e teste de germinação.

Caracterização física
Visualmente, todos os compostos obtidos no processo de compostagem apresentaram coloração escura, semelhante à terra
preta, indicando que os compostos estavam maturados. O odor dos produtos obtidos foi semelhante à “terra molhada”.
Na análise visual, foi possível observar a textura das folhas, indicando uma resistência à degradação. A moagem dos resíduos
de podas antes da montagem das pilhas poderia ter acelerado o processo de compostagem. A Figura 9 apresenta o composto
gerado.

Figura 9 - Amostra dos compostos gerados no final do processo de compostagem

Caracterização química
A Erro! Fonte de referência não encontrada. apresenta as análises físico-químicas realizadas e os limites estabelecidos pela
Instrução normativa n° 25 do MAPA. (BRASIL, 2014).

Tabela 10 - Caracterização inicial das pilhas de compostagem


Pilhas Carbono Orgânico Total (%) Nitrogênio Total (%) Relação C/N Umidade (%) pH
PS1 25,7 2,72 9 16 8,09
PS2 22,26 1,61 14 14,1 7,72
PU1 45,29 2,69 17 50 7,37
PU2 72,28 4,14 17 53,8 8,40

Muitos pesquisadores afirmam que a relação C/N ideal para o início do processo de compostagem está entre 25/1 e
35/1(ZUCCONI; BERTOLDI, 1986; LOPEZ-REAL, 1994; FONG, WONG, WONG, 1999; KIEHL, 2004) uma vez que,
durante a decomposição, os microrganismos absorvem C e N da matéria orgânica na relação 30/1, sendo que das 30 partes de
C assimiladas, 20 são eliminadas na atmosfera na forma de gás carbônico e 10 são imobilizadas e incorporadas ao protoplasma
celular. (GORGATI, 2001; KIEHL, 2004).
Por fim, o parâmetro umidade é indispensável para a atividade metabólica e fisiológica dos microrganismos, sendo que o
percentual considerado ideal para o processo de compostagem varia entre 50 e 60% (TIQUIA, TAM, HODGKISS, 1998a;
RODRIGUES et al., 2006). Observa-se que apenas as pilhas úmidas atingiram a faixa ideal de umidade no início da

398
compostagem, vale ressaltar que a baixa umidade da mistura está relacionada ao armazenamento dos resíduos de podas
utilizados na montagem das pilhas, pois os mesmos estavam dispostos em um ambiente aberto em uma temperatura média
superior a 30°C, logo, estavam secos.

Monitoramento do processo de compostagem


Os resultados foram obtidos monitorando os pontos: P1, P2, P3, P4 e P5, conforme descrito no capítulo metodologia. Em
seguida foi realizada uma comparação das pilhas secas e úmidas.

Tabela 11: Caracterização final das pilhas de compostagem e padrões de referência


PS1 PS2 PU1 PU2 Média IN nº 25
Parâmetros
Final Final Final Final Pilhas secas Pilhas úmidas MAPA
Carbono Orgânico Total (%) 10,16 19,95 36,37 1,13 15,06 18,75 Mín. 1,5
Nitrogênio Total (%) 1,45 2,76 2,00 2,10 2,15 2,05 Mín. 0,5
Relação C/N 7 7 18 1 7,00 9,5 Máx. 20
Umidade (%) 40 63 59 44,7 51,50 51,85 Máx. 70
pH 7,5 7,7 7,8 7,8 7,60 7,8 Mín. 6,0
Potássio (%) 0,4 0,28 0,32 0,26 0,34 0,29 -
Fósforo (%) 0,1961 0,1322 0,0823 0,37 0,16 0,22615 -

De acordo com as análises das médias obtidas nas pilhas secas e úmidas, todas atingiram a especificação mínima exigida pelo
MAPA para os parâmetros de Carbono Orgânico Total, Nitrogênio Total, Relação C/N, Umidade e pH. Os parâmetros fósforo
e potássio não apresentam limites fixados nesta normativa.
Através destas classificações, o composto utilizado nesta pesquisa é qualificado como Fertilizante Orgânico classe D, cujos
padrões são fixados pela normativa nº 25.
Segundo Brady (1979), nitrogênio e fósforo possuem papel fundamental no crescimento das plantas. O primeiro é considerado
importante pelo fato de incorporar muitos compostos que são essenciais às plantas. No caso do fósforo, a sua ausência poderá
impedir a assimilação de outros nutrientes através dos vegetais, além disso, ele contribui para a divisão celular, floração e
frutificação, desenvolvimento das raízes, resistência a certas doenças, entre outras funções.
Outro macronutriente de suma importância é o potássio, o qual é encontrado de forma insuficiente na maioria dos solos
brasileiros. Fato este que o torna um importante macronutriente nos biofertilizantes. Ao lado do nitrogênio, o potássio é o
segundo elemento mais consumido pelas plantas, o que não significa dizer que os outros nutrientes não são importantes, apenas
são consumidos em menores quantidades. (NACHTIGALL & RAIJ, 2005).

Caracterização microbiológica
Nesta pesquisa foram realizados ensaios para a detecção de microrganismos somente em T final, portanto não será apresentada
a redução da população ao longo do processo de compostagem, apenas a detecção de Coliformes Termotolerantes no produto
final. Os resultados obtidos estão descritos na Tabela 12.

Tabela 12:Caracterização final microbiológica das pilhas de compostagem


Coliformes IN nº 27 MAPA
Desvio Coeficiente de
Pilha Termotolerantes Média CONAMA
Padrão Variação
(NMP/100 mL) 375/2006
PS1 1,08E+03
1,21E+03 1,84E+02 15,2%
PS1 1,34E+03
PS2 9,33E+03
9,93E+03 8,49E+02 8,5%
PS2 1,05E+04
Máx. 1,00E+03
PU1 0,00E+00
0,00E+00 0,00E+00 -
PU1 0,00E+00
PU2 9,80E+02
5,20E+03 5,96E+03 114,7%
PU2 9,41E+03

Observa-se que a média das pilhas secas e pilhas úmidas não atingiram o máximo especificado pela Instrução Normativa nº 27
(BRASIL, 2006) e pela CONAMA 375/2006. Segundo Andreoli, Von Sperling e Fernandes (2001), as temperaturas acima de
60ºC são ideais para a eliminação de coliformes. Essas ideias corroboram com o autor Kiehl (2004), que afirma que
temperaturas entre 55°C e 60°C são letais para bactérias e ovos de helmintos. Portanto, sabe-se que a fase termófila é a fase
que proporciona a redução dos microrganismos resultante dos lodos de ETE.

399
Como nesta pesquisa não foi atingida a fase termófila, pois as temperaturas não ultrapassaram os 45°C, era esperado que não
houvesse redução total de patógenos, cujo o indicador é E.coli. A PU1 não apresentou E. coli no composto, possivelmente
porque na amostragem Tfinal a proporção de resíduos de poda era maior que o lodo, fato observado pela alta relação de
carbono apresentado na PU1, e sabe-se que a E. coli é encontrada no lodo.
O fato de não ter atingido o máximo especificado pela legislação não é problema para utilização do produto final, pois poderá
ser realizada uma desinfecção, uma alternativa seria a calagem, pois de acordo com Qasim (1999), quando adicionada a
dosagem apropriada de cal poderá haver redução de agentes patógenos igual ou superior a 99%, sendo mínimo o
desenvolvimento posterior de patógenos.

Teste de Germinação
A verificação quanto à maturidade e à fitotoxicidade do composto gerado, após o processo de compostagem das PS1, PS2,
PU1 e PU2, foi realizada por meio do teste de germinação. O teste foi desenvolvido conforme o capítulo de metodologia, e os
parâmetros analisados foram o percentual de germinação (PG) e o índice de velocidade de germinação (IVG), a Tabela 13
apresenta os resultados do teste de germinação que foram realizados em triplicata.

Tabela 13: PG e IVG dos compostos


Pilha PG (%) IVG (Máx. 100) Média PG Desvio Padrão Média IVG Desvio Padrão
PS1 92 70,9
PS1 92 70,9 92 71,3
PS1 92 72,1
0,5 4,15
PS2 96 83,5
PS2 92 77,7 93 79,6
PS2 92 77,7
PU1 92 83,5
PU1 - - 92 80,06
PU1 92 77,7
3 1,845
PU2 100 84
PU2 - - 98 83,75
PU2 96 83,5
Branco 92 70 92 - 70 ,00 -

Para um determinado composto ser considerado maduro e isento de fitotoxinas, o PG e o IVG deverão ter uma relação entre a
amostra testada e a amostra controle (branco) superiores a 90%. (SILVA E VILLAS BÔAS, 2007).
Tanto as pilhas úmidas como as pilhas secas atingiram satisfatoriamente os índices quando comparados com a amostra
controle. Uma amostra da PU1 e PU2 foi desconsiderada, pois as mesmas secaram na placa de Petry e na amostra PS2 ocorreu
a contaminação com alguns sólidos no momento da passagem para placa de Petry, mas isso não influenciou no resultado do
teste de germinação. Todas as pilhas se desenvolveram igualmente ou superior ao branco, como pode ser observado no Tabela
13 item PG (%). Sendo assim, a qualidade de um composto pode ser medida por meio de sua estabilidade e humificação.
(LIMA, 2006). De acordo com Miller (1992), um composto humificado é aquele que não produz efeitos inibitórios ou
fitotóxicos às plantas.
Os autores Tiquia e Tam (1998) realizaram uma pesquisa utilizando material proveniente de compostagem de cama de suínos,
que recebeu a adição de dejetos líquidos. Foi observado que no 49º dia de compostagem, a germinação chegou a valores de
80% e 100%, similares ao controle, enquanto que no primeiro dia de compostagem não ocorreu germinação, devido à alta
toxidade do material. Portanto, pode-se afirmar que tanto as pilhas úmidas como secas atingiram a maturação do composto,
estando livre de fitotoxinas. A Figura 10 apresenta os resultados dos testes realizados.

400
Figura 10 - Teste de germinação (contagem 7° dia)

Considerações Finais
A variação de volume nas pilhas secas e úmidas obtiveram percentuais que contribuíram para a confirmação do processo de
compostagem, apresentando uma redução de volume 56% para pilhas secas e 50% para pilhas úmidas. Esse método de
compostagem foi eficiente para o tratamento do lodo de esgoto obtido no processo de Tratamento de Efluentes.
Porém, nem as pilhas secas nem as pilhas úmidas, atingiram a fase termófila, ou seja, ultrapassaram os 45°C, o que contribuiu
para que ambos os compostos ficassem acima do limite estabelecido pela CONAMA 375/2006 e Instrução Normativa n° 27 do
MAPA para coliformes termotolerantes, tornando o produto da compostagem passível de um processo suplementar de
sanitização, como por exemplo, a o processo de calagem.
Quanto aos parâmetros químicos, todas as pilhas geraram produtos conforme a especificação da normativa n° 25 do MAPA, o
que viabiliza a sua utilização agronômica para os parâmetros avaliados nesta pesquisa.
Tanto as pilhas secas como as pilhas úmidas no final do processo de compostagem obtiveram características físicas
estabilizadas, como coloração escura e odor semelhante ao de “terra molhada”.
Observou-se que nenhuma pilha apresentou maus odores, vetores e lixiviados ao longo do processo de compostagem. Conclui-
se que a umidade obtida ao logo do processo foi suficiente para manter uma condição operacional satisfatório do ponto de vista
sanitário, mesmo nas pilhas úmidas.
Quanto ao teste de germinação todas as pilhas confirmaram a ausência de fitotoxicidade e uma boa maturação do composto
final.
Portanto, conclui-se que a compostagem utilizando o lodo úmido tem potencial para ser uma solução de tratamento deste
resíduo, ou seja, o processo de secagem do lodo pode ser eliminado. Contudo, a diferença de eficiência entre ambos é pequena
e o lodo disposto alguns dias em leitos de secagem facilita mais o processo de montagem das pilhas.

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403
5SSS151
METODOLOGIAS PARA MONITORAMENTO DOS PROCESSOS
EROSIVOS NO BANHADO GRANDE - BACIA HIDROGRÁFICA DO
RIO GRAVATAÍ
Ma. Cecilia Balsamo Etchelar¹, Me. Rodrigo da Silva Ferraz², Dr. Laurindo Antonio Guasselli³
1 UERGS, cecibalsamo@gmail.com; 2 UFRGS, rferraz1980@gmail.com; 3 UFRGS, laurindo.guasselli@ufrgs.br.

RESUMO
A falta de manejo na Área de Preservação Ambiental do Banhado Grande (APABG), levou a ocorrência de processo erosivo
em forma de voçoroca no Banhado Grande. Nesse sentido, o objetivo deste estudo, é aplicar técnicas de mapeamento para
viabilizar o seu monitoramento. O mapeamento dos processos erosivos através de imagens satelitais, torna-se um importante
técnica para áreas de grande extensão e de difícil acesso como se configura as áreas de banhado. Com a varredura do Laser
Scanner Terrestre, obteve-se o modelo digital do terreno para a criação de perfis topográficos que ajudaram a dimensionar a
altura, largura e as áreas de deposição e erosão de sedimentos na margem do canal da voçoroca. Se faz necessário continuar o
monitoramento da voçoroca para um diagnóstico e um prognóstico correto, possibilitando a implementação adequada de
técnicas para recuperação da área.

Palavras-Chaves: Banhado; erosão; “laser scanner” terrestre.

ABSTRACT
The lack of a Management Plan in the Area of Environmental Preservation of the Great Plains (EPABG), led to the occurrence
of erosive process in the form of gullies at the Banhado Grande. In this sense, the objective of this study is to apply mapping
techniques to enable its monitoring. The mapping of the erosive processes through satellite images, becomes an important
technique for areas of great extension and of difficult access as it configures the areas of plated. With the scanning of the
Terrestrial Laser Scanner, the digital terrain model was obtained for the creation of topographic profiles that helped to size the
height, width and the areas of deposition and erosion of sediments in the margin of the gutter channel. It is necessary to
continue the monitoring of the gully for a diagnosis and a correct prognosis, allowing the adequate implementation of
techniques for recovery of the area.

Keywords: Swamp; erosion; laser scanner.

INTRODUÇÃO
As áreas planas e inundáveis da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí (BHRG), têm sido amplamente utilizadas para
agricultura e pecuária intensiva, como produção de arroz e pastejo de gado. Esse uso agrícola intensivo, a partir da drenagem
das áreas inundáveis para o cultivo de arroz, transformou alguns cursos d’água em canais de irrigação, impactando todo o
sistema hidrológico das Áreas Úmidas (AUs) (GUASSELLI, ETCHELAR e BELLOLI, 2013; BRENNER e GUASSELLI,
2015). Com a retificação e canalização não cimentada do rio Gravataí, a partir da escavação e abertura de um canal retilíneo
(SCHEREN, 2014) que tinha como objetivo o início do processo de drenagem do Banhado Grande, o trecho canalizado passou
de meândrico para retilíneo, com um consequente aumento da velocidade da água (BRENNER, 2015). Estas alterações
levaram a um acelerado processo erosivo em forma de voçoroca (ETCHELAR, 2014) em uma das principais nascentes do rio
Gravataí, o Banhado Grande. Os processos erosivos são intensificados quando há interferência humana, a exemplo do manejo
inadequado do solo, fato causador de enormes prejuízos ao ambiente (RIBEIRO, TOCANTINS e FIGUEIREDO, 2013).
O “Laser Scanner” terrestre (LST) utiliza a tecnologia LIDAR (Light Detection and Ranging - detecção de distâncias

404
através da luz) na aquisição de pontos com coordenadas tridimensionais, gerando dados a partir de nuvens de pontos. Nas
últimas décadas, este tipo de sistema de varredura tem sido utilizado em estudos fluviais (HOHENTHAL et al., 2011). A
moderna tecnologia de imagem panorâmica digital permite o uso integrado de dados de varredura a laser e imagens
panorâmicas, aumentando as informações de conteúdo dos modelos 3D em ambientes ribeirinhos (ALHO et al., 2011).
SHAN E TOTH (2008) classificam os LST em função do princípio de medição de distâncias em três categorias:
Triangulação, Diferença de Fase e Tempo de Vôo de Sinal. Os LST de triangulação são os denominados lasers de mão.
Possuem uma base com uma distância fixa e medidores que registram os ângulos de emissão e recepção e por lei dos senos ou
por intercessão fotogramétrica registram as coordenadas. Os de diferença de fase registram as distâncias medidas em função da
diferença de fase entre o pulso emitido e o pulso refletido pelas superfícies. Os LST de Tempo de vôo de Sinal medem as
distâncias em função do tempo entre o pulso emitido e refletido pelas superfícies e multiplicam esse valor pelo valor da
velocidade da luz (FERRAZ, 2017).
Nesse sentido, o objetivo deste estudo é aplicar técnicas para o mapeamento da voçoroca e o monitoramento da área
de erosão no Banhado Grande.
A Área de proteção Ambiental do Banhado Grande (APABG), Figura 1, localiza-se na região metropolitana de Porto
Alegre. Apesar de abrigar um expressivo contingente populacional, são encontradas áreas de importância para a conservação
da vida silvestre e para a gestão dos recursos hídricos, como é o caso do Banhado Grande (FZB, 2001).

Figura 1. Mapa de localização da voçoroca no Banhado Grande, APABG. Fonte: LAGAM. Elaborado por: Etchelar, C. B.

MATERIAIS E MÉTODOS

A construção metodológica deste estudo dividiu-se nas seguintes etapas: (a) revisão bibliográfica sobre as temáticas
envolvidas; (b) trabalhos de campo na área de estudo que compreenderam percursos terrestres e trechos fluviais; (c)

405
mapeamento da evolução do processo erosivo através de imagens satelitais; e (d) mapeamento com Laser Scanner Terrestre
para levantamento do processo erosivo.
Para a elaboração da análise temporal foram elaborados mosaicos das imagens disponíveis no software Google Earth
Pro, da área do Banhado Grande, das seguintes datas: (a) 14/11/2003; (b) 18/03/2010; e (c) 29/07/2015. Os mosaicos foram
georreferenciados no software ArcGIS 10.3. No ArcMap os processos erosivos, identificados nos mosaicos, foram vetorizados
e sobrepostos. Permitindo analisar o avanço/direção da voçoroca e do canal de drenagem na área do Banhado Grande.
O levantamento com o LST foi realizado em 28 de junho 2017, utilizando o LST de modelo Renishaw (MDL)
Quarryman® Pro LR 3D sistema de varredura a laser. Esse equipamento tem as seguintes especificações: Comprimento de
onda 905 m; resolução da nuvem de pontos de 1cm; sistema Laser classificação Classe 3R; Gama vertical de -45 ° a 80 ° e
horizontal de 0 ° a 360°, instalado no tripé com base nivelante com prumo óptico usado para garantir a correta centralização da
unidade sobre as marcas fixas. Classificação em função do método de medição de distância: Tempo de voo de sinal.
O levantamento da varredura de cada nuvem de pontos foi realizado em retângulos com resolução configurável de
1cm no método estático apenas no plano horizontal. O pós-processamento para o registro das nuvens de pontos foi realizado no
software Cloud Compare v 2.8.3D, projetado para realizar uma comparação direta entre nuvens de pontos de forma manual.
No software MDL Face Pro 3D realizou-se a conversão da nuvem de pontos de formato mdl. para txt. Para obter os dados de
altitude da nuvem de pontos, os dados foram salvos em formato LAS, permitindo assim a leitura e interpretação destes dados
no software ArcGis 10.3.

Tabela 1. Dados das nuvens de ponto. Elaborado por: ETCHELAR, C. B.

Para o Modelo Digital do Terreno (MDT) a nuvem de pontos passou pelo processo manual da retirada da vegetação
no software Cloud Compare. Este arquivo foi transformado em formato ASCII cloud (que mantém os valores de x; y; z). O
MDE e o MDT foram gerados por meio da técnica de interpolação Thin Plate Spline (TPS) no software SAGAGIS. Esse
interpolador gera uma superfície que minimize a curvatura entre as amostras, gerando uma superfície suavizada (BARBOSA et
al., 2008).
O perfil topográfico é a representação gráfica de um corte vertical do terreno. Para este trabalho foi elaborado a partir
do MDT no software ArcGis 10.3. A partir do 3D Analystic>Interpolate Line>Create Profile Graph.

RESULTADOS

O mapeamento dos processos erosivos através de imagens satelitais é uma importante técnica para áreas de grande
extensão e de difícil acesso como se configura a área do Banhado Grande. Este tipo de monitoramento tem a vantagem de ser

406
realizado em gabinete, sem a necessidade do campo. A vetorização de parte da voçoroca e do canal de drenagem a partir dos
mosaicos permitiu analisar a evolução em uma escala temporal do processo erosivo entre os anos de 2003, 2010 e 2015.
O recorte desta área do banhado, Figura 2, compreende a porção a jusante da voçoroca e parte do canal de drenagem.
Na vetorização dos processos erosivos em 2003 o canal e a voçoroca evidenciam um ativo processo erosivo caracterizado pela
presença de formas circulares (indicando um processo de solapamento de suas bordas). Na vetorização de 2010, houve um
acelerado avanço na erosão da voçoroca, que pode estar associado ao aumento da vazão pelo alargamento e retificação das
circulares no canal de drenagem. Este alargamento do canal e da voçoroca é mais evidente na imagem de 2015, onde os
processos erosivos se mantêm ativos com perdas substanciais de solo presente nas duas margens do canal de drenagem e na
voçoroca.

Figura 2. Análise temporal de trecho do canal e da voçoroca no Banhado Grande, nos anos de 2003, 2010 e 2015. Fonte:
Google Earth Pro Elaborado por: ETCHELAR, C. B.

O Modelo Digital do Terreno (MDT) pode ser obtido da nuvem de pontos LASER por meio de um processo de
filtragem, que consiste na remoção dos pontos que não pertencem à superfície do terreno, ou seja, aqueles que se encontram
acima do solo, tais como construções, árvores, entre outros (FERNANDES et al. 2017). O MDT é utilizado como informação
base para diversos estudos, como mapeamento digital de solos, gestão de desastres e projetos de engenharia (RUIZ et al.,
2015).
Já o Modelo Digital de Elevação (MDE) é a forma mais utilizada para representar uma superfície de maneira digital
com base em um conjunto de pontos com coordenadas tridimensionais. Representação de uma superfície topográfica, onde
elevações do terreno podem ser representadas computacionalmente por um conjunto de pontos regularmente distribuídos

407
(WOLF e DEWWITT, 2000).
A partir dos pontos da varredura por laser scanner terrestre da cena (Figura 3c), sem a manipulação de dados ou pré-
processamento (com a presença da vegetação e pontos que representam ruídos) obtivemos o MDE da área. E a partir da nuvem
pós-processada (retirada da vegetação e pontos aleatórios de forma visual), que contém apenas as informações do terreno
(Figura 3d), obtivemos o MDT.
A diferença do resultado entre o MDE (Figura 3a) e o MDT (Figura 3b) é de 7,96 m. O que evidencia a importância
do pré-processamento da nuvem para melhor acurácia dos dados, de grande relevância por tratar-se de uma de erosão em uma
área muito plana de banhado. Uma boa acurácia é de grande importância para estudos que lidam com questões relacionadas à
organização, planejamento e gestão do espaço geográfico (OLIVEIRA e FRANCELINO, 2013).

Figura 3. Dados de elevação da nuvem de pontos do levantamento realizado 28/07/2017 na área da voçoroca: a) Nuvem sem
filtro; b) Nuvem com cortes. Elaborado por: ETCHELAR, C. B.

408
Observa-se que no MDE, existem interferências (linhas) ou ruídos na imagem, associado a interpolação de pontos
aleatórios que se encontravam na nuvem “bruta” (sem pré-processamento).
Para um melhor entendimento da área, foram desenhados perfis topográficos no MDT para análise do canal da
voçoroca e do barranco. Os gráficos apresentam a voçoroca com um detalhamento maior da forma do barranco, através das
linhas presentes nos gráficos.
O perfil topográfico, Figura 4, gerado pelo transecto 1-2 expuseram uma diferença entre as margens, tanto de altura,
quando na forma abrupta da margem esquerda de montante para jusante, representando assim, a margem erosiva do canal da
voçoroca, ao contrário da margem direita onde existe uma suavização do barranco, demonstrando ser uma área de depósitos de
sedimentos.

Figura 4. Perfil topográfico sobre MDT. Elaborado por: ETCHELAR C. B.

Os transectos 3-2 e 5-6 correspondem ao barranco da margem direita do canal da voçoroca. Estes perfis ratificam uma
margem deposicional de sedimentos, principalmente no transecto 5-6 que exibe a linha do gráfico de forma não íngreme com
declividade menor que o transecto 3-2. Apesar de haver a representação da escala na Figura 5.1, além da forma do relevo, os

409
transectos topográficos ajudam a dimensionar a altura e largura da área de estudo, estas informações corroboram com estudos
futuros de planejamento e projetos que visam a recuperação da área erodida.

CONCLUSÃO

O monitoramento com o uso de imagens de satélites mostrou-se eficaz na análise temporal da área erodida e
demonstrou a evolução da voçoroca e a estimativa da área da erosão. É uma técnica de baixo custo e pode ser realizada em
gabinete.
Apesar do uso do LST na área de banhado se restringir a períodos em que haja viabilidade de acesso ao local e a
visibilidade do talude da erosão para a sua varredura, esta tecnologia mostra-se uma ferramenta com grande potencial para o
estudo de voçorocas em virtude de sua alta precisão e rapidez na coleta de dados em campo. Gera modelos digitais de elevação
com alta precisão, além do fornecimento de dados como os locais de deposição e erosão de sedimentos e as dimensões da área
estudada a partir do perfil topográfico.
Contudo, se faz necessário a continuidade do monitoramento do processo erosivo na área do Banhado Grande,
visando o melhor prognóstico de correta implementação de técnicas de bioengenharia para a recuperação da área.

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411
5SSS152
PANORAMA DA BACIA DO RIO DOCE QUANTO À COBERTURA
POR PLANOS MUNICIPAIS DE SANEAMENTO BÁSICO (PMSB)
Fabiano Henrique da Silva Alves 1, Gabriela Soares Pereira2, Anderson de Assis Morais3
1Universidade Federal de Itajubá-UNIFEI, campus Itabira, e-mail: fhsalves@bol.com.br; 2Universidade Federal
de Itajubá-UNIFEI, campus Itabira, e-mail: gabrielasoares_02@hotmail.com; 3Universidade Federal de Itajubá-
UNIFEI, campus Itabira, e-mail: andersondeassis@unifei.edu.br

Palavras-chave: PMSB; Saneamento; Qualidade socioambiental.

Resumo
A Lei de Saneamento Básico, n.º 11.445/2007 (Brasil, 2007) estabelece que todo Município tem obrigação de elaborar seu
Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB). Já o Decreto nº 7.217/2010 (Brasil, 2010) estabelece o prazo para esse
cumprimento, de modo que essa será condição para o acesso a recursos federais, destinados a serviços de saneamento básico.
O prazo, inicialmente estabelecido como 31 de dezembro de 2013, já se prorrogou por três vezes, sendo agora o de 31 de
dezembro de 2019. Estando o saneamento básico como um dos principais problemas da bacia do rio Doce, entende-se que, a
partir dos planos, os municípios estejam aptos a investirem em projetos de saneamento básico, no intuito de contribuir com a
qualidade socioambiental da bacia como um todo. Desta forma, em 2013, os comitês da Bacia do Rio Doce tiveram a iniciativa
de apoiar os municípios com sede no território desta bacia para elaboração de seus planos. Os municípios manifestaram
interesse a partir da abertura de editais de chamamento público. Em seguida, contratações de consultoria especializada para
apoio aos municípios foram realizadas pela entidade atuante como agência de água da bacia – Instituto BioAtlântica. Esse
trabalho apresenta um panorama sobre os PMSBs dos municípios da bacia do rio Doce. Como resultado da coleta de
informações, obteve-se a informação de que, atualmente, todos os 228 municípios dessa bacia têm PMSB, dos 211 municípios
com sede em seu território, 165 tiveram a elaboração de seus planos apoiados com recursos da cobrança pelo uso da água.
Deste total elaborado com apoio dos comitês, 157 foram convertidos em lei municipal.

Introdução
A Bacia Hidrográfica do Rio Doce (Figura 1) possui área de drenagem de 86.715 km², dentre os quais 86% estão no Leste
mineiro e 14% no Centro-Norte do Espírito Santo, englobando um total de 228 municípios, sendo 200 mineiros e 28 capixabas.
Do total de 228 municípios, 211 têm sede no território da bacia.
A bacia conta com a atuação de doze comitês de bacias hidrográficas (CBHs), sendo seis em Minas Gerais (Piranga,
Piracicaba, Santo Antônio, Suaçuí, Caratinga e Manhuaçu), cinco no Espírito Santo (Guandu, Santa Joana, Santa Maria,
Pontões & Lagoas e Barra Seca & Foz) e um comitê de integração (o CBH-Doce), e, ainda, conta com uma entidade
delegatária e equiparada às funções de agência de água, o Instituto BioAtlântica (IBIO).
Segundo o PIRH-Doce (2010), o manejo inadequado do solo e a urbanização da bacia contribuem significativamente para a
ocorrência de intensos processos erosivos, contaminação dos cursos d’água por esgotos domésticos, desmatamento
indiscriminado, dentre outros aspectos que agravam a escassez hídrica.
A Lei do Saneamento Básico, Lei Federal nº 11.445/2007 (Brasil, 2007), estabelece que todo município tem obrigação de
elaborar seu Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB). A universalização do acesso ao saneamento básico, com
quantidade, igualdade, continuidade e controle social é um desafio que o poder público municipal, como titular destes serviços,
deve encarar como um dos mais significativos. Nesse sentido, o Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB) se constitui
em importante ferramenta de planejamento e gestão para alcançar a melhoria das condições sanitárias e ambientais do
município e, consequentemente, da qualidade de vida da população.
O Decreto nº 7.217/2010 (Brasil, 2010), que regulamenta a Lei nº 11.445/2007 (Brasil, 2007), estabeleceu o primeiro prazo
para esse cumprimento, de modo que essa será condição para o acesso a recursos federais, destinados a serviços de saneamento
básico. O prazo, inicialmente estabelecido como 31 de dezembro de 2013, já se prorrogou por três vezes, pelos decretos
federais nº 8.211/2014 (Brasil, 2014), nº 8.629/2015 (Brasil, 2015) e, por fim, pelo Decreto nº 9.254, de 29 de dezembro de
2017 (Brasil, 2017), que estabelece o prazo de 31 de dezembro de 2019.
Desta forma, considerando o prazo inicialmente estabelecido, os comitês da bacia do rio Doce, em 2013, tiveram a iniciativa de
apoiar os municípios com sede nesta bacia, o que corresponde a 211 municípios, para elaboração de seus planos. Sendo o
saneamento básico um dos principais problemas enfrentados na bacia, essa iniciativa visa que, a partir dos planos, os
municípios estejam aptos a investirem em projetos de saneamento básico, no intuito de contribuir com a qualidade
socioambiental de toda a região. Esta iniciativa foi a principal ação dos comitês de bacia do rio Doce, utilizando-se dos

412
recursos da cobrança pelo uso da água, durante o período de 2012 a 2018.

Figura 1: Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (Ecoplan-Lume, 2010)

Cabe ainda ressaltar que a Lei Federal nº 12.305/2010 (Brasil, 2010), que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
determinou a elaboração do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) pelos municípios brasileiros.
Ademais, uma vez atendidas as solicitações da referida Lei e do Decreto nº 7.404/2010 (Brasil, 2010) que a regulamenta, o
PGIRS pode ser incorporado ao PMSB.
Portanto, o conteúdo da Infraestrutura de Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos dos PMSBs contratados pelo IBIO,
na bacia hidrográfica do rio Doce, obrigatoriamente, contemplou o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos,
de acordo com as determinações legais.
Nesse trabalho é apresentado o panorama atual dos PMSBs realizados na bacia hidrográfica do rio Doce, nos estados de Minas
Gerais e Espírito Santo.

Metodologia
Para este trabalho coletaram-se informações junto ao Instituto Bioatlântica (IBIO) relativas aos Planos Municipais de
Saneamento Básico (PMSB) elaborados com apoio dos comitês dessa bacia, inclusive, informações contidas em seu Relatório
de Gestão de 2018. Durante o período de 2018 e 2019, foi realizado contato com cada um dos municípios da bacia do rio Doce
para se obter informação quanto aos PMSB terem sido convertidos em lei municipal. Por fim, realizou-se uma comparação
entre essas informações coletadas e as obtidas pelo IBGE em sua Pesquisa de Informações Básicas Municipais – MUNIC, de
2017, sobre dados de saneamento básico.
A metodologia para apoio, pelos comitês, aos municípios da bacia do rio Doce com recursos da cobrança pelo uso da água, se
deu da seguinte maneira: A entidade delegatária e equiparada às funções de agência de água, o Instituto BioAtlântica (IBIO),
elaborou e abriu editais de chamamento público para cada uma das Unidades de Gestão de Recursos Hídricos-UGRH
(UGRH1-Piranga, UGRH2-Piracicaba, UGRH3-Santo Antônio, UGRH4-Suaçuí, UGRH5-Caratinga, UGRH6-Manhuaçu,
UGRH7-Guandu, UGRH8-Santa Maria e UGRH9-São José) e todos os municípios aptos com sede na bacia poderiam
manifestar interesse para receberem o apoio na elaboração dos PMSB. Essa manifestação se deu a partir do envio do Termo de
Manifestação de Interesse e do Formulário de Informações Básicas de Saneamento do Município.
O Edital previa critérios para classificação dos Municípios, entretanto, foi possível contemplar todos aqueles que pleitearam o
apoio. Após a seleção e divulgação do resultado final, os municípios selecionados foram convocados a assinarem o Termo de
Compromisso e Cooperação Mútua, celebrado entre o Município e o IBIO. Em seguida, foram contratadas empresas de

413
consultoria especializada para apoio aos municípios. Cabe mencionar que o Termo de Compromisso e Cooperação Mútua
previa como obrigações do Município, dentre outras, encaminhar, considerando a Lei Orgânica do Município, a minuta do
projeto de lei do Plano Municipal de Saneamento Básico para a Câmara Municipal e acompanhar os trâmites até sua
aprovação.
Os PMSB de cada um dos Municípios contemplados com o apoio dos CBHs abrangem oito Produtos e contaram com um
grande número de atividades de controle social, como oficinas, seminários e audiências públicas, além da definição de
representantes da população para participar do Comitê Executivo, Comitê de Coordenação e grupo de delegados, que
acompanhavam o PMSB mais de perto e realizavam as atividades de mobilização social necessárias. Vale comentar também
que, quando o Município possuía distritos e localidades, um número ainda maior de eventos e atividades foi realizado, de
forma a contemplar todo o território municipal.

Resultados e discussões
No que diz respeito ao trabalho de apoio dos comitês aos municípios, como resultado, ao longo do período de 2013 a 2016,
foram realizados 19 Atos Convocatórios (editais de licitação) para contratação das empresas de apoio à elaboração dos PMSB
e ainda 5 Atos Convocatórios para contratação de consultores que apoiaram os municípios nas análises dos produtos
desenvolvidos. Ao todo, aproximadamente, 22 milhões de reais foram investidos nos PMSB.
Atualmente, dos 211 municípios elegíveis, 165 já possuem PMSB concluídos com apoio dos recursos da cobrança pelo uso da
água na bacia do rio Doce. Os demais 46 municípios com sede na bacia não manifestaram interesse nos editais de
chamamento, informando que já haviam elaborado os PMSB por meio de outras instituições ou com recursos próprios.
Recentemente, alguns Municípios que não tiveram o PMSB elaborado com o apoio dos CBHs, têm solicitado a revisão de seus
PMSB, alegando que os mesmos apresentam qualidade ruim e não atendem ao conteúdo mínimo previsto em Lei. Porém, no
momento, não há previsão de novas contratações de apoio a revisões de PMSB pelos comitês da bacia do Doce, estando os
recursos da cobrança pelo uso da água, alocados para saneamento, direcionados especificamente para projetos de
abastecimento de água e esgotamento sanitário.
O mapa da Figura 2 apresenta os 165 municípios que foram contemplados com o apoio na elaboração de PMSB, em toda a
bacia do rio Doce.

Figura 2: Municípios contemplados com PMSB com recursos da cobrança pelo uso da água na bacia do rio Doce (IBIO,
2018).

414
Além do importante resultado, ou seja, a bacia hidrográfica do rio Doce encontrar-se amplamente coberta com os PMSB, o que
possibilita aos municípios buscar por recursos para elaboração de projetos e execução de obras de saneamento, há ainda o
resultado alcançado de fortalecimento dos comitês da bacia hidrográfica do rio Doce quando da divulgação dos trabalhos
realizados, como até mesmo da mobilização da sociedade em prol da bacia.
Em relação aos dados obtidos para este trabalho, conforme a Pesquisa de Informações Básicas Municipais – MUNIC (IBGE,
2017), são os indicados na Figura 3, a seguir, os dados de municípios com PMSB elaborado e em elaboração em todo o Brasil
no ano de 2017.

Figura 3: Panorama PMSB no Brasil em 2017 (Fonte: IBGE, 2017)

A partir dos mesmos dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais – MUNIC (IBGE, 2017), selecionou-se aqueles
relativos à bacia do rio Doce, que podem ser observados na Figura 4. Pode-se inferir que, já em 2017, a bacia do rio Doce já
possuía uma proporção maior de municípios com o PMSB concluído e em elaboração do que o Brasil como um todo. Enquanto
em 2017, apenas 42% dos municípios brasileiros apresentavam PMSB concluído, na bacia do rio Doce, essa percentagem já
era de 72%. Ressaltando que foram considerados todos os municípios da bacia nessa primeira análise, e não só aqueles que
receberam apoio dos CBHs.

Figura 4: Panorama PMSB na bacia do rio Doce em 2017 (Fonte: IBGE, 2017)

Selecionando os dados do IBGE para os municípios do Brasil que em 2017 tinham PMSB elaborados com apoio dos comitês
de bacia hidrográfica, obtiveram-se as informações apresentadas na Figura 5.

415
Figura 5: Panorama PMSB no Brasil em 2017 em relação ao apoio com recursos da cobrança pelo uso da água (Fonte:
IBGE, 2017)

Selecionando os dados do IBGE para os municípios da bacia do rio Doce que em 2017 tinham PMSB elaborados com apoio
dos comitês de bacia hidrográfica, obtiveram-se as informações apresentadas na Figura 6. Pode se inferir que, já em 2017, na
bacia do rio Doce, 62% dos PMSB finalizados foram apoiados pelos CBHs, enquanto que, em todo o Brasil, essa percentagem
cai para 14%.

Figura 6: Panorama PMSB na bacia do rio Doce em 2017 em relação ao apoio com recursos da cobrança pelo uso da
água. (Fonte: IBGE, 2017)

Já a partir de informações divulgadas pelo IBIO em seu Relatório de Gestão de 2018 ou obtidas junto ao Instituto no ano de
2019, compilou-se informações atualizadas sobre os PMSB, apoiados, ou não, pelos CBHs com recursos da cobrança pelo uso
da água. Essas informações são apresentadas na Figura 7, a seguir. Através delas, pode-se verificar que 100% da bacia do rio
Doce encontra-se coberta com PMSBs finalizados e que, em 2019, a percentagem de planos com apoio dos CBHs se encontra
em 72%.

416
Figura 7: Panorama PMSB na bacia do rio Doce em 2019 em relação ao apoio com recursos da cobrança pelo uso da
água (Fonte: IBIO, 2019)

Até o mês de setembro de 2019, obteve-se junto ao IBIO as seguintes informações, coletadas por meio de contato com as
Prefeituras, referentes a todos os municípios da bacia do rio Doce:
 De todos os 228 municípios da bacia do rio Doce, 228, ou seja, 100% dos municípios da bacia, com sede ou não
dentro desse território, já apresentam Plano Municipal de Saneamento Básico.
 De todos os 228 municípios da bacia do rio Doce, 165, ou seja, 72%, apresentam seus Planos Municipal de
Saneamento Básico elaborados pelos comitês da bacia do rio Doce, conforme Figura 7.
 De todos os 228 municípios da bacia do rio Doce, 211, ou seja, 92,5%, apresentam seus Planos Municipal de
Saneamento Básico convertidos em lei municipal, conforme Figura 8.

Figura 8: Panorama PMSB convertidos em lei municipal na bacia do rio Doce em 2019 (Fonte: IBIO, 2019)

Até o mês de setembro de 2019, obtiveram-se as seguintes informações sobre os municípios da bacia do rio Doce
contemplados com apoio dos CBHs para a elaboração de PMSB:
 De todos os 165 municípios da bacia do rio Doce contemplados com apoio na elaboração de PMSB pelos CBHs, 157,
ou seja, 95% apresentam seus Planos Municipais de Saneamento Básico convertidos em lei municipal, conforme

417
Figura 9.
 De todos os 165 municípios da bacia do rio Doce contemplados com apoio na elaboração de PMSB pelos CBHs, 8, ou
seja, 5%, ou não retornaram às solicitações ou realmente ainda não apresentam PMSB convertido em lei municipal.

Figura 9: Panorama PMSB convertidos em lei municipal na bacia do rio Doce em 2019, em relação àqueles apoiados
com recursos da cobrança pelo uso da água (Fonte: IBIO, 2019)

Considerações finais
Pode-se notar como foi importante a atuação dos comitês da bacia do rio Doce nos últimos anos, quanto à cobertura dos
municípios da bacia com PMSBs. Uma vez que grande parte dos municípios da bacia apresentam PMSB, inclusive aprovados
devidamente por lei municipal, outras inciativas podem ser implementadas tanto pelos próprios municípios, quanto pelos CBH,
melhorando a situação do saneamento na bacia.
Os CBHs e IBIO têm se envolvido e acompanhado a aprovação das leis nestes municípios e auxiliado na implantação dos
PMSB, por meio de apoio junto ao Ministério Público, realização de Seminários de Saneamento para capacitação e ainda
abertura de editais de chamamento para projetos de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Após as ações dos PMSB,
observa-se um maior interesse dos municípios para participar das reuniões dos CBH e maior compreensão da Política Nacional
de Recursos Hídricos e de sua importância.

Agradecimentos
Os autores agradecem à Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) – Campus Itabira, à Agência Nacional de Recursos
Hídricos – ANA, à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES e ao Programa de Mestrado
Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação dos Recursos Hídricos - ProfÁgua, projeto CAPES/ANA AUXPE nº
2717/2015.

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Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico. Disponível em: <
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419
5SSS155
MICRORGANISMOS NA VALORIZAÇÃO DE RESÍDUOS
AGROINDUSTRIAIS PARA OBTENÇÃO DE BIOPODUTOS: UMA
BREVE REVISÃO
Andréia Monique Lermen1, Paula Betina Hartmann2, Ana Paula dos Santos Farias3
1Universidade Federal da Fronteira Sul, e-mail: andreiamoniquelermen@hotmail.com; 2Universidade Federal da
Fronteira Sul, e-mail: paulahartmann7@gmail.com; 3Universidade Federal da Fronteira Sul, e-mail:
anapaula.farias@iffarroupilha.edu.br.

Palavras-chave: resíduos agroindustriais; enzimas; bioconversão microbiana;

Resumo
Com o desenvolvimento de tecnologias e o crescimento econômico, principalmente o acentuado progresso do setor
agroindustrial, ocorre concomitantemente o avanço na produção de alimentos, a fim de atender a demanda da população. À
medida que ocorre o aumento da produção, também se verifica a geração de subprodutos, que podem ser utilizados como
matéria-prima de diferentes processos. Na busca por fornecer um destino correto e sustentável aos resíduos agroindustriais,
busca-se gerar produtos de valor agregado e, entre eles, há as enzimas que podem ser produzidas, através de microrganismos.
Estas possuem uma ampla gama de aplicações na indústria alimentícia, de bebidas, em fertilizantes, na ração animal, em
detergentes, no bioetanol, em produtos de beleza, atividades biológicas, na indústria do couro, entre outros. Diante disso, o
objetivo deste trabalho foi realizar uma pesquisa sobre trabalhos que utilizaram resíduos agroindustriais para produzir enzimas,
através de microrganismos. Das enzimas estudadas, optou-se por apenas quatro, proteases, amilases, celulases e lipases. A
coleta de dados foi realizada utilizando as bases de dados SCOPUS e Portal Periódicos Capes. Após pesquisa, foram
encontrados diversos trabalhos que utilizaram variados resíduos agroindustriais, tanto de origem vegetal como animal. Estes
passaram por processos com microrganismos e obtiveram-se enzimas, que tiveram sua aplicação avaliada em diferentes setores
industriais.

Introdução

No final do século XX, houve um despertar da sociedade para com as problemáticas ambientais, além da consciência de
que a humanidade deveria buscar o equilíbrio entre os pilares econômicos, sociais e ambientais. Nesse meio, destaca-se o setor
agroindustrial, que teve um acentuado crescimento, colocando o Brasil em uma posição de destaque mundial (Rosa, 2011;
Pinto, 2005).
No Brasil, as agroindústrias têm investido no aumento da capacidade de processamento, a fim de produzir a quantidade
demandada de alimentos aos cidadãos. No entanto, à medida que a produção aumenta, também ocorre o aumento da geração de
subprodutos e resíduos. Os resíduos agroindustriais são gerados através do processamento de produtos de origem animal
(avicultura de corte, laticínios, aquicultura, etc.) e de origem vegetal (frutas, madeireiras, oleaginosas, fibrosas, etc.), sendo que
a produção, geralmente, ocorre de maneira sazonal, estando condicionada pela oferta da matéria-prima ou pela maturidade da
cultura. Esses resíduos podem tornar-se um inconveniente, devido a problemas de disposição final, vindo a causar poluição, no
entanto, também representam perdas de biomassa e de nutrientes de alto valor (Lima, 2019; Vargas, 2018; Costa Filho, 2017).
Partes dos resíduos gerados são utilizados como ingredientes na produção de ração animal, dispostos no campo, em
processos de geração de energia ou destinados a aterros sanitários. No entanto, a maior parte ainda é descartada sem tratamento
e de maneira incorreta, causando danos ao meio ambiente, como a poluição dos solos e de corpos hídricos, devido à lixiviação
de compostos (Melo et al., 2011; Rosa, 2011; Costa Filho, 2017).
Muitos resíduos descartados são compostos por fibras, vitaminas, antioxidantes, minerais e nutrientes essenciais para o
homem, sendo uma matéria-prima em potencial para o desenvolvimento de novos produtos. Aliado a isso, há o baixo custo e
alta disponibilidade destes resíduos, que despertam interesse dos pesquisadores na busca da recuperação, aproveitamento de
subprodutos e bioconversão a fim de obter produtos, como enzimas, álcoois, proteínas, biofertilizantes, ácidos orgânicos,
aminoácidos, biossurfactantes e outros metabólitos microbianos (Araújo, 2013; Nascimento Filho, 2015).
Dentre os produtos de valor agregado que são obtidos através da bioconversão, há as enzimas, que são proteínas que
catalisam reações químicas, essenciais para o metabolismo de todos os organismos vivos, participam da degradação de matéria
orgânica, na infecção do hospedeiro e deterioração dos alimentos. (Orlandelli et al., 2012). Muitos estudos estão sendo feitos
em relação à bioconversão microbiana de resíduos agroindustriais e acerca dos bioprodutos que são obtidos.

420
Metodologia

Este estudo caracteriza-se como uma revisão bibliográfica narrativa e não exaustiva acerca da bioconversão microbiana
de resíduos agroindustriais e dos bioprodutos obtidos. Foi realizado estudo exploratório da literatura científica sobre a
temática, compreendido pela criação de protocolo de busca, análise e seleção dos trabalhos encontrados. A coleta de dados foi
realizada utilizando as bases de dados SCOPUS e Portal Periódicos Capes. Os descritores utilizados foram “bioconversion”,
“agroindustrial waste”, “bioproducts”, “enzyme”, “protease”, “amylase”, “cellulase” e “lipase”, com a inclusão dos operadores
AND e OR. A busca na literatura foi realizada através da leitura e análise dos títulos e resumos e os artigos que não tinham
conexão com a temática proposta foram removidos da seleção.

Resultados e Discussão

Proteases

As proteases, também chamadas de peptidases, é a classe de enzimas capazes de hidrolisar ligações peptídicas em
proteínas e fragmentos de proteínas, além disso, possui grande importância comercial e fisiológica, integrando um dos grupos
mais importantes de enzimas industriais, correspondendo por cerca de 60% das vendas de enzimas utilizadas em indústrias
alimentícias, de couros, detergentes, medicamentos, fertilizantes, seda, recuperação de prata e produção de hidrolisados, entre
outros (Annamalai et al., 2014; Oliveira, 2011; Rao et al., 1998). Na Tabela 01, observa-se que empregando diferentes resíduos
agroindustriais como matéria-prima, é possível obter proteases através de microrganismos.
As proteases possuem aplicações na indústria alimentícia, incluindo sua utilização na fabricação de queijos, na produção
de hidrolisados de proteínas, clarificação de cervejas, bebidas, fermentação de molho de soja, produção industrial de biscoitos,
na panificação, no processo de amaciamento da carne, etc., atuando para melhorar o sabor, a textura, a digestibilidade e o valor
nutricional dos alimentos e bebidas (Murthy e Kusumoto, 2015; Rocha, 2010). Murthy e Kusumoto (2015), reportaram o
potencial uso da protease na indústria alimentícia, produzida através da fermentação do pó da polpa de batata com A. oryzae,
pois esta liberou glicina, que pode melhorar a palatabilidade dos alimentos.
Desde 1913, proteases são utilizadas na formulação de detergentes domésticos. Ressalta-se que, detergentes que são à
base de protease, tem demonstrado maior eficiência na limpeza, além de possuírem uma abordagem amiga do meio ambiente,
se comparados com os detergentes sintéticos. A produção de enzimas proteolíticas, utilizando resíduos agroindustriais, mostra-
se como uma abordagem promissora, pois estas são eficientes na remoção de manchas, sendo potencialmente úteis na indústria
de detergentes (Annamalai et al., 2014; Bhange et al., 2016; Reddy et al., 2017).
Na indústria do couro, faz-se o uso de muitos produtos químicos que podem poluir a água, juntamente com resíduos
sólidos. Além disso, o tratamento químico diminui a qualidade do couro. Devido a isso, o uso de enzimas no processamento do
couro tem crescido muito nos últimos anos, tornando o processo mais sustentável, além do couro obtido ser mais macio, limpo,
com uma superfície mais forte e com menos manchas (Lima, 2016; Kalaikumari et al., 2019).

421
Tabela 01. Utilização de matéria-prima para a produção de protease a partir de microrganismos.
Substrato Microrganismo Referência

Bagaço do caju e cascas de goiaba Saccharomyces cerevisiae Muniz (2017)

Murthy e Kusumoto
Pó de polpa de batata Aspergillus oryzae
(2015)

Bagaço de babaçu e farinha de babaçu Aspergillus awamori López et al. (2013)

Aspergillus niger e Aspergillus


Trigo e grãos de soja Novelli et al. (2017)
oryzae

Farelo de penas Bacillus sp. P7 Corrêa et al. (2014)

Penas de frango Bacillus subtilis DP1 Sanghvi et al. (2016)

Farinha de penas de frango, casca de batata e torta


Bacillus subtilis PF1 Bhange et al. (2016)
de colza

Pó de casca de camarão, pó de casca de caranguejo e


Bacillus alveayuensis CAS 5 Annamalai et al. (2014)
pó de lula

Penas de frango Bacillus pumilus GRK Reddy et al. (2017)

Palha de trigo, palha de arroz, casca de arroz e


Bacillus sp. BBXS-2 Qureshi et al. (2016)
bagaço de cana

Aspergillus terreus 31 e A.
Farelo de trigo e pena de frango Lima (2016)
terreus CM6

Bacillus 3 paralicheniformis
Penas de frango Kalaikumari et al. (2019)
MKU3

Soro de leite e resíduo de sorvete Aspergillus niger SIS 18 Amaral et al. (2017)

Resíduos da colheita de soja Penicillium spp. LEMI A8221 Cunha et al. (2016)

Penas de frango e farelo de penas de frango Bacillus sp. CL33A Oliveira (2015)

Resíduos de babaçu Aspergillus oryzae CCBP001 Silva (2017)

Casca de cupuaçu, semente de açaí, farelo de arroz,


Pleurotus ostreatoroseus Fonseca et al. (2014)
casca e coroa de abacaxi
Fonte: elaborado pelo autor.

Amilases

As amilases são enzimas pertencentes à classe das hidrolases, por catalisar a hidrólise de moléculas de amido, liberando
diversos produtos, como dextrinas, ciclodextrinas, maltose e glicose. Das enzimas industriais, as amilases estão entre as mais
importantes, por apresentar alta relevância em processos biotecnológicos representando 25% do mercado mundial de enzimas.
Estas possuem aplicações em diversos setores, como na indústria têxtil, em bebidas, na indústria alimentícia, na ração animal,
na indústria farmacêutica e química (Silva, 2017; Pereira, 2014).
Grande parte das amilases é proveniente de microrganismos, como fungos, leveduras e bactérias. Na Tabela 02,
verificam-se diferentes resíduos agroindustriais utilizados como substratos para a produção de amilase, a partir de
microrganismos.
Amilases possuem aplicação na indústria de detergentes, onde tem a função de catalisar a quebra de ligações químicas na
adição de água. O uso dessas enzimas em formulações de detergentes, além de aumentar a eficiência na remoção de manchas,

422
também os torna mais seguros ambientalmente e, nesse sentido, foram produzidas amilases, que posteriormente aplicadas na
remoção de manchas, demonstraram grande eficiência (Bhange et al., 2016; Qureshi et al., 2016; Ravindran et al.; 2019).

Tabela 02. Utilização de matéria-prima para a produção de amilase a partir de microrganismos.


Substrato Microrganismo Referência

Farinha de penas de frango, casca de batata e torta


Bacillus subtilis PF1 Bhange et al. (2016)
de colza

Palha de trigo, palha de arroz, casca de arroz e


Bacillus sp. BBXS-2 Qureshi et al. (2016)
bagaço de cana

Cevada Bacillus stearothermophilus Ravindran et al. (2019)

Bagaço de babaçu e farinha de babaçu Aspergillus awamori López et al. (2013)

Farelo de trigo, farinha de banana verde e farelo


Aspergillus oryzae Pereira (2014)
de bagaço de laranja

Cascas de batata doce Aspergillus niger Pereira et al. (2017)

Crueira Bacillus sp. ANRAS02 Costa et al. (2016)

Farelo de trigo, bagaço de mandioca e bagaço de Rhizopus microsporus var. oligosporus e


Gonçalves (2016)
cana de açúcar Saccharomyces cerevisiae

Aspergillus awamori e Saccharomyces


Farinha e torta de babaçu Cinelli (2012)
cerevisiae

Farelo de trigo, Farelo de soja, Casca de soja,


Penicillium sp. Basseto (2017)
casca de arroz, sabugo de milho e palha de milho

Endocarpo, mesocarpo e borra do coco de babaçu Aspergillus oryzae CCBP 001 Gama (2016)

Pó de resíduos de laranja Streptomyces sp. 20r Imen e Mahmoud (2015)

Bagaço de malte de cevada e bagaço de cana-de-


Aspergillus niger Lima (2019)
açúcar

Algaroba Metarhizium anisopliae Silva et al. (2018)

Aspergillus spp. (LEMI 1, LEMI 2 e LEMI


Casca de café Gusmão et al. (2014)
3)
Fonte: elaborado pelo autor.

No Brasil, com o surgimento dos carros biocombustíveis, o álcool voltou a ocupar um lugar de destaque, porém é
necessário aumentar a oferta do mesmo, além de buscar novas matérias-primas ou metodologias para produzi-lo. Nesse
contexto, o desenvolvimento de processos que utilizem resíduos agroindustriais vem ganhando bastante destaque. Estudos
utilizando cascas de batata doce (Pereira et al., 2017), crueira (Costa et al., 2016), farelo de trigo, bagaço de mandioca, bagaço
de cana de açúcar (Gonçalves, 2016) e farinha e torta de babaçu (Cinelli, 2012) foram desenvolvidos servindo como uma
alternativa econômica para o aumento na produção do bioetanol.

Celulases
Celulases são enzimas que constituem um complexo capaz de atuar sobre materiais celulósicos, promovendo sua
hidrólise. A maior parte dos resíduos agroindustriais podem ser convertidos em celulase e etanol, sendo que a maior parte da
biomassa lignocelulósica é composta por lignina, celulose e hemicelulose. Dentre os microrganismos, fungos e bactérias, são
os principais produtores de enzimas celulíticas, sendo que apresentam destaque entre eles os fungos filamentosos pelo fato de

423
secretarem grandes quantidades de enzimas. Entre as espécies de fungos filamentosos mais estudadas, encontram-se os gêneros
Penicillium sp., Humicola sp., Trichoderma sp., Fusarium sp., Aspergillus sp., entre outros (Castro, 2010; Cardoso, 2010).

Tabela 03. Utilização de matéria-prima para a produção de celulase a partir de microrganismos.


Substrato Microrganismo Referência

Bactérias Pseudoxanthonomas taiwanensis e


Cerda et al.
Casca de café Sphingobacterium composti e fungos Cyberlindnera
(2017)
jardinii e Barnettozyma californica

Penicillium sp., Rhizomucor sp. e Trichoderma Salomão, et


Bagaço de cana-de-açúcar
koningii al.(2019)

Gluconacetobacter
Casca de abacaxi e do caldo de cana Castro (2011)
swingsii sp.

Vázquez-
Penicillium funiculosum, Fusarium verticillioides e
Folhas de Moringa oleífera Montoya et al.
Cladosporium cladosporioides
(2019)

Gasparotto et al.
Bagaço de cana-de-açúcar Trichoderma reesei
(2014)

Casca de arroz, casca de soja, bagaço de cana e


Trichoderma reesei NRRL 3652 Astolfi (2014)
pó do palito de erva mate

Bagaço de cana-de-açúcar Trichoderma atroviride 102C1 e Streptomyces Silva et al.


misionensis B4 (2016)

Resíduos de folhas, bagaço de cana-de-açúcar e Cavalcante et al.


Aspergillus niger
sabugo de milho (2018)

Bagaço de cana-de-açúcar, palha de milho e


Aspergillus niger Aguiar (2010)
palha de trigo pré tratados

Casca de arroz, bagaço de cana-de-açúcar e soro


Aspergillus niger e Trichoderma reesei Rocha (2011)
de leite em pó

Coco verde (Cocus nucifera) Aspergillus sp. e Paecilomyces sp Santos (2018)

Mesocarpo Coco verde Aspergillus sp. Gervásio (2017)

Palha de arroz, casca de vagem de soja, bagaço


Singla e Taggar
de cana-de-açúcar, cascas de amendoim, caules Humicola insolens MTCC 1433
(2017)
de milho e casca de vagem de feijão
Fonte: elaborado pelo autor.

A fermentação em estado sólido, utilizando resíduos lignocelulósicos como fonte de carbono e indutor enzimático vem
sendo muito utilizada para reduzir os custos de produção da celulase. Esses resíduos são fontes abundantes, renováveis, baratos
e prontamente disponíveis de nutrientes para o crescimento de microrganismos produtores de celulases (Cavalcante et al.,
2018; Castro et al., 2011). Na Tabela 03, verifica-se diferentes estudos, onde foram empregados resíduos agroindustriais como
substratos, sendo fonte de nutrientes, para a produção de celulases através de microrganismos.
As celulases têm um fator de custo significativo na produção de etanol celulósico, principalmente em países onde não há
produção industrial de celulases, o que representa aproximadamente 40% do custo total. Por essa razão, muitos esforços têm
sido feitos para obter uma celulase de baixo custo, utilizando diferentes tecnologias e substratos. Os resíduos agroindustriais
apontam como substratos ideais para a fermentação microbiana, devido ao seu rico conteúdo de componentes orgânicos, baixo
custo e ampla disponibilidade (Singla e Taggar, 2017).

424
Lipases

Lipases são um grupo de enzimas que atuam sobre ligações éster, liberando ácidos graxos, diacilgliceróis,
monoacilgliceróis e glicerol. Estas vem destacando-se como biocatalisadores industriais em várias áreas, como a de óleos e
processamento de gorduras, panificação, fabricação de queijos, detergentes e limpeza da superfície (Oliveira e Pinotti, 2015).
As lipases podem ser obtidas através de fonte vegetal, animal ou microbiana, sendo esta última a mais utilizada
industrialmente nos dias atuais. Uma ferramenta para obter essas enzimas é a fermentação submersa e para produzi-las, o meio
de cultura usado é de extrema importância. Meios de cultura que contenham resíduos agroindustriais como substrato são ideais
para uso em processos biotecnológicos, devido a acessibilidade, ao baixo custo, e composições que possuem carbono,
nitrogênio e minerais, além de evitar o seu descarte como poluente (Freitas et al., 2016; Pinotti et al., 2014).
Diversos resíduos podem ser utilizados como matéria-prima a fim de obter lipases, como farelo de arroz, bagaço de cana,
tortas derivadas dos processos de extração do óleo (torta de milho, de girassol, soja, babaçu), bagaço de mandioca, efluentes de
laticínios e cascas de frutas (Tabela 04).

Tabela 04. Utilização de matéria-prima para a produção de lipase a partir de microrganismos.


Substrato Microrganismo Referência

Farelo de arroz Penicillium crustosum Oliveira et al. (2014)

Aspergillus, Penicillium, Trichoderma,


Efluente de laticínios Roveda et al. (2010)
Fusarium

Rodriguez et al.;
Bagaço de cana umedecido R. homothallicus
(2006).

Torta e polpa de amêndoa A. niger, A. oryzae, e A. awamori Oliveira et al. (2016)

Casca de maçã, casca de melancia, farelo de soja e


Yarrowia lipolytica Sales (2018)
cortiça

Oliveira e Pinotti
Bagaço de cana Rhizomucor sp.
(2015)

Bagaço de cana Penicillium sp. e Bacillus megaterium Pinotti et al. (2014)

Torta e borra de dendê Aspergillus niger 11T53A14 Penha et al. (2016)

Bagaço de malte Aspergillus brasiliensis Eichler (2018)

Melaço, milhocina e águas russas Candida tropicalis e Meyerozyma caribbica Freitas et al. (2016)
Fonte: elaborado pelo autor.

Considerações finais

Com o crescimento do setor econômico e agropecuário, ocorre o avanço na produção de alimentos e, simultaneamente a
isso, verifica-se a geração de subprodutos, os resíduos agroindustriais, que podem ser utilizados como matéria-prima de
diferentes processos. Isto tem despertado o interesse de diversos pesquisadores e estes estão desenvolvendo novos bioprodutos,
através do uso destes resíduos como matéria-prima. Com o uso de matéria-prima abundante e barata, é possível gerar produtos
de valor agregado e gerir a grande quantidade de resíduos que seria descartada em aterros ou a céu aberto.
Dentre os bioprodutos que podem ser obtidos, destaca-se as enzimas, como proteases, amilases, celulases e lipases,
abordadas anteriormente. Estas são amplamente utilizadas na biologia molecular e na biomedicina, no desenvolvimento de
metodologias analíticas, na fabricação de produtos tecnológicos, no tratamento de resíduos, no setor têxtil reduzindo o volume
e conteúdo poluente dos efluentes, empregadas no branqueamento das pastas, na fabricação de todos os tipos de detergentes e
sabões, para fabricação de cosméticos, em biocombustíveis. Além disso, assumem um papel fundamental também na indústria
de bebidas e alimentos, sendo aplicadas em queijos, iogurtes, na panificação, em vinhos, cerveja, além de auxiliarem na

425
conservação e preservação dos produtos.
Sendo assim, observa-se que as enzimas são aplicadas em diversos setores da economia, estando diretamente ligadas a
sustentabilidade, pois auxiliam na redução do uso de produtos químicos, energia e água nas indústrias. Ademais, sua produção
por meio de resíduos agroindustriais, as torna mais atraentes, viáveis, com abordagem amiga do meio ambiente e como uma
solução lucrativa para as indústrias.

Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer a Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Cerro Largo, pelo apoio recebido.

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429
5SSS156
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM INDÚSTRIAS DO MUNICÍPIO DE
SÃO LEOPOLDO POR MEIO DE FERRAMENTA ADAPTADA: Uma
metodologia de auxílio à gestão ambiental municipal
Henrique Lisbôa da Cruz1, Fernando Serenotti2, Carlos Alberto Mendes Moraes3
1Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, e-mail: cruzhnrq@yahoo.com.br; 2Universidade do Vale do
Rio dos Sinos - UNISINOS, e-mail: fserenotti@unisinos.br; 3Programas de Pós-Graduação em Engenharia Civil e
Engenharia Mecânica - Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, e-mail: cmoraes@unisinos.br

Palavras-chave: gerenciamento ambiental; resíduo; indústria.

Resumo
Nos dias atuais, a necessidade de equilibrar o desenvolvimento econômico e social com a preservação do meio ambiente é
emergente. Nesse cenário, o Poder Público assume papel central na gestão ambiental pública, atuando em atividades como a
fiscalização e o licenciamento ambiental. No entanto, existem poucos trabalhos aplicados em Órgãos Ambientais, visando a
resolução de questões de ordem prática. Dentre os problemas verificados na gestão ambiental pública, destacam-se a ausência
de informações e dados sobre a situação do gerenciamento ambiental em indústrias, no tocante aos resíduos sólidos, efluentes
líquidos e emissões atmosféricas produzidos. Além disso, particularmente, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente de São
Leopoldo (SEMMAM) não dispunha de um documento próprio para ser utilizado em vistorias técnicas, capaz de coletar
informações importantes sobre os seus empreendimentos licenciados. Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivo
geral realizar um diagnóstico ambiental quanto ao gerenciamento de resíduos (sólidos, líquidos e gasosos) de indústrias no
município de São Leopoldo, cidade em que a SEMMAM possui jurisdição. Para tanto, ferramentas do tipo listas de verificação
(do inglês checklists) foram elaboradas, com o intuito de avaliar condições importantes relativas ao gerenciamento de
resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas em empresas do município. A elaboração da lista de verificação
para resíduos sólidos foi baseada nas NBR 10004, 11174 e 12235, realizando-se uma análise quali-quantitativa dos resíduos
produzidos. Além disso, nela foram avaliadas as condições de Acondicionamento (identificação e segregação),
Armazenamento (piso, cobertura, capacidade e contenção) e Destinação (planilhas de resíduos, comprovantes e local de
destinação) de resíduos. Na lista de verificação de efluentes líquidos industriais, também buscou-se realizar uma análise quali-
quantitativa do efluente, e suas condições de gerenciamento na Coleta e Transporte na Geração (piso e contenção),
Armazenamento (sistema de contenção e capacidade), Tratamento (forma e local) e Destinação (medição de vazão, análises
físico-químicas, comprovantes e local). A terceira lista, para avaliação das emissões atmosféricas, consideraram as fontes de
emissão, seus poluentes e os controles existentes. Cada condição verificada nas listas foi avaliada segundo critérios e opções de
fácil marcação. As ferramentas desenvolvidas foram aplicadas na prática, em 5 (cinco) indústrias de quatro ramos de atividade
distintos: 2 galvanoplastias, 1 de fabricação de produtos saneantes, 1 lavanderia e 1 de fosfatização. O resultado do diagnóstico
realizado nas 5 (cinco) empresas, por meio da utilização das listas de verificação, apontou que em todas as empresas haviam
falhas no gerenciamento de resíduos sólidos e efluentes líquidos. Quanto aos resíduos sólidos, nenhuma das empresas atendiam
integralmente as NBR 11174 e 12235, conforme previam suas licenças ambientais, falhando principalmente na identificação e
contenção dos resíduos. Entretanto, verificou-se que as maiores causas pela ineficiência de gerenciamento de resíduos sólidos
estavam relacionadas à falta de organização do espaço físico, demandando ações simples do ponto de vista técnico e
econômico. Isso porque as empresas avaliadas possuíam áreas de armazenamento de resíduos, no entanto, mantinham resíduos
dispersos por toda a área fabril. Também, maior parte das empresas não possuia informações sobre quantidade de resíduos
gerados. Referente aos efluentes líquidos, nenhuma empresa possuía medição de vazão, portanto, não detinham controle sobre
vazões geradas, tratadas e/ou lançadas. Além disso, constatou-se o lançamento clandestino de efluente bruto, sem tratamento,
em 3 das 5 empresas avaliadas, bem como inadequações nos sistemas de contenção no armazenamento e no local de geração
dos efluentes líquidos. Isso significa que a Fiscalização Ambiental deve intensificar suas ações nas empresas do município, de
forma a coibir a poluição hídrica. No que se refere às emissões atmosféricas, verificou-se que a maior parte das empresas
possuía algum tipo de equipamento de controle, não sendo verificadas irregularidades ambientais nessa dimensão. Notou-se
que os sistemas de controle atmosférico existiam principalmente em processos potencialmente geradores de fumaça, odor e
material particulado, como cabines de pintura, coletores de pó, dentre outros. Desta forma, o estudo apontou as principais não
conformidades presentes em cinco indústrias de portes e tipologias diferentes, por meio de um diagnóstico realizado através
das respectivas listas de verificação desenvolvidas e adaptadas para a realidade do licenciamento ambiental municipal. As
listas de verificação se mostraram úteis e facilmente aplicáveis em todas as tipologias industrais, contemplando aspectos
importantes de serem analisados. Nesse sentido, a utilização das ferramentas para diagnóstico de atividades industriais pelo

430
Órgão Ambiental Municipal pode direcionar as ações e políticas para os pontos mais críticos, como aqueles que foram
identificados na amostra de indústrias vistoriadas.

Introdução
Ao longo da história, o ser humano utilizou os recursos disponíveis na natureza de forma indiscriminada, gerando resíduos sem
a preocupação de seus efeitos. O planeta detinha recursos naturais em abundância, possuindo ainda boa capacidade de
comportar os rejeitos das atividades humanas (MOURA, 2008). Contudo, esta exploração desmedida ocasionou a degradação
dos recursos provenientes da natureza, bem como na poluição do ar, do solo e da água. Devido a isso, os impactos ambientais
negativos gerados pelas atividades e intervenções antrópicas, principalmente nos últimos séculos, trouxeram à tona a
necessidade de gerir as variáveis ambientais de entrada (utilização de matérias-primas, insumos e recursos naturais) e saída
(resíduos e emissões) dos processos produtivos industriais, buscando-se o desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, foi
incumbido ao Poder Público o dever de equilibrar o crescimento econômico e os anseios da sociedade com a proteção ao meio
ambiente. Sendo assim, foram criadas inúmeras normativas, como Leis, Resoluções e Decretos, com o objetivo de coibir a
degradação ambiental. Dentre as princais normas, a Resolução CONAMA 237/1997 (CONAMA, 1997) trata sobre o
Licenciamento Ambiental, um dos principais instrumentos de controle das atividades efetivas ou potencialmente degradantes
do meio ambiente. Esse instrumento prevê que determinadas atividades civis, econômicas e industriais devem ter sua
instalação e operação aprovadas pelos Órgãos Ambientais competentes, visando a geração do menor impacto ambiental
possível. No município de São Leopoldo, no estado do Rio Grande do Sul, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente
(SEMMAM) é o órgão vinculado ao Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, responsável pelo licenciamento e
fiscalização das atividades potencialmente poluidoras consideradas de impacto local (SEMMAM, 2013).
Em teoria, o Brasil possui uma das legislações ambientais mais completas do mundo (MOURA, 2008). Contudo, na prática,
existem diversas dificuldades na implantação dos instrumentos de proteção ambiental, entre os quais se inclui o licenciamento
ambiental. Devido ao fato de os procedimentos para o licenciamento serem vistos, muitas vezes, como onerosos e demorados
(CNI, 2014), muitos empreendedores optam por permanecer operando suas atividades potencialmente poluidoras sem qualquer
tipo de controle dos órgãos competentes, vendo a questão ambiental como um obstáculo ao desenvolvimento econômico. Desta
forma, faz-se necessária a criação, fomento e aplicação de políticas públicas ambientais que visem a regularização de
atividades potencialmente degradantes, de forma a equilibrar o desenvolvimento econômico e social com a preservação
ambiental. Tais políticas necessitam estar o mais próximo das realidades locais, para que efetivamente sejam aplicadas e
venham a produzir os resultados esperados, deixando de ser simplesmente mais um dispositivo legal, mas atuem de forma ativa
e passem a compor a mentalidade tanto do empresário, quanto de seus colaboradores. Embora a academia, através de sua
produção científica, seja promotora de conhecimento e tenha grande importância na sociedade, ainda existem poucos trabalhos
e estudos que buscam a resolução de problemas práticos em Órgãos Ambientais, em nível regional e local, limitando-se à
avaliação ambiental de grandes empreendimentos.
Dentre os problemas verificados na gestão ambiental pública, está a falta de informações sobre o gerenciamento ambiental das
indústrias licenciadas pelos próprios Órgãos Ambientais. O conhecimento das condições de gerenciamento de resíduos sólidos,
efluentes líquidos e emissões atmosféricas, dentre outros, pode facilitar a adoção de políticas públicas e ações voltadas às
principais deficiências encontradas nas indústrias locais, visando sua regularização e melhoria contínua. Além disso, verificou-
se que o Órgão Ambiental Municipal de São Leopoldo não dispunha de nenhum documento próprio para utilização em
vistorias técnicas. Nesse sentido, o presente trabalho teve como objetivo geral desenvolver e adaptar uma ferramenta de
diagnóstico do gerenciamento de resíduos sólidos, efluentes líquidos industriais e emissões atmosféricas de indústrias
licenciadas pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente de São Leopoldo. Os objetivos específicos deste trabalho foram
aplicar a ferramenta desenvolvida em indústrias de diferentes tipologias no município, identificar seus aspectos práticos, e
analisar os resultados obtidos para verificar as principais inconformidades.

Metodologia
De acordo com as classificações de Gil (2008) para as pesquisas científicas, este trabalho foi concebido como uma pesquisa
exploratória, uma vez que objetivou proporcionar maior familiaridade com um assunto ainda pouco explorado, realizando
descobertas e formulando hipóteses acerca do tema estudado. Quanto aos procedimentos técnicos, o estudo envolveu
levantamento bibliográfico e estudos de caso, com uma abordagem qualitativa (GIL, 2008).
A realização do trabalho foi dividida em 3 (três) etapas básicas sequenciais, conforme indica a Figura 1.

Elaboração da ferramenta Vistorias técnicas Análise dos dados

Figura 1: Etapas metodológicas do trabalho.

431
Elaboração da ferramenta
A ferramenta baseou-se em listas de verificação, com o objetivo de orientar as vistorias realizadas pela equipe técnica de
Fiscalização e Licenciamento Ambiental no Órgão Ambiental de São Leopoldo, facilitando a obtenção de dados e fornecendo
as informações necessárias para o diagnóstico ambiental das atividades analisadas. Foram elaboradas 3 (três) listas ao total,
cada qual para uma das dimensões avaliadas: resíduos sólidos, efluentes líquidos industriais e emissões atmosféricas. O
armazenamento de matéria-prima e seus riscos não foram objeto do presente estudo.
Na concepção dessas listas, buscou-se aliar pragmatismo com qualidade das informações, de forma que tais formulários
fossem o mais completos e abrangentes possível, ao mesmo tempo que deviam ser de fácil entendimento e preenchimento,
tornando a avaliação rápida, sem perder a acuracidade. Tendo isso em mente, optou-se por opções de avaliação objetivas e de
fácil marcação. Cada condição de gerenciamento foi avaliada de acordo com o seguintes critérios: Possui, e, neste caso, se
adequado ou não adequado; Não possui; Não aplicável; e Sem possibilidade de identificação. As duas últimas opções foram
incluídas nos formulários devido à obrigatoriedade de preenchimento em todos os itens, de forma a não deixar nenhum campo
sem preenchimento. Isto é, uma informação sem preenchimento poderia implicar em dúvidas futuras quando da análise do
documento, suscitando, por exemplo, algum questionamento sobre o motivo pelo qual não foi marcada nenhuma opção – se
por simples esquecimento, ou se não havia possibilidade de avaliar.

Lista de Verificação para Resíduos Sólidos


Na elaboração da lista de verificação relativa aos resíduos sólidos, buscou-se contemplar as principais diretrizes contidas nas
normas técnicas referentes ao assunto, quais sejam as NBR 11174, 12235 e 10004 (ABNT 1990, 1992, 2004). Desta forma, a
respectiva lista de verificação de resíduos sólidos foi dividida de acordo com a classificação entre Resíduos Sólidos Perigosos
– Classe I e Resíduos Sólidos Não Perigosos – Classes IIA – Não Inertes e IIB – Inertes. A primeira parte de cada uma dessas
duas divisões principais consistiu na identificação e quantificação estimada dos resíduos sólidos presentes na empresa avaliada,
sendo previamente listados os mais comuns de cada classe, isto é, aqueles que apareciam com grande frequência nos processos
produtivos. Foram deixados campos vagos para o preenchimento de outras tipologias de resíduos não pré-listadas, bem como
de observações pertinentes.
Após a identificação dos resíduos sólidos, seu gerenciamento foi avaliado quanto ao acondicionamento, armazenamento e
destinação. No acondicionamento, objetivou-se verificar os seguintes aspectos:
 Identificação: os resíduos devem estar devidamente rotulados, em área específica, sinalizada e de fácil visualização, e
identificados quanto à sua periculosidade no caso dos pertencentes à Classe I ou a sua não-periculosidade, se forem
Classe II;
 Segregação: os resíduos devem ser mantidos separados por classe e isolados em caso de incompatibilidade ou mesmo
para evitar a contaminação e conferir periculosidade aos resíduos não perigosos.
Quanto ao armazenamento, avaliou-se o espaço físico utilizado para a disposição temporária dos resíduos, no que concerne às
seguintes condições:
 Cobertura: deve evitar a ação de intempéries, como chuva e vento sobre os resíduos, que podem ocasionar a geração
de efluentes líquidos e seu espalhamento;
 Piso: deve ser impermeabilizado, impedindo a infiltração e contaminação do solo;
 Capacidade de armazenamento: área de armazenamento temporário de resíduos deve apresentar dimensões físicas
suficientes para comportar o volume de resíduos gerados pela empresa, considerando sua frequência de destinação;
 Sistema de Contenção: existência de muretas, canaletas ou outras barreiras físicas capazes de impedir o alastramento
dos resíduos para outras áreas em casos de acidentes, ou ainda de conter eventuais efluentes líquidos agregados.
Tais aspectos foram avaliados no intuito de identificar e analisar a potencial ocorrência de emissões fugitivas. Por fim,
ponderaram-se os aspectos referentes à destinação final dos resíduos sólidos produzidos, como a existência da documentação
comprovando a destinação final adequada, como Manifestos de Transporte de Resíduos, notas fiscais e similares, além de
planilhas de gerenciamento de resíduos, que devem ser apresentadas aos órgãos controladores durante a vigência da licença
ambiental e de sua renovação. Ainda, reservou-se um campo destinado ao preenchimento do destino dos resíduos, como
aterros industriais, reciclagens, coleta seletiva ou processamentos como incineração, dentre outros. Cabe ressaltar que as
variáveis analisadas foram geradas a partir das normas vigentes para áreas de armazenamento provisório de resíduos. O
modelo de lista de verificação desenvolvida para resíduos sólidos é apresentada na Figura 2.

432
Figura 2: Lista de verificação (Checklist) desenvolvida para avaliação de Resíduos Sólidos.

Lista de Verificação para Efluentes Líquidos Industriais


A segunda lista de verificação teve por objetivo obter informações relativas aos efluentes líquidos industriais. A avaliação
qualitativa do efluente líquido levou em consideração a natureza da atividade, como suas variáveis de entrada (matérias-primas
e insumos) e de saída (produtos finais e resíduos). Preliminarmente, a questão avaliada na referida checklist se relacionou com
a geração ou não de efluentes líquidos industriais. Em seguida, verificaram-se as fontes geradoras de efluentes industriais, pelo
processo produtivo e outras fontes, e uma estimativa das respectivas vazões produzidas, de modo a obter um indicativo da
vazão total gerada. Posteriormente, uma caracterização macro do efluente foi obtida de acordo com a tipologia da atividade,
verificando-se se o efluente apresentava características mais orgânicas, inorgânicas, com metais pesados, sólidos sedimentáveis
e/ou outros.
Após, a análise foi dividida nas etapas de acordo com a sequência de fluxo do efluente: Coleta e Transporte na Geração,
Tratamento, Armazenamento e Destinação, além de uma avaliação quanto aos aspectos visuais do efluente tratado, quando
havia. As condições da coleta e transporte do efluente nas fontes geradoras consideraram os seguintes aspectos:
 Piso: deve ser impermeabilizado;
 Contenção: existência de canaletas, tubulações ou outros meios para a evitar o extravasamento e possibilitar seu
direcionamento para o sistema de acúmulo, para posterior tratamento e/ou destinação.
A partir desses aspectos, também buscou-se observar a existência de emissões fugitivas. Na sequência, analisou-se o local e
forma de tratamento: se era realizado em Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) própria junto à empresa; se o efluente era
enviado para tratamento externo, o que é comum em empresas de pequeno porte, que geram pouco efluente, sendo mais viável
economicamente o tratamento terceirizado; ou se não havia nenhum tipo de tratamento. Também, avaliou-se o regime de
tratamento: batelada ou contínuo.
No tocante ao armazenamento dos efluentes líquidos, foram analisados os aspectos referentes ao:
 Sistema de contenção: para evitar o vazamento de efluentes em caso de extravasamento, sinistro, como rompimento
do reservatório ou outra situação adversa não prevista, como forma de precaução.
 Capacidade: volume do reservatório para armazenamento do efluente deve possuir dimensionamento adequado para
comportar o volume gerado.
Para se obter indicativos da qualidade do tratamento no caso de empresas com ETE própria, foram listadas características
visuais para inspeção, como cor, odor, a presença de espumas e de sólidos em suspensão, ou seja, aspectos de fácil observação.
Uma análise mais profunda com relação ao atendimento aos parâmetros de lançamento de efluentes somente pode ser obtida
por meio de análises físico-químicas, cujos laudos ficam a cargo do empreendedor, devendo ser apresentados ao órgão
licenciador em períodos estabelecidos na Licença Ambiental. Assim, tratando-se de um formulário com abordagem qualitativa

433
mais simplificada, optou-se por se avaliar sensorialmente características rapidamente identificáveis.
Finalmente, a destinação do efluente foi avaliada em aspectos como existência de medição de vazão, com registros do
lançamento, meio pelo qual o órgão pode ter um controle sobre os despejos líquidos da empresa, além de ser uma variável
indispensável para o balanço material dos processos produtivos. Além disso, foram requisitados os comprovantes da destinação
do efluente, em caso de tratamento externo, como Manifestos de Transporte de Resíduos e/ou notas fiscais, além dos laudos
das análises físico-químicas periódicas do efluente, previstos como forma de automonitoramento da qualidade do tratamento e
que devem ser apresentadas ao órgão licenciador em determinados prazos. Ainda, foi questionada a vazão lançada, quando
havia, e se o lançamento de efluente ocorria diretamente na rede pública, em corpos hídricos receptores como rios ou arroios,
se era incorporado ao solo, ou ainda se era reutilizado pela empresa no processo produtivo ou outras atividades. O modelo de
checklist desenvolvida para efluentes líquidos é apresentada na Figura 3.

CHECKLIST EFLUENTES LÍQUIDOS INDUSTRIAIS


Gera efluentes líquidos industriais?
FONTES VAZÃO ESTIMADA
Processo Produtivo (descrever etapas)

Outras fontes (descrever)


Caldeira

VAZÃO TOTAL ESTIMADA:


COMPOSIÇÃO PERCENTUAL ESTIMADO
Orgânico
Inorgânico
Sólidos sedimentáveis
Metais pesados
Óleos e Graxas Minerais
Óleos e Graxas Animais/Vegetais
COLETA E TRANSPORTE NA GERAÇÃO TRATAMENTO
Piso Contenção  ETE própria:  Batelada  Contínuo
 Possui:  Adeq.  Não adeq.  Possui:  Adeq.  Não adeq.  Externo
 Não possui.  Não aplicável.  Não possui.  Não aplicável.  Sem tratamento
 Sem possibilidade de identificar.  Sem possibilidade de identificar.
ARMAZENAMENTO CARACTERÍSTICAS - EFL. TRATADO
Capacidade Sistema de Contenção Cor Odor Espuma Sólidos Susp.
 Possui:  Adeq.  Não adeq.  Possui:  Adeq.  Não adeq.  Possui.  Possui.  Possui.  Possui.
 Não possui.  Não aplicável.  Não possui.  Não aplicável.  Não possui.  Não possui.  Não possui.  Não possui.
 Sem possibilidade de identificar.  Sem possibilidade de identificar.  S/ possib. Ident.  S/ possib. Ident.  S/ possib. Ident.  S/ possib. Ident.
DESTINAÇÃO
Medição Vazão Comprovantes Análises Lançamento
 Possui:  Adeq.  Não adeq.  Possui:  Adeq.  Não adeq.  Possui:  Adeq.  Não adeq.  Rede pública
 Não possui.  Não aplicável.  Não possui.  Não aplicável. Não possui. Não aplicável.  Arroio, rio: _________
 Sem possibilidade de identificar.  Sem possibilidade de identificar.  Sem possibilidade de identificar.  Reciclo:  Total  Parcial
Vazão lançada:  Outro:
Observações:

Figura 3: Lista de Verificação (Checklist) desenvolvida para avaliação de Efluentes Líquidos Industriais.

Lista de Verificação para Emissões Atmosféricas


Ademais, elaborou-se a terceira lista de verificação relativa às emissões atmosféricas, trazendo, inicialmente, o questionamento
se a empresa avaliada gera algum tipo de emissão atmosférica. Considerando que esse tipo de emissão é diversificada e não há
um fluxo bem definido, sendo difícil traçar um roteiro com as principais tipologias, optou-se por não se predefinir fontes e
tipos. Assim, os campos foram divididos para preenchimento in loco das fontes de poluição, como equipamentos e processos,
poluentes, tais como materiais particulados, substâncias tóxicas, ruído, vibração, fuligem etc., e se existia um sistema de
controle, avaliando-se sua adequação. Da mesma forma, o modelo de checklist desenvolvida para emissões atmosféricas é
apresentada na Figura 4.

434
Figura 4: Lista de Verificação (Checklist) desenvolvida para avaliação de Emissões Atmosféricas.

Vistorias Técnicas
As vistorias técnicas às empresas foram realizadas para a coleta dos dados, através do preenchimento das respectivas listas de
verificação geradas neste trabalho, de forma a testar as ferramentas desenvolvidas, aplicando-as na prática. O primeiro passo
para a aplicação da metodologia desenvolvida foi coletar as informações necessárias, durante as vistorias técnicas, para a
identificação das etapas do processo produtivo da indústria avaliada, conhecendo-se em quais eram gerados os resíduos
sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas. Isso, através de observação e questionamentos diretos aos responsáveis da
empresa que acompanharam a equipe técnica responsável pela vistoria. Desta forma, os diferentes setores das empresas
visitadas foram vistoriados, preenchendo-se as listas de verificação ao serem identificados aspectos referentes aos resíduos
sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas.
A escolha das indústrias investigadas se deu de forma aleatória e contemplou empresas de diferentes segmentos, uma vez que
as ferramentas devem ser aplicáveis a qualquer ramo de atividade industrial no município, em razão de sua utilização pela
equipe técnica da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de São Leopoldo. O estudo de caso ocorreu em um total de 05
(cinco) empresas localizadas no município de São Leopoldo, conforme apresentado na Figura 5. As Empresas de A a D
possuíam licenças ambientais válidas emitidas pelo município, enquanto a Empresa E operava com a licença ambiental
vencida.

Identificação Ramo de Atividade Área / Porte


Empresa A Galvanoplastia 180m² / Mínimo
Empresa B Galvanoplastia 1.292m² / Pequeno
Fabricação de produtos de
Empresa C 732m² / Pequeno
limpeza/polimento/desinfetante
Empresa D Lavanderia para roupas e artefatos industriais 1.800m² / Pequeno
Empresa E Serviços de Fosfatização 3.000m² / Médio
Figura 5: Empresas vistoriadas. Porte previsto pela Resolução CONSEMA 372/2018.

Análise dos dados


Para o diagnóstico ambiental das empresas vistoriadas do ponto de vista de seu gerenciamento ambiental, utilizou-se uma
abordagem predominantemente qualitativa. O diagnóstico se deu pela identificação das não conformidades presentes em cada
uma das empresas, por meio das informações coletadas nas respectivas listas de verificação, durante as vistorias técnicas.
Foram consideradas como não conformidades as condições cujas avaliações foram “Possui Não Adequado” e “Não Possui”. A
partir da aplicação das listas de verificação, pretende-se inferir sobre quais aspectos as empresas apresentam as maiores
deficiências, de modo a auxiliar o Órgão Ambiental na tomada de decisão.

435
Resultados e Discussões
Os resultados da aplicação da ferramenta para diagnóstico ambiental são apresentados nessa seção, divididos na descrição do
processo produtivo e na avaliação das conformidades e não conformidades em cada uma das 5 (cinco) empresas investigadas.

Descrição das atividades desenvolvidas


Os processos produtivos de cada empresa vistoriada serão aqui descritos.

Empresa A
As Empresas A e B, atuantes no ramo da galvanoplastia, produzem peças cromadas, zincadas e revestidas por outros metais,
através de processos eletrolíticos para o tratamento de superfícies metálicas. Em se tratando de empresas do mesmo ramo, seus
processos são semelhantes e consistem no pré-tratamento das peças a serem revestidas, para posterior imersão em banhos
metálicos de acordo com a demanda do cliente. Desta forma, nessas etapas ocorre a geração de resíduos sólidos (lodos de
fundo de tanque), efluentes líquidos (água de enxágue) e emissões atmosféricas (vapores de banhos metálicos). A Empresa A
possui estrutura mais simples e rústica, contando com a mão de obra apenas do proprietário como operador do processo. A área
produtiva carecia de asseio, possuindo aspecto visual que causava má impressão. Basicamente, produz pó de polimento como
Resíduo Sólidos Classe I – Perigoso, disposto em local com piso, contenção, cobertura e capacidade adequados, para posterior
destinação a aterro industrial controlado. Como Resíduos Sólidos Classe IIA – não inertes, gera materiais metálicos e de
escritório que estavam dispersos pela área da empresa. As sucatas metálicas são vendidas para sucateiros, enquanto os
materiais de escritório são destinados na coleta domiciliar municipal. O efluente, juntamente com os lodos de fundo de tanque,
é armazenado em tanque de acúmulo para tratamento terceirizado, e é destinado periodicamente conforme MTR. A área de
banhos possui piso e contenção, e um ralo que direciona os líquidos eventuamente derramados para o tanque de acúmulo.
Quanto às emissões atmosféricas, a empresa conta com sistema de exaustação na área de banhos, conforme solicitava
condicionante de sua Licença Ambiental.

Empresa B
Já a Empresa B possui estrutura mais profissionalizada, contendo mais funcionários e maior área produtiva em comparação à
Empresa A. Entretanto, também carecia de melhorias no gerenciamento de seus resíduos sólidos, que eram mantidos em
diferentes locais da empresa, sem área de armazenamento temporário específica, embora todos estivessem em locais cobertos e
com piso. A Empresa B realiza o tratamento do efluente em Estação de Tratamento de Efluente própria junto à empresa, em
linhas segregadas que, após pré-tratamento, passam por tratamento físico-químico e por resinas de troca iônica. A ETE
aparentava boas condições de operação, sendo o efluente reciclado integralmente, retornando ao processo produtivo. A
Empresa B possui sistema de exaustão na área de banhos, cujas emissões são tratadas em uma coluna de absorção. De maneira
geral, as duas empresas, A e B, não apresentavam irregularidades ambientais, embora carecessem de melhorias principalmente
no gerenciamento de seus resíduos.

Empresa C
A terceira empresa vistoriada atua no ramo de fabricação de produtos saneantes, como detergentes, amaciantes, desinfetantes,
ceras e outros produtos de limpeza. Os resíduos sólidos da empresa são pertencentes à Classe I – Perigosos, sendo constituídos
pelas bombonas recebidas com as matérias-primas (aditivos, corantes, aromas, tensoativos, lauril éter sulfato de sódio, e tantos
outros). As bombonas são devolvidas aos fornecedores quando no recebimento de novas matérias-primas, permanecendo em
armazenamento temporário na área da empresa, em local com cobertura parcial (lateral desprotegida), piso de concreto poroso
parcialmente permeável e sem bacia de contenção. Quanto aos efluentes líquidos, constatou-se que há geração quando nas
lavagens dos tanques de mistura dos produtos químicos para a produção dos saneantes, por isso, sua provável composição
possuía, predominantemente, álcalis e tensoativos em grande concentração. A área de mistura, local da geração de efluente, é
impermeabilizada e contém canaletas para conduzir o efluente até um tanque de acúmulo na parte exterior da empresa. A
Empresa C não possui ETE própria, e, conforme condicionante de sua licença ambiental em vigor, é proibido o lançamento de
efluentes em corpos hídricos superficiais ou subterrâneos sem o prévio licenciamento ambiental, devendo os efluentes gerados
serem enviados para tratamento externo. No entanto, na ocasião da vistoria, flagrou-se o lançamento clandestino de efluente
bruto, sem qualquer tipo de tratamento, diretamente na rede pública. A empresa armazenava seu efluente em um tanque de
acúmulo enterrado como reservatório, até o envio para tratamento na empresa terceirizada. Contudo, havia um by-pass
(popularmente conhecido como tubulação ladrão) que direcionava parte do efluente até uma caixa de passagem ligada à rede
pública, uma vez que o tanque era subdimensionado e não possuía capacidade de comportar todo o volume de líquidos
gerados. Assim, ao atingir certo volume, parte desse efluente bruto era lançado para a rede pública. Ademais, as emissões
atmosféricas identificadas na Empresa C tinham relação com o odor característico dos produtos e matérias-primas utilizadas no
processo de fabricação dos sanitizantes. Todavia, eram perceptíveis apenas no local de geração, não excedendo a área fabril.

Empresa D
A Empresa D, quarta empresa avaliada, consiste em uma lavanderia industrial hospitalar, processando roupas e peças têxteis

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advindas de hospitais, postos e clínicas de saúde. Agregados às peças têxteis, são recebidos gazes, esparadrapos, seringas,
perfurocortantes e outros materiais que constituem os resíduos sólidos da lavanderia. Tais resíduos, por serem contaminados
com material biológico, pertencem à Classe I – Perigosos, e são armazenados temporariamente em bombonas até envio para
incineração. As bombobas estão dispostas em baias cobertas e com piso impermeabilizado, com capacidade adequada e
sistema de contenção existente. Entretanto, as canaletas nas baias direcionam os líquidos eventualmente gerados diretamente
para rede pública, sem serem tratados. Os equipamentos cirúrgicos e outros materiais que porventura vêm agregados às roupas,
como bisturis, tesouras e outros, são separados já na área de recebimento, para devolução ao respectivo estabelecimento
cliente. Os efluentes líquidos, por sua vez, advêm, principalmente, das lavagens e enxágues das peças nas lavadoras industriais.
A água das lavagens e enxágues é disposta em canaletas gradeadas, sendo conduzidas até a ETE própria da empresa para
tratamento. Nas lavadoras são usados saneantes específicos para o tipo de sujidade. Desta análise, foi possível estabelecer que
o efluente possui álcalis e tensoativos, e é liberado pelas máquinas lavadoras a alta temperatura (superior a 50ºC). Segundo a
licença de operação em vigência, a empresa não está autorizada a lançar efluentes em corpos hídricos superficiais ou
subterrâneos sem prévio licenciamento, devendo operar em circuito fechado, reciclando totalmente seu efluente. Contudo,
vistoriando cuidadosamente toda a área, constatou-se a existência de uma caixa ligada à rede pública, onde estavam sendo
descartados, sem tratamento, os efluentes oriundos das lavagens dos caminhões da empresa, tanto da parte interna contaminada
com as roupas sujas para lavagem, quanto da parte externa, que possivelmente carrearia óleos lubrificantes e fuligens. Na área
da lavagem dos caminhões há piso de concreto e um ralo gradeado, que deveria conduzir os efluentes gerados para serem
tratados na ETE. No entanto, a tubulação direcionada à ETE possuía um tampão que bloqueava o fluxo; assim, o efluente das
lavagens dos caminhões era recolhido no ralo e conduzido por outra tubulação para a rede pública, sem tratamento. Com
relação às emissões atmosféricas, estas são provenientes da queima de madeira na caldeira, cujas emissões são tratadas em dois
sistemas, quais sejam um ciclone e um lavador de gases. Por fim, observaram-se as documentações relativas à destinação dos
resíduos industriais, sendo apresentados eletronicamente os Manifestos de Transporte de Resíduos, diretamente no site da
FEPAM, e as últimas análises do efluente bruto e tratado. A empresa apresentou inúmeras comprovações de que está enviando
seus resíduos a empresas licenciadas a receber os materiais, bem como de que realiza periodicamente as análises físico-
químicas dos efluentes.

Empresa E
Finalmente, a Empresa E, quinta empresa vistoriada, do ramo de fosfatização, apresenta um processo produtivo baseado no
tratamento de superfície de peças metálicas a partir de técnicas de eletrodeposição, em que a tinta é aplicada sobre o material
por meio de banhos no estado líquido. A empresa também executa pinturas por spray, com o uso de pistola, e por pincel, por
aplicação manual, contudo, o principal processo realizado na empresa é de pintura líquida aliado à fosfatização. A área dos
banhos contém piso de concreto e uma pequena mureta que deveria servir para a contenção de eventual vazamento para o
restante da fábrica. Entretanto, observou-se que a contenção não abrange a área dos tanques em sua totalidade, uma vez que a
mureta foi retirada parcialmente. Na parte de trás dos tanques, próximo à parede do pavilhão, constatou-se a existência de
inúmeros pontos por onde ocorre o vazamento dos banhos, devido às paredes dos tanques estarem corroídas e mal vedadas.
Também foi possível observar a ocorrência de extravasamento de banhos, principalmente o da pintura com a tinta e-coat, uma
vez que havia tinta (líquido de coloração escura intensa) por todo o piso, tubulação e parede interna do pavilhão na parte
traseira dos tanques. Havia claros indícios de que esses líquidos atingiam o solo bruto na parte externa do prédio, uma vez que
a parede apresenta aberturas em diversos pontos. Da parte externa, observou-se que o solo estava contaminado com a tinta de
cor muito escura, e que os líquidos também atingiam a rede pública. Também pela parte externa da empresa, observou-se que a
maior parte dos resíduos sólidos produzidos, como lodo do tanque de fosfatização, filtros dos sistemas de controle
atmosféricos, óleo lubrificante utilizados nas máquinas e equipamentos, entre outros materiais perigosos, estavam dispersos
pelo pátio, nos fundos da empresa, em locais sem as mínimas condições de armazenamento: a céu aberto, diretamente sobre o
solo, sem contenção e expostos à ação das chuvas e intempéries. Quanto às emissões atmosféricas, a empresa contava com
equipamentos para o controle das emissões, que aparentemente eram adequados, necessitando-se de manutenção e eliminação
de pontuais emissões fugitivas.

Avaliação de Conformidades e Não-conformidades


Os resultados obtidos a partir da aplicação das listas de verificação nas empresas avaliadas são apresentados na Figura 6. Nessa
figura, não foram incluídos os aspectos referentes às emissões atmosféricas, uma vez que não foram predefinidos critérios de
avaliação na lista de verificação da referida dimensão, contudo, tais aspectos serão discutidos posteriormente.
De modo geral, como aponta a Figura 6, foi possível observar que nenhuma das empresas investigadas atendia integralmente
as normas da ABNT para armazenamento provisório de Resíduos Sólidos (NBR 12235 e 11174), falhando, principalmente, no
quesito de identificação. Verificou-se, também, que em todas as empresas existiam problemas na contenção de resíduos
sólidos. Das condições avaliadas para resíduos sólidos, todas apresentaram algum tipo de inadequação ou inexistiam em
alguma das empresas, isto é, nenhuma estava totalmente adequada quanto aos quesitos investigados. Apesar de a Empresa E,
dentre as empresas investigadas, possuir a maior área produtiva e o maior número de funcionários, foi a que mais apresentou
irregularidades ambientais e não conformidades, sendo pontuada negativamente em todos os quesitos de resíduos sólidos. Isto

437
significa que a Empresa E possui um gerenciamento ineficiente e inadequado dos seus resíduos sólidos, carecendo de ajustes
urgentes. Em contraposição, a Empresa A, com a menor área útil e apenas um funcionário, estava minimamente adequada às
exigências previstas em sua licença ambiental, ocorrendo o mesmo com a Empresa B.
Observou-se que, de modo geral, as não conformidades encontradas nas empresas investigadas estavam muito relacionadas à
falta de organização no tocante ao gerenciamento de seus resíduos, haja vista que todas possuíam estrutura e área disponível
para comportar o volume de resíduos gerados, desde que providenciassem a destinação de maneira a não acumularem grandes
quantidades. Portanto, em todos os casos, independente da não conformidade, as soluções eram simples do ponto de vista
técnico e econômico, uma vez que passavam por organizar o espaço físico e realizar pequenas modificações, não demandando
gastos financeiros que poderiam ser uma barreira para sua execução. Nesse sentido, o Órgão Ambiental, em suas atividades de
fiscalização e licenciamento nessas atividades, deve requerer melhorias progressivas dos empreendedores quanto à
organização, identificação e contenção dos resíduos sólidos.

Resíduos Sólidos Classe I Planilha Resíduos Resíduos Sólidos Classe II Efluentes Líquidos

Planilha Resíduos

Medição Vazão
Sist. Contenção

Sist. Contenção
Sist. Contenção

Comprovantes

Comprovantes

Comprovantes
Empresa
Identificação

Identificação
Capacidade

Capacidade
Capacidade
Segregação

Segregação

Contenção
Cobertura

Cobertura

Análises
Piso

Piso

Piso
A      
B     -- N ã o i d e n t i f i c a d o -- 
C     -- N ã o i d e n t i f i c a d o -- 
D     -- N ã o i d e n t i f i c a d o -- 
E       
Legenda:
Possui Adequado Possui Não Adequado Não Possui
Não Identificado/Não Aplicável/Sem possibilidade de identificar
Figura 6: Resultados da aplicação das listas de verificação de resíduos sólidos e efluentes líquidos
Quanto aos efluentes líquidos, como se observa na Figura 6, nenhuma das empresas possui meios para medir a vazão de
efluente gerada. Desta forma, não detêm o controle sobre as vazões geradas, tratadas, reutilizadas ou lançadas, de acordo com
o caso. Assim, os empreendedores não realizam o balanço hídrico e material de seus processos produtivos, dados que poderiam
proporcionar maior controle pelos próprios empreendedores e pelo Órgão Ambiental. Isto pode indicar ao Órgão licenciador
que uma das exigências durante o processo de licenciamento deve ser a instalação de um meio de medir a vazão gerada,
lançada ou enviada para tratamento. Nesse mesmo sentido, constatou-se que nenhuma das empresas dispõe de registros
precisos da quantidade de resíduos gerados, seja resíduos sólidos ou efluentes líquidos. Portanto, os empreendedores não
possuem informações da eficiência de seus processos (razão de produto produzido por matéria-prima e insumos utilizados),
uma vez que não mantêm o controle sobre a quantidade de resíduos produzidos. Tal fato pôde ser observado quando no
preenchimento das listas de verificação, haja vista que, quando questionados sobre a quantidade de resíduos produzidos, a
maior parte dos empreendedores não soube informar.
Ainda nesse viés, observou-se que a maior parte das empresas não realiza análises do seu efluente líquido, seja um
monitoramento diário de pH, temperatura e vazão quando há tratamento próprio, ou de análises físico-químicas periódicas,
havendo uma deficiência no monitoramento do efluente. Observou-se que 3 das 5 empresas avaliadas estavam
dispondo/lançando efluentes brutos (Empresas C, D e E), o que pode causar grandes impactos e desastres ambientais, como a
mortandade de peixes, e piora na qualidade do Rio dos Sinos, principal recurso hídrico do município e da região. Isso indica
que a Fiscalização deve ser intensificada nas indústrias do município as quais a Secretaria Municipal possui jurisdição. Apesar
disso, em uma análise superficial, aponta-se que essas três empresas que lançavam efluentes detinham condições de gerenciar
adequadamente seus efluentes, seja tratando em ETE própria (Empresa D), ou tratamento externo (Empresas C e E).
Já quanto às emissões atmosféricas, não foram identificadas irregularidades ambientais. Entretanto, observou-se que alguns
equipamentos necessitavam de manutenção (tubulação da coluna de absorção na Empresa B e coletor de pó de jateamento na
Empresa E) pois apresentavam emissões fugitivas. As empresas investigadas possuem equipamentos de controle de emissões
na maior parte dos casos. Geralmente, as maiores reclamações por parte dos moradores vizinhos a atividades industriais têm
relação com a geração de material particulado, fumaça, odor e ruído, o que pode influenciar as empresas a investirem em
equipamentos para evitar a ocorrência de denúncias.
Diante dessas análises, o Órgão Ambiental pode requerer, destes empreendimentos, a realização de melhorias no sentido de
sanar as irregularidades ambientais constatadas, bem como das outras inadequações apuradas. Isso com o objetivo de
regularizar as atividades, sabendo-se que o processo de licenciamento ambiental não se limita ou termina na emissão da licença

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ambiental; do contrário, é um processo contínuo que objetiva promover a regularização gradual da atividade.

Considerações finais
O presente trabalho objetivou realizar um diagnóstico ambiental relativo às condições de gerenciamento de resíduos sólidos,
efluentes líquidos e emissões atmosféricas, por meio de uma ferramenta desenvolvida e adaptada à realidade do Órgão
Ambiental de São Leopoldo. Os estudos de caso evidenciaram que o processo de gestão e gerenciamento ambiental das
empresas investigadas era, na maior parte dos casos, insipiente, e, no melhor cenário, iniciante. Pode-se inferir que esta
também seja a realidade de uma grande parte das empresas licenciadas no município, que possuem pequeno porte e condições
financeiras deficientes. Quanto aos resíduos sólidos, verificou-se que nenhuma empresa atendia integralmente as NBR 11174 e
12235, carecendo de melhorias principalmente na identificação, contenção dos resíduos e controle quantitativo dos resíduos
gerados. Quanto aos efluentes líquidos, constatou-se que nenhuma empresa possuía instrumentos ou meios para medição de
vazão, sendo que 3 das 5 empresas lançavam efluentes sem tratamento. Referente às emissões atmosféricas, observou-se que,
em geral, as empresas possuíam equipamentos de controle.
As listas de verificação puderam ser facilmente aplicadas nas empresas, abrangendo condições importantes de três dimensões
ambientais relevantes nas indústrias (resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas). Além disso, essas
ferramentas se mostraram práticas e objetivas, servindo, também, como um documento que retrata a realidade da empresa,
auxiliando na identificação de irregularidades ambientais, subsidiando ações e instrução de processos administrativos em
Órgãos Ambientais. Entretanto, a avaliação obtida retrata apenas a realidade momentânea encontrada nas empresas, o que pode
não ser representativo da realidade cotidiana. Para tanto, um melhor resultado é alcançado somente com a realização de visitas
periódicas às empresas.
Diante do exposto, considerando que existem muitas empresas que ainda sequer atendem aos requisitos mínimos exigíveis, a
utilização da metodologia deve ser no sentido de fomentar uma evolução gradativa do gerenciamento ambiental das empresas,
para que o empreendedor compreenda a necessidade de mudança e de aperfeiçoamento constante do seu processo produtivo, e,
assim, o objetivo principal seja alcançado: o desenvolvimento sustentável.

Agradecimentos
Os Autores agradecem a Secretaria Municipal do Meio Ambiente de São Leopoldo – SEMMAM, em especial a Diretoria de
Fiscalização Ambiental, pela oportunidade de realização do trabalho.

Referências Bibliográficas

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ABNT, 2004.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). ABNT NBR 11174: Armazenamento de resíduos classes II - não inertes e
III - inertes. Rio de Janeiro: ABNT, 1990.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). ABNT NBR 12235: Armazenamento de resíduos sólidos perigosos. Rio
de Janeiro: ABNT, 1992.

Confederação Nacional da Indústria (CNI). Licenciamento ambiental: propostas para aperfeiçoamento. – Brasília: CNI, 2014.
Disponível em: <http://www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2014/11/propostas-da-industria-para-as-eleicoes-
2014/#propostas-da-industria-para-as-eleicoes-2014-caderno-25-qualidade-regulatoria-como-o-brasil-pode-fazer-melhor%20>.
Acesso em: 18 ago. 2019.

Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução CONAMA Nº 237, de 19 de dezembro de 1997. Disponível
em: <http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html>. Acesso em: 14 set. 2018.

Gil, A. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

Moura, L. Qualidade e Gestão Ambiental. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira. 2008. 5ª Edição.
Secretaria Municipal do Meio Ambiente de São Leopoldo (SEMMAM). Cartilha SEMMAM – Licenciamento e Fiscalização
Ambiental. São Leopoldo: 2013

439
5SSS157
ESTUDO DA APLICAÇÃO DO PROGRAMA DE PRODUÇÃO MAIS
LIMPA EM UMA INDÚSTRIA DE INJEÇÃO DE POLÍMEROS
Henrique Lisbôa da Cruz1, Ismael Norberto Strieder2, Carlos Alberto Mendes Moraes3
1Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, e-mail: cruzhnrq@yahoo.com.br; 2Universidade do Vale do
Rio dos Sinos - UNISINOS, e-mail: ismaelstrieder@hotmail.com; 3Programas de Pós-Graduação em Engenharia
Civil e em Engenharia Mecânica - Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, e-mail:
cmoraes@unisinos.br.

Palavras-chave: produção mais limpa; injeção; polímeros.

Resumo
O plástico é um material polimérico largamente utilizado no cotidiano, estando presente nas mais variadas aplicações. Estudos
apontam que cresce anualmente a geração de resíduos plásticos. Esse tipo de resíduo, embora não seja classificado como
resíduo perigoso (Classe I), causa diversos impactos ambientais negativos por durar muito tempo na natureza e não ser
biodegradável. Nesse cenário, surgem oportunidades de aplicação de ferramentas ambientais com o objetivo de minimizar a
geração de resíduos poliméricos ao longo de todo o ciclo de vida dos produtos. Dentre as ferramentas existentes, destaca-se a
Produção Mais Limpa, um programa de melhoria continua que visa atenuar o potencial poluidor dos processos produtivos por
meio de ações em três diferentes níveis. As ações pertencentes ao Nível 1 são priorizadas, uma vez que objetivam minimizar a
geração de resíduos na fonte, desde boas práticas de fabricação, até mudanças complexas, que envolvem alteração em
processos e produtos. Já as ações de Nível 2 contemplam a reciclagem interna, e as de Nível 3 a reciclagem externa. Com a
aplicação da Produção Mais Limpa, tende-se a obter benefícios não somente ambientais, mas também econômicos. Dentro
desse contexto, o presente trabalho consistiu na elaboração e aplicação parcial de um programa de Produção Mais Limpa em
uma indústria de injeção de polímeros situada no Vale do Caí, estado do Rio Grande do Sul. A indústria investigada fabrica
utensílios domésticos diversos, como potes, bacias, porta-objetos, de diferentes cores e polímeros, por meio de processo de
injeção. O trabalhou se tratou de um estudo investigativo preliminar, contemplando parcialmente 4 das 5 etapas propostas pelo
CNTL (Centro Nacional de Tecnologias Limpas), que elaborou um guia de implementação da Produção Mais Limpa. O
presente trabalho vislumbrou identificar oportunidades de aplicação da Produção Mais Limpa na indústria investigada. Para
tanto, inicialmente foi realizada visitação in loco. Foram identificadas, de modo preliminar, barreiras à implementação do
programa, em que foi sugerido o fortalecimento de ações educativas para colaboradores e gestores. O processo produtivo da
empresa foi avaliado, buscando-se compreender as principais entradas e saídas em cada etapa, focalizando a análise em torno
daquelas em que são gerados resíduos sólidos, líquidos e gasosos. Além disso, foram observadas as etapas em que são
consumidos recursos energéticos e hídricos, que são demandados em grande quantidade nesse ramo industrial. Observou-se
que a empresa não realiza o controle quali-quantitativo dos insumos utilizados (água e energia), tampouco dos resíduos
produzidos, o que dificultou a análise nas etapas que requerem a avaliação de dados quantitativos, como balanços de materiais
e de energia. Apesar disso, foram pré-selecionados os aspectos ambientais mais expressivos mediante análise de riscos
ambientais e pela observação in loco. A análise de riscos foi realizada por meio de planilha de aspectos e impactos
desenvolvida, considerando as constatações durante a visita técnica à empresa. Os aspectos pré-selecionados tiveram relação
com a contaminação do ar pelo uso de empilhadeiras, uso de recurso energético (moagem e injeção) e hídrico (injeção) e
geração de Resíduo Sólido Classe I – Perigoso, de polímeros contaminados no processo de injeção. Seguindo a metodologia
proposta, as causas de geração desses aspectos foram avaliados, a fim de serem identificadas oportunidades de aplicação da
Produção Mais Limpa, de acordo com os diferentes níveis do programa. As melhorias e propostas vislumbradas concentraram-
se em ações de Nível 1 – Redução na Fonte, o que é positivo. Verificou-se que a empresa já realiza uma ação de Nível 2, ao
reciclar internamente a sucata polimérica gerada no processo de injeção. A viabilidade das oportunidades foi avaliada de
maneira preliminar, considerando-se aspectos técnicos, econômicos e ambientais. Contudo, a seleção das oportunidades viáveis
depende de análise mais completa, observando-se dados estatísticos e custos associados, que não estavam disponíveis e,
portanto, não foram considerados. Dentre as oportunidades identificadas, destaca-se as de mudança tecnológica e de produto,
como a utilização de energia solar e redução do portfólio de produtos. Contudo, por demandarem mudanças complexas,
carecem de avaliação mais aprofundada para atestar a sua viabilidade. Todavia, também se verificou que existem inúmeras
oportunidades que podem ser implementadas na empresa, uma vez que se tratam de boas práticas de fabricação e adoção de
procedimentos básicos, com a estrutura que a empresa já dispõe. Dentre essas, aponta-se a realização de manutenção periódica
do motor e do catalisador das empilhadeiras, do sistema de arrefecimento das injetoras, e reciclagem da água de resfriamento.
Portanto, identificaram-se ações que já podem ser iniciadas e incluídas nos procedimentos operacionais e no planejamento de
manutenção da empresa, mesmo sem um programa de P+L e/ou Sistema de Gestão Ambiental implementados. Nesse sentido,

440
o trabalho surge como um incentivo à estruturação da gestão ambiental na empresa, que não possui projeto consolidado.

Introdução
Os materiais poliméricos, nos quais incluem-se os plásticos, são largamente utilizados nos mais variados produtos utilizados
pela sociedade. As características variadas dos plásticos permitem sua aplicação em roupas, utensílios de uso geral,
automóveis, aviões, próteses médicas etc. Em razão disso, a produção mundial de plásticos passou de 1,7 milhão de toneladas,
em 1950, para 265 milhões de toneladas, em 2010 (OLIVEIRA, 2012), o que acaba gerando grandes volumes de resíduos
plásticos anualmente. Embora sejam classificados como Resíduos Sólidos Classe II – Não Perigosos segundo a Norma ABNT
10004/2004 (ABNT, 2004), o descarte e a destinação incorreta de plásticos não deixam de causar impactos ambientais
negativos. Isso porque os resíduos plásticos não são biodegradáveis; pelo contrário, são altamente duráveis e persistem na
natureza por muitos anos. Nesse sentido, a imensa variedade e o grande volume gerado desses resíduos tornam sua gestão
bastante complexa (OLIVEIRA, 2012).
Diante desse cenário, surgem oportunidades para aplicação de novas técnicas para minimizar os efeitos poluidores dos
plásticos, ao longo do seu ciclo de vida. Assim, o presente trabalho aborda o tema de Produção Mais Limpa (P+L) em uma
indústria de injeção de plásticos para fabricação de utensílios domésticos. Para tanto, faz-se necessário reconhecer os conceitos
fundamentais da P+L e os principais aspectos do ramo industrial de injeção polimérica.

Programa de Produção Mais Limpa (P+L)


A preocupação com a qualidade do meio ambiente tem aumentado ao longo dos anos. De acordo com CNTL (2003), há uma
tendência de evolução no gerencialmente ambiental das empresas. Partiu-se de uma simples dispersão sem tratamento de
resíduos, passando para as tecnologias de tratamento denominadas fim-de-tubo, até chegar, mais recentemente, em abordagens
de prevenção da poluição, por meio da otimização de processos e minimização da geração de resíduos (CNTL, 2003). Dentre
essas abordagens atuais, destaca-se a Produção Mais Limpa, programa lançado pela PNUMA (Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente) em 1989 que proporcionou uma mudança de paradigma na maneira de desenhar os processos
produtivos. Antes encarados como inerentes aos processos de produção, os resíduos passaram a indicar sua ineficiência
(CNTL, 2003).
Segundo Kiperstok (2002), o programa de Produção Mais Limpa é um processo de melhoria contínua, que objetiva diminuir
gradualmente os impactos de atividades produtivas ao meio ambiente, por meio de técnicas que podem ser de simples mudança
de procedimento, até uma mudança de processo ou tecnologia. Atualmente, o programa de P+L pode conter estratégias que
abrangem inclusive as técnicas gerenciais das empresas. Nesse sentido, a P+L é definida por CNTL (2003) como uma
“estratégia técnica, econômica e ambiental integrada aos processos e produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso de
matérias-primas, água e energia, através da não geração, minimização ou reciclagem dos resíduos e emissões geradas, com
benefícios ambientais, de saúde ocupacional e econômicos”. Para cumprir com esses objetivos, CNTL (2003) propôs uma
metodologia para aplicação do programa, dividida em 5 (cinco) principais etapas, apresentadas a seguir.

Metodologia de Aplicação da Produção Mais Limpa


O Centro Nacional de Tecnologias Limpas – CNTL desenvolveu uma metodologia para aplicação do programa de P+L, que
compreende 5 (cinco) etapas, antecedidas pela visita técnica até o empreendimento objeto da avaliação, que pode ser uma
empresa, conjunto industrial, estabelecimento comercial, empreendimento em geral etc. CNTL (2003). Na visita, deve-se
iniciar a sensibilização dos envolvidos com a atividade objeto da aplicação do programa, visando seu comprometimento, o que
facilitará a implantação. Após a visita, a Etapa 1 compreende a realização de uma reunião, para reforçar o comprometimento
da alta gestão para a implantação do programa, e organizar de um grupo responsável por efetivar as proposições na empresa,
denominado eco time. Nessa etapa, também devem ser identificadas as principais barreiras para a implementação do programa,
buscando superá-las, e definir-se a abrangência de sua aplicação (CNTL, 2003).
Após, a Etapa 2 prevê que um diagnóstico da situação ambiental da empresa deve ser realizado, contemplando balanços
energéticos e materiais, e informações sobre o processo (entradas e saídas, fluxograma, fornecedores etc.) com o objetivo de
selecionar o foco da avaliação. Tais informações são necessárias para o comparativo após a implantação da P+L, auxiliando na
etapa de monitoramento. Assim, na etapa posterior, Etapa 3, são feitas análises com o objetivo de identificar as oportunidades
de aplicação da P+L, com ações em 3 níveis, devendo-se priorizar as ações de nível 1, que visam redução da geração de
resíduos na fonte. Após identificadas, as oportunidades serão selecionadas na Etapa 4, mediante análise técnica, econômica e
ambiental, atestando a viabilidade das proposições escolhidas (CNTL, 2003).
Por fim, a Etapa 5 compreende a parte prática do projeto de implementação da P+L, incluindo a elaboração do plano de ação,
monitoramento e plano de continuidade. Essa etapa é de suma importância para o programa, sendo determinante para o sucesso
da implantação, uma vez que se trata de um processo de melhoria contínua, que deve ser constantemente revisado (CNTL,
2003).

441
Indústria de Injeção de Polímeros e Geração de Resíduos
Oliveira (2012) indica que para a fabricação de produtos plásticos podem ser empregados quatro principais métodos: extrusão,
injeção, sopro e rotação. Dentre esses, destaca-se a moldagem por injeção, um dos processos mais utilizados na indústria
plástica. Esse processo apresenta alta produtividade e boa qualidade nas peças fabricadas, além de produzir artefatos das mais
variadas geometrias, massas e tamanhos. O processo é realizado no equipamento denominado de injetora, comumente
encontrado na configuração horizontal. Nesse equipamento, que opera em ciclos, a matéria-prima (polímeros e aditivos) é
alimentada em um funil, no estado sólido. No interior da injetora, o material é transportado por uma rosca, sendo aquecido e
fundido, passando pelo bico de injeção, pelo qual é inserido entre o molde e o contramolde, tomando a forma desejada. Após, o
material é resfriado ainda dentro do molde, solidificando novamente para então ser extraído, soltando-se do molde e saindo
como produto (FLORES, 2012).
De acordo com Flores (2012), assim como em outros processos produtivos, o processo de injeção gera sucatas e resíduos. As
sucatas poliméricas, que podem ser novamente utilizadas, são provenientes de peças refugadas, normalmente por estarem fora
de especificação (não conformidades no tamanho, forma, coloração, acabamento superficial, falha no preenchimento por
material etc.) ou dos set-up de produção. Já os resíduos sólidos resultam da contaminação de matéria-prima por óleos e graxas,
pó, umidade, ou outro tipo de resina, que impedem o processamento em função dos problemas operacionais e de qualidade que
podem ocasionar (FLORES, 2012).
Além dos resíduos sólidos, nesse tipo de indústria são gerados efluentes líquidos e emissões atmosféricas, bem como são
utilizadas quantidades significativas de recursos como água (resfriamento) e energia (aquecimento), principalmente nas
injetoras. Deste modo, considerando a importância e potenciais impactos existentes nesse ramo industrial, autores como Araújo
e Oliveira (2009) e Guimarães et al. (2011) desenvolveram estudos utilizando a Produção Mais Limpa em diferentes indústrias
de injeção de plásticos. De modo geral, esses autores verificaram que o programa contribuiu para a sustentabilidade dos
processos investigados, obtendo resultados satisfatórios na redução de resíduos e energia.

Objetivo
Diante desse cenário, o presente estudo objetivou a elaboração de um projeto de implementação parcial de um programa de
Produção Mais Limpa em uma indústria de injeção de polímeros para fabricação de utensílios domésticos, localizada no Vale
do Caí, Rio Grande do Sul.

Metodologia
Para atender ao objetivo proposto, realizou-se pesquisa bibliográfica, selecionando-se as técnicas e ferramentas para aplicação
de algumas das etapas do programa de Produção Mais Limpa propostas por CNTL (2003), apresentadas anteriomente, na
empresa de fabricação de utensílios poliméricos. O presente trabalho tratou de um estudo preliminar, uma vez que não
contemplou a implementação completa do programa. Assim, o estudo foi pautado na avaliação parcial das Etapas 1, 2, 3 e 4 da
metodologia de CNTL (2003), que pode contribuir para a melhoria da gestão ambiental de empresas desse ramo industrial,
focado na minimização de resíduos. Como adaptação à metodologia proposta por CNTL (2003), não foram incluídas as
subetapas de comprometimento da alta gestão e a formação do ecotime, tendo em vista que o presente trabalho se limitou a
elaborar um plano de ação, não incluindo a implementação das oportunidades surgidas.

Metodologia para priorização de aspectos e impactos


Destaca-se que a Etapa 2 compreende a seleção do foco de avaliação, a partir da identificação do processo produtivo,
qualitativa e quantitativamente. Para essa seleção, a metodologia proposta por CNTL (2003) não indica um método específico.
Assim, nesse trabalho, foi construída uma planilha de aspectos e impactos ambientais, contemplando todos as etapas do
processo, para permitir uma priorização preliminar dos principais aspectos e impactos identificados, de modo a auxiliar na
escolha das oportunidades de P+L.
A planilha de aspectos e impactos ambientais foi construída a partir da análise preliminar realizada através da visita in loco,
buscando contemplar os principais aspectos ambientais verificados, identificando seus potenciais impactos e priorizando-os de
acordo com seu grau de risco. Para a avaliação do risco ambiental, foram utilizados os índices de Severidade (S), Ocorrência
(O), Abrangência (A) e Detecção (D) e critérios para pontuar cada índice entre 1 e 3. A severidade indica o grau de
comprometimento do meio ambiente devido ao impacto ambiental, em função das características intrínsecas do aspecto
ambiental avaliado. Para o caso de Resíduos Sólidos, a severidade segue a classificação da ABNT NBR 10004. Para o caso dos
outros aspectos, a severidade segue a mesma lógica: valor 3 para os mais danosos, valor 2 para os de média severidade e valor
1 para os de baixa severidade. O índice de ocorrência propõe identificar a frequência com que o impacto ambiental ocorre,
enquanto a abrangência aponta para o grau de alcance do impacto. A detecção indica a facilidade em se identificar a ocorrência
do impacto. A Figura 1 apresenta os critérios utilizados para a valoração dos índices de risco ambiental.

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Severidade Abrangência
1 Classe II B - Inerte 1 Local
2 Classe II A - Não - Inerte 2 Regional
3 Classe I - Perigoso 3 Global

Ocorrência Detecção
1 Dificilmente ocorre 1 Fácil detectar
2 Eventualmente ocorre 2 Média detecção
3 Certamente ocorre 3 Difícil detecção
Figura 1 – Critérios para pontuação dos índices de risco ambiental

O risco associado ao impacto foi obtido pela multiplicação entre a severidade, ocorrência, abrangência e detecção, em que as
escalas definidas indicam qualitativamente o grau de risco, mostradas na Tabela 1. Foram priorizadas na análise das opções de
P+L os aspectos cujos impactos foram classificados como de alto risco.

Classificação Escala
BAIXO Até 4
MÉDIO 5 a 36
ALTO 36 a 81
Tabela 1 - Escala para risco

A empresa objeto do estudo


A indústria alvo do estudo está localizada no Vale do Rio Caí, instalada em um complexo industrial. Possui área fabril com
cerca de 8.200m², contando com 156 colaboradores em 3 turnos de operação. A atividade da empresa consiste na fabricação de
produtos injetados plásticos, para uso doméstico (cozinha, banheiro), como potes, bacias, porta-escovas, porta-objetos, cadeiras
etc. O portfólio da empresa é bastante diversificado, contendo 415 referências de utensílios, com cores, tamanhos e design
distintos. A empresa possui 29 injetoras de portes variados, bastante flexíveis quanto a tipologia de utensílios que podem ser
produzidos, limitando-se apenas pelo tamanho do molde. Isto é, cada injetora pode fabricar qualquer tipo de utensílio, desde
que comporte seu molde. A programação da produção é controlada pela demanda de mercado, portanto, bastante variável. A
empresa não possui Certificação ISO 14001, estando o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) ainda em fase inicial de
estruturação, sem ações efetivas. Portanto, o programa de Produção Mais Limpa se apresenta como auxílio e incentivo para a
implantação de um SGA, para uma futura certificação.

Resultados e Discussões
Os resultados do projeto preliminar de implementação do programa de Produção Mais Limpa proposto para a indústria de
injeção de polímeros serão apresentados nesse capítulo. As etapas da metodologia de CNTL (2003) foram analisadas
parcialmente nesse trabalho para a empresa objeto do estudo, cujos resultados de cada etapa serão pormenorizados nos subitens
que seguem.

Etapa 1
Essa etapa, conforme indicado no item 1.2 do trabalho, é composta por 4 subetapas. Os resultados são apresentados a seguir.

Comprometimento Gerencial
A etapa de comprometimento gerencial, que deveria ser realizada mediante reunião com a alta gerência a fim de obter o
engajamento necessário para a consolidação do programa, não foi realizada. Isso porque o trabalho não contemplou a aplicação
prática da P+L, portanto, não se fez necessário garantir o envolvimento da gerência. Assim, foi realizado somente o contato na
visitação da empresa, para a coleta de dados. Contudo, nesse contato preliminar, encontrou-se dificuldade na obtenção de
informações, sendo solicitado sigilo quanto a identificação da empresa.

Identificação de Barreiras
Conforme descrito no item anterior, a barreira inicialmente verificada para a elaboração do programa foi a dificuldade para
coletar os dados necessários. No tocante às barreiras para implementação da P+L, pode-se destacar o envolvimento dos
funcionários e da gerência quanto aos novos procedimentos a serem implantados. É comum que a mudança em procedimentos,
hábitos e modos já consolidados sofra resistência inicialmente, principalmente pelos colaboradores que trabalham na linha de
frente. A superação para esse tipo de situação passa pela educação e treinamento dos funcionários, de modo a obter-se o

443
comprometimento de todo o quadro. Para tanto, também é necessário superar uma barreira associada à gerência: ausência de
atenção às questões ambientais. Isso pode se dar pela inexistência de um SGA na empresa, que ainda atua de modo reativo, no
intuito de atender minimamente as exigências legais. Nesse sentido, na prática, o comprometimento ambiental e as práticas
sustentáveis ainda não estão arraigadas nas ações gerenciais. Contudo, essa eventual barreira pode ser superada pelo próprio
desenvolvimento do programa de P+L, ao serem reconhecidos os retornos proporcionados pelas ações, que consideram a
viabilidade econômica como uma das variáveis decisórias. Além disso, a gradativa implantação do SGA e decorrente
certificação podem auxiliar na inclusão da área ambiental como valores da empresa.

Estudo da Abrangência
Durante a visita técnica, foram visualizadas, ainda que de maneira preliminar, oportunidades de ações pautadas nos conceitos
da Produção Mais Limpa em diferentes processos executados na empresa. Assim, em virtude de ser um estudo investigativo
preliminar, foram identificadas oportunidades de P+L abrangendo a empresa como um todo. Contudo, a implementação prática
pode iniciar por uma unidade de injeção específica, selecionada, por exemplo, a partir da maior facilidade de aplicação das
oportunidades de P+L que serão apresentadas e discutidas nas próximas etapas.

Formação do Ecotime
Da mesma forma com que para a etapa de Comprometimento Gerencial, a formação do ecotime não foi realizada, tendo em
vista que o trabalho propôs um estudo sobre a aplicabilidade da P+L na empresa, mas não tencionou implementá-la de fato.
Entretanto, considerando que a empresa tem planos para construção de um Sistema de Gestão Ambiental, aqueles
colaboradores participantes do SGA também poderiam se comprometer com a utilização das técnicas e ferramentas da P+L
propostas, inclusive para a elaboração das ações ambientais do sistema de gestão.

Etapa 2
A Etapa 2 contempla 3 fases de aplicação, conforme revisão de literatura, cujos resultados são apresentados a seguir.

Fluxograma do Processo
A partir da visita técnica ao empreendimento, que foi acompanhada por um colaborador da empresa, verificou-se que o
processo produtivo é composto pelo recebimento de matéria-prima e insumos, mistura, injeção, acabamento, embalagem e
expedição. As matérias-primas são recebidas e estocadas em separado, de acordo com o tipo de polímero. Conforme o tipo de
utensílio doméstico a ser produzido, os operadores realizam a mistura do polímero especificado, juntamente com os pigmentos
que darão cor às peças. A mistura ocorre em betoneiras ou misturadores, para a homogeneização do polímero e pigmentos,
ainda no estado sólido. Após, essa mistura é enviada para a injetora, que contém o molde para a injeção do utensílio desejado.
Foram identificadas as injetoras da empresa, em um total de 29, havendo sacos contendo os materiais para processamento junto
a essas máquinas.
A troca de molde e cor das peças nas injetoras, durante o set up, gera produtos fora de especificação, que são tratadas como
sucatas poliméricas. As sucatas são geradas até que todo o pigmento da peça que estava sendo anteriormente produzida
desapareça, para que então as peças com a nova cor comecem a ser produzidas em perfeito estado, com a coloração adequada.
As sucatas são moídas em moinhos de facas para serem novamente processadas, sendo triadas de acordo com sua cor. Os
produtos que apresentam defeitos diversos também retornam para o processo como sucatas. As injetoras produzem diferentes
produtos, isto é, não há uma injetora dedicada à produção de um único utensílio. Portanto, apresentam grande flexibilidade,
sendo limitadas apenas pelo tamanho dos moldes, uma vez que existem injetoras de diferentes portes e capacidade de
produção. Devido a isso, ocorrem inúmeras trocas de molde e cor durante a operação, de acordo com a demanda de produção
de cada tipo de peça, o que acaba gerando grande quantidade de sucatas.
Após injetadas, o controle de qualidade avalia a conformidade das peças e então envia as que não apresentam defeitos para a
embalagem e expedição. Na embalagem são gerados os resíduos de etiquetas, papéis, fitas e outros. O diagrama de blocos
qualitativo, apresentado na Figura 2, pormenoriza as entradas e saídas de cada etapa do processo.

444
Matéria-prima (polímeros):
PP, PS, ABS, PPR,
Pigmentos etc.
Insumos: tampas e respiros.

Empilhadeiras (GLP) RECEBIMENTO Emissões atmosféricas

Resíduos Sólidos: Polímero


Energia MISTURA virgem, embalagem plástica,
lâmina estilete, etiquetas, fitas
gomadas,

Resíduos Sólidos: Polímero


Energia. Água. Óleo de contaminado, borra, latas de
refrigeração, tecidos para silicone e desmoldante, pigmento
limpeza, resistências elétricas, INJEÇÃO contaminado, varrição, papel,
desmoldantes, silicone, tecidos contaminados
mangueiras. Efluentes Líquidos: Água de
refrigeração contaminada com
óleo, óleo de refrigeração.
Qualidade? Emissões atmosféricas
Sucatas poliméricas
Não Sim
Resíduos Sólidos: Polímero fino,
Energia. Sucata polimérica. MOAGEM varrição.
Emissões atmosféricas: material
particulado

Resíduos Sólidos: rebarbas


Etiquetas, fitas adesivas, estilete ACABAMENTO
poliméricas, lâmina de estilete,
etiquetas, fitas adesivas

Etiquetas, fitas adesivas, estilete,


caixas de papelão, fita de Resíduos Sólidos: lâmina de
EMBALAGEM estilete, etiquetas, fitas adesivas,
arquear, embalagens plásticas
papelão.

Empilhadeiras (GLP) EXPEDIÇÃO Emissões atmosféricas

Produto Final: Utensílios


domésticos (potes, bacias, porta-
escovas etc.)

Figura 2 – Diagrama de blocos qualitativo do processo produtivo

Diagnóstico Ambiental e de Processo


De acordo com CNTL (2003), essa etapa de diagnóstico deve ser realizada pelo ecotime formado ainda na Etapa 1. Contudo,
como já mencionado, em virtude do escopo deste trabalho não houve estruturação do ecotime. Apesar disso, essa etapa é
fundamental para o prosseguimento das demais fases de implementação do programa de P+L, uma vez que prevê a
quantificação das entradas e saídas de cada processo. De maneira preliminar, verificou-se que a empresa não possui registros
precisos do consumo de água e energia da unidade produtiva, porque compartilha a mesma rede de energia e de abastecimento
de água com outros empreendimentos do complexo industrial. Desta forma, não possui o controle do consumo desses insumos
no processo. Além disso, a empresa também não dispõe de planilhas e controles da quantidade de resíduos sólidos e efluentes

445
produzidos, o que impossibilitou a obtenção inicial desses dados.
Apesar da ausência de dados quantitativos, é possível inferir, por meio do diagrama de blocos de entradas e saídas que são
geradas diferentes tipologias de resíduos, principalmente sólidos. Verificou-se que um dos resíduos mais gerados é o papel
linear e o plástico. No papel linear estão impressas as etiquetas de identificação da empresa e o código de barras, e o plástico é
oriundo das embalagens de polímero e pigmento que chegam no almoxarifado constantemente. Além disso, tem-se também
várias emissões atmosféricas, como, por exemplo, material particulado oriundo do processo de moagem de sucatas
poliméricas, emissões oriundas das injetoras, desmoldantes e empilhadeiras. Há ainda a geração de ruídos, causados pelas
injetoras no momento de injetar e dosar, além daqueles emitidos pelos misturadores e betoneiras que fazem a mistura da
matéria prima.

Seleção do Foco de Avaliação


Considerando as observações in loco e a ausência de informações quantitativas sobre cada etapa do processo produtivo, o
programa de Produção Mais Limpa, inicialmente, pode ser avaliado para as diferentes etapas do processo de fabricação de
utensílios. Isso porque a inexistência desses dados não impede a implementação de medidas simples já identificadas na
empresa, que podem contribuir com a melhoria do processo. Desta forma, como o objetivo do trabalho foi identificar
potencialidades de aplicação do programa de P+L na empresa objeto de estudo, foram pré-selecionados aqueles aspectos que,
perceptivelmente, oferecem oportunidades de melhorias - mesmo que classificados em médio risco - e aqueles que foram
classificados como de alto risco ambiental, de acordo com a metodologia proposta no item 3.1 do trabalho, a partir da planilha
de aspectos e impactos desenvolvida. Os aspectos e impactos pré-selecionados são apresentados na Figura 3.

ETAPA ASPECTO IMPACTO S O A D Risco


Emissão de poluentes
Recebimento de Matéria-
atmosféricos pelo trânsito de Contaminação do ar 3 3 2 2 36 ALTO
Prima e Expediçâo
empilhadeiras
Geração de polímeros Contaminação do solo 3 3 2 1 18 MÉDIO
contaminados com óleo Ocupação de volume no aterro 3 3 2 1 18 MÉDIO
Consumo de energia elétrica pela Aumento no consumo de recurso
2 3 3 2 36 ALTO
injetora energético
Injeção
Aumento no consumo de recurso
Uso de água para refrigeração 2 3 3 2 36 ALTO
hídrico
Emissões atmosféricas da injetora
Contaminação do ar 3 3 2 2 36 ALTO
(CO2)
Consumo de energia elétrica pelo Aumento no consumo de recurso
Moagem 2 3 3 2 36 ALTO
moinho energético
Figura 3 – Aspectos e impactos previamente selecionados

Como se observa na Figura 3, os aspectos previamente selecionados são aqueles relativos à contaminação do ar, uso de recurso
energético e hídrico e geração de Resíduo Sólido Classe I – Perigoso. As etapas subsequentes focalizam a análise em torno
desses aspectos, visando a identificação de oportunidades de aplicação da P+L.

Etapa 3
A Etapa 3 compreende 3 fases, apresentadas a seguir.

Balanço de Material e Indicadores


Nessa etapa, devem ser avaliados os balanços materiais de cada etapa pré-selecionada como foco da avaliação. Contudo, como
anteriormente explicado, a ausência de dados e desse controle pela empresa não possibilitou a análise do balanço material,
tampouco a identificação de indicadores, necessários para medir a eficiência da aplicação das oportunidades de P+L nas etapas
subsequentes de implementação. Entretanto, a implementação do programa de P+L pode incentivar a criação dos inventários
de resíduos e insumos utilizados e gerados durante o processo, possibilitando maior controle sobre as entradas e saídas e
informações sobre eficiência. Esses registros podem ser realizados com a instalação de um medidor de energia para a unidade
da empresa, e a energia consumida em cada injetora calculada considerando sua potência e tempo de utilização. A água de
refrigeração, quando não contaminada, opera em circuito fechado, portanto, sabendo-se a quantidade abastecida e o intervalo
de tempo de sua utilização, é possível fazer um controle quanto ao volume utilizado, e de efluente gerado quando da troca
desse fluido. Os resíduos sólidos produzidos em cada injetora podem ser recolhidos durante a operação, para então serem
quantificados em uma balança, sendo registrado o volume gerado para a elaboração de planilhas. Cabe salientar que essas
informações são de fundamental importância para o gerenciamento do processo produtivo na empresa, e para a área ambiental
são requisitos a serem atendidos e apresentados no processo de licenciamento ambiental.

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Identificação das Causas da Geração de Resíduos
Muito embora não tenha sido possível realizar um balanço material quantitativo das etapas alvo da avaliação nesse estudo
preliminar, é possível refletir, de antemão, sobre as principais causas de geração de resíduos na empresa, a partir da visita
técnica ao local. As causas de geração identificadas preliminarmente são apresentadas na Figura 4, no próximo subitem,
juntamente com a etapa de identificação das opções de P+L.

Identificação das Opções de P+L


Nessa etapa, de acordo com o referencial teórico, são identificadas as oportunidades de aplicação da Produção Mais Limpa.
Para tanto, deve-se considerar os níveis de atuação da P+L, privilegiando-se as ações de Nível 1, que visam reduzir a geração
de resíduos na fonte. A Figura 4 indica, para cada um dos seis aspectos previamente selecionados, a causa de geração resíduos
e do consumo de recurso (hídrico e energético). Também, foram apontadas sugestões de melhoria, considerando os níveis de
P+L. Salienta-se que todos os apontamentos foram gerados a partir da observação do processo produtivo da empresa,
considerando os aspectos verificados durante a visita técnica.

ASPECTO CAUSA DE GERAÇÃO NÍVEL DE P+L SUGESTÕES DE MELHORIA


Nível 1 – Redução na Fonte Substituição das empilhadeiras a GLP por
Emissão de
– Mudança no Processo – empilhadeiras elétricas, movidas a energia
poluente Trânsito de empilhadeiras
Mudança Tecnológica solar
atmosférico movidas a GLP (Gás Liquefeito
Nível 1 – Redução na Fonte
pelas de Petróleo) Manutenção periódica do motor e do
– Mudança no Processo –
empilhadeiras catalisador das empilhadeiras
Boas Práticas de P + L
Substituição do material que constitui a
base do funil por material mais nobre
Geração de
Abertura na base do funil da Nível 1 – Redução na Fonte Melhoria no abastecimento da injetora
polímeros
injetora, em razão do material – Mudança no Processo – com polímero
contaminados
apresentar corrosão Mudança Tecnológica Implantação de uma bandeja de contenção
com óleo
na base do funil, evitando o contato do
polímero com contaminantes
Substituição do sistema elétrico da
Consumo de Consumo de grande quantidade
Nível 1 – Redução na Fonte injetora, para utilização de energia elétrica
energia de energia para aquecimento do
– Mudança no Processo – solar
elétrica pela polímero e funcionamento geral
Mudança Tecnológica Substituição da injetora por uma
injetora da máquina
Impressora 3D
Manutenção periódica do sistema de
Resfriamento do sistema de Nível 1 – Redução na Fonte
arrefecimento, principalmente das
Uso de água injeção e – Mudança no Processo –
mangueiras, dos engates rápidos e dos
para contaminação da água com óleo, Boas Práticas de P + L
bicos
refrigeração em razão de vazamento
Nível 2 – Reciclagem Reutilização da água após tratamento, em
(perfuração de mangueira)
interna caso de contaminação com óleo
Emissões Nível 1 – Redução na Fonte
atmosféricas Superaquecimento da injetora e – Mudança no Processo –
Utilização de aditivo no óleo
da injetora queima de óleo lubrificante Mudança de Matéria-Prima
(CO2) (insumo, neste caso insumo)

Geração de sucatas devido a Reduzir a variedade de cores e design de


Consumo de defeitos no processo de injeção utensílios do portfólio da empresa
Nível 1 – Redução na Fonte
energia (temperatura muito elevada,
- Mudança no Processo –
elétrica pelo bico injetor danificado etc.) e Manutenção periódica das injetoras.
Boas Práticas de P+L
moinho pelos set up (troca de cor e Controle e ajuste adequado das condições
molde) de processo (como a temperatura)

Figura 4 – Causas de geração e sugestões de melhoria a partir dos níveis de P+L.

Conforme se observa na Figura 4, as oportunidades de P+L identificadas estão relacionadas ao Nível 1, de redução na fonte,

447
que é o nível prioritário de ações. A empresa já realiza uma ação de Nível 2 – Reciclagem interna, com as sucatas poliméricas.
Ademais, uma avaliação técnica, econômica e ambiental deve ser realizada para cada proposição, a fim de atestar sua
viabilidade. Essa avaliação foi realizada de modo preliminar na Etapa 4, mostrada a seguir.

Etapa 4
A última etapa deste trabalho é composta por 2 subetapas, mostradas na sequência.

Avaliação técnica, ambiental e econômica


Realizou-se uma análise preliminar da viabilidade de cada proposição de aplicação de P+L, considerando as três dimensões
(técnica, ambiental e econômica), conforme Figura 5.

SUGESTÕES DE VIABILIDADE (PRELIMINAR)


MELHORIA TÉCNICA ECONÔMICA AMBIENTAL
Substituição das
Existem no mercado inúmeros tipos Deve-se analisar o payback e A energia solar é considerada
empilhadeiras à GLP por
de empilhadeiras elétricas e painéis verificar se a economia de GLP limpa, renovável. Elimina a
empilhadeiras elétricas,
fotovoltaicos. justifica os investimentos. utilização de combustível fóssil.
movidas a energia solar
Manutenção preventiva evita Diminui a emissão de poluentes,
Manutenção periódica do Empresa possui equipe de
gastos maiores no futuro. pela melhor eficiência na
motor e do catalisador das manutenção. Requisito para atender
Diminui consumo de combustão e purificação dos
empilhadeiras a NR 12.
combustível. gases.
Deve-se verificar se um
Substituição do material que Deve ser avaliado junto ao
eventual investimento supera os
constitui a base do funil por fabricante das injetoras que
ganhos com a diminuição do
material mais nobre apresentam o problema.
desperdício.
Requer análise mais aprofundada.
Reduz desperdício de material. Diminuição da quantidade de
Melhoria no abastecimento Há limitação de espaço físico que
Reduz risco de acidentes de matéria-prima desperdiçada é
da injetora com polímero pode ser uma barreira. Mas há
trabalho e gasto associados. positiva. Menos resíduo no aterro.
melhoria ergonômica.
Implantação de uma bandeja
Há um projeto de bandeja na Custo associado baixo. Empresa
de contenção na base do
empresa, a ser implementado, de do mesmo grupo industrial
funil, evitando o contato do
simples construção. poderia produzir.
polímero com contaminantes
Substituição do sistema
Requer análise profunda, se o Deve-se analisar o payback e
elétrico da injetora, para A energia solar é considerada
sistema supriria a demanda verificar se a substituição
utilização de energia elétrica limpa, renovável.
energética, parcial ou totalmente. justifica os investimentos.
solar
Substituição da injetora por Em tese, não possui produtividade Equipamento caro, payback
Reduz a geração de resíduos.
uma Impressora 3D suficiente. muito longo.
Manutenção periódica do
Manutenção preventiva evita
sistema de arrefecimento, Empresa possui equipe de
gastos maiores no futuro.
principalmente das manutenção que poderia executar o
Economia no custo de
mangueiras, dos engates serviço. Reduz a quantidade de efluente
tratamento e consumo de água.
rápidos e dos bicos produzido e de água consumida.
Reutilização da água após Necessita equipamento simples,
tratamento, em caso de como caixa separadora, para Economia no consumo de água.
contaminação com óleo descontaminação e reutilização.
Deve-se avaliar o custo do
Utilização de aditivo no óleo Há produtos no mercado. Reduz a emissão de CO2.
aditivo.
Reduzir a variedade de cores
Requer uma profunda análise de
e design de utensílios do Não haveria restrição técnica.
mercado e financeira.
portfólio da empresa
Manutenção periódica das Reduz o consumo de energia no
Empresa possui equipe de
injetoras. Controle e ajuste Reduz gastos de energia e com moinho e injetoras.
manutenção que poderia executar o
adequado das condições de reprocesso (hora-máquina e
serviço. Avaliar a instalação de
processo (como a funcionários).
controles.
temperatura)

Figura 5 - Análise preliminar da viabilidade. Legenda: Verde – viável; Amarelo – indefinido; Vermelho – inviável.

448
Seleção de oportunidades viáveis
Tratando-se de uma análise preliminar, não é possível concluir, definitivamente, sobre quais medidas são de fato viáveis, uma
vez que isso depende de uma análise mais aprofundada. Isso é mais claramente verificado na Figura 5, quando a viabilidade de
algumas proposições foi classificada como indefinida (cor amarela), tendo em vista a necessidade de analisar os custos, tempo
de retorno (payback) e outras informações envolvidas. Nota-se que essas propostas foram identificadas como de Nível 1 –
Redução na Fonte - Mudança Tecnológica, sendo as mais difíceis de serem executadas, requerendo avaliação mais complexa,
confirmando o exposto por CNTL (2003). Cabe salientar que as ações classificadas como viáveis, ou mesmo inviáveis,
também carecem de análises quantitativas mais precisas, considerando os dados pertinentes. Entretanto, essa análise preliminar
aponta para a existência de inúmeras estratégias e medidas com potencial de aplicação prática na indústria de injeção de
polímeros, principalmente as que demandam melhorias em procedimentos por meio de boas práticas. Dentre as que se
destacaram como viáveis do ponto de vista das três dimensões nesta análise preliminar, citam-se:
 Manutenção periódica do motor e do catalisador das empilhadeiras.
 Implantação de uma bandeja de contenção na base do funil, evitando o contato do polímero com contaminantes.
 Manutenção periódica do sistema de arrefecimento, principalmente das mangueiras, dos engates rápidos e dos bicos.
 Reutilização da água após tratamento, em caso de contaminação com óleo.
 Manutenção periódica das injetoras. Controle e ajuste adequado das condições de processo (como a temperatura).
Desta forma, são ações que já podem ser iniciadas e incluídas no planejamento de manutenção da empresa, mesmo sem um
programa de P+L e/ou Sistema de Gestão Ambiental implementados. Além disso, abriram-se as outras oportunidades de P+L
citadas, que podem ser discutidas e pensadas quanto a viabilidade, no intuito de melhorar continuamente o processo produtivo
da empresa.

Considerações Finais
O presente trabalho estudou a aplicabilidade do programa de Produção Mais Limpa em uma indústria de fabricação de
injetados poliméricos para utilidades domésticas. Embora tenha se tratado de um estudo preliminar, verificou-se que a
Produção Mais Limpa é uma ferramenta com grande potencial de aplicação na indústria de injeção de polímeros, confirmando
o que foi apontado na bibliografia consultada. Foram identificadas oportunidades de melhorias com potencial de
implementação prática em diferentes níveis de P+L, principalmente de Nivel 1, que objetivam reduzir a geração de resíduos na
fonte. As melhorias e proposições lançadas foram analisadas quanto a sua viabilidade técnica, econômica e ambiental. Ainda
que de modo preliminar, foi possível discutir a existência de ações viáveis e de simples execução, como a adoção de
procedimentos (controles quali-quantitativos de resíduos gerados, insumos consumidos etc.) e boas práticas no processo
produtivo (manutenção de equipamentos, adequações no abastecimento da injetora, dentre outros), que podem contribuir
ambiental e economicamente com a empresa estudada, e com outras do mesmo ramo industrial.

Referências Bibliográficas

Centro Nacional de Tecnologias Limpas – CNTL. Implementação de Programas de Produção Mais Limpa. Porto Alegre:
SENAI-RS/UNIDO/INEP, 2003. 42 p.

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Engenharia Mecânica – UNESP. Guaratinguetá: 2012. 74 f.

Guimarães, J. et al. Produção Mais Limpa e Sustentabilidade Ambiental: Estudo de Caso em uma Indústria de Plásticos na
Serra Gaúcha. International Workshop Advances in Cleaner Production - São Paulo – Brazil – May 18th-20ndth – 2011.

Kiperstok, A. et al. Prevenção da poluição. Brasília: SENAI/DN, 2002. 290 p.

Oliveira M.; Araújo F. A Produção Mais Limpa aplicada em uma pequena indústria do setor moveleiro: eficiência ambiental e
econômica. International Workshop Advances in Cleaner Production São Paulo – Brazil – May 20th-22nd – 2009.

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UFRJ/COPPE, 2012. XIII.

449
5SSS159
EMISSÕES GASOSAS A PARTIR DE MOTOR NÃO-RODOVIÁRIO
DE PEQUENO PORTE OPERANDO COM MISTURAS DE GASOLINA
E ÁLCOOIS ANIDRO DE DIFERENTES MATÉRIAS-PRIMAS
Douglas Luiz Mazur1, Gabriel Menon de Lima2, Julianno Pizzano Ayoub3, Waldir Nagel Schirmer4
1
Universidade Estadual do Centro-Oeste, e-mail: douglasluizmazur@hotmail.com;
2
Universidade Estadual do Centro-Oeste, e-mail: gabrielmenon@gmail.com;
3
Universidade Estadual do Centro-Oeste, e-mail: juliannopa@hotmail.com
4
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), e-mail: wanasch@hotmail.com

Palavras-chave: biocombustíveis; energias renováveis; poluição atmosférica.

Resumo
O Álcool Etílico Anidro Combustível (AEAC) é um importante aditivo da gasolina empregado no Brasil. O presente estudo
apresenta a avaliação das emissões gasosas de um motor-gerador estacionário de ignição por centelha de pequeno porte
operando com gasolina A pura (E0), gasolina C comercial com AEAC proveniente de cana-de-açúcar (E27, disponível
comercialmente), e gasolina C com AEAC sintetizado a partir da batata-inglesa, Solanum tuberosum (mistura aqui designada
por B27). A síntese do etanol anidro para mistura com gasolina ocorreu em etapas: moagem da batata-inglesa; hidrólise com
12% (m/m) de malte de cevada; fermentação alcóolica com levedo de cerveja (Saccharomyces cerevisiae); decantação dos
sólidos suspensos do fermentado; e destilação, utilizando pŕe-tratamento com óxido de cálcio. Foi determinado o teor de 27%
(v/v) de álcool anidro para as gasolinas tipo C (E27 e B27) utilizadas nas análises de emissões gasosas, conforme
especificações da legislação em vigor no Brasil. Foram realizadas análises das emissões de monóxido de carbono (CO) e
hidrocarbonetos totais (HC) para as amostras de combustível em operação sob diferentes condições de cargas aplicadas ao
motor-gerador (0, 1500 e 3000 W), em condição de mistura rica (λ<1). A presença de álcool anidro acarretou em redução de
emissões de CO e HC em todas as análises. Os resultados demonstraram que a mistura B27 produziu as menores concentrações
de CO e HC nas emissões de gases de escape em relação à E0 e à E27 para as situações de cargas avaliadas, e operando com
3000W de carga, B27 reduziu 28,6% de HC em relação à E27, e 31,3% em relação à E0, indicando que o etanol anidro obtido
pelo processo especificado neste trabalho demonstra potencial em ser utilizado como aditivo da gasolina a fim de reduzir as
emissões atmosféricas de HC e CO.

Introdução
A poluição do ar tornou-se um grave problema de saúde, principalmente em países em rápido crescimento (GENC et al, 2012),
contribuindo consideravelmente com as taxas globais de doenças (COHEN et al., 2017). A poluição atmosférica está
intimamente relacionada ao aumento de doenças respiratórias, cardiovasculares e neurológicas, sobretudo em crianças e idosos,
e promove um acréscimo nos custos com sistemas de saúde devido às internações hospitalares (Instituto de Energia e Meio
Ambiente, 2014). As emissões de gases veiculares podem ser consideradas como importantes fontes de poluição do ar pois é
associada à elevada dependência do uso de combustíveis fósseis (FENGER, 2009; SAIJA e ROMANO, 2002; LARSEN et al.,
2012; BARNETT e KNIBBS, 2014). Óxidos de nitrogênio, compostos orgânicos voláteis e oxidantes químicos estão entre os
principais poluentes do ar relacionados ao aumento do tráfego (FENGER, 2009). A gasolina é um produto refinado do
petróleo, constituída de uma mistura com mais de 500 hidrocarbonetos com 5 a 12 carbonos, além de aditivos combustíveis e
agentes de mistura (DEMIRBAS, 2010). Existem diferentes normativas referentes à regulamentação da gasolina, por exemplo
a Resolução nº 40/2013 da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP (ANP, 2013), que determina
as especificações e as obrigações quanto ao controle de qualidade das gasolinas de uso automotivo comercializadas no Brasil.
De acordo com a RANP Nº 40/2013, a “gasolina A” é a gasolina produzida pelas refinarias e é isenta de componentes
oxigenados, e a “gasolina C” é o combustível obtido a partir da mistura de gasolina A e etanol anidro combustível em
proporções definidas pela legislação em vigor. Existem o etanol hidratado e o etanol anidro, e a diferença entre os dois está no
teor de água: o etanol hidratado possui cerca de 5% (v/v) em teor de água e é vendido como combustível, enquanto o etanol
anidro deve ter o teor de água em torno de 0,5% e pode ser adicionado à gasolina (UNICA, 2007). Atualmente, de acordo com
a Portaria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) Nº 75 de 05 de Março de 2015, o percentual
compulsório de adição de etanol anidro à gasolina C é de 27% (BRASIL, 2015). O uso de bioetanol como combustível
alternativo é mundialmente reconhecido por conta de suas características físico-químicas, que facilitam sua combinação com a
gasolina (COSTAGLIOLA et al., 2016). Diversos estudos confirmam que a combustão de misturas entre etanol/gasolina em

450
motores com ignição por centelha tendem a reduzir o lançamento de gases poluentes atmosféricos, por exemplo o monóxido de
carbono (HSIEH et al., 2002; AL-HASAN, 2003; WU et al., 2004; CEVIZ e YÜKSEL, 2005; JIA et al., 2005; WEST et al.,
2008; COONEY et al., 2009; KOÇ et al., 2009; CHEN et al., 2011; YANG et al., 2012; ALTUN et al., 2013; BIELACZYC et
al., 2013; CLAIROTTE, et al., 2013; GHAZIKHANI et al., 2013; YAO et al., 2013; BALKI et al., 2014; HERNANDEZ et al.,
2014; IODICE e SENATORE, 2014; MASUM et al., 2015; COSTAGLIOLA et al., 2016; IODICE et al., 2016; ZHU et al.,
2017; SCHIRMER et al., 2017; RIBEIRO et al., 2018). Ainda, a baixa toxicidade, a menor pressão ambiental relacionada à
combustão de combustíveis com teores de etanol e a possibilidade de produção utilizando-se matérias-primas renováveis fazem
do etanol o aditivo mais promissor em vista do aumento da octanagem da gasolina (RASSAKAZCHIKOVA et al., 2004). Em
2018, o Brasil teve produção de etanol de 32,3 bilhões de litros (BRASIL, 2019). A complexidade da produção de etanol
depende da matéria-prima, visto que é um combustível oriundo de culturas energéticas e biomassa lignocelulósica
(CARDONA e SANCHEZ, 2007). A batata é um alimento basicamente energético, tendo produção anual no Brasil de
aproximadamente 3,5 milhões de toneladas em uma área de cerca de 130 mil hectares, sendo a hortaliça de maior relevância do
país. (EMBRAPA, 2018). A produção de álcool combustível a partir da batata exige menos beneficiamento comparado aos
grãos, e até mesmo batatas podres, impróprias para consumo, podem ser utilizadas para a produção de etanol (KHAN et al.,
2012).Dada a importância do bioetanol anidro como aditivo em gasolina, a fim de averiguar a possibilidade de álcoois
elaborados a partir de diferentes matérias-primas em causar efeitos adversos na formação de poluentes atmosféricos, este
estudo visou a avaliação das emissões gasosas de motor-gerador estacionário em operação com gasolina A e dois tipos de
gasolina C, que foram formulados com álcoois oriundos de matérias-primas distintas: Álcool Etílico Anidro Combustível
(AEAC) de cana-de-açúcar, e álcool anidro combustível sintetizado de Solanum tuberosum (batata-inglesa).

Material e Métodos
Produção de etanol anidro de batata-inglesa

O etanol foi sintetizado a partir de Solanum tuberosum (batata-inglesa) adquirida com produtores da região de Irati (PR), em
sacas de 50 kg à granel. As batatas foram lavadas ainda com casca, sendo, em seguida, moídas em um liquidificador. Durante a
moagem, foram adicionados aproximadamente 500 mL de água para cada kg de batata. Posteriormente, iniciou-se a hidrólise
enzimática utilizando malte de cevada tipo “Pilsen”, produzido pela Cooperativa Agrária Agroindustrial, de Guarapuava (PR).
A hidrólise utilizando 12% de malte de cevada moído a cada unidade de massa de amido foi realizada a fim de fornecer as
enzimas necessárias para o processo, de acordo com metodologia proposta por Santana (2007). O processo de hidrólise iniciou-
se utilizando a batata moída anteriormente, que foi aquecida a aproximadamente 86ºC e manteve-se a temperatura por 20
minutos, e em sequência foi resfriada a 50ºC para efetuar a adição do malte moído, e posteriormente manteve-se a temperatura
a 55ºC por 24h. Após esse período, o mosto foi resfriado a 20ºC para medição da densidade, e então foi submetido ao processo
fermentativo. Foi necessária a elaboração de um fermentador para a etapa de fermentação alcoólica (Figura 1), e para tanto
foram utilizados galões de água mineral com capacidade de 20 litros. Para a retirada do gás carbônico dos galões, uma conexão
(mangueira) foi adaptada: uma das extremidades da mangueira foi conectada à entrada do galão; a outra extremidade foi
ajustada a um recipiente com água e hipoclorito de sódio visando remover o gás produzido durante a fermentação e não
permitir a entrada do ar atmosférico para dentro do galão, evitando a contaminação do mosto.

Figura 1: Esquema do fermentador utilizado para produção do etanol anidro de batata-inglesa.

Para a fermentação alcoólica utilizou-se levedo de cerveja (Saccharomyces cerevisiae), que foi preparado da seguinte maneira:
em um Erlenmeyer foram adicionados 100 mL de água destilada e 20g de açúcar refinado, e a mistura foi aquecida à
aproximadamente 100ºC e posteriormente resfriada à temperatura ambiente; após resfriamento, adicionou-se 11g de levedo ao
conteúdo do Erlenmeyer, que prosseguiu sob agitação constante por 12h. A solução com o levedo foi inoculada no mosto, e,

451
logo após, o fermentador foi vedado para evitar entrada de ar. Durante os próximos sete dias, efetuou-se o controle da
temperatura entre 20 – 25ºC, sendo retirada uma amostra do mosto para medição da densidade a cada 24 horas.
A fim de melhorar a qualidade do fermentado e diminuir a quantidade de sólidos suspensos, resfriou-se o fermentador a
aproximadamente 0ºC, durante 48h, possibilitando a decantação de sólidos e do levedo. O processo de decantação foi repetido
por mais 4 vezes, até se obter 90 L de líquido fermentado. Após remoção do material decantado, mediu-se a densidade final do
mosto fermentado e seguiu-se para a destilação.
O fermentado precisou de duas destilações simples à temperatura entre 78 – 79,1ºC. A primeira destilação pretendeu obter
etanol hidratado contendo aproximadamente 5% de água em sua composição. A segunda destilação visou a produção de etanol
anidro utilizando-se tratamento prévio, que procedeu adicionando-se óxido de cálcio (cal virgem) ao destilado obtido na
primeira destilação; a cal reage com a água e produz cal hidratada (insolúvel em etanol), possibilitando a formação de um
precipitado branco, favorecendo a obtenção de etanol anidro.

Preparo das misturas e controle de qualidade

O AEAC e a gasolina A utilizados no preparo das misturas foram cedidos pela Petrobrás Distribuidora S.A., de Guarapuava
(PR). Dadas as especificações da Portaria n° 75 de 05/03/2015 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento –
MAPA, o teor limite para o etanol anidro na formulação da gasolina C utilizada neste experimento foi determinado em 27%
(v/v). Foram elaborados os seguintes combustíveis: E0 – constituído apenas de gasolina A; E27 – contendo 73% (v/v) de
gasolina A e 27% (v/v) de AEAC; B27 – com 73% de gasolina A e 27% de etanol anidro de batata-inglesa obtido através do
processo descrito anteriormente.
Os parâmetros físicos-químicos das amostras foram determinados no Laboratório de Análises de Combustíveis da
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), em Guarapuava, segundo as especificações da RANP Nº 40/2013
(Tabela 1). Foram realizadas análises em triplicata dos seguintes parâmetros: massa específica, destilação, ponto final de
ebulição e resíduo.

Tabela 1: Especificações das amostras de gasolina de acordo com a Resolução ANP N° 40/2013.
Características Método Especificação
-1
Massa Específica (kg.m )C NBR 7148 Anotar
Destilação (ºC)
10% evaporado máximo. ASTM D-86 65,0
50% evaporado máximo ASTM D-86 80,0
90% evaporado máximo ASTM D-86 190,0
PFE máximo ASTM D-86 215,0
Resíduo máximo (mL) ASTM D-86 2,0
Fonte: Adaptado de ANP (2013).

Ensaios de emissões gasosas em motor-gerador estacionário

Para os ensaios de emissões de gasosas foi utilizado um motor-gerador estacionário de 13 hp da marca Toyama, modelo
TG6500, monocilíndrico, ignição por centelha, com ciclos de 4 tempos e 389 cilindradas, com potência nominal de 5,0 kW,
equipado com carburador e afogador manual para controle mecânico da razão Ar/Combustível (A/C) (TOYAMA, 2018).
Um painel de dissipação de energia foi conectado ao motor-gerador para garantir operação em carga constante (SCHIRMER et
al., 2017), composto por 10 lâmpadas halógenas, cada uma com 0,5 kW de potência e 110V. A mensuração da carga aplicada
ao motor-gerador foi executada através de um wattímetro alicate (Minipa, modelo ET-4055). A medição das emissões gasosas
foi realizada via um analisador de gases da marca NAPRO, modelo 10.02/10J, para inspeções veiculares; o analisador é dotado
de detector infravermelho não-dispersivo (NDIR) para a determinação das concentrações de monóxido de carbono (CO),
dióxido de carbono (CO2) e Hidrocarbonetos totais (HC). Para obtenção dos dados, a sonda do analisador foi fixada ao
escapamento do motor durante as medições. Os dados de concentração dos gases de emissão foram processados em
computador associado ao analisador de gases, utilizando-se do software PC-MULTIGÁS. A Figura 2 ilustra o arranjo do
aparato experimental.

452
Figura 2: Disposição do aparato utilizado no experimento. Adaptado de Ribeiro et al. (2018).

Os gases de emissão CO e HC oriundos da combustão de E0, E27 e B27 no motor-gerador de 13 hp foram analisados
associando a variação da carga aplicada ao sistema em 0%, 30% e 60% da carga total suportada pelo gerador (ou seja, 0, 1500
e 3000 W) e submetendo o motor à operação em condição de mistura rica, com λ<1, através de ajuste no carburador. A coleta
dos dados de concentração dos gases de emissão foi iniciada após 20 minutos de operação do motor-gerador à carga de 3000
W abastecido com a mistura de interesse para efetuar o aquecimento e a estabilização do motor, e também propiciar a
realização do ajuste da condição λ<1. Os dados de emissão foram adquiridos em períodos de nove minutos: a cada três minutos
foi gerado um relatório de emissão; assim, obteve-se três relatórios com as concentrações dos gases de emissão para cada
situação de carga aplicada ao sistema, o que totalizou nove relatórios por mistura combustível em operação no motor. Os dados
de CO e HC obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA), e, posteriormente, teste de Tukey para confirmar as
diferenças significativas entre as emissões gasosas oriundas dos combustíveis avaliados.

Resultados e Discussão
Síntese do etanol anidro combustível

Após a conclusão da etapa de mosturação, o mosto apresentou uma densidade de 1,082 g/cm³, sendo esta a densidade inicial da
fermentação OG (Original Gravity). Após decorridos 10h do início da fermentação, observou-se a formação de bolhas gasosas
provenientes da fermentação alcoólica do mosto (ou substrato), indicando que os açúcares presentes estavam sendo
convertidos em gás carbônico e álcool pela ação das leveduras. Decorridas 24h do início da fermentação observou-se a
formação do Krausen (espuma formada na superfície do mosto, composta basicamente de proteínas e leveduras) indicativo de
que a fermentação estava ocorrendo, e então efetuou-se a medição da densidade do mosto, que apresentou o valor de 1,069
g/cm³.
A queda mais acentuada da densidade ocorreu entre às 24h e 48h aṕos início da fermentação. A partir do momento em que a
concentração de álcool no meio se elevou, a densidade do mosto (ou substrato) tendeu a diminuir até a estabilização, pois
grande parte dos açúcares disponíveis foi consumido pela levedura, e finalizando a etapa de fermentação com uma densidade
final (FG - Final Gravity) de 1,007 g/cm. A produção de etanol oriunda de culturas com raízes tuberosas resulta em caldo de
fermentação com densidade muito alta, e com alto teor de sólidos e de viscosidade (PEREIRA et al., 2011).
Ao fim da fermentação, o mosto apresentava um aspecto turvo e com grande quantidade de sólidos em suspensão. O
resfriamento do mosto a temperatura próxima a 0ºC permitiu observar menor turbidez do mosto, resultando em um líquido
translúcido de cor amarelada que apresentou leve turbidez; o decréscimo da quantidade de sólidos em suspensão acarretou em
uma menor concentração de impurezas no fermentado, o que promoveu maior eficiência na etapa de destilação.
O processo de destilação simples promoveu a separação do álcool em relação aos demais componentes e impurezas do
fermentado. O teor alcoólico obtido na primeira destilação foi de 94,9% de álcool, e, após a segunda destilação, o teor
alcoólico obtido foi de 99,7% de graduação alcóolica. Segundo a RANP Nº 19/2015, que estabelece as especificações e
obrigações para o controle de qualidade do etanol anidro combustível para comercialização em território nacional, o teor
alcoólico mínimo é de 99,3% (ANP, 2015). Portanto, o álcool anidro obtido no processo estaria dentro dos parâmetros legais
estabelecidos pela ANP em relação ao teor de alcoólico.

Controle de qualidade das misturas combustíveis

Na Tabela 2 são apresentados os resultados dos parâmetros físico-químicos analisados visando o controle de qualidade das
gasolinas E0, E27 e B27.

453
Tabela 2: parâmetros para o controle de qualidade dos combustíveis E0, E27 e B27.
Propriedades das misturas combustíveis E0 E27 B27
-3
Massa específica (kg/m ) 730,5 745,3 755,4
Destilação (°C)
10% evaporado 52,5 54,1 55,5
50% evaporado 96,5 72 76,0
90% evaporado 162,4 144 149,9
PFE (°C) 210,7 209 205,7
Resíduos (mL) 0,8 0,7 0,6
Teor de AEAC (% v/v) 0 27 27

Os parâmetros dos combustíveis E0, E27 e B27 analisados (Tabela 2) apresentaram-se dentro das faixas limites determinados
pela Resolução ANP N° 40/2013. O teor alcoólico das amostras E27 e B27 sintetizada respeitaram as especificações da
Portaria MAPA N° 75/2015 e da Resolução N° 1 de 04/03/2015 (Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool – CIMA),
que estabelece o teor alcóolico limite na gasolina tipo C entre 26% e 28%. Logo, o combustível B27 sintetizado, assim como
E27, poderia ser comercializado em território brasileiro uma vez que se apresente em conformidade com os demais parâmetros
de controle de qualidade contidas na RANP N° 40/2013.

Avaliação das emissões em motor estacionário de combustão interna

Para a análise da análise das emissões gasosas em motor-gerador estacionário determinou-se a condição de mistura rica (λ<1)
através de ajuste manual do carburador. Misturas ricas tendem a ocasionar maiores concentrações de CO e HC em gases de
exaustão (SCHIRMER et al., 2017). Na Tabela 3 estão presentes os dados obtidos a partir da análise das emissões de CO e HC
dos combustíveis (E0, E27 e B27).

Tabela 3: Emissões de CO e HC dos combustíveis E0, E27 e B27 em operação no motor-gerador de 13 hp.

Emissões de CO (%)
Combustível Cargas
0W 1500 W 3000 W
E0 14,97 15,24 16,08
E27 13,34 14,25 14,41
B27 12,50 12,80 12,96
Emissões de HC (ppm)
Combustível Cargas
0W 1500 W 3000 W
E0 318,23 346,33 419,2
E27 288,00 320,00 403,33
B27 222,00 230,67 288,00

As emissões de CO e HC apresentaram tendência a aumentar à medida do acréscimo das cargas aplicadas ao motor-gerador,
independentemente da presença de etanol no combustível analisado. Ribeiro et al. (2018), desenvolvendo experimento com
misturas entre etanol e gasolina em motor estacionário sob diferentes condições de operação, também constataram que o
aumento da carga aplicada ao conjunto motor-gerador e provocou aumento significativo das concentrações de HC e CO. O
comportamento das concentrações de HC e CO em relação ao aumento de carga aplicada ao sistema acarreta em maiores
concentrações de combustível por unidade de tempo no interior do cilindro do motor, para suprir a demanda por rotações mais
altas (BARAKAT et al., 2016). A emissão de hidrocarbonetos em motores de combustão interna, dá-se por meio da queima
incompleta do combustível na câmara de combustão, quando o motor está operando com misturas deficientes em oxigênio, em
relação à quantidade estequiométrica, as emissões de CO e HC são mais elevadas (SILVA et al., 2007).

454
Figura 3: Emissões de HC e CO para os combustíveis E0, E27 e B27 em relação às variações de carga aplicada.

Observa-se na Figura 3 que as tendências de emissões de CO e HC provenientes da combustão de E0 apresentaram-se maiores


em relação a utilização de E27 e B27, considerando a mesma situação de carga para cada combustível. Houve queda das
emissões de HC e CO com a utilização do combustível B27 em relação a E27. Observando-se as emissões para a carga de 3000
W, a gasolina B27 obteve uma redução de 19,4% e 31,29% considerando-se as emissões de CO e HC, respectivamente, em
relação ao combustível E0 (gasolina pura). As emissões de CO e HC para a carga máxima utilizando-se B27 reduziram em,
respectivamente, 10,06% e 28,59% se comparadas ao combustível E27 para a carga de 3000 W. As emissões de CO e HC
estão intimamente relacionadas à razão A/C, e com o acréscimo do teor de etanol na gasolina, ocorre a redução das emissões
de CO e HC devido ao enriquecimento de oxigênio oriundo do etanol (WU et al., 2004; TURNER et al., 2011). A alta
concentração de oxigênio na estrutura química do etanol pode influenciar na eficiência da combustão (YAO et al., 2013).
Hsieh et al. (2002), utilizando mistura com 30% (v/v) de etanol em gasolina, confirmou a redução de HC na faixa de 20-80%.
Wu et al. (2004), constatou que, em condições de mistura rica, a mistura combustível etanol/gasolina pode reduzir as emissões
de CO e HC. Ribeiro et al. (2018) confirma que o aumento da carga aplicada ao sistema leva ao acréscimo da concentração de
emissões de CO e HC, comparando-se gasolina C e gasolina A.

Considerações finais
O etanol anidro sintetizado utilizando batata-inglesa via processo descrito neste trabalho obteve teor alcoólico de 99,7%,
apresentando-se em conformidade com a RANP Nº 19/2015, que estabelece as especificações e obrigações para o controle de
qualidade do etanol anidro combustível para comercialização em território nacional, o teor alcoólico mínimo é de 99,3%
(ANP, 2015).
As concentrações de CO e HC das emissões gasosas do motor-gerador estacionário apresentaram aumento significativo em
todos os combustíveis analisados conforme aumento progressivo das cargas aplicadas no sistema, uma vez que cargas mais
altas exigem maiores quantidade de combustível por unidade de tempo. A presença de álcool anidro nos combustíveis E27 e
B27 levaram às menores concentrações CO e HC nas emissões de gases atmosféricos, em relação à gasolina A (E0), devido à
concentração de oxigênio presente no etanol, o que propiciou a melhor combustão de combustível no interior do cilindro do
motor-gerador.
O etanol anidro obtido a partir de batata-inglesa pelo processo apresentado, após efetuar-se a mistura com gasolina A, resultou
em gasolina C (B27) em conformidade com as especificações da RANP 40/2013 analisadas neste trabalho. Tal processo
demonstrou-se passível de produzir um excelente aditivo para gasolina que pode substituir a utilização de AEAC de cana-de-
açúcar sem prejuízos ambientais, no tocante às emissões de CO e HC em motores estacionários, pois a mistura B27 promoveu
a menor concentração de CO e HC na emissão de gases de escape, demonstrando redução significativa de HC em relação ao
combustível E27, e principalmente frente às emissões utilizando-se a gasolina A pura (E0).

Agradecimentos
Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de mestrado, e
ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, no âmbito da Chamada Universal MCTI/CNPq nº
14/2014) pelo suporte financeiro, bem como a bolsa de iniciação científica.

455
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458
5SSS160
REMOÇÃO DOS POLUENTES EMERGENTES PARACETAMOL E
DICLOFENACO SÓDICO POR ADSORÇÃO EM CARVÃO ATIVADO
EM PÓ
Laura da Silva Dembogurski 1 ; Morgana Rosset 2 ; Liliana Amaral Féris 3
1UFRGS, e-mail: laurasdembogurski@gmail.com; 2UFRGS, e-mail: morgana_rosset@hotmail.com; 3UFRGS, e-
mail: liliana.feris@gmail.com

Palavras-chave: Adsorção; Tratamento de Efluentes; Fármacos.

Resumo
Uma grande preocupação ambiental são os poluentes emergentes que vêm sendo encontrados com frequência em matrizes
aquáticas, pois seus efeitos a longo prazo ainda são desconhecidos. Dentre estes poluentes, os fármacos requerem atenção, uma
vez que os processos convencionais de tratamento de efluentes não conseguem removê-los completamente, e em acumulo no
meio ambiente, seus efeitos podem ser danosos a organismos vivos e aos ecossistemas. Neste contexto, para o presente estudo,
avaliou-se a remoção de dois fármacos comumente encontrados, paracetamol (PAR) e diclofenaco sódico (DCF), através do
processo de adsorção em batelada utilizando carvão ativado em pó (CAP) como sólido adsorvente. Os resultados mostraram-se
satisfatórios, pois em concentrações de sólido adsorvente de 1 g L-1 e tempo de adsorção de 20 min se observou remoções
superiores a 85%. Portanto, o processo proposto demonstra potencial considerável para a remoção desses poluentes.

Introdução
Com o crescimento da economia global, o desenvolvimento de novos produtos químicos se tornou necessário para
agricultura, a indústria e a saúde humana e veterinária. Porém, o descarte inadequado desses compostos está
causando impacto nas águas, no ar e no solo (Delgado et al., 2019). Nestes produtos químicos estão inclusos os
fármacos de diversas classes, como anti-inflamatórios, analgésicos, reguladores lipídicos, antibióticos,
antidepressivos, entre outros (Tambosi, 2008).
Os fármacos, por serem moléculas complexas, possuem diferentes propriedades biológicas e físico-químicas o que
os torna menos biodegradáveis aos tratamentos convencionais de efluentes (Khetan et al., 2007; Ueda et al., 2009).
Segundo Bila et al., 2003, entre 50% a 90% da dosagem do fármaco é excretada inalterada e persiste no meio
ambiente. O que pode expor a efeitos adversos os organismos aquáticos e terrestres.
É de grande relevância observar que a maioria dos hospitais em todo o mundo descarta um grande volume de
diferentes compostos farmacêuticos nos recursos hídricos, que permanecem nas águas por não serem facilmente
removidos. Dentre os fármacos mais comumente encontrados em ambientes aquáticos, o paracetamol e o
diclofenaco sódico se destacam, por serem muito utilizados mundialmente. Isso faz com que sua eliminação do
meio aquático seja de grande importância. O paracetamol (PAR), também chamado de acetominofeno, é um
medicamento utilizado com efeito analgésico e antipirético. Já o diclofenaco sódico (DCF), é um ácido pertencente
ao grupo das drogas anti-inflamatórias não esteroides (AINE’s) usado para tratar dor e inflamação.
A adsorção é uma técnica convencional, porém promissora para a remoção de poluentes, pois uma das grandes
vantagens desse processo é que não há geração de subprodutos. Além disso, é um procedimento mais barato e
confiável que outras técnicas de tratamentos avançados (Nadour et al., 2019).
Propriedades físico-químicas dos adsorventes e adsorvatos, como hidrofobicidade, grupos funcionais da superfície,
tamanho dos poros, área superficial externa e composição química determinam a eficiência da remoção juntamente
com outros parâmetros experimentais, como pH e temperatura (Lonappan et al., 2016). Entre os materiais
adsorventes, o carvão ativado em pó (CAP) se destaca por possuir elevada área superficial, abundância de
estruturas porosas e forte interação superficial e com isso, demonstra alta capacidade de adsorção. A adsorção
utilizando CAP tem sido a alternativa mais adotada pelas ETAs, incluído as brasileiras. Uma das vantagens do CAP
é poder ser utilizado em eventos sazonais, sendo aplicado em ETAs já existentes, sem a necessidade de adaptação e
construção de novas instalações (Muller et al., 2009).

459
Esta pesquisa tem por objetivo estudar a remoção dos fármacos PAR e DCF de soluções aquosas, através do
processo de adsorção utilizando CAP como sólido adsorvente. Também, determinar as melhores condições
experimentais para que ocorra esse processo e fornecer comparações entre a adsorção, utilizando os sólidos
adsorventes carvão ativado em pó e granular.

Materiais e métodos
Os fármacos utilizados, paracetamol e diclofenaco sódico, foram adquiridos junto a Sigma-Aldrich. O carvão
comercial ativado em pó foi fornecido pela Dinâmica Química Contemporânea. O carvão em pó foi caracterizado
pelas técnicas de BET (Brunauer–Emmett–Teller) e BJH (Barrett-Joyner-Halenda) para avaliar a área superficial, o
volume e o diâmetro de poros, respectivamente. Também foram avaliadas a densidade aparente, a massa específica
e o ponto de carga zero (PCZ). O PCZ que é definido como o pH em que a superfície do adsorvente apresenta carga
neutra. O procedimento consistiu em preparar uma mistura de 1 g do adsorvente em 100 mL de solução aquosa sob
11 diferentes valores de pH inicial: 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, e repetir a leitura após 24 h de agitação.
Os testes de adsorção foram realizados em frascos schott de vidro de 250 mL, com 100 mL de solução cada, para
soluções individuais de DFC 10 mg L-1 e PAR 10 mg L-1, em agitador Wagner, modelo MA160BP, a uma
velocidade de 28 ± 2 rpm. Para os experimentos de determinação do pH os valores estudados foram (2, 4, 6, 8 e
10), com 5 g L-1 de adsorvente em soluções de PAR e DCF durante o tempo de 60 min. O pH foi ajustado com
soluções aquosas de NaOH e HCl (0,1 M). Através de diferentes valores de concentrações de carvão em pó (0,1;
0,25; 0,5; 1; 2; 3 e 5 g L-1), em um tempo de 60 min e o pH obtido do ensaio anterior, foi determinada a
concentração que melhor removeu os fármacos no processo de adsorção. Além deste, também foi estudada a
influência do tempo de contato para o processo. Os tempos utilizados foram 5, 10, 20, 40, 60, 90 e 120 min, com a
concentração de sólido adsorvente e pH obtidos nos ensaios supracitados.
Após cada um dos testes, as soluções foram filtradas e centrifugadas uma vez pelo tempo de 20 min, em uma
velocidade de 4000 rpm, a 25 ºC, em uma centrífuga refrigerada da marca Cientec, modelo CT5000R. As
concentrações dos fármacos, antes e após o processo de adsorção, foram determinadas pelo espectrofotômetro
UV/VIS (Thermo Scientific, Genesys 10S UVeVis) nos comprimentos de onda de 243 nm para o PAR e 276 nm
para o DCF. Com a finalidade de reduzir os impactos ambientais deste estudo, as soluções dos fármacos foram
reutilizadas quando possível e descartadas como lixo orgânico ou enviadas ao Centro de Gerenciamento e
Tratamento de Resíduos Químicos da UFRGS (Porto Alegre, RS).

Resultados e discussões

Caracterização do sólido adsorvente


As características do adsorvente estão diretamente ligadas à eficiência do processo. Logo, quanto maior o valor de
área da superfície do sólido, mais facilmente ocorrerá o processo de adsorção, pois quanto maior a superfície de
contato, maior a quantidade de sítios ativos disponíveis para a ocorrência do processo.
Franco (2018) encontrou em seu estudo de adsorção com carvão ativado granular (CAG), uma área superficial
(ABET) de 462 m² g-1, do sólido adsorvente. Porém, como apresentado na Tabela 1, o carvão ativado em pó (CAP)
possui uma área superficial superior. Logo, é esperado que o CAP possua uma capacidade de remoção superior ao
CAG e também uma necessidade de utilização de quantidades menores de adsorvente para alcançar remoções
desejadas.

460
Tabela 1: Caracterização do carvão em pó.
Parâmetros Valores
2 -1
ABET Área superficial (m g ) 637
da Densidade aparente (Kg m-3) 348
-3
ρ Massa específica (Kg m ) 693
Vυ Volume dos poros (cm3 g-1) 0,319
dp Diâmetro médio dos poros (Å) 9,69

Ponto de carga zero


Através das médias entre os valores de pH inicial (pH0) versus pH final (pHf), no experimento dos 11 pontos,
observa-se que o valor de pH em que o sólido tem comportamento neutro é 8,42, que é a média aritmética dos três
pontos marcados na Figura 1. Desta forma, para o presente estudo, o valor do pHPCZ do carvão em pó obtido foi de
8,42. Abaixo deste valor a carga superficial é positiva e a adsorção de ânions é favorecida, e acima deste valor, a
carga superficial é negativa e a adsorção de cátions é oportunizada (Nascimento et al., 2014).

Figura 1: Experimento dos 11 pontos.

Influência do pH
Na Figura 2 é demonstrado o efeito do pH na adsorção do PAR e DCF por carvão ativado em pó. Foi possível
observar que as maiores remoções estiveram entre os pHs 4 e 6, para os dois fármacos, onde se obteve remoção
entre 89% e 94%. Os dados foram submetidos à análise estatística (ANOVA) para estes dois pontos e se constatou
que não houve diferença significativa entre as remoções, com nível de significância de 5%.
Para o DCF, foi possível observar algumas características relevantes. Em pH 2 o composto precipita na solução,
não sendo possível estimar a sua remoção pelo processo de adsorção. Além disso, a solubilidade desse fármaco
diminui com a diminuição do pH para valores inferiores ao seu pKa (entre 4,03 e 4,21) (Jodeh et al., 2016; Larous
et al., 2016). Outra característica foi observada para valores de pH superior a 6, no qual a remoção começa a
diminuir. Isso pode ser devido à natureza anfótera do carvão ativado, que possui superfície neutra quando o pH do
meio está próximo ao seu ponto de carga zero (pHPCZ). Conforme encontrado na literatura, o DCF se apresenta
neutro quando o pH do meio está abaixo do seu pKa, e acima deste valor assume carga negativa. Essa justificativa
se deve a dissociação das moléculas em ânions carboxilatados (Franco, 2018).
A redução do percentual de remoção do DCF com o aumento do pH da solução é uma observação discutida por
outros autores, como na adsorção utilizando carvão ativado granular (Franco, 2018 e Haro, 2017) e carvão oxidado
(Bhadra et al., 2016).
Sendo assim, o pH 6 foi escolhido, para os dois fármacos, como sendo o pH mais adequado para o processo. Ainda,

461
como os efluentes hospitalares normalmente são descartados em pH neutro, a escolha de pH 6 facilita o controle
operacional do processo e implica em economia de reagentes de ajuste de pH.

Figura 2: Efeito da variação do pH na adsorção de PAR e DCF.

Influência da concentração
A Figura 3 mostra o efeito da concentração de CAP no processo de adsorção dos fármacos PAR e DCF. Para os
dois fármacos se observou um leve aumento da remoção na faixa de concentração de sólido adsorvente entre 0,1 e
1 g L-1, e a partir deste valor, uma tendência em se manter constante. Este comportamento está relacionado ao
aumento de sítio ativos, pois devido ao aumento da quantidade de sólido na solução, há maior disponibilidade de
área para que a adsorção ocorra. Porém, quando a curva admite comportamento constante, mesmo com o aumento
de sólido adsorvente, observa-se que a remoção não varia mais. As interações entre soluto-soluto, quando em
baixas concentrações, são mais fortes que as interações soluto-adsorvente. Este comportamento também é
encontrado por Haro (2017) e Franco (2018), que estudaram a adsorção do PAR e DCF em carvão ativado granular.
Para os dois fármacos se observa uma alta porcentagem de remoção, entre 80% (DCF) e 94% (PAR),
aproximadamente. Isso pode ser explicado através da elevada área superficial do CAP (637 m² g-1) em comparação
ao carvão granular (CAG). Com isso, o sólido adsorvente em estudo possui ampla disponibilidade de sítios ativos
para que ocorra a adsorção. Fazendo com que o processo se torne eficiente em uma menor quantidade.

Figura 3: Efeito da variação da concentração do sólido adsorvente na adsorção de PAR e DCF.

Dessa forma, entre os valores que se mantiveram constantes, foi realizado o teste estatísticos de variância e com
isso se observou que não houve diferença significativa entres eles. Sendo escolhido o valor de 1 g L-1 de sólido
adsorvente, como a quantidade adequada para a operação do processo, para os dois fármacos.

462
Influência do tempo de contato
O efeito do tempo de contato entre sólido adsorvente e os fármacos está representado na Figura 4. Da mesma forma
que os outros itens, para os dois fármacos é possível observar que os percentuais de remoção estão na faixa entre
85% e 94% para o DCF e PAR, respectivamente. Devido ao fato da área superficial do carvão ser elevada implicar
em alta capacidade de adsorção, o processo ocorre de forma muito rápida, menos de 20 min. Além disso, a faixa de
remoção se mantém aproximadamente constante, para todos os tempos estudados.

Figura 4: Efeito do tempo na adsorção do PAR e DCF.

Com isso, estudos de cinética não são possíveis de serem realizados, pois o processo ocorre de uma forma tão
rápida que nenhum dos modelos previstos na literatura para o estudo conseguem se ajustar aos dados experimentais
avaliados. Schwaab et al. (2017) explicam que, nestes casos, assume-se que o equilíbrio entre as concentrações de
fluido e superfície é instantaneamente alcançado dentro dos poros, e a cinética de adsorção pode ser descrita apenas
por um processo de transferência de massa. Além disso, as soluções na qual foi realizado o estudo, estavam muito
diluídas, fazendo com que não fosse possível observar a taxa inicial de adsorção. Para que o estudo de cinética
fosse possível, deveria se estudar com concentrações mais elevadas de solução dos fármacos.
Pode ser encontrado na literatura, como no estudo de Franco (2018), que para a adsorção, tanto de DCF como de
PAR, utilizando CAG, o tempo para atingir a mesma eficiência de remoção utilizando CAP é superior. Para que a
remoção dos fármacos fosse superior a 80%, utilizando CAG como sólido adsorvente, o tempo necessário foi
superior a 150 min. Já para o CAP, aproximadamente 10 min foram suficientes.
Dessa forma, através do teste estatístico infere-se que não há evidências significativas que diferenciem os
resultados entre si. Portanto, o tempo ideal para a adsorção levando em consideração a minimização de erros e nas
condições listadas nos itens anteriores, tanto do PAR como do DCF, foi de 20 min.

Considerações finais
Conforme descrito nos resultados, o pH ideal para a adsorção de paracetamol e diclofenaco sódico foi 6, a
concentração adequada de sólido adsorvente foi 1 g L-1 e tempo de contato apropriado foi 20 min. Sob essas
condições foi possível obter remoções de DCF e PAR entre 89 e 94%, respectivamente.
Os experimentos mostram que o carvão em pó apresenta vantagens em relação ao carvão granular, no processo de
adsorção. Como por exemplo, a taxa de adsorção em que ocorre o processo utilizando o carvão em pó e com uma
quantidade de sólido adsorvente inferior que ao necessário para a adsorção com carvão granular. Isso se deve,
principalmente, as diferenças de tamanho das partículas dos carvões. O carvão em pó possui uma área superficial
superior ao carvão granular (637 m² g-1 o CAP e 462 m² g -1 o CAG) o que faz com que a quantidade de sítios ativos
disponíveis para que ocorra a adsorção seja superior.
Por fim, a adsorção com carvão ativado em pó demonstrou ser um método eficaz para a remoção de paracetamol e
diclofenaco sódico, sendo uma possibilidade para o tratamento de águas contaminadas com estes fármacos. Esta
pesquisa trouxe um processo eficaz que pode ser aplicado, contribuindo para uma melhor qualidade de vida.

463
Agradecimento
Agradeço a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ao Departamento de Engenharia Química, ao Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Química e a Central Analítica, pela estrutura e financiamento dos materiais para a
realização deste estudo.

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464
5SSS161
O USO DO GEOPROCESSAMENTO PARA ANÁLISE E
DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS SOCIAIS OCASIONADOS
PELA TOPOGRAFIA DA VILA BURACO DA CORUJA DO
MUNICÍPIO DE CONTAGEM - MG
Márcia Gouveia de Oliveira¹ Margarete Aparecida Pereira²
1Centro Universitário UNA, e-mail: marciagouveia_ol@yahoo.com.br; 2 Centro Universitário UNA, e-mail:
margarete.pereira@prof.una.br;

Palavras-chave: Geoprocessamento; mapas; camadas.

Resumo

O trabalho teve como objetivo realizar e apresentar a importância do uso do geoprocessamento para análise e diagnóstico
de problemas ocasionados pela topografia da Vila Buraco da Coruja localizada no município de Contagem – MG. No decorrer
do estudo será apresentado os resultados obtidos a partir da elaboração dos mapas através das camadas (também conhecidas
como shapes) de informações, cedidas pelas secretarias competentes do município, utilizando o software ArcGis. A partir de
então, será possível diagnosticar os possíveis riscos que à população da Vila está suscetível e sugerir futuras melhorias para a
região.
Assim sendo, será utilizado as informações fornecidas pelas secretarias competentes para a renovação de um plano de
risco já existente da região. O estudo foi realizado com auxílio de materiais já existentes de intervenções já realizadas na
área, por outros órgãos do município. Essa Vila, ficou conhecida pela denominação Buraco da Coruja, por apresentar
semelhança com a referência. Devido a topografia da região, a Vila apresenta áreas de risco, principalmente de
escorregamento, inundação e erosão, também influenciados pela ausência de drenagem.
Para o mapeamento das áreas de riscos, será utilizado o geoprocessamento como principal ferramenta para a obtenção
dos resultados, através desse, é possível recorrer a mapas elaborados através de camadas e assim diagnosticar áreas que
sofrem riscos com a grande instabilidade do solo, neste caso, devido à alta declividade da região de estudo. O
geoprocessamento tornou-se essencial para a realização de uma administração pública assertiva, pois o mesmo possibilita a
realização e a determinação de áreas que necessitam de intervenções rápidas ou a longo prazo, tendo o auxílio de camadas de
infraestrutura e ortofotos.
Portanto, o trabalho de conclusão de curso visa a realização de um estudo de caso de uma área que apresenta grande
declividade, a Vila Buraco da Coruja será analisada através das informações cedidas pelas Secretarias competentes do
Município, e para a obtenção de informações para os resultados, será utilizado o auxilio de mapas realizados unicamente para
o diagnóstico de problemas enfrentados pela da área da Vila, e assim, oferecer possíveis alternativas para melhor a qualidade
de vida dos moradores da região e através do diagnóstico da área, possibilitar que futuras intervenções sejam realizadas nos
focos que necessitam de atenção.

465
Introdução

Diante das necessidades impostas para a obtenção de informações de regiões de grandes dimensões e para o
mapeamento de dados básicos como, logradouro, curso d’água, saneamento, entre outras, o geoprocessamento tornou-se uma
ferramenta fundamental para análise de situações que podem vir a ocorrer devido a várias condições urbanísticas. Com a
aplicação do Sistema de Informações Geográficas (SIG), ferramenta essa essencial para a elaboração de mapas e manuseio de
dados é possível analisar a região de estudo (SOARES, 2005). O SIG envolve um conjunto de geotecnologias, essas serão
aplicadas no decorrer do trabalho para a elaboração dos resultados utilizando como base o geoprocessamento, definido como
o processamento dos dados a partir de seus comportamentos espaciais, em ambiente computacional, onde os resultados são
dados também dotados de comportamento espacial (ROMANI et.al., 2005, p.9).
Essas informações obtidas através de um SIG apresentam eficácia, precisão e a possibilidade de uma alta resolução
espacial (SILVA, et.al., 2005, p.59). Dessa forma, as informações obtidas através do mapeamento utilizando ferramentas de
um SIG, podem contribuir para o subsídio de informações que envolvem conflitos territoriais e mensurar os possíveis
problemas que poderão acarretar riscos aos moradores da região da Vila Buraco da Coruja e assim, elaborar soluções que
possam reduzir e evitar catástrofes e problemas atuais ou futuros de locais ocupados de forma indevida.
Portanto, o objetivo do trabalho é analisar as curvas de nível da Vila Buraco da Coruja com o intuito de apresentar os
riscos que a população está suscetível devido à alta declividade; analisar os cursos d’água da região da Vila juntamente
com a rede de esgoto para a verificação de ocupações de áreas que apresentam riscos de desmoronamento; levantar a
evolução da área através de uma planta fotogramétrica de 1983 para análise da região ocupada de forma irregular;
comparar o panorama atual com de anos anteriores com relação a ocupação da Vila e por fim, desenvolver um plano de
risco envolvendo a topografia da região de estudo atualizando o já existente.

REFERENCIAL TEÓRICO
Histórico regional
Atualmente a população de Contagem conta com aproximadamente 603.442 habitantes de acordo com o censo do
IBGE (2010). A extensão do município é dividida em 8 regionais. O Parque São João, localizado próximo a região do
CEASA (Centrais Estaduais de Abastecimento) do município, bairro em que se encontra a Vila Buraco da Coruja, objeto de
estudo, pertence a regional Eldorado (Prefeitura Municipal De Contagem, 2018).
A Vila foi urbanizada parcialmente pela Prefeitura Municipal de Contagem no início da década de 90. O assentamento
recebeu obras de urbanização através do Programa de Regularização Fundiária – ProVila. Atualmente a Vila encontra-se toda
habitada, a mesma conta com aproximadamente 3.554 habitantes e 1.027 domicílios na região, informações de acordo com o
Plano Municipal de Habitação realizado em 2012 e as construções apresentam padrão construtivo médio. Porém, as obras de
infraestrutura não abrangem todo o assentamento (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Habitação, 2018).
De acordo com o Plano Diretor do município, a região de estudo apresenta deficiência de infraestrutura viária ou de
saneamento e é uma região onde o adensamento deve ser contido em virtude da necessidade de adequação às características
ambientais e topográficas, o que caracteriza como Zona de Ocupação Restrita, mais especificamente ZOR – 1. Esse tipo de
ocupação é o conjunto das áreas parceladas ou ocupadas, destinadas a usos conviventes diversificados, onde a ocupação e o
adensamento devem sofrer restrições (PLANO DIRETOR – LEI 248/2018).

466
Análise e ocupação de regiões não regulamentadas
Segundo o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, o Brasil tinha
cerca de 11,4 milhões de pessoas morando em favelas. Diante do cenário de crescimento das cidades brasileiras, tornou-se
visível a ocupação de áreas não regulamentadas e que proporciona riscos a sociedade que ali ocupa.
As regiões que estão inseridas em locais de riscos como, encostas, ribanceiras, locais em que o solo não apresenta
características de uma boa resistência, podem acarretar grandes problemas sociais a população que ali vive. Os riscos de
desabamento das moradias podem ser influenciados por fatores climáticos, como chuva e vento por exemplo (VAZ, 2010).
Vários são os índices de desastres que são acarretadas pela apropriação de forma inadequada de regiões de
diferentes altimetrias e que podem sofrer com riscos geológicos devido ao uso e ocupação do solo de forma imprópria (IBGE,
2018).
Segundo o Ministério da Integração Nacional (Instrução Normativa nº1, de 24 de agosto de 2012), considera-se
desastre “o resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem sobre um cenário vulnerável, causando grave
perturbação ao funcionamento de uma comunidade ou sociedade envolvendo extensivas perdas e danos humanos, materiais,
econômicos ou ambientais, que excede a sua capacidade de lidar com o problema usando meios próprios”. E a intensidade
dos desastres, de acordo com o Manual de Capacitação Básica em Defesa Civil (Capacitação Básica em Defesa Civil, 2013),
depende muito mais do grau de instabilidade das comunidades afetadas, normalmente composta por assentamentos precários
à margem de arroios, rios e encostas, locais que apresentam riscos em geral, do que pela magnitude do evento em si.
Um dos exemplos de desastres ocorridos nessas regiões de ocupações irregulares foi o ocorrido em 2010, no Rio
de Janeiro, na localidade de nome Morro do Bumba, neste local cerca de 267 pessoas morreram soterradas (BBC, 2010). Era
uma tragédia programada já que a área era de um antigo aterro sanitário e a qualquer momento poderia ocorrer alguma
explosão resultante dos gases ou mesmo um deslizamento de encosta como de fato ocorreu.
Essas comunidades, de ocupação irregular como a Vila Buraco da Coruja, sofrem com a instabilidade, na maioria
das vezes encontra-se distante da parte central das cidades, mas apresenta grande valor ambiental já que a maior parte dessas
populações ocupam áreas de preservação ambiental, matas, beira de córregos e provocam sérios danos ao meio ambiente,
destruindo nascentes, poluindo rios, desmatando florestas ou mesmo retirando a proteção do solo e acelerando processos de
deslizamentos de encosta (CARDOSO, 2012).
As tragédias que deixam vítimas decorrentes de apropriação de áreas irregulares e que oferecem riscos são
inúmeras e está longe de serem erradicadas, mas podem ser evitadas através do cumprimento de uma legislação de uso e
ocupação do solo, esse tipo de normativa pode ser interpretada como um conjunto de diretrizes relativas a densificação,
regime de atividades, dispositivos de controle das edificações e parcelamento do solo, que configuram o regime urbanístico
(Gestão e Mapeamento de Riscos Socioambientais).

Geoprocessamento
O geoprocessamento tornou-se uma ferramenta essencial para a administração pública. Uma das aplicações é a
elaboração do Plano Diretor Municipal, o mesmo necessita, quase sempre, de recorrer a mapas, sendo estes importantes
recursos para facilitar a leitura da realidade local, visualizar e reunir as informações ressaltadas nas leituras técnicas, do
governo e comunitárias. Esses produtos podem ser elaborados de várias maneiras, desde um simples programa de desenho
representando o território até o uso de um software mais sofisticado como o SIG (COELHO, 2009).
Os estudos realizados com referência às mudanças de meio ambiente, levantamento topográfico, planejamento e

467
manuseio de informações de regiões especificas podem ser auxiliadas com um SIG, além de auxiliar no mapeamento, torna-se
um indicativo de respostas com relação ao planejamento urbano, regional e meio rural (FERREIRA, 1997). Assim sendo, o
geoprocessamento pode ser considerado como uma geotecnologia que através de tecnologias espaciais torna-se possível coletar
as informações básicas da localização através de um Sistema de Informações Territoriais. Essas geotecnologias são compostas
por hardware e softwares que necessitam de uma capacitação para que seja possível lidar com os dados de forma eficaz
(SILVA, 2001).
De acordo com DAVIS e CAMARA (sem data) além dos dados geométricos e espaciais, os SIGs possuem atributos
alfanuméricos, esses são associados aos elementos gráficos, fornecendo informações descritas sobre eles.
Então, a partir da utilização dos dados é possível organizar as informações para a obtenção dos resultados desejados.
De acordo com FITZ (2008) a associação de informações geográficas conciliadas com as tecnologias espaciais tornou-se um
instrumento crucial para a realização de pesquisas territoriais.
De acordo com OLIVEIRA (2011) com a utilização do geoprocessamento o poder público tem em mãos um
material de estudo com indicação precisa dos locais com maior urgência de medidas preventivas, bem como as ações que
devem ser tomadas nesses lugares.

METODOLOGIA
Os objetivos da pesquisa, envolve o uso do geoprocessamento para análise e diagnóstico de problemas ocasionados pela
topografia da Vila Buraco da Coruja, localizada no município de Contagem –MG, essa pesquisa baseou-se em um estudo
voltado para uma pesquisa exploratória e de caráter qualitativa, que possibilita ao pesquisador a escolha de técnicas mais
adequadas para a sua pesquisa e para assim decidir sobre as questões que necessitam maior atenção durante a investigação,
possibilitando analisar os dados já existentes da região.
Dessa forma, o estudo realizado, buscou atualizar o plano de risco já criado para a região escolhida. Foi utilizado o
software ArcGis na versão 10.2.2, usado para criar, gerenciar, compartilhar e analisar os dados espaciais, para a elaboração
dos mapas da região de estudo através das camadas disponibilizadas pelas secretarias competentes do município, que serão
apresentados nos resultados.
Foi utilizado para base da pesquisa os materiais cedidos pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano –
SMDU como, a cartilha de Estruturação Urbana do Município de Contagem que mostra a evolução do município, o Plano
Municipal de Redução de Riscos do Município de Contagem – PMRR elaborado visando a implantação de melhorias nas
áreas em foco, a Planta Aerofotogramétrica de 1983, elaborada na escala de 1:2000, que será utilizada para comparação de
anos anteriores e algumas fotos da região de estudo.
Os materiais disponibilizados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Habitação, como o Plano
Municipal de Riscos e as intervenções já realizadas no local, foram utilizados para maior conhecimento da área.
A Secretaria Municipal de Planejamento – SEPLAN juntamente com a Secretaria Municipal de Fazenda – SEFAZ,
disponibilizaram as camadas referentes ao novo projeto de informatização e atualização territorial do município como trecho
logradouro, linhas de transmissão, água, esgoto, entre outros.
Os resultados serão apresentados através de mapas, sendo esses uma representação gráfica, em escala reduzida da
superfície de uma região escolhida. Para a análise da Vila Buraco da Coruja foram elaborados o mapa de infraestrutura básica
e bacias hidrográficas, uso e ocupação do solo, altimetria do terreno e a evolução da região.

468
As ortofotos utilizadas para a confecção dos mapas são em formato ECW com o datum, Sistema de Referências
Geocêntrico para as Américas - SIRGAS 2000, as mesmas possuem cobertura aerofotogramétrica digital GSD (Distância de
Amostra do Solo) 10 cm. As camadas utilizadas para a elaboração dos mapas encontram-se também no datum SIRGAS 2000
UTM zone 23S.
No mapa de infraestrutura básica e bacia hidrográfica, foram utilizados para a sua elaboração as camadas de linhas de
transmissões (postes), água, esgoto, sistema viário, logradouros e bacia hidrográfica que abrange a região, a escala utilizada
para a representação foi a de 1:40.
O mapa de uso e ocupação do solo foram utilizadas as camadas de vegetação, árvores, movimento de terra e as
delimitações de macrozoneamento do solo, a representação foi realizada na escala de 1:40.
Foi elaborado um mapa de evolução da área utilizando a planta aerofotogramétrica, a partir do seu georreferenciamento
é possível verificar a evolução das unidades imobiliárias da região, a representação está na escala de 1:24.
Por fim, o mapa de altimetria do terreno foi elaborado a partir da camada de curvas de nível espaçadas em 1m, sua
representação foi realizada na escala de 1:59.

RESULTADOS
Os mapas foram elaborados como resultado do estudo do uso do geoprocessamento para análise e diagnóstico da
topografia da Vila Buraco da Coruja localizado no município de Contagem, onde o mesmo visa apresentar as características da
região através da manipulação dos dados. A Vila está assentada em uma região que necessita de atenção, por apresentar
grande desnível com relação a sua topografia e em uma área próxima a que desempenha atividades de grande porte.
Através da elaboração do mapa de bacias do município de Contagem é possível verificar que a extensão territorial é
abrangida por várias bacias, e que a região de estudo é abastecida especificamente pela Bacia da Pampulha que cobre
aproximadamente 27% da extensão territorial de acordo com o Plano Municipal de Saneamento Básico de Contagem. A
partir do mapeamento, é observado que a região não conta com rede de água e nem esgoto por toda a sua extensão. A região
não apresenta nenhum bueiro mapeado, instrumento esse essencial para o escoamento de água das chuvas e redução de locais
foco de inundação. Na figura 1, mapa de Infraestrutura e Bacia Hidrográfica é visto as áreas que possuem os equipamentos
básicos de infraestrutura e a localização da região.

469
Figura 1 – Mapa de Infraestrutura e Bacia Hidrográfica da Vila
Fonte: Elaborado pela autora.

Na figura 2, mapa elaborado de macrozonemaneto verificou-se que a região de acordo com o Plano Diretor do
município é abrangida por dois zoneamentos, a área de Ocupação Restrita – ZOR 1 que apresenta deficiência de
infraestrutura viária ou de saneamento e aquelas onde o adensamento deve ser contido em virtude de adequação às
características ambientais e topográficas e a área de Usos Incômodos – ZUI 2 que é área destinada predominantemente a
atividades de grande porte e/ou potencialmente incômodas, em coexistência com uso residencial, ambas as áreas necessitam
de atenção ao construir. Essas áreas deverão respeitar o coeficiente de aproveitamento de acordo com o estabelecido pelo
Plano Diretor do município.
Verificou-se também que a cobertura vegetal da área é bem escassa, o que influência diretamente na defesa natural do
solo contra os efeitos da erosão, pois os mesmos contribuem para a redução do escoamento superficial no qual transportaria
os sedimentos, aumento da infiltração pela produção de poros causados pelas raízes e consequentemente o aumento da
capacidade de incorporação da matéria orgânica.

470
Figura 2 – Mapa de uso e ocupação do solo representado com o macrozoneamento
Fonte: Elaborado pela autora.

Na figura 3, é possível analisar através de uma comparação realizada com o auxílio do Google Earth a evolução da região, é
visto que a extensão da Vila desde a data disponível vem sofrendo modificações, ficando cada vez mais ocupada por
moradias em áreas irregulares, podendo gerar ricos aos habitantes.

471
Figura 3 – Evolução da área
Fonte: Elaborado pela autora através do Google Earth.

A partir das características da região, e através da sobreposição da planta Aerofotogramétrica de 1983,


georreferenciada sobre a imagem atual, conforme visto na figura 4, é possível verificar como a ocupação da área modificou,
a Vila Buraco da Coruja se desenvolveu desde então. A região de grande declividade foi totalmente apropriada de forma
inadequada, oferecendo riscos a população que ali habita.

Figura 4 – Evolução da Vila Buraco da Coruja


Fonte: Elaborado pela autora.

A região da Vila permite que a população sofra com as consequências das suas curvas de nível, devido ao fato de

472
apresentarem forma côncava, logo, o armazenamento de água se torna mais propício, o que pode acarretar a formação de
ravinas e voçorocas devido a facilidade de transporte de matéria do solo. Assim sendo, é possível verificar que o relevo é
uma característica que influência diretamente no comportamento do solo, o formato do relevo interfere na velocidade de
escoamento da água e consequentemente no processo erosivo do solo, como já mencionado anteriormente.
No mapa de altimetria do terreno, figura 5, é possível verificar através das curvas de nível que a região possui um
acentuado declive, de acordo com as informações fornecidas nas camadas.

A região da Vila está sucinta a deslizamentos de encostas, corridas de lama e falhas geológicas, devido aos fatores de
risco, como declividade, litologia, uso do solo, chuva, etc. Além disso, a área está propicia a sofrer com o acúmulo de águas
devido ao sistema de drenagem e com as enxurradas que são caracterizadas como um escoamento superficial concentrado e
com alta energia levando a inundação da área. Verifica-se que a região apresenta uma alta declividade devido à
proximidade das curvas, como visto no mapa a seguir de altimetria.

Figura 5 – Altimetria do terreno da região de estudo


Fonte: Elaborado pela autora.

Devido a esses riscos geológicos, em outubro de 2014 foi elaborado um memorial técnico com o intuito de especificar
as modificações que a região estava suscita devido a interferência de um Plano de Riscos. Pelo fato do interior da área onde
localiza a Vila encontrar totalmente ocupado, foi implantado cortinas atirantadas e muros de arrimo padrão URBEL, esse
padrão é da Companhia Urbanizada e de Habitação de Belo Horizonte, trata-se de uma empresa pública responsável pela
implementação da Política Municipal de Habitação Popular, criada em 1983.
Esses tipos de construções elaborados na região necessitam de poucos recursos e não exige muito espaço para a
alocação de materiais, afetando pouco a região. Foram construídos aproximadamente 171 m de extensão de muro de
arrimo.
Como a região apresenta problemas de instabilidade no solo, o trabalho visa a inserção de novas ideias com o intuito

473
de intervir na Vila, renovando o Plano de Risco existente da região.
Assim sendo, ações futuras poderão ser inseridas na região, como as estruturais ou não estruturais dependendo das
necessidades do entorno. As soluções estruturais vão desde obras sem estruturas de contenção, obras com estruturas de
contenções e obras de proteção para massas movimentadas. Essas ações estruturais visam a prevenção de acidentes e a
redução de riscos. Devido à alta declividade apresentada pelo mapa anterior (figura 5), é visto que as chances de acidentes
influenciados por esses motivos podem ser maiores.
Obras do tipo retaludamentos que consiste em corte e aterro, drenagem (superficial e subterrânea) são obras já
executadas na região, no entanto, outro método de contenção seria a proteção superficial, através da cobertura por métodos
artificiais ou naturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das necessidades impostas pela topografia da Vila Buraco da Coruja é visto que a região sofre com problemas
ocasionados pela alta declividade do solo. Assim sendo, verifica-se a importância da utilização do geoprocessamento para a
análise e diagnóstico de problemas influenciados pelo relevo.
A aplicação do mesmo, convencionalmente vista através da elaboração de mapas possibilita uma análise crítica do uso e
ocupação do solo e através das camadas de informações é possível então elaborar cada mapa com a sua funcionalidade.
Portanto, verificou-se que a região da Vila Buraco da Coruja sofre com problemas como chuva, instabilidade do solo,
ausência de equipamentos básicos como rede de esgoto e rede de água por toda a sua extensão e bueiros, dentre outros. Assim
sendo, verifica-se a necessidade de renovar o plano de risco já existente da região, com a inserção de novas formas de
contenção e conscientização do risco de se construir em áreas que apresentam instabilidade estrutural, devido à grande
declividade ou incapacidade do solo de suportar a edificação.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a Prefeitura Municipal de Contagem pela a disponibilização de dados, o Centro
Universitário UNA pela oportunidade e a professora Margarete Pereira pelo incentivo e empenho.

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Municipal de Desenvolvimento Urbano/SMDU – Prefeitura Municipal de Contagem. Coleção Plano Diretor, VII,1993

475
5SSS162
ESTUDO DE CASO LEED NC PLATINUM DA EDIFICAÇÃO “VA
CASA NA PRAIA”: ATRIBUTOS QUALITATIVOS E
QUANTITATIVOS
Roberto Klintwort1, Tamily Roedel2
1
Centro Universitário de Brusque - UNIFEBE, e-mail:robertoklint@gmail.com; 2Centro Universitário de Brusque
- UNIFEBE, e-mail: tamily.roedel@unifebe.edu.br

Palavras-chave: Construção sustentável; Certificação LEED; Edificação.

Resumo
As atividades relacionadas com a construção civil possuem grande impacto ambiental, sendo uma das que mais consumem
recursos naturais além da elevada quantidade de resíduos gerados. A construção sustentável refere-se à aplicação da
sustentabilidade às atividades construtivas, sendo definida como a criação e responsabilidade de gestão do ambiente
construído, baseado nos princípios ecológicos e no uso eficiente de recursos. O Green Building Council é um Conselho
internacional focado nas construções sustentáveis, com o intuito de incentivar a transformação dos projetos, obras e operação
das edificações, sempre com foco na sustentabilidade de suas atuações. O Green Building Council desenvolveu o selo LEED
em 1998. O objetivo geral deste estudo é apresentar o estudo de caso “Va Casa na Praia” certificado pela LEED NC nível
platinum, em Itajaí - SC. Para isso, foram delineados os seguintes objetivos específicos: demonstrar o que foi feito de
sustentável segundo a certificação LEED na versão 2009 ou 3.0 (edição em que foi aprovada o empreendimento); descrever o
background ou retaguarda (situações e planejamento), medidas aplicadas desde a fase de concepção até a fase de entrega da
obra (inclusive destinação final) para se obter um empreendimento sustentável; e apurar os critérios quantitativos da Va Casa
na Praia. A pesquisa teve uma natureza aplicada, abordagem quali-quantitativa, método exploratório (busca de critérios
qualitativos/quantitativos) e descritivo (delimitação fundamentação teórica), e tipo estudo de caso. A edificação sustentável
estudo de caso) está situada na Av. Osvaldo Reis, nº 3600, na cidade de Itajaí - SC. Como resultados, apresentam-se as práticas
sustentáveis implantadas na edificação do estudo de caso homologados como créditos e práticas obrigatórias estabelecidas pelo
LEED NC and Major Renovations Versão 2009 ou 3.0. A localização do terreno tem grande influência sobre a sustentabilidade
ao diminuir a pegada ecológica de veículos de passageiros a combustão fóssil (normalmente somente com o motorista)
potencializando a emissão de gases degradadores do meio ambiente. Tornam-se formas de diminuir esta pegada, o uso
inteligente do transporte, pois o transporte conecta pessoas a atividades, oferece novas formas de acessibilidade e aproxima
pessoas aos seus trabalhos e a infraestrutura entre outros. A redução da poluição luminosa promovendo a visibilidade do céu
foi obtida pela atenuação da iluminação noturna. O controle de sistemas de iluminação realizada pelo timmer, promove esta
alteração automática sem precisar de pessoa para isto. A geração de energia para consumo próprio ocorre pela instalação de
placas fotovoltaicas gerando de energia através de fonte renovável (Sol) em sistema on grid (ligado a concessionária)
atenuando o valor mensal de gastos em energia. As práticas a longo prazo minimizadoras do impacto ambiental, medição e
verificação de conta mensal de energia (sempre disponíveis) e uso de sistema de refrigeração não produtor de gases do efeito
estufa (utilizado o sistema inteligente de gerenciamento de refrigeração VRF) diminuem a pegada ecológica do uso contínuo
por anos. A certificação LEED se preocupa com a utilização de materiais e recursos regionais, para isto estabelece que os
mesmos estejam a uma distância máxima de 804 km do empreendimento, buscando a minimização de combustível fóssil
lançado na atmosfera. Também se estabelece a busca pela utilização de materiais sustentáveis e por um sistema construtivo
com bom desempenho. Estimula e favorece o uso de materiais regionais, pelo menos 20% do material extraído, processado e
manufaturado deve ser de origem regional (até 804 km), citando-se os materiais sustentáveis como alumínio, madeira plástica,
pastilhas entre outros. Nos itens certificados, utilizou-se na construção madeiras originadas de reflorestamento com o Selo
FSC. No acompanhamento do processo de certificação LEED, foi creditado pontuação por apresentarem Profissional
Acreditado LEED®, sendo o índice de comissionamento apontando pela consultoria da empresa PETINELLI e a consultoria
de acompanhamento pela empresa Avistar Engenharia Ltda. Os pontos a considerar na fase de concepção são a diferença entre
o projeto tradicional e o sustentável, o projeto tradicional busca prioritariamente a minimização de todo o custo e o projeto
sustentável se utiliza de um croqui para estudar quais materiais, tecnologias e processos, deverão ser usados para garantir a
sustentabilidade da edificação. No projeto sustentável, o estudo se inicia com os estudos preliminares, como viabilidade
financeira na execução do projeto, mercado consumidor, disponibilidade e viabilidade de terrenos, potenciais construtivos dos
terrenos e a pesquisa da melhor localização e proximidades as infraestruturas públicas existentes. Na orientação da edificação
se pensa na disposição solar do empreendimento, envoltória, área de ocupação do solo pela edificação entre outros. Os pontos
a considerar na fase de descarte do projeto sustentável são o Programa de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, os

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laudos atestando a classe de resíduos e volume do que estava sendo reciclado, a classificação dos dos resíduos por volume e a
destinação final ambientalmente adequada, segundo a classe do resíduo. Conclui-se que a sustentabilidade traz como
benefícios a economia financeira, de recursos naturais (cada vez mais escassos), sendo que ela visa reduzir a geração de
resíduos e fomentar a preservação e o equilíbrio do meio ambiente.

Introdução
Segundo John (2000), o consumo de recursos naturais na construção civil em determinada região depende da quantidade
de resíduos gerados, da vida útil das estruturas construídas, das necessidades de manutenção, das perdas incorporadas nos
edifícios e das tecnologias empregadas. As atividades relacionadas com a construção civil possuem grande impacto ambiental.
John (2000, p. 15) ainda cita que “a construção civil consome entre 14% e 50% dos recursos naturais extraídos do planeta”.
“O setor é o maior consumidor individual de recursos naturais, gera poluição, desperdiça energia para a produção e
transporte de materiais e é responsável pelo grande acúmulo de entulho produzido nos canteiros de obra” (JOHN, 2002). No
entanto, pode haver uma contribuição significativa para a diminuição dos impactos ambientais através do uso de tecnologias
construtivas mais sustentáveis [..] (CASAGRANDE JÚNIOR et al., 2018).
Segundo Pinheiro (2003), “a construção sustentável refere-se à aplicação da sustentabilidade às atividades construtivas,
sendo definida como a criação e responsabilidade de gestão do ambiente construído, baseado nos princípios ecológicos e no
uso eficiente de recursos”.
Na 1ª Conferência Mundial sobre a Construção Sustentável (First World Conference for Sustainable Construction)
realizada em Tampa (Flórida) no ano de 1994, foram sugeridos 6 princípios para a sustentabilidade na construção. São eles:
diminuir o consumo dos recursos, expandir sua reutilização, usar recursos renováveis e recicláveis, preservar o ambiente
natural, gerar um ambiente saudável e que não seja tóxico e estimular o crescimento e a qualidade do ambiente construído
(PINHEIRO, 2003). Destaca-se que um conjunto de práticas/soluções/estratégias sustentáveis irão formar uma edificação
sustentável.
O órgão máximo no Brasil é o Green Building Council, que normatiza os critérios para certificação
LEED. A abreviatura LEED - Leadership in Energy and Enviromental Design significa Liderança em Energia e Design do
Meio Ambiente, sendo um “sistema internacional de certificação e orientação ambiental para edificações
utilizado em mais de 160 países, e possui o intuito de incentivar a transformação dos projetos, obras e
operação das edificações, sempre com foco na sustentabilidade de suas atuações”. (GBC BRASIL, 2017,
p. 1).
O selo LEED foi desenvolvido em 1998 pelo US Green Building Council - USGBC e promove a certificação a de
edifícios sustentáveis e locais que somam o meio ambiente, beneficiem as comunidades e proporcionam espaços melhores,
saudáveis e confortáveis (BARROS; BASTOS, 2015). “O certificado LEED é obtido na finalização da obra, via auditoria onde
se verificam os pré-requisitos e a pontuação obtida na fase de projeto” (LEITE, 2011).
O objetivo geral deste estudo é apresentar o estudo de caso “Va Casa na Praia” certificado pela LEED NC nível
platinum, em Itajaí - SC. Para isso, foram delineados os seguintes objetivos específicos: demonstrar o que foi feito de
sustentável; descrever o background ou retaguarda (situações e planejamento), medidas aplicadas desde a fase de concepção
para se obter um empreendimento sustentável; e apurar os critérios quantitativos da Va Casa na Praia.
Cabe o olhar para a indústria da construção civil e os impactos ao meio ambiente, para verificar a necessidade de criar
formas de atenuar o consumo de recursos e que motiva a escolha do tema. É importante, para demonstrar que a
sustentabilidade, traz como benefício, economia financeira, de recursos naturais cada vez mais escassos e visa reduzir a
geração de resíduos, fomentar a preservação ambiental e o equilíbrio do meio ambiente com a ocupação humana. Enfim,
pretende-se promover o debate relativo à limitação dos recursos naturais, sua relação com o crescimento
populacional, e os avanços tecnológicos destinados a viabilizar a manutenção da ocupação humana sobre
este planeta.

Material e Métodos

A pesquisa teve uma natureza aplicada, abordagem quali-quantitativa, método exploratório (busca de critérios
qualitativos/quantitativos) e descritivo (delimitação fundamentação teórica), e tipo estudo de caso.
A pesquisa qualitativa se justifica pelas práticas sustentáveis apontadas e as informações de retaguarda, e na
quantitativa, apuraram-se os dados como porcentagem de gasto da sustentabilidade sobre o tradiocional, performance de
pontuação, entre outros. Quanto aos procedimentos, trata-se de um estudo de caso.
O universo de pesquisa são a edificações homologadas como certificações sustentáveis, sendo a amostra a edificação
sustentável Va Casa na Praia. A amostra Va Casa na Praia se trata de um empreendimento showroom de mobiliário para
interiores, exteriores e embarcações, estrategicamente locada perto dos clientes que buscam móveis para ambientes externos

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marca MAC e peças únicas de arte (mobiliário) para ser a peça de destaque em ambientes internos.
O Quadro 1 sintetiza as formas de coleta de dados, demonstrando a finalidade de cada instrumento.

INSTRUMENTO
FINALIDADE DO FINALIDADE
DE COLETA DE OBJETO DE PESQUISA
INSTRUMENTO GERAL
DADOS
Entrevista e Proprietário do Va Casa na Informações sobre o projeto/ Qualitativamente:
Questionário Praia, consultoria LEED. execução do Va casa na praia. Embasamento
Verificar as soluções fundamentação teórica
Observação direta Visita ao empreendimento Va
sustentáveis adotadas no estudo Pontuar a soluções
ou do participante casa na praia.
de caso. sustentáveis adotadas.
Guia LEED e Revista GBC Determinar critérios dos créditos Quantitativamente:
Documentos
Brasil. LEED e suas características. Valores mensuráveis
Site USGBC e site Va Casa Coleta de informações do de desempenho
Dados arquivados
na Praia. empreendimento. financeiro/economia.
Quadro 1: Forma da coleta de dados da amostra pesquisada.
Fonte: Adaptado de Stefanuto e Henkes (2013, p. 288)

A edificação sustentável estudo de caso) está situada na Av. Osvaldo Reis, nº 3600, na cidade de Itajaí - SC, próximo
à divisa com a cidade de Balneário Camboriú/SC (VA CASA NA PRAIA, 2018).

Resultados e Discussão

Práticas Sustentáveis
Dentre os créditos e as práticas obrigatórias estabelecidas pelo LEED NC and Major Renovations Versão 2009 ou 3.0 se
destina as práticas sustentáveis implantadas na edificação do estudo de caso.
A localização do terreno tem grande influência sobre a sustentabilidade ao diminuir a pegada ecológica de veículos de
passageiros a combustão fóssil (normalmente somente com o motorista) potencializando a emissão de gases degradadores do
meio ambiente. O uso inteligente do transporte é uma das formas de diminuir esta pegada, pois o transporte conecta pessoas a
atividades, oferece novas formas de acessibilidade e aproxima pessoas aos seus trabalhos e a infraestrutura entre outros. No
Quadro 2, as práticas sustentáveis relacionadas com a localização do terreno, mobilidade, acessibilidade e preservação do
ambiente.

ITEM FORMA DE OBTENÇÃO


No raio de 800 m da edificação, verificam-se as infraestruturas existentes, para a aquisição de
Seleção de terreno
terreno, posicionando o mesmo próximo as infraestruturas.
Área urbana c/infra- O terreno encontra-se em área urbana com infraestrutura evitando a necessidade do investimento
estrutura público.
O empreendimento foi construído em área urbana e não houve necessidade de supressão de
Preservar o habitat
vegetação.
Transporte O transporte alternativo, as formas de acessibilidade extras ao transporte individual com automóveis
alternativo poluentes.
Público Existem duas linhas de transporte coletivo no trajeto do empreendimento.
Bicletário/Vestiário Foi implantado um local para bicicletas e vestiário para fornecer esta opção sustentável.
Veículos baixos
Tem uma vaga para veículos com baixos poluentes.
poluentes
Estacionamento Com poucas vagas de estacionamento se priviligia a adoção de transporte alternativo.
Quadro 2: Localização e Mobilidade.
Fonte: Dados da pesquisa (2019)

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Figura 1: Localização do Va Casa na Praia.
Fonte: Adaptado de Google Earth (2019)

O Quadro 3 discorre sobre a otimização do uso eficiente de águas (pluvial, servida e potável) buscando a
redução do uso de água potável e reaproveitamento de agua pluvial.

ITEM FORMA DE OBTENÇÃO


Acima de 25% dos espaços abertos é vegetado,
Maximizar espaços abertos
25,13%.

Águas Pluviais e controle da quantidade Aproveitamento de 90% da água que cai no terreno.
Águas pluviais e qualidade Reservatório de água pluvial tratada.

Uso eficiente de água no paisagismo Água pluvial tratada usada no paisagismo e sanitários.

Tecnologias inovadoras para águas


Metais e louças eficientes e de alta qualidade.
servidas
Redução de 62% do consumo de água pela água
Redução do consumo de água
pluvial.

Figura 2: Área descoberta, louças com baixo consumo de água.


Fonte: O autor (2019) e Pedroni (2015, p. 22).
Quadro 3: Gerenciamento de diversos tipos de água.
Fonte: Dados da pesquisa (2019)

A redução da ilha de calor retratada pela Figura 3 solicita que se maximizem as áreas descobertas, pois 41,40% do
terreno é sem cobertura. As ilhas de calor diminuem a permeabilidade do solo, concreto armado com paredes de vedação
argamassadas (traz alta refração do calor) para o entorno da edificação e diminuem a ventilação natural, extinguindo a livre
passagem de vento.

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Figura 4: Ilhas de calor conforme zoneamento e impermeabilidade.
Fonte: Cunha (2014) e Globo (2017).

O Quadro 4 contempla as práticas sustentáveis que diminuem a necessidade de refrigeração.

ITEM FORMA DE OBTENÇÃO


Redução da ilha de calor e áreas
Telhado em cor clara, reduz a absorção do calor.
cobertas
Pé direito duplo até 5m, telhado curvo com
Aumento da ventilação ventilação cruzada em janelas superiores
favorecendo a troca de calor.

Figura 3: Vista do empreendimento em perspectiva, envoltório e janelas superiores para


ventilação cruzada.

Fonte: Novasky (2019, p. 139) e Pedroni (2015, p. 22).


Quadro 4: Redução do uso de energia.
Fonte: Dados da pesquisa (2019).

A redução da poluição luminosa promovendo a visibilidade do céu foi obtida pela atenuação da iluminação noturna. O
controle de sistemas de iluminação realizada pelo timmer, promove esta alteração automática sem precisar de pessoa para isto.
A Figura 4 apresenta a poluição visual gerada pela iluminação excessiva.

Figura 4: Céu sem a poluição visual e atenuação da luminosidade.


Fonte: Autor (2019) e Pedroni (2015, p. 22)

O Quadro 5 apresenta a redução do uso de energia pela refrigeração/iluminação com a adoção de brise com bolsão de ar

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evitando a entrada de raios solares e a geração de calor na pele de vidro, trazendo ao mesmo tempo iluminação natural e
diminuindo a necessidade de iluminação artificial.

ITEM FORMA DE OBTENÇÃO


Sistema automatizado (24ºC liga a refrigeração e
Otimização da performance
abre janelas motorizadas no nível superior para a
energética
saída do calor).
Iluminação natural e paisagem, e luz Iluminação solar A edificação está direcionada ao
do dia. nascente.
Iluminação natural e paisagem, e A pele de vidro com os vidros Low-e permite a
vistas. visão para a paisagem.
Quadro 5: Práticas a longo prazo minimizadoras do impacto ambiental.
Fonte: Dados da pesquisa (2019)

A geração de energia para consumo próprio ocorre pela instalação de placas fotovoltaicas gerando de energia através de
fonte renovável (Sol) em sistema on grid (ligado a concessionária) atenuando o valor mensal de gastos em energia.
As práticas a longo prazo minimizadoras do impacto ambiental, medição e verificação de conta mensal de energia
(sempre disponíveis) e uso de sistema de refrigeração não produtor de gases do efeito estufa (utilizado o sistema inteligente de
gerenciamento de refrigeração VRF) diminuem a pegada ecológica do uso contínuo por anos.
A certificação LEED se preocupa com a utilização de materiais e recursos regionais, para isto estabelece que os mesmos
estejam a uma distância máxima de 804 km do empreendimento, buscando a minimização de combustível fóssil lançado na
atmosfera. Também se estabelece a busca pela utilização de materiais sustentáveis e por um sistema construtivo com bom
desempenho. O Quadro 6 mostra a forma de gerenciamento dos materiais que compõem a edificação e os resíduos gerados
pela construção.

ITEM FORMA DE OBTENÇÃO


Destinar acima de 75% de resíduo para o 95% do material foi destinado ao reuso,
reuso contenedores.
Reciclados (madeira plástica, pastilhas de
Na construção utilizar no mínimo 20% de
vidro, sucata aço gerdau e vidro Low e entre
material reciclável
outros).
Quadro 6: Materiais e recursos (reaproveitamento/reciclagem).
Fonte: Dados da pesquisa (2019)

Para favorecer o uso de materiais regionais, pelo menos 20% do material extraído, processado e manufaturado deve ser
de origem regional (até 804 km), citando-se os materiais sustentáveis como alumínio, madeira plástica, pastilhas entre outros.
Nos itens certificados, utilizou-se na construção madeiras originadas de reflorestamento com o Selo FSC. A Figura 5 apresenta
exemplos desses materiais.

Figura 5: Cerca com madeira plástica e chapas de ACM envolvendo a edificação, respectivamente.
Fonte: Autor (2019) e Pedroni (2015, p. 22)

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Para os materiais poluentes como tintas, selantes e revestimentos foram prescritos materiais com baixa emissão de
compostos orgânicos voláteis, assim como realizado uma parede verde com esta finalidade.
Os pontos obtidos por apresentar práticas sustentáveis não previstas no Guia LEED, são creditados no módulo Inovação
ou performance exemplar. Pontuou-se nesse quesito, pela empresa implementar uma Política e Programa de Limpeza Verde, e
pela compra sustentável de lâmpadas com índice de mercúrio reduzido.
No acompanhamento do processo de certificação LEED, foi creditado pontuação por apresentarem Profissional
Acreditado LEED®, sendo o índice de comissionamento apontando pela consultoria da empresa PETINELLI e a consultoria
de acompanhamento pela empresa Avistar Engenharia Ltda.
No módulo prioridade regional, alguns créditos se forem executados com materais e recursos até 804 km, podem
pontuar novamente. Os créditos que receberam dupla pontuação foram a medição e verificação de consumo de energia,
eficiente uso de água em paisagismo, inovações tecnológicas no uso de água servida e redução do uso de água.

Background ou retaguarda

Neste subitem será visto a diferença entre a construção convencional e a sustentável, na qual, divergem na forma de
concepção, execução e gerenciamento.
Os pontos a considerar na fase de concepção são a diferença entre o projeto tradicional e o sustentável, o projeto
tradicional busca prioritariamente a minimização de todo o custo e o projeto sustentável se utiliza de um croqui para estudar
quais materiais, tecnologias e processos, deverão ser usados para garantir a sustentabilidade da edificação.
No projeto sustentável, o estudo se inicia com os estudos preliminares, como viabilidade financeira na execução do
projeto, mercado consumidor, disponibilidade e viabilidade de terrenos, potenciais construtivos dos terrenos e a pesquisa da
melhor localização e proximidades as infraestruturas públicas existentes. Na orientação da edificação nos pontos cardiais,
munido de croqui, como exposto na Figura 6, pensa-se na disposição solar do empreendimento, envoltória, e área de ocupação
do solo pela edificação.

Figura 6: Croqui para estudo de envoltória, ventilação cruzada e orientação solar


Fonte: Novalsky (2019, p. 129)

O projeto sustentável tem como caraterística o dever de pensar na retaguarda, a reunião de todos os sistemas e a
edificação entre si para obter sustentabilidade e o número de ouro, o índice de comissionamento. Estima-se a quantidade de
ocupantes diária do empreendimento, o volume de água necessária para o reservatório, dimensionamento de climatização.
Os pontos a considerar na fase de descarte do projeto sustentável são o Programa de Gerenciamento de Resíduos da
Construção Civil, os laudos atestando a classe de resíduos e volume do que estava sendo reciclado, a classificados dos resíduos
por volume e a destinação final ambientalmente adequada, segundo a classe do resíduo. O gesso foi o resíduo com o descarte
mais difícil, pois foi transportado até Criciúma para efetuar o descarte ambientalmente adequado. Foi preciso instruir aos
recicladores sobre preenchimento de nota fiscal, e na questão do preço houve a cobrança extra para a emissão de laudo
atestando o descarte.
Os pontos a considerar na fase de construção foram a escolha de não revestir com piso cerâmico. O estudo térmico
constatou calor ascendente abaixo do piso as 15:00 horas foi decidido permanecer somente com o piso polido, cerâmica
absorveria maior calor. A alimentação realizada com marmitas, gerava isopor e resto de comida a ser feita compostagem. O
pagamento da alimentação dos colaboradores da obra em restaurante foi uma ação que se provou ser de menor custo e de
menor impacto ambiental.

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Atributos quantitativos

O Gráfico 1 apresenta o comparativo de custos de uma edificação tradicional com uma edificação sustentável obtidas no
estudo de caso Va Casa de Praia. Observa-se que o custo foi de 2 a 6% maior na edificação sustentável.

Gráfico 1: Comparativo Custo Edificação Tradicional versus Sustentável.


Fonte: Novasky (2019, p. 139)

A taxa de interna de retorno aparece na Figura 19, refere-se a quanto tempo leva para que o investimento em
sustentabilidade seja anulado. A partir do momento que se atinge a taxa interna de retorno, existe a economia no valor gasto
com custos de uso e operação, na qual, a edificação sustentável torna-se o melhor investimento que a edificação tradicional.
Nota-se referente a taxa interna de retorno, o maior o investimento em sustentabilidade consequente tempo maior em
sustentabilidade.

Gráfico 2: Taxa de Interna de Retorno Edificação Sustentável.


Fonte: Novasky (2019, p. 139)

A Figura 7 apresenta o desempenho na economia do custo de uso e operação, a economia de recursos naturais
(consumindo menor quantidade de água e energia, a necessidade de abastecimento de agua e energia também diminui), uma
das fortes vertentes da sustentabilidade, a economia das reservas de recursos naturais. Aliada a isto, economia financeira do
proprietário, ao longo da Vida útil.

483
Figura 7: Economia anual em operações na Edificação Sustentável.
Fonte: Pedroni (2015, p. 82)

Em 2016, a Va Casa na Praia foi a edificação com maior pontuação LEED no Brasil e a segunda maior pontuação na
América Latina, além de ser o primeiro showroom LEED no Brasil.
O Gráfico 3 demonstra a performance de pontuação atingida pela edificação sustentável Va Casa na Praia. Sendo 31
pontos obtidos em performance energética e 10 pontos em água.

Gráfico 3: Performance de pontuação obtida pela edificação VA Casa na Praia.


Fonte: Petinelli (2016, p. 124)

O Gráfico 4 demonstra o caminho a percorrer no sentido da conquista do NET Zero, autosuficiência em água e energia,
já almejados pelo empreendimento Va Casa na Praia. São 13% de energia gerada pela empresa pelo sistema fotovoltaico,
baseado em energia renovável.

484
Gráfico 4: Matriz energética da Va Casa na Praia.
Fonte: Petinelli (2016, p. 123)

Considerações Finais

Segundo Hawken, Lovins e Lovins (2000, p. 116) “ao construir uma coisa, você não deve construí-la isoladamente:
deve, isso sim, consertar o mundo que a cerca, assim como o que existe dentro dela, de modo que o mundo mais amplo fique
mais coerente e mais completo nesse determinado lugar; e que a coisa construída já ocupe o seu lugar na rede da natureza
enquanto você a estiver construindo”.
Revela-se um novo mundo a descortinar, com novas informações, recomenda-se o aprofundamento no tema de
sustentabilidade, pois o mesmo é rico em conteúdo e apenas uma de suas facetas foi estudada.
Após a pesquisa realizada, dada a dimensão do tema, o mote específico de um artigo e a capacidade limitada de atingir
todos ramos da sustentabilidade, recomendam-se outros estudos sobre o tema, como estabelecer a eficiência energética do
empreendimento Va Casa Na Praia, verificar a especificação técnica dos materiais utilizados e apurar o plano de manutenção
do empreendimento Va Casa Na Praia, com o seu referido desembolso financeiro.
A sustentabilidade traz como benefícios a economia financeira e a de recursos naturais (cada vez mais escassos), visa
ainda reduzir a geração de resíduos e fomentar a preservação e o equilíbrio do meio ambiente.

Referências

BARROS, Mariana Chaves; BASTOS, Nathalia Flinkas de Argollo. Edificações sustentáveis e certificações ambientais:
análise do selo Qualiverde. 2015. 113 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Ambiental) - Escola
Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

CASAGRANDE JÚNIOR, Eloy Fassi; et al. Construções sustentáveis: considerações. Disponível em


<http://www.utfpr.edu.br/curitiba/estrutura-universitaria/diretorias/dirppg/grupos/tema/14constru_sustent_ consideracoes.pdf>.
Acesso em: 29 out. 2017.

CUNHA, Karla. São Paulo, uma ilha de calor. Disponível em: <http://www.karlacunha.com.br/sao-paulo-uma-ilha-de-
calor/>. Acesso em: 15 jul. 2019.

GBC BRASIL. Green building Construction. Disponível em: <https://www.gbcbrasil.org.br/>. Acesso em: 10 mar. 2019.

GLOBO. Cidades podem ficar até 8 graus Celsius mais quentes. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/cidades-podem-ficar-ate-8-graus-celsius-mais-quentes-21412089>.
Acesso em: 15 jul. 2019.

GOOGLE EARTH. Google Earth Pro. Version 7.3.2.2.5776. Acesso em: 21 abr. 2019.

HAWKEN, P.; LOVINS, L.H.; LOVINS, A. Capitalismo Natural: criando a próxima revolução industrial. São Paulo: Editora
Pensamento, 2000. 358 p.

485
JOHN, Vanderley M. Reciclagem de resíduos na construção civil: contribuição para metodologia de pesquisa e
desenvolvimento. 2000, 113f. Tese (Livre docência) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de
Engenharia da Construção Civil. São Paulo, 2000.

JOHN, VANDERLEY M. Desenvolvimento sustentável, construção civil, reciclagem e trabalho multidisciplinar. São
Paulo, PCC/USP, 2002. Disponível em: <www.reciclagem.pcc.usp. br/des_sustentável.htm>. Acesso em: 08 mai. 2018.

LEITE, Vinicius Fares. Certificação ambiental na construção civil: sistemas LEED e AQUA. 2011. 59 f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil), Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011.

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Disponível em: <https://www.dropbox.com/sh/eiu0pfkbz3mmrpz/AADCFzbSdEx2bWJcy0ksgy0Ia/VIA%20
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PETINELLI, Guido. Revista GBC Brasil, São Paulo, ano 3, n. 9, anuário 2016, 228 f.

PEDRONI, Carolina H.S. Estudo de Caso: VA Casa na Praia. Balneário Camboriú, 8 de abril de 2015. 84p. Dropbox: LEED
VA CASA NA PRAIA. [Documento de acesso exclusivo]. Acesso em: 31 jul. 2019.

PINHEIRO, Manuel Duarte. Construção sustentável – mito ou realidade? In: CONGRESSO NACIONAL DE ENGENHARIA
DO AMBIENTE, 7, 2003, Lisboa. Anais... Lisboa, 2003. p. 1-10.

STEFANUTO, Ágata Pâmela Olivari. HENKES, Jairo Afonso. Critérios para obtenção da Certificação LEED: Um estudo
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VA CASA NA PRAIA. Certificação e Selos. Disponível em: < http://viaartistica.com/casa-na-praia.html >. Acesso em 10
mar. 2018.

486
5SSS163
SISTEMA DE BIORRETENÇÃO PARA CONTROLE QUALITATIVO
DO ESCOAMENTO PLUVIAL ORIUNDO DE UMA VIA DE
TRÁFEGO
Paulo Roberto Franz1, Fabiana Campos Pimentel2, Rutineia Tassi3, Gabriela Gazzola4, Paula Fensterseifer5,
Caroline Dboer Dias6
1Universidade UFSM, e-mail: paulorfranz@hotmail.com; 2Universidade UFSM, e-mail:
fabianacampospimentel93@gmail.com; 3Universidade UFSM, e-mail: rutineia@gmail.com; 4Universidade UFSM, e-mail:
gabrielagazzola@hotmail.com; 5Universidade UFSM, e-mail: paula.fens@gmail.com, Universidade UFSM, e-mail:
carol.dboer@gmail.com

Palavras-chave: First Flush; Desenvolvimento urbano de baixo impacto; Chlorophytum comosum.

Resumo
Em áreas urbanas, parte significativa do volume de água precipitada transforma-se em escoamento superficial, lavando
superfícies impermeáveis como rodovias, telhados e calçadas. Desse modo, a água escoada superficialmente pode carrear
matéria orgânica, metais pesados e outras impurezas presentes nessas superfícies, transportando-as diretamente aos corpos
hídricos, sem prévio tratamento. Este trabalho tem como objetivo analisar o potencial de tratamento qualitativo do escoamento
pluvial por meio de um sistema de biorretenção de pequena escala que recebe a água de escoamento superficial, proveniente de
um trecho de via de tráfego moderado localizado nas proximidades de Centro de Tecnologia na Universidade Federal de Santa
Maria. A biorretenção foi construída adjacente à via de forma a receber parcela da água do escoamento superficial a partir de
uma pequena área de contribuição delimitada sobre a via asfáltica. Em dois eventos consecutivos de precipitação, foram
realizadas coletas de 4 amostras em cada evento, sendo a primeira amostra a água de first flush, ou primeiro escoamento
superficial (AM-1); a segunda amostra tem como finalidade definir a qualidade da água que entra na biorretenção (AM-2); em
seguida coleta-se uma amostra da água que atravessa o leito filtrante da biorretenção (AM-3); por último, é coletada
diretamente da atmosfera uma amostra de água precipitada, sem que essa entre em contato com qualquer superfície senão a do
recipiente coletor (AM-4). Após as coletas, para cada evento analisado as amostras foram encaminhadas para análises
laboratoriais físico-químicas. Os parâmetros analisados foram: pH, Cor Aparente; Cor Real; Condutividade; Turbidez; Sólidos
Totais; Sólidos Suspensos; e Sólidos Dissolvidos. Neste estudo são apresentados os parâmetros analisados para dois eventos de
precipitação: para a coleta realizada no dia 25 de julho de 2019, após uma precipitação de 105,6mm, distribuída em 50 horas
de duração do evento e com baixo período de recorrência. A segunda coleta foi realizada no dia 12 de agosto de 2019, após
36,6 mm de precipitação distribuídos ao longo de 72 horas de duração, sendo caracterizado como evento de baixo período de
recorrência. Após as análises constatou-se que o pH da precipitação direta (AM-4) é ácido e sofre elevação ao escoar pelo
asfalto. A AM-1 apresentou as maiores concentrações de sólidos, portanto, indicando o comprometimento dessa parte do
escoamento. As amostras AM-2 e AM-3 revelaram que com o passar pelo leito filtrante, houve aumento na presença de sólidos
totais, possivelmente devido ao carreamento de sedimentos do material da biorretenção.

Introdução
O crescimento da população residente em ambientes urbanos transformou o Brasil em um país essencialmente urbano, uma vez
que 84,72% da população já vive em cidades (IBGE, 2015). No entanto, o processo urbano como temos hoje pode gerar
diversos impactos negativos à população, pois a diminuição da área vegetada, substituídas por estrutura impermeáveis, a
alteração da topografia e a compactação do solo modificam significativamente o ambiente físico, químico e biológico das
águas superficiais (EPA, 2012). Essas alterações podem causar mudanças no ciclo hidrológico local por meio de áreas
impermeáveis, com consequente redução na infiltração de água no solo e aumento do escoamento superficial. O processo de
urbanização colabora ainda com o aporte de poluentes pela água pluvial drenada superficialmente, devido a diversos fatores
antropogênicos como uso do solo, atividades locais, volume de tráfego na região, entre outros (GRASSI; PRESTES, 2005).
A primeira água de escoamento pluvial gerado – conhecido como first flush ou primeira descarga - tem como principal

487
característica a alta concentração de sólidos suspensos, matéria orgânica e inorgânica, metais pesados e outros poluentes
possivelmente presentes nas superfícies atingidas pela chuva, sendo que sua qualidade varia conforme a cobertura e uso do
solo (MODUGNO et al. 2015). No Brasil, grandes contingentes de águas pluviais escoadas em superfícies asfálticas seguem os
sistemas de drenagem diretamente para os cursos d’água mais próximos, necessitando de monitoramento contínuo e
desenvolvimento e ampliação dos sistemas de tratamento, como Estações de Tratamento de Esgoto (ETE).
As concentrações de poluentes presentes nesta primeira água escoada também podem variar em função da estação de chuva.
LEE et. al (2004) analisaram a qualidade do first flush durante as chuvas de inverno na Califórnia e foram encontradas maiores
concentrações de poluentes logo após um período de estiagem. Este resultado pode ser explicado pelo acúmulo de poeira e
demais partículas nas superfícies impermeáveis.
Nesse contexto, observa-se que o escoamento pluvial urbano é um dos fatores que mais tem influenciado a qualidade da água
dos corpos hídricos. As áreas superficiais, principalmente ruas, sarjetas e telhados, são considerados os principais contribuintes
de poluentes para o escoamento superficial urbano, conferindo um caráter difuso de poluição às águas pluviais urbanas, que
por sua vez têm sua qualidade relacionada com a ocupação da bacia hidrográfica e às altas taxas de urbanização (VIVACQUA,
2005). Dessa maneira, faz-se necessário aprimorar as práticas de manejo das águas pluviais urbanas. Os sistemas que mais
avançaram neste sentido foram a abordagem americana de Low Impact Development (LID, denominado no Brasil por
Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto).
A estratégia LID pode ser descrita, no que se refere às águas pluviais, como a utilização de estruturas que incentivam o
aproveitamento de processos físicos, químicos e biológicos naturais, para o controle e tratamento da drenagem aliado a
potenciais efeitos paisagísticos (ALLASIA, 2010). São exemplos de técnicas utilizadas dentro da abordagem LID as
biorretenções, ou jardins de chuva, telhados verdes e valas de infiltração (FLETCHER, 2014). Por ser composta por camada
filtrante, de armazenamento e de vegetação, a biorretenção é uma medida de controle promissora no que se refere ao
tratamento de águas pluviais (BRAGA, 2017).
Os autores Li e Zhao (2008) descrevem os sistemas de biorretenção como estruturas hidrológicas funcionais na paisagem,
necessitando de baixo investimento e de simples manutenção, onde através da sucessão solo-planta-ar e processos de
infiltração, retenção e adsorção, purificam e absorvem as águas pluviais de pequenas áreas. Dessa forma, as biorretenções
possuem a capacidade de remoção de diversos poluentes possivelmente carreados pelo escoamento pluvial e são soluções
práticas para serem implantadas em locais desprovidos de grandes espaços.
Na perspectiva de oferecer tratamento qualitativo preliminar das águas pluviais escoadas em superfícies impermeáveis, o
presente artigo possui o objetivo de avaliar o desempenho de um sistema de biorretenção no tratamento qualitativo de parcela
de água do escoamento pluvial, oriundo de uma via de tráfego intermediário localizada dentro dos limites da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. Através de coletas e análises laboratoriais, a qualidade das águas do
escoamento que passaram pelo leito filtrante da biorretenção podem ser comparadas à água captada diretamente do asfalto
(first flush) e à água de entrada da biorretenção. Dessa forma, é possível determinar o potencial poluidor que as vias asfálticas
possuem e a eficiência de uma biorretenção no tratamento preliminar do escoamento superficial urbano.

Materiais e Métodos
Utilizou-se para este estudo uma célula de biorretenção experimental localizada dentro dos limites da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM), em Santa Maria, Rio Grande do Sul. O protótipo foi instalado em área rebaixada localizada lateralmente

488
a uma via de tráfego moderado de veículos, de onde o escoamento é captado por gravidade, abastecendo o sistema. A Figura 1
apresenta a localização da cidade de Santa Maria no estado do Rio Grande do Sul, a localização da biorretenção no território
do Centro de Tecnologias da UFSM e a vista frontal da biorretenção.

Figura 1: Localização da biorretenção e perfil frontal.

Estruturalmente, a biorretenção consiste de uma caixa acrílica transparente com 0,6 m³ de volume. As laterais transparentes
possibilitam a visualização dos processos internos da estrutura.
O material de preenchimento da estrutura é composto por camadas de brita, areia e substrato de solo, separadas entre si por
uma manta geotêxtil. A sequência de camadas, da base até a parte superior da biorretenção, consiste em uma parcela de 10 cm
de brita graduada número 1, seguida de 10 cm de areia média lavada e uma camada superior de 30 cm de substrato (composto
em 50% de solo comum argiloso e 50% de areia média lavada). A superfície do sistema foi preenchida com vegetação
herbácea da espécie Chlorophytum comosum, popularmente conhecida como Clorofito ou Gravatinha, altamente resistente a
intempéries extremas (chuvas intensas e estiagem), além de ser um excelente reservatório de nutrientes e água (NASA, 1989).
A figura 2 apresenta a sucessão de camadas da biorretenção.

489
Figura 2: Sucessão de camadas da biorretenção e a cobertura vegetal.

Para a coleta da água de drenagem, foi realizada uma abertura no cordão do meio fio da via, onde se conectou uma tubulação
de PVC (100mm), com declividade de 1%, permitindo o escoamento por gravidade. Ao final do sistema de coleta, antes da
introdução da água no sistema de biorretenção, foi conectado um recipiente (600 mL), responsável pela coleta do primeiro
volume de escoamento superficial (first flush), denominado AM-1. Após o volume da primeira amostra estar completamente
preenchido, o recipiente é fechado por um sistema de boia permitindo que a água siga livremente para dentro da célula de
biorretenção.
Na entrada do sistema de biorretenção conectou-se uma junção tipo Y de 45º, onde foram instaladas duas calhas de PVC
(75mm) com diversas perfurações, cuja função é distribuir o escoamento dentro da área da biorretenção. Em cada uma das
calhas, foi acoplado um recipiente coletor de 250mL. Estas duas amostras secundárias têm a função de representar a água de
drenagem real que abastece o sistema, isto é, posterior ao fisrt flush, uma amostra já misturada com a água da chuva que
precipita diretamente sobre o sistema e com concentração média de poluentes da via asfaltada. Após a coleta das amostras
secundárias, essas são misturadas formando uma amostra única de 500mL (AM-2).
Para a liberação da água infiltrada no sistema, após sua passagem por todo o leito filtrante da biorretenção, foi instalado um
registro a 5 cm da base, na lateral inferior a uma das faces. A partir do registro a água é drenada por uma mangueira para
dentro de um reservatório responsável pelo seu armazenamento e onde é coletada a terceira amostra de água (AM-3). Para fins
de comparação, na parte superior, externamente à caixa acrílica, instalou-se um suporte no qual foi apoiado um coletor aberto
para a atmosfera, sendo este responsável pela coleta de água da chuva (AM-4), que permite determinar a qualidade da água
precipitada antes dessa entrar em contato com qualquer superfície.
As amostras coletadas são encaminhadas para análises físico-químicas, nos quais são avaliados os seguintes parâmetros: pH,
Cor Aparente; Cor Real, Condutividade, Turbidez, Sólidos Totais, Sólidos Suspensos e Sólidos Dissolvidos. As análises são
realizadas no Laboratório de Engenharia e Meio Ambiente (LEMA) do Centro de Tecnologias da UFSM. Para cada coleta
realizada, foi caracterizado o volume de precipitação do evento, sua duração, as condições climáticas (ventos) e o período
correspondente entre o evento da coleta e o último evento de precipitação ocorrido anteriormente (horas sem chover). Ao final
do processo, os resultados correspondentes às análises são tratados e comparados entre si. Para a determinação da eficiência de
tratamento de escoamento superficial urbano pela biorretenção, realizou-se a comparação direta entre a qualidade da amostra
de entrada (AM-2) e a qualidade do volume drenado após a passagem pelo leito filtrante (AM-3).

490
Resultados e Discussão
A primeira coleta de água foi realizada no dia 25 de julho de 2019, após 105,6 mm de precipitação, distribuída em 50 horas de
duração do evento e com baixa ocorrência de vento. Esse evento de chuva ocorreu 7 horas após um evento menor de 11,2mm.
A segunda coleta foi realizada no dia 12 de agosto de 2019, após 36,6 mm de precipitação distribuídos ao longo de 72 horas de
duração do evento e com baixa ocorrência de vento. Esse evento de chuva ocorreu após 168 horas sem chuva. Os dados
climáticos foram obtidos no site do INMET.
A Tabela 1 apresenta os resultados dos parâmetros obtidos para cada uma das 4 amostras da coleta realizada no dia 25 de julho
de 2019.

Amostra Cor Cor pH Condutividade Turbidez Sólidos Sólidos Sólidos


-1
Aparente Real (µScm ) (NTU) Totais Suspensos Dissolvidos
(uC) (uC) (mgL-1) (mgL-1) (mgL-1)
AM-1 970 21,4 8,02 1456 66,3 832 384 448
AM-2 239,2 24,7 6,31 37,68 31,3 203 24,3 178,7
AM-3 421,5 201,7 6,31 37,68 48,6 69 53 16
AM-4 6 0,1 5,74 7,02 10,2 58 56 2
Tabela 1: Resultados dos parâmetros obtidos para as 4 amostras na coleta do dia 25 de julho de 2019
.
A Tabela 2 apresenta os resultados dos parâmetros obtidos para cada uma das 4 amostras da coleta realizada no dia 12 de
agosto de 2019.

Amostra Cor Cor pH Condutividade Turbidez Sólidos Sólidos Sólidos


Aparente Real (µScm-1) (NTU) Totais Suspensos Dissolvidos
-1 -1
(uC) (uC) (mgL ) (mgL ) (mgL-1)
AM-1 1534 50,6 6,5 215,4 91 1090 716 374
AM-2 399,3 55,4 6,78 61,82 39,8 52 49 3
AM-3 408,4 293,8 6,47 96,12 42,3 132 124,2 7,8
AM-4 54,8 35,7 5,79 9,72 1 13 12 1
Tabela 2: Valores dos parâmetros obtidos em análise laboratorial para cada amostra no dia 12 de agosto de 2019.

No primeiro evento analisado, pode-se perceber que a AM-1, equivalente ao first flush, apresentou pH levemente alcalino-te, já
no segundo evento, o pH encontra-se abaixo de 7. Uma vez que as amostras AM-4, equivalentes a amostras de água da chuva,
para ambos os eventos apresentam pH ácido (5,74 e 5,79, respectivamente), pode-se concluir que a água, após percorrer a via
asfáltica, sofre elevação de pH. No entanto, para melhor compreensão desse comportamento, mais eventos devem ser
avaliados. A biorretenção não parece ter alterado o pH do escoamento, conforme pode-se observar ao comparar as amostras
AM-2 e AM-3, onde verifica-se que não existe variação significativa.
Observa-se altos teores de Sólidos Totais presentes nas amostras AM-1, inclusive para o primeiro evento, que ocorreu apenas 7
horas após outro evento de chuva e para o qual esperava-se que o pavimento apresentasse menor acúmulo de material sólido.

491
Com relação a AM-2 e AM-3, observa-se grande aumento na taxa de sólidos, principalmente sólidos suspensos, após a
passagem da água pelo sistema de tratamento com a biorretenção. Assim, nesse evento a estrutura atuou como fonte de
poluentes.
Os altos valores teores de cor aparente detectados nas amostras AM-1, AM-2 e AM-3, evidenciam alta presença de sólidos
suspensos e sólidos dissolvidos, visto que a cor real se relaciona exclusivamente com a presença de sólidos dissolvidos na
amostra. A condutividade elevada apresentou valores maiores que os encontrados nas águas naturais (10 a 100 µS/cm), em
consequência dos sólidos dissolvidos presentes. A turbidez por sua vez, relaciona-se aos sólidos suspensos presentes. Como
esperado, as amostras AM-1 apresentam o maior valor de turbidez dentre todas as demais amostras em função da grande
presença de sólidos suspensos carreados na lavagem do asfalto. A presença de cor e turbidez nas amostras de água da chuva
(AM-4) deve-se a ação do vento, principalmente, sendo comum durante as coletas encontrar folhas de árvores ou pequenos
insetos no recipiente coletor.

Considerações finais
Neste trabalho analisou-se a eficiência de tratamento da água pluvial escoada em superfícies asfálticas em um sistema de
biorretenção. Após as análises realizadas, concluiu-se que o first flush constitui-se em escoamento com alto potencial de
transporte de poluentes, devido às altas concentrações de sólidos totais (suspensos e dissolvidos). A interceptação desse
escoamento, para posterior filtragem na biorretenção permitiu o encaminhamento de escoamento com valores bem baixos de
sólidos totais, evidenciando a eficiência dessa simples intervenção. Já o escoamento encaminhado para tratamento na
biorretenção apresentou um comprometimento de sua qualidade em termos de presença dos sólidos suspensos após a passagem
pelo leito filtrante, possivelmente pela liberação de material do próprio leito do sistema que ainda não se encontra estabilizado.
Os resultados apresentados nesse trabalho são preliminares, e de maneira a identificar o real papel da biorretenção no
tratamento do escoamento pluvial em longo prazo serão realizadas novas análises, de forma a ampliar a discussão sobre a
introdução desse tipo de técnica para a melhoria da qualidade das águas pluviais e escoadas a partir de vias de tráfego.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer à CAPES o apoio à pesquisa de mestrado do 5º autor, ao CNPq, ao PIBIC pelas bolsas de
iniciação científica, agradecimentos também ao Centro de Tecnologia e à equipe da PROINFRA da Universidade Federal de
Santa Maria pelo apoio recebido.

Referências Bibliográficas
IBGE. 2015. Censo Demográfico. Características da população e domicílios. Rio de Janeiro.
EMBRAPA. 2017. Identificação, mapeamento e quantificação das áreas urbanas no Brasil. Brasília.
LI, J. Q.; ZHAO, W. W. 2008. Design and Hydrologic Estimation Method of Multi-Purpose Rain Garden: Beijing case study.
In: INTERNATIONAL LOW IMPACT DEVELOPMENT CONFERENCE. Seattle.
FLETCHER, T. D. et al. 2014. SUDS, LID, BMPs, WSUD and more –The evolution and application of terminology
surrounding urban drainage. Urban Water Journal.
NASA. 1989. Interior Landscape Plants for Indoor Air Pollution Abatement. Science and Technology Laboratory.
GRASSI, M.T.; PRESTES, E.C. 2006. A água de chuva e a poluição de rios nas cidades. Gazeta Alternativa Instituto de
Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba in: Bairros em números. 9.

492
VIVACQUA, M.C.R. 2005. Qualidade da água do escoamento superficial urbano – Revisão visando o uso local. 2005, 189p.,
Dissertação (Mestrado em Engenharia Hidráulica e Sanitária) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo.
LEE, J. H.; BANG, K. I. W. 2004. Characterization of urban stormwater. Water Research, v. 34, n. 6, 2000.
ALLASIA, D. 2010. Água no meio urbano. Impactos da urbanização. Notas de aula.
BRAGA, RENATA M. B. 2017 Estudo da remoção de poluentes de águas da drenagem urbana por um dispositivo de
biorretenção. 2017. 89 p. Dissertação (Mestrado em Recursos Hídricos e Saneamento–Universidade Federal de Alagoas,
Maceió, AL.
INMET, 2019. Estações Climatológicas automáticas. Séries históricas. Santa Maria, RS.
MODUGNO, M. H., GIOIA, A. GORGOGLIONE, A. IACOBELLIS, V. LA FORGIA, G. PICCINI, A. F. RANIERI, E. 2015.
Build-Up/Wash-Off Monitoring and Assessment for Sustainable Management of First Flush in an Urban Area. Bari, Itália.
US EPA, United States Environmental Protection Agency. 2012. Guidelines for Water Reuse EPA/600/R12/618 6.36p.

493
5SSS164
ANÁLISE DA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS (RSU)
NO MUNICÍPIO DE SANTA CRUZ/PB
Maria Isabel Ferreira dos Santos1, Rafael Roberto da Silva2, Cícero Joelson Vieira Silva3
1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, e-mail: isabel.ferreira.pb@hotmail.com;
2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, e-mail: rafael.roberto.123@hotmail.com;
3 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, e-mail: cjoelson@ymail.com;

Palavras-chave: Gestão; Impactos ambientais; Resíduos.

Resumo
Os resíduos sólidos urbanos constituem uma preocupação ambiental. Os problemas relacionados aos resíduos sólidos, na
atualidade, estão ligados ao aumento na geração, à variedade de materiais descartados, e a dificuldade em encontrar áreas para
seu depósito, visto que a geração e a deposição são atividades diárias da população. O manejo adequado desses resíduos é um
dos maiores problemas ambientais enfrentado pelos municípios atualmente. Sendo assim é perceptível a necessidade de
possibilitar um destino correto aos resíduos sólidos urbanos, tendo em vista os diversos impactos ambientais causados pelo seu
incorreto destino final. O destino correto desses resíduos se dá pela instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), que objetiva de forma compartilhada, a destinação correta dos resíduos sólidos, incentivo a reciclagem, visando
continuamente a proteção da saúde pública e a promoção da qualidade ambiental. Dessa forma, o presente trabalho tem por
objetivo analisar a gestão de RSU na cidade de Santa Cruz/PB. Nesta pesquisa relata-se um estudo de caso, que tem por
finalidade a análise do gerenciamento de resíduos sólidos na cidade de Santa Cruz-PB. O trabalho aborda uma metodologia
qualitativa, incluindo a coleta de dados, que será realizada no local em estudo. Será empregada como abordagem da
problematização a observação direta intensiva. O grande aumento do centro urbano do município de Santa Cruz - PB, bem
como o crescente consumo de materiais pela população, vem acarretando diversos problemas ambientais, relacionados ao
despejo e acúmulo de resíduos sólidos urbanos em locais inadequados da cidade. A partir da análise da disposição de lixo na
cidade, é perceptível a presença de resíduos de construção, papéis, plásticos e metais em calçadas e avenidas. O despejo desses
resíduos inadequadamente acarreta diversos impactos ao meio ambiente, bem como a contaminação do ar e do solo. É possível
que haja também a proliferação de vetores, provenientes da decomposição de matéria orgânicas, nocivos aos seres humanos.
Todo o lixo do município é destinado a um lixão, essa destinação é incorreta e afeta diretamente o meio ambiente e a saúde da
população. Uma das melhores soluções para os problemas enfrentados pela cidade de Santa Cruz - PB, acerca do lixo, seria a
coleta seletiva, que é um dos meios mais eficazes para diminuir a quantidade de lixo e possibilitar maiores facilidades para os
catadores de materiais recicláveis. É necessário também a implementação do aterro sanitário na cidade, que possui tratamento
adequado para os gases e chorume gerados pelo lixo. A inserção da Política Nacional de Resíduos Sólidos no município, do
mesmo modo, iria contribuir para reciclagem e reutilização de todo resíduo gerado pela população. A partir do trabalho
exposto, é perceptível os inúmeros problemas gerados pelos resíduos sólidos urbanos no município de Santa Cruz - PB, bem
como a necessidade da implementação de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos na cidade, objetivando uma melhoria na
qualidade de vida da população e consequentemente, a diminuição dos impactos ambientais. É necessário também que o lixão
que está operando na cidade seja imediatamente extinto, visto que este traz enormes riscos ambientais e a legislação requer seu
encerramento desde 2010.

Introdução

Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) são compreendidos como aqueles resíduos de residências, domicílios e de limpeza
urbana (varrição, limpezas de locais públicos, dentre outros). A composição desse resíduo pode variar de acordo com a
população que o gera, sendo, na maioria das vezes, constituído de matéria orgânica, papel e papelão, plásticos, vidros e metais.
A Lei Federal nº 12.305 de 2 de agosto de 2010 implementa a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e define como
sendo função dos estados e munícipios o gerenciamento de resíduos sólidos, por meio de medidas, que pretendam diminuir os
impactos ambientais gerados pelo descarte inadequado desses resíduos.
Os resíduos sólidos urbanos constituem uma preocupação ambiental. Os problemas relacionados aos resíduos sólidos, na
atualidade, estão ligados ao aumento na geração, à variedade de materiais descartados, e a dificuldade em encontrar áreas para
seu depósito, visto que a geração e a deposição são atividades diárias da população (LEME, 2006 apud Querino e Pereira,
2016). O manejo adequado desses resíduos é um dos maiores problemas ambientais enfrentado pelos municípios atualmente,
visto que as cidades não apresentam um Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos.

494
De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil – Abrelpe, em 2017, gerou-se um total anual de 78,4 milhões
de toneladas no país, o que demonstra um aumento de 1% em relação a 2016. No entanto, 6,9 milhões de toneladas desses
resíduos não foram coletados e, consequentemente, tiveram destino impróprio.
Segundo o mesmo Panorama, os 1794 municípios da região Nordeste, em 2017, geraram uma quantidade de 55,492
toneladas/dia de RSU, dos quais somente 79,1% foram coletadas. Quanto à disposição final desses resíduos, o gráfico abaixo
apresenta que grande parte é depositada em lixões, que constituem um destino inadequado e causador de impactos ambientais.
O lixão é compreendido como uma área inadequada, sem nenhuma normatização ou fiscalização, sobre a qual é
depositado os resíduos sólidos gerados por uma população. De acordo com a legislação vigente no Brasil, esse tipo de
disposição final de resíduos deveria ser erradicado em todas as cidades até o ano de 2010, sendo esse prazo prorrogado por
diversas vezes, agora até o ano de 2021. Porém, a realidade na maioria das cidades é contrária a legislação, ainda há a presença
de inúmeros lixões atuando nos municípios, gerando assim diversos efeitos negativos ao meio ambiente e a população destes
locais.

Figura 1 – Disposição final de RSU no Nordeste


Fonte: Abrelpe, 2017.

Tendo em vista a grande geração e disposição inadequada dos RSU, o presente trabalho tem por objetivo analisar a gestão
dos resíduos sólidos urbanos na cidade de Santa Cruz - PB, bem como a disposição final dada ao lixo no munícipio.

Materiais e Métodos

Nesta pesquisa relata-se um estudo de caso, que tem por finalidade a análise do gerenciamento de resíduos sólidos na
cidade de Santa Cruz-PB. O trabalho aborda uma metodologia qualitativa, incluindo a coleta de dados, que será realizada no
local em estudo. Será empregada como abordagem da problematização a observação direta intensiva.
O município de Santa Cruz está localizado na região Oeste da Paraíba, situada a 445,5km da capital João Pessoa, com
uma área territorial de 210,152 km². O município está incluído na área geográfica de abrangência do semiárido brasileiro,
apresentando baixo índice pluviométrico e altos índices de evapotranspiração. A área de estudo compreende as ruas da cidade e
o lixão onde ocorre a deposição final dos resíduos. A caracterização da área de estudo é definida a partir de visitas em campo e
relatórios fotográficos.

495
Figura 2 – Município de Santa Cruz – PB
Fonte: Google Earth, 2019.

A princípio será realizada uma leitura dos principais trabalhos, leis e diretrizes de gestão de resíduos sólidos do Brasil, a
fim de possibilitar um melhor embasamento e realizar um comparativo entre o que vem sendo aplicado no município e o que a
legislação requer. Posteriormente ocorrerá a análise da disposição dos resíduos sólidos nas principais ruas da cidade de Santa
Cruz-PB por meio de visitas técnicas e relatórios fotográficos, objetivando a investigação do gerenciamento desses resíduos no
município. Será analisado também a disposição final dada aos resíduos gerados nessa cidade.
Na figura abaixo tem-se o fluxograma da metodologia desenvolvida nesta pesquisa, explicitando as etapas que foram
seguidas.

496
Figura 3 – Fluxograma
Fonte: Elaboração própria, 2019.

Na primeira etapa tem-se o aprofundamento nas bibliografias acerca da questão dos resíduos sólidos urbanos no Brasil,
bem como os impactos causados pela sua disposição inadequada no meio ambiente. Após isso, exibe-se a caracterização da
área de estudo, realizada por meio de visitas técnicas, objetivando a análise visual dos resíduos gerados pelo município e
elaboração de um relatório fotográfico da disposição desses resíduos nas ruas. Por fim, tem-se a análise final da disposição dos
resíduos, com a finalidade de identificar se no município há uma destinação correta aos resíduos gerados.

Referencial Teórico

A Questão dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil

Segundo Sousa (2017), no Brasil a organização e gerenciamento das administrações públicas municipais e seus
âmbitos de desenvolvimento urbano não acompanharam o aumento populacional e a respectiva demanda de habitações e de
infraestrutura. Sendo assim, diversas prefeituras não se prepararam para, de forma sustentável, gerenciarem os crescentes
aumentos dos pontos de descartes inadequados de RSU e as possíveis formas de tratamento e disposição final desse resíduo.
De acordo com a Abrelpe, em 2017, o Brasil gerou 214.868 toneladas por dia de RSU e 59,1% do montante anual foi
encaminhado para uma destinação adequada, que são os aterros sanitários.

497
Figura 4 – Disposição final de RSU no Brasil por tipo de destinação (t/dia)
Fonte: Abrelpe, 2017.

Analisando o gráfico acima é perceptível que, no Brasil, uma relevante quantidade de RSU é depositado em lixões,
solução ambientalmente imprópria. Tendo em vista a gravidade deste problema, o Ministério do Meio Ambiente, em 2019,
lança o Programa Nacional Lixão Zero, que visa atender à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), com o objetivo de
eliminar os lixões existentes no país e apoiar os municípios em soluções mais adequadas de destinação final dos resíduos
sólidos, como os aterros sanitários.
O programa é dividido em cinco partes. Na primeira, faz um diagnóstico do problema dos resíduos sólidos no Brasil.
Na segunda, apresenta a situação desejada relativa à gestão integrada dos resíduos. Na terceira, cita indicadores para auxiliar o
monitoramento dos avanços relativos à implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Na quarta, o programa
destaca os eixos de implementação para a concretização da situação desejada. Na quinta e última seção, é apresentado o plano
de ação com as medidas prioritárias e detalhadas para enfrentamento da realidade dos resíduos sólidos urbanos no país
(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2019).

Resíduos Sólidos Urbanos e Impactos Ambientais

A Resolução 001/86 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), define impacto ambiental como sendo
“qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria
ou energia resultante de atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem: a saúde, segurança e o bem-estar da
população”. Sendo assim, a disposição de RSU inadequadamente acarreta diversos impactos ambientais, como a contaminação
do solo e de corpos hídricos, poluição visual, proliferação de doenças e contaminação do ar, visto que em muitas cidades do
Brasil ocorre a queima desses resíduos ao ar livre.
Ghanem et al. (2001) afirma que um dos principais problemas ambientais e de saúde pública no mundo é proveniente
da disposição inadequada de resíduos sólidos. Dentre estes, os resíduos sólidos domiciliares, vem recebendo maior atenção das
administrações municipais, dos técnicos e da sociedade em geral, em função do grande volume gerado e consequentemente dos
enormes custos envolvidos (apud Santos et al., 2017).
Siqueira e Moraes (2009) afirmam que a relação existente entre saúde pública e os resíduos sólidos urbanos, se
estreitam no papel estratégico dentro do aspecto epidemiológico de uma sociedade como um todo. Como objeto indireto, onde
se destaca a transmissão de doenças provocadas pela ação dos vetores, ali disseminados devido encontrarem um habitat em
condições adequadas para a sua proliferação. Na interface ambiental, os resíduos quando não gerenciados de forma correta em
todo processo, podem contaminar os mananciais, o ar, águas superficiais, por conseguinte, o solo (apud Santos et al., 2017).
Tendo em vista a poluição atmosférica, hídrica, do solo e visual causados pelo gerenciamento inadequado dos
resíduos sólidos urbanos na maioria das cidades, o presente trabalho visa exibir a situação atual da administração dos resíduos
sólidos em Santa Cruz – PB.
Sendo assim é perceptível a necessidade de possibilitar um destino correto aos resíduos sólidos urbanos, tendo em
vista os diversos impactos ambientais causados pelo seu incorreto destino final. Com a instituição da PNRS, que objetiva de
forma compartilhada, a destinação correta dos resíduos sólidos, incentivo a reciclagem, visando continuamente a proteção da
saúde pública e a promoção da qualidade ambiental.

498
Resultados e Discussão

O grande aumento do centro urbano do município de Santa Cruz – PB nos últimos anos, bem como o crescente
consumo de materiais pela população, vem acarretando diversos problemas ambientais, relacionados ao despejo e acúmulo de
resíduos sólidos urbanos em locais inadequados da cidade.
De acordo com o Plano Estadual de Resíduos Sólidos do Estado da Paraíba – PERS-PB, a cidade de Santa Cruz - PB
possui uma população de 6471 mil habitantes em 2010, que gerava 3883 kg por dia de lixo. Porém a cidade não dispõe de uma
coleta seletiva de lixo, assim como não possui um aterro sanitário adequado para realizar o depósito desse lixo gerado.
A partir da análise da disposição de lixo na cidade, é perceptível a presença de resíduos de construção e demolição,
papéis, plásticos e metais em calçadas e avenidas. O despejo desse lixo nas ruas do centro acarreta diversos impactos ao meio
ambiente, bem como a contaminação do ar e do solo. É possível também a proliferação de vetores, provenientes da
decomposição de matéria orgânicas, nocivos aos seres humanos.
Quanto ao lixo orgânico gerado na cidade, foi possível constatar que, grande parte dessa matéria orgânica é destinada
a alimentação de suínos, criados na própria cidade e nas regiões vizinhas. Porém, ainda há locais como bares e sorveterias que
não destinam esse resíduo corretamente, sendo possível encontrá-lo nos recipientes de lixo colocados nas calçadas, conforme
mostra a figura 4.

Figura 5 – Resíduos nas ruas do município de Santa Cruz – PB


Fonte: do próprio autor, 2019.

O lixo gerado na cidade é coletado três vezes por semana, por meio de caminhões “caçamba”, onde é depositado, sem
nenhum tipo de separação ou fracionamento. Todo o lixo coletado na cidade é depositado em um lixão, situado a 10 km de
distância do centro da cidade, onde, regularmente, ocorre a queima do resíduo. É conhecido que os lixões geram inúmeros
impactos ambientais, bem como afetam a saúde pública e social da população. Na presente cidade, além da contaminação do
solo e do ar, essa situação é agravada mediante a ocorrência de queima do lixo, que gera inúmeros gases, dentre eles o dióxido
de carbono (CO²) que é um grande causador do efeito estufa e de mudanças climáticas.
Próximo ao lixão da cidade, que é situado a poucos quilômetros de distância da cidade de Alexandria – RN, tem-se a
via PB – 359, onde ocorre o fluxo constante de veículos e pessoas. É possível observar, na maioria das vezes, resíduos na via, o
que pode acarretar diversos problemas aos motoristas e pedestres que transitam pela mesma. Outro problema, dá-se mediante o
odor forte causado pela degradação de matérias orgânicas que é rotineiramente acometido ao local.

499
Figura 6 – Lixão do município de Santa Cruz – PB
Fonte: do próprio autor, 2019.

Figura 7 – Queima de lixo no município de Santa Cruz – PB


Fonte: do próprio autor, 2019.

Uma das melhores soluções para os problemas enfrentados pela cidade de Santa Cruz - PB, acerca do lixo, seria a
coleta seletiva, que é um dos meios mais eficazes para diminuir a quantidade de lixo e possibilitar maiores facilidades para os
catadores de materiais recicláveis. É necessário também a implementação do aterro sanitário na cidade, que possui tratamento
adequado para os gases e chorume gerados pelo lixo. A inserção da Política Nacional de Resíduos Sólidos no município, do

500
mesmo modo iria contribuir para reciclagem e reutilização de todo resíduo gerado pela população. A tabela apresentada abaixo
expõe a solução individualizada para o município, segundo o PERS-PB:

População Situação Total de


Total de
Município Urbana Atual da Nº de Intervenções
Soluções Propostas Intervenções
Sede 2010 Disposição Intervenções por
por Arranjo
(hab.) Final Município
Aterro Sanitário de
1
Pequeno Porte
Santa Cruz 6.471 Lixão Unidade de Triagem 1 3 3
Encerramento e
1
Remediação de Lixão
População
Total do 6.471 - - - - -
Arranjo:
Tabela 1 – Proposta de Regionalização para o município de Santa Cruz – PB
Fonte: Adaptado do IBGE, 2010; GEOTECHNIQUE, 2013.

A solução prevê a instalação de aterro sanitário de pequeno porte, unidade de triagem e o encerramento do lixão, dar-
se mediante a inserção do PERS-PB no estado da Paraíba.

Considerações Finais

Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil – Abrelpe, em 2017, no Nordeste, a geração per capita de RSU é
0,969 kg/hab/dia. Já no município de Santa Cruz - PB tem-se uma geração de RSU per capita de 0,6 kg/hab/dia, o que
demonstra que mesmo sendo uma cidade de pequeno porte, a geração de RSU apresenta-se superior a 50% do valor da geração
per capita de todo estado. Sendo assim, é necessário que medidas sejam tomadas, visando uma diminuição na produção desse
resíduo, bem como o seu descarte correto, de forma que se tenham uma redução dos impactos ambientais gerados.
Tem-se que a partir do trabalho exposto, é perceptível os inúmeros problemas gerados pelos resíduos sólidos urbanos
no município de Santa Cruz - PB, bem como a necessidade da implementação de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos
na cidade, objetivando uma melhoria na qualidade de vida da população e consequentemente, a diminuição dos impactos
ambientais gerados pelo gerenciamento inadequado desses resíduos.
Tendo como objetivo a diminuição da geração dos resíduos sólidos urbanos, a implantação da coleta seletiva no
município promoverá a reciclagem correta dos diferentes tipos de resíduos, dando a estes um destino correto e promovendo
também a geração de renda a população. É necessário também que o lixão que está operando na cidade seja imediatamente
extinto, visto que este traz enormes riscos ambientais e a legislação brasileira requer seu encerramento desde 2010. Sendo
assim, seguindo a proposta de Regionalização para o município, proposto pelo PERS - PB, a solução mais viável se dá por
meio da instalação de aterro sanitário de pequeno porte e uma unidade de triagem, que destinaria corretamente os resíduos
gerados no município.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – Campus Cajazeiras pelo
apoio na realização do presente trabalho.

Referências

ABRELPE. Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. PANORAMA DOS RESÍDUOS
SÓLIDOS NO BRASIL 2017. Disponível em: < http://abrelpe.org.br/pdfs/panorama/panorama_abrelpe_2017.pdf>. Acesso
em: 29 de julho de 2019.

BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm>. Acesso em: 20 de jun. de 2019.

501
Google Earth. Disponível em: < www.google.com.br/earth/>. Acesso em: 29 de julho de 2019.

CONAMA. Resolução CONAMA Nº 001, de 23 de janeiro de 1986. Uso e implementação da Avaliação de Impacto
Ambiental como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Disponível em: <www.mma.gov.br/informma/item/15466-mma-lan%C3%A7a-


programa-nacional-lix%C3%A3o-zero.html/>. Acesso em: 29 de julho de 2019.

Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Estado da Paraíba. Governo do Estado da Paraíba. – João Pessoa. 232p.
2015.

Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: <https://fld.com.br/catadores/pdf/politica_residuos_solidos.pdf>.


Acesso em: 29 de julho de 2019.

QUERINO, L. A. L; PEREIRA, J. P. G. GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS: A PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO DE


SÃO SEBASTIÃO DE LAGOA DE ROÇA, PARAÍBA. Revista Monografias Ambientais - REMOA v. 15, n.1, jan-abr. 2016,
p.404-415.

SANTOS, A. B. et al. PANORAMA DO GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DOS MUNICÍPIOS


DE SALVADOR-BA E CURITIBA-PR E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE PÚBLICA. 8º Fórum Internacional de Resíduos
Sólidos. Curitiba. 2017.

SOUZA, M. A. P. GESTÃO AMBIENTAL: IMPORTÂNCIA DO GEOPROCESSAMENTO NO DIAGNÓSTICO DOS


RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS. 2017. 161 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado Profissional em Planejamento
Ambiental, Universidade Católica do Salvador, Salvador, 2017.

502
5SSS166
PLANO DE GESTÃO DA ÁGUA PARA O NOVO AEROPORTO
INTERNACIONAL DE FLORIANÓPOLIS/SC
Crislaine Florzino Flor1, Jorge Manuel Rodrigues Tavares2, Rodrigo de Almeida Mohedano3
1 Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: crislaineflor.eng@gmail.com; 2 Escola Superior Agrária,
Instituto Politécnico de Beja, e-mail: jorge.tavares@ipbeja.pt; 3 Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail:
rodrigo.mohedano@ufsc.br

Palavras-chave: Água; Plano de Gestão; Aeroporto de Florianópolis.

Resumo
Em 2015, negociações entre diversos países, por ocasião da Cúpula das Nações Unidas, resultaram na definição de 17
Objetivos e 169 metas para o Desenvolvimento Sustentável. Entre os objetivos traçados, que devem ser implementados por
todos os países do mundo, está o de assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento. Segundo a ONU,
até 2030, a meta aumentar substancialmente a eficiência do uso da água em todos os setores da economia, assegurando
retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para enfrentar a escassez e reduzir substancialmente o número de
pessoas que sofrem com essa insuficiência. Isso gera uma necessidade urgente de implementação de novas políticas de gestão
de recursos hídricos com base em seu uso sustentável. Os aeroportos são ambientes onde existe a possibilidade de
implementação de políticas e tecnologias destinadas à conservação da água devido ao elevado consumo diário para manter a
sua infraestrutura, principalmente para fins não potáveis, como os sistemas de refrigeração líquida, sistemas de uso da água da
chuva, os sistemas de controle de incêndios, a limpeza e lavagem de veículos, pistas e aeronaves. Dada a crescente demanda
mundial por este tipo de transporte e a situação atual de escassez de água em muitas regiões do planeta, esforços devem ser
feitos para avaliar os perfis de consumo de água, bem como alternativas para o uso eficiente. Os aeroportos possuem extensas
áreas impermeáveis (pistas de pedestres e telhados) que podem ser usadas para coletar grandes volumes de água da chuva. Em
vista disso, essas empresas e/ou concessões de sítios aeroportuários têm potencial para implementar políticas e tecnologias
voltadas ao abastecimento e tratamento de água, devido ao seu grande consumo. Segundo o Conselho Internacional de
Aeroportos (2011), o alto consumo de água destaca a urgência de enfrentar o desafio da capacidade de gestão da água nos
aeroportos. As concessões de todo o mundo estão se concentrando na necessidade de proporcionar ao passageiro uma
experiência de viagem positiva e contínua. Mais do que nunca, os governos e as companhias aéreas parceiras precisarão
trabalhar em estreita colaboração com os aeroportos para garantir que a capacidade necessária seja adicionada de maneira
segura, eficiente e sustentável. Segundo a RDC nº 91/2016 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, os aeroportos devem
manter um plano de gestão de água potável, que garanta o fornecimento de água potável a todos os passageiros e à comunidade
aeroportuária. Essa ação deve basear-se na avaliação de risco de todo o sistema - fonte de água potável, da fonte ao suprimento
- em uma abordagem de riscos e pontos de controle críticos para identificar todos os riscos potenciais em todo o sistema no que
concerne à segurança hídrica para os usuários. Portanto, o objetivo deste estudo foi apresentar uma proposta de implementação
e plano de gestão da água do aeroporto de Florianópolis para apresentar uma descrição dos sistemas de abastecimento e
tratamento de água do novo terminal internacional Hercílio Luz, e mostrar as possibilidades de redução do consumo e
reutilização do abastecimento de água. Na etapa do diagnóstico, para elaboração da proposta do Plano de Gestão da Água,
foram realizadas diversas coletas de informação. Dentre as coletas encontram-se as informações disponibilizadas pela Floripa
Airport, descritas tanto em memoriais descritivos e de cálculos dos Sistemas de Abastecimento, da Estação de Tratamento de
Águas Pluviais (ETAP), da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), quanto nos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e de
Impacto de Vizinhança (EIV) ao sitio aeroportuário. São descritos os pontos críticos e riscos potenciais relacionados ao
fornecimento e à segurança dos usuários, incluindo sua mitigação. A definição de pontos críticos apresentados na proposta
tiveram como subsídio as informações reunidas na fase de descrição do sistema de abastecimento, tratamento e reuso de água
nas atividades do aeroporto. Em alguns casos, os pontos críticos foram estabelecidos de acordo com a Norma de Potabilidade
de Água Nº 2.914 de 2011. Por fim, ações de gestão e alternativas tecnológicas também serão propostas para promover o uso
racional da água, apresentando procedimentos de monitoramento do Plano aplicando uma metodologia de melhoria contínua
com a proposição do uso eficiente da água no novo terminal. Os pontos críticos elencados na etapa anterior e a verificação de
iniciativas realizadas em outros aeroportos, permitiram estabelecer ações gerenciais de controle e monitoramento para
implementação no Plano de Gestão da Água. Com a ciência das áreas prioritárias de supervisão, foram elencados
procedimentos e proposições de programas incluindo treinamentos, comunicação, amostragem, entre outros. Com esse
reconhecimento, será possível listar, no futuro, os recursos humanos e tecnológicos necessários à execução do plano. Para cada
programa foram estimados os prazos e os investimentos necessários (humanos e tecnológicos) à sua implementação, incluindo
as normas e condicionantes técnicas para a execução, destinados a cumprir a legislação pertinente e aplicar os conceitos de uso

503
eficiente da água. Em função do exposto, conclui-se que este estudo contribuiu na proposição de ações na gestão do consumo
racional da água no Aeroporto Internacional Florianópolis/SC.

Introdução
Ao longo das últimas décadas, a demanda pelo transporte aéreo no Brasil passou por um intenso crescimento, como
exposto pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). De acordo com dados publicados, as empresas aéreas brasileiras
transportaram 103 milhões de passageiros em voos domésticos e internacionais durante o ano de 2018, um aumento de 4,1%
em relação ao número de passageiros pagos transportados em 2017 (98,9 milhões) (ANAC, 2018).
A Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) indica que os principais impactos ambientais decorrentes do
transporte aéreo são: o ruído, a poluição atmosférica, alterações na fauna e na flora, poluição do solo e da água, produção de
resíduos e potenciais acidentes decorrentes da atividade (vazamentos ou explosões com cargas perigosas, por exemplo). Neste
contexto, os aeroportos são considerados ambientes potenciais para a implementação de políticas e tecnologias destinadas à
conservação da água devido ao grande consumo observado diariamente, principalmente para fins não potáveis, como sistemas
de refrigeração líquida, controle de incêndio, limpeza e lavagem de veículos, pistas e aeronaves (MOREIRA NETO et al.,
2012).
O terminal atual da cidade de Florianópolis/SC foi inaugurado na década de 70, com capacidade para 2 milhões de
passageiros por ano. Em 2017, recebeu 3,8 milhões de pessoas, 1,9 vezes a sua capacidade inicial. De acordo com a Floripa
Airport subsidiária do grupo suíço Zurich Airport, e atual administradora do aeroporto internacional de Florianópolis, a
construção de um novo terminal é uma necessidade real e, com isso, tanto a água quanto o uso de outros recursos naturais terão
de ser avaliados para irem de encontro ao crescimento da capacidade (FLORIPA AIRPORT, 2017). A Floripa Airport prevê
um novo terminal com 49 hectares de área e uma capacidade para 8 milhões de passageiros ao ano, quatro vezes mais do que o
atual. Até ao final da concessão, de 30 anos, espera-se uma circulação diária de aproximadamente 22 mil pessoas.
Deste modo, o presente documento visou a elaboração uma proposta para o Plano de Gestão da Água para o novo
terminal. Com a concessão do alfandegamento e a emissão da licença de operação do novo terminal aeroportuário, será
implementado e executado um Plano de Gestão da Água, que se espera o descrito e objeto deste trabalho.

Metodologia
O presente trabalho foi desenvolvido em parceria com a empresa Ambiens Consultoria Ambiental, contratada pela
Floripa Aiport, para realizar os estudos pertinentes à licença de operação do empreendimento. Neste contexto, a proposta do
“Plano de Gestão da Água para o Novo Aeroporto Internacional de Florianópolis/SC” foi elaborada de acordo com as etapas
metodológicas que se apresentam em seguida (FIGURA 1). Estas etapas foram estruturadas seguindo a metodologia PDCA
como função básica e auxílio no diagnóstico, análise e prognóstico de problemas organizacionais de gestão da água no sítio
aeroportuário, sendo útil para o monitoramento e solução dos mesmos.

Figura 1: Etapas metodológicas da elaboração do Plano. Fonte: elaborada pela autora (2019).

504
Diagnóstico dos Sistemas (Etapa 1)
Diagnóstico (Etapa 1)
Na etapa do diagnóstico dos sistemas, para elaboração da proposta do Plano de Gestão da Água, foram realizadas
diversas coletas de informação. Dentre as coletas, encontram-se as informações disponibilizadas pela Floripa Airport, descritas
tanto em memoriais descritivos e de cálculos dos Sistemas de Abastecimento, da Estação de Tratamento de Águas Pluviais
(ETAP), da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) e nos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e de Impacto de Vizinhança
(EIV) ao sitio aeroportuário. Neste processo, considerou-se primordial a seleção de dados previstos em projetos para o
aeroporto, relevando os aspetos qualitativos e quantitativos relacionados ao recurso água.
No quadro 1 são apresentadas em resumo, as informações tipo que devem ser levantadas no decorrer do diagnóstico
segundo os objetivos propostos.

Finalidade Informações necessárias Fonte


Análise da capacidade e Dados do sistema de abastecimento de água
dimensionamento (captação, adução, reservatórios).
Identificar possíveis problemas (falta de
Possíveis problemas de
pressão, intermitência nos abastecimento, Plantas e memorial descritivo do
abastecimento de água
entre outros). sistema de abastecimento de água
Consumo por usuário do
aeroporto (população fixa e Análise de demanda/consumo
flutuante)
Identificar possíveis problemas (obstrução
Possíveis Problemas na rede Plantas e memorial descritivos
de rede, tipo de tratamento utilizado, entre
de esgoto Estação de Tratamento de Esgoto
outros).
Usos da água no Análise de demandas específicas e pontos Plantas e Projeto hidráulico-
empreendimento de coleta para análise da qualidade da água predial TPS
Limites do sítio aeroportuário Análise do local e proximidades do sítio Estudo de Impacto de Vizinhança

Malhas de micro/ Identificar os possíveis caminhos para a Mapas e imagens


macrodrenagem drenagem Plantas e memoriais descritivos

Dados de precipitação diário, Análise da disponibilidade de chuva para o Dados locais/estações


mensal e anual sistema de reuso fluviométricas
População aeroportuária (fixa
Análise do crescimento do consumo Business Plan, Floripa Airport
e flutuante)
Análise da qualidade da água e das Memorial Estação de Tratamento
Qualidade da água para reuso
demandas de Águas Pluviais
Qualidade da água de Manual Companhia Catarinense
Análise da qualidade da água e do serviço
abastecimento de Águas e Saneamento
Infraestrutura das instalações Análise da eficácia dos serviços Projeto hidráulico-predial
Quadro 1: Informações levantadas na etapa de diagnóstico. Fonte: Elaborada pela autora (2019).

Identificação dos pontos críticos (Etapa 2)


A definição de pontos críticos apresentados na proposta teve como subsídio as informações reunidas na fase de
descrição do sistema de abastecimento, tratamento e reuso de água nas atividades do aeroporto. Em alguns casos, os pontos
críticos foram estabelecidos de acordo com a Norma de Potabilidade de Água Nº 2.914 de 2011 (Ministério da Saúde, 2011),
por exemplo:
a) Aqueles próximos a grande circulação de pessoas;
b) Aqueles localizados em trechos vulneráveis do sistema de distribuição como pontas de rede, pontos de queda de
pressão;
c) Locais afetados por manobras, sujeitos à intermitência de abastecimento, reservatórios; e,
Locais com sistemáticas notificações de agravos à saúde tendo como possíveis causas os agentes de veiculação
hídrica.

505
De acordo com a RDC ANVISA nº 91/2016 (ANVISA, 2016) e partindo da análise e descrição dos materiais disponibilizados,
foram definidos pontos críticos adicionais e identificadas áreas prioritárias com possível vulnerabilidade e riscos associados à
gestão da água.

Ações gerenciais (Etapa 3)


Os pontos críticos elencados na etapa anterior e a verificação de iniciativas realizadas em outros aeroportos, permitiram
estabelecer ações gerenciais de controle e monitoramento para implementação no Plano de Gestão da Água. Com a ciência das
áreas prioritárias de supervisão, foram elencados procedimentos e proposições de programas incluindo treinamentos,
comunicação, amostragem, entre outros.
Com esse reconhecimento, será possível listar quando necessário, os recursos humanos e tecnológicos necessários à
execução do plano. Para cada programa foram estimados os prazos e os investimentos necessários (humanos e tecnológicos) à
sua implementação, incluindo as normas e condicionantes técnicas para a execução, destinados a cumprir a legislação
pertinente e aplicar os conceitos de uso eficiente da água. Na proposta de plano apresentada neste documento incluem-se os
seguintes programas de monitoramento: Programa de correção de perdas, vazamentos e hidrometração; Programa de
amostragem, monitoramento e qualidade da água; Programa de uso racional da água; Programa de reservação de água para
consumo humano, limpeza e desinfecção.

Monitoramento e melhoria contínua (Etapa 4)


O estabelecimento desta etapa objetivou o monitoramento do Plano a implementar, através da execução dos programas
e procedimentos referidos na Etapa 3. Na proposta do plano referem-se às metas e indicadores de acordo com a visão da
empresa.

Resultados e Discussão
Etapa 1 - Diagnóstico
Localização do empreendimento
De acordo com o Estudo de Impacto de Vizinhança - EIV (AMBIENS, 2018), o terreno do empreendimento com área
de 8.893.000 m², localiza-se, em sua maior porção, na Unidade Espacial de Planejamento (UEP) da Base Aérea, Município de
Florianópolis/SC. O novo terminal de passageiros consiste em uma edificação com ocupação mista, contemplando o seu uso e
uma praça comercial com atividades de alimentação, café, bares, restaurantes e lojas com artesanato típico da região (área total
construída de 48.838,20 m2). Além disso, serão construídas infraestruturas complementares que darão suporte ao aeroporto:
edifício do Corpo de Bombeiros; acesso Charlie; viaduto; estacionamento e acesso; pátio e pista (lado ar). O total de área
construída (terminal + obras complementares) será de 428.498,25 m².

Sistema de Abastecimento Público de Água


O abastecimento público de água para novo terminal do aeroporto deve ser realizado através da ramificação da rede da
Companhia Catarinense de Águas e Saneamento. A entrada de água no sítio aeroportuário, após o hidrômetro de medição,
encontra-se na Base Aérea de Florianópolis/SC, próximo a cabeceira 14 de umas das pistas do aeroporto.
Para os abastecimentos dos sistemas de bacias sanitárias e mictórios, deverá ser feita a reutilização da água de chuva,
sendo a reserva técnica prevista em um tanque, denominado tanque de água fria de reuso. A alimentação dos pontos de
consumos destes sistemas poderá ser similar ao que corresponde a água fria potável, ou seja, o de pressurização que deverá
atender todos os pontos de consumo de água.
Segundo o memorial descritivo e de cálculo de abastecimento de água é preciso considerar também para hora/pico os
acompanhantes dos passageiros no terminal de passageiros. Para tal, o número de acompanhantes dos passageiros em hora/pico
foi estabelecido com base na relação do número de passageiros em hora/pico (3300 passageiros) versus a média de passageiros
no dia (16.386 passageiros), a qual representa 20%.
Os funcionários diários que frequentarão o aeroporto (lojistas, funcionários dos restaurantes, das companhias aéreas e os
trabalhadores da concessionária) são também considerados. . No projeto hidrossanitário da edificação e para efeitos na
proposta deste Plano, deverão ser utilizados os parâmetros da NBR 5626 (ABNT,1998), a qual se têm:
“As instalações prediais de água fria devem ser projetadas de modo que, durante a vida útil do edifício
que as contém, atendam aos seguintes requisitos:
a) preservar a potabilidade da água;
b) garantir o fornecimento de água de forma contínua, em quantidade adequada e com pressões e
velocidades compatíveis com o perfeito funcionamento dos aparelhos sanitários, peças de utilização e
demais componentes;
c) promover economia de água e de energia;
d) possibilitar manutenção fácil e econômica;
e) evitar níveis de ruído inadequados à ocupação do ambiente;

506
f) proporcionar conforto aos usuários, prevendo peças de utilização adequadamente localizadas, de fácil
operação, com vazões satisfatórias e atendendo as demais exigências do usuário.”
Os potenciais problemas que podem ocorrer no abastecimento de água dentro do Terminal de Passageiros são:
entupimento da tubulação e/ou entrada de ar; desconhecimento por parte dos funcionários e/ou prestadores de serviços em
relação à planta da edificação com possibilidade perfurar uma tubulação incorretamente; desconhecimento por parte dos
funcionários e/ou prestadores de serviços das cores das tubulações utilizadas nas instalações do aeroporto, previstas na NBR
6493 (ABNT, 1994).

Sistema de Tratamento de Águas Pluviais


O sistema de tratamento de águas pluviais do aeroporto deverá ser projetado para tratar 15 m3/h, visando tornar a água
captada das chuvas apta ao reaproveitamento no empreendimento. Tendo como referência o volume de água de reuso
necessário para suprir a demanda do empreendimento, os índices pluviométricos do local, e as recomendações presentes nas
NBR nº 15527 de 2007 (ABNT, 2007) e nº 13969 de 1997 (ABNT, 1997) para o reuso de água não potável e os critérios
estabelecidos para prática de reuso direto constante na Resolução nº 54 de 2005 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos
(BRASIL, 2005), foram postuladas as seguintes considerações:
1º) A demanda de água não potável é de 110,86 m³/dia (3.325,8 m³/mês). O índice pluviométrico (IP) na série histórica
(1981-2010) para a cidade de Florianópolis é de 147,4 mm/mês com 11 dias de precipitação (INMET, 2019). Considerando a
área de cobertura de 27.000 m², teremos um volume de água de chuva estimado em 3.979,8 m³/mês. Dado que o volume de
água captado no empreendimento é superior à demanda necessária de água não potável, não existe a necessidade de conduzir o
efluente tratado oriundo da estação de tratamento de esgoto ou de abastecimento da companhia catarinense de saneamento,
para o sistema de reuso.
2º) No sistema de combate a incêndio da edificação, teremos a instalação de “sprinklers” (chuveiros automáticos).
Estes pequenos chuveiros automáticos fixos ao nível do teto servem para o combate ao incêndio em edificações. Os
“sprinklers” são alimentados por uma reserva de água potável e um sistema de pressurização.
Com base nos padrões e riscos envolvidos no sistema de prevenção a incêndio, não deve ser feito o uso, neste sistema
de reuso, do efluente oriundo da ETE, face à possibilidade de obstrução dos “sprinklers” e colapso total do sistema. Neste
contexto, o processo de reuso a ser utilizado no novo terminal aeroportuário será composto de dois sistemas:
1º) Águas pluviais serão armazenadas em tanque, para posterior tratamento, sendo utilizada no sistema de combate a
incêndio do terminal e nas bacias sanitárias.
2º) Efluente tratado: o efluente oriundo ETE, será armazenado em tanque específico e usado para a irrigação e
umidificação das áreas verdes, como também nos testes diários da equipe da Sessão Contra Incêndio – SCI (caminhões
bombeiros do aeródromo) para o atendimento de situação de emergência e lavagem das pistas.
A qualidade do tratamento das águas pluviais deverá atender aos requisitos mínimos segundo os parâmetros
apresentados na NBR 15527 (ABNT, 2007) e a frequência de manutenção do sistema de captação de água da chuva, indicada
na NBR 13969 (ABNT, 1997).

Estação de Tratamento de Esgoto – ETE


Segundo a Licença Ambiental de Instalação (LAI) nº 3469/2019 e o memorial descritivo da ETE do aeroporto, deve ser
instalada no novo TPS, uma nova infraestrutura para o tratamento do efluente produzido, com capacidade para uma vazão
média de 396 m³/dia. As etapas de tratamento devem ser:
Tratamento preliminar (gradeamento, desarenador, medidor de vazão, estação elevatória, peneira estática, tanque
equalizador, e decantador primário);
Tratamento secundário biológico (biorreator de leito móvel - anóxico, biorreator de leito móvel com sopradores e
difusores de ar, bombas dosadoras de alcalinizantes e coagulantes e decantador secundário).
Tratamento terciário físico-químico (tanque pulmão, filtro de areia, tanque de contato, desinfecção com bombas
dosadoras de cloro, medidor de vazão, tanque de lodo e tanque de reuso).
O empreendimento deve ter os afluentes coletados e tratados como um sistema isolado. O líquido descartado após
tratamento na ETE – efluente, deverá apresentar características físico-químicas que permita o seu descarte em corpo hídrico
receptor ou reuso para fins não potáveis. O sistema proposto armazenará o lodo gerado em tanque de acúmulo, que será
destinado posteriormente para tratamento externo. Convém realçar que os efluentes tratados poderão ser lançados quando
atendam os limites exigidos pela Resolução Federal CONAMA n.º430 de 13 de maio de 2011, que dispõe sobre os parâmetros
de lançamento de efluente em corpos hídricos (BRASIL, 2011), e a Lei Estadual nº 14675 de 2009 que dispõe sobre o Código
Ambiental de Santa Catarina (SANTA CATARINA; 2009).

507
Etapa 2 - Identificação dos pontos críticos
O estabelecimento de pontos críticos na gestão da água objeta a avaliação do sistema, se o mesmo está controlado e, em
caso contrário estabelecer ações corretivas. Para o seu estabelecimento, foram analisadas e avaliadas as informações reunidas
na fase de descrição do sistema de abastecimento, tratamento e reuso de água nas atividades do aeroporto. Como referido
anteriormente, os pontos críticos elencados foram estabelecidos com recurso à Norma de Potabilidade de Água nº 2914 (Brasil,
2011) e às disposições da RDC nº91 DE 2016, (ANVISA, 2016).
Neste contexto são apresentados, sem ordem de relevância, alguns dos os pontos críticos do sistema de abastecimento
de água do sítio aeroportuário: Entrada de água captação da CASAN; Saídas dos reservatórios de água potável; Torneira de
abastecimento de aeronaves; Bebedouros das copas dos funcionários; Bebedouros do Embarque Internacional e Doméstico;
Bebedouros do Pátio de Aeronaves, Saguão, Check-in; Bebedouros Terraço Panorâmico; Posto Médico; Restaurantes e
lanchonetes do TPS.
O abastecimento de aeronaves fica localizado no lado “ar”, próximo às pistas da cabeceira 14/32 do sítio aeroportuário.
Este ponto crítico foi inserido na lista, pois utiliza água na manutenção e na limpeza dos procedimentos de abastecimento das
aeronaves e veículos utilizados no aeroporto.
Os bebedouros alocados por todo o terminal, serão do tipo duplo, o que totaliza 34 unidades (17 conjuntos). Estes
equipamentos estarão distribuídos, principalmente, em áreas de grande circulação de pessoas, pelo que são referidos em seis
pontos críticos (12 bocais considerando os bebedouros duplos).
Os locais para uso específico dos funcionários (por exemplo, as cozinhas) serão utilizados essencialmente para refeições
diárias, mas também para auxílio aos trabalhos da limpeza dos espaços (sinalização de quatro pontos críticos nas torneiras das
cozinhas). Os reservatórios listados nos pontos críticos consideram-se prioritários no que diz à coleta água com vulnerabilidade
hidráulica e sanitária. Os pontos de restaurantes e os bebedouros do terraço panorâmico são os pontos críticos mais distantes do
reservatório, apresentando mais tempo em desuso ao longo do dia.

Etapa 3 - Ações gerenciais


As ações gerenciais em que se enquadram os procedimentos, políticas, mapeamentos dos processos e as diretrizes
internas da empresa são essenciais para a implementação estruturada do Plano de Gestão da Água e seu funcionamento.
O investimento em capacitação e empoderamento com foco no desenvolvimento sustentável e aplicação de conceitos como “o
uso eficiente da água”, no seio da cultura corporativa dos funcionários da Floripa Airport, mostra-se fundamental. Na fase de
planejamento será necessário realizar parcerias e alianças com ONG, prefeituras, instituições comunitárias, empresas e
usuários da bacia hidrográfica que possam apoiar a concessionária na realização de campanhas de conscientização,
fornecimento de meio de acesso à ciência e informação local, liderança com foco nos riscos e oportunidades, proteção das
nascentes, melhoria das fontes de água e criação de veículos de informação para tomada de conhecimento das ações realizadas
e/ou previstas em relação à gestão da água no novo aeroporto e vizinhança. Assim, será recomendado, principalmente,
envolver a comunidade local dos bairros próximos ao sítio aeroportuário desde os estágios iniciais da operação para evitar e
reduzir o surgimento de possíveis conflitos pelo uso da água. Para utilização de ações gerencias, seguem sugestões na
execução na gestão da água no sítio aeroportuário:
Uso de indicadores e metas de redução do uso da água;
Implementação de tecnologias para redução do consumo da água, priorizando equipamentos eficientes;
Manutenção e monitoramento da qualidade da água nas proximidades do sítio aeroportuário, respeitando os limites de
retirada de água subterrânea, quando necessário;
Adoção de sistemas mais eficientes de refrigeração, que reutilizem a água;
Aprimoramento da consciência relativamente à água dentro do aeroporto, engajando os funcionários nas questões
ambientais;
Uso de práticas de gestão sustentável da água nos restaurantes e lojistas do aeroporto, através de cláusulas contratuais,
e apoiá-los na melhoria da gestão da água, através do compartilhamento de práticas de sustentabilidade do uso da
água.

Programa de correção de perdas e vazamentos e hidrometração


No programa de correção de perdas e vazamentos faz-se necessário o levantamento de dados e pesquisa das
possibilidades de fuga de água no sítio aeroportuário. Deve ser considerada a possibilidade de o consumo de água não passar
pelo controle do hidrômetro e, também, que esta não esteja a ser cobrada no aeroporto, ou seja, ligações clandestinas na
edificação. Periodicamente é importante realizar a medição da pressão de todos os setores de abastecimento nos pontos
estratégicos necessários para identificação das variações no sistema interno do aeroporto.
O programa de medição de pressão ou hidrometração deve prezar pelo rigor nas cobranças de taxas de consumo de
água e pela identificação dos consumidores dentro do sítio aeroportuário. Tais ações podem resultar na redução de custos,

508
aumento de faturamento e redução do consumo de água. O programa poderá medir e atualizar mensalmente, o consumo de
água em todos os pontos de consumo do aeroporto, prever a instalação e/ou substituição, de hidrômetros, permitindo avaliar o
consumo medido e identificar problemas no sistema de fornecimento de água, bem como identificar grandes consumidores e
pontos de melhoria.
As cores das tubulações convencionais obedecerão às proposições da NBR 6493, que fixa o emprego das cores a serem
aplicadas sobre tubulações com a finalidade de facilitar sua identificação (Figura 2), evitar perdas e acidentes (ABNT, 1994).

Figura 2: Tubulações com emprego de cores conforme regulamentado pela NBR 6493. Fonte: Elaborada pela autora (2019).

O programa de hidrometração deverá prever soluções previstas para futuras ampliações do aeroporto, atualizar a
planta dos usuários de água: área comercial, operacional, escritórios, restaurantes, com locação dos hidrômetros em locais
previstos no documento requisitos para sistemas ambientais em empreendimentos novos e existentes.
A correção de escapes deve contemplar as avaliações realizadas no diagnóstico, visando reduzir essas perdas. Devem
ser descritos os equipamentos propostos para a solução dos problemas (instalação de registros setoriais, por exemplo) e incluir
a justificativa de utilizá-los no local. Segundo o Guia de Sustentabilidade do concessionário todos os cessionários possuem a
obrigação de comunicar imediatamente o setor de manutenção quando houver vazamento água no estabelecimento.

Programa de uso racional da água


A concessionária deve implementar o Programa de uso racional da água com o objetivo de conscientizar a população
flutuante do aeroporto sobre as questões ambientais e mudança contínua de hábitos. Esse programa visa prorrogar a vida útil
dos corpos d’águas existentes em torno do sítio aeroportuário de modo a garantir o fornecimento da água necessária ao
funcionamento do empreendimento durante a concessão. Alguns itens do programa são: postergar investimentos necessários à
ampliação e/ou reformas dos sistemas de água, incentivar a aplicação de novas tecnologias voltadas à redução do consumo de
água, diminuir o consumo de energia elétrica e outros insumos.
Com as seguintes sugestões e outras avaliadas será possível implementar o programa de uso racional da água no novo
terminal aeroportuário:
Adotar redutores de vazão em torneiras (arejadores), pois são dispositivos que contribuem para a economia de água,
em torno de 25%;
Utilizar bocais de torneira com chuveirinhos dispersantes, que aumentam a área de contato dos legumes, frutas e,
principalmente, das folhosas, diminuindo assim o desperdício nos restaurantes e lanchonetes;
Instalar torneiras de acionamento sem contato manual, pois reduzem o desperdício nos banheiros durante a
higienização das mãos entre uma e outra atividade, evitando também contaminações.
Não encher os utensílios de água para ensaboar, usar pouca água e somente a quantia necessária de detergente nas
cozinhas dos restaurantes, lanchonetes e escritórios;
Não utilizar água para descongelar alimentos nas cozinhas dos restaurantes, lanchonetes e escritórios.

Programa de amostragem – Monitoramento e qualidade da água


A Floripa Aiport deverá designar um laboratório responsável pelas análises do controle da qualidade da água do
aeroporto, incluindo os protocolos de coleta, acondicionamento e transporte das amostras. Para formulação do plano de
amostragem, segundo a RDC nº 91/2016 os anexos I, II, III desta resolução, no sistema de abastecimento de água serão
considerados (ANVISA, 2016):

509
1) Os parâmetros físicos, químicos e microbiológicos de qualidade da água para consumo humano são
apresentados no Quadro 2.
2) Critérios para o estabelecimento de locais prioritários de coleta de amostras de água para fins de análise da
qualidade.
3) Frequência de coleta de amostras de água para fins de análise da qualidade.

Parâmetros Valor Máximo Permitido


Físicos
Cor aparente 15uH
Sólidos dissolvidos totais 1000 mg/L
Turbidez 5uT
Químicos
Cloro residual livre 0,2mg/L – 2mg/L
Cloro residual combinado Mínimo de 2mg/L
Dióxido de cloro Mínimo de 0,2mg/L
pH 6,0 – 9,5
Cloreto 250mg/L
Ferro 0,3mg/L
Microbiológicos
Coliformes Totais Ausência em 100ml em 95% das amostras examinadas no mês
Escherichia coli Ausência em 100ml
Bactérias Heterotróficas 500UFC/mL
Quadro 2: Parâmetros físicos, químicos e microbiológicos. Fonte: Adaptado RDC ANVISA nº91 (2016).

Seguindo as deliberações da referida resolução, temos dois critérios para definição dos pontos de amostragem que são
(ANVISA, 2016):
“CRITÉRIO I: Locais com maior vulnerabilidade hidráulica, para sistemas que abastecem mais de 20.000
usuários/dia (Considerar a média anual):
i. Coletar amostras de, pelo menos, um ponto de oferta, o mais distante do reservatório, para cada reservatório
existente na área;
ii. Coletar amostras da saída de cada reservatório existente na área;
iii. Coletar amostras de pontos de oferta que passam mais tempo em desuso ao longo do dia (pontos de oferta
com uso intenso esporádico).

CRITÉRIO II: Locais com maior vulnerabilidade sanitária


I. Coletar amostras em pontos de oferta de áreas de serviços de alimentação e bebedouros;
II. Coletar amostras em banheiros ou lavabos próximos a serviços de alimentação;
III. Coletar amostras em vestiários, banheiros ou restaurantes usados pelos trabalhadores da área portuária ou
aeroportuária; e
IV. Coletar amostras nos pontos de oferta para abastecimento dos veículos prestadores de apoio, referentes ao
fornecimento de água potável aos meios de transporte.”.

Considerando estes critérios e a frequências de coleta estabelecidos na Resolução 91/2016 temos que para sistemas que
abastecem mais 20.000 usuários/dia (Considerar a média anual) o seguinte (ANVISA, 2016):
“i) Número mínimo de amostras mensais para análise de residual do agente desinfetante, de cor aparente, de sólidos
dissolvidos totais e da turbidez: 20 amostras, cujos pontos de amostragem devem ser selecionados conforme
orientações constantes no Anexo II.
ii) Número mínimo de amostras bimestrais para análise de cloreto, pH e ferro: 08 amostras, cujos pontos de
amostragem devem ser selecionados conforme orientações constantes no Anexo II.
iii) Número mínimo de amostras mensais para análise de coliformes totais e Escherichia coli: 10 amostras, cujos
pontos de amostragem devem ser selecionados conforme orientações da resolução.”
Mensalmente, a empresa contratada deverá encaminhar o relatório técnico do programa de amostragem, contemplando:
Apresentar os laudos com os resultados das análises laboratoriais da qualidade da água comparando com os valores
previstos pela legislação vigente; com identificação da contratante, identificação das amostras analisadas, do ponto de

510
coleta, data de coleta, condições climáticas da data, assinatura do responsável técnico entre outras informações
pertinentes.
Apresentar a série histórica e gráfica dos resultados apontados para os pontos de abastecimento de água.
Descrever uma análise crítica e comparativa dos índices encontrados nas amostras analisadas e os índices apontados
pela legislação apontando as possíveis soluções para as não conformidades apresentadas ou para a melhoria do sistema
sempre que couber.
Avaliar do sistema atual apontando suas potencialidades, possíveis problemas, e emitir parecer técnico. Este relatório
deverá apontar melhorias que podem ser previstas, a fim de garantir um maior controle da qualidade da água.

Programa de reservação de água para consumo humano - Limpeza e desinfecção


Segundo a RDC nº91/2016 quanto ao sistema de reservatórios de água para consumo humano no aeroporto, estes devem
atender aos seguintes critérios (ANVISA, 2016):
“Os reservatórios devem possuir tampas de inspeção e passagens dimensionadas para permitir a entrada de um homem
em todos os compartimentos, visando à inspeção e higienização;
As superfícies internas devem ter ângulos e cantos arredondados, sem emendas, manualmente acessíveis, ausentes de
reentrâncias e saliências, de forma a impedir a proliferação de microrganismos, bem como permitir total assepsia do seu
interior; as torneiras, conexões e outros componentes devem ser de fácil retirada e montagem para permitir a limpeza e
desinfecção;
As tampas, bem como outros acoplamentos devem ter tal estanqueidade de forma a impedir vazamentos, e/ou a
entrada de corpos estranhos, como líquidos, poeiras, insetos e animais.
O posicionamento do reservatório deve estar em conformidade com o projeto apresentado, sendo proibida a
estocagem ou a acomodação de qualquer material contaminante ou de resíduos de qualquer natureza sobre os
reservatórios, ou em local próximo que possibilite o carreamento deste material para o seu interior. Os reservatórios
devem ser limpos e desinfetados, por profissionais qualificados para realização da atividade, a cada 180 dias ou após a
realização de obras de reparo e sempre que houver suspeita de contaminação. Após a limpeza e desinfecção, o teor de
cloro dever ser mantido dentro dos padrões previstos na Resolução.”.

A Floripa Airport deve apresentar à ANVISA, quando solicitado, o Certificado de limpeza e desinfecção de
reservatórios da rede de distribuição de água potável, fornecido pela empresa responsável pelo procedimento. Após a limpeza,
abastecer o reservatório com água. Esta somente poderá ser liberada para consumo após a verificação da sua qualidade.

Recursos humanos e tecnológicos


Elementos de coordenação devem ser conduzidos no sentido do fortalecimento da administração interna para assuntos
relacionados à gestão água no sítio aeroportuário. Com a participação ativa da direção da empresa assumindo a
responsabilidade do uso e bom gerenciamento deste recurso, tanto em relação às atividades diretas do empreendimento quanto
regionalmente.
Primeiramente, é preciso estabelecer um compromisso da liderança empresa, uma estrutura (comitê/equipe interna) para
a gestão sustentável da água no empreendimento. Simultaneamente a isso comprometer-se com iniciativas e compromissos
relacionados ao recurso natural. Compor uma equipe interna, tanto para a gestão das operações dentro do sítio aeroportuário,
quanto na região de influência direta do empreendimento, através dos comitês de bacias e associações, nas proximidades do
sítio aeroportuário.
As análises referentes às coletas mensais e semestrais, devem ser coletadas e encaminhadas para laboratório externo. As
avaliações diárias, serão realizadas na estrutura interna do aeroporto, ou seja, serão utilizados equipamentos portáteis em
campo para medir os parâmetros de ph (Medidor multiparâmetro); cloro livre (Fotômetro digital); cor (Fotômetro medidor de
cor); turbidez (Turbidímetro).

Etapa 4 - Monitoramento e melhoria contínua


O monitoramento operacional do sistema de abastecimento e tratamento de água para consumo
humano no aeroporto visa controlar os riscos, pontos críticos garantindo que as metas de saúde sejam cumpridas.
Sendo assim, a cada ponto crítico priorizado nas diversas etapas do sistema, além das medidas
de controle, devem ser verificadas as necessidades de se associar programas de avaliação, de forma a verificar
se tais medidas mantêm-se eficazes na eliminação ou minimização dos riscos.
Os elementos de gestão sugeridos que devem ser considerados nesta fase são os seguintes:
Monitorar os indicadores do uso da água e o cumprimento das metas estabelecidas para cada ação implementada.
Manter o atendimento a legislação da organização ao uso de água e lançamento de efluentes.

511
Apurar dados sobre fatores externos que podem afetar as fontes diretas de água: mudanças climáticas,
desenvolvimento urbano, custos de fornecimento e tratamento, impactos de outros usuários.
Realizar estudos de benchmarking anual em aeroportos comparando o uso em seus terminais, gestão, eficiência da
água e descarte de efluentes.

Quando identificadas as medidas de controle, deve-se definir estratégias para acompanhá-las como os programas de
monitoramento, de forma a garantir que falhas sejam prontamente detectadas. Portanto, se as medidas de controle funcionarem
adequadamente, as metas de saúde serão atingidas. Muitas medidas de controle podem contribuir para controlar mais de um
ponto crítico, enquanto alguns pontos podem exigir mais de uma medida de controle para o controle efetivo. Contudo, todas as
medidas de controle são relevantes e devem ser objeto de monitoramento operacional. Vários parâmetros podem ser utilizados
no monitoramento operacional, tais como a adequada concentração residual de cloro na saída da estação de tratamento de água;
e a sua manutenção ao longo do sistema de distribuição, além da avaliação da pressão atmosférica positiva e do parâmetro
turbidez ao longo do sistema de distribuição. Os indicadores microbiológicos e os parâmetros químicos também são utilizados
para o monitoramento operacional, porém não permitem que sejam realizados ajustes operacionais antes do fornecimento da
água, por este motivo as coletas nos reservatórios de água tratada se tornam tão importantes.

Ações corretivas
Esta última fase do modelo de gestão da água é o momento do empreendedor revisar todos os elementos da gestão da
água realizados nas etapas anteriores, com o objetivo de analisar aqueles que geraram resultados positivos e modificar aqueles
que não alcançaram as metas e as expectativas, em busca de melhorias com ações corretivas. O período de tempo necessário
para realizar esta revisão dependerá da realização de todos os elementos de gestão sugeridos nas etapas anteriores mencionadas
e deverá ser liderado pela alta direção da empresa, em conjunto com o comitê gestor interno e os demais colaboradores
internos responsáveis.
Especificamente deve ser avaliada a eficácia das aplicabilidades do conceito no plano de gestão da água como um
todo: quais os benefícios, as dificuldades no decorrer das ações, a efetividade das sugeridas, entre outras.
Devem ser determinadas as documentações e notificações de desastres, desabastecimento e/ou emergência. A
organização da documentação deve compreender o maior número de informações sobre a ocorrência para melhorar a
preparação e o planejamento de futuros incidentes.
As ações de comunicação devem incluir:
Procedimentos para informar prontamente quaisquer incidentes, dentro do sistema de abastecimento de água para
consumo humano, incluindo-se a notificação da autoridade de saúde pública;
Resumo das informações a serem disponibilizadas a comunidade aeroportuária, por exemplo, por meio de relatórios e
mídias na internet;
Definição de procedimentos para receber e encaminhar reclamações da comunidade em tempo hábil.
O relatório mensal objetiva acompanhar e monitorar pontos críticos e deve conter os seguintes elementos:
Análise dos dados de monitoramento da água;
Análise das não-conformidades ocorridas e as suas possíveis causas;
Implementação das alterações necessárias.
O relatório anual da implantação e funcionamento do Plano deve conter os seguintes pontos:
Análise dos riscos mais relevantes ao longo do ano;
Reavaliação dos pontos críticos do terminal;
Avaliação da inserção de novas medidas de controle;
Avaliação crítica do funcionamento do Plano;

Considerações Finais

Durante o desenvolvimento observou-se que os aeroportos, especialmente, os brasileiros, possuem ações pontuais no
que diz respeito ao uso e gestão de água. Não foram encontrados planos de gestão da água estruturados e/ou em execução. Tal
situação, deve-se ao fato de que a legislação pertinente seja recente e a problemática da água até então era observada de forma
única, sem estar integrada com outros impactos ambientais nas organizações. Entretanto, é notório que esforços para reduzir o
consumo de água são realizados em aeroportos de todo o mundo.
Os pontos críticos elencados, neste trabalho, mostram que esses locais são de grande importância para os gestores do
aeroporto, devido à grande circulação de pessoas, bens e serviços, podem ser considerados áreas críticas para a disseminação
de doenças de veiculação hídrica, por exemplo. Por essa razão, foram propostas ações de gestão a fim de promover à saúde da
população aeroportuária e à promoção do uso eficiente do recurso água.

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Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer a Universidade Federal de Santa Catarina, e as empresas Floripa Airport e Ambiens
Consultoria Ambiental pelo apoio recebido.

Referências Bibliográficas

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, Resolução da Diretoria Colegiada nº 91: Dispõe sobre as Boas
Práticas para o Sistema de Abastecimento de Água ou Solução Alternativa Coletiva de Abastecimento de Água em Portos,
Aeroportos e Passagens de Fronteiras. Anvisa, 2016.

ANAC, Agência Nacional de Aviação Civil, Brasília. Dados disponíveis em: <http://www.anac.gov.br> . Acesso em 18 de
novembro de 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR: 6493: Emprego de cores para identificação de tubulações.
Rio de Janeiro, 1994.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 13969: Tanques sépticos – Unidades de tratamento
complementar disposição final dos efluentes líquidos – Projeto, construção e operação. Rio de Janeiro, 1997.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 5626: Instalação predial de água fria. Rio de Janeiro, 1998.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 15527: Água de chuva: aproveitamento de coberturas em
áreas urbanas para fins não potáveis: requisitos. Rio de Janeiro, 2007.

BRASIL, CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente, Resolução n.º 430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as
condições e padrões de lançamento de efluentes.

BRASIL, Ministério da Saúde, Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011: Dispõe sobre os procedimentos de controle e de
vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Brasília, 2011.

ICAO, Environmental Protection. Internacional Civil Aviation Orgnization, 2017. Disponível em


<http://www.icao.int/environmental-protection> >. Acesso em 20 de maio de 2019.

MOREIRA Neto RF, Carvalho IC, Calijuri ML, Santiago AF. Rainwater use in airports: A case study in Brazil. Resources,
Conservation and Recycling, 2012.

513
5SSS168
GESTÃO DE RUÍNAS URBANAS NO AMBIÊNTE DA CIDADE
CONTEMPORÂNEA
Luiz Cláudio Bittencourt, Ludmilla Sandim Tidei de Lima Pauleto2, Michelle Fernanda Tasca3
1Faculdade Eduvale, e-mail: lclaudiob.lcb@gmail.com; 2Universidade de São Paulo, e-mail:
ludtideip@gmail.com; 3Faculdade Eduvale, e-mail: michelle.tasca@gmail.com

Palavras-chave: ruínas urbanas; gestão; memória

Resumo
O texto pretende inserir os recursos não-naturais no campo da discussão sobre sustentabilidade. A hipótese é que: a
manutenção e conservação dos acervos arquitetônico e da paisagem urbanas são parte integrante da ideia de sustentabilidade.
Evitando a destruição e sobreposição de camadas sucessivas de edifícios a sobre o chão da cidade, evita-se também novas
transformações de recursos naturais. Para isto, considera que o conhecimento da história e da memória constituem acervos
fundamentais ao processo de transformação da sustentabilidade em valor cultural, nesse sentido a percepção do belo nos
objetos históricos ou não, também é valor no campo de conhecimento e de ações de gestão dos recursos naturais. Nesse
sentido, ruínas urbanas surgem no cenário da cidade como objeto-denuncia dos modelos de urbanização transgressores dos
valores da sustentabilidade, reconhecido por olhares desavisados ou não, como contradição explicita, entre a memória coletiva
e a transformação de recursos naturais em edifícios.

Introdução

Ruínas urbanas sempre foram partes do modelo de urbanização da cidade ocidental, Roma e as cidades medievais da Europa
demonstram este fato com eloquência. Não é racional nem sustentável a contínua produção de cadáveres em decomposição na
paisagem urbana. Quando o edifício perde a função para que foi construído, essa tendência parece “natural”, os complexos
ferroviários desativados em São Paulo e no Brasil testemunham esse modelo.
O texto que segue pretende destacar alguns aspectos decorrentes deste fato. Primeiro, diz respeito a gestão do patrimônio pelo
Estado através de legislação específica e sua relação com a memória, depois aspectos sociológicos decorrentes da presença das
ruínas na vida urbana e finalmente os possíveis impactos na percepção pelo observador comum.
As ruínas urbanas não são construídas com intenção de serem ruínas, elas decorrem de situações específicas em lugares
determinados. Apesar de serem tratadas de forma genérica, o seu surgimento no modelo de urbanização predominante, possui
comportamentos particulares muito específicos, espacialmente situados em determinados sítios. Porém elas são parte integrante
do patrimônio edificados dos povos e são peças importantes para identidade dos vários grupos sociais.
A deterioração de edifícios fabricados pelo homem é fato conhecido e de pleno domínio da arqueologia, que revela o tempo e
perenidade dos objetos produzidos. Desde a cidade industrial do XIX, camadas de edifícios sobrepõem-se em escalas
geométricas no ambiente urbano, apagando as precedentes em intensidade a cada momento mais ampla. Processo predador
demanda controle do Estado através de políticas públicas, mas que também exige uma mudança de atitude dos que fazem e
vivem a cidade.
Este quadro impõe outra mudança, no modo como as comunidades se relacionam com as ruínas, sua existência pode alavancar
novas formas de relacionamento nas complexas formas da vida urbana contemporânea. Como acervo funcional ativo e cultural,
que de um lado, denuncia os modelos de geração do espaço urbano sustentável, e de outro, possibilita, ao mesmo tempo, novas
visões da cidade em direção a urbanidade reversa dos seus edifícios, com sua manutenção, que é parte essencial dos modelos
urbanístico, planos diretores e formas de gestão pública e coletiva da cidade contemporânea.
Smith versa sobre o “discurso autorizado do patrimônio”, afirmando que consiste na ideia do patrimônio como uma forma de
excluir certos atores e interesses sociais e impedi-los de se envolver ativamente com sua herança. O discurso enquadra o
público como receptor passivo do significado autorizado e contribui para criar barreiras para a negociação sobre significados,
natureza, papeis sociais e culturais que o patrimônio pode desempenhar. Para a autora, patrimônio “[...] é um processo cultural
que envolve atos de lembrança que trabalham para criar caminhos para compreender e fazer parte do presente, e os sítios por
sua vez são ferramentas culturais que podem facilitar, mas não são necessariamente vitais para este processo[...]”7 (SMITH,
2006, p. 44). Smith cita David Harvey que define patrimônio como um verbo relacionado com as ações humanas e sua
7
“is a cultural process that engages with acts of remembering that work to create ways to understand and engage with the
present, and the sites themselves are cultural tools that can facilitate, but are not necessarily vital for, this process”.

514
organização. O autor sugere ainda, que se trata de um processo concernente à legitimação do poder das nações e outras
identidades culturais/sociais (SMITH, 2006, p. 44 e 45).
Assim, parece significativo entender a importância sociológica, simbólicas em relação a memória e as formas de preservação
desses edifícios e objetos que compõem os cenários fluido das nossas cidades.

Histórico

A valorização moderna das ruínas, advinda do olhar estético, histórico e memorialístico aplicado sobre essas construções
abandonadas e deterioradas, remete aos séculos XVIII e XIX. Seja na literatura ou nas artes plásticas, as ruínas tomaram lugar
importante no imaginário e nas composições visuais desde então, seja vistas sob as formas do pitoresco das pinturas inglesas
ou entendidas sob as formas do sublime, como teorizou Edmund Burke ou ainda na literatura gótica preconizada por Horace
Walpole em Castle of Otranto (1764), apenas para citar alguns exemplos (MENEGUELLO, 2003, p. 2).
A entrada no século XIX foi marcada preeminência das grandes cidades. O cenário europeu industrializado, recém-saído de
uma série de revoluções de cunho nacional e industrializante foi importante para a configuração dessa concepção moderna das
ruínas. Vide a Revolução Francesa, que determinou o estabelecimento da burguesia, mas criou em contrapartida, um
sentimento de ambiguidade. Por um lado, a Revolução permanecia como “a visão de um paraíso perdido” como afirmam
Abrams e Empson (ROSEN, 2004, p. 45) por outro, cria-se uma mudança de mentalidade, que de acordo com Françoise
Choay, que tendia cada vez mais a promover uma ruptura com o pensamento revolucionário (CHOAY, 2011, p.127).
A consagração do monumento histórico deveu muito a medidas políticas adotadas nesse contexto. A criação do cargo de
Inspetor dos monumentos históricos na França por Françoise Guizot fez com que a arquitetura antiga deixasse o domínio dos
antiquários e adentrasse no campo da História da Arte: “Com efeito, a sensibilidade romântica descobrira no monumento do
passado, um campo de deleites de acesso mais fácil. Redes de laços afetivos múltiplos e novos foram então tecidas como
vestígios” (CHOAY, 2011, p.132).
Essas mesmas ruínas que passavam pelo processo de reinserção no mundo da história e das artes, passam cada vez mais a
adquirir conotação política. Torna-se muito significativa, nesse sentido, a publicação do Rapport em 1830 por Guizot em
paralelo com a publicação em 1854 do texto de Ruskin intitulado “A abertura do palácio de cristal e suas relações com o futuro
das artes”” (CHOAY, 2011, p.132) que promovem respectivamente, na França e na Inglaterra, uma intensificação nos debates
sobre como se posicionar e conceber tais estruturas urbanas. As ruínas eram vistas já então como marcos físicos, exatamente
visíveis dos tempos passados. Preservá-las, restaurá-las ou destruí-las significaria muito mais do que uma intervenção física,
mostraria como uma nação entende e se relaciona com seu passado e suas origens.
Em Portugal, as ruínas começam a aparecer com cada vez mais constância nos discursos intelectualizados. Alexandre
Herculano, com grande influência no mundo das letras, publica então, diversos textos em defesa do patrimônio histórico, o que
é seguido também por diversos outros atores que povoam os periódicos com discussões acerca da história, patrimônio e
arquitetura. As ruínas de Herculano talvez sejam as que mais carregam consigo um valor melancólico de derrocada da nação
moderna. Simbolizam a decadência de uma nação que já teve seus momentos de glória passada:

Surgira o dia extremo para a cidade das maravilhas, para a réproba Solima. E d'alli a um anno, sobre as ruinas della
estava assentado um velho.

Era o propheta de Anathot, que, em cima da ossada dos palacios e do templo, entoava uma elegia tremenda, a elegia
da sua nação. (HERCULANO, 1873, 82)

As nuances (dimensões) do patrimônio

A memória pode ser entendida, como uma dimensão do patrimônio construído, que por sua vez necessita desta para existir
enquanto identidade coletiva. A veracidade da memória cria um vínculo de afeto da população com o patrimônio, caso
contrário, essa herança poderá ser renegada e relegada a segundo plano, correndo o risco de se perder. A “[...] arquitetura
molda a cidade, pois embora seja, sim discurso formal e funcional, é, também, imagem depositório de representações,
deflagrador de memórias e suporte material de referenciais urbanos [...]” (ATIQUE, 2016, p. 151). A dimensão memorial da
arquitetura se torna muito forte para quem conhece sua importância enquanto coadjuvante de fatos e acontecimentos históricos
e, consequentemente, se identifica com eles ou reconhece seu valor arquitetônico. Porém, para aqueles que não se reconhecem
no patrimônio e nem têm a dimensão histórica de sua representação, a memória não vale de nada. Considerando que o espaço
urbano e sua arquitetura são a expressão dos anseios e modo de vida histórico e estão permanentemente sendo construídos e
reconstruídos (GAGLIARDI, 2011, p. 74), a memória é um elemento fundamental para a permanência deste. O patrimônio
enquanto experiência não se torna “estático ou congelado no tempo”, mas um processo que, enquanto transmite valores e
significados do passado, está também criando novos significados e valores (SMITH, 2006, p. 48).

515
A segunda forma de análise utilizada por Smith é o patrimônio como identidade. Ela entende que o “[...] culto material do
patrimônio é assumido como forma de fornecer uma representação e realidade físicas para o conceito passageiro e incerto de
identidade[...]”8 (SMITH, 2006, p. 48). O culto material fomenta o sentimento de pertencimento e continuidade enquanto sua
fisicalidade dá a esses sentimentos um senso de realidade material. Smith cita Grahan (et. al, 2000, p. 41 Apud SMITH, 2006,
p. 48) que entende que o patrimônio fornece sentido à existência humana, transmitindo as ideias de valores atemporais e
ancestralidades não violadas que dão suporte à identidade.
O “discurso autorizado do patrimônio” em conjunto com a maneira que as ideologias de nacionalismo e as identidades
nacionais têm sido, intencionalmente ou não, articuladas e legitimadas pelas nações, são os responsáveis pela construção da
ideia de patrimônio e de suas práticas oficiais. O patrimônio pode ser entendido como uma importante ferramenta política e
cultural de definição e legitimação da identidade, materialidade do objeto em que o poder político se apoia. “[...] A fisicalidade
do patrimônio também trabalha para mascarar as maneiras pelas quais o olhar do patrimônio constrói, regula e autoriza uma
variedade de identidades e valores, filtrando esse olhar para o patrimônio material inanimado[...]”9 (SMITH, 2006, p.53).
A intangibilidade do patrimônio é abordada pela autora como uma terceira dimensão deste, entendida como uma mentalidade.
Trata-se da questão emocional que envolve afeto pela herança. Chuva (2015) conclui que “[...] todo patrimônio se constitui a
partir de uma forte carga simbólica, que é imaterial ou intangível[...]” e que o patrimônio imaterial requer algum tipo de
materialização para se concretizar (2015, p. 25 e 26). Para Nigel Thrift (2004 Apud SMITH, 2006, p. 56) o poder do lugar
invoca emoções, memórias e o sentimento de pertencimento que se tornam maneiras de repensar o passado e o presente. Ou
seja, todo patrimônio intangível oferece um local para a ideia de memória e atividades de lembrança. Assim como todo
patrimônio tangível (material) requer o intangível (imaterial) para ser compreendido. A intangibilidade do patrimônio material
está na memória que ele evoca.
“[...] A divisão existente entre patrimônio material e imaterial não ocorre simplesmente em função do tipo de bem cultural,
mas em função da transformação da noção de patrimônio, ao longo do tempo[...]” (CHUVA, 2015, p. 26). Chuva afirma que
esta transformação promoveu a ampliação do que pode ser considerado patrimônio cultural, que somente foi possível através
da introdução desta nova concepção de cultura na esfera das políticas públicas. As políticas de patrimônio passaram a se
atentar não apenas ao produto, mas aos processos e aos agentes produtores.
No caso do patrimônio ferroviário, constatamos os efeitos relativos a esta divisão, uma vez que se passou a dar maior atenção
às questões imateriais que envolvem as ferrovias, consideradas patrimônio da industrialização, aos seus processos produtivos e
à sua influência nas transformações urbanas e sociais. Chuva versa que:

Esse tipo de patrimônio requer um tratamento associado dos vestígios materiais e das memórias vivas dos grupos
particularmente envolvidos com o bem cultural e, sem o enfrentamento dessas questões de ordem conceitual e
política, os traços materiais e simbólicos da ferrovia no Brasil permanecerão em risco (CHUVA, 2015, p. 40).

Segundo Huyssen (2000, p. 09 e 10) e Smith (2006, p. 57) a memória, que para o estudo aqui apresentado é uma dimensão do
patrimônio material, é umas das preocupações culturais e políticas centrais das sociedades ocidentais. Ambos afirmam que foi
a partir dos 1980 que houve um crescente interesse pela memória. Estudos trouxeram à tona afirmações de memórias que
desafiaram àquelas já autorizadas e aconteceram em contextos de comemorações e debates importantes ao redor do mundo.
Smith cita Estados Unidos e Austrália com as comemorações do bicentenário pós-colonial, o fim da Guerra Fria e debates a
respeito do Holocausto. Hyussen se refere aos eventos internacionais na Europa e Japão com o objetivo de relembrar o fim da
Segunda Guerra Mundial, que ocorreram na década 1990, a queda do muro de Berlim (1989), a unificação das “Alemanhas”
(1990) e as guerras em Ruanda e Bósnia (1990), que tiveram bastante repercussão internacional. Para o autor, pode-se dizer
que houve uma globalização da memória e o Holocausto foi utilizado como uma figura de linguagem. Smith cita Misztal (2003
Apud SMITH, 2006, p. 57) que observa o crescimento dos locais de comemoração e lembrança, nos movimentos de turismo e
patrimônio, como significativos no crescimento das tentativas de falar e teorizar a memória.
Hyussen entende que apesar da influência da mídia global nos discursos de memória, estes permanecem ligados às histórias
das nações (2000, p. 16 e 17). Mas ele levanta um problema relacionado à memória a ao passado: a perda da consciência
histórica. Para o autor esta é causada pelo excesso de memória disponível na mídia a cada dia e, em função de muitas destas
memórias comercializadas serem “memórias imaginadas” e não “memórias vividas”. As primeiras são facilmente esquecidas,
enquanto as segundas são memórias reais, não manipuladas. Outro ponto abordado por ele, que se relaciona intimamente à
memória pública midiatizada, é o medo do esquecimento, devido à instabilidade do tempo e o “[...] fraturamento do espaço
vivido[...]” (2000, p. 20). Entende-se que estes são produto de “[...] uma lenta e palpável transformação da temporalidade nas
nossas vidas, provocadas pela complexa interseção de mudança tecnológica, mídia de massa e novos padrões de consumo,

8
“(…) material culture as heritage is assumed to provide a physical representation and reality to the ephemeral and slippery
concept of ‘identity’”.
9
“The physicality of heritage also works to mask the ways in which the heritage gaze constructs, regulates and authorizes a
range of identities and values by filtering that gaze onto the inanimate material heritage.”

516
trabalho e mobilidade global[...]” (2000, p. 25). Tudo isto se reflete nas transformações urbanas vividas atualmente e nas
perdas dos remanescentes históricos do patrimônio material.
Uma das estratégias para combater tal medo do esquecimento é a criação de espaços de memória e Hyussen coloca a
musealização dos discursos da memória como exemplo disto. Ele cita a teoria de Lübbe (Apud HYUSSEN, 2000, p. 29) que
diz que o museu compensa a perda desta estabilidade, porque oferece formas tradicionais de identidade cultural. Tanto o autor
quanto Smith citam os lugares de memória abordados por Nora (1989 Apud SMITH, 2006, p. 60 e HYUSSEN, 2000, p. 29),
que por sua vez, defende que são formas de compensação da perda dos meios da memória. Ambos, Lübbe e Nora,
compartilham da mesma ideia, entendendo que a musealização e os lugares de memória compensam a perda das tradições
vividas.
É importante ressaltarmos a diferença que Smith faz sobre memória e história, versando que “[...] memória pode ser vista
como subjetiva e nem sempre confiável, enquanto a história é sobre a acumulação de fato dentro de uma narrativa
autorizada[...]”10 (2006, p. 58). Neste contexto, a autora considera que os sítios de patrimônio podem ajudar a sociedade a
relembrar, porém quase sempre são fatos e lembranças privilegiados, parte do “discurso autorizado do patrimônio” e não
atividades emocionais ou subjetivas. A memória pode ser considerada um processo cultural ativo de lembrança e esquecimento
e que, coletiva ou individualmente, está sendo sempre renegociada e reinterpretada, “[...] através não apenas de experiências
do presente mas também pelas necessidades do presente[...]”11 (WERSTSCH, 2002 Apud SMITH, 2006, p. 58). Não quer
dizer que o passado não influencie o presente, mas sim que suas influências serão totalmente entendidas e construídas através
do discurso dominante do presente.
No texto, a autora analisa memória e lembrança, citando a definição de Wertsch (2002 Apud SMITH, 2006, p. 59), que versa
que a memória é a mediadora da lembrança, que por si só é um processo envolvido com a elaboração e criação de significado.
Dentre os tipos de memória citadas por Smith, vamos nos ater à memória coletiva, que segundo ela é a forma de memória mais
frequentemente associada ao patrimônio. Halbwachs coloca que todo grupo constrói uma identidade para si através de
memórias compartilhadas. Segundo ele “[...]memórias coletivas ou compartilhadas são socialmente construídas no presente, e
são coletivamente legitimadas na medida em que criam significado de interesse e percepções comuns de identidade
coletiva[...]”12 (1992 Apud SMITH, 2006, p. 59). Outra distinção apresentada por Smith, também importante para esta análise,
é entre memória coletiva e história. Ela cita Nora que pontua que:

[...] existem tantas memórias quanto existem grupos, que memória é por natureza múltipla e ainda específica;
coletiva, plural e ainda individual. História, por outro lado, pertence a todos e a ninguém, de onde ela afirma a
autoridade universal. Memória tem raiz no concreto, no espaço, gesto, imagem e objetos; história liga-se
estritamente as continuidades temporais, as progressões e relações entre coisas. Memória é absoluta, enquanto
história só pode conceber o relativo[...]13 (NORA. 1989, p. 09 Apud SMITH, 2006, p. 60).

Concluindo, Smith versa que a memória é um importante elemento constitutivo de formação da identidade, ao contrário das
narrativas históricas e, portanto, a memória coletiva tem um poder emocional particular. O sentido de pertencimento causado
pelo compartilhamento de memória, proporciona uma sensação de conexão e comunhão. A memória coletiva, portanto, é uma
forma de socializar os membros de um grupo através de uma visão particular do passado. Os sítios do patrimônio, lugares,
museus, entre outros, são reconhecidos como ferramentas culturais no processo de lembrança. Esse processo não cria
significados e valores estáticos, pois são renegociados e continuamente retrabalhados através do processo de relembrar e
comemorar (2006, p. 60 e 64).

Percepções contraditórias - a incompletude e o belo

Ruínas urbanas são também paradoxos visuais. Surgem como inconsistências nas cidades em mutação permanente, resistem ao
tempo, sobrevivem, contrastam e podem adquirir valor de monumento para os modernos (RIEGL, 2008). Cidades, mesmo que
projetadas “ex novo” não se constituem espaços sem história, seguem tipos da cultura urbanística, estabelecidos e adaptados às
condições no momento do desenho. São parte da condição civilizatória, suas arquiteturas registros dessa condição, pedras vivas
do tempo no espaço latente da memória urbana, instrumento de poder e organização vital de espaços artificiais (LE GOFF,
10
“Memory may be seen as subjective and not always reliable, whereas history is about the accumulation of fact within an
authorized narrative”.
11
“(…) through not only the experiences of the present but also the needs of the present.”
12
“(…) shared or collective memories are socially constructed in the present, and are collectively legitimized in that they make
meaningful common interests and perceptions of collective identity”.
13
“there are as many memories as there are groups, that memory is by nature multiple and yet specific; collective, plural, and
yet individual. History, on the other hand, belongs to everyone and to no one, whence its claim to universal authority. Memory
takes root in the concrete, in spaces, gestures, images, and objects; history binds itself strictly to temporal continuities, to
progressions and to relations between things. Memory is absolute, while history can only conceive the relative”.

517
1984).
Se o pressuposto é de que a cidade é o espaço da condição humana civilizada, é também o lugar adequado aos registros da
perpetuidade deste espírito o “genius loci” no sentido da urbis romana, para Diotima “...a natureza mortal procura, na medida
do possível, ser sempre e ficar imortal” (PLATÃO, 1979). Ruínas urbanas constituem cicatrizes visuais do tempo em forma de
artefatos em desintegração e resistência, denunciam a irreversibilidade do tempo. Observadas noutro momento seu valor
original não é mais o mesmo, adquirem novos significados atribuídos pelo olhar do instante. Inevitavelmente esses novos
significados, mesmo que remetidos às transformações estabelecidas no tempo, ainda pertencem ao momento observado como
imagens “recicladas” do passado, inserido na paisagem. Pois, a sutil presença do tempo revela-se, apesar de incomoda, auxilia
o entendimento do observador, situa, ativa o sentido de precariedade momentâneo das interpretações dos artefatos em seus
vários tamanhos.
‘Assim as ruínas urbanas delineiam metáforas do passado que não existe mais e ainda nos afetam, na medida em que, ajudam
explicar o momento vivido em narrativa subjetiva ou não, recriada nas incompletudes, por impulso a cada instante de modo
diverso.
Nos anos oitenta o “centro histórico” da cidade de Campinas passava por grande transformação urbanística comandada pelos
negócios imobiliários, que desejavam verticalizar sobre antigos edifícios em terrenos da colônia e do império. Houve uma
significativa reação da população, que uniu forças políticas conservadoras e movimentos populares. Em meio a tombamentos,
demolições clandestinas, incêndios e muito barulho na imprensa, o poder público municipal se viu obrigado a instituir o
Conselho do Patrimônio Cultural do Município, com objetivo de proteger e estabelecer critérios para proteção do acervo
arquitetônico ainda significativo naquele momento.
Entre este acervo encontrava-se o conjunto do complexo ferroviário parcialmente desativado e em processo de desintegração
física. Este conjunto ocupava, e ainda ocupa, grandes áreas urbanas próximas ao centro histórico, áreas de interesse
quantitativo e qualitativo pelo mercado imobiliário naquele momento. O abandono dessas áreas e edifícios também era
obstáculo ao funcionamento do sistema viário e incômodo aos seus vizinhos. Mesmo assim a população defendia sua
preservação. Ainda hoje é difícil, mas necessário, entender esse impulso coletivo resistente ao sentido de perda de uma
paisagem sem uso e funcionalidade.

Figura 11: Foto aérea 2007 de um dos 3 pátios ferroviários de Campinas. A esquerda o centro da cidade à direita o
bairro operário da Vila Industrial. Acervo projeto FAPESP políticas públicas.

Como já citado, Jacques Le Goff em texto contemporâneo daquele momento (1984), fala em “memória coletiva” e poder:

A evolução das sociedades na segunda metade do século XX clarifica a importância do papel que a memória
coletiva desempenha. Exorbitando a história como ciência e como culto público, ao mesmo tempo a montante
enquanto reservatório (móvel) da história, rico em arquivos e em documentos/monumentos, e a aval, eco sonoro
(e vivo) do trabalho histórico, a memória coletiva faz parte das grandes questões das sociedades desenvolvidas e
das sociedades em via de desenvolvimento, das classes dominantes e das classes dominadas, lutando todas pelo
poder ou pela vida, pela sobrevivência e pela promoção(LE GOFF, 1984, p. 46).

Aldo Rossi (1982) cita Maurice Halbwachs (2003) ao destacar a importância que a “memória coletiva” desempenha na
compreensão dos fatos urbanos como obra de arte, logo no seu sentido cultural, antropológico e urbanístico, afetando a
imaginação dos observadores, assim como opera com o emocional e dimensão política.
Para Josephe Rykwert, nesses casos, intervenções urbanísticas precisam de cuidados especiais, para evitar o fenômeno da
“gentrification”. “As tentativas de revitalizar partes de tal cidade, degradada pela especulação e pela mudança econômica,
sempre exigem uma injeção de capital (na expectativa de algum retorno financeiro), em um processo que foi rotulado de

518
“renovação urbana” (RYKWERT, 2004, p. 330).
O urbano encontra-se delimitado dentro do espaço entendido por cidade, nesse sentido o “lugar” assume personalidade
específica vinculada ao tempo e a história, isto é, mais que características físicas, embora evidentemente materialize em espaço
delimitado por edifícios. Em “Ideia de Cidade” Rykwert (1985) chama atenção de como sua forma e seu desenho, que definem
os lugares, está comprometido com conhecimento cosmológico desde a origem da construção da ideia, não se trata
evidentemente de magia, mas de lembranças imprecisas que afetam a percepção do lugar, uma anamnese. Nesse sentido ruína e
memória podem de um lado, adquirir “al lector moderno la impresión de que todo ello impone al ciudadano el peso
abrumador” (RYKWERT, 1985, p. 239). Continua “La intención de este libro parece ser completamente opuesta. Em efecto,
me he preocupado de mostrar la ciudad como um símbolo mnemónico total o, em todo caso, como um complejo de símbolos
em que el ciudadano, a través de ciertas experiencias palpables, como procesiones, fiestas estacionales y sacrifícios, se
identifica com su ciudad, com su passado y com sus fundadores” (RYKWERT, 1985, p. 240). Assim, ruínas
monumentalizadas parecem aproximar os observadores através da anamnese, das cicatrizes deixadas pelo tempo como pátinas,
aguçam a memória, apesar de filtrada pela percepção melancólica da perda de fragmentos, que deveriam compor o todo. O
tempo e os ritos14 surgem como vínculos ao sentido de pertencimento ao lugar pela identidade criada, e oferecem a
oportunidade de construção da própria noção de cidade através das marcas no lugar e das memórias elaboradas nos gestos dos
ritos.
Para o “Auto de Demarcação da Capela” para formação da Freguesia no Bairro de Jundiaí de Campinas do Mato Grosso, e o
translado da Matriz de Nossa Senhora da Conceição do Sítio Original para a Nova Matriz em eixo com a Estação Ferroviária,
não é difícil o entendimento das observações de Rykwet em relação aos Ritos de Fundação e o próprio desenho da cidade.
Fatos ressaltados pelo avesso, no apagamento do lugar do primeiro pouso de posseiros chamado posteriormente de Campinas
Velhas.
Este pouso inaugura traçado mais curto pela velha estrada de tropeiros, que conectava a região dos “Guaiases” e das Minas
Gerais às pradarias do Rio Grande do Sul (Pampas) através da pequena passagem do Samambaia15. A ironia fez com que cerca
de duzentos anos depois o sítio de posseiros, transformado em pouso e terreiro, depois em Casa de Fazenda para comércio de
escravos, com suas terras loteadas, viesse a pertencer a um Professor de Arquitetura, que além de restaurar os edifícios
valorizados como ruínas, resgatou seu significado verdadeiro para história de Campinas ao transformar o lugar em objeto de
Tese de Doutorado, desnudando a importância ancestral ao bairro, freguesia, vila e cidade (SANTOS, 2002; BITTENCOURT,
1996).

Figura 2: Ruínas restauradas primeiro edifício de sertanistas do “Pouso das Campinas Velhas.” Em frente, parte do
Terreiro do Pouso, da Estrada do Gaiases (carreador) e sede do “Sítio Paraiso.

14
Podemos entender o trabalho cotidiano e o uso constante dos espaços da cidade adquirem valor de ritos no universo do
trabalho e da cidade produtiva.
15
Estreito cânion que corta as colinas entre Valinhos e Campinas através da nascente do Samambaia.

519
Figura 3: Localização do Pouso das Campinas Velhas, recorte do levantamento cartográfico, fonte Planta da Cidade de
Campinas 1943, Diretoria de Obras e Viação, folha 21 esc. 1:1000. Editada.

Sabemos que as cidades alteram sua paisagem todo momento, sobre o mesmo lugar ou mesmo sítio. Frações desaparecem,
outras resistem íntegras e outras em forma de ruínas, todas impactam sobre a “memória coletiva”. Maurice Halwachs acura
nossa atenção “As cidades se transformam no curso da história. Em geral, logo depois de cercos, de uma ocupação militar, da
invasão de bandos de saqueadores, quarteirões inteiros são destruídos, deles restam apenas ruínas. O incêndio dá golpes
tenebrosos. Velhas casas se deterioram lentamente. Ruas outrora habitadas pelos ricos são invadidas por uma população de
miseráveis e mudam de aparência. As obras públicas e a abertura de novas ruas ocasionam muitas demolições e construções
– os planos se superpõem uns aos outros. Os subúrbios criados em torno do recinto urbano lhes são anexados. O centro da
cidade se desloca. Os bairros antigos, circundados por novas construções altas, parecem perpetuar o espetáculo da vida de
antigamente. Em todo caso, é apenas uma imagem de velhice – não se sabe se os antigos moradores os reconheceriam, se
voltassem...”. Essa constatação de fácil entendimento e observável a qualquer momento nas cidades contemporâneas, carrega
problemas. No caso da cidade de Campinas estes problemas possuem dois extremos que demonstram como ruínas impactam
na vida urbana. O primeiro diz respeito ao complexo ferroviário, inicialmente instalado na borda da cidade hoje parte do centro
histórico, manteve-se como imagem viva colada a memória funcional e produtiva dos moradores e visitantes. De outro lado
temos o velho pouso das “Campinas Velhas”, apagado da história, removido da estrutura urbanística da cidade
(BITTENCOURT, 1996, p.17-32), sobreviveu invisível, até que suas terras alcançadas pela expansão, desmembradas em
loteamentos, revele suas ruínas, desentranhadas na paisagem urbana. “Se, entre as casas, as ruas e os grupos de seus
habitantes houvesse apenas uma relação muito acidental e de curta duração, os homens poderiam destruir suas casas, seu
bairro, sua cidade, e reconstruir em cima, no mesmo local, uma outra cidade segundo um plano diferente – mas as pedras se
deixam transportar, não é muito fácil modificar as relações que se estabeleceram entre as pedras e os homens. Quando um
grupo humano vive por muito tempo em um local adaptado a seus hábitos, não apenas a seus movimentos, mas também a seus
pensamentos se regulam pela sucessão das imagens materiais que os objetos exteriores representam para ele. Elimine, agora,
elimine parcialmente ou modifique sua direção, sua orientação, sua forma, sua aparência, essas casas, essas ruas, esses becos
– ou mude apenas o lugar que eles ocupam um em relação ao outro. As pedras e os materiais não oferecerão resistência. Os
grupos resistirão e, neles, você irá deparar com a resistência, se não das pedras, pelo menos de seus arranjos antigos”
(HALBWACHS, 2003, p. 163).

520
Ruínas em si são complexas e contraditórias, na paisagem urbana essas características exasperam. Carlo Carena aponta para
essas contradições como movimento de troca e possibilidades. “Ruína pode por um lado evocar o passado glorioso e a
caducidade de todas as coisas, ser objeto de reflexão histórico-filosófica; por outro lado, pode dar lugar a um sentimento
subtilmente crepuscular; pode ser uma ruína clamorosa, eloquente, com uma massa obstrutiva ou pelo contrário, um efémero
bastidor visual, um frio contraste, uma ironia irrisória” (CARENA, 1984). Em Campinas fica evidenciado pela escala,
enraizamento e proximidade “físico-funcional” por entre ruas e avenidas o Complexo Ferroviário como valor na memória
coletiva da cidade, portanto conjunto salvaguardado por legislação específica. A “Casa-Grande e Tulha” desintegrada da
cidade pela história do traçado urbanístico excludente, reforçado pelo desenho dos leitos ferroviários e pela geometria espacial
do mercado imobiliário de lotes e loteamentos, encontrou outro modo de conexão com a memória coletiva. Primeiro através de
projeto de restauro do seu proprietário revelado no barro da sua estrutura, depois com trabalho acadêmico que repõe seu valor
historiográfico. Ao final, também, legalmente salvaguardada pela gestão pública do Estado. Mas, nada mais eloquente que o
impacto oferecido à paisagem do bairro como ruína pura, assim entendido o conjunto sobrevivente.

Figura 4: Edifício sertanista pertencente ao “Pouso das Campinas Velhas” visto da rua no bairro Proença

Ao final parece persistir a ideia de que, embora encantadoras e suscetíveis a nossa percepção de lugar e do tempo, sua presença
é distante, não faz parte viva do presente e do futuro. Assim, à deriva na paisagem das cidades como objetos de resistência,
estáticos destinados à contemplação, que apesar de nos conectar a nossa transitoriedade, resistem a reconexão às mutações do
modo de produção dos espaços na contemporaneidade, mesmo que protegidas pelo Estado.
Novamente Carlo Carena acura ruínas se inserem na paisagem natural ou urbana através de valor estético que resgata e insinua
a efêmera presença humana através da cultura, ao citar Blanc-Pamard e Raison ressalta a paisagem como “a natureza vista
através de uma cultura” (CARENA, 1984, p. 109). Ruínas surgem como fragmentos do passado ausente, apontam o sentido de
perda presente, impõem sua percepção pela imaginação, que pela razão, na medida em que a visualização do tempo e da perda
é imediata aos olhos de quem vê. Instiga a curiosidade como impulso natural ao desejo humano de completar o objeto
fracionado. É fonte de dor e prazer ao insinuar ausências na presença de fragmentos, pois cabe a imaginação suprir ausências
de modo sublime. “Tudo que seja de algum modo capaz de incitar as ideias de dor e de perigo, isto é, tudo que seja de alguma
maneira terrível ou relacionado a objetos terríveis ou atua de um modo análogo ao terror constitui uma fonte do sublime, isto
é, produz uma forte emoção de que o espírito é capaz” (BURKE, 1993, p. 48).

Figura 5: São João em Patmos Nicolas Poussin https://fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:Poussin_-


_Paysage_avec_saint_Jean_%C3%A0_Patmos_-_Chicago_Art_Institute.jpg.

No ambiente da tradição platônica apresentada de início para as tensões do tempo e o desejo de vencer ou enganar “Cronos”,
pela possibilidade da perpetuidade apresentada por Diotima, Plotino também apresenta a associação do belo ao esforço de

521
superação do tempo, “Por outro lado, aqueles que desejam aquela espécie de imortalidade que a natureza mortal comporta,
esses buscam o belo na perpetuidade das gerações, e, se seguem o caminho da Natureza, fecundam e procriam na beleza:
assim, procriando em vista da perpetuidade, procriam no belo, devido à afinidade da perpetuidade com a beleza. De fato, o
que perdura eternamente tem uma afinidade com a beleza. A natureza eterna é a primeira forma de beleza; e as coisas que
provêm dela também são belas” (PLOTINO, 2000, p. 101).
Assim, evidencia-se na ruína a incompletude, pois trata-se de objeto aberto, que deve ser preenchido, em parte visível e
apreciado de imediato, e em parte imaginado, impregnado de tempo. Existe encantamento direto ao contemplar o objeto em
sua forma imediata diante do observador, mas há também ausências instigantes, percebidas no mesmo ato, preenchidas pela
imaginação de forma variável. “Do belo da natureza temos que procurar um fundamento fora de nós; do sublime, porém,
simplesmente em nós e na maneira de pensar que introduz à representação da primeira sublimidade; esta é uma observação
provisória muito necessária que separa totalmente as ideias do sublime da ideia de uma conformidade a fins da natureza e
torna a sua teoria um simples apêndice com vistas ao ajuizamento estético da conformidade afins da natureza, porque assim
não é representada nenhuma forma particular na natureza, mas somente é desenvolvido um uso conforme a fins, que a
faculdade da imaginação faz da sua representação” (KANT, 2016, p.91).
A atual cidade de São Nicolau, também demonstra o descolamento sensível ou racional da memória, reduzem as ruínas a sua
dimensão utilitária, pois não há percepção nem compreensão pelos locais do seu significado, estranhamente atribuído de forma
exógena pelos gestores do patrimônio federal, com restrita interação dos moradores.

Figura 6: Ruínas das Reduções jesuíticas na pequena cidade de São Nicolau Rio Grande do Sul. Lugar de visitação
incompreendido pelos locais, que desejariam aproveitar essas pedras para construção dos seus edifícios, seu valor e
beleza dependem do observador preparado Foto do autor.

A características predominantes da tragédia que assolou os povos missioneiros transformados em cidades e absorvidos pelo
novo modo de vida urbana foi o saque das pedras e sua absorção pela construção da cidade e dos novos edifícios de forma
utilitária. Fato conhecido ocorrido durante a idade média na Europa ocidental com as cidades romanas. A transformação
completa do modo de vida precedente, sem a clara compreensão do ocorrido, parece conduzir a banalização com o apagamento
pleno dos significados precedentes, transformando as ruínas em estoque de material construtivo. Assim, um fato novo de
caráter civilizatório, estranho aos locais, passa atribuir valor às pedras sobreviventes, na forma de gestão do patrimônio público
nacional e sua salvaguarda diante do horizonte maior, distante do urbano local e as formas de produção do espaço
contemporâneo nas localidades dos Povos Missioneiros. Fato que não supera a contradição latente entre os restos sobreviventes
e a fantasia completa da sua captura utilitária e recomposição por outro imaginário coletivo distante. Neste caso o sentido de
beleza sublime desaparece para os moradores na paisagem refeita.

522
Figura 7: Ruínas reaproveitadas na cidade de São Nicolau fotos do autor.

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524
5SSS169
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL SOB O OLHAR DE SUAS MÚLTIPLAS
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
Thiago Dutra¹, Tatiana Souza de Camargo², Diogo Onofre G de Souza
¹Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri: thiagodutrac@hotmail.com; ²Universidade Federal do Rio
Grande do Sul: tatiana@decamargo.com;³Universidade Federal do Rio Grande do Sul: diogo@ufrgs.br

Palavras-chave: Educação Ambiental; Tendências Pedagógicas; Filosofia da Educação.

RESUMO:
A educação ambiental é um campo pedagógico plural e dotado de diferentes perspectivas, tanto no que se refere a suas
finalidades e metodologias, quanto nas próprias concepções de meio ambiente e suas relações com o ser humano. Neste
trabalho procuramos, em um primeiro momento, caracterizar diferentes concepções de educação ambiental, para em seguida
apresentar a necessidade de uma perspectiva crítica e significativa. A complexidade das questões socioambientais não se
permite ser didaticamente trabalhada como campo de discursos científico-informacionistas ou mesmo recursistas, onde a
relação sociedade/natureza é pautada como curiosidade ou dentro de uma lógica utilitarista. O enfrentamento da degradação
socioambiental, sob a perspectiva da atuação escolar, precisa ser feito a partir de uma Educação Ambiental Crítica (EAC),
como bem nos mostram os estudos de Mauro Guimarães, Lucie Sauvé e Carlos Frederico B. Loureiro.

Introdução
A educação ambiental (EA) ganhou projeção internacional a partir da conferência da ONU sobre o Ambiente
Humano-Estocolmo (1972), onde foi reconhecida como elemento crítico para o combate à crise ambiental no mundo. No
Brasil, a educação ambiental surge nos núcleos militantes, o movimento ambientalista crescente durante a década de 1980,
colaborado pelo processo de redemocratização e com a volta de exilados políticos que se envolveram nessa agenda no exterior,
colocam em pauta a EA. Este movimento ganha força com os preparativos para a Rio 92, momento em que a EA chega de
forma institucional ao sistema de ensino formal (GUIMARÃES, 2013).
Um dos documentos produzidos na Rio 92 foi a Agenda 21, que propõem que a EA seja direcionada para a
autotransformação das pessoas e da realidade social, visando a sustentabilidade, é encarada como uma aprendizagem
permanente baseada no respeito a todas as formas de vida (GUIMARÃES, 2013). A Constituição Federal de 1988, no capítulo
VI sobre o meio ambiente institui a necessidade de promover a EA e todos os níveis de ensino (art.225, parág.1, Inciso VI), o
que favoreceu sua institucionalização. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) colaboraram nesse processo de inserção da EA na escola ao determinarem sua presença no currículo da
educação básica como um tema transversal, a ser tratado de forma articulada entre as diferentes áreas do conhecimento,
devendo encarar a questão ambiental de forma complexa.
Todo esse cenário legislativo acabou por aumentar as discussões escolares sobre EA, mas esse aumento quantitativo
não necessariamente representa qualidade. Nota-se que mais EA, simplesmente, não está correspondendo a uma sociedade que
degrade menos o meio natural. Essa ineficácia em enfrentar a crise socioambiental faz problematizar o tipo de EA que estamos
construindo nas escolas (GUIMARÃES, 2000).
Essa realidade abre as questões: Que educação ambiental devemos buscar? Quais os objetivos e metodologias a EA
deve propor visando o enfrentamento da complexa crise socioambiental da contemporaneidade? Coo se pode identificar
diferentes perspectivas de EA?
Para se construir uma análise que se proponha dialogar com essas questões dividiu-se o artigo em duas partes, a

525
primeira buscando analisar as diferentes tendências em EA, demonstrando suas diferenças e peculiaridades tanto do ponto de
vista de suas finalidades em si, quanto de suas perspectivas de natureza e sociedade e do como essas devem se relacionar.
Pode-se notar que a EA é um campo do ensino dotado de diferentes tendências pedagógicas e epistemológicas, onde a segunda
parte do texto busca apresentar a perspectiva da educação ambiental crítica (EAC) como possibilidade de uma aprendizagem
significativa para o enfrentamento das questões socioambientais.

As diferentes tendências em educação ambiental


A EA em sua perspectiva de ensino apesenta múltiplas formas, as vezes antagônicas. O que permite a distinção de
diferentes tendências quando se pensa a EA e seu desenvolvimento em ambientes educacionais. Desde meados da década de
1960 quando a EA começa a se afirmar na Europa, já se expressou em diferentes formas de entender e atuar nas questões
ambientais, formando uma miríade complexa de tendências que buscam hegemonia (LOUREIRO, 1999). Os encontros
internacionais na área enfatizam as dimensões cidadãs e éticas na formação de novas perspectivas que sejam condizentes com
a ecologia, mas esses conceitos são trabalhados de forma genérica o que facilita suas apropriações por diferentes discursos.
Esse generalismo conceitual decorre da própria dinâmica conflitiva entre tendências buscando diretrizes amplas, onde grupos
com posições antagônicas buscam consenso visando formar um certo sentido de identidade em um caleidoscópio de
perspectivas (LOUREIRO, 2003).
São muitos os discursos com suas diferentes maneiras de conceber e de praticar a ação educativa nessa área, sendo
assim, é necessária a elaboração de um mapa deste “território” pedagógico comparando as múltiplas correntes em suas
especificidades. Pode-se compor uma cartografia das correntes em educação ambiental, onde a sistematização não deve
engessar as análises, e sim buscar enfatizar as diferentes finalidades e metodologias dessas perspectivas, observando também
suas características em comum (SOUVÉ, In: SATO e CARVALHO, 2005, p.17-45).
Levando em consideração os pontos destacados para a classificação pode-se chegar na existência de no mínimo 15
correntes de EA, umas dominantes nas décadas de 1970 e 1980, outras correspondentes a preocupações que surgiram
recentemente. As correntes com maior tradição na EA são: naturalista; conservacionista/recursista; resolutiva; sistêmica;
científica; humanista e moral/ética. As correntes mais recentes são: holística; biorregionalista; práxica; crítica; feminista;
etnográfica; da eco-educação; e da sustentabilidade (SOUVÉ, 2005).
As correntes serão apresentadas em função de parâmetros específicos, tais como a suas concepções sobre o meio
ambiente, as intenções centrais da EA, os enfoques que privilegiam, e com exemplos de estratégias que ilustrem a corrente. A
corrente naturalista está centrada na relação com a natureza, uma educação ao ar livre que interaja o ser humano e o meio
natural, sendo a forma mais eficaz de aprender e se sentir parte dela. Para conhecer a natureza primeiramente devemos
compreendê-la através dos sentidos, passando depois para análises mais intelectuais (MATRE, 1990).
Algumas perspectivas de educação ambiental fazem parte do que se poderia denominar corrente
conservacionista/recursista. A premissa básica dessa corrente é ver a natureza como sinônimo de recursos, centrando suas
proposições na conservação dos recursos, tanto no que toca à sua quantidade quanto a sua qualidade. Essa visão se relaciona
diretamente com o contexto pós-segunda guerra mundial, onde se começa a constatar os sinais do esgotamento dos recursos
naturais com o “boom” econômico da década de 1950 (SOUVÉ, 2005). As críticas a essa corrente se baseiam na sua
concepção utilitarista da natureza, na qual os recursos não são valorizados pelo que são e sim para o que servem.
Na década de 1970, época em que se revelaram a amplitude das problemáticas ambientais, surge o que se poderia

526
denominar de corrente resolutiva. Essa visão de EA está ligada às perspectivas apresentadas pela UNESCO em seu Programa
Internacional de Educação Ambiental (1975-1995), onde o foco é informar sobre a degradação ambiental e desenvolver
habilidades para resolvê-las. Seu modelo pedagógico é baseado na resolução de problemas (environmental issues), onde
primeiramente se identifica o problema, depois se pesquisa a situação em análise buscando diagnósticos, busca-se soluções que
são avaliadas ao contexto, podendo ou não serem implementadas (HUNGERFORD e col., 1992).
Conforme as discussões sobre ecologia e transdisciplinaridade foram ganhando corpo ainda na década de 1970
começa-se a constatar que para se pensar temas como as problemáticas socioambientais se deve realizar análises mais
sistêmicas. Assim pode-se notar o surgimento de uma corrente sistêmica em EA, onde as análises buscam identificar os
diferentes componentes de um sistema ambiental salientando as relações entre seus elementos, tanto biofísicos, quanto sociais
(SOUVÉ, 2005). A principal contribuição dessa corrente é focar na complexidade da relação entre os elementos naturais e
sociais das problemáticas ambientais, trazendo à tona a noção do termo socioambiental.
A corrente científica dá ênfase nesse foco do processo ao abordar as problemáticas ambientais. Associada ao
desenvolvimento dos conhecimentos da ecologia nas ciências da natureza, encara a EA como um processo centrado na indução
de hipóteses e na observação do objeto, buscando verifica-las por mais observações e/ou experimentações. Nessa perspectiva a
EA está intimamente ligada à educação em ciências, assim como na corrente sistêmica, o enfoque é sobre tudo cognitivo, o
meio ambiente é um objeto de conhecimento e para se resolver qualquer questão ambiental é preciso partir dessas análises
científicas. A contradição dessa corrente se dá na própria relação entre a complexidade do meio ambiente com a rigidez do
método científico16 (SOUVÉ, 2005).
A corrente humanista tem sua ênfase na dimensão humana do meio ambiente (cruzamento da natureza e da cultura). O
ambiente é encarado em seus elementos biofísicos e em suas dimensões históricas e socioculturais, onde a atividade
pedagógica para apreender o meio ambiente é a observação da paisagem e a constatação de seus elementos naturais e os
provenientes da atividade humana (SOUVÉ, 2005).
A corrente moral/ética se baseia na ideia de que a relação com o meio ambiente é de ordem ética, focando sua
atividade pedagógica no desenvolvimento dos valores ambientais. Essa corrente apresenta como modelo pedagógico o
desenvolvimento do raciocínio sócio científico e da moral dos alunos, busca confrontar situações morais possibilitando as
escolhas individuais e realizando o exercício de justifica-las (IOZZI, 1987).
A corrente holística não leva em conta apenas as múltiplas dimensões das realidades socioambientais, mas também
com a multidimencionalidade da pessoa que entra em contato com essas realidades analisando a complexidade tanto do meio
quanto do próprio indivíduo. Nessa lógica o processo pedagógico não pode vir do exterior e sim de uma relação entre as
necessidades socioambientais e a percepção dos alunos sobre como sua própria linguagem pode buscar colaborar nas questões
ambientais (SOUVÉ, 2005).
A corrente biorregionalista17 surge no movimento de retorno à terra que começou no fim do século passado a partir

16
Deve-se ponderar acerca de que paradigma de ciências se faz referência. A rigidez de modelos positivistas de ciência se distanciam da
complexidade das questões socioambientais, mas os novos paradigmas de ciência permitiriam uma análise muito mais aprofundada na
relação entre EA e educação em ciências. Um exemplo dessa aproximação é o processo de resolução de problemas e suas peculiaridades com
o próprio processo cientifico, sendo uma estratégia para se trabalhar a busca da resolução de problemáticas socioambientais e
desenvolvimento de capacidades ligadas à pesquisa científica.
17
O conceito de biorregião apresenta dois elementos essenciais, o primeiro é que se trata de um espaço geograficamente definido mais por
suas características naturais do que pelas fronteiras políticas, o outro se relaciona a um sentimento de identidade entre as comunidades que ali
vivem e seus conhecimentos, buscando modos de vida que valorizem as especificidades humanas e naturais da região (TRAÍNA e
DARLEY-HILL, 1995).

527
das críticas e desigualdades que o processo de industrialização e urbanização geraram. Esse movimento socioecológico se
interessa por repensar a gestão do meio-ambiente visando o respeito a cada região e suas especificidades. Inspira-se em uma
ética ecocêntrica para desenvolver um sentimento de pertença, a escola assume papel central no desenvolvimento social e
ambiental da região, centrando a EA em um enfoque participativo e comunitário. Apresenta-se assim como uma perspectiva
pró-ativa de desenvolvimento comunitário, o currículo se constrói a partir dos diversos contextos se enriquecendo nas
realidades em que se inserem (TRAINA e DARLEY-HILL, 1995).
A corrente práxica em EA coloca a ênfase da aprendizagem na ação e pelo seu aperfeiçoamento, onde pode-se
encontrar práticas como as advindas das perspectivas de aprendizado por projetos, da pesquisa-ação, entre outras que possam
colaborar na mudança em um meio. William Stapp e colaboradores (1988) apresentam um modelo pedagógico que ilustra essa
corrente, o que chamaram de “pesquisa-ação para a resolução de problemas comunitários”. Essa perspectiva apresenta como
proposição associar estreitamente as mudanças socioambientais com as mudanças educacionais necessárias, para se mudar o
meio é necessário se mudar o ser humano, e isso se dá através de diferentes formas de aprender e ensinar. Os envolvidos no
processo pedagógico devem se tornar atores do mundo, interagindo com suas mudanças e com a complexidade dos problemas
sociais e ambientais.
A corrente de crítica social se encontra associada a corrente práxica, ambas veem na análise das dinâmicas sociais a
base das realidades e problemáticas ambientais. Essa corrente se inspira no campo das teorias críticas que inicialmente se
desenvolveram nas ciências sociais, passando para as discussões sobre educação, e chegando nos anos 1980 a se inserir na
própria educação ambiental. Uma postura crítica é necessariamente política e aponta para a necessidade de transformação das
realidades, se encontrando com a corrente biorregional tanto na valorização dos diversos saberes, quanto na atuação em
determinada conjuntura específica (SOUVÉ, 2005).
A corrente feminista nasce da corrente crítico social, denunciando as relações de poder dentro dos grupos sociais.
Nessa perspectiva, restabelecer relações harmônicas com a natureza é indissociável de um projeto social que busca essa
harmonização das relações humanas, e especificamente entre homens e mulheres. Apresenta uma ênfase no cuidar e em uma
ética da responsabilidade para com o outro, valorizando os enfoques intuitivos, afetivos e simbólicos das realidades do meio
ambiente, favorece a expressão das emoções no processo de aprendizagem. Realça a importância do apoio ao desenvolvimento
pessoal das mulheres (empowerment) como uma das facetas do desenvolvimento socioambiental consciente18 (SOUVÉ, 2005).
A corrente etnográfica traz como principal contribuição para a educação ambiental a sua compreensão de que não se
deve impor visões de mundo, sendo necessário levar em consideração a cultura de referência das comunidades envolvidas.
Traz o alerta de cuidado para perspectivas que recaem em etnocentrismos ambientais, buscando inspiração em pedagogias de
diferentes culturas e suas relações com a temática do meio ambiente. Propiciar momentos em que os alunos se insiram em
atividades que mostrem como diferentes culturas se relacionam com seu meio, como a utilização de contos ameríndios para
trazer a ideia do sentimento de pertença desses povos através da exploração pedagógica desses universos simbólicos (SOUVÉ,
2005).
A corrente da ecoeducação vê o meio ambiente como o local de interação para uma ecoformação, busca aproveitar
essa relação para o desenvolvimento pessoal visando um atuar responsável e significativo no mundo. A ecoformação se dedica

18
As mulheres historicamente se relacionam com a educação ambiental, em suas casas e comunidades são normalmente elas que se
envolviam nas práticas de medicina tradicional e cuidados com a saúde (esses estritamente relacionados com a necessidade de um meio
ambiente circundante equilibrado), cuidavam das sementes e mantinham a biodiversidade para poderem cultivar e preparar alimentos, além
de trabalharem coletando na natureza provisões, se preocupavam na administração dos recursos hídricos (SOUVÉ, 2005).

528
ao “ser-no-mundo” buscando conscientizar o que acontece entre a pessoa e o mundo, sabendo que essas interações são vitais
para o indivíduo e para seu ambiente. O meio ambiente nos forma, deforma e transforma, da mesma forma assim agimos sobre
ele, nesse processo de reciprocidade é que se dão nossas relações com o mundo e onde se elaboram nossas formas de agir
no/com o meio ambiente (SOUVÉ, 2005).
A ecoformação se articula em torno de três movimentos: a socialização, a personalização e a ecologização. A
socialização se realiza por uma heteroformação baseada em uma educação pela e para sociedade e sua cultura, buscando o
desenvolvimento de sujeitos inseridos em suas realidades e capazes de melhorá-las. A personalização ocorre por processos de
autoformação onde o indivíduo toma controle de seu próprio poder de formação. A ecologização se realiza através da própria
ecoformação, que é a formação que cada pessoa recebe de seu meio ambiente, além da construção da ideia de que o espaço
entre o indivíduo e seu meio não está vazio, sendo o espaço onde ocorrem as relações e se constitui, por isso, no local de ação
para buscar soluções socioambientais (SOUVÉ, 2005).
A corrente da sustentabilidade nasceu da ideologia do movimento do desenvolvimento sustentável, que a partir dos
anos de 1980 se tornou dominante no campo da ecologia e da própria EA. Essa perspectiva foi a que internacionalmente se
estruturou, onde desenvolvimento sustentável significa conservação dos recursos naturais e de seu compartilhar equitativo,
sendo indissociável de um desenvolvimento econômico consciente. As preocupações econômicas buscam conciliação entre a
manutenção da biodiversidade e sua utilização para o desenvolvimento social, assumindo como estratégia para modificar a
base econômica das sociedades a educação para o consumo sustentável.
Ao se falar em educação ambiental para o consumo sustentável deve-se ter em mente a necessidade de se adotar
diferentes estratégias para os grupos sociais e suas especificidades. As peculiaridades do mundo contemporâneo e da
globalização exigem metodologias e discursos plurais ao se tratar da modificação de hábitos de consumo.
Na década de 1990 essa perspectiva de desenvolvimento sustentável defende toda uma reestruturação da educação
direcionada para esses fins, como fica explicito na Agenda 21 da UNESCO. Em um documento intitulado “Reforma da
educação para um desenvolvimento sustentável”, publicado pela UNESCO no Congresso Eco-Ed que pretendia aprofundar as
discussões trazidas pela Agenda 21, é apresentada a ideia de que a própria função da educação ligada ao desenvolvimento
sustentável consiste em desenvolver os recursos humanos, apoiar o progresso técnico, promover as condições culturais que
favoreçam as mudanças sociais, econômicas e ambientais necessárias para uma realidade mais equitativa.

A educação ambiental crítica e as problemáticas socioambientais da contemporaneidade


A sociedade contemporânea precisa refletir sobre as potencialidades e limites da educação ambiental enquanto agente
transformador das problemáticas socioambientais. A atual crise apresenta como característica que as forças locais que
desencadeiam os problemas ultrapassam a capacidade local de enfrentá-los, o que ilustra a globalidade dos problemas locais
(SANTOS, 1997). Nesse sentido, precisa-se analisar as relações entre o micro e o macro, encarando a necessidade de uma
perspectiva relacional e crítica entre Educação-Meio Ambiente-Sociedade (GUIMARÃES, 2013). Uma educação que colabore
para o ser humano construir-se como ser atuante em sua realidade no sentido de enfrentar as desigualdades e degradações
socioambientais.
Existem dois eixos para o discurso da educação como vetor de transformação, um de cunho conservador, onde o
processo educativo foca em mudanças superficiais através da alteração de certas atitudes e comportamentos, sem que isso
signifique incompatibilidade com o modelo de sociedade atual. Acaba por adequar os sujeitos às relações de poder, as vendo
como “naturais” e a-históricas, o que fica exemplificado quando se trabalha a reciclagem sem discutir a relação produção-

529
consumo-cultura. Esse eixo é focado nas transformações individuais acabando por excluir as discussões estruturais do processo
formativo, se configurando, nesse sentido, enquanto conservador e ineficiente para tratar da complexidade da crise
socioambiental contemporânea (LOUREIRO, 2003).
O outro eixo é emancipatório, uma educação transformadora que se afirma enquanto práxis social contribuindo no
processo de construção de uma sociedade pautada por novos paradigmas de sociedade, onde a sustentabilidade da vida e a ética
ecológica19 sejam preocupações centrais (LOUREIRO, 2003b). Uma educação alicerçada na realidade para não cair no
idealismo ingênuo e simplista de creditar à educação um viés messiânico, e sim para que as questões ambientais e sociais
sejam pensadas de forma significativa e que os sujeitos se coloquem de forma atuante nas problemáticas da atualidade.
Historicamente o espaço natural vem sendo apropriado pelas sociedades humanas, constituindo-se em um espaço
socialmente produzido, esse processo se configurou sob o julgo das relações de dominação e exploração, em consonância com
as relações de poder que perpassam as relações sociais. Tais relações são substanciadas por uma postura antropocêntrica que se
exacerbou nos últimos séculos (GUIMARÃES, 2013). O conceito de ambiente desenvolvido pela educação ambiental expressa
um espaço territorialmente percebido em diferentes níveis de compreensão e intervenção, onde se operam as relações
sociedade-natureza (GONÇALVES, 1989). Nesse sentido, para se estabelecer uma educação ambiental significativa,
contextualizada e crítica deve-se evidenciar os problemas estruturais da sociedade contemporânea, e com isso identificar as
causas básicas do baixo padrão qualitativo de vida da maioria da população buscando caminhos de enfrentamento
(LOUREIRO, 2003).
Uma educação ambiental de caráter crítico denuncia a dominação do ser humano e da natureza, desvelando as
relações de poder na sociedade, busca construir um processo de politização das ações humanas visando transformações da
sociedade em direção ao equilíbrio socioambiental (GUIMARÃES, 2000). Se faz fundamental o reconhecimento do
patrimônio natural como um bem coletivo, devendo ser gerido de forma sustentável, democrática e inclusiva. A EAC deve
evidenciar os conflitos ambientais20 problematizando-os com vistas a buscar possíveis soluções, defrontar o aluno com a
realidade oferecendo subsídios para uma atuação consciente.
A EAC pode ser desenvolvida a partir de diferentes metodologias didáticas para distintas finalidades, cabendo aqui
trazer como exemplo o desenvolvimento de projetos para a transformação de um conflito visando a construção de soluções de
curto prazo para problemas ambientais identificados. Pode-se dividir o processo em seis etapas: identificação e definição do
conflito existente em um dado problema; clarificação do que é constitutivo do problema e do conflito, ouvindo as partes
envolvidas; geração de processos que resultem em alternativas; avaliação coletiva das alternativas criadas a partir de critérios
definidos e aceitos pelos agentes sociais; negociação das bases que asseguram o cumprimento do que for acordado; e a
realização de ações planejadas, reconhecendo o esforço das partes e estabelecendo os métodos de avaliação e monitoramento
do processo (LOUREIRO, 2003).

Considerações finais
Entendemos que uma aprendizagem significativa que habilite o educando a agir no mundo buscando enfrentamentos
às questões socioambientais, não pode ser pautada em uma visão liberal que acredita na transformação da sociedade como

19
Sobre ética ambiental cabe ressaltar que existem tendências diferentes (ecocentristas, biocentristas, antropocentristas, ecocentristas
humanistas, etc). Mas todas concordam quanto à necessidade de se estabelecer códigos morais onde valores culturais voltados para a
preservação da vida e o repensar da relação sociedade-natureza sejam hegemônicos (LOUREIRO, 2003b).
20
Entende-se conflito ambiental como sendo aquele em que há confronto de interesses representados em torno da utilização e gestão do

530
consequências exclusiva da transformação de cada indivíduo, uma visão atomizada e individualista, onde cada um faz a sua
parte esquecendo das disputas coletivas que visão reestruturar a lógica hegemônica que vem se beneficiando da degradação
socioambiental (GUIMARÃES, 2000). Em uma concepção crítica de educação a transformação da sociedade é causa e
consequência (relação dialética) da transformação de cada indivíduo, um processo recíproco que propicia a transformação de
ambos (GUIMARÃES, 2013).
Um dos obstáculos epistemológicos e metodológicos da EA é que essa sempre foi tratada como questão mais do Meio
Ambiente do que da Educação em si. Construindo um enfoque biologizante e com linguagem cientifica, impedindo uma
perspectiva popular e crítica (LOUREIRO, 2003). Atualmente o ensino em EA no Brasil tem desenvolvido perspectivas
críticas, tanto no campo da pesquisa, quanto no do ensino em si (LORENZETTI e DELIZOICOV, 2006), evidenciando que
educadores encaram a EAC enquanto possibilidade de atuação na mudança da realidade de degradação socioambiental que vai
se fortalecendo dentro de um sistema que encara a natureza e o ser humano como fontes de lucro e não como detentores de
direitos.
Para se ter uma EA que colabore ativa e significativamente na complexa crise socioambiental que enfrentamos, essa
precisa ser pautada em uma perspectiva crítica e problematizadora. Não podendo encarar a natureza como fonte de recursos a
serem conservados, ou como um locus de pesquisa preso na dicotomia sujeito/objeto, ou como fonte de lucro para o sistema
hegemônico, ou como propriedade de alguns em detrimento de outros, ou como lugar abstrato foco de análises científicas; e
sim como um sistema vivo, complexo e interligado, que conjuga o meio natural e o social, que é dotado de interações entre
espécies onde uma depende da outra para se manter os equilíbrios dos biomas, deve-se entender a natureza enquanto espaço de
compartilhamento entre todos, humanos e não humanos, local onde se busca a sustentabilidade e uma atuação consciente na
interação pessoas/natureza.
A EAC entende que não se deva, exclusivamente, resimbolizar as relações entre o ser humano e a natureza, mas
também as relações sociais devem ser foco de análise. Compreender a natureza em sua complexidade requer entender o ser
humano nessa relação sistêmica que envolve todo o planeta, e consequentemente, encarar as relações sociais e ambientais
como indissociáveis. Preservar a natureza é desenvolver sustentavelmente o ser humano, rumo à uma ética pautada no respeito
a vida, na solidariedade, na justiça ambiental, ou seja, construir a conjuntura necessária para a equidade socioambiental tão
cara para a crise enfrentada pela sociedade contemporânea.

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532
5SSS170
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA E SIGNIFICATIVA PARA UM
MUNDO COMPLEXO
Thiago Dutra¹; Diogo Onofre Souza²; Karen Tauceda³
¹Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, thiagodutrac@hotmail.com;
² Universidade Federal do Rio Grande do Sul, diogo@ufrgs.br
³Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ktauceda@gmail.com

Palavras-chave: Educação Ambiental Crítica; Teoria da Aprendizagem Significativa; Complexidade

RESUMO:
A sociedade contemporânea enfrenta uma crise socioambiental de proporções até hoje não observáveis, o último século
acentuou progressivamente a destruição da natureza e estruturou uma desigualdade social de alcance global. O presente artigo,
uma análise teórico-metodológica de referencial bibliográfico, objetiva fomentar discussões sobre como a Educação Ambiental
pode ser uma ferramenta para se pensar o enfrentamento das problemáticas socioambientais. Para tal, deve-se estruturar essa
educação dentro de uma perspectiva crítica, significativa e complexa, para que o educando seja consciente de sua atuação nas
mudanças necessárias em busca de relações, entre o ser humano e a natureza e entre o eu e outro, mais equilibradas. Nesse
sentido, se faz necessário um diálogo entre Educação Ambiental Crítica (EAC), baseada em autores como Mauro Guimarães e
Carlos F.B. Loureiro, a Teoria da Aprendizagem Significativa (TAS) de David Ausubel e o paradigma da complexidade de
Edgar Morin.

Introdução
A contemporaneidade apresenta uma crise socioambiental de extrema complexidade, tanto do ponto de vista do
aumento gradativo da destruição da natureza e da desigualdade social em si, quanto da perspectiva de como se buscar soluções
de enfrentamento dessas problemáticas. A educação ambiental se coloca, nesse contexto, como um dos meios de se buscar
mudanças significativas nas esferas individuais e coletivas da sociedade, visando a construção de um mundo que se respeite o
ser humano e a natureza como um todo.
Essa mudança de perspectiva é pungente para se manter o equilíbrio no planeta; a visão materialista, utilitarista,
pautada na exploração do ser humano e da natureza em benefício da busca de acumulação de riquezas, está direcionando a
sociedade contemporânea para um abismo anunciado21. A complexidade da crise socioambiental deve ser levada em conta ao
se pensar em seus enfrentamentos, seja na esfera educacional, na econômica, na ecológica, ou nas esferas públicas e políticas.
Esses enfrentamentos à crise socioambiental dependem de uma mudança de paradigma22. Nota-se a presença de uma
crise do paradigma dominante pautado na racionalidade fragmentária, cartesiana, construída a partir da Revolução Científica
do século XVI no âmbito das ciências naturais e expandida para as ciências humanas no século XIX. Esse paradigma
dominante opunha conhecimento científico ao senso comum, compartilha o todo para se especializar nas partes, dá mais valor
aos dados quantificáveis (devido a supremacia das ciências exatas e naturais sobre as humanidades) que às análises

21
Colocar dados sobre o aumento da destruição das florestas tropicais, da diminuição das calotas polares, das extinções de espécies, das
desigualdades na distribuição das riquezas; do acumulo de plástico nos oceanos, nos dados do aquecimento global,
22
O conceito de paradigma é entendido aqui de duas formas complementares, a primeira como as realizações científicas universalmente
reconhecidas que por algum tempo fornecem os problemas e soluções modelares para uma determinada comunidade científica que a
compartilha, onde para ser aceita como paradigma uma teoria deve parecer melhor que as outras, mesmo sem nunca conseguir explicar todos
os fatos aos quais pode ser confrontada (KUHN, 1998). Na segunda, um paradigma é um tipo de relação (inclusão, conjunção, disjunção,
rejeição) entre um certo número de noções ou categorias neutras (...)são relações lógicas, mas um paradigma privilegia alguma delas em
detrimento de outras e é por isso que um paradigma controla a lógica do discurso (MORIN, 1996, p.109-110), assim sendo o paradigma é
uma forma de controlar ao mesmo tempo o lógico e o semântico.

533
qualitativas, compreende a natureza de forma passiva e determinada por leis que o ser humano deve conhecer para controlar.
Uma visão baconiana e newtoniana de mundo máquina que legitima uma interação fria com os outros e com a natureza
(SANTOS, 2008).
A ciência ao ver a natureza dessa forma assume uma perspectiva onde a relação entre natureza e indivíduo é pautada
pela dominação e sentimento de posse do meio natural pela sociedade, construindo o cenário epistemológico necessário para a
atual crise socioambiental. Sendo papel da educação ambiental colaborar na construção de um novo paradigma23 que veja na
sustentabilidade uma questão estrutural de todas as esferas da vida. Como lembra bem Paulo Freire, a salvação dos homens
passa pela reinvenção do mundo (2015, p.41).
A complexidade das problemáticas socioambientais pedem uma educação ambiental que encare essas questões
também de forma complexa e, principalmente, significativa, para que possa assim colaborar na construção de uma nova forma
de ser e agir no mundo. Para se exercer a plena cidadania necessita-se que o que se é ensinado tenha significado para quem está
aprendendo, possibilitando assim respostas mais complexas para as situações que apareçam. Ao se falar de questões
socioambientais fica mais evidente ainda que o ato de educar é fundamentalmente um ato político (FREIRE, 2015, p.11), a
educação ambiental só tem sentido se colaborar no enfrentamento das condições de degradação do ser humano e da natureza.
Nesse sentido, o objetivo dessa reflexão é analisar as relações teórico-metodológicas entre a perspectiva de Educação
Ambiental Crítica (EAC) e os pressupostos da Teoria da Aprendizagem Significativa (T.A.S.) de David Ausubel, buscando
realizar uma conversa entre ambas, apontando a importância de se construir uma educação ambiental crítica e significativa.
Para tal se utilizar-se-á de dois momentos, um discutindo a perspectiva de educação ambiental crítica (GUIMARÃES, 2000,
2013 e LOUREIRO, 2003), e outro, que busca uma análise da T.A.S. através da apresentação de seus conceitos e pressupostos
teóricos, onde os textos de David Ausubel (2003) e A. Moreira (2001 e 2015) e foram utilizados como fontes argumentativas.

A perspectiva contemporânea de educação ambiental crítica


Quando se fala em educação ambiental (E.A.) deve-se ter em mente um amplo “espectro cromático” de tendências.
Cada uma com suas peculiaridades, pontos de vista diferentes sobre o meio ambiente, sobre a relação entre ser humano e
natureza, sobre os objetivos de se ensinar uma educação ambiental, sobre as problemáticas ambientais, sobres as metodologias
utilizadas na prática do ensino. Tendências que carregam em si diferentes perspectivas filosóficas e epistemológicas, chegando
em alguns momentos a serem antagônicas. Partindo desse pressuposto, devemos nos indagar: Qual educação ambiental
pretende-se construir nas escolas e nos espaços não formais de ensino?
A atual crise socioambiental se caracteriza por um processo onde as forças que desencadeiam os desequilíbrios locais
ultrapassam as capacidades do próprio local controlá-las, causando assim problemas não só regionais, mas globais, interagindo
tanto no micro quanto no macro. Sendo assim necessário enfrentamentos onde toda a sociedade se coloque de forma ativa nas

23
Boaventura de Sousa Santos (2008, p.59-93) realiza uma “especulação”, em seu dizer, do que seria esse paradigma emergente e aponta
quatro características do conhecimento científico pós-moderno que o sustenta. A primeira é de que todo o conhecimento científico-natural é
científico-social, seja na compreensão de que sujeito e objeto estão em uma relação de extrema intimidade, onde o sujeito interfere no objeto
devido a suas próprias capacidades de observação e análise, ou na aproximação das metodologias e objetos de estudo entre as ciências
naturais e as ciências sociais. A segunda é a de que todo o conhecimento é local e total, a ciência moderna avança o conhecimento através da
especialização das disciplinas, o conhecimento é mais rigoroso se mais especializado. A fragmentação pós-moderna não é disciplinar e sim
temática, sendo os temas o local onde os conhecimentos progridem uns ao encontro dos outros. A terceira é que todo o conhecimento é
autoconhecimento, ou seja, no paradigma emergente a ciência reconhece seu caráter autobiográfico e auto referenciável que constitui as
peculiaridades do sujeito que pesquisa. Uma subversão da relação dicotômica entre sujeito e objeto advinda da ciência moderna. A quarta
característica é que todo o conhecimento científico visa constituir-se em senso comum, ou seja, fazer os discursos científicos partirem do

534
resoluções dessas problemáticas, o que justifica reflexões sobre educação-meio ambiente-sociedade em uma perspectiva
relacional (SANTOS, 1997). Demandando uma visão sistêmica e complexa dessas questões, Morin (2001) reafirma a
importância de desenvolvermos uma educação voltada a compreensão do que constitui esta complexidade, pois segundo ele:
“A complexidade é a união da simplificação e da complexidade (...). O complexo volta, ao mesmo tempo, como
necessidade de apreender a multidimensionalidade, as interações, as solidariedades, entre os inúmeros processos
(...). Assim, o pensamento complexo deve operar a rotação da parte ao todo, do todo à parte, do molecular ao molar,
do molar ao molecular, do objetivo ao sujeito, do sujeito ao objeto. (Edgar Morin. O Método II: a vida da vida.
Porto Alegre: Sulina: 2001: 429;432;433)

Desde a Conferência da ONU sobre o Ambiente Humano-Estocolmo (72) se reconhece a Educação Ambiental como o
elemento crítico para o combate à crise ambiental no mundo. No Brasil, a partir da década de 1990, principalmente graças a
um movimento preparatório para a RIO-92, se começou a pensar em EA e essa vai sendo inserida de forma institucional ao
sistema de ensino formal (GUIMARÃES, 2013). Na análise dessas últimas décadas de implementação e expansão da EA e a
realidade da crise socioambiental que vivenciamos, nota-se claramente um paradoxo, mais EA não significa menos degradação
do meio natural, o que demonstra a necessidade de se problematizar a própria EA. As finalidades da perspectiva de EA até
agora implementada nas escolas estão visando o enfrentamento dessa crise? A forma como essa EA é ensinada está sendo
significativa para os alunos? A perspectiva de EA que se está construindo no dia –a –dia escolar colabora na formação do
senso crítico do aluno, na compreensão dos conhecimentos científicos/escolares envolvidos nesta temática, e de sua autonomia
para ser ativo na resolução das problemáticas socioambientais?
Ao se constatar que as respostas a essas indagações tendem a ser negativas, parte-se do pressuposto de pensar/propor
uma perspectiva de educação ambiental crítica (EAC), problematizadora das relações de poder na sociedade e entre o ser
humano e natureza. Visando um processo de politização das ações humanas voltadas para as transformações em direção ao
equilíbrio socioambiental (GUIMARÃES, 2000).
Existem dois eixos para o discurso da educação ambiental como vetor de transformações, um de cunho conservador e
liberal, onde o processo educativo foca em mudanças nos hábitos dos indivíduos buscando alterações de atitudes e
comportamentos, ficando na esfera das mudanças superficiais, sem encontrar no próprio modelo de sociedade contemporânea a
maior problemática socioambiental, buscando adequar os sujeitos às relações de poder vistas como “naturais”, a-históricas, o
que desvincula a ação em contextos mais amplos de atuação da educação ambiental. O outro eixo é emancipatório, buscando
uma educação ambiental transformadora, afirmada como práxis social colaboradora do processo de construção de uma
sociedade pautada em paradigmas diferentes dos atuais, onde a sustentabilidade da vida e a ética ecológica24 sejam objetivos
comuns (LOUREIRO, 2003a).
Os educadores ao desenvolverem atividades de educação ambiental, mesmo que “bem-intencionados”, acabam por
apresentar uma prática pautada nos paradigmas dominantes na sociedade moderna, reproduzindo uma realidade estabelecida
pela racionalidade hegemônica. Essa dinâmica pode ser chamada de “armadilha paradigmática” (GUIMARÃES, 2013), o
educador por estar atrelado a uma visão fragmentária e simplista da realidade manifesta uma compreensão limitada da

princípio da igualdade ao acesso, como é característico do senso comum. Visando construir uma racionalidade nova pautada em pensares
científicos com o viés prático que o senso comum se utiliza para existir, uma ciência para o mundo e para as pessoas.
24
Ao se falar em ética ambiental deve-se ressaltar a existência de diferentes tendências (ecocentristas, biocentritas,
antropocentristas, ecocentristas humanistas, etc), discussão deveras complexa para ser abordada no presente artigo, mas cabe
ressaltar à necessidade de se estabelecer códigos morais dinâmicos onde valores culturais voltados para a preservação da vida e
o repensar da relação sociedade-natureza sejam hegemônica (LOUREIRO, 2003a). Para aprofundar as discussões sobre ética
ambiental ver, Loureiro (2003b).

535
problemática ambiental, o que se expressa em dificuldades de desenvolver uma visão crítica e complexa do real, e
consequentemente, forma uma prática pedagógica fragilizada de EA. Segundo Morin (1999), um conhecimento pertinente deve
considerar uma educação que evidencie o contexto, pois o conhecimento das informações e elementos isolados é insuficiente; é
necessário relacionar as informações e os elementos em seu contexto para que adquiram sentido.
As práticas pedagógicas atreladas a essa armadilha se mostram pouco eficazes para intervir significativamente em
processos de transformação da realidade socioambiental, não alcançando suas possibilidades de superação de problemas e
construção de uma sociedade ambientalmente sustentável. Nesse sentido é necessário se buscar estratégias onde:
“A ruptura dessa armadilha se dará na práxis pedagógica de reflexão crítica e ação participativa de
educandos e educadores, que uma de forma indissociável teoria e prática, reflexão e ação, razão e
emoção, indivíduo e coletivo, escola e comunidade, local e global, em ambientes educativos resultantes
d projetos pedagógicos que vivenciem o saber fazer criticamente consciente de intervenção na realidade,
por práticas refletidas, problematizadora e diferenciadoras, que se fazem politicamente influentes no
exercício da cidadania.” (GUIMARÃES, 2013, p.21-22)

A educação nos moldes behavioristas e positivistas não cumpre as demandas de uma formação satisfatória para o ser
humano, o que fica ainda mais evidente ao se tratar de educação ambiental, um tema por si só interdisciplinar e complexo. Para
se discutir questões de ecologia e sustentabilidade visando a formação de cidadãos conscientes não podemos reduzir a prática
pedagógica a simples aquisição de conceitos transferidos do professor para o aluno, nem basear o ensino em métodos onde o
discente se coloca de forma passiva na construção de seu conhecimento. Nesse sentido que a perspectiva de uma E.A.C. se
encontra com os pressupostos epistemológicos da Teoria da Aprendizagem Significativa desenvolvida por David Ausubel,
onde a preocupação é de que o novo conhecimento tenha significado para o indivíduo que o aprendeu, servindo de base para
novas aprendizagens.

A Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel


O idealizador do conceito de “aprendizagem significativa” realça a necessidade do aprendiz se colocar como sujeito
ativo e não passivo em seu processo de aprendizagem. A vida oferece conhecimentos diversos para o indivíduo, esses vão se
construindo desde o nascimento até a morte, servindo como conhecimentos prévios e base para a aprendizagem significativa.
Portanto, o aprendiz deve ser capaz de receber novas informações e analisá-las de forma a construir uma interação entre o que
já se sabe e o que é proposta a se aprender (MOREIRA, 2001).
Na TAS de Ausubel, o conhecimento que o indivíduo já possui previamente é denominado de “conceito subsunçor”,
ou seja, conceitos e proposições estáveis na sua estrutura cognitiva, sendo essa estabilidade um fator que pode promover
possibilidades ao aprendiz de conhecer ideias novas que se agreguem aos conhecimentos já existentes, de forma significativa.
Esse processo pode ser impulsionado por exemplo, com o uso de materiais de ensino para a introdução do que se pretende
ensinar, interligando o conhecimento que já existe com o que vai ser apresentado, sendo estes materiais denominados
“organizadores prévios” (MOREIRA, 2001). Para a aprendizagem ser realmente significativa, o novo material deve ser
relevante para o indivíduo, deve ser assimilado, ou seja, deve gerar um processo de racionalização/compreensão não superficial
de forma que o conhecimento novo e o prévio ao se inter-relacionarem construam um contínuo que cria um novo “subçunçor”
(MOREIRA, 2001). A TAS surgida em 1963, pretende demonstrar/explicar o processo de aprendizagem através de uma visão
cognitiva não behaviorista, onde existem duas condições para a aprendizagem ser significativa: a primeira é a de que
aprendemos a partir do já sabemos, os conhecimentos prévios do indivíduo é a variável que mais influência este processo; e a
segunda é a de que aprendemos se queremos, necessita-se da intencionalidade do aprendiz, e para despertá-la é preciso usar

536
situações que façam sentido para os alunos (MOREIRA, 2015).
Para se identificar conhecimentos prévios do aluno, pode-se propor a construção de mapas mentais, atividades
colaborativas iniciais, mapas conceituais, e até mesmo pré-testes, mas a maior dificuldade é como levar em conta esses
conhecimentos prévios somados as diferenças individuais dos alunos visando uma aprendizagem significativa (MOREIRA,
2015). O método de projetos/temas geradores apresentado por Paulo Freire (2011 e 2015) e por diversos outros autores, é uma
estratégia para se buscar uma aprendizagem significativa, focada na aprendizagem com compreensão ou competência, e não na
aquisição memorística de conteúdos.
Deve-se ter em mente que ao se falar de competências não se deve entende-las como objetivos comportamentais como
são no enfoque behaviorista, mas sim desde uma visão holística e integradora do saber fazer, saber dizer, e saber ser. São
muitos os significados da noção de competências, mas o que se relaciona a uma aprendizagem significativa a define como
sendo uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação apoiando-se em conhecimentos, mas não se
limitando a eles, podendo usar da criatividade na resolução das problemáticas que possam vir a aparecer (CABALLERO,
2009).

Algumas considerações finais...


Tendo em vista a necessidade de se repensar a educação como um todo partir de suas bases epistemológicas,
desconstruindo o primado da aprendizagem mecânica, memorística, de aulas expositivas e focada no pressuposto de o aluno
ser um ser vazio, em branco, onde se deve depositar informações e conhecimentos que de forma significativa não apresentam
aprendizado real. Essa crise paradigmática fica clara, por exemplo, ao se analisar o paradoxo do aumento do trabalho
pedagógico em educação ambiental no Brasil nas últimas décadas e a não redução da destruição da natureza25.
Demonstrando que os moldes educacionais behavioristas não alcançam os objetivos da educação ambiental, pois esta
trata de temas complexos e sistêmicos, que necessitam ser trabalhados de forma significativa para que possa contribuir para
uma real compreensão destas questões, possibilitando questionamentos e problematizações, que podem favorecer para as
modificações e transformações no padrão atual do cenário da degradação socioambiental que exponencialmente vem assolando
nossa sociedade. Por exemplo, ao se apresentar os temas geradores com as problematizações que devem ser organizadas pelos
professores, esses problemas/situações devem ser significativos, isto é, devem fazer sentido aos estudantes, estando
relacionadas ao seu cotidiano e conhecimento prévio, e ao mesmo tempo, devem “tencionar” a compreensão dos novos
conceitos. Segundo Moreira (2007), as situações são os novos conhecimentos e são elas que dão sentido aos conceitos, ao
mesmo tempo, para compreender estas situações o estudante precisa de conhecimentos prévios, estes podendo tornarem-se
mais elaborados/complexos através da resolução dessas situações. É uma aprendizagem significativa, em uma perspectiva de
progressividade e complexidade.
Morin (1999) também menciona que a educação deve promover uma “inteligência geral” apta para referir-se, de
maneira multidimensional, ao complexo, ao contexto em uma concepção global. No aspecto da compreensão da complexidade
de maneira recursiva, do todo com as partes, e vice-versa, através da progressividade conceitual das situações-problemáticas

25
Obviamente o aumento da degradação ambiental está relacionado a uma complexa teia de motivos, desde as modificações da demanda de
matérias –primas do sistema econômico, das decisões políticas anti-preservação, dos interesses do agronegócio, até as questões da cultura do
consumo e dos hábitos individuais, não podendo ser simplificada, ou idealizada, a ação da educação ambiental enquanto solucionadora das
problemáticas socioambientais. Cuidando para não cair em simplismos, mas também colocando as devidas possibilidades de atuação de uma
educação ambiental crítica nas escolas, devemos buscar que o trabalho da educação ambiental seja significativo para o sujeito e para a
sociedade como um todo. Se colocando em real sintonia com suas finalidades.

537
significativas, pode-se identificar relação entre as ideias de Morin (1999), Vergnaud (1996) e Ausubel (2003). A EAC quando
propõe uma educação contextualizada nas questões socioambientais relevantes para os estudantes e ao mesmo tempo,
conectadas com as temáticas atuais, podemos considerar também que neste ponto, os autores mencionados acima podem
contribuir na ressignificação da EAC.
A educação ambiental, portanto, é um exemplo clássico de que ela em si não é garantia de transformação efetiva,
podendo ser a reprodução de um viés conservador de educação e sociedade, como os programas de coleta seletiva de lixo nas
escolas que trabalham reciclagem sem problematizar a relação produção-consumo-cultura (LOUREIRO, 2003). Neste
exemplo, pode ser somente uma ação sem significado e, portanto, sem o viés de uma aprendizagem significativa, crítica e com
potencial transformador. Repensar os princípios epistemológicos, metodológicos e filosóficos da educação ambiental num
sentido crítico e significativo é uma necessidade para o enfrentamento da crise socioambiental da contemporaneidade

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n. 4, p. 9-19.

538
5SSS171
TÉCNICAS SUSTENTÁVEIS PARA MANEJO DAS ÁGUAS
PLUVIAIS: APLICAÇÃO NA INFRAESTRUTURA
VERDE
Bianca Vargas Acunha1, Graziela Rossatto Rubin2, André Luiz Lopes da Silveira3
1Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: bianca_acunha@hotmail.com; 2Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, e-mail: grazirrubin@gmail.com; 3Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail:
andre@iph.ufrgs.br

Palavras-chave: Infraestrutura verde; Técnicas sustentáveis; Drenagem urbana.

Resumo
Atualmente, discute-se sobre o desenvolvimento sustentável, onde devem ser integradas as ações econômicas, sociais e
ambientais, incluindo as ações do planejamento e drenagem urbana. Este artigo pretende abordar diferentes técnicas
sustentáveis para o manejo das águas pluviais, a fim de esclarecer suas limitações e contribuições relacionadas ao conceito de
infraestrutura verde. Busca-se, a partir da revisão de literatura, entender a diversidade de terminologias atualmente aplicadas na
drenagem urbana, entre elas estão: Técnicas Alternativas (Alternative Techniques – AT) ou Técnicas Compensatórias;
Melhores Práticas de Gerenciamento (Best Management Practices – BMP); Desenvolvimento de Baixo Impacto (Low Impact
Development - LID) e Design Artístico da Água da Chuva (Artful Rainwater Design - ARD). O estudo pretende ampliar a
discussão e facilitar o entendimento sobre as principais técnicas sustentáveis de drenagem urbana. Os resultados obtidos
mostram que, mesmo que essas técnicas tenham sido criadas em locais e épocas diferentes e suas descrições sejam distintas,
muitas vezes elas são complementares, visto que abordam aplicações e exemplos semelhantes. Além disso, conclui-se que a
infraestrutura verde deve abordar todas as técnicas mencionadas no estudo para seu bom funcionamento e implantação.

Introdução

Atualmente, discute-se sobre o desenvolvimento sustentável, que tem por definição, a satisfação das “necessidades presentes,
sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (UNITED NATIONS, 1987 apud
LEITE, 2012, p. 29). Ou seja, deve- se integrar as ações econômicas, sociais e ambientais. Assim, o desenvolvimento
sustentável está presente em vários temas, incluindo as ações do planejamento e drenagem urbana.
Segundo Leite (2012, p. 8) “O desenvolvimento sustentável é o maior desafio do século 21”, pois “ (a) dois terços do consumo
mundial de energia advêm das cidades, (b) 75% dos resíduos são gerados nas cidades e (c) vive-se um processo dramático de
esgotamentos dos recursos hídricos e de consumo exagerado de água potável”.
Complementando, Andrade (2003) afirma que
o caminho para o desenvolvimento urbano sustentável é justamente tentar completar as partes ausentes
nos ideais de Howard, um utopista do século XX, que acreditava na possibilidade de planejamento de
comunidades balanceadas com mistura de classes sociais, desenvolvimento econômico, sistema de
cooperativismo e bem estar social atrelado ao desenho da paisagem. (ANDRADE, 2003)

Dentro dos estudos ambientais urbanos, o conceito de sustentabilidade procura controlar os impactos causados pela
urbanização sobre a paisagem, áreas verdes e também sobre os corpos hídricos, buscando melhorias técnicas, econômicas,
políticos e socioambientais. O grau de sustentabilidade é medido pela maior integração desta com outras atividades e áreas
dentro da cidade.
Com relação a isso, percebe-se que existe uma preocupação em mudar o cenário das nossas cidades. Muitos estudos surgiram
dessa preocupação e planos como o de Nova Iorque, Paris, Berlim e Barcelona buscam integrar a ocupação urbana aos espaços
livres e garantir a sustentabilidade da paisagem (VASCONCELLOS, 2011). Pode-se ver ainda, exemplos em Montreal,
Londres, Melbourne e várias cidades dos Estados Unidos, como Illinois, Portland, Seattle.
A infraestrutura verde está diretamente relacionada ao conceito de sustentabilidade, pois é uma rede que conecta os espaços
abertos dentro e ao redor das cidades. É projetada, especialmente, para aumentar a vitalidade econômica, suportar os sistemas
naturais, aumentar o bem-estar individual e comunitário e conectar pessoas ao mundo natural (MASCARÓ; MASCARÓ,
2009).

539
Um de seus principais objetivos é proteger os sistemas naturais e a biodiversidade. As redes de infraestrutura verde podem
incluir uma diversidade de elementos, não relacionados diretamente a esse objetivo, necessariamente. Além disso, os sistemas
naturais protegidos por essa rede englobam outros elementos importantes, como rios, riachos e outros elementos azuis
(BENEDICT; MCMAHON, 2006).
Como benefício, a implantação da infraestrutura verde ajuda a reduzir os custos da prestação de serviços e da construção do
sistema de drenagem (retenção de água, filtragem, etc). Essas ações tornam-se necessárias quando os sistemas naturais não
podem executar suas funções naturais (BENEDICT; MCMAHON, 2006).
Para seu bom funcionamento, a conscientização torna-se fundamental, pois para o gerenciamento da infraestrutura verde, é
necessária a conservação, proteção, restauração dos recursos e processos da paisagem. Dentro dessa abordagem, inclui-se o
gerenciamento dos ecossistemas e bacias hidrográficas, podendo ser aplicadas de modo individual ou integrado de toda a rede
de infraestrutura verde (BENEDICT; MCMAHON, 2006).
Com relação aos conceitos e termos utilizados como alternativas para amenizar os problemas gerados pela urbanização
descontrolada, Fletcher et al. (2014), salientam que diferentes denominações são dadas aos termos, que depende do seu
contexto local e institucional, mas seu significado é semelhante. Assim, a figura abaixo mostra a abrangência da infraestrutura
verde e os termos englobados por esta.
Atualmente, devido à crescente intensificação de terminologias voltadas ao gerenciamento de águas pluviais e suas relações
com o conceito de infraestrutura verde, este artigo faz-se necessário na medida em que tenta explicar e/ou diferenciar essas
terminologias.

Figura 1: Possível classificação da terminologia utilizada na drenagem urbana. Fonte: Fletcher et al., 2014, p. 535.

Material e Métodos

A metodologia adotada na pesquisa tem como base fundamental a revisão de literatura. Serão abordados as principais

540
terminologias referentes às técnicas sustentáveis para manejo das águas pluviais, afim de esclarecer suas limitações e
contribuições relacionadas ao conceito de infraestrutura verde. Dentro destas, destacam-se as Técnicas Alternativas
(Alternative Techniques) ou Técnicas Compensatórias; Desenvolvimento de Baixo Impacto (Low Impact Development - LID);
Melhores Práticas de Gerenciamento (Best Management Practices – BMP) e; Design Artístico da Água da Chuva (Artful
Rainwater Design –ARD).

Terminologia utilizada na drenagem urbana

Técnicas Alternativas (Alternative Techniques – AT) ou Técnicas Compensatórias


As técnicas alternativas (Alternative Techniques) ou técnicas compensatórias começaram a ser utilizadas na década de 1980 na
França e países de língua francesa, trazendo um novo paradigma para a drenagem urbana. Após o grande crescimento das
cidades, particularmente Paris, houve a preocupação em reforçar ou construir novas redes tradicionais e com a questão
ambiental. Assim, viu-se uma oportunidade de propor soluções mais naturais, não apenas para a drenagem urbana, mas
também para a qualidade de vida como um todo. (FLETCHER et al., 2014, p. 530)
Essas técnicas buscam “neutralizar os efeitos da urbanização sobre os processos hidrológicos, com benefícios para a qualidade
de vida e preservação ambiental” (BAPTISTA, NASCIMENTO, BARRAUD, 2005, p. 23). Assim, justifica-se a denominação
técnicas compensatórias, utilizada no Brasil, pois procuram compensar os impactos da urbanização. (FLETCHER et al., 2014).
“Um dos princípios iniciais era que as técnicas compensatórias deveriam manter os mesmos índices de vazão ocorridos em
condições naturais. Deste ponto de vista, o conceito era semelhante à abordagem LID” (FLETCHER et al, 2014, p. 530,
tradução nossa). Através dessa abordagem das técnicas, os projetos urbanos passaram a incluir o gerenciamento do fluxo
pluvial e o uso de corredores multifuncionais de manejo (FLETCHER et al, 2014).
No Brasil, visualiza-se exemplos de aplicação das técnicas compensatórias a partir dos anos 2000 (SOUZA, CRUZ, TUCCI,
2012), quando as técnicas tradicionais de ampliação ou implantação de rede de drenagem passaram a ser substituídas por
técnicas que procuram atenuar os impactos da urbanização no escoamento natural das águas pluviais (BAPTISTA;
NASCIMENTO; BARRAUD, 2011).
Para a implantação das técnicas compensatórias, o planejamento ocorre em escala de bacia e são definidas “alternativas
baseadas em elementos técnicos, econômicos, institucionais, sociais e políticos” (VILLANUEVA et al, 2011, p. 7). A partir
disso, são aplicados dispositivos de armazenamento e infiltração no ambiente urbano.
Essas técnicas objetivam uma drenagem urbana mais eficiente, através da aplicação de mecanismos que evitem o aumento do
escoamento superficial. Mas, em muitos casos, os trabalhos de drenagem urbana devem ser realizados em áreas já
urbanizadas, limitando as medidas possíveis de serem implantadas (VILLANUEVA et al, 2011).
Nessa técnica, o escoamento pluvial é tratado mais próximo da fonte geradora, de modo a promover a “infiltração, percolação,
evapotranspiração e/ou amortecimento das águas pluviais geradas pela impermeabilização” (TASSI et. Al., 2016), diminuindo
as vazões de pico e retardar os volumes escoados superficialmente.
Como exemplo, podemos citar as trincheiras, poços e valas de infiltração, as biorretenções e pavimentos permeáveis, que são
mais conhecidas no Brasil (TASSI et. Al., 2016). Essas estruturas são facilmente integradas à paisagem, conferindo potencial
paisagístico nos locais onde são aplicadas.

Melhores Práticas de Gerenciamento (Best Management Practices – BMP)


Na América do Norte, o termo Best Management Practices surgiu, inicialmente, em 1972, e era utilizado para descrever um
tipo de prática ou abordagem estruturada para prevenir a poluição. Desde então, a definição do termo amadureceu e se
expandiu, englobando práticas que abrangem características “estruturais” e “não estruturais” (FLETCHER et al., 2014, p. 529).
Atualmente, os principais objetivos das BMPs são reduzir o risco de inundações durante as chuvas excepcionais e solucionar
problemas sanitários devido à poluição das águas.
As BMPs estruturais incluem sistemas projetados para fornecer quantidade de água e/ou controle de qualidade; retenção de
água da chuva ou na infiltração no solo. Como exemplo, pode-se destacar os sistemas de biorretenção ou a implementação da
Infraestrutura Verde, sendo dispositivos com objetivos múltiplos. Já as BMPs não estruturais, incluem a prevenção da
poluição, educação e gestão, através de uma boa limpeza e manutenção preventiva das medidas estruturais implantadas
(MARTIN et al., 2007). Em questão de aplicação, as BMPs estruturais incluem diversos sistemas, como bacias de infiltração,
retenção de lagoas, valas de infiltração, pavimentos porosos com estruturas de reservatórios, entre outros similares.
As BMPs representam sistemas ambientais complexos e dinâmicos, podendo causar impactos secundários no meio ambiente,
que nem sempre são considerados no projeto inicial. Então, para a sustentabilidade das BMPs e mitigação de impactos
secundários, é importante a sua manutenção e, incluindo, quando necessário, medidas corretivas de curto prazo e ações
preventivas de longo prazo (MARSALEK; CHOCAT, 2002).

Desenvolvimento de Baixo Impacto (Low Impact Development - LID)


O Desenvolvimento de Baixo Impacto (Low Impact Development - LID), mais conhecido nos Estados Unidos e Nova

541
Zelândia, surgiu na década de 1980, como estratégia para o manejo de águas, através do planejamento multidisciplinar
integrado, utilizando “ecossistemas naturais como estrutura, conservando e aproveitando as características do solo e
vegetação” (SOUZA, CRUZ, TUCCI, 2012, p. 10).
As técnicas de LID buscam a integração de diferentes setores de interesse e planejamento, onde são consideradas informações
como topografia, vegetação, zoneamento e uso do solo, sistema viário, usos das proximidades. Essas informações coletadas
facilitam a identificação das áreas problemáticas ou em potencial, norteando as ações e indicadores que serão utilizados “no
monitoramento que subsidiará o manejo adaptativo de águas” (SOUZA, CRUZ, TUCCI, 2012, p. 10).
A aplicação da técnica mais influente ocorreu na década de 1990 no Condado de Prince George, nos Estados Unidos. Como o
termo não possui a palavra água nem se remete diretamente a ela, foi possível incorporar a técnica a outras disciplinas, como a
arquitetura, planejamento urbano, paisagismo, economia, ecologia, ciências sociais (FLETCHER et al., 2014).
Através da utilização das técnicas LID, há a possibilidade e incentivo de integração das atividades locais da população, ao
mesmo tempo que se realiza o gerenciamento das águas urbanas. Essas técnicas não possuem custo elevado de implantação e,
ainda, procuram não impactar nas condições pré-existentes no local. (SOUZA, CRUZ, TUCCI, 2012). Assim, o estudo dessas
técnicas auxilia no controle dos impactos gerados pelas áreas densamente urbanizadas e impermeabilizadas.
Segundo Tassinari (2014, p.12) “Essas técnicas procuram alcançar o controle das águas pluviais através da criação de
paisagens hidrologicamente funcionais que imitam o regime hidrológico natural”. Além disso, na aplicação das técnicas LID,
há uma preocupação paisagística e um apelo ambiental, aliado aos dispositivos utilizados nas técnicas BMPs (TASSINARI,
2014).

Design Artístico da Água da Chuva (Artful Rainwater Design - ARD)


A partir do descrito acima, visualiza-se uma preocupação no melhoramento do escoamento pluvial, problema que afeta as
cidades em geral. A favor desse pensamento, nos anos 2000, alguns estudiosos perceberam que o sistema de gestão das águas
da chuva também podem fornecer habitat e comodidade e, começaram a abordar a água pluvial através da criação do Artful
Rainwater Designs (ARDs) (ECHOLS; PENNYPACKER, 2015).
O ARD é baseado no princípio de que novas técnicas de gerenciamento de águas pluviais, balanço hídrico e hidrologia de
pequenas tempestades, podem ser aplicadas através de projetos que gerem maior satisfação do usuário e valor percebido no
ambiente urbano (ECHOLS, 2007).
Para Echols e Pennypacker (2015), ao criar um sistema de gerenciamento de águas pluviais sustentável, que comunique
visivelmente suas estratégias de gerenciamento, estabelece-se uma conscientização das pessoas sobre o papel da água pluvial
como recurso e desenvolve-se a percepção da necessidade de controlar a quantidade e garantir a qualidade da água da chuva.
Para que o Artful Rainwater Design se torne mais reconhecido, há duas lacunas críticas que devem ser abordadas. A primeira
refere-se à preocupação da população urbana com a aparência das instalações de águas pluviais; a segunda, à falta de
preocupação da maioria dos engenheiros/ arquitetos/projetistas com sua aparência.
As instalações de águas pluviais são, frequentemente, projetadas para resolver problemas de escoamento excessivo, sem uma
preocupação com qualidades estéticas ou funcionais. O projeto dessas instalações concentra-se em questões puramente
técnicas, ou seja, encontrar soluções de menor custo, sem pensar em alternativas com valor agregado consequentemente. Além
disso, não é destinado um valor para a adequada manutenção dos sistemas existentes, nem investimento em instalações
adicionais (ECHOLS, 2007).
No contexto do ARD, o gerenciamento das águas da chuva devem favorecer e/ou aumentar a atratividade e valor da paisagem
urbana onde está inserido. Echols e Pennypacker (2015) desenvolveram um conjunto de ações para abordar na aplicação do
ARD, estes devem ser gerados condições favoráveis para o aprendizado, atividades de recreação e lazer, sensação de
segurança, espaços com qualidade estética e funcional. Ou seja, as metas, objetivos e técnicas de uma ARD, podem ser usados
para transformar um sistema sustentável de gerenciamento de águas pluviais em uma paisagem que celebra a chuva e incentiva
os visitantes a aprender e se divertir. Ainda, o Artful Rainwater Design é uma maneira de gerenciar a chuva, de modo a
proteger os sistemas naturais, através da tentativa de imitar o sistema hidrológico natural, foco no controle de pequenos
escoamentos de tempestades ou no controle de poluentes de descarga e foco na escala local.
Um dos exemplos de sua aplicação são os jardins de chuva, que objetivam o gerenciamento das águas pluviais, através da
captura, limpeza e filtração; e proporcionam a celebração da chuva, agregando embelezamento ao espaço urbano (ECHOLS;
PENNYPACKER, 2015). Além dos projetos de jardins de chuva, há uma série de exemplos que podem ser aplicados com a
técnica do ARD, como projetos que direcionem o escoamento das águas pluviais de telhados para bacias de detenção e,
projetos que valorizem a água da chuva não como apenas um resíduo, mas sim, como um recurso a ser aproveitado e
explorado, tanto para funções de gerenciamento, como para funções estéticas e educacionais.

Resultados

A partir dos exemplos e técnicas apresentados acima, foi elaborado, para melhor entendimento, um quadro comparativo
(Tabela 1), apresentando quando as mesmas surgiram, onde e qual a descrição de sua aplicação.

542
Técnica Época Local Aplicação
Atenuar os impactos da urbanização no escoamento natural das
AT 1980 França águas pluviais;
Ambiente já urbanizado.
Reduzir risco de inundações e tratamento das águas pluviais
BMP 1972 Estados Unidos (poluídas);
Aplicado através de medidas estruturais e não estruturais.
Estratégia para o manejo de águas, através do planejamento
Estados Unidos
multidisciplinar integrado;
LID 1980 e
Apelo estético;
Nova Zelândia
Ações propostas para áreas não urbanizadas.
Estratégia para o manejo de águas com aprendizado, lazer e apelo
ARD 2000 Estados Unidos
estético.
Tabela 1: Quadro comparativo das terminologias apresentadas. Fonte: Autores, 2019.

Vale ressaltar ainda que, mesmo que essas técnicas tenham sido criadas em locais e épocas diferentes e suas descrições sejam
distintas, muitas vezes elas são complementares, visto que abordam aplicações e exemplos semelhantes.
De qualquer maneira, percebe-se que estas técnicas são fundamentais na implantação de um sistema de infraestrutura verde nas
cidades. Para alguns autores, a infraestrutura verde é considerada uma das muitas técnicas sustentáveis de drenagem urbana,
mas em nosso entendimento, ela é muito mais do que isso. O conceito surgiu na década de 1990, como uma alternativa que
visa a resiliência das cidades através da multifuncionalidade e conectividade de fragmentos permeáveis e vegetados. Essa
conectividade vai desde o controle de enchentes, qualidade do ar, das águas e do solo até a proteção da biodiversidade, o modo
de circulação de pessoas, a amenização do clima, preocupação com espaços de recreação e de lazer (HERZOG, ROSA, 2010).
A figura 2 demostra uma representação esquemática, visando expor de uma maneira simples e ilustrativa, a classificação dos
termos utilizados nesta pesquisa sobre técnicas sustentáveis de drenagem urbana e sua relação com a infraestrutura verde.

Figura 2: Classificação dos termos sobre drenagem urbana e infraestrutura verde. Fonte: Autores, 2019.

Na figura acima, percebe-se que, através das relações básicas de conjuntos e elementos, na qual é representada por uma relação
de pertinência, ou seja, demostra se o termo é associado ou não ao conjunto. Observa-se que a técnica de A.T. está
contemplada nas técnicas BMP e LID, sendo que cada uma delas possui suas especificidades. Enquanto as BMPs atentam mais
para a questão da gestão após a aplicação das A.T., as técnicas LID atentam para um cuidado apelo paisagístico na aplicação
da técnica. Após isso, percebe-se que a ARD engloba as outras técnicas ao propiciar o ensino/ aprendizagem, além dos fatores
já mencionados. Para elucidar ainda mais o que foi apresentado, apresenta-se abaixo a figura 3.

543
Figura 3: Diagrama dos termos sobre drenagem urbana e suas relações com a infraestrutura verde. Fonte: Autores,
2019.

Assim, entende-se que a infraestrutura verde deve abordar todas as técnicas mencionadas acima para seu bom funcionamento e
implantação. Dessa forma, através das diferentes técnicas, podem-se trazer diferentes abordagens dentro das cidades, como por
exemplo: em áreas públicas urbanas, podem ser inseridas as técnicas compensatórias; na elaboração de diretrizes para
lançamento de novos empreendimentos podem ser sugeridas e/ou solicitada a aplicação de técnicas LID na elaboração do
projeto; nas edificações isoladas, já existentes ou em projeto, podem ser inseridas BMPs e LID, entre outros.

Comentários finais
Como contribuição, o artigo mostra que existe uma grande relação e, muitas vezes, sobreposição das técnicas sustentáveis para
manejo das águas pluviais apresentadas.
Assim, entende-se que as técnicas abordadas são fundamentais para a implantação de uma eficiente infraestrutura verde. E, se
estas forem aplicadas conjuntamente, tanto pelo setor público quanto pelo privado, pode-se alcançar um resultado maior, com
relação à sustentabilidade urbana.

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545
5SSS172
DIMENSIONAMENTO DE UM PAVIMENTO RÍGIDO COM
INCORPORAÇÃO DE RESÍDUO PARA PARADA DE ÔNIBUS
Paulo César Pinto1, Eduarda Biffi2, Diana Bavaresco Puton3
1Professor do Programa de Mestrado em Engenharia da Universidade do Contestado (UnC), e-mail:
paulo.pinto@unc.br; 2Universidade do Contestado (UnC), e-mail: eduarda.biffi@hotmail.com; 3Instituto Federal
SulRiograndense, e-mail: dyputon@hotmail.com aliciabianchibalen@hotmail.com

Palavras-chave: Base de Pavimentos, Dimensionamento, Análise Mecanicista, Concreto Compactado com Rolo

Resumo
A crescente preocupação ambiental e a atual crise energética fazem com que indústrias, de um modo geral, intensifiquem
esforços para maximização de processos de produção e reutilização de subprodutos gerados. Contudo, não existem
metodologias consolidadas para reutilização de resíduos como materiais de pavimentação ou incorporados aos tradicionais;
sendo assim, prospecções laboratoriais devem ser realizadas, comparando parâmetros mecânicos obtidos entre materiais
convencionais e alternativos. Uma das alternativas para avaliar a aplicabilidade destes materiais alternativos, por meio dos
parâmetros mecânicos obtidos em laboratório, é a análise comparativa mecanicista das respostas estruturais de pavimentos
compostos por materiais convencionais e/ou alternativos quando solicitados por cargas oriundas do tráfego ou por agentes
externos. Visando avaliar a aplicabilidade de pavimentos asfálticos com base em concreto compactado com rolo - CCR
convencional e com a incorporação de escória granulada de alto forno como agregado, foi utilizado o programa computacional
MnLayer observando a influência de agregados naturais (areia industrial e natural) e siderúrgico no nível de tensões da camada
cimentada, quando sujeita à ação de cargas de tráfego em sistema de transporte coletivo (parada de ônibus); comparando a
concepção original de projeto de pavimento rígido em parada de ônibus na cidade de Passo Fundo/RS com utilização de
camada cimentada utilizando resíduo como agregado miúdo. Em comparação com o projeto original (placa de concreto
plástico), a utilização de camada cimentada em CCR requer maiores espessuras para um mesmo nível de tensões internas do
pavimento, contudo, por ter consumo de cimento menor (cerca de 1/3 do convencional), pode haver também viabilidade
econômica. A utilização de CCR com fração areia constituída por 50% de escória granulada de alto forno e 50% de areia
industrial resulta em espessuras semelhantes de camada rígida de base para pavimento urbano daquelas utilizando 100% de
areia industrial; o que faz tal resíduo tecnicamente e economicamente viável e havendo vantagens em comparação à utilização
de somente areia natural (que requer maior espessura de base cimentada).

Introdução
A análise mecanicista de estruturas de pavimentos permite uma melhor compreensão das respostas estruturais das camadas
quando solicitadas por cargas oriundas do tráfego ou por agentes externos. Neste caso, emprega-se a Teoria de Sistemas de
Camadas Elásticas – TSCE, onde se consideram as camadas do pavimento como homogêneas, elásticas e isotrópicas, sendo a
Lei de Hooke aplicável aos materiais que as constituem. Assim sendo, é possível determinar os estados de deformação e tensão
em vários pontos de cada camada. Conforme Balbo (2007), conhecidos estes esforços, eles podem, então, ser relacionados com
os modelos de degradação por fadiga ou por deformação plástica dos materiais de pavimentação.
Ainda, com esta análise, pode-se verificar a compatibilidade entre espessura de projeto versus equipamento de compactação,
devendo evitar situações onde a espessura da camada de base do pavimento e os equipamentos de compactação resultem em
uma combinação que exija a execução de duas camadas de CCR sobrepostas. Sabe-se que duas camadas não aderidas
trabalham com duas linhas neutras e ambas em tração na flexão em suas fibras inferiores; a aderência entre ambas garantiria
uma linha neutra no sistema. Contudo, a aderência não se trata, para camadas cimentadas, de uma hipótese satisfatória de
projeto, pois se conhece que tal aderência é perdida ao longo dos anos, o que imporia estados críticos de tensões de tração na
flexão nessas camadas independentes do CCR. Portanto, as espessuras desejáveis devem ser recomendadas, do ponto de vista
de execução em pista, como camada única, o que somente é viável quando há equipamentos que possam fornecer, para
espessuras elevadas, o grau de compactação desejado ao material. A compactação do CCR é obtida da superfície para o fundo
da camada por rolos metálicos lisos vibratórios, onde a espessura máxima para uma única camada é 400 mm (equipamento
categoria V4: relação entre sua massa estática e o comprimento da geratriz do rolo – M/L – 4,5 kg/mm).
Os atuais conhecimentos relativos à limitação na existência de certas fontes de energia e matéria prima, como também a
incorporação de novos fatores de condicionamento (controle da contaminação ambiental e da extração de jazidas naturais), têm
obrigado a concentração de esforços de investigação e processo de técnicas de recuperação e utilização de maiores quantidades

546
de resíduos industriais. Dentre as indústrias que mudaram seu enfoque de gestão interna, está a siderurgia, onde a escória de
alto forno era considerada um rejeito da operação das usinas (sem nenhum interesse econômico), sendo, a partir da década de
1980, vista como um produto secundário e alternativo com valor econômico agregado. Nacionalmente, o grande predomínio da
utilização deste agregado siderúrgico é a sua adição em conjunto com o clínquer Portland na produção do cimento CP III,
sendo superior a 90 %; em âmbito mundial, este predomínio também existe, entretanto, é inferior a 50 %. Mostrando assim,
que há necessidade de novos estudos neste sentido e que há uma gama de reutilizações a serem exploradas, condicionadas às
características fisicoquímicas, a natureza das escórias de alto forno geradas e as potenciais frentes de trabalho para amortizar
estas quantidades
Assim sendo, tendo em vista a utilização em média escala de agregados alternativos em camadas de pavimentos, um quesito
essencial para a viabilidade econômica do projeto é a distância de transporte do material. Portanto, deve-se aliar a
empregabilidade dos rejeitos industriais nas proximidades das fontes geradoras dos mesmos.
Os principais tipos de pavimentação utilizados nas vias das cidades são o pavimento flexível de asfalto, construídos na maioria
das ruas e avenidas, e o pavimento rígido, eventualmente encontrado em corredores de ônibus e vias de circulação rápida e
com tráfego intenso e repetitivo de veículos mais pesados.
A modernização dos sistemas de transporte coletivo é uma necessidade latente, mas também é urgente que se resolva a questão
da pavimentação das vias utilizadas por esse sistema. O fluxo canalizado de coletivos e a reduzida velocidade resultam em
imposições de esforços de maiores magnitudes na superfície e demais camadas do pavimento.
O problema está tanto no peso dos veículos e suas frenagens quanto no volume de viagens realizadas. Além disso, existem
outros agravantes que contribuem para o desgaste mais rápido do asfalto, como as altas temperaturas e as vias com curvas
acentuadas e/ou muito íngremes.
No caso de corredores ou em pontos de parada de ônibus, a utilização do pavimento rígido ou de camadas cimentadas no
pavimento se mostra de excelente viabilidade técnica e econômica devido, respectivamente, à maior capacidade de absorver
esforços (tensões) do tráfego atuante e menor incidência de manutenção no local. Apesar do pavimento de concreto se mostrar
com custo cerca de oito a dez vezes maior que o de asfalto na implementação, se mostra vantajoso ao longo do tempo devido
ao superior desempenho e baixíssima manutenção em períodos de até 20 anos. Este tipo de utilização já é largamente
empregado no Brasil, como exemplos de utilização citam-se: corredores de ônibus de Curitiba, São Paulo, Porto Alegre e Belo
Horizonte. Também faz parte da história das avenidas e da orla da praia de Boa Viagem, no Recife; está na Linha Verde, de
Curitiba; na EPTV, de Brasília, e em grandes obras como a BR101-NE e o Rodoanel Mario Covas, de São Paulo.
Apresenta-se, por meio da Figura 1, exemplo de aplicação na cidade de Passo Fundo/RS, onde foi concebido pelo projeto de
readequação viária da principal avenida da cidade (Av. Brasil) a construção de placas de concreto (pavimento rígido) junto as
paradas de ônibus, ou seja, nos locais onde os ônibus terão maior incidência de cargas impostas ao pavimento (frenagem,
parada e aceleração).

Figura 1: Execução de pavimento rígido (placa de concreto) em parada de ônibus na cidade de Passo Fundo/RS

Materiais e Métodos
No presente estudo, utilizou-se o programa computacional MnLayer, descrito por Pinto (2008), para fins de análise
comparativa da influência das cargas do tráfego em camadas de pavimentos urbanos destinado a parada de ônibus na cidade de
Passo Fundo/RS. Para tanto, foram empregadas como material alternativo ao projeto original (placa de concreto – Figuras 2 e
3) a utilização de base rígida composta com reuso de escória granulada de alto forno em misturas de CCR concebidas por Pinto
(2010) – Figura 4 – sendo elas (em termos do material empregado como fração areia):
• CCR-AI: 100% areia industrial;

547
• CCR-AN: 100% areia natural;
• CCR-ESC: 100% escória granulada de alto forno;
• CCR-AI/ESC: 50% areia industrial e 50% escória granulada de alto forno;
• CCR-AN/ESC: 50% areia natural e 50% escória granulada de alto forno.
Os valores de resistência à tração na flexão e módulo de elasticidade foram obtidos pela curva tensão x deformação em vigota
prismática (ensaio de 3 cutelos).

Figura 2: Projeto de pavimento rígido em placa de concreto (seção transversal)

Figura 3: Projeto de pavimento rígido em placa de concreto (seção longitudinal)

548
Figura 4: Corpos de prova de concreto compactado com rolo com areia industrial, natural e com substituição de areia
por resíduo (escória granulada de alto forno)

Para uma perfeita análise, seria necessário o desenvolvimento de modelos de fadiga para cada CCR composto por Pinto
(2010), entretanto, como não há objetivos neste aspecto, foi empregada a seguinte relação:

(1)

onde:
σ1: tensão aplicada;
σ2: tensão de ruptura do CCR.

Conforme Cardoso, Pitta e Trichês (1991) e Cervo (2004) esta razão entre tensões – rt – é coerente para um número de
repetições do eixo padrão (ciclo de fadiga) na ordem de aproximadamente 106 a 107 para concreto. O padrão de análise entre
estas tensões leva em consideração os valores do ensaio de tração na flexão com dois cutelos; no estudo desenvolvido por
Pinto (2010), todavia, o ensaio utilizado empregou apenas um cutelo. Fato este contornado com a utilização de um fator de
correção obtido analiticamente entre as equações dos dois ensaios. O ensaio de tração na flexão com aplicação de carga em
apenas um cutelo resulta em valores 50 % superiores ao ensaio utilizando dois cutelos.
O programa MnLayer (versão Beta) resolve a TSCE com o auxílio de transformadas diretas e inversas de Hankel, empregando
até vinte camadas e dez cargas superficiais (BALBO e KHAZANOVICH, 2007).
Em meios urbanos (cidades) ou até mesmo no plano interno de indústrias de siderurgia ou de cimento (geradora e consumidora
da escória granulada de alto forno), as principais ações do tráfego em camadas de pavimentos são oriundas de automóveis,
ônibus, caminhões betoneira, caminhões basculantes, caminhões de carroceria, baú e tanque. Assim sendo, em termos de
análise do carregamento por eixo do veículo tipo de maior magnitude de carga, foi utilizada a classificação adotada pelo
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER, 1998) que define:
• categoria 2C: ônibus, caminhões leves e médios tendo três eixos: dianteiro de rodas simples e traseiros (tandem
duplo ou não) de rodas duplas (10 pneus).
A resolução nº 210 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN, 2006) estabelece os limites de peso e dimensões para
veículos que transitam por vias terrestres. Embasado nisso, a presente análise mecanicista considera para ônibus de passageiro
destinado ao transporte coletivo urbano ou de trabalhadores interno à planta industrial (categoria 2C): eixo traseiro simples
com rodas duplas (20 kN por roda) e pressão de 0,64 MPa.
Procurando aliar fatores construtivos e econômicos, mostram-se, na Tabela 1, as combinações de espessuras das camadas de
pavimento para as situações anteriormente estabelecidas. Para todos os casos, foram consideradas as seguintes constantes:
• Módulo de resiliência do Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ): 6.000 MPa;
• Espessura de CBUQ: 3 cm;

549
• Poisson do CBUQ: 0,32;
• Módulo de resiliência do subleito: 150 MPa;
• Poisson do subleito: 0,49;
• Módulo de elasticidade da base cimentada: conforme análise laboratorial das misturas de CCR concebidas por Pinto
(2010);
• Poisson dos CCR: 0,20.

Resultados e Discussões
Apresentam-se, por meio da Tabela 1, os níveis de tensões nas camadas de base de pavimentos sujeitos ao tráfego canalizado
em parada de ônibus na cidade de Passo Fundo/RS, a tensão de ruptura dos corpos de prova de CCR e projeto, bem como, a
relação entre ambas
Mostra-se pela Tabela 2 as espessuras mínimas de base cimentada em CCR requeridas com potencial de substituição ao projeto
original em placa de concreto convencional.

Tabela 1: Tensões em pavimento urbano sujeito à carga de ônibus


Pavimento Rígido σruptura σaplicada
n° Espessura Material de rt
(MPa) (MPa)
(cm) Composição
01 Concreto Plástico (projeto) 4,5 1,1 0,24
02 CCR – AI 2,8 1,8 0,64
03 CCR – AN 2,6 1,8 0,70
20
04 CCR - ESC 1,5 1,5 1,00
05 CCR – AI/ESC 2,3 1,5 0,64
06 CCR – AN/ESC 1,8 1,8 1,00
07 Concreto Plástico (projeto) 4,5 0,8 0,18
08 CCR – AI 2,8 1,2 0,41
09 CCR – AN 2,6 1,2 0,44
30
10 CCR - ESC 1,5 1,0 0,66
11 CCR – AI/ESC 2,3 1,0 0,42
12 CCR – AN/ESC 1,8 1,2 0,67
13 Concreto Plástico (projeto) 4,5 0,7 0,16
14 CCR – AI 2,8 1,1 0,38
15 CCR – AN 2,6 1,1 0,41
35
16 CCR - ESC 1,5 0,9 0,61
17 CCR – AI/ESC 2,3 0,9 0,39
18 CCR – AN/ESC 1,8 1,1 0,61
19 Concreto Plástico (projeto) 4,5 0,6 0,13
20 CCR – AI 2,8 0,8 0,28
21 CCR – AN 2,6 0,8 0,31
40
22 CCR - ESC 1,5 0,7 0,46
23 CCR – AI/ESC 2,3 0,7 0,30
24 CCR – AN/ESC 1,8 0,8 0,44
25 Concreto Plástico (projeto) 4,5 0,4 0,09
26 CCR – AI 2,8 0,7 0,25
27 CCR – AN 2,6 0,7 0,27
45
28 CCR - ESC 1,5 0,6 0,41
29 CCR – AI/ESC 2,3 0,6 0,26
30 CCR – AN/ESC 1,8 0,7 0,39

550
Tabela 2: Dimensionamento de base em CCR ou placa de concreto para parada de ônibus
Espessura mínima de camada cimentada
Pavimento Rígido
(cm)
Concreto Plástico (projeto) 20
CCR – AI 35
CCR – AN 35
CCR – ESC 45
CCR – AI/ESC 35
CCR – AN/ESC 45

Percebe-se que a utilização do pavimento rígido em placa de concreto se mostra com maior eficiência em termos de fadiga do
material, fato este mostrado pela análise mecanicista realizada. Contudo, percebe-se neste caso, que a relações entre tensão de
ruptura da camada cimentada (placa) e solicitação de esforços oriundas das cargas do tráfego se dá muito abaixo da mínima
necessária. Desta forma, havendo possibilidade até mesmo de redução da camada empregada originalmente em projeto.
A utilização de camada cimentada em CCR em um pavimento urbano com revestimento asfáltico de 3 cm se mostra com
viabilidade técnica tanto em termos deste tipo de concreto com areia natural e industrial, quanto na incorporação da escória
granulada de alto forno como agregado miúdo. Entretanto, são requeridas maiores espessuras para um adequado
comportamento à fadiga (desempenho em campo).
A menor espessura de camada de base de pavimento destinado a parada de ônibus para um desempenho similar entre os
concretos estudados por Pinto (2010) é obtida pelos CCR convencionais compostos por areia natural ou industrial. A utilização
parcial (50%) da escória como areia industrial se mostra com desempenho equivalente ao CCR composto somente com areia
industrial. A incorporação parcial da escória (50%) em conjunto com areia natural (50%) requer a maior espessura de
pavimento urbano, sendo esta a mesma quando utilizado 100% de fração areia como resíduo (escória granulada de alto forno).

Comentários finais
Pelos resultados obtidos na análise mecanicista percebe-se viabilidade técnica na utilização de camada cimentada em CCR
como alternativa a placa de concreto em pavimento rígido urbano de parada de ônibus, entretanto, necessitando maiores
espessuras para o mesmo desempenho. Em termos econômicos, não necessariamente há aumento substancial no aporte
necessário para construção deste tipo de pavimento pois o consumo de cimento, no caso do CCR, está na ordem de 100-150
kg/m³; cerca de 30 a 35% do consumo de ligante hidráulico do concreto convencional (plástico): 300-350 kg/m³. No quesito
construtivo, as espessuras de CCR dimensionadas se mostram adequadas aos equipamentos usualmente empregados em
pavimentação e terraplenagem (compactação em camada única inferior a 50 cm).
Assim sendo, há potencial de utilização de camada cimentada em CCR para aumento do desempenho de um pavimento sujeito
a ações do tráfego canalizado e estático de ônibus; bem como, este material (CCR) tem capacidade de incorporação da escória
granulada de alto forno em substituição de agregados obtidos em jazidas naturais (areia natural e industrial), tendo
comportamento mecânico adequado em termos de tensões atuantes nas camadas do pavimento.

Referências Bibliográficas
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BALBO, J. T; KHAZANOVICH, L. Desenvolvimento de rotina e interface do programa MnLayer para camadas elásticas.
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Relatório Final. Processo 2006/01907-6. São Paulo. 2007
CARDOSO, S. H.; PITTA, M. R.; TRICHÊS, G. Concreto rolado para pavimentação: estudo do comportamento à fadiga. In:
25ª Reunião Anual de Pavimentação. São Paulo. 1991. p.255 – 282.
CERVO, T. C. Estudo da resistência à fadiga de concreto de cimento Portland para pavimentação. tese de doutorado.
Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. São Paulo. 2004. 220p.
CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO (CONTRAN). Resolução nº210. Publicação no Diário Oficial da União em 13 de
novembro de 2006. Brasília. 2006. 4p.

551
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM (DNER). Manual de reabilitação de pavimentos
asfálticos. Rio de Janeiro. 1998. Departamento de Engenharia Naval e Oceânica. São Paulo. 2004. 16p.
PINTO, P. C. Análise de tensões em pavimento urbano pelos softwares Everfe e MnLayer. Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo, 2008, 22 p.
PINTO, P. C. Investigação de parâmetros do CCR com incorporação de escória granulada de alto forno para utilização como
base de pavimentos. Dissertação. Mestrado em Engenharia de Transportes. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo –
USP. 2010. 199 p.

552
5SSS173
UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE CERÂMICA VERMELHA
ADICIONADO AO CONCRETO PARA MELHORIA DAS SUAS
PROPRIEDADES
Ana Rute Pereira Alexandre1, Cícero Joelson Vieira Silva2, Hélyda Ruama Lopes Ramos3, Maria Isabel
Ferreira dos Santos4, Nayanne Maria Gonçalves Leite5, Valdecir Teofilo Moreno6
1Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, IFPB, e-mail: anaruth-cz@hotmail.com;
2Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, IFPB, e-mail: cjoelson@ymail.com; 3Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, IFPB, e-mail: helydaramos@gmail.com; 4Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, IFPB, e-mail: isabel.ferreira.pb@hotmail.com; 5Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, IFPB, e-mail: nayannegl@hotmail.com; 6Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, IFPB, e-mail: valdecir.moreno@ifpb.edu.br

Palavras-chave: Agregado; Cerâmica vermelha; Concreto.

Resumo
O presente trabalho busca um descarte adequado para os resíduos de cerâmica vermelha, substituindo no concreto o agregado
graúdo (brita) pelos resíduos gerados na indústria da cerâmica vermelha. Para execução do projeto foram coletados resíduos
cerâmicos gerados por uma fábrica próxima da cidade de Cajazeiras - PB. Posteriormente, foi iniciada a trituração manual do
material e realizada a sua caracterização. O traço usado foi 1: 2,06: 2,48: 0,60; com substituição percentual de 5%, 10% e 15%.
Posteriormente foram confeccionados os 24 corpos de prova cilíndricos e verificadas as propriedades mecânicas de resistência
a compressão e resistência a tração por compressão diametral. Os resultados mostram que o concreto com substituição de 5%
do agregado graúdo (brita) por resíduo cerâmico obteve uma maior resistência a compressão axial, o que acarreta benefícios
ambientais e uma diminuição no preço deste concreto. Quanto a tração por compressão diametral, os concretos confeccionados
com o uso do resíduo cerâmico aumentaram consideravelmente a resistência à tração em comparação ao concreto de
referência.

Introdução
A indústria da construção civil responde por grande parte do desenvolvimento social e econômico do país, e de modo
simultâneo cresce também o consumo de recursos naturais não renováveis (POSSA e ANTUNES, 2016).
Cabral et al. (2009) descreve que semelhante ao que acontece no processo industrial, o uso de insumos pela indústria da
construção civil tem como resultado a produção de resíduos em grande escala, e esses produtos, por sua vez, precisam ser
gerenciados de modo efetivo e eficaz. Para tanto, estima-se que no Brasil, os resíduos de cerâmica vermelha correspondem a
cerca de 30% do total de resíduos de construção e demolição (RCD).
De acordo com Possa e Antunes (2016), a utilização de recursos naturais pela construção civil representa um terço do que é
consumido anualmente por toda sociedade. Para se ter uma noção, apenas para produção de concreto e argamassa faz-se
necessário o uso de cerca de 210 milhões de toneladas de agregados naturais por ano.
Para Cabral et al. (2009), apesar de existir a possibilidade de reaproveitamento de resíduos no processo de fabricação dos
artefatos na indústria de cerâmica, a sua reciclagem na confecção de agregados reciclados para uso na construção civil se
comporta como uma alternativa de grande valia para o gerenciamento de resíduos sólidos, tendo em vista a grande utilidade na
indústria da construção civil.
Sendo assim, o contexto da indústria da construção civil tem dois grandes desafios no contexto atual, a redução do consumo de
recursos naturais não renováveis e diminuição do volume de resíduos gerados pela indústria de cerâmica vermelha. Frente a
isso, a grande preocupação envolvida nesta temática trata-se do desenvolvimento de tecnologias que contemplem o uso desses
resíduos, visando sua utilização na produção de materiais inovadores que potencializem os recursos já existentes.
Nessa perspectiva, a construção da presente pesquisa tem o objetivo de apresentar os efeitos da substituição parcial do
agregado graúdo (brita) pelo resíduo gerado pela indústria da cerâmica vermelha na fabricação do concreto, bem como
identificar os benefícios e a viabilidade dessa técnica.

Referencial teórico
O vocábulo reciclagem surgiu na década de 1970, e que segundo a Acrepom (2009) se refere ao reaproveitamento de materiais

553
que serão beneficiados e destinados a um novo produto, trazendo-lhe vantagens como a minimização na utilização de fontes
naturais e fornecendo um destino apropriado aos rejeitos.
Sendo o concreto um dos produtos a utilizar um maior consumo dessas fontes naturais, o Portal do concreto (2006) define-o
como “...o resultado da mistura de cimento, água, pedra e areia” e sendo mais aplicado, principalmente devido ao número de
construções.
Costa e Favini (2008) destaca a grande situação perante ao desperdício dos materiais de construção e pelo acumulo em locais
inadequados, com isso enfatiza a importância de confeccionar concretos com agregados provenientes de rejeitos de cerâmica
vermelha com intuito da redução da quantidade de resíduos ao meio ambiente, e diminuindo assim a extração de minerais,
viabilizando a obra economicamente e beneficiando assim o meio ambiente.

Concreto
Tendo em vista que o concreto é a base da construção contemporânea, um dos materiais mais importantes utilizados em
quaisquer obras da engenharia civil, e torna-se indispensável o conhecimento da sua capacidade de resistir a grandes pressões
de compressão.
Segundo Pereira (2016) a busca por uma maior qualidade do concreto para que atenda aos requisitos finais de uma obra, como
a segurança se faz necessário.
O mesmo autor afirma que dentre uma grande diversidade de concretos, os principais utilizados na construção civil são:
concreto convencional, concreto armado, concreto protendido, alto desempenho, autoadensável e celular.
Fica compreendido que o tipo de concreto a ser adquirido depende de como o mesmo será utilizado, e averiguando a melhor
escolha possível para atender as necessidades de uma obra.
Ainda em seu estado fresco, alguns fatores como consistência, plasticidade e trabalhabilidade podem influenciar o concreto
final. Com isso para obter um concreto de boa qualidade deve-se executar corretamente a dosagem dos componentes,
transporte, lançamento, adensamento e a cura. Segundo a Construção (2002) a consistência, coesão e homogeneidade é o que
define a trabalhabilidade, no qual se refere a propriedade do concreto associada a 3 características (facilidade de redução de
vazios e de adensamento; facilidade de moldagem; resistência à segregação e manutenção da homogeneidade da mistura).
Assim o concreto endurecido deve indicar resistência mecânica e durabilidade exigida pela condição do projeto, e que segundo
a Construção (2002) define-se parâmetros importantes no estado endurecido como: resistência característica do concreto (fck) -
especificado através de sua resistência característica à compressão segundo a NBR 5739, estimada pela moldagem e ensaios de
corpos de prova cilíndricos aos 28 dias de idade; resistência à tração simples - a sua determinação pode ser útil para procurar
prevenir as fissuras no concreto, e deve obedecer às prescrições da norma NBR 7222; e flexão à fadiga - avalia a resistência do
concreto quando submetido a ação de cargas repetidas.

Adição de resíduos de cerâmica vermelha no concreto


Dentre as diversas alternativas de adições para o concreto estão os resíduos gerados pela indústria de cerâmica vermelha.
Segundo Garcia, E. et. al. (2014), quando esses produtos são queimados, ainda nas indústrias, ocorre, quimicamente, a
desidroxilação e amorfismo dos argilominerais, o que deve conferir a esses materiais cerâmicos reatividade química de
natureza pozolânica. Esse material pode ser adicionado ao concreto como agregado graúdo ou agregado miúdo.
Na Paraíba, de acordo com o sindicato de cerâmica vermelha do estado, há mais de 50 fábricas voltadas à produção de tijolos e
telhas e por mais que não haja dados oficiais sobre a perda durante o manuseio e o transporte, acredita-se que assim como no
cenário nacional, essa perda é de em torno de 10% do material produzido. A utilização desses resíduos pode trazer um ganho
ambiental a região, evitando que estes fiquem expostos em locais inadequados ou que vá para um aterro sanitário, diminuindo
sua vida útil. (JERÔNIMO, V. L. et. al. 2012).
Diante disso, diversos estudos já foram realizados com o objetivo de analisar as propriedades mecânica da substituição ao
agregado graúdo por agregado de resíduos de cerâmica vermelha no concreto.
No trabalho desenvolvido por Costa e Favini (2008), a pesquisa objetiva conhecer as propriedades físicas e químicas dos
agregados e do concreto reciclado. Para a produção do concreto, as telhas cerâmicas foram quebradas manualmente com
marreta, moídas e britadas no britador de mandíbula e peneiradas até terem sua granulometria similar à areia grossa e brita 1. O
concreto foi confeccionado e avaliado no estado fresco e no estado endurecido, considerando suas propriedades físicas e
mecânicas. Considerando os resultados da caracterização química e física do agregado de telha cerâmica vermelha e do
concreto confeccionado, conclui-se que o concreto produzido com rejeito de telha cerâmica vermelha tem predisposição para
ser utilizado na construção civil, lembrando que sua utilização deve ser em locais onde não exijam grandes esforços
mecânicos, pois o produto apresenta características de um concreto não estrutural.
O trabalho de pesquisa desenvolvida por Cabral et al. (2009), foi-se usada para produção de concreto a cerâmica vermelha,
proveniente de restos de tijolos e telhas cerâmicas utilizados nas construções. Com o intuito de se determinar o comportamento
do agregado reciclado de cerâmica vermelha na produção de concretos, desenvolveu-se um programa experimental baseado em
um projeto de experimentos onde se substituiu os agregados miúdos e graúdos naturais pelos seus respectivos reciclados, além
de se variar a relação água/cimento. Os concretos produzidos foram analisados com relação a três propriedades: resistência à
compressão, módulo de deformação e volume de poros permeáveis (VPP). Os resultados obtidos foram analisados utilizando-

554
se ferramentas estatísticas, desenvolvendo-se modelos matemáticos que descrevem o comportamento das propriedades
estudadas ao se substituir o agregado natural pelos reciclados de cerâmica vermelha. Todos os modelos obtiveram excelentes
coeficientes de determinação, acima de 95%.
Vieira (2005), investigou o efeito da atividade pozolânica de resíduos de cerâmica vermelha moídos (RC) em comparação com
uma pozolana convencional e avaliou o efeito da substituição do cimento por RC. Foram moldadas amostras de concreto com
traço 1:1,55:2,19 e teores de substituição de 0, 20 e 40%. Os resultados observados nesse estudo mostraram que apesar da
substituição parcial do cimento pelos resíduos cerâmicos na confecção dos concretos em teores de 20 e 40% tenha causado
uma redução da resistência à compressão simples, tal redução não foi proporcional ao teor de substituição usado, tendo em
vista que amostras com 40% de substituição ainda retiveram 89% da resistência das amostras de controle.

Materiais e métodos
Para alcançar os objetivos dessa pesquisa, foram realizados vários ensaios, no laboratório de geotecnia do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – campus Cajazeiras, para caracterização dos materiais e do concreto com resíduo
de cerâmica vermelha.
Para a moldagem do concreto foi utilizado o cimento CP II – Z 32, uma vez que este é bastante empregado em diversos tipos
de obras e possui pozolana em sua composição.
A metodologia abrange a coleta das amostras de material cerâmico, seguindo a NBR 1007/04 que regulamenta a amostragem
de resíduos sólidos. As amostras da pesquisa foram retiradas de uma fábrica, localizada na cidade de Cajazeiras-PB.
O material coletado foi britado manualmente, sendo reduzido a agregado graúdo e passado na peneira com abertura de 9.5 mm,
de modo a ficar com uma granulometria próxima a brita. Realizaram-se os seguintes ensaios para caracterização dos agregados
e do resíduo cerâmico:

ENSAIO NORMA ABNT


Massa unitária (solto) NBR 7251/1982
Massa unitária
NBR 7810/1983
(compactado)
Granulometria NBR 7217/1987
Tabela 1: Ensaios para caracterização dos agregados e resíduo cerâmico

Foram confeccionados 32 corpos de prova (CPs), com traço 1: 2,06: 2,48: 0,60, baseando-se na NBR 5738/2015 que prescreve
o procedimento para moldagem e cura do concreto. O concreto foi confeccionado substituindo parcialmente a brita pelo
resíduo de cerâmica vermelha, utilizou-se os percentuais de 5%, 10% e 15%.
Os corpos de prova foram preparados, moldados e curados, conforme NBR 12655/2015.
Para o estado fresco foi realizado o ensaio de consistência por abatimento do tronco de cone, de acordo com a NBR 7223/1992.
Após 24 horas da moldagem, os CPs foram desmoldados e imersos em um tanque com água, onde ficaram 28 dias. Foram
realizados os ensaios para a caracterização no estado endurecido: compressão simples para verificar a resistência do concreto,
seguindo a NBR 5739/94, e resistência à tração por compressão diametral de corpos de prova cilíndricos, conforme NBR
7222/2011.

555
Resultados da pesquisa
Com base nos resultados do ensaio foi obtido um módulo de finura de aproximadamente 2,96, como está expresso na tabela
abaixo. Dessa forma quanto maior o módulo de finura, mais graúdo é o agregado, e com isso pode-se determinar um limite de
faixa intermediaria entre a zona ótima e a zona utilizável para a utilização do resíduo como agregado.

Limites Granulométricos
Massa Total (g) 300,0 Variação Média Limites Limites
Abertura Massa
da das Inferiores Superiores
das Retida
Massa Massa Retida Massa Massas
Peneiras Acumulada Zona Zona Zona Zona
Retida (g) (%) Retida Retidas
(mm) (%)
1ª 2ª 1ª 2ª (%) (%)
Utilizável Ótima Utilizável Ótima
Det. Det. Det. Det.
9,5 0,0 0,0 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0% 0 0 0 0
6,3 0,0 0,0 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0% 0 0 0 7
4,8 7,3 25,1 1,5% 5,1% 3,6% 3,3% 3% 0 0 5 10
2,36 42,6 56,3 8,6% 11,4% 2,7% 10,0% 13% 0 10 20 25
1,18 63,9 85,1 12,9% 17,2% 4,3% 15,1% 28% 5 20 30 50
0,6 152,2 158,9 30,8% 32,1% 1,3% 31,4% 60% 15 35 55 70
0,3 179,5 143,6 36,3% 29,0% 7,3% 32,7% 92% 50 65 85 95
0,15 41,7 23,0 8,4% 4,6% 3,8% 6,5% 99% 85 90 95 100
Fundo 7,1 3,3 1,4% 0,7% 0,8% 1,1% 100% 100 100 100 100
Ʃ Massas
494,3 495,3 Módulo de Finura 2,96 Diâmetro Máximo 4,8
(g)
Tabela 2: Análise granulométrica do resíduo (pó)

Gráfico 1: Curvas granulométricas do resíduo

Os gráficos 2 e 3 mostram os resultados dos ensaios de massa unitária no estado solto e compactado dos agregados miúdos e
graúdos utilizados para a fabricação do concreto. É possível observar que, tanto no estado solto como no estado compactado, a
massa unitária do agregado de resíduo de cerâmica vermelha é menor em relação ao da brita.

556
Gráfico 2: Massa unitária (estado solto)

Gráfico 3: Massa unitária (estado compactado)

Os resultados de ensaios realizados no estado fresco, dos concretos em estudo, estão mostrados na tabela 3, porém devido a
insuficiência de alguns equipamentos no laboratório de geotecnia do campus Cajazeiras tornou-se impossibilitado a realização
de alguns ensaios.

ABATIMENTO
FATOR ÁGUA
TRAÇO DO
CIMENTO
(1:2,06:2,48) CONCRETO
(A/C)
(CM)
Concreto
0,6 1,1
convencional
CRC 5% 0,62 1,3
CRC 10% 0,64 1,1
CRC 15% 0,66 1,0
Tabela 3: Índices físicos dos concretos estudados

CRC: Concreto com resíduo de cerâmica vermelha (% porcentagem substituída).

Segundo Costa e Favini (2008) esse ensaio é de extrema importância para se obter um concreto desejado a atender as
exigências da obra, pois determinando assim sua resistência possibilita uma maior segurança e escolha do local utilizado. O
presente estudo avaliou o estado endurecido do concreto convencional (concreto de referência) e o concreto com adição de
teores de resíduos cerâmicos diferentes, de acordo com a NBR 5739, cujos resultados são representados na tabela 4, e sendo
representado graficamente na figura.

557
RESISTÊNCIA À
CONCRETO DE
COMPRESSÃO
ACORDO COM A
AXIAL EM MPA
NBR 5739
(28DIAS)
Concreto convencional 25,57
CRC 5% 25,92
CRC 10% 20,54
CRC 15% 22,52
Tabela 4: Resistência à compressão axial dos concretos em estudos

CRC: Concreto com resíduo de cerâmica vermelha (% porcentagem substituída).

Gráfico 4: Resistência à compressão axial dos concretos em estudos

CRC: Concreto com resíduo de cerâmica vermelha (% porcentagem substituída).

Avaliou-se no estado endurecido a resistência à tração por compressão diametral do concreto convencional (concreto de
referência) e do concreto com adição de teores de resíduos cerâmicos diferentes, de acordo com a NBR 7222, cujos resultados
são representados na tabela 5 e no gráfico 5.

RESISTÊNCIA À
CONCRETO DE TRAÇÃO POR
ACORDO COM A COMPRESSÃO
NBR 7222 DIAMETRAL
EM MPA (28DIAS)
Concreto convencional 1,84
CRC 5% 2,62
CRC 10% 1,96
CRC 15% 3,31
Tabela 5: Resistência à tração por compressão diametral dos concretos em estudo

CRC: Concreto com resíduo de cerâmica vermelha (% porcentagem substituída).

558
Gráfico 5: Resistência à tração por compressão diametral dos concretos em estudo

CRC: Concreto com resíduo de cerâmica vermelha (% porcentagem substituída).

Com base nos dados obtidos por meio do ensaio, mostra que a resistência à compressão do concreto com a adição de 5% de
resíduo cerâmico foi estatisticamente igual ao concreto de referência, já em relação a adição de 10% e 15% apresentou-se
bem menor que a do concreto convencional em 28 dias , com isso pode se averiguar que para uma adição maior de resíduo de
cerâmica vermelha ao concreto , implica em uma diminuição de sua resistência a compressão, devido a uma maior absorção
de água e consequentemente ao aumento no índice de vazios.
De acordo com Oliveira et al. (2017), o concreto possui algumas deficiências como a dificuldade na deformação e o aumento
de fissuras mediante a esforços de tração. Podemos observar um aumento considerável na resistência à tração por compressão
diametral nos concretos com substituição do agregado graúdo pelo resíduo cerâmico. No concreto com substituição de 15% o
aumento dessa propriedade chega a dobrar em relação ao concreto convencional.

Considerações Finais
De acordo com ROSSI et al. (2017), têm-se um déficit muito grande em relação aos ensaios e bibliografias sobre o
reaproveitamento dos resíduos da construção civil e o modo de aplicação dos materiais já reciclados e disponíveis ao
consumidor, estes oriundos dos mais diversificados tipos de edificações e dos variados tipos de construção. Podemos então
perceber a importância ambiental e econômica de usar resíduos de cerâmica vermelha na produção de concretos.
A partir dos ensaios realizados nos concretos produzidos, podemos perceber que o concreto que apresenta substituição de 5%
do agregado graúdo (brita) apresentou um aumento na resistência a compressão simples de 0,35Mpa. Podemos inferir então
que esse concreto pode ser produzido com essa mesma substituição e apresentar bons resultados.
As substituições de 10% e 15% apresentaram diminuição da resistência a compressão simples do concreto. Do ponto de vista
econômico essa substituição no concreto seria ideal, pois utilizaria uma menor quantidade de brita em sua composição, mas
caso a finalidade da aplicação do concreto requeira uma boa resistência, essa substituição não seria apropriada.
O concreto é um material que possui deficiência quando submetido a esforços de tração, sendo assim, neste trabalho obtivemos
ótimos resultados na verificação dessa propriedade. Em todos os concretos com uso do resíduo, a resistência a tração por
compressão diametral excedeu o valor encontrado no concreto convencional.
No presente trabalho, analisou-se a resistência mecânica do concreto que apresenta substituições percentuais de agregado
graúdo (brita) por resíduos de cerâmica vermelha. A partir da averiguação da resistência a compressão axial e da resistência a
tração por compressão diametral do concreto podemos extrair as seguintes conclusões:

•A substituição no concreto de 5% do agregado graúdo (brita) por resíduo cerâmico apresentou resistência a compressão axial
superior à do concreto de referência, o que caracteriza um resultado positivo para o uso desse resíduo.
•A resistência a tração por compressão diametral de todos concretos confeccionados com o resíduo cerâmico foi superior à
encontrada no concreto de referência.
•As substituições no concreto de 10% e 15% reduziram a resistência a compressão axial devido um aumento na relação
água/cimento, que resulta em um maior número de vazios e consequentemente menor resistência.
•A substituição da brita por resíduo cerâmico acarretará uma diminuição no preço do concreto do ponto de vista financeiro.
•Do ponto de vista ambiental, o uso desse resíduo na produção de concreto possibilitará um descarte correto ao material e uma
diminuição dos impactos ambientais causados por esse resíduo.

Os resultados mostram que é possível confeccionar concreto com 5% de substituição do agregado graúdo por resíduos de

559
cerâmica vermelha, sem interferir na sua resistência a compressão simples e proporcionando assim um destino correto a este
material.

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561
5SSS174
ESTRATÉGIAS PARA MITIGAÇÃO DE ÁREAS DEGRADAS PELA
DISPOSIÇÃO INADEQUADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E
REJEITOS
Renata Estevam1, Renato Meira de Sousa Dutra2, Luciana Harue Yamane³, Renato Ribeiro Siman4
1Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: renata.engenhariacm@gmail.com; 2Universidade Federal do
Espírito Santo, e-mail: renatomsd@hotmail.com; 3Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail:
lucianayamane@gmail.com; 4Universidade Federal do Espírito Santo, e-mail: renato.siman@ufes.br

Palavras-chave: Resíduos sólidos; Áreas degradadas; Mitigação de Impactos Ambientais

Resumo
A mitigação de áreas degradadas pela disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos (ADDIRSU) está intimamente
atrelada ao levantamento de aspectos ambientais propiciadores de degradação ambiental, bem como a definição de critérios
que irão avaliar as condições a que estes ambientes estão susceptíveis, para que então seja possível a definição da técnica de
mitigação a ser empregada de forma sustentável, eficiente e com otimização de custos. Tendo este entendimento como ponto
de partida, o presente trabalho propôs uma caracterização das ADDIRSU existentes estado do Espírito Santo por meio da
avaliação das condições ambientais baseada em uma seleção de aspectos e critérios de caráter técnico, econômico, operacional,
social e ambiental, que possibilitassem a proposição de técnicas para mitigação dos impactos ambientais existentes. Para tanto
foi realizada uma pesquisa bibliográfica de artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais, bem como uma
pesquisa documental em órgãos públicos e associações de municípios, cujos dados foram posteriormente confirmados e
completados por meio de levantamento in loco, com aplicação de questionários em todas as 78 cidades da áreas de estudo.
Posteriormente foi realizada a caracterização de cada ADDIRSU por meio da verificação, nos Planos de Recuperação de Áreas
Degradadas (PRADs) elaborados pelos municípios, do atendimento aos aspectos e critérios mapeados na bibliografia. Ao final,
foram sugeridas as técnicas de mitigação necessárias para minimização dos impactos ambientais correlatos. A pesquisa obteve
como principais resultados que o estado Espírito Santo possui em seu território 192 ADDIRSU, onde 135 destas são
respectivas a lixões desativados e apenas 59 encontram-se em recuperação. Com o diagnóstico realizado foi possível observar
que 56% das áreas foram degradadas unicamente pela disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos (RSU) e que as
demais áreas possuíam outras tipologias de resíduos sólidos tais como resíduos de construção e demolição, resíduos
eletroeletrônicos, resíduos perigosos como baterias, pilhas, lâmpadas fluorescentes e até mesmo resíduos de serviços de saúde
como como agulhas seringas, gazes e outros materiais biológicos infectados. Foi constatado que 14% das ADDIRSU ainda se
encontram em operação e que em 5% delas ainda existem atividades de catação de resíduos recicláveis por indivíduos de baixa
renda. Além disso, 98% das ADDIRSU estão inseridas parcialmente em as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e 80%
das áreas estão dentro de faixas de domínios de rodovias. Quanto à existência de captação de água dentro da ADDIRSU ou em
seu entorno (no limite de 1000m) foi constatado que em 35% das áreas existem captações em corpos hídricos ou em poços
artesianos, o que pode resultar em problemas de saúde pública. A caracterização das áreas por meio dos aspectos e critérios
ambientais selecionados para o estudo foi realizada para 32 das 192 ADDIRSU, devido à falta de informações detalhadas sobre
as demais áreas, e indicou que em 100% dessas áreas não foram atendidos os critérios de presença de portaria, balança e
vigilância, compactação dos resíduos, drenagem e tratamento do lixiviado de aterro, monitoramento de águas subterrâneas,
monitoramento geotécnico e restrições legais ao uso do solo. Além disso, os critérios de verificação de dimensões e inclinações
(97%), proteção vegetal (97%), homogeneidade da cobertura (94%), drenagem provisória de águas pluviais (84%),
impermeabilização do solo (75%), presença de isolamento visual (69%), drenagem definitiva de águas pluviais (69%),
profundidade lençol freático (p) x permeabilidade do solo (k) (66%) e drenagem de gases (66%), não obtiveram uma boa
avaliação. Em relação às técnicas de mitigação para ADDIRSU foi verificado que em 100% das áreas são necessárias ações
como isolamento das áreas, controle de acesso, compactação do solo, instalação de placas e sistemas de drenagem e tratamento
de lixiviado, remediação do solo e monitoramento das águas subterrâneas e do comportamento dos maciços para melhoria das
condições ambientais. Com destaque também para ações de retaludar as áreas e assegurar critérios de proteção vegetal tais
como implantação de camada de argila após o encerramento da célula, erradicar espécies exóticas, limitar o desmatamento e
descompactar o solo para implantar técnicas conservacionistas de recomposição, que foram avaliadas como ausentes em 97%
das ADDIRSU. Conclui-se com os resultados desta pesquisa que a partir da adoção de critérios ambientais, precedida do
diagnóstico detalhado das ADDIRSU, é possível auxiliar o processo de decisão dos gestores para escolha da técnica de
mitigação mais viável para cada situação. E que o estado do Espírito Santo detém potencial para implementação de novos
aterros sanitários de forma a otimizar custos com transporte de resíduos sólidos e minimizar os problemas de ordem ambiental.

562
Introdução
O Brasil e o mundo sofrem com diversos problemas ambientais provenientes da disposição inadequada dos resíduos sólidos.
Joseph et al. (2004) apontam que três-quartos dos países e territórios em todo mundo ainda se valem de cenários de disposição
inadequada de resíduos sólidos urbanos, enquanto Law e Ross (2019) afirmam que os 50 maiores lixões estão distribuídos em
todo mundo, inclusive em países desenvolvidos, que são responsáveis pela maior geração de resíduos sólidos do mundo.
Embora já sejam conhecidos os impactos ambientais referentes a esta disposição inadequada em solo, os altos custos
demandados para a implantação de aterros sanitários e a descontinuidade administrativa dos órgãos municipais ainda são
barreiras que impedem uma gestão sustentável dos resíduos sólidos. Desta forma, ainda é comum a existência dos modelos de
disposição na forma de lixões e aterros controlados (SCARLAT et al., 2015; KUMAR et al., 2017). Law e Ross (2019),
demonstraram através de estudos que lixões e aterros controlados são respectivos à terceira maior fonte de metano
antropogênico global, gás de efeito estufa que comparado com o dióxido de carbono (CO2) é 25 vezes mais potente, segundo
os autores é estimado que lixões emitam o equivalente a mais de 20 milhões de toneladas de CO2 por ano no mundo.
Para Gunther e Grimberg (2006) um desafio para os municípios, enquanto titulares dos serviços de limpeza urbana e manejo de
resíduos sólidos, é a mudança do atual modelo de gestão de resíduos, que se baseia no aterramento, para um modelo que vise a
coleta seletiva, a reciclagem e a inclusão social.
Pela Instrução Normativa nº 04/2011 do IBAMA, entende-se como área degradada aquela que está “impossibilitada de retornar
por uma trajetória natural, a um ecossistema que se assemelhe a um estado conhecido antes, ou para outro estado que poderia
ser esperado” (IBAMA, 2011, pág.3). Portanto, entende-se para este estudo que Áreas Degradadas pela Disposição Inadequada
de Resíduos Sólidos Urbanos (ADDIRSU) são aquelas que em determinado intervalo receberam a disposição final de resíduos
sem a correta preparação do local incorrendo em impactos ambientais.
Data a problemática ambiental citada faz-se necessário o encerramento das áreas que ainda recebem resíduos sólidos de forma
inadequada e a recuperação das ADDIRSU existentes. Para tanto é de fundamental importância a consideração de critérios de
caráter técnico, econômico, operacional, social e ambiental que irão possibilitar uma classificação coerente em relação as
escolhas das técnicas capazes de mitigar os impactos ambientais existentes (SUBRAMANIAN, RAMANATHAN, 2012;
SOLTANI, SADIQ, HEWAGE, 2015; KHARAT et al., 2018). Estes critérios devem ser levantados a partir de um diagnóstico
ambiental detalhado de cada área a ser mitigada, que inclua os custos relacionados à recuperação da área, tendo como principal
objetivo a avaliação das condições ambientais, e consequentemente, subsidiar a tomada de decisão a partir de escolhas de
metodologias de mitigação tecnicamente viáveis (CEMPRE, 2010).
Neste contexto, este estudo teve como objetivo a realização de um diagnóstico das ADDIRSU presentes no estado do Espírito
Santo, com a devida classificação das condições ambientais de cada área existente, bem como a seleção de aspectos, critérios
ambientais e técnicas para mitigação dos impactos ambientais existentes de forma a contribuir para o processo de tomada de
decisões dos gestores e para que a mitigação dessas áreas ocorra de forma sustentável, eficiente e com otimização de custos.

Material e Métodos
Este estudo faz parte do Programa de Extensão intitulado Gerenciamento de Resíduos Sólidos: da Coleta à valorização da
Universidade Federal do Espírito Santo e foi organizado nas seguintes etapas de trabalho (Figura 1).

Figura 1: Etapas de trabalho do estudo.

Para aplicação deste estudo foram utilizadas as ADDIRSU existentes no estado do Espírito Santo, identificadas no Plano
Estadual de Resíduos Sólidos (PERS, 2019) que foram declaradas por prefeituras municipais, excluindo-se áreas de
empreendimentos privados e pontos viciados (locais temporários de pequena extensão onde a população deposita resíduos
inadequadamente em pequenas quantidades).

563
Etapa 1: Diagnóstico das ADDIRSU no estado do Espírito Santo
O diagnóstico das áreas apresentadas envolveu o levantamento de dados secundários por intermédio de pesquisa documental
em órgãos públicos, em especial junto ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), em prefeituras
municipais, no site da Associação dos Municípios do Estado do Espírito Santo (Amunes) sobre os Temos de Compromisso
Ambiental (TCA) assinados entre os Ministério Público do estado do Espírito Santo e prefeituras municipais e nos Planos de
Recuperação de Áreas Degradadas elaborados pelos municípios.
Para consolidação das informações coletadas a partir da pesquisa documental, demais dados, fundamentais ao diagnóstico
destas áreas, foram obtidos por meio de levantamento in loco, a partir da aplicação de questionários nas 78 prefeituras
municipais do Espírito Santo, onde foram coletadas informações sobre a localização das áreas de disposição inadequada de
resíduos ou rejeitos, sobre o uso e cobertura do solo e sobre a presença de pontos de captação de água.

Etapa 2: Seleção de aspectos, critérios ambientais e técnicas para mitigação de ADDIRSU


Nesta etapa da pesquisa foram consultados artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais acessados a partir do
portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da base de dados da Science
Direct. As pesquisas foram realizadas utilizando-se das seguintes palavras chaves: área degradada, resíduo sólido urbano,
critério, aspectos e técnicas de mitigação traduzidas para o inglês como degraded area, solid waste municipal, criterion,
aspect, mitigation technology a fim de encontrar artigos bem-conceituados dentre as distintas plataformas disponíveis para
pesquisa. O horizonte de coleta de dados da pesquisa foi limitado aos anos de 2010 a 2019. Já para a pesquisa documental
desta etapa foram utilizados dados dos Temos de Compromisso Ambiental (TCA) e dos processos existentes no Instituto
Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), com o objetivo de se destacar aspectos ambientais importantes para a
posterior caracterização.
Nesta etapa, a pesquisa bibliográfica teve como finalidade subsidiar a tomada de decisão para escolha de critérios e técnicas de
mitigação que de fato dispõem sobre características especificas de ADDIRSU, para que fosse possível observar a fragilidade
das áreas com base nos aspectos ambientais que impactam positivamente na poluição ou não, e desta forma elencar critérios já
aplicados em trabalhos, bem como técnicas de mitigação bem-sucedidas e economicamente viáveis.

Etapa 3: Caracterização das ADDIRSU e proposição de técnicas de mitigação


Após a seleção anterior cada ADDIRSU, que continha as informações mínimas para sua caracterização, foi avaliada quando ao
seu atendimento aos aspectos e critérios técnicos, econômicos e operacionais, ambientais e sociais preestabelecidos no Quadro
1 por meio de seus Planos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRADs) elaborados pelos municípios. Ao final, foram
avaliadas as técnicas de mitigação necessárias para minimização de cada impacto ambiental correlato aos critérios
identificados, de forma a possibilitar o entendimento de quais medidas são necessárias para resolução da maior parte dos
impactos ambientais encontrados nas ADDIRSU.

Resultados e Discussão
Foram identificadas 192 ADDIRSU existentes no estado do Espírito Santo, conforme mostra a Figura 2, as quais foram
classificadas em áreas de bota fora (marcador azul), aterros controlados (marcador purpura), lixões ativos (marcador verde),
lixões desativados (marcador vermelho) e áreas de transbordo (marcador anil).
Verifica-se na Figura 2 que 135 ADDIRSU são áreas de lixões desativados, fato este que evidencia a atuação do estado no
fechamento dessas áreas em atendimento à Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) e à Política Estadual de
Resíduos Sólidos (Lei 9.264/09), que têm como uns de seus objetivos à erradicação dos lixões em solo capixaba.

Diagnóstico das ADDIRSU no estado do Espírito Santo


Com o diagnóstico realizado foi possível identificar que 56% das áreas foram degradadas pela unicamente pela disposição de
resíduos sólidos urbanos (RSU), já as demais áreas possuíam outros resíduos como resíduos de construção e demolição,
resíduos eletroeletrônicos, resíduos volumosos (inservíveis) e até mesmo resíduos perigosos como baterias, pilhas, lâmpadas
fluorescentes e resíduos de serviços de saúde como como agulhas seringas, gazes e outros materiais biológicos infectados, o
que segundo Azevedo et al. (2015) agravam ainda mais as condições ambientais, podendo provocar a contaminação dos solos,
influenciar na qualidade das águas (superficiais e subterrâneas) e do ar.
Estudos feitos por Abdel-Shafy, Mansour (2018) apontam que os órgãos municipais de fato possuem dificuldade para
fiscalizar o recebimento dos resíduos sólidos em áreas de disposição final. Enquanto Kumar et al. (2017), apontam que tais
resultados são provenientes de poucos incentivos demandados pela gestão pública, e pela fiscalização falha promovida pelos

564
responsáveis municipais, além disso é comprovado que existe carência de conhecimento em relação as obrigatoriedades
impostas por atos legislativos.
Outros dados agravantes, obtidos neste estudo é de que em cerca de 14% das ADDIRSU ainda continuam em operação sendo
composta por lixões e aterros controlados e que em 5% das ADDIRSU ainda são realizadas atividades de catação de resíduos
por indivíduos de baixa renda, o que está em desacordo com a legislação brasileira, que proíbe tal atividade. Segundo Cruvinel
et al. (2019), é de suma importância proibir a catação em áreas de destinação final de RSU, haja visto que esses trabalhadores
realizam a catação sem nenhum equipamento de proteção individual, bem como não são assistidos pelas autoridades públicas
dentre essas localidades. Como atenuante, foi verificado que 35% das ADDIRSU já se encontram em processo de recuperação
ambiental.

Figura 2: Identificação das áreas degradadas por disposição inadequada de resíduos.

A respeito do tempo de utilização das ADDIRSU verificou-se que 20% foram utilizadas em um período inferior a 10 anos, 7%
entre 10 e 20 anos, 6% entre 20 e 30 anos e 1% por mais de 30 anos. Sobre as demais áreas (66%) não foi possível identificar o
tempo de utilização. De acordo com a NBR 13.896 (ABNT, 1997) as ADDIRSU devem ser planejadas em um longo
horizonte temporal, de modo que as condições ambientais devem ser avaliadas para possibilitar uma vida útil de no mínimo 15
anos. Assim, como 20% das áreas tiveram vida útil inferior a 10 anos, vislumbra-se um mal gerenciamento por parte dos
municípios, e desta forma estas áreas devem obrigatoriamente contar com PRADs para serem gradativamente recuperadas em
conformidade com suas particularidades ambientais (NOGUEIRA. 2015; RAMOS, 2016).
Em relação ao uso e ocupação do solo nestas áreas foi constatado que 98% estão inseridas parcialmente em as Áreas de
Preservação Permanente (APPs), que deveriam possuir uso restrito em pró da conservação do meio ambiente natural. Além
disso, 80% das ADDIRSU estão dentro de faixas de domínios de rodovias, o que mostra um desconformidade em relação à
norma NBR 13896/97, que estipula uma distância mínima de 200 metros de rodovias (ABNT, 1997).
Quanto à existência de captação de água dentro da ADDIRSU ou em seu entorno (no limite de 1000m) foi constatado que em
35% das áreas existem captações em corpos hídricos ou em poços artesianos, o que pode resultar em problemas de saúde
pública. Para Beli et al., (2005) corpos hídricos da proximidade das ADDIRSU possuem forte tendência de apresentarem
coliformes fecais e totais acima dos níveis de potabilidade permitidos pela Resolução CONAMA 357 (BRASIL, 2005),
enquanto estudo de Santos Betio e Santos (2016) apontam a ocorrência de alta concentração de metais pesados como o chumbo
em poços de monitoramento de ADDIRSU.
Das 192 áreas, 81% das ADDIRSU já possuem placa informativa na entrada, cercamento da área e instalação de guarita e
cancela, o que visa impedir a entrada não autorizada de pessoas na área principalmente de catadores, bem como restringir o
despejo inadequado de resíduos por comunidades vizinhas. Para Reale et al. (2016) e Nicoleite, Overbeck e Muller (2017), o

565
cercamento com isolamento, portão e guaritas de monitoramento podem impactar positivamente na resolução de problemas
operacionais, pois resultam em melhores vias de acesso para movimentação de veículos, controle de entrada e saída de pessoas,
maior segurança do local, como também, controle de problemas sociais, como por exemplo, a presença de catadores dentro e
no domínio da ADDIRSU.
Em relação a mitigação dos impactos ambientais, 64% das ADDIRSU já possuem sistemas de drenagem superficial para
desvio do fluxo das águas pluviais, de forma a minimizar a geração do lixiviado de aterros. Para Ye et al. (2019) a ausência ou
à má operacionalização de sistemas de drenagem e o tratamento do lixiviado de aterros podem intensificar a poluição do solo, e
dos corpos hídricos pela ação da lixiviação. Também foi verificado que 56% já possuem instalação de drenos de gases, o que
para Gomes, Martins (2003) é de suma importância para que se evitem formações de bolsões dentro da massa de resíduos
decorrentes da liberação de gases provenientes da decomposição intensa dos resíduos sólidos, os quais poderão causar
explosões ou incêndios locais. Além disso, essa medida é capaz de proporcionar uma maior resistência física do maciço de
resíduos, bem como diminuir as emissões de poluentes (DASGUPTA, YADAV, MONDAL, 2013; SRIVASTAVA,
KRISHNA, SONKAR, 2014; MOU, SHEUTZ, KJELDSEN, 2014).

Aspectos, critérios ambientais e técnicas para mitigação de ADDIRSU


O Quadro 1 apresenta os aspectos ambientais, os critérios ambientais utilizados para caracterizar as ADDIRSU e as técnicas de
mitigação sugeridas para cada critério identificado construído a partir dos estudos de ABNT (1997), Lanza e Carvalho (2006),
COPAM (2008), FEAM (2010), Vargas (2010), Gonçalves et al. (2013), Lima et al. (2013), Azevedo et al. (2015), CETESB
(2017), Kumar e Samader (2017), Cruviel et al. (2019), Law, Ross (2019) e Yet et al. (2019).

566
Aspectos
Critérios Ambientais Técnicas de mitigação sugeridas
Ambientais
1. Delimitar a área com cerca de isolamento e portão
A. Presença de portaria, balança e 2. Promover o controle de acesso integral com guarita
vigilância 3. Registrar movimentação de cargas e pessoas
4. Identificar local com placas de advertência
Estrutura de
B. Presença de isolamento físico e
apoio 1. Instalar cinturão verde ou outro tipo de barreira visual
visual
C. Compactação dos resíduos 1. Compactar o resíduo
1. Recobrir resíduo diariamente
D. Recobrimento dos resíduos
2. Verificar recobrimento após encerramento
E. Verificação de dimensões e 1. Retaludar toda ADDIRSU para garantir a estabilidade do talude
inclinações 2. Monitorar o comportamento mecânico dos maciços
1. Implantar camada de argila moderadamente compactada
Taludes e 2. Erradicar espécies exóticas como gramíneas
bermas F. Proteção vegetal 3. Limitar o desmatamento em áreas adjacentes
4. Descompactar o solo e implantar práticas conservacionistas de
recomposição vegetal
G. Afloramento de lixiviado de aterro 1. Drenar, armazenar e tratar
H. Nivelamento da superfície 1. Realizar o nivelamento final da superfície
I. Homogeneidade da cobertura 1. Realizar a manutenção da camada de cobertura
J. Drenagem de lixiviado de aterro 1. Realizar a drenagem e o armazenamento do lixiviado
1. Tratar o lixiviado de aterro
K. Tratamento de lixiviado de aterro 2. Retirar a camada de solo contaminada.
3. Viabilizar uso de tecnologias de tratamento (remediação).
L. Drenagem provisória de águas
Superfície 1. Realizar a escavação do solo e instalar canaletas
pluviais
superior
M. Drenagem definitiva de águas 1. Instalar sistema de drenagem definitiva
pluviais 2. Direcionar o fluxo de água até às bacias de detenção
1. Instalar drenos verticais
N. Drenagem de gases
2. Tratamento do gás coletado a partir da queima
O. Monitoramento de águas 1. Instalação de poços de monitoramento
subterrâneas 2. Utilizar as técnicas para controle e remediação
P. Monitoramento geotécnico 1. Acompanhar o comportamento mecânico dos maciços
1. Incentivar formalização de catadores
2. Aprimorar sistema de controle de acesso
Q. Presença de catadores
3. Retirada dos resíduos do local ou realizar a cobertura dos
resíduos com terra
R. Queima de resíduos 1. Fiscalizar e coibir a ocorrências de queima de resíduos
Outras
1. Retirada dos resíduos do local ou realizar a cobertura dos
Informações S. Ocorrência de vetores e odores
resíduos com terra
1. Retirar e impedir a entrada e presença de aves e animais
2. Retirada dos resíduos do local ou realizar a cobertura dos
T. Presença de aves e animais
resíduos com terra
3. Delimitar a área com cerca de isolamento e portão
U. Proximidades de núcleos 1. Fiscalizar e coibir a instalação de moradias
habitacionais 2. Implantar programas de educação ambiental
1. Instalar postos de monitoramento e realizar análises físico-
químicas no corpo hídrico
2. Desviar o fluxo de lixiviado de aterro sanitário
Característica V. Proximidades de corpos de água
3. Utilizar as técnicas adequadas para controle e remediação
da área
4. Instalar lacres em cisternas ou poços e água no entorno da
ADDIRSU
1. Restringir o uso de solos contaminados ou com indícios de
W. Restrições legais ao uso do solo erosão
2. Realizar o isolamento da área contaminada
Quadro 1: Aspectos ambientais, critérios ambientais e limites esperados utilizados para caracterização das ADDIRSU.

Caracterização das ADDIRSU por meio dos aspectos e critérios ambientais


Com base nas informações obtidas na etapa de diagnóstico foi possível realizar uma caracterização das ADDIRSU com base
nos aspectos e critérios ambientais apresentados no Quadro 1. Entretanto, devido à falta de informações detalhadas só foi

567
possível aplicar a metodologia proposta em 32 das 192 ADDIRSU existentes no estado, das quais 30 áreas são relativas a
lixões e 2 áreas são correspondem a aterros controlados.
A avaliação perante os critérios ambientais foi realizada para cada área individualmente e os resultados para as 32 ADDIRSU,
em percentual, são apresentados na Figura 3.

Figura 3: Resultados percentuais da avaliação dos critérios ambientais das 32 ADDIRSU.

Conforme a metodologia prevista pela CETESB, caso parte do critério não seja atendido o critério deve ser considerado
como não atendido, assim, embora boa parte das ADDIRSU tenham portarias, como nenhumas delas possui o conjunto
“portaria, balança e vigilância”, foi considerado que 100% das ADDIRSU avaliadas não atenderam ao critério. Assim, os
critérios de compactação dos resíduos (100%), drenagem de lixiviado de aterro (100%), tratamento de lixiviado de aterro
(100%), monitoramento de águas subterrâneas (100%), monitoramento geotécnico (100%), restrições legais ao uso do solo
(100%), verificação de dimensões e inclinações (97%), proteção vegetal (97%), homogeneidade da cobertura (94%), drenagem
provisória de águas pluviais (84%), impermeabilização do solo (75%), presença de isolamento visual (69%), drenagem
definitiva de águas pluviais (69%), profundidade lençol freático (p) x permeabilidade do solo (k) (66%) e drenagem de gases
(66%), não obtiveram uma boa avaliação.
Destaca-se que a drenagem e tratamento do lixiviado de chorume, monitoramento de águas subterrâneas e geotécnico foram
evidenciadas como inexistentes nos documentos consultados. Monkare et al. (2019), relatam que a inexistência de mecanismos
de drenagem e tratamento do lixiviado de aterro, demandam altos custos para a readequação da estrutura ambiental de apoio,
segundo os autores, quanto mais antigas sejam as áreas, maiores serão os custos demandados, no qual, o revestimento inferior
(geomembranas), incluindo o sistema de drenagem de lixiviados demandam R$ 126,26 por m² ; tubos de drenagem de gás ou
de aeração (R$ 21,10 por m²); tratamento do lixiviado a (R$ 16,88 por m³); e tratamento do biogás (0,25 kWh / m³).
Conforme a metodologia prevista pela CETESB, caso parte do critério não seja atendido o critério deve ser considerado
A ausência do monitoramento geotécnico foi apontada como um fator preocupante, pois foram constatadas que duas (2) áreas
do plano amostral encontram-se em terrenos propícios a erosão, e consequente desmoronamento. Ainda, foi verificado que os
critérios dimensões/inclinações e proteção vegetal também representaram relevância em relação a avaliação ambiental,
obtendo igualmente 97% de não atendimento aos limites esperados. Conforme Ali et al., (2014), áreas que apresentam tais
fragilidades, comumente apresentam terrenos com sulcos e ravinas, possibilitando assim, o aparecimento de voçorocas. Tais
mecanismos, são propulsores da ruptura dos maciços de resíduos, como também modificam o relevo e a paisagem tornando a
mitigação do ponto de vista ambiental avaliado como irreversível (ROMEIRO et al., 2014; AZEVEDO et al., 2015; SETTA,
2016).
Ainda dentre as altas frequências para condições inadequadas, o critério homogeneidade da cobertura constatou que 94% das
áreas não possuíam a homogeneização da área de cobertura das células. Verificou-se que apenas 2 áreas realizavam este
procedimento, sendo respectivas ao aterro sanitário, e ao aterro controlado. Destaca-se que, a avaliação deste critério é

568
realizada através de análise visual in loco, e como as avaliações foram realizadas por intermédio de fonte documental os
limites esperados que delimitaram está avaliação basearam-se essencialmente na ausência e na presença deste mecanismo.
Foi possível observar que 66% das áreas apresentaram valores de profundidade do lençol freático menores que 1,5 metros, bem
como permeabilidade abaixo de K < 10-6 cm/s. Vale destacar que o plano amostral referente a está avaliação foi pertinente a
24 ADDIRSU, pois o preenchimento deste critério é realizado somente para os casos onde verifica-se a ausência de
impermeabilização do solo. Conforme a FEAM (2010), Vilhena (2010), e Nicoleite, Overbeck, Müller (2017), determinados
critérios devem ser instrumento do projeto inicial de instalação de uma área de disposição final de RSU, de modo a viabilizar
ou não a sua implementação. Pois estas variáveis estão intimamente relacionadas com a poluição ambiental evidenciada nas
águas superficiais, subterrâneas e solo.

Proposição de estratégias para de mitigação dos impactos ambientais das ADDIRSU


Com base na avaliação dos critérios ambientais de cada uma das 32 áreas apresentada no item anterior foi possível identificar
quais técnicas de mitigação são necessárias para cada área. O resultado, em número de frequência, é apresentado na Figura 4,
onde a numeração presente no eixo vertical representa as técnicas listas no Quadro 1. As técnicas para mitigação foram
organizadas em ordem decrescente de forma a evidenciar quais técnicas devem ser priorizadas para minimização dos impactos
ambientais.

Figura 4: Frequência de demanda das técnicas de mitigação para as 32 ADDIRSU.

Conforme pode ser verificado na Figura 4, técnicas como realizar o isolamento da área, controlar o acesso, instalar placas de
advertência, compactar o solo, realizar a drenagem e o tratamento do lixiviado, retirar camadas de solo contaminadas, propiciar

569
técnicas de remediação, instalar poços de monitoramento, avaliar o comportamento dos maciços e restringir o uso do solo são
necessários em todas as ADDIRSU caracterizadas. Para tanto, FEAM (2010), orienta que as cercas sejam de arame farpado e
apresente no mínimo 1,80 metros de altura, sendo apoiadas por meio de postes de concreto ou madeira. Já as placas de
identificação devem ser de fácil visualização e leitura, com fundo branco, e devem conter dimensões de 1,20m x 0,80m,
contendo o seguinte texto: “Área de Disposição Final de Resíduos Sólidos Urbanos em fase de recuperação ambiental”, por
fim, deve-se apresentar o nome do município e o número do processo registrado no órgão ambiental (IEMA, 2013).
Em relação à compactação dos resíduos Lanza e Carvalho (2006) indicam que deve ser realizada com trator, preferencialmente
do tipo esteira, pois segundo Salviano (2016) as esteiras distribuem melhor o peso do trator sobre a superfície, diminuindo os
efeitos com a compactação do solo, e assim otimizando a potência de trabalho do motor.
Para realização da drenagem e o tratamento do lixiviado Lessa (2017) relata que na maioria das vezes o efluente respectivo a
ADDIRSU é transferido a uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), entretanto, o autor aponta que muitas vezes as ETEs
não foram dimensionadas para tratar concentrações de componentes existentes no lixiviado, e desta forma, transferem
problemas como altos custos, além de riscos ambientais potenciais envolvidos com o transporte. Por isso, Lessa (2017), indica
que o tratamento seja feito em lagoas anaeróbias e facultativas.
Como foi constatado a inexistência de monitoramento das águas subterrâneas nas 32 ADDIRSU não é possível afirmar sobre a
existência de contaminação. Entretanto, o potencial risco de poluição não deve ser ignorado, e por este motivo a realização de
análises físico-químicas faz-se primordial para execução ou não, das demais barreiras propostas a este critério especificamente.
Para tanto, FEAM (2010) e Possamai et al., (2007), indicam-se que os poços de monitoramento sejam instalados a montante e
a jusante dos corpos hídricos pertencentes ao raio de 200 metros referente ao entorno da ADDIRSU.
A respeito do comportamento dos maciços Lanza e Carvalho (2006) destacam que o monitoramento geotécnico deve dispor de
no mínimo piezômetros, marcos superficiais e medidores de vazão para ser eficiente e que as frequências das leituras devem
ser baseadas através da gravidade potencial de ruptura dos maciços.
Na Figura 4 também se destaca que em 31 das 32 ADDIRSU caracterizadas existe a necessidade de retaludar as áreas, além de
assegurar critérios de proteção vegetal como implantação de camada de argila após o encerramento da célula, erradicar
espécies exóticas, limitar o desmatamento e descompactar o solo para implantar técnicas conservacionistas de recomposição.
Para isso, Pinto, Resende e Oliveira (2010), a escolha das espécies deve ser baseada na disponibilidade de mudas e das
sementes de viveiros próximos, sendo ainda indicada a adubação para potencializar a eficiência da recomposição vegetacional,
bem como o coroamento de 0,3 metros no entorno de cada muda. Já Jan (2015) e MMA (2018), indicam que para que seja
limitado o reaparecimento de espécies exóticas invasoras, é necessário que seja inibido o alto potencial colonizador a partir de
queimas controladas ou do pelo uso de herbicidas de forma moderada.
Sobre os sistemas de drenagem pluviais, FEAM (2010) indica que os mesmos devem ser implementados em todo terreno, de
modo a inferiorizar os potenciais danos provocados pela ação da água das chuvas. Além disso, é recomendado que os tubos de
drenagem sejam instalados em pontos estratégicos, para que assim impulsionem o fluxo de água ao sistema de drenagem
principal. Em relação ao cinturão verde, CETESB (2017) orienta que estas possuam de 5 a 10 metros de altura, e sejam
compostas por arbustos e árvores que alcancem o grande porte.
Para os drenos de gases FEAM (2010) e Nogueira (2015) especificam que os drenos de gases devem ser dispostos a partir de
perfurações verticais com cerca de 1,0 metro de diâmetro para realizar a drenagem do biogás, contendo tubos de concreto
perfurado, cuja lateral deve ser preenchida com brita de n°4 e que o layout das tubulações deve manter distâncias mínimas de
30 metros em relação as outras.
Para atendimento ao critério de proximidades de núcleos populacionais, que pode ser realizado por meio do impedimento de
instalação de moradias e programas de educação ambiental, Possamai et al. (2007) informa que cabe integralmente a gestão
municipal fiscalizar o entorno e desabitar moradias fixadas dentre este perímetro, bem como, a população deve ser
conscientizada em relação aos riscos impostos pela sua resistência.
Demais técnicas demandas, embora em menor grau, devem ser consideradas nos dos PRADs que se encontram em andamento
para se tornarem eficientes à mitigação ambiental.

Comentários finais
Com base na pesquisa documental realizada foram identificadas 192 ADDIRSU no estado do Espírito Santo, das quais 70%
são áreas de lixões desativados, entretanto foi verificado que em 14% das áreas ainda estão em operação e em 5% ainda existe
a catação de materiais recicláveis, em 98% estão inseridas parcialmente em a em áreas de preservação permanente e em 35%
existem captações em corpos hídricos ou em poços artesianos, o que pode resultar em problemas de saúde pública.
A partir de diversos estudos nacionais e internacionais foram estabelecidos aspectos e critérios ambientais capazes de
qualificar as ADDIRSU. Entretanto, devido à falta de informações detalhadas de algumas áreas a metodologia proposta só foi
possível de ser aplicada em 32 ADDIRSU. Como resultado obteve-se que os critérios presença de portaria, monitoramento e
vigilância, compactação dos resíduos, drenagem e tratamento do lixiviado, monitoramento das águas subterrâneas e
monitoramento geotécnico são as variáveis mais críticas para o Espírito Santo.

570
A partir da avaliação dos critérios selecionados foi possível avaliar a melhor técnica a ser adotada para mitigação dos impactos
ambientais decorrentes da disposição inadequadas de resíduos sólidos. Assim, foi verificado que ações como isolamento das
áreas, controle de acesso, compactação do solo, instalação de placas e sistemas de drenagem e tratamento de lixiviado,
remediação do solo e monitoramento das águas subterrâneas e do comportamento dos maciços são necessárias em todas as
áreas avaliadas. Com destaque também para ações de retaludar as áreas e assegurar critérios de proteção vegetal que foram
avaliadas como ausentes em 97% das ADDIRSU.
Conclui-se com os resultados desta pesquisa que a partir da adoção de critérios ambientais, precedida do diagnóstico detalhado
das ADDIRSU, é possível auxiliar o processo de decisão dos gestores para escolha da técnica de mitigação mais viável para
cada situação.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer ao Laboratório de Gestão do Saneamento Ambiental da Universidade Federal do Espírito
Santo pelo apoio recebido.

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573
5SSS175
USO DE BIOMASSAS PARA TRATAMENTO DE EFLUENTES POR
ADSORÇÃO: UMA REVISÃO
Graziela Taís Schmitt1, Emanuele Caroline Araujo dos Santos2, Regina Célia Espinosa Modolo3 Carlos
Alberto Mendes de Moraes4, Marcelo Oliveira Caetano5
1 Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail:grazi_gts@hotmail.com; 2 Universidade do Vale do Rio dos
Sinos, e-mail: emanuelecarolinearaujo@gmail.com; 3 Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail:
reginaem@unisinos.br, 4 Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail:cmoraes@unisinos.br, 5 Universidade do
Vale do Rio dos Sinos, e-mail: mocaetano@unisinos.br

Palavras-chave: Biomassa; Efluente; Bioadsorventes.

Resumo
A contaminação de corpos hídricos por metais e substâncias orgânicas de origem sintética e natural vem se intensificando em
consequência do crescimento populacional e do desenvolvimento industrial acelerado, acarretando em uma crescente
preocupação para a sociedade e no maior rigor da legislação. A adsorção é um processo físico químico conhecido no
tratamento de efluentes, onde um material tem a habilidade/capacidade de reter em sua superfície, contaminantes presentes em
um fluido. A biomassa residual tem ganhado destaque no tratamento de efluentes por ser um material de fonte renovável e de
baixo custo, quando comparado com os adsorventes convencionais. Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo
apresentar uma revisão bibliográfica acerca dos principais bioadsorventes utilizados na adsorção de metais e substâncias
orgânicas. Observou-se que biomassas de diversas origens têm sido estudadas, seja na forma in natura, ou após processos que
transformam estas biomassas em energía, como carbonização e combustão, produzindo biocarvões e cinzas, respectivamente.

Introdução
Devido ao crescimento desordenado das cidades, várias atividades antrópicas, principalmente as industriais, têm gerado
resíduos e efluentes líquidos contendo metais e substâncias orgânicas, as quais causam efeitos adversos ao meio ambiente.
De acordo com Vidal et al. (2014), a grande variedade de poluentes químicos orgânicos e inorgânicos encontrados na água,
como metais tóxicos, BTEX, HPA’s, ânions, entre outros, estimulou a necessidade de desenvolver tecnologias de tratamento
destes contaminantes. Esses poluentes encontram-se em quantidades traço, são resistentes a tratamentos biológicos e processo
fisico-químicos podem não ser totalmente eficientes para sua remoção.
Somado a isso, a preocupação com a minimização ou reaproveitamento de resíduos sólidos gerados nos diferentes processos
industriais vem aumentando. A agricultura é uma das principais atividades econômicas do Brasil, sendo essencial para a
produção de alimentos. Estas atividades agroindustriais geram uma elevada quantidade de resíduos que são classificados como
biomassa. (Kieling, 2016). De acordo com Lima et al. (2019), o uso de resíduos de biomassa na preparação de materiais como
o carvão ativado tem aumentado consideravelmente nos últimos anos.
Esses resíduos são provenientes do beneficiamento do produto de culturas como: cana de açúcar, arroz, crambe, moringa,
pinus, pinhão-manso, castanha de caju, castanha do Brasil, açaí, etc. (Coelho et al., 2014).
Neste contexto, entende-se que a utilização de biomassas residuais como bioadsorventes pode ser uma alternativa promissora
na mitigação de impactos ambientais negativos, bem como reduzir os custos de preparação dos adsorventes. Posto isso, o
objetivo desse artigo de revisão é abordar os principais resíduos derivados de biomassa utilizados como adsorventes
alternativos para tratamento de água e efluentes, promovendo assim, valor ao coproduto.

Materiais e Métodos
De acordo com Vom Brocke et al. (2009) a pesquisa nada mais é do que um projeto de sinergia, onde novos conhecimentos
são acumulados. Em geral, a revisão da literatura é uma técnica de interpretação e associação de conhecimentos existentes,
onde o pesquisador se baseia no que foi estudado antes. E, portanto, a qualidade dos trabalhos científicos é definida pelo
processo de revisão. (Vom Brocke et al., 2009).
A metodologia de pesquisa deste trabalho consistiu em 5 etapas, onde primeiramente definiu-se 2 palavras-chave a serem
utilizadas nos idiomas português e inglês, logo após realizou-se a busca dessas palavras em uma base de dados. Durante a
pesquisa, foi delimitada uma relevância de tempo de 6 anos (2013 – 2019) para todos os trabalhos. Como a pesquisa com as

574
palavras-chave Biomass + Adsorption gerou muitos resultados, selecionou-se apenas os trabalhos mais atuais e relevantes ao
assunto abordado.
O primeiro filtro deu-se pelo título de cada obra e os trabalhos duplicados foram excluídos. Após isso, partiu-se para a etapa de
seleção e análise de artigos, onde leu-se os resumos dos mesmos e definiu-se os mais adequados ao assunto. Os artigos
considerados enquadrados no tema proposto foram lidos e analisados. Por fim, definiu-se os tópicos a serem abordados no
presente trabalho.
O Fluxograma da Figura 1 ilustra a metodologia empregada.

Figura 1: Metodologia empregada

A Tabela 1 ilustra as palavras-chaves utilizadas, o número de resultados encontrados e o número de trabalhos


selecionados.
Tabela 1: Número de resultados encontrados e selecionados

Base de dados Palavras-Chave Resultados Selecionados


Portal da capes Biomassa + Adsorção 107 7
Portal da capes Biomass + Adsorption 52.056 25

Para tópicos introdutórios e conceitos importantes optou-se por utilizar referências mais antigas ou encontradas fora da base de
dados escolhida, pois tratam-se de trabalhos importantes para a construção do presente trabalho.

Resultados
O termo biomassa abrange todas as formas de material orgânico. Pode ser dividido em duas categorias diferentes: materiais
residuais ou cultivos energéticos. Os resíduos de biomassa incluem resíduos agrícolas e florestais, resíduos sólidos urbanos,
resíduos de processamento de alimentos e esterco animal, entre outros. (Bedia et al., 2018). Os diferentes tipos de matérias-

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primas de biomassa estão resumidos na Figura 2.

Figura 2: Exemplos de biomassas

Fonte: Adaptado Bedia et al., 2018.

Se reaproveitados os resíduos de biomassa podem ser usados como matéria-prima para a síntese de novos produtos, bem como
para reduzir o consumo de energia de fontes de combustíveis fósseis não renováveis. Além disso, a utilização destes resíduos
também pouparia espaço em aterros e aumentaria o valor agregado da biomassa. (Bedia et al., 2018).
Por outro lado, a contaminação da água por poluentes orgânicos e inorgânicos, tais como metais tóxicos, BTEX (benzeno,
tolueno, etil-benzeno e xileno), HPAs (Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos), contaminantes emergentes, entre outros,
desencadeou a necessidade de desenvolver tecnologias no intuito de remover esses poluentes encontrados em efluentes
líquidos.
A adsorção é uma operação unitária que envolve o contato entre uma fase fluida (adsorbato) e uma sólida (adsorvente),
originando uma transferência de massa da fase fluida para a superfície do sólido ocorrendo a acumulação de uma substância
sobre a superfície da outra. (Francischetti, 2004).
Este fenômeno depende tanto das propriedades do adsorvato e do adsorvente, quanto dos fatores externos. Para os adsorventes
as principais características são: área superficial, distribuição do tamanho dos poros, teor de cinzas, massa específica, grupos
funcionais presentes na superfície e hidrofobicidade do material. A natureza do adsorbato depende da polaridade, tamanho da
molécula, solubilidade das espécies, acidez ou basicidade. (Kieling, 2016; Brinques, 2005).
Diante disso, diversos estudos vêm sendo realizados no sentido de avaliar a capacidade de adsorção de biomassas residuais
para o tratamento de contaminantes orgânicos e inorgânicos em soluções aquosas.

Adsorção de Metais
Segundo Ferreira et al. (2015) o elevado custo de tratamento de contaminantes de íons metálicos dificulta o processo. Os
mesmos autores estudaram a cinza do bagaço da cana-de-açúcar, como bioadsorvente, avaliando a sua eficiência na remoção
Cu2+ e Cr3+ presentes no efluente líquido gerado pela indústria de petróleo. Obtiveram uma eficiência de remoção média de
97,3% para o Cr3+ e 96,4% para o Cu2+, e concluíram que este bioadsorvente pode ser aplicado em diversos efluentes
líquidos, como a água produzida nos poços petrolíferos. (Fereirra et al., 2015).
Fleck, Tavares e Eyng (2015), apresentam alguns bioadsorventes (Figura 3) utilizados para remoção de íons metálicos. Os
mesmos, salientam que alguns bioadsorventes podem apresentar eficiência elevada para adsorção de inúmeros metais, contudo,
existem muitos bioadsorventes que são específicos para determinados tipos de metais.

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Figura 3. Bioadsorventes testados para diferentes metais

Fonte: Fleck; Tavares; Eyng, (2015) e Mudhoo; Garg; Wang (2012)

O potencial da biomassa seca das macrófitas Pontederia rotundifolia (Pontederiaceae) e Salvinia biloba (Salviniaceae) como
materiais adsorventes para remoção de íons Cu2+ e Pb2+ de solução líquida foi avaliado por Freitas; Battirola; Andrade,
(2018). De acordo com os autores, os ensaios cinéticos revelaram que a adsorção foi inicialmente rápida para ambos os
adsorventes. Concluíram então, que o adsorvente S. biloba é recomendado para remoção de Cu2+ de soluções, enquanto que
ambos os adsorventes podem ser indicados para remoção de Pb2+.
Resíduos do processamento da mandioca como biosorventes para o tratamento de Cu (II) e Zn (II) presentes em água foram
avaliados por Schwantes et al. (2015). Os autores realizaram primeiramente uma caracterização dos biossorventes, onde
avaliaram a morfologia superficial, composição de minerais, grupos funcionais e ponto de carga zero (PCZ). Após isso,
avaliaram o potencial de adsorção por técnicas cinéticas, de equilíbrio e termodinâmicas. Por fim, concluíram que os resíduos
da mandioca são potenciais adsorventes para descontaminação de Cu (II) e Zn (II) em água.
Parlayici e Pehlivan (2019), prepararam bioadsorventes a partir da casca de cranberry (CKS), casca de rosa mosqueta (RSS) e
casca de banana (BP) para remoção de Cr (VI) em soluções aquosas. A caracterização foi realizada por FTIR (Infravermelho
com transformada de Fourier) e os ensaios de adsorção foram realizados sob diferentes critérios, como a quantidade de
adsorvente, tempo de influência, temperatura, concentração de Cr (VI) e pH. Além disso, modelos cinéticos, isotermas de
equilíbrio de adsorção e termodinâmica foram realizados. A eliminação máxima de Cr (VI) da fase líquida teve sucesso em pH
2,0. A remoção ótima de Cr (VI) foi realizada em uma quantidade de biomassa de 10 g/L. Aplicando a equação do modelo de
Langmuir, a capacidade máxima de adsorção de Cr (VI) em BP, RSS e CKS foi de 10,42, 15,17 e 6,81 mg/g, respectivamente.
Paz; Garnica; Curbelo (2018), avaliaram a capacidade do bagaço de cana-de-açúcar, modificado quimicamente (tratamento
com ácido sulfúrico 1,0 mol/L), para a retenção de íons metálicos de chumbo. Os experimentos realizados pelos autores
mostraram que a maior capacidade de absorção foi alcançada na temperatura de 30°C, sendo aproximadamente 4,8 mg de
metal adsorvido por grama de adsorvente. O modelo de Langmuir foi o que melhor descreveu o processo de adsorção.
Tovar; Ortiz; Paternina (2015), estudaram a capacidade de bagaço de palma e casca de inhame, in natura e com tratamento
ácido, para a remoção de Cr (VI) por adsorção e obtiveram uma melhora na eficiência, com a modificação, de 13-41 mg/g para
o bagaço de palma e 22-26 mg/g para a casca de inhame, além disso, concluíram que trabalhar com biomassas em sistemas
contínuos obtém-se uma melhoria no processo, por fim determinou-se que o sistema foi favorecido com pH 2 e tamanho de

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partícula de 1 mm.
A fibra e casca residuais da produção de óleo de palma foram utilizadas para produção de carvão ativado por Ramirez et al.
(2017), utilizou-se ZnCl2 para a ativação e a capacidade de remoção foi verificada utilizando-se azul de metileno em três
concentrações: 50, 100 e 150mg/L. Com isso, obtiveram áreas superficiais de 835,3 m2/g para a fibra e 575,1 m2/g para a
casca após a ativação, além de um desenvolvimento de poros bom. Por fim a capacidade de adsorção máxima encontrada foi
de 763,4mg/g para a fibra e 724,6 mg/g para a casca.

Adsorção de Orgânicos
Os compostos orgânicos, tóxicos, bem como os micropoluente orgânicos oriundos de efluentes líquidos tem causado cada vez
mais preocupação. Causadores de sérios riscos à saúde humana, por apresentarem propriedades carcinogênicas, teratogênicas
ou mutagênicas, estes compostos possuem altos níveis de toxicidade e sua principal origem vem das atividades industriais.
Além disso, estes contaminantes normalmente são resistentes a degradação natural, mantendo-se no ambiente. (Machado et al.,
2015).
Honorato et al. (2015), estudaram a capacidade de adsorção de azul de metileno dos resíduos palha de milho e da bainha do
palmito pupunha in natura através da caracterização dos mesmos. Os referidos autores avaliaram FTIR, MEV (Microscopia
Eletrônica de Varredura), ponto de carga zero (PCZ) e testes de adsorção em função do pH e concluíram que os resíduos
estudados possuem boas propriedades adsortivas e podem ser utilizados como material alternativo na remoção do corante.
Enquanto que Wang et at. (2017) produziram biocarvão, em três temperaturas de pirólise (400, 500 e 600 ºC) a partir da palha
de arroz. Esse biocarvão foi utilizado para investigar as propriedades de adsorção do 17β-estradiol (hormônio natual). As
amostras de biocarvão foram caracterizadas por MEV, FTIR, análise elementar e área superficial por BET. As influências da
temperatura de pirólise, concentração 17β-estradiol, pH, força iônica, eletrólito de fundo e ácido húmico também foram
estudadas. Os autores concluíram que o biocarvão de alta temperatura exibiu uma melhor capacidade de adsorção para o 17β-
estradiol em solução aquosa, quando comparado aos de baixa e média temperatura. Indicando assim, que o biocarvão de palha
de arroz de alta temperatura pode ser aplicado para o tratamento de água visando a remoção de 17β-estradiol.
Já Lorenc-Grabowska; Rutkowski (2014), produziram carvão ativado a partir de celulose, serragem e suas misturas com
poliestireno e polipropileno por um processo de pirólise de duas etapas seguido por ativação de vapor a 850°C. Esses carvões
foram usados para determinar as propriedades de adsorção em relação ao fenol, vermelho do Congo e vitamina B12. O tempo
de equilíbrio e a capacidade de sorção de equilíbrio foram determinados. Constataram que a mistura serragem/polipropileno
possui alta eficiência de adsorção em relação ao fenol, por outro lado, a mistura de celulose e serragem (a qual passou por duas
etapas de pirólise) apresentou alta capacidade de adsorção em relação ao vermelho do Congo e vitamina B12.
Compósitos de biopolímeros (polianilina, amido, polipirrol, quitosana anilina e quitosana pirrol) e casca de amendoim foram
utilizados por Tahir et al. (2017) para avaliar a adsorção do corante violeta cristal em água e verificaram que este tipo de
mistura pode ser um potencial adsorvente para o tratamento de corantes de efluentes têxteis.
Caprariis et al. (2017), estudaram o tratamento da água residual do processo de pirólise do álamo utilizando o biochar do
próprio processo. Testou-se três biocarvões, sendo dois obtidos por diferentes temperaturas (550 e 750°C) e um através da
ativação química da biomassa bruta, utilizando-se NaOH. Os resultados obtidos revelaram que a capacidade de adsorção do
biocarvão foi ampliada com o aumento da temperatura de pirólise e consequente aumento de área superficial. No entanto, o
processo de ativação química mostrou-se ainda melhor, pois possibilitou uma área superficial ainda maior equiparando-se a de
um carvão ativado comercial e uma capacidade de adsorção 2,5 vezes maior do que a do mesmo. (Caprariis et al., 2017).
Lima et al. (2019) utilizaram a biomassa residual da casca de castanha do Brasil para o desenvolvimento de carvão ativado, os
quais foram utilizados na adsorção de paracetamol para o tratamento de efluentes sintéticos hospitalares. O carvão ativado das
cascas da castanha apresentou alta porcentagem de remoção (até 98,83%), além disso, o adsorvente foi regenerado
magnificamente até 74% com uma mistura de solução de 0,1 mol L-1 NaOH + 20% EtOH, podendo ser reutilizado por até
quatro ciclos, garantindo o uso sustentável do adsorvente.

Conclusões
Diante de toda a pesquisa encontrada no campo de bioadsorventes para a remoção de poluentes, tanto inorgânicos quanto
orgânicos, presentes em águas e efluentes, pode-se perceber que há um grande potencial nesta área de estudo. A pesquisa
bibliográfica permitiu verificar que as mais variadas biomassas, das mais variadas origens podem ser utilizadas para um
processo relevante e necessário ao nosso dia a dia e para o futuro sustentável da sociedade em que vivemos.
Além disso, outros ganhos ambientais podem ser levantados como: aproveitamento de resíduos, diminuição da quantidade de
resíduos em aterros, menor consumo energético para a fabricação de materiais comerciais, dentre outros. A partir dessa
revisão, verifica-se que biomassas de diferentes origens são excelentes materiais para a remoção de poluentes orgânicos e
inorgânicos.
Portanto, verifica-se a necessidade de implementar esses adsorventes alternativos em escala industrial, levando em conta a
disponibilidade de resíduos de biomassa e os rendimentos do processo global de fabricação.

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Referências Bibliográficas
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579
5SSS176
INDICADORES E CORRELAÇÕES DOS ASPECTOS E IMPACTOS
AMBIENTAIS DOS CANTEIROS DE OBRAS
Letícia Gabriela Schaefer1, Aline Baruffi2, Roberto dos Santos Ritter3, Douglas Luís Carissimo Robaldo4
1Universidade Anhanguera, e-mail: leticiagabrielaschaefer@gmail.com; 2Universidade Anhanguera, e-mail:
aline.baruffi@hotmail.com; 3e-mail: robertosantosritter@gmail.com;
4Graduação em Engenharia Civil, Faculdade IMED, e-mail:douglas.carissimo@gmail.com;

Palavras-chave: Canteiro de obras; Construção civil; Impactos Ambientais.

Resumo

A construção civil é responsável por uma parte significativa dos impactos negativos causados ao ambiente. O canteiro de obras
responde por uma grande parcela dos mesmos, podendo causar interferências no meio físico, biótico e antrópico. Alguns
estudos já alertam para os riscos referentes aos danos em canteiro e a demasiada geração de resíduos. Porém, outros aspectos
ambientais que devem ser levados em consideração são, ruídos, poeiras, contaminações do solo, do ar e da água, vibrações,
etc., não vem recebendo a devida atenção, apesar de os danos causados não serem menos importantes. A degradação sofrida
pelo meio ambiente em virtude das ações humanas, é uma preocupação que está presente no cotidiano das pessoas, alguns
assuntos relacionados, como por exemplo aquecimento global e reciclagem são expostos diariamente em vários meios de
comunicação. Nas últimas décadas, a ampliação das discussões sobre os problemas ambientais urbanos e a incorporação de tal
temática ao meio político é uma realidade. Entretanto, o cenário na maior parte das cidades de médio a grande porte
especialmente nos países periféricos, ainda retrata a degradação ambiental e a redução da qualidade de vida em grande parte da
sociedade, reforçando a distância entre o discurso e a prática. Com essa premissa, a construção civil representa um dos setores
de maior relevância para o desenvolvimento econômico e social. Porém, as atividades da construção afetam o meio ambiente
ao longo do ciclo de vida do desenvolvimento. Estes impactos ocorrem desde o trabalho inicial no local, passando pelo período
de construção, pelo período operacional e entrega, assim como, o fim da sua vida útil. O objetivo geral do presente trabalho é
identificar os principais impactos das atividades de construção no meio ambiente e este trabalho foi através de uma revisão da
literatura. Com isso conclui-se que a seleção de materiais de construção disponíveis comercialmente durante a fase do plano de
trabalho do processo de design desempenha um papel básico na aplicação do conceito de construção verde. Apesar da ampla
gama de ferramentas de avaliação ambiental desenvolvidas recentemente (que dão uma ajuda valiosa na fase inicial do
projeto), atualmente arquitetos e engenheiros são deixados quase sozinhos nesse processo de seleção.

Introdução

O processo de produção da construção civil é orientado pelo modelo desbravador, baseado na transformação do meio natural
em meio construído. Nele, a proteção do meio ambiente é visível como antidesenvolvimentista (LIDDLE, 1994), e a natureza,
como um meio de fornecimento ilimitado capaz de absorver inúmeras quantidades de resíduos. Nessa percepção, apenas o
tempo, o custo e a qualidade são considerados (JOHN, 2000).
No âmbito da construção civil, desde a antiguidade é possível notar que está sempre existiu visando atender às necessidades
básicas do ser humano, de início sem preocupações com as técnicas adotadas e os impactos gerados ao meio ambiente pelas
mesmas, visando apenas atingir seus objetivos (CORRÊA, 2009).
Diante disto, a etapa de construção responde por uma parcela significativa nos impactos causados ao ambiente. Tais impactos
gerados pelos canteiros de obras podem ser distinguidos em dois grupos, o primeiro grupo é em decorrência das perdas pela
geração de entulhos e resíduos, e o segundo grupo corresponde as interferências na vizinhança, no meio físico, biótico e
antrópico do local de construção.
A construção é responsável por cerca de 50% das emissões atmosféricas, poluição de efluentes de água e de outras liberações.
A poeira e outras emissões incluem a emissão de dióxido de carbono que é produzido sempre que os combustíveis fósseis são
queimados para obter energia; substâncias tóxicas, como óxidos de nitrogênio e enxofre, liberados durante a produção e a
transposição de materiais, bem como das atividades no local, causam séria ameaça ao meio ambiente natural (ALMEIDA;
RUBERG, 2015).
Em virtude dos fatos, a Constituição Federal de 1988 relatou diversos instrumentos para a proteção do meio ambiente no país,
sendo a primeira a tratar de forma específica da questão ambiental. A Declaração de Estocolmo, de 1972 influenciou na
elaboração do capítulo do meio ambiente da atual Constituição Brasileira em especial seu primeiro princípio, que estabelece
que: “o homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequada em um meio

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cuja qualidade lhe permite levar uma vida digna e gozar de bem-estar e tem a solene obrigação de proteger e melhorar esse
meio para as gerações presentes e futuras [...]” (BRASIL, 1988).
Nas últimas décadas, a ampliação das discussões sobre os problemas ambientais urbanos e a incorporação de tal temática no
meio político é uma realidade. Contudo, o cenário na maior parte das cidades de médio e grande porte, em especial nos países
periféricos, ainda retrata a degradação ao ambiente e a redução da qualidade de vida por grande parte da sociedade, ampliando
a distância entre o discurso e a prática (RICETO et al., 2011).
Além disso, o desenvolvimento sustentável (ODS) determinou três princípios fundamentais a serem desenvolvidos, como o
desenvolvimento econômico, proteção ambiental e a igualdade social. Apesar disso, o citado documento foi amplamente
criticado por evidenciar a situação de insustentabilidade do planeta, principalmente no que diz respeito aos geradores de
resíduos e poluentes ou outras ações que venham a degradar o meio ambiente (GUALBERTO et al., 2019).
Conforme apresentam Agopyan e Johnas (2011), as atividades de construção afetam o meio ambiente ao longo do ciclo de vida
do desenvolvimento. Estes impactos ocorrem desde o trabalho inicial no local, passando pelo período de construção, período
operacional e entrega, assim como, o fim da sua vida útil. No Brasil, o panorama dos resíduos da construção civil gerou em
2017 um total de 78,4% milhões de toneladas.
O aspecto mais prejudicial da construção, em termos de contribuir para a mudança climática é a operação de maquinários
pesados em projetos de mineração que realizam a extração da matéria-prima para uso em projetos de construção. A indústria
global de cimento contribui com aproximadamente 5% das emissões globais de dióxido de carbono. As aplicações de
combustível e eletricidade também são grandes contribuintes - combustíveis fósseis são usados para extrair e transportar
minerais, processar materiais e até mesmo ferramentas elétricas em canteiros de obras (NAGALI, 2014).

Materiais e Métodos

O presente trabalho trata de uma revisão de literatura, com o intuito de reunir informações e criar um banco de dados para
construir uma investigação para a proposta apresentada.

Metodologias e Seleção de Materiais com Base em seu Desempenho no Ambiente


Uma definição homogênea e universalmente aceita de materiais de construção ecológicos até o momento não existe, e estes na
maioria das vezes são considerados material ecológico ou ambientalmente responsável. Devido a esta incerteza, vários
materiais foram apresentados ao mercado com uma afirmação genérica de materiais verdes, mas sem nenhuma prova a fim de
comprovar ou até mesmo reivindicar algumas ações enganosas (KUBBA, 2010).
De acordo com uma percepção comum e mais sensível, os materiais de construção ecológicos podem ser definidos como,
sustentável durante todo o ciclo de vida. Em particular, não devem causar poluição em ambientes fechados (compostos
orgânicos voláteis, fibras perigosas). Dispersão, emissão de rádon, proliferação de poluentes biológicos e incômodo climático,
ambos os aspectos a serem considerados em conjunto (SANDROLINI & FRANZONI, 2008).
Ao tratar sobre essa definição, surge imediatamente uma questão chave, onde há a inexistência de um material de construção
verde em oposição a materiais não verdes, em virtude da fabricação, do transporte, da acomodação, descarte e/ou reciclagem
de materiais. Por este motivo, não é possível quantificar a quantidade de materiais ecológicos. Em todo processo desde as
concepções de projeto deve-se escolher os materiais disponíveis no mercado, aliando a tecnologia e o desempenho do mesmo.
Uma consideração preliminar deve ser realizada ao tratar com a questão de seleção de materiais, além da denominação verde,
os materiais devem atender vários requisitos estabelecidos pelas normativas nacionais e internacionais. Tais materiais devem
atender alguns requisitos que são exigidos, podemos citar os desempenhos térmicos e acústicos, peso, estética e custo.
Desde que todos os requisitos sejam atendidos, a escolha do material com base em seu impacto ao meio ambiente e na saúde
humana, ocorre em duas etapas distintas, a primeira etapa é o estágio de avaliação do projeto, analisando as diferentes
viabilidades e soluções, e incorpora-se as questões ambientais junto ao processo de tomada de decisão, podemos citar como
exemplo nesta fase, a escolha entre estruturas de concreto ou de aço, ou estrutura hibrida que pode ser executada atendendo os
critérios ambientais. A segunda etapa consiste na escolha dos materiais que serão empregados, quando uma rigorosa seleção
dos materiais deve ser realizada, onde se analisa cada produto, levando em consideração algumas informações fornecidas
como, i) métodos de avaliação ambiental; ii) etiquetas "verdes"; iii) informações fornecidas na ficha técnica pelo fabricante; iv)
conhecimento básico de materiais, características e propriedades (LEE; TRCKA; HENSEN, 2011).
Falta de parâmetros levando em consideração a contribuição dos materiais para a qualidade do ar interno. Esse aspecto mal é
levado em consideração pelas ferramentas de avaliação ambiental e parâmetros adequados ainda estão sendo desenvolvidos
(FORSBERG; MALMBORG, 2004), mesmo que alguns esforços tenham sido feitos para estabelecer procedimentos de
avaliação da contribuição dos materiais de construção para a poluição interna.
Devido a esses pontos fracos, a comparação de materiais por meio de diferentes ferramentas de avaliação é difícil. Além disso,
a aplicação de tais ferramentas requer um esforço considerável em termos de tempo e custo e é geralmente realizada
principalmente para novos edifícios, mesmo que algumas ferramentas, como o EcoEffect, tenham sido desenvolvidas para
edifícios existentes e para edifícios de "alta qualidade" (HAAPIO; PERTTI, 2008).

581
No entanto, no contexto brasileiro, o horizonte é caracterizado por edifícios relativamente antigos, onde a renovação é o tipo de
intervenção mais frequente. Nesses casos, a complexidade dessas ferramentas os impede uma aplicação real, também porque
uma reforma radical do prédio de acordo com os severos requisitos de sustentabilidade geralmente não é viável por razões
econômicas. Em suma, essas ferramentas de avaliação são principalmente adequadas para o estágio inicial do projeto de
construção, para uma avaliação preliminar do impacto ambiental dos materiais de construção e, portanto, para apoiar as
primeiras escolhas estratégicas.
A seleção dos materiais a serem utilizados geralmente é realizada com base em suas informações técnicas fornecidas pelo
fabricante e apresentando os principais recursos e propriedades do material e seus componentes. Este documento apresenta
informações precisas e confiáveis acerca do material. Apesar deste esforço, as planilhas de dados são frequentemente
consideradas uma ferramenta de publicidade, portanto relatam informações imprecisas ou não condizentes com o produto. Em
relação à qualidade ambiental dos materiais: A possível contribuição para a poluição interna é raramente considerada. As
principais exceções são tintas, cujas folhas de dados geralmente relatam a quantidade de Composto Orgânico Volátil (COV) no
material. As folhas de dados de madeira composta em alguns casos limitados relatam o conteúdo de formaldeído, enquanto
casos esporádicos, folhas de dados de ladrilhos e tijolos relatam dados sobre a emissão de radônio (FORSBERG;
MALMBORG, 2004).
No entanto, quando não apresentados diretamente junto a ficha técnica, informações indiretas sobre a formulação dos materiais
investigados e na presença de componentes perigosos podem ser encontradas na datasheet, relatando separadamente as
informações de segurança e saúde e geralmente fornecidas pelo fabricante, em vez de diretamente para download no site
representante. Folhas de dados de segurança são obrigatórias sempre que houver substâncias perigosas e, portanto, devem
cumprir um formato, onde as informações são ordenadas e exaustivas e representam uma ferramenta valiosa para criar
designers (ISO 14025, 2015);
Apesar das informações estarem apresentadas muitas vezes de forma incompleta nas fichas técnicas, tal folha de dados
representa a base na qual avaliação deve ser fundamentada. Assim, o uso mais difundido de ferramentas de seleção de
materiais deve ser considerado a maneira mais praticável de se chegar a um escolha de materiais no plano de trabalho e nas
etapas de construção; caso contrário, os projetistas não terão acesso às informações necessárias para qualquer avaliação
ambiental.No entanto, uma perspectiva de sustentabilidade sobre seleção de materiais (de acordo com os princípios da ACV
prescritos na ISO 14025), embora fundamental, é apenas parcial para a obtenção da meta de 'Edifícios Verdes', como os
aspectos de impacto ambiental e a contribuição para a qualidade do ar interior ainda devem ser sempre considerados como
parte do conjunto.

MEDIDAS PREVENTIVAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL QUE MINIMIZAM O IMPACTO AMBIENTAL

A população, na sua grande maioria necessitam de vários edifícios para sustentação de suas vidas durante a civilização. Essas
instalações causam inúmeros problemas ambientais desde a fase de construção, operação, manutenção e demolição. Grande
parte destas edificações consomem uma demanda enorme de energia e recursos naturais, causando um impacto nas mudanças
climáticas, afetando a qualidade do ar e da água no abastecimento das cidades (VYAS et. al., 2014).
Conforme Dixon (2010), 45% da energia mundial e 50% da água são usados por edificações. Quando olhou efeitos ambientais;
23% da poluição do ar, 50% da produção de gases de efeito estufa, 40% da poluição da água e 40% dos resíduos sólidos nas
cidades são problemas ambientais causados por edifícios. Esses problemas ambientais causados pela indústria da construção
podem ser substancialmente reduzidos através de mudanças nas aplicações. Além disso, o efeito mais explícito ou mensurável
da indústria é sobre o meio ambiente, seus efeitos também causam importantes desvantagens (CIB; UNEP-IETC, 2002).
Uso intensivo de recursos naturais devido às atividades da indústria da construção, resíduos sólidos, líquidos e gás, as emissões
ao final das atividades de construção e demolição tem um grande impacto negativo junto ao meio ambiente. Estes impactos
negativos podem ser resumidos como, o consumo de recursos não renováveis, diminuição de diversidade, devastação de áreas
florestais, perda de áreas agrícolas, poluição do ar, da água e do solo, destruição de recursos naturais áreas verdes e
aquecimento global.
A indústria pode aumentar substancialmente a qualidade de vida de pessoas de baixa renda com oportunidades de trabalho,
graças à sua natureza de produção intensa, onde pode contribuir para o desenvolvimento da sustentabilidade social através do
serviço de prevenção da pobreza na sociedade (CIB e UNEP-IETC, 2002).
Caso contrário, soluções permanentes não são encontradas para os problemas causados pelas produções da indústria da
construção, fazendo com que sustentabilidade e desenvolvimento sustentável não sejam possíveis. Nesta etapa, arquitetura
sustentável e conceitos de construção sustentável que servem para uma abordagem sistemica ao assunto, determinando
princípios, estratégias e métodos a se tornarem proeminentes para encontrar soluções para problemas ambientais causados
pelas edificações edifícios.

582
ARQUITETURA SUSTENTÁVEL
Em construções sustentáveis, a arquitetura sustentável vem se mostrando presente com a finalidade de zelar pela saúde e o
conforto dos usuários, minimizando os impactos causados na extração dos recursos naturais, buscando a utilização de resíduos
reciclados. (SOLANO, 2008).
Energia, água e matéria prima, são recursos básicos que constituem os principais insumos para a construção, proteção de
energia, água e material, que é um dos princípios da arquitetura sustentável, lidera o design da arquitetura e é obtida través da
diminuição de recursos não renováveis, que constituem insumos para a construção ou controle de resíduos que estão fora da
construção. Além do processo de construção, o período de serviço e atividades de manutenção e reparo e durante o controle de
demolição, demanda uma quantidade de geração de resíduos, ao qual deve ser descartado corretamente. (KIM; RIGDON,
1998).
.
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
Construção sustentável é a aplicação de princípios de desenvolvimento sustentável a um ciclo de vida planejar a construção,
construção, mineração de matéria-prima para produção e tornar-se material de construção, uso, destruição de construção e
gerenciamento de resíduos. É um processo holístico que visa sustentar a harmonia entre a natureza e o ambiente construído,
criando assentamentos adequados às necessidades humanas e igualdade (KIBERT, 2005).
Kibert também conceituou um modelo onde a construção sustentável está presente na interseção de componentes de princípios,
estágios e recursos. De acordo com esse modelo, princípios de construção sustentável são aplicados a quaisquer recursos
necessários em ambas as fases do ciclo de vida da construção. Com base nesse modelo, pode-se dizer que o design consciente é
colocado no centro da construção sustentável e diminui os efeitos no consumo de recursos naturais e sistemas ecológicos
(KIM; RIGDON, 1998).
A construção sustentável tem como objetivo a criação e manutenção responsáveis de um ambiente construído saudável,
baseado na utilização eficiente de recursos e em princípios ecológicos.” Com base nesta definição, o CIB apresentou os Sete
Princípios Para a Construção Sustentável, princípios esses que, ao serem respeitados nos processos de decisão que ocorrem em
cada uma das fases do ciclo de vida dos edifícios, conduzem à criação de edifícios mais sustentáveis: Reduzir o consumo de
recursos; Reutilizar recursos; Utilizar recursos recicláveis; Proteger a natureza; Eliminar os produtos tóxicos; Analisar os
custos de ciclo de vida e Assegurar a qualidade (KIM; RIGDON, 1998).

Resultados e Discussão

Os profissionais responsáveis pelas edificações, devem estar cientes dos impactos causados ao meio ambiente. Estes incluem
os impactos na biodiversidade, clima global e esgotamento do ozônio, na disponibilidade e qualidade do solo, do ar e da água,
no esgotamento dos recursos naturais, na geração de resíduos e no consumo mineral (incluindo fonte de energia). Alguns
destes acabarão, embora talvez imperceptivelmente, afetem o próprio edifício e seus usuários. Portanto, cada edifício deve ser
planejado e projetado, com o intuito de minimizar os impactos ambientais e o menor consumo possível da materia prima, e na
fase de planejamento debe-se realizar um estudo para o reaproveitamento de materiais para outras finalidades, ou até mesmo a
utilização de materiais ecológicamente corretos ou reciclados, como podemos citar o RCD-R (Residuo de Construção e
Demolição Reciclado).
Foi descrita uma abordagem que inclui a avaliação da contribuição das edificações para a carga ambiental antropogênica total,
ponderando vários problemas ambientais, adotar princípios para determinar a sustentabilidade e estabelecer metas com base
em critérios de sustentabilidade. Esses elementos usados em conjunto com outras metodologias melhorarão a abrangência dos
métodos em informar decisões para otimizar a construção total desempenho ambiental.

Considerações Finais

A seleção de materiais de construção disponíveis comercialmente durante à fase do plano de trabalho do processo de design
desempenha um papel básico na aplicação do conceito de construção verde. Apesar da ampla gama de ferramentas de
avaliação ambiental desenvolvidas recentemente (que dão uma ajuda valiosa na fase inicial do projeto), atualmente arquitetos e
engenheiros são deixados quase sozinhos nesse processo de seleção.
De fato, atualmente eles não têm acesso a qualquer informação relativa ao processo de fabricação nas fichas técnicas dos
materiais e impedi-los de ter a chance de uma escolha sensata. Os aspectos de impacto ambiental e contribuição para a
qualidade do ar interior devem ser sempre considerados em conjunto com ferramentas de avaliação adequadas, bem como as
informações fornecidas pelos fabricantes nas folhas de dados dos materiais devem ser esclarecedoras o suficiente para serem
extensivamente aplicadas à edifícios novos e existentes, porém estas ainda precisam ser desenvolvidas e integradas no mercado
alvo.

583
Referências Bibliográficas

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584
5SSS179
POTENCIAL DE REDUÇÃO DE TEMPERATURA NA
SUPERFÍCIE EXTERNA DE MORADIAS UTILIZANDO
FACHADAS VERDES

Paula Fensterseifer ¹, Caroline De Boer Dias ², Elaise Gabriel3, Rutineia Tassi4, Joaquim Cesar Pizzutti5,
Rogério Cattelan Antocheves de Lima6, Daniel Gustavo Allasia Piccilli7
¹Universidade Federal de Santa Maria, e-mail: paula.fens@gmail.com; ² Universidade Federal de Santa Maria, e-
mail:carol.dboer@gmail.com; ³ Universidade Federal de Santa Maria, e-mail: elaisegabriel@hotmail.com; 4
Universidade Federal de Santa Maria, e-mail: rutineia@gmail.com; 5 Universidade Federal de Santa Maria, e-
mail:joaquimpizzutti@hotmail.com, 6 Universidade Federal de Santa Maria, e-mail: rogerio@ufsm.br,7
Universidade Federal de Santa Maria, e-mail: dallasia@gmail.com

Palavras-chave: Infraestrutura verde; Sistemas de Baixo Custo; Ilhas de calor urbano.

Resumo
As estruturas verdes tem por conceito auxiliar na eficiência térmica dos edifícios, auxiliar na melhoria da qualidade do ar e ser
fonte de beleza cênica em ambientes urbanos. Diferente de outras soluções como o fachada verde maciço que impede a
passagem do ar e, consequentemente, a troca de calor, as fachadas verdes conseguem atingir a estabilidade térmica através da
barragem da radiação solar, transformando-a em fonte para a fotossíntese das plantas que a constroem. Neste trabalho foi
planejada e implementada uma fachada verde experimental com plantas da espécie Glicínia (Wisteriafloribunda) em uma casa
popular sustentável unifamiliar. Fotografias térmicas foram capturadas buscando avaliar o grau de interferência que a fachada
causaria na temperatura retida pela parede em um dia de verão. Os resultados demonstram que, quando comparadas as áreas
protegidas e não protegidas pela estrutura, ocorre uma redução de até 27°C na parede externa da moradia. Portanto, há uma
grande potencialidade de uso das fachadas verdes como redutores da carga térmica em construções urbanas e, além disso, este
tipo de solução pode ser considerado como de baixo custo, já que não exige mudanças em estruturas consolidadas. Outro
benefício associado a esta prática é a possibilidade de contribuírem para a redução do fenômeno conhecido como ilhas de calor
em grandes centros urbanos, que causa problemas ambientais, estruturais e psicofisiológicos.

INTRODUÇÃO
Em nosso planeta, o número de moradores urbanos cresceu desde 1920, de seiscentos milhões para dois bilhões até o ano
de 1986 (SANTAMOURIS et al., 2001)e, até o final de 2050, é estimado que 68% de toda população mundial resida em áreas
urbanas, segundo as Nações Unidas (2018). Na América do Sul a expansão das áreas suburbanas tende a ser irregular e não
planejada. No Brasil, e em outros países em desenvolvimento, as grandes concentrações populacionais se dão em pequenas
áreas, o que cria áreas urbanas com altas densidades, criando uma irregularidade de ocupação, devido à desocupação das áreas
rurais (TUCCI; BERTONI, 2003).
Segundo Alexandri e Jones (2008), em decorrência da demanda por áreas nos centros urbanos, a paisagem é modificada
com a retirada davegetação, assim, a dinâmica climática da área é alterada descaracterizando o clima local. Outro fator
impactante para o meio local são as próprias construções populares desenvolvidas em larga escala nos espaços urbanos, já que
elas não prezam pelo conforto térmico necessário nem contribuem para a eficiência energética da edificação, que acabam
necessitando de equipamentos elétricos para atingir o resfriamento interno(SANTOS et al., 2015).Em decorrência desses
fatores, as áreas urbanizadas acabam criando ilhas de calor urbanas (CUCE, 2017), que têm se tornado perenes em diversas
cidades, sendo resultado de diferenças no equilíbrio energético entre as áreas urbana e rural (SUN; CHEN, 2007; OKE, 1982).
Como os centros urbanos possuem diversas estruturas em materiais como o concreto, que possuem grande capacidade de
armazenar energia térmica, há um aumento nas temperaturas superficiais e do ambiente (KOYAMA et al., 2013;
TAKEBAYASHI; MORIYAMA, 2007). Oke (1982), cita também outros impactos causados como a radiação solar
transformada em calor por superfícies presentes nas cidades, que retorna para a atmosfera em forma de energia térmica com
retardo de algumas horas, o que prolonga o aumento da temperatura para o período noturno.

585
Além dos danos ao meio ambiente, outros problemas estão associados com as ilhas de calor como: os distúrbios a saúde da
população, o aumento da poluição por meio do uso de aparelhos refrigeradores de ambiente e também, o desconforto térmico
(KOLOKOTRONI et al., 2012; SMITH et al., 2017; OKE, 1982). Levando em consideração todos estes fatores, Cuce (2017)
argumenta pelo uso imediato de soluções de baixo custo em áreas intensamente urbanizadas que sejam ambientalmente
adequadas, e que mitiguem e controlem o fluxo térmico do local. Portanto, as soluções concebidas devem possuir além de
função ambiental e estrutural, um papel social e econômico ao permitir o uso difundido para as diferentes populações presentes
nas cidades.
Nesse contexto as infraestruturas verdes surgem como uma possível solução para os problemas citados, sendo estas
definidas como áreas vegetadas no interior ou nos arredores dos centros urbanos(CALDERÓN-CONTRERAS; QUIROZ-
ROSAS, 2017). Estas técnicas podem incluir o uso de vegetação em fachadas de edifícios, o incremento do albedo em
construções, o emprego de espaços verdes, entre outros que contribuam para a manutenção do calor e regulação das áreas
urbanas (SUN; CHEN, 2017). Estes sistemas podem ser denominados serviços ecossistêmicos como denota Mcphearson,
Hamstead e Kremer (2014), ao se referirem aos proventos da natureza que podem ser utilizados e explorados pelo homem
como água, solo e plantas, ou bens de uso difuso como o sequestro de carbono, melhora da qualidade do ar, redução da
sedimentação em rios, regulação da temperatura e até o controle de vazões de rios. Essas adaptações são os caminhos que têm
sido foco de recentes pesquisas, buscando alterar os centros urbanos para atingir equilíbrio entre as necessidades da população
em relação à sua saúde e o meio ambiente (CALDERÓN-CONTRERAS;QUIROZ-ROSAS, 2017; MCPHEARSON et al.,
2015).
Uma das soluções disponíveis é fazer o uso de vegetação para diminuir a passagem de radiação solar sobre as superfícies
construídas, evitando assim, seu aumento de energia térmica (KOYAMA et al., 2013). O uso da vegetação junto às fachadas
(fachada verde) de edifícios pode ser considerado como um dos princípios da sustentabilidade e da eficiencia energética e,
ainda, através da fotossíntese pode fornecer um ambiente mais fresco e agradável (SCHERER; FEDRIZZI, 2014; JIM, 2015).
Uma fachada verde é um sistema vegetado vertical nos quais plantas trepadeiras são enraizadas na terra ao redor dos edificios
e, diferentemente dos protetores maciços comuns (brises vegetais), não acumulam calor (SCHERER; FEDRIZZI, 2014). Dessa
forma, as fachadas vegetais são constituintes de técnicas adequadas de mitigação dos problemas gerados pelas ilhas de calor já
que possibilitam o resfriamento através da elevação das taxas de evapotranspiração, quando comparadas a estruturas
impermeáveis (SUN; CHEN, 2017).
Nesse contexto, as fachadas verdes têm sido amplamente pesquisadas por serem uma ferramenta eficiente na redução da
energia térmica presente em superfícies, colaborando para a redução substancial da temperatura nos centros urbanos
(ALEXANDRI; JONES, 2008; HUNTER et al., 2014; KÖHLER, 2008; KOYAMA et al., 2013; SAFIKHANI et al., 2014;
WONG et al., 2009). Há, ainda outros benefícios associados ao uso desse tipo de estrutura, como a diminuição da poluição
sonora (WONG et al., 2010), e a melhora da qualidade do ar (KOYAMA et al., 2013). Outro fator benéfico é o baixo custo
relacionado à construção destas estruruas, podendo estas serem aplicadas em edificações novas ou antigas, não necessitando de
gastos com reformas para adequação ou causando interferências nas estruturas consolidadas.
Este artigo apresenta a a instalação de um sistema de fachada verde na parede lateral Oeste da Casa Popular Eficiente
localizada em área disponibilizada para GEPETCS (Grupo de Estudos e Pesquisas em Tecnologias Sustentáveis), dentro do
Parque de Exposições da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Santa Maria - RS. Portanto a concepção final
deste trabalho foi a implantação de um sistema para paredes com alta incidência solar em comunidades de baixo custo em
moradias populares. Assim será possível avaliar o desenvolvimento da vegetação e correlacioná-lo com a temperatura da
parede e do ambiente.

MATERIAIS E MÉTODOS
Esse estudo foi realizado em uma parede pertencente à moradia denominada Casa Popular Eficiente, na cidade de Santa
Maria, Rio Grande do Sul. Essa edificação inclui princípios da sustentabilidade em todas as etapas do projeto, segundo
Vaghetti et al. (2015), onde prezou-se por materiais e soluções sustentáveis visando aproveitar todos os recursos disponíveis. A
moradia possui 55,40 m² de área construída total, com paredes em tijolos de solo cimento (60% a 80% de solo arenoso e 5% a
12% de cimento) recobertas por uma mistura de tinta ecológica (tinta de terra) que impermeabiliza e limita o acúmulo de
sujeira nos tijolos expostos. As telhas são compostas de material provindo da reciclagem do polietileno/alumínio a partir de
embalagens cartonadas de Tetra Pak®.
O munícipio de Santa Maria tem as quatro estações do ano bem definidas, com verão quente e úmido e invernos frios e
rigorosos e grande amplitude térmica. De acordo com os dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET) entre 1970 e 2007 as temperaturas máxima e mínima absolutas foram de respectivamente 40,2°C e -2,9°C, já as
temperaturas médias foram de, no mínimo 19,2°C e no máximo 25,04°C. A insolação nos meses de julho chega a 144 horas, já

586
nos meses de dezembro pode atingir 244 horas, uma das maiores médias do país (INMET, 2009). A precipitação média é de
141,49 mm por mês e a umidade relativa média do ar é de 76,38% (ROSSATO, 2011).
A parede onde foi realizado o experimento tem 8 metros de comprimento e 3 metros de altura, com orientação Oeste
recebendo radiação solar de 12h30min (Horário de Brasília) até as 18h30min nos meses de novembro até março. A estrutura da
fachada verde tem 3,5 metros de comprimento e é distante da edificação 60 centímetros. Foram escolhidas cinco trepadeiras
jovens da espécie Glicínia (Wisteriafloribunda), planta caducifólia adaptada ao clima da região sul do Brasil. Os apoios das
trepadeiras foram feitos de corda elástica de baixo custo e fácil aplicação, já que outros materiais como madeira ou bambu em
pedaços, aumentaria os preços de instalação. A Figura 1 demonstra a execução do projeto de fachada verde, nesta etapa as
plantas já estavam completamente desenvolvidas.

Figura 3: Fachada verde executada cobrindo 3,5m de parede da face oeste da moradia unifamiliar. Fonte: elaborado
pelos autores.

A Glicínia tem origem oriental e se adapta bem ao clima temperado do sul do Brasil (SCHERER e FEDRIZZI, 2014a;
SCHERER 2014; BRANDÃO, 2017). Tem uso ornamental, sendo uma trepadeira que necessita de suporte para se desenvolver
e tem baixo custo quando comparada a outras de mesma função (LOUSÃ et al., 2007). No mês de março o potencial de
transmissão solar é de 7% na região central do Estado. Além disso, as variações climáticas fazem com que a planta se adapte
bem ao ângulo de incidência solar (SCHERER; FEDRIZZI, 2014).

Instalação da fachada verde


A instalação da fachada aconteceu em duas etapas: na primeiraocorreu a montagem e plantio das mudas de
Wisteriafloribunda; na segunda etapa foram instaladas as guias de apoio para o crescimento vertical das plantas. Para a
montagem da primeira fase foram necessários cinco recipientes de plástico rígido de 50 litros, vinte ganchos metálicos, oito
metros de corda elástica, duas ripas de madeira de dimensão 5x5x300 cm, oito parafusos para concreto de diâmetro de 10mm,
oito buchas de tamanho 8, dois clips de cabo de aço com rosca, quatro metros de manta geotêxtil com 2,15 metros de altura,
mudas de Glicínia e substrato para o solo. O valor total de aquisição do material foi de 437,65 reais.
Para impedir que as raízes se espalhassem no solo, as mudas de Glicínia foram plantadas em um recipiente de volume de
cinquenta litros. Para a drenagem adequada foram feitos furos no fundo e recobertos por uma manta geotêxtil, reduzindo a
perda de sedimentos por meio do carreamento causado pela água. A cava para acomodação dos recipientes tem dimensões de
70 cm de profundidade, 350 cm de comprimento e 60 cm de largura, a uma distância de 60 cm da parede da edificação. Os
recipientes foram posicionados a 30 cm de distância entre si, o fundo foi preenchido com 10 cm de brita para facilitar a
drenagem da base e logo em seguida a esta camada foi adicionada a manta geotêxtil. O substrato e as mudas foram adicionados
posteriormente e cabe ressaltar que o substrato tem composição orgânica e foi misturado ao solo comum. Para os apoios foram
instaladas junto ao telhado e ao piso as ripas de madeira, comdez ganchos metálicos espaçados em 33 cm para a passagem da
corda elástica, que se cruza nas extremidades, criando uma forma de rede adequada para o suporte de plantas lenhosas
verticais. As etapas podem ser visualizadas na Figura 2 abaixo.

587
A B C

D E F
Figura 2: Ordem de instalação da fachada verde: Em A) perfuração dos recipientes; B) Abertura das cavas; C)
Transporte do substrato de solo; D) Posicionamento dos vasos; E) Forragem dos recipientes com manta geotêxtil; e F)
Transpasse da corda para tutor. Fonte: elaborado pelos autores.

Monitoramento termo fotográfico da fachada verde


Para melhor compreender a variação térmica foram feitas análises térmicas da parede protegida e não protegida pela
fachada com uma câmera infravermelha de tipo termógrafa. O modelo escolhido foi a T440 da empresa FLIR capaz de
registrar temperaturas de -20°C até 1200°C.
As fotografias com a câmera térmica (termógrafo) foram realizadas em três ângulos diferentes. A primeira fotografia foi
gerada de frente para a fachada verde, perpendicularmente, a uma distância de 5 metros e altura de 1,2 metros, registrando o
calor tanto na fachada verde, quando na parede sem sua proteção. A segunda fotografia registrou o calor na parede da casa
como um todo, comparando a metade sombreada com a metade exposta, a uma distância de 3,6 metros do brise, 1,4 metros da
parede e com altura de 1,5 metros. Uma última captura foi realizada a uma distância de 5 metros da lateral do terreno, a 1,5
metros de altura. Esta imagem tem como objetivo mostrar o calor em toda a casa nos lados Leste e Oeste. Na Figura 3 é
possível observar a posição de cada um dos três pontos de registro em esquema de vista superior.Para compreender mais
facilmente este trabalho somente está demostrada a imagem dos resultantes das amostras de foto retiradas da fachada verde na
Figura 4.

588
Figura 3: Esquema em vista superior da casa com os três pontos escolhidos para captura de fotografias térmicas.
Fonte: elaborado pelos autores.

Para analisar as fotos térmicas obtidas através da câmera termógrafa foi necessário o tratamento delas por meio do
programa livre da câmera FLIR denominado FLIR Tools Ink. O programaconsegue realizar as equalizações e correções para a
correta interpretação dos dados através da correlação das informações de temperatura ambiente no momento em que foram
captadas as fotografias, bem como a emissividade do material de pesquisa desejado. As imagens foram capturadas no dia
16/03/2018 às 16h, tendo como temperatura ambiente 35,9°C e radiação solar registrada em 1620 kJ/m². A emissividade
adotada para os tijolos de alvenaria da moradia varia entre 0,93°C a 21°C(OMEGA, 2018). Após a calibração foram geradas as
imagens tratadas para estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
As fotografias térmicas foram retiradas em três pontos diferentes para comparação, entretanto para o escopo deste trabalho
somente uma fotografia será apresentada para facilitar a compreensão das informações acercadas temperaturas demonstradas.
A captura de imagens buscou demonstrar a parte protegida da fachada e a região superficial externa da casa sem proteção. A
escala de cor das temperaturas vai de aproximadamente 25°C a 52°C, com amplitude térmica total de 27°C.
A Figura 4 demonstra visualmente estes valores, é possível observar o efeito direto com e sem a estrutura de fachada verde
na parede. É visível a região de transição entre a área exposta e a sombreada em amarelo, denominada de borda da proteção
solar, na qual as temperaturas menores abaixo da proteção e as de temperatura elevada tentam encontrar o equilíbrio térmico ao
realizar trocas de calor. Neste ponto a temperatura média chega aos 40°C.

Figura 4: Monitoramento termográfico com temperatura ambiente de 35,9°C e emissividade de 0,93, sendo parede
lateral, distância de 3,6 m e altura de 1,5 m. Fonte: elaborado pelos autores.

589
Uma observação importante foi a estabilidade térmica dentro da fachada dos pontos expostos diretamente ao sol, ou seja,
aqueles que não possuíam cobertura vegetal suficiente para barrar completamente a passagem de radiação. Isso acontece por
dois fatores, o primeiro é a velocidade das trocas de calor na superfície, o que diminui o espalhamento de zonas intensas de
energia térmica; o segundo diz respeito ao movimento aparente do sol, no qual a sombra gerada pela fachada se move
passando por toda a parede, de sua base até o topo, seguindo o fluxo do pico até o pôr do sol.Além disso, verificou-se que a
temperatura média nas áreas desprotegidas é 41,5°C e na área protegida 33,1°C, tendo, portanto, uma variação térmica de
8,4°C entre as áreas.

CONCLUSÕES
A concepção e posterior construção do protótipo de fachada verde demonstrou o grande potencial que sistemas de controle
de temperatura de baixo custo possuem, especialmente para residências populares ou de pequeno porte. A cobertura escolhida,
Glicínia, foi flexível e adaptável ao clima local da região sul do Brasil, aceitando adequadamente um local diferenciado de
crescimento do que puramente o solo. As pesquisas de Scherer (2014) e Scherer e Fedrizzi, (2014a) sugerem esta forma de
implantação junto das cordas elásticas como suporte para o crescimento vertical das plantas, assim como os recipientes
plásticos para limitar o espalhamento e reduzir o carreamento de sedimento ocasionado pela água.
Para o crescimento total das plantas foram necessários seis meses desde seu plantio, até o fechamento parcial suficiente
para causar impactos positivos na estrutura. Isso denota a rápida aplicação desse método passivo de sombreamento. As
temperaturas dos pontos externos à proteção vegetal forammaiores que as temperaturas das regiõesprotegidas pela fachada
vegetal, sendo possível observar na região central menor efeito de borda, visto que não há contato desprotegido direto com as
regiões sombreadas.
Este trabalho pode ser considerado parcialmente concluído, visto que as plantas não se desenvolveram completamente, ou
seja, não foi atingido seu total potencial de uso durante o monitoramento proposto. Pode-se constatar que durante os períodos
de maior radiação solar, a proteção não alcançava temperaturas menores e mais estáveis, sendo insuficiente para atingir seu
total potencial de conforto térmico. Os dados obtidos através das fotografias demonstraram a importância de estratégias
passivas, como as fachadas verdes, para a radiação solar em locais susceptíveis a ilhas de calor, especialmente em centros
urbanos que dispõem de pouco espaço físico e baixa tolerância para modificações em construções consolidadas.

Agradecimentos
Os autores deste trabalho gostariam de agradecer a Fundação de Amparo à pesquisa do estado Rio Grande do Sul pela apoio
através do programa institucional de bolsas de iniciação científica (PROBIC), e o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio através do programa de bolsas para pós graduação – Mestrado (GM).

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591
5SSS181
ELABORAÇÃO DE MODELO CONCEITUAL PARA UMA ÁREA DE
DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM UM
MUNICÍPIO DA REGIÃO DAS MISSÕES/RS
Alcione Aparecida de Almeida Alves1, Andrei Cortes Cardoso2, Andréia Monique Lermen3, Laís Andressa Finkler4,
Naiara Jacinta Clerici5, Raíssa Engroff Guimarães6
1 Universidade Federal da Fronteira Sul, e-mail: alcione.almeida@uffs.edu.br; 2 Universidade Federal da Fronteira Sul, e-
mail: andreicortes57@gmail.com; 3 Universidade Federal da Fronteira Sul, e-mail: andreiamoniquelermen@hotmail.com; 4
Universidade Federal da Fronteira Sul, e-mail: laisandressa26@hotmail.com; 5 Universidade Federal da Fronteira Sul, e-
mail: naiaraj.clerici@gmail.com; 6 Universidade Federal da Fronteira Sul, e-mail: raissa_guimaraes02@hotmail.com

Palavras-chave: Área Degradada; Aterro Controlado; Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Resumo
A disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos (RSU) ainda é recorrente nos dias atuais e acarreta por vezes na poluição
dos solos e das águas subterrâneas. Assim, faz-se necessário identificar áreas ambientalmente prejudicadas pela disposição
errônea destes resíduos, e realizar um diagnóstico acurado passível de ser exemplificado por meio de um Modelo Conceitual
conforme preconizado na Diretriz Técnica Nº 07/2017 referente à remediação de áreas degradadas pela disposição de RSU.
Estas ações antecedem a investigação confirmatória descrita na Resolução N° 420, de dezembro de 2009 do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e possibilita que medidas de controle e de remediação de área contaminadas sejam
propostas considerando as especificidades dos RSU e do local de disposição. Nesse sentido, o objetivo deste estudo consistiu
na elaboração de um Modelo Conceitual de uma área de disposição de RSU de um município da Região das Missões/RS. Para
tanto, foi efetuado análise documental da área, seguido de análise in loco por meio de inspeções de campo e seguindo os
descritos na Resolução CONAMA n° 420/2009 e na Diretriz Técnica Nº 07/2017 do estado do RS. Os resultados da análise
documental e da área de disposição de RSU indicaram que: i) existem RSU dispostos no local e mesmo com a desativação da
área RSU estão sendo dispostos incorretamente por agentes indeterminados, comprometendo a recuperação do solo; ii) há
presença de residências habitadas nas mediações da área; iii) com a identificação dos RSU foi possível formular hipóteses
sobre: as características das fontes de contaminação; as prováveis vias de transporte dos contaminantes, ou seja, os meios por
onde podem ser propagados e a distribuição espacial da contaminação e os prováveis receptores ou bens a proteger; iv)
averiguou-se a presença da lagoa de percolação de lixiviado e que a mata nativa está recompondo a flora local; v) por fim,
constatou-se que há a necessidade de medidas emergenciais, tal como cessar a fonte de contaminação, por meio da não
disposição de RSU na área. Tais averiguações permitiram o preenchimento do Formulário Nº 1102/2019 da Fundação Estadual
de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (FEPAM), o qual viabilizou a elaboração do Modelo Conceitual 1, conforme o
arcabouço legislativo pertinente.

Introdução

A ascensão da atual sociedade, primordialmente capitalista, foi norteada através do uso e ocupação dos recursos
naturais. Durante este processo de evolução não houve grande preocupação cognitiva relativa às obras e ou as atividades
executadas, assim as premissas ambientais atuais, levam a uma temática de gestão sustentável otimizada, no sentido dos
recursos naturais que são um bem de uso comum de todos. Deste modo, a explanação sobre a abordagem de gerenciamento
ambiental de resíduos sólidos, trata-se de um processo institucionalizado de formalização, transmissão e desenvolvimento
técnico e científico.
Nesse contexto, uma das problemáticas mais notórias no panorama ambiental é a disposição final de resíduos sólidos
urbanos (RSU) em áreas de lixão, visto que acarreta em impactos negativos ao ambiente e a saúde pública, por meio da
proliferação de vetores, geração de gases que causam odores desagradáveis, poluição do solo, das águas superficiais e águas
subterrâneas, devido ao chorume produzido da biodegradação dos resíduos. Além das questões ambientais, acrescentam-se
situações sociais, pois o local torna-se atraente para catadores que buscam meios de sustento na separação e comercialização de
materiais recicláveis, mesmo que as condições sejam insalubres. Soma-se a isso, o descontrole quanto aos resíduos recebidos
nestas áreas, notando a disposição de resíduos industriais e de saúde, além da desvalorização imobiliária das vizinhanças
(FEAM, 2010).
Em nível nacional esse cenário é configurado a partir dos seguintes dados: em 2017 foram gerados 78,4 milhões de
toneladas de RSU, sendo que o montante de 71,6 milhões de toneladas foram coletados, o que corresponde a um índice de

592
cobertura de coleta de 91,2 %. No país, 46,2 % dos RSU produzidos foram destinados de maneira inadequada aos lixões e os
53,8 % restantes foram destinados a aterros sanitários e aterros controlados (ABRELPE, 2017).
No estado do Rio Grande do Sul os dados são baseados pela faixa populacional definida considerando a realidade
demográfica do mesmo, assim as taxas de geração per capita de RSU (kg habitante-1 dia-1) são 0,65; 0,8; 0,9 e 1,1 para
municípios de pequeno, médio, grande porte I e grande porte II, respectivamente.
Assim sendo, existe a necessidade de promover uma gestão adequada das áreas de disposição de resíduos, pois a
gestão possibilita prevenir ou reduzir possíveis efeitos adversos ao meio ambiente e à saúde pública. E, procedimentos a fim de
recuperar lixões e aterros controlados vêm sendo desenvolvidos com o intuito de tornar a massa de RSU inerte e possibilitar o
tratamento de efluentes líquidos e gasosos, buscando como resultado o fechamento de lixões e o prolongamento da vida útil
dos aterros sanitários (ALBERTE et al., 2005; MENDONÇA et al., 2017).
Como forma de oportunizar a identificação das áreas de lixão no país, bem como identificar se a área é de fato
suspeita de contaminação, faz-se necessária a realização da Avaliação Preliminar, conforme descrito na Resolução CONAMA
n° 420/2009, que em seu Art. 24 estabelece que “será considerada Área Suspeita de Contaminação (AS), pelo órgão ambiental
competente, aquela em que, após a realização de uma avaliação preliminar, forem observados indícios da presença de
contaminação ou identificadas condições que possam representar perigo” (BRASIL, 2009). Corrobora a esta Resolução a
Diretriz Técnica Nº. 07/2017, que denomina a Avaliação Preliminar como sendo a avaliação inicial, realizada com base nas
informações históricas disponíveis e inspeção do local, com o objetivo principal de encontrar evidências, indícios ou fatos que
permitam suspeitar da existência de contaminação na área (FEPAM, 2017).
Para fins de realização da Avaliação Preliminar a FEPAM, por meio do Formulário n° 1102 relativo à Remediação
Área Degradada, faz o direcionamento da necessidade de elaboração de um Modelo Conceitual após a análise documental e in
loco da área de deposição de RSU. O chamado Modelo Conceitual 1 considera a rigor as características das fontes e da pluma
de contaminação, dos receptores, dos cenários de exposição e das medidas de intervenção a serem implantadas, conforme
também descrito na Resolução CONAMA nº 420/2009.
Nesse sentido, o objetivo deste estudo consistiu na elaboração de um Modelo Conceitual de uma área de disposição de
RSU de um município da Região das Missões/RS.

Materiais e Métodos

A presente abordagem trata de 1 município dos 455 de pequeno porte (até 50.000 habitantes) que compõem o estado
do Rio Grande do Sul. Localizado na mesorregião do noroeste Rio-grandense, foi caracterizado, em 2014, com geração total de
resíduos de 491.043 toneladas ano-1, geração de resíduos em área urbana de 362.903 toneladas ano-1 e, geração de resíduos na
zona rural igual a 128.139 toneladas ano-1. A composição total para todas as mesorregiões do estado foi contabilizado em 2014
para a geração total em 3.150.291 toneladas ano-1, geração urbana em 2,770.430 toneladas ano-1 e a geração rural de
379.862 toneladas ano-1 (PERS, 2015).
A metodologia adotada neste estudo, de caráter investigativo, considerou a legislação ambiental vigente, com
destaque para a Resolução CONAMA n° 420/2009 e a Diretriz Técnica 07/2017 da FEPAM, para fins de preenchimento do
Formulário nº 1102 de 2019 da FEPAM, que possui como premissa o licenciamento ambiental para a remediação de áreas
degradadas pela disposição de RSU.
Realizou-se uma consulta histórico-documental juntamente com agentes do órgão ambiental municipal sobre o local
de disposição de RSU, bem como 2 visitas ao local para fins de constatação da situação atual, onde pôde ser desenvolvido o
relatório fotográfico para complementar a avaliação preliminar da localidade.
De posse das informações obtidas por meio da análise documental, a qual se trata de uma ferramenta que permite a
avaliação inicial, realizada com base nas informações históricas disponíveis e inspeção do local, com o objetivo principal de
encontrar evidências, indícios ou fatos que permitam suspeitar da existência de contaminação na área, fez-se a elaboração do
Modelo Conceitual 1, que apesar de inicial não pode ser caracterizado como insipiente, pois é a partir deste modelo que as
etapas de investigação confirmatória, investigação detalhada e remediação do local são passíveis de serem realizadas.

Resultados e Discussão

O local de disposição de RSU compreende a zona rural de um dos municípios da Região das Missões/RS (Figura 1),
sendo utilizado como lixão, aterro controlado, central de triagem e transbordo durante o período de 2007 a 2014. O uso e
ocupação do solo foram identificados inicialmente com auxílio do Google Earth, onde constatou-se que no entorno do
empreendimento há áreas residenciais, de agricultura, vegetação nativa e reflorestamento. Assim, para a área adjacente,
considerando 500 metros a partir do limite da área total, identificaram-se as características dos receptores, como a existência de
residências habitadas. De acordo com o Formulário 1102/2019 da FEPAM, residências deverão estar no mínimo a 1 km de
distância de áreas onde foram realizadas a alocação de RSU e, segundo Leite e Lopes (2000), isto ajuda a evitar a poluição
visual das áreas circunvizinhas, especialmente pelos resíduos leves como plásticos e papéis que podem ser conduzidos pelo
vento por uma longa distância.

593
Na presente área, os poluentes ou contaminantes podem se concentrar em subsuperfície nos diferentes
compartimentos do ambiente, como por exemplo, no solo, nos sedimentos, nas rochas e nas águas subterrâneas. Os
contaminantes podem ser transportados a partir desses meios, propagando-se por diferentes vias, como o ar, o solo, as águas
subterrâneas e superficiais, alterando suas características naturais de qualidade e determinando impactos e/ou riscos sobre os
bens a proteger, localizados na própria área ou em seus arredores. Nesse sentido, Fetter (1993) apresentou uma
complementação do relatório do Congresso americano, “Protecting the Nation’s Ground Water from Contamination, the Office
of Technology Assessment (OTA)”, de 1984, o qual considerou as fontes de contaminação dos solos que podem ser
consideradas como fontes de contaminação das águas subterrâneas, sendo para o local de realização deste estudo, dentre as 6
categorias passíveis de enquadramento, a Categoria 2 a que melhor se ajusta, pois nesta categoria estão incluídas as fontes
projetadas para armazenar, tratar/ou dispor substâncias no solo, tais como RSU identificados no local.

Análise documental

Por meio da análise de documentos foi possível identificar que o antigo empreendimento, inicialmente denominado de
aterro controlado, possuía área total de 60.000 m². Destes, 3.046 m² destinados à disposição dos resíduos sólidos e 215 m² à
lagoa de tratamento dos efluentes drenados da célula. Áreas essas, suscetíveis de maior atenção às análises e a posterior
remediação.
Durante os seus 7 anos de funcionamento, o local recebia um volume diário aproximado de 2,8 toneladas entre
resíduo domiciliar e resíduo de limpeza urbana. As células que comportavam os resíduos possuíam 3 m de profundidade e 1 m
de altura, considerando a altura do relevo natural. A impermeabilização da sua base foi realizada com argila compactada e
manta Polietileno de Alta Densidade (PEAD), enquanto que a parte superior recebeu apenas uma camada de solo compactado.
Segundo Bueno et al. (2004), a impermeabilização da base tem por objetivo confinar os resíduos por meio de barreiras
impermeáveis, o que por consequência, os protege da entrada de líquidos externos e evita a infiltração de percolados e gases
provenientes do aterro no subsolo.

Figura 1: Municípios da região das Missões/RS.


Fonte: Elaborado pelos autores.

594
O efluente líquido gerado no local de disposição dos RSU era captado e transportado pelo sistema de drenagem até
uma lagoa de estabilização natural, ocorrendo possíveis infiltrações no solo em períodos de chuva, devido ao transbordamento
da lagoa. De acordo com Nakamura et al. (2014), após um longo período de tempo, esse efluente pode contaminar áreas muito
maiores do que aquela onde os RSU estão dispostos. Para verificar alterações como vazamentos e possíveis contaminações, o
local conta com 4 poços, distribuídos próximos à área de disposição dos resíduos, para o monitoramento das águas
subterrâneas. Segundo a CETESB (1999), o sistema de monitoramento tem o objetivo de indicar a interferência que uma
determinada fonte de poluição pode vir a causar na qualidade de água subterrânea.

Análise do local

Em relação à abordagem in loco na área de disposição de RSU verificou-se a presença de inúmeros resíduos
remanescentes da época em que o local estava em funcionamento, além de resíduos depositados recentemente pela população
(Figura 2). De acordo com Andrade e Alcântara (2016), a disposição incorreta dos resíduos ocasiona impactos,
comprometendo a qualidade do ecossistema e da saúde da população. A aferição de finalidade quantitativa, somente seria
possível com a continuidade do estudo com posteriores análises, uma vez que Chenicharo (2003), aponta que em virtude da
enorme heterogeneidade da composição dos RSU, as concentrações dos diversos poluentes nos líquidos lixiviados podem se
encontrar em uma ampla faixa, usualmente estimadas para diferentes idades de aterro.
Com a presença de resíduos no local, dispostos de forma inadequada, averiguou-se a necessidade de uma medida
emergencial, onde os mesmos deveriam ser retirados e dispostos em aterro sanitário, bem como é imprescindível cessar a
disposição de RSU no local.

(a) (b)
Figura 2 - Resíduos encontrados (a) na entrada da área; (b) resíduos do serviço de saúde.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Para Godinho (1998), durante a construção de aterros devem ser acrescentados mecanismos que possibilitem à adoção
de medidas de controle, nesse sentido a área possui uma lagoa de percolado (Figura 3), que possui aproximadamente 215 m²,
volume de aproximadamente 357,5 m³ e recebia todo o efluente líquido produzido no local.

595
Figura 3 - Situação atual da lagoa de percolado.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Segundo Monteiro (2013), a geologia do local é composta superficialmente, até 7 m de profundidade, por latossolo
argiloso de coloração vermelho; entre 7 e 17 m por basalto de coloração bege amarelado bastante alterado, fraturado e
argilizado; e entre 17 e 19,4 m por rocha basáltica de coloração cinza maciça. A partir do conhecimento geológico do local é
possível pontuar-se sobre a construção e logo presença dos 4 poços de monitoramento das águas superficiais e dos lençóis
freáticos (piezômetros) presentes, haja visto que servem para aferir acurácia aos parâmetros físicos, químicos e biológicos das
análises, e para que os mesmos não sejam interferidos pela produção de chorume, ao longo do processo de degradação dos
resíduos ao longo do tempo, sendo possível otimizar técnicas de processos degradativos e operacionais, além de estabelecer
correlações entre o ambiente interno, externo e a massa dos RSU. Em relação à vegetação do local, foi constatada a presença
de mata nativa, bem como de cortina vegetal, além de espécies de gramíneas (Figura 4). Para Oliveira (2004), a revegetação
auxilia na restauração da fauna e flora nativas, captação de CO2, tem a finalidade de evitar a poluição da água e erosão, assim
como amparar a recuperação do solo.

Figura 4 - Recomposição natural vegetal.


Fonte: Elaborado pelos autores.

Modelo Conceitual 1

Na Figura 5 está apresentado o Modelo Conceitual 1, elaborado a partir da análise documental e in loco da área de
disposição de RSU. O Modelo Conceitual 1 perfaz um fluxograma acerca dos possíveis contaminantes presentes no local de
estudo. Os RSU, identificados no local, bem como por imagens, direcionam para a compreensão dos possíveis
poluentes/contaminantes relacionados a estes. Este fluxograma norteia os itens prioritários iniciais de uma Licença única de
remediação de área degradada, a natureza do resíduo sólido, a classificação, caracterização, o tipo em específico de resíduo,
bem como os possíveis contaminantes atrelados a este, por fim direciona para uma possível forma de destinação
ambientalmente adequada dos principais RSU encontrados no local. Em suma, apresenta uma avaliação preliminar, que
segundo Teixeira (2013) possui como objetivo principal identificar situações ambientais de uso presente e pretérito associadas

596
com a área objeto de análise e propriedades vizinhas, que possam representar passivos ambientais potenciais para o meio em
que se inserem. Esta avaliação mostra-se fundamental no estabelecimento do potencial de contaminação de solo e águas
subterrâneas e no modelo conceitual inicial de uma eventual sequência de investigações.
Por meio do Modelo Conceitual 1, pode-se observar que há a presença de diversos tipos de resíduos no local,
inclusive àqueles passíveis de se realizar a logística reversa, como as lâmpadas e os medicamentos para animais. Como o local
onde esses resíduos foram encontrados não possui nenhum tipo de impermeabilização ou cobertura, se conduz a crer que se
trata de uma área potencialmente contaminada.
De acordo com a CETESB (2003), área potencialmente contaminada refere-se a áreas onde estão sendo desenvolvidas
ou onde foram desenvolvidas atividades potencialmente contaminadoras, ou seja, onde ocorre o manejo de substâncias cujas
características biológicas, físico-químicas e toxicológicas podem acarretar danos ao ecossistema e saúde da população, caso
entrem em contato com os mesmos.
Assim, o Modelo Conceitual 1 (Figura 5) poderá servir como base para a definição dos objetivos, dos métodos e das
estratégias a ser utilizados durante as etapas posteriores, devendo ser atualizado em função da execução de novas etapas do
gerenciamento da área. Isto porque retrata fidedignamente o local, não sendo completo, porém se constitui de elementos
norteadores para a investigação confirmatória de contaminação do local de deposição de RSU.

Figura 5 - Modelo conceitual 1.


Fonte: Elaborado pelos autores.
¹ Conforme Resolução Conama CONAMA nº420/2009

Considerações Finais

Para a harmonia entre ambiente e sociedade, no momento se espera valorizar as medidas socioambientais, o que vai de
encontro à vivência da educação e moral nas ações que regem a vida em sociedade, implementar medidas de regulamentação
de áreas degradadas, implementar instrumentos econômicos que fomentem o cumprimento das regulações legislativas, em
suma é preciso organizar o espaço urbano para integrar e harmonizar os diferentes sistemas de infraestrutura nas suas
diferentes perspectivas.
Dessa forma, os resultados obtidos na fase de avaliação preliminar e que nortearam a elaboração de um Modelo
Conceitual indicam uma área potencialmente contaminada, onde faz-se importante a realização das próximas etapas, que
compreendem a investigação confirmatória para que a existência da contaminação seja confirmada, e nesse caso, haja a
realização de um diagnóstico a partir da investigação detalhada, análise de risco a saúde humana e elaboração de um projeto de
remediação de área degradada.
Por fim, ressalta-se que a adoção da técnica de recuperação da área deve ser precedida de um estudo criterioso que

597
inclua a previsão da evolução das plumas de contaminação, a metodologia de avaliação de risco e o monitoramento durante o
período necessário para que se atinjam as metas de remediação desejáveis. E, que a elaboração do Modelo Conceitual 1, apesar
de inicial, não pode ser caracterizado como insipiente, pois é a partir deste modelo que as etapas de investigação confirmatória,
investigação detalhada e remediação do local são passíveis de serem realizadas.

Agradecimentos

Os Autores gostariam de agradecer a Universidade Federal da Fronteira Sul - campus Cerro Largo, pelo apoio recebido.

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<http://www.pers.rs.gov.br/noticias/arq/ENGB-SEMA-PERS-RS-40-Final-rev01.pdf>.

TEIXEIRA, M. R. A. 2013. Etapas de uma avaliação ambiental em área potencialmente contaminada – Investigação
Preliminar, Confirmatória e Detalhada. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) - Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Programa de Engenharia Ambiental, Rio de Janeiro.

599
5SSS182
PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS E INDICADORES BIOLÓGICOS
NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO CÓRREGO
SUCURI, UBERLÂNDIA - MG
Priscilla Vitória Nunes Ferreira1, Maria da Graça Vasconcelos2
1
Universidade Federal de Uberlândia, e-mail: priscilla@ufu.br; 2Universidade Federal de Uberlândia,
e-mail: mgvas@ufu.br

Palavras-chave: Qualidade da água; Macroinvertebrados Bentônicos; Assentamento Nova Tangará.

Resumo
A conservação e a utilização sustentável das águas são um tema de grande importância para toda a humanidade, pois o
crescimento urbano, a industrialização e o uso inadequado do solo nas áreas rurais, tem tornado esse recurso cada vez mais
ameaçado. O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade ambiental do Córrego Sucuri, localizado na Sub-bacia do Ribeirão
Douradinho, que se caracteriza como um dos principais mananciais utilizados pela população do Assentamento Nova Tangará
do Município de Uberlândia - MG. Para a avaliação desse ecossistema aquático, utilizou-se uma análise integrada de três
métodos distintos, sendo estes, a determinação dos parâmetros físico-químicos pH, Turbidez, Oxigênio Dissolvido,
Condutividade, Sólidos Totais, Temperatura, Fósforo Total, Nitrato, Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Demanda
Química de Oxigênio (DQO), o uso das comunidades de Macroinvertebrados Bentônicos como bioindicadores, utilizando o
índice biológico BMWP (Biological Monitoring Working Party) e a aplicação de um Protocolo de Avaliação Rápida da
Diversidade de Habitats. Foram selecionados três pontos de coleta, o Ponto 1 na nascente do Córrego Sucuri, caracterizando
um ambiente mais conservado, o Ponto 2, após a incidência de tributário de outra nascente, e o Ponto 3 localizado no trecho
final do Córrego Sucuri, antes da sua junção com o Ribeirão Douradinho. Os parâmetros físico-químicos foram avaliados com
base nos limites legais estabelecidos pela Resolução CONAMA nº357 de 2005, para corpos d’água doce de Classe 2. Os
pontos avaliados não apresentaram valores acima do fixado, excetuando o pH do Ponto 1 no período chuvoso. Quanto aos
macroinvertebrados bentônicos, o Ponto 1 obteve um índice BMWP de 65, cuja qualidade é classificada como Boa, o Ponto 2
apresentou BMWP de 54, sendo classificado como de qualidade Satisfatória, enquanto o Ponto 3 apresentou BMWP de 30,
classificado como Ruim. Portanto, conclui-se que as ações antrópicas, têm causado impactos na qualidade ambiental do
Córrego Sucuri, sendo necessária uma análise mais aprofundada, buscando identificar pontualmente os fatores que estão
prejudicando a qualidade da água do Córrego Sucuri, para que juntamente com as famílias do assentamento possam ser
tomadas medidas para a preservação dos ecossistemas aquáticos, e consequentemente prevenir possíveis danos à saúde da
população do Assentamento Nova Tangará e dos animais que consomem esta água.

Introdução

As atividades antrópicas têm causado uma série de impactos sobre os ecossistemas aquáticos, dentre esses impactos pode-se
citar a supressão de mata ciliar, eutrofização das águas em consequência do aporte excessivo de nutrientes provenientes de
atividades agropecuárias e despejo de efluentes, poluição por metais pesados e agrotóxicos, alterações do regime hídrico,
introdução de espécies exóticas e assoreamento dos cursos d’água. Tais impactos fragilizam e alteram as condições do meio
aquático, podendo atingir níveis de perdas ambientais que comprometem a manutenção da vida, o abastecimento e a recreação
(BEGHELLI et al., 2015).

Na área rural, incluindo os Assentamentos Rurais da Reforma Agrária, o tratamento da água consumida e o saneamento básico
são precários. Por consequência, além de contribuir com a degradação ambiental, favorece a ocorrência de doenças de
veiculação hídrica, afetando a saúde da comunidade e dificultando a permanência do trabalhador no campo (BELIZÁRIO,
2015).

Tendo em vista o valor da água para o consumo humano, abastecimento animal e para a produção agrícola nos Assentamentos
Rurais, é de grande importância avaliar a qualidade da água dos cursos d’água nesses territórios, e buscar recuperar e preservar

600
os mananciais presentes nessas regiões.

No Estado de Minas Gerais (MG), o Assentamento Nova Tangará constitui-se o maior em área e número de famílias do
município de Uberlândia (INCRA, 2016). De acordo com o diagnóstico realizado por Muñoz Palafox (2018), cerca de 70% das
famílias do Assentamento Nova Tangará lançam seus efluentes sanitários em fossas negras, não havendo o adequado
tratamento desses resíduos, o que acaba contribuindo com uma possível contaminação das fontes de água. Assim faz-se
necessário avaliar a influência desses fatores na qualidade da água dos recursos hídricos do assentamento, uma vez que mais de
12% dos assentados utilizam a água dos córregos e de nascentes para consumo.

A qualidade da água pode ser representada através de parâmetros que traduzem suas características físicas, químicas e
biológicas que, ao ultrapassarem determinados limites estabelecidos como referência de qualidade, indicam a contaminação
desse recurso. Além dessas características, também existem organismos bioindicadores de poluição, que são utilizados por
apresentar não somente um retrato das condições do curso d’água no momento da coleta, como é o caso das análises dos
parâmetros físico-químicos. Esses indicadores biológicos demonstram se o corpo d’água encontra-se poluído por um longo ou
curto período antes do estudo, pois baseiam-se nos aspectos ecológicos de tolerância das espécies às condições ambientais, a
diversidade de espécies, estabilidade de cadeias tróficas, entre outros. Assim, pode-se dizer que os indicadores biológicos
devem ser empregados, porém não com a finalidade de substituir os parâmetros físico-químicos, mas no sentido de
complementá-los e ampliá-los (VON SPERLING, 2014). Existem muitos indicadores biológicos de saúde dos ecossistemas
aquáticos, entretanto, os mais utilizados têm sido os macroinvertebrados bentônicos. Esses organismos, habitam o fundo dos
corpos d’água, associados a diversos tipos de substratos, e possuem dimensões superiores a 0,5mm. Caracterizam-se por
possuírem uma grande diversidade de espécies e são encontrados em quase todos os tipos de habitats de água doce
(MARTINS, 2012).

Para avaliar os aspectos qualitativos dos sistemas hídricos e dos ecossistemas que os abrangem pode-se utilizar os Protocolos
de Avaliação Rápida, que são compostos por check lists que avaliam determinados parâmetros e permitem obter uma
pontuação do estado de conservação do ambiente. Dentre seus aspectos, pode-se destacar a possibilidade de avaliação de
qualquer ecossistema, desde a conservação da vegetação até a análise da qualidade da água e das alterações antrópicas
(BIZZO; MENEZES; ANDRADE, 2014).

Considerando a importância da análise da qualidade da água utilizada para o consumo das famílias do Assentamento Nova
Tangará, para a dessedentação animal, a irrigação e a manutenção do ecossistema aquático, este estudo teve como objetivo
avaliar a qualidade ambiental de um dos seus principais mananciais, o Córrego Sucuri. Com essa finalidade, foi realizada uma
análise integrada de parâmetros físico-químicos, o uso de macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores e avaliação
visual da qualidade do ambiente. Buscou-se especificamente, avaliar a qualidade da água do ponto de vista legal, comparando
os resultados obtidos com os limites legais estabelecido pela Resolução CONAMA nº357 de 2005, a utilização do índice
biológico BMWP (Biological Monitoring Working Party), para avaliar a qualidade do ecossistema aquático, e a aplicação
visual do Protocolo de Avaliação da Diversidade de Habitats.

Material e Métodos
Área de estudo

O município de Uberlândia (MG) possui um total de 14 assentamentos rurais, sendo estes: Rio das Pedras, Nova Palma, Palma
da Babilônia, Zumbi dos Palmares, Canudos, Emiliano Zapata, Flávia Nunes, Florestan Fernandes, José dos Anjos, Paciência,
Valci dos Santos, Dom José Mauro, Eldorado dos Carajás e Nova Tangará. O Assentamento Nova Tangará foi criado em
02/12/2003 e possui uma área total de 5.095,0250 ha, dividida em 250 lotes, que variam de 13 a 15 hectares. Atualmente
encontra-se em fase de estruturação, com a implantação de infraestrutura básica, como abastecimento de água, eletrificação
rural, estradas vicinais e edificação de moradias (INCRA, 2016). Está localizado no Km 33 da rodovia BR 497 no Município
de Uberlândia (MUÑOZ PALAFOX, 2018).

O Assentamento está inserido na Sub-bacia Hidrográfica do Ribeirão Douradinho. Dentro da sua delimitação existem 4
córregos, denominados Córrego Sucuri, Córrego da Posse, Córrego da Sede e Córrego do Panga. O presente trabalho buscou
avaliar a qualidade ambiental do Córrego Sucuri em razão de sua importância para o abastecimento das famílias do
assentamento, e por estar sofrendo impactos ambientais decorrentes das ações antrópicas desenvolvidas no decorrer do seu
curso, como por exemplo os diversos barramentos de água na nascente e no meio do seu curso, alterando o regime de
escoamento, e o assoreamento do leito devido a erosão do solo em algumas áreas do seu entorno (Figura 1).

601
A

B C
Figura 1: (A) Barragem próxima a nascente do Córrego Sucuri; (B) Inundação de extensa área de vereda devido a um
barramento; (C) Assoreamento causado pela erosão do solo.

Segundo Garcia e Cleps Junior (2012) o Assentamento Nova Tangará apresenta um estado crítico de acesso a água, pois
embora possua seis poços artesianos perfurados pelo INCRA, somente dois encontram-se equipados para uso. Dentre as 250
famílias presentes no assentamento, 187 famílias não têm acesso à água desses poços. Assim, a maioria utiliza cisternas para
armazenar a água da chuva, enquanto nos lotes próximos aos corpos d’água, esses mananciais são utilizados para o consumo.

Para avaliar as condições ambientais do Córrego Sucuri foram selecionados 3 pontos de coleta. Na Figura 2 pode-se observar a
localização do Córrego Sucuri em relação ao Assentamento Nova Tangará, e os pontos de análise. A seleção dos pontos de
amostragem deu-se considerando as atividades antrópicas ao longo da drenagem e a incidência de tributário, sendo o Ponto 1
(19º06’05.3”S, 48º31’50.8”W) na nascente do Córrego Sucuri, caracterizando um ambiente mais conservado, o Ponto 2
(19º05’51.6”S, 48º31’37.7”W) após a incidência de tributário de outra nascente, e o Ponto 3 (19º04’58.8”S, 48º31’32.8”W)
localizado no trecho final do Córrego Sucuri, antes da sua junção com o Ribeirão Douradinho.

602
Figura 2: Localização dos Pontos de amostragem no Córrego Sucuri

603
A B

C
Figura 3: Pontos de amostragem do Córrego Sucuri: (A) Ponto 1; (B) Ponto 2 e; (C) Ponto 3

Amostragem e análise

As amostras de água foram coletadas com base nas normas técnicas da ABNT. Utilizando as NBR 9898 (ABNT, 1987) que
trata da preservação e técnicas de amostragem de efluentes líquidos e corpos receptores, e a NBR 9897 (ABNT, 1986) sobre o
planejamento de amostragem de efluentes líquidos e corpos receptores (VASCONCELOS, 2012).

Para as análises em campo utilizou-se o medidor multiparâmetros HANNA HI 9829, do Laboratório de Qualidade da Água
(LAQUA) do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), que monitorou os parâmetros
pH, turbidez, oxigênio dissolvido, condutividade, sólidos totais e temperatura. As amostras coletadas foram levadas para o
laboratório, onde foram determinadas as concentrações de Fósforo Total, Nitrato, Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e
Demanda Química de Oxigênio (DQO), conforme o Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA,
2012).

Para análise dos macroinvertebrados bentônicos, foi realizada a coleta do sedimento do Córrego Sucuri, no mês de agosto de
2016. Foi utilizado um amostrador do tipo Surber, de dimensões 30x30 cm e malha de 250 μm, com agitação do substrato
delimitado durante 30 segundos, o sedimento coletado foi armazenado em sacos plásticos identificados e fixados com álcool
70%.

A lavagem, triagem e identificação dos organismos bentônicos foram realizadas no Laboratório de Microbiologia (LAMIC) do
curso de Engenharia Ambiental da UFU. O sedimento foi lavado utilizando um conjunto de três peneiras com malhas de 250
μm, 425 μm e 2mm. As dimensões das partículas que compõe as amostras de sedimentos são importantes para a caracterização
dos habitats dos macroinvertebrados bentônicos. As peneiras foram previamente limpas e encaixadas de modo a formar um
único conjunto com abertura de malha em ordem crescente da base para o topo. Após este procedimento promoveu-se a
lavagem do sedimento com agitação mecânica do conjunto, para permitir a separação dos diferentes tamanhos de grão da
amostra. O material lavado foi acondicionado em potes plásticos contendo álcool, até a triagem dos macroinvertebrados
bentônicos.

604
A triagem dos organismos foi realizada utilizando um microscópio estereoscópio, para separar os organismos bentônicos do
sedimento do córrego. Após a triagem de todo o material coletado, foi realizada a identificação das famílias de
macroinvertebrados bentônicos, utilizando chaves de identificação específicas, desenvolvidas por Mugnai, Nessimian e
Baptista (2010) e Costa, Ide e Simonka (2006).

Para qualificar e quantificar a poluição do manancial utilizando as amostras de macroinvertebrados presentes no sedimento foi
utilizado o índice biológico BMWP (Biological Monitoring Working Party), que classifica o meio de acordo com a soma dos
valores atribuídos a cada família de macroinvertebrado, com base na sua tolerância a diferentes níveis de qualidade ambiental,
onde os grupos mais resistentes às alterações possuem valores menores, e os menos tolerantes, valores maiores. Foi utilizada
uma adaptação do Índice BMWP para Minas Gerais, desenvolvida por Junqueira e Campos (1998), que por meio de pesquisas
na região da Bacia do Rio das Velhas, adaptaram o índice para espécies tropicais, realocando famílias e estipulando valores
diferentes com base no grau de saprobidade encontrado na bacia, classificando a qualidade da água de acordo com as
pontuações apresentadas na Tabela 1.

Classe Valor do BMWP Qualidade


I ≥150 Excelente
II 149 - 100 Boa
III 99 - 60 Satisfatória
IV 59 - 20 Ruim
V ≤ 19 Péssimo
Tabela 1: Sistema de classificação da qualidade da água estabelecido para os macroinvertebrados bentônicos
(JUNQUEIRA E CAMPOS, 1998)

As condições de conservação do ecossistema influenciam diretamente na qualidade da água, portanto foi aplicado um
Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats proposto por Callisto et al. (2002), adaptado dos protocolos
propostos pela Agência de Proteção Ambiental de Ohio (EPA, 1987) e Hannaford et al. (1997). Este protocolo é composto de
duas tabelas, constituídas de um total de 22 parâmetros. A primeira tabela possui 10 parâmetros que avaliam as características
dos segmentos e o nível dos impactos ambientais devido às atividades antropogênicas, sua pontuação varia de 0 a 4 pontos. A
segunda tabela é composta por 12 parâmetros, e analisa as condições do habitat e o nível de conservação das condições
naturais do ambiente, e possui pontuação variando de 0 a 5 pontos. Cada parâmetro é pontuado mediante a observação das
condições do habitat, e a pontuação final é obtida através do somatório das notas atribuídas a cada parâmetro (ANZOLIN,
2013). Segundo Callisto et al. (2002) a pontuação final é relativa ao nível de preservação das condições ecológicas dos
segmentos estudados. Sendo que pontuação final de 0 a 40 pontos representa trechos impactados, de 41 a 60 pontos trechos
alterados, e acima de 61 pontos trechos naturais.

Resultados e Discussão

Parâmetros Físico-Químicos

Os valores médios dos parâmetros avaliados com o aparelho multiparâmetro HANNA, nos períodos seco e chuvoso, dos
Pontos 1 e 3 do Córrego Sucuri estão apresentados na Tabela 2. Assim, foi possível identificar a situação da qualidade da água
no Córrego Sucuri, estabelecendo uma comparação entre o trecho Inicial (Ponto 1) e o Final (Ponto 3). Os valores obtidos
foram avaliados com base nos limites estabelecidos para corpos d’água de Classe 2 pela Resolução CONAMA nº 357 de 2005,
que assim determina para corpos d’água doce que ainda carecem de classificação.

Ponto 1 Ponto 3 CONAMA


Parâmetros
Seco Chuvoso Seco Chuvoso Nº357/2005
pH 6,46 5,78 7,54 7,08 6,0 a 9,0
Oxigênio Dissolvido (mg/L) 8,07 6,42 6,43 7,31 ≥ 5 mg/L
Condutividade (µS/cm) 10,33 10,00 45,67 36,67 -
Sólidos Totais (mg/L) 5,33 5,00 23,00 18,00 ≤ 500 mg/L
Turbidez (UNT) 0,17 3,30 13,07 13,40 ≤ 100 UNT
Temperatura (ºC) 23,32 23,65 22,76 23,90 -
Tabela 2: Resultados dos parâmetros físico-químicos das amostras de água coletadas no Córrego Sucuri

O Ponto 1 no período chuvoso apresentou o parâmetro pH abaixo do valor de referência estabelecido pela Resolução

605
CONAMA nº357/2005. Segundo Von Sperling (2014), o pH pode ser influenciado por fatores naturais, como dissolução de
rochas e fotossíntese, e por fatores de origem antropogênica, como pela oxidação de matéria orgânica de despejos domésticos.
Esse parâmetro, quando afastado da neutralidade pode afetar a vida aquática.

Os parâmetros Oxigênio Dissolvido, Sólidos Totais e Turbidez apresentaram valores dentro da normalidade em ambos os
pontos nos dois períodos de análise. A Condutividade e a Temperatura não são definidas pela Resolução CONAMA
nº357/2005. Ao comparar os valores obtidos nos dois pontos, pode-se notar que a Turbidez, Sólidos Totais e Condutividade
apresentam concentrações maiores no ponto Final do Córrego Sucuri (Ponto 3), indicando perda de qualidade que pode estar
relacionada com a erosão das margens do curso d’água, devido a supressão de vegetação e manejo inadequado de áreas de
pastagem. Porém, o aumento de valores destes parâmetros ainda está dentro do permitido pela legislação.

Os valores médios das triplicatas das análises de Fósforo Total, Nitrato, Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Demanda
Química de Oxigênio (DQO), dos Pontos 1 e 3 do Córrego Sucuri, referentes ao período chuvoso estão apresentados na Tabela
3.

Parâmetros Ponto 1 Ponto 3 CONAMA Nº357/2005

DBO (mg/L) <0,10 <0,10 5 mg/L


DQO (mg/L) 5,61 4,59 -
Fósforo Total (mg/L) 0,049 0,073 0,1 mg/L
Nitrato (mg/L) 0,9 0,6 10 mg/L
Tabela 3: Valores médios dos parâmetros DBO, DQO, Fósforo Total e Nitrato das amostras de água coletadas no
Córrego Sucuri.

N os pontos de análisados o parâmetro Fósforo Total apresentou concentrações inferiores ao limite máximo fixado pela
Resolução CONAMA nº357 de 2005, para ambientes lóticos de Classe 2. De acordo com a CETESB (2013), a presença de
fósforo em águas naturais está relacionada, principalmente, às descargas de esgotos sanitários, cuja principal fonte é a matéria
orgânica fecal e os detergentes em pó empregados em larga escala domesticamente. Segundo Von Sperling (2014), nas áreas
rurais, o fósforo também pode estar relacionado com a presença de excrementos de animais próximos ao manancial, e o uso de
fertilizantes.

O Nitrogênio dentro do seu ciclo na biosfera alterna entre várias formas e estados de oxidação. Sua presença na água pode ser
de origem antropogênica, como esgotos domésticos, fertilizantes e excrementos de animais. A decomposição aeróbica do
nitrogênio orgânico leva a sua conversão em nitrito e depois em nitrato (NO3-). Esse composto quando em excesso na água de
consumo humano, pode provocar doenças como a metemoglobinemia, também conhecida como síndrome do bebê azul (VON
SPERLING, 2014). Com base nos dados obtidos, percebe-se que ambos os pontos analisados apresentaram baixas
concentrações de nitrato, estando em conformidade com o estabelecido pela legislação.

A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e a Demanda Química de Oxigênio (DQO) representam indiretamente o teor de
matéria orgânica presente no corpo d’água, indicando o potencial de consumo de oxigênio dissolvido da água. A Resolução
CONAMA nº357 de 2005 fixa para o parâmetro DBO um limite máximo de 5 mg/L para águas doces Classe 2, já a DQO não
possui um padrão estabelecido por essa normativa. As análises de DBO realizadas nos dois pontos de coleta, apresentaram
valores inferiores a 0,10 mg/L, portanto estão em conformidade com os limites legais estabelecidos. De acordo com
Vasconcelos (2012), a DBO indica o potencial de matéria orgânica biodegradável nas águas naturais, enquanto a DQO
representa o potencial de matéria orgânica e inorgânica oxidável quimicamente, assim quanto mais próximo os valores desses
parâmetros, mais biodegradáveis serão os resíduos presentes na água.

Macroinvertebrados bentônicos

Os parâmetros físico-químicos, além de apontar possíveis alterações na integridade do corpo d’água, também podem
influenciar diretamente na estrutura da biota aquática. Assim, quando ocorrem alterações expressivas nesses parâmetros,
ocasionando mudanças no ambiente, os organismos tendem a ter uma limitação ou acréscimo em sua proliferação, podendo
causar a morte de alguns organismos. Para análise dos macroinvertebrados bentônicos presentes no Córrego Sucuri, foi
coletado o sedimento do fundo do Córrego Sucuri nos Pontos 1, 2 e 3, os dados obtidos estão apresentados na Tabela 4.

606
Valores de Tolerância Quantidade de indivíduos
Ordem Famílias
BMWP Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3
Ceratopogonidae 4 14 55 12
Chironomidae 2 192 43 34
Dixidae 4 2 0 0
Dolichopodidae 4 1 0 0
Diptera
Empididae 4 0 2 4
Limoniidae 4 1 1 1
Simuliidae 5 0 3 0
Thaumaleidae 2 75 28 0
Hydropsychidae 5 0 2 0
Tricoptera Limnephilidae 7 0 2 0
Odontoceridae 10 28 0 0
Gomphidae 8 2 0 0
Odonata
Libellulidae 8 0 2 0
Acari Hidracarinos 4 9 1 4
Lepidóptera pyralidae 10 5 0 0
Ephemeroptera Leptophlebiidae 8 16 17 1
Coleoptera Elmidae 5 1 26 12
Oligochaeta Oligochaeta 1 91 19 1
Riqueza 13 13 8
Abundância 437 201 69
Tabela 4: Dados da comunidade de macroinvertebrados bentônicos coletados no Córrego Sucuri.

De acordo com os dados obtidos, tem-se que a riqueza dos Ponto 1 e 2 foram iguais, apresentando um total de 13 famílias
distintas, enquanto que o Ponto 3 apresentou uma riqueza de 8 famílias. Com isso, nota-se que a riqueza de famílias de
macroinvertebrados bentônicos do Córrego Sucuri está diminuindo no decorrer do curso d’água. Com base na abundância total
de indivíduos, percebe-se que o seu valor também decresceu de montante para jusante. Sendo que, o Ponto 1 apresentou um
total de 437 indivíduos, o Ponto 2 apresentou 201 indivíduos e o Ponto 3 apenas 69 indivíduos. Com um total de 707
indivíduos coletados, que compõem 8 ordens e 18 famílias.

Em relação a abundância total do Córrego Sucuri, a ordem Diptera teve maior representatividade, totalizando 66% dos
organismos coletados, seguida pela Subordem das Oligochaetas representando 16% do total de indivíduos (Figura 4). Os
organismos que mais contribuíram para essa representatividade da ordem Diptera, foram os da família Chironomidae. Esses
organismos e os da Subordem Oligochaeta, são caracterizados por apresentarem alta tolerância a ambientes contaminados ou
altamente impactados.

Figura 4: Distribuição geral das ordens de macroinvertebrados bentônicos do Córrego Sucuri

607
Por meio da pontuação referente a cada uma das famílias encontradas nos pontos de amostragem, pode-se calcular o valor do
índice BMWP adaptado por Junqueira e Campos (1998), cujos valores de classificação foram apresentados na Tabela 1. Tem-
se que o Ponto 1 do Córrego Sucuri obteve pontuação igual a 65, sendo classificando como de Classe II cuja qualidade é Boa.
Já o Ponto 2 obteve uma pontuação igual a 54, enquadrando-se como Classe III cuja qualidade é “Satisfatória”. Entretanto, o
Ponto 3 obteve pontuação igual a 30, sendo classificado com Classe IV cuja qualidade é considerada “Ruim”, conforme
apresentado na Figura 5.

Figura 5: Pontuação do Índice BMWP no Córrego Sucuri

Protocolo de avaliação rápida de diversidade de hábitats

O resultado da aplicação do protocolo de avaliação rápida nos três trechos analisados do Córrego Sucuri encontra-se na Tabela
5. Observando a pontuação final em cada trecho, pode-se constatar que os trechos 1 e 2, obtiveram pontuações iguais a 78,
sendo enquadrados na categoria de trecho naturais, enquanto que o trecho 2 apresentou uma pontuação de 61, sendo
enquadrado como trecho alterado.

608
Pontuação
Parâmetros Avaliados
Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3
1. Tipo de ocupação das margens do corpo d’água 4 4 4
2. Erosão próxima e/ou nas margens do rio e assoreamento em seu leito 4 4 2
3. Alterações antrópicas 4 4 4
4. Cobertura vegetal no leito 4 2 0
5. Odor da água 4 4 4
6. Oleosidade da água 4 4 4
7. Transparência da água 4 4 2
8. Odor do sedimento de fundo 4 4 4
9. Oleosidade do fundo 4 4 4
10. Tipo de fundo 4 4 4
11. Diversidade de hábitats 3 3 2
12. Extensão das corredeiras 2 2 3
13. Frequência das corredeiras 2 2 3
14. Tipos de substrato 2 2 2
15. Deposição de lama 3 3 2
16. Depósitos sedimentares 3 3 2
17. Alterações no canal do rio 5 5 3
18. Presença de fluxo das águas 3 3 3
19. Presença de vegetação ripária 3 5 2
20. Estabilidade das margens 5 5 2
21. Extensão da vegetação ripária 5 5 5
22. Presença de plantas aquáticas 2 2 0
Total 78 78 61

Tabela 5: Resultados da aplicação do protocolo de avaliação rápida de diversidade de hábitats (Callisto et al. 2002) no
Córrego Sucuri

Considerações finais

Embora os parâmetros físico-químicos que foram analisados na água tenham se mostrado em conformidade com a legislação,
os parâmetros biológicos demonstraram que a integridade ambiental do córrego está sendo afetada pelo uso e ocupação do solo
no entorno do corpo d’água e pelas mudanças no regime de escoamento.

O estudo da comunidade de macroinvertebrados bentônicos evidenciou o seu importante papel como bioindicadores da saúde
ambiental do ecossistema aquático do Córrego Sucuri. Com o Índice BMWP pode-se classificar os pontos de análise quanto a
sua qualidade, demonstrando a influência dos impactos ambientais no ecossistema. A nascente foi classificada como de
qualidade Boa, enquanto o trecho final apresentou uma qualidade Ruim. A maioria dos organismos bentônicos encontrados nos
sedimentos coletados no córrego, são caracterizados pela alta tolerância a ambientes contaminados ou altamente impactados.

Com relação ao Protocolo de avaliação rápida de diversidade de habitats, pode-se notar uma relação direta entre a qualidade do
habitat e a riqueza de espécies de macroinvertebrados bentônicos, sendo que os trechos enquadrados como naturais
apresentaram maior diversidade de organismos, enquanto o trecho final foi enquadrado como alterado, apresentando uma baixa
riqueza de espécies.

Com base nos dados obtidos com a pesquisa, pode-se concluir que embora o Córrego Sucuri esteja localizado na área rural, ele
vem sofrendo perda da sua qualidade ambiental por meio das ações antrópica desenvolvidas no seu entorno, como supressão de
vegetação e a mudança do regime de escoamento de lótico para lêntico nas barragens, resultando na perda de habitats e
afetando a biota aquática.

609
Portanto, faz-se necessário uma análise mais aprofundada, buscando identificar pontualmente os fatores que estão prejudicando
a qualidade da água do Córrego Sucuri, para que juntamente com as famílias do assentamento possam ser tomadas medidas
para a preservação dos ecossistemas aquáticos, e consequentemente prevenir possíveis danos à saúde da população do
Assentamento Nova Tangará e dos animais que consomem esta água.

Referências Bibliográficas

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611
5SSS183
AVALIAÇÃO EM SISTEMA DE TRATAMENTO DE GASES DE
CALDEIRA
Guilherme Rufatto Schmidt1, Luciano Peske Ceron2, Yasmini Chaves de Mello3
1PUCRS, Guirufato@hotmail.com; 2PUCRS, Luciano.ceron@pucrs.br; 3PUCRS, Yasmini.mello@edu.pucrs.br

Palavras-chave: Filtro de mangas; Fibra de vidro; Politetrafluoretileno.

Resumo
A emissão de particulados finos, provenientes da queima do carvão mineral, pode acarretar diversos problemas para a saúde
humana e para o meio ambiente. O filtro de mangas é um equipamento capaz de impedir que esses particulados atinjam a
atmosfera. O presente trabalho avaliou e propôs melhorias a partir das informações e inspeções de um processo em empresa
produtora de farelos e óleos vegetais, que atua com alta emissão de particulados de carvão. As mangas filtrantes utilizadas
foram de tecido de fibra de vidro com membrana de politetrafluoretileno expandida. Realizou-se análises laboratoriais físicas e
mecânicas em mangas filtrantes retiradas do filtro de mangas, além de controle operacional de temperatura e pressão no
equipamento. Em função dos resultados, foi proposta uma nova especificação de gaiola de inox para o filtro no intuito de
melhorar a eficiência de retenção, bem como elevar a vida útil dos elementos filtrantes, em função da elevada condensação
ácida que oxidou prematuramente as gaiolas galvanizadas.

Introdução
O material particulado é uma mistura heterogênea e complexa constituída por partículas capazes de transportar uma grande
variedade de compostos químicos prejudiciais à saúde humana (TRAVERSI, 2009). A exposição por um longo prazo a altas
concentrações de material particulado pode aumentar o risco de câncer no pulmão, doenças respiratórias obstrutivas crónicas e
arteriosclerose, ao passo que a exposição de curto prazo pode causar outras doenças respiratórias, incluindo bronquite e asma
(CASTRO et al., 2013).
A atual resolução do CONAMA n° 436 de 22/12/2011, anexo XIII, estabelece como limite de emissão para material
particulado em forno de carvão o valor de 50 mg/Nm³ e, com o intuito de manter a qualidade do ar dentro desses padrões, os
filtros de mangas são os equipamentos mais indicados para tal operação (BARBOSA; SILVA, 2013).
No filtro de manga, o gás contaminado entra por uma tubulação na lateral do equipamento e ocorre o contato com o meio
filtrante, que faz com que as sujidades sejam capturadas e fiquem depositadas na superfície do material, formando uma camada
de pó chamada torta de filtração. Por fim, o ar limpo sai pela extremidade superior do filtro e pode ser liberado para a
atmosfera (PARK et al., 2019). A Figura 1 representa o fluxo de ar contaminado em vermelho e o fluxo limpo sendo liberado
para o ambiente externo em azul.

612
Figura 1 - Fluxo de ar no filtro de manga

O filtro de mangas necessita de gaiolas para a sustentação de cada manga filtrante fixada no plenum do filtro,
conforme mostra a Figura 2. Existem três tipos clássicos de gaiolas ajustada conforme a condição de acidez no processo de
filtração de gases com particulados, como é possível visualizar na Tabela 1, com seu custo relativo (CERON, 2019).

Tabela 1 - Aplicação de gaiola conforme custo e acidez


Tipo de Gaiola Custo Relativo Condição de Acidez
Galvanizada 1 Isenta
Pintura Epóxi 1,5 Média
Aço Inox 3,5 Alta

Figura 2 - Gaiolas para sustentação das mangas

O exemplo mais característico de corrosão em gaiolas é a oxidação do ferro, mais conhecida como ferrugem em linguagem

613
popular. O ferro é facilmente oxidado quando posto em contato com o ar e umidade. No processo de formação da ferrugem
ocorrem as seguintes reações mostradas na Figura 3 (CERON, 2015).

Figura 3 - Ferrugem e mecanismo químico

O objetivo deste trabalho é avaliar as condições de operação de elementos filtrantes em filtro de mangas na indústria de farelos
e óleos vegetais em função de informações e inspeções do processo. O equipamento opera atualmente com alta emissão de
particulados finos, 650 mg/Nm³, gerados por queima de carvão em forno de caldeira. As mangas filtrantes utilizadas são de
tecido de fibra de vidro com membrana PTFE expandida e possuem 12 meses de uso. Segundo o fabricante, as mangas
deveriam ser eficazes por, no mínimo, 24 meses.
Tendo a eficiência de filtragem como tema deste trabalho, o principal componente deste experimento torna-se então o filtro de
mangas, agente responsável pela alta eficiência de filtragem alcançada em sistemas a seco de filtração. Os dados do filtro
utilizado estão dispostos a seguir na Tabela 2.

Tabela 2 - Dados do filtro de mangas.


Filtro de Mangas Dados
Vazão 97.000 m3/h
Temperatura 230ºC
Dimensional das Mangas 156 x 3440 mm
Número de Mangas 1200
Área Filtrante 2.023,1 m2
Velocidade de Filtragem 0,80 m3/m2.min
Tecido das Mangas Tecido de Fibra de Vidro com Membrana PTFE Expandida

A implantação do projeto em questão foi realizada com fluxo dos gases da caldeira, tendo em vista o sistema de tratamento de
gases. Na Figura 4 apresenta-se a imagem da entrada do filtro de mangas, com a respectiva disposição dos equipamentos
utilizados em uma montagem típica para sistemas de tratamento de gases por via seca.

Figura 4 - Instalação de entrada do filtro de mangas

614
Materiais e Métodos
Os gases advindos do processo (caldeira de queima de biomassa) são transportados através de duto em aço carbono, que
interliga a caldeira ao precipitador do tipo ciclone instalado anteriormente ao coletor do tipo filtro de mangas. No duto de
interligação entre o precipitador e o coletor utilizou-se uma válvula controladora de fluxo do tipo damper borboleta, com
acionamento por atuador eletrônico motorizado com posicionador, equipamento responsável pela proteção do filtro de mangas
em caso de excessiva temperatura dos gases, atuando de forma a permitir a entrada de ar ambiente (30°C) no circuito do duto
de transporte de gases, o que resulta em uma mistura com os gases do processo de temperatura inferior a dos gases
provenientes da caldeira. Conduzidos até o filtro de mangas, que Loffler, F.; Dietrich, H.W. (1988), mostra ser utilizado para
remoção de particulado sólido dos gases do processo, os gases são filtrados e com quantidade de poluentes reduzidos são
encaminhados através de dutos pelo uso de ventilador centrífugo para a chaminé do sistema. O filtro de mangas utilizado é do
tipo jato pulsante “on-line” que trabalha com pressão negativa. A Figura 5 ilustra um fluxograma do sistema descrito.

Figura 5 - Instalação e fluxograma do sistema de tratamento de gases

Todo o sistema foi monitorado por instrumentação, que inclui sensores termopar T.1 e T.2 (item 16 da Figura 5) e filtro de
mangas que contava com transmissor de pressão diferencial. O controle do sistema foi efetuado via controlador lógico
programável (C.L.P.), onde foi realizada a coleta de dados para os parâmetros citados durante todo o período de
funcionamento.
O sistema de tratamento de gases foi operado todo o tempo de forma usual para sistemas a seco, sendo seus parâmetros base de
funcionamento inseridos no C.L.P. O sistema de limpeza jato pulsante, alimentado por linha de ar comprimido com pressão de
6 bar, que American Conference of Governmental Industrial Hygienists – Committee on Industrial Ventilation (2001) mostra
ser valor usual para este tipo de sistema de limpeza (5,52 bar a 6,89 bar), era iniciado levando-se em conta o aumento

615
excessivo da queda de pressão através do filtro de mangas.
O isolamento térmico dos dutos de transporte de gases para evitar queda de temperatura do fluxo e possível condensação foi
realizado. O advento do precipitador instalado anteriormente ao coletor deu-se devido à necessidade de proteção dos elementos
filtrantes contra eventuais fagulhas incandescentes provenientes da caldeira, pois uma única fagulha junto ao material coletado
acumulado é suficiente para início de combustão do material.
A operação do sistema de tratamento de gases iniciou-se em janeiro de 2018, sendo que todos os percalços de ajustes do
equipamento foram sanados antes do período efetivo de testes, e em fevereiro de 2018 o sistema passou a trabalhar em regime
contínuo.
Após aproximadamente dois meses em funcionamento, período utilizado para alcançar o nível de saturação suficiente dos
elementos filtrantes, de acordo com Mesquita, A.L.S.; Guimarães, F.A.; Nefussi, N. (1977), que mostra que para filtros de
tecidos sem utilização (eficiência de coleta da ordem de 60%) a eficiência de coleta aumenta para valores acima de 90% tão
logo material particulado seja depositado. Os dados de pressão e temperatura passaram a ser coletados em condições reais de
filtração. De forma a complementar os dados de pressão e temperatura coletados, a retirada de elemento filtrante para análise
foi realizada ao final de um ano, visto os altos valores de emissão de particulados, acima de 50 mg/Nm³.

Resultados e Discussão

Temperatura e Pressão
Os valores de temperatura e pressão coletados durante o período de testes no sistema estão na Figura 6, onde T1 é a
temperatura na captação dos gases, T2 é a temperatura na entrada do filtro e ΔP é a queda de pressão através do equipamento
(valores médios entre os dias 15 e 22 de fevereiro de 2018).

Figura 6 - Dados coletados de temperatura e pressão

Observa-se na Figura 6 que os valores de temperatura monitorados não apresentaram picos suficientes para que houvesse o
acionamento da válvula de controle de fluxo para entrada de ar de diluição (ar ambiente) no fluxo de gases do circuito, visto
que a temperatura máxima de projeto permitida no filtro de mangas era de 230°C. Os valores de pressão monitorados foram
mantidos sempre abaixo de 90 mmca, limite máximo pelo projeto do filtro.
Segundo Pacheco (2005), recomenda uma temperatura mínima operacional de 25ºC acima do maior ponto de orvalho ácido
calculado, ou o suficiente para manter a temperatura na saída do equipamento em 15ºC acima deste ponto, respeitando o limite
operacional da manga filtrante. O ideal é um processo continuo (sem paradas) em temperatura acima de 145 ºC, evitando a
passagem pela zona de condensação ácida, geralmente entre 115 ºC e 140ºC. Esta condição ameniza a oxidação acelerada em
gaiolas galvanizadas, bem como previne uma saturação precoce do elemento filtrante em função da condensação e umidade.

Inspeção Visual da Manga


Primeiramente analisou-se o bocal da amostra recebida, representado pela Figura 7. Identificou-se fibra rompida por processo
abrasivo em diversas partes e marcas de ferrugem provenientes da gaiola. Em seguida, com a amostra estendida sobre uma
bancada, a parte externa foi analisada, sendo representada pela Figura 8. Constatou-se um grande acúmulo de particulado
escuro, marcas de processo abrasivo com furos e micro furos, além da aglutinação e formação de pequenas pedras, o que é
característica de condensação e umidade no sistema de filtração.

616
Figura 7 - Bocal da manga de filtração Figura 8 - Lado externo da manga filtrante

Na parte interna, representada pelas Figuras 9 e 10, observou-se elevada sujidade, marcas de ferrugem, micro furos e estrutura
de fibra de vidro completamente rompida. Além disso, identificou-se processo abrasivo mais acentuado quando comparado às
outras partes da manga, bem como grande deposição de metais pontiagudos, provavelmente resultantes da oxidação da gaiola.

Figura 9 - Parte interna da manga Figura 10 - Deposição de metais no fundo

Avaliação Laboratorial
Todas as análises foram feitas no topo e no fundo da manga e apresentaram performance comprometida em comparação aos
padrões fornecidos pelo fabricante. A gramatura e espessura estavam acima do padrão, ao passo que a permeabilidade ao ar
estava muito abaixo, conforme registrado na Tabela 3.
A gramatura e permeabilidade também foram avaliadas após simulação de limpeza por batidas e, mesmo assim, mantiveram
seus valores distantes do ideal, indicando saturação completa. Tais resultados são provenientes da elevada deposição de
material particulado que é favorecida tanto pelos furos e rasgos, como também pela umidade e condensação encontradas no
processo que, devido ao alto percentual de particulados finos, são favoráveis à saturação superficial.

Tabela 3 - Resultados dos testes físicos.


Análise Laboratorial Condição da Manga Topo Fundo Padrão
Gramatura Suja 925 1072 750
(g/m²) Simulação de Limpeza 885 981
Permeabilidade ao Ar Suja 8 5 40
(L/min.dm²) Simulação de Limpeza 10 7
Espessura(mm) Suja 1,6 1,8 0,8

617
O resultado dos testes mecânicos, apresentados na Tabela 4, também não obteve o desempenho esperado pelo fabricante. As
amostras de topo e fundo possuíram baixa resistência mecânica à tração e alongamento, o que significa que o material não
realiza mais plenamente o movimento de expansão (na limpeza interna por jato pulsante de ar comprimido) e retração (durante
o processo de filtração normal), ou seja, há a necessidade da substituição do material, pois é estimada grande perda de carga no
processo.

Tabela 4 - Resultados dos testes mecânicos.


Análise Laboratorial Dimensão Topo Fundo Padrão
Resistência à Tração Longitudinal 95 71 430
(daN/5cm) Transversal 55 47 200
Alongamento até Longitudinal 3 2 10
a Ruptura (%) Transversal 4 3 10

Considerações Finais
O presente estudo surgiu da necessidade de controle ambiental exigida pela legislação vigente em uma empresa produtora de
farelo e óleo vegetal, que emitia maior volume de particulado de carvão mineral para a atmosfera que o permitido. O resultado
do teste de permeabilidade e a análise da microscopia eletrônica de varredura mostraram que, aos 12 meses de uso, há
saturação completa do material filtrante, sem possibilidade de reutilização do mesmo, que deveria ser eficaz por, no mínimo,
24 meses. A oxidação da gaiola galvanizada é o principal motivo da redução tão significativa da vida útil do material, além do
acúmulo e aglutinação de particulado que obstrui a passagem de gás.
A oxidação da gaiola é comprovada pela presença de ferro, ferrugem, conforme marcas visuais presentes no tecido e da
deposição de material metálico. A fibra de vidro com membrana PTFE é um material muito resistente a diversas condições,
porém é frágil à abrasão. Sendo assim, para a melhoria das condições do processo, recomenda-se que a gaiola galvanizada seja
substituída por uma de aço inoxidável que, apesar de mais cara, não oxidará na presença de oxigênio e umidade, tampouco em
condições ácidas. Desse modo, o tecido filtrante terá um aumento da sua vida útil, pois não sofrerá abrasão, motivo pelo qual
os testes mecânicos e físicos estão divergindo do padrão esperado.
O entupimento da passagem de gás devido ao acúmulo e aglutinação de particulado é proveniente da excessiva umidade e
condensação ácida nas quais o processo se encontrava, portanto, outra melhoria a ser feita é no controle da condensação de
água. Recomenda-se manter uma temperatura mínima operacional de 25ºC acima do maior ponto de orvalho ácido calculado
para que não ocorra saturação precoce das mangas.

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619
5SSS184
AVALIAÇÃO DE SISTEMA DE FILTRAÇÃO EM SIDERURGIA
Yasmini Chaves de Mello1, Luciano Peske Ceron2, Gerti Weber Brun3, Guilherme Rufatto Schmidt4
1PUCRS, Yasmini.mello@edu.pucrs.br; 2PUCRS, Luciano.ceron@pucrs.br; 3PUCRS, Gerti@pucrs.br;
4Guirufato@hotmail.com

Palavras-chave:Filtro de mangas, Material particulado, Siderurgia.

Resumo
O presente trabalho avalia a eficiência de filtração de um filtro de mangas implementado em uma planta de sinterização usando
mangas filtrantes de poliéster, por meio de análises físicas, mecânicase granulométrica, propondoalternativas para otimizar o
processo. Os elementos filtrantes em fibra de aramida e microfibras de poliéster foram as opções consideradas para substituir o
atual filtro. A partir das avaliações laboratoriais e das necessidades de operação do filtro, foi determinado que a melhor opção é
o filtro manga de microfibras de poliéster.

Introdução
Apesar de sua relevante participação no desenvolvimento econômico, a indústria siderúrgica é uma atividade com elevado
potencial poluidor pois, além de consumir muita energia e insumos, gera poluentes atmosféricos em quantida desconsideráveis
(SOUZA, 2013). A indústria siderúrgica é um setor imprescindível para o desenvolvimento do Brasil, visto que fornece
insumos para outras esferas produtivas. Segundo o Ministério de Minas e Energia, a siderurgia contribuiu em 2016 com,
aproximadamente, 70% do Produto Interno Bruto da metalurgia, correspondendo a 28,48 bilhões de dólares (MINISTÉRIO
DE MINAS E ENERGIA, 2018).
Segundo o Relatório de Sustentabilidade do Instituto Aço Brasil (2016), a etapa de preparação de carga consiste em adequar a
matéria prima para as próximas etapas. Já a etapa de redução compreende a redução de óxido de ferro em ferro metálico
utilizando o alto-forno e resultando em ferro-gusa, que segue para o processo de refino, onde será ajustado o teor de carbono e
as impurezas serão removidas em conversores a oxigênio, resultando no aço. Este aço é então moldado na etapa de
lingotamento, tomando a forma de produtos semi acabados e, para finalizar, é realizada a laminação com objetivo de diminuir
a espessura do produto que seguirá para outras indústrias de transformação (INSTITUTO AÇO BRASIL, 2016).
Na siderúrgica é empregado o processo de sinterização, que tem como finalidade aumentar a resistência mecânica de um
determinado material a partir da redução de sua porosidade (BRITO; MEDEIROS; LOURENÇO, 2007). Esta etapa de
preparação de carga, que tem o intuito de aumentar a eficiência do alto-forno, reduzindo o consumo de coque (OLIVEIRA,
2014), consiste em aquecer as peças metálicas (a uma temperatura abaixo do ponto de fusão do metal-base da mistura) em
condições controladas de velocidade de aquecimento, tempo de exposição, velocidade de resfriamento e atmosfera do ambiente
de aquecimento (CHIAVERINI, 1986). Os fornos empregados nos processos de sinterização geralmente são contínuos,
conforme está esquematizado na Figura1.

Figura 1 - Esquema de um processo de sinterização

620
Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, CETESB (2019), qualquer substância presente no ar que possa
torná-lo impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde é considerado um poluente atmosférico. Estas substâncias podem causar danos
à fauna, à flora e aos materiais, além de incomodidade à sociedade.
No processo de sinterização são geradas emissões atmosféricas contendo monóxido de carbono (CO), dióxido de enxofre
(SO2), óxidos de nitrogênio (NOx), compostos aromáticos – incluindo tóxicos como a dioxina e o furano – e material
particulado (MP) – cuja quantidade varia de 21 a 209 mg/Nm³ (OLIVEIRA, 2014). A liberação de monóxido e dióxido de
carbono e de gases como SO2 e NOX tem origem diretamente no aquecimento e queima da matéria prima, enquanto os
compostos aromáticos são formados pela evaporação de substâncias contendo carbono e cloro, seguida pela condensação na
zona de resfriamento. Em ambos os casos há geração de material particulado (FIGUEIREDO; CERON, 2016).
Os critérios de emissões atmosféricas para siderurgias estão presentes na Resolução CONAMA 436/2011 e os limites máximos
estabelecidos para o processo de sinterização, em mg/Nm3(em base seca) para material particulado (M.P.), SO2e NO2
apresentados na Tabela 1.

Tabela 1- Limites máximos estabelecidos para o processo de sinterização.


Processo M.P. SO2 NO2
3 3
Sinterização 70 mg/Nm 600 mg/Nm 700 mg/Nm3

A caracterização do tipo de particulado abrange poeiras, fumaças e todo tipo de material sólido e líquido em suspensão na
atmosfera, além de poder ser formado a partir de reações químicas com gases como o SO2, NOXe compostos voláteis (CERON,
2010). Algumas destas partículas, como fumaças e poeiras, podem ser observadas a olho nu, enquanto outras, como MP2,5 e
MP10 – partículas com diâmetros menores que 2,5 µm e partículas entre 10 e 2,5 µm, respectivamente – necessitam de
microscópios eletrônicos para serem visualizadas (RESENDE,2007).
O equipamento industrial comumente utilizado no tratamento dos efluentes gasosos de siderúrgicas é o filtro de mangas,
Figura 2, uma vez que consegue capturar partículas finas e metais pesados com alta eficiência (OLIVEIRA, 2014).Este
equipamento é considerado de alta eficiência, visto que consegue reter até 99,9% do material particulado, dependendo de sua
granulometria, do material do meio filtrante e outros fatores – como a limpeza das mangas (CERON, 2009).

Figura 2 - Partes de um filtro de mangas

621
Para o filtro de mangas ser plenamente eficiente, o material que o constitui deve ser adequado às características da mistura a
ser filtrada (gases e particulado). Um meio filtrante inadequado pode acarretar em alteração da vida útil e da durabilidade do
equipamento projetado (SANTINI, 2011).Entretanto, este equipamento possui restrições relacionadas a temperatura dos gases,
o que pode originar falhas no seu funcionamento (CERON, 2010).
A otimização de um filtro de mangas corretamente projetado pode ser realizada pela alteração do meio filtrante, acarretando
em melhoria da vida útil e da durabilidade do material. O tempo em que a manga atende aos limites estipulados de emissão
atmosférica e à eficiência de limpeza é chamado de vida útil, enquanto o tempo total de uso até que a manga rasgue, fure ou
entupa totalmente é denominado como a durabilidade (SANTINI,2011).
O material que constitui as mangas filtrantes deve possuir propriedades físicas, químicas e térmicas compatíveis com as da
mistura gasosa e do pó coletado (CERON, 2019). Segundo Santini (2011), a fibra de poliéster é a mais utilizada na maioria dos
processos filtrantes devido ao fator econômico. Este material tem como principais propriedades ser termoplástico, resistente à
ruptura, ao desgaste e à formação de bolor, além de manter a solidez em presença de umidade, sendo muito versátil
(FERRARI; CERON, 2016).
As fibras dos não tecidos que constituem os meios filtrantes podem ser classificados como fibras e microfibras. As microfibras
têm sido muito aplicadas ultimamente na filtração de particulados para a retenção de particulados finos, devido à elevada
eficiência de captura e durabilidade nas aplicações industriais em filtros de mangas (YUN et al, 2007; ATTIA et al.,
2017).Considerando que normalmente o filtro de mangas inserido em processos de siderurgia opera em temperatura entre
110ºC a 150ºC, pode-se avaliar como alternativa o emprego de fibras de aramida. Em níveis normais de oxigênio, esta fibra
não derrete e não inflama, o que explica o motivo de ser amplamente utilizada em isolamento térmico e elétrico, substituindo o
amianto, em vestuários protetores e filtragem de ar (TROMBETTA, 2012). Segundo Ferrari e Ceron (2016), a fibra de aramida
supera os limites de resistência à temperatura comparativamente a fibra de poliéster MPS (Micro Poro Size), constituída com
microfibras, conforme mostra a Tabela2.

Tabela 2 - Características térmicas das fibras Poliéster MPS e Aramida.


Características Poliéster MPS Aramida
Temperatura máxima na filtração (°C) 150 240
Temperatura que derrete (°C) 255 560
Temperatura de fusão (°C) 420 590
Temperatura de ignição (°C) 485 800

O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência de um sistema de filtro de mangas instalado em uma indústria siderúrgica, por
meio de testes laboratoriais nas mangas filtrantes de poliéster 550 g/m2 utilizadas no equipamento e propor melhorias.

Materiais e Métodos
A vida útil estipulada no projeto do elemento filtrante, instalado na planta de sinterização era de dois anos para mangas de
poliéster com 600 g/m2. Porém, as mangas apresentaram saturação em dez meses e alta emissão de particulados finos com taxa
de 265 mg/Nm³, o que comprovou a inadequação do material no processo. Quando o material da manga está adequado ao
processo, os particulados maiores se depositam no fundo do equipamento e os menores (finos) ficam retidos na manga.Os
dados do filtro estão dispostos a seguir na Tabela 3.

Tabela 3 - Dados do filtro de mangas.


Filtro de Mangas Dados
Vazão 30.000 m3/h
Temperatura 130ºC
Dimensional das Mangas 172 x 2570 mm
Número de Mangas 360
Área Filtrante 500 m2
Velocidade de Filtragem 2,1 m3/m2.min
Material das Mangas Não tecido de poliéster 600 g/m2

A implantação da avaliação e coleta da manga foi realizada em filtro de mangas em siderurgia, conforme a Figura 3.

622
Figura 3 - Filtro de mangas

Para avaliar as condições dos elementos filtrantes foram realizadas análises físicas (gramatura, espessura e permeabilidade ao
ar) e análises mecânicas (resistência à tração e alongamento até a ruptura).
O teste de gramatura foi executado conforme norma NBR 12984/2000: Não tecido - Determinação da massa por unidade de
área, utilizando uma balança semi-analítica e um corpo de prova circular, o qual foi exposto a três tratamentos diferentes,
sendo um no estado em que a amostra foi recebida – simulando o material sujo –, outro limpo com batidas – simulando o
material após a limpeza com jatos de ar no próprio filtro – e o último lavado e seco para verificar o estado do material.
A espessura do meio filtrante sujo foi realizada em medidor de espessura Mainard (modelo M-73210-T), conforme a norma
NBR 13371/2005: Não tecido - Determinação da espessura.
A permeabilidade do material ao ar foi determinada seguindo a norma NBR 13706/1996: Não tecido - Determinação da
permeabilidade ao ar, por meio de um Permeabilímetro Karl Schroder KG (modelo 6940 Weinheim), utilizando corpos de
provas sujos e limpos combatidas.
Os ensaios mecânicos foram realizados conforme a NBR 13041/1993: Não tecido - Determinação da resistência àtração e
alongamento, utilizando corpos de prova sujos, que foram avaliados tanto transversalmente quanto longitudinalmente, por
meio de um dinamômetro Frank 81565 IV.

Resultados e Discussão

Inspeção da Manga
Nos testes físicos e mecânicos foram usadas amostras das mangas, aparentemente saturadas com particulado fino em toda sua
extensão e possuindo certa umidade nas partes externa e interna, conforme pode ser observado nas Figura 4 e 5.
Posteriormente, estas amostras foram transformadas em corpos de prova circulares (5 cm de diâmetro) e retangulares (5 cm x
30 cm), seguindo as recomendações das normas para os testes, como mostra a Figura 6.

623
Figura 4-Exterior das mangas Figura 5-Interior das mangas Figura 6 - Corpos de prova

Análises Físicas
Na Tabela 4 são apresentados os resultados das análises de gramatura, espessura e permeabilidade ao ar, bem como o padrão
indicado na ficha técnica da manga (Poliéster de 600 g/m2). Os corpos de prova circulares foram retirados das duas mangas
distintas do mesmo filtro (do fundo e do topo de cada uma das amostras), de forma a representar as mangas como um todo.

Tabela 4 - Resultado das análises físicas.


Manga 1 Manga 2 Padrão
Análise Estado da amostra
Topo Fundo Topo Fundo
Suja 965 867 1054 983 600
Gramatura
Limpa com batidas 885 776 998 826 600
(g/m²)
Lavada e seca 804 705 850 747 600
Permeabilidade ao Ar Suja 8 10 7 9 120
(L/min.dm²) Limpa com batidas 14 22 11 17 120
Espessura (mm) Suja 2,5 2,4 2,6 2,5 2,0

Os testes de gramatura e espessura indicam que as mangas estão incrustadas de material particulado na superfície, saturação,
visto que a diferença padrão variam de 0,4 a 0,6 mm de espessura e de 267 a 454 g/m² de gramatura. Além disso, o teste de
gramatura mostrou que a limpeza por jatos de ar comprimido simulada por batidas no corpo de prova, já não é mais suficiente
para manter o meio filtrante com as características iniciais. A análise revelou a existência de particulados finos que se
depositaram no interior das fibras de poliéster, uma vez que o teste com os corpos de provas lavados e secos, também
apresentaram resultados superiores ao padrão para o material limpo.
A análise de permeabilidade ao ar comprovou os resultados de gramatura e espessura, pois, apesar do corpo de prova limpo
com batidas apresentar maior permeabilidade do que o corpo de prova sujo, os resultados são muito abaixo do padrão. Isso
significa que, mesmo com a limpeza por jatos de ar comprimido, a quantidade de ar que está permeando as mangas não atinge
30% da quantidade que permeia o mesmo meio filtrante em condições ideais de operação. Dessa forma, o filtro de mangas não
atinge a eficiência necessária e o fluxo de gás a ser filtrado deve ser reduzido, impactando na produção, que deverá ser
desacelerada por consequência.
Sabe-se que a vida útil estipulada para o filtro em questão, instalado na planta de sinterização era de dois anos. Porém, o
equipamento apresentou saturação em dez meses, o que comprova a inadequação do material filtrante – fibra de poliéster de
600 g/m2 – para o processo. Assim, deve-se substituir o material por outro cuja malha seja mais fechada, o que impede que as
partículas finas fiquem incrustadas nas fibras do não tecido.

Análises Mecânicas
Os resultados dos testes mecânicos (resistência à tração e de alongamento até a ruptura) e os padrões do material que constitui
o meio filtrante para tais análises, estão expostos na Tabela 5.

624
Tabela 5 - Resultados dos testes mecânicos.
Análise Laboratorial Dimensão Topo Fundo Padrão
Resistência à Tração Longitudinal 131 123 190
(daN/5cm) Transversal 112 110 150
Alongamento até Longitudinal 14 13 19
a Ruptura (%) Transversal 14 15 21

Em nenhum dos cortes (longitudinal ou transversal) o corpo de prova conseguiu atingir o padrão. Dessa forma, as mangas não
conseguem retrair e nem expandir como deveriam no processo de filtração e limpeza, respectivamente, por jato pulsante com
ar comprimido. A ineficiência destes processos auxilia para o aumento da torta de filtrado, influenciando negativamente nos
parâmetros físicos (gramatura, espessura e permeabilidade ao ar). Além disso, as mangas instaladas no filtro estão mais
suscetíveis a rupturas, podendo suceder vazamentos de gases poluídos para atmosfera. A partir destes testes, foi constatada a
necessidade de troca do meio filtrante pois estes não possuem estado mecânico em conformidade com o padrão estipulado pelo
fabricante para seu pleno funcionamento.

Considerações Finais
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o funcionamento de um filtro de mangas instalado em uma planta de
sinterização, atividade que gera efluentes gasosos prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente, tais como os materiais
particulados. Para determinar se o filtro está operando conforme a necessidade do processo, foram realizados testes físicos e
mecânicos em mangas filtrantes coletadas do filtro.
Os testes físicos evidenciaram que a manga atual não possui desempenho adequado, visto que se encontra saturado e obstruído
por particulados finos, ou seja, o elemento filtrante já ultrapassou seu limite de durabilidade, apesar de estar em uso por 10
meses e ter sido projetado para 2 anos de operação. Os testes mecânicos também indicaram que a vida útil destas mangas
terminou, pois não possui eficiência na limpeza, uma vez que não é atingida a expansão necessária durante o processo, o que
facilita ainda mais a saturação do meio filtrante.
A saturação superficial da manga, apesar de contribuir para a filtração, obstrui as aberturas do meio filtrante, dificultando a
passagem de gás, ou seja, diminuindo a permeabilidade ao ar. Consequentemente, a pressão exercida pelo gás no filtro de
manga aumenta, fazendo com que a vazão do efluente necessite ser reduzida, o que impacta o processo produtivo. Assim, o
material filtrante deve ser escolhido de forma a não causar saturação em curto período de utilização do equipamento.
Considerando que as fibras não sofreram danos ou alterações estruturais pela alta temperatura característica do processo, não
há necessidade de empregar um material como a aramida, com a finalidade de suportar temperaturas mais altas do que as
suportadas pelo poliéster. O indicado, tecnicamente, para este caso é substituir as mangas de fibra comum de poliéster por
mangas de microfibra de poliéster, uma vez que as microfibras alteram apenas a estrutura física da manga, diminuindo o
espaço entre elas e aumentando a área superficial, ao passo em que as demais características do material são mantidas. Dessa
forma, as microfibras possuem melhor capacidade de retenção de particulado fino, como o processo exige.

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626
5SSS185
USO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS NA PREDIÇÃO DA
GERAÇÃO DE RSU – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Cristiano Costa de Souza1, Alan Vinicius Hehn 2,
Atilio Efrain Bica Grondona 3, Luis Alcides Schiavo Miranda4
1Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail: cristianosouza@edu.unisinos.br; 2Universidade do Vale do Rio dos
Sinos, e-mail: alanh@edu.unisinos.br; 3Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail: atiliog@edu.unisinos.br;
4Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail: lalcides@unisinos.br

Palavras-chave: Redes neurais; Resíduos sólidos; Modelo de predição.

Resumo
A crescente geração de resíduos sólidos em conglomerados urbanos requer políticas públicas que assegurem seu adequado
gerenciamento e sua destinação final. O desenvolvimento de ferramentas que possam prever com exatidão a geração de
resíduos sólidos urbanos (RSU) em curto, médio e longo prazo é uma demanda urgente e imprescindível para gestão de
investimentos e tomada de decisões. O avanço em inteligência artificial atingiu a realidade do cotidiano das pessoas e,
atualmente, os pesquisadores detêm uma gama de opções tecnológicas para desenvolver soluções para determinados desafios.
O modelo computacional baseado em redes neurais artificiais (artificial neural network – ANN) foi aplicado em estudos por
diversos países visando predizer a geração de RSU em um período futuro, com base em dados passados. Redes neurais
artificiais visam simular o funcionamento dos neurônios e têm capacidade de aprender e reconhecer padrões, em ciclos de
treinamento chamados de machine learning. Os trabalhos apresentaram soluções estruturadas em três ou mais camadas de
neurônios – input, hidden e output layers – sendo a primeira alimentada com variáveis de entrada (exógenas) e a última com os
dados de geração de resíduos. Com base nesses dados e em ciclos de aprendizado (treinamento), validação e testes, os modelos
seriam capazes de reconhecer padrões e correlações e, assim, predizer com razoável exatidão a geração futura de resíduos.
Como resultado dos estudos, os modelos baseados em ANN apresentaram boa acuidade na predição da geração de RSU,
revelando-se solução viável para uso aplicado em ações de planejamento e gerenciamento.

Introdução
As questões ambientais tornaram-se imprescindíveis às atividades contemporâneas e possuem um papel fundamental no que se
refere à gestão dos resíduos sólidos urbanos (RSU). Segundo Dias et al. (2012), o desenvolvimento econômico, a urbanização
e o aumento dos padrões de consumo apontam para o crescimento na quantidade e complexidade dos RSU como subprodutos
inevitáveis da atividade humana, favorecendo graves problemas sanitários, principalmente nos países em desenvolvimento.
Nesse contexto, a necessidade de se estimar com precisão a geração de RSU torna-se indispensável tanto para o gerenciamento
como para a implementação de políticas públicas. Ademais, identificar correlações e padrões da geração de resíduos possibilita
a busca de estratégias visando a sua redução.
No gerenciamento de RSU, a estimativa correta da geração é um dado de grande importância para o bom planejamento de
recursos e tomada de decisões. Nesse sentido, modelos que estimem com precisão a geração de RSU são ferramentas
indispensáveis aos gestores, porém um desafio aos desenvolvedores em face da influência de diversos fatores externos na
correta predição da quantidade de resíduos (ABBASI; RASTGOO; NAKISA, 2018).
Nos últimos anos, o tema vem adquirindo especial importância com a difusão do uso de inteligência artificial em tarefas
cotidianas e com o incremento da capacidade de computadores e dispositivos eletrônicos em geral. Os modelos baseados em
redes neurais artificiais (artificial neural networks – ANN) tem ganhado atenção pela sua flexibilidade de uso em diversas
aplicações. Conforme Chhay et al. (2018), na área de RSU, técnicas de inteligência artificial tem se tornado as mais
acreditadas.
Redes neurais artificiais são modelos computacionais inspirados no sistema nervoso dos animais, estruturados em um conjunto
de nós agrupados em camadas, interconectados como neurônios, com capacidade de realizar o aprendizado de máquina e o
reconhecimento de padrões. (BISHOP, 1996).
Assim como ocorre nos neurônios biológicos, informações são transmitidas entre os neurônios artificiais. Numa ANN, os
neurônios são organizados em layers (camadas) de maneira que cada neurônio de uma camada se comunica com todos os da
camada seguinte, e assim por diante, funcionando como um multiprocessador. Cada conexão entre dois neurônios possui um
“peso”, que corresponde à “força” de uma informação. (SINGH; SATIJA, 2018). A informação de um neurônio é repassada a
outro através de um sinal de entrada, como o impulso eletroquímico que ocorre num sistema biológico. (ANTANASIJEVIĆ et
al., 2016).
Para um determinado conjunto de dados, uma ANN é estruturada de modo que ela aprenda a reproduzir os valores de saída a

627
partir dos valores de entrada, em ciclos de treinamento. A vantagem do uso dessa tecnologia é a capacidade de aprender
mesmo com uma amostra reduzida de dados, identificando padrões e correlações entre as variáveis de entrada e de saída.
Outros métodos de machine learning combinados com ANN tem sido estudados nos trabalhos mais recentes, dentre os quais se
destacam o uso de Adaptive Neuro-Fuzzy Inference System (ANFIS), Radial Basis Funcion (RBF) e General Regression
Neural Network (GRNN), entre outros. Essas iniciativas demonstram que há ampla área para estudo deste tema, o qual está
longe de se esgotar.
Os resultados obtidos até o momento são promissores, embora não se tenha ainda um consenso quanto às variáveis exógenas
que apresentam melhores correlações com a geração de resíduos sólidos municipais, nem quanto ao modelo computacional que
apresenta as melhores estimativas. O presente trabalho tem por objetivo apresentar o estado da arte no tema no que se refere ao
uso de ANN em geração de RSU, combinado ou não com outras técnicas de inteligência artificial aplicadas.

Material e Métodos
O método para pesquisa de literatura consistiu em um levantamento na base de periódicos nacionais e internacionais da Capes
– Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –, através do portal eletrônico. Iniciaram-se as buscas por
assunto utilizando as palavras chaves: neural + network e solid + waste. Foram obtidos 1.113 resultados com a utilização de
filtro indicando ordenamento por relevância.
Realizou-se uma análise preliminar de 800 artigos pelo ordenamento indicado, sendo que a partir do 400o artigo ordenado por
relevância não foram mais constatados materiais compatíveis com o tema. A partir dos 400 artigos iniciais foi realizada uma
análise mais minuciosa pelos autores da revisão e selecionou-se 32 artigos, que foram classificados em função do tema, sendo
13 referentes à predição e geração de resíduos com uso de redes neurais (um deles foi suprimido do total por verificação de
ocorrência de plágio), restando um total de 12 artigos. Os demais foram desconsiderados por tratarem da utilização dessas
redes para outras finalidades dentro da área de resíduos sólidos, como por exemplo, estimativa de geração de energia,
quantidade de geração de lixiviado, entre outras.
Sendo assim, a revisão de literatura foi compreendida por 12 artigos acrescentados de mais 5 obtidos por referência dos autores
dos mesmos totalizando 17 artigos, todos obtidos por busca no portal eletrônico da Capes.

Resultados e Discussão
Estrutura da ANN
Uma rede neural artificial feedforward possui estrutura estratificada em multicamadas, com todas as conexões se alimentando
de entradas para produzir dados de saída. Normalmente, possui três layers (camadas) denominadas input (entrada), output
(saída) e hidden (oculta), sendo a quantidade de neurônios nos layers input e output iguais à quantidade de variáveis de entrada
e saída, respectivamente. (YOUNES et al., 2015).
A quantidade de neurônios no input layer coincide com a quantidade de variáveis independentes utilizada para a estimativa de
resíduos gerados, ou seja, um neurônio para cada variável de entrada. No output layer é utilizada a quantidade de neurônios
correspondente ao número de variáveis de saída. Em praticamente todos os estudos utiliza-se um único neurônio nesta camada,
pois a resposta que se desejava obter da ANN é, geralmente, a quantidade de resíduos sólidos gerada.
Quanto ao hidden layer, a quantidade de camadas e de neurônios variou consideravelmente em cada trabalho. Como a
definição da quantidade de neurônios nesta camada não é facilmente determinável, é comum a definição através de métodos
empíricos até se obter a melhor configuração de rede (FATHOLLAHI; HEIDARI FARSANI; AZADEH, 2018); os trabalhos
mostram grandes discrepâncias quanto a esses valores. Muitos estudos se dedicaram a explicar os métodos pelos quais foi
definida a estrutura e a quantidade de neurônios no hidden layer, bem como em apresentar métodos de inteligência artificial
combinados para a escolha da melhor estrutura.
Para ilustrar as diferenças das estruturas apresentadas, Shamshiry, Mokhtar e Abdulai (2014) utilizaram somente quatro
neurônios no hidden layer, enquanto Noori et al. (2009) utilizaram 22, e Antanasijević et al. (2013), 84. Não há evidência de
que maior ou menor quantidade de neurônios apresente melhores resultados na capacidade de predição da rede neural. A
Figura 1 mostra uma típica estrutura de rede neural utilizada.
A relação entre entradas e saídas é representada genericamente pela Eq. (1), sendo ‘x’ os parâmetros de entrada, ‘ij’ e ‘j’
respectivamente os pesos entre os hidden layers e o output layer, e ‘g’ a função de ativação. (FATHOLLAHI; HEIDARI
FARSANI; AZADEH, 2018).

(1)

A função de ativação é uma função não linear através da qual a rede, por iterações, poderá reconhecer padrões e aproximar os
resultados obtidos no output layer com os dados reais fornecidos, sendo a mais usual a função sigmoide. As iterações
concernem ao “aprendizado” ou “treino” da rede, que através de ciclos visam minimizar a função erro (‘t’) através de

628
algoritmos back-propagation denominados função de treino, sendo uma das mais usuais a técnica Levenberg-Marquardt.
(BISHOP, 1996). A Tabela 1 lista algumas das funções de ativação e treino mais usuais e utilizadas nos trabalhos estudados.

Figura 1: Estrutura típica de uma rede neural artificial.


Fonte: Adaptado de Sun et al. (2011)

Funções de ativação (hidden layer) Funções treino


LM – Levenberg-Marquardt
BR – Bayesian Regulation
GD – Gradient Descent
Tansig – Hyperbolic Tangent sigmoid
GDM – Gradient Descent with Momentum
Logsig – Logaritmic Sigmoid
GDA – Gradient Descent with adaptive
Sen/Cos– Seno ou cosseno
learning rule
Purelin – linear function
RP – Resilient Back Propagation
SCG – Scale Conjugate Gradient
BFGS – quasi-Newton
FP – Fletcher Powell conjugate gradient
Tabela 1: Funções de ativação e treino.
Fonte: Adaptado de Azadi; Karimi-Jashni (2016), Fathollahi; Heidari Farsani; Azadeh (2018), Younes et al. (2015)

Não se observou uniformidade nos estudos quanto às funções de ativação e treino mais adequadas aos resultados. O algoritmo
Levenber-Marquardt (LM) foi utilizado pela maioria dos pesquisadores – (NOORI et al., 2009, 2010), (AZADI; KARIMI-
JASHNI, 2016), (SINGH; SATIJA, 2018), (CHHAY et al., 2018), (KANNANGARA et al., 2018) e (OLIVEIRA; SOUSA;
DIAS-FERREIRA, 2019) –, sendo também observada utilização de Resilient Back Propagation (RP) – (NOORI et al., 2009,
2010) –, Gradient Descent – (ALI ABDOLI et al., 2012) e (FATHOLLAHI; HEIDARI FARSANI; AZADEH, 2018) – e
Fletcher Powell (FP) – (YOUNES et al., 2015).
A escolha das melhores funções de ativação e treino, da mesma maneira que ocorre para a quantidade de neurônios no hidden
layer, não é facilmente determinável. (AZADI; KARIMI-JASHNI, 2016). Para contornar essa lacuna, observou nos últimos
estudos técnicas combinadas para a estruturação de redes neurais capazes de predizer com melhor exatidão a geração de
resíduos.

Seleção de variáveis independentes


Uma das variáveis que mais influencia a geração de RSU per capita é o tamanho da população, de modo que, quanto maior a
população urbana, maior a será a geração per capita. (AZADI; KARIMI-JASHNI, 2016). Outra variável de grande relevância é

629
a renda per capita ou PIB per capita, com grande correlação com a geração de RSU per capita observada. (CHHAY et al.,
2018).
Embora esses parâmetros tenham se confirmado na maioria dos estudos, não se observou uniformidade quanto às demais
variáveis externas consideradas. Como exemplo, Batinic et al. (2011) estudaram a geração de resíduos sólidos em 10 cidades
na Sérvia e consideraram como variáveis exógenas a economia, idade média da população, nível de educação e serviços
municipais. Abdoli et al. (2012) estudaram a estimativa de geração de resíduos em longo prazo na cidade de Mashhad, no Irã, e
consideraram como variáveis o tamanho da população, renda familiar e temperatura máxima sazonal. Antanasijević et al.
(2013) estudaram a geração de resíduos em 26 países europeus e utilizaram PIB per capita, consumo doméstico e custo de
produtividade como variáveis externas. Chhay et al. (2018) estudaram a geração de resíduos sólidos na China e consideraram
as variáveis tamanho da população, PIB e consumo de energia, combinadas em uma ANFIS, gerando gráficos tridimensionais
com correção entre essas variáveis e geração de resíduos. Singh e Satija (2018) estudaram a geração de RSU na cidade de
Faridabad, na Índia, e estruturaram uma ANN com as variáveis: população total, população urbana, taxa de alfabetização,
migração da população para a cidade em busca de emprego, renda per capita e expansão de fundos municipais.
Em face da boa capacidade de predição dos modelos, alguns pesquisadores utilizaram uma grande gama de variáveis externas,
mesmo não sendo clara a sua influência na geração de RSU. Shamshiry, Mokhtar e Abdulai (2014) compararam ANN e análise
de regressão múltipla para estimar a geração de resíduos sólios na ilha de Langkawi, uma ilha turística na Malásia, e utilizaram
como variáveis de entrada a produção semanal média de resíduos sólidos, consumo médio semanal de combustível para coleta
e transporte, quantidade semanal e tipos de caminhões de coleta, carregamento e transporte e quantidade de funcionários para
coleta e transporte.
Abbasi, Rastgoo e Nakisa (2018) modelaram a geração mensal e sazonal de resíduos sólidos na capital do Irã e utilizaram as
variáveis PIB, chuva, temperatura máxima, população, tamanho das residências, nível de educação dos homens, nível de
educação das mulheres, renda por gênero, taxa de desemprego de mulheres e taxa de desemprego de homens, propondo uma
separação de variáveis por gênero. Após efetuarem correlações das variáveis com a produção de resíduos (com coeficiente de
Pearson), concluíram que as maiores eram obtidas com as variáveis PIB, renda, tamanho das residências e nível de educação
das mulheres.
Antanasijević et al. (2016), num estudo em 44 países com dados de 2000 a 2010, avaliaram a influência da ocorrência de crises
econômicas na geração de RSU. Para tanto, consideraram como variáveis exógenas o PIB, consumo material doméstico,
população urbana, densidade populacional, tamanho médio das residências, industrialização, despesas com turismo, idade da
população, taxa de desemprego, consumo de álcool, gastos em consumo doméstico e emissão de CO2, e chegaram à conclusão
de que a ocorrência de crises influencia a geração de resíduos sólidos nos países.
Kontokosta et al. (2018) apresentaram uma nova abordagem analítica na predição da geração de resíduos sólidos numa área
densamente povoada, na cidade de Nova York, EUA, valendo-se de parâmetros como características demográficas e
socioeconômicas dos edifícios, incluindo quantidade de unidades residenciais e seu tamanho efetivo, combinadas com os dados
de coletas pregressos de 609 subseções do departamento de saneamento da cidade, no período de 10 anos, para estimar geração
futura.
Oliveira, Sousa e Dias-Ferreira (2019), em um estudo da geração de resíduos em 42 municípios em Portugal, propuseram um
modelo para estimar a quantidade anual de resíduos de embalagens coletadas separadamente, e utilizaram 14 variáveis
relacionadas ao nível de escolaridade da população, ao porte e ao nível de urbanização de cada município, aos aspectos sociais
relacionados à pobreza e ao poder econômico e a fatores intrínsecos à coleta de resíduos.
Azadi e Karimi-Jashni (2016) compararam dois modelos preditivos (redes neurais artificiais e regressão linear múltipla) para a
geração de resíduos sólidos na província de Fars, no Irã, e utilizaram quatro variáveis externas: população de cada cidade,
frequência da coleta de resíduos, temperatura máxima sazonal e altitude de cada cidade.
Observou-se, portanto, boa heterogeneidade das variáveis exógenas nos trabalhos revisados, as quais contribuíram, de uma
maneira ou de outra, na estruturação de modelos preditivos da geração de resíduos, porém nem sempre com grande nível de
significância. Como exemplo, Younes et al. (2015), no estudo de um modelo para geração de resíduos na Malásia, com dados
referentes à produção anual entre 1981 a 2011, utilizaram inicialmente as variáveis PIB, população, demanda de eletricidade
per capita, quantidade de empregados e desempregados. Contudo, após nova análise, chegaram à conclusão de que apenas três
influenciavam significativamente a geração de RSU: PIB, população e emprego.

Dados amostrais e adesão dos resultados obtidos


A aprendizagem – ou treinamento – da rede neural decorre da seleção de variáveis externas e de sua alimentação com dados
pregressos destas variáveis. Para isto, são necessários dados de entrada e de saída, denominados verdades de campo. Com estes
dados, a ANN tentará calibrar os pesos entre as ligações dos neurônios artificiais de modo que o modelo gerado estime os
dados de saída. Os pesos de calibração escolhidos para os neurônios são aqueles que geram a menor diferença entre os dados
observados e estimados (erro) e decorrem de um processo iterativo de minimização deste erro.
O estudo de Noori, Karbassi e Salman Sabahi (2010) utilizou uma amostra de 143 dados da cidade de Mashhad para uma
aplicação de teste Gamma e análse de regressão de componentes principais (PCA) em ANN, obtendo uma correlação (R2) de
0,81. Em comparação, Batinic et al. (2011) utilizaram em seu estudo uma amostra menor, de 54 dados, e obteve um coeficiente

630
de correlação R2 maior, de 0,96, realizando uma previsão da geração de resíduos até o ano de 2026. Younes et al. (2015)
tinham uma amostra de 31 conjunto de dados referentes ao período de 1981 a 2011 (dados anuais), obtendo uma correlação R2
de 0,97.
Abbasi e El Hanandeh (2016) utilizaram uma amostra de geração de resíduos de 12 meses na cidade de Logan, em
Queensland, Austrália, e com uma ANFIS, obtiveram uma correlação R2 de 0,98, propagando os resultados obtidos para o ano
de 2020. Fathollahi, Heidari Farsani e Azadeh (2018) propuseram um modelo para previsão de curto prazo da geração de
resíduos sólidos em Teerã, no Irã, e utilizaram dados relativos a seis anos do distrito n. 1 e, com uma rede ANFIS, obtiveram
resultados equivalentes aos dados reais de geração, validados com testes estatísticos ao nível de significância de 0,05. O estudo
de Chhay et al. (2018) contou com 16 dados anuais históricos na China e obtiveram um coeficiente de correlação R2 de 0,93,
propagando o resultado do estudo até o ano de 2030. Oliveira, Sousa e Dias-Ferreira (2019) utilizaram dados referentes ao ano
de 2015 para estruturar uma ANN com correlação R2 de 0,98.
Observa-se, deste modo, que nem sempre uma grande quantidade amostral garante melhores resultados de predição para a
ANN estruturada. Segundo Chhay et al. (2018), grey model traz bons resultados quando os dados são escassos, enquanto que o
modelo de regressão linear é melhor aplicável para dados mais volumosos, e que diversos pesquisadores tem aplicado ANN
com dados escassos para predição de geração em longo prazo.
Outra abordagem foi proposta por Shamshiry, Mokhtar e Abdulai (2014) ao utilizar dados de 12 semanas anteriores para
prever a geração de resíduos da semana seguinte, obtendo coeficiente R2 de 0,80. Na realidade, este estudo utilizou como
variáveis os dados de coleta de resíduos (caminhões, tipos de transporte, quantidade de funcionários, etc.), fato criticado
posteriormente por Younes et al. (2015).
Os estudos de Abbasi, Rastgoo e Nakisa (2018) e Oliveira, Sousa e Dias-Ferreira (2019) dividiram os conjuntos de dados em
oito e cinco partes, respectivamente. O procedimento de treino da rede ocorreu em ciclos de validação cruzada, sendo sempre
uma parte reservada para teste e as demais para treino. Desse modo, cada ciclo ocorreu com uma parte diferente sendo
utilizada para teste, sendo escolhida a estrutura que tivesse melhores resultados. A Figura 2 ilustra o procedimento adotado por
Abbasi, Rastgoo e Nakisa (2018) que, de modo similar, foi adotado no outro estudo citado.

Figura 2: Divisão dos dados em oito partes, para ciclos de validação cruzada.
Fonte: Abbasi, Rastgoo e Nakisa (2018)

Tal abordagem difere-se um pouco do método realizado nos demais estudos, em que os dados foram separados aleatoriamente
em treino, validação e teste, em proporções de cerca 50-80%, 25-10% e 25-10% das amostras, respectivamente. Não ficou
evidente se o método de validação cruzada traz melhores resultados comparativamente com os demais métodos estudados.
De modo geral, o uso da inteligência artificial apresentou bons resultados nos trabalhos estudados, com algumas variações em
virtude de métodos ou de variáveis externas escolhidas. Dentre os trabalhos recentes, destaca-se a boa aderência dos modelos
de Oliveira, Sousa e Dias-Ferreira (2019), e de Abbasi e El Hanandeh (2016), ambos com R2 de 0,98. Os gráficos das figuras 3
e 4 demonstram a boa capacidade dos modelos em questão na predição da geração de resíduos.

Técnicas combinadas
Outros métodos de machine learning combinados com ANN foram estudados nos trabalhos selecionados, dentre os quais se
destaca o ANFIS, abordado por Abbasi e El Hanandeh (2016), Abbasi, Rastgoo e Nakisa (2018), Chhay et al. (2018) e

631
Fathollahi, Heidari Farsani e Azadeh (2018) que, segundo estes últimos autores, é um tipo de ANN que aplica técnicas de
inferência fuzzy. Abbasi, Rastgoo e Nakisa (2018) também estudaram a aplicação de radial basis funcion (RBF) com redes
neurais que, segundo os autores, é um sistema dinâmico não linear de aprendizado supervisionado.
Roohollah Noori é um dos pesquisadores que iniciou o uso de inteligência artificial aplicada na predição de RSU e já utilizou
técnicas como regressão linear multivariada (MLV) (NOORI et al., 2009), análise de componentes principais combinada com
ANN (PCA-ANN) e teste gama combinado com ANN (GT-ANN) (NOORI; KARBASSI; SALMAN SABAHI, 2010).
Davor Antanasijevic e Viktor Pocajt, junto com outros pesquisadores, aplicaram redes neurais de regressão geral (general
regression neural network – GRNN) para um estudo de aderência do método para geração de resíduos sólidos em 26 países
europeus (ANTANASIJEVIĆ et al., 2013) e posteriormente para 44 países (ANTANASIJEVIĆ et al., 2016). Chhay et al.
(2018) utilizaram grey model com ANN e lógica fuzzy para estimativa da geração de resíduos na China. A aplicação de
algoritmos genéticos combinada com ANN foi estudada por Oliveira, Sousa e Dias-Ferreira (2019).
Abbasi e Hanandeh (2016) utilizaram quatro tipos de algoritmos para prever a geração mensal de resíduos sólidos em Logan
City, na Austrália, comparando ANFIS, support vector machine (SVM) e ANN, concluindo que todos os modelos funcionaram
adequadamente, embora o que tivesse resultado maior precisão tenha sido o ANFIS. Abbasi retomou o tema com Rastgoo e
Nakisa (2018) utilizando radial basis function (RBF) com ANN para estimar a quantidade de resíduos mensais gerada em
Teerã, Irã.

Figura 3: Geração de resíduos de embalagens coletadas separadamente – comparação dos dados reais com a estimativa
por ANN e regressão múltipla não-linear estrutura típica de uma ANN.
Fonte: Oliveira, Sousa e Dias-Ferreira (2019)

632
Figura 4: Modelagem dos resultados estimados de geração de resíduos ANFIS, ANN, suport vector machine (SVM) e k-
nearest neighbours (kNN) – melhor resultado: ANFIS (R2 0,98).
Fonte: Abbasi e El Hanandeh (2016).

Considerações Finais
Os modelos de inteligência artificial dos trabalhos estudados apresentaram boa aderência aos resultados reais, com algumas
variações em virtude de métodos ou das variáveis externas. Em virtude desses bons resultados, pode-se considerar que no
contexto do planejamento urbano, o uso de ANN como método de predição, que é um campo de pesquisa em crescimento,
pode atuar como ferramenta para uma melhor compreensão das práticas de geração de RSU e proporcionar oportunidades
positivas no que se refere a otimização de suas operações. Ademais, o fato de se ter encontrado apenas 12 artigos específicos
sobre o tema revela que este ainda é um campo quase inexplorado em RSU. Sua aplicação pode ser estudada a outros sistemas
urbanos e ao gerenciamento ambiental de forma mais ampla.

Referências Bibliográficas
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634
5SSS186
A SUSTENTABILIDADE ORIENTADA AO DESIGN EM
INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
Iago Machado Correa Santiago; Alfredo Jefferson de Oliveira
Universidade PUC-Rio, email: iago_santiago@id.uff.br; Universidade PUC-Rio, email: afferson@puc-rio.br

Palavras-chave: Sustentabilidade; Design; Graduação

Resumo
O presente artigo objetiva analisar a inserção dos conceitos de sustentabilidade nos cursos de design em Instituições de Ensino
Superior públicas no Brasil. Foram identificadas as Instituições Estaduais e Federais que apresentassem cursos de bacharelado
na área de design através da plataforma digital e-MEC no período de junho de 2019. Baseado nisso, foi realizado o
levantamento da matriz curricular das disciplinas que abordam a sustentabilidade através dos sites das universidades, e por
meio das ementas, foram verificados os conteúdos a fim de entender como a sustentabilidade é abordada. O estudo revelou que
nas ementas das disciplinas que abordam a sustentabilidade nos cursos de design, o ensino é baseado tanto na problemática
ambiental, referindo-se ao desenvolvimento da consciência ambiental, qualidade de vida, respeito ao meio ambiente, quanto no
ecodesign, sugerindo estratégias com o intuito de minimizar os impactos negativos da profissão como ciclo de vida do produto,
mudanças no processo de produção, etc. Também foi possível perceber a discrepância da existência de cursos de design entre
as regiões geográficas do país, com o Sudeste com o maior número de cursos, seguido em empate o Sul e o Nordeste, Centro-
Oeste e, por fim, a região Norte com a menor quantidade de cursos disponíveis à população.

Introdução
O desenvolvimento industrial que começou no século XVIII trouxe grandes avanços tecnológicos e sociais para a humanidade:
a acessibilidade a produtos por pessoas de todas as classes econômicas, diminuição da distância entre países, redução do tempo
gasto em tarefas diárias, entre outros. Porém, as mazelas a níveis sociais e ambientais derivadas desses avanços podem ser
percebidas mais intensamente nos dias de hoje.

Recordes de temperatura, derretimento das calotas polares, incêndios florestais que duram dias, aumento do nível do mar,
poluição e contaminação dos solos, rios e oceanos e diminuição do número de espécies habitantes no planeta são alguns dos
problemas resultantes desse desenvolvimento que a sociedade tem que enfrentar no seu cotidiano.

O conceito de desenvolvimento sustentável foi elaborado na Conferência Intergovernamental pelo Uso Racional e
Conservação da Biosfera da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e define-se por:
“desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer as gerações futuras, englobando
soluções que unem o economicamente viável ao ecologicamente correto e socialmente equitativo.”

O design como ferramenta de solução de problemas pode ser usado para combater os distúrbios gerados no planeta devido a
esse avanço industrial irresponsável. Normalmente visto como um estímulo ao consumo ou agregação de valor a um produto, o
design possui vertentes que utilizam técnicas e ferramentas para diminuir os impactos ambientais durante e após a vida útil de
um produto.

O Design for Sustainability (DfS) ou em português Design para Sustentabilidade, de acordo com Tischner et al. (2015) em
tradução livre, produz soluções que geram benefícios significativos à sociedade, aprimora a qualidade de vida (em especial a
dos mais pobres), cria valor agregado para fornecedores e consumidores enquanto evita o dano ou até beneficia interativamente
com o ambiente natural.

Conforme Platcheck (2012), o Ecodesign leva a produtos, sistemas, infraestruturas e serviços, que requerem o mínimo de
recursos, energia e espaço físico para prover os benefícios desejados do melhor modo possível e, ao mesmo tempo, minimizar
a emissão de poluição e a geração de resíduos em todos o ciclo de vida do produto. De uma forma geral, o DfS se preocupa
mais com sistemas mais amplos e questões mais radicais enquanto o Ecodesign se restringe ao desenvolvimento de produtos.

635
Metodologia
Objetivando a discussão do ensino do Design orientado a Sustentabilidade (DfS) nas Instituições Públicas de Ensino Superior
no Brasil, foi estruturado o método de pesquisa de Calegari e Oliveira (2017) adaptado conforme a Tabela 1. Por Instituições
Públicas, temos as Universidades e Institutos Federais e Estaduais.

Etapas da pesquisa Objetivo Método de coleta Método de análise

Classificação dos dados


Identificar as IES
Pesquisa realizada conforme o estado brasileiro, a
Levantamento dos Estaduais e Federais
na plataforma e- denominação do curso e a
cursos de design que possuem cursos
MEC respectiva Instituição de Ensino
de design
Superior (IES)

Classificação dos dados de


Identificar as Pesquisa nos sites acordo com a IES, denominação
Levantamento da
disciplinas que das respectivas do curso, disciplina que aborda
estrutura curricular
abordam o ensino da IES a sustentabilidade, se é
dos cursos de design
sustentabilidade obrigatória ou optativa, período
sugerido e carga horária

Etapas da pesquisa Objetivo Método de coleta Método de análise


Levantamento da
ementa das Analisar a abordagem Pesquisa nos sites
Análise de conteúdo das
disciplinas que da sustentabilidade das respectivas
ementas
abordam o ensino da nos cursos de design IES
sustentabilidade
Tabela 14: Estrutura do método de pesquisa. Fonte: Adaptado de Calegari e Oliveira (2017).

A primeira etapa da pesquisa consistiu no reconhecimento das Instituições de Ensino Superior Estaduais e Federais do Brasil
que possuem cursos de design, que foi realizada através da plataforma digital e-MEC do Ministério da Educação. A plataforma
e-MEC do Ministério da educação foi desenvolvida para a tramitação eletrônica dos processos de regulamentação e
disponibiliza informações sobre as instituições de Ensino Superior cadastradas. Dessa forma, por meio da internet, as
instituições de educação superior podem realizar o credenciamento e o recredenciamento, buscam autorização, reconhecimento
e renovação de reconhecimento de cursos (CALEGARI; OLIVEIRA, 2017).

Foram usadas as palavras-chave design e desenho industrial na Consulta Avançada em todos os estados brasileiros. A partir
dos resultados, foram selecionados os que estavam de acordo com a metodologia (IES Estaduais e Federais). Os resultados
foram divididos entre as regiões geográficas do país, pela unidade federativa, denominação do curso e a Instituição Superior
respectiva.

Na segunda etapa da pesquisa, foi realizada uma busca nos sites das Instituições levantadas, objetivando as estruturas
curriculares dos cursos de Design. Foi analisado a existência ou não de disciplinas que abordam a temática da sustentabilidade,
seja orientado ao Design ou não. Assim, foram coletados dados relativos ao nome da disciplina, classificação entre obrigatória
ou optativa, tipo (consciência ambiental ou DfS), o período de disponibilidade e a carga horária.

A terceira etapa foi a análise das ementas das disciplinas ofertadas classificando os conteúdos em categorias principais e
subcategorias. O objetivo é proporcionar uma visão dos tópicos que são mais abordados ao longo do semestre.

Levantamento de dados

Identificação das IES públicas que ofertam cursos de Design


Foi realizado um levantamento na plataforma digital e-MEC para identificar as IES que ofertam cursos de Design no Brasil e
os resultados são apresentados a seguir nas tabelas 2, 3, 4, 5 e 6.

636
Região Norte do Brasil
Estado Denominação do curso Instituição de Ensino Superior
AM Design Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
PA Design Universidade do Estado do Pará (UEPA)
Tabela 15: IES Estaduais e Federais com cursos na área de Design da Região Norte do Brasil. Fonte:
E-MEC (2019).

Região Nordeste do Brasil


Estado Denominação do curso Instituição de Ensino Superior
AL Design Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Design Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
BA
Design Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Design Universidade Federal do Cariri (UFCA)
Design
CE
Design Digital Universidade Federal do Ceará (UFC)
Design – Moda
Região Nordeste do Brasil
Estado Denominação do curso Instituição do Ensino Superior
MA Design Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Design Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
PB
Design Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

PE Design Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

PI Moda, Design e Estilismo Universidade Federal do Piauí (UFPI)


RN Design Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
SE Design Gráfico Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Tabela 16: IES Estaduais e Federais com cursos na área de Design da Região Nordeste do Brasil.
Fonte: E-MEC (2019).

Região Centro-Oeste do Brasil


Estado Denominação do curso Instituição de Ensino Superior
Desenho Industrial – Projeto do
Produto
DF Universidade de Brasília (UnB)
Desenho Industrial –
Programação Visual
Design de Ambientes
GO Design de Moda Universidade Federal de Goiás (UFG)
Design Gráfico
Tabela 17: IES Estaduais e Federais com cursos na área de Design da Região Centro-Oeste do Brasil.
Fonte: E-MEC (2019).

637
Região Sudeste do Brasil
Estado Denominação do curso Instituição de Ensino Superior
ES Design Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
Design Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Design de Moda
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Design
Design
Interdisciplinar em Artes e Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
MG Design
Design
Moda e Design
Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)
Design Gráfico
Design de Ambientes
Design de Produto
Desenho Industrial26
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Design
Design – Comunicação Visual
RJ Desenho Industrial – Projeto de Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Produto
Desenho Industrial Universidade Federal Fluminense (UFF)
Região Sudeste do Brasil
Estado Denominação do curso Instituição de Ensino Superior
Design Universidade de São Paulo (USP)
SP Design de Produto Universidade Estadual Paulista Júlia de Mesquita Filho
Design Gráfico (UNESP)
Tabela 18: IES Estaduais e Federais com cursos na área de Design da Região Sudeste do Brasil.
Fonte: E-MEC (2019).

Região Sul do Brasil


Estado Denominação do curso Instituição de Ensino Superior
Design Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
Design de Produto
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Design Gráfico
PR
Design Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Design Gráfico
Universidade Estadual de Londrina (UEL)
Design de Moda
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Design
Sul-Rio-Grandense (IFSul)
Design Digital
Universidade Federal de Pelotas (UFPEL)
RS Design Gráfico
Design Visual
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Design de Produto
Desenho Industrial Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Design de Produto
SC Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Design – Gráfico
Tabela 19: IES Estaduais e Federais com cursos na área de Design da Região Sul do Brasil. Fonte: E-
MEC (2019).

26
O curso de Desenho Industrial da UERJ passou a ser denominado Design após a aprovação de novo Currículo Pleno pela
Deliberação Nº 32/2016 da Csepe (Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão). Como foi apenas uma mudança de
nomenclatura, na contagem total dos cursos por região (Gráfico 1), foi contabilizado apenas um curso de Design na UERJ.

638
Primeiramente, é possível observar que os estados do Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul não apresentam cursos de Design em instituições públicas de ensino superior. Concomitantemente, são as
regiões do país que têm o menor número de cursos ofertados à população.

Em um total de 53 cursos, apenas 2 se encontram na região Norte, enquanto 14 no Nordeste e no Sul, 5 no Centro-Oeste e 18
na região Sudeste (Gráfico 1). No Gráfico 2, é possível observar o tipo de habilitação dos cursos entre Design (de forma
genérica), Design Digital, de Moda, de Ambientes, Gráfico, de Produto, Visual, Desenho Industrial e outros.

Gráfico 1: Quantidade de cursos de Design ofertados por Região do Brasil. Fonte: Os autores.

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Gráfico 2: Tipos de habilitação dos cursos de Design pesquisados. Fonte: O autor.

Identificação de disciplinas dos cursos de design que abordam o tema


Foi realizada uma pesquisa nos sites das instituições em busca da matriz curricular, Projeto Pedagógico do Curso (PPC) e das
ementas das disciplinas com a finalidade de descobrir a existência ou não de matérias que abordem a sustentabilidade.

Das 35 instituições investigadas, apenas 24 apresentam disciplinas que abordam o tema. Em relação aos cursos de Design, dos
53 cursos investigados um total de 27 cursos apresentaram disciplinas que tratam sobre sustentabilidade.

Foram separadas as instituições públicas de ensino superior estaduais das federais para facilitar a observação. Das estaduais, a
UEMG, UERJ e UEL não apresentaram disciplinas específicas sobre o tema; enquanto nas federais foram a UFAL, UFBA,
UFMA, UFS, UFES, UFJF, UFRJ e a UFPEL.

639
Disciplina sobre Obrigatória Carga
Instituição Curso Período
sustentabilidade / Optativa Horária
Design e
UEPA Design desenvolvimento Obrigatória 2º 60
sustentável
UNEB Design Design e Sociedade Obrigatória 7º 60
Design de
Design e
UNESP Produto Optativa - 60
sustentabilidade
Design Gráfico
Design e
UEM Design Obrigatória 2º27 51
sustentabilidade
Tabela 20: Características das disciplinas ofertadas por curso por instituição pública estadual. Fonte:
UEPA (2019), UNEB (2019), UNESP (2019) e UEM (2019).

Disciplina sobre Obrigatória Carga Horária/


Instituição Curso Período
sustentabilidade / Optativa (Créditos)
UFAM Design Ecodesign Obrigatória 6º 60
Design para a
UFCA Design Obrigatória 3º 64
Sustentabilidade
Design e Sistemas
Optativa - 48
UFC Design Sustentáveis
Design e Natureza Optativa -
UFCG Design Design e Ecologia Optativa - 60
Design e
UFPB Design Desenvolvimento Obrigatória 6º 45
Sustentável
Design e
UFPE Design Reutilização de Optativa - 60
Materiais
Moda, Design e
UFPI Ecodesign Obrigatória 7º 60
Estilismo
UFRN Design Design Sustentável Obrigatória 4º 30
Desenho
Industrial –
Projeto de Ecologia Geral Optativa - (9)
Produto
UnB
Desenho
Industrial –
Programação Ciências do
Optativa - (4)
Visual Ambiente
Laboratório de
Imersão - Design e Optativa - 128
Design de Sustentabilidade
UFG
Ambientes Laboratório Autoral
– Design e Optativa - 128
Sustentabilidade
Design de Sistemas
Optativa - 60
Produto-Serviço
UFU Design
Sustentabilidade de
Obrigatória 4º 30
Produtos e Serviços

27
Disponível do 2º Ano, de acordo com a Grade Curricular do curso. Fonte: <http://www.ddm.uem.br/design/curso/> Acesso
em 10/06/19.

640
Sustentabilidade no
Ambiente Obrigatória 5º 30
Construído
Biônica e
Optativa - 75
Biomimética
UFMG Design
Ecodesign e Meio
Optativa - 45
Ambiente
Engenharia e Meio
Obrigatória 5º 60
Ambiente
Design Ecológico Obrigatória 6º 68
Desenho
UFF
Industrial Desenvolvimento de
Produtos Optativa - 45
Sustentáveis I

Design, ambiente e
USP Design Obrigatória 5º 30
sustentabilidade
Disciplina sobre Obrigatória Carga
Instituição Curso Período
sustentabilidade / Optativa Horária/(Créditos)
Projetos para
Pessoas: Laboratório
UTFPR Design Optativa - 60
de Design e
Inovação Social
Design de
UFPR Design Sustentável Optativa - 60
Produto
Design e
IFSul Design Obrigatória 5º 30
Sustentabilidade
Design Visual Ecodesign Obrigatória 2º 30
UFRGS Design de
Gestão Ambiental Obrigatória 4º 30
Produto
Design
Desenho Optativa - 60
UFSM Socioambiental
Industrial
Ecodesign Optativa - 60
Design e
Design de Obrigatória 5º 54
Sustentabilidade
Produto
Análise do Ciclo de
UFSC Optativa - 36
Vida
Design - Gráfico
Design e
Obrigatória 2º 54
Sustentabilidade
Tabela 21: Características das disciplinas ofertadas por curso por instituição pública federal. Fonte:
UFAM (2019), UFCA (2019), UFC (2019), UFCG (2019), UFPB (2019), UFPE (2019), UFPI (2019),
UFRN (2019), UnB (2019), UFG (2019), UFU (2019), UFMG (2019), UFF (2019), USP (2019), UTFPR
(2019), UFPR (2019), IFSul (2019), UFRGS (2019), UFSM (2019) e UFSC (2019).

Em um total de 36 disciplinas investigadas, 18 são obrigatórias e 18 são optativas. A nomenclatura varia de acordo
com cada curso. Dentre os cursos em que é obrigatório, as disciplinas são ofertadas entre o 2º e o 7º período, com carga horária
entre 30 a 68 horas. Já nos cursos em que são ofertadas no modo optativo, a carga horária varia de 36 a 128 horas.

Comparando à Calegari e Oliveira (2017), o número de disciplinas ofertadas aumentou, mesmo não contando as
Instituições Estaduais. O estudo feito em 2017 não levou em consideração algumas universidades federais presentes no país.

641
Análise das ementas
As ementas das disciplinas pesquisadas foram analisadas através da técnica de análise de conteúdo, assim como em Calegari
(2017). Após a leitura, classificação e análise, pode-se separar em categorias principais de Ecodesign e Problemática
ambiental, e em subcategorias. A Figura 1 ilustra as subcategorias construídas a partir da análise das ementas realizadas.

Figura 1: Abordagens sobre sustentabilidade nas disciplinas de acordo com as ementas disponíveis.
Fonte: os autores.

Como pode ser observado na Figura 1, a abordagem da sustentabilidade nas disciplinas está relacionada à Problemática
Ambiental e o Ecodesign. Quando falamos em Problemática Ambiental, nos referimos aos problemas ambientais de uma forma
geral. É tratado sobre os sistemas ecológicos como Ciclo do Carbono, Nitrogênio, Oxigênio, etc., conscientização do aluno
para com o lixo flutuante nos oceanos, devastação das florestas e o respeito ao meio ambiente. É também refletido, a qualidade
de vida que a preservação da natureza nos proporciona.

O Ecodesign, de acordo com Mazini (2002), sintetiza um vasto conjunto de atividades projetuais que tendem a enfrentar os
temas postos pela questão ambiental partindo do redesenho dos próprios produtos. Ou seja, é o Design voltado à (re-)produção
de produtos com menor impacto ambiental. Dito isso, o Ecodesign é voltado ao estudo do Ciclo de Vida de um produto; aos
materiais e processos na produção; à uma produção limpa sem resíduos; à reduzir, reciclar e reutilizar matérias-primas; estuda
o Design como transformação social como, por exemplo, em Comunidades Criativas; usa a Biomimética como inspiração para
novos produtos; e estuda o Sistema Produto-Serviço, que lida com as necessidades e demandas dos consumidores de modo
mais eficiente.

Em comum às duas categorias, temos o Desenvolvimento Sustentável, preservação dos recursos naturais, certificações
ambientais (de produto e não-produto) e impactos ambientais gerados pela ação do homem.

Conclusão
Podemos concluir que a disparidade na oferta de cursos de Design entre as regiões do país. As regiões norte e centro-oeste do
Brasil, de grande relevância para o cenário econômico e ambiental do país, são as que menos apresentam cursos, como já dito
acima. A inserção dessa nova profissão no ambiente pode gerar benefícios direto à população através de pesquisas práticas de
rápido retorno, como a geração de maquinários e produtos que facilitem o trabalho no campo, embalagens de produtos que
prolonguem a validade dos alimentos regionais, inclusão do design para a revitalização do artesanato produzida pelas pequenas
comunidades, entre outros.

Ainda, é difícil afirmar que o Design Sustentável não é abordado nas universidades que não apresentam disciplinas específicas,
já que pode ser abordado em outras disciplinas, como as de Projeto de Design, por exemplo. Porém, é necessário salientar que

642
uma disciplina específica voltada apenas ao Design para Sustentabilidade aperfeiçoa o aprendizado do aluno e apresenta todas
ferramentas disponíveis para um mundo mais sustentável.

Por fim, é válido ressaltar a importância tanto das disciplinas de consciência ambiental quanto de Ecodesign para os futuros
designers. Adicionar o Meio Ambiente como critério no desenvolvimento de produtos pode produzir o efeito desejado de
conservação da natureza e de bem-estar na sociedade. A necessidade de introduzir esses questionamentos e metodologias
durante a formação do profissional é de fundamental relevância para que os erros e impactos negativos do ofício sejam
minimizados ao longo da carreira. O papel dos designers no planeta não é deixá-lo inabitável e sim proporcionar um mundo
melhor para todos, inclusive para o meio ambiente.

Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) no
desenvolvimento deste trabalho, através da concessão de bolsa de pesquisa.

Referências bibliográficas

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ensino superior no Brasil. Mix Sustentável, Santa Catarina, v. 3. n. 1, 2017.

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Ecodesign.Berlin: German Federal Environmental Agency, 2015.

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643
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644
5SSS187
A BARRAGEM ROMPEU, E AGORA? IMPACTOS IMEDIATOS E DE
CURTO PRAZO A JUSANTE E A MONTANTE DE UMA BARRAGEM
DE ABASTECIMENTO URBANO DE ÁGUA
Arthur da Fontoura Tschiedel1, Lucas Camargo da Silva Tassinari1, Jéssica Ribeiro Fontoura1, Luciana da
Silva Mieres2, Luiz Henrique Gaston Zago3, Fernando Mainardi Fan1
1Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: arthurtidel@hotmail.com; 2 Secretaria de Planejamento,
Orçamento e Gestão do Rio Grande do Sul – SEPLAG; 3 Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos
Delegados do Rio Grande do Sul - AGERGS

Palavras-chave: Rompimento de Barragem; Fonte de Abastecimento; Impactos de Montante

Resumo
Como garantir a oferta de água para o abastecimento de uma sede urbana considerando um caso de rompimento de barragem
de um reservatório artificial em um sistema que depende predominantemente apenas desta fonte de captação? Mesmo este
sendo o cenário de grande parte dos centros urbanos no Brasil a legislação vigente que trata do tema de segurança hídrica não
prevê tais situações. Assim, a maior parte dos sistemas de abastecimento no país não é capaz de atender a população em
situações de rompimento de barragem de abastecimento. Tendo em vista que a garantia da oferta de água é considerada
estratégica e deve ser prioritária, e que este tema não é abordado pelo Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH), este
trabalho teve como objetivo avaliar alternativas para garantir a oferta de água em situações de rompimento de barragem de
reservatórios de sistemas de abastecimento. Para isto, foram avaliados os impactos de jusante (imediatos) e de montante (curto
prazo) associados à ruptura hipotética da barragem do Descoberto, responsável pelo abastecimento de mais da metade da
população do Distrito Federal (DF). É importante ressaltar que foram explorados apenas aspectos econômicos e sociais, e
identificadas as principais soluções genéricas de abastecimento para a população afetada. A partir dos impactos apontados
neste estudo de caso, ficou claro que para garantir a segurança hídrica de grandes centros urbanos no Brasil devem ser
realizadas intervenções em menor escala e de caráter emergencial, e não apenas em escala nacional como sugere o PNSH.

Abstract
How to ensure the water supply of a large urban center considering a case of dam rupture of an artificial reservoir in a system
that depends predominantly in this source? Even though this is the scenario of most urban centers in Brazil, the current
legislation dealing with water security does not provide for such situations. Thus, most supply systems in Brazil are unable to
serve the population in situations of supply dam disruption. Given that ensuring water supply is considered strategic and should
be a priority, and that this issue is not addressed by the National Water Security Plan (NWSP), this work aimed to evaluate
alternatives to ensure water supply after dam disruption of supply system reservoirs. In order to do that, the downstream
(immediate) and upstream (short term) impacts associated with the hypothetical rupture of the Descoberto dam, which is
responsible for supplying more than half of the population of the Distrito Federal (DF), were evaluated. It is important to point
out that, only economic and social aspects were explored, and the main generic supply solutions for the affected population
were identified. By the impacts pointed out in this study it is clear that to ensure the water security of large urban areas in
Brazil, smaller and emergency interventions should be carried out, and not only on a national scale, as suggested by the
NWSP.

Introdução
O sistema de abastecimento dos grandes centros urbanos no Brasil se dá, usualmente, por meio de sistemas que
atendem várias cidades de forma simultânea e interligada (ANA, 2010). Além disso, estes sistemas dependem
predominantemente, ou em grande parte, da captação de água superficial de apenas uma fonte hídrica, que na maior parte dos
casos corresponde à captação superficial de um reservatório artificial (barramento). Como consequência deste arranjo, o
planejamento, a execução e a operação da infraestrutura hídrica, nessas regiões, são ações complexas e exigem maiores
investimentos.
Um exemplo é o sistema interligado do reservatório do Descoberto e Torto/Santa Maria, que em conjunto atendem a
80% da população do Distrito Federal (DF). Esta região é altamente urbanizada e a maior parte da demanda deste sistema é

645
fornecida pelo reservatório do Descoberto (61,25%) correspondente a uma vazão nominal de 6 m³.s-1, conduzida para a estação
de tratamento de água (ETA) Brasília (CAESB, 2014).
Assim como outras localidades do país, esta região possui grande dinamismo econômico e produtivo, além de
elevadas taxas de crescimento populacional e consequentemente pressão sobre os recursos hídricos, tornando comuns conflitos
pelo uso da água devido principalmente à expansão urbana. Estes conflitos são de ordem quantitativa e qualitativa, e se
agravam em períodos de estiagem. Porém, existe um cenário ainda mais crítico que nem sempre é avaliado: o rompimento do
barramento da principal fonte hídrica da região.
A lei 12.334 de 2010 (BRASIL, 2010) instituiu a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), tendo como
um de seus objetivos garantir a observância de padrões de segurança de barragens de maneira a reduzir a possibilidade de
acidente e suas consequências. Como instrumento da PNSB, tem-se o Plano de Segurança de Barragem (PSB), detalhado na
resolução Nº 236 da Agência Nacional de Águas (ANA) de 2017 (ANA, 2017). Conforme esta resolução, barragens com Alto
Dano Potencial Associado devem ter entre os seus volumes do PSB, o Plano de Ação de Emergência (PAE), onde deve haver
uma síntese do estudo de inundação com seus respectivos mapas, indicação da zona de autossalvamento (ZAS) e pontos
vulneráveis potencialmente afetados. Contudo, a legislação pertinente à segurança de barragens não menciona impactos
gerados pela ausência de água reservada em uma eventual ruptura de um barramento, ou efeitos secundários decorrentes da
perda de infraestruturas viárias atingidas pela onda de cheia.
O Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH), publicado em 2019 a partir de uma parceria entre ANA e Ministério
do Desenvolvimento Regional (ANA, 2019), trata do tema segurança hídrica no contexto nacional, considerando que os fatores
que ameaçam a almejada situação de equilíbrio são: o aumento da população, o crescimento econômico e as mudanças
climáticas e seus efeitos em eventos hidrológicos extremos, associados à falta de planejamento, investimentos e ações
institucionais coordenadas. Assim, faz-se importante incorporar medidas para a gestão de riscos, ao invés de investir em
respostas às crises, “o que envolve um conhecimento aprofundado da vulnerabilidade e da exposição do ambiente diante de
algum evento, visando à proposição de ações dirigidas ao aumento da resiliência da área envolvida.” (ANA, 2019, p. 13).
Por mais que o PNSH seja um documento importante dentro do tema de segurança hídrica, a abordagem utilizada para
o tema possui escala nacional, não estando no seu escopo intervenções locais e de caráter emergencial. Em escala local, muitos
municípios possuem planos de contingência com objetivos diversos. Contudo, esses planos não abordam o abastecimento de
água em larga escala em virtude da perda de um grande reservatório, como é o caso aqui estudado. Acredita-se que a falta de
discussões sobre esse tema decorre do fato de que nunca houve o rompimento de uma grande barragem responsável pelo
abastecimento de água de água de grandes aglomerações urbanas, como Brasília, Goiânia, São Paulo, entre outros municípios.
Portanto, tendo em vista que a garantia da oferta de água é considerada estratégica e deve ser prioritária, pois se trata
do atendimento às necessidades básicas da população e das perspectivas de desenvolvimento do País, e que este tema não é
abordado pela legislação vigente supracitada, este trabalho tem como objetivo avaliar os impactos devido ao rompimento do
barramento do rio Descoberto, localizado no DF. Assim, foram exploradas alternativas para garantir a oferta de água para o
abastecimento desta sede urbana uma vez que este sistema que depende, predominantemente, de apenas desta fonte de
abastecimento.
Para isto, foram avaliados os impactos imediatos e de curto prazo na área a jusante e a montante de um barramento
decorrentes do seu possível rompimento. A partir disso, espera-se caracterizar pontos importantes a serem abordados em um
plano de contingência e ressaltar a necessidade de discutir segurança hídrica em uma escala local, em municípios de grande
porte abastecidos a partir de grandes reservatórios de acumulação, e os impactos gerados pela falta de água em uma eventual
ruptura, que se mostram importantes, evolutivos e de difícil solução, frente aos altos custos envolvidos e à baixa resiliência das
cidades no quesito suprimento de água.
É importante deixar claro que não se almeja com o presente trabalho exaurir discussões a respeito de temas como
segurança hídrica, planos de contingência ou resiliência das cidades no quesito abastecimento de água, nem se almeja elencar
todos os impactos gerados em Brasília, no Distrito Federal (DF), e entorno (estudo de caso utilizado) devido à eventual ruptura
da barragem do Descoberto.

Área de Estudo
A barragem do Descoberto localiza-se no DF, sendo responsável pelo abastecimento de aproximadamente 65% da
população das 30 regiões administrativas que compõe esta unidade da federação. A barragem intercepta o rio Descoberto, que
se situa predominantemente junto à divisa dos municípios de Águas Lindas de Goiás e Santo Antônio do Descoberto com o
DF. Esta é uma área predominantemente rural, com exceção do município de Santo Antônio do Descoberto, localizado às
margens do rio cerca de 29 km a jusante do barramento.
A localização da área da barragem no contexto da região, em conjunto com uma fotografia local da barragem, é
apresentada na Figura 12. Além disso, o reservatório do Descoberto faz parte de um sistema interligado com o reservatório do
Torto/Santa Maria (Figura 13), que juntamente abastecem 80% da população da Região Integrada de Desenvolvimento do
Distrito Federal (RIDE), popularmente conhecida como região do entorno.

646
Figura 12 – Localização e detalhamento do reservatório do Descoberto

Figura 13 – Esquema do sistema integrado da RIDE - DF


Também é importante destacar que o DF apresenta um grande índice de desigualdade no seu território que se reflete
nas taxas de consumo de água de diferentes regiões administrativas. Os valores de consumo de água residencial per capita por

647
região administrativa, para o ano de 2016, variaram de 62,3 l.hab-1.dia-1 a 376 l.hab-1.dia-1, valores referentes às regiões da
Estrutural e Lago Sul (Figura 2), respectivamente (BRANDÃO; PAVIANI, 2018). Estas disparidades estão fortemente
atreladas à renda média em cada uma dessas regiões. Outras hipóteses possíveis são o valor cobrado da tarifa, tipologia
residencial, falta de conscientização no consumo, entre outros.
Apesar de apresentar uma diminuição nos últimos anos, o histórico de consumo de água no DF o coloca como um dos
maiores em todo o Brasil (BRANDÃO; PAVIANI, 2018). De acordo com dados da Companhia de Saneamento Ambiental do
Distrito Federal (CAESB), em 2015, o sistema interligado da RIDE apresentou um consumo total de água (residencial,
comercial, público, industrial e misto) igual a 202.872.168 m³ de água atendendo a um total de 2.786.684 pessoas.
Diferentemente do que ocorre em outras regiões do país, onde maior parte da demanda de água é utilizada para irrigação, no
Distrito Federal o maior consumo de água é para o uso urbano. Este fato agrava ainda mais o cenário de rompimento da
barragem. Assim, a barragem do Descoberto fornece água para o abastecimento de aproximadamente 1.811.345 pessoas
(localizadas majoritariamente nos bairros Ceilândia, Taguatinga, Vicente Pires, Águas Claras, Samambaia, Riacho Fundo I e
II, Recanto das Emas, Gama, Santa Maria, Núcleo Bandeirante, Park Way, Guará e Candangolândia). A ETA Brasília, com
localização indicada na Figura 12, é a unidade responsável por tratar toda vazão captada do reservatório do Descoberto e
apesar de possuir uma vazão de projeto de 6 m³.s-1, opera abaixo da capacidade devido a estiagens recorrentes (CAESB, 2019).
O suprimento da demanda é então realizado a partir de um volume de reservatório da ordem de 113,4 hm³ (ANA,
2016), formado pelo barramento com altura máxima de 32,5 m. A região de jusante da barragem do Descoberto, analisada
neste trabalho, compõe os primeiros 35 km de rio descoberto a jusante da barragem, sendo a topografia da área representada
pelo Modelo Digital de Elevação Tandem-X, descrito em Manfred et al (2014), conforme apresentado na Figura 14. A bacia
hidrográfica do Rio Descoberto, traçada a partir deste ponto de interesse, intercepta 6 municípios (Brasília, Cocalzinho de
Goiás, Padre Bernando, Santo Antônio do Descoberto e Águas Lindas de Goiás), conforme apresentado na referida figura.

Figura 14 – Detalhamento da Área de Estudo

648
Metodologia

Este trabalho utiliza-se de um estudo de caso para analisar a sequência de eventos decorrentes da possível ruptura de
uma barragem de abastecimento urbano. Devido à importância da cidade de Brasília/DF no contexto nacional, à sua
característica de ser abastecida preponderantemente pela água de um reservatório específico e devido à disponibilidade de
dados deste barramento e topografia a jusante, optou-se por estudar aqui a ruptura hipotética da barragem do Descoberto e seus
possíveis impactos de jusante e, de forma inovadora, de montante.
A metodologia deste trabalho está, então, apresentada em duas partes: (i) Avaliação inicial dos impactos de jusante
(imediatos) associados à ruptura hipotética da barragem e; (ii) Avaliação dos impactos de montante (curto prazo) associados à
inexistência da principal fonte de abastecimento de água da cidade.
A avaliação dos impactos de jusante associados ao rompimento da barragem foi realizada a partir da simulação
bidimensional hidrodinâmica do hidrograma de ruptura utilizando-se o modelo Hec-Ras 5.07. O Hec-Ras 5.07 é um modelo
hidráulico/hidrodinâmico não comercial amplamente utilizado para gestão de recursos hídricos (BHOLA et al., 2018), que
permite a realização de simulações com escoamento permanente, não permanente, unidimensional e ou bidimensional, a partir
de soluções numéricas das equações de Saint Venant (USACE, 2016). No âmbito unidimensional, as equações de Saint Venant
configuram-se como um conjunto de duas equações: A equação da continuidade (1) e a equação da quantidade de movimento
(2), que de forma conjunta representam as leis físicas que controlam a vazão de um rio em que predominam fluxos em apenas
uma direção.

(1)

(2)

Os dados de entrada utilizados na simulação da propagação do hidrograma de ruptura são referentes à própria
condição de contorno de montante (hidrograma de ruptura), coeficiente de Manning da planície de jusante (adotado como
0,03), topografia (representada pelo MDE apresentado), discretização espacial da malha 2D (considerada como sendo de 50 m)
e condição de contorno de jusante (considerada como sendo igual à declividade média dos últimos 2 km de simulação). As
características do hidrograma de ruptura formado devido ao colapso de uma barragem têm relação direta a diversos aspectos
relativos a esse processo, como o tipo de falha considerada, a largura, altura, formato da brecha e o seu tempo de formação
(USACE, 2014). Do mesmo modo, é observado que a forma do hidrograma de ruptura também tem relação direta com
algumas características geométricas, tanto da barragem como do reservatório (FROEHLICH, 1995a; MELO et al., 2015).
Neste sentido, assumindo-se que o tempo de pico do hidrograma de ruptura ocorre no momento em que a brecha se forma por
completo (FERLA, 2018), é possível estimar vazões e tempos de pico a partir do uso de equações preditoras que levam em
consideração variáveis geométricas das barragens (FROEHLICH, 2016). As equações utilizadas para predição de vazão e
tempo de formação de brecha (também considerada como tempo de pico) são destacadas na Equação 03 (FROEHLICH,
1995b) e Equação 04 (FROEHLICH, 2008), respectivamente. Nestas equações, Tp é o tempo de pico (h); Qp é a vazão de pico
(m³.s-1), Vw é o volume do reservatório no momento da ruptura (m³), Hb é altura da lâmina d’água acima da base da brecha
formada (m) e g é a aceleração da gravidade (m.s-²).

(3)

(4)

Os impactos de montante foram estimados a partir de uma cadeia econômica e social de acontecimentos, atreladas à
consideração da ausência das pontes nas rodovias impactadas pela onda de cheia de ruptura da barragem e da necessidade de
abastecer de água a população que deixou de ser suprida pelo reservatório da barragem do Descoberto. Após a identificação
deste cenário, são propostas neste trabalho ações que poderiam vir a ser estudadas para minimizar os impactos observados.
De forma simplificada, a partir da série histórica de vazões da estação fluviométrica Descoberto – Chácara 89 (Código
ANA 60435000), com dados de 1978 a 2017 e área de drenagem de 113 km², estimou-se vazões médias e mínimas para a
seção da barragem, com área de contribuição igual a 437 km², visando-se a identificação de possibilidades de abastecimento da
população em um cenário com ausência do reservatório. Esta metodologia possui algumas limitações devido à diferença
significativa entre as áreas de contribuição à estação fluviométrica e à barragem. No entanto, considerou-se que para cumprir
os objetivos do presente trabalho os valores obtidos são adequados.

649
Além disso, também foi estimado o impacto da ausência de infraestrutura de transporte, utilizando para tal o Plano
Nacional de Contagem de Tráfego (PNCT) do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), e dados de
contagem automática de tráfego na BR-070, no km 18, próximo à ponte que se localiza logo a jusante do barramento estudado,
que dispõe de dados de tráfego de 2015 a 2018.

Impactos de Jusante (imediatos)

Os impactos imediatos relativos à possível ruptura da barragem do Descoberto estão associados diretamente ao
deslocamento da onda de cheia no vale de jusante. Dessa forma, perdas humanas e danos a infraestruturas rodoviárias e obras
civis (como residências, empresas, indústrias e prédios públicos) podem ser elencados como os principais impactos imediatos
de jusante associados a este desastre, representado pela Figura 15. Dentre outras, são identificadas a Rodovia BR 070, que
corta o rio descoberto menos de um km a jusante do barramento, a Rodovia DF 280, que corta o rio cerca de 27 km a jusante
do barramento e a rodovia BR 060, que corta o rio a cerca de 44 km a jusante do barramento. Com o rompimento da barragem,
é esperado que as pontes associadas a essas rodovias sejam destruídas, impactando diretamente o tráfego e deslocamento de
agentes assistenciais para a zona urbana abastecida pelo reservatório.

Figura 15 – Impactos de Jusante e Hidrograma de Ruptura

650
Neste cenário de rompimento, o hidrograma de ruptura associado à barragem do Descoberto é estimado com uma
vazão de pico da ordem de 11.000 m³.s-1 e um tempo de pico da ordem de 2 horas. É estimado que este hidrograma, ao se
propagar ao longo do vale de jusante, demore em torno de 3 horas para chegar até o centro urbano do município de Santo
Antônio do Descoberto. A vazão de pico estimada para esta região é de aproximadamente 7.500 m³.s-1, chegando neste local
aproximadamente 4,5 horas após o início do rompimento.

Impactos de Montante (curto prazo)

Logo após o hipotético rompimento da barragem de Descoberto, ocorrerá um impacto à montante possivelmente tão
economicamente relevante quanto os impactos de jusante: a suspenção da captação de água para o abastecimento público.
Estima-se que os volumes de água potável estocados nos reservatórios da CAESB e também nas caixas de água das residências
da área abastecida pelo reservatório sejam suficientes para, em conjunto, suprir minimamente a demanda por um tempo de 2 a
3 dias, havendo inexistência de água na torneira das residências após este período. Como consequência, as pessoas terão que
comprar água de empresas fornecedoras, gerando inflação e aumentando os preços do produto devido à sua escassez, que
também poderá impactar no setor de alimentação. A parada de fornecimento de água para hospitais e prédios públicos resultará
num efeito em cascata que está associado à diminuição deste tipo de serviço, impactando, portanto, em tratamentos de saúde e
também no andamento da máquina pública. Além disso, é possível esperar o início da utilização de água não tratada para
consumo, por parte da população. Esse tipo de comportamento poderá acarretar também o aumento de internações num sistema
de saúde já impactado pela ausência de água. Como resultado do rompimento e do deslocamento da onda de cheia no vale de
jusante, vias de acesso importantes para os centros urbanos ficarão danificadas e impossibilitadas de serem utilizadas. Esse
processo dificultará o acesso de caminhões pipa para abastecimento da cidade, que deverá procurar outras alternativas que não
estejam vinculadas ao manancial principal (Rio Descoberto).
Os impactos socioeconômicos do rompimento e dos danos à infraestrutura local podem resultar em efeitos deletérios a
todo tecido social afetado. Em situações como a exposta, as alterações de preços, com possível oportunismo de comerciantes
locais, em geral, levam à situação de emergência social com forte necessidade de intervenção das autoridades constituídas. Em
especial, podem-se citar as calamidades naturais as quais mostram que os efeitos, na ausência de um plano de emergência e/ou
contingência, levam à interrupção das atividades econômicas locais, esgotando rapidamente os estoques de mantimentos.
Além disso, o desabastecimento devido aos danos à infraestrutura, em geral, leva a situações paradigmáticas. As
decisões econômicas, de maneira ampla, consideram o princípio da racionalidade, ou seja, as decisões de mercado individuais
conduziriam ao bem-estar coletivo. Em situações de falência, ou na interrupção momentânea do funcionamento desses
mercados, como em caso de escassez de itens fundamentais, os agentes podem ser levados a tomar decisões irracionais do
ponto de vista econômico. Exemplifica-se na formação de estoques de produtos por indivíduos, muito além da necessidade,
mesmo na presença de escalada de preços. Cenário semelhante foi observado, em especial no ano de 2018, durante a chamada
"greve dos caminhoneiros" ocorrida no Brasil. Nela o movimento coordenado gerou escassez em diversos itens de primeira
necessidade como combustíveis. Para além disso, os estoques foram esgotados mais rapidamente do que o previsto. O medo
gerado entre os consumidores, mesmo com preços consideravelmente acima dos normais, agravou os efeitos momentâneos da
escassez. Situações como essa, com a formação de estoque irracionais, costumam ser observadas em fenômenos como o ora
estudado.
Essa situação poderia ainda ser agravada pelos danos à infraestrutura de transportes. Ao analisar o impacto no sistema
viário devido ao colapso da ponte sobre o rio Descoberto na BR-070 (localizada aproximadamente 400 m a jusante da
barragem), verificou-se que na sua ausência, o trânsito deverá ser desviado para a BR-251 e depois por uma estrada vicinal (St.
Maranata), aumentando cerca de 10 km o trajeto, que equivale a um acréscimo aproximado de 25 min no percurso. Dessa
forma, o contato principal entre o município de Águas Lindas de Goiás e o Distrito Federal ficará bastante prejudicado.
Conforme dados do PNCT/DNIT, o volume médio diário mensal de tráfego neste trecho da BR-070 foi 5.239 veículos
em 2018, totalizando 1.912235 veículos no ano. A BR-070 possui 3 pistas em cada sentido, enquanto que a BR-251 possui
apenas uma pista em cada sentido e a estrada vicinal que interliga a BR-251 com a BR-070, após a ponte, possui um pavimento
em péssimo estado. Dessa forma, a opção alternativa não possui infraestrutura necessária para receber todo o tráfego da BR-
070, o que demandaria investimentos elevados para suprir esta demanda. Além disso, todos os cerca de cinco mil veículos que
trafegam neste trecho da BR-070 diariamente seriam impactados aumentando cerca de 25 min o tempo do seu percurso.
Em termos de custos, o Estado, junto com o Empreendedor da barragem, deverá reconstruir as pontes sobre o rio
Descoberto e investir em melhoramentos nas vias alternativas. Considerando-se que estas obras deverão ser projetadas,
licitadas e executadas, provavelmente haverá um prejuízo à população que trafega pela BR-070 com combustível e tempo por
um período superior a 12 meses. Dessa forma, na elaboração de um Plano de Contingência para o sinistro de ruptura da
barragem, faz-se importante prever custos e estudar a concepção destas obras, aumentando a resiliência do sistema viário
próximo ao local.
A situação apresentada, de forma genérica, leva, portanto, à necessidade de busca por outras fontes de abastecimento
em caráter emergencial que são mais bem apresentadas no próximo item.

651
Possíveis Soluções

As possíveis soluções genéricas de abastecimento para a população afetada (1.811.345 pessoas) pela ausência de
distribuição de água potável passam inicialmente por avaliações da viabilidade econômico-social de: (i) Uso de caminhões-
pipa oriundos de outros mananciais de abastecimento; (ii) Estabelecimento de Estações de Bombeamento de Água Bruta
(EBABs) a montante da barragem ou em outros mananciais próximos à zona afetada; (iii) Utilização de águas subterrâneas em
poços já instalados na região e; (iv) Compra de água de fornecedores distintos, como irrigantes ou empresas distribuidoras. No
caso específico da área de estudo (barragem do Descoberto) a utilização água recalcada de outros reservatórios próximos,
como o Lago Santa Maria ou o Lago Paranoá também pode ser passível de análise.
Neste sentido, estimou-se qual seria a vazão possível de ser captada na estiagem (metade da Q95) para todos os cursos
hídricos da bacia de análise que não foram impactos pela onda de cheia, como apresentado na Figura 16. Estas vazões foram
obtidas a partir da aplicação de uma relação entre as áreas de drenagem (também conhecida como regionalização de vazões) da
estação 60435000 e as áreas de drenagem associadas a cada trecho de curso hídrico. Desconsiderando-se a hipótese de uso
imediato das vazões dos cursos hídricos impactados pela onda de cheia, observa-se que alguns teriam potencialidade de uso
emergencial como o córrego da Taguatinga e outros com vazões com maior capacidade de suporte. O que se deve observar
neste cenário, por outro lado, é a questão da qualidade de água nestes cursos hídricos, que pode ser potencialmente deficitária
em função do aporte de efluentes domésticos nos mesmos

Figura 16 – Q95/2 estimada na bacia de interesse

652
Focando-se especificamente na potencialidade de uso do manancial principal, inicialmente impactado pela onda de
cheia, estimou-se qual seria o regime hidrológico em uma seção localizada logo à montante da seção da barragem do
Descoberto, considerando seu uso após estabilização do leito e seção de impactos ambientais que impossibilitassem seu uso.
Dessa forma, estimou-se que a vazão mínima com 95% de permanência na seção do barramento (Q95) é da ordem de 1,5 m³.s-
1
, e as vazões médias em cada mês variam de 3,1 m³.s-1 (setembro) a 13,9 m³.s-1 (janeiro), conforme apresentado na Figura 17.

16
14
12
Vazão (m³/s)

10
8
6
4
2
0

Vazões médias mensais Q95

Figura 17 – Vazões médias mensais e vazão com 95% de permanência ao longo do tempo na seção da barragem do
Descoberto

Considerando-se um consumo médio de 200 L/hab/dia, já com perdas inclusas, a população que se estima ser
abastecida pela barragem do Descoberto (1.811.345 pessoas) demanda uma vazão média da ordem de 4,2 m³.s-1 (361.280
m³.dia-1).
Considerando-se a hipótese de utilizar a mesma infraestrutura de Estações de Tratamento de Água (ETA) e a captação
junto ao reservatório da barragem do Descoberto, com adaptações para captar água a fio d’água, pode-se considerar que as
disponibilidades de água para a captação são aquelas apresentadas na Figura 17, excluindo-se 0,75 m³.s-1 (50% da Q95) como
vazão sanitária. Dessa forma, há uma demanda de cerca de 5,0 m³.s-1, que, conforme figura, seria suprida apenas de novembro
a junho, em termos médios.
Mantendo-se o padrão de consumo de 200 L/hab/dia e se considerando a vazão média do mês mais seco (setembro)
igual a 3,1 m³.s-1, estima-se que esta captação conseguiria abastecer apenas um milhão de pessoas (55% da população
atualmente abastecida). Dessa forma, além do investimento necessário com adaptações na captação de água e com o acréscimo
de custos para tratar uma água provavelmente de pior qualidade, o Empreendedor da barragem do Descoberto terá uma
demanda não suprida por água, sendo obrigado a implantar medidas de racionamento de água, tais como rodízios, estudar
possibilidades de transposições de bacias hidrográficas vizinhas, comprar água de sistemas de abastecimento vizinhos. Esses
custos elevados permaneceriam até que outro barramento do porte da barragem do Descoberto seja construído, o que demanda
muitos anos, talvez mais de uma década.
Outras alternativas anteriormente citadas (como uso de caminhões pipa, utilização de águas subterrâneas) devem ser
também avaliadas de forma conjunta e integrada, a partir do contraste entre demanda e disponibilidades neste cenário de
ruptura de barragem e impactos de montante.

Resultados e Discussão

Este trabalhou procurou expor uma preocupação até então não explorada por parte dos empreendedores de barragens
para abastecimento urbano de água, tendo o objetivo de alertar o setor público e privado bem como a comunidade científica
sobre a necessidade de elaboração de planos de contingência e segurança hídrica em situações semelhantes àquela aqui
exposta. Dessa forma, alerta-se que centros urbanos com dependência de barragens para abastecimento devem estar preparados
para se deparar com cenários similares ao aqui descritos em caso de evento de ruptura.
Nestes casos, o poder público e/ou outros entes privados devem estar atentos à possibilidade de utilização de água
oriunda de outros mananciais próximos à zona impactada, utilização de água subterrânea, compra de água de outros
fornecedores de água potável, ou ainda implantação de ações que visem a transposição de bacias hidrográficas vizinhas.

653
Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) por concederem bolsas de fomento à pesquisa que possibilitaram a elaboração deste trabalho.

Referências Bibliográficas

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654
5SSS188
CÁPSULAS DE CAFÉ: UMA ALTERNATIVA DE
REAPROVEITAMENTO
Pâmela Vezzosi de Barros1, Júlia Cabral Mendonça2, Gabriel Marinho dos Santos Barbosa3, Juliana Young4
1Universidade Federal do Pampa, e-mail: pamelavezzosi99@gmail.com; 2Universidade Federal do Pampa, e-
mail: juliakbral16@gmail.com; 3Universide Federal do Pampa, e-mail: marinho.1998.gm@gmail.com;
4Universidade Federal do Pampa, e-mail: julianayoung@unipampa.edu.br

Palavras-chave: Artesanato; Coleta seletiva; Sensibilização.

Resumo
A necessidade de reaproveitamento dos resíduos torna-se maior a cada ano tendo em mente o custo de sua destinação a um
aterro sanitário. Na maioria das cidades brasileiras essas cápsulas ainda não possuem coleta e um destino adequado sendo
descartadas no coletor de resíduos orgânicos, com excessão das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. No Estado do Rio
Grande do Sul não há recolha desse resíduo, justificando a iniciativa deste projeto. O trabalho tem por objetivo sensibilizar a
população de Caçapava do Sul/RS quanto as questões relacionadas aos resíduos sólidos. Tal iniciativa está sendo desenvolvida
por meio de oficinas (artesanato, compostagem, horta comunitária), contando-se com uma equipe executora e com parcerias,
como da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) e da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). No
intuito de coletar as cápsulas de café, instalou-se pontos de coleta com a colaboração do comércio local, sendo o seu
recolhimento semanal. Na limpeza das cápsulas utilizou-se: água quente, sabão líquido, estilete, pinça, esponja, escova manual
e bandeja. Para alcançar o objetivo proposto foram realizadas, além das oficinas, campanhas de coleta, exposição do projeto
em feiras com a distribuição de 175 mudas de hortaliças e suculentas cultivadas nas cápsulas. A horta comunitária está sendo
implantada na sede da AABB com os integrantes do Programa AABB Comunidade. Como resultado obteve-se, no período de
cinco meses, a participação de 107 pessoas nas oficinas, 2.936 cápsulas prontas para a utilização e 16,97 Kg de borra de café
destinada à compostagem. Ainda, 2,04 Kg de resíduo plástico doado à Associação Recicla Pampa e 1,59 Kg de rejeito. Neste
período foram ministradas quatro oficinas de artesanato, uma de compostagem e quatro de preparação da horta. Os artefatos
produzidos nas oficinas de artesanato serão comercializados em novembro na Feira Ecológica da cidade pelos alunos das séries
finais do AABB Comunidade. Essa ação visa a inserção dos alunos neste nicho e possível geração de renda. Conclui-se que o
objetivo foi alcançado mensurando-se a adesão da comunidade em descartar as cápsulas nos pontos de coleta e pela
participação nas oficinas. No entanto, tendo em vista a grande quantidade de cápsulas descartadas pela comunidade, percebeu-
se o problema que seria gerado ao término do projeto. Por este motivo, entrou-se em contato com as empresas fabricantes no
intuito de dar continuidade à coleta das cápsulas, mantendo um destino ambientalmente adequado.

Introdução

A necessidade de reaproveitamento dos resíduos torna-se maior a cada ano tendo em mente o custo de sua destinação a um
aterro sanitário. O aumento de pessoas vivendo sozinhas tem elevado o consumo de produtos contendo diversas embalagens, o
que ocasiona maior produção de resíduos, como é o caso do consumo de café em cápsulas. Na maioria das cidades brasileiras,
as mesmas não possuem coleta e um destino adequado sendo, muitas vezes, descartadas no coletor de resíduos orgânicos. De
acordo com Pires (2018), em 2015, foram produzidos cerca de 4680 toneladas desse resíduo, ocupando lugar nos aterros
sanitários e impossibilitando o reaproveitamento da matéria-prima da qual são confeccionadas. Na maioria das cidades
brasileiras essas cápsulas ainda não possuem coleta e um destino adequado sendo descartadas no coletor de resíduos orgânicos,
com excessão das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. No Estado do Rio Grande do Sul não há recolha desse resíduo,
justificando a iniciativa deste projeto.
Desse modo, a busca por encontrar um reaproveitamento para o material constituinte das cápsulas de café, como a confecção
de objetos de decoração (artesanato), aliada a necessidade de recipientes para a confecção de mudas, inspirou a elaboração

655
deste estudo.
O trabalho teve por objetivos: sensibilizar a população de Caçapava do Sul/RS quanto às questões relacionadas aos resíduos
sólidos, aos 3R’s (reduzir, reutilizar e reciclar) e a responsabilidade compartilhada, prevista na Lei Federal n° 12.305/2010
(BRASIL, 2010, art.30).

Materiais e Métodos

O estudo está sendo desenvolvido no município de Caçapava do Sul/RS, situado na região da campanha, contando com uma
população de 33.690 habitantes e densidade demográfica de 11 hab/km², segundo o último censo (IBGE, 2010). Para o
desenvolvimento do projeto dispõe-se de uma equipe executora constituida por quinze pessoas. Além disso, conta-se com as
parcerias da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), prestando apoio técnico às questões relacionadas
com o plantio e compostagem; e da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) cedendo o espaço físico para realização das
oficinas, da composteira (figura 1) e da horta comunitária.

Figura 1: Composteira
Fonte: Autoria própria

Planejando o recolhimento das cápsulas de café, procurou-se o apoio do comércio local, onde foram instalados os pontos de
coleta. O recolhimento está sendo realizado com uma periodicidade semanal pelos monitores do projeto visando a regularidade
dos dados.
Inicialmente foi realizada a caracterização dos materiais constituintes e frequentemente é realizada a pesagem desses resíduos,
utilizando-se uma balança analítica. Na fase de limpeza das cápsulas utilizaram-se: água quente, sabão líquido, estilete, pinça,
esponja, escova manual e bandeja (figura 2).

656
Figura 2: Materiais utilizados para a limpeza das cápsulas de café.
Fonte: Autoria própria

Após a limpeza das cápsulas, as mesmas estão prontas para reutilização. As partes constituintes estão apresentadas no modelo
esquemático (figura 3):

Figura 3: Partes contituintes das cápsulas.


Fonte: Ely (2018).

Excetuando-se as cápsulas de metal, que possuem um filtro de material semelhante a um tecido, todas as demais apresentam
uma parte plástica interna que compõem os mesmos. O filme plástico que reveste o café e a membrana metálica presente no
fundo de algumas cápsulas, foram considerados rejeitos, visto que no município não há mercado para os mesmos.
Para possibilitar o uso das cápsulas em artesanato, por questões estéticas e de facilidade de montagem dos objetos, retirou-se
das mesmas diversos materiais constituintes, os quais apresentavam divergência de acordo com o modelo, como descrito
anteriormente.
No processo de semeadura, realizado em estufa coberta com tela de sombreamento, não foram removidos os filtros para
auxiliar na retenção da umidade necessária para a germinação das sementes. Deste modo a rega não é necessária diariamente,
visto a retenção ocasionada pela presença do material (filtro), optando-se pela irrigação a cada dois dias. A mesma não é
necessária em dias em que ocorrer precipitação, pois a tela, por ser permeável, permite que ocorra a passagem da água.
Visando alcançar o objetivo proposto, foram realizadas oficinas (artesanato e compostagem), campanhas de coleta, exposição
do projeto em feiras (do livro e de ciências) com a distribuição de mudas de hortaliças e suculentas plantadas nas cápsulas,

657
totalizando 175 tubetes ofertados aos visitantes do estande (figura 4).

Figura 4: Artesanatos expostos na feira de ciencias.


Fonte: Autoria própria

Com o intuito de sensibilizar a comunidade sobre a importância da cidadania está sendo organizada uma horta comunitária na
sede da AABB (figura 5), juntamente com os alunos das escolas municipais integrantes do Programa AABB Comunidade.
Nesta atividade realizou-se coleta de amostra do solo para a caracterização do mesmo e possibilitar a sua correção conforme a
necessidade da cultura a ser transplantada. As análises realizadas foram conduzidas pelos voluntários acompanhados de um
técnico, no laboratório de química da Unipampa.

Figura 5: Alunos trabalhando na horta comunitária


Fonte: Autoria própria

Para viabilizar o plantio, adquiriu-se mudas, sementes e substrato comercial, realizando-se um experimento de semeadura em
estufa, utilizando-se as cápsulas como recipiente. Nesta atividade foram semeadas três espécies de hortaliças (alface, rúcula e
chicória) totalizando 210 futuras mudas.

Resultados e Discussão

O aumento do uso do café em cápsulas apresenta um problema gerado pela falta de planejamento das empresas quanto ao
recolhimento dos resíduos gerados e da necessidade do consumo consciente, que envolve os preceitos da lei que establece a
Política Nacional de Resíduos Sólidos, no que diz respeito à implantação da logística reversa, bem como a corresponsabilidade
do consumidor (BRASIL, 2010).
Pela referida lei ficou instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, abrangendo: “[…] os

658
fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza
urbana e de manejo de resíduos sólidos” (BRASIL, 2010). Dessa forma, o desenvolvimento do projeto busca promover um
olhar crítico dos participantes quanto à produção de resíduos, bem como fortalecer a cidadania ambiental, conforme proposto
por Fischer (2012, p.474):
“A abordagem de uma cidadania ambiental decorre da urgência de se estabelecer novos contornos
no modo como o ser humano se relaciona com o meio ambiente. Séculos de degradação e
exploração sem preocupação com os efeitos produzidos na natureza, fazem hoje o homem parar e
refletir sobre a necessidade de mudança na sua conduta […]”.

Como resultado, no período de cinco meses, obteve-se a participação de 107 pessoas nas oficinas, 2936 cápsulas prontas para a
utilização e 16,97 kg de borra de café destinada à compostagem. Ainda, 2,04 kg de resíduo plástico foram destinadas à
Associação de Catadores Recicla Pampa localizada em Caçapava do Sul e 1,59 kg de rejeito. As cápsulas foram divididas de
acordo com a marca, conforme a figura 6.

Figura 6: Gráfico de número de cápsulas de café por marca.

A figura 6 mostra a quantidade de cápsulas recolhidas de cada marca. A marca ‘A’, com 1707 unidades, foi a mais utilizada
pelos consumidores se comparada com as demais, seguida das marcas ‘B’, ‘C’, ‘D’ e ‘Outras’ com 681, 228, 162 e 158
unidades, respectivamente. As marcas ‘A’, ‘B’ e ‘Outras’, são feitas de materiais plásticos e as marcas ‘C’ e ‘D’ de materiais
metálicos.
Com os dados apresentados acima, conclui-se que as cápsulas feitas de plásticos apresentam um maior volume de poluição por
resíduos sólidos, não só pela maior quantidade, mas também pelo fato de não serem 100% reciclaveis como os metais.
Neste período foram ministradas quatro oficinas de artesanato, uma de compostagem e quatro de preparação da horta.

659
Considerações finais

Os objetivos propostos foram alcançados parcialmente, posto que, se analisarmos a questão dos 3R’s apenas atingimos a
sensibilização quanto a reutilização. As pessoas passaram a entregar seus resíduos das cápsulas de café nos pontos de coleta,
no entanto, as mesmas não reduziram o seu consumo. É necessário maior incentivo às pesquisas para reciclagem desse
material, buscando formas economicamente viáveis para que se torne atrativo às empresas.
Através desse estudo conseguimos observar que está ocorrendo uma mudança comportamental da comunidade, aproximando-
se do que a lei indica.
Face a adesão da comunidade em descartar as cápsulas nos pontos de coleta e pela sua participação nas oficinas, entende-se
que obtivemos sucesso em sensibilizar os caçapavanos. No entanto, tendo em vista a grande quantidade de cápsulas
descartadas, percebeu-se o problema que seria gerado ao cessar a coleta, pois criamos a expectativa de que esse resíduo
continuaría tendo um destino adequado. Por este motivo, entrou-se em contato com as empresas fabricantes no intuito de dar
continuidade à coleta das mesmas, mantendo um destino ambientalmente correto após o término do projeto.

Agradecimentos

Os Autores gostariam de agradecer a Universidade Federal do Pampa (Unipampa), em especial ao Programa de


Desenvolvimento Acadêmico (PDA) pelo custeio de bolsa, a Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), a Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), a Associação de Catadores Recicla Pampa pelo apoio técnico e suporte
recebidos.

Referências Bibliográficas

BRASIL Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Política nacional de resíduos sólidos, 2. ed., Brasília: Câmara dos Deputados,
Edições Câmara, 2012. 73 p. – (Série legislação; n. 81). Disponível em:
<https://fld.com.br/catadores/pdf/politica_residuos_solidos.pdf> Acesso em 18 mar. 2019.

ELY, Bruno. 2018. Cápsulas Três Corações são compatíveis com as Nespresso? Disponível em:
<https://zaply.com.br/blog/capsulas-tres-coracoes-compativeis-nespresso/> Acesso em: 27 set. 2019.

FISCHER, Fabiana Janaina Vargas. 2012. Cidadania ambiental global e sustentabilidade. Revista Eletrônica Direito e Política,
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.7, n.1. Disponível em:
<www.univali.br/direitoepolitica>. Acesso 18 mar 2019. ISSN 1980-7791.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. População no último censo. 2010.


Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/cacapava-do-sul/panorama> Acesso em 27 set. 2019.

660
5SSS189
EMPODERAMENTO DE MULHERES CAMPONESAS A PARTIR DA
ESTRUTURAÇÃO ECONÔMICA, PRODUTIVA E SOCIAL, COM
FOCO NA PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA E DIVERSIFICADA DE
ALIMENTOS
Juliana Silva Rocha1, Rosângela Maria Pinto Moreira2, Eliane Tomiasi Paulino³, Letícia Medeiros Gimenez³,
Natália dos Santos Sales³, Ana Luisa Faria Caetano de Paula³, Mariana Campidelli Ferreira³, Rebeca Santos
Vieira³, Isabel Tejada Vergara³

1Universidade Estadual de Londrina, e-mail: jusilrocha@hotmail.com; 2Universidade Estadual de Londrina, e-


mail:rosang.moreira8@gmail.com; 3Universidade Estadual de Londrina

Palavras-chave: Sustentabilidade; Agroecologia; Sazonalidade

Resumo
O presente trabalho tem como principal intuito o relato de experiência referente à participação em um projeto de extensão
vinculado à Universidade Estadual de Londrina (UEL), sendo esse intitulado como “Fomento a sistemas agroecológicos para o
fortalecimento de mulheres camponesas”, atuando no Assentamento Eli Vive II, localizado no distrito de Lerroville, ao sul do
município de Londrina – PR. Entende-se que o objetivo desse projeto é o empoderamento da mulher do campo por meio da
construção da autonomia das mesmas e incremento de suas rendas. Para isso, comercializam-se alimentos de horta produzidos
de forma agroecológica a partir de uma perspectiva de produção sustentável. As mulheres camponesas estão organizadas em
uma associação denominada Associação de Mulheres Camponesas do Eli Vive (AMCEV), por meio da qual se possibilita a
comercialização dos produtos e sua logística. Por conta disso, o projeto de extensão conta com integrantes dos cursos de
Geografia, Agronomia, Biologia e Direito da UEL, de modo a compor uma equipe que assista as demandas individuais e
coletivas da Associação. Os trabalhos em campo foram realizados semanalmente. A partir da identificação dos problemas e
demandas de cada lote, as alternativas para a resolução eram discutidas entre agricultoras e bolsistas. Como resultado dessas
atividades, os alimentos produzidos e comercializados adquiriram melhor qualidade, bem como foi possível o aumento da
variedade e da quantidade desses para atender a demanda de consumidores/apoiadores da Universidade, sendo proporcionado a
partir do conceito de sazonalidade, em que é respeitada a época adequada para o cultivo de cada espécie vegetal. Ademais,
compreende-se que a própria autonomia da mulher do campo na contribuição da renda familiar também pode ser considerada
um aspecto da produção agroecológica, pois visa a diminuição da desigualdade de gênero.

Introdução

Este trabalho relata a experiência do projeto “Fomento a sistemas agroecológicos para o fortalecimento de mulheres
camponesas” projeto também conhecido como “sacolas camponesas” que vêm sendo desenvolvido dentro do princípio da
construção participativa, com ações objetivando o fortalecimento da agroecologia fundada em dois princípios: a
sustentabilidade na produção de alimentos e o consumo includente e socialmente justo a partir da perspectiva de gênero. O
projeto tem atuado no sentido de auxiliar as mulheres camponesas, da Associação de Mulheres Camponesas do Eli Vive
(AMCEV), na produção e comercialização de alimentos agroecológicos, na organização da associação e na recuperação e
proteção das nascentes, objetivando levar as mulheres a alcançarem autonomia produtiva, tecnológica e mercantil. Sendo esse
um projeto de extensão, seus componentes trabalham diretamente com as agricultoras, levando os conhecimentos científicos, e
estas, seus conhecimentos tradicionais.
De acordo com a organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, 2019), a produção sustentável

661
abrange cinco princípios, entre os quais: uso eficiente dos recursos naturais; ações diretas de proteção e conservação dos
recursos naturais; melhora dos meios de subsistência rurais; aumentar a resiliência de pessoas, comunidades e ecossistemas;
políticas públicas responsáveis e efetivas. Neste sentido, agroecologia pode ser definida como a produção sustentável de
alimentos, pois une as dimensões econômicas, sociais e políticas (ALTIERI, M., 2010; CAPORAL, F. e COSTABEBER, J.,
2004). A partir disso, percebe-se que a produção agroecológica realizada pelas mulheres da AMCEV promove o manejo
sustentável dos recursos naturais e busca reduzir impactos ambientais, sociais e econômicos.

O projeto de extensão teve suas atividades voltadas para a produção sustentável dos alimentos, pois, atuou no sentido de dar
assistência técnica para a produção agroecológica nas hortas, sem uso de agrotóxicos e adubos químicos, fazendo-se uso
racional dos recursos naturais disponíveis, e, foi proposta a proteção e conservação de nascentes e mananciais de água. Além
do mais a assistência também esteve voltada para a comercialização dos produtos por um preço justo, levando agricultoras e
consumidores a estabelecerem relações próximas, e contribuir para que, através dessa iniciativa, as mulheres participantes
criem uma estrutura produtiva e organizativa que lhes possibilite acessar outros canais para a comercialização

Metodologia

O presente trabalho foi desenvolvido com as mulheres da Associação de Mulheres Camponesas do


Eli Vive (AMCEV). A AMCEV é composta por 10 mulheres assentadas em Lerroville, distrito de Londrina-PR. Embora a
associação das mulheres já exista há aproximadamente dois anos, a formalização jurídica encontra-se em constituição. No dia
21 de junho de 2017 foi realizada a Assembleia Geral para constituição da Associação de Mulheres Camponesas do
Assentamento Eli Vive (AMCEV), sendo as integrantes da coordenação executiva e do conselho fiscal definidas.

O Assentamento fica localizado a cerca de 70 km da Universidade Estadual de Londrina (UEL), em que o projeto de extensão
está vinculado. Todas as famílias possuem lotes em torno de 8,99 ha, onde realizam a produção para consumo próprio e
comercialização do excedente. Na área ambiental, destacam-se as remanescentes florestais, com capacidade de regeneração,
relevo e tipos de solo compatíveis com a produção agrícola. No que se refere a área social, soma-se a essa conjuntura a
dificuldade no acesso a políticas públicas de saúde, assistência social, especialmente direitos previdenciários e educação, pois
além da escola ter infraestrutura precária, as estradas também são precárias e por esse motivo algumas crianças estão sem
acesso a educação e outras, em dias de chuva não conseguem se deslocar até a escola. A falta de adequação das estradas em
dias de chuvas também impossibilita o escoamento da produção. E na medida em que há uma maior compreensão do conceito
de gênero, por parte das beneficiárias, pode acarretar uma melhor distribuição das tarefas tanto domésticas, como produtivas
dentro do âmbito familiar, bem como outras questões inerentes as relações familiares e as relações entre as próprias
camponesas, o que pode contribuir para uma maior igualdade de gênero.

A equipe que realizou os trabalhos juntamente com as mulheres era formada por estudantes bolsistas, dos cursos de
Agronomia, Biologia, Direito e Geografia, acompanhadas por uma Engenheira Agrônoma recém-formada, e coordenadas pelos
docentes da UEL. As mulheres comercializam produtos de horta, entre eles, verduras, grãos, aromáticas, frutas e legumes, para
a comunidade universitária que adquirem semanalmente uma sacola personalizada (Figura 1). A lista de produtos disponíveis é
enviada para os grupos de apoiadores cadastrados no aplicativo Whatsapp, que podem escolher o que e qual a quantidade a ser
comprada. Ao ser confirmado o pedido por uma das camponesas, o apoiador realiza o pagamento antecipado por meio de

662
depósito ou transferência bancária para a conta da associação, e na hora da retirada apresenta o comprovante de depósito ou
transferência. As sacolas personalizadas são entregues na sala da Fazenda Escola, localizada na área central da Universidade.
Ademais, as mulheres também comercializam seus produtos em duas feiras, uma no distrito de Lerroville, e outra no Campus
da UEL, a feira da Cidadania (Figura 2).

Figura 1: Modelo de sacola entregue aos apoiadores.

Figura 2: Feira no Campus universitário.

A produção se dá de maneira sazonal, em que é considerada a estação mais adequada ao crescimento de determinado vegetal
(Tabela 1). De acordo com Bianchini (2017), as principais recomendações de órgãos oficiais sobre saúde e alimentação de
países do mundo se referem a vegetais orgânicos e agroecológicos, cultivados no período, respeitando sazonalidade.

663
Tabela 1: Sazonalidade da produção. Quadrados verdes representam alta oferta, amarelos, média oferta, e vermelhos,
baixa oferta.

Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Batata Doce

Beterraba

Cara

Cenoura

Inhame

Mandioca

Mandioca Salsa

Mangarito

Nabo

Rabanete

Yacom

Abóbora

Abobrinha

Berinjela

Cara moela

Caxi

Chuchu

Coração de bananeira

Jilo

Jurubeba

Milho Verde

Pepino

Pimenta ardida

Pimenta Biquinho

664
Pimenta doce

Pimenta Gode

Pimentão

Quiabo

Tomate cereja

Vagem

Abacate

Acerola

Amora

Banana

Cana

Citros

Figo

Framboesa

Jabuticaba

Mamão formosa

Maracujá fruta

Pitanga

Alface

Almeirão

Brócolis

Cambuquira

Caxi

Chicória

Couve

Couve flor

Espinafre

665
Repolho

Rúcula

Taioba

Açafrão

Alecrim

Alfavaca

Alho poró

Babosa

Boldo

Canela folha

Capim Cidreira

Cebolete

Cebolinha

Cidreira

Cidreira folhas

Coentro

Colorau

Elevante

Figatil

Gengibre

Ginseng

Guaco

Hortelã

Manjericão

Manjericão Roxo

Manjerona

Menta

666
Mil folhas

Mix de temperos

Ora pro nobis

Orégano

Penicilina

Poejo

Salsinha

Feijão

Pipoca

Amendoim com pele

Legenda: alta oferta; média oferta; baixa oferta.

As atividades de campo foram iniciadas com o levantamento diagnóstico de cada lote, no qual foram elencadas a
caracterização da produção do lote, renda da família, dificuldades encontradas na produção, problemas ambientais, desafios na
gestão da associação, entre outros. Os diagnósticos buscaram direcionar o trabalho das extensionistas, bolsistas e colaboradoras
do projeto. A partir daí, no âmbito da produção, as ações foram direcionadas para cada produtora, de forma individual, com o
intuito de atender as necessidades particulares.

As visitas técnicas se deram de forma semanal, e ao chegar a campo, eram levantados os principais problemas, como pragas,
doenças, erosão, dificuldade de acesso a água para irrigação, deficiências nutricionais. Após a identificação dos problemas,
eram discutidos os melhores métodos de solução. Ao propor para as mulheres camponesas, os métodos alternativos eram
conduzidos juntamente. Exemplos de alternativas para a resolução dos principais problemas foram: preparo de microrganismos
eficientes; adubação com calcário, pó de rocha e esterco bovino; iscas para pragas de solo e vaquinhas; controle de insetos com
calda de cinzas, calda de coentro, urina de vaca, calda de fumo; calda bordalesa; cobertura do solo com palhada; plantio
consorciado.

Nas visitas também foram feitos os levantamentos necessários para a construção do plano de manejo para a recuperação das
áreas no entorno de nascentes e rios. A conservação ambiental em áreas agrícolas, no entanto, se complexifica em
assentamentos de reforma agrária, visto que as Áreas de Preservação Permanentes e Reservas Legais interferem na subsistência
dos proprietários não só diretamente pela perda de área produtiva, mas também no tempo e recursos desprendidos quando
ações de restauração são necessárias. Ao mesmo tempo essas áreas, especificamente aquelas no entorno de nascentes e corpos
d’água, são importantes para os pequenos agricultores porque muitos dependem da água dos rios e nascentes locais para seu
consumo (doméstico e/ou para produção).

667
Resultados e Discussão

A dinâmica das sacolas foi decisiva para o fortalecimento da organização das mulheres, e que acabou culminando na
constituição de uma associação, a Associação de Mulheres Camponesas do Eli Vive (AMCEV), entidade jurídica sem fins
lucrativos. Este se mostraria um passo fundamental para a gestão financeira da receita obtida pelas mulheres no projeto de
mercado solidário constituído dentre professores, estudantes e servidores técnico administrativos da UEL.

De acordo com o observado, houve aumento em quantidade e qualidade na produção (Tabelas 1 e 2). Atualmente, as mulheres
camponesas fornecem alimentos para os apoiadores da UEL, através das sacolas e feira da Cidadania, atendem a uma feira em
Lerroville (distrito de Londrina, PR), e também, fornecem alimentos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE), além do consumo próprio das famílias. Os produtos ofertados apresentam qualidade superior, em comparação com os
produtos do início do projeto. Ademais, uma produtora já obteve o certificado de produção orgânica, através da Rede Ecovida,
por um processo denominado de Certificação Participativa, em que as outras camponesas também estão inseridas, para,
futuramente, obterem o selo.

A qualidade dos produtos e volume de produção recebeu bastante atenção no decorrer do projeto, através de controle de
qualidade a assistência técnica. Com isso, pode ser alcançada uma vasta gama de alimentos a serem ofertados para os
consumidores, conforme a lista na Tabela 2. Os produtos abrangem aqueles comumente encontrados em mercados, como
também, plantas alimentícias não convencionais, conhecidas como PANCs.

Santos et al. (2014), relata que a agricultura familiar resulta em uma forma sustentável de produção, pois trabalha com a
diversidade de produção, manejo consciente dos recursos disponíveis, gerando menores impactos ambientais e promove a
geração de renda, além de subsistência. Aumento da renda foi observado por parte das mulheres, que passaram a ter como
única e/ou principal fonte de sustento, a produção das hortas. Isso implica em emancipação do feminino no campo, pois as
mulheres agora detêm a produção, seus meios, e o que resulta dela.

A emancipação das camponesas também se deu no âmbito da comercialização dos alimentos produzidos por elas. Além dos
produtos comercializados no sistema de CSA (Community Supported Agriculture) para apoiadores estudantes, servidores e
docentes da UEL, as mulheres alcançaram outros mercados, tais como, apoiadores servidores da Justiça Eleitoral de Londrina,
uma feira semanal no distrito de Lerroville, e outra, quinzenal, no Campus da UEL. Destaca-se a conquista das mulheres pelo
seu espaço, tanto nas decisões como na divisão da força de trabalho, possível a partir da perspectiva agroecológica, que
abrange não só a produção de alimentos livres de agrotóxicos, mas, a inserção política e social da mulher do campo
(MARONHAS et al., 2014).

668
Tabela 2: Lista de todos os produtos encontrados nas hortas e pomares. Produzidos pelas mulheres da AMCEV.

Abacate Batata Cipó do diabético Laranja sanguínea Pepino

Abacaxi Batata amarela Coco verde Lichia Pêra

Abóbora Batata branca Coentro Limão rosa Pêssego

Abóbora caipira Batata doce amarela Colorau Limão Taiti Pimenta ardida

Abóbora italiana Batata doce branca Confrei Losna Pimenta biquinho

Abóbora menina Batata doce comum Couve Maçã Pimenta doce

Abóbora moranga Batata doce roxa Cravo Majerona Pimenta godê

Abóbora paulista Batata inglesa Dipirona Mamão Pimentão

Açafrão Berinjela amarela Erva cidreira Mandioca Pitanga

Açaí Berinjela roxa Espinafre Mandioca salsa Pitaya

Acerola Beterraba Espinheira santa Manga Ponkan

Alcachofra Boldo Feijão Mangote Puejo

Alecrim Brócolis Feijão guandu Manjericão Quiabo

Alface Bucha Figatil Manjerona Rabanete

Alface roxa Butiá Figo Maracujá azedo Repolho

Alfavaca Café Framboesa Maracujá doce Romã

Alho Cana de açúcar Gabiroba Margarida Rúcula

Alho poró Canela Gengibre Maxixe Sabugueiro

Almeirão Cânfora Ginseng Melancia Salsão

Almeirão roxo Capuxinha Goiaba Melão de São Caetano Salsinha

Ameixa amarela Caqui Graviola Melissa Salvia

Ameixa preta Cará Guaco Menta Sene

Ameixa roxa Cará roxo Guiné Mertiolate Stevia

Amendoim Carambola Hortelã Mexirica Taioba

Amora Cara moela Inhame Milho doce Tangerina

Amora branca Castanha Jabuticaba Milho verde Tomatinho

669
Araçá Caxi Jaca Morango Tomilho

Arnica Cebolete Jamelão Nabo Uva Isabel

Arroz Cebolinha Janaúba Nectarina Uva Niágara branca

Babosa Cebolinha p/ conserva Jiló Oliveira Uva Niágara preta

Banana da terra Cenoura Jurubeba Ora pro nobis Uva Niágara rosa

Banana figo Cereja Kiwi Orégano Uvaia

Banana maçã Ceriguela Laranja baiana Pariparoba Vagem

Banana nanica Chapéu de couro Laranja campanhe Peixinho Vick

Banana ouro Chicoria Laranja lima Penicilina Violeta

Banana prata Chuchu Laranja rosa Penicilina Yacon

Banana São Tomé

Agradecimentos

Universidade Estadual de Londrina (UEL);

Fundo Paraná / SETI / USF - Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior / Programa Universidade Sem Fronteiras,
Subprograma “Agricultura Familiar e Agroecologia”, Governo do Estado do Paraná.

Referências Bibliográficas

Altieri, M. 2010. Agroecologia, agricultura camponesa e soberania alimentar. Revista NERA, pp. 22-32.

Caporal, F.; Costabeber, J. 2004. Agroecologia e extensão rural: Contribuições para a promoção do desenvolvimento rural
sustentável.

Maronhas, M.; Schottz, V.; Cardoso, E. 2014. Agroecologia, trabalho e mulheres: Um olhar a partir da economia feminista.
Universidade Federal de Pernambuco, 18º REDOR, pp. 3751-3762.

Santos, C.; Siqueira, E.; Araújo, I.; Maia, Z. A agroecologia como perspectiva de sustentabilidade na agricultura familiar.
2014. Ambiente e Sociedade, pp. 33-52.

670
5SSS190
SEPARAÇÃO DO FIO METÁLICO DO RECOBRIMENTO DE
PLÁSTICO EM FIOS ELÉTRICOS E DE EQUIPAMENTOS
ELETROELETRÔNICOS

Luciana Kaercher 1, Carlos Alberto Mendes Moraes2,


1 Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail: lukaercher@yahoo.com.br; 2 Programas de Pós-Graduação em
Engenharia Mecânica e Engenharia Civil - Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail: cmoraes@unisinos.br;

Palavras-chave: REEE; Reciclagem de fios e cabos elétricos; Separação física.

Resumo
Com o avanço da tecnologia e a troca cada vez mais rápida de produtos elétrico e eletrônicos, tem crescido a geração de
resíduos desses equipamentos e consequentemente a falta de tecnologias para sua reciclagem. Um dos resíduos gerados desses
equipamentos são fios e cabos elétricos e eletrônicos. Sem a recuperação dos materiais que compõem esses fios e a continua
extração de recursos naturais, haverá o esgotamento deles. Além disso, muitos resíduos são descartados de maneira incorreta
em aterros sanitários ou industriais e até mesmo sendo separados com métodos agressivos ao meio ambiente como a queima
dos fios e cabos que gera substâncias tóxicas, contaminando o solo, água e o ar. Esse trabalho faz uma avaliação para a
separação do fio metálico do recobrimento plástico em fios e cabos elétricos visando a reciclagem destes materiais. O estudo
tem como foco a separação de resíduos de fios e cabos elétricos e eletrônicos de cobre. Para propor a metodologia realizou-se
estudos bibliográficos, coleta de informações sobre os principais tipos e dimensões de cabos recebidos em uma cooperativa de
reciclagem de resíduos eletroeletrônicos, análises, caracterização dos materiais que compõem esses fios e testes. Nos testes
realizados para determinar a eficiência de separação, a densificação e o posterior peneiramento obtiveram os valores menos
eficientes, aproximadamente 6,72% dos materiais com maior concentração de cobre em fios de cabos paralelos obtiveram
pureza com percentuais inferiores a 90%, já com a utilização do processo de repeneiramento em fios de cabos de dupla capa de
policloreto de vinila, todo o material que passou pela última peneira, aproximadamente 8% da massa total, foi recuperado com
99% de pureza. Também foram levados em consideração para proposta a simplicidade e custo de fabricação considerando que
ela será empregada em uma cooperativa de reciclagem de eletroeletrônicos

Introdução
Como resultado do avanço tecnológico e a descoberta de novos sites de exploração, a capacidade de recursos naturais vem
mudando a um ritmo acelerado, encurtando sua limitação de tempo de exploração e consumo. Aliado ao crescimento da
população mundial, o consumismo desenfreado acelerará o esgotamento desses recursos naturais. (TANIMOTO et al., 2010).
A importância da conservação desses recursos torna-se extremamente necessária, além da preservação do meio ambiente, pois
muitos desses materiais tornam-se sucatas e são depositados em aterros sanitários ou industriais, sem passarem anteriormente
pela reciclagem, gerando resíduos que contaminam o solo e água.
Uma das fontes geradoras que contribuem para a geração desses resíduos é a indústria de fios e cabos, ao fabricarem esses
produtos e quando eles são descartados tantos pelas empresas como pelos consumidores. Segundo Christéen (2007), na Suécia
aproximadamente 40.000 toneladas de fios e cabos se tornam resíduos todos os anos. Analisando tanto as questões econômicas
como ambientais, verifica-se que é essencial a reciclagem ou a recuperação dos componentes de material deste resíduo. Nas
últimas duas décadas, o foco principal da reciclagem de fios e cabos tem sido o cobre e o alumínio devido ao alto valor
agregado desses condutores tornando bastante atrativo sua separação e reciclagem, além disso agora, torna-se importante pela
questão ecológica. (DÍAZ et al., 2018).
Os resíduos de fios e cabos podem ser classificados em dois tipos:
a) Resíduos pré-consumo: são aparas industriais originadas na indústria de fios e cabos;
b) Resíduos pós consumo: gerados em reparos de equipamentos, eletroeletrônicos em final de vida útil e sem
possibilidade de conserto, em reparo de máquinas, por empresas que utilizam fios e cabos para fazer instalações de
redes públicas ou não, elétricas, telefonia e TV a cabo, além dos originados de reformas, de indústria de
eletroeletrônicos e automobilística. (MATOZINHOS, 2012).

671
Tanto as propriedades dos produtos reciclados como origem e o estado de conservação dos resíduos definirão o valor
comercial. (MATOZINHOS, 2012). É necessário para isso uma metodologia de separação que agregue valor econômico aos
produtos a serem reciclados.

Objetivo
Avaliar a separação do fio metálico do recobrimento do plástico em fios e cabos elétricos visando a reciclagem destes
materiais.

Material e Métodos
Para o desenvolvimento do trabalho foi realizada uma pesquisa de projetos mecânicos com comprovações técnicas de
funcionamento a partir de bibliografias científicas e tecnológicas para avaliar os métodos de separação utilizados. Além disso,
foram coletadas amostras de fios e cabos da cooperativa de reciclagem de resíduos eletroeletrônicos - Cooperativa Paulo Freire
– localizada em Porto Alegre. As etapas da metodologia empregada são apresentadas no fluxograma da figura 1.

Figura 1: Fluxograma da metodologia aplicada para o desenvolvimento do trabalho.

672
As amostras coletadas foram separadas quanto a classificação em cabos dupla capa de policloreto de vinila (PP) e cabos
paralelos. Após a separação, foram retirados os plugues dos cabos que os continham e pesado 1 kg de fio de cada tipo de
amostra em balança plataforma digital da marca Urano, localizada no laboratório de Caracterização e Valorização de Materiais
(LCVMat) na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
As amostras foram trituradas no moinho tipo facas SEIBT do Laboratório de Caracterização e Valorização de Materiais da
Unisinos. Essas amostras, pós moagem foram submetidas a análise granulométrica baseada na norma ABNT NBR 7181:2017,
Solo – Análise granulométrica. O método utilizado para essa análise consistiu na utilização de 6 peneiras de inox, de caixilho
8” x 2” com diferentes tamanhos de malha, no agitador de peneiras para análise granulométrica SOLOTEST do tipo magnético
do Laboratório de Materiais de Construção da UNISINOS. As peneiras utilizadas possuem aberturas de 4,75 mm, 3,35 mm,
1,70 mm, 0,850 mm, 0,212 mm e 0,106 mm, e foram montadas no agitador na ordem decrescente (da maior para a menor
abertura). Cada amostra a ser peneirada foi dividida em 10 partes de aproximadamente 100 gramas (quantidade suficiente para
não bloquear as malhas das peneiras seguintes com o material), despejada na peneira com maior abertura e exposta a uma
carga vibracional de 8 Hz durante 15 minutos. Após o peneiramento dos dois tipos de amostras, foi pesado a quantidade de
material que não passou em cada peneira (massa retida). Com esses valores foi calculado a porcentagem de material que passa
em relação a massa total.
A análise de massa específica foi realizada em cada uma das amostras retidas em cada peneira. Também foi determinado a
massa específica de cobre e do plástico individualmente para cada tipo de cabo triturado, para isso separou-se manualmente
uma quantidade de material de polímero e cobre de cada tipo de cabo. Para realização das análises foi utilizado o método do
picnômetro à Hélio, da marca Micromeritics, modelo AccuPyc II 1340, localizado no LCVMat, na UNISINOS.
Após processo de separação granulométrica e análise de resultados obtidos de massa específica para cada material, tendo em
vista a quantidade de material não separado, fez-se necessário para avaliar meios de separação desse material de maneira
eficiente, reclassificando-o. Como o método a ser proposto é para ser utilizado em uma cooperativa de reciclagem, é necessário
que ele não utilize processamentos e pós-processamento de alto custo que consumam energia e gerem resíduos como efluentes
líquidos e poeiras tóxicas. Devido a todos esses fatores, realizou-se mais testes com a finalidade de propor uma metodologia de
baixo custo e sem geração de resíduos secundários.
O primeiro teste consistiu em densificar o cobre e moer o polímero utilizando o moinho de bolas. O teste foi dividido em duas
etapas, utilizando como critério amostras dos dois tipos de cabos que obtiveram a maior quantidade de material que não passou
pela peneira (maior concentração de polímero e cobre) e com maior diâmetro não passante em relação aos outros resíduos. Na
primeira etapa foi densificada (moída) a mistura de resíduos dos cabos PP e paralelo através do moinho de bolas horizontal da
marca Servitech, modelo CT-248/B e na segunda os resíduos de cabo paralelo através do moinho excêntrico de bolas da marca
BP Engenharia, modelo CB2 – T, ambos moinhos localizados no laboratório de materiais de construção da UNISINOS. Após a
densificação e moagem o material foi peneirado através do processo de granulometria e verificado a quantidade de material
recuperado de cobre.
O segundo teste consistiu na repeneiração de uma amostra de cabos PP, já classificada na fase granulométrica (sem passar pelo
processo de moagem em moinho de bolas) de mesma classificação granulométrica da amostra que passou pelo moinho de
bolas.
Para essa análise granulométrica foi usada a mesma norma descrita anteriormente, ABNT NBR 7181:2017, Solo – Análise
granulométrica. Utilizando-se o agitador de peneiras para análise granulométrica da marca BERTEL do tipo magnético do
laboratório de materiais de construção da UNISINOS e peneiras com aberturas diferentes das utilizadas na primeira análise, de
2,38 mm, 2 mm, 1,19 mm, 1 mm e 0,297 mm, com o intuito de obter menores tamanhos de partículas classificadas. As
peneiras foram empilhadas em ordem de menor para maior abertura. As amostras foram de aproximadamente 100 g cada e
expostas a carga vibracional de 8 Hz durante 15 minutos. A primeira amostra a ser separada foi a mistura de resíduos dos dois
tipos de cabos, cabos PP e paralelo, segunda amostra a ser separada foi de resíduos de cabos paralelo e a terceira de resíduos de
cabos PP classificados como 0,850 mm (não passado pelo moinho de bolas). No final dos testes, eles foram comparados e a
seguir avaliou-se o melhor método de separação.

Resultados e Discussões
Há uma variedade de tipos e dimensões de fios e cabos tanto retirados de aparelhos durante a fase de desmontagem quanto
recebidos, de material metálico de cobre e alumínio revestidos com plásticos. Entre os cabos, os que mais são recebidos são os
cabos paralelo e cabos PP de cobre e alumínio. As dimensões recorrentemente recebidas são de dimensão externa nominal de 3
mm x 8 mm para cabos paralelos e diâmetro de 6 mm para cabos PP como mostra a figura 2. Então, foram definidos como
critério da metodologia esses dois modelos de diâmetros de cabos recebidos.

673
Figura 2: Modelos de diâmetros de cabos elétricos definidos como critérios para o projeto.

Quanto aos materiais triturados, eles foram pesados e a massa da amostra de fio paralelo moído foi de 916,97 g, enquanto a
massa da amostra de fio PP moído foi de 927,6 g
Os valores obtidos com os peneiramentos para os dois resíduos estão expressos nas tabelas 1 e 2:

Peneiras Massa Massa que Massa Retida Massa que


Malha Abertura (mm) Retida (g) Passa (g) (%) Passa (%)
4 4,75 50,01 866,96 5,45 94,55
6 3,35 30,77 836,19 3,36 91,19
12 1,70 356,86 479,33 38,92 52,27
20 0,850 220,05 259,28 24,00 28,28
70 0,212 226,29 32,99 24,68 3,60
140 0,106 32,49 0,5 3,54 0,05
Tabela 1: Análise granulométrica dos resíduos de cabo paralelo.

Na tabela 1 verifica-se uma quantidade maior de massa retida na peneira de abertura 1,70 mm. Nessa mesma faixa de abertura
aproximadamente 52 % dos resíduos passaram pela peneira, significando que 48% deles tem tamanho superior a 1,70 mm.
Também se verifica que aproximadamente 5% de material tem tamanho superior a 4,75 mm e aproximadamente 3% tem
tamanho superior a 3,35 mm.

Peneiras Massa Massa que Massa Retida Massa que


Malha Abertura (mm) Retida (g) Passa (g) (%) Passa (%)
4 4,75 20,08 907,52 2,16 97,84
6 3,35 46,27 861,25 4,99 92,85
12 1,70 551,75 309,5 59,48 33,37
20 0,850 157,05 152,45 16,93 16,43
70 0,212 126,26 26,19 13,61 2,82
140 0,106 25,89 0,3 2,79 0,03
Tabela 2: Análise granulométrica dos resíduos de cabo PP.

Na tabela 2, verifica-se também, assim como na tabela 1, uma quantidade maior de massa retida na peneira de abertura 1,70
mm. Além disso, uma concentração maior de resíduos retidos em relação ao resíduo que passou, 59% da massa total de
resíduos de cabos PP. Já os valores das partículas com tamanhos superiores a 3,35 mm e 4,75 mm, a porcentagem foi maior em
partículas com tamanho de 3,35 mm com aproximadamente 5%.
A tabela 3 mostra o resultado obtido tanto massas específicas encontradas em cada abertura de peneira quanto a encontrada no
polímero e no cobre para os resíduos de cabos PP.

674
Abertura da Massa Específica Massa Específica Massa Especifica do Resíduo do
Peneira (mm) Medida do Polímero Medida do Cobre Cabo PP (g/cm³)
(g/cm³) (g/cm³)
4,75 1,6911
3,35 1,5058
1,70 1,5201
1,4160 6,2676
0,850 2,2929
0,212 5,9377
0,106 6,1906
Tabela 3: Análise de massa específica resíduos de cabos PP.

Nessa análise foi encontrado um valor de densidade igual a 6,2676 g/cm³ para o cobre, o que pode significar que há impurezas
na amostra analisada. Observa-se ainda, que nas aberturas de 0,212 mm e 0,106 mm foi obtida uma massa específica bastante
próxima do valor do cobre encontrado para esse resíduo, evidenciando que as amostras retidas na abertura de 0,212 mm que
resultaram um valor de massa específica igual a 6,1906 g/cm³ possuem um menor quantidade de partículas poliméricas
misturadas a amostra.
Na tabela 4 verifica-se que a amostra granulométrica que possui a massa específica mais próxima do cobre eletrolítico (8,94
g/cm³) é a da peneira de abertura 0,212 mm da amostra de cobre de resíduo de cabo paralelo, igual a 7,9535 g/cm³, isso
significa que nessa amostra foi obtida a maior concentração de cobre.

Abertura da Massa Específica Massa Específica Massa Específica do Resíduo do


Peneira (mm) Medida do Polímero Medida do Cobre Cabo Paralelo (g/cm³)
(g/cm³) (g/cm³)
4,75 2,3014
3,35 1,4862
1,70 1,6191
1,3183 8,0662
0,850 2,3312
0,212 7,9535
0,106 6,3143
Tabela 4: Análise de massa específica resíduos cabo paralelo.

Verifica-se que a maior quantidade de massa retida está nos resíduos que tem abertura de peneira de 1,70 mm e massa
específica de 1,52 g/cm3 para o cabo PP e 1,61 g/cm3 para os cabos paralelos. E, ao diminuir a abertura das peneiras, a massa
específica aumenta, diminuindo a contaminação por partículas de polímero.
Relacionando as massas especificas encontradas no cobre e no polímero para os dois tipos de cabos, com as massas e as
massas específicas dos resíduos retidos em cada peneira foi calculado uma estimativa da porcentagem de cobre e polímero
presente em cada tipo de cabo. Para resíduos onde a massa específica está próxima a massa específica do PVC, calculou-se a
massa do polímero e obteve-se os valores descritos nas tabelas 5 e 6.

Abertura da Massa Retida Estimativa Estimativa Estimativa Estimativa


Peneira na Peneira - Massa de Massa de Massa de Massa de
(mm) Resíduo Cabo Polímero (g) Polímero (%) Cobre (g) Cobre (%)
PP (g)
4,75 20,08 16,81 83,73 3,27 16,27
3,35 46,27 43,51 94,04 2,76 5,96
1,70 551,75 513,96 93,15 37,79 6,85
0,850 157,05 96,99 61,76 60,06 38,24
0,212 126,26 6,65 5,26 119,61 94,74
0,106 25,89 0,32 1,23 25,57 98,77
Total 927,3 678,24 73,14 249,06 26,86
Tabela 5: Estimativa de massa de cobre e polímero nos resíduos de cabo PP.

675
Os valores estimados somados da massa de cobre correspondem a 26,86% de todo material moído para os resíduos de cabo PP.

Abertura da Massa Retida Estimativa Estimativa Estimativa Estimativa


Peneira na Peneira - Massa de Massa de Massa de Massa de
(mm) Resíduo Cabo Polímero (g) Polímero (%) Cobre (g) Cobre (%)
Paralelo (g)
4,75 50,01 28,65 57,28 21,36 42,72
3,35 30,77 27,29 88,70 3,48 11,30
1,70 356,86 290,56 81,42 66,30 18,58
0,850 220,05 124,44 56,55 95,61 43,45
0,212 226,29 3,16 1,40 223,13 98,60
0,106 32,49 7,06 21,72 25,43 78,28
Total 916,47 481,16 52,50 435,31 47,50
Tabela 6: Estimativa de massa de cobre e polímero nos resíduos de cabo paralelo.

Os valores obtidos na tabela 6 demonstram um valor de 47,5 % de massa de cobre e 52,50 % de polímero para os resíduos de
fio elétrico paralelo. Segundo Araújo et al. (2008) foram recuperados 46,4% de cobre em 9 kg de cabos paralelos utilizando a
separação granulométrica. A porcentagem estimada de cobre ficou muito próxima ao obtido por Araújo et al. (2008) em sua
recuperação para o mesmo tipo de cabo.
Verifica-se que mesmo após a trituração dos resíduos, grande parte deles continuam com partículas maiores de 2 mm,
aproximadamente 58% da quantidade total e menos de 2% das partículas têm tamanho entre 1,19 mm e 1 mm classificado.

Peneiras Massa Massa que Massa Retida Massa que


ABNT Abertura (mm) Retida (g) Passa (g) (%) Passa (%)
8 2,38 11,60 208,50 5,27 94,73
10 2,00 142,30 66,20 64,65 30,08
16 1,19 3,20 63,00 1,45 28,62
18 1,00 37,50 25,50 17,04 11,59
50 0,297 22,00 3,50 10,00 1,59
Tabela 7: Análise granulométrica dos resíduos de cabo paralelo.

Na análise granulométrica dos resíduos de cabo paralelo, aproximadamente 64% dos resíduos estão com tamanho de partículas
superiores a 2 mm e apenas 10% com tamanhos entre 1 mm e 0,297 mm classificado.
As figuras 3 e 4 ilustram e enumeram as imagens dos resíduos obtidos em cada peneiramento, assim como o peso retido em
cada abertura da peneira.

Abertura: 2,38 mm – 325 g Abertura: 2,00 mm – 202,20 g Abertura: 1,19 mm – 317,70 g

Abertura: 1,00 mm – 12,3 g Abertura: 0,297 mm – 45,20 g Fundo da Peneira – 6,2 g

Figura 3: Resíduo retido nas peneiras da mistura cabo PP + paralelo pós moagem por moinhos de bolas.

676
Através da análise visual pode-se ver na figura 4 que o resíduo retido na peneira de abertura 2,38 mm está quase isento de
cobre, na peneira de 1 mm metade dos resíduos são constituídos de plástico, já na peneira de abertura 0,297 mm há uma
mistura de fibra de polipropileno, partículas de PVC e cobre, mas grande parte do material é cobre. No fundo da peneira há 6,2
gramas de mistura de cobre mais pó plástico, esse pó é resultado do atrito entre as esferas de alumina e as paredes do jarro na
moagem por bolas.

Abertura: 2,38 mm – 11,6 g Abertura: 2,00 mm – 142,3 g Abertura: 1,19 mm – 3,2 g

Abertura: 1,00 mm – 37,5 g Abertura: 0,297 mm – 22 g Fundo da Peneira – 3,5 g

Figura 4: Resíduo de cabo paralelo retido na abertura das peneiras pós moagem por moinhos de bolas.

A tabela 8 apresenta a análise granulométrica dos resíduos de cabo PP após o repeneiramento.

Peneiras Massa Massa que Massa Retida Massa que


ABNT Abertura (mm) Retida (g) Passa (g) (%) Passa (%)
8 2,38 0,00 157 0,00 100
10 2,00 0,00 157 0,00 100
16 1,19 74,5 82,5 47,45 52,55
18 1,00 16,4 66,1 10,45 42,10
50 0,297 53,5 12,6 34,08 8,03
Tabela 8: Análise granulométrica dos resíduos de cabo PP.

Analisando os dados da tabela 8, quase 34% do material analisado está entre 1 mm e 0,297 mm, o que significa que no
peneiramento anterior o material que ficou retido na peneira de 0,850 mm não foi totalmente classificado, isto pode ser devido
ao número de partículas de diferentes tamanhos que bloquearam a passagem da peneira, impedindo a passagem das partículas
de tamanho menor.
A figura 5 apresenta o peneiramento da amostra dos resíduos do cabo PP, verifica-se a presença de cobre em todas as misturas,
com mais relevância na peneira de abertura 0,297 mm, a qual há uma mistura de fibras de polipropileno, partículas de PVC e
cobre. Já no fundo da peneira 12,6 gramas de cobre foram recuperados com 99 % de pureza.

Abertura: 1,19 mm – 74,5 g Abertura: 1,0 mm – 16,4 g Abertura: 0,297 mm – 53,5 g Fundo da Peneira – 12,6 g

Figura 5: Resíduo de cabo PP retido nas aberturas da peneira após repeneiramento.

677
Considerações finais
Após estudos bibliográficos e análises realizadas nos resíduos de cabos elétricos e eletroeletrônicos, os principais resultados
obtidos neste trabalho são:

a) O percentual de cobre contido em um fio de um cabo de força para computador tipo dupla capa de PVC corresponde a
28,2% do fio. Já para fios de um cabo paralelo, o percentual de cobre estipulado no fio corresponde a 47,5%.
b) Uma separação com recuperação de 226,29 g de cobre, correspondente a aproximadamente 23% dos resíduos de
cabos paralelos com densidade de 7,95 g/cm3, o que resulta em 89% de pureza na separação no primeiro
peneiramento.
c) Uma recuperação de 126,26 g de cobre, correspondente a aproximadamente 13% dos resíduos de cabos PP com
densidade de 5,94 g/cm3, o que resulta em 66% de pureza no primeiro peneiramento.
d) Uma retenção de massa de aproximadamente 59 % de resíduos de cabos PP e 39% de resíduos de cabos paralelos na
peneira de 1,70 mm com densidades de 1,52 g/cm3 e 1,61 g/cm3, consecutivamente.
e) Com o repeneiramento de resíduos de fios de cabos PP, obteve-se uma recuperação de cobre de 65,86% ao final do
processo

Referências Bibliográficas

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Materiais. [S.I.], v. 61, p. 391-396. Disponível em:
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<http://extra.ivf.se/Cable_Program/download/Report_Jonas.pdf>. Acesso em: 02 dez. 2018.

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199-206. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0956053X18301624>. Acesso em: 15 set. 2018.

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Acesso em: 08 nov. 2018.

TANIMOTO, Armando H. et al. Material flow accounting of the copper cycle in Brazil. Resources, Conservation and
Recycling, [S.I.], v.55, p. 20-28. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0921344910000716>.
Acesso em: 15 set. 2018.

678
5SSS191
ESTUDO PRELIMINAR DE ESTABILIDADE DE BARRAGENS:
SIMULAÇÃO TEÓRICA DA ALTURA DOS SEDIMENTOS
DEPOSITADOS A MONTANTE DE UMA PEQUENA BARRAGEM
HIPOTÉTICA
Luis Fernando Murillo Bermúdez1, Laura Maria Cano Ferrreira Fais2, José Gilberto Dalfré Filho3 André
Luís Sotero Salustiano Martim3
1Universidade estadual de Campinas, e-mail: luismurillo@fec.unicamp.br; 2 Universidade Estadual de Campinas,
e-mail: laura@ft.unicamp.br; 3Universidade Estadual de Campinas, e-mail: dalfre@fec.unicamp.br,
4Universidade Estadual de Campinas, e-mail: sotero@fec.unicamp.br.

Palavras-chave: Estabilidade de barragens, transporte de sedimentos, assoreamento de reservatórios.

Resumo
O uso de barragens nas atividades humanas é compulsório. As barragens promovem o uso racional de recursos hídricos, sem
seu desenvolvimento não seria possível manter com regularidade o abastecimento público de água e fornecimento de energia
elétrica. A regulamentação do assunto na legislação brasileira é recente, data de 2010, que estabeleceu a Política Nacional de
Barragens. A partir desse marco, divide-se o universo das barragens em Grandes e Pequenas, sendo as pequenas, em número
muito maior, as que possuem altura máxima inferior a 15m, e não são barragens de resíduos perigosos ou rejeitos. Os recentes
acidentes ocorridos no brasil com barragens de rejeitos, deixaram todos, sociedade e técnicos, em alerta. Um dos possíveis
desdobramentos destes e de outros acidentes é o aumento do carreamento de sedimentos pelos cursos d’água, em taxas
superiores as esperadas que pode implicar um aumento de sedimentos depositados na barragem, acima do previsto inicialmente
no projeto, e eventualmente provocar uma mudança no equilíbrio da barragem. Este trabalho apresenta uma simulação
elaborada a partir de uma pequena barragem fictícia, em que foi simulada a variação da altura de sedimentos depositados a
montante da barragem, encontrando na simulação apresentada que o valor de esforços horizontais oriundos do assoreamento do
reservatório pode ser significativo e que seu efeito pode alterar a relação de equilíbrio da barragem em relação aos fatores de
segurança ao deslizamento e tombamento.
.

Introdução

Findikakis (2019) apresenta que para entender adequadamente como um reservatório se comporta e, ainda que para a correta
operação, são necessárias investigações especiais para determinar as características dos sedimentos e sua taxa de entrada. A
variação do aporte de sedimentos em um reservatório depende de vários fatores: de variações do clima a influências
geológicas, topográficas e antrópicas (uso e ocupação da bacia hidrográfica), e está sujeito a um alto grau de incerteza. São
conhecidas algumas equações para a estimativa do aporte de sedimentos com base em variáveis da bacia, muitas são
apresentadas em Carvalho (2008) e Suguio (1973).

Segundo Malavoi e Abderrezzak (2019) a avaliação dos aspectos de segurança das barragens pode ser dividido em duas partes:
uma que aborda a segurança da própria barragem, que inclui a preocupação com os sedimentos presos atrás da barragem, que
podem prejudicar as funções e / ou tornar inútil a infraestrutura da barragem, apresentando, portanto, riscos à segurança; e
outro aspecto em que aborda a segurança hidráulica a montante do reservatório: o delta sedimentar que se desenvolve nas
seções a montante de certos reservatórios pode levar a uma capacidade de transporte reduzida, aumento de inundações e
elevação das elevações do lençol freático.

Em International Commission on Large Dams - ICOLD (1989), verificamos que todos os reservatórios formados por barragens
em cursos d’água naturais estão sujeitos a algum grau de transporte e deposição de sedimentos. Os danos econômicos e
ambientais devido à acumulação de sedimentos em reservatórios podem ser grandes e extremamente difíceis de se remediar.

Ainda segundo o boletim da ICOLD (1989) com a construção da barragem, os processos de sedimentação podem ser bastante
complexos. Os sedimentos transportados para o reservatório se depositam, devido as baixas velocidades. Como o sedimento se
acumula nos reservatórios, a capacidade de armazenamento fica reduzida. A deposição contínua de sedimentos desenvolve

679
padrões de distribuição dentro do reservatório, que são bastante influenciados pela operação do reservatório e pelo período de
cheias. Se a vida útil do reservatório é afetada, são necessárias mudanças na operação do reservatório, ou outras medidas
corretivas.

O Brasil é um país com abundância em recursos hídricos, fator que favorece a construção de barragens para formação de
reservatórios de acumulação de água para diversas finalidades, dentre elas a geração de energia elétrica (principal fonte da
matriz energética do país), abastecimento de água, regularização de vazões, controle de cheias, dentre outras. Com os atuais
problemas de abastecimento de água nas grandes cidades e regiões metropolitanas, a formação de reservatórios é de suma
importância, para que que o excedente de água do período de chuvas seja utilizado nos períodos de seca.

Uma questão importante a ser considerada no projeto e construção de uma barragem é a deposição de sedimentos, já que
qualquer curso d’água naturalmente tem uma carga de sedimentos carregada com o escoamento. Com a diminuição da
velocidade, esse sedimento acaba se depositando ao longo do tempo.

O depósito de sedimentos pode, a médio e longo prazo, trazer vários problemas para a operação dos reservatórios, já que o
volume acumulado no fundo diminui a ida útil do reservatório. Além disso, os sedimentos que porventura alcancem as tomadas
d’água, podem causar a abração nas pás das turbinas, aumentando os custos de manutenção.

Além das questões levantadas, é necessário considerar a influência do volume de sedimentos depositados na segurança da
estrutura, já que este pode aumentar os esforços de pressão na barragem e, consequentemente, aumentar a probabilidade de
tombamento ou escorregamento da estrutura.

De forma simplificada, nos estudos preliminares são avaliados os fatores de segurança ao tombamento, deslizamento, que
pretendem avaliar se não ocorrerá nem deslizamento, nem tombamento do maciço. E também estudos de tensão na barragem,
de forma que as tensões atuantes sejam adequadas à capacidade de suporte do terreno, e dos materiais utilizados. Segundo
Kuperman e Cifu (2006) a segurança das obras de concreto de uma barragem deve ser garantida em relação aos estados limites
últimos e de utilização e é conceituada pelos princípios estabelecidos na norma brasileira “Ações e Segurança nas Estruturas”,
NBR 8681. E para os projetos de barragens estas verificações correspondem às análises de estabilidade, no sentido de avaliar a
segurança global quanto a movimentos de corpo rígido, correspondentes a: deslizamento em qualquer plano, seja da estrutura
seja da fundação; ao tombamento; à flutuação. São ainda avaliadas as tensões na base da fundação e na estrutura. A segurança
em relação ao Estado Limite Último de Perda de Equilíbrio como corpo rígido é garantida a partir da avaliação dos fatores de
segurança ao tombamento (FST), deslizamento (FSD) e flutuação (FSF) para as diversas condições de carregamento atuantes.

Por definição o Fator de Segurança ao Tombamento (FST), conforme apresentado em Kuperman e Cifu (2006) é definido
como a relação entre o momento estabilizante e o momento de tombamento em relação a um ponto ou uma linha efetiva de
rotação. E, de forma geral são entendidas como ações estabilizantes o peso próprio, as cargas permanentes mínimas e o peso
próprio. Para o cálculo dos momentos de tombamento, que ocorrem devido à ação de cargas desestabilizastes, devemos
considerar a pressão hidrostática, a subpressão devido a água, os empuxos de terra, e o assoreamento, ou seja a carga devido a
presença de sedimentos depositados.

Ainda em Kuperman e Cifu (2006), encontramos a definição para o Fator de Segurança ao Deslizamento (FSD), que é definido
como a relação entre os esforços resistentes que se opõem ao deslizamento e a resultante das forças que atuam para favorecer o
deslizamento, ou seja as forças atuantes paralelas ao plano de deslizamento. Este fator pode ser determinado para cada tipo de
carregamento, levando em consideração as possíveis superfícies potenciais sobre as quais a estrutura possa se submeter ao
deslizamento. As análises dos fatores de segurança avaliam as forças favoráveis e contrárias, sendo que contra o deslizamento
atuam os esforços resistentes a coesão e o atrito na resistência de contato concreto-rocha ou nas superfícies do concreto. O
autor afirma que embora devam ser realizados estudos e ensaios locais, podem ser utilizados, em estudos preliminares, os
valores de coesão e ângulo de atrito os já utilizados em outras obras com materiais similares.

A Tabela 1 apresenta os valores usuais de projeto utilizados por renomadas empresas do setor de barragens que atuam no
Brasil, que foi apresentado por Kuperman e Cifu (2006) baseado no estudo realizado Eletrobas, 2003. O FSD deve ser maior
ou igual a 1,0 adotando-se para a redução dos esforços resistentes por atrito e coesão os fatores FSDo e FSDc. Os valores
apresentados na tabela são usuais. Para este trabalho foi considerado de forma simplificada o limite para os fatores de
segurança FS ≥ 1,1.

680
Fator de CC
CC Normal CC Construção CC Limite
segurança Excepcional
FST 1,5 1,3 1,2 1,1
FSF 1,3 1,1 1,1 1,1
FSDo 1,5 1,3 1,1 1,0
FSDc 3,0 2,0 1,3 1,2
Tabela 1: Valores usuais de Fator de Segurança. Tomado de Eletrobaás, 2003).

Segundo Cifu 2011, na etapa de estudos de viabilidade, em que há os estudos de alternativas de projeto, deve ser realizada a
análise de estabilidade de todos os elementos do aproveitamento; dentre eles os estudos da influência do empuxo dos
sedimentos são levados em consideração em barragens de pequena altura, onde existe um acumulo de material bastante
considerável em relação ao reservatório que comparado com as barragens de grande porte pode ser desprezível (Scheiber,
1977).

A falta de estudos detalhados, faz que o cálculo do empuxo exercido pelo assoreamento do reservatório seja feito considerado
a hipótese que a pressão causada pelos sedimentos é equivalente à de um fluído. Na Tabela 2 se presentam os valores usados
como peso específico equivalente por distintos autores, esta ação dos sedimentos, é ilustrada na Figura 1, em geral é
considerada em função de uma altura de sedimentos igual a 10% da altura da água total adicionando-se ao valor do empuxo
hidrostático.

Figura 4: Empuxo devido ao assoreamento no reservatório.

Peso específico equivalente dos sedimentos Citado


12,0 KN/m3 Bureau of Reclamation, 1976
1,6 g/cm3 = 15 kN/m3 Mason, 1988
1300 Kg/ m3 = 12,7 kN/m3 Ketzer e Schaffer, 2010
9,0 kN/m3 Cifu, 2011
Tabela 2: Pesos específicos habitualmente considerados na bibliografia .

O peso especifico aparente γap dos sedimentos varia em função do tempo devido à compactação pelo próprio peso do material e

681
o do volume da água, que vai tender a diminuir o volume de espaços vazios ocupados por água, esta consolidação do material
sedimentar é também influenciada pela textura e distribuição granulometria das partículas de sedimento e em grande medida
pelo tipo de operação na qual o reservatório opera (Strand, 1974), consequentemente quanto maior a profundidade em que o
sedimento é depositado maior será o valor do seu peso específico, devido ao grau de compactação sofrido pelo material (Maia,
2006; Ferreira, 2012).

O trabalho de Heinemann (1962), enfatiza que peso específico do sedimento depende significativamente da fração de argila
nele existente, quando o percentual de argila é alto, o γap sofre uma redução considerável.

Carvalho (2008) apresenta a formula no sistema métrico para estimar o peso específico aparente inicial proposta por (Strand,
1974), para utilização da formula são necessárias as porcentagens granulométricas médias de argila, silte e areia dos
sedimentos em suspensão e de arrasto, obtidas a partir das quantidades de sedimento em suspensão e de arrasto com os valores
das descargas sólidas calculadas, a fração de pedregulho, geralmente pequenas, são adicionadas à porcentagem de areias.

(1)

, , - coeficientes de compactação, ou seja, pesos específicos iniciais de argila, silte e areia, respectivamente, obtidos
segundo o tipo de operação do reservatório, presentados na Tabela 3.

, , - frações das quantidades de argila, silte e areia, contidas no sedimento afluente.

Tipo de Argila Silte Areia


operação no
Wc (T/m3) Wm (T/m3) Ws (T/m3)
reservatório
1-Sedimento
sempre ou quase
0,416 1,121 1,554
sempre
submerso
2-Depleção do
reservatório de 0,561 1,137 1,554
pequena a média
3-Reservatório
de significativas
0,641 1,153 1,554
variações de
nível
4-Reservatório
normalmente 0,961 1,169 1,554
vazio
Tabela 3: Constantes W e K em função do tipo de operação do reservatório para uso no sistema métrico adaptado de
Strand (1974) por Carvalho (2008).

Materiais e Métodos

Para elaboração deste trabalho foi utilizado um barramento hipotético, com altura inferior a 15m, de forma a caracterizar um
pequeno barramento. A avaliação foi baseada em estudos da área e leva em consideração uma faixa de 1m de largura da
barragem, com seção tipo, conforme o citado em Krüger (2008):

“Nas fases preliminares de uma barragem à gravidade considera-se, isoladamente, uma seção transversal típica com largura
unitária (ao longo do comprimento da barragem). Admite-se que esta seção atue independentemente das seções adjacentes. A
análise estrutural é feita passo a passo, do topo à base e deve considerar várias hipóteses, como, por exemplo, as do
reservatório cheio e vazio”.

Os dados foram tabelados em planilhas eletrônicas de cálculo apenas para facilitar a simulação. A Figura 2 apresenta os dados

682
de entrada da barragem hipotética avaliada e a posição relativa de cada variável do modelo.

Figura 2: Desenho esquemático do modelo escolhido e dados de entrada da simulação.

As análises efetuadas neste trabalho são simplificadas e preliminares, e a escolha do modelo foi aleatória, buscando um
exemplo que fosse capaz de ilustrar adequadamente os efeitos negativos da deposição de sedimentos, não somente na operação
e reservação da barragem, mas avaliando o aspecto de segurança da estabilidade da barragem.

Para efeito de cálculo e análise foi considerado o diagrama de distribuição de tensões linear triangular, de forma a simplificar a
determinação e posição das resultantes. O peso específico da água considerado foi de 9810 N/m3. Na tabela 4 é presentado o
cálculo do peso específico dos sedimentos aplicando a Eq. 1, usou-se os valores de W para o tipo de reservatório 1, com as
seguintes porcentagens de granulometria meia do sedimento afluente, argila=45%, silte=45% e areia=10%, tendo um valor de
γape-total de 8309,561 N/m3.

Tamanho de W γape-
%
partícula (T/m3) (T/m3)
Argila 0,416 0,45 0,187
Silte 1,121 0,45 0,5044
Areia 1,554 0,1 0,155
γape- total 0,847
Tabela 4. Cálculo de peso especifico aparente do sedimento no reservatório.

Resultados e Discussão

Num primeiro cenário, foi considerado que não havia sedimentos depositados no reservatório, e que os esforços atuantes se
deviam a pressão hidrostática da água, a montante e jusante, peso próprio e forças de atrito da barragem com o solo. Não foram
considerados no estudo esforços devido a ondas, gelo e abalos sísmicos.

Os resultados do primeiro cenário simulam o enchimento do reservatório, partindo da altura h=0,0m até a altura máxima
teórica de H1=14,0m. O valor de altura de água a jusante, foi mantido constante em todas as simulações, e foi dado por
H2=2,0m.

A Figura 3 apresenta este cenário, em que é possível identificar o limite de segurança FS=1,1, sendo que até a altura máxima
de 14 m a barragem apresenta fator de segurança acima do valor limite para todo o enchimento do reservatório. O gráfico
permite ilustrar qual dos fatores seria superado primeiro no caso hipotético de enchimento do reservatório, em caso de não
atendimento do fator de segurança.

683
Altura
máxima

Figura 3: Fator de Segurança FSD e FST - Enchimento do Reservatório

No segundo cenário foi considerado o efeito do assoreamento, devido ao aporte de sedimentos a montante da barragem.
Também foi considerado o limite de FS=1,1 e a estabilidade da barragem foi avaliada em função do aumento da altura da pilha
de sedimentos depositada, considerando de forma teórica a distribuição horizontal de sedimentos no reservatório e a
distribuição de tensões triangular na face de montante da barragem.

A Figura 4 ilustra o resultado obtido da simulação, em que é possível verificar, que para as hipóteses consideradas, o fator de
segurança da barragem em relação ao tombamento não seria mais atendido a partir da altura Hs de sedimentos atingisse o valor
de 1,7m. E em relação ao limite do fator de segurança ao deslizamento o mesmo não seria mais atendido a partir da altura Hs
de sedimentos atingisse o valor de 7,8 m

684
Figura 4: Representação do efeito do depósito de sedimentos na análise preliminar da estabilidade de barragens.

Considerando o assoreamento da região a montante da barragem, em que o deposito de sedimentos ocorra de forma linear e
horizontalmente dispostos, e ainda a distribuição de tensões linear e triangular, foi gerada a Figura 5, que apresenta a relação
entre os esforços horizontais devido a carga hidrostática (considerada constante e igual a H1=14m) e a força horizontal devido
à carga de sedimentos depositados, considerada variável em relação ao valor de Hsinicial =0m até Hsfinal=14m. Na figura é
representada a variação do Fator de Segurança FST em relação ao aumento da altura da pilha de sedimentos depositados a
montante da barragem.

685
Figure 5: Relação entre a força hidrostática horizontal e a força horizontal devido ao depósito de sedimentos em função
da altura de sedimentos. Comparados com a variação do FST.

Conclusões:

O aumento do carreamento e deposição de sedimentos no montante das barragens, pode eventualmente causar um desequilíbrio
de esforços no corpo da barragem. Em geral, nos projetos é considerado um valor da ordem de 10% para a altura de
sedimentos em barragens. Este trabalho apresento uma simulação elaborada a partir de uma pequena barragem fictícia, em que
foi simulada a variação da altura de sedimentos depositados a montante da barragem, considerando valores superiores ao 10%
previsto em projeto, como também os valores de peso especifico aparente para cada tamanho granulométrico característico do
material depositado na barragem.

Considerando os dados utilizados no modelo teórico, e os dados da barragem hipotética utilizada, verifica-se na simulação
apresentada que o valor de esforços horizontais oriundos do assoreamento devido a sedimentos pode ser significativo e que seu
efeito pode alterar a relação de equilíbrio da barragem em relação aos fatores de segurança ao deslizamento FSD e tombamento
FST.

Verifica-se que é de grande importância realizar medições e análise do tipo de sedimento que é carreado para o reservatório,
além de quantificar a totalidade de sedimentos transportados (vazão sólida), com o intuito de especificar os tamanhos
granulométricos característicos, podendo obter valores de peso especifico aparente consistentes com a realidade do fenômeno.

A presença de sedimentos pode afetar a condição de estabilidade da barragem, e que estudos complementares de avaliação de

686
estabilidade em função de carregamentos de sedimentos em taxas acima da medida podem ser interessantes para garantir a
condição de segurança da estrutura e também para permitir a operação segura dos reservatórios indicando o limite máximo de
altura de sedimentos de forma a não afetar a segurança da barragem.

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687
5SSS192
FATORES RELACIONADOS A ALAGAMENTOS NA BACIA
HIDROGRÁFICA URBANA DO RIO ALCÂNTARA EM SÃO
GONÇALO/RJ
Bianca Duarte1, Barbara Franz2
1 bacharel em Ciência Ambiental pela Universidade Federal Fluminense (UFF), e-mail:
biancaduarte@id.uff.br, 2 docente da UFF, e-mail: barbara_franz@id.uff.br

Palavras-chave: alagamento; bacia hidrográfica urbana; São Gonçalo.

Resumo
O crescimento desordenado das áreas urbanas no Brasil tem grande significativa quando se fala do aumento de casos de
alagamentos com prejuízos por danos econômicos e perdas humanas, como degradação de vias, perdas de bens materiais e
veiculação de doenças por vias hídricas. Pensando na situação de bacias urbanas no Estado do Rio de Janeiro, pode-se dizer
que grande parte delas se encontra afetada pela expansão urbana, sendo transformadas em redes de esgoto e com suas áreas de
várzea e inundação ocupadas, gerando situações de catástrofe quando há grande volume de chuva. Em São Gonçalo, segundo
maior município do estado do Rio de Janeiro em termos de população, tais eventos acontecem com frequência na bacia do Rio
Alcântara, que passa por 53 bairros no município. Considerando então fatores físicos e urbanos, o presente trabalho tem como
objetivo analisar a vulnerabilidade da população do município em relação a alagamentos na bacia do Rio Alcântara.
Uma das primeiras etapas consistiu em pesquisa documental, principalmente relatórios documentais disponibilizados pela
Defesa Civil sobre os alagamentos. Também coletadas informações de precipitação pluviométrica (obtidas através de
pluviômetros automáticos) da base de dados dos meses citados disponibilizadas pelo CEMADEN (Centro Nacional de
Monitoramento de Alertas de Desastres Naturais). Através de uma metodologia que compara dados de pluviômetros
automáticos em diferentes áreas próximas, é possível perceber as distintas influências de fatores de relevo e ocupação do solo
quanto à probabilidade do evento extremo de chuva gerar um impacto. Foi utilizado o software de Geoprocessamento ArcGis
10.5 para inferir sobre a influência de fatores como relevo, concentração de chuvas em determinadas áreas e permeabilidade do
solo, sendo considerado que a área construída tem alto índice de impermeabilidade.
Avaliando os mapas elaborados é possível perceber que existe ocupação urbana em áreas de cota praticamente 0m (zero
metros) coincidindo com áreas com concentração urbana. As áreas mais altas correspondem a, em sua maioria, áreas de uso
voltado a cultivos diversos, área florestal e campo exposto, mostrando que a área onde a população se concentra está
naturalmente vulnerável a alagamentos devido ao relevo.
A partir dos resultados obtidos e analisados, é possível perceber que São Gonçalo é um município que sofre até hoje uma
expansão urbana desorganizada resultante da má implementação das diretrizes do Plano Diretor da cidade, de modo que as
áreas de alagamento possuem um sistema de drenagem ineficiente ou baseado apenas no escoamento pelos valões que
correspondem originalmente a rios que foram retificados.
É possível perceber que as áreas com ocupação irregular às margens dos rios é um fator comum aos bairros analisados na
Bacia Alcântara, influenciando diretamente na vulnerabilidade da população observada a alagamentos e na paisagem do
município de São Gonçalo, considerando que a degradação do ambiente nessas áreas é marcante.

Introdução

Historicamente, o desenvolvimento das cidades sempre ocorreu às margens de rios e áreas litorâneas, com intuito de facilitar o
transporte, abastecimento de água e outras atividades humanas, possibilitando entender o porquê da ocupação das superfícies
de inundação. Durante sua instalação, nestes locais o homem acostumou-se a conviver e beneficiar-se das cheias dos rios e a
manter sua moradia em locais com maior cota de altura para que ficassem protegidos de inundações, que ocorrem quando a
vazão do rio já se encontra no leito de enchente e aumenta ainda, transbordando e alagando as várzeas (Silveira, Dias e Schuch,
2014).
Porém, conforme a urbanização se expandiu, cresceu também o avanço para áreas de várzea e de inundação. Esse avanço
sofreu uma explosão de crescimento tão acelerada que houve a necessidade de deixar de se dirigir ao centro para seguir para a
periferia das grandes cidades, onde se localizavam grande parte das nascentes, causando um agravamento no problema dos
alagamentos (Santos e Rocha, 2013)). Destaca-se que alagamento correspondem a como um acumulo de volumes

688
pluviométricos momentâneo em determinadas áreas que não possuem uma drenagem superficial adequada para suportar
grandes volumes de água, definido pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas)
Segundo Mendonça e Leitão (2008, p.147) a rápida urbanização está entre as principais causas dos impactos ambientais com
ênfase no ciclo hidrológico. Segundo Barbosa (2006) a urbanização ocorre de forma natural, mas, por outro lado, o
planejamento urbano não é realizado de forma a atender todas as áreas em processo de crescimento, apenas para a parte da
cidade ocupada pela população de média e alta renda enquanto as áreas de baixa renda crescem de forma irregular ou
clandestina. Dessa forma, os ecossistemas são levados a sua capacidade máxima de resiliência (Cano, 1989), apresentando um
cenário de degradação ambiental alarmante em áreas urbanas, como a transformação de rios em bacias localizadas em áreas
urbanas em esgotos a céu aberto.
A ocupação pela parcela da população que ocupa as margens dos rios leva à dificuldade da ampliação da infraestrutura
adequada e, associado à impermeabilização do solo e a alterações na drenagem urbana, resulta em alagamentos, deslizamentos,
assoreamento, produzindo danos econômicos e sociais, como perda dos seus bens materiais e veiculação de doenças hídricas
(Santos e Rocha, 2013).
O município de São Gonçalo, segundo maior município do estado do Rio de Janeiro em termos de população no estado do Rio
de Janeiro, pertencente a Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) é naturalmente suscetível a ocorrência de
alagamentos por se encontrar em área de baixada (Armond et. al., 2007), uma área ao nível do mar entre terrenos elevados. As
baixadas e as planícies costeiras sofreram um processo de urbanização residencial e industrial mais intensificado por serem
mais convenientes e favoráveis a ocupação pela facilidade de acesso proveniente das baixas alturas (Dantas et. al., 2005).
O município está entre os piores do estado em relação aos índices de saneamento básico, não havendo coleta de efluentes
líquidos para tratamento adequado, causando poluição dos mares e rios, odor insuportável da orla marítima (Santos, 2016),
além de outros problemas como veiculação de vetores de doenças que afligem principalmente a população de baixa renda
(Barbosa, 2006). O rio Alcântara atualmente encontra-se cada vez mais assoreado, recebendo lixo, ligações clandestinas de
esgoto e construção de moradias ilegais em suas margens ou até mesmo sobre o rio.
Considerando fatores físicos e urbanos, o presente artigo tem como objetivo analisar a vulnerabilidade da população do
município em relação a alagamentos na bacia hidrográfica urbana do Rio Alcântara.

Material e Métodos

São Gonçalo é dividido em 5 distritos e 90 bairros; e 53 deles estão localizados na bacia do Rio Alcântara (Figura1), definida
como área de estudo deste trabalho, ao leste da Baía de Guanabara. Sua nascente situa-se no bairro Maria Paula, em Niterói, e
o rio ainda conta com uma pequena parte de seu curso localizada no município de Itaboraí. A extensão da área de drenagem da
bacia é de aproximadamente 130 km² e seu canal principal possui uma extensão de 29 km (Vieira et al., 2015). Nela localizam-
se bairros de importância econômica para o município, como o próprio bairro Alcântara, Jardim Catarina é considerado um dos
maiores loteamentos populares da América Latina (Britto et al, 2017). Destaca-se que é uma bacia inserida por completo no
município e apresenta a maior concentração demográfica em relação às outras bacias ou sub-bacias no município, favorecendo
a a ocorrência de alagamentos.
O município de São Gonçalo apresenta uma altitude média de 19m e é dividido em 5 distritos, que juntos somam 90 bairros e
são atravessados por três rodovias (BR101, RJ104 e RJ106).
Uma das primeiras etapas consistiu em pesquisa documental, principalmente relatórios documentais disponibilizados pela
Defesa Civil sobre os alagamentos em São Gonçalo e dados coletados imprensa escrita (jornais e revistas) e meios audiovisuais
influentes na área para identificação das áreas mais sujeitas ao alagamento e impactos.
Durante a pesquisa encontrou-se os relatórios documentais disponibilizados pela Defesa Civil sobre os alagamentos em São
Gonçalo, contendo as localizações das áreas mais sujeitas aos alagamentos e seus impactos, através da evidenciação de
quantidades de alagamentos registrados num período de tempo de 20 anos (de 1995 a 2015).
Como os relatórios documentais da Defesa Civil mostram alagamentos em São Gonçalo até 2015, identificou-se os
alagamentos entre janeiro de 2016 a março de 2018 através de notícias desses eventos mostrados em meios de comunicação
como jornais e imagens disponibilizadas na internet. Foram elaborados gráficos de colunas para representar as precipitações
pluviométricas correspondentes às datas desses alagamentos entre 2016 e 2018 identificados através da mídia.
Foram obtidas informações de precipitação pluviométrica (obtidas através de pluviômetros automáticos) da base de dados dos
meses citados disponibilizadas pelo CEMADEN (Centro Nacional de Monitoramento de Alertas de Desastres Naturais). Os
dados coletados foram tratados utilizando o Excel, gerando gráficos com médias de acumulo de 24hrs. Os dados
disponibilizados pelo CEMADEN são registrados por pluviômetros a cada 10 minutos. As estações meteorológicas escolhidas
estão localizadas em pontos conforme aponta a figura 2. Os critérios de escolha compreendem: a) localização na bacia do Rio
Alcântara (área de estudo) ou suficientemente aproximada b) possuir adequada quantidade de dados pluviométricos
A intenção dos gráficos elaborados e analisar a quantidade pluviométrica acumulada necessária para causar um alagamento em
cada local e se o evento esta relacionado a chuvas anteriores (que tenham causado saturação dos solos) ou são causados por
grandes volumes pluviométricos em pouco tempo.

689
Figura 1: Localização da Bacia do Rio Alcântara no município de São Gonçalo.
Fonte: Duarte (2019).

As localidades dos pluviômetros foram recolhidas utilizando imagens do satélite Hybrid do Google, disponibilizadas pelo
CEMADEN. O mapa de suas localizações, na Figura2, foi gerado utilizando o software ArcGis 10.5.
Também foi utilizado o software de geoprocessamento ArcGis para elaborar figuras sobre a distribuição de chuva, a diferença
no relevo e na ocupação do solo (sendo considerado que a área construida tem alto índice de impermeabilidade), a fim de
identificar as áreas consideradas baixas e impermeáveis, as quais tendem a aumentar a vulnerabilidade de ocorrência dos
alagamentos em São Gonçalo.

690
Figura 2 - Localizacao dos pluviometros automaticos.
Fonte: Duarte (2019).

Resultados e Discussão

A figura 3, representa os mapas realizados no ArcGis 10.5 de uso e ocupação do solo e o relevo da bacia do Rio Alcântara –
respectivamente. Essa figura torna possível compreender as características de ocupação do local relacionadas à vulnerabilidade
a alagamentos, pois a maior parte da bacia

691
Figura 3: Mapas de Uso e Ocupação do Solo e Relevo da Bacia do Rio Alcântara.
Fonte: Duarte (2019), baseado em IBGE (2018).

A figura 4, por sua vez, representa o acumulado mensal (em mm) das chuvas entre janeiro de 2016 a março de 2018. Ao
analisar os dados pluviométricos obtidos das estações do CEMADEN, no período de tempo estudado, identifica-se que os
maiores índices pluviométricos correspondem a os meses de janeiro de 2016 e de 2018 e março de 2017, sendo janeiro de
2018 o maior volume pluviométrico registrado nos três anos observados na figura4. todos no período do verão. Oliveira &
Delarezi (2016) apontam que a estação chuvosa em São Gonçalo corresponde ao último trimestre de um ano e no primeiro
trimestre do ano sucessivo, entre os meses de novembro e abril, alcançando totais pluviométricos superiores a 100 mm. “Cerca
de 30% do total acumulado está concentrado no mês de janeiro, no qual, em geral, registra-se um total de chuva superior a 200
mm” (Oliveira e Delarezi, 2016, pg. 30).

692
Figura 4: Pluviometria mensal do período analisado.
Fonte: Duarte (2019), baseado em dados do CEMADEN (2018).

O maior acumulado de precipitação pluviométrica em um mês não significa que registra-se o maior número de ocorrências de
alagamento – ou a ocorrência com maior número de danos materializados. Assim, considerando os eventos adversos ocorridos
no período chuvoso do verão de 2015/2016, 2016/2017 e 2017/2018, foram identificadas e compiladas as datas de ocorrência
de eventos de alagamento no município através das buscas em jornais on-line, cujo resultado é mostrado na tabela 1.

Ocorrência de Alagamentos (Impressa/Reprodução 2018) em São Gonçalo.


Out de 2015 a mar de 2016 Out de 2017 a Mar de 2018
15/01/2016 04/01/2018
16/01/2016 07/01/2018
23/01/2016 27/01/2018
20/02/2016 23/02/2018
29/02/2016 15/03/2018
01/03/2016
24/03/2016
Tabela 1: Datas de ocorrencias de Alagamentos em Sao Goncalo no periodo analisado
Fonte: Duarte (2018)

A partir das datas de alagamento identificadas (tabela 1), foram elaborados gráficos com os milímetros de chuva acumulados
em 24 horas em cada data das ocorrências de alagamento, nas estações anteriormente selecionadas para o estudo (figura 2).
Assim, no gráfico de eventos versus precipitação do mês de janeiro do ano de 2016 (figura5), percebe-se que o volume de
chuva no mês foi menor que em outros meses de verão (figura 4), porém como visto na tabela 1, foi representativo no quesito
quantidade de eventos de alagamento, com um total de 3 durante o mês. Um fator importante, relacionado à pluviometria, a ser
considerado nas situações de alerta e alarme para alagamentos (e também para deslizamentos, embora não seja abordado nesse
trabalho) é a saturação antecedente do solo, pois, quanto mais saturado o solo, menor sua capacidade de infiltração (Justino et
al., 2011).
Embora os alagamentos registrados pela imprensa tenham ocorrido nos dias 15, 16 e 23 de janeiro de 2016 (o São Gonçalo,
2018), nesse mês foi importante analisar os acumulados anteriores, já que as datas das ocorrências são muito próximas umas
das outras. O registro de chuva do dia 14/01/2016 somado ao do dia 15/01/2016 (figura 5), pode ter potencializado a
ocorrência do alagamento do dia 15/01/2016 (devido à saturação do solo) e somando-se à chuva do dia 16/01/2016, pode ter
potencializado para ocorrência de outro nesse dia, que resultou em danos mais graves. Da mesma forma poderia ter ocorrido
em relação às intensidades registradas nos dias 21 e 22/01/2016, podendo resultar no alagamento do dia 23/01/2016 .

693
Principalmente o evento do dia 23/01/2016 é representativo quanto à possível causa relacionada à saturação do solo, pois os
volumes pluviométricos registrados nesse dia são, se comparados aos outros dois eventos, de pouca intensidade para provocar
alagamento.

Figura 5: Precipitacao registrada em 24 horas em janeiro de 2016, que abrangem os eventos de


Alagamento do período.
Fonte: Duarte (2019), baseado em dados do CEMADEN (2018).

O alagamento ocorrido no dia 16/01/2016 foi considerado o maior em questões de danos econômicos acarretados e em
pluviometria registrada. Segundo o jornal O São Gonçalo (2018), nessa data foram registradas quedas de árvore e falta de
energia elétrica, além da perca de bens materiais como moveis e carros, em vários bairros do município, incluindo Jardim
Catarina – considerado o mais atingido, já que as ruas ficaram alagadas até o dia seguinte – Maria Paula, Colubandê, entre
outros que fazem parte da bacia do rio Alcântara.
Enquanto isso, a pluviometria registrada nos eventos de alagamento no mês de março de 2016 (representada na figura 6 em
mm acumulados em 24 horas), embora tenha apresentado o menor acumulado pluviométrico do primeiro trimestre de 2016 –
aproximadamente 76mm a menos do que janeiro do mesmo ano – teve a ocorrência de alagamento mais significativa em
relação a danos danos.

Figura 6: Precipitação registrada em 24 horas nos eventos de alagamentos, marco de 2016.


Fonte: Duarte (2019), baseado em dados do CEMADEN (2018)

694
Na tabela 2 podemos entender o porquê da ocorrência desse evento adverso. Os dados de precipitação coletados registrados a
cada 10min mostram que o acumulado de chuva foi muito alto e a duração da chuva foi pequena, fazendo com que não
houvesse tempo suficiente para a infiltração e aumentando o escoamento superficial, alagando a área com rapidez e causando
sérios danos.

Tabela 2: Acumulado em poucos minutos, Sao Goncalo


Fonte: Duarte (2019)

A Defesa Civil (Oliveira e Delazeri, 2016), do município de São Gonçalo disponibiliza um índice de alerta para a comunidade,
como mostra a tabela 3. Ou seja, ao chover 30mm em uma hora ou 90mm em 24 horas (e assim sucessivamente), são
acumulados representativos de uma situação de alerta
O evento do dia 24/03/2016 atingiu em torno de 90mm de chuva em apenas 40 minutos, o equivalente ao esperado em 24 horas
para situações de alerta de acordo com Defesa Civil do Município (Oliveira e Delazeri, 2016), caracterizando o evento
instantaneamente como situação de alarme.

Precipitação
Período de tempo
acumulada
1 hora 30mm
24 horas 90mm
48 horas 115mm
96 horas 165mm
Tabela 3: Acumulado de precipitações considerados situações de alerta em São Gonçalo pela Defesa Civil
Fonte: Oliveira e Delazeri, 2016

O primeiro trimestre de 2018 (figura 7), por sua vez, representado em acumulados de precipitações 24 horas, assim como 2016,
apresentou um alto número de ocorrências em janeiro de 2018, com 3 ocorrências nesse mês (dias 04, 07 e 27/01/2018) com
um pico de chuvas apresentado no final do mês.
.

695
Figura 7 - Precipitação registrada em 24 horas no primeiro trimestre de 2018, que abrangem eventos de alagamentos
Fonte: Duarte (2019)

Considerações Finais

Através de uma metodologia que compara dados de pluviômetros automáticos em diferentes áreas próximas, é possível
perceber as distintas influências de fatores de relevo e ocupação do solo quanto à probabilidade do evento extremo de chuva
gerar um impacto, o que depende também da preparação da população e da região.
A partir dos resultados obtidos e analisados, é possível perceber que São Gonçalo é um município que sofre até hoje uma
expansão urbana desorganizada resultante da má implementação das diretrizes do Plano Diretor da cidade e falta de
investimento em serviços de saneamento básico efetivos.
A bacia do Alcântara está localizada predominantemente em relevos de cota até 10m, na área mais urbanizada do município
(ou seja, área significativamente impermeável) e associado a precipitações intensas (identificou-se inclusive chuva de 90mm
em 40minutos).
As constantes ocorrências de alagamentos do município de São Gonçalo constituem um problema de natureza social e
ambiental, que apresenta uma dinâmica intimamente associada ao crescimento desordenado da cidade e por isso, sendo
deflagrados tanto por fatores naturais, quanto antrópicos. Os impactos acarretados incluem perdas econômicas e sociais para as
comunidades vulneráveis e alterações na paisagem, no regime hidrológico e nas condições naturais dos rios em áreas degradas.
Reconhecer essas áreas de forma documental, num trabalho constantemente atualizado (visto o crescimento urbano de forma
dinâmica) e registrado pelos órgãos responsáveis é crucial para a adoção de medidas para mitigação dos danos ocorridos
durante os processos aqui analisados onde a urbanização já for consolidada, e medidas estruturais e fiscalizadoras que
impeçam a ocupação das áreas ainda não consolidadas, para prevenir o surgimento de novas áreas de risco a alagamentos no
município.
O resultado deste estudo pode ser de contribuição para acrescentar dados a projetos de melhoramento urbano e ambiental em
regiões costeiras, baseado em informações como identificação das áreas associados a ocorrências de alagamentos e inundações
e suas causas e agravantes relacionados a atividades antrópicas.

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697
5SSS193
ANÁLISE DOS ALAGAMENTOS DO BAIRRO ICARAÍ NO
MUNICÍPIO DE NITERÓI/RJ
Matheus Barbosa Cypriano1, Barbara Franz2
1 bacharel em Ciência Ambiental pela Universidade Federal Fluminense (UFF), e-mail:
matheusbc@id.uff.br, 2- docente da UFF, e-mail: barbara_franz@id.uff.br

Palavras-chave: planejamento urbano; alagamento; Niterói.

Resumo
A urbanização da cidade aumenta a impermeabilização do solo e a vazão máxima canais e a quantidade de sedimentos devido
à frequente produção de resíduos sólidos e ao solo desprotegido pela retirada da vegetação.
A área escolhida para servir de recorte para o estudo é o bairro de Icaraí (cidade de Niterói), o qual possui uma área ocupada
por vias e moradias (principalmente edifícios de cerca de 85%. O bairro localiza-se na parte mais densamente povoada da
cidade de Niterói, drenada pela microbacia do Rio Icaraí PREFEITURA MUNICIPAL DE NITERÓI, 2015). O município
possui uma população de 487.562 habitantes em uma área de 133,919 km² segundo estimativas de 2018 do IBGE.
O município de Niterói até hoje só possuiu um único Plano Diretor, de 1992, de forma que qualquer mudança estrutural
anterior foi feita sem o planejamento devido. Por este motivo, vários problemas podem ser encontrados nos sistemas de
drenagem urbana do bairro Neste plano, consta que o bairro é predominantemente reservado ao uso residencial familiar de
classe média, sendo que há diversos comércios e prestadores de serviços compatíveis com o poder aquisitivo dos moradores .
O objetivo geral do trabalho é compreender num contexto histórico dos fatores envolvidos nas causas dos alagamentos em
Icaraí, a partir da análise de documentos disponíveis e de observações em Icaraí.
Aplicaram-se as pesquisas documental e bibliográfica, onde foram consultados artigos científicos e literatura pertinentes.
Buscou-se também documentos como o Plano Diretor de Niterói, dados de infraestrutura e saneamento básico provenientes da
Prefeitura de Niterói. Além disso, observou-se no bairro após as chuvas as áreas alagadas.
Icaraí é considerada como a área mais valorizada da cidade, havendo no bairro Icaraí uma forte concentração de comercio,
lazer e serviços, além de intensa verticalização e de edifícios multifamiliares sendo o bairro associado à classe média devido às
praias, colégios e comércios, levando ao processo de ocupação. O aumento na densidade populacional leva à diminuição da
capacidade de infiltração do solo por conta da crescente urbanização, ocasionando o aumento das áreas impermeabilizadas e,
consequentemente, aumentando os fluxos superficiais e alagamentos após chuva intensa.
Em relação aos canais de drenagem, a Prefeitura de Niterói conta com um Plano Municipal de Saneamento Básico – PMSB de
2015, que visa garantir o acesso ao saneamento e à agua potável e assegurar a vida em ambiente salubre nas cidades. No
PMSB aponta pontos críticos de microdrenagem, onde ocorrem enchentes e inundações, no Município de Niterói, sendo 6
desses em Icaraí. O bairro de Icaraí está situado em uma região de baixada quase ao nível do mar, cercada por morros de
encostas íngremes. Através de observação após os momentos de maior intensidade pluviométrica, observou-se que esses
pontos realmente alagam, os quais se situam próximos a áreas de encosta de morros, recebendo o escoamento de água das
encostas.
Conclui-se que os alagamentos no bairro de Icaraí estão relacionados ao aumento da impermeabilização do solo a partir da
crescente expansão urbana, sem adequação da rede de drenagem, principalmente nas áreas mais próximas às encostas de
morros.

Introdução

O processo de urbanização acelerado no Brasil ocorreu após a década de 1960, cujo planejamento da ocupação do
espaço urbano, segundo Tucci (1997), não tem considerado aspectos fundamentais, resultando numa infra-estrutura inadequada
para sua população. Este autor destaca que a urbanização da cidade aumenta: a quantidade de sedimentos devido à produção de
resíduos sólidos e ao solo desprotegido pela retirada da vegetação, a vazão máxima dos canais em função da
impermeabilização do solo e à aumento da capacidade de escoamento e a degradação da água a partir da lavagem das ruas,
transporte de material sólido e as ligações clandestinas de esgoto cloacal e pluvial (Tucci, 1997).
As enchentes provocadas pela urbanização devem-se a muitos fatores, dentre os quais Pompêo (2000) destaca o
excessivo parcelamento do solo (resultando na impermeabilização das grandes superfícies), a ocupação de áreas ribeirinhas
(tais como as várzeas e zonas alagadiças), o bloqueio de canais por sedimentos e detritos e as obras de drenagem inadequadas.

698
Assim, a poluição hídrica, a escassez de áreas verdes na periferia e a ocupação de áreas vulneráveis e de risco são
características da maioria das cidades brasileiras (Ministério do Planejamento, 2003).
Nos alagamentos, o transbordamento das águas depende muito mais de uma drenagem deficiente (que dificulta a
vazão das águas acumuladas) do que das precipitações locais (Defesa Civil, 2006). Estes se constituem em “um acúmulo
momentâneo de águas em determinada área (ruas, calçadas ou outra infraestrutura urbana) decorrente de fortes precipitações
pluviométricas e problemas ou deficiências no sistema de drenagem” (Brasil, 2017, pág. 61).Logo, alagamentos são freqüentes
nas cidades mal planejadas ou quando crescem explosivamente, dificultando a realização de obras de drenagem e de
esgotamento de águas pluviais (Franz, 2018).
A canalização tem sido extensamente utilizada para transferir a enchente de um ponto ao outro na bacia, sem que
sejam avaliados os feitos à jusante ou os reais benefícios das obras (Tucci, 1999). Infelizmente, políticas públicas inadequadas
de uso do solo urbano, de drenagem urbana e de gestão de resíduos sólidos têm contribuído para agravar o problema das
enchentes urbanas em todo País (Tucci; Hespanhol; Cordeiro Netto, 2001).
As fortes enchentes têm provocado mortes, prejuízo econômico, danos materiais à população, deslizamento de
encostas, acúmulo de lixo, solo e fragmentos rochosos nas áreas de baixadas e em rupturas de declive, assoreamento de canais,
assim como tem impulsionado a transmissão de doenças (Jacobi, 2006; Ribeiro et al, 2011; Werder, 2002).
As regiões metropolitanas apresentam um contexto de ocupação do solo e urbanização caótica onde ocorre a expansão
urbana desordenada, decorrente da desigualdade social. A preocupação com a preservação do meio ambiente é algo recente, de
forma que a estruturação da malha urbana, durante seu surgimento e expansão, não considerou os processos naturais locais e as
consequências da interferência antrópica nestes (Pádua, 2010).
A área escolhida para servir de recorte para o estudo é o bairro de Icaraí, localizado na parte mais densamente povoada
da cidade de Niterói, sofrendo constantemente com alagamentos. Este município está inserido na Região Metropolitana do Rio
de Janeiro (RMRJ), possuindo uma população de 487.562 habitantes em uma área de 133,919 km², com uma densidade
demográfica de 3.640,80 hab/km² (IBGE, 2018).
Para Jacobi (2006), o modo de expansão desordenada intra-urbana sucedido na Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, assim como o gerenciamento inadequado por parte das autoridades locais com a consequente desigualdade social, são
a origem da redução das áreas verdes, impermeabilizando o solo excessivamente, da degradação dos recursos hídricos pela
contaminação da maioria dos mananciais e dos rios das cidades, da dificuldade de gestão dos resíduos sólidos, dentre outros
fatores.
O objetivo geral do trabalho é compreender num contexto histórico os fatores envolvidos nas causas dos alagamentos
em Icaraí, a partir da análise de documentos disponíveis na página da Prefeitura Municipal de Niterói e de observações em
Icaraí.

Material e Métodos

O bairro de Icaraí possui uma área ocupada de 2,70 km² equivalente a 85,1% do bairro, sendo 0,13 km² a área de
florestas, 0,038 km² de área arborizada, e 0,114 km² de área do cordão. O bairro está inserido na Macrobacia da Baía de
Guanabara (figura 1), onde os rios drenam apenas territórios de Niterói (Prefeitura de Niterói, 2015a). Esta Macrobacia está
divida entre 8 bacias hidrográficas, dentre elas a bacia do Rio Icaraí, rio que drena áreas nos bairro de Pé Pequeno, Cubango,
Santa Rosa e Icaraí, sendo que o Canal da Ary Parreiras-Rio Icaraí também faz parte desta bacia. O trajeto do Rio Icaraí é
mostrado Figura 1.
A partir das definições de técnicas de pesquisas apresentadas por Lakatos & Marconi (2003), definiu-se que para este
estudo seriam aplicadas técnicas indiretas (pesquisa documental e bibiográfica) e diretas (pesquisa de campo, observação
assistemática e visita técnica).
Na etapa de pesquisas documental e bibliográfica foram consultados artigos científicos e literatura pertinentes.
Buscou-se também documentos como o Plano Diretor de Niterói de 1992 (Prefeitura Municipal de Niterói, 1991) e o plano
Diretor de 2019 (Prefeitura Municipal de Niterói, 2019), bem como dados de infraestrutura e saneamento básico provenientes
do Portal da Secretaria de Urbanismo e Mobilidade de Niterói (2017), da Secretaria de Conservação de Serviços – SECONSER
e da Companhia Municipal de Limpeza Urbana de Niterói – CLIN. A CLIN é uma empresa de sociedade mista subordinada à
Prefeitura de Niterói que é responsável pela limpeza urbana e destinação final dos resíduos sólidos produzidos no município de
Niterói (Portal CLIN, 2017).
Observações in situ foram realizadas em dezembro de 2017, período de chuva na RMRJ e realizou-se uma visita
técnica nesse período na CLIN, para obtenção de informações sobre a influência da limpeza urbana e dos resíduos sólidos nos
alagamentos de Icaraí.

699
Figura 1: Localização do Bairro Icaraí no município de Niterói
Fonte: Prefeitura Municipal de Niterói; 2015a.

Resultados e Discussão

O primeiro Plano Diretor de Niterói é de 1992. Antes havia um plano de arruamento, denominado de Plano Taulois
(1840-41), o primeiro documento referente ao bairro de Icaraí, que consistia no traçado das ruas como uma malha viária
ortogonal que permitiu a expansão do bairro começar na década de 1840, que ficou conhecido como “Cidade Nova da Praia de
Icaraí” (Araújo, 2010).
Assim qualquer mudança estrutural anterior a 1992 foi feita sem o planejamento devido. Tucci (1997, p.7) ressalta que
“o planejamento urbano é implementado através do plano diretor da cidade e a densidade habitacional é o parâmetro de
planejamento para cada subdivisão da cidade (e bacia). Por este motivo, vários problemas podem ser encontrados nos sistemas
de drenagem urbana do bairro.
O bairro de Icaraí sofreu com a gentrificação, fruto da especulação imobiliária já identificado entre 1840 e 1850,
quando os habitantes originais de Icaraí foram expulsos para o povoamento efetivo da região segundo Silva, Ruas e Rossi
(2012). Outro grande processo de urbanização, conforme mesmos autores, viria a acontecer a partir da década de 1950 (após a
Segunda Guerra Mundial), quando o Brasil passou por um intenso processo de industrialização.
Houve em Icaraí a demanda por habitações de classe média, população esta atraída pela praia de Icaraí, havendo
migração de moradores da Zona Norte de Niterói, de São Gonçalo e municípios do norte e noroeste fluminense para Icaraí
(Silva, Ruas e Rossi, 2012).Um fator promovido pela gentrificação é o enobrecimento da área em questão (Silva, Ruas e Rossi,
2012), que se apresenta de forma mais visível com a verticalização de Icaraí.
Com aumento da população na metade do século XX, causou a demanda por habitações de classe média no bairro de
Icaraí, havendo migração de moradores da Zona Norte de Niterói, de São Gonçalo e municípios do norte e noroeste fluminense
para Icaraí, principalmente atraídos pela praia presente nesse bairro (Silva, Ruas e Rossi, 2012).

700
A partir dos anos 1960, com início da construção da Ponte Presidente Costa e Silva (conhecida como “Ponte Rio-
Niterói”), surgiram novos prédios residenciais à beira mar para atender à chegada da nova classe social ao bairro, dessa forma
expulsando a população anterior que se deslocou para o interior do bairro (ARAUJO, 2010). Após conclusão da construção da
Ponte Rio – Niterói, em 1974, ocorreu um novo aumento populacional, intensificando a expansão urbana através da
verticalização do bairro (Araújo, 2010). Icaraí então se firmou como centro urbano polarizador de Niterói, fortalecendo a
aglomeração de comércios, de serviços e de atividades de lazer (Silva, Ruas e Rossi, 2012). Nesta época, casas isoladas e
prédios de poucos pavimentos eram substituídos por edifícios maiores com mais andares, comportamento que se iniciava a
partir da orla e diminuía o valor e a altura dos imóveis localizados mais distantes da praia, caracterizando a segregação espacial
de parte dos moradores (Araújo, 2010).
Nos anos 1980 ocorreu uma supervalorização dos preços dos terrenos em Icaraí, devido à crise econômica; cresce
então em Niterói a ocupação das encostas e morros, simultaneamente ao deslocamento de construtoras para bairros próximos
de Icaraí (Araújo, 2010). Existe uma estreita relação entre riscos urbanos e a o uso e ocupação do solo, definindo que entre os
fatores determinantes das condições ambientais da cidade, nesta relação se delineiam os problemas ambientais de maior
dificuldade de enfrentamento e, contraditoriamente, onde mais se identificam competências de âmbito municipal (Jacobi,
2006).
Nos anos 1990 o governo municipal de Niterói iniciou uma “propaganda” de Niterói, vendendo a imagem de ser uma
das cidades do País com melhor qualidade de vida, usando como imagem o bairro e a praia de Icaraí, ocasionando o aumento
do número de investimentos no bairro e o desleixo com outros bairros (ARAÚJO, 2010). O bairro também foi associado à
classe média devido às praias, colégios e comércios, levando ao processo de ocupação (Prefeitura Municipal de Niterói, 1991).
De acordo com o Plano Diretor de 1992, Icaraí possuía uma população residente de 39.099 habitantes em 1970,
depois esse número aumentou para 62.298 em 1980, sendo predominantemente reservado ao uso residencial familiar de classe
média, onde os diversos comércios e prestadores de serviços são compatíveis com o poder aquisitivo dos moradores,
considerada a área mais valorizada da cidade, (Prefeitura de Niterói, 1991). O aumento na densidade populacional leva à
diminuição da capacidade de infiltração do solo por conta da crescente urbanização, ocasionando o aumento das áreas
impermeabilizadas e, consequentemente, aumentando os fluxos superficiais e alagamentos após chuva intensa (Ribeiro et al,
2011).
É possível observar que Icaraí sempre foi alvo do parcelamento do solo, sendo a praia o atrativo para novas
populações, assim como a facilidade de serviços (Prefeitura Municipal de Niterói, 1991), o que eventualmente veio a gerar
populações segregadas dentro do bairro por conta da diferença de classes sociais e construção de altos edifícios residenciais em
frente à praia, privando os moradores anteriores da vista para o mar. Outra forma de segregação foi o comércio se adequar à
nova população residente. Com a gentrificação do bairro, houve a retirada da cobertura vegetal original estimulando a
impermeabilização do solo, que é uma causa de alagamento, segundo Pompêo (2000).
Quanto aos canais de drenagem, a Prefeitura de Niterói conta com um Plano Municipal de Saneamento Básico –
PMSB, que visa garantir o acesso ao saneamento e à agua potável e assegurar a vida em ambiente salubre nas cidades
(Prefeitura Municipal De Niterói, 2015a). No PMSB há uma tabela com os pontos críticos de microdrenagem, onde ocorrem
enchentes e inundações, no Município de Niterói, sendo 6 desses em Icaraí, nos logradouros representados na figura 1: R. Gen.
Pereira da Silva com Av. Roberto Silveira (ponto 1), R. Pres. Backer perto da Av. Roberto Silveira (2), R. Santos Dumont (3),
R. Pres. Backer perto da R. Ten. Mesquita (4), R. Min. Otávio Kelly com Gal. Silvestre da Rocha (5), e Av. Alm. Ary Parreiras
com R. Lemos Cunha (Prefeitura municipal de Niterói, 2015b).
Os sistemas de drenagem urbana são delineados para garantir o funcionamento do sistema viário e acesso da
população à diversos lugares, como suas habitações, por exemplo (Martins, 2012). Estes sistemas visam o escoamento das
águas, evitando sua retenção, que ocorre por diversos motivos, dentre eles a impermeabilização do solo durante a construção
de edifícios, calçadas e pavimento de vias. Quando ocorre a obstrução da drenagem, naturalmente a água fica represada nas
áreas mais baixas, ocasionando os alagamentos.
Foi observado in situ que em situações logo após as chuvas que os pontos da figura 2 correspondem a pontos de
alagamento. Na Figura 2 é possível observar espacialmente que muitos dos pontos de alagamento ocorrem próximos uns dos
outros e próximos de áreas mais altas do bairro, mostrando que a água que escoa de áreas mais altas acumula em locais
próximos de cotas mais baixas.
Em todos os 7 logradouros, o alagamento ocorre nas vias, principalmente próximo a cruzamentos (Prefeitura
Municipal de Niterói, 2015b), entre estes o cruzamento da R. Pereira da Silva com Av. Roberto Silveira, como mostrado na
figura 3. As observações de campo apontaram a impermeabilidade do solo e a obstrução da rede de drenagem como causas das
enchentes urbanas, concordando com o Plano Municipal de Saneamento Básico que afirmou que o dimensionamento da rede
não atende à demanda atual, que está defasado em relação à demanda da bacia hidrográfica (Prefeitura Municipal de Niterói,
2015b). Ao longo da. Roberto Silveira observou-se em alguns locais esta encontrava-se na mesma altura que a calçada, devido
provavelmente a sucessivas obras de asfalto. Nas chuvas de 29 de dezembro de 2017, observou-se que a água que a água não
ingressava na boca de lobo próximo do ponto 2 (figura2), acumulando na calçada e na via. Provavelmente a boca de lobo
estava obstruída.

701
Figura 2: Base cartográfica do bairro de Icaraí adaptado para demonstrar pontos de alagamento.
Fonte da base cartográfica: CIDE, 2006.

O bairro de Icaraí está situado em uma região de baixada, quase ao nível do mar, cercada por morros de encostas
íngremes (Prefeitura Municipal de Niterói, 2015b), que facilitam o grande fluxo hídrico na bacia do Rio Icaraí dentro da região
do bairro. A região sempre foi propensa a alagamentos e o PMSB aponta a formação geomorfológica da região como causa dos
alagamentos. É importante dizer que o Plano Diretor de Niterói, nos artigos 196 e 203 sobre Macro e microdrenagem, não
menciona Icaraí como área prioritária para drenagem ou mesmo como área onde ocorram alagamentos.
Após os alagamentos, segundo informações obtidas na CLIN em dezembro de 2017, uma grande quantidade de lixo é
encontrado no bairro, principalmente debaixo de pontes, sendo os mais comuns sacos plásticos e garrafas PET.Conforme
Ribeiro et al. (2011), as enxurradas em áreas urbanas possuem capacidade para deslocar grandes volumes de sedimentos
provenientes de áreas à montante e depositá-los nas regiões de baixada, o que em se tratando de áreas urbanas, configura-se
como solos, rochas, árvores, lixo e construções que são depositados pelas correntezas em canais retilinizados, ou em rupturas
de declive.

702
Figura 3 - Cruzamento da R. Pereira da Silva e Av. Roberto Silveira sob chuva no dia 21 de dezembro de 2017. Fonte:
Arquivo pessoal, 2017.

Apenas em 21 de janeiro de 2019, através da promulgação da Lei municipal 3385, foi instituído novo plano diretor.
Esta lei aprova a Política de Desenvolvimento Urbano do município e institui o Plano Diretor de Niterói, e revoga as Leis nº
1157 de 29/12/1992 e nº 2.123 de 04/02/2004 (PGMN, 2019). Os artigos apresentados quanto a alagamento são mostrados na
tabela 1 e de modo geral, convergem no sentido de visar a redução de alagamentos a partir de medidas no âmbito da drenagem
urbana.

Título/Capítulo/Art Proposições
TÍTULO I DA ABRANGÊNCIA, DOS XXV – promover medidas e ações para o manejo
PRINCÍPIOS E OBJETIVOS
CAPÍTULO V - DOS OBJETIVOS
de águas pluviais e drenagem urbana com o intuito
ESTRATÉGICOS de reduzir os impactos ambientais dos alagamentos,
Art. 10 enchentes e inundações
TÍTULO III DA POLÍTICA URBANA
CAPÍTULO I - DA REGULAÇÃO DO XIX – estabelecer parâmetros e mecanismos relacionados à
PARCELAMENTO, USO E OCUPAÇÃO DO drenagem das águas pluviais, que evitem a sobrecarga das
SOLO E DA PAISAGEM URBANA redes, alagamentos, inundações e enchentes;
Art 36
TÍTULO IV - DA POLÍTICA AMBIENTAL XVI – contribuir para a redução de enchentes, alagamentos e
Art. 125. São objetivos da Política Ambiental inundações
TÍTULO IV CAPÍTULO II - DO SISTEMA
DE SANEAMENTO AMBIENTAL - Seção V I – redução dos riscos de inundação, alagamento,
deslizamentos, e de suas consequências sociais e
Art. 152. São diretrizes do Sistema de
econômicos;
Drenagem:
Tabela 1: Artigos do novo Plano Diretor de 2019 quanto à alagamento
Fonte: Elaboração pelos autores a partir de informações do Plano Diretor (PGMN, 2019)

Tucci (1997) propõe que o Plano Diretor de Drenagem Urbana deveria analisar a tendência de ocupação urbana local
a fim de planejar a estratégia de distribuição das águas de forma que seja compatível com a infraestrutura e o desenvolvimento
urbano, evitando assim os prejuízos ambientais e econômicos.
Segundo Pompêo (2000) a drenagem urbana necessita ser reconceitualizada devido à “complexidade das relações
entre os ecossistemas naturais, o sistema urbano artificial e a sociedade”, deixando para trás a forma tradicional, que direciona

703
as águas de uma determinada região através de galerias pluviais subterrâneas para rios e canais, sem levar em consideração o
comportamento das planícies de inundação (POMPÊO, 2000, p. 17). Nesse contexto, espera-se realmente o Plano Diretor de
2019 seja cumprido para que não somente em Icaraí, mas outros bairros que em ocorrem alagamento em Niterói, estes
sejammenos frequentes traduzindo em qualidade de vida.

Considerações Finais
Reunindo e analisando todos os resultados, é possível afirmar que a causa dos alagamentos no bairro de Icaraí está
relacionado à crescente expansão urbana e densificação populacional, que propicia à impermeabilização do solo, sem que
houvesse adequado planejamento. Assim, a ineficiência da rede de drenagem urbana associado à sua obstrução por sedimentos
e resíduos sólidos, resulta em frequentes alagamentos, que ocorrem principalmente próximos às encostas de morros.

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705
5SSS195
RESPONSABILIDADE SOCIAL UNIVERSITÁRIA: ESTUDO DE
CASO DA UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL, RS
Vania Elisabete Schneider1, Juliano Rodrigues Gimenez2, Bianca Breda3, Morgana Vigolo4,
Sofia Helena Zanella Carra5
1 Profa. Dra. em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, Instituto de Saneamento Ambiental –
ISAM/Universidade de Caxias do Sul, e-mail: veschnei@ucs.br; 2 Prof. Dr. em Engenharia de Recursos Hídricos e
Saneamento Ambiental, Instituto de Saneamento Ambiental – ISAM/Universidade de Caxias do Sul, e-mail:
juliano.gimenez@ucs.br; 3 Técnica do Instituto de Saneamento Ambiental – ISAM/ Universidade de Caxias do Sul, e-
mail: bbreda@ucs.br; 4 Acadêmica do curso de Engenharia Ambiental - Universidade de Caxias do Sul, e-mail:
mvigolo1@ucs.br; 5. Doutoranda, Leibniz Institute of Agricultural Engineering and Bio-economy e.V. (ATB) –
Potsdam, Alemanha, e-mail: sofiazcarra@gmail.com

Palavras-chave: Responsabilidade Social Universitária; Sustentabilidade; ODS.

Resumo
A Responsabilidade Social Universitária (RSU) emerge como um eco da responsabilidade social empresarial e parte das novas
estratégias de capitalismo global, enfatizando o desafio das instituições de ensino na formação de recursos humanos que
produzam e difundam conhecimento considerando as necessidades da sociedade para o seu crescimento e desenvolvimento.
Com vistas a promover uma autoavaliação sobre a responsabilidade social das instituições de ensino superior da América
Latina e do Caribe, em 2018, instituiu-se a União Latino-Americana de Responsabilidade Social Universitária (URSULA), a
qual a Universidade de Caxias do Sul (UCS) é membro-ativo. Frente ao exposto, este trabalho tem como objetivo apresentar os
resultados da autoavaliação da UCS na pesquisa continental realizada pela URSULA em 2019. Esta foi realizada no período
de abril a julho de 2019 e contemplou quatro áreas de avaliação. Através desta avaliação a UCS obteve uma pontuação acima
da média se comparado ao resultado geral publicado pela URSULA, o que demonstra que as ações de responsabilidade social
são parte da cultura da instituição a qual busca a sua consolidação constantemente.

Introdução

Como um novo conceito da globalização, a responsabilidade social está cada vez mais difundida no cenário
econômico e político atual. A partir disso, a implementação de ações voltadas à preocupação com o tripé: meio ambiente,
sociedade e economia passaram a integrar as estratégias de desenvolvimento de negócios das mais diversas organizações
(Sánchez-Hernández & Mainardes, 2016).
É fato que as empresas socialmente responsáveis são mais bem aceitas entre os clientes e fornecedores e,
consequentemente, os empreendedores que possuem condutas priorizando o desenvolvimento sustentável, tendem a utilizar o
marketing para a promoção de uma rede de relações e, assim, podendo gerar lucro. Contudo, marketing social possui um papel
muito importante, pois leva a uma conscientização das questões socioambientais, promovendo a vida através de uma reflexão e
levando ao senso comum a circulação desta nova visão (BRASIL et al., 2015).
De acordo com Calderón (2006), a responsabilidade social não deve ser entendida apenas como uma forma de
marketing dentro das políticas de avaliações institucionais, mas sim, deve ser valorizada como uma forma de desenvolvimento
de projetos socioambientais nas comunidades. Sanabria, Daza & Salas (2015), afirmam que integrar as mais diversas áreas de
conhecimento e convergindo-as em uma única abordagem, resulta na melhora de uma postura bioética em suas intervenções
como sujeitos da responsabilidade social.
A Responsabilidade Social Universitária (RSU) emerge como um eco da responsabilidade social empresarial e parte
das novas estratégias de capitalismo global, enfatizando o desafio das instituições de ensino na formação de recursos humanos
que produzam e difundam conhecimento considerando as necessidades da sociedade para o seu crescimento e desenvolvimento
(SILVA, 2015).
Segundo Vásques, Aza e Lanero (2016), o conceito de Responsabilidade Social Universitária (RSU) adentrou no
ensino superior com o intuito de desenvolver estratégias de marketing adaptados para melhorar a satisfação do aluno, podendo
ser considerada uma vantagem competitiva no momento de escolha entre os futuros universitários. No entanto, Silva (2015)
afirma que as relações universidade-sociedade aparecem como interfaces com a ciência, a tecnologia e a inovação e deve ser
um elemento incorporado à gestão, aos processos educativos e às práticas institucionais.

706
Com vistas a promover um espaço de debate, contemplando os diferentes atores do desenvolvimento sobre o papel das
Instituições de Ensino Superior (IES) frente a temática da responsabilidade social, bem como na definição de estratégias e
metodologias para sua consolidação, no ano de 2018, foi instituída a União Latino-Americana de Responsabilidade Social
Universitária (URSULA). A URSULA objetiva desenvolver uma agenda comum sobre a RSU visando promover a melhoria
contínua do desempenho ético das IES e seu vínculo de solidariedade no seu território. Com vistas a avaliar o desempenho
sobre a RSU, no ano de 2018, foi publicada uma metodologia de autoavaliação sobre a temática direcionada as IES localizadas
na América Latina e Caribe (URSULA, 2019).
A metodologia de avaliação da RSU (URSULA, 2018) orienta as IES na realização de um autodiagnóstico de forma
padronizada, permitindo a comparação dos resultados obtidos entre as instituições participantes. O modelo que sustenta o
autodiagnostico contempla a avaliação sobre o desempenho social abrangendo quatro grandes áreas das instituições: gestão
organizacional, formação, cognição e participação social (URSULA, 2018). A primeira está voltada à gestão administrativa,
que envolve o ambiente de trabalho, recursos humanos, processos democráticos e cuidados com meio ambiente; a segunda,
aborda a formação profissional e cidadã buscando desenvolver competências e progredir com treinamentos humanísticos e
vocacionais dirigidos para a responsabilidade social; a terceiro, promove a administração responsável da produção e difusão de
conhecimento, orientado em diversas linhas de pesquisas com agentes internos, bem como parceiros externos e setor público, a
fim de articular o desenvolvimento local e nacional e criar programas sociais; a quarta, refere-se à participação da universidade
na sociedade, de forma a formar vínculos para aprendizado mútuo (URSULA, 2018).
Como resultado da autoavaliação, as boas práticas que se destacam são publicadas pela URSULA, permitindo a sua
implementação pelas demais instituições além de corroborar na geração de conhecimento sob a temática e no embasamento de
novas estratégias de gestão visando a consolidação da RSU (URSULA, 2019). Associado a promoção de ações sociais, a
URSULA objetiva a implementações de políticas transversais e integradas orientadas à RSU que atinjam os diferentes âmbitos
institucionais.
Com base no exposto, este trabalho apresenta o resultado da autoavaliação sobre a RSU realizada pela Universidade
de Caxias do Sul, localizada no Estado do Rio Grande do Sul, referente a edição promovida pela URSULA no ano de 2019.

Material e Métodos

A Universidade de Caxias do Sul (UCS), localizada na região nordeste do Estado do Rio Grande do Sul (Figura 1), é
uma Instituição Comunitária de Educação Superior (ICES), formada por oito unidades universitárias localizados em diferentes
municípios na Serra Gaúcha. Com 52 anos de história, a UCS destaca-se a nível nacional por oferecer excelência acadêmica,
com foco no desenvolvimento do conhecimento tanto para a academia quanto para a sociedade, atuando nas áreas de pesquisa,
inovação e extensão (UCS, 2019).

Figura 1 - Mapa de localização do Campus-Sede da Universidade de Caxias do Sul.

707
A autoavaliação sobre a RSU foi realizada considerando as diretrizes estabelecidas pela URSULA, entre os meses
de abril a julho de 2019, na sua segunda edição, que contemplou 40 universidades de 9 países da América Latina (URSULA,
2019). A metodologia proposta pela URSULA e utilizada neste trabalho está sistematizada na Figura 2.

Figura 2 - Método de autoavaliação da URSULA (URSULA, 2019).

No processo de autoavaliação da UCS, com vistas a sua realização com transparência e contemplando os diferentes
atores que atuam frente as ações relacionadas a responsabilidade social da instituição, foram consultados diversos setores da
Universidade, bem como foram realizadas reuniões com responsáveis pelas áreas envolvidas, corroborando em um resultado
fidedigno da situação atual da instituição frente a esta temática. Para organizar as informações, os dados foram sistematizados
dentro de uma matriz em Excel, permitindo obter as pontuações médias para cada área contemplada na metodologia aplicada.

Resultados e discussão

As pontuações obtidas pela UCS na edição da URSULA (2019) são apresentadas no Quadro 1.

708
Classificação
Meta Âmbito de ação
obtida
1 GO- Bom clima de trabalho e equidade 4,29
2 GO- Campus sustentável 3,80
3 GO- Ética, Transparência e Inclusão 5,00
4 F- Aprendizagem e Serviço 3,57
5 F- Inclusão curricular dos ODS 3,33
6 F- Matrizes Curriculares elaboradas com atores externos 3,25
7 CI- Inter e transdisciplinaridade 4,20
8 CI- Pesquisa na e com a comunidade 4,20
9 CI- Produção e difusão de conhecimento útil 4,00
10 PS- Integração da PS-F-I 4,50
11 PS- Projetos co-criados 4,33
12 PS- Participação na agenda externa L-R-I 4,00
Quadro 1 – Pontuações obtidas na Universidade de Caxias do Sul - URSULA (2019).

A representação gráfica dos resultados alcançados na autoavaliação pela UCS está apresentada na Figura 3.

Figura 3 - Relação gráfica das pontuações obtidas em 2019.

Conforme apresentado no Quadro 1 e na Figura 3, observa-se, que a UCS atingiu pontuação considerada como “alta”
de acordo com as diretrizes da URSULA (2019), apresentando uma pontuação entre 4,00 e 5,00, em oito metas autoavaliadas.
Não foram obtidas pontuações classificadas como “baixa”, bem como a menor nota é significativamente superior ao intervalo
de notas que é qualificado como “baixa”, que de acordo com a URSULA (2019) compreende o intervalo de notas entre 3,00 e
3,49.

709
Dentre as três metas integradas na área de Gestão Organizacional, duas alcançaram pontuação “alta”, com destaque
para a meta “ética, transparência e inclusão da área de gestão organizacional”, que obteve pontuação máxima. A área de Gestão
Organizacional destaca-se na Universidade por ser responsável por desempenhar as suas atividades de gestão com
planejamento e participação da comunidade acadêmica (docentes, alunos e setores administrativos), transcendendo o seu
comprometimento em promover a melhoria contínua dentro da Universidade.
Contatou-se, através de evidências, um grande esforço da área da Gestão Organizacional para obter um bom clima
de trabalho, contribuindo no desenvolvimento de ações de saúde, bem-estar e formação de recursos humanos através da
qualificação dos colaboradores. Dentre as ações de responsabilidade social implementadas na UCS, a inclusão de pessoas com
necessidades especiais merece destaque, visto que a instituição possui uma política de inclusão utilizada como modelo para a
implementação em outras organizações e setores da sociedade. As evidências observadas seguem a ideia exposta por Ruiz-
Rico (2016), em que a cultura universitária de responsabilidade social deve ir além do institucional e se alastrar para
funcionários, professores e alunos por meio de comunicação fluida, isto é, a IES deve avultar o desenvolvimento de uma
cultura adequada de responsabilidade social através da comunidade que atua.
Nas áreas de ação de “Cognição” e “Participação”, todas as metas obtiveram pontuação “alta”. Esse resultado é
evidenciado pela ampla e notável participação da UCS no que tange a relação com a comunidade, a qual se deve pela sua
filosofia como instituição de caráter comunitário e comprometimento em promover serviços e facilidades a sociedade local
visando contribuir com o progresso regional. Um exemplo dessa relação entre a UCS e a comunidade é o projeto desenvolvido
com os catadores e cidadãos que atuam nas centrais de triagem de resíduos sólidos do município de Caxias do Sul, que
culminou com a publicação de um livro que relata a vivência de cada um dos participantes, reconhecendo esses trabalhadores
que desempenham um papel fundamental e importante para a sociedade e para o meio ambiente e, que por sua vez, encontram-
se geralmente em condições de vulnerabilidade social. De acordo com Nunes, Pereira e Pinho (2017), as ações sociais
oferecidas pelas IES à comunidade em seu entorno, além de possuir relevância no cumprimento de dispositivos legais, reforça
sua responsabilidade social, produz conhecimento no que diz respeito a sua contribuição para o desenvolvimento cultural e
ambiental a partir da sensibilização sobre o valor dos ecossistemas e recursos naturais.
Outro fator de destaque que se encontra presente na dinâmica da UCS e que contribuiu para a pontuação obtida
através da autoavaliação da RSU são as parcerias estabelecidas com a iniciativa privada com vistas ao desenvolvimento de
pesquisas voltadas para as necessidades locais, visto que a cidade de Caxias do Sul concentra um dos polos mais
industrializados do Estado do Rio Grande do Sul e é referência no setor metal-mecânico. Atualmente encontra-se em
andamento o projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D), com parceria empresarial, para a produção de grafeno e também o
projeto de eficiência energética realizada em conjunto com empresas privadas do setor de energia, com o objetivo de
proporcionar um campus mais sustentável e mediar estudos nessa área. Com relação às parcerias públicas, a UCS atua em
projetos de pesquisa e prestação de serviço, atendendo demandas das diferentes esferas da federação. Entre as atividades
desenvolvidas, observou-se os Planos Municipais de Saneamento Básico, Planos de Gestão de Resíduos Sólidos, bem como
assessorias técnicas para elaboração/revisão de Planos Diretores e Planos de Mobilidade Urbana.
Na área de “Formação” a Universidade de Caxias do Sul foi contemplada com o destaque para experiência
“Programa de Apoio ao Aluno”, na análise por área da edição da URSULA 2019. Isso se deve as diversas ações e programas
que a instituição oferece aos estudantes a fim de facilitar e tornar mais seguro o ingresso e o tempo de permanência do
estudante na Universidade através de: Seguro Educacional, Financiamento Estudantil de modalidades diferentes, desconto para
acadêmicos que fazem parte de um mesmo grupo familiar, disponibilização de vagas de estágios aos seus alunos entre outras
ações e programas que visam a inclusão e integração dos acadêmicos.
A meta “Inclusão curricular dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)” obteve a segunda nota mais baixa
desta edição da autoavaliação da RSU da UCS. A inserção dos ODS, definidos em Conferência da ONU, onde determinam-se
medidas transformadoras que são urgentemente necessárias para tornar o mundo sustentável e resiliente (NAÇÕES UNIDAS,
2015), é uma demanda da UCS cuja implementação junto as diretrizes educacionais da instituição apresenta-se como um
desafio para os próximos anos. Ressalta-se que algumas ações voltadas aos ODS são realizadas pela UCS, todavia, não se
encontram inseridas junto as diretrizes educacionais.
No Quadro 2 e Figura 2 é exposta a comparação das pontuações obtidas a partir do autodiagnostico da UCS em
relação a média das 40 universidades que participaram da pesquisa continental realizada pela URSULA em 2019 (URSULA,
2019).

710
Pontuação Diferença
Pontuação
Meta Âmbito de ação Geral UCS x
UCS
(2019) Geral
1 GO- Bom clima de trabalho e equidade 4,29 3,50 0,79
2 GO- Campus sustentável 3,80 2,84 0,96
3 GO- Ética, Transparência e Inclusão 5,00 3,54 1,46
4 F- Aprendizagem e Serviço 3,57 3,25 0,32
5 F- Inclusão curricular dos ODS 3,33 2,58 0,75
F- Matrizes Curriculares elaboradas com
6 3,25 3,14 0,11
atores externos
7 CI- Inter e transdisciplinaridade 4,20 3,39 0,81
8 CI- Pesquisa na e com a comunidade 4,20 3,17 1,03
CI- Produção e difusão de conhecimento
9 4,00 3,12 0,88
útil
10 OS- Integração da OS-F-I 4,50 3,44 1,06
11 OS- Projetos co-criados 4,33 3,07 1,26
12 OS- Participação na agenda externa L-R-I 4,00 3,01 0,99
Quadro 2 – Comparação entre as pontuações obtidas na Universidade de Caxias do Sul em relação a pontuação média
geral continental para cada meta proposta em 2019 (URSULA, 2019).

Figura 4 – Representação gráfica da comparação entre as pontuações obtidas na Universidade de Caxias do Sul em
relação a pontuação média geral continental para cada meta proposta em 2019 (URSULA, 2019).

De imediato nota-se que, diferente dos resultados obtidos na autoavaliação da UCS, nenhuma meta na pontuação
geral continental atingiu nota máxima. As pontuações médias gerais variaram de 2,58 a 3,54, as quais são qualificadas, de
acordo com a URSULA (2019), como pontuação “baixa” e “média alta”.
Conforme apresentado no Quadro 2 e na Figura 4, a pontuação obtida na autoavaliação da UCS é excedente a média
geral continental em todas as metas. Observa-se, que a pontuação mais alta obtida na UCS coincide com a maior pontuação
geral continental, ou seja, em termos de “ética, transparência e inclusão”, bem como a média geral da área de ação de Gestão
Organizacional, a qual obteve maior pontuação entre os grupos de ação na UCS (com pontuação média nessa área de 4,36)
também corresponde a área que obteve a maior pontuação média na pontuação geral (com pontuação média nessa área de
3,29).De acordo com a URSULA (2019), a média desta área é explicada por estar concernente ao trabalho administrativo e
pela América Latina ser “muito produtiva em questões de documentações e padrões”.

711
Considerações finais

Considerando o resultado da autoavaliação sobre RSU – URSULA (2019), observa-se que a UCS apresenta ações
sólidas de responsabilidade social, que resultam em benefícios para o meio acadêmico e funcionários e principalmente para a
comunidade. Ressalta-se que na UCS, as metas contempladas na metodologia proposta pela URSULA (2018) estão sendo
integradas aos setores responsáveis com vistas a melhoria contínua e consolidação destas junto a instituição.
A área de avaliação “Formação” apresenta-se como um grande desafio para a UCS no que tange a inserção das ODS
na estrutura curricular da instituição. Apesar das ODS serem contempladas nas ações realizada pela instituição, a sua inserção
nas diretrizes educacionais encontra-se na pauta. De acordo com a URSULA (2018), essa situação constitui um grande desafio
para as Universidades da América Latina, pois implica não apenas mudanças na maneira de programar seus processos de
ensino-aprendizagem, mas também uma maior relação com o meio ambiente.
A UCS, como um membro-ativo e voluntário das atividades propostas pela União URSULA, também está
colaborando com as demais universidades participantes, pois está produzindo e difundido conhecimento e práticas referentes a
RSU, que é um compromisso da universidade com a igualdade social, meio ambiente, direitos humanos, inovação, tecnologia e
economia.
Ressalta-se a importância de as instituições de ensino superior promoverem, praticarem e implantarem, com apoio da
gestão institucional, práticas de Responsabilidade Social Universitária (RSU), contribuindo para o desenvolvimento
sustentável e social, além de promover a formação de cidadão preparados para atuar frente as demandas da sociedade.

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713
5SSS196
APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE DISPERSÃO E
EMPACOTAMENTO DE PARTÍCULAS PARA PRODUÇÃO DE
CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO COM SUBSTITUIÇÃO
PARCIAL DO AGREGADO MIÚDO POR CINZA DA MADEIRA DE
EUCALIPTO (CME)

Daniela Ladino Chaves1, Jorge Luís Akasaki2


1. Universidade Estadual Paulista Ilha Solteira, e-mail: danielaladinochaves@gmail.com; 2. Universidade Estadual
Paulista Ilha Solteira, e-mail: jorge.akasaki@gmail.com

Palavras-chave: Cinza de madeira de eucalipto, Resíduos industriais, Materiais cimentícios

Resumo
A ambição por novos materiais cimentícios já é uma tendência concretizada no ramo da pesquisa científica, especialmente
levando em conta o reaproveitamento de resíduos industriais. Assim como existem resíduos aptos para serem utilizados para
geração de novos produtos, também há aqueles que não trazem as propriedades necessárias para substituir parcialmente o
cimento Portland; por esse motivo, é necessário estudar outras possibilidades de reuso desses. É conveniente, por exemplo,
estudar novos materiais que substituam os agregados convencionais do concreto, visto que sua disponibilidade não será sempre
garantida. Um desses é a areia natural como agregado miúdo, que devido ao forte crescimento da Construção Civil tem sido
fortemente explorado. Com a ascensão da Construção Civil também surgiram diversos questionamentos e estudos para
aprimorar as construções mantendo-se a qualidade e incrementando a atuação de materiais alternativos para se trabalhar de
forma mais sustentável. O objetivo do trabalho é, por consequência, avaliar a viabilidade da cinza de madeira de eucalipto
(CME) in natura como substituto parcial do agregado miúdo em Concretros de Alto Desempenho (CAD), já que a análise
prévia do resíduo e algumas literaturas de referência não o caracterizam como material pozolânico. É de extrema relevância
levantar as propriedades do composto por meio de ensaios de caracterização do material, considerando o fato de este ser um
resíduo industrial. Em termos de suas características físicas, a cinza apresenta um diâmetro médio das partículas no valor de 45
µm. Quanto à composição química destaca-se a presença de SiO2 e do CaO. Conduziu-se, em paralelo, o Difratograma dos
Raios-X para o resíduo em estudo, e, em termos de resultado, ficou evidente o grande número de picos cristalinos na amostra;
neste sentido, verifica-se que a fase amorfa, responsável pela reatividade nas matrizes cimentícias, se mostrou enfraquecida.
No que diz respeito ao concreto, foi determinada a relação ótima entre agregados graúdos e miúdos por meio do ensaio de
massa unitária compacta (MUCm). Determinou-se uma proporção ótima de 43:57 para massa de areia e brita respectivamente.
Para a produção dos corpos de prova foi utilizado cimento CP V-ARI, sílica ativa como adição mineral na proporção de 8% da
massa total de aglomerante, e o aditivo superplastificante Sika® ViscoCrete® 5800 FTN como adição química. Assim, foram
feitas as dosagens para os traços 1:3,5 e 1:5,0, cada um com as devidas substituições do agregado miúdo em massa pela CME.
As substituições foram de 0% (controle), 10%, 20% e 25% em massa de agregado miúdo, mantendo constante em todos os
traços o consumo de cimento e a relação água/cimento em 0,5. Foi conduzido o ensaio de resistência à compressão com as
amostras endurecidas e com o tempo de cura de 7, 28, 60 e 90 dias. Ambos os traços mostraram um aumento na resistência
com a substituição. Do traço rico, verifica-se o melhor resultado para a substituição de 20% (CME20), com um aumento de
resistência de 10,4%, aos 60 dias, se comparado ao CM0. E, um ganho de 4% de resistência na idade de 90 dias. Da mesma
forma constata-se para o traço intermediário o ganho de resistência do traço CME20 ao ser comparado com o CME0. Os
ganhos na resistência foram de 25% aos 60 dias e 13,25% aos 90 dias. É evidente então, o melhor comportamento das
substituições para o traço CME20. Para os demais traços (CME10 e CME25) observa-se o aumento de resistência conforme o
aumento da idade, mas não houve acréscimo de resistência se comparados com o traço referência. Em termos gerais, foi
possível aferir com está pesquisa que em função de sua pozolanicidade, reatividade como aglomerante hidráulico, mesmo que
reduzida e sua finura, promovendo o efeito fíller, a cinza de madeira de eucalipto consegue atuar de forma satisfatória como
substituição da areia na composição do concreto. Considerando que a cinza é um resíduo gerado em grandes quantidades na
indústria energética, sua incorporação trará benefícios econômicos e sustentáveis. Além de ser uma opção muito interessante
para a redução do emprego de matérias-primas não renováveis que são necessárias às atividades da construção civil.

714
Introdução

O material de construção mais amplamente usado no mundo atual é o concreto. Devido à demanda, ao aprimoramento da
tecnologia e a aspectos econômicos e ambientais, nos últimos anos, muitas pesquisas têm sido desenvolvidas na área dos
concretos utilizando materiais alternativos. Estes na sua maioria são subprodutos industriais produzidos em milhões de
toneladas todos os anos em muitos países (MEHTA E MONTEIRO, 2009).
As emissões de CO2 devido à produção intensiva do concreto; cerca de 90% das emissões de CO2 na indústria como o não
aproveitamento dos rejeitos produzidos pela indústria ocasiona deterioração ambiental; uma grande necessidade ambiental
imposta à sociedade atual. Afirma Pereira (2010), que essa deterioração, impõe que cada parcela do setor produtivo aprimore
seus processos visando a diminuição dos danos à natureza.
Para Mehta (2008), por meio da aplicação de arquitetura inovadora com diminuição de intervenção da estrutura ao longo do
tempo. A utilização de materiais estruturais mais resistentes, que através de projetos adequados possibilitem o menor consumo
desses materiais. E, por fim, através da utilização de resíduos ou subprodutos advindos de outros meios produtivos, é possível
alcançar a sustentabilidade da indústria de concreto.
Tendo esse objetivo pesquisadores buscam cada vez mais desenvolver materiais com desempenhos superiores em termos de
comportamento mecânico, resistência e durabilidade. Foram então desenvolvidas misturas especiais, com propriedades
superiores aos concretos convencionais (CC). Entre essas se destacam os Concretos de Alto Desempenho (CAD ou HPC High
Performance Concrete) (TUTIKIAN, ISAIA e HELENE, 2011).
Segundo Mehta e Monteiro (2009) as três características principais para a classificação de um CAD são: alta trabalhabilidade,
elevada resistência e maior durabilidade. Propriedades que estão fortemente ligadas a uma boa densidade de empacotamento
do concreto.
Quando se faz uso do conceito de empacotamento de partículas para formulação e dosagem de concreto, além de melhorar suas
propriedades mecânicas, também se pode reduzir o consumo de cimento, resultando em um produto mais econômico e por
consequência mais competitiva comercialmente, além de ser também menos agressivo ao meio ambiente. Ao se obter uma
melhor densidade de empacotamento, também é possível reduzir a energia de compactação necessária (CASTRO e
PANDOLFELLI, 2009).
Baseando-se no estudo do empacotamento de partículas, a utilização de materiais alternativos passa novamente a ser uma
opção bastante interessante. Como é no caso da cinza da madeira de eucalipto (CME), esta tem sido utilizada em estudos para
substituir o cimento no processo de preparação do concreto. Isso pelo fato de poder atuar de forma a preencher os vazios
internos. No entanto, diversos resultados desses comprovaram que essa não apresenta boa atuação pozolânica ou até nenhuma.
Dessa forma, este projeto busca fazer parte de um novo ou não frequente estudo. Procura-se investigar qual é a contribuição da
CME ao se substituir parcialmente, não o cimento, mas o agregado miúdo do processo. Espera-se que os resultados sejam
satisfatórios para, assim, reduzir o emprego de matérias-primas não renováveis que são necessárias às atividades da construção
civil. Sem contar que por ser um resíduo gerado em grandes quantidades na indústria energética, sua incorporação trará
benefícios econômicos e sustentáveis. Ou seja, atenderá à crescente demanda que atualmente exige esta área e contribuirá com
a sustentabilidade da indústria de concreto.

Materiais e Métodos

Materiais

Cimento
O aglomerante escolhido foi o cimento CPV-ARI-Plus - Cimento Portland de Alta Resistência Inicial. Trata-se do cimento
mais puro dentre as tipologias usadas no mercado brasileiro.

Agregado Miúdo
O agregado miúdo utilizado na pesquisa desenvolvida foi a areia média natural proveniente do Porto Nossa Senhora Aparecida
e Pedreira Três Irmãos, de Andradina – SP. Para a descrição de suas características, este material foi submetido aos seguintes
ensaios de caracterização, conforme a ABNT:
• Composição granulométrica, pela NBRNM 248 (ABNT, 2001).
• Massa específica e massa específica aparente, pela NBRNM 52 (ABNT, 2009).
• Absorção de água, pela NBRNM 30 (ABNT, 2001).
• Massa unitária, pela NBRNM 45 (ABNT, 2006).
• Massa específica e massa específica aparente, seguindo as recomendações da NBRNM 53 (ABNT, 2009).

715
Agregado Graúdo
O agregado graúdo utilizado foi a brita de origem basáltica.

Cinza Da Madeira De Eucalipto


A CME foi fornecida pela Fibria (empresa de celulose; unidade de Três Lagoas – SP). Seu emprego se dará em substituição
parcial ao agregado miúdo. O material foi caracterizado, por meio da análise de sua composição química, por meio do método
da fluorescência dos raios-X (FRX), e física, recorrendo à granulometria a laser e o difratograma dos raios-X (DRX).

Sílica Ativa
A sílica ativa na forma densificada será empregada em todos os traços como parte do material aglomerante, sendo adicionada
na porcentagem de 8% da massa total do material aglomerante. Foi escolhido esse valor, pois, em vários projetos utilizando
este material, a melhor proporção encontrada foi de 8%. Será utilizada a Sílica Ativa disponível no Laboratório Central de
Engenharia Civil da UNESP do campus de Ilha Solteira.

Água
A água utilizada nos ensaios será a água de abastecimento publico destinada ao consumo dos habitantes de Ilha Solteira – SP.

Aditivo Químico
Para a confecção e dosagem dos concretos na pesquisa foi utilizado o aditivo superplastificante Sika® ViscoCrete® 5800 FTN.
Os devidos ensaios foram realizados por Tiago Armando Camara – Processo FAPESP 14/21855-7.

Preparação para manuseio do resíduo


A cinza proveniente da empresa de celulose carregava certa umidade não conveniente para o trabalho em questão. Fez-se
necessário, portanto, proceder com a secagem deste material.
Após a secagem da cinza, a etapa de moagem vem para fornecer uma redução do diâmetro. Utilizou-se o moinho de bolas,
reservando um tempo para a moagem de 60 minutos para cada parcela de 15 kg de resíduo.
De posse do material resultante dos processos descritos acima, procede-se com a caracterização do mesmo através dos ensaios
convenientes (FRX, DRX, perda ao fogo e granulometria do material obtido após a secagem e moagem).

Método De Dosagem De Concreto De Elevado Desempenho – Vitervo O’reilly Díaz


Para o melhor desempenho de determinada mistura, é necessário atingir a mínima porcentagem de vazios, isto é, o maior
empacotamento possível. De forma a determinar a porcentagem de vazios e as superfícies específicas mínimas, foram
ensaiadas as misturas dos agregados com as seguintes proporções, em massa, de areia e brita:
35:65; 40:60; 45:55; 50:50; 55:45; 60:40; 65:35 (em porcentagem)
Primeiramente, foi determinada a massa unitária compactada da mistura dos agregados (MUCm) para cada uma das misturas
acima. Este procedimento foi feito seguindo a norma NBRNM 45 (ABNT, 2006).

Métodos

a) Mistura dos agregados na carriola. b) Compactação dos agregados no CP 15x30 cm.

Figura 1. Procedimento VITERVO O’REILLY DÍAZ


Fonte: próprio autor.

716
Para encontrar o valor da massa unitária compacta da mistura, foi utilizada a equação 1:

(1)

Sabendo-se as dimensões do recipiente, que no caso é um cilindro de base com diâmetro de 15 cm e altura de 30 cm temos que
a equação 2 fica:

= (2)

Onde:
MUCm: Massa unitária compacta da mistura (Kg/m³).
Peso médio: média das medidas realizadas com a mistura dos agregados (Kg).
D: diâmetro da base do cilindro (m).
H: altura do cilindro (m).

Em seguida, foi determinada a massa especifica absoluta da mistura dos agregados (MEAm), também com os materiais secos.
Para isto, foi realizada a caracterização dos materiais, conforme indicado nos itens 2.1.2 e 2.1.3, e com isto podemos obter as
massas específicas absolutas da areia e da brita. As massas específicas absolutas das misturas são determinadas pela expressão:

(3)

Onde:
MEAm: massa específica absoluta da mistura dos agregados (Kg/m³)
MEAa: massa específica absoluta da areia (2432 Kg/m³)
%A: porcentagem da areia na mistura
MEAb: massa específica absoluta da brita (2950 Kg/m³)
%B: porcentagem da brita na mistura

Foi calculada a massa especifica absoluta da mistura dos agregados para todas as proporções indicadas acima.
Com a massa específica absoluta e a massa específica compactada da mistura de agregados foi determinada a porcentagem de
vazios da mistura dos agregados pela equação:

(4)

Onde:
%e: porcentagem de vazios da mistura dos agregados

Calculadas as porcentagens de vazios para todas as combinações de areia e agregados graúdos, foi confeccionado um gráfico
de porcentagem de vazios X mistura de areia + agregado graúdo em porcentagem. Com este foi possível encontrar qual seria a
melhor proporção.

Método De Dosagem do IPT/EPUSP Helene & Terzian


O método IPT/EPUSP Helene & Terzian consiste na elaboração de três traços de concreto, com as seguintes proporções entre
aglomerantes e agregados secos, em massa: 1:3,5 (traço rico), 1:5,0 (traço médio) e 1:6,5 (traço pobre). Após a ruptura das
amostras destes concretos, é elaborado um diagrama de dosagem, a partir do qual é possível obter a relação entre água e
cimento (a/c), o traço e o consumo de cimento para o concreto definitivo, com as características pré-determinadas.

Mistura
A mistura do concreto do experimento foi realizada em betoneira de eixo inclinado com capacidade para 120 litros. A ordem
de colocação dos materiais na betoneira foi a seguinte: Adição do agregado graúdo, a sílica ativa e a CME junto com metade
da água. Em seguida, foi ligada a betoneira deixando misturar os materiais durante 1 minuto. Então, foi desligada para se
adicionar a areia, o cimento e o restante da água.
Assim feito, a betoneira foi ligada novamente e o aditivo acrescentado conforme a consistência necessária foi alcançada
empiricamente, levando-se em consideração o intervalo de 0,5% a 1,5% da massa de cimento. Os materiais ficaram
misturando-se por mais 15 minutos ou até a consistência ser alcançada. Esse tempo foi escolhido baseando-se em estudos já

717
feitos no laboratório de Engenharia Civil da UNESP de Ilha Solteira. Para cada traço se realizou o teste de abatimento de
tronco de cone e se não obtida a consistência desejada foi adicionado o restante do aditivo superplastificante.

Procedimentos Aplicados Às Composições Do Concreto


Primeiramente foi realizado um CAD referência sem adição da CME, proposta por Tiago Armando Camara – Processo
FAPESP 14/21855-7 –12 “Estudo do teor de metacaulim em concretos de alto desempenho (CAD)”. Posteriormente, foram
realizados dois traços; 1:3,5 e 1:5,0. Para ambos foram feitas as substituições parciais do agregado miúdo pela CME nas
proporções de 10, 20 e 25% e posteriormente os concretos foram avaliados por meio de ensaios. A comparação foi feita com o
CAD referência.
Os corpos de prova passaram pelo Teste de Abatimento do Tronco de Cone, para verificar as condições de trabalhabilidade do
concreto utilizado. Foi considerado o prescrito na norma NBRNM 67:1998 e foi utilizada uma altura de queda de 160 ± 10
mm. Em seguida, foi feito o adensamento do concreto, nas fôrmas de dimensões 100x200 mm, deu-se por meio de mesa
vibratória por aproximadamente 60 segundos.
Já no estado endurecido do concreto, para todas as idades, 7, 28, 60 e 90 dias, foi feito o Ensaio de resistência à compressão
axial. De acordo com a NBR 5739 foi determinada a resistência à compressão simples dos concretos produzidos. Os corpos de
prova foram rompidos, após o capeamento, em uma prensa universal para ensaios que apresenta velocidade de carregamento
igual a 5Kgf/cm2/s. A resistência final obtida segundo a NBR 7215 (2009).

Resultados e discussão

Caracterização da cinza da madeira de eucalipto


A composição química foi obtida através da espectroscopia por FRX, apresentada na tabela 1, e possibilitou a determinação da
composição dos óxidos presentes na CME, assim como identificou a presença de carbono residual na amostra de cinza.

Perda
SiO2 Al2O 3 Fe2O 3 CaO Na2O K 2O SO3 Cl TiO 2 Outros
ao Fogo
39,2 9,2 5,8 25,0 0,6 5,5 5,6 1,0 1,9 6,2 6,37
Tabela 1. Composição química da CME (porcentagem do óxido indicado). Fonte: próprio autor

O difratograma da cinza está definido na figura 2. De maneira geral, identifica-se com alta incidência o silício em seu formato
cristalino (pico de quartzo). Tal composição pode ser avaliada nos diversos agregados miúdos que são utilizados no ramo da
construção civil, característica interessante uma vez que a susbtituição em análise é justamente desse agregado.

Picos cristalinos
(não reativos)

Curva de amorficidade
(reativos)

Figura 2. Difratograma da CME

718
A granulometria da cinza pode ser observada na figura 3 abaixo, com a indicação das curvas discreta e acumulada.
Considerando o tempo de moagem de 60 minutos, o diâmetro médio das partículas foi determinado em 45 µm.
VOLUME (%)

TAMANHO DA PARTÍCULA (µm)


Figura 3. Granulometria da CME.

O resultado da perda ao fogo da cinza encontra-se na tabela 2 a seguir.

Amostras Pesagens (g) Perda ao fogo (%)


Antes Depois
1 2,0372 1,9068 6,4009
2 2,0318 1,9028 6,3491
Tabela 2. Resultados perda ao fogo da CME. Fonte: próprio autor

A partir dos resultados da caracterização da cinza e considerando as exigências químicas presentes na NBR 12653:2012, pode
avaliar-se o material como um material pozolânico de classe E.
A cinza está composta por 55% de SiO2 + Al2O3 + Fe2O3, aproximadamente 5% de SO3 e 6% de perda ao fogo, e 0,6% de
Na2O, apresentando assim uma reatividade média.
Por outro lado, a existência de uma porcentagem de 25% de CaO na CME indica a capacidade de atuar como um aglomerante
parcialmente hidráulico (semelhante ao cimento).

Caracterização da areia
A curva granulométrica da areia, definida conforme os ensaios propostos, está representada na figura 4.

Figura 4. Curva granulométrica da areia. Fonte: próprio autor.

A tabela 3 fornece os dados obtidos segundo os ensaios mencionados na descrição.

Massa específica aparente seca do agregado (g/cm³) 2,360


Massa específica do agregado saturado (g/cm³) 2,387
Massa específica do agregado (g/cm³) 2,421
Absorção de água (%) 0,34
Tabela 3. Propriedades físicas da areia. Fonte: próprio autor.

719
Determinação da relação ótima dos agregados
Feitas as devidas misturas, tomando como base a NBRNM 45, e utilizando a equação 2 indicada no item 2.2.2.foram obtidas as
medidas indicadas na tabela 3.

Brita Areia MUCm


Média (Kg)
(%) (%) 1°Pesagem (Kg) 2°Pesagem (Kg) 3°Pesagem (Kg) (Kg/m³)
65 35 11,27 11,11 11,00 11,127 2098,802
60 40 11,57 11,62 11,56 11,583 2184,942
55 45 11,46 11,41 11,39 11,420 2154,133
50 50 11,41 11,33 11,23 11,323 2135,899
45 55 11,16 11,12 11,07 11,117 2096,915
40 60 11,01 10,93 11,01 10,983 2071,765
35 65 10,65 10,81 10,81 10,757 2029,009
Tabela 3. Massa unitária compacta dos agregados (MUCm). Fonte: próprio autor.

Com os valores de massa específica absoluta dos agregados miúdo e graúdo e utilizando a equação 3, temos a tabela 4.

Brita (%) Areia (%) MEAm (Kg/m³)


65 35 2729,700
60 40 2706,800
55 45 2683,900
50 50 2661,000
45 55 2638,100
40 60 2615,200
35 65 2592,300
Tabela 4. Massa específica absoluta da mistura dos agregados (MEAm). Fonte: próprio autor.
Foi possível então obter os valores de vazios das misturas realizadas com a equação 4, sendo estes valores indicados na tabela
5 e na figura 5.
Brita (%) Areia (%) %e
65 35 23,112
60 40 19,280
55 45 19,739
50 50 19,733
45 55 20,514
40 60 20,780
35 65 21,729
Tabela 5. Porcentagem de Vazios da mistura. Fonte: próprio autor.

Figura 5. Gráfico da Porcentagem de Vazios da mistura. Fonte: próprio autor.

720
Tem-se que a melhor proporção da mistura entre areia e brita está entre 40:60 e 45:55. Com a figura 4 podemos obter que a
proporção ótima entre os agregados é de 43:57 para massa de areia e brita respectivamente. Este resultado satisfaz as
necessidades para a obtenção de uma alta resistência com um bom empacotamento das partículas no CAD. Isso pelo fato de o
agregado graúdo estar em maior proporção e ser um dos principais componentes que conferem resistência mecânica ao
concreto. Com uma boa proporção dos agregados é possível obter estruturas mais compactas e com menor quantidade de
poros, deixando o concreto mais resistente e com menores regiões de frágil ruptura.

Proporção dos materiais


Considerando previamente um A/C de 0,5 para os traços em questão, têm-se as tabelas 6 e 7 com as dosagens dos traços
realizados com 0% de CME (CME0), com 10% de CME (CME10), com 20% de CME (CME20) e 25% de CME (CME25). Os
traços foram realizados para 40 litros de concreto, sendo moldados 20 CP’s para compressão axial.

Sílica
Materiais Cimento Areia Brita Água CME Aditivo
Ativa
Kg/m³ 465,92 701,21 929,52 232,96 0 37,27 0,12% - 21,45g
Absorção (%) 0,31 1,24
CME0
Umidade (%) 0,16 0,541
Água Livre (%) 0,15 0,7 0
1,05 6,5 7,55 0
TRAÇO (kg/m³) 465,92 700,16 923,02 240,51 0 37,27
Sílica
Materiais Cimento Areia Brita Água CME Aditivo
Ativa
Kg/m³ 467,14 632,74 931,94 233,57 70,3 37,37 0,26% - 47,88g
Absorção (%) 0,31 1,24
CME10 Umidade (%) 0,16 0,541
Água Livre (%) 0,15 0,7 0
0,95 6,51 7,46 0
TRAÇO (kg/m³) 467,14 631,79 925,42 241,03 70,3 37,37
Sílica
Materiais Cimento Areia Brita Água CME Aditivo
Ativa
Kg/m³ 468,36 563,9 934,37 234,18 140,98 37,47 0,59% - 110,3g
Absorção (%) 0,31 1,24
CME20 Umidade (%) 0,16 0,541
Água Livre (%) 0,15 0,7 0
0,85 6,53 7,38 0
TRAÇO (kg/m³) 468,36 563,06 927,84 241,56 140,98 37,47
Sílica
Materiais Cimento Areia Brita Água CME Aditivo
Ativa
Kg/m³ 468,97
529,35 935,6 234,49 176,45 37,52 0,29% - 55,13g
Absorção (%) 0,31 1,24
CME25
Umidade (%) 0,16 0,541
Água Livre (%) 0,15 0,7 0
0,79 6,54 7,33 0
TRAÇO (kg/m³) 468,97 528,56 929,06 241,82 176,45 37,52
Tabela 6. Dosagens para o traço rico (1:3,5). Fonte: próprio autor

721
Sílica
Materiais Cimento Areia Brita Água CME Aditivo
Ativa
Kg/m³ 369 793,36 1051,66 184,5 0 29,52 0,5% - 73,8g
Absorção (%) 0,31 1,24
CME0 Umidade (%) 0,16 0,541
Água Livre (%) 0,15 0,7
1,19 7,35 8,54
TRAÇO (kg/m³) 369 792,17 1044,31 193,04 0 29,52
Sílica
Materiais Cimento Areia Brita Água CME Aditivo
Ativa
Kg/m³ 370,09 716,13 1054,76 185,05 79,57 29,61 0,36% - 54,01g
Absorção (%) 0,31 1,24
CME10 Umidade (%) 0,16 0,541
Água Livre (%) 0,15 0,7
1,07 7,37 8,45
TRAÇO (kg/m³) 370,09 715,06 1047,39 193,49 79,57 29,61
Sílica
Materiais Cimento Areia Brita Água CME Aditivo
Ativa
Kg/m³ 371,19 638,44 1057,89 185,59 159,61 29,7 0,90% - 134,3g
Absorção (%) 0,31 1,24
CME20
Umidade (%) 0,16 0,541
Água Livre (%) 0,15 0,7 0
0,96 7,39 8,35 0
TRAÇO (kg/m³) 371,19 637,49 1050,49 193,95 159,61 29,7
Sílica
Materiais Cimento Areia Brita Água CME Aditivo
Ativa
Kg/m³ 371,74 599,43 1059,45 185,87 199,81 29,74 0,73% - 108,64g
Absorção (%) 0,31 1,24
CME25
Umidade (%) 0,16 0,541
Água Livre (%) 0,15 0,7 0
0,9 7,41 8,3 0
TRAÇO (kg/m³) 371,74 598,53 1052,05 194,17 199,81 29,74

Tabela 7. Dosagens para o traço intermediário (1:5,0). Fonte: próprio autor

Resultados dos ensaios da resistência à compressão axial


Para os ensaios realizados de resistência à compressão axial temos as tabelas 8 e 9. Os valores de resistência à compressão
(MPa) foram submetidos ao tratamento estatístico especificado pela NBR 7215, que permite um desvio relativo máximo entre
os corpos de prova de 6%. Os resultados que não satisfazem o desvio relativo máximo não foram utilizados para encontrar a
resistência média.

MÉDIAS COMPRESSÃO AXIAL (MPa) MÉDIAS COMPRESSÃO AXIAL (MPa)


TRAÇO 1:3,5 7 dias 28 dias 60 dias 90 dias TRAÇO 1:5,0 7 dias 28 dias 60 dias 90 dias
CME0 63,38 64,22 59,48 64,00 CME0 43,42 53,88 48,96 56,5
CME10 43,05 61,76 64,23 64,63 CME10 40,72 48,65 49,13 55,81
CME20 45,36 56,6 66,35 66,73 CME20 45,2 49,18 65,23 65,13
CME25 46,08 59,43 61,03 65,02 CME25 41,76 42,69 44,65 56,64

Tabela 8. Resultados dos ensaios de resistência Tabela 9. Resultados dos ensaios de resistência
compressão axial para o traço rico (1:3,5). Fonte: compressão axial para o traço intermediário (1:5,0).
próprio autor Fonte: próprio autor

722
As figuras 5 e 6 a seguir mostram o ganho de resistência dos traços com a substituição comparados com o CME0 (controle).

Figura 5. Resultados dos ensaios de resistência à compressão axial para o traço rico (1:3,5). Fonte: próprio autor.

A partir dos resultados da tabela 8 e a figura 5 pode ser observado um aumento na resistência dos traços ricos com a
substituição. Verifica-se o melhor resultado para o traço CME20, com um aumento de resistência de 10,4%, aos 60 dias, se
comparado ao CM0. E, um ganho de 4% de resistência na idade de 90 dias.

Figura 6. Resultados dos ensaios de resistência à compressão axial para o traço intermediário (1:5,0). Fonte: próprio
autor.

Da mesma forma como foi observado para o traço rico, constata-se de uma maneira mais evidente o ganho de resistência do
traço CME20 ao ser comparado com o CME0. Os ganhos na resistência foram de 25% aos 60 dias e 13,25% aos 90 dias,
evidenciando o melhor comportamento das substituições para o traço CME20.

Comentários finais

Foi possível aferir com esta pesquisa que em função de sua pozolanicidade, reatividade como aglomerante hidráulico, mesmo
que de forma reduzida e sua finura, promovendo o efeito fíler, a Cinza de Madeira de Eucalipto consegue atuar de forma
satisfatória como substituição da areia na composição do concreto. Considerando que a cinza é um resíduo gerado em grandes
quantidades na indústria energética, sua incorporação trará benefícios econômicos e sustentáveis. Além de ser uma opção
muito interessante para a redução do emprego de matérias-primas não renováveis que são necessárias às atividades da
construção civil.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo financiamento
para desenvolver o trabalho. À Fibria por fornecer a cinza e à UNEPS – Feis pelo apoio recebido para realizar todos os ensaios

723
necessários para conclusão do projeto.

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724
5SSS197
BRUMADINHO: ANÁLISE RISCOS SOCIOAMBIENTAIS SEGUNDO
A NOÇÃO DE RACISMO AMBIENTAL
Dimitri Tallemberg Soares1, Claudia Tallemberg2, Rui Sergio Saraiva Duarte Junior3
1 Universidade Federal do Pampa, e-mail: dimitri.tallemberg@gmail.com; 2 LETRAS/ IPUB/UFRJ, e-mail:
claudia.tallemberg@gmail.com; 3 Universidade Federal do Pampa, e-mail: ruiduarte@unipampa.edu.br

Palavras-chave: Brumadinho; Justiça Ambiental; Geotecnia

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo problematizar os diferentes planos em disputa entre o viés técnico e o ambiental nos processos
de construção de barragens, refletindo sobre conceitos que são considerados técnicos e suas implicações tanto no âmbito
ambiental como social. Para tanto, apresentamos o conceito de “Justiça Ambiental”, como ferramenta analítica perante a
dicotomia entre critérios técnicos e socioambientais. Apontamos uma articulação entre geologia e justiça ambiental,
compreendendo que são temáticas transversais; como instrumento de intervenção social, visando incorporar à gestão técnica,
aspectos selecionados da realidade que são determinantes para a resolutividade de um problema ou situação específica e que
necessitam de abordagem multidimensional e integrada para enfrentamento justo e eficaz. A justiça ambiental, constitui-se
como um conjunto de princípios que asseguram que um grupo de pessoas, independentemente do seu grupo étnico, racial ou
classe, sofra de maneira desproporcional as consequências ambientais negativas de qualquer esfera, sejam elas econômicas,
políticas e programas federais, estaduais e locais (HERCULANO, 2008). Tomaremos como estudo de caso o rompimento da
barragem na cidade de Brumadinho, e suas consequências à saúde e ao meio ambiente das populações vulnerabilizadas. Assim,
trata-se de um estudo teórico, a partir de dados secundários, tomando como base metodológica a proposta de Herculano &
Pacheco (2006), e o levantamento de dados do Grupo de Pesquisa e Extensão, Política, Economia, Mineração, Ambiente e
Sociedade - PoEMAS sobre a avaliação dos aspectos econômicos e institucionais do rompimento da barragem de rejeitos em
Brumadinho (Milanez et al. 2019). Observando o olhar técnico destes empreendimentos, o principal aspecto seria a
viabilidade, intimamente ligada ao custo e a margem de lucro envolvidas, deixando de lado inúmeros aspectos sociais. Este
efeito é tratado no relatório do PoEMAS (2019), mencionando como grandes corporações extrativista têm influências
desproporcionais sobre diferentes agentes (Estado, trabalhadores e comunidades) e, desta forma, regulam e manipulam
instituições de controle, as quais deixam de funcionar adequadamente, o que gera um aumento no risco de situações críticas de
violências e impacto socioambientais. Milanez et al. (2019), abordam o crime ambiental de Brumadinho, sobre o qual, a
principal população atingida se caracterizava entre 50 a 65 % de não brancos e de baixa renda, como um caso de racismo
ambiental, entretanto, também, é importante revisar decisões técnicas tomadas. O método construtivo de barragens (a
montante) não seria o mais adequado, mas outros métodos apresentariam um maior custo. Conclui-se que, dado ao supracitado,
além de um crime ambiental, trata-se uma gestão imprópria de recursos e as consequências deste evento poderiam ter sido
evitadas. Contudo, este evento crítico impactou diretamente uma população específica, não aleatoriamente: - na perspectiva do
racismo ambiental, em sociedades marcadas por grandes desigualdades, são os grupos vulneráveis e marginalizados,
discriminados tanto por questões raciais como de baixa renda, que são os maiores penalizados pelos danos ambientais
produzidos pelas promessas de desenvolvimento local.

INTRODUÇÃO

Inúmeras são as fontes de poluição, que geram a degradação do meio ambiente na sociedade contemporânea, para perceber isto
basta observar as dinâmicas de produção dos bens. Nossas indústrias, queimam combustíveis fósseis e isso emite descargas de
produtos danosos tanto à saúde humana, quanto para o meio ambiente. A agricultura libera agrotóxicos, pesticidas e outras
variedades de produtos altamente agressivos, contaminando o solo e recursos hídricos. A atividade de mineração, devido ao
seu elevado potencial de provocar impactos negativos ao meio, induz a também elevados índices de cautela na tomada de
decisões, pois apresenta inúmeros rejeitos e resíduos, que, quando tratados de maneira inadequada podem causar danos
incalculáveis ao bioma. Entretanto, mesmo sabendo de todos os impactos que estas atividades geram, será que todas as pessoas
estão propensas a sofrer com os riscos associados a estas atividades? Considerando as grandes desigualdades sociais presentes
no Brasil e a indissociabilidade entre ambiente e sociedade, quais populações sofreriam mais diretamente com estes riscos?

725
Quais corpos estariam sujeitos e à mercê de possíveis desastres?

Compreende-se por justiça ambiental, um conjunto de princípios que asseguram que um grupo de pessoas, independente do
grupo étnico, racial ou classe, sofra de maneira desproporcional as consequências ambientais negativas independente da esfera
seja ela econômica, políticas e programas federais, estadual e locais (HERCULANO, 2008). A partir da temática da injustiça
social; desdobra-se o conceito de racismo ambiental que consiste no impacto sobre etnias minoritárias e sujeitas aos processos
de exclusão social, política e econômica. A definição deste conceito não é configurada apenas pela intenção racial, mas sim de
ações que tenham impacto racial, não excluindo as intenções que a originaram. Desta forma, trabalharemos com conceito
ampliado de racismo (ALMEIDA, 2019) em sua indissociabilidade e articulação com a produção de subjetividade (racismo
individual); nas relações com o Estado (racismo institucional) e com a economia (racismo estrutural).

Segundo a lei 12.334/2010 uma barragem é qualquer estrutura em um curso permanente ou temporário de água para fins de
acumulação de substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e sólidos, compreendendo o barramento e as estruturas
associadas. Historicamente, acidentes com barragens tem deixado vítimas pelo mundo, Neste sentido, citam-se os casos da
barragem Saint Francis que, quando se rompeu, em 1928, na territorio de Los Angeles - CA, deixou 450 vítimas. No ano de
1963, dois grandes acidentes marcaram a história dos acidentes com barragens pelo mundo: em Veneza, na Itália, durante o
primeiro enchimento da barragem Vajont, deslocamentos de massa induzidos pelo encharcamento do solo provocaram uma
gigante onda que destruiu a represa, causando a morte de cerca de 2000 pessoas; em Los Angeles - CA, o rompimento da
barragem Baldwin Hills fez 5 vítimas. No Brasil, em 1964, o rompimento da barragem da Pampulha deixou milhares de
desabrigados, mas este não foi o único acidente deste tipo na história do nosso país, Houveram também rompimentos nas
seguintes barragens: Rio Verde, Cataguases, Rio Pomba, Espora, Apertadinho e Algodões. Mais recentemente, em 2004, o
rompimento da barragem de Camará, localizada em Alagoa Nova – PB, deixou 5 vítimas e cerca de 3 mil desabrigados,
provocando forte impacto socioeconômico e ambiental negativo.

Este trabalho tem como principal problemática as visões que, por vezes, são conflitantes entre o viés técnico e ambiental,
refletindo, especialmente, sobre quais critérios são operados na avaliação e determinação técnicas e suas implicações
socioambientais. A alocação de barragens, geralmente, leva em consideração critérios técnicos, tal como o tamanho a área a ser
alagada, a declividade do terreno, a consequente potencial e o custo de indenizações, este último o qual é vinculado ao preço
associado ao terreno. Consequentemente, visando que áreas que apresentam uma menor valorização são as mesmas que são
ocupadas, principalmente, por pessoas de mais baixa renda, então, nisso se percebe um padrão de ligação entre áreas tidas
como prioritárias para a alocação de barragens e usos ocupações do território típicas de populações em vulnerabilidade social.
Portanto, o principal desafio deste trabalho consiste na análise dialética entre alocação de barragens primando pelo seu baixo
custo e a implícita vulnerabilidade ampliada pela presença de barragens em determinada localidade. Subordinadamente, o
objetivo deste trabalho também consiste em apresentar e divulgar o conceito de “Justiça Ambiental” em nossa comunidade,
comparando, principalmente, em visões técnicas e socioambientais perante o tema. Apresentamos como disparador o estudo de
caso sobre a barragem rompida no município de Brumadinho, suas consequências à saúde e à sociedade, bem como suas
consequências ao meio ambiente que, por ser um bem coletivo, também é propriedade das populações vulnerabilizadas.

Para estes casos, a metodologia sugerida por Herculano & Pacheco (2006) consiste primeiramente de uma análise histórica
quanto ao surgimento do conceito de justiça ambiental na qual surge inicialmente a partir das experiências vividas no Estados
Unidos da América (EUA), alavancada pelos grupos socialmente discriminados e vulnerabilizados, quanto a maior exposição a
resíduos danosos à saúde. O fato ocorreu na cidade de Love Canal, Niagara, no estado de Nova York no qual um aterro com
rejeitos químicos industriais e bélicos foram feitos nas proximidades das moradas de cidadãos de classe média baixa. Poucos
anos mais tarde incidentes semelhantes acontecem, entretanto agora focados principalmente nas populações negras. Nos EUA
é possível citar casos com contaminações de Ascarel ou PCB (polychlorinated biphenyls) na Carolina do Norte na vizinhança
de afro-americanos, aterros de resíduos perigosos situados no Alabama, Flórida, Geórgia, Mississippi, Tennessee, Carolina do

726
Norte e Sul que são observados justamente em comunidades afro-americanas, estados conhecidos pela grande quantidades de
comunidades negras, dado esse levantado pela GAO (United States General Accounting Office), desta forma forjando o
conceito de racismo ambiental.

Tipos de barragens e seus custos

As barragens são, geralmente divididas em barragens de terra ou enrocamento e barragens de concreto. Barragens de terra ou
enrocamento, segundo Espósito (2000), são subdivididas em barragens a montante, a jusante, ou linha de centro. Estes nomes
referem-se ao tipo de elevação do barramento que represa o fluido contido em seu reservatório.

A etapa inicial na execução da barragem a montante consiste na construção de um dique de partida, normalmente de material
argiloso ou enrocamento compactado. Após realizada esta etapa, o rejeito é lançado por canhões em direção a montante da
linha de simetria do dique, formando assim a praia de deposição, que se tornará a fundação e eventualmente fornecerá material
de construção para o próximo alteamento. Este processo continua sucessivamente até que a cota final prevista em projeto seja
atingida (ARAUJO, 2006). Assim, em barragens a montante é necessária uma menor quantidade de material para promover as
sucessivas elevações do barramento, garantindo um menor custo ao projeto.

No método de jusante, a etapa inicial consiste na construção de um dique de partida, normalmente de solo ou enrocamento
compactado, em que os alteamentos subsequentes são realizados para jusante do dique de partida. Este processo continua
sucessivamente até que a cota final prevista em projeto seja atingida, apresentando como vantagem o controle de lançamento e
da compactação do material, desta maneira permitindo o controle de sua resistência. Entretanto, barragens alteadas pelo
método de jusante necessitam de maiores volumes de material para construção, apresentando maiores custos associados ao
processo de ciclonagem ou ao empréstimo de material. Além disso, com este método, a área ocupada pelo sistema de
contenção de rejeitos é muito maior, devido ao progresso da estrutura para jusante em função do acréscimo da altura
(ARAUJO, 2006).

Barragens alteadas pelo método de linha de centro apresentam uma disposição intermediária entre os dois métodos
supracitados, apresentando vantagens dos mesmos, ao mesmo tempo em que tenta minimizar suas desvantagens. onde o
alteamento da crista é realizado de forma vertical, sendo o eixo vertical dos alteamentos coincidente com o eixo do dique de
partida. Neste método, torna-se possível a utilização de zonas de drenagem internas em todas as fases de alteamento, o que
possibilita o controle da linha de saturação (Assis & Espósito, 1995).

Materiais e Métodos

Este estudo consiste num recorte bibliográfico, histórico e de dados secundários, tomando como base metodológica a proposta
de Herculano & Pacheco (2006), e o levantamento crítico produzido pelo grupo de pesquisa e extensão Política, Economia,
Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS), que se trata de um grupo multidisciplinar e interinstitucional formado por
acadêmicos que se propõem a refletir sobre as múltiplas interfaces entre o setor extrativo mineral e a sociedade, na qual
apresenta a avaliação dos aspectos econômicos e institucionais sobre o rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho
(Milanez et al. 2019).

Posteriormente a contextualização histórica Herculano & Pacheco (2006) propõem a problematização dessas ocorrências de
resíduos perigosos, apontando que estes casos não são aleatórios e frutos do acaso, se trata da própria descaracterização da

727
condição humana, bem como citado por Parajuli (2005) que definiu a existência de populações biosféricos, de centros
urbanizados na qual usufruem dos recursos de todo o globo terrestre e que, portanto, não dependem dos constrangimentos do
ecossistema que habitam, e as etnicidades ecológicas, ou seja, comunidades cujo sustento e sobrevivência dependem
estreitamente do meio natural no qual se inserem. Ilustrando a vulnerabilidade que se encontram, visto que perante a grandes
empreendimentos podem mudar as dinâmicas ambientais da região forçando até mesmo a expulsão destas comunidades. Desta
forma, Parajuli (2005) afirma de forma bem explícita que determinados grupos e principalmente aqueles dos quais são
ignorados ou menosprezados pelas ações sociais do Estado, são desumanizados e descartados.

Os principais aspectos apontados pelo relatório do grupo PoEMAS, foram em termos das condições de construção,
monitoramento e rompimento da barragem de rejeito. Com relação à construção é importante salientar, que o modelo de
barragem instalada foi o tipo a montante. Este método consiste em erguer a barragem em forma de degraus sobrepostos a partir
de um dique inicial, na qual estes degraus são constituídos com o próprio rejeito do beneficiamento do minério como fundação
para a barreira de contenção. Acerca do monitoramento de barragens ocorre de grandes corporações extrativistas têm
influências desproporcionais sobre diferentes agentes (Estado, trabalhadores e comunidades), desta forma controlando e
manipulando instituições de controle deixam de funcionar adequadamente, o que justamente gera um aumento no risco do
rompimento da barragem, consequentemente aumentando a propensão a ocorrências de grandes desastres.

A partir de um instrumento de intervenção social, que visa incorporar à gestão técnica, aspectos selecionados da realidade que
são determinantes para a resolutividade de um problema ou situação específica e que necessitam de abordagem
multidimensional e integrada para enfrentamento justo e eficaz, a abordagem transversal constitui de um subterfúgio válido
para buscar integração dos aspectos técnicos e socioambientais. Pois, a partir desta temática é possível observar um ponto de
fulcro entre duas temáticas, que por vezes se encontram de maneira antagônica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quando é trabalhado o olhar técnico de empreendimentos, o principal aspecto a ser observado é a viabilidade, que se encontra
intimamente ligado ao custo e seus efeitos na margem de lucro, desta maneira ignorando ou descartando inúmeros aspectos
sociais. Fato este que é evidenciado quando se debate a respeito do tipo de barragem de rejeito escolhida para ser construída na
cidade de Brumadinho, a barragem a montante. Este método apresenta o menor custo de instalação e menor quantidade de
material, concomitantemente apresenta a maior probabilidade de ruptura quando comparada com outros tipos de barragens,
pois alteamentos foram realizados sobre anteriormente depositado e inconsolidados. Importante salientar que o monitoramento
de barragens é feito frequentemente, entretanto quando é incluído o fator controle e manipulação de instituições que é exercido
por grandes corporações os resultados podem ser adulterados ou ocultados, culminando justamente no rompimento da
barragem.

De acordo com os dados levantados pelo grupo PoEMAS, na qual aborda o acontecimento na barragem de Brumadinho, não
como um acidente ou desastre, pois estas denominações caracterizam imprevisibilidade fato que não pode ser aplicado. Visto
que já era conhecido que o tipo de barragem construída não era recomendável e a falhas nas estruturas da barragem, logo
classificando o ocorrido como um crime ambiental, acrescentando a caracterização como racismo ambiental, pois aderido aos
dados levantados de que nos primeiros quilômetros de rejeito a população atingida consistia de aproximadamente 50 a 65% de
não brancos e de baixa renda.

728
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O debate sobre racismo ambiental no Brasil, ainda é pouco difundido, assim como praticamente ausente na agenda de
planejamento de empreendimentos industriais e urbanos, bem como na agenda política estatal; no que tange à garantia da
cidadania dos habitantes das locoregiões e da responsabilidade técnica e seus efeitos. Considerando as profundas e variadas
desigualdades sociais, a exposição dos riscos ambientais e a saúde e organização social de determinadas populações, se
apresenta dissimulada e camuflada pelas péssimas condições gerais de vida, dito de outra forma, as desigualdades sociais
brasileiras naturalizam o fato da exposição desigual a riscos e do ônus desigual dos custos do desenvolvimento
(HERCULANO, 2002).

A inclusão, o tema do racismo ambiental, concomitante aos critérios de avaliação de viabilidade e acuidade técnica, lançando
mão de uma perspectiva transversal de saberes e práticas, onde a indissociabilidade entre impacto social e ambiental se
colocam à serviço de ações de desenvolvimento mais democráticas, racionais, éticas e compromissadas com a minimização de
riscos e agravos ao ambiente e à vida de forma mais abrangente.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer a Dra. Selene de Souza Carvalho Herculano dos Santos, pois foram os trabalhos realizados
por ela que nos inspiraram a confeccionar este trabalho.

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730
5SSS198
UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
PARA A RECUPERAÇÃO DE MATA CILIAR: O EXEMPLO DO
CÓRREGO DA TOCA, TERESÓPOLIS, RJ
Rafael Pereira Machado1
¹Seeduc-RJ- CIA José Francisco Lippi, e-mail: rafa-pmachado@hotmail.com;

Palavras-chave: Educação ambiental; resolução de problema socioambiental; sensibilizar a comunidade no seu entorno.

Resumo
A importância da existência da mata ciliar ao longo dos rios e ao redor de lagos e reservatórios fundamenta-se no amplo
aspecto de benefícios que este tipo de vegetação traz ao ecossistema, exercendo função protetora sobre os recursos naturais
bióticos e/ou abióticos. A preservação e a recuperação dessa vegetação, aliadas às práticas de conservação e ao manejo
apropriado do solo, garantem a proteção de um dos principais recursos naturais: a água. As intensas chuvas que atingiram a
região Serrana em janeiro de 2011 no estado do Rio de Janeiro deram origem a maior tragédia natural do país, provocaram
graves perdas humanas e deflagraram intensos processos erosivos que agravaram e desencadearam a perda da mata ciliar em
vários rios do município de Teresópolis, inclusive a que havia ao longo do Córrego da Toca que atravessa o Centro Integrado
de Agropecuária José Francisco Lippi (CIA), provocando a degradação da área no entorno do córrego. As matas ciliares são
formações vegetais de ocorrência ao longo de cursos d’água e em locais sujeitos a inundações temporárias. São as matas
ciliares que, primariamente desempenham o papel de proteger as margens dos corpos d’água, evitando o assoreamento,
também favorecem a regularização da vazão dos rios e córregos além de oferecer abrigo e alimentação para a fauna local.
Apesar de sua reconhecida importância e de serem protegidas por lei, com frequência matas ciliares são desmatadas ou
degradadas sem a necessária recomposição. Objetiva-se com o presente artigo apresentar os desfechos de um projeto de
intervenção em Educação Ambiental para o Córrego da Toca. O projeto educativo-ambiental compreendeu a recuperação de
uma área ciliar na margem do Córrego da Toca, curso d’agua que corta o Centro Interescolar de Agropecuária José Francisco
Lippi situado no município de Teresópolis, RJ. Esse córrego teve seu curso alterado, parte de sua margem destruída e a
vegetação ciliar destituída em janeiro de 2011 por ocasião das intensas chuvas que caíram na região serrana do Rio de Janeiro e
que se caracterizaram na maior tragédia natural do Brasil. Os principais resultados obtidos revelam que é possível recuperar
uma área de mata ciliar degradada com a participação da comunidade escolar e da população no entorno tendo por base um
conjunto de ações socioeducativas vinculadas à práticas de engenharia ambiental. Ressalta-se a necessidade de um estudo
aprofundado e multidisciplinar da área recuperada pois as medidas implementadas no trabalho só serão efetivas se seguirem
continuamente aspectos técnicos. Por fim, admite-se que o sucesso na implantação de projetos de recuperação de matas
ciliares, depende em alto grau de atividades de sensibilização da comunidade no seu entorno onde cada cidadão tome
consciência de seu papel no processo e da importância de ações integradas pelos diferentes setores da sociedade.

Introdução
Reiteradamente emergem discussões em torno da crise hídrica no Brasil e, em geral, tais discussões apontam de forma
consensual de que é necessário investir em preservação das nascentes, córregos e riachos, promovendo o reflorestamento das
matas ciliares. Porém, apesar da reconhecida importância ecológica, as matas ciliares continuam sendo eliminadas ou pouco
preservadas cedendo lugar para a especulação imobiliária, para a agricultura e a pecuária e, na maioria dos casos, sendo
transformadas apenas em áreas degradadas. Via de regra, as definições referentes a mata ciliar convergem para uma única
abordagem, isto é, trata-se da formação florestal localizada às margens de rios, lagos, nascentes e demais cursos de água. Mata
ciliar também é conhecida como mata de galeria ou vegetação ripária, constituindo a vegetação que se desenvolve às margens
dos rios. Castro et al (2013) destaca que são formações vegetais de ocorrência ao longo de cursos d’água e em locais sujeitos a
inundações temporárias, e podem ser compreendidas como sistemas florestais estabelecidos naturalmente em faixas às margens
dos rios e riachos, no entorno de lagos, represas e nascentes, exercendo função de instrumento redutor do assoreamento e da
degradação do meio ambiente e, como meio natural de processamento e transformação da diversidade ambiental. No tocante as
funções da mata ciliar, Delitti (1989) indica que, dentre as principais funções das matas ciliares, destacam-se o controle da
erosão nas margens dos cursos d'água evitando o assoreamento dos mananciais, a minimização dos efeitos de enchentes, a
filtração dos possíveis resíduos de produtos químicos como agrotóxicos e fertilizantes, auxílio na proteção da fauna local e a
manutenção da quantidade e da qualidade das águas. Segundo Delitti (1989), os resultados conhecidos de estudos sobre as

731
matas ciliares confirmam a hipótese de que elas atuam como filtros de toda a água que atravessa o conjunto de sistemas
componentes da bacia de drenagem, sendo determinantes, também, das características físicas, químicas e biológicas dos corpos
d’água. Ao discorrer sobre os fins da mata ciliar, Vieira (2013, p.2) assevera que, tal como os cílios protegem os olhos dos
seres vivos contra o suor e a poeira que poderiam machucá-los, as matas ciliares possuem a função de proteger os rios, riachos,
córregos e o entorno dos lagos contra as intempéries provocadas pela própria natureza, bem como pela ação humana. No
âmbito da educação ambiental, a implantação, conservação ou recuperação das matas ciliares pode ser inserida no processo de
intervenção educacional associado à resolução dos problemas socioambientais (BARROS, CAVALCANTI, GARCIA, 2018).
A Conferência Intergovernamental de Tbilisi, ocorrida em 1977 na antiga União Soviética, é considerada um dos principais
eventos sobre Educação Ambiental do Planeta. Esta conferência foi organizada a partir de uma parceria entre a UNESCO e o
Programa de Meio Ambiente da ONU - PNUMA e, deste encontro, saíram às definições, os objetivos, os princípios e as
estratégias para a Educação Ambiental no mundo. Nesta Conferência estabeleceu-se que o processo educativo deveria ser
orientado para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente, através de enfoques interdisciplinares e, de participação
ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade. No Brasil, a influência de Tbilisi se fez presente na Lei n. 6.938, de
1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, suas finalidades e mecanismos de formulação e execução. A lei
se refere, em um de seus princípios, à educação ambiental em todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, a
fim de capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente. Essa concepção de educação ambiental foi expressa
pela Política Nacional de Educação Ambiental, Lei nº 9.795, de 27/04/1999 que em seu artigo primeiro define a educação
ambiental como processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos e
habilidades, atitudes e competências voltadas para conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à
sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Sob a ótica legal e normativa, a Lei de Crimes Ambientais 9.605, de 12 de
fevereiro de 1998, (Artigo 39), determina que é proibido destruir ou danificar floresta da área de preservação permanente,
mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção. No Estado do Rio de Janeiro as questões
afetas ao meio ambiente têm alcançado relevância, sobretudo, no que diz respeito à proteção dos corpos hídricos da ocupação
irregular de suas margens. A Lei Estadual nº 1.130/87 estabeleceu as Faixas Marginais de Proteção (FMP) de rios, lagos,
lagoas e reservatórios d’água. O Novo Código Florestal Brasileiro, Lei nº 12.651/12, de 25 de maio de 2012, que dispõe sobre
a proteção da vegetação nativa e que revogou o Código Florestal de 1965, inclui as matas ciliares na categoria de áreas de
preservação permanente. Assim toda a vegetação natural (arbórea ou não) presente ao longo das margens dos rios e ao redor de
nascentes e de reservatórios deve ser preservada. Portanto, tanto no contexto da educação ambiental como no contexto legal, as
matas ciliares exercem um papel fundamental, pois visam à preservação dos recursos hídricos (evitar o assoreamento e manter
a qualidade da água), a estabilidade geológica (evitar a erosão e o consequente assoreamento), com a função paralela de
assegurar a biodiversidade. O presente artigo corresponde a um projeto de intervenção socioeducativo com aplicação de
princípios da engenharia ambiental para recuperação de área destinada à preservação permanente, em um trecho de 57 metros
de extensão e 8 metros de largura da margem esquerda de um córrego no município de Teresópolis, RJ, figura 1.

Figura 1: Mapa do Estado do Rio de Janeiro com destaque para o município de Teresópolis.

O trabalho iniciou-se em julho de 2011 e as observações ocorreram até dezembro de 2014. O público alvo do projeto contou
com a participação de 140 alunos, distribuídos em duas turmas do 9º ano do ensino fundamental, duas do 1º ano do ensino
médio e 10 alunos do curso técnico em agropecuária, bem como seus familiares e integrantes da comunidade no entorno do
Centro Interescolar de Agropecuária José Francisco Lippi (escola técnica em agropecuária situada em Venda Nova, 3º distrito
de Teresópolis, RJ).
Na região, predominam atividades econômicas ligadas ao cultivo de lavouras de hortaliças, sendo Teresópolis o maior produtor

732
de hortaliças folhosas do estado do Rio de Janeiro, é do solo do município que saem cerca de 90% de tudo o que é produzido.
Tal atividade depende diretamente da utilização dos recursos hídricos locais que, consequentemente, necessitam da presença
das matas ciliares para a sua manutenção. A hidrografia de Teresópolis é bastante complexa, sendo composta por diversos rios
e córregos associados a uma topografia bem acidentada. O córrego da Toca é parte integrante da microbacia hidrográfica do rio
Bengala que por sua vez insere-se à bacia hidrográfica do rio Preto.
Material e Métodos
A realização do trabalho compreendeu três etapas conforme apresentadas no esquema a seguir.

Na etapa de diagnóstico e avaliação foram observadas e identificadas as áreas críticas com ausência de mata ciliar, as
condições do solo e seu grau de degradação, os trechos com processos erosivos e o desvio do leito do córrego. A partir do
diagnóstico e da avaliação foram estabelecidas como prioridades: o redirecionamento do canal do córrego, que foi alterado por
ocasião das chuvas de janeiro de 2011, a recomposição do trecho erodido, a ampliação da margem esquerda do córrego com
deposição de solo e a delimitação do trecho em 8 metros de largura e 57 metros de comprimento a ser recuperado com mata
ciliar. Na etapa seguinte, definição de metodologia de recuperação, optou-se pelo método de plantio direto de mudas. Tal
escolha baseou-se no fato de que a técnica que consiste no plantio de mudas é indicada como um método muito eficiente e é
muito usado em ambientes parcialmente ou totalmente devastados, o que foi o caso do trecho alvo do trabalho. De acordo com
Almeida (2004) o plantio direto no solo possui alto potencial de eficácia para as florestas tropicais, além de possuir baixo
custo, devido não necessitar de grande aporte de infraestruturas na sua execução. Esse método, tendo em vista seus devidos
cuidados, como o plantio de mudas nativas resistentes e a prática em época de chuvas, favorece a rápida cobertura do solo,
diminuindo dessa forma o processo de erosão e assoreamento que compromete em muito os cursos de rios e córregos e as
nascentes. Ressalta-se que esse método é o mais aconselhável por apresentar maior eficiência na recuperação de áreas
degradadas e por apresentar resultados mais rápidos em relação às outras técnicas. Uma das vantagens de se adotar o método
de plantio direto de mudas, é que logo após o desenvolvimento das espécies pioneiras o solo desenvolverá camadas de
serapilheira e húmus, o que atrairá animais dispersores de sementes, como aves e roedores, que acelerarão o processo de
sucessão vegetal e a completa recuperação da área degradada após alguns anos (RODRIGUES et al., 2009). O plantio das
espécies vegetais foi feito por toda a extensão da área delimitada para ser recuperada. A definição do espaçamento, dever ser
feita em virtude das condições encontradas em cada local, recomenda-se o espaçamento de 2m x 2m, para que as copas das
árvores fechem rapidamente e protejam o solo. Contudo, devido às características locais o espaçamento adotado para o plantio
das mudas variou em 1m x 1m; 1,5m x 1,5m e 1,5m x 2m. Na terceira etapa foram vinculadas de forma mais direta as ações de
recuperação da mata ciliar com as ações de educação ambiental. O plantio de 105 mudas (50 numa 1ª fase e mais 55 numa 2ª
fase) contou com a participação de alunos do 9º ano, 1º ano, 2º ano e do ensino técnico em agropecuária. No pós-plantio
(manutenção, replantio e controle) deu-se atenção à melhoria da qualidade do solo da mata ciliar do córrego da Toca, às
práticas que visaram promover o desenvolvimento e a proteção das espécies da mata ciliar e consequentemente a recuperação
de algumas espécies vegetais, cujo desenvolvimento encontrou-se comprometido. Desse modo, realizaram-se atividades que
consistiram na aplicação de adubo orgânico com o objetivo de aumentar a quantidade e qualidade de matéria orgânica e
nutriente no solo. Assim, foi aplicado ao longo da mata ciliar, de forma manual, a incorporação de adubo orgânico. Em razão
da prolongada estiagem que atingiu a região Serrana do RJ nos meses de julho a agosto de 2014, foram implementadas ações
de irrigação com o objetivo de promover uma quantidade adequada de água às plantas, de maneira que, juntamente com as
demais operações como a adubação, melhorassem as condições para promover o desenvolvimento e a proteção das espécies da
mata ciliar. Concomitantemente foram preparadas e aplicadas diversas atividades didáticas que tiveram por objetivo promover
e sensibilizar nos educandos o desenvolvimento de uma consciência crítica acerca das questões socioambientais tomando como
base o importante papel que as matas ciliares exercem. O público alvo do projeto contou com a participação de 140 alunos,
distribuídos em duas turmas do 9º ano do ensino fundamental, duas do 1º ano do ensino médio e 10 alunos do curso técnico em
agropecuária, bem como seus familiares e integrantes da comunidade no entorno do Centro Interescolar de Agropecuária José
Francisco Lippi (escola técnica em agropecuária situada em Venda Nova, 3º distrito de Teresópolis, RJ). As ações adotadas
para a implantação e desenvolvimento do trabalho seguiram as seguintes etapas conforme o cronograma no quadro 1.

733
Fases Ações Período
 Observação e avaliação das condições locais
 Planejamento das ações corretivas
Julho / 2011
 Identificação da área com ausência de mata ciliar
 Delimitação da área a ser recuperada
Diagnóstico da  Estratégias de recuperação
situação inicial  Seleção de espécies de árvores a serem plantadas
 Escolha do sistema de plantio Julho / 2011
 Definição do público participante
 Redirecionamento do canal
 Contenção da margem erodida
 Ampliação da margem
 Preparo do solo Julho /2011
Implantação de  Plantio das mudas
medidas de
recuperação ambiental  Manutenção
Agosto / 2011
 Controle
a
 Monitoramento da área em recuperação Novembro / 2014

 Atividades didáticas (sala de aula)


 Atividades didáticas (atividades de campo) Agosto / 2011
 Coleta de dados da estação agroclimatológica a
 Elaboração e aplicação de material didático Novembro / 2014

Práticas de educação  Palestras em campo e dinâmicas de sensibilização


ambiental  Aulas práticas (experimentos, coleta de amostra de Junho / 2014
água do córrego, medição da vazão do córrego). a
 Resultados Preliminares Novembro / 2014
Quadro1: Cronograma das atividades implementadas.

O redirecionamento do canal ocorrido em julho de 2011 deu início as medidas de recuperação da área de estudo. Para a sua
realização foi feito um mutirão com a participação de 4 alunos do curso técnico em agropecuária, 3 alunos do 9º ano do ensino
fundamental e 2 alunos do 1º ano, 3 alunos do 2º ano, todos do CIA, além de 7 voluntários e 2 técnicos ambientais da 1ª
Brigada Verde de Proteção ao Meio Ambiente (ONG) de Teresópolis-RJ, 1 professor/engenheiro agrônomo do CIA e da
empresa Mitigar Soluções Ambientais e 2 pais de alunos do CIA. Tendo em vista que essa medida envolveu o trabalho braçal,
os alunos participantes foram autorizados pelos pais. Já os 7 voluntários e os 2 técnicos ambientais da 1ª Brigada Verde de
Proteção ao Meio Ambiente (ONG) participaram do trabalho em resultado de um acordo de cooperação com o Centro
Interescolar de Agropecuária José Francisco Lippi (CIA). Para redirecionar o córrego a seu leito original foi aberto um canal
de 40 metros de comprimento e com 1,5 metro de largura e 1 metro de profundidade. O canal foi edificado paralelamente ao
trecho do córrego que sofreu alteração e posteriormente foram interligados os dois pontos do riacho por onde a água voltou a
escoar. A figura 2 mostra esta operação.

Figura 2: Redirecionamento do córrego.

734
Em seguida, conforme exemplificado na figura 3, empreendeu-se a ampliação da margem esquerda do córrego. Esse
preenchimento se deu com a deposição de 156 m³ de terra com incremento de argila e matéria orgânica para aumentar a largura
da margem e melhorar as condições físicoquímicas do solo.

Figura 3: Ampliação da margem esquerda do córrego.

Na sequência, conforme ilustrado na figura 4, foi realizado o plantio de 105 mudas de espécies nativas da mata atlântica. O
plantio se deu em linha e foi empregado um espaçamento que variou de 1m x 1m; 1,5m x 1,5m; 1,5m x 2m.

Figura 4: Plantio das mudas.

O objetivo desse espaçamento foi proporcionar uma cobertura mais rápida do solo, inibindo espécies colonizadoras
indesejadas. Para a medir a vazão do córrego da Toca optou-se pela medição indireta que consiste em uma forma “manual” de
estimar a vazão, seja em rios ou córregos. Nesse sentido, fez-se a medição pelo método do flutuador (PALHARES, et al 2007).
Os flutuadores são objetos flutuantes que adquirem a velocidade das águas que os circundam, o que permite estimar a
velocidade da corrente pelo arrasto do flutuador. A velocidade do flutuador se dá pela razão da distância entre dois pontos e o
tempo necessário para percorrê-la. Como o flutuador adquire a velocidade do escoamento, a vazão é dada pelo produto entre a
área molhada e a sua velocidade. Deve-se repetir esse processo um número considerável de vezes para obter um valor médio
de velocidade. Com relação as ações de educação ambiental trabalhou-se inicialmente, em sala de aula, conceitos como os de
vegetação, drenagens, leito do rio, planície de inundação, ciclo hidrológico, diferença entre enchente, inundação e
alagamentos. Para isso, foram distribuídos textos específicos sobre cada tema alistado (mata Ciliar, urbanização, infiltração,
escoamento superficial, sedimentos transportados, sedimentos depositados, desmoronamento, movimentos de massa,
assoreamento, inundação e doenças Relacionadas à água). Na sequência foram propostas tarefas que abrangeram questionários,
produção de textos, interpretação de climogramas e preenchimento de tabelas referentes aos dados pluviométricos da estação
agroclimatológica situada no Centro Interescolar de Agropecuária José Francisco Lippi (CIA). Como forma de enriquecer a
participação dos alunos analisou-se o conteúdo das informações colhidas não apenas sob a ótica ambiental, mas também sob a
ótica social, visto que a ocupação de áreas de risco como as áreas às margens de rios ou as áreas de forte declive (processo
muito comum no município de Teresópolis) é resultado direto da segregação socioespacial. Ressaltou-se na discussão que a
culpa pela retirada da vegetação ciliar recai, muitas vezes, somente sobre a população que ocupa áreas próximas aos rios,
todavía, essa população também é vítima, pois sua baixa condição econômica não permite optar por habitar em locais com
melhores condições. Foram incluídas às atividades palestras sobre a necessidade e benefícios de preservação das matas ciliares,
a exibição de vídeos, com destaque para o documentário da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Paraná sobre as matas
ciliares, culminando com a visitação à área da mata ciliar do córrego da Toca. As visitas à mata ciliar constituíram um

735
importante aspecto das atividades relativas às ações de educação ambiental na medida em que possibilitaram aos alunos a
observação direta para conferir e discutir no local, questões ambientais diretamente ligadas a mata ciliar e a importância de
assegurar a sustentabilidade local, condição necessária para um sistema sustentável. Como parte das ações educacionais
ambientais, realizou-se a construção de um modelo de simulação de perda de solo por meio do processo de erosão para
apresentar aos alunos do Centro Interescolar de Agropecuária José Francisco Lippi (CIA). O modelo foi construído com três
compartimentos: um com cobertura vegetal (para ilustrar o papel da mata ciliar), outro com solo coberto apenas com matéria
morta e o terceiro com solo descoberto totalmente. O objetivo desse modelo foi utilizá-lo para a realização de aulas práticas e,
com isso, ilustrar o papel da mata ciliar, dessa forma, sensibilizar e estimular os alunos para que sejam difusores dessa ação
entre a comunidade de um modo geral. As atividades dessa fase foram concluídas com um experimento no modelo elaborado
para ilustrar o papel da mata ciliar. No experimento, simulou-se a precipitação (chuvas) por meio de três torneiras que
aspergiram água sobre os três compartimentos. A figura 5 detalha o simulador construído e a figura 6 exibe a atividade
realizada com o modelo proposto.

Figura5: Modelo para simular o papel da mata ciliar

Com o experimento os alunos puderam perceber as diferenças de velocidade do escoamento e de infiltração da água e a grande
quantidade de solo depositado no fundo do recipiente sob o compartimento desprotegido.

Figura 6: Modelo para simular o papel das matas ciliares utilizado com os alunos.

de vegetação após a aspersão e escoamento da água. Desse modo, pôde-se demonstrar como as matas ciliares influenciam na
qualidade da água, reduzindo o impacto direto da chuva no solo, minimizando processos erosivos e dificultando o escoamento
superficial de partículas e sedimentos que causam poluição e assoreiam os recursos hídricos, assim, elas agem como filtros,
reduzindo a entrada de fertilizantes e agrotóxicos para o rio, córregos, arroios etc.

Resultados e Discussão
As medidas de intervenção sobre o canal do córrego da Toca para reestabelecer o seu curso que foi alterado após as enchentes
de janeiro de 2011 mostrou-se positiva. A implantação da barreira de contenção sobre a margem erodida evidenciou-se
favorável. Ao longo do período de realização da pesquisa não houve outro evento climático de magnitude semelhante ao de
janeiro de 2011 que pudesse testar a estabilidade do trecho da margem que foi recuperada. Porém, ao longo da pesquisa

736
ocorreram esporadicamente alguns eventos de chuvas fortes sobre a região e estas não desencadearam processos erosivos sobre
a margem do córrego nem alteraram seu curso. Isso pode revelar que o trabalho de contenção da margem esquerda do córrego
da Toca feito na 1ª etapa do trabalho teve um resultado positivo, pois assegurou a sua estabilidade e favoreceu o escoamento da
água do córrego pelo seu leito natural. O preenchimento da margem esquerda do córrego com a deposição de 156 m³ de terra
com incremento de argila e matéria orgânica para expandir a margem e melhorar o substrato do solo, contribuiu tanto para
aumentar a estabilidade da margem como para melhorar o substrato do solo sobre o qual foi feito o plantio das mudas de
plantas. Segundo Ciotta (2003) a argila constitui parcela do solo responsável por sediar fenômenos de troca de íons
determinantes da fertilidade dos solos e da boa nutrição vegetal. Ela retém os nutrientes que ficam grudados na superfície de
cada grão, não sendo por isso levados pela água da chuva que entra no solo. Depois vai repassando-os aos poucos para as
raízes das plantas, na velocidade em que elas precisam. A adoção dessa medida ajudou aumentar a estabilidade da margem e
melhorou o substrato do solo sobre o qual foi feito o plantio das mudas de plantas. Ao término do trabalho foi possível concluir
que a recuperação da mata ciliar do córrego da Toca foi bem-sucedida. Não foram verificados processos erosivos que
pudessem comprometer a estabilidade da mata, as condições do solo mostraram-se estáveis. A aplicação de adubo orgânico
contribuiu para assegurar o aumento da quantidade e qualidade da matéria orgânica do solo o que melhorou as suas condições
e dessa forma, promoveu o desenvolvimento e a proteção das espécies da mata ciliar. Das 105 espécies plantadas desde o
início da restauração da mata ciliar do córrego da Toca, em julho de 2011, apenas 3 tiveram seu ciclo de desenvolvimento
interrompido, ou seja, 97,14 % das espécies sobreviveram e apresentam boas condições de crescimento. As mudas foram
plantadas com tamanhos médios de 0,60 cm, ao termino do trabalho todas apresentam alturas superiores a 1 metro, estando a
menor delas com 1,10 m, o que equivale a um crescimento de 83,3%, enquanto a mais alta delas, a amoreira com 2,40m de
altura, apresentou uma taxa média anual de 48,6% considerando-se três anos e meio desde o plantio da muda. Portanto, os
dados apresentados podem revelar que as espécies se adaptaram às condições naturais locais e respeitaram as características da
vegetação nativa local e o processo de sucessão natural. A mata apresenta claros sinais de suas funções entre as quais a de
formar corredores ecológicos, pois, ao interligarem os fragmentos florestais na região, facilitam o trânsito de diversas espécies
de animais, polens e sementes, favorecendo o crescimento das populações de espécies nativas, as trocas gênicas e,
consequentemente, a reprodução e a sobrevivência dessas espécies. A figura 7 mostra as condições atuais da mata ciliar.

Figura 7: Aspectos atuais da mata ciliar do córrego da Toca

No que tange as ações de educação ambiental, as atividades realizadas com as turmas envolvidas no trabalho resultaram numa
acentuada mudança de pensamento com relação a importância das matas ciliares. Para exemplificar, a tabela 1 aponta os
resultados de um questionário aplicado aos alunos no início do projeto.

737
Pergunta Resultados (%)

Você sabe o que significa mata ciliar e qual a 140 alunos

importância dela?

Sim 09 6,4

Não 131 93,6

Tabela 1 – Resultado do questionário aplicado aos alunos dos 9º e 1º anos do CIA.

Nota-se que 93,6% dos alunos inseridos no projeto não reconheciam no início do projeto a importância das matas ciliares. Esse
dado mostrou-se preocupante uma vez que a grande maioria deles vive na comunidade onde há presença de vários córregos e
de rios. Contudo, ao longo da execução do trabalho e com a aplicação das atividades educacionais que foram elaboradas e
propostas ao grupo alvo da pesquisa esse quadro negativo se dissipou, conforme se verificou na conclusão do estudo. Os
objetivos pretendidos com as ações educacionais e ambientais, dentre os quais, incutir conceitos básicos sobre a importância
das Matas Ciliares, despertar nos alunos o interesse pela percepção ambiental além de sensibilizá-los para serem difusores da
preservação das matas ciliares, foram em grande parte alcançados. Com a simulação sobre o papel das matas ciliares os alunos
compreenderam como elas influenciam na qualidade da água, reduzindo o impacto direto da chuva no solo, favorecem a
retenção da água no solo minimizando processos erosivos e dificultando o escoamento superficial de partículas e sedimentos
que causam poluição e assoreiam os recursos hídricos, também puderam perceber como as matas ciliares agem como filtros,
reduzindo a entrada de fertilizantes e agrotóxicos para os rios e córregos. As atividades de campo constituíram uma importante
estratégia para o ensino, uma vez que permitiram explorar uma grande diversidade de conteúdo, motivaram os estudantes,
possibilitaram o contato direto com o ambiente e a melhor compreensão dos fenômenos naturais. Para isso, é importante que
possam atribuir significado àquilo que aprenderam sobre a questão ambiental. E esse significado é resultado da ligação que o
aluno estabelece entre o que aprendeu e a sua realidade cotidiana, da possibilidade de estabelecer ligações entre o que aprendeu
e o que conhece, e da possibilidade de utilizar esse conhecimento em outras situações tendo em vista que desconstruir as
realidades significa um processo de intervenção associado à resolução dos problemas socioambientais (BARROS,
CAVALCANTI, GARCIA, 2018). A figura 8 expôe uma das atividades de campo desenvolvida com alunos e professores do
CIA.

Figura 8: Visita a mata ciliar e palestra para alunos do CIA

Ao fim do trabalho foi apresentada uma atividade em que se pedia aos alunos que reconhecessem as principais características
das matas ciliares e os benefícios gerados por elas. A tabela 2 apresenta o resultado da atividade.

738
Resultados
Identifique as principais características e (%)
benefícios das matas ciliares
140 alunos

Nº de alunos que identificaram corretamente 127 90,7

Nº de alunos que não identificaram


13 9,3
corretamente

Tabela 2: Resultado da atividade aplicada aos alunos dos 9º e 1º anos do CIA

O fato de mais de 90% dos alunos terem identificado corretamente as principais características e benefícios das matas ciliares
sinalizou uma mudança positiva quanto ao anterior conceito sobre as matas ciliares. Isso pode indicar uma mudança de postura
quanto ao futuro, tornando-os multiplicadores de atitudes sustentáveis, do ponto de vista do meio ambiente e possibilitando que
participem direta ou indiretamente como indivíduos conscientes na gestão dos seus respectivos lugares como um reflexo da
educação como processo de formação humana (LOUREIRO, DE CAMPOS TOZONI-REIS, 2016). Os gráficos 1 e 2 ilustram
a mudança de ponto de vista demonstrada pelos alunos envolvidos no trabalho, desde o seu início até a sua conclusão, no que
diz respeito a forma de encararem o papel de uma mata ciliar

Gráfico 1: Resultado do questionário aplicado aos alunos sobre Mata ciliar

Gráfico 2: Resultado sobre a identificação das características e benefícios das matas ciliares

739
Considerações finais
O presente trabalho se propôs a recuperar uma área ciliar numa faixa de margem do Córrego da Toca conciliando o emprego
de práticas de educação ambiental com procedimentos da engenharia ambiental. Levando-se em conta a escala de abrangência
do trabalho, os objetivos foram alcançados. O redirecionamento do canal do córrego e a recomposição da margem erodida
foram bem-sucedidos uma vez que o córrego recuperou seu curso normal e a margem apresenta-se estável com a presença de
espécies vegetais que foram plantadas sobre ela. As espécies se adaptaram às condições naturais locais e respeitaram as
características da vegetação nativa local, fatos dados pelas elevadas taxas de sobrevivência e de crescimento delas. O trecho
encontra-se caracterizado por uma paisagem identificada por uma boa cobertura vegetal. As ações de educação ambiental
foram eficazes para reflexão e mudança de pensamento dos alunos quanto a importância das matas ciliares. Entretanto, é
importante levar em consideração que o sucesso na implantação de projetos de recuperação de matas ciliares, depende em
grande parte de intervenções para sensibilizar a comunidade no seu entorno, onde cada cidadão tome consciência de seu papel
no processo e da importância de ações integradas pelos diferentes setores da sociedade.

Agradecimentos
O autor gostaria de agradecer ao Centro Interescolar de Agropecuária José Francisco Lippi, a 1ª Brigada Verde de Proteção ao
Meio Ambiente do grupo Padrão Águias da Aventura Objetiva de Teresópolis, RJ, a empresa Mitigar Soluções Ambientais e a
toda comunidade escolar do CIA pelo apoio recebido.

Referências Bibliográficas
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recuperação de mata ciliar: uma iniciativa discente. Tecné Episteme y Didaxis TED, p. 1-6, 2018.

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741
5SSS199
UTILIZAÇÃO DE PÓ DE VIDRO RECICLADO EM SUBSTITUIÇÃO
E ADIÇÃO DO CIMENTO PORTLAND NA PRODUÇÃO DE
CONCRETO
Tainá Rejane Petter1, Tatiane Isabel Hentges2, Eduardo Roberto Batiston3
1Universidade do Contestado, e-mail: tainapetter@outlook.com; 2Programa de Mestrado Profissional em
Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental, Universidade do Contestado, e-mail:tatiane.hentges@unc.br; 3
Universidade Comunitária da Região de Chapecó, e-mail: erbatiston@unochapeco.edu.br

Palavras-chave: Pó de vidro; Concreto; Resistência.

Resumo
O setor da construção civil é um grande gerador de emprego e renda e está em constante crescimento. Por ser um grande
consumidor de recursos naturais é naturalmente gerador de resíduos sólidos, sendo responsável por grandes impactos ao meio
ambiente. Para tornar a construção civil um setor menos poluente, muitas empresas investem em tecnologias para reduzir os
impactos gerados pelas mesmas, buscando promover a recuperação das áreas de exploração de matéria prima e diminuir os
níveis de dióxido de carbono liberados durante o processo produtivo. Uma solução mais simples para reduzir os impactos seria
a reutilização de materiais, como por exemplo, o vidro, que já demostrou, quando em substituição parcial ao cimento e ao
agregado miúdo na fabricação do concreto, pode promover algumas melhorias, como observado no estudo feito por SHAO et
al, no qual foi utilizado o vidro, finamente moído, como substituição do cimento em até 30%. Este trabalho apresenta os
resultados do uso do pó de vidro na produção de concreto, em adição e substituição ao cimento Portland. Foi realizada a
substituição do cimento por pó de vidro nas quantidades de 10%, 15% e 30% em relação a massa do cimento. Também foi
feita a adição de 5%, 10% e 15% de pó de vidro ao traço referência. Os corpos de prova moldados passaram por processo de
cura, e em seguida pelos ensaios de compressão axial, compressão na tração diametral e absorção. No comportamento de
resistência a compressão e resistência a tração na compressão diametral, é possível observar uma redução do desempenho com
a substituição do cimento pelo pó de vidro e com a adição do mesmo. O aumento do fator água/aglomerante e da absorção de
água também foram observados.

Introdução
O setor da construção civil é um grande gerador de emprego e renda e é também um dos mercados que mais cresce no Brasil.
Ao mesmo tempo, é também um dos maiores consumidores de recursos naturais e, com isso, gera dois terços dos resíduos
sólidos no mundo, sendo responsável por grandes impactos ao meio ambiente (Akhtar and Sarmah, 2018; ISWA, 2017).
Segundo o Sindicato das Indústrias de Cimento, no ano de 2016 o consumo de cimento, que é um material indispensável para a
construção civil, foi de cinquenta e sete milhões de toneladas (SNIC, 2016), valor próximo dos EUA que consumiram 63
milhões de toneladas de cimento no ano de 2013 (MEHTA; MONTEIRO, 2014).
Para a produção do cimento são necessários altos níveis de energia, sendo liberada, durante esse processo, cerca de 1 tonelada
de dióxido de carbono (CO2) a cada tonelada de clínquer produzido, contribuindo para o aquecimento global (HABERT et al.
2010).
Para tornar a construção civil um setor menos poluente, as empresas têm investido em tecnologias que reduzem os impactos
gerados, como é o caso das indústrias de cimento, que buscam promover a recuperação das áreas de exploração de matéria
prima e estudam maneiras de diminuir os níveis de CO2 liberados na atmosfera durante a produção do cimento (SNIC, 2016).
Uma solução para tornar a construção mais sustentável seria a reutilização de materiais como, por exemplo, o vidro. Este é
classificado como material cerâmico não cristalino e mais de 95% de sua composição é a partir de óxidos de sódio, cálcio e
dióxido de silício (SALES, 2014). Assim, o aproveitamento de seus resíduos no concreto tem despertado o interesse tanto de
pesquisadores quando de indústrias.
Após investigar as características de durabilidade do concreto contendo 10% de pó de vidro como substituto do cimento,
Schwarz et al. (2008), concluíram que a entrada de cloretos e absorção de água foram reduzidas com a presença do vidro.
Du e Tan (2017) têm resultados similares quanto à permeabilidade de água em seu estudo, onde avaliaram o desempenho de
concretos com 15%, 30%, 45% e 60% de substituição de cimento por pó de vidro. Os autores constataram que, quando
comparado ao concreto sem presença de vidro, os concretos com substituições apresentaram menor taxa de absorção de água,
concluindo que o uso de pó de vidro no concreto impediu a movimentação da água, o que também pode impedir a entrada de
cloretos e sulfatos. Quando avaliaram o desempenho dos concretos à compressão, nas idades de 7, 28 e 365 dias, observaram

742
que o concreto referência obteve a maior resistência inicial, apresentando o melhor desempenho aos sete dias. Entretanto,
quando avaliado após 365 dias, sua resistência foi a menor dentre todas as misturas, sendo os concretos com 15% e 30% de
substituição os com maior resistência. Du e Tan relacionaram o ganho de resistência em idades avançadas pela lenta taxa de
reação pozolânica do pó de vidro.
Aliabdo et al. (2016) desenvolveram uma pesquisa avaliando o desempenho do concreto com adição e substituição do cimento
pelo pó de vidro nas quantidades de 5%, 10%, 15%, 20% e 25%. Encontraram melhorias nas resistências à compressão e à
tração nos concretos, produzidos com substituições de até 10% e adições de até 15%. Observaram também o desempenho do
concreto no estado fresco e concluíram que, quando em substituição ao cimento, o pó de vidro diminui o teor de água
necessário para produzir a mesma consistência do concreto referência. No entanto, quando em adição, esse efeito torna-se
oposto e a necessidade de água aumenta. Explicam que o fato pode ter consequência pelo aumento de material fino no
concreto, o que eleva à coesão do mesmo, diminuindo o abatimento. Citam ainda que esse efeito pode ser corrigido com o uso
de aditivos plastificante.
Levando isso em consideração, o objetivo deste trabalho foi avaliar a influência da presença de pó de vidro, obtido a partir de
resíduos da construção civil, no estado fresco e nas propriedades mecânicas de concretos, quando inserido como adição e
substituição ao cimento.

Materiais e Métodos

Coleta e preparo do resíduo de vidro


Os resíduos de vidro foram coletados em uma empresa de esquadrias no município de Peritiba-SC. Foi recolhido
aproximadamente 15 kg de resíduos, o mesmo, composto por vários tipos de vidros, como o vidro comum, canelado, colorido,
mini boreal, espelho. Após isso, procedeu-se com a limpeza e moagem do material, sendo que esta ocorreu no equipamento de
abrasão de Los Angeles. Após a moagem, o pó de vidro passou pelo processo de peneiramento e o material passante na peneira
número 100 (diâmetro de 0,15 mm) foi utilizado para as moldagens.

Caracterização dos Materiais

Cimento
O cimento (C) empregado para a produção dos concretos foi o CP-II Z pelo fato de ser o amplamente utilizado nas obras da
região de Concórdia e meio oeste catarinense. A massa específica do cimento é de 2,88 g/cm², a qual foi determinada com
aparelho Le Chatelier, seguindo as diretrizes da NBR 16605 (ABNT, 2017).

Pó de vidro
A massa específica do pó de vidro (PV) foi determinada conforme preconiza a norma NBR NM 52 (ABNT, 2009), sendo
2,479 g/cm³. A Figura 1 apresenta o pó de vidro após o processo de peneiramento.

Figura 1 – Resíduo de vidro empregado no trabalho, após moagem e peneiramento

Agregado Miúdo
O agregado miúdo (AM) utilizado neste trabalho foi uma areia quartzosa proveniente do rio Iguaçu. Previamente à moldagem
dos concretos, esta foi seca em estufa e, em seguida, armazenada em local protegido de umidade. Seguindo a NBR NM 52
(ABNT, 2009) e NBR NM 46 (ABNT, 2003), foram feitos ensaios para determinar a massa específica e porcentagem de
material pulverulento, sendo, respectivamente, 2,63g/cm³ e 3,125%. O Figura 2 indica a curva granulométrica da areia,
determinada conforme normas NBR 7211 (ABNT, 2009) e NBR NM 248 (ABNT, 2003).

743
Figura 2 - Curva granulométrica da areia utilizada como agregado miúdo

Agregado Graúdo (AG)


Para a produção dos concretos foi utilizada brita basáltica proveniente da cidade de Concórdia, adquirida como sendo do tipo
1, cuja massa específica é de 2,97 g/cm³ determinada conforme padroniza a norma NBR NM 53 (ABNT, 2009). Todo o
material foi separado e seco em estufa, e em seguida armazenado protegido da umidade. A Figura 3 apresenta a granulometria
da brita utilizada, determinada conforme NBR NM 248 (ABNT, 2003)

Figura 3 – Curva granulométrica da brita utilizada como agregado graúdo

Produção e moldagem dos concretos


Para a produção dos concretos, foi seguido o traço de dosagem de 1:2,12: 2,88: 0,5 utilizado por Czarnobay (2013). A partir
desse traço, que foi tomado como referência, foi realizada a substituição do cimento por pó de vidro nas quantidades de 10%,
15% e 30% em relação a massa do cimento. Também foi feita a adição de 5%, 10% e 15% de pó de vidro ao traço referência.
Os concretos foram confeccionados no Laboratório de Concreto da UnC - Concórdia, utilizando betoneira Menegotti 150
Litros Premium. Primeiramente foi executado a imprimação da betoneira, seguido da adição dos materiais na ordem: agregado
graúdo, 50% da água, agregado miúdo, cimento e pó de vidro, restante da água.
Após a homogeneização da mistura, foi determinada a consistência do concreto, objetivando-se alcançar 140±20 mm. Para
garantir isso, foi realizado o acréscimo de água, além da inicialmente determinada pelo (relação água/aglomerante de 0,5). A
Tabela 1 indica os traços unitários e o consumo de cada material utilizado para as misturas, apontando também a nova relação
água/aglomerante.

744
Inserção Traço unitário - C Pó de vidro Areia Brita Água
Traço a/agl
teor (%) C:AM:AG:PV (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³)
REF Referência 1:2,12: 2,88: 0,53 381.24 - 808.23 1097.98 190.62
Substituição 190.62
SV10 0,90:2,12:2,88: 0,10 0,557
10 % 343.12 38.12 808.23 1097.98
Substituição 190.62
SV15 0,85:2,12:2,88:0,15 0,58
10 % 324.06 57.19 808.23 1097.98
Substituição 190.62
SV30 0,70:2,12:2,88:0,30 0,54
10 % 266.87 114.37 808.23 1097.98
Adição 190.62
AV05 1:2,12: 2,88:0,05 0,576
5% 378.33 18.92 802.07 1089.60
Adição 190.62
AV10 1:2,12: 2,88:0,10 0,52
10% 375.47 37.55 795.99 1081.35
Adição 190.62
AV15 1:2,12: 2,88:0,15 0,53
15% 372.65 55.90 790.01 1073.22
Tabela 22 – Traço unitário e consumo de materiais dos traços estudados

Foram moldados 12 corpos de prova cilíndricos de 10x20 cm para cada composição. A moldagem e cura das amostras
procedeu-se conforme indica a NBR 5738 (ABNT, 2008). Para a determinação do teor de absorção de água dos concretos
foram confeccionados moldes sob medida em madeira, nos quais foram executados três corpos de prova cúbicos com 10 cm de
aresta para cada composição, tendo estes sido moldados em duas camadas, seguindo o padrão de doze golpes para
adensamento em cada camada.

Metodologias de ensaio

Abatimento do tronco de cone


A consistência do concreto foi determinada a partir do teste de abatimento do tronco de cone (slump test), seguindo as
recomendações da NBR NM 67(ABNT, 1996).

Absorção
Após curadas por 21 dias, foi determinada a massa saturada das amostras. Posteriormente, estas foram secas em estufa até a
constância de massa e, então, foi obtida a massa seca. O teor de absorção de água dos concretos foi calculado a partir da
equação 1 e a absorção final dos concretos foi dada a partir da média de três amostras estudadas para cada traço

Equação 1

Onde:
A = teor de absorção de água, em %;
Msat = massa do corpo de prova saturado
Ms = massa do corpo de prova seco em estufa

Resistencia mecânica
Os ensaios de compressão axial e tração por compressão diametral, foram realizados utilizando prensa hidráulica conforme
preconizam as normas NBR 5739 (ABNT, 2007) e NBR 7222 (ABNT, 1994). Para o primeiro, foram analisadas as resistências
com 7 e 28 dias de cura, já a tração por compressão diametral foi determinada apenas aos 28 dias. Em todos os casos, foram
ensaiados quatro corpos de prova.

Resultados e Discussões

Consumo de água
Para alcançar um abatimento de 140±20 mm o ensaio de abatimento do tronco de cone, conforme indicado no item 2.2, foi
necessário acréscimo de água em todas as misturas, inclusive no concreto referência. A Tabela 2 indica a relação
água/aglomerante (a/agl) prevista e o percentual de água acrescido para cada mistura.

745
Acréscimo de água para
Traço a/agl prevista alcance do abatimento a/agl final
(%)
REF 0,50 6,34 0,53
SV10 0,50 11,44 0,56
SV15 0,50 15,85 0,58
SV30 0,50 7,92 0,54
AV05 0,50 21,13 0,58
AV10 0,50 14,08 0,52
AV15 0,50 22,01 0,53

Tabela 23 - Consumo de água para cada traço

Levando-se em consideração que a adição de pó de vidro ao concreto representa um maior volume e maior massa de material
na mistura, já era esperada uma maior necessidade de água. Verificou-se, entretanto, que até mesmo o concreto Referência
exigiu 6,34% mais água do que o previsto. Além disso, os concretos com substituição de cimento por pó de vidro, onde não
houve alteração do volume de material total, também precisaram de mais água para alcance da consistência, superando o
acréscimo feito no concreto referência. Assim, percebe-se que o pó de vidro interfere na trabalhabilidade do concreto, gerando
uma consistência mais seca.
Identificou-se uma linha geral (para adição e substituição) de aumento da necessidade percentual de água com o aumento da
quantidade de pó de vidro. Entretanto, os traços com substituição de 30% e adição de 5% fugiram à tendência, consumindo
menos e mais água, respectivamente. Ainda, essa tendência não se refletiu na relação a/agl final para os traços com adição de
pó de vidro. Tendo em vista o maior volume de material, o concreto com 15% de adição de pó de vidro conservou a mesma
relação a/agl do traço referência, ainda que tenha apresento a maior adição percentual de água.
Dessa forma, as maiores relações a/agl finais foram apresentadas pelos concretos com substituição de cimento por pó de vidro.
Isso pode ser explicado pelo fato de o cimento ser um material aglomerante, o que facilita o rolamento entre as partículas e
aumenta a fluidez do concreto fresco, elevando os valores de abatimento com menor quantidade de água. Tal efeito não é visto
com o pó de vidro, que mantém a aparência arenosa mesmo em contato com água e apresenta maior atrito entre as partículas, o
que reduz a fluidez e exige maior conteúdo de água para alcance do abatimento de tronco de cone especificado. Assim, nos
casos de adição de pó de vidro, manteve-se a quantidade de material aglomerante (cimento), de forma que os resultados de
abatimento foram menos prejudicados e houve a necessidade de menor adição de água.

Figura 4 – Relação a/agl final para cada traço de concreto executado

Absorção de água
Não Figura 5 estão apresentados os dados de absorção de água dos concretos. Percebe-se que a presença de pó de vidro, em
geral, elevou os valores de absorção de água dos concretos em relação a referência, com exceção do traço SV10, o qual
absorveu 0,1% menos água. Apesar da relação a/agl final desse traço ter sido elevada em 11%, esse efeito positivo pode indicar
um melhor preenchimento dos vazios quando há substituição de cimento por pó de vidro no teor de 10%.

746
Figura 5 – Absorção total de água dos concretos estudados

Verifica-se uma tendência linear de redução na absorção de água dos concretos contendo adição de pó de vidro, tendência não
visualizada para a substituição. Esses valores não estão diretamente associados à porosidade gerada pela quantidade de água
nas misturas, indicando serem efeito da interação entre a relação a/agl e o preenchimento de poros gerado pela presença de pó
de vidro, ou seja, maiores teores de adição de pó de vidro podem ter gerado melhor arranjo das partículas, revelando um efeito
fíler desse material.

Resistencia a compressão axial


A presença de pó de vidro ocasionou perda de resistência a compressão axial aos 7 e 28 dias de todos os concretos, entretanto
destacam-se os traços com adição e substituição de 10% de pó de vidro, os quais tiveram redução de 13,5% e 21,5% na
resistência. A Figura 6 apresenta a resistência a compressão axial dos concretos aos 7 e 28 dias e, para uma melhor análise
comparativa, foram inseridas as relações a/agl finais de cada traço.

Figura 6 – Resistência a compressão axial dos concretos estudados

Observa-se que os concretos produzidos com substituição parcial de cimento por pó de vidro seguiram uma linha de tendência,
reduzindo a resistência conforme a porcentagem de substituição aumentava. Essa perda de resistência pode se dar pelo fato de
se estar retirando o cimento, cujas hidratações resultam em compostos de alta resistência (C-S-H) e trocando pelo pó de vidro
que é inerte pelo menos em menores idades, apresentando potencial de reação pozolânica após aproximadamente um ano (DU;
TAN, 2017).

747
Os concretos com adição de pó de vidro não seguiram uma linha de tendência, o que pode confirmar o efeito fíler gerado pelo
pó de vidro. Com isso, no entanto, quando houve adição de 5%, o preenchimento dos poros não foi efetivo e pode até mesmo
ter ocorrido uma desorganização da microestrutura do concreto, o que gerou neste a maior absorção de água (1,5% superior à
referência) e uma redução de 58% na resistência a compressão. Efeito similar, porém não tão acentuado, é visto no concreto
com 15% de adição e um efeito discordante é visto para a adição de 10%, onde houve elevada absorção de água e maior
resistência mecânica. Neste último, é possível que o pó de vidro tenha preenchido os poros a ponto de gerar ponte estrutural
para resistência mecânica, contudo sem impedir o acesso de água no interior das amostras.
Comparando-se com a relação a/agl, verifica-se uma tendência geral de maior resistência a compressão para os concretos com
menor teor de água. Porém, através de análise estatística de variância (ANOVA) apresentada na Tabela 3, realizada
considerando as resistências aos 7 e 28 dias e avaliando a influência da relação a/agl (“a/agl”)) e do percentual de adição ou
substituição de cimento por pó de vidro (“traço”), confirma-se que apenas este último exerceu influência significativa nos
resultados.

Efeito
Efeito SQ GL MQ F p
Significativo
a/agl 84.8737 2 42.4369 2.45524 0.098077 Não
Traço 623.0878 2 311.5439 18.02477 0.000002 Sim
Error 725.9367 42 17.2842
Onde: SQ = soma quadrada; GL = grau de liberdade; MQ = média quadrada; F= razão entre
modelo e erro; P = nível de probabilidade; Preto= não significativo; Vermelho = significativo
Tabela 3 – Análise de variância (ANOVA) para a resistência a compressão

Resistencia a tração por compressão diametral


Na Figura 7 são apresentados os resultados do ensaio de resistência a tração na compressão diametral. Nesta também foram
inseridos os pontos correspondentes à relação a/agl final de cada traço para melhor visualização de sua influência.

Figura 7 – Resistência a tração por compressão diametral dos concretos

Observa-se que os resultados seguiram a mesma linha de tendência quando comparado ao ensaio de resistência a compressão
axial. O concreto com 10% de substituição de cimento por pó de vidro apresentou resultado muito próximo ao concreto
referência, tendo sua resistência ficando apenas 2,18% inferior. Verifica-se, através da Tabela 4, que tanto o teor de água
quanto o percentual de adição ou substituição tiveram influência significativa nos resultados desse teste. Como citado no
referencial teórico (SCHWARZ ET AL.,2008; ALIABDO ET AL., 2016; DU; TAN, 2017), o fato dos concretos com presença
de pó de vidro apresentarem resultados de resistência inferior quando comparado ao concreto referência pode ter relação com a
reação pozolânica do vidro, pois o mesmo apresenta uma reação mais lenta e pode ser constatada em idades mais avançadas.

748
Efeito
Efeito SQ GL MQ F p
Significativo
a/agl 3.096988 2 1.548494 29.50469 0.000002 Sim
Traço 0.480566 2 0.240283 4.57830 0.024693 Sim
Error 0.944694 18 0.052483
Onde: SQ = soma quadrada; GL = grau de liberdade; MQ = média quadrada; F= razão entre
modelo e erro; P = nível de probabilidade; Preto= não significativo; Vermelho = significativo
Tabela 4 – Análise de variância (ANOVA) para a resistência a tração por compressão diametral

Conclusão
Nesse trabalho foram realizados concretos com substituição e adição de cimento por pó de vidro, tendo-se analisado
propriedades mecânicas, como resistência a compressão axial e tração por compressão diametral, propriedades de durabilidade
com a absorção de água e a influência na trabalhabilidade com a necessidade de inserção de água para alcance do abatimento.
A adição e substituição de cimento por pó de vidro interferiram na trabalhabilidade do concreto, aumentando a relação a/agl
em todas as situações. Para as adições, encontrou-se melhoria quando adicionado 10% de pó de vidro, de modo que este
concreto apresentou a menor relação a/agl final. Isso pode ser explicado pelo aumento do atrito entre as micropartículas do
concreto no estado fresco gerado pelo pó de vidro, o qual foi acentuado quando o cimento, que é um material aglomerante, foi
substituído. Esse atrito acarretou uma consistência mais seca e exigiu maior quantidade de água nas misturas.
A utilização do pó vidro alterou também o teor de absorção de água, sendo que, o concreto produzido com 10% de substituição
de cimento por pó de vidro apresentou menor teor absorção dentre todos, tendo seu resultado similar ao concreto de referência.
A partir dos resultados obtidos observa-se que a inclusão de vidro no concreto em substituição ao cimento gerou redução da
resistência mecânica, seja pela adição de água devido a redução da consistência, seja pela retirada de material aglomerante. O
mesmo observa-se quando o pó é adicionado a mistura. Com isso, entende-se que o pó de vidro gerou um efeito fíler no
concreto, de modo que duas partículas podem ter refinado seus poros impedindo a absorção de água. Esse preenchimento, por
outro lado, não se refletiu em resistência mecânica.
Pode-se observar que os concretos com teor de 10 % de vidro, tanto na substituição quanto na adição apresentaram os melhores
resultados, com as menores perdas de resistência e diminuindo a absorção de água e relação água/aglomerante, indicando que
este percentual gera melhorias na distribuição das partículas, melhorando também a estrutura interna do concreto.
Levando-se em consideração o aproveitamento de m material que era considerado resíduo e não teria mais destinação, os
efeitos técnicos negativos pode vir a ser compensados pelos benefícios ambientais associados. Indicam-se ainda estudos que
mantenham a relação água/aglomerante das misturas, além de avaliar os efeitos em idades mais avançadas, para ampliar o
conhecimento obtido.

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750
5SSS200
ELETROCOAGULAÇÃO: CLARIFICAÇÃO DA ÁGUA RESIDUAL
DOS LABORATÓRIOS DE QUÍMICA

Iago dos Santos Soares1, Cleilson do Nascimento Souza 2, Libertalamar Bilhalva Saraiva3, Ana Mena
Barreto Bastos4
1Institudo Federal de educação ciência e tecnologia do Amazonas, e-mail: iago28444@gmail.com; 2Institudo
Federal de educação ciência e tecnologia do Amazonas, e-mail: cleilsonguitar@gmail.com; 3Institudo Federal de
educação ciência e tecnologia do Amazonas, e-mail: libertalamar.saraiva@ifam.edu.br; 4 Institudo Federal de
educação ciência e tecnologia do Amazonas, e-mail:anamenabarreto@ifam.edu.br

Palavras-Chaves: Resíduos do Laboratório Químico do IFAM; Sistema de eletrocoagulação.

Resumo
O artigo aborda a aplicação do método eletroquímico ao tratamento dos resíduos químicos dos laboratórios de análise e
pesquisa nas áreas da química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas - IFAM, que teve como
principal objetivo remover os poluentes gerados, de forma simples sem a adição de produtos químicos. O reator em acrílico
com 40 L de capacidade foi dividido em três tanques, medindo 0,29 m de altura por 0,20 m de comprimento, 0,262 m de
largura (15,2 L cada unidade), com tubulação de ½ pol para a entrada de resíduo e saída da água tratada. Os resíduos do
laboratório de fisico-química e analítica denominados resíduos 1, 2 e 3 foram caracterizados com análises de pH,
condutividade, turbidez, alcalinidade, DQO e sólidos. A célula eletroquímica foi montada com eletrodos monopolares em
paralelo com arranjo de 2 pares de eletrodos tipo colmeia, a partir de uma placa maciça de alumínio de espessura de 3mm e
dimensões 200 x 200 mm, cortados em um dos cantos de cada placa de forma diagonal para passagem do parafuso de fixação,
com 400 cm² submerso no resíduo. A fonte de corrente contínua usada foi a “Fonte de Alimentação ICEL Manaus PS – 3005,
voltagem de saída de 0 a 32 Volts, ampéragem de 0 a 5A, alimentação de entrada de 110-220 Volts, sem inversão de
polaridade. Foram utilizadas correntes de 3A a 5A, em função das propriedades químicas dos resíduos com tempo reacional de
2 a 4 h. As placas (eletrodos de sacrifício), foram pesadas antes e após a eletrocoagulação/floculação com perda de massa de
5,7g. O pH e a alcalinidade mostraram aumento após a reação para todos os resíduos, com turbidez e cor diminuindo. O
arraste do poluente variou em função do aumento do pH e dos compostos formados com o Al(OH)3. Frente aos resultados
obtidos nos experimentos e analisando os limites aceitáveis para o descarte legal, previstos na resolução Nº 403 de 2011 do
CONAMA pode-se inferir que o sistema é eficiente e remove a maioria das substâncias dissolvidas ou em suspensão dos
efluentes líquidos dos laboratórios de ensino e pesquisa.

Introdução
A geração de resíduos químicos nos laboratórios de análises e pesquisas das áreas da química e biologia é quantitativamente
menor se comparada às indústrias de grande porte deste mesmo ramo, como as de produtos químicos e petroquímicos. O
grande problema desta forma de geração é a composição variada e inconstante dos resíduos, já que mudam constantemente e
dificilmente encontra-se um método padrão e eficaz para o seu tratamento.
Nas técnicas baseadas na eletroquímica, na qual as reações de coagulação acontecem dentro de um reator com eletrodos
metálicos, promovendo a dissolução deste metal com a geração de íons e gases (hidrogênio e oxigênio), os contaminantes
presentes na corrente de água residuária são tratados tanto por reações químicas e precipitação ou ligação física e química aos
materiais coloidais que estão sendo gerados pela erosão do eletrodo. Eles são então removidos por eletoflotação, ou
sedimentação e filtração.
O processo de eletrocoagulação é utilizado em diversos efluentes industriais para remoção de resíduos químicos, alimentícios,
esgotos sanitários, segundo Theodoro, 2010, “é uma técnica versátil de fácil operação e sem custo com reagente químicos,
surge como uma alternativa para realizar a oxidação e não apenas a transferência de fase interesse, mas agregar as partículas na
solução em meio aquoso para remoção superficial do poluente por eletroflotação”.

751
Khandegar e Saroha, 2013, ressaltam as principais vantagens da eletrocoagulação em relação a coagulação química
convencional: a não necessidade de adição de produtos químicos e melhor capacidade de remoção para as mesmas espécies, o
tempo de startup é mínimo, menor produção de lodo e consequentemente menores custos para dispor esse material, além disso,
o lodo gerado é mais facilmente filtrável e pode ser utilizado como um aditivo para o solo. Contudo, a técnica apresenta
também algumas limitações, como a necessidade de reposição periódica dos ânodos de sacrifício, requer uma condutividade
mínima da solução, a possibilidade de formação de um filme de óxidos impermeáveis sobre o cátodo que pode causar
resistência ao fluxo da corrente elétrica e ainda o alto custo da energia elétrica, que pode resultar em aumento do custo
operacional da EC (MOLLAH et al., 2001).
O trabalho foi desenvolvido para os resíduos dos laboratórios de química, principalmente o laboratório de físico-química, onde
o fluxo de análises e experimentos é maior e teve como objetivo principal fazer a clarificação dos efluentes líquidos dos
laboratórios removendo cor e turbidez primeiramente com a consequente retirada dos principais compostos poluentes de forma
simples em batelada, por eletrocoagulação/eletrofloculação.

Metodologia
O projeto foi desenvolvido no IFAM – CMC, com as seguintes etapas: montagem do reator eletroquímico, caracterização dos
efluentes dos laboratórios de físico-química do DQA/IFAM/CMC, reação no reator em batelada, análises do efluente do
reator.

Montagem do Reator Eletroquímico


O reator em acrílico com 40 L de capacidade foi dividido em três tanques, medindo 0,29 m de altura por 0,20 m de
comprimento, 0,262 m de largura (15,2 L cada unidade), com tubulação de ½ pol para a entrada de resíduo e saída da água
tratada, Figura 1A, com objetivo de tratar resíduos de diferentes laboratórios simultaneamente.

Figura 1A: Reator de acrílico com a célula eletroquímica no primeiro tanque. Fonte: própria.

A célula eletroquímica foi montada com eletrodos monopolares em paralelo com arranjo de 2 pares de eletrodos tipo colmeia,
a partir de uma placa maciça de alumínio de espessura de 3mm e dimensões 200 x 200 mm, cortados em um dos cantos de
cada placa de forma diagonal para passagem do parafuso de fixação. No centro as placas são furadas com furo de 10 mm para

752
fixação de parafuso central de PVC. A distância entre os eletrodos foi de 30 mm, figura 1B.

Figura 1B: Montagem das placas de eletrodo do tanque do reator eletroquímico. Fonte: própria.

A fonte de corrente contínua usada foi a “Fonte de Alimentação ICEL Manaus PS – 3005, voltagem de saída de 0 a 32 Volts,
ampéragem de 0 a 5A, alimentação de entrada de 110-220 Volts, sem inversão de polaridade.

Caracterização dos Efluentes dos Laboratórios de Físico Química do DQA/IFAM/CMC


Os residuos oriundos das aulas práticas no laboratorio de fisico – química e analitica, foram coletados e separados em quatro
tipos de resíduos foram armazenados em toneis com capacidade de 20 L, gerando um volume aproximado total de 80 L de
resíduos químicos, apresentavam caracteristicas distintas em sua cor, pH, turbidez e condutividade.
Para melhor caracterizar os resíduos foi realizado um mapeamento dos diversos procedimentos analíticos geradores de resíduos
líquidos por meio de análises dos roteiros das aulas práticas ministradas pelos professores nos laboratórios de química. Pois,
especifica a composição química presente no efluente.
Diversos autores observaram que o pH, cor, tubidez e condutividade do afluente ao reator de eletroflotação é um importante
fator operacional que influência na performance do processo eletroquímico (MENESES et al.,2012).
A Tabela 1 apresenta os quatro tipos de resíduos coletados em datas e aulas praticas diferentes e portanto catacteriza as
composições químicas. O resíduo 1 apresenta uma variedade de sais de metais alcalinos e alcalinos terrosos, metais de
transição, ácido orgânico e inorgânicos. O resíduo 2, apresenta sais de metais de transição como sais de sulfatos e nitratos,
ácidos inorgânicos, além de complexo de cobalto. Os resíduos 3 e 4 são semelhantes, porém a diversidade de sais é menor,
destacando a presença de sais de níquel no resíduo.

753
Tabela 1. Composição Química dos Resíduos líquidos dos laboratórios de Fisico – Químico e Analitica.

Resíduos Composição Química das Aulas Práticas das Disciplinas:


Química Analítica e Inorgânica

Ácido acético 1 mol/L, NaOH 1 mol/L


Indicadores Fenolftaleina e metilorange, Verde de
bromocresol
Metais alcalinos e terrosos
Determinação de H2O2
1 Sais de Cobre. BaCl2, CaCO3
AgNO3; 0,101mol/L, NaCl, K2Cr2O7, H2SO4, 0,1 mol/LHCl
AgNO3; 0,1012 mol/L, NaCl, K2Cr2O7, 1 mol/L H2SO4,
1mol/L HCl
H2SO4. Ag2SO4
CuSO4
Cu(NO3)2
HCl, HNO3, Hg (NO3)2
2 CuSO4.5H2O, Óleo de soja
Complexo de Cobalto [Co(NH3)5 CNO]Cl
K2Cr2O7 , K2CrO4
FeCl3
Ácido acético 1 mol/L, HCl mol/L
Cloreto do sódio NaCl 1 mol/L
3 HCl 1,0 mol/L, H3PO4
1 mol/L H2SO4
H2O2 10 V
Complexo de Níquel [Ni(H2O)6] Cl2

Os resíduos identificados foram submetidos as metodologias analíticas baseadas no Standard Methods of Water and
Wastewater (APHA, 1998). Os parâmetros analisados foram pH, turbidez, condutividade, demanda química de oxigênio-DQO,
alcalinidade, cloretos.

Reação de eletrocoagulação no reator em batelada


Os resíduos foram submetidos ao processo de eletrocoagulação e eletrofloculação no reator eletroquímico em batelada com
correntes de 3 a 5 A, tempo de 2 a 4 h, com inversão de polaridade de 30 em 30 minutos.
A eletrocoagulação transformaram as impurezas em flocos “sólidos”, formando duas fases distintas: efluente líquido tratado e
resíduo sólido (lama de tratamento), separados por flotação/sedimentação e filtração. O efluente líquido foi submetido as
mesmas metodologias analíticas pelos quais o resíduo inicial foi analisado e o resíduo sólido separado, seco e posteriormente
avaliado para o reaproveitamento de sais, hidróxidos de metais insolúveis e posteriormente armazenado e ou descartado.

Resultados e Discussão
Os resultados apresentados no quadro 1 mostram as variações dos parâmentos analisados antes e após a eletrocoagulação,
evidenciando a remoção de compostos dissolvidos e e eficiência do tratamento por eletrocoagulação/floculação. O resíduo

754
sólido (lama de tratamento) foi seco em estufa e analisado posteriormente para que se possa fazer o balanço de massa dos
compostos removidos e gerados.

Quadro 1: Variações nos parâmentros fisicos – químicos dos resíduos tratados.


PARÂMETROS
Resíduo pH Condutivida Turbidez Alcalinida Cloreto DQO Sólidos Cor Corrente Tempo
de (mS/cma) (NTU) de (mg/L (mg/L) (mg/L) Supensos (A) (horas)
CaCO3) (mg/L)

Azul
A 7,56 2,83 72,2 0,6459 0,9341 693,93 215 4 4
*7 Cobalto
98 Leveme
01 E 8,52 3,08 2,35 0,43676 0,7144 908,6 22 nte 4 4
azulado

Azul
A 7,75 2,70 147 0,7866 0,4161 783,93 171 4 4
cobalto
02
E 9,66 2,54 0,1 0,2647 0,3256 496,93 17 Incolor 4 4

A 0,94 2,37 102 ND 0,97 799,93 68 Roxo 4 3


03
E 9,18 3,52 0,1 0,4932 0,5997 1023,6 18 Incolor 4 3

Os resíduos 1 e 2 apresentavam antes da reação cor azul cobalto e parâmetros sugestivos da presença de bases fracas em um
equilíbrio dinâmico, base forte em solução muito diluída e de sais hidrolisáveis, complexos de metais Cu(II), Co(II), Cr(II),
Pb(I), Ag(I), que geram bases fracas e ácidos fracos em meio aquoso. O resíduo 3 apresentava cor roxa com valores de
condutividade entre 2,37 mS/cm e pH 0,94 indicativo da presença de ácidos fortes dissociados em altas concentrações.

Após o processo de eletrocoagulação, os valores de pH dos resíduos sofreram variação significativa. Segundo Kobya et al.
(2006), a variação é atribuída a capacidade tamponante do sistema Al3+/ Al(OH)3. Para eletrodos de alumínio no processo
eletrocoagulação-floculação, quando o pH inicial for inferior a 8, o pH final aumenta e para valores maiores o pH final
diminui. Para cada intervalo de pH uma espécie de alumínio é liberada, por exemplo: quando o pH está no intervalo entre 2–3
predominam as espécies Al3+ e Al(OH)2+ , já quando o pH está entre 4-9 são gerados íons Al3+ OH- pelos eletrodos que reagem
formando espécies como Al(OH)2+, Al(OH)22+, Al6(OH)153+, Al7(OH)174+, Al13(OH)345+ que finalmente se transformam em
Al(OH)3 mediante mecanismos complexos de polimerização/precipitação. Para pH maiores que 8 a concentração do ânion
Al(OH)-4 aumenta, reduzindo significativamente a concentração de Al(OH)3 (MERZOUK et al., 2011).

Além do exposto, quando o pH do efluente permanece na faixa entre 7 e 8, o mecanismo de floculação por varredura é
favorecido, principalmente se a forma sólida do hidróxido de alumínio Al(OH)3 prevalecer no meio líquido (CRESPILHO et.
al., 2004), o que explica a variação do pH nos resíduos eletrocoagulados 1,2 e 3.

Holt et al (2002) observaram que as espécies de complexos formadas na oxidação do eletrodo de alumínio variam em função

755
do pH do meio. Para pH entre 3 e 5, predominam espécies do tipo [Al(OH)2+] e [Al(OH)3+], enquanto que para pH maior que 6
predomina a espécie Al(OH)3 que pode gerar uma camada gelatinosa em pH acima de 7,0. Já de acordo com Chen et al (2000)
o aumento de pH pode ocorrer a partir de outros mecanismos como a transferência de CO , pois o CO é super saturado em
2 2

eletrólito aquoso ácido e pode ser liberado do meio devido à agitação causada pelas bolhas de H , causando então o aumento do
2

pH.

Antes do processo de eletrocoagulação-floculação observou-se que nos resíduos 1 e 2, a espécie de alcalinidade predominante
é do íon bicarbonato (HCO3-) e não foi detectada no resíduo 3. Após o processo de eletrocoagulação-floculação foram
detectadas espécies de bicarbonato e carbonato nos resíduos 1 e 2 e não detectável para o resíduo 3. O resíduo 3 apresentou
0,6100mg/L para íons hidroxilas OH- não observado para os outros resíduos.

Segundo Alpha 1998, a alcalinidade total de uma solução é, geralmente, devida aos íons hidroxila, carbonato e bicarbonato
dissolvidos na água e a soma das concentrações desses íons é expressa em carbonato de cálcio ou sódio. E ainda essas mesmas
concentrações podem sofrer variações de acordo com o pH do meio em que se encontram, como exemplo na figura 3, que
apresenta a variação das concentrações das espécies alcalinas em função do pH: A relação entre a alcalinidade e a
concentrações das espécies é um dos pontos importantes, pois nos permite determinar qual das espécies contribuirá para o
valor da alcalinidade e função de seu pH nos resíduos. Fazendo uma comparação com o gráfico da Figura 2, observamos que
teoricamente no intervalo de valores de pH entre 7 a 8 a espécie de maior concentração é a do íon HCO3- e intervalos de pH 11
a 14 as concentrações das espécies íons carbonato (CO3-2), íon hidroxila (OH-) são predominantes, sugestivo de que a
alcalinidade dos resíduos 1, 2 e 3 tem uma contribuição da concentração dessas espécies. O resíduo 3, apresentou
-
concentração apenas para o íon OH o que justifica o valor de pH >9.

Figura 2. Diagrama das concentrações das espécies do ácido fraco proveniente da hidrolise do íon carbonato existente
no resíduo.

756
Os resíduos 1,2,3 antes da eletrocoagulação-floculação apresentaram valores residuais para cloretos mg/L, 0,9341 mg/L,
0,4161 mg/L e 0,9700 mg/L, respectivamente, provavelmente oriundos da ionização do ácido clorídrico HCl e da dissociação
dos sais de cloretos dos metais alcalinos, alcalinos terrosos e de transição. Ao submeter os resíduos ao processo de
eletrocoagulação-floculação, observa-se que a concentração do íon cloreto Cl- diminui em todos os resíduos 0,7144mg/L,
0,3256mg/L e 0,5997mg/L, respectivamente.

Os valores para a condutividade elétrica aumentaram para todos os resíduos, resíduo 1 (2,83 - 3,08 µS/cma), resíduo 2 (2,20 -
2,54 µS/cma) e resíduo 3 (2,37 - 3,52 µS/cma). Os resultados sugerem aumento da condutividade molar à medida que a
concentração diminui de íons cloretos e nitratos, tendendo a um valor máximo, conhecido como condutividade molar limite
designada pelo símbolo Λ∞. Neste caso, destacam-se a presença de alguns eletrólitos como o cloreto de sódio (NaCl), nitratos
contribuindo no aumento da condutividade molar (eletrólitos fortes).

O efluente submetido ao tratamento sob agitação promove um aumento na migração de cátions e ânions da solução para o
eletrólito, provocando um aumento na velocidade de reação e consequentemente de oxidação de matéria. Quanto maior essa
agitação, maior será a velocidade da reação. O que explica o aumento da condutividade molar nos resíduos e diminuição da
concentração dos íons cloreto Cl- e nitrato NO3-. A floculação e precipitação de cloreto de prata, de mercúrio também pode ser
responsável pela diminuição da concentração do íon cloreto nos resíduos 1 e 2.

Os resíduos apresentaram valores altos para sólidos dissolvidos antes do processo de coagulação-floculação, sugestivos da
quantidade de sais insolúveis nos mesmos. Para o resíduo 1 os valores variaram após a processo eletrolítico de 215 mg/L - 22
mg/L, 171 mg/L - 17 mg/L para o resíduo 2 e 68 mg/L - 18 mg/L para o resíduo 3. O que evidencia a eficiência da
eletrocoagulação e floculação, tornando os resíduos de aspecto límpido e transparentes.

O aumento na intensidade de corrente provoca um aumento da migração de cátions da solução para o cátodo com a deposição
de ânion e aumento da migração de ânions da solução para o ânodo com a respectiva deposição de cátions para a solução.
Desta forma gera-se um aumento da taxa da reação e serve para caracterizar a cinética de equilíbrio pela elevação da densidade
de corrente. A resposta para dinâmica reacional é o aumento da concentração em mg/L de remoção de DQO (Demanda
Química de Oxigênio), observado no tratamento do resíduo 1 (693,93 mg/L - 908,60) e (496,93 mg/L – 757,93 mg/ para o
resíduo 2 e de (799,93 mg/L – 1023,6 mg/L) para o resíduo 3, o que confere um aumento da eficiência no processo de
tratamento. O processo se mostrou bastante eficiente na diminuição de turbidez que ao longo da reação de eletrocoagulação
aumentava para depois da eletrofloculação diminuir a valores reduzidos. Todos os resíduos tiveram diminuição da turbidez e
cor iniciais sugerindo, portanto uma redução nos compostos dissolvidos.

Desgaste dos Eletrodos e Liberação de Aluminio


As placas (eletrodos de sacrifício), figura 4, com área submersa total de 400 cm² cada foram pesadas antes e após a
eletrocoagulação/floculação: placa 1 (325,25g – 314,10g), Placa 2 (321,64g – 300,88).

757
Figura 4: Elétrodo de Alumínio. Fonte Própria.

A perda de massa foi calculada segundo Eq (1):

(1)

Onde i é a corrente em ampere, t o tempo do tratamento em segundos, M a massa molar do elemento predominante do elétrodo
em g/mol, n o número de elétrons envolvidos na oxidação do ânodo e F a constante de Faraday 9,65x104Cmol-1.

Na etapa de tramento teve uma perda de massa dos elétrodos significativa de 5,37 g de alumínio para o meio meio, entretanto o
valor teórico da quantidade de Al+3 liberada para ser cosumida durante a eletrólise como dosador de coagulante, é o mecanismo
importate para formação do hidróxido de alumínio Al(OH)3. Na verdade de acordo com MENESES et al.,2012, desde que a
coagulação é alcançada pela neutralização de carga e desestabilização dos coloides carregados negativamente pela hidrólise
catiônica dos produtos de Al3+, o excesso de coagulante pode dar uma carga reversa e a reestabilização dos coloides.

Comentários Finais
Considerando os resultados obtidos nos experimentos realizados com o sistema de eletrocoagulação/eletrofloculação e
analisando os limites aceitáveis para o descarte legal, previstos na resolução Nº 403 de 2011 do CONAMA pode-se inferir que
o sistema é eficiente e remove a maioria das substâncias dissolvidas ou em suspensão dos efluentes líquidos dos laboratórios de
ensino e pesquisa. A implementação de um programa de tratamento de resíduos passa por uma tomada de consciência acerca
da necessidade de adotar novos hábitos no sentido de atender não só a legislação vigente, mas principalmente a uma nova
mentalidade que se preocupe não apenas com a qualidade das análises, mas também com a gestão dos resíduos. Essa visão
passa pela identificação, tratamento e encaminhamento dos mesmos, de forma a diminuir os possíveis impactos ao meio
ambiente.

Agradecimentos
Ao IFAM, pelo aporte financeiro e logístico para a realização da pesquisa; aos professores Doutora Libertalamar e Doutora
Ana Mena Barreto Bastos.

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759
5SSS203
REMOÇÃO DE TURBIDEZ NA CAPTAÇÃO DE ÁGUAS
SUPERFICIAIS PARA ABASTECIMENTO: UMA REVISÃO SOBRE
AS TECNOLOGIAS UTILIZADAS
Elís Gomes de Souza1, Ramon Lucas Dalsasso2
1Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: elisgs.esa@gmail.com; 2Universidade Federal de Santa
Catarina, e-mail: ramon.lucas@ufsc.com

Palavras-chave: Tratamento de água; pré-tratamento; micro-gradeamento.

Resumo
As águas superficiais, uma das principais fontes de captação de água para abastecimento, são suscetíveis à diversos fatores que
podem influenciar na sua qualidade. A ocorrência de chuvas intensas em uma bacia, somada às suas características como:
declividade, composição do solo, uso do solo, entre outras, geram variações nos parâmetros físico-químicos e biológicos da
água, principalmente no parâmetro turbidez. Estes picos de turbidez, no manancial, acabam limitando os tipos de tratamento
passíveis de uso para a potabilização desta água, e excluem a possibilidade do uso de técnicas com simples operação e menor
demanda por produto químico (ideal para pequenas comunidades e populações rurais). A Organização Mundial de Saúde
(OMS) estima que 16 % da população rural mundial não tem acesso à água potável. Dentro deste contexto, em 2015, a
Organização das Nações Unidas (ONU) definiu 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, sendo o sexto: Assegurar a
disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos. Tecnologias de pré-tratamento podem viabilizar o uso
de técnicas simplificadas de tratamento de água, como a filtração lenta, e aumentar o acesso à água potável para as pessoas.
Este trabalho realizou uma revisão bibliográfica de tecnologias de pré-tratamento, de água bruta superficial, para a remoção de
turbidez, através de processo físico, e instalação na captação de água. As tecnologias pesquisadas são: peneiramento fino e
micro do tipo banda contínua, tambor, multidisc® e passiva submersa; pré-filtração do tipo filtração em margem e filtro em
manta; e pré-sedimentadores do tipo tanque de sedimentação e canal de desarenação gravitacional. Concluiu-se que a
tecnologia com mais pesquisas e resultados favoráveis é a filtração em margem, porém, o sucesso de sua operação depende de
uma série de fatores. No geral, as tecnologias pesquisadas são benéficas para o uso antes de processos de filtração, pois
reduzem a quantidade de partículas que passariam para o filtro e que seria retida no material filtrante, consequentemente,
aumenta a carreira de filtração dos filtros. Não se pode afirmar que são indicadas como pré-tratamento de processos que
envolvam a sequência coagulação-floculação-decantação, para qualquer concentração de turbidez da água bruta, porque, apesar
de serem vantajosas para o amortecimento dos picos de turbidez, em épocas de chuvas intensas, podem ser uma desvantagem
em épocas de estiagem - com turbidez mais baixa – pois removeriam parte da turbidez composta por partículas de maior
diâmetro, tais partículas auxiliam na formação de flocos mais pesados e com maior velocidade de sedimentação.

Introdução
633 milhões de pessoas no mundo não têm acesso à uma fonte de água potável, 4% de toda a população urbana e 16% de toda
a população rural, segundo dados da OMS (2015). Neste mesmo ano, membros da Organização das Nações Unidas assinaram
o documento: “Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” que reúne 17 objetivos,
o sexto objetivo é “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos” e define a meta de “até
2030, alcançar o acesso universal e equitativo a água potável e segura para todos”.
No Brasil, para que a água seja considerada potável ela precisa atender os valores de parâmetros definidos na Portaria de
consolidação do Ministério da Saúde nº 5/2017, a depender da qualidade da água se define o tipo de tratamento mais adequado.
A água superficial, particularmente a água de rio, é um manancial acessível para parte da população. Entretanto, está exposta à
perigos permanentes e à uma poluição repentina por esgoto ou distúrbios devido à chuva intensa, transporte ou lançamento de
substâncias perigosas, refletindo sua função de corpo receptor da bacia hidrográfica (SCHMIDT, 2003).
Para a concepção de um projeto de estação de tratamento de água, principalmente quando se trata de comunidades pequenas –
em que o serviço pode se tornar oneroso ao usuário e onde há dificuldade de mão-de-obra especializada - é importante
priorizar instalações simples, com os equipamentos e operação que forem estritamente necessários e, quando couber, evitar a
coagulação química e reduzir ou até eliminar o tratamento (RITCHER & NETTO, 1991).
Como alternativa ao tratamento de água nas áreas rurais, enquadram-se as operações de filtros lentos, quando se dispõe de um
manancial passível à esta técnica, os quais são considerados excelentes alternativas para o fornecimento de água potável, pois
não exigem mão-de-obra técnica avançada (PIZZOLATTI, 2010).
O uso da filtração lenta, para o tratamento de água, é adequado quando a turbidez da água bruta for sempre menor que 10 uT e

760
cor menor que 5 uC (DI BERNARDO, 1993). Já para o uso de filtração direta ascendente ou descendente a água bruta deve
estar 90% do tempo com turbidez ≤ 10 uT, em 95% ≤ 25 uT e em 100% ≤ 100 uT, para cor em 90% ≤ 20 uC, 95% ≤ 25 uC e
em 100% ≤ 50 uC (DI BERNARDO, 2003). E para filtração dupla, 90% do tempo com turbidez ≤ 100 uT, em 95% ≤ 150 uT e
em 100% ≤ 200 uT, para cor em 90% ≤ 50 uC, 95% ≤ 75 uC e em 100% ≤ 100 uC (DI BERNARDO, 2003).
Neste contexto, as tecnologias de pré-tratamentos, para redução de turbidez, aparecem como alternativas para viabilizar
processos de tratamento mais simples, acessíveis e que demandem menos produto químico. O objetivo deste trabalho é reunir
pesquisas do meio acadêmico e informações do mercado sobre tecnologias de pré-tratamento de água que possam ser
instaladas na captação da água superficial, e que removam turbidez através de processo físico. Algumas tecnologias,
reconhecidas como pré-tratamento para remoção de turbidez, não foram inseridas na revisão por não se enquadrarem em todos
os critérios de inclusão, como é o caso de: filtro dinâmico, filtro de pedregulho e hidrociclone.

Revisão
Peneiramento – peneiras finas e micropeneiras
O gradeamento é a retenção de partículas por uma tela, ou grade de barras longitudinais, com aberturas menores que as
partículas que serão retidas (HENDRICKS, 2010). As grades grosseiras servem para proteger os equipamentos de partículas
maiores, enquanto as grades com aberturas menores têm função de tratamento da agua, como sólidos coloidais em suspensão
(TSUTIYA, 2006; HENDRICKS, 2010; HELLER & PÁDUA, 2010)
Metcalf e Eddy (2016) classificaram as grades pela abertura: grade grosseira, > 6 mm; peneiras finas, 0,5 a 6 mm; e
micropeneiras, < 0,5 mm, a microfiltração tem abertura de 0,05 a 2 µm, mas se enquadra como membrana. As peneiras finas
têm abertura de 2 a 4 cm (TSUTIYA, 2006) e uma micropeneira varia de 1 a 60 µm (HENDRICKS, 2010).
O sucesso de uma peneira não está, apenas, na eficácia de reter partículas, mas também nas suas funções práticas: limpeza;
durabilidade do material; fácil manutenção, tudo isto faz parte da tecnologia do gradeamento, neste contexto, tais tecnologias
fazem parte de catálogos de empresas, que adquiriram experiência na área e desenvolveram produtos (HENDRICKS, 2010).
Algumas marcas, com mais de 80 anos de experiencia no mercado mundial, são: Evoqua Water Tecnology; Hubert Water
treatment Installation.; Aqseptence Group; Ovivo Worldwide Experts in Water Treatment; Jash Engineering Ltd..

Peneira fina de banda contínua (band screens)


O princípio do funcionamento é o de uma esteira, onde se posiciona a grade fina, com giro contínuo e vertical, acionada por
uma engrenagem, posicionada fora da água, já na parte inferior - dentro da água - fica a segunda engranagem, que guia o giro
completo. Esta tecnologia suporta grandes variações do nível do corpo hídrico, até 20 metros de profundidade; tem limpeza
automática por sprays de água; pode devolver ao rio qualquer material gradeado, inclusive peixes, sem a geração de resíduos
ou impacto ambiental; tem fácil manutenção.
As aberturas das malhas podem variar de 0,5 a 10 mm, a largura da peneira chega a 5 metros, dependendo do fornecedor. Estes
equipamentos têm grande capacidade de vazão filtrada, chega à 5.500 l/s.
O fluxo de água pode transpassar a peneira por apenas um dos lados, ou entrar pelos dois lados, como mostra a Figura 18, isto
aumenta a capacidade do equipamento. Para a sua instalação é necessária uma estrutura em concreto para apoiar o
equipamento e o seu funcionamento é elétrico.

Figura 18 – Tipos de fluxo, na peneira de banda, da empresa Ovivo Worldwide Experts in Water Treatment.

761
Peneira fina de tambor (drum screen)
É como um grande cilindro, com diâmetros que variam de 0,7 a 20 metros, com giro vertical em torno de um eixo, posicionado
na face circular, e a peneira é toda a face retangular. A água entra paralela ao eixo e sai por toda a superfície da peneira que
está submersa, dependendo da configuração dos canais, é possível fazer o fluxo inverso, em que a água entra pela peneira para
dentro do tambor. O tambor gira continuamente e no topo recebe um spray de água para limpeza da tela, ver Figura 19. A
capacidade é de até 30 m³/s, a abertura da tela pode ter de 0,11 a 6,00 mm. A instalação precisa da construção de um canal
próximo à captação e seu funcionamento é elétrico.

Figura 19 – Funcionamento da peneira fina de tambor, empresa Ovivo Worldwide Experts in Water Treatment.

Peneira fina multidisc® (Geiger multidisc® screen)


Esta tecnologia consiste em um painel de malha rotativo, feito em plástico polietileno ou polióxido de polietileno. Uma única
corrente de transporte conecta os painéis pela face traseira e percorre uma unidade de deflexão, na parte inferior, e uma roda
dentada acoplada a uma unidade de acionamento, na parte superior. Os painéis de malha são executados em uma estrutura guia
(BILFINGER WATER TECNOLOGIES, 2014).
O equipamento é posicionado em um canal, construído próximo ou dentro da captação; a largura pode ser de 1,0 a 3,5 m e a
profundidade de 1,2 a 25 m. A capacidade é de até 50 m³/h e a faixa de abertura das peneiras é de 0,5-10 mm, o seu
funcionamento é elétrico. E tem a possibilidade de devolver ao rio qualquer material gradeado, inclusive peixes.

Figura 20 – Ilustração da peneira multidisc da empresa Bilfinger Water Technologies.

762
Peneira fina passiva submersa (Johnson Passive Intake Screens)
A empresa Johnson Screens, do grupo alemão Aqseptence, desenvolve peneiras passivas desde 1968 e tem mais de 4.000
peneiras instaladas pelo mundo. Esta tecnologia têm baixa perda de carga e são posicionadas totalmente submersas na
captação; são feitas para vazões maiores que 1,150 m³/s; são modulares, podem-se acoplar mais peneiras apenas ajustando o
arranjo das conexões; a faixa da abertura de passagem de sólidos varia de 1 a 10 mm; a limpeza é feita por bombeamento de ar,
de dentro para fora da peneira. O peneiramento é por gravidade.

Figura 21 – Detalhes da peneira passiva submersa, da empresa Aqseptence Group.

Micropeneiras – fluxo pressurizado


Em 2003, Silveira testou uma micropeneira, com funcionamento por bombeamento, quanto a eficiência de remoção de: algas;
cor aparente e turbidez, da água bruta superficial da Lagoa do Peri (Florianópolis/SC), manancial de captação da estação de
tratamento de água da Lagoa do Peri, o tratamento da unidade é composto por coagulação seguida de filtração direta
descendente. O objetivo do estudo foi avaliar a influência do pré-tratamento no tempo de carreira dos filtros.
O equipamento testado foi a micropeneira autolimpante, modelo SAF 3000 (marca AMIAD) com abertura de malha de 25 e 50
µm. Segundo catálogo da AMIAD, linha SAF Filters, a capacidade máxima é de 150 m³/h; a pressão mínima de trabalho é de 2
bar (≈ 20,39 m.c.a.) e a máxima de 10 bar (≈ 101,97 m.c.a.); funciona com motor elétrico de 0,25 HP (≈ 0,75 kW) e a área de
filtração é de 3000 cm². Os critérios de retrolavagem da tela da micropeneira são: diferencial de pressão maior que 0,5 bar (≈
5,10 m.c.a.), intervalo de tempo definido e operação manual.
O teste realizado por Silveira (2003) usou vazão de 10,8 m³/h, que resulta em uma taxa de permeabilidade de 0,06 L.cm².min-
1
.A máxima remoção de turbidez foi de 13,33 %, com máximo de 7,7 UT na água bruta.

Filtração

Filtração em margem
A filtração em margem é uma tecnologia de captação de água que consiste em extrair água de poços, posicionados próximos de
um corpo hídrico (GUTIÉRREZ et al.; 2017). O recalque da água deste poço de produção, com vazão suficiente para o
rebaixamento do lençol freático, gera uma diferença de pressão entre o rio e o aquífero, e a água do rio tende a fluir em direção
ao poço (SCHMIDT et al., 2003). O caminho, que a água percorre pelo subsolo, funciona como um filtro (HISCOCK and
GRISCHEK, 2002; SENS et al., 2006).
A técnica é muito útil como pré-tratamento de água de abastecimento, pois, a depender da composição do subsolo, promove a
remoção de parâmetros físicos, químicos e biológicos presentes na água superficial, além de atenuar os picos de cor, turbidez e
sólidos suspensos da água captada em relação à agua bruta do rio (GUEDES et al., 2019; BIRCH et al., 2015; DILLON et al.,
2002). A qualidade da água produzida, as interações biogeoquímicas, que ocorrem no processo de tratamento da filtração em
margem, e a capacidade hidráulica de funcionamento são influenciadas pelos seguintes fatores: granulometria do material do
aquífero e do leito do rio; condições de fluxo do manancial; qualidade da água superficial; conexão hidráulica entre rio-
aquífero, respectiva condutividade hidráulica; gradiente hidráulico; distância entre a margem do rio e o poço de produção;
composição do aquífero quanto à mineralogia, matéria orgânica presente no subsolo, tamanho dos grãos e forma do aquífero;
configuração do poço em coletores verticais ou horizontais, ver Figura 22 (GUEDES et al., 2019; HAMDAN et al., 2012;
SENS et al., 2006; RAY et al., 2002; HISCOCK e GRISCHEK, 2002).

763
Figura 22 - Diagrama do funcionamento da filtração em margem com poço vertical (adaptado por ROMERO
ESQUIVEL et al, 2016; HISCOCK E GRISCHEK, 2002).

Os poços horizontais (ver Figura 23) têm maior capacidade de produção, em comparação aos verticais, por terem maior área
superficial de captação, consequentemente, menor risco de entupimento, e os custos de investimento no sistema de
bombeamento podem ser otimizados com menor demanda por poços de produção, entretanto, é necessária uma análise técnica-
econômica-financeira para comparar os custos de investimentos/operação entre as duas configurações (HUNT et al., 2002).

Figura 23 - Esquematização de poços de filtração em margem horizontais e verticais (RAY et al., 2002).

Hamdan et. al (2012) testou a filtração em margem para a remoção e degradação de contaminantes da água do Rio Nilo, para
abastecer a cidade de New Aswan (Egito), usou 3 poços verticais a 50 m do curso hídrico. O solo era composto por areia (de
vários tamanhos) e xisto. Durante um ano, fez análises físicas, químicas e microbiológicas para: as águas dos poços; água
superficial do rio Nilo; e água subterrânea de poços mais distantes do local. A turbidez da água bruta variou de 0,62-1,11 uT e
da água filtrada de 0,2-1,28 uT, a baixa turbidez e variação da água bruta se deve à influência da barragem High Aswan na
qualidade da água do rio. Os sólidos suspensos totais foram completamente removidos. A vazão de retirada dos poços variou
entre 100-120 m³/h. Para o autor, os resultados mostraram que a técnica é eficaz na remoção de contaminantes, principalmente
microbiológicos; reduz o uso de produtos químicos; tem baixo custo operacional e aproveita o próprio subsolo como material
filtrante.
A Tabela 24 apresenta algumas pesquisas realizadas, sobre filtração em margem, e as respectivas características hidráulicas de
poços horizontais, com exceção do experimento de Karanth (1997), que estudou o uso e a performance da técnica galeria de
infiltração para o abastecimento de água em várias localidades da Índia Peninsular.

764
Dimensões do poço Condutividade Vazão de entrada
Autores
Extensão (m) Diâmetro (mm) Profundidade (m) hidráulica (m/s) (m³ s-1 m-1)
Mikels (1992) 6 à 21 N.C. 6 0,0013 à 0,0031 0,0014 à 0,0019
Karanth (1997) 76 à 762 310 à 1000 6 0,00005 à 0,008 0,00012 à 0,0011
Ray et al. (2002) 41 à 72 200 à 300 15 à 25 N.C. 0,0011 à 0,0019
Birch et al. (2007) 50 à 100 200 à 300 5 0,0001 à 0,001 0,00028 à 0,0031
Tabela 24 - Vazão de filtração de poços horizontais de estudos publicados.

Segundo Nagy-Kovács (2019), Budapeste WaterWorks, a companhia de saneamento de Budapeste (Hungria), opera 756 filtros
em margem, nas proximidades do rio Danúbio, que abastecem 1,89 milhões de habitantes. Os dados de operação destes poços,
do período entre 2006 e 2017, foram compilados conforme suas características: horizontal, vertical ou ambos; distância entre
rio e poços; espessura do aquífero; tempo de percurso. Também compilou informações de remoção de concentração de 58
parâmetros entre físico, químicos ou biológicos, e relacionou com o tempo de percurso. Conforme a pesquisa, a eficiência de
remoção de turbidez da água - através da filtração em margem - foi maior que 99% (para água bruta com turbidez entre 0,24 e
213 uT), a eficiência não está relacionada com o tempo de percurso, mas diminui com os precipitados de ferro e manganês
(NAGY-KOVÁCS (2019).
Em 2018, Guedes testou a filtração em margem com poço vertical no rio Belo, em Orleans/SC (Brasil), em condições
favoráveis para o tipo de tratamento: solo e leito do rio com granulometria entre média e grossa, condutividade hidráulica entre
0,0015 e 0,0052 cm/s; velocidade do rio de 0,19 m/s e vazão de produção de 630 m³/h. Monitorou 10 parâmetros entre físico,
químico ou biológico da água bruta e filtrada. A turbidez da água bruta teve a seguinte variação: média de 24,0 uT, mediana de
10,4 uT, mínima de 1,3 uT e máxima de 176,0 uT, a turbidez da água filtrada em margem se manteve entre 0,1 e 0,5 uT.
Michelan, em 2010, avaliou a filtração em margem com poço vertical, com água do rio Itajaí do Sul - no município de
Ituporanga/SC (Brasil) - como pré-tratamento de água de um filtro lento, quanto à remoção do agrotóxico carbofurano (82 %)
e de turbidez (47-94%, para água bruta de 20 à ≈ 60 uT). Também monitorou outros 22 parâmetros entre físico, químico ou
biológico da água bruta e filtrada.

Sistema de captação subsuperficial


A tecnologia é um pedido de patente, de 2013, depositado pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). A invenção
envolve método, equipamentos e instalações para uma captação subsuperficial com pré-filtração de água de rio.
Em resumo, a tecnologia consiste em uma estrutura filtrante composta por gabião, manta, pedras tipo rachão, areia torpedo e
tubos ranhurados, posicionada em uma cavidade no leito do rio (entre os taludes) e perpendicular ao fluxo da água, dotada de
pilares fundeados no leito do rio; um reservatório na margem, que recebe a água subterrânea e superficial filtrada e coletada
pela estrutura anterior e serve como poço de sucção; sistema de bombeamento para adução da água captada e retrolagem da
estrutura filtrante dotado de bombas submersíveis, com barrilete composto por conexões e registros que possibilitam tais
manobras.
Este tipo de captação, com um filtro posicionado no leito do rio, traz como vantagens: a possibilidade de captar a água subterrânea
e a água que flui no rio com uma qualidade melhor, especialmente quanto à turbidez, sem necessidade da construção de barragem
de nível e sem risco de entupimento por folhas ou materiais maiores; tem ótima relação de custo/benefício; otimização do
aproveitamento da água captada; maior segurança operacional; redução de custos por minimizar o consumo de produtos químicos
e da produção de lodo de água; número menor de paradas da produção da estação pela piora da qualidade da água em eventos de
chuvas; e fácil manutenção (ANDREOLI et al. 2013).

765
Figura 24 – Cortes do sistema de captação subsuperficial (adaptada pela autora, ANDREOLI et al. 2013).

Figura 25 – Vista em perspectiva do sistema de captação subsuperficial (adaptada pela autora, ANDREOLI et al. 2013).

Filtro de manta
Tavares (2008) desenvolveu e testou um pré-filtro vertical composto por duas camadas de manta não-tecida com recheio de
areia (tamanho efetivo de 0,28 mm), o filtro foi construído com formato de cilindro oco com 0,60 m de altura, diâmetro
externo de 0,15 m, onde se posiciona a primeira manta não tecida, e interno de 0,032 m, onde se posiciona a segunda manta,
este espaço entre as duas mantas foi preenchido com areia. Para testá-lo se utilizou de um reservatório com nível constante,
mas, se entende que o dispositivo poderia ser instalado na captação. O objetivo foi reduzir a área necessária para a instalação
da pré-filtração, antecedente à filtração lenta, em comparação à área necessária para a instalação de um filtro de pedregulho.
Para o teste se utilizou água bruta do Lago do Ipê, município de Ilha Solteira/SP (Brasil), com turbidez entre 3-12 uT. O pré-
filtro trabalhou com taxa de filtração de 0,38-3,00 m³.m-2.dia, com esta configuração tem capacidade para tratar de 4,47-35,34
L.h-1.
Os testes mostraram que a eficiência de remoção da turbidez aumenta com a redução da taxa de filtração, remoção média de
81,7% (taxa de 0,38 m³.m-2.dia ) e 77,4% (taxa de 3,0 m³.m-2.dia ), a remoção de sólidos suspensos foi de 80-100%, o
dispositivo, também, se mostrou eficiente na remoção de algas, cianobactérias, fitoflagelados e diatomáceas, um média de 95
%. Para efetuar a limpeza se deve removê-lo e instalar outro no lugar, e a limpeza é feita de forma manual, remove-se a areia e
as mantas e lava-se em qualquer recipiente (TAVARES, 2008).

766
Figura 26 – Filtro em manta: planta, corte e fotografias do experimento.

Sedimentação
O princípio do processo unitário sedimentação é a força gravitacional (HENDRICKS, 2011).

Tanque de sedimentação
O Ministério da Saúde da Nova Zelândia (2007) apresentou a pré-sedimentação como opção de pré-tratamento de águas
superficiais para pequenos sistemas de abastecimento. Ponderou que pequenas partículas (incluindo micro-organismos) não
seriam removidas nessa unidade, já que têm sedimentação mais lenta. E destacou a importância da posição da entrada e saída
da água na unidade para garantir a eficiência no processo, de tal forma que evite turbulência e caminhos preferênciais, para não
atrapalhar o processo de sedimentação das partículas.
Sammarraee et al. (2009) fizeram uma simulação hidráulica, para testar a eficiência de remoção de partículas com diâmetro
médio entre 20-250 µm, em um tanque de sedimentação de 20 m de comprimento; 3 metros de largura; volume de 280 m³;
com e sem defletores e velocidade longitudinal da água de 0,0014 m.s-1. Concluíram que o aumento da eficiência de remoção
está relacionado ao aumento do diâmetro médio da partícula. Resultados da remoção no tanque sem defletores: 16%, 20 µm;
19%, 50 µm; 24%, 80 µm; 49%, 120 µm; 87%, 170 µm; 94%, 200 µm e 97%, 250 µm. O uso de defletores aumenta a
eficiência de remoção.
A pré sedimentação reduziu substancialmente a carga de sólidos de água superficial, durante estação chuvosa na Coréia, as
partículas maiores foram removidas no sedimentador, a remoção das partículas menores demanda o uso de filtro (KWAK et
al., 2010).
Em 2018, Jahanshahi e Taghizadeh testaram a influência do uso da pré-sedimentação dentro da seguinte sequência de
tratamento: pré-cloração; pré-sedimentação; coagulação/floculação/decantação; filtro rápido e cloração final. Os parâmetros
testados foram: turbidez; cloro residual e tempo de carreira dos filtros (por jartest). A pré-sedimentação funcionou como um
amortecedor da variação da turbidez, quando a concentração se elevou de 35 a 105 uT, a maior influência foi na carreira de
filtração do filtro rápido, que se manteve em 24 horas contra 8 horas, no teste sem a pré-sedimentação. Para turbidez menor
que 30 uT combinada à dias quentes e ensolarados, a pré-sedimentação propiciou a proliferação de algas e o aumento do
consumo de produto químico na pré-cloração.

767
Canais de desarenação gravitacionais
O canal de desarenação tem a função de propiciar a sedimentação dos grãos de areia (partículas com diâmetro maior que 50
µm), para tal, o fluxo de água é submetido à um canal com seção hidráulica que proporciona uma velocidade de escoamento
longitudinal igual ou inferior a 0,3 m/s, o comprimento do canal deve ser calculado considerando a velocidade crítica de
sedimentação das partículas igual ou inferior a 0,021 m/s, e um coeficiente de segurança de 1,5 (Tisutyia, 2006).

Comentários finais
Entre todas as tecnologias pesquisadas, a que se mostrou mais eficiente na remoção de turbidez e, também, de outros
parâmetros, foi a filtração em margem, entretanto esta técnica, para ser bem sucedida, precisa atender uma série de pré-
requisitos, dentre eles a conexão hidráulica entre o aquífero e o rio e a composição do subsolo, por isto, se entende que não é
adequada para qualquer cenário.
As grades finas em banda e multidisc® são boas alternativas para rios com grande variação de nível, mas demandam uma
estrutura em concreto significativa, para apoiar o equipamento, isto também ocorre com a grade fina de tambor, outro ponto
negativo, destas duas tecnologias para os clientes brasileiros, é a dificuldade em encontrar fornecedores no Brasil. A grade fina
passiva submersível é uma alternativa adequada para mananciais com pouca variação de nível, isto porque a limpeza depende
de equipamento de compressão de ar, e a variação da coluna da água influenciaria na performance deste, prejudicando a
operação de limpeza.
Os tanques de sedimentação são relativamente simples de operar, mas demandam um grande volume de retenção de água, que
pode demandar uma grande estrutura de concreto armado e ou grande área alagada, se utilizado o próprio leito do rio para criar
uma represa. Os canais gravitacionais são mais adequados para água bruta, cuja turbidez seja constituída por partículas de
areia.
Os filtros de manta, mostraram versatilidade e facilidade para a instalação, pouca necessidade de área e serem constituídos de
material acessível e de baixo custo, além de apresentarem satisfatória eficiência de remoção de turbidez e de outros
parâmetros, entretanto são necessárias mais pesquisas, com diferentes cenários, principalmente quanto às concentrações
maiores de turbidez na água bruta.
No geral, as tecnologias pesquisadas são benéficas para o uso antes de processos de filtração, pois reduzem a quantidade de
partículas que passariam para o filtro e que seria retida no material filtrante, consequentemente, aumenta a carreira de filtração
dos filtros. Não se pode afirmar que são indicadas como pré-tratamento de processos que envolvam a sequência coagulação-
floculação-decantação, para qualquer concentração de turbidez da água bruta, porque, apesar de serem vantajosas para o
amortecimento dos picos de turbidez, em épocas de chuvas intensas, podem ser uma desvantagem em épocas de estiagem -
com turbidez mais baixa – pois removeriam parte da turbidez composta por partículas de maior diâmetro, tais partículas
auxiliam na formação de flocos mais pesados e com maior velocidade de sedimentação.
Apesar de existir um número significativo de tecnologias, são opções que envolvem um custo significativo de investimento e
operação, se definidas como alternativa de pré-tratamento de água para pequenas comunidades, com exceção da tecnologia
filtro de manta.

Referências Bibliográficas

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770
5SSS204
UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA
PRODUÇÃO DE ARTEFATOS CONSTRUTIVOS E APLICAÇÃO EM
H.I.S.
Rodrigo Barcelos Pinto1, Felipe Ariel Köhler2
1Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, e-mail: a1arquiteto@gmail.com; 2Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, e-mail: fak.arquiteto@gmail.com.

Palavras-chave: RCD; Artefatos; H.I.S.

Resumo
O grande volume de resíduos da construção e demolição (RCD) gerados pela indústria da construção civil causam impacto
ambiental significativo mesmo nas cidades do interior do estado. Apesar da resolução nº 307/2002 do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA), que trata da obrigatoriedade da elaboração e implantação de plano de gestão sustentável,
percebe-se descontrole de volume, tipos e destino final para os resíduos, tanto por parte da gestão pública como pelos
profissionais da indústria da construção civil. Em levantamento nas nove cidades que compõem o Vale do Jaguari/RS, foram
identificados e quantificados os focos dos resíduos, constatando cerca de 750 toneladas de resíduos por semestre na região.
Para tal, o presente estudo visa mitigar os impactos ambientais e motivar investidores da indústria a produzir artefatos
construtivos - tijolos de solo cimento, blocos de vedação, pavimento intertravado, pisos diversos e placas de revestimento
decorativo, contento em sua composição resíduos de classe A. Assim,12 traços em estudo, divididos em três métodos de
produção – forma plástica em mesa vibratória, máquina vibro-prensa de concreto e máquina vibro-prensa de solo cimento,
foram produzidos, além de 6 protótipos construtivos que foram criados – bloco de concreto 3 furos, bloco maciço de concreto
grande, bloco maciço de concreto pequeno, tijolo de solo, gesso e cimento, tijolo de solo, gesso e cimento furado e verga e
contra verga. Todos foram testados em sua resistência e absorção de água conforme a sua função específica – portante,
vedação e revestimento. E assim para completar o ciclo dos 3 R’s, um projeto da Habitação de Interesse Social (H.I.S) foi
proposto, utilizando os 6 protótipos de elementos construtivos desenvolvidos de acordo com programa de necesidades padrão
mínimo e um lote de 12x30m, possibilitando ampliações futuras. O projeto conta com soluções sustentáveis, além do uso de
residuos, que proporcionam melhor qualidade do espaço construído, como iluminação zenital, ventilação cruzada, planta de
fácil execução e implementação no lote, local específico para painéis fotovoltaicos, aquecedor solar, e reservatorios.
Aprimoramentos nos traços, processo de cura e melhorias no design da H.I.S de acordo com cada implementação, ainda se faz
necessário, mas a utilização de RCD em artefatos construtivos já se mostra viável na região.

Introdução
Apesar de existirem estudos sobre a natureza e sua conservação a muitos séculos, a preocupação com o meio ambiente cresceu
com atenção sistemática a partir da década de 1970, com as conferencias sobre a crise global do petróleo, juntamente com o
crescimento dos movimentos ambientalistas.
Atualmente, a preocupação com o meio ambiente continua e está cada vez mais presente nas ações humanas e deve ser um dos
condicionantes a ser considerado em qualquer atividade para a preservação e manutenção dos recursos naturais.
Como afirma Ferri (2018), as pessoas organizam e reorganizam suas vidas relacionando-se com o meio natural. Dessa forma,
para atender às demandas do ser humano, vários produtos são criados, onde muitos deles, além de utilizar recursos naturais,
geram diferentes tipos de resíduos. Dito isso, dentre as atividades produtivas, uma das maiores geradoras de resíduos é a
indústria da construção civil, e quando seus resíduos são descartados de forma inadequada, causam a degradação do meio
ambiente. Colombo e Bazzo (2001) citam características da construção civil: uso e desenvolvimento insuficiente de novas
tecnologias, o desperdício de materiais, a baixa qualificação profissional e a qualidade de vida dos trabalhadores. Os mesmos
autores citam, em estudo nacional (75 empresas e 85 canteiros) que as perdas (desperdícios) vão de 2,5% a 133%,
demonstrando que em média o desperdício supera os 30% estimados. Conforme Nunes (2004), pequenas reformas, ilegais ou
sem licença, geram separadamente quantidades pequenas de resíduos, porém o somatório das mesmas resulta em valores
consideráveis. A utilização de recursos renováveis, a redução de consumo de recursos não renováveis, a reutilização e
reciclagem desses, tornam as intervenções do homem menos agressivas ao ambiente natural. Contudo, para ir de encontro com
a sustentabilidade, deve-se minimizar os desperdícios do setor da construção civil e reaproveitar os resíduos que
inevitavelmente são gerados, afim de que esses não sejam depositados em locais indevidos, como terrenos baldios, nascentes,
riachos e áreas de preservação permanente. Dessa forma, reciclar e reutilizar esses resíduos são o único meio de tornar essa

771
indústria sustentável. Diante dessa problemática, o presente estudo visa diagnosticar a situação dos resíduos da construção e
demolição (RCD), apresentando possibilidades de aplicação dos mesmos na região do Vale do Jaguari/RS. A partir dos
resíduos da categoria A: tijolos, argamassas, concretos, mármores e granito, novos produtos foram criados com aplicação
desses resíduos nas suas composições. Sendo assim, as possibilidades de aplicação dos RCD em novos produtos para a
construção civil, caminham para a sustentabilidade, mitigando impactos ambientais e possibilitando uma fonte de geração de
emprego e renda a partir dos descartes da indústria da construção civil.
De encontro aos pilares da sustentabilidade está o controle de implementação dos produtos, evitando assim o desperdício.
Dessa forma, é importante que exista uma proposta para a correta utilização dos protótipos desenvolvidos. Assim, somado as
questões sociais regionais e globais, foi proposto um projeto de uma habitação de interesse social (H.I.S) modulada com a
utilização dos protótipos criados, com intuito de ser uma alternativa para essa problemática, e dessa forma, fechando o ciclo
dos 3R’s: reduzir, reutilizar e reciclar.
Material e Métodos
O presente estudo baseia-se no método para produção e desenvolvimento de novos produtos de ÂNGULO; ZORDAN; JOHN
(2014), que elencam alguns procedimentos, como: 1) Identificar e quantificar os resíduos sólidos disponíveis na região de
estudo; 2) Caracterização dos resíduos sólidos e verificação das propriedades físico-químicas; 3) Seleção das aplicações
economicamente viáveis; 4) Desenvolvimento de produto a partir da coleta, trituração análise de componentes e formulação de
dosagens para o desenvolvimento dos protótipos; 5) Avaliação do desempenho dos produtos.
A região de abrangência do estudo envolve nove municípios da região Centro-Oeste do Estado do Rio Grande do Sul, os quais
fazem parte da região do COREDE Vale do Jaguari/RS, conforme Figura 1.

Figura 1: Região do Vale do Jaguari no estado do Rio Grande do Sul e cidades componentes. Fonte: adaptado pelos
autores, 2018.

Nas etapas de identificação, quantificação e caracterização dos resíduos, inicialmente foram contatadas as prefeituras dos
municípios do Vale do Jaguari/RS, empresas do ramo da construção civil, arquitetos e engenheiros, a fim de entender como
tratavam as questões dos RCD. Um formulário estruturado foi aplicado às empresas do setor para diagnosticar tratamento,
volume, tipo e destinação dos resíduos da construção e demolição. Para verificação dos pontos de resíduos nos municípios foi
realizada pesquisa de campo com preenchimento de ficha de levantamento in loco. Os focos de depósito de resíduos foram
catalogados por: local, origem, características físicas dos resíduos e volume.
Para o desenvolvimento dos produtos com aplicação dos RCD foram divididos em: tijolos de solocimento, blocos de vedação
de concreto, piso intertravado, pisos diversos e revestimentos decorativos. O processo de produção dos tijolos de solo cimento
e de concreto com uso de RCD possui o seguinte organograma: 1- coleta do RCD; 2- transporte; 3- triagem; 4- beneficiamento;
5- produção. Nesse processo foi utilizado maquinário industrial. A etapa de beneficiamento e produção se desenvolveu da
seguinte forma: a) solo e resíduos triturados e peneirados; b) aplicação dos traços e homogeneização; c) vibro-prensagem; d)
cura; e) validação. Para blocos de concreto e piso intertravado, o processo de beneficiamento e produção é semelhante. Na
produção dos demais elementos (pisos e revestimentos) foi utilizada mesa vibratória, seguindo o fluxo: 1- mistura do traço em
betoneira; 2 – colocação da massa nas formas; 3- vibração; 4 – cura por 24 horas; 5- desmolde; 6- cura da peça desformada.
Referente a matéria prima, para a produção de tijolos de solo cimento utilizou-se um dos solos disponíveis na região. Os
percentuais de argila, areia e silte estão diretamente ligados a qualidade final dos tijolos. A tabela 1 demonstra a composição
do solo utilizado como matéria-prima na produção.

772
Tabela 1: Análise do solo da região, usada nos blocos de solo cimento. Fonte: autores, 2018.

Além do solo, outros agregados foram utilizados na composição dos artefatos, como areia, brita zero, resíduos provenientes de
cerâmicas de caliça e resíduos de mármores e granitos provenientes de marmorarias. A tabela 2 demonstra a granulometria dos
materiais e a figura 2 ilustra as mesmas.

Tabela 2: Diâmetro máximo, módulo de finura e zona da matéria prima. Fonte: autores, 2018.

Figura 2: Matéria prima utilizada na composição dos traços. Fonte: autores, 2018.

Para obtenção da matéria prima apresentada, os resíduos de granito e entulho foram processados em triturados e separados por
meio de peneira acoplada ao triturados. Já para a obtenção do pó de gesso acartonado, os rejeitos das placas acartonadas foram
submetidos a processo mecânico manual de trituração. Após esse processo, o gesso triturado, e separado do papel que o
reveste, foi peneirado de acordo com a NBR 7217.
Quanto as avaliações de desempenho, foram verificados resistência à compressão e absorção, conforme exigência das normas
técnicas da ABNT - NBR 12118, NBR 10836, NBR 5729 - no formato original dos artefatos e em corpos de prova dos traços
utilizados nos artefatos.
Já a proposta projetual da habitação de interesse social (H.I.S.) foi elaborada a partir do programa de necessidades básico de
uma família de baixa renda, com possibilidades de ampliações futuras. Através da evolução das etapas do processo de
projetação arquitetônica, o método de criação levou em conta ergonomia, fluxos, zoneamento, custos e demais necessidades de
conforto termo acústico e lumínico, adequando o layout e medidas conforme os protótipos dos produtos desenvolvidos.
Resultados e Discussão
Através do diagnóstico dos resíduos da construção e demolição da região em estudo, sobre como os nove municípios da região
coletam e controlam os resíduos, pode-se observar que há predominância de descontrole dos volumes de RCD por parte das
prefeituras municipais.

773
Tabela 3: Controle das prefeituras sobre os RCD na malha urbana, período do 2º sem/2016. Fonte: autores, 2018.

Com relação ao depósito dos RCD, observa-se que esses são depositados em passeios públicos, normalmente de forma
temporária, mas a disposição final ainda continua sendo em terrenos baldios, localizados nas mais variadas áreas da cidade. Se
tratando de recolhimento, verifica-se a baixa atividade de empresas privadas especializadas, na maioria dos municípios, a
prefeitura é responsável por recolher e destinar os resíduos gerados pelo setor privado.
A tabela 4 apresenta a estimativa de volumes encontradas em focos de resíduos diagnosticados nos municípios a partir de
levantamento in loco no segundo semestre de 2017.

Tabela 4: Número de focos e volumes de RCD nos municípios no do 2º sem/2017. Fonte: autores, 2018.

No levantamento realizado, foram diagnosticados cerca de 511m³ de RCD, ou seja, cerca de 750 toneladas, o equivalente a 125
ton/mês de resíduos destinados incorretamente. Por ser mais populoso e contar com maior número de obras novas e reformas, o
município “I” apresenta os maiores índices de focos e volume de RCD depositados no meio urbano. Na tabela 4, pode se ver
um grande foco (*foco especial), com mais de 100m³, foi encontrado em um terreno baldio no centro da cidade. Segundo
PGIRS, Plano de gestão integrada de resíduos sólidos (2013), no período de 2012/2013, o volume de resíduos coletados
(entulho) na cidade “I” foi de 3,7 toneladas/dia. Essa estatística refere-se às destinações que se tem controle, não considerando
as destinações irregulares.
Também foram indagadas empresas com significativa produção na região para diagnosticar o volume de RCD gerado, a
origem desses resíduos e o controle das empresas no canteiro de obras. A tabela 5 resume os dados coletados no primeiro
semestre de 2017.

774
Tabela 5: RCD nas empresas da construção civil da região no período do 1º sem/2017. Fonte: autores, 2018.

A partir dos dados da tabela 5, pode-se inferir que, embora algumas empresas atuem na maior parte, ou exclusivamente, em
obras novas, em geral as empresas atuam tanto na execução de obras novas e reforma. Cabe ressaltar que as reformas, por
terem inúmeras demolições, são as que mais geram resíduos. Conforme Nunes (2004), pequenas reformas, ilegais ou sem
licença, geram separadamente quantidades pequenas de resíduos, porém o somatório das mesmas resulta em valores
consideráveis. Outro aspecto importante a ser considerado é a separação dos resíduos por classe, facilitando suas destinações e
evitando maiores impactos ambientais. Também se verifica que a maioria das empresas realiza a separação no próprio canteiro
de obras. A tabela 6 demonstra o grau de incidência por classe de resíduo, no período de 2016/02, nas obras das empresas.

Tabela 6: RCD e incidência em obras no município “I” no período do 2º sem/2016. Fonte: autores, 2018.

Com 39% de incidência, o resíduo de classe A, que além de poder ser aplicado sob a forma de aterro (CONAMA, 2002),
possui grande potencial para se transformar em areia industrial, tornando-se matéria-prima verde na composição de artefatos
construtivos, como tijolo de solo-cimento, blocos de concreto, pisos e revestimentos decorativos. Sendo assim, a partir de
resíduos da construção e demolição, e de rejeitos de marmorarias, foram desenvolvidos produtos com aplicação de RCD na sua
composição. A Figura 3 ilustra as tipologias de elementos construtivos produzidos.

775
Figura 3: Tipologias e métodos de artefatos desenvolvidos. Fonte: autores, 2018.

No método de produção por meio de fôrma plástica com adensamento em mesa vibratória (FPV), foram produzidos pisos
intertravados, tátil, de alerta, antiderrapante e concregrama; além de revestimentos decorativos simulando pedra palito e
madeira de demolição. Na produção desses artefatos foram utilizadas diversas composições, variando o traço. Os demais
produtos foram produzidos a partir de vibro-prensa, tanto para os artefatos de concreto (MVPC) como para os elementos de
solo cimento (MPSC). Na produção dos elementos de solo cimento, o traço também variou a fim de verificar a viabilidade de
uma maior aplicação de solo e resíduos, bem como uma redução de cimento na sua composição. Algumas composições, para
efeito de comparação, não utilizaram resíduos nas suas dosagens, aplicando-se traço comercial usual para servir de referência
às novas proposições.
Para verificação e validação dos elementos produzidos, e para que se possa ter uma linha inicial de evolução e amadurecimento
das composições (dosagens), testes foram realizados, como absorção e resistência a compressão de alguns produtos. Abaixo
seguem as determinações das normas técnicas brasileiras:
 Segundo a NBR 10.834, o coeficiente de absorção de elementos de solo cimento não deve ser superior a 20%.
 A NBR 6136 estipula que a absorção máxima desses elementos não deve ultrapassar os 10%.
 A NBR 8492 determina como parâmetro mínimo de resistência a compressão média, para tijolo de solo cimento, 2MPa,
sendo que a resistência à compressão individual não deve ser inferior a 1,7MPa.
 A NBR 6136, com relação à resistência à compressão, traz os seguintes parâmetros: para pisos intertravados a resistência
média deve ser igual ou superior a 35MPa; para blocos de vedação e resistência é dividida por classes, sendo que exige-se
no mínimo 2MPa para a classe D.
Das 12 tipos de amostras testadas, 11 amostras foram produzidas em mesa vibratória, onde 10 desses traços utilizaram
composições a base de cimento, areia e resíduos de granito, tijolos e tijolos com argamassas (T1, T2, T3, T4, T5, T6, T7, T8,
T9 e T11) e uma amostra - T10v, com uso de solo, cimento e pó de gesso acartonado. A amostra T10vp, possui a mesma
composição de T10v, porém o que as difere é método de produção, T10vp é fabricado por meio de vibroprensa.

776
Tabela 7: Características técnicas das amostras ensaiadas para composição de elementos construtivos – corpos de
prova. Fonte: autores, 2018.

Analisando os dados acima, observa-se que quase todas as composições apresentam resistência a compressão dentro dos
parâmetros exigidos pelas normas técnicas brasileiras, várias com resistência bem superior. Apenas a amostra T10v, composta
por solo, cimento e gesso acantonado triturado, fabricado por meio de vibração, ficou abaixo de 1MPa. Porém, quando esse
traço é fabricado por meio de vibroprensagem, o traço se mostra dentro dos padrões normativos (2,23 MPa). Os resultados da
amostra T10vp reforça que para atender aos requisitos mínimos de normativas técnicas, o processo de fabricação deverá ser
realizado por meio de vibroprensagem, assim como o percentual de solo no traço deverá ser reduzido para possibilitar a
aplicação de resíduos de gesso, já que o solo em questão já se encontra em proporções adequadas à produção de tijolos de
solocimento. Com relação aos coeficientes de absorção, todas as amostras atentem às normas, pois elementos de solocimento
não devem possuir coeficientes de absorção superiores a 20% (NBR 8491, 1984) e artefatos de concreto tal coeficiente deverá
ser no máximo 10% (NBR 6136, 1994).
Após análise dos resultados dos testes realizados em diferentes composições e materiais, verificaram-se as possibilidades de
utilização de resíduos da construção civil na confecção de novos produtos construtivos, para aplicação em habitações,
principalmente em Habitações de Interesse Social – HIS, a base desses rejeitos. Assim, definiram-se alguns parâmetros para
criação dos novos produtos:
 Criação de elementos modulares para aplicação em habitações;
 Utilização de resíduos da construção civil de Classe A - tijolos, argamassas, concretos, e de Classe B – gesso acartonado;
resíduos provenientes de marmorarias – mármores e granitos; e rejeitos de gesseiros;
 Processo de fabricação por meio de mesa vibratória, por possui um baixo investimento inicial e se adaptar as novas
geometrias de elementos determinadas;
 Traço com alta resistência a compressão para execução de alvenarias portantes;
 Incorporação de resíduos de rocha (mármores e granitos) e gesso em elementos de solocimento para propor uma nova
formulação.
A partir disso, seis novos produtos foram criados, 4 elementos compostos por concreto seco a base de resíduos da construção, e
2 artefatos de solocimento com incorporação de gesso na sua formulação. Como citado anteriormente, um parâmetro modular
foi adotado para criação inicial do Bloco de Concreto para aplicação em alvenarias portantes – BC3F, minimizando o uso de
estruturas de concreto armado. O BC3F possui geometria que se adequa as larguras mínimas das alvenarias, e seu
comprimento (42cm) foi definido com base nos vãos das esquadrias, sendo que dois blocos dispostos horizontalmente, com
juntas de argamassa de 1.5cm, totalizam 88.5cm, necessário para instalação de portas internas com seus respectivos marcos; a
mesma dimensão se aplica às janelas, levando em consideração os quesitos custos e manutenção, o emprego de esquadrias de
vidro temperado sob medida. Com relação as alturas necessárias à instalação das esquadrias, o bloco BC3F possui 7.5cm, que
com adição da argamassa totaliza um módulo de 9cm; portanto 24 fiadas desse bloco totalizam 216cm, o necessário para

777
instalação do marco das portas. Outros múltiplos com relação às dimensões desse bloco e as dimensões de compartimentos da
habitação podem ser observados:
 29 fiadas = pé-direito (2.61m);
 02 blocos dispostos horizontalmente = 88.5 cm – vãos das esquadrias e largura de circulação;
 03 blocos dispostos horizontalmente = 1.32m – boa largura para banheiros;
 05 blocos dispostos horizontalmente = 2.19m – boa largura para cozinhas e lavanderias;
 07 blocos dispostos horizontalmente = 3.18m – boa dimensão para salas e dormitórios.
Para tornar o protótipo mais leve e funcional, o bloco BC3F, possui 3 furos na sua geometría, que podem ser utilizados para
passagem de eletrodutos e encanamentos. A tabela 7 apresenta os produtos desenvolvidos com suas respectivas características.

Tabela 8: Novos produtos criados a partir da incorporação de resíduos da construção. Fonte: autores, 2018.

Para o correto encaixe e modulação com o BC3F, foram desenvolvidos outros dois elementos que o complementam: Bloco
Maciço de Concreto Grande – BMCG, para aplicação em fundações diretas rasas, e a Verga/Contraverga pré-moldade de
concreto – VPC, para execução dos vão das esquadrias (portas e janelas). Para construção de calçadas e acessos da habitação,
foi criado um Bloco Maciço de Concreto Pequeno – BMCP, para ser assentado de forma intertravada, permitindo
permeabilidade. Todos esses blocos atendem aos requisitos normativos mínimos de resistência e absorção.
Dois outros artefatos foram produzidos a partir de solo cimento e adição de gesso (acartonado e pasta) nas suas composições
(TSCGv e TSCGvp), demonstrando a possibilidade de novas formulações para esse tipo de produto. O tijolo de solo-cimento-
gesso, TSCGv, foi produzido por meio de mesa vibratória, e sua geometria é um prisma retângulas maciço. Já outro tijolo –
TSCGvp, foi produzido por meio de vibroprensagem, e por isso possui geometria comercial padronizada. Com relação ao
atendimento dos requisitos normativos, resistência e absorção, somente o tijolo vibrado e prensado – TSCGvp poderá ser
aplicado em alvenarias. Já o TSCGv, tijolo vibrado, por ter baixa resistência a compressão sugere-se que esse seja aplicado
como revestimento, imitando alvenaria rústica (uma altura menor poderá ser aplicada a esse bloco).
A partir dos prototipos desenvolvidos com suas respectivas características físico-mecânicas e geométricas (tabela 8), o projeto
de uma Habitação de Interesse Social foi desenvolvido levando em conta o contexto social e a constante necesidades de novas

778
soluções de baixo custo e facilidade de execução.
De planta simples e geométrica, formada por diversos quadrados - dimuindo assim o perímetro de área construída e
consequentemente o custo, a residencia foi proposta para um terreno padrão de 12x30m, com possibilades de ampliação. A
planta de tipología 1, figura 4, totaliza 59,45m² de área construída, medindo 8,70m x 6,51m. A planta tipo 2, figura 5, conta
com 80,25m² com 6,51m x 11,90m sendo a ampliação do tipo 1, com incorporação de um dos dormitorios a sala de estar.

Figura 4: Planta tipo 1, área de 59,45m². – Layout desenvolvido com dois dormitórios e possibilidade de ampliação.
Fonte: autores, 2019.

Figura 5: Planta tipo 2, área 80,25m² – Layout de ampliação da tipologia 1, com incorporação de dormitório para o
Estar. Fonte: autores, 2019.

Concentrando as áreas úmidas e molhadas em uma das laterais da residência, o custo do projeto hidrossanitário é diminuído. O
reservatório localizado acima da cozinha fica oculto pelo forro em madeira que acompanha a inclinação da telha de metálica. O
exagero na inclinação da telha metálica, 57% ou 30º (o sugerido é 10 % ou 5,7º) feito propositalmente para abrigar o
reservatório acima do forro, área técnica dos painéis fotovoltaicos e propiciar mais conforto térmico aos moradores. Esse
espaço, ainda pode abrigar aquecedor solar.

779
Da mesma forma, a opção em fazer o forro acompanhar a inclinação da telha permitiu a instalação do shed em ambas as águas,
garantindo iluminação natural indireta ao longo do dia, diminuindo o consumo de energia. Através do acionamento manual da
alavanca, a janela do shed pode ser aberta, fazendo a ventilação cruzada e o consequente resfriamento do bolsão de calor,
conforme figura 6.

Figura 6: Corte transversal da Planta tipo 2 com esquemas de conforto térmico – insolação e ventilação cruzada. Fonte:
autores, 2019.

Para facilitar a execução da proposta, as janelas e portas possuem no máximo 85cm, medida adequada para o protótipo de
vergas. Para tal, as janelas podem ser verticalizadas, aumentando assim o vão de ventilação e iluminação de acordo com os
códigos de obras de cada município. Na figura 6, pode-se notar as janelas com peitoril a 54cm, janelas e portas alinhadas a cota
superior de 2,16m, o pé direito a 2,68m e a altura total com a cobertura em 4,78m. As medidas variadas são ocasionadas pelo
protótipo somado a argamassa de 1,5cm que garante o assentamento vertical e fixação horizontal dos blocos. A quantidade
aproximada de blocos para a execução das plantas pode ser vista na tabela 9.

Tabela 9: Quantidade aproximada de protótipos usados em cada tipologia de H.I.S. Fonte: autores, 2019.

Da mesma forma, onde há o encontro ou cruzamento de paredes, a devida amarração deverá ser feita. Nesses locais, deve-se
preencher os furos dos blocos com graute e ferragem específica, garantindo a estabilidade da residência. Os blocos também
podem ser rebocados normalmente e aceitam adequadamente assentamento de revestimentos, mas podem ficar a vista com
apenas uma camada de resina impermeabilizante.

Figura 7: Tipologias da planta tipo 2 geminadas com planta espelhada. Detalhe para a variação das cores das telhas
metálicas. Fonte: autores, 2019.

O uso das telhas metálicas trapezoidal coloridas compõem a estética da fachada, facilitando a diferenciação entre elas, no caso

780
da implementação de plantas geminadas espelhadas e condomínios de H.I.S, conforme figura 7. A telha que “se dobra” em
sentido vertical na fachada da residência, somada aos beirais, protege as esquadrias e a porta de acesso. Sendo a característica
mais marcante do design da fachada, que pode ser somado a composições de blocos nas paredes ou cobogós, se de conforme
com a zona climática do local.
Pela planta ser esbelta em sua largura, apenas 6,51m, as possibilidades de implantação são facilitadas, podendo seguir a
insolação adequada para melhor conforto térmico da H.I.S ou as medidas e esquadro do lote.
Comentários finais
A sustentabilidade é tema atual, porém não novo, mas que ainda necessita estudos para que possamos evoluir com
responsabilidade e cuidado ao meio ambiente. A proposta de avaliar as possibilidades de reaproveitamento de resíduos no Vale
do Rio Jaguari e sua aplicação na substituição de materiais de construção convencionais por materiais de construção
sustentáveis através dos traços e protótipos de tijolos, blocos, pavimentos, pisos e revestimentos se mostrou complexa e ainda
precisa de ajustes no seu traço e cura, em busca do design ideal para sua função.
A proposta de H.I.S. serve como estudo inicial, que pode ser repensada e adequada, pois é sabido que o projeto adequado e
sustentável é deve ser pensado com as características regionais onde será implantado. Porém, cabe o bom projeto, em suas
soluções, evitar desperdício irracional, levar em conta conforto térmico, acústico, lumínico, bom fluxos e possibilidades de
ampliações futuras.
A busca por essa possibilidade na região, tende a diminuir os custos com agregados naturais, sua extração e causa a mitigação
dos impactos ambientais pela destinação correta, reaproveitada e consequentemente menos agressiva dos resíduos da
construção civil.

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Análise dimensional, determinação da resistência à compressão e da absorção de água — Método de ensaio. Rio de Janeiro.
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Município de Santiago. Santiago, RS.

782
5SSS205
OTIMIZAÇÃO DE METODOLOGIA POR SPE/GCMS PARA
DETERMINAÇÕES DE HORMÔNIOS SEXUAIS EM MATRIZES
AQUOSAS
Flavia dos Santos Ferreira1, Pedro José Sanches Filho2.
1 Instituto federal de educação, ciência e tecnologia sul-riograndense, f.ferreira1892@gmail.com; 2 Instituto federal de
educação, ciência e tecnologia sul-riograndense – grupo de pesquisa em contaminantes ambientais, pjsans@ibest.com.br

Palavras-chave: Extração em fase sólida; contaminantes emergentes; disruptores endócrinos.

Resumo
Dentre os contaminantes emergentes, os hormônios sexuais têm demonstrado grande efeito no meio aquático, causando
distúrbios sexuais em peixes, podendo desencadear graves problemas na base da cadeia alimentar. Nesse sentido, o objetivo
do trabalho foi otimizar metodologias, combinando extração em fase sólida com C18, derivatização com N-metil-N-
trimetilsililtrifluoroacetamida (MSTFA) e determinação por cromatografia gasosa para análise dos hormônios sexuais estriol,
estradiol e testosterona. Foram estudadas, volume de amostras, pH, volume de eluição de diclorometano no processo de SPE
utilizando amostras aquosas fortificadas. A metodologia otimizada foi aplicada a amostras de efluente de esgoto sanitário
fortificado e não fortificado. O método apresentou precisão, recuperação e exatidão aceitas para as faixas de µg L-1. A
aplicação da metodologia a amostras reais detectou níveis de testosterona entre 0,02 µg L-1 a 0,05 µg L-1 e níveis para o
estradiol entre 0,02 µg L-1 a 0,07 µg L-1 tanto no efluente esgoto bruto quanto no tratado, demonstrando que o tratamento
empregado na estação de tratamento de efluentes (ETE) não é eficaz para eliminação destes hormônios.

Introdução

Os hormônios são mensageiros químicos que respondem pela comunicação entre diferentes tipos de células. Dentre os
hormônios sexuais, os estrógenos vêm recebendo maior atenção por serem compostos extremamente ativos biologicamente e
por estarem relacionados à etiologia de vários tipos de interferência do funcionamento do sistema endócrino, afetando
funções reprodutivas dos seres vivos (JOBLING et al., 1998; RODGERS-GRAY et al., 2000).
No ambiente, o maior problema com a presença de estrogênios em águas superficiais, é o efeito que tais substâncias podem
causar em organismos aquáticos, por exemplo, a intersexualidade de peixes, onde características sexuais femininas estão
presentes em peixes machos (MATTHIESSEN et al., 2002). Vários estudos mostram que pássaros, répteis e mamíferos, em
áreas poluídas, também são acometidos de alterações no sistema endócrino reprodutivo (PREZIOSI, 1998).
O principal representante dos hormônios sexuais masculinos é a testosterona, um esteroide natural, que tem sido
usado, juntamente com outros hormônios naturais e sintéticos dessa família, como promotor de crescimento em terapia
humana e veterinária. Sua fórmula molecular C19H28O2 e massa molecular de 288,43 g mol (STRECK, 2009).
O Estradiol é o principal e mais potente estrogênio ovariano biologicamente ativo. Ele é secretado pelo ovário. Sua
fórmula molecular C18H24O2 e massa molecular de 272,4 g mol-1(PREZIOSI, 1998).
O Estriol é um estrógeno natural que está presente na circulação sanguínea das mulheres e aumenta suas
concentrações plasmáticas durante a gravidez. Trata-se de um metabólito oriundo da oxidação do Estradiol. Sua fórmula
molecular C18H24O3, e massa molecular de 288,4 g mol-1. No que diz respeito à ocorrência ambiental, tem sido detectado em
diversos países (PREZIOSI, 1998).
De acordo com estudos já publicados, os hormônios sexuais são persistentes no ambiente e não sofrem degradação
completa nas estações de tratamento de efluentes convencionais (VIGLINO. L. et al., 2008; BJORKBLOM, 2008; SALSTE.
L. et al., 2007). Isto torna os sistemas avançados de degradação necessários para purificação destes efluentes.

783
Com a crescente preocupação ambiental científica, quanto à presença dessas substâncias no meio ambiente e seus
efeitos cada vez maiores muitos pesquisadores têm otimizado metodologias para o desenvolvimento de análise em matrizes
ambientais. Busca-se desta forma metodologias que permitam o controle dos níveis destes contaminantes, para que sirvam de
ferramentas em estudo de degradação e monitoramento destes hormônios em efluentes e ambientes hídricos que possam vir a
receber estes contaminantes, como rios e lagos (SOUZA. C. P. A. et al., 2015).
Basicamente, a análise de hormônios sexuais compreende as etapas de extração e pré-concentração do analito,
eliminação de interferentes, separação, detecção e sua quantificação. As técnicas analíticas mais utilizadas para quantificação
de hormônios sexuais em amostras ambientais estão fundamentadas em técnica cromatográfica (SOUZA. C. P. A. et al.,
2015). Dentre elas destaca-se a cromatografia gasosa com detector de massas (GCMS), cromatografia gasosa com
espectrômetro de massa em série (CG-MS²) (HAO et al., 2007), cromatografia líquida com detecção ultravioleta (LC-UV)
(WOLFENDER, 1997), cromatografia líquida com detector por arranjo de diodos (LC-DAD) (QUEIROZ, 2014) e
cromatografia líquida com espectrometria de massas (LC-MS) (PIÑERO, 2006).
Estas técnicas necessitam de uma etapa de otimização em função de matrizes de amostras a ser analisados, desta
forma o objetivo deste estudo foi otimizar uma metodologia analítica, combinando extração em fase sólida com C18 e
cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas para determinação de Estriol, Estradiol e Testosterona em matrizes
aquosas.

Materiais e métodos

Material, Soluções e Reagentes


Para o desenvolvimento do estudo foram utilizados, para o preparo das soluções de trabalho: Estradiol Base, marca
Infinity Pharma, grau de pureza 97%; Estriol Base, marca Infinity Pharma, grau de pureza 97%, Testosterona Base, marca
Infinity Pharma, grau de pureza 97%; Solventes: Acetonitrila (Merck), Metanol (Merck), Diclorometano (Merck), todos
destilados; água ultrapura obtida através de sistema de purificação MiliQ (Milipore Co).
Cartuchos para SPE C18 (Chromabond® EC 6,0 mL/1000 mg) foram utilizados para otimização da extração em fase
sólida, adquiridos da Sulpelco (Bellefonte, PA, USA)
Para a derivatização foi utilizado N-metil-N-trimetilsililtrifluoroacetamida (MSTFA, Sigma – Aldrich), em ampolas
de 1,0 mL;
As soluções estoques individuais de cada analito (Estradiol, Estriol, Testosterona), foram preparadas pesando- se
200 mg de cada analito e avolumando-as, o estradiol e a testosterona com acetonitrila e o estriol com metanol a 10,0 mL
obtendo-se soluções estoques a 20 g L-1. As soluções de trabalho foram preparadas a partir de diluições, desta solução, em
acetonitrila para que o metanol não reagisse com o agente derivatizante, afetando a etapa de derivatização. As soluções foram
estocadas a - 4°C.

Análise cromatográfica - GCMS


Para determinação dos compostos foi utilizado um cromatógrafo a gás acoplado a um espectrômetro de massas da
Shimadzu, modelo GCMS- QP2010 Ultra, equipado com uma coluna OV-5MS (30,0 m x 0,25 mm x 0,25 µm), com uma
temperatura de injeção de 250 °C, volume de injeção de 1 µL pelo modo SPLITLESS, com gás de arraste Hélio com fluxo de
1,0 mL min-1, com 280 °C de temperatura na interface e 200 °C na fonte de íons. Os espectros de massas foram obtidos
através eletro-ionização a 70 eV. A programação do forno foi variada conforme a Tabela 1, sendo o espectrômetro de massas
operado em modo SCAN e SIM.

Derivatização
Todo o extrato a ser derivatizado foi transferido para frascos de 1,0 mL, onde foram adicionados 0,5 mL de
diclorometano, e 40 µL de derivatizante (MSTFA), passando por um banho de areia a 80°C por 30 minutos, esfriado e
avolumado para 1,0 mL para posterior análise por GCMS segundo Orata (2012). Os hormônios passaram a ser referidos neste
estudo como Hormônio TMS.

784
Otimização do método cromatográfico
Para a otimização do método cromatográfico foram preparadas soluções a 1000 mg L-1 em acetonitrila de cada
analito sendo derivatizados separadamente, cada solução estoque foi cromatografada isoladamente em modo SCAN, para
determinação da ordem de saída através dos tempos de retenção, e identificação dos principais íons no espectro de massas.
As condições cromatográficas foram adaptadas a partir de Bowden et al., (2009). Posteriormente buscando melhora na
resolução dos picos cromatográficos, foram variadas diferentes condições de programações de temperatura do forno,
utilizando uma mistura dos analitos a 1000 mg L-1 em diclorometano. As condições de análise do GCMS estão apresentadas
na Tabela 1.
A linearidade foi avaliada através da construção de curva de calibração numa faixa de 10 a 200 µg L-1. Os estudos de
precisão foram determinados através do cálculo do desvio padrão das áreas obtidas a partir da repetição de 5 vezes do padrão
de 100 µg L-1. Os Limites de detecção (LD) e quantificação (LQ) foram calculados com base na análise do sinal de brancos
considerando 3 vezes desvio padrão para LD e 10 vezes o desvio padrão para LQ e dividido pelo coeficiente angular das
curvas analíticas respectivamente (IUPAC, 1997).

Tabela 1- Condições de análise cromatográfica dos hormônios por GCMS.

Co 1 2 3 Otimi
ndições ° ° ° zação
métod métod métod
o o o
Rampa 150°C 200° 150°C 150°
de (2min)-10 C (0min)- (0min) - C (2min)-
aquecim °C/min- 5°C/min- 5°C/ min - 10°C/
ento 300°C 300°C 300°C min- 300°C
(15min) (15min) (15min) (15mi
n)
Mo S S S SIM
do dos CAN CAN CAN
íons
SCAN – Varredura total para m/z entre 35 a 500; SIM - Select Ion Monitoring

Extração em fase sólida – SPE


Para otimização deste método de SPE foi empregada uma solução aquosa de 50 µg L-1 a partir da diluição da solução
estoque de 2000 mg L-1 em acetonitrila da mistura dos três analitos. Para o acondicionamento dos cartuchos C18, utilizou-se
2,0 mL de metanol seguido de 1,0 mL de água ultrapura, e como eluente utilizou-se diclorometano. Foram avaliados volume
de amostra (100 e 200 mL), volume de eluição 5,0 e 10,0 mL com diclorometano e pH de 3,0 e 7,0 da amostra (o ajuste de
pH foi feito com uma solução de ácido clorídrico 0,1 mol L-1). Posteriormente a otimização, também foi verificado a precisão
do método, através do desvio padrão relativo em porcentagem (coeficiente de variação CV %), calculado a partir dos
resultados de repetições (triplicatas) do processo de SPE otimizado para 100,0 mL da solução aquosa de 50 µg L-1.

Aplicação da metodologia em amostra real


Após a otimização de todas as etapas, a metodologia foi aplicada a 3 amostras de efluentes de esgoto. Efluente de
esgoto bruto (EEB); Efluente de esgoto tratado (EET); Efluente de esgoto tratado fortificado (EETF);
As amostras de efluente de esgoto foram obtidas, na lagoa de estabilização criada pelo SANEP (sistema autônomo
de saneamento de Pelotas), onde possui uma área de quatro hectares e sua capacidade é de 7.500 m3 por dia (10% dos esgotos
da cidade). Esta lagoa tem o objetivo de minimizar a carga poluidora dos efluentes de esgotos das residências e indústrias.
Onde os resíduos são tratados antes de serem lançados no Arroio Santa Bárbara e após para o Canal São Gonçalo.

785
As amostras de efluente foram coletadas (500 mL) na entrada e na saída das lagoas de estabilização.
Amostragem foi realizada em abril de 2019, com o auxílio de frascos de vidro, os quais foram acondicionados sob-
refrigeração a - 4°C e transportados até o laboratório.
As amostras antes das análises foram filtradas com papel filtro, para que se retirassem os resíduos sólidos suspensos.
As amostras EETF foram obtidas através da fortificação da amostra da saída da lagoa de estabilização com 50 µg L-1 partir da
solução estoque de 2000 mg L-1 em acetonitrila da mistura dos três analitos. Os ensaios foram feitos em triplicatas
acompanhados de análises de brancos.

Resultados e discussão

Com base no estudo cromatográfico de cada analito, isolado e em modo SCAN, foi possível determinar os tempos
de retenção e ordem de saída para cada Hormônio TMS, a Figura 1 apresenta o cromatograma para cada composto com os
tempos de retenção e seus respectivos espectros de massa, através dos quais se selecionou os íons m/z 416 e 285, 432 e 360 e
311 e 504 para estradiol, testosterona e estriol, os quais foram utilizados para análises cromatográficas em modo SIM. Foi
possível observar que o padrão de testosterona após a derivatização era constituído de uma mistura de Androsterona (Tr
17,028 min) e Testosterona (Tr 17,128) sendo neste trabalho, tratadas através da soma das áreas e expressas como
testosterona.

786
Figura 1. Cromatogramas modo e espectro de massas em modo SCAN: (A) Estradiol TMS, (B) Testosterona
TMS e (C) Estriol TMS.

A Figura 2 apresenta os resultados para a otimização das diferentes condições de programações de temperatura do
forno. Inicialmente foram utilizadas as condições descritas por Bowden et al., (2009). O cromatograma obtido está
apresentado na Figura 2A, o composto 1 estradiol TMS apresentou um tr de 16,976 minutos seguido da testosterona e
androsterona (composto 2a em 17,023 min e composto 2b em 17,143 min) e o composto 3 estriol com tr de 18,806 min.

787
Figura 2. Cromatogramas para mistura de padrão derivatizado a 1000 mg L-1, durante a otimização do método
cromatográfico.

Tentando reduzir os tempos de retenção, modificou-se a programação do forno, elevando-se temperatura inicial da
corrida para a 200°C. Embora ocorra uma redução nos tempos de retenção dos analitos, observa-se a co-eluição e a perda da
resolução do estradiol (1) com a testosterona (2a) como demonstrada na Figura 2B. Com objetivo de resolver esta co-eluição,
buscou-se uma maior interação dos analitos com a fase estacionária e utilizando-se uma rampa de aquecimento mais suave
em relação ao método 1 (método 3), nestas condições o tempo de retenção foi maior, mas não houve melhora na co-eluição
do estradiol com a testosterona (1+2a) conforme a Figura 2C. Desta forma, as condições do método 1 foram mantidas.
Para o aumento da sensibilidade a detecção no espectrômetro de massas foi alterada do modo SCAN para modo
SIM, empregando os íons m/z, previamente selecionados. Podemos verificar na Figura 2D os picos relativos ao ions m/z 432
do estradiol TMS, 416 da testosterona TMS, encontrando-se praticamente resolvidos, não interferindo nas determinações
quantitativas, uma vez que estes são específicos de cada analito, um não está presente no espectro do outro. Também se
observa o clean up eletrônico com o desaparecimento de alguns contaminantes. Estas condições reunidas no método 4, forma
utilizadas para as demais etapas do estudo.
A Tabela 2 apresenta as figuras de mérito para o método 4, pode-se verificar que este método comportou-se de
forma linear com r2 de 0,995 para estradiol, 0,991 para testosterona e 0,998 para estriol.

Tabela 2. Figuras de mérito para o método cromatográfico otimizado.


Horm Equaç L L C
ônios TMS ão da reta 2 D (µg L-1) Q (µg L- V
1) (%)
Estra y= 2 7 7
diol 40,6 – 15,1 ,9 ,2 ,3 ,5
95
Testo y= 1 5 5
sterona 50,9 – 31,1 ,9 ,5 ,1 ,4
91
Estrio y= 1 5 5
l 30,8 + 82,7 ,9 ,8 ,9 ,1
98

r2 = coeficiente de determinação LD = limite de detecção LQ = limite de quantificação CV = coeficiente de variação

788
O limite de detecção (LD) e o limite de quantificação (LQ) encontrado foram: 2,2 e 7,3 µg L-1 para o estradiol, 1,5 e
5,1 µg L-1 para a testosterona e 1,8 e 5,9 µg L-1 para estriol, respectivamente. Estes valores são inferiores aos descritos por
Araújo (2006), que encontrou LD 16,4 a 80 µg L-1 e LQ 49 a 250 µg L-1 para uma gama de hormônios estrogênios, utilizando
cromatografia liquida e detecção ultravioleta, isto mostra que a método GCMS em modo SIM é mais adequado para
determinação destes analitos necessitando menores fatores de pré-concentração, uma vez que estes analitos têm sido descrito
em amostras ambientais em níveis de ng L-1. Baronti et al., (2000), determinou estriol em níveis de 24 - 188 ng L-1 em esgoto
doméstico na Itália, o estradiol foi encontrado de 0,5 - 17,0 ng L-1 em esgoto doméstico na Itália e Holanda (JONHSON et
al., 2000) e 0,021 µg L-1 em esgoto doméstico no Brasil (Ternes et al., 1999) e Kolpin et al., (2002) encontrou 0,116 µg L-1
de testosterona em água natural nos EUA.
Os coeficientes de variação indicaram que o método foi preciso, estando em uma faixa de 5,1% a 7,5%, segundo
Wood (1999) valores menores que 20% são aceitos para esta faixa de concentração (10 a 200 µg L-1), além disso, estes
valores estão em acordo com Basheer et al., (2005) apara análise destes analitos por GCMS.

Otimização do SPE
A Tabela 3 apresenta os resultados gerados na otimização do processo de SPE com C18, observa-se que o volume de
100,0 mL garantiu recuperações em torno de 120% para o estradiol e testosterona, com um CV inferior 20% o que representa
uma precisão aceitável. Para amostra com concentrações na ordem de µg L-1 recuperações na faixa de 50 a 120% e CV de até
20% são adequadas segundo Brito et al, (2003) e estão em acordo com as descritas por Dallegrave (2012), porém, para o
estriol o método apresentou uma recuperação de 48,2% o que pode ser justificado por este composto apresentar 3 hidroxilas
o que favorece sua interação com a matriz aquosa. Recuperações entre 40 e 101% foram descritas por Silva e Collis (2011),
para determinação de CE utilizando a técnica de SPE para água de rio e efluentes domésticos.
Quando aumentamos o volume para 200,0 mL observamos uma queda das recuperações com valores inferiores a
40%, acompanhados do aumentou dos valores de CV indicando uma perda na repetibilidade do processo. Neste volume já
ocorre à lixiviação dos compostos retidos na fase extratora (volume de Breakthrough). Novamente o estriol apresentou o
menor valor de recuperação em função da sua polaridade sendo assim, o volume de amostra a ser percolado no processo de
SPE com C18 foi definido em 100,0 mL.

Tabela 3. Recuperações do Método SPE com C18 em função do Volume e estudo de precisão.
Ho 1 C 2 C L L
rmônios 00 V 00 V D* (µg L- Q* (µg L-
(mL) (%) (mL) (%) 1) 1)

Est 1 8 3 2 0, 0,
radiol 21,2 ,6 5,1 4,9 022 073

Te 1 1 4 2 0, 0,
stosterona 20,6 2,4 0,3 3,5 015 051

Est 4 2 2 3 0, 0,
riol 8,2 0,7 ,3 5,9 018 059
LD = limite de detecção LQ = limite de quantificação CV = coeficiente de variação; * calculado para 100,0ml de amostra.

Quanto estudo dos volumes de eluição dos analitos adsorvidos, estes foram detectados apenas nos primeiros 5 ml de
DCM, ficando definido, portanto, o volume de 5,0 mL deste solvente. Quando comparados os resultados de recuperação
utilizando 100,0 mL da solução aquosa com o pH 3 e pH 7, não se observou alteração. Portanto optou-se por utilizar pH 3
que restringe a ionização dos hormônios, como descrito na bibliografia (DALLEGRAVE, 2012).

789
Aplicação da metodologia em amostra real
A Figura 3A compara os cromatogramas resultantes das análises das amostras EETF e EET em modo SCAN, pode-se
verificar a presença dos picos referentes aos analitos no cromatograma EETF que não foram detectados no EET, além de uma
série de outros compostos co-extraídos. Estes compostos co-extraídos podem explicar a influência da matriz, o que foi
comprovado através da redução nas recuperações dos hormônios TMS descritas na tabela 3 (121, 2%; 120,6% e 48,2%) para
71,4%; 40,3%; e 27,7% para estradiol, testosterona e estriol, respectivamente (tabela 4). Recuperações de 71,4% ainda são
consideras aceitáveis para estradiol TMS.

Figura 3. Cromatogramas dos extratos de efluente esgoto tratado (EET) e efluente esgoto tratado fortificado
EETF. (A) modo SCAN; (B) modo SIM.

O estudo nas amostras reais também apresentou precisões adequadas com CVs abaixo de 20%. A redução da
recuperação pode ser justificada pela concorrência nos sítios ativos do SPE com outros compostos presentes na matriz. O
grupo octadecil ligados a sílica (C18) interagem com compostos orgânicos hidrofóbicos pela ação das forças de Van der
Waals (Christian, G. D, 1994) estes resultados indicam que estudos futuros de otimização aumentando a massa de adsorvente
podem vir a melhorar estas recuperações.
A Figura 3B compara os cromatogramas resultantes das análises das amostras EETF e EET em modo SIM. Esta
imagem evidência o clean up eletrônico produzido neste modo de análise. Comparando a figura 3B com a 3A observa-se uma
redução nos picos da matriz, tanto na quantidade quanto na intensidade. O aumento da área dos picos dos analitos em relação
aos picos da matriz comprova o aumento da sensibilidade promovida pela análise cromatográfica em modo SIM.
A Tabela 4 apresenta os resultados para os Níveis de Hormônios em amostras reais (EETF, EET, EEB). Foi possível
quantificar os analitos apenas nas amostras EETF. Através dos quais foram avaliadas as recuperações já comentadas.

Tabela 4: Níveis de Hormônios em amostras reais

Hor EET R E EET


mônios F (µg L-1) ECP EB
Estr 35,7 7 D D
adiol ±7,5 1,4
Tes 20,2 4 D D
tosterona ±20,0 0,3
Estr 13,8 2 N ND
iol ±18,0 7,7 D
RECP: recuperação;

790
Ao aplicar a metodologia otimizada às amostras EEB e EET foi possível detectar a presença de estradiol e
testosterona em ambas, numa faixa de 0,02 µg L-1 a 0,07 µg L-1 para o estradiol e 0,02 µg L-1 a 0,05 µg L-1 para testosterona
(os níveis destes analito situaram-se entre LD e o LQ descritos na tabela 3. Estes compostos foram descritos por outros
autores em amostras de efluentes de esgoto, como Pessoa et al., (2014) que determinou concentrações de hormônios sexuais
em regiões de seca, no Ceará na faixa de 0,776 µg L-1 a 3,180 µg L-1, já as concentrações encontradas por Ferreira (2013) em
esgoto do Rio de Janeiro estiveram na faixa de ng L-1 em acordo com os resultados apresentados neste estudo. A detecção
dos hormônios na mesma faixa de concentração no EEB e no EET apontam uma ineficiência pelo tratamento de efluentes
conforme ilustra a Figura 4.

Figura 4. Cromatograma dos efluentes de esgoto bruto (EEB) e esgoto tratado (EET).

Conclusão

Este trabalho apresenta os resultados de otimização e validação da metodologia analítica combinando extração em
fase sólida (SPE) com C18, derivatização com MSTFA e quantificação no modo SIM por GCMS para realizar o
monitoramento de hormônios sexuais em amostras aquosas.
A metodologia otimizada neste estudo apresentou potencial para o controle tanto da testosterona como estradiol em
efluentes de esgoto sanitário. O método apresentou precisão, recuperação e exatidão aceita para as faixas de µg L-1. A
aplicação da metodologia a amostras reais detectou níveis de testosterona entre 0,02 µg L-1 a 0,05 µg L-1 e níveis para o
estradiol entre 0,02 µg L-1 a 0,07 µg L-1, tanto no efluente esgoto bruto quanto no tratado, demonstrando que o tratamento
empregado na estação de tratamento de efluentes (ETE) não é eficaz para eliminação destes hormônios.

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793
5SSS206
CÁPSULAS DE CAFÉ: UMA ALTERNATIVA DE
REAPROVEITAMENTO COM ARTESANATO NO MUNICÍPIO DE
CAÇAPAVA DO SUL, RS
Thayanne Barbosa Teixeira1, Juliana Young2
1Universidade Federal do Pampa, e-mail: thayannebarbosaa@gmail.com; 2Universidade Federal do Pampa, e-
mail: julianayoung.unipampa@gmail.com

Palavras-chave: cápsulas de café; reaproveitamento; artesanato.

Resumo

A partir da revolução industrial, ocorrida no século XVIII, instaurou-se a produção em massa de produtos antes produzidos
manualmente. Logo, estudos e pesquisas tomaram forças e novas tecnologias foram implementadas no modo de produção. No
início do século XX, novos produtos foram criados, entre eles, o plástico. Com a facilidade de moldar e trabalhar a matéria, a
rigidez que o produto pode alcançar, elasticidade, entre outras vantagens, o plástico foi fortemente popularizado. A grande
produção com este material exerce uma ação direta sobre o meio ambiente, modificando também o modo de vida humano e a
economia. A maioria dos produtos plásticos possuem baixa degradabilidade e com isso a produção em massa tem trazidos
inúmeros problemas. O mau gerenciamento de resíduos sólidos no Brasil é uma situação preocupante. Encontramos produtos
plásticos em ruas, causando o entupimento de bueiros e colaborando com alagamentos, por exemplo; também encontramos
corpos hídricos repletos deste tipo de material, arruinando a vida de outros animais e também contribuindo para a degradação
da saúde humana; também em oceanos, formando ilhas de plástico e contribuindo para a mortandade de animais marinhos que
acabam confundindo plástico com comida. A busca pela praticidade e agilidade nos dias atuais estimulou a invenção e logo a
comercialização de café em cápsulas. Com isso, vem-se à tona um grande problema com a geração destes resíduos, a falta de
planejamento das empresas responsáveis quanto ao recolhimento dos resíduos no que diz respeito à logística reversa. Com isso,
o projeto “Cápsulas de café: uma alternativa para plantio de mudas”, o que fomentou o presente trabalho, busca alternativas
para ressignificação deste resíduo e principalmente para a sensibilização da sociedade sobre a responsabilidade, não só por
partes dos fabricantes, mas também pelos consumidores. Em parceria com a AABB comunidade, foram efetuadas oficinas de
trabalhos artesanais a fim de sensibilizar a comunidade, instigar a análise da geração de resíduos e de busca por uma alternativa
de transformação para tal, fomentando a criatividade, atividades sociais e geração de renda.

Introdução

A Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra no século XVIII foi o marco na passagem do capitalismo comercial para
capitalismo industrial. A técnica produtiva da época foi alterada e os produtos antes produzidos à mão, passaram a ser
produzidos por máquinas, o que permitiu a produção em massa de produtos. Este momento na história instiga pesquisadores,
engenheiros e inventores e proporciona o surgimento de novas tecnologias, proporcionando grandes mudanças na forma de
vida da humanidade.
Com o desenvolvimento de novos materiais como o plástico no início do século XX, o crescimento demográfico e aumento da
qualidade de vida nas últimas décadas, a geração de resíduos aumentou muito. Segundo Guamá et. al. (2008), o plástico
conquistou posição de destaque na aplicação industrial por ser um produto versátil, que além das suas próprias características,
pode reunir qualidades de diversos elementos como a firmeza dos metais, a elasticidade da borracha, a transparência do vidro e
muitas outras vantagens. A popularização deste material trouxe novas demandas ao mercado, principalmente na produção de
materiais descartáveis, artigos para lazer entre outros.
O sucesso técnico e economico da produção do plástico exerceu e exerce uma ação direta sobre o meio ambiente, modificou a
economia e até mesmo padrões de comportamento humano. Se por um lado a utilização de plástico facilitou o modo de vida,
por outro, provocou problemas com a quantidade de resíduos, já que em sua maioria possuem baixa degradabilidade.
Principalmente pela falta de comprometimento com a reutilização e reciclagem desse tipo de produto, hoje a sociedade
enfrenta problemas como superlotação em aterros sanitários, precisando cada vez mais de novos locais para a deposição de
resíduos. O acúmulo de plásticos em superfícies, ruas e corpos hídricos geram à população situações como alagamento por
conta de bueiros entupidos e pelos demais problemas da sociedade atual, proliferação de doenças e inutilização da água dos
corpos hídricos. Consequentemente, os corpos hídricos desaguam no mar e assim gera-se um acúmulo de resíduos no ambiente

794
marinho, causando a aglomeração de resíduos e gerando ilhas de plásticos e também a mortandade de inúmeros animais que
acabam confundindo os resíduos com comida.
A busca pela praticidade e a agilidade em funções do modo de vida moderno impulsionou o mercado de Cápsulas de Café.
Segundo Pintarelli (2017), o conceito de café em cápsulas remonta ao ano de 1976. Criado por Eric Favre, um funcionário da
Nestlé, foi desenvolvido em escala industrial pela marca na década de 1980. O café em cápsula é produzido por meio de um
invólucro de plástico e alumínio, que proporcionam a possibilidade de consumo rápido e individual de doses de café, através
de máquina específica para o manuseio das cápsulas. A idéia difundiu-se globalmente e segundo a Associação Brasileira da
Indústria do Café (ABIC), no Brasil foram consumidos 9 mil toneladas de café em cápsula no ano de 2016, 10 mil toneladas
em 2017 e a previsão para 2021 são de 14 mil toneladas.
Porém, questões como separação e coleta para esse tipo de material, bem como a logística reversa na maioria dos municípios
brasileiros, ainda não são implantadas em sua totalidade.
O presente trabalho surge com o intuito de somar ao projeto “Cápsulas de Café: uma alternativa de reaproveitamento na
produção de mudas de plantas”, que visa difundir a reflexão e elucidar sobre o modo de vida em que estamos inseridos e o
impacto que nossas atitudes trazem ao meio ambiente. O reaproveitamento de cápsulas de café em trabalhos artesanais têm o
objetivo de sensibilizar a comunidade e instigar a análise da geração de resíduos e de busca por uma alternativa de
transformação para tal, fomentando a criatividade, atividades sociais e geração de renda.

Materiais e Métodos

O estudo, iniciado em março, terá duração de nove meses, com término previsto para dezembro de 2019. O projeto
desenvolveu oficinas em parceria com a Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB) comunidade e a coleta de cápsulas é
uma das estratégias de sensibilização da comunidade do município de Caçapava do Sul quanto à sua responsabilidade em
relação aos resíduos gerados.
Primeiramente ocorreu a divulgação do projeto dentro da universidade e a busca por monitores interessados nesta temática.
Após a concretização da etapa inicial, foram instaurados pontos de coleta de cápsulas de café em locais públicos dentro da
comunidade Caçapavana, tais como mercados, bancos e universidade (figura 1). A coleta, limpeza e gestão das cápsulas ficou
sob cuidado dos monitores do projeto conforme o andamento da proposta. O projeto “Cápsulas de café: uma alternativa de
reaproveitamento na produção de mudas de plantas” instigou as demais atividades voltadas para a ressignificação do resíduo.
Concretizou-se parceria com a AABB comunidade, oficinas de artesanato onde os jovens contemplados pelo programa tiveram
oportunidade de criar e produzir inúmeras peças.

Figura 1: a) Cartaz de divulgação de coleta de cápsulas. b) Ponto de coleta de cápsulas na Agência do Banco do
Brasil.

Resultados

Foi possível observar o crescimento da conscientização da população observando-se a quantidade de cápsulas arrecadas mês à
mês (Figura 2).

795
Figura 2: Gráfico de arrecadação de capsúlas de café no período entre o mês de Abril e Agosto.

No período de 5 meses foram arrecadadas 2.936 cápsulas prontas para a utilização, 16,97kg de borra de café destinada à
compostagem e ainda 2,04kg de residuo plástico doado à Associação Recicla Pampa e 1,59kg de rejeito. As oficinas de
artesanato contaram com o apoio da professora de artes do Programa AABB Comunidade, e a participação de 107 pessoas,
resultando na confecção de inúmeras peças de artesanato (Figuras 3 e 4).

Figura 3: Peças de Artesanato producidas por alunos da AABB comunidade. De direita para a esquerda: Vasos de
suculentas, guirlanda de Natal, minhocão para recreação.

796
Figura 4: Peças de artesanato confeccionadas por alunos da AABB comunidade. A imagem da esquerda demonstra
vasinhos de suculentas e a figura da direita, chaveiros.

Nas oficinas (Figura 5A) os alunos recebiam os moldes com as partes de cada constituinte da peça de artesanato a ser
produzida, Com esssa atividade buscou-se cultivar habilidades manuais e a percepção de combinação de cores com os alunos.
A partir dos moldes os participantes da oficina replicavam os modelos de peças como castiçal, enfeites de natal, enfeites para
carro, chaveiros, entre outros.
Desse modo, por meio de comparações entre a quantidade de cápsulas utilizadas em cada objeto criado e a quantidade
arrecadada, repensassem também suas opções de consumo.
O reaproveitamento de capsulas de café através do artesanato também foi exposta na Feira de Ciências do municipio(figura
5B), de modo a divulgar para a população e também conscientizar sobre a geração de residuos.

Figura 5: A) Alunos do Projeto AABB comunidade confeccionando peças de artesanato. B) Exposição do projeto na
Feira de Ciências do município de Caçapava do Sul

Discussão

Os resultados obtidos neste trabalho demonstram que a sensibilização da sociedade é possivel quando são tomadas atitudes em
que a sociedade se depara com o produto de seu consumo e passa a enxergar soluções para tais problemas, Esse é o caso das
oficinas de artesanato, onde o foco principal foi a sensibilização para a grande quantidade de embalagens geradas pelo
consumo de café em cápsulas. Percebe-se no gráfico de arrecadação de cápsulas de café que o mês de julho exibe maior
recolhimento de cápsulas, este dado está asociado às ferias escolares, onde pressupõe-se que os individuos ficaram mais tempo
em casa, logo, consumiram café em capsulas e também resguardaram para a reutilização. Além do mais, uma hipótese sobre o
aumento de capsulas de café é a relação com o clima do municipio, onde nesta época o clima encontra-se com temperaturas
bastante baixas, promovendo maior consumo de bebidas quentes. Também foi de suma importância locais de coleta de

797
cápsulas, onde a população deparou-se com soluções para seus residuos que anteriormente não eran separados devido à
inexistência de uma coleta adequada e precisa deste tipo de material.

Considerações Finais

O projeto de temática em educação ambiental apresentou grande sucesso com a comunidade Caçapavana, o apoio de
estabelecimentos voltados ao público foi de suma importância para a propagação da proposta e para induzir a reflexão sobre a
necessidade de mudança comportamental para uma vida sustentável.
A comunidade envolvida diretamente nas oficinas teve oportunidade de trabalhar na temática de sustentabilidade de forma
ativa, procurando e incentivando a arrecadação do material e também de outros que foram úteis na confecção das peças. Além
de estreitar os laços com a comunidade acadêmica e fomentar projetos futuros.
O grupo envolvido na execução do projeto obteve um conhecimento maior sobre produção de capsulas de café, sobre
destinação, leis, outros projetos que visam reaproveitamento de resíduos e também aprendizados de vivência com a
comunidade através do caráter extensionista do projeto.

Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer a Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB) pela parceria e entrega neste
projeto, a EMATER, a todos monitores que colaboraram e a Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) pelo suporte.

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AGU, v.16, n. 03, 2017.

798
5SSS207
VELOCIDADE MÉDIA DOS RIOS MONTANHOSOS DA REGIÃO
SUL DE SANTA CATARINA, BRASIL

Fernanda Dagostin Szymanski1, Masato Kobiyama2, Arieli Laurindo Belletini3, Sofia Melo Vasconcellos4,
Felipe Maciel Paulo Mamédio5, Maurício Andrades Paixão6, Cláudia Weber Corseuil7
1Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e-mail: f.dagostin@posgrad.ufsc.br; 2 Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), e-mail: kobiyama@ufrgs.br; 3 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e-
mail:arielibelletini@hotmail.com; 4 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e-mail:
sofia.m.vasconcellos1009@gmail.com; 5 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e-mail:
fmp_mamedio@hotmail.com; 6 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e-mail: mauricio.paixao@ufrgs.br; 7
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e-mail: claudia.weber@ufsc.br

Palavras-chave: bacia hidrográfica montanhosa, tempo de concentração, velocidade da água do rio.

RESUMO
As regiões montanhosas possuem características hidrogeomorfológicas que favorecem a ocorrência de inundações bruscas.
Essas regiões têm sido cada vez mais procuradas para o turismo no Brasil. No entanto, essas atividades são realizadas sem o
conhecimento dos perigos potenciais desses ambientes, principalmente aqueles relacionados aos aspectos
hidrogeomorfológicos (alta declividade, inundações bruscas, movimentos de massa e outros). Sendo, portanto, fundamental
compreender a resposta das bacias montanhosas a eventos de precipitação porque, dependendo de sua intensidade, podem
gerar inundações bruscas, colocando em perigo as pessoas que procuram esses locais para recreação. Tendo em vista esses
fatores, observa-se a importância do monitoramento instantâneo da precipitação e vazão de bacias montanhosas, para garantir a
segurança das pessoas, diante à ocorrência de eventos de precipitação, que possam desencadear as inundações bruscas. Assim,
para entender esses processos é necessário conhecer o tempo de concentração (Tc) e a velocidade média dos rios das bacias
montanhosas. Desta forma, o presente trabalho teve por objetivos avaliar o Tc e a velocidade dos rios das sub-bacias dos rios
Malacara e Molha Coco, localizadas na bacia do rio Mampituba, no extremo sul de Santa Catarina. O Tc e a velocidade média
dos rios são muito utilizados para estimar as vazões máximas e podem ser calculados com equações empíricas, que usam
parâmetros de geometria do canal principal e características físicas da bacia. No presente trabalho, para o cálculo do Tc
utilizou-se a equação de Dooge. Já as velocidades foram calculadas pela relação entre o comprimento do rio principal e o
tempo de deslocamento (Td), e também pelas equações de Manning e Jarrett (1984). Para o cálculo do Tc e das velocidades
médias, os rios Malacara e Molha Coco foram divididos em 5 trechos iguais de 4,03 km e 2,66 km de extensão,
respectivamente. Os dados referentes à geometria do canal principal (raio hidráulico e declividade média) foram medidos por
topografia usando uma estação total e um GPS-RTK e, nos locais de difícil acesso, utilizou-se dados do MDE (SRTM 90 m).
Os tempos de concentração calculados para BHRMALA e BHRMOCO foram de 3,04 h e 2,20 h, respectivamente. No trecho 2
do rio Malacara onde são realizadas trilhas o Tc encontrado foi de 1,73 h. O rio Malacara é muito explorado pelo turismo e
prática de esportes. O trecho 2 desse rio, que tem aproximadamente 3 km é muito utilizado para trilha, onde são realizadas
diversas travessias no rio durante a caminhada, que leva aproximadamente 2 h. Assim, percebe-se que com um Tc de 1,73 h, se
ocorrer um evento de precipitação intensa, não é possível fazer a trilha com segurança. Esses aspectos mostram a importância
do monitoramento hidrológico nessas regiões. Também verificou-se que as velocidades médias da BHRMALA, calculadas por
Mannig (1,37 m.s-1) e Jarret (0,95 m.s-1), ficaram bem próximas, ou seja, a diferença foi de 0,4 m.s-1. Também para a bacia
BHRMOCO essa diferença foi pequena (0,36 m.s-1). Usando o Td para estimar as velocidades médias de cada trecho,
verificou-se que todas foram superestimadas, quando comparadas com às obtidas por Manning e Jarret, sendo encontrado
valores de 3,07 m.s-1 e 2,74 m.s-1 para a BHRMALA e BHRMOCO, respectivamente. A análise das velocidades médias e do
Tc possibilitou compreender os processos hidrogeomorfológicos que interferem na resposta hidrológica das bacias BHRMALA
e BHRMOCO e, consequentemente, identificar os fatores que podem influenciar na ocorrência de inundações bruscas. No
entanto, sugere-se para trabalhos futuros, avaliar a velocidade média das bacias com dados monitorados por um longo período
de tempo, considerando, as velocidades máximas, mínimas e médias das bacias e, desta forma, obter com maior precisão a
resposta hidrológica.

799
INTRODUÇÃO
Os rios em regiões montanhosas, segundo Paixão e Kobiyama (2019), são cada vez mais explorados e procurados para as
atividades de recreação e ecoturismo no Brasil. Essas atividades, na maioria das vezes, são realizadas sem conhecer os perigos
potenciais desses ambientes, principalmente aqueles relacionados aos aspectos hidrogeomorfológicos.
É, portanto, fundamental verificar a resposta das bacias montanhosas a eventos extremos de precipitação, porque,
dependendo de sua intensidade, podem gerar vazões máximas (THORNE e ZEVENBERGEN, 1985) e, consequentemente,
inundações bruscas, colocando em perigo as pessoas que procuram esses locais (KOBIYAMA et al., 2018). Para entender
esses processos é necessário obter precisamente a distribuição espacial e temporal da precipitação e vazão das bacias
montanhosas (RUIZ-VILLANUEVA et al., 2013). No entanto, devido à escassez de dados hidrológicos nessas regiões, é
necessário o uso de métodos empíricos para estimar o escoamento superficial (RICO et al., 2001; NORBIATO et al., 2013,
KARAGUL e ÇITGEZ, 2018).
O tempo de concentração (Tc) e a velocidade dos rios de bacias hidrográficas são parâmetros muito utilizados para o
cálculo das vazões máximas (McCUEN et al., 1984). O Tc caracteriza o momento em que toda a bacia hidrográfica está
contribuindo para a vazão na seção de interesse (exutório). Essa dimensão de tempo é importante, porque caracteriza a
velocidade na qual a bacia responde a eventos de precipitação (PAVLOVIC e MOGLEN 2008, ALMEIDA et al., 2013).
Nos locais onde não existem dados hidrológicos medidos, o Tc pode ser calculado por equações empíricas, utilizando as
características físicas da bacia, como: área de drenagem, declividade, comprimento do rio. Dada a sua importância, há muitas
equações que foram criadas a partir de um conjunto de experimentos em bacias com características específicas, como Dooge
(DOOGE, 1973), Kirpich (1940), Giandotti (SILVEIRA, 2005;), CHPW (CHOW et al., 1988). Assim, é possível adotar a
equação que melhor represente o tempo de concentração e os parâmetros físicos da bacia de interesse (MAMÉDIO et al.,
2018).
Mota e Kobiyama (2015) destacam que, o tempo de concentração da bacia hidrográfica é muito utilizado em projetos de
drenagem urbana, na separação do hidrograma, no planejamento dos sistemas de alertas, quando há ocorrência de inundações,
bem como, para definir o intervalo de tempo do monitoramento dos processos hidrológicos.
Também a velocidade dos rios é importante, tanto para caracterizar as inundações bruscas através da determinação de
hidrogramas de inundação, níveis de água, como para modelar o transporte de sedimentos, dispersão de habitat e poluentes
(COMITI et al., 2007).
Em regiões montanhosas sem monitoramento, a velocidade pode ser obtida utilizando características geométricas dos rios
(YOCHUM et al., 2012) aplicando equações empíricas, como a de Manning (CHOW, 1959), Jarrett (JARETT, 1984), Bathurst
(BATHURST, 1985), Rickenmann (RICKENMANN, 1994) e Zimmermann (ZIMMERMANN, 2010).
No entanto, levando em conta que muitas bacias montanhosas no Brasil, ainda carecem de dados hidrológicos medidos,
as equações de Manning e Jarrett permitem calcular a velocidade, usando somente parâmetros geométricos da seção transversal
do rio, que podem ser obtidos usando métodos topográficos.
As bacias montanhosas no sul do Brasil, atualmente, têm sido muito exploradas pelo turismo, devido à presença de
unidades de conservação com belezas naturais exuberantes, por exemplo, os Parques Nacionais de Aparados da Serra (PNAS)
e o Serra Geral (PNSG). A região atrai muitos turistas o ano todo. No ano de 2018, esses parques receberam mais de 217 mil
turistas (MMA, 2019). O turismo ajuda a desenvolver a região, gera mais renda para o município e, melhora as condições de
vida da população local. Entretanto, apesar do potencial turístico, faltam estudos que avaliam a frequência e magnitude dos
eventos de inundações bruscas dessa região.
Desta forma, o presente trabalho teve por objetivo avaliar o tempo de concentração e a velocidade dos rios de duas sub-
bacias da bacia do rio Mampituba, no extremo sul de Santa Catarina, que estão dento da área do Parque Nacional de Aparados
da Serra.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo
A área de estudo compreende duas bacias hidrográficas montanhosas, a bacia do rio Malacara (40,48 km2) e bacia do rio
Molha Coco (20 km2). Essas são sub-bacias da bacia rio Mampituba (1.940 km²), que abrange áreas do extremo sul de Santa
Catarina (63% da área) e norte do Rio Grande do Sul (37% da área) (BOHN, 2008) (Figura 1).
A região das bacias caracteriza-se pela brusca variação do relevo, onde encontra-se a paisagem dos Campos de Cima da
Serra em contraste, através de um desnível abrupto, com a Planície Costeira (MMA/IBAMA, 2003). Os rios das bacias
Malacara (BHRMALA) e Molha Coco (BHRMOCO), nascem nas escarpas da Serra Geral (altitude de 1.100 m) e encontram,
em pouca distância (10 km), a planície de inundação (altitude média de 100 m), onde está localizado o município de Praia
Grande- SC.

800
Figura 1: Mapa de localização da área das BHRMALA e BHRMOCO, extremo sul de Santa Catarina.

Segundo Scheibe et al. (2010), na região de Praia Grande as escarpas são modeladas sobre rochas da Formação Serra
Geral, especialmente derrames basálticos, onde predomina a vegetação da Mata Atlântica. A parte mais plana dessa região é
formada por sedimentos basálticos grosseiros (cascalhos, seixos e matacões), arenosos e argilosos. As encostas da serra são
abruptas, apresentando grande amplitude altimétrica, com vales fortemente encaixados que se abrem na planície formando
depósitos de leques aluviais.
O clima da região, segundo a classificação de Köppen é subtropical (mesotérmico úmido), com verões quentes e invernos
frios (Cfa). A precipitação média anual é de 1.500 mm e evapotranspiração média anual de 900 mm (PANDOLFO et al.,
2002).
Back e Bonetti (2014) mostram que, nessa região, a intensidade máxima da chuva é de 217 mm.h-1 para uma duração de 5
minutos, com período de retorno de 5 anos. Destacam que, eventos dessa magnitude aliado à mudança brusca de altitude, entre
as partes mais altas da serra e a planície de inundação, pode desencadear inundações bruscas, escorregamentos terras e fluxo de
detritos.
Ronsani (1999) relatou que em 1903, 1911, 1974 (uma das mais devastadoras) e no natal de 1995 eventos de inundação
de grande magnitude, causaram vários danos a população de Praia Grande. Posteriormente, em 2007 também ocorreu um
evento de inundação brusca de alta magnitude, causando diversos danos à população, com perda de uma vida (TENFEN,
2008).

Tempo de Concentração por trechos dos rios principais das bacias BHRMALA e BHRMOCO
Para estimar o tempo de concentração (Tc) das bacias BHRMALA e BHRMOCO foi utilizada a equação de Dooge, a
qual é comumente aplicada para áreas rurais. Essa equação relaciona o Tc com a área da bacia (A) e a declividade do rio
principal (S), e foi desenvolvida com base nos dados de 10 bacias rurais da Irlanda, com áreas variando entre 145,04 e 947,94
km² (SILVEIRA, 2005). No presente trabalho para o cálculo do Tc com a Equação (1) foram utilizados os parâmetros da
Tabela 1.

(1)

801
Tabela 1: Valores dos parâmetros físicos das bacias Malacara e Molha Coco.
Parâmetros BHRMALA BHRMOCO
Área da bacia (A) 40,48 km2 20 km2
Comprimento do rio principal (L) 20,15 km 13,30 km
Perímetro total da bacia (P) 38,10 km 24,15 km
Declividade média do canal (S) 0,052 m.m-1 0,073 m.m-1
Largura média da bacia (B) 2,00 km 1,50 km

Visando avaliar o Tc considerando diferentes declividades os rios principais das BHRMALA e BHRMOCO foram
divididos em 5 trechos iguais de 4,03 km e 2,66 km, respectivamente (Figura 2). Para cada trecho foram calculados: a
diferença de altitude (ΔHn), a declividade média (Sn), comprimento do trecho (Ln) e a área da sub-bacia de cada trecho (An). Os
trechos foram selecionados em função do fácil acesso e também por se tratarem de trechos críticos na ocorrência de eventos
extremos (com extravasamento da calha do rio).

Figura 2. Localização dos trechos dos rios das BHRMALA e BHRMOCO.

A declividade média de cada trecho (Sn) foi determinada de duas maneiras: (1) por topografia com estação total (FOIF-
RTS 342) e GPS RTK (Topomap modelo T10), onde calculou-se o desnível (DN) entre pontos medidos a montante e a jusante
da seção transversal do trecho considerado; (2) usando os dados (altitude) do Modelo Digital de Elevação (MDE), SRTM com
resolução de 90 m, sendo a declividade determinada pela diferença de altitude entre o ponto mais alto e mais baixo do rio
principal (altitudes dos pixels correspondentes ao canal principal), dividida pelo comprimento do trecho (Ln) considerado. O
MDE foi utilizado para calcular o desnível dos trechos de difícil acesso (cabeceira das bacias e locais com declividade muito
acentuada) como no caso dos trechos 1 da BRHMALA e 1, 2 da BRHMOCO (Figura 2). Nestes locais, não foi possível medir
com estação total ou com GPS-RTK.

802
Velocidade média do rio principal de cada trecho
No presente trabalho para o cálculo da velocidade média dos rios foram selecionadas três equações empíricas, as quais
foram desenvolvidas para rios naturais, montanhosos e ambiente rural. Também porque, essas equações requerem apenas as
características geométricas da bacia hidrográfica, tais como: comprimento do canal principal (L), tempo de concentração (Tc),
área molhada (Am) e perímetro molhado (Pm) da seção transversal dos rios. Essas velocidades foram calculadas para cada
trecho, conforme descrito a seguir:

a) Velocidade média da água por meio do tempo de deslocamento.

Para verificar se o tc calculado pela fórmula de Dooge foi adequado para as condições da bacia, calculou-se a velocidade
média através do tempo de deslocamento visando comparar com as equações de Manning e Jarrett, já que estas utilizam dados
medidos em campo. Desta forma, o cálculo da velocidade média é dado pela Equação (2), a qual utiliza o tempo de
deslocamento (Tdn) determinado pela diferença entre o tempo de concentração final e inicial de cada trecho do canal principal
(por exemplo, tc2 - tc1).
(2)

onde é a velocidade de cada trecho do canal principal (km.h-1); L é o comprimento do canal principal (km) e é o tempo
de deslocamento (h) no trecho do canal principal.

b) Velocidade média estimado pela equação de Manning

A velocidade da água, segundo Chow (1959), pode ser determinada em função do tipo de escoamento (laminar,
concentrado, escoamento de ravinas, escoamento de canais e de condutos), da rugosidade da superfície e da declividade do
caminho preferencial do escoamento. A equação de Manning, que considera o raio hidráulico do canal, é um dos métodos mais
utilizados para estimar a velocidade de escoamento em canais naturais (CHOW, 1959) e é calculada por:

(3)

onde V é a velocidade média da seção considerada (m.s-1), n é o coeficiente de Manning do canal principal (m-1/3.s), Rh é o raio
hidráulico (m), e S é a declividade do rio principal (m.m-1).

O cálculo do Rh requer a área molhada da (Am) e o perímetro molhado (Pm) da seção transversal. Esses dados foram
calculados a partir da largura e da profundidade média do canal, medidos com estação total e GPS-RTK. Os valores de n
adotados foram de 0,04; 0,05; e 0,07, definidos com base em CHOW (1959), levando em consideração as características do
leito (seixos grosseiros e cascalho) e das margens dos rios (vegetação), de cada trecho do rio principal. A Figura 3 mostra o
tipo de leito e margens dos rios da BHRMALA e BHRMOCO.

(a) (b)
Figura 3: Paisagem fluvial: (a) o ponto 2 do rio Malacara; e (b) o ponto 4 do rio Molha Coco, Praia Grande (SC).

803
c) Velocidade média por Jarrett

Com o objetivo de aprimorar o cálculo de velocidade dos rios em regiões montanhosas, Jarrett (1984) realizou um estudo
com 75 medições de vazão em 21 locais montanhosos no Colorado (EUA), com elevadas declividades (0,002 a 0,034 m.m-1), n
variando entre 0,028 a 0,16 e velocidades entre 0,27 a 2,6 m.s-1. Desta maneira, o autor propôs uma equação para o cálculo de
velocidade que considera apenas a declividade e o raio hidráulico da seção de interesse no rio, conforme Equação 4:

(4)
onde V é a velocidade média da seção considerada (m.s-1), Rh é o raio hidráulico (m), e S é a declividade do rio principal (m.m-
1
). Sendo que os valores de S e Rh para cada trecho dos rios BHRMALA e BHRMOCO foram os mesmos dados utilizados pelo
método de velocidade média por Manning.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tempo de concentração por trechos das bacias BHRMALA e BHRMOCO


Os tempos de concentração calculados pela equação de Dooge resultaram em 3,04 h e 2,20 h, para as bacias BHRMALA
e BHRMOCO, respectivamente. A Tabela 2 mostra os valores de declividade média (Sn), área (An) e tempo de concentração
(Tc) dos 5 trechos (n) analisados nas 2 bacias.
Para Wohl (2010), elevada declividade é, talvez, o parâmetro mais característico de um rio montanhoso. Já Thompson
(2013) considera rios de montanha, aqueles com declividades acima de 0,02 m.m-1 e Yochum et al. (2012) acima de 0,03 m.m-
1
. Assim, com base na Tabela 2, observa-se que os rios Malacara e Molha Coco apresentam declividades características de rios
de montanha.

Tabela 2: Tempo de concentração e tempo de deslocamento por trechos do canal principal para as bacias (a)
BHRMALA e (b) BHRMOCO.
(a) BHRMALA
TRECHO (n) Sn (m.m-1) An (km²) Tc (h)
1 (n1) 0,081 4,13 1,00
2 (n1+n2) 0,034 13,57 1,73
3 (n1+n2+n3) 0,014 24,65 2,32
4 (n1+n2+n3 +n4) 0,010 26,66 2,48
5 (n1+n2+n3 +n4+n5) 0,007 40,48 3,04
(b) BHRMOCO
TRECHO (n) Sn (m.m-1) An (km²) Tc (h)
1 (n1) 0,027 1,83 0,74
2 (n1+n2) 0,108 6,30 1,23
3 (n1+n2+n3) 0,022 13,27 1,74
4 (n1+n2+n3 +n4) 0,010 15,28 1,91
5 (n1+n2+n3 +n4+n5) 0,006 20,00 2,20

O rio Malacara é muito explorado pelo turismo e prática de esportes. O trecho 2 desse rio com, aproximadamente 3 km de
extensão, é muito utilizado para trilhas, onde são realizadas diversas travessias no rio (Figura 4) durante a caminhada, que leva
aproximadamente 2 horas. Assim, percebe-se que com um Tc de 1,73 h, se ocorrer um evento de precipitação intensa não é
possível fazer a trilha com segurança. Além disso, segundo um relatório realizado por PAPP (2018), mostra que existe a
intenção de aumentar a extensão da trilha em direção ao interior do cânion Malacara. Tendo em vista esses fatores, observa-se
a importância do monitoramento instantâneo da precipitação e vazão, para garantir a segurança dos turistas, diante da
ocorrência de eventos de chuva que possam desencadear em inundações bruscas.

804
Figura 4: Localização do percurso da trilha com acesso à piscina do rio Malacara e o percurso da trilha potencial
sugerida pelo PAPP (2018).

Comparação entre as velocidades médias obtidas por tempo de deslocamento, Manning e Jarrett
A Tabela 3 apresenta as características dos trechos dos rios principais da BHRMALA e BHRMOCO, que foram
utilizadas para calcular as velocidades médias (Tabela 4) pelas equações (2), (3) e (4).
A Tabela 4 apresenta as velocidades calculadas a partir do tempo de deslocamento (Equação 2), Manning (Equação 3) e
Jarrett (Equação 4).
Ressalta-se que as velocidades dos trechos 1 da BHRMALA e trechos 1 e 2 da BHRMOCO não foram calculadas porque
não foi possível determinar os parâmetros hidráulicos do rio principal, devido ao difícil acesso a esses locais.

Tabela 3: Características dos trechos dos rios principais da BHRMALA e BHRMOCO.


(a) BHRMALA

TRECHO (n) Tdn (h) As (m²) Pn (m) Sn (m/m) Rn (m)

1 1 - - - -
2 0,73 22,25 53,12 0,034 0,419
3 0,59 16,03 27,72 0,014 0,578
4 0,16 8,77 21,18 0,01 0,414
5 0,55 8,17 25,18 0,007 0,324
(b) BHRMOCO

TRECHO (n) Tdn (h) As (m²) Pn (m) Sn (m.m-1) Rn (m)

1 0,74 - - - -
2 0,49 - - - -
3 0,51 56,66 69,82 0,022 0,754
4 0,18 23,28 38,27 0,01 0,608
5 0,29 27,32 31,36 0,006 0,871

805
Tabela 4: Comparativo entre a velocidade obtida pelo tempo de deslocamento, Manning e Jarrett nos trechos do canal
principal: BHRMALA e BHRMOCO.
BHRMALA BHRMOCO
TRECHO (n) VTd Manning Jarrett VTd Manning Jarrett
-1 -1
vn (m.s ) vn (m.s )
1 - - - - - -
2 1,54 1,48 1,03 - - -
3 1,89 1,64 1,20 1,45 1,77 1,59
4 6,82 1,39 0,88 4,22 1,82 1,21
5 2,02 0,96 0,68 2,54 1,82 1,54

De um modo geral, analisando-se os três métodos observa-se na Tabela 4c que, as maiores velocidades foram obtidas
pelo tempo de deslocamento, o qual foi calculado com base no Tc, considerando apenas a área de contribuição e a declividade
média do rio principal.
Silveira (2005) destaca que, a maioria das equações empíricas que utiliza a área da bacia (A) como variável explicativa,
para calcular o Tc, tende a superestimar o Tc, independente da extensão da área utilizada. Ainda, o autor salienta para o fato de
que a área não contém a mesma informação que o comprimento do rio principal (L) aporta para o Tc. Mesmo que o
comprimento tenha alta correlação com a área, esta interfere no resultado final, pois informa basicamente a magnitude,
enquanto o comprimento traduz uma informação física diretamente relacionada aos tempos de escoamento.
Também na Tabela 4 verifica-se que, nos trechos 2 da BHRMALA e 3 da BHRMOCO, as velocidades calculadas pelo
tempo de deslocamento, ficaram mais próximas das velocidades calculadas por Manning e Jarrett. Já no trecho 4 para ambas as
bacias, as velocidades apresentaram valores muito altos (6,82 m.s-1 e 4,22 m.s-1), em relação à Manning e Jarrett. Essas
velocidades são resultantes do menor tempo de deslocamento encontrado para BHRMALA (0,16h) e BHRMOCO (0,18h).
Esses tempos menores, podem ser explicados pela pequena diferença entre a área das sub-bacias do trecho 3 e 4.
Os valores de velocidades calculados por Manning e Jarrett foram semelhantes para as duas bacias, em todos os trechos.
No entanto, a velocidade calculada por Manning foi maior que a de Jarrett (Figura 5). Yochum et al. (2012), também destacam
que, mesmo a velocidade de Manning sendo comumente utilizada para cálculo de velocidades em vários projetos, para canais
com alta declividade, estas são superestimadas em relação a equação de Jarrett. Sandoval-Erazzo (2018) utilizando como
referência a tabela de velocidade máximas dos rios, proposta por Goroshkov (1979) verificou que, para rios montanhosos com
profundidades de até 1 m, as velocidades podem variar entre 1,5 a 2,5 m.s-1 e para para rios semi montanhosos as velocidades
máximas variam entre 1 a 2 m.s-1. Considerando que o raio hidráulico representa a profundidade do rio, pode-se observar que
para esta condição, todos os trechos com as velocidades calculadas por Manning e Jarret estão dentro desses intervalos, sendo
característico de rios montanhosos.

806
(a)

(b)
Figura 5: Comparativo entre as velocidades calculadas nos trechos: (a) rio Malacara; e (b) rio Molha Coco.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho analisou a velocidade média de duas bacias montanhosas no sul de Santa Catarina, por meio de três
equações empíricas, usando dados da geometria do canal e o tempo de concentração da bacia.
O Tc estimado para as BHRMALA e BHRMOCO foi de 3,04 h e 2,20 h, respectivamente, o qual pode servir como
referência na definição do intervalo de tempo de monitoramento dos processos hidrológicos das bacias, o qual deverá ser
menor ou igual a esses tempos.
Também verificou-se que no trecho 2 da BHRMALA são realizadas trilhas de aproximadamente 3 km, onde são feitas
diversas travessias no rio durante o percurso, que leva aproximadamente 2 horas. Assim, percebe-se que, com um Tc de 1,73 h,
se ocorrer um evento de precipitação intensa não será possível realizar a trilha com segurança.
Verificou-se que as velocidades médias da BHRMALA calculadas por Mannig (1,37 m.s-1) e Jarrett (0,95 m.s-1), ficaram
bem próximas, ou seja, a diferença foi de 0,4 m.s-1. Também para a bacia BHRMOCO, essa diferença foi pequena (0,36 m.s-1).
As velocidades médias das bacias, calculadas com base no tempo de deslocamento foram superestimadas em relação às
obtidas por Manning e Jarret, sendo de 3,07 m.s-1 e 2,74 m.s-1 para a BHRMALA e BHRMOCO, respectivamente.
A análise das velocidades médias e do Tc possibilitou compreender os processos hidrogeomorfológicos que interferem na
resposta das bacias BHRMALA e BHRMOCO. No entanto, sugere-se para trabalhos futuros, avaliar a velocidade com dados
monitorados por um longo período de tempo, considerando os eventos de máximas, mínimas e médias e, assim, compreender
melhor a resposta hidrológica das bacias hidrográficas dos rios Malacara e Molha Coco.

807
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior – Brasil (CAPES), Código de
Financiamento 001, para a realização deste trabalho e da Prefeitura de Praia Grande, SC para as pesquisas que estão sendo
realizadas na região.

REFERÊNCIAS
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809
5SSS208
RECUPERAÇÃO DE COAGULANTE DE LODO INDUSTRIAL POR
VIA ÁCIDA ALTERNATIVA E DESTINAÇÃO PARA O MATERIAL
NÃO SOLUBILIZADO
Leonel Nadal de Oliveira1, Ricardo Nadal de Oliveira2, Djalmo Dutra dos Santos Neto3, Rogério Ferreira Júnior4,
Richard Thomas Lermen5, Rodrigo de Almeida Silva6
1 Universidade Meridional, e-mail: leonelnadal10@gmail.com; 2 Universidade Meridional, e-mail:
ricardonadal_oliveira@hotmail.com; 3 Universidade Meridional, e-mail:1112250@imed.edu.br; 4 Universidade Meridional,
e-mail: 1116701@imed.edu.br; 5 Universidade Meridional, e-mail: richard.lermen@imed.edu.br; 6 Universidade Meridional,
e-mail: rodrigo.silva@imed.edu.br.

Palavras-chave: Coagulante; Drenagem Ácida de Minas; Geopolímeros.

Resumo
Com o grande avanço da indústria surge uma preocupação com a geração de efluente, requerendo um sistema mais avançado e
eficiente para que todo esse resíduo seja tratado, atualmente os sistemas mais empregados são a base de coagulantes,
principalmente à base de alumínio, que forma flocos decantáveis eliminando poluentes na forma de lodo, porém isso acaba
gerando enormes volumes deste resíduo, o qual representa grandes custos ao ser descartado. Juntamente com os poluentes do
efluente este lodo contem o coagulante utilizado para tratar, ao acidificar o meio este material preso é solubilizado, dando
origem ao “coagulante regenerado”, porém este processo é oneroso, uma vez que os ácidos necessários para esta extração
possuem custo elevado e ainda há uma parte não solubilizada denominada “lodo não solubilizado”, o que em muitas vezes
inviabiliza o processo. O presente trabalho teve como objetivo propor o uso de uma drenagem acida natural, obtida com
resíduos de mineração, para a extração deste coagulante e ainda propor um destino para o resíduo não solubilizado. Utilizando-
se da proporção de 1:3 da drenagem ácida de minas em relação ao lodo, pode-se gerar 1800 ml de coagulante regenerado e,
após o processo de filtração, resultou em 8,391 g de lodo não solubilizado. O coagulante regenerado no processo, foi testando
primeiramente no efluente em que o lodo era oriundo, onde obteve-se resultados satisfatórios na remoção da turbidez, em
seguida foi realizado um teste em água bruta não tratada, e o resultado também foi satisfatório para a remoção da turbidez. A
parte do lodo não solubilizada foi calcinada e ativada com hidróxido de sódio e silicato de sódio, no intuito de produzir um
geopolímero, na primeira tentativa de fazer o polímero utilizou-se 10g de lodo não solubilizado calcinado para um ativador
composto de 1,30g de hidróxido de sódio, 2,72g de água e 1,92g de silicato de sódio, o que resultou em um bloco com medidas
de 2x2x2 cm, más o material levou aproximadamente 2 meses para que apresentasse uma resistência considerável. Em uma
segunda tentativa utilizou-se 9g do material calcinado e adicionou-se 21g de metacaulim, com o mesmo ativador com as
devidas proporções ajustadas ao novo volume, gerou-se então uma amostra circular com 40mm de diâmetro e 30mm de altura,
este por sua vez conseguiu resistir a pequenos impactos com um tempo de cura de 7 dias. Conclui-se então que a separação do
coagulante presente no lodo por meio da drenagem ácida de minas é possível, gerando um material com capacidade semelhante
ao comercial. A parte não solubilizada do lodo, mostrou-se uma alternativa possível para incorporação e produção de
geopolímeros sendo possível destino do material.

INTRODUÇÃO

O lodo gerado pelo processo de tratamento tem características fluido-pastosa devido ter uma umidade acima dos 95
%, este sendo rico em matéria orgânica e sólidos removidos no tratamento, mas também é possível encontrar resíduos dos
coagulantes empregados, polímeros, cal e carvão ativado em pó. A destinação adequada do lodo de forma economicamente
viável e ambiental segura é o grande desafio das companhias de abastecimento público de água do Brasil, contabilizando esta
geração de lodo, tem-se nos municípios operados pela SABESP no estado de São Paulo, uma produção diária de 90 toneladas
de lodo em base seca (WAGNER; PEDROSO, 2014).
As partículas coloidais que conferem turbidez e cor, sobre toda a água naturais, possuem na sua maioria cargas
elétricas negativas em sua superfície, as quais criam uma barreira impossibilitando que as mesmas se aglomerem. Assim sendo
necessário promover alterações das características superficiais das partículas com a adição de coagulantes (LÉDO et al., 2009).
A utilização de coagulantes para o polimento do efluente como pós-tratamento, foi testado na lagoa de estabilização
do sistema de tratamento de águas residuais de Salguero (município Valledupar – Colombia), foi testado para os parâmetros

810
DQO, SST e algas, com o coagulante cloreto férrico (FeCl3). Obteve-se taxas de remoção de 77,13% da DQO, 91,03% SST e
96,22% nas algas. Foi comparada a dosagem utilizado do cloreto férrico de 170 mg/L enquanto o PAC (policloreto de
alumínio) foi de 400 mg/L. O uso de coagulantes químicos para a remoção de substancias que causam cor e turbidez na água é
altamente recomendável (RAMÍREZ; SIERRA, 2018).
Dentre as alternativas que estão sendo empregadas no descarte correto para o lodo das ETAs, está a recuperação e
reciclagem do coagulante (GONÇALVES; PIOTTO; RESENDE, 1997), a parte solida do lodo por ser rica em compostos de Si
e Al, devidamente beneficiados podem ser utilizados para a geração de um polímero inorgânico, o qual é chamado de
geopolímero, a possibilidade da aplicação é devido o geopolímero ser constituído de estruturas de Si e Al (DAVIDOVITS,
1991; GONÇALVES; PIOTTO; RESENDE, 1997; SEVERO et al., 2013).
Os materiais da construção considerados ambientalmente sustentáveis têm tido uma alta demanda em todo o mundo,
isso ocorre pelo avanço nas preocupações com o equilíbrio global, com isto ocorre uma pressão para que a indústria da
construção empregue novos materiais cimentícios verdes com o intuito de salvar um ecossistema já combalido pelo
aquecimento global. Um grande exemplo de material agressivo ao ambiente é o cimento Portland, onde gera-se 0,9 kg de CO2
e é consumido 5 bilhões de joules de energia elétrica e energia combustível para produção de 1 Kg de cimento. Pesquisadores
durante as últimas décadas tem procurado um cimento ecológico que possa substituir os 500 bilhões de metros cúbicos de
materiais cimentícios utilizados no desenvolvimento de novas infraestruturas (ABDOLLAHNEJAD et al., 2014; AZEVEDO et
al., 2017; HAQUE; CHEN, 2019; RASAKI et al., 2019).
Nos últimos anos os geopolímeros, que são uma classe alternativa de cimentos, tem chamado a atenção devido as
propriedades mecânicas, durabilidade e reduzido impacto ao ambiente associado a produção. Vários materiais podem ser
utilizados como precursores na concepção do geopolímero, tais como os naturais (cinzas vulcânicas, terra de diatomáceas), os
sintéticos (metacaulim) e os resíduos (cinza volante, escoria de alto forno, cerâmica e cinzas de lodo) (ISTUQUE et al., 2019;
LIU et al., 2014; MACIOSKI, 2017)
Do ponto de vista terminológico o geopolímero é um sistema ligante que endurece em temperatura ambiente, o
cimento geopolímerico é um material inovador e uma real alternativa ao cimento Portland, ele se baseia em materiais naturais
minimamente processados ou subprodutos da indústria. A produção do geopolímero consiste em requerer um material
aluminossilicatos, um reagente alcalino e água (DAVIDOVITS, 2015).
A alta produção de resíduos somada com a demanda de matérias primas dá origem a um dos grandes paradigmas da
sociedade, o desenvolvimento sustentável. Visto que o tratamento de efluentes é uma necessidade, seus custos devem ser
reduzidos e sua eficiência aumentada, porém atualmente existem poucas formas destes objetivos serem alcançados, uma vez
que, geralmente, a eficiência de um sistema de tratamento depende dos custos envolvidos nele. Baseado nas informações
apresentadas surge o contexto do presente trabalho, o qual busca apresentar um possível método para a recuperação de
coagulantes utilizados no tratamento de efluentes industriais, os quais encontram-se aprisionados em seu lodo, ainda é
estudado o uso do resíduo sem coagulante como material precursor para geopolímeros.

MATERIAIS E MÉTODOS

O desenvolvimento do trabalho seguiu um fluxo de trabalho complexo, este processo é apresentado no fluxograma da
Figura 27 onde é possível visualizar as fontes geradoras dos resíduos utilizados (destaque amarelo), no caso a atividade
Industrial que acaba produzindo o lodo e a mineração de carvão a qual produz a pirita, ambos resíduos de difícil descarte pelas
suas características e volume gerado. Ainda é possível visualizar, em destaque vermelho, os insumos necessários para a
aplicação do sistema proposto e por fim os produtos gerados destacados na cor verde.

811
Figura 27: Fluxograma completo de um processo utilizando o método proposto.

O efluente estudado é proveniente da estação de tratamento de efluentes (ETE) do Instituto de Longa Permanência
Cristo Rey, localizado na Cidade de Passo Fundo - RS, este estabelecimento atua como uma clínica geriátrica voltada para o
cuidado de idosos, em regime de moradia permanente e periódica. O efluente estudado é gerado apenas na lavanderia instalada
no local, sendo os demais efluentes (típicos residenciais) tratados em um sistema separado. A produção de efluente advém da
lavagem das roupas de cama e vestuário dos habitantes, apresentando um regime de vazão diário de 4.000 l/dia, produzidos em
um intervalo de 8 h. O efluente que abastece a ETE apresenta as características expostas no Quadro 2, onde é possível
identificar que há altas cargas de surfactantes e elevada demanda química de oxigênio (DQO). O sistema de tratamento
empregado é por floco-decantação, utilizando como coagulante o sulfato de alumínio comercial dosado na concentração de 8
g/l.

812
Quadro 2: Parâmetros de controle encontrados na estação de tratamento de efluentes.

A pirita utilizada é proveniente de uma mina de uma jazida de carvão localizada no estado do Paraná, esta foi
submetida a uma coluna de lixiviação esquematizada na Figura 28 (A), onde água destilada, permaneceu circulando no sistema
por 4 semanas dando origem a um material com tonalidade amarelo-esverdeada e um pH de 0,05, visto na Figura 28 (B).

Figura 28: Coluna utilizada par a lixiviação de drenagem acida de minas (A) e drenagem gerada no processo (B).

A mistura do lodo e da DAM foi realizada em um Teste de Jarro (Jar-test), marca Alfakit modelo AT406, após a

813
mistura o material foi filtrado em papel filtro, onde o passante foi denominado como regenerado e o retido lodo não
solubilizado
O lodo não solubilizado retido no filtro foi seco em estufa a 100°C por 24h, o material foi macerado manualmente
com almofariz e pilão, o passante na peneira ABNT #200 foi calcinado em uma mufla marca Romatex a uma temperatura de
750°C por 2h. O material foi misturado a um metacaulim, fornecido pela empresa Metacaulim do Brasil, a uma taxa de
substituição de 30%, esta mistura foi ativada com uma solução de Silicato de Sódio C-112 e Hidróxido de Sódio em escamas
diluído em água a 12M.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A mistura foi realizada utilizando uma proporção de 1:3 (Lodo:DAM) onde o lodo apresentava um teor de sólidos
igual a 30,74 mg/ml. Foi introduzido dentro do frasco do Teste de Jarro, 400 ml de lodo e 1200 ml de DAM com pH de
mistura inferior a 0,5. A mistura foi realizada por um período de 5 min na velocidade máxima do equipamento e após este
período a velocidade foi reduzida pela metade por mais 25 min, tempos baseados na literatura (BIANCA et al., 2016). Para a
produção de 1.800 ml de coagulante regenerado foi utilizado um volume de 1.200 ml de DAM e 400 ml de lodo, o que resulta
em uma taxa de produção de 4,5 litros de coagulante para cada litro de lodo, tendo um gasto de 3 litros de DAM para cada litro
de lodo, estes dados são relativos a situação de adensamento em que o lodo se encontrava, com aproximadamente 30,74 mg/ml
de sólidos, com uma umidade de aproximadamente 70%, a qual foi transferida para o regenerado.
Após o processo de agitação é possível visualizar a formação de duas fases na mistura, uma fração sólida depositada
no fundo, material este não solubilizado no processo, e uma porção solubilizada pelo processo que fica dispersa na fração
líquida, na Figura 29 é possível visualizar as fases formadas após o processo de recuperação, há autores que trazem um tempo
mínimo de 17 min para que ocorra esta separação de fases (SOUZA et al., 2016) , outro autor fala em tempo de 50 min para
que ocorra a total separação de fases em lodos ricos em sulfato de alumínio e cloreto férrico (GUIMARÃES, 2005).

Figura 29: Aspecto da mistura após o período de agitação.

Coagulante regenerado foi empregado para o tratamento do efluente do próprio estabelecimento alcançando os
resultados de teste de Jarro visualizados na Figura 30 (B), é possível observar que com 0,5 ml/L, encontrou-se um tratamento
satisfatório. Ao comparar com o sulfato de alumínio comercial, empregado atualmente na estação, apresenta um resultado
similar, uma vez que este apresenta um tratamento efetivo a partir de dosagens superiores a 8 g/L na estação, e como
visualizado na Figura 30 (A), conseguiu-se realizar o tratamento em teste de Jarro do mesmo efluente com sulfato de alumínio
comercial chegando a valores de tratamento na ordem de 1,5 a 3 g/L.

814
Figura 30: Resultado do teste de jarro do efluente da própria ETE utilizando sulfato de alumínio comercial (A) e o
coagulante regenerado (B).

Ao realizar o teste de jarro com o coagulante regenerado para o tratamento água (estação de tratamento de água (ETA
3) da cidade de Passo Fundo), foi possível observar a remoção de turbidez com uma dosagem ideal entre 0,4 e 0,6 ml/l, como
ilustrado na Figura 31, o segundo ponto que pode-se observar é o tempo necessário para que ocorresse a decantação, em torno
de 5 minutos, significando que o desempenho do material foi satisfatório, uma vez que a literatura indica uma porcentagem
menor no coagulante regenerado em comparação com o coagulante comercial, e com isto sendo necessário a utilização de um
volume maior do coagulante regenerado, em testes mostraram ser necessário volumes 9 vezes maiores que o equivalente
comercial (GUIMARÃES, 2005).

Figura 31: Resultado do teste de jarro de água potável utilizando o coagulante regenerado.

O principal empecilho encontrado, e talvez um dos limitantes, fica na questão de produção de lodo não solubilizado,
uma vez que o tratamento térmico (calcinação) reduz consideravelmente sua massa, a partir de um volume inicial de 400 ml de
lodo bruto obteve-se 8,931g de lodo não solubilizado e após a calcinação 1,601g do material.
O lodo não solubilizado foi utilizado para produção do geopolímero, na primeira tentativa de obtenção de um material
utilizou-se 10g de lodo não solubilizado calcinado como precursor e o ativador foi composto de 1,30g de hidróxido de sódio,
2,72g de água e 1,92g de silicato de sódio, o resultado foi uma pequena amostra cúbica de 2x2x2 cm, esta é visualizado na

815
Figura 32 (B), este material apresentou uma cura tardia, nas primeiras 3 semanas o material desmanchava ao toque, porém
após 2 meses de cura ambiente o material apresentou uma resistência considerável indicando o sucesso na formação de
estruturas resistivas geopoliméricas.

Figura 32: Aspectos visuais dos geopolímeros produzidos com lodo não solubilizado e calcinado em conjunto com
metacaulim (A) e integral (B).

A possível causa desta demora fica a critério das baixas concentrações de sílica comparado com a alumina, ou seja,
baixo módulo de sílica/alumina, na ativação alcalina o primeiro elemento a dissolver é o alumínio, já a sílica é liberada
tardiamente, o lodo não solubilizado por mais que tenha passado por um processo de extração ácida, onde grande parte do
alumínio foi retirada, ainda permanece com uma quantidade considerável deste componente, desta forma acredita-se que os
teores de sílica disponíveis (solúvel) não atenderam a demanda da grande quantidade de alumínio liberada no meio, mais uma
vez fica evidenciado que o lodo por ter uma origem industrial não é rico em sílica, ou seja, a estrutura geopolimérica
denominada N-A-S-H (aluminossilicato de sódio) não foi formada imediatamente pois apenas a sílica do silicato de sódio
abasteceu o alumínio liberado nos primeiros momentos, com o passar do tempo de cura, as estruturas silicosas do lodo
passaram a ser dissolvidas devido à alta alcalinidade do meio propiciando, assim como no cimento Portland, um ganho de
resistência com a cura (ALVARENGA, 2018; LONGHI, 2015; MACIOSKI, 2017; SEVERO et al., 2013).
A discussão abordada pode ser melhor embasada com um segundo experimento realizado onde desta vez, o lodo não
solubilizado calcinado foi misturado com o metacaulim, material este amplamente utilizado para produção de geopolímeros,
neste experimento utilizou-se 9g de lodo não solubilizado (30% em massa) e 21g de metacaulim (70% em massa) totalizando
31g de precursor, como ativador foi utilizado 5,75g de silicato de sódio, 3,91g de hidróxido de sódio e 8,14g de água. A
amostra agora circular com 40mm de diâmetro e 30mm de altura, visualizada na Figura 32 (A), apresentou uma cura
comumente encontrada em geopolímeros, autoportando-se já no primeiro dia de cura e aos 7 dias resistindo a pequenos
impactos.

CONCLUSÃO

A partir dos resultados encontrados é possível concluir que a separação do coagulante presente no lodo utilizando
drenagem ácida de minas é possível, o material apresenta eficiência no tratamento de águas e efluentes industriais, indicando
um possível processo alternativo para reciclagem de coagulante.
O desenvolvimento do geopolímero com o lodo não solubilizado, apresentou-se como uma possível alternativa para o
destino do lodo tratado, tendo como principal empecilho a baixa produção de material após o processo de calcinação, porém
estudos específicos relacionado ao ganho de resistência à compressão e produção devem ser realizados para embasar essa
afirmação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Faculdade IMED pela disponibilização dos laboratórios, equipamentos e materiais utilizados
no experimento, ainda agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio na forma das bolsas de estudo. Por fim fica o
agradecimento ao Instituto Cristo Rey pela liberação de seu empreendimento para o estudo.

816
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817
5SSS209
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE PRODUÇÃO DE PECTINASE A
PARTIR DO RESÍDUO DA CASCA DA MAÇÃ POR FERMENTAÇÃO
DE ESTADO SÓLIDO
Larissa Fernanda Finazzi da Costa, Douglas Soligo Fracasso2, Daiana Maffessoni3, Marlene Guevara dos
Santos 4
1Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, e-mail: larissa-costa@uergs.edu.br 2Universidade Estadual do
Rio Grande do Sul, e-mail: douglas-fracassso@uergs.edu.br; 3Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, e-
mail: daiana-maffessoni@uergs.edu.br, 4 Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, e-mail: marlene-
santos@uergs.edu.br.

Palavras-chave: pectinase; fermentação; resíduo.

Resumo
As enzimas pectinolíticas ou pectinases formam um grupo heterogêneo de enzimas que hidrolisam as substâncias pécticas, são
usadas na extração de suco de fruta e são usadas nos processos de clarificação, redução da turbidez e viscosidade dos sucos,
dentre outras aplicações. Essas enzimas são produzidas por fungos filamentosos dentre eles se destaca o Aspergillus niger. que
é a espécie mais comumente utilizada. Este trabalho teve como objetivo avaliar a utilização da casca da maçã como substrato
para produção de pectinase em estado sólido utilizando Aspergillus niger. As etapas da metodologia foram pré-tratamento e
caracterização da casca da maçã, obtenção, isolamento e identificação do microrganismo, fermentação em estado sólido e os
ensaios de clarificação e redução de turbidez foram realizados em triplicatas e os resultados foram comparados com uma
enzima comercial. O teor de pectina encontrado nas casca da maçã foi cerca de 14,91% ± 0,02 mostrando que a casca da maçã
é uma alternativa de substrato para a produção de pectinase, o teor de sólidos solúveis foi 14°Brix, a umidade é 28,83% ±
0,064 tal valor indica que não há necessidade de manutenção da umidade durante a fermentação, o pH 4,4 indica uma
condição favorável para o crescimento dos microrganismos sem que haja necessidade de manutenção. O microrganismo foi
obtido através da bioprospecção realizada em casca da maçã, o isolamento foi feito identificando quais das colônias obtinham
as características de uma colônia de Aspergillus niger e foram cultivadas em meio BDA a identificação realizada foi
morfológica. A fermentação em estado sólido foi realizada por 120 horas, nas quais foram retiradas alíquotas a cada 24 horas.
O extrato bruto enzimático obtido após o processo fermentativo de removeu 77,16 % de turbidez e clarificou 70,4 % a amostra
analisada, enquanto a enzima comercial removeu 74,4 % de turbidez e para ensaios de clarificação o resultado foi 64,8 %. Tais
resultados comprovam que a viabilidade da produção de pectinase a partir da casca da maçã na produção de enzimas
pectinolíticas produzidas por fermentação em estado sólido pelo Aspergillus niger.

Introdução

A maçã, fruto da macieira, possui forma de globo, sabor agridoce e coloração verde ou vermelha. Seu principal consumo
é na forma fresca, mas o processamento é bem aceito, como sucos, geleias, vinagre, doces (SEBRAE, 2019).Possui diversas
características importantes desde a importância na manutenção da saúde controlando a glicemia, hidratando e repondo
energias, reduzindo níveis de colesterol, auxiliando na saúde bucal, a maçã é rica em vitaminas, fibras e fundamental para
manter uma dieta saudável(VALOR MEDICINAL, 2019).
Em todo o Brasil, a safra 2017/2018 teve uma produção de 1,1 milhão de toneladas de maçã e estima-se que a safra
2018/2019 tenha uma produção de 1,2 milhão de toneladas, (MORAIS, 2018). O suco é considerado um dos principais
produtos obtido do processamento da maçã. O resíduo, bagaço (casca, polpa, semente), de acordo com Nunes (2016),
representa em torno de 25% do peso do fruto, e tem como destino final ou aterros sanitários ou é utilizado na suplementação de
adubos. Mas estudos estão sendo realizados de modo a aproveitar melhor esse subproduto da indústria para produção de álcool,
bebidas alcoólicas, fibras para enriquecimento de alimentos (SEBRAE, 2019).
Dentre os componentes da casca da maçã, destaca-se a pectina, composta por complexos de polissacarídeos que são
utilizadas na fabricação de geleias, como espessantes, estabilizantes, emulsificantes (FiB, 2014).
As enzimas responsáveis pela quebra da pectina são conhecidas como enzimas pectinolíticas ou pectinases e são empregadas
nas indústrias têxteis, de extração de óleos e, principalmente, nas indústrias de sucos diminuindo o tempo de clarificação e
aumentando a eficiência da extração. Dentre os produtores dessas enzimas estão os fungos da espécie Aspergillus niger

818
(ROCHA, 2010). Assim sendo, este trabalho tem por objetivo avaliar a utilização da casca da maçã como substrato para
produção de pectinase em estado sólido utilizando Aspergillus niger.

Metodologia

A metodologia desenvolvida foi de acordo com o Fluxograma.

Figura 33: Fluxograma da metodologia aplicada

Preparo do Resíduo
As cascas foram lavadas em água corrente, e depois separadas das cascas. Essas serão limpas e trituradas
e peneiradas. O resíduo úmido foi disposto em bandejas de alumínio e levados a estufa com circulação de ar a
temperatura de 60°C por um período de 30 horas em camadas de aproximadamente 0,5 cm, para chegar-se ao
resíduo seco da casca da maçã.

Caracterização do Resíduo
A caracterização físico-química dos resíduos quanto à densidade aparente, pH, umidade, cinzas, sólidos
solúveis, açúcares redutores e pectina, foi realizada conforme procedimentos descritos a seguir.

Densidade Aparente
Para determinação da densidade aparente pesou-se 100 gramas dos resíduos que foram colocados em
proveta para determinar o volume ocupado, sem haver compactação (Correia, 2004). A densidade aparente é
expressa na Equação 1.

Densidade aparente = m (1)


v

Onde: m é massa pesada (g) e é o volume da solução (mL).

819
pH
Preparou-se uma suspensão com 10mL de água destilada e 1,0 g da amostra sólida. Após homogeneização
a suspensão foi deixada em repouso por um período de 30 minutos, depois o pH foi mensurado em potenciômetro
digital, previamente calibrado com as soluções padrões (Instituto Adolfo Lutz, 1985).

Umidade
Pesou-se de 2 g da amostra em cápsula de porcelana previamente tarada. A mesma foi aquecida durante
3 horas a 105°C. Resfriou-se em dessecador até a temperatura ambiente, pesou-se. A umidade foi calculada
conforme a Equação 2.

(2)

Onde é N é a massa depois do aquecimento e P é a massa antes do aquecimento.

Teor de sólidos solúveis (ºBrix)


Ajustou-se o refratômetro para a leitura de n em 1,3330 com água a 20°C, de acordo com as instruções
do fabricante. Transferiu-se de 3 a 4 gotas da amostra homogeneizada para o prisma do refratômetro. Circulou-se
água à temperatura constante pelo equipamento, de preferência a 20°C, no tempo suficiente para equilibrar a
temperatura do prisma e da amostra e mantenha a água circulando durante a leitura, observando se a temperatura
permanece constante.

Pectinas
Transferiu-se 200 ml da solução da amostra, para um béquer de 400 ml. Ela foi evaporada em banho-
maria até cerca de 25 ml. Esfriou-se. Adicionou-se 3 ml de ácido sulfúrico 0,5 M e adicionou-se lentamente, 200
ml de etanol anidro. Deixou-se em repouso por 10 horas e filtrar. Lavou-se o filtro com 50 ml de álcool a 95%. O
precipitado foi transferido para o mesmo béquer em que foi feita a evaporação, com o auxílio de um jato de água
quente. Evaporou-se até reduzir a 40 ml. Esfriou-se. Posteriormente, foi adicionado 5 ml de solução de
hidróxido de sódio a 10% e 5 ml de água. Ficando em repouso por 15 minutos. Logo após adicionado 40 ml de
ácido clorídrico (1+9). Ferveu-se por 15 minutos e filtrou-se.

O precipitado foi transferido para um béquer de 200 ml, com auxílio de um jato de água quente. Após
lavado bem o papel de filtro com água quente. Completou-se com água o volume de 40 mL. Esfriou-se.
Adicionou-se 5 ml de solução de hidróxido de sódio a 10% e 5 ml de água que ficou em repouso por 15 minutos.

Logo após adicionou-se 49 mL de água e 10 mL de ácido clorídrico (1+9). Ferva por 5 minutos. Filtrar
em cadinho de Gooch que tenha sido previamente aquecido por 30 minutos em mufla a 550°C e resfriado até a

820
temperatura ambiente em dessecador com cloreto de cálcio anidro, pesado. A amostra foi aquecida por 30
minutos em mufla a 550°C. Depois de resfriada a mesma foi pesada. A perda de peso dará a quantidade de ácido
péctico (Equação 3).

(3)

Onde: N é massa final e P é a massa inicial de amostra.

Isolamento e identificação do microrganismo

Os microrganismo foram obtidos de modo natural a partir da casca da maçã, a mesma foi colocada em
recipentes fechados sob o abrigo de luz. Posteriomente foram feitos repiques a fim de se obter colônias
caracteristicas tipicas Aspergillus niger. A identificação do microrganismo foi realizada através das analises das
características macromorfológicas são elas o tamanho da colônia, características dos bordos, textura, relevo e
pigmentação.

Fermentação em estado sólido


O cultivo em estado sólido foi conduzido em bandejas contento 80 g de meio sólido, os mesmo foram
inoculados com suspensão de esporos de A.niger. Aeração foi feita a partir de bombas de aquário que injetavam ar,
para um garrafa que continha uma solução de água e álcool iodado para garantir a assepsia do meio evitando
contaminação.

Extração enzimática

Os tratamentos dos extratos enzimáticos foram feitos através da centrifugação nas condições de 180 rpm e
30 minutos. As alíquotas que foram centrifugadas continham o substrato e tampão acetato (200 mM pH = 4,0) e
foram retiradas em triplicata de cada reator no intervalo de tempo de 24 horas. Posteriormente o suco natural de
maçã Gala foi utilizado para a avaliação dos extratos enzimáticos de A. niger, produzidos em cultivo em estado
sólido. Com 1 ml de sobrenadante e 6 mL de suco a incubação foram definidos como temperatura e o tempo de
incubação para os testes os valores 50oC e 60 minutos respectivamente, tais valores foram escolhidos as referências
bibliográficas de trabalhos semelhantes com pectinases e o Aspergillus niger.

Ensaios realizados
Os ensaios nos biorreatores foram conduzidos por 120 horas e com a utilização da casca da maçã como
meio. Os extratos enzimáticos brutos obtidos foram testados na clarificação de suco maçã Gala (Mahus domestica)
em comparação com a enzima comercial Pectinez Ultra SP-L (Nocozymes Latin America Ltda). As frutas foram
adquiridas em um mercado local e higienizadas com água. O suco foi obtido com auxílio de um liquidificador
(Mondial) e não foi adicionado água na sua preparação. As amostras de sucos de maçã foram condicionadas em

821
tubos e para 6,0 mL de suco foi adicionado 1 mL dos extratos enzimáticos, sendo a dosagem utilizada de 1 unidade
de pectinase totais por mL de suco. O tempo de incubação dos devidos tratamentos enzimáticos foi de 60 minutos,
a 50 °C.

Ensaios de turbidez
Em pequenas alíquotas de 6 ml de suco de maçã foram adicionadas a 1 ml de extrato enzimáticos que após
o procedimento de incubação citado anteriormente, retirou-se 500 µL em frascos de ensaios de turbidez e
adicionou-se em tubos de ensaios de turbidez e foi adicionada água destilada. Após a homogeneização da solução
foram feitas as análises de turbidez. O suco tratado com os extratos brutos foi comparado com o suco tratado com
enzima comercial Pectinex Ultra SP-L quanto a diminuição da turbidez. A redução da turbidez foi calculada pela
Equação 4.
Redução da turbidez (%) = Turb suco controle – Turb suco tratado * 100 (4)
Turb suco controle
Onde: Turb suco controle é a turbidez do suco que não foi tratado, Turb suco tratadado é turbidez do suco tratado com
extrato enzimático.

Ensaios de clarificação
A clarificação do suco de maçã gala foi determinada por intensidade de cor, medida em espectrofotômetro,
metodologia adaptada por Sandri (2010). A leitura das amostras foi realizada nos comprimentos de onda de 440 e
520 nm contra água. O comprimento de onda de 440 nm corresponde à cor amarela decorrente de oxidação de
polifenóis; a medida de 520 nm refere-se à cor vermelha, resultante da presença de antioxidantes da fruta. O suco
tratado com os extratos brutos foi comparado com o suco tratado com enzima comercial Pectinex Ultra SP-L
quanto ao aumento da clarificação.
A intensidade de cor (IC) do suco foi expressa como a soma das absorbâncias a 440 nm e 520 nm (Equação
5).
IC=Abs440+Abs520 (5)

A clarificação, expressa em percentual de clarificação, foi determinada em função da intensidade de cor do


suco controle e do suco tratado (Equação 6).

Clarificação (%) = IC suco controle – IC suco tratado * 100 (6)

IC suco controle
Onde: IC suco controle é a intensidade de cor do suco que não foi tratado, IC suco tratado é intensidade do suco
tratado com extrato enzimático.

822
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização do Resíduo
A produção de pectinase por Aspergillus niger é induzida pela presença de pectina no meio de cultura.
Assim, a caracterização dos resíduos da casca da maçã visa conhecer a composição dos resíduos com respeito ao
conteúdo de nutrientes, que são importantes na síntese da enzima como percentual de pectina, açúcares redutores
e proteína, bem como os parâmetros que afetam o processo como pH e a densidade aparente. A caracterização da
casca da maçã como meio na produção de pectinases por fermentação em estado sólido esta apresentadas na
Tabela 1, os dados são referentes a base úmida.

Tabela 1: Caracterização dos resíduos da casca da maçã em base umida

Parâmetros Analisados Unidade Casca da maçã

Umidade % 28,83 ± 0,064

Sólidos soluveis °Brix 14,03 ± 0,057

Pectinas % 14,91 ± 0,020

pH - 4,4 ± 0,005

Densidade aparente g/mL 0,114 ± 0,001

O valor de pH está de acordo com os determinados por Pagani (2005) para a casca da maçã, (4,4). O pH é
uma variável importante em qualquer processo biológico, havendo valores de pH mínimo, ótimo e máximo para o
desenvolvimento de cada microrganismo. Geralmente os fungos têm como condição favorável de desenvolvimento
pH baixo (4,5 – 5,0)). Os resíduos aqui estudados apresentam alto teor de pectina sendo de 14,91 % para o resíduo
de maçã em base úmida. Apresentam o valor de sólidos solúveis de 14° Brix valor o qual se encontra de acordo
com a Pagani (2005). A densidade aparente (0,114 g/mL) revela que os resíduos tendem a não se compactarem
completamente, fator propício ao desenvolvimento de microrganismo, visto que os espaços vazios criados pelo
resíduo geram espaços suficientes para a circulação de ar. Tal característica é essencial tendo em vista que o
material será utilizado como substrato para o processo de fermentação em estado sólido.

Obtenção, Isolamento e Identificação dos Microrganismos


Os microrganismo foram obtidos de modo natural a partir da casca da maçã, a mesma foi colocada em
recipentes fechados sob o abrigo de luz. Após quatro dias a prospecção dos microganismos foi feita em capela
de fluxo laminar usando como meio de cultivo a batata dextrose onde os esporos crescidos nas amostras foram
espalhados com alças de drigalski (Figura 1). Foram nove incubadas a 25°C por um período de quatro dias.

823
(b)
(a)
Figura 1: Propespção de microrganismos que cresceram na casca da maçã após 4 dias de
incubação. (a) Método de estriamento em placa (b) Captação dos esporos do microrganismo.

Após 4 dias foi observado e analisados que das nove placas (Figura 2a) apenas quatro apresentaram as
caracteristicas morfológicas de colônias de Aspegillus (Figura 2b).

(a) (b)

Figura 2: Crescimento microbiano da prospecção da casca da maçã. (a) após 4 dias de proscpeccção (b)
placas que apresentaram caracteristicas de colônia de Aspergillus niger.

Dessas que possuiam as caracteristicas morfológicas de Aspegillus foram isoladas cultivadas novamente
em capela de fluxo de fluxo laminar nas mesmas condições descritas anteriormente com intuito de isolar
colônias de Aspergillus, das quais todas as nove placas produzidas apresentaram características (Figura 3).

Figura 3: Segundo isolamento.

Dentre as nove placas ilistradas na Figura 3, foram escolhidas apenas quatro para a serem analisadas

824
através de microscópios com corante de azul de metileno. O resultado encontrado nas analises das laminas
coradas (Figura 3), mostram caracteristicas próprias tais como as célula conidiogenica, as hifas, Conídios e
conidióforo do Aspergillus niger que são encontradas na literatura de identificação de Aspergillus (Figura 4).
Após a identificação dos microrganismos os mesmos foram colocado nos biorreatores, juntamente com as cascas
de maçãs para dar inicio ao processo de fermentação em estado sólido.

Fermentação em Estado Sólido


Os biorreatores foram montados buscam suprir as necessidades do microrganismo referenciadas sobre o
consumo oxigênio (Figura 5a). Para a entrada de oxigênio foi usada mangueiras que com o auxílio de uma
bomba de áquario mandava o ar esteril contido na garrafa de alimentação do biorreator onde havia solução
esteril de etanol, água e iodo para evitar a contaminação na entrada do biorreator (Figura 5b). A fim de permitir
uma distribuição equivalente de oxigênio por todo o reator foram feitos furos pela mangueira conectada ao
fundo do reator. Já para a saída de ar foi feito furos na laterais do reator onde estava conctado uma mangueira
que ligava o biorretor para outra garrafa contendo outra solução de esterilização, visto que os fungos
identificados e utilizados podem causar problemas respiratórios (Figura 5c).

Devido aos fato da casca da maçã utilizada no processo possuir cerca umidade 28,83 % (em base umida) e
o Aspergillus niger não requerer uma alta concentração de umidade não foi levado em consideração este parâmetro
para a umidade, o mesmo aconteceu com o parâmetro de pH, o pH encontrado na casca da maçã era semelhante ao
ideal para o crescimento dos fungos logo não se fez necessário ajustar os biorreator para monitorar este para a

825
montagem do biorreator. Para os ensaios realizados usou-se a identificação dos reatores de acordo com o coloração
das grades dos mesmo, ou seja, verde, laranja e rosa.

(a) (b) (c)

Figura 5 Funcioncionamento do biorreator (a) Sistema de biorreator, (b) Entrada de oxigênio, (c) Saída de
oxigênio dos reatores.

Ensaios realizados
A ação das enzimas pectinolíticas foi avaliada no tratamento de suco de maçã. O pH do suco in natura,
medido em torno de 4,0, também se constitui em uma condição favorável para a ação do complexo pectinolítico.
Como controle, foi utilizada a preparação comercial Pectinex Ultra SP-L (Novozymes Latin America Ltda). As
atividades enzimáticas dos extratos enzimáticos produzidos e da preparação comercial foram padronizadas para o
mesmo valor, de 6 U/mL.

Ensaio de turbidez
Os ensaios de turbidez foram realizados a cada 24 horas por um período de 120 horas. Foram analisados os
dados de dos 3 biorreatores montados. O valor de turbidez do Suco controle, ou seja, aquele que não recebeu
nenhum tratamento foi 708 NTU os valores de remoção da turbidez de cada biorretor é apresentado na Tabela 2
esses valores são referentes a redução da turbidez por grama de substrato enzimático ao longo dos dias.

Tabela 2: Remoção da turbidez por reator.

24 horas 48 horas 72 horas 96 horas 120 horas


%Remoção
64,31 ± 0,038 75,90 ± 0,008 76,08 ± 2,1 75,54 ± 0,041 77,16 ± 0,013
da turbidez

O valor de turbidez removido pela enzima comercial foi de 74,01% ± 0,17. A partir de 48 horas o resultado
do extrato enzimático obtido no processo ultrapassaram o desempenho da enzima comercial. O Gráfico 1
demonstra a relação das do percentual removido de turbidez por reator ao longo do tempo em comparação a enzima
comercial.

826
Ensaio de clarificação
Os ensaios de clarificação foram realizados a cada 24 horas por um período de 120 horas. O valor de clarificação do
suco controle de 0,2837, os valores de aumento da clarificação são apresentados na Tabela 3 esses valores são referentes ao
percentual de aumento da clarificação por grama de substrato enzimático ao longo das 120 horas.

Tabela 3: Aumento da clarificação

24 horas 48 horas 72 horas 96 horas 120 horas


Aumento da
clarificação (%) 62,66% 68,85% 70,04% 69,04% 70,44%

O aumento da clarificação proporcionado pela enzima comercial foi 64,8 %, o desempenho do biorreator ultrapassou o
desempenho da enzima comercial em apenas 48 horas.
O Gráfico 2 demonstra a relação do aumento da clarificação em porcentagem por reator ao longo do tempo em
comparação a enzima comercial.

827
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tratamento enzimático com os extratos produzidos experimentalmente proporcionou resultados


estatisticamente semelhantes aos obtidos com a preparação pectinolítica comercial, utilizando extrato enzimático
produzido a partir da casca da maçã em cultivo sólido.

Em apenas 72 horas de cultivo os resultados obtidos dos extratos enzimáticos já eram superiores em
aproximadamente 15% na remoção da turbidez quando comparado ao desempenho de uma enzima comercial.
Enquanto para o aumento da clarificação o extrato bruto depois de 48 horas já se apresentava 4% a mais do que
os resultados com a enzima comercial. Tal fato comprova a viabilidade de produção de pectinase a partir da
casca da maçã em fermentação em estado sólido.

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Thays França Afonso5, Cassia Brocca Caballero6, Anita Ribas Avancini7, Marcela da Silva Afonso8,
Diuliana Leandro9, Maurizio Silveira Quadro10
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hosslouise@gmail.com; 3Universidade Federal de Pelotas, e-mail: guilherme.schoeler@gmail.com;
4Universidade Federal de Pelotas, e-mail: carol_demarco@hotmail.com; 5Universidade Federal de Pelotas, e-
mail: thaysafonso@hotmail.com; 6Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: cassiabrocca@gmail.com;
7Universidade Federal de Pelotas, e-mail: anita.avancini@hotmail.com; 8Universidade Federal de Pelotas, e-
mail: marcelamafonso@yahoo.com.br; 9Universidade Federal de Pelotas, e-mail: diuliana.leandro@gmail.com;
10Universidade Federal de Pelotas, e-mail: mausq@hotmail.com

Palavras-chave: políticas públicas; gestão ambiental; meio ambiente.

Resumo
O saneamento tem como objetivo manter os níveis adequados de salubridade ambiental, garantindo adequadas condições do
ambiente para que se preserve o estado saudável da população, ocorra a promoção da saúde e também a melhora da sua
qualidade de vida. No Brasil, o saneamento básico envolve os serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário,
resíduos sólidos e drenagem urbana e espera-se que o poder público seja capaz de fornecer todas essas infraestruturas de
maneira universal e com qualidade para a população. Considerando o papel social e econômico das infraestruturas de
saneamento na sociedade, o objetivo deste trabalho foi fazer uma comparação entre os indicadores de saneamento dos Censos
2000 e 2010 nos municípios do Coredes Sul e Campanha no Rio Grande do Sul, buscando analisar se houveram avanços no
setor no período considerado. Para isso, foram considerados no estudo os 29 municípios pertencentes aos Coredes Sul e
Campanha. Foram utilizados dados disponíveis do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e calculados os
percentuais de domicílios atendidos pelos indicadores de: abastecimento de água por rede geral; existência de banheiro ou
sanitário; rede de esgoto ou pluvial ou fossa séptica; e coleta de resíduos sólidos. Os resultados mostram que houve incremento
positivo no atendimento aos domicílios da região no período avaliado. Porém, quando se analisou os municípios
separadamente, muitos apresentaram crescimentos inferiores à média estadual e, em alguns casos, mostraram decréscimo no
percentual de atendimento dos serviços, especialmente no que diz respeito ao esgotamento sanitário. Esse panorama demonstra
que ainda há um longo caminho a ser percorrido para alcançar a universalização do acesso aos serviços de saneamento na
região estudada, mas que os resultados são semelhantes aos observados para o estado do Rio Grande do Sul, Região Sul e
Brasil. Por fim, é importante que novas avaliações sejam realizadas após a publicação do próximo censo para avaliar a
efetividade das políticas públicas implementadas no país na última década.

Introdução
O saneamento é o conjunto de medidas que visa preservar ou modificar as condições do meio ambiente com a finalidade de
prevenir doenças e promover saúde, melhorar a qualidade de vida da população e a produtividade do indivíduo e facilitar a
atividade econômica. Nessa perspectiva, pode-se dizer que o objetivo do saneamento é alcançar a salubridade ambiental de um
meio (RIBEIRO e ROOKE, 2010). No Brasil, de acordo com a Lei nº 11.445, de 05 de janeiro de 2007, o saneamento básico
compreende o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento
sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo de águas pluviais (BRASIL, 2007).
A água constitui um elemento essencial à vida e para que a população tenha acesso à água potável são necessários
investimentos nos setores de obras, equipamentos e serviços destinados ao abastecimento público de água para fins de
consumo doméstico, industrial e para o funcionamento dos serviços públicos (BARROS et al., 1995). A água, sendo um
recurso finito e vulnerável, pode ser um obstáculo ao desenvolvimento socioeconômico de um país e ao nível de qualidade de
vida de sua população. Há uma estreita ligação entre o acesso à água de boa qualidade, adequada infraestrutura de saneamento
e saúde humana (PHILIPPI, 2005).
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015, realizada pelo IBGE, do total de brasileiros,
apenas 85,4% tinham acesso à água de rede geral de distribuição na propriedade ou residência naquele ano, índice que não
sofreu alteração em relação a 2014. Os indicadores do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do

830
Ministério das Cidades, demonstraram um cenário bem próximo: a população com acesso aos serviços de distribuição por rede
geral apresentou índice de 83,3% no mesmo ano (SNIS, 2015).
Para Ribeiro e Rooke (2010), a implantação e a universalização do acesso ao sistema de abastecimento de água, dentro do
contexto do saneamento, têm fundamental importância tanto no que diz respeito aos aspectos sanitário e social quanto nos
aspectos econômicos. Sendo assim, segundo os autores, dentre outros objetivos, o acesso à água visa a melhoria da saúde e das
condições de vida de uma comunidade, a implantação de hábitos de higiene na população, aumento da vida produtiva dos
indivíduos economicamente ativos, diminuição dos gastos particulares e públicos com consultas e internações hospitalares,
além da facilidade para instalações de indústrias, onde a água é utilizada como matéria-prima ou meio de operação.
Aliado a isso, a construção de um sistema de esgotos sanitários em uma comunidade tem por objetivo o afastamento rápido e
seguro dos esgotos, por meio da coleta, do tratamento e da disposição adequada dos esgotos tratados. Com isso, a instalação
dos sistemas de esgotamento sanitário procura alcançar benefícios como a conservação dos recursos naturais, a melhoria das
condições sanitárias locais, a eliminação de focos de contaminação e poluição e de problemas estéticos e odores desagradáveis,
além da redução dos recursos aplicados no tratamento de doenças e a diminuição dos custos no tratamento de água para
abastecimento (LEAL, 2008).
A situação brasileira, segundo os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015, aponta que
somente 65,3% dos brasileiros informaram ter acesso à rede coletora de esgoto, 2,2% a mais do que no ano anterior. Neste
mesmo ano, mais de 31 milhões de pessoas viviam em moradias com fossa rudimentar no país, sistema que é considerado
ineficiente, o que representou em um percentual populacional de 15,3% (IBGE, 2015). O relatório do SNIS traz resultados
ainda mais preocupantes: apenas 50,3% da população tinha acesso aos serviços de coleta de esgotos no ano em questão e
somente 74,0% deste total foi tratado (SNIS, 2015).
Outra informação que chama atenção na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios é o da população sem acesso a
nenhuma forma de sistema de esgotamento sanitário: 2,1%. Este percentual é equivalente a aproximadamente 4,4 milhões de
brasileiros em estado de defecação aberta. Este índice é preocupante quando comparado aos 198 países assistidos pela
UNICEF e pela Organização Mundial da Saúde, onde 118 deles registraram índices inferiores ao do Brasil em pesquisa
realizada no mesmo ano. (IBGE, 2015; UNICEF/WHO, 2015).
A visão “higienista” antes adotada pelos responsáveis pelos projetos de drenagem pluvial das cidades contava com sistemas
dotados de obras de canalização que aceleravam o escoamento superficial e previam o afastamento rápido dos picos de cheias
das águas para jusante. Esses sistemas buscavam a rápida retirada das águas dos locais de sua fonte, no entanto, o novo modelo
“conservacionista” prioriza promover o retardamento do escoamento pluvial, aumentando os tempos de concentração e
amortecendo os picos e reduzindo os volumes de enchentes através de retenção em reservatórios. Enquanto que, em países
desenvolvidos, já se aplicam tais conceitos inovadores e a preocupação está associada à qualidade das águas coletadas, as
cidades brasileiras experimentam grande expansão e ainda tem como objetivo o controle dos alagamentos e inundações. Além
disso, a falta de infraestrutura de saneamento transforma os riachos urbanos em canais de esgoto a céu aberto. Por conta disso,
os períodos de chuvas de verão se tornem grandes vilões, pois as inundações se tornam veículo de águas contaminadas,
acarretando o aumento de casos de doenças como a leptospirose, a febre tifoide e a hepatite (CANHOLI, 2014).
Além disso, os efeitos adversos dos resíduos sólidos municipais no meio ambiente, na saúde coletiva e na saúde do indivíduo
são reconhecidos por diversos autores (ACCURIO et al., 1998; ANJOS et al., 1995; DIAZ et al., 1997; FERREIRA, 1997;
ROBAZZI et al., 1992; VELLOSO, 1995), que apontam as deficiências nos sistemas de coleta e disposição final e a ausência
de uma política de proteção à saúde do trabalhador, como os principais fatores geradores desses efeitos. Alguns grupos podem
ser identificados como suscetíveis de serem afetadas pelas questões ambientais, com redução da qualidade de vida e ampliação
dos problemas de saúde. Por exemplo, a população que não dispõe de coleta domiciliar regular e que lança seus resíduos
inservíveis no entorno da área em que vive acaba por ocasionar um meio ambiente degradado propiciando o aparecimento de
vetores causadores de doenças e, no geral, constituem esta população os segmentos pobres da sociedade (RUBERG e
PHILIPPI JR, 1999).
No que tange aos resíduos sólidos urbanos (RSU), de acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, a geração de
RSU em 2015 foi de 218.874 t.dia-1, 1,7% a mais do que no ano anterior. Já a geração per capita cresceu 0,8% no mesmo
período, coincidindo com o percentual de crescimento populacional, e apresentando valor de 1,071 kg.hab-1.dia-1. Em relação
à coleta de RSU, em 2015, foram coletadas no país 198.750 toneladas por dia, o que corresponde a 90,8% de cobertura
(ABRELPE, 2016).
Sem considerar o destino ao qual é dado para os resíduos que não são recolhidos, do total coletado estima-se que 34.177 t.dia-1
foram depositados em lixões em 2015, mesmo que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) tenha previsto sua
erradicação até o ano de 2014. O que chama a atenção, ainda, é o fato de este valor ser superior ao de 2014, onde o total
estimado para este tipo de disposição final foi de 33.986 t.dia-1 (ABRELPE, 2016; BRASIL, 2010).
O ser humano pode ser afetado de diversas maneiras pelos impactos indesejáveis dos resíduos sólidos especialmente porque
eles constituem um ambiente propício à atração e ao desenvolvimento de variados animais e microrganismos veiculadores de
doenças (LIMA, 1991; NAJM, s.d; PAHREN, 1987). No caso específico dos depósitos inadequados e onde ocorre o acesso de
pessoas e animais, os resíduos oferecem risco eminente de contaminação, principalmente quando há disputa pelos
componentes da massa de resíduos, contato com os animais e inclusive quando o material serve de alimento (CATAPRETA e

831
HELLER, 1999).
Em virtude da importância social e econômica das infraestruturas de saneamento na sociedade, o objetivo deste trabalho foi
fazer uma comparação entre os indicadores de saneamento dos Censos 2000 e 2010 nos municípios do Coredes Sul e
Campanha no Rio Grande do Sul, buscando analisar se houveram avanços no setor no período considerado.

Material e Métodos
Para o estudo foram considerados os 29 municípios do estado do Rio Grande do Sul, pertencentes aos Conselhos Regionais de
Desenvolvimento (COREDES) Sul e Campanha, conforme a lista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) em 2015. Os
municípios podem ser observados na Figura 1. Sendo assim, a população dos municípios estudados foi de 1.102.112 habitantes
(FEE, 2015).

Figura 1: Localização dos municípios pertencentes ao COREDE Sul e ao COREDE Campanha.

Foram utilizadas as informações disponíveis nos censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizados
nos anos 2000 e 2010 para realizar a comparação entre os indicadores de saneamento (IBGE, 2001; IBGE, 2011). Os
indicadores utilizados foram: abastecimento de água por rede geral; existência de banheiro ou sanitário; rede de esgoto ou
pluvial ou fossa séptica; e coleta de resíduos sólidos. Foi realizado o cálculo dos percentuais de cobertura dos serviços com
relação ao total de domicílios de cada município, conforme os indicados mencionados anteriormente. Os gráficos foram
plotados com o auxílio do programa Microsoft Office Excel 2010. Assim, foi possível comparar e analisar se houve evolução
entre os indicadores de saneamento básico para os domicílios particulares permanentes no período considerado.

Resultados e Discussão
No que diz respeito aos dados de cobertura do saneamento básico do Censo 2000, não há informações para os municípios de
Aceguá, Arroio do Padre e Pedras Altas, pois estes municípios tiveram instalação administrativa em 2001. Aceguá teve origem
da cidade de Bagé, Arroio do Padre de Pelotas e Pedras Altas de Herval e Pinheiro Machado (IBGE, 2000). Portanto, para

832
estes municípios, não foi possível realizar as comparações de crescimento entre o período estudado.
Em um panorama geral, os indicadores que tiveram maior crescimento no período foram as formas de esgotamento sanitário e
a coleta de resíduos sólidos, com 5,3% e 5,6%, respectivamente. No entanto, em 2010, 3.732 domicílios da região ainda não
possuíam banheiro ou sanitário e 41.961 domicílios não possuíam coleta de resíduos (DALL’AGNOL et al., 2019).
A cobertura do serviço de abastecimento de água por rede geral teve uma melhoria de 3,8% para a total de domicílios da área
de estudo, crescimento que ficou abaixo do encontrado para o Brasil, para a Região Sul e para o estado do Rio Grande do Sul,
os quais demonstraram índices de crescimento de 5,1%, 5,4% e 5,7%, respectivamente, conforme Figura 2. O crescimento nos
índices de cobertura dos municípios avaliados apresentou grande variação: Pedro Osório teve um acréscimo de apenas 0,1%
dos domicílios com rede geral de abastecimento de água, enquanto Turuçu obteve 40,1%, atingindo 90,9% e 50,1%,
respectivamente. A Figura 2 ilustra os percentuais de cobertura por rede de abastecimento de água para o Brasil, a Região Sul,
o Rio Grande do Sul e a região de estudo, o que mostra situações similares para os âmbitos analisados, variando de 77,8% de
cobertura no Brasil e 80,5% nos COREDES Sul e Campanha em 2000 e 82,9% para o Brasil e 85,4% para a Região Sul em
2010.

Figura 2: Percentual de domicílios com abastecimento de água por rede geral no Brasil, na Região Sul, no Rio
Grande do Sul e nos COREDES Sul e Campanha nos anos 2000 e 2010.

Na região de estudo, apenas cinco municípios apresentaram crescimento maior do que 10% no período analisado e estes
possuíam índices de cobertura inferiores a 50% em 2000, portanto, apesar do acréscimo, em 2010, estes municípios não
alcançaram cobertura maior do que 66,6%, valor que fica abaixo do encontrado para o estado do Rio Grande do Sul, que
apresentou 85,3% em 2010 (Figura 2). Ao total, 20 das 29 cidades avaliadas demonstraram abrangência abaixo da média
estadual no último Censo, e, destes, 06 também apresentaram crescimento inferior no mesmo período, são eles: Candiota,
Canguçu, Lavras do Sul, Pinheiro Machado, São Lourenço do Sul e Tavares, tendo o ultimo decréscimo na cobertura.
A existência de banheiro ou sanitário é um indicador importante de saneamento e está especialmente vinculado ao esgotamento
sanitário. Do total de domicílios dos COREDES Sul e Campanha, 96,9% possuíam banheiro ou sanitário em 2010, valor que
sofreu acréscimo de 1,97% em relação ao censo de 2000, ficando entre o encontrado para o Brasil e o estado do Rio Grande do
Sul, 93,3% e 99,3%, respectivamente (Figura 3).

833
Figura 3: Percentual de existência de banheiro ou sanitário nos domicílios do Brasil, da Região Sul, do Rio
Grande do Sul e dos COREDES Sul e Campanha nos anos 2000 e 2010.

Analisando os percentuais de cobertura dos municípios separadamente, foi observado que Arroio Grande e Canguçu
demonstraram declínio na cobertura deste indicador no período considerado.
De acordo com o PLANSAB (BRASIL, 2013), os sistemas de esgotamento sanitário considerados adequados e seguros são: a)
coleta de esgoto seguida de tratamento e b) uso de fossa séptica, desde que com pós-tratamento ou unidade de disposição final.
Os dados do Censo não apresentam informações a respeito de tratamento, mas de acordo com a Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico (IBGE, 2008), estima-se que apenas 24,1% dos municípios do Sul do Brasil que possuem rede coletora
realizaram tratamento dos seus esgotos. Para tanto, são apresentados os índices de cobertura de coleta de esgotos por rede geral
de esgoto ou pluvial ou fossa séptica, pois são os sistemas considerados apropriados.
Ao se considerar apenas a cobertura por rede geral de esgoto ou pluvial, o esgotamento sanitário foi o setor do saneamento que
mais apresentou crescimento no período de 2000 a 2010, com 13,0% para os municípios avaliados, no entanto, segundo o
IBGE (2011) este é também o setor que mais necessita de investimentos, pois se apresenta mais distante de atingir índice
satisfatório no Brasil para que assim possa garantir melhorias nas condições de moradia e de saúde da população, assim como
permitir a preservação da qualidade ambiental.
A Figura 4 demonstra que a região de estudo, em comparação com o Brasil, com a Região Sul e o estado do Rio Grande do
Sul, apresentava os melhores índices de cobertura de rede de esgoto ou pluvial ou fossa séptica, com percentuais de 72,1% e
2000 e 77,4% em 2010. Entretanto, o crescimento do setor foi de 5,3%, ficando somente à frente do crescimento nacional no
mesmo período.

Figura 4: Percentual de domicílios com existência de rede de esgoto ou pluvial ou fossa séptica no Brasil, na
Região Sul, no Rio Grande do Sul e nos COREDES Sul e Campanha nos anos 2000 e 2010.

834
Considerando cobertura por rede de esgoto ou pluvial ou fossa séptica, o Rio Grande do Sul teve um incremento de 6,2%,
alcançando 74,6% de cobertura (Figura 4). Dos 29 municípios, 19 estavam abaixo do índice de cobertura estadual e Amaral
Ferrador, Caçapava do Sul e Hulha Negra tiveram crescimento inferior no mesmo período. Para Arroio Grande, Jaguarão,
Lavras do Sul, Pedro Osório, Santana da Boa Vista e Tavares foi verificada uma queda no índice de cobertura. Os municípios
de Capão do Leão e Pelotas, apesar de apresentarem coberturas de serviço superior à média estadual, também demonstraram
decréscimo de cobertura no período.
De uma maneira geral, a região apresentou melhoria na cobertura do serviço de esgotamento sanitário. Ao se analisar cada
município isoladamente, o crescimento total da região não condiz com a realidade individual de cada cidade, pois, ao total, 08
municípios tiveram incrementos negativos para tal indicador.
Considerando o total de domicílios da região estudada, a existência de coleta de resíduos sólidos apresentou entre 2000 e 2010
um incremento de 5,8%, abaixo do exibido a nível nacional, 8,4%, e do estadual, 8,0% para o mesmo período (Figura 5). Para
tanto, os índices de cobertura deste setor se apresentaram em 87,4% para o Brasil e 92,1% para o Rio Grande do Sul, ficando,
portanto, a região de estudo entre estes dois índices, com 88,2% de abrangência para os domicílios particulares permanentes
em 2010.

Figura 5: Percentual de domicílios com existência de coleta de resíduos sólidos no Brasil, na Região Sul, no Rio
Grande do Sul e nos COREDES Sul e Campanha nos anos 2000 e 2010.

Levando em conta os dados do estado, do total, 21 municípios tinham cobertura inferior e Candiota, Canguçu, Cerrito, Dom
Pedrito, Hulha Negra, Lavras do Sul e São Lourenço do Sul demonstraram crescimento abaixo do estadual. Considerando que
41.962 domicílios não possuíam coleta de resíduos sólidos em 2010, que, neste mesmo ano, a geração per capita foi de 378,4
kg.hab-1.ano-1 (ABRELPE, 2010) e que a média de moradores do RS é de 3 (três) habitantes por residência (IBGE, 2011),
estima-se que 47.635,3 toneladas de resíduos tiveram destinação desconhecida somente em 2010.

Considerações Finais
A cobertura dos serviços de saneamento na região apresentou um crescimento no período, mas, ao analisar cada cidade
isoladamente, em alguns casos, os municípios apresentaram redução na prestação os serviços no período estudado,
especialmente de esgotamento sanitário, o que se mostra como um obstáculo para o alcance da universalização do acesso ao
saneamento básico. Esse resultado demonstra a dificuldade que os municípios encontram para efetivar melhorias nas
infraestruturas públicas de saneamento, que pode também refletir em outros setores, bem como na qualidade de vida da sua
população.
É importante destacar que algumas legislações voltadas ao saneamento, como a Lei 11.445/2007 e a Lei 12.305/2010, ainda
estavam em fase se implementação no período considerado neste trabalho. Novos estudos devem ser realizados após a
divulgação do próximo censo para avaliar a efetividade das políticas públicas implementadas através dessas legislações nos
municípios, como os Planos Municipais de Saneamento Básico e os Planos de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos.

Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
(CAPES) - Código de Financiamento 001, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul – FAPERGS e

835
da Universidade Federal de Pelotas.

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837
5SSS211
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS: USO DE MACRÓFITAS
NA FITORREMEDIAÇÃO
Carolina Faccio Demarco1, Thays França Afonso2, Anita Ribas Avancini3, Ana Luiza Bertani Dall'Agnol4,
Cassia Brocca Caballero5, Guilherme Pereira Schoeler6, Luise Hoss7, Maurizio Silveira Quadro8, Robson
Andreazza9
1
Universidade Federal de Pelotas, e-mail: carol_demarco@hotmail.com; 2Universidade Federal de Pelotas, e-
mail: thaysafonso@hotmail.com; 3Universidade Federal de Pelotas, e-mail: anita.avancini@hotmail.com;
4
Universidade Federal de Pelotas, e-mail: analuizabda@gmail.com; 5Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
e-mail: cassiabrocca@gmail.com; 6Universidade Federal de Pelotas, e-mail:
guilherme.schoeler@gmail.com;7Universidade Federal de Pelotas, e-mail: hosslouise@gmail.com, 8Universidade
Federal de Pelotas, mausq@hotmail.com; 9Universidade Federal de Pelotas e-mail:
robsonandreazza@yahoo.com.br

Palavras-chave: macrófitas aquáticas; metais pesados; antropização.

Resumo
Diante da contaminação ambiental causada por atividades antrópicas, buscam-se estratégias de recuperação para
essas áreas degradadas. Entre elas destaca-se a biorremediação, em especial a técnica de fitorremediação (utilização
de plantas como principal agente de descontaminação), pelo baixo custo de investimento e operação, bem como sua
aplicabilidade in situ. As plantas macrófitas aquáticas têm sido estudadas como potenciais para serem utilizadas na
fitorremediação pois apresentam capacidade de remoção de diferentes compostos, entre eles, metais pesados. Desse
modo, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de literatura acerca da utilização da técnica de
fitorremediação para recuperação de áreas degradadas, com foco principal na aplicação de macrófitas aquáticas. A
metodologia baseou-se na coleta de dados realizada a partir de fontes secundárias, através de levantamento
bibliográfico. Como resultados principais, verificou-se que a fitorremediação tem sido considerada como uma
alternativa inovadora e de baixo custo à maioria das técnicas de tratamento já estabelecidas para áreas
contaminadas, visto que utiliza plantas para degradar, extrair, conter ou imobilizar contaminantes, sendo capaz de
remover uma ampla gama deles, desde compostos inorgânicos até compostos orgânicos. Outro aspecto a ser
ressaltado são os diferentes mecanismos pelos quais as plantas realizam a fitorremediação, sendo os principais
deles: fitoextração, fitoacumulação, fitodegradação, fitoestabilização, fitovolatilização e rizofiltração. Em relação
às macrófitas aquáticas, foram verificados diversos estudos demonstrando a importância dessas plantas na remoção
de contaminantes do meio aquático, servindo como filtro natural. Os diversos tipos de macrófitas aquáticas vêm
sendo estudados para a remoção de diferentes contaminantes, e as principais metodologias utilizadas para tal são a
investigação do potencial natural de fitorremediação in situ, além de diferentes testes em laboratório para verificar
a capacidade de remoção de compostos específicos. Por fim, destaca-se a necessidade de conhecer as espécies de
ocorrência natural na área em que se deseja realizar a descontaminação, visando aumentar a capacidade de
crescimento e aproveitamento do potencial de fitorremediação.

Introdução

Diante da contaminação ambiental causada por atividades antrópicas, buscam-se estratégias de recuperação para
essas áreas afetadas (VASCONCELLOS et al. 2012). Dependendo do tipo de contaminante presente no ambiente e
das características locais, uma determinada técnica pode ser aplicada, tendo como principal objetivo fazer com que
a área retorne o mais próximo possível às condições anteriores. As soluções e tecnologias a serem escolhidas
buscam englobar aspectos como: eficiência na descontaminação, simplicidade na execução, tempo de processo
reduzido e menor custo. Nesse contexto, cresce o interesse pela utilização da biorremediação, definida como uma
técnica de descontaminação do solo e água por meio da utilização de organismos como microrganismos e plantas
(PIRES et al., 2003).

838
É dentro da biorremediação que se insere a fitorremediação, caracterizada pelo uso de plantas como principal
agente de descontaminação. O destaque que algumas plantas apresentam em acumularem metais, por exemplo, é
amplamente conhecido e já havia sido descrito por Moffat (1995), o qual relatou a fitorremediação como uma
estratégia mais eficiente e mais rentável quando comparada aos métodos convencionais. Diferentes técnicas de
fitorremediação têm sido estudadas, com o intuito de avaliar o potencial que cada espécie vegetal apresenta. As
pesquisas nessa área procuram entender a relação da planta com o contaminante (USEPA, 2000).
Segundo Andrade et al. (2007), a fitorremediação, assim como qualquer outro processo de remediação, destina-se à
redução dos teores de contaminantes a níveis seguros e compatíveis com a proteção à saúde humana, ou à redução
da disseminação de substâncias nocivas ao ambiente. O autor destaca a versatilidade da técnica, a qual pode ser
utilizada para remediação de meio aquoso, ar ou solo, com variantes que dependem dos objetivos a serem
atingidos.
Entre as plantas utilizadas na fitorremediação, as macrófitas aquáticas (particularmente as livres, submersas
enraizadas e emergentes) ganharam importância por apresentarem grande eficiência para remover uma variedade
de poluentes (metais pesados, poluentes orgânicos e inorgânicos) de águas poluídas, ainda que o potencial de
remoção varie de espécie para espécie (DHIR et al., 2009).
A importância das macrófitas aquáticas está amplamente discutida na literatura, sendo sua utilização como
bioindicadoras da qualidade da água em ambientes lóticos e lênticos uma das mais relevantes. Porém, para seu uso
faz-se necessário ter conhecimento prévio das suas características, bem como das condições que limitam sua
ocorrência e crescimento; da proliferação e manejo da espécie utilizada (THOMAZ; BINI, 2003). Dessa forma, o
conhecimento das espécies de macrófitas presentes naturalmente em uma determinada região, bem como a análise
da concentração dos metais pesados presentes nessa planta são essenciais para direcionar futuros estudos no que
tange a aplicação de técnicas de fitorremediação.

Material e Métodos

A metodologia utilizada baseou-se na coleta de dados realizada a partir de fontes secundárias, através de
levantamento bibliográfico (PIZZANI et al. 2012). A pesquisa bibliográfica auxilia no início do estudo, visando
encontrar as diferenças e semelhanças entre os documentos de referência, e pode ser definida como a revisão da
literatura sobre as principais teorias que norteiam o trabalho científico. São buscadas a resolução de um problema
– hipótese, por meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias contribuições científicas
(BOCCATO, 2006). As diversas informações disponíveis em meio eletrônico representam uma facilidade de
acesso ao conteúdo e democratização do conhecimento (BREVIDELLI, 2008).

Resultados e Discussão

Aplicabilidade da fitorremediação
A fitorremediação (fito: planta e remediar: corrigir) é uma tecnologia emergente que utiliza plantas para degradar,
extrair, conter ou imobilizar contaminantes em solos e águas. Esta tecnologia tem sido considerada como uma
alternativa inovadora e de baixo custo à maioria das técnicas de tratamento já estabelecidas para áreas
contaminadas (USEPA, 2000). A fitorremediação apresenta enorme aplicabilidade tal como tratamento de solos e
lodos contaminados, efluentes industriais e domésticos, drenagem ácida de minas, percolado de aterros sanitários,
escoamento superficial urbano, rural e industrial, cobertura vegetal para áreas contaminadas, construção de
barreiras hidráulicas, remediação de águas subterrâneas, entre outros (BARRETO, 2011).
Segundo Pilon-Smits (2005), a fitorremediação pode ser empregada para o controle dos mais variados poluentes,
tais como hidrocarbonetos de petróleo, compostos organoclorados, pesticidas e herbicidas, metais pesados,
radionuclídeos, nutrientes, patógenos, entre outros. O baixo custo de investimento e de operação, sua aplicabilidade
in situ, e geração mínima de degradação e desestabilização da área a ser descontaminada são algumas das
vantagens da fitorremediação (CHAVES et al., 2010). Também pode-se destacar como benefícios do uso dessa
técnica: a contenção dos lixiviados, manutenção e melhoria da estrutura física, da fertilidade e da biodiversidade do
solo, e absorção de metais do solo, cuja extração é dispendiosa quando se utiliza outra tecnologia (KHAN et al.,

839
2000).
A efetividade da fitorremediação, quando utilizada para remoção de metais pesados, depende do grau de
contaminação do metal, da capacidade das plantas em acumularem esses elementos e da disponibilidade do metal
para a planta (CHAVES et al., 2010). Alguns outros fatores limitantes são o clima, o tipo de solo, a estação do ano,
a concentração e profundidade do contaminante e a interferência do contaminante no crescimento da planta, o que
muitas vezes leva a um crescimento lento, aumentando o tempo necessário para o processo de descontaminação
(VASCONCELLOS et al., 2012).
De acordo com Susarla et al. (2002), alguns dos fatores que afetam a captura e distribuição dos poluentes nas
plantas são:
(1) propriedades químicas e físicas do composto (ex. solubilidade em água, pressão de vapor, peso molecular, etc.);
(2) características ambientais (ex. temperatura, pH, teor de matéria orgânica, potencial REDOX, salinidade e
umidade do solo);
(3) características das plantas (ex. espécie de planta, tipo de sistema radicular, tipos de enzimas envolvidos,
mecanismos específicos e taxas de transpiração).

Mecanismos de fitorremediação
Para a remoção dos compostos tóxicos, diversos processos ocorrem, os quais, segundo Susarla et al. (2002),
incluem: modificação de propriedades físicas e químicas do meio contaminado; liberação de exsudatos radiculares,
aumentando as concentrações de carbono orgânico; aumento da aeração pela liberação de oxigênio diretamente na
zona de raízes, bem como aumento da porosidade das camadas superiores dos solos; interceptação e retardo do
movimento dos poluentes; transformações enzimáticas co-metabólicas entre plantas e microrganismos e redução da
migração lateral e vertical de poluentes para a água.
Entre os diversos mecanismos pelos quais as plantas podem remediar compostos tóxicos, destacam-se: fitoextração,
fitoacumulação, fitodegradação, fitoestabilização, fitovolatilização e rizofiltração. Essa divisão em categorias deve-
se à habilidade da planta envolvida e ao processo que ela utiliza para a remediação.
O primeiro deles, a fitoextração, ocorre quando a planta apresenta capacidade de acumular os contaminantes em
sua parte aérea sem, no entanto, degradá-los (GARBISU; ALKORTA, 2001). Nesse processo, as espécies são
plantadas e posteriormente colhidas, com o intuito de deixar o local livre de contaminantes. O destino desse
material colhido, segundo Andrade et al. (2007) dependerá da possibilidade ou não de seu aproveitamento. O autor
aponta que o material poderá ser incinerado e enviado para disposição final adequada em aterros ou utilizado para
produção de alguns materiais.
De maneira geral, a fitoextração é utilizada para remediação de metais, através do uso de espécies
hiperacumuladoras (ANDRADE et al. 2007), as quais são definidas, de acordo com Yoon et al. (2006), como
capazes de acumular mais de 1000 mg.kg-1 de metal pesado em sua parte aérea. Um exemplo é a Brassica juncea
(mostarda Indiana), que pode hiperacumular Pb, Cr (VI), Cd, Ni, Zn, 90Sr, B e Se (USEPA, 2000).
Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA, 2000), outra forma de fitorremediação, a
fitoacumulação, ocorre quando as plantas possuem capacidade de acumular contaminantes na biomassa (tanto na
parte aérea quanto nas raízes).
Já a fitovolatilização é baseada na utilização de plantas para volatilizar poluentes, como por exemplo o mercúrio e
o selênio (GARBISU; ALKORTA, 2001). Esse procedimento deve ser trabalhado com cuidado, devido ao risco das
plantas liberarem concentrações muito elevadas de contaminantes na atmosfera (ANDRADE et al. 2007). Como
exemplos de espécies, pode-se citar a Brassica napus e Medicago sativa (USEPA, 2000).
A técnica utilizada para reduzir a biodisponibilidade de poluentes no ambiente é a fitoestabilização (ZEITOUNI,
2003). Esse mecanismo minimiza a migração de contaminantes nos solos, de acordo com Susarla et al. (2002), já
que há redução do transporte do contaminante através da adsorção. Algumas espécies utilizadas na fitoestabilização
de solos são: Haumaniastrum caeruleum e Eragrostis barelieri.
O processo de fitodegradação ocorre quando a planta e os seus metabólitos degradam os compostos sem
interferência de outros organismos (USEPA, 2000). Diferentes espécies podem ser utilizadas nesse processo, como
por exemplo Salix chrysocoma, Populusnigra, Populus deltoides e Festuca arundinacea.
A rizofiltração baseia-se na concentração e absorção de metais nas raízes das plantas e é aplicada na remediação de
ambientes aquáticos. Segundo Prasad; Freitas (2003), a maioria dos pesquisadores acredita que as plantas para
fitorremediação devem acumular metais apenas nas raízes. Para Dushenkov et al. (1995), a translocação dos metais

840
para as folhas diminuiria a eficiência da rizofiltração. No entanto, alguns outros defendem que a eficiência do
processo pode ser aumentada com a translocação dos metais para a parte aérea das plantas (ZHU et al., 1999).
Diferentes fitotecnologias fazem uso de diversas propriedades das plantas e diferentes espécies são utilizadas para
cada uma. Em geral, plantas favoráveis a fitorremediação são aquelas de crescimento rápido, elevada produção de
biomassa, competitivas, resistentes e tolerantes à poluição. Além disso, altos níveis de absorção pelas plantas,
translocação, e acúmulo em tecidos cultiváveis são propriedades importantes para a fitoextração de compostos
inorgânicos. Plantas favoráveis a fitodegradação possuem sistemas grandes e densos de raízes e elevados níveis de
enzimas degradadoras. Uma grande área de superfície de raiz favorece a fitoestimulação, uma vez que promove o
crescimento microbiano (PILON-SMITS, 2005).
Os possíveis mecanismos de fitorremediação descritos anteriormente estão ilustrados na Figura 1.

Figura 1. Mecanismos de fitorremediação.

Macrófitas aquáticas
Plantas aquáticas são todas as plantas cujas partes fotossinteticamente ativas estão permanentemente (ou por alguns
meses do ano), submersas ou flutuantes na água (COOK, 1996). As macrófitas aquáticas são vegetais que durante
sua evolução retornaram ao ambiente aquático, e apresentam grande capacidade de adaptação e amplitude
ecológica (JESUS et al. 2015).
Estes vegetais influenciam o metabolismo dos ecossistemas aquáticos continentais de várias maneiras, como por
exemplo, através da redução da turbulência da água, que compreende a sedimentação de grande parte do material
de origem alóctone (fora da região). As macrófitas, assim como os microrganismos associados e as respectivas
enzimas, são aplicados, através de técnicas, para degradar, reter, imobilizar ou reduzir a níveis não-tóxicos os
contaminantes ambientais a fim de recuperar a matriz do solo ou da água e estabilizar o contaminante, o que define
a fitorremediação (JESUS et al., 2015).
Em lagos, o enriquecimento com nutrientes provoca a eutrofização artificial, o que consequentemente aumenta a
quantidade de biomassa no ecossistema. Especialmente em lagos rasos, o aumento da concentração de nutrientes
pode conduzir a fortes alterações na estrutura do ecossistema. Os estados alternativos destes ecossistemas com
relação direta ao aumento da concentração de nutrientes são três: o primeiro dominado por vegetação submersa, o
segundo por fitoplâncton, e o terceiro por macrófitas flutuantes.
O processo de eutrofização pode ser definido, segundo Braga (2005), como o crescimento excessivo das plantas
aquáticas, tanto planctônicas quanto aderidas, a níveis tais que sejam considerados como causadores de
interferências com os usos desejáveis do corpo d’água. É causado principalmente devido ao excesso de nutrientes
nos corpos hídricos, principalmente o nitrogênio e o fósforo. O incremento da matéria orgânica acarreta uma maior
demanda de oxigênio dissolvido em função de sua degradação, e pode desencadear uma série de etapas com
redução dos teores de oxigênio, limitando assim a biodiversidade do sistema (BORGES, 2014).

841
Segundo Esteves (1988), as macrófitas aquáticas são preferencialmente classificadas quanto ao seu biótipo devido a
heterogeneidade filogenética e taxonômica desses vegetais. Esta classificação reflete, em primeiro lugar, o grau de
adaptação das macrófitas ao meio aquático. A partir dessa classificação pode-se observar, de um lado, os vegetais
anfíbios que são macrófitas aquáticas ora emersa, ora submersas e, de outro lado, aqueles verdadeiramente
aquáticos: as macrófitas aquáticas submersas (ESTEVES, 1988).
Esses grupos ecológicos podem estar distribuídos de maneira organizada e paralela à margem, formando um
gradiente de distribuição da margem para o interior do lago. No entanto, na maioria dos casos, fatores ambientais
como a turbidez da água e o vento favorecem o crescimento heterogêneo dos diferentes grupos ecológicos. Nestes
casos, é frequente observar-se macrófitas submersas e macrófitas com folhas flutuantes crescendo entre as emersas
(ESTEVES, 1988).

Uso de macrófitas na fitorremediação


A possibilidade de se empregar macrófitas aquáticas como meio de reduzir a concentração de compostos orgânicos,
metais pesados, fosfato e compostos nitrogenados já era muito discutida no período do estudo conduzido por
Esteves (1988). Ainda antes disso, considerada a pioneira nesta área, Seidel (1966), após vários anos de pesquisa,
demonstrou que Scirpus lacustris, uma macrófita emersa, era capaz de absorver significativas quantidades de
compostos orgânicos, entre eles o pentaclorofenol. Este composto tem-se evidenciado tóxico para bactérias, algas,
fungos e insetos.
De acordo com Mangabeira et al. (2006), a concentração de metais em plantas aquáticas pode ser mais de 100.000
vezes maior do que a região onde ela está situada. A extensão da absorção e a maneira como os metais pesados
estão distribuídos nas plantas podem ter importantes efeitos sobre o tempo de residência desses metais e o uso
potencial das plantas em técnicas de fitorremediação.
Existem dois métodos mais comuns para se conhecer quais espécies seriam as melhores para remediar um
determinado poluente ou grupo de poluentes. O primeiro deles é baseado em testar várias espécies e suas
capacidades para remover um poluente. Em contrapartida, o segundo método busca investigar as plantas que
ocorrem naturalmente em ambientes poluídos (BARRETO, 2011).
De acordo com Rai (2009), o segundo método é também conhecido como prospecção da biodiversidade (ou
investigações em campo) e oferece inúmeros benefícios, sendo o principal deles a possibilidade de conservação de
um amplo número de ecossistemas. Isso é possível devido a descoberta de plantas ocorrendo naturalmente em uma
região e que poderiam ser usadas para descontaminar ambientes poluídos. Pode-se então destacar algumas espécies
através da análise conjunta com os índices de fitorremediação.
O potencial de fitorremediação de macrófitas aquáticas em condições naturais foi investigado por diferentes
pesquisadores (RAI, 2009). Um estudo, conduzido por Vardanyan; Ingole (2006), objetivou o entendimento da
importância das macrófitas aquáticas no que se refere ao acúmulo de metais pesados. No referido estudo, foram
coletadas 45 macrófitas, pertencentes a 8 famílias e estudadas para estimar concentrações de 14 metais diferentes.
A principal conclusão foi a constatação da importância das macrófitas aquáticas para remover diferentes metais do
ambiente e reduzir os efeitos causados pelas altas concentrações desses elementos. Além disso, a proteção e
recuperação da comunidade de macrófitas foram citadas como ações prioritárias para manter a qualidade ambiental
da área estudada.

Considerações Finais

A fitorremediação têm demonstrado ser uma alternativa inovadora e de baixo custo para a recuperação de
ambientes aquáticos degradados, através dos diferentes mecanismos realizados pelas plantas. Entre as plantas que
podem ser utilizadas, as macrófitas aquáticas têm ganhado destaque, visto a habilidade natural de remover
compostos orgânicos e inorgânicos, e apresentar capacidade de acumular esses contaminantes em níveis elevados.
Desse modo, diferentes estudos vêm sendo feitos, visando analisar a capacidade de remoção de contaminantes de
diferentes espécies de macrófitas, o que se mostra essencial para a aplicação de recuperação de áreas degradadas.

842
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
(CAPES) - Código de Financiamento 001.

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844
5SSS212
RECUPERAÇÃO DE ÁREA DE MINERAÇÃO DEGRADADA: USO DE
FITORREMEDIAÇÃO?
Thays França Afonso1, Carolina Faccio Demarco2, Guilherme Pereira Schoeler3, Ana Luiza Bertani
Dall’Agnol4, Loise Hoss5, Cássia Brocca Caballeiro6, Anita Ribas Avancini7, Robson Andreazza8, Adelelir
José Strieder9
1Universidade Federal de Pelotas, e-mail: thaysafonso@hotmail.com; 2Universidade Federal de Pelotas e-mail:
carol_demarco@hotmail.com; 3Universidade Federal de Pelotas, e-mail: guilherme.schoeler@gmail.com;
4Universidade Federal de Pelotas, e-mail: analu_bda@yahoo.com.br; 5Universidade Federal de Pelotas, e-mail:
hosslouise@gmail.com; 6Universidade Federal de Pelotas, e-mail: cassiabrocca@gmail.com; 7Universidade
Federal de Pelotas, e-mail: Anita.avancini@hotmail.com; 8Universidade Federal de Pelotas, e-mail:
robsonandreazza@yahoo.com.br; 9Universidade Federal de Pelotas, e-mail: adelirstrieder@outlook.com

Palavras-chave: Metais pesados; Solos Contaminados; Biorremediação

Resumo
A Mina do distrito de Camaquã, em Caçapava do Sul (RS), é uma região com forte tradição na mineração de metais básicos
como o cobre, chumbo e zinco. O presente trabalho tem como objetivo verificar as concentrações de metais na espécie vegetal
Pinus elliottii como substrato para aplicação em fitorremediação de áreas degradadas pela mineração. A investigação foi
realizada no Distrito Mineiro de Camaquã, no município de Caçapava do Sul (RS), nas proximidades da Mina do Uruguai
(desativada em 1996). O trabalho foi realizado com amostras de solo, rejeitos de mineração e em plantas (Pinus elliottii)
coletadas em áreas mineralizadas e em áreas supostamente estéreis. Amostras de tecido vegetal foram submetidas ao processo
de digestão com ácido nítrico-perclórico a 3:1. As amostragens de solo e de rejeito mineração foram realizadas de 0-20 cm de
profundidade (amostragem composta, 500g). A determinação dos elementos químicos foi realizada no Laboratório de Solos da
Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS), pela análise em ICP-OES. Os resultados mostraram que a área de rejeitos
tem uma concentração mais alta de cobre, cerca de 260 mg kg-1, enquanto os demais locais apresentam teores mais baixos de
cobre variando de 2-6 mg kg-1. A concentração do teor de metais no Pinus elliottii, plantado em algumas regiões da Mina
Uruguai e áreas adjacentes, apresentou maior concentração: cobre (1091 mg kg -1), chumbo (13 mg kg -1) e zinco (354 mg kg -
1
) para a área P3 (área da Mina do Uruguai). Os teores de cobre nos substratos (solos/rejeito) foram mais elevados na área de
rejeito da mineração da cobre (AR). A área P3 apresentou teores de cobre nos solos similar as demais áreas, não se destacando
entre os outros locais. No contexto do estudo nas Minas do Camaquã, o Pinus elliottii apresentou bons indicativos para
fitorremdiação especialmente para os elementos Cu, Zn e Pb.

Introdução
A atividade de mineração faz parte da evolução da espécie humana desde a Idade da Pedra (lascada). Ao longo do tempo pré-
histórico e histórico, a espécie humana foi desenvolvendo uma crescente dependência dos produtos derivados da mineração.
No Estado do Rio Grande do Sul, existem empreendimentos minerais consolidados de grande porte, como é o caso da indústria
de carvão; e existe uma série de pequenos empreendimentos destinados à produção de bens minerais para a indústria da
construção civil, desde residências uni a multi-familiares, até nas obras de infra-estrutura necessárias à sociedade.
Atualmente, existem alguns empreendimentos minerais em desenvolvimento, dentre os quais estão os minerais metálicos (Au,
Pb, Zn, Ag, Ti, Zr) e os minerais como fonte de macro e micronutrientes para a agricultura. A importância desses minérios vai
além do caráter econômico, pois são eles imprescindíveis à manutenção da qualidade de vida e aos avanços tecnológicos da
sociedade moderna (Boechat, 2014; César, 2017).
Pórem, os impactos das atividades minerarias podem degradar uma área e quando isso acontece esse local precisa ser
recuperado. No processo de Recuperação de Áreas Degradadas (RAD) é aplicado modelos para solucionar os
problemas/impactos oriundos das atividades em uma determinada área. Para tal, o atendimento a legislação Brasileira se faz
necessário. A legislação Brasileira por meio da Constituição de 1988, determina que todos tem o direito e o dever de proteger o
meio ambiente. E seus artigos 23 e 129 estabelecem a competência comum dos Estados, Distrito Federal e Municípios aos
quais, além do dever da proteção ambiental o combate à poluição em qualquer de suas formas, ficando o Ministério Público
com a função de promover o inquérito civil e a ação pública, para proteger o patrimônio social e público, o meio ambiente.

845
O Decreto lei 227, de 20/02/1967 (Código de Mineração brasileiro), em seu artigo 47 estabelece que o titular da concessão se
obrigará além das condições gerais que constam desse código ainda às seguintes. (.....) 8 - Responder pelos danos e prejuízos a
terceiros que resultarem direta ou indiretamente da lavra; 9 - Preservar a segurança e a salubridade das habitações existentes no
local; 10 - Evitar o extravio das águas e drenar as que possam ocasionar danos e prejuízos aos vizinhos; 11 - Evitar poluição do
ar ou da água que possa resultar dos trabalhos de mineração. Ainda um grande número de dispositivos legais se refere à
proteção do meio ambiente: O decreto lei n.º 1.413, de 14 de agosto de 1975 dispõe sobre o controle da poluição do meio
ambiente provocada por atividades industriais.
A atividade de extração (lavra) dos bens minerais constitui de uma série a penúltima ou a ante-penúltima etapa, prinipalmente
para o caso de bens minerais metálicos e para os bens minerais que servem de insumo agrícola. O ciclo da mineração inclui,
simplificadamente: prospecção (delimitação de uma possível área com minério), pesquisa mineral (estudo geológico da
possível mina), cubagem (determinação do volume e teor de minério contido na possível mina), estudo de viabilidade
econômica (definição se é economicamente viável a extração do minério), lavra (extração), beneficiamento (concentração do
minério e remoção dos minerais sem interesse econômico), metalurgia (extração do metal e formação da liga metálica). O
intervalo de tempo transcorrido entre a etapa de prospecção e a efetiva extração (lavra) é normalmente superior a 10 (dez) anos
para o caso de minerais metálicos, ou para minerais que servem de insumos agrícolas.
Após os encerramento das atividades de mineração deve-se avaliar a situação da área e mitigar os impactos ambientais. Assim,
a utilização de plantas com a capacidade de retirar compostos como metais pesados dos solos, por exemplo, entra como uma
ferramenta aplicada na fitorremediação. As plantas ao absorverem os metais presentes no solo através das suas raízes,
tranferem estes elementos para o seu sistema. Quanto maior for a quantidade do metal presente no solo, por exemplo, mais
provavelemente ele será colocado em solução e este absorvido ou adsorvido pela planta. No entanto, exite uma série de
processos que envolvem a mobiliade dos elementos químicos na interface solo-planta (Silva; Camargo; Cerreta, 2006).
Alguns fenômenos, como precipitação, adsorção/dessorção e dissolução, pH, Eh condicionam as concentrações dos metais
presentes na solução do solo e que estarão disponíveis para as plantas. Esses mecanismos são capazes de controlar a
concentração dos íons e complexos que estarão presentes na solução do solo, além de atuar na absorção feita pelas raízes da
planta e na sua disponibilidade para o meio ambiente (Chang, 2002). Por sua vez, tais plantas podem controlar a acumulação
dos elementos químicos dentro dos seus sistemas. Logo, as plantas entram como uma ferramenta não exploração mineral mas
também na utilização de tecnicas para recuperação de áreas degradadas.
Nesse contexto, o presente trabalho tem por objetivo verificar as concentrações de metais na espécie vegetal Pinus elliottii
como substrato para aplicação em fitorremediação de áreas degradadas pela mineração.

Caçapava do Sul
O Município de Caçapava do Sul que dista 260 km da capital do Estado, Porto Alegre-RS. As principais vias de acesso à
cidade são: BR-290, BR-193, BR-392, RS-625 e RS-357 (Figura 1).

Figura 34: Mapa de Localização do município de Caçapava do Sul-RS. Fonte: Autor.

846
O Município de Caçapava do Sul tem uma população estimada em 34.634 habitantes e uma área de 3.047,113 km². A
densidade demográfica é de 11,06 habitantes por km2 (IBGE, 2019). As Minas do Camaquã que se localiza a 60,1 quilômetros
SE da cede do município, partindo pela BR392, entre a direita BR153, entre a esquerda na RS-625 e, 23, 8 quilômetros após
está o Distrito de Minas do Camaquã (Figura 2).

Figura 35: Mapa de Localização das Minas do Camaquã- Caçapava do Sul-RS. Fonte: Autor.

Mais especificamente o local de investigação pertence ao Distrito de Minas do Camaquã e envolve as adjacências da Mina
Uruguay (desativada em 1996). A Mina Uruguay, cujas coordenadas são 30°54'31.59" latitude Sul e 53°26'49.48” longitude
Oeste, tem uma altitude de 444 metros. Na região das Minas do Camaquã, após o encerramento das atividades de mineração
sua população fixa urbana diminuiu de 2.199 habitantes (ano de 1991) para 382 habitantes (ano 2000) (IBGE, 1991 e 2000).
Segundo o Censo do IBGE (2010) a população urbana atualmente é de 1.605 habitantes.
Geomofologicamente a Região de Caçapava do Sul apresenta apenas as características dos Planaltos Residuais Canguçu-
Caçapava do Sul. A Unidade Planaltos Residuais Canguçu-Caçapava do Sul corresponde aos relevos mais elevados (cerca de
400 m) ocupando uma extensão de 15.070 km2, ocorrem na Região Geomorfológica Planalto Sul-Rio-Grandense. As principais
cidades encontradas nesta Unidade são: Canguçu, Caçapava do Sul (local de investigação deste trabalho), Encruzilhada do Sul,
Piratini, Pinheiro Machado, lavras do Sul e ErvaI (IBGE, 1986).
De modo geral o relevo da Unidade se apresenta dissecado em rochas pré-cambrianas do Escudo Sul-Rio-Grandense,
formando colinas, também ocorrem áreas de topo plano ou incipientemente dissecado, remanescente de antiga superfície de
aplanamento e secundariamente cristas. As encostas geralmente são íngremes, com ocorrência de matacões. Há cornijas e às
vezes planos rochosos, inclinados, onde as colinas têm topo estreito (IBGE, 1986).
Quanto a hidrografía, a área de estudo encontra-se na Região Hidrográfica Atlântico Sul (RHAS) e situa-se entre as
coordenadas 24°30’ e 34°30’ de Latitude Sul, 48°00 e 58°00’ de Longitude Oeste. A Região Hidrográfica Atlântico Sul,
apresenta uma área de 186.080 km2. O Estado do Rio Grande do Sul representa 76,4% da área total da RHAS o que equivale a
uma área de 142.178 km2. (PNRH, 2005).
A Região Hidrográfica Atlântico Sul corresponde a um dos dois principais sistemas de drenagem exorréica da porção sul do
Brasil. O outro sistema é formado pelo sistema Paraná Uruguai. A RHAS engloba na zona leste do país um conjunto de bacias
independentes, vertendo para o litoral com uma acentuada diversidade em termos de porte. As principais bacias que

847
compreendem o sistema Jacuí-Guaíba, e são formadoras de porte, são as bacias: Alto Jacuí, Vacacaí, Taquari-Antas, Caí,
Sinos, Gravataí; bem como o Camaquã, que deságuam na Laguna dos Patos, o Piratini que deságua no canal São Gonçalo e
unem as lagoas Mirim e dos Patos, o rio Jaguarão, fronteiriço com o Uruguai, que deságua na lagoa Mirim; o Itajaí-Açu, o
Tijucas, o Cubatão e o Itapocú, em território catarinense, desaguando diretamente no Oceano (Brasil, 2006).
A cidade de Caçapava do Sul está compreendida parte na Bacia do Guaíba e parte na Bacia Hidrográfica do Rio Camaquã. A
região das Minas do Camaquã encontra-se na Sub-bacia do Arroio João Dias que pertence a sub-bacia da Bacia Hidrográfica
do Rio Camaquã.
A sub-bacia do Arroio João Dias (SbHAJD) possui uma área de 309 km2, com densidade de drenagem de 1,55 km/km2 e uma
vazão média de 6,25 m3/s (Webber e Bruch, 2008). A SbHAJD apresenta como curso principal o arroio João Dias e mais três
tributários, os arroios Marmelo, Capão do Cedro e Emiliano Tapera. João Dias possui uma extensão de 52 km, sua nascente
fica nos altos da Serra do Apertado e Cerro do Martin, e este deságua na localidade de Passo da Barquinha. A sede do distrito
das Minas do Camaquã, bem como as áreas de mineração (área da Mina Uruguai) localizam-se nas proximidades das margens
do curso médio-inferior do arroio João Dias (Bruch, 2014).
Quanto ao clima na região de Caçapava do Sul-RS esse é temperado do tipo subtropical, classificado como mesotérmico úmido
segundo a classificação de Köppe. Segundo dados registrados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) entre os anos
de 1961 e 1990 para o município, a média das temperaturas máximas e mínimas registradas nos meses de janeiro e julho são
respectivamente 22,1°C e 12,1°C. A média anual de precipitação registrada foi de 143,1 mm. No mês de julho ocorrem os
maiores índices pluviométricos (média de 177 mm), no mês de abril são registradas as menores precipitações (média de
91,6mm). Entre os meses de janeiro até junho (ano 2018), o mês de abril apresentou a maior temperatura (31 ºC) e o mês de
junho a menor temperatura 3°C, o mês de junho também foi que apresentou o maior índice pluviométrico (84 mm) (INMET,
2018).
Segundo a classificação edafopedológica de Hansen e Fensterseifer (2000), revisadas por Bruch em 2009 e 2014, os solos da
sub-bacia hidrográfica do Arroio João Dias podem ser enquadrados em 8 categorias (Fig. 8): i) Afloramento de Rocha; ii)
Argissolos vermelho-amarelos (solos bem desenvolvidos (zonais)); iii) Neossolo flúvico (encontrados ao longo das drenagens),
neossolo litólico e neossoslo regolítico; iv) Planossolos hidromórficos, localizados em áreas mais planas; v) Chernossolo
Rêndzico; vi) Horizonte A antrópico, associado às áreas das Minas do Camaquã.
O horizonte A antrópico na região da sub-bacia hidrográfica do Arroio João Dias encontra-se sobre Planossolos Hidromórficos
distróficos, com horizonte A do tipo proeminente Neossolos Litólicos e associações de Afloramento de Rochas mais Neossolos
Litólicos, com pH ácidos ou muito ácidos (pH 4,5 – 5) e conteúdo de argila em tono de 12% (Hansen & Fensterseifer, 2000).
Na região das Minas do Camaquã o horizonte A antrópico presente é encontrado nas áreas de influência antrópica marcadas
pelo que restou da mineração de cobre, bem como nos locais ao entorno das áreas já mineradas, por exemplo, na área da Vila
das Minas do Camaquã (Bruch, 2014). Este horizonte encontra-se sobre patamares planos de rejeitos de mineração e nas áreas
onde a cava (área já minerada) foi preenchida ou recuperada parcialmente, através plantio de espécie arbóreas do tipo Pinus
e/ou Eucalipto (Hansen e Fensterseifer, 2000).
As espécies de Pinus vêm sendo cultivadas no Brasil há mais de um século e as primeiras introduções que se tem registro
foram estabelecidas no Rio Grande do Sul, com Pinus canariensis C. Sm. ex DC. (Shimizu, 2008). Segundo Richardson,
Williams e Hobbs (1994), e Kay (1994) o Pinus apresenta características tais como, à alta habilidade de dispersão e
estabelecimento das espécies de Pinus para além das áreas de plantação, além de poderem disseminar-se vigorosamente entre a
vegetação nativa e até mesmo tornarem-se dominantes.
Segundo SEMA-RS (2016), o Pinus ssp. é considerado uma planta exótica invasora do Rio Grande do Sul. A portaria SEMA-
RS nº 14 de 10 de dezembro 2014, estabelece procedimentos para o uso de Pinus spp., em seu Art. 4º veta o plantio de Pinus
spp. para quaisquer fins que não sejam de produção florestal. No seu § 3º proíbe o uso de Pinus spp. para fins de recomposição
e recuperação ambiental. Isso não necessariamente ocorre em outros Estados brasileiros.
Um dos motivos relativos à restrição do uso do Pinus está nos impactos que este causa, como a modificação e transformação
do solo, pois as coníferas aceleram a acidificação e a podzolização, ocasionando depleção de nutrientes das camadas superiores
do solo (Scholes e Nowicki, 1998).

Materiais e Métodos
O trabalho foi realizado em amostras de solos, rejeito de mineração de cobre, e em plantas (Pinus elliottii) coletadas em área de
mineração de cobre no Distrito das Minas de Camaquã, no Município de Caçapava do Sul (RS, Brasil). As amostras em
triplicatas foram coletadas em sete locais amostrais diferentes, denominados de: i) área de rejeito (AR), ii) margem 1 (AER),
iii) pilha de estéril (P3), iv) fora da área da mina 1 (P1), v) fora da área da mina 2 (P2), vi) fora da área da mina 3 (P5), vii)
fora da área da mina 4 (P6) (Figura 3).

848
Figura 3: Mapa de localização das Minas do Camaquã com a localização dos pontos de coleta. Fonte: Autor.

A coleta do Pinus elliottii foi realizada em plantas com até 80 cm de altura, e idade aproximada de até 2 anos. A amostragem
foi completa, pois incluiu as raízes, caule, ramos e folhas. Após a coleta as plantas foram acondicionadas em sacos plásticos
identificados com a coordenada geográfica do local de amostragem.
As plantas coletadas foram conduzidas para o Laboratório de Química Ambiental (LQA) da Universidade Federal de Pelotas,
onde foram lavadas em água corrente e em água destilada, com o intuito de remover os sedimentos associados às raízes e parte
aérea das plantas. As raízes das plantas foram separadas da parte aérea com um corte na haste principal, e colocadas separadas
e identificadas em estufa a 60ºC por 48h, para secagem até peso constante. O peso tanto da parte aérea quanto das raízes foram
determinados antes e após a secagem.
Após o processo de secagem, as amostras foram trituradas, retiradas alíquotas de 1 grama e encaminhadas para a etapa de
digestão nítrico-perclórico 3:1, seguindo a metodologia de Tedesco et al. (1995).
Após a digestão as amostras foram encaminhadas ao Laboratório de Solos da Universidade Federal do Rio Grande Sul
(UFRGS), para a determinação dos teores dos elementos contidos nas amostras, através do ICP-OES (Espectrometria de
Emissão Óptica por Plasma Acoplado Indutivamente) da marca (PerkinElmer® - Optima™ 8300 ICP-OES).
As amostras de solo e rejeito da mineração de cobre foram tomadas a uma profundidade de 0-20 cm (amostragem composta),
no mesmo local onde se realizou a amostragem do Pinus elliottii. O solo é composto por material orgânico e por material
clástico desde a fração argila, até grânulo. O volume amostral foi de 500g, para cada local amostral. O acondicionamento
dessas amostras se deu em sacos plásticos identificados com a coordenada geográfica do local de amostragem.
As amostras de solos e/ou rejeitos foram encaminhadas para o Laboratório de Química Ambiental (LQA) da Universidade
Federal de Pelotas, onde foram secas ao ar, pesadas, homogeneizadas e quarteadas. Posteriormente, foram encaminhadas para
o Laboratório de Solos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para análise físico-química.
No solo e no rejeito, a determinação dos elementos químicos foi realizada através da metodologia USEPA 3050b (1996).

Resultados e Discussão
Os resultados encontrados nas amostras de solos, rejeito de mineração e Pinus elliottii na região das Minas do Camaquã estão
apresentados na Tabela 1. A área Morro da Cruz localiza-se próximo ao local P5 representa uma unidade estéril, sem
mineralização, que corresponde aos afloramentos dos arenitos e conglomerados avermelhados, red beds, do Grupo Santa

849
Bárbara.

Tabela 1 - Resultados para as variáveis analisadas nos solos e área de rejeito na região das Minas do Camaquã,
Caçapava do Sul (RS).
Locais
Variáveis
AR AER P1-P2 P3 P5 P6
Mean±SD
pH 6.0 6.0 5.0 5.0 5.0 4.0
M.O. % 0.5 3.0 7.0 5.0 4.0 6.0
3
CTC cmolc dm 7.0 16.0 17.0 14.0 17.0 21.1
-1
Cu mg kg 260.0 6.0 2.0 3.0 4.0 3.2
-1
Zn mg kg 1.0 0.8 4.0 4.1 2.0 20.0
Mn mg kg-1 11.0 11.0 35.0 39.0 49.2 68.0
Ba mg kg-1 0.3 465.0 151.0 282.1 221.1 206.1
-1
Mo mg kg 3.0 2.0 3.0 2.0 1.0 2.0
-1
B mg kg 0.1 0.2 0.4 0.4 0.4 0.5

O estudo litogeoquímico realizado por Lindenberg (2014) na região das Minas do Camaquã comparou as áreas mineralizadas
(Jazida Santa Maria e Setor Uruguai) através de trends de elementos importados ou exportados por causa da circulação de
fluidos hidrotermais. Neste estudo ele caracterizou um furo de sondagens na área Morro da Cruz (referente ao conglomerado
superior), e dois furos de sondagem na área da cava da Mina a céu aberto (Mina Uruguai) (referentes ao conglomerado
superior e arenito inferior).
A área (P3) situa-se sobre a área de mineralização da Mina Uruguai. Alguns minerais presentes nestas zonas de mineralizações
são pirita, calcopirita, calcocita, bornita, ilita, hematita, clorita, e barita (BaSO₄) dentre outros (Lindenberg, 2014).
Os teores de bário nas rochas em zonas de mineralização da Mina Uruguai estão no interalo de 52 - 134 mg kg-1, enquanto que
na área estéril (Morro da Cruz) esses teores são de 1.483 mg kg-1 (Lindenberg, 2014). Nos solos (Tabela 1) os teores bário são
elevados (151 – 465 mg kg-1), exceto na área de rejeito (AR). Estes exibem halos geoquímicos, provavelmente decorrentes do
intemperismo químico sofrido pelas rochas, em especial do mineral barita (identificada por Lindenberg (2014) no filão da cava
da Mina Uruguai).
Percebe-se que o pH entre as áreas amostrais têm caráter levemente ácido á acido, já que este varia entre pH 4.0 – 6.0 (Tabela
1).
Os locais da área de rejeito da mineração (AR) e o local AER (na margem a noroeste da área de rejeito) apresentam o mesmo
pH 6.0, já as demais áreas P1-P2, P3 e P5 apresentaram pH 5.0. O pH mais ácido (pH 4.0) foi identificado no local P6, mas
distante da área fonte (P3, área da Mina de cobre, Setor Uruguay).
Segundo Bruch (2014) o pH do rejeito da mineração no momento da deposição é muito ácido, valor próximo a 2.0 (similar a
solos agricultáveis). O pH do rejeito foi corrigido (calado), ainda durante as atividades de mineração, que se encerrou na
década de 90. No ano de 2010 o estudo realizado por Andreazza et al. (2010) apresentou pH 7.9 para o rejeito de mineração
(AR), valor básico em relação ao pH 6 (AR-AER) apresentado na Tabela 1.
Os solos ao entorno das Minas do Camaquã apresentam pH ácidos ou muito ácidos (pH 4.5 – 5) (Hansen & Fensterseifer,
2000). Desde modo, as áreas P1-P2, P3 e P5 exibem valores de pH dentro do esperado para a região das Minas do Camaquã.
As amostras de solos nos locais P1-P2, P3, P5, P6 e AER apresentaram o maior conteúdo de matéria orgânica em relação à
área de rejeito (AR). Um dos fatores que podem explicar o baixo conteúdo de matéria orgânica é o fato de a área de rejeito
(AR) exibir teores elevados de cobre (Tabela 1). Altas concentrações de cobre na solução do solo/substrato podem ser tóxicas
aos microorganismos, animais e plantas. Teores de cobre superior a 100 mg kg-1 no solo é considerado excessivo e pode
ocasionar fitotoxidez as plantas (Kabata-Pendias, 2011).
O Pinus elliottii foi à espécie utilizada para recomposição vegetal das áreas de mineração na região das Minas do Camaquã.
Esta espécie foi escolhida por adaptar-se á condições de falta de matéria orgânica e subtrato com pH ácido (Bruch, 2014).
Como a geração de matéria orgânica no solo depende da decomposição de resíduos de plantas e animais (Silva, Camago,
Cerreta, 2006), e a área de rejeito (AR) apresenta conteúdo de espécies vegetais muito baixos, logo a geração de matéria
orgânica fica prejudicada, deste modo, porcentagens superiores de matéria orgânica aparecem fora da área de rejeito (Tabela
1).
A capacidade de troca catiônica (CTC) expressa à quantidade de cátions que o solo pode reter na forma de complexos de
esfera-externa, ou seja, expressa indiretamente a quantidade de cargas que negativas no solo (Meuer, Rhenheimer, Bissani,

850
2006). O local P6 (área mais distal da pilha de estéril (P3)) apresenta a maior capacidade de troca catiônica, seguidas das áreas
P1-P2, P5 AER. A área de rejeito exibe a menor CTC 7.0 cmolc.dm-3 (Tabela 1).
A área de rejeito é o local com a maior concentração de cobre, cerca de 260 mg kg-1, os demais locais apresentaram teores
baixos de cobre variando entre 2 - 6 mg kg-1(Tabela 1).
O estudo realizado por Andreazza et al. (2010) exibiu teores de cobre (576 mg kg-1), zinco (0.8 mg kg-1), manganês (2 mg kg-1)
para o rejeito (AR) da mineração de cobre das Minas do Camaquã. Quando comparados os teores encontrados por Andreazza
et al. (2010) e os teores expressos na Tabela 1, para a área de rejeito, percebe-se um aumento nos teores de zinco de 2010 para
o ano 2017, e uma diminuição de quase 50% nos teores de cobre.
As rochas em zonas de mineralização da Mina Uruguai exibem teores de cobre >10.000 mg kg-1 e zinco entre 25 – 90 mg kg-1.
Na área estéril (Morro da Cruz) os teores de cobre e zinco são respectivamente 10 mg kg-1 e 29 mg kg-1 (Lindenberg, 2014). Os
teores de zinco e cobre apresentados na Tabela 1 são bem inferiores aos apresentados por Lindenberg (2014), exceto o teor de
cobre no rejeito de mineração (AR), que apresenta um contraste geoquímico positivo em detrimento aos outros locais.
A Portaria FEPAM N.º 85/2014 Dispõe sobre o estabelecimento de Valores de Referência de Qualidade (VRQ) dos solos para
09 (nove) elementos químicos naturalmente presentes nas diferentes províncias geomorfológicas/geológicas do Estado do Rio
Grande do Sul.
Os VQR’s 75% e 90% em rochas sedimentares areníticas do Planalto, da Depressão Periférica e do Escudo Sul-Riograndese
são 19-31 mg kg-1 para o zinco e 7-11 mg kg-1 para o cobre. Os teores encontrados nos solos da região ao entorno da Mina
Uruguai para o cobre (2-6 mg kg-1) estão dentro do limite de normalidade, porém os de zinco (0.8-4 mg kg-1) estão bem abaixo
(Tabela 1).
Com relação às amostras de tecido da planta, a Tabela 2 apresenta as concentrações totais (parte aérea e raiz) determinadas nas
mostras de Pinus elliottii.

Tabela 2 – Concentração total dos elementos encontrados no Pinus elliottii nos sete locais amostrais na região das Minas
do Camaquã, Caçapava do Sul.
Locais
Var AR AER P1 P2 P3 P5 P6
Mean±SD
mg kg-1
Cu 195.8 792.1 232.1 13.0 1091.5 21.0 11.0
Zn 40.1 47.4 97.4 94.0 354.1 77.0 68.0
Mn 165.2 177.5 276.1 414.2 3519.1 564.2 502.3
Pb 7.3 8.7 4.0 4.0 13.0 2.1 4.0
Co 0.3 2.1 1.0 0.1 7.0 0.4 1.0
Ba 202.1 683.8 155.0 60.0 1925.9 129.0 132.0
V 3.1 6.4 2.0 2.0 88.0 1.0 4.0

Com relação à concentração típica dos elementos necessários para o crescimento das plantas, tais como Mn, Cu, Zn, observar-
se na Tabela 2, que na pilha de estéril (P3), apresenta o maior contraste geoquímico em relação aos demais locais observados
para esses elementos.
De acordo com Salisbury e Ross (1992) os micronutrientes e macronutrientes são essenciais para a nutrição vegetal.
Concentrações iguais ou inferiores a 100 mg kg-1 na matéria seca (micronutrientes) e, concentrações iguais ou superiores a
1000 mg kg-1 na matéria seca (macronutrientes), são necessários para um bom desenvolvimento de uma planta.
Com relação aos teores de cobre, há uma anomalia positiva na pilha de estéril (P3) em relação à área de rejeito (AR),
apresentando respectivamente teores de cobre de 1091mg kg-1, 195 mg kg-1. Teores normais de cobre em espécies de Pinus
segundo Epstein (1995) variam entre 2,5-4,2 mg kg-1. Para muitas espécies valores acima de 20 mg kg-1 são considerados
tóxicos (Kabata-Pendias, 2011). Nos locais os P2, P5, P6 os teores de cobre estão dentro do intervalo esperado de normalidade
5-30 mg kg-1 Cu (Kabata-Pendias, 2011).
As áreas de rejeito e AER estão dentro do intervalo esperado de concentrações normais de zinco em espécies do tipo Pinus, 30-
45 mg kg-1 Zn, para indivíduos entre um ano de idade até indivíduos adultos (Kabata-Pendias, 2011). Nos outros locais a
concentrações de zinco no Pinus e. encontram-se com teores acima de 45 mg kg-1 de Zn. Já na pilha de estéril (P3), o pico de
concentração de Zn chega a 354 mg kg-1, nível considerado tóxico (Kabata-Pendias, 2011).
Os teores de chumbo variam entre 2-13 mg kg-1, nas amostras de Pinus e.. O local P6 a nordeste da pilha de estéril (P3)
apresenta o menor teor 2 mg kg-1 de chumbo na amostra do Pinus e.. O maior teor, 13 mg kg-1 Pb, é encontrado na amostra do

851
Pinus e. da pilha de estéril (P3) (Tabela 2). Teores de chumbo (Pb) entre 30-300 mg kg-1 são considerados tóxicos, no entanto
as amostras de Pinus e. exibem teores de chumbo abaixo do índice de toxicidade para as plantas.

Considerações Finais
Conclui-se que os teores de metais pesados presente no Pinus e. plantado em várias posições na Mina Uruguay e adjacências,
apresentou teores mais elevados dos elementos cobre, chumbo e zinco na área na Mina Uruguai, na pilha de estéril em relação
às outras áreas investigadas, consideradas estéreis. O Pinus elliottii também apresentou bons indicativos para fitorremdiação
especialmente para os metais Cu, Zn e Pb, com a possibilidade de uso na recuperação de área degradada ou contaminada por
metais pesados.

Referências Bibliográficas

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853
5SSS213
PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO: DIAGNÓSTICO
DE ARROIO DO PADRE/RS
Guilherme Pereira Schoeler1, Ana Luiza Bertani Dall’Agnol2, Mélory Maria Fernandes de Araújo3, Louise
Hoss4, Carolina Faccio Demarco5, Thays França Afonso6, Cassia Brocca Caballero7, Diuliana Leandro8,
Maurizio Silveira Quadro9, Robson Andreazza10

1Universidade Federal de Pelotas, e-mail: guilherme.schoeler@gmail.com; 2Universidade Federal de Pelotas, e-


mail: analuizabda@gmail.com; 3Universidade Federal do Rio Grande, e-mail: mmfa.eh@gmail.com;
4Universidade Federal de Pelotas, e-mail:hosslouise@gmail.com; 5Universidade Federal de Pelotas e-mail:
carol_demarco@hotmail.com; 6Universidade Federal de Pelotas, e-mail: thaysafonso@hotmail.com;
7Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: cassiabrocca@gmail.com; 8Universidade Federal de
Pelotas, e-mail: diuliana.leandro@gmail.com; 9Universidade Federal de Pelotas, e-mail: mausq@hotmail.com;
10Universidade Federal de Pelotas, e-mail: robsonandreazza@yahoo.com.br

Palavras-chave: Abastecimento de Água; Resíduos Sólidos; Esgotamento Sanitário

Resumo
O crescimento populacional, principalmente no início do século XIX, exige até os dias de hoje um conjunto de questões sociais
e gerenciadas pelo poder público, que inclui o saneamento ambiental constituído pelo abastecimento de água, coleta e
disposição de resíduos sólidos e esgoto sanitário e drenagem urbana, capazes de garantir serviços adequados e seguros à
população buscando proteger e melhorar as condições devida urbana e rural. O objetivo deste trabalho foi levantar dados e
informações quanto a situação dos serviços de saneamento básico no município de Arroio do Padre/RS apontando situação
quanto aspectos socioambientais. Os diagnósticos foram realizados por meio de consulta ao Sistema Nacional de Informação
sobre o Saneamento, informações da secretária municipal e estudo in loco. O sistema de abastecimento de água é realizado
pelo município, atendendo 15% da população já que grande parte provê água por poços individuais. O sistema compreende na
captação por 3 poços, tratamento na rede por NaClO e 5 reservatórios seguido da distribuição, no entanto, não há
monitoramento periódico da qualidade da água distribuída. Arroio do Padre apresenta 520 propriedades sem coleta e
tratamento de esgotos, e quanto existente é empregado fossas sépticas e sumidouros, diante do levantamento é possível
observar diferentes realidades quanto o estado e o município, que se encontra com uma grande carência nos serviços de
esgotamento. Os resíduos sólidos domiciliares e os resíduos de serviço de saúde apresentam coleta e destinação final
ambientalmente adequados, já os resíduos da construção civil e a implantação da logística reversa para os resíduos especiais é
inexistente. A coleta dos resíduos domiciliares abrange toda área urbana e parte da rural, seguido do transbordo e destinação
para o aterro sanitário. O plano de drenagem urbana é inexistente no município, havendo necessidade de implantação do
mesmo devido as características hidrológicas e do solo, de modo a evitar riscos e prejuízos humanos e materiais.

Introdução
A sociedade essencialmente urbana que conhecemos hoje decorre de mudanças iniciadas a partir do final do século XIX, pós-
revolução industrial, que trouxeram consigo os problemas característicos da urbanização, como o aumento da população nas
cidades e, na maioria das vezes, sem condições dignas de qualidade de vida (SANTOS, 2009).
O crescimento populacional exige um conjunto de questões sociais a serem fornecidas e gerenciadas pelo poder público, dentre
elas uma infraestrutura de saneamento ambiental capaz de garantir serviços adequados e seguros à população. O saneamento
ambiental pode ser entendido como o conjunto de ações econômicas e sociais que visem atingir níveis de salubridade
ambiental, através do abastecimento de água, coleta e disposição de resíduos sólidos, líquidos e gasosos e da drenagem urbana,
além de promover a disciplina sanitária e o controle de doenças, buscando proteger e melhorar as condições de vida urbana e
rural (NUGEM, 2015).
No que diz respeito ao saneamento no Brasil, em 1969, foi criado o Plano Nacional de Saneamento – PLANASA, que foi
responsável por um grande salto na cobertura de saneamento no país, porém se mostrou incapaz de universalizar o acesso aos
serviços, mesmo que apenas para o abastecimento de água potável (SALLES, 2009). Com a vigência da Lei 11.445/2007, ficou
prevista a elaboração dos planos de saneamento básico a nível municipal, estadual e federal, cujo último deles é denominado

854
de Plano Nacional de Saneamento Básico – PLANSAB. O PLANSAB foi aprovado em 2013 e nele estão descritos os cenários,
diretrizes, metas ações para o saneamento básico no país nos próximos 20 anos (BRASIL, 2007; BRASIL, 2013).
Assim, atualmente, diretrizes nacionais do setor estão descritas na Lei nº 11.445 de 05 de janeiro de 2007. Para os efeitos desta
Lei, o saneamento básico compreende o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de
água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo de águas pluviais
(BRASIL, 2007).
A mesma Lei tem como princípios fundamentais, dentre outros, a universalização do acesso aos serviços públicos de
saneamento básico e a articulação de políticas de desenvolvimento urbano regional, de habitação, de combate e erradicação da
pobreza, de proteção ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social, voltadas para a melhoria da
qualidade de vida, para as quais o saneamento básico seja um fator determinante (BRASIL, 2007).
Em termos constitucionais, o serviço de saneamento básico é de competência comum entre os entes da federação, ou seja,
União, estados e municípios, inclusive o Distrito Federal, podem exercer sua administração. Quanto à competência legislativa,
ou concorrente, como prefere a Constituição, a competência de estabelecer as diretrizes básicas é da União. No entanto, nada
impede que os estados e municípios legislem sobre o tema, de forma a adaptar a legislação federal às necessidades e
peculiaridades de cada localidade (SAKER, 2007).
Saker (2007) afirma que, historicamente, na maioria dos municípios brasileiros a titularidade da prestação dos serviços de
saneamento fica nas mãos das Companhias Estaduais. Os diagnósticos do Sistema de Informações sobre Saneamento
corroboram com esta afirmação, pois em grande parte, as informações são produzidas por prestadores de serviços de
companhias estaduais como é o caso da CORSAN, no Rio Grande do Sul, que forneceu, em 2015, dados de água e/ou esgoto
de 315 dos 497 municípios do estado (SNIS, 2015).
O aumento da oferta e da qualidade da água e da cobertura de esgotamento sanitário é capaz de ocasionar impactos positivos
na saúde, e na redução de doenças e no bem estar da população (FREITAS, 1998). Portanto, é necessário investir no aumento
da cobertura do saneamento (MENDES et al., 2000), pois sua falta ou ineficiência, de acordo com Ferreira et al. (2016),
contribui fortemente para a precariedade da saúde pública de uma localidade e este fato é bastante destacado no Brasil ao se
observar a qualidade da maioria dos corpos d’água urbanos, a qualidade de vida do cidadão e o alto nível de susceptibilidade
da população às doenças de veiculação hídrica.
O objetivo deste trabalho foi levantar dados e informações quanto a situação dos serviços de saneamento básico no município
de Arroio do Padre/ RS apontando situação quanto aspectos socioambientais.

Material e Métodos
Os diagnósticos dos serviços do Plano Municipal de Saneamento Básico - PMSB (abastecimento de água, esgotamento
sanitário, resíduos sólidos e drenagem urbana) foram realizados por meio de consulta ao Sistema Nacional de Informação
sobre o Saneamento (SNIS), informações obtidas pela secretária municipal e estudo in loco.
O município de Arroio do Padre encontra-se na região sul do estado do Rio Grande do Sul (Figura 1) no Conselho Regional de
Desenvolvimento - Sul (COREDE-SUL), apresenta 124,32 km² e uma população de 2730 habitantes, sendo a densidade
demográfica igual a 21,96 hab/km² (IBGE, 2011). Localiza-se na área da planície costeira e apresenta clima quente e
temperado com pluviosidade média anual de 1440mm estando inserido na Bacia Mirim-São Gonçalo.

Figura 1: Localização do Município de Arroio do Padre/RS.

855
Resultados e Discussão
As obras e serviços para fornecimento de água potável à população são de responsabilidade do município, por meio da
Secretaria de Obras, Infraestrutura e Saneamento instituído por lei municipal, devido a inexistência de concessão pública para
prestação do serviço para Arroio do Padre. Cerca de 15% da população é atendida pelo abastecimento municipal, sendo 85%
da área urbana e parte da comunidade rural, grande parte do município provê água de poços individuais, sem interferência da
prefeitura.
A estruturação do sistema de abastecimento de água (S.A.A) apresenta captação através de 3 poços tubulares profundos
(capacidade total de exploração de 75 m³/dia), seguido do tratamento em rede seguinte à condução até reservatórios e
distribuição. A Figura 2, apresenta os volumes utilizados pelos poços do munícipio.

Figura 2: Volumes de água utilizados pelos poços do munícipio.

De modo a prevenir a contaminação, os poços são isolados com lajes de proteção e elevados (>0,6m) para prevenir a entrada
de qualquer infectante ou poluente. O tratamento utilizado consiste na adição de Hipoclorito de Sódio (NaClO) diretamente na
rede (Figura 3 – a), não existindo monitoramento periódico da qualidade da água. O S.A.A conta com recalque por sistema de
bombeamento de um dos reservatórios, no total o sistema apresenta 5 reservatórios (Figura 3 -b) com capacidade total de 90 m³
que serão distribuídos em uma de rede 14,2 Km de tubulação de PVC.

Figura 3: Sistemas de Abastecimento de Água: a) Tratamento em rede; b) Reservatório (15m³).

Sob responsabilidade do administrador, é indispensável um cronograma de limpeza de modo a garantir a segurança sanitária do
S.A.A., boas práticas devem ser seguidas, bem como manter reservatórios conservados e inspecionados a cada seis meses,
observando as condições de vedação ou a necessidade de impermeabilização devido a infiltrações e/ou vazamentos. Para isto é
imprescindível um plano de limpeza e inspeção aos reservatórios, o que não existe no município.

856
O município não realiza, periodicamente, o monitoramento da qualidade da água do sistema de abastecimento urbano, o que
caracteriza um grave problema de gerenciamento do sistema. Desta forma, estabeleceu-se um parâmetro para avaliar a
qualidade da água distribuída à população, utilizando como valores de referência a Portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde,
apresentados na Tabela 1 para um dos reservatórios do município, observa-se que os parâmetros medidos se enquadram na
portaria.

Parâmetro Padrão de Exigência de Qualidade (Portaria 2914/2011) Reservatório


Turbidez 0,00 a 5,00 UT 3,08
pH 6,00 a 9,5 7,08
Cloro Livre Residual 0,20 a 5,00 mg/L ND
Dureza 0,00 a 500,00 mg/L 43,06
Coliforme Totais Ausente em 100 mL Ausente
Coliformes Termotolerantes Ausente em 100 mL Ausente
Tabela 1: Parâmetros de monitoramento para um reservatório do S.A.A do município.
ND: não definido.

O Plano Ambiental do município apontou a existência de 520 propriedades sem coleta e tratamento de esgotos, quando
existente é realizado por fossas sépticas e sumidouros. Das propriedades, 89,9% possuem banheiro completo e 17,1% não
possui ou é incompleto. Assim como o S.A.A., o município não possui concessão pública para os serviços de esgotamento
sanitário (S.E.S.) sendo responsável por obras e serviços de esgotamento.
Segundo dados obtidos pelo Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2011) para o município analisado, 33,85% dos domicílios
apresentam fossas sépticas; 64,62% fossas rudimentares; 0,77% ligado à rede e 0,77% que não possui banheiro. Para o estado
do Rio Grande do Sul, o panorama apresenta 56,93% ligados à rede geral ou de esgoto pluvial; 25,40% fossas sépticas e
17,92% que utilizam fossas rudimentares ou lançamento direto. Diante do levantamento é possível observar a diferença em
relação a presença de rede coletora em relação ao município e o estado, podem ser aplicadas ações para amenizar os problemas
quanto ao S.E.S. cabe a implantação de ações estratégicas para solucionar a problemática.

Figura 4: Ações de Implantação de fossas sépticas e filtros.

Os serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos são responsabilidade do município através da Secretaria Municipal
de Agricultura, Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente, Secretaria Municipal de Obras, Infraestrutura e Saneamento
Básico e Secretaria Municipal de Saúde. Quanto aos Resíduos Domiciliares e Resíduos de Serviço de Saúde (RSS) enquadram-
se a coleta e destinação, para a coleta seletiva e Resíduos da Construção Civil (RCC) não há programas. Os Resíduos Públicos
Urbanos há coleta esporádica ou simultânea nas quais as atividades em que os resíduos são gerados, ainda há serviços de
limpeza de boca de lobo, pintura de meio fio, remoção de animais mortos de vias públicas e coleta de resíduos volumosos
(móveis e colchões) realizados sem periodicidade.
O atendimento da coleta dos resíduos domiciliares abrange toda a área urbana e uma parcela da zona rural do município. Ao
total 1450 habitantes são contemplados pela coleta cerca de 50,75%, sendo 100% da área urbana e 40,93% da área rural.
Quanto à composição gravimétrica, apenas 23,30% são rejeitos e 72% são passíveis de reciclagem (Figura 5), esta pequena

857
parcela de material orgânico pode estar relacionada a característica rural do município, em que é empregado a utilização de
resíduos orgânicos para adubo para plantas.

Figura 5: Composição gravimétrica dos RSU.

O município não apresenta sistema de coleta seletiva e cooperativa de catadores de resíduos sólidos. A área de transbordo
ocorre de forma isolada e aberta, e em dias de chuva o caminhão opera dentro da garagem, também não há licença para a
operação do transbordo. Os resíduos coletados de forma regular pela prefeitura (1 vez por semana) permanecem depositados na
caçamba do próprio caminhão com capacidade de 6m³ (Figura 6) sendo compactados com auxílio de retroescavadeira até o
transporte para o aterro sanitário, realizado uma vez por semana e distante a 180 Km do município.

Figura 6: Caminhão utilizado na coleta municipal de resíduos sólidos.

A Lei n° 12305 de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) abrange como objetivos a
não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos e a disposição final ambientalmente adequada
do rejeitos bem como a gestão integrada e responsabilidade compartilhada, que tem como instrumento o desenvolvimento de
cooperativas, implementação da coleta seletiva e logística reversa para resíduos perigosos.
A única Unidade Básica de Saúde (UBS) é o ponto de geração do RSS tendo por responsabilidade de gestão o município. Os
RSS após gerados são acondicionados internamente no local ou próximo, em sacos plásticos de cor branco leitoso em
recipientes estanques (metálicos ou plástico) com tampa sem contato manual, de fácil higienização e manuseio, resistente ao
tombamento, ruptura e vazamento, com cantos arredondados e identificados com símbolo de resíduo infectante, conforme a
NBR 7500 (ABNT, 2001). As caixas de papelão também utilizadas na gestão do RSS são de cor amarela e constituídas de
material resistente, conforme a NBR 9191 (ABNT, 2000), estas são descartadas ao atingir 2/3 da capacidade ou 5 cm da
abertura do recipiente. A área para acondicionamento dos RSS (Figura 7) é isolada e utilizada somente para estes resíduos, no
entanto, as paredes não são de material liso e não há simbolo de identificação no acesso e nos recipientes como exige a
legislação (ANVISA, 2006).

858
Figura 7: Armazenamento interno dos RSS.

Na coleta dos RSS os sacos plásticos e caixas de papelão são armazenados em bombonas de 200 litros do armazenamento
interno até a unidade de tratamento e destinação final. Este serviço é realizado por empresa terceirizada com licença de
operação para a atividade, as atividades de coleta são realizadas pelo motorista e coletor providos de técnica e Equipamento de
Proteção Individual (EPI). A disposição final dos RSS é responsabilidade da empresa contratada que utiliza esterilização por
autoclavagem e procedimentos que alteram as características físico-químicas e biológicas de modo a garantir as necessidades
operacionais para disposição final ambientalmente adequada.
Para os RCC não há Plano de Gerenciamento com sistematização das rotinas de operação, monitoramento e equipamentos afim
de evitar a disposição inadequada, conforme recomenda a legislação. No município reportado, cada morador provê o destino
para o RCC, em muitos casos este material é utilizado aterramento de terrenos para novas construções.
Os resíduos especiais como pneus, pilhas e baterias, óleos, embalagens de agrotóxicos e lâmpadas fluorescentes, não existe a
logística reversa e um plano de gerenciamento efetivo por parte do município, no entanto, há ações individuais do comércio
por meio da entrega voluntária no comércio.
Quanto o sistema de drenagem urbana (S.D.U.) o município não apresenta concessão para o serviço assim como o Plano
Diretor de Drenagem Urbana. O diagnóstico do S.D.U. serve para orientar o planejamento da drenagem urbana e ocupação de
áreas de riscos de enchentes por parte da responsabilidade da Secretária de Obras, que por meio de estruturas e instalações
transportam, retém, tratam e dispõe águas das chuvas. As áreas de macrodrenagem do município são de pelo menos 2 km² ou
200 ha, podendo ser alterado de acordo com as configurações da malha urbana. Os sistemas de coleta por galerias de grande
porte e corpos receptores (sistemas de microdrenagem que compõem a macrodrenagem) devem ser projetados com capacidade
superior à microdrenagem de modo a reduzir riscos de prejuízos humanos e materiais.
No município, os pontos de alagamentos são aqueles onde há a existencia de pontes, por meio de ação de estrangulamento dos
corpos hídricos, além disso, a topografia do município é acentuada que propicia a formação de talvegues que drenam o relevo,
em precipitação acima de 100 mm em pouco espaço de tempo arroios do município transbordam para as margens.
Em um estudo realizado por Araújo et al. (2019), analisando as bacias hidrográficas do município de Arroio do Padre/RS a
partir das suas características morfométricas, os autores verificaram que o município tem grande tendência a ter
inundações bruscas/enxurradas, o que corrobora com o que foi observado no diagnóstico. Por conta disso, é essencial que o
município trabalhe na elaboração e implementação de políticas públicas, que possam atendem todos os segmentos do
saneamento, melhorando as infraestruturas para melhoria da qualidade de vida da sua população, além da consequente
preservação ambiental.

Comentários finais
A partis do diagnóstico do PMSB do município de Arroio do Padre/RS foi possível compreender a realidade quantos aos
sistemas de saneamento básico e indicar possíveis soluções conforme a legislação de modo a promover o desenvolvimento da
Região Sul do Rio Grande do Sul. O estudo apontou falhas quanto ao monitoramento periódico da água para abastecimento
público, necessidade de implantação de sistema de coleta e tratamento de esgotos sanitário, melhores práticas para
gerenciamento de resíduos especiais e da construção civil por meio da implantação da coleta seletiva e planejamento quanto a
um plano para drenagem urbana de modo a evitar riscos e prejuízos.
A elaboração do PMSB é uma ferramenta fundamental para implantação e concessão de contratos para a prestação dos
serviços de saneamento básico, sendo planejados para a perspectiva de 20 anos com avaliação anual e revisão a cada 4 anos.

859
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
(CAPES) - Código de Financiamento 001, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul – FAPERGS e
do Núcleo de Ensino Pesquisa e Extensão em Saneamento Ambiental (NPSA) da Universidade Federal de Pelotas.

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861
5SSS214
CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DOS COMPOSTOS LÍQUIDOS
ORIUNDOS DA COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS
AGROENERGÉTICOS
Anita Ribas Avancini1, Ester Schiavon Matoso2, Vanessa Sacramento Cerqueira3, Sérgio Delmar dos Anjos e
Silva4.
1Universidade Federal de Pelotas, e-mail: anita.avancini@hotmail.com; 2 Universidade Federal de Pelotas, e-
mail: ester-schiavon@hotmail.com; 3 Universidade Federal de Pelotas, e-mail: vanessacerqueira@yahoo.com.br;
4 Embrapa Clima Temperado, e-mail: sergioanjos@embrapa.br

Palavras-chave: cana-de-açúcar; torta de tungue; nutrientes.

Resumo
A compostagem é uma alternativa de reciclagem de resíduos orgânicos. Durante o processo de compostagem, é gerado um
líquido que pode ser denominado composto líquido. Este composto contém muitos microrganismos, substâncias e nutrientes
que podem ser utilizados como biofertilizantes, surgindo como uma solução mais sustentável e econômica frente aos
fertilizantes químicos. O objetivo do trabalho foi caracterizar os compostos líquidos gerados por três leiras de compostagem
contendo resíduos agroenergéticos acrescidos de outros diferentes resíduos. Foram construídas quatro baias com estrutura de
madeira em um telado, sendo montadas leiras de compostagem em três delas. Todas as leiras continham palha e bagaço de
cana-de-açúcar, sendo que na leira 1 foi adicionado esterco bovino e serragem, na leira 2, cama de aviário e casca de acácia
triturada e na leira 3, serragem e torta de tungue. As leiras foram revolvidas, em média, a cada 30 dias sendo que ao final do
terceiro revolvimento foram recolhidos os líquidos percolados gerados por cada leira de compostagem. Os compostos líquidos
foram enviados a um laboratório de análises ambientais e submetidos a caracterização química. Foram analisados macro e
micronutrientes e pH. A metodologia utilizada para análise de cada parâmetro foi: Boro total, cálcio, cobre total, ferro total,
magnésio total, manganês total, potássio, sódio total e zinco total, enxofre, fósforo total, nitrogênio total, pH e TOC - Carbono
orgânico total. O composto líquido proveniente da leira de compostagem 2 obteve melhores resultados com maiores
quantidades de nutrientes. O composto liquido 1 se destacou em relação ao Ferro Total, o composto líquido 2 apresentou os
maiores valores relação ao maior número de nutrientes, sendo eles: Cálcio, Fósforo Total, Magnésio Total, Potássio e Sódio
Total e o composto liquido 3 possuiu os maiores valores de Nitrogênio total Kjeldahl e de Carbono Orgânico total. Foi possível
concluir que há grandes diferenças na caracterização química entre os compostos líquidos, devido às variações das matérias-
primas utilizadas e que o composto líquido se destacou apresentando os maiores e melhores valores nutricionais.

Introdução

A compostagem é um método de reciclagem dos resíduos orgânicos, como os gerados na agricultura, na qual possui
como produto final um composto agrícola fértil capaz de corrigir solos degradados (OMORI, 2014). Durante o processo de
compostagem de resíduos orgânicos é gerado um subproduto na forma líquida podendo ser denominado chorume ou composto
liquido. A composição desse subproduto pode variar de acordo com os resíduos submetidos à compostagem e é rico em
nutrientes que podem ser aproveitados na agricultura.
Silva et al. (2011) destaca a importância dos métodos de tratamento de resíduos que visam o aproveitamento do
composto liquido uma vez que este possui um grande potencial fertilizante, através de uma alta carga de matéria orgânica e
nutrientes minerais, se utilizado em proporções adequadas. A inserção do chorume no solo pode melhorar a sua estrutura e
fertilidade através da adição de nutrientes e matéria orgânica, facilitando a infiltração da água da chuva, a capacidade de
retenção de umidade e de troca de cátions e a atividade microbiana, solubilizando alguns metais tóxicos e complexando alguns
metais essenciais às plantas, como Fe, Zn, Mn, Cu e Co (BASSO, et al., 2008). Com os altos valores de temperatura que o
processo atinge, o processo de compostagem é capaz de eliminar todos os organismos patogênicos de infestantes, uma
preocupação frequente quanto aplicação direta do chorume ao solo (BRITO et al., 2008).
Além da compostagem de resíduos agrícolas gerados por pequenos agricultores ser uma técnica ambientalmente
adequada que traz benefícios ao produtor, faz-se também de grande importância encontrar uma destinação nobre para a fase
liquida gerada durante este processo. Dessa forma, o uso da correta dosagem do percolado, gerado pela compostagem de
resíduos agrícolas, no solo de pequenos agricultores, pode acarretar em benefícios para tais. A fim de aumentar a resistência
contra pragas e doenças, os biofertilizantes têm sido utilizados como adubo foliar na agricultura (PENTEADO, 1999). Uma

862
interessante alternativa para o melhor desenvolvimento de culturas têm sido os biofertilizantes, porém há uma carência em
pesquisas e informações sobre qual a concentração é a mais adequada a ser utilizada (SOUZA, 2000).
A utilização de biofertilizantes líquidos, os quais estejam diluídos em água em uma proporção de 10% a 30%,
demonstram efeitos abundantes como fixação de flores e frutos e aumento da área foliar em diferentes culturas sendo aplicados
em pulverizações foliares (MORAES, 2009). Alguns biofertilizantes líquidos oriundos do esterco têm também sua função
ampliada a fitoproteção de plantas podendo ser utilizados em sistemas de cultivo provendo macro e micronutrientes a cultura
(ARAÚJO, 2000).
Desde a colonização do Brasil, a cana-de-açúcar aparece como uma das principais culturas do país (SANTIAGO et
al., 2015). O processamento de 1000 t de cana-de-açúcar rende, nas usinas, em média 280 t de bagaço e 35 t de torta de filtro.
No Brasil, são produzidos 201.418.487 t ano-1 de resíduos do bagaço e da torta de filtro (BRASIL, 2011). Segundo o CONAB
a produção de cana-de-açúcar, estimada para a safra 2019/20, é de 622,3 milhões de toneladas. Desta maneira, é muito grande
a quantidade de resíduos gerados por essa cultura.
Com base no exposto, o objetivo deste trabalho é caracterizar quimicamente o composto liquido gerado na
compostagem de resíduos de cana-de-açúcar (palha e bagaço), torta de tungue e de atividades agrícolas (esterco de gado e
cama de aviário) e de atividades agroindustriais (serragem e casca de acácia).

Material e Métodos

O estudo foi desenvolvido na Embrapa Clima Temperado, estação sede em Pelotas, Rio Grande do Sul, no período de
julho de 2018 a maio de 2019.
Foram estruturadas três leiras de compostagem em um telado, sendo estas impermeabilizadas com lonas a fim evitar o
contato do material a ser compostado e do líquido percolado com o solo. As leiras foram montadas contendo diferentes
combinações de matérias-primas. Estas leiras foram movimentadas entre quatro composteiras baias construídas utilizando
tábuas de madeira, com medidas de 1,2 m X 1,3 m X 2,6 m (L X A x P), conforme exemplificado na Figura 1, com o objetivo
de aerar e uniformizar o processo de compostagem.

Figura 1- Perspectivas em 3D das leiras para compostagem


Fonte: Autor (2018).

As compostagens foram realizadas com resíduos agroenergéticos, sendo eles: bagaço e palha de cana-de-açúcar e torta de
tungue. Além disso, foram utilizados resíduos provenientes de atividades agropecuárias. As matérias-primas utilizadas
encontram-se dispostas da Tabela 1, sendo respeitada a ordem de cada uma de acordo como se encontra na tabela. As
composteiras montadas podem ser visualizadas na Figura 2.

863
Tabela 1- Matérias-primas utilizadas nas leiras de compostagem e seus respectivos volumes.
Volume Volume Volume
Leira 1 Leira 2 Leira 3
(m3) (m3) (m3)
Camada 4 Palha cana-de- Palha cana-de- Torta de
0,5 1,5 0,5
(Superior) açúcar açúcar Tungue

Palha cana-de-
Camada 3 Esterco de Gado 1,0 Cama de Aviário 1,0 0,5
açúcar

Bagaço de cana- Bagaço de cana- Bagaço de


Camada 2 1,0 1,0 2,0
de-açúcar de-açúcar cana-de-açúcar

Camada 1 Serragem 1,5


Casca de Acácia
0,5 Serragem 1,0
(Inferior) Triturada

- 4 - 4 - 4
Total

Figura 2- Leira 1 de compostagem (a esquerda), leira 2 de compostagem (ao meio) e leira 3 de compostagem (a direita).

As leiras foram revolvidas, em média, a cada 30 dias através da transferência do material para a baia ao lado. Ao final
do terceiro revolvimento foram recolhidos os compostos líquidos (Figura 3) gerados por cada leira de compostagem para
análise química. Os compostos líquidos coletados dos processos de compostagem foram enviados ao laboratório de análises
ambientais para caracterização química. Os parâmetros analisados foram: Boro total, cálcio, cobre total, ferro total, magnésio
total, manganês total, potássio, sódio total e zinco total através do método SMWW Method 3111 A,B; Enxofre através do
método de gravimetria; Fósforo total através do método SMWW Method 4500 B4, E; Nitrogênio total kjeldahl através do
método PE 025; pH através do método SMWW, Method 4500 H+ B e TOC - Carbono orgânico total através do método
SMWW Method 5220 B.

864
Figura 3- Chorume gerado pela leira de compostagem 1 sendo coletado

Resultados e Discussão

Os resultados das análises químicas enviadas ao laboratório encontram-se dispostos na Tabela 2. O composto líquido
proveniente da leira 1 de compostagem se destacou frente aos outros compostos líquidos em relação ao Ferro Total. Silva e
Falcão (2002) pesquisaram a deficiência de nutrientes em plantas de pupunheira e concluíram que a falta do ferro causou na
planta alteração na coloração das folhas mais novas sendo que essas folhas exibiram as nervuras bem pronunciadas na
tonalidade verde, formando um contraste nítido com o resto amarelo do limbo.
O composto líquido 2 foi o que se destacou dentre todos os analisados. O composto obteve, na sua composição,
maiores quantidades dos nutrientes: Cálcio, Fósforo Total, Magnésio Total, Potássio e Sódio Total. O fósforo é um elemento
muito importante para o desenvolvimento das plantas devido a sua baixa disponibilidade no solo, onde se mantém adsorvido
aos colóides do solo, formando compostos de baixa solubilidade (ARAÚJO e MACHADO, 2006). Além disso, o
macronutriente possui função estrutural, sendo parte de muitos processos metabólicos, como a transferência de energia, síntese
de ácidos nucléicos, glicose, respiração e fixação de Nitrogênio. (VANCE et al., 2003; PRADO,2008). O cálcio é um nutriente
que se destaca devido à grande importância que tem para as plantas. Entre os nutrientes essenciais para as plantas destaca-se o
cálcio. Esse macronutriente é capaz de aumentar o acúmulo de nutrientes pela planta, é essencial para manter a integridade da
membrana plasmática, bem como atuar na prevenção da perda de solutos para a solução externa (MALAVOLTA, 2008). A
falta de cálcio leva a um baixo crescimento e desenvolvimento das raízes das plantas, prejudicando a absorção de nutrientes e
água, sujeitando as plantas às deficiências minerais e a déficit hídrico (LAMBAIS, 2006). Cakmak e Yazici (2010) afirmam
que o magnésio quando absorvido pelas plantas possui uma grande quantidade de funcionalidades como a fixação
fotossintética do dióxido de carbono, síntese protéica e formação de clorofila, além disso, processos fisiológicos e bioquímicos
são afetados pela falta de magnésio, prejudicando o crescimento da planta e a sua produção.
O potássio, além de ser um elemento essencial para as plantas, é o segundo nutriente mais absorvido por elas
(TIDALE e NELSON, 1975). O elemento possui uma função necessária ao estado energético da planta, na translocação e
armazenamento de assimilados e na manutenção da água nos tecidos vegetais (GATTWARD, 2010). O autor também afirma
que o Sódio é um elemento que possui diversas funções, similares as do potássio, para planta como ativas algumas enzimas,
favorecer a acumulação de frutose, aumentar o conteúdo de sacarose para algumas delas, facilitar a absorção do N, P, K.
Contudo, o sódio é capaz de ser tóxico se estiver presente em grandes concentrações, reduzindo o crescimento e a produção
das plantas e podendo causar seu amarelecimento e murchamento (MARSCHNER, 1995). Desta maneira, é preciso estar
atento nas quantidades ideais que devem ser utilizadas de cada nutriente, dependendo da cultura a ser produzida.

865
A caracterização do composto líquido 3 revelou que este possuiu os maiores valores de Nitrogênio total Kjeldahl e de
Carbono Orgânico total. O nitrogênio é um importante macronutriente uma vez que é responsável por processamentos
fisiológicos que ocorrem nas plantas, como a fotossíntese, a respiração, o crescimento e desenvolvimento e atividade
radiculares, assim como a absorção de outros nutrientes (SOARES, 2013). Li et. al. (2017) realizaram um estudo no qual
observaram que quando as plantas estão efetivamente absorvendo nitrogênio, a disponibilidade do nutriente no solo diminui,
limitando o acesso dos microrganismos ao elemento e, consequentemente diminuindo a decomposição da matéria orgânica do
solo, aumentando a eficiência de carbono.

Tabela 2- Macro e micronutrientes e pH dos compostos líquidos


Composto Composto Composto
Parâmetro/Composto Líquido
Líquido 1 Líquido 2 Líquido 3
Boro Total (mg.L-1) < 0,49 < 0,49 < 0,49
Cálcio (mg.L-1) 110,970 122,623 99,553
Cobre Total (mg.L-1) < 0,21 < 0,21 < 0,21
Enxofre (%) 0,00 0,00 0,00
Ferro Total (mg.L-1) 7,606 5,519 3,730
Fósforo Total (mg P.L-1) 202,20 489,49 223,47
Magnésio Total (mg.L-1) 106,714 212,848 104,584
Manganês Total (mg.L-1) 10,561 1,022 2,442
Nitrogênio Total Kjeldahl (mg N.L-1) 57,07 203,44 296,3
pH 7,11 6,74 6,42
Potássio (mg.L-1) 462,113 1420,625 614,843
Sódio Total (mg.L-1) 91,118 157,769 21,771
TOC - Carbono orgânico total (mg.L-1) 582,15 1741,8 5993,85
Zinco Total (mg.L-1) 0,211 0,278 0,230

Considerações Finais

A caracterização química dos compostos líquidos possibilitou concluir que a variedade de materiais utilizados na
montagem das leiras de compostagem altera a composição química do composto liquido gerado pelo processo de reciclagem
de resíduos orgânicos, havendo discrepantes diferenças de macro e micronutrientes entre os compostos líquidos estudados.
O composto líquido 2 obteve os melhores valores de caracterização química obtendo valores mais altos de importantes
nutrientes para as plantas.
É importante salientar que se faz necessário que mais estudos, com diferentes matérias-primas e diferentes condições,
sejam conduzidos a fim de se aprofundar no tema.

Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer a Embrapa Clima Temperado pela estrutura e materiais disponíveis para o
desenvolvimento do trabalho. Também, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e a Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela concessão de bolsas de estudo que possibilitaram aos alunos estarem
desenvolvendo suas pesquisas. Por fim, a Universidade Federal de Pelotas, especialmente ao Programa de Pós-graduação em
Sistemas de Produção Agrícola Familiar por estarem sempre disponíveis incentivando a realização de trabalhos e a divulgação
destes.

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867
5SSS215
EFEITOS DO PROCESSO DE OZONIZAÇÃO NO TRATAMENTO DE
LIXIVIADO DE ATERRO SANITÁRIO ATRAVÉS DE ANÁLISE DE
COR, PH E FITOTOXICIDADE
Louise Hoss1, Larissa Loebens2, Vitória Sousa3, Ana Luiza Bertani Dall’Agnol4, Guilherme Schoeler5,
Carolina Faccio Demarco6, Thays França Afonso 7, Cassia Brocca Caballero8, Natali Rodrigues dos Santos9,
Maurizio Silveira Quadro10
1Universidade Federal de Pelotas, e-mail: hosslouise@gmail.com; 2Universidade Federal de Pelotas, e-
mail:laryloebens2012@gmail.com; 3Universidade Federal de Pelotas, e-mail: vitoria.sousa42@gmail.com;
4Universidade Federal de Pelotas, e-mail : analuizabda@gmail.com ; 5Universidade Federal de Pelotas, e-mail:
guilherme.schoeler@gmail.com ; 6Universidade Federal de Pelotas, e-mail: carol_demarco@hotmail.com;
7Universidade Federal de Pelotas, e-mail: thaysafonso@hotmail.com ; 8Universidade Federal de Pelotas, e-mail:
cassiabrocca@gmail.com ; 9Universidade Federal de Pelotas, e-mail: natalisantosquimica@yahoo.com.br ;
10Universidade Federal de Pelotas, e-mail: mausq@hotmail.com

Palavras-chave: tratamento de efluentes; chorume; processos oxidativos avançados.

Resumo
Os aterros sanitários são uma das formas consideradas ambientalmente adequadas para a disposição final de resíduos sólidos.
Apesar de considerado adequado, e mesmo que sejam tomadas todas as medidas necessárias para reduzir o impacto ambiental
negativo causado por esses empreendimentos, eles geram um tipo de efluente líquido conhecido como chorume ou lixiviado de
aterro. O lixiviado é resultado da degradação da massa de resíduos e apresenta risco contaminante para o meio ambiente
devido a sua complexa composição, que pode conter metais pesados, compostos inorgânicos além de alta concentração de
materiais orgânicos. Esse material orgânico presente no chorume contém compostos húmicos e fúlvicos, os quais conferem cor
escura e baixa biodegradabilidade ao efluente. Por conta disso, há uma dificuldade no tratamento dos efluentes de aterros
sanitários através dos métodos biológicos convencionais, os quais não geram resultados satisfatórios. Assim, o uso de
processos de ozonização se apresenta como tratamentos mais eficientes para esses casos, pois são capazes de degradar
totalmente a matéria orgânica em condições adequadas. Em vista disso, este trabalho teve como objetivo avaliar os resultados
da ozonização como tratamento de lixiviado de aterro sanitário, através dos parâmetros cor, pH e fitotoxicidade. O efluente foi
tratando tratado com o processo de ozonização em diferentes tempos, sendo eles: 30, 60, 120,180, 200 e 250 minutos. As
amostras de efluente bruto e após tratamentos foram caracterizadas nos parâmetros cor e pH, e através da análise de
fitotoxicidade. Os resultados obtidos mostram uma alta remoção de cor do lixiviado, sendo que as maiores eficiências de
remoção da coloração ocorreram com maiores doses de ozônio, alcançando até 93,4% de remoção de cor. O aumento nas doses
de ozônio ocasionou no aumento do pH do efluente. Apesar da alta eficiência de remoção de cor obtida, não foi possível,
através dos tratamentos aplicados, diminuir a fitotoxicidade do efluente, uma vez que nenhuma amostra apresentou
crescimento, sendo assim, outros parâmetros precisam ser analisados através da caracterização do efluente para identificar o
que está afetando o crescimento das sementes.

Introdução
A revolução industrial, aliada ao aumento populacional e estilos de vida cada vez mais consumistas, vem aumentando a
geração de resíduos sólidos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS
ESPECIAIS (ABRELPE), 2015). A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) estabelece os aterros sanitários
como o local mais adequado para a destinação final de resíduos sólidos (POLÍTICA NACIONAL DOS RESÍDUOS
SÓLIDOS, 2010). Porém, a disposição de resíduos em aterros pode causar a poluição dos corpos hídricos, além da geração de
ruídos, mau cheiro e poluição visual, causando riscos à saúde populacional.
O sistema de degradação dos resíduos presentes no aterro, juntamente com a água da chuva, gera um líquido escuro e de odor
desagradável, denominado chorume ou lixiviado. Esse líquido pode tornar-se fonte de poluição contaminando o solo, águas
subterrâneas e superficiais quando não tratado adequadamente (AHMED; SULAIMAN, 2001; GOUVEIA, 2012; YANG et al.,
2017).
A composição do lixiviado produzido no aterro é complexa e variável. Um dos principais fatores que influencia essas
características é a idade do aterro, apresentando elevados valores de matéria orgânica composta por metano, além de

868
substancias húmicas e fúlvicas e ácidos graxos voláteis. Outros componentes inorgânicos presentes são magnésio, amônia,
cloretos e cálcio; xenobióticos como hidrocarbonetos aromáticos, assim como metais pesados, sendo eles: cobre, chumbo,
cádmio e cromo (DE MORAIS; ZAMORA, 2005; CHRISTENSEN et al., 2001).
De acordo com Cheibub, Campos e Fonseca (2014), a concentração de substâncias húmicas presente no chorume não somente
está relacionada à cor do lixiviado, mas também confere características recalcitrantes ao efluente. Embora a legislação não
apresente padrões de exigência para essas substâncias, sua supervisão apresenta relevância e sua medição pode ser realizada de
forma indireta através da avaliação da cor.
Tendo em vista a necessidade da preservação ambiental e a diminuição dos impactos ao ambiente causados pelas atividades
antrópicas, torna-se necessário o tratamento do lixiviado antes de sua disposição em corpos receptores. Porém, o tratamento
deste tipo de efluente é complexo e de alto custo, além de possuir diversos processos envolvidos.
Renou et al (2008), em seu estudo, classifica o tratamento de lixiviado em: transferência de lixiviado, englobando a
recirculação de lixiviado em aterro e o tratamento combinado com esgoto; biodegradação, onde microrganismos degradam os
poluentes; e sistemas físico-químicos, que incluem tratamentos como adsorção, coagulação/floculação, oxidação química, air
stripping, precipitação química e flotação/sedimentação.
Além disso, os altos teores de amônia, que afetam o processo biológico convencional de nitrificação-desnitrificação por
causarem efeito tóxico sobre o mesmo, a elevada presença de sais, e elevação na concentração de compostos refratários
evidenciam a inevitabilidade de tratamentos mais complexos para o tratamento de lixiviados maduros (PASTORE et al., 2018).
Os tratamentos convencionais, muitas vezes, tornam-se ineficientes para a remoção de compostos persistentes do lixiviado.
Nesse contexto, os Processos Oxidativos Avançados (POAs) surgem como uma técnica promissora para o tratamento de
chorume. Os POAs estão embasados na geração de radicais livres, principalmente radicais hidroxila, que apresentam grande
poder de oxidação e capacidade de degradar diversos contaminantes de modo eficaz (FIOREZE; SANTOS;
SCHMACHTENBERG, 2014).
A utilização de POAs apresenta-se vantajosa em comparação a outras metodologias de tratamento, uma vez que degrada os
poluentes ao invés de os transferir de fase; transforma o contaminante, usualmente causando sua total degradação
(mineralização); grande poder de oxidação; alta cinética; aplicação como pré ou pós tratamento, combinados a outros
processos, além de transformar dos contaminantes refratários em produtos biodegradáveis que podem ser tratados por
tratamentos biológicos (DOMÈNECH; JARDIM; LITTER, 2001).
Em consequência de seu grande poder oxidante o ozônio, entre os variados processos que utilizam oxidação química,
apresenta-se como o um dos mais eficazes no tratamento de lixiviado (CHATURAPRUEK; VISVANATHAN; AHN, 2005). O
processo de ozonização pode acontecer de maneira direta, onde as moléculas ozônio reagem diretamente com os poluentes, ou
indiretamente, onde o ozônio se decompõe em radicais que apresentam um ainda maior potencial de oxidação. Por meio do
tratamento por ozonização, compostos orgânicos de cadeia longa são decompostos em cadeias menores, de tal modo a tornar o
efluente mais biodegradável, aumentando a relação DBO/DQO, ou são decompostos a dióxido de carbono (CORTEZ et al.,
2011).
Dentro do contexto das análises ambientais, espécies, grupos de espécies ou comunidades biológicas as quais indicam a
intensidade dos efeitos ecológicos causados ao ambiente, por diversos poluidores, pela sua presença, quantidade e distribuição,
são empregados como bioindicadores. Esses podem ser utilizados para avaliar o potencial de poluição através dos testes de
fitotoxicidade, os quais são simples e adaptáveis, e apresentam o objetivo de estudar a toxicidade de um ambiente através de
plantas. Esses ensaios foram aplicados em diferentes efluentes em diversas espécies de plantas. Pode-se definir a fitotoxicidade
como o efeito tóxico provocado em plantas, por um ou mais compostos, de modo a inibir ou prejudicar a sua germinação e/ou
o seu desenvolvimento. Deste modo, o objetivo do trabalho foi analisar o efeito da ozonização na remoção de cor e de
fitotoxicidade de efluente de aterro sanitário.

Material e Métodos
Os testes foram realizados no Laboratório de Análise de Águas e Efluentes do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Ambientais do Centro de Engenharias (CEng) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
O efluente utilizado no estudo é oriundo do aterro sanitário da Metade Sul, localizado na cidade de Candiota – RS (Figura 1).
O aterro recebe em torno de 700 t/d de resíduos de vinte municípios da Zona Sul, e iniciou sua operação em 2011. Atualmente
o sistema de tratamento utilizado no aterro é a recirculação. A amostra foi coletada na primeira lagoa onde o lixiviado é
lançado após a saída da célula do aterro, conforme demostrado na Figura 2.

869
Figura 2: Localização do Município de Candiota-RS, onde está localizado o aterro da Metade Sul

Figura 2: Ponto de coleta do efluente de aterro sanitário

Posteriormente à coleta, o efluente foi armazenado em galão de capacidade de 20 litros e acondicionado em refrigerador. O
dispositivo utilizado para realização dos testes foi um gerador de ozônio, de capacidade de geração de ozônio de 43,7 mg por

870
hora. Os tratamentos das amostras foram conduzidos em coluna de vidro cilíndrica, de capacidade de aproximadamente um
litro.
O efluente em estudo foi submetido a distintas doses de ozônio, com a finalidade de avaliar qual a melhor concentração de
ozônio para a diminuição da toxicidade e cor do lixiviado. A variação da concentração de ozônio foi realizada utilizando 6
tempos de ozonização, de acordo com o demonstrado na Tabela 1.

Tabela 25 – Doses de Ozônio aplicadas no tratamento do lixiviado


Tratamento Tempo de ozonização (min) Dose de ozônio (mg O3)
0 0 -
1 30 21,9
2 60 43,7
3 120 65,5
4 180 131,1
5 200 145,7
6 250 182,1

Para analisar a eficácia do tratamento, foram realizadas análise de cor e de pH de acordo com a metodologia descrita no
Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 2005).
Os testes de fitotoxicidade foram realizados para avaliar o efeito tóxico do efluente bruto e após a ozonização, conforme
adaptação da metodologia indicada por Zucconi et al. (1981). Os ensaios foram realizados em triplicata utilizando sementes de
pepino (Cucumis sativus) e alface (Lactuca sativa) como bioindicadores. Foram colocados 5 mL de amostra em cada placa de
Petri, acrescentando-se 20 sementes de alface ou 10 de pepino. Após este proceso, as placas foram cobertas com parafilm, e
incubadas a 25ºC por 48h. Foi realizado o controle para cada semente, em triplicata, utilizando 5 ml de água destilada. Após o
tempo de incubação, foram aferidos o número de sementes germinadas e o comprimento das radículas, através de um
paquímetro digital.
O índice de germinação das sementes foi calculado pela Eq. 1 descrita por Zucconi et al. (1981):

(1)

Onde:
 IG = índice de germinação;
 G = número de sementes germinadas na amostra, dividido por número de sementes germinadas no controle;
 Lm = longitude média das raízes germinadas da amostra (mm);
 Lc = longitude média das raízes germinadas do controle (mm).

Resultados e Discussão
A Tabela 2 apresenta os valores de cor obtidos através das 6 aplicações dos tratamentos de ozonização realizados.

Tabela 2 - Valores de pH, cor e eficiência de remoção de cor


Tratamento pH Cor (UC) Eficiência de remoção (%)
0 8,35 16.198,40 -
1 8,68 11.389,50 29,7
2 8,81 4.049,60 75,0
3 8,84 3.923,05 75,8
4 8,97 3.037,20 81,3
5 9,04 1.771,70 89,1
6 9,25 1.075,68 93,4

Foram alcançadas eficiência de remoção de cor de até 93,4% no tempo de ozonização de 250 minutos, A Figura 3 apresenta as
amostras de lixiviado bruto, e após os tratamentos aplicados, em sequência do menor ao maior tempo aplicado, da esquerda
para a direita.
De acordo com Gottschalk et al. (2000), a diminuição da cor ocorre pelo ataque direto de ozônio aos compostos que conferem
cor escura ao lixiviado, sendo eles aromáticos ou com ligações duplas presentes nas substâncias húmicas.
Os ensaios de ozonização resultaram em uma alta remoção de cor do lixiviado, obtendo resultados de até 93,4% de remoção no

871
Tratamento 6. Amaral-Silva (2016) alcançou uma eficiência de remoção de cor de lixiviado de 95% através da ozonização,
enquanto que Scandelai et al. (2015), obteve remoções de cor de até 96,33%, valores semelhantes aos encontrados nesse
estudo.

Figura 3: Amostras de efluente bruto e após os tratamentos aplicados

Foi observado um aumento progressivo do pH do lixiviado, alcançado-se o maior valor de pH na maior dose de ozônio
aplicada, o que pode ser explicado devido ao fato de pHs básicos, além de serem característicos dos lixiviados de aterro,
favorecem a produção de radicais hidroxila (-OH), que aumentam o pH do meio (CHYS et al., 2015; TIZAOUI et al., 2007).
Em relação à análise de fitotoxicidade, pode-se observar germinação das sementes somente nas amostras de controle. As
Figuras 4 e 5 abaixo apresentam os resultados da análise de fitotoxicidade.

Figura 4: Placas de Petri contendo as amostras de controle, bruto, primeiro e segundo tratamentos

872
Figura 5: Placas de Petri contendo do terceiro ao sexto tratamento aplicados

O crescimento foi observado somente nas amostras de controle, as quais foram feitas com água destilada, para ambas as
sementes. Isto demonstra que, apesar das concentrações de ozônio aplicadas, as mesmas não foram suficientes para reduzir a
toxicidade do efluente, de modo que nenhuma semente das amostras tenha germinado.
Um estudo realizado por Telles (2010) utilizando a toxicidade para avaliar o efeito da ozonização, também não obteve
resultados esperados, tendo apenas uma redução alcançada torno de 16%, aplicando uma dosagem de 0,06 g.L-1 de ozônio
durante 60 minutos de reação, muito abaixo do que se esperava para o estudo. Sendo assim, ressalta-se que os processos de
tratamentos de lixiviados podem não alcançar os resultados esperados.
Além disso, é importante mencionar que o lixiviado é um efluente complexo e apresenta uma grande variabilidade em sua
composição ao longo do tempo. Portanto, não há uma simples e universal solução para o seu tratamento, sendo então
necessário combinar diversos processos para alcançar eficiência na remoção dos poluentes presentes no percolado (TELLES,
2010).

Considerações Finais
Os resultados obtidos sugerem que a aplicação de ozônio como pré tratamento do lixiviado de aterro sanitário é vantajoso,
visto que houve grande diminuição da cor do lixiviado analisado, alcançando a maior eficiência na maior dose de ozônio
aplicada. Entretanto, mais testes devem ser realizados visando aperfeiçoar as condições de operação do sistema, assim como
outras análises, buscando uma caracterização mais completa do efluente antes e após os tratamentos efetuados.
Pode-se concluir também que as concentrações de ozônio aplicadas não foram suficientes para remover a toxicidade do
efluente, analisando sob o ponto de vista do parâmetro fitotoxicidade. Sugere-se a aplicação de maiores doses, a fim de
determinar se somente a aplicação de ozônio seria suficiente para a redução da toxicidade do efluente, através da análise do
parâmetro de fitotoxicidade.

Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil
(CAPES), Código de Financiamento 001, da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul – FAPERGS, e
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).

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874
5SSS219
IMPACTOS DOS PROCESSOS HIDROSSEDIMENTOLÓGICOS NA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MAQUINÉ/RS
Danrlei de Menezes1, Masato Kobiyama2, Franciele Maria Vanelli3 & Luana Lavagnoli Moreira4
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail:d.menezes18@gmail.com; 2Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, e-mail: masato.kobiyama@ufrgs.br; 3Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail:
franciele.vanelli@ufrgs.br; 4Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: lavagnoliluana@gmail.com

Palavras-chave: Desastres naturais; erosão; movimentos de massa.

Resumo
A ocupação de regiões montanhosas tem crescido nos últimos anos no Brasil, associado também ao aumento de desastres
naturais hidrossedimentológicos, como os movimentos de massa e os processos relacionados a produção de sedimentos.
Ademais, as mudanças climáticas têm sido responsáveis pelo aumento da frequência de episódios extremos de chuva intensas
que, aliado as características montanhosas e a ocupação humana, tem causado grande desastres naturais. A região de estudo, a
bacia hidrográfica do rio Maquiné, localizada na região nordeste do estado do Rio Grande do Sul, é palco de ocorrência de
desastres naturais associados a eventos hidrossedimentológicos. Atualmente, essa bacia é ocupada principalmente por uma
população rural cuja atividade econômica principal é voltada para o horticultivo e o cultivo de milho, principalmente na
planície de inundação do rio Maquiné e dos arroios afluentes. Além disso, a grande amplitude de relevo da região, com
variação de aproximadamente 900 metros, e altas declividades promove o interesse turístico na região, devido à presença de
cascatas e da beleza natural desse relevo associado às florestas. Com relação à ocorrência desses desastres, vale destacar a
produção de sedimentos ocasionada por eventos que carregam grandes quantidades de sedimentos, seja pela erosão superficial
relacionadas as atividades agrícolas, ou pela ocorrência de movimentos de massa. Assim, o conhecimento sobre desastres
naturais e os processos hidrossedimentológicos envolvidos (dinâmica de água e de sedimentos) é de extrema importância para
a tomada de ações voltadas para mitigação dos impactos relacionados. Somado a isso, a divulgação dessas informações à
população local no sentido de promover a educação ambiental, reflete na prevenção e conscientização, reduzindo a
vulnerabilidade da população local a esses desastres.

Introdução

A comunidade do município de Maquiné, nordeste do estado do Rio Grande do Sul, convive diariamente com a
susceptibilidade a ocorrências de desastres hidrossedimentológicos. Para entender essa vulnerabilidade, primeiramente, é
necessário conhecer as características da região e observar áreas e pessoas que estão em risco.
A proximidade com o rio e a extensa planície de inundação da bacia hidrográfica do rio Maquiné favorecem o cultivo agrícola
em decorrência da disponibilidade de água e da fertilidade do solo. O elevado potencial agrícola em termos de fertilidade do
solo, textura e estrutura, entretanto é limitado pela topografia acidentada (GERHARDT et al., 2000).
Ainda assim, conforme ressaltado pelo mesmo autor, essas condições topográficas apresentam grande potencial,
principalmente turístico. Trilhas, cascatas e o contato direto com a natureza atraem uma grande quantidade de pessoas para
esses locais, que buscam descanso dos grandes centros urbanos.
Essas características promovem grandes benefícios à população local e, consequentemente, ao desenvolvimento econômico do
município. No setor agrícola, Maquiné é destaque no Litoral Norte do estado pela produção de alimentos, com destaque para
hortaliças e produtos orgânicos (RIO GRANDE DO SUL, 2016) e no setor de turismo, o município é favorecido pela
localização geográfica estratégica composta de lindas paisagens naturais (CASTRO e MELO, 2019).
Entretanto, essas características fisiográficas também influenciam negativamente a região. Isso porque expõe a população e os
turistas aos desastres hidrológicos. A alta declividade na região favorece a resposta imediata de eventos de chuva que podem
causar inundações bruscas e movimentos de massa. Além disso, as atividades agrícolas associadas a eventos de chuvas intensas
podem causar a degradação do solo, o assoreamento dos canais (PAGLIARI et al., 2017) e aumento dos processos de
eutrofização (WAGENA et al., 2018), uma vez que nutrientes podem estar aderidos às partículas de sedimentos
(PELLEGRINI; RHEINHEIMER; BATISTA, 2010).
Como já mencionado, o impacto da ocorrência de processos erosivos nos recursos hídricos tem sido enfoque para problemas
associados ao assoreamento de reservatórios, depauperamento da qualidade da água, reduzida infiltração e armazenamento de
água no solo, formação de enxurradas e baixa disponibilidade hídrica em períodos de estiagem. Neste sentido, a estimativa da

875
erosão bruta e o monitoramento da produção de sedimentos refletem a dinâmica que ocorre nas bacias vertentes e os processos
observados nos rios. Além disso, associado a ação antrópica, os impactos no ambiente podem ser intensificados em
decorrência das mudanças climáticas (ZHANG et al., 2019), responsáveis no aumento da ocorrência de eventos extremos
(OCHOA et al., 2016).
Dentre os efeitos dos movimentos de massa destaca-se a ameaça a vidas humanas. Os fluxos de detritos, por exemplo, podem
ser letais, por ocorrerem de maneira rápida e imediata, com alta velocidade de movimento, podendo incorporar matacões e
outros fragmentos. Além disso, podem mover objetos do tamanho de residências e podem enterrar estruturas, preenchendo-as
com rápido acúmulo de sedimentos e materiais orgânicos. Ainda, podem afetar a qualidade da água ao depositarem grandes
quantidades de silte e fragmentos.
Todos esses danos relativos a ocorrência dos movimentos de massa podem ocorrer em regiões rochosas ou de terra, áreas de
cultivo, taludes improdutivos e florestas naturais (HIGHLAND e BOBROWSKY, 2008). Esse fato aumenta o número de
pessoas suscetíveis ao perigo, principalmente em locais como a bacia hidrográfica do rio Maquiné, que possui todas as
características de suscetibilidade para a ocorrência de processos hidrossedimentológicos.
Nessa perspectiva, é necessário entender o comportamento de ocorrência desses processos. O conhecimento da frequência com
que esses eventos de diferentes magnitudes ocorrem é crucial para auxiliar na sua gestão. Eventos extremos e de alta
intensidade são raros e eventos de baixa a média intensidade ocorrem em grande parte do tempo. Assim, questiona-se: qual e
como é a contribuição de cada um para a produção de sedimentos em uma bacia hidrográfica? Entendendo esse fenômeno será
possível prever e minimizar os impactos dos processos hidrossedimentológicos? Esses questionamentos são base para a
caracterização dos processos e o desenvolvimento de modelos que visam a alertar e orientar as pessoas que estão nessas áreas
suscetíveis.
Sendo assim, para conciliar o desenvolvimento econômico, com a proteção ao ambiente e a população, é necessário
contemplar conhecimentos sobre os fenômenos naturais que ocorrem nesses ambientes e os riscos envolvidos. Conciliando
também com o planejamento e incentivo de medidas para o fortalecimento e manutenção dos agricultores e do crescimento do
turismo na região. Nesse sentido, o gerenciamento integrado dos recursos hídricos, das bacias hidrográficas e dos desastres
naturais associados à aplicação simultânea da socio-hidrologia e socio-tecnologia pode fornecer uma resposta mais efetiva para
a sociedade (KOBIYAMA et al., 2018).
Assim, o planejamento tem enfoque na escala local pois se atenta aos sistemas físicos e sociais locais e na escala global, pois
está conectado a um maior sistema de relacionamentos (ASPRANE e MANFREDI, 2014). Mediante isso, esse trabalho
objetiva demonstrar a importância em se prever os processos hidrossedimentológicos, mais especificamente, erosão superficial
e os movimentos de massa, em uma bacia hidrográfica de ambiente montanhoso.

Localização geográfica e fragilidade ambiental

A bacia hidrográfica do rio Maquiné consiste predominantemente pelo município de Maquiné e por parte do município de São
Francisco de Paula no estado de Rio Grande do Sul. Considerando os dados censitários baseados em delimitações políticas, em
2010 a população de Maquiné era de 6.905 habitantes, com tendência de decréscimo para 2019, estimando-se 6.714 habitantes
(IBGE, 2019). Do total de habitantes, 70% da população reside na área rural (IBGE, 2010), cuja principal atividade econômica
é agropecuária com destaque ao horticultivo e cultivo de milho (IBGE, 2017) Segundo Gerhardt et al. (2000), a grande maioria
das propriedades agrícolas pode ser considerada familiar e para subsistência.
Situada a nordeste do estado do Rio Grande do Sul, a bacia hidrográfica do rio Maquiné apresenta área de drenagem de 510
km² (Figura 36). Essa bacia se insere na bacia hidrográfica do rio Tramandaí e está situada em uma área de transição da
formação Serra Geral, nas suas cabeceiras e encostas, e da formação Botucatu na margem esquerda do rio Maquiné (CASTRO
& MELLO, 2019). Possui uma grande variação altimétrica desde as nascentes, com cerca de 900 m de altitude, até a foz na
Lagoa dos Quadros, aproximadamente 3 m de altitude acima do nível do mar. O clima, segundo a classificação Köppen, é Cfa
(subtropical úmido, com verões quentes e invernos frios e temperado úmido com verão temperado). Além disso, a região
apresente forte influência orográfica por sua localização e proximidade ao mar (GODOY et al., 2017).
A bacia é caracterizada por apresentar grande fragilidade ambiental dada pela alta declividade, solos rasos nas encostas e pela
presença de uma extensa planície fluvial suscetível à inundação. Essa declividade conduz as águas com elevada energia e
sedimentos de grande porção (tamanho) que causam erosão do fundo do vale. Isto é o motivo que justifica o relevo escarpado.
À medida que essas águas escoam pela planície, a velocidade de escoamento diminui até atingir a sua foz, favorecendo a
deposição dos sedimentos.

876
Figura 36 - Localização da bacia hidrográfica do rio Maquiné.

877
A bacia do rio Maquiné é cenário de muitos fenômenos naturais, desencadeados por chuvas intensas (Figura 3). Tais eventos
repercutem em prejuízos ao município de Maquiné. Destaca-se as ocorrências de inundações bruscas em 2007, marcado por
intensas chuvas e grande prejuízo para o município gerando dois decretos de emergência, emitidos pela Defesa Civil (BRASIL,
2016). Já no evento ocorrido em janeiro de 2017, os moradores do distrito de Barra do Ouro ficaram isolados, pois as águas do
rio invadiram a única estrada de acesso, impedindo a passagem de veículos (GRUPO RBS, 2017). A passagem dos moradores
foi possível somente por uma ponte suspensa de madeira, conforme apresentado na Figura 3 , onde também é possível observar
a coloração das águas indicando elevada concentração de sedimentos em suspensão.
Além disso, no município vizinho, Rolante, a ocorrência de chuvas intensas e bem localizadas foram responsáveis por
escorregamentos, fluxos de detritos e inundações bruscas em janeiro de 2017. Os prejuízos econômicos, estimados em R$70
milhões, e sociais decorridos desse fenômeno repercutiram na necessidade do conhecimento e gerenciamento dos desastres
(PAIXÃO et al., 2018).
Esses fatos justificam a pesquisa científica nessa região, já que a bacia é caracterizada por fortes processos
hidrossedimentológicos, com frequentes movimentos de massa e inundações que podem afetar direta ou indiretamente a
população local e os turistas, e consequentemente, as práticas agrícolas e o ecoturismo. Ademais, é importante destacar que
somente durante esses eventos é que ocorrem alterações perceptíveis nos cursos d’água. Na Figura 3a e 3b é demonstrado as
típicas paisagens durante evento de chuva e durante período seco, respectivamente

Figura 2 – Ocorrência de escorregamentos em encosta na bacia do rio Maquiné. Fonte: ANAMA.

878
Figura 3 – Paisagens típicas da bacia. a) Ponte sobre o rio Maquiné próximo ao distrito Barra do Ouro em janeiro de
2017. Fonte: Grupo RBS, Eduardo Matos; b) Água translúcida indicando baixa concentração de sedimentos suspensos
no Arroio Forqueta em 17/08/2019, próximo ao Camping e Pousada Pico da Galera. Fonte: Os autores.

Impactos dos processos hidrossedimentológicos

A maioria dos estudos de erosão do solo se concentra em um único processo de erosão (POESEN, 2018). No entanto, em
muitos ambientes, vários processos erosivos operam ao mesmo tempo e podem interagir uns com os outros, resultando em um
reforço ou compensação das taxas gerais de perda de solo. Geralmente, a combinação e as interações entre a erosão superficial
e movimentos de massa resultam em grandes quantidades de sedimentos que envolvem a erosão superficial, o transporte de
sedimentos finos e grosseiros no canal, o fluxo de detritos e os escorregamentos de terra. Ambos são causados pela ação da
chuva e podem ser responsáveis pela degradação do solo.
Nesse sentido, a resistência do solo à erosão depende de fatores extrínsecos e intrínsecos ao solo, que são considerados as
propriedades físicas (textura, estrutura, permeabilidade, densidade), químicas, mineralógicas e biológicas do solo, e os fatores
intrínsecos que englobam o comprimento, a forma, o declive de rampa, associado ao tipo de cobertura do solo.
Geralmente, dados sobre taxas de erosão para eventos individuais ou anuais para determinados locais mostram uma
distribuição altamente variada com um grande número de eventos de magnitude muito baixa produzindo quantidades
moderadas de perda de solo e um pequeno número de eventos de magnitude mais alta (WOLMAN & MILLER, 1960). Durante
um longo período, a maior parte da erosão ocorre durante eventos de magnitude e frequência moderados, simplesmente porque
eventos extremos ou catastróficos são pouco frequentes para contribuir consideravelmente com a quantidade de solo erodido.
Entretanto, essa suposição ainda não foi verificada em uma única área de estudo considerando todos os processos
hidrossedimentológicos relacionados à produção de sedimentos os quais este ambiente pode oferecer. Assim, supõe-se que a
relação magnitude-frequência pode ser representada por uma das alternativas mostradas na Figura 4.
Qualquer alteração nos diferentes componentes da natureza (relevo, solo, vegetação, clima e recursos hídricos) acarreta o
comprometimento da funcionalidade do sistema, quebrando o seu estado de equilíbrio dinâmico. Estas variáveis tratadas de
forma integrada possibilitam obter um diagnóstico das diferentes categorias hierárquicas da fragilidade dos ambientes naturais
(SPÖRL e ROOS, 2004). Assim, a seguir, serão descritos os principais impactos referentes aos processos de erosão superficial
e movimentos de massa.

879
Figura 4 –Relação entre frequência e magnitude dos eventos hidrossedimentológicos.

Erosão superficial

As mudanças climáticas têm afetado a agricultura nos últimos anos. O crescimento na frequência de eventos extremos, como
secas e inundações, associados ao uso indiscriminado do solo são responsáveis pela degradação de áreas de cultivo agrícola
(IPCC, 2014).
Isso ocorre devido a uma série de fatores, sendo destaque o incremento populacional associado a ocupação de áreas irregulares
para a agricultura (necessidade de maior produção de alimentos) e a constante ocorrência de eventos extremos. Além disso, a
agricultura é uma das atividades de maior impacto ambiental, entre os danos causados se destacam a poluição do solo e da
água devido a utilização de herbicidas e fertilizantes, a destruição de áreas florestais para implantação de culturas agrícolas e a
drenagem de áreas úmidas. Além do avanço sobre áreas de preservação permanente em torno dos rios gerando assim pressão
sobre os recursos naturais.
A ocorrência dos eventos extremos pode ser responsável pela desagregação de partículas do solo causada pelo impacto da gota
d’água da chuva, com alta energia cinética, e pela ação do escoamento superficial capaz de transportar as partículas de
sedimento do solo. A energia cinética do impacto das gotas de chuva na superfície do solo e a energia cinética cisalhante do
escoamento superficial são os principais agentes causadores da erosão hídrica (DENARDIN et al., 2005).
Nesse sentido, a erosão superficial é uma das principais causas da degradação dos solos. A interação de diversos fatores como
a erosividade das chuvas, a erodibilidade do solo, o grau e o comprimento do declive, o manejo do solo e de culturas, e as
práticas conservacionistas complementares atuam diretamente sobre a intensidade dos impactos gerados pela erosão
superficial. As áreas mais vulneráveis são regiões com solo exposto, geralmente relacionados a produção agrícola, uma vez
que o processo de preparo do solo compreende as etapas de exposição e revolvimento, tornando-o suscetível à ação climática.
Com a ocorrência da chuva, o solo pode ser desagregado (sedimentos) e, então, carregado pela ação do escoamento superficial,
podendo atingir os corpos d’águas, como rios, arroios, lagoas e áreas alagadas. Além disso, no sedimento podem estar aderidos
nutrientes e herbicidas utilizados nas lavouras, que estão relacionados aos problemas de eutrofização e de qualidade a água de
abastecimento.
Esses sedimentos também são responsáveis pelo assoreamento dos canais e reservatórios. Neste caso, o rio Maquiné desagua
na lagoa dos Quadros (Figura 1), a qual é objeto de todo o aporte de sedimentos do rio que não depositou na calha ou nas
depressões da bacia. Isso pode se tornar um grande problema ambiental, desde a aceleração dos processos de eutrofização até a
diminuição da vida útil da lagoa. Esses problemas, além de afetarem o sistema biótico da lagoa, também repercutem na
utilização da lagoa pela população local e turistas como área de pesca e recreação.
Assim, é importante destacar que os problemas que acontecem nas planícies (que incluem as áreas agrícolas) não afetam
somente o local onde estão inseridas, mas também as áreas a jusante. Isso necessita a conscientização da população sobre os
processos hidrossedimentológicos que ocorrem nessas áreas.

880
Movimentos de massa

Embora o movimento de massa tenha sido amplamente estudado por geólogos, geomorfólogos e engenheiros, geralmente é
negligenciado no contexto da erosão do solo. Eles ocorrem menos frequentemente do que a erosão superficial do solo, cerca de
uma a cada dezenas ou centenas de anos. No entanto, a quantidade de sedimentos movidos das encostas para os rios por
movimento de massa é muito superior à contribuição de voçorocas, riachos e fluxo terrestre (MORGAN, 2005).
Eles podem ser definidos como um movimento de descida de rocha, solo, ou ambos, em declive, que ocorre na ruptura de uma
superfície - ruptura curva (escorregamento rotacional) ou ruptura plana (escorregamento translacional) — na qual a maior parte
do material move-se como uma massa coesa, com pequena deformação interna (HIGHLAND e BOBROWSKY, 2008).
Nesse sentido, áreas montanhosas apresentam alta declividade e rapidez de resposta frente a um evento de chuva. Essas
características associadas à instabilidade das encostas e à ocorrência de eventos extremos (grande pluviosidade) podem ser
responsáveis pela ocorrência de movimentos de massa.
Na região de Maquiné, a geologia local formada pela escarpa da Serra Geral contorna o Planalto dos Campos Gerais com um
relevo de transição entre este planalto e a planície costeira, apresentando declividade acentuada (declividade entre 25º e 45º),
depósitos de tálus e de colúvios nas baixas vertentes, amplitude de relevo superior a 300 metros, solos rasos e afloramentos de
rocha. Estas características tornam a região muito suscetível a movimentos de massa do tipo escorregamento translacional
seguidos de fluxo de lama e de detritos, provocando grandes danos materiais (VIERO; SILVA, 2010). Dependendo da
presença de pessoas, esses fenômenos tornam-se grandes desastres naturais com perda de vidas humanas.
Os movimentos de massa são condicionados de forma direta ou indireta pela morfologia da encosta. Existe uma correlação
direta entre a declividade e os locais de movimentos de massa. Os escorregamentos translacionais observados na Serra do Mar
por exemplo, estão associados às encostas retilíneas com inclinações superiores a 30º (SANTOS, 2004). No entanto, os
escorregamentos não ocorrem necessariamente nas encostas mais íngremes. A atuação indireta da morfologia da encosta está
relacionada ao seu formato, que determina a convergência ou a divergência dos fluxos de água subterrânea e de superfície.
De acordo com o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais elaborado pelo Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre
Desastres - CEPED (2012), do ano de 1991 até 2012 no Brasil aproximadamente 7 mil pessoas foram de alguma forma
afetadas pelos deslizamentos de solo e/ou rocha, três pessoas foram fatalmente atingidas, 90 ficaram desabrigadas e 1.784
foram desalojadas. Esses dados são extremamente importantes, visto que no Brasil não há políticas de gestão desastres desses
fenômenos. A maioria das pessoas não possui experiência para enfrentar movimentos de massa. Em geral, enfrentar esse
fenômeno é mais complexo e difícil do que enfrentar inundações (KOBIYAMA et al., 2018). Dessa forma, fica evidente a
necessidade de atenção aos desastres relacionados à sedimentos, dedicando-se às pesquisas sobre movimentos de massa.
A maioria das pessoas que vivem em regiões de montanha não acredita que possam ser atingidas por movimentos de massa.
Assim como, muitos turistas que exploram a montanha não reconhecem o elevado potencial da ocorrência desse fenômeno.
Desse modo, os mapas de risco, elaborados por meio de modelos computacionais (MICHEL; GOERL; KOBIYAMA, 2014) ou
por outros métodos, devem ser apresentados à população, a fim de demonstrar o perigo real desses processos. Essa
conscientização certamente reduzirá a vulnerabilidade da população.

Conclusões

A bacia hidrográfica do rio Maquiné possui grande potencial agrícola e turístico. Entretanto, as condicionantes geológicas e
geomorfológicas associadas a ocorrência de chuvas intensas desencadeiam processos hidrossedimentológicos que podem ser
intensificados pela ação antrópica. Fortalecer e manter os agricultores na região bem como fomentar o turismo na região
contribui para o desenvolvimento econômico do município. Entretanto, é necessário atentar à proteção às pessoas e ao
ambiente. A ocupação dos ambientes montanhosos pelo ser humano sem planejamento e sem conhecer os riscos pode resultar
em desastres naturais com prejuízos materiais ou, até mesmo, danos à vida humana.
Portanto, considerando a importância econômica dessa região, é necessário compreender a frequência com que esses eventos
de diferentes magnitudes ocorrem. Esse fato indica a necessidade de desenvolver pesquisas científicas para entender os
mecanismos desses fenômenos naturais e as providências necessárias para reduzir os impactos relacionados. Isso envolve o
monitoramento hidrossedimentológico e ações de educação ambiental. Dessa forma, as atividades agrícolas e de turismo
podem ser desenvolvidas com planejamento e as pessoas envolvidas podem receber conhecimento sobre os riscos das áreas
suscetíveis e instruções de como proceder em casos de perigo.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao apoio financeiro fornecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e ao Programa de apoio ao Ensino e à
Pesquisa Científica e Tecnológica em Regulação e Gestão de Recursos Hídricos – Pró-Recursos Hídricos - Chamada N°

881
16/2017, CAPES - ANA.

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883
5SSS220
EFEITO DE SURFACTANTE ANIÔNICO SOBRE O COEFICIENTE
DE REAERAÇÃO SUPERFICIAL
Murilo de Souza Ferreira1, Julio Cesar de Souza Inácio Gonçalves2, Thiago Vinicius Ribeiro Soeira3,
Deusmaque Carneiro Ferreira4, Mário Sergio da Luz5, Cristiano Poleto6
1Universidade de São Paulo, e-mail: sfmurilo1@gmail.com; 2Universidade Federal do Triângulo Mineiro, e-mail:
sigjulio@gmail.com; 3Universidade Federal do Triângulo Mineiro, e-mail: tvribeiro88@hotmail.com;
4Universidade Federal do Triângulo Mineiro, e-mail: deusmaque@hotmail.com; 5Universidade Federal do
Triângulo Mineiro, e-mail: mariosergiodaluz2013@gmail.com; 6Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-
mail: cristiano.poleto@ufrgs.br

Palavras-chave: reaeração superficial; surfactantes, modelagem da qualidade da água

Resumo
A reaeração superficial é um importante fenômeno que ocorre nos escoamentos naturais, uma vez que ela é a principal
responsável pela recuperação dos níveis de oxigênio dissolvido (OD). Ela pode ser quantificada pelo coeficiente de reaeração
(K2). Os modelos utilizados para previsão e avaliação da concentração de OD são na maioria dos casos sensível ao K2, logo,
uma estimativa incorreta desse coeficiente pode conduzir a prejuízos de natureza econômica e ambiental. O K2 é influenciado
por diversos fatores como: hidrodinâmica do escoamento, temperatura da água, e presença de surfactantes no meio. Apesar dos
avanços no entendimento de como a hidrodinâmica na interface influencia a reaeração, poucos estudos investigaram o efeito
dos surfactantes sobre o K2. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do surfactante Dodecil Sulfato de Sódio (SDS) sobre
o coeficiente de reaeração. A escolha deste surfactante deve-se ao fato de que ele está presente na maioria dos detergentes
comerciais e, consequentemente, é encontrado no ambiente aquático. Os experimentos de reaeração foram realizados em um
reator cilíndrico com agitador mecânico tipo turbina e em um canal hidráulico circular. No total foram realizados 15
experimentos de reaeração no reator cilíndrico. Cada experimento foi caracterizado pelo par: concentração de SDS (0,0; 0,25;
0,50; 1,0; 1,5 mMol L-1) e velocidade de rotação (25, 50 e 100 rpm) do agitador. No canal hidráulico circular, os experimentos
foram realizados em triplicata, considerado quatros níveis de agitação da água (número de Reynolds): 4.500, 37.500, 49.200,
54.000. Contudo, apenas duas concentrações de SDS foram utilizadas: concentração zero e a concentração que produziu maior
efeito sobre K2 nos ensaios realizados no reator cilíndrico (1,5 mMol L-1). No total, 24 experimentos foram realizados no canal.
Os resultados, no reator, mostraram que, independente do nível de agitação da água, o surfactante reduziu o coeficiente de
reaeração, em aproximadamente 20%, quando a concentração de SDS atingiu 1,5 mMol L-1. Esta redução ocorreu devido à
formação de um filme superficial na interface que dificultou a transferência do oxigênio do ar para a água. Este fenômeno é
conhecido como efeito barreira. Por outro lado, no canal hidráulico, a redução de K2 (aproximadamente 15%) ocorreu apenas
para os níveis de maior turbulência (Reynolds = 49.200 e 54.000). Isso pode ser explicado pelo fato de que, na presença de
surfactantes e em baixos níveis de turbulência, fenômenos que aumentam o K2 (i.e., efeito de Marangoni) podem coexistir com
fenômenos que reduzem K2 (i.e., efeito barreira). Este estudo mostrou que a presença de SDS em corpos d’água deve ser
considerada na estimativa do coeficiente de reaeração superficial, uma vez que este surfactante reduz a transferência de
oxigênio para água. A não consideração de SDS nos corpos d’água pode conduzir a superestimativa do K2 em até 20%,
dependendo do valor da concentração de SDS e do nível de turbulência do escoamento.

Introdução
A transferência de gases através da interface ar-água constitui uma importante etapa dos ciclos biogeoquímicos de
numerosas substâncias (hélio, nitrogênio, carbono e oxigênio) e, por isso, é frequentemente necessária em muitos campos da
ciência e engenharia (Janzen et al., 2008). Recentemente, devido ao aumento da preocupação com o aquecimento global, há
um intenso interesse no estudo da transferência, entre a atmosfera e a água, de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de
efeito estufa. Estima-se que 30 a 40% do CO2 emitido pelas atividades humanas é absorvido pelo oceano; entretanto, essa
estimativa é significativamente afetada pela incerteza na previsão da taxa de transferência de gases na interface ar-água
(Banerjee, 2007).
Mesmo no contexto atual, que impõe o estudo dos gases ligados aos efeitos de aquecimento atmosférico, atenção especial
ainda deve ser mantida para a transferência de oxigênio (Janzen et al., 2008). Na prática, o interesse neste assunto relaciona-se
à modelagem da dinâmica do oxigênio dissolvido (OD) a jusante de fontes orgânicas de poluição; uma vez que o processo de
biodegradação dos resíduos orgânicos provoca o decaimento da concentração de OD (Mateus et al., 2015). Em rios, a principal

884
fonte para o restabelecimento do OD é a transferência de oxigênio na interface ar-água. Este fenômeno é também conhecido
como reaeração superficial. O avanço no conhecimento da absorção de oxigênio pelo corpo d’água resulta em uma melhora na
quantificação da taxa de reaeração, a qual é parâmetro essencial dos modelos de qualidade da água, nos quais se baseiam as
análises ambientais e de recuperação de corpos hídricos (Gonçalves et al., 2017; Gonçalves et al., 2018; Ferreira et al., 2019).
A transferência de gases é controlada por uma complexa interação entre difusão molecular e fenômenos turbulentos junto
à interface. Assumindo que o processo de transferência é horizontalmente homogêneo, a taxa de massa de oxigênio através da
interface ar-água é usualmente expressa por:

(1)

em que: V é o volume do corpo d’água, A a área da interface ar-água, C a concentração de OD, Cs a concentração de saturação
de OD, KL o coeficiente de transferência de massa de OD, e t o tempo. A relação KLA/V é denominada coeficiente de
reaeração superficial, a qual é normalmente representada pelo parâmetro K2.

Desde o início do século XX, diversos pesquisadores realizaram esforços com o objetivo de entender o processo de
transferência de massa de oxigênio e desenvolver modelos conceituais e empíricos capazes de relacionar o coeficiente K2 a
parâmetros físicos do escoamento (Lewis e Whitman, 1994; Moog e Jirka, 1999; Gualtieri et al. 2002; Herlina, 2005). Apesar
dos avanços no entendimento de como a hidrodinâmica na superfície livre influencia a transferência interfacial de massa,
poucos estudos investigaram o efeito de filmes superficiais como, por exemplo, os compostos surfactantes (ou tensoativos)
sobre o K2. A maioria das pesquisas destaca que a presença de surfactantes pode reduzir o coeficiente K2, devido à formação
de um filme superficial que dificulta a transferência do oxigênio atmosférico para o meio líquido (Rosso et al., 2006;
Jamnongwong et al., 2010). Enquanto outras pesquisas reportaram que a presença de surfactantes aumenta a variabilidade de
K2 em diferentes níveis de turbulência (Mackenna e Mcgillis, 2004).
Os compostos surfactantes são frequentemente empregados na fabricação de fármacos, cosméticos e detergentes
(Moraveji et al., 2011). Eles atingem o corpo d’água devido ao lançamento de águas residuárias (sem ou com algum tipo de
tratamento). No meio aquoso, os surfactantes possuem duas formas: monômeros e micelas. Os monômeros possuem regiões
hidrofílicas e hidrofóbicas. As micelas são grandes agregados de monômeros de dimensões moleculares. A concentração de
surfactantes na qual elas são formadas é denominada concentração micelar crítica (CMC). Acima da CMC, o filme superficial
passa a ser praticamente homogêneo e a força de coesão das moléculas de surfactante junto à superfície torna-se pouco alterada
(Behring et al., 2004)
O estudo do efeito de surfactantes sobre a transferência de oxigênio na interface ar-água deve ser realizado em
laboratório, onde é possível isolar a influência de outros fatores sobre o fenômeno de transferência (e.g., temperatura,
salinidade da água, pH, etc). Adicionalmente, em laboratório é possível realizar um estudo mais sistemático a partir da
variação da concentração da substância analisada e da variação do nível de turbulência na superfície.
O estudo de reaeração superficial em laboratório exige a utilização de sistemas de agitação da água (e.g., tanques com
grade oscilante, tanques com agitador mecânico tipo turbina, canais hidráulicos com recirculação e tanques agitados por jatos).
A justificativa básica para o uso desses equipamentos é que eles geram turbulência de forma controlada, adicionada ao fato de
que a turbulência atinge a superfície por propagação, de baixo para cima, similarmente ao que ocorre em alguns ambientes
naturais, preferencialmente em rios (Janzen et al., 2008).
Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo atender uma demanda relacionada ao estudo da transferência de
massa de oxigênio e o efeito de compostos surfactantes sobre o K2. O composto com característica tensoativa analisado foi o
Dodecil Sulfato de Sódio (SDS) que é um surfactante aniônico presente na maioria dos detergentes comerciais e,
consequentemente, é comumente encontrado no ambiente aquático. Para tanto, experimentos de reaeração foram realizados em
um reator com agitador mecânico tipo turbina e em um canal hidráulico circular, em concentrações de surfactantes que foram
desde zero até a CMC.

Material e Métodos

Aparatos e Reagentes
Os experimentos foram realizados em um reator cilíndrico com agitação mecânica tipo turbina e em um canal hidráulico
circular (Figura 1).

885
Figura 1: Aparatos experimentais: (a) reator cilíndrico com agitador mecânico, (b) corte longitudinal do canal
hidráulico circular, (c) vista superior do canal hidráulico circular

O reator tinha diâmetro de 0,135 m e volume de 2 L. Um agitador tipo turbina, com duas lâminas, foi usado para
controlar a turbulência interfacial por meio do ajuste da velocidade de rotação, a qual variou na faixa 25 rpm a 100 rpm.
O canal hidráulico circular foi construído com polímero reforçado com fibra de vidro. A água foi recirculada com o uso
de um sistema moto-bomba de 0,25 cv de potência, em dois pontos de sucção e recalque, distribuídos ao longo do perfil
longitudinal do canal.
A turbulência proporcionada pelos jatos que tangenciavam o fundo produziu o escoamento da água. O canal funcionou
em circuito fechado, sem interrupção da superfície livre, e os experimentos foram realizados por um período de 3 a 8 horas,
sendo que o fenômeno da reaeração e a ação do surfactante estivessem limitados somente à superfície livre do canal.
A estabilização da temperatura durante os experimentos foi realizada por meio de um trocador de calor tipo serpentina,
fixado junto à parede interna do canal e abastecido constantemente com água gelada. Para a obtenção de diferentes velocidades
(U) e níveis de turbulência, foi instalado na tubulação de recalque um registro. A velocidade do escoamento foi medida com o
uso de um micromolinete (acurácia de 1%) em seis diferentes pontos ao longo do canal, e na profundidade equivalente a 50%
da lâmina d’água. Os diferentes níveis de turbulência foram caracterizados de acordo com o número de Reynolds (Equação 2).
A descrição das condições hidráulicas estabelecidas no canal é mostrada na Tabela 1.

(2)

em que: U é a velocidade do escoamento (m s-1), H a profundidade (m) e ν a viscosidade cinemática (m2 s-1).

886
Tabela 1: Condições hidráulicas estabelecidas no canal hidráulico circular
Volume
Experimentos U (m s-1) Rey (-) H (m)
(L)
1 0,03 4.500 0,15 32,6
2 0,25 37.500 0,15 32,6
3 0,41 49.200 0,12 26,4
4 0,60 54.000 0,09 20,2
Durante todos os experimentos, os aparatos foram mantidos em uma sala, com temperatura controlada. O oxigênio
dissolvido e a temperatura da água foram medidos com o uso de uma sonda multiparâmetros (Hach modelo HQ40D) com
sensor LDO 101 acoplado (exatidão 0,1 mg L-1).
O surfactante aniônico utilizado nos experimentos de reaeração foi o Dodecil Sulfato de Sódio (SDS), ultrapuro (Sigma
Aldrich, 99%). A CMC do surfactante foi determinada por Mateus et al. (2019), utilizando o método da condutividade elétrica.
Eles mostraram que, para água usada neste estudo (i.e., água de torneira com salinidade de 80 mg L-1), a CMC está na faixa de
1,5 a 1,6 mMol L-1.

Experimentos de Reaeração Superficial


Os experimentos de reaeração foram realizados sob pressão atmosférica (938,2 hPa). As soluções eram preparadas nos
próprios aparatos, misturando o sal de SDS no fluido base (água de torneira, salinidade de 80 mg L-1).
Os experimentos de reaeração foram realizados usando a técnica do distúrbio do equilíbrio. Inicialmente, o oxigênio
dissolvido era removido da solução usando nitrogênio gasoso (método de Stripping). Quando a concentração de oxigênio
atingia valores próximos a 2 mg L-1, a mangueira de nitrogênio era retirada do aparato e iniciava-se a etapa de reaeração. O
experimento era interrompido quando a concentração de OD aproximava-se de concentração de saturação. A concentração de
saturação variou de 6,5 a 8,0 mg L-1, uma vez que ela é função da temperatura da solução, salinidade e pressão atmosférica.
O ajuste da solução analítica da Equação 1 aos dados observados e, consequentemente, a estimativa de K2 foi realizada
com uso da técnica de análise de regressão não-linear. A solução analítica da Equação 1 é:

(3)

em que C(t) é a concentração de OD em determinado tempo (mg L-1), CS concentração de saturação de OD na água (mg L-1),
C0 a concentração inicial de OD (mg L-1), K2 coeficiente de reaeração (dia-1), t o tempo (dia).

A variação da temperatura da água em cada experimento foi menor do que 3ºC. Todos os valores de K2 foram corrigidos
para a temperatura de 20ºC. Para isso, a equação de Arrhenius simplificada foi utilizada:

(4)

em que T é a temperatura média da água nos experimentos de reaeração (oC), θ é o coeficiente de correção da temperatura,
cujo valor adotado foi de 1,0241, como recomendado por Elmore e West (1961).

No total foram realizados 15 experimentos de reaeração no reator cilíndrico. Cada experimento foi caracterizado pelo par:
concentração de SDS (0,0; 0,25; 0,50; 1,0; 1,5 mMol L-1) e velocidade de rotação (25, 50 e 100 rpm). A duração dos
experimentos variou de (12 horas a 18 horas). Os experimentos realizados neste reator foram utilizados para identificar qual
concentração de SDS produz maior efeito sobre o K2.
No canal hidráulico circular, os experimentos foram realizados em triplicata para cada número de Reynolds. Contudo,
apenas duas concentrações de SDS foram utilizadas: concentração zero e a concentração que produziu maior efeito sobre K2
nos ensaios realizados no reator cilíndrico. No total, 24 experimentos foram realizados no canal, com duração que variou de
1,5 a 8,0 horas.
A avaliação do efeito do SDS sobre o K2 foi realizada por meio do fator α (Equação 5). Essa metodologia de avaliação
gerou resultados consistentes em pesquisas desenvolvidas por Gillot et al. (2000) e Jamnongwong et al. (2010). Se α é igual a
1, significa que o surfactante não influencia no fenômeno de reaeração. Quando α é maior do que 1, o surfactante acelera a
transferência de massa de oxigênio para a água, e quando α é menor do que 1, significa que o surfactante representa uma
resistência à transferência de oxigênio.

887
(5)

em que: α é o fator de relação entre os K2 da água com e sem SDS (adimensional).

Resultados e Discussão

Reaeração Superficial
Na Figura 2 são mostradas as curvas de reaeração superficial, sem SDS, geradas em diferentes velocidades de rotação do
agitador mecânico (Figura 2a), e diferentes números de Reynolds do canal hidráulico circular (Figura 2b). Observa-se o
excelente ajuste entre a Equação 2 e os dados experimentais. O ajuste apresentou R2 > 0,96 para todos os experimentos. Com
base neste resultado, a Equação 2 pode ser usada para modelar o fenômeno de reaeração superficial nos aparatos usados neste
estudo. Nota-se também que as curvas de reaeração atingem a concentração de saturação de OD mais rápido à medida que o
nível de agitação se eleva no reator cilíndrico (i.e., aumento da velocidade de rotação da turbina) e no canal hidráulico circular
(i.e., aumento do número de Reynolds). Quanto maior a agitação maior a turbulência interfacial. Essa turbulência tem um papel
fundamental para a troca de oxigênio na interface, uma vez que ela reduz a espessura da camada limite, aumentando o
gradiente de concentração e, consequentemente, a difusão do oxigênio na água (Janzen et al., 2010; Zhang et al., 2013).

Figura 2: Curvas de reaeração superficial. (a) reator cilíndrico com agitação mecânica tipo turbina e (b) canal
hidráulico circular

Efeito do surfactante SDS sobre o coeficiente de reaeração superficial


Na Figura 3 são apresentados os valores do coeficiente de reaeração para o reator, considerando os três níveis de
turbulência analisados e as cinco concentrações de SDS. Adicionalmente são mostrados também o fator de relação α.

888
Figura 3: Efeito do SDS sobre o coeficiente de reaeração no reator cilíndrico com agitação mecânica tipo turbina

É possível observar que, para concentrações de até 0,5 mMol L-1, o SDS tem pouco efeito sobre K2. Entretanto, em todos
os níveis de agitação, o valor de K2 diminuiu, em torno de 20% (α = 0,8), quando a concentração de SDS atingiu a
concentração micelar crítica (SDS = 1,5 mMol L-1). Resultados semelhantes a essa redução do K2 na zona da CMC foram
obtidos por Rosso et al. (2006), que realizaram experimentos de reaeração por ar difuso, e obtiveram uma redução do K2 de
aproximadamente 30 a 70% para a água pura. A maior redução nesta faixa de concentração pode ser explicada pelo fato de que
o filme superficial, responsável pela resistência a transferência de massa de oxigênio, está completamente formado quando a
concentração de surfactante atinge a CMC, como apresentado por (Santos et al., 2007). Um esquema para mostrar a ocupação
da superfície pelas moléculas do surfactante é mostrado na Figura 4. Observa-se que, para concentrações inferiores à CMC, o
filme superficial não está completamente formado. Por outro lado, na CMC, toda a superfície livre está ocupada pelas
moléculas do surfactante. Essa condição reduz o coeficiente de difusão de oxigênio, conforme mostrado por Jamnongwong et
al. (2010) e Jimenez et al. (2014). Adicionalmente, o filme superficial pode reduzir o número de movimentos de rompimento
de superfície, os quais são resultado de turbilhões que atingem a superfície de modo randômico (Mckenna e Mcgillis, 2004).
Esses movimentos são essenciais para renovação da superfície e transferência de oxigênio na interface. A resistência causada
pelo filme superficial a transferência de oxigênio é conhecida como efeito barreira.

Figura 4: Esquema representativo do comportamento das moléculas de SDS na interface ar-água

889
A Figura 5 mostra os valores de α para o canal hidráulico circular quando a concentração de SDS atinge a CMC (1,5
mMol L-1). É possível observar que os menores valores de α (aproximadamente 0,85) foram obtidos quando o escoamento no
canal estava mais turbulento (Reynolds 49.200 e 54.000). Nota-se que, para os menores valores de Reynolds, o SDS não
produziu efeitos sobre o K2 (α = 1). Isso pode ser explicado pela existência de um outro fenômeno sobre a transferência de
oxigênio, além do efeito barreira produzido pelo filme superficial. Este fenômeno é conhecido como efeito de Marangoni. Ele
ocorre em baixos números de Reynolds e atua no sentido de acelerar a transferência de oxigênio, contrariamente ao efeito
produzido pelo filme superficial. Zhang et al. (2013) mostrou que o efeito de Marangoni só é significativo em baixos níveis de
agitação da água e ocorre devido à formação de um gradiente de tensão superficial próximo à superfície. Em elevados níveis de
turbulência, o efeito Marangoni torna-se insignificante.

Figura 5: Efeito do SDS sobre α no canal hidráulico circular

O gradiente de tensão superficial, formado pela existência de um gradiente de concentração de SDS, produz movimentos
convectivos na camada limite da interface ar-água, que por sua vez, renova a superfície aumentando a transferência de
oxigênio (Zhang et al., 2013). Um diagrama esquemático das correntes convectivas formadas pelo efeito de Marangoni na
interface é mostrado na Figura 6.

Figura 6: Esquema representativo do efeito Marangoni na interface ar-água na presença de surfactante

Comentários finais
Este trabalho avaliou o efeito do surfactante SDS sobre o fenômeno de reaeração superficial. Para tanto, foi utilizado um
reator com agitação mecânica tipo turbina e um canal hidráulico circular. As principais conclusões são:

890
 O SDS reduz o coeficiente de reaeração superficial em torno de 20% no reator e 85% no canal hidráulico circular;
 A maior redução ocorre quando a concentração de SDS atinge a CMC. Nesta condição, a interface ar-água está
totalmente ocupada pelas moléculas de SDS e, por isso, o efeito barreira é máximo; e
 Em baixa turbulência, o efeito do SDS sobre o coeficiente de reaeração é inexistente, já que, para esta condição,
coexistem fenômenos que reduzem (efeito barreira) e aumentam (efeito Marangoni) o coeficiente de reaeração
superficial.
O SDS é um surfactante presente em vários detergentes comerciais. Este estudo mostrou que a presença desse composto
deve ser considerada na estimativa do coeficiente de reaeração superficial, uma vez que este é um importante parâmetro dos
modelos de qualidade da água, os quais são usados para a estimativa da capacidade de autodepuração de escoamentos naturais.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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892
5SSS221
INDICADORES DE PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO SOBRE O
ESGOTO APLICADOS À GESTÃO DA OCIOSIDADE DE REDES
Débora Camargo Strada1, Hernane Teixeira da Silva2, Hallison Daniel do Carmo Marques3, Marcus Polette4
1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, e-mail: debora.c.strada@gmail.com; 2 Universidade do
Estado do Rio de Janeiro UERJ, e-mail: hernanebiologo@hotmail.com; 3 Universidade do Estado do Rio de
Janeiro UERJ, e-mail: hallisonmarques@gmail.com; 4 Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ, e-mail:
mpolette@univali.br

Palavras-chave: Ociosidade das redes de esgoto; Percepção da população sobre o esgoto; PER (Pressão, Estado e Resposta)

Resumo
Além dos problemas relacionados à falta de estrutura para tratamento do esgoto sanitário, existe o fenômeno chamado de
ociosidade das redes que ocorre quando há disponibilidade da infraestrutura, mas que por diversos motivos, as residências não
estão conectadas à rede e despejam seus esgotos de maneira imprópria. Independentemente do tipo de tratamento que a
companhia de saneamento se utilize para regularizar a situação das ligações de esgoto, existe falta de receptividade da
população em geral para que sejam feitas as intervenções necessárias. Entretanto, surge a necessidade de ferramentas que
traduzam estas percepções aos gestores de forma a auxiliar na tomada de decisão e enfrentamento do problema. Diante do
exposto, tem-se por objetivo propor o uso de indicadores de percepção da população sobre o esgoto aplicados à gestão da
ociosidade de redes. Como definição do sujeito da pesquisa, temos o tratamento de esgotos no Brasil e a problemática da
ociosidade das redes de esgotos, considerando a interrelação com a percepção social quanto aos aspectos ambientais,
especialmente quanto às práticas relacionadas ao tratamento de esgotos. De forma, a focar em bons resultados na gestão do
saneamento foi realizada uma revisão bibliográfica sobre indicadores de gestão e indicadores de sustentabilidade para fins de
propor o uso de uma ferramenta aplicada à gestão do esgotamento sanitário. Finalmente, fundamentados na estrutura Pressão,
Estado e Resposta - PER (OCDE,1993) mais especificamente partindo da categoria de indicadores de respostas sociais, os
autores propõe a utilização de indicadores, oriundos de pesquisas de percepção da população em relação ao esgotamento
sanitário, na gestão das redes ociosas. Estes indicadores podem trazer mais assertividade ao processo de adequação das redes
ociosas com baixo custo e respeitando as particularidades de cada local. Além de evidenciar a essencialidade da busca por
melhores meios de comunicação sobre o tema, o artigo preconiza a constante avaliação das causas do problema e suas relações
através de indicadores como forma de aprimorar os programas de incentivo às interligações das redes de esgoto.

Introdução

O lançamento de esgoto doméstico sem tratamento diretamente nos corpos hídricos gera impactos na qualidade das águas que
comprometem os demais usos do corpo receptor. Esta situação se agrava principalmente em centros urbanos, onde há maior
densidade populacional e, consequentemente, maior geração de carga orgânica proveniente de esgoto sanitário. O esgotamento
sanitário é um dos serviços de saneamento que mais necessitam de análises e propostas para o encaminhamento de soluções,
principalmente quando tratamos da gestão hídrica. O déficit de coleta e tratamento de esgotos nas cidades brasileiras tem
resultado em uma parcela significativa de carga poluidora chegando aos corpos d’água, causando implicações negativas aos
usos múltiplos dos recursos hídricos (ANA, 2017).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), grande parte de todas as doenças que se alastram nos países em
desenvolvimento são provenientes da água de má qualidade. É inegável a importância dos serviços de saneamento básico, tanto
na prevenção de doenças, quanto na preservação do meio ambiente. A incorporação de aspectos ambientais nas ações de
saneamento representa um avanço significativo, em termos de legislação, mas é preciso criar condições para que os serviços de
saneamento sejam implementados e sejam acessíveis a todos – a denominada universalização dos serviços, princípio maior do
marco regulatório do saneamento básico no Brasil, a Lei 11.445/2007 (RIBEIRO & ROOKE, 2010).

A Lei Federal nº 11.445/2007 estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico e tem como princípio fundamental a
universalização do acesso aos serviços (BRASIL, 2007). Entretanto, além das regiões com falta de acesso à rede de
esgotamento sanitário, existe o fenômeno chamado de ociosidade das redes de esgotamento sanitário que ocorre quando há
disponibilidade da infraestrutura, mas que por diversos motivos, as residências não estão conectadas à rede e despejam seus

893
esgotos de maneira imprópria. Mais de 3,5 milhões de pessoas nas 100 maiores cidades do Brasil estão nesta situação o que
gera um entrave à universalização do acesso aos serviços previstos por lei (INSTITUTO TRATA BRASIL, 2015). Segundo
dados da ANA (2017), mesmo que 14 unidades da federação apresentem a parcela de tratamento de esgoto em relação ao que é
coletado maior que 75%, devido aos baixos índices de esgoto coletado, este não pode ser considerado um indicador
satisfatório. Ainda que algumas regiões possuam capacidade de tratamento em suas estações de esgoto, muitas vezes, tem-se
como gargalo a falta de ligação das unidades às redes coletoras. Logo, é fundamental gerenciar esta problemática de forma a
ampliar os índices de cobertura do saneamento de forma mais efetiva. Mesmo havendo investimentos em esgotos sanitários da
parte dos governos e dos prestadores de serviços a resistência dos usuários em se interligar as redes coletoras prejudica este
processo.

Existem diversas abordagens para que sejam efetuadas às ligações das unidades residenciais às redes de esgoto. As companhias
de saneamento possuem diferentes estratégias para lidar com esta situação, que podem ser mais impositivas, com aplicação de
multas, ou com despesas compartilhadas entre a companhia de saneamento e o cidadão. A Lei Nacional do Saneamento Básico
prevê no artigo 45 a obrigatoriedade da interligação com a rede em caso de existência de rede de esgoto sanitário (BRASIL,
2007). Sendo assim, a interligação é obrigatória, sujeita à cobrança tarifária e outros preços públicos decorrentes da conexão e
do uso desses serviços e passível de ações de fiscalização. Independentemente do tipo de tratamento que a companhia de
saneamento se utilize para regularizar a situação das ligações de esgoto, existe falta de receptividade da população em geral
para que sejam feitas as intervenções necessárias.

Algumas causas deste comportamento da população já são conhecidas pelas empresas de saneamento. Entretanto, as
percepções podem variar de um local para outro, quanto ao nível de informação, classe social, idade da população, entre outras
variáveis. Portanto, é necessário conhecer alguns indicadores que exponham a realidade do público envolvido de forma a
identificar os pontos a serem trabalhados. Estes podem ser obtidos a partir de pesquisas de percepção da população em relação
ao esgotamento sanitário, que geralmente são realizadas na academia, mas poderiam ter utilidade na gestão do esgotamento
sanitário por proporcionarem dados que possibilitam conhecer o nível de informação da população e prever algumas reações.
Sabendo como pensa a população, as empresas de saneamento poderão desenvolver estratégias de gestão de forma a trabalhar
na conscientização das pessoas quanto da importância das ligações das redes de esgoto.

Entretanto, surge a necessidade de ferramentas que traduzam estas percepções aos gestores de forma a auxiliar na tomada de
decisão e enfrentamento do problema. Estas decisões devem ter como suporte os seguintes questionamentos: Quais são as
melhores formas de comunicação com a sociedade? Existe alguma ferramenta que auxilie na identificação das reais causas do
problema? Quais comunidades estão mais receptivas às alterações nas redes e quais precisam de trabalhos mais focados em
educação ambiental? Qual a abordagem mais eficiente e eficaz para enfrentamento do problema? Como é possível melhorar os
programas de incentivo às ligações de esgoto?

Com o objetivo de agregar e quantificar informações de uma maneira que sua significância fique mais aparente, os indicadores
simplificam as informações sobre fenômenos complexos tentando, com isso, melhorar o processo de comunicação (BELLEN,
2004). Para auxiliar nas avaliações sobre a sustentabilidade ambiental existem os chamados indicadores de sustentabilidade
ambiental, cujo papel como ferramenta é o estabelecimento de uma visão de conjunto que exige um processo de avaliação de
resultados em relação às metas de sustentabilidade estabelecidas, provendo às partes interessadas condições adequadas de
acompanhamento e dando suporte ao processo decisório (MALHEIROS, et al., 2008). Contudo, os indicadores construídos
através de pesquisa da percepção ambiental da população são pouco utilizados na gestão. Considerando que o problema das
redes ociosas ainda é pouco avaliado no Brasil, o uso de indicadores que possam avaliar as principais pressões existentes, bem
como as mudanças no estado, e as respostas para minimizar ou mitigar tais pressões é fundamental.

Diante do exposto, tem-se por objetivo propor o uso de indicadores de percepção da população sobre o esgoto aplicados à
gestão da ociosidade de redes. Os procedimentos específicos foram de pesquisa bibliográfica e documental em livros e artigos
técnicos e não-técnicos, obtidos nos bancos de dados acadêmicos e das associações de profissionais do setor de saneamento
básico e órgãos governamentais. Foram exemplificados programas de incentivo à interligação das redes e estudos de caso de
percepção da população sobre o esgoto. De forma a focar em bons resultados na gestão do saneamento foi realizada uma
revisão bibliográfica sobre indicadores de gestão e indicadores de sustentabilidade para fins de propor o uso de uma ferramenta
aplicada à gestão do esgotamento sanitário. Finalmente, fundamentados na estrutura Pressão, Estado e Resposta - PER
(OCDE,1993) mais especificamente partindo da categoria de indicadores de respostas sociais, os autores propõe a utilização de
indicadores na gestão das redes ociosas a partir de indicadores oriundos de pesquisas de percepção da população em relação ao
esgotamento sanitário. A contribuição da presente proposta está em apresentar ferramentas que possibilitem atacar as reais
causas da ociosidade das redes de esgoto. Com informações de percepção da população será possível elaborar programas de
incentivo à interligação de redes que sejam mais efetivos para o enfrentamento do problema.

894
Material e Métodos

Um dos requisitos de trabalhos científicos Volpato (2015) é que uma metodologia de pesquisa seja robusta. No entanto, é
fundamental que esta também tenha baixo custo e seja facilmente replicável. Diante de uma problemática que não se limita a
alguns bairros ou municípios, mas representa a realidade de muitas regiões é importante pensar em soluções que facilitem a
gestão no saneamento. Como definição do sujeito da pesquisa, temos o tratamento de esgotos no Brasil, a problemática da
ociosidade das redes de esgotos, e o uso da percepção como instrumento de gestão. Já o delineamento do estudo ocorre pela
abordagem sobre o tema, quanto ao tratamento de esgotos no Brasil e sua interrelação com a percepção social quanto aos
aspectos ambientais, e se estes tendem a interferir no comportamento da sociedade em relação ao meio-ambiente,
especialmente quanto as práticas relacionadas ao tratamento de esgotos.

Os procedimentos específicos foram de pesquisa bibliográfica e documental obtidos nos bancos de dados acadêmicos e das
associações de profissionais do setor de saneamento básico e órgãos governamentais. A análise de dados se configurou por
meio da obtenção de dados e informações divulgadas pelas associações e órgãos governamentais, tais como ANA (2017),
INEA (2019), INSTITUTO TRATA BRASIL (2015), OCDE (1993), UNESCO (1973) além de referência na Legislação
Federal. Considerou-se também a revisão bibliográfica de trabalhos científicos relacionados ao tema e ao interesse público,
dentre os quais podemos citar 1 tese, 15 artigos, 3 sites de operadores do setor de saneamento, 1 site de órgão ambiental, 2
livros, entre outros que serão obtidos nos bancos de dados acadêmicos. O Atlas de Esgotos ANA (2017) foi utilizado para que
o artigo atenda a uma abordagem para o cenário nacional, visto que o mesmo apresenta uma profunda e regional abordagem
sobre os problemas e desafios de esgotos para o Brasil. Lira (2008), Malheiros (2008) e Maranhão (2007) apresentam algumas
referências bibliográficas que trataram de indicadores correlacionados com o escopo do artigo. O INSTITUTO TRATA
BRASIL (2015) aborda a ociosidade das redes de esgotamento sanitário no Brasil. As demais buscas foram realizadas através
de palavras-chave como indicadores de gestão, indicadores de sustentabilidade, indicadores sociais até chegarmos a estudos
que tivessem relação com o nosso objetivo proposto.

Foram destacadas quatro diferentes abordagens utilizadas para que as unidades sejam efetivamente conectadas ao tratamento
através de programas de incentivo de empresas de saneamento em conjunto com órgãos ambientais ou prefeituras nas regiões
sul e sudeste do Brasil: o programa "Se Liga na Rede" em Florianópolis (SC), elaborado pela Companhia Catarinense de
Águas e Saneamento (CASAN) e prefeitura; o Projeto Se Liga em Niterói (RJ) realizado em conjunto com a Concessionária de
Águas de Niterói e o INEA; o programa da CORSAN que abrange alguns municípios do Estado de Rio Grande do Sul; o
programa Se Liga na Rede de Vitória (ES) promovido pela Companhia Espírito Santense de Saneamento (CESAN) e
Ministério Público Estadual no Município de Vitória (ES) . Foram discutidos ainda resultados de sete estudos de casos obtidos
de trabalhos acadêmicos para embasar o artigo quanto à percepção da população em relação ao esgotamento sanitário. Os
levantamentos ocorreram com o intuito de exemplificar pelo menos uma pesquisa em cada região do Brasil. De forma a focar
em bons resultados na gestão do saneamento foi realizada uma revisão bibliográfica sobre indicadores de gestão e indicadores
de sustentabilidade para fins de propor o uso de uma ferramenta aplicada à gestão do esgotamento sanitário. Finalmente,
fundamentados na estrutura Pressão, Estado e Resposta – (PER) OCDE (1993) mais especificamente partindo da categoria de
indicadores de respostas sociais, os autores propõe a utilização de indicadores na gestão das redes ociosas a partir de
indicadores oriundos de pesquisas de percepção da população em relação ao esgotamento sanitário.

Resultados e Discussão

Inicialmente buscou-se alguns dados que expõe a conjuntura atual do país em relação à ociosidade de redes. Logo, foram
apontadas algumas causas do problema já identificadas nas referências estudadas. Além disso, foram apresentados alguns
exemplos de programas utilizados pelas empresas de saneamento para enfrentamento do problema. Julgou-se adequado
abordar algumas pesquisas, sobre a percepção ambiental da população que abordassem o tema do esgotamento sanitário,
realizadas em diversas partes do país com a finalidade de encontrar pontos em comum a serem discutidos. Somente então,
foram apresentados alguns conceitos de indicadores de gestão, indicadores de sustentabilidade para darem suporte a proposta
de indicadores de percepção que é objetivo do estudo.

Problemática da ociosidade das redes de esgoto

A ociosidade das redes de esgotamento sanitário ocorre quando há disponibilidade da infraestrutura para o tratamento de
esgoto, mas que por diversos motivos, as residências não estão conectadas à rede e despejam seus esgotos de maneira
imprópria. Hoje no Brasil há mais de 4 milhões de residências que não estão conectadas as redes de esgoto, ainda que a rede
coletora esteja disponível (INSTITUTO TRATA BRASIL, 2015). Este problema tornou-se um entrave nas metas de

895
universalização do saneamento por não permitir que o esgoto chegue efetivamente às estações de tratamento. São diversas as
causas do fenômeno de ociosidade das redes que envolvem tanto os prestadores de serviço como a população em geral.

Segundo CORSAN (2014) há um baixo número de residências conectadas a rede coletora principal, os dados mostram ainda
que 58% dos entrevistados não estão dispostos a pagar pelo serviço evidenciando como principal fator a questão financeira,
seja pelo custo da obra de conexão ou pelas despesas mensais decorrentes das tarifas de serviço de coleta e tratamento do
esgoto sanitário o que torna oneroso ao proprietário. Em pesquisa do Instituto Trata Brasil em 2015 fica evidente que ao avaliar
o conjunto de prestadores de serviço sobre os principais motivos do problema de ociosidade das redes de esgoto, obteve-se os
seguintes resultados: Resistência ao pagamento da tarifa (36%); Falta de informação (18,4%); Inexistência de sanções (13,2%);
Morador não quer danificar o piso (13,2%); Valor da conexão (6,1%); Falta de programa de estímulo (3,5%); Estímulo à não
interligação (2,6%); Outros (7%). Estas causas podem estar inter-relacionadas, a falta de informação pode influenciar na
resistência ao pagamento da tarifa ou resistências ao custos e transtornos relacionados às obras de conexão. Apesar das
informações repassadas pelos prestadores de serviço refletirem a realidade de acordo com a experiência dos funcionários,
pesquisas mais específicas sobre a percepção da população poderiam refletir melhor o grau de relevância de cada uma destas
causas proporcionando melhores ferramentas de gerenciamento dos problemas das ligações ociosas de esgoto.

Cabe destacar que os programas de estímulo são as ações realizadas com a finalidade de conscientizar a população quanto a
importância do saneamento e incentivar à interligação às redes de esgoto que podem ter uma abordagem mais informativa ou
mais fiscalizatória, com aplicação de sanções em caso de inadequações.

Com a finalidade de promover a interligação de todos os imóveis atendidos por rede pública de esgoto em Florianópolis (SC) e
eliminar as inadequações nas instalações prediais que possam causar prejuízo ao sistema, foi criado um Programa da Prefeitura
Municipal de Florianópolis (PMF) em parceria com a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN) o Floripa Se
Liga Na Rede. O Programa trabalha com ações de sensibilização além de notificações aos proprietários dos imóveis que
apresentem inadequações, oferecendo os devidos prazos legais, e alertar sobre os riscos de multa e ação civil por parte
do Ministério Público de Santa Catarina (FLORIANÓPOLIS, 2019).

Já no Rio de Janeiro, a partir de um termo de cooperação técnica firmado entre a Concessionária Águas de Niterói e o Instituto
Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (INEA) o Projeto Se Liga que foi criado com o objetivo de diminuir o lançamento de
efluentes sem tratamento na Baía de Guanabara e nas lagoas de Niterói. A Concessionária repassa à Superintendência Regional
Baía de Guanabara do INEA um levantamento prévio dos imóveis que não possuem conexão com a rede coletora.
Posteriormente, os proprietários dos imóveis são qualificados e notificados pelo INEA a se adequarem em até 60 dias,
conforme preconiza o Decreto Estadual nº 41.310/2008 (INEA, 2019).

Outro interessante estudo de caso realizado pela Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN) em 2017, foi lançada a
campanha de incentivo às ligações de esgoto nos municípios da sua área de cobertura no Rio grande do Sul. Trata-se de um
programa onde todo usuário que disponha de rede coletora de esgotos sanitários na sua rua, e não esteja conectado, passa a
pagar uma tarifa pelo serviço. Num primeiro momento, a CORSAN faz uma campanha publicitária para esclarecer aos
moradores das vantagens em conectar-se à rede de esgotos. Depois, os moradores recebem uma notificação e instruções para
executar a conexão, recebendo desconto de 75% na ligação e 180 dias de carência na tarifa de esgotos (CORSAN, 2019).

Desde a sua implementação em 2012, o programa Se Liga na Rede de Vitória, no Espírito Santo vem trazendo resultados
bastante positivos para o Estado através de importantes parcerias com lideranças comunitárias, o Ministério Público Estadual e
outros atores sociais, com o intuito de cumprir metas de interligações. O número de imóveis ligados que em 2010 eram de
12.537 passaram para 40.506 ligações no ano de 2015 (CESAN, 2019).

A Lei Nacional do Saneamento Básico prevê no artigo 45 a obrigatoriedade da interligação com a rede em caso de existência
de rede de esgoto sanitário (BRASIL, 2007). Sendo assim, a interligação é obrigatória, sujeita à cobrança tarifária e outros
preços públicos decorrentes da conexão e do uso desses serviços e passível de ações de fiscalização. Após esta lei muitos
programas de estímulo à interligação passaram a ser criados com uma postura mais fiscalizatória, com a aplicação de sanções.
Há ainda alguns programas que trabalham com base na conscientização, educação ambiental. Outra possibilidade de incentivar
as adequações das ligações é passar a cobrar tarifas pela disponibilidade do serviço. A Lei do Saneamento ampara legalmente a
cobrança da tarifa aos trechos contemplados com redes de esgoto, esta premissa resolve a variável econômica do problema, o
que pode ser vantajoso em termos de incremento nas receitas dos prestadores de serviço e podem ser convertidos em melhorias
para o saneamento, porém não garante que o esgoto esteja sendo destinado corretamente. Portanto, trata-se de uma solução do
ponto de vista econômico que não resolve a questão nos seus aspectos sociais e ambientais. Observa-se, então, a necessidade
de estudar estratégias que tratem as demais variáveis deste problema.

896
Ao formularem seus programas de incentivo às interligações de redes de esgoto, as companhias de saneamento utilizam
modelos variados. Contudo, não há uma ferramenta que norteie a decisão do programa que melhor se adapte ao seu público. Os
indicadores mais comumente utilizados estão ligados apenas aos índices de cobertura, à efetividade de ligações e tratamento de
esgoto. Havendo, portanto, uma carência de indicadores que reportem como a população percebe a situação, e se envolve com
a problemática das redes ociosas. Esta análise torna-se necessária visto que a população é parte integrante do enfrentamento do
problema e tem suas responsabilidades legais para o êxito da efetividade das redes de esgoto em todo o país.

Percepção ambiental da população voltadas ao esgotamento sanitário

A percepção pode ser abordada de duas maneiras: percepção como ferramenta cognitiva – perceber é atribuir um significado, é
aquisição de conhecimento – e percepção como algo ligado aos sentidos (SILVA, 2006 apud BAY & SILVA, 2011). A
percepção ambiental busca entender os fatores, mecanismos e processos que levam as pessoas a terem opiniões e atitudes em
relação ao meio em que vive (BAY & SILVA, 2011). Fernandes et al. (2003) define percepção ambiental como a tomada de
consciência do ambiente pelo homem, através da qual cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente às ações sobre
o ambiente em que vive. Destaca ainda, a importância do estudo de percepção ambiental para que possamos compreender
melhor as interrelações entre o homem e o ambiente, suas expectativas, anseios, satisfações e insatisfações, julgamentos e
condutas. Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1973, já havia ressaltado a
importância da pesquisa em percepção ambiental para o planejamento do meio ambiente como forma de investigação sobre
valores, necessidades, atitudes e expectativas que determinados sujeitos têm em relação ao seu meio vivencial. Com esta
motivação foram analisados alguns casos de pesquisas de percepção ambiental da população que abordassem o tema do
esgotamento sanitário realizadas em diversas partes do país.

Sippel (2008) realizou um estudo com a finalidade de identificar a percepção de um grupo de moradores de classe média de
diversas regiões de Porto Alegre (RS) sobre o conhecimento do destino do esgoto sanitário de cada imóvel, a importância e
como divulgar esta informação aos moradores dos imóveis. Foram realizadas entrevistas a partir de questionários auto-
administrados e avaliações do destino do esgoto dos imóveis com a utilização de corante. Como resultado identificou-se
consciência sobre as consequências da disposição inadequada dos esgotos e seu impacto na saúde. Porém, verificou-se que
parte da população desconhece o destino do esgoto, apontando para a ineficácia dos meios de comunicação adotados pela
companhia de saneamento e pelas instituições de saúde locais. Também se identificou que há uma grande resistência por parte
de proprietários de imóveis para conexão da rede domiciliar a rede pública coletora de esgoto, onde o principal motivo
apontado da não ligação são os custos que devem ser arcados pelo proprietário do imóvel.

Já a pesquisa realizada no Laranjal, bairro de Pelotas (RS) banhado pela Laguna dos Patos, procurou analisar a percepção dos
moradores do bairro que são contemplados com a rede de coleta de esgotos, sobre a obrigatoriedade da ligação dos ramais
prediais à rede pública coletora de esgotos, bem como identificar os aspectos que impedem a população em estudo, beneficiada
pela rede coletora de esgotos de realizar a ligação de seus ramais à rede pública. Concluiu-se que apesar dos moradores
perceberem a importância de realizarem a ligação das suas residências à rede coletora de esgotos e, da grande maioria ter
conhecimento do procedimento para pedir a ligação do ramal predial com a rede pública coletora, muitos deles apresentam
como limitante o fator econômico. Alguns entrevistados, quando questionados obre a cobrança da taxa de serviço do
tratamento de esgoto depois da ligação concluída, consideraram injusta a cobrança, já que pagam impostos como o Imposto
Predial e Territorial Urbano (IPTU), sendo o tratamento de esgoto de responsabilidade da companhia de saneamento e não do
usuário (SOUZA et al., 2018).

Bay & Silva (2011) analisaram as opiniões dos moradores do bairro de Liberdade, em Parnamirim (RN), sobre o sistema de
esgotamento sanitário em implantação. Percebeu-se que o empreendimento é visto como um sistema que trará inúmeros
benefícios como mais higiene, ausências de vetores (mosquitos) em todo o bairro e diminuição da poluição no ambiente,
refletindo dessa maneira uma preocupação da comunidade quanto a sua qualidade de vida, além de revelar sujeitos
potencialmente ecológicos. Já em relação à participação dos moradores nesse programa de esgotamento sanitário, observou-se
que os moradores tiveram pouca integração no processo, apenas 16,66% dos inquiridos, enquanto a maioria 83,34% mostrou
pouco interesse e se negligenciou a intervir no programa de esgotamento, apresentando uma atitude passiva diante da
problemática ambiental, refletindo uma ausência do poder público em mobilizar a participação popular nos projetos
implantados no município

Rodrigues et al., (2012) em um estudo de caso ocorrido no Distrito de Paranapiacaba e Parque Andreense, área de Proteção e
Recuperação de Mananciais, localizado no Município de Santo André - SP, Região Metropolitana de São Paulo realizaram 230
entrevistas com moradores maiores locais. Foram aplicados questionários com perguntas que inicialmente abordavam o tema
meio ambiente com o objetivo de identificar a percepção ambiental dos entrevistados. Mais de 50% dos entrevistados
consideram meio ambiente como os elementos da natureza (florestas, rios, animais, etc.) e ações do homem sobre os recursos

897
naturais (conservação, preservação, desmatamento, etc.). Verifica-se que apesar do meio ambiente ser interpretado fortemente
pelos entrevistados como natureza, imaginando-se por ser essa a característica do local onde vivem (contexto de Área de
Proteção e Recuperação de Mananciais), há indícios de uma visão dissociada do ser humano com seu espaço de inserção.

A pesquisa realizada na cidade de Juazeiro-BA, nas comunidades dos bairros Maria Gorete, Jardim Novo Encontro e Piranga,
teve como objetivo principal de investigar a percepção dos moradores, sobre as vertentes conceituais do saneamento básico.
Para se obter a percepção do saneamento básico dos indivíduos pesquisados, as questões envolveram aspectos inerentes a
conceitos e à satisfação quanto aos serviços e valor pago, conceito de saneamento básico, além de questões voltadas à
sustentabilidade, como o uso da água da chuva e o reuso de esgoto e predisposição em utilizá-lo, conceito de coleta seletiva e
de drenagem urbana/canais de água pluviais. Quando questionados se sabiam que o esgoto poderia ser tratado e reutilizado,
66% dos entrevistados no Maria Gorete afirmaram saber, porém, só 31% explanaram que cogitariam consumir. No Jardim
Novo Encontro, 50% dos entrevistados sabiam que o esgoto poderia ser tratado e reutilizado; também, somente 31% o
consumiriam. No Piranga, 57% sabiam do tratamento e reúso, mas apenas 40% aceitariam usá-lo. A maioria das pessoas não
associou o fato de que o esgoto, depois de tratado, é lançado no Rio São Francisco e muitos demonstraram desconforto com a
ideia de reutilizá-lo. Isso é um indício de que boa parte da população não sabe como o esgoto é tratado ao sair das residências
(NUNES et al., 2017).

Longatti et al., (2013) avaliou a percepção ambiental dos moradores nos bairros Interlagos, Parque dos Jatobás, Vila Promissão
e Vila Santa Cruz I, ambos localizados na cidade de Rio Verde, Goiás. Buscou-se identificar um perfil dos entrevistados
através de questionário simples com perguntas centrais a respeito da percepção do morador frente a situação do esgotamento
sanitário como: a opinião do entrevistado sobre a rede de esgoto sanitário de seu bairro; a avaliação da função da rede de
esgoto para o bairro em que reside, entre outras. A pesquisa foi realizada com 120 pessoas, sendo 30 de cada bairro, suas
escolhas foram de forma casuais. Com os dados obtidos observou- se que quando perguntados sobre o significado do esgoto
sanitário a maioria, 42.5% dos entrevistados dos quatro bairros, não sabiam a resposta. Para este estudo, os fatores econômicos
não influenciaram de forma significativa nos resultados, mas o fator determinante da percepção ambiental dos entrevistados foi
a presença ou ausência de redes de esgotos no bairro. Por fim, conclui-se que para um maior entendimento e percepção
ambiental sobre esgotamento sanitário ainda é necessário promover uma melhor comunicação junto às comunidades.

Outro estudo foi realizado no estado do Pará (PA) com o intuito de compreender a percepção ambiental da população do bairro
Carnapijó na cidade de Ponta de Pedras, localizada na ilha de Marajó, em área de várzea no perímetro urbano do bairro. A
questão central nessa pesquisa foi saber se o entrevistado “acredita que há relação entre a poluição de sua região e a saúde da
população local”, pois o bairro apresentava muitos casos de doenças de vinculação hídrica, como a diarreia. Em respostas ao
questionário, 75% dos entrevistados percebem vinculação entre as doenças e a poluição; 25% dos entrevistados entenderam
não haver relação entre as doenças e a poluição dos rios. Outro dado importante diz respeito à percepção da população sobre
seu comportamento em relação ao meio ambiente, perguntou-se: “No seu dia a dia você considera que causa algum dano ao
meio ambiente?”. Como resultado, 64% disseram não causarem danos ao meio ambiente e 36% dos entrevistados afirmaram
que sim, causam danos. Quando perguntado sobre a percepção de qual é o destino do esgoto sanitário da residência o que
completa a questão anterior à resposta foi, 78,38% dos entrevistados confirmaram jogar o esgoto direto no rio e apenas 21,62%
afirmaram que usam fossas sanitárias. Sendo assim apenas uma minoria consegue perceber os males do descarte direto do
esgoto sanitário nos rios o que compromete o meio ambiente de um modo geral. O estudo concluiu que a sensação de
abundância de recursos da região e a falta de conhecimento e informação sobre a destinação dos resíduos geram problemas
relacionados à percepção da importância do saneamento ambiental (OLIVEIRA, 2017).

As pesquisas apresentadas mostram como ponto em comum lacunas na informação da população quanto ao destino do seu
esgoto com baixa conscientização sobre a importância do efetivo tratamento do mesmo. A falta de disposição do proprietário
em arcar com despesas e alterações necessárias adequação das redes de esgoto pode estar relacionada à falta de esclarecimento
da população em relação ao tema. Portanto, é fundamental que os gestores do saneamento possam captar estas informações
para elaborar programas efetivos que gerenciem o problema das redes ociosas do esgotamento sanitário.

Rodrigues et al., (2012) fizeram discussões semelhantes, porém voltadas para o tema de gestão ambiental, considerando que a
compreensão da percepção da sociedade sobre os problemas e sobre as ações governamentais no processo de gestão poderia
aproximar o gestor do que a população entende por sua realidade local, ou ainda indicar lacunas existentes no modelo de
gestão ambiental. Este estudo concluiu, através de pesquisas de percepção ambiental da população, que a limitação de
informações pode influenciar diretamente na percepção das políticas públicas ambientais localmente promovidas. Entendeu
ainda que a integração da percepção da comunidade local como indicador de efetividade de gestão mostra-se de grande valia
para acompanhar sua repercussão na postura e na vida dos moradores, bem como para orientar os ajustes necessários ao
programa de gestão ambiental.

898
Considerando que o problema das redes ociosas não se limita a alguns bairros ou municípios, mas representa a realidade de
muitas regiões é importante estruturar quais ferramentas podem trazer resultados mais eficazes e eficientes na gestão de
esgotos, especialmente considerando a ociosidade das redes – um problema ainda pouco avaliado no Brasil. Para isso, o uso de
indicadores que possam avaliar as principais pressões existentes, bem como as mudanças no estado, e as respostas para
minimizar ou mitigar tais pressões é fundamental.

Indicadores de percepção da população sobre o esgoto aplicados à gestão da ociosidade de redes

Indicadores são utilizados há muito tempo e estão, cada vez mais, presentes no mundo atual, buscando caracterizar, através de
um dado individual ou um agregado de informações, o estado de um sistema de interesse, possibilitando comparar as
diferenças observadas no tempo e no espaço. Indicadores podem ainda ser definidos como valores que sintetizam e refletem a
realidade, a partir de um grande número de dados, facilitando o acompanhamento de um quadro geral do sistema estudado. Um
bom indicador deve conter os seguintes atributos: ser simples de entender, ter quantificação estatística e lógica coerente, e
comunicar eficientemente o estado do fenômeno observado (MARANHÃO, 2007). Com o objetivo de agregar e quantificar
informações de uma maneira que sua significância fique mais aparente, os indicadores simplificam as informações sobre
fenômenos complexos tentando, com isso, melhorar o processo de comunicação (BELLEN, 2004). Os indicadores também têm
sido utilizados como ferramenta padrão, auxiliando na compreensão das informações sobre fenômenos complexos, em diversos
estudos nacionais e internacionais, pois permite verificar os impactos das ações humanas no ecossistema (SILVA et al., 2010).

Na literatura além da grande variedade de parâmetros para inferir o desempenho de sistemas hídricos e ambientais, quando
trata de saneamento, também são utilizados diversos indicadores para mostrar eficiência dos serviços, mais especificamente no
esgotamento sanitário, os indicadores são sobre eficiência de tratamento, abrangência de coleta e tratamento, situação da
estrutura das redes de esgoto, entre outros. Conforme previsto no Atlas Esgotos de Despoluição de Bacias Hidrográficas
(ANA, 2017), é importante também que os indicadores de eficiência de tratamento sejam incorporados definitivamente no
estabelecimento de metas e no acompanhamento da implementação das ações, para que a métrica de avaliação não se baseie
apenas na execução de obras e na evolução da cobertura dos serviços de esgotamento sanitário, mas também na eficiência
operacional das ETE’s e na melhoria da qualidade da água dos corpos receptores. Entretanto, os indicadores construídos
através de pesquisa da percepção ambiental da população são pouco utilizados na gestão.

Para auxiliar nas avaliações sobre a sustentabilidade ambiental existem os chamados indicadores de sustentabilidade ambiental,
cujo papel como ferramenta é o estabelecimento de uma visão de conjunto que exige um processo de avaliação de resultados
em relação às metas de sustentabilidade estabelecidas, provendo às partes interessadas condições adequadas de
acompanhamento e dando suporte ao processo decisório (MALHEIROS, et al., 2008). Os indicadores de sustentabilidade são
ferramentas utilizadas para auxiliar no monitoramento da operacionalização do desenvolvimento sustentável, sendo a sua
principal função fornecer informações sobre o estado das diversas dimensões (ambientais, econômicas, socioeconômicas,
culturais, institucionais, etc.) que compõem o desenvolvimento sustentável do sistema na sociedade (CARVALHO, et al.,
2011).

Criado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), O método de Pressão-Estado-Resposta
(PER) define que as atividades humanas exercem pressão sobre o ambiente alterando a qualidade e a quantidade de recursos
naturais, ou seja, alterando o seu estado, e a sociedade responde a essas mudanças mediante políticas ambientais, econômicas
ou setoriais (OCDE,1993). Partindo de uma visão conjunta dos vários componentes de um problema ambiental o modelo PER
tem a vantagem de facilitar o diagnóstico do problema e a elaboração da respectiva política pública. Além da constatação da
degradação ambiental o modelo revela seu impacto, suas causas, o que está por trás dessas causas e as ações que estão sendo
tomadas para melhorar esse quadro (CARVALHO, P., 2007 apud KEMERICH, 2013). A partir da definição de três tipos de
indicadores - pressão, estado e respostas, - o modelo deve refletir o relacionamento entre os efeitos ambientais, suas causas e as
medidas necessárias (OLIVEIRA, LIMA, VIEIRA, 2005 apud KEMERICH, 2013).

No Método PER os indicadores são divididos em três categorias (LIRA, 2008). 1. Indicadores da pressão ambiental – des-
crevem as pressões das atividades humanas sobre o ambiente, incluindo a quantidade e qualidade dos recursos naturais; 2.
Indicadores das condições ambientais ou de estado – referem-se à qualidade do ambiente e a qualidade e quantidade dos
recursos naturais. Estes devem fornecer uma visão da situação do ambiente e sua evolução no tempo, não das pressões sobre
este; e 3. Indicadores das respostas sociais – são medidas que mostram a resposta da sociedade às mudanças ambientais,
podendo estar relacionadas à prevenção dos efeitos negativos da ação do homem sobre o ambiente, à paralisação ou reversão
de danos causados ao meio, e à preservação e conservação da natureza e dos recursos naturais.

Na visão dos autores, esta última categoria, que mede as respostas sociais, serviria de base para os indicadores de percepção
propostos no estudo. Os indicadores de resposta deveriam refletir os esforços da sociedade em enfrentar um problema

899
ambiental específico (OCDE,1993). A partir das experiências verificadas nas publicações que suportaram este projeto de
pesquisa, evidencia-se que é necessária a aproximação dos representantes públicos e civis de forma a articular melhor
posicionamento, através de indicadores direcionados e calibrados para identificar os reais entraves na solução do problema
para que estes sejam trabalhados de forma a obter-se resultados mais efetivos na gestão das redes ociosas. Analogamente aos
indicadores de respostas sociais utilizado na gestão ambiental, propõe-se o uso dos indicadores de percepção sobre o esgoto.

Tais indicadores podem oferecer continuidade aos diversos estudos existentes no âmbito acadêmico que serviriam de base para
diagnósticos mais amplos. Visto que os atuais indicadores não estão voltados para conhecer a população que é parte integrante
do processo de universalização dos serviços de esgotamento sanitário, com os indicadores propostos será possível identificar as
reais causas da ociosidade de redes, sob a ótica da população, tendo em vista que estes possuem responsabilidades legais no
processo de interligação das redes de esgoto. Estas causas poderão ser trabalhadas no sentido de elaborar programas de
incentivo a interligação das redes adequados às particularidades de cada local. Os indicadores deverão incluir informações
sobre a aceitação dos custos de tarifas de esgoto e obras de implantação além do conhecimento sobre o destino do esgoto e as
consequências da destinação inadequada do mesmo. Cabe ainda destacar que o levantamento das informações poderá ocorrer
por meio de questionários on-line, nos postos de atendimento das empresas de saneamento e inclusive por meio de equipes de
campo, de forma a comtemplar um público amplo e representativo. Por se tratar de um tema que envolve saúde pública,
questões ambientais e sociais, o trabalho poderia ser em conjunto com demais órgãos governamentais utilizando a ferramentas
para tomadas de decisão e formulação de políticas focadas na elaboração e avaliação objetivos de programas. Com esta
dinâmica, respeitando as especificidades de cada local, seria possível maior mobilização na solução do problema de ociosidade
de redes.

Indicadores podem ser considerados na atualidade como a melhor forma de comunicação com a sociedade, especialmente se
estes forem simples o suficiente para atingir não apenas o cidadão comum, como também os tomadores de decisão. A falta de
uma ferramenta que auxilie na identificação das reais causas do problema para nortear a criação dos programas de incentivo às
interligações das redes evidenciam a necessidade da utilização de indicadores que captem informações sobre como a população
enxerga o esgoto e qual a sua disposição em contribuir neste processo. Os indicadores de percepção poderiam poderão servir
para identificar quais comunidades estão mais receptivas às alterações nas redes e quais ainda necessitam de um árduo trabalho
com meios de comunicação e educação ambiental trazendo mais clareza e assertividade ao processo. Neste caso, uso de
questionários on-line pode ser uma forma efetiva para um trabalho desta natureza, pois apresenta um baixo custo, e se bem
formulado pode oferecer bases para o desenvolvimento de um sistema de indicadores eficaz e eficiente. Considerando que as
lacunas na informação sobre o destino do esgoto e sobre importância do tratamento do mesmo podem estar relacionadas com a
falta de disposição de arcar com despesas e transtornos necessários para adequação das redes, a busca por melhores meios de
comunicação sobre o tema é um ponto fundamental para a melhoria dos programas de incentivo às interligações das redes de
esgoto. Contudo, estas causas comuns aos estudos de percepção devem ser constantemente avaliadas através de indicadores,
identificando as relações existentes e atualizando estas percepções como forma de aprimorar os programas de incentivo às
interligações das redes de esgoto.

Considerações Finais

Visto que os indicadores podem ser considerados como a melhor forma de comunicação com a sociedade e a necessidade de
ferramentas que norteiem a elaboração de programas de incentivo às interligações às redes de esgoto, o artigo identificou o
potencial dos estudos de percepção ambiental da população propondo o uso de indicadores de percepção sobre o esgoto. Os
indicadores podem trazer mais assertividade ao processo de adequação das redes ociosas com baixo custo e respeitando as
particularidades de cada local. O estudo destaca as lacunas na informação sobre o destino do esgoto e sobre importância do
tratamento do mesmo e traz a possível relação com a falta de disposição, por parte da população, em arcar com despesas e
transtornos necessários para adequação das redes. Além de evidenciar a essencialidade da busca por melhores meios de
comunicação sobre o tema, o artigo preconiza a constante avaliação das causas do problema e suas relações através de
indicadores de forma a aprimorar os programas de incentivo às interligações das redes de esgoto.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Nível Superior – Brasil (CAPES)
- Código de Financiamento 001 e da Agência Nacional de Águas (ANA) através do Projeto CAPES/ANA AUXPE No.
2717/2015 - Portaria CAPES no 206, de 04 de setembro de 2018.

Agradecemos ao Programa de Mestrado Profissional em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos -
PROFÁGUA da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),

900
pelo apoio técnico científico oferecido, e a ANA e a CAPES pelo apoio ao PROFÁGUA aportado até o momento.

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5SSS222
ANÁLISE DA VAZÃO MÁXIMA NA SIMULAÇÃO DAS
CARACTERÍSTICAS FÍSICAS EM UMA BACIA
Tarcisio Barcellos Bellinaso1, Vania Elisabete Schneider2
1Faculdade de Tecnologia - ftec - Unidade Novo Hamburgo/RS. tarcisiobellinaso@gmail.com.br
2Universidade de Caxias do Sul - Instituto de Saneamento Ambiental - ISAM. veschnei@ucs.br

Resumo
Este trabalho teve como propósito realizar a análise da vazão máxima na simulação das características físicas em uma pequena
bacia hidrográfica rural, com características as bacias localizadas no município de Passo Fundo/RS utilizando a fórmula
Racional. Foi verificado que a maior vazão ocorre quando se considera a bacia como toda sob o tipo de uso I (Culturas anuais
em fileiras), seguida do tipo II (Pastagem cultivada) e menor vazão quando se considera a bacia toda sob o tipo de uso III
(Florestas). Conclui-se que mais influenciou na vazão máxima é o tipo de uso e cobertura do solo. O uso e a cobertura do solo
influenciam na interceptação da chuva permitindo que a água permaneça na superfície do solo por mais tempo, pois, o uso e a
cobertura podem ser considerados um obstáculo que impede o rápido escoamento superficial e possivelmente permite maior
infiltração, além da influência das raízes na estrutura do solo.

Palavras-chave: Vazão máxima; Simulação; Fórmula Racional.

MAXIMUM FLOW ANALYSIS IN SIMULATION OF PHYSICAL CHARACTERISTICS IN A BASIN

Abstract
The purpose of this work was to simulate the physical characteristics in a small rural river basin, with characteristics to the
basins located in the city of Passo Fundo, RS, to obtain and analyze the maximum flow. The Rational formula was the method
used to obtain the maximum flow rate. It was obtained and verified that the greatest flow occurs when the basin is considered
as all under use type I (Annual row cultures), followed by type II (Cultivated pasture) and lower flow when considering the
whole basin under the type of use III (Forests). We can conclude what most influenced the maximum flow is the type of use
and land cover. The use and cover of the soil will influence the interception of the rain allowing the water to remain on the
surface of the soil for a longer time, since the use and the cover can be considered an obstacle that prevents the rapid surface
runoff and possibly allows greater infiltration, besides the influence of the roots in the soil structure.

Keywords: Maximum flow; Simulation; Rational formula.

INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

Este trabalho teve como propósito realizar a análise da vazão máxima na simulação das características físicas em uma
pequena bacia hidrográfica rural, com características as bacias localizadas no município de Passo Fundo/RS utilizando a
fórmula Racional.

ÁREA EM ESTUDO

Características da bacia estudada

O estudo foi realizado em uma pequena bacia hidrográfica rural com área de 558.237,88 m², cujas características são
apresentadas nas Tabelas 1 e 2, localizadas próximas à cidade de Passo Fundo/RS, conforme é apresentado nas Figuras 1 e 2.

903
Tabela 1 - Características topográficas e de rugosidade hidráulica (n) da bacia estudada.
Ponto Elevação (m) Trecho Distância (m) n
A 30,5 A-B 244 -
B 35,0 B-C 549 -
C 41,0 B-D 762 -
D 58,0 D-F 61 0,2
E 42,0 C-E 76 0,2
F 61,0 - - -
Legenda: n → Coeficiente de rugosidade hidráulica (adimensional).

Tabela 2 - Características originais de uso e manejo e tipos de solo da bacia hidrográfica estudada.
Uso Tipo de uso ou cobertura Condição hidrológica Tipo de solo
I Culturas anuais em fileiras Boa prática de manejo Santo Ângelo
II Pastagem cultivada Boa prática de manejo Passo Fundo (Arenoso)
III Florestas Boa prática de manejo Pituva

Figura 1 - Mapa com a localização da bacia hidrográfica estuda próxima da cidade de Passo Fundo/RS.

904
Figura 2 - Mapa da bacia hidrográfica estudada com suas características originais dos tipos de uso ou cobertura e tipos
de solo (Unidade de mapeamento).

MATERIAL E MÉTODOS

Obtenção da vazão máxima

Existem diversos métodos para obtenção da vazão máxima em bacias hidrográficas, entre eles podemos citar: fórmula
Racional ou método de Lloyd-Davies, método de Cook ou Σw (Original - USA), método de Cook modificado, entre outros.
Neste trabalho utilizaremos somente a fórmula Racional para obtenção da vazão máxima na bacia estudada.

Fórmula Racional

Conforme descrito por Tomaz (2013), o método Racional é um método indireto e foi apresentado pela primeira vez em
1851 por Mulvaney e utilizado nos Estados Unidos por Emil Kuichling em 1889 e estabelece uma relação entre a chuva e o
escoamento superficial (deflúvio).
O nome Racional é para contrapor os métodos antigos que eram empíricos e não eram racionais. É usado para
determinar a vazão máxima de uma determinada bacia hidrográfica, considerando uma seção de estudo ou de controle.
Na Inglaterra, Lloyd-Davies elaborou um método semelhante em 1850 e muitas vezes o método Racional é chamado de
método de Lloyd-Davies. A equação (1) é apresentada a fórmula Racional:

C .i. A
q (1)
360
Onde:
q - vazão máxima estimado, em m³/s;
C - coeficiente de escoamento superficial ou coeficiente de vazão (adimensional);
i - intensidade da chuva, em mm/h, para o período de retorno desejado e para uma dada duração; e;
A - área da bacia hidrográfica, em hectares (ha).

O coeficiente de escoamento superficial foi obtido pela equação (2):

905
AI .c I  AII .c II  AIII c III
C (2)
At

Onde:
C - é o coeficiente de escoamento superficial;
AI - é a área I da bacia estudada, em hectares;
ccI - é o coeficiente de escoamento superficial da área I da bacia estudada (adimensional);
AII - é a área II da bacia estudada, em hectares;
cc II - é o coeficiente de escoamento superficial da área II da bacia estudada (adimensional);
AIII - é a área III da bacia estudada, em hectares;
cc III - é o coeficiente de escoamento superficial da área III da bacia estudada (adimensional);
At - é a área total da bacia, em hectares.

Tempo de concentração (tc)

A obtenção da vazão máxima pela fórmula Racional é necessária à obtenção do tempo de concentração da bacia e
posteriormente a obtenção da intensidade máxima da chuva (i). Por isso, para obter o tempo de concentração da bacia estudada
foi utilizada a equação proposta no trabalho de Huggins (1979):

0 , 467
 6,557.n..Lo 

tc  0,0195.Lc 0 , 77
.Sc  0 , 385
    (3)
 3. So 
Onde:
tc - tempo de concentração da bacia hidrográfica, em minutos;
Lc - distância máxima ou comprimento máximo a ser percorrido pelo fluxo concentrado ou canalizado, em metros;
Sc - declividade da bacia em (m/m) ou a diferença em elevação da bacia para o fluxo concentrado ou canalizado;
n - coeficiente de rugosidade hidráulica (adimensional);
Lo - distância máxima ou comprimento máximo a ser percorrido pelo fluxo delgado ou laminar, em metros; e;
So - declividade da bacia em (m/m) ou a diferença em elevação da bacia para o fluxo delgado ou laminar.
O primeiro termo da equação (3) é para o fluxo concentrado (canalizado) e o segundo termo é para o fluxo delgado
(laminar). Existe uma distância limite para o fluxo delgado, isto é, após certa distância sobre o terreno sempre existe um canal
mais definido e o fluxo deixa de ser delgado e passa a ser concentrado. Essa distância definida para manter o fluxo delgado é
de 100 a 150 metros, no máximo. Isso quer dizer que se a distância no terreno para o fluxo delgado é de 300 metros, utiliza-se
o valor máximo de 150 metros para o fluxo delgado e o fluxo em canal inicia aos 150 metros (Cogo, 2005).

Intensidade máxima de chuva (i)

Para obtenção da intensidade máxima de chuva (i), foi utilizada a equação proposta por Denardin & Freitas (1982) para
cidade de Passo Fundo/RS, conforme é apresentado na equação (4).

670,74.T 0, 21
i (4)
t  7,90,74
Onde:
T ou Tr - é o período de retorno, em anos; e;
t ou tc - é o tempo de concentração, em minutos.

906
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Área da bacia estudada

Na Tabela 3 é apresentada a determinação da área da bacia hidrográfica obtida através das informações contidas na
Figura 2:
a) Escala de contorno: 1:10.000;
b) Área do retângulo: 16 x 11 cm;
c) Peso do retângulo: 1,362 g; e;
d) Peso da bacia hidrográfica: 0,432 g.

Tabela 3 - Determinação da área da bacia hidrográfica estudada.


Área Área
Condições Peso (g) Área (m²)
(hectares) (acres)
AI 0,173 223.553,59 22,35 55,20
AII 0,167 215.800,29 21,58 53,30
AIII 0,092 118.883,99 11,88 29,34
Total 0,432 558.237,88 55,82 137,87

Tempo de concentração (tc) da bacia estudada

Foram obtidos dois tempos de concentração da bacia estudada, conforme é apresentado na Figura 2 e Tabela 4:
a) Curso d’água 1 (fluxo concentrado com 762 metros); e;
b) Curso d’água 2 (fluxo concentrado com 549 metros).

Tabela 4 - Obtenção dos tempos de concentração da bacia hidrográfica estudada.


Cursos Extensão Lc n Lo tc
d’água (m)
Sc So (minutos)
(m) (m)
1 762 1006 0,0273 0,2 61 0,049 25,37
2 549 793 0,0132 0,2 76 0,0131 31,75

Legenda:
Lc - distância ou comprimento máximo a ser percorrido pelo fluxo canalizado ou concentrado, em metros;
Sc - declividade da bacia em (m/m) ou a diferença em elevação da bacia para o fluxo canalizado;
n - coeficiente de rugosidade hidráulica (adimensional);
Lo - distância máxima ou comprimento máximo a ser percorrido pelo fluxo laminar, em metros;
So - declividade da bacia em (m/m) ou a diferença em elevação da bacia para o fluxo laminar; e;
tc - tempo de concentração da bacia hidrográfica, em minutos.
Intensidade máxima de chuva (i)

Para obtenção da intensidade máxima de chuva (i), foi utilizada a equação proposta por Denardin & Freitas (1982) para
cidade de Passo Fundo/RS, devido ao fato que a bacia estudada possui características similares às bacias localizadas próximo
ao município de Passo Fundo/RS, conforme é apresentado na equação 4.
Foi adotada uma probabilidade de ocorrência (P) de 0,04, isto é, um período de retorno ( T ou Tr ) de 25 anos e o
tempo de concentração utilizado foi de 31,75 minutos, obtido pela Tabela 4.
O valor obtido através da equação 4 da intensidade máxima de chuva (i) foi de 86,58 mm/h.

Obtenção da vazão máxima

A Tabela 5 é apresentada a obtenção do coeficiente de escoamento superficial com características originais da bacia e a
Tabela 6 são apresentadas a obtenção da vazão máxima com as características originais da bacia (Figura 2).

907
Tabela 5 - Obtenção do coeficiente de escoamento superficial da bacia com suas características originais.
AI AII AIII At
ccI cc II cc III C
(hectares) (hectares) (hectares) (hectares)
22,35 0,61 21,58 0,36 11,88 0,127 55,82 0,41

Tabela 6 - Obtenção da vazão máxima da bacia com suas características originais.


C I At Q
(adimensional) (mm/h) (hectares) (m³/s)
0,41 86,58 55,82 5,50

A Tabela 7 é apresentada a obtenção do coeficiente de escoamento superficial e a Tabela 8 a obtenção da vazão


máxima, considerando a característica da bacia como toda sob o tipo de uso I, isto é, culturas anuais em fileiras e mantendo-se
os tipos de solo: Santo Ângelo/Passo Fundo/Pituva (Figura 3).

Tabela 7 - Obtenção do coeficiente de escoamento superficial da bacia sob o tipo de uso I.


AI AII AIII At
ccI cc II cc III C
(hectares) (hectares) (hectares) (hectares)
22,35 0,61 21,58 0,56 11,88 0,61 55,82 0,59

Tabela 8 - Obtenção da vazão máxima da bacia sob o tipo de uso I.


C I At Q
(adimensional) (mm/h) (hectares) (m³/s)
0,59 86,58 55,82 7,92

Figura 3 - Mapa da bacia sob o tipo de uso I (Culturas anuais em fileiras) e tipos de solo.

A Tabela 9 é apresentada a obtenção do coeficiente de escoamento superficial e a Tabela 10 a obtenção da vazão


máxima, considerando a característica da bacia como toda sob o tipo de uso II, isto é, pastagem cultivada e mantendo-se os
tipos de solo: Santo Ângelo/Passo Fundo/Pituva (Figura 4).

908
Tabela 9 - Obtenção do coeficiente de escoamento superficial da bacia sob o tipo de uso II.
AI AII AIII At
ccI cc II cc III C
(hectares) (hectares) (hectares) (hectares)
22,35 0,41 21,58 0,36 11,88 0,41 55,82 0,39

Tabela 10 - Obtenção da vazão máxima da bacia sob o tipo de uso II.


C I At Q
(adimensional) (mm/h) (hectares) (m³/s)
0,39 86,58 55,82 5,23

Figura 4 - Mapa da bacia sob o tipo de uso II (Pastagem cultivada) e tipos de solo.

A Tabela 11 é apresentada a obtenção do coeficiente de escoamento superficial e a Tabela 12 a obtenção da vazão


máxima, considerando a característica da bacia, como toda sob o tipo de uso III, isto é, florestas e mantendo-se os tipos de
solo: Santo Ângelo/Passo Fundo/Pituva (Figura 5).

Tabela 11 - Obtenção do coeficiente de escoamento superficial da bacia sob o tipo de uso III.
AI AII AIII At
ccI cc II cc III C
(hectares) (hectares) (hectares) (hectares)
22,35 0,127 21,58 0,10 11,88 0,127 55,82 0,12

Tabela 12 - Obtenção da vazão máxima da bacia sob o tipo de uso III.


C I A Q
(adimensional) (mm/h) (hectares) (m³/s)
0,12 86,58 55,82 1,61

909
Figura 5 - Mapa da bacia sob o tipo de uso III (Florestas) e tipos de solo.

Discussão dos resultados

É verificado que a maior vazão ocorre quando se considera a bacia toda sob o tipo de uso I (Culturas anuais em fileiras)
com 7,92 m³/s, seguida do tipo II (Pastagem cultivada) com 5,23 m³/s e menor vazão quando se considera a bacia toda sob o
tipo de uso III (Florestas) com 1,61 m³/s. A Tabela 13 é apresentada a simulação das bacias para tipo de uso I, II e III, tipos de
solo e os valores das vazões máximas.

Tabela 13 - Vazões máximas obtidas para tipo I, II e III para bacia em estudo.
Bacia Tipo de uso ou cobertura Tipo de solo Q (m³/s)
Uso I Culturas anuais em fileiras Santo Ângelo/Passo Fundo Arenoso)/Pituva 7,92
Uso II Pastagem cultivada Santo Ângelo/Passo Fundo (Arenoso)/Pituva 5,23
Uso III Florestas Santo Ângelo/Passo Fundo (Arenoso)/Pituva 1,61

Estas diferenças são explicadas com o coeficiente de escoamento superficial, pois, este coeficiente integra os efeitos de
todos os processos físicos que ocorrem na bacia, isto é, varia com muitos fatores, tais como: o tipo de solo, cobertura vegetal,
práticas de manejo e intensidade da chuva.
Podemos verificar a influência da cobertura vegetal é significativa, pois, quanto maior a quantidade de obstáculos na
superfície do solo, menor será o valor do coeficiente superficial obtido, pois, a cobertura vegetal vai influenciar na
interceptação, evaporação, transpiração e infiltração, ou seja, nos componentes hidrológicos, mas, principalmente como
obstáculo, para que a gota d’água da chuva não caia diretamente sobre o solo e ocorra o escoamento rapidamente, assim como,
permitir uma maior infiltração da água no solo e além da influência das raízes na estrutura do solo.

COMENTÁRIOS FINAIS

Conclui-se que mais influenciou na vazão máxima é o tipo de uso e cobertura do solo. O uso e a cobertura do solo
influenciam na interceptação da chuva permitindo que a água permaneça na superfície do solo por mais tempo, pois, o uso e a
cobertura podem ser considerados um obstáculo que impede o rápido escoamento superficial e possivelmente permite maior
infiltração, além da influência das raízes na estrutura do solo.

910
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COGO, N.P. (2005). Hidrologia aplicada à conservação do solo. Erosão e Conservação do Solo (AGR 03006). 2005. 13f.
Programa de Pós-Graduação em Agronomia. Departamento de Solos. Faculdade de Agronomia. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, UFRGS.

DENARDIN, J.E. & FREITAS, P.L. (1982). Características fundamentais da chuva no Brasil. Pesquisa Agropecuária
Brasileira. v. 17, n° 10, p. 1409-1416.

HUGGINS, L.F. (1979). Small watershed hydrology. Lafayette, Purdue University. Agricultural Engineering Departament.
Jan. 1979. 67f.

TOMAZ, P. Curso de manejo de águas pluviais. Capítulo 2 - Método Racional. 2013. 15p.

911
5SSS224
PROCEDIMENTOS REFERENTES AO PLANO DE PREVENÇÃO E
PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO EM EDIFICAÇÃO COMERCIAL
DE MÉDIO PORTE NO RIO GRANDE DO SUL

Mateus Pinto da Silva1, Felipe Maciel Paulo Mamédio2 Gabriele Lohmann3


1FTEC, e-mail: mateus_pintosilva@hotmail.com; 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e-mail:
fmp_mamedio@hotmail.com; 3Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),e-mail: gabi.lohmann@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: combate a incêndio; edificação comercial; PPCI.

RESUMO
A Prevenção e Combate a Incêndios é um tema recorrente na história da humanidade, sendo um ponto de interesse
desde que o homem passou a utilizar o fogo para as mais variadas atividades a exemplo de: aquecimento, preparo de alimentos,
têmpera de metais, etc.
Com o passar dos anos, a evolução tecnológica permitiu o desenvolvimento das sociedades e consequentemente a
aglomeração de pessoas em centros urbanos, as quais fazem uso das edificações para as necessidades humanas. Tais
edificações, além de atender as necessidades humanas, apresentam-se também como potencial área de risco, uma vez que,
estão sujeitas a sofrerem danos a exemplo de incêndios, os quais muitas vezes estão associados a negligência humana, falha no
projeto construtivo, falha no projeto elétrico, falha no projeto executivo entre outras.
Gomes (2014) destaca que infelizmente, foram necessárias muitas mortes para que legislações de prevenção contra
incêndio fossem criadas e, depois de criadas, muitas outras ainda foram necessárias para que tais normas fossem cumpridas.
Através da experiência e da observação de eventos de incêndio, considerando as causas que deram início ao incêndio, ao longo
dos anos foram estabelecidas normas, com o intuito de garantir a proteção das estruturas e consequentemente a proteção das
vidas e bens presentes no interior das estruturas. Uma série de medidas de combate ao fogo foram sendo adotadas, bem como o
desenvolvimento de novos equipamentos, novas técnicas e o mais importante, novas legislações e constantes atualizações das
mesmas.
Atualmente, com o objetivo de preservar e proteger as pessoas e o patrimônio público ou privado, em cada estado
brasileiro existe uma legislação específica, composta por Normas Técnicas, Leis, Portarias e Resoluções do Corpo de
Bombeiros, as quais norteiam e orientam a elaboração dos projetos de prevenção e proteção contra incêndio. O Plano de
Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI), tem como objetivo proteger a vida dos ocupantes e as edificações através de ações
que evitem a propagação do fogo e reduzam os danos materiais causados em uma situação de incêndio. Neste sentido, o
presente estudo tem o intuito de seguir os procedimentos recomendados pelo Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do
Sul (CBMRS) para aprovar o PPCI para uma edificação comercial localizada no município de Viamão-RS.
Utilizaram-se como referências para elaboração do presente estudo a Lei Estadual nº 12693/2013, o decreto estadual
nº 53.280/2016 as NBR 12.693/2011, 9077/2011, 10898/1999 e as resoluções técnicas do CBMRS.
O estabelecimentofoi classificado de acordo com a ocupação no Grupo C-2. A carga de incêndio determinada para
este foi de 400 MJ/m² o que significa que a ocupação é de risco médio.
Observando as dimensões do estabelecimento, julgou-se conveniente adotar 9 pontos de hidrante e mangotinhos, 17
extintores e 11 acionadores do alarme de emergência.
Após o estudo de caso realizado no presente trabalho, conclui-se que o projeto de PPCI elaborado encontra-se dentro
das leis pertinentes e em condições de ser aprovado pelo Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul.
Vale destacar que, para garantir a segurnaça da edificação, todas as medidas estruturais e não estruturais indicadas no
PPCI devem ser mantidas após análise e aprovação junto ao corpo de bombeiros. Possíveis descaracterizações da edificação
em relação ao projeto inicial devem ser analisadas para evitar riscos de incêndios futuros.
Em relação à normatização, houve muitos avanços nas últimas décadas. Infelizmente, todos esses avanços
aconteceram devido a grandes catástrofes, as quais culminaram na perda de vidas humanas e de bens materiais. Espera-se que,
as fiscalizações necessárias e obrigatórias para obter-se o certificado de aprovação do PPCI sejam realizadas com o rigor
necessário.
É evidente que o seguimento as normas técnicas favorece uma maior segurança das estruturas, e deve ser feito por
profissionais qualificados, de modo a garantir que todas as recomendações técnicas estejam sendo seguidas a contento.

912
INTRODUÇÃO
Frente a ocorrência de eventos de incêndio e grandes tragédias, ao longo dos anos foram estabelecidas normas a fim de
garantir a proteção das estruturas e consequentemente das vidas e bens presentes no interior das edificações. Diante disso, em
cada estado brasileiro foram criadas legislações específicas, composta por normas técnicas, leis, portarias e resoluções do
corpo de bombeiros, as quais norteiam e orientam a elaboração dos projetos de prevenção e proteção contra incêndio. Dessa
maneira, analisar os critérios das normas, leis e decretos que deve-se observar e respeitar na elaboração de um Projeto de
Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI), apresenta-se como um tema de grande importância.

Conforme explica Bittencourt (2017), o Projeto de Prevenção e Combate a Incêndio é fiscalizado e aprovado pelo
Corpo de Bombeiros, mediante vistorias e concessão de alvarás sendo obrigatório para todas as edificações existentes, mesmo
aquelas que se encontram em situação de construção ou reforma (ampliação de área superior a 10% da sua área total). O PPCI
consiste em um conjunto de memoriais, laudos com a respectiva Anotação de responsabilidade Técnica (ART) e plantas
detalhadas do local da edificação devendo estes serem entregues ao órgão competente para analisa-lo.

Sendo assim, a elaboração de um PCCI tem o intuito de evitar o início fogo, e em caso de ocorrência deste, confina-lo
no seu local de origem, garantir a desocupação da edificação de forma rápida e segura, bem como garantir o combate ao fogo.
Segundo Brentano (2010), as medidas de proteção da edificação ao fogo podem ser classificadas em passivas e ativas.

As medidas de proteção passiva são aquelas tomadas durante a fase de elaboração do projeto arquitetônico e de seus
complementares, com o objetivo de evitar ao máximo a ocorrência de um foco de fogo, e, caso aconteça, reduzir as condições
propícias para o seu crescimento e alastramento para o resto da edificação e para as edificações vizinhas. Podem-se citar como
exemplos: Afastamento entre edificações; Segurança estrutural das edificações; Compartimentações horizontais e verticais;
Controle da fumaça de incêndio; Controle dos materiais de revestimento e acabamento; Controle das possíveis fontes de
incêndio; Saídas de emergência; Sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA); Brigada de incêndio; Acesso das
viaturas do corpo de bombeiros junto à edificação.

Conforme Brentano (2010), as medidas de proteção ativa, também chamadas de medidas de combate, são aquelas
tomadas quando o fogo já está ocorrendo. São sistemas e equipamentos que devem ser acionados e operados, de forma manual
ou automática, para combater o foco de fogo, com o objetivo de extingui-lo ou, em último caso, mantê-lo sob controle até sua
auto-extinção, e também auxiliar na saída dos ocupantes da edificação com segurança e rapidez. Podem-se citar como
exemplos: Sistema de detecção e alarme de incêndio; Sistema de sinalização de emergência; Sistema de iluminação de
emergência; Sistema de extintores de incêndio; Sistema de hidrantes ou mangotinhos; Sistema de chuveiros automáticos
(“sprinklers”); Sistema de espuma mecânica, em alguns tipos de risco; Sistema de gases limpos ou co2, também em alguns
tipos de risco.

Percebe-se assim, que a correta elaboração de um PPCI é vital para garantir a proteção de vidas humanas, bem como
de edificações no geral, sejam elas públicas ou privadas. Nesse sentido, fica evidente que os custos associados a um incêndio
são muito maiores do que os custos associados a prevenção e combate a incêndio.
Observados esses aspectos, e considerando que o combate a incêndio está diretamente relacionado com as políticas
públicas, faz-se necessário entender os procedimentos a serem seguidos para aprovar o PPCI, bem como entender os aspectos
envolvidos na elaboração do mesmo. Nesse trabalho é apresentado o PPCI para uma edificação em construção localizada em
Viamão-RS, atendendo a lei 14.376 de 2013 e as normas pertinentes, a fim de dimensionar as estruturas necessárias para
garantir a segurança da edificação, bem como das pessoas que estejam em contato com essa, considerando o uso e a ocupação
para os quais foi planejada.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo
O presente trabalho buscou realizar o PPCI para uma edificação comercial (Erro! Fonte de referência não
encontrada.) de modo a atender os critérios estabelecidos na legislação, e seguidos pelo CBRS na aprovação do PPCI na
cidade de Viamão – RS. Em respeito à imagem da empresa concedente da área de estudo, julgou-se conveniente manter em
sigilo o nome da mesma , no entanto sua localização é na cidade de Viamão – RS.
O empreendimento atende por um minimercado e padaria, apresenta uma área de 2157 m², dividido em 3 pavimentos,
com altura total de 8,80m.
O minimercado e padaria apresenta em sua estrutura lajes e pilares pré-moldadas, sendo a cobertura com laje de
0,20cm com telhado de fibrocimento, acabamento das paredes de massa corrida com pintura antichama. Todas as aberturas,
incluindo portas externas e internas são construídas de esquadrias de alumínio.

913
Legislação e normas
Na elaboração de um PPCI é necessário seguir as normas técnicas vigentes no sentido de garantir a proteção das
edificações contra possíveis incêndios. Nesse sentido considerando o uso e ocupação das edificações, os produtos
armazenados, entre outros aspectos é possível determinar os equipamentos necessários e possíveis medidas que devem ser
adotadas em caso de incêndio.
No Estado do Rio Grande do Sul, a lei complementar nº 14.376/2013 estabelece as normas sobre segurança,
prevenção e proteção contra incêndios nas edificações e áreas de risco de incêndio. Na referida lei, em seu artigo 4º observa-se
que as edificações e áreas de risco de incêndio precisam obter o Alvará de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (APPCI),
fornecido pelo Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS).
Considerando que o PPCI é necessário, as normas técnicas auxiliam no dimensionamento das estruturas de prevenção
e combate a incêndio, e para efeito do presente estudo, foram utilizadas as seguintes normas técnicas:
 NBR 12.693/2013 - Sistemas de proteção por extintores de incêndio;
 NBR 9077/2001 – Saídas de emergência em edifícios;
 NBR 10898/1999 – Sistema de iluminação de emergência.

Classificação das edificações


Para a classificação de acordo com o uso e ocupação, bem como para o risco quanto a carga de incêndio especifica foi
utilizado o decreto 53.280 de 01 de novembro de 2016 que estabelece normas sobre segurança, prevenção e proteção contra
incêndios nas edificações e areas de risco de incêndio no Estado do Rio Grande do Sul (Rio Grande do Sul, 2016).

Classificação Quanto à Altura da Edificação


A classificação quanto a altura e as medidas de segurança necessárias para que a edificação em estudo esteja adequada
no que se refere a prevenção e o combate ao incêndio foram determinadas conforme a lei complementar n° 14.376, que dispõe
sobre normas de segurança, prevenção e proteção contra incêndios nas edificações e áreas de risco de incêndio no estado do
Rio Grande do Sul. A altura da edificação faz com que sejam necessários as medidas de segurança contra incêndio a exemplo
de: acesso de viatura na edificação; segurança estrutural em incêndio; compartimentação horizontal, compartimentação
vertical; controle de materiais de acabamento e revestimento, saídas de emergencia, plano de emergencia, brigada de incêndio;
iluninação de emergencia; detecção de incêndio; alarme de incêndio; sinalização de emergencia; extintores; hidrantes e
mangotinhos, chuveiros automáticos; e controle de fumaça.

Sistema de Hidrante
A adoção do sistema de hidrantes seguiu os procedimentos recomendados pela NBR 13.714/2000.
Propagação do fogo
A propagação do fogo é avaliada quanto a facilidade ou não da propagação deste sobre a edificação. A classificação
na qual se enquadram as edificações, quanto a propagação do fogo é estabelecida na NBR 9077, a qual aborda os aspectos
referentes as saídas de emergência em edifícios.

Calculo Populacional
O cálculo populacional foi concebido conforme a recomendação do CBMRS (2016)

Onde:
P = População
M²Total = Área total da edificação
M²População = Metro quadrado ocupado

Sinalização de emergência
A sinalização de emergência usada na edificação do presente estudo, é exigida pelo CBMRS e segue os padrões
apresentados na referida resolução técnica CBMRS (2016).

Iluminação de emergência
Os pontos de iluminação de emergência foram planejados para atender a recomendação do CBMRS (2016), de modo
a garantir a identificação da rota de fuga e os objetos nela existente.

914
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Classificação da edificação quanto a ocupação e a carga de incêndio
De acordo com a Tabelas 1 e considerando que a edificação a ser construída atende por um mini mercado e padaria
verificou-se que está é classificada de acordo com a ocupação no Grupo C correspondente ao uso e ocupação comercial e
varejista de ordem 2.
A carga de Incêndio para este grupo, de acordo com a Tabela 2, é de 400 MJ/m² o que significa que a ocupação é de
risco médio.

Tabela 26 - Classificação da edificação e área de risco adotada para o estudo de caso.

Tabela 27 - Classificação da edificação e áreas de risco quanto a carga de incêndio específica.

Classificação da edificação quanto a sua altura


A edificação apresenta um altura de 8,80m, estando assim classificada com altura media (6<H≤12,00m) conforme
Tabela 28.

915
Tabela 28 - Classificação das medidas de segurança para o estudo de caso.
Obs. 2: Pode ser substituída por sistema de detecção de incêndio em todas as áreas e chuveiros automáticos
Obs. 8: Para edificações de divisões C-3
Obs. 9: Somente para áreas de depósitos superiores a 750m²

Classificação da edificação quanto a sua característica construtiva


Conforme a Tabela 29 a edificação é classificada do tipo Y, sendo uma edificação com mediana resistência ao fogo.

Código Tipo Especificação Exemplos


Prédios estruturados em madeira, prédios com entrepisos de
Edificações em que a Edificações com estrutura e
X ferro e madeira, pavilhões em arcos de madeira laminada e
propagação do fogo é fácil. entrepisos combustíveis
outros
Edificações com estrutura Edificações com paredes-cortinas de vidro ("cristaleiras");
Edificações com mediana
resistente ao fogo, mas com edificações com janelas sem peitoris (distância entre vergas
Y resistência
fácil propagação de fogo entre e peitoris das aberturas do andar seguinte menor que 1,00
ao fogo.
os pavimentos m); lojas com galerias elevadas e vãos abertos e outros
Prédios com concreto armado calculado para resistir ao fogo,
Edificações em que a Prédios com estrutura resistente
com divisórias incombustíveis, sem divisórias leves, com
Z propagação do ao fogo e isolamento entre
parapeitos de alvenaria sob as janelas ou com abas prolongando
fogo é difícil. pavimentos
os entrepisos e outros

Tabela 29 - Classificação das edificações quanto a propagação do fogo.

916
Sinalização de Emergência
A sinalização escolhida para a edificação comercial está descrita na Figura 37.

Figura 37 - Sinalização de emergência.

Iluminação de Emergência
A iluminação de emergência deve ser instalada de acordo com a Figura 38 em qualquer caso, mesmo havendo
obstáculos, a exemplo de curva ou escada. Os pontos de iluminação de sinalização devem ser dispostos de forma que, na
direção de saída de cada ponto, seja possível visualizar o ponto seguinte, a uma distância máxima de 15 m, seguindo as
recomendações da NBR 10898. A iluminação de emergencia deve atender os seguintes requisitos:
 Iluminar as saídas de emergência (acessos, descargas, escadas, portas etc.);
 Iluminar os equipamentos de combate a incêndio;
 Ter duração de funcionamento constante de no mínimo 1 (uma) hora, na falta ou no corte da energia elétrica;
 Ser instalados a uma altura entre 2,20 metros e 2,50 metros;
 A distância máxima entre dois pontos de iluminação de emergência deverá ser de, no máximo, 10 metros;
 Devem permitir identificar a rota de fuga e os objetos nela existente, a uma distância de visibilidade mínima
de 5 metros.

917
Figura 38 - Instalação dos pontos de iluminação de emergencia

Tipos de Sistema de hidrantes e mangotinhos


Observando as dimensões do estabelecimento, julgou-se conveniente adotar 9 pontos de hidrante e mangotinhos, 17
extintores ABC – 2A-20BC, e 11 acionadores do alarme de emergência. As Tabela 30, Tabela 31 e Tabela 32 resumem os
procedimentos adotados para classificação dos edifícios e aplicabilidade dos sistemas, as dimensões associadas aos
components do hidrante, e a necessidade de cada um dos componentes (ABNT, 2000).

Tabela 30 - Classificação dos edifícios e aplicabilidade dos sistemas.

918
Tabela 31 - Dimensões, comprimento, saídas e vazão da mangueira do hidrante.

Tabela 32 - Componentes para cada hidrante simples ou mangotinho.

Conforme a NBR 13.714, para as condições do estabelecimento a vazão de 300 l/min é necessária. E por norma o
comprimento máximo da mangueira para essa situação corresponde a 30 metros, e o diâmetro da tubulação deve ser de 40 mm.
Para o caso do hidrante operando na condição hidráulica mais desfavorável é necessário que a reserva de incêndio
atenda essa situação. Desse modo, a reserva técnica de incêndio pode ser obtida através do seguinte equacionamento:

Sendo assim, o dimensionamento de reserva técnica mínima exigida através do cálculo de vazão é de 18.000 litros.

Calculo Populacional
Conforme apresentado na Tabela 33 é possível obter a área ocupada por pessoa em função da ocupação do edifício
CBMRS (2016).

919
Capacidade da Unidade
Ocupação
População de Passagem
(A) (B) (L) (P) Acessos/ Escadas/
Grupo Divisão Portas
Descargas Rampas
A-1 e A-2 Duas pessoas por dormitório (C) (R)
A Duas pessoas por dormitório e uma
A-3 60 45 100
pessoa por 4 m² de área de alojamento (D)
B Uma pessoa por 15 m² de área (F) (H)
C Uma pessoa por 5 m² de área (E) (K)
100 75 100
D Uma pessoa por 7 m² de área (M)
Uma pessoa por 1,5 m² de área de sala
E-1 a E-4
de aula (F) (G)
E 30 22 30
Uma pessoa por 1,5 m² de área de sala
E-5 e E-
de aula (F)
Tabela 33 - Cálculo populacional do estudo de caso.

Considerando o Grupo referente a ocupação do estabelecimento, o cálculo populacional foi obtido conforme a
recomendação do CBMRS (2016), alcançando o seguinte valor:

Observa-se assim que, considerando a ocupação de 5 m² por uma pessoa, para a área total da edificação obtém-se uma
população de 432 pessoas.

Distancias máximas
As distâncias máximas entre cada uma das alternativas propostas foram definidas da seguinte forma:
- Distribuição dos acionadores manuais: A cada 15 metros;
- Distribuição das tomadas e abrigos: A cada 15 metros;
- Distribuição das unidades Extintoras: Máximo 20 metros entre cada unidade. Conforme a recomendação técnica n° 14 do
CBMRS.

Saídas de Emergência
Considerando que serão construídos 3 pavimentos, foram estabelecidas as seguintes saídas de emergência.
- Subsolo: 1 Saída;
- Pavimento Térreo: 2 Saídas;
- 2º Pavimento: 1 Saída.

Planta do PPCI
A Erro! Fonte de referência não encontrada. apresenta o produto final desse estudo em planta de modo a
demonstrar o planejamento adotado para garantir a prevenção e o combate ao incêndio da edificação, a qual se encontra em
construção seguindo todas as normas e recomendações técnicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve a finalidade de apresentar o PPCI para uma edificação em construção localizada em Viamão-
RS. Atendendo a lei 14.376 de 2013 e as normas pertinentes, foi possível dimensionar as estruturas necessárias para garantir a
segurança da edificação, bem como das pessoas que estejam em contato com essa, considerando o uso e a ocupação para os
quais foi planejada.

920
Tendo em vista que muitas vezes falta orientação de como proceder junto ao corpo de bombeiros de modo a iniciar o processo
de análise do PPCI, buscou-se aqui apresentar cada etapa necessária e os detalhes envolvidos a cada etapa.
Assim, com o processo de análise concluido junto ao corpo de bombeiros, é necessário manter todas as medidas
estruturais e não estruturais que foram destinadas ao PPCI. Nesse sentido, possíveis descaracterizações da edificação em
relação ao projeto atual devem ser analisadas, a fim de que continue havendo a segurança desta, e para que não corra risco de
incêndios futuros.
Em relação à normatização, houve muitos avanços nas últimas décadas. Infelizmente, todos esses avanços
aconteceram devido a grandes catástrofes, as quais culminaram na perda de vidas humanas e de bens materiais. Espera-se que,
as fiscalizações necessárias e obrigatórias para obter-se o certificado de aprovação do PPCI sejam realizadas com o rigor
necessário. Observa-se que o seguimento as normas técnicas favorece uma maior segurança das estruturas, e deve ser feito por
profissionais qualificados, de modo a garantir que todas as recomendações técnicas estejam sendo seguidas a contento.
Por fim, após o estudo de caso realizado no presente estudo, conclui-se que o projeto de PPCI elaborado encontra-se
dentro das leis pertinentes e em condições de ser aprovado pelo Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio da FTEC para a realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT. NBR 9077. 2001. Saídas de emergência em edifícios.
ABNT. NBR 12693. 1993. Sistemas de proteção por extintores de incêndio.
ABNT. NBR 13714. 2000. Sistemas de hidrantes e de mangotinhos para combate a incêndio.
ABNT. NBR 10898. 1999. Sistema de iluminação de emergencia.
BITTENCOURT, C. 2017. Elaboração de um plano de prevenção e combate a incêndios: estudo de caso em uma edificação
residencial. UNISUL. Trabalho de Conclusão de Curso. Florianópolis.
BRENTANO, T. 2010. A proteção contra incêndios no projeto de edificações. 2. ed. Porto Alegre.
CBMRS. 2016. Resolução Técnica CBMRS Nº 14 – Extintor de Incêndio.
CBMRS. 2016. Resolução Técnica CBMRS Nº 11 Parte 1 – Saída de Emergência 2016.
CBMRS. 2016. Resolução Técnica CBMRS Nº 5 Parte 8 – Símbolos e Gráficos 2016.
CBMRS. 2016. Resolução Técnica CBMRS Nº 5 Parte 8. 2016.
CBMRS. 2016. Resolução Técnica CBMRS Nº 5 Parte 3 – Carga de Incêndio. 2016.
CBMRS. 2016. Instrução Técnica CBMRS Nº 6 - Acesso de viatura na edificação e áreas de risco. 2016.
GOMES, T. 2014. Projeto de prevenção e combate à incêndio. UFSM. Trabalho de Conclusão de Curso. Santa Maria-RS.
RIO GRANDE DO SUL. LEI COMPLEMENTAR Nº 14.376, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2013. 2013. Dispõe sobre normas
de Segurança, Prevenção e Proteção contra Incêndios nas edificações e áreas de risco de incêndio no Estado do Rio Grande do
Sul e dá outras providências.
RIO GRANDE DO SUL. DECRETO Nº 53.280, DE 1º DE NOVEMBRO DE 2016. 2016. Altera o Decreto nº 51.803, de 10
de setembro de 2014, que regulamenta a Lei Complementar nº 14.376, de 26 de dezembro de 2013, e alterações, que estabelece
normas sobre segurança, prevenção e proteção contra incêndio nas edificações e áreas de risco de incêndio no Estado do Rio
Grande do Sul

921
5SSS225
ALTA EFICIÊNCIA NA FILTRAÇÃO TANGENCIAL DE
PARTICULADOS DE DETERGENTE EM PÓ
Luciano Peske Ceron1, Guilherme Rufatto Schmidt2, Yasmini Chaves de Mello3
1PUCRS, Luciano.ceron@pucrs.br; 2PUCRS, Guirufato@hotmail.com;
3PUCRS, Yasmini.mello@edu.pucrs.br

Palavras-chave: Detergente em pó, Filtro de mangas; Membrana Expandida PTFE.

Resumo
Membranas são barreiras semipermeáveis de separação física entre duas fases utilizadas em processos de separação seletiva
dos componentes de misturas químicas ou físicas. As membranas têm sido desenvolvidas e exploradas de maneira intensiva na
última década para filtração de particulados nas mais variadas aplicações, a citar, processamento de cimento, carvão,
fabricação de detergente em pó, dentre outras. Entretanto, apesar do desenvolvimento industrial e o meio acadêmico do
assunto, a transferência tecnológica deste tema não tem atingido o mercado a contento. Neste trabalho apresenta-se um estudo
prático sobre a aplicação de membranas ePTFE em não tecidos para retenção de particulados de detergente em pó. É ressaltada
a utilização da filtração tangencial como mecanismo ideal para particulados finos e minimizar as emissões de poluentes
atmosféricos, com aumento da produtividade e viabilizar a aplicação em larga escala em filtros de mangas.

Introdução
Problemas advindos da poluição atmosférica variam em diferentes partes do mundo; reduzir tal poluição requer adoção de
estratégias próprias para fontes e tipos específicos de poluentes. Estratégias razoáveis para o controle da poluição atmosférica
são aquelas que visam reduzir, coletar, capturar ou reter os poluentes antes que eles atinjam à atmosfera (Assunção, 1998). Os
filtros de mangas estão dentre os principais equipamentos destinados a efetuar a coleta e retenção dos materiais particulados,
evitando que estes sejam liberados diretamente na atmosfera, sem tratamento adequado (SOUZA & CHAVES, 2004).
A filtração de particulados é a passagem de um gás “sujo” por um meio filtrante, tecido ou não tecido, que separa as partículas
da corrente gasosa, formando uma camada de pó sobre a sua superfície. Essa camada de pó chamada de torta de filtração, com
o decorrer da filtração, também passa a exercer o papel de superfície filtrante, mostrado na Figura 1. Com o passar do tempo à
espessura da torta vai aumentando, assim como a perda de carga no filtro, até alcançar um valor próximo de 150 mmH2O.
Alcançado esse valor a torta de pó deve ser removida da superfície do não tecido (TOMAZZONI, 2007).

Figura 1 - Filtração de particulados.

Fonte: DIAS (2006).

922
A laminação de uma fina camada expandida de politetrafluoretileno (ePTFE), Figura 2, sobre o elemento filtrante proporciona
uma filtração superficial, altamente eficiente na superfície da manga, que suspende a poeira e umidade muito bem,
principalmente, para particulados de baixa granulometria. Esta característica impede a eventual migração na profundidade,
evitando a subida gradual na resistência através dos filtros, que resultaria em aumento da pressão diferencial ao longo do
tempo (RENNER TÊXTIL, 2009).

Figura 2 - Micrografias de membranas.

Fonte: RENNER TÊXTIL (2009).

O objetivo deste artigo foi avaliar a filtração de particulados finos de detergente em filtros de manga na empresa Unilever, uma
aplicação real de mangas filtrantes de poliéster com e sem membrana ePTFE.

Filtros de Mangas
O principio de funcionamento de um sistema de filtros de mangas, o ar é carregado de impurezas, entra no filtro pela moega
inferior e movimenta-se para cima, já com velocidade reduzida. As partículas são retidas na parte externa das mangas,
enquanto o ar atravessa as mesmas. O ar filtrado é expelido para a atmosfera ou retorna ao processo, conforme mostra a Figura
3 (TOMAZZONI, 2007). O filtro de mangas é um equipamento enquadrado na categoria de alta eficiência de coleta de
particulados, chegando em alguns casos a valores de eficiência maiores que 99,9% (RENNER TÊXTIL, 2009).

Figura 3 - Sistema de filtros de mangas.

Fonte: RENNER TÊXTIL (2009).

923
O meio filtrante mais utilizado para sistemas de particulados é um não tecido permeável também conhecido por feltro, que tem
como função reter as partículas sólidas durante a filtração, formando uma torta e deixa passar o gás filtrado. O não tecido é
uma estrutura plana com distribuição aleatória, ou seja, sem um entrelaçamento ordenado e homogêneo das fibras. Não tecidos
aplicados em filtros de mangas, normalmente, possuem gramatura entre 350 a 550 g/m2 contendo uma tela interna, reforçada
no sentido longitudinal com maior densidade de fios, proporcionando maior resistência mecânica no processo de limpeza por
ar comprimido, em filtros por sistema de jato pulsante (CERON et al., 2014).
O poliéster é um dos polímeros mais versáteis da atualidade devido à sua vasta gama de aplicações e propriedades, estando
presentes como fibras têxteis, não tecidos, plásticos de engenharia, polímeros de alta performance e como filtros em processos
de filtração (SKEIST, 1990).
A permeabilidade por um elemento filtrante é uma medida macroscópica que indica a maior ou menor facilidade com que um
fluído submetido a um gradiente de pressão percola os vazios em um meio poroso. Portanto, uma adequada descrição de
permeabilidade deve, combinar aspectos do fluído, da estrutura porosa e do escoamento (FREITAS et al., 2003). O
escoamento do fluído gera uma perda de carga de energia, refletida na forma de queda de pressão ao longo do meio poroso. A
permeabilidade pode ser determinada na Equação 1, conhecida como equação de Forchheimer para fluídos compressíveis,
onde a queda de pressão descreve uma dependência não linear com a velocidade do fluído (INNOCENTINI, 1997).

ΔP = µ . ѵ + ρ . ѵ2 (1)
L K1 K2

Sendo ΔP a variação de pressão absoluta antes e depois do filtro, µ e ρ, a viscosidade e a densidade do fluido, L, a espessura do
meio e ѵ a velocidade superficial do gás. Os parâmetros K1 e K2 são as permeabilidades darciana e não darciana. O primeiro
termo da Equação 1 representa a contribuição das forças viscosas sobre a queda de pressão, causada pelo atrito entre as
moléculas do fluído e pelo atrito entre o fluído e o meio poroso. O segundo termo representa as forças inerciais, causadas pela
turbulência do fluído escoante e/ou pela tortuosidade do meio poroso.
Nos filtros coletores de pó a perda de carga do tecido limpo apresenta um comportamento não linear com o tempo. Esse
comportamento é resultante da compressibilidade da torta e a pressão máxima de operação tende a linearizar após a formação
da torta, conforme mostra a Figura 4 (FREITAS, 2003; MELLO, 2007). O aumento da espessura da torta resulta em um
acréscimo da perda de carga do sistema, tornando necessária à limpeza periódica do filtro para remover a mesma e manter a
perda de carga em níveis adequados de operação (ROCHA, 2010).

Figura 4 - Perda de carga e ciclos de limpeza.

Fonte: ROCHA (2010).

O grau de regeneração nos dá uma idéia do momento em que o processo de filtração/limpeza alcança o estado estacionário.
Sendo bastante útil na comparação entre elementos filtrantes distintos (FREITAS, 2003). Para avaliar o grau de regeneração

924
(R) do meio filtrante, quanto as suas características iniciais, reportam a Equação 2.

R(%) = ∆Pmax - ∆Pr x 100 (2)


∆Pmax - ∆Po

Onde ∆Pmax é a queda de pressão máxima imediatamente antes da limpeza, ∆Pr é a queda de pressão residual e ∆Po é a queda de
pressão do filtro virgem.

Existem diferentes equações para descrever a queda de pressão durante a filtração. Uma delas é a aproximação cumulativa,
onde se divide a queda de pressão total no filtro em duas partes: a queda de pressão no meio filtrante (ΔPm) e a queda de
pressão devido à torta de filtração formada (ΔPc). Desta maneira, tem-se a Equação 3.

ΔPT = ΔPm + ΔPc (3)

As propriedades mecânicas de polímeros são aquelas que determinam a resposta destes materiais às influências externas, que
estão relacionadas com a resistência a tração, ou seja, a força necessária para estirar ou deformar o material e a deformação
alcançada pelo mesmo até a ruptura. As propriedades mecânicas são uma consequência da composição da matriz polimérica e
de sua estrutura nos níveis moleculares e supramoleculares. Com as curvas de tensão versus deformação é possível distinguir
comportamento da resistência dos materiais (HORROCKS & ANAND, 2015).

Materiais e Métodos
As avaliações operacionais em filtro de mangas Hydronic (jet pulse), na empresa Unilever (Indaiatuba/SP), com tecnologia de
processo na filtração de detergente em pó, com granulometria média entre 1 a 5µm. Foram controlados no equipamento a taxa
de emissão de particulados e pressão diferencial (perda de carga).
As mangas filtrantes usadas foram de 550 g/m2, inicialmente de poliéster e após de poliéster com membrana ePTFE, pelo
mesmo período de seis meses.
Os experimentos laboratoriais de permeabilidade e tração, foram realizados no laboratório da Renner, nas amostras retiradas
dos filtros de mangas.

Emissão de Particulados
Conforme recomenda a legislação CONAMA nº 436 de 2011, os testes de amostragem de emissão de particulados foram
realizados nas condições plenas de carga do filtro de forma direta e contínua em duto de chaminé do filtro, de acordo com a
norma NBR 12019:1990 - Efluentes gasosos em dutos e chaminés de fonte estacionárias - Determinação de materiais
particulados. A sonda Autel, modelo RP-04 foi colocada na parte interna do duto da chaminé (Figura 5). A calibração inicial da
sonda foi ajustada por parametrização em medidor de particulado Autel, modelo GDM-1, que monitorou o controle de emissão
de forma contínua, com alarme de pico de emissão ajustado para 20 mg/Nm3. Foi usado o software de monitoramento
ambiental FSC da Autel, via computador, para obter os dados de emissão por gráfico.

Figura 5 - (a) Chaminé após o filtro; (b) Parte externa da sonda; (c) Detector GDM-01.

(a) (b) (c)

Pressão Diferencial
O controle da pressão diferencial entre as câmaras limpa e suja do filtro foi monitorado por um equipamento programador
eletrônico diferencial de pressão Ecomatic, modelo ECO-20. O controle da limpeza das mangas foi por variação de pressão no
sistema, que é mais econômica em função de minimizar ar comprimido e não afetar a resistência mecânica do não tecido. A
fase inicial de limpeza até obter a torta de filtração foi realizado por variação de tempo. A metodologia seguiu a norma NBR

925
10701:1989 - Determinação de pontos de amostragem em dutos chaminés de fontes estacionárias.

Permeabilidade
A determinação da permeabilidade foi realizada em Permeabilimetro Karl Schroder KG, modelo 6940 Weinheim (Figura 6). O
método consiste em colocar amostra no orifício de fluxo do equipamento, ajustar a pressão constante de 20 mm de coluna
d’água em manômetro indicador de pressão diferencial, modelo DPF-15E e ligar o temporizador digital para análise por 30
segundos. O resultado da permeabilidade foi medido em manômetro pelo fluxo de ar (L/min.dm2) que atravessa o não tecido.
O ar é gerado em aspirador Arno Papa-Pó, modelo APAC de 700 W, com fluxo invertido, levado por mangueira até o
aparelho. Foi usada como referência a norma NBR 13706:1996 - Não tecido - Determinação da permeabilidade ao ar.
Figura 6 - Permeabilimetro

Resistência a Tração
Os ensaios mecânicos de tensão em não tecidos foram realizados no sentido longitudinal e transversal, em máquina universal
de ensaio - dinamômetro Frank 81565 IV (Figura 7). O equipamento possui garra superior e inferior com distância ajustada de
200 mm entre elas. O corpo-de-prova fica preso entre as garras, tão esticado quanto possível, sem aplicação de uma pré-tensão.
Aplicou-se uma velocidade de afastamento vertical constante das garras de 100 mm/min, com uma célula de carga de 10 kN,
até o rompimento do corpo de prova. A metodologia usada obedeceu às normas: NBR 13041:1993 - Não tecido -
Determinação da resistência à tração e alongamento.

Figura 7 - Dinamômetro

926
Resultados e Discussão
O acompanhamento foi realizado com frequência de dois meses em processo de finos de carvão, durante seis meses. Primeiro
com mangas de não tecido de poliéster 550 g/m2 e após com poliéster de 500 g/m2 com membrana ePTFE. Os resultados são
apresentados na Tabela 1 e Figura 8, onde permeabilidade e tração estão representados em função da perda percentual em
relação aos seus valores iniciais.

Tabela 1 - Resultados com não tecido sem e com membrana.


PE 550 g/m2 PE 550 g/m2 com membrana ePTFE
Período Emissão Perda de Permeabilidade Tração Emissão Perda de Permeabilidade Tração
(Meses) (mg/Nm3) Carga (L/min.dm2) (daN) (mg/Nm3) Carga (L/min.dm2) (daN)
(mmCA) (mmCA)
0 0 110 100 100 0 50 100 100
2 46,5 135 35 55 1,5 63 93 94
4 89,5 170 18 22 2,4 71 85 88
6 128,4 185 10 15 4,5 83 79 76

Figura 8 - Resultados gerais para filtração sem membrana e com membrana.

Os resultados mostram que as emissões de particulados estão próximo de 50 mg/Nm3, limite máximo recomendado pela
legislação CONAMA 436, anexo XI, foi alcançado com mangas de poliéster com 2 meses de uso. Já com mangas de poliéster
com membrana alcançou taxa de emissão de 4,6 mg/Nm3 com seis meses de uso, portanto, cerca de 10% do valor máximo
permitido pela legislação. Neste mesmo período de uso, com mangas normais de poliéster chegou a 128,4 mg/Nm3 de emissão.

Os valores de permeabilidade com mangas de poliéster saturaram próximo de 2 meses de uso, diminuindo a vazão e
produtividade do filtro, bem como diminuiu a resistência mecânica de tração do não tecido; condições favoráveis para ocorrer
hidrólise no não tecido de poliéster e ocorrer rasgos nas mangas. Nas mangas de membrana, mantiveram-se com valores
estáveis até os seis meses de uso.
A perda de carga máxima recomendada no filtro de mangas, próxima de 150 mmca, foi alcançada com 3 meses de uso com
mangas de poliéster, chegando a 185 mmca em 6 meses de uso. Com mangas de membrana a perda de carga máxima chegou
em 83 mmca em 6 meses de uso. O retorno no filtro, usando mangas de membrana alcançou 10% em produtividade.

Considerações Finais
A membrana de ePTFE proporciona uma filtração tangencial altamente eficiente na superfície de não tecidos, que suspende as
poeira e umidade muito bem, principalmente, para particulados de baixa granulometria. Esta característica impede a eventual
migração na profundidade, evitando a subida gradual na resistência através dos filtros, que resultaria em aumento da pressão
diferencial ao longo do tempo, como em não tecidos convencionais.
Os resultados mostram uma melhora significativa para aplicação de membrana ePTFE em não tecidos para filtração de

927
particulados nos processo de carvão. Os controles de emissão, perda de carga, permeabilidade e tração foram
significativamente superiores em relação aos não tecidos convencionais. Embora não seja uma nova tecnologia é pouco usado
devido o desconhecimento e maior custo inicial de mangas com membrana, porém, após um médio prazo de uso ficam
justificadas a sua aplicação devido à alta produtividade e baixa manutenção no filtro.

Referencias Bibliográficas

CERON, L. P.; EINLOFT, S. M. O.; LIGABUE, R. A. Non woven polyester rufle filtration of the particulate. Química
Têxtil. v. 117, p. 34-44, 2014.

DIAS, T. A eficiência do filtro cartucho. Meio Filtrante, São Bernando do Campo, v. 5, n. 23, p. 23-26, 2006.

INNOCENTINI, M. D. M. Filtração de gases a altas temperaturas. 1997. 266 f. Tese (Doutorado em Engenharia Química)-
Pós-Graduação em Engenharia, UFSC, São Carlos, 1997.

FREITAS, N. L.; MANEIRO, M. G.; COURY, J. R. Estudo da permeabilidade de filtros cerâmicos de aerossol em altas
temperaturas. Projeções, v. 21, p. 29-38, 2003.

HORROCKS, A. R.; ANAND, S. C. Handbookof Technical Textiles: Technical Textile Processes. 2.ed. Boston: Woodhead
Publishing, 2015. 394 p.

MELLO, R. L. S. Estudo do mecanismo eletroforético de coleta na filtração de aerossóis. 2007. 122 f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Química)-Pós-Graduação em Engenharia, UFSC, São Carlos, 2007.

RENNER TÊXTIL. Manual Técnico de Fibras. 3. ed., Cachoeirinha: Renner Têxtil, 2009.

ROCHA, S. M. S. Estudo da influência da velocidade e dos ciclos de filtração na formação da torta na limpeza de gases
em filtro de mangas. 2010. 143 f. Tese (Doutorado em Engenharia Química)-Pós-Graduação em Engenharia Química, UFU,
Uberelândia, 2010.

SKEIST, I. Handbookofadhesives. New York: Van Nostrand Reinhold, 1990, p. 478-498.

SOUZA, A. F.; CHAVES, A. L. Control of the Industrial Gas Polluting Waste. Technologia, v. 5, n. 2, p. 83-106, 2004.

TOMAZZONI, F. Economia de ar comprimido nos filtros de manga do sistema de despoeiramento de alumina da


empresa Alunorte - Alumina do Norte do Brasil S.A. 2007. 128 f. Graduação (Faculdade em Engenharia)-Departamento de
Engenharia Química, PUCRS, Porto Alegre, 2007.

928
5SSS226
RESISTÊNCIA MECÂNICA E FLEXÃO DE TECIDOS DE FIBRA DE
VIDRO APLICADOS NA FILTRAÇÃO DE PARTICULADOS
Luciano Peske Ceron1, Guilherme Rufatto Schmidt2, Yasmini Chaves de Mello3
1PUCRS, Luciano.ceron@pucrs.br; 2PUCRS, Guirufato@hotmail.com;
3PUCRS, Yasmini.mello@edu.pucrs.br

Palavras-chave: Filtro de mangas; Fibra de vidro; Resistência mecânica e flexão.

Resumo
Mangas filtrantes de tecidos de fibra de vidro são usadas em aplicações industriais para filtração de particulados no controle
das emissões de material particulado em filtro de mangas. Estes tecidos necessitam ter resistência mecânica de tração e
alongamento, para realizar a filtração e suportar as flexões durante o processo de limpeza, através de jatos pulsantes com ar
comprimido. Neste trabalho foram investigados três tipos de amostras de tecidos comumente utilizadas em filtração de
particulados. A metodologia utilizada foi de resistência à flexão para materiais de cabedal (Flexômetro Bally - SATRA TM
55/1999) e resistência mecânica à tração e alongamento (Dinamômetro - NBR 13041), sentidos longitudinal e transversal. Os
resultados identificaram melhores resistências mecânicas para produtos com maior gramatura e número de flexões entre
100.000 a 150.000 ciclos até ocorrer danos abrasivos nos tecidos de fibra de vidro.

Introdução
A fibra de vidro é muito resistente quimicamente, mas frágil ao ácido fluorídrico (HF). Como tecido na filtração tem alta
resistência à hidrólise, oxidação, aos ácidos e álcalis, portanto, ideal para a filtração de particulados em altas temperaturas e
nos ambientes agresivos quimicamente. A laminação da Membrana PTFE Expandida sobre o tecido de fibra de vidro
proporciona uma filtração superficial (Figura 1), altamente eficiente na superfície da manga, que suspende a poeira e umidade
muito bem, principalmente, para particulados de baixa granulometria. Esta característica impede a eventual migração na
profundidade, evitando a subida gradual na resistência através dos filtros, que resultaria em aumento da pressão diferencial ao
longo do tempo (CERON, EINLOFT, LIGABUE, 2015).

Figura 1 - Estrutura da fibra de vidro com laminação de membrana PTFE

Fonte: TOMAZZONI (2007)

Do latim filtru, o termo filtro significa feltro ou tecido que é um elemento que deixa passar ou barrar determinado produto,
elemento ou energia de acordo com o uso físico que se dá a este. Em mecânica e hidráulica - um filtro é qualquer peça de

929
material poroso (papel, cerâmica, tela, têxtil, etc), que tenha pequenos orifícios, através dos quais se faz passar um líquido ou
gás. No processo de filtração de gases são retiradas partículas sólidas dispersas do meio gasoso. Pode ser também um sistema
que purifica, fazendo passarem fluídos por peças ou componentes de materiais porosos em filtro de não tecido, retendo os
componentes indesejados no processo de filtração (DICKENSON, 1994).
O principio de funcionamento de um sistema de filtros de mangas, o ar é carregado de impurezas, entra no filtro pela moega
inferior e movimenta-se para cima, já com velocidade reduzida. As partículas são retidas na parte externa das mangas,
enquanto o ar atravessa as mesmas. O ar filtrado é expelido para a atmosfera ou retorna ao processo, conforme mostra a Figura
2 (TOMAZZONI, 2007). O filtro de mangas é um equipamento enquadrado na categoria de alta eficiência de coleta de
particulados, chegando em alguns casos a valores de eficiência maiores que 99,9% (RENNER TÊXTIL, 2009).

Figura 2 - Sistema de filtros de mangas.

Fonte: RENNER TÊXTIL (2009).

A limpeza das mangas consiste na injeção de ar comprimido de forma contínua e automática, ajustada até 4,5 bares de pressão
de limpeza, através de aceleradores do tipo venturi, montados no plenum superior do filtro, um para cada manga. O ar
comprimido nos venturis induz uma grande quantidade de ar secundário, criando uma onda de choque, com respectivo
movimento simétrico no tecido filtrante, deslocando as partículas para a moega de retenção (Figura 3). O tempo de injeção do
ar comprimido em cada fila de mangas, assim como a intermitência, ou seja, o período decorrido entre a limpeza de uma fila e
a subsequente é comandado por um temporizador eletrônico de circuitos integrados (AR AMBIENTAL, 2004).

O teste de resistência mecânica, tração e alongamento, em condições normais para uso, identificam se o material realiza
plenamente o movimento de expansão (na limpeza interna por jato pulsante de ar comprimido) e retração (durante o processo
de filtração normal). A resistência do material é fundamental nos dois processos, pois tecidos em boas condições de aplicação,
resistem à flexão normalmente entre 120.000 e 150.000 ciclos de limpeza de ar, teste avaliado pelo método SATRA (CERON,
2015).
O objetivo deste trabalho foi avaliar e comparar três tipos de tecidos de fibra de vidro, quanto a resistência mecânica à tração e
alongamento, resistência à flexão e avaliação estrutural da fibra por microscopia eletrônica de varredura.

930
Figura 3 - Fluxos de filtragem e limpeza da manga.

Fonte: AR AMBIENTAL (2004).

Materiais e Métodos

Os três tipos de fibra de vidro avaliados e sua respectiva gramatura são apresentados na Tabela 1, fornecidos pelas empresas
GORE (Estados Unidos) e GWI (China).

Tabela 1 - Tipos de tecidos de fibra de vidro


Fabricante Gramatura (g/m2) Identificação do Tipo de Material
GORE 740 Fibra de vidro com membrana PTFE
GORE 340 Fibra de vidro
GWI 740 Fibra de vidro com membrana PTFE

Resistência à Tração e Alongamento


Os ensaios mecânicos de tensão em não tecidos foram realizados no sentido longitudinal e transversal, em máquina universal
de ensaio - dinamômetro Frank 81565 IV (Figura 4). O equipamento possui garra superior e inferior com distância ajustada de
200 mm entre elas. O corpo-de-prova fica preso entre as garras, tão esticado quanto possível, sem aplicação de uma pré-tensão.
Aplicou-se uma velocidade de afastamento vertical constante das garras de 100 mm/min, com uma célula de carga de 10 kN,
até o rompimento do corpo de prova. A metodologia usada obedeceu às normas: NBR 13041:1993 - Determinação da
resistência à tração e alongamento.

931
Figura 4 - Dinamômetro.

Resistência à Flexão
O aparelho para flexão é chamado de Máquina de Flexão de Têxteis Fibrosos, Flexômetro Bally, que é acreditado pelo SATRA
TM 55/1999 e orientação conforme PFI/2001, que possui um sistema de garras onde é fixada a parte superior do corpo de
prova. A outra parte do corpo de prova, parte inferior, é presa em garra com peso de massa de 2 ± 0,01 kg (Figura 5).
O ensaio é realizado pela oscilação mecânica de um eixo abaixo das garras, em um plano perpendicular ao plano dos corpos de
prova verticais, girando a 90 ± 1º em cada lado da vertical, em uma freqüência de 60 ± 10 ciclos por minuto. Na parte inferior,
o peso é suspenso pela extremidade inferior do corpo de prova em movimentos verticais abaixo da linha da dobra. Contadores
de flexões individuais, para cada corpo de prova, indicam o número total de ciclos de flexão completados durante o ensaio,
parando automaticamente quando rompem (Figura 6).

Figura 5 - Dinamômetro e amostras em teste de flexão.

932
Figura 6 - Contadores de flexão e corpo de prova rompido.

Microscopia Eletrônica de Varredura


Utilizou-se a análise por MEV para a caracterização dos tecidos de fibra de vidro. Foi realizado no Centro de Microscopia
Eletrônica da PUCRS em um equipamento de microscopia eletrônica de varredura Philips, modelo XL 30, com tensão de
aceleração de 20 kV. O preparo inicial dos corpos-de-prova foi realizado em metalizadora Bal-Tec, modelo SCD 005, por
metalização com ouro nas amostras. As imagens dos parâmetros de construção dos tecidos foram obtidos com o auxílio do
software ImageJ, para calcular a média e o desvio padrão das fibras e poros.

Resultados e Discussão

Resistência Mecânica
O resultado dos testes mecânicos, apresentados na Tabela 2, identificam resistência mecânica de tração e alongamento até
ruptura muito próximos para os tecidos de 740 g/m2 da GORE e GWI. Quando ao material de 340 g/m2 da GORE apresentou
menor resistência à tração, sentido longitudinal, condição esperada em função de menor gramatura.

Tabela 2 - Resultados dos testes mecânicos.


Análise Dimensão GORE 740 GORE 340 GWI 740
Resistência à Tração Longitudinal 73 29 62
(daN/5cm) Transversal 168 112 136
Alongamento até Longitudinal 3 2 1
a Ruptura (%) Transversal 6 3 3

Resistência à Flexão
Os resultados são apresentados na Tabela 3, que identifica condições iguais para os tecidos de 740 g/m2 da GORE e GWI, que
não apresentaram dano até 150 flexões. Já o material de 340 g/m2 da GORE apresentou leve dano no acabamento com menor
número de flexões.

Tabela 2 - Resultados dos testes mecânicos.


Análise Dimensão GORE 740 GORE 340 GWI 740
150 flexões 150 flexões 150 flexões
Longitudinal
Resistência à Flexão (sem danos) (sem danos) (sem danos)
(SATRA TM 55/1999) 150 flexões 100 flexões 150 flexões
Transversal
(sem danos) (leve dano) (sem danos)
Orientação 150 flexões 150 flexões 150 flexões
Geral
(PFI/2001) (sem danos) (sem danos) (sem danos)

Microscopia Eletrônica de Varredura


A caracterização da fibra de vidro ampliada até 50 e 300 vezes, foi realizada na parte interna da manga GORE e GWI,
representadas respectivamente pelas Figuras 7 e 8. Estas tem estruturas diferentes de construção de tecido de fibra de vidro,
enquanto da GORE são tramadas em 90º as da GWI são tramadas em linhas de 3 por 3.

933
Figura 7 - MEV da estrutura da fibra de vidro GORE.

Figura 8 - MEV da estrutura da fibra de vidro GWI.

A estrutura superficial da membrana PTFE Expandida da GORE, ampliada 50, 300, 1500 e 3000 vezes e apresentada nas
Figura 9 e 10.
Figura 9 - MEV da estrutura da membrana PTFE Expandida (ampliada 50 e 300 vezes).

934
Figura 10 - MEV da estrutura da membrana PTFE Expandida (ampliada 1500 e 3000 vezes).

Considerações Finais
Os resultados da resistência mecânica e resistência à flexão indicam que os produtos de 740 g/m2 são superiores ao de 340
g/m2. As flexões que representam o movimento de limpeza com ar comprimido até 4,5 bares de pressão, mostrou um leve dano
abrasivo com 100 flexões no material da GORE 340 g/m2.
A estrutura da membrana PTFE Expandida depositada na superfície do tecido de fibra de vidro é aplicável para filtração de
partículados finos, pois é uma fina película expandida. Este tipo de material e estrutura é aplicado na filtração de finos,
principalmente em processos ácidos, como gases de fornos de caldeiras e de cimento.
Em aplicações industriais de fibra de vidro com 740 g/m2 são esperados 150.000 ciclos de flexões de limpeza com ar
comprimido até 4,5 bares, até ocorrer algum dano no material.

Referencias Bibliográficas

AR AMBIENTAL. Manual Filtro de Mangas. 3. ed, Cajamar: Ar Ambiental, 2004.

CERON, L. P.; EINLOFT, S. M. O.; LIGABUE, R. A. Nonwoven polyester rufle filtration of the particulate. Química
Têxtil. v. 117, p. 34-44, 2015.

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DICKENSON, C. Filters and Filtration Handbook. 3 ed. Oxford: Elsevier Advanced Technology, 1994.

RENNER TÊXTIL. Manual Técnico de Fibras. 3. ed., Cachoeirinha: Renner Têxtil, 2009.

TOMAZZONI, F. Economia de ar comprimido nos filtros de manga do sistema de despoeiramento de alumina da


empresa Alunorte - Alumina do Norte do Brasil S.A. 2007. 128 f. Graduação (Faculdade em Engenharia)-Departamento de
Engenharia Química, PUCRS, Porto Alegre, 2007.

935
5SSS227
CARACTERÍSTICAS BIOMÉTRICAS E ÍNDICE DE CLOROFILA DE
PLANTAS DE CANA-DE-AÇÚCAR EM FUNÇÃO DO USO DE
BACTÉRIAS DIAZOTRÓFICAS
Ester Schiavon Matoso1, Anita Ribas Avancini2, Nathael Laufer 3, Veronica Massena Reis4, Sérgio Delmar
dos Anjos e Silva5
1Universidade Federal de Pelotas, e-mail: ester_schiavon@hotmail.com; 2Universidade Federal de Pelotas, e-
mail: anita.avancini@hotmail.com; 3Instituto Federal Sul-rio-grandense, Campus Visconde da Graça e-mail:
laufernathael19@gmail.com; 4Embrapa Agrobiologia, e-mail: veronica.massena@embrapa.br; 5Embrapa Clima
Temperado, e-mail.: sergio.anjos@embrapa.br

Palavras-chave: Saccharum sp; inoculante bacteriano; fixação biológica de nitrogênio.

Resumo
A cana-de-açúcar é uma cultura com grande potencial econômico para o Brasil, sendo o país responsável por mais de 25% da
produção mundial. A importância da cana-de-açúcar está na sua ampla utilidade, pois além de açúcar refinado e álcool, ela
pode ser empregada na alimentação animal ou como matéria prima para a fabricação de produtos agroindustriais e artesanais
como rapadura, melaço, melado, açúcar mascavo e aguardente. Seus resíduos também tem grande importância econômica, pois
a vinhaça pode ser utilizada como adubo nitrogenado e o bagaço queimado, para geração de energia. A região de São Paulo é a
maior produtora, ficando o Rio Grande do Sul responsável por menos de 5% do total produzido, isso porque a produtividade
média do estado é baixa, devido ao uso de variedades antigas que geralmente apresentam baixo rendimento e pouca adaptação
às condições ambientais. Neste sentido, tem sido desenvolvidos estudos que visam o aumento da produtividade através de um
cultivo mais sustentável, que incluem o uso de bactérias diazotróficas na promoção de crescimento. Bactérias diazotróficas são
capazes de reduzir o nitrogênio atmosférico, tornando-o assimilável pelas plantas, através da fixação biológica de nitrogênio.
Por isso o uso desses microrganismos pode substituir, total ou parcialmente, o uso de fertilizante nitrogenado na cultura da
cana-de-açúcar. Entretanto, estudos sobre o cultivo sustentável da cana-de-açúcar ainda são escassos, principalmente no que
tange ao uso de bactérias diazotróficas para promoção de crescimento. Diante disto, o objetivo deste trabalho foi avaliar os
efeitos do uso de um mix de cinco espécies de bactérias diazotróficas nas características biométricas e índice de clorofila de
plantas de cana-de-açúcar. O trabalho foi desenvolvido na Embrapa Clima Temperado, sob ambiente protegido, tipo telado. O
delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com 6 repetições, onde cada parcela foi representada por três
plantas de cana-de-açúcar. Os fatores foram arranjados em esquema bifatorial (5x2), com o objetivo de testar cinco variedades
de cana-de-açúcar e o uso de bactérias diazotróficas (com e sem uso de inoculante bacteriano), totalizando 10 tratamentos. As
variedades de cana-de-açúcar utilizadas foram: RB867515; RB966928; RB016814; RB016818 e RB016819 e foi utilizado um
inoculante bacteriano contendo cinco estirpes das espécies: Gluconacetobacter diazotrophicus; Herbaspirillum seropedicae;
Herbaspirillum rubrisubalbicans; Paraburkholderia tropica e Nitrospirillum amazonense. Aos 120 dias foram realizadas as
avaliações de número de folhas, número de gemas, altura de planta, diâmetro de colmo e índice de clorofila (SPAD). Os
resultados obtidos foram analisados quanto à normalidade pelo teste de Shapiro-Wilk, à homocedasticidade pelo teste de
Hartley e a independência dos resíduos foi verificada graficamente. Posteriormente, foram submetidos à análise de variância
(p≤0,05) e em caso de significância estatística, compararam-se os efeitos das variedades pelo teste de Tukey (p≤0,05) e do uso
de bactérias diazotróficas pelo teste t (p≤0,05). O uso de bactérias diazotróficas proporcionou um aumento no número de
folhas da variedade RB016819 e no número de gemas da RB966928. Em relação a altura de planta e diâmetro de colmo, a
variedade RB966928 foi a única que respondeu ao uso de bactérias diazotróficas, para os dois parámetros. Nos tratamentos
com uso de bactérias, não houve diferença na altura das plantas entre as variedades, enquanto que sem o uso, a variedade
RB016819 se destacou entre as demais, com altura acima de 120 centímetros. Em relação ao diâmetro de colmo, os maiores
valores foram observados nas variedades RB867515 e RB016818, sendo a média dos tratamentos com bactérias, superior aos
tratamentos sem. Já o índice de clorofila foi influenciado pelo uso de bactérias diazotróficas nas variedades RB867515,
RB966928 e RB016819, sendo que essa última se destacou por apresentar o maior conteúdo de clorofila dentre os tratamentos.
Portanto, pode-se concluir que o uso de bactérias diazotróficas no cultivo de cana-de-açúcar promove aumentos significativos
em características importantes, como altura de planta, diâmetro de colmo e índice de clorofila. E através da fixação biológica
de nitrogênio, pode melhorar o estado nutricional das plantas, levando ao uso de menor quantidade de fertilizantes
nitrogenados, o que diminui os impactos ambientais da utilização desses insumos e torna o cultivo da cana-de-açúcar mais
sustentável. No entanto, as respostas positivas ao uso das bactérias são variáveis, sendo algumas variedades de cana-de-açúcar,
mais responsivas que outras.

936
Introdução

A cana-de-açúcar (Saccharum spp.) é uma planta pertencente à família Poaceae, que perfilha de maneira abundante na
fase inicial do desenvolvimento e em seguida vai formando touceiras, compostas por partes aéreas e subterrâneas. E por
possuir uma estrutura tipo rizoma, constituída por nós, entrenós e gemas, rebrota sempre que a parte aérea é cortada, sendo a
nova brotação conhecida como soqueira. Após o plantio a primeira vegetação é denominada cana-planta, enquanto as soqueiras
são denominadas de cana de primeira soca, segunda soca e assim por diante. As soqueiras são de grande importância, pois é
delas que se retira o maior retorno econômico dessa cultura (MATSUOKA; STOLF, 2012). A importância da cana-de-açúcar
está na sua ampla utilidade, pois além de açúcar refinado e álcool, ela pode ser empregada na alimentação animal ou como
matéria prima para a fabricação de produtos agroindustriais e artesanais como rapadura, melaço, melado, açúcar mascavo e
aguardente. Seus resíduos também tem grande importância econômica, pois a vinhaça pode ser utilizada como adubo
nitrogenado e o bagaço queimado, para geração de energia. (COUTO, 2013).
O Brasil é responsável por mais de 25% da produção mundial de cana-de-açúcar, é também o primeiro do mundo na
produção de açúcar e conquista, cada vez mais, o mercado externo com o uso do etanol como alternativa energética
(OECD/FAO, 2018). No país a região de São Paulo é a maior produtora, mas no Rio Grande do Sul (RS) possui vasta área de
aptidão ao cultivo canavieiro apresentada no zoneamento agroclimático para o estado (MANZATTO; BACA; PEREIRA,
2010), e no estado está concentrado 40% das agroindústrias de produtos derivados de cana-de-açúcar (VERÍSSIMO et al.,
2012). Entretanto, a produtividade média do estado é de 40 Mg.ha-1, aproximadamente 50% da média nacional (CONAB,
2018), o que ocorre devido ao uso de variedades antigas que geralmente apresentam baixo rendimento e pouca adaptação às
condições ambientais, o que leva à cultura a não resistir a situações de geadas no inverno e falta de chuva no verão que
comumente ocorrem na região. Contudo, a grande importância da cultura canavieira no estado tem levado à busca por ganhos
produtivos, que trás a tona uma preocupação com os impactos ambientais que esta situação pode causar (CEZARINO;
LIBONI, 2012). Neste sentido, tem sido desenvolvidos estudos que visam o aumento da produtividade através de um cultivo
mais sustentável, sendo eles no âmbito da utilização de cultivares adaptadas às diferentes condições de clima e solo
(ANTUNES et al., 2017), aproveitamento de resíduos da cultura (MENDES et. al., 2012) e uso de bactérias promotoras de
crescimento (PEDULA et. al., 2016; OLIVER; SILVA, 2018; OLIVEIRA et al., 2018).
Bactérias endofíticas diazotróficas habitam o interior das plantas de cana-de-açúcar e auxiliam na obtenção de
nutrientes, através do aumento das raízes, assimilação de CO2 e número de folhas (SCHULTZ et at., 2014). Além disso, atuam
em outros processos como a solubilização de fosfatos e zinco (ESTRADA et al., 2013) e a produção de auxinas, giberilinas e
citocininas (LIN et al., 2012). Outro aspecto importante é a fixação biológica de nitrogênio (FBN), pois diante dos impactos
ambientais decorrentes das práticas da cultura canavieira, a menor utilização da adubação química de nitrogênio pode
proporcionar uma melhoria da qualidade do solo, dos mananciais e de outros componentes ambientais. A FBN está inclusa em
um plano estratégico do Brasil, o da Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que foi desenvolvido devido à crescente demanda
global por uma agricultura sustentável (BRASIL, 2012). Bactérias diazotróficas são capazes de reduzir o nitrogênio
atmosférico, tornando-o assimilável pelas plantas, por isso a inoculação desses microrganismos pode substituir, total ou
parcialmente, o uso de fertilizante nitrogenado na cultura da cana-de-açúcar. Mas assim como na adubação nitrogenada, as
respostas à inoculação dependem da variedade empregada (SCHULTZ et al. 2012; URQUIAGA et al., 2012; PEREIRA et al.,
2013) e costumam ser mais frequentes em solos de média e baixa fertilidade (GOSAL et al., 2012; OLIVEIRA et al., 2006). O
nitrogênio é o nutriente absorvido em maior quantidade pela cana-de-açúcar e em caso de deficiência, ocorre diminuição do
perfilhamento, área foliar e longevidade das folhas, o que resulta em uma baixa produtividade da cultura. O diagnóstico de
deficiência pode ser feito através da medida do teor de clorofila nas folhas, pois, esse é proporcional à quantidade de nitrogênio
que a planta absorveu (SCHADCHINA; DMITRIEVA, 1995). Entretanto, estudos sobre o cultivo sustentável da cana-de-
açúcar ainda são escassos, principalmente no que tange ao uso de bactérias diazotróficas para promoção de crescimento. Diante
disto, o objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos do uso de um mix de cinco espécies de bactérias diazotróficas nas
características biométricas e índice de clorofila de plantas de cana-de-açúcar.

Material e Métodos

O trabalho foi desenvolvido sob ambiente protegido (telado) na Embrapa Clima Temperado (sede), localizada no
município de Pelotas, no Rio Grande do Sul, com latitude 52°26’25” Oeste e 31°40’41” Sul e altitude de 60 metros. O
delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com 6 repetições, onde cada parcela foi representada por três
plantas de cana-de-açúcar. Os fatores foram arranjados em esquema bifatorial (5x2), com o objetivo de testar cinco variedades
de cana-de-açúcar e o uso de bactérias diazotróficas (com e sem uso de inoculante bacteriano), totalizando 10 tratamentos. As
variedades de cana-de-açúcar utilizadas foram: RB867515; RB966928; RB016814; RB016818 e RB016819 e o inoculante
bacteriano utilizado continha cinco estirpes de bactérias diazotróficas, sendo elas: BR11281T = PAL-5T de Gluconacetobacter
diazotrophicus descrita por Cavalcante e Döbereiner (1988); BR11335 = HRC54 de Herbaspirillum seropedicae, descrita por

937
Baldani et al. (1986); BR11504 = HCC103 de Herbaspirillum rubrisubalbicans, descrita por Baldani et al. (1996); BR11366T
= PPe8T de Paraburkholderia tropica, anteriormente pertencente ao gênero Burkholderia, descrito por Reis et al. (2004) e
recentemente reclassificado por Oren e Garrity (2015); e BR11145 = CBAMc de Nitrospirillum amazonense, anteriormente
pertencente ao gênero Azospirillum, descrito por Magalhães et al. (1983) e reclassificado por Lin et al. (2014). Essas bactérias
foram previamente testadas e selecionadas por Oliveira et al. (2002, 2006) e foram fornecidas pela Coleção de Bactérias
Diazotróficas da Embrapa Agrobiologia - CBR Johanna Döbereiner.
A propagação da cana-de-açúcar foi feita através da produção de mudas, a partir da utilização de minitoletes, baseado
no manual desenvolvido na Índia pelo ICRISAT (2009) e semelhante à metodologia de Landell et al. (2012). Onde foram
coletados colmos de cana-de-açúcar inteiros no campo com o auxílio de um “podão” e feita a despalha desses. Em seguida os
colmos foram cortados em toletes de uma gema, também conhecidos como minitoletes ou minirrebolos, separando as gemas
viáveis e sem o ataque de pragas. Para o corte e preparo destes minitoletes foi utilizado um sistema de guilhotina com lâmina
dupla devidamente desinfestado (XAVIER et al., 2008). Com intuito de eliminar microrganismos já presentes na cana e para
evitar uma possível interferência com as estirpes de bactérias, os minitoletes foram submetidos à termoterapia por 30 minutos a
52 ºC (SANGUINO; MORAES; CASAGRANDE, 2006) e tratamento com fungicida de ação sistêmica a base de
piraclostrobina por 3 minutos. A inoculação foi realizada através da imersão dos minitoletes tratados, por 30 minutos em
solução bacteriana turfosa, contendo um mix das cinco estirpes de bactérias diazotróficas, sendo plantados em seguida em
tubetes contendo substrato (PEREIRA et al., 2013). As bandejas de tubetes com volume de 290 cm³ cada, foram mantidas sob
ambiente protegido por um período de aproximadamente 30 dias, para que ocorresse a brotação das gemas. Após este período,
as mudas foram transplantadas para sacos plásticos pretos de cinco litros, contendo substrato de marca comercial, a base de
turfa e casca de arroz carbonizada e então, as plantas foram transferidas para telado, onde foi realizado o experimento (Figura
1).
Aos 90 dias após a transferência das plantas para o telado, foram realizadas as avaliações das características
biométricas das plantas em fase adulta, priorizando-se o colmo principal e desbastados os demais perfilhos. O número de
folhas e de gemas foram realizados através da contagem dos mesmos, a altura da planta foi medida com o auxílio de uma régua
graduada em centímetros e o diâmetro do colmo, em milímetros, foi medido com o auxílio de um paquímetro digital na porção
intermediária do mesmo. O índice de clorofila foi observado na porção intermediária das folhas +3, através do medidor de
clorofila ClorofiLOG, da marca FALKER, modelo CFL 1030. Esse equipamento usa três faixas de frequência de luz,
permitindo uma análise detalhada que pode ser visualizada instantaneamente ou armazenada no computador. A medição ótica
analisa a absorção de luz pela folha, indicando a presença de clorofila em valores SPAD (Soil Plant Analysis Development).
Os resultados obtidos foram analisados quanto à normalidade pelo teste de Shapiro-Wilk, à homocedasticidade pelo teste de
Hartley e a independência dos resíduos foi verificada graficamente. Posteriormente, foram submetidos à análise de variância
(p≤0,05) e em caso de significância estatística, compararam-se os efeitos das variedades pelo teste de Tukey (p≤0,05) e do uso
de bactérias diazotróficas pelo teste t (p≤0,05).

Figura 1 – Visão geral do experimento desenvolvido em telado, Embrapa Clima Temperado, 2019.

938
Resultados e Discussão
Com a aplicação do teste F na análise da variância, identificou-se a significância da interação bifatorial (variedades x
uso de bactérias diazotróficas) para todas as variáveis avaliadas. Assim, os efeitos isolados dos fatores foram desconsiderados e
analisaram-se detalhadamente as interações (Tabelas 1 até 3).
O uso de bactérias diazotróficas proporcionou um aumento no número de folhas da variedade RB016819 e no número
de gemas da RB966928 (Tabela 1). Observou-se ainda, que dentre as variedades, de forma geral a RB016819 independente do
uso de bactérias diazotróficas, foi a que apresentou os maiores números de folhas e de gemas. Conforme Falconer (1987), o
número de folhas sofre variação genética e ambiental, ou seja, pode ser influenciado pela variedade de cana-de-açúcar e
também pelas condições em que a planta se encontra. A importância da cobertura foliar das plantas é amplamente conhecida
por ser um indicativo de produtividade e fitomassa nos cultivos (FIGUEIREDO et al., 2010). O número de gemas também é
uma característica extremamente influenciada por fatores genéticos, mas sofreu influencia do uso de bacterias. Esse aumento é
bastante importante, tendo em vista o sistema de produção de mudas pré-brotadas que vem sido utilizado no cultivo de cana-
de-açúcar atualmente (LANDELL et al., 2012).
Tabela 1 – Número de folhas e número de gemas de plantas de cana-de-açúcar em função das variedades e do uso de
bactérias diazotróficas. Embrapa Clima Temperado, 2019.
Número de folhas Número de gemas
Variedade de cana-de-açúcar
Sem BD Com BD Sem BD Com BD
ns ns
RB867515 5,83 ab 5,67 b 4,83 ab 5,33 ab
RB966928 6,67 a ns 6,83 ab 3,66 bc * 4,67 ab
RB016814 4,83 b ns 6,16 b 3,16 c ns 3,83 b
RB016818 6,16 ab ns 6,50 ab 5,17 a * 3,83 b
RB016819 6,67 a * 8,33 a 5,67 a ns 6,17 a
Média 6,03 6,70 4,50 4,77
CV (%) 15,9 16,3 10,5 19,3
/1Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Tukey (p≤0,05), comparando as variedades de
cana-de-açúcar sem e com o uso de bacterias diazotróficas. * e ns significativo e não significativo, pelo teste t (p≤0,05), quando
comparado o uso de bacterias diazotróficas, dentro de cada variedade de cana-de-açúcar. BD: Bactérias diazotróficas.

Na Tabela 2 estão apresentados os resultados de altura de planta e diámetro de colmo das plantas. A variedade
RB966928 foi a única que respondeu ao uso de bactérias diazotróficas, para os dois parámetros observados. Nos
tratamentos com uso de bactérias, não houve diferença na altura das plantas entre as variedades, enquanto que sem o uso,
a variedade RB016819 se destacou entre as demais, com altura acima de 120 centímetros. Em relação ao diâmetro de
colmo, os maiores valores foram observados nas variedades RB867515 e RB016818, sendo a média dos tratamentos com
bactérias, superior aos tratamentos sem. Os parâmetros biométricos de plantas de cana-de-açúcar produzidas a partir de
minitoletes têm sido estudados por diversos autores, uma vez que, o potencial de acúmulo de sacarose por plantas de
cana-de-açúcar está mais relacionado às medidas de dimensões lineares, como a altura e o diâmetro do colmo
(MARAFON et al., 2012). Além disso, Landell & Silva (2004) salientam que o diâmetro de colmos é um dos principais
componentes analisados para a formação do potencial agrícola, pois está relacionado à produtividade. A disponibilidade
de nutrientes está diretamente ligada ao desenvolvimento de parte aérea, portanto, a inoculação de bactérias diazotróficas
também promove o crescimento das mudas de cana-de-açúcar, pois torna os nutrientes disponíveis para as plantas.
Tabela 2 – Altura de planta e diâmetro de colmo de plantas de cana-de-açúcar em função das variedades e do uso de
bactérias diazotróficas. Embrapa Clima Temperado, 2019.
Altura de planta (cm) Diâmetro de colmo (mm)
Variedade de cana-de-açúcar
Sem BD Com BD Sem BD Com BD
RB867515 108,00 b ns /1 123,67 a 19,88 a ns 21,70 a
RB966928 82,00 b * 105,83 a 14,35 b * 17,36 bc
RB016814 86,33 b ns 98,93 a 16,88 ab ns 17,76 bc
RB016818 105,83 b ns 104,67 a 19,13 a ns 18,49 b
RB016819 123,50 a ns 118,17 a 14,89 b ns
16,21 c
Média 101,13 110,13 17,03 18,30
CV (%) 13,1 17,8 10,6 6,6
/1Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Tukey (p≤0,05), comparando as variedades de
cana-de-açúcar sem e com o uso de bacterias diazotróficas. * e ns significativo e não significativo, pelo teste t (p≤0,05), quando
comparado o uso de bacterias diazotróficas, dentro de cada variedade de cana-de-açúcar. BD: Bactérias diazotróficas.

939
O índice de clorofila foi influenciado pelo uso de bactérias diazotróficas nas variedades RB867515, RB966928 e
RB016819, sendo que essa última se destacou por apresentar o maior conteúdo de clorofila dentre os tratamentos (Tabela 3). O
nitrogênio (N) é o nutriente absorvido em maior quantidade pelas plantas em geral, e é utilizado na síntese de compostos
celulares, como a clorofila, sendo portanto, o seu teor nas folhas da planta, proporcional à quantidade de nitrogênio que ela
absorveu. Dessa forma, conhecendo o índice de clorofila é possível saber se as plantas estão com deficiência de N
(BLACKMER; SCHEPERS, 1994). Alguns autores ao observar o índice de clorofila (SPAD) em plantas de milho, concluíram
que valores por volta de 45 são considerados ótimos para gramíneas (FONSECA et al., 2012), estando portanto, as plantas do
presente estudo, com deficiência de N. Contudo, diante das diferenças entre os tratamentos com e sem o uso de bactérias
diazotróficas, pode-se observar que a fixação biológica de nitrogênio é eficiente em algumas variedades, aumentando a
disponibilidade do nutriente para as plantas de cana-de-açúcar.

Tabela 3 – Índice de clorofila (SPAD) de plantas de cana-de-açúcar em função das variedades e do uso de bactérias
diazotróficas. Embrapa Clima Temperado, 2019.
Índice de clorofila (SPAD)
Variedade de cana-de-açúcar
Sem BD Com BD
/1
RB867515 19,87 b * 28,50 b
RB966928 22,37 ab * 27,63 b
RB016814 27,20 a ns 28,08 b
RB016818 25,08 ab ns 28,67 b
RB016819 25,27 ab * 35,63 a
Média 23,96 26,83
CV (%) 13,5 13,4
/1Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Tukey (p≤0,05), comparando as variedades de
cana-de-açúcar sem e com o uso de bacterias diazotróficas. * e ns significativo e não significativo, pelo teste t (p≤0,05), quando
comparado o uso de bacterias diazotróficas, dentro de cada variedade de cana-de-açúcar. BD: Bactérias diazotróficas.

Considerações Finais

O uso de bactérias diazotróficas no cultivo de cana-de-açúcar promove aumentos significativos em características


importantes, como altura de planta, diâmetro de colmo e índice de clorofila, que reflete o conteúdo de nitrogênio. Portanto,
pode-se concluir que o uso de bactérias diazotróficas melhora o estado nutricional das plantas, podendo levar ao uso de menor
quantidade de fertilizantes nitrogenados, o que diminui os impactos ambientais da utilização desses insumos e torna o cultivo
da cana-de-açúcar mais sustentável. No entanto, as respostas positivas ao uso das bactérias são variáveis, sendo algumas
variedades de cana-de-açúcar, mais responsivas que outras. As variedades RB867515 e RB966928 estão entre as mais
cultivadas no Brasil, sendo os resultados do presente estudo extremamente positivos.

Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer à Embrapa Clima Temperado pela estrutura e materiais disponíveis para o
desenvolvimento do trabalho e à Embrapa Agrobiologia pelo envio dos inoculantes bacterianos. Também á Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) pela concessão de bolsas de estudo que possibilitaram aos alunos desenvolver a pesquisa. E por fim, a
Universidade Federal de Pelotas, especialmente ao Programa de Pós-graduação em Sistemas de Produção Agrícola Familiar
por tornarem possível a realização de trabalhos e a divulgação destes, através dos cursos de mestrado e doutorado.

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943
5SSS228
RELAÇÃO ENTRE SÓLIDOS VOLÁTEIS E ATIVIDADE
METANOGÊNICA ESPECÍFICA DE LODOS ANAERÓBIOS
Elaine Cristina Latocheski1, Maria Cristina Borba Braga2
1Universidade Federal do Paraná, e-mail: e.latocheski@gmail.com; 2Universidade Federal do Paraná, e-mail:
crisbraga@ufpr.br

Palavras-chave: Tratamento anaeróbio; Lodo anaeróbio; Atividade metanogênica específica.

Resumo
O processo biológico anaeróbio pode ser uma alternativa vantajosa para o tratamento de resíduos sólidos ou de águas
residuárias. Entretanto, sua eficiência e estabilidade estão atreladas à presença, no lodo utilizado como inóculo, de micro-
organismos metabolicamente ativos. Dessa forma, é importante monitorar parâmetros que permitam quantificar a concentração
e a atividade metabólica de micro-organismos dos lodos inoculados em sistemas anaeróbios de tratamento. Frequentemente, a
concentração de sólidos voláteis suspensos ou totais é utilizada como parâmetro indicador indireto da concentração
microbiana. Por outro lado, quanto à atividade metabólica microbiana, costuma-se determinar a atividade metanogênica
específica (AME) dos lodos. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi determinar a concentração de sólidos voláteis totais
(SVT), a relação entre os sólidos voláteis totais e os sólidos totais (SVT/ST) e a AME de três lodos anaeróbios com potencial
para serem utilizados no tratamento anaeróbio de águas residuárias. Neste trabalho, a concentração de SVT e os valores da
relação SVT/ST não puderam ser relacionados à AME dos lodos, o que indica que, neste caso, a concentração de sólidos
voláteis não se mostrou um indicador adequado para estimar a concentração microbiana e atividade dos lodos.

Introdução
O tratamento biológico anaeróbio pode ser aplicado para a atenuação do potencial poluidor de resíduos sólidos e de águas
residuárias e consiste na conversão da matéria orgânica a biogás, rico em metano e dióxido de carbono, a água e a células
microbianas. O processo anaeróbio apresenta vantagens como: a) a produção de metano, que pode ser utilizado como
alternativa energética a partir da degradação de resíduos; b) pequena geração de lodo, o que, por vez, minimiza a dificuldade
associada à disposição e/ou tratamento deste resíduo; c) pequeno consumo energético; d) baixo custo de operação (McCarty,
1964, 2001).
Apesar dos aspectos positivos do processo anaeróbio, sua eficiência e estabilidade estão condicionadas a vários fatores, entre
os quais a composição da comunidade microbiana e a presença de quantidade suficiente de micro-organismos metabolicamente
ativos. Se estes fatores biológicos não forem levados em consideração, podem ocorrer implicações como tempos de partidas
demasiadamente longos para os sistemas anaeróbios e prejuízo à eficiência e/ou à estabilidade do processo anaeróbio
(McCarty, 1964; Annachhatre, 1996; Oz et al., 2012; Chernicharo, 2016). Dessa forma, a qualidade e a quantidade do lodo
utilizado como inóculo dos sistemas anaeróbios de tratamento são críticas para o desempenho adequado e para o controle do
processo e devem ser avaliadas tanto durante a concepção do sistema como durante sua operação.
Um dos parâmetros tradicionalmente utilizados pela Engenharia Sanitária para quantificar, indiretamente, a concentração de
micro-organismos de um lodo a ser utilizado como inóculo em um sistema anaeróbio é a concentração de sólidos voláteis totais
ou suspensos (Chernicharo, 2016). Para a quantificação dos sólidos voláteis, parte-se do princípio que a maioria dos compostos
orgânicos, como as células microbianas de um lodo, entra em combustão na temperatura do ensaio, geralmente 550 °C, e é
perdida por volatilização, enquanto a matéria inorgânica permanece na amostra (Rice et al. – Editores, 2012, método 2540).
Além da determinação da concentração de sólidos voláteis, a relação entre sólidos voláteis e sólidos totais (SV/ST) também
pode ser utilizada para caracterizar lodos quanto à quantidade de micro-organismos que os compõem (Chernicharo, 2016).
Quanto mais próxima a relação SV/ST estiver de 1, maior considera-se a quantidade de matéria orgânica e, consequentemente,
de células microbianas de um lodo.
Embora sua determinação experimental seja fácil de ser realizada, a concentração de sólidos voláteis fornece uma medida
indireta e inespecífica da microbiota anaeróbia presente em um lodo. Além do mais, a concentração de sólidos voláteis de um
lodo pode não refletir a atividade microbiana, conforme observado por Venkiteshwaran et al. (2017), porque não permite
diferenciar entre micro-organismos ativos ou inviáveis, ou mesmo entre células microbianas e matéria orgânica residual.
Ao longo do tempo, foram desenvolvidos outros métodos que buscam complementar a análise de um lodo a ser utilizado como
inóculo em um sistema anaeróbio, tornando, dessa forma, mais acurado o controle do processo de tratamento de resíduos ou de
águas residuárias. Entre eles, há o ensaio de determinação da atividade metanogênica específica (AME), que, de maneira geral,
avalia a atividade metabólica da microbiota que compõe um lodo anaeróbio.

944
A atividade metanogênica específica (AME), que corresponde à taxa máxima de produção de metano de um lodo anaeróbio,
tem sido utilizada como ferramenta de controle operacional de sistemas anaeróbios de tratamento, pois reflete a eficiência da
população microbiana de um lodo para converter a matéria orgânica a metano (Aquino et al., 2007; Souto et al., 2010;
Chernicharo, 2016).
Embora o ensaio da AME seja utilizado, na Engenharia Sanitária, para avaliar a capacidade metabólica dos micro-organismos
constituintes de um lodo anaeróbio, o resultado pode ser influenciado pelas condições experimentais do ensaio. De acordo com
Souto et al. (2010), por exemplo, a relação alimento/micro-organismos (A/M), isto é, a relação entre a concentração de
substrato e a de sólidos voláteis do lodo foi a condição experimental que influenciou mais acentuadamente o resultado da
AME.
Para a determinação da AME, a taxa máxima de produção de metano é normalizada pela concentração de sólidos voláteis,
suspensos ou totais, do lodo inoculado, de forma que os resultados de AME de lodos distintos possam ser comparados entre si.
Porém, como se trata de uma medida inespecífica e indireta da concentração de micro-organismos do lodo, a concentração de
sólidos voláteis pode levar a interpretações inadequadas dos resultados da AME quando utilizada para a normalização dos
valores.
Neste contexto, este trabalho teve como objetivo determinar a AME de três lodos com potencial de serem utilizados para o
tratamento anaeróbio de águas residuárias, além de avaliar a relação entre a concentração de sólidos voláteis totais dos lodos e
os resultados da AME.

Material e Métodos
Neste estudo, foram avaliados três lodos, a saber:
-lodo 1: coletado de um reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo (reator UASB), operado em escala piloto e
utilizado para o tratamento de esgoto sanitário codisposto com lixiviado de aterro sanitário;
-lodo 2: proveniente de um reator UASB, operado em escala real, aplicado ao tratamento de esgoto sanitário;
-lodo 3: coletado de uma lagoa facultativa utilizada para o tratamento de lixiviado de aterro sanitário.
Inicialmente, os três lodos foram caracterizados quanto à concentração de sólidos totais, sólidos voláteis totais e sólidos fixos
totais. Os ensaios seguiram os protocolos do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (Rice et al. –
Editores, 2012, método 2540) e foram feitas triplicatas de cada lodo, com exceção do lodo 3, cuja análise foi feita em
duplicata. A fim de diminuir o tamanho dos grânulos e facilitar a realização do ensaio, os lodos 1 e 2, provenientes de reator
UASB, foram passados por peneira comum. A partir dos resultados da concentração de sólidos, foi calculada a relação entre os
voláteis totais e os totais (SVT/ST).
Os três lodos foram também avaliados por meio da determinação da atividade metanogênica específica (AME). O ensaio da
AME seguiu as recomendações de Aquino et al. (2007). O método escolhido foi o de medição volumétrica direta do metano
produzido e os ensaios foram feitos em duplicata para cada lodo. O sistema montado para a realização do ensaio é mostrado na
Figura 1.

Figura 1: aparato experimental para o ensaio de determinação da AME

945
O aparato experimental para determinação da AME era composto de:
-frasco de reação: neste frasco são recebidos uma alíquota do lodo a ser avaliado, solução de micro e de macronutrientes,
cujas concentrações são apresentadas nas Tabelas 1 e 2, respectivamente, e substrato;
-frasco de segurança: sua função é evitar o refluxo da solução de hidróxido de sódio (NaOH) 15%, que poderia vir a passar
para o frasco de reação e inibir a microbiota nele contida;
-frasco com solução de NaOH 15%: após passar pelo frasco de segurança, o biogás produzido no frasco de reação é
borbulhado em solução de NaOH 15%. Essa solução retém o dióxido de carbono, componente do biogás, que fica solubilizado
no frasco. O metano, cujo volume se deseja determinar no ensaio da AME, é insolúvel e é liberado da solução de NaOH 15%,
seguindo para a etapa de medição;
-seringa esmerilhada: o metano chega à seringa esmerilhada, deslocando seu êmbolo. O volume deslocado ao longo do tempo
é, então, medido e corresponde ao volume de metano produzido em determinado período do ensaio.
Uma solução de glicose de concentração 10 g/L foi utilizada como substrato. Essa solução foi adicionada a cada frasco de
reação de forma que a concentração final de matéria orgânica, representada pela demanda química de oxigênio (DQO), fosse
de 2 gDQO/L. Cada frasco tinha volume de reação de 0,2 L. Os lodos foram adicionados aos frascos de modo que a
concentração de sólidos voláteis totais fosse de 2 gSVTlodo/L. A relação A/M utilizada no ensaio foi de 1,0 gDQO/gSVTlodo. Os
frascos foram mantidos em câmara térmica, com temperatura controlada de 36 ± 2 °C.

Concentração na solução-mãe
Componente
de micronutrientes (mg/L)
FeCl3.6H2O 2
ZnCl2 0,05
CuCl2.2H2O 0,03
MnCl2.4H2O 0,5
(NH4)6Mo7O24.4H2O 0,05
CoCl2.6H2O 2
NiCl2.6H2O 0,05
H3BO3 0,01
HCl 37% 1 mL/L
Tabela 1: solução de micronutrientes utilizada no ensaio da AME
Nota: a solução-mãe de micronutrientes foi adicionada à solução de macronutrientes, na proporção de 1 mL de solução-
mãe de micronutrientes por litro de solução de macronutrientes.

Concentração no frasco de
Componente
reação (mg/L)
NaHCO3 1000
KH2PO4 650
K2HPO4 150
NH4Cl 500
MgCl2 100
CaCl2.2H2O 100
Extrato de levedura 50
Tabela 2: solução de macronutrientes utilizada no ensaio da AME

Antes do início do experimento, os lodos foram colocados nos frascos de reação e foram adicionadas água de torneira e as
soluções de micro e de macronutrientes, conforme as Tabelas 1 e 2. Visando eliminar o metano de origem endógena, os frascos
foram deixados em repouso por três dias em câmara térmica, com temperatura controlada em 36 °C. Após a montagem do
aparato experimental e a adição da solução de glicose, o oxigênio foi purgado dos frascos de reação por meio do uso de
nitrogênio gasoso. Então, os frascos de reação foram conectados ao restante do sistema, e o ensaio da AME foi iniciado.
Para cada lodo, o volume de metano produzido correspondeu ao volume deslocado na seringa esmerilhada. Esse volume foi
monitorado ao longo do tempo e, após a estabilização da produção de metano, o ensaio foi encerrado (aproximadamente três
dias). O volume de metano acumulado (em mL, eixo das ordenadas) foi plotado contra o tempo decorrido a partir do início do
ensaio (em horas, eixo das abcissas). A partir do gráfico gerado para cada um dos lodos, uma reta foi ajustada à porção de

946
crescimento exponencial da curva. O coeficiente angular dessa reta correspondeu à máxima produção de metano em certo
período de tempo (em mL de metano/hora). Para obter o resultado da AME, o coeficiente linear da reta foi dividido pela
quantidade (em gramas) de sólidos voláteis totais (SVT) de cada lodo presente nos frascos de reação no início do ensaio.
Finalmente, o resultado, em mL de metano por hora e por grama de SVT, foi convertido para a unidade habitual da AME,
gramas de demanda química de oxigênio (DQO) convertida a metano por dia e por grama de SVT do lodo, por meio da
Equação 1:

(1)

O valor de 64 é obtido por meio da reação química apresentada na Equação 2:

CH4 + 2 O2 → CO2 + 2 H2O (2)

Como 1 mol de CH4 é oxidado por 2 moles de oxigênio gasoso (O2), e considerando que o O2 tem massa molar de 32 g por
mol, obtém-se o valor de 64 . Assumiu-se, neste caso, que a massa de oxigênio consumida na oxidação do metano foi
equivalente à DQO.
O fator f apresentado na equação 1 corresponde à conversão do volume de metano produzido à quantidade de moles de
metano, nas condições do ensaio (1 atmosfera e 36 °C). Esse fator foi encontrado pela aplicação da Equação de Clapeyron
rearranjada (Equação 3):

(3)

em que:
n: quantidade de moles de metano (moles CH4);
V: volume de metano (L);
p: pressão à qual o sistema estava submetido (atm);
R: constante universal dos gases ( ;
T: temperatura de realização do ensaio (K).

Resultados e Discussão
Os resultados para a concentração de sólidos dos três lodos são apresentados na Tabela 3. É apresentado também o desvio-
padrão amostral de cada resultado.

Origem e
ST, g/L SVT, g/L SFT, g/L SVT/ST
Lodo substrato ao qual DP DP DP DP
(média) (média) (média) (média)
é aplicado o lodo
UASB, escala
piloto,
codisposição
1 89,81 19,66 63,94 14,24 25,87 5,46 0,71 0,01
esgoto sanitário e
lixiviado de aterro
sanitário

UASB, escala real,


2 36,78 5,46 21,59 3,34 15,19 2,24 0,59 0,02
esgoto sanitário

Lagoa facultativa,
escala real,
3 20,28 0,01 8,72 0,40 11,56 0,42 0,43 0,02
lixiviado de aterro
sanitário
Tabela 3: resultados para as concentrações de sólidos totais, voláteis totais, fixos totais e relação SVT/ST
Nota: DP: desvio-padrão amostral; ST: sólidos totais; SVT: sólidos voláteis totais; SFT: sólidos fixos totais.

947
Os lodos 1 e 2, ambos coletados de reator UASB, apresentaram concentrações mais elevadas de sólidos totais (ST), o que pode
ser atribuído à forma granular característica de lodos destes tipos de sistema (Lettinga et al., 1980; MacLeod et al., 1990). Os
grânulos podem conter, além de micro-organismos, matéria inerte que compõe a matriz extracelular (MacLeod et al., 1990). Os
dois lodos coletados de reator UASB também mostraram a mesma tendência, de concentrações mais elevadas em relação ao
lodo 3, para os SVT e para os SFT.
Quanto ao lodo 3, coletado de lagoa facultativa, trabalhos de outros autores que caracterizaram o lodo da mesma origem
obtiveram valores de ST de 57,90 g/L (Morais, 2016) e 254,8 g/L (Rocha et al., 2017). Os mesmos autores obtiveram valores
para SVT de 23,84 g/L (Morais, 2016) e 46,2 g/L (Rocha et al., 2017). Para SFT, os valores obtidos foram de 34,06 g/L
(Morais, 2016) e 208 g/L (Rocha et al., 2017). Quanto à relação SVT/ST, são apresentados os valores de 0,41 (Morais, 2016),
resultado similar ao deste estudo, e 0,18 (Rocha et al., 2017). As diferenças entre os resultados para a caracterização do lodo 3
apresentados neste estudo e os de outros autores podem ser explicadas pelos processos de remoção de lodo da lagoa
facultativa. À medida que o lodo se acumula na lagoa facultativa, é realizada a retirada e o descarte do excedente, o que
poderia explicar os menores valores obtidos para a concentração de ST, SVT e SFT deste estudo em comparação a trabalhos de
outros autores.
Para este trabalho, é de particular importância avaliar a relação SVT/ST dos lodos, visto que essa relação pode ser utilizada
para estimar, ainda que de maneira aproximada e inespecífica, a concentração de micro-organismos em relação ao conteúdo
total de sólidos do lodo. Dessa forma, as médias obtidas para os três lodos quanto à relação SVT/ST foram submetidas a uma
análise de variância (ANOVA). Em nível de confiança de 95%, pode-se afirmar que os resultados de SVT/ST dos três lodos
são diferentes entre si. Como se observa na Tabela 3, o lodo que apresentou o maior valor para a relação SVT/ST foi o lodo 1,
coletado de reator UASB de escala piloto. A seguir, em ordem decrescente de média de SVT/ST estão os lodos 2, proveniente
de reator UASB de escala real, e o lodo 3, originário de lagoa facultativa. Os resultados da relação SVT/ST sugerem, portanto,
que a concentração de matéria orgânica, ou mesmo de micro-organismos dos lodos, é mais elevada para o lodo 3, seguido
pelos lodos 2 e 1. Esta observação, porém, não foi corroborada pelos resultados de atividade metanogênica específica (AME)
dos lodos.
Os resultados para a atividade metanogênica específica (AME) e o desvio-padrão amostral para os três lodos são apresentados
na Tabela 4.

Origem e substrato ao qual é AME, gDQO/gSVT.d


Lodo Desvio-padrão amostral
aplicado o lodo (média)
UASB, escala piloto, codisposição esgoto
1 0,387 0,018
sanitário e lixiviado de aterro sanitário

2 UASB, escala real, esgoto sanitário 0,474 0,047

Lagoa facultativa, escala real, lixiviado de


3 0,697 0,129
aterro sanitário
Tabela 4: resultados para a atividade metanogênica específica (AME)

A partir dos valores médios de AME dos três lodos, foi realizada análise de variância (ANOVA), com nível de confiança de
95%. O resultado da ANOVA indica que, neste nível de confiança, não há diferença estatística significativa entre as AMEs dos
três lodos, isto é, os resultados não podem ser considerados diferentes entre si.
Neste estudo, como previamente apresentado, os lodos que apresentaram os maiores valores para a relação SVT/ST foram,
nesta ordem: lodos 1, 2 e 3. Se a relação SVT/ST fosse adequada como parâmetro indicador da concentração de micro-
organismos metabolicamente ativos, a expectativa seria observar a mesma tendência de ordem para os lodos quanto aos
resultados da AME. No entanto, a ordem decrescente de resultados de AME foi: lodos 3, 2 e 1. Além disso, embora a ANOVA
em nível de confiança de 95% indique que os valores da relação SVT/ST dos três lodos sejam diferentes entre si, o mesmo não
foi observado para os resultados de AME, visto que os resultados deste ensaio não são estatisticamente distintos para o mesmo
nível de confiança. Assim, os resultados obtidos para a AME contrariam a expectativa levantada pela relação SVT/ST dos
lodos. Isto sugere que, neste estudo, assim como observado por Venkiteshwaran et al. (2017), a concentração de SVT e a
relação SVT/ST não puderam ser correlacionadas à concentração de micro-organismos ativos do lodo. Para este estudo, o
maior valor observado para a relação SVT/ST para os lodos 1 e 2, ambos provenientes de reator UASB, pode ser devido à
matéria orgânica não microbiana que é incorporada aos grânulos desses lodos, e não à biomassa metabolicamente ativa.
Para a realização do ensaio de AME, os lodos foram adicionados aos frascos de reação de forma que sua concentração fosse de
2 gSVTlodo/L. A taxa máxima de produção de metano de cada lodo também foi normalizada por essa mesma concentração inicial
de lodo. Apesar da concentração inicial de SVT em cada frasco de reação ser igual para os três lodos, a quantidade de micro-
organismos metanogênicos ativos de cada lodo poderia ser diferente, o que pode ter interferido nos resultados de AME, ainda

948
que estes valores não possam ser considerados estatisticamente diferentes entre si. Esta observação foi realizada também por
Tale et al. (2011). Ao comparar as AMEs de 14 lodos anaeróbios, os autores obtiveram resultados cujos valores diferem entre
si por até duas ordens de magnitude, o que foi atribuído à grande variabilidade na fração microbiana ativa presente nos sólidos
voláteis de lodos distintos. Essas diferenças na quantidade de microorganismos ativos incorporados aos sólidos voláteis de
lodos de origens diversas pode, inclusive, ser uma possível explicação para as divergências entre os resultados de SVT/ST e de
AME obtidos neste estudo. Os autores (TALE et al., 2011) sugerem, ainda, que outros parâmetros mais específicos e precisos
sejam utilizados para inferir a concentração microbiana de lodos, para calcular a quantidade de lodo a ser adicionada nos
frascos de reação e para normalizar os valores de taxa de produção de metano, possibilitando obter resultados de AME mais
acurados e tornando a interpretação dos resultados menos propensa a incertezas ou a interpretações inadequadas. Os autores
indicam, por exemplo, que sejam quantificados e utilizados, em substituição aos SVT, material genético total (DNA) ou a
concentração de adenosina trifosfato (ATP), moléculas presentes apenas em células microbianas. Assim, novos parâmetros
representativos da biomassa metabolicamente ativa poderão ser testados futuramente e utilizados para que se obtenham
resultados mais confiáveis para a AME de lodos anaeróbios.

Comentários finais
A concentração de sólidos voláteis (SV) suspensos ou totais é frequentemente utilizada como parâmetro indicador da
concentração de micro-organismos de lodos anaeróbios. A concentração de SV é empregada, por exemplo, no cálculo do
volume de lodo a inocular em um sistema anaeróbio de tratamento de águas residuárias e na normalização de resultados de
determinação da atividade metanogênica específica (AME). Neste estudo, foi avaliada a relação entre os sólidos voláteis totais
(SVT) e a AME de três lodos, sendo dois deles coletados de reatores UASB e um de lagoa facultativa. A concentração de SVT
não se relacionou à AME dos lodos, visto que os lodos com maiores concentrações de SVT e de relação SVT/ST não
apresentaram maiores valores de AME, como esperado. Assim, é possível concluir que, neste estudo, a concentração de SVT
não representou um indicador adequado da concentração de micro-organismos metabolicamente ativos dos lodos avaliados.

Agradecimentos
As autoras agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro
recebido (modalidade GM). Também agradecem ao Departamento de Hidráulica e Saneamento e ao Programa de Pós-
graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental da Universidade Federal do Paraná pela infraestrutura
disponibilizada para a realização dos ensaios.

Referências Bibliográficas

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Tecnologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

949
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Venkiteshwaran, K. et al. 2017. Correlating methane production to microbiota in anaerobic digesters fed synthetic wastewater.
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950
5SSS230
CARACTERIZAÇÃO DE SUCATAS DE COMPUTADORES
PORTÁTEIS E APLICAÇÃO DE PROCESSAMENTO FÍSICOE
QUÍMICO NA RECUPERAÇÃO DE METAIS ORIUNDOS DE PLACAS
DE CIRCUITO IMPRESSO
Eduarda Tobolski1, Milena Müller Lottici2, Carlos Alberto Mendes Moraes3
1Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail: eduardatobolski@hotmail.com; 2Universidade do Vale do Rio
dos Sinos, e-mail: milena.muller@hotmail.com; 3Programas de Pós-Graduação em Engenharia Civil e
Engenharia Mecânica - Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, e-mail: cmoraes@unisinos.br

Palavras-chave: Eletroeletrônicos; REEE; Reaproveitamento; Metais; Placa de circuito impresso.

Resumo
O descarte indevido de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) tornou-se um problema global que atinge em
diversas formas o meio ambiente e, consequentemente, o ser humano. A partir disso, as pesquisas de caracterização e
recuperação de partes e materiais dos REEE buscam trazer importância para o seu reaproveitamento por demonstrarem a
grande variedade de metais utilizados em suas composições. O grande obstáculo para reciclagem desses metais está na
complexidade de procedimentos para separação deste grande número de metais presentes. Portanto, este artigo busca
comprovar um método eficaz para a recuperação dos metais de componentes e de placas de circuito impresso, através de
processos físicos e químicos. As placas de circuito impresso utilizadas foram obtidas a partir de cinco computadores portáteis
desmantelados e os dispositivos eletrônicos foram retirados das placas por processamento térmico, chamado de dessoldagem.
Após a moagem dos componentes foi realizada a separação granulométrica do material. Para determinar os tipos de metais
contidos em cada fração granulométrica foi realizada a análise de Fluorescência de Raio-X (FRX) e a partir da caracterização
foi realizada a etapa de lixiviação em água-régia, solução de ácido clorídrico (HCl) e ácido nítrico (HNO3), que separa os
metais dos materiais poliméricos e cerâmicos. Nesse processo os metais foram dissolvidos e para torná-los sólidos novamente
foi feita a precipitação com base no método de oxirredução utilizando alumínio como meio redutor. Para validação do método
foi realizada a análise de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) por EDS. Os resultados significativos apareceram desde
a análise de FRX, que demonstrou a presença de mais de trinta diferentes tipos de metais. Na lixiviação em água-régia, a média
de metais por amostra é de 72% e a média de metais precipitados é de 61%, e esse valor pode ser elevado com o uso de outro
metal como meio redutor. A grande vantagem em aplicar esse método para recuperação dos metais de componentes e de placas
de circuito impresso está no fato de todos poderem ser reaproveitados por serem precipitados em sua forma pura e sólida.
Então, a partir de sua recuperação, podem ser recolocados na cadeia produtiva. Isso implica na diminuição de minério extraído
e impacto ambiental deste processo e diminuição da quantidade de resíduos eletroeletrônicos descartados de forma incorreta.

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa buscou conhecer métodos que possam ser aplicados à recuperação de metais oriundos de duas diferentes partes
do mesmo objeto de estudo: os componentes eletrônicos de placas de circuito impresso e as placas de circuito impresso sem
seus componentes.
A grande consequência negativa da evolução rápida e constante da tecnologia é o descarte inadequado e irresponsável de
aparelhos eletroeletrônicos. Quando depositado em local indevido, o mais simples dos aparelhos pode contaminar o solo, a
água, o ar e os seres vivos ao seu redor por conter muitos metais em sua composição. No ano de 2016 a produção global de
resíduos eletrônicos alcançou a marca de 44,7 milhões de toneladas e esse número tende a crescer, segundo especialistas, mais
de 17% até 2021, totalizando 52,2 milhões de toneladas (ONU, 2018). Além da composição polimérica e cerâmica dos
eletroeletrônicos, principalmente de computadores portáteis, a gama de metais utilizados é extensa e valiosa. Entre os
principais metais utilizados estão o cobre, estanho, chumbo, prata e ouro, entre outros. Além do impacto ambiental, segundo
pesquisa realizada pela ONU (2018), o descarte inadequado traz consequências econômicas negativas, pois se houvessem
políticas de reciclagem e reaproveitamento de eletrônicos, cerca de 55 bilhões de dólares deixariam de ser desperdiçados
anualmente. O grande motivo desses problemas é a falta de interesse em proteger o meio ambiente e diminuir a extração de
matéria-prima, pois já foram comprovados métodos para isso, como, por exemplo, no Japão, que todas as medalhas de ouro e
prata das Olimpíadas de 2020 serão produzidas a partir da reciclagem de metais oriundos de resíduos eletroeletrônicos.

951
Com tal tema e justificativa, a pesquisa buscou caracterizar os componentes eletrônicos de placas de circuito impresso para
futuro reaproveitamento, com intuito de comprovar a possibilidade de utilização da mesma metodologia que a utilizada para a
placa de circuito impresso sem seus componentes anexados.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia demonstra todos os passos, materiais, testes e análises realizados durante a pesquisa para obtenção dos
resultados, a fim de alcançar os objetivos propostos. As etapas estão expostas na Figura 1.

Figura 1 - Metodologia do projeto.


Fonte: As Autoras (2018).

COLETA E SEPARAÇÃO

A partir da coleta de cinco computadores portáteis arrecadados pelas doações da Campanha de Coleta de Resíduos Eletrônicos
realizada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, foi realizada a desmontagem dos equipamentos classificando suas
partes, isolando as placas de circuito impresso. A limpeza e retirada dos substratos e componentes aderidos às PCIs foi
realizada com o auxílio de um soprador de ar da estação de retrabalho TS-2850D da Toyo instalado no LCVMat (Laboratório
de Caracterização e Valorização de Materiais), utilizando jatos de ar quentes regulados na temperatura máxima que o aparelho
fornecia de 500ºC, retrabalhando os componentes SMD.

952
Figura 2 - Substratos retrabalhados.
Fonte: As Autoras (2018).

COMINUIÇÃO

Para reduzir em fragmentos os componentes das placas de circuito impresso, deixando na granulometria necessária para os
ensaios de caracterização, foi essencial diminuir o seu tamanho. Assim, encaminhando ao moinho de facas, WEG W22 plus
situado no Laboratório de Caracterização e Valorização de Materiais - LCVMat da UNISINOS. Com esse processo, foram
obtidas 560 gramas do material, sem distinção de tamanho de grão. Após a etapa de moagem, foi executado o processo de
separação granulométrica.

SEPARAÇÃO GRANULOMÉTRICA

Após a moagem, no Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMC), foi utilizado o agitador mecânico de peneiras e dois
conjuntos de 6 peneiras vazadas (figura 3) disponibilizados pelo LCVMat, seguindo a NBR 5734, com diferentes aberturas de
malhas, em ordem decrescente, sendo então, da malha mais espaçada até a mais fechada, isolando cada tamanho de grão
diferente, de tamanhos: 3,35mm; 1,70mm; 0,85mm; 0,60mm; 0,425mm; 0,30mm; 0,21mm; 0,15mm; 0,106mm; 0,075mm e
0,053mm.

Figura 3 - Peneiras utilizadas para ensaio granulométrico.


Fonte: As Autoras (2018).

O ensaio consistiu em empilhar as peneiras em ordem crescente e depositar o material sobre a peneira de maior abertura,

953
agitando-as por 15 minutos com o oitavo nível de agitação. Posteriormente, o material retido em cada peneira, com o auxílio de
um pincel, no intuito de desprender partículas que possam ter ficado sobrepostas, foi retirado para ser pesado. A pesagem das
frações retidas foi feita em balança analítica no LCVMat.

FLUORESCÊNCIA DE RAIO-X

Em seguida, os grãos submetidos à granulometria foram avaliados pelo ensaio de Espectrometria de Fluorescência de Raios-X
(FRX), no LCVMat em um equipamento de fluorescência de raios-X por Energia Dispersiva modelo EDX 720 HS, marca
Shimadzu. Eles foram divididos, conforme a malha em que ficaram depositados no ensaio de distribuição granulométrica,
sendo, assim, treze pequenas amostras de doze peneiras e o fundo.

LIXIVIAÇÃO EM ÁGUA-RÉGIA

O processo seguinte de lixiviação foi baseado em SILVEIRA (2016), que consistiu em identificar a quantidade de metais,
dividindo o resíduo em frações. A fim de isolar e concentrar os metais, de forma que os polímeros e cerâmicos não dificultem
o processo de recuperação, foi utilizado 20mL de água-régia para cada 1g de amostra, essa solução é composta por 3:1 de
ácido clorídrico 10% para ácido nítrico 65% (HCl:HNO3). Essa composição fez com que fosse possível a separação de dos
metais retidos nas amostras. O material foi dividido em frações seguindo critérios de separação baseado nos resultados do
FRX.
F1 = REE 4.75mm + REE 3.35mm
F2 = REE 1.70mm + REE 0,85mm
F3 = REE 0,60mm + REE 0,425mm + REE 0,30mm
F4 = REE 0,21mm + REE 0,15mm + REE 0,106mm
F5 = REE 0,075m + REE 0,053mm + REE Fundo

Os materiais das frações ficaram em contato com a solução por 24h acondicionados em frascos de vidro fechados, dentro de
capela em temperatura ambiente. Posteriormente, foi utilizado papel filtro J Prolab, com porosidade de 8μm para fazer a
filtragem. A partir disso, foi feita a filtragem do material lixiviado, e, então, a secagem por 4 horas em Forno Mufla a 60ºC.
Para assim quantificar a massa de material lixiviado.

PRECIPITAÇÃO DOS METAIS

Para tornar sólidos os metais dissolvidos na lixiviação por meio de reação química, foi realizada a precipitação utilizando o
método de oxirredução, baseado em LOTTICI & TOBOLSKI (2017), que é a reação química que envolve a troca de elétrons
de ambas as partes, do material que sofre redução e do que sofre oxidação, utilizando como referência a tabela de reatividade
dos metais. Foi utilizado alumínio fornecido pela Curso Técnico de Química da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano
Vieira da Cunha, garantindo sua pureza para a realização do ensaio.
O alumínio entra em contato com as soluções formando reações de simples troca onde o metal com NOX zero consegue
deslocar o outro metal que está no sal tomando seu lugar e formando então sais de alumínio e, teoricamente, esse metal fica
com NOX zero em seu estado sólido em suas condições de pureza (LOTTICI & TOBOLSKI, 2017).
Esse processo teve a duração de 1h para garantir os efeitos, em seguida realizou-se a filtragem feita com filtros J Prolab
(porosidade de 8μm) dobrados em funis de vidro, disponibilizados pelo LCVMat e secagem em forno Mufla a 60°C por 4h.
Após, foi feita a pesagem dos filtros para determinação dos resultados.

MEV - Microscopia eletrônica de varredura

O microscópio eletrônico de varredura (MEV) utiliza um feixe de elétrons que transmite o sinal do detector a uma lente
condensadora (tela catódica). Por sistemas de bobinas de deflexão, o feixe pode ser guiado de modo a varrer a superfície da
amostra, o sinal de imagem é resultado da interação com uma lente objetiva que modula o brilho do monitor facilitando a
observação. Dessa forma, o detector apresenta os valores e resultados obtidos para o computador. (DEDAVID; GOMES;
MACHADO, 2007).
O instrumento utilizado acelera o feixe de elétrons numa faixa de tensão com diferença de potencial entre 20 e 30 kV. A
técnica utilizada foi de Espectrometria de raios-x de dispersão de energia (EDS) para uma análise elementar e de caracterização
química.
A análise foi realizada em laboratório do itt Fossil na Universidade do Vale do Rio dos Sinos no equipamento de modelo EVO
MA 15 e fabricante Carl Zeiss SMT. As amostras foram colocadas em lâminas de carbono e metalizadas em ouro para emitir
contraste e obter melhores resultado

954
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste tópico serão demonstrados e revelados os resultados obtidos a partir dos materiais e métodos utilizados ao longo da
pesquisa. Os componentes estudados foram obtidos a partir da dessoldagem das PCIs provenientes dos cinco computadores
portáteis coletados. No qual, constatou-se que 45,39% da massa total foi representada pela placa de circuito impresso lisa e,
50,7% pelos componentes soldados.

SEPARAÇÃO GRANULOMÉTRICA

Foram obtidos 560 gramas de material fragmentado, sem distinção de tamanho de grão, o material foi submetido ao ensaio de
separação granulométrica, obtendo o resultado mostrado na tabela 1 com o valor de massa de cada amostra, conforme o
tamanho da malha e o fundo em que o grão ficou depositado.

Tabela 1 - Granulometria
Fonte: As Autoras (2018).

Posteriormente, os grãos classificados na separação granulométrica foram encaminhados para o ensaio de Espectrometria de
Fluorescência de Raios-X (FRX), seguindo a metodologia proposta.

FLUORESCÊNCIA DE RAIO-X

Os resultados encontrados para a análise de FRX dos componentes das placas de circuito impresso estão apresentados na tabela
2, em elementos identificados em menor quantidade (5%<x<50%) e traços (<5%), por cada fração analisada. Não foram
identificados elementos em maior quantidade (>50%).

Tabela 2 - Resultados FRX


Fonte: As Autoras (2018).

Foram caracterizados 31 tipos de metais diferentes que compõem os componentes das placas de circuito impresso através de
uma determinação qualitativa mostrada na tabela 2.

955
LIXIVIAÇÃO EM ÁGUA-RÉGIA

Conforme a figura 4, foi possível observar que as frações apresentaram diferente coloração uma da outra, o que representa o
metal em maior quantidade e o que mais reagiu com a solução de água régia (HCl:HNO3). A cor da primeira amostra pode-se
definir devido a predominância de Cromo 3+. As amostras 2 e 3 apresentam coloração mais esverdeada, característica do
Ferro. Já nas amostras 4 e 5 a cor alaranjada predominou, podendo determinar a maior presença de Cobre 6+. Devido a grande
presença de diferentes tipos de metais, as cores podem apresentar variações de tonalidade.

Figura 4 - Material lixiviado em ácido.


Fonte: As Autoras (2018).

Com referência, a quantidade de metal presente nas amostras, em média, 72,01% do material é composto metálico. Na tabela 3,
estão apresentadas as quantidades de massa de cada amostra, o desconto feito a partir das massas dos filtros para obter a
porcentagem de metal presente.

Tabela 3 - Quantidade de metais por amostra após a lixiviação


Fonte: As Autoras (2018).

Analisando os valores obtidos, confirma o potencial de recuperação, visto há vasta quantidade e variedade dos metais presentes
nesse tipo de resíduo, avaliando o custo-benefício da recuperação.

PRECIPITAÇÃO DOS METAIS

Em comparação aos valores do procedimento de precipitação baseados na pesquisa de LOTTICI & TOBOLSKI (2017), os
encontrados neste projeto são menores, porém, isso justifica-se pela maior variedade de metais encontrados a partir da análise
de FRX. Como o método utiliza a reatividade dos metais como base, o alumínio não abrange todos que foram encontrados nos
componentes eletrônicos. Os valores obtidos a partir do procedimento de precipitação dos metais lixiviados com alumínio
laboratorial desse projeto estão expressos na tabela abaixo.

956
Tabela 4 - massas do procedimento de precipitação dos metais lixiviados.
Fonte: As Autoras (2018).

A média de recuperação dos metais lixiviados a partir do processo de precipitação é de 60,95%, o que indica, apesar da
diminuição comparada a outros trabalhos, que o método continua sendo válido. Porém, na primeira amostra observa-se que o
valor ultrapassou 100%, sendo matematicamente impossível, e isso é um indicador de que no momento da filtragem do líquido
lixiviado dos polímeros e cerâmicos, algo pode ter ficado retido no frasco, então, esse valor foi desconsiderado no cálculo da
média.

MEV

Com os resultados encontrados na análise, é confirmado a viabilidade do método de recuperação dos metais, visto que, com
vários dos metais encontrados na Fluorescência de Raios-X, foram confirmados com a técnica do MEV por EDS de que foram
recuperados.
Na figura 5, é possível observar com maior clareza a técnica utilizada para alcançar os resultados do microscópio
eletrônico de varredura. Essa técnica foi aplicada nas cinco amostras analisadas.

Figura 5: MEV
Fonte: As Autoras (2018).

957
Na fotografia, as áreas marcadas em rosa equivalem ao material que foi verificado, buscando delas os componentes compostos.
Dessa forma, a tabela 5 apresenta os metais constituintes correspondentes a cada amostra analisada.

Tabela 5: Metais encontrados no MEV


Fonte: As Autoras (2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O principal objetivo proposto por esse trabalho era a busca pela caracterização dos componentes eletrônicos provenientes de
placas de circuito impresso para comprovação da possibilidade de utilização do mesmo método de recuperação dos metais
baseado em Lottici e Tobolski (2017).
A partir das cores encontradas no processo de precipitação dos metais lixiviados, pode-se concluir que o metal que mais reagiu
com a solução é o cobre, apresentado em duas diferentes formas iônicas (3+ e 6+) nas amostras 1, 4 e 5, baseado em suas
tonalidades. E o ferro, encontrado nas amostras 2 e 3.
Como os metais isolados na precipitação retornaram à sua forma pura, a partir de sua separação, que pode ser feita por
processo de eletrólise ou pirometalurgia, eles podem ser recolocados na cadeia produtiva. A fim de diminuir a extração de
minérios para serem utilizados como matéria prima e incentivar a utilização de métodos como esses apresentados para
destinação correta dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos a partir da apresentação dos valores que podem ser
encontrados em sua composição.
Todos os ácidos utilizados durante a pesquisa foram devidamente descartados, neutralizados e enviados para estação de
tratamento de efluentes da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, seguindo padronizações certificadas pela ISO 14001.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer ao CNPq pela bolsa de iniciação científica PIBIC de Ensino Médio, assim como a de
Desenvolvimento Tecnológico DT2 dos autores.

Referências Bibliográficas

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VARREDURA (MEV). In: DEDAVID, Berenice Anina; GOMES, Carmem Isse; MACHADO, Giovanna. MICROSCOPIA
ELETRÔNICA DE VARREDURA. 1. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007. cap. 1, p. 9-26. v. 1. Disponível em:
<http://www.pucrs.br/edipucrs/online/microscopia.pdf>. Acesso em: 20 out. 2018.

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nacional/noticia/2010/05/japao-ganha-com-reciclagem-de-celulares.html> Acesso em 05 abr. 2018

LOTTICI, Milena Muller; TOBOLSKI, Eduarda. CARACTERIZAÇÃO DE SUCATAS DE COMPUTADORES


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Disponível em: <https://nacoesunidas.org/lixo-eletronico-representa-crescente-risco-ao-meio-ambiente-e-a-saude-humana-diz-

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relatorio-da-onu/> Acesso em: 05 abr. 2018.>Acesso em: 05 abr. 2018.

SILVEIRA, Tamires Augustin. CARACTERIZAÇÃO DE SUCATAS DE SMARTPHONES E APLICAÇÃO DE


PROCESSAMENTO MECÂNICO A RECUPERAÇÃO DE MATERIAIS ORIUNDOS DE PLACAS DE CIRCUITO
IMPRESSO. 2016. 77f. Trabalho de Conclusão de Curso em Bacharel em Engenharia Ambiental – Escola Politécnica da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, São Leopoldo, 2016.

959
5SSS232
BIOPOLIETILENO: EFEITO DA RECICLAGEM PRIMÁRIA NAS
PROPRIEADES MECÂNICAS
Amanda Vecila Cheffer de Araujo1,2, Hariel Marçal Kops Hubert2, Luiz Henrique Alves Cândido3, Vinícius
Martins4, Ademir José Zattera5, Lisete Cristine Scienza1,2
1PPGE3M - Escola de Engenharia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
2Laboratório de Materiais e Tecnologias Sustentáveis(LAMATES) -DEMAT - UFRGS
3PgDesign - Laboratório de Design e Seleção de Materiais (LDSM) - UFRGS
4Instituto Federal Sul-riograndense-Sapucaia do Sul (IFSul)
5Laboratório de Polímeros (LPOL) - Universidade de Caxias do Sul (UCS)
e-mail: amanda.ve@outlook.com.br; lisete.scienza@ufrgs.br

Palavras-chave: PEAD verde; reciclagem, propriedades mecânicas

Resumo
A produção e o descarte desenfreado de materiais poliméricos provenientes do petróleo tem contribuído para o agravamento do
efeito estufa e com o crescimento exponencial de resíduo plástico no planeta. As propostas de desenvolvimento sustentável,
envolvendo materiais "ecoamigáveis", o consumo consciente, minimizando o descarte e maximizando a reciclagem de
materiais poliméricos, tem sido incentivadas pelas indústrias, governantes e consumidores com a finalidade de amenizar o
problema ambiental existente. Assim, a produção e uso biopolímeros tem sido estimulada desde que eles são considerados
polímeros sustentáveis. A produção destes materiais contribui para a redução de CO2 na atmosfera e para preservar as reservas
de fontes de matéria-prima não renovável, como o petróleo. O polietileno verde é um biopolímero não biodegradável e,
portanto, medidas mitigatórias relativas a sua disposição final devem considerar os processos de reciclagem. No entanto, para
que um material reciclado sirva para as mesmas aplicações que um material virgem, é necessário conhecer suas propriedades,
pois sabe-se que na reciclagem o material pode sofrer algum grau de degradação capaz de afetar suas propriedades, podendo
comprometer o seu desempenho quando em uso. O polietileno de alta densidade (PEAD) verde, material deste estudo, é um
biopolímero proveniente da cana-de-açúcar brasileira que, por não ser biodegradável, deve ser reciclado da mesma forma que
polietileno tradicional de fonte petroquímica, sendo, então, importante conhecer os efeitos ocasionados em suas propriedades
quando é submetido à reciclagem mecânica. O objetivo deste estudo foi analisar o efeito do reprocessamento em cinco
passagens em extrusora monorrosca (simulando uma situação em processo de reciclagem primária) nas propriedades
mecânicas de dureza, resistência à tração e ao impacto. Os resultados mostraram que as alterações nas propriedades mecânicas
não foram significativas e não comprometem a resistência deste polímero quando submetido às condições de processamento
empregadas.

Abstract
The rampant production and disposal of polymeric materials has contributed to the worsening of the greenhouse effect and the
exponential growth of plastic waste on the planet. Proposals for sustainable development, involving "environmentally friendly"
materials, conscious consumption, minimizing disposal and maximizing recycling of polymeric materials, have been
encouraged by industries, governments and consumers to reduce the existing environmental problem. Thus, the production and
use of biopolymers have been stimulated since they are considered sustainable polymers. The production of these materials
contributes to the reduction of CO2 in the atmosphere and preserves the reserves of non-renewable sources of raw materials
such as oil. Green polyethylene is a non-biodegradable biopolymer and therefore mitigating measures regarding its final
disposal should consider recycling processes. However, for a recycled material to have the same applications as a virgin
material, it is necessary to know its properties, since it is known that the material can suffer some degree of degradation during
recycling, which affects its properties, compromising its performance in service. High density green polyethylene (HDPE),
material of this study, is a biopolymer from Brazilian sugarcane that because it is not biodegradable it must be recycled in the
same way as the traditional polyethylene from petrochemical source, becoming important to know the effects caused during
mechanical recycling on its properties. The aim of this study was to analyze the effect of five-pass reprocessing on the single
screw extruder (simulating a situation in the primary recycling process) on the mechanical properties of hardness, tensile
strength and impact. The results showed that the changes in the mechanical properties were not significant and do not
compromise the strength of this polymer when subjected to the processing conditions employed.

960
Introdução

Muitas atividades da vida moderna dependem inteiramente de produtos poliméricos devido às suas propriedades e ao seu
baixo custo de produção. Polímeros sintéticos tradicionais), como polipropileno e polietileno, foram derivados de
petroquímicos não renováveis e têm polímeros que causam preocupações ambientais devido a sua natureza não biodegradável.
Estes polímeros não são considerados ecofriendly. O uso de matérias-primas não renováveis ocasiona a redução de estoques de
combustíveis fósseis, além de propiciar poluição ambiental devido à geração de CO2 durante sua manufatura e problemas de
degradação após serem descartados. O grande consumo dos polímeros de fonte petroquímica enfatiza a necessidade de
alternativas sustentáveis oriundas de fontes renováveis de matéria-prima básica (JAIN e TIWARI, 2015). Recentemente a
produção e utilização de biopolímeros, polímeros biodegradáveis e polímeros verdes surge como alternativa sustentável, com
base em sua viabilidade técnica e econômica (BRITO et al., 2011; BABU et al., 2013). O Quadro 1 apresenta algumas
considerações sobre os polímeros mencionados e a Figura 1 ilustra um esquema para polímeros sustentáveis.

Quadro 1: Biopolímeros, polímeros biodegradáveis e polímeros verdes (BRITO et al., 2015)

DENOMINAÇÃO DEFINIÇÃO
São polímeros produzidos a partir de matérias-primas de fontes renováveis, tais
Biopolímeros como, milho, cana-de-açúcar, celulose, quitina e outras. Estes polímeros podem
(Biobased polymers) ser biodegradáveis ou não biodegradáveis. Ex: Poli-D-glucosamina (quitosana).
São polímeros cuja degradação resulta da ação de microrganismos de
ocorrência natural como bactérias, fungos e algas, podendo ser consumidos em
Polímeros
semanas ou meses sob condições favoráveis de biodegradação. Estes polímeros
biodegradáveis
podem ser originados de diversas fontes (naturais como milho, sintetizado por
(Biodegradable
bactérias, derivados de fonte animal ou mesmo petróleo). Ex: Ácido polilático
polymers)
(PLA).
São polímeros que durante sua síntese, processamento ou degradação produzem
menor impacto ambiental que os polímeros convencionais. Usualmente estes
Polímeros verdes polímeros são aqueles que originalmente eram provenientes do petróleo e com
(Green polymers) os avanços tecnológicos também podem ser sintetizados a partir de matéria-
prima proveniente de fontes renováveis. Ex: Policaprolactona (PCL).

Figura 1: Esquema ilustrando polímeros sustentáveis

961
Assim, por definição, os polímeros verdes são enquadrados como biopolímeros e, embora polímeros verdes como o
biopolietileno (PE verde) e o biopolicloreto de vinila verde (PVC verde) não sejam biodegradáveis, são considerados
sustentáveis por períodos relativamente longos pelo fato de serem obtidos de fontes renováveis (ARAÚJO et al., 2016).
A sustentabilidade recai tanto pelo fato de sua matéria-prima não ser proveniente de uma fonte fóssil finita, e,
portanto, esgotável, como com relação à emissão de CO2 para a atmosfera, sendo reconhecido por gerar emissão neutra de
carbono, contrastando com os polímeros petroquímicos para os quais a extração e o refino do petróleo contribui de forma
expressiva para o efeito estufa devido à alta emissão de CO2 na atmosfera (SUDESH e IWATA, 2008).
O biopolietileno é quimicamente e funcionalmente indistinguível do polietileno proveniente do petróleo, ou seja,
apresenta as mesmas características e aplicações. O monômero, eteno, obtido a partir do etanol de fonte natural, como a cana-
de-açúcar (Figura 2), possui pureza adequada para qualquer processo de polimerização, empregando os mesmos equipamentos,
processos e condições operacionais empregados na polimerização do eteno petroquímico (POSEN et al., 2015; BRITO et al.,
2011). Da mesma forma, este produto pode ser transformado em muitos tipos de produtos finais usando as mesmas máquinas
empregadas no processamento de produtos plásticos convencionais, não requerendo nenhum tipo de adaptação. No final de sua
vida útil (pós-consumo), por ter uma boa estabilidade, o biopolietileno pode ser reciclado ou enviado para sistemas de
reciclagem energética. O fato do ciclo de vida do biopolietileno indicar a captura aproximada de 2,5 t de CO2/t de polímero ao
invés da emissão de 2,5 t de CO2 liberadas por um polietileno de fonte petroquímica tem impulsionado a indústria e o mercado
consumidor a demanda por plásticos de origem vegetal (BRITO et al., 2011).

Figura 2: Obtenção do biopolietileno (Adaptado de BRASKEM FAQ, 2017)

Como o biopolietileno não é um polímero biodegradável, de forma análoga a vários outros polímeros comuns, deve
ter a sua disposição final minimizada, de modo que processos de reciclagem são amplamente empregados no caso do
polietileno. A Figura 3 apresenta quatro sistemas de reciclagem classificados baseados em níveis operacionais. A reciclagem
primária, na qual está baseado o presente estudo, envolve a reciclagem de resíduos provenientes da linha de produção (aparas,
peças defeituosas, rebarbas, cortes e canais de injeção).

962
Figura 3: Sistema de reciclagem de polímeros termoplásticos (CERQUEIRA, 2010)

Toda operação de transformação na qual um polímero é submetido envolve, individualmente ou de forma combinada,
temperatura, pressão e esforços mecânicos, capazes ocasionar a degradação do material polimérico. A degradação é o conjunto
de reações que envolvem a quebra de ligações primárias da cadeia principal do polímero e que ocasiona geralmente mudanças
na estrutura química e alteração na massa molar do material e consequentemente mudanças nas suas propriedades. Com a
finalidade de analisar a degradação ocasionada no material por sucessivos ciclos de reprocessamento, que ocorre durante a
reciclagem primária de materiais poliméricos, submeteu-se polietileno verde de alta densidade (PEAD verde) a cinco ciclos de
processamento em extrusão, sendo, após injetados, avaliadas as alterações nas propriedades mecânicas.

Experimental

Material
Foi utilizado polietileno de alta densidade verde (PEAD verde), originado do etanol proveniente da cana-de-açúcar,
produzido pela Braskem S.A- Unidade de Triunfo RS por processo Ziegler-Natta e fornecido na forma de pellets.

Processamento e corpos-de-prova
O PEAD verde foi submetido a 5 passagens em uma extrusora monorrosca SEIBT DS35 (L/D 35), na temperatura de
180ºC e velocidade de 36 rpm, na Oficina de Design e Arquitetura da UFRGS. O material extrusado na forma de espaguete foi
submerso em calha com água à temperatura ambiente, os filamentos foram cortados em picotador, adquirindo forma de pellets.
Para a confecção dos corpos-de-prova para os ensaios mecânicos, os polímeros foram previamente secos em estufa a 80ºC por
2 h e obtidos por injeção a 180ºC e 60 rpm em uma injetora da marca Himaco Hidraúlicos modelo LHS 150-80, no Laboratório
de Polímeros (LPOL) da UCS.
Os corpos-de-prova para o ensaio de tração seguiram a norma ASTM D 638 para o tipo 1, tendo as medidas mostradas
na Figura 4. A confecção dos corpos-de-prova do ensaio de impacto seguiu a norma ASTM D256, tendo as seguintes medidas:
Espessura= 3,17 mm; Largura= 12,7 mm; Comprimento= 64 mm e Entalhe= 2,5 mm; 45º.

Figura 4: Corpo-de-prova para Ensaio de Tração conforme ASTM D 638

963
Ensaios mecânicos
O ensaio de tração foi realizado no LPOL/UCS, conforme a ASTM D 638, em maquina universal de ensaios da marca
EMIC modelo DL 2000 com célula de carga Trd 26, ajustada para aplicar uma carga sobre o corpo de prova com uma
velocidade de 10 mm/min. Foram ensaiados sete corpos-de-prova para cada amostra. As medidas de dureza Shore tipo D
foram obtidas no Laboratório de Materiais Poliméricos (LAPOL) da UFRGS em durômetro, da marca Bareiss, modelo BS 61
II, utilizando mola com força de 44450 mN e pressão de contato de 5000 g, conforme ASTM D2240. O ensaio de impacto tipo
Izod com entalhe foi realizado no LPOL/UCS conforme ASTM D 256, com 8 repetições para cada amostra, em equipamento
da marca CEAST, modelo Resil 25, com pêndulo de 2 J na velocidade de 3,46 m/s.

Resultados

As propriedades mecânicas determinam a resposta dos materiais às solicitações mecânicas externas, sendo esta
resposta manifestada pela capacidade de desenvolverem deformações reversíveis ou irreversíveis e resistirem à ruptura. A
análise das propriedades mecânicas é uma das considerações essenciais para a seleção, projeto e desenvolvimento de um
produto polimérico. Uma vez que o processamento é capaz de ocasionar variações estruturais nos polímeros, a análise do efeito
nas propriedades mecânicas torna-se essencial, em especial, quando o material é submetido a ciclos consecutivos de
processamento, o que é muito comum na reciclagem primária.
As curvas do ensaio de tração são apresentadas na Figura 5 para ilustrar o comportamento mecânico do polímero
virgem e após 1 e 5 passagens na extrusora, sendo os resultados numéricos apresentados na Tabela 1. Considerando o desvio-
padrão dos resultados, observou-se que os materiais reprocessados comportaram-se de forma semelhante ao polímero virgem.
Pelos valores apresentados na Tabela 1, é possível observar que a variação de dureza superficial é muito pequena, pois o
polímero virgem foi de aproximadamente 56, enquanto que o material processado ficou em torno de 61. Conforme a ASTM
D2240 que classifica o PEAD, os valores encontrados na escala Shore D caracterizam os termoplásticos rígidos e estão de
acordo com o que é esperado para o PEAD.

Figura 5: Curva tensão x deformação para o PEAD verde, virgem e após 1 e 5 passagens em extrusora monorrosca,
submetido ao ensaio de resistência à tração

Tabela 1: Valores obtidos nos ensaios de resistência à tração e no ensaio de dureza


Tensão Deformação na Módulo de Dureza
Tensão na Deformação na
Amostra Máxima Tensão Elasticidade Shore D
Ruptura (Mpa) Ruptura (%)
(Mpa) Máxima (%) (Mpa)
Polímero virgem 22,70±0,49 23,77±0,59 8,79 ± 1,44 68,16±5,11 475± 9,04 56±0,45
1 passagem 22,85±0,64 23,64±0,85 9,58 ± 0,74 68,86±8,60 483±11,64 61±1,22
5 passagens 23,79±0,28 28,88±0,61 7,08 ± 1,58 66,87±4,07 465±12,23 61±0,71

964
A Figura 6 apresenta em gráfico de barras os valores médios encontrados para os ensaios de resistência ao impacto.
Uma pequena redução é observada após a 1ª passagem na extrusora, mas considerando-se o desvio padrão é possível inferir
que as alterações sofridas pelo polímero até 5 passagens não afetou sua resistência ao impacto.

Figura 6: Gráfico de barras para o ensaio de resistência ao impacto

Considerando a 1ª e a 5ª passagem na extrusora, o comportamento constatado a partir dos ensaios de tração e impacto
indicou que as alterações estruturais no polímero ocorreram por diferentes mecanismos de degradação. Segundo Mendes et al.
(2011), durante a extrusão há a ocorrência simultânea e competitiva de dois mecanismos de degradação, o de quebra (chain
scission) e o de reticulação da cadeia polimérica (crosslinking), sendo um deles predominante sob determinadas condições e
número de ciclos de reprocessamento. A quebra da cadeia origina moléculas de menor peso molecular, o que facilita sua
habilidade em empacotar e formar regiões cristalinas. O aumento constatado do módulo de elasticidade e redução da
resistência ao impacto evidencia ruptura da cadeia principal (mecanismo de cisão de cadeia), observado para a 1ª passagem.
Extrusões sucessivas promoveram a alteração do mecanismo predominante de degradação para a reticulação, onde ligações
cruzadas entre as cadeias ocasionaram redução da cristalinidade com consequências no aumento da resistência ao impacto e da
deformação durante a tração.
Os resultados indicaram que as alterações estruturais ocorridas durante o processamento, da forma como foi
conduzido no presente estudo, não ocasionaram alterações substanciais nas propriedades mecânicas do PEAD verde em até 5
ciclos de extrusões sucessivas a ponto de comprometer o seu processamento e/ou aplicação futura.

Conclusão

As condições de extrusão propostas na metodologia deste estudo não comprometeram o desempenho mecânico destes
materiais em até cinco ciclos de extrusão, sugerindo que o PEAD Verde reciclado é um material com qualidades mecânicas
semelhantes à resina virgem.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Braskem S.A. e as instituições CNPq, CAPES, UFRGS, UCS e IFSul pelo apoio recebido.

Referências

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966
5SSS233
METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE
ÁREAS COM PROCESSOS EROSIVOS EM MARGENS DE
RESERVATÓRIOS
Rita dos Santos Sousa1, Junior Joel Dewes2, Charles Rodrigo Belmonte Maffra3, Fabrício Jaques Sutili4
1Universidade Federal de Santa Maria, e-mail: ritasousa.ufsm@gmail.com; 2Universidade Federal de Santa
Maria, e-mail: juniordewes2011@gmail.com; 3Universidade Federal de Santa Maria, e-mail:
charles.maffra@gmail.com; 4Universidade Federal de Santa Maria, e-mail: fjsutili@gmail.com

Palavras-chave: Matriz de priorização GUT; Monitoramento de erosões; Recuperação de Áreas Degradadas.

Resumo
Os reservatórios de água são extremamente susceptíveis à ocorrência de processos erosivos marginais. O Brasil tem 22.920
reservatórios de água cadastrados, dos quais 21.796 são classificados como espelhos d'água de reservatórios artificiais para
geração de energia elétrica e usos múltiplos. Os processos erosivos em reservatórios são influenciados por inúmeros fatores
como o tipo, coesão e resistência do solo, largura do reservatório, altura das ondas, frequência e velocidade do vento, cobertura
superficial dos taludes, entre outros. A combinação destes fatores resulta em diferentes intensidades de erosão ao longo do
perímetro do reservatório, o que acarreta em maiores taxas de perdas de solo em alguns trechos comparados a outros. Desta
forma, deve ser realizado o acompanhamento da condição das margens ao longo do reservatório por meio de mapeamento e
classificação dos trechos com processos erosivos, com objetivo de hierarquizar as áreas mais problemáticas e prioritárias de
intervenção. Normalmente a avaliação e a classificação de processos erosivos em reservatórios são realizadas de forma
qualitativa e não seguem procedimentos estabelecidos e padronizados, estando por isso o processo de tomada de decisão
dependente da avaliação empírica e subjetiva, e da experiência do profissional avaliador. O objetivo deste trabalho foi
desenvolver uma metodologia para avaliação e classificação de áreas com processos erosivos nas margens de um reservatório
de uma usina hidrelétrica localizada na região sudeste do Brasil. A área de estudo é o reservatório da Usina Hidrelétrica
Jaguara, localizada no rio Grande (Bacia Hidrográfica do rio Paraná). O reservatório da UHE Jaguara possui 33,0 km² de área
inundada e perímetro total de 98,4 km. A cota máxima normal do nível de operação e a cota máxima maximorum encontram-
se nos 558,5 m, enquanto que a cota de desapropriação do reservatório é de 560 metros. O talude resultante da diferença entre
estas duas cotas deve ser alvo de manutenção da vegetação nativa ao longo do perímetro do reservatório. O levantamento e
cadastramento das áreas com erosões foram realizados em junho de 2018, através do percurso total do perímetro do
reservatório com barco motorizado. Durante o levantamento de dados a campo foram observados aspectos técnicos e
ambientais (inclinação do talude inferior e superior (°); cobertura superficial do talude inferior, superior e terreno natural (%);
tipo de solo do talude inferior e superior; profundidade de movimentos de massa junto à margem (m); altura do talude superior
(m); presença de erosão laminar, sulcos, etc; número de árvores geotecnicamente instáveis na crista do talude superior e
presença/ausência de gado), bem como sociais e econômicos (risco a edificações ou obras de infraestrutura; impacto visual em
área pública; perda de área econômica e de usos recreativos e conflitos estabelecidos). Os dados obtidos para cada variável
técnico-ambiental foram organizados em intervalos de classe com o objetivo de atribuir pontuações em relação às três
categorias (gravidade, urgência e tendência) da matriz GUT. A pontuação atribuída corresponde a uma escala de 1 (condição
menos problemática) a 5 (mais problemática). Para cada área, a pontuação total de cada variável é o produto da pontuação
atribuída para cada categoria. A soma do produto de todas as variáveis analisadas em uma mesma área corresponde à
pontuação GUT total da mesma. Quanto menor for esta pontuação, em melhores condições a área se encontra, ou seja, menor é
a atuação dos agentes envolvidos no processo erosivo e também menor é o impacto ambiental, social e econômico.
Posteriormente, as áreas foram ordenadas, em ordem decrescente, tendo como base a pontuação GUT total. Através desse
ordenamento as áreas foram classificadas em três categorias de prioridade de intervenção, nomeadamente, prioridade baixa
(GUT <50), média (50 ≤ GUT < 85) e alta (GUT ≥ 85).
No total foram cadastradas 54 áreas com processos erosivos ativos, totalizando 5.269,73 m de comprimento, o que representa
5,36% do perímetro do reservatório. Com base no cálculo das variáveis estabelecidas para a matriz GUT, dos 54 trechos
cadastrados, 9 trechos foram classificados como prioridade alta e serão alvo de intervenção a curto prazo, 22 trechos foram
classificados como prioridade média e serão monitorados por meio de metodologia topográfica específica e 23 trechos foram
classificados como prioridade baixa e serão acompanhados por meio de monitoramento visual.
Conclui-se que a metodologia GUT apresenta grande potencial para classificação de processos erosivos em margens de
reservatórios. As pontuações GUT obtidas a partir das variáveis definidas e avaliadas a campo permitiram classificar os trechos
cadastrados em diferentes níveis de prioridade de intervenção (alta, média e baixa). Os dados resultantes contribuem para uma

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melhor gestão e tomada de decisões inerentes ao processo avaliado. A metodologia proposta pode adequar-se aos objetivos,
demandas e peculiaridades do local em estudo e pode ser aplicada com facilidade, proporcionando uma análise quali-
quantitativa objetiva dos processos erosivos vigentes a um custo baixo.

Introdução

Os reservatórios de água, sejam eles naturais ou artificiais, são extremamente susceptíveis à ocorrência de processos erosivos
marginais. Essa problemática é recorrente a nível mundial, e é ainda mais intensificada em países de clima tropical e
subtropical, como o Brasil, onde ocorre distribuição desigual de precipitação com concentração de grandes volumes de chuva
em poucos meses do ano e solos com perfis bem desenvolvidos e profundos. A combinação destas características favorece a
ocorrência de processos erosivos nas margens de reservatórios de água no Brasil.
O Brasil tem um dos maiores potenciais hídricos do mundo e apresenta 22.920 reservatórios de água cadastrados, dos quais
21.796 são classificados como espelhos d'água de reservatórios artificiais para geração de energia elétrica e usos múltiplos
(ANA, 2017). Estes reservatórios artificiais são originados pela construção de barragens, resultando na modificação da
dinâmica fluvial e hidráulica do local (HACKER; JOHANNSEN, 2012; SALES, 2017).
Em reservatórios artificiais, independentemente das suas dimensões, ocorrem dois processos: erosão nas margens e
sedimentação no fundo (MACIEL FILHO; NUMMER, 2014). Portanto, os taludes marginais de reservatórios são muito
susceptíveis a fenômenos erosivos, resultando em perda de estabilidade. Grande parte destes fenômenos erosivos ocorrem por
ação de ondas formadas nos reservatórios (REID, 1992). As dimensões e força destas ondas dependem da extensão do espelho
d'água, da velocidade e direção do vento, entre outros fatores (HINDS; CREAGER; JUSTIN, 1945). A ação constante de
ondas nos taludes pode resultar em dois efeitos principais (ASDSO, 2014). O primeiro destes efeitos é a erosão do solo pela
ação contínua das ondas, denominada em inglês por beaching, onde primeiramente ocorre erosão e posteriormente transporte e
deposição na base do talude. Forma-se uma zona bastante plana denominada plataforma de abrasão e de sedimentação com um
talude ou escarpa muito inclinada a montante (MACIEL FILHO; NUMMER, 2014). Estas plataformas podem tomar grandes
dimensões e apresentar movimentos de massa. O segundo efeito causa a degradação rápida da proteção que reveste os taludes.
Desta forma, estas estruturas de proteção devem ser frequentemente monitoradas e reparadas ou substituídas se apresentarem
danos (ASDSO, 2014).
No entanto, o comportamento dos processos erosivos não ocorre de forma linear ao longo de todo o reservatório. Este processo
é influenciado por inúmeros fatores como o tipo, coesão e resistência do solo, largura do reservatório, altura das ondas,
frequência e velocidade do vento, cobertura superficial dos taludes, entre outros. A combinação destes fatores resulta em
diferentes intensidades de erosão ao longo do perímetro do reservatório, o que acarreta em maiores taxas de perdas de solo em
alguns trechos comparados a outros (DEWES et al., 2018a). Por outro lado, a perda de área referente à faixa de vegetação ciliar
e de proprietários lindeiros (credores de possíveis indenizações) causa perdas ambientais e econômicas de difícil quantificação
considerando os inúmeros fatores envolvidos. Outro fator atuante é a grande pressão antrópica nas áreas marginais de
reservatórios, nomeadamente atividades agropecuárias, empreendimentos e espaços de lazer. Todos estes fatores associados
contribuem para a diminuição da vida útil do aproveitamento hidrelétrico devido ao assoreamento, perda de cobertura vegetal
autóctone, diminuição da biodiversidade, alteração da qualidade da água, eutrofização, entre outros (SOUSA et al., 2018).
Para mitigar os processos erosivos e minimizar as perdas elencadas anteriormente, o empreendedor responsável pelo
reservatório é obrigado a intervir tecnicamente para o cumprimento do Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do
Reservatório (PACUERA), bem como manter uma faixa de mata ciliar que, atualmente, é de 30 m, segundo o Novo Código
Florestal Brasileiro (BRASIL, 2012). Consequentemente, deve ser realizado o acompanhamento da condição das margens ao
longo do reservatório por meio de mapeamento e classificação dos trechos com processos erosivos, com objetivo de
hierarquizar as áreas mais problemáticas e prioritárias de intervenção.
Normalmente a avaliação e a classificação de processos erosivos em reservatórios são realizadas de forma qualitativa e não
seguem procedimentos estabelecidos e padronizados, estando por isso o processo de tomada de decisão dependente da
avaliação empírica e subjetiva, e da experiência do profissional avaliador. Além disso, a memória humana tem capacidade
limitada para a avaliação e classificação de diversas variáveis associadas a diversos locais diferentes. Surge por isso a
necessidade de adoção de metodologias quantitativas que auxiliem o processo de tomada de decisão, padronizem as atividades
a serem realizadas e diminuam o grau de incerteza associado à avaliação e classificação.
Desta forma, o processo de tomada de decisão deve ser acompanhado por informações que auxiliem na compreensão das
melhores ações a serem escolhidas (SOUSA, 2019). Essas informações são obtidas através do processo de medição que inclui
a determinação de variáveis, a coleta de dados a campo e o seu processamento em escritório (SINK; TUTLE, 1993).
Uma metodologia para proceder à avaliação dos processos erosivos deve ser, por isso, constituída por um conjunto de variáveis
definidas e medidas considerando critérios técnicos. Além disso, essas variáveis também devem ser pontuadas de forma a se
obter uma classificação final, segundo a qual o empreendedor poderá decidir sobre as ações a serem tomadas. Em ambientes
corporativos, para este tipo de abordagem são utilizadas técnicas de priorização, também denominadas como técnicas de
redução, como por exemplo o Método Matriz de Priorização GUT (Gravidade, Urgência, Tendência). Estas técnicas têm como

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finalidade evitar o desperdício de energia e recursos, focando esforços em temas ou ações de maior relevância. Além disso,
estas técnicas têm como objetivo quantificar o potencial, o benefício ou o impacto das diversas alternativas de ação, de acordo
com critérios de decisão definidos previamente pelos responsáveis (BERSSANETI; BOUER, 2013). A Matriz de Priorização
GUT foi desenvolvida em 1981, para auxiliar na tomada de decisões, priorização e resolução de problemas no setor industrial
(KEPNER; TREGOE, 1981). Esta ferramenta de Gestão de Qualidade é usada para definir prioridades face a diversas
alternativas de ação. O objetivo desta ferramenta é priorizar as ações de forma racional, levando em consideração critérios de
gravidade, urgência e tendência do fenômeno em análise. Permite a alocação de recursos com base em um planejamento
estratégico e, além disso, pode ser aplicada a inúmeros campos de atuação, conforme relatado por Lopes et al., 2018. O
Método GUT apresenta grande simplicidade de aplicação (MEIRELES, 2001) e consiste na pontuação dos fatores gravidade,
urgência e tendência relacionados a determinado problema ou variável (BERSSANETI; BOUER, 2013). A gravidade abrange
os impactos que poderão advir da não resolução do problema; a urgência considera o tempo disponível para a sua resolução e a
tendência analisa o comportamento futuro de evolução ou redução do mesmo (DAYCHOUW, 2012). A cada fator (G, U, T) é
atribuída uma pontuação de 1 a 5, na qual os números 1 e 5 representam a condição menos e a mais problemática,
respectivamente. No final são priorizadas as maiores pontuações resultantes do produto entre os três fatores (BERSSANETI;
BOUER, 2013).
Face à possibilidade de coleta de grande quantidade de variáveis relacionadas a processos erosivos em margens de
reservatórios, bem como do número de áreas existentes para analisar, a matriz GUT mostra-se uma ferramenta com potencial
para classificar e priorizar as áreas para implementação de ações corretivas e/ou de monitoramento. Além disso, o Método
GUT permite a avaliação integrada de diversas variáveis, considerando a condição atual da área, bem como a prospecção do
comportamento futuro dos processos erosivos.
O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma metodologia para avaliação e classificação de áreas com processos erosivos nas
margens de um reservatório de uma usina hidrelétrica localizada na região sudeste do Brasil.

Material e Métodos

Caracterização do local de estudo

O objeto alvo de estudo é a Usina Hidrelétrica Jaguara (UHE Jaguara), localizada no rio Grande (Bacia Hidrográfica do rio
Paraná) entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, nas coordenadas geográficas 20°01’ S e 47°26’ O. O empreendimento
está situado a jusante da Usina Hidrelétrica Luiz Carlos Barreto de Carvalho e possui como municípios limítrofes Sacramento
(Minas Gerais) e Rifaina e Pedregulho (São Paulo). O clima da região, segundo classificação de Köppen, é do tipo Aw,
caracterizado como tropical com inverno seco e verão chuvoso (também denominado de savana tropical, quente úmida)
(ALVARES et al., 2013). O reservatório da UHE Jaguara possui 33,0 km² de área inundada, perímetro total de 98,4 km,
largura média de 1,5 km e extensão aproximada de 23 km entre o barramento principal até a barragem a montante. A cota
máxima normal do nível de operação do reservatório coincide com a cota máxima maximorum, a qual está localizada a 558,5
metros acima do nível do mar. Já a cota de desapropriação do reservatório encontra-se nos 560 metros. O talude resultante da
diferença entre estas duas cotas deve, por isso, ser alvo de manutenção de Área de Proteção Permanente (APP) ao longo do
perímetro do reservatório.
A geologia da área do entorno do reservatório é composta por rochas metamórficas pré-cambrianas do Grupo Canastra, que
apresentam quartzitos sericíticos com intercalações de sericita, xistos, calcoxistos e filitos. As rochas metamórficas são
recobertas por rochas sedimentares areníticas das Formações Botucatu e Pirambóia, ambas constituintes do Aquífero Guarany
(ANA, 2015). Na porção superior dos arenitos encontram-se rochas ígneas basálticas da Formação Serra Geral, com espessura
de camadas bastante variável. Sobre a Formação Serra Geral encontra-se ainda a Formação Marília (Grupo Bauru)
caracterizada por fácies de calcário lacustrinos e calcretes na porção inferior, e arenitos e conglomerados calcíferos na parte
superior (CBH-SMG, 2016). As classes de solos predominantes na área de estudo são Latossolos Vermelhos distróficos de
textura argilosa combinados com Cambissolos Háplicos distróficos de textura média e argilosa. Em menor proporção ocorrem
os Neossolos Litólicos distróficos combinados com Cambissolos Háplicos distróficos, ambos com horizonte A moderado de
textura média e com fase pedregosa em áreas de relevo ondulado e montanhoso (DATAGEO, 2018). A vegetação na região do
entorno da UHE Jaguara apresenta as componentes do Cerrado e da Mata Atlântica (IBGE, 2004), já que o empreendimento
está situado numa zona de tensão ecológica entre os dois biomas. As fitofisionomias encontradas na região são floresta
estacional semidecidual, campos sujos, vegetação em estágio secundário de regeneração, veredas e matas ciliares (INGA
ENGENHARIA, 2014).

Metodologia de classificação de área com processos erosivos em bordas de reservatórios

A metodologia de classificação adotada neste trabalho se refere às áreas com erosões evidentes localizadas ao longo da faixa
de oscilação do nível de operação do reservatório. A faixa de margem onde estes processos erosivos atuam engloba
principalmente o talude superior e o talude inferior, conforme representação esquemática da Figura 39.

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O levantamento e cadastramento das áreas com erosões foram realizados em junho de 2018. Esta etapa foi executada através
do percurso total do perímetro do reservatório (98,4 km) com barco motorizado. As áreas cadastradas na margem esquerda
(São Paulo) do reservatório foram nomeadas numericamente e de forma sequencial, de jusante para montante, e as áreas da
margem direita (Minas Gerais) de montante para jusante. Durante o levantamento de dados a campo foram observados
aspectos técnicos e ambientais, bem como sociais e econômicos relacionados à ocorrência de processos erosivos. As variáveis
técnico-ambientais observadas foram: inclinação do talude inferior e talude superior (°); cobertura superficial do talude
inferior, talude superior e terreno natural (%); tipo de solo do talude inferior e talude superior; profundidade de movimentos de
massa junto à margem (m); altura do talude superior (m); presença de outros tipos de erosão (laminar, sulcos, etc); número de
árvores geotecnicamente instáveis na crista do talude superior e presença/ausência de gado. As variáveis relacionadas aos
aspectos sociais e econômicos observadas foram: risco a edificações ou obras de infraestrutura; impacto visual em área
pública; perda de área econômica e de usos recreativos e conflitos estabelecidos.

Figura 39: Representação esquemática da seção topográfica típica do relevo junto à borda de reservatórios de usinas
hidrelétricas. Fonte: DEWES, 2019.

O levantamento dos dados foi realizado, maioritariamente, de forma visual durante deslocamento em frente e ao longo de cada
área cadastrada. Os dados obtidos para cada variável técnico-ambiental foram organizados em intervalos de classe, conforme
pode ser observado na Tabela 34. Essa organização foi executada com o objetivo de atribuir pontuações na fase de aplicação da
metodologia GUT.

Inclinação dos taludes (°) Cobertura superficial (%)


Talude inferior Talude superior Talude inferior Talude superior Terreno natural
Até 5,0 Até 30,0 Até 10,0 Até 10,0 Até 10,0
5,1 - 15,0 30,1 - 45,0 10,1 - 35,0 10,1 - 35,0 10,1 - 35,0
15,1 - 25,0 45,1 - 60,0 35,1 - 60,0 35,1 - 60,0 35,1 - 60,0
25,1 - 35,0 60,1 - 85,0 60,1 - 85,0 60,1 - 85,0 60,1 - 85,0
>35,0 >85,0 >85,0 >85,0 >85,0
Solos (taludes) Movimentos de Altura
Erosão Árvores instáveis Gado
Inferior/superior massa - prof. (m) (m)
Rocha/saprólito Até 1,0 m Até 1,0 Splash Poucas (1 - 7) Não
Argiloso/saprólito 1,1 - 2,0 m 1,1 - 2,0 Laminar Várias (>7) Sim
Argiloso 2,1 - 3,0 m 2,1 - 3,0 Sulcos
Franco 3,1 - 5,0 m 3,1 - 5,0 Ravina
Arenoso/siltoso > 5,0 m >5,0 Voçoroca
Tabela 34: Intervalos de classe das variáveis técnico-ambientais levantadas.

A determinação dos limites dos intervalos de classe, quando aplicável, foi realizada após análise prévia da amplitude dos dados
observados para cada variável. Neste trabalho adotaram-se amplitudes de classes iguais dentro de cada intervalo de classes, no
entanto, amplitudes de classes diferentes dentro de um mesmo intervalo podem ser adotadas, a depender do interesse do
avaliador, objetivo da análise ou peculiaridades das áreas em estudo. Após determinação dos intervalos de classe, as variáveis
(técnico-ambientais e sociais) levantadas em cada área foram organizadas conforme apresentado na Tabela 35. Na sequência,
cada variável foi pontuada em relação a três categorias, nomeadamente, gravidade, urgência e tendência. A pontuação atribuída
corresponde a uma escala de 1 até 5, sendo 1 a condição menos problemática e 5 a mais problemática, conforme pode ser

970
observado na Tabela 36, para cada categoria pontuada.
Para uma mesma área, a pontuação total de cada variável é o produto da pontuação atribuída para cada categoria (gravidade,
urgência e tendência). A soma do produto de todas as variáveis analisadas em uma mesma área corresponde à pontuação GUT
total da mesma. Quanto menor for esta pontuação, em melhores condições a área em questão se encontra, ou seja, menor é a
atuação dos agentes envolvidos no processo erosivo e também menor é o impacto ambiental, social e econômico vinculado, e
vice-versa.
Na sequência as áreas foram ordenadas, em ordem decrescente, tendo como base a pontuação GUT total. Através desse
ordenamento as áreas foram classificadas em três categorias de prioridade de intervenção, nomeadamente, prioridade baixa
(GUT <50), média (50 ≤ GUT < 85) e alta (GUT ≥ 85).
A localização geográfica de início e final do trecho de margem cadastrada com erosão foi realizada com GPS de mão. Na fase
de escritório, as coordenadas geográficas coletadas foram espacializadas no Google Earth Pro®, de modo que a localização e o
comprimento longitudinal de cada área pudessem ser determinados. Durante o deslocamento junto à margem também foram
tomadas fotografias sequenciais em diversas perspectivas de cada área. Este registro fotográfico é importante, pois permite
análises posteriores mais detalhadas da margem na fase de trabalho de escritório.

G U T
Variáveis sob análise GUT
Gravidade Urgência Tendência
Aspectos té cnicos e ambientais
Variável i Gi Ui Ti GiUiTi
Variável i+1 Gi+1 Ui+1 Ti+1 Gi+1Ui+1Ti+1
Variável n Gn Un Tn GnUnTn
Aspectos sociais e outros
Variável i Gi Ui Ti GiUiTi
Variável i+1 Gi+1 Ui+1 Ti+1 Gi+1Ui+1Ti+1
Variável n Gn Un Tn GnUnTn
SOMA ∑ GUT

Tabela 35: Estruturação das variáveis (técnico-ambientais e sociais) analisadas e aplicação da metodologia GUT.

Pontuação Gravidade Urgência Tendência


5 Extremamente grave Precisa de ação imediata Irá piorar rapidamente
4 Muito grave Muito urgente Irá piorar em pouco tempo
3 Grave Urgente Irá piorar a médio prazo
2 Pouco grave Pouco urgente Irá piorar a longo prazo
1 Sem gravidade Pode esperar Não irá piorar
Tabela 36: Critérios adotados para atribuição de pontuação para cada variável analisada em relação à gravidade,
urgência (estado ou condição) e tendência (evolução) do processo.

Quanto às variáveis analisadas neste trabalho, a escolha das mesmas foi realizada com base nas peculiaridades inerentes ao
reservatório objeto de estudo. Cabe salientar que a exclusão ou inclusão de variáveis pode ser realizada livremente, a depender
dos critérios e objetivos a serem contemplados na análise ou também das peculiaridades do local de estudo.

Resultados e Discussão

Descrição das condições das margens do reservatório da UHE Jaguara

No total foram cadastradas 54 áreas com processos erosivos ativos, totalizando 5.269,73 m de comprimento, o que representa
5,36% do perímetro do reservatório. A área 4 (margem esquerda) apresentou o maior comprimento com 574,0 m e a área 17
(margem esquerda) apresentou o menor comprimento com 6,6 m. A média do comprimento das áreas foi de 97,6 m (CV =
106,9%). Na margem esquerda foram cadastradas um total de 28 áreas (área 1 a 28), totalizando 2.363,3 m de margem (44,8%
do comprimento total de margens cadastradas). Na margem esquerda foram cadastradas 26 áreas (área 29 a 54), totalizando
2906,4 m de margem (55,2% do comprimento total de margens cadastradas). Os dados revelam que o número de áreas e o
comprimento total de margens cadastradas com erosões encontram-se distribuídas de forma aproximadamente igualitária entre

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a margem esquerda e direita do reservatório.
Em relação à cobertura superficial dos taludes dos trechos cadastrados no reservatório da UHE Jaguara (Figura 40), verificou-
se grande exposição superficial do solo na porção do terreno localizado na faixa de oscilação do nível da água (talude inferior e
talude superior).

Figura 40: Cobertura superficial do talude inferior, talude superior e terreno natural dos 54 trechos cadastrados no
reservatório da UHE Jaguara.

A diferença de inclinações entre os dois tipos de taludes (inferior e superior) aparenta guardar relação com a cobertura
superficial. Os taludes superiores, que possuem inclinações maiores que os taludes inferiores (Figura 41), apresentaram maior
quantidade de trechos com cobertura superficial muito baixa (<10%) e menos quantidade de trechos com boa cobertura
superficial (>85%). Em relação à faixa de terreno livre da influência direta da água do reservatório (terreno natural), 44 (82%)
trechos apresentaram boa cobertura superficial (>85%) do solo. No entanto, uma porção considerável apresentou deficiências
evidentes nesta variável, tendo sido observados 10 trechos (18%) com cobertura superficial inferior a 85%. A principal
explicação para este resultado é que tais áreas têm sido utilizadas para fins pastoris, em que o manejo inadequado, o pisoteio e
pastejo do gado dificultam o desenvolvimento de uma cobertura vegetal adequada.
Quanto à inclinação dos taludes, consideraram-se nesta análise somente os taludes inferiores e taludes superiores, pois são
estes que estão sujeitos ao efeito adverso das ondas e da oscilação sazonal do nível da água do reservatório, estando, portanto,
suscetíveis a processos erosivos e movimentos de massa. Como pode ser observado na Figura 41, praticamente a totalidade dos
trechos cadastrados (53) apresentaram inclinações muito baixas (<5°) para os taludes inferiores. Taludes inferiores com
inclinações baixas são desejáveis, pois influenciam o tipo de onda formada na zona de rebentação. Taludes com baixas
inclinações favorecem a formação de ondas do tipo deslizante (HACKER; JOHANNSEN, 2012), que possuem baixa energia
cinética (WIEGEL, 1992) e, portanto, menor potencial erosivo.

Figura 41: Classes de inclinações dos taludes inferiores e taludes superiores observados nos 54 trechos cadastrados no
reservatório da UHE Jaguara.

Os taludes superiores encontram-se, em sua maior porção, acima da cota máxima do reservatório. As maiores inclinações

972
verificadas para estes taludes (Figura 41 e Figura 39) resultam, em grande parte, do embate direto e frontal das ondas formadas
no reservatório quando o nível da água se encontra em sua cota máxima ou próximo dela. O desconfinamento da base do
talude provoca a queda de massas de solo para dentro do reservatório, formando taludes superiores com altas inclinações.
Neste estudo praticamente todos os trechos cadastrados (51) apresentaram taludes superiores com inclinações maiores que 60°
(Figura 41). Altas inclinações são desfavoráveis à estabilidade de taludes, pois deslocam o centro de gravidade do maciço de
solo para posições geotecnicamente instáveis (DURLO; SUTILI, 2014; REID, 1992), o que pode resultar em movimentações
mais significativas de massas de solo. Do ponto de vista geotécnico, taludes de terra devem apresentar inclinações de no
máximo 30° (PORTO, 2006) sem prejuízo à estabilidade do maciço. Desta forma, os valores de inclinações dos taludes
superiores verificados encontram-se bastante acima dos recomendados pela literatura especializada.
Os solos dos trechos cadastrados apresentaram textura predominantemente argilosa, confirmando a descrição apresentada por
Datageo (2018). Na sequência predominam solos com textura intermediária (franco) e material alterado (rocha/saprólito e
argiloso/saprólito), conforme pode ser observado na Figura 42. Em apenas um trecho verificou-se solo de textura
predominantemente arenosa. Comparativamente, solos argilosos apresentam menor suscetibilidade à erosão em relação a solos
arenosos devido às forças de coesão existente entre partículas (STEVAUX; LATRUBESSE, 2017).

Figura 42: Tipos de solo encontrados nos taludes inferiores e taludes superiores nos 54 trechos cadastrados no
reservatório da UHE Jaguara.

Os dados também indicam uma distribuição homogênea do solo ao longo dos taludes inferiores e taludes superiores, exceto em
dois trechos em que duas camadas diferentes de solo puderam ser observadas (argiloso e franco). A ocorrência de camadas de
solo com características coesivas e resistivas diferentes pode resultar em pontos de fraqueza, acarretando no aumento da taxa
de erosão da margem (LAWSON, 1985; REID, 1992).
A maior parte dos trechos cadastrados (30) apresentaram taludes superiores com altura menor que 1,0 m, conforme pode ser
observado na Figura 43. Na sequência, 9 trechos apresentaram alturas entre 1,1 – 2,0; 7 trechos com alturas entre 2,1 – 3,0; 5
trechos com alturas entre 3,1 - 5,0 e 3 trechos com alturas >5,0. Desta forma, os dados de altura dos taludes superiores seguem
comportamento exponencial negativo. Do ponto de vista de perda de solo, taludes com pequenas alturas tendem a apresentar
menor volume de solo erodido e menor recuo da margem (CASADO et al., 2002; REID, 1992; THORNE; TOVEY, 1981).

973
Figura 43: Classes de altura dos taludes superiores (m) e profundidade (m) dos movimentos de massa observados nos
54 trechos cadastrados no reservatório da UHE Jaguara.

Em relação aos movimentos de massa, em apenas 15 dos 54 trechos cadastrados foi observado pelo menos um movimento
deste tipo, conforme pode ser observado na Figura 43. Segundo classificação de GeoRio (1999), os deslizamentos observados
apresentaram profundidades da massa deslocada entre superficial e profunda. No total 5 trechos apresentaram deslizamentos
com profundidades <1,0 m; 2 trechos com profundidade entre 1,1 – 2,0 m; 5 trechos com profundidades entre 2,1 – 3,0 m e 3
trechos com profundidades entre 3,1 – 5,0 m. A ocorrência de movimentos de massa em bordas de reservatório está
diretamente relacionada à perda de estabilidade da base do talude devido ao efeito mecânico (solapamento) provocado pelas
ondas (FERNANDEZ; FULFARO, 2000; REID, 1992) e pelo rebaixamento rápido do nível de operação do reservatório
(MACIEL FILHO; NUMMER, 2014).
Dos 54 trechos cadastrados, apenas 10 trechos apresentaram circulação de gado, geralmente ao longo de toda a extensão do
talude inferior. Estes animais pertencem a agricultores lindeiros, os quais possuem autorização para permitir o acesso do
rebanho ao reservatório para fins de dessedentação. No entanto, é recomendado que este acesso ocorra em pontos específicos e
de forma controlada, uma vez que a circulação dos animais em todo o trecho contribui para o aumento da taxa de perda de solo
para dentro do reservatório.
Quanto à presença de indivíduos de vegetação arbórea na crista do talude superior, verificaram-se poucos indivíduos instáveis
(n = 1 -7) em 9 trechos cadastrados e muitos indivíduos instáveis (n > 7) em 19 trechos cadastrados. Em 26 trechos não foram
verificados indivíduos instáveis. A presença de árvores de grande porte na crista do talude reduz a estabilidade do material
devido ao sobrepeso e ao efeito alavanca gerado pela transferência de energia do vento captada pela copa (DURLO; SUTILI,
2014). Além disso, também serve de indicativo do recuo da margem devido à erosão causada pela ação das ondas e oscilação
do nível da água do reservatório.
Quanto à ocorrência de outras formas erosivas, verificaram-se erosões do tipo laminar e em sulco em apenas 2 dos 54 trechos
cadastrados. Desta forma, as perdas de solo verificadas nas margens do reservatório ocorrem maioritariamente devido ao
solapamento dos taludes superiores quando o nível da água se encontra na cota máxima. Este solo desagregado é transportado
e depositado ao longo do talude inferior e dentro do reservatório à medida que o nível do reservatório é rebaixado durante as
estações de seca.
Quanto aos aspectos sociais e econômicos relacionados à perda de solo nas margens, foram avaliadas quatro variáveis,
nomeadamente, risco a edificações ou obras de infraestrutura; impacto visual em área pública; perda de área econômica e de
usos recreativos e conflitos estabelecidos. Dos 54 trechos cadastrados, apenas 2 trechos apresentaram algum risco relacionado
a obras de infraestrutura (vias de acesso) e edificações, 1 trecho apresentou impacto visual devido à proximidade com áreas
públicas e 28 trechos apresentaram perda de área de uso econômico e recreativo. Cabe destacar que o último tipo de impacto
caracteriza-se maioritariamente por perda de áreas de pastagem exploradas pelos agricultores lindeiros e, em menor grau, por
áreas de convívio e lazer. Em relação aos conflitos estabelecidos entre proprietários lindeiros e o empreendimento hidrelétrico
não foi observada nenhuma ocorrência.

Classificação dos trechos cadastrados em níveis de prioridade através da metodologia GUT

Para cada trecho cadastrado com processo erosivo foram analisadas e pontuadas individualmente cada uma das variáveis
coletadas durante a vistoria técnica seguindo a metodologia GUT (Tabela 35 e Tabela 36). Os intervalos de classe definidos na
Tabela 34 para as variáveis técnico-ambientais analisadas serviram de base para a atribuição da pontuação GUT. Para as
variáveis sócio-econômicas, as pontuações nos três níveis avaliados foram atribuídas com base no bom senso e experiência do

974
avaliador, com especial cuidado para manutenção dos mesmos critérios e padrões de pontuação entre trechos diferentes. A
Figura 44 apresenta a soma da pontuação GUT obtida para os três níveis (gravidade, urgência, tendência) avaliados em cada
trecho (Tabela 35), bem como a hierarquização dos mesmos quanto à sua prioridade (alta, média e baixa) de ação.

Prioridade alta
Prioridade média
Prioridade baixa

Figura 44: Classificação dos 54 trechos cadastrados com processos erosivos em níveis de prioridade pela pontuação
GUT - UHE Jaguara.

975
A pontuação GUT obtida para cada trecho cadastrado é a soma dos produtos de 16 variáveis pontuadas, sendo 12 variáveis de
caráter técnico-ambiental e 4 variáveis de cunho socioeconômico. Cabe destacar que este quantitativo de variáveis foi definido
com base nas particularidades do reservatório em estudo e do objetivo do trabalho. No entanto, este quantitativo é flexível e
pode ser redefinido dependendo do local em estudo. Da mesma forma, o número de níveis de prioridade de intervenção
também pode ser definido com base na demanda ou necessidade da avaliação. Portanto, a flexibilidade da metodologia GUT
faz com que a mesma seja de fácil aplicação adequando-se a diferentes realidades.
Para o trabalho em questão, os níveis de prioridade alta (GUT ≥ 85), prioridade média (50 ≤ GUT < 85) e prioridade baixa
(GUT <50) foram definidos com base na severidade dos processos erosivos observados, na necessidade de intervenção técnica
imediata ou em curto prazo e nos recursos financeiros disponíveis para o monitoramento quantitativo das erosões nos trechos
cadastrados. Desta forma, os 9 trechos classificados como prioridade alta serão alvo de intervenção a curto prazo com base em
projeto técnico específico, os 22 trechos classificados como prioridade média serão monitorados por meio de metodologia
quantitativa descrita por Dewes (2019) e Dewes et al. (2018b) e os 23 trechos classificados como prioridade baixa serão
acompanhados por meio de monitoramento visual periódico e registro fotográfico.
Conforme fica evidenciado, a metodologia GUT apresenta aplicabilidade para auxiliar na tomada de decisões técnicas, bem
como em processos de transparência institucional. Análises através da matriz GUT aplicadas ao setor ambiental contribuem
para uma melhor gestão de recursos humanos e financeiros envolvidos no processo e, ao mesmo tempo, propiciam maior
transparência junto aos órgãos fiscalizadores sobre as medidas e ações a serem tomadas pelo empreendedor, com o intuito de
minimizar o efeito adverso do problema em questão.

Considerações Finais

A partir da realização deste trabalho conclui-se que a metodologia GUT apresenta grande potencial para classificações de
trechos de margens de reservatórios de usinas hidrelétricas com processos erosivos. As pontuações GUT obtidas a partir das
variáveis preestabelecidas e avaliadas a campo permitiram classificar os trechos cadastrados em diferentes níveis de prioridade
de intervenção (alta, média e baixa). Os dados resultantes ainda contribuem para uma melhor gestão e tomada de decisões
inerentes ao processo avaliado.
Devido à flexibilidade em relação à determinação das variáveis a serem avaliadas, adequando-se aos objetivos, demandas e
peculiaridades do local em estudo, a metodologia proposta pode ser aplicada com facilidade, proporcionando uma análise
quali-quantitativa objetiva dos processos erosivos vigentes a um custo baixo.
Cabe salientar que o processo de pontuação GUT deve ser realizado por apenas um avaliador. Como a atribuição da pontuação
não pode ser desvinculada completamente da experiência e subjetividade humana, este procedimento permite homogeneização
dos critérios e padrões adotados para pontuação dos trechos cadastrados.

Agradecimentos

Os Autores gostariam de agradecer à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), à Engie
Brasil Energia e à Salix Engenharia Natural pelo apoio recebido.

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978
5SSS234
VIABILIDADE ECONÔMICA DE UMA OBRA PARA CONTROLE DE
PROCESSOS EROSIVOS COM TÉCNICAS DE ENGENHARIA
NATURAL
Rita dos Santos Sousa1, Junior Joel Dewes2, Fabrício Jaques Sutili3
1Universidade Federal de Santa Maria, e-mail: ritasousa.ufsm@gmail.com; 2Universidade Federal de Santa
Maria, e-mail: juniordewes2011@gmail.com; 3Universidade Federal de Santa Maria, e-mail: fjsutili@gmail.com

Palavras-chave: Recuperação de Áreas Degradadas; Estabilização Hidráulica; Análise de Custos.

Resumo
No Brasil são frequentes processos erosivos que resultam em perda de solo, assoreamento de recursos hídricos, diminuição da
qualidade da água, entre outros problemas. A aceleração do processo de erosão devido à ação antrópica resulta em prejuízos
ambientais e econômicos. No entanto, existe um aumento das preocupações relacionadas à preservação de recursos naturais,
principalmente em áreas de maior fragilidade ambiental, como as áreas no entorno de cursos de água. O controle de processos
erosivos em taludes fluviais, tradicionalmente é realizado com técnicas de Engenharia Civil, mas com o aumento da
conscientização ambiental surge a demanda por técnicas de menor impacto que valorizem as características ambientais e a
conectividade hidráulica de sistemas fluviais. As técnicas de Engenharia Natural podem ser uma alternativa viável às técnicas
tradicionais, uma vez que, além de levarem em consideração critérios técnicos no dimensionamento das obras, também
valorizam os fatores ecológicos e ambientais. Além disso, a correção e/ou mitigação de processos erosivos através de
abordagens convencionais podem ser mais dispendiosas do ponto de vista técnico, econômico e principalmente ecológico.
Uma comparação de custos entre soluções de Engenharia Civil e soluções de Engenharia Natural em obras realizadas em
contexto brasileiro é uma ferramenta eficaz na avaliação da viabilidade econômica entre as duas abordagens. Desta forma
podem ser fornecidos critérios que ajudem na especificação de obras com base em análises técnicas feitas a intervenções já
implementadas. O objetivo deste trabalho foi analisar a viabilidade econômica de uma obra de Engenharia Natural executada
para estabilização de um talude e leito de um curso de água no Brasil, comparando-a com uma solução tradicional de
Engenharia Civil.
A área de estudo está localizada no município de Cariacica (Espírito Santo) e consiste em uma faixa de domínio de transporte
dutoviário, cujo gasoduto atravessa um córrego de montanha através de uma travessia submersa. Após precipitações intensas
no verão de 2011/2012 ocorreu a exposição da geratriz superior do gasoduto devido à ocorrência de um processo erosivo nas
margens e fundo do curso de água no local da travessia. Para realizar a análise econômica foi feita uma comparação entre o
orçamento proposto para a obra de Engenharia Civil em 2011 e o custo efetivo da obra de Engenharia Natural executada em
2014, com valores atualizados para janeiro de 2018. Para as duas soluções construtivas foram analisados os custos, que
consideram todos os gastos envolvidos na execução da obra, ou seja, mão de obra, materiais e equipamentos, além de toda a
infraestrutura executiva.
O projeto de engenharia tradicional consistiu na proposta de contenção dos taludes das duas margens com muros de gravidade
constituídos por gabiões caixa e revestimento do fundo do canal com gabião tipo colchão. O projeto de Engenharia Natural
consistiu na proposta de contenção do talude da margem esquerda com muro de gravidade constituído por parede krainer
combinada com mudas e estacas de plantas arbustivas nativas e para proteção da margem direita foram utlizados biorretentores
e biomanta de palha com plantio de plantas arbustivas. A estabilização do fundo do leito foi realizada através da implantação
de uma estrutura transversal tipo cinto basal saliente, construído em concreto.
O custo total orçado para a obra de Engenharia Civil foi de R$ 442.728,90. O custo total para a execução da obra de
Engenharia Natural foi de R$ 225.538,87. A análise dos custos mostrou que a obra de Engenharia Natural foi 49,06% mais
econômica que a intervenção proposta pela Engenharia Civil. Este resultado está dentro dos valores relatados por diversos
autores em outros países e no Brasil. A obra de Engenharia Natural apresenta uma distribuição de custos mais equilibrada,
referente às diversas fases que constituem a obra, enquanto que na obra estimada para a Engenharia Civil a maior percentagem
dos custos (67,21%) diz respeito às obras longitudinais (R$ 297.574,25), principalmente por causa do valor direcionado à
aquisição das redes que constituem os gabiões. A obra executada de Engenharia Natural teve a maior percentagem do valor
total (39,97%) relacionada com a aquisição de materiais construtivos, uma vez que no local de intervenção não existiam
materiais construtivos passíveis de serem utilizados.
Conclui-se que a obra de Engenharia Natural atendeu aos critérios técnicos para a qual foi dimensionada e também
proporcionou ganhos ecológicos, estéticos e paisagísticos. Além disso, a obra de Engenharia Natural apresentou viabilidade
econômica para estabilizar as margens e o leito do curso de água quando comparada com a solução prevista pela Engenharia

979
Civil. Numa avaliação econômica é importante também considerar o fato de que o impacto ambiental de intervenções
antrópicas no território é dificilmente quantificável em termos econômicos, no entanto deve ser considerado com atenção face
a uma visão moderna e abrangente dos ecossistemas.

Introdução

Os processos erosivos que resultam em perda de solo, assoreamento dos recursos hídricos, diminuição da qualidade da água,
entre outros, são muito recorrentes no Brasil. Apesar da erosão ser um processo contínuo e natural que contribui para a
distribuição de sedimentos na superfície terrestre, a sua aceleração devido à ação antrópica resulta em prejuízos ambientais e
econômicos.
Atualmente, seja em contexto brasileiro ou mundial, existe um aumento com a preocupação da preservação de recursos
naturais, principalmente em áreas de maior fragilidade ambiental, como as áreas no entorno de cursos de água. Fatores como a
suscetibilidade natural dos solos à erosão, altos níveis pluviométricos e relevo ondulado influenciam fortemente a dinâmica dos
processos erosivos (FILHO et al., 2019).
Tradicionalmente o controle de processos erosivos em taludes fluviais é realizado com técnicas convencionais de Engenharia
Civil, como por exemplo, muros e colchões de gabião, sacos de solo cimento, revestimentos em concreto, enrocamento, entre
outras. No entanto, com o aumento da conscientização ambiental surge a demanda por técnicas de menor impacto ambiental
que valorizem as características ambientais e a conectividade hidráulica de sistemas fluviais. As técnicas de Engenharia
Natural (biotécnicas) mostram-se como uma alternativa viável às técnicas tradicionais, uma vez que, além de levarem em
consideração critérios técnicos no dimensionamento das obras, também valorizam os fatores ecológicos e ambientais
(COPPIN; RICHARDS, 2007; SOUSA; SUTILI, 2017). Além disso, a correção e/ou mitigação de processos erosivos através
de abordagens convencionais de engenharia podem ser mais dispendiosas do ponto de vista técnico, econômico e
principalmente ecológico (SOUSA et al., 2018a).
A Engenharia Natural utiliza principalmente materiais construtivos vivos (sementes, plantas, partes de plantas, etc.) que
podem, ou não, ser combinados com materiais inertes. Pode ser utilizada como substituto, mas principalmente como
complemento útil e por vezes necessário às técnicas clássicas de Engenharia Civil (SCHIECHTL, 1980). As técnicas de
Engenharia Natural podem ser utilizadas no âmbito hidráulico para estabilização e proteção de taludes fluviais e do leito, bem
como para aumentar a diversidade morfológica em trechos ou seções dos cursos de água, ou para um aumento da
biodiversidade e da conectividade das redes ecológicas (CORNELINI; SAULI, 2005). Apresentam esquemas construtivos mais
flexíveis e permeáveis, que podem ser mais facilmente integrados na natureza, não sofrendo recalques e movimentações de
solo, e também não alteram a condutividade hidráulica do solo (SOUSA, 2015).
A economia desempenha um papel importante em todos os campos da Engenharia, principalmente como um fator determinante
na tomada de decisões. Existe a necessidade de encontrar formas menos onerosas para resolver problemas, e análises
financeiras proporcionam um sistema que ajuda nessas escolhas. A principal finalidade de desenvolver uma análise financeira
é a avaliação dos custos e benefícios de um sistema ou obra. Desta forma a análise financeira e a relação custo-benefício de
obras de Engenharia Natural são essenciais para a especificação da solução mais adequada, que atenda às condições técnicas e
ambientais sem descurar as condições econômicas. Uma comparação de custos entre soluções tradicionais e soluções de
Engenharia Natural em obras realizadas em contexto brasileiro é uma ferramenta eficaz na avaliação da viabilidade econômica
entre as duas abordagens. Desta forma, podem ser fornecidos critérios que ajudem na especificação de obras com base em
análises técnicas feitas a intervenções já implementadas.
Segundo diversos autores, a Engenharia Natural apresenta soluções construtivas mais econômicas que as soluções tradicionais
da Engenharia (BLOEMER et al., 2015; BONATTI; MARONGIU, 2013; COPPIN; RICHARDS, 2007; CORNELINI;
SAULI, 2005; FAY; AKIN; SHI, 2002; FERNANDES; FREITAS, 2011; SCHIECHTL; STERN, 1996; STUDER; ZEH,
2014).
O objetivo deste trabalho é analisar a viabilidade econômica de uma obra de Engenharia Natural executada para estabilização
de um talude e leito de um curso de água no Brasil, comparando-a com uma solução tradicional de Engenharia Civil.

Material e Métodos

Descrição da área de estudo

A área de estudo está localizada no município de Cariacica, estado do Espírito Santo, nas coordenadas 20°16’41,36” Sul e
40°27’37,06” Oeste, com uma altitude aproximada de 106 metros. A área constitui uma faixa de domínio de transporte
dutoviário de gás, cujo gasoduto atravessa um córrego de montanha através de uma travessia submersa. No verão de
2011/2012 ocorreram eventos pluviométricos intensos, especialmente na semana entre os dias 3 e 10 de janeiro de 2012, onde
houve uma precipitação acumulada de 260 mm, com destaque para um pico de 100 mm registrado no dia 06/01 (SOUSA;

980
MAFFRA; SUTILI, 2017). A ação dessas chuvas provocou a exposição da geratriz superior do gasoduto devido à ocorrência
de um processo erosivo nas margens e fundo do curso de água no local da travessia do duto. Como consequência da alta
velocidade do fluxo de água e das características da bacia hidrográfica, o duto foi parcialmente exposto e passou a funcionar
como um barramento, sofrendo tensões adicionais de turbilhonamento e forças de fluxo. Além disso, o duto exposto tem maior
risco de ser danificado pela ação de terceiros e maior suscetibilidade a eventos geotécnicos típicos da região como
movimentação de tálus, queda de blocos e corridas de detritos. Desta forma, a norma técnica da PETROBRAS N 464 (2012)
especifica que dutos devem apresentar uma cobertura com espessura entre 1,0 e 1,5 m, dependendo da sua localização.
No local em questão também ocorreu um deslizamento de solo na margem esquerda do curso de água, devido à existência de
blocos rochosos de grandes dimensões que durante as cheias direcionaram o fluxo diretamente para o talude, ocasionando a
erosão e desconfinamento da base do mesmo e, consequentemente, a queda do maciço de solo. Além disso, os excedentes
pluviais da faixa de domínio no talude a montante da margem esquerda que são diretamente direcionados sobre o trecho do
talude rompido agravaram ainda mais a condição de instabilidade. Os cabos ópticos que acompanham o duto também foram
expostos devido à elevada velocidade da água e consequentemente alto poder erosivo do fluxo. As características do trecho do
curso de água com processos erosivos antes da intervenção podem ser observadas na Figura 45.

Figura 45: Trecho antes da intervenção. A – Deslizamento de solo e erosão na margem esquerda. B – Detalhe dos cabos
de fibra óptica expostos. Fonte: Transpetro, 2011.

Com o objetivo de evitar a evolução dos processos erosivos, bem como a perda de estabilidade do talude fluvial e prováveis
danos no gasoduto e nos cabos de fibra óptica foi elaborado numa primeira fase um projeto de engenharia tradicional. Este
projeto foi solicitado pela empresa de transporte de petróleo e gás responsável pelo gasoduto e foi desenvolvido em outubro de
2011. Na segunda fase a empresa solicitou a elaboração de um projeto que atendesse não só às condições técnicas impostas
pela tipologia do processo erosivo vigente, mas que também apresentasse um carácter ecológico, visando a mitigação do
impacto da obra nas características ambientais do local. Este projeto foi realizado com base em conceitos de Engenharia
Natural e submetido à análise do órgão ambiental responsável, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA). O projeto foi elaborado entre setembro e dezembro de 2012 pelo Laboratório de Engenharia
Natural (LabEN) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A empresa de transporte de petróleo e gás responsável pelo
gasoduto optou pela execução da solução proposta no projeto de Engenharia Natural, após análise e aprovação do órgão
ambiental.

Análise econômica

Para realizar a análise econômica foi feita uma comparação entre o orçamento proposto para a obra de Engenharia Civil em
2011 e o custo efetivo da obra de Engenharia Natural executada em 2014. Para se obter um resultado passível de análise e
comparação com maior exatidão a partir de custos padronizados para as duas soluções propostas, foi feita uma atualização dos
custos seguindo valores contratuais estabelecidos pela empresa proprietária do gasoduto para a aquisição de materiais, mão de
obra e serviços, com vigência até janeiro de 2018. Para as duas soluções construtivas foram analisados os custos, que
consideram todos os gastos envolvidos na execução da obra, ou seja, mão de obra, materiais e equipamentos, além de toda a
infraestrutura necessária para a execução (canteiro de obra, administração local, mobilização e desmobilização).

Descrição das técnicas de intervenção

O projeto de Engenharia Civil consistiu na proposta de contenção dos taludes das duas margens com muros de gravidade

981
constituídos por gabiões caixa e revestimento do fundo do canal com gabião tipo colchão. O gabião foi projetado com 2,5 m de
altura, 24,0 m de comprimento e 2,0 m de profundidade na base e 1 m de profundidade no topo da estrutura, preenchido com
210 m3 de pedra. O gabião colchão foi dimensionado com 200 m2 de área e espessura de 0,23 m, preenchido com 60 m3 de
pedra. As redes em malha hexagonal com dupla torção dos gabiões caixa e colchão consideradas no projeto são revestidas em
PVC para evitar processos de corrosão pela água. Também foi considerada a aplicação de geossintético tipo geotêxtil não-
tecido com gramatura de 200 g/m² com função de filtro na interface entre o solo e os gabiões tipo caixa e colchão, impedindo
desta forma o arrastamento e consequente perda de solo. A quantidade total de geotêxtil prevista foi de 460 m2. Os detalhes das
soluções tradicionais projetadas para o trecho podem ser observados na Figura 46.

Figura 46: Seção tipo do local com intervenções de Engenharia Civil (MACCAFERRI, 2011).

O projeto de Engenharia Natural consistiu na proposta de contenção do talude da margem esquerda com muro de gravidade
constituído por parede krainer em madeira com altura de 2,6 m, comprimento de 7,5 m e profundidade de 2,25 m. A estrutura
foi preenchida com 45 m3 solo, 675 mudas e estacas de plantas arbustivas nativas e 18 biorretentores de palha. Os detalhes
construtivos da estrutura de contenção podem ser observados na Figura 47.

Figura 47: Seção tipo da margem esquerda com parede krainer (TRANSPETRO, 2012).

982
Para proteção da margem direita foram projetados biorretentores de palha, biomanta de palha e plantio de mudas. A
estabilização do fundo do leito foi realizada através da implantação de uma estrutura transversal tipo cinto basal saliente,
construído em concreto simples. A largura da soleira do cinto basal é de 0,50 m e a da base, que fica no fundo do leito
escavado, deve ser de 1,10 m e inserida na profundidade de 0,70 m. A altura do cinto é de 1,25 m e foi calculada em função da
inclinação do perfil de compensação formado e da necessidade de proteção e aumento da cobertura atual do duto (Figura 48).
O vertedouro foi projetado com seção trapezoidal com largura da base menor igual a 5 m, base maior igual a 10,50 m e altura
igual a 0,85 m, totalizando 16 m3 de concreto.
Também foi projetado um sistema de drenagem no talude sobre a parede krainer com a função de redirecionar os excedentes
pluviais (escoamento superficial) originários da faixa. A drenagem foi constituída por 25 m de canaletas com dimensões de 30
x 30 cm executadas em concreto simples com pedra argamassada e em concreto armado.
A seleção das medidas de tratamento foi apoiada pelo estudo do comportamento dinâmico dos processos erosivos, nas
características da torrente, dos critérios de integridade do duto e da faixa e da sua posição em relação à bacia hidrográfica.
Também foram consideradas as alterações no regime fluvial a montante e a jusante do trecho de intervenção. Além disso,
durante a elaboração do projeto básico específico foram realizados dimensionamentos hidrológicos, hidráulicos e geotécnicos
para todas as estruturas.

Figura 48: Aspectos executivos do perfil de compensação construído a montante do cinto basal saliente
(TRANSPETRO, 2012).

As soluções adotadas foram dimensionadas para um período de retorno de 25 anos, excedendo em 5 anos a vida útil
considerada para o duto.

Resultados e Discussão

O custo total orçado para a obra de Engenharia Civil foi de R$ 442.728,90. O custo total para a execução da obra de
Engenharia Natural foi de R$ 225.538,87.
A análise dos custos mostrou que a obra de Engenharia Natural foi 49,06% mais econômica que a intervenção de Engenharia
Civil proposta. Este resultado está dentro dos valores relatados por Venti et al. (2003), que afirmam que a Engenharia Natural é
40% a 90% menos dispendiosa que as intervenções tradicionais. Já Talamantes-Contreras (2006) afirma que em Itália os custos
de obras de Engenharia Natural apresentam uma redução de 40% em relação às técnicas construtivas tradicionais. Os autores
Sousa et al. (2018b) encontraram um valor de cerca de 50% menor para a Engenharia Natural em um estudo comparativo
realizado no estado do Rio Grande do Sul.
É importante salientar que uma vez que a solução de engenharia tradicional não foi executada, não foi possível fazer uma
análise real de qual seria o seu custo final após implantação. Normalmente na fase de execução os custos são maiores que
aqueles projetados, uma vez que as condições durante a fase executiva de obra não conseguem ser totalmente previstas em fase
de projeto, como por exemplo, dias de chuva, atrasos com fornecedores, equipes de trabalho menores ou menos eficientes que
as consideradas em projeto, entre outras. Ou seja, a obra de Engenharia Natural poderia potencialmente mostrar-se ainda mais
econômica.
O comparativo para as duas intervenções com base nos custos totais de cada fase está representado na Figura 49.

983
Figura 49: Comparativo de custos para as intervenções de Engenharia civil e Engenharia Natural com base nos custos
totais de cada fase.

Observa-se que nas duas intervenções os serviços iniciais, as obras provisórias de contenção de sedimentos e os serviços finais
apresentam os mesmos custos, uma vez que consistem exatamente nos mesmos tipos de trabalhos. Para execução dos trabalhos
de terraplanagem os custos na intervenção tradicional apresentam um montante de R$ 45.599,62, enquanto que no caso das
biotécnicas os trabalhos de terraplanagem custam 30.197,41. Esta diferença de custos está relacionada com o fato de que na
solução convencional a área de intervenção é maior (200 m2) e que para implantar as estruturas em gabião caixa e colchão é
necessária maior movimentação de terras nos taludes das margens e principalmente no leito do curso de água, sendo por isso
necessárias mais horas de trabalho de escavadeira hidráulica e mão de obra. Na obra de Engenharia Natural é necessária apenas
movimentação do talude da margem esquerda para implantação da parede krainer (área de 17 m2) e em um pequeno trecho
(comprimento de 1,20 m) no leito para implantação da estrutura transversal, o que reduz os custos com escavadeira hidráulica e
mão de obra no montante de R$ 15.402,21.
No caso das estruturas transversais, a sua execução apresenta um custo de R$ 23.476,98. Esta fase não existe na solução de
engenharia tradicional, uma vez que não estava prevista a implantação de estruturas que atuassem transversalmente ao fluxo de
água.
As estruturas longitudinais na intervenção de Engenharia Civil totalizam um valor de R$ 297.574,25, enquanto que na
intervenção de Engenharia Natural totalizam R$ 55.875,62. Isto significa que as estruturas longitudinais na intervenção
biotécnica tiveram um custo 81,22% inferior às previstas na solução tradicional. Esta discrepância de valores deve-se ao fato
de que a área de implantação das estruturas longitudinais com biotécnicas é menor que a área de implantação dos gabiões caixa
e colchão. Os materiais utilizados também são mais econômicos que as redes que constituem os gabiões (R$ 125.743,60), que
ainda são acrescidos do valor da pedra (R$ 40.102,24). O tempo de execução das estruturas biotécnicas (5 dias) também é
menor que o de execução dos gabiões (25 dias). Estas diferenças explicam a grande divergência entre os valores finais.
Somente o valor da execução da estrutura em gabião representa um custo total 24,21% maior do que toda a implantação na
intervenção biotécnica.
A intervenção biotécnica ainda apresenta os serviços correspondentes à execução do sistema de drenagem R$ 8.814,19, que
também não tem fase correspondente na solução convencional. No entanto, seria pertinente executar um sistema de drenagem
que conduzisse o excesso de água proveniente da faixa, evitando desta forma a ocorrência de processos erosivos no tardoz da
estrutura. Nesse caso à obra tradicional de engenharia seriam somados R$ 8.814,19, correspondentes à implantação de um
sistema de drenagem semelhante aquele executado na intervenção biotécnica.
No caso da recomposição da faixa, o valor gasto pela intervenção biotécnica foi de R$ 7.619,64, sendo que esta fase também
não estava prevista na intervenção tradicional. No entanto, com base no volume de terraplanagem previsto para execução do
gabião, na grande área de intervenção, na movimentação de pedra e máquinas para execução dos serviços, e também pelo fato
que toda a movimentação de pessoas e máquinas deve ser obrigatoriamente feita pela faixa, seria previsível que a mesma
ficasse bastante danificada após conclusão dos trabalhos. Desta forma seria imprescindível que no final da obra fosse feita a
sua recomposição possivelmente com um custo pelo menos semelhante ao da intervenção biotécnica. Nesse caso a obra de

984
engenharia tradicional teria um acréscimo de R$ 7.619,64 como custo extra para recomposição da faixa.
Com base nos orçamentos pode-se também obter os custos totais em percentual para cada fase da intervenção de Engenharia
Natural e da Engenharia Civil, como pode ser observado na Figura 50.

Figura 50: Custos percentuais totais das fases que compõem a execução da intervenção de Engenharia Civil e
Engenharia Natural.

Observa-se que os serviços iniciais das duas intervenções (que têm o mesmo custo de R$ 57.843,00), representam 13,07% na
obra de Engenharia Civil e 25,65% no caso da intervenção de Engenharia Natural. O mesmo ocorre na etapa de obras
provisórias de contenção de sedimentos, os dois orçamentos correspondem a um montante de R$ 18.606,77, representando
4,20% na Engenharia Civil e 8,25% na intervenção biotécnica. No caso da etapa de serviços finais o valor total de R$
23.105,26 corresponde a 5,22% na Engenharia Civil e 10,24% do valor total da intervenção de Engenharia Natural.
Para execução dos trabalhos de terraplanagem os custos na intervenção de Engenharia Civil apresentam um montante de R$
45.599,62, que corresponde a 10,30% do total. No caso da intervenção biotécnica os trabalhos de terraplanagem custam R$
30.197,41, representando 13,39% do valor total.
As estruturas longitudinais na Engenharia Civil totalizam um valor de R$ 297.574,25, que corresponde a 67,21% do valor total
da obra, enquanto que na intervenção de Engenharia Natural totalizam R$ 55.875,62, que representa 24,77% do total da obra.
A intervenção biotécnica ainda apresenta os serviços correspondentes à construção de obras transversais que representa R$
23.476,98 (10,41%), a execução do sistema de drenagem R$ 8.814,19 (3,91%) e a recomposição da faixa R$ 7.619,64 (3,38%).
Para a intervenção de Engenharia Natural, as fases que apresentaram maiores custos percentuais foram os serviços iniciais e as
obras longitudinais com 25,65% e 24,77%, respectivamente, o que perfaz um total de 50,42% do valor total da obra. No
entanto, as mesmas fases para a solução de Engenharia Civil apresentam um total de 80,28% dos custos, valor este muito maior
que o da intervenção biotécnica.
Verifica-se que a obra de Engenharia Natural apresenta uma distribuição de custos mais equilibrada referente às diversas fases
da obra, enquanto que na obra estimada para a Engenharia Civil a maior percentagem dos custos diz respeito às obras
longitudinais (67,21%), principalmente por causa do valor direcionado à aquisição das redes que constituem os gabiões.
Para cada intervenção, tanto de Engenharia Civil como de Engenharia Natural, se pode estabelecer um comparativo percentual
entre os custos totais com a mão de obra, materiais, máquinas e serviços necessários, conforme se observa na Figura 51.

985
Figura 51: Percentual de custos referente à utilização de mão de obra, materiais, máquinas e serviços para a
intervenção de Engenharia Civil e Engenharia Natural.

O projeto de intervenção de engenharia convencional teve um valor total orçado em R$ 442.728,90, onde deste total 47,61% se
refere à aquisição de materiais, 29,70% corresponde à mão de obra, 22,30% para a utilização de máquinas e 0,39% para a
realização de serviços de topografia. Verifica-se que quase metade dos custos se referem à aquisição de materiais,
principalmente das redes que constituem os gabiões caixa e colchão, que são materiais que requerem grande tecnologia para a
sua fabricação. O grande volume de pedra utilizada para preenchimento dos gabiões, associado às condições de difícil acesso
ao local da obra também contribuem para o alto percentual referente à compra de materiais.
Para a intervenção de Engenharia Natural, do valor total de R$ 225.538,87 foi destinado para os materiais um valor
correspondente a 39,97%, para as máquinas 30,12%, para a mão de obra 29,15% e 0,76% para a realização de serviços de
topografia. Apesar da proporção de custos ser bem distribuída entre mão de obra, materiais e máquinas, os maiores custos se
referem à aquisição de materiais (39,97%). Normalmente neste tipo de obras são utilizados materiais disponíveis no local de
intervenção (madeira, rochas e plantas) (FERNANDES; FREITAS, 2011), o que faz com que custos de aquisição sejam
baixos, e os maiores custos normalmente sejam atribuídos à mão de obra, conforme verificado em obras realizadas em Itália e
também no Equador, Guatemala e Nicarágua (PETRONE; PRETI, 2005). Enquanto que na Itália, os custos percentuais de mão
de obra são maiores devido aos altos salários dos funcionários, no Equador, Guatemala e Nicarágua estes custos percentuais
são altos porque se favorece a utilização de mão de obra local, em vez de tecnologias (materiais e máquinas) mais sofisticadas,
como forma de apoio à criação de empregos. Já nesta pesquisa, a mão de obra apresentou custos percentuais mais baixos que
os materiais, uma vez que no local de intervenção não existiam materiais passíveis de serem utilizados, com exceção de
algumas plantas. Adicionalmente, o valor referente aos materiais foi agravado pelo custo do concreto usado para execução do
cinto basal saliente. Além disso, a mão de obra no Brasil, principalmente na área da construção civil, apresenta valores mais
baixos quando comparada com os países europeus ou norte-americanos. No entanto, para casos em que todos os materiais
construtivos estejam disponíveis no local de intervenção, não haverão custos referentes à aquisição dos mesmos (SOTIR;
GRAY, 1992; WATSON; ABT; THORNTON, 1994), o que poderá tornar estas intervenções ainda mais baratas.
Para além de apresentar viabilidade financeira, a obra de Engenharia Natural executada também atendeu aos critérios técnicos
para a qual foi dimensionada. A execução da parede krainer na margem esquerda proporcionou a consolidação do talude,
enquanto que o sistema de drenagem permitiu o redirecionamento dos excedentes pluviais provenientes da faixa de domínio
para o curso de água. As técnicas da margem direita impediram a progressão do processo erosivo e o alargamento do curso de
água. A formação de um novo perfil de compensação gerado pela construção do cinto basal saliente favoreceu a deposição e
retenção de material (solo e rochas) sobre o gasoduto.
Além dos benefícios técnicos, a intervenção proporcionou a conectividade hidráulica do sistema fluvial, ganhos ecológicos,
estéticos e paisagísticos. A utilização de plantas nativas promoveu a colonização da área por outras espécies vegetais,
aumentando desta forma a diversidade da flora e fauna, bem como a funcionalidade do habitat. Na Figura 52 pode observar-se
a obra de Engenharia Natural nos primeiros 16 meses de evolução.

986
Figura 52: Evolução da obra de Engenharia Natural. A – Local imediatamente após a execução em agosto de 2014. B –
Local 16 meses após a intervenção em dezembro de 2015. Fonte: Transpetro.

Considerações Finais

Com base na análise financeira realizada para este estudo de caso observou-se que a intervenção de Engenharia Natural teve
um custo percentual de 49,06% inferior à solução prevista pela Engenharia Civil. A obra executada teve a maior percentagem
do valor total (R$ 90.156,18) relacionada com a aquisição de materiais construtivos, uma vez que no local de intervenção não
existiam materiais passíveis de serem utilizados. Já a obra de Engenharia Civil apresenta um valor de R$ 210.788,03
relacionado à aquisição de materiais. Verificou-se que a obra de Engenharia Natural foi tecnicamente eficaz a resolver o
problema atuante, o que comprova que não existe a necessidade da utilização de materiais de tecnologia sofisticada e mais
caros para solucionar processos erosivos em cursos de água considerando este tipo de condição.
Desta forma, pode-se concluir que a obra de Engenharia Natural apresenta viabilidade econômica para estabilizar as margens e
o leito do curso de água quando comparada com a solução prevista pela Engenharia Civil. Numa avaliação econômica é
importante também considerar o fato de que o impacto ambiental de intervenções antrópicas no território é dificilmente
quantificável em termos econômicos, no entanto deve ser considerado com atenção face a uma visão moderna e abrangente dos
ecossistemas.
Em ações de restauro e conservação, a mitigação dos impactos ambientais tem um papel fundamental e por isso se pode
assumir que as técnicas de Engenharia Natural têm um valor intrínseco mais elevado, por serem obras com alto valor agregado
devido ao seu caráter paisagístico e ecológico.

Agradecimentos

Os Autores gostariam de agradecer à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), à Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), à Agência Nacional do Petróleo (ANP), ao Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez
de Mello (CENPES) e à Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (FATEC) pelo apoio e recursos recebidos.

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988
5SSS235
HORTA ESCOLAR: UMA ALTERNATIVA INTERDISCIPLINAR
PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PRODUÇÃO DE ALIMENTOS
SEM AGROTÓXICOS
Daniel das Chagas de Azevedo Ribeiro1, Camila Greff Passos 2, Tania Denise Miskinis Salgado 3
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: professordanielufrgs@hotmail.com; 2Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, e-mail: camila.passos@ufrgs.br; 3Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail:
tania.salgado@ufrgs.br

Palavras-chave: Horta Escolar, Educação Ambiental, Sistema Sustentável

Resumo
A Educação Ambiental é uma área do ensino que está relacionada à conscientização dos seres humanos acerca dos problemas
ambientais e como ajudar a enfrentá-los. Para tal, deve-se preservar as reservas naturais e não poluir o meio ambiente.
Percebemos, dessa forma, que a Educação Ambiental é fundamental para que se possibilite o desenvolvimento sustentável da
sociedade. Nessa perspectiva, a Educação Ambiental objetiva a formação de cidadãos conscientes e críticos, evidenciando
atividades que minimizem a visão fragmentada de ser humano e natureza que ainda é recorrente em nossa sociedade. Pensando
dessa maneira, acreditamos que a criação de uma horta escolar oportuniza o trabalho coletivo, interdisciplinar, além de
privilegiar a promoção da saúde, permitindo que os educandos tenham um controle maior acerca da sua própria qualidade de
vida, adotando hábitos alimentares saudáveis com o consumo de alimentos sem agrotóxicos. Outrossim, essas atitudes
certamente serão levadas para suas casas, influenciando seus familiares, podendo promover mudanças de hábitos fora da
escola. A importância de uma alimentação equilibrada e balanceada está relacionada ao bom desenvolvimento físico, psíquico
e social dos educandos, principalmente de crianças e adolescentes. Por isso, acreditamos que a escola, por intermédio da horta
escolar, é o local onde melhor se pode promover a saúde através de uma alimentação saudável. Nesse contexto, o objetivo da
presente pesquisa é descrever e analisar os benefícios que atividades pedagógicas desenvolvidas a partir do trabalho na horta
da escola Piauí poderão trazer para os alunos, contribuindo, dessa maneira, para a Educação Ambiental e formação como
cidadãos com responsabilidade ambiental. Para tanto, as questões que norteiam este estudo são: Qual a importância da
construção da horta na escola Piauí? Quais os conhecimentos que os alunos poderão desenvolver a partir do trabalho na horta?
O desenvolvimento de atividades pedagógicas relacionadas com a horta poderá ajudar os alunos a perceberem a importância da
alimentação saudável sem o uso dos agrotóxicos? A metodologia usada na pesquisa tem natureza qualitativa e trata-se de um
Estudo de Caso. Como instrumento de coleta de dados, utilizamos um questionário e a análise documental do Projeto Político
Pedagógico da escola. A pesquisa foi realizada com 12 professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Piauí. A
referida escola fica localizada na Rua Gregório da Fonseca, n° 91 – Bairro Nonoai – Porto Alegre/RS. Todos os docentes
participantes da nossa pesquisa consideraram que a construção da horta na escola Piauí foi fundamental para o
desenvolvimento da Educação Ambiental da comunidade escolar e, alguns deles, perceberam como o trabalho na horta da
escola foi capaz de trazer hábitos alimentares saudáveis para os alunos e toda comunidade escolar. Além disso, a construção da
horta na escola Piauí é uma nova possibilidade de atividade da qual os alunos podem se beneficiar pedagogicamente. O grupo
de professores, participantes da nossa investigação, conseguiu perceber novas alternativas para favorecer a Educação
Ambiental dos alunos, assim como conseguiu relacionar o trabalho na horta com temas específicos de cada disciplina. Da
mesma forma, pôde verificar como a horta na escola Piauí foi capaz de ajudar os docentes a proporem projetos
interdisciplinares e que favoreceram o desenvolvimento de concepções sistêmicas sobre o meio ambiente. Todos os sujeitos da
nossa pesquisa afirmaram que o desenvolvimento de atividades pedagógicas relacionadas com a horta da escola Piauí poderá
ajudar os educandos a perceberem a importância da alimentação saudável sem o uso dos agrotóxicos, considerando essas
substâncias químicas perigosas para o meio ambiente e, consequentemente, para a saúde dos seres vivos. Diante da nossa
pesquisa, acreditamos que a horta da escola Piauí é um espaço propício para que os alunos aprendam os benefícios e as formas
de cultivo mais saudáveis sem o uso de agrotóxicos, sendo capazes de aprenderem a se alimentar melhor. Através dos dados
obtidos, podemos ressaltar que a horta é de grande importância para a escola, e é capaz de melhorar o processo de ensino e
aprendizagem e contribuir para a Educação Ambiental de toda comunidade escolar.

Introdução
A Educação Ambiental é uma área do ensino que está relacionada à conscientização dos seres humanos acerca dos problemas
ambientais e como ajudar a enfrentá-los. Para tal, deve-se preservar as reservas naturais e não poluir o meio ambiente.

989
Percebemos, dessa forma, que a Educação Ambiental é fundamental para que se possibilite o desenvolvimento sustentável da
sociedade. Nessa perspectiva, a Educação Ambiental objetiva a formação de cidadãos consciente e críticos, evidenciando
atividades cidadãs.
Assim sendo, um projeto que se valha da educação para o ambiente oportuniza aos educandos um entendimento dos problemas
os quais os cercam, da presença do homem no meio ambiente, do compromisso e do seu papel como cidadãos críticos,
levando-os a repensar seus procedimentos cotidianos, assim como as consequências dessas ações para o ambiente no qual
habitam (TOZONI-REIS, 2007, 2008).
Por ser considerado um tema transversal28, a Educação Ambiental deve ser trabalhada de maneira interdisciplinar, pois, dessa
maneira, disponibilizará os suportes teóricos de diferentes disciplinas e campos do saber. Com essa interdisciplinaridade, os
professores podem utilizar métodos de ação coletiva para uma maior abrangência da temática ambiental. O meio ambiente, por
ser um tema complexo e de grande diversidade, não deve ser ensinado por métodos “tradicionais29” nos quais o educador
prioriza somente a informação e não se detém na emoção. Deve-se permitir que o aluno questione e analise criticamente os
valores estabelecidos pela sociedade e o educador deve se envolver integralmente na busca de atividades ecologicamente
corretas, assim como seus alunos e toda comunidade escolar.
Frente a esse contexto, acreditamos que a criação da hora na escola Piauí oportuniza o trabalho coletivo, interdisciplinar, além
privilegiar a promoção da saúde, permitindo que os educandos tenham um controle maior acerca da sua própria qualidade de
vida, adotando hábitos alimentares saudáveis com o consumo de alimentos sem agrotóxicos. Outrossim, essas atitudes
certamente serão levadas para suas casas, influenciando seus familiares, podendo promover mudanças de hábitos fora da
escola. A importância de uma alimentação equilibrada e balanceada está relacionada ao bom desenvolvimento físico, psíquico
e social dos educandos, principalmente de crianças e adolescentes. Por isso, acreditamos que a escola, por intermédio da horta
escolar, é o local onde melhor se pode promover a saúde através de uma alimentação saudável.
Entendemos que, muito mais que construir conhecimentos específicos das ciências agrárias, como a olericultura, entre outros,
ou sobre alimentação, nutrição, técnicas culinárias, a horta escolar pode conduzir os atores à construção de conceitos, valores e
saberes que envolvem responsabilidade, comprometimento, participação e outros aspectos que se relacionam com a formação
de cidadãos. (HAMERSCHMIDT; OLIVEIRA, 2014). Nosso objetivo maior foi favorecer o desenvolvimento de concepções
sistêmicas sobre a relação dos seres humanos e meio ambiente, no sentido de incorporar a dimensão sociocultural no seu
conceito de meio ambiente através de práticas interdisciplinares.
Dessa forma, a horta escolar pode ser uma alternativa interdisciplinar para a Educação Ambiental e produção de alimentos sem
agrotóxicos, introduzindo os alunos na vivência da produção de alimentos para consumo na escola, conscientizando-os no
sentido de criarem hábitos sustentáveis e ecologicamente corretos.
Nesse contexto, o objetivo da presente pesquisa é descrever e analisar os benefícios que atividades pedagógicas desenvolvidas
a partir do trabalho na horta da escola Piauí poderão trazer para os alunos, contribuindo, dessa maneira, para a Educação
Ambiental e formação como cidadãos com responsabilidade ambiental. Para tanto, as questões que norteiam este estudo são:
Qual a importância da construção da horta na escola Piauí? Quais os conhecimentos que os alunos poderão desenvolver a partir
do trabalho na horta? O desenvolvimento de atividades pedagógicas relacionadas com a horta poderá ajudar os alunos a
perceberem a importância da alimentação saudável sem o uso dos agrotóxicos?

Material e Métodos
A metodologia usada na pesquisa tem natureza qualitativa e trata-se de um Estudo de Caso (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Como
instrumento de coleta de dados, utilizamos um questionário com perguntas abertas sobre a formação e atuação profissional dos
sujeitos que participaram da investigação, assim como sobre as formas de contribuição da atividade realizada na escola. Além
disso, realizamos a análise documental do Projeto Político Pedagógico da escola. A pesquisa foi realizada com 12 professores
da Escola Estadual de Ensino Fundamental Piauí. Os professores foram identificados de P1 até P12. A referida escola fica
localizada na Rua Gregório da Fonseca, n° 91 – Bairro Nonoai – Porto Alegre/RS.

Resultados e Discussão
Conforme o Projeto Político Pedagógico, a Escola Estadual Piauí atende a aproximadamente 300 alunos do ensino fundamental
com idades entre 6 e 19 anos. A equipe de professores da escola é composta de 18 docentes de diferentes formações.

28 Os temas transversais devem ser abordados como parte integrante das éreas de ensino. Não podem ser vistos como aulas especiais nem
muito menos devem ser considerados como novas matérias, disciplinas ou áreas de ensino. Os temas transversais devem fazer parte do
trabalho compartilhado entre professores e alunos e devem ser discutidos, debatidos e analisados concretamente.
29 Os métodos tradicionais de ensino podem originar vários problemas. A insistência na imitação, obediência e repetição, muito frequente

nestes métodos, conduzem a uma negligência das capacidades criativas individuais em detrimento de competências que são puramente
mecânicas e repetitivas. Abandonar esta concentração rígida no intelecto humano a favor de uma pessoa holística que deve ser
encorajada, fortalecida e motivada aumentaria imensamente as capacidades dessa pessoa.

990
A Escola Estadual Piauí tem como missão, em sua proposta pedagógica, educar o aluno para a cidadania, pois a sociedade
necessita urgentemente de cidadãos que assumam responsabilidades e comprometimento com a comunidade em que vivem.
Dessa forma, é compreendida como um espaço moderno de construção do saber, tendo sempre como referencial o mundo em
constante evolução.
Nesse sentido, a escola Piauí tem a função de formar cidadãos críticos e transformadores da realidade, capazes de construir
uma sociedade com uma perspectiva mais justa, democrática e humanista da sociedade (TOZONI-REIS, 2007, 2008).
Pensando dessa maneira, os profissionais que trabalham nessa instituição buscam alternativas pedagógicas para que os alunos
possam se apropriar de ensinamentos e sejam capazes de construírem seu próprio conhecimento, para que assim possam fazer
relações do que se aprende na escola com o mundo em que vivem nos diferentes aspectos políticos, sociais, econômicos e
ambientais.
Uma das alternativas pedagógicas pensadas por esses profissionais da educação foi a construção de uma horta dentro do espaço
escolar. Essa horta foi construída em abril do corrente ano (2019) pelos alunos e professores como mostrado na Figura 1.

Figura 1: Alunos da escola Piauí cuidando da horta desenvolvida no pátio da escola.

O trabalho da horta da escola Piauí é feito pelos professores e alunos dessa instituição. Esse foi um projeto executado para
introduzir a Educação Ambiental nas aulas dos professores que não trabalhavam com esse tema com os alunos e aperfeiçoar o
trabalho dos educadores que já abordavam essa temática em suas aulas. A escola necessita inserir em seu currículo questões
ambientais em todos os níveis de ensino, oportunizando a participação de alunos, professores, funcionários e comunidade no
processo de sua construção e execução, tornando os educandos protagonistas desse processo que pode ser realizado de diversas
maneiras, desde que seja motivador e conscientize acerca do que está envolvido na Educação Ambiental.
Para concretizarmos o objetivo da nossa pesquisa, aplicamos um questionário com perguntas abertas para um grupo de 12
professores que lecionam no ensino fundamental da escola Piauí. A primeira pergunta desse questionário estava relacionada
com a formação e a experiência dos educadores participantes dessa investigação. As respostas dessa pergunta podem ser
observadas na Tabela 1.

Tempo de atuação
Nome Curso de Graduação Curso de Pós-graduação
docente
P1 Licenciatura em Letras/inglês Não 9 anos
P2 Licenciatura em Pedagogia Não 12 anos
P3 Orientação Educacional Esp. Deficiência Mental 15 anos
P4 Licenciatura em Pedagogia Não 40 anos
P5 Licenciatura em História Mestrado em História 2 anos
P6 Licenciatura em Artes Não 5 anos
P7 Licenciatura em Ciências Biológicas Não 3 anos
P8 Licenciatura em Ciências/Matemática Não 35 anos
P9 Licenciatura em Educação Física Esp. Futebol profissional 25 anos
P10 Licenciatura em Pedagogia Não 9 anos
P11 Licenciatura em Pedagogia Não 9 anos
P12 Licenciatura em Letras Não 5 anos
Tabela 37: Alguns dados qualitativos do questionário.

991
Ao analisarmos a Tabela 1, constatamos que os sujeitos da pesquisa são compostos por 12 professores com variadas
formações: 11 docentes possuem graduação em licenciatura, 4 deles são formados em Pedagogia (P2, P4, P10 e P11). Apenas
1 educador não possui curso de licenciatura (P3), este é formado em Orientação Educacional. Os docentes P3, P5 e P9
possuem curso de pós-graduação, sendo respectivamente: Especialização em Deficiência Mental, Mestrado na área do ensino
de História e Especialização Futebol Profissional.
Ainda verificando os dados da Tabela 1, percebemos que as experiências dos docentes que responderam aos nossos
questionamentos vão de 2 anos a 40 anos. Dessa maneira, notamos uma heterogeneidade tanto na formação dos professores
quanto no tempo de atuação no magistério.
A pergunta n° 2 do nosso questionário indagava nossos sujeitos da pesquisa sobre a importância da construção da horta na
escola Piauí. Todos as respostas foram positivas e consideraram que o desenvolvimento desse tipo de projeto nas escolas é
fundamental para o desenvolvimento da Educação Ambiental na comunidade escolar: “Troca de conhecimentos, escolhas
alimentares dos alunos aproximando-os da natureza, responsabilidade ambiental” (P4); “Na minha opinião a horta tem um
papel muito importante na educação ambiental dos alunos, na construção da identidade e no pertencimento como ser da
natureza, e não como dono dela [...]” (P7); “Consciência ambiental, sendo parte da natureza, usufrui dela e passa a respeitá-
la [...]” (P12).
Os professores P1, P2, P6, P7, P8, P9, P10, P11 e P12 perceberam como o desenvolvimento da horta na escola é capaz de
trazer hábitos alimentares saudáveis para os alunos: “[...] é uma vivência necessária na vida estudantil para ter com nossa
alimentação saudável” (P1); “[...] aprendizado e prática de uma alimentação saudável” (P6); “A importância na construção
da horta, é a produção juntamente com os alunos, dando valor a terra e cultivo, assim como o consumo de alimentos [...]”
(P11).
Além disso, o docente P5 afirmou que a construção da horta na escola Piauí é uma nova possibilidade de atividade da qual os
alunos podem se beneficiar pedagogicamente: “[...] novas alternativas pedagógicas (estudos e práticas sobre germinação,
fertilização do solo, irrigação e uso da água, uso e manejo de mudas, períodos de plantio e colheita) ”.
As respostas dos educadores corroboram com Morgado (2006) que entende que a horta, inserida no ambiente escolar, pode ser
um laboratório vivo que possibilita o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas não só na Educação Ambiental, mas
também no contexto alimentar dos alunos, unindo teoria e prática de forma contextualizada, auxiliando no processo de ensino e
aprendizagem e estreitando relações através da promoção do trabalho em grupo e cooperado entre os agentes sociais
envolvidos.
Ainda analisando as respostas da pergunta 2, os professores P2, P8 e P, consideraram que uma alimentação saudável é oriunda
da produção sem a utilização de agrotóxicos: “[...] para os alunos saberem a origem e como foi o plantio dos alimentos que
estão na horta para a sua alimentação diária, sem agrotóxicos e a influência dessa alimentação saudável na sua vida” (P2);
“Saber da importância de uma alimentação saudável sem agrotóxicos [...]”(P8); “[...] é muito importante construirmos uma
alimentação saudável, livre de poluição e de venenos (agrotóxicos)” (P9).
Acreditamos que a horta da escola Piauí possui um inestimável valor, tendo em vista a ótica nutricional, fazendo com que os
educandos se conscientizem sobre a alimentação saudável sem a utilização de agrotóxicos ou adubos químicos. Afora isso, as
atividades realizadas na horta escolar colaboram para que os educandos entendam o perigo da utilização de agrotóxicos para a
saúde humana, assim como para o meio ambiente.
A questão 3 questionou os professores sobre quais os conhecimentos que eles acreditam que os alunos puderam e poderiam
desenvolver a partir do trabalho na horta. Novamente o uso dos agrotóxicos na agricultura é considerado prejudicial à saúde
das pessoas, como relata o educador P2: “Saber fazer e usar produtos orgânicos livres de agrotóxicos, usando materiais
vindos da própria natureza e que não prejudicam o meio ambiente e nem a sua saúde” e o professor P5: “Pode ser útil para
estudos sobre poluição de alimentos, o uso de agrotóxicos [...]”.
Essa preocupação com os problemas ambientais e de saúde que os agrotóxicos podem causar é fundamental que os docentes
tenham em mente para poderem desenvolver esse assunto nas atividades pedagógicas da escola Piauí. O Brasil, desde 2008,
detém a preocupante posição de um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. Dessa maneira, a realização do
Direito Humano à Alimentação Adequada é incompatível com essa situação. Há uma estimativa de que cada brasileiro faça a
ingestão, em média, de 5,2 litros de venenos por ano o que equivale a duas garrafas e meia de refrigerante ou a 14 latas de
cerveja. O Ministério da Saúde supõe que anualmente em nosso país haja mais de 400 mil pessoas contaminadas por
agrotóxicos, com aproximadamente quatro mil mortes por ano (CARNEIRO et al., 2015).
Os professores de História (P5), Artes (P6), Matemática (P8), Educação Física (P9) e Português (P12), relacionaram suas
respostas com suas disciplinas e acreditam que o trabalho com os alunos na horta possibilita o desenvolvimento de muitos
conhecimentos, como podemos observar nas respostas respectivamente: “Temas como agricultura e meio ambiente são
frequentes nos anos finais de ensino fundamental. Plantio, colheita, calendários e o uso do solo são comuns nos currículos do
6° e 7° anos, com civilizações antigas (Mesopotâmia, China, Egito) ou o sistema feudal na Europa (ferramentas agrícolas,
manejo do solo, trabalho servil).”; “Sensibilidade, estudo das cores, luz e sombra.”; “Trabalhar medidas, área, trabalhar em
grupo, além da valorização ao meio ambiente.”; A questão da alimentação saudável, contribuindo para o crescimento ósseo,
muscular e mental.”; Observar e relatar oralmente e por escrita, interpretar e valorizar a natureza.”.
Ainda analisando as respostas da questão n° 03, o educador P10 acredita que o trabalho na horta escolar é uma oportunidade

992
para os professores proporem projetos interdisciplinares: “A horta é excelente meio para potencializar o aprendizado do aluno
e despertar seu interesse para a alimentação saudável. O contato com a natureza é uma experiência muito válida para as
crianças. Vivenciar uma prática alimentar trabalhando com a interdisciplinaridade”.
Trabalhando interdisciplinarmente a horta da escola Piauí, podemos envolver todas as áreas do conhecimento, já que a
interdisciplinaridade engloba ações coletivas por parte dos docentes, deixando clara sua importância no processo educativo.
Acreditamos que a proposta interdisciplinar motiva a participação nas atividades propostas, pois instiga os estudantes a
buscarem respostas às suas dúvidas em diversas áreas do conhecimento. No caso da horta escolar, os aprendizes debatem
assuntos relacionados à alimentação, à nutrição, à ecologia, enfim, à alimentação saudável sem a utilização de produtos
químicos. Além disso, surgem temas relacionados à culinária na escola, à economia doméstica, consumo de alimentos naturais,
entre outros, como pudemos observar nas respostas dos nossos educadores.
Alguns pesquisadores asseveraram que existem diferentes formas de incluir a temática ambiental nos currículos escolares,
como atividades artísticas, experiências práticas, atividades fora de sala de aula, produção de materiais locais, projetos ou
qualquer outra atividade que conduza os alunos a serem reconhecidos como agentes ativos no processo que norteia a política
ambientalista. Cabe aos professores, por intermédio de prática interdisciplinar, proporem novas metodologias que favoreçam a
implementação da Educação Ambiental, sempre considerando o ambiente imediato, relacionado a exemplos de problemas
atualizados (CARVALHO, 2004; GUIMARÃES, 2004). Nesse contexto, entendemos que as práticas escolares a partir do
trabalho na horta da escola Piauí podem ser uma alternativa interdisciplinar para o desenvolvimento da Educação Ambiental
nos agentes sociais envolvidos.
A questão n°04 do nosso questionário indagou os educadores se eles consideravam que o trabalho na horta poderia ajudar os
alunos a perceberem a importância da alimentação saudável sem o uso de agrotóxicos. Todos os participantes da pesquisa
acreditam que sim, que as atividades escolares desenvolvidas, a partir da horta, ajudarão os alunos a buscarem em suas vidas
hábitos alimentares saudáveis, sem o uso dos agrotóxicos: “Sim, vivenciando com a prática, um alimento sem agrotóxicos ou
qualquer tipo de produto químico, possui mais sabor e aroma. Vegetais e frutas orgânicos crescem ao seu tempo, mais
lentamente, mas é um produto limpo, saudável” (P10).
Os educadores P6, P9 e P11 alertaram sobre os perigos do consumo de alimentos com agrotóxicos e denominaram essas
substâncias químicas como venenos, respectivamente: ”[...] além de possibilitar o conhecimento e importância que a
alimentação saudável se faz presente, tem os agrotóxicos, onde possibilita conhecer o quão não é necessário e o mau desse
veneno para o consumo diário”; “Com certeza, na maioria dos casos nem sabem ou nem lembram que os vegetais e frutas que
os pais compram vem com uma carga de veneno”; “Sim, a riqueza dos alimentos sendo produzidos por eles mesmos e
mostrando para eles que o alimento orgânico, natural sem exposição a venenos”.
A compreensão dos nossos educadores sobre a relação da horta escolar com o tema agrotóxicos converge com os estudos de
Santos et al. (2014): as atividades realizadas na horta escolar “contribuem para a compreensão dos alunos a respeito do perigo
na utilização de agrotóxicos para a saúde humana e para o meio ambiente. Proporciona uma compreensão da necessidade da
preservação do meio ambiente escolar” (p. 280). Além disso, é capaz de desenvolver a capacidade do trabalho em grupo e da
cooperação. “Tais atividades auxiliam no desenvolvimento da consciência de que é necessária a adoção de um estilo de vida
menos impactante sobre o meio ambiente, bem como a integração dos alunos com a problemática ambiental vivenciada a partir
do universo da horta escolar” (SANTOS et al., 2014, p. 280).
O professor P5 entende que o produto orgânico é mais caro, que a comunidade da escola é carente, mas mesmo assim afirma
que o projeto da horta na escola Piauí é benéfico para os alunos e suas famílias: “O poder aquisitivo ainda é o principal
problema das famílias em consumir alimentos sem agrotóxicos. Nesse sentido, a horta promove uma oportunidade em
introduzir alimentos sem agrotóxicos aos alunos e, gradualmente, a médio e longo prazo, transmitir essa experiência às
famílias”.
Pensando dessa maneira, Kandler (2009) acredita que o desenvolvimento de hortas escolares são projetos que atingem diversas
áreas de preservação do ambiente, pois esse tipo de atividade pedagógica “estimula o hábito de plantar e cultivar nos alunos e
seus familiares, incentivando-os para a construção de hortas em suas residências, regularizando assim o consumo de legumes e
hortaliças na alimentação. E o que é ainda mais importante, alimentando-se com produtos de qualidade e livres de agrotóxicos”
(KANDLER, 2009, p. 644).
Ainda analisando os retornos da pergunta n° 4, os docentes P2, P4 e P11 alertaram em suas respostas como os agrotóxicos são
substâncias químicas capazes de prejudicar a saúde dos seres vivos e contaminar o meio ambiente, como mostramos nas
respostas respectivamente: “[...] quanto mais termos alimentos saudáveis sem agrotóxicos em nossas refeições, menos
problemas de saúde teremos”; “Sim, é muito importante o uso de alimentos sem agrotóxicos. É um campo vasto de
aprendizagem, no auxílio preventivo a saúde e a nutrição da comunidade escolar.”; “[...] um dos motivos para se consumir
produtos sem agrotóxicos, é não comprometer a nossa saúde”.
Convergindo com os pensamentos dos nossos educadores, pesquisas científicas associam a utilização de agrotóxicos com
doenças como o câncer, má formação congênita, mal de Parkinson, depressão, suicídios, diminuição da capacidade de
aprendizagem em crianças, ataques cardíacos, problemas mentais. Da mesma forma, revelam que não há limite diário aceitável
de ingestão dessas substâncias químicas, questionando, dessa maneira, o limite diário aceitável de ingestão desses produtos
(PERES; MOREIRA, 2003; CARNEIRO et al., 2015; RIBEIRO, 2018).

993
Considerações Finais
Pelas análises realizadas no presente trabalho, somos levados a crer que propor os conceitos, princípios, métodos e práticas de
Educação Ambiental só será válido quando se fornecerem subsídios para os profissionais desenvolverem suas ações baseadas
no contexto de cada escola.
Além disso, a conscientização ambiental deverá se dar de forma gradativa, enfocando cada círculo que envolve cada cidadão,
fazendo com que ele reflita sobre si, desenvolva o seu senso crítico sobre o que é adequado ou não adequado a situações
relacionadas ao meio ambiente e procure ver de que forma ele poderá contribuir com a melhoria ou com a eliminação de
situações danosas ao homem ou à natureza.
Para tanto, o envolvimento e a participação de toda a comunidade escolar na busca de soluções para diversos problemas
ambientais, com os quais nos deparamos, é um dos aspectos fundamentais dos trabalhos educativos, podendo se constituir
numa oportunidade para o desenvolvimento de habilidades relacionadas ao processo de construção da cidadania.
Diante dessas considerações, os profissionais da Escola Estadual de Ensino Fundamental Piauí, localizada na cidade de Porto
Alegre/RS, construíram uma horta escolar para tentarem introduzir e aprimorar, na comunidade escolar, a Educação Ambiental
e hábitos alimentares saudáveis com o consumo de alimentos sem agrotóxicos.
Todos os docentes participantes da nossa pesquisa consideraram que a construção da horta na escola Piauí foi fundamental
para o desenvolvimento da Educação Ambiental da comunidade escolar e, alguns deles, perceberam como o trabalho na horta
da escola é capaz de trazer hábitos alimentares saudáveis para os alunos e toda comunidade escolar. Além disso, a construção
da horta na escola Piauí é uma nova possibilidade de atividade da qual os alunos podem se beneficiar pedagogicamente.
O grupo de professores, participantes da nossa investigação, conseguiu perceber novas alternativas para favorecer a Educação
Ambiental dos alunos e, da mesma forma, puderam relacionar o trabalho na horta com temas específicos de cada disciplina.
Além do mais, puderam perceber como a horta na escola Piauí pôde ajudar os professores a proporem projetos
interdisciplinares. Nesse sentido, percebemos a importância da horta escolar relacionada com a interdisciplinaridade, tendo
como consequência o cuidado com o meio ambiente, utilizando de maneira sustentável os recursos nele existentes.
Compreendemos que a complexidade da questão ambiental necessita de ensinamentos de diferentes disciplinas trabalhadas
simultaneamente, principalmente por fatores como: as interações entre ambiente, cultura e sociedade, o caráter crítico, político,
contínuo e permanente.
Todos os sujeitos da nossa pesquisa asseguraram que o desenvolvimento de atividades pedagógicas relacionadas com a horta
da escola Piauí poderá auxiliar os alunos a perceberem a importância da alimentação saudável sem o uso dos agrotóxicos,
considerando essas substâncias químicas perigosas para o meio ambiente e, consequentemente, para a saúde dos seres vivos.
Nesse sentido, destacamos que devido à natureza interdisciplinar da atividade realizada, as contribuições apontadas pelos
professores envolvem valores e conhecimentos de dimensão sociocultural que favoreceram o desenvolvimento de uma
concepção menos naturalista e recursista de meio ambiente. Haja vista nossa pesquisa, acreditamos que a horta da escola Piauí
é um espaço propício para que os alunos aprendam os benefícios e as formas de cultivo mais saudáveis sem o uso de
agrotóxicos, tornando os educandos capazes de aprenderem a se alimentar melhor. Através dos dados obtidos, podemos
ressaltar que a horta é de grande importância para a escola, entretanto, alertamos que é necessário interesse e planejamento de
todo corpo escolar, para que a construção da horta na escola Piauí, efetivamente, melhore o processo de ensino e aprendizagem
e contribua para a Educação Ambiental de toda a comunidade escolar.

Referências Bibliográficas
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Paulo: Expressão popular, 624p.

Carvalho, I. C. de M. 2004. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez.

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Brasília, MMA. Diretoria de Educação Ambiental, p. 25-35.

Kandler, R. 2009. Educação ambiental: Horta escolar, uma experiência em educação. Ágora, v. 16, n. 2, p. 642-645.

Lüdke, M.; André, M. E. D. 1986. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: Pedagógica e Universitária.

Morgado, S. F. 2006. A horta escolar na educação ambiental e alimentar: experiência do Projeto Horta Viva nas escolas
municipais de Florianópolis. Florianópolis. 45p. (Trabalho de conclusão do curso de Agronomia): Universidade Federal de
Santa Catarina.

Peres, F; Moreira, J. C. 2003. É veneno ou é remédio? Agrotóxicos. Saúde e ambiente. Rio de Janeiro: Fiocruz.

994
Ribeiro, D. C. A. 2018. A temática agrotóxicos e a metodologia da resolução de problemas no ensino de ciências. 1 ed.
Curitiba: Appris, 161p.

Santos, M. J. D., et al. 2014. Horta escolar agroecológica: Incentivadora da aprendizagem e de mudanças de hábitos
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Tozoni-reis, M. F. C. 2007. Contribuições para uma pedagogia crítica na educação ambiental: reflexões teóricas. In: A questão
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Tozoni-reis, M. F. C. 2008. Pesquisa-ação em Educação Ambiental. Pesquisa em Educação Ambiental, v. 3, n. 1, 155-169.

995
5SSS236
COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE O MODELO ISLSCP II UNH/GRDC
COMPOSITE MONTHLY RUNOFF E A BASE HYDROBASINS PARA
ESTIMATIVA DE VAZÕES DE LONGO PERÍODO EM BACIAS
HIDROGRÁFICAS DO RIO GRANDE DO SUL
Mariana Tosi Corrêa1, Alfonso Risso1, Alexandre Beluco2, Rita de Cássia Marques Alves1 e Laurindo
Guasselli1
1
Centro Estadual de Pesquisa em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM), Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS), e-mail: marianatcor@gmail.com, risso@iph.ufrgs.br, rita.cma@terra.com.br,
laurindo.guasselli@ufrgs.br; 2 Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), e-mail: albeluco@iph.ufrgs.br

Palavras chave: modelo de escoamento superficial; disponibilidade hídrica; vazões de longo período

Resumo
O objetivo deste artigo é avaliar a precisão do modelo de disponibilidade hídrica mensal ISLSCP II UNH/GRDC acoplado à
base matricial georreferenciada HydroBASINS, para simular espacial e temporalmente vazões de longo período. Por
possuírem distintas resoluções, faz-se necessárias operações de interpolação para compatibilização dos dados. De posse da
matriz de escoamento superficial mensal e da matriz de direções de fluxo, obtém-se a lâmina de escoamento superficial mensal
gerada à montante de cada célula. Multiplicando essa matriz pela resolução média das células nas latitudes da região de estudo,
chega-se à vazão média mensal em cada célula. Ao somar todos os fluxos acumulados ponderados mensais ao longo de um
ano, tem-se como produto a vazão média de longo período. O estado do Rio Grande do Sul foi utilizado como área de estudo.
A verificação das vazões modeladas se deu através da comparação com vazões medidas em postos fluviométricos,
apresentando R² = 0.9365. Também foram analisadas as áreas das bacias hidrográficas modeladas e as áreas medidas, para
cada posto fluviométrico, resultando em R² = 0.99998. A alta correlação entre os valores modelados e observados confirma a
acurácia da metodologia utilizada.

Introdução
O presente artigo visa avaliar a precisão de um modelo de disponibilidade hídrica mensal ISLSCP II UNH/GRDC
(Fekete, Vorosmarty & Grabs, 1999; Fekete, Vorosmarty & Grabs, 2002) acoplado a base matricial georreferenciada
HydroBASINS (Lenhner & Grill, 2013) para simular espacial e temporalmente vazões de longo período. A vazão média de
longo período é definida como a média das vazões da série disponível em um local (Tucci, 2002).
Para validação do modelo, foram utilizados dados das séries temporais de postos fluviométricos disponibilizados pela
Agência Nacional de Águas (ANA), através do portal HidroWeb.
O estado do Rio Grande do Sul, o mais meridional do Brasil, foi o escolhido para ilustrar a aplicação da metodologia
adotada.

Metodologia
A compatibilização entre o modelo de escoamento superficial e a base de dados de bacias hidrográficas compreende o
cruzamento entre os dados da rede de drenagem, altimetria e disponibilidade hídrica. Para tanto, são modelados escoamento
superficial mensal, vazão anual e área de drenagem. Comparando-se os resultados obtidos com os dados de vazão e área
observados em postos fluviométricos, é possível verificar a precisão do modelo utilizado.

Dados modelados
Escoamento superficial mensal: ISLSCP II UNH/GRDC – Composite Monthly Runoff (Fekete, Vorosmarty & Grabs, 1999;
Fekete, Vorosmarty & Grabs, 2002). Consiste em dados de escoamento composto que combinam estimativas médias mensais
de um modelo de balanço hídrico simulado, derivado de dados climáticos com descarga fluvial monitorada. Tal esquema de
assimilação de dados preserva a especificidade espacial dos cálculos do balanço hídrico, restringido pela medição de vazão

996
mais precisa. As estimativas de escoamento composto resultantes são úteis para inúmeras aplicações, desde avaliações de
recursos hídricos (Vorosmarty 2000; Revenga 2000; UNEP / FAO / OSU, 2002) até a validação de modelos atmosféricos (Dai
e Trenberth, 2002).
Os dados de escoamento superficial composto UNH/GRDC abrangem a extensão geográfica entre 55º S e 83º N,
excluindo-se a Groenlândia e o Arquipélago Ártico. A resolução espacial é de 0.5º em latitude e longitude, e a cobertura
temporal vai de janeiro de 1986 a dezembro de 1995.

Altimetria e rede de drenagem: HydroSHEDS SRTM (Lehner, Verdin & Jarvis, 2006). Desenvolvido pelo Conservation
Science Program of the World Wildlife Fund, baseia-se principalmente nos dados de elevação obtidos durante a missão da
NASA do SRTM (Shuttle Radar Topografy Mission) (Farr & Kobrick, 2000).
O modelo digital de elevação SRTM permite a derivação de fronteiras de bacias a partir das camadas de dados
hidrográficos disponibilizados pelo HydroSHEDS. Com isso, as bacias hidrográficas são delineadas de maneira consistente
em diferentes escalas, e uma sub-divisão hierárquica na sub-bacia foi criada seguindo o conceito topológico do sistema de
codificação Pfafstetter (Verdin & Verdin 1999). As camadas poligonais resultantes são denominadas HydroBASINS (Lenhner
& Grill, 2013) e representam um subconjunto do banco de dados HydroSHEDS, com resolução de grade de 15 segundos
(aproximadamente 500 m no Equador).

Dados observados
Postos fluviométricos e área de drenagem: Hidroweb/ANA (http://hidroweb.ana.gov.br/). A Agência Nacional de Águas
(ANA) é responsável por gerir e atualizar o sistema de monitoramento dos recursos hídricos em escala nacional. O portal
Hidroweb foi criado com intuito de tornar pública tais informações e, possibilita ao usuário, selecionar e fazer download das
estações de interesse, sejam elas fluviométricas ou pluviométricas e seus respectivos valores de chuva, vazão, cota, área de
drenagem, etc.

Vazão média de longo período: Super Manejo de Dados – IPH/UFRGS (Fan, 2010). O software foi criado pelo grupo de
pesquisa em Hidrologia de Grande Escala (HGE) do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio
grande do Sul (UFRGS), com o propósito de facilitar a manipulação e visualização de um grande conjunto de dados
hidrológicos. Desenvolvido em linguagem VB.NET, entre seus recursos estão a visualização da disponibilidade temporal dos
dados e a geração de gráficos para comparação de hidrogramas e curvas de permanência de diferentes estações. Além disso,
inclui o cálculo de estatísticas hidrológicas para dados de vazão, como média de longo período, moda, percentis 10% (Q90),
5% (Q95), 50% (Q50), 90% (Q10), entre outros.

Análise espacial de dados modelados


Os dados de escoamento superficial mensal foram reescalonados (downscaling) para uma resolução de 450 x 450 m, a
mesma das matrizes de direção de fluxo e fluxo acumulado disponibilizadas no banco de dados HidroBASINS. Para tal,
utilizou-se o interpolador vizinho natural (Sibson, 1981). A nova matriz de escoamento superficial mensal representa, então, a
disponibilidade hídrica em cada célula.
A partir da matriz de direções de fluxo do HidroBASINS, estima-se uma nova matriz de fluxo acumulado, que tem
como ponderador a matriz de escoamento superficial mensal. Dessa forma, é calculada a lâmina de escoamento superficial
gerada à montante de cada célula, para cada mês (Figura 1). Ao multiplicar esse valor pela resolução do modelo e dividi-lo
pelo número de segundos em um mês, obtém-se a vazão média mensal na célula, em m³/s. Somando-se todos os fluxos
acumulados ponderados mensais ao longo de um ano, tem-se como resultado a vazão média de longo período (Figura 2).

Análise espacial de dados observados


Como dito anteriormente, foram selecionados postos fluviométricos espalhados ao longo do estado do Rio Grande do
Sul para efetuar a verificação do modelo utilizado. A escolha dos postos foi filtrada de modo a escolher aqueles com a mesma
janela temporal do modelo de escoamento superficial, ou seja, de 1984 a 1995. Também se levou em consideração postos com
áreas de drenagem de tamanhos distintos, a fim de testar a aplicabilidade do modelo para diferentes tamanhos de bacia
hidrográfica. Além disso, priorizou-se séries históricas com nenhuma ou poucas falhas, diminuindo consideravelmente o
número de estações aptas para o estudo. Na Tabela 1 constam os 10 postos fluviométricos selecionados e, na Figura 3, suas
localizações e respectivas bacias hidrográficas.

997
Nome da Estação
Código Curso d'água
Fluviométrica
70700000 Passo Socorro Rio Pelotas

72530000 Passo do Ligeiro Rio Ligeiro

73480000 Ponte do Rio Passo Fundo Rio Passo Fundo

74600000 Cascata Buricá Rio Buricá

75185000 Ponte Nova do Potiribu Rio Potiribu

76700000 Passo dos Britos Rio Ibirapuitã

86440000 Passo do Prata Rio da Prata

86470000 Ponte do Rio das Antas Rio das Antas

85900000 Rio Pardo Rio Jacuí

87905000 Passo do Mendonça Rio Camaquã

Tabela 1 Postos fluviométricos selecionados para coleta de dados de vazão e área de drenagem.

Resultados e discussão
A análise espacial de dados modelados teve como produto os mapas mensais apresentados na Figura 1, que
representam a lâmina de escoamento superficial à montante de cada célula. Ao se somar todos os fluxos acumulados
ponderados ao longo de um ano, obtém-se a vazão média de longo período, representada na Figura 2. A Figura 3 mostra a
localização e áreas de drenagem dos postos fluviométricos selecionados para o estudo.

998
999
Figura 2 Vazão média de longo período em corpos d’água no Rio Grande do Sul.

1000
Figura 3 Localização e delimitação da bacia hidrográfica dos 10 postos fluviométricos escolhidos, a partir dos dados
modelados.

Com os valores de vazão média de longo período e delimitação das bacias hidrográficas dos postos fluviométricos
com base no modelo utilizado, é possível compará-los com os dados disponibilizados pela ANA. Na Tabela 2 à primeira vista,
nota-se uma considerável aproximação entre os valores de vazão observados e modelados. Para os dados de área, a
aproximação é ainda maior, tanto para bacias pequenas (~500 km²) quanto para bacias grandes (~40.000 km²). A fim de se
obter uma comparação mais precisa entre os valores, foram traçados os gráficos de correlação linear para as variáveis vazão e
área (Figuras 4 e 5, respectivamente). Segundo Dancey e Reidy (2006), valores de R² até 0.30 devem ser considerados fracos,
entre 0.40 e 0.60 moderados e, acima de 0.70, fortes.

1001
Vazão Vazão Área Área
Código do posto
observada modelada observada modelada
fluviométrico
(m³/s) (m³/s) (km²) (km²)
70700000 201.40 305.29 8400.00 8378.63
72530000 13.50 17.64 460.00 456.14
73480000 102.78 96.93 3710.00 3693.27
74600000 53.98 31.39 2260.00 2258.18
75185000 15.76 12.93 609.00 606.91
76700000 60.72 40.19 3200.00 3173.62
86440000 84.10 128.46 3600.00 3613.89
86470000 321.19 387.99 12500.00 12427.10
85900000 979.86 811.25 38700.00 38840.70
87905000 359.52 235.41 15600.00 15492.00
Tabela 2 Dados de vazão e área modelados e observados, para os 10 postos fluviométricos distribuídos ao longo do
estado do Rio Grande do Sul.

Figura 4 Correlação linear entre os dados de vazão modelados e observados.

Figura 5 Correlação linear entre os dados de área modelados e observados.

1002
Para os dados de vazão, observa-se R² = 0.9365, ou seja, um alto valor de correlação. As variáveis modeladas e
observadas possuem grande dependência entre si, o que confirma a boa eficiência do modelo para a região em estudo. Para os
dados de área, a correlação é R² = 0.99998, uma correlação quase perfeita. As estimativas das áreas de drenagem modeladas
dos postos fluviométricos se mostram praticamente idênticas àquelas monitoradas pela ANA.

Comentários finais
O objetivo deste artigo foi verificar a precisão de um modelo global de escoamento superficial mensal derivado de um
modelo de balanço hídrico simulado. Baseou-se na comparação entre os dados modelados, desenvolvidos pela Universidade de
New Hampshire, e os dados inferidos pela ANA, disponibilizados através do portal HidroWeb.
Tamanhos distintos de bacia hidrográfica foram testados, com intuito de identificar para quais situações o modelo
global apresenta melhores resultados. Traçado o diagrama de dispersão dos dados de vazão e área, verificou-se uma alta
correlação entre eles, confirmando a acurácia do modelo utilizado. Os diferentes tamanhos de área de drenagem não se
mostraram determinantes para a aplicação do modelo. Recomenda-se, entretanto, a utilização de um número superior de
postos fluviométricos neste tipo de verificação. Foram selecionados apenas 10 para este estudo, devido às condicionantes
citadas a priori. O emprego desta metodologia para outros lugares do Brasil também é sugerido.
A fundamentação da efetividade deste tipo de modelo mostrou-se bastante útil para estimar vazões médias mensais e
anuais. Além disso, viabiliza a análise da variabilidade espaço-temporal da disponibilidade hídrica, podendo ser útil em
diferentes aplicações de recursos hídricos, tais como potencial hidrelétrico, zoneamento de áreas com risco de inundação,
irrigação e drenagem, etc.

Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio de suas respectivas instituições ao trabalho de pesquisa desenvolvido na área de
energias renováveis e de geoprocessamento, e que culminou, entre outras coisas, na elaboração deste artigo. O terceiro autor
agradece o apoio do CNPq ao seu trabalho como pesquisador (processo n. 312941/2017-0).

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population growth, Science, 289, 284-288, 2000.

1004
5SSS237
MAPEAMENTO DA FRAGILIDADE AMBIENTAL NA BACIA
HIDROGRÁFICA TRANSFRONTEIRIÇA RIO TACUTU: SEDE DO
MUNICÍPIO DO BONFIM/RR
Arycélia da Silva Vieira1, Josemar Moreira da Silva2, Stélio Soares Tavares Júnior 3, Vladimir de Souza4
1Universidade Federal de Roraima, e-mail: arycelia1@hotmail.com ; 2Universidade Federal de Roraima, e-mail:
volei-rr@hotmail.com ; 3Universidade Federal de Roraima, e-mail: stelio@dgl.ufrr.br; 4Universidade Federal de
Roraima, e-mail: vladimir.souza@ufrr.br

Palavras-chave: Fragilidade Ambiental; Rio Tacutu; Geotecnologias

Resumo
Bonfim é um município do estado brasileiro de Roraima, sendo o quinto maior em população segundo a estimativa
de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) com 11.843 habitantes. Está localizada na margem esquerda
do rio Tacutu e faz fronteira entre o Brasil e a Republica cooperativista da Guiana com a cidade de Lethem a leste, as duas
zonas urbanas encontram-se separadas apenas pelo rio Tacutu, sobre o qual passa a ponte Brasil-Guiana, uma extensão da BR-
401, ao norte com o município de Normandia, ao Sul com o município de Caracaraí, e a Oeste com os municípios de Boa Vista
e Cantá, e liga-se à Boa Vista pela mesma BR-401, a uma distância de 125 km. Geologicamente a área urbana situasse sobre o
a formação Boa Vista, uma área arenosa bastante frágil devido as várias falhas decorrentes a formação da bacia do Tacutu. A
bacia sedimentar do Tacutu está localizada na região nordeste do estado de Roraima, no extremo norte do Brasil, esta é uma
das bacias interiores menos conhecidas tanto no ponto de vista Hidrológico, geológico e no ponto de vista ambiental. Neste
contexto, o presente trabalho tem como objetivo analisar o meio físico e a fragilidade ambiental da cidade do Bonfim e seu
entorno, utilizando como meios auxiliares produtos gerados a partir da aplicação de técnicas fotointerpretativas em imagens de
sensores remotos e de geoprocessamento em ambiente de sistemas de informações geográficas (SIG`s).

Introdução

O presente trabalho teve como premissa a fragilidade do ambiente proposta por Jean Tricart (1977), na qual
caracteriza que, a fragilidade do ambiente se dar por vários fatores e estes estão intimamente ligados a tectônica e
fatores climáticos que podem atenuar as formas de erosão em superfície. As últimas décadas têm sido marcadas por
profundas modificações, econômicas, ambientais, sociais e principalmente tecnológicas. De acordo com o aumento
da população mundial, tendo sua concentração em sua maioria nos centros urbanos fazendo com que áreas
impróprias (encostas, topos de morro, planícies de inundação etc.) sejam ocupadas, podendo vir a gerar ou
potencializar fenômenos nocivos a esta mesma população que busca saciar uma necessidade básica que é a
moradia.
Os sistemas ambientais apresentam algum tipo de fragilidade em função de suas características “genéticas”.
Estas variáveis quando integradas possibilitam um diagnóstico das diferentes categorias hierárquicas da fragilidade
dos ambientes naturais. Neste contexto, o local de estudo corresponde a área urbana do municipio do Bonfim/RR ás
margem da bacia hidrográfica transfronteiriça do Rio Tacutu.

1005
Objetivo

O presente trabalho tem como objetivo Realizar um levantamento do meio físico e das variáveis ambientais
(vegetação, clima, uso e ocupação de solo e o relevo), delimitar e analisar as áreas de fragilidade ambiental do
município frente aos eventos hidrometeorológicos por meio da análise dos fenômenos atmosféricos que estiveram
associados a inundações. Além disso, tem como intuito apontar áreas com maior ou menor suscetibilidade a esses
eventos dentro da Bacia Transfronteiriça do Rio Tacutu.

Metodologia

Para entender a fragilidade ambiental da área de estudo, recorreu-se à revisão da literatura sobre conceitos
da Ecodinâmica sobre a drenagem e as áreas inundáveis, bem como trabalhos que envolveram o uso de recursos
geotecnológicos, além de um levantamento documental-cartográfico e construção de produtos cartográficos.
Para a elaboração dos produtos cartográficos foram utilizados os seguintes materiais:
a. Dados SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) com resolução espacial de 30 metros obtidos
gratuitamente no site da United States Geological Survey (USGS) para elaboração dos mapas de declividade e
hidrográficos;
b. Imagens Landsat 8 captadas pelo sensor OLI 16/12/2015 na órbita/ponto 231/58, com resolução de
30 metros para as bandas espectrais e 15 metros para a pancromática, disponíveis no site da United States
Geological Survey (USGS).
c. Os softwares utilizados foram: (i) SPRING 5.3, o qual subsidiou a correção atmosférica e as
ferramentas à tomada de decisão Linguagem Espacial para Geoprocessamento Algébrico (LEGAL) e Analytic
Hierarchy Process (AHP) para elaboração do mapa de risco à inundação, bem como; (ii) ENVI 5.0 foi utilizado
para fundir as bandas monocromáticas com a pancromática com o intuito de reamostrá-las para 15 metros e 16 bits,
por meio da ferramenta Gram-Schmidt Pan Sharpening; (iii) ArcGis 10.0, o qual permitiu a classificação
d. supervisionada para criação do mapa de cobertura do uso do solo, bem como, o acabamento dos
mapas temáticos.

Resultados e discussões

Procedimentos envolvendo o uso de geotecnologias foram fundamentais para a análise e espacialização das
informações obtidas por meio de fontes primárias e secundárias. O sensoriamento remoto permitiu com que o uso e
cobertura do solo fosse compartimentado, bem como chegar à conclusão que a área urbana de Bonfim está inserida
dentro de uma unidade ecodinâmica instável, e as outras áreas podemos inserir dentro de áreas intermediarias pois
os processos que estão envolvidos nessa área se caracterizam por processos pedogenéticos e morfogêneses.

1006
O mapa de Fragilidade ambiental foi construído a partir de álgebra de mapas através do operador de média
ponderada com a distância, onde foram atribuídos pesos, segundo a importância, de 2,0 ao mapa de cobertura da
terra, 1,0 aos mapas de declividade e vegetação e 0,25 ao de distância aos corpos hídricos. Este mapa foi
classificado em 5 classes de fragilidade (muito alta, alta, intermediária, baixa e muito baixa).

Considerações finais

Procedimentos envolvendo o uso de geotecnologias foram fundamentais para a análise e espacialização das
informações obtidas por meio de fontes primárias e secundárias. O sensoriamento remoto permitiu com que o uso e
cobertura do solo fosse compartimentado, bem como chegar à conclusão que a área urbana de Bonfim está inserida
dentro de uma unidade ecodinâmica instável, e as outras áreas podemos inserir dentro de áreas intermediarias pois
os processos que estão envolvidos nessa área se caracterizam por processos pedogenéticos e morfogêneses.
Tais processos atuantes é de relevantes preocupações, nesse caso as enchentes e erosão das margens do rio
por processos hidráulicos, erosão das partes mais rebaixadas, pois se trata de uma bacia coletora de sedimentos.
Como podemos analisar os mapas, cerca de 80% da cidade do Bonfim foi construída em cima da área de
alagamento, com isso, em todos os períodos chuvosos se não houver por parte das autoridades medidas
mitigadoras.
Fatores climáticos são um dos principais elementos que devem serem levados em consideração, as
enchentes que se tornaram rotineiras durante o período de cheia devido o rio Tacutu ter seu leito raso, e o poder
hidráulico que desce da serra Acaraí no período de monções, é muitas vezes maior do que o rio consegue canalizar,
assim por ser um rio controlado por falhas ele tende a transborda facilmente atingindo a cidade e sua população.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Nível Superior- Brasil (CAPES)-
Código de financiamento 001, agradecemos também ao programa de pós-graduação em gestão e regulação de Recursos
Hídricos – ProfÁgua, e a Universidade Federal de Roraima por todo apoio técnico dado para a realização dessa pesquisa.

Referências
AB’SABER, A. N. Conhecimento sobre as flutuações climáticas do Quaternário no Brasil. Boletim da Sociedade Brasileira
de Geologia. v. 6, p. 41 – 48, 1957.

ANTÔNIO CARLOS RIBEIRO ARAÚJO JÚNIOR. Uso do solo e risco à inundação na cidade de boa vista – RR.
Dissertação de Mestrado. Área de concentração: Manejo e conservação de Bacias Hidrográficas. Defendida em 29 de
fevereiro de 2016.

ANNELISSA G. DONHA, LUIZ C. DE P. SOUZA & MARIA L. SUGAMOTO. Determinação da fragilidade ambiental
utilizando técnicas de suporte à decisão e SIG. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental v.10, n.1, p.175–
181, 2006.

1007
BESERRA NETA, L. C.; TAVARES JÚNIOR, S. S. Geomorfologia do Estado de Roraima por Imagens de Sensores Remotos.
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Geografia, n.8, p.65, 1994.

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TRICART, J. A Geomorfologia nos estudos integrados de ordenação do meio natural. Boletim geográfico, Rio de Janeiro,
n.34, p.15-42. 1977.

1008
5SSS239
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS EM UMA
COOPERATIVA DE ENERGIA ELÉTRICA
Marcos Alberton Dacoregio1, Dayane Gonzaga Domingos2, Beatriz Lima Santos Klienchen Dalari2, Ana
Silvia De Lima Vielmo2, Juliana Barden Schallemberger2, Cristiane Lisboa Giroletti2, Rafael FeyJappur1
1Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL, e-mail: marcos.dacoregio@hotmail.com;
2UniversidadeFederal de Santa Catarina, e-mail: day_domingos_@hotmail.com.

Palavras-chave: Cooperativa; Gerenciamento de Resíduos Sólidos; Sustentabilidade.

Resumo
O descarte de resíduos sólidos é um grande problema, generalizando-se em áreas urbanas e rurais em muitos países
desenvolvidos e em desenvolvimento. Devido a isto, este estudo investiga o processo de gerenciamento de resíduos sólidos
gerados durante atividade em campo de uma cooperativa de energia elétrica, com o intuito de prevenir e reduzir os efeitos
ambientais negativos. Para tal, realizaram-se coletas de informações quali-quantitativas sobre o armazenamento dos resíduos
gerados na empresa durante um período de seis meses, junto com a abordagem dos funcionários sobre a consciência ambiental
envolvida. Os resultados levantados apresentaram o quadro da problemática, principalmente focado no armazenamento
irregular dos resíduos gerados pela cooperativa, propondo uma sugestão para a implantação de uma estrutura física para o
armazenamento adequado dos resíduos gerados. Também evidenciou a preocupação que os colaboradores demonstram com o
atual armazenamento dos resíduos sólidos gerados pela as atividades em campo da cooperativa.

Introdução

Nos últimos anos, pesquisadores e profissionais vêm cada vez mais destacando a importância do gerenciamento de resíduos
sólidos (WANG et al., 2019; MARTIN-RIOS et al., 2018). De acordo com Ali et al. (2019), a gestão adequada dos resíduos
sólidos é uma preocupação séria em países em desenvolvimento e em países desenvolvidos, enfatizando que a geração de
resíduos está relacionada com os níveis de gastos familiares. Assim, conforme aumentam os níveis de despesa, há o aumento
proporcional da geração de resíduos (ABDEL-SHAFY; MANSOUR, 2018).
Dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE, 2016) revelam que a
população brasileira demonstrou um crescimento de 0,75% entre 2016 e 2017, enquanto a geração per capita de resíduos
sólidos aumentou em 0,48%, aumentando a geração total de resíduos sólidos em 1,0% no mesmo período. O total atingindo é
de 214.868 toneladas diárias de resíduos sólidos no país. Na região Sul do Brasil, os 1191 municípios produziram, em 2017,
uma quantidade 22.429 toneladas/dia de resíduos sólidos, das quais 95,10% foram coletadas, e destes, 29,80% (6.356
toneladas/dia) foram destinados a lixões e aterros. De modo geral, a produção de resíduos sólidos per capita tem aumentado a
cada ano, o que demonstra que o Brasil ainda não adotou medidas de minimização de geração de resíduos, sendo necessário
buscar alternativas para o tratamento e disposição final dos resíduos, conforme prioriza a Política Nacional de Resíduos
Sólidos - PNRS (BRASIL, 2010).
A coleta e o descarte dos resíduos sólidos é um grande problema em áreas urbanas e rurais, tanto em países desenvolvidos
como em desenvolvimento, e as soluções de gerenciamento devem ser financeiramente sustentáveis, tecnicamente viáveis,
legalmente aceitáveis e ambientalmente amigáveis, tornando-se o maior desafio para as autoridades das grandes e pequenas
cidades (ABDEL-SHAFY; MANSOUR, 2018). Bartolacci et al. (2018) defendem que o descarte dos resíduos deve seguir em
ordem de prioridade: reutilização, reciclagem, outros tipos de recuperação (por exemplo, para a produção de energia) e para,
no fim, a eliminação. Contudo, é essencial que as empresas apresentem um bom processo de gerenciamento de seus resíduos
gerados.
Segundo a Lei nº 12.305/10 (BRASIL, 2010), que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS, a responsabilidade
é compartilhada entre os geradores de resíduos: fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de
serviços de manejo dos resíduos urbanos na Logística Reversa dos resíduos e embalagens no consumo e pós-consumo. A
responsabilidade sobre esses resíduos gerados em relação ao meio ambiente também pode ser difícil de atenuar, em paralelo
com as atividades relacionadas à atuação das empresas (CASAGRANDE; GALATTO, 2016).
A composição de resíduos sólidos é variável, de acordo com cada país, estado, munícipio, dependendo diretamente do estilo de
vida, situação econômica e estrutura industrial, e a quantidade e sua composição são fundamentais para o manejo adequado
(ABDEL-SHAFY; MANSOUR, 2018). O acesso a essas informações é essencial para o armazenamento adequado dos

1009
resíduos, bem como utilização de instalações adequadas onde, com base no poder calorífico e na composição elementar dos
resíduos, pode-se decidir sobre a sua utilidade e destinação final (OKOT-OKUMU; NYENJE, 2011). Al-Khatib et al. (2010)
relatam que fatores socioculturais, econômicos, legais, políticos e ambientais, bem como os recursos disponíveis são os
principais problemas que afetam a gestão de resíduos sólidos em todos os países, mostrando que a adoção de qualquer nova
tecnologia para gestão de resíduos sólidos deve levar em conta o efeito e a influência sobre o sociocultural e a economia da
comunidade.
Pesquisas apontam que a gestão e disposição de resíduos sólidos, quando inadequadas, podem causar impactos
socioambientais, tais como degradação do solo, poluição dos corpos d’água, intensificação de enchentes, contribuição para a
poluição do ar e proliferação de vetores de importância sanitária nos centros urbanos e nas áreas de disposição final (BESEN et
al., 2010). Desta forma, buscam-se soluções em que todos devem participar, incluindo o poder público, as empresas e a
sociedade, pois o gerenciamento desses resíduos envolve um conjunto de atitudes (comportamentos, procedimentos,
propósitos) que devem buscar a eliminação dos impactos ambientais negativos associados à produção e à má destinação do
lixo. Assim, é possível promover a sustentabilidade socioeconômica, atuando na questão do âmbito ambiental dos processos
envolvidos nas diversas etapas e considerando, também, as ações de diminuição de geração, reciclagem e reutilização dos
materiais (MESQUITA; SARTORI; FIUZA, 2011).
As cooperativas são formas de negócios existentes em todo o mundo, sendo mais encontradas nas áreas de produção agrícola,
consumo geral e finanças (HERAS-SAIZARBITORIA et al., 2018). Segundo a Aliança Cooperativa Internacional
(International Co-operative Alliance – COOP, 2019, p. 01, tradução minha), “uma cooperativa é uma associação autônoma de
pessoas unidas voluntariamente para satisfazer suas necessidades e aspirações econômicas, sociais e culturais comuns por meio
de uma empresa de propriedade conjunta e democraticamente controlada”. Segundo Heras-Saizarbitoria et al. (2018), essas
organizações podem constituir um modelo de fornecimento e distribuição de energia diferente.
Os resíduos gerados nesse tipo de cooperativa vêm a partir das etapas de distribuição de energia elétrica, sendo provenientes do
departamento operacional, que trabalha e realiza serviços em campo, responsável por toda a manutenção e as operações nas
redes elétricas. De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (NBR 10004:2004), os resíduos gerados
nesse seguimento são pertencentes à classe IIB (Inertes), e constituem-se de papel, plástico, alumínio, ferro, cobre, borracha,
vidro, cruzetas de madeira, isolante de porcelana, material misto (plástico e metal), sucata de poste, isopor e transformadores.
Contudo, também são gerados outros resíduos, que são perigosos e se classificam como classe I (Perigosos), como as lâmpadas
fluorescentes e de bulbo, pano e estopas sujas com óleo e graxa (CASAGRANDE; GALATTO, 2016).
Diante do exposto o presente trabalho tem como objetivo propor melhorias na gestão dos resíduos sólidos que são gerados em
uma cooperativa de energia elétrica na cidade de Grão-Pará, em Santa Catarina. Assim, contribuindo de forma positiva na
promoção do conceito ambiental, com foco estratégico para lidar com os resíduos gerados nos serviços, abordando a
problemática da geração de resíduos sólidos gerados na cooperativa de energia elétrica mediante operações rotineiras de
serviços e manutenção das redes elétricas.

Metodologia

A coleta de dados foi realizada em uma cooperativa de eletrificação, fundada em 22 de fevereiro de 1962, com 38 associados.
O principal objetivo da cooperativa é atuar na transmissão e distribuição de energia elétrica para uso domiciliar, rural,
comercial e industrial. Hoje a empresa conta com 16 colaboradores que atuam diretamente na prestação dos serviços para cerca
de 5 mil unidades consumidoras, sendo este o setor principal para a coleta de dados.
Inicialmente realizou-se um estudo em campo, a fim de caracterizar qualitativamente e quantitativamente os resíduos gerados
pela empresa, durante a atuação em campo ou nas manutenções das redes elétricas. Para tal, realizou-se uma pesquisa de
natureza descritivo-exploratória, com o propósito de interpretar a realidade através de observações, descrição, classificação e
quantificação dos resíduos. Realizou-se o inventário dos resíduos sólidos para descarte, gerados durante o primeiro semestre de
2018. As informações foram coletadas a partir de uma análise em campo, onde os resíduos estavam armazenados, passando,
assim, por um processo manual de contagem, separação e pesagem. O diagnóstico compreendeu basicamente quatro etapas: I)
vistorias in loco; II) registros fotográficos; III) quantificação dos resíduos gerados e IV) aplicação de questionários.
Aplicou-se um questionário semiestruturado do tipo semiaberto, contendo 10 questões, com o intuito de explorar as possíveis
repostas referentes à real situação do Gerenciamento de Resíduo Sólido da cooperativa, tendo como grupo de pesquisa 16
colaboradores que trabalham diretamente e indiretamente no setor de serviços em campo. O questionário foi composto de oito
questões fechadas, que exploravam sobre conhecimentos relacionados ao gerenciamento de resíduo sólido; e duas questões
abertas, possibilitando a opinião a respeito da problemática.
A partir das informações obtidas, elaborou-se uma proposta contendo ações e possíveis melhorias para serem incrementadas ao
Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos - PGRS da empresa em estudo.

1010
Resultados e Discussão

A Norma Brasileira n° 10.004 (NBR 10004:2004, p. 01), da Associação de Normas Técnicas (ABNT), define resíduos sólidos
como “[...] resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades da comunidade de origem industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, de serviços e de varrição”. Em vista disto, o setor de prestação de serviços em campo da
cooperativa é um dos mais geradores de resíduos sólidos. Assim, realizou-se um inventário de todo o resíduo que estava
armazenado na empresa, sendo apresentado na Tabela 1. O montante acondicionado é referente ao primeiro semestre de 2018,
e a última coleta pela empresa recicladora foi realizada em dezembro de 2017.

Tabela 1 – Relação de resíduos sólidos gerados no setor de trabalhos em campo da cooperativa


RESÍDUO COMPOSIÇÃO (BÁSICA) CLASSE* QUANTIDADE
Alças Aço IIB reciclável 40 kg
Carretel Madeira IIB reciclável 7 uni.
Chave fusível Porcelana IIB reciclável 14 uni.
Cimento IIB reutilizável 25 uni.
Cruzeta
Ferro IIB reutilizável 5 uni.
Parafusos Ferro IIB reciclável 800 kg
Pinos Ferro IIB reciclável 400 kg
Fio com alma Alumínio / aço IIB reciclável 500 kg
Fio sem alma Alumínio IIB reciclável 450 kg
Fio sem alma Cobre IIB reciclável 70 kg
Fio multiplexado Alumínio / Polietileno Reticulado (XLPE) IIB reciclável 800 kg
Medidores de energia Alumínio / Cobre / Plástico / Vidro IIB reciclável 370 uni.
Base fotocélula Plástico IIB reciclável 4 uni.
Lâmpada (70W, 150W, I Não
Vidro / Sódio / Mercúrio 500 uni.
250W) Reciclável
Relé fotoelétrico Plástico IIB reciclável 10 uni.
Reator fotoelétrico Ferro / Cobre IIB reciclável 10 uni.
Porcelana / Polimérico (Polietileno de Alta Densidade –
Isolador IIB reciclável 320 / 0 uni.
PEAD)
Porcelana / Polimérico (Polietileno de Alta Densidade –
Para-raios IIB reciclável 6 / 8 uni.
PEAD)
Cimento IIB reutilizável 16 uni.
Poste
Madeira IIB reutilizável 2 uni.
Transformadores de
Ferro / Cobre / Óleo Isolante IIB reciclável 5 uni.
Potência
Obs.: A classificação dos resíduos foi realizada de acordo com a ABNT ((NBR 10004:2004).

Foi possível detectar a partir do inventário que a maioria dos resíduos é composta por elementos metálicos, apresentando a
possibilidade de serem reciclados, e possuindo um valor agregado, como o ferro, alumínio e cobre. De acordo com Abdel-
Shafy e Mansour (2018), o manejo sustentável de resíduos sólidos é de grande importância. Desta forma, a parcela
reaproveitável geralmente é doada para os associados, como os postes e cruzetas, que podem ser usados em diversas
finalidades. Para a parcela restante, que não pode ser doada, reciclada ou reaproveita como, por exemplo, os resíduos
resultantes do conserto da iluminação pública, a cooperativa solicita a uma empresa terceirizada para fazer a coleta quando há
uma grande quantidade de resíduo acumulado, dando um destino final para todo este tipo de resíduo.
Estudar a composição e as categorias de resíduos sólidos de um determinado local é importante para a integração de
tecnologias, incluindo a reciclagem e a recuperação de recursos nos sistemas de gerenciamento dos resíduos, ajudando a
planejar o desenvolvimento de políticas, infraestrutura e nas decisões de dimensionamento referentes ao programa integrado de
gerenciamento de resíduos sólidos (ABDEL-SHAFY; MANSOUR, 2018). A Figura 1 mostra como é realizado, atualmente, o
armazenamento dos resíduos sólidos gerados pelo trabalho em campo dos funcionários da cooperativa.

1011
Figura 1 – Local de armazenamento dos resíduos sólidos gerados na cooperativa

Fonte: O autor (2018).

Observa-se que, o processo de armazenamento ocorre de forma inadequada, utilizando os fundos da propriedade, a céu aberto,
para realizar o depósito até o momento em que uma terceirizada realiza a coleta do material. A ABNT (NBR 11174:1990)
estabelece diretrizes para o armazenamento de resíduos classe II não inertes e III inertes, fixando as condições mínimas para o
armazenamento, com o objetivo de proteger a saúde pública e o meio ambiente. A norma relata que o resíduo no local de
armazenamento deve estar devidamente identificado e com cobertura, sendo visível no local, bem como sua classificação,
armazenando de forma que não possibilite a alteração da sua classificação, minimizando os riscos e danos ambientais.
O manuseio e o acondicionamento corretos dos resíduos possibilitarão a maximização das oportunidades com a reutilização e a
reciclagem, já que determinados resíduos podem ficar irrecuperáveis, caso sejam armazenados de forma incorreta (MAROUN,
2006). A relação entre a separação e acondicionamento incorretos feitos atualmente, pode ocasionar transtornos com relação à
segurança dos trabalhadores que transitam nos locais onde se encontra a sucata acumulada. Este tipo de disposição de resíduos
sólidos, acumulados sem nenhuma separação, apresentam a chance de conter elementos perfurantes, podendo causar infecções
bacteriológicas, como o tétano, a quem for ferido por eles (CRUZ; FERREIRA, 2018). Outro ponto importante é que essa
disposição incorreta pode ocasionar multas na esfera ambiental de acordo com a Lei n° 9605/98, que determina sanções penais
e administrativas derivadas de condutas e atividades ilegais ao meio ambiente (BRASIL, 1998).

Questionário aplicado aos colaboradores da cooperativa

Com relação ao conhecimento sobre o gerenciamento do resíduo sólido da cooperativa (questão 1), o resultado foi que apenas
25,0% dos colaboradores consideram conhecer; e 62,0% desconhecem, corroborando o fato de que 80,0% dos funcionários
também desconhecem a PNRS (questão 2). Estes resultados apontam que o gerenciamento do resíduo necessita ser
compartilhado com os colaboradores, podendo ser realizado através de palestras, treinamentos ou cursos. Casagrande e Galatto
(2016) relatam, que o descarte correto dos resíduos sólidos é uma das etapas mais importantes para o processo de reciclagem,
evitando uma série de danos possíveis ao meio ambiente. A Figura 2 mostra que, 56,0% dos funcionários relatam que existe a
separação do resíduo; 38,0% que acontece apenas em parte; e 6,0% que não há nenhuma separação.

Figura 2 – Coleta seletiva no setor de trabalho

Fonte: O autor (2018).

Já a questão 4 relata que, 81,25% dos colaboradores acreditam estar fazendo uma boa separação, indo contra 18,75% que
consideram não estar fazendo corretamente o manejo. O processo de triagem e separação dos resíduos sólidos gerados é

1012
essencial para o bom funcionamento do gerenciamento do resíduo, comumente influenciado e dependente do nível de
sensibilização e participação do pessoal envolvido no processo (ABDEL-SHAFY; MANSOUR, 2018). Na Figura 3, observa-
se o resultado referente ao nível de consciência e da importância do descarte correto dos resíduos gerados, onde apenas 13,0%
dos colaboradores apresentam esta preocupação, e que quase metade dos colaboradores não sabiam ou não se preocupavam
com essa temática.

Figura 3 – Existência de preocupação quanto ao descarte dos resíduos em relação ao meio ambiente

Fonte: O autor (2018).

Associado a esse relato podemos correlacionar a resposta da questão 6, que apontou que 100,0% dos entrevistados não
receberam nenhum tipo de treinamento quanto ao descarte correto. Implantar, desenvolver e manter os colaboradores treinados
é primordial para o sucesso de um Plano de Gerenciamento de Resíduos (PGR), além de ser considerado fundamental para
qualquer empresário que deseja maximizar as oportunidades e reduzir custos e riscos associados à gestão de resíduos sólidos
(MAROUN, 2006).
Partindo deste contexto, observa-se que há indícios de que os responsáveis pela gestão de resíduos sólidos da cooperativa não
vêm monitorando, controlando, ou até mesmo acompanhando o tratamento dado à gestão feita com os resíduos gerados, que
podem ser poluentes se acondicionados incorretamente. A cooperativa carece de uma mudança no modo precário com que vem
trabalhando a relação de seu conceito de sustentabilidade, que é inteiramente interligado com a gestão de resíduos sólidos, e
que a cooperativa afirma buscar. Segundo Xavier e Carvalho (2014), as diferentes interpretações do conceito de
sustentabilidade são refletidas no tipo de abordagem e tratamento dado às questões referentes à gestão de resíduos.
As questões, 7 e 8 mostraram que os colaboradores concordam que a situação atual de tratamento dos resíduos na cooperativa
está incorreta (87,0%); e 56, 25% (questão 8) deles mostraram que têm interesse em aprender sobre o gerenciamento correto
dos resíduos sólidos que são gerados diariamente na cooperativa, através de palestras e cursos. Estes resultados vão ao
encontro da pesquisa de Jacobi e Besen (2011), que aponta ser crescente a preocupação da população frente ao descarte dos
resíduos sólidos.
As últimas duas questões investigaram as opiniões dos colaboradores a respeito do gerenciamento dos resíduos sólidos. Dentre
as diversas opiniões, as que mais foram citadas são sobre a falta de organização e a necessidade de se ter um local adequado na
empresa para depositar cada tipo de resíduo, e sobre a necessidade de cada um fazer a sua parte para a correta separação.
Alguns colaboradores também apontaram que esse mau acondicionamento dos resíduos na empresa causa vários transtornos no
pátio. Dentre algumas ideias apontadas para incentivar os funcionários, temos a construção de um local próprio para depositar
os resíduos e treinamento para os funcionários fazerem isso.

Proposta de melhoria para a cooperativa

A gestão dos resíduos sólidos consiste em um conjunto de atividades e tecnologias que objetivam otimizar e, por conseguinte,
minimizar o impacto ambiental na ocasião da obtenção do produto final. Algumas dessas atividades são: a redução, a
reutilização, a coleta, a triagem, a reciclagem, o transporte, a disposição ou destinação final e o tratamento de resíduos sólidos.
A seguinte proposta de melhoria para o gerenciamento de resíduos sólidos da cooperativa apresenta as ações viáveis para
eliminar ou minimizar o problema do acondicionamento incorreto dos resíduos sólidos, seguindo etapas como treinamento e
conscientização, acondicionamento e monitoramento.

Treinamento e Conscientização

Inicialmente, devem ser oferecidos treinamentos para preparar os funcionários que estão diretamente envolvidos no processo

1013
de geração dos resíduos sólidos nos serviços prestados em campo da cooperativa. Em seguida, devem ser implantadas ações
visando à educação ambiental de todos os funcionários da cooperativa, tendo um impacto maior sobre a conscientização acerca
da importância de um bom gerenciamento dos resíduos sólidos para a cooperativa e meio ambiente.

Acondicionamento

Construção de uma estrutura física para o acondicionamento correto dos resíduos sólidos gerados na cooperativa.
Para propor a estrutura física, fez-se uma estimativa da quantidade de resíduos sólidos que geralmente ficam acumulados
semestralmente, através do inventário e da pesagem dos resíduos, totalizando um valor aproximado de 7 toneladas. Vale
ressaltar que este valor pode variar, dependendo da quantidade de serviços prestados e do número de manutenções realizadas
na rede elétrica da cooperativa. Em paralelo ao inventário, realizou-se a metragem do local que pode vir a ser utilizado para a
construção obra proposta, com a finalidade de acondicionar de forma correta os resíduos. Levou-se em conta quantidade
necessária de espaço para realizar o correto acondicionamento e o espaço físico disponível para a estrutura. A Figura 4
apresenta um modelo de uma possível construção para a cooperativa depositar os resíduos sólidos para descarte de maneira
correta.

Figura 4 – Estrutura física para acondicionar os resíduos sólidos gerados nos serviços em campo da cooperativa

Fonte: O autor (2019).

A estrutura física apresentada foi proposta para atender as necessidades de armazenagem dos resíduos da cooperativa.
Buscando o custo-benefício, optou-se pelo uso de peças pré-moldadas para o esqueleto da edificação. Nas paredes foi
utilizado, como material de vedação, tijolo vazado de 8 furos, reboco produzido in loco e pintura. A cobertura foi projetada em
estrutura metálica com telhas de Aluzinco, que reduzem o peso da construção e são de fácil manutenção. O chão conta com
cerâmica e leve inclinação, que permite o escoamento da água. Cada compartimento foi fechado com portões grandes em
alumínio, que permitem abertura total do vão, concedendo acesso fácil aos caminhões que recolhem os resíduos; esses portões
são, ainda, fechados com tela acetinada para facilitar a visualização na hora da separação.
A obra projetada possui área de 53,95 m² e foi orçada a partir da tabela de preço do CUB/m²: o investimento aproximado da
cooperativa seria de 50 mil reais, incluindo a mão de obra.

Monitoramento

O monitoramento do gerenciamento dos resíduos sólidos deverá ser conduzido através da criação de indicadores vinculados a
resíduos (quantitativos, qualitativos e financeiros) para a mensuração dos ganhos econômicos e ambientais da cooperativa.
Desta forma, é possível criar metas e objetivos futuros, proporcionando, assim, melhoria contínua desse processo.
A melhoria pode ser realizada através da reavaliação contínua dos processos produtivos a partir da busca pela excelência. Essa
busca pode ser considerada revolucionária, e o melhoramento também é entendido como revolucionário, presumindo que o
principal veículo é uma mudança grande e dramática na forma como a operação pode trabalhar. Quando o melhoramento é
contínuo, sua principal finalidade é garantir uma sequência de melhorias, explorando os pequenos aprimoramentos em
vantagem significativa sobre os grandes, favorecendo a adaptabilidade, o trabalho em grupo e a atenção aos detalhes,
dispersando os possíveis problemas e gerando custos menores (PINHEIRO et al., 2011).
A cooperativa em estudo demonstrou acompanhar de forma precária o seu gerenciamento, prestando atualmente pouca atenção
na geração e disposição dos seus resíduos. Portanto, é fundamental melhorar o monitoramento, também revendo alguns dos

1014
pontos levantados neste trabalho, comprometendo-se a melhora-los. Desta forma, tornará o trabalho mais eficaz e eficiente em
relação ao que é produzido e descartado na forma de sucata.

Conclusão

O presente trabalho forneceu uma proposta de melhoria para um processo que necessita de atenção em uma cooperativa de
eletrificação na cidade de Grão-Pará, em Santa Catarina. Durante a realização deste trabalho foi possível observar, a partir de
um diagnóstico inicial, que o gerenciamento de resíduos sólidos gerados na cooperativa em questão necessita de alguns ajustes
e de melhorias para atender as normas ambientais.
Durante a realização do inventário, foram levantados dados qualitativos e quantitativos e, a partir deles, foi possível observar
alguns pontos incorretos, como uma precária separação e acondicionamento dos resíduos sólidos: estes pontos necessitam de
alguns ajustes. A partir dessa problemática, foi elaborada a proposta para possíveis melhorias no gerenciamento atual, e
também foi trabalhada a perspectiva dos colaboradores que estão envolvidos no processo.
Contudo, temos que a problemática em questão pode ser resolvida sem muita complexidade, mas isso necessita de
investimento financeiro e os colaboradores da cooperativa concordam que precisa ser feito. Este conhecimento é algo muito
importante porque, para a resolução do problema, é necessário o interesse e a participação da administração e de todos os
envolvidos.

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1017
5SSS240
USO DE DREGS E GRITS NA HIGIENIZAÇÃO DE LODOS DE ESGOTO
SANITÁRIO
Henrique Sbecker Leite Primeiro1, Beatriz Lima Santos Klienchen Dalari2, Cristiane Lisboa Giroletti3
Dayane Gonzaga Domingos4, Ana Silvia De Lima Vielmo5, Juliana Barden Schallemberger6 Maria Eliza
Nagel Hassemer7
1, 2, 3, 4, 5,6,7 Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: henrique1648@gmail.com; e-
mail:beatriz.lskd@hotmail.com; e-mail: cristiane.lisboa01@gmail.com e-mail: day_domingos_@hotmail.com,
email: ana.vielmo@ifc.edu.br , email: juli-sch@hotmail.com, email: maria.eliza@ufsc.br

Palavras-chave: Dregs, Grits, Celulose, Lodos.

Resumo
Os processos industriais geram impactos ao meio ambiente desde a extração de recursos naturais, produção de rejeitos e
destinação dos mesmos. No processo de produção de papel Kraft, um dos resíduos gerados são os dregs e os grits, os quais
possuem caráter alcalino. Para esses compostos a literatura aponta diversas destinações como uso na agricultura, correção de
solos, uso na produção do cimento Portland, dentre outros. Outro problema recorrente do tratamento de esgotos residenciais é a
destinação do lodo gerado após o proceso de tratamento. Existem vários métodos de tratamento do lodo como a desidratação
(mecânica e secagem) e também o acondicionamento em aterros industriais. Nesse trabalho destaca-se a técnica de calagem,
que consiste em misturar óxido de Cálcio (cal) ao lodo pelo seu alto caráter alcalino. Foi analisado a eficiência desses
compostos no processo de higienização de lodos provenientes de esgoto sanitário. As análises foram realizadas pela montagem
de diversas unidades experimentais, consistindo na mistura de dregs e grits e lodo no interior de sacos plásticos translúcidos,
para permitir a entrada de luz e para evitar a entrada de água dentro do sistema. O experimento foi monitorado por 21 dias, e os
resultados se deram pela análise de coliformes totais e E.coli.

Introdução

Nos últimos anos têm se observado o aumento do consumo de papel e por consequência a expansão das industrias de celulose,
aumento de produção de polpa celulósica e de papel. A indústria de celulose é por excelência uma grande geradora de impactos
ambientais e resíduos. Diversas são as ações mitigadoras dos impactos gerados pela produção de papel, podendo-se destacar: o
aumento da eficiência do processo produtivo, implantação de programas de produção mais limpa, diminuição da geração de
resíduos e alternativas de disposição dos mesmos, entre outros.
De acordo com Morris e Nutter (1994), as indústrias de polpa celulósica que utilizam o processo Kraft apresentam os mesmos
estágios de produção e geram sete tipos distintos de resíduos: lodos primários e secundários, rejeitos de madeira, lama de cal,
dregs, grits e cinza de forno. Durante o proceso de producão de celulose, o licor negro, extraído da etapa de cozimento e pré-
branqueamento é enviado para o sistema de recuperação dos químicos, com a finalidade de reaproveitar estes produtos e
utilizar os sólidos orgânicos dissolvidos da madeira como fonte de energia nas caldeiras de recuperação. Durante o processo de
recuperação química são gerados três resíduos sólidos, o dregs, o grits e a lama de cal (GUERRA, 2007).
Os dregs e os grits são resíduos de caráter alcalino e normalmente são destinados a aterros industriais gerando custos as
empresas e impactos ao meio ambiente. Esses resíduos têm usos nas mais variadas áreas desde a agricultura até a produção de
cimento e de cerâmicas. Uma das possíveis destinações desses resíduos é a higienização de lodos sanitários devido a
composição similar desses compostos à cal virgen, usada no processo de calagem do lodo.
A calagem é um tratamento químico, em que se adiciona cal ao lodo, de forma a elevar seu pH até valores superiores a 12,
condição na qual ocorre a inativação ou destruição de grande parte dos agentes patogênicos, além de proporcionar a
estabilização química e redução do odor do lodo (SANEPAR, 1997).
O lodo biológico, resultante do tratamento biológico de esgoto sanitário, é rico em matéria orgânica e nutrientes, e necessita de
tratamento e disposição final adequada. Embora represente apenas de 1 a 2% do volume de esgoto tratado, a produção de lodo
já se tornou um problema que, além de acumular passivos ambientais, pode representar de 20 a 60% dos custos operacionais de
uma Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) (VON SPERLING e ANDREOLI, 2001).
Sendo assim, este trabalho tem como objetivo a utilização de Dregs e Grits na higienização de Lodos provenientes do esgoto
sanitário.

1018
Metodologia

RESÍDUOS DA PRODUÇÃO DE PAPEL

Os resíduos alcalinos, dregs e grits, foram obtidos do processo de produção kraft de polpa celulósica de uma indústria de
produção de celulose localizada no município de Correia Pinto-SC. Nas Tabelas 1 e 2 se tem-se a composição dos dregs e
grits.

Tabela 1: Composição dos grits utilizados no experimento.


Fonte: Cenibra (2009) **Ponto de Fogo

Tabela 2: Composição dos dregs utilizada no experimento


Fonte: Cenibra (2009)

1019
LODO DO TRATAMENTO BIOLÓGICO DE ESGOTO SANITÁRIO

O lodo biológico utilizado para a montagem do experimento foi coletado no leito de secagem da Estação de Tratamento Caça e
Tiro, situada no bairro Caça e Tiro, Município de Lages-SC. A estação é composta por reator UASB e reator de lodos ativados,
sendo operada pelo consórcio Águas do Planalto como serviço terceirizado prestado a Secretaria de Águas e Saneamento-
SEMASA. A estação trata o esgoto de aproximadamente 60% da cidade Lages, atendendo uma população de
aproximadamente 130.000 habitantes. O lodo foi coletado após 25 dias do descarte, com umidade de 65%. O leito de secagem
de onde foi retirado o lodo é apresentado na Figura 1.

Figura 1. Leito de secagem

DESENVOLVIMENTO DO PLANO EXPERIMENTAL

O experimento foi desenvolvido em escala laboratorial e as unidades experimentais foram compostas por doses de dregs e grits
misturadas ao lodo do tratamento biológico de esgoto sanitário em reatores UASB, nas proporções de 30%, 40% e 50% (em
massa seca de lodo). Além das doses de resíduos, também foi realizado um tratamento sem adição de substância alcalina, ou
seja, sem adição de dregs ou grits. Para cada tratamento foi elaborado uma unidade experimental, totalizando 7 unidades
experimentais. Cada unidade experimental foi constituída por um saco plástico com capacidade para 20 L na combinação de
lodo biológico e resíduo alcalino. A Tabela 3 indica as quantidades de lodo e as respectivas dosagens de Dregs e Grits.

Tratamento Dosagem Proporção Amostra


1,5Kg de LODO + 0,371 Kg de DREGS 30% D30
DREGS+LODO 1,5Kg de LODO + 0,495 Kg de DREGS 40% D40
1,5Kg de LODO + 0,619 kg de DREGS 50% D50

1,5Kg de LODO + 0,155 Kg de GRITS 30% G30


GRITS+LODO 1,5Kg de LODO + 0,206 Kg de GRITS 40% G40
1,5Kg de LODO + 0,258 Kg de GRITS 50% G50

LODO 1,5kg de LODO - LODO


Tabela 3: Dosagens de Dregs e Grits

As dosagens de dregs e grits aplicados ao lodo foram calculadas com base no teor do composto CaO + MgO de 94,4%. Esse
valor correspondente a 94% de CaO e 0,4% de MgO presentes na cal hidratada. O valor de de 94,4% foi baseada na marca
comercial Quallical. As dosagens foram calculadas para se obter a mesma quantidade de CaO + MgO presentes na cal
hidratada em relação aos resíduos alcalinos.

1020
Ex: 50% de dregs

 1Kg de cal contêm 944 gramas do composto CaO + MgO

 1 Kg de dregs contêm 399,2 gramas do composto CaO + MgO

 Equivalente do resíduo dregs em cal:

1 kg de dregs ---------------------- 399,2 g (CaO + MgO)


X -------------------------------------944 g (CaO + MgO)

X=2,36 kg de dregs

Por consequência, para cada quilo de cal foram necessários 2,36 kg de dregs para se obter a mesma quantidade de composto
CaO + MgO.

 Considerando os cálculos em massa seca (MS) de 1,5 kg de lodo a uma umidade de 65%, e massa seca de 35%:

1500g de lodo x 0,35= 525 g MS

525 x 0,50= 265 g (CaO + MgO)

1 kg (CaO + MgO) --------------2,36 kg de dregs


0,265 Kg (CaO + MgO) --------X

X= 0,619 kg de dregs

As amostras experimentais foram monitoradas em ambiente coberto com exposição ao sol, para impedir a penetração de água e
possibilitar a penetração da radiação solar. As unidades experimentais foram monitoradas durante 31 dias, compreendidos
entre outubro/2017 a novembro/2017.
Durante esse período foram monitorados coliformes totais e E. coli. A Figura 2 mostra as unidades experimentais, a mistura do
lodo com os resíduos. A presença de coliformes totais e E. coli foi monitorada após 1, 7 e 21 dias da mistura (resíduo+lodo).

Figura 2- Amostras experimentais.

1021
ANÁLISES LABORATORIAIS

As análises de coliforme totais e E.coli foram realizadas no laboratório Aquavita sediado na R. Célio Veiga, 1220,
Jardim Cidade Florianópolis São José – SC – 88111-320.

Resultados e Discussão

A Tabela 4 mostra os resultados das análises de coliformes totais (CT) e E.coli. Coliformes totais que não são um parâmetro
estabelecido pela resolução CONAMA nº 375/2006, mas foram incluídos como informações adicionais. As análises de CT e
E.coli foram realizadas em três fases do experimento (1, 7 e 21 dias após o início do experimento), nas quais foi possível
identificar a eficiência de ação das diferentes dosagens de resíduos no que tange a higienização do lodo doméstico.

E. coli e Coliformes totais (CT) (NMP/g de ST)

1 Dia 7 Dias 21 Dias


Lote
E.coli CT E.coli CT E.coli CT
D30 5,6 X 104 1,5x108 Ausente 7,0x105 Ausente Ausente
4 8
D40 5,6 X 10 1,5x10 Ausente Ausente Ausente Ausente
4 8
D50 5,6 X 10 1,5x10 Ausente Ausente Ausente Ausente

G30 5,6 X 104 1,5x108 Ausente 1,1x109 Ausente Ausente


4 8 5
G40 5,6 X 10 1,5x10 Ausente 3x10 Ausente Ausente
4 8 4 9
G50 5,6 X 10 1,5x10 1x10 4,0x10 Ausente Ausente

LODO 5,6 X 104 1,5x108 Ausente 2,83 X 104 Ausente Ausente


Tabela 4- Resultados E. Coli e Coliformes totais

Observa-se na Tabela 4 que os valores encontrados para E. coli em toda as dosagens, atingiram em 7 dias, valores menores ao
estipulado pela Resolução CONAMA n° 375/2006 para lodo de esgoto tipo A, de 103 NMP/g de ST. A eliminação das
populações de coliformes totais e E.coli ocorreu rapidamente. Esse comportamento deve-se ao processo de higienização
utilizando dregs e grits, para obtenção de lodo classe A (em termos de qualidade bacteriológica) em curto espaço de tempo.

Os resultados da experiência inferem que a as dosagens mais eficientes são as de dregs a 30% e 40%, respectivamente (D30 e
D40), pois os microrganismos foram eliminados totalmente após de 7 dias de tratamento, tanto coliformes totais quanto E.Coli.
Por outro lado a mistura de menor eficiência foi a de grits a 50%(G50), por consequência de após 7 dias ainda haverem
presença de coliformes presentes no lodo.

Considerações finais

O presente estudo demonstrou que a utilização de Dregs e Grits promovem uma higienização adequada de Lodos provenientes
do esgoto sanitário.
Os resultados revelam que em 7 dias, os valores de E.coli em todas as proporções medidas, foram menores do que o
determinado pela resolução CONAMA n° 357/2006, tanto no tratamento com dregs como no de grits.
Em 7 dias, a utilização de dregs foi mais eficiente do que de Grits, e após 21 dias ambos promoveram a eliminação completa
de coliformes totais e E.coli.
A destinação de Dregs e Grits para a higienização de lodos cosntitui-se como uma alternativa sustentável, uma vez que,
proporciona a reutilização desses resíduos e a redução do potencial de contaminação dos lodos de esgoto sanitário.

Agradecimentos

Os Autores gostariam de agradecer a Universidade Federal de Santa Catarina pelo apoio fornecido.

1022
Referências Bibliográficas

Guerra, M. A. de S. L. 2007. Avaliação de indicadores biológicos e físico-químicos no composto orgânico produzido a partir
de resíduos da indústria de celulose. 2007. 70 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Viçosa. Viçosa,

Morris, L. A.; Nutter, W.L. 1994. Pinus taeda seedling growth following application os ash and sludge residues from Kraft
Pulp mills: glasshouse and first year field trial. Camberra, p. 56-66.

Sanepar. Companhia de Saneamento do Paraná.; 1997.Manual técnico para utilização agrícola do lodo de esgoto no Paraná.
Curitiba, p. 96.

Von Sperling, M.; Gonçalves, R. F. Lodo de esgotos: Características e Orodução. In: andreoli, C. V.; Von Sperling, M.;
Fernandes, F. (Org.; 2001. Lodo de esgotos: tratamento e disposição final. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia
Sanitária e Ambiental, UFMG; Curitiba: SANEPAR, p.17-68.

1023
5SSS241
PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL PARA UMA
EMPRESA DE PRODUTOS SANEANTES NA CIDADE DE SÃO JOSÉ
Vitor Ramos Fredenhagem Victoria1, Beatriz Lima Santos Klienchen Dalari 2, Dayane Gonzaga Domingos 3,
Cristiane Lisboa Giroletti 4, Juliana Barden Schallemberger 5, Ana Silvia De Lima Vielmo6, Maria Eliza
Nagel Hassemer7
1Universidade Federal de Santa Catarina. e-mail:vitor.fredenhagem@gmail.com; 2,3,4,5,6,7 Universidade Federal
de Santa Catarina

Palavras-chave: Sistema de Gestão Ambiental; ISO 14001; Saneantes.

Resumo
Desafios econômicos e ecológicos procedentes do aumento da conscientização da população em torno das questões ambientais
e das restrições impostas pela legislação contribuem, recentemente, para que as indústrias adotem novas práticas
ambientalmente e socialmente responsáveis. O presente estudo propôs elaborar um Sistema de Gestão Ambiental com base na
norma IS0 14001, para uma empresa de produtos saneantes, localizada em São José-SC. O produto final do trabalho forneceu
uma série de dados, que apontaram algumas vantagens que podem contribuir com o aumento do desempenho ambiental, bem
como facilitar uma posterior certificação da empresa perante a ISO 14001.

Introdução

Diferentes grupos de interesse como governo, clientes e sociedade, começaram a atentar para a responsabilidade ambiental e a
exigir das empresas uma postura apropriada mais adequada em relação ao meio ambiente no que tange às questões de proteção
ambiental (WEBER, 1999). Neste contexto, muitas organizações têm adotado uma abordagem sistemática na gestão ambiental,
com a implementação de sistemas de gestão ambiental, que visam contribuir com o pilar ambiental da sustentabilidade (ABNT,
2015).
O SGA (Sistema de Gestão Ambiental) é parte do sistema de gestão de uma organização usado para gerenciar os aspectos
ambientais, cumprir requisitos legais e abordar riscos e oportunidades. A introdução de sistemas de gestão ambiental é
particularmente emblemática, como exemplo desta importância, pode-se citar o caso de Cubatão, em São Paulo. Esse
município era bastante conhecido pelos desastres ambientais no final dos anos 70, mas a cidade hoje conseguiu reduzir suas
emissões de material particulado em 98,9% nos últimos 25 anos (SAN MARTIN, 2009). Muitas melhorias também foram
alcançadas pelo município na gestão dos recursos hídricos e resíduos sólidos, com o esforço conjunto dos órgãos públicos, da
sociedade e das empresas.
Diversos instrumentos de gestão, desenvolvidos para melhorar seu desempenho ambiental das empresas, resultam numa série
de vantagens econômicas, tais como: redução de custos, aumento de competitividade, abertura de novos mercados e
diminuição das chances de serem surpreendidas por algum tipo de ônus imprevisível e indesejável (TRATSCH, 2010).
Situar-se acima de exigências legais, mediante sistema de gestão ambiental, deixa de ser apenas uma estratégia preventiva para
constituir-se mesmo em vantagem competitiva e diferencial no mercado. Isto porque a qualidade ambiental exige um uso mais
racional e produtivo de insumos, reduzindo os custos de produção. Além disso, as mudanças podem gerar novas oportunidades
de negócios (VOGT, 1997).
O presente estudo teve por objetivo propor um Sistema de Gestão Ambiental, utilizando os requisitos da NBR ISO 14001, e
uma estrutura com procedimentos para proteção do meio ambiente, à empresa de produtos saneantes localizada no município
de São José/SC.

Metodologia

Descrição do empreendimento
A empresa Luckmann Indústria e Comércio de Produtos para Saúde Ltda com sua fachada ilustrada, situa-se no município de
São José, no Bairro Sertão do Maruim, 4111 na Rodovia SC 281. A área total do empreendimento é de 652 m². Do total da
área construída 507 m² são destinados para a linha de produção, depósito de matérias primas e embalagens, expedição dos
pedidos, refeitório, setores técnicos e administrativos. A empresa possui um total de 10 funcionários, sendo 5 da linha de
produção e 5 administrativos e técnicos. Os funcionários da linha de produção se dividem em duas linhas de produção: 2 na

1024
linha de produção do teste de Urease e 3 na linha dos detergentes enzimáticos.

Descrição dos processos produtivos: Detergentes Enzimáticos Hospitalar e Industrial


O detergente enzimático hospitalar é indicado para limpeza manual e automatizada de instrumentos cirúrgicos, odontológicos e
endoscópios flexíveis. Conta com 5 enzimas, tensoativos e estabilizantes na sua composição, possui alto poder de remoção de
carga orgânica, além de combater a formação do biofilme através da ação da enzima celulase, responsável por degradar a
matriz polimérica formadora do biofilme. É produzido em embalagens de 5 litros e frascos de 1 litro e possui um alto
rendimento com diluição de 2 ml/L, oferecendo um excelente custo benefício.
Já o detergente enzimático da linha industrial, apresenta duas variações, a linha para indústria de laticínios e a linha para
indústria de sucos, ambos possuem 2 tipos de enzimas, tensoativos e estabilizantes em sua composição. O Luckzymes
Laticínios, é produzido em embalagens de 25 litros e possui uma diluição de 6 ml/L, possui alto grau de remoção de matéria
orgânica, principalmente gorduras e proteínas e é utilizado na limpeza de membranas de filtração, osmose reversa e limpeza
em circuito fechado. O Luckzymes Sucos, é produzido em embalagens de 25 litros e possui uma diluição de 3 a 10 ml/L, possui
alto grau de remoção de matéria orgânica, e é utilizado na limpeza de membranas de filtração, osmose reversa e limpeza em
circuito fechado.

Tipo de pesquisa
A forma de abordagem do problema, mostra-se como uma pesquisa qualitativa, pois, embora se utilize do levantamento de
dados e de uma análise de tendência para os resultados, fez-se uma interpretação do ambiente e suas relações externas, bem
como percepções dos processos e do meio através da matriz de impacto e aspectos ambientais e o diagrama de Árvore
Funcional.

Resultados Discussão

Caracterização local
O município de São José, onde a indústria de saneantes está sediada é localizado na região litorânea central do Estado de Santa
Catarina, entre os paralelos 27º31’30’’ e 27º38’31’’ de latitude Sul e os meridianos 48º44’50’’ e 48º35’20’’ de longitude
Oeste. Possui uma extensão territorial de 113,6 km², sendo banhado pelas águas das baías norte e sul de Santa Catarina.
É caracterizado pelo clima típico da Região Sul, ou seja, homogeneidade e unidade das condições climáticas com domínio
quase absoluto do clima Mesotérmico do Tipo Temperado. A umidade relativa anual constitui 80-85%, sendo a pluviosidade
média na região de São José de 1700 – 2100 mm/ano. O período mais chuvoso ocorre entre novembro e fevereiro, sendo os
meses mais secos junho e julho. As temperaturas médias anuais oscilam entre 17 - 20ºC.
Em relação á hidrografia, a drenagem municipal faz parte do complexo sistema hidrográfico da vertente do Atlântico. O
município é drenado em praticamente 70% do seu território pelo rio Maruim e seus afluentes, assim como pelos rios e córregos
litorâneos, formando a Região Hidrográfica Central Catarinense, Bacia do Atlântico Sul. As características hidrográficas do
sistema de drenagem integram-se ao quadro geográfico regional, obedecendo as tendências do regime pluvial oceânico,
caracterizado pela influência do mar e alimentação pluvial do fluxo de rio temperado de tipo oceânico.
A vegetação do município é composta por 58% de florestas em diversos estágios de recuperação, sendo que 12,5%
correspondem a Áreas de Preservação Permanente (APP) e 8,7% dessa vegetação se encontra ameaçada pela ocupação urbana.
A cobertura vegetal mais representativa corresponde à vegetação secundária – formação submontana, com 47% do total, em
diversos estágios de regeneração espontânea e com presença esporádica de reflorestamentos de eucalipto

Área de influência do empreendimento: Direta e Indireta


Como parte dessa área é destinada para atividade industrial, o impacto sobre a população (ruído, material particulado,
contaminação de cursos d’água e disposição irregular de resíduos sólidos) não ocorre. Uma vez que a empresa destina da
maneira correta aos resíduos sólidos e efluentes, bem como não há emissão de material particulado e ruído.
A instalação da fábrica no bairro do Sertão do Maruím gera empregos diretos e indiretos no entorno da região como: postos
de abastecimento, comércios locais e restaurantes, transportadoras (uma vez que o transporte dos produtos é feito por
terceiros). O bairro está em desenvolvimento e possui conjuntos habitacionais que possivelmente com o passar dos anos
aumentará as demandas relacionadas aos mais diversos serviços decorrentes da ocupação.

Aspectos e Impactos ambientais


Os principais aspectos e impactos gerados no empreendimento estão listados na Tabela 1.

1025
É possível observar que dentre os impactos ambientais gerados pela empresa, os que apresentaram maior significância estão
relacionados ao uso do solo, principalmente para o meio biofísico em função do descarte de resíduos; seguido pelo possível
risco de acidentes, como vazamentos. Para o meio antrópico, os aspectos sociais prevaleceram como os mais relevantes.
Considerando a matriz de aspectos e impactos ambientais, a etapa posterior do trabalho contemplou a identificação de resíduos
sólidos e efluentes gerados no processo produtivo da empresa. A Figura 1 apresenta algumas etapas classificadas como

1026
potencialmente produtoras de resíduos e efluentes.

Figura 1: Etapas do processo produtivo.


Fonte: Autor, 2019

Visando a visando a melhora do plano de gerenciamento de resíduos da empresa, algumas medidas foram sugeridas dentre as
principais estão:
 Uso de canecas pessoais pelos funcionários, evitando o consumo de copos plásticos, pois apesar de serem recicláveis,
grande parte deles não é triado nos centros de triagem de material reciclável, sem contar a economia de recursos para
confecção dos mesmos.
 Implementação de um sistema de captação de água pluvial, para fins não potáveis como: jardinagem, utilização em
descargas de vasos sanitários, limpeza do chão e lavagem de embalagens que serão destinadas para reciclagem.
 Reuso da água oriunda do processo produtivo dos detergentes.
 Instalação de painéis de energia solar, pois o local apresenta longo período de insolação durante todo ano, ficando na
da ordem de 1600 – 2400 horas/ano o que acarretaria em grande redução dos gastos com energia elétrica.
 Instalação de uma bacia de contenção ao redor do local de armazenamento de propilenoglicol e isopropanol, para
evitar possíveis vazamentos.

Como ferramenta auxiliar para execução das melhorias propostas, indicou-se o Diagrama de Árvore Funcional (Figura 2). O
intuito dessa ferramenta é estender objetivos primários em objetivos secundários e assim por diante, de modo que hajam ações
definidas e claramente executáveis que permitam atingir o objetivo primário. Primeiramente foi estabelecido o objetivo
principal de gerenciar os aspectos ambientais e a partir dele, definiram-se os objetivos secundários, meios e ações de melhoria.

1027
Figura 2: Diagrama de Árvore Funcional aplicado a Luckmann Saneantes.

Conclusão

Foi possível verificar que a empresa apresenta uma preocupação ambiental, a começar pela linha de detergentes
enzimáticos, que são 100% biodegradáveis e por possuírem elevado rendimento, além disso, o planejamento estratégico tem o
enfoque do âmbito ambiental priorizado, o que tem lhe proporcionado vantagem competitiva e tornar a empresa referência em
produtos sustentáveis.
O nível de detalhe e complexidade do SGA varia de acordo com o contexto envolvido, do escopo do sistema, dos
requisitos legais e da natureza das atividades, incluindo os aspectos e impactos ambientais associados.
No entanto, o sucesso de um sistema de gestão ambiental depende do comprometimento de todos os níveis e funções da
empresa, a começar pela alta liderança que deve abordar efetivamente os riscos e as oportunidades de forma a integrar a gestão
ambiental aos processos da empresa, direcionamentos estratégicos e tomadas de decisões.

1028
É inevitável a necessidade de investimentos em gerenciamento ambiental pelo fato de o processo de certificação ser
custoso, no entanto as vantagens são inúmeras e trazem diversos benefícios a longo prazo, como o investimento em painéis
solares que gerará economia de recursos que seriam gastos com energia elétrica.
Por fim conclui-se que a empresa está posicionada estrategicamente em estágio avançado, visto que se mostra proativa
diante das questões ambientais e busca excelência por meio de produtos inovadores e de processos de fabricação certificados.
Porém, é valido destacar o papel do poder público, por meio de regulamentações e políticas ambientais, para que as empresas
se adaptem à nova realidade da política ambiental observada no âmbito internacional.

Referências Bibliográficas

ABNT – Associação Brasileira de Normas técnicas, 2015. NBR ISO 14001: Sistemas da gestão ambiental – Requisitos com
orientações para uso. 3. ed. Rio de Janeiro.

San Martin, E. 2019. Resultados dos 25 anos de recuperação ambiental de Cubatão. CIESP - Centro das Indústrias do Estado
de São Paulo, 2008. Disponível em: Acessado em 05 set 2019.

Tratsch, Mauricio Vicente Motta. 2010. Gestão de resíduos em uma indústria de produtos de limpeza.

Vogt, andréa Inês. 1997. Importância do sistema de gestão ambiental na empresa–estudo de caso. XVII Encontro Nacional de
Engenharia de Produção, São Paulo.

Weber, P.S.A. 2019. Gestão Ambiental na Empresa. Revista Sanare, v. 12, 1999.
<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/gestao/artigos/a_gestao_ambiental_na_empresa.html >. Acesso em: 05 out. 2019.

1029
5SSS242
USO DE SENSORIAMENTO REMOTO PARA ANÁLISE DA
RELAÇÃO ENTRE VARIAÇÕES NO ARMAZENAMENTO DE ÁGUA
TERRESTRE E PRECIPITAÇÃO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
Cassia Brocca Caballero1, Carolina Faccio Demarco2, Pierre Luz de Souza3, Thays França Afonso4, Ana
Luiza Bertani Dall’Agnol5, Guilherme Pereira Schoeler6 Louise Hoss7
1Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: cassiabrocca@gmail.com; 2Universidade Federal de
Pelotas, e-mail: carol_demarco@hotmail.com; 3Universidade Federal de Pelotas, e-mail:
pierresouzals@gmail.com; 4Universidade Federal de Pelotas, e-mail: thaysafonso@hotmail.com; 5 Universidade
Federal de Pelotas, e-mail: analuizabda@gmail.com; 6 Universidade Federal de Pelotas, e-mail:
guilherme.schoeler@gmail.com; 7 Universidade Federal de Pelotas, e-mail: hosslouise@gmail.com

Palavras-chave: GRACE; GPM; observações por satélite.

Resumo
A precipitação é um dos componentes mais importantes do ciclo hidrológico. Nesse mesmo sentido, alterações no
armazenamento de água, como mudanças na umidade do solo, cobertura de neve e gelo, águas superficiais e subterrâneas,
incluindo aquíferos profundos, podem ser monitoradas por observações in situ ou indiretamente por meio de mudanças na
gravidade. Porém, observações em campo normalmente não possuem uma boa cobertura espacial e demandam recursos muitas
vezes não disponíveis. Para superar os problemas das observações in situ, o uso do sensoriamento remoto tem sido amplamente
utilizado. Estimativas de precipitação por sensoriamento remoto estão sendo amplamente exploradas nos últimos anos.
Qualquer mudança no armazenamento de água também se manifesta em uma mudança na gravidade relacionada às
redistribuições de massa de água, e essa propriedade pode ser usada para inferir alterações no armazenamento de água a partir
de observações de gravidade variáveis no tempo, como é feito pelo satélite GRACE, que oferece uma técnica alternativa de
sensoriamento remoto muito interessante para medir mudanças no armazenamento total de água, já que informações sobre o
comportamento espacial e temporal do armazenamento de água terrestre são cruciais para o gerenciamento de recursos hídricos
locais, regionais e globais. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi comparar variações temporais do armazenamento de água
terrestre e dados de precipitação derivados dos satélites GRACE e GPM no estado do Rio Grande do Sul. Dessa forma, para
analisar os produtos GRACE, a série temporal de armazenamento de água terrestre (TWS) foi obtida para o período de abril de
2002 a janeiro de 2017 no Google Earth Engine (GEE). Para verificar a relação do TWS com a precipitação no estado do Rio
Grande do Sul, foram utilizados dados da missão Global Precipitation Measurement (GPM), também extraídos do GEE para o
mesmo período. Uma análise visual permitiu observar que os dados possuem no geral um comportamento semelhante ao longo
do tempo, demonstrados principalmente nos anos de 2009, em que houve um grande volume de precipitação e também alta no
TWS, e no ano de 2012, com baixas precipitações e TWS negativo. A partir de uma análise estatística, foi possível verificar
que existe uma relação positiva significativa entre as duas variáveis. Este trabalho demonstra como dados de satélite podem ser
utilizados para fornecer informações integradas sobre alterações no armazenamento de água, não disponíveis nas medições in
situ, e também da precipitação, quando também não existirem dados de campo.

Introdução
A precipitação é um dos componentes mais importantes do ciclo hidrológico (Trenberth et al. 2003). Portanto, registros
precisos e confiáveis de precipitação são essenciais não apenas para o estudo de tendências e variabilidade do clima, mas
também para o gerenciamento de recursos hídricos e previsão do tempo, climática e hidrológica (Jiang et al. 2012; Sun et al.
2018). A medição da precipitação é feita principalmente usando observações de medidores diretamente na superfície da Terra
(pluviômetros) (Kidd, 2001). No entanto, medições in situ apresentam algumas limitações, como cobertura espacial incompleta
e deficiências na maioria das áreas oceânicas e pouco povoadas (Kidd et al. 2017; Rana et al. 2015).
Para superar os problemas das observações in situ, as estimativas de precipitação do sensoriamento remoto estão sendo
amplamente utilizadas nos últimos anos. Recentemente, alguns conjuntos de dados de precipitação de alta resolução baseados
em estimativas de sensoriamento remoto por satélite foram disponibilizados (Tian and Peters-Lidard, 2007). Os produtos que
mesclam medições de satélite e de pluviômetros foram projetados para melhorar a precisão das medições de variáveis
climáticas; espera-se que essa abordagem maximize os benefícios relativos de cada tipo de dados (Huffman et al. 1995; Xie et

1030
al. 2003).
Nesse mesmo sentido, alterações no armazenamento de água, como mudanças na umidade do solo, cobertura de neve e gelo,
águas superficiais e subterrâneas, incluindo aquíferos profundos, podem ser monitoradas por observações in situ ou
indiretamente por meio de mudanças na gravidade (Tapley et al. 2004b). Embora as observações in situ forneçam informações
localizadas valiosas, apresentam uma cobertura espacial limitada para estudos regionais a continentais (Rodell et al. 2004).
Qualquer mudança no armazenamento de água também se manifesta em uma mudança na gravidade relacionada às
redistribuições de massa de água. Essa propriedade pode ser usada para inferir alterações no armazenamento de água a partir
de observações de gravidade variáveis no tempo.
Informações sobre o comportamento espacial e temporal do armazenamento de água terrestre são cruciais para o
gerenciamento de recursos hídricos locais, regionais e globais (Rieser et al. 2010). Isso inclui um entendimento da
evapotranspiração, escoamento e precipitação que influenciam diretamente o armazenamento de água terrestre (Davie, 2008).
O sensoriamento remoto é a ciência da medição e aquisição de informações sobre um objeto ou fenômeno sem contato físico
com ele. É amplamente aplicado em Ciências da Terra, em disciplinas como hidrologia, ecologia, geologia e outras.
A missão Global Precipitation Measurement (GPM – Medição de precipitação global) foi projetada para oferecer novas
observações de chuva e neve do espaço. É uma missão internacional para fornecer observações de chuva e neve em todo o
mundo a cada três horas. O Integrated Multi-Satellite Retrievals for GPM (IMERG) é o algoritmo unificado que fornece
estimativas de precipitação que combinam dados de todos os instrumentos de micro-ondas passivos na constelação do GPM e
são computadas usando o algoritmo GPROF2017, depois reticulado, intercalibrado com o dados do GPM e combinado com os
dados medidos pelo satélite na resolução espacial de 0.1ºx0.1º (Huffman et al. 2018). Este algoritmo visa intercalibrar, mesclar
e interpolar todas as estimativas de precipitação por micro-ondas, juntamente com estimativas de satélite por infravermelho
(IR) calibrado por micro-ondas, análises da precipitação medida in situ por pluviômetros, e potencialmente outros estimadores
de precipitação em escalas finas de tempo e espaço para as eras TRMM e GPM em todo o mundo.
Desde o início deste século, a gravimetria por satélite GRACE oferece uma técnica alternativa de sensoriamento remoto muito
interessante para medir mudanças no armazenamento total de água (gelo, neve, águas superficiais, umidade do solo, águas
subterrâneas) em áreas continentais, representando uma nova fonte de informação para pesquisadores na área de recursos
hídricos em escala global (Ramillien et al. 2008).
Desde o seu lançamento em março de 2002, o sistema de satélite Gravity Recovery and Climate Experiment (Recuperação da
gravidade e experimento climático - GRACE) fornece medições sem precedentes do armazenamento terrestre de água
(Terrestrial Water Storage - TWS) para todo o mundo (Tapley et al. 2004). As primeiras observações de gravidade variável no
tempo do GRACE mostraram uma precisão de 1,5 cm de mudança equivalente na espessura da água em uma escala espacial de
cerca de 1000 km (Wahr et al. 2004). Muitos estudos demonstraram as possibilidades deste sistema de satélites para detectar e
monitorar a redistribuição espacial do TWS versus o tempo, com precisão de apenas dezenas de mm de altura equivalente da
água e resolução espacial de aproximadamente 400 a 500 km (Ramillien et al. 2008). Essas medidas foram aplicadas em novas
investigações sobre vazão de rios (Syed et al. 2005), evapotranspiração regional (Rodell et al. 2004; Swenson e Wahr 2006),
clima (Crowley et al. 2006) e a massa variável das principais geleiras e mantos de gelo (Luthcke et al. 2006; Tamisiea et al.
2005; Velicogna e Wahr, 2006), fornecendo informações importantes sobre a variabilidade do ciclo da água em escala global a
escala global.
Ainda, combinado com outras técnicas de satélite, como imagens, os dados do geoide GRACE foram usados para estudar os
mecanismos de inundação sazonal em grandes áreas de inundação, como na planície Mekong (Frappart et al. 2006) e no rio
Amazonas (Wilson et al. 2007; Papa et al. 2008). Outra aplicação para monitorar os impactos climáticos foi a detecção da seca
severa da bacia Murray-Darling no sul da Austrália (Leblanc et al. 2009).
Diante disto, o objetivo deste estudo foi comparar variações temporais do armazenamento de água terrestre e dados de
precipitação derivados dos satélites GRACE e GPM no estado do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma análise inicial que tem
como finalidade fornecer informações sobre a extensão em que a precipitação pode ser usada para detectar e monitorar
mudanças no armazenamento de água terrestre.

Material e Métodos
Área de Estudo
A área de estudo desta pesquisa é o estado do Rio Grande do Sul (Figura 1a), que faz parte da Região Sul do Brasil. O Estado
situa-se na faixa subtropical apresentando um clima de transição entre tropical e temperado, e se destaca pela ocorrência de
estação térmica fria, devido a atuação de massas de ar polar que atingem o estado.
O clima do Rio Grande do Sul é do tipo mesotérmico, não possuindo uma estação chuvosa ou seca bem definida (Nimer,
1989). Portanto, alguns meses são mais chuvosos do que outros existindo variações regionais neste padrão. Os totais médios
anuais da precipitação pluvial distribuem-se, de modo geral, desde os 1200 mm, na faixa litorânea, até os 1900 mm, no norte
do estado. Em locais na borda da escarpa, chegam a mais de 2000 mm (Nimer, 1989).
A dinâmica das massas de ar tem ação decisiva na distribuição térmica e pluviométrica da região Sul do Brasil. O Rio Grande
do Sul sofre a ação de massas de ar quente e fria (Tropicais e Polares). São elas: (i) a Massa Tropical Atlântica, quente e

1031
úmida, dispersora de ventos quentes, formada no Oceano Atlântico em área tropical; (ii) a Massa Polar Atlântica, muito fria,
formada no sul da Argentina, sobre o oceano e (iii) a Massa Tropical Continental, quente e seca, formada sobre o Chaco. Esta
última possui atuação mais restrita, é um centro de baixa pressão (Britto et al. 2006).
Por estar situado no extremo sul do País, o Rio Grande do Sul é influenciado com maior intensidade pela massa de ar polar. No
inverno, a Massa Polar Atlântica avança no Estado de quadrante sul para nordeste (Figura II), possuindo três direções
principais: (i) a Ocidental, avançando pela depressão do Chaco até a Amazônia ocidental; (ii) a Central, com maior atuação no
Estado, que provoca quedas de temperatura e precipitação pluviométrica, seguido de ventos fortes de sul, sudoeste e oeste,
caracteristicamente secos e frios e; (iii) a Oriental, que desloca-se sobre o oceano, próxima ao litoral brasileiro (Britto et al.
2006).
A partir dos dados disponibilizados pelo INMET, analisando as normais climatológicas no estado do RS para o período de
1981-2010 observou-se que a precipitação média em todo o estado está em torno de 5827,5±312,7mm.

Dados utilizados e análises


Os satélites GRACE medem mudanças no campo gravitacional da Terra. Os dados obtidos pelo satélite, fornecidos como
conjuntos de coeficientes de harmônicos esféricos totalmente normalizados (também chamados de coeficientes de Stokes) do
potencial gravitacional da Terra. Os coeficientes harmônicos esféricos (SH) (para grau e ordem 60) são usados para calcular os
campos mensais de mudança de massa em uma grade de 1º x 1º. Esses valores mensais de massa são plotados para um
determinado local e seu valor médio é subtraído, resultando em anomalias positivas e negativas. A substância na Terra que tem
massa e se move ao redor é a água; portanto, a maioria das mudanças no campo gravitacional é atribuída a mudanças na água
(Lettenmaier et al. 2015).
Dessa forma, para analisar os produtos GRACE, a séries temporal TWS foi obtida para o período de abril de 2002 a janeiro de
2017 no Google Earth Engine (GEE). O produto utilizado foi o conjunto de dados GRACETellus (GRCTellus) Monthly Mass
Grids (dados mensais) produzido pelo laboratório JPL (NASA Jet Propulsion Laboratory). Os dados contidos no conjunto de
dados são unidades de "Espessura equivalente da água" (lwe_thickness_jpl) que representam os desvios de massa em termos
de extensão vertical da água em centímetros, ou seja, anomalias positivas ou negativas.
Como mencionado, os dados mensais do GRACE foram obtidos no GEE. A seguir, foi calculada a média mensal de todo
estado do Rio Grande do Sul com o objetivo de analisar as variações de massa da água no estado ao longo do tempo. No total,
178 meses foram analisados e não havia dados em 22 deles. A Figura 1b apresenta uma imagem do GRACE referente ao mês
de setembro de 2003, ilustrando como o produto é disponibilizado. Neste estudo, cada pixel na imagem inserido no estado do
RS foi somado e divido pelo número total de pixels para obtenção da média mensal de TWS no estado.
Além disso, para verificar a relação do TWS com a precipitação no estado do Rio Grande do Sul, foram utilizados dados da
missão Global Precipitation Measurement (GPM). Os dados do GPM também estão disponíveis no GEE, que foi usado para
extrair os dados do produto “precipitaçãoCal” (estimativa de precipitação por satélite múltiplo com calibração do medidor -
recomendado para uso geral). Os dados GPM estão disponíveis a cada 30 min em mm/h, dessa forma, para permitir a
comparação com os dados do GRACE foi calculada uma média mensal para a região estudada e os dados transformados para
mm.
Para realizar a comparação das variações temporais do TWS derivados do GRACE e dados de precipitação do GPM no Rio
Grande do Sul, além de comparação visual simples (Awange et al. 2009), a variabilidade temporal do TWS e da precipitação
derivadas do GRACE e do GPM, respectivamente, foi usado uma análise de regressão linear, correlacionando os parâmetros
utilizando o coeficiente de correlação de Pearson (R) a fim de verificar se a correlação entre eles é significativa (p<0,05). Isso
fornece informações sobre a extensão em que a precipitação pode ser usada para detectar e monitorar as mudanças no
armazenamento de água terrestre através de observações das mudanças gravitacionais da Terra (Rieser et al. 2010).

1032
Figura 1 – a) Localização da área de estudo – Rio Grande do Sul; b) Imagem de TWS do GRACE do mês de setembro
de 2003.

Resultados e Discussão
A Figura 2 apresenta a média dos resultados mensais de dados de TWS do GRADE e de precipitação do GPM extraídos para a
região do estado do Rio Grande do Sul.

Figura 2 – GRACE Monthly Mass Grids em espessura equivalente de água e precipitação derivada do satélite GPM no
estado do Rio Grande do Sul de abril de 2002 a janeiro de 2017.

Analisando a Figura 2, pode-se observar uma variação considerável do TWS ao longo do tempo no Estado do Rio Grande do
Sul, com valores variando de -7,92 a 13,77. Estes valores, conforme mencionado, referem-se a anomalias na quantidade de
água armazenada, ou seja, tomando-se como referência a média geral do período em que há medições do satélite, calcula-se a
variação da água armazenada no local em cada medição, que é o dado fornecido ao usuário. Pode-se observar também que a
precipitação e o TWS têm, no geral, um comportamento semelhante: quando a precipitação era alta, o armazenamento de água
estava acima da média (como está explícito em nov/2009, quando a precipitação atingiu seu valor máximo das séries
temporais, 911,63 mm). Na primavera (de setembro a dezembro), o Rio Grande do Sul é regularmente invadido por ventos do
noroeste e sudoeste, com frequentes formações de complexos convectivos de mesoescala (CCMs), responsáveis por uma

1033
parcela significativa da chuva da primavera no estado (Britto et al. 2006). Becker et al. (2010) estudaram o comportamento
hidrológico da região dos grandes lagos da África Oriental inferido a partir de GRACE, altimetria por satélite e observações de
chuva, demonstrando também que o armazenamento de água terrestre (TWS) do GRACE e a precipitação exibiam um modo
comum de variabilidade em escala de tempo interanual.
Outro episódio que fica muito explícito na Figura 2 é a seca de 2012, quando 337 municípios do Rio Grande do Sul declararam
uma situação de emergência (Chielle et al. 2013) devido à baixa precipitação. Nesse sentido, os produtos GRACE também
podem ser usados para monitorar impactos climáticos e detectar secas severas, como estudo por Leblanc et al. 2009, que
utilizou dados da missão na bacia Murray-Darling, no sul da Austrália para detectar secas severas na região. No ano de 2012, a
precipitação média calculada pelo GPM para todo o estado foi de 3101,6mm, muito abaixo da normal climatológica do estado
(5827,5±312,7mm). Nesse mesmo ano, o satélite GRACE registrou somente anomalias negativas na TWS, demonstrando que
houve uma diminuição no armazenamento de água no estado.
Wang et al. (2014) utilizaram o GRACE para realizar uma análise da seca na bacia do Rio Haine, mostrando que o TWS
derivado do GRACE foi adequado para detectar secas prolongadas e severas na bacia, pois conseguiu representar a perda de
água profunda do solo e de água subterrânea.
A tabela 1 apresenta o resultado da análise de correlação linear utilizando o coeficiente de correlação de Pearson (R), realizado
a fim de verificar o nível de relação entre o TWS e a precipitação.

Tabela 38- Análise de correlação de Pearson (R) entre os dados de TWS e Precipitação

TWS (GRACE)
Correlação de Pearson ,451**
Precipitação Sig. (2 extremidades)
.000
(GPM)
N 154
**. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).

Como pode-se observar a partir da tabela 1, a correlação entre os dados de TWS do GRACE e os dados de precipitação do
GPM foi significativa com um R de 0,451, demonstrando que existe uma relação positiva média entre os conjuntos de dados.
Essa correlação pode ser considerada boa nesse tipo de análise, pois é uma grande área que está sendo avaliada. Swenson
(2010), avaliando a precipitação no período do inverno em altas latitudes, utilizando também análises globais de precipitação e
o GRACE encontrou que, em geral, padrões espaciais e variabilidade interanual são altamente correlacionados entre os
conjuntos de dados, embora o autor tenha observado diferenças significativas, variando de acordo com a região. O autor
concluiu que essas comparações podem ser úteis para avaliar estimativas de precipitação em grandes regiões, onde a rede
pluviométrica in situ tende a ser mais escassa. Khandu et al. (2016), explorando a influência dos extremos de precipitação e do
uso de água nas alterações do armazenamento total de água (TWS) na bacia do rio Ganges-Brahmaputra-Meghna (GBM),
encontrou correlações entre precipitação e o TWS derivado do GRACE altas (> 0,6) e significativas (com nível de confiança
de 95%) sobre a maioria da bacia do rio GBM, com um intervalo de tempo de 1 a 2 meses.
Chen et al. 2010 examinaram a mudança do TWS na bacia amazônica de 2002 a 2009 e demonstraram que as medições do
GRACE são consistentes com os dados de precipitação, evidenciando que as mudanças do TWS na bacia amazônica estão
claramente conectadas aos eventos El Niño e La Niña. Rieser et al. (2010) analisaram a relação entre as variações de massa
superficial derivadas do GRACE e a precipitação na Austrália, e o estudo revelou uma relação direta entre os conjuntos de
dados na maior parte da Austrália, conforme confirmado por comparação visual e análise de correlação.

Considerações Finais
A partir de dados de sensoriamento remoto, utilizado dados dos satélites GRACE e GPM, foram avaliados os dados de
armazenamento de água terrestre e de precipitação em todo o estado do Rio Grande do Sul. Uma análise visual permitiu
observar que os dados possuem no geral um comportamento semelhante ao longo do tempo e, a partir de uma análise
estatística, foi possível verificar que existe uma relação positiva entre as duas variáveis. Este trabalho demonstra como dados
de satélite podem ser utilizados para fornecer informações integradas sobre alterações no armazenamento de água, não
disponíveis nas medições in situ, e também da precipitação, quando também não existirem dados de campo. Esta análise inicial
destes dois conjuntos de dados permitiu avaliar o potencial de estudos desta temática, sugerindo-se para estudos futuros
análises mais locais, dividindo o estado em regiões de comportamento hidrológicos semelhantes, além de utilizar dados
medidos em campo para comparação com os dados do satélite.

1034
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1036
5SSS243
UMA EXPERIÊNCIA DE COMPOSTAGEM ACELERADA NO IFRS –
CAMPUS FELIZ
Franciele Saling Vieira1,a, Suyanne Angie Lunelli Bachmann1,b, Matheus Felipe Pedrotti1,c, Cristiane Inês
Musa1,d
1Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Campus Feliz, e-mail: afransalingv@gmail.com;
b
suyanne.bachmann@feliz.ifrs.edu.br; cmatheus.pedrotti@feliz.ifrs.edu.br; dcristiane.musa@feliz.ifrs.edu.br.

Palavras-chave: Resíduos Orgânicos; Compostagem; Sustentabilidade.

Resumo
Os resíduos sólidos urbanos são divididos em três categorias: rejeitos, resíduos recicláveis e resíduos orgânicos. Os resíduos
orgânicos são materiais de origem animal e vegetal que têm capacidade de biodegradação, e esta característica faz com que
esse material tenha elevado potencial para realização da compostagem. A compostagem é um processo de degradação da
matéria orgânica, aeróbio e exotérmico, que resulta em um produto chamado composto. Esta forma de destinação dos resíduos
faz com que eles sejam tratados diretamente na fonte geradora, evitando a geração de impactos ambientais negativos. Neste
trabalho, teve-se por objetivo construir um protótipo de compostador rotatório de baixo custo para realização da compostagem
acelerada no IFRS – Campus Feliz. O compostador foi dimensionado de acordo com o volume de geração de resíduos semanal
do Campus, totalizando 144 L. Foi realizada uma abertura no tambor para carga e descarga dos resíduos, bem como furos em
sua superfície, de modo a permitir a aeração do processo. Ainda, foram adicionados defletores internos para melhor
homogeneização do material. A rotação foi desempenhada manualmente. Após a construção do protótipo, foram realizados
testes preliminares para verificar o caracterização dos resíduos. Nestes testes, percebeu-se que o material produzido não obteve
resultados semelhantes a um composto maturado. Dessa maneira, optou-se por realizar o processo da compostagem com três
tipos de materiais diferentes: folhas secas, poda de grama e serragem. Devido às dificuldades para caracterização do material
produzido, as análises ficaram restritas a análises visuais da degradação, coloração e homogeneidade, de redução da massa do
material produzido após sete dias e de monitoramento da temperatura durante o processo. De acordo com os resultados
obtidos, percebeu-se que o modelo de compostagem adotado não foi eficiente. Acredita-se que o processo da compostagem
poderia ter obtido melhores resultados se tivessem sido realizadas alterações, tais como, na estrutura do protótipo e no tempo
de degradação, trituração prévia do resíduo, adição de inóculos e na realização de testes mais avançados para caracterização do
material produzido, avaliando, por exemplo, o pH, umidade e carbono total.

Introdução
Resíduo sólido é qualquer material, substância, objeto ou bem que é descartado pela sociedade e que necessite de tecnologia
e/ou recursos financeiros para tratá-lo de maneira ambientalmente correta (BRASIL, 2010). Esse resíduo deve ser classificado
de três maneiras gerais: rejeito, resíduo reciclável e resíduo orgânico (BRASIL, 2017).
Rejeitos são materiais que não possuem tratamento ou recuperação de uso por processos tecnológicos atuais e economicamente
viáveis (BRASIL, 2010). De acordo com Brasil (2017), resíduos recicláveis compreendem os resíduos como papel, revistas,
jornais, garrafas de polietileno tereftalato, isopor, podendo passar por um processo de transformação para uma nova utilização
futura (ABNT, 1996). Tais materiais constituem fonte de renda de colaboradores de centros de triagem e, também, de
catadores, ganhando maior visibilidade no âmbito econômico da reciclagem (GALBIATI, 2012).
Com relação aos resíduos orgânicos, segundo ABNT (1996), são materiais de origem animal e vegetal com capacidade de
biodegradação. Como exemplos, têm-se as aparas de madeira, palha, folhas, restos de frutas, raízes, legumes, verduras, cascas
de ovo, dentre outros. Estes, ao serem dispostos de maneira inadequada em lixões e aterros controlados e sanitários,
contribuem com a produção de líquidos e gases poluidores ao meio ambiente (BRASIL, 2017).
A compostagem surge neste cenário para valorizar a matéria orgânica, transformando-a em um produto que pode ser utilizado
para adubação e fertilização do solo. Segundo ABNT (1996), compostagem é o processo de decomposição da fração
biodegradável dos resíduos.
O processo da de degradação dos resíduos ocorre em três fases: a mesófila, a termófila e a de maturação. Essas fases são
marcadas pela variação da temperatura. A primeira ocorre nos primeiros 15 dias e os microrganismos presentes suportam o
aumento da temperatura que chega até os 40ºC. A segunda fase se prolonga por dois meses, contendo fungos e bactérias
termofilas, que sobrevivem com a temperatura por volta de 65-70ºC (FETTI, 2013). A fase de maturação demora em torno de
dois a três meses, dependendo da temperatura do ambiente, do tipo de material utilizado e da evolução dos microrganismos e o
composto estará totalmente maturado quando não estiver mais quente e tiver aparência homogênea e escura (SCHWENGBER,

1037
SCHIEDECK, GONÇALVES, 2007).
A técnica de degradação dos resíduos através da compostagem pode ser executada de diversas formas. Neste estudo, destaca-se
a compostagem acelerada, que é realizada através da utilização de equipamentos mecânicos ou elétricos para acelerar o
processo biológico inicial (ABNT, 1996). Esta técnica de compostagem recebe este nome, pois a fase termófila é reduzida,
podendo variar de sete a 20 dias e o período de degradação dependerá das características dos resíduos dispostos no
compostador e do tipo de equipamento utilizado (PROSAB, 1996).
Diante do exposto, este trabalho teve por objetivo a construção de um protótipo de compostador rotatório com materiais de
baixo custo para tratar in loco os resíduos orgânicos gerados no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Sul (IFRS) – Campus Feliz por meio da compostagem acelerada. Segundo Carvalho (2005), o tratamento dos
resíduos diretamente na fonte geradora, não só é uma solução viável e necessária ambientalmente, como também evita as
emissões atmosféricas do processo de transporte, diminuindo o volume de resíduos que é encaminhado para aterros sanitários.

Materiais e Métodos
A metodologia consistiu em três etapas: quantificação e classificação dos resíduos, desenvolvimento do protótipo e
caracterização do material produzido.

Quantificação e classificação dos resíduos


A quantificação, foi realizada de segunda a sexta, durante 26 dias, no período de 26 de outubro a 30 de novembro de 2017 e de
6 de setembro a 11 de outubro de 2018. O primeiro período de pesagem foi importante para calcular o dimensionamento
adequado para a construção do protótipo, sendo que a pesagem realizada em 2018 refere-se ao período que o compostador foi
posto em operação.
Os resíduos orgânicos, antes de serem colocados no compostador, foram classificados em três grupos: frutas inteiras (A),
cascas de frutas (B) e borra e filtro de café e erva de chimarrão (C). Eventuais restos de alimentos foram incluídos no terceiro
grupo. A separação dos resíduos em três categorias foi necessária para identificar a diferença entre os tipos de resíduos
orgânicos produzidos no Campus de uma semana para a outra, podendo afetar no desenvolvimento do processo. Os resíduos
não foram triturados antes de serem carregados no compostador.

Desenvolvimento do protótipo
O primeiro passo para o desenvolvimento do protótipo foi realizar o dimensionamento do compostador. Para tanto, tomou-se
como base o horário de funcionamento do IFRS - Campus Feliz, os dados da pesagem, e o tempo médio da fase termófila da
compostagem acelerada (PROSAB, 1996). O dimensionamento do compostador foi determinado utilizando valores expressos
na literatura com relação ao peso específico do resíduo orgânico fresco. De acordo com Monteiro et al. (2001), este valor é de
230 kg/m³. A quantidade de resíduo, em quilos, gerado em uma semana (QR) e a capacidade, em litros, do compostador (CC)
foram obtidas pelas equações (1) e (2), respectivamente:

(1)

(2)

Conforme demonstrado anteriormente, a capacidade do compostador seria de aproximadamente 72 L, o que seria equivalente a
cerca de 16,5 kg de resíduo. No entanto, devido ao processo da compostagem ser aeróbico, foi previsto um volume de espaço
vazio de modo a facilitar a circulação de ar. Não foi encontrado um valor de referência na literatura no que diz respeito ao
volume necessário para aeração, portanto, adotou-se um volume igual ao ocupado pelo resíduo, ou seja, aproximadamente 72
L. Desta forma, o volume total do compostador (volume de resíduos mais volume de vazio) foi de 144 L.
A construção do compostador objetivava a utilização de materiais de baixo custo, portanto foi utilizado um tambor de 200 L,
que foi doado pela empresa DNK Automotive, localizada no Distrito Industrial do município de São Sebastião do Caí, Rio
Grande do Sul.
Para promover a alimentação e descarga do resíduo no compostador, foi realizada uma abertura com dimensões de 20 cm x 30
cm em uma parte da parede do tambor, por onde os resíduos eram adicionados e também para possibilitar a limpeza (Figura 1
(a)). Também foram realizadas perfurações em toda a extensão do tambor para que a aeração do processo da compostagem
fosse facilitada, porém não foi encontrado na literatura a quantidade ideal de furos. Portanto, baseou-se na forma empírica
proposta por Carvalho (2015). Dessa maneira, foram realizados 90 furos no corpo do tambor e 32 em cada lateral (Figura 1
(b)). Também, foram adicionados defletores internos (Figura 1 (c)), com o propósito de auxiliar na homogeneização do
material (WOJAHN, 2016).

1038
Figura 1: (a) abertura do para alimentação e descarga do resíduo; (b) furos para aeração; (c) defletores internos

A rotação do compostador foi realizada diariamente e manualmente. Para tanto, o mesmo foi apoiado em um suporte de
madeira, e a rotação foi realizada com o auxílio de quatro rodas instaladas uma em cada canto do topo do suporte, não havendo
a necessidade da utilização de alavancas.
O compostador foi operado em regime intermitente (batelada). Ou seja, era carregado na sexta-feira de uma semana e
descarregado na sexta-feira da semana seguinte. Após os sete dias, o material produzido era maturado diretamente sobre o solo,
em espaços de terra previamente preparados e disponibilizados pelo IFRS – Campus Feliz. Foi adotado este período para o
processo da compostagem devido ao volume de resíduos gerado no IFRS – Campus Feliz, sendo que todo o montante era
encaminhado para o compostador e não seria possível realizar o processo por mais tempo.

Caracterização do material produzido


A caracterização do material produzido foi realizada a partir de testes com três materiais secos distintos: folha seca, poda de
grama e serragem, de modo a verificar com qual destes haveria a produção de um material mais adequado em comparação a
um composto maturado. Estes materiais secos foram selecionados pela facilidade de obtenção e por serem usualmente
utilizados no processo da compostagem.
Também, foram realizadas observações qualitativas de aspecto e coloração. Essas observações foram possíveis por meio de
registros fotográficos do processo. Além disso, foram realizadas análises quantitativas, com relação a temperatura e a redução
de massa. Para a medição da temperatura, utilizou-se um termômetro de mercúrio. É importante ressaltar esse procedimento
não foi realizado durante dois dias do processo, o 2º e 3º dia, devido ao horário de funcionamento do IFRS – Campus Feliz.
Além disso, o compostador não possuía nenhum tipo de isolamento térmico. Para a pesagem do resíduo orgânico e do material
seco utilizados no início do processo, bem como do material ao final dos sete dias, utilizou-se uma balança G-Tech Modelo
GLASS 10. Com esses dados, foi possível obter o percentual de redução de massa dos resíduos em comparação à massa no
início do processo. Por fim, todas as análises citadas anteriormente foram realizadas visando verificar se o composto produzido
estava sendo degradado e efetivamente entrando na fase de maturação, de acordo com o processo da compostagem acelerada.

Resultados e Discussão
A quantidade média de resíduos gerados no período avaliado em 2017 foi de 16,5 kg semanais. Porém, durante o período de
funcionamento do protótipo, que ocorreu de 6 de setembro a 11 de outubro de 2018, observou-se um aumento na quantidade de
resíduos do Campus, sendo que a geração de resíduos passou para uma média de 27,2 kg semanais. Acredita-se que o aumento
médio de aproximadamente 89% na geração dos resíduos ocorreu pelo fato dos itens disponibilizados na merenda escolar
terem sido modificados e a quantidade de alunos consumidores de merenda ter aumentado. Portanto, devido a esse aumento, o
compostador teria de ser redimensionado de acordo com a nova demanda. Realizando-se o mesmo cálculo proposto
anteriormente na metodologia (equações (1) e (2)), obteve-se um volume de aproximadamente 236 L. Com isso, o tambor que
foi utilizado para o processo não seria o adequado, pois iria exceder a sua capacidade. Assim, seria necessária a substituição
por outro de maior capacidade, ou ainda, a instalação de um compostador rotatório em paralelo para que todos os resíduos do
Campus fossem decompostos utilizando esta técnica de compostagem.
Dessa forma, é importante destacar que a quantidade de resíduos que foram utilizados no protótipo construído durante este
estudo foi menor que o total de resíduos gerados semanalmente, sendo que a quantidade utilizada foi próxima à quantidade
previamente estabelecida, visto que a aeração poderia ser afetada e o compostador ficaria muito pesado, inviabilizando a
rotação manual. A quantidade de resíduo excedente era compostada diretamente no solo.
De modo a verificar a diferença que o resíduo teria de uma semana para a outra e, também, facilitar a análise da
homogeneidade do material produzido, antes dos resíduos serem carregados no compostador, estes foram divididos em três

1039
classes: frutas inteiras (A), cascas de frutas (B) e borra e filtro de café e erva de chimarrão (C). A Tabela 1 mostra a quantidade
de resíduos em cada classe.

Classes (Kg)
A B C
Folha seca 2,5 2,5 4,6
Poda de grama 2,3 6,2 11,1
Serragem Quantidade muito
pequena (não foi 11,4 5,8
possível mensurar)
Tabela 1: Quantidade de resíduos por classe.

Por meio dos resultados mostrados na Tabela 1, evidenciou-se que, por não ter sido adotado uma composição fixa com relação
à quantidade de resíduos de cada classe, o resultado final dos materiais produzidos, após os sete dias de processo, pode ter sido
influenciado. Dessa forma, sugere-se que em estudos futuros seja aplicado uma composição fixa com relação à quantidade de
cada resíduo.
Com relação aos materiais secos testados, o material produzido no teste com folhas secas não foi homogêneo e os resíduos não
foram completamente degradados. Isso pode ter ocorrido devido ao tempo do processo, no caso, sete dias, não ter sido o
suficiente, pois, conforme Wojahn (2016), para que o processo da compostagem acelerada produzisse um composto totalmente
maturado seriam necessários 60 dias. Com isso, observou-se que o processo não poderia ser realizado em sete dias sem que
houvesse a instalação de um compostador em paralelo devido ao montante de resíduos gerados no Campus. No processo com
poda de grama, os resíduos foram degradados mais uniformemente, no entanto, evidenciou-se que houve uma compactação do
material, o que pode ter ocorrido em decorrência da umidade elevada ou aeração inadequada. De acordo com Prosab (1996) a
compostagem é um processo predominantemente aeróbio e, portanto, necessita de oxigênio para ocorrer, daí a necessidade do
revolvimento. Adicionalmente, essa movimentação também permite que o excesso de umidade seja controlado. A água é
essencial, porém, quando em excesso, ela ocupa o lugar do oxigênio nos espaços vazios da terra, causando zonas de
anaerobiose. É importante ressaltar que, uma análise quantitativa de umidade não foi possível devido a heterogeneidade da
amostra, no entanto, entende-se a importância de viabilizar de alguma forma esta análise no futuro. Por fim, no processo
realizado com a serragem, o material obtido foi mais uniforme, podendo ser devido a quantidade de cascas de frutas ter sido
maior (Tabela 1), sendo que, com esse tipo de resíduo orgânico, a forma como a compostagem é realizada é mais homogênea
devido as características desse material. Porém, também houve compactação dos resíduos, podendo ser explicado devido a
relação ideal de serragem e resíduo ter sido ultrapassada, comprometendo a aeração do processo.
É importante ressaltar que os materiais produzidos com folha seca e poda de grama continham frutas inteiras, o que certamente
dificultou a degradação realizada pelos microrganismos, tornando o processo mais lento e o material menos homogêneo no
final (KIEHL, 2012). Além do mais, para a poda de grama, a quantidade de borra e filtro de café e erva de chimarrão foi maior
(Tabela 1), podendo ter influenciado na coloração e na umidade do material.
Com a intenção de verificar a redução da massa do material produzido, foi realizada a análise gravimétrica do material tanto ao
ser carregado no compostador quanto ao ser descarregado. A Tabela 2 mostra a variação gravimétrica e o percentual de
redução obtido.

Massa inicial (Kg) Percentual


Massa
Resíduo Material de redução
Total final (Kg)
orgânico seco de massa
Folha seca 9,6 1,8 11,4 9,2 19 %
Poda de grama 19,6 2,7 22,3 19,3 13 %
Serragem 16,2 7,9 24,1 23,2 3%
Tabela 2: Variação gravimétrica dos materiais produzidos durante a compostagem acelerada.

De acordo com a Tabela 2, nota-se que o material produzido com folha seca obteve o melhor percentual de redução da massa
quando comparado com os demais materiais. Acredita-se que isso pode ter ocorrido devido a quantidade de resíduos utilizados
ter sido menor, facilitando a aeração do processo, fator essencial para o desenvolvimento dos microrganismos (KIEHL, 2012).
Para a poda de grama, o percentual de redução da massa não obteve o melhor resultado quando em comparação com os outros.
A redução pode ter sido afetada, pois neste processo, a quantidade de resíduos orgânicos era maior que os demais, dificultando
aeração do material (KIEHL, 2012).
Com relação ao material produzido com serragem, a redução de massa foi menor quando comparada com os demais. Esta
dificuldade pode ser explicada devido a quantidade de serragem que foi utilizada. Segundo Maragno, Trombin e Viana (2007),
a relação ideal de resíduo orgânico e serragem para a compostagem seria de 6:1, porém, neste trabalho, a relação foi em torno

1040
de 6:3.
De acordo com Souza et al. (2001), as perdas no volume do composto ocorrem devido ao processo que os microrganismos
realizam, através do desprendimento de gás carbônico, energia e água (na forma de vapor). Segundo Pimenta et al. (2016), a
redução de massa do composto maturado é em torno de 60% em um período de 49 dias. Dessa forma, a realização da análise
de redução de massa não foi conclusiva, pois além do processo ter sido realizado somente em sete dias, não atingindo a fase de
maturação, a proporção das quantidades de resíduo e material seco foram diferentes, influenciando no resultado final.
A fim de verificar a homogeneidade e a coloração, após sete dias foram realizadas análises visuais. O Quadro 1 ilustra as
modificações ocorridas com os resíduos em relação aos parâmetros mencionados no carregamento e descarregamento do
compostador, após os sete dias do processo.

Folhas secas Poda de grama Serragem

Resíduo sólido com material


seco após alimentação do
compostador

Material após
descarregamento do
compostador

Quadro 1: Análise visual dos materiais produzidos

De acordo com o Quadro 1, é evidenciado que o material produzido com folhas secas não foi o mais homogêneo em
comparação com os demais, pois não se realizou a mistura de forma adequada, devido a sua granulometria ser maior. Porém,
sofreu uma variação com relação a tonalidade do material, podendo ser em virtude da umidade dos resíduos.
O material produzido após os sete dias com poda de grama obteve a coloração mais escura em relação aos demais.
Aparentemente, a umidade do material e dos resíduos, que em sua maioria era composto por erva-mate e borra de café, pode
ter contribuído para que ele adquirisse tal coloração, assim como, a granulometria do mesmo favoreceu com que a mistura dos
materiais fosse mais homogênea, proporcionando maior contato com os resíduos.
O material produzido com serragem não apresentou uma coloração escura e homogênea em relação aos demais, pois
constituía-se num material muito fino, que por vezes, ficava acumulado nas paredes do compostador, não obtendo contato com
todos os resíduos. Por este mesmo motivo, o material não foi o mais homogêneo. Contudo, foi o que melhor realizou a
degradação dos resíduos. Este fato também pode ser explicado, pois, neste processo, não houve frutas inteiras, facilitando a
degradação pelos microrganismos (OLIVEIRA; SARTORI; GARCEZ, 2008).
A fim de acompanhar a variação da temperatura do sistema ao longo dos sete dias, realizou-se o monitoramento da
temperatura, cujos resultados são mostrados na Figura 2.

1041
Figura 2: Variação da temperatura dos três materiais produzidos.

Evidencia-se por meio da Figura 2, que o material produzido com folhas secas demorou mais tempo para atingir um patamar,
alcançando um valor máximo de temperatura igual a 35°C. Este fato pode ser explicado devido a granulometria das folhas
secas ser maior, visto que elas não proporcionam superfície de contato adequada com os resíduos (OLIVEIRA; SARTORI;
GARCEZ, 2008). Além disso, neste processo, a quantidade de material utilizada foi menor que a calculada inicialmente,
fazendo com que ocorressem ainda mais perda de calor para o ambiente.
No processo com utilização de poda de grama, a temperatura no quarto dia de compostagem teve uma queda inesperada,
fazendo com que o material atingisse sua temperatura máxima somente no sexto dia do processo. Acredita-se que esta queda
pode ser explicada devido às condições climáticas, uma vez que houve precipitação e temperaturas mais baixas no início da
decomposição, dificultando a manutenção da temperatura pelo próprio sistema. Adicionalmente, a poda de grama é um
material rico em nitrogênio e que possui mais água na sua composição, tornando o meio mais úmido, o que também pode ter
dificultado o aumento da temperatura. Cabe ressaltar que a utilização de folhas verdes no processo diminui a relação carbono e
nitrogênio, afetando o desenvolvimento do processo (BRASIL, 2017). Por fim, avaliando a amplitude térmica do material
produzido com serragem, percebe-se que o processo atingiu um patamar no quarto dia de compostagem, sendo o melhor
resultado quando comparado com os outros materiais. Isso pode ser explicado devido à composição química da serragem, pois
a mesma é rica em celulose (KRIEGER, 2005). Esse fato pode ter contribuído positivamente com o equilíbrio da relação
carbono e nitrogênio.
A temperatura durante o processo da compostagem possui uma curva típica de variação, onde no começo da degradação, a
temperatura é mais elevada e tende a diminuir após a degradação de todos os resíduos. Comparando os resultados obtidos na
Figura 2, observa-se que o material produzido com serragem obteve o melhor resultado. Além disso, percebe-se que os valores
máximos de temperatura atingidos foram da ordem de 30-35°C. No entanto, a literatura traz valores da ordem de 50-55°C para
a fase mesófila (KIEHL, 2012), logo diante dos patamares de temperaturas obtidos neste estudo, acredita-se que o composto
muito provavelmente não adentrou na fase termófila para nenhum dos casos estudados.
De acordo com os resultados obtidos, os materiais produzidos não atingiram temperaturas elevadas suficientes para a
degradação. Segundo Wojahn (2016), a adição de um inóculo no início do processo poderia aumentar a eficiência de
degradação dos microrganismos. Ademais, a trituração prévia dos resíduos poderia ter facilitado o aumento da temperatura,
visto que os microrganismos realizam o processo com mais facilidade quando o material possui uma granulometria menor,
pois dessa forma a partícula pode ser digerida mais facilmente (KIEHL, 2012).
Cabe salientar que a não utilização tanto de inóculo quanto de um triturador, ou ainda, de isolamento térmico, se deve ao fato
que a proposta do trabalho era realizar a compostagem somente com a utilização de materiais de baixo custo e que fossem
acessíveis de aplicação em uma residência, pois o inóculo é um componente de difícil obtenção e o triturador necessitaria de
investimento.

Considerações finais
O presente estudo permitiu a análise da quantidade de resíduos orgânicos gerados no IFRS - Campus Feliz, além de possibilitar
a construção e funcionamento de um protótipo de compostador rotatório, realizando a compostagem acelerada como forma de
manejo dos resíduos sólidos orgânicos diretamente na fonte geradora.
Segundo os resultados dos testes qualitativos, os materiais produzidos com folhas secas e poda de grama tiveram a coloração

1042
mais escura quando em comparação com a serragem. Porém, quando analisado a homogeneidade do material, o que foi
produzido com serragem teve o melhor resultado. Com relação à redução da massa, o material produzido com folhas secas
obteve o melhor resultado (19%) quando em comparação com os demais. Todavia, conforme Pimenta et al. (2016), o
percentual adequado seria em torno de 60% em um período de 49 dias.
O material produzido com serragem obteve a melhor curva de variação da temperatura quando em comparação com o estudo
desenvolvido por Kiehl (2012). No que se refere à temperatura, esta não atingiu valores de mesma ordem que foi encontrado
na literatura para a fase termófila. Desta forma, não há como afirmar se o material resultante da compostagem teve
efetivamente uma fase termófila.
Por fim, pode-se dizer que os resultados obtidos foram inconclusivos, de forma que o material não ficou um período propício
no compostador e as proporções de resíduo orgânico e material seco não foram padronizadas. Assim sendo, destaca-se que as
técnicas utilizadas na compostagem não foram adequadas da maneira que foram realizadas. Acredita-se que modificações na
estrutura do protótipo, nas condições ambientais, no tempo de compostagem e na realização de um monitoramento quantitativo
da degradação dos resíduos, poderiam melhorar as condições de operação a fim de obter melhores resultados com relação ao
material produzido no final. Desta forma, os apontamentos supracitados serão melhor avaliados nos estudos futuros
relacionados a este trabalho.

Agradecimentos
As autoras gostariam de agradecer ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus
Feliz pelo apoio recebido.

Referências Bibliográficas

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BRASIL. 2010. Lei Nº 12.305. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Brasília - DF.

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do Meio Ambiente. Brasília - DF.

CARVALHO, C. 2015. Compostagem de resíduos verdes e orgânicos alimentares. Rio de Janeiro

FETTI, G. 2013. Evolução da matéria orgânica durante o processo de compostagem. São José do Rio Preto

GALBIATI, A. 2012. O Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos e a Reciclagem. Mato Grosso do Sul.

KIEHL, E. 2012. Manual de Compostagem: Maturação e qualidade do composto. Piracicaba.

KRIEGER, K. I. 2005. Informações sobre compostagem. Disponível em:


<http://www.soloplan.agrarias.ufpr.br/compostagem.htm>. Acesso em: 02 out. 2019.

MARAGNO, E.; TROMBIN, D..; VIANA, E. 2007. O uso da serragem no processo de minicompostagem. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-41522007000400001. Acesso em: 02 out. 2019.

MONTEIRO, J. et al. 2001. Manual de Gerenciamento Integrado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro.

OLIVEIRA, E.; SARTORI, R.; GARCEZ, T. 2008. Compostagem. Piracicaba.

PIMENTA, A. et al.; 2016. Temperatura e Redução de Massa e Volume em Processo de Compostagem de Resíduos Orgânicos
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SCHWENGBER, J.; SCHIEDECK, G; GONÇALVES, M. 2007. Compostagem laminar: uma alternativa para o manejo de
resíduos orgânicos (Comunicado técnico: 169). Pelotas.

SOUZA, F. et al. 2001. Compostagem (Comunicado técnico: 50). Rio de Janeiro.


WOJAHN, G. T. 2016. Proposta de um modelo de compostagem coletiva para um condomínio residencial em Lajeado – Rs.
Lajeado.

1043
5SSS244
CRESCIMENTO DE MUDAS ORGÂNICAS DE MORANGUEIRO
COM O USO DE SUBSTRATOS ALTERNATIVOS
Marina Costa Alves1, Ester Schiavon Matoso2, Anita Ribas Avancini3, Roberta Marins Nogueira Peil4.
1Universidade Federal de Pelotas, e-mail: mari.bio.alves@gmail.com; 2 Universidade Federal de Pelotas, e-mail:
ester-schiavon@hotmail.com; 3 Universidade Federal de Pelotas, e-mail: anita.avancini@hotmail.com; 4
Universidade Federal de Pelotas, rmpell@ufpel.edu.br

Palavras-chave: Fragaria x ananassa Duch, húmus, composto orgânico, palha.

Resumo
Dentre os principais insumos no sistema de produção de morangueiro, a muda é um dos mais importantes, pois está
diretamente relacionada à qualidade e produtividade da cultura. Atualmente, a produtividade das mudas nacionais do
morangueiro é limitada pela falta de cultivares adaptadas às condições de clima e solo, principalmente, por apresentarem, de
maneira geral, baixa qualidade fitossanitária, obrigando os produtores a importarem mudas do Chile e da Argentina. Na
produção de mudas, o substrato assume um papel fundamental, sendo o substrato considerado ideal para culturas hortícolas,
aquele que possuir uma elevada capacidade de retenção de água, fácil drenagem, boa aeração e estabilidade química. O
substrato obtido a partir do processo de compostagem pode exercer a função do solo, fornecendo à planta sustentação e outras
características desejáveis, além de tornar o sistema de cultivo mais sustentável. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi
avaliar o efeito de diferentes substratos orgânicos, empregando materiais alternativos para a sua composição, no enraizamento,
crescimento e incremento de massa seca de mudas de morangueiro oriundas de propágulos obtidos a partir de matrizes
suspensas. O experimento foi conduzido em estufa de cultivo modelo “arco” revestida com filme de polietileno, localizada na
Embrapa Clima Temperado, no município de Pelotas. As cultivares utilizadas foram ‘Aromas’, com resposta fotoperíódica de
dias neutros, e ‘Camarosa’, de dias curtos e os substratos utilizados foram formulados a partir de resíduo de húmus de
vermicompostagem, composto comercial S10 e a palha oriunda de capim elefante (Pennisetum purpureum). As mudas foram
avaliadas quanto à estatura da parte aérea, comprimento de raiz, massa fresca de folhas e raiz. Os dados foram analisados
quanto à normalidade pelo teste de Shapiro Wilk; à homocedasticidade pelo teste de Hartley; e, à independência dos resíduos,
por análise gráfica. Posteriormente, os dados foram submetidos à análise de variância através do teste F (p≤0,05). Constatando-
se diferenças com significância estatística, os efeitos dos substratos foram comparados pelo teste de Waller-Duncan (p≤0,05); e
da cultivar pelo teste t (p≤0,05). Os substratos à base de resíduo de húmus se mostraram superiores ou tão eficientes quanto o
composto orgânico já comercializado, S10 ®, com exceção do comprimento de raiz da cultivar Camarosa, que foi superior nos
substratos contendo composto e na presença de palha junto ao resíduo de húmus. Na comparação das cultivares, ‘Aromas’
diferiu de ‘Camarosa’ em relação à: estatura da parte aérea com o emprego de composto e composto + palha; MFF, apenas na
presença de composto; e MFR, na mistura C+P. Enquanto que na avaliação de massa seca, a ‘Camarosa’ apresentou maior
MSF nos substratos contendo palha. Já, quanto à MSR, os maiores valores foram apresentados pela ‘Aromas’, em todos os
substratos, com exceção do C+P, em que não houve diferença entre as cultivares. Portanto, pode-se concluir que o substrato à
base de resíduo de húmus oriundo de vermicompostagem possui características que propiciam o crescimento de mudas de
morangueiro adequado e semelhante aos obtidos com os substratos contendo o composto comercial S10®, podendo ser
indicado para a produção de mudas orgânicas das cultivares de morangueiro Aromas e Camarosa.

Introdução

A cultura do morangueiro (Fragaria x ananassa) é produzida em diversas regiões do mundo, chegando a uma
produção mundial de 8,1 milhões de toneladas, em uma superfície de 373,4 mil hectares (FAO, 2017). A produtividade média
no Brasil é de aproximadamente 30 t ha-¹, ocorrendo diferenças acentuadas entre regiões, dependendo do sistema de cultivo
adotado, do local e do nível tecnológico (ANTUNES et al., 2015). O cultivo do morangueiro no Brasil é uma atividade em
expansão, o que se deve ao grande retorno econômico gerado pela cultura (SILVEIRA & GUIMARÃES, 2014). No Rio
Grande do Sul, as principais regiões produtoras são: Campos de Cima da Serra, Serra e Sul do estado, na qual, encontram-se os
municípios de Pelotas, Turuçu, São Lourenço, Canguçu e Santa Vitória do Palmar (ANTUNES; PERES, 2013). Segundo
Antunes; Reisser Júnior (2007), o município de Pelotas tem grande destaque na produção e no processamento de morango na
região Sul do RS.

1044
Dentre os principais insumos no sistema de produção de morangos, a muda é um dos mais importantes, pois está
diretamente relacionada à qualidade e produtividade da cultura. Atualmente, a produtividade das mudas nacionais do
morangueiro é limitada pela falta de cultivares adaptadas às condições de clima e solo, principalmente, por apresentarem, de
maneira geral, baixa qualidade fitossanitária, obrigando os produtores a importarem mudas do Chile e da Argentina
(OLIVEIRA; SCIVITTARO; ROCHA, 2011).
Nos estados da região sudeste do Brasil, a produção de morango é baseada em lavouras estabelecidas a partir de
mudas frescas de raízes nuas, obtidas de pontas de estolões enraizadas diretamente no solo do viveiro e arrancadas na época da
comercialização, sendo este o sistema tradicional de propagação, o qual aumenta a exposição do material propagativo a
doenças de solo (MAAS, 2000; DAL PICIO et al., 2013). Para evitar a contaminação por agentes fitopatogênicos, alguns
países utilizam a fumigação do solo com brometo de metila. Esse gás, altamente tóxico, não é permitido no Brasil desde 2006.
Diante desta proibição, buscam-se novas alternativas de sistema de produção de mudas que diminuam o risco de infecção por
patógenos de solo.
Adicionalmente, com base na Instrução Normativa Brasileira Nº 17 de 18 de Junho de 2014, art.100 que diz que “caso
constate a indisponibilidade de sementes e mudas oriundas de sistemas orgânicos, ou a inadequação das existentes, poderá ser
autorizada a utilização de outro material existente no mercado” (MAPA, 2014), até o momento a certificação é liberada aos
produtores orgânicos de morango que utilizam mudas importadas. Porém, diante do fato de que esta IN é uma liberação
temporária, e levando em conta as vantagens ambientais e financeiras da produção orgânica (CASTRO et.al., 2010), é
importante que se realizem estudos sobre a produção de mudas de morangueiro passíveis de ser empregadas em sistema
orgânico.
Como alternativa, apresenta-se o sistema de produção em substrato, que, embora recente, tem se mostrado promissor.
Além de ser empregado para a produção de frutas (PARANJPE et al., 2003; LIETEN et al., 2014; ADAK; GUBBUK, 2015;
EBRAHIMI et al., 2012; também pode ser adotado para a produção de mudas (COCCO et al., 2010; GIMÉNEZ et al., 2009;
LIETEN et al., 2004). Neste caso, habitualmente, as plantas matrizes são plantadas em vasos ou recipientes colocados acima
do solo (contendo substrato), onde emitirão estolões, os quais serão extraídos, segmentados em propágulos e colocados para
enraizar em bandejas, também contendo substrato. Esse método de propagação é conhecido como “plug plants” ou mudas com
torrão, e tem como finalidade evitar a exposição das plantas a doenças de solo (LIETEN, 1988; DURNER et al., 2002; BISH et
al., 2002). Este tipo de muda, além de representar um material mais sadio, pode ser obtido pelo produtor em período alternativo
(OLIVEIRA; SCIVITTARO, 2009).
Neste sistema, o substrato assume um papel fundamental para o sucesso da propagação do morangueiro. O substrato
considerado ideal para culturas hortícolas deve possuir elevada capacidade de retenção de água, fácil drenagem, boa aeração e
estabilidade química (AHMAD et al., 2012; AMERI et al., 2012). O substrato obtido a partir do processo de compostagem
pode exercer a função do solo, fornecendo à planta sustentação e, dentre as características desejáveis, destacam-se: baixo custo,
disponibilidade, elevado teor de nutrientes, alta capacidade de troca de cátions, esterilidade biológica, ausência de
contaminantes químicos, boa aeração e adequada retenção de umidade, boa agregação às raízes e uniformidade de
estabelecimento (MARTINEZ et al., 2011; ALTIERI et al., 2014; SANTOS et al., 2015).
Frente à necessidade de sistemas de cultivo mais sustentáveis, o reaproveitamento de materiais alternativos,
disponíveis nas propriedades rurais se destaca como uma alternativa, que tem como consequência, além da diminuição dos
impactos ambientais, também o baixo custo de produção de mudas de qualidade. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi
avaliar o efeito de diferentes substratos orgânicos, empregando materiais alternativos para a sua composição, no enraizamento,
crescimento e incremento de massa seca de mudas de morangueiro oriundas de propágulos obtidos a partir de matrizes
suspensas.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido em estufa de cultivo modelo “arco” revestida com filme de polietileno, localizada na
Embrapa Clima Temperado, no município de Pelotas (31º40’47"S, 52º26’24"O e altitude de 60 m), Rio Grande do Sul (RS),
Brasil. A região caracteriza-se por apresentar clima do tipo Cfa, temperado úmido com verão quente,conforme a classificação
de Köppen e Geiger (1928).
As cultivares utilizadas foram ‘Aromas’, com resposta fotoperíódica de dias neutros, e ‘Camarosa’, de dias curtos. As
plantas matrizes utilizadas para produção de propágulos foram adquiridas da empresa Multiplanta, localizada no município de
Andradas, em Minas Gerais, Brasil. As matrizes foram cultivadas em sistema de vasos suspensos com a capacidade de 7,0
litros, contendo substrato formulado com a mistura de 50% casca de arroz carbonizada e 50% de composto orgânico comercial
S10®. O composto S10 é um substrato certificado para produção orgânica e é utilizado para produção de mudas em geral. Os
vasos foram mantidos em suportes a 1,20m de altura, no espaçamento de 40 cm entre plantas e 30 cm entre linhas, dentro de
casa de vegetação. Para as plantas matrizes, foi empregado o sistema de irrigação por gotejamento e fertirrigação orgânica à
base de húmus líquido. Os demais tratos culturais, bem como o manejo fitossanitário das plantas matrizes, foram feitos
conforme a necessidade da cultura (ANTUNES; JÚNIOR; SCHWENGBER, 2016). Os propágulos que se encontravam nos

1045
estolões emitidos pelas plantas matrizes foram coletados, limpos e preparados para o transplante.
O experimento foi conduzido no período de 5 de março a 19 de maio de 2016. O experimento foi realizado em
delineamento de blocos completos casualizados, com seis repetições em esquema bifatorial. O primeiro fator de tratamento
testado foram os substratos, com quatro níveis: 100% resíduo de húmus (RH), 50% húmus + 50% palha (RH+P), 100%
composto comercial S10® (C) e 50% composto comercial S10 ® + 50% palha (C+P); e o segundo, as cultivares, com dois
níveis (Aromas e Camarosa).
O resíduo de húmus utilizado foi o material sólido oriundo da extração do biofertilizante de vermicompostagem;, o
composto comercial S10 foi doado pela Empresa Beifort®; e a palha foi oriunda de capim elefante (Pennisetum purpureum).
Os propágulos emitidos pelas plantas-matrizes foram colocados para enraizar em bandejas de poliestireno expandido
de 128 células, contendo os substratos, com a finalidade de originar mudas com torrão. As bandejas foram mantidas suspensas
durante o período de crescimento das mudas, sob irrigação por microaspersão.
No período inicial de enraizamento, a frequência de irrigação foi de dez segundos a cada dez minutos, sendo os pulsos
controlados por um temporizador. No período seguinte de desenvolvimento, as mudas foram mantidas em casa de vegetação
durante 20 dias sob irrigação controlada por um sistema de microaspersão.
Aos 49 dias após o plantio, mudas de cada repetição foram avaliadas quanto à estatura da parte aérea (EPA) e
comprimento de raiz (CR), com régua graduada, após lavagem sob água corrente para retirada do substrato e secagem sobre
papel e massa fresca de folhas (MFF) e raiz (MFR), sendo a massa seca das partes avaliada, obtida após secagem em estufa de
circulação forçada de ar, na temperatura de 65ºC, até obter massa constante entre duas determinações consecutivas.
Os dados foram analisados quanto à normalidade pelo teste de Shapiro Wilk; à homocedasticidade pelo teste de
Hartley; e, à independência dos resíduos, por análise gráfica. Posteriormente, os dados foram submetidos à análise de variância
através do teste F (p≤0,05). Constatando-se diferenças com significância estatística, os efeitos dos substratos foram
comparados pelo teste de Waller-Duncan (p≤0,05); e da cultivar pelo teste t (p≤0,05).

Resultados e Discussão

Os testes de normalidade, homocedasticidade e a independência do resíduo evidenciaram não ser necessária a


transformação dos dados para todas as variáveis analisadas. Com a aplicação da análise da variância, identificou-se a
significância da interação bifatorial (substrato x cultivar) para: estatura da parte aérea, comprimento de raiz, massa fresca e
seca de folhas e de raízes.
Para estes parâmetros de avaliação, os substratos à base de resíduo de húmus se mostraram superiores ou tão
eficientes quanto o composto orgânico já comercializado, S10 ®, com exceção do comprimento de raiz da cultivar Camarosa,
que foi superior nos substratos contendo composto e na presença de palha junto ao resíduo de húmus (Tabela 1).

Tabela 1 - Estatura da parte aérea, comprimento de raiz, massa fresca e seca de folha e raiz de mudas de morangueiro
das cultivares Aromas e Camarosa cultivadas em diferentes substratos orgânicos. Pelotas/RS, 2016
Cultivares
Substrato Aromas Camarosa Aromas Camarosa
Estatura da parte aérea (cm) Comprimento de raiz (cm)
Resíduo de Húmus 5,61±1,48 a1/ ns 5,77±1,46 a 14,32±2,55a * 12,91±1,72b
Húmus+palha 5,81±1,09 ans 5,35±1,68 a 12,78±1,95ab * 14,23±1,90ab
Composto 5,40±1,29 a * 4,01±0,96 b 13,27±2,19abns 13,34±2,70ab
Composto+palha 4,18±0,80 b * 3,52±1,14 b 12,52±2,27b * 14,52±2,39a
Massa fresca de folha (g planta-1) Massa fresca de raiz (g planta-1)
Húmus 3,28±0,93 ans 2,78±1,02 a 6,08±3,39ans 4,81±3,49ab
Húmus+palha 2,83±0,77 abns 2,44±1,55 ab 5,60±2,89abns 5,21±3,39a
Composto 2,37±0,84 b * 1,71±0,96 c 4,23±2,57bcns 4,06±3,27b
Composto+palha 1,44±0,64 cns 1,90±0,90 bc 2,79±1,46c * 4,80±4,21ab
Massa seca de folha (g planta-1) Massa seca de raiz (g planta-1)
Húmus 0,81±0,25 ans 0,92±0,18 a 0,97±0,76a * 0,40±0,22a
Húmus+palha 0,64±0,25 b * 0,82±0,31 ab 0,73±0,49ab * 0,36±0,15a
Composto 0,58±0,16 bcns 0,50±0,36 c 0,36±0,17bc * 0,24±0,15b
Composto+palha 0,48±0,22 c * 0,71±0,21 b 0,47±0,39c ns 0,31±0,18ab
1/
Médias (± desvio padrão) acompanhadas por mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de
Waller-Duncan (p≤0,05) comparando os substratos para cada cultivar.*, nsSignificativo e não significativo, respectivamente,
pelo teste t (p≤0,05) comparando as cultivares dentro de cada substrato.

1046
Na comparação das cultivares, ‘Aromas’ diferiu de ‘Camarosa’ em relação à: estatura da parte aérea com o emprego de
composto e composto + palha; MFF, apenas na presença de composto; e MFR, na mistura C+P. Enquanto que na avaliação de
massa seca, a ‘Camarosa’ apresentou maior MSF nos substratos contendo palha. Já, quanto à MSR, os maiores valores foram
apresentados pela ‘Aromas’, em todos os substratos, com exceção do C+P, em que não houve diferença entre as cultivares.
Mudas bem desenvolvidas e vigorosas tem um pronto estabelecimento e exigem menos cuidados no manejo
(HICKLENTON; REEKIE, 2003). Para um crescimento vigoroso, é necessário que a muda apresente um sistema radicular
saudável e bem desenvolvido, o que está diretamente ligado às características genéticas das plantas, mas também, às
propriedades físicas e químicas do substrato utilizado (PARADELO; BASANTA; BASAL, 2019), o que foi corroborado pelos
resultados obtidos (Tabelas 1).
Características apresentadas pelos substratos à base de resíduo de húmus, como pH entre 6 e 6,5, porosidade total acima
de 70% e granulometria com aproximadamente 75% das partículas de tamanho entre 0,5 e 4 mm, indicam que estes podem ser
utilizados como meio para a produção de mudas (VALERO et al., 2009; SUGUINO et al. 2011). Isso foi confirmado através
do maior crescimento das mudas nos tratamentos contendo resíduo de húmus, nos quais foram obtidos valores superiores de
estatura da parte aérea, massa fresca e seca de folha, coroa e raiz e também comprimento de raiz, sobretudo para a cultivar
Aromas. Salienta-se, ainda, que nos tratamentos em que foi feita a mistura do RH com a palha, os valores foram semelhantes
aos das mudas obtidas com o composto comercial.
É imprescindível buscar valores entre 75 e 90% de porosidade para um substrato, pois essa característica é responsável
pelas trocas gasosas, bem como pela movimentação de água no recipiente, o que proporciona condições ideais para a expansão
de raízes (KÄMPF, 2001). Neste sentido, os substratos com palha em sua composição apresentaram uma maior porosidade
total, o que se refletiu no aumento do comprimento de raízes, principalmente da cultivar Camarosa. O pH é uma propriedade
que tem influência direta na absorção pelas plantas dos nutrientes presentes nos substratos orgânicos (CABALLERO et al.,
2007). Os substratos à base de resíduo de húmus apresentaram pH na faixa ideal para cultura, o que exerceu efeitos positivos
sobre a estatura da parte aérea e a massa fresca e seca das mudas de ambas as cultivares estudadas.
Geralmente, o sistema radicular de mudas importadas é longo, com comprimento entre 20 e 30 centímetros, e um elevado
volume de raízes, que podem exceder o tamanho da cova de plantio, fazendo com que ocorra o enovelamento das mesmas, o
que leva à ocorrência de estresse indesejado, à redução na absorção de água e nutrientes, e até mesmo, à morte da planta. Isso
torna necessário a realização da poda das raízes antes do plantio (COCCO et al., 2012). No entanto, com a poda, são perdidas
partes das reservas da muda, que seriam utilizadas para o crescimento e estabelecimento inicial das plantas e emissão de novas
folhas. Portanto, possivelmente, para garantir a sobrevivência das mudas, o mais adequado seria efetuar o transplante no
momento em que as raízes das mudas estejam menores, com comprimento semelhante aos promovidos pelos substratos
utilizados no estudo (AMOROSO et al., 2010).

Considerações Finais

O substrato à base de resíduo de húmus oriundo de vermicompostagem possui características que propiciam o
crescimento de mudas de morangueiro adequado e semelhante aos obtidos com os substratos contendo o composto comercial
S10®, podendo ser indicado para a produção de mudas orgânicas das cultivares de morangueiro Aromas e Camarosa.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho


Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelas bolsas de estudo e de pesquisa. E também, à
Universidade Federal de Pelotas, especialmente o Programa de Pós-graduação em Sistemas de Produção Agrícola Familiar,
pela oportunidade de desenvolvimento da pesquisa.

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1049
5SSS245
PRODUÇÃO DE PROPÁGULOS DE MORANGUEIRO COM O USO
DE BIOFERTILIZANTES
Marina Alves1, Ester Schiavon Matoso2, Anita Ribas Avancini3, Roberta Marins Nogueira Peil4.
1Universidade Federal de Pelotas, e-mail: mari.bio.alves@gmail.com; 2 Universidade Federal de Pelotas, e-mail:
ester-schiavon@hotmail.com; 3 Universidade Federal de Pelotas, e-mail: anita.avancini@hotmail.com; 4
Universidade Federal de Pelotas, rmpell@ufpel.edu.br

Palavras-chave: Fragaria x ananassa Duch, produção de mudas, húmus líquido, esterco de aves fervido.

Resumo
Os morangos cultivados em sistemas orgânicos são mais nutritivos, melhores para o solo e mais sustentáveis em relação ao
meio ambiente. O uso de biofertilizantes durante o cultivo do morangueiro é uma alternativa mais sustentável, frente aos
fertilizantes comerciais, uma vez que são uma forma de manter o equilíbrio nutricional das plantas e por possuir na sua
composição, nutrientes mais facilmente disponíveis, quando comparados a outros adubos orgânicos. Diante do exposto, o
objetivo deste trabalho foi testar biofertilizantes como esterco de aves fervido e húmus líquido na produção de mudas de
morangueiro em sistema orgânico em substrato das cultivares Aromas e Camarosa a fim de tornas a produção de mudas de
morangueiro mais sustentável através do uso de resíduos de produção agropecuária. O experimento foi realizado em Pelotas -
RS, na Universidade Federal de Pelotas, em cultivo protegido em estufa, entre os meses de outubro e fevereiro de 2015/16. As
plantas matrizes foram cultivadas em vasos de 7 litros contendo substrato formulado com a mistura de 50% casca de arroz
carbonizada (CAC) e 50% de composto orgânico comercial (S10®). O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com
três repetições, sendo cada parcela representada por três plantas matrizes. Os fatores foram arranjados em esquema fatorial
3x2x2, onde os tratamentos foram resultantes das combinações entre três biofertilizantes (esterco de aves fervido, e húmus
líquido e um biofertilizante de marca comercial Beifort®), com duas frequências de fertirrigação (07 e 14 dias) e duas
cultivares (Camarosa e Aromas). As plantas matrizes foram avaliadas quanto ao número de estolões; produção de pontas de
estolão; relação entre número de estolões e produção de pontas de estolão; e, pleno estolonamento. O número de estolões e a
produção de pontas de estolão dependeram do biofertilizante, da cultivar e da frequência de fertirrigação, já a relação
estolões/produção foi influenciada somente pelos fatores cultivar e frequência e o pleno estolamento foi dependente apenas da
cultivar. Sendo os biofertilizantes orgânicos utilizados neste trabalho, esterco de aves fervido e húmus líquido, tão eficientes
quanto o já comercializado Beifort®, podendo ser recomendados para a produção de mudas de morangueiro em sistema
orgânico em substrato.

Introdução

O mercado de morangos brasileiro é altamente explorado, observando-se que a procura por esta fruta é destaque em
todo país, sendo que muitos não a consomem devido a sua falta em algumas regiões ou épocas do ano (REISSER JÚNIOR E
ANTUNES 2014). A produção mundial de morangueiro foi de 8,1 milhões de toneladas em 2017 (FAO, 2017), sendo a
produtividade média do Brasil, aproximadamente, 30 t ha-¹, variando de acordo com a região, o sistema de cultivo adotado e o
nível tecnológico utilizados pelos produtores (ANTUNES et al., 2015).
Os morangos cultivados em sistemas orgânicos são mais nutritivos, melhores para o solo e mais sustentáveis em
relação ao meio ambiente (SANTI e COUTO. 2012). Os autores ainda afirmam que o sistema de cultivo orgânico
especialmente a produção de morangos vem aumentando a sua participação no mercado nos últimos anos uma vez que os
níveis de exigência dos consumidores vêm aumentando sendo mais voltados para os produtos que fazem bem a saúde e que,
para serem produzidos, não agridem o meio ambiente.
Com grande potencial, a produção orgânica apresenta alguns fatores limitantes para sua expansão, como a elevada
susceptibilidade da cultura a várias doenças e pragas, que podem acarretar grandes perdas de produção e qualidade. Entre as
medidas que visam aperfeiçoar o cultivo orgânico, está o emprego de caldas e biofertilizantes. Esses vêm sendo usados na
produção orgânica com o objetivo de complementar a nutrição das plantas, controlar doenças e reduzir a população de pragas
(VENZON et al., 2006).
Muitos produtores que cultivam do morango de forma convencional fazem a utilização de insumos químicos na etapa
de fertilização e nos tratamentos preventivos e curativos contra doenças e pragas sendo que deveria haver uma preocupação em
realizar uma produção econômica e alta qualidade, obtida prioritariamente com métodos ecologicamente mais seguros,

1050
minimizando os efeitos colaterais indesejáveis do uso de agrotóxicos para aumentar a proteção do meio ambiente e melhorar a
saúde humana (SANTI e COUTO. 2012).
O plantio de plantas matrizes em substrato é uma técnica que permite a obtenção de pontas de estolão, material
propagativo inicial empregado para a produção de mudas. Este sistema permitiria atender a padrões elevados de sanidade do
material propagativo e, ao mesmo tempo, dispensaria o uso de produtos químicos para a desinfecção do solo proibidos no
Brasil. Pode ser realizado em vasos suspensos, nos quais as plantas são cultivadas sobre bancadas, em ambiente protegido, de
modo que os estolões não entrem em contato com o substrato e não enraízem (VERDIAL et al,. 2009), sendo o fornecimento
de nutrientes feito na forma líquida (BORTOLOZZO et al., 2007; CECATTO et al., 2013). Mas, para que o material
propagativo possa ser empregado em um sistema orgânico de produção, se deve utilizar apenas insumos orgânicos também
durante o processo de propagação, como substratos orgânicos e biofertilizantes (ZANDONADI et al., 2013; DOBBSS et al.,
2010; CANELLAS; OLIVARES, 2014; 2015). Estes últimos são produtos naturais enriquecidos com microrganismos e
compostos derivados de seu metabolismo, que podem favorecer o crescimento das plantas (ANSARI et al., 2015).
Quando comparados a adubos orgânicos sólidos, o emprego de biofertilizantes na forma líquida proporciona maior
disponibilidade dos nutrientes necessários para as plantas (SOUZA; RESENDE, 2003). Os biofertilizantes líquidos destacam-
se mundialmente como uma alternativa mais sustentável para economia nos custos de produção, manutenção da fertilidade do
meio de cultivo e sanidade geral das plantas. Devido a este conjunto de fatores e buscando a manutenção do equilíbrio
nutricional das plantas, o uso de biofertilizantes tem sido constante na agricultura orgânica (ALVES et al., 2009).
Outro fator importante a ser considerado na produção de mudas é a escolha da cultivar, pois essa deve ser baseada na
região, nos custos de produção e na época em que o viveirista pretende obter as mudas. Cultivares classificadas como de dias
neutros, normalmente, possuem rendimento de viveiro inferior às cultivares de dias curtos, pois a insensibilidade das cultivares
de dia neutro aos estímulos do fotoperíodo e a maior tolerância a temperaturas elevadas retardam o aparecimento de estolões
(STRASSBURGER et al., 2010). Além disso, o fator genético é determinante para a adaptabilidade das plantas à propagação
em substrato e, mais ainda, em se tratando de sistemas que utilizem somente insumos orgânicos.
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi testar biofertilizantes como esterco de aves fervido e húmus líquido
na produção de mudas de morangueiro em sistema orgânico em substrato das cultivares Aromas e Camarosa a fim de tornas a
produção de mudas de morangueiro mais sustentável através do uso de resíduos de produção agropecuária.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido em estufa de cultivo agrícola localizada no campo Experimental e Didático do
Departamento de Fitotecnia da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no
município do Capão do Leão (31°52’S, 52°21’O e 13 m de altitude), Rio Grande do Sul (RS), Brasil. A região caracteriza-se
por apresentar clima do tipo Cfa, temperado úmido com verão quente, conforme a classificação de Köppen e Geiger (1928). O
experimento foi realizado entre os meses de outubro e fevereiro de 2015/16. As plantas matrizes de morangueiro foram obtidas
da Empresa Multiplanta, sendo oriundas de processo de micropropagação. As cultivares utilizadas pertencem a distintos grupos
fotoperiódicos: Aromas de dia neutro e Camarosa de dia curto.
As plantas matrizes foram cultivadas em vasos de 7 litros contendo substrato formulado com a mistura (v/v) de 50%
casca de arroz carbonizada (CAC) e 50% de composto orgânico comercial (S10®; substrato orgânico certificado, obtido
através de compostagem e indicado para produção de mudas em geral). Este substrato formulado antes da instalação do
experimento, com o intuito de garantir a sustentação e a aeração das raízes além da disponibilidade de água para as mudas
(AHMAD et al., 2012; AMERI et al., 2012). Os vasos foram apoiados sobre bancadas a cerca de 1,20 m acima do nível do
solo, sendo transplantada uma planta matriz por vaso. Na sequência, foram distribuídos de maneira a manter o espaçamento de
40 cm entre plantas e 30 cm entre linhas. Com a finalidade de manter um nível de umidade adequado no substrato, foram
programadas quatro irrigações diárias com duração de 15 min, às 9, 11, 13 e 16h30min, controladas por um programador
digital. Para nutrição das plantas matrizes foram utilizados três biofertilizantes líquidos: húmus líquido (HL), esterco de aves
fervido (EAF) e o comercial Beifort®(BC).
O experimento foi realizado em esquema trifatorial (3 x 2 x 2), sendo os tratamentos resultantes da combinação de três
tipos de biofertilizantes líquidos (HL, EAF e BC), combinados com dois níveis da frequência de fertirrigação (07 e 14 dias) e
dois níveis do fator cultivar (Aromas e Camarosa). O delineamento experimental adotado foi o de blocos completamente ao
acaso com três repetições, sendo cada parcela constituída por três vasos contendo uma planta matriz.
As plantas matrizes foram avaliadas aos 140 dias após o plantio quanto ao número de estolões, obtido através da
contagem direta do número de estolões primários produzidos por planta da parcela; produção de propágulos por planta matriz
durante o ciclo produtivo; relação entre número de propágulos e o número de estolões primários; e pleno estolonamento,
definido pelo número de dias após o plantio em que 100% das plantas matrizes da parcela apresentavam no mínimo dois
estolões no estágio 41 da escala de Meier et al.(1994). Os dados obtidos foram analisados quanto à normalidade pelo teste de
Shapiro Wilk; à homocedasticidade pelo teste de Hartley; e à independência dos resíduos por análise gráfica. Posteriormente,
os dados foram submetidos à análise de variância através do teste F (p≤0,05). Constatando-se significância estatística, os

1051
efeitos dos biofertilizantes líquidos foram comparados pelo teste de Tukey (p≤0,05); e os das, frequências de fertirrigação e das
cultivares pelo teste t (p≤0,05).

Resultados e Discussão

Para número de estolões por planta matriz e produção de pontas de estolão por planta matriz ocorreu interação tripla
entre os fatores de tratamento estudados (biofertilizante, frequência e cultivar) (Tabela 1). O maior número de estolões, aos 07
dias de fertirrigação, para ‘Aromas’ foi obtido com o biofertilizante líquido a base de esterco de aves fervido. Enquanto que
aos 14 dias, o esterco de aves fervido obteve o mesmo comportamento que o comercial. Na cultivar Camarosa, somente foram
registradas diferenças significativas entres os biofertilizantes na frequência de 14 dias e o esterco de aves fervido caracterizou
o menor número de estolões por planta matriz, não diferindo do húmus líquido. Na comparação das frequências de
fertirrigação, somente foram registradas diferenças entre 07 e 14 dias, na cultivar Aromas para o biofertilizante de húmus
líquido e na ‘Camarosa’ a partir do uso do produto comercial. Na comparação das cultivares, ‘Aromas’ diferiu de ‘Camarosa’
somente com esterco de aves fervido sob 07 dias de fertirrigação.
Para a variável produção de pontas de estolão, na cultivar ‘Aromas’ o biofertilizante E.A.F mostrou-se superior aos
demais quando utilizada a frequência de 07 dias, produzindo 40,39 pontas de estolão. Já aos 14 dias, o H.L mostrou-se superior
com uma média de produção de 46,67 pontas de estolão. E para ‘Camarosa’, na frequência de 07 dias o H.L e o BC diferiram
do E.A.F, mas aos 14 dias os bioferilizantes não diferiram entre si. Entretanto, na relação entre número de estolões e produção
de pontas de estolão somente ocorreu significância para a interação dupla entre os fatores de tratamento cultivar e frequência
(Tabela 2). A cultivar Camarosa apresentou uma menor relação Estolões/Produção quando utilizada a frequência de 07 dias, ou
seja, essa teve uma produção superior, com uma média de 2,5 pontas de estolão por cada estolão. E aos 14 dias a menor relação
foi apresentada pela ‘Aromas’, em que produziu 3,33 pontas/estolão. E para pleno estolonamento somente ocorreu
significância para o efeito de cultivar (Tabela 3), onde a ‘Aromas’ levou em torno de 58 dias para alcançar o pleno
estolonamento, enquanto a Camarosa 33 dias.
Através da relação dada entre o número de estolões e número de pontas de estolão, podemos estimar o número de
mudas produzidas por matriz durante um ano agrícola, levando em conta que cada ponta de estolão tem a capacidade de
originar uma muda. Contudo, o número de mudas pode variar conforme a cultivar, a região de plantio e as condições de cultivo
(RICE JR, 1990), pois esses fatores podem influenciar no número de estolões que serão formados por planta de morangueiro.

Tabela 1- Número de estolões primários e produção de propágulos por planta matriz de morangueiro das cultivares
Aromas e Camarosa em função da frequência de aplicação de diferentes biofertilizantes líquidos. UFPel, Capão do
Leão/RS, 2015/16
Cultivares
Aromas Camarosa
Biofertilizantes líquidos Frequência de fertirrigação (dias)
07 14 07 14
Número de estolões primários por planta matriz
Esterco de aves fervido 16,44±1,39 aA1/ * 13,78±1,89 aAns 11,00±2,40aA 8,78±2,52bA
ns ns
Húmus líquido 4,33±2,02 bB 10,39±0,35 bA 10,33±0,88aA 10,44±2,00abA
Comercial2/ 4,89±1,83 bBns 13,11±1,83 abAns 9,67±0,00aB 13,00±2,36aA
C.V. (%) 14,5
Produção de propágulos por planta matriz
1/
Esterco de aves fervido 40,39±1,67 aA * 38,67±0,58 bAns 25,22±4,00 aA 26,78±8,69 aA
ns
Húmus líquido 12,67±7,42 bB 46,67±3,28 aA * 27,56±3,67 aA 25,67±2,18 aA
Comercial2/ 10,11±6,27 bBns 38,00±2,18 bAns 25,00±11,62 aA 28,78±9,43 aA
C.V. (%) 22,1
1/
Médias (± desvio padrão) acompanhadas por mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey
(p≤0,05) comparando os bioferitlizantes líquidos para cada cultivar e frequência; e mesma letra maiúscula na linha não diferem
entre si pelo teste t (p≤0,05) comparando as frequências para cada biofertilizante e cultivar, em cada ano de avaliação. *,
ns
Significativo e não significativo, respectivamente, pelo teste t (p≤0,05) comparando as cultivares dentro de cada
biofertilizante e frequência. 2/Beifort®. C.V.: Coeficiente de variação.

1052
Tabela 2- Relação entre o número de médio de propágulos produzidos porestolão primário de plantas matrizes de
morangueiro das cultivares Aromas e Camarosa, em função da frequência de aplicação dos biofertilizantes líquidos.
UFPel, Capão do Leão/RS, 2015/16
Frequência de fertirrigação(dias)
Cultivar 07 14
Relação Propágulos/Estolão primário
Aromas 2,35±0,15 b1/ * 3,49±0,07 a
Camarosa 2,75±0,12 a ns 2,68±0,07 b
C.V. (%) 23,4
1/
Médias (± desvio padrão) acompanhadas por mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste t (p≤0,05),
comparando as cultivares em cada frequência. *, ns Significativo e não significativo, respectivamente, pelo teste t (p≤0,05),
comparando as frequências para cada cultivar na linha.

Tabela 3 – Número de dias após plantio (DAP) para o pleno estolonamento de plantas matrizes de morangueiro das
cultivares Aromas e Camarosa cultivadas em substrato com fertirrigação orgânica. UFPel, Capão do Leão/RS, 2015/16
Cultivar Pleno estolonamento (DAP)
Aromas 58,18±2,09 a1/
Camarosa 33,68±2,79 B
C.V. (%) 5,4
1/
Médias (± desvio padrão) acompanhadas por mesma letra não diferem entre si pelo teste t (p≤0,05).

Em geral as cultivares de dias curtos atingem o pleno estolonamento mais precocemente e produzem maior quantidade
de estolões do que as de dias neutros, mas isso não significa que vá resultar numa maior produção de pontas de estolão ao final
do ciclo da planta matriz (SERÇE; HANCOCK, 2005). Isso pode ser observado em um estudo realizado também em Pelotas
(RS), por Oliveira et al. (2007), que empregaram recipientes suspensos em casa de vegetação e relataram a produção de 27,4
pontas de estolões por planta matriz nas cultivares de dia curto Dover e Campinas, número inferior ao apresentado pela cultivar
de dia neutro Aromas neste trabalho, que chegou a produzir 49,4 pontas de estolão quando utilizado húmus líquido na
frequência de fertirrigação de 14 dias.
O sistema de cultivo também influencia na produção de pontas de estolão, sendo a técnica de manter as plantas matrizes de
morangueiro em vasos suspensos, sob cultivo protegido, extremamente viável, apesar de que a quantidade de mudas totais
produzidas por planta-matriz pode ser inferior quando comparada ao sistema convencional no solo. Porém, vale ressaltar que a
produtividade por área neste sistema pode ser maior, tendo em vista que o plantio em vasos pode ser realizado de forma mais
adensada (VERDIAL et al., 2009).
Entretanto, independente do sistema de cultivo, a disponibilidade de água e de nutrientes deve ser mantida, dessa
forma a fertirrigação é essencial para o sucesso da produção de mudas. O nitrogênio (N), o nutriente que mais afeta o
crescimento e desenvolvimento da planta do morangueiro. Na fase de estolonamento a deficiência de N diminui a emissão de
estolões, o comprimento deles e também o número de ramificações, ou seja, a produção de pontas de estolão, e logo, a
produção de mudas (NERI et al., 2012).
Encontram-se poucos trabalhos na literatura avaliando cultivos de morangueiro com a aplicação de fertilizantes orgânicos,
principalmente no que tange à produção de pontas de estolão, o que tem grande importância ao se considerar a relação
custo/benefício na produção de mudas. O uso de fertilizantes minerais pode aumentar a produtividade dessas, mas
automaticamente aumentam os custos. Além disto, podem acarretar na contaminação de cursos d´água pela lixiviação de
elementos fornecidos em excesso durante a fertirrigação (PEIXOTO FILHO et al., 2013).
A produção de pontas de estolão com o manejo de fertirrigação orgânica através do uso de biofertilizantes apresentou
resultados satisfatórios no estudo em questão. E tendo em vista o aumento do custo dos fertilizantes minerais e a crescente
poluição ambiental, o uso de resíduos orgânicos para a produção de fertilizantes se torna uma opção atrativa do ponto de vista
ambiental e também econômico, em razão da ciclagem de carbono e nutrientes (SILVA et al., 2010).

1053
Considerações Finais

Os biofertilizantes orgânicos utilizados neste trabalho, esterco de aves fervido e húmus líquido são tão eficientes ou
superiores ao comercializado Beifort®, podendo ser recomendados para a produção de mudas de morangueiro em sistema
orgânico em substrato de ambas cultivares, tornando o sistema de produção de mudas de morangueiro mais sustentável.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho


Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento das bolsas de estudo e pesquisa. E
também, à Universidade Federal de Pelotas, especialmente o Programa de Pós-graduação em Sistemas de Produção Agrícola
Familiar, pela oportunidade de desenvolvimento da pesquisa.

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1055
5SSS246
HORMÔNIOS E SUA PRESENÇA NO AMBIENTE AQUÁTICO
Mariana Gomes Oliveira1, Renata Bulling Magro2, Emili Schutz3
1Universidade do Estado de Santa Catarina, e-mail: marianagomes.udesc@gmail.com; 2Universidade do Estado
de Santa Catarina, e-mail: renatamagro4@gmail.com; 3Universidade do Estado de Santa Catarina, e-mail:
emilischutz@gmail.com;

Palavras-chave: Impacto Ambiental. Água. Fármacos.

Resumo
Hormônios no ambiente aquático podem trazer danos irreversíveis a biota por meio do processo de bioacumulação, e com o
crescente uso de fármacos pela população, novas tecnologias de tratamento que permitam a diminuição desse contaminante são
essenciais para conservação do ambiente aquático. O objetivo do presente trabalho consistiu em reunir todas as informações
possíveis acerca do tema, visto que este é um assunto recente e ainda carece de informações completas.
Nas estações de tratamento, os resíduos farmacêuticos não são totalmente eliminados e, assim, são descarregados nas águas
receptoras. Além disso, uma fração significativa de substâncias de organismos de origem humana ou animal é liberada sob
forma de produtos não metabolizados por meio da urina, fezes ou pela eliminação direta através de banheiros sendo, portanto,
emitidos na forma bruta para o esgoto, lodo de esgoto ou esterco, também alguns metabólitos excretados podem ser
transformados à droga original ativa.
No Brasil, tanto os estrogênios naturais (estrona e 17β-estradiol), como o sintético (17α-etinilestradiol) foram detectados em
esgoto domésticos e efluentes de ETE em várias investigações, em países como Canadá e Alemanha também, mas como há
pouco conhecimento a respeito dos riscos provocados pelos hormônios nos seres vivos, são quase inexistentes as normas que
regulam a presença destes compostos no meio ambiente.
Pesquisadores dos ramos ambiental e biológico questionam-se sobre os efeitos desses compostos em peixes e outros animais
aquáticos, assim como seu efeito desencadeado sobre todo um ecossistema, um efeito que pode ser mencionado é a
feminização de peixes machos.
Pouco é conhecido sobre o destino e o comportamento de hormônios no ambiente aquático, porém já há evidências dos males
que estes são capazes de provocar à biota e ao homem. É necessário novas pesquisas focados nos efeitos desde contaminante
no ambiente e novos métodos para remoção da concentração dos mesmos em residuais de águas e efluentes, sobretudo uma
legislação que direcione a população para valores limites destes compostos em ambientes aquáticos.

Introdução
Na última década, especial atenção tem sido dada a presença de hormônios no ambiente aquático, uma vez que o aporte
contínuo e a persistência de várias dessas substâncias podem trazer danos a biota por meio da bioacumulação. E assim, o
desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias de tratamento que permitam a remoção ou diminuição desses contaminantes
tem sido objeto de interesse na área de saneamento ambiental.
Por não serem facilmente biodegradáveis, terem propriedades farmacológicas danosas quando administrados indevidamente,
através de água contaminada, é crescente a preocupação com o seu destino, principalmente com relação à avaliação de risco
ambiental. A ocorrência de hormônios, principalmente em águas superficiais e sistemas de abastecimento, vem sendo objeto de
estudos em diversos países, principalmente na Europa. Por isso, a detecção, a eliminação e a investigação do destino destes
compostos em ecossistemas aquáticos têm tido prioridade na química ambiental, porém, estudos toxicológicos relacionados a
efeitos crônicos em organismos expostos, são escassos.
Entre os produtos químicos com atividade estrogênica, destacam-se hormônios presentes em cosméticos, anabolizantes
utilizados em rações animais, fitoestrógenos e poluentes orgânicos persistentes (POPs). Esses agentes que estão presentes nos
efluentes industriais, residenciais e das estações de tratamento de água e esgoto representam uma importante fonte de
contaminação ambiental. O Programa Internacional de Segurança Química (International Programme on Chemical Safety -
IPCS) define como interferente endócrino substâncias ou misturas presentes no ambiente capazes de interferir nas funções do
sistema endócrino, causando efeitos adversos em um organismo intacto ou na sua prole.
Assim, o objetivo do presente trabalho consistiu em reunir todas as informações possíveis acerca do tema Hormônios na Água.
Visto que este é um assunto recente e ainda carece de informações completas, este trabalho foi realizado a fim de possibilitar a
análise das informações que já existem e também da observação a respeito das técnicas que estão sendo desenvolvidas para a
determinação de hormônios na água e avaliação das consequências causadas pelos mesmos, em ambiente aquático.

1056
Materiais e Métodos
Foram realizadas pesquisas bibliográficas a partir de artigos científicos, livros, reportagens e demais materiais acadêmicos
disponíveis, além do auxílio de professores de diversas áreas como toxicologia, legislação e geoquímica, os quais puderam
contribuir com conteúdos essenciais relacionados à área de pesquisa do presente trabalho. Após análise de todos os dados
obtidos, estes foram sintetizados e são apresentados a seguir.
Resultados e Discussão
Nas estações de tratamento, os resíduos farmacêuticos não são totalmente eliminados e, assim, são descarregados nas águas
receptoras. Como estas águas são tratadas e reutilizadas nas grandes cidades, os fármacos presentes nestes corpos hídricos que
entram em contato com os organismos, são absorvidos por ele após a ingestão e estão sujeitas a reações metabólicas. Contudo,
uma fração significativa de substâncias de organismos de origem humana ou animal é liberada sob forma de produtos não
metabolizados por meio da urina, fezes ou pela eliminação direta através de banheiros sendo, portanto, emitidos na forma bruta
para o esgoto, lodo de esgoto ou esterco. Além disso, alguns metabólitos excretados podem ser transformados à droga original
ativa.
Contudo, nos últimos anos, vários métodos analíticos têm sido relatados para a determinação de cerca de 100 produtos
farmacêuticos em matrizes ambientais aquosas, dentre eles os hormônios. No entanto, o conhecimento sobre sua ocorrência em
rios e águas subterrâneas ainda é limitado a um pequeno número de países. Dados sobre o comportamento e os destinos dos
produtos farmacêuticos nos rios e lagos, incluindo sedimentos, ainda são escassos.
Os hormônios são uma parte essencial tanto na medicina moderna humana quanto da veterinária e, apesar de já terem sido
aprovados pelo governo e terem sido submetidos a estudos farmacocinéticos, existe ainda uma considerável falta de
conhecimento sobre seu destino no ambiente.

Métodos de determinação comumente utilizados:


Para a determinação de fármacos, diferentes métodos analíticos são reportados na literatura, os quais são principalmente
válidos para matrizes biológicas como sangue, tecido e urina, sendo que algumas modificações nestes métodos podem ser
suficientes para amostras ambientais. No entanto, a análise de fármacos residuais em efluentes de ETE, em águas de rios, de
subsolos e água potável requer ainda o desenvolvimento de métodos mais sensíveis para a detecção de concentrações na faixa
de µg/L e ng/L.
Estes métodos descritos na literatura são baseados na extração em fase sólida, em alguns casos derivatização da substância
ácida e subsequente determinação do derivado por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG/EM) ou
cromatografia líquida de alta eficiência acoplada a espectrometria de massas (CLAE/EM). A detecção por espectrometria de
massas é usada para assegurar a identificação das substâncias estudadas. No caso dos hormônios, os métodos mais utilizados
são a cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas (CG/EM) e cromatografia gasosa acoplada a dois
espectrômetros de massas em série (CG-EM/ EM).

Hormônios no meio ambiente:


A ocorrência de fármacos residuais no meio ambiente pode apresentar efeitos adversos em organismos aquáticos e terrestres. O
efeito pode ser em qualquer nível da hierarquia biológica: célula, órgãos, organismo, população, ecossistema. De acordo com
Jorgensen et al., alguns desses efeitos podem ser observados em concentrações na ordem de ng/L. Pouco é conhecido sobre o
destino e o comportamento dessas substâncias no ambiente aquático, assim como não está claro quais organismos são afetados
e em que grau.
Recentemente, alguns pesquisadores investigaram um grupo específico de compostos químicos presentes no meio ambiente
que são responsáveis por causar perturbações no sistema endócrino (hormonal) de organismos humanos e animais: são os
chamados perturbadores endócrinos. Dentre esse grupo de substâncias estão os estrogênios naturais e contraceptivos. Alguns
autores relatam que, dependendo da dose e do tempo de exposição, é possível que essas substâncias estejam relacionadas com
doenças nos seres humanos. As evidências mostram que os sistemas reprodutivos de certos organismos terrestres e aquáticos
são afetados por estrogênios, resultando no desenvolvimento de anormalidades e deterioração reprodutiva nos organismos
expostos. Consequentemente, numerosos testes e biomarcadores têm sido desenvolvidos para detectar a atividade estrogênica
dessas substâncias.
Um marcador bastante usado para a determinação da atividade estrogênica de uma substância é a determinação de níveis de
vitelogenina (VTG) no plasma sanguíneo de um organismo. Vitelogenina é uma proteína que desempenha um importante papel
no sistema reprodutivo de vertebrados ovíparos fêmeas. É sintetizada no fígado, regulada por estrogênio e transportada através
do sangue para os ovários, onde serão incorporados no desenvolvimento dos óvulos. De um modo geral, o gene do VTG
também está presente em organismos machos, mas sob condições normais não é expressivo, possivelmente, pela baixa
concentração de estrogênio no sangue. O aumento de VTG no plasma de um organismo é considerada uma evidência da
exposição a substâncias com atividade estrogênica. As consequências da presença de estrogênios em organismos aquáticos, em
concentrações ambientalmente relevantes, não são completamente conhecidas. Entretanto, tem sido observado que alguns

1057
organismos aquáticos respondem com um aumento na síntese de VTG como resposta à exposição a determinadas
concentrações de estrogênio. Além disso, essa exposição a estrogênios pode causar a feminização de peixes se a exposição
ocorrer durante o período crítico da diferenciação sexual. Os peixes são um dos grupos de organismos mais completamente
estudados em termos de efeito de substâncias com atividade estrogênica no desenvolvimento de anomalias no sistema
reprodutivo. De acordo com Sumpter et al. (1998), as pesquisas de como substâncias estrogênicas afetam o sistema sexual dos
peixes começaram na década de 1980.
A respeito dos efeitos em seres humanos, há indícios quanto a exposição aos compostos estrogênicos em doses baixas por um
tempo prolongado, onde os homens apresentaram redução na fertilidade e desenvolveram características secundárias do sexo
feminino, como aumento das mamas. Existem também evidências de que o aumento da incidência de câncer de testículos e de
outros males como a infertilidade masculina, podem estar relacionados com a ingestão de estrogênios por meio da alimentação
ou da água. A exposição prolongada aos estrogênios também tem sido associada com o aumento da incidência de câncer de
mama em mulheres (Lopes, 2007; Beck et al., 2005).
Apesar de poucos trabalhos serem realizados com respeito aos efeitos dos hormônios na saúde humana, percebe-se um
consenso entre a comunidade científica na busca de respostas quanto aos verdadeiros riscos que estes poluentes trazem para o
homem.

Avaliação Do Impacto Ambiental Em Ambientes Aquáticos:


No momento, um ponto crítico neste tema é saber se existe um nível elevado dessas substâncias no meio ambiente, que sejam
suficientes para exercer efeitos adversos em seres vivos. Esta questão estimula o desenvolvimento de estudos de impacto
ambiental causado por diferentes fármacos presentes no meio ambiente. Dados ecotoxicológicos têm sido levantados por
pesquisadores, para se identificar fármacos que são potencialmente perigosos para o meio ambiente, porém, os dados
disponíveis na literatura são insuficientes. A ocorrência desses fármacos residuais em águas superficiais e de subsolo
demonstra uma necessidade de estudos que determinem os efeitos tóxicos frente ao meio ambiente.
Atualmente, uma avaliação de risco ambiental devido à contaminação por fármacos tem sido requerida em vários países. Com
isso, vários pesquisadores vêm desenvolvendo metodologias de testes ecotoxicológicos e modelos para avaliação de risco
ambiental para alguns fármacos.

Ocorrência De Hormônios Em Ambientes Aquáticos No Brasil:


Tanto os estrogênios naturais (estrona e 17β-estradiol), como o sintético (17α-etinilestradiol) foram detectados em esgoto
domésticos e efluentes de ETE em várias investigações. Ternes et al. (1999), identificaram a presença de vários estrogênios no
esgoto doméstico e efluentes de ETE na Alemanha, Brasil e Canadá. Concluíram que esses estrogênios são frequentemente
detectados nos descartes de ETE e águas naturais devido à sua remoção incompleta na passagem pela ETE. Investigações sobre
a contaminação de diferentes ambientes aquáticos por fármacos residuais revelam que esses contaminantes estão presentes em
faixas de concentrações de µg/L e ng/L.
Em outro estudo também relacionado ao Brasil, realizado por Ternes et al. em 1999, foram encontrados estrogênios naturais e
contraceptivos sintéticos na ETE da Penha/RJ. Em esgoto bruto, os estrogênios 17 β-estradiol e estrona foram detectados nas
concentrações de 0,021 µg/L e 0,04 µg/L, respectivamente. As taxas de remoção de estrona observadas foram de 67% para o
efluente tratado em filtro biológico e 83% para o efluente tratado pelo processo de lodos ativados. Para o 17 β-estradiol, estas
taxas foram de 92 e 99,9% para o efluente tratado em filtro biológico e para o efluente tratado pelo processo de lodos ativados,
respectivamente.
Para o estrogênio contraceptivo 17 α-etinilestradiol, as taxas de remoção na ETE foram de 64 e 78% para o efluente do filtro
biológico e para o efluente do tanque de lodo ativado.

Legislação:
Ainda é pouco o conhecimento que se tem a respeito dos riscos provocados pelos hormônios nos seres vivos, e são quase
inexistentes as normas que regulam a presença destes compostos no meio ambiente.
Na Europa existem algumas normas destinadas a avaliação do risco ambiental provocado pelos PPCPs (produtos farmacêuticos
e de higiene pessoal) e interferentes endócrinos, porém em 2005 estas normas foram atualizadas, sendo regulamentado que
produtos farmacêuticos ativos devem passar por avaliação de toxicidade crônica. A União Europeia possui também uma
diretriz, que orienta e estabelece níveis seguros de concentrações de substâncias farmacêuticas de uso veterinário no meio
ambiente, que não devem exceder valores de 10µgkg-1 no solo e 0,1 ng.L-1 em efluentes.
No Brasil existe a resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e
diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. Esta
resolução estabelece os níveis de alguns compostos químicos que podem estar presentes nos corpos d’água, porém não
estabelece concentrações permitidas dos hormônios tanto em águas superficiais, subterrâneas, entre outras.
Nos EUA por meio da USFDA (United States Food na Drug Administration) houve a regulamentação de substâncias

1058
farmacêuticas no meio ambiente com base nos processos de revisão ambiental requerido por este órgão para a aprovação de
novos fármacos. Na tabela da EPA (U.S. Environmental Protection Agency), pode-se encontrar as concentrações médias de
hormônios em água, sólidos e biosólidos.

Principais grupos de hormônios no ambiente

Estrógenos:
Micropoluentes orgânicos são substâncias que mesmo estando presentes em pequenas concentrações, são capazes de
desencadear efeitos sobre os sistemas em que são introduzidos. Dentro deste grande grupo que virtualmente compreende um
universo de milhares de compostos, os chamados disruptores endócrinos (EDCs) vêm se destacando em importância.
Segundo a USEPA (“United States Environmental Protection Agency”), a primeira hipótese sobre os efeitos dos EDCs foi
levantada na década de 1980, com a observação de características femininas em machos de aves coloniais da região dos
Grandes Lagos (EUA-Canadá) expostos a agrotóxicos, sendo o mesmo fenômeno relatado em populações de jacarés de lagos
da Flórida. Mas somente na década de 90 a questão emergiu como sendo uma das principais no campo da pesquisa ambiental
moderna
O lançamento de efluentes in natura ou mesmo processados são as principais vias de contaminação do ambiente aquático, seja
pelo déficit de infraestrutura em saneamento, seja pela ineficiência (tecnológica e/ou operacional) das estações de tratamento.
Estudos realizados por Johnson, A. C.; Williams, R. J, relatam que até 40% das doses ministradas de estrógenos sintéticos
podem ser disponibilizadas para o ambiente.
O destino dos estrógenos no ambiente depende de suas características físicas e químicas e das propriedades do meio receptor.
As inúmeras variáveis que atuam em conjunto no ambiente aquático, como temperatura, turbidez, pH, alcalinidade, oxigênio
dissolvido, radiação, matéria orgânica e concentração de diversas outras substâncias, tornam a tarefa de modelar o
comportamento destes compostos bastante complexa. Dessa forma, são necessárias investigações mais detalhadas para se
entender a dinâmica de distribuição dos hormônios nos diversos ambientes em que são inseridos.
Os efeitos desencadeados pelos hormônios dispostos no ambiente atingem desde microinvertebrados até grandes vertebrados.
Ainda segundo a USEPA, as curvas de dose-resposta dos hormônios ambientais diferem das normalmente associadas a outros
agentes tóxicos (como ex., metais), tendo respostas expressivas geradas em concentrações extremamente baixas.
Inúmeros são os efeitos desencadeados pelos hormônios sexuais sobre a biota: alterações nas taxas de fecundidade,
fertilização, eclosão; modificações comportamentais (agressividade, movimentação); imposex (desenvolvimento de
características sexuais femininas em machos ou oposto) e, inibição do desenvolvimento dos órgãos sexuais e reversão sexual.
Os vários efeitos manifestam-se após interação entre agentes e receptores bioquímicos.

Técnicas Analíticas De Determinação:


determinação de hormônios estrógenos no ambiente constitui-se em tarefa difícil, primeiro, devido à complexidade das
matrizes ambientais e, segundo, por causa de sua baixa concentração (na ordem de ng L-1), porém fisiologicamente ativa.
Em análises de água, até alguns anos, na etapa de preparação das amostras era comum se fazer a extração dos componentes de
interesse utilizando a extração líquido-líquido. Porém, esse tipo de extração, além de ser uma técnica tediosa, requer grandes
volumes de solventes orgânicos, apresenta custo elevado e difícil automação. Em meados da década de 70, visando a
eliminação desses problemas, uma nova técnica foi introduzida, a qual tem sido denominada extração em fase sólida (“SPE:
Solid Phase Extraction”), onde grupos funcionais orgânicos hidrofóbicos são quimicamente ligados a uma superfície sólida,
como sílica.
Para determinação de EDCs, a cromatografia gasosa e a cromatografia líquida têm sido as técnicas mais comumente
empregadas, sempre aliadas à mais alguma técnica de análise.

Incidência De Estrogênios Em Águas Naturais E Tratadas:


Os estrogênios são produzidos naturalmente pelos organismos ou sintetizados industrialmente para serem utilizados como
fármacos. A dispersão no ambiente dá-se após serem eliminados pelo esgoto, onde ocorre o lançamento direto nos corpos
d’água ou após a passagem por tratamento. A destinação no solo também é possível pela deposição de resíduos animais, que
posteriormente atingem mananciais superficiais por escoamento, ou aquíferos por infiltração. A atividade dos estrogênios pode
ser minimizada por mecanismos de biodegradação, de sorção aos sedimentos suspensos e aos sedimentos do leito do corpo
d’água, adsorção ao solo e fotólise.
Foi avaliado em um estudo realizado por Lopes, L.G. et al., o sistema de abastecimento público da região de Jaboticabal-SP,
em relação à contaminação de estrógenos naturais, 17β-estradiol e estrona no manancial superficial Córrego Rico.
A estrona é um hormônio estrogênico secretado pelo ovário, e é o segundo estrogênio predominante na circulação na mulher,
sendo predominante mesmo após a menopausa. 17β-estradiol, é um hormônio sexual e esteroide, o principal hormônio sexual

1059
feminino, o qual é essencial para o desenvolvimento e manutenção dos tecidos reprodutivos femininos, mas também tem
efeitos importantes em muitos outros tecidos, incluindo o ósseo. O estradiol é encontrado na maioria dos vertebrados, bem
como muitos crustáceos, insetos, peixes e outras espécies animais. Esses hormônios também podem estar presentes na
produção agrícola, muitos agrotóxicos são ou contém mimetizadores hormonais. A gordura animal e de laticínios tem alta
concentração, a carne bovina e produtos lácteos são os piores, com altos resíduos de agrotóxicos organoclorados, além de
antibióticos, drogas veterinárias e hormônios sexuais de estímulo de crescimento. Estes hormônios podem entrar nos lençóis
hídricos através da urina das mulheres e então, na cadeia alimentar. Isto também elevou os níveis de exposição aos estrogênios
ao patamar ambiental.
Assim sendo, realizou-se a retirada de 4 amostras em lugares distintos para o estudo, foram elas: nascente do córrego; após
passagem pela área urbana do município de Monte Alto, distante 8,8 km da nascente; no ponto de captação de água para
abastecimento no município de Jaboticabal e distante 26,1 km da nascente; e por último, uma amostra de água da saída da
ETA. Para o preparo das amostras foi utilizado a técnica citada anteriormente, de extração em fase sólida. E para a análise
propriamente dita, utilizou-se cromatógrafo a liquido com detector de fluorescência.
O 17β-estradiol esteve presente em concentração quantificável no ponto da nascente do Córrego Rico, historicamente, a área
foi explorada com criação de gado e horticultura, o que demonstra a contribuição das atividades agrícolas para a dispersão de
estrogênios no ambiente. A estrona esteve presente na amostra coletada no ponto após a passagem pela área urbana. A amostra
apresentou maior turbidez e cor aparente, esse fato pode ser atribuído ao escoamento superficial de áreas de criação animal.
Por meio de comparação, notou-se que a estrona esteve presente em águas com maior cor aparente, turbidez, contrariamente ao
ocorrido com 17β-estradiol, que foi encontrado em águas quando os valores destes parâmetros eram baixos.
Na amostra coletada pós tratamento da ETA, os resultados, de acordo com os conhecimentos atuais para água tratada, não
inferem risco à saúde humana, pois estão abaixo da concentração encontrada como limiar para efeito biológico, sugerindo
eficiência parcial (73,3%) do processo de tratamento de água para a remoção dessa substância, no entanto, demonstra a
necessidade de monitoramento frequente para que esse limiar não seja ultrapassado.
Foi concluído então, que os estrogênios estiveram presentes na água do Córrego Rico de forma descontínua e em nível passível
de provocar alterações fisiológicas nos organismos aquáticos. Apesar disso, a presença de 17β-estradiol em água tratada esteve
abaixo do nível passível de exercer efeito biológico. Os resíduos animais e os lançamentos de esgoto domésticos não tratados
das propriedades podem ter sido as maiores fontes de aporte de estrogênios para a água.

Esteroides:
São compostos tetracíclicos (quatro anéis) de alta massa molecular. Aqueles contendo um ou mais grupos ─ OH e nenhum
grupo C ═ O são chamados esteróis. O esterol mais comum é o colesterol, o qual é encontrado em gorduras animais, mas não
em gorduras vegetais. Responsáveis pela harmonia das funções vitais do organismo. São compostos químicos sintéticos que
imitam os efeitos anabólicos da testosterona, tendo a propriedade de ativar o metabolismo proteico, retendo o nitrogênio e
aumentando a atividade do RNA.
Ele possui finalidade medico-terapeutas, seu excesso é maléfico a saúde, a ingestão durante um longo período de tempo pode
causar a imunodeficiência perda de cálcio nos ossos e afeta o sistema reprodutor tanto masculino como feminino. Os esteroides
anabólicos são derivados do hormônio testosterona na composição e é ingerido por atletas em razão de suas propriedades de
fortalecimento e crescimento muscular, mas causa sérios danos ao fígado e pode até levar a morte. Os principais esteróides
anabolizantes são: oximetolona, metandriol, donazol, fluoximetil testosterona, mesterolona, metil testosterona, sendo os mais
utilizados no Brasil a Testosterona e Nandrolona.
Eles podem ficar vários meses no solo ou sedimentos, tem baixa mobilidade e são constantemente detectados em águas
superficiais e subterrâneas. A ocorrência do hormônio esteroide na água potável causa preocupações, pois este hormônio é
conhecido como desregulado endócrino e afeta principalmente a reprodução dos seres vivos. Como é visto na Tabela 1 mostra
a concentração de esteroides no meio ambiente.

Tabela 1 – Concentrações de esteroides no Meio Ambiente. Fonte: DEKSISSA, T, (2008).

1060
As principais fontes de contaminação incluem efluentes de águas residuais, e do escoamento do solo com lodo de esgoto ou
biossólido e adubo de alimentação de animais e excreção. Como o esteróide se infiltra no subsolo, pode ser carregado pelo solo
e águas subterrâneas contaminando águas superficiais. Na Figura 1 é possível entender como esteróides chegam na água:

Figura 1 – Apresentação esquemática das principais fontes de contaminação. Fonte: DEKSISSA, T, (2008).

Segundo Ghiselli (2006), em um estudo feito em Campinas-SP, a concentração deste hormônio que é encontrado na água
chega a quase 1mg/L, isso quer dizer que se uma pessoa ingere 2 litros de água por dia, em um mês beberia 60mg deste
composto. Esses hormônios chegam nas águas pelo esgoto pois grande parte é excretado nas fezes e urina, e como são
resistentes a tratamento de água completa, faz com que chegue na água potável.
Apesar da identificação de interferentes endócrinos na água potável, os pesquisadores são cautelosos ao avaliar as possíveis
consequências para a população. ‘’ A simples presença de um determinado interferente endócrino no meio ambiente não
significa, necessariamente, que existe um risco a ele associado’’. E embora já se saiba que algumas destas substâncias, em
doses elevadas, interferem no funcionamento das glândulas, ainda não há estudos sobre os efeitos da exposição crônica.
Segundo Ghiselli, o objetivo de estudar o quanto de hormônio esteroide é encontrado na água não é para fazer alarmismo, e
sim apresentar um diagnóstico da água consumida pela população.
Foi concluído então que os esteroides são substâncias imprescindíveis para o desenvolvimento humano. Pois, contribuem de
maneira significativa para isso e por conta disso, a indústria farmacêutica desenvolve pesquisa de grande porte para
desenvolver produtos químicos que possam melhorar a qualidade de vida das pessoas. Porém, na maioria das vezes, esses
produtos químicos são consumidos de maneira errada pelo público em geral o qual vai parar no sangue e rins. Quando
excretado pelo corpo chega em grande quantidade nos rios e lagos contaminando as águas com grande concentração chegando
na população.

Hormônios Na Água E Seus Efeitos Em Peixes:


O aumento substancial da concentração de hormônios na água principalmente nas últimas três décadas vem intrigando o meio
científico também em outros aspectos. Pesquisadores dos ramos ambiental e biológico questionam-se sobre os efeitos desses
compostos em peixes e outros animais aquáticos, assim como seu efeito desencadeado sobre todo um ecossistema.
Kidd et.al (2007) ao longo de sete anos de pesquisas realizadas em lagos experimentais próximos a Ontário – Canadá,
acompanhou as mudanças de todo um ecossistema cuja espécie dominante, Pimephales promelas, um peixe de pequeno porte
endêmico da América do Norte, foi exposta de forma crônica a baixas concentrações (5-6 ng/L) de 17α-etinilestradiol (EE2),
hormônio presente em pílulas anticoncepcionais. Seu estudo apontou que peixes machos tiveram alterações em seu
desenvolvimento gonadal, passaram a produzir vitelogenina (VTG) (hormônio sintetizado por fêmeas durante o processo de
maturação dos ovócitos) e chegaram ao ponto de produzir ovos, ainda que em estágio inicial de maturação.
Embora já houvesse indícios em outros estudos dessa “feminização” de peixes machos, não se sabia naquele momento até que
ponto essa baixa concentração de hormônios e seus efeitos no sistema endócrino dos espécimes seria capaz de afetar todo um
ecossistema. O estudo de Kidd apontou um colapso da população da espécie citada após o segundo período de adição de EE2,
devido à queda brusca em número da população jovem, que não foi capaz de suprir o número de indivíduos na desova ulterior,
provando que mesmo a concentração na ordem de pode causar forte impacto na sustentabilidade de ecossistemas
aquáticos.

1061
Deve-se ressaltar que a União Europeia, após a conclusão deste estudo, cogita regulamentar a concentração de EE2 em
0,035ng/L.
OSRI (2013 apud JARDIM) destaca que há uma lacuna muito importante no conhecimento sobre efeitos desses contaminantes
na fauna latino-americana. No Brasil, a legislação não adaptada a um conceito recente que é o lançamento de resíduos
hormonais na água faz com que muitas dessas substâncias sejam destinadas a esgotos e mananciais, causando os efeitos já
mencionados a fauna aquática, e sem tratamento adequado (os requisitos de qualidade da água do Ministério da Saúde nada
falam sobre hormônios) voltem a ser distribuídos à população brasileira.

Considerações Finais
Pouco é conhecido sobre o destino e o comportamento dos hormônios no ambiente aquático, porém já há evidências dos males
que estes são capazes de provocar à biota e ao homem. Apesar de ainda escassos, os trabalhos e pesquisas a respeito desse
assunto estão ganhando força aos poucos entre a comunidade científica, através do desenvolvimento de técnicas analíticas,
modelos de avaliação do risco ambiental, elaboração de uma literatura mais abrangente e leis que regulamentam a quantidade
desses fármacos nos meios, a fim de se determinar as reais influências desses compostos aos seres.

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1063
5SSS247
DIAGNÓSTICO FÍSICO CONSERVACIONISTA-DFC DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO MAROMBAS (SC)
Renata Bulling Magro1, Mariana Gomes Oliveira2, Alvaro João Zonta Neto3, Emili L. D. Schutz4
1Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), e-mail: renatamagro4@gmail.com; 2Universidade do
Estado de Santa Catarina (UDESC), e-mail: marianagomes.udesc@gmail.com; 3Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC), e-mail: alvarozonta@gmail.com; 4Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), e-
mail: emilischutz@hotmail.com

Palavras-chave: Deterioração ambiental; Gestão de bacias hidrográficas; Geoprocessamento.

Resumo
Os estudos de Bacias Hidrográficas, como unidade de gestão, estavam inicialmente voltados aos recursos hídricos, mas hoje
contemplam também uma gama de aspectos, entre os quais a conservação do solo, o aumento da produtividade, a exploração
econômica, as potencialidades turísticas e as relações sociais. A Gestão Integrada de Bacias Hidrográficas (GIBH) é um
conjunto de ações de visam compatibilizar as atividades socioeconômicas com a sustentabilidade ambiental. Elaborar planos
para o gerenciamento exige conhecer o sistema, seus componentes e suas relações, a fim de formular os problemas a serem
atacados. Este trabalho teve como objetivo realizar o Diagnóstico Físico Conservacionista (DFC) para os 11 subsetores que
compõem a bacia hidrográfica do rio Marombas, localizada em Santa Catarina, a partir da metodologia adaptada de Beltrame
(1994) e Das Neves (2012). A metodologia permite, a partir de uma setorização da bacia, a avaliação de sete parâmetros. Os
resultados da soma dos parâmetros indicam o potencial de deterioração, dando um panorama geral da bacia quanto à
degradação física observada. As sub bacias Rio Patos e Rio Lajeado da Cadeias foram as que apresentaram maior índice de
deterioração ambiental (59,25).

Introdução
A bacia hidrográfica pode ser considerada um sistema no qual realizam-se os balanços de entrada e saída de água. Sobre esse
território é que se desenvolvem as atividades humanas e biológicas. As áreas urbanas, rurais, industriais ou de preservação,
interagem dentro deste sistema. Sendo que, as atividades antrópicas podem alterar aspectos da qualidade das águas,
comprometendo a biota e restringindo os possíveis usos dos recursos hídricos (MERTEN & MINELLA, 2002). Neste contexto,
Yassuda (1993) complementa que a bacia hidrográfica é o palco unitário de interação das águas com o meio físico, o meio
biótico e os meios social, econômico e cultural.

De acordo, com Mota (1995), realizar o planejamento territorial de uma bacia hidrográfica baseando-se nas características
ambientais da mesma é o melhor método para evitar a degradação de seus recursos hídricos. Reconhecer os impactos existentes
em um corpo hídrico não é uma missão difícil, entretanto, a identificação das suas origens e a análise e elaboração de um plano
adequado, são tarefas trabalhosas e, raramente aplicadas da forma necessária pelos órgãos responsáveis.

A gestão é um processo participativo, contínuo, interativo e adaptativo, que envolve diversos deveres associados a fim de
alcançar metas e objetivos pré-determinados (CICIN-SAIN & KNECHT, 1998). Desta maneira, a Gestão Integrada de Bacias
Hidrográficas tem a finalidade de oferecer apoio à tomada de decisão, zelar pelo bom uso e ocupação do solo da região a ser
estudado, estabelecer critérios a partir da avaliação de resultados, entre outros usos.

Inseridos no escopo da GIBH estão os diagnósticos Físico-Conservacionista (DFC), Sócio-Econômico (DSE) e Ambiental
(DA), que são parte do processo de formulação e análise dos problemas. O Diagnóstico Físico-Conservacionista (DFC) tem
como meta determinar o potencial de degradação ambiental de uma bacia, a partir de fatores naturais, como subsídio ao
planejamento e manejo dos recursos naturais. Para isso, é necessário indicar parâmetros potenciais que serão expressos em
forma numérica, estabelecendo o risco de degradação e possibilitando uma análise qualitativa quanto à preservação desses
recursos. Os parâmetros são selecionados em virtude de sua capacidade potencial intrínseca de contribuírem para a degradação
dos recursos naturais renováveis, de uma bacia hidrográfica, ou refletirem essa degradação. O DFC é um diagnóstico
preliminar necessário para embasar todos os demais, a fim de compor o Diagnóstico Integral da Bacia Hidrográfica. Mesmo
genérico, é abrangente e prático por obter valores objetivos que avaliem o estado físico-conservacionista de uma bacia
hidrográfica.

1064
Este trabalho teve como objetivo a realização do diagnóstico físico conservacionista para os 11 (onze) subsetores que
compõem a bacia hidrográfica do rio Marombas, localizada em Santa Catarina, como subsídio técnico a partir do qual possam
ser tomadas decisões para a boa gestão e para a manutenção do equilíbrio ambiental da região.

Materiais e Métodos
A Bacia Hidrográfica do rio Marombas (Figura 1), situa-se no centro do Estado de Santa Catarina e corresponde a uma área de
3.941,04 km², compreendendo as seguintes cidades: Lebon Régis, Santa Cecília, Fraiburgo, Monte Carlo, Frei Rogério,
Campos Novos, Brunópolis, Curitibanos, Ponte Alta do Norte e São Cristóvão do Sul. Para a realização do diagnóstico físico
conservacionista a bacia hidrográfica do rio Marombas foi dividida em 11 sub bacias, baseando-se nos divisores de água e
respeitando sua condição geomorfológica. Além disso, realizou-se o diagnóstico in loco da área de estudo, com o objetivo de
avaliar o uso e ocupação do solo nas diferentes regiões que compreendem a bacia hidrográfica.

Figura 53 - Mapa de situação da bacia hidrográfica do rio Marombas e sua subdivisão em 11 sub bacias

Realizar a subdivisão de uma bacia hidrográfica de maior ordem em seus componentes (sub bacias) permite pontuar problemas
difusos, facilitando a identificação de áreas de degradação de recursos naturais, da natureza dos processos de degradação
ambiental instalados e o grau de comprometimento da produção sustentada existente (FERNANDES & SILVA, 1994). Esta
abordagem também está de acordo com o enfoque sistêmico pelo qual, sistemas complexos tendem a ser melhor analisados
quando decompostos em subsistemas. O diagnóstico do todo pode ser obtido pelo diagnóstico de suas partes (RAFAELI
NETO et al., 2015).

Todo o procedimento de formatação para delimitar a área da bacia e subdividi-la foi realizado através do programa ArcGis®
10.1. Para identificar a superfície de drenagem, o modelo digital de elevação e seus derivados foram tratados para uma
delineação eficiente da bacia hidrográfica, geração de atributos e a geração da rede de drenagem. Assim como foram
calculados alguns parâmetros morfométricos, como: Área, Perímetro, Comprimento da Bacia, Largura Média da Bacia, Cotas
Altimétricas, Relevo Total, Fator de Forma e Coeficiente de Compacidade.

O método de Diagnóstico Físico Conservacionista (DFC) utilizado no presente trabalho foi adaptado de Beltrame (1994), a
partir das metodologias desenvolvidas pelo Centro Interamericano de Desenvolvimento de Águas e Terras (CIDIAT) e pelo
Ministério do Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (MARNR). Esta metodologia procura diagnosticar os diversos
aspectos físicos e bióticos de uma bacia hidrográfica e, assim, contribuir na elaboração de diretrizes e estratégias racionais de
ocupação do solo, além de apontar formas de uso a partir das potencialidades e limitações ecológicas da área (BELTRAME,
1994; DAS NEVES, 2012).

1065
O DFC é calculado através de quatro fatores naturais de degradação física (vegetação, características do relevo, características
geológicas e pedológicas e clima) e, a partir deles, sete parâmetros referentes ao estado da vegetação, características climáticas,
geológicas, pedológicas e de relevo da área estudada são levados em consideração (Equação 1).

Ef = COa + CAb + DMc + Ed + PEe + DDf + BHg (1)

Onde COa representa o grau de semelhança entre a cobertura vegetal original e a atual (Altamente semelhante, Semelhante,
Mediamente semelhante, Baixa semelhança, Nenhuma semelhança), CAb a proteção da cobertura vegetal atual do solo (0 a 1),
DMc a declividade média da bacia (Plano, Ondulação suave, Ondulado, Ondulação moderada, Ondulação forte), Ed a
erosividade da chuva (Débil, Média, Forte, Muito forte, Excessiva); PEe o potencial erosivo do solo (Baixo, Moderado,
Moderado a alto, Alto, Muito alto), (DDf) a densidade de drenagem (Baixa, Mediana, Alta, Muito alta) e BHg o resultado do
balanço hídrico simplificado (Muito alto, Alto, Médio, Baixo). Os índices a, b,..g são os valores que cada parâmetro assume,
dentro de uma faixa de variação dada por tabelas e própria de cada parâmetro, os quais elencam as melhores e piores condições
ambientais de cada subsetor e, ao final, obtém-se o estado físico-conservacionista da bacia como um todo.

Para a determinação do COa, utilizou-se como base a descrição florística de Veloso, Rangel Filho e Alves-Lima (1991),
publicado pelo IBGE. Dessa forma, foi possível compará-las com o mapa de uso e ocupação do solo da bacia hidrográfica.
Para estimar os valores de CAb utilizou-se o método de Das Neves (2012), que relaciona os percentuais de cobertura do solo
aos seus tipos usos e ocupação, atribuindo um índice de proteção do solo para cada sub bacia. Para o cálculo da declividade
média (DMc) utilizou-se o mapa de declividade da área estudada e a distribuição por classes de declividade do terreno,
disponibilizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2004), possibilitando a classificação do
relevo.

A erosividade da chuva (Ed) foi calculada pela Equação 2, os parâmetros da equação foram obtidos a partir de dados históricos
de precipitação das estações pluviométricas que estão inseridas nos subsetores da bacia hidrográfica do rio Marombas, sendo
elas Passo Marombas, Ponte Alta do Norte, Lebon Regis e Rio Antinhas. Os dados foram obtidos na plataforma Hidroweb,
desenvolvida pela Agência Nacional de Águas (ANA). As áreas de influência para cada subsetor foram determinadas pelo
método dos polígonos de Thiessen e os valores das áreas de influência por meio de cálculos no software ArcGis 10.1.

(2)

Na qual Ei: erosividade média de cada mês do ano (ou índice de erosão médio mensal) válida no período da série histórica de
chuvas (t/ha.mm/h);
Pi: precipitação média do i-ésimo mês obtida no período da série (mm);
P: precipitação média anual (mm)

Para a determinação do potencial erosivo, aplicou-se metodologia desenvolvida no trabalho de Das Neves (2012), e para que
fosse realizada a classificação dos índices de potencial erosivo por setores, adotaram-se como referência os índices adaptados
de Salomão (2007).

1066
Figura 2 – Worklow para determinação do potencial erosivo do solo.
Fonte: Adaptado de Rafaeli Neto et al. (2015)

Para o cálculo do Balanço Hídrico (BH) foi adotado o modelo de Thornthwaait e Mather (1955), utilizando uma média de 12
anos (1977-1989). Neste método são utilizados dados de precipitação (P), evapotranspiração (ETP) e da capacidade de água
disponível no solo (CAD) para obtenção dos valores de excedente hídrico (EXC), evapotranspiração (ETR) e armazenamento
de água no solo (ARM).

Os graus de deteriorações das sub bacias foram normalizados para índices entre 0 a 100 (y), a partir da Reta de Deterioração
(Equação 3).

(3)

Resolvendo-se o sistema de equações da Equação 4, determinou-se os coeficientes “a” e “b” da reta que converte os índices de
Ef em índices percentuais.

𝑎𝑥+𝑏 = 0
(8)
𝑎𝑥′+𝑏 = 100

Onde:
x: valor mínimo da soma dos critérios (x = 7)
x’: valor máximo da soma dos critérios (x’= 34)
O valor mínimo possível Ef =7 significa o melhor estado físico–conservacionista que a sub-bacia pode apresentar. O máximo
valor Ef = 34 representa o pior estado físico-conservacionista.

Resultados e Discussão

Os parâmetros morfométricos da bacia hidrográfica do rio Marombas estão apresentados na Tabela 1.

1067
Parâmetro
Área (km²) 3 941,04
Perímetro (km) 554,32
Fator de Forma 0,61
Relevo Total (m) 710
Largura média da bacia (km) 49,23
Índice de Circularidade 0,16
Coeficiente de Compacidade 2,47
Densidade de Drenagem (km/km²) 0,21
Índice de Rugosidade (km/km²) 149,1
Tabela 1 – Parâmetros morfométricos da bacia do rio Marombas

Os resultados dos índices de forma (coeficiente de compacidade; fator de forma; e índice de circularidade) apontam para uma
bacia alongada, o que reflete em um maior escoamento de água na bacia, ou seja, maior tempo de concentração e menor
tendência de haver picos de inundação. Dessa forma, está é uma bacia pouco suscetível a inundações (CAMPANHARO, 2010;
BRUBACHER et al., 2011).

Os 7 parâmetros referentes ao estado da vegetação, características climáticas, geológicas, pedológicas e de relevo da área
estudada levantados no DFC para os 11 sub-setores da bacia hidrográfica estão apresentados na Tabela 2.

Parâmetro
Sub-bacia ∑ índices
COa CAb DMc Ed PEe DDf BHg
Rio Patos CO4 CA4 DM3 E1 PE3 DD4 23BH4
Rio Bonito CO4 CA3 DM3 E1 PE3 DD3 21BH4
Rio Lajeado das CO5 CA4 DM3 E1 PE3 DD3 23BH4
Cadeias
Rio Mansinho CO4 CA4 DM3 E1 PE2 DD1 BH4 19
P0 CO4 CA3 DM3 E1 PE3 DD1 BH4 19
Rio Pedras CO4 CA3 DM3 E2 PE3 DD2 BH3 20
P1 CO4 CA4 DM3 E1 PE2 DD1 BH4 19
P2 CO4 CA3 DM3 E1 PE2 DD1 BH4 18
P3 CO3 CA3 DM3 E2 PE3 DD1 BH4 19
Rio Taquaruáçu CO4 CA4 DM3 E1 PE3 DD1 BH4 20
Tabela 2 - Parâmetros de vegetação, características climáticas, geológicas, pedológicas e de relevo das sub-bacias
COa: grau de semelhança entre a cobertura vegetal original e a atual; CAb: proteção da cobertura vegetal atual do solo; DMc: declividade
média; Ed: erosividade da chuva; PEe: Potencial erosivo do solo; DDf: densidade de drenagem; BHg: balanço hídrico.

A sub bacia Rio Lajeado das Cadeias apresentou grau de semelhança CO5 (entre 0-20%), que com base na metodologia de
Beltrame, significa nenhuma semelhança da cobertura original com a atual, o qual pode ser causado por ser uma região com
mais ocupação antrópica e atividades agrícolas. A sub bacia P3 apresentou índice CO3 (entre 41-60%), indicando semelhança
mediana com a cobertura original. As demais sub bacias obtiveram grau de semelhança CO4 (entre 21-40%), o que sinaliza a
baixa manutenção da cobertura original do solo.

Com relação à proteção da cobertura vegetal todas as sub bacias apresentaram simbologia CA4 (0,40-0,59) ou CA3 (0,60-
0,79), os quais são considerados valores medianos. Para esse parâmetro quanto mais próximo a 1 (um) maior a proteção total
do solo. A declividade média das sub bacias ficou entre 8-20%, o que se caracterizou como sendo ondulado.

De acordo com os índices de erosividade para o Estado de Santa Catarina, 8 (oito) sub bacias apresentaram erosividade débil
com índice E1 (< 599,04 t/ha.mm/h). As sub bacias Rio Pedras e P3 apresentaram erosividade média com índices E2 (599,04-
675,48 t/ha.mm/h). A proximidade de alguns subsetores fez com as médias mensais pluviométricas sejam semelhantes para
estes, resultando no mesmo índice de erosividade ou em um índice próximo. Assim, pode se afirmar que a chuva apresenta uma
capacidade pouco significativa para a erosão do solo e que as áreas dos subsetores estão pouco propensas a sofrer esse tipo de
impacto.

O potencial erosivo do solo para os setores ficou classificado entre moderado, índice respectivo PE2, e moderado a alto, índice

1068
respectivo PE3, algo evidenciado devido à significativa presença da exploração de madeira por meio de reflorestamento e
desenvolvimento de atividades agrícolas na bacia hidrográfica, o que eleva os níveis de erosividade. Quanto ao balanço hídrico
todas as sub bacias apresentam comportamento semelhante (BH4), ou seja, uma qualificação baixa desse parâmetro, indicando
deficiência hídrica do sistema em pelo menos um mês/ano.

A reta de Deterioração Físico Conservacionista e a equação da reta estão ilustradas na Figura 3.

Figura 3 – Reta representativa da degradação física das sub bacias.

A igualdade do valor do índice de deterioração ambiental entre duas ou mais sub bacias significa que estão sob as mesmas
condições em termos de conservação física do ambiente, além disso, o valor de DFC encontrado para todas as sub bacias foi
superior a 30, o que demonstra que a área de estudo apresenta influência antrópica expressiva (CHUEH, 2004; RAFAELI NETO et
al., 2015).

Os subsetores Rio Patos e Lajeado das Cadeias apresentaram maior índice do DFC (59,25) colocando-as em primeiro lugar em
termos de degradação ambiental. Lajeado das Cadeias abrange a cidade de Brunópolis e uma pequena parte do sudoeste de
Curitibanos, ambas têm como principais atividades produtivas a agricultura e a pecuária, contribuindo para que existam altos
índices de degradação devido à criação de áreas agrícolas e pastoris nessa parte da bacia hidrográfica do rio do Marombas.

Estão inseridas na sub bacia Rio Patos as cidades de Lebón Régis e Fraiburgo, nessa região há poucas áreas de remanescentes
vegetais, devido há predominância de atividade como agricultura e reflorestamento. Além disso, ambas se situam na parte alta
da bacia hidrográfica do Marombas, onde a vazão disponível é mais baixa, interferindo na disponibilidade hídrica dos cursos
d’água.

Comentários finais

A metodologia apresentada neste trabalho mostra-se viável no sentido de apresentar dados objetivos, capazes de serem obtidos em
fontes secundárias, de baixo custo. Outro aspecto relevante é a possibilidade de se obter um diagnóstico do sistema que ocupa uma
área significativa, com uma diversidade morfométrica, ambiental, social e econômica.

O diagnóstico mostra que o nível de deterioração ambiental da bacia hidrográfica do rio Marombas é elevado, os 11 subsetores
apresentaram DFC superior a 30. Para as sub bacias Rio Patos e Rio Lajeado das Cadeias o valor foi igual a 59,25, indicando elevado
potencial de degradação.

O conflito entre a expansão do uso do solo, potencializada pelas práticas que geram impactos ambientais, e a necessidade de
manutenção das áreas desta bacia como área de preservação ambiental, mostra a importância em ser efetivado um plano de

1069
ação que contemple estas contradições. Destaca-se a importância da elaboração de um plano de gestão baseado na bacia
hidrográfica, prezando que o mesmo seja realizado em aliança com a comunidade, buscando aproximar as técnicas de gestão
integrada de bacias hidrográficas e as comunidades usuárias de água da bacia, de forma que a mesma se sinta não somente
parte da problemática, mas também da solução.

Referências Bibliográficas
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1994.
BRUBACHER, J. P.; OLIVEIRA, G. G. de; GUASSELLI, L. A.. Suscetibilidade de enchentes a partir da análise das variáveis
morfométricas na bacia hidrográfica do rio dos Sinos/RS. In: XV SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO
REMOTO - SBSR, 15., 2011, Curitiba. Anais. Curitiba: Inpe, 2011. p. 1279 - 1286.
CAMPANHARO, A. W. Diagnostico físico da bacia do Rio Santa Maria do Doce-ES. 2010. 66 p. Dissertação (Título de
Engenheiro Florestal). Universidade Federal do Espírito Santo. Jerônimo Monteiro, ES. 2010.
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Físico Conservacionista (DFC). Dissertação (Pós-graduação em Geografia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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EMBRAPA. Avaliação da aptidão agrícola das terras: proposta metodológica. Jaguariúna - SP, 2004. Disponível em:
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1070
5SSS248
CAPTAÇÃO DA ÁGUA DE CHUVA PARA FINS POTÁVEIS NA
REGIÃO AMAZÔNICA, APÓS O EMPREGO DE FILTROS DE SEIXO,
AREIA E CARVÃO
Benedito Franciano Ferreira Rodrigues1, Milton Antônio da Silva Matta2, Renata da Costa e Silva Crespim3,
Fabíola de Almeida Daronch4 & José Fernando Pina Assis5
1Instituto Federal do Pará, e-mail:benedito.ferreira@ifpa.edu.br; 2Universidade Federal do Pará, e-
mail:matta@ufpa.br; 3Universidade Federal do Pará, e-mail:crespimrenata@gmail.com; 4Universidade Federal
do Pará, e-mail:fabiolamagalmeida@gmail.com; 5Universidade Federal do Pará, e-mail:josepina@ufpa.br

Palavras-chave: Água de chuva; Qualidade da água; Água potável.

Resumo
Pode parecer contraditório o aproveitamento de água de chuva como uma nova alternativa para captação de água potável na
Amazônia brasileira, por ser uma das regiões que mais possui água doce no mundo. Porém, o grande problema não é a falta de
água, mas os problemas decorrentes da Gestão e Planejamento dos Recursos Hídricos. A intensa poluição das águas
subterrâneas e superficiais das regiões ribeirinhas recebendo todo o esgoto sem tratamento das cidades, as concessionárias de
abastecimento de água sem estrutura mínima para atender uma grande parcela da população, são alguns dos problemas
encontrados na região. Neste sentido esta pesquisa buscou desenvolver um equipamento de baixo custo para realizar a captação
da água de chuva e transformá-la em potável, para consumo direto levando em conta desde a viabilidade econômica e técnica
do Sistema de Aproveitamento de Água de Chuva (SIAAC), os custos de construção, o método executado e a qualidade da
água após a filtração através da análise das características físico-químicas (pH, cloro residual, cloretos, cor aparente, dureza
total, ferro, alumínio, temperatura e turbidez) e microbiológicos (Escherichia coli e coliformes totais). Todo o aparato foi
construído nas dependências do Instituto Federal do Pará (IFPA) - Campus Abaetetuba e os monitoramentos foram realizados
nos meses de Maio e Setembro de 2016 e Janeiro de 2017.

Introdução

A água é um bem finito e essencial à sobrevivência de todos os seres vivos. Considerando a crescente demanda por
água provocada principalmente pela ocupação desordenada dos centros urbanos e poluição dos mananciais, a redução de água
potável no mundo gera muitas preocupações em relação ao futuro, como: risco de desabastecimento, racionamentos, alto custo
da água tratada, impermeabilização do solo e inundações (HESPANHOL, 2003).
Essa realidade tem alavancado pesquisas e inovações tecnológicas voltadas para o tratamento e consumo de águas
pluviais que permitem: redução dos gastos com captação e transporte de água destinada a consumos secundários; melhoria da
qualidade ambiental; aumento da segurança hídrica para atender o aumento populacional; controle de vazões nos corpos
hídricos e redução de enchentes (HESPANHOL, 2003).
Existem em alguns países como Alemanha, Austrália, Estados Unidos e Japão sistemas de aproveitamento de água de
chuva que geram economia superior a 30%. Esse valor pode variar de acordo com a área da edificação, tipo do telhado
(cerâmica, fibrocimento e metálica) e precipitação (TOMAZ, 2003).
O Brasil, apesar de possuir um grande potencial hídrico, enfrenta graves problemas de escassez e desperdício de água
devido à alta concentração populacional em áreas onde há pouca água. Este problema poderia ser solucionado com políticas e
programas de reuso de água.
A água de chuva em geral é considerada de boa qualidade, mas dependendo da região onde ela ocorre pode apresentar
alta concentração de poluentes, necessitando assim de tratamento prévio de filtração e desinfecção. Portanto, é relevante a

1071
representatividade deste estudo como instrumento de gestão dos recursos hídricos, já que seus aspectos qualitativos e
quantitativos são pontos de partida para as diversas dimensões da Gestão Ambiental.
É inegável no cenário atual a crescente demanda por água devido às suas mais diversas aplicações: abastecimento
público, abastecimento industrial, preservação da flora e da fauna, atividades agropastoris, geração de energia elétrica, etc.
Sabendo-se que este recurso natural é um bem finito, o aproveitamento de águas pluviais para consumo humano surge como
um importante instrumento de gestão e de conservação dos recursos hídricos (CAMPOS 2016).
O equipamento foi construído no campus do Instituto Federal do Pará (IFPA) no município de Abaetetuba, Pará, que
está localizado às margens do Rio Maratauíra, afluente do Rio Tocantins, abrangendo os municípios de Moju, Igarapé-Miri e
Barcarena (somando uma população de mais de 350.000 habitantes), com fácil acesso a capital Belém.
Na região, o saneamento básico é precário, onde grande parte da população sofre com a falta de água de qualidade e
como alternativa para atender as necessidades da população ao acesso à água tratada, buscou-se desenvolver um filtro lento, de
baixo custo, com total eficiência na retenção de impurezas encontradas em águas de origem pluvial para serem destinadas ao
consumo humano.

Materiais e Métodos

Foi projetado e construído um protótipo (Figura 01 e Figura 02) para a realização das coletas e análises. Utilizou-se as
Normas Brasileiras (NBR) para os devidos dimensionamentos do sistema, como a estrutura da cobertura, condutores, calhas,
remoção de detritos, primeiras águas e reservatório.

Figura 1: Detalhe do projeto de filtros e captação de água de chuva

1072
Figura 2: Detalhe do projeto para captação de água de chuva

Optou-se por usa o filtro lento devido as seguintes vantagens:

 Remoção de parte da turbidez e de bactérias do grupo coliformes, maior que 3log, ou seja, 99,9%;
 Baixo custo de construção quando a área for pequena e simplicidade de projeto;
 Não precisa de produtos químicos como pré-tratamento;
 A falha no funcionamento do filtro lento de areia resulta numa perda de produção e não na perda da
qualidade da água tratada e podem trabalhar com fluxo de água intermitente.

Foram usados três recipientes de 18 litros, todos limpos com sabão neutro e água fervente, para retirada de possíveis
sujeiras e gorduras.

No primeiro recipiente, foi colocado uma camada de agregado miúdo (areia fina e branca), de 20 cm de espessura, e
logo acima uma outra de agregado graúdo (seixo lavado fino) também de 20 cm de espessura. Ambos os agregados são
facilmente encontrados na região.

Todas as tubulações de entrada ficam localizada na parte superior do recipiente, já a saída de se inicia na parte inferior
interna do mesmo, conforme Figura 3.

O objetivo pelo qual levou-se a escolha das posições das tubulações no recipiente, foi que o fluxo de baixo para cima
ou fluxo ascendente, ajudará na retenção de sujeiras e impurezas oriundas da atmosfera e telhado.
No segundo recipiente (Figura 3), optou-se por usar apenas uma camada de 40 cm de agregado graúdo (seixo lavado
fino), criando uma segunda barreira para sujeiras e impurezas. Igualmente ao primeiro recipiente foi usado o mesmo sistema de

1073
tubulação de entrada e saída de água.

Figura 3. Detalhes dos filtros e tubulações.

A água após passar pelos dois primeiros recipientes seguirá por dois caminhos diferentes, sendo um pelo dosador de
cloro e o outro diretamente para o terceiro recipiente, que contem carvão ativado (Figura 4).
A escolha do dosador de cloro foi que o mesmo é um desinfetante altamente eficiente para eliminar agentes
patogênicos causadores de doenças, tais como bactérias, vírus e protozoários.
O sistema de dosador permitirá a passagem, através do registro, que controlará a quantidade de água, com o intuído de
evitar um excesso de cloro no sistema.
Para a construção do dosador, foi utilizado um filtro de passagem transparente sem o elemento filtrante.
No último estágio de filtragem da água, terá o terceiro recipiente, com uma única camada de carvão ativado (40 cm),
para a purificação de água e diminuição de um possível excesso de cloro. O Carvão Ativado poderá eliminar cor, óleos, odor,
mau gosto, remove substâncias orgânicas dissolvidas através do mecanismo de absorção (Figura 4).

1074
Figura4: Detalhe do dosador de cloro e recipiente com carvão ativado.

A confiabilidade dos resultados analíticos depende do procedimento adequado de coleta e transporte das amostras
analisadas. O material coletado deve representar de forma fidedigna o local amostrado. A seleção criteriosa dos pontos de
amostragem e a escolha de técnicas adequadas de coleta e preservação de amostras são primordiais para a confiabilidade e
representatividade dos dados gerados. Para tanto, é necessário que sejam seguidas as orientações normativas. As informações
quanto aos tipos de frasco, quantidade de amostra, forma de preservação e prazo de entrega conforme os parâmetros e ensaios
solicitados.

Todas as amostras foram analisadas conforme a metodologia Standard Methods for Water and Wastewater - SMWW
22º Edição.

Todos os procedimentos de coleta e preservação das amostras, como tipo de frasco, volume mínimo, preservação,
prazo para análise, entre outros, foram realizados conforme determinado pela NBR 9898/1987.

As coordenadas de localização das amostras são: Latitude: 1º 42’ 27,32” S e Longitude: 48º 52’ 36,09” O.

Foram realizadas um total de 9 coletas, da seguinte forma:

a) Em três locais:
1. Antes do contato com o telhado, em recipiente esterilizado;
2. No reservatório, antes dos filtros e clorador;

1075
3. Após a passagem pelos filtros e clorador, na torneira.
b) Em três períodos de tempo:
1. Em maio de 2016 (fim do período de chuva na região);
2. Em setembro de 2016 (período de pouca chuva na região);
3. Em janeiro de 2017 (início do período de chuva na região).

Foram analisados os seguintes parâmetros:


1. Potencial Hidrogeniônico (pH): através do métodoELETROMETRICO;
2. Cloro residual- mg/L: através do métodoTITULOMETRICO;
3. Cloretos - mg/L: através do métodoTITULOMETRICO;
4. Cor Aparente - uH: através do método de ESPECTROFOTOMETRIA;
5. Dureza Total - mg/L: através do métodoTITULOMETRICO;
6. Ferro - mg/L: através do método de ESPECTROFOTOMETRIA;
7. Alumínio - mg/L: através daESPECTROSCOPIA DE EMISSÃO ATÔMICA POR PLASMA;
8. Temperatura - °C: através do TERMOMETRO;
9. Turbidez - uT: através do TURBIDIMETRO;
10. Escherichia coli - NMP/100mL: através das TÉCNICAS DOS TUBOS MULTIPLOS;
11. Coliformes Totais - NMP/100mL: através das TÉCNICAS DOS TUBOS MULTIPLOS.

Resultados e Discussão

Resultados das Análises Fisicoquímicas e Microbiológicas


Água antes de Água no Água após a Portaria
Parâmetros Unidade
tocar no telhado reservatório filtração 2914/2011
pH - 5,02 5,31 6,55 6,0 a 9,5
Cloro residual mg/L Ausente Ausente 3,5 2
Cloretos mg/L 6,23 6,77 26 250
Cor Aparente uH 12 15 17 15
Dureza Total mg/L 13 13 11 500
Ferro mg/L 0,08 0,09 0,2 0.3
Alumínio mg/L 0,01 Ausente 0,05 0,2
Temperatura °C 25 24 23 -
Turbidez uT 1,01 4,30 0,55 1
Escherichia coli NMP/100mL Ausente Ausente Ausente Ausente
Coliformes Totais NMP/100mL Ausente Ausente Ausente Ausente
Tabela 1: Dados da coleta 01 realizada em maio de 2016

1076
Água antes de Água no Água após a Portaria
Parâmetros Unidade
tocar no telhado reservatório filtração 2914/2011
pH - 4,82 5,03 6,07 6,0 a 9,5
Cloro residual mg/L Ausente Ausente 2,07 2
Cloretos mg/L 7,43 7,23 17,01 250
Cor Aparente uH 11 23 18 15
Dureza Total mg/L 12,1 12,8 10 500
Ferro mg/L 0,5 0,49 0,35 0.3
Alumínio mg/L 0,2 0,21 0,18 0,2
Temperatura °C 26 28 24 -
Turbidez uT 1,49 5,47 0,68 1
Escherichia coli NMP/100mL Ausente Ausente Ausente Ausente
Coliformes Totais NMP/100mL Ausente Ausente Ausente Ausente
Tabela 2: Dados da coleta 02 realizada em setembro de 2016

Água antes de Água no Água após a Portaria


Parâmetros Unidade
tocar no telhado reservatório filtração 2914/2011
pH - 5,01 5,43 6,97 6,0 a 9,5
Cloro residual mg/L Ausente Ausente 1,3 2
Cloretos mg/L 6,21 6,27 16,35 250
Cor Aparente uH 9 26 23,5 15
Dureza Total mg/L 10,57 10,8 9,98 500
Ferro mg/L 0,3 0,27 0,1 0.3
Alumínio mg/L 0,17 0,13 0,1 0,2
Temperatura °C 23 26 25 -
Turbidez uT 1,43 6,89 1,21 1
Escherichia coli NMP/100mL Ausente Ausente Ausente Ausente
Coliformes Totais NMP/100mL Ausente Ausente Ausente Ausente
Tabela 3: Dados da coleta 03 realizada em janeiro de 2017

Interpretação dos resultados para a qualidade da água

Potencial Hidrogeniônico (pH): Para a Portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde (MS) Brasileira os valores de pH para a
potabilidade da água varia entre 6,0 e 9,5. Verifica-se que os valores das coletas (Tabela 1, 2 e 3), antes de tocar no telhado e
no reservatório, estão todas abaixo do mínimo estabelecido pela referida Portaria, se caracterizando como águas ácida.Já as
análises feitas após a filtração, verificou-se que todas estão enquadradas nos limites de valores estabelecidos pela Portaria
2914/2011, ou seja, a ação dos Filtros Lentos, Clorador e Carvão Ativado, transformaram a água pluvial, antes ácida e fora dos
padrões de potabilidade, em uma água próxima da neutralização (pH=7) e consequentemente dentro dos padrões de
potabilidade.

Cloro residual - mg/L: Para a Portaria 2914/2011 o MS é obrigatório que contenha no mínimo, 0,2 mg/L de cloro residual e
que o teor máximo seja de 2 mg/L em qualquer ponto do sistema de abastecimento.Verificou-se que, após a análise da água
nos pontos antes de tocar no telhado e reservatório, o teor de cloro residual foi ausente (Tabela 1, 2 e 3).Já as análises feitas

1077
após a filtração, verificou-se que o teor de cloro residual, em Maio de 2016, foi de 3,5 mg/L, bem acima do limite
recomendado. Podemos justificar que a falta de referência no controle no registro do dosador de cloro, levou um aumento no
teor de cloro residual. Porém, após os resultados de Maio/2017 houve um controle no registro do dosador, fazendo as taxas de
cloro residual diminuírem para 2,07 mg/L em Setembro/2016 até 1,3 mg/L na última coleta em Janeiro/2017, dentro dos
padrões de potabilidade.

Cloretos - mg/L: Para a Portaria 2914/2011 o MS o limite máximo de Cloreto é de 250 mg/L. O excesso deste padrão
organolépticoprovoca sabor nas águas, corrosões em estruturas de metal, incrustações em tubos de revestimento, aumento da
dureza das águas e ações negativas no metabolismo de organismos.Nas águas tratadas, a adição de cloro puro ou em solução
leva a uma elevação do nível de cloreto, resultante das reações de dissociação do cloro na água.Verifica-se que todas as
amostras coletadas estão com níveis de Cloreto bem abaixo do limite estabelecido na Portaria 2914/2011 (Tabela 1, 2 e 3),
havendo apenas um aumento após a filtração, provavelmente devido a passagem da água pelo dosador de cloro. Em suma, o
sistema apresenta resultados positivos para o parâmetro Cloreto.

Cor Aparente - uH: Para a Portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde Brasileira o valor máximo permitido para Cor aparente é
15 uH. Característica física da água que está relacionada à presença de partículas dissolvidas e em suspensão. Verifica-se que a
água de chuva antes de tocar no telhado apresenta uma excelente cor aparente. Porém, ao tocar no telhado essa propriedade
mudou totalmente, provavelmente devido a sujeira da cobertura e falta de limpeza dos filtros, principalmente no mês de
Janeiro/2017 em que a incidência de chuva ainda estava no seu início, acumulando bastante impurezas no telhado. Todas as
amostras das análises feitas, no reservatório e após a filtração, ficaram acima do valor máximo permitido pela Portaria
2914/2011.

Dureza Total - mg/L: A portaria 2914/11, recomenda que o padrão organoléptico para a dureza total seja de no máximo 500
mg/L. Todas as amostras, nos períodos e locais, ficaram bem abaixo do limite máximo da portaria, caracterizando essa água
como uma “água mole”, excelente para limpeza.

Ferro - mg/L: A portaria 2914/11, recomenda que o padrão organoléptico para o ferro seja de no máximo 0,3 mg/L. Verificou-
se que nos três períodos da coleta e antes de tocar no telhado, o teor de ferro está sempre abaixo do máximo estabelecido pela
portaria. Já após o contato com o telhado e filtração tivemos uma maior variação do teor de ferro no sistema, principalmente
em Setembro/2016, no período de pouca chuva. Outro provável motivo do aumento de ferro no sistema, seja devido aos
materiais usados como elemento filtrante (Areia, Seixo e Carvão ativado) que provavelmente contem pequenos teores de
ferro.Contudo, os índices de ferro após a filtração ficaram sempre abaixo ou igual ao limite máximo de 0,3 mg/L.

Alumínio - mg/L: A portaria 2914/11, recomenda que o padrão organoléptico para o alumínio seja de no máximo 0,2 mg/L. O
principal motivo pela escolha do parâmetro, foi à proximidade do Polo Industrial de Barcarena/Pa, produtor de Alumínio.
Verificou-se que, praticamente todas as amostras ficaram dentro do recomendado pela Portaria. Também foi verificado que no
período de Setembro/2016 (pouca chuva), os índices de Alumínio aumentava, provavelmente pelo acumulo na atmosfera ou
em outros lugares. O sistema de filtros lentos, dosador de cloro e o carvão ativado, foram eficientes para esse parâmetro.

1078
Temperatura - °C: A portaria 2914/2011 não determina uma temperatura ideal para a água. Valores superiores a 27°C,
geralmente são desagradáveis ao paladar. Todas as temperaturas, após a filtração, ficaram em média de 24º C.

Turbidez - uT: A portaria 2914/11, recomenda que o padrão organoléptico para a turbidez seja de no máximo 1,0 uT para
filtração lenta. Característica física da água que está relacionada à presença de partículas em suspensão (materiais particulados
e coloidais). Água com elevada turbidez apresenta estética desagradável, podendo ser inclusive abrigo para alguns
microrganismos, dificultando a ação dos desinfetantes. Verificou-se que a água de chuva antes de tocar no telhado se apresenta
um pouco acima do limite estabelecido pela portaria. Já após o contato com o telhado, esses índices tiveram um aumento
substancial, chegando até a 6,89 uT, provavelmente ocasionado pelas partículas depositadas nas telhas e pela entrada de água
no reservatório, gerando um movimento da partícula já decantada. Após a passagem pelo sistema de filtragem o valor de
turbidez voltou a diminuir, principalmente nos meses de Maio/2016 e Setembro/2016. Porém, no mês de Janeiro/2017 o índice
teve um pequeno aumento, de 0,20uT, com relação ao limite estabelecido pela Portaria 2914/2011 de 1,00 uT. Acredita-se que
o acumulo sujeira no filtro tenha levado o aumento da turbidez no último período.

Escherichia coli - NMP/100mL: A portaria 2914/11, recomenda que o padrão microbiológico da água para consumo humano
seja ausente de Escherichia coli em 100 mL da amostra. Todas as amostras analisadas, através do Método de dos Tubos
Múltiplos, deram ausente para o parâmetro Escherichia coli, tanto antes do contato com o telhado, no reservatório, como após
a passagem pelos filtros.

Coliformes Totais - NMP/100mL: A portaria 2914/11, recomenda que o padrão microbiológico da água para consumo humano
seja ausente de Coliformes Totais em 100 mL da amostra. Todas as amostras analisadas, através do Método de dos Tubos
Múltiplos, deram ausente para o parâmetro Coliformes Totais, tanto antes do contato com o telhado, no reservatório, como
após a passagem pelos filtros.

Considerações Finais

A falta de uma melhor gestão dos recursos hídricos nos leva a buscar novas soluções para o problema da “crise”
hídrica no mundo. São milhões de pessoas sem acesso a água tratada, que lutam diariamente para sobreviver.
Ao aproveitar a água da chuva de maneira simples e sustentável, a humanidade aponta para o verdadeiro crescimento
com relação a utilização de recursos naturais de forma sustentável e racional. Demonstrando que é possível utilizar os recursos
naturais de maneira equilibrada, sem degradar ou esgotar as suas fontes, possibilitando a renovação dos mesmos.
É de suma importância uma análise holística da edificação antes da implantação do sistema de aproveitamento da
água de chuva, para que dentro do contexto construtivo sejam considerados e avaliados os aspectos arquitetônicos, hidráulicos,
estruturais, econômicos e ambientais da obra.
Por seguinte, recomenda-se para melhoria na qualidade do manejo das águas pluviais, que os métodos para preservar
ou melhorar a qualidade da água da chuva em um Sistema de Aproveitamento de Água de Chuva (SAAC) incluem o projeto
adequado e a correta operação e manutenção do mesmo, utilização de dispositivos de “primeira lavagem” e tratamento. O
tratamento é principalmente adequado como ação de correção caso se suspeite de contaminação. Os sistemas de “primeira
lavagem” podem ser eficazes na redução da contaminação desde que sejam conservados corretamente. Um bom projeto e a

1079
operação e manutenção do sistema são, regra geral, os meios mais simples e eficazes de preservar a qualidade da água.

O melhor passo inicial na preservação da qualidade da água num SAAC é assegurar o seu projeto adequado. Regra
geral, a qualidade da água irá melhorar durante o seu armazenamento, desde que se excluam a luz e os microrganismos do
reservatório, e desde que o fluxo de água não agite os sedimentos acumulados no fundo. O projeto deve incluir:

a) Um telhado limpo e impermeável com um acabamento de material suave, limpo e não tóxico. Devem ser removidos ramos
de árvores pendentes sobre a superfície de recolha;

b) As tubagens de saída de água dos reservatórios devem estar pelo menos 5 cm acima do fundo dos mesmos, em especial se as
taxas de acumulação de detritos forem elevadas. O fundo do reservatório deve ser inclinado em direção a uma depressão e deve
ter uma entrada; de homem para inspeção. Estes elementos facilitarão as operações de limpeza do reservatório;

c) Todas as entradas de água deverão ser dotadas de uma malha de filtragem para impedir a entrada no reservatório de insetos,
rãs, sapos, cobras ou pequenos mamíferos ou pássaros. Este deve ser coberto e totalmente resguardado da luz para prevenir o
crescimento de algas;

d) Devem ser incorporados no sistema um filtro grosseiro e/ou dispositivo de “primeira lavagem”, de forma a interceptar a
água antes de entrar no reservatório, removendo folhas e outros detritos.

A operação e manutenção adequadas dos sistemas de aproveitamento de água da chuva ajudam a preservar a
qualidade da água. A inspeção regular e a limpeza das calhas, dos tubos de queda e dos reservatórios reduzem a probabilidade
de contaminação. A superfície do telhado, o reservatório, as calhas, os filtros e outros componentes do sistema devem ser
inspecionados regularmente e limpos ou reparados quando necessário.

No que concerne o custo benefício do SAAC, o sistema projetado teve um custo razoavelmente baixo e que o
resultado da qualidade da água após todo o processo estava com qualidades de uma água potável.

O sistema projetado aponta para a viabilidade da utilização da água de chuva nas atividades que necessitam de água
potável, como banho, limpeza de roupa, preparo de comida e até o consumo direto para beber. Claro que estudos mais
prolongados e detalhados precisam ser feitos, para comprovar uma total viabilidade do sistema.
Alguns parâmetros fisioquímicos e microbiológicos analisados, acabaram não atendendo aos limites estabelecidos
pela portaria 2914/2011. Contudo, de modo geral a água após a filtração se apresenta com uma excelente qualidade de
potabilidade. Como recomendação, a unificação dos elementos filtrantes em um único recipiente, poderá aumentar a qualidade
da água e o custo do sistema.
Concluiu-se também que o sistema em geral, por necessitar de materiais e elementos facilmente encontrados em
qualquer lugar, poderá ser instalado em diversas regiões e climas, considerando as especificidades locais, mas que visem
atenuar a escassez de água.
Por fim, o ser humano é o construtor do mundo, depende dele o rumo a ser seguido para que todos possam viver num
mundo melhor, no qual a sociedade não vise tão somente lucros financeiros e bem estar individual, sem a preocupação com o
futuro do planeta. Cabe a todos, sempre buscar alternativas ambientalmente corretas para o uso racional dos recursos naturais
possibilitando a convivência harmônica entre o homem e a natureza.

1080
Referências Bibliográficas
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas; NBR 9898; 1987. Preservação e técnicas de amostragem de efluentes
líquidos e corpos receptores. Impresso.
Campos, S.; Hernandes, T.; Amorim, V.; Acesso em 2016. Análise de custo da implantação de um sistema de aproveitamento
de água pluvial para uma residência unifamiliar na cidade de Ribeirão Preto. In. IV Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo
de Água de Chuva. Petrolina: ABCMAC, 2003.Disponível em: http://www.abcmac.org.br/files/simposio/ 4simp_marcus_
analisedecustodeaproveitamentodeagua.pdf.
Hespanhol, I; 2013. Potencial de água no Brasil: agricultura, indústria, municípios, recarga de aquíferos. BAHIA ANÁLISE &
DADOS Salvador, v. 13, n. ESPECIAL, p. 411-437.
Portaria Nº 2914/2011; Acesso em 2016. Ministério da Saúde, Brasília-DF. Estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativas ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.agenciapcj.org.br/novo/images/stories/portaria-ms-2914.pdf>.
Tomaz, P.; 2013. Aproveitamento de água de chuva para áreas urbanas e fins não potáveis: 1. ed. São Paulo: Navegar Editora,
2003. 180 p.

1081
5SSS249
PROTAGONISTAS AMBIENTAIS, SUSTENTABILIDADE E
CRITICIDADE NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA – Relato de
Experiência
Cisnara Pires Amaral1, Bibiana da Cruz Santos2, Eduarda Sarturi dos Santos3
1Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, e-mail: cisnara@yahoo.com.br; 2Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, e-mail: bibi.dacruz@hotmail.com; 3Universidade Regional
Integrada do Alto Uruguai e das Missões, e-mail: dudasasarturi@gmail.com

Palavras-chave: Reutilização; ludicidade; educação ambiental.

Resumo
O presente trabalho faz referência a importância da docência para despertar a criticidade, o envolvimento e a capacidade de ser
protagonista, disseminando informações que auxiliem a sustentabilidade do meio. Acreditamos que os alunos da Educação
Básica poderão tornar-se disseminadores, compartilhando conhecimento, reconhecendo as interrelações que se estabelecem no
meio ambiente, compreendendo que as ações presentes terão consequências futuras. Faro (2017) observa que no atual
momento de perturbações naturais que a humanidade atravessa, não há outra atitude a tomar senão trabalharmos por uma
sociedade informada, sustentável e consciente de seu pertencimento à escola da vida, de sua relação com o meio ambiente.
Para isso foi desenvolvida uma atividade na disciplina de Metodologia do Ensino de Ciências e Biologia para trabalhar a
sustentabilidade através de uma oficina de reciclagem e contação de história, tendo como objetivo proporcionar a
sensibilização de alunos do ensino fundamental, através da reutilização de materiais, utilizando a criticidade e a ludicidade para
despertar a curiosidade e a preservação ambiental em relação ao nicho ecológico das tartarugas. A atividade foi desenvolvida
em 4 turmas de ensino fundamental (4º e 5º ano), onde ocorreram oficinas realizadas na sala de aula com os alunos, totalizando
2 h/aulas e uma amostra de 94 alunos, para tal ocorria a contação de uma história de autoria de Gisele Ferreira de Lima
intitulada “A sacolinha de plástico azul” que aborda a trajetória de uma sacola de plástico dentro da cadeia alimentar
ocasionando a morte de tartarugas e posterior reutilização quando retirada do meio ambiente. Após a contação da história,
realizou-se questionamentos em relação ao livro utilizando exemplares de tartaruga da coleção de animais do laboratório de
zoologia, em seguida distribuiu-se para cada criança um fragmento da caixa de ovo, tinta, pincel, nadadeiras recortadas em
garrafa pet, e uma porção de massa de biscuit colorida para que as crianças, orientadas pelas acadêmicas, confeccionassem
uma tartaruga. Os alunos também receberam um roteiro para realizar uma pesquisa com a professora regente referente ao nicho
ecológico da tartaruga-verde, encontrada no RS e utilizada como inspiração para produção do brinquedo. Também propomos
que os alunos realizassem uma tarefa para ser postada em página do facebook referente as práticas realizadas pelos académicos
no Curso de Ciências Biológicas, consistindo em produzir um hábitat e escolher um nome para a tartaruga produzida. Para a
avaliação da atividade realizou-se um questionário com emojis relacionando os seguintes itens: já presenciou situações em seu
cotidiano como os da sacolinha de plástico, já utilizou matérias para produção de brinquedos, vai utilizar sua produção para
brincar, contará em sua casa ou para seus amigos sobre a atividade e a satisfação em realizar a atividade. Os resultados
apresentados foram os seguintes: 100% dos discentes já evidenciaram situações de sacolas de plásticos voando ou largadas em
diferentes pontos da cidade, 71,4% dos alunos já utilizaram materiais reciclados para produzir brinquedos, apenas 23,5%
utilizará sua produção para brincar; 100% dos discentes ficaram satisfeitos com a atividade e 73,3% dos alunos irão atuar como
disseminadores, informando seus pai, irmãos ou amigos sobre a atividade que envolvia uma sacola de plástico e as tartarugas.
Compreende-se a importância de trabalhar com os alunos do ensino fundamental, pois poderão agregar alguns valores
referentes a preservação e conservação do meio ambiente. Essa atividade proporcionou a formação de disseminadores,
oportunizou a discussão das ações antrópicas e suas consequências na cadeia alimentar, conhecimento sobre o nicho ecológico
das tartarugas e sua importância, promovendo o entendimento de que a Educação Ambiental deverá iniciar com os alunos da
escola de Educação Básica, como ferramenta para promover o aprendizado e aguçar a curiosidade.

Introdução

Sabemos que as escolas são espaços formais onde ocorre o aguçar de inúmeras qualidades no desenvolvimento das
crianças, por isso acreditamos veemente que as ações de sustentabilidade devem iniciar na Educação Básica como meio de
desenvolver a criticidade, a disseminação de informações, a problematização e a consciência ambiental. Segundo Medeiros et
al., (2011) as questões ambientais estão cada vez mais presentes no cotidiano da sociedade, contudo, a educação ambiental é

1082
essencial em todos os níveis dos processos educativos e em especial nos anos iniciais da escolarização, já que é mais fácil
conscientizar as crianças sobre as questões ambientais do que os adultos.
A escola é o lugar onde o aluno irá dar sequência ao seu processo de socialização, no entanto, comportamentos
ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática, no decorrer da vida escolar com o intuito de contribuir para a
formação de cidadãos responsáveis, contudo a escola deve oferecer a seus alunos os conteúdos ambientais de forma
contextualizada com sua realidade (MEDEIROS et al., 2011).
Desse modo, deve se despertar no educando o desejo pelo conhecimento, assim as metodologias diferenciadas tornam-
se ferramentas didáticas para explorar o nicho ecológico de diferentes espécies, associando o contexto da prática com as
questões ambientais veiculadas na mídia. Esse é o papel do professor, proporcionar o novo, estimular possibilidades de debates
e discussões, conceber a Educação Ambiental, formando disseminadores de informações.
Bacich e Moran (2018) afirmam que estudos de neurociência comprovam que o cérebro aprende conectando-se em
rede. Todas as iniciativas para abrir os espaços das escolas para o mundo, ampliando as diferentes redes sociais e tecnológicas,
pessoais, grupais e institucionais, contribuem para oferecer ricas oportunidades de aprendizado.
A combinação de ambientes diferentes, possibilidades de trocas, colaboração, coprodução e compartilhamento entre
pessoas com habilidades diferentes e objetivos comuns traz inúmeras oportunidades de ampliação de horizontes (BACICH;
MORAN, 2018).
Esse é o intuito da Educação Ambiental (EA), proporcionar significados, aprendizagem, problematização através da
ampliação de novos cenários, através da interconexão entre teoria e prática. Assim, as escolas auxiliam o “empoderamento”
dos seus alunos através da aprendizagem com problemas reais, discutindo caminhos que viabilizem o discernimento entre certo
e errado, tornando o conhecimento científico uma descoberta instigadora e não “um fardo”.

Material e Métodos

A atividade foi realizada em 4 escolas públicas do município de Santiago/RS, sendo 2 de âmbito estadual, 1 municipal,
e 1 de âmbito particular, denominadas A,B,C e D , respectivamente, totalizando uma amostra de 94 alunos. Para sua
realização, a coordenadora da atividade entrou em contato com as diretoras e regentes dos educandários, especificando o tipo
de atividade e o conteúdo envolvido. Após agendamento, de acordo com o horário estipulado, o grupo dirigia-se a escola com
o material para a realização da atividade. Primeiramente realizava-se a contação da história “A sacolinha azul” de autoria de
Gisele Ferreira Lima, após realizava-se questionamentos em relação a importância da reciclagem, interferência de materiais no
meio ambiente e problemas relacionados a cadeia alimentar. Em seguida era repassado as crianças dois exemplares de
tartarugas e jabutis retirados da coleção de animais do laboratório de zoologia, para que percebessem a diferença entre os
animais.
Depois distribuiu-se para cada criança um fragmento da caixa de ovo, tinta, pincel, nadadeiras recortadas em garrafa
pet, e uma porção de massa de biscuit colorida para que as crianças, orientadas pelos acadêmicos, confeccionassem uma
tartaruga-verde. No término da atividade instigava-se os alunos a realizarem uma tarefa para ser postada em página do
facebook referente as práticas realizadas pelos acadêmicos, consistindo em produzir um hábitat e escolher um nome para a
espécie, além de distribuir ao grupo um material para pesquisa sobre o nicho ecológico da tartaruga-verde para ser realizado
com suas professoras. Para a avaliação da atividade realizou-se questionário semiestruturado com emojis relacionando os
seguintes itens: já presenciou situações em seu cotidiano como os da sacolinha de plástico, já utilizou matérias para produção
de brinquedos, vai utilizar sua produção para brincar e a satisfação em realizar a atividade.
Realizou-se a tabulação dos dados referentes a pesquisa, com a produção de tabelas para análise e discussão.

Resultados e Discussão

Segue análise dos resultados obtidos segundo as respostas de 94 discentes regularmente matriculados no ensino
fundamental.
A questão 1 aborda a se a criança já presenciou situações em sua cidade como as relatadas no livro, ou seja uma
sacolinha de plástico voando por diferentes ambientes. Nas tabelas a turma A faz referência a escola estadual, turma B escola
municipal e turmas C e D referem-se as turmas da escola particular. As turmas onde realizou-se as atividades foram as que as
regentes demonstraram interesse pela atividade e entraram em contato com a coordenadora da atividade.

1083
Tabela 1 – Faz referência a situações vivenciadas no cotidiano e sua relação com a historinha.

Observa-se que 100% dos discentes das diferentes turmas assinalou o emoji “triste”, significando que todos já se
depararam com sacolas voando pela cidade ou bairro. Durante a aplicabilidade dos questionários notou-se que os alunos
ficaram empolgados em dar exemplo dos locais onde já vivenciaram as situações, assim declararam que viram “no meio da
rua”, “nas calçadas”, “pessoas atirando pela janela do carro”, “nos bueiros e nos córregos perto de suas casas” e alguns
comentavam sobre fatos que ocorreram em nossa cidade, como o alagamento de certos bairros ocorridos depois da chuva forte
e os problemas em relação as suas famílias ou famílias conhecidas. Outro fato interessante a relatar é a atenção das crianças
durante a contação da história, fato que nos deixou muito contentes.
Percebe-se que mesmo com tantas tecnologias, as crianças ainda sentem prazer em ouvir uma boa história infantil.
Assim a literatura infantil poderá ser ferramenta capaz de aguçar a criticidade. Lisboa e Kindel (2012) observam que de nada
adianta insistirmos em um processo de ensino-aprendizagem que traz o ambiente e as relações entre os seres vivos, quer sob o
ponto de vista das Ciências Naturais, quer sob a visão das Ciências Humanas, de forma fragmentada e particularizada.
Aprendemos muito sobre conteúdos específicos, mas não sabemos relacioná-los a um contexto global e sistêmico.
Entendemos que novas metodologias poderão proporcionar aos discentes o discernimento para compreender os
problemas atrelados a existência, como o caso dos problemas ambientais e suas consequências, tornando-se aliada nas aulas de
Ciências ou Biologia para que as ações pretendidas tornem-se compreensíveis, reiterando afirmações acerca dos problemas que
acompanham a maioria dos ecossistemas.
Em relação a questão 2 que faz menção a utilização de materiais recicláveis para a produção de brinquedos, observa-se
que:

Tabela 2 – faz referência a reutilização de materiais.

Percebe-se que a maioria das crianças utilizou materiais recicláveis para a produção de brinquedos, porém o que nos
preocupa é se esta reciclagem foi planejada ou gerou consumo para que a produção ocorresse. Temos visto, em várias oficinas
de reciclagem o consumo deliberado de certo produto para que a oficina aconteça. Entendemos que nesse tipo de atividade o
professor deverá ficar de responsável em recolher o material a ser utilizado no bairro, na comunidade escolar evitando que a

1084
atividade gere consumismo e que após a atividade ocorrer o produto vá parar em uma lixeira. Na atividade proposta o grupo
envolvido juntou garrafas pet no bar da Universidade, levando para as salas de aula todas as nadadeiras das tartarugas
recortadas, para o corpo recolhemos em uma padaria do centro as caixas de ovos, que também foram levadas recortadas e para
forrar as mesas para pintura recolhemos os jornais velhos da biblioteca dos educandários. É fundamental exercitar esse
processo, realizar atividades de sustentabilidade promovendo a conscientização e não o consumo e descarte em excesso.
Harari (2017) relata que o consumismo prosperou formando bons consumistas, compramos uma série de produtos de
que não precisamos realmente e que até ontem não sabíamos que existiam, ir as compras se tornou um passatempo favorito e
os bens de consumo se tornaram mediadores essenciais nas relações entre os membros da sociedade. Assim, como poderemos
trabalhar a EA sem promover o consumo exagerado? Como auxiliar as crianças a desenvolver a criticidade, se um uma
proposta didática, consumimos excessivamente? A palavra correta aqui seria “planejamento”, pois as atividades devem sempre
ocorrer, porém o material a ser disponibilizado deverá ficar a critério do professor.

A pergunta 3 refere-se à produção vislumbrada como brinquedo.

Tabela 3 – faz associação entre a utilização do brinquedo em seu cotidiano.

A tabela demonstra que em sua maioria, as crianças não utilizariam sua produção para brincar, independente da escola
ser municipal, estadual ou particular. As crianças que marcaram o “emoji espanto” seriam as que não pensaram em utilizar a
produção em suas brincadeiras. Acreditamos que a tarefa do professor é realizar a EA e propor uma atividade que envolva a
sua produção. Se obtivermos pelo menos uma parte dos alunos envolvidos, estaremos desenvolvendo uma atividade eficaz.
Com esse intuito, propomos aos grupos que realizassem com seus professores a escolha do nome da tartaruga, criassem um
hábitat e pesquisassem sobre o nicho ecológico da tartaruga-verde através de uma atividade de pesquisa. Quanto aos nomes, a
atividade foi realizada no dia da oficina; quanto ao hábitat a atividade realizada pelo aluno seria publicada em página do no
facebook “Interfaces entre Universidade e Comunidade” com práticas elaboradas entre a professora orientadora e os
acadêmicos do curso de Ciências Biológicas, nesse quesito obtivemos 20 crianças que mandaram suas fotos pelas professoras.
Quanto a pesquisa sobre o nicho ecológico da tartaruga- verde verificamos com as professoras que todos realizaram suas
atividades.
Acreditamos que conseguimos envolver as crianças através da pesquisa e mesmo com um número pouco expressivo
obtivemos crianças que se interessaram pela sua produção. Assim, entendemos a importância da escola como local propício
para trabalhar a relação antrópica e suas consequências.
Para Santos, Flores e Zanin (2011) a interpretação ambiental é uma oportunidade de desenvolvimento humano que
estimula a capacidade investigadora, levando o homem a repensar seu modo de ver e sentir o planeta como um todo, a partir da
leitura e da percepção da realidade ambiental. Dessa forma, a natureza se firma como ferramenta facilitadora do aprendizado;
concebe-se a educação biológica como estratégia para a proteção dos recursos naturais.
Corrobora Lazzari, Gonzatti e Scopel (2017) a falta de atividades práticas, exemplos concretos ou de oportunidades
para a visualização de diferentes processos podem reduzir o desenvolvimento de uma percepção holística acerca dos temas
trabalhados em sala de aula.
Em relação a pergunta 4, que abordava a satisfação em relação a atividade.

1085
Tabela 4 - satisfação em relação a atividade.

Observa-se que independente da escola ser municipal, estadual ou particular, todos os alunos apreciaram atividades
diferenciadas. A prática instiga os alunos, proporciona novas descoberta, estimula a aprendizagem e relaciona a EA com os
conteúdos desenvolvidos em sala de aula. Percebe-se que trabalhar a EA vai além de realizar práticas, deve estimular a
curiosidade, propor novos conceitos, ressignificação de teorias, identificando as consequências de nossas ações na preservação
ou degradação ambiental.
Bacich e Moran (2018) associam em suas pesquisas o termo “personalização” como a possibilidade de promover
experiências de aprendizagem que atendam às necessidades particulares do aprendiz: seja em relação ao tempo de
amadurecimento sobre o conhecimento em questão, seja em relação às maneiras de aprender, seja tratando até, de o que
aprender.
É imprescindível a busca pelo protagonismo ou pela personalização, através de atividades que tornem o sujeito autor de
sua história, entendendo através do conhecimento científico a importância das espécies e suas relações com o meio ambiente;
além da compreensão de que sustentabilidade é a utilização de materiais disponíveis no meio ambiente e não gerados pelo
consumo excessivo.
A utilização das histórias infantis poderão estimular os alunos, assim Saraiva (2010) relata que a leitura é uma prática
básica para todas as áreas do conhecimento, “a preparação de um leitor efetivo passa pela adoção de um comportamento em
que a leitura deixe de ser atividade ocasional para integrar-se à vida do sujeito como necessidade imperiosa de que decorrem
prazer e conhecimento”.
Em relação a pergunta 5 que relaciona se os alunos irão comentar em casa sobre a aula da “sacolinha de plástico azul”

Tabela 5 – Tornar-se disseminadores de informações

Percebe-se que a maioria dos alunos irá realizar o papel de disseminadores de informações, contribuindo para que as
informações sejam repassadas aos seus familiares. Sabemos que as crianças acabam cobrando dos seus pais atitudes em relação
ao descaso com o meio ambiente, fato extremamente positivo para que a sustentabilidade ocorra com êxito. A ideia básica é

1086
evitar a reprodução sem criticidade e compreensão. Portanto, cabe ao aluno não somente memorizar, mas também fazer
relações e atribuir significados àquilo com que toma contato nas situações de ensino-aprendizagem (CAMPOS; NIGRO,
2009).
Castro e Jimenez-Aleixandre (2000), Pérez e Carvalho (2012) e Puig, Torija e Jimenez-Aleixandre (2012) defendem o
emprego de problemas e/ou de questões sociocientíficas para as aulas de Ciências, pois esse tipo de proposta possibilita o
envolvimento dos estudantes e promove a cultura científica. Além disso, alegam esses autores, que esse tipo de aula
desenvolve nos alunos a argumentação e a resolução de problemas.

Comentários finais

O trabalho proporcionou aprendizado, protagonismo através da percepção que poderemos desenvolver atividades de
disseminação de informações, oportunidade de envolver a EA com assuntos relacionados no currículo escolar. Proporcionou
novos significados, problematização através da ampliação de novos cenários, através da interconexão entre teoria e prática.
Assim, as escolas auxiliam o “empoderamento” dos seus alunos através da aprendizagem com problemas reais, discutindo
caminhos que viabilizem o discernimento entre certo e errado. Oportunizou questionamentos acerca da importância do
planejamento das atividades relacionadas a sustentabilidade, para que os alunos não sejam estimulados a consumir certos
produtos para justificar atividades de EA; além de estimular a leitura nos anos finais.

Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer as Escolas Cândido Genro, Criança Feliz e Escola de Educação Básica da URI,
locais onde ocorrem a aplicabilidade das oficinas.

Referências Bibliográficas
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1087
5SSS251
CARACTERIZAÇÃO DE DISPONIBILIDADE HÍDRICA E
CRITÉRIOS DE OUTORGA FRENTE AO CULTIVO DE ARROZ
IRRIGADO
Sabrina Baesso Cadorin1, Álvaro José Back2, Gustavo José Deibler Zambrano3
1Universidade do Extremo Sul Catarinense, e-mail:bcadorin.sabrina@gmail.com; 2Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, e-mail:ajb@epagri.sc.gov.br; 3Universidade do Extremo Sul
Catarinense, e-mail: gdz@unesc.net

Palavras-chave: Recursos Hídricos; Gestão de Bacias; Irrigação

Resumo
O estudo trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa e de natureza aplicada, tendo como objetivo avaliar
a relação entre a disponibilidade e o consumo de água na bacia hidrográfica do rio Manoel Alves. A bacia de estudo é
localizada no extremo sul catarinense e engloba partes dos municípios de Meleiro, Morro Grande e Nova Veneza, possuindo
como principal uso do solo a mata nativa e reflorestamento (60,84%), seguido pela rizicultura (16,98%). Os dados de vazão
foram obtidos através da série histórica de 1977 a 2014 da estação da ANA localizada em Meleiro. O trabalho obteve como
resultados: Qmlp de 13,77 m3.s-1, vazões de permanência Q90, Q95 e Q98 correspondentes a 2,176 m3.s-1, 1,486 m3.s-1 e 0,927
m3.s-1, respectivamente e Q7;10 de 0,073 m3.s-1. A SDE, responsável pela emissão de outorgas de direito de uso da água de SC,
adota como critério de análise da disponibilidade hídrica o equivalente a 50% da Q98%. Utilizando este critério não é possível
suprir as demandas de água requeridas na bacia para múltiplos usos. O estudo mostra que a água disponível não é suficiente
nem mesmo para a demanda da rizicultura, a qual ocupa cerca de 6.670 ha da bacia e demanda por volta de 6.000 m³.ha-1 de
água por safra, com base no estudo as vazões requeridas correspondem as vazões mensais com frequência inferior a 15%. A
baixa disponibilidade prejudica a garantia de água para a área cultivada. Com o intuito de otimizar o uso da água e aumentar a
disponibilidade pode -se adotar estratégias estruturais, como barramentos nos rios e uso de outras fontes de captação, e
estratégias não estruturais, como a redução gradual da demanda de água para irrigação e conscientização permanente sobre a
otimização do uso.

Introdução
A região do Extremo Sul do Estado de Santa Catarina tem a economia fortemente ligada à agricultura, onde se destaca o
cultivo do arroz irrigado. Os principais cursos d’água têm problemas de qualidade da água, comprometida por problemas de
poluição causada principalmente pela mineração de carvão (Krebs; Alexandre, 2000) e também de quantidade de água devido
principalmente à alta demanda de água para a irrigação da cultura do arroz (Ladwig et al., 2017). Dessa forma, existem
conflitos entre usuários da água que se agravam em épocas de estiagens, sendo a sinergia dos impactos potencializada (Santa
Catarina, 2010).
A bacia hidrográfica do rio Manoel Alves é localizada no extremo sul catarinense e abrange áreas de três municípios, sendo
eles Meleiro, Morro Grande e Nova Veneza. A região é predominantemente agrícola, sendo a rizicultura o cultivo mais
representativo em extensão de área. Como o cultivo do arroz demanda uma grande quantidade de água é necessário garantir
que esta seja suprida para evitar perdas na produção e conflitos entre usuários. A Lei Federal nº 9.433 de 8 de janeiro de 1997,
que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, traz
como instrumento de gestão a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos. A outorga tem como objetivos assegurar o
controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso (Brasil, 1997).
A concessão da outorga garante os direitos de uso do recurso hídrico a fim de suprir a demanda de água da atividade e manter
sua disponibilidade hídrica a jusante propiciando seus múltiplos usos, além de possuir papel importante na conservação dos
ecossistemas aquáticos naturais, bem como, dos aspectos paisagísticos e de interesses científicos ou culturais.
Devido ao fato de os rios da bacia de estudo serem de domínio do Estado, a Secretaria de Estado do Desenvolvimento
Econômico Sustentável (SDE) é a responsável pela emissão das outorgas, tendo como critério de análise da disponibilidade
hídrica a vazão de referência a Q98%, ou seja, a vazão com permanência em 98% do tempo. Sendo a vazão outorgável
equivalente a 50% da vazão de referência (SDE, 2008).
A disponibilidade hídrica natural de uma bacia hidrográfica, caracterizada pelas vazões mínimas, é uma informação
fundamental para a implantação dos instrumentos de gestão de recurso hídricos (Mello, Viola & Beskow, 2010; Pereira &
Caldeira, 2018). A vazão de referência é aquela utilizada como base para o processo de gestão dos recursos hídricos (Fioreze &
Oliveira, 2010). Quando existem séries históricas de vazão de um curso d’água a disponibilidade hídrica pode ser estabelecida

1088
com base nos estudos de frequências de vazões (Pandey, & Nguyen, 1999; Arias & Serna, 2017). Esse estudo pode ser feito
com base em funções de probabilidade de ocorrência de vazões, como vazões médias e mínimas ou por meio da curva de
permanência de vazões (Oliveira & Fioreze, 2011, Gasques, Neves, Santos, Mauad & Okawa, 2018).
Nesse sentido, este estudo tem como objetivo avaliar a relação entre a disponibilidade e consumo de água na bacia do rio
Manoel Alves e os critérios de outorga de uso da água.

Material e Métodos
A bacia hidrográfica do Rio Manoel Alves é uma sub-bacia da Bacia hidrográfica do Rio Araranguá, que por sua vez drena
suas águas a vertente hídrica do Atlântico Sul. Os cursos d’água da bacia drenam partes dos territórios dos municípios de
Morro Grande, Nova Veneza e Meleiro. A bacia do rio Manoel Alves apresenta área de abrangência de 392,63 km², tendo
189,01 km de perímetro.
O diagnóstico físico da bacia do rio Manoel Alves foi realizado por meio de geoprocessamento através do ArcGIS®, software
para Sistemas de Informações Geográficas.
Os dados sobre o regime hidrológico da bacia foram obtidos pela estação fluviométrica Foz do Manuel Alves, código
84853000, da Rede Hidrometeorológica Nacional (RHN) coordenada pela Agência Nacional de Águas (ANA). A estação está
localizada nas coordenadas: 28° 51' 12,96'' S, 49° 35' 22,92'' W (Figura 1), a 10 metros de altitude. A série histórica utilizada
compreende um período de 37 anos (1977-2014).

Figura 1: Mapa de localização da Bacia do Rio Manoel Alves.

No estudo de vazões médias mensais foram avaliadas as distribuições teóricas de probabilidade mais adequadas, testando-se as
distribuições Normal, Log-Normal e Gama. A distribuição Normal tem a função densidade de probabilidade dada por:

(1)

em que os parâmetros μ corresponde a média aritmética e σ ao desvio padrão s da variável aleatória.

A função densidade de probabilidade da distribuição Log-Normal é definida por:

1089
(2)

Com parâmetros μ e σ.

De acordo com Silva et al. (2013), a função de densidade de probabilidade, denominada Gama pode ser expressa por:

(3)

Em que α e β são os seus parâmetros da distribuição.

Para as vazões mínimas foram avaliadas a distribuição de Gumbel e a distribuição Weibull. A distribuição de Gumbel para
valores mínimos consiste em representar a parte inferior de uma determinada distribuição de dados e trata dos valores mínimos
menos frequentes (Pereira & Caldeira, 2018) De acordo com Finkler et al. (2015), a distribuição de Gumbel (mínimos),
denominada também como extremo do tipo I, tem a função densidade de probabilidade dada por:

(4)

Em que α e β são os seus parâmetros.

A função de densidade de probabilidade da distribuição Weibull (Kang et al., 2018) é definida por:

(5)

Em que  e  são os parâmetros da distribuição.

O ajuste dos parâmetros foi realizado pelo método dos momentos (MM) para todas as distribuições (Kite, 1977; Naghettini &
Pinto, 2007). A aderência das séries de dados às distribuições de probabilidade foi avaliada pelo teste de aderência de
Kolmogorov-Smirnov (KS), ao nível de significância de 5%. O teste consiste em determinar a diferença máxima entre as
frequências teóricas e as frequências observadas. Se o valor de Dmax é inferior ao valor crítico a distribuição de probabilidade
é considerada adequada. Para os cálculos das frequências as séries anuais foram ordenadas de forma crescente e as frequências
observadas calculadas pela equação de Weibull (Back, 2013).
Para determinação da curva de permanência foram utilizadas as vazões mensais, sendo determinada através da metodologia
empírica descrita em Tucci (2013).
Com os dados hidrológicos e informações sobre o consumo de água e uso do solo pela rizicultura, avaliou-se a disponibilidade
hídrica para a irrigação de arroz ao longo da bacia do rio Manoel Alves, bem como, foram comparados os resultados com os
parâmetros para emissão de outorga de direito de uso de água. Na definição do consumo de água foi considerado o valor de
6000 m³/ha, baseado nos estudos de Back e Just (2018), que avaliaram o consumo de água em áreas de cultivo de arroz
irrigado em sistemas coletivos de irrigação e drenagem, localizada nos municípios de Nova Veneza e Forquilhinha.
Com o intuito de identificar o percentual de área atendida pelas vazões outorgáveis, calculou-se a relação entre quantidade de
água disponível para outorga e a quantidade demandada pela área total de rizicultura na bacia. Para fins de análise considerou-
se as vazões Q98%, critério de outorga pela SDE (Portaria n° 312/2016-/FATMA – 07/12/2016), sendo a vazão outorgável
50% da Q98%, e a Q7;10, tida como vazão ecológica no Estado, a qual garante a estabilidade e conservação dos recursos
hídricos daquele ecossistema.

Resultados e discussões
O uso e ocupação do solo é um fator importante para a determinação dos principais usos da água na bacia, assim como para
sua quantificação. Foram delimitadas quatro classes de uso do solo para a bacia do rio Manoel Alves distribuídos conforme a
Tabela 1Erro! Fonte de referência não encontrada., sendo elas: Mata Nativa/Reflorestamento; Rizicultura (com cultivo do
arroz no sistema irrigado); Pastagens e cultivos não irrigados; Outros usos, constituídos pelas áreas urbanizadas e/ou
construídas, solo exposto, mineração e outros usos não especificados anteriormente.

1090
Área
Tipo de uso do solo
(km²) (%)
Mata nativa/Reflorestamento 238,9 60,8
Rizicultura 66,7 17,0
Pastagens e cultivos não
62,9 16,0
irrigados
Outros 24,1 6,2
Total 392,6 100,0
Tabela 39: Distribuição do uso e ocupação da terra.

O principal uso do solo na bacia do rio Manoel Alves é de mata nativa e reflorestamento que ocupa 60,8% da sua área total,
principalmente em áreas com relevo acidentado nas cabeceiras da bacia, e também em alguns morros no interior da bacia. A
área de rizicultura se destaca com 17,0% da bacia, localizada nas áreas de relevo plano, nas várzeas dos principais cursos
d’água. As pastagens e cultivos não irrigados correspondem a 16,0% da área da bacia e são constituídos de áreas em que o
relevo não favorece o cultivo do arroz irrigado. Os outros 6,2% da área total são ocupados por áreas urbanas e/ou construídas e
outros usos de menor significância.
No mapa temático de uso e ocupação do solo (Erro! Fonte de referência não encontrada.2) pode-se observar a distribuição
espacial dos usos descritos acima.

Figura 54: Mapa de uso do solo na bacia do Rio Manoel Alves.

A rizicultura ocupa cerca de 6.670 hectares da bacia hidrográfica do rio Manoel Alves. Levando em consideração que mais de
60% da área total da bacia é ocupada por mata nativa e reflorestamento, o cultivo de arroz representa 43,4% da área
remanescente. Por ser uma atividade que consome grande quantidade de água, tem grande relevância para a gestão dos
recursos hídricos, uma vez que o setor de irrigação é o maior usuário de água nesta bacia.
As vazões médias mensais apresentam variação sazonal fortemente ligada à distribuição das chuvas, uma vez que a bacia é
relativamente pequena. Segundo Piava Sul (2006), os períodos mais chuvosos concentram-se no verão, entre os meses de
dezembro e fevereiro e na primavera, entre os meses de setembro e novembro. O período de menor pluviosidade ocorre no
outono-inverno, especialmente entre os meses de abril e julho. As vazões médias mensais apresentam maiores valores nos

1091
meses de dezembro a março, quando a vazão média é superior à vazão média de longo termo de 13,77 m³s-1. Os menores
valores de vazão média mensal ocorrem em junho e julho, quando a vazão média abaixo de 10,0 m³s-1 (Figura 3).

Figura 55: Vazões medias mensais do Rio Manoel Alves no período de 1977 a 2014.

Na Tabela 2 constam os parâmetros das distribuições Normal, Log-Normal e Gama com os respectivos valores de Dmax do
teste KS. A distribuição Gama apresentou melhor ajustamento geral em comparação às distribuições Normal e Log-Normal.
Cabe ressaltar que, mesmo nos meses em que a distribuição Gama não foi considerada a melhor opção, esta teve uma
aderência bastante aceitável. Na Tabela 3 constam as vazões mensais estimadas com a distribuição Gama para diferentes níveis
de probabilidade.

Distribuição Normal Distribuição Log_Normal Distribuição Gama


Mês   Dmax   Dmax α β Dmax
Jan. 18,2018 15,0535 0,1908 2,6409 0,7219 0,1258 1,4620 12,4497 0,0855*
Fev. 24,5398 19,8765 0,1664 2,9481 0,7102 0,1001 1,5243 16,0995 0,0769*
Mar. 18,7989 8,6271 0,1218 2,8382 0,4372 0,0794 4,7482 3,9591 0,0716*
Abr. 10,7186 6,7529 0,1415 2,2048 0,5782 0,1062 2,5194 4,2545 0,0779*
Mai. 11,6942 13,9618 0,2213 2,0161 0,9413 0,1037* 0,7015 16,6691 0,1212
Jun. 8,4274 7,1836 0,1651 1,8584 0,7390 0,0939 1,3763 6,1234 0,0556*
Jul. 9,6805 8,1997 0,1703 1,9997 0,7354 0,0837* 1,3938 6,9455 0,1454
Ago. 10,6403 11,0250 0,2129 2,0000 0,8540 0,2205 0,9314 11,4236 0,1318*
Set. 12,2921 11,1084 0,1286 2,2105 0,7727 0,1232 1,2245 10,0386 0,0746*
Ou. 12,5894 9,4041 0,1969 2,3112 0,6659 0,0981* 1,7922 7,0247 0,1068
Nov. 13,2037 10,0685 0,1434 2,3513 0,6770 0,1067 1,7197 7,6778 0,0781*
Dez. 14,4203 13,2063 0,1409 2,3641 0,7804 0,1011 1,1923 12,0945 0,0497*

Tabela 40: Parâmetros das distribuições de probabilidade usadas para vazões mensais e Dmax do teste de Kolmogorov-
Smirnov, em que (*) se refere a distribuição que melhor se ajustou para o respectivo mês.

1092
Probabilidade (%)
Mês
5 10 20 25 30 50 75 80 90 95
Jan. 2,045 3,434 5,970 7,227 8,510 14,261 24,957 28,240 38,166 47,823
Fev. 2,955 4,875 8,331 10,028 11,753 19,432 33,580 37,902 50,938 63,583
Mar. 7,182 8,932 11,432 12,499 13,513 17,497 23,687 25,416 30,352 34,861
Abr. 2,475 3,473 5,042 5,753 6,449 9,339 14,196 15,612 19,766 23,677
Mai. 0,205 0,557 1,548 2,175 2,890 6,815 16,064 19,220 29,338 39,771
Jun. 0,852 1,470 2,624 3,203 3,798 6,497 11,587 13,160 17,935 22,599
Jul. 1,001 1,717 3,048 3,714 4,397 7,489 13,303 15,097 20,538 25,848
Ago. 0,454 0,978 2,170 2,840 3,563 7,162 14,750 17,219 24,931 32,688
Set. 0,994 1,816 3,429 4,262 5,129 9,154 16,975 19,425 26,923 34,308
Out. 1,935 3,002 4,825 5,694 6,565 10,341 17,070 19,092 25,130 30,929
Nov. 1,913 3,013 4,915 5,827 6,745 10,751 17,947 20,118 26,618 32,875
Dez. 1,104 2,045 3,916 4,888 5,904 10,648 19,929 22,847 31,793 40,619

Tabela 3: Vazões médias estimadas para o rio Manoel Alves.

A curva de permanência (Figura 4) permite representar as relações entre as vazões médias mensais do rio Manoel Alves com
as porcentagens dos meses com ocorrências que igualem ou superem um determinado valor de vazão. A curva de permanência
possibilita avaliar estatisticamente a disponibilidade hídrica de um rio ao longo do ano verificando se determinada vazão
supera aquela requerida para diversos usos dos recursos hídricos. A curva de permanência pode ser usada associando à
quantidade com a qualidade da água, para aplicações em estudos ambientais e de enquadramento de corpos d’água (Cunha,
Calijuri, & Mendindo, 2012; Ferreira, Fernandes, Kaviski, 2016; Calmon, Souza, Reis &. Mendonça, 2016).

Figura 4: Curva de permanência do Rio Manoel Alves.

As vazões de permanência de 90%, 95% e 98%, correspondentes respectivamente a 2,176 m³s-1, 1,486 m³s-1 e 0,927 m³s-1, e
merecem destaque já que estas são utilizadas para fins de balanço hídrico para concessão de outorgas de uso da água. A
Portaria da Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDE) nº 36, de 29 de julho de 2008, juntamente à Portaria
da SDE nº 51, de 02 de outubro de 2008, tratam dos critérios de natureza técnica para outorga de direito de uso de recursos
hídricos para captação de água superficial, em rios de domínio do Estado de Santa Catarina. Tal normativa, é o instrumento
legal que determina que, para a análise de disponibilidade hídrica para captações ou derivação de cursos d’água de domínio do
Estado de Santa Catarina, será adotada, como vazão de referência, a Q98 (vazão de permanência por 98% do tempo). Não

1093
obstante, também define que a vazão outorgável será equivalente a 50% da vazão de referência. Define ainda que, o limite
máximo individual para usos consuntivos a ser outorgado, na porção da bacia hidrográfica limitada por cada seção fluvial
considerada é fixado em 20% da vazão outorgável, podendo ser excedido até o limite de 80% da vazão outorgável, quando a
finalidade do uso for para consumo humano, desde que seu uso seja considerado racional.
É importante ressaltar que nas vazões observadas já está incluído a captação para a irrigação, e portanto, essas vazões medidas
na foz da bacia devem ser consideradas como água remanescente. A captação de água para irrigação é responsável pelos
reduzidos valores de vazão mínima, uma vez que a irrigação é mais acentuada nas épocas de estiagens ou pouca precipitação.
Desta forma, para a outorga de direito de uso de água por meio da vazão de permanência observada dever-se-ia primeiro
corrigir os valores em função da água captada a montante.
Na análise da série de vazões mínimas foi observado que a distribuição Weibull mostrou melhor ajuste (Dmax = 0,1406) que a
distribuição de Gumbel (Dmax = 0,3868). Os valores de vazões mínimas estimadas para os diferentes períodos de retorno
constam na Tabela 4.

T Período de retorno (anos) Vazão mínima (m³/s)


2 0,439
5 0,149
10 0,073
20 0,037
25 0,030
50 0,015

Tabela 4. Vazões mínimas mensais estimadas para a bacia do Rio Manoel Alves.

A previsão da disponibilidade hídrica em situações de estiagem possui grande relevância para gestão dos recursos hídricos,
planejamento dos usos e para a definição das vazões a serem outorgadas. A vazão mínima com duração de 7 dias e período de
retorno de 10 anos (Q7;10) é a mais utilizada em estudos de disponibilidade hídrica, como critério nos estudos de qualidade da
água e nos planos de gestão de recursos hídricos, sendo usada como critérios de outorga de recursos hídricos superficiais nos
estados de São Paulo e Minas Gerais (ANA, 2011). O valor obtido para Q7;10 visa manter os padrões de qualidade da água em
corpos d’água receptores de poluentes, sendo a quantidade suficiente para a sua diluição. De acordo com Oliveira e Firenze
(2011), a Q7;10 reflete uma situação crítica de escassez, e sua adoção praticamente elimina o risco de suspensão dos usos
outorgados na bacia.
O conhecimento da Q7;10 é de grande relevância devido a sua aplicação nos estudos para concessão de outorgas de direito de
uso da água, principalmente para os usos que exigem maior garantia, já que esta vazão é mais conservadora, assim como as
vazões de maior permanência no tempo, por exemplo, a Q95 e a Q98.
O resultado obtido para Q7;10 foi de 0,073 m3.s-1. Foram observadas vazões inferiores a este valor nos meses julho a dezembro,
especialmente em setembro, outubro e novembro. A ocorrência deste fato se dá por dois motivos: i) os meses em questão
correspondem ao período estiagem da região; ii) os meses equivalem ao período de maior demanda por água na bacia, já que
coincide com a safra do arroz (setembro a janeiro, com maiores demandas em outubro e novembro).
A distribuição dos 6.000 m³.ha-1 de água exigidos pela rizicultura se deu conforme a Tabela 5Erro! Fonte de referência não
encontrada., considerando para os meses de maior utilização um volume de 1.500 m³.ha-1, enquanto para os demais meses
adotou-se 1.000 m³.ha-1. A determinação da probabilidade de ocorrência das vazões exigidas pela rizicultura para cada mês de
cultivo se efetuou utilizando a distribuição Gama, visto que foi esta a distribuição que apresentou melhor ajustamento para as
vazões médias.

Volume por Volume total Vazão Probabilidades


Mês
hectare (m³.ha-1) (m³) (m³.s-1) (%)
Set. 1000 6670000 2,57 14,7
Out. 1500 10005000 3,74 13,9
Nov. 1500 10005000 3,86 14,3
Dez. 1000 6670000 2,49 12,4
Jan. 1000 6670000 2,49 6,5

Tabela 5: Probabilidade de ocorrência de vazões médias mensais para atendimento a demanda para a rizicultura.

1094
Conforme observado na Tabela 5, são baixas as probabilidades de ocorrência de vazões iguais ou inferiores às requeridas,
sendo estas inferiores a 15% para todos os meses. Como o arroz é relativamente tolerante a pequenas estiagens, é possível
cultivá-lo nessas condições.
De acordo com o Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, a principal cultura cadastrada no
SDE/SIRHESC é o arroz irrigado com 99% das declarações. Também se pode destacar o grande número de associações de
irrigantes e produtores rurais, que captam água e distribuem para os demais associados. Estas associações podem ter papel
importante na organização do sistema de plantio, com o escalonamento de produção para que os picos de uso ocorram em
momentos diferentes, e principalmente na conscientização dos produtores para adotarem práticas que visem a redução de
perdas de água e maior aproveitamento da água da chuva, como adoção de taipas mais altas.
Para garantir água para a rizicultura e proporcionar maior segurança e viabilidade hídrica na bacia é necessário promover o uso
de medidas para aumentar a disponibilidade de água e reduzir a demanda. Também recomenda-se incentivar a criação e
fortalecimento de associações de irrigantes, que por utilizar estruturas coletiva de irrigação e drenagem, podem fazer uso mais
eficiente e racional da água, além de manter e regular o uso da água para evitar conflitos pelo uso entre os agricultores.
Para aumentar a disponibilidade hídrica é essencial promover ações para proteger os recursos hídricos. A Área de Preservação
Permanente - APP é a melhor alternativa para preservação dos recursos hídricos e dos ecossistemas aquáticos, sendo
necessário respeitar a largura e/ou raio da APP conforme estabelecidos pela lei de proteção da vegetação nativa, lei nº 12.651,
de 25 de maio de 2012, conhecida como Novo Código Florestal (Brasil, 2012). Para garantir disponibilidade de água
superficial, a qual supre a maior parte da água utilizada para irrigação, se faz necessário preservar o solo e a mata ciliar dos
cursos d’água naturais e das nascentes.
A promoção do uso de estratégias estruturais e não estruturais para aumento da disponibilidade de água e redução das
demandas também são interessantes opções. Como alternativas estruturais podem-se citar a realização de projetos que
aumentem a disponibilidade, como barramentos nos rios e a utilização de outras fontes de captação de água, tais como açudes,
reservatórios superficiais e poços de água subterrânea. Também se destaca a necessidade de construir reservatórios de água nas
propriedades, como forma de suprir parte das demandas nos períodos de estiagens, reduzindo assim os prejuízos e o risco da
atividade.
Ao considerar a vazão outorgável pela SDE como sendo de 0,463 m3.s-1, o que corresponde a 50% da vazão Q98% determinada
neste trabalho, pode-se afirmar que esta vazão não atende toda a demanda por água da área rizícola da bacia do rio Manoel
Alves. Com esta vazão é possível atender apenas 18% da área cultivada com arroz que demanda água nos meses de setembro,
dezembro e janeiro, enquanto em outubro e novembro esse percentual é ainda menor, correspondendo a 12% da área.
Alguns rizicultores optam por um plantio mais tardio em comparação ao período de safra adotado para este estudo (setembro a
janeiro), enquanto outros preferem realizar o plantio mais cedo. Considerando que a demanda por água ocorra durante
aproximadamente seis meses e que cada hectare de arroz necessita de em média 6.000 m³ de água proveniente da irrigação, as
vazões outorgáveis suprem apenas uma pequena fração da área total. Sendo adotada 50% da Q98%, o volume disponível por
safra equivale a cerca de 7.206.155 m³ de água o que supre a demanda de apenas 1.201 ha de um total de aproximadamente
6.670 ha.
O critério de outorga adotado para o estado de Santa Catarina é bastante rígido. Ao adotá-lo é necessário prever qual a
providência será tomara diante da impossibilidade de suprir todas as demandas da bacia hidrográfica, considerando, além da
rizicultura, as demais atividades que fazem uso dos recursos hídricos.
Tendo em vista que com o critério de outorga estabelecido pela SDE não há o suprimento da demanda total da bacia para a
rizicultura se faz necessário estabelecer critérios mais realistas para emissão das outorgas, já que não há expectativa de redução
significativa da área cultivada a curto e médio prazo. O estudo para determinação da vazão outorgável deve levar em
consideração que o volume de água que existe nos rios corresponde ao excedente, isto é, o que não é consumido para a
irrigação.
Comparando a vazão de permanência de 98% com a Q7;10 verifica-se que a Q98, obtida através da curva de permanência, 0,927
m3.s-1, possui valor superior a Q7;10, que foi igual a 0,073 m3.s-1. O limite de vazão outorgável é significativamente baixo,
porém ainda assim não é considerada a vazão mínima, Q7;10, a qual se mostrou a alternativa mais rigorosa.

Considerações finais
A bacia hidrográfica do rio Manoel Alves é ocupada principalmente por mata nativa e reflorestamento (60,8%). O restante da
bacia é ocupado por rizicultura (17,0%); pastagem e outros cultivos não irrigados (16,0%); e áreas urbanizadas e/ou
construídas, solo exposto, mineração e outros usos não especificados anteriormente (6,2%). A rizicultura representa 43,36% da
área que não é ocupada por vegetação arbórea, o que corresponde a cerca de 6.670 hectares da bacia. O cultivo de arroz
demanda grandes quantidades de água, sendo este o seu principal uso da água.
O presente estudo obteve como resultados de vazões: vazão média de longo termo correspondente a 13,77 m3.s-1, vazões de
permanência no tempo, Q90 de 2,176 m3.s-1, Q95 de 1,486 m3.s-1 e Q98 de 0,927 m3.s-1, e vazão mínima Q7;10 igual a
0,073 m3.s-1.
As probabilidades de ocorrência de vazões médias mensais iguais ou inferiores às vazões requeridas em cada mês para a
rizicultura são inferiores a 15% em todos os meses. No entanto, levando em consideração a tolerância do arroz a pequenas

1095
estiagens, é possível cultivá-lo nessas condições.
O critério de outorga adotado para Santa Catarina é bastante rigoroso. Foi possível verificar neste estudo que ao adotá-lo,
somente 1.201 hectares dos 6.670 ocupados por rizicultura têm suas demandas por água supridas. Com o intuito de garantir
água para o cultivo de arroz se faz necessário estabelecer critérios mais realistas para emissão das outorgas de direito de uso e
incentivar a adoção de práticas para aumentar a disponibilidade, reduzir a demanda de água e gerir de melhor forma os
recursos hídricos.
Podem-se usar opções estratégias estruturais, como barramentos nos rios e uso de outras fontes de captação de água, e não
estruturais, como a redução gradual da demanda de água para irrigação e conscientização permanente sobre a otimização do
uso da água.
Outra alternativa é a criação e fortalecimento de associações de irrigantes, as quais tem como objetivo manter e regular o uso
da água a fim de evitar conflitos entre os agricultores e atender toda a demanda. Para efetividade desta regulação se faz
necessário fiscalizar o uso da água dos canais de irrigação. As associações também podem promover que seus usuários
escalonem os períodos de plantio do arroz para que os picos de uso ocorram em momentos diferentes.

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1097
5SSS252
CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E AMBIENTAL DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO DA LAJE, EXTREMO SUL DE SANTA
CATARINA
Álvaro José Back1, Lucas Kister Amaral2, Sabrina Baesso Cadorin3, Cláudia Weber Corseuil4
1Universidade do Extremo Sul Catarinense, e-mail: ajb@unesc.net; 2Universidade do Extremo Sul Catarinense, e-
mail: lucas.sustentavel@gmail.com; 3Universidade do Extremo Sul Catarinense, e-mail:
bcadorin.sabrina@gmail.com; 4Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: cwcorseuil@hotmail.com

Palavras-chave: Caracterização física; Recursos hídricos; Estudo hidromorfológico; SIG.

Resumo
A caracterização morfológica e ambiental de uma bacia hidrográfica gera informações importantes para a análise e
interpretação dos parâmetros hidrológicos e da qualidade da água de uma bacia hidrográfica. Essas informações são de grande
relevância para o planejamento estratégico de uso e ocupação do solo, tecendo considerações para os impactos ambientais
gerados na bacia, a qual terá influência principal no ponto jusante da mesma, sendo que toda a carga poluidora se direcionará a
este local. Destaca-se também a importância para a gestão, conservação e qualidade dos recursos naturais. A presente pesquisa
tem por objetivo, conhecer as características morfológicas da bacia hidrográfica do Rio da Laje, localizado no município de
Sombrio, Santa Catarina. Para a realização da caracterização física foi necessário a delimitação da área total, perímetro e
comprimento axial da bacia. Com esses parâmetros foram calculados os coeficiente de compacidade (Kc), fator de forma (Kf),
densidade de drenagem (Dd), índice de extensão média do escoamento superficial (Ems), índice de sinuosidade (Is),
declividade média da bacia (Dec), índice de rugosidade (Ir), coeficiente de rugosidade (Rn), razão de textura (Rt), textura
topográfica (Tt), declividade do rio principal (S), declividade S2 e declividade S4. Observou-se que a declividade da área de
estudo é baixa, configurando uma área predominantemente plana, a qual influencia no escoamento superficial, sendo assim a
velocidade está relacionado com a conformação do terreno e na presente situação é baixa.

Introdução
A delimitação de uma bacia hidrográfica é um dos primeiros e mais comuns procedimentos executados em análises
hidrológicas ou ambientais (Cardoso et al., 2006). As características geomorfológicas de uma bacia (como a forma, o relevo,
rede de drenagem, declividade) juntamente com o uso e cobertura do solo influencias o sistema hidrológico de uma bacia e
afetam a quantidade e qualidade dos recursos hídricos. A análise morfométrica da bacia hidrográfica tem um papel importante
na compreensão da dinâmica dos processos hidrogeomorfológicos, e também contribuir para fundamentar o diagnóstico e as
ações que objetivam o manejo racional do uso da terra (Vestena et al., 2006).
Estabelecer diretrizes para o uso de recursos naturais em função da sua capacidade, é importante para o planejamento
ambiental, de tal modo que, seja possível compatibilizar a disponibilidade hídrica de um manancial à demanda pelo uso do
mesmo (Latuf & Deus, 2019). Nesses aspectos, as características de uma bacia hidrográfica influenciam em seu
comportamento hidrológico (Back, 2014).
A bacia hidrográfica do rio da Laje é de extrema importância para região, uma vez que se constitui na maior bacia de
contribuição do escoamento de água para lagoa do Sombrio. Lopes (2009) afirma que a bacia do Rio da Laje constitui-se
também em ambiente reconhecido como impactante negativo da Lagoa do Sombrio. As atividades antrópicas desenvolvidas no
interior desta bacia como a agricultura, a fecularia e cerâmica, somadas aos dejetos urbanos foram citados como
potencializadores de degradação da lagoa.
Segundo Bitencourt (2015), a lagoa do Sombrio é considerada um complexo lagunar que vêm sofrendo grandes impactos
ambientais, tendo o assoreamento como principal fator. O autor ainda relata que a Empresa de Pesquisa e Extensão Rural de
Santa Catarina (EPAGRI), no ano de 1999 fez uma recomendação para o município de Sombrio/SC referente ao
desassoreamento da lagoa, a qual deveria ser assumida como um manancial de água doce que deve ser recuperado.
Callisto et al. (2005) destacam que, os cursos d´água recebem materiais, sedimentos e poluentes, de toda a sua bacia de
drenagem, que interferem no uso e ocupação do solo de áreas vizinhas. Assim, pode-se relacionar que o antigo histórico de que
a lagoa do Sombrio encontra-se em constantes transformações ambientais, devido à carga de sedimentos e poluentes que
contribuem para a mesma.

1098
As condições ambientais da bacia hidrográfica do rio da Laje, conforme destaca Raupp (2008), encontra-se bastante alterada,
principalmente devido aos impactos relacionados à qualidade da água, e do sedimento, dos aglomerados urbanos em seu
entorno, atividades agrícolas, e lançamento de esgoto doméstico sem devido tratamento.
Cardoso et al. (2006) afirmam que métodos automáticos para delimitação de bacias têm sido desenvolvidos a partir do
surgimento e consolidação dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG) e, consequentemente, das formas digitais de
representação do relevo, como os Modelos Digitais de Elevação (MDEs). Estes métodos geram resultados de maior
confiabilidade e vêm substituindo os métodos manuais que utilizam informações de relevo em formato analógico, como mapas
e cartas.
Neste contexto, o presente trabalho objetivou analisar as características físicas da bacia hidrográfica do Rio da Laje, localizada
no extremo sul de Santa Catarina, por meio de ferramenta SIG buscando compreender o comportamento hidrológico e
ambiental da bacia hidrográfica.

Material e Métodos

Localização e caracterização da área de estudo


A microbacia hidrográfica Rio da Laje, está inserida na bacia hidrográfica do Rio Mampituba, situada na região do Extremo
Sul Catarinense e região Nordeste do estado do Rio Grande do Sul (Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura, 2014). Os
cursos d’água drenam parte dos municípios de Sombrio, Santa Rosa do Sul, Jacinto Machado, Ermo e Araranguá, todos em
território Catarinense (Figura 1).

Figura 1: Localização da Bacia Hidrográfica Rio da Laje

A bacia apresenta uma área total de 152,15 km², perímetro de 93,46 km e 16,36 km de comprimento axial, com altitude
máxima de 364 metros e mínima de 0 metros, sendo esta cota correspondente a lagoa do Sombrio. A bacia possui um total de
332 trechos de rios totalizando 262,48 km de comprimento dos cursos d’água. O rio principal (Figura 2) corresponde ao
córrego Garuva que se une ao rio da Laje e córrego Peroba, dois outros grandes tributários da bacia.
Os municípios que possuem influência a bacia hidrográfica, acima citados, se destacam por atividades agrícolas, como o
cultivo de arroz irrigado, fumo e outras culturas. Nesses aspectos a maior área da bacia está inserida no município de Sombrio,
o qual possui sua economia ligada atividades descritas acima, como também indústrias cerâmicas, produção de alimentos,
produção de calçados e agropecuária (Raupp, 2008).

1099
O clima da região segundo a classificação de Köppen, é do tipo Cfa, subtropical (mesotérmico úmido, com verões quentes),
com precipitações médias anuais variando de 1.300 a 1.500 mm.
A região sul do estado de Santa Catarina contempla a presença da Floresta Ombrófila Densa, com características de matas
totalmente fechadas, no qual as copas de indivíduos arbóreos nativos se tocam (EPAGRI, 2015). Considerando os ecossistemas
predominantes na região são formados por restingas, dunas frontais, praias, costões rochosos, campos litorâneos, os banhados,
lagos costeiros, lagunas, manguezais e marismas (Ferreira, 2006).
Os solos presentes na área de estudo (Figura 2) são os Gleissolos Háplico, Cambissolo Húmico, Argissolo Vermelho Amarelo
no qual apresentam textura argilosa. Há também a presença de Neossolo Quartzarênico e Organossolos (Embrapa, 2004).
Observa-se que os Cambissolos coincidem em sua maioria com as altitudes mais elevadas da bacia, isto porque este tipo de
solo é característico de áreas de relevo acidentado.

Figura 2: Mapa de altitude e solos presentes na área de estudo

Morfologia da bacia
As características físicas da bacia hidrográfica, como tamanho, forma e declividade, têm influência sobre seu comportamento
hidrológico, afetando diretamente o volume, velocidade e tempo de escoamento, vazão máxima e transporte de sedimentos.

Características geométricas
Área de drenagem da bacia hidrográfica (A) foi delimitada com base em hidrográfica ottocodificada (BHO), sendo conhecida
como metodologia de ottobacias, às quais são disponibilizadas pela Agência Nacional das Águas (ANA). Utilizou-se o
software ArcGis 10.3.1 para processamento dos dados, onde Teixeira (2007) menciona que a utilização de ottobacias em
Sistema de Informações Geográficas auxilia na tomada de decisões referente à divisão de unidades de gestão, às quais estão
diretamente relacionadas à delimitação de bacias hidrográficas.
A forma da bacia é um fator que pode influenciar no comportamento da vazão dos rios, bem como seu tempo de concentração,
indicando a propensão da bacia à enchentes. Quanto maior o valor do fator de forma, maior a possibilidade de ocorrer picos de
enchentes (Garcez & Alvares, 1998). Dois métodos muito utilizados para a caracterização da forma da bacia são o coeficiente
de compacidade (Kc) e o fator de forma (Kf), determinados conforme Back (2014).
O coeficiente Kc é a relação entre o perímetro da bacia (P) em km e área de drenagem da bacia (A) em km².

(1)

1100
O coeficiente Kf é a relação entre a largura média em km e o comprimento axial da bacia (Lx) em km, sendo a largura média
obtida dividindo-se a área pelo comprimento axial da bacia. O comprimento axial corresponde à distância entre a cabeceira e a
do maior curso d'água da bacia.

(2)

Características do sistema de drenagem


O sistema de drenagem da bacia hidrográfica é constituído pelo rio principal e seus afluentes. A ordem dos rios reflete o grau
de ramificação entre os cursos d’água existentes na bacia. Para definir a ordem da bacia utilizou-se o critério de Strahler
(1952).
A densidade de drenagem (Dd) em km.km-2 é a relação entre o comprimento total dos cursos d’água (LT) em km e sua área de
drenagem em km² (Horton, 1945). A Dd é diretamente proporcional à extensão do escoamento superficial e, assim, indica a
eficiência da drenagem natural da bacia. Esse parâmetro mostra a tendência da bacia para inundações. Bacias com maior Dd
são mais sujeitas às inundações (Villela & Mattos, 1975).

(3)

O índice de extensão média do escoamento superficial (Ems) representa o percurso médio que a água faz até atingir o curso do
rio. O Ems, segundo Villela e Mattos (1975) em km é determinado por:

(4)

O índice de sinuosidade (Is) em porcentagem (%) é a relação entre a distância da desembocadura do rio até a nascente mais
distante, medida em linha reta (Ev), e o comprimento do rio principal (L), ambos expressos em km.

(5)

Características do relevo
O relevo de uma bacia está diretamente relacionado aos fatores agrometeorológicos e hidrológicos. Em que, a declividade do
terreno tem grande influência sobre a velocidade do escoamento superficial e a altitude da bacia influencia a temperatura e
precipitação.
A declividade média da bacia (Dec) pode ser determinada através do método das curvas de nível descrito por Horton (1945).
Em que a diferença de cota entre curvas de nível (ΔHCN) em km e comprimento total das curvas de nível (LCN) em km, sendo
Dec dado em m.m-1.

(6)

A curva hipsométrica é a representação gráfica do relevo médio da bacia, dada pela altitude em relação ao percentual
acumulado da área total da bacia. A determinação da curva e altitudes características pode ser realizada utilizando as curvas de
nível.
O coeficiente de massividade (Km) é determinado pela relação entre a altura média do relevo e área da superfície (Back,
2014), resultando em valores inferiores a 1,0. Coeficientes inferiores a 0,5 correspondem a bacias com distribuição maior de
terras baixas e superiores a 0,5 indicam maior distribuição de terras altas. Multiplicando-se o Km pela altura média da bacia,
em metros, obtêm-se o coeficiente orográfico (Ko).

(7)

O índice de rugosidade (Ir), conforme Melton (1957), é adimensional, resulta do produto entre a amplitude altimétrica (H) e a
densidade de drenagem (Dd).

(8)

O coeficiente de rugosidade (RN) indica o uso potencial da terra para agricultura, pecuária e reflorestamento, sem considerar os
parâmetros de solo e clima. Quanto maior o RN maior será o perigo de erosão na bacia.

1101
(9)

A razão de textura (RT), é adimensional, sendo a relação entre o número de segmentos de rios (nº de rios de primeira ordem -
Nt) e o perímetro da bacia (P).

(10)

A textura topográfica (Tt) expressa o espaçamento entre canais de drenagens em mapas topográficos com curvas de nível. De
acordo com Christofoletti (1970), o Tt é determinado pela relação entre a textura topográfica e a densidade de drenagem (Dd).

(11)

A declividade do rio principal (S) pode ser obtida de diferentes formas (Back, 2014) e é expressa em m.m-1. A mais simples,
S1, consiste em dividir a diferença de cota do ponto mais alto ao ponto mais baixo do canal pelo comprimento do canal
principal.

(12)

A declividade S2 pode ser obtida graficamente, ou empregando a regra dos trapézios (Equação 12). Em que Li é o
comprimento de cada trecho e Zi é a elevação média em relação ao ponto inicial do trecho i.

(13)

Resultados e Discussões
De modo a resumir e apresentar os resultados obtidos com cálculos, referente às características da bacia hidrográfica Rio da
Laje, apresenta-se na Tabela 1, todos os resultados dos parâmetros calculados.

Parâmetro Símbolo Valor Unidade

Área de drenagem A 152,15 km²

Coeficiente de compacidade Kc 1,68 -

Fator de forma Kf 0,57 -

Densidade de drenagem Dd 1,73 km.km-2

Índice de extensão média do escoamento superficial Ems 0,14 km

Índice de sinuosidade Is 41,47 %

Declividade média da bacia Dec 8,7 %

Coeficiente de massividade Km 0,126 -

Coeficiente orográfico Ko 5,83 -

Índice de rugosidade Ir 636,22 -

Coeficiente de rugosidade RN 0,15 -

Razão de textura RT 4,52 -

Textura topográfica Tt 3,05 -

Declividade S1 S1 0,01019 m.m-1

Declividade S2 S2 0,00161 m.m-1


Tabela 1: Parâmetros calculados para bacia hidrográfica do rio da Laje.

1102
A área de drenagem de uma bacia hidrográfica é um parâmetro comum para se determinar as características físicas (Back,
2014). O autor ainda menciona que a área de drenagem de uma bacia é importante na caracterização do regime hidrológico,
sendo a vazão média de uma bacia e diretamente proporcional a sua área de contribuição. A área da presente bacia hidrográfica
objeto de pesquisa é de 152,15 km².
A forma da bacia é de grande relevância, pois influenciará no seu hidrograma e pico de vazão e assim influenciará no tempo
em que a água percorre do ponto mais distante até a saída, definindo assim o tempo de concentração. Villela e Mattos (1975)
mencionam que bacias que apresentam uma forma mais circular, podem indicar uma tendência de gerar picos de enchente mais
elevados em relação às bacias alongadas.
O coeficiente de compacidade (Kc) calculado para bacia do Rio da Laje, foi de 1,68, sendo a bacia classificada como não
sujeita a grandes enchentes (Back, 2014). Outro método para se determinar a forma da bacia é o cálculo do índice de
conformação (Kf), cujo resultado obtido foi igual a 0,57, desta forma a bacia classifica-se como com tendência mediana a
enchentes (Back, 2014). Para auxiliar na interpretação dos valores, pode-se comparar com valores obtidos em figuras
geométricas conhecidas. Os valores de Kc e Kf obtidos para a bacia do Rio da Laje correspondem a valores para uma bacia de
formato triangular (Back, 2014).
Quanto a ordem dos cursos d’água, conforme o sistema de classificação proposto por Strahler, trata-se de uma bacia com rios
de até 5ª ordem (Figura 3). A determinação da ordem dos rios, além de indicar seus graus de ramificação, auxilia na análise
morfológica da bacia hidrográfica.
A densidade de drenagem (Dd) é um parâmetro indicador do relevo superficial e características geológicas da bacia (Tucci,
2004). A Dd é diretamente proporcional à extensão do escoamento superficial e, desta forma, indica a eficiência da drenagem
natural da bacia. Esse parâmetro varia de 0,5 km.km-2 a 3,5 km.km-2 ou mais, representando bacias com drenagem pobre e
muito bem drenadas, respectivamente (Villela & Mattos, 1975). Sendo a bacia do Rio da Laje considerada medianamente
drenada, representada por uma Dd de 1,73 km.km-2
O índice de extensão média do escoamento superficial (Ems), é um fator importante que constitui uma indicação da distância
média do escoamento superficial. O resultado obtido para a bacia estudada foi de 0,14 km.
A sinuosidade do curso d’água é um fator relacionado com a velocidade do fluxo da água, quanto maior a sinuosidade, menor a
velocidade (Back, 2014). O índice encontrado foi de 41,47%, o qual pode ser classificado como sinuoso, classe IV, Is de 40% a
49,95% (Back, 2014).
Um aspecto a ser considerado, é a declividade média da bacia (Dec), sendo esse importante para a modelagem do escoamento,
uma vez que a velocidade de fluxo depende desta variável (Finkler, 2010). Segundo Back (2014), a declividade influencia
diretamente na velocidade do escoamento superficial, afetando a forma do hidrograma, como também em processos erosivos.
A declividade obtida para a bacia foi de 8,7% (Figura 3).

Figura 3: Mapas de ordem dos rios e declividade da bacia

1103
A altitude média da bacia hidrográfica do rio da Laje é de 46,4 metros, sendo a altitude máxima corresponde a 368,8 metros e a
mínima a 0 metros, possuindo, portanto, uma amplitude altimétrica de 368,8 metros. Como altitude mediana tem-se 26 metros,
que corresponde a 50% da área, enquanto a altitude modal é de 10,8 metros.
A curva hipsométrica é a representação gráfica do relevo médio da bacia hidrográfica (Figura 4). Observa-se que
aproximadamente 75% da área possui altitudes inferiores a 50 metros, indicando um relevo predominantemente plano. Tal
conclusão é reforçada pelo coeficiente de massividade (Km) obtido ser inferior a 0,5, o que indica uma maior distribuição de
terras baixas.

Figura 4: Curva hipsométrica da bacia do rio da Laje

O índice de rugosidade está relacionado com declividade e o comprimento das vertentes e com a densidade de drenagem. O
resultado obtido foi de 627,95. Importante também calcular o coeficiente de rugosidade, sendo esse um fator que indica o uso
potencial da terra para a agricultura, pecuária e reflorestamento (Back, 2014). O resultado obtido foi de 0,15 e pode ser
classificado como solos apropriados para agricultura, sendo Rn < 23.
A razão de textura foi igual a 3,55 e pode ser classificada, como razão de textura média, onde os valores ficam entre 2,5 e 6,2.
Dentre as características importantes na caracterização física de uma bacia hidrográfica, a textura topográfica possui relevância
de modo que define o grau de detalhamento e dissecação do relevo, expressando o espaçamento entre canais de drenagens em
mapas topográficos com curvas de níveis. O resultado da presente bacia foi de 3,05, sendo classificada como uma classe de
textura topográfica grosseira (Back, 2014).
A declividade do rio é um fator de grande importância para avaliar a velocidade da água de escoamento superficial, sendo que
segundo Back (2014), quanto maior a declividade, maior a velocidade de escoamento. Existem vários métodos para determinar
a declividade média do canal principal, no presente estudo utilizou-se dois métodos, o S1 e S2, sendo o primeiro uma forma
mais simples de determinar a declividade do rio e o segundo obtém-se um valor mais representativo da declividade. Observa-se
uma diferença significativa nas duas curvas em relação ao perfil do rio principal (Figura 5).

1104
Figura 5: Perfil longitudinal do rio Urussanga e declividade média do rio S1 e S2

A bacia hidrográfica estudada se comporta como uma bacia típica, em que a declividade é maior na região próxima às
nascentes, diminuindo no sentido de jusante da bacia. A curva S2 representa melhor a declividade bem como a velocidade
média de escoamento.

Considerações Finais
A bacia hidrográfica do Rio da Laje apresentou uma declividade baixa, a qual influencia no escoamento superficial das águas,
se tornando assim, um ponto positivo, pois a sua foz encontra-se próximo ao perímetro urbano, minimizando a probabilidade
de ocorrer enchentes nesse local. Vale ressaltar que a ocupação do solo é dada por uma grande quantidade de produção de
arroz irrigado, confirmando assim que a topografia é predominante plana, sendo elevadas apenas nos locais próximos às
nascentes. Pode-se confirmar essa configuração com a curva hipsométrica, a qual apresenta que 75% da área total da bacia
possui altitudes inferiores a 50m, apresentando assim um relevo predominantemente plano.
Os fatores de forma indicam que a presente bacia não está sujeita a enchentes ou apresenta uma tendência mediana a
enchentes. Esses fatores também podem ser confirmados com os cálculos de declividade, pois a presente bacia apresenta
características de área planas, configurando assim uma velocidade de escoamento superficial baixa, a qual se torna importante
para minimizar possíveis intempéries climáticos, como enchentes, tendo em vista que a foz da bacia hidrográfica está próxima
ao meio urbano.
A classe topográfica da bacia apresenta-se grosseira, podendo indicar o detalhamento do relevo e assim inferir no
comportamento da água.
Vale ressaltar que a grande presença de rizicultura no local, pode interferir na qualidade ambiental da lagoa do sombrio por
meio de agrotóxicos e sedimentos em suspensão, e dessa forma e se torna de grande relevância uma educação ambiental aliada
a informações técnicas referentes a conservação desse corpo d’água natural.

Agradecimentos
Agradecemos a Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior - CAPES pela oportunidade de pesquisa e apoio
financeiro para que fosse possível a realização deste estudo.

Referências Bibliográficas

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1106
5SSS253
CAPTAÇÃO E USO DE ÁGUAS PLUVIAIS: UM ESTUDO DE
VIABILIDADE PARA UM CAMPUS UNIVERSITÁRIO EM
SÃO CAETANO DO SUL, ESTADO DE SÃO PAULO
Igor Moro Lima1, Luane Pereira Stradiotto2, Vinicius Martins Rex3,
Gabriela Sá Leitão de Mello4, André Luiz de Lima Reda5

1Instituto Mauá de Tecnologia, Escola de Engenharia Mauá e-mail: igor_moro@msn.com; 2Instituto Mauá de
Tecnologia, Escola de Engenharia Mauá e-mail: luanepstradiotto@hotmail.com;3Instituto Mauá de Tecnologia,
Escola de Engenharia Mauá e-mail: vinicius.mrex@gmail.com; 4Instituto Mauá de Tecnologia, Escola de
Engenharia Mauá e-mail: gabriela.mello@maua.br; 5Instituto Mauá de Tecnologia, Escola de Engenharia Mauá
e-mail: andrereda@maua.br

Palavras-chave: Escassez hídrica; Captação de água pluvial; Abastecimento sustentável.

Resumo
O trabalho investiga as viabilidades técnica e econômica de um sistema de captação de água pluvial para irrigar um campo de
futebol. O caso estudado fica no Campus São Caetano do Sul do Instituto Mauá de Tecnologia-IMT, na cidade de mesmo
nome, no estado de São Paulo. Sua motivação foi o desafio de avaliar um projeto sustentável para aliviar o difícil cenário de
disponibilidade hídrica atual e ainda reduzir contribuições pluviais para a rede pública de drenagem por ocasião de tormentas,
que frequentemente inundam a região onde se localiza a Instituição. Teve por diretriz seguir as normas estabelecidas pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para projetos hidráulicos de sistema para uso de águas pluviais.
Visando produzir tanto um anteprojeto quanto um estudo de viabilidade para a implantação de um “sistema de captação
pluvial” nesse Campus, analisaram-se, inicialmente, as características planialtimétricas do terreno para buscar aproveitar da
melhor forma possível, também, a rede de drenagem existente. Procurou-se, ao mesmo tempo, minimizar eventuais
interferências negativas do sistema de aproveitamento proposto com outras benfeitorias existentes no Campus. Neste ponto, foi
fundamental contar com o apoio da Gerência de Manutenção e Serviços do Instituto, que mantém o cadastro subterrâneo
dessas instalações. A escolha da parte do Campus em que fosse mais interessante implantar o sistema incluiu criteriosa
inspeção das instalações existentes, encontrando-se na parte acima mencionada um alto potencial para a aplicação desse tipo de
anteprojeto.
Coletaram-se dados pluviométricos regionais recentes – uma série de aproximadamente 13 anos (de 2004 a 2016), depois
analisados estatisticamente. Com base num levantamento das demandas da Instituição e buscando uma alternativa sustentável e
econômica, simularam-se diversas alternativas de volume total de reservatório, associando-se cada uma a um potencial de
atendimento ao longo do ano pelo sistema proposto. Para toda esta análise, empregou-se como ferramenta matemático-
estatístico-hidrológica o software Netuno 4.0.
Além disso, no aspecto econômico, foram avaliados as quantidades e os valores gastos pela Instituição com água potável para
irrigação, os valores que poderiam ser economizados com o uso de água pluvial, os gastos necessários (orçamento) para a
implementação do projeto e o período mínimo para payback do investimento.
O artigo apresenta, ao final, uma alternativa viável que promoveria economia anual de R$26.798,40 com despesas para
adquirir água da rede pública, para um prazo de retorno aproximado de 2 anos e 7 meses. Estimula-se, assim, uma prática que
visa uma gestão ambiental consciente da limitação dos recursos hídricos, rumo a um futuro mais sustentável.

Introdução
Nas últimas décadas, os cenários de abastecimento sanitário nacional e internacional têm sido preocupantes, devido à crescente
escassez hídrica. De acordo com o Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê-PDMAT 3 (DEPARTAMENTO
DE ÁGUAS ENERGIA ELÉTRICA, 2014), isto se deve, na sua área de abrangência, à urbanização acelerada e desordenada,
além do aumento da demanda de água por indústrias e agropecuária – com potencial para causar, em curto ou longo prazos,
poluição hídrica, inundações, esgotamento de reservas naturais e redução da disponibilidade de água.
Mesmo contando com uma rede de micro drenagem tradicional (sarjetas, sarjetões, bocas de lobo, bueiros, dutos, galerias), o
escoamento superficial das águas pluviais urbanas, excessivo pela ocupação desordenada do solo (que reduz a infiltração no
subsolo e acelera o escoamento), acaba por não ficar contido nos dutos disponíveis, extravasando com frequência, inundando
áreas antes livres deste problema e desperdiçando água que poderia ser utilizada se coletada próximo ao local de precipitação

1107
(COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1986). A atual preocupação com o uso racional da água tem
levado a significativos investimentos em formas de minorar sua escassez e seu custo nos grandes centros urbanos,
recomendando controlar esses efeitos. Uma dessas técnicas é aproveitar a água pluvial em residências, indústrias e agricultura
(CANHOLI, 2005).
O objetivo deste trabalho é analisar a viabilidade prática de um sistema de captação e armazenamento de águas pluviais no
Campus São Caetano do Sul do Instituto Mauá de Tecnologia-IMT para irrigar o campo de futebol e atender outros fins não
potáveis, economizando, assim, água destinada a usos mais nobres – por exemplo, em bebedouros, banheiros, laboratórios e
outros usos. O trabalho também visa estimular iniciativas futuras de Gestão Ambiental em universidades.
Sistemas de gestão ambiental em campi universitários
Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) são estimulados pelas restrições da legislação no assunto, por políticas preventivas em
prol de ecossistemas e pela conscientização da sociedade no que se refere a questões de desenvolvimento sustentável.
Desenvolver uma consciência ecológica na sociedade mundial envolve diversos setores, sendo um deles a educação
(DRUZZIAN; SANTOS, 2006). Universidades podem ser comparadas a pequenos núcleos urbanos, como ilustra a Figura 1. As
Instituições de Ensino Superior (IES) desempenham diversas atividades no dia a dia com base numa infraestrutura, com redes de
abastecimento de água e energia, de coleta de esgoto e de água pluvial e vias de acesso. Como consequência, seus campi geram
resíduos sólidos e efluentes líquidos e consomem recursos naturais (CARETO; VERDEIRINHO, 2006).

Figura 1: Principal fluxo de um Campus universitário. Fonte: Bonnet et al. (2005).

Assim, diversas IES buscam planejar sua gestão para minimizar impactos ambientais gerados, sendo exemplos do cumprimento
da respectiva legislação e saindo do campo teórico para o prático, de forma exemplar (D’AVIGNON, 1995). Devem também
promover uma significativa redução de longo prazo nos custos com energia, água, material e outros, podendo, assim, obter
reconhecimento com certificações por SGA, como por exemplo a série de normas da “International Organization for
Standardization” (ou Organização Internacional para Padronização), denominadas “normas ISO 14000” – das quais a principal
neste âmbito é a ISO 14001 – “Sistemas da Gestão Ambiental. Requisitos com orientações para uso.” (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2015).
Sistemas de captação de águas pluviais
Dada a preocupação atual com o uso racional da água potável, novos meios estão sendo empregados para minorar os efeitos da
escassez nos grandes centros urbanos e o custo da água potável. Modernos sistemas de aproveitamento de água pluvial em
residências, indústria e agricultura integram conceitos e técnicas atuais (GNADLINGER, 2018).
Um sistema de captação e uso de água pluvial consiste nas seguintes etapas: superfície de captação, calhas e tubulações,
tratamento da água coletada e reservatórios para amortecimento de cheias. O reservatório é o item mais caro do sistema de
captação e uso de água pluvial; portanto, deve ser dimensionado criteriosamente. Seu custo pode significar de 50% a 85% do
valor total do sistema (TSUTIYA, 2006). Assim, sua escolha influencia diretamente a viabilidade financeira do projeto.

Coleta de dados no IMT para o dimensionamento do anteprojeto


Com o apoio da Gerência de Manutenção e Serviços do IMT, GMS, monitorou-se a irrigação do campo de futebol por um dia,
principalmente para medir o “volume real” de água usado por episódio diário de irrigação, Vr. Este deveria ser de seis horas em

1108
cada dia que precisar de irrigação, de modo ideal – mas dificilmente o campo de futebol está livre para ser irrigado
continuamente por tal período. No dia do monitoramento (09/05/2018), ocorreu irrigação por cinco horas, com 7,5 m³ para cada
um dos dois lados do campo. Assim, o valor final irrigado foi 15 m³ – a ser considerado como volume real nos cálculos.
Além disso, a GMS-IMT informou o custo unitário atual da água potável consumida, R$37,22/m3. Assim, foi possível calcular
o gasto com num mês com irrigação usando água potável, segundo a Eq. 1,

(1)

em que é custo total esperado num mês que requer irrigação (R$/mês); é o número de episódios de irrigação por mês a
atender (episódio/mês); é o volume real gasto por episódio (m3/episódio), e é o custo unitário atual da água potável
(R$37,22/m3). Substituindo por 15 m³/episódio e por 8 episódios/mês (pois se procura realizar 2 episódios de irrigação por
semana – às terças- e sextas-feiras), encontra-se um custo, , de aproximadamente /mês.
Com base em índices pluviométricos mensais de São Caetano do Sul estimados usando dados do pluviômetro mais próximo ao
Campus, o “Bairro Barcelona” (DEPARTAMENTO DE ÁGUAS E ENERGIA ELÉTRICA, 2018), identificou-se o período de
estiagem abril-setembro (ver Figura 2), no qual já se irriga o campo, segundo a GMS-IMT. Nos outros meses, já basta a chuva.

Período estivo

Figura 2: Índices pluviométricos mensais e período de estiagem em São Caetano do Sul. Fonte: DAEE (2018).

Com essas informações, a Eq. 2 calcula o volume estimado de água pluvial que atende a necessidade do gramado durante todo
um ano, ou seja, durante os 6 meses estivos evidenciados na Figura 2, assim:

(2)

em que é o volume de água per annum estimado para irrigação (m3/ano); é a área de gramado a irrigar (5400m²); éo
volume real gasto por unidade de área num episódio de irrigação (2,78 L/m²/episódio); , o período crítico seco, de 6 meses,
e = 8 episódios/mês (dado acima). Resulta = 721 m³/ano (em 6 meses secos, ou 120 m³/mês, aproximadamente).
Analisando a planta arquitetônica do Campus com as informações planialtimétricas (cedida pela GMS-IMT), optou-se por
adotar como áreas de captação de água pluvial os telhados do Centro de Esportes e Atividades Físicas (CEAF) e do Bloco Q
(que abriga instalações administrativas e laboratórios computacionais), ficando este último ao lado de um reservatório de 47m³,
existente e hoje inativo – ver, na Figura 3, o item ‘b’ (“Reservatório inferior para a água captada no telhado...”).

Dimensionamento hidráulico do sistema


a) Dimensionamento do Reservatório – Método Netuno
O programa computacional Netuno pode dimensionar um sistema adequado para captação de água pluvial, partindo de uma
base de dados a ser coletada e nele inserida pelo usuário. “Além disso, o programa permite uma análise econômica para o

1109
sistema simulado estimando de forma precisa os custos de projeto, implementação e manutenção” (Ghisi, 2018).
Com base na necessidade hídrica apresentada acima e em alturas pluviométricas diárias de 2004 a 2016 medidas pelo
Departamento de Águas e Energia Elétrica (2018) em estações próximas ao Campus, estimou-se a área de captação necessária,
combinando as coberturas do Bloco Q e do CEAF (LIMA et. al., 2018). Com os dados de entrada descritos a seguir, os
cenários foram testados no programa Netuno, como mostra a Figura 4. Dados de entrada: i) alturas pluviométricas totais diárias
disponíveis, de 2004 a 2016 (4.836 valores); ii) área de captação de chuva: 2466 m²; iii) Demanda de água para complementação
hídrica nos meses menos chuvosos, isto é, de abril a setembro: 120.000 litros.

d
b

Legenda: a: Reservatórios intermediários para a água captada no telhado do CEAF


b: Reservatório inferior para a água captada no telhado do Bloco Q e o excedente dos reservatórios do CEAF
c: Prédio do CEAF d: Bloco Q - - - - Tubulação por gravidade Tubulação de recalque de drenagem
Figura 3: Localização dos componentes do sistema de coleta, reservação e irrigação (acervo do IMT).

1110
Figura 4: Imagem de tela do cenário da simulação feita pelo programa Netuno.

A melhor situação encontrada para uso ótimo do espaço foi um reservatório com 107m³ e potencial de utilização de 85,64% da
água captada, contando com uma pequena parcela de água potável para complementar a necessidade de complementação
hídrica do campo: só 14,36%. Como já citado, o IMT já conta com um reservatório de 47m³ inativo. Usando-o juntamente com
três reservatórios pré-fabricados de fibra de vidro de 20m³ cada, pode-se completar o volume requerido, de 107m³.
Além de encontrar o potencial de uso de água pluvial, o programa informou também, para o período estivo considerado de seis
meses (abril a setembro), os volumes mensais consumidos de ambas as origens, pluvial e potável – vide Figura 5.

Figura 5: Gráfico de saída do programa: disponibilidade típica de água pluvial e consumo complementar de água
potável nos seis meses mais secos.

1111
b) Dimensionamento do sistema de coleta
Compondo o sistema de coleta de água pluvial e transporte até os reservatórios de acumulação, mantiveram-se neste
anteprojeto os telhados, as calhas e os tubos de queda existentes. A tubulação e seus acessórios para encaminhar a água pluvial
para os reservatórios foram dimensionados de acordo com as recomendações e critérios da NBR 10844/1989, “Instalações
Prediais de Águas Pluviais”, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (1989).

Filtro autolimpante
O filtro autolimpante, a ser acoplado abaixo de cada tubo de queda, é uma solução suficiente para filtrar a água neste caso. Sua
função é reter, a partir do início da precipitação, sólidos provenientes do arrasto da água sobre o telhado, podendo reter
resíduos de galhos, folhas, fezes de animais ressequidas, etc. – como ilustra a Figura 6.

Figura 6: Esquema de um filtro autolimpante. Fonte: Federação Estadual do Meio Ambiente (2016).

Reservatórios de descarte
A “primeira leva” do fluxo da água da chuva (“first flush”) é considerada a parte de pior qualidade, imprópria para
aproveitamento, pois é a que contém a maior concentração de poeira, folhas, insetos e outros dejetos, os quais precisariam ser
retidos por filtração – por exemplo, por um filtro auto limpante. Assim, decidiu-se descartá-la.
Esse volume inicial de água a ser descartado varia em função do tamanho do telhado. A NBR 15527:2007 (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2007) recomenda descartar 2 mm iniciais da chuva por m2 de telhado. Adotou-se a
solução comum do “reservatório de limpeza automática” (ou “reservatório de descarte”) antes do reservatório de
armazenamento, para esta função (FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE, 2016). A Figura 7 ilustra um sistema
de encaminhamento de águas pluviais até o reservatório de armazenamento.

c) Dimensionamento do sistema de recalque

Sistema de irrigação
Para determinar a bomba de recalque necessária, deve-se ter as características geométricas da tubulação, além de outras
características hidráulicas necessárias ao sistema. Quando um escoamento não ocorre, naturalmente, por uma diferença de
altitudes favorável, é então necessário um sistema de elevação (PORTO, 2006). Este é o caso deste anteprojeto, pois os
aspersores de irrigação requerem altos valores de pressão mínima – mesmo não havendo vantagem topográfica entre a cota do
reservatório e o local de irrigação. Vale ressaltar que não foi necessário projetar o trecho de sucção da bomba, pois se optou
por conectá-la logo à saída do reservatório – ao seu lado e bem abaixo do nível d’água mínimo praticado.
Considerando que o campo de futebol tem por dimensões 60m de largura e 90m de comprimento, escolheram-se aspersores
com bocal que permite irrigação com raio de 14,9m, exigindo uma pressão de 2,5 bar (25,5 mca) e uma vazão de 1,50m³/h –
vide Figura 8 (RAIN BIRD, 2018).

1112
Figura 7: Esquema simplificado do sistema de aproveitamento de água pluvial.
Fonte: Fundação Estadual do Meio Ambiente (2016).

Figura 8: Características de funcionamento do aspersor Rainbird Falcon 6504 SAM.

Mostram-se na parte hachurada da Figura 9 as áreas objetos de irrigação, de acordo com alcance dos jatos dos aspersores.

Figura 9: Esquema do campo de futebol e áreas de irrigação possíveis (acervo do IMT).

1113
Inicialmente, pesquisa-se o valor do diâmetro econômico (a ser usado como uma primeira aproximação do diâmetro da
tubulação de recalque), D, pela Fórmula de Bresse (PORTO, 2016), já conhecendo a vazão de projeto, pela Eq. 3,
(3)
em que Q é a vazão de recalque considerando 4 aspersores e X é a fração do dia em que a bomba deve funcionar, considerando
que deva suprir 15m³ de irrigação em 2,5 horas.
Considerando na Eq. 3 as variáveis abaixo com os valores a seguir,

obtém-se um diâmetro comercial D = 32 cm (TSUTIYA, 2006).

Seleção de bomba para o trecho de recalque


A máquina de bombeamento só necessita adicionar ao fluxo uma pressão equivalente àquela exigida pelos aspersores somada a
uma compensação pela perda de carga ao longo da tubulação de recalque. Representa-se esta ideia de modo simples na Eq. 4,
em que é a carga de energia fornecida pela bomba (m), , a carga de pressão (m), e a perda de carga (m) pelo atrito
junto à superfície interna da tubulação, com água em movimento (PORTO, 2006).

(4)

Porto (2006) afirma que a estimativa da perda de carga conta com equacionamentos diversos e que, para este caso específico
de projeto para vazão máxima de trabalho, em que o escoamento é turbulento rugoso, pode-se usar a fórmula de Hazen-
Williams, Eq. 5, em que L é o comprimento da tubulação (m), C é o coeficiente de rugosidade de Hazen-Williams
(adimensional), D, o diâmetro da tubulação (m) e Q, a vazão da água (m³/s), assim:

(5)

Tsutiya (2006) informa que, para tubo de PVC, o coeficiente de rugosidade de Hazen-Williams é C= 135. Para o percurso
definido na Figura 3, o comprimento total da tubulação de recalque deve ser L= 387,08 m. Além disso, a pressão exigida é de
25,5m (Figura 8). Assim, combinando a Eq. 4 à Eq. 5, resulta a formulação de em função de Q mostrada na Eq. 6.

(6)

Considerando, inicialmente, uma vazão necessária de 0,00167m³/s, a carga resulta 28,58 m, pela Eq. 6. Determinado o par
de valores Q=6m³/h e =28,58m, selecionou no catálogo KSB Aktiengesellshaft (2014) a bomba que melhor serve ao caso:
MegaPCK com n=1750 rpm e rotor D=246 – características mais próximas do ponto de funcionamento estimado nos cálculos
hidráulicos, com valores superiores ao par de valores {vazão; carga} requerido.
A partir daí, pode-se construir o gráfico H x Q (Figura 10), com as curvas características do sistema e da bomba selecionada,
mostrando como a perda de carga do sistema e a carga manométrica da bomba variam com a vazão. Nele se determina o ponto
de funcionamento do sistema (cruzamento das curvas): Q= 7,84 m³/h= 0,00218 m³/s e H= 31,02 m. No ábaco completo da bomba
escolhida, no catálogo do fabricante (citado acima), determina-se o rendimento nesse ponto: η=36%.

1114
Figura 10: Desenho das curvas características do sistema e da bomba.

A Eq. 7 (PORTO, 2016) fornece a potência requerida pelo sistema. Sendo γ o peso específico da água (9.790 N/m³) e η o
rendimento da bomba (ponto: η=36%), resulta para o ponto de funcionamento definido uma potência requerida de 1.840W.

(7)

Orçamento do sistema completo


O Quadro 1 detalha as considerações e valores orçamentários estimados para implantar o sistema proposto de captação,
tratamento, reserva e recalque de água pluvial para a irrigação do campo de futebol do Campus São Caetano do Sul - IMT.
Quadro 1: Orçamento do anteprojeto.
CEAF e Bloco Q DESCRIÇÃO DE COMPONENTE QUANTIDADE UNIDADE $ UNITÁRIO $ TOTAL
Tubulação de queda PVC 5" 35 m R$ 9,00 R$ 315,00
Coleta de água da chuva e
Tubulação horizontal PVC 5" 250,81 m R$ 9,00 R$ 2.257,29
caminhamento por tubulações
Calha de PVC 0,15m 244 m R$ 21,45 R$ 5.233,80
Cabeceira para calha pluvial 0,15m 4 pç R$ 17,89 R$ 71,56
Bocal 0,15m 5 pç R$ 37,90 R$ 189,50
Acoplamento 0,15m 5 pç R$ 10,59 R$ 52,95
Coleta, reserva e tratamento

Vedação para calha pluvial 0,15m 122 pç R$ 22,90 R$ 2.793,80


Grade de calha para retenção prévia alumínio 0,15m 244 m R$ 36,30 R$ 8.857,20
Filtros e acessórios
Abraçadera PVC para tubo de queda 5" 10 pç R$ 3,40 R$ 34,00
Filtro autolimpante PVC 5" 4 pç R$ 73,90 R$ 295,60
Registro gaveta latão forjado 5" 3 pç R$ 450,00 R$ 1.350,00
Tê PVC 5" 3 pç R$ 22,29 R$ 66,87
Joelho 90º PVC 5" 6 pç R$ 8,28 R$ 49,68
Reservatório de descarte CEAF 2,1m³ 1 unid R$ 946,90 R$ 946,90
First Flush (descarte da primeira Reservatório de descarte bloco Q 0,6m³ 1 unid R$ 248,00 R$ 248,00
água de chuva) Torneira metálica de bóia p/ caixa d'água 2" 2 pç R$ 200,28 R$ 400,56
Válvula de pé com crivo de bronze 2" 2 pç R$ 80,29 R$ 160,58
Reservatório com câmara de inspeção 20m³ 3 unid R$ 8.123,54 R$ 24.370,62
Reservatório Manutenção reservatório com câmara de inspeção 47m³ 1 unid R$ 32,40 R$ 32,40
Tratamento biológico com cloro 0,0214 kg/mês R$ 18,21 R$ 0,39
Bomba (booster hidráulico) 1 unid R$ 2.022,00 R$ 2.022,00
Recalque e irrigação

Bomba Sistema de controle de acionamento da bomba 1 unid R$ 322,05 R$ 322,05


Válvula de pé com crivo de bronze 50mm 2 pç R$ 80,29 R$ 160,58
Bomba em funcionamento 36,75 kWh/mês R$ 0,27 R$ 9,95
Tubulação de recalque PVC 50mm 607,23 m R$ 9,00 R$ 5.465,07
Irrigação
Joelho 45º PVC 50mm 1 pç R$ 7,17 R$ 7,17
Joelho 90º PVC 50mm 5 pç R$ 8,28 R$ 41,40
Total fixo R$ 55.744,58
Total variável /mês R$ 10,34

1115
Considerando que o Campus gasta cerca de R$27.000,00 por ano com água potável para irrigação atualmente, se este
anteprojeto fosse implantado, passar-se-ia a gastar R$4.000,00 por ano – apenas para suprir o volume requerido que não seria
possível reservar contando só com os reservatórios e áreas de captação disponibilizados na proposta. A economia potencial no
uso de água potável para irrigação seria de 93%. Analisando a redução no gasto geral com água potável por todo a atividade do
Campus, resultaria uma economia de 3% desse total.
Nesta análise de viabilidade (LIMA et al., 2018), estimaram-se para o sistema proposto custo fixo inicial de R$60.903,97 e
custo variável de R$10,13/mês. Uma representação global anual do payback desse investimento pode ser vista na Figura 14,
donde se pode deduzir que aproximadamente após 2 anos e 7 meses se acumula um saldo positivo – podendo-se considerar tal
valor como o “lucro” que a Instituição teria com a implantação do sistema proposto neste anteprojeto.

Figura 11: Acompanhamento do payback do investimento.

Comentários finais
O resultado obtido, satisfatório, atingiu os objetivos iniciais visados pelo estudo, viabilizando uma proposta para substituir
parcialmente a água potável por água pluvial na matriz de abastecimento do Campus. Esta iniciativa fornece subsídios úteis
para tomar decisões numa política de SGA (Sistema de Gestão Ambiental). Com pequenas mudanças, poder-se-ia adaptar a
ideia desta proposta, trazendo vantagens tanto para o Campus quanto para o meio ambiente externo – consideradas as severas
inundações às quais a região em que se insere está frequentemente sujeita e a carência de água potável frequente, cada vez que
uma estiagem de médio ou longo prazo assola a Região Metropolitana de São Paulo. Serve também ao Instituto no objetivo de
se classificar como uma IES com desenvolvimento sustentável.
Durante o desenvolvimento deste estudo, surgiram pontos relevantes para trabalhos futuros, os quais são apresentados a seguir
como sugestões para o desenvolvimento de novas pesquisas, sobre os seguintes aspectos:
a) Sistema de captação de água pluvial para substituição da água potável em bacias e vasos sanitários;
b) Análise do uso de água pluvial para lavagem de pisos e locais de uso comum;
c) Captação de água de chuva uso em outros telhados de edifícios;
d) Replicação desta solução em outros campi universitários e instituições com edifícios de grande área, em geral;
e) Busca pelo alinhamento de alternativas sustentáveis para as IES no sentido de torná-las referências em termos de empresa
educacional sustentável, nos âmbitos nacional e internacional.

Agradecimentos
Os autores agradecem ao Instituto Mauá de Tecnologia pela contribuição recebida, primeiramente, da parte dos engenheiros da
Gerência de Manutenção e Serviços (GMS), além de outros colaboradores da Instituição, que não mediram esforços para
contribuir com esta pesquisa para Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dos três primeiros autores no que diz respeito ao
fornecimento das informações necessárias sobre os Campus São Caetano do Sul e apoio nas investigações de campo.

1116
Agradecem, também, pelo apoio e pela confiança depositada no grupo de trabalho pela Coordenação do Curso de Engenharia
Civil e pelos órgãos superiores de gestão da IES, na pessoa da Profª. Drª. Cássia Silveira de Assis, coordenadora do Curso, ao
longo de todas as atividades desta pesquisa de TCC.

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urbanas para fins não potáveis. Rio de Janeiro: ABNT.
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1117
5SSS256
O DESAFIO DA GESTÃO INTEGRADA DOS RECURSOS HÍDRICOS
PARA GARANTIR A EFICÁCIA DOS MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA
Rita de Cassia Almeida da Costa1
1Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ/ PROFÁGUA, rc_costa@oi.com.br

Palavras-chave - Agricultura familiar; participação social; nexo das seguranças

Resumo
O crescimento global foi caracterizado por altas taxas de urbanização, produção/consumo e industrialização intensivas. Para
atendimento dessas demandas promoveu-se o uso insustentável da natureza: poluição e degradações ambientais. Como
consequência o declínio na disponibilidade de água doce contribuiu para gerar choques e instabilidade política em fronteiras e
tensões internas entre esferas governamentais. Os conflitos nas bacias hidrográficas estabelecidos pelas diversas formas de
divisões territoriais e conjunturas regionais coexistem, cotidianamente, com os múltiplos usos da água e se inter-relacionam
com vários setores. Tendo diferentes focos de ação, as seguranças hídrica, alimentar e energética se formaram a partir de suas
próprias perspectivas, embora o nexo seja reconhecido teoricamente. Este trabalho propõe considerar esta conexão, a partir dos
agricultores familiares, não apenas pela restauração/conservação florestal, mas pelo manejo sustentável do solo. Por meio
dessa atuação direta, eles contribuem para a geração de serviços ecossistêmicos relacionando alimentos e regulação dos fluxos
de água, com as demais demandas de consumo. O reconhecimento da relevância desta fatia da sociedade civil, em contraste
com sua evidente ausência em comitês bacia e de território, conduz à proposição de ações que viabilizem a participação de
produtores rurais em decisões de realinhamento de processos de sobrevida saudável no planeta.

Introdução

A manutenção da vida nos territórios advém essencialmente de arranjos locais para lidar com as demandas que lhe são
próprias. Mas quando se trata dos múltiplos usos da água o desafio é global, isso porque as derivações consequentes do
crescimento populacional se avolumam: elevado índice de urbanização; produção de alimento; industrialização intensiva;
tecnologia de consumo em larga escala; energia para fazer tudo isso existir. E, por conta dessas condições, a água vem sendo
consumida de forma mais intensa, ampla e diversificada com lançamentos cada vez mais duvidosos: falta saneamento urbano,
rural e ética nos compromissos assumidos.
Por outro lado, a corrida desenfreada, para atender às demandas contemporâneas, traz a poluição e o uso predatório da
natureza. Os modos de produção e as mudanças de escala afetaram os extremos ambientais. A decorrência genérica desta
realidade se configura na perda substancial da biodiversidade e da permanência da vida de vários povos, dependentes do meio
natural para sobreviver. Segundo Jared Diamond (2006), “o fenômeno do colapso é, portanto, uma forma extrema de diversos
tipos mais brandos de declínio, e torna-se arbitrário decidir quão drástico deve ser o declínio de uma sociedade antes que se
possa qualificá-lo como colapso”, mas, o mesmo autor aponta para o perigo da banalização do colapso quando afirma: “As
ruínas monumentais deixadas por tais sociedades do passado inspiram um fascínio romântico em todos nós”. Alguns
morreram, é bem verdade. Outros países obtiveram um desenvolvimento econômico substancial diante das mudanças
ocorridas. A que preço?
A diminuição da disponibilidade de água doce se torna evidente. Em muitos territórios a instabilidade política e as
tensões entre governos se tornam cada vez maior. Em oposição à crise, é possível perceber cada vez mais uma tendência de o
debate político referente ao meio ambiente se ecologizar: substancialmente todo discurso é “verde” (Porto e Porto, 2016), mas
o exercício deste discurso nem tanto. Conflitos surgem pela priorização de um uso da água em detrimento a outro, mas existem
choques de ordem mundial: pessoas precisam de alimento e energia para se manterem vivas.
As determinações legais, seja pela Constituição Federal de 1988 ou pela Lei 9.433/97, preveem o estabelecimento de
metodologias para promover uma maior participação social na gestão dos recursos hídricos, com enfoque na sustentabilidade
financeira e operacional. De outra frente, elas ditam a real necessidade desta interlocução porque a relação da água e do
homem é intrínseca. Quando interagem em equilíbrio, podem se rearranjar em meandros com características dialéticas. O
homem como ser vivo é sujeito, agente de sua história, autor de pegadas e destinatário das consequências. Homem e natureza
possuem nexos, sem que, no entanto, sejam reduzidos um ao outro. Esse é o principal fundamento do vínculo e

1118
do limite defendido por Francois Ost (1997). Entretanto estas existências dependem deste capital natural, que ao longo do
tempo, foi alterado pelos próprios seres humanos. Existe a hipótese de que se consideravam superiores à natureza, tanto que
nas últimas seis décadas, mais que em qualquer outro período, a humanidade alargou este desequilíbrio.
No Brasil, a trajetória de degradação chega com o seu descobrimento e pela forma de colonização. O esforço de
reversão deste quadro se configura penoso por conta da formação de toda uma conjuntura cultural. De qualquer maneira, o
marco legal dos recursos hídricos e a presteza da Agência Nacional de Águas - ANA constituem-se em uma ambiência capaz
de conhecer, interpretar e intervir nas dinâmicas desta realidade de desequilíbrio do setor, no país. Mas a tarefa é grande:
Se não for bem gerenciada e rigorosamnente regulamentada, a deterioração da qualidade da água poderá causar um forte
impacto sobre a disponibilidade do recurso, sobre meio ambiente e sobre a saúde das pessoas. Em outras regiões, a
poluição difusa causada pela agricultura também está deteriorando a qualidade da água, provocando restrições na
disponibilidade para outros usos em zonas anteriormente bem servidas (OCDE, 2015)

Este relatório, elaborado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos - OCDE, quando se
desloca para a agricultura, tende a tomar como referência a realidade e resistências encontradas no agronegócio – irrigação
extensiva, maquinário e monocultura. Não é diretivo para as condições do pequeno produtor rural: aquele potencialmente
capaz de fazer interagir o solo, a água e a biodiversidade na promoção de uma agricultura sustentável, produzindo alimento e
permitindo melhores as condições para geração de energia e abastecimento para população urbana.

A SEGURANÇA HÍDRICA
Segundo o conceito praticado atualmente pela Organização das Nações Unidas – ONU e apresentado no seu sítio no Brasil,30
segurança hídrica é:
Assegurar o acesso sustentável à água de qualidade, em quantidade adequada à manutenção dos meios de vida, do bem-
estar humano e do desenvolvimento socioeconômico; garantir proteção contra a poluição hídrica e desastres relacionados
à água; preservar os ecossistemas em um clima de paz e estabilidade política

Em 2013, no dia da água, a ONU apresentou, também no seu sítio no país a seguinte definição:

A capacidade de uma população de salvaguardar o acesso sustentável a quantidades adequadas de água de qualidade para
garantir meios de sobrevivência, o bem-estar humano, o desenvolvimento socioeconômico; para assegurar proteção
contra poluição e desastres relacionados à água, e para preservação de ecossistemas em um clima de paz e estabilidade
política.

Há entre as duas uma diferença pontual. A mais recente tira da população a potencial responsabilidade e indefine o
sujeito da ação. Portanto pode-se considerar um acréscimo de responsabilidade aos demais atores sociais. Desta forma, não só
a população local, entretanto, deixa vago quem deverá realizar a tarefa.

Em artigo publicado sobre a questão emergente da segurança hídrica, em 2017, Melo e Jonhsson mencionam o conceito
de segurança hídrica praticada pelo Global Water Partnership – GWP, em 2014. Ele considera: “um mundo com segurança
hídrica aproveita o poder produtivo da água e minimiza a sua força destrutiva. A segurança hídrica promove também’ a
proteção do ambiente, bem como a justiça social, e aborda os impactos da má gestão da água”.

Neste último enfoque, o termo está muito mais abrangente, assumindo o entrelaçamento de áreas correlatas. Mas,
algumas entidades vinculam a segurança hídrica ao “risco”. Para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico - OCDE, os riscos estão ligados às variáveis de provimento da água, garantia de acesso, de qualidade e
consequentes limitações ao uso, de excesso referenciando às perdas advindas de enchentes e o risco relacionado ao
comprometimento das funções ecológicas da água (Melo e Jonhsson, 2017).

30
Disponível em: https://nacoesunidas.org/acao/agua/

1119
Apesar do conceito ter começado a transitar pelas mesas dos organismos internacionais na década de 1990, no Brasil ele
toma corpo frente à crise hídrica da região sudeste, em 2014. Ainda infantil, a segurança hídrica no país tem um longo caminho
a percorrer. O termo, pelas pesquisas iniciais, se apresenta em constante transformação, abrigando cada vez mais a condução
multi e interdisciplinar, entretanto, traz com ele a difícil solução da equação com os números de interesse das demais
necessidades humanas interdependentes dos recursos hídricos.

O NEXO DAS SEGURANÇAS HÍDRICA, ALIMENTAR E ENERGÉTICA

Na relação diária a segurança hídrica deverá conviver com outros usos e tipos de segurança interconectados. Alocados
em outros pontos de ação, eles estabeleceram suas próprias perspectivas. Por exemplo, o termo Segurança Alimentar, começou
a ser utilizado na Europa na Primeira Guerra Mundial associado à incapacidade do Estado de produzir alimentos para abastecer
a população. A criação da ONU, ao fim da II Guerra Mundial, se dá pela criticidade da fome. A Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e Agricultura – FAO se tornou uma estratégia global. Em 1948, na proclamação da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, que em seu art. XXV reconheceu a alimentação como um dos direitos humanos básicos
(FAO, 2019). Atualmente, os dados da fome disponibilizados por ela são alarmantes. Pelo terceiro ano consecutivo foi
registrado um aumento de famintos no mundo: 815 milhões de indivíduos em 2016, para quase 821 milhões em 2017 31.

Não obstante, para garantir as Seguranças Hídrica e Alimentar, cumprindo as recomendações globais, faz-se necessário
considerar outra segurança: a energética. Iure Paiva32 destaca dois importantes vieses que norteiam as abordagens sobre
Segurança Energética: o primeiro aponta para a lógica de guerra e o segundo, para a da subsistência, onde considera a
oportunidade de confrontar questões de ordem econômica e ambiental. Para este trabalho, o foco é a lógica correspondente às
demandas inerentes ao desenvolvimento: tensas ou harmônicas, mas interdependentes. Nada existe que não seja por meio da
energia ou afetado por ela. No país, a matriz hidrelétrica representa mais de 63% da capacidade da geração. A própria Agência
Nacional de Energia Elétrica - ANEEL33 responsável pelo setor no país, afirma não poder mais depender tanto desta forma de
produção. Em decorrência de uma visão ambiental, as hidrelétricas passaram a ser um elemento de fraqueza. Neste cenário, o
principal gargalo é incorporar fontes limpas à estrutura de distribuição de energia. Em outras matrizes disponíveis, o sistema
ainda não consegue absorver a diferença de custo. Então, a questão da Segurança Energética tem por desafio diminuir a
dependência da hidrologia, colocar energia limpa, garantir sistema robusto a um preço razoável para a população.

A OCDE, no relatório/2015, intitulado A Governança da Água no Brasil: em Mudança Constante, considera ainda de
grande monta o impacto da produção de energia hidrelétrica na gestão dos recursos hídricos, pelo fato de alterar o regime
hidrológico dos cursos de água, mas considera algumas oportunidades saudáveis para outros usos a montante da reservação.
Sobre a ampliação e aprofundamento do significado da segurança, seja no campo conceitual ou prático, admite-se a
multiplicidade de perspectivas e segundo os contextos – hídrico, alimentar e energético, admitindo variantes de atores: público
e privado; população; técnicos e acadêmicos. Em todos os casos podendo perfeitamente coexistir mutuamente e se influenciar,
mas compreendendo desafios.

O DESAFIO DA GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS HÍDRICOS

A Gestão Integrada de Recursos Hídricos se dá em várias instâncias. A definição de governança multinível, como
compartilhamento - explícito ou implícito – faz implementar e articular as políticas de recursos hídricos pelos diferentes níveis
administrativos e territoriais. Definida pela OCDE em 2011, e ratificada no seu em relatório de 2015, ela compreende a relação
entre ministérios ou órgão centrais, horizontalmente nivelados; entre níveis de governo até mesmo supranacional -
verticalmente interligados e, finalmente entre diversos atores em níveis inferiores horizontalmente.

31
ONU Brasil atualizada para consulta. Disponível em: https://nacoesunidas.org/fao-fome-aumenta-no-mundo-e-afeta-821-milhoes-de-pessoas/.
32
Professor Assistente do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Doutorando em Ciência Política na
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). http://www.ccsa.ufpb.br/gesene/contents/publicacoes/a-seguranca-energetica-brasileira-em-analise-
dimensoes-militares-economicas-e-ambientais
33
Disponível em: http://www.aneel.gov.br/20anos/-/asset_publisher/c4M6OIoMkLad/content/seguranca-com-energia

1120
Esta condição da governança toma a bacia como sua unidade territorial e traz consigo algumas formas de
operacionalização, tais como: falta de cooperação, participação e transparência (OCDE, 2015). A incompatibilidade entre a
visão de divisão territorial por bacias e a geopolítica cria uma “matriz dupla”. Apesar da bacia ser um integrador natural, ela,
em sua constituição de função deliberativa, propositiva e consultiva ainda não possui o “poder” efetivo. As esferas - municipal,
estadual e federal - são as que detêm a integração das políticas sociais e econômicas, além das estratégias de desenvolvimento.
Esta realidade se caracteriza como uma lacuna de interlocução efetiva com a produção de alimentos. Com o manejo de solo
adequado, os agricultores garantem recarga de lençol livre, maior vazão superficial; atenuação do trânsito de sedimentos para
reservatórios – com melhoria do volume alocado, além do barateamento do tratamento de água para consumo humano, por
meio da diminuição de elementos químicos/tóxicos existentes a montante das Estações de Tratamento de Água - ETA.

A lei 9.433/1997 define o abastecimento humano como prioritário e em segundo lugar a dessedentação animal. Garante
nos seus fundamentos que “a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas”. Nos objetivos,
art. º 2º. II, deixa claro a necessidade da “utilização racional e integrada dos recursos hídricos”. Só depois vem os demais usos.

O importante salientar que a maior porcentagem de água doce disponível é utilizada na produção agrícola (ANA/mapa
da irrigação34). O setor é considerado o maior usuário do planeta, empregando 70% deste bem disponível para uso. Segundo
relatório elaborado para a Agência Nacional de Águas - ANA, “Há também uma ligação entre alcançar as metas do governo de
acesso à água potável e a proteção geral das fontes de água” (OCDE, 2015). Mesmo sendo mencionado no art. 3º. V, do
capítulo terceiro da Lei as Águas, que trata das Diretrizes Gerais e Ações sobre “a articulação da gestão de recursos hídricos
com a do uso do solo”, existe distância entre o texto e as execuções. A agricultura ainda não está vinculada como atitude meio
para obtenção dos propósitos da Lei.

Na Seção II, da Lei das Águas, que trata do Enquadramento dos Corpos de Água em Classes, de acordo com os usos
preponderantes, fica determinado “II - diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas
permanentes. E, apesar dos diferentes atores usuários da água, Crestana (2011) afirma que: “a agricultura é uma forma de
ocupação do ambiente e de utilização dos recursos naturais pelo homem, o que requer grandes esforços no sentido de entendê-
los”. Mais adiante, o mesmo autor menciona uma tese defendida por um grupo de economistas, onde o desenvolvimento dos
países emergentes, inclusive o Brasil, se dará muito pela agricultura, mas, infelizmente, esse grupo prevê que caso não tenha
uma ação massiva de mobilização será pela via do uso predatório de recursos naturais.

O quadro apresenta uma equação complexa para a governança dos Recursos Hídricos onde o crescimento da população
leva ao aumento da demanda pela produção de alimentos e de energia que, impulsionadas por uma onda desenfreada de
consumo e tecnologias de forte impacto, determina como resultado a elevação da temperatura na Terra. Há, realmente,
necessidade de plantar florestas, mas, ao mesmo tempo, há que se gerenciar as pendências de sobrevida para bilhões de
pessoas. No elitismo verificado na gestão compartilhada dos recursos hídricos até os dias de hoje, Abers e Keck (2017),
mencionam sobre “algumas instalações de comitês foram falsos começos, pela ausência de pessoas preparadas para assumir a
iniciativa”. Os desafios da gestão hídrica incidem sobre o enfrentamento das mudanças nos fluxos hídricos sob pressão do
clima e da crescente demanda de produção de alimentos e de abastecimento da população urbana, além da degradação e
poluição ambiental ocasionadas pelo aumento da urbanização e industrialização. A impossibilidade da ponta - Comitê de Bacia
- implantar seus Planos restringe o seu papel definido por lei e desarticula atores locais - sejam usuários ou representantes da
sociedade civil, em um sistema que já conquistou sua maioridade. Segundo Abers e Keck (2017), “Instituições não nascem
prontas dos textos das leis: precisam ser trazidas pelas pessoas que as criam”. As autoras ainda colocam a necessidade de
convencer outras pessoas sobre o sentido dos objetivos expostos, pela água ser um recurso natural difícil de administrar.

Cabe uma reflexão crítica: neste processo de construção do fazer pelo ensaio e erro, deve ser dimensionada a extensão
das decisões determinantes para o Sistema Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos chegar até aqui com esta configuração.

34
“Diante das diferentes iniciativas visando suprir a carência de informações sobre a agricultura irrigada, bem como os novos dados secundários disponíveis,
surgiu a necessidade de integração do conhecimento disponível em um produto único, configurando a base técnica da agricultura irrigada na sua interface com
os recursos hídricos, em escala nacional. É nesse contexto que a ANA produziu e apresenta o Atlas Irrigação: Uso da Água na Agricultura Irrigada.” 2017.
Disponível em: http://arquivos.ana.gov.br/imprensa/publicacoes/AtlasIrrigacao-UsodaAguanaAgriculturaIrrigada.pdf

1121
Abers e Keck (2017) apontam para a necessidade de entender como as escolhas feitas em certos momentos históricos colocam
as instituições em trajetórias complexas ou vazias. Com todos esses exercícios feitos “não existe nenhum mecanismo formal
que garanta que a informação será compartilhada” (OCDE, 2015) fator determinante para a comunicação ser insuficiente entre
os atores envolvidos e, mais ainda, para com a população em geral.

A Parceria Global da Água e a Rede Internacional de Organização de Bacia produziram um manual para a Gestão
Integrada dos Recursos Hídricos - GIRH. Após definir as três funções principais para as instituições de bacia, aconselha que
elas devem ter uma perspectiva mais ampla.

Ser voz de liderança nas questões que afetam toda a bacia, mantendo cidadãos e tomadores de decisão em todos os
setores e em todos os níveis, em ambos os setores - público e privado, plenamente informados e envolvidos (GWP
IWRM Toolbox, 2012).

O sentimento nacional de abundância de água no Brasil faz com que não se perceba a crise e isso não contribui para o
engajamento das pessoas, sejam elas representantes de instituições ou cidadãs. Desta forma, não se converge projetos para a
gestão de riscos. Ao exigir investimento pesado tanto em infraestrutura de longo prazo, a infraestrutura suave fica mais
enfraquecida pela natureza de produzir consciência. E, a paisagem da bacia vai se alterando pela impossibilidade de aplicar
ações produzidas por este tipo de arranjo. A interface entre recursos hídricos e outros componentes de segurança para garantir
uma sobrevida saudável ficam comprometidos.

Em direção ao estudo aqui apresentado - o diálogo entre os recursos hídricos e a agricultura, a OCDE, em relatório de
2015, é enfática:

Em primeiro lugar, não há planejamento e gestão do uso do solo no nível das autoridades locais. Em segundo, há uma
incompatibilidade sobre como os recursos hídricos e o desenvolvimento territorial são geridos entre múltiplas escalas.
A ausência de planos regionais integrados de uso de solo, que possam orientar os planos municipais e levar em
consideração as questões dos recursos hídricos é um desafio. (OCDE, 2015).

As lacunas não param, existe um engessamento entre as competências e execução. Financeiramente, a mesma
organização menciona a falta de priorização geral ao alocar assertivamente os escassos recursos. Sem uma previsão de
financiamento e compromissos estáveis de longo prazo, a política de recursos hídricos não poderá ser implementada com êxito.
(OCDE, 2015) E, ainda, considera: os recursos se acumulam sem um uso visível, o que é desencorajador para os usuários
cobrados e para os comitês em geral. (OCDE, 2015). Por outro lado, ao avaliar o risco de contaminação da água pela poluição
difusa, Londe e Novo (2016) manifestam o entendimento de que, para diminuir esses impactos, será preciso recorrer ao
gerenciamento integrado e acreditam ser viável.

(..), os autores constataram que os fazendeiros que não haviam pensado previamente no solo como repositório de
água começaram a compreender que a quantidade de água presente no solo no momento de plantar tinha relação
com ações e expectativas de rendimento que eles vinham ignorando até então. (MCCOWN et al.,2012 apud
LONDE e NOVO, 2016)

Assim, apresenta-se a necessidade e desafio de conscientizar/engajar atores-chave a respeito de seus papeis para a
preservação da água, transcendendo a concepção de uma mera relação romantizada com boas intenções para aspirações
exequíveis. A intricada característica desta condição do planeta exige o exercício do diálogo, para mobilização de esforços
conjuntos enraizados nas ações e nas condutas gerais dos elos sociais, como interventores efetivos em várias frentes de
conquista para o equilíbrio ambiental e para a permanência do ser humano na Terra, de maneira adequada.

De qualquer modo, até o momento a população, como um todo, fica à margem deste processo. Para a Gestão Integrada
dos Recursos Hídricos o mais coerente seria seguir as determinações legais de efetiva participação deste público fundamental
nos elos da corrente da integralidade da sobrevida humana e ecossistêmica, mas a dificuldade pode estar no conteúdo da

1122
articulação e da experimentação, de qualquer modo necessitamos de melhoria nas dinâmicas de produção dos três setores e o
agricultor familiar se torna, então, ponto focal pelo citado anteriormente. Abers e Keck (2017) afirmam que uma forma de os
atores interagirem com os outros é simplesmente tomando a iniciativa de conhecer e de dialogar: “As pessoas modificam
ideias, recursos e relacionamentos recorrendo a dois tipos de práticas de construção institucional: articulação com outros atores
e experimentação com a resolução dos problemas concretos”. (Abers e Keck, 2017). A análise do nexo entre as Seguranças
Hídrica, Alimentar e Energética leva a identificar alguns dos maiores problemas contemporâneos a serem enfrentados ante o
risco iminente de colapso mundial, a saber, conciliar a necessidade de suprir água de qualidade às populações e produzir
energia e alimentos suficientes para atender a demanda de erradicação da fome e da miséria, com o uso de tecnologias
sustentáveis, isto é, sem prejudicar a capacidade do planeta manter a vida em seus diferentes ecossistemas e de abastecer as
gerações futuras.

Comentários finais

A gestão e regulação dos recursos hídricos pressupõe considerar a conexão entre o uso do solo por agricultores
familiares e a conservação quali-quantitativa das águas superficiais e/ou subterrâneas, apontando que, para além de estabelecer
a recarga hídrica, necessita-se garantir alimento e base de desenvolvimento industrial para a população em crescimento e,
portanto, cabe repensar e discutir a forma de agregar sistematicamente a participação desses atores no sistema de gestão dos
Recursos Hídricos, a partir de seu reconhecimento como contribuintes diretos para o equilíbrio no atendimento das variadas
demandas da água, a fim de garantir a sustentação da vida nos múltiplos modos de sobrevivência das populações rurais e
urbanas do planeta.

Agradecimentos

Os meus maiores agradecimentos seguem aos professores do Programa ProfÁgua, Mestrado Profissional em Gestão e
Regulação em Recursos Hídrico, polo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ e à capacidade perceptiva dos
gestores da Agencia Nacional de Água – ANA ao fomentar a melhoria da qualidade de profissionais para a área, por meio de
um Programa robusto de formação técnica.

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1124
5SSS257
NOÇÃO COMPLEXA DE SAÚDE COMO CAMINHO AO ENSINO DE
SISTEMAS SUSTENTÁVEIS: UMA NOVA ÓTICA
Francisco Milanez1, Vera M. T. Trindade2
1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, francisco.milanez@ufrgs.br; 2 Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, vmtt@ufrgs.br

Palavras-chave: Sustentabilidade; Noção Complexa de Saúde; Educação Ambiental.

Resumo
O presente trabalho parte da situação atual onde temos dificuldade para enfrentar os desafios apresentados para a compreensão
e gestão de sistemas sustentáveis devido à fragmentação do conhecimento aliada a falta de propostas práticas para contornar
esta dificuldade, defende que é necessária uma nova forma de olhar e trabalhar a realidade, sugere que é possível esta
transformação através de uma mudança paradigmática em direção a uma visão complexa da realidade, defende que esta
mudança deve iniciar pela educação crítica complexa, propõe um método para o ensino da complexidade que se utiliza da
Noção Complexa de Saúde como eixo motivacional e estruturante desse processo educacional para a compreensão dos
sistemas sustentáveis e ao final especula sobre as conquistas e possibilidades futuras para esse caminho.

Introdução

Talvez o maior desafio atual da humanidade seja gerenciar sistemas sustentáveis (SSs) dando conta da sua complexidade e do
complicado funcionamento de suas relações entre as partes e com o meio ambiente (CAPRA, 2002). Estamos diante do
desafio da mudança paradigmática, onde nos encontramos na falência do sistema mecanicista cartesiano (FEYERABEND,
1989), e diante da Teoria da Complexidade como nova possibilidade de compreensão da realidade onde as partes não só
interagem de forma requintada com o meio, mas produzem fenômenos que não se encontram nelas, as emergências35 (MORIN,
2005b). Diante dessa situação, possivelmente o maior desafio seja o de fomentar nas pessoas essa nova forma de ver a
realidade. Muito tem sido falado sobre a complexidade dos sistemas sustentáveis, mas pouco tem sido feito de prático
(.CAPRA e LUISI, 2014) Entendemos que para que essa mudança ocorra, em primeiro lugar, é necessária uma educação que
promova esse novo olhar. É sobre isso que esse trabalho trata e propõe.
Entendemos que é necessário educar para o novo paradigma da complexidade, que parece ser condição indispensável para a
uma educação ambiental visando compreensão e gestão de SSs (MILANEZ et al., 2017).
Na busca de soluções práticas observamos que as diferentes linhas pedagógicas não têm propostas para lidar com sistemas
complexos, muito menos de como ensinar a teoria da complexidade de forma palatável para a maioria das pessoas. Se
queremos mudar a linha paradigmática de nosso olhar precisamos de muitas pessoas contribuindo para essa enorme
transformação. Para isso é necessário que essa visão seja popularizada. Talvez a forma mais eficaz de popularizar uma nova
forma de ver seja através do ensino, que pode alcançar muitas pessoas de forma organizada. Para trabalharmos em direção à
sustentabilidade planetária é necessário que estimulemos nossos estudantes a olharem a realidade de uma forma mais
integrada que permita estudar e gerar soluções mais abrangentes. O paradigma da complexidade incorpora grande quantidade
das conquistas de diferentes ciências na direção da superação do cartesianismo mecanicista, com a ampliação da compreensão
das relações entre as diferentes áreas de conhecimento e mesmo dentro delas. Entre todas as complexidades que encontramos
no planeta certamente uma das maiores é o desafio da sustentabilidade, pois inclui as mais diferentes facetas da compreensão
humana e, para que seja alcançada, requer coordenação dinâmica de todas essas variáveis.
Por outro lado, nossa sociedade continua formando pessoas especializadas, com pouca ou nenhuma capacidade de articulação
com outras áreas, o que está transformando o planeta em uma verdadeira Torre de Babel. Isso faz com que haja um fracasso na
efetividade das ações humanas sobre as questões complexas da nossa sociedade. Áreas como a saúde, a ecologia, o urbanismo,
o planejamento de desenvolvimento, a economia, a produção de alimentos estão em crise por falta de capacidade de
coordenação de ações. O que podemos dizer então da sustentabilidade de todos esses processos que, além de requerer uma
coordenação precisa e dinâmica, requer conhecimentos de que ainda nem dispomos e que, para serem produzidos, também
necessitam de um novo olhar.
Um exemplo marcante é o das cidades, que hoje detêm a grande maioria da população mundial, onde cada setor técnico, ao
resolver seus problemas, destrói o trabalho das outras áreas técnicas e não conseguem sequer compartilhar uma visão conjunta,

35
A vida é um exemplo de emergência da relação das partes (TINTI, 1998)

1125
muito menos produzir ações harmônicas. Outra área que podemos citar é da saúde onde, cada vez mais, as pessoas morrem por
falta de profissionais que consigam ver como um todo o sistema do corpo humano/meio. Os desafios ligados a área do
desenvolvimento também têm sofrido muito, pois as atividades não são compatíveis entre si e as tendências de
desenvolvimento podem até ser totalmente incompatíveis, e nossa sociedade não tem conseguido coordenar esses interesses.
Outro caso é o da ecologia e a produção agropecuária onde a questão ambiental é essencial para a manutenção e organização
climática que é indispensável para a produção, mas a ampliação das fronteiras de produção tem prejudicado e posto em risco o
equilíbrio climático essencial à produção de alimentos. Neste contexto é interessante notar que muitas pesquisas atuais falam
da complexidade, dos sistemas complexos sustentáveis sem com isso demonstrar objetivamente a utilização dessa nova visão
da realidade. Para ampliar esse processo na sociedade parece não existir forma melhor que através da educação de novos
profissionais com uma nova visão para que possam depois desenvolver pesquisas e práticas nela embasadas.
Este trabalho trata-se de uma proposta de como ensinar a complexidade como base para o aperfeiçoamento da compreensão
dos SSs. A finalidade da proposta pedagógica, que se aplica em qualquer nível de escolaridade, é discutir a viabilidade do uso
da Noção Complexa de Saúde (NCS) (MILANEZ, 2017) como forma de ampliar a compreensão de sistemas complexos, suas
relações internas e com o meio ambiente, o que pode facilitar a busca da sustentabilidade em sistemas.

Método

O método proposto é fruto de uma experiência pedagógica prática onde, na busca de divulgar a NCS e o paradigma da
complexidade observou-se que essa noção poderia servir de ponte para a compreensão de outros sistemas complexos devido ao
fato de estar profundamente intrincada no conhecimento empírico das pessoas. A NCS foi criada como uma terceira via,
embasada na TC, aos dois principais conceitos de saúde atuais: o biomédico e o psicossocial, ambos orientados por uma visão
mecanicista cartesiana. Ela comunga com princípios da TC (MILANEZ, 2018), como irredutibilidade, relação sujeito-objeto,
relação (ao) objeto meio, incerteza, irreversibilidade, hologramática, causalidade complexa, recursividade, dialógica,
resiliência, autopoiese, homeostase, autonomia, organização e emergência, (MORIN, 2002, 2005b; FORTIN, 2007) (Fig. 1)
usando-os como forma de ampliar nossa visão da questão de saúde em todas as direções.No processo de ensino da NCS
observou-se que, embora aprendamos uma visão cartesiano mecanicista da saúde, todos temos empiricamente uma experiência
complexa da saúde. Este fato nos levou à conclusão de que poderíamos usar a experiência existencial das pessoas para
estimular a reflexão sobre a saúde através de um novo olhar paradigmático. O estudo prático dos princípios da NCS
demonstrou que havíamos encontrado um caminho suave e empoderador para a compreensão de noções muito difíceis.
Observa-se, por exemplo, que embora sejamos ensinados que a saúde depende de determinantes numa relação de causalidade
linear, as pessoas intuem, com base em sua experiência pessoal, que existe uma interdependência entre os fatores que
influenciam a saúde que faz com que eles também sejam influenciados por ela, compondo com isso a causalidade complexa
multidirecional característica da TC.
O caminho pedagógico que se propõe (Fig.1) inicia trabalhando algum dos princípios, essa é uma ordem apenas propositiva,
embasando-o na experiência prática de saúde do aluno (MILANEZ e TRINDADE, 2019b). Pegasse um princípio e trabalha-se
em relação à experiência pessoal do aluno referente a sua saúde. Dominada a compreensão do princípio de forma vivencial,
parte-se para analisá-lo em referência a um SS. São feitas analogias para aprofundar a compreensão do princípio ao mesmo
tempo em que se explora e amplia a compreensão do sistema estudado. Esgotada essa etapa a ponto do aluno dominar o
princípio passa-se para o próximo e trabalha-se novamente em relação a vivência do aluno de sua saúde. Em seguida aplica-se
o princípio ao SS estudado e assim por diante. Ao chegar ao último princípio, o fenômeno da emergência é trabalhado com
referência à saúde pessoal e depois ao sistema fechando com isso o circuito que pode ser percorrido novamente e, ao ser
repetido surpreenderá pelos novos aspectos que aparecerão em relação aos princípios já estudados. É um processo que deve
seguir até que as especulações sobre ele fiquem razoavelmente satisfeitas. Fique claro que o caminho proposto é apenas
sugestão. Pode ser muito ampliado. A TC da complexidade, por coerência, não permite métodos fechados. Entretanto
necessitamos construir caminhos e discuti-los evolutivamente. Essa proposta, embora embasada e valorizadora na experiência
individual, é feita para ser desenvolvida coletivamente. A reflexão individual é a fonte da criação que, empoderada, deve
aprender a se expor no coletivo para então construir um outro nível de poder conectado e multiplicado. Assim como não
acreditamos em soluções somente individuais também não vemos futuro em trabalho somente coletivo. É na interação entre o
espaço individual e o coletivo que se forjam as grandes idéias e as boas soluções que a ecologia tem ensinado, são sempre
locais embora a inspiração possa ser global.

1126
Figura 1: Esquema da Pedagogia Recursiva estudando simultaneamente a NCS e outro Sistema Complexo qualquer.
Fonte: o autor (MILANEZ e TRINDADE, 2019b)

Resultados e Discussão

Ao pegarmos o princípio da irredutibilidade devemos trabalhar a percepção desse princípio que o aluno tem em relação a sua
própria saúde. Todas as pessoas vivenciaram fenômenos na sua saúde que não poderiam ser compreendidos se fosse analisado
apenas o sintoma. Por exemplo: muitas dores reflexos são causadas em regiões absolutamente distintas (da onde se
manifestam) do local do problema. Isso demonstra que, para compreendermos esse processo de dor, não podemos fragmentar
o corpo. Uma vez compreendida a irredutibilidade na saúde da pessoa fica bem mais fácil compreendê-la num SS. A
compreensão da interdependência das partes é essencial para compreensão de SSs.
Ao estudarmos o princípio de relação do meio com o objeto podemos mostrar como nossa saúde depende do meio ambiente
para ser compreendida, como é o caso de uma gripe facilitada por uma mudança térmica, falta de agasalho e presença de vírus.
Por outro lado, todos nós observamos que ao estarmos gripados mudamos nossa forma de intervir no meio e
consequentemente o próprio meio. Fica claro que é impossível estudar um objeto desvinculado do meio onde existe e
compreender o próprio meio tirando dele objeto. Quando aplicamos a relação ao objeto meio a um SSs poderemos explorar
que a sustentabilidade é totalmente relacionada com o meio onde o sistema se encontra e que esse meio também sofre
influências do próprio sistema. Através desse zigue-zague vamos estudando cada um dos princípios em relação à saúde e
depois em relação aos SSs. O que observamos é que princípios difíceis de serem explicados somente embasados nas teorias
que os geraram, ficam bem mais fáceis de ser compreendidos em relação à saúde de cada um de nós. É notável também que a
noção empírica que temos da nossa própria saúde, não a que aprendemos, é um grande facilitador para compreendermos a
complexidade pois, mesmo que tenhamos aprendido as explicações (simplifique antes de nossa saúde) simplificadas,
vivenciamos experiências que podem embasar outra compreensão completamente diferente. O esquema mostra que vamos
progredindo em cada um dos princípios, olhando em relação à saúde pessoal e depois em relação a um sistema sustentável
qualquer e, neste caminhar, os estudantes têm cada vez mais facilidade de praticarem as analogias necessárias. O processo
demonstrou que é possível aprender noções complexas sem o sofrimento teórico tradicional que elas causam, graças ao fato de
podermos relacioná-las com experiências de nossa própria vida. Esse Processo vai de princípio em princípio culminando no

1127
fenômeno chamado emergência que, no nosso entender, é a principal característica do sistema complexo Stricto Sensu por ser
fruto de uma interação criativa que faz as partes serem geradoras de um novo fenômeno que não existe nenhuma delas. A
saúde é o próprio exemplo de uma emergência dos sistemas sustentáveis vivos. Ela existe só no conjunto das interações e não
nas partes. Quando, por analogia, trabalhamos fenômenos emergentes de SSs, podemos compreender que existem fenômenos
que podem servir para interpretar com mais profundidade esses sistemas, e que a própria sustentabilidade pode ser a
emergência principal. Os caminhos para a aplicação desse método de ensino podem variar totalmente, os exemplos podem e
devem ser os mais variados também, o resultado desejado é uma abertura dos estudantes para incerteza e para o fato de que não
existem sistemas iguais nem totalmente previsíveis. Se conseguimos introduzir essas noções na vida de nossos estudantes
estaremos trabalhando para ampliar significativamente a capacidade de eles entenderem os SSs e, futuramente, poderem agir
sobre eles com maior segurança.
Através da avaliação da prática pedagógica deste método podemos perceber que os estudantes ficaram surpresos pela
facilidade com que passavam a dominar noções difíceis da física, da ecologia e, mais surpreendente ainda, a facilidade como
que passavam aplicá-las em outros sistemas. Vários depoimentos e várias práticas demonstraram a coleção dessas avaliações
(MILANEZ, 2019b).
Ao analisarmos esse processo entendemos que ele está ligado às experiências anteriores vivenciadas, como aponta Ausubel
(2003), podendo, através desse vínculo, transformá-las em aprendizagens significativas. Outra questão que ficou clara é que a
ampliação das relações com o meio, incluindo algumas normalmente esquecidas como a espiritualidade, faz o reconhecimento
da legitimidade das experiências de cada um ao mesmo tempo que empoderada os estudantes a ter uma visão crítica embasada
nas suas próprias experiências que são resignificadas interagindo com a experiência coletiva da humanidade através dos
princípios é indispensável a inclusão das relações sociais que são base e fonte da compreensão da realidade na construção da
autonomia intelectual que permitirá a produção de soluções criativas e independentes para os desafios dos SSs (FREIRE,
1996).
É impossível mudar uma forma de olhar o mundo sem que haja uma ruptura importante, caso contrário tendemos e adaptar os
novos aprendizados ao paradigma no qual estamos imersos, ao invés de fazer a mudança paradigmática fazemos adaptação das
noções ao que temos (MORIN, 2007).
Foi observado que à medida que se complexifica a compreensão de SSs facilita-se sua harmonização por dividir entre vários
elementos do sistema a responsabilidade por seu equilíbrio e transforma-se a visão atual competitiva predominante na
sociedade numa visão colaborativa predominante no paradigma da complexidade. Esse caminho pode apontar para uma
unificação da visão da pedagogia crítica, mas ligada a ciências humanas, com a teoria da complexidade, oriunda das ciências
naturais. Essa fusão propicia um ganho em ambos os lados, de um lado a ciências naturais atualizam a pedagogia crítica e
ampliam, de outro a teoria da complexidade agrega a necessária a humanidade pouco presente em suas origens nas ciências
duras (MILANEZ, 2019a). A sustentabilidade está relacionada a uma harmonia complexa que envolve a natureza, a cultura e a
justiça humana, bem com a viabilidade produtiva (MILANEZ, 2003). Dentro dessa perspectiva faz muito sentido a integração
que esses vários princípios podem provocar juntamente com a ampliação de perspectivas sobre sistemas. É impossível
harmonizar relações num SS quando se deixa de fora algumas delas. Podendo ser a sustentabilidade uma emergência de um
sistema, ela traz dentro de si as intrincadas relações que nele ocorrem e dele com o meio. Princípios como a resiliência
(HOLLING, 1973) , irreversibilidade, autopoiese (MATURANA, VARELA, 1997) e a homeostase (CANON, 1939) são
indissociáveis da compreensão de qualquer SS.
Sendo um dos grandes desafios que estão postos para ciência atualmente o da produção de alimentos, faz-se necessário estudar
os sistemas produtivos como SSs, pois o balanço da intervenção humana com a capacidade de resiliência da natureza está se
tornando cada vez mais difícil e a falta de um sistema de compreensão requintado sobre isso pode nos levar a inviabilidade da
espécie.

Considerações Finais;

A prática do estudo de SSs através do método da NCS está apenas iniciando e já mostra um grande leque de oportunidades
para desenvolvermos cidadãos com uma nova visão do mundo, complexificadora ao invés de simplificadora. Libertadora no
lugar de condutora da visão do estudante. Inclusiva em vez de exclusiva. A partir dessas novas visões, únicas e interativas é
possível que se encontrem soluções cooperativas mais ricas e mais variadas para os desafios cada dia maiores, não só em
relação a sustentabilidade planetária, mas também à qualidade de vida dos seres que aqui coexistem e andam bastante
desconectados de sua própria existência e por isso solitários, depressivos e desorientados.
Entendemos que esse caminho proposto parece auxiliar a formação de pessoas com uma visão ampla, conectada, independente,
segura, aberta, cooperativa, interdependente, criativa para contribuírem na construção de soluções locais para problemas únicos
como são os que envolvem a ecologia e a sustentabilidade (MORIN, 2014).
Acreditamos que esse tipo de ensino deve ser fomentado desde as séries iniciais, quando as crianças ainda estão envoltas numa
visão conectada da realidade, até em nível de pós graduação onde se almeja a produção de conhecimento e soluções técnicas
para a sociedade.
O primeiro de todos os desafios da multiplicação parece ser o de formar professores com a nova visão paradigmática e nesse

1128
sentido o caminho aqui apresentado pode ser um facilitador.

Agradecimentos

À CAPES e ao Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da


Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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1129
5SSS258
TRATAMENTO INTENSIFICADO DE LIXIVIADO DE ATERRO
SANITÁRIO POR OZONIZAÇÃO, OXIDAÇÃO EM ÁGUA
SUPERCRÍTICA E TROCA IÔNICA
Ana Paula Jambers Scandelai1, Renan Souza de Syllos2, Jaqueline Pirão Zotesso3, Lúcio Cardozo Filho4,
Célia Regina Granhen Tavares5
1
Universidade Estadual de Maringá, e-mail: paulascandelai@hotmail.com; 2Universidade Estadual de Maringá,
e-mail: renansyllos@outlook.com; 3Universidade Estadual de Maringá, e-mail: jaquelinepz@hotmail.com;
4
Universidade Estadual de Maringá, e-mail: lucio.cardozo@gmail.com; 5Universidade Estadual de Maringá, e-
mail: celiagranhen@gmail.com

Palavras-chave: Ozônio; OASc; Adsorção.

Resumo
O tratamento de lixiviados de aterros sanitários é uma das maiores preocupações do descarte de resíduos e deve ser realizado
adequadamente para evitar impactos adversos à sociedade e ao ambiente. Devido à complexidade e composição recalcitrante
dos lixiviados de aterros sanitários, o seu tratamento geralmente requer a combinação de tecnologias para atingir os níveis
desejados de descontaminação. Atualmente, a oxidação em água supercrítica (OASc) tem mostrado um grande potencial para o
tratamento de lixiviados em aterros sanitários, fornecendo remoções substanciais de matéria orgânica recalcitrante. Entretanto,
a degradação de amônia, que está presente em altas concentrações nos lixiviados, é a etapa limitante da OASc e geralmente
requer substâncias auxiliares ou condições operacionais severas. Com o objetivo de melhorar a remoção de amônia, este
trabalho avaliou a intensificação do tratamento de lixiviados de aterros sanitários por meio da aplicação de diferentes
processos: ozonização (O3), OASc e troca iônica com zeólita (TIzeo). A O3 foi aplicada como uma etapa de pré-tratamento à
OASc, sendo aplicada por 30 min. A OASc foi operada a 600 °C e 23 MPa. A zeólita clinoptilolita foi utilizada sem qualquer
modificação após os processos de O3 e de OASc. Os processos isolados de O3 e de OASc não foram capazes de reduzir
significativamente os poluentes do lixiviado, além de ter sido formado nitrogênio amoniacal (N-NH3). O sistema combinado de
O3/OASc melhorou a qualidade do lixiviado em relação à apenas a O3; no entanto, também aumentou a concentração de N-
NH3 no lixiviado tratado. A combinação dos processos de OASc/TIzeo foi capaz de remover satisfatoriamente os parâmetros
DQO (70%), N-NH3 (76%), cor aparente (94%) e verdadeira (95%), DBO (87%) e COT (77%) do lixiviado. Portanto, essa
combinação se mostrou promissora para a degradação do lixiviado, sobretudo para a redução dos parâmetros matéria orgânica
e nitrogênio amoniacal, podendo ter sua eficiência aumentada com melhorias no processo supercrítico, como aumento da
temperatura ou do tempo reacional, adição de catalisador, oxidante e/ou co-combustível, além do precondicionamento da
clinoptilolita.

Introdução
Os aterros sanitários, embora sejam o destino final de 59,1% dos resíduos sólidos urbanos gerados no país (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS, 2017), são considerados graves
problemas ambientais, uma vez que geram subproduto líquido, composto por diversos contaminantes que podem poluir águas
subterrâneas e superficiais, além de subproduto gasoso, composto por altas quantidades de dióxido de carbono, metano e
outros gases tóxicos que contribuem para o efeito estufa (CHEREMISINOFF, 2003).
O subproduto líquido, denominado de lixiviado, é formado durante a degradação biológica da matéria orgânica presente nos
resíduos sólidos. Sua composição é água, materiais suspensos ou dissolvidos, líquidos insolúveis, como óleos, constituintes
químicos e materiais biológicos em decomposição (O’LEARY; TCHOBANOGLOUS, 2002; SALEM et al., 2008). O lixiviado
é potencialmente poluente, de forte odor, resultante da presença de ácidos orgânicos, coloração escura e elevada turbidez,
sendo composto por diversos materiais orgânicos e inorgânicos, como amônia e materiais de difícil degradação biológica,
dentre eles, as substâncias húmicas (WILLIAMS, 2002; WICHITSATHIAN et al., 2004; SILVA et al., 2013). Dessa forma, é
evidente a importância do desenvolvimento de pesquisas para o tratamento desses lixiviados.
A dificuldade em tratar o lixiviado dos aterros está na sua variabilidade, uma vez que as técnicas de tratamento podem não ter
eficácia para lixiviados gerados tanto em locais distintos quanto em um mesmo aterro. A utilização de processos
convencionais, tanto físico-químicos como biológicos, assim como o uso de uma única técnica, mesmo que avançada, não é
suficiente para a efetiva remoção dos poluentes presentes em lixiviados para fins de seu lançamento em um corpo hídrico
(MOJIRI, 2011; DELKASH et al., 2015). Os métodos convencionais apresentam baixo custo e fácil manutenção (RENOU et

1130
al, 2008), entretanto, possuem elevada eficiência apenas para os lixiviados de baixa DQO, o que é uma característica de aterros
mais jovens (LEMA et al., 1988). Diante disso, novas tecnologias de degradação de lixiviados vêm sendo desenvolvidas. A
utilização de gás ozônio como tratamento de efluentes residuais, incluindo os lixiviados gerados em aterros sanitários, tem
mostrado resultados promissores (BILA et al., 2005; Jung et al., 2017), uma vez que a ozonização permite desinfetar o
efluente, reduzir cor e oxidar microrganismos, espécies reduzidas, compostos fenólicos e substâncias recalcitrantes, devido à
sua capacidade oxidativa, transformando-os em compostos biologicamente mais degradáveis ou, ainda, os mineralizar a CO2,
H2O e íons (GLAZE, 1987 BILA et al., 2008; GOTTSCHALK et al., 2010).
Uma alternativa eficaz para o tratamento de lixiviados é a oxidação em água supercrítica (OASc), que de acordo com
COCERO et al. (2000), substitui a utilização de solventes orgânicos e é considerado um processo ambientalmente mais
ecológico e menos poluente. Bermejo e Cocero (2006) afirmam que tal técnica pode ser aplicada ao tratamento de diversos
efluentes, principalmente aqueles não biodegradáveis, recalcitrantes e xenobióticos, incluindo os lixiviados de aterros
sanitários.
Na OASc, as reações de oxidação homogênea de substâncias químicas, ocorrem sob condições de temperatura e pressão acima
do ponto crítico de vapor-líquido da água, ou seja, 374 °C e 22,1 MPa (BARNER et al., 1992), utilizando ou não um agente
oxidante externo, como oxigênio ou peróxido de hidrogênio (BERMEJO; COCERO, 2006). Quando a água está próxima ou
acima de seu ponto crítico, se comporta como um solvente de polaridade baixa, mostrando-se muito eficiente para a destruição
de compostos orgânicos (BARNER et al., 1992), em especial aqueles que são mais apolares, como é o caso da maior parte dos
compostos orgânicos de lixiviados. Isso ocorre porque o material orgânico, a água e os gases que estão presentes no meio se
tornam completamente miscíveis, eliminando, portanto, a limitação de transferência de massa e promovendo a oxidação de
moléculas orgânicas a altas taxas de reação (BERMEJO; COCERO, 2006; SAVAGE, 1999). De maneira geral, a OASc tem se
mostrado um método promissor para o tratamento de lixiviados de aterro sanitários, principalmente devido a sua alta conversão
de material orgânico e de amônia. Entretanto, alguns autores (GONG et al, 2015; SCANDELAI et al., 2018) têm verificado
aumento da concentração de nitrogênio amoniacal (N-NH3) por esse processo.
Com o intuito de reduzir a concentração de N-NH3, uma proposta é a intensificação do processo de OASc por meio da adição
da troca iônica com zeólita comercial (TIzeo), tal como estudado por Boyer (2014). As zeólitas minerais são alumino-silicatos
hidratados que possuem elevada capacidade de adsorção. A principal vantagem do uso de zeólitas é a sua abundância e baixo
custo, além de potencialidade de uso industrial, alto desempenho e capacidade de regeneração (LINS et al., 2015). A zeólita
clinoptilolita tem sido objeto de estudo por vários autores (AZIZ; FOUL 2010; VAN NOOTEN et al. 2010; LINS et al. 2015;
LIM et al. 2016) para remoção de amônia de lixiviados de aterros sanitários, podendo inclusive ser usada sem qualquer
modificação da sua forma comercial.
Dessa forma, este trabalho teve por objetivo avaliar a eficiência dos processos de ozonização (O3), oxidação em água
supercrítica (OASc) e troca iônica com zeólita natural (TIzeo), assim como a sua combinação, no tratamento de lixiviado de
aterro sanitário.

Material e Métodos

Amostragem do lixiviado
O lixiviado foi coletado no aterro sanitário de Maringá (Paraná, Brasil), o qual está em operação desde 2010 e recebe
aproximadamente 400 toneladas de resíduos por dia, sendo 90% de origem doméstica e de limpeza pública e 10% de resíduos
industriais não perigosos de grandes geradores (instalações que geram quantidade superior a 100 L dia-1 ou 50 kg dia-1).
O tanque de armazenamento de lixiviado do aterro sanitário recebe os lixiviados gerados nas células ativas e inativas de
resíduos. Desse tanque, o lixiviado é bombeado para o tratamento convencional recentemente instalado no local. Para se obter
uma amostra integrada, quatro alíquotas de volumes iguais eram coletadas em quatro diferentes pontos de mesma profundidade
do reservatório de lixiviado, sendo posteriormente homogeneizadas, como recomendado por Von Sperling (2014). Após a
coleta, as amostras eram armazenadas a 4 °C, conforme recomendação do Standard Methods for the Examination of Water and
Wastewater (APHA/AWWA/WEF, 1998), até a sua caracterização ou realização dos ensaios.

Tratamento do lixiviado
A amostra bruta de lixiviado (LB) foi submetida aos processos de tratamento O3, O3/OASc, OASc e OASc/TIzeo. A amostra
diretamente submetida ao tratamento com OASc foi previamente filtrada em papel de filtro quantitativo faixa branca JP40
(Prolab), a fim de remover partículas sólidas que poderiam prejudicar a operação da bomba de alta pressão do sistema
supercrítico.
A O3 foi realizada em coluna de acrílico (100 cm de altura x 14 cm de diâmetro interno), operada em batelada com 1,0 L de
lixiviado. Durante 30 min, o ozônio foi introduzido continuamente através de nove pedras porosas fixadas no fundo do reator.
O gerador de ozônio (Oxclean Soluções Ambientais) foi acoplado a um gerador de oxigênio (Millennium Respironics), que
produz oxigênio concentrado de alta pureza a partir do ar ambiente. A taxa de fluxo de gás foi ajustada para 1,0 L min-1 por um
rotâmetro e a concentração de ozônio na entrada e na saída do reator foi medida através de um analisador de ozônio H1-X-

1131
BENCH (IN USA Inc.). No início do experimento, o analisador de ozônio foi conectado ao ponto em que o gás fluía para a
coluna, medindo a concentração de ozônio aplicada à amostra (gás de alimentação). Posteriormente, o analisador foi
posicionado na saída de gás da coluna de contato, medindo a concentração de ozônio não absorvida pela amostra durante a
execução experimental (gás não reagido). A diferença entre essas medidas permitiu a determinação do ozônio consumido
durante o experimento de 30 minutos, o que correspondeu a 19,1 g de O3 m-3. Uma descrição mais detalhada do aparato
experimental utilizado para a O3 pode ser encontrada em nosso estudo anterior (Scandelai et al., 2018).
O aparato de OASc consistia, basicamente, em bomba de alta pressão, pré-aquecedor, reator supercrítico, trocador de calor e
condensador. O lixiviado contido em um béquer sobre uma balança analítica (Bel Engineering, L-12001) era bombeado para o
pré-aquecedor através da bomba de alta pressão (Thar Process P50), operada a pressão constante de 23 MPa. O pré-aquecedor,
construído em aço inoxidável 316, era mantido a 250 °C para evitar um choque térmico entre o lixiviado e o reator. O lixiviado
fluía para o reator contínuo de OASc, o qual era feito de Inconel 625 e era preenchido com lascas do mesmo material, tanto
para homogeneizar a temperatura quanto para promover uma melhor distribuição do efluente em seu interior. As temperaturas
do pré-aquecedor e do reator eram monitoradas por termopares tipo J (Novus) e ajustadas por controladores de temperatura
(Novus). O aquecimento do pré-aquecedor e do reator ocorria por dois fornos de aço inoxidável 304, cada um deles equipado
com duas resistências cerâmicas infravermelhas de 1000 W (Corel Aquecimento Industrial) e revestido internamente com lã de
rocha. Após passagem pelo reator de OASc, o lixiviado tratado, ainda em estado fluido, passava por uma serpentina de
resfriamento de aço inoxidável 316, permitindo a troca de calor com o ambiente, observada pelo monitoramento de
temperatura com um termopar tipo T (Novus). Um resfriamento adicional era fornecido por um condensador de aço inoxidável
316 mantido a 10 °C por um banho de água controlado termostaticamente. Finalmente, depois de despressurizado por uma
válvula reguladora de contrapressão (V2), o lixiviado tratado era coletado na forma líquida no final do sistema. Manômetros
com faixas de medição de 0 a 10.000 psi e de 0 a 6.000 psi, monitoravam, respectivamente, a pressão do reator de OASc e do
lixiviado na saída do sistema (antes da válvula de despressurização). Uma descrição mais detalhada do aparato de OASc
também pode ser encontrada em nosso estudo anterior (Scandelai et al., 2018).
Antes de cada experimento, o sistema de OASc era operado com água destilada até a estabilização das condições de
temperatura e pressão predefinidas. Assim que esses parâmetros eram atingidos, a operação com lixiviado bruto ou tratado por
O3 era iniciada, aguardando 40 minutos antes de começar a coletar o lixiviado tratado. Após a coleta de volume suficiente para
as determinações analíticas, o sistema de OASc era lavado com água destilada.
A vazão de entrada de lixiviado foi mantida no fluxo mínimo ajustável da bomba (5 g min-1), selecionada a partir de um estudo
anterior realizado por nosso grupo de pesquisa (Ferreira-Pinto et al., 2017), que concluiu que quanto menor a vazão, maior a
degradação do lixiviado, devido ao maior tempo espacial. Entretanto, variações significativas desse valor ocorreram devido à
característica de compressibilidade do fluido em condições supercríticas. Para cada experimento de OASc, as taxas de fluxo de
massa de alimentação eram medidas a cada 30 min no decorrer de cada ensaio experimental, por meio de balança semianalítica
(Bel Engineering, L-12001). O tempo de residência (τ) para os experimentos de OASc foi calculado de acordo com a Eq. (1),
adaptada do estudo de Van Bennekom et al. (2011), que leva em consideração a diferença de densidades entre fluidos em
condições normais e em condições supercríticas.

τ = (Vr.ρt,p.ε)/ϕm,STP (1)

Em que, τ é o tempo espacial no reator supercrítico (s); Vr é o volume geométrico do reator supercrítico (49,51 cm³); ρT,P é a
densidade do fluido sob a temperatura (T) e a pressão (P) de operação (g cm-3), obtida pelo National Institute of Standards and
Technology (NIST, n.d.); ε é a porosidade do leito (0,75) (adimensional); e Øm,TP é a vazão mássica de alimentação à
temperatura e pressão ambientes padrão (25 °C e 101,325 kPa) (g min-1).

Como a composição do lixiviado consiste basicamente de uma mistura de constituintes em água e não há dados disponíveis
para suas densidades em condições supercríticas, foi suposto que o fluido consiste apenas de água pura. Com base nos dados
do NIST, a densidade supercrítica adotada para a água pura na pressão de 23 MPa e temperatura de 600 °C foi de 0,0643 g cm-
3
. O termo ε foi adicionado à Eq. (1) para representar a porosidade do leito do reator, determinada por meio do método de
substituição de água no vazio, obtendo um valor de 0,75.
A troca iônica foi realizada utilizando zeólita comercial (Celfish, Celta Brasil), que é um mineral natural de alumino-silicato
hidratado (clinoptilolita). Segundo o fabricante, a clinoptilolita possui alta seletividade para a remoção do N-NH3, área
superficial de 40 m2 g-1, tamanho de partículas de 0,4 a 1,0 mm e é composta por SiO2 (75%), Al2O3 (12%), CaO (4%), K2O
(3%), Fe2O3 (2%), Na2O, MgO, TiO2, P2O5 (1% cada) e outros óxidos. A clinoptilolita, utilizada da forma adquirida (sem
modificações), era colocada em uma coluna de vidro cilíndrica com diâmetro interno de 15 mm e altura de 665 mm.
Primeiramente, era inserido algodão na parte inferior da coluna para evitar a lixiviação da zeólita e, então, a zeólita (~ 30 g) era
inserida na coluna para produzir uma altura do leito de 150 mm. A relação altura:diâmetro do leito da coluna de 1:10 foi
utilizada para minimizar os efeitos de difusão e os caminhos preferenciais e evitar o ponto de ruptura. Antes do experimento, ~
250 mL de água destilada eram adicionados à coluna para remover quaisquer impurezas da zeólita. A vazão da coluna foi

1132
ajustada para 1 mL min-1 através de uma mangueira e um grampo Mohr colocado na saída da coluna. Depois que toda a água
passava pela coluna, 500 mL de lixiviado tratado pelo processo OASc eram alimentados manualmente no topo da coluna de
leito fixo e coletados em um recipiente de vidro para análises físico-químicas. O aparato de troca iônica e uma descrição mais
detalhada do sistema podem ser encontrados em nosso estudo anterior (SCANDELAI et al., 2019).

Controle analítico
Os lixiviados brutos e tratados por todos os processos foram caracterizados quanto aos parâmetros pH, cor aparente e
verdadeira, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO), carbono orgânico total (TOC) e
N-NH3.
O valor de pH era obtido por potenciometria em um pHmetro digital (Digimed, DM-20), de acordo com o procedimento
recomendado pelo fabricante do equipamento. A cor aparente e verdadeira era analisada em espectrofotômetro UV-visível
(Hach Company, DR-2010) utilizando o método platina-cobalto (Pt-Co) a 455 nm (HACH COMPANY, 1996, método 8025).
A DBO era obtida pelo método respirométrico (APHA/AWWA/WEF, 1998, método 5210D), utilizando um aparelho de DBO
(Hach Company, BODTrakTM II), sendo as amostras incubadas a 20 ± 1 °C por 5 dias. A concentração de DQO era
determinada em triplicata por colorimetria de refluxo fechado (APHA/AWWA/WEF, 1998, método 5220D). As amostras eram
previamente digeridas a 150 °C em um bloco de digestão (Hach Company, COD-Reactor 45600-00) e as leituras feitas a 600
nm em espectrofotômetro UV-visível (Hach Company, DR-2010). O COT foi analisado em triplicata pelo método de
combustão a alta temperatura (APHA/AWWA/WEF, 1998, método 5310B), utilizando analisador de carbono orgânico total
(Shimadzu, TOC-L CSH). O N-NH3, que é composto pela soma da amônia nas formas ionizada (NH4+) e livre (NH3), era
determinado por potenciometria através de eletrodo de íon seletivo para amônia (Thermo Fisher Scientific, Orion™
9512BNWP) e medidor multiparâmetro (Thermo Fisher Scientific, Orion™ Star-4), conforme a metodologia recomendada
pelo fabricante. As concentrações de nitrito (N-NO2) e nitrato (N-NO3) foram obtidas, respectivamente, pelos métodos de
redução com sulfato ferroso (HACH COMPANY, 1996, método 8153) e redução por cádmio (HACH COMPANY, 1996,
método 8039), utilizando espectrofotômetro UV-visível (Hach Company, DR-2010) para realização das leituras a 585 nm e
500 nm, respectivamente.

Resultados e Discussão
A Tabela 1 apresenta os resultados das determinações analíticas para amostras de lixiviados bruto e tratados pelos processos
propostos.

Tabela 1: Características do lixiviado bruto e após tratamento pelos processos de O3, OASc e TIzeo.
Lixiviado Lixiviado Tratado por Limite para
Parâmetro
Bruto O3 O3/OASc OASc OASc/TIzeo Descarte
pH 7,6 7,6 7,0 7,6 7,0 5,0-9,0a
Cor Aparente (uH) 2530 403 437 351 155 -
Cor Verdadeira (uH) 1630 189 60 98 74 -
DBO (mg O2 L-1) 200 98 81 44 27 ↓ 60%a ou 50b
-1
DQO (mg O2 L ) 1258 884 368 564 375 200b
-1
COT (mg C L ) 451 385 101 127 104 -
N-NH3 (mg L-1) 313 258 481 380 76 20a
Nitrito (mg L-1) 15 - - - - -
Nitrato (mg L-1) 0,5 - - - - -
O3 consumido (g m-3) - 19,1 - - - -
τ (s) - - 21 27 - -
Øm (g min-1) - - 6,94 ± 0,15 5,22 ± 1,58 - -
Notas: uH = unidade de Hazen; (-) = parâmetro não determinado; (a) estabelecido pela Resolução CONAMA nº 430/2011 (Art.
16) (BRASIL, 2011); (b) estabelecido pela Resolução CEMA nº 070/2009 (Anexo 7) (PARANÁ, 2009).

Em função da natureza complexa dos lixiviados de aterros sanitários, geralmente é necessária uma combinação de processos de
tratamento antes da sua descarga em corpos d'água. A eficiência dos processos de O3, O3/OASc, OASc e OASc/TIzeo na
degradação do lixiviado e remoção de seus poluentes é apresentada na Figura 1.

1133
Figura 1: Remoção dos parâmetros físico-químicos dos processos de O3, OASc e TIzeo, isolados e combinados.

Como pode ser verificado na Figura 1, o processo de O3 se mostrou muito eficiente para a redução de cor e DBO do lixiviado.
Por outro lado, a taxa de remoção de DQO e COT foi inferior a 30%, evidenciando a incapacidade desse processo isolado no
tratamento do lixiviado estudado. Esses dados corroboram com estudos anteriores (RIVAS et al., 2003; AMARAL-SILVA et
al., 2016) de que a O3 é potencialmente capaz de reduzir a cor, mas apresenta baixas taxas de degradação da matéria orgânica
refratária. O mesmo comportamento foi observado para o N-NH3, o qual foi pouco removido pela ozonização (18%),
provavelmente pela lenta taxa de reação do ozônio com a amônia em pH < 9,0, como afirmado por Hoigné (1998) e Bila et al.
(2008) ou, ainda, pela necessidade de longos tempos de reação para a oxidação da amônia, mesmo em pH alcalino, como
reportado por Pivato e Gaspari (2006).
Devido a isso, é recomendado que a O3 seja aplicada em combinação com outros processos, como pré-tratamento para
aumentar a biodegradabilidade (WU et al., 2004; BILA et al., 2005), ou como uma etapa de polimento (CORTEZ et al., 2010;
RASOOL et al., 2016). Dessa forma, quando a ozonização foi aplicada como pré-tratamento à OASc a 600 °C (O3/OASc), a
remoção de cor, DBO, DQO e COT aumentaram significativamente. No entanto, ainda foi insuficiente para atingir aos
parâmetros estabelecidos pela legislação ambiental. Além disso, foi observado um aumento na concentração do N-NH3, que
também foi verificado em estudos anteriores de OASc de lixiviados de aterros sanitários, conduzidos por Gong et al. (2015) e
Martins (2017). Isso indica que alguns compostos nitrogenados de estruturas moleculares extremamente complexas, que não
foram mineralizados pelo processo de O3, foram parcialmente oxidados pela OASc, resultando no aumento da concentração de
N-NH3 no efluente resultante dos processos O3/OASc.
Lim et al. (2016) e Bashir et al. (2017) afirmam que a remoção de matéria orgânica e de N-NH3 representa o maior desafio do
tratamento de lixiviados. Diante disso e dos bons resultados apresentados pela OASc na redução de DBO, DQO e COT, esse
processo foi investigado individualmente e em combinação com a troca iônica (OASc/TIzeo), com o intuito de contornar a
formação de N-NH3 na OASc e de melhorar a degradação dos poluentes do lixiviado.
A OASc apresentou grande potencial para a remoção da coloração e dos compostos orgânicos do lixiviado, como pode ser
observado pelas elevadas reduções de cor, DBO, DQO e COT. No entanto, assim como quando aplicada no lixiviado
ozonizado (O3/OASc), esse processo também resultou na degradação parcial de compostos nitrogenados, como pode ser
observado pelo aumento de 22% da concentração de N-NH3. Por outro lado, ao adicionar a clinoptilolita, a formação desse
poluente foi contornada, sendo obtida uma alta redução de N-NH3, 76% inferior à concentração inicialmente presente no
lixiviado bruto, ficando evidente que a TIzeo foi a grande responsável pela remoção da N-NH3.
Quando comparado com o processo de OASc isolado, o sistema combinado (OASc/TIzeo) apresentou menor incremento na
remoção de DBO, DQO e COT em relação ao N-NH3, devido à fraca capacidade da clinoptilolita em adsorver matéria orgânica
em comparação com sua alta seletividade ao nitrogênio amoniacal, conforme verificado por Cotman e Gotvajn (2010) e Lim et
al. (2016).
Em relação ao valor de pH, é possível notar que esse parâmetro apresentou pequenas variações, indicando que a OASc de
compostos orgânicos não formou espécies ácidas intermediárias em concentrações suficientes para diminuir o pH do meio. O
valor de pH do lixiviado tratado e submetido à TIzeo estava dentro da faixa de 6,0 a 8,0, indicada para a melhor remoção de N-
NH3, conforme observado por Karadag et al. (2008) e Temel e Kuleyin (2016). Isso ocorre porque, nessas condições, a maior
parte da amônia (> 95%) está presente na forma ionizada (NH4+), favorecendo o mecanismo de troca iônica e não a adsorção
molecular, conforme verificado por Lin et al. (2013).
Devido ao importante papel que a zeólita clinoptilolita desempenhou na remoção de N-NH3 e a OASc na oxidação de matéria
orgânica do lixiviado, o sistema combinado de OASc/TIzeo, nas condições avaliadas, se apresentou com grande potencial para
a despoluição do lixiviado do aterro sanitário estudado. Um efluente final de melhor qualidade poderia ser obtido com a

1134
implantação de melhorias no processo combinado, tanto com o aumento da temperatura e/ou do tempo espacial de OASc,
quando pela adição de auxiliares ao processo, como catalisador, oxidante e co-combustível.

Considerações Finais
Tanto o processo isolado de O3, durante 30 min, quanto a sua associação com a OASc contribuíram para a remoção de matéria
orgânica do lixiviado bruto, porém, não apresentou efeito suficiente para remoção de N-NH3 formado na OASc.
Embora o processo de OASc, a 600 °C e 23 MPa, tenha se apresentado bastante eficiente para a degradação de matéria
orgânica (DQO e COT) do lixiviado, esse processo resultou na formação de N-NH3. A adição da TIzeo como processo
complementar à OASc melhorou significativamente a qualidade do lixiviado tratado por OASc/TIzeo, eliminando a principal
desvantagem do processo de OASc.
O sistema proposto (OASc/TIzeo) foi capaz de remover 70% da DQO e 76% do N-NH3, além de ter removido
satisfatoriamente os parâmetros cor aparente (94%) e verdadeira (95%), DBO (87%) e COT (77%) do lixiviado. A eficiência
do processo de OASc/TIzeo poderia ser aumentada com melhorias no processo supercrítico, como o aumento da temperatura
ou do tempo reacional, tanto pela redução da vazão quanto pela dupla passagem pelo reator, ou adição de catalisador, oxidante
e/ou co-combustível. Melhores resultados também poderiam ser obtidos com a aplicação de um procedimento simples de
precondicionamento da clinoptilolita.
É sabido que o tratamento de lixiviados menos biodegradáveis geralmente requer uma combinação de tecnologias, e que
processos convencionais de tratamento não são suficientes para evitar os impactos negativos ao ambiente causados pelo
lançamento de lixiviados em corpos hídricos. Embora o processo combinado de OASc/TIzeo não tenha gerado um lixiviado
com características que atendesse aos padrões de lançamento de efluentes, essa combinação se mostrou bastante promissora
para a degradação do lixiviado, sobretudo para a redução da concentração de matéria orgânica e nitrogênio amoniacal.
Por fim, é possível destacar que a viabilidade do uso da zeólita se dá também pela sua compatibilidade com o ambiente,
passível de regeneração para reutilização por nitrificação direta ou nitrificação da solução de salmoura aplicada à sua
regeneração. Neste último caso, o nitrogênio é recuperado para uso benéfico como fertilizante, o que representa uma tendência
à sustentabilidade. A zeólita saturada também poderia ser diretamente aplicada em solos como um fertilizante de liberação
lenta.

Agradecimentos
Este trabalho foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os autores
agradecem à Thábata Karoliny Formicoli de Souza Freitas e Juliana Carla Garcia pela realização das análises do COT.

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1138
5SSS259
TRATAMENTO DE EFLUENTE DE LAVANDERIA HOSPITALAR
POR FOTOCATÁLISE HETEROGÊNEA
Jaqueline Pirão Zotesso1, Danielly Cruz Campos Martins2, Eneida Sala Cossich3, Célia Regina Granhen
Tavares4
1Universidade Estadual de Maringá, e-mail: jaquelinepz@hotmail.com; 2Universidade Estadual de Maringá, e-
mail: daniellyccmartins@gmail.com; 3Universidade Estadual de Maringá, e-mail: ecossich@gmail.com;
4Universidade Estadual de Maringá, e-mail: celiagranhen@gmail.com

Resumo
As lavanderias hospitalares utilizam diariamente elevado volume de água, a qual é convertida em efluente após processamento
das roupas hospitalares. Esse efluente, composto por água, sujidade das roupas, produtos utilizados nos processos de lavagem,
patógenos, fármacos e seus metabólitos, entre outros, apresenta características de elevada complexidade, toxicidade e baixa
biodegradabilidade, sendo necessário estabelecer um sistema de tratamento eficiente para sua degradação. Dentre os
tratamentos pesquisados, a fotocatálise heterogênea se apresenta como uma técnica promissora, visto que, por ser um processo
oxidativo avançado, produz radicais hidroxil capazes de degradar compostos orgânicos simples e recalcitrantes. Nesse sentido,
esse estudo teve como proposta realizar o tratamento de um efluente de lavanderia hospitalar por meio de fotocatálise
heterogênea em reator tipo lama, comparando os catalisadores TiO2 e ZnO. A caracterização morfológica dos catalisadores
utilizados indicou que enquanto o ZnO apresenta características macroporosas com contribuição de mesoporos, o TiO2 é
praticamente não poroso. Já o estudo do tratamento do efluente comparando os sistemas fotocatalíticos UV/TiO2 e UV/ZnO
mostrou que ambos apresentaram remoções similares de cor, turbidez e DQO. Além disso, para o sistema UV/TiO2 o aumento
da concentração do catalisador ocasionou a diminuição da eficiência do tratamento pelo aumento da turbidez do meio e
bloqueio da passagem da radiação UV. Já a avaliação dos tratamentos isolados de fotólise e adsorção em TiO2 indicaram que o
efeito sinergético de ambos no processo UV/TiO2 é mínimo, com contribuição majoritária da fotólise. Nesse sentido, espera-se
que com o aumento da porosidade dos catalisadores, por exemplo, por meio de tratamento térmico, seja possível elevar a
eficiência dos processos UV/TiO2 e UV/ZnO no tratamento do efluente de lavanderia hospitalar.

Palavras-chave: processos oxidativos avançados; dióxido de titânio; óxido de zinco.

Introdução

Os hospitais requerem diariamente um volume significativo de água para atender aos seus diversos propósitos e serviços,
podendo essa demanda variar de 200 a 1200 L leito-1 dia-1, dependendo de vários fatores, inclusive o nível de desenvolvimento
do país (Verlicchi et al., 2010). Dentre os setores hospitalares, a lavanderia é o que necessita do maior volume de água, cerca
de 50% de toda água utilizada em um hospital, visto que a cada quilo de roupa seca processada utiliza-se de 35 a 40 litros de
água (Brasil, 1986).
O efluente gerado nesse setor é resultante de uma mistura de água, sujidade das roupas processadas, produtos utilizados
durante as etapas de processamento (umectantes, detergentes, desinfetante, alvejantes, amaciantes), microrganismos
patogênicos, fármacos e seus metabólitos, entre outros. Devido à sua complexidade, toxicidade e baixa degradabilidade,
estudos vêm sendo conduzidos na tentativa de tratar efetivamente esse efluente (Ashfaq e Qiblawey, 2018; Kist, Albrecht;
Machado, 2008; Lutterbeck et al., 2014; Souza et al., 2019; Zotesso et al., 2017).
Dentre as técnicas de tratamento pesquisadas, os processos oxidativos avançados (POA) se destacam, visto que têm o potencial
de produzir radicais hidroxil (OH), os quais são altamente oxidantes e reagem indistintamente com compostos orgânicos,
podendo conduzir à sua mineralização ou aumentar sua tratabilidade (Fioreze; Santos; Schmachtenberg, 2014). Os POA visam
a remediação e desintoxicação dos efluentes e podem ser utilizados sozinhos ou combinados com outros processos
convencionais (Bila; Azevedo; Dezzoti, 2008; Domènech, 2001).
Os POA que fazem uso de semicondutores, como óxido de zinco (ZnO) e dióxido de titânio (TiO2), associados à radiação
ultravioleta para a produção de radicais hidroxil são denominados processo de fotocatálise heterogênea (Bila; Azevedo;
Dezzoti, 2008; Domènech, 2001). Nesse processo, o catalisador semicondutor, quando irradiado, promove um elétron (e-) da
banda de valência (BV) para a banda de condução (BC), gerando uma lacuna (h+) na banda de valência (Eq. 1). Essas lacunas,
por possuírem potenciais bastante positivos, quando combinados com a moléculas de água adsorvidas na superfície do
semicondutor, são capazes de gerar os radicais hidroxil (Eq. 2) (Fioreze; Santos; Schmachtenberg, 2014; Legrini; Oliveros;
Braun, 1993).

1139
(1)

(2)

Embora Kist et al. (2008) tenham em seu trabalho estudado o tratamento de efluente de lavanderia hospitalar em um reator
fotocatalítico em que o catalisador TiO2 se encontrava imobilizado em uma rampa acrílica, nenhum trabalho investigou o uso
de reator tipo lama (catalisador em suspensão) comparando a eficiência de dois catalisadores distintos. Nesse sentido, o
presente estudo teve como objetivo realizar o tratamento de um efluente de lavanderia hospitalar por meio de fotocatálise
heterogênea, utilizando os sistemas UV/TiO2 e UV/ZnO em reator do tipo lama.

Materiais e Métodos

Amostragem

O estudo foi realizado com efluente da lavanderia do Hospital Regional Universitário de Maringá (HUM), que foi coletado por
meio de uma torneira adaptada lateralmente à máquina de lavar. Para obtenção do efluente em seu estado mais crítico, as
amostras eram coletadas durante o processo de lavagem de roupas de sujidade pesada. Como o ciclo de lavagem é composto de
várias etapas, em cada uma delas retirava-se determinado volume de efluente, de forma a se obter uma amostra composta ao
final do processo por meio da mistura proporcional das alíquotas coletadas. Durante a mistura dessas alíquotas, passava-se o
efluente por uma peneira de malha de aço de 150 Mesh, de forma a remover os sólidos mais grosseiros, como fibras de tecido e
esparadrapos.

Experimentos Oxidativos

Os experimentos fotocatalíticos foram realizados em um reator do tipo lama composto por um béquer de 2 L com 4 lâmpadas
UV-C de 15 W sobrepostas horizontalmente (Figura 1). O béquer era imerso em banho termostático com circulação contínua
de água (25 oC), que era posicionado sobre um agitador magnético para que o catalisador fosse mantido em suspensão. Para
evitar a dissipação da radiação, todo esse sistema era isolado ambientalmente por meio de uma caixa de aço galvanizado.

Figura 1: (a) caixa de aço galvanizado; (b) reator fotocatalítico.

O estudo foi realizado com quatro amostras de efluente e os catalisadores comerciais testados foram os seguintes: TiO2
COTIOX KA-100 (COSMO Chemical) e ZnO (Betânia Química). A primeira amostra foi utilizada para comparação entre os
processos UV/TiO2 e UV/ZnO, utilizando-se 0,1 g L-1 de catalisador em cada experimento. A segunda amostra foi utilizada

1140
para avaliar os seguintes processos isolados: apenas UV e apenas TiO2 (0,1 g L-1). A terceira amostra foi utilizada para avaliar
o processo UV/TiO2 com 0,5 g L-1 de catalisador. Para fins de comparação, a quarta amostra foi utilizada para avaliar o
processo UV/TiO2 com 0,1 g L-1 do catalisador comercial TiO2 P25 Degussa (Evonik).
Antes dos experimentos, o pH do efluente era ajustado para 2,5 por meio da adição de ácido sulfúrico (H2SO4). Esse valor de
pH foi escolhido devido ao aspecto turvo que o efluente adquiria quando os catalisadores eram adicionados ao efluente em pH
> 2,5. O tempo de reação de todos os experimentos foi fixado em 3 horas e, após esse período, os catalisadores eram separados
por centrifugação a 3500 rpm durante 20 min.

Caracterização dos semicondutores

Como as características do catalisador P-25 (Degussa) já estão bem determinadas na literatura, a análise textural foi realizada
apenas para os catalisadores TiO2 COTIOX KA-100 e ZnO. A determinação da área superficial específica, volume total de
poros, distribuição do volume de poros e diâmetro médio dos poros foi realizada por meio da técnica de adsorção/dessorção de
N2. A análise foi realizada a -196 °C com N2 líquido em um analisador ASAP 2020 (Micrometrics), que pertence ao
Laboratório de Adsorção e Troca Iônica (LATI) do Departamento de Engenharia Química da Universidade Estadual de
Maringá.
A área específica dos catalisadores foi calculada pelos métodos BET (Brunauer-Emmett-Teller) e DR (Dubinin-Radushkevich)
e a distribuição do volume dos poros e diâmetro médio dos poros foram calculados por meio do método BJH (Barrett-Joyner-
Halenda). O volume total de poros foi obtido por meio do volume de N2 adsorvido à pressão relativa (P/P0) de 0,95, o volume
de microporos por meio do método t-plot, e a curva de distribuição do tamanho de poros pelo método da Teoria Funcional de
Densidade (TFD). Por fim, o volume de mesoporos foi calculado pela diferença entre o volume total de poros e o volume de
microporos.

Determinações analíticas

Os seguintes parâmetros físico-químicos foram avaliados para caracterizar o efluente bruto: pH, cor, turbidez, absorbância
(254 nm), DQO e sólidos totais, suspensos e dissolvidos. O efluente tratado foi avaliado por meio dos parâmetros cor, turbidez
e DQO. As metodologias e equipamentos utilizados nessas análises estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1: Metodologias de análise dos parâmetros físico-químicos.


Parâmetro Técnica Analítica Equipamento
Potenciometria pHmetro Digimed,
pH
(manual do aparelho) modelo DM-2
Método Hazen
Espectrofotômetro visível HACH,
Cor λ = 455 nm
modelo DR/2010
(manual do aparelho)
Atenuação da radiação
Espectrofotômetro visível HACH,
Turbidez λ = 860 nm
modelo DR/2010
(manual do aparelho)
Colorimetria Espectrofotômetro visível HACH,
DQO
Método 5220 D (APHA, 1998) modelo DR/2010
Absorção UV
Espectrofotômetro UV-VIS
Absorbância λ = 254 nm
HACH, modelo DR5000
Método 5910B (APHA, 1998)
Estufa Quimis, modelo
Secagem a 103 - 105°C
Sólidos totais, suspensos e Q-317B112 e
Métodos 2540 C e D
dissolvidos balança Shimadzu, modelo
(APHA, 1998)
AUY220

Resultados e Discussão

Caracterização do efluente bruto

As características físico-químicas das quatro amostras coletadas durante esse estudo estão apresentadas na Tabela 2.

1141
Tabela 2: Caracterização físico-química do efluente da lavanderia do HUM gerado durante o processo de lavagem
de roupas de sujidade pesada.
Parâmetro Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 Média ± Desvio-padrão
pH 10,3 11,6 10,6 10,7 -
Cor (uH) 150 110 354 72 172 ± 126
Turbidez (FAU) 31 24 55 11 30 ± 18
Absorbância - 254 nm 0,290 0,272 0,543 0,175 0,320 ± 0,157
DQO(mg L-1) 317 413 677 211 405 ± 200
ST (mg L-1) 268 618 479 355 430 ± 152
SST (mg L-1) 16 20 19 12 17 ± 4
-1
SDT (mg L ) 252 598 460 343 413 ± 150
Nota: ST = sólidos totais; SST = sólidos suspensos totais; SDT = sólidos dissolvidos totais.

É possível observar grande variabilidade entre as quatro amostras, apesar de todas elas terem sido coletadas durante o processo
de lavagem de roupas de sujidade pesada, o que sugere que o grau de sujidade das peças que estão sendo lavadas interfere
substancialmente na qualidade do efluente.
O efluente apresenta pH alcalino, valores moderados de cor, turbidez e DQO, e a maioria dos sólidos está presente na forma
dissolvida. Certamente, a passagem do efluente pela peneira de malha de aço durante a amostragem contribuiu para esse último
resultado. Os baixos valores de absorbância em 254 nm são favoráveis aos processos foto-oxidativos, uma vez que esse
parâmetro está associado à presença de compostos orgânicos aromáticos que competem pela absorção de fótons nesse
comprimento de onda.

Características dos semicondutores

A Figura 2 apresenta as isotermas de adsorção e dessorção de N2 obtidas para o TiO2 e ZnO. Ambas são do tipo II,
característica de sólidos macroporosos ou não porosos. A isoterma obtida para o ZnO (Figura 2b) apresentou uma pequena
histerese, indicando a presença de uma porção muito pequena de mesoporos no sólido, como afirmado por Rouquerol et al.
(1999).

Figura 2: Isoterma de adsorção (●) e dessorção (○) de N2 do TiO2 (a) e ZnO (b).

As características texturais do TiO2 e do ZnO foram comparadas com as do TiO2 P25 Degussa (Evonik), que é amplamente
utilizado em diversos sistemas reacionais fotocatalíticos devido à sua elevada atividade (Tabela 3).

1142
Tabela 3: Caracterização textural dos semicondutores TiO2 e ZnO.
Propriedade TiO2 ZnO TiO2 P25*
Área superficial BET (m2 g-1) 0,1854 15,3169 56
Diâmetro médio dos poros (Å) 94,354 46,720 48
Volume de poros (cm3 g-1) 3,92e-04 2,17e-02 7,00e-02
Tamanho médio das partículas (μm) 0,03 0,39 -
Nota: *Silva, Lansarin e Moro (2013).

As áreas superficiais dos catalisadores utilizados nessa pesquisa são muito inferiores à do TiO2 P25, o que representa uma
desvantagem, visto que as reações fotocatalíticas ocorrem na superfície dos catalisadores. Em relação ao diâmetro médio dos
poros, os valores obtidos podem ser melhor discutidos com o auxílio dos gráficos que representam a distribuição do tamanho
dos poros (Figura 3).

Figura 3: Distribuição dos tamanhos dos poros do TiO2 (a) e do ZnO (b).

O diâmetro médio dos poros é obtido por meio da distribuição do tamanho dos poros. Assim, a curva íngreme da Figura 3a
resultou num valor médio elevado para o TiO2, o que pode ter ocorrido pelo fato do sistema de análise ter considerado o espaço
entre as partículas como poros. Assim, apesar do diâmetro médio dos poros obtido para o TiO2 ser característico de
macroporos, segundo a classificação proposta pela IUPAC (1985), os baixos valores de área específica e volume total de poros
indicam que as partículas de TiO2 são praticamente maciças.
Em relação ao ZnO, tanto o diâmetro médio como o volume total de poros foram próximos aos do catalisador P25. O valor
apresentado na Tabela 3 para o diâmetro médio está coerente com o pico apresentado na Figura 3b, localizado entre 20 e 50 Å.
De acordo com a classificação da IUPAC (1985), isso indica a presença de mesoporos, o que está de acordo com a histerese
apresentada na isoterma de adsorção/dessorção (Figura 3b).
De acordo com a terminologia proposta pela ASTM (2012), os valores de tamanho médio das partículas obtidos indicam que o
TiO2 pode ser considerado uma nanopartícula e o ZnO uma partícula fina.

Resultados experimentais

As remoções de cor, turbidez e DQO obtidas em cada experimento estão apresentadas na Tabela 4.

Tabela 4: Remoções de cor, turbidez e DQO dos processos fotocatalíticos avaliados.


Amostra 1 2 3 4
*
UV/TiO 2
Tratamento UV/TiO2* UV/ZnO* UV TiO2* UV/TiO2**
(P-25)
% remoção cor 98 87 73 58 69 71
% remoção turbidez 87 81 -4,2 -4,2 62 100
% remoção DQO 35 30 28 33 32 43
Nota: *massa de catalisador = 0,1 g L-1; **massa de catalisador = 0,5 g L-1.

1143
Os resultados obtidos para a amostra 1 indicam que ambos os catalisadores forneceram remoções similares de cor, turbidez e
DQO. As remoções de DQO foram superiores em relação ao estudo realizado por Kist et al. (2008), que obtiveram cerca de
20% de redução nesse parâmetro por meio do processo UV/TiO2 P25, também aplicado ao tratamento de efluente de
lavanderia hospitalar. Diversos fatores podem ter contribuído para as remoções superiores obtidas no presente estudo, como o
maior tempo de reação, maior quantidade de lâmpadas, menor turbidez do efluente, configuração do reator, entre outros.
Os experimentos realizados com a amostra 2 indicaram que a aplicação dos processos UV e TiO2 isoladamente resultaram em
remoções similares de DQO, entretanto, a contribuição da fotólise na remoção de cor foi mais significativa. Nesses
experimentos, constatou-se o aumento da turbidez, fato que pode ser decorrente de algum erro experimental, uma vez que esse
comportamento não foi observado em nenhum dos outros experimentos e também não foram encontrados relatos condizentes
na literatura. As remoções obtidas por meio dos processos isolados indicaram que há um pequeno efeito sinérgico na remoção
de DQO ao utilizar a combinação UV/TiO2, com contribuição majoritária da fotólise.
Pelo fato do TiO2 utilizado possuir pouca área superficial e ser uma partícula praticamente maciça, esperava-se que o aumento
da concentração de catalisador resultasse em uma maior eficiência na degradação do efluente. Entretanto, as remoções de cor,
turbidez e DQO obtidas para a amostra 3 foram inferiores àquelas obtidas para a amostra 1. Certamente, a maior concentração
de catalisador proporcionou um estado de elevada turbidez e, consequentemente, reduziu a absorção de fótons, reduzindo
assim a eficiência do processo.
Por fim, o resultado obtido com o uso do catalisador TiO2 P25 (amostra 4) resultou em maiores remoções de turbidez e DQO
em relação a todos os demais experimentos. Entretanto, pelo fato dessas remoções não terem sido tão mais elevadas e da
remoção de cor ter sido inferior à obtida com o uso do catalisador TiO2 COTIOX KA-100 (amostra 1), pode-se dizer que o
catalisador TiO2 P25 não teve um desempenho tão superior, como comumente relatado em estudos relacionados (Silva et al.,
2013).

Considerações Finais

Por meio deste estudo foi possível observar que, embora o efluente gerado na lavanderia do HUM seja variável de acordo com
grau de sujidade das roupas processadas, de um modo geral, apresenta pH alcalino e valores moderados de cor, turbidez e
DQO, e baixos valores de absorbância em 254 nm.
A caracterização dos catalisadores utilizados indicou que o TiO2 é praticamente não poroso, enquanto que o ZnO é
macroporoso com contribuição de mesoporos.
No tratamento do efluente, foi verificado que os sistemas fotocatalíticos UV/TiO2 e UV/ZnO apresentaram remoções próximas
de cor (98 e 87%), turbidez (87 e 81%) e DQO (35 e 30%, respectivamente). Além disso, no sistema UV/TiO2 foi verificado
que o aumento da concentração de catalisador reduziu a eficiência do processo fotocatalítico, o que provavelmente está
relacionado à baixa absorção da luz UV no meio reacional devido ao aumento da turbidez.
Ao avaliar os processos isolados (apenas UV e apenas TiO2), constatou-se que há um efeito sinergético mínimo na remoção de
DQO ao utilizar a combinação UV/TiO2, sendo esta majoritariamente da fotólise, visto que, por apresentar uma área específica
muito pequena, o TiO2 utilizado não é um bom adsorvente e tampouco catalisador.
Com base nesses dados, propõe-se que com o tratamento térmico dos catalisadores, em especial o TiO2, seja possível aumentar
a sua porosidade e, por conseguinte, elevar a eficiência do tratamento do efluente em estudo.

Agradecimentos

Os Autores gostariam de agradecer à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à


Universidade Estadual de Maringá pelo apoio recebido.

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1145
5SSS260
TRATAMENTO DE EFLUENTE DE LAVANDERIA HOSPITALAR
POR MEIO DO PROCESSO UV/H2O2 EM DIFERENTES
CONFIGURAÇÕES DE REATORES VISANDO AO SEU REUSO
Jaqueline Pirão Zotesso1, Eneida Sala Cossich2, Célia Regina Granhen Tavares3
1Universidade Estadual de Maringá, e-mail: jaquelinepz@hotmail.com; 2Universidade Estadual de Maringá, e-
mail: ecossich@gmail.com; 3Universidade Estadual de Maringá, e-mail: celiagranhen@gmail.com

Palavras-chave: processos oxidativos avançados; efluentes hospitalares; coagulação-floculação.

Resumo
As lavanderias hospitalares representam um dos setores que mais geram efluentes em estabelecimentos de saúde. Entretanto,
não só no Brasil como também em outros países, os efluentes hospitalares são comumente descartados diretamente nas redes
coletoras de esgoto sem qualquer tratamento. Assim como os efluentes hospitalares como um todo, os efluentes gerados pelo
processamento de roupas em lavanderias hospitalares também são de alta complexidade, dada a presença de grande variedade
de compostos orgânicos dissolvidos e elevada carga microbiológica. Recentemente, estudos envolvendo o tratamento avançado
de efluentes de lavanderias hospitalares têm sido realizados, alguns deles com enfoque no reuso desse efluente. Nesse sentido,
o presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência do processo oxidativo avançado (POA) UV/H2O2 no tratamento do
efluente da lavanderia do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM), bem como verificar a possibilidade de reuso do
efluente tratado. Para isso, duas configurações de reatores foram avaliadas: reator batelada e reator com recirculação. Para se
obter uma maior eficiência do processo UV/H2O2, o efluente foi pré-tratado por meio do processo de coagulação/floculação,
utilizando o coagulante Tanfloc SG em pH 5,0. Os flocos formados foram removidos por meio de filtração em leito de
antracito. Em seguida, o processo UV/H2O2 foi realizado com o efluente pré-tratado e com razão DQO:[H2O2] de 1:2. Os
resultados obtidos indicaram que o reator com recirculação apresentou melhor desempenho, mesmo possuindo potência
nominal inferior à do reator batelada. Remoções de cor, DQO e DBO superiores a 90% foram obtidas por meio do sistema de
tratamento proposto, além da completa desinfecção do efluente em termos dos parâmetros microbiológicos avaliados. Apenas
um dentre os parâmetros analisados (concentração de nitrito) ficou acima do limite para reuso Classe 1, que envolve o reuso do
efluente no próprio processamento de roupas. Nesse sentido, maiores investigações acerca desse parâmetro devem ser
realizadas antes de descartar a possibilidade de reuso Classe 1, uma vez que o resultado obtido (2 mg L-1) foi bem próximo ao
limite exigido (1 mg L-1). Por fim, conclui-se que o efluente da lavanderia do HUM tratado pelo sistema proposto apresenta
grande potencial de reuso, seja no próprio processamento de roupas da lavanderia ou outras em formas de reuso, que devem ser
exploradas em busca de uma gestão mais sustentável da água em lavanderias hospitalares.

Introdução

Efluentes hospitalares apresentam elevada complexidade e toxicidade, dada a grande variedade de micropoluentes presentes,
como medicamentos, elementos radioativos, solventes, desinfetantes, surfactantes, auxiliares de diagnósticos, agentes
infecciosos e resistentes, entre outras substâncias (Boillot et al., 2008; Carraro et al., 2016). Dentre os diversos setores
hospitalares, o que gera maior volume de efluente são as lavanderias, que consomem cerca de 35 a 40 litros de água por quilo
de roupa seca processada (Brasil, 1986).
Recentemente, diversos pesquisadores têm investigado o tratamento de efluentes de lavanderias hospitalares por meio de
processos oxidativos avançados (POA) (Kist et al., 2006; Kist et al., 2008; Souza, 2019; Kern et al., 2013). Esses processos,
que se baseiam na oxidação de compostos por meio de radicais hidroxil (•OH), podem também propiciar a desinfecção do
efluente, por exemplo, quando se utiliza radiação UV-C (254 nm) para produção desses radicais.
A desinfecção de efluentes de lavanderia hospitalar durante um processo de tratamento é especialmente importante quando se
deseja praticar o reuso desse efluente. Na literatura, já existem estudos cujo enfoque é a proposição de um sistema de
tratamento que propicie o reuso de efluentes de lavanderia (Ahmad e El-Dessouky, 2008; Ciabatti et a., 2009); entretanto, no
Brasil, a atividade de reuso ainda não é bem regulamentada em termos dos parâmetros físico-químicos e microbiológicos
necessários para as diversas classes de reuso.
A norma NBR ABNT 13969/1997 (ABNT, 1997) estabelece alguns parâmetros para o reuso de esgoto doméstico de acordo
com o grau de contato do usuário com a água (classes de reuso). Além dessa norma, também há a publicação “Conservação e
Reuso da Água em Edificações” (ANA/FIESP/SINDUSCON-SP, 2005), que é mais restritiva e considera um conjunto maior

1146
de parâmetros como sendo importantes para o estabelecimento da prática de reuso, incluindo na classe 1 as águas destinadas ao
uso em descargas de bacias sanitárias, lavagem de pisos e de roupas, que são aplicações interessantes para o reuso de efluente
de lavanderia hospitalar após o seu tratamento.
A aplicação de POA no tratamento de efluentes de lavanderia hospitalar é especialmente interessante porque as constantes de
reação entre os radicais •OH e muitos poluentes orgânicos são altas, de modo que eficiência do processo está diretamente
relacionada à quantidade de radicais •OH produzidos (Bila et al., 2008). Portanto, além das características do efluente a ser
tratado e da cinética de reação entre os radicais •OH e os poluentes a serem degradados, a configuração do reator é de extrema
importância, pois ela é um fator determinante na produção de radicais •OH em reatores fotolíticos. Além disso, a configuração
do reator também deve permitir que a radiação UV recebida pelo efluente seja suficiente para garantir a completa inativação de
microrganismos (Malato et al., 2009; Oller et al., 2011).
A lavanderia do Hospital Regional Universitário de Maringá (HUM) gera cerca de 61 m3 dia-1 de efluente, que é descartado
diretamente na rede coletora de esgoto. Esse elevado volume de efluente poderia ser tratado e reutilizado no próprio processo
de lavagem, ou ainda para descarga de bacias sanitárias.
Estudos anteriores demonstraram que o POA UV/H2O2 é uma tecnologia promissora para o tratamento do efluente da
lavanderia do HUM (Souza et al., 2019; Zotesso et al., 2017). Nesse sentido, o presente estudo visa realizar o processo
UV/H2O2 em duas configurações distintas de reatores, a fim de identificar qual delas resulta em maior consumo de H2O2 e,
portanto, maior produção de radicais •OH. De posse desses resultados, será verificado o potencial de reuso do efluente tratado
no reator de melhor configuração.

Material e Métodos

Amostragem

As amostras de efluente foram coletadas na lavanderia do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM) durante o ciclo
de lavagem de roupas de sujidade pesada, a fim de se obter o efluente em seu estado mais crítico. Esse ciclo de lavagem possui
16 etapas e, em cada uma delas, determinado volume de efluente era coletado por meio de uma torneira adaptada lateralmente
à máquina de lavar. Em seguida, os volumes coletados eram misturados de forma a se obter uma amostra composta. Durante a
mistura, passava-se o efluente por uma peneira de malha de aço de 150 Mesh, a fim de remover os sólidos mais grosseiros,
como fibras de tecido, esparadrapos e outros resíduos.
Duas amostras compostas foram utilizadas para realização desse estudo. Com a primeira delas foi possível comparar os dois
tipos de reatores utilizados para o processo UV/H2O2: reator batelada e reator com recirculação. A segunda amostra foi
utilizada para repetição do experimento no reator que apresentou melhor desempenho, a fim de investigar melhor o processo
por meio da análise de diversos parâmetros físico-químicos e microbiológicos do efluente.

Experimentos

Pré-tratamento do efluente

Antes da aplicação do tratamento UV/H2O2, as amostras de efluente eram previamente tratadas por meio dos processos de
coagulação/floculação e filtração utilizando-se o coagulante Tanfloc SG em pH 5,0, ajustado por meio da adição de soluções
diluídas de H2SO4. As concentrações de Tanfloc SG utilizadas para a primeira e segunda amostra foram, respectivamente, 100
e 120 mg L-1. O processo de coagulação/floculação era realizado em Jar-Test Milan, modelo JT101. As velocidades de mistura
rápida (VMR) e lenta (VML) e os tempos de mistura rápida (TMR) e lenta (TML) utilizados eram os seguintes: VMR = 120
rpm, VML = 15 rpm, TMR = 3 min e TML = 15 min.
Após o processo de coagulação/floculação, as amostras eram filtradas em um leito de antracito de 20 cm de altura (~495 g),
montado em uma coluna de acrílico com diâmetro interno de 6,4 cm (Figura 1). Para evitar que o antracito fosse arrastado
durante a filtração, no fundo do leito havia uma tela sobre a qual era adicionada uma camada de 5 cm de pedrisco. Para
montagem do leito, a coluna era preenchida com água e os pedriscos eram adicionados. Em seguida, o antracito era adicionado
aos poucos, realizando-se a sua compactação até que não se percebesse mais alteração na altura do leito. Antes de passar o
efluente pelo filtro, uma limpeza inicial do leito era realizada com água até que fosse constatada a estabilização da turbidez.
Tanto o efluente como a água eram bombeados para o filtro por meio de uma bomba peristáltica Masterflex (Cole-Parmer).

1147
Figura 1: Coluna de acrílico utilizada para montagem do leito de antracito.

Processo UV/H2O2

Dois reatores foram utilizados para o tratamento do efluente por meio do processo UV/H2O2: reator batelada e reator com
recirculação. O reator batelada (Figura 2a) é composto por um béquer de 2 L sobre o qual são posicionadas 4 lâmpadas UV-C
de 15 W. O béquer é imerso em um banho termostático com recirculação contínua de água, sobreposto em um agitador
magnético. Todo esse conjunto é montado no interior de uma caixa de aço galvanizado, de forma a evitar a dissipação da
radiação.

Figura 2: (a) reator batelada; (b) reator com recirculação.

O reator com recirculação (Sterilight, SQ-PA) (Figura 2b) é composto por um tubo cilíndrico de 30,5 cm x 5,2 cm, no qual a
radiação UV-C é emitida por uma lâmpada UV-C de 10 W, envolta por um cilindro de quartzo. A recirculação do efluente era
feita por meio de uma bomba peristáltica Masterflex (Cole-Parmer) enquanto o efluente era homogeneizado em um agitador
magnético.
Para comparação entre os reatores, os experimentos foram realizados com 1 L de efluente pré-tratado por
coagulação/floculação e filtração. O tempo de reação foi de 150 min, sem qualquer ajuste de pH. O H2O2 (29%, Synth) era
dosado com base na DQO do efluente pré-tratado segundo a proporção DQO:[H2O2] = 1:2. Durante o período de reação,
amostras de efluente eram coletadas de ambos os reatores a cada 30 minutos para determinação da concentração de H2O2
residual.

1148
Determinações analíticas

As seguintes análises foram realizadas para a primeira amostra de efluente bruto, que foi utilizada para comparação entre os
dois tipos de reatores: pH, cor, turbidez e DQO. Durante a comparação entre os dois reatores, a única análise realizada foi a de
H2O2 residual. Para a segunda amostra de efluente, todos os demais parâmetros apresentados na Tabela 1 foram avaliados.

Tabela 1: Metodologias e equipamentos utilizados para as análises físico-químicas e microbiológicas.


Parâmetro Técnica Analítica Equipamento
Potenciometria pHmetro Digimed,
pH
(manual do aparelho) modelo DM-2
Método Hazen
Espectrofotômetro visível HACH,
Cor λ = 455 nm
modelo DR/2010
(manual do aparelho)
Atenuação da radiação
Espectrofotômetro visível HACH,
Turbidez λ = 860 nm
modelo DR/2010
(manual do aparelho)
Colorimetria Espectrofotômetro visível HACH,
DQO
Método 5220 D (APHA, 1998) modelo DR/2010

DBO Método 5210 B (APHA, 1998) BODTrackTM II, HACH

Redução com sulfato ferroso Espectrofotômetro visível HACH,


Nitrito
(manual do aparelho) modelo DR/2010

Redução por cádmio Espectrofotômetro visível HACH,


Nitrato
(manual do aparelho) modelo DR/2010
Medidor multiparâmetro
Potenciometria
Nitrogênio amoniacal Thermo Scientific,
Método 4500 F (APHA, 1998)
modelo Orion 4 Star
Câmera climática Fanen, modelo
Coliformes totais e Fermentação em tubos múltiplos
095 E e
termotolerantes Método 9221B (APHA, 1998)
estufa retilínea Fanen
Plaqueamento em superfície
Câmera climática Fanen, modelo
Bactérias heterotróficas (spread plate)
095 E
Método 9215C (APHA, 1998)
Espectrofotometria com
H2O2 residual Nogueira et al. (2005)
metavanadato de amônio

Como a concentração de H2O2 residual interfere na determinação da DQO, utilizou-se a correlação proposta por Kang, et al.
(1999) para sua correção.

Resultados e Discussão

A Tabela 2 apresenta os resultados dos parâmetros avaliados para a primeira amostra de efluente bruto e pré-tratado por
coagulação/floculação e filtração.

1149
Tabela 2: Características físico-químicas do efluente bruto da lavanderia do Hospital Regional Universitário de
Maringá e do efluente pré-tratado por coagulação/floculação e filtração.
Parâmetro Efluente Bruto Efluente Pré-tratado*
pH 11,7 6,5
Cor (uH) 91 36
Turbidez (FAU) 25 5
DQO (mg L-1) 438 370
Nota: *Pré-tratamento por coagulação/floculação com 100 mg L-1 de Tanfloc SG em pH 5,0, seguido por filtração em antracito.

Nota-se que o pré-tratamento removeu 60% da cor e 80% da turbidez do efluente, entretanto, a remoção de DQO foi de apenas
15%, indicando que os compostos que conferem DQO ao efluente estão presentes na forma dissolvida. A elevada remoção de
turbidez obtida é desejável para o processo foto-oxidativo subsequente (UV/H2O2), uma vez que partículas em suspensão
bloqueiam a radiação e, portanto, diminuem a eficiência do processo.
A Figura 3 indica que o consumo de H2O2 no reator com recirculação foi muito maior do que no reator batelada, apesar da
potência nominal total das lâmpadas do reator batelada ser de 60 W e a do reator com recirculação ser de apenas 10 W. Como
o mesmo efluente foi utilizado nos dois experimentos, pode-se atribuir o menor consumo de H2O2 no reator batelada à sua
configuração, ou seja, a dose de radiação recebida pelo efluente no reator batelada é inferior à do reator com recirculação. O
menor consumo de H2O2 resulta numa menor produção de radicais •OH, prejudicando a eficiência de degradação do efluente.
Por esse motivo, o reator com recirculação foi escolhido para repetição do experimento e subsequente análise de um conjunto
maior de parâmetros físico-químicos e microbiológicos, a maior parte deles relacionada ao reuso do efluente (Tabela 3). O
tempo reacional desse experimento foi de 2 horas e as condições operacionais foram as melhores determinadas no estudo de
Zotesso et al. (2017): pH 9,0 e razão DQO:[H2O2] de 1:2.

Figura 3: Consumo de peróxido ao longo do tempo no tratamento do efluente da lavanderia do Hospital Regional
Universitário de Maringá por meio do processo UV/H2O2 realizado em dois reatores (batelada e com recirculação).

De acordo com a Tabela 3, o pH do efluente apresentou um leve aumento em relação ao valor inicial ajustado para o processo
de coagulação/floculação, indicando que o coagulante Tanfloc SG não consome alcalinidade do meio. Por outro lado, o pH do
efluente reduziu após o processo UV/H2O2, indicando que houve a formação de espécies ácidas durante o processo oxidativo,
como também reportado por Daneshvar et al. (2008) e Zhou et al. (2012).
O processo de coagulação/floculação e filtração foi mais eficiente para a amostra 2 de efluente do que para a amostra 1,
resultando em remoções de 95% e 91% de cor e turbidez, respectivamente. Em relação à DQO, a remoção obtida com o pré-
tratamento (30%) foi o dobro daquela obtida para a amostra 1, o que indica que as características iniciais do efluente
influenciam substancialmente a eficiência do processo. Isso evidencia, ao mesmo tempo, a importância e as dificuldades
inerentes aos estudos de tratabilidade com efluentes reais. Após o processo UV/H2O2, altas remoções de DQO (>90%) e DBO
(100%) foram obtidas, o que confirma a eficiência do POA utilizado no tratamento do efluente da lavanderia do HUM.
Dentre os parâmetros da série nitrogenada, a concentração de nitrito foi a única que não se enquadrou no limite de reuso,
apesar da sua concentração final ter sido bem próxima ao valor recomentado. O aumento da concentração de NH3-N durante o

1150
pré-tratamento indica que houve oxidação do nitrogênio orgânico presente no efluente bruto durante esse processo. A
subsequente redução na concentração de NH3-N durante o processo UV/H2O2 indica o prosseguimento da oxidação,
evidenciada também pelo aumento da concentração de nitrato.

Tabela 3: Características físico-químicas do efluente bruto, pré-tratado e tratado da lavanderia do Hospital Regional
Universitário de Maringá.
Efluente pré-
Parâmetro Efluente Bruto Efluente tratadob Reuso Classe 1c
tratadoa
pH 10,1 6,1 7,5 6,0 – 9,0
Cor (uH) 114 6 6 ≤10
Turbidez (FAU) 34 3 1 ≤2
DQO (mg L-1) 292 202 17 -
DBO (mg L-1) 142 69 ND ≤10
NO2-N (mg L-1) 7 2 2 ≤1
NO3-N (mg L-1) 3,6 0,9 1,3 <10
NH3-N (mg L-1) ND 26,2 12,7 ≤20
Coliformes totais
>1600 <220 <220 -
(NMP/100 mL)
Coliformes termotolerantes
>1600 <220 <220 ND
(NMP/100 mL)
Bactérias heterotróficas
6,0 x 103 1,0 x 101 ND -
(UFC/mL)
a -1
Nota: ND = não detectado. Pré-tratamento por coagulação/floculação com 120 mg L de Tanfloc SG em pH 5,0, seguido por
filtração em antracito; bTratamento pelo processo UV/H2O2 em pH 9,0 e razão DQO:[H2O2] = 1:2; cParâmetros recomendados
por ANA/FIESP/SIDUSCON-SP (2005).

Em relação aos parâmetros microbiológicos avaliados, o sistema de tratamento proposto proporcionou a desinfecção do
efluente, o que é especialmente interessante para o reuso na própria lavagem de roupas, onde a desinfecção é um fator
prioritário devido ao contato direto do usuário com a água.

Considerações Finais

Os resultados obtidos nesse estudo confirmaram que a configuração do reator interfere sobremaneira na eficiência de processos
fotolíticos, determinando a viabilidade de sua aplicação. O sistema de tratamento proposto, composto pelos processos de
coagulação/floculação/filtração seguido pelo POA UV/H2O2 se mostrou promissor para o tratamento do efluente da lavanderia
do HUM no reator com recirculação, uma vez que foram obtidas remoções superiores a 90% de cor, DBO e DQO, bem como a
desinfecção do efluente em termos dos parâmetros microbiológicos avaliados. Entretanto, é importante ressaltar que a
completa desinfecção por radiação UV só pode ser comprovada mediante a validação do sistema por meio de biodosimetria,
que deve ser realizada nas mesmas condições operacionais estudadas.
Dentre os parâmetros analisados nesse estudo, a concentração de nitrito foi a única que não atingiu o limite para reuso Classe
1, que engloba o reuso do efluente no próprio processamento de roupas da lavanderia. Entretanto, o resultado obtido para esse
parâmetro foi muito próximo ao exigido para essa classe de reuso, de forma que maiores investigações devem ser realizadas
antes de descartar essa possibilidade. De qualquer forma, outras possibilidades de reuso também podem ser consideradas para
o efluente tratado, visando uma gestão mais sustentável da água em lavanderias hospitalares.

Agradecimentos

Os Autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Universidade Estadual
de Maringá pelo apoio recebido.

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1152
5SSS261
A INTERSEÇÃO ENTRE ÁREAS NACONSERVAÇÃO E NA GESTÃO
DOS RECURSOS HÍDRICOS: UMA PERCEPÇÃO EXTERNA
NECESSÁRIA
Andressa Oliveira dos Santos1, Rita de Cassia Almeida da Costa2
1UniversidadeFederal Fluminense - CURO, e-mail: santosoandressa@gmail.com; 2Universidade Estadual do Rio
de Janeiro – UERJ/ProfÁgua, e-mail: rc_costa@oi.com.br

Palavras-chave: Gestão das Águas; PSA Hídrico; Patrimônio Simbólico

Resumo
Com o intuito de contribuir para a realização de uma pesquisa, em gestão dos recursos hídricos, foram realizadas várias
transcrições de áudio resultantes de visitas a campo em alguns projetos de Pagamento por Serviços Ambientais – PSA. Neste
processo de compartilhamento entre áreas de conhecimento, o trabalho, a ser apresentado na defesa do mestrado em Gestão e
Regulação em Recursos Hídricos, suscitou compreensões diferenciadas, ao demonstrar perspectivas distintas sobre o modo de
intervir junto aos atores locais, práticas de consumo e conservação da água. O presente artigo tem como objetivo utilizar a
percepção de um ator externo à disciplina, que na interseção de conhecimentos percebe a lógica dos valores da mediação dos
patrimônios simbólicos, ao introduzir noções afetivas para um “bem”, normalmente dotado apenas de valor econômico. A
consideração sobre o fato traz com ela a evidência de ser necessária a valorização da água, pelas populações no ambiente rural
ou urbano, como intrínseca à boa dinâmica no território. E, ainda, todas as falas fazem crer que se considere agricultores
familiares como contribuintes harmônicos para o balanço hídrico, interligados para além da conjuntura de subsistência. Ou
seja, o texto alcança esferas interdisciplinares, em uma relação premente de promoção de equilíbrio ambiental para a
sobrevivência saudável da sociedade contemporânea e às futuras gerações. As falas transcritas foram as grandes referências
para a construção do conteúdo apresentado. Além disso, a ancoragem se deu por meio de uma revisão bibliográfica nas áreas
de gestão dos recursos hídricos, patrimônios simbólicos e produção cultural, incluindo considerações e lógicas nesses campos
de diferentes modos de atuação. O resultado abriga uma perspectiva relacionada aos estudos da área da Produção Cultural, para
complementar a finalidade de estabelecer rumos sadios à gestão e regulação dos recursos hídricos, sinalizando sobre a
necessidade de interação entre diversas áreas de conhecimento nos processos aplicados nas intervenções nas bacias
hidrográficas, como meio de democratizar as formas possíveis de conservação do Planeta.

Introdução
Primordialmente, é importante destacar alguns fatores relevantes à participação inusitada de uma graduanda de
Produção Cultural na construção deste artigo. Dessa forma, o princípio se dá pela ótica de uma estudante em formação, que
encontra outras áreas de conhecimento e de interesses que culminaram na produção do presente texto, como meio de
compartilhar a experiência com outro olhar sobre o ponto ou de outro ponto para este olhar, a qual se distingue de qualquer
ambição e de objetos previstos até então.
Em virtude do interesse na área patrimonial cultural, a aproximação com o tema ocorre na produção do Seminário de
Memória e Patrimônio Cultural, nos dias 24 e 25 de maio de 2019, na Câmara Municipal de Rio das Ostras, município do
estado do Rio de Janeiro. Como uma universitária em formação, foi factível perceber a importância de explorar novas áreas,
aproveitar diversas oportunidades, cultivar conhecimento e acoplar referências vastas, para além da busca de atender
exigências curriculares. O amadurecimento de ideias para o campo de atuação de forma diversificada e extensa fez com que a
oportunidade de trabalhar com as transcrições de áudio de uma pesquisa de campo, para Mestrado Profissional em Gestão e
Regulação em Recursos Hídricos – ProfÁgua, Polo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ, fosse um desafio a ser
superado. Inicialmente, assuntos de englobam a área da engenharia em detrimento ao desenvolvimento de formas de mediar as
nuances do recurso hídrico estavam claros e definidos. Na continuidade do contato fica implícito o envolvimento de uma
lógica dos patrimônios simbólicos frente aos fundamentos da Lei das Águas\, mas também como algo que faz parte da vida e
dos laços afetivos da população como um todo.
Destarte, o presente artigo contém uma perspectiva de alguém que possui conhecimentos interdisciplinares acerca de
temas constantemente abordados na graduação de Produção Cultural. Isto é, uma acadêmica em processo de formação que
pretende contribuir para este artigo como um outsider36 que traz a carga dos entendimentos patrimoniais do curso de estudo em

36
Na tradução literal, outsider significa forasteiro. No presente texto este termo está sendo utilizado como forma de denominar
alguém que não participa de determinado meio, ou seja, aquele que vem de fora.

1153
questão para compreender e analisar a situação do recurso hídrico e do uso de solo – âmbito da tese desenvolvida pela Rita de
Almeida – por meio dos áudios e vídeos gravados como dados a fundamentar a argumentação da sua dissertação de formação
com o testemunho daqueles que, constantemente, atuam naquele meio – seja como profissional técnico da área ou como
agricultor familiar.

Impressões de uma outsider


Os primeiros caminhos trilhados por essa participação invulgar na construção do presente artigo se deram por meio de
um freelance oferecido pela pesquisadora. A princípio, as informações sobre o conteúdo dos registros de dados a serem
transcritos não foram explicitadas. Porém, após uma conversa com a detentora dos áudios e entrevistadora nestes foi possível
entender o objetivo da pesquisa. Além disso, foi essencial participar de uma etapa do trabalho de pesquisa – transcrição – que,
futuramente, será necessária para a conclusão do bacharelado em Produção Cultural, pois esse tipo de cooperação agrega não
só como forma de aprendizado para transcrição de áudios, mas também contribui para uma ampliação de visões acerca de
métodos de pesquisa e abordagem utilizados em diversos campos de atuação. Dessa forma, o interesse que surgiu de forma
imediata foi entender como se dão essas transcrições e de que forma são feitas. Neste caso, foi realizada uma pesquisa para
compreender as melhores formas de se atender à coleta de dados por meio de áudios, sem interferir no testemunho daquele que
estava sendo ouvido e respeitando cada tipo de fala e contexto.
Desta maneira, exequível se mostrou começar o trabalho de transcrição com a devida atenção, de forma que fosse
possível compreender gestos e falas registrados na entrevista, que possuía um caráter não estruturado, podendo destacar
algumas partes de notoriedade e, assim, construir um raciocínio diante dos testemunhos, respeitando e acolhendo a vivência e
experiência de cada um – suas formas de falar – com o modo particular de ouvir no ato da transcrição.
Ao longo do processo de escuta, alguns conceitos estudados na graduação começaram a emergir no subconsciente,
sendo um deles a subjetividade. Um dos primeiros conceitos apresentados no curso de Produção Cultural compreendido por
Micheal Foucault, em Verdade e Subjetividade, como um processo de constituição de si, onde o autoconhecimento passa a
contribuir para um autogerenciamento de conhecimentos ao longo da vida em detrimento de estímulos externos. O debate
sobre subjetividade é extenso e possui nuances de definições contemporâneas mais sofisticadas ao presente, mas as noções de
Foucault ilustram com destreza a importância da subjetividade no desenvolvimento psíquico do homem, principalmente diante
de uma sociedade cada vez mais acelerada e blasé37 diante de assuntos que abarcam a extensão cultural do indivíduo como ser
integrante de um coletivo.
Ele abre dimensões de ideias de atuação e de reflexão, quando entendido e respeitado devidamente. Em outras
palavras, é extremamente importante buscar o respeito na experiência do próximo, seja como indivíduo ou como atuante em
um coletivo, principalmente, perante uma leva massificadora de informações que atingem constantemente a autenticidade da
vivência.
Neste caso, o escopo de mostrar a importância das noções patrimoniais simbólicas em detrimento a determinada área,
por meio da subjetividade dos entrevistados, demonstra uma extrema relevância para o desenvolvimento de uma mediação
efetiva entre os produtores rurais e os técnicos que trabalham em projetos de conservação, restauração ambiental e recarga
hídrica, porque para além de contribuir para a valorização da agricultura familiar, seja no próprio meio ou em uma perspectiva
de mercado, percebe-se a necessidade de reconhece-los como agentes determinantes para o equilíbrio hídrico na perspectiva
local ou mesmo na dinâmica da bacia hidrográfica. Nos áudios, foi possível perceber diversas formas com que diferentes
populações e grupos de agricultores e/ou técnicos lidam com a água e o solo. Explicita que o interesse de muitos tende a ser
unicamente comercial, nas questões que envolvem a água. Nessa condição, ela se apresenta apenas como um meio a ser
utilizado no atendimento das necessidades imediatas do usuário.
Apesar dessa observação, dentro da variedade de perspectivas apresentadas nos registros de áudios e vídeos, houve
uma presença de fala marcante efetuada por Jonas do Rosário, Cacique da Aldeia Areal, município de Aracruz, estado do
Espírito Santo, que demonstrou exímio interesse pela comunidade atuar em prol da conservação e uso adequado do solo,
concebendo, assim, o entendimento de que a forma com que os índios lidam com a água e o uso de solo é diferenciada:
essencial, além de quase inata.
“[...] a gente quer tirar todo o usufruto dessa terra que a gente demarcou porque a gente sabe que a terra ela é
mãe... a terra ela cria todos né e a água é vida né pra gente né e a água ela lava todos né... água é pra tomar
banho é pra molhar uma horta a água é pra você beber né é pra tomar um banho a água é a nossa... é o que a
gente ( ) que liga essa... esse lugar nosso [...]” (José do Rosário, Cacique da Aldeia Areal, Programa
Reflorescer, ES)

37
Atitude blasé, segundo Simmel (1973, p. 16), é um conceito que visa ilustrar o indivíduo em um estado de indiferença,
diante das problemáticas advindas da sociedade, em função de um estímulo excessivo dos nervos que atinge um ápice em que
se molda uma espécie de impassibilidade. SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, Otávio Guilherme
(org.). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

1154
Dito isto, foi possível perceber o afeto pelos recursos naturais e sua relação intrínseca com os meios de subsistência
passados por gerações. Essa perspectiva indígena é fundamental para o suprimento e permanência de muitas famílias no
âmbito rural ou urbano. Isto é, diante das gravações disponibilizadas, depreende-se que os indígenas demonstravam maior
apreço afetivo pela natureza e, consequentemente, pelo uso e cuidado com a água, para que, assim, tenham um retorno de
qualidade e de quantidade hídrica esperados para suprir a comunidade, tal qual terem a capacidade de questionar projetos –
recebendo ou rejeitando medidas propostas – que lhes são apresentados como forma de garantir a prática sustentável e de
valorização que já praticam.
“[...] eu também fiz muita cesta pra gente vender né e continuo fazendo aí os meninos vem com arco e flecha
que vem da madeira vem do embira né... variedade de embira da mata então é por isso que nós cultivamos a
mata a natureza porquê de lá a gente tira muito produto... tanto a árvore mãe que da semente e que da embira
tb [...]” (Zilma Maria São Vicente, Liderança da comissão e Cacique e Coordenadora do grupo de mulheres,
Aldeia Areal, Programa Reflorestar, ES)
“[...] enquanto as outras madeira e as outras árvores ainda tão pequenas a gente vai tá plantando aí nessa área
aí onde a gente escolheu é uma área reprodutiva ela vem reproduzir pra gente não só um tipo de planta ela
vem com várias e se a gente souber né o valor que ela tem a gente tá protegendo o solo o meio ambiente e a
água porque água é vida nós sem água hoje a gente não vive né então a água pra gente é muito importante a
água pra poder dizer... trazer encher os nossos ( ) poder a gente cuidar da natureza e até mesmo pra criar os
animais né pros animais ter água pra beber né essas planta que a gente planta também vai dar fruto éh os
animais comem também né muitas plantas que eu tenho no fundo do quintal caju... caju mesmo a espécie caju
a... os passarinhos vão lá comem bastante banana eles vão lá comem né e se nós não planta? A gente não
pensa só na gente a gente pensa nos animais também né... a gente come eles comem também.” (Zilma Maria
São Vicente, Liderança da comissão e Cacique e Coordenadora do grupo de mulheres, Aldeia Areal,
Programa Reflorestar, ES)
“[..;] porque hoje nossos rio tá tudo poluído... nossas águas tá toda poluída né e a gente queria né que toda
reunião que a gente fala la fora a gente fala assim... a gente quer o tratamento desse rio porque esse rio é onde
nós éh usamo ele né... hoje então a gente não usa mais esse rio mais [...] tá toda poluída nossa água então hoje
nós usamos a água do SAE aí de Aracruz que é tratada né porque não podemos mais usar essa água nossa aí
que tá poluída e assim a gente vai vivendo dessa maneira [...] essa água foi poluída a maior parte né hoje né a
cidade né... a cidade que polui que não tem um tratamento de filtro pra jogar essa agua boa no rio e a gente né
queria né que o Governo Municipal junto com as empresas que tem em roda que tão crescendo o progresso do
município que fizesse um... um projeto que tratasse essa águas.” (José do Rosário, Cacique da Aldeia Areal,
Programa Reflorescer, ES)
“Esse projeto reflorestar isto aí eu acho muito importante [...] a gente sempre cobrou que o governo ele tinha
que olhar esse lado de dar um jeito de reflorestar essas partes da gente que tava precisando de ser reflorestada
pra poder voltar um pouco né da nossa origem de quando a gente morava [...] que tinha tudo que a gente
usava aqui e hoje nós não temos mais... então com essa parte que a gente cobrou né o tempo que vai passando
a natureza foi recuperando umas parte e hoje a gente tem né algumas parte do rio recuperado já com a mata já
formando né [...] então é isso ai que a gente tá cobrando né que acha que um reflorestamento ele vai recuperar
tanto da água né tanto o solo né e tanto criar né planta que né que traz fruto [...]” (José do Rosário, Cacique da
Aldeia Areal, Programa Reflorescer, ES)

Ademais, cabe ressaltar a importância de se ouvir e perceber, também, que, por diversas vezes, é notável como as
expressões corporais e vocais respondem mais do que qualquer palavra possa exprimir. Quando a pergunta certa é feita no
momento oportuno, é factível que a percepção dessas pequenas ações atua de forma efetiva e produtiva na coleta de dados. Ou
seja, devido à imensa variedade de pessoas abordadas a respeito do mesmo tema, dependendo da sua vivência, as formas de
lidar com as situações cotidianas de trabalho ou lazer – até mesmo à frente de uma entrevista – entregam um diagnóstico quase
completo do que se passa em sua realidade. Em um desses casos, foi possível perceber a hesitação e medo de falar na presença
de determinadas pessoas, evidenciando a clara existência de uma espécie de hierarquia a ser respeitada por aqueles que dela
participam de forma involuntária – digo involuntária, pois se há uma hierarquia, há também o desequilíbrio e a desigualdade
imposta por sistemas definidos por profissionais que atuam usando uma lógica simples de mediação incoerente e instável.
Outro conceito importante apresentado no curso de Produção Cultural para atuar com acessibilidade e efetividade em
variadas áreas de atuação profissional é algo conhecido como mediação. Sendo considerado por Leonardo Figueiredo Costa
(2009), no artigo apresentado no Quinto Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, um conceito de laboração que se
baseia no diálogo apropriado para que uma mensagem ou objetivo seja passado de forma eficaz e compreensível para
diferentes grupos de pessoas. Infelizmente, ao ouvir os áudios, constata-se que a mediação é algo em falta no trabalho de
técnicos que atuam nos projetos visitados de água e/ou parceiros destas para com a população de agricultores e produtores. Em
outros termos, há a ausência da preocupação com um diálogo eficaz e meios acessíveis e transparentes dos procedimentos
efetuados pelos profissionais que atuam nessa área, além de serem discriminados quando se atentam para um trabalho
inclusivo e bem desenvolvido.
“[...] olha, é mobilizar, é um ato cotidiano, né... éh:: a gente conversar, o simples fato de uma conversa você
tá mobilizando alguém porque se você tiver informação e souber passar essa informação, né, e aí vem as

1155
estratégias de comunicação e tal, cê consegue mobilizar o... quantas vezes que numa conversa informal que
você encontra alguém, bate um papo, daquilo que você conversa ela retoma e te procura... olha, a gente
conversou aquele dia sobre aquilo...então, usar estratégias diferenciadas pra informar e comunicar, né.” (Ana
Paula Andrade e Tais Teodoro, respectivamente gerente e técnica do Consórcio Guandu - Projeto Reflorestar
- ES)

Em outra fala também foi destacado a importância de projetos que contribuem para uma autonomia dentro de
comunidades, por meio de algum tipo de mobilização social (forma de diálogo dinâmico escolhido para o desenvolvimento do
projeto de forma participativa com a população de determinado local) que é constituída por meio de um objetivo que permeia a
mediação efetiva entre profissional técnico e o agricultor familiar, causando ressonância e reverberando para as futuras
gerações de forma positiva e autossuficiente.
“[...] esse outro tipo de projeto aqui que é o projeto que o Dirceu é craque em bolar... ele tem vida pra muitos
e muitos anos entendeu... independente da ANA sair da instituição 1 2 ou 3 sair... você tem uma mobilização
social que vira a própria estrutura do projeto... a própria sociedade não vai admitir que aquilo termine...
mermo que mude de prefeito aquilo vira parte... uma parte da cultura deles entendeu.... éh pra você entender
pelo que eu pude ver ele tem esse perfil... esse tipo de projeto cê pode esquecer... ele vai caminhar sozinho
depois tá.” (Flavio Hermínio de Carvalho, coordenador do Programa Produtores de Água, Agencia Nacional
de Água –ANA)

Quanto aos entendimentos inatos aos cuidados com o solo, o uso da água e o conhecimento dos ciclos da água como
recursos hídricos presentes nas vivências indígenas sobreditas, não é algo que se encontra na maioria da população, seja no
campo ou no perímetro urbano. No que tange à população de agricultores do campo, nem todos compreendem a importância
do seu trabalho para a sociedade como um todo. O descaso e/ou mediação falha de objetivos e ideias, transmite, por muitas
vezes, a valorização do lucro, como retorno aos profissionais ou aos agricultores familiares, que, por exemplo, mesmo
compreendendo a desigualdade de salários e retornos financeiros com relação a outros agricultores, não sabem que possuem a
capacidade de questionar certos atos da política pública. A falta de questionamento, além de contribuir para a desigualdade
entre os produtores em questão de salários e territórios, também coopera para uma situação de descaso para com eles.
“[...] a partir do momento que a pessoa entra no programa motivada por uma coisa que nem sempre é o
ambiental... nem sempre... o principal agente motivador de produtor rural no programa ambiental nem sempre
é o ambiental né... muitas vezes é o financeiro e isso não tá aliado do que mais precisa [...] a gente sabe que a
gente tá ( ) a sociedade capitalista... que o lucro né o dinheiro ele acaba falando mais alto mesmo que nós
estejamos numa região de pequenas propriedades agricultura familiar mas nós temos grandes proprietários
que o foco dele não é a água... o foco dele é quanto ele vai ganhar com a banana com o café” (Ana Paula
Andrade, Gerente do Consórcio, Guandu Programa Reflorescer, ES)

Muitos dos cidadãos que moram no perímetro urbano não assimilam os caminhos que a água percorre até chegar às
suas casas, consequentemente, desvalorizam o trabalho do agricultor, desperdiçando o recurso hídrico continuamente. Como
dito por uma entrevistada, isto acaba como um depósito de culpa aos produtores rurais, sem considerar os resultados negativos
da acerca do uso sustentável de água, através da falta de uma mediação ou do seu equívoco. Em praticamente todas as falas
deste bloco de depoimentos fica expressa a ausência de um trabalho de sensibilização, de democratização de conteúdo e
mobilização social tanto para os que produzem os alimentos e conservam o ambiente rural, bem como para a população que
vive nas áreas urbanas, onde existe a dificuldade de se promover o uso consciente da água.
“[...] a cidade polui e continua poluindo uma parte bem boa do nosso território” (José do Rosário,
Cacique da Aldeia Areal, Programa Reflorestar, ES)
“[...] quem tá na cidade tem que pagar o ônus porque a gente, gente usa né ???? usa água recebe os
alimentos né tem um ar de uma certa qualidade porque existe lá um local onde as coisas estão
sendo produzidas então o que que é dizer pra ela... olha a cidade precisa entender que a água vem
de algum lugar e que custa alguma coisa... só que eles não tem isso como política da
concessionária” (Ana Paula Andrade, Gerente do Consorcio Guandu, ES)

Sendo assim, ao discorrer sobre a importância da água, é indispensável mencionar o uso do solo pelos produtores, pois
essa utilização está diretamente relacionada ao consumo de água por parte dos produtores na área rural e, consequentemente,
dos técnicos que trabalham nas agências e dos moradores no perímetro urbano.
Portanto, destaca-se a relevância da subjetividade, sobretudo, na perspectiva de todos os envolvidos na pesquisa.
Resta evidente que um dos maiores problemas aparentes, na concepção dos profissionais entrevistados, foi a preocupação com
o consumo exacerbado de água por parte dos produtores para efetuar a irrigação de solo, constituindo-se com um dos maiores
usos consuntivos da água. Entretanto, isso se mostra como um paradoxo perante a população que vive e trabalha no campo,
principalmente, aqueles que atuam com agricultura familiar, uma vez que exigir dos agricultores se conscientizem acerca do
consumo e economia de água de forma imediata, se no perímetro urbano não há uma mediação efetiva para que a população
entenda de onde vem a água e como ela chega pronta para o consumo dessa parcela da população.

1156
“[...] as produtoras não vão fechar a torneira enquanto que as pessoas que estão lá no perímetro
urbano tão lavando a rua tão enchendo piscina [...] (Ana Paula Andrade, Gerente do Consorcio
Guandu, Programa Reflorescer, ES)

Troca de conceitos
Nessa incrível jornada de novas descobertas foi possível compreender e conhecer novos conceitos e termos
relacionados ao uso sustentável da água e manejo do solo, como termos técnicos e termos de uso habitual dos agricultores na
vida de campo. Para além disso, ficou entendível que alguns termos abordados usualmente no curso de graduação em Produção
Cultural servem como instrumentos de acessibilidade e atuação efetiva em outras áreas. Por exemplo, a mediação, neste caso,
funciona também como instrumento de muitas realizações, que pode ser acolhido nos conhecimentos nas áreas de Engenharia
de Recursos Hídricos, Ambiental e de Ciências da Terra, tendo como norte o diálogo adequado entre os profissionais, técnicos,
moradores do perímetro urbano e os produtores rurais familiares.
Nota-se, em uma das entrevistas, que alguns dos profissionais não conheciam o termo “mediação”, não consideravam
que isso poderia ser feito no âmbito da área de recursos hídricos ou não sabiam que este termo se estabelece em variados meios
de atuação. Contudo, não há como culpar os profissionais por esse desentendimento, pois este é um termo que está em
constante desenvolvimento e que nos últimos anos tem ganhado bastante atenção nos estudos culturais, como foi o caso do
artigo apresentado no V ENECULT, por Leonardo Figueiredo Costa, em 2009. Além disso, muitos profissionais acreditam que
a mediação se limita ao âmbito artístico e, por isso, segundo duas entrevistadas, ao demonstrarem ânimo e interesse pela
integração da população, em todos os aspectos, passam a ser vistas como alguém menos credenciado para um trabalho técnico
ao serem comparadas com um romântico. Além dessa fala ser preocupante no que tange aos estudos artísticos como algo que
desvaloriza o que vem do campo inteligível da arte, contribui para o desinteresse em colaborar para uma mediação efetiva dito
que a compreensão desta ainda é muito limitada em meio aos profissionais das áreas de exatas.
Entrevistada - Thaís Teodoro [...] é porque a gente é tratada como romântico por conta dessas coisas
Entrevistador - Rita de Almeida: Não, isso não é romantismo não... isso é trabalho [...] de mediador
cultural” (Fragmento da entrevista)
Contudo, duas pessoas da área se destacaram no entendimento da necessidade de mediar efetivamente tendo como
meta alcançar frutos legítimos, seja na relação de trabalho diário ou nos resultados traduzidos em ações de transformação da
população como um todo. Levar a noção da integridade nas aplicações que essas fazem é um ato de mediação, mesmo que não
tenham consciência clara disto. Nessa mesma entrevista, as entrevistadas destacam que, na medida em que essa mediação é
feita de forma efetiva, surge uma independência dos agricultores familiares dos executores dos projetos, e aplicados de forma
eficiente, tende a ocorrer uma autogestão com a valorização desses atores sociais em relação ao seu trabalho e seus ganhos.
Todavia, enquanto as gravações se avolumavam, surgiram para os seguintes questionamentos: por que não poderia
existir uma abordagem além da execução do projeto para aqueles profissionais? E, por que o ato de manejo de solo e o
consumo, economia e tratamento de água não podem englobar uma prática cultural conjunta? Então, entra em cenário uma
observação acerca da atuação da maioria dos profissionais entrevistados e envolvidos nos projetos de conservação e recarga
hídrica com agricultores familiares: os costumes profissionais, geralmente, não envolvem uma abordagem mais ampla, em
base de perspectivas humanas nas condições de trabalho. Isso acaba sendo um motivo ímpar para as falhas constantes na inter-
relação entre esses pares, desencadeando uma série de problemas que envolvem diversos âmbitos do abastecimento alimentar e
hídrico, geração de energia, como resultantes de um ambiente saudável, economia equilibrada por meio do uso consciente do
solo e da água.
“[...] distribuição de renda pra você estimular o crescimento de pequenos proprietários rurais, o pagamento
por serviço ambiental faz isso como consequência, né, na maior parte das vezes, extrema é o caso mais... mais
claro disso. Mas ele não é o instrumento mais adequado pra você fazer isso, entendeu? Ele é um
instrumento... por ser um instrumento econômico, se a gente começar a... se ele... se a justiça social for::,
vamos dizer assim, não consegue conhecer mais o objetivo principal do pagamento por serviço ambiental
[...]” (Flávio Hermínio de Carvalho, especialista em recursos hídricos da Agencia Nacional de Água – ANA)
“[...]uma reportagem sobre projeto de extrema lá no inicio ganhou notoriedade quando um cara cercou uma
área de nascente em forma triangular, cê lembra disso?... a nascendo fez um triangulo... isso com a benção do
IEF, eu... é órgão florestal lá com a benção de todo mundo [...]”(Flávio Hermínio de Carvalho, especialista
em recursos hídricos da Agencia Nacional de Água – ANA)
“[...] que que é melhor? Você cercar um triângulo ou não cercar nada? O cara fala não, eu quero cercar, mas
não quero cercar aqui oh... aí cê vai falar assim não só aceito cercar se você fizer redondo... falo assim não
então deixa, então cês podem ir embora que que é melhor?” (Devanir Garcia dos Santos, coordenador de
implementação de projetos indutores na Agência Nacional de Águas – ANA)

Para essa análise, apoio os fundamentos teóricos na existência de uma linha abissal entre “um e outro” que,
Boaventura Santos (2009), considera como é uma espécie de linha que divide entre lados visíveis e invisíveis que determinam
um lado subalternado por motivos históricos e globais. O texto de Santos foi escrito com uma abordagem conceitual para
explicar e exemplificar situações de preconceito cultural que, infelizmente, produz ressonância até os dias atuais. Dessa forma,

1157
com o intuito de buscar respostas para os questionamentos supracitados, foi possível fazer uma relação dessa construção
conceitual de Santos para visualizar e entender o trabalho do produtor, do agricultor, do técnico e da população do perímetro
urbano– que, em tese, deveriam auxiliar e valorizar o trabalho realizado no campo, incluindo o entendimento de um ciclo de
situações que se autogerem e dependem – como uma relação cultural que impede a aproximação efetiva do profissional de uma
agencia e/ou os parceiros desta da população como todo, seja no campo ou no perímetro urbano. Os parceiros geralmente
visam apenas o lucro de todo o procedimento efetuado pelos produtores e, consequentemente, não se preocupam em ter um
diálogo satisfatório e adequado com aqueles que trabalham no campo. Nesta linha, o diálogo também fica prejudicado com
aqueles que utilizam a água no perímetro urbano. Além disso, os casos apresentados de tentativa de aproximação por meio de
técnicos que trabalham para empresas, os parceiros de organização não governamentais – ONGs e, eventualmente,
funcionários do Estado debruçam suas mediações em exigências, muitas vezes, impossíveis de cumprir, pelo fato dos
produtores rurais e agricultores familiares dependerem dessa relação, mesmo que seja uma relação claramente parcial e
desigual, conforme fica explicito na fala de Flávio de Carvalho:
“[...] o pagamento por serviço ambiental é mais ou menos assim ele devia ser regulado pelos interesses de
quem tá envolvido tanto provedor quanto comprador... quanto mais regras cê coloca nesse negócio mais cê
desestimula esse pessoal, entendeu? É bom que eles coloquem as regras deles, né, isso deixa o negócio fluir
melhor [...] é questão social questão de valorar o pequeno valorar o orgânico... tudo importa... mas até quanto
até onde eu devo ir pra isso não acabe prejudicando os pequenos entendeu porque às vezes cê pode ter um
projeto que não vai ser o que beneficia melhor o pequeno... se você exigir demais cê vai ter projeto nenhum”
(Flávio Hermínio de Carvalho, especialista em recursos hídricos da Agencia Nacional de Água – ANA)

À vista disso, a justificativa da utilização das afirmações de Santos (2009, p. 23-57) acerca de uma linha que separa
um lado invisível e desvalorizado se torna quase autoexplicativa. Por conseguinte, a apropriação dessas questões faz uma
conexão com a vida do agricultor, principalmente o agricultor familiar, que sofre injustiças conceituais, além de trabalhar em
condições de isolamento de informações. Logicamente, privá-los dos questionamentos sobre ações que influenciam a vida
deles como um todo, se instrumenta, ao mesmo tempo que essa mediação continua sendo realizada de forma inconstante e
inadequada. Ademais, seguindo este raciocínio, é possível comparar a situação hierárquica citada anteriormente à situação de
apropriação/violência, como algo relacionado à regulação/emancipação no ambiente contemporâneo, por deixarem de ser
divididos pelo que ele chama de linha abissal e passam por uma fusão onde fica difícil compreender a diferença entre os dois
lados na atuação (SANTOS, 2009). Nesse caso, a razão da utilização desses termos serve para facilitar e exemplificar o
entendimento do medo e desconforto que foi observado em alguns testemunhos dos entrevistados, principalmente daqueles
submetidos às rédeas de ações e idealizações direcionadas de cima para baixo.

Considerações finais
Participar do trabalho de transcrição e da produção do presente artigo foi, acima de tudo, um grande desafio e também
uma oportunidade para explorar e conhecer novas perspectivas que, de centro, agregaram minha formação acadêmica e
pessoal. Quanto ao desenvolvimento acadêmico, foi importante na medida em que possibilita ampliar o aproveitamento dos
conceitos estudados em sala de aula e visualizar na prática que há diversas maneiras de contribuir, em diferentes áreas. Neste
caso, a base da perspectiva do estudo é de alguém que vive em meio a estudos culturais, museais e patrimoniais,
compreendendo que sempre há novos caminhos a serem seguidos, com novos problemas a serem solucionados. Ou seja, foi
fundamental perceber, efetivamente, o valor interdisciplinar da área e dos conceitos abordados no curso de bacharelado em
Produção Cultural.
O valor deste trabalho se estende ao raciocínio da conservação da água, por meio do uso sustentável do solo por
agricultura familiar, como garantia para o consumo da área urbana. E, ao mesmo tempo, trouxe a percepção da distância das
populações das cidades em relação às demandas da economia de água, pois, por mais que todos ouçam durante o ensino básico
a importância da água e tudo que envolve a qualidade e quantidade desta, não é cultural da maior parte dos civis do perímetro
urbano saberem os caminhos por ela percorridos até chegar nos canos da casa onde vivem. Isso é algo que precisa ser trabalho
desde o berço, da mesma forma que o Cacique José do Rosário, da Aldeia Areal, ES, demonstrou na entrevista, ao passar todo
o afeto como indivíduo e como ser coletivo, para um elemento busca fornecer uma vida digna à comunidade como um todo,
sem perder os princípios da tradição/costumes, cuidados ambientais e laços familiares.
Diante do objetivo de pesquisa, é factível que os índios passaram maior entendimento e valorização sobre práticas
sustentáveis para do mundo como um todo. Dessa forma, é nítido perceber que, ao se compreender a magnitude do ser e suas
ações demonstram a imprescindibilidade de uma relação íntegra e delicada com a natureza. E, também, pode-se observar como
produtores, agricultores e técnicos mais apropriados do trabalho, não apenas do sentido do labor, entendem a importância de
sua atuação efetiva para a permanência de um manejo de solo saudável no território onde trabalham, bem como compreendem
a intrínseca relação entre ele e os danos causados aos demais usuários e população do perímetro urbano, que depende dessas
relações solidificadas para garantia de água em qualidade e quantidade para todos, associado à ao fato de minimiza possíveis
danos por eventos extremos, seja por escassez ou excesso.

1158
Agradecimentos
Gostaria de agradecer à minha querida professora Dra. Adriana Russi por proporcionar a perfeita mediação entre eu e
a Rita de Almeida, pois, sem a indicação dela, isso nunca seria possível. Um especial agradecimento também à Rita, por
viabilizar essa incrível oportunidade de amadurecimento pessoal e acadêmico, possibilitando uma reflexão mais ampla acerca
de temas que venho estudando.

Referências bibliográficas
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de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 2009. Disponível em: <www.cult.ufba.br/enecult2009/19356.pdf > Acesso em 09 de
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VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento Sustentável: o desafio do Século XXI, Editora Garamond, Rio de Janeiro, 2008

1159
5SSS262
UTILIZAÇÃO DE CONSTITUINTES METÁLICOS NA AVALIAÇÃO
AMBIENTAL DA REPRESA AMADOR AGUIAR ll - MG
Maria da Graça Vasconcelos1, Hugo Gomes Amaral2, Arthur Dias Freitas3, Angélica
Pereira da Cunha4
1
Universidade Federal de Uberlândia, e-mail: mgvas@ufu.br; 2Universidade Federal de Uberlândia,
e-mail: hugogamaral@gmail.com; 3Universidade Federal de Uberlândia, e-mail: arthurdiasfreitas@gmail.com;
4
Universidade Federal de Uberlândia, e-mail: angelicap_cunha@hotmail.com

Palavras-chave: Ecossistema aquático; Água e sedimentos; Metais dissolvidos.

Resumo
Os sedimentos dos sistemas aquáticos são considerados substratos para uma grande variedade de organismos que vivem na
água. O conhecimento da composição química dos sedimentos é de grande relevancia podendo fornecer importantes
informações a respeito do ambiente estudado. O reservatório da Usina Hidrelétrica Amador Aguiar II, no Rio Araguari - MG,
sofre a influência do uso e ocupação do solo na sua área de drenagem devido a proximidade com três cidades, Uberlândia,
Araguari e Indianópolis. O objetivo deste projeto foi avaliar a qualidade desse ecosistema aquático em relação as alterações
espaciais das concentrações dos constituintes metálicos dissolvidos na água e nos sedimentos marginais, coletados em seis
diferentes pontos da represa. Foram avaliadas, também, as propriedades físico-químicas da água do local. Nas amostras de
agua foram significativas as concentrações de Al, Ba, Ca, Cu, Fe, K e Li. Enquanto que nas amostras de sedimentos foram
identificadas e quantificadas sa concentrações de Al, Cd, Cr, Cu, Fe, Ni, Pb e Zn. As análises foram realizadas utilizando-se
Espectrometria de Emissão Óptica por Plasma Acoplado Indutivamente (ICP - OES). Os resultados obtidos para as amostras
de água foram comparados com os valores estabelecidos pela Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente -
CONAMA 357/05, observando-se que a concentração dos metais Al, Cu e Fe superaram os limites definidos pela legislação
em pelo menos um ponto de amostragem. Os resultados das amostras de sedimentos foram comparados com os valores
estabelecidos pela Resolução CONAMA 454/12. Concentrações maiores dos metais foram encontradas em pontos com maior
atividade humana e de descarga de efluente. As características do solo da região também influenciam nos valores encontrados.
Os resultados evidenciam a importância da continuidade dessa pesquisa e do continuo monitoramento do reservatórios
considerando as atividades antrópicas em seu entorno.

Introdução

A água é um recurso natural com significativa importância para o equilíbrio do meio ambiente, relacionando-se diretamente à
estabilidade das comunidades aquáticas, ao ciclo hidrológico e à manutenção da vida no planeta, possuindo papel essencial às
atividades humanas. (RODRIGUES et al., 2016).

Segundo Von Sperling (2014), um dos parâmetros utilizados para classificar a qualidade da água é a quantidade de
micropoluentes inorgânicos dissolvidos ou em suspensão, grupo no qual se encontram os metáis, que em pequenas
concentrações, são fundamentais e essenciais ao corpo humano, porém uma vez maiores concentrações podem atribuir
características de toxicidade à água, tornando-a inadequada a grande parte de seus potenciais usos. O interesse e a relevância
nos estudos de constituintes metálicos em água e sedimentos ocorre devido a sua potencial alta toxicidade, alta persistência no
meio e rápida acumulação nos organismos aquáticos. Nesse processo, os sedimentos atuam como agentes carreadores de
metais, além de serem fonte potencial de contaminantes (MARQUES, 2016).

O conhecimento sobre os sedimentos dispostos nos ecossistemas aquáticos é de fundamental importância para a caracterização
do curso fluvial e da qualidade da água do local. Assim, o monitoramento e a avaliação da qualidade das águas superficiais e
caracterização dos sedimentos são fatores primordiais para a adequada gestão dos recursos hídricos, permitindo a análise de
tendências em bacias hidrográficas, sendo essenciais para várias atividades de gestão. (ANA, 2012).

Essa pesquisa teve como objetivo caracterizar as alterações espaciais das amostras de agua e sedimentos da Represa Amador
Aguiar II, em relação aos constituintes metálicos, devido a sua alta toxicidade, alta persistência no meio e rápida acumulação

1160
nos organismos aquáticos. Como os sedimentos podem ser fonte potencial de contaminantes do sistema aquático, é importante
que se mantenha o monitoramento da represa, evitando que no futuro esses metais sejam liberados para a água, podendo afetar
a biota e o uso da água.

Materiais e Métodos

Área de estudo

A Usina Hidrelétrica Amador Aguiar II é do tipo fio d’água seu reservatório abrange uma área de aproximadamente 45 km² e
ocupa um volume próximo de 873 milhões de m3. A represa localiza-se no Rio Araguari - MG, entre os municípios de
Uberlândia, Araguari e Indianópolis. A área em volta da represa possui vegetação nativa, propriedades rurais, pastagens,
plantações, instituição rural de ensino e área de lazer. Os pontos de coleta estão representados na Figura 1.

Figura 1: Localização dos pontos de coleta de agua e sedimentos na represa


Fonte: Adaptado de imagem do Google Earth pelos autores.

Os seis locais de coleta de água e sedimentos marginais foram escolhidos de modo a representar o corpo hídrico como um
todo, contemplando áreas distantes de qualquer interferência humana, áreas de descarga de pequenos córregos, áreas onde são
lançados efluentes e áreas de recreação.

Amostragem e Análise

O procedimento de coleta envolveu o translado de barco para cada um dos pontos. Foi elaborado um plano experimental
específico de amostragem e identificação dos pontos de coleta de amostras de agua e sedimentos marginais, em coordenadas
geográficas, conforme Figura 2.

1161
P1 P2

18º46’51.9”S e 48º14’19.5”W 18º45’53”S / 48º15’44.5”W

P3 P4

18°45’20,2” S e 48°16’02,3” W 18°45’20,0”S e 48°16’35,4”W

P5 P6

18°45’33,7”S e 48°16’46,2”W 18°45’33,3”S e 48°16’51,5”W

Figura 2: Pontos de amostragem de água e sedimentos no Reservatório da Usina Hidrelétrica


Amador Aguiar II - MG.
Fonte: Os autores.

As amostras foram analisadas utilizando-se Espectrometria de Emissão Óptica por Plasma Acoplado Indutivamente (ICP -
OES), da Agilent Technologies, modelo 5100. As amostras de agua foram submetidas aos procedimentos de acidificação e
filtração. As amostras de sedimentos passaram por proceso de digestão ácida, segundo as normas Standard Methods for the
Examination of Water and Wastewater (APHA, 2017), para reduzir a interferência causada pela matéria orgânica na leitura do

1162
ICP-OES. Os parâmetros físico-químicos da água foram obtidos com o uso da Sonda Multiparâmetros modelo HI 9829 da
marca Hanna Instruments.

Os resultados das análises dos constituintes metálicos para as amostras de agua foram comparados com os valores
estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005. Enquanto que, para os sedimentos foram usados os Níveis 1 e 2 de
Classificação do Material a ser Dragado dispostos na Resolução CONAMA nº 454, de 2012.

Resultados e Discussâo

Na Tabela 1 estão relacionados os resultados da avaliação dos parâmetros físico-químicos da água, que foram comparados com
os valores estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 357/05.

Tabela 1: Parâmetros avaliados para a água e os valores estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 357/05.

CONAMA
Parâmetros P1 P2 P3 P4 P5 P6
357/05
Temperatura 22,17 22 26,21 26,11 26,45 26,54 -
(°C)
pH
6,97 6,72 6,7 6,48 6,49 6,76 6,0 a 9,0
Oxig. Dissolv.
6,39 6,92 6,59 6,93 7,21 7,08 >5
(mg/L)
Cond. Elétrica
71 72 36 36 42 44 -
(µS/cm)
Resistividade
0,0141 0,0290 0,0286 0,0278 0,0238 0,0227 -
(MΩ.cm)
TDS
35 28 18 18 21 22 < 500
(ppm)
Potencial de
168,5 167,4 186,2 193,8 195,5 178,3 -
Oxirred. (mV)
Salinidade
0,03 0,03 0,02 0,02 0,02 0,02 < 0,50
(PSU)
Turbidez
34,8 34 2,6 2,2 3,4 2,3 < 100
(FNU)

Os valores dos parâmetros físico-químicos avaliados para a água ficaram de acordo com os valores estabelecidos pela
Resolução CONAMA nº 357/05. A concentração de sólidos totais dissolvidos (TDS) contém uma parcela dos metais totais do
reservatório, sendo que a outra parte se encontra em suspensão.

Os valores médios obtidos das amostras coletadas em triplicatas estão relacionados na Tabela 2, para os metais aluminio,
bário, cálcio, cobre, ferro, potássio e lítio, seguidos dos respectivos valores estabelecidos na Resolução CONAMA 357/2005.

Na Tabela 3 foram apresentados os resultados médios das concentrações de metais nas amostras de sedimentos. Foram
utilizados como valores de referência para cádmio, cromo, cobre, níquel, chumbo e zinco, valores estabelecidos na Resolução
CONAMA nº 454/2012, sendo o Nível 1: Threshold Effect Level (Nível de Efeito Limiar) ou TEL e o Nível 2: Probable
Effect Level (Nível de Efeito Provável) ou PEL.

Foram utilizados como valores de referência para cádmio, cromo, cobre, níquel, chumbo e zinco, valores estabelecidos na
Resolução CONAMA nº 454/2012. Esses valores apresentam-se em dois níveis: Nível 1, também tido como TEL,
caracterizado como nível de efeito limiar, ou seja, limiar abaixo do qual há menor probabilidade de efeitos adversos à biota; e
Nível 2 ou PEL, nível de efeito provável ou limiar acima do qual há maior probabilidade de efeitos adversos à biota.
(VASCONCELOS, 2017).

1163
Tabela 2: Valores de referência da Resolução CONAMA 357/2005 e valores médios das concentrações (mg/L) de metais nas
amostras de água nos seis pontos amostrados.

Metais CONAMA 357 P1 P2 P3 P4 P5 P6

Al 0,1 0,124±0,035 0,206±0,024 0,127±0,012 0,114±0,000 0,107±0,005 0,188±0,074


Ba 0,7 0,027±0,003 0,038±0,011 0,019±0,005 0,021±0,009 0,017±0,001 0,043±0,005
Ca - 1,986±0,090 6,520±0,094 2,064±0,012 1,905±0,013 2,229±0,026 4,624±0,038
Cu 0,009 0,032±0,031 0,006±0,001 0,014±0,001 0,008±0,000 0,007±0,000 0,008±0,000
Fe 0,3 0,105±0,097 0,623±0,016 0,044±0,008 0,010±0,003 0,043±0,004 0,345±0,017
K - 6,725±0,216 8,399±0,033 2,683±0,005 19,373±0,040 13,897±0,147 12,6506±0,031
Li 2,5 0,005±0,000 0,003±0,000 0,004±0,001 0,004±0,000 0,004±0,001 0,003±0,000

Tabela 3: Valores de Referência da Resolução CONAMA 454/2012 para TEL e PEL e valores médios das concentrações
(mg/kg) de metáis nas amostras de sedimentos nos seis pontos amostrados.

CONAMA 454/2012
Metais P1 P2 P3 P4 P5 P6
TEL PEL

Al - - 850,82 ± 126,09 153,73 ± 22,32 141,93 ± 30,16 188,02 ± 26,42 119,01 ± 12,46 527,88 ± 73,17
Cd 0,6 mg/kg 1 3,5 mg/kg 2 0,18 ± 0,01 0,05 ± 0,01 0,02 ± 0,01 0,05 ± 0,001 0,04 ± 0,01 0,12 ± 0,01
Cr 37,3 mg/kg 1 90 mg/kg 2 0,71 ± 0,19 0,43 ± 0,13 0,21 ± 0,04 0,65 ± 0,05 0,52 ± 0,09 0,44 ± 0,06
Cu 35,7 mg/kg 1 197 mg/kg 2 0,83 ± 0,10 0,26 ± 0,04 0,13 ± 0,01 0,21 ± 0,01 0,16 ± 0,01 0,82 ± 0,09
Fe - - 149,03 ± 32,30 231,83 ± 33,79 11,17 ± 4,94 242,99 ± 13,29 387,07 ± 17,53 500,01 ± 19,46
Ni 18 mg/kg 1 35,9 mg/kg 2 0,24 ± 0,07 0,09 ± 0,01 0,07 ± 0,01 0,12 ± 0,01 0,11 ± 0,01 0,20 ± 0,03
Pb 35 mg/kg 1 91,3 mg/kg 2 0,16 ± 0,04 0,07 ± 0,01 0,10 ± 0,01 0,10 ± 0,01 0,05 ± 0,01 0,11 ± 0,01
Zn 123 mg/kg 1 315 mg/kg 2 1,20 ± 0,06 0,36 ± 0,04 0,31 ± 0,02 0,32 ± 0,03 0,31 ± 0,07 0,93 ± 0,09

1 2
: TEL - Threshold Effect Level (Nível de Efeito Limiar) : PEL - Probable Effect Level (Nível de Efeito Provável).

Foram utilizados como valores de referência para cádmio, cromo, cobre, níquel, chumbo e zinco, valores estabelecidos na
Resolução CONAMA nº 454/2012. Esses valores apresentam-se em dois níveis: Nível 1, também tido como TEL,
caracterizado como nível de efeito limiar, ou seja, limiar abaixo do qual há menor probabilidade de efeitos adversos à biota; e
Nível 2 ou PEL, nível de efeito provável ou limiar acima do qual há maior probabilidade de efeitos adversos à biota.
(VASCONCELOS, 2017).

Os metais dissolvidos nas águas do reservatório Amador Aguiar II que possuíram concentrações significativas foram Al, Ba,
Ca, Cu, Fe, K, Li. Destes, o alumínio, o cobre e o ferro apresentaram concentrações superiores às estabelecidas pela Resolução
nº 357/2005 do CONAMA para corpos hídricos de classe 2, tornando-a imprópria para abastecimento público sem tratamento
prévio. Destaca-se a concentração elevada do cobre, que é um metal que oferece risco à saúde humana.

Apesar de não possuírem valores estabelecidos pela resolução, o cálcio e o potássio, apresentaram concentrações elevadas,
principalmente em P4, P5 e P6, que são pontos relacionados com as atividades de lazer e com a descarga de efluentes do
Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM). Estes elementos, na forma de cloretos, são utilizados para tratamento biológico
de efluentes, o que pode justificar suas elevadas concentrações no corpo d’água avaliado.

Em relação a concentração de metais nos sedimentos, pode-se observar que houve diferença significativa do alumínio nos
pontos P1 e P6 ao longo da represa, pode-se dizer que a concentração desse metal apresentou variação espacial significativa.
Fato que pode estar relacionado à presença de matéria orgânica, poeiras de solos e erosão. Além disso, os solos da região são
do tipo latossolo, ricos em alumínio.

1164
O cádmio está presente, principalmente na área próxima à rodovia P1, contribuindo para que a concentração desse metal seja
maior nessa área. Nas outras áreas a poluição pode ocorrer devido aos fertilizantes, poluição do ar ou vindo como impureza de
tubulações galvanizadas e soldas. Os valores das concentrações de cádmio foram inferiores ao limiar mínimo estabelecido pelo
CONAMA 454/2012.

O cromo se manteve abaixo do valor de referência, não vindo a ser caracterizado como poluição e/ou prejudicial ao ambiente.
Possíveis fontes emissoras do cromo podem ser fertilizantes, tintas, pigmentos e estruturas de construção civil. O cobre
apresentou suas maiores concentrações nos pontos 1 e 6, indicando possível contaminação nessas áreas próximas às atividades
humanas e descarga de efluentes, respectivamente, podendo ser por efluentes de esgotos, precipitação atmosférica de fontes
industriais e corrosão de tubulações. O cobre não apresentou valores acima dos limites de referência.

O níquel apresentou diferenças significativas de concentrações o maior valor observado foi no Ponto 1 seguido do Ponto 6, as
maiores concentrações foram observadas em áreas próximas às ações antropogênicas, que podem levar esse metal ao corpo
hídrico. Os valores permaneceram abaixo do limite estabelecido na legislação.

O chumbo por estar presente no ar, pode ocorrer por deposição atmosférica ou por lixiviação do solo. Os valores encontrados
estão dentro dos estabelecidos. Os valores do zinco apresentaram variação significativa, sendo o P1 o de maior concentração e
o P6 um dos menores. Ainda assim, os valores das concentrações foram inferiores aos valores de referência.

Conclusões

O constituinte metálico presente nas amostras se sedimentos do reservatório Amador Aguiar II que apresentou concentração
significativa foi o alumínio, pelo tipo de solo da região, que é rico em alumínio. Como a coleta foi realizada no período
chuvoso, acredita-se que os processos de lixiviação, infiltração, carreamento e erosão que chegam ao reservatório contribuem
para a presença de metais no reservatório, evidenciando que o local sofre com os usos e ocupações do solo na bacia.

É importante notar que P1, P5 e P6 apresentaram as maiores concentrações dos constituintes metálicos. Esses pontos sofrem
muita influência de ações antropogênicas, uma vez que o P1 está localizado próximo à rodovia e P5 e P6 são próximos a área
de lazer do local, justificando maiores valores nas concentrações de constituintes metálicos do que os outros pontos.
Considerando-se que, o Reservatório Amador Aguiar II pode ser, se necessário, utilizado como complementação do
abastecimento de água do município de Uberlândia e região, futuramente, é necessário manter a continuidade desse estudo.

Referências

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Espectrômetro de Massa (ICP-MS). Disponível em: <http://www.airproducts.com.br/industries/Analytical-
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1166
5SSS263
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A IMPORTÂNCIA DOS MONUMENTOS
ARQUITETÔNICOS
Evanisa Fátima Reginato Quevedo Melo1, Ana Paula Schuster2, Guilherme Amarante Zanotto3, Isabela
Rodighero4, Marcia Cristina Huther5, Thais Maria Rossetto6, Jhulia Arent Kuhn7, Ricardo Henryque
Reginato Quevedo Melo8
1Universidade de Passo Fundo, e-mail: evanisa9@gmail.com;; 2Universidade de Passo Fundo, e-mail:
152148@upf.br; 3Universidade de Passo Fundo, e-mail: 160162@upf.br; 4Universidade de Passo Fundo, e-mail:
147897@upf.br; 5Universidade de Passo Fundo, e-mail: marciahuther@upf.br; 6Universidade de Passo Fundo, e-
mail: thaisrossetto@outlook.com; 7Universidade de Passo Fundo, e-mail: jhuliakhun@outlook.com; 8IMED, e-
mail: rodrigohquevedo@gmail.com

Palavras-chave: Educação Ambiental; Cultura; Monumentos Arquitetônicos

Resumo
Este artigo busca discutir a relevância da educação ambiental durante a vida acadêmica de crianças e jovens de forma a
reconhecer e se apropriar do conhecimento dos monumentos arquitetônicos históricos, que são marcos mundiais de cultura e
evolução urbana. Essas atividades são desenvolvidas no Lar da Menina da Fundação Lucas Araújo, através de exercícios
voltados a prática da conservação da natureza e do incentivo ao interesse pelos espaços urbanos histórico-culturais do mundo.
A motivação justifica-se em decorrência do baixo índice de inserção cultural da população, visto que, atualmente, o interesse
das novas gerações pelo contexto cultural encontra-se escasso. Com isso, diante do cenário atual, no qual a violência e a
descriminalização se fazem presentes no cotidiano de crianças e jovens, é de suma importância incentivar o interesse pela
cultura e a pela preservação dos espaços. Para o desenvolvimento do estudo, o projeto apresenta às alunas os principais
monumentos arquitetônicos mundiais, utilizando metodologias teórico-práticas. Constatou-se, portanto, que ao realizar as
atividades as alunas demonstraram grande interesse, questionando de forma frequente o funcionamento dos monumentos e
demonstrando carência de conhecimento cultural. Com isso, percebe-se a importância da educação ambiental inserida no
cotidiano da sociedade, desde o princípio de sua jornada acadêmica, ou seja, desde quando o indivíduo começa a desenvolver
suas ideologias, pois através dela é possível entender a relação dos espaços construídos a natureza e em como esses elementos
modificadores podem influenciar de forma direta na qualidade de vida da população.

Introdução
Entende-se que a cultura está ligada diretamente com a natureza, visto que ambos possuem relação com o cultivo e com a
preservação dos bens comuns da população mundial. O conceito de cultura tem sua raiz etimológica próxima à da palavra
natureza, tendo como significados primordiais o cultivo e o cuidado com a terra, quer dizer, a relação de colaboração entre o
homem e a natureza (EAGLETON, 2005; GRYGIEL, 2002). Dessa forma, pode-se afirmar que a educação ambiental deve
englobar conceitos baseados na preservação do meio ambiente e também na conservação de bens histórico-culturais, portanto,
conservar os monumentos arquitetônicos é de extrema importância, visto que, são elementos que carregam consigo um vasto
histórico urbano e social.
Educação ambiental é uma metodologia utilizada para instruir a população a preservar o meio ambiente, porém, não se limita
somente a conservação dos espaços naturais. Educar as pessoas para que cuidem do ambiente em que vivem é um dos
princípios da educação ambiental, dessa forma, deve-se instigar a população a preservar a natureza através do cuidado com o
meio urbano. O mundo tem-se tornado cada vez mais urbano, e as cidades de hoje comportam já mais da metade da população
do planeta (SILVA e ROMERO 2013), dessa forma, entende-se que a paisagem urbana tem se modificado constantemente, e
esse fator tem resultando em cidades pouco sustentáveis, ocasionando no aumento da degradação ambiental, logo, educar
crianças e jovens para que preservem os espaços naturais e urbanos é essencial. A educação ambiental deve levar em
consideração a ideia de que existem diferentes tipologias de ambientes, dessa forma, pode-se classificá-los como ambientes
naturais, que se encontram preservados, ou seja, aqueles que não sofreram transformações em decorrência das ações do
homem, e os ambientes modificados, que possuem elementos transformadores, implementados na área através das ações
humanas. Esses elementos modificadores, em sua maioria, são edifícios e monumentos arquitetônicos que modificam a
paisagem urbana e influenciam na funcionalidade natural da região. O que se chama de natureza ou meio ambiente é um
conjunto de elementos vivos e não-vivos que constituem o planeta Terra. Todos esses elementos relacionam-se influenciando e
sofrendo influência entre si, em um equilíbrio dinâmico (GUIMARÃES, 1995). Dessa forma, pode-se afirmar que a natureza é

1167
composta de elementos vivos e não vivos, sendo que, os monumentos construídos pelo homem, atuam como elementos
estruturadores da natureza urbana, e foram inseridos em nosso habitat natural, modificando a paisagem nativa e originando
assim um espaço modificado. Entendem-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (Política Nacional de
Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999, Art 1º). Assim, conclui-se que a Educação Ambiental é uma ferramenta de extrema
importância para a evolução da sociedade, podendo ser caracterizada como uma atividade de cunho ético- cultural, que busca
estimular os indivíduos e orientá-los a preservar o espaço em que habitam, seja ele um espaço natural ou modificado.
Com isso, inserir a educação ambiental no cotidiano da sociedade, desde o princípio de sua jornada acadêmica, ou seja, desde
quando o indivíduo começa a desenvolver suas ideologias é um dever das instituições de educação básica, que devem estar
preparadas para apresentar aos alunos a temática, tanto no âmbito teórico quanto no prático. O educador tem a função de
mediador na construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma
prática social centrada no conceito da natureza (JACOBI, 2000).
A finalidade imediata da educação (muitas vezes não cumprida) é a de tornar possível um maior grau de consciência, ou seja,
de conhecimento, compreensão da realidade da qual os seres humanos, são parte e na qual atuam de forma teórica e pratica
(RIBEIRO, 2001), instruir as crianças a desenvolver a consciência de que são parte da natureza é fundamental, pois, assim,
entenderão que a forma como vem as cidades influencia diretamente em como cuidar desse espaço.
É importante que as novas gerações entendam como as cidades se desenvolveram a partir da natureza, ou seja, como se
apropriar dos espaços e criar o meio urbano. Os marcos históricos servem como ponte entre o passado e o presente, através
deles aprende-se sobre a evolução do homem, sua cultura e o desenvolvimento da sociedade. Dessa maneira, assim como a
natureza, a arquitetura histórica é considerada um elemento cultural, que deve ser preservado e estudado desde os primórdios
da vida educacional da população.
Partindo dessa concepção, o projeto apresenta às crianças os principais monumentos arquitetônicos mundiais, a fim de
estimular o interesse pela história das cidades, pela arquitetura e pelo urbanismo, visto que, os monumentos são elementos
fundamentais no processo de urbanização, e através deles percebe-se a apropriação dos espaços naturais devido a ação do
homem. Logo, preservar a história e a cultura dos espaços urbanos complementa a educação ambiental.

Objetivo
Este artigo possui como principal objetivo discutir a relevância da educação ambiental referente a reconhecer e se apropriar do
conhecimento dos monumentos arquitetônicos históricos, que são marcos mundiais de cultura e evolução urbana.

Material e Métodos
A pesquisa foi realizada na Instituição Lar da Menina da Fundação Beneficente Lucas Araújo, na cidade de Passo Fundo/RS, e
envolveu cerca de 30 estudantes entre dez e quatorze anos de idade que se empenharam para desenvolver as diversas atividades
lúdicas e educativas propostas. A educação ambiental procura disseminar e sensibilizar a problemática ambiental, visando
atingir este propósito, realizou-se atividades teóricas e práticas na escola. Foi desenvolvida uma metodologia para sensibilizar
as estudantes em sala de aula a fim de prepara-las para a proposta de reconhecer alguns monumentos históricos e a importância
em relação ao contexto urbano.
Foi realizada uma discussão entre os professores e acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Passo
Fundo de como abordar o assunto. Assim a partir do contato com as alunas identificou-se a necessidade de selecionar algumas
obras, para dar inicio selecionando-se monumentos reconhecidos internacionalmente.
Para o desenvolvimento elaborou-se um cronograma de atividades. Cada aula ministrada pelo grupo, possuía uma breve
apresentação digital, contendo apenas as informações mais relevantes da obra. Além disso, foram providenciados moldes para
a confecção das miniaturas de papel, que resultaram em uma atividade pratica e lúdica, na qual a criança além de aprender
sobre o monumento histórico, desenvolve sua coordenação motora e seu raciocino ao encaixar as partes indicadas através de
linhas tracejadas, unindo segmentos que resultam em uma espécie de quebra-cabeças. Dessa forma, além de incentivar o
interesse cultural pelos espaços históricos e arquitetônicos, a atividade apresenta um método teórico-prático que estimula o
desenvolvimento motor das crianças, atuando como metodologia de ensino eficaz, visto que a atividade torna-se leve e
descontraída, por meio da integração entre professores e alunos.
Para a elaboração das maquetes de papel, foram utilizados materiais acessíveis, que estavam disponíveis na própria instituição,
como tesouras e colas, o laboratório forneceu os moldes dos monumentos, que através de dobraduras dão forma aos elementos,
resultando em pequenas representações das obras.
A atividade teve início com a montagem dos moldes dos monumentos mundiais selecionados, como a Estátua da Liberdade, a
Torre Eiffel e o Arco do Triunfo, conforme Figuras 1, 2 e 3.

1168
Figura 1: Molde Estátua da Liberdade.

Figura 2: Molde Torre Eiffel.

1169
Figura 3: Molde Arco do Triunfo.

Após o termino da atividade as alunas puderam levar para casa a maquete ou “paper toy” realizado por elas mesmas, todo esse
trabalho as diverte e estimula que em cada fase a criança alcance um novo objetivo e desenvolva novas capacidades.
Posteriormente, a equipe pretende dar continuidade ao projeto com a confecção dos monumentos nacionais, como o Cristo
Redentor, enfatizando a importância dos marcos arquitetônicos do nosso país.

Resultados e Discussão
A análise dos resultados permite enfatizar e vem de encontro as afirmações de Teixeira e Volpini (2014) que com as atividades
recreativas o professor obtém informações sobre seus alunos além de estimulá-los na criatividade, autonomia, interação com
seus pares, na construção do raciocínio lógico matemático, na representações de mundo e de emoções, ajudando assim na
compreensão e desenvolvimento do universo cultural. Nesses momentos de aprendizagem é possível observar a forma como as
alunas demonstram seus sentimentos, bem como o modo que aprendem a esperar sua vez e a compartilhar, desenvolvendo o
companheirismo ao mesmo tempo que procura compreender as regras presentes nas atividades lúdicas, de modo que interajam
com o meio, desenvolvendo a sociabilidade (NILES e SOCHA, 2014).
Com o desenvolvimento das dobraduras, percebe-se o elevado interesse que as alunas possuem pela história e pelo
funcionamento dos monumentos arquitetônicos. Os questionamentos são variados, como, por exemplo, perguntas sobre o
porquê da obra possuir determinada forma, a comparação entre alturas dos monumentos, quantos anos demorou para que fosse
concluída sua construção, se o acesso de visitantes é pago ou gratuito e até mesmo se existem sanitários no interior dessas
edificações. Com isso, constatou-se que muitas das obras apresentadas não eram conhecidas, demonstrando, assim, o
distanciamento entre a educação ambiental e a cultura histórica durante o ensino fundamental, porém percebe-se o crescente
interesse que as alunas apresentam com o decorrer das aulas, agregando conhecimentos sobre os espaços urbanos e instigando
o interesse pela urbanização mundial. Demonstra-se nas Figuras 4, 5 e 6, o resultado dos elementos confeccionados pelas
crianças e percebe-se o entusiasmo em saber qual será a próxima obra a ser realizada a maquete.

Figura 4: Arco do Triunfo realizada em papel.

1170
Figura 5: Torre Eiffel realizada em papel

No cenário atual a violência e a criminalização está muito presentes no cotidiano da população e as novas gerações não
demonstram grande interesse pelas questões históricas dos marcos culturais, por diversas razões. Assim com estas maquetes
permite-se a inserção cultural da população na preservação dos espaços atuando como ponte entre o passado e o presente,
aprende-se sobre a evolução do homem, sua cultura e o desenvolvimento da sociedade. Dessa maneira, assim como a natureza,
a arquitetura histórica é considerada um elemento cultural, que deve ser preservado e estudado desde os primórdios da vida
educacional da população.

Figura 6: Estátua da liberdade em papel.

O envolvimento dos professores, bolsistas e alunas com as atividades propostas tem apresentado resultados positivos, podendo-
se destacar a alegria na realização das tarefas. Ao final da atividade cada aluna, pode levar para casa uma miniatura da maquete
em papel, montado por elas mesmas de modo que pudessem interagir e aprender sobre o marco histórico. A tarefa além de
estimular a interação social, ajuda a desenvolver a coordenação motora bem como estimula a busca por curiosidades sobre a
obra e como preservar de forma sustentável.

1171
Comentários Finais

Com o desenvolvimento do projeto nota-se a importância de estimular crianças e jovens a curiosidade sobre a história e cultura
mundial, principalmente no que se refere aos monumentos arquitetônicos e seu meio urbano. Com isso, as crianças
desenvolvem o interesse pelo conhecimento sociocultural, além de perceberem o funcionamento no meio urbano, no qual o
homem interfere e modifica dia a dia.

Referências bibliográficas

BRASIL. Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999, Art 1º. Conceitos de Educação Ambiental.

EAGLETON, T. A ideia de cultura. São Paulo: UNESP, 2005.

GRYGIEL, S. L'uscita dalla caverna e la salita al Monte Moria: Saggio su natura e civiltà. Il Nuovo Aeropago, v. 19, n. 2/3, p.
25-61, 2002.

GUIMARÃES, Mauro. A dimensão ambiental na educação. São Paulo: Papirus, 1995.

JABOBI, P. Educação Ambiental, cidadania e sustentabilidade. Rede de relações: os sentidos da educação ambiental na
formação de professores. São Paulo, 2000. Tese (Dout.) Feusp.

NILES, R.; SOCHA, K. A Importância Das Atividades Lúdicas Na Educação Infantil. Ágora Revista de Divulgação Científica,
v.19, p.86, 2014.

RIBEIRO, Maria Luisa Santos. Educação Escolar: que prática é essa? Campinas: Autores Associados, 2001.

SILVA, G. J. A. da; ROMERO, M. A. B. Cidades sustentáveis: uma nova condição urbana a partir de estudos aplicados a
Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso, Brasil. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 13, n. 3, p. 253-266, jul./set. 2013.

TEIXEIRA, H; VOLPINI, M. A importância do brincar no contexto da educação infantil: creche e pré-escola. Cadernos de
Educação: Ensino e Sociedade. Bebedouro-SP, p.78, 2014

1172
5SSS264
ESTUDO DE MODELAGEM PARA MONITORAMENTO
HIDRLÓGICO NA BACIA DO RIO MADEIRA
Guilherme Jordão Cardoso1, Franco Turco Buffon 2, João Pedro Endres3, Lucas Carvalho Vier 4, Fábio
Augusto Henkes Huppes5, Rodrigo Henryque Reginato Quevedo Melo6 Ricardo Henryque Reginato
Quevedo Melo7
1Universidade de Passo Fundo, e-mail: 180291@upf.br; Pesquisador em Geociências, CPRM – Serviço Geológico
do Brasil, Superintendência de Porto Alegre. franco.buffon@cprm.gov.br.; 3Universidade de Passo Fundo, e-mail:
132313; 4Universidade de Passo Fundo, e-mail: 180293; 5Universidade de Passo Fundo, e-mail: 180290;
6Universidade de Passo Fundo, e-mail: rodrigohquevedo@gmail.com, 7Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, e-mail: ricardohquevedo@gmail.com.

Palavras-chave: Modelagem Hidrológica, rio Madeira, bacia Amazônica.

Resumo
O presente trabalho consistiu na modelagem hidrológica da bacia do rio madeira utilizando o modelo de grandes bacias MGB-
IPH. A modelagem hidrológica é uma importante ferramenta para previsão de possíveis eventos extremos e de auxílio na
gestão de seus impactos em municípios e comunidades que vivem em suas margens. A aplicação do modelo MGB-IPH na
bacia do rio Madeira teve como objetivo iniciar os estudos dos principais processos hidrológicos que ocorrem na bacia e
calibrar os parâmetros necessários para sua representação, afim de que se possa gerar um modelo hidrológico com base em
transformação de chuva em vazão mais próximo da realidade, para que futuramente implantar um sistema de alerta com
previsões de níveis com maior antecedência. A implantação deste sistema, irá auxiliar as defesas civil, a gestão pública e
contribuirá para os estudos ainda escassos na bacia do rio madeira, melhorando o entendimento da sua capacidade hídrica,
podendo gerar políticas e medidas para melhor preservar e utilizar os recursos da região.

Introdução

A exploração da região amazônica em busca de seu desenvolvimento por meio da agricultura, pecuária, grandes construções,
entre outros empreendimentos, modificam o ambiente natural provocando a ocorrência de eventos hidrológicos que impactam
a sociedade e o meio ambiente, gerando preocupações relativas à capacidade de previsão de tais eventos críticos e que acabam
por incentivar pesquisas que tem como desafio a compreensão dos fenômenos envolvidos e das consequências que esses
empreendimentos possam gerar.
A bacia do rio Madeira estende-se por Bolívia (51%), Brasil (42%) e Peru (7%) com 1.420.000 km² de extensão pela superfície
terrestre (NETO, 2008). Nas regiões nordeste do Peru e noroeste da Bolívia o relevo possui cotas de até 6.400 metros de
altitude, enquanto o trecho do rio que percorre a planície amazônica que fica no nordeste da Bolívia encontram-se altitudes de
até 500 metros, e no norte do Brasil as altitudes ficam próximas a 50 metros.
Em Porto Velho, o trimestre em que ocorrem as maiores vazões média na bacia do rio Madeira é durante fevereiro-março-abril,
cuja vazão média é da ordem de 37.000m³/s. Durante o trimestre de agosto-setembro-outubro ocorrem as menores vazões em
Porto Velho, cuja média das vazões mínimas é da ordem de 4.500m³/s. A vazão média de longo período em Porto Velho é de
18.886m³/s. Nota-se a grande variabilidade das vazões entre os períodos de cheia e seca.
Em 2014, durante a enchente histórica do rio Madeira, foi possível observar que o comportamento do regime hídrico durante o
período de estiagem foi diferenciado, quando o nível permaneceu acima da média observada por muito mais tempo que em
anos anteriores, levantou-se a hipótese de que o no ano seguinte poderia haver uma nova enchente devido ao fluxo de água não
estar escoando o grande volume que estava ainda inundando municípios e distritos da região do Baixo Madeira.
Após algumas análises previas sobre a cheia, foi verificada a necessidade de desenvolver um modelo hidrológico que seja
capaz de realizar previsão com maior antecedência do que os que atualmente são utilizados, que são baseados somente nas
cotas e vazões observadas em estações de monitoramento de montante e com alcance de apenas 24 horas. Assim, optou-se por
desenvolver um modelo de previsão baseado na transformação de chuva em vazão, para que com isso seja possível antecipar
ainda mais os acontecimentos futuros.
Em bacias de grande escala, os diversos componentes e processos hidrológicos apresentam um comportamento relativamente
variável em coerência à sua escala. Esta não linearidade provém da existência de diversos tipos de uso da terra, de suas
mudanças temporais, dos padrões espaciais da chuva e da existência de consumo de água para diversos e específicos usos

1173
dentro da bacia. Também se deve considerar o efeito da fragmentação da paisagem, que afeta localmente as variáveis do ciclo
hidrológico e na agregação de processos dentro da bacia, bem como o processo de recuperação da evapotranspiração e da
capacidade de infiltração (BRUIJNZEEL, 2004) que ocorre com floresta secundária (capoeiras). Estas características afetam a
forma em que os efeitos da mudança no uso da terra e no clima se integram na resposta hidrológica de grandes bacias. A
modelagem hidrológica, considerando diferentes cenários do clima futuro e diferentes condições de vegetação resulta ser uma
poderosa ferramenta para o entendimento destes processos.
Para realizar as previsões adotou-se o Modelo Hidrológico de Grandes Bacias (MGB-IPH), que foi desenvolvido no Instituto
de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (COLLISCHONN et al. 2007). A adoção deste
modelo se deve, pincipalmente, ao fato de que o mesmo é capaz de utilizar dados de precipitação gerados via satélite e
disponibilizados pelo CEPTEC-INPE (ROZANTE et al. 2010), pois os dados de chuva observados na bacia do rio Madeira
limitam-se a porção brasileira da mesma a partir das séries históricas disponibilizadas pela ANA (2003), sendo que a maior
parte da bacia hidrográfica do rio Madeira estende-se por Bolívia (51%) e Peru (7%).
O MGB-IPH é distribuído por módulos (minibacias), e cada módulo é dividido em blocos de acordo com características como
tipo de solo e cobertura vegetal. Cada bloco equivale a uma área hidrologicamente homogênea (unidades de resposta
hidrológica), ou seja, áreas em que se verifica um comportamento hidrológico semelhante. Cada módulo tem sua variabilidade
interna calculada e a partir daí são determinados os valores do escoamento superficial, escoamento nos solos e do escoamento
subterrâneo gerados neste processo de balanço interno. A propagação do escoamento do módulo de montante é realizada pelo
método de Muskingun-Cunge, e a esta é somada a vazão gerada em cada módulo e este processo se estende até o exutório da
bacia.
Este artigo teve como objetivo aplicar o modelo hidrológico MGB-IPH na versão 2.0 – 2015 em conjunto das ferramentas do
ArcGIS versão 10.1, com intuito de realizar uma calibração dos parâmetros de análise do modelo e avaliar o comportamento da
bacia hidrográfica em relação a sua série histórica antecedendo a cheia de 2014.

Figura 1: Mapa do modelo digital de elevações

1174
Figura 2: Mapa das unidades de resposta hidrológica.

Na bacia do rio Madeira, até o ponto onde se pretende realizar as previsões (Humaitá-AM), existem poucas estações
fluviométricas com uma série histórica de vazões consistdas longas o suficiente para serem utilizadas na modelagem. Por isso,
foi realizada uma seleção prévia das estações, onde foram selecionadas somente algumas destas, julgadas mais apropriadas
para serem utilizadas. As estações consideradas para a calibração do modelo MGB-IPH estão situadas no rio Guaporé, rio
Mamoré, rio Madeira, rio Abunã, rio Jamari e rio Machado. A Figura 3 apresenta a localização geográfica das estações.

1175
Figura 3: Estações fluviométricas estudadas e a rede hidrográfica onde se situam.

Durante o desenvolvimento do modelo, a estação de Príncipe da Beira não possuía uma série de vazão, no entanto possuía uma
longa série histórica de cotas. Também possui uma série de medições de descarga liquida que futuramente, a partir de um
ajuste de uma curva-chave, será utilizada para converter os dados de cotassem vazão e serem utilizados no modelo.

Material e Métodos

Para elaboração dos mapas necessários para alimentar o MGB-IPH, foram utilizadas informações de diversos órgãos nacionais
e internacionais.
A hidrografia utilizada foi a com maior resolução possível, disponibilizada gratuitamente. Do Peru foram obtidos os dados por
meio do site do Ministério da Educação do Peru (MINEDU).
Foram coletadas as informações sobre a hidrografia do Peru através do site do Ministério da Educação do Peru
(sigmed.minedu.gob.pe/descargas/), da Bolívia através do GeoBolivia (geo.gob.bo/) e do Brasil através do IBGE
(downloads.ibge.gov.br/downloads_geociencias.htm), assim foi criado um mapa com os principais rios da bacia.
Os dados de solos utilizados foram fornecidos pela Soil and Terrain Database for Latin America and the Caribbean
(SOTERLAC; DIJKSHOORN et al. 2005). A fim de chegar a uma classificação que separasse solos rasos e solos profundos,
utilizou-se os estudos realizados pelo Forest Resources Assessment (FAO, 1990) e a Classificação Hidrológicade Solos
Brasileiros, feita por Sartori et al. (2005). O mapa de usos do solo foi gerado a partir do GlobCover (ARINO et al. 2010). Para
reduzir o número de classes do mapa foi realizada uma reclassificação dos usos do solo de modo a agrupar todos os tipos de

1176
floresta em apenas uma classe floresta, da mesma forma para campos e agropecuária, gerando assim uma classificação mais
generalizada e homogênea para o modelo. Com o cruzamento das informações dos solos e dos usos dos solos foi gerado o
mapa de unidades de resposta hidrológica.
Inicialmente utilizou-se um modelo digital de elevações (MDE) com resolução espacial de 90 metros (SRTM), mas foi
detectado que a ferramenta do MGB-IPH não conseguia processar o volume de dados gerados com essa resolução, por essa
razão adotou-se um MDE com resolução espacial de 250 metros, gerado pelo CGIAR-CSI (srtm.csi.cgiar.org/), que engloba a
área de interesse na bacia.
Com isto, após o processamento dos dados citados, foram gerados todos os mapas necessários para iniciar o pré-processamento
básico para viabilizar a utilização do MGB-IPH.
Os demais parâmetros climatológicos foram obtidos através de estações do INMET, considerando a média histórica das séries
disponíveis.
O período escolhido para realizar a calibração do modelo foi de 01/01/2001 a 31/12/2006, devido à disponibilidade de dados
de chuva por satélite para o período, e devido a maior disponibilidade de dados consistidos nas séries históricas de vazão.

Resultados e Discussão

A comparação entre os resultados obtidos na calibração pelo modelo MGB-IPH, considerou os valores do coeficiente de Nash
(R²) e o erro de volume (ΔV), conforme as equações apresentadas a seguir. A comparação dos dados foi realizada com os
mesmos parâmetros considerados por Neto (2008) em seu estudo na bacia do rio Madeira e estão apresentados na Tabela 1.

Equação Para Cálculo do Coeficiente Nash

(1)

Equação Para Obtenção do Erro Volumétrico

(2)

Onde: é a vazão observada e é a vazão calculada pelo modelo.

2001 a 2006 1984 a 1990


Área Calibração Calibração (NETO, 2008)
Código Sub-bacia (km²) R² ΔV (%) R² ΔV (%)
15130000 Pimenteiras 56215 0,706 1,623 0,941 -1,996
15150000 Pedras Negras 109788 0,760 13,859 0,727 -3,606
15250000 Guajará-Mirim 589497 0,831 4,424 0,882 3,502
15320002 Abunã 899761 0,894 4,945 0,848 -5,970
15400000 Porto Velho 954258 0,896 5,333 0,883 -5,677
15560000 Ji-Paraná 33012 0,548 0,561 0,825 -4,275
15580000 Tabajara 60212 0,635 8,796 0,874 14,702
15630000 Humaitá 1066240 0,902 6,184 0,932 -3,052
15324000 Plácido de Castro 7825 0,651 22,726
15120001 Mato Grosso 23814 0,717 2,646
Morada Nova -
15326000 Jusante 11811 0,534 20,473
15430000 Ariquemes 7795 -0,113 74,140
15550000 Santa Isabel 12640 0,588 16,033
15559000 Sítio Bela Vista 16092 0,515 18,176
Tabela 1 – Comparação entre valores dos parâmetros de avaliação da calibração com Neto (2008).

1177
É possível observar, ao comparar os parâmetros de calibração do presente estudo com os publicados por Neto (2008), que nas
estações de Pedras Negras, Abunã e Porto Velho, atingiu-se melhores resultados quanto ao coeficiente de Nash e erro
volumétrico. Nas demais estações, os parâmetros de qualidade ficaram abaixo dos apresentados por Neto (2008), haja vista que
a série histórica analisada no presente trabalho é menor e se tratam de períodos diferentes.
Percebe-se que as estações situadas no rio Madeira, Mamoré e Guaporé apresentaram melhores resultados que as do rio Abunã,
rio Machado e rio Jamari, provavelmente devido as maiores áreas das bacias hidrográficas destas estações.
Na figura 4 são apresentados os hidrogramas obtidos nesta fase de calibração, em uma comparação entre as vazões calculadas
pelo modelo e as vazões observadas nas séries históricas de Humaitá, Porto Velho, Abunã, Guajará-Mirim, Príncipe da Beira e
Pimenteiras.
É possível observar que os resultados obtidos pelo MGB-IPH se aproximam das vazões reais observadas nos pontos de
monitoramento, indicando que o mesmo possui uma boa aplicação nesta bacia e tem potencial para ser ainda mais estudado e
aprimorado na continuação deste estudo.

Figura 4: Hidrogramas das vazões calculadas e vazões observadas.

Considerações Finais

Por tanto, com base no que foi discutido anteriormente, é possível observar que a calibração realizada no modelo de grandes
bacias (MGB-IPH) apresentou resultados satisfatórios considerando os pontos de monitoramento utilizados. Nas estações de
Porto Velho, Abunã e Pedras Negras, os resultados observados ficaram mais próximos da realidade observada do que os de
Neto (2008). Já nas estações de Pimenteiras, Ji-paraná e Tabajara os resultados da calibração realizada ainda precisam ser
melhorados, pois os de Neto (2008) foram mais próximos com o modelo para os resultados observados. Percebeu-se também

1178
que as bacias com maiores áreas de drenagem situadas no rio Madeira, rio Mamoré e rio Guaporé apresentaram resultados
melhores que as demais, com bacias menores. Assim, concluímos que os resultados preliminares oriundos dessa calibração
podem ainda ser melhorados, no entanto já demonstram a capacidade do modelo de representar com qualidade os processos
hidrológicos da bacia do rio Madeira e a possibilidade do mesmo ser utilizado futuramente na previsão de vazões com maior
tempo de antecedência.

Agradecimentos

Os Autores gostariam de agradecer a Residência de Porto Velho do Serviço Geológico do Brasil - CPRM que contribuíram
para o andamento da pesquisa, e pelo apoio recebido.

Referências Bibliográficas

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4, RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos, pp. 05 – 18.

1179
5SSS265
COMO AS LEGISLAÇÕES AMBIENTAIS ENVOLVENDO O AR
EVOLUÍRAM?
Fábio Augusto Henkes Huppes¹, Lucas Carvalho Vier², Márcio Tochetto ³, Cleomar Reginatto⁴, João Pedro
Endres5, Rodrigo Henryque Reginato Quevedo Melo6, Guilherme Jordão Cardoso7, Ricardo Henryque
Reginato Quevedo Melo8
1Universidade de Passo Fundo, e-mail: 180290@upf.br; 2Universidade de Passo Fundo, e-mail: 180293@upf.br;
3Universidade de Passo Fundo, e-mail: eng.tochetto@hotmail.com; 4Universidade de Passo Fundo, e-mail:
cleomar@upf.br; 5Universidade de Passo Fundo, e-mail:132313@upf.br; 6Universidade de Passo Fundo, e-mail:
rodrigohquevedo@gmail.com; 7Universidade de Passo Fundo, e-mail: 180291@upf.br; 8Universidade IMED , e-
mail: 120332@upf.br

Palavras-chave: Desastres; Diretrizes; Sustentabilidade.

Resumo
O ar é um dos componentes responsáveis pela vida, dessa forma, respirar o ar limpo deveria ser um direito de todos, mas
devido a poluição gerada principalmente nas grandes cidades, a partir da metade do século XX, tem-se originado sérios
problemas para a população como para o meio ambiente. Para minimizar os impactos ambientais da poluição do ar, diversas
leis, regulamentos, decretos e políticas públicas foram criadas. Nesse sentido, o objetivo da pesquisa é apresentar um breve
histórico das legislações que minimizam os impactos ambientais que envolvem o ar. Inicialmente foi realizado um
levantamento bibliográfico da evolução das leis ambientais e regulamentações do CONAMA, posteriormente relatou-se os
principais desastres ambientais envolvendo o ar, tanto a nível mundial, quanto a nível nacional. Dessa forma, foi possível
observar a constante evolução das normas, bem como a contribuição dos desastres para criação e atualizações de
regulamentações ambientais que abrangem o ar.

Introdução
O ar é um dos componentes responsáveis pela vida, dessa forma, respirar o ar limpo deveria ser um direito de todos, mas
devido a poluição gerada principalmente nas grandes cidades, a partir da metade do século XX, tem-se originado sérios
problemas nesse bem tão precioso. Explica-se isso devido à presença cada vez mais significativa de automóveis, que somando
com as indústrias se tornam as principais fontes poluidoras (Braga, Pereira e Saldiva, 2001).
O ar poluído é caracterizado por conter componentes químicos desnecessários (Del Pino, Kruguer e Ferreira, 2011), os quais
são originados principalmente da queima de combustíveis fósseis, como a gasolina e diesel provenientes de substâncias
formadas pelos compostos de carbono. Esses recursos não renováveis emitem uma grande quantidade de monóxido e dióxido
de carbono na atmosfera, isso ocorre quando são utilizados combustíveis em máquinas térmicas e veículos automotores devido
a queima incompleta desses líquidos.
A poluição do ar além de gerar diversos problemas ambientais, ocasionando diversos prejuízos para toda a civilização, afeta a
saúde da população humana, contribui para desequilibrar os ecossistemas além de deteriorar o patrimônio histórico cultural
(Carvalho, 2010).
Motivado pelos diversos poluentes presentes no ar, a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) de 19
de novembro de 2018, apresenta dez tipos de padrões de qualidade do ar, sendo que a partir desses podem ser caracterizados os
possíveis problemas originados por determinados elementos presentes em cada padrão apresentado na regulamentação.
Sendo que os principais poluentes lançados na atmosfera são: o monóxido de carbono (CO) que é um gás incolor o qual não
possui cheiro, os Hidrocarbonetos (HC) conhecido como combustível não queimados, alguns desses hidrocarbonetos como é o
caso do benzeno são cancerígenos. O óxido de nitrogênio (NOx) formados principalmente com os processos de combustão. O
dióxido de enxofre (SO2) resultante da oxidação do enxofre (Plano de Controle da Poluição de Veículos em Uso - PCPV,
2005).
Os referidos poluentes são emitidos variando suas quantidades com o tipo de combustível utilizado, o tipo de motor,
manutenção dos veículos e até mesmo o modo como este é conduzido (Loureiro, 2004).
Conforme World Health Organization – WHO (2018), no ano de 2016 estima-se que 91% das pessoas que vivem na área
urbana a nível mundial, respiram ar poluído, pois nessas áreas a qualidade do mesmo não cumpre os indicativos da WHO.
Nesse período mais da metade das cidades estavam expostas a níveis a padrões de poluição 2,5 vezes mais altos do que o ideal
para saúde, ocasionando a morte cerca de 4,2 milhões de pessoas.

1180
Para minimizar os impactos ambientais da poluição do ar, diversas leis, regulamentos, decretos e políticas públicas foram
criadas. Segundo Pott e Estrela (2017), várias dessas normativas e indicações foram originadas e motivadas pelos desastres já
ocorridos a nível mundial ou até mesmo no Brasil servindo como base para evitar novos acidentes. Por conseguinte, o objetivo
do presente estudo é mostrar o histórico das legislações para minimizar os impactos ambientais envolvendo o ar, as razões que
contribuíram para criação dessas regulamentações, bem como elencar alguns desastres ambientais abrangendo a poluição do ar.

Metodologia
O presente estudo foi realizado por meio de referencial bibliográfico abordando inicialmente o histórico das legislações que
buscam minimizar os impactos ambientais causados no ar, apresentar as regulamentações vigentes, além de mostrar os
principais acidentes que causaram grandes danos ambientais ao ar e seus benefícios para criação de normativas.

Histórico da Evolução das Legislações Envolvendo o Ar


A legislação brasileira sobre o ar é muito recente, a primeira regulamentação para essa finalidade teve início com o Decreto nº
1.413, de 31 de julho de 1975. Esse documento dispunha sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por
atividades industriais, no qual foi definido o zoneamento adequado para instalação de indústrias, também ficou definido como
obrigações dessas empresas, prevenir ou corrigir inconvenientes e prejuízos causados ao meio ambiente, além de autorizar os
estados e municípios a estabelecer condicionantes locais para atuação das mesmas.
Em 2 de julho de 1980 surge a lei nº 6.803 apresentando as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de
poluição e informando outras providências sobre instalação de indústrias. Essa lei complementa o decreto citado anteriormente,
pois especifica e diferencia as áreas industriais, bem como estipula critérios para obtenção de licença para instalação de
indústrias em determinados locais. Nessa norma fica assegurado a necessidade das indústrias cumprirem seus compromissos
com o meio ambiente para terem acesso a habilitação de atuação, e consequentemente para conseguirem financiamentos
particulares em bancos ou utilizar incentivos governamentais.
No ano subsequente, em 1981 foi desenvolvida a lei nº 6.938, de 31 de agosto. Essa regulamentação apresenta critérios sobre a
política nacional do meio ambiente, seus fins, mecanismos de formulação e aplicação, e também dá outras providências. Surge
a partir dessa normativa o cadastro de defesa ambiental, o SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente) e o CONAMA.
Passados oito anos, no dia 5 de outubro de 1988 fica instaurado dentro do capítulo VI da constituição federal no artigo 225:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (Brasil, 1988).

No ano Seguinte, em 18 de julho de 1989 é criado a lei nº 7.804 que altera a lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Essa nova lei
também dispõe sobre a política nacional do meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, porém essa
regulamentação já aparece sob o condicionamento da Constituição Federal de 1988

Histórico da Evolução das Legislações Envolvendo o Ar


O CONAMA é um órgão deliberativo e consultivo do SISNAMA, que foi criado em 1981 por meio da lei nº 6.938 e é
composto por 5 setores da sociedade: órgãos federais, estaduais, municipais, setor empresarial e sociedade civil.
O CONAMA tem a competência de estabelecer critérios e normas para atividades efetivas ou que tenham um grande potencial
de poluição, é responsável por determinar a realização de pesquisas sobre ações para possíveis causas ambientais, além de
fornecer diretrizes para elaboração do Estudo De Impacto Ambiental (EIA) e relatórios de carácter ambiental.
Também é competência do órgão, decidir em última instância sobre as penalidades aplicada pelo IBAMA e determinar a
restrição ou até mesmo a perda de benefícios fiscais sobre o não cumprimento das normativas.
O CONAMA realiza seus atos e ações por meio de resoluções que delibera diretrizes e normas técnicas, moções que é
manifestações sobre a temática ambiental, recomendações que são manifestações voltadas a políticas e programas públicos,
proposições por meio de propostas legislativas e decisões através do tratamento de multas e penalidades que o IBAMA aplica.
Além das competências do CONAMA, diversas de suas resoluções foram evoluindo, entre essas, destacam-se as que envolvem
o ar:
Em 1986 o CONAMA editou a Resolução 18 e instituiu o PROCONVE – Programa de Controle da Poluição do Ar por
Veículos Automotores – com os objetivos de reduzir a emissão de poluentes por veículos, especialmente nos centros urbanos,
promover o desenvolvimento tecnológico tanto na engenharia automobilística como nos equipamentos e métodos de ensaio,
criar programas de manutenção e inspeção em veículos em uso, promover a conscientização da população sobre esse tema,
promover a melhoria das características dos combustíveis em uso no Brasil, etc.
Em 1989 com a Resolução 005 do CONAMA, dispõe sobre o Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar (PRONAR),
estabelecendo a fixação de parâmetros para a emissão de poluentes gasosos ou partículas nocivas através de fontes fixas.
Em 1990, duas Resoluções do CONAMA, a 003 e a 008, complementam o PRONAR e estabelecem limites de concentração de

1181
determinados poluentes. Esses valores tiveram como base as recomendações da Organização Mundial da Saúde, que observa
os limites de concentração compatíveis com a saúde e o bem-estar da humanidade.
No ano de 1993 é complementada a resolução 18 de 1986, estabelecendo limites máximos de emissão de poluentes para os
motores destinados a veículos pesados novos, nacionais e importados. Além disso, é criada a resolução 16/1993 que dispõe
sobre a obrigatoriedade de licenciamento ambiental para as especificações, fabricação, comercialização, e distribuição de
novos combustíveis, e dá outras providências.
Após dois anos as resoluções 16 e 18 são complementadas. A primeira aborda sobre os limites máximos de emissão de
poluentes para os motores destinados a veículos pesados novos, nacionais e importados, e determina a homologação e
certificação de veículos novos do ciclo Diesel quanto ao índice de fumaça em aceleração livre. Enquanto a última vincula a
implantação de Programas de Inspeção e Manutenção para veículos Automotores em Uso, e elaboração de um Plano de
Controle da Poluição por Veículos em Uso – PCPV.
No ano de 1997 é desenvolvida a resolução 226, a qual estabelece limites máximos de emissão de fuligem de veículos
automotores, as especificações para óleo Diesel comercial e o cronograma de implantação do cronograma de Melhoria do Óleo
Diesel.
Em 1999 surge a resolução 251 que dispõe sobre os critérios, procedimentos e limites máximos de opacidade da emissão de
escapamento dos veículos automotores do ciclo Diesel, em uso no Território Nacional, a serem utilizados em programas de
Inspeção e Manutenção (I/M).
Em 2011 a Lei 10.203 altera o percentual de limites de álcool anidro na gasolina, fixando em 20 e 25% os limites mínimo e
máximo.
Após um ano foi criada a resolução 315/2002, que apresenta nova etapa do programa de Controle de Emissões veiculares –
PROCONVE.
Já em 2006, através da emissão da Resolução 382, o CONAMA atualizou e ampliou os limites de concentração de poluentes
atmosféricos gerados por fontes fixas. Neste momento são estabelecidos limites específicos de emissão por vários
combustíveis.
O controle na emissão de gases poluentes por veículos automotores está previsto também no Código de trânsito Brasileiro, pela
Lei 9.503 de 2007, determinando que os veículos somente receberão o licenciamento se atenderem os limites estabelecidos
pelo CONAMA.
E a última resolução envolvendo o ar data do ano de 2018, de número 491, dispondo sobre padrões de qualidade do ar de
forma geral.

Legislações Atuais Sobre o Ar


Os parâmetros da qualidade do ar no Brasil estão definidos na resolução do CONAMA nº 491/2018, a qual substitui a
Resolução CONAMA nº 3/1990. A referida resolução aborda sobre padrões de qualidade do ar e cálculo do índice do mesmo;
tempo para elaborar e emitir plano de controle de emissões atmosféricas; aborda também sobre elaborar um plano para
episódios críticos de poluição do ar informando os níveis de atenção, alerta ou de emergência; monitoramento e divulgação da
qualidade do ar (CONAMA, 491/2018).

Desastres Ambientais
Nesse tópico serão abordados os principais desastres ambientais e suas principais contribuições envolvendo o ar, tanto a nível
mundial como de país, nesse caso, o Brasil.

Desastres Ambientais a Nível Mundial

Nuvem de Dioxina
Uma das tragédias ambientais envolvendo a poluição do ar foi registrado em 1976 na itália conhecida popularmente como
“Nuvem de Dioxina”. Segundo Centemeri (2010), o fato ocorreu na cidade de Meda, pequeno município da Itália, localizado
cerca de 22 Km ao norte da cidade capital de Milão. Esse desastre foi a maior exposição da população humana ao
tetraclorodibenzo-p-dioxina (TCDD) já registrado. O TCDD, é um subproduto de várias reações químicas e processos de
combustão à base de cloro orgânico.
O acidente foi gerado em uma fábrica farmacêutica na Itália, em um reator no qual era produzido o triclorofenol (utilizado em
herbicidas e também em uma substância bacteriana) o qual superaqueceu ocasionando a formação de uma nuvem tóxica, sendo
que esta espalhou-se nas cidades de Meda, Maderno, Ceseno Desio e Sevesso, porém a cidade mais atingida foi Sevesso
devido a direção dos ventos (CENTEMERI, 2010).
Esse desastre atingiu 37.000 pessoas, além de deixar 17 km² de terras contaminadas e 4 km² inabitáveis (PEREIRA E
QUELHAS, 2010). De acordo com Centemeri (2010), esse evento foi determinante para criar uma regulamentação a nível
europeu sobre problemas ambientais de acidentes graves de específicas atividades industriais (82/501/CEE), essa
regulamentação ficou conhecida como “Seveso I” que aborda sobre o Sistema de Gestão de Segurança.

1182
A partir da Seveso I, foram implementadas novas regulamentações, sendo que em 1996 foi criada a Seveso II a qual apresenta
um Programa de Prevenção, em 2003 foi implementada na mesma um relatório de segurança e por fim foi desenvolvida a
Seveso III em 2012 mencionando uma operação interna e plano de resgate (BHP Consulting, 2017).

Explosão de Chernobyl
Outro desastre ambiental no âmbito internacional que também teve grande impacto foi a explosão na usina nuclear de
Chernobyl em 1986 na Ucrânia (SUGUIMOTO E CASTILHO, 2014), quando em um teste de capacidade no reator 4, este
superaqueceu devido o sistema de resfriamento ter sido desligado, provocando a sua explosão (Melo e Façanha, [2009?]).
De acordo com Suguimoto e Castilho (2014) a explosão de Chernobyl foi o pior acidente nuclear, sendo liberado cerca de 50
toneladas de produtos radioativos, que acabaram sendo dissipados por praticamente toda a Europa e chegaram a costa leste dos
EUA. Por contribuição de fatores climáticos e das chuvas foram depositados em alguns locais produtos como o césio - 137 que
contribuiu para que por séculos alguns territórios não possam ser habitados novamente. Dentre os locais mais afetados pelo
desastre, a Ucrânia foi a mais prejudicada devido estar abrigando o reator, também foi afetado a Rússia e a Belarus, tendo um
somatório de 145 mil quilômetros quadrados de área que não podem ser habitadas e nem utilizadas para outros fins.
Pode-se pontuar, ainda, que segundo Dupuy (2007), em torno de 4 mil pessoas morreram devido a tragédia, porém teve-se
inúmeras outras pessoas que foram contaminadas posteriormente. De acordo com Greenpeace (2011), esse número é estimado
a longo prazo em cem mil mortos,
Após o ocorrido em Chernobyl, em 1987 a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, publicou um
relatório, determinando a necessidade de uma reunião global para idealizar um novo método de relação com o meio ambiente,
esse relatório chamado de “Nosso Futuro Comum” ficou conhecido como “Relatório Brundtland” (Hogan, 2007).

Desastres Ambientais no Brasil

Cidade da Morte - Cubatão


Na década de 60 haviam grandes indústrias instaladas no município de Cubatão, dentre essas: siderúrgicas, petroquímicas, de
fertilizantes e cimentícias, as quais despejavam muitos poluentes na atmosfera (CERQUEIRA, 2010). Devido à enorme
poluição do ar, no início da década de 80 a cidade de Cubatão ficou mundialmente reconhecida como uma cidade marcada por
inúmeros acidentes ambientais (Filho, 2015).
Além disso, devido às diversas notícias sobre Cubatão, essa foi apelidada de “Cidade da Morte” pelo jornalista Randau
Marques (COUTO, 2003). Sendo o principal estopim dos noticiários o nascimento de crianças anencefálicas, com a possível
causa da elevada poluição atmosférica (Neto apud Couto, 2003).
Couto (2003), afirma que mesmo com a divulgação da imprensa e na esfera política as indústrias não haviam recebido
nenhuma punição. Apenas em 1983, o novo governador de São Paulo concedeu elevada prioridade para controlar a poluição
ambiental em Cubatão, como medida fortaleceu a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB).Porém entre 1983
e 1984 ocorreram mais dois acidentes ambientais: vazamento de grandes quantidades de gasolina na Vila-Favela e alta
exposição de benzeno na região de Coqueria, sendo decretado o primeiro estado de emergência (Branco apud Couto, 2003).
Além desses desastres e da elevada poluição ocasionada pelas indústrias que se instalaram na cidade, os fatores geográficos
influenciaram significativamente devido à baixa velocidade dos ventos os poluentes se dispersaram lentamente (Hogan, 1988).
De acordo com Gutberlet (1996, apud COUTO 2003), o caso de Cubatão contribuiu para implementação do artigo VIII,
capítulo VI, da Constituição brasileira, promulgada em 5 de outubro de 1988, a qual prevê a realização de Estudos de
Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental antes da execução de projetos de desenvolvimento e obras públicas.
A partir de 1983, a CETESB começou a fiscalizar as indústrias visando a redução da emissão de poluentes, tendo essa
fiscalização surtido efeito, pois em 10 anos chegou-se a reduzir aproximadamente 90% das emissões. Esse fato pode ser
explicado pela implementação de filtros em chaminés, substituição de óleo por gás natural e monitoramento da qualidade do ar
(Cipriano, 2017).

Césio 137
O acidente no município de Goiânia no dia 13 de setembro de 1987 envolvendo o material Césio 137 é considerado o pior do
mundo abrangendo substância radioativa (BATISTA, 2012). O motivo do acidente foi devido a violação de césio 137 de um
equipamento de radioterapia, sendo o mesmo agravado devido a demora em notificar as autoridades competentes. Diversas
pessoas foram contaminadas e 4 delas faleceram nos primeiros dias do acontecido (Alves, 1988). Conforme Batista (2012), o
acidente causou a morte 7 pessoas.
Após o ocorrido, foram realizadas coletas de amostras da água potável e pluvial, esgoto, alimentos, estudo do lençol freático e
amostragem de ar a qual era realizada diariamente, acompanhando a direção dos ventos (Alves, 1988).
O referido desastre produziu 3500m³ de lixo radioativo que foi colocado em containers concretados na cidade de Abadia -
Goiás. Atualmente o Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste (CNEN) monitora os rejeitos radioativos e
executa o controle ambiental (Wascheck, 2007).

1183
Em 2005, foi criada a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG), a qual contribui desde o início das suas
atividades com a comunidade científica relacionada ao caso do Césio 137 e outras áreas, fornecendo bolsas de estudos,
investimentos em desenvolvimento científico e tecnológico (Turchi, 2012).
Embora a tragédia provocada pelo Césio 137 ocasionou danos sociais, ambientais, econômicos. Segundo Batista (2012), houve
grandes benefícios para o estado de Goiás, principalmente por proporcionar avanços em pesquisas científicas e tecnológicas,
promovendo medidas preventivas em relação ao ocorrido e preparando novos técnicos para lidar com acidentes envolvendo
radiação.

Conclusão
Por meio do estudo realizado, foi possível observar diversos avanços em relação aos impactos ambientais no ar. As legislações,
regulamentos e políticas públicas vieram evoluindo juntamente com os conhecimentos adquiridos sobre os problemas da
qualidade do ar. Mesmo com todos os avanços já obtidos, o ar vem sendo o causador de diversos problemas principalmente à
saúde humana.
Dessa forma, conclui-se que mesmo com todas as evoluções e avanços de normativas tem-se atualmente sérios problemas de
qualidade do ar, pois as regulamentações em vigor necessitam de cumprimento para apresentar resultados efetivos
minimizando os poluentes presentes no ar, buscando através da educação e o comprometimento das pessoas o caminho da
sustentabilidade.

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1186
5SSS266
SOLO: UMA REVISÃO DE LEGISLAÇÃO
João Pedro Endres1, Rodrigo Henryque Reginato Quevedo Melo2, Luana Caroline Girardi Basso3,
Guilherme Jordão Cardoso4, Cleomar Reginatto5, Lucas Carvalho Vier6, Fábio Augusto Henkes Huppes7,
Ricardo Quevedo Melo8

1Universidade de Passo Fundo, e-mail: 132313@upf.br; 2Universidade de Passo Fundo, e-mail:


rodrigohquevedo@gmail.com; 3Universidade de Passo Fundo, e-mail: 120332@upf.br; 4Universidade de Passo
Fundo, e-mail: 180291@upf.br; 5Universidade de Passo Fundo, e-mail: cleomar@upf.br; 6Universidade de Passo
Fundo, e-mail: 180293@upf.br; 7Universidade de Passo Fundo, e-mail: 180290@upf.br; 8Universidade IMED ,
e-mail: ricardohquevedo@gmail.com

Palavras-chave: Solo; Legislação; Sustentabilidade.

Resumo
O solo, como recurso natural limitado e indispensável à vida, deve ser preservado. Para que sua proteção seja garantida,
diversas legislações têm sido criadas ao longo dos anos, trazendo regras de preservação e incentivo ao desenvolvimento
sustentável. Objetivou-se, com esse trabalho, traçar uma linha do tempo com os principais dispositivos legais criados desde a
promulgação do Estatuto da Terra, em 1964. O trabalho abordou leis mais genéricas e, após, subdividiu-se em parcelamento do
solo, agricultura e contaminação do solo, trazendo normas mais específicas relativas a esses itens. Verificou-se que o Brasil
possui uma legislação em constante desenvolvimento e muito sólida a respeito do recurso natural solo, mas com menos
aplicação prática que o ideal, devido, principalmente, à falta de fiscalização.

Introdução
Levando em consideração toda a importância que o solo possui, seria lógico concluir que a preservação desse recurso natural é
uma obrigação de toda a sociedade. Infelizmente, sabe-se que não é o que ocorre. A degradação dos solos impõe elevados
custos à sociedade, pela grande perda de solos agricultáveis através da erosão, causando a redução de sua capacidade
produtiva, o assoreamento dos cursos d’água e represas e, consequentemente, o empobrecimento do produtor rural, com
reflexos negativos para a economia e para a sociedade como um todo (ELTZ; AMADO; LOVATO, 2005).
Com o intuito de proteger o recurso natural solo, diversos planos, entidades e legislações, federais e estaduais, foram
desenvolvidos, aprimorados e aplicados na busca de regularizar o uso do solo em todos seus âmbitos, sejam eles urbanos ou
referentes à agricultura. O presente trabalho aborda as legislações criadas, alteradas e vigentes no Brasil a respeito do
parcelamento de solos, agricultura e a contaminação dos solos. Desse modo retratando um pouco da abrangência e da história
do país em relação à proteção dos solos naturais, assim como a importante interferência que os governos e legisladores
exercem neste processo.
Legislação
Desde os primórdios da existência humana, a ética está presente na sociedade, nos mais distintos grupos sociais. A cultura de
desenvolvimento das sociedades atuais exerce grandes influências sobre a ética. Dessa maneira a própria sociedade institui leis
para que de melhor forma, esta seja seguida evitando o recorrente conflito entre moral e lucro.
No âmbito federal, em 1975 foi promulgada a Lei nº 6.225 que traz como principal dispositivo a execução obrigatória de
planos de proteção ao solo e de combate à erosão. Já em 1985 e 1998 foram criadas, respectivamente, as Leis nº 7.347 e 9.605,
que dispõem sobre a responsabilidade e as sanções penais e administrativas por danos causados ao meio-ambiente. O Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza foi instituído em 2000, pela Lei nº 9.985. Já o Novo Código Florestal foi
promulgado em 2012.
Em paralelo, diversas leis mais protecionistas foram criadas na esfera estadual. No Rio Grande do Sul, de 1991 a 2004, vários
dispositivos foram criados com a intenção de proteger o solo e fomentar o desenvolvimento sustentável. Entre as legislações
estaduais, destacam-se o Código Florestal do Estado do Rio Grande do Sul, a Lei nº 10.330, que instituiu o Sistema Estadual
de Proteção Ambiental, e o Código Estadual do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul, promulgadas em 1992, 1994
e 2000, respectivamente. Porém, itens como parcelamento do solo, agricultura e contaminação do solo, além das leis genéricas
de proteção à terra, possuem legislação mais específica.

1187
Parcelamento do Solo
O parcelamento, na sua forma urbana, é por excelência o meio pelo qual a cidade se expande horizontalmente. Se a
incorporação imobiliária produz a verticalização das cidades, o parcelamento possibilita o crescimento das áreas que se
agregam ao espaço urbano em sua extensão horizontal.
A França foi a pioneira na edição de leis sobre parcelamento do solo, criando suas primeiras normas no início do século XX e
influenciando as demais legislações que se seguiram. Em 1919, foi criado aquele que foi considerado o marco inicial da
matéria, um plano de loteamento, seguido por uma lei que passou a exigir autorização administrativa para parcelamentos, em
1924. A partir de então, os demais países da Europa começaram a se preocupar com o tema, criando suas próprias leis.
Já na América do Sul, também sob influência francesa, o Uruguai editou a Lei 8.733 em 1931, que se preocupava não apenas
com os direitos de cunho obrigacional, mas também com aspectos urbanísticos e ambientais.
O Brasil teve seu primeiro ato normativo relativo a parcelamento de solos dado pelo Decreto-Lei 58/37. Esse decreto
representou um grande avanço na proteção dos adquirentes dos lotes e, embora tenham surgido novas normas referentes à
matéria, o decreto não chegou a ser expressamente revogado.
Em 15 de setembro de 1938 foi editado o Decreto nº 3.979, que regulou o referido diploma, porém sem grandes novidades
sobre o tema.
Em 1967 entrou em vigor o Decreto-Lei nº 271, que traz em seus dois primeiros parágrafos a definição dos termos loteamento
e desmembramento. Segundo o Decreto, loteamento é uma subdivisão da gleba em lotes destinados à edificação, com a
abertura de novas vias, logradouros públicos e ampliação de vias já existentes. Desmembramento é a subdivisão da gleba em
lotes destinados à edificação, porém ocupando as vias e logradouros já existentes.
Atualmente, a principal lei que rege o tema de parcelamento de solo no Brasil é a Lei 6.766 de 1979, também conhecida como
Lei de Parcelamento do Solo Urbano, sendo a principal normativa em âmbito federal sobre parcelamento do solo urbano, tendo
aplicação tão somente aos parcelamentos para fins urbanos, conforme dispõe o seu artigo 1º. Diversas foram as inovações em
relação ao tratamento da questão, entre as quais a imposição de limites em relação ao solo a ser parcelado, proibindo o
parcelamento em solos alagadiços, sujeitos a inundação ou que tenham servido como aterro sanitário (artigo 3º, parágrafo
único); o estabelecimento de requisitos urbanísticos a serem atendidos, tais como áreas dos lotes, áreas non edificandi,
diretrizes a respeito das vias e logradouros públicos (artigo 4º); o estabelecimento da participação no procedimento de
aprovação do projeto de parcelamento dos estados em alguns casos (artigo 13); tornou crime diversas condutas envolvendo o
parcelamento, etc.
Em seu artigo 13, alterado pela Lei 9.785/99, a norma prevê que cabe aos Estados disciplinar a aprovação pelos municípios de
loteamentos e desmembramentos em três condições, sendo elas: quando localizados em área de interesse especial, tais como as
de proteção aos mananciais ou ao patrimônio cultural, histórico, paisagístico e arqueológico, assim definidas por legislação
estadual ou federal; quando o loteamento ou desmembramento localizar-se em área limítrofe do município, ou que pertença a
mais de um município, nas regiões metropolitanas ou em aglomerações urbanas, definidas em lei estadual ou federal e; quando
o loteamento abranger área superior a 1.000.000 m².
De forma geral, pode-se dizer que existem leis federais, estaduais e municipais tratando sobre parcelamento de solo.

Agricultura
A agricultura é responsável por 12,2% da superfície terrestre. No Brasil, ela se desenvolve em 9% do território. Já a pecuária
ocupa cerca de 26% do total de terra no mundo, enquanto no Brasil esse número fica em, aproximadamente, 21%. Estima-se
que no Brasil existem entre 60 e 100 milhões de hectares de solos em diferentes níveis de degradação, solo esse que pode ser
inserido novamente no processo produtivo com emprego de tecnologias de recuperação, conservação e manejo do solo. Em
2016, o agronegócio como um todo representou 23,6% do PIB e foi responsável por 45,9% do valor das exportações, gerando
um saldo comercial de US$ 71 bilhões.

Figura 1: Ocupação da superfície terrestre no Brasil e no mundo. Fonte: EMBRAPA (2018).

1188
Entre 1977 e 2017, a produção de grãos cresceu mais de 5 vezes, atingindo 237 milhões de toneladas, enquanto a área plantada
aumentou apenas 60% (CONAB, 2018). Essa disparidade de crescimento entre produção e área se deve à evolução do
rendimento médio de algumas lavouras, como arroz, feijão, milho, soja e trigo que, devido ao progresso da tecnologia
aumentaram substancialmente seus rendimentos fazendo uso da mesma área de terra (EMBRAPA, 2018).

Figura 2: Área e Produção de Grãos de 1977 a 2018. Fonte: EMBRAPA (2018).

Embora a agricultura seja a atividade com maior taxa de ocupação do solo, é uma atividade que tem sido bem-sucedida na
conservação do meio ambiente. As Áreas de Preservação Permanente e áreas em propriedades privadas separadas em função
da legislação ambiental representam mais de 50% de todo o território brasileiro (EMBRAPA, 2018).
Dado esse panorama mostrando a importância da agricultura na economia brasileira e também sua representatividade na
ocupação do solo, diversas legislações vêm sendo criadas e aprimoradas ao longo dos anos, a fim de incentivar o
desenvolvimento sustentável no setor, visto que sem terra a agricultura não existe.
A primeira legislação de proteção ao solo criada data de 1964, o chamado Estatuto da Terra que, entre outras disposições, traz
o conceito de função social, assegurando a todos o acesso à terra, desde que esse acesso cumpra com sua função social de
produção. A Constituição Federal de 1988 traz um título inteiro dedicado ao Meio Ambiente, com o intuito de reforçar a
importância de sua preservação.
Em 1991 entra em vigor a Lei da Política Agrícola (nº 8.171/91), que estabelece as ações e instrumentos da política agrícola,
relativamente às atividades agropecuárias, agroindustriais e de planejamento das atividades pesqueira e florestal. Essa lei
também dedica um capítulo inteiro em dispositivos para a proteção ao meio ambiente e conservação dos recursos naturais.
A Lei nº 10.831/2003, ou Lei da Agricultura Orgânica, trata da otimização dos recursos naturais e socioeconômicos
disponíveis e tem como objetivos a sustentabilidade econômica e ecológica, maximização dos benefícios sociais e
minimização da dependência de energia não-renovável. A Lei da Política Nacional sobre Mudança do Clima (nº 12.187/2009)
trata sobre a preservação, conservação e recuperação dos recursos naturais e sobre padrões sustentáveis de consumo. Dentre as
estratégias traçadas no setor agrícola para se atingir os objetivos de mitigação e adaptação estabelecidos no acordo de Paris está
a restauração de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e o incremento de 5 milhões de hectares de sistemas de
integração lavoura-pecuária-floresta até 2030 (EMBRAPA, 2018).
O Novo Código Florestal é promulgado em 2012 e traz importantes definições em seus artigos, dentre as quais estão a
delimitação e preservação de Áreas de Proteção Permanente e áreas de Reserva Legal, a supressão de vegetação para uso
alternativo do solo e a agricultura familiar.
Em 2013 é promulgada a Lei nº 12.805, Lei da Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. A integração
lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é a estratégia de produção sustentável que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais,
realizadas na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado. Essa estratégia busca efeitos sinérgicos entre
os componentes do agroecossistema, visando à recuperação de áreas degradadas, à viabilidade econômica e à sustentabilidade
ambiental. Seus principais objetivos são a sustentabilidade na produção agrícola, mitigação do desmatamento e preservação e
recuperação do solo. Esse sistema já uma realidade em 11,5 milhões de hectares no Brasil, sendo que o incremento dentre os
pecuaristas nos últimos 5 anos foi de 10% e entre os produtores de grãos, 1% (EMBRAPA, 2018).

1189
Contaminação do Solo

O solo é utilizado como destinação final para os resíduos humanos desde a antiguidade e, à medida em que as sociedades
foram evoluindo, a contaminação desse recurso deixou de ser espalhada, tornando-se mais pontual. (ARAÚJO-MOURA,
2015)
Com a criação de novas tecnologias e grande aumento na população, implicações recorrentes a essa problemática se
intensificaram com as atividades antrópicas, ocasionando contaminação ambiental, principalmente nos solos, através da
agricultura, pecuária, atividade industrial, desmatamento, construções e outras práticas. (SANTOS, 2011)
Sabe-se que o solo pode atuar como filtro, pois possui capacidade de depuração e imobilização de grande parte das impurezas
nele depositadas. No entanto, essa capacidade é limitada e variável de acordo com cada tipo de solo analisado, assim como as
impurezas nele depositados, podendo assim ocorrer alteração na sua qualidade, devido ao efeito cumulativo da deposição de
poluentes, a aplicação de defensivos agrícolas e fertilizantes e a disposição de resíduos sólidos industriais, urbanos, materiais
tóxicos e radioativos. (CASARINI et al., 2001)
Devido a latente necessidade de se desenvolver diretrizes ambientais voltadas à proteção do solo, os Estados Unidos e países
da Europa foram os primeiros a formalizar programas de avaliação de contaminação do solo, iniciando pela Holanda, que criou
a chamada “Lista Holandesa”, uma lista de valores orientadores utilizados nas avaliações de risco em áreas contaminadas.
Esses valores derivavam de modelagens de avaliação de risco e consideravam efeitos ecotoxicológicos e toxicológicos,
enquadrando, assim, o solo e águas subterrâneas em níveis de qualidade. (CASARINI et al., 2001). A Holanda também foi a
primeira a promulgar uma Lei de Proteção ao Solo, em 1987, e em 1994, o Ministério da Habitação, Planejamento e Meio
Ambiente publicou uma proposta de valores orientadores para o solo e sua classificação.
O Brasil iniciou a formalizar as questões referentes ao controle de poluição do meio ambiente em 1975, a partir do Decreto-Lei
nº 1.413, que regulamentava as poluições do ar, das águas e do solo provocadas por atividades industriais, sendo seguido pela
criação da Lei de Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), criada em 1981 que, dentre outras normas, impõe ao poluidor
e ao degradador a obrigação de recuperar e/ou indenizar danos causados ao meio ambiente. A Constituição Federal, outorgada
em 1988, incorporou o conteúdo da PNMA e efetuou a divisão de competências legislativas e administrativas dos entes da
Federação. Dessa forma, estabeleceu como competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios a proteção
do meio ambiente e combate à poluição em qualquer uma de suas formas. Porém, a Lei nº 10.165 de 2000 fez alterações no
texto, o que resultou na criação do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA e do Conselho Nacional de Meio
Ambiente - CONAMA. (GOMES, 2015)
Já em São Paulo, a CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) propõe valores orientadores desde 1995,
baseando-se na metodologia desenvolvida na Holanda. Sua primeira publicação ocorreu em 2001, através de um relatório
apresentando as metodologias utilizadas e a lista de Valores de Referência de Qualidade, Alerta e Intervenção (CASARINI,
2001). Baseando-se na legislação da CETESB, apoiada pela Lei Estadual nº 15.577, que estabelece a gestão de áreas
contaminadas no Estado de São Paulo, o CONAMA implementou a legislação brasileira através da Resolução 420/2009, uma
resolução que, entre outras coisas, estabelece o gerenciamento do solo para uso e remediação em todo o território nacional
(MATTIASO, 2010). Também estabelece 80 substâncias químicas a serem analisadas, sendo divididas em 20 substâncias
inorgânicas que precisam de seus valores de referência definidos pelos Estados e 60 substâncias químicas que não se aplicam
para inorgânicas.
Na resolução, os critérios e valores orientadores de qualidade do solo são referentes somente à presença de substâncias
químicas, compostos por três valores orientadores distintos, sendo eles: valor de referência de qualidade (VRQ), referente a
concentração de determinada substância que define a qualidade natural do solo, sendo determinada com base em interpretação
estatística de análises físico-químicas de amostras de diversos tipos de solo; valor de prevenção (VP) referindo-se a
concentração de valor limite de determinada substância no solo, de forma que ele seja capaz de manter as suas funções
principais, conforme artigo 3º e; valor de investigação (VI) que é a concentração de determinada substância no solo ou em
água subterrânea acima da qual existem riscos potenciais, diretos ou indiretos, à saúde humana, levando em consideração um
cenário de exposição padronizado.
A Resolução 420/2009 também classifica o solo de acordo com a concentração de substâncias químicas em 4 classes, sendo
que a classe 1 apresenta concentrações de substâncias químicas menores ou iguais ao VRQ; já a classe 2 apresenta pelo menos
uma substância química maior que o VRQ e menor ou igual ao VP; a classe 3 refere-se aos solos que expõem pelo menos uma
substância química maior que o VP e menor ou igual ao VI e a; classe 4 são solos que denotam concentrações de, pelo menos,
uma substância química maior que o VI (BRASIL, 2009).
Está resolução é tida como a mais importante no tocante a contaminação de solos e é a mais conhecida popularmente, mas em
dezembro de 2013 foi lançada a resolução CONAMA 460/2013, que altera (altera o prazo do art. 8º, e acrescenta novo
parágrafo. Porém ainda mantém todos os demais itens previamente estabelecidos pela resolução anterior.

1190
Comentários Finais
Através da análise histórica das legislações de solos do Brasil, foi possível verificar que desde a criação do Estatuto da Terra,
em 1964, muitas legislações vêm sendo criadas, no âmbito federal, estadual e municipal, objetivando impor regras que visam a
proteção do solo e o incentivo ao desenvolvimento sustentável.
A criação de legislações que impõe a responsabilidade por danos ambientais à quem os produz e trazendo a aplicação de
sanções e multas para quem os praticar foi um grande avanço para que crimes ambientais não passem impunes.
De forma geral, é possível concluir que o Brasil se encontra bem amparado por suas legislações de proteção ao solo. Porém
ainda encontra dificuldades no cumprimento das mesmas, pois para que as leis sejam plenamente cumpridas é necessário sua a
fiscalização, o que exige grande demanda dos estados e municípios da Federação.

Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer ao orientador Cleomar Reginatto professor da Universidade de Passo Fundo por todo o
suporte oferecido para a elaboração do presente artigo.

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1191
5SSS267
IMPACTOS DA CICLOVIA NA SUSTENTABILIDADE DE UMA
CIDADE DE MÉDIO PORTE COM GIS
Ricardo Henryque Reginato Quevedo Melo1, Evanisa Fatima Reginato Quevedo Melo2, Rodrigo Henryque
Reginato Quevedo Melo3, João Pedro Endres4, Lucas Carvalho Vier5 e Fábio Augusto Henkes Huppes6,
Guilherme Jordão Cardoso7
1Universidade Federal do Rio Grande do Sul / IMED, e-mail: ricardohquevedo@gmail.com; 2Universidade de
Passo Fundo, e-mail: evanisa9@gmail.com; 3IMED, e-mail: rodrigohquevedo@gmail.com; 4Universidade de
Passo Fundo, e-mail: 132313@upf.br; 5Universidade de Passo Fundo, e-mail: 180293@upf.br; 6Universidade de
Passo Fundo, e-mail: 180290@upf.br; 7Universidade de Passo Fundo, e-mail: 180291@upf.br

Palavras-chave: Geoprocessamento; Planejamento Urbano; Mobilidade Urbana; Indicador de sustentabilidade.

Resumo
A busca pelos meios de transportes não poluentes, ou eco-friendly, são consideradas metas essenciais ao avanço tecnológico e
mundial frente às diretrizes dos objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS). Os quais não buscam somente a
compreensão da sustentabilidade como uma ação benéfica ao meio ambiente, mas abordando uma visão holística de todo o
sistema englobando o tripé da sustentabilidade, analisando as questões sociais, ambientais e econômicas os estudos divergem e
subdividem-se nas mais diversas ramificações das terminologias para sustentabilidade. Entretanto, o atual estudo busca por
meio da aplicação de uma ferramenta de geoprocessamento e análise de dados verificar quais os impactos da ciclovia em
termos de sustentabilidade ambiental em uma cidade de médio porte na região sul do Brasil, mais especificamente na cidade de
Passo Fundo, cidade com plano de mobilidade aprovado em 2014 e tendo sua implantação iniciada neste mesmo ano. Desta
forma, a pesquisa constitui-se do levantamento dos dados relativos aos meios de transportes existentes na cidade de Passo
Fundo – Rio Grande do Sul, em conjunto da verificação da existência da ciclovia e ciclofaixas na cidade para posterior analise
perante a sustentabilidade ambiental. Para tais composições dos quantitativos, foram utilizados métodos computacionais de
geoprocessamento com o software ArcGIS, atreladas a informações obtidas por meio do caminhamento e deslocamento pelas
regiões da cidade contendo a ciclovia e anexando estas informações em mapas do Google Earth Pro para viabilizar a extração
de dados e aplicação nas contas de emissões e custo de pegada ambiental. Realizando a pesquisa de modo a permitir a
sequência do trabalho futuramente para que seja possível não somente verificar o andamento das mudanças propostas pelo
Plano de Mobilidade de Passo Fundo, mas também atuando como uma ferramenta de gestão, tornando-se um indicador de
sustentabilidade nas mais diversas cidades com implantações de redes cicloviárias e demais métodos de transportes não
poluentes. Assim, os levantamentos realizados inicialmente estavam diretamente relacionados a compreensão da área de
abrangência da ciclovia perante as propostas existentes no Plano de Mobilidade e seus tempos previstos para instalação, porém
verificou-se uma abordagem mais contextual a respeito das implantações, em termos de analise visual pelo processo de
caminhamento. Revelando a existência da falta de um sequencial logico, em termos de planejamento urbano, para construções
dos trechos de ciclovia e ciclofaixas, as quais acabaram tornando-se ainda mais evidentes após aplicação das técnicas de
geoprocessamento. Ao introduzir as informações no software, foram extraídos dados relativos a real quantidade de quilômetros
construídos e possibilitada aplicação nas equações de cálculo da pegada de carbono e a redução relativa da emissão de CO2.
Para que juntos fossem capazes de demonstrar não somente a quantidade que estava sendo reduzida de emissão dos gases
atmosféricos prejudiciais, mas convertendo à valores reais e palpáveis perante a população para aumentar a significância do
impacto da ciclovia na sustentabilidade social da cidade com valores ambientais. Além de permitir que o estudo seja replicado
nas mais diversas cidades com presença de ciclovia e ciclofaixas, transformando-se assim em uma ferramenta de gestão por
meio da verificação de um indicador de sustentabilidade ambiental.

Introdução
Os impactos da mobilidade urbana influenciam diretamente a vida dos usuários dos diferentes modais de transportes e
indiretamente as pessoas circundantes a estas obras municipais. Assim, durante o planejamento do ambiente urbano, os
responsáveis pelas cidades necessitam, mais do que projetá-las, devem pensar na congregação dos modais urbanos com as
demais áreas de planejamento como um verdadeiro sistema funcional, em que cada órgão precisa estar interligado de modo a
viabilizar o seu funcionamento de modo harmônico e natural (MELO; et, al., 2017).
Frente a esta visão, o modal cicloviario vem ganhando força no planejamento urbano e no cenário político, visto seus inúmeros
benefícios a baixo custo, entretanto as ações do governo enfatizam políticas de incentivo às indústrias automobilísticas que não

1192
só aumentam a frota de carros, como induzem o espalhamento da malha urbana. Assim, observa-se uma má divisão dos
serviços e do uso do solo, além do fortalecimento da dependência do transporte motorizado (RAMOS; SILVA, 2014; MELO,
2017).
Contudo, em cidades como Amsterdam e Copenhague, a transformação vem ocorrendo desde o século passado onde a maior
parte da malha ciclística foi construída a partir de meados do ano 1970, para Amsterdam, e a incidência do uso de bicicletas
como meio de transporte nunca esteve abaixo de 20%, nem mesmo nos anos 50/60 (CERSOSIMO, 2015). Aliadas ao fato de
apresentarem regulamentação e regimentos próprios, as ciclovias nas cidades devem possuir sinalização específica para
orientar o tráfego das bicicletas. E é muito comum ver homens e mulheres de diferentes classes sociais utilizando esse modal
de transporte para ir ao trabalho (DONISETE, 2011).
Dessa forma, desmistifica-se um dos problemas no Brasil, onde o uso da bicicleta como meio de transporte é considerado
“coisa de gente desfavorecida financeiramente” (EUVOUDEBIKE, 2016). Em razão disso, ao se comparar o uso em
Amsterdam com São Paulo, uma das maiores cidades brasileiras, estima-se, segundo pesquisa da Rede Nossa São
Paulo/Fecomercio (2015), que o uso da bicicleta pela população como modal de transporte diário está em apenas 3%.
Portanto, é necessário a redistribuição do espaço urbano, os quais em muitos países foi realizada através dos planejamentos
urbanos em conjunto do plano de mobilidade. Gerando impactos diretamente nos índices das cidades, como demonstrado por
Wolfson (2011), onde um dos impactos percebidos pela implementação das ciclovias em Nova York é que, no momento cuja
rede de ciclovias passou a ser protegida, os acidentes para todos os usuários das ruas (motoristas, pedestres e ciclistas)
diminuíram de 40% a 50% dependendo das localidades, demonstrando a existência de um impacto positivo sobre a redução
dos acidentes e uma técnica construtiva para proteger os usuarios.
Sendo este, somente um indicador de estudo dentro de uma gama de indicadores possíveis. Visto que, de acordo com Vanloon,
Patil e Hugar (2005) o tripé da sustentabilidade apresenta uma analise ambiental, social e econômica e reforça que a
sustentabilidade é atingida somente quando atuamos nos três índices de analise em conjunto. Os quais, podem dividir-se em
análises especificas, neste caso questões referentes aos efeitos e impactos das ciclovias.
Assim, segundo Scandar Neto, Jannuzzi e Silva (2008), os indicadores com recursos gráficos e visuais representam certamente
um avanço conceitual e instrumental em relação às formas usuais de disseminação desse tipo de ferramenta de gestão e de
monitoramento de programas e de políticas sociais. Várias empresas e órgãos governamentais utilizam-se do SIG, o Sistema de
Informações Geoprocessadas (SIG) está entre as metodologias de planejamento mais utilizadas, pois permitem o
geoprocessamento dos dados espaciais, neste caso da ciclovia, e dos aspectos da cidade para gerar mapas com informações
potenciais para o estudo e discussão (RYBARCZYK; WU, 2010; DELPONTE; FRANQUETTO, 2016).
Por isso a aplicação das técnicas do SIG tem-se tornado ferramenta poderosa, as quais quando utilizada em conjunto com
outros softwares de mapeamento, permite não somente uma maior precisão dos dados, mas também a facilidade em manter a
database atualizada, direcionando para a maneira mais eficiente de monitorar essas áreas (SILVA; ZAIDAN, 2004).
Apesar das vantagens do uso do SIG nas avaliações, a implantação de ciclovias nas cidades não deve ser aleatória, deve ser
baseada em dados e fatos. Sendo necessário a realização de estudos e conciliações com as mais diversas áreas de enfoques do
planejamento urbano e de mobilidade. Surgindo a necessidade do uso de indicadores para verificar os impactos e a
sustentabilidade proporcionadas pela implantação das ciclovias, bem como permitir a replicação futura da metodologia
proposta.

Método de Pesquisa
Este artigo consiste na avaliação dos impactos causados pela construção da ciclovia em termos de sustentabilidade ambiental,
por meio da abordagem holística temporalizada nos anos 2014, 2016, 2019 e 2024 com aplicação de ferramentas de
geoprocessamento.
Assim a utilização do software ArcGIS, ficou atrelado a necessidade da realização de caminhamento e passeios pela cidade
para confirmar a existência da ciclovia nos locais atribuídos pelo Plano de Mobilidade do Município de Passo Fundo de 2014.
Sendo que, após a aquisição de uma base de dados, estes são transferidos ao software no qual foram realizadas as etapas de
geoprocessamento, sendo elas:
 Georreferenciamento do mapa de estudo – Passo Fundo;
 Localização geográfica dos dados;
 Compatibilização dos dados em shapefiles e tabelas;
 Geoprocessamento especificado por Melo (2017);
 Composição da situação de uso atual, passado e cenário previsto.
Uma vez digitalizados as informações obtidas no levantamento in-loco das ciclovias e ciclofaixas, as quais não vão ser
consideradas diferentes nesta pesquisa, é permitida a análise e interpretação dos mapas oriundos do geoprocessamento com o
ArcGIS.
Enquanto que, a utilização do indicador de Melo (2017), utilizará os dados relativos ao geoprocessamento para quantificar
numericamente os resultados, os quais irão utilizar-se da projeção prevista para Passo Fundo tanto em 2019 quanto 2024.
Assim, monetizando os impactos ambientais oriundos da implantação da ciclovia.

1193
Resultados
O processo de caminhamento verificou a existência dos locais contendo ciclovia e ou ciclofaixa na cidade de Passo Fundo, os
quais foram transcritos ao software de geoprocessamento, para que com auxilio deste viabilizou-se a quantificação dos valores
a serem utilizados para discussão e analise dos impactos.
Desta forma foram obtidos os mapas demonstrativos da ciclovia ao longo dos seguintes tempos:
 Ciclovia em 2014;
 Ciclovia em 2016;
 Ciclovia em 2019;
 Previsão Ciclovia em 2016 – 1º Etapa;
 Previsão Ciclovia em “Sem cronograma” – 2º Etapa;
 Previsão Ciclovia em 2024 – 3º Etapa;
 Composições entre cenários reais e previstos.

Na figura 1 podemos observar a cidade de Passo Fundo em 2014, antes do inicio das obras de implantação do sistema
cicloviario.

Figura 1 – Ciclovias em Passo Fundo 2014.

Na Figura 2, apresentamos a digitalização da previsão para primeira etapa das ciclovias previstas para 2016, contando com 5,2
Km de extensão divididas entre ciclovias e ciclofaixas. Observando a instalação inicialmente das obras na região central e com
uma expansão perante o trecho mais plano da Avenida Brasil, eixo crucial do município.

1194
Figura 2 – Ciclovias Previstas 1º Etapa em Passo Fundo 2016.

Na Figura 3, podemos perceber uma maior expansão ao longo dos eixos principais da cidade, cortando toda Avenida Brasil e
toda Avenida Presidente Vargas, bem como uma maior malha de ciclovias na área central. Apresentando 24,8 Km distribuídos
entre ciclovias e ciclofaixas.

Figura 3 – Ciclovias Previstas 2º Etapa em Passo Fundo “Sem cronograma”.

1195
Na Figura 4, é verificado o espraiamento da rede cicloviaria ao longo de 91% dos bairros da cidade de Passo Fundo, a qual
possui uma conformação buscando não criar finais bruscos, mas continuidades entre as regiões. Desta forma, acaba por gerar
variadas vias de trânsito entre regiões ao longo do município e possibilita a utilização da ciclovia por todos os usuários,
oriundos da mesma ou diferentes classes sociais.

Figura 4 – Ciclovias Previstas 3º Etapa em Passo Fundo 2024.

Na Figura 5, conseguimos realizar a sobreposição da previsão de existência das ciclovias em Passo Fundo.

Figura 5 – Sobreposição das Ciclovias Previstas até 2024.

1196
Na Figura 6, já é perceptível o desenvolvimento da ciclovia em regiões chaves à cidade, como ao longo do Parque Linear do
Sétimo Céu e a válvula de escape para os ciclistas acessarem a rodovia perimetral.

Figura 6 – Comparação ciclovias previstas e construídas em 2016.

Na Figura 7, acompanhamos o crescimento da ciclovia ao longo dos últimos três anos, onde novamente ocorreu o crescimento
em direção a pontos chaves da cidade, desta vez iniciando o percurso da Avenida Presidente Vargas e aliando-se ao
posicionamento do novo shopping construído.

Figura 7 – Verificação do crescimento de 2016 para 2019 da ciclovia.

1197
Resultados – Indicador Ambiental – Emissões de CO2

A verificação da redução dos níveis de emissões de gases na atmosfera, foram contabilizados em termos de Dióxido de
Carbono CO2. Tal verificação ocorreu pela aplicação da Equação 1, na qual Melo (2017) contabiliza a quantidade da emissão
dos veículos que serão substituídos por ciclistas até 2024 como o valor de redução de CO2.
A equação 1, é adaptada da Equação da Delcan Corporation (2007) em conjunto com levantamentos bibliográfico em Brasil
(2011), IBAMA Veículos (2015) e Passo Fundo (2017). Equação 1 – Cálculo de redução de emissão atmosférica.

Onde:
Emissão = Quantidade de Gás Carbônico gerado em quilogramas.
Nº Usuários = Porcentagem da quantidade de ciclistas em relação aos numero de veículos.
Distância = Distancia média de rodagem em quilômetros por ciclista.
Fator Emissão = Índice de emissão por veiculo por quilometro rodado

Considerando as referências bibliográficas, foram quantificados os números de usuários em 5% da frota de veículos


prevista para 2024, mas obteve-se a informação da secretaria de planejamento de Passo Fundo (SEPLAN) de que os índices de
utilização da ciclovia nos primeiros anos de implantação encontravam-se próximos aos 0,3% da quantidade de veículos
automotores e a previsão é de que somente após a conclusão da ciclovia será atingido o índice máximo de 5%. Portanto, foi
estabelecido em conjunto da SEPLAN o índice de utilização de 0,8% de redução de automóveis em termos de ciclistas
utilizando as construções e um quantitativo de 78.081 veículos automotores em 2019 segundo as projeções de Melo (2017).
A reunião inclusive demonstrou por meio da verificação via ArcGIS a utilização de 5,2 km de uso diário, como a média de
uso atual em 2019, previamente em 2016 o índice estava em 5 km e a previsão para utilização mediana ideal seriam 8 km.
A aplicação dos valores encontrados na formula, vai sofrer a variação pela utilização de dois fatores de emissões diferentes,
0,19 Kg.CO2/km segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e 0,09 Kg.CO2/km segundo o relatório
da Secretaria de Planejamento de Passo Fundo (BRASIL, 2011; PASSO FUNDO, 2017).

Ano Nº Usuários Distância (km) Fator Emissão (kg) Emissão


2016 236 5 0,09 106,2 Kg.CO2
0,19 224,2 Kg CO2
2019 625 5,2 0,09 292,5 Kg CO2
0,19 617,5 Kg CO2
2024 3.949 8 0,09 2843.28 Kg.CO2
0,19 6002,48 Kg.CO2
Tabela 1 – Resultados da equação de emissão atmosférica.

Esses valores representam a emissão diária de CO2 reduzida pela implantação da ciclovia, podendo ser comparados na Tabela
2 com algumas informações sobre atividades e suas emissões e valores para compensar monetariamente a pegada ecológica
(MERCY CORPS, 2008; CLIMATECARE, 2017; YOUSUSTAIN, 2017).

Informação CO2 Valor Pegada Fonte:


1609,34 km Voados 200 Kg/Pessoa € 1,60 Mercy Corps, 2008
Voo de Nova York a Londres 1.520 Kg/Pessoa € 12,40 ClimateCare, 2017
Uma semana em um Hotel 200 Kg/Pessoa € 1,60 Mercy Corps, 2008
Redução Passo Fundo 2016 106,20 Kg.CO2 € 0,75 Autor, 2017
Redução Passo Fundo 2016 224,2 Kg CO2 € 1,65 Autor, 2017
Redução Passo Fundo 2019 292,5 Kg CO2 € 2,17 Autor, 2019
Redução Passo Fundo 2019 617,5 Kg CO2 € 4,58 Autor, 2019
Redução Passo Fundo 2024 2843.28 Kg.CO2 € 21,30 Autor, 2019
Redução Passo Fundo 2024 6002,48 Kg.CO2 € 45,00 Autor, 2019
Tabela 41 – Quantitativos de CO2 produzidos e seus valores de pegada.
*Calculadora ClimateCare, utilizando a cotação do dia 30/09/2019.

1198
Discussão
O impacto da implantação de ciclovias na sustentabilidade urbana de uma cidade de médio porte, como Passo Fundo, é
considerado benéfico quando tal obra é construída baseando-se sobre um plano diretor que contenha a descrição da ciclovia e
seus acessórios.
A verificação do impacto ocorre por meio de dois processos, o diagnóstico e a avaliação da influência da ciclovia. Para tanto,
utiliza-se o cruzamento de dados e uma série de ferramentas de geoprocessamento para obter o diagnóstico, enquanto que, com
o uso do indicador, obtém-se a quantificação monetaria dos impactos.
A partir disso, pode-se comprovar a importância da utilização do cruzamento de dados geoprocessados em conjunto com
indicadores, permitindo realizar a avaliação desses impactos gerados pela ciclovia ou outras construções de planos diretores e
replicação desta técnica em demais cidades.

Conclusão
A aplicação das técnicas de geoprocessamento demonstra-se extremamente eficazes quando alimentadas com dados precisos e
técnicas apuradas, as quais viabilizam a sua utilização em indicadores de gestão de sustentabilidade ambiental urbana. Não
somente para cidades de médio porte, mas para replicação em cidades de grande e pequeno porte. Uma vez que a ISO
37120:2014, acaba por traduzir os resultados de maiores expressões em cidades de pequeno e médio porte, visto que são
baseadas na população e não necessariamente nas questões logísticas de atreladas ao IDH da cidade. Portanto a aplicação dos
indicadores de sustentabilidade citados e do proposto, viabilizam resultados mais igualitários perante os demais índices de
análise. Pois, como é de conhecimento comum, o planejamento urbano é uma tarefa a ser realizadas em diversos níveis de
aplicação de técnicas das exatas, humanas e principalmente dos conceitos de urbanismo, os quais coerentemente indexados em
softwares de geoprocessamento resultam na tradução de questões qualitativas em termos quantitativos com compreensão e
criando um padrão de ação a ser realizado.
Assim, a utilização de softwares de geoprocessamento atrelados a informações atualizadas e constantes sobre os vários níveis
de abordagem de uma cidade, permitem o desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade, ambiental, social, econômico e
as demais subdivisões existentes, mas neste caso especifico viabilizando o indicador de sustentabilidade que consegue
quantificar o impacto da implantação da ciclovia na cidade em termos palpáveis e técnicos.

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1200
5SSS268
UMA NOVA GERAÇÃO DE RESERVATÓRIOS DE DETENÇÃO E
RETENÇÃO ATRAVÉS DA INFRAESTRUTURA VERDE E AZUL.
NOVAS POSSIBILIDADES DE RESERVAÇÃO
Juliana Caroline de Alencar da Silva1, Paulo Renato Mesquita Pellegrino2
1Pesquisadora na Universidade de São Paulo e Professora no departamento de hidráulica da Faculdade de Tecnologia do
Estado de São Paulo/FATECSP. E-mail: juliana.ambiental@gmail.com / http://orcid.org/0000-0002-9122-8101
2 Professor Associado da Universidade de São Paulo, junto ao Departamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura,
Urbanismo e Design/FAUUSP. E-mail: prmpelle@gmail.com / https://orcid.org/0000-0001-7682-5701.

Palavras chave: Infraestrutura Verde e Azul, Drenagem Sustentável, Mudanças Climáticas, Cidades Resilientes, Qualidade da
Água e Recursos Hídricos.

Resumo
O processo de urbanização, principalmente o não planejado, resulta em alterações no balanço hídrico da bacia hidrográfica
fazendo com que haja aumento das taxas de escoamento superficial e da velocidade deste escoamento, e em contraponto há a
diminuição do processo de infiltração. Estas novas vazões de pico resultam no curso d’água diversas modificações nos
processos geomorfológicos e ecológicos que resultam por sua vez na diminuição da qualidade ambiental do sistema e perda da
sua resiliência. Os sistemas de drenagem urbana brasileiros foram historicamente construídos com base no conceito da "hard
engineering”. Tais sistemas criam ligações diretas entre a geração do escoamento e os cursos d’água, através das galerias de
águas pluviais, o que resulta na ausência de redundâncias e na elevada vulnerabilidade a falhas, o que faz com que o sistema
seja pouco resiliente aos eventos extremos. Dentro do contexto das mudanças climáticas, onde os eventos extremos tendem a
serem mais corriqueiros, há uma grande demanda para a adequação dos sistemas de drenagem urbana. Os sistemas de
drenagem baseados no conceito da “soft engineering”, que se baseia nos sistemas naturais, criando soluções resilientes, que
são capazes de absorver pequenas falhas e de se auto regularem. Dentro de uma ótica ainda mais abrangente, o uso dos
elementos verdes, a vegetação, e azuis, as massas de água, a fim de formar uma trama multifuncional, constitui a infraestrutura
verde e azul, abordagem que tem sido adotada nos países desenvolvidos no manejo de bacias hidrográficas. Tendo em vista a
abordagem da infraestrutura verde e azul e com o intuito de fomentar a uma nova geração de reservatórios de retenção e
detenção, neste estudo foram identificadas técnicas para a promoção da reservação em quatro escalas projetuais, a escala do
lote, do bairro, do fundo de vale ou várzea, o que compõe, por fim, a escala da bacia hidrográfica formando a infraestrutura
verde e azul. Além disso foram identificadas possibilidades para adoção das técnicas nas diferentes escalas, adaptadas ao
contexto brasileiro.

Introdução
Os corpos d’água desde o início da formação das grandes civilizações foram tidos como sinônimo de fartura, por serem eles os
provedores dos recursos que permitiam o seu desenvolvimento, sendo essas sociedades chamadas apropriadamente de
hidráulicas devido à relação direta com as águas. Os históricos rios Tigre e Eufrates na Mesopotâmia, Nilo no Egito, Ganges na
Índia, Indo no Paquistão e Huang-Ho na China e os contemporâneos Tâmisa em Londres, Sena em Paris, Tibre em Roma,
Vltava em Praga, Danúbio em Budapeste, Hudson em Nova York, Yeşilırmak, Porsuk, Meriç e Tigre na Turquia e Yarra na
Austrália são alguns dos exemplos dessa intima relação histórica entre o homem e a água (Cengiz, 2013). Apesar dessa
importância histórica, na maioria dos países em desenvolvimento, para a maior parte da população nas áreas urbanas os corpos
d’água representam apenas fontes de problemas, que foram na verdade resultado do processo de urbanização não planejado.

O processo de urbanização, principalmente o não planejado, resulta em alterações no balanço hídrico da bacia hidrográfica
fazendo com que haja aumento das taxas de escoamento superficial e da velocidade deste escoamento, e em contraponto há a
diminuição do processo de infiltração. Estas novas vazões de pico resultam no curso d’água diversas modificações nos
processos geomorfológicos e ecológicos que resultam por sua vez na diminuição da qualidade ambiental do sistema e perda da
sua resiliência (Findlay &Taylor, 2006). Além disso, o escoamento superficial, devido ao potencial poluidor das áreas
ocupadas, transporta diversas cargas poluentes – cargas difusas - que são recepcionadas pelos cursos d’água, gerando
degradação da qualidade das águas.

As águas que antes eram infiltradas, passam a ser transportadas pela bacia até o talvegue gerando uma sobre carga no sistema

1201
de macrodrenagem. Além disso, as várzeas e fundos de vale no contexto urbano muitas vezes são ocupados, fazendo com que
as vazões de pico do período chuvoso não tenham onde se acomodar sem causar danos à cidade. Esse volume excedente deve,
portanto, ser disciplinado para garantir a segurança da população. Neste contexto, os sistemas tradicionais de drenagem
historicamente utilizaram, na tentativa de atender tal demanda, o armazenamento artificial em estruturas hidráulicas. Assim
promoveram a ampliação das calhas dos cursos d’água, para aumentar a capacidade de transporte, e a construção de grandes
reservatórios de detenção, para armazenamento temporário da vazão de pico.

Figura 1 - Armazenamento natural na bacia hidrográfica x Armazenamento artificial em estruturas hidráulicas. Fonte:
Elaborado pelos autores – Elaborado pelos autores.

Um sistema tradicional de microdrenagem é composto pelas seguintes estruturas: dispositivo de direcionamento do


escoamento superficial (Canaletas, sarjetões, guias e sarjetas), dispositivos de captação do escoamento superficial (Bocas de
leão, boca de lobo e caixas com grelha), condução subterrânea das águas coletadas (Galerias e poços de inspeção) e
dispositivos que realizam o lançamento das águas pluviais coletadas nos corpos d'água (Muros de ala e dissipadores de
energia). Tal sistema tradicional segue a lógica da rápida dissipação das águas precipitadas, além disso, as galerias de
drenagem promovem uma ligação direta entre as áreas impermeabilizadas e os canais, ignorando a função das zonas ripárias de
não só amortecer a velocidade do escoamento, como promover a retenção de poluentes (Groffman et al., 2003).

1202
Figura 2 – Funcionamento dos sistemas baseados na hard engineering. Fonte: Elaborado pelos autores – Elaborado
pelos autores.

Outro fator a ser considerado quando se trata do funcionamento do sistema de drenagem tradicional, são as mudanças
climáticas. Segundo o Grupo de Pesquisa em Mudanças Climáticas do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST), do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Instituto Astronômico, Geofísico e de Ciências Atmosféricas da
Universidade de São Paulo (USP), as modelagens climáticas apontam para uma tendência no aumento de eventos extremos, o
que resultará em sobrecargas nos sistemas atuais que já encontram-se saturados. Segundo o grupo, a RMSP apresenta grande
vulnerabilidade à inundação nas áreas de várzea, de vias públicas e de escorregamento de encostas nestes cenários, o que
levará à exposição da população, principalmente a parcela socialmente mais vulnerável, a doenças de veiculação hídrica e
perdas de bens materiais.

Diante da ineficácia do sistema tradicional de drenagem em desempenhar sua função de controle das águas de montante sem
danos às áreas a jusante, bem como de garantir a conservação dos recursos hídricos através da retenção e tratamento de cargas
poluentes, surgem novas técnicas, conhecidas como não convencionais, que visam atender estas demandas. Dentre estas, a
drenagem sustentável, que prioriza a adoção de medidas que atuem também no controle na fonte, que demandem menos
manutenção para seu funcionamento e que funcionem de forma integrada aos sistemas naturais.

O reconhecimento de que o conceito de promover o escoamento rápido das águas era falho resultou no surgimento de uma
nova abordagem técnica que recebem diferentes denominações em função do local onde foram desenvolvidas, mas que
partilham as mesmas premissas, como o Low Impact Development (LID), nos EUA e Canadá; Sustainable Urban Drainage
Systems (SUDS), no Reino Unido; Water Sensitive Urban Design (WSUD), na Austrália; e Low Impact Urban Design and
Development (LIUDD), na Nova Zelândia. As primeiras iniciativas voltadas à implantação destas técnicas foram realizadas na
Suécia e na Noruega, onde foram implantados pavimentos porosos, faixas gramadas e telhados verdes (Poleto, 2011).

O manual "Low Impact Development: a design manual for urban areas" do estado de Arkansas nos EUA, apresenta o conceito
de "hard engineering" e "soft engineering“. A engenharia rígida é a base dos sistemas tradicionais, que dependem de
manutenções constantes para o perfeito funcionamento, e onde pequenas falhas são pouco absorvidas, ou seja, o sistema é

1203
pouco resiliente; já a engenharia flexível é aquela baseada nos sistemas naturais, criando soluções resilientes, que são capazes
de absorver pequenas falhas e se auto regularem. A junção das duas formas de engenharia da origem às técnicas LID. O
conceito de LID prevê a utilização de estruturas que promovam o amortecimento das vazões de pico na bacia, como por
exemplo, pavimentos permeável e semipermeável; reservatórios de detenção e retenção; trincheiras de infiltração; valas e
poços de infiltração; micro reservatórios; telhados reservatório; telhados verdes; bacias subterrâneas; e faixas gramadas
(Poleto, 2011). Estas estruturas, além da função de controle da vazão, atuam também na melhoria da qualidade das águas do
escoamento superficial, sendo medidas também utilizadas para controle de cargas difusas.

O conjunto de técnicas pensadas para o controle quantitativo e qualitativo das águas através do aproveitamento das funções
desempenhadas pelos sistemas naturais são agrupadas dentro de um conceito maior, o da Infraestrutura verde. A medida em
que as técnicas de drenagem incorporam os princípios da soft engineering, que usa soluções baseadas na natureza, agrega-se
serviços ecossistêmicos ao sistema, o que resulta em diversos benefícios que muitas vezes são difíceis de mensurar, como por
exemplo o aumento da qualidade de vida da população, menores gastos com saúde, melhoria do microclima, combate aos
efeitos das mudanças climáticas, etc. A adoção destas técnicas sustentáveis na escala da macro compõe à infraestrutura verde e
azul.

Os elementos verdes na formação das sociedades foram restritos aos quintais e jardins, mas com o crescimento das cidades
europeias e americanas no final do século XVIII, estes elementos passam a ser elementos estruturadores. Surgem então, através
do movimento Haussmaniano no século XIV, os Boulevards, influência adotada na construção do bairro de Higienópolis em
São Paulo (Macedo e Ceniquel, 1992). Entre os paisagistas que se destacaram no uso da paisagem como infraestrutura está
Olmstead, criador do Central Park (1859) em Nova York e o Parque Nacional de Yellowstone (1872). No Brasil destaca-se o
arquiteto Roberto Burle Marx, na década de 30, pelo uso de espécies nativas e da arte moderna no desenho dos jardins, sendo
responsável por importantes concepções, como o Parque Ibirapuera, os Jardins e passeios da praia de Botafogo e o Parque do
Flamengo (Limbergeer e Santos, 2000).

Mais recentemente então surge o conceito de infraestrutura verde, que segundo Benedict e McMahon (2006), que se baseia no
uso dos elementos vegetais formando uma teia multifuncional dentro das cidades a fim de auxiliar no controle da qualidade do
ar, água e solo. A infraestrutura verde consiste na requalificação e enriquecimento das áreas verdes urbanas a fim de
reestabelecer os processos naturais que prestam importantes serviços para a cidade, baseando se nos conceitos da ecologia da
paisagem que emergem em meados dos anos 90. Segundo Forman (1995) o foco da ecologia da paisagem é estudar as relações
espaciais entre os ecossistemas e os elementos da paisagem; estudar os fluxos de energia, nutrientes e minerais; e estudar a
dinâmica ecológica dos mosaicos de paisagem.

A infraestrutura verde, além de incorporar a rede interconectada de áreas verdes, incorpora também elementos naturais que não
se restringem à vegetação, como corpos d'água e a atmosfera, sendo, portanto, um agente importante na regulação da qualidade
da água e do ar, resultando em uma ampla variedade de benefícios para a população (De Oliveira et al., 2012). A incorporação
dos elementos azuis da paisagem, as águas nas suas diversas formas, fez com que esse grupo de técnicas passasse a ser
chamado por alguns autores de infraestrutura verde e azul.

Para Postel & Barton (2005) bacias hidrográficas tem como atributo especial a promoção da conexão entre o ambiente terrestre
e o aquático, seja ele de água doce ou costeiro, promovendo uma série de serviços ambientais valiosos como a reciclagem da
água, a manutenção da biota e a regulação do clima através do sequestro de carbono. Para a economia ecológica, bacias
hidrográficas são importantes capitais naturais que proporcionam fluxo de bens e serviços para a sociedade. A falha em
incorporar o valor dos recursos naturais em decisões sobre a gestão das bacias faz com que seja reduzido o valor líquido do
recurso e o que se vê na prática é um estágio avançado de degradação, que resulta na diminuição da sua capacidade ecológica.

Segundo Cengiz (2013), os corpos d'água tem muitas funções e dentre elas se destaca a de promover a conexão entre a
paisagem e as comunidades e a de promover a criação de um conceito de meio ambiente sustentável. Os sistemas de drenagem
sustentável levam em conta além do controle hidrológico da bacia hidrográfica o uso múltiplo das águas. A água propícia
diversas possibilidades de recreação que acabam não sendo exploradas no ambiente urbano devido à sua degradação.

Segundo Macedo (2003), os espaços livres relacionados as áreas verdes urbanas desempenham um importante papel na criação
de espaços que possibilitem a conservação ambiental e também o estabelecimento de valores de comunidade. Já Bartalini
(1986) ressalta que os espaços verdes urbanos tem 3 principais valores frente à população, o valor visual e paisagístico, criando
referências na cidade e criando identidades locais; o valor recreativo, já que são lugares de apropriação da comunidade,
considerando seus valores sociais, econômicos e sociais; e o valor ambiental, já que estas áreas tem atuação importante na
proteção do ar, das águas e do solo.

1204
A detenção e retenção descentralizada na bacia hidrográfica é uma das premissas mais importantes do sistema de drenagem
sustentável, uma vez que a descentralização torna o sistema mais resiliente devido às redundâncias existentes. Na ocorrência de
uma falha pontual, por exemplo, a mesma pode ser totalmente ou parcialmente compensada pelo funcionamento das demais
estruturas. Atuando na fonte da geração do escoamento superficial, é possível promover de forma mais efetiva o controle da
qualidade das águas escoadas.

Figura 3 – Reservação tradicional x Reservação sustentável. Fonte: Elaborado pelos autores.

Além disso, os sistemas descentralizados fazem uso do princípio da invariância hidráulica, onde a vazão de pico do lote no
pós-desenvolvimento não deve ser superior à vazão do pré-desenvolvimento. Tal sistema faz com que o proprietário do lote
seja responsável pelo escoamento produzido, desonerando o poder público, uma vez que a ausência de controle no lote resulta
na demanda por intervenções nos sistemas públicos, que são em geral obras de custo mais elevado.

As premissas descritas foram utilizadas neste estudo para a elaboração de um guia de aplicação das técnicas da infraestrutura
verde e azul, adaptadas à realidade das cidades brasileiras, a fim de auxiliar na criação de uma nova geração de reservatórios de
retenção e detenção de águas pluviais nas áreas urbanas brasileiras, conforme será descrito a seguir.

Materiais e métodos
Neste estudo, com base no levantamento das técnicas da infraestrutura verde utilizadas nos países desenvolvidos, foi elaborado
um guia de aplicação, adaptando às técnicas à realidade das cidades brasileiras, com a adoção de quatro escalas projetuais: a
escala do lote, do bairro, do vale ou várzea e da bacia hidrográfica. Como mostrado na figura 4 a seguir.

1205
Figura 4 – Escalas projetuais. Fonte: Elaborado pelos autores.

Para tanto foram consultados guias e manuais de drenagem sustentável e infraestrutura verde e azul para seleção de técnicas,
além disso foram selecionados recortes urbanos emblemáticos para que a aplicação das técnicas fosse ilustrada. Por fim, foi
quantificado o armazenamento volumétrico da adoção das técnicas propostas em cada escala projetual.

Resultados e discussão
A seguir são apresentadas as técnicas selecionadas para compor este estudo, conforme mostrado na Tabela 1 a seguir, e as
possibilidades de reservação nas quatro escalas projetuais, conforme mostrado nas Figuras 5 a 9.

Tabela 1 – Técnicas para reservação nas quatro escalas projetuais.

Os Wetlands têm sido amplamente utilizados na Europa e nos EUA como estruturas para retenção e
tratamento das cargas poluidoras. São estruturas que interceptam o fluxo de águas promovendo o
tratamento das águas através do uso de espécies de interesse que recriem condições naturais de depuração
de nutrientes, além da retenção de sedimentos que se depositam no fundo da estrutura (Salati, 2003).
Podem ser utilizados tanto para interceptar o sistema de drenagem com foco na remoção de cargas difusas,
Wetlands
como para o tratamento de águas residuárias, com o foco na remoção de matéria orgânica. Existem
diversas técnicas para construção de wetlands, que variam em função da carga de poluentes que será
recebida e eficiência na remoção de determinados nutrientes, podendo ser classificadas como: wetlands
com plantas flutuantes, com plantas emergentes, com macrófitas fixas submersas, com solos filtrantes
(Sistema DHS) ou com técnicas combinadas (Salati, 2003).

Jardins implantados sobre a cobertura de edificações que desempenham funções ecossistêmicas


importantes como a retenção de água, filtragem de cargas poluentes, melhoria do microclima atuando no
Telhados controle das ilhas de calor, oferecem habitat para fauna, controlam poluição sonora, fornecem espaço de
verdes lazer e auxiliam na harmonia paisagística. As melhores espécies para composição dos telhados verdes são
aquelas que exigem pouca ou nenhuma manutenção, sendo recomendado o uso de espécies nativas
(Pinheiro, 2017).

As faixas filtro grama são faixas vegetadas que auxiliam na contenção de cargas poluentes oriundas do
escoamento superficial, promovendo também a infiltração das águas. Nas áreas urbanizadas, as faixas
Faixas Filtro
filtro grama tem seu maior potencial de aplicação em estacionamentos, principalmente em unidades
Grama
múltiplas ou comerciais, onde há grande concentração de veículos que produzem cargas difusas, como
óleos, graxas, fuligem, metais, entre outros materiais particulados, que podem ser absorvidos.

Jardins Existem diversas técnicas para a execução dos jardins verticais, no entanto o grupo de técnicas consiste
Verticais basicamente na instalação de estruturas sobre paredes tratadas, para que recebam a instalação de elementos
vegetais. Os jardins verticais, além do embelezamento paisagístico, atuam principalmente no controle

1206
térmico da edificação, na melhoria do microclima, na evaporação e na detenção das águas precipitadas
(Lau & Mah, 2018).

As águas provenientes das chuvas intensas podem ainda serem armazenadas em reservatórios subterrâneos
que atuam no retardo das águas. Estas estruturas, a não ser que munidas de um filtro na sua entrada, não
Reserva
tem atuação no controle de cargas poluentes. No entanto as águas armazenadas podem ser aplicadas dentro
da tipologia, principalmente para alimentação de usos menos exigentes, como por exemplo descarga de
tórios
vasos sanitários, lavagem de piso e rega de jardim. Atualmente uma primeira iniciativa é a lei das
piscininhas no estado de São Paulo Nº 12.526/2007.

Os Jardins de chuva têm sido adotados em áreas urbanas para a promoção do tratamento das águas do
escoamento superficial e como elementos na paisagem para o aumento da biodiversidade. São construídos
em depressões rasas, que recebem uma camada de manta geotêxtil, uma camada de leito poroso, seguida
por solo composto, onde são plantadas espécies nativas. Além deste sistema que serve de base para a
Jardins de vegetação, é comum os jardins possuírem uma tubulação drenante que conecte as águas drenadas ao
chuva sistema de galerias para que aja o escoamento das vazões de pico durante o período chuvoso. O
funcionamento ótimo da estrutura se dá nas pequenas precipitações e principalmente no período de
estiagem, quando o escoamento superficial vem carregado de cargas difusas. Quando é realizado o plantio
de espécies adequadas, os jardins de chuva demandam pouca ou nenhuma irrigação e adubação (Ishimatsu
Et al, 2017).

As Biovaletas são faixas lineares que conduzem as águas pluviais através da vegetação em seu interior, de
forma que o avanço das águas seja retardado. Desta forma, a estrutura promove o armazenamento, a
infiltração e a filtragem das águas. As Biovaletas podem ser instaladas tanto em terrenos de baixo declive,
Biovaletas
quanto em escadarias, sendo necessária a adição de dissipadores de energia no segundo caso, como
degraus, blocos de concreto, enrocamento, etc. São estruturas ideais para implantação em locais com
pouca disponibilidade de espaço (Cormier e Pellegrino, 2008).

Segundo Wang Et al (2019) de 20% a 40% da superfície das áreas urbanizadas são tratadas com
pavimentos, o que torna estes materiais grandes responsáveis por fenômenos climáticos como ilhas de
calor e absorção de água. O uso de pavimentos drenantes atua na amenização destes efeitos. Pavimentos
Pavimento
drenantes são feitos com matérias que permitem a absorção da água do escoamento superficial, permitindo
drenante
tanto a infiltração destas águas no solo, como o armazenamento em camadas subterrâneas. Dentre as
técnicas LID, o pavimento drenante é uma das mais utilizadas, havendo no Brasil leis específicas para sua
adoção (Lei do município de São Paulo, Nº 11.509/1994).

1207
Figura 5 - Escala do lote unifamiliar. Fonte: Elaborado pelos autores.

1208
Figura 6 - Escala do lote de uso múltiplo. Fonte: Elaborado pelos autores.

1209
Figura 7 - Escala do bairro: ruas e avenidas. Fonte: Elaborado pelos autores.

1210
Figura 8 - Escala do bairro: vielas. Fonte: Elaborado pelos autores.

1211
Figura 9 - Escala do fundo de vale ou várzea. Fonte: Elaborado pelos autores.

A reservação na escala da bacia se dá pela somatória da aplicação das diversas técnicas de reservação, no lote, no bairro e no
fundo de vale ou várzea. As técnicas da infraestrutura verde, quando pensadas de forma sistêmica, através da criação de
conexões entre as mesmas, são capazes de fornecer outros serviços que vão além dos que são intrínsecos a estrutura. O
conjunto das técnicas desempenham outras funções para a bacia hidrográfica, como por exemplo a de regulação climática,
harmonia paisagística, promoção de áreas de lazer, entre outras. Construindo assim a infraestrutura verde e azul na bacia
hidrográfica.

Considerações finais
As águas urbanas são objeto de diversos estudos e iniciativas em virtude da importância que as mesmas têm no dia-a-dia da
cidade. Quando mal gerenciadas as águas urbanas são sinônimo de degradação social, doenças e degradação estética da
paisagem, o que fez com que historicamente elas fossem ocultadas da paisagem na maioria das cidades brasileiras.

No entanto com o gerenciamento inadequado das águas se perdem diversos serviços ecossistêmicos que são fornecidos pelos
sistemas aquáticos preservados, como a regulação microclimática, a harmonia paisagística, áreas para o lazer, etc. Desta forma
é necessária uma revolução no modo como tratamos as águas urbanas, que virá através da consolidação do uso das técnicas da
infraestrutura verde e azul, através da drenagem sustentável.

Este estudo apontou diversas possibilidades de reservação e retardo das águas pluviais na escala do lote, do bairro e da várzea
ou fundo de vale que devem compor uma trama conectada afim de formar a infraestrutura verde e azul na escala da bacia
hidrográfica. A adoção das medidas de controle na fonte resulta na otimização dos espaços urbanos, no dinamismo na alocação
das águas pluviais, na descentralização do sistema e na desoneração do poder público do controle dos volumes excedentes
devido à impermeabilização dos lotes.

1212
Referências
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águas. Biológico, São Paulo, v. 65, n. 1/2, p. 113-116, 2003.

1213
5SSS269
EFEITO DA TOXICIDADE AGUDA DO HERBICIDA COMERCIAL À
BASE DE GLIFOSATO A TRÊS NÍVEIS TRÓFICOS
Ana Paula Jambers Scandelai1, Giovanna Ayane Iriguchi2, Franciele França de Figueiredo3, Thabata
Karoliny Formicoli de Souza Freitas4
1
Universidade Estadual de Maringá, e-mail: paulascandelai@hotmail.com; 2Colégio Nobel de Maringá, e-mail:
iriguchi2004aya@gmail.com; 3Universidade Estadual de Maringá, e-mail: fran_quimica@hotmail.com;
4
Universidade estadual de Maringá, e-mail:thabata.karoliny@gmail.com

Palavras-chave: agroquímico; ecotoxicidade; ações antrópicas.

Resumo
Os defensivos agrícolas ou agroquímico, popularmente, conhecidos como “agrotóxicos” são compostos químicos utilizados
pelo setor agrícola com o intuito de eliminar pragas, insetos, bactérias, fungos e outras plantas indesejadas nas culturas
agrícolas. A partir de 2008, o Brasil se tornou um dos maiores consumidores do mundo de defensivo agrícola, estimando o
consumo de 5,2 L anualmente para cada brasileiro. O tipo de agroquímico mais utilizado no Brasil e no mundo é o herbicida a
base de glifosato. No Brasil, em 2017 foram comercializadas 173 mil toneladas deste ingrediente ativo. A utilização deste
herbicida acarreta em diversos impactos ambientais e apresenta riscos toxicológicos à saúde humana, principalmente devido à
falta de informação por parte dos agricultores, falta de vigilância pelos órgãos competentes e principalmente o manuseio
indevido do produto. A atividade tanto do glifosato, quanto dos seus metabólitos podem afetar diretamente ou indiretamente
organismos do solo e água e em menor expressão do ar. Porém, adjuvantes ou surfactantes podem ter efeito mais danoso do
que o próprio glifosato. Dessa forma, o avaliou o potencial ecotoxicológico do uso do herbicida comercial a base de glifosato
em três níveis tróficos diferentes: produtor primário (alface, Lactuca sativa); consumidor (artemia, Artemia salina) e
decompositor (minhoca, Eisenia fetida). A toxicidade aguda do herbicida comercial à base de glifosato foi avaliada em quatro
concentrações diferentes (0,24; 0,48; 0,96 e 1,5 L 100 L-1 de água) proporcionais ao uso constante no Paraná descrito em sua
bula. A toxicidade aguda do herbicida foi avaliada em relação à concentração letal 50% (CL50) e quando pertinente à
concentração de inibição 50% (CI50), que é a concentração de uma substância química capaz de provocar a morte ou inibição
de, pelo menos, 50% das espécies estudadas. O herbicida apresentou efeito inibidor no crescimento radicular e na porcentagem
de germinação da alface, em que seu CL50 (concentração necessária para matar metade da população exposta) ficou acima do
limite. Em relação aos consumidores, o defensivo agrícola possuiu elevado potencial toxicológico, mesmo na menor
concentração a mortalidade dos organismos foi de 100%. Apesar de haver sobreviventes na menor concentração de defensivo
agrícola para o ensaio com minhoca, todas as concentrações apresentaram-se tóxicas para o nível trófico dos decompositores. É
importante ressaltar que os invertebrados E. fetida e A. salina predizem o possível efeito tóxico de substâncias a mamíferos e
humanos. Sendo assim, foi possível concluir que o herbicida à base de glifosato não afeta apenas os seres humanos, como
também o ecossistema ao todo, incluindo os níveis dos produtores primários, consumidores e decompositores. Embora o
mecanismo alvo de ação das formulações à base de glifosato e glifosato seja específico para as plantas, concluímos que as
formulações a base de glifosato são fitotóxicas e induzem efeitos tóxicos em organismos não alvos, como consumidores
primários e decompositores. Além disso, é importante, portanto, avaliar não só a ecotoxicidade do ingrediente ativo, mas
também das formulações para proteger o meio ambiente e prevenir danos à vida humana e ao meio ambiente.

Introdução
A agricultura no Brasil avança ano após ano, e atualmente, o país é um dos principais produtores agrícolas do mundo. Na
última década, o mercado de agroquímico brasileiro se expandiu em 190%, dobrando o crescimento no mercado mundial e
colocando o Brasil como o maior consumidor de agroquímicos do mundo desde 2008 (LOPES e ALBUQUERQUE, 2018). O
tipo de agroquímico mais utilizado no Brasil e no mundo é o herbicida a base de glifosato. Somente em 2017 foram
comercializadas 173 mil toneladas deste ingrediente ativo (IBAMA, 2018). E infelizmente, no mês de julho de 2019, o
governo brasileiro aprovou a entrada de mais de 51 novos agroquímicos no mercado brasileiro, dentre eles, 17 são
classificados como extremamente tóxicos. Desde o primeiro dia deste ano (2019) já foram liberados 290 pesticidas e dentre
eles, 13 produtos são à base de glifosato. Estes dados representam o maior ritmo de liberação de agroquímico na última década
(DAMASIO et al., 2019).
Além do seu uso na agricultura, o glifosato também compõe a fórmula de produtos domissanitários utilizados em jardinagem
amadora. Apesar de possuir concentração de ingrediente ativo com máxima permitida de 1% (m V-1), ou seja, bastante inferior

1214
aos agroquímicos, este herbicida é facilmente comercializado o que torna a exposição ao ingrediente ativo altamente prevalente
na população em geral (ANVISA, 2018). Além disso, isso significa que as áreas urbanas também podem contribuir para a
contaminação do meio ambiente e dos seres humanos com resíduos de glifosato (FERNANDES et al., 2019).
Os impactos negativos a saúde humana e o risco de degradação do meio ambiente causado pelo uso de defensivos agrícolas
têm despertado atenção crescente, tendo em vista suas consequências por seu uso constante e crescente, falta de informação
por parte dos agricultores, falta de vigilância pelos órgãos competentes e principalmente o manuseio inadequado do produto
(PERES et al., 2005). Embora os pesticidas sejam usados principalmente no meio terrestre, em áreas agrícolas, aplicados
diretamente sobre plantas ou no solo, o potencial de risco de contaminação de rios, lagos e águas subterrâneas é extremamente
alto devido ao escoamento, deriva direta e lixiviação. Menos de 10% dos agroquímicos aplicados por pulverização atingem
seu alvo e mesmo aqueles aplicados diretamente nas plantas têm como destino final o solo, sendo lavados das folhas através da
ação da chuva ou da água de irrigação. Os lençóis freáticos subterrâneos podem ser contaminados por estes através da
lixiviação da água e da erosão dos solos. Esta contaminação também pode ocorrer superficialmente, devido à
intercomunicabilidade dos sistemas hídricos, atingindo áreas distantes do local de aplicação do agrotóxico. As práticas
agrícolas e a vulnerabilidade natural do aquífero podem representar um alto nível de impactos negativos, tornando assim a
água imprópria para o consumo (BOHNER, ARAÚJO, NISHIJIMA, 2013).
O glifosato é considerado de baixo risco para o ambiente aquático devido a sua baixa mobilidade no solo, sendo este
fortemente adsorvido pelas partículas do solo, o que restringe sua lixiviação para águas subterrâneas. Entretanto, este pode ser
carreado ao ambiente aquático através da erosão do solo. Há relatos de que os surfactantes, substâncias adicionadas ao produto
para aumentar a eficiência de absorção pela planta, são muitas vezes mais tóxicos que o próprio ingrediente ativo glifosato
(ARAÚJO, ARAÚJO e GARCIA, 2008). Segundo Barmentlo et al. (2018), o glifosato pode impactar diferentemente várias
espécies na comunidade aquática. Consequentemente, é provável que a exposição a este herbicida tenha um impacto negativo
na biodiversidade e nos processos ecossistêmicos, como na produção primária e na decomposição. Assim, a avaliação do efeito
ecotoxicológico desses agroquímicos e suas misturas sobre os organismos que vivem no meio ambiente é muito importante
para manutenção dos ecossistemas.

Materiais e Métodos
As análises foram realizadas no laboratório de Gestão e Controle de Poluição Ambiental (LGCPA) do Departamento de
Engenharia Química da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Preparo do agroquímico
Para avaliação da ecotoxicidade foi utilizado o herbicida Roundup Original®, em quatro concentrações (0,24, 0,48, 0,96 e 1,50
L 100 L-1 de água), escolhidas de acordo com a recomendação de uso da bula do produto que varia entre 0,25 e 6,0 L 100 L-1
de água. Foi utilizada água deionizada (deionizada no laboratório, Deionizador tradicional, marca Merse, modelo
DE1800/CS1800, Brasil) para preparo das diferentes concentrações.

Ensaio de ecotoxicidade
Os ensaios foram realizados com as quatro diferentes concentrações do agroquímico e a água deionizada foi utilizada como
controle.
Os ensaios de fitotoxicidade aguda com o vegetal Lactuca sativa (alface) considerada um organismo-teste de nível trófico
produtor, foi determinada segundo a metodologia proposta pela US-EPA (1996) , com adaptações .
Primeiramente, 1 folha do papel filtro qualitativo (diâmetro de 9,0 cm, marca Unifil) foi colocada dentro de cada placa de Petri
(90 x 15 mm). Em seguida, 20 sementes de alface sem defensivos agrícolas (alface manteiga, Isla Sementes, com pureza de
99,8% e germinação de 90%) com padronização de tamanhos foram colocadas em um microtubo de centrifugação (tipo
eppendorf, 2,0 mL, marca Bioplast). Sementes com tamanhos irregulares, escuras e pequenas não foram utilizadas a fim de
manter uma padronização.
Em cada placa de Petri contendo uma folha de papel filtro qualitativo, foram adicionadas 20 sementes de L. sativa, em fileiras
4 x 5, e 3,5 mL de amostra (herbicida em cada concentração e controle) como representado na Figura 1. As placas foram
fechadas e incubadas por 120 h (3 dias), a 25 ± 2 °C, com fotoperíodo de 12 h (12 h no escuro e 12 h na claridade). Os ensaios
foram realizados em triplicata, totalizando-se 60 sementes por concentração.
Após os três dias, foi medida com uma régua graduada escolar o crescimento das raízes de todas as sementes, como
apresentado na Figura 2. Foram anotados os dados individuais para cada tratamento. O efeito tóxico do herbicida foi avaliado
em relação ao número de sementes germinadas (radícula aparente) e no comprimento das raízes (≥ 3,0 mm).

1215
Figura 1: Organização das sementes de alface (Lactuca sativa). Fonte: os autores (2019).

Figura 2: Medida do comprimento da raiz. Fonte: adaptado de Ariati (2015).

Para a Artemia salina (Artemia), não há uma metodologia padronizada para a realização do ensaio com este organismo e, dessa
forma, a toxicidade aguda à A. salina foi realizada seguindo os métodos propostos por Vanhaecke et al. (1981) e Meyer et al.
(1982), com adaptações.
A partir de sal marinho comercial (Red Sea, Houston/TX/USA), foi preparada uma solução salina com concentração de 3,5%,
ou seja, 35 g de sal marinho comercial foram solubilizados em 1 L de água deionizada. Esta solução foi vertida em um
recipiente retangular (26 x 18 cm) dividido por uma tela de malha de 2,0 mm. O recipiente foi mantido em banho termostático
(TE-185, Tecnal, Piracicaba/SP/BRA) a 25 ± 2 °C, por 24 h, sob iluminação (20 W) e aeração artificial com compressor (de ar
2,5 W com pedra porosa, Big Air, A230). Após esse período, o pH da solução salina foi aferido em pHmetro digital (DM-20,
Digimed, São Paulo/SP/BRA) com eletrodo combinado de pH (DME-CV1, Digimed, São Paulo/SP/BRA) e deveria estar em
8,0 ± 0,5 (pH da solução em 8,01).
Em um dos lados do recipiente contendo solução salina, foram adicionados 100 mg de ovos de artemia de alta eclosão
(Maramar Pet, Arraial do Cabo/RJ/BRA) e coberto com papel laminado (marca Bompack, Diadema/SP/BRA) para bloqueio da
luminosidade. O outro lado do recipiente foi mantido sob iluminação (lâmpada fluorescente de 20 W, Empalux,
Curitiba/PR/BRA) e aeração artificial por 48 h, a fim de atrair os náuplios (larvas) para esse lado do sistema (artemias possuem
fototropismo positivo);
Após esse período, 10 náuplios de artemia foram coletadas no lado descoberto do recipiente e inseridas em um poço de placas
multiwell contendo 2,5 mL de amostra. Todos os ensaios foram realizados em triplicata. Por fim, as placas foram fechadas e
mantidas sob iluminação artificial a 25 ± 2 °C, por 24 h.
Os ensaios de toxicidade aguda com minhoca (Eisenia fetida) foram realizados pelo teste de contato, conforme a metodologia
recomendada pela OECD 207 (1984). As minhocas adultas (clitelo desenvolvido) foram lavadas até esvaziar seu conteúdo
gástrico, juntamente com um “jejum” de aproximadamente 1 h em um recipiente fechado, sem água e isoladas. Em placas de
Petri (90 x 15 cm), foi inserida uma folha de papel filtro qualitativo (diâmetro de 9,0 cm, marca Unifil) e adicionados 3,0 mL
de amostra. Uma minhoca foi adicionada em cada placa, totalizando-se dez réplicas por amostra. As placas foram fechadas e
parcialmente lacradas para evitar fuga. As minhocas foram expostas às amostras por até 72 h, a 20 ± 2 °C e com ausência total
de luminosidade, sendo a mortalidade dos organismos verificada diariamente, assim como a retirada daqueles não
sobreviventes.
Para realização das análises de dados ao final do teste das artemias, foram contabilizados os indivíduos mortos ou com perda
total de movimentação. Devem ser consideradas com potencial de toxicidade aguda as amostras que apresentaram mortalidade
de A. salina ≥ 50%, em relação ao grupo controle (CL50,24h). Em relação ao ensaio realizados com as minhocas, foram
consideradas com potencial de toxicidade aguda as amostras que apresentaram mortalidade maior ou superior a 50%, em
relação ao grupo controle (CL50,72h). O efeito tóxico do herbicida nas alfaces foi avaliado em relação ao número de sementes
germinadas (radícula aparente) e no comprimento das raízes (≥ 3,0 mm). Foram consideradas com potencial de toxicidade
aguda as amostras que apresentam inibição ≥ 50%, em relação ao grupo controle, na germinação ou no crescimento radicular
de L. sativa (CI50,120h).

1216
Resultados e Discussão
Na Figura 3 são apresentados os resultados de toxicidade aguda aos diferentes organismos expostos a essas amostras. Os
valores de cada efeito (germinação, crescimento e mortalidade) estão dispostos na Tabela 1.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 3: Toxicidade aguda do herbicida comercial à base de glifosato para: (a) crescimento radicular (b) germinação
de sementes de L. sativa; (c) indivíduos vivos de A. salina e de (d) E. fetida. Fonte: os autores (2019).
Notas: CI50 = concentração que causa inibição (efeito) à metade dos organismos expostos; CL50 = concentração que causa
inibição à metade da população exposta.

Tabela 1: Valores de toxicidade aguda do herbicida comercial à base de glifosato para três níveis tróficos: produtor
(alface, L. sativa), consumidor primário (microcrustáceo, A. salina) e decompositor (minhoca, E. fetida)
Concentração (kg/100 L de água)
0,00 (controle) 0,24 0,48 0,96 1,50 CL50 ou CI50
Indivíduos mortos de A. salina (%)
7±4 100 ± 0 100 ± 0 100 ± 0 100 ± 0 46,5
Germinação de L. sativa (%)
5,0 0,0 0,0 0,0 100 50,0
Crescimento radicular de L. sativa (cm)
2,6 ± 0,1 0,2 ± 0,0 0,1 ± 0,0 0,1 ± 0,0 0,1 ± 0,0 1,3
Indivíduos mortos de E. fetida (%)
10 ± 0 60 ± 0 100 ± 0 100 ± 0 100 ± 0 45,0
Notas: CI50 = concentração que causa inibição (efeito) à metade dos organismos expostos; CL50 = concentração que causa
inibição à metade da população exposta.
Fonte: os autores (2019).

1217
O ensaio de germinação de sementes e crescimento radicular foi utilizado para determinar a fitotoxicidade do herbicida a base
de glifosato mais utilizado na agricultura brasileira e mundial. Os efeitos estão apresentados na Figura 3(a) e (b) e na Tabela 1.
Em relação ao crescimento radicular de L. sativa (Figura 3a), todas as concentrações tiveram um efeito significativo no
crescimento da raiz da alface. Quando não foi aplicado o defensivo agrícola houve um crescimento radicular de 2,6 cm, porém
quando foi introduzida a utilização do herbicida a base de glifosato, mesmo que em menor concentração, este valor reduziu
para 0,1 cm. Valores abaixo de 1,3 cm indicam que há efeito negativo no crescimento radicular.
A exposição da L. sativa às amostras, independente da concentração, causou alto efeito de inibição do crescimento radicular
dessas plantas. Isso revela que, todas as concentrações do defensivo agrícola, se apresentaram tóxicas ao desenvolvimento das
radículas de alface. Rodrigues et al. (2016) também observaram esta inibição do crescimento radicular para três organismos do
nível trófico produtor, sendo estes a sementes de pepino (Cucumis sativus), alface (Lactuca sativa) e tomate (Lycopersicon
esculentum) quando expostos a dois herbicidas a base de glifosato, Roundup Original e glifosato AKB 480. A fitotoxicidade
acentuada observada no crescimento da radícula de L. sativa indica que a sua inibição é um sensível indicador subletal dos
efeitos às plantas (SOBRERO e RONCO, 2004; PAULI et al., 2017).
Em relação à germinação (Figura 3b) observou o mesmo comportamento do crescimento radicular. Sem adição do herbicida,
ou seja, no ensaio de controle, houve 100% de germinação. Este resultado mostra que há alta confiabilidade nos ensaios. O
valor encontrado de CI50 foi 50. Sem nenhuma exceção, todas as concentrações inibiram a germinação da alface.
Embora o glifosato não seja recomendado para a aplicação direta no solo, ele pode atingir o ecossistema por meio da lavagem
foliar e da contaminação indireta da deriva de pulverização e pela exsudação das raízes ou morte e decomposição de resíduos
de plantas tratadas. Uma vez no solo, o glifosato pode ser adsorvido nas partículas do solo, degradado por micróbios, ou
transferido para solo, migrando através de poros do solo ou canais radiculares (RODRIGUES et al., 2016). Gomes et al. (2014)
demonstraram que o glifosato afeta os mecanismos fisiológicos das plantas, como a fotossíntese, o metabolismo do carbono, a
nutrição mineral e os eventos oxidativos, além de perturbar as interações microrganismo-planta.
Aliado a isso, uma vez que glifosato pode ser liberado de plantas mortas, o plantio direto e as práticas de plantio direto podem
potencializar seu acúmulo em solos em diferentes profundidades. Paralelamente, glifosato também pode ser exsudado de raízes
de plantas pulverizadas, em um processo conhecido como transferência de rizosfera. Ao todo, esses aspectos podem aumentar
os riscos de contaminação por glifosato, uma vez que as plantas também têm uma rota de transporte entre raízes para este
herbicida (SOARES et al., 2019). O tempo de meia-vida do glifosato varia de poucos dias a dois meses ou três meses, mas há
relatos de persistência do solo por 100 dias e 1000 dias, e persistência da atividade fitotóxica por mais de 19 semanas após a
aplicação (RODRIGUES et al. 2016), ou seja, além deste efeito tóxico ser agudo ele é perseverante.
A Figura 3(c) mostra a porcentagem de indivíduos vivos de náuplios de A. salina após 24 h de exposição a diferentes
concentrações de Roundup. Ao observar o gráfico e os dados da Tabela 02 verificou-se que o grupo de controle apresentou
93% de organismos viáveis, ou seja, apenas 7% dos organismos morreram. Como este valor é inferior a 10%, o teste com a A.
salina foi representativo e o teste apresentou alta confiabilidade. A taxa de mortalidade foi expressa utilizando o valor do CL50
igual a 46,5%. Para todas as concentrações estudadas, o Roundup apresentou-se tóxico para os náuplios de A. salina, pois os
valores de mortalidade foram superiores ao CL50 e igual a 100%, ou seja, mesmo que seja o defensivo agrícola seja usado na
menor concentração indicada na bula (0,25 L 100 L-1 de água) haverá morte de todos os organismos teste. Isso significa que
para o nível trófico dos consumidores primário, o defensivo agrícola tem elevado potencial toxicológico. Rodrigues et al.
(2016) observaram que tanto o Roundup Original quanto o glifosato AKB 480 provocaram toxicidade significativa para
náuplios de A. salina e ainda ressaltaram que de acordo com o Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e
Rotulagem de Produtos Químicos, ambos os herbicidas são classificados como categoria 3 para toxicidade aquática aguda; no
entanto, verificou-se que o Roundup era mais tóxico que o glifosato AKB 480.
Outro ponto a ser destacado é que a A. salina é utilizada como organismo para verificar a toxicidade aguda em corpos hídricos.
Diferentes compostos químicos entram nos corpos de água e afetam a biota aquática. Em particular, os agroquímicos podem
atingir corpos d'água de diferentes maneiras, em especial os herbicidas, pode ocorrer como resultado de pulverização direta, ou
durante chuvas intensas ou lixiviação de campos agrícolas, escoamento e vento após ou mesmo durante a aplicação e afetar
agroecossistemas e espécies vegetais não visadas, que não são intencionalmente tratadas/pulverizadas com o herbicida. O
glifosato tem sido regularmente detectado em uma diversidade de corpos de água, e sua presença em águas superficiais foi
encontrada 60 dias após a formulação ter sido aplicada, o que indica que este composto pode persistir no meio ambiente
(IUMMATO et al. 2019; SOARES et al. 2019).
A Figura 3(d) apresenta a porcentagem de indivíduos de minhoca (E. fetida) que sobreviveram após 120 h de exposição a
diferentes concentrações de Roundup. A confiabilidade desse teste foi verificada pela morte de apenas 1 organismo no controle
negativo, representando 10%, o que é ainda é permitido e considerado como confiável. A taxa de mortalidade foi expressa
utilizando o valor do CL50 igual a 45,0%. Ao analisar o gráfico e os valores de Tabela 02, apesar de haver sobreviventes na
menor concentração de defensivo agrícola (0,24 L 100 L-1 de água), todas as concentrações apresentaram-se tóxicas para o
nível trófico dos decompositores, pois os valores de mortalidade foram superiores ao valor do CL50. É importante ressaltar que,
conforme afirmado por Santorufo, Van Gestel e Maisto (2012), os invertebrados E. fetida e A. salina predizem o possível
efeito tóxico de substâncias a mamíferos e humanos.

1218
Considerações Finais
Embora o mecanismo alvo de ação das formulações à base de glifosato e glifosato seja específico para as plantas, concluímos
que as formulações a base de glifosato são fitotóxicas e induzem efeitos tóxicos em organismos não alvos, como consumidores
primários e decompositores. É importante, portanto, avaliar não só a ecotoxicidade do ingrediente ativo, mas também das
formulações para proteger o meio ambiente e prevenir danos à vida humana e ao meio ambiente.

Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer ao laboratório de pesquisa LGCPA do Departamento de Engenharia Química da
Universidade Estadual de Maringá pelo suporte laboratorial e a CAPES pela bolsa concedida.

Referências

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1220
5SSS270
AVALIAÇÃO DA GERAÇÃO, COLETA E DESTINAÇÃO FINAL DE
RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES NO MUNICÍPIO DE
JOAÇABA – SC
Sandileia Recalcatti1, Gislaine Luvizão2, Scheila Lockstein3, Fabiano Alexandre Nienov4, Lucas Quiocca
Zampieri5
1Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-mail: sandileia.r@unoesc.edu.br; 2Universidade do Oeste de Santa
Catarina, e-mail: gislaine.luvizao@unoesc.edu.br; 3Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-mail:
scheila.lockstein@unoesc.edu.br; 4Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-mail:
fabiano.nienov@unoesc.edu.br; 5Universidade do Oeste de Santa Catarina, e-mail:
lucas.zampieri@unoesc.edu.br.

Palavras-chave: Resíduos Sólidos; Reciclagem; Joaçaba.

Resumo
O Brasil gera anual de 78,4 milhões de toneladas de resíduos, sendo que desse total, cerca de 71,6 milhões de toneladas foram
objeto de coleta, representando um índice de cobertura de coleta de 91,2% para o país, o que aponta que 6,9 milhões de
toneladas de resíduos não foram coletados, tendo destino impróprio, em lixões ou aterros controlados, que não possuem as
medidas ambientais necessárias para proteger o meio ambiente contra danos e degradações. Do total de resíduos coletados,
59,1%, cerca de 42,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos são dispostos em aterros sanitários. O restante,
aproximadamente 29 milhões de toneladas são despejados em locais inadequados. A região Sul do país é composta por 1.191
municípios que, em 2017 geraram 22.429 toneladas por dia de resíduo sólido urbano, tendo um índice de coleta de 95,1%,
sendo que deste total, 29,8%, ou seja, 6.356 toneladas diárias foram dispostas em lixões e aterros controlados. O município de
Joaçaba/SC gera aproximadamente 700 toneladas por mês de resíduos sólidos urbanos, sendo que a coleta abrange 100% da
zona urbana do município e que todos os resíduos coletados recebem tratamento adequado em aterro sanitário. O objetivo deste
trabalho foi analisar a geração de resíduos domiciliares, as formas de coleta, bem como sua destinação final. No município,
aproximadamente 70% da população faz a separação do lixo, o que evita a contaminação dos recicláveis com lixo orgânico,
bem como contribui para o aumento da vida útil do aterro sanitário. A média de geração de resíduos orgânicos no Município de
Joaçaba é de 0,46 kg/hab/dia, estando abaixo da média do Estado de Santa Catarina, que é de 0,70 kg/hab/dia.

Introdução
O avanço econômico e o crescimento populacional estão diretamente ligados com a geração de resíduos. O Brasil produz em
média 387 kg/hab./ano de resíduos sólidos. A região Sul do país gera 22.328 t/dia (274 kg/hab./ano). O estado de Santa
Catarina produz 4.909 t/dia, representando 0,70 kg/hab./dia e 256 kg/hab./ano. O município de Joaçaba gera 670 t/mês de
resíduos sólidos (Tabela 1).
Para minimizar este agravante ambiental é necessário investir em programas de coleta além de informar e conscientizar a
população sobre as consequências da destinação incorreta do lixo produzido.

Tabela 1 – Geração de resíduos.


Brasil Região Sul Santa Catarina Joaçaba
População 207.660.929 29.644.948 7.001.161 29.608
Geração diária (t) 220.177 22.328 4.909 22
Geração diária por hab. (kg/hab./dia) 1,060 0,753 0,701 0,754
Geração anual por hab. (kg/hab./ano) 387 275 256 275
Fonte: ABRELPE (2014).

Revisão Bibliográfica
Conforme especifica a Lei n° 12.305 (BRASIL, 2010) que institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, resíduos
domiciliares são aqueles originários de atividades domésticas em residências urbanas.
De acordo com a NBR 10.004 (ABNT, 2004) o resíduo de origem domiciliar pode ser:

1221
a) Orgânico, incluindo os não recicláveis;
b) Papéis;
c) Plásticos;
d) Vidros e outros materiais diversos.

A coleta seletiva e a reciclagem são soluções indispensáveis e trazem alguns benefícios (LEITE, 2006):

a) Reduzem o volume de lixo nos aterros;


b) Diminuem a utilização dos recursos naturais;
c) Reduzem a contaminação do meio ambiente;
d) Prolongam a vida útil dos aterros sanitários.

Reciclar é um processo industrial descomplicado que começa em casa, com a correta separação do lixo. Para contribuir com a
reciclagem, o consumidor deve:

a) Separar o material reciclável do lixo orgânico;


b) lavar as embalagens que serão encaminhadas para a reciclagem, a fim de que os resíduos não contaminem o material;
c) encaminhar o material para as cooperativas, catadores ou centrais de recebimento, caso na sua cidade não haja coleta
seletiva;
d) o lixo orgânico pode ser utilizado para compostagem.

Descartar resíduos orgânicos, principalmente, em lixões ou em terrenos baldios acarreta uma série de problemas de saúde
pública, pois o chorume quando não tratado permanece no ambiente podendo contaminar os cursos d’água. No caso de
resíduos perigosos a PNRS exige que os geradores desse tipo de resíduo tenham planos de gerenciamento.
O município de Joaçaba possui o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos elaborado no ano de 2014, porém
ainda não foi sancionada a lei. Portanto, a municipalidade não tem como exigir que se cumpra o que está no plano.
De acordo com IBGE (2017), a população estimada no município de Joaçaba é de 29.608 habitantes, e segundo o Censo
(2010), 92% da população, ou seja, 27.240 habitantes residem na área urbana, e apenas 8%, ou seja, 2.368 habitantes residem
na área rural.

Metodologia
A pesquisa teve caráter científico e exploratório (Figura 1). Consultou-se junto à prefeitura municipal de Joaçaba se há algum
projeto em andamento, implantado, ou se há previsão de implantação, e ainda como está a organização da municipalidade
frente a esse agravante ambiental.
Posteriormente, foram colhidas informações sobre como é feita a coleta seletiva no município, bem como quais áreas são
comtempladas com o serviço.
Após, consultou-se o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) elaborado no ano de 2014, mesmo
ano que foi implantado o sistema de coleta seletiva no município.
Efetuou-se contato com a empresa prestadora de serviços de coleta, visitou-se o aterro sanitário e identificou-se os processos
de coleta, separação, manuseio, armazenamento e destinação final dos resíduos sólidos residenciais.

Figura 1 – Fluxograma metodologia da pesquisa.

1222
Montou-se um questionário referente à coleta seletiva no município e aplicou-se em uma amostra da população, em todos os
bairros do município, incluindo o centro, afim de avaliar o funcionamento do sistema de coleta.
Para o cálculo da amostra populacional, foi utilizado como base o último dado referente ao número de habitantes em Joaçaba e
o percentual que se refere à quantidade de habitantes na área urbana do município. Utilizou-se para o cálculo:

a) População de 27.240 habitantes;


b) Erro amostral de 10%;
c) Nível de confiança de 95%.

A amostra resultou em um número de 96 pessoas a serem entrevistadas.


De posse das informações, iniciou-se a tabulação dos dados, onde foram gerados gráficos que quantificam a parcela dos
entrevistados de acordo com sua resposta a cada pergunta feita.
A fim de quantificar a geração de lixo nas residências efetuou-se acompanhamento em três domicílios de três diferentes bairros
do Município de Joaçaba.

Tabela 2 – Características das residências para quantificação de geração de resíduos.


Domicílio Renda Número de moradores Número de dias que foram coletadas amostras
1 Acima de 5 salários mínimos 2 22
2 De 2 a 5 salários mínimos 4 21
3 Até 2 salários mínimos 3 21

A metodologia utilizada na quantificação dos resíduos sólidos domiciliares foi a amostragem. Procedeu-se da seguinte
maneira: as amostras coletadas tratavam-se do total de resíduos sólidos gerados pelos moradores durante o dia. Realizou-se a
triagem separando os resíduos em orgânicos, recicláveis e outros (banheiro) e pesou as amostras diariamente em horários
próximos. Este processo repetiu-se durante 21 dias.
Para a verificação da umidade da amostra de lixo orgânico, coletou-se três amostras que foram levadas ao laboratório, pesadas
úmidas, levadas à estufa por um período de 24 horas e posteriormente pesadas secas.
O Grupo Tucano realiza a coleta, transporte e disposição de resíduos sólidos urbanos (RSU), que incluem resíduos residenciais
e comerciais. A empresa possui caminhões que coletam o lixo convencional e caminhões do tipo baú que fazem a coleta dos
materiais recicláveis, também chamada de coleta seletiva.
A coleta é feita diariamente no período noturno, na zona urbana e mensalmente na zona rural e a capacidade de coleta é total
em relação à produção. A distância de transporte é de aproximadamente 45 km, incluindo a viagem de ida e volta e a coleta
propriamente dita, para isso adequa-se dois caminhões com capacidade de 15m³ cada.
O sistema de coleta seletiva implantado no município iniciou-se em Janeiro de 2014, abrangendo 80% do perímetro urbano,
com o emprego de caminhões tipo baú (Figura 2), específicos, e com a construção de um barracão para triagem, cedido para a
Associação de Catadores de Materiais Recicláveis (ACOMAR) existente no município, para onde vai este tipo de resíduo após
a coleta. Posteriormente, a ACOMAR realiza a venda dos recicláveis.

Figura 2 – Caminhão utilizado na coleta seletiva.

A acomodação dos resíduos sólidos domiciliares até o momento da coleta é feito em sacos plásticos descartáveis, sacolas de
supermercado colocadas em lixeiras fixadas ou em vasilhames rígidos não fixados. Na maioria das vezes as lixeiras são

1223
insuficientes para a demanda de lixo produzido, principalmente na região central da cidade. Em muitos lugares são
improvisados vasilhames junto aos passeios públicos. Nos bairros a coleta é feita de porta em porta não se observando
existência de lixeiras próprias.
A metodologia adotada pela empresa para a coleta é chamada “porta-a-porta”, onde o coletor apanha os sacos de lixo e os joga
no caminhão coletor compactador, que faz o transporte até o aterro sanitário, no município de Erval Velho, localizado a uma
distância de aproximadamente 15 km de Joaçaba, onde acontece a destinação final dos resíduos, já que no município não há
uma estação para armazenar temporariamente os resíduos coletados. Não há no município um posto de transbordo ou
estocagem temporária dos resíduos, estes são encaminhados para o aterro por simples transição, sem qualquer tratamento
prévio, a compactação é feita pelo próprio veículo de transporte.

Figura 3 – Localização do aterro.

Em abril de 2018 foi implantada uma nova forma de coleta, inicialmente no centro do município, e, posterior à adaptação da
população, pretende-se expandi-la para os bairros também. Esse sistema trata-se da disposição de 200 contêineres em vagas de
estacionamento pelas ruas do centro, sendo o contêiner azul para o lixo reciclável e o contêiner verde para o lixo orgânico
(Figura 4).

Figura 4 – Contêineres de coleta.

O aterro sanitário do Grupo Tucano possui licenciamento ambiental. No aterro sanitário da empresa existe o Centro de
Valorização dos Resíduos (CVR), onde é realizada a triagem dos materiais, assegurando assim o retorno da matéria prima ao
ciclo produtivo, contribuindo com a preservação do meio ambiente e a vida útil dos aterros sanitários.

1224
Os resíduos que chegam ao aterro através do caminhão são depositados – não excedendo um período de 24h acomodados - em
um local próprio onde com maquinário específico os sacos de lixos são colocados em uma esteira e um determinado número de
pessoas faz a separação manual dos recicláveis que posteriormente são prensados formando um fardo, e vendidos para
empresas recicladoras. Esse serviço de separação é de responsabilidade de uma empresa terceirizada.
Após a triagem o trator de esteira faz o desmonte, espalhamento e compactação do resíduo não aproveitado. A camada de
impermeabilização da base é feita com manta de PEAD e garante a segura separação da disposição de resíduos do subsolo,
impedindo a contaminação do lençol freático e do meio natural através de infiltrações de percolados e/ou substâncias tóxicas.
O sistema de drenagem interna de percolados e gases é fundamental para o bom funcionamento do aterro. A drenagem do gás
metano é feita com pedras rachão e tubos de concreto, sendo interligado com o sistema de drenagem do chorume.
O município de Joaçaba gera aproximadamente 670 toneladas/mês de RSU sendo que desse total, 100% dos resíduos coletados
são tratados.
Este novo sistema está tendo aceitação e rejeição. Recentemente recebeu críticas de parte da população por estar sendo
depositado lixo no contêiner errado. De acordo com a municipalidade é necessário investir em campanhas educativas de
separação para melhorar o processo de coleta.

Resultados
De acordo com o questionário aplicado em 122 residências distribuídas nos bairros e no centro de Joaçaba, com a finalidade de
conhecer a situação da coleta seletiva no município, e a disposição das pessoas em colaborar com o sistema. Em relação ao tipo
de residência avaliada, dividiu-se em 72% sendo casas em alvenaria, 7% apartamentos e 21% casas em madeira ou mista.
O nível de escolaridade dos entrevistados foi bem distribuído, desde fundamental incompleto até ensino superior. Sobressaindo
o ensino fundamental incompleto com 34% e o ensino médio com 31%.
O Gráfico 1 apresenta a quantidade de habitantes em cada residência entrevistada. Sendo que, 42 entrevistados compõe um
grupo familiar formado por 3 pessoas. Os dados do último Censo (2010) resultaram em uma média de 2,97 pessoas por
residência. Residências com 2 e 4 moradores foram de quantidades próximas, e residências com 6 pessoas foram de menor
quantidade.

Gráfico 1: Número de pessoas que moram na mesma residência

Para 59% das residências entrevistadas, mais de 70 domicílios, a renda média familiar é de 2 a 5 salários mínimos, 21%
recebem mais que 5 salários mínimos, 16% menos que 2 salários mínimos e 4% não informaram. Como na maioria das
residências moram 3 pessoas, pode se considerar que pelo menos duas delas são assalariadas, tendo assim uma renda de acordo
com a informada pela maioria.
Todas as pessoas entrevistadas sabem que o sistema de coleta seletiva está implantado no município e que o caminhão passa no
mínimo três vezes na semana em sua rua. Quando questionados se o caminhão da coleta seletiva passava na sua rua para fazer
a coleta, 99% dos entrevistados, ou seja, 121 pessoas responderam positivamente.
Apenas uma pessoa afirmou que o caminhão não chegava até a sua residência, talvez por dificuldade de acesso ou outro fator.
Possivelmente essa pessoa também não poderia levar os sacos de lixo em alguma rua próxima que o caminhão passa, e então,
realiza a queima do lixo seco, e o orgânico depõe no próprio lote.
Em análise geral, 99% das pessoas responderam que o coletor apanha os sacos de lixo na lixeira, ou na calçada, em residências
que não possuem lixeira e os joga no caminhão, estando coerente com a metodologia utilizada pela empresa prestadora do
serviço.
Aproximadamente 68% dos entrevistados, sendo 83 pessoas, fazem a separação do lixo em suas residências. Plásticos, vidros e
metais, entre outros, são separados do orgânico.

1225
No município de Joaçaba tem um caminhão coletor que passa recolhendo todo o lixo reciclável, isso é visto como um incentivo
para a população fazer a separação, já que os caminhões, do “lixo” reciclável e orgânico, passam em dias diferentes.
Mas ainda assim, existe uma parcela significativa de pessoas que não faz essa separação, possivelmente devido à falta de
programação pra separar o lixo com antecedência, ou à falta de ciência de que fazer a separação em casa facilita o trabalho no
aterro sanitário, pois, quando se mistura lixo orgânico com reciclável inviabiliza-se o reaproveitamento de alguns, papel sujo,
por exemplo, não pode ser reciclado.
Aproximadamente 64% dos entrevistados, tratando-se de 79 pessoas, não fazem a reutilização de embalagens. Talvez devido
ao comodismo ou costume de comprar e depois de usar se desfazer da embalagem, jogando no lixo. Porém, essa prática não é a
mais recomendada ambientalmente. Além de evitar o desperdício, a reutilização contribui para a economia na residência, além
do fato de os materiais demorarem muito tempo para serem absorvidos pela natureza quando descartados incorretamente.
Quanto à disposição do resíduo orgânico, 79 pessoas entrevistadas dão outro destino a este tipo de lixo, que não enviá-lo para o
aterro. Muitas delas relataram dar os restos de comidas para animais, ou jogarem na horta para servir de adubo às verduras e
hortaliças, realizando o processo conhecido por compostagem.
Aproximadamente 63% das residências possui fossa séptica (sistema individual) para tratamento primário do esgoto doméstico
e 37% dos entrevistados possuem em sua residência a rede coletora (sistema coletivo). O sistema individual de tratamento foi
normalmente encontrado em residências construídas há mais tempo e em localidades que ainda não foi ligado à rede coletora.
No município de Joaçaba, pra cada residência ligada à rede coletora, o morador deve pagar pelo esgoto 80% sobre o consumo
de água durante o mês. Compreendendo que o sistema de tratamento de esgoto difere-se do de captação de água, esse valor
cobrado na fatura é devido aos gastos com processo de tratamento, equipamentos, pessoal, produtos químicos, entre outros.
Todavia o tratamento de esgoto assegura os diferentes usos das águas e o equilíbrio do meio ambiente.
No município de Joaçaba, o Sistema Intermunicipal de Água e Esgoto (SIMAE) considera como parâmetro que cada morador
consome 150 litros por dia de água, considera ainda uma média de 3 moradores por residência. Cada residência consome entre
10.000 e 15.000 litros de água por mês, o que está dentro do parâmetro calculado pela concessionária.
Em relação ao consumo de energia 41% dos entrevistados consomem de 200 a 300 kW por mês. A CELESC Distribuição S.A.
não tem uma estimativa de consumo por morador no município de Joaçaba, porém, afirma-se que para residências, essa
quantidade gasta de kW é comum. Apenas 2% consomem menos do que 100 kW. Essas tendem a ser residências com 1 ou 2
moradores somente.
Apenas 3 residências consomem menos do que 100 kW e 5 residências consomem mais do que 500 kW.
No processo de quantificação dos resíduos as amostras de lixo foram pesadas úmidas pelo fato de ser assim que elas chegam ao
aterro sanitário. Após a verificação em laboratório as amostras apresentaram umidade média de 305%.
Para o lixo reciclável, não há garantia de que as embalagens estavam completamente limpas, sem resquícios de alimentos ou
produtos dentro.
O Gráfico 2 representa a geração de resíduos no domicílio 1 que possui renda superior a 5 salários mínimos (R$ 4.990,00).

Gráfico 2: Quantificação de resíduos sólidos domiciliares em residência com renda alta - 2 moradores

A partir do gráfico acima é possível visualizar a quantidade de lixo produzido em kg/hab./dia pelos dias em que se coletou as
amostras. O lixo orgânico é gerado em maior quantidade comparado ao reciclável. Como o lixo orgânico foi pesado úmido,
isso pode justificar os pesos maiores do que o lixo reciclável, que não foi produzido todos os dias.
Os moradores deste domicílio têm o hábito de cozinhar todos os dias, e como são apenas duas pessoas eventualmente sobra
comida que acaba sendo descartada. Verificou-se maior geração nas terças-feiras e nos finais de semana. Possivelmente, nos
finais de semana recebeu-se visita e consumiu-se mais alimento que foi aproveitado até o seu limite sendo descartado na terça-
feira.

1226
Quando se teve uma geração de lixo reciclável muito pequena, por exemplo, apenas uma embalagem longa vida no dia, a
mesma foi armazenada e pesada juntamente com uma amostra maior do dia seguinte.
O resíduo gerado no banheiro da residência, neste caso, não foi descartado diariamente, se acumulando para obter uma amostra
mais significativa. O índice de geração deste tipo de resíduo foi de 0,05 kg/hab./dia.
Neste domicílio a média de geração de lixo orgânico foi de 0,23 kg/hab./dia e de lixo reciclável foi de 0,05 kg/hab./dia. Pode-
se afirmar que o resíduo orgânico é mais pesado comparado ao reciclado, que em contrapartida, tem um volume maior.
No Gráfico 3 são apresentadas as quantidades de resíduos sólidos domiciliares geradas pelo domicílio 2, que possui renda entre
2 e 5 salários mínimos (R$ 1.996,00 e R$ 4.990,00).

Gráfico 3: Quantificação de resíduos sólidos domiciliares em residência com renda média – 4 moradores

Conforme o gráfico acima nota-se que a média de geração de lixo orgânico é igual a de lixo reciclável, 0,11 kg/hab./dia. A
geração de lixo reciclável é superior comparado ao domicílio 1, é possível que nesta residência consuma-se mais produtos
industrializados e com isso um número maior de embalagens são descartadas. O que justifica também a geração de lixo
orgânico ser menor em relação ao domicílio 1.
Evidenciou-se que em alguns dias não houve geração de lixo reciclável ou orgânico, bem como que nos finais e início de
semana a geração de resíduos foi maior. O resíduo proveniente do banheiro foi coletado mais seguidamente comparado ao
domicílio 1, porém, com um índice de geração menor, de 0,01 kg/hab./dia.
A partir do Gráfico 4 é possível visualizar a geração de resíduos sólidos domiciliares em residência de renda baixa (R$
1.996,00).

Gráfico 4: Quantificação de resíduos sólidos domiciliares em residência com renda baixa – 3 moradores

De acordo com o gráfico acima nota-se que a média de geração de resíduo orgânico neste domicílio é de 0,12 kg/hab./dia, um
índice inferior se comparado ao domicílio 1 que possui renda alta.
O resíduo produzido no banheiro foi coletado mais seguidamente e a geração igualou-se à do domicílio 1, sendo 0,05
kg/hab./dia.
A partir dessa quantificação conclui-se que a renda influencia na quantidade de resíduos gerados dentro da residência, bem
como o número de moradores. Pessoas de renda média e alta tendem a consumir mais produtos naturais que geram resíduos
orgânicos e em contrapartida mais industrializados, gerando resíduo reciclável. Pessoas com menor poder aquisitivo geram
menos resíduos recicláveis comparado com o orgânico.

1227
Essas quantidades geradas podem variar de acordo com os hábitos que se tem em cada residência e também conforme a época
em que é feita a quantificação.
Verificou-se que a maior quantidade de lixo orgânico gerado nas residências se dá no início e fim da semana. Sendo os índices
de geração média apurados no município:

a) 0,23 kg/hab/dia (renda alta);


b) 0,11 kg/hab/dia (renda média);
c) 0,12 kg/hab/dia (renda baixa).

Verificou-se ainda que a geração média diária de lixo orgânico da população de Joaçaba, de acordo com a renda é:

a) 66661,8 kg/dia (renda alta);


b) 3358,75 kg/dia (renda média);
c) 3585,86 kg/dia (renda alta).

Comentários Finais
Grande parcela da população colabora com o sistema de coleta fazendo a separação do lixo e realizando compostagem.
Algumas pessoas fazem o reaproveitamento de embalagens e ainda procuram cozinhar somente o necessário para aquela
refeição, a fim de diminuir a geração de resíduos e o descarte no aterro.
Os moradores adaptaram-se muito bem ao primeiro serviço de coleta implantado no município, porém, este último serviço
(contêineres) que está em fase de adaptação ainda tem divergências de aceitação da população.
A média de geração de resíduos orgânicos no Município de Joaçaba é de 0,46 kg/hab/dia, estando abaixo da média do Estado
de Santa Catarina, que é de 0,70 kg/hab/dia.

Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer a Secretaria de Estado da Educação e a Universidade do Oeste de Santa Catarina pelo apoio
recebido.

Referências Bibliográficas
ABRELPE. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil. Disponível em:
<http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2014.pdf> Acesso em: 19 de abril de 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Norma Brasileira Regulamentadora 10.004 - Resíduos sólidos
– Classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

BRASIL. Lei n.12.305, de 02 de ago. de 2010. Política Nacional dos Resíduos Sólidos, Brasília,SC,ago,2010.

LEITE, Marcelo Fonseca. A taxa de coleta de resíduos domiciliares: uma análise crítica.2006, 106 p. Dissertação (Mestrado
em Engenharia Civil) – Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006.

1228
5SSS271
MAPEAMENTO DA SUSCETIBILIDADE À INUNDAÇÃO EM PORTO
ALEGRE-RS
Gabriela Gutterres Berwanger1, Angélica de Paoli Schmidt2, João Paulo Delapasse Simioni3
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: g.berwanger@hotmail.com; 2Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, e-mail: angelica.de.p.schmidt@gmail.com; 3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail:
joao.delapasse@ufrgs.br

Palavras-chave: SIG, inundações, Analytic Hierarchy Process.

Resumo
A inundação urbana é uma ocorrência tão antiga quanto às cidades ou qualquer aglomeramento urbano. Sua ocorrência é
diretamente associada à urbanização caótica, mau uso da cobertura do solo e prática de canalização de rios e córregos, fatores
que acarretam na redução da capacidade de armazenamento natural dos deflúvios, gerando o escoamento dessas águas em
regiões que não simbolizam seus leitos naturais, visto que a superfície não é mais permeável e o escoamento acaba não sendo
dado pelo ravinamento natural. Como uma medida de ação de prevenção, o mapeamento das áreas suscetíveis a inundações é
um recurso muito importante para a leitura e compreensão dos episódios de inundações. A utilização dessas ferramentas
permite a implantação de um Sistema de Informações Geográficas (SIG), reunindo um conjunto de bases digitais e de banco de
dados que podem ser manipulados para realizar uma análise espacial de um fenômeno. Este trabalho teve por objetivo o
mapeamento da suscetibilidade à inundação em Porto Alegre-RS, a partir da aplicação do Analytic Hierarchy Process (AHP).
Para isto, realizou-se a aquisição dos seguintes elementos: i) cobertura do solo, ii) proximidade de recursos hídricos e iii)
declividade. Posteriormente, realizou-se a atribuição de pesos para cada elemento, definindo os riscos entre 1 a 5, sendo que, 1
representa o risco muito baixo e 5 representa o risco muito alto a inundações. Os resultados mostraram que a área urbana
apresenta alto risco a inundações, principalmente na zona norte de Porto Alegre. A maior parte do município apresenta risco
médio a inundações e as áreas com baixo risco, estão associadas a locais com declividades maiores que 20%. Espera-se que
este trabalho forneça subsídios para os gestores municipais a fim de desenvolverem políticas públicas voltadas para a
prevenção de inundações.

Introdução
A inundação urbana é uma ocorrência tão antiga quanto às cidades ou qualquer aglomeramento urbano (Tucci, 2003). Sua
ocorrência é diretamente associada à urbanização caótica, mau uso da cobertura do solo e prática de canalização de rios e
córregos (Meller & Paiva, 2007), fatores que acarretam na redução da capacidade de armazenamento natural dos deflúvios
(Canholi, 2014), gerando o escoamento dessas águas em regiões que não simbolizam seus leitos naturais, visto que a superfície
não é mais permeável e o escoamento acaba não sendo dado pelo ravinamento natural (Tucci, 2003).
As inundações na drenagem urbana ocorrem em pequenas bacias urbanizadas, sendo estas áreas de 1-100 km2, a exceção são
grandes cidades como São Paulo (Tucci, 2003). Na cidade de Porto Alegre, localizada no sul do Brasil, existem níveis
registrados de inundações desde 1899 (Tucci, 2003), sendo construído em 1970 o dique de proteção da cidade. Todavia, a
quantidade de águas pluviais que chegam aos corpos hídricos da cidade não deixou de aumentar significativamente nas últimas
décadas, ademais em conjunto aos problemas de bocas de lobo com resíduos que impedem a eficiência das obras de drenagem
urbana. Além disso, as águas que, em episódios de inundações e enchentes, se direcionam ao curso fluvial, carregam uma
grande quantidade de sedimentos e outras substâncias oriundas da limpeza da cidade pela água das chuvas, contribuindo para a
deterioração da qualidade da água e do assoreamento dos arroios (Basso et al, 2011) e corpos hídricos da cidade. Considerando
recentes estudos sobre mudanças climáticas (Motta et al, 2013;Naitzel et al, 2018;Sambani et al, 2017;Conti, 2005;Dantas,
2007;Nobre, 2010), estima-se que episódios de intensas precipitações na região Sul do país ocorram com maior frequência nos
próximos anos, visto que já estão sendo registradas frequências de crescimento de chuvas na atualidade (Minuzzi & Lopez,
2014).
Como uma medida de ação de prevenção, o mapeamento das áreas suscetíveis a inundações é um recurso muito importante
para a leitura e compreensão dos episódios de inundações (Oliveira et al, 2009). O uso de ferramentas computacionais como
Sistemas de Informações Geográficas (SIG) para agilizar o processo de análise do meio físico é de extrema importância para
tomadas de decisão de áreas extensas (Higashi, 2006) e vêm sido utilizado com êxito para desenvolvimento de pesquisas em
diversos setores e políticas públicas (Kneip, 2004;Corrêa et al, 1996;Pereira et al, 2018;Barros et al, 2019).
Dentro do SIG, procedimentos de avaliação multicritério envolvem um conjunto de alternativas geograficamente definidas e
conjuntos de critérios de avaliação representado como camadas de dados em formato de mapa. O problema consiste em

1229
combinar os critérios dos mapas de acordo com os valores de atributos e as preferências dos elaboradores utilizando uma regra
(Mokarram and Aminzadeh, 2010) ou peso de importância às características afim de chegar à uma conclusão com a junção de
todos os dados. A escolha e adoção de pesos para diferentes dados é uma etapa importante, sendo realizada com base proposta
de avaliação do Prof. Thomas Saaty em 1978, na Universidade da Pensilvânia, conhecida como Analytic Hierarchy Process
(AHP) (Santos & Venturini, 2018). A AHP auxilia na determinação e, por conseguinte, no resultado relativo à contribuição de
cada variável dentro do foco de estudo. (Moura, 2007).
Dessa forma, é possível realizar uma análise espacial de um fenômeno (Oliveira et al, 2009), conforme resultados de Santos e
Venturini (2017) quanto à avaliação de inundações na região da Bacia do Córrego do Lenheiro.
Deste modo, este trabalho teve por objetivo aplicar o Analytic Hierarchy Process para mapear a suscetibilidade a inundação na
cidade de Porto Alegre-RS. Para isto, realizou-se a sobreposição das variáveis: i) uso e cobertura da terra, ii) proximidade de
recursos hídricos; e, iii) declividade e definiram-se os pesos de cada uma das variáveis para gerar o mapa de suscetibilidade a
inundação.

Materiais e Método
Área de estudo
Este estudo foi conduzido na área urbana de Porto Alegre (30°00’S e 51°10’O), capital do estado do Rio Grande do Sul. A
população estimada do município, conforme estimativa do IBGE (2019) é de 1.483.771 habitantes. A área urbana é de
496,682km².
Conforme o Atlas Ambiental de Porto Alegre (Menegat, 1999), o Rio Grande do Sul pode ser delimitado a partir de três
regiões hidrográficas. Porto Alegre se encontra na Região Hidrográfica da Bacia do Guaíba, onde o Rio Jacuí é o principal
canal de escoamento para desemboque no Lago Guaíba (Menegat, 1998). Dentro da Região Hidrográfica da Bacia do Guaíba,
ainda há oito bacias hidrográficas subjacentes. Já no município de Porto Alegre, são observadas 27 sub-bacias hidrográficas
(Figura 56), as quais possuem fluxo de águas radial centrífuga – ou seja, as nascentes dos principais arroios encontram-se a
mesma área localizada nas colinas junto aos limites de Porto Alegre com Viamão.
As sub-bacias situadas na região norte e central do município possuem características urbanas e alta densidade populacional
(Menegat, 1998), em especial a sub-bacia do Arroio Dilúvio (Basso et al, 2011).

1230
Figura 56. Sub-bacias hidrográficas no município de Porto Alegre, RS.
Obtenção das variáveis
Foram levantados dados relativos ao limite municipal de Porto Alegre dentro do estado do Rio Grande do Sul (SEMA, 2018),
uso e cobertura do da terra (MAPBIOMAS, 2017), recursos hídricos do estado (SEMA, 2018) e declividade, a partir do
Modelo Digital de Elevação Shuttle Radar Topography Mission (SRTM). O trabalho foi desenvolvido no software ArcGIS
10.4.

Análise Multicritério
A Análise Multicritério, Moura et tal (2016), é utilizada pelos usuários do SIG por ser um método integrado da análise
espacial, e por possibilitar a construção de modelos descritivos ou preditivos de um território, em diferentes escalas e para
diferentes aplicações. Para a confiabilidade dos resultados, na escolha de multi critérios para representação dos riscos
associados às inundações, as variáveis cobertura do solo, declividade e distâncias de recursos hídricos mencionados no tópico
abaixo, foram unidas para verificação final de mapeamento em riscos alto, médio e baixo. Para definição dos pesos foram
considerados os dados de uso e cobertura do solo, recursos hídricos, a declividade e o Modelo Digital de Elevação.
Para cada um dos dados, foram atribuídos valores de influência significativa em episódios de inundação, onde a escala de um
(pouca influência) a cinco (muita influência) representando a intensidade de risco à inundação, conforme mostra as tabelas
abaixo.

1231
A atribuição de pesos para cada camada transformada ou originalmente em formato raster foi realizada através da ferramenta
Reclassify do ArcGIS.

Tabela 42. Pesos de influência de inundação atribuídos à cobertura do solo


Classe Peso Atribuído
Formação Florestal 1
Área Umida 5
Campos 3
Áreas Urbanas 5
Água 5

Tabela 43. Pesos de influência de inundação atribuídos à declividade

1 2 3 4 5
Declividade (%) > 100 75 - 100 50-75 20-50 < 20
Recursos Hídricos (m) >200 100-200 50-100 20-50 <20
MDE (m) >50 30-50 20-30 5-20 <5

Para a análise final de AHP, a seguinte distribuição de pesos foi atribuída:

Tabela 44. Pesos atribuídos aos dados trabalhados


Variável Peso Hierárquico
Cobertura do Solo 20
Recursos Hídricos 20
Declividade 40
MDE 20

Resultados e discussão
A partir da aplicação do AHP, foi possível perceber que as áreas com maior risco de inundação em Porto Alegre localizam-se,
principalmente, na zona norte da cidade, área próxima ao rio Gravataí que passa por frequentes inundações (Gaúcha ZH, 2019;
Correio do Povo, 2019). Também, áreas próximas aos arroios apresentaram risco alto a inundação. Salienta-se que estas áreas
apresentam alta suscetibilidade a eventos de enxurradas, com o rápido aumento do nível da água. Estas áreas também podem
sofrerem inundações por influência do despejo inadequado de resíduos sólidos que podem entupir as galerias de escoamento de
água. Além disto, a maior parte do município de Porto Alegre foi classificado como risco médio a inundação, dada a baixa
declividade, principalmente nas áreas centrais e norte do município. Poucas áreas isoladas apresentaram risco baixo, estando
associadas a áreas de maiores declividades.

1232
Figuras 57 a e b Mapa de Risco a inundação de Porto Alegre – RS (intensidade risco) e Mapa de Risco a inundação de
Porto Alegre (somente risco alto), respectivamente.

Considerações Finais
A metodologia AHP mostrou-se satisfatória para representar as áreas de risco a inundações em Porto alegre-RS. Na avaliação
dos riscos associados, em relação ao desevolvimento urbano, vários elementos antrópicos são introduzidos nas bacias e é de de
grande utilidade o planejamento de gestores para não acarretar problemas de inundações, alagamento e enchentes. Quanto à
geração de resíduos sólidos, que é um agravante nesses problemas, é preciso buscar ações voltadas a educação ambiental para
mitigar o descarte incorreto que venham a entupir bueiros, ser fontes de contaminação e atrair vetores como consequencias da
falta de conscientização. A vegetação contribui na retenção da lâmina da água evitando o escoamento superficial que possam
vir ocasionar os problemas mencionados acima, sendo de extrema importância preservar os recursos naturais da cidade que
contribuem na minimização desses impactos.
Conclui-se então a maior parte de Porto Alegre apresenta risco médio a inundações, e áreas próximas aos recursos hídricos e
com pouca declividade apresentam alto risco a inundações.
O mapa de suscetibilidade à inundações em Porto Alegre poderá seguir como base para estudos futuros para remediar e ou
evitar os riscos associados e soluções para gestores da área. Por fim, ressalta-se que apesar de tratar-se de uma modelagem, o
presente estudo oferece uma contribuição os gestores desenvolverem políticas públicas voltadas à prevenção de inundações.

Agradecimentos
Os Autores gostariam a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e ao Grupo de Pesquisa do Laboratório de
Geoprocessamento e Análise Ambiental (LAGAM) pelo apoio recebido. A professora Tatiana Silva para a oportunidade de
elaboração desse projeto na disciplina de Sistema de Informação Geográfico, disciplina de caráter obrigatório do curso de
Engenharia Ambiental da UFRGS.

1233
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%C3%A1rvores-em-porto-alegre-1.353810>. Acesso em: 08 de out. de 2019.

1235
5SSS272
TRATAMENTO DE EFLUENTE DE SALÃO DE BELEZA PARA O
FIM DE REUSO
Danielly Cruz Campos Martins1, Tainá Tiemy Hirota Câmara2, Thaís Mayumi Tanaka3, Cláudia Telles
Benatti4, Maria Angélica Simões Dornellas de Barros5, Célia Regina Granhen Tavares6
1Universidade Estadual de Maringá, e-mail: daniellyccampos@gmail.com; 2Universidade Estadual de Maringá,
e-mail: tainatiemy@gmail.com; 3Universidade Estadual de Maringá, e-mail: thais.mayumi.1999@gmail.com;
4Universidade Estadual de Maringá, e-mail: ctbenatti@uem.br; 5Universidade Estadual de Maringá, e-mail:
masdbarros@uem.br; 6Universidade Estadual de Maringá, e-mail: crgtavares@uem.br

Palavras-chave: efluente de embelezamento capilar; coagulação-floculação-filtração; reuso de águas.

Resumo
O número de salões de beleza cresce anualmente, assim como sua demanda por água. A fim de preservar a água potável para
fins nobres e avaliar um tratamento para o efluente produzido nessas unidades, adequando-o para o reuso em limpezas e
descargas sanitárias, este trabalho foi impulsionado. Para tanto, foi empregado o processo de coagulação-floculação-filtração
(CFF) utilizando o coagulante Tanfloc SG e PAC, em condições operacionais de pH 7,00 e 8,00 e dosagens de 100, 200 e 300
mg L-1 para o tratamento do efluente gerado em um salão de beleza. Para as condições de tratamento estudadas, as remoções de
turbidez obtidas ficaram na faixa de 98,14 e 99,41%, enquanto para cor aparente foi de 94,45 e 97,84%. Já com relação à DQO
a menor e maior remoção foi de 72,39 e 91,49%. Todas as maiores remoções ocorreram com o uso do coagulante PAC, em pH
7,0 e dosagem de 300 mg L-1. Embora a qualidade do efluente tenha aumentado após o tratamento por CFF, o mesmo não foi
suficiente para adequar o parâmetro de cor aparente ao padrão estabelecido pelo guia de Conservação e Reuso de Águas em
Edificações para o reuso em bacias sanitárias e lavagem de pisos. Dessa forma, propõe-se que para fins de reuso,
posteriormente ao processo de CFF seja adicionada uma etapa de polimento a fim de remover a coloração residual da água,
assim como reduzir sua carga orgânica.

Introdução
O crescimento demográfico, junto com a urbanização e a grande demanda de água potável são problemáticas a serem
enfrentadas. Nesse sentido, sendo a água um recurso natural limitado, além de sua preservação básica no dia-a-dia, a
substituição de água potável pela água obtida após o tratamento do efluente para atividades como limpezas e descargas é
bastante interessante.
Em paralelo a este cenário, o número de salões de beleza cresce a cada ano no Brasil. Entre os anos de 2012 e 2016 o mesmo
quadruplicou e totaliza na atualidade aproximadamente 1 milhão de unidades de beleza formais e informais (Bast, 2016;
Dunder, 2018; Sebrae, 2016).
Dentre os resíduos gerados nos salões de beleza, os efluentes formados nos lavatórios de cabelo possuem grande
representatividade. A cada serviço químico como alisamento ou coloração, estima-se que sejam gerados de 15 a 20 litros de
efluente no processo de lavagem dos cabelos (Rodrigues et al., 2016; Sebrae, 2016). Esse apresenta composição química
bastante complexa visto que é uma mistura de água, shampoo, condicionador e hidratantes, tintas, produtos diversos de
tratamentos capilares e resíduos capilares, que conferem altas concentrações de sólidos dissolvidos e suspensos, turbidez, cor
aparente, matéria orgânica e toxicidade (Micolichi, 2013, Sebrae, 2015).
Tendo em vista o grande volume de efluente produzido nos salões de beleza, assim como suas características, faz-se necessária
a implementação de um tratamento adequado anteriormente ao seu descarte ao ambiente ou às redes coletoras de esgoto. Mas
muito mais interessante que tratar o efluente para o descarte é fazê-lo intentando o seu reuso dentro das próprias unidades
geradoras para fins não potáveis de limpeza e descargas em bacias sanitárias. Nessa premissa, este trabalho foi impulsionado.
Considerando as características físico-químicas do efluente gerado nos salões, a utilização do processo de coagulação-
floculação-filtração (CFF) é uma opção interessante como tratamento (Syllos et al., 2018).
A coagulação ocorre em um processo de mistura rápida e fundamenta-se na desestabilização físico-química das partículas em
estado coloidal ou suspensas, a partir da neutralização das cargas superficiais que as mantém separadas umas das outras e em
suspensão (Reynolds; Richards, 1996; Svarovsky, 2000). A floculação, por sua vez, ocorre em um processo de mistura lenta e
visa a aglomeração das partículas desestabilizadas com o fim de produzir partículas maiores (flocos), passíveis de mais fácil
remoção por filtração, sedimentação ou flotação (Di Bernardo, 2003; Richter, 2009). Por fim, a filtração viabiliza a rápida
remoção dos flocos quando os mesmos escoam através do meio poroso, não sendo necessária a etapa de decantação dos
mesmos.

1236
Nesse contexto, este trabalho propõe a avaliação do processo CFF como tratamento para efluentes de salão de beleza, para o
fim de reuso.

Materiais e Métodos

Amostragem e caracterização do efluente


O efluente proveniente do processo de coloração capilar é o que apresenta maior representatividade em volume e qualidade
mais crítica dentre aqueles gerados no lavatório de cabelo em um salão de beleza. A partir do princípio de que um tratamento
projetado para remediar um efluente de pior qualidade, é também capaz de tratar com eficiência um de melhor qualidade, é que
esse efluente foi escolhido como objeto deste estudo.
Para a realização deste trabalho o efluente de coloração capilar foi coletado na saída do lavatório de um salão de beleza. Para o
levantamento de suas características foram realizadas análises dos parâmetros pH, cor aparente, turbidez, demanda química de
oxigênio (DQO), demanda bioquímica de oxigênio (DBO), sólidos totais (ST), sólidos suspensos totais (SST) e sólidos
dissolvidos totais (SDT).
Para o estudo das melhores condições operacionais do processo de tratamento em estudo, após os ensaios de coagulação-
floculação-filtração (CFF), os parâmetros analisados foram cor aparente, turbidez e DQO.

Tabela 1: Técnicas analíticas para caracterização do efluente de salão de beleza.


Parâmetro Técnica Analítica Equipamento
Potenciometria pH-metro Hanna
pH
(manual do equipamento) modelo HI 98127
Método platina-cobalto (λ = 455 nm) Espectrofotômetro HACH,
Cor aparente
Método 8025 (HACH, 1996) modelo DR-2010
Método nefelométrico TurbidímetroDigimed,
Turbidez
Método 2130 B (APHA, 1998) modelo DM-TU
Colorimetria Espectrofotômetro HACH,
DQO
Método 5220 D (APHA, 1998) modelo DR-2010
Respirometria
DBO BODTrak™ II HACH
Método 5210 D (APHA, 1998)
Gravimetria Estufa Quimis
ST, SST, SDT
Método 5520 C (APHA, 1998) Modelo Q-317B112
Nota: APHA = American Public Health Association.
As técnicas analíticas e os equipamentos utilizados para a determinação de cada um dos parâmetros de qualidade estão
dispostos na Tabela 1.

Tratamento
Os ensaios de coagulação-floculação (CF) foram conduzidos com o coagulante à base de tanino Tanfloc SG® e o coagulante
metálico polimerizado policloreto de alumínio (PAC). A atividade dos coagulantes foi avaliada em relação ao efeito do pH
(7,00 e 8,00 0,05) e dosagem do coagulante (100,0, 200,0 e 300,0 mg L-1), totalizando doze condições operacionais (testadas
em triplicata de amostras), as quais estão apresentadas na Tabela 2.

1237
Tabela 2: Condições experimentais dos ensaios de coagulação-floculação-filtração.
Condição Dosagem de coagulante
pH Coagulante
experimental (mg L-1)
1 7,00 PAC 100
2 7,00 PAC 200
3 7,00 PAC 300
4 7,00 Tanfloc 100
5 7,00 Tanfloc 200
6 7,00 Tanfloc 300
7 8,00 PAC 100
8 8,00 PAC 200
9 8,00 PAC 300
10 8,00 Tanfloc 100
11 8,00 Tanfloc 200
12 8,00 Tanfloc 300

O ajuste de pH do efluente foi realizado a partir de soluções de ácido clorídrico ou hidróxido de sódio (0,01, 0,1 e 1,0 mol L-1)
e medido em pHmetro digital (marca Digimed, moelo DM 22).
Todos os ensaios de CF foram realizados pelo teste de jarros, no Jar Test (marca Milan, modelo JT 102/6) com capacidade de
realização de seis ensaios simultâneos, como representado na Figura 1.

Figura 1: Representação ilustrativa do equipamento Jar-test utilizado nos ensaios de coagulação-floculação.

Os testes foram realizados com 150 mL de amostra com pH previamente ajustado de acordo com cada tratamento avaliado
(Tabela 2). Em cada ensaio, as amostras foram submetidas a 30 s de agitação rápida (120 rpm) para promover a dispersão do
coagulante no meio, seguida de 15 min de agitação lenta (20 rpm), para viabilizar a formação dos flocos. Em seguida, o
efluente foi filtrado em papel filtro quantitativo faixa branca, que, segundo Richter (2009), simula a ação de um filtro real. Esse
processo completo foi denominado coagulação-floculação-filtração (CFF).
Ao fim do processo de CFF o filtrado foi submetido à caracterização com relação aos parâmetros de turbidez, cor aparente e
DQO.

Resultados e Discussão

Caracterização do efluente in natura


As características físico-químicas do efluente coletado para o presente estudo estão apresentadas na Tabela 3.

1238
Tabela 3: Características físico-químicas do efluente de salão de beleza gerado no enxague dos cabelos no processo de
coloração capilar.
Parâmetro Efluente in natura
pH 6,35
Cor aparente (uH) 5010
Turbidez (uT) 854
-1
ST (mg L ) 1278
-1
SST (mg L ) 620
-1
SDT (mg L ) 658
-1
DQO (mg O2 L ) 5263,5
-1
DBO (mg O2 L ) 1055
DQO/DBO 4,99

Na coloração capilar o processo de abertura de cutículas do fio de cabelo ocorre entre pH 8,0 e 10,0 (Pinheiro, 2016), assim, com a
ação da tintura nos fios de cabelo e o enxague com água abundante, esse pH pode ficar levemente ácido, como observado na Tabela
3.
O efluente visualmente apresentou coloração marrom, em função da pigmentação utilizada no processo de coloração capilar, o que
refletiu em elevado valor para o parâmetro de cor aparente. Também foi possível observar que a elevada turbidez ocorreu,
primordialmente, em função de coloides e matéria em suspensão, ocasionados pela presença de cremes provenientes tanto das tintas,
quanto dos enxagues com condicionador.
Com relação à série de sólidos, observa-se que predominam os sólidos dissolvidos, uma vez que estes estão diretamente
relacionados com a cor do efluente. No entanto, a elevada concentração de sólidos suspensos também chama a atenção, visto
que também contribuem com a turbidez do meio.
A alta carga orgânica desse efluente, observada na análise de DQO, pode ser explicada, principalmente, pela presença de
substâncias químicas que compõe a tintura e demais produtos de beleza aplicados aos cabelos, como shampoo e condicionador,
além dos resíduos naturais do couro cabeludo e dos fios capilares. Ademais, observa-se pelo valor da análise de DBO e pela
razão DQO/DBO que, majoritariamente, a carga orgânica do efluente não é biodegradável, mas sim recalcitrante, o que, de
acordo com Von Sperling (2014), indica a necessidade de um tratamento físico-químico do efluente, como é o caso da CFF.

Tratamento por coagulação-floculação-filtração


Para a análise da melhor condição de tratamento, dentre as 12 estudadas (Tabela 2) foi realizada a análise das remoções dos
parâmetros de turbidez, cor aparente e DQO, que estão apresentadas na Figura 2.

1239
100

Turbidez
Cor
90
DQO
.
Condição de Tratamento
80 (1) pH 7, PAC, 100 mg L-1
Remoção (%)

(2) pH 7, PAC, 200 mg L-1


(3) pH 7, PAC, 300 mg L-1
70 (4) pH 7, Tanfloc, 100 mg L-1
(5) pH 7, Tanfloc, 200 mg L-1
(6) pH 7, Tanfloc, 300 mg L-1
(7) pH 8, PAC, 100 mg L-1
20
(8) pH 8, PAC, 200 mg L-1
(9) pH 8, PAC, 300 mg L-1
10 (10) pH 8, Tanfloc, 100 mg L-1
(11) pH 8, Tanfloc, 200 mg L-1
(12) pH 8, Tanfloc, 300 mg L-1
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Condição de Tratamento
Figura 2: Remoções dos parâmetros de turbidez, cor aparente e DQO para cada uma das 12 condições experimentais
de tratamento por coagulação-floculação-filtração.

Para as condições de tratamento estudadas, as remoções de turbidez obtidas ficaram na faixa de 98,14 e 99,41%, enquanto que
para cor aparente foi de 94,45 e 97,84%. Já com relação à DQO a menor e maior remoção foi de 72,39 e 91,49%.
Pode-se observar pelos resultados apresentados na Figura 2 que independentemente do pH e coagulante adotado, de um modo
geral, o aumento da concentração de coagulante promoveu o aumento da remoção dos parâmetros avaliados. Esse efeito
positivo nas remoções com os incrementos graduais na dosagem de coagulante indica, segundo Choy et al. (2015), que a maior
concentração estudada se aproximou à faixa ideal de atuação dos coagulantes, já que se houvesse uma superdosagem, a
eficiência do sistema reduziria por conta da reestabilização das partículas suspensas e coloidais ocasionada pelo efeito de
superlotação dos coagulantes.
Analisando o comportamento do processo de CFF com a utilização do coagulante Tanfloc, com relação ao parâmetro de
turbidez, é possível notar que os resultados de remoção desse parâmetro foram muito próximos entre si para os pHs 7,00
(condições de tratamento 4 a 6) e 8,00 (condições de tratamento 10 a 12). Embora a ação do coagulante no pH alcalino tenha
sido ligeiramente melhor quando associado às dosagens de 100 e 200 mg L-1, para a dosagem de 300 mg L-1 a ação do
coagulante foi melhor em pH neutro, resultando em remoção de 98,82%.
Ao observar a remoção de cor aparente, quando utilizado o Tanfloc, nota-se que embora para cada dosagem estudada os
valores tenham sido próximos nos dois pHs avaliados, as melhores remoções ocorreram no pH 7,00 com 95,02, 96,65 e
97,18%, para as dosagens de 100, 200 e 300 mg L-1, respectivamente.
Para o parâmetro de DQO, por sua vez, para a dosagem de 100 mg L-1 de Tanfloc a melhor remoção foi obtida quando o
efluente se encontrava em pH 8,00. Já para as demais dosagens, as melhores remoções foram alcançadas em pH 7,00, com
remoção máxima (90,84%) na maior dosagem.
Analisando o comportamento do processo de CFF com a utilização do coagulante PAC (condições de tratamento 1 a 3 e 7 a 9)
nota-se que para os três parâmetros avaliados embora os melhores resultados tenham ocorrido em pH 7,00, a tendência de
melhora das remoções com a elevação da concentração de coagulante também ocorreu em pH 8,00. Para o coagulante PAC as
melhores eficiências ocorreram em pH neutro e dosagem máxima, resultando em remoções de 99,41% de turbidez, 97,84% de
cor e 91,49% de DQO, as quais também correspondem às máximas remoções obtidas no presente estudo.
No Brasil, na atualidade, não existe uma legislação que sancione limites de parâmetros de qualidade para águas de reuso. No
entanto, tem-se à disposição para uso como guia dos padrões de qualidade a NBR 13969:1997, desenvolvida pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (1997), e o guia de “Conservação e Reuso da Água em Edificações” produzido pela parceria
entre a Agência Nacional de Águas (ANA), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e Sindicato da Indústria
de Construção do Estado de São Paulo (SINDUSCON) (2005).
Ambos os documentos apresentam padrões de qualidade de acordo com o uso pretendido. Na Tabela 4 estão apresentados
aqueles indicados para o reuso de água em bacias sanitárias e limpeza de pisos, assim como os valores residuais dos
parâmetros pH, turbidez, cor aparente e DQO na melhor condição de tratamento pesquisada.

1240
Tabela 4: Comparação entre limites de parâmetros físico-químicos previstos para água de reuso e valores dos
parâmetros alcançados no efluente de salão tratado por CFF com PAC, dosagem de 300 mg L-1 e pH 7,00.
Conservação e Reuso da
NBR 13969:1997(b)
Água em Edificações(a)
Efluente de salão
Parâmetros Descargas de vasos sanitários
tratado por CFF Lavagem de Descarga dos
e lavagens
pisos vasos sanitários
(pisos, roupas e veículos)
pH 7,2 6,0-9,0 - -
Oxigênio dissolvido (mg L-1) - - - >2
Cor aparente (uH) 108 ≤ 10
Turbidez (uT) 5 ≤2 <5 < 10
Coliformes fecais (NMP/mL) - 0 <5 <5
Cloro residual total (mg L-1) - - > 0,5 -
Óleos e graxas (mg L-1) - ≤1 - -
DBO (mg L-1) - ≤ 10 - -
DQO (mg L-1) 426
SST (mg L-1) - ≤5 - -
SDT (mg L-1) - ≤ 500 - -
Nitrato (mg L-1) - < 10 - -
Nitrogênio amoniacal total (mg L-1) - ≤ 20 - -
Nitrito (mg L-1) - ≤1 - -
Fósforo total (mg L-1) - ≤ 0,1 - -
Compostos orgânicos voláteis - Ausentes - -
Odor e aparência - Não desagradáveis - -

Fonte: Adaptado de (a) Agência Nacional de Águas/Federação das Indústrias do Estado de São Paulo/Sindicato da
Indústria de Construção do Estado de São Paulo (2005); (b) Associação Brasileira de Normas Técnicas (1997).

Dentre os dois documentos disponíveis, é possível notar que o guia de Conservação e Reuso da Água em Edificações abrange
muito mais parâmetros de qualidade, e, confrontados com aqueles que são comuns aos apresentados na NBR 13969:1997, são
mais restritivos.
Comparando os parâmetros analisados no efluente tratado com ambos os documentos guias verifica-se que o pH acorda com o
limite proposto pelo guia de Conservação e Reuso. Com relação à turbidez, o efluente não respeita os limites estabelecidos
pelo guia de Conservação e Reuso, mas adequa-se pela NBR ao uso em bacias sanitárias. Ainda, com relação à cor, limitada
somente pelo documento elaborado pela ANA/FIESP/SINDUSCON, o efluente tratado excede o padrão estabelecido em mais
de 1000%.
Embora para este estudo tenham sido realizadas poucas análises físico-químicas do efluente tratado, só pelo fato do parâmetro
de cor aparente exceder e muito ao limite proposto e a DQO residual do efluente ter sido elevada, mesmo que este parâmetro
não seja abrangido por nenhum dos documentos, constata-se que apenas o processo de CFF não é passível de promover uma
água de reuso, mesmo que para fins não nobres.

Considerações Finais
Por meio deste estudo foi possível observar que o efluente gerado em salão de beleza apresenta elevada cor, turbidez, sólidos
suspensos e dissolvidos, DQO e DBO, assim como apresentam características de baixa biodegradabilidade e elevada
recalcitrância.
O estudo do processo de CFF avaliando os coagulantes PAC e Tanfloc SG, em dosagens de 100, 200 e 300 mg L-1, em pHs
7,00 e 8,00, revelaram que a melhor qualidade do efluente tratado pode ser alcançada quando realizado o tratamento utilizando
o coagulante PAC, na maior dosagem estudada e em pH neutro, resultando em remoções de 99,41, 97,84 e 91,49% para os
respectivos parâmetros de turbidez, cor aparente e DQO.
Embora tenha se obtido elevada eficiência de tratamento na melhor condição prevista, ainda assim o valor residual de cor
aparente excedeu o limite proposto pelo guia de Conservação e Reuso de Águas em Edificações para o uso em bacias sanitárias
e limpeza. Além disso, mesmo que a DQO não seja abordada como um parâmetro de qualidade para água de reuso, seu valor
residual ao tratamento foi elevado. Dessa forma, averiguou-se que apenas o processo de CFF não é passível de promover um
efluente de salão tratado que possa ser utilizado para fins não nobres como o de descarga sanitária e limpeza de pisos.

1241
Com isso, propõe-se que para o fim de reuso, um tratamento de polimento, como processo oxidativo avançado, seja adicionado
posteriormente ao processo de CFF a fim de aumentar ainda mais a qualidade da água, em especial com relação aos parâmetros
de cor e matéria orgânica.
Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Universidade Estadual de Maringá pelo apoio recebido.

Referências
Associação Brasileira de Normas Técnicas. 1997. NBR 13969: Tanques sépticos – Unidades de tratamento complementar e
disposição final dos efluentes líquidos – Projeto, construção e Operação. Rio de Janeiro.

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1242
5SSS273
POTENCIAL DE REUSO DE ÁGUAS CINZAS: UM ESTUDO DE
REVISÃO
Danielly Cruz Campos Martins1, Ana Paula Jambers Scandelai2, Luiz Roberto Taboni Junior3, Maria
Angélica Simões Dornellas de Barros4, Célia Regina Granhen Tavares5
1Universidade Estadual de Maringá, e-mail: daniellyccampos@gmail.com; 2Universidade Estadual de Maringá,
e-mail: paulascandelai@hotmail.com; 3Universidade Estadual de Maringá, e-mail: junior_lrt@hotmail.com;
4Universidade Estadual de Maringá, e-mail: masdbarros@uem.br; 5Universidade Estadual de Maringá, e-mail:
crgtavares@uem.br

Palavras-chave: água de reuso; uso racional da água; sustentabilidade.

Resumo
A associação entre o crescimento populacional, a ausência de saneamento básico nas áreas urbana e rural e a exploração
excessiva dos recursos hídricos, seja para diluir efluentes ou para abastecer as cidades, vêm promovendo a degradação da água
doce. A fim de racionalizar o consumo da água, a prática do reuso de águas cinzas, provenientes das atividades de higiene
pessoal e de lavagem de roupas, tem sido crescente e técnicas para o seu tratamento têm sido investigadas e aplicadas. Neste
sentido, o presente estudo teve como objetivo realizar uma abordagem teórica sobre o potencial e os requisitos legais do reuso
das águas cinzas, assim como dos processos já utilizados para tratar e viabilizar o seu reuso. Como resultado, obteve-se que o
sistema de aproveitamento das águas cinzas apresenta grande potencial, sendo uma alternativa viável para garantir a
preservação da água potável para fins menos nobres. Com relação aos processos utilizados, os sistemas de tratamento capazes
de viabilizar o reuso podem ser desde sistemas simples de recirculação até sistemas mais completos e complexos, dependendo
da qualidade requerida para o reuso, a qual acorda com o uso pretendido por cada usuário. Apesar do reuso ser uma alternativa
promissora, no Brasil ainda não há uma legislação específica que regulamente sua implementação e apresente parâmetros sobre
o reuso das águas cinzas para fins não potáveis. Faz-se então necessária a criação de políticas legislatórias que não somente
incentivem sua prática e guiem quanto aos padrões de qualidade, como também deem suporte à sua implementação.

Introdução
A demanda dos recursos hídricos tem aumentado constantemente, em decorrência do crescimento populacional acentuado e
desordenado e das constantes mudanças climáticas globais. A água, embora seja um recurso renovável, é passível de
deterioração por uso indiscriminado, o que compromete não apenas sua disponibilidade em quantidade, como também em
qualidade para o uso nas diversas atividades (Rapoport, 2004; May, 2009; Teh et al., 2015).
De toda a água consumida no Brasil, o setor agrícola (irrigação) é o que apresenta maior expressividade (68%), seguido pelos
usos para criação e dessedentação animal (11%), industrial (9%), abastecimentos urbano (9%) e rural (2%) e mineração (1%).
Entretanto, esse cenário é um pouco diferente em estados mais populosos e que concentram grandes centros urbanos, como o
Estado de São Paulo, que é responsável por 15% da demanda nacional e o seu maior consumo de água é decorrente dos usos
urbano e industrial (37% cada), seguido pelos usos para irrigação (22%), animal (3%) e rural (1%) (Agência Nacional de
Águas, 2013; 2018).
De acordo com Bazzarella (2005), nas áreas de grande urbanização, o consumo de águas nas edificações pode atingir 50% da
demanda total de água potável. Entretanto, Campisano e Modica (2008) afirmam que mais de 30% dessa demanda é necessária
para atividades não potáveis.
Diante disso, a escassez tem se mostrado cada vez mais frequente nos grandes centros urbanos, uma vez que a demanda de
água potável tende a ser maior que sua oferta. Estima-se que, até 2025, cerca de 2,7 bilhões de pessoas enfrentarão a escassez
desse recurso essencial à vida. Essa problemática tem gerado preocupações, mas também impulsionado pesquisas voltadas à
sua solução. Nesse cenário, a ideia de reuso de águas, para economia de insumo, vem sendo estimulada (Rapoport, 2004;
Godfrey; Labhasetwar; Wate, 2009; Teh et al., 2015).
Frente a essa realidade, tem se apresentado como alternativa para a conservação das águas potáveis a utilização de fontes
alternativas de água, como águas pluviais e o reuso de águas cinzas, devidamente tratadas, para os fins não potáveis nas
edificações, como irrigação de jardins, lavagem de veículos, limpeza de pisos, lavagem de roupas, descargas de vasos
sanitários, entre outros (Bazzarella, 2005; Leong et al., 2017).
Em países como Alemanha, Estados Unidos e Japão, onde já existe a escassez de água potável, sistemas de coleta e
aproveitamento de águas pluviais e reuso doméstico de águas cinzas são utilizados como forma de incentivo à manutenção

1243
desse bem. De acordo com a Agência Nacional de Águas (2005), incentivos à conservação de água potável, como o reuso de
águas cinzas para limpeza de vasos sanitários, pode chegar a resultar em uma economia de 1/3 do volume necessário para
atender o uso doméstico. Esse é um dado extremamente importante, visto que, no Brasil, o maior consumo de água nas
residências se dá pela sua utilização para higiene pessoal (35%) e em bacias sanitárias (25%), seguidos pelos usos para o
preparo e cocção de alimentos (15%), irrigação de jardins e lavagem de áreas externas (15%) e lavagem de roupas (10%)
(May, 2009; Agência Nacional de Águas, 2013).
De acordo com o guia “Conservação e reuso da água em edificações” elaborado pela Agência Nacional de Águas/Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo/Sindicato da Indústria de Construção do Estado de São Paulo (2005), de 50 a 80% das
águas consumidas em edificações são convertidas a esgoto residencial e podem ser divididas entre águas cinzas e águas negras.
As primeiras são oriundas do processo de higienização pessoal (chuveiros, lavatórios e banheiras) e de roupas (máquinas de
lavar), enquanto que as segundas, das necessidades fisiológicas (vasos sanitários) e preparo de alimentos (pia de cozinha). May
(2009) e Penn, Schütze e Friedler (2013) apresentam uma subdivisão para os efluentes domésticos denominados de
águas cinzas, caracterizando-os em águas cinzas escuras e águas cinzas claras. A primeira é originária de chuveiros, lavatórios,
banheiras e máquinas de lavar roupas, enquanto a segunda engloba ainda águas residuais da pia da cozinha e máquina de lavar
louça.
A composição das águas cinzas pode variar significativamente, em função da região, cultura social, tipos de produtos químicos
utilizados e comportamento do usuário. No entanto, comumente podem conter altas concentrações de produtos de cuidados
pessoais e microrganismos patogênicos, como Escherichia Coli, a qual é utilizada como indicador de contaminação fecal, além
de elevadas turbidez, nitrato e fósforo (Agência Nacional das Águas/Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo/Sindicato da Indústria de Construção do Estado de São Paulo, 2005; Fiori; Fernandes; Pizzo, 2006; May, 2009).
Diante do grande consumo de água potável e da necessidade de economia e preservação dos recursos hídricos, este trabalho
objetivou realizar uma abordagem teórica sobre o potencial e os requisitos legais do reuso de águas cinzas, bem como os
processos de tratamento já aplicados em alguns locais do mundo.

Revisão bibliográfica

Reuso de águas cinzas


Reuso de água é o reaproveitamento da água residual que, após tratamento adequado para remoção de poluentes e
contaminantes, pode destinar-se a diferentes propósitos, seja para fim menos nobre, ou não, que o primeiro uso, a fim de
preservar os recursos hídricos existentes e garantir a sustentabilidade (Metcalf; Eddy, 2003; Fiori; Fernandes; Pizzo, 2006).
O reuso das águas cinzas tem se mostrado em concordância com as premissas da sustentabilidade e à ideia de conservação de
água (May, 2009). Enquanto Penn, Hadari e Friedler (2012) apontam que a reutilização de água cinza clara em descargas
de vasos sanitários pode reduzir o volume de consumo doméstico de água potável em até 26%, Teh et al. (2015) discorrem que
a reutilização de águas cinzas para fins domésticos, que não apenas a descarga sanitária, é capaz de fornecer uma redução de
29 a 47% do volume desse consumo. Isso contribui não apenas para a redução da demanda urbana de água potável, como
também ajuda a aliviar o estresse hídrico das fontes de águas doces e minimizar a necessidade de desenvolvimento de novas
fontes de água para consumo, uma vez que preserva a água potável exclusivamente para o atendimento das necessidades que
exijam a sua potabilidade (Fiori, Fernandes; Pizzo, 2006; Penn; Hadari; Friedler, 2012).
As águas cinzas tratadas apresentam grande potencial para reuso em fins não potáveis e podem ser utilizadas para diversos
propósitos, como descarga de bacias sanitárias, abastecimento de torneiras de jardins, irrigação de plantas, lavagem de
veículos, roupas, calçadas e pátios, produção de concretos, compactação de solos, e uso ornamental, como fontes e chafarizes e
espelhos d’água, desde que sua utilização não ofereça riscos à saúde de seus usuários (March; Gual; Orozco, 2004; Godfrey;
Labhasetwar; Wate, 2009; May, 2009; Galvis; Zambrano; Van Der Steen, 2014).

Requisitos do reuso de águas


Em decorrência da falta de legislação específica para o reuso no Brasil, a solução alternativa é a adoção de padrões
internacionais, como os da Organização Mundial da Saúde (World Health Organization - WHO) e da Agência Nacional de
Proteção Ambiental dos Estados Unidos (United States Environmental Protection Agency - U.S. EPA), ou orientações técnicas
de instituições brasileiras, como as disponibilizadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR), Agência Nacional de Águas (ANA), Fundação Nacional de
Saúde (FUNASA), entre outros.
Mundialmente, o reuso é praticado com base nas diretrizes determinadas pela World Health Organization (1973) e pela United
States Environmental Protection Agency (2004). Ambos os guias apresentam uma série de parâmetros de qualidade para
garantia da segurança da água de reuso, entretanto, se diferem quanto às orientações a serem seguidas, em função das
particularidades regionais. Por este motivo, não existe uma regulamentação específica e única de reuso de efluente (domésticos
e industriais).

1244
Embora o reuso seja extremamente importante nos dias atuais, o Brasil ainda não dispõe de uma legislação especifica para tal,
visto que essa prática é relativamente recente e ainda se encontra em desenvolvimento no país. Nacionalmente, existem apenas
duas normativas vigentes referentes ao tema, as quais foram desenvolvidas pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, a
saber: a Resolução n° 54/2005, que estabelece critérios gerais para o reuso direto e não potável da água, e a Resolução n°
121/2010, que apresenta critérios para o reuso direto não potável de água em agricultura e florestas plantadas (Brasil, 2006;
2011). Em 2016, foi elaborado um Projeto de Lei do Senado n° 58 (Brasil, 2016), que foi arquivado em 2018, o qual
disciplinaria o abastecimento de água por fontes alternativas, abrangendo o reuso doméstico (potável e não potável), urbano,
agrícola, florestal, industrial, aquícola, ambiental e aproveitamento de água da chuva, para novas edificações públicas e
particulares. Nenhuma das resoluções supracitadas determina os limites máximos de cada um dos parâmetros de qualidade das
águas de reuso.
Padrões de reuso, porém, são apresentados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (1997) e pela parceria entre a
Agência Nacional de Águas, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e Sindicato da Indústria de Construção do
Estado de São Paulo (2005).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (1997), em sua NBR 13969:1997, recomenda que, o reuso de esgoto doméstico
tratado deve ser para fins que exijam qualidade de água não potável e sanitariamente segura, como já citado pelos autores
March, Gual e Orozco (2004), Godfrey, Labhasetwar e Wate (2009), May (2009) e Galvis, Zambrano e Van Der Steen
(2014). Essa norma apresenta os limites pra alguns (poucos) parâmetros físico-químicos, de acordo com o seu uso pretendido,
os quais são categorizados em classes de 1 a 4.
Em 2005, a Agência Nacional de Águas, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e o Sindicato da
Indústria de Construção do Estado de São Paulo (ANA/FIESP/SINDUSCON), lançaram um guia para o reuso de água em
edificações. Nesse guia, são apresentados os limites dos parâmetros-físicos recomendados para quatro classes de reuso.
No Quadro 1 estão apresentadas as classificações de reuso e os tratamentos propostos pela NBR 13969:1997 e pelo guia da
ANA/FIESP/SINDUSCON, ao passo que a Tabela 1 apresenta a qualidade requerida para a água de reuso, conforme o uso
pretendido.

Quadro 1: Classificação de reuso e tratamentos previstos para água de reuso.


Classe de Reuso
1 2 3 4
Lavagem de pisos, Pomares, cereais,
Lavagem de carros e
calçadas e irrigação de forragens, pastos para
outros usos que
Uso previsto pela jardins, manutenção Descarga dos gado e outros cultivos.
requerem contato
NBR 13969:1997(a) dos lagos e canais para vasos sanitários (aplicações devem ser
direto do usuário com
fins paisagísticos, interrompidas 10 dias
a água
exceto chafarizes antes da colheita)
Descarga de vasos Usos associados às
sanitários, lavagens fases de construção de
Uso previsto pelo Resfriamento de
(pisos, roupas e edificações: lavagem Irrigação de
guia Conservação e equipamentos de ar
veículos) e fins de agregados, preparo áreas verdes e
Reuso da Água em condicionado (torres de
(b) ornamentais de concreto, jardins
Edificações resfriamento)
(chafarizes, espelhos compactação do solo e
de água) controle de poeira
Tratamento previsto Aeróbio + filtração Biológico aeróbio + Aeróbio +
pela NBR em areia e carvão + filtração de areia + filtração + -
13969:1997(a) cloração desinfecção desinfecção
Fonte: Adaptado de (a) Associação Brasileira de Normas Técnicas (1997) e (b) Agência Nacional de Águas/Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo/Sindicato da Indústria de Construção do Estado de São Paulo (2005).

1245
Tabela 1: Classificação de reuso e limites de parâmetros físico-químicos previstos para águas de reuso.
Limites para reuso
Parâmetros Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4
A B A B A B A B
5,0-8,3 ou
pH 6,0-8,0 6,0-9,0 - 6,0-9,0 - 6,0-9,0 -
6,8-7,2(2)
OD (mg L-1) - - - - >2 - - Presente
Cor aparente (uH) - ≤ 10 - < 30 -
Turbidez (uT) <5 ≤2 <5 ND < 10 <5 - -
CF (NMP/mL) <2 0 <5 ≤ 1000 <5 ≤2 < 50 0,022
CRT (mg L-1) 0,5-1,5 - > 0,5 ND - <1 - -
OG (mg L-1) - ≤1 - ≤1 - - -
DBO (mg L-1) - ≤ 10 - ≤ 30 - < 20 - -
DQO (mg L-1) 75
SST (mg L-1) - ≤5 - 30 - < 20 - 100 ou 5000
500 ou
SDT (mg L-1) < 200 ≤ 500 - - - -
1000(2)
NT(mg L-1) - - - - 5-30 - -
Nitrato (mg L-1) - < 10 - - - - - -
NAT (mg L-1) - ≤ 20 - - - - - 1
Nitrito (mg L-1) - ≤1 - - - - - -
Fósforo total (mg L-1) - ≤ 0,1 - - - - - 1
Salinidade - - - - - 450 <STD<1500 - -
Cloretos (mg L-1) - - - - - < 350 ou < 100(1)
- 500 ou 600(2)
Sódio (SAR) - - - - - 3-9 ou ≥ 3(1)
- -
COV - Ausentes - Ausentes - - - -
Não Não
Odor e aparência - - - - - -
desagradáveis desagradáveis
Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas (1997) e Agência Nacional de Águas/Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo/Sindicato da Indústria de Construção do Estado de São Paulo (2005).
Notas: A = Limites recomendados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (1997); B = Limites recomendados pela Agência Nacional
de Águas/Federação das Indústrias do Estado de São Paulo/Sindicato da Indústria de Construção do Estado de São Paulo (2005); CF =
coliformes fecais; CRT = cloro residual total; COV = compostos orgânicos voláteis; DBO = demanda bioquímica de oxigênio; DQO =
demanda química de oxigênio; NT = nitrogênio total; NAT = nitrogênio amoniacal total; OD = oxigênio dissolvido; OG = óleos e graxas;
SAR = taxa de adsorção de sódio; SDT = sólidos dissolvidos totais; SST = sólidos suspensos totais; (1) limite em função da irrigação
(superficial ou com aspersores); (2) limite em função do tipo de operação de torres de resfriamento (com ou sem recirculação).

O guia da ANA/FIESP/SINDUSCON apresenta, ainda, parâmetros básicos adicionais para a água de reuso classe 4
(resfriamento de equipamentos de ar condicionado - torres de resfriamento), os quais são: sílica (50 mg L-1), alumínio (0,1 mg
L-1), ferro (0,5 mg L-1), manganês (0,5 mg L-1) e magnésio (30 mg L-1), dureza (650 ou 850 mg L-1), alcalinidade (350 ou 500
mg L-1), bicarbonato (24 ou 600 mg L-1), sulfato (200 ou 680 mg L-1) e cálcio (50 ou 200 mg L-1).
Além dos parâmetros supracitados, o guia recomenda algumas outras características que a água de reuso deve ter, como não:
apresentar mau cheiro, alterar as características dos materiais ou favorecer o aparecimento de eflorescências de sais, agredir
plantas, propiciar infecções ou contaminação por vírus ou bactérias, prejudiciais à saúde humana, ser abrasiva, manchar
superfícies, deteriorar os metais de contato, não formar incrustações, entre outros.
Observa-se que os valores sugeridos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (1997) e pela Agência Nacional de
Águas/Federação das Indústrias do Estado de São Paulo/Sindicato da Indústria de Construção do Estado de São Paulo (2005)
são bastante distintos, mesmo em função de um mesmo uso pretendido. Isso evidencia a necessidade da criação de uma
legislação mais abrangente para o reuso, tanto de águas cinzas, quanto de esgotos.

Tecnologias de tratamento e sistemas de reuso


O tratamento das águas cinzas tem como intuito a eliminação da matéria orgânica, assim como outros poluentes, e a remoção
ou inativação dos microrganismos patogênicos possivelmente presentes nelas. Essa etapa do sistema de reuso tem por fim não
somente evitar riscos relacionados à higiene e à saúde, como também minimizar os efeitos estéticos negativos (May, 2009;
Penn; Hadari; Friedler, 2012).

1246
Para casos simples e menos exigentes de reuso, como a descarga dos vasos sanitários, é possível utilizar a água de enxágue das
máquinas de lavar roupa apenas as desinfetando, reservando e recirculando às bacias sanitárias (Associação Brasileira de
Normas Técnicas, 1997).
O reuso pode abranger, portanto, tanto a simples recirculação de água de enxágue de máquina de lavagem, com ou sem
tratamento aos vasos sanitários, como a remoção em alto nível de poluentes para a lavagem de carros. Isto é, quanto maior a
possibilidade de contato direto com a água de reuso, maior deve ser sua qualidade, de forma a não apresentar características
deletérias.
Embora a NBR 13969:1997 recomende os tratamentos de acordo com o uso pretendido, vários pesquisadores têm buscado
métodos alternativos de tratamento que apresentem maior eficiência, menores custo e tempo operacional. Dentre as tecnologias
que vêm sendo estudadas podem ser citadas a oxidação solar fotocatalítica com pó de carbono ativado (Gulyas et al, 2009),
digestão aeróbia seguido de desinfecção por peróxido de hidrogênio (H2O2) (Teh et al., 2015), sistema de filtração e
desinfecção (March; Gual; Orozco, 2004; Samayamanthula; Sabarathinam; Bhandary, 2019), biofiltração (Jung et al., 2019),
sistema alagado construído (Zraunig et al., 2019), entre outros.
Alguns são os casos de real reutilização de águas cinzas relatadas na literatura. March, Gual e Orozco (2004) apresentaram em
seu estudo a aplicação de um sistema de reuso de águas cinzas claras, provenientes da água de banheiras e lavatórios de
banheiro, para as descargas de bacias sanitárias em um hotel localizado na Espanha. Seu sistema de tratamento contava com
filtração em peneira de nylon de mesh 0,3 mm e superfície de filtração de 1,0 m², seguido de sedimentação e desinfecção com
hipoclorito de sódio. Foi verificado com o estudo que, a partir da implantação deste sistema de reuso, foi possível reduzir em
23% o consumo de água potável do hotel.
Godfrey, Labhasetwar e Wate (2009), por sua vez, apresentaram o sistema de reuso de águas cinzas implantado em 200 escolas
na cidade de Madhya Pradesh, na Índia, o qual contava com três níveis de tratamento antes de a água tratada ser bombeada
para as descargas sanitárias: primário (absorção de espuma em esponja sintética e sedimentação em tanque de decantação),
secundário (filtração em cascalho e areia) e terciário (aeração e cloração). O estudo de custos realizado por eles indicou que os
benefícios inerentes à reutilização das águas cinzas tratadas foram consideravelmente maiores que o seu custo de implantação e
operação.
A prática de reuso tem sido realizada com sucesso em diversos aeroportos do Brasil, a partir de estratégias adotadas pela
Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero Aeroportos), visando o uso racional de recursos hídricos. Com
medidas de aproveitamento de água pluvial e do sistema de refrigeração, reuso de águas cinzas e reaproveitamento da água
utilizada em caminhões nos testes contra incêndio, tem sido possível obter uma economia anual de mais de 40 mil m³ de água
potável (Infraero Aeroportos, 2018).
Tais medidas da Infraero Aeroportos (2018) já são utilizadas, com resultados positivos, em aeroportos como os de Congonhas
(SP), Santos Dumont (RJ), Cruzeiro do Sul (AC), Porto Alegre (RS), Uruguaiana (RS), São José dos Campos (SP), Juazeiro do
Norte (CE), Guarulhos (SP) e Campina Grande (PB).
No quesito reuso de águas cinzas, os novos terminais aéreos de Goiânia (Santa Genoveva) e de Curitiba se destacam, uma vez
que estes tratam e reutilizam a água cinza proveniente de pias e ralos, desde 2016. Ambos os aeroportos possuem suas próprias
Estação de Tratamento e Reuso (ETR), as quais tratam a água cinza por meio de clarificação e desinfecção, obtendo uma água
devidamente tratada, de aspecto agradável, inodora e incolor, posteriormente utilizada nas bacias sanitárias dos seus terminais
de passageiros. Com essa medida, tais aeroportos produzem, anualmente, mais de seis mil m³ de água de reuso cada um,
propiciando economia de recursos hídricos e de custos (Infraero Aeroportos, 2018).
É essencial que os sistemas de reuso sejam formados por três componentes principais: (i) coletores: sistemas que conduzam o
efluente proveniente do chuveiro, banheira, lavatório de mãos e máquina de lavar roupas ao sistema de armazenamento; (ii)
armazenamento: reservatório(s) que abrigue(m) as águas coletadas até que sejam enviadas ao sistema de tratamento; (iii)
tratamento: sistema de tratamento das águas cinzas, implementado de acordo com a qualidade da água cinza coletada e com o
reuso final pretendido (May, 2009).
Além disso, um sistema de reuso de águas cinzas requer alguns cuidados a fim de oferecer segurança aos usuários, a saber:
periodicamente, verificar a qualidade da água tratada e realizar manutenção do sistema; possuir sistemas de distribuição
separados dos de água potável, não permitindo conexões cruzadas; e utilizar avisos de “água não potável” (May; Hespanhol,
2008).
Cabe ressaltar que, quando se deseja implantar um sistema de reuso, uma análise de viabilidade deve ser feita, visando
determinar as características qualitativa e quantitativa da água cinza e compará-las com os requisitos de qualidade sugeridos
para cada aplicação, avaliando a possibilidade de utilização direta ou a necessidade de tratamento, a fim de garantir a qualidade
necessária ao reuso secundário. Além disso, os custos de implantação, operação e manutenção do sistema de gestão e do
processo de tratamento devem ser avaliados.
Para promover e regulamentar a prática do reuso, elementos básicos devem ser estabelecidos pelos setores públicos
responsáveis, tais como: definir critérios de tratamento para o reuso e propor tecnologias adequadas, em função de
características (climáticas, técnicas e culturais) regionais ou locais; estabelecer normas e programas para informação, educação
ambiental, avaliação econômica e participação pública nos programas de reuso; implantar sistemas de monitoramento,
avaliação e divulgação dos programas a níveis nacional, regionais e locais; criar uma política de reuso, com objetivos, metas,

1247
tipos de reuso, áreas prioritárias e condições locais ou regionais para a sua implantação; legalização do reuso, incluindo
diretrizes, padrões e códigos de prática; e regulamentação, com atribuições, responsabilidades, incentivos e penalidades aos
usuários (Hespanhol, 2002).

Considerações Finais
O reaproveitamento ou o reuso das águas cinzas tem se mostrado como uma alternativa vantajosa à preservação da água
potável, visto que permite uma segunda utilização para uma mesma água, gerando economia para o usuário e preservação dos
recursos hídricos. Para tanto, cada sistema de reuso de águas cinzas deve ser projetado de forma a se considerar o
comportamento do usuário, as características do efluente e a qualidade requerida para o fim de reuso planejado, visando
garantir sua segurança sanitária.
O reuso ainda é uma técnica recente, mas em grande expansão. Atualmente, no Brasil, ocorre sem a existência de regulação
para guiar o usuário que deseja adotar essa prática. Nesse sentido, se faz necessário a criação de políticas públicas e
legislatórias que incentivem o reuso, ofereçam suporte à sua implementação e guiem os padrões de qualidade que devem ser
adotados. No entanto, cabe ressaltar que a regulamentação para o reuso não pode apenas criar exigências ao usuário, sem que
se criem condições para colocá-lo em prática.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à
Universidade Estadual de Maringá pelo apoio recebido.

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definida na Resolução CNRH n° 54, de 28 de novembro de 2005. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder
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1249
5SSS274
A TUTELA AMBIENTAL E A PROMOÇÃO DOS VALORES DA
SUSTENTABILIDADE POR MEIO DA APLICAÇÃO DOS DEVERES
CONSTITUCIONAIS
Maria Celeste Caberlon Maggioni1, Israel Caberlon Maggioni2
1Mestranda pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências - Química da Vida e Saúde da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e-mail: flmaggioni@terra.com.br; 2 Mestrando pertencente
Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Caxias do Sul (UCS), e-mail:
israel.caberlon.maggioni@gmail.com

Palavras-chave: Sustentabilidade; Deveres Constitucionais; Tutela Ambiental.

Resumo
Este trabalho tem por objetivo demonstrar como o ordenamento jurídico brasileiro propõe a proteção do meio ambiente através
da imposição de deveres constitucionais ao Estado e à coletividade, dentro de um contexto constitucional de inserção de
valores de sustentabilidade. O presente exame parte de uma averiguação da construção inicial de um direito-dever ao meio
ambiente equilibrado, que sustenta a importância fundamental dos deveres constitucionais ambientais, para que depois seja
feita a distinção entre quatro tipos de deveres constitucionais, levando em conta o conteúdo e a eficácia de direitos
fundamentais correlatos, para que, ao final, estabeleçam-se considerações quanto à eficácia dos deveres constitucionais
ambientais e sua efetividade. Assim, se valendo do método exploratório, através da pesquisa bibliográfica como fonte
argumentativa, constatou-se que apesar do conjunto normativo dos deveres constitucionais ambientais, sua eficácia social
ainda deixa a desejar, e muito por não se colocar em prática uma interpretação amiga do meio ambiente nos diversos âmbitos
da atuação estatal, justamente por não ter sido absorvido socialmente o valor constitucional da sustentabilidade.

Introdução

O mundo se encontra amplamente conectado. Hoje as fronteiras não são mais tão claras e tão imponentes quanto já
foram, há algumas décadas, muito por força de um sistema econômico que depende dessa interligação global, que precisa se
abrir a mercados consumidores. O capitalismo foi o grande agente promotor desse fenômeno, justamente para garantir que seus
mercados pudessem se expandir. Afinal, um dos objetivos do capital é a acumulação de valor, sendo imprescindível
transacionar e vender mais, para lucrar mais, o que inexoravelmente depende do aumento do consumo.
A formatação do sistema econômico capitalista pretendia ter tornado real uma sociedade de consumo, porém, esta não
se realizou. Diante das enormes desigualdades sociais, o que resultou, apenas, em uma sociedade consumista, que depende de
incremento de produção constante, com exploração inconsequente de recursos e de energia, para os beneficiamentos e
transformações insumos em produtos comercializáveis. Essa lógica é o verdadeiro motivo da crise ambiental vivida, fruto de
uma contradição: as forças políticas e sociais fomentam a lógica produtiva, para ter crescimento econômico, trabalho e renda,
mas ao mesmo tempo estão destruindo a si próprios e ao planeta, que não dispõe mais dos recursos capazes a atender a
voracidade produtiva.
São claros os avanços e benefícios que o capitalismo trouxe à humanidade, principalmente pelo desenvolvimento de
tecnologias e de conhecimentos científicos, porém o outro lado da moeda, da exploração inconsequente e da contínua busca
pelo desenvolvimentismo, está pondo em cheque a manutenção do equilíbrio ambiental e da própria vida. Neste contexto,
experimenta-se um dos mais relevantes embates do nosso tempo, de um lado forças dominantes do poder econômico, que
pretendem seguir na sua exploração, não só dos meios de produção, mas também dos bens naturais, persistindo na ideia de
expansão de produção e de mercados; de outro lado, uma parcela da sociedade que entende que a manutenção do sistema e da
relação de produção e consumo, como está hoje, levará ao colapso da própria existência humana. Não se trata mais da
dicotomia político-econômica do final do século XIX e início do século XX. Hoje, o centro da disputa está na relação
sociedade-ambiente.
Como sempre, o Direito se apresenta como o mediador do conflito social, devendo promover a justiça e,
principalmente, tutelando os valores e bens mais importantes para a sociedade, dentro de sua dimensão histórico-cultural. Tal
valoração é disposta ao mundo jurídico pelas codificações legais (feitas pelos representantes da sociedade), que
hierarquicamente organizam a estrutura do Estado e determinam as regras que o regem. A sociedade brasileira demarcou
posição neste embate ambiental, e se colocou, textualmente, favorável à proteção do meio ambiente, assim como se abriu a

1250
muitos outros direitos coletivos e difusos, quando promulgou a Constituição Federal de 1988.
Apesar da opção constitucional adotada, o mundo fático não espelhou a mesma posição, antes pelo contrário, a
degradação e o desenvolvimentismo predatório seguem crescendo com certa complacência do próprio Estado brasileiro. Então,
é preciso chamar todos às suas responsabilidades, afinal, a situação aproxima-se da irreversibilidade, apontando que o cuidado
e a preservação do meio ambiente é uma necessidade permanente e irrestrita, para a vida de todos os indivíduos e para
manutenção do próprio Estado.
A Carta Política brasileira adotou perspectivas muito salutares, acolhendo amplamente a tutela do meio ambiente, o
entendendo ora como bem, ora como valor jurídico de relevância social, atribuindo responsabilidades a todos, não só ao
Estado, numa clara recepção do principio da solidariedade ambiental. Característica claramente encontrada nas disposições do
artigo 225, da Constituição Federal, que simboliza esse viés de proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, por
meio da imposição de direitos e deveres fundamentais abstratos, aptos a promover tal objetivo.
Diante dessas disposições constitucionais, a atenção aos direitos e deveres abstratos fundamentais parece ser um dos
melhores caminhos na busca de efetiva proteção ambiental. Destes, os direitos ambientais constitucionais parecem já receber o
devido cuidado e estudo, por outro lado, a temática dos deveres ainda se mostra um terreno menos explorado e mais incerto,
razão pela qual merece especial atenção, afinal é um dos instrumentos possíveis de proteção, portanto necessário.
Nessa perspectiva, o presente exame se propõe a fazer um estudo da tutela ambiental pelo viés da aplicação dos
deveres constitucionais, objetivando um mapeamento prévio do acolhimento destes deveres ambientais pela Constituição
Federal de 1988, o que permitirá compreender a estruturação dos mesmos, para que seja possível fazer a distinção entre os
diferentes gêneros de deveres ambientais dispostos no texto constitucional, a fim de compreender a forma com que cada um
poderá ser utilizado visando a promoção da tutela ambiental.
E, no embate ambiental vivido, apenas conhecendo as armas que a Constituição apresenta é que será possível
combater a exploração inconsequente do meio ambiente, tanto frente a particulares, quanto ao Estado, pavimentando o
caminho para uma sustentabilidade, afinal, as políticas públicas e a própria legislação são frutos, numa análise finalista, das
balizas constitucionais.

Metodologia

A pesquisa baseou-se em uma revisão bibliográfica no que tange aos procedimentos; e, quanto aos objetivos, a mesma
foi de caráter exploratório. Buscou-se estabelecer os marcos organizacionais do Estado Brasileiro, sob a batuta da Constituição
Federal Brasileira, que tomou a sustentabilidade como um valor supremo, principalmente no que tange à temática ambiental,
consolidada na redação e no contexto do artigo 225, da Carta Magna. Esta perspectiva da sustentabilidade não se limita a um
ou dois artigos, mas engloba todo o contexto constitucional, ao ponto de ser um valor constitucional (FREITAS, 2011, p.116-
117).
Diante dos valores constitucionais de sustentabilidade, afigura-se como importante instrumento construtor da
sustentabilidade os desígnios constitucionais, principalmente por meio da aplicação dos deveres constitucionais ambientais,
que deveriam pautar as ações de proteção e preservação da coletividade e do Estado. Assim, por meio das proposições
doutrinárias apresenta-se uma divisão teórica dos gêneros de deveres constitucionais ambientais, justamente para que seja
possível uma avaliação, ainda que precária, da efetividade e eficácia destes deveres, num panorama da tutela ambiental.
Por meio da pesquisa exploratória da doutrina buscar-se-ão subsídios para categorizar os tipos de deveres
constitucionais ambientais, os caracterizando e vinculando às eficácias inerentes, de modo a permitir uma reflexão mais
profunda quanto à importância destes deveres na promoção dos valores da sustentabilidade, principalmente no que concerne
aos deveres dos governantes e do Poder Público, o que não esgotará o tema, mas permitirá uma primeira abertura para futuras e
mais aprofundadas pesquisas sobre o tema.

O contexto da sustentabilidade e a incorporação dos deveres ambientais na Constituição Federal de 1988

A Constituição Federal de 1988 é fruto de um tempo histórico bastante interessante, próximo à queda do muro de
Berlim e do fim da Guerra Fria, na qual o mundo todo ainda estava imerso no medo de uma guerra nuclear, que poderia
destruir o planeta. Igualmente, o Brasil estava recém saindo da ditadura militar, que havia sido instaurada em 1964, abrindo-se
naquele final dos anos 80 para o mundo, em que vários países Europeus também abandonavam regimes totalitários e
promulgavam novas constituições, fortemente influenciadas pela Declaração de Estocolmo sobre o meio ambiente, de 197238.
Dentre estes países Europeus estavam as duas nações Ibéricas, antes Portugal, em 1976, apresentando um texto constitucional

38
Declaração proveniente das resoluções advindas da Conferência de Estocolmo, primeira grande reunião de chefes de Estado,
organizada pelas Nações Unidas, entre os dias 5 e 16 de junho de 1972, em que foram tratadas questões afeitas à degradação
do meio ambiente, buscando relações de equilíbrio entre avanço econômico e redução da degradação ambiental, noções
primárias do que seria conhecido como desenvolvimento sustentável.

1251
que já esboçava aspectos de direitos de solidariedade pela conexão entre deveres e direitos ecológicos, num intuito de defesa e
preservação do meio ambiente (SARLET, 2011, p. 141). Posteriormente, a Espanha, que na sua Constituição de 1978, elencou
expressa previsão de direito a um meio ambiente adequado, destinado a todos, e imputando deveres de conservação deste meio
ambiente às pessoas e aos poderes públicos, numa ideia de solidariedade e responsabilidade coletiva (MATEO, 1995, p. 107).
Este contexto, de forte apelo ambientalista, favoreceu a recepção destes conceitos pelos constituintes brasileiros
originários, assim, abarcaram o meio ambiente como um bem e um valor a ser tutelado pelo Estado, já numa primeira
concepção da sustentabilidade, ainda que aliada a princípios desenvolvimentos. Inclusive, adotaram o princípio da
solidariedade ambiental coletiva, ainda que não tenham empregado expressamente tal termo, mas o cunharam implicitamente
na conotação do texto do art. 225, caput, da CF. Referido artigo, por um lado garante a todos o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado e, pelo outro, impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo, para as
presentes e futuras gerações. A atribuição de dever de solidariedade entre Poder Público e toda a coletividade, foi uma
inovação da Constituição de 1988, o que nunca havia sido proposto nas anteriores.
Ainda no âmbito da solidariedade, existe outra marca inovadora no texto constitucional, que não se atém a trata
apenas da solidariedade convencionalmente instituída, indo além, com a estipulação de proteção numa perspectiva
intergeracional, em que as gerações presentes devem tutelar os recursos para si e para as futuras gerações. Esse esteio de
solidariedade ambiental pode ser compreendido como uma posição na qual se tem a condição de credor e devedor,
simultaneamente, porquanto há uma pretensão de viver num meio ambiente saudável conjuntamente a uma obrigação de
propiciar aos demais a mesma condição ambiental (SARLET, 2011, p.141).
Como demonstrado, a norma prevê direitos e deveres, os quais possuem categorizações diferenciadas e tutelas
distintas, o presente exame não se dedicará a esta diferenciação de tutela em si, detendo-se aos deveres constitucionais, o que
se realizará em tópico futuro. Porém, numa concepção inicial de direitos e deveres ambientais como valores constitucionais
fundamentais, é possível tomar estas primeiras avaliações do tema de forma conjunta, numa dimensão de direito-dever
fundamental (SARLET, 2011, p.142-143).
Esse composto de direito e dever para com meio ambiente ecologicamente equilibrado, embora não esteja insculpido
dentro do rol do artigo 5º da Constituição, em que estão listados, de forma aberta e não taxativa, os direitos e garantias
fundamentais, recebe similar status (BENJAMIN, 2011, p. 93). A concepção de um direito e um dever fundamental nasce,
principalmente, do entendimento doutrinal e jurisprudencial, que estabeleceu a relação entre a principiologia ambiental,
amplamente inserida na Constituição Federal, com o texto do art. 5º, §2º, que mantém aberto o rol das garantias e direitos
fundamentais, estabelecendo que “direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime
e dos princípios por ela adotados”, assim conectando a essa perspectiva o teor do art. 225, caput (SARLET;
FENSTERSEIFER, 2011, p. 92) configurando-se ali o direito e o dever fundamentais ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
O princípio de valoração do bem ambiental contido na Constituição não se limita apenas ao artigo 225, estando
presente em muitos outros dispositivos, que deixam clara a adoção de um princípio ambiental, que vai alçado à categoria de
fundamental, não se confundindo com outros temas de interesse menor ou acidentalmente inseridos no ordenamento. Esta
construção hermenêutica parte da constatação da atribuição constitucional de um meio ambiente ecologicamente equilibrado,
essencial para a realização tanto da vida humana, quanto da existência da coletividade. Ponto de tangência entre o direito-dever
para com o meio ambiente equilibrado e o direito fundamental da dignidade da pessoa humana, uma vez que a saúde, a vida e
outras dimensões inerentes à dignidade e à própria existência humana, não poderão ser realizadas sem adequadas condições
ambientais.
A importância de configurar o liame do direito-dever ao meio ambiente equilibrado como um valor constitucional
fundamental se refere ao tratamento dispensado pela Constituição a tal gênero. Diante da importância de tais direitos e
garantias, frente à vida individual e social, a eles é garantida a aplicação imediata, não dependendo de uma norma
infraconstitucional para tanto (MEDEIROS, 2004, p. 147.), este aspecto será mais profundamente abordado em tópico
vindouro, pois para certos gêneros de deveres não é absoluta a aplicação imediata. Ainda assim, é necessário destacar a
relevância e importância dada ao direito-dever ao meio ambiente saudável, no contexto constitucional, para demonstrar seu
patamar de garantia fundamental.
Pode-se constatar essa importância em diversos aspectos constitucionais, a começar pela sobreposição do interesse
ambiental a outros direitos garantido, com a imposição de limites à disponibilidade dos mesmos. Um destes direitos, que
inclusive tem status de fundamental, é o da propriedade, elencado no art. 5º, inciso XXII, da CF; o direito a propriedade está
textualmente limitado pela necessidade de atenção e respeito à sua função social, que é uma condição valorativa na qual se
insere a preservação do meio ambiente, definida pelo art. 186, II, da CF, “in fine”. Outro direito constitucional vinculado pelo
dever de preservar e proteger o meio ambiente é o direito de livre iniciativa, que precisa se conformar aos princípios gerais da
atividade econômica, dispostos no art. 170, da CF, e que insere a defesa do meio ambiente como um destes princípios, pela
redação posta no inciso VI.
Essa é uma indicação muito relevante, uma vez que o Brasil é um país capitalista e de economia aberta, que optou por
impor ingerência constitucional sobre dois dos pilares fundamentais do Mercado e do sistema econômico, a eles sobrepondo o
interesse ambiental. O que demonstra que a estruturação do Estado brasileiro se afasta da concepção dos estados liberais, em

1252
que a propriedade é absoluta, para se aproximar daquilo que poderia ser chamado de Estado Democrático de Direitos
Ambientais (BELO, 2011, p. 870), para o qual a atividade econômica também deve ter seu ímpeto exploratório limitado para
equilibrar a relação desenvolvimento econômico x preservação de recursos. Essa sobreposição demonstra profundamente o
nível de vinculação dado ao direito-dever fundamental ao meio ambiente equilibrado, o alçando ao patamar de garantia
fundamental.
Uma última característica do direito-dever ao meio ambiente ecologicamente equilibrado deve ser destacada.
Conforme já exposto, ao direito-dever ambiental foi dada uma dimensão intergeracional, pelo compromisso das presentes
gerações com as futuras. Tal perspectiva se conecta diretamente a um direito-dever de solidariedade, o que também é chamado
de direito-dever de terceira dimensão, pela classificação que concebe três períodos constitucionais distintos, marcados pelo
reconhecimento dos textos políticos a certos direitos, que antes não eram constitucionalmente acolhidos39.
Nessa concepção, os primeiros direitos tutelados constitucionalmente foram os relacionados às liberdades individuais,
no espectro de direitos políticos e civis; a segunda dimensão acolheu os direitos sociais, culturais e econômicos numa
perspectiva mais próxima do Estado social de direitos; por fim, os direitos de terceira dimensão seriam aqueles encarados
como de solidariedade, que tem abrangência transindividual e coletiva (SARLET, 2007, p. 59). Portanto, o direito-dever
abstrato para com o ambiente ecologicamente equilibrado tem natureza difusa, tutelável por meio de Ação Popular, tal qual
prevê o art. 5º, LXXIII, da CF, que não se atem a um escopo de tutela de interesse individual, mas sim garantir a “qualquer
cidadão” o direito fundamental da cidadania, que se insere como fundamento da República brasileira, Art. 1º, II, da CF
(GRINOVER, 1999, p.16).
Tratando da tutela jurídica processual dos deveres fundamentais, parece interessante apresentar a interpretação de Ives
Gandra Martins quanto a uma divisão entre os responsáveis pelos deveres fundamentais ao ambiente, que se relaciona a dois
verbos preservar e proteger. Seu entendimento é o de que, ao Poder Público, enquanto Executivo, Legislativo e Judiciário,
caberia precipuamente a prevenção, uma vez que possui a estrutura da violência estatal para agir e promover a preservação.
Enquanto, à coletividade e, principalmente, ao ministério público, caberia a defesa do meio ambiente, por meio da vigilância,
fiscalização e pela provocação do próprio Estado a agir. Esse meio de provocação seria a Ação Civil Pública, que
expressamente é direcionada como atribuição do MP para a proteção ambiental (BASTOS; MARTINS, 1988, p. 890-891).
Por fim, tem-se consolidada e pacífica a condição do direito-dever fundamental ao meio ambiente insculpido no art.
225, da CF, o qual se vincula diretamente aos princípios fundamentais da cidadania e da dignidade da pessoa humana, o que,
inclusive, lhe concede uma condição normativa diferenciada, pela necessidade de preservação dos seus elementos essenciais,
insuscetíveis de supressão ou esvaziamento por reforma constitucional (SARLET, 2011, p. 148-149).
Nesta senda, sabendo que os deveres fundamentais se mostram como um meio possível de atuação na preservação e
proteção do bem ambiental, torna-se imprescindível compreender os diferentes gêneros destes deveres, bem como suas
incidências, justamente para obter maior efetividade na tutela ambiental, protegendo o meio ambiente e, consequentemente, a
própria existência humana.

Os tipos de deveres ambientais existentes na Constituição Federal

Depois de consolidada a compreensão de que o direito-dever ao meio ambiente ecologicamente equilibrado tem
caráter fundamental, passa-se à apreciação dos diferentes gêneros de deveres ambientais constitucionais, já que para cada um
destes há peculiaridades próprias, que devem ser levadas em consideração pelo operador do direito. Para esta diferenciação,
uma das formas mais interessantes de abordagem se dá pela apresentação de progressivas subdivisões, de forma a facilitar uma
sistematização, tal qual faz Ney Belo (2011, p. 863), perspectiva que será adotada neste exame.
O primeiro momento de divisão destes deveres se dá em razão de seu conteúdo. Aqui, serão estabelecidos dois grupos
de deveres, observando se eles mantêm alguma relação com normas de direito fundamental ou não. Dois grupos advêm desta
divisão, um com os deveres que não tem relação com normas de direito fundamental, existindo independentemente da
consagração constitucional de algum direito, por isso recebem o título de deveres constitucionais autônomos. O outro grupo,
por consequência, é formado pelos deveres que tem relação com norma de direito fundamental, portanto, tomam forma a partir
deste, recebendo o nome de deveres fundamentais correlatos a uma norma de direito fundamental.
Feita a primeira divisão, ainda será preciso promover a subdivisão de cada um dos grupos formados, para delinear a
totalidade dos deveres constitucionais. Assim, parte-se para a primeira subdivisão, começando pelo grupo dos deveres
fundamentais correlatos a uma norma de direito fundamental.
Neste grupo, os deveres tem uma correlação com normas de direito fundamental e é a dimensão da eficácia destas que
determinará a subdivisão. O aspecto de correlação com normas de direito fundamental implica em que os deveres também
sejam fundamentais, mas isso não significa dizer que são apenas o contraponto direto do direito fundamental correlato, afinal,
estes deveres fundamentais tem uma natureza autônoma.
Dentro da perspectiva desse grupo, se a norma de direito fundamental, que se relaciona com o dever fundamental,

39
Há correntes que entendem que há outras dimensões, além da terceira.

1253
tiver uma dimensão de eficácia objetiva, geram-se deveres fundamentais; de outra banda, se forem normas de direito
fundamental de dimensão subjetiva, então, estar-se-á tratando de um dever fundamental decorrente do dever estatal de
proteção de direitos fundamentais. Em ambos os casos temos categorias autônomas e diferenciadas dos direitos a que se
correlacionam, justamente por serem incompatíveis com a dimensão subjetiva, ficando atrelados apenas à existência da norma,
sem vinculação com direito subjetivo de quem quer que seja.
Dos deveres fundamentais, diretamente referentes às situações em que se identifica um direito fundamental de eficácia
objetiva, emerge uma circunstância interessante, pois, ainda que o particular não tenha uma prestação subjetiva específica para
demandar do Poder público, ainda assim existirá o dever deste de fazer ou abster-se de fazer algo em prol da realização
daquele direito fundamental objetivo (BELO, 2011, p.863).
Quanto aos deveres fundamentais decorrentes do dever estatal de proteção de direitos fundamentais, cumpre dizer
que são deveres estatais de proteção, destinados a impedir que o Estado ou particulares venham a ameaçar direitos
fundamentais de cidadãos. Sendo importante destacar que não há uma dimensão subjetiva nesse dever, o que existe é uma
vinculação da obrigação Estatal de garantir o direito fundamental a um meio ambiente equilibrado e livre de agressões ou de
ameaças. Por força desta destinação ao Estado e não ao direito do particular é que se vinculam estes deveres a uma noção de
obrigação do Estado, que resulta e decorre do fato deste ser o possuidor legitimado do uso da violência, dentro dos limites
postos pelo Estado democrático de direito, a fim de garantir que todos gozem de um meio ambiente saudável.
Depois de apresentada a subdivisão existente entre os deveres fundamentais, resta proceder à derradeira subdivisão,
referente ao grupo dos deveres constitucionais autônomos. Esta subdivisão é mais singela, uma vez que apenas se destina a
colocar de um lado os deveres autônomos abstratos e do outro os deveres autônomos concretos.
Os deveres autônomos abstratos se remetem àqueles deveres que existem independentemente do estabelecimento
constitucional de um direito fundamental e que tem um caráter genérico, já os deveres autônomos concretos comungam da
mesma independência, mas já estão devidamente estampados e delimitados na norma constitucional.
Do texto do caput do artigo 225, da CF, em que se encontra consignado o dever de defender o ambiente e de preservá-
lo, se abstrai uma norma que atribui diretamente um dever, tanto para o Poder público quanto para a coletividade. Trata-se de
uma redação completamente aberta, portanto abstrata, daqui, sai a primeira constatação do que vêm a ser um dever autônomo e
abstrato. Esse sentido de autonomia se dá pelo tratamento dado no texto ao meio ambiente, não como bem, mas como valor,
um princípio de preservação. Interessante perceber que o mesmo texto, na parte inicial, apresenta, também, a expressa menção
a um direito fundamental de eficácia subjetiva que se dirige a todos os cidadãos, logo, está-se diante de uma norma de eficácia
objetiva e subjetiva.
No presente momento, a este exame, interessa observar a dimensão objetiva para demonstrar o dever incumbido pela
Constituição ao Estado e à coletividade, para que proteja o meio ambiente. Como já dito, é um dever abstrato que não
determina exatamente o que deveria ser feito, por esta razão José Joaquim Gomes Canotilho (1995, p. 82-83) expõe que se
tratam de deveres autônomos abstratos, por decorrerem de uma dimensão objetiva da norma, de uma construção instrumental
para desenvolver uma interpretação amigável ao meio ambiente. Ou seja, ele propõe que seja um dever de um relacionamento
ambiental com as demais dimensões do Estado e da própria atuação dos indivíduos.
Uma proposição para que os legisladores sopesem as questões de proteção e prevenção ambiental antes de
apresentarem ou votarem projetos de leis; para que os julgadores, ao analisarem os casos concretos, se preocupem com as
consequências ambientais das decisões tomadas e para que os administradores, do executivo, adotem políticas públicas que
sejam agentes promotores de proteção e prevenção. Na dimensão da promoção de políticas públicas, a interpretação amigável
ao ambiente também se relaciona com a noção de limitar a ação econômica e da propriedade, aspectos que a Constituição
brasileira já alberga de forma direta e expressa.
Assim, atrela-se o ideário de um Estado democrático de direitos ambientais com uma atuação dos poderes, que o
compõem, voltada para uma valorização ambiental, de sorte que, diante de um conflito de princípios a ponderação dê
prevalência ao ambiente, até porque, de uma forma ou de outra, um viés favorável ao meio ambiente acaba por favorecer todos
os envolvidos e a coletividade. Portanto, o dever autônomo e abstrato de proteger e preservar o meio ambiente ecologicamente
equilibrado se apresenta como uma construção estruturante, que depende de atuação e conscientização conjunta (BELO, 2011,
p.871).
Diferentemente dos deveres autônomos abstratos, que buscam dar uma aura ambientalista para a sociedade e para o
Estado, com proposições abertas e abrangentes, os deveres autônomos concretos se expõem de uma forma mais estruturada e
direta, previamente entabulados na Constituição. No caso da matéria ambiental, tal gênero de dever está posto no art. 225, §1º,
da CF, com uma relação específica de temáticas que devem ser enfrentadas pelo Poder público, no escopo de preservar o meio
ambiente.
O objetivo deste exame não é verificar um a um os deveres autônomos concretos indicados, porém, cumpre fazer
referência a um inciso específico desta listagem, por sua relevância na composição de toda a ideia que envolve um Estado
democrático de direito ambiental. O inciso em questão é o “VI”, que apresenta a seguinte redação: “promover a educação
ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.
A importância da educação ambiental deve ser sempre lembrada, uma vez que a conscientização e o conhecimento de
questões básicas de preservação ambiental, ao se implementarem na sociedade, geram uma verdadeira transformação da

1254
realidade. Afinal de contas, a busca por sustentabilidade, que pauta o imaginário socioambiental, demanda uma construção
programático-pedagógica, uma vez que é a educação que vai promover a civilização, propiciar dignidade e cidadania
(FREITAS, 2011, p.189-190). Os demais incisos também se lançam como ferramentas importantes, mas a educação e o meio
ambiente apresentam uma conjugação muito interessante, pois são os dois valores mais primários e necessários para aquilo que
se entende como vida humana digna.
Defronte os parâmetros estipulados e pelas razões apresentadas, é possível apresentar os quatro tipos de deveres
constitucionais ambientais encontrados na previsão constitucional. Destes, o dever fundamental correlacionado com direito
fundamental objetivo, acaba sendo um gênero meramente instrumental, para a compreensão das divisões propostas e para
demonstrar que mesmo quando não se identifica uma prestação oponível ao Poder público, este ainda terá o dever de dar
concretude aos direitos fundamentais. Logo, de fato, são três os deveres constitucionais ambientais, todos dotados de aplicação,
mas com níveis de eficácia distintos.

A eficácia dos deveres constitucionais ambientais e sua efetividade

Para iniciar a temática deste tópico, é salutar apresentar uma breve distinção entre eficácia e efetividade, até porque,
no tópico anterior, quando se usou o termo eficácia, relacionada à objetividade ou subjetividade, estava se tratando da
dimensão jurídica da norma, observando se esta se destinava a sujeitos ou não. Aqui, o enfoque se dará numa perspectiva
diferente, na avaliação da aplicabilidade das normas.
Feita a ressalva inicial, mostra-se mais proveitoso principiar a distinção apresentando um conceito de efetividade, que
é a perspectiva avaliativa do resultado da norma, uma verificação quanto à obtenção real e concreta do intento normativo. Já,
eficácia tem uma conotação de possibilidade de produzir determinado efeito, assim, ao usar a expressão eficácia jurídica,
aprecia-se a possibilidade de cumprimento e aplicação dos objetivos normativos (MEDEIROS, 2004, p. 141-142).
Ainda, é possível encontrar a expressão eficácia social, que se aproxima muito do significado de efetividade, numa
perspectiva da norma estar criando no mundo dos fatos a realidade social por ela prescrita.
O presente exame, num primeiro momento, pretende se ater à averiguação da eficácia jurídica dos deveres
constitucionais ambientais, se valendo da divisão proposta por José Afonso da Silva, que apresenta três modulações diferentes
de eficácia jurídica para as normas constitucionais: eficácia plena, eficácia contida e eficácia limitada.
Em linhas gerais, as normas de eficácia plena se remetem às normas constitucionais que produzem a plenitude de seus
efeitos desde a promulgação e publicação da Carta Política; as normas de eficácia contida, também, produzem todos seus
efeitos desde a entrada em vigor da Constituição, mas com a previsão de meios que limitam sua eficácia; por fim, as normas de
eficácia limitada não produzem todos seus efeitos pela entrada em vigor da Carta Magna, pois o constituinte originário não
estabeleceu normatividade bastante para serem aplicadas, ficando dependentes de uma densificação legislativa ordinária, para
viabilizar sua aplicabilidade. (MEDEIROS, 2004, p. 144).
Retornando ao tema dos deveres constitucionais ambientais, é imprescindível lembrar, como já dito no primeiro
tópico deste exame, que se vinculam a um conceito amplo de direito-dever fundamental, ao qual é atribuída aplicabilidade
imediata e eficácia plena, conforme prevê o art. 5º, §1º, da CF. Apesar de ser o conteúdo do art. 225, da CF, diretamente
relacionado com os direitos e garantias fundamentais, e adequado à aplicação imediata, numa análise um pouco mais cuidadosa
é fácil perceber que algumas das suas disposições necessitam de complementação legislativa para serem judiciáveis, o que
impediria a imediata aplicação.
Assim, na avaliação proposta por Fernanda Medeiros (2004, p.149-150), ainda que o direito fundamental de defesa do
meio ambiente possua eficácia plena e aplicabilidade imediata, existem certas disposições do art. 225, da CF, carecedoras de
uma densificação legislativa, para que possam gozar de eficácia plena. Essa avaliação se deu quanto aos direitos fundamentais
do artigo 225, que possuem um regime jurídico-constitucional menos complexo do que o dos deveres constitucionais, que
impingem uma lógica diferente da usualmente aplicada aos direitos constitucionais (SARLET, 2011, p. 145). Logo, fazem-se
imprescindíveis algumas ponderações quanto à eficácia de tais deveres.
Nessa seara, o primeiro ponto a destacar é que os deveres constitucionais são plenamente aplicáveis e possuem
garantia de eficácia jurídica, ainda que não seja a eficácia plena, prevista no art. 5º, §1º, da CF. O segundo ponto a abordar
sobre os deveres constitucionais, se remete à incompatibilidade destes com a subjetividade, o que impossibilita a identificação
de um titular para “assunção do direito que protege o bem jurídico que lhe faz jus” (BELO, 2011, p.881).
Como visto no tópico anterior, o fato da norma de dever constitucional ser vinculante, em razão de sua dimensão
objetiva, exige seu cumprimento pelo Poder Público e pela sociedade. Porém, ao tratar de sua tutela jurídica, cabe destacar que
o efeito dessa se dará de forma reflexa, pois o fato de não estar sendo obedecido o dever constitucionalmente imposto não gera
para aquele que se sentir afetado um direito subjetivo, só lhe sendo facultado pleitear o cumprimento do dever e não direito
próprio, razão que leva ao conceito de tutela do interesse e não de direito. Tal aspecto fica claro na lição de Camargo Mancuso
(apud: BELO, 2011, p. 882): “determinadas normas não visam a tutela individual, mas terminam por proteger direitos conexos,
por exercerem uma tutela do interesse que deflui da existência de um dever constitucional atribuído”.
Neste interim, quando se tratar de descumprimento aos deveres constitucionais vinculados aos dispositivos do art.

1255
225, da CF, de eficácia limitada, como no caso dos §§1º e 6º, o que enseja o descumprimento do dever é a omissão estatal.
Assim, em face de omissão do legislativo ou do administrador naquilo que for referente à elaboração normativa complementar,
cabe iniciativa judicial para a declaração de inconstitucionalidade, em razão do não cumprimento do dever por omissão.
A omissão, aqui, significa não fazer aquilo a que estava constitucionalmente obrigado por meio de mandamento
constitucional específico, não mero dever geral de legislar. Para estes casos, a Constituição Federal inovou, criando a ação
direta de inconstitucionalidade por omissão, pela qual se efetua o controle abstrato de constitucionalidade, destinando-se a dar
efetividade à disposição constitucional que depende de complementação normativa.
As ações diretas de inconstitucionalidade por omissão são julgadas pelo Supremo Tribunal Federal, conforme
preceitua o art. 103 da CF, que, em caso de declaração de inconstitucionalidade por omissão, dará conhecimento ao Poder
competente para a produção normativa em questão, com a adoção das providências necessárias e, caso se trate de órgão
administrativo, lhe será dado prazo de trinta dias para que o faça (AYALA, 2011, p. 377). Nos casos de omissão da
administração a declaração de inconstitucionalidade terá efetividade prática clara, mas no caso da omissão do Poder
legislativo, por este não ter a obrigação de legislar matéria específica e determinada, em razão do princípio da
discricionariedade, dependerá de uma solução no campo político negocial.
Por fim, em caso de descumprimento dos deveres constitucionais vinculados aos dispositivos do art. 225, da CF, que
tem eficácia plena, como, por exemplo, seu caput, há uma relação de dever prestacional do Estado, o que gera o interesse
denominado legítimo. Este interesse legítimo é mais do que um “simples interesse e menos do que direito subjetivo” (BELO,
2011, p. 883).
Essa condição diferenciada do interesse legítimo vem da sua proveniência de deveres fundamentais ambientais de
eficácia objetiva, vinculados a uma obrigação do Estado. Se fosse o caso de eficácia subjetiva, falar-se-ia de ampla proteção,
mas como não o é, a proteção é dita limitada e vinda de forma reflexa, pois a norma não visa tutelar situação individual, porém
“pode ocorrer que o sujeito esteja de tal forma situado no raio de abrangência dessa norma que passe a merecer certa proteção
diferenciada” (BELO, 2011, p. 884). Não significa que se tenha atendido um direito do indivíduo, mas, inegavelmente, há uma
relação fática entre o sujeito do interesse e o sujeito a que será dirigido o dever do Estado.
Assim, é perceptível que os deveres constitucionais ambientais são instrumentos de proteção e preservação do meio
ambiente, com peculiaridades e interações um pouco diferentes do que a maioria dos juristas está acostumada, por tratarem
muito mais de direitos constitucionais. Ainda assim, é mais uma arma disponível e muito profícua quando se trata de limitar o
poder predatório do Estado, uma situação que tem se mostrado bastante atual e presente no Brasil.

Considerações finais

Muito embora a Constituição Federal tenha apresentado um largo e robusto corpo de deveres, tanto ao Estado quanto
à coletividade, no talante de promover a preservação do meio ambiente, nota-se uma deficitária aplicação de tais instrumentos
constitucionais, que são relegados a um segundo escalão, em face do direito fundamental ao meio ambiente apresentar-se mais
claro e próximo, frente a sua relação de eficácia subjetiva.
O fato de não ser direta a percepção das benesses da tutela ambiental por meio dos deveres constitucionais, em razão
da eficácia objetiva, que se relaciona diretamente com o dever do Estado e da coletividade, não faz destes meios menos
efetivos na preservação. Muito antes pelo contrário, eles se comunicam com uma parcela da sociedade brasileira que causa
profundos danos ambientais, os políticos empossados em cargos legislativos e administrativos, assim, toda a ação que se
destine a moralizar seus atos será oportuna e positiva.
Além do mais, por meio da tutela dos deveres constitucionais ambientais é possível exigir implementação de medidas
salutares para toda a sociedade, como ampliação da educação ambiental, elemento mais do que importante no avanço para um
verdadeiro Estado social democrático ambiental, pautado e voltado para a sustentabilidade. Afinal, por meio da educação
difundem-se importantes medidas que ao serem adotadas de forma comunitária têm o poder de alterar a realidade, e são
medidas simples que podem ser apreendidas e compreendidas, como o racional uso dos recursos naturais, a separação do lixo,
as formas corretas de descarte de materiais potencialmente tóxicos, como pilhas e lâmpadas de bulbos fluorescentes entre
outras.
Por fim, aquilo que parece ser o maior entrave para a tutela ambiental por meio dos deveres constitucionais é
justamente a inexistência daquilo que Canotilho nominou de interpretação mais amiga do meio ambiente, justamente por falta
de vontade política daqueles que dirigem esse país, e que tomaram o lado do desenvolvimentismo e do poder econômico, e não
o lado ecológico, ou seja, tem atitudes e condutas que vão na direção contrária à Constituição Brasileira.

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1257
5SSS275
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA: UMA ALTERNATIVA PARA
O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Maria Celeste Caberlon Maggioni1, Israel Caberlon Maggioni2
1Mestranda pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências - Química da Vida e Saúde da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e-mail: flmaggioni@terra.com.br;
2Mestrando pertencente Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Caxias do Sul (UCS), e-
mail: israel.caberlon.maggioni@gmail.com

Palavras-chave: Educação Ambiental;escola;sustentabilidade.

Resumo
O presente artigo propicia algumas reflexões no que diz respeito à mudança de padrões nas relações humanas com o mundo
globalizado, à alteração nos hábitos de consumo e à degradação ambiental que isso ocasiona. O crescimento populacional, o
aumento significativo de produtos industrializados e o consumo exacerbado têm relação direta com a produção de resíduos
gerados e descartados no ambiente; assim como a exploração do ambiente natural, as mudanças climáticas e diversos outros
fatores que acabam por degradar o ambiente. É fato que a subsistência e a sobrevivência das espécies dependem dos recursos
naturais do planeta, porém a extração excesiva e desmedida gera impactos negativos que trazem consigo consequências a
médio e a longo prazo. Na atualidade, observa-se alguns efeitos desastrosos ocasionados por tempos passados. Esse
desequilibrio, frequentemente mencionado nos meios de comunicação, é o retrato do esgotamento desses recursos. Aliado a
esses fatores, é necessário também fazer uma referência à mudança de cultura e de comportamento da sociedade neste século
XXI. Cabem algumas considerações acerca deste novo sujeito do século, forjado pelo bombardeamento excessivo de
informações e cercado de novos equipamentos e tecnologias que se tornam obsoletas em um curto espaço de tempo. Aliás, esta
nova dimensão temporal parece não dar conta dos atropelos apresentados pela vida diária. O contato entre as pessoas está
sendo substituído por toques em telas de aparelhagens eletrônicas. Nas rodas de conversa, dentro dos grupos, as manifestações
eram individuais, em que um precisava ouvir o outro para haver comunicação, e essas, foram trocadas por conversas coletivas,
concomitantes, através de inúmeras conexões em rede; contudo de forma individual e distante. Para ilustrar essas alterações
sociais e econômicas, faz-se menção à obra “Modernidade Líquida” de Bauman, que retrata de forma crítica, as consequências
da globalização. Apresenta-se a metáfora utilizada pelo autor no que se refere à forma inconstante dos fluidos. Nesses novos
tempos, compreender-se e entender o meio no qual estamos inseridos é fundamental; por isso, a importância de estudar-se
sobre a Educação Ambiental. Como forma de ratificar e verificar cronologicamente acontecimentos associados ao tema são
apresentadas algunas diretrizes, tais como: a I Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, organizada pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em colaboração com o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), em 1977; a aprovação da Constituição Federal de 1988 (CF/88), que tras, em
seu capítulo VI, do Meio Ambiente, o artigo 225, que faz referência ao direito do meio ambiente equilibrado, à qualidade de
vida, à preservação e responsabilidade do Poder Público; a criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), em
1989, tendo como competências (preservação, conservação, fomento e controle dos recursos naturais renováveis em todo o
território federal, proteção dos bancos genéticos da flora e fauna brasileiras e estímulo à Educação Ambiental); a Portaria 678
do Ministério da Educação (MEC), de 1991, que resolve que os sistemas de ensino, em todas as instâncias, níveis e
modalidades, contemplem, nos seus respectivos currículos, entre outros, os temas/conteúdos referentes à Educação Ambiental;
e, por fim, a Conferência sobre Meio Ambiente realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU),em 1992, que teve
vários objetivos, entre eles, a promoção do desenvolvimento sustentável e eliminação da pobreza nos países em
desenvolvimento. A citação da pobreza, faz alusão à amplitude do termo Educação Ambiental, que abarca aspectos ecológicos,
éticos, políticos, sociais e econômicos, assim como a formação de indivíduos responsáveis e com valores. Dessa forma,
finaliza-se o artigo fazendo relação da Educação Ambiental e a escola. Esta, como espaço social e de aprendizagem,
imprescindível na formação de sujeitos críticos, autônomos e éticos, deve desenvolver práticas sustentáveis, mostrar as
implicações do esgotamento dos recursos naturais e, acima de tudo, oportunizar momentos de reflexão sobre a relevância da
consciência socioambiental e os tópicos a ela associados. Aponta-se, então, a escola como viés positivo na formação de
cidadãos conscientes, responsáveis e comprometidos com a coletividade, bem como no exercício da cidadania em prol de um
desenvolvimento sustentável.

1258
Introdução
O planeta Terra é habitado por milhões de organismos vivos que extraem dele o que precisam para sua subsistência e
sobrevivência. O ser humano, parte integrante desse sistema, necessita conhecer o meio em que está inserido. Entender seu
entorno e as implicações das ações diárias nestas relações, é básico para qualquer indivíduo. A educação formal aparece, então,
como ponto basilar e formativo na construção de conceitos para reflexões dos sujeitos e do ecossistema.
A escola, responsável pela educação formal desde a infância, precisa garantir que os indivíduos que por ela passam
tenham noções sobre as interações das espécies, dessas e o hábitat, e de toda a dinâmica que envolve a educação ambiental.
As informações midiáticas destacam os problemas causados pelas atividades humanas e os riscos que as mesmas
representam para o futuro de nossa espécie e de nosso planeta, como, por exemplo: aquecimento global, efeito estufa,
queimadas, camada de ozônio, entre outros. Neste contexto de impactos ambientais danosos e de transformação social que se
vivencia, a dimensão tempo parece não dar conta desse processo. Isso porque este mundo globalizado deixou de ter
determinados padrões norteadores nas relações humanas e as incertezas passaram a ser uma constante. Bauman(2007a) faz
alusão à esta nova característica cultural da “modernidade líquida”, como,

[...] era líquido-moderna [...] não estabelece objetivos, nem traça uma linha terminal. Mais
precisamente, só atribui a qualidade da permanência ao estado da transitoriedade. O tempo flui –
não “marcha” mais. Há mudança, sempre mudança, nova mudança, mas sem destino, sem ponto de
chegada e sem a previsão de uma missão cumprida. Cada momento vivido está prenhe de um novo
começo e de um novo final. (BAUMAN, 2007a, p. 88).

A metáfora utilizada por Bauman expressa seu pensamento para o instante histórico atual. Assim como os fluidos não
possuem forma constante, se comparados aos sólidos; algumas certezas do tempo passado que tínhamos sobre as formas
sociais e os vínculos entre os indivíduos mudaram com rapidez exponencial. Com estas alterações na sociedade e com a era
digital com formação de redes, vieram as angustias, o individualismo, o desmonte de relações que pareciam duradouras e o
consumo exacerbado.
Observa-se que as últimas décadas vieram acompanhadas de grande crescimento populacional, aumento significativo
de produtos industrializados, produção excessiva de lixo, grande exploração do ambiente natural, mudanças climáticas e
degradação ambiental. Dessa maneira, estes novos tempos de modernidade líquida não possibilitam vislumbrar o que nos
reserva de forma concreta quanto ao futuro, exceto o grau de degradação ambiental global.
O momento atual precisa ser vivido, e, embora não haja segurança no que está por vir, deixar um ambiente melhor
para as gerações futuras é primordial. Por isso, é necessário refletir sobre a preservação do meio ambiente. Cortez e Ortigoza
(2007, p. 10-11) fazem algumas reflexões sobre alguns fatores que tiveram influência nas questões ambientais ao longo dos
anos, como os altos padrões de produção e consumo, assim como a falta de implementação de projetos preventivos. Da mesma
forma, questionam o retorno aos antigos hábitos de consumo, a educação ambiental na escola e o consumo sustentável como
possibilidade de conscientização e mudança de comportamento da sociedade. As autoras afirmam ainda que,
os consumidores são mal informados sobre as consequências, para o meio ambiente, de suas
escolhas de consumo e de estilos de vida. Entretanto, a fim de alcançar o consumo sustentável,
também denominado consumo responsável, os consumidores precisarão mais do que informações.
(CORTEZ, ORTIGOZA, 2007, p. 12).

A menção das autoras de que “os consumidores precisarão mais do que informações” evidencia a complexidade que envolve a
temática ambiental. Então, os fatores sociais, econômicos e políticos possuem inferência direta na questão, sendo que esses não
serão tratados no presente artigo, mas devem ser considerados em todos os seus aspectos em uma análise mais profunda.
A escola surge como facilitadora dos processos de construção do conhecimento, estabelecendo relações entre os
diferentes saberes e promovendo uma educação sustentável. Dessa maneira, a conscientização dos indivíduos no seu papel
social para a melhoria da coletividade é o ponto de partida para dias melhores, e de chegada para a redução na produção de
resíduos. A reciclagem evita o acúmulo de lixo na natureza e a consequente implicação na poluição ambiental, mas é
necessário conscientização. Afinal, nem todo o descarte pode passar por este processo de reaproveitamento; logo, a redução na
produção de lixo e a preservação precisam ser enaltecidas. Optou-se, neste estudo, por relacionar apenas a Educação
Ambiental na escola como alternativa para o desenvolvimento sustentável, haja vista, que o descarte do lixo moderno é
bastante complexo, o que demandaria demasiado tempo de estudo e análise.
Declinou-se, também, em adentrar em questões econômicas e políticas a respeito do assunto, embora se acredite na
importância de políticas públicas que incentivem a logística reversa, a química verde, bem como a conscientização da
população através da educação ambiental.

Metodologia
A pesquisa baseou-se em uma revisão bibliográfica no que tange aos procedimentos; e, quanto aos objetivos, essa

1259
caracteriza-se de cunho exploratório. Buscou-se relacionar as grandes transformações que a sociedade atual está vivenciando
(BAUMAN 2007a), com hábitos extremamente consumistas que acabam por degradar o ambiente, comprometendo as
condições de vida da geração futura.
Surge, dessa forma, a educação formal como suporte para um desenvolvimento sustentável (MOREIRA, 2011). Nesta
linha de raciocínio, a escola, através da educação ambiental (CORTEZ e ORTIGOZA, 2007) , torna-se imprescindível para a
formação de cidadãos éticos, com consciência coletiva e com mudança comportamental no que se refere ao meio ambiente.
Associar algumas diretrizes ambientais (DIAS, 2004), ao longo dos anos, com uma nova postura de preservação ambiental é
uma alternativa para minimizar práticas predatórias.
Para Andrade (2008, p.5), “por meio da pesquisa exploratória, avalia-se a possibilidade de desenvolver um bom
trabalho, estabelecendo-se os critérios a serem adotados, os métodos e as técnicas adequados”.
Na maioria dos casos esse tipo de estudo permite maior embasamento teórico, para elaboração de outros tipos de
pesquisa. A esse respeito, Severino (2011, p.123) afirma que a pesquisa exploratória é uma preparação para a pesquisa
descritiva. Este estudo exploratório não constitui um “ponto final”, mas amplia a possibilidade de uma pesquisa posterior mais
elaborada e rigorosa (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006, p.99).

Algumas diretrizes para a Educação Ambiental


A realidade socioambiental vigente é fruto de inúmeras ocorrências ao longo dos anos. Muitos foram os protocolos,
conferências, projetos e reflexões acerca do assunto. Para embasar o presente estudo, citam-se apenas algumas dessas, não por
questão de relevância, mas para entendimento lógico cronológico do assunto.
Em 1977, acontece a I Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, organizada pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em colaboração com o Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (Pnuma). O evento ocorreu em Tbilisi (Geórgia) sendo o ponto de partida para um programa internacional de
Educação Ambiental (EA) com definição de objetivos, características e estratégias no plano nacional e internacional (DIAS,
2004, P.39-40).
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88), aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte,
em 22 de setembro de 1988, e promulgada em 5 de outubro do mesmo ano; em seu capítulo VI, do Meio Ambiente, artigo 225,
discorre
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das
espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades
dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei,
vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para
a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua
função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

É importante ratificar que o §1º , inciso VI do referido artigo esclarece que cabe ao Poder Público, “promover a
educação ambiental em todos os níveis do ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.
No ano de 1989, a Lei 7.335 de 22 de fevereiro cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) com a
finalidade de formular, coordenar e executar a política nacional do meio ambiente. Passam a ser competências do órgão:
preservação, conservação, fomento e controle dos recursos naturais renováveis em todo o território federal, proteção dos
bancos genéticos da flora e fauna brasileiras e estímulo à Educação Ambiental. Já a Portaria 678 do Ministério da Educação
(MEC), de 14 de maio de 1991, resolve que os sistemas de ensino, em todas as instâncias, níveis e modalidades, contemplem,
nos seus respectivos currículos, entre outros, os temas/conteúdos referentes à Educação Ambiental (DIAS, 2004, p.46-49).
Neste processo de diretrizes ambientais, ocorreu a Conferência sobre Meio Ambiente realizada pela Organização das

1260
Nações Unidas (ONU), em junho de 1992, no Rio de Janeiro. Essa ficou conhecida como Conferência Rio-92, contou com a
participação de 170 países, e teve como objetivos:
a) examinar a situação ambiental do mundo e as mudanças ocorridas depois da Conferência de Estocolmo, 1972;
b) identificar estratégias regionais e globais para ações apropriadas referentes às principais questões ambientais;
c) recomendar medidas a serem tomadas, nacional e internacionalmente, referente à proteção ambiental através de
políticas de desenvolvimento sustentado;
d) promover o aperfeiçoamento da legislação ambiental internacional;
e) examinar estratégias de promoção do desenvolvimento sustentável e da eliminação da pobreza nos países em
desenvolvimento, entre outros.
Também, nesta Conferência, reconhece-se a insustentabilidade do modelo de “desenvolvimento” vigente, sendo que
se nomeia a Agenda 21, como um Plano de Ação para a sustentabilidade Humana e a Educação Ambiental como um processo
estratégico para um novo modelo de desenvolvimento chamado de sustentável (DIAS, 2004, p 50).
A cronologia, embora sucinta, ratifica a importância do estudo e das reflexões sobre a Educação Ambiental, do
desenvolvimento de uma sociedade sustentável e, principalmente, da formação de cidadãos críticos, conscientes, responsáveis
e comprometidos com o bem-estar socioambiental.

Educação Ambiental e a escola


A escola, como espaço social e de aprendizagem, precisa formar sujeitos autônomos e éticos, que exercitem a
cidadania com valores para o bem-estar da coletividade. Por isso, abordar sobre os cuidados com o planeta no currículo é
imprescindível para um desenvolvimento sustentável.
Moreira (2011, p. 21), menciona que,

A inserção curricular da Educação Ambiental no Projeto Político Pedagógico da escola, de forma


inter e transdisciplinar, promove a construção do conhecimento com uma postura crítica, ética e
transformadora de valores que reorientem atitudes para a construção de sociedades sustentáveis.

As atitudes que permitem construir sociedades sustentáveis devem estar alicerçadas em reconhecimento da
possibilidade de esgotamento de recursos naturais, cujo desenvolvimento econômico deve considerar o meio ambiente.
Segundo Dias (2004, p. 216), “um programa de Educação Ambiental, para ser efetivo, deve promover,
simultáneamente, o desenvolvimento de conhecimento, de atitudes e de habilidades necessárias à preservação e melhoria da
qualidade ambiental”. Desta forma, todo indivíduo deve vivenciar a educação ambiental de forma consciente e ética,
engajando-se em ações sociais que visem ao desenvolvimento sustentável; porque a questão ambiental abrange aspectos
políticos, científicos-tecnológicos, socioculturais, éticos, entre outros.
Uma definição para desenvolvimento sustentável, surgida na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, é aquela “capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as
necessidades das futuras gerações”.
Independente das definições utilizadas, precisa-se clarificar para os discentes, a importância do descarte correto e da
reutilização, quando possível; para viabilização de um futuro melhor para as próximas gerações. A escola necessita trabalhar
com práticas sustentáveis, para que ao vivenciá-las, os estudantes reproduzam-nas nos locais que frequentarem.
Cumpre ressaltar a compreensão de que todos os resíduos gerados, quando não administrados corretamente,
comprometem a qualidade do ar, da água e do solo, o que vem de encontro à qualidade de vida. A sociedade consumista que se
observa na atualidade, precisa entender que naturalmente produz-se lixo; o que se pode fazer, então, para o bem da
coletividade é reduzí-lo. Neste sentido, Loureiro (2009, p. 60) afirma,

Como proposta de educação no processo de gestão ambiental busca a intervenção qualificada,


coletiva e organizada, trata-se de se organizar o processo de ensino aprendizagem de modo
coletivo do conhecimento sobre a realidade de num processo dialético de ação, reflexão, ou seja,
de exercício da práxis, objetivando sua transformação.

Todos os cidadãos precisam fazer a sua parte, já que a mudança de hábitos na sociedade é primordial. As escolas, por
sua vez, possuem papel importante no desenvolvimento de valores e práticas que eduquem para uma vida sustentável. Logo,
uma sociedade sustentável requer,

uma pedagogia que facilita ese entendimento por ensinar os princípios básicos da ecologia e, com
eles, um profundo respeito pela natureza viva, por meio de uma abordagem multidisciplinar
baseada na experiência e na participação. […] Por meio dessas experiências, nós também tomamos
consciência de que nós mesmos fazemos parte da teia da vida e, com o passar do tempo, a
experiência da ecología na natureza nos proporciona um senso do lugar que pertencemos.

1261
Tomamos consciencia de como estamos inseridos num ecossistema; numa paisagem com uma
flora e uma fauna característica; num determinado sistema social e cultural (CAPRA, 2006, p.14)

A escola precisa desenvolver projetos integrando os diversos componentes curriculares, proporcionando, assim,
relações entre os diferentes saberes e focando na educação sustentável, que além de englobar diferentes visões, busca abranger
políticas públicas. Educação para a sustentabilidade,

significa nutrir a boa vontade de compreender as leis naturais e aplicá-las com acurácia, na
demolição de mitos e apriorismos dos que só veem preconceitos nos outros, haja vista a
manipulação, grosseira ou dissimulada, dos dominadores que não dominam (FREITAS, 2011, p.
199).

Cabe à escola atuar na formação de valores dos discentes, exercitando habilidades e competências que os permitam
observar de forma crítica sua realidade. Compreender que a CF/88 assegura a defesa da dignidade da pessoa humana, através
dos direitos fundamentais, é basilar para qualquer cidadão, mas cumprir os deveres pré-estabelecidos em lei é obrigatório.
Observa-se, também, que o ser humano é a espécie que mais propicia impactos danosos ao meio; e com o crescimento
populacional estes degradam o ambiente, colocando em risco esta geração e as futuras. Por isso, a relevância da escola na
conscientização dos estudantes, é esencial.
Torna-se necessário, assim, que a escola promova reflexões sobre o consumo desmedido da sociedade atual, a
importância do consumo sustentável, bem como a necessidade de se buscarem soluções para as questões ambientais.

Considerações Finais
Este estudo evidencia a importância das relações dentro de um ecossistema, na contemporaneidade, em que as
transformações sociais vêm acompanhadas de muitos impactos danosos ao ambiente. O crescimento populacional, a produção
excessiva de lixo, a exploração de recursos naturais e os hábitos consumistas são alguns fatores que promovem a degradação
ambiental.
A escola, como espaço social e de aprendizagem, surge como alternativa para a formação de cidadãos éticos e
conscientes que, através de valores, exercitem a cidadania. Dessa forma, esses indivíduos trilharão um caminho para o
desenvolvimento sustentável através de ações sociais que visem ao bem-estar socioambiental.
A questão ambiental abarca aspectos políticos, sociais, científicos, socioculturais e éticos, portanto, políticas públicas
que garantam tal efetivação são primordiais. Portanto, o grande desafio, destes novos tempos, é atender o crescimento das
demandas de maneira sustentável sem interferir de forma negativa na vida de biomas naturais, fundamentais para o
ecossistema global. Comprova-se ser relevante estudar Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino nas
escolas brasileiras, incentivando o consumo responsável para a construção de um país mais ecológico, pacífico e sustentável.
O estudo não finda com estas considerações, uma vez que representa apenas um pequeno fragmento dentro de um
universo complexo a ser desvendado através da Educação Ambiental.

Referências Bibliográficas

ANDRADE, Maria Margarida de. Como preparar trabalhos para cursos de pós-graduação: noções práticas. - 7. ed. - São
Paulo: Atlas, 2008.

BAUMAN, Zygmund. Vida líquida. Tradução Carlos Alberto Medeiros. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007a.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 7 out. 2019.

CAPRA, Fritjof. Como a natureza sustenta a teia da vida. Alfabetização ecológica: a Educação das crianças para um mundo
sustentável. Tradução Carmen Fischer. São Paulo: Cultrix, 2006.

CORTEZ, Ana Tereza Caceres; ORTIGOZA, Sílvia Aparecida Guarnieri (org.). Consumo sustentável: conflitos entre
necessidades e desperdício. São Paulo: Editora UNESP, 2007.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. 9. Ed. São Paulo: Gaia, 2004.

FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro. Belo Horizonte: Fórum, 2011.

1262
LOUREIRO, Carlos Frederico; LAYRARGUES, Philippe Pomier; CASTRO, Ronaldo Souza (orgs.). Repensar a Educação
ambiental: um olhar crítico. São Paulo: Cortez, 2009.

MOREIRA, Tereza. Escola sustentável: currículo, gestão e edificação. In: Espaços Educadores Sustentáveis. Rio de Janeiro:
Boletim TV Escola, nº 7, junho de 2011.Disponível em: <http://www.nuredam.com.br/files/documentos_
mec/194055espacoseducadoressustentaveispdf>. Acesso em: 08 out. 2019.

ROSA, André Henrique; FRACETO, Leonardo Fernandes; CARLOS-MOSCHINI, Viviane (orgs.). Meio Ambiente e
sustentabilidade. Porto Alegre: Bookman, 2012.

SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, P. B. Metodologia de pesquisa. - 3. ed. - São Paulo: McGraw-Hill, 2006.

1263
5SSS276
DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO ADSORVENTE A BASE DE
QUITOSANA E SÍLICA PARA REMOÇÃO DE CORANTE TÊXTIL
Thaís Strieder Machado1, Flávia Melara2, Jonatan Rafael de Mello3, Hansel Biondo da Silva4, Pedro Paulette
Trancoso de Britto5, Larissa Crestani6, Ingridy Alessandretti7, Gabriel Damini8, Lucas Kayser da Silva9,
Giovana Marchezi10, Jeferson Steffanello Piccin11
1Universidade de Passo Fundo, e-mail: thaiis.strieder@hotmail.com;2Universidade de Passo Fundo, e-mail:
175626@upf.br; 3Universidade de Passo Fundo, e-mail: mello.jonatan@upf.br; 4Universidade de Passo Fundo,
e-mail: 159016@upf.br; 5Universidade de Passo Fundo, e-mail: 159028@upf.br; 6Universidade de Passo Fundo,
e-mail: 166617@upf.br; 7Universidade de Passo Fundo, e-mail: ingridyalessandretti7@gmail.com;
8Universidade de Passo Fundo, e-mail: 140628@upf.br; 9Universidade de Passo Fundo, e-mail: 170943@upf.br;
10Universidade de Passo Fundo, e-mail:173887@upf.br; 11Universidade de Passo Fundo, e-mail:
jefersonpiccin@upf.br

Palavras-chave: Sol-gel; Adsorção; Azul Brilhante de Remazol R.

Resumo
A adsorção é uma técnica promissora na remoção de poluentes em soluções aquosas que estão presentes em pequenas
quantidades, na ordem de micro e nanogramas. Dessa forma, pesquisas tem sido direcionadas para o desenvolvimento de
materiais adsorventes, de fontes de baixo custo, como resíduos sólidos, que possam ser aplicados no tratamento final de
efluentes que contenham corantes, metais tóxicos, fármacos, pesticidas e surfactantes. A quitosana é obtida da quitina presente,
principalmente, no exoesqueleto de crustáceos, e sua aplicação na remoção de corantes é evidenciada em diversas pesquisas.
Apesar disso, a quitosana apresenta algumas características indesejádas em adsorventes, como a baixa área superficial e
porosidade, a dissolução em meios ácidos, assim, dificultando sua regeneração e também não permitindo seu uso em sistemas
contínuos de adsorção. Métodos de modificações tem sido estudados e aplicados a fim de corrigir essas características. Sendo
assim, o objetivo desse trabalho é desenvolver um compóstio adsorvente a base de quitosana pelo método sol-gel, e verificar
sua eficiência na adsorção do corante Azul Brilhante de Remazol R. O precursor de sílica utilizado foi o tetraetoxissilano (1,5
mL), o qual foi adicionado a uma mistura contendo ácido acético (50 mL), água destilada (45,5 mL), ácido clorídrico (3 mL) e
quitosana (3 g). Esta solução foi gotejada em hidróxido de sódio e mantidos em contato por 24 horas. A partir da obtenção do
adsorvente, foram realizados ensaios de pH e isotermas de adsorção. O pH ótimo de adsorção foi verificado em 3. Na isoterma,
os dados ajustaram-se melhor ao modelo isotérmico de Freundlich (R² ajustado igual a 0,991). A quitosana e o compósito
xerogel apresentaram a mesma capacidade de adsorção (74 mg/g), em uma concentração de adsorvato de 100 mg/L. Portanto,
esse método de modificação da quitosana, utilizando o processo sol-gel, foi efetivo para a correção das característias
indesejáveis da quitosana.

Introdução

Adsorção é o termo utilizado para descrever o efeito no qual moléculas que estão presentes em um fluido, líquido ou gás,
concentram-se espontaneamente sobre uma superfície sólida (Ruthven, 1984). Seu conceito foi introduzido por Kayser, em
1881, como a acumulação superficial. Sendo assim, as moléculas presentes em um líquido são transferidas para a superfície de
um sólido poroso, chamado de adsorvente (Gupta; Suhas, 2009). Essa transferência de massa ocorre devido às forças da
superfície do sólido não estarem balanceadas, fazendo com que as moléculas do adsorvato sejam atraídas para a superfície do
adsorvente até que ocorra um equilíbrio entre a quantidade de moléculas adsorvidas e de moléculas livres na solução (Piccin et
al., 2017).
As interações entre o adsorvato e o adsorvente classificam a adsorção em química e física. Na adsorção física as interações
são mais fracas, sendo por interações eletrostáticas, forças de Van der Waals e ligações de hidrogênio, com variações de
energia entre 5 e 40 kJ/mol. Já na adsorção química ocorre a troca ou o compartilhamento de elétrons, com variações de
energia entre 40 e 800 kJ/mol (Crini; Badot, 2008).
A adsorção vem sendo empregada com sucesso na remoção de diversos poluentes presentes em efluentes (De Gisi et al.,
2016), os quais são de difícil remoção e geralmente as técnicas convencionais de tratamento não são capazes de removê-las ou
degradá-las (Burakov et al., 2018).
Nos últimos anos pesquisas vêm sendo realizadas com o intuito de desenvolver novos adsorventes que possam substituir o

1264
carvão ativado, que é o adsorvente mais utilizado atualmente (Yagub et al., 2014). O carvão ativado apresenta desvantagens
quanto a regeneração, envolvendo etapas físicas, químicas, oxidativas e/ou eletrolíticas (Gupta; Suhas, 2009), resultando em
uma perda de capacidade de adsorção a cada nova regeneração (Bonilla-Petriciolet et al., 2019). Estas pesquisas possibilitaram
novos usos de materiais de baixo custo, principalmente aos resíduos como de cortumes (Piccin et al., 2013), cascas de cupuaçu
(Cardoso et al., 2011), resíduos da indústria cervejeira (De Rossi et al., 2018), quitosana obtida de resíduos da indústria
pesqueira (Piccin et al., 2009), entre outros.
A quitosana, β-(1-4)-D-glucosamina, tem sido aplicada em diversas áreas de pesquisa, na médica como matriz para
administração de medicamentos (Ahsan et al., 2018), como antibacteriano na área farmacêutica, de alimentos e cosmética
(Hosseinnejad; Jafari, 2016), e também na área ambiental como adsorvente no polimento final de efluentes contendo corantes
(Piccin et al., 2009), metais (Kolodynska, 2011) e fármacos (Kyzas et al., 2013), principalmente.
A quitosana é um biopolímero obtido pela desacetilação alcalina da quitina, através do exoesqueleto de crustáeos ou da
parede celular de fungos por meios enzimáticos (Vakili et al., 2014). A quitina, β (1-4)-N-acetil-D-glucosamina, é o segundo
polissacarídeo mais abundante na natureza e a reação de desacetilação consiste na remoção de grupos acetil da quitina e na
substituição por grupos amina (NH2) (Moura et al., 2015). O grau de desacetilação é o que determina a distinção entre a
quitina e a quitosana, e a variação deste grau gera diferenças nas suas propriedades, como solubilidade, biodegradação e
principalmente na presença de grupos amino ionizáveis, o que altera a capacidade de interação com outras moléculas
químicas (Lizardi-Mendoza et al., 2016).
O uso da quitosana em sistemas de adsorção torna-se atrativo devido a abundância de grupos amina em sua molécula, que
em condições ácidas são protonadas e ficam disponíveis para adsorção. Estes sítios ativos são atrativos para remoção de
diversos contaminantes (Dotto et al., 2012; Kasiri, 2019). O uso desse biopolímero em sistemas de adsorção em batelada
demonstra bons resultados de capacidade de adsorção, conforme evidenciado por Piccin et al. (2009), para remoção de
corantes e Ngah et al. (2002) na remoção de metais.
Porém, a quitosana na sua forma natural se solubiliza em meios ácidos e não possibilita seu uso em sistemas contínuos de
adsorção (Futalan et al., 2011). Também, em temperaturas geralmente mais altas a quitosana apresenta sítios de adsorção
disponíveis mas que não podem ser ocupados devido ao impedimento estérico (Khalfaoui et al., 2006). Portanto, modificações
na quitosana podem ser efetivos na superarão das características indesejáveis desse adsorvente. Alguns tipos de
modificações são o cross-linkg e a formulação de compósitos. O cross-linking é aplicado com o objetivo de diminuir sua
solubilidade em meios ácidos e melhorar as propriedades mecânicas, e os compóstiso são formados com o intuito de melhorar
a capacidade de adsorção e diminuir a sensibilidade aos meios ácidos (Ngah et al., 2011).
Para a formação de compósitos de quitosana com polímeros inorgânicos pelo método de sol-gel tem ganhado destaque
na aplicação como adsorventes. É um método de simples reprodução e não exige condições extremas de pressão e temperatura
(Budnyak et al., 2015).
O processo de sol-gel é usado para sintetizar nanoestruturas de sílica, através de um precursor, onde as moléculas de
tetraetoxissilano (TEOS) se ligam com os monômeros de quitosana, aumentando sua área superficial e facilitando o acesso
aos grupos amina (Essel et al., 2018). O processo sol-gel é um método em que uma solução sol, que é uma solução coloidal
com partículas variando entre 1 e 100 nm, para um gel, que é uma rede rígida e porosa de dimensões submicrométricas. O gel
de sílica é formado pelas reações simultâneas de hidrólise e policondensação de um precursor de sílica (Hench; West, 1990),
sendo o TEOS o mais utilizado.
O material se forma pela hidrólise dos grupos etoxissilanos (Si(OC2H5)) dos precursores do TEOS e pela policondensação
dos grupos etoxissilanos e silanol (Si-OH) (Klein, 1985; Buckley; Greenblatt, 1994). Então, são formados grupos ≡Si-O-Si≡,
conferindo uma estrutura tridimensional, e com a remoção do solvente o que resta é uma rede interconectada porosa (Buckley;
Greenblatt, 1994; Copello et al., 2014).
A técnica sol-gel pode resultar em dois produtos, chamados de xerogel, quando o solvente é removido por evaporação, e
aerogel, quando o solvente é removido por extração supercrítica (Klein, 1985).
A junção da quitosana com o precursor de sílica produz um adsorvente com excelentes características devido à
presença de grupos funcionais da quitosana, com maior estabilidade térmica e em meios ácidos devido à sílica
(Budnyak et al., 2016).
Desta forma, a presente pesquisa teve por objetivo desenvolver um compóstio adsorvente a base de quitosana pelo método
sol-gel, utilizando como precursor de sílica o TEOS, e verificar a sua eficiência na adsorção de corante têxtil.

Material e métodos

A quitosana foi extraída das cascas de camarão conforme o método descrito por Weska et al. (2007), com adaptações
propostas por Moura et al. (2015), com grau de desacetilação superior a 85%.
Os reagentes utilizados foram de padrão analítico, sendo eles, TEOS, ácido acético, etanol, hidróxido de amônio, ácido
clorídrico, ácido cítrico, fosfato dissódico e hidróxido de sódio. O corante Azul Brilhante de Remazol R (RBBR), CAS nº
2580-78-1, foi adquirido da Sigma-Aldrich.

1265
Desenvolvimento do compósito adsorvente
O método de produção do adsorvente seguiu o proposto por Essel et al. (2018), com adaptações. Inicialmente uma solução
contendo 50 mL de ácido acético 2%, 45,5 mL de água destilada, 3 mL de ácido clorídrico 0,5 mol/L, 1,5 mL de TEOS e 3 g
de quitosana foi prepara e mantida sob agitação por 2 horas. Com isso, o gel formado foi gotejado em 250 mL de solução de
NaOH 2 mol/L sob constante agitação. Posteriormente, o material precipitado foi mantido em agitação por 100 rpm, com tal
solução por 12 horas. Após, o material foi lavado com água destilada até pH neutro e seco em estufa de circulação de ar à 30ºC
por 24 horas.

Ensaios de adsorção
Os ensaios de adsorção do corante têxtil foram realizados determinando o pH ótimo de adsorção, variando o pH inicial da
solução aquosa de cada corante em 3,0 5,5 e 8. Para isso, uma quantidade de adsorvente foi misturada a 10 mL de tampão
McIlvaine no pH de estudo. Após 15 min, 100 mL de solução aquosa contendo 100 mg/L do corante foi misturado. As
amostras foram mantidas sob agitação de 100 rpm à 25ºC, por 2 horas. Após este período a concentração foi determinada por
espectrofotometria e relacionada com a capacidade de adsorção do corante conforme a Equação 1 e a remoção conforme a
Equação 2.

sendo, q a capacidade de adsorção (mg/g), C0 a concentração inicial do corante (mg/L), C a concentração final de corante
(mg/L), V o volume da solução (L), m a massa do adsorvente (g).

Na melhor condição de pH foram construídas as isotermas de adsorção. Neste caso, o procedimento foi idêntico ao descrito
nos ensaios anteriores. Porém, foram avaliadas as concentrações de corante de 50 mg/L a 400 mg/L, mantidas a temperatura
constante em 25ºC e sob agitação de 100 rpm. Alíquotas foram coletadas a cada 2 horas até que o equilíbrio na concentração
do corante em solução foi observado. As concentrações nas alíquotas foram determinadas por espectrofotometria e, além disso,
foi verificado o ajuste dos dados aos modelos isotérmicos de Langmuir, Freundlich e Redlich e Peterson.
Nos ensaios, a concentração do corante foi determinada através de curva padrão previamente determinada no comprimento
de onda de 595 nm ([C, em mg/L] = 132,72*absorbância+0,4771, R2 = 0,9995), utilizando espectrofotometria.

Resultados e discussão

Desenvolvimentos do compósito adsorvente


O adsorvente desenvolvido foi denominado de xerogel e apresentou coloração característica de quitosana e um aspecto
semiesférico, conforme apresentado na Figura 1. A quitosana interage com os grupamentos de sílica através de ligações
covalentes e iônicas, formando uma rede quitosana-sílica (Repo et al., 2011). Os tipos das ligações envolvidas na rede
quitosana-sílica são importantes, tendo em vista que os grupos aminas estando disponíveis permitirá a realização de diferentes
transformações químicas, pois é um dos principais grupamentos químicos para aplicações em fenômenos de adsorção. Os
grupamentos aminas ficam disponíveis através das ligações covalentes.

1266
Figura 1: Fotografia do material adsorvente desenvolvido a base de quitosana e percursor de sílica (tetraetoxissilano -
TEOS).

Ensaios de adsorção
Os dados obtidos nos ensaios de pH ótimo são apresentados na Figura 2 para a capacidade de adsorção e remoção nos pHs
avaliados.

(a) (b)
80 80
70 70
60 60
Remoção (%)

50 50
q (mg/g)

40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
2 3 4 5 6 7 8 9 2 3 4 5 6 7 8 9
pH pH
Figura 2: Influência do pH sobre o compósito adsorvente em solução aquosa do corante Azul Brilhante de Remazol R,
sendo (a) capacidade de adsorção e (b) remoção.

Verifica-se que os melhores resultados, tanto de capacidade de adsorção como em remoção, são observados no pH mais
ácido. Isso se deve a protonação dos grupos amina, que são os sítios ativos de adsorção. Essa protonação faz com que as
moléculas sejam atraídas para estes sítios e sejam adsorvidas (Dotto et al., 2012). Resultados semelhantes foram observados
por Piccin et al. (2009) com o corante azobenzeno FD&C Red No. 40, Dotto et al. (2012) com o corante Amarelo Tartrazina e
Subramani e Thinakaran (2017) para remoção dos corantes Verde Malaquita, Vermelho Reativo e Amarelo Direto, que
utilizaram quitosana in natura.
A capacidade de adsorção para o adsorvente foi verificada pela isoterma de adsorção, conduzida à 25ºC e foi verificado o
ajuste dos dados aos modelos de Langmuir, Freundlich e Redlich e Peterson, conforme Equações 3, 4 e 5, respectivamente. As
isotermas de adsorção relacionadas com os modelos isotérmicos são apresentadas na Figura 4. Os ajustes dos adsorventes aos
diferentes modelos são apresentados na Figura 3 e na Tabela 1.

sendo, qm a capacidade máxima de adsorção (mg/g) e KL a constante de Langmuir (L/mg).

1267
sendo, KF a constante de Freundlich (mg/g) e 1/n o fator de heterogeneidade.

sendo, kR e aR as constantes de Redlich e Peterson (L/g), respectivamente, e β expoente que pode variar de 0 a 1.

(a) (b)

(c)

Figura 3: Isoterma de equilíbrio de adsorção do corante Azul Brilhante de Remazol R com os modelos, sendo (a)
Langmuir, (b) Freundlich e (c) Redlich e Peterson.

Tabela 1: Parâmetros dos modelos de isotermas obtidos através do ajuste aos dados de equilíbrio de adsorção do
corante Azul Brilhante de Remazol R a 25ºC.
Langmuir Freundlich Redlich e Peterson
KL (L/mg) 0,010 KF (mg/L) 12,225 kR (L/g) 103627
qm (mg/g) 269,172 1/n 1,985 aR 8477
2 2
R 0,962 R 0,992 β 0
2 2 2
R ajustado 0,959 R ajustado 0,991 R 0,916
R2 ajustado 0,900

Através da Tabela 1 percebe-se que os dados se ajustaram melhor ao modelo isotérmico de Freundlich. Esse modelo sugere
que há heterogeneidade nos sítios de adsorção e a energia não é constante, e que a capacidade de adsorção aumenta

1268
gradativamente com o aumento na concentração (Freundlich, 1906).
Uma isoterma de equilibrio de adsorção da quitosana foi construída, a fim de comparar as capacidades de adsorção do
compósito desenvolvido e da quitosana in natura, conforme a Figura 4.
Verifica-se que a isoterma de equilíbrio da quitosana classifica-se como uma isoterma tipo C, segundo a classificação de
Giles et al. (1960), o que sugere que a capacidade de adsorção do adsorvente é proporcional a concentração de soluto, sendo
que a afinidade do adsorvato pelo adsorvente é maior que a afinidade com o solvente ou que há sítios ativos suficientes para a
adsorção do soluto. Já a isoterma do xerogel classifica-se como tipo L, onde a forma inicial da curva de equilíbrio segue a
premissa de que quanto maior a concentração de soluto, maior a capacidade de adsorção até que o número sítios vazios de
adsorção seja limitado, ocorrendo concorrência entre as moléculas pelos locais disponíveis. A isoterma tipo L também indica
que a adsorção ocorre devido as forças relativamente fracas, como as forças de Van der Waals (Piccin et al., 2017).

Figura 4: Comparação das capacidades de adsorção do xerogel e quitosana.

Observando a Figura 4 também pode ser observado que, até uma concentração de equilíbrio de 100 mg/L, as capacidades
de adsorção da quitosana e do xerogel são iguais, 74 mg/g. Isso demonstra que a técnica de modificação empergada foi
satisfatória para corrigir as características indesejáveis da quitosana. Também, que os materiais bases desse adsorvente, a
quitosana e a sílica, causaram um efeito sinérgico na capacidade de adsorção (Beppu et al., 2004), já que o material
desenvolvido possui uma fração de quitosana em sua composição.

Considerações finais

Foi desenvolvido um adsorvente a base de quitosana, aplicando uma metodologia de modificação com o precursor de sílica
TEOS, pela técnica sol-gel. Este compósito possui 70% de quitosana ao final do processo e sua eficiência foi avaliada na
adsorção do corante Azul Brilhante de Remazol R. Através dos ensaios em batelada foi possível observar que o melhor
desempenho do compósito ocorreu em pH 3. Os dados isotérmicos ajustaram-se ao modelo de Freundlich. Portanto, é possível
verificar que a modificação empregada foi efetiva na superação de aspectos negativos que a quitosana apresenta, já que o
compósito apresentou a mesma capacidade de adsorção da quitosana em concentrações de até 100 mg/L.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Universidade de Passo Fundo (UPF), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES – Código financeiro 001) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ –
Proc. 405311/2016-8) pelo apoio financeiro.

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1271
5SSS277
A VARIABILIDADE NA QUANTIFICAÇÃO DE CARBONO
FLORESTAL EM INVENTÁRIOS DE EMISSÃO
Arthur da Fontoura Tschiedel1, Luciana da Silva Mieres2 Denise Wolf3
1Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e-mail: arthurtschiedel@unisinos.br; 2 Secretaria de Planejamento,
Orçamento e Gestão do Rio Grande do Sul – SEPLAG 3 Instituto de Estudos Culturais e Ambientais - IECAM, e-
mail: denisewolf@iecam.org.br;

Palavras-chave: Reduções de Emissões; Florestas Subtropicais Úmidas; Incertezas

Resumo
A quantificação de reduções de emissões líquidas em áreas florestadas pode ser útil para diversos tipos de projetos, entre os
quais se destacam aqueles situados no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e também os associados
projetos de Inventário de Emissões. Muito embora seja recomendada a utilização de dados primários para a quantificação
destas emissões e reduções, observa-se que muitas vezes, na execução deste tipo de projeto, são utilizadas dados secundários
que acabam ficando atreladas a grandes incertezas. Dessa forma, observa-se que a utilização de uma mesma metodologia para
quantificar reduções de emissões brutas de uma área florestada pode resultar em valores muito diferentes ao longo do tempo de
vida útil do projeto, sendo estes resultados totalmente dependentes dos dados de entrada utilizados na metodologia. Este
trabalho tem o intuito, portanto, de mapear as incertezas associadas à aplicação de uma metodologia de quantificação de
redução de emissões brutas em uma área Indígena localizada no interior do Estado do Rio Grande do Sul. Como resultado,
após a realização de 1.331 iterações envolvendo a variação de dados de entrada secundários, observou-se que reduções de
emissões brutas obtidas variam de aproximadamente de 1 a 48 tCO2-e.ha-1.ano-1 para áreas localizadas em Florestas
Subtropicais Úmidas.

Abstract
The quantification of liquid reductions applied in forest areas can be useful for several types of projects, including those in the
Clean Development Mechanism (CDM) scenario and also emissions inventory projects. Although it is recommended to use
primary information to quantify these reductions and reductions, it is observed that, in a lot of cases, secondary information is
used, resulting in great uncertainties about the quantification of reducted emissions. Thus, it is observed that the use of the
same methodology to quantify gross reductions of a forested area can result in very different values over the project lifetime,
and these results are totally dependent on the input data used. in methodology. Therefore, this paper aims to map as incidents
related to the application of a drill reduction quantification methodology in an Indigenous area located in the interior of Rio
Grande do Sul State. As a result, after 1331 iterations involving As secondary input data vary, losses and reductions in use
cause changes from approximately 1 to 48 tCO2-e.ha-1.year-1 for areas located in Subtropical Moist Forests.

Introdução

As Mudanças Climáticas vêm se tornando realidade (Silva, 2018), trazendo consigo impactos associados que podem
resultar em danos irreversíveis ao longo dos próximos séculos. Independentemente de como é encarado, o tema da mudança do
clima e suas consequências para a vida das pessoas, para as atividades econômicas e para o próprio equilíbrio dos recursos da
biodiversidade ocupa um espaço cada vez maior na sociedade. A consequência associada à predição de impactos futuros
relacionados à mudança do clima tem relação direta, portanto, com a criação de mecanismos que tenham potencial para frear
(ou diminuir) a influência antrópica no clima (Lamenza et al., 2017). Dentre estes mecanismos, destacam-se principalmente os
projetos de Créditos de Carbono (Lessa et al., 2016) e os Inventários de Emissões (Junior, 2019).
Os projetos de Créditos de Carbono desenvolvidos no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) têm
como principal objetivo financiar (através da venda dos créditos) projetos de engenharia que venham a reduzir emissões de
Gases do Efeito Estufa (GEEs) no futuro (como Pequenas Centrais Hidrelétricas, Usinas de Biomassa, Usinas Eólicas,
Aproveitamento Energético, Troca de Combustíveis entre outras). Os créditos gerados são normalmente comprados por países
em desenvolvimento que tem metas obrigatórias de redução de emissões, tendo surgido a partir do estabelecimento do
protocolo de Kyoto (Carvalho, 2019). A premissa básica na elaboração desse tipo de projeto é que a atividade de projeto

1272
(construção de uma PCH, por exemplo) não ocorreria se não fossem os incentivos financeiros advindos do projeto de MDL (no
caso, venda dos ativos). Caso essa premissa não consiga ser demonstrada o projeto é classificado como “Não Adicional” e não
pode vender créditos de carbono no âmbito do MDL. Fora essa premissa, diversas características e condições devem ser
demonstradas pelos proponentes de projetos para que determinada atividade seja enquadrada como “passível para a elaboração
de um projeto de MDL”. Essas condições levam em conta, entre outros, a situação da região onde será implementada a
atividade de projeto, a data de início das obras e a análise de viabilidade financeira do projeto. No âmbito de projetos de
crédito de carbono, ainda pode ser enquadrada a categoria de Redução de Emissão por Desmatamento Evitado, ou “Reducing
Emissions from Deforestation and Forest Degradation - REDD”. Essa categoria de projeto de Crédito de Carbono (de especial
interesse no âmbito desse artigo) tem como premissa básica a manutenção sadia da floresta em um futuro que, caso não
houvesse o projeto, não existiria. Dessa forma, seria possível a venda de créditos de carbono (ou seja, a tCO2-e que deixaria de
ser emitida no futuro devido ao desmatamento) para países com metas de emissão.
Os projetos de Inventário de Emissões, por outro lado, não têm relação direta com captação de recursos e têm como
principal objetivo quantificar as emissões proporcionadas por determinada indústria, empresa ou evento. Para tal, são
utilizadas, entre outras, metodologias e ferramentas de cálculo disponibilizadas por documentos de implementação da ISO 14-
064, metodologias associadas ao CDM – Clean Development Mechanism e também, no âmbito nacional, do Programa
Brasileiro GHG Protocol (Melo, 2018). Normalmente a empresa ou indústria que investe em projetos de Inventário de
Emissões tem o objetivo posterior de neutralizar as emissões medidas, podendo assim, utilizar selos que façam referência à
postura ambientalmente correta que tem a companhia. Essa neutralização, por vezes, é feita através de plantio direto de
árvores, ou compra de créditos de carbono.
Dessa forma, observa-se que em muitos projetos, sejam eles associados a Inventários de Emissões, ou a Projetos de
Créditos de Carbono, pode haver a necessidade de realizar estimativas a cerca da quantidade de carbono captado por extratos
vegetais. E estes valores variam bastante, de área para área. Torres et al., (2011), chegaram a valores de 15,3 tCO2-e.ha-1.ano-1
para plantações de pinhões. Enquanto isso, Muller (2014) estima reduções da ordem de 2 tCO2-e.ha-1.ano-1 para terras de
cultivo e Tennigkeit (2008) estima reduções da ordem de 1,36 tCO2-e.ha-1.ano-1 para florestas tropicais e 1,25 tCO2-e.ha-1.ano-1
para florestas temperadas na China. Dessa forma, as diversas metodologias existentes que consideram a utilização de dados
secundários apresentam grande grau de incerteza, associada à variabilidade dos dados de entrada tipicamente utilizados nas
equações. Esse artigo tem como objetivo, portanto, verificar esse grau de variabilidade, focando-se em uma metodologia
geralmente utilizada quando não se tem características espaciais e fenotípicas das espécies vegetais existentes dentro de uma
área a qual se deseja realizar essa quantificação. Este estudo é realizado considerando uma área piloto localizada no Estado do
Rio Grande do Sul, mais bem apresentada no item a seguir.

Área de Estudo

A área de estudo deste trabalho se refere à Reserva Indígena Nhuu Porã, de 25,75 km², localizada no Estado do Rio
Grande do Sul, estando inserida nos municípios de Maquiné e Riozinho. A zona ecológica associada a esta área pode ser
enquadrada como floresta úmida subtropical, conforme a classificação de zonas ecológicas da FAO (2001), sendo a área mais

bem apresentada na
Figura 23. É possível observar nessa figura que a área indígena se encontra atualmente quase que totalmente preservada com
mata natural, sendo observados áreas não florestadas irrelevantes frente à área total preservada.
A análise de imagens de satélite históricas permite inferir que esta área não sofreu grandes alterações antrópicas nas
últimas décadas, havendo uma permanência relativamente próxima da quantidade de áreas florestadas dentro dos limites da
terra indígena, ao longo do tempo. Além disso, é nas proximidades desta área que se observam as nascentes do Rio dos Sinos,
um curso hídrico de importância estratégica do ponto de vista de gestão hídrica do Estado do Rio Grande do Sul.

1273
Figura 58: Área de Estudo

Material e Métodos

A premissa básica associada à captação de gases do efeito estufa por estratos vegetais se embasa no fato de que
vegetais captam o carbono em estado inorgânico gasoso (CO2) a partir da fotossíntese, fixando-o na forma de carbono orgânico
(Lopes, 2010). Dessa forma, durante a fotossíntese, as plantas reduzem o átomo de carbono presente no CO2, utilizando a
energia da luz e água, gerando carbono orgânico (C6H12O6). A energia utilizada pela planta em seus processos metabólicos (ex:
sintetizar proteínas e manter concentrações de íons nas células) parte, entretanto, do processo de respiração, em que moléculas
de carbono orgânico são utilizadas em conjunto com moléculas de oxigênio para gerar energia, CO2 e H2O conforme
apresentado na Equação 01. A combinação da oxidação do carbono com a redução do oxigênio no processo de respiração
resulta numa liberação líquida de energia, que o organismo pode utilizar para realizar outras funções. O detalhe associado ao
incremento da biomassa vegetal a partir destes processos que embasa metodologias de reduções de emissões a partir do plantio
de espécies vegetais, é que plantas assimilam mais carbono através da fotossíntese do que oxidam através da respiração
(Ricklefs, 2003).

Equação 01

Ressalta-se também que os processos físicos associados à vida energética de determinado extrato florestal vão
mudando ao longo da vida da planta. Isso significa que as taxas de absorção de energia (e consequentemente taxas de retenção
e liberação de CO2) vão se intensificando conforme determinada espécie vai crescendo. O gráfico da Figura 59 mostra este
comportamento (Morison, 2012), em que é possível observar um crescimento acentuado dessa taxa nos primeiros 20 anos, um
pico próximo dos 30 anos e um decréscimo após esse período. Estes estudos aqui apresentados foram realizados para extratos
vegetais localizados na Inglaterra.

1274
Figura 59: Comportamento temporal típico de taxas de crescimento de biomassa em extratos vegetais

Tipicamente, a quantificação de gases do efeito estufa captados por uma espécie vegetal é realizada com base em
características fenotípicas como Diâmetro na Altura do Peito (DAP), Altura e Taxas de Crescimento inerentes à cada espécie
catalogada em inventários da área foco de estudo.
Entretanto, é observado que em muitos projetos de quantificação de estoques de carbono em estratos vegetais, essas
informações não estão disponíveis. Cria-se, portanto, a necessidade de se estimar os estoques (e consequentemente emissões e
captações de CO2) utilizando-se médias globais e metodologias não regionais. Neste sentido, destaca-se a metodologia
preconizada no documento “Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories Volume 4 – Agriculture, Forestry, and Other
Land Uses” IPCC (2006) e a “Approved afforestation and reforestatiuon baseline methodology AR – AM0001, Reforastation of
degraded land – Version 02”, da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. A Equação base utilizada
para estimar a quantidade de toneladas de CO2 absorvidas por atividades de reflorestamento (∆CReal,t) é apresentada a seguir.

∆CReal,t = {[(Ai * Gw * (1 + Rnat) * CfÁrvore * 44/12) - (∆Cl, i, t)]} Equação 02

Em que:
∆CReal,t: Remoções líquidas anuais GEEs por plantio (tCO2e/ano);
Ai: Área total Plantio (ha);
Gw: Taxa de incremento de biomassa acima do solo para florestas plantadas e manejadas em clima subtropical
úmido para o ano t (t.m.s/ha/ano);
Rnat: Taxa média representada pela razão entre a biomassa abaixo do solo e a biomassa acima do solo (t.m.s/t.m.s);
CfÁrvore: Fração Média de Carbono na biomassa de árvores para florestas em clima subtropical úmido (t C/t.m.s.);
∆Cl, i, t: Reduções naturais que ocorreriam caso não houvesse plantio manejado (tCO2e/ano);

A Equação 02 permite, portanto, estimar a quantidade de CO2 que seriam absorvidas por determinada área florestada
ao longo de um tempo pré-determinado. Entretanto, no âmbito de verificação de emissões e reduções futuras, a quantificação
única da taxa de absorção associada a uma área florestada, por si só, não é suficiente, havendo a necessidade de se quantificar
quais seriam as reduções ocasionadas pela área, num cenário de ausência de projeto, ou ainda emissões associadas a outros
processos que ocorrem no extrato vegetal. Portanto, a utilização da Equação 02 com a ausência do termo ∆Cl, i, t representa as
reduções não líquidas associadas a determinado extrato vegetal. O objetivo deste artigo reside na identificação dos limites
possíveis associados à aplicação da Equação 02 no âmbito do cálculo de reduções de emissões brutas por determinado extrato
vegetal.
A metodologia adotada para esta verificação se embasou, portanto, na variação dos principais dados de entrada
utilizados na Equação 02 (Gw, Rnat e CFtree), verificando qual é o impacto exercido nos resultados obtidos (em tCO2e.ano-1.ha-
1
), para uma área de floresta enquadrada como Floresta Tropical Decídua. A escolha deste tipo de bioma foi embasada na

1275
localização da área de projeto (
Figura 23) em relação às zonas ecológicas globais definidas em FAO (2001) consideradas na metodologia utilizada

(
Figura 23). A Tabela 45 apresenta estes limites de variação estabelecidos para cada parâmetro, bem como a fonte de obtenção
dos valores. Para cada cenário estudado (florestas naturais e florestas plantadas) foram realizados 1.331 cálculos com
diferentes dados de entrada, que foram variados dentro dos limites apresentados na referida tabela. Após a realização destes
cálculos, os resultados foram avaliados a partir da construção de histogramas, que permitiu verificar a porcentagem de vezes de
ocorrência de valores baixos, médios e máximos, para cada ensaio realizado.
Tabela 45 – Dados de Entrada Variados
Fonte IPCC 2006 IPCC 2006 IPCC 2006
Tipo Gw Rnat CFtree
Parâmetro tms.ha-1.ano-1 tms.tms-1 Tc.tms-1
Unidade* Natural Plantada Nat/Plan Nat/Plan
Valor Máximo 7 20 0.33 0.49
Valor Mínimo 2 6 0.09 0.43
Variação 0.5 1.4 0.024 0.006
*
tms = tonelada de matéria seca; Tc = tonelada de carbono

É importante ressaltar que a aplicação da Equação 02 em conjunto com os dados de entrada apresentados na Tabela 01
pode gerar diferentes valores de TCO2-e captados por hectare de área florestada. Estas diferenças por outro lado estão
associadas apenas à diferentes considerações nos dados de entrada, que refletem diretamente o fenótipo da área florestada. Isso
quer dizer que, incertezas inerentes à aplicação da metodologia não estão sendo consideradas. Bem como o processo de
variação da taxa de crescimento de biomassa devido ao tempo de vida dos estratos florestais. Buscando adicionar uma
avaliação de incerteza no método, IPCC (2006) recomenda que sejam consideradas incertezas, entre outras, da ordem de 40%
para a densidade da madeira (CFtree) e da ordem de 27% para taxa de incremento de biomassa acima do solo (Gw). Estas
incertezas também foram aplicadas aos dados de entrada da Tabela 01. De forma conservadora, portanto, os dados de entrada
variados do segundo grupo de análise são apresentados na Tabela 02.

1276
Tabela 46 – Dados de Entrada Variados
Fonte IPCC 2006 IPCC 2006 IPCC 2006
Tipo Gw Rnat CFtree
Parâmetro tms.ha-1.ano-1 tms.tms-1 Tc.tms-1
Unidade* Natural Plantada Nat/Plan Nat/Plan
Valor Máximo 4.41 12.60 0.33 0.294
Valor Mínimo 1.26 3.78 0.09 0.258
Variação 0.32 0.88 0.024 0.0036
*
tms = tonelada de matéria seca; Tc = tonelada de carbono

Resultados

Os resultados obtidos a partir da variação dos dados de entrada na equação 02, conforme valores definidos nas
Tabelas 01 (sem consideração de incertezas) e Tabela 02 (com consideração de incertezas) permitiram verificar quais seriam
todos as reduções brutas de CO2-e passíveis de obtenção a partir da aplicação da metodologia associada com os dados de
entrada secundários tipicamente utilizados nestes casos. Dessa forma, desconsiderando-se incertezas inerentes aos dados de
entrada, observa-se que para florestas plantadas em zonas caracterizadas como Florestas Úmidas Subtropicais, as taxas de
reduções brutas de CO2-e podem variar de aproximadamente 9 à 48 tCO2-e/ha.ano, enquanto que estas taxas, considerando as
incertezas, podem cair para valores de 3 à 21 tCO2-e/ha.ano, conforme apresentado na Figura 60. Por outro lado, se forem
consideradas florestas naturais já consolidadas, estas taxas caem substancialmente. Pelo fato de haver um maior equilíbrio
entre as taxas de fotossíntese e de respiração em indivíduos adultos (Figura 59), as reduções brutas estimadas podem variar
entre 3 a 17 tCO2-e/ha.ano (para um cenário sem incertezas) e de 1 a 8 tCO2-e/ha.ano quando incertezas são consideradas. Para o
caso de reduções estimadas em extratos já consolidados, ressalta-se que 8% dos resultados obtidos encontram-se entre os
limites de 1 a 2 tCO2-e/ha.ano, enquanto apenas 1% encontram-se entre 7 e 8 tCO2-e/ha.ano (Figura 61).

Figura 60– Taxas esperadas de reduções brutas de emissões (em tCO2-e/há.ano) para florestas plantadas em zonas de
florestas subtropical úmida

1277
Figura 61 – Taxas esperadas de reduções brutas de emissões (em tCO2-e/há.ano) para florestas naturais em zonas de
florestas subtropical úmida

Considerando especificamente a Área de Estudo apresentada anteriormente, estima-se que, em um cenário de floresta
já consolidada, as taxas de reduções de emissões brutas poderiam variar entre aproximadamente 1 a 8 tCO2-e/ha.ano
(considerando incertezas). Uma vez que a área apresenta 2.575 hectares, em um cálculo simples e conservador, pode-se
concluir que este extrato florestal tem potencial para reduzir, no mínimo, 51.500 tCO2-e para os próximos 20 anos, segundo a
Equação 03.

Equação 03

Em que:

Taxared: Taxa de Redução estimada por área de estrato florestal (tCO2-e/ha.ano);


Área: Área de projeto que será protegida (ha)
Período: Tempo de proteção da área florestada (anos)

Conclusões

Este trabalho permitiu mapear taxas de redução de emissões brutas (em tCO2-e/ha.ano) esperadas em estratos vegetais
naturais e plantados em áreas enquadradas como Florestas Subtropicais Úmidas (segundo a classificação de 2001), tendo o
intuito de servir como embasamento para cálculos preliminares de reduções de emissões brutas associadas a estas áreas. Deve
ser ressaltado, dessa forma, que os resultados apresentados neste trabalho são aproximações iniciais, não se configurando,
portanto, como valores substitutivos a projetos de reduções de emissões realizados considerando uma escala local.
Além disso, destaca-se que a quantificação de redução de emissões em áreas florestadas (naturalmente ou não) sempre
deve seguir o princípio da segurança. Ou seja, os valores estimados por metodologias genéricas devem ser obtidos a partir do
uso de dados de entrada conservadores quanto à quantidade de reduções de emissões brutas associadas. Ainda, ressalta-se que
os resultados apresentados neste trabalho não levaram em consideração as emissões naturais associadas à área de projeto. Para
fins de composição de reduções de emissões no âmbito de inventário de emissões, estes valores são de suma importância.

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1279
5SSS278
AVALIAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO SISTEMA
TRISTEZA, NA CIDADE DE PORTO ALEGRE-RS
Diego Ferraz Gonçalves1, Felipe Maciel Paulo Mamédio2 Gabriele Lohmann3
1FTEC, e-mail: diegobemdebem@gmail.com; 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e-mail:
fmp_mamedio@hotmail.com; 3Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),e-mail: gabi.lohmann@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: desperdício; perdas de água; medição.

RESUMO
Tucci (2014), explica que os usos dos recursos hídricos vêm se acentuando com o desenvolvimento econômico, tanto em
quantidade de demanda, quanto na variedade dessas utilizações. Os recursos que eram utilizados na dessedentação, na criação
de animais, para usos domésticos e agrícolas, ganham outros tipos de consumo a medida em que a civilização se desenvolve.
Considerando essa afirmação, e que em Porto Alegre, os dados presentes no PMSB (2015) apontam que em 2014 as perdas de
água na capital gaúcha correspondiam a 24,63 % do volume produzido no ano, faz-se necessário identificar as causas dessas
perdas.
Conforme explica o PNCDA (2004), no DTA-A2, em sistemas públicos de abastecimento, pelo ponto de vista operacional,
todo volume não contabilizado é considerado como perda de água. Esses volumes não contabilizados podem ser constituídos
de perdas reais (físicas) devido ao não consumo e por perdas aparentes (não físicas) devido ao consumo não registrado.
Assim o PNCDA (2004), no DTA-A2, determina que o gerenciamento das perdas e desperdícios, compreende o planejamento
e execução de medidas que impliquem na redução e manutenção de perdas reais e aparentes a um nível adequado. No DTA-C3
do PNCDA (1999), são definidos os seguintes requisitos básicos para a realização desse gerenciamento: (I) Subdivisão do
sistema; (II) Monitoramento; (III) Setorização; (IV) Cadastro técnico; (V) Cadastro de consumidores; (VI) Micromedição.
As perdas físicas de água correspondem a parcela das perdas totais, de maior dificuldade quanto a identificação, portanto mais
onerosas, pois dependem de atividade de campo e escritório mais complexas que as atividades relativas às perdas não físicas. O
PNCDA (1999), descreve uma sequência com os principais passos para realizar o diagnóstico das perdas físicas quanto ao tipo
e quantificação, destacando que os sucessos das ações são proporcionais à consistência dos resultados obtidos nas atividades de
campo e escritório. Frente as experiências nacionais e internacionais quanto a identificação e quantificação de perdas físicas e
não físicas, estudos de caso reais são necessários para proporcionar o melhor entendimento dos meios para se otimizar a
distribuição de agua no sentido de reduzir as perdas.
Assim para avaliar a eficiência do sistema de abastecimento de água, podem ser adotados os indicadores presentes no Plano
Municipal de Saneamento Básico de Porto Alegre de 2015, os quais têm como base o Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento (SNIS): (I) Índice de Micromedição Relativo ao Volume Disponibilizado; (II) Índice de Macromedição; (III)
Consumo Micromedido por Economia; (IV) Índice de Faturamento de Água; (V) Índice de Perdas de Água na Distribuição;
(VI) Índice de Perdas por Ligação.
Dentre as formas de avaliar a eficiência do sistema, o presente trabalho se insere no contexto de avaliar as perdas de água na
ETA Tristeza, as vazões distribuídas no sistema tendo como base a pitometria, bem como os volumes micromedidos e
estimados no Sistema Tristeza e subsistemas, na cidade de Porto Alegre. As análises demonstraram que as perdas de água na
ETA em relação a vazão bruta total são inferiores a 1%, que da vazão tratada na ETA cerca de 3,7 % abasteceriam o
subsistema da EBAT Assunção, 17,5 % o subsistema da EBAT Balneários, e o restante se distribui entre a EBAT Tristeza e
derivações.
Considerando os índices de micromedição, o PMSB (2015), recomenda o investimento na medição do volume de água
utilizado pelas unidades consumidoras, fazendo-se a alocação e substituição do parque de hidrómetros. Tal procedimento, evita
que alguns consumidores estejam utilizando muito mais água do que o valor que lhes é cobrado. O presente estudo identificou
em ordem os subsistemas do sistema Tristeza que poderiam sofrer intervenção no sentido de aprimorar o monitoramento do
sistema.
Observa-se assim a importância da micromedição dos consumidores de modo a evitar o desperdício de um bem tão importante
quanto a água, e ainda no sentido de garantir a sustentabilidade da exploração desse recurso, evitando maiores retiradas na
captação e consequentemente favorecendo condições mais próximas as naturais no ponto de captação.

INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, ocorreram crises de abastecimento de água em alguns centros urbanos em diversos países do mundo, a
exemplo da crise hídrica que ocorreu no principal centro financeiro da América do Sul, na cidade de São Paulo no ano de
2014, o qual causou imensa apreensão da população e divulgação maciça na mídia.

1280
As crises hídricas ocorrem por um conjunto de fatores, dentre os quais assumem especial importância, a escassez de recursos
hídricos devido ao consumo oriundo do crescimento populacional cada vez mais expressivo, atrelado à crescente deterioração
da qualidade das águas superficiais. Agravam ainda esse cenário fatores como a ineficiência dos sistemas de distribuição de
água e o consumo indiscriminado por parte da população.
Richter & Netto (1991) informam que a expansão demográfica e atividades econômicas na indústria e agricultura, contribuem
para que não se considere segura nenhuma fonte de água superficial. Segundo Mays (2010), estima-se que 96,5% da água
existente no mundo se encontra nos oceanos, portanto, imprópria para consumo direto ou para irrigação de plantações, e assim
apenas 3,5 % representam água doce. Dessa quantidade de água doce, conforme explica Collischonn e Dornelles (2013), 69%
estão concentrados nas geleiras, 30% estão armazenados em água subterrâneas, restando apenas 1% distribuído entre rios,
lagos, umidade do solo, água atmosférica, banhados, entre outros. Conforme ANA (2009), estima-se que o Brasil possua cerca
de 12% da água doce superficial no mundo.
Segundo a UN (2019), através do departamento de assuntos econômicos e sociais, a atual população mundial de 7,7 bilhões,
adicionou 1 bilhão de pessoas comparado a 2007, e dois bilhões em comparação a 1994. A projeção dos autores para os
próximos 41 anos informa que a população mundial alcançará cerca de 9,6 bilhões até 2050.
Dentro desse contexto, entende-se que os fatores oferta e demanda devem ser otimizados, uma vez que a quantidade de água
potável disponível no planeta é limitada e o quadro de crescimento demográfico tende a continuar. Assim, o combate a essas
crises de abastecimento passam inevitavelmente pela garantia da eficiência do sistema de distribuição de água por parte das
empresas de abastecimento de água, bem como pela conscientização da população no sentido de reduzir o consumo de água ao
evitar desperdícios diversos, a exemplo de torneiras com vazamento nas residências, escovar os dentes com a torneira aberta,
entre outros.
Considerando esses aspectos, o presente trabalho tem por objetivo mensurar as perdas de água no tratamento de água na ETA
Tristeza, bem como avaliar a distribuição dos volumes para cada subsistema no qual se tem dados de pitometria, e por fim
avaliar o acompanhamento do DMAE quanto a micromedição em cada subsistema.

MATERIAL E MÉTODOS
Para o presente trabalho, realizou-se o estudo de caso do Sistema Tristeza da cidade de Porto Alegre, com base em
levantamentos e análises bibliográficas de documentos consoantes ao tema da pesquisa, como livros, publicações de programas
do governo (PMSB, SNIS e PNCDA).
Os itens a seguir, descrevem detalhadamente o sistema de abastecimento escolhido, suas características, e como foram
avaliadas as perdas na distribuição de água do sistema.
Seleção Do Sistema De Abastecimento
Como o objetivo geral desse trabalho é a análise de eficiência de um sistema de distribuição de água, as premissas utilizadas na
escolha do sistema de abastecimento de água foram: (a) existência de dados recentes de macromedições e micromedição; (b)
Não possuir ligações com demais sistemas ou possibilitar a separação de vazões. Dessa forma, foi escolhido como objeto de
estudo o Sistema Tristeza da cidade de Porto Alegre.
Caracterização do Sistema
Para a caracterização do Sistema Tristeza, considerou-se os dados dispostos nos três volumes do PMSB elaborado em 2015.
Desses documentos foram retiradas informações gerais quanto à localização e área do sistema, população atendida e estimativa
de crescimento, número de economias e densidade demográfica. Também foram coletadas informações técnicas sobre os
processos realizados pela ETA, e sobre a subdivisão do sistema e as unidades existentes.
Sistema Tristeza – Dados Gerais
O sistema está localizado no oeste do município de Porto Alegre, tem conformação alongada pela orla do Lago Guaíba, com
área de abastecimento de 1.041 ha, fazendo limite a leste com os sistemas Menino Deus e Belém Novo (PMSB, 2015).
Conforme descrito no PMSB (2015), o sistema abastece os bairros Vila Assunção, Pedra Redonda e Guarujá, e parte dos
bairros Vila Conceição, Tristeza, Serraria, Espírito Santo, Cavalhada e Ipanema. Os dados gerais do sistema são apresentados
na Tabela 47:

1281
ITEM VALOR
Área do sistema (ha) 1.042
População abastecida 2010 43.978
População estimada 2014 45.788
Domicílios abastecidos 2014 19.901
Economias cadastradas DMAE (2014)
43,94
Densidade média (hab/ha)
Dotação (hab/dom) 2,30
Produção (L/s) 263
Tabela 47 - Dados gerais do Sistema Tristeza
Fonte: PMSB (2015)

Sistema Tristeza – População


O PMSB (2015), considerou os dados coletados pelo Censo 2010 elaborado pelo IBGE. O estudo realizou a contagem de
43.978 habitantes e projetou para os anos de 2015, 2020, 2030 e 2035, as respectivas populações 46.241, 48.513, 52.952 e
55.147 habitantes.
Sistema Tristeza – Unidades Existentes
Conforme descrito no volume 2 do PMSB (2015), a captação de água bruta do sistema até o ano de 2006 era realizada nas
dependências do Clube Veleiros de Sul, entretanto uma nova captação subfluvial no Lago Guaíba foi implantada. O novo
sistema conta com 630 metros de extensão de uma rede em PEAD de 600mm de diâmetro.
Localizada na avenida Guaíba, junto ao Clube Veleiros do Sul, encontra-se a Estação de Bombeamento de Água Bruta, a qual
é interligada com a ETA através de uma adutora de diâmetro de 600mm e 294 metros de extensão.
No volume 1 do PMSB (2015), foi descrita a Estação de Tratamento de Água do Sistema Tristeza, localizada na Praça Araé,
com entrada na rua Maracá. A capacidade nominal da ETA Tristeza, após a realização de intervenções passou de 220 l/s para
480 l/s e realiza o tratamento da água de forma convencional, sendo composta por floculador, decantadores e cinco filtros com
leito de areia. Existe a previsão da implantação de um sistema de condução dos lodos utilizados no tratamento e um sistema de
abatimento de cloro.
O PMSB (2015) descreve que a distribuição de água no sistema, é realizada através de seis subsistemas, onde um subsistema é
abastecido pelo reservatório da ETA por gravidade, três são por EBAT’s de 1º nível e dois por EBAT’s de 2º nível.
No volume 2 do PMSB (2015), são destacadas futuras adaptações do sistema, sendo a mais pertinente para esse trabalho a
implantação de um novo subsistema através do reservatório Balneários, até então utilizado apenas como sucção para a EBAT
Balneários. Os subsistemas, assim como a sua forma de distribuição foram listados na Tabela 48.

Subsistema Nome Distribuição


7. Reservatório Tristeza Distribuição por gravidade
Distribuição por EBAT 1º
7.1. EBAT Vila Assunção / Res. Coroados
Nível
Distribuição por EBAT 1º
7.2. EBAT Jardim Isabel I / Res. Jardim Isabel II
Nível
Distribuição por EBAT 2º
7.2.1. EBAT Jardim Isabel II / Res. Jardim Isabel III
Nível
Distribuição por EBAT 1º
7.3. EBAT Balneários Espírito Santo / Res. Praça Moema
Nível
Distribuição por EBAT 2º
7.3.1. EBAT Praça Moema / Res. Praça Moema Elevado
Nível
7.4. Reservatório Balneários Distribuição por gravidade
Tabela 48 - Subsistemas Tristeza
Fonte: PMSB (2015)

O sistema conta com sete reservatórios, sendo três elevados e quatro enterrados ou semienterrados, que juntos somam 6.495 m³
de capacidade. A Figura 62, apresenta o Perfil hidráulico do Sistema Tristeza com todas unidades citadas acima.

1282
Figura 62 - Perfil hidráulico do Sistema Tristeza
Fonte: PMSB (2015)

Sistema Tristeza – Macro e Micromedições


Foram levantados junto ao DMAE, informações quanto ao volume de água produzido na ETA, os volumes aduzidos pelas
EBAT’s, além da divisão espacial dos subsistemas e seus respectivos ramais de ligação com consumos (micromedições).
Sistema Tristeza - Volumes produzidos e aduzidos
As informações referentes ao volume de água produzido pela ETA Tristeza, foram disponibilizadas pela Gerencia de
Tratamento de Água do DMAE e foram listados na Tabela 49. Conforme relatado pelos servidores da área, o macromedidor
está instalado na entrada da ETA. Nesse sentido, o volume de água produzido é estimado através do volume de água bruta
captado, do qual é subtraído o volume consumido no processo e o volume utilizado na lavagem dos decantadores.

Água Utilizada na
Mês/Ano de Água Bruta Captada Água Consumida no Água Tratada Produzida
Lavagem dos
Referência (m³) Processo/Perdas (m³) (m³)
Decantadores (m³)
jan/18 758.792,00 245,00 2.835,00 755.712,00
fev/18 695.696,00 225,00 0,00 695.471,00
mar/18 811.888,00 230,00 2.350,00 809.308,00
abr/18 777.781,00 240,00 0,00 777.541,00
mai/18 782.475,00 250,00 0,00 782.225,00
jun/18 711.228,00 240,00 1.080,00 709.908,00
jul/18 709.661,00 250,00 0,00 709.411,00
ago/18 727.047,00 250,00 0,00 726.797,00
set/18 700.964,00 240,00 1.080,00 699.644,00
out/18 731.789,00 250,00 0,00 731.539,00
nov/18 729.496,00 230,00 0,00 729.266,00
dez/18 793.437,00 230,00 3.100,00 790.107,00
Tabela 49 - ETA Tristeza - Captação, consumos e produção
Fonte: (DMAE, 2019), adaptada pelo autor.

Conforme pode-se observar na Tabela 49, a lavagem de decantadores não ocorrem todos os meses. Os dados dos
volumes aduzidos pelas EBAT’s, foram disponibilizados pela área de controle de perdas, da Gerência de Distribuição e Coleta
do DMAE. Esses dados referem-se a campanha de pitometria, na qual realizou-se a instalação de 4 equipamentos de medição,
em pontos estratégicos da rede. Os detalhes da campanha estão descritos a seguir:
 1º Pitômetro – o equipamento foi instalado na saída da EBAT Tristeza, em uma adutora de ferro fundido de
diâmetro nominal de 600mm. Foram realizadas mais de 13 mil leituras, entre os dias 16 de abril de 2018 à 14 de maio de 2018.
Registrou-se ao final do período, a vazão média de 334,29 l/s e o volume fornecido de 807.456,53 m³.
 2º Pitômetro – o equipamento foi instalado na saída da EBAT Assunção, em uma tubulação de ferro fundido de
diâmetro nominal de 150mm. Foram realizadas mais de 13 mil leituras, entre os dias 16 de abril de 2018 à 14 de maio de 2018.
Registrou-se ao final do período, a vazão média de 13,54 l/s e o volume fornecido de 29.584,10 m³.

1283
 3º Pitômetro - o equipamento foi instalado na saída da EBAT Jardim Isabel I, em uma tubulação de ferro fundido de
diâmetro nominal de 200mm. Foram realizadas mais de 4 mil leituras, entre os dias 17 de abril de 2018 à 26 de abril de 2018.
Registrou-se ao final do período, a vazão média de 26,28 l/s e o volume fornecido de 17.430,22 m³.
 4º Pitômetro - o equipamento foi instalado na saída da EBAT Balneários, em uma tubulação de ferro fundido de diâmetro
nominal de 250mm. Foram realizadas mais de 13 mil leituras, entre os dias 18 de abril de 2018 à 16 de maio de 2018.
Registrou-se ao final do período, a vazão média de 67,09 l/s e o volume fornecido de 141.095,97 m³.
O subsetor 7.3.1 EBAT Praça Moema / Reservatório Praça Moema Elevado, não fez parte da campanha, entretanto, como é
dependente do 7.3 EBAT Balneários Espirito Santo / Reservatório Praça Moema, terá seus consumos absorvidos pelo mesmo,
ao serem calculados os indicadores.
O subsetor 7.2.1 EBAT Jardim Isabel II / Reservatório Jardim Isabel II, como no caso anterior, não foi contemplado na
campanha, porém, seu radical 7.2 EBAT Jardim Isabel I / Reservatório Jardim Isabel II, teve uma amostra de apenas 10 dias,
considerada insuficiente para a análise. Dessa forma, tanto o subsistema 7.2 como o 7.3, terão seus consumos absorvidos pelo
subsetor 7 Reservatório Tristeza.
O subsetor 7 Reservatório Tristeza, também irá absorver as perdas do subsetor 7.4 Reservatório Balneários, o qual também não
foi considerado na campanha. A Tabela 50, apresenta um resumo da campanha de pitometria realizada pela área de controle de
perdas do DMAE.

1º Macromedidor 2º Macromedidor 3º Macromedidor 4º Macromedidor


Subsistema Reservatório Tristeza EBAT Assunção EBAT Jardim Isabel I EBAT Balneários
Saída da EBAT Jardim
Local Saída da EBAT Tristeza Saída da EBAT Assunção Saída da EBAT Balneários
Isabel I
Diâmetro da rede DN 600mm DN 150mm DN 200mm DN 250mm
Material da tubulação Ferro Fundido Ferro Fundido Ferro Fundido Ferro Fundido
Período (dias) 29 29 10 29
Leituras (un.) 13.473 13.320 4.444 13.320
Vazão média (l/s) 334,292 13,541 26,285 67,095
Volume fornecido (m³) 807.456,532 29.584,101 17.430,226 141.095,979
Tabela 50 - Resumo da campanha de pitometria
Fonte: (DMAE, 2019), adaptada pelo autor.

Subsistemas – Limites e Micromedição


As informações referentes aos limites geográficos e micromedições dos subsistemas, foram disponibilizados pela Equipe de
Projetos, da Gerencia de Projetos e Obras do DMAE. Os dados obtidos, fazem parte do cadastro técnico e de consumidores do
DMAE, que realiza o gerenciamento dessas informações através do GeoDMAE, um Sistema de Informação Geográfica (GIS).
Foram coletadas do banco de dados do GeoDMAE, informações referentes às áreas abastecidas pelos subsistemas,
contemplando os ramais de ligação, alinhamento predial, edificações, meio fio e traçado das redes distribuidoras.
As informações sobre os ramais foram coletadas por subsistema, de forma a possibilitar avaliações individuais. Os dados
obtidos contemplam desde a micromedição dos últimos 24 meses de cada ramal, como também a quantidade de economias,
tipo de consumidor, situação do ramal, a geolocalização (eixo x e y) e a cota de nível. As informações referentes as
micromedições dos subsistemas, foram agrupadas em dois grupos de tabelas.
Micromedições – Consumos Mensais
As Tabela 51 a Tabela 57 informam os consumos mensais no Sistema Tristeza. Essas tabelas apresentam a quantidade de
ligações e economias ativas, e os volumes micromedidos e estimados ao correr dos meses de janeiro a dezembro 2018. Esses
volumes micromedidos e estimados informados, são categorizados em função do consumidor, em: (I) residência; (II)
comercial; (III) industrial e (IV) repartições públicas.

1284
Mês / Ligações Volume Micromedido (m³/mês) Volume Estimado (m³/mês)
Economias Ativas
Ano Ativos Residência Comercio Industria Rep. Pública Residência Comercio Industria Rep. Pública
jan/18 7414 14165 142.300,00 25.560,00 0,00 4.435,00 10.840,00 1.827,00 0,00 3.859,00
fev/18 7407 14156 164.850,00 27.618,00 0,00 4.613,00 10.379,00 1.960,00 0,00 3.901,00
mar/18 7405 14155 157.356,00 23.792,00 0,00 3.933,00 11.217,00 2.213,00 0,00 3.201,00
abr/18 7400 14149 154.493,00 24.853,00 0,00 4.402,00 14.185,00 1.845,00 0,00 2.885,00
mai/18 7394 14145 150.500,00 23.566,00 0,00 4.745,00 13.229,00 1.697,00 0,00 2.505,00
jun/18 7389 14140 162.049,00 22.629,00 0,00 3.828,00 14.373,00 1.884,00 0,00 378,00
jul/18 7384 14134 143.096,00 22.661,00 0,00 5.357,00 15.119,00 1.677,00 0,00 80,00
ago/18 7386 14135 151.336,00 23.785,00 0,00 4.385,00 13.877,00 1.418,00 0,00 61,00
set/18 7379 14127 157.667,00 25.930,00 0,00 4.744,00 13.066,00 1.932,00 0,00 75,00
out/18 7375 14124 148.014,00 24.546,00 0,00 4.533,00 12.709,00 1.454,00 0,00 38,00
nov/18 7371 14122 164.485,00 26.612,00 0,00 4.769,00 11.584,00 2.229,00 0,00 115,00
dez/18 7367 14117 172.371,00 29.710,00 0,00 2.951,00 12.043,00 1.398,00 0,00 2.055,00
Tabela 51 - Reservatório Tristeza - Consumos Mensais
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor.

Volume Micromedido (m³/mês) Volume Estimado (m³/mês)


Mês / Ligações Economias
Ano Ativos Ativas Rep. Rep.
Residência Comercio Industria Residencia Comercio Industria
Pública Pública
jan/18 500 555 9.964,00 46,00 0,00 93,00 771,00 0,00 0,00 0,00
fev/18 500 555 11.189,00 70,00 0,00 82,00 1.089,00 0,00 0,00 6,00
mar/18 500 555 10.913,00 59,00 0,00 68,00 1.076,00 0,00 0,00 0,00
abr/18 500 555 10.574,00 62,00 0,00 63,00 1.148,00 2,00 0,00 0,00
mai/18 500 555 9.767,00 58,00 0,00 31,00 948,00 0,00 0,00 38,00
jun/18 499 554 9.699,00 57,00 0,00 77,00 1.094,00 0,00 0,00 0,00
jul/18 499 554 8.198,00 49,00 0,00 23,00 862,00 0,00 0,00 25,00
ago/18 499 554 8.873,00 58,00 0,00 65,00 1.024,00 0,00 0,00 0,00
set/18 499 554 9.420,00 60,00 0,00 67,00 1.272,00 3,00 0,00 0,00
out/18 499 554 9.272,00 0,00 0,00 70,00 731,00 63,00 0,00 0,00
nov/18 499 554 11.034,00 68,00 0,00 101,00 713,00 3,00 0,00 0,00
dez/18 499 554 11.411,00 69,00 0,00 7,00 931,00 0,00 0,00 96,00
Tabela 52 - EBAT Assunção / RES Coroados - Consumos Mensais
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor

Mês / Ligações Economias Volume Micromedido (m³/mês) Volume Estimado (m³/mês)


Ano Ativas Ativas Residência Comercio Industria Rep. Pública Residência Comercio Industria Rep. Pública
jan/18 347 403 5.585,00 42,00 0,00 9,00 447,00 38,00 0,00 0,00
fev/18 348 404 6.771,00 331,00 0,00 50,00 398,00 0,00 0,00 0,00
mar/18 347 403 5.661,00 528,00 0,00 8,00 427,00 0,00 0,00 0,00
abr/18 348 404 6.271,00 455,00 0,00 7,00 625,00 0,00 0,00 0,00
mai/18 348 404 5.587,00 339,00 0,00 30,00 620,00 46,00 0,00 0,00
jun/18 348 404 5.560,00 396,00 0,00 15,00 718,00 0,00 0,00 0,00
jul/18 348 404 5.265,00 353,00 0,00 3,00 609,00 0,00 0,00 0,00
ago/18 349 405 5.589,00 475,00 0,00 4,00 487,00 0,00 0,00 0,00
set/18 347 403 6.137,00 582,00 0,00 18,00 556,00 0,00 0,00 0,00
out/18 347 403 5.052,00 435,00 0,00 0,00 666,00 2,00 0,00 18,00
nov/18 347 403 7.913,00 333,00 0,00 8,00 325,00 0,00 0,00 0,00
dez/18 347 403 6.291,00 364,00 0,00 0,00 700,00 0,00 0,00 0,00
Tabela 53 - EBAT Jardim Isabel I / RES Jardim Isabel II l - Consumos Mensais
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor.

1285
Mês / Ligações Economias Volume Micromedido (m³/mês) Volume Estimado (m³/mês)
Ano Ativas Ativas Residência Comercio Industria Rep. Pública Residência Comercio Industria Rep. Pública
jan/18 202 237 3.540,00 0,00 0,00 1.162,00 473,00 0,00 0,00 0,00
fev/18 202 237 4.250,00 0,00 0,00 1.819,00 451,00 0,00 0,00 0,00
mar/18 201 236 3.452,00 0,00 0,00 1.065,00 367,00 0,00 0,00 0,00
abr/18 201 236 4.594,00 0,00 0,00 1.399,00 288,00 0,00 0,00 0,00
mai/18 201 236 3.705,00 0,00 0,00 1.486,00 364,00 0,00 0,00 0,00
jun/18 201 236 3.793,00 0,00 0,00 1.356,00 381,00 0,00 0,00 0,00
jul/18 201 236 3.517,00 0,00 0,00 979,00 265,00 0,00 0,00 0,00
ago/18 201 236 3.930,00 0,00 0,00 1.270,00 315,00 0,00 0,00 0,00
set/18 201 236 3.650,00 0,00 0,00 1.399,00 631,00 0,00 0,00 0,00
out/18 201 236 3.665,00 0,00 0,00 1.320,00 388,00 0,00 0,00 0,00
nov/18 200 235 4.345,00 0,00 0,00 1.681,00 372,00 0,00 0,00 0,00
dez/18 201 236 4.155,00 0,00 0,00 16,00 439,00 0,00 0,00 1.636,00
Tabela 54 - EBAT Jardim Isabel II / RES Jardim Isabel III - Consumos Mensais
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor.

Mês / Ligações Economias Volume Micromedido (m³/mês) Volume Estimado (m³/mês)


Ano Ativas Ativas Residência Comercio Industria Rep. Pública Residência Comercio Industria Rep. Pública
jan/18 3107 3660 34.872,00 1.205,00 0,00 191,00 4.906,00 112,00 0,00 528,00
fev/18 3107 3660 42.404,00 1.343,00 0,00 170,00 4.541,00 124,00 0,00 528,00
mar/18 3108 3661 37.339,00 1.411,00 0,00 83,00 3.382,00 77,00 0,00 578,00
abr/18 3102 3655 35.518,00 1.715,00 0,00 2.906,00 5.442,00 94,00 0,00 0,00
mai/18 3096 3649 32.083,00 1.369,00 0,00 773,00 5.172,00 159,00 0,00 0,00
jun/18 3097 3650 43.116,00 1.379,00 0,00 1.379,00 5.294,00 169,00 0,00 0,00
jul/18 3095 3648 30.997,00 1.143,00 0,00 269,00 5.407,00 110,00 0,00 1.084,00
ago/18 3100 3653 32.206,00 1.301,00 0,00 403,00 5.636,00 126,00 0,00 1.084,00
set/18 3100 3653 35.362,00 1.210,00 0,00 756,00 6.191,00 158,00 0,00 1.084,00
out/18 3103 3656 57.060,00 1.403,00 0,00 329,00 5.906,00 105,00 0,00 1.084,00
nov/18 3101 3654 45.187,00 1.332,00 0,00 495,00 4.574,00 141,00 0,00 1.084,00
dez/18 3099 3652 46.332,00 1.345,00 0,00 0,00 4.290,00 123,00 0,00 1.579,00
Tabela 55 – EBAT Balneários E. Santo / RES Praça Moema I - Consumos Mensais
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor.

Mês / Ligações Economias Volume Micromedido (m³/mês) Volume Estimado (m³/mês)


Ano Ativas Ativas Residência Comercio Industria Rep. Pública Residência Comercio Industria Rep. Pública
jan/18 56 57 714,00 30,00 0,00 0,00 85,00 0,00 0,00 0,00
fev/18 56 57 910,00 30,00 0,00 0,00 147,00 0,00 0,00 0,00
mar/18 57 58 723,00 31,00 0,00 0,00 138,00 0,00 0,00 0,00
abr/18 56 57 667,00 15,00 0,00 0,00 140,00 0,00 0,00 0,00
mai/18 56 57 636,00 23,00 0,00 0,00 131,00 0,00 0,00 0,00
jun/18 56 57 722,00 9,00 0,00 0,00 126,00 13,00 0,00 0,00
jul/18 56 57 805,00 27,00 0,00 0,00 235,00 0,00 0,00 0,00
ago/18 56 57 1.573,00 27,00 0,00 0,00 217,00 0,00 0,00 0,00
set/18 56 57 746,00 0,00 0,00 0,00 165,00 24,00 0,00 0,00
out/18 56 57 612,00 4,00 0,00 0,00 253,00 14,00 0,00 0,00
nov/18 55 56 801,00 26,00 0,00 0,00 165,00 0,00 0,00 0,00
dez/18 55 56 838,00 16,00 0,00 0,00 130,00 8,00 0,00 0,00
Tabela 56 - EBAT Praça Moema I / RES Praça Moema II – Consumos Mensais
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor.

1286
Mês / Ligações Economias Volume Micromedido (m³/mês) Volume Estimado (m³/mês)
Ano Ativas Ativas Residência Comercio Industria Rep. Pública Residência Comercio Industria Rep. Pública
jan/18 1186 1513 16.078,00 2.052,00 0,00 1.857,00 1.731,00 110,00 0,00 293,00
fev/18 1186 1513 19.265,00 2.946,00 0,00 3.147,00 1.448,00 122,00 0,00 0,00
mar/18 1185 1512 16.024,00 3.147,00 0,00 3.216,00 1.461,00 85,00 0,00 20,00
abr/18 1187 1515 15.165,00 1.878,00 0,00 3.087,00 2.564,00 45,00 0,00 1,00
mai/18 1185 1513 12.955,00 1.056,00 0,00 2.857,00 2.866,00 47,00 0,00 0,00
jun/18 1187 1515 15.114,00 1.016,00 0,00 2.934,00 2.354,00 79,00 0,00 37,00
jul/18 1186 1514 13.234,00 1.032,00 0,00 2.918,00 2.044,00 80,00 0,00 0,00
ago/18 1185 1512 13.486,00 1.410,00 0,00 3.076,00 2.335,00 71,00 0,00 0,00
set/18 1183 1510 15.545,00 1.054,00 0,00 3.021,00 2.389,00 163,00 0,00 0,00
out/18 1182 1510 14.403,00 949,00 0,00 4.229,00 1.847,00 140,00 0,00 30,00
nov/18 1182 1509 16.505,00 1.705,00 0,00 4.951,00 1.672,00 120,00 0,00 0,00
dez/18 1184 1511 20.083,00 1.668,00 0,00 2.838,00 1.613,00 63,00 0,00 1.788,00
Tabela 57 - Reservatório Balneários – Consumos Mensais
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor.
Micromedições - Consumos Anuais
As Tabela 58 a Tabela 64 apresentam o somatório dos volumes micromedidos e estimados ao longo dos 12 meses de 2018,
portanto, os volume anuais, assim como o consumo anual. Também constam nesse grupo de tabelas as quantidades de ligações
e economias ativas no último dia do ano.

Volumes Anuais
Quantidade de Ligações Ativas 7367
Quantidade de Economias Ativas 14117
Volume Anual de Água Micromedido (m³/ano) 2.222.474,000
Volume Anual de Água Estimado (m³/ano) 193.308,000
Volume Anual de Água Consumido (m³/ano) 2.415.782,000
Tabela 58 – Reservatório Tristeza – Consumo Anual
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor.

Volumes Anuais
Quantidade de Ligações Ativas 499
Quantidade de Economias Ativas 554
Volume Anual de Água Micromedido (m³/ano) 121.717,000
Volume Anual de Água Estimado (m³/ano) 11.895,000
Volume Anual de Água Consumido (m³/ano) 133.612,000
Tabela 59 – EBAT Vila Assunção / RES Coroados – Consumo Anual
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor.

Volumes Anuais
Quantidade de Ligações Ativas 347
Quantidade de Economias Ativas 403
Volume Anual de Água Micromedido (m³/ano) 76.467,000
Volume Anual de Água Estimado (m³/ano) 6.682,000
Volume Anual de Água Consumido (m³/ano) 83.149,000
Tabela 60 - EBAT Jardim Isabel I / RES Jardim Isabel II - Consumo Anual
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor.

Volumes Anuais
Quantidade de Ligações Ativas 201
Quantidade de Economias Ativas 236
Volume Anual de Água Micromedido (m³/ano) 61.548,000
Volume Anual de Água Estimado (m³/ano) 6.370,000
Volume Anual de Água Consumido (m³/ano) 67.918,000
Tabela 61 – EBAT Jardim Isabel II / RES Jardim Isabel III – Consumo Anual
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor.

1287
Volumes Anuais
Quantidade de Ligações Ativas 3099
Quantidade de Economias Ativas 3652
Volume Anual de Água Micromedido (m³/ano) 496.386,000
Volume Anual de Água Estimado (m³/ano) 70.872,000
Volume Anual de Água Consumido (m³/ano) 567.258,000
Tabela 62 – EBAT Balneários E. Santo / RES Praça Moema I – Consumo Anual
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor.

Resumo dos Dados


Quantidade de Ligações Ativas 55
Quantidade de Economias Ativas 56
Volume Anual de Água Micromedido (m³/ano) 9.985,000
Volume Anual de Água Estimado (m³/ano) 1.991,000
Volume Anual de Água Consumido (m³/ano) 11.976,000
Tabela 63 - EBAT Praça Moema I / RES Praça Moema II - Consumo Anual
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor.

Volumes Anuais
Quantidade de Ligações Ativas 1184
Quantidade de Economias Ativas 1511
Volume Anual de Água Micromedido (m³/ano) 245.901,000
Volume Anual de Água Estimado (m³/ano) 27.618,000
Volume Anual de Água Consumido (m³/ano) 273.519,000
Tabela 64 - Reservatório Balneários – Consumo por Anual
Fonte: (DMAE, 2019), adaptado pelo autor.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Perdas na ETA

As informações referentes ao volume de água produzido pela ETA Tristeza, foram analisadas de modo a verificar as perdas
comumente encontradas em um sistema de água convencional, à medida que a referida ETA contém em seu processo de
tratamento de água os processos de coagulação, floculação, decantação, filtração, desinfecção, fluoretação e alcalinização.
Considerando as informações coletadas para o ano de 2018, verifica-se na Tabela 65 que a relação entre o volume de água
produzido e o volume de água bruta captado apresentou no mês de dezembro (0,42%) maiores perdas de água no tratamento, e
o mês de abril as menores perdas (0,031 %). Conforme Tsutiya (2006) a ETA geralmente consome cerca de 1 a 5 % do volume
tratado para lavagem de filtros e decantadores, e os resultados apresentados demonstram que essa faixa pode ser inferior a 1%,
sendo um fator bastante utilizado no dimensionamento de estações de tratamento de água.

Mês/Ano de
jan/18 fev/18 mar/18 abr/18 mai/18 jun/18 jul/18 ago/18 set/18 out/18 nov/18 dez/18
Referência
Água Tratada
99,594 99,968 99,682 99,969 99,968 99,814 99,965 99,966 99,812 99,966 99,968 99,580
Produzida (%)
Perdas no
tratamento de água 0,406 0,032 0,318 0,031 0,032 0,186 0,035 0,034 0,188 0,034 0,032 0,420
(%)

Tabela 65 - Perdas de água na ETA Tristeza

Dados Da Campanha De Pitometria


Os dados obtidos através da campanha de pitometria, possibilitaram a comparação entre o volume de água produzido e
disponibilizado para o consumo registrado no 1º pitômetro, com o volume de água recalcado por cada EBAT. As equações
abaixo foram utilizadas para identificar a porcentagem de água produzida na ETA Tristeza que pode estar sendo
disponibilizada para os subsistemas Assunção e Balneários:

1288
Através dessa comparação, estimou-se o percentual de água disponibilizada para consumo em cada subsistema, esse percentual
foi adotado para estimar o volume aduzido ao longo dos 12 meses de 2018. Ao final foi realizado o somatório dos volumes
estimados para encontrar o volume anual aduzido. Os resultados encontrados foram apresentados na Tabela 66.

Mês/Ano
Água Tratada EBAT Tristeza EBAT Assunção EBAT Balneários
de % % %
Produzida (m³) (m³/mês) (m³/mês) (m³/mês)
Referência
jan/18 755.712,000 78,8% 595.501,056 3,7% 27.961,344 17,5% 132.249,600
fev/18 695.471,000 78,8% 548.031,148 3,7% 25.732,427 17,5% 121.707,425
mar/18 809.308,000 78,8% 637.734,704 3,7% 29.944,396 17,5% 141.628,900
abr/18 777.541,000 78,8% 612.702,308 3,7% 28.769,017 17,5% 136.069,675
mai/18 782.225,000 78,8% 616.393,300 3,7% 28.942,325 17,5% 136.889,375
jun/18 709.908,000 78,8% 559.407,504 3,7% 26.266,596 17,5% 124.233,900
jul/18 709.411,000 78,8% 559.015,868 3,7% 26.248,207 17,5% 124.146,925
ago/18 726.797,000 78,8% 572.716,036 3,7% 26.891,489 17,5% 127.189,475
set/18 699.644,000 78,8% 551.319,472 3,7% 25.886,828 17,5% 122.437,700
out/18 731.539,000 78,8% 576.452,732 3,7% 27.066,943 17,5% 128.019,325
nov/18 729.266,000 78,8% 574.661,608 3,7% 26.982,842 17,5% 127.621,550
dez/18 790.107,000 78,8% 622.604,316 3,7% 29.233,959 17,5% 138.268,725
Σ 7.026.540,052 Σ 329.926,373 Σ 1.560.462,575
Tabela 66 - Estimativa de Volumes aduzidos nas EBAT's
Fonte: (DMAE, 2019), adaptada pelo autor.

Observa-se assim o maior consumo do subsistema Balneários em relação ao subsistema Assunção, estando de acordo, uma vez
que, a rede que vai para o subsistema Balneários visa atender 3652 economias, enquanto o subsistema Assunção atende 554
economias ativas.

Volumes Micromedidos E Estimados No Sistema Tristeza


Avaliando o total de economias do sistema, a Tabela 67 resume o total de economias ativas do sistema para cada mês do ano
de 2018 no sistema Tristeza. Observa-se uma flutuação entre 20.590 e 20.529 economias ativas, sendo este último o número de
economias total ao finalizar o ano de 2018

Mês / Ano jan/18 fev/18 mar/18 abr/18 mai/18 jun/18 jul/18 ago/18 set/18 out/18 nov/18 dez/18
Economias
20590 20582 20580 20571 20559 20556 20547 20552 20540 20540 20533 20529
Ativas

Tabela 67 - Total de economias ativas para cada mês de 2018.

Nesse sentido, ao avaliar o volume faturado, a Tabela 68 descreve a porcentagem do volume faturado que é micromedida e o
que vem sendo estimado no sistema Tristeza. Quanto maior a micromedição, mais eficiente é a empresa em controlar possíveis
perdas no sistema de abastecimento de água, além de cobrar o que efetivamente foi consumido pelos usuários. Os resultados
demonstram que o subsistema referente a EBAT Jardim Isabel II/RES Jardim Isabel III precisa de maior intervenção no
sentido de instalar hidrômetros, uma vez que, as relações entre os volumes micromedidos (66,78%) e estimados (33,22%)
destoam bastante dos demais subsistemas. Como o resultado é apresentado em porcentagem, deve-se compreender que quanto
mais próximo de 100% o volume micromedido, mais eficiente é o controle de demanda desse sistema. Os resultados obtidos na
Tabela 68 demonstrados abaixo, refletem o melhor monitoramento na seguinte ordem: (I) Reservatório Tristeza; (II) EBAT
Assunção; (III) EBAT Jardim Isabel I; (IV) EBAT Balneários; (V) Reservatório Balneários; (VI) EBAT Praça Moema I; e
(VII) EBAT Jardim Isabel II.

1289
EBAT Jardim
EBAT Jardim EBAT Balneários EBAT Praça
Reservatório EBAT Assunção / Isabel II / RES Reservatório
Isabel I / RES E. Santo / RES Moema I / RES
Tristeza RES Coroados Jardim Isabel Balneários
Jardim Isabel II Praça Moema I Praça Moema II
III

Mês / V. M. V. E. V. M. V. E. V. M. V. E. V. M. V. E. V. M. V. E. V. M. V. E. V. M. V. E.
Ano (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)

jan/18 91,25 8,75 92,91 7,09 92,08 7,92 90,86 9,14 86,74 13,26 89,75 10,25 90,35 9,65

fev/18 92,39 7,61 91,19 8,81 94,73 5,27 93,08 6,92 89,43 10,57 86,48 13,52 94,17 5,83

mar/18 91,76 8,24 91,12 8,88 93,55 6,45 92,49 7,51 90,58 9,42 84,53 15,47 93,46 6,54

abr/18 90,67 9,33 90,29 9,71 91,51 8,49 95,41 4,59 87,88 12,12 82,97 17,03 88,52 11,48

mai/18 91,12 8,88 90,91 9,09 89,94 10,06 93,45 6,55 86,52 13,48 83,42 16,58 85,27 14,73

jun/18 91,89 8,11 89,99 10,01 89,27 10,73 93,11 6,89 89,36 10,64 84,02 15,98 88,53 11,47

jul/18 91,02 8,98 90,31 9,69 90,22 9,78 94,43 5,57 83,08 16,92 77,98 22,02 89,00 11,00

ago/18 92,12 7,88 89,78 10,22 92,57 7,43 94,29 5,71 83,20 16,80 88,06 11,94 88,19 11,81
set/18 92,59 7,41 88,22 11,78 92,38 7,62 88,89 11,11 83,39 16,61 79,79 20,21 88,49 11,51
out/18 92,58 7,42 92,17 7,83 88,89 11,11 92,78 7,22 89,23 10,77 69,76 30,24 90,66 9,34

nov/18 93,36 6,64 93,99 6,01 96,21 3,79 94,19 5,81 89,02 10,98 83,37 16,63 92,82 7,18

dez/18 92,97 7,03 91,79 8,21 90,48 9,52 66,78 33,22 88,84 11,16 86,09 13,91 87,65 12,35

Tabela 68 - Verificação dos volumes micromedidos e estimados no sistema Tristeza,


*V,M, = Volume micromedido
*V,E, = Volume estimado

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve entre outros aspectos, a finalidade de verificar as perdas de água na ETA do Sistema Tristeza, em Porto
Alegre – RS. As avaliações demonstraram que em relação a captação total de água, as perdas na ETA referente a limpeza das
estruturas do sistema refletem valores inferiores a 1%, sendo este um valor coerente com o informado pela literatura
pesquisada.
Outro interesse do trabalho foi verificar o volume distribuído no sistema tristeza e em seus subsistemas. A análise pitométrica
revelou que da quantidade de água tratada na EBAT Tristeza, 78,8 % são distribuídos ao longo do sistema Tristeza e
derivações, 17,5 % são distribuídos pela EBAT Balneários e 3,7 % são distribuídos na EBAT Assunção, demonstrando ser
importante a setorização de subsistemas para facilitar a tomada de decisão quanto aos sistemas e subsistemas que precisam de
intervenção no sentido de diminuir perdas de água, ao comparar os volumes faturados com o que se foi distribuído para cada
sistema.
Por fim, buscou-se verificar com base nos dados do DMAE o índice de micromedição para cada um dos subsistemas, sendo
identificado que o sistema EBAT Jardim Isabel II deve fomentar maiores intervenções no sentido de implantação de
micromedidores, apesar que a variação nesse índice foi sentida apenas no último mês do ano de 2018. No geral o índice de
micromedição apresenta valores condizentes com outras empresas de saneamento do país, mas com espaço para melhorar nos
subsistemas avaliados, ficando a recomendação para trabalhos futuros de avaliar as perdas de água em cada sistema avaliado.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio da FTEC na realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA), 2009, No rumo da mudança - Fatos e tendências: água, Brasília – DF.

1290
COLLISCHONN, W; DORNELLES, F, 2013, Hidrologia para engenharia e ciencias ambientais, Associação Brasileira de
Recursos Hídricos (ABRH), Porto Alegre – RS, ISBN: 978-85-8868-634-2,
MAYS, L, W, 2010, Water Resources Engineering, Wiley,
United Nations (UN), Department of Economic and Social Affairs, Population Division, 2019, World Population Prospects
2019: Highlights (ST/ESA/SER,A/423),
PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO (PMSB), 2015, Plano Municipal de Saneamento Básico de Porto
Alegre, Volume I: Diagnóstico, Porto Alegre - RS,
PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO (PMSB), 2015, Plano Municipal de Saneamento Básico de Porto
Alegre, Volume II: Prognóstico, objetivos e metas, Porto Alegre - RS,
PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO (PMSB), 2015, Plano Municipal de Saneamento Básico de Porto
Alegre, Volume III: Programas, participação social e indicadores, Porto Alegre - RS,
PROGRAMA NACIONAL DE COMBATE AO DESPERDÍCIO DE ÁGUA – PNCDA, 2004, Documento Técnico de Apoio
- DTA A2, Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, Indicadores de Perdas nos Sistemas de
Abastecimento de Água, Revisão, Brasília – DF, 80p,
PROGRAMA NACIONAL DE COMBATE AO DESPERDÍCIO DE ÁGUA – PNCDA, 1999, Documento Técnico de Apoio
- DTA C3, Ministério do Meio Ambiente, Ministérios das Minas e Energia, Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano,
Secretaria de Política Urbana, Medidas de redução de perdas: elementos para planejamento, Brasília – DF, 31p,
TSUTIYA, M, T, 2006, Abastecimento de água, Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, 3° Edição, São Paulo-SP, 643 p, ISBN: 85-900823-6-9.

1291
5SSS279
EVALUCIÓN DE LA ADICIÓN DE GLICERINA EN LA
PRODUCCIÓN DE BIOGÁS A PARTIR DE RESIDUOS ORGÁNICOS
María Isabel García Rodriguez1*, Andreia Cristina Furtado1
1Universidad Federal de Integración Latinoamericana – UNILA, 1*e-mail: isabelgarcia159@hotmail.com

Palavras-chave: Biogás; glicerina; co-digestión anaeróbica.

Resumo
La co-digestión busca mejorar la producción de biogás en los procesos de digestión anaeróbica, tratando conjuntamente
residuos orgánicos con un nuevo sustrato que aporte los nutrientes carentes al proceso, formando una sinergia positiva entre
estos. En este sentido el presente trabajo estudia alternativas energéticas en el aprovechamiento de residuos orgánicos de
origen agrícola como excretas de ganado vacuno y porcino, en co-digestión con subproductos como la glicerina residual,
originaria de la industria de biodiesel; la glicerina empleada presenta demanda limitada y acumulación creciente en el mercado,
así como propiedades como elevado contenido de carbono, estabilidad química y pH neutro, lo que la hace atractiva para su
empleo como co-sustrato en la producción de biogás. Para tal fin se realizó un análisis de sólidos de la mezcla y la
construcción de un set de digestores a pequeña escala, en donde fueron llevadas a cabo pruebas de potencial de producción de
metano en configuración mesofílica a 37°C durante un periodo de 20 días, variando la concentración de de 0-15% (w/w) de
glicerina pura y 0-6% (w/w) de glicerina residual, analizando su efecto en parámetros importantes del proceso como relación
C/N, y volumen del biogás, observando una mejora en la producción de biogás en los digestores con glicerina a intervalos de
concentración menores siendo los mejores resultados con glicerina al 4%(w/w) para los dos tipos de glicerina y un incremento
de 598% con glicerina residual y 439% con glicerina PA respecto al blanco sin glicerina.

Introducción

El desarrollo de las ciudades y sociedades humanas como actualmente las conocemos, está estrechamente relacionada al uso de
combustibles para la producción de energía, la mayoría de los cuales son de origen fósil. El requerimiento energético para
suplir las necesidades humanas cada vez es mayor; entre 1971 y 2016 el suministro mundial total de energía primaria (TPES)
aumentó casi 2.5 veces. Actualmente del total de energía primaria consumida, los combustibles fósiles constituyen el 81.1%
[1], siendo el petróleo (31.9%), carbón (27.1%) y gas natural (22%), los principales protagonistas.
Los combustibles fósiles durante su quema emiten dióxido de carbono y otros gases de efecto invernadero a la atmosfera,
contribuyendo al problema de calentamiento e impacto ambiental. La dependencia de estos combustibles, principalmente del
petróleo, disminuirán estas reservas finitas. Hoy en día la búsqueda de alternativas energéticas renovables es foco de
innumerables investigaciones, entendiéndose como energía renovable aquella procedente de fuentes que se pueden regenerar,
por lo que son consideradas inagotables [2].
Una de las mayores alternativas es la biomasa, la cual no es una fuente energética en transición como a menudo es retratado,
pero ha cobrado fuerza en los últimos años y se presenta como una opción sustentable. A través de la historia, la biomasa en
todas sus formas ha sido la fuente más importante para todas las necesidades básicas (comida, alimento, combustible, materia
prima, fibra y fertilizante) , a inicios del siglo XIX fue la principal fuente de energía para países industriales y aun hoy en día
continua siendo la principal fuente de energía para países en desarrollo proveyendo en promedio el 35% de la energía necesaria
para tres cuartos de la población mundial y hasta un 60 o 90% en los países en desarrollo [3].
La biomasa está constituida principalmente por cultivos energéticos y materiales residuales como madera residual, fibras
residuales, silvicultura, residuos de la industria de procesamiento de alimentos, residuos de agricultura etc. [4]. Dentro de los
diferentes métodos de tratamiento de esta es de principal interés en este estudio el proceso de fermentación para la generación
de energía, específicamente la producción de biogás a partir de residuos orgánicos.
El biogás era considerado solo como un subproducto obtenido por procesos bioquímicos como la digestión anaeróbica de
residuos orgánicos. Sin embargo, la crisis ambiental, la ratificación del protocolo de Kioto, la implementación de mecanismos
de desenvolvimiento limpio (MDL) y el rápido desenvolvimiento económico de los últimos años, sumados a la creciente
elevación del precio de los combustibles convencionales lo ha convertido en una alternativa atractiva de autoabastecimiento
energético [5]. Al igual que el gas natural fósil, el biogás tiene como principal componente el metano (CH4) el cual determina
su contenido energético inflamable, dependiendo del sustrato usado para su producción es posible obtener contenidos de CH4
que oscilan entre el 50 y 75%, y puede ser usado para calentamiento de estufas, calentadores de agua, antorchas motoras y

1292
otros equipos.
A pesar de las propiedades que posee el biogás, el proceso de producción tiene varios factores limitantes ya que el contenido
energético de la biomasa es relativamente bajo en comparación con el carbón y otros combustibles fósiles debido a su alto
contenido de Oxígeno [4]. Por esto se estudian alternativas que permitan mejorar esta situación, como son los procesos de co-
digestión, donde se tratan en conjunto dos o más residuos, aprovechando la sinergia en la composición de estos para mejorar la
actividad microbiana, la eficiencia y los rendimientos de los productos del proceso.
Ante este planteamiento la glicerina aparece como un co-sustrato adecuado debido a su gran contenido de carbono, baja
toxicidad, buena degradabilidad, estabilidad química y pH neutro [6]. Además de los posibles beneficios que podría aportar al
proceso de digestión anaeróbica, se estaría abriendo una alternativa para el tratamiento de residuos que no son aprovechados,
como lo es la glicerina cruda, obtenida de los procesos de producción de biodiesel.
En los años noventa la mayoría de glicerina era producida por la industria del jabón (29,5%), por la industria de los
oleoquímicos (56%), por vía sintética (9,8%) y como derivado de la producción de biodiesel (4,6%). Fue a partir del año 2007
con el auge de la producción de biodiesel, que esta industria fue la responsable de cerca del 72% de su producción mundial [7].
En Brasil para el 2012 la producción de biodiesel fue de 6.853 millones de m3. Según los datos del Ministerio de Minas y
Energía (2013), la producción de biodiesel hasta el mes de septiembre de 2013 fue de 7.532 millones de m3, lo que equivale a
una producción de glicerol bruto de 753 mil m3 [8]. Debido a su baja demanda y costoso proceso de refinamiento debido a la
presencia de impurezas, la producción de biodiesel debe encontrar vías para su eliminación, la cual puede ser costosa, afectar
el medio ambiente y ser un desperdicio [9], por lo que su impacto en el proceso de digestión anaeróbica es de gran importancia
en el presente estudio.

Materiales y métodos

Inicialmente fue montado un set de 8 biodigestores de bajo costo con volumen total 0.5L, usando kitasatos de vidrio sellados
de forma segura donde se desarrolló el proceso de co-digestion, cada uno de los cuales fue conectado a un gasómetro plástico
rígido, como se puede observar en la figura 1.
Cada gasómetro cuenta con una conexión de entrada de gas, una conexión de salida de líquido y una conexión adicional para
recarga del agua. El gas generado en los biodigestores, desplaza el agua contenida en los gasómetros permitiendo monitorear el
volumen de gas generado en cada digestor de forma continua. Cada volumen fue recogido y medido en probetas.

(a) (b)

Figura 1. (a) Montaje general de los biodigestores; (b) Detalle de las conexiones.

Los residuos orgánicos de animales usados para las pruebas fueron recolectados del colegio agrícola Colegio Agrícola Estadual
Manoel Moreira Pena ubicado en la ciudad de Foz do iguaçu, estado do Paraná.
Se eligieron dos residuos de cuatro opciones posibles por medio de un análisis multicriterio basado en el modelo AHP, el cual
permite establecer una lista de criterios para evaluar diferentes opciones y facilitar la toma de decisiones [10]. Mediante el
programa Hiview3, fueron evaluadas cuatro opciones de los animales disponibles: cabras, cerdos, gallinas y vacas,
considerando tres criterios importantes: Disponibilidad, potencial de producción de biogás e impacto ambiental, siendo el
primer criterio el de mayor peso.

Al inicio y al final del proceso de digestión se midieron valores de pH y se realizó una caracterización de sólidos de la mezcla,
determinando: ST, SV, SF, según la metodología establecida Standard Methods (APHA 2012) [11], y análisis de humedad

1293
siguiendo la metodología de Magaña [12].

Como parámetros fijos para la carga de los biodigestores se usaron valores considerados como óptimos en el proceso AD [13]
[14] [15]. Se usó un volumen útil correspondiente al 75% del volumen total de los biodigestores, un contenido de sólidos en la
mezcla de 8%, y un factor de dilución 2:1 de agua destilada/materia orgánica, determinada en función de la fracción de sólidos
totales de la mezcla. El proceso fue llevado a cabo en configuración mesofílica en una estufa usada como medio de
calentamiento a temperatura constante de 37°C, adicionando la glicerina al inicio del proceso y agitando la mezcla de forma
manual una vez al día, durante un periodo de digestión de 20 días.

Fueron empleadas para los ensayos de forma independiente, dos tipos de glicerina: Glicerina 99,5% P.A Alphatec en un rango
de concentración de 0-15% w/w, y glicerina cruda obtenida de los procesos de producción de biodiesel de los grupos de trabajo
de Biocombustibles de la Universidad Federal De Integración Latinoamericana en un intervalo de concentración de 0-6%w/w.

Resutados

Los residuos elegidos para las pruebas fueron las excretas frescas de cerdo y vaca por ser los de mayor puntuación obtenida en
el análisis multicriterio, como se puede observar en la figura 2.

Figura 2. Resultado Hiview3 del análisis multicriterio en la elección del sustrato.

A pesar que el potencial de producción de biogás del estiércol de vaca es menor a los valores de las otras opciones, la mayor
disponibilidad local de este residuo, fue factor de peso para su elección.
El estudio fue desarrollado partiendo de una mezcla fresca con relación 70/30 de estiércol vaca/cerdo, elegido en base al
número de animales disponibles de cada especie en el lugar de recolección, para el aprovechamiento máximo de sus residuos.

En tabla 1, se recopilan los resultados del análisis realizado de la mezcla, en función de estos resultados fue determinada la
carga orgánica y el factor de dilución para cada biodigestor.

Tabla 1. Caracterización de sólidos de la mezcla estiércol vaca-cerdo.

Caracterización de sólidos de la mezcla


Análisis %ST %SV %SF % Humedad
Resultado 23,380 74,261 35,540 76,620

En la tabla 2, se relaciona la carga másica en gramos de todos los digestores (D), siendo el parámetro variable la concentración
w/w de glicerina variando de un rango de 0-15%w/w para la glicerina pura inicialmente y de 0-6% para la glicerina residual.

1294
Tabla 2. Carga de los Biodigestores.

Cantidad (g) D-0 D-2 D-3 D-4 D-5 D-6 D-8 D-10 D-12 D-15
Glicerina 0 7,5 11,25 15 18,75 22,5 30 37,5 45 56,3
Materia orgánica+ agua 375

En la tabla 3 se recopilan datos de análisis de sólidos y pH al inicio y final del proceso de Co-digestión para las mezclas en los
digestores D-0, sin glicerina, y para los dos que reportaron mayor actividad: el D-4R con 4% de glicerina residual y el D-4P
con 4% glicerina pura, observando la variación de estos parámetros durante los 20 días de proceso.

Tabla 3. Caracterización de las mezclas antes y después del proceso de Co-digestión.

Inicio Co-AD Final Co-AD


Digestor
%ST %SV pH %ST %SV pH
D-0 22,1528 75,992 7,5 7,006 67,219 7,000
D-4R 26,8730 77,954 7,31 8,214 63,577 5,69
D-4P 26,3400 78,965 7,25 9,445 66,823 5,34

Teóricamente, la relación C/N de la mezcla fue calculada por medio de la ecuación (1)[16].

K= (C1*Q1+C2*Q2…Cn*Qn)/(N1*Q1+N2*Q2+Nn*Qn), (1)

Dónde: K es la reacción C/N de los sustratos de la mezcla, C el % de carbono orgánico contenido en cada materia prima, N el
% de nitrógeno orgánico contenido en cada materia prima y Q el Peso fresco de cada materia, expresado en kilos o toneladas.
Usando la información de composición elemental de los dos tipos de glicerina [8], se observa en la figura 3, una relación
positiva entre el aumento de la relación C/N y la concentración de glicerina, desplazando la relación hacia el intervalo
considerado como optimo que oscila entre 25-30 unidades de Carbono por cada unidad de Nitrógeno [12,17-19].

Figura 3. Efecto de glicerina en la relación k (C/N) de la mezcla.

1295
Producción de Biogás: Glicerina PA.

Los resultados iniciales del proceso de producción de biogás en función del tiempo en las para la glicerina pura, se muestran en
la figura 4, donde se observa una disminución drástica en la producción de biogás a elevadas concentraciones de glicerina.

Figura 4. Producción de biogás con glicerina PA 0-15%w/w en función del tiempo.

Según los resultados observados en la primera prueba, se realizó una nueva prueba eliminando los digestores a elevadas
concentraciones D-15, D-12, D-10 y D-8, ampliando el rango a bajas concentración, agregando los digestores D-3 y D-5,
obteniendo el perfil de producción de biogás que se observa en la figura 5.

1296
Figura 5. Producción de biogás con glicerina PA 0-5%w/w en función del tiempo.

Producción de Biogás: Glicerina residual.

De acuerdo a los resultados arrojados por las pruebas con glicerina PA, fueron descartadas las concentraciones elevadas del co-
sustrato, por lo que la producción de biogás con glicerina residual fue realizada en un intervalo de concentración de 0-6%w/w,
cuyos resultados que se muestran en la figura 6.

1297
Figura 6. Producción de biogás con glicerina residual 0-6%w/w en función del tiempo.

Los volúmenes totales de los tres tipos de mezclas analizadas, se recopilan en la figura 7, donde se hace una comparación entre
los volúmenes producidos y el volumen total finalizados los 20 días de proceso.

(a) (b)
Figura 7. Comparación entre producción diaria de gas (a), y volúmenes totales al final de proceso (b).

Discusión

El análisis de sólidos de la mezcla de excretas vaca –cerdo, tuvo un porcentaje de sólidos volátiles de 74,26%, por lo que la
mezcla tiene una buena tendencia a transformar materia orgánica en biogás.
En la figura 3, se observó un comportamiento positivo con la adición de glicerina tanto PA como residual a la muestra de
estudio, mejorando en teoría la relación C/N del proceso, dentro de esta estimación, se esperaba que el obtener una

1298
concentración de glicerina optima dentro del intervalo D-4 a D-12, lo cual coincidió con los resultados del estudio, ya que los
biodigestores, tuvieron mayor actividad dentro de un intervalo aproximado de D-3 a D-10.

los resultados iniciales de producción de biogás glicerina PA obtenidos en la figura 4 establecieron un perfil de referencia y
delimitó los intervalos de concentración para las pruebas con glicerina residual, la cual es el residuo de interés a ser usado
como co-sustrato del proceso AD.
A pesar de las diferencias entre las composiciones de los dos tipos de glicerina, y la variación en los volúmenes producidos, se
mantuvo la similitud en el comportamiento de los diferentes intervalos de concentración, por lo que la diferencia entre el
tratamiento con glicerina pura y residual no fueron significativas. De forma general, la adición de glicerina estimuló el proceso
de producción de biogás, excepto en concentraciones muy elevadas como 12 y 15%w/w, donde la diferencia respecto a la
muestra sin glicerina fue mínima y prácticamente se inhibió el proceso.
En este estudio, se obtuvo un aumento en la producción de biogás respecto al blanco sin glicerina, de 598% con glicerina
residual y cerca de 439% con glicerina PA, obteniendo en ambos casos un mejor resultado con una carga de glicerina de
4%w/w. Según la literatura [20] altas dosis de glicerina producen efectos negativos el proceso AD, debido a la acumulación de
ácidos grasos que los microorganismos no logran asimilar, disminuyendo la materia orgánica y desestabilizando el proceso.

En la tabla 3 se comparan algunos valores típicos que sirven para tener una estimación de la eficiencia del proceso, en este caso
se puede observar una disminución en la acidez del medio, el cual inició casi neutro, tornándose acido con valores entre 5 y 6
para los digestores que contenían glicerina en la mezcla, según [21] un aumento en la concentración de glicerina representa una
carga orgánica adicional y contribuye a la formación y acumulación de AGV de ácidos grasos volátiles en las etapas de la
biodigestión. Las pruebas fueron realizadas dejando al proceso de co-digestión desarrollarse por sí mismo, pero los resultados
indican que es necesario controlar esta variable de forma externa para estabilizar la acidez del medio y mejorar los porcentajes
de reducción de sólidos, evitar la inhibición de las bacterias metanogénicas y la disminución en el contenido de metano
producido.

En pruebas de degradabilidad de la glicerina residual desarrolladas por Siles, Lopez et al. [22] en reactores batch de 1L bajo
condiciones mesofílicos, los autores determinaron que la glicerina fue biodegradable 100%, en pruebas realizadas con lodo
residual. Ante los resultados obtenidos en los estudios relacionados y las variables analizadas en el presente estudio, el
aumento en la producción de biogás se dio probablemente por la mejora en la sinergia de los componentes de la mezcla, el
aumento de la carga orgánica de las mezclas y a buena degradabilidad de la glicerina.

Comentários finais

El enfoque futuro de la investigación tiene el objetivo de analizar, si el efecto de la glicerina en el proceso de digestión, se
limita al suministro de nutrientes para estimular a los microorganismos y a la degradabilidad de este compuesto, o si el
aumento con la concentración de glicerina determinada como optima, mejora el proceso en términos de remoción de DQO,
sólidos totales, volátiles y calidad en la composición de biogás obtenido, monitoreando estas variables de forma continua.

Agradecimentos
Al colégio agrícola estadual Manoel Moreira Pena por el suministro de los residuos orgánicos usados en las pruebas, a la
Universidad de integración latinoamericana por el suministro de los equipos y espacios para el desarrollo del presente estudio

Referências Bibliográficas
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1300
5SSS280
DIAGNÓSTICO DO CONFLITO DE USO DO SOLO EM ÁREAS DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE DA MICROBACIA ÁGUA SÃO
MATEUS, FIGUEIRA – PR
Rafael Calore Nardini1, Eduardo Nardini Gomes2, Rigoberto Prieto Lázaro Cainzos3, Rosana Kostecki de
Lima 4 Luciano Nardini Gomes5
1Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (2005).
Mestrado (2010) e Doutorado (2013) em Agronomia, área de Irrigação e Drenagem pela Universidade Estadual
Júlio de Mesquita Filho. Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina, e-mail:
rcnardini@hotmail.com; 2Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual Júlio de
Mesquita Filho (1999). Mestrado (2002) e Doutorado (2006) em Agronomia, área de Irrigação e Drenagem pela
Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho. Atualmente é professor assistente na UNESP Câmpus
Experimental de Registro/SP, e-mail:engomes@gmail.com; 3Possui graduação em Geofísica pelo Instituto
Superior Politécnico José A. Echeverria (1982). Doutorado (2001) em Geociências pela Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Atualmente é professor colaborador pela Universidade Estadual de Londrina, e-mail:
rpcainzos@hotmail.com; 4Possui graduação em Geografia (2014). Mestrado (2019) em Geografia. Doutoranda
pelo Programa de Pós pela Universidade Estadual de Londrina, e-mail: rosanakostecki@hotmail.com; 5Possui
graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (2003). Mestrado
(2005) e Doutorado (2009) em Agronomia, área de Irrigação e Drenagem pela Universidade Estadual Júlio de
Mesquita Filho. Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina, e-mail:
lunago@gmail.com

Palavras-chave: Bacia hidrográfica; Conflito de uso; Áreas de Preservação Permanente.

Resumo
O mau uso do solo e a expansão desordenada oriundas das atividades antrópicas, principalmente em áreas de preservação
permanente pode acarretar em danos ao meio ambiente. O planejamento é um fator chave para o controle dos impactos
ambientais. Na microbacia Água São Mateus município de Figueira (PR) a expansão da fronteira agrícola, em muitos casos
não têm levado em consideração a importância das bacias hidrográficas e áreas de preservação permanente protegidas por lei.
Este estudo teve como objetivo diagnosticar os conflitos de uso do solo em áreas de preservação permanente na microbacia
hidrográfica Água São Mateus, município de Figueira (PR), utilizando software AutoCad Raster Design 2018 e imagens de
satélite do Google Earth de 2018. Os resultados mostram que dos 44,65 ha das áreas de preservação permanente, 17,98 ha são
conflitantes, sobretudo por pastagens (12,34%). O software AutoCad demonstrou-se como alternativa de ferramenta na
quantificação e edição de mapas de uso do solo, áreas de preservação permanente e de conflitos em Áreas de Preservação
Permanente, servindo a metodologia como base para novos trabalhos.

Introdução
A cobertura florestal em áreas definidas como Áreas de Preservação Permanente constitui-se em elemento de extrema
importância na manutenção da qualidade ambiental, desempenhando diversas funções, entre as quais, a dissipação da energia
do escoamento superficial, proteção das margens dos cursos d’água, estabilização de encostas, proteção de nascentes, o
impedimento do assoreamento de corpos d’água, o abastecimento do lençol freático, a captura e retenção de carbono, sendo
que tais funções muitas vezes ficam comprometidas, decorrente da sua falta de implementação (SCANAVACA JÚNIOR,
2011; FREITAS, 2013).
Para que ocorra a conservação da biodiversidade, proteção dos recursos hídricos e controle da erosão do solo, são
necessárias medidas de preservação da vegetação em Áreas de Preservação Permanente, por estas exercerem um papel
ecológico fundamental, além de funcionarem como corredores ecológicos, contribuindo com o fluxo gênico de espécies da
fauna e da flora. Desta forma, Nardini (2009), afirma que para que sejam preservados os recursos naturais e a melhoria da
qualidade de vida dos habitantes é necessário que as APP’s sejam utilizadas de forma adequada. Uma vez que, de acordo com
Machado (2012) a vegetação e as APP’s são objetos de proteção não por si mesmas, mas por toda sua função de proteção da
água, solo e biodiversidade.

1301
Segundo Lima e Zakia (2004) a mata ciliar é de extrema importância para a manutenção dos ecossistemas aquáticos,
pois auxiliam na infiltração de água no solo, facilitam o abastecimento do lençol freático, mantêm a qualidade da água e
dificultam o escoamento superficial de partículas e sedimentos que causam poluição e assoreamento dos recursos hídricos.
Ainda segundo esses autores, essas matas fornecem sombra, mantendo a estabilidade térmica da água, protegem contra o
impacto direto das gotas da chuva no solo, minimizam os processos erosivos que, de acordo Zanatta et al. (2012) são altamente
degradantes à essas áreas pois apresentam alta vulnerabilidade a esses processos.
Um dos grandes desafios do homem para a conservação ambiental é concentrar esforços e recursos para preservação e
recuperação de áreas naturais consideradas estratégicas, das quais vários ecossistemas são dependentes. Dentre essas,
destacam-se as Áreas de Preservação Permanente, que tem papel vital dentro de uma microbacia, por serem responsáveis pela
manutenção e conservação dos ecossistemas ali existentes (MAGALHÃES e FERREIRA, 2000; FREITAS, 2013). Dentre os
problemas mais relevantes observados nas APP, destaca- se o histórico e contínuo desrespeito aos ecossistemas,
negligenciando-se a adoção de critérios técnicos - científicos, passando ao largo da legislação pertinente e menosprezando o
saber popular.
O planejamento do uso do solo de acordo com as exigências vigentes na legislação é um processo essencial, que visa à
conservação dos recursos naturais (AMATO e SUGAMOSTO, 2000; BRASIL, 2012). Esta afirmação tem mostrado ser válida
em diferentes níveis de entendimento do problema, desde o município até a unidade de produção rural. Neste sentido, a
demarcação geográfica das áreas de preservação permanente (APP) destacadas pela lei, e a confrontação desses locais com o
seu uso atual, estabelece as medidas a serem adotadas com o objetivo de contribuir com o uso racional das terras.
O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de estudar o uso adequado do solo em função da legislação
ambiental N° 12.727, de 17 de Outubro de 2012, Brasil (2012), nas delimitações das Áreas de Preservação Permanente e seus
conflitos de uso, na microbacia Água São Mateus, localizada no municipio de Figueira (PR), utilizando como ferramenta o
software AutoCad Raster Design 2018.

Material e métodos
A microbacia Água São Mateus está localizada no município de Figueira (Figura 1), porção norte do Estado do
Paraná, entre as seguintes coordenadas UTM: 7352000 a 7355000 Km N e 566500 a 568500 Km E, com uma área de 246,75
hectares. O clima predominante do município classificado segundo o sistema Köppen é do tipo Cfa – clima temperado úmido
com verão quente, sendo as temperaturas superiores a 22ºC no verão, com precipitação pluvial em torno de 1.400mm anuais e
cerca de 550m de altitude (CEPAGRI, 2014).

Figura 1: Localização da microbacia Água São Mateus, Figueira (PR).

A obtenção das coordenadas, do limite e da rede de drenagem da área de estudo teve como base a carta
planialtimétrica em formato digital, editada pelo IBGE (1992), folha de Figueira (SF-22-Z-C-V-3), em escala 1:50000, datum
vertical marégrafo Imbituba, SC, e datum horizontal SAD-69.
O software AutoCad Map 3D Raster Design foi utilizado para importação da carta em formato digital, bem como da
imagem de satélite. Em carta foram realizados os seguintes comandos: Inserção – Recorte - Georreferenciamento. A inserção
da carta se deu em formato .tiff para possibilitar a digitalização, através dos comandos Insert – Attach. No recorte, apenas a
área útil da carta foi mantida, sendo descartadas todas as informações de legendas e convenções. Esse procedimento foi
realizado através dos comandos Raster tools – Crop – Polygonal Region. A imagem de satélite foi obtida do Google Earth
Pro, de 2018. Após se selecionada a área de interesse, a imagem foi salva e importada para o AutoCad, através dos comandos
Insert – Attach. No georreferenciamento criou-se um grid no AutoCAD, com as coordenadas UTM locais da carta e da
Imagem de satélite. Através do comando rubbershet do AutoCad foi realizado um arquivo de correspondência, onde cada
ponto de controle da carta e imagem de satélite foi associado à um par de coordenadas do grid criado.

1302
Com a carta georreferenciada, foi realizado no AutoCAD a digitalização da rede hidrográfica, altimetria e limite da
microbacia, sendo necessário a criação de uma layer (camada) para cada feição mapeada. Os comandos utilizados para a
digitalização tanto da carta como da imagem de satélite foram Polyline e Polyline Follower. A segunda opção de digitalização
(Polyline Follower) proporciona considerável ganho de tempo por realizar de forma automatizada cada segmento da imagem
utilizada como plano de fundo.
Para definição do limite, digitalizou-se os pontos mais elevados em torno da rede de drenagem. As maiores altitudes
foram marcadas com base nas informações obtidas em carta. A rede de drenagem foi digitalizada acompanhando-se os rios e
corpos d'água existentes na bacia.
A definição dos usos e dos conflitos de uso do solo, foram realizadas criando-se polígonos para cada classe de uso,
com a imagem de satélite georreferenciada já com o limite da microbacia como plano de fundo.
As Áreas de Preservação Permanente foram obtidas através do comando offset do AutoCad, que recria cópias de uma
layer digitalizada, no caso de 30 metros de largura para cada margem ao longo dos canais, e círculos de 50 metros de raio para
as nascentes, fundamentado na Lei Florestal Nº 12.727 de 17 de outubro de 2012, Capítulo II - Art. 4º, a qual institui “Área de
Preservação Permanente a área situada em faixa marginal de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os
efêmeros, medida a partir da borda da calha do curso regular, em projeção horizontal, com largura mínima de trinta metros
para o curso d’água com menos de 10 metros de largura”, e, “áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes,
qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros”. Ainda, segundo a Lei Florestal Nº
12.727 de 17 de outubro de 2012, Capítulo I - Art. 3º, as APP têm por definição: “áreas cobertas ou não por vegetação nativa
com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo
gênico da fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas”
A quantificação de cada classe de uso do solo, bem como dos conflitos e das Áreas de Preservação Permanente foi
realizada através do comando Properties – Área, do AutoCad.

Resultados e discussão
Foram identificadas 6 classes de usos do solo na área de estudo: silvicultura, vegetação ciliar em APP, vegetação
natural, pastagem, solo exposto e construções/barracões. Os resultados obtidos (Tabela 1 e Figura 2) mostram que a microbacia
é ocupada por 87,8 ha de silvicultura; 26,36 ha de vegetação ciliar em APP; 12,7 ha de vegetação natural; 116,8 ha de
pastagens; 2,91 ha de solo exposto e 0,18 ha de construções/barracões.
As atividades que mais se destacam são a pecuária, ocupando 47,34% do total da área da microbacia e a silvicultura,
ocupando 35,56% do total da área da microbacia. Somando-se as áreas de vegetação natural e de mata ciliar em APP, a
microbacia possui um total de 39,06 ha, 15,83% da área total da microbacia.

1303
Figura 2: Usos e ocupações da Microbacia Água São Mateus - Figueira (PR).

Classes de uso do Solo Área em ha % em relação a Bacia


Silvicultura 87,8 35,56
Vegetação Ciliar em APP 26,36 10,69
Vegetação Natural 12,70 5,15
Pastagem 116,8 47,34
Solo Exposto 2,91 1,18
Construções/Barracões 0,18 0,08
Total 246,75 100
Tabela 1. Áreas totais em hectares e porcentagens relativas as classes de usos da Microbacia Água São Mateus
- Figueira (PR).

1304
Com base na legislação vigente, foram mapeadas as APP’s para as nascentes da bacia de estudo em um raio de 50
metros e para os rios em 30 metros para cada margem. Como os rios inseridos na bacia são estreitos, não ultrapassando 10
metros de largura, consideraram-se apenas as APP’s de 30 metros. Os resultados da simulação das áreas de preservação
permanente, mostram uma área relativa a 44,65ha, o que corresponde a 18,09% da área total da microbacia (Figura 3 e Tabela
2).

Figura 3: Áreas de Preservação Permanente da Microbacia Água São Mateus - Figueira (PR).

Área (%) em relação a área


Uso do Solo Área (ha)
total da bacia
APP Ciliar 44,65 18,09
Tabela 2. APP’s em hectares e porcentagens da Microbacia Água São Mateus - Figueira (PR).

1305
Segundo a legislação vigente as Áreas de Preservação Permanente não podem ser ocupadas. Porém, como é possível
observar na Figura 4 e Tabela 3, as APP’s da microbacia Água São Mateus estão com parte da vegetação ciliar nativa
destruída, destacando-se as pastagens (68,63%) como principal uso conflitivo, seguido da silvicultura (26,42%) e solo exposto
(11,03%). Em relação aos usos conflitivos observa-se que dos 44,65 ha que deveriam ser ocupados por vegetação ciliar, 17,98
ha vem sendo utilizados com usos inadequados, fator que contribui para a desproteção dos corpos d’água, com lixiviação de
agentes poluentes como defensivos agrícolas e de solo, o que pode ocasionar poluição e assoreamento dos canais. As nascentes
da microbacia vem sofrendo com a falta de conservação quase em sua totalidade, o que pode acarretar em grande prejuízo na
manutenção dos recursos hídricos. De acordo com Pollo et.al., (2012), a manutenção da cobertura vegetal e das matas ciliares
são fundamentais na conservação dos recursos ambientais da rede de drenagem de bacias hidrográficas.

Figura 4: Conflitos de uso em APP’s da Microbacia Água São Mateus - Figueira (PR).

1306
Áreas de Preservação
Permanente Conflitos em APP
Classes de Uso ha % ha %
Vegetação Ciliar em APP 26,67 59,73 - -
Pastagem 12,34 27,63 12,34 68,63
Silvicultura 4,75 10,64 4,75 26,42
Solo Exposto 0,89 0,52 0,47 11,03
Total 44,65 100,00 17,98 100,00
Tabela 3. Áreas de Preservação Permanente e de Conflitos em APP’s (ha e %).

A utilização do software AutoCad permitiu a delimitação, a quantificação e o diagnóstico das Áreas de Preservação
Permanente da microbacia, dando condições para a obtenção de informações quanto a áreas com usos indevidos. A partir de
então, foi possível identificar a situação de usos da microbacia que estão em conflito com a legislação ambiental vigente, sendo
que o uso inadequado e sem planejamento do solo torna-o infértil, provocando a baixa produtividade das culturas.

Considerações finais
A microbacia Água São Mateus apresenta área total de 246,75 ha, sendo que 44,65 ha são relativos às áreas de
preservação permanente ao longo dos canais e nascentes, onde estão sendo utilizados por usos inadequados como pastagens,
silvicultura e solo exposto com (17,98 ha), havendo necessidade de recomposição da mata ciliar suprimida. Foram
quantificadas 6 classes de uso do solo na microbacia, destacando-se a atividade pecuária e a silvicultura.
O software AutoCad se mostrou uma boa alternativa na elaboração dos mapas das Áreas de Preservação Permanente,
de usos e conflitos de uso do solo e nas suas respectivas quantificações, servindo a metodologia de base para novos estudos
visando o planejamento ambiental e a manutenção dos recursos hídricos.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a Universidade Estadual de Londrina pelo apoio recebido.

Referências Bibliográficas
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1308
5SSS281
ANÁLISE TEMPORAL DA FREQUÊNCIA DE COBERTURA DE CÉU
EM REGISTRO/SP/BRASIL NO PERÍODO DE 2013 A 2018
Eduardo Nardini Gomes1, Antonio Gabriel Pontes dos Reis2, Juliana Domingues Lima3, Augusto Yoshikazu
Akamine2; Silvia Helena Modenese Gorla da Silva1; Augusto Tavares Anheschivich2
1
Professor Assistente Unesp Câmpus Experimental de Registro, e-mail: eduardo.n.gomes@unesp.br; 2Graduando
da Unesp Câmpus Experimental de Registro; 3Unesp Câmpus Experimental de Registro
3
Professora Adjunta Unesp Câmpus Experimental de Registro

Palavras-chave: transmissividade atmosférica; radiação solar; Vale do Ribeira;

Resumo
O Vale do Ribeira é a maior região produtora de banana do Estado de São Paulo, contudo, o ciclo de desenvolvimento da
cultura é maior que em outras regiões produtoras do Brasil, devido a diversos fatores climáticos influenciados pela frequência
de cobertura de céu. Visando a caracterização deste fenômeno, este trabalho apresenta um estudo variacional da distribuição de
frequência das condições de cobertura de céu em Registro/SP, cidade rural localizada na parte paulista do Vale do Ribeira,
utilizando um banco de dados experimental de 5 anos, com o objetivo de caracterizar e quantificar padrões de variação deste
índice atmosférico. O banco de dados da radiação solar global diária (Hg) medida na superfície terrestre foi obtida da estação
meteorológica do Campus Experimental da UNESP em Registro (24,48ºS; 47,83ºW; 25 m), no período de fevereiro de 2013 a
dezembro de 2018. A radiação global foi medida por um sensor Kipp Zonnen CM3, que trabalha na faixa espectral de 305nm a
2800nm. Na aquisição dos dados foi utilizado um datalogger Campbell Sci CR3000, operando na frequência de média de 5
minutos (300 leituras). Posteriormente, a radiação solar global instantânea (W/m2) foi integrada diariamente (entre nascer e pôr
do sol), obtendo-se a partição diária de energia (em MJ/m2). A radiação no topo da atmosfera (Ho) foi calculada para o mesmo
período, permitindo o cálculo de índice de claridade (Kt=Hg/Ho), que será nosso indicativo da cobertura de céu. Utilizou-se
um critério de classificação de Kt subdividido em 4 intervalos: I) Céu nublado; II) Céu parcialmente nublado tendendo a
nublado, Período III) Céu parcialmente nublado tendendo a céu claro e IV) Céu claro. Os resultados mostraram que em 5
anos houve maior frequência de dias com condições de céu nublado (775 dias) e parcialmente nublado tendendo a nublado
(689 dias) e menor frequência de ocorrência de dias com cobertura de céu parcialmente nublado tendendo a aberto (459dias) e
de céu claro (214 dias). O valor médio anual diário de Kt= 0,4251 ± 0,0128, indicando que a região de Registro tem cobertura
de céu parcialmente nublado tendendo a nublado.

Introdução
A banana é uma das frutas tropicais mais consumidas do mundo. No Brasil, o seu cultivo abrange todas as regiões, com
destaque para o Vale do Ribeira, que contribui com cerca de 810 mil toneladas, representando por volta de 76,33% da
produção do Estado de São Paulo, considerado o maior produtor nacional. (IBGE,2018). O município de Registro tem destaque
na produção de banana no Vale do Ribeira, pois representa a maior cidade produtora da região e do Brasil, no que se refere a
esse cultivo.
Diversos fatores climáticos influenciam diretamente na produção de banana, sendo um dos mais importantes a radiação solar
global na superfície terrestre e sua disponibilidade energética local. A radiação solar global, que é a faixa de comprimento de
onda responsável por todos os fluxos de energia entre a atmosfera e a superfície terrestre (processos de balanço de energia,
hídrico e fotossintético), é um importante elemento meteorológico, pois influencia diretamente o crescimento,
desenvolvimento e a produtividade das culturas. Esta radiação também é a fonte primária de energia para todos os processos
meteorológicos que condicionam a vida no planeta, uma vez que a sobrevivência dos organismos e sua distribuição nos
ecossistemas são condicionadas pelos fatores abióticos como o fornecimento de luz, as variações de temperatura, o ciclo da
água, etc.
Desta forma, estudos sobre a frequência de cobertura de céu na cidade de Registro/SP tem grande importância, já que o tempo
de duração do ciclo de desenvolvimento da cultura é maior que em outras regiões produtoras do Brasil, devido a menor
disponibilidade energética local ocasionada pelas nuvens.
Saúco e Robinson (2012) afirmam que a banana que cresce em zonas em que a radiação solar varia, pode apresentar uma
redução na produção de 80% em um dia de céu nublado, quando comparado com um dia de céu aberto. Já Soto e Ballestero
(2000), afirmam que bananeiras do subgrupo Cavendish apresentaram ciclos de 8,5 meses em cultivos bem expostos a luz, e de
14 meses em cultivos sombreados.

1309
Quanto maior for a concentração de vapor de água atmosférico, maior será a atenuação da radiação solar na faixa espectral do
infravermelho e, consequentemente, menor será a radiação solar global na superfície terreste (Kazantzidis et al., 2011, Rossi et.
al, 2018). O objetivo deste trabalho é quantificar a distribuição de frequência das condições de céu no município de
Registro/SP, utilizando o índice de claridade Kt e sua variação temporal entre os anos de 2013 a 2018.

Material e Métodos
A cidade de Registro está localizada na mesorregião do Litoral Sul Paulista, na porção paulista do Vale do Ribeira. O clima de
Registro é classificado como Af, Clima tropical úmido ou superúmido, sem estação seca (Alvares et al., 2013; Lima et a.l,
2019). Contudo, outros tipos climáticos ocorrem em demais cidades que compõem a região do Vale do Ribeira, como o clima
tropical com inverno seco (Aw), subtropical úmido com verão quente (Cfa) (Alvares et al., 2013) e tropical de monção (Am)
(Rolim et al., 2007). O banco de dados da radiação global na superfície da Terra foi adquirido na Estação Meteorológica da
Unesp Câmpus Experimental de Registro, Campus Agrochá (24°29'S; -47°50'O, a 25m) acima do nível do mar. A base de
dados diária das radiações Global (Hg) e no topo da atmosfera (Ho) foram determinadas para a cidade de Registro/SP no
período de 2013 a 2018. A radiação global foi medida por um sensor Kipp Zonnen CM3, que trabalha na faixa espectral de
resposta de 305nm a 2800 nm, com sensitividade de 10 a 35 µV/W/m2, trabalhando no intervalo de zero a 2000W.m-2. A
irradiação Global (Hg em MJ/m2dia) foi calculada a partir da integração diária da irradiância global (Ig) média de 5 minutos
(W/m2), onde o símbolo H representa energia integrada no intervalo de tempo diário, sendo representada por:

, onde: t ns é a hora do nascer do sol, t ps é a hora do pôr-do-sol.

A irradiação no topo da atmosfera (Ho) foi calculada de acordo com pela expressão:

onde: = angulo zenital, = constante solar = 1367 W m-2 e = fator de correção da excentricidade da órbita da terra,
sendo que:

onde: = declinação solar (graus), = latitude do local (graus) e = angulo horário (graus).

O índice de claridade Kt, razão entre a radiação solar global e a extraterrestre, foi calculado utilizando a Equação:

Kt = Hg/H0

As condições de céu foram classificadas a partir do índice Kt, seguindo metodologia proposta por Escobedo et al. (2009), que
classifica as condições de céu em: I) Céu nublado (Kt  0,35) onde a radiação direta é igual a zero, ou seja, a radiação global é
composta apenas pela radiação difusa; II) Céu parcialmente nublado com dominância para o difuso (0,35 > Kt  0,55) onde a
radiação global é composta de uma parcela maior da radiação difusa, que decresce variando gradativamente entre 88 a 50% da
radiação global; III) Céu parcialmente nublado com dominância para o claro (0,55 < Kt  0,65) onde a radiação global é
composta de uma parcela maior da radiação direta, que aumenta gradativamente enquanto a radiação difusa diminui variando
entre 50 a 30% da radiação global; IV) Céu claro (Kt > 0,65) onde a radiação global é composta predominantemente pela
radiação direta.

Resultados e Discussão
A Figura 1 mostra a Evolução média mensal diária da temperatura do ar máxima, média, mínima e precipitação mensal
acumulada para Registro/SP. A temperatura média mensal diária máxima foi de 34,7oC, enquanto que a mínima foi de 12,3oC,
com temperatura média mensal diária de 8 anos igual a 22,9±3,1oC. Em complementação aos valores apresentados na figura 1,
a menor temperatura média mensal diária não reflete a menor temperatura diária de 1,6oC em 14/06/2016. Estes resultados
corroboram com Lima et al. (2019), que classifica a área em estudo como zona de transição climática, interferindo
diferentemente no potencial produtivo local, pois apresenta um clima tropical marginal, caracterizado pela ocorrência
recorrente de “chilling” em plantas e frutos ainda em campo, promovida pela entrada de frentes não ocasionais de frio no
outono e na primavera.
Os acumulados anuais da precipitação variaram entre 1246mm (2014) a 1909mm (2015), com precipitação acumulada média

1310
de 5 anos de 1555mm. Em geral, a precipitação pluviométrica foi superiora a 60mm, justificando a condição necessária na
classificação climática de Koppen para que o clima seja Af (Alvares et al., 2014 e Lima et al., 2019). Contudo, registrou-se
20,8% dos dias com precipitação pluviométrica acumulada (mensal) inferior a 60mm, o que reclassifica o clima local como
Aw (Rolim et al., 2007; Alvares et al., 2014; Lima et al., 2019).
Além dos climas Af, Aw, Am e Cfa, ainda temos a ocorrência de Clima Cwa, ou seja, temperado, quente mesotérmico, com
temperatura média do mês mais frio entre -3oC e 18oC, com chuvas de verão e precipitação pluviométrica acumulada no mês
mais frio abaixo de 60mm (Figura 1).

42 TMax TMed Tmin Precipitação (mm) 720

660
36
600

Precipitação (mm)
30
Temperatura ( C)

540
o

24 480

420
18
360
12
300
6 240

0 180

120
-6
60
-12 0
m 13

m 14

m 15

m 16

m 17

18
3

8
no 3

no 4

no 5

no 6

no 7

no 8
l/1

l/1

l/1

l/1

l/1

l/1
/1

/1

/1

/1

/1

/1
v/

v/

v/

v/

v/

v/
ar

ar

ar

ar

ar

ar
ju

ju

ju

ju

ju

ju
m

Tempo (mês)
Figura 1. Evolução média mensal diária da temperatura do ar máxima, média, mínima e precipitação mensal
acumulada para Registro/SP.

Na figura 2 estão representados os resultados da evolução mensal da radiação solar no topo da atmosfera (Ho) e Global (Hg)
em função do tempo em dias para Registro/SP. Em geral, as radiações solares Ho e Hg apresentaram sazonalidades
características devido à declinação solar. Os maiores e menores valores de Ho foram de 41,6MJ/m2 a 22,5MJ/m2,
respectivamente. O maior valor observado para Hg foi de 31,31MJ/m2 em 16/12/2014, enquanto o menor valor foi de
0,06MJ/m2 (612KJ/m2) em 20/05/2019, com Hg média de 5anos de 14,2MJ/m2.

1311
55
50 Ho
Hg
Irradiação Solar (MJ.m )
-2

45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
/0 12
/0 13
/0 13
/0 14
/1 14
/0 14
/1 15
/0 15
/0 16
/1 16
/0 16
/1 17
/0 17
/0 18
/1 18
/0 18
19
06 /20
30 /20
24 /20
21 /20
15 /20
11 /20
05 /20
29 /20
25 /20
19 /20
15 /20
09 /20
05 /20
30 /20
24 /20
20 /20
20
5/
2
5
9
2
7
2
5
0
2
7
2
5
0
3
7
2
/1
10

Tempo (dia)
Figura 2. Evolução diária da radiação solar no topo da atmosfera (Ho) e Global (Hg) para Registro/SP.

A figura 3 mostra a distribuição dos valores de Kt anual nos 4 intervalos de cobertura de céu. É nítida a maior distribuição de
pontos nos intervalos I e II, independente dos anos a que se referem. Ocorre uma aleatoriedade típica em todos os anos, o que
indica que não ocorre um padrão definido de dispersão, ou seja, a aleatoriedade na distribuição dos valores mostra a
necessidade da realização de maiores investigações, no sentido de determinar demais fatores que podem afetar não só a
quantidade de vapor de água na atmosfera, como também o índice de aerossóis na atmosfera, que implicaria na atenuação da
componente ultravioleta da radiação global, entre outros.

1312
Figura 3. Evolução diária do índice de claridade (Kt) para os 4 intervalos de cobertura de céu em Registro/SP, no
período de 2013 a 2018.

Na figura 4 está representada a distribuição de freqüência do índice de claridade Kt para Registro/ SP durante o período
experimental. Seguindo a subdivisão do Kt, nota-se que em geral é bem elevada a freqüência de dias nublados e parcialmente
nublados, enquanto que muito reduzida é a freqüência de cobertura de céu aberta, o que caracteriza a região como de
parcialmente nublada a nublada. Os resultados mostraram que em 5 anos houve maior frequência de dias com condições de céu
nublado (775 dias) e parcialmente nublado tendendo a nublado (689 dias) e menor frequência de ocorrência de dias com
cobertura de céu parcialmente nublado tendendo a aberto (459dias) e de céu claro (214 dias).

1313
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
Frequência Acumulada 99,9
99 (a)
95
80
60
40
20
5
Histogram and Probabilities for data1 col(Kt):
1 Mean Se Maximum Minimum
------------------------------------------------------------
0,1 0,42506 0,0039 0,76578 0,00351

0,01
300 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8
Frequência de Ocorrência

(b)
250

200

150

100

50

0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

Intervalo de Kt
Figura 4. Frequência de Ocorrência Percentual (a) acumulado, (b) absoluto de Kt.

A figura 5 representa o número de ocorrências de dias de cada intervalo de Kt para cada ano em estudo. Obteve-se um maior
número de ocorrência de dias com alta nebulosidade (intervalo I), especificamente nos anos de 2015 e 2016, enquanto a maior
ocorrência de dias com céu aberto foi em 2014 (intervalo IV). Contudo todos os intervalos tiveram valores médios anuais
muito próximos. No intervalo 3 houve uma estabilidade entre todos os anos, com exceção em 2017, com números de dias
superior a 95 (os demais menores que 80). É nítido que a ocorrência de dias do intervalo 4 é muito baixa, ou seja, menor de
que 40 dias por ano em todo o período analisado.

1314
200
180 a) Intervalo I b) Intervalo II
160
Número de Dias

140
120
100
80
60
40
20
0
180
d) Intervalo IV
Número de Dias

160 c) Intervalo III


140
120
100
80
60
40
20
0
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Tempo Tempo
Figura 5. Frequência média anual do índice de claridade (Kt) para Registro/SP nos intervalos de frequência de
cobertura de céu Nublado, parcialmente nublado e aberto.

Em geral, o elevado índice de nebulosidade da região experimental se deve provavelmente ao fato da maior reserva de mata
atlântica preservada do País estar inserida no Vale do Ribeira, ocasionando altas taxas de evapotranspiração, além da
proximidade do mar, que está relacionado com a alta concentração de NaCl na atmosfera, que ocasiona maior quantidade de
núcleos de condensação, contribuindo com a maior nebulosidade local. A média inter-anos de Kt é 0,4251±0,0128 (cobertura
de céu parcialmente nublado tendendo a nublado - Figura 6). Outro fator interessante é o do relevo local, uma vez que Registro
(situado em baixa altitude) encontra-se rodeado de montanhas, servindo de passagem para o rio Ribeira na Bacia Hidrográfica
local, ocasionando menores cotas na sua passagem.

1315
Figura 6. Média Anual diária do índice de claridade (Kt) e desvios da média no período de 2013 a 2018 para
Registro/SP.

A oscilação nas médias anuais indica que estudos em intervalos de tempo menores (horas e minutos em cada dia) devem ser
realizados, de forma a caracterizar melhor o fenômeno. Mas em geral, se pode afirmar que, além da classificação climática
local oscilar dentro de determinados valores limítrofes de elementos de clima, o índice de claridade também está relacionado
com a ocorrência de outros fenômenos mais complexos em escala planetária, como o El Niño e La Niña.
A figura 7 mostra os desvios de Kt para os intervalos em função do tempo, em complementação à figura 6. Os maiores desvios
observados ocorreram no intervalo 1, sendo na ordem de ±7%, enquanto que nos demais intervalos a amplitude de variação dos
desvios foram percentualmente bem menores, e decrescentes à medida que os intervalos aumentam de I a IV.

1316
10 1,5
8 a) Intervalo I b) Intervalo II
1,0
6
Desvio de Kt (%)

Desvio de Kt (%)
0,5
2
0 0,0
-2
-0,5
-4
-6
-1,0
-8
-10 -1,5
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Tempo (ano) Tempo (ano)


2,0 1,5
c) Intervalo III d) Intervalo IV
1,5
1,0
1,0
Desvio de Kt (%)

Desvio de Kt (%)

0,5
0,5

0,0 0,0

-0,5
-0,5
-1,0
-1,0
-1,5

-2,0 -1,5
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Tempo (ano) Tempo (ano)

Figura 7. Desvios médios anuais do índice de claridade (Kt) nos intervalos de frequência de cobertura de céu Nublado
(I), parcialmente nublado (II e III) e aberto (IV) para Registro/SP.

No geral, os desvios oscilam entre os intervalos de Kt nos anos, entretanto, é muito sutil essa variação, não ocasionando muita
diferença no padrão geral de cobertura de céu local. Estas informações mostram-se importantes para ajudar a caracterizar
diversas atividades locais que dependem da energia disponível na superfície terrestre, na forma de radiação global, que é
disponível, entre outras, na parte fotossinteticamente ativa disponível para as plantas produzirem, e ajudam em muito na
descoberta de variação no tempo de duração dos ciclos produtivos das culturas, como a banana.

Conclusões
A radiação solar global na superfície terrestre na área experimental apresentou elevada atenuação. A cobertura de céu
predominante no período experimental foi parcialmente nublada tendendo a nublada.
Os valores obtidos para a transmissividade atmosférica local indicam que os cultivos de banana tendem a variar entre
12 a 14 meses, como citado pela literatura especializada com cultivos sombreados.
Necessita-se de um estudo melhor sobre a classificação climática local, já que a de Koppen não serve para locais com
variabilidade das condições meteorológicas limítrofes nos cálculos.
Demais estudos micrometeorológicos devem ser realizados na região em estudo para o melhor entendimento dos
fenômenos físicos atmosféricos locais, que interferem na ecofisiologia relacionada a produção de biomassa vegetal.

1317
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1318
5SSS282
AVALIAÇÃO DE RENDIMENTO E TERMOGRAFIA DO
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Koiti2; BIERHALS, Daiana Fonseca3; CUNHA, Henrique N. da4; CRUZ, Nidria Dias5
1
Universidade Federal de Pelotas – Ceng – Curso de Engenharia Industrial Madeireira, isishso@gmail.com ;
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Embrapa Clima Temperado, ernestino.guarino@embrapa.br adalberto.miura@embrapa.br; 3Embrapa
Clima Temperado/CNPq, daiana.fb@hotmail.com; 4Universidade Federal de Santa Maria,
henriquencunha@gmail.com; 5Universidade Federal de Pelotas, nidria_cruz@hotmail.com.

Palavras-chave: Carbonização; energia de biomassa; bambu.

INTRODUÇÃO

O bambu é uma planta predominante tropical e que cresce mais rapidamente do que qualquer outra planta do
planeta, necessitando, em média, de 3 a 6 meses para que um broto atinja sua altura máxima, de até 30 metros, para as
espécies denominadas de gigantes, apresenta uma admirável vitalidade uma grande versatilidade, leveza, resistência e
facilidade de ser trabalhada com ferramentas simples, a beleza do colmo ao natural ou após ser processado, qualidades que
têm proporcionado o mais longo e variado papel na evolução da cultura humana, quando comparado a qualquer tipo de
planta (FARRELY, 1984).
Conforme estudos realizados por Brito (1992), o bambu tem possibilidades de se tornar uma alternativa na
produção de carvão vegetal, por possuir semelhanças com as madeiras utilizadas na produção de carvões.
De acordo com Lobovikov et al. (2007), existem três razões principais que contribuem para o sucesso de carvão de
bambu no comércio internacional: o bambu cresce mais rápido e tem uma rotação mais curta em comparação com espécies
arbóreas; as propriedades de valor calórico e de absorção de carvão de bambu são semelhantes ou melhores do que as de
carvão vegetal de madeira; é mais barato e mais fácil de produzir.
Assim, o objetivo desse trabalho foi avaliar a produtividade de carvão de Bambusa tuldoides, comparando-a com a
produtividade de carvão de espécies arbóreas comumente utilizadas no Extremo Sul do Brasil.

METODOLOGIA

O experimento foi realizado na Estacão Experimental Cascata da Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS, onde
inicialmente foram coletadas três hastes maduras de bambu (Bambusa tuldoides) ao acaso de touceiras distintas na Cascata
distrito do município de Pelotas, como é possível observar na figura 1. Os corpos de prova foram retirados dos colmos em
três porções longitudinais diferentes a 25%, 50% e 75% da altura total e sendo cortado anéis de 5 cm de altura tendo o nó no
meio do anel e no entre nó. Esses anéis foram partidos verticalmente de forma que de cada anel foi obtido quatro cavacos.

1319
FIGURA 1: Local de coleta das touceiras de B. tuldoides.

Primeiramente foi determinado o peso úmido das amostras e posteriormente foram colocadas em estufa a 45ºC até
o peso se tornar constante. Assim sendo possível calcular o teor de umidade dos cavacos, com o emprego da seguinte
equação:

TU: Mbv – Mbs x 100%


Mbs

Em que:
TU = Teor de umidade (%);
Mbv = Massa de bambu verde (g);
Mbs = Massa de bambu seco (g).

Porção Entrenó Nó
25% 35 minutos 42 minutos
50% 30 minutos 37 minutos
75% 25 minutos 32 minutos

TABELA 1: Tempo de carbonização das amostras.

Foi possível verificar que o processo de carbonização chegou ao fim quando cessou a emissão de fumaça de
coloração branca, após a mufla foi desligada para o seu resfriamento parcial, atingindo 50ºC para que pudéssemos abrir o
forno.
Após o fim da carbonização o material obtido foi pesado e determinado o rendimento gravimétrico com o emprego
da seguinte equação:

1320
RG: Mc x 100%
Mb

Em que:
RG = Rendimento gravimétrico (%);
Mc = Massa da amostra carbonizada (g); Mb
= Massa de bambu seco (g).

Para determinar a estabilidade térmica, foi realizada análise termogravimétrica de acordo com a norma ASTM e
2550-11. Técnica de análise térmica que consiste em medir as variações de massa sofrida pela amostra, devido uma
transformação física (sublimação, evaporação, condensação) ou química (degradação, decomposição, oxidação), em função
da temperatura ou tempo (MOTHÉ e AZEVEDO, 2002).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

RENDIMENTO GRAVIMÉTRICO

De acordo com a tabela 2 é possível observar que o rendimento gravimétrico obtido foi mais expressivo nos
corpos de prova retirados das porções do nó, isso foi possível devido à maior densidade do nó do que o entre nó.

PORÇÕES RENDIMENTO
GRAVIMÉTRICO
Nó Entrenó
75% 19,54% 14,71% ± 0,503
±1,623%
50% 23,04% ± 0,56 18,81% ± 3,042
25% 24,09% ± 0,42 19,59% ± 0,320

TABELA 2: Média aritmética do rendimento gravimétrico.

A média do rendimento gravimétrico das porções retiradas do nó foi 22,22%, das porções retiradas do entrenó foi
17,70% e a média total foi 19,96%. Segundo Santiago e Andrade (2005), obteram o rendimento de 26,9 % utilizando clones
de Eucalyptus urophylla e Arruda (2008) obteve o rendimento de 30,30% utilizando Acacia magium. Em comparação com
as espécies lenhosas o rendimento do carvão de bambu foi baixo.

ANÁLISE TERMOGRÁFICA

De acordo com a figura 2 se constatou que apartir de 100ºC se deu a evaporação da água, a partir dos
200ºC iniciou a volatilização e ao atingir a temperatura de 1000ºC houve uma brusca queda no teor de massa e após
estabilizou.

1321
FIGURA 2: Curva TGA da perda de massa em função da temperatura.

CONCLUSÕES
Diante dos resultados obtidos, foi possível observar que as porções retiradas dos nós tiveram um maior rendimento.
Em comparação do rendimento gravimétrico do carvão de Bambusa tuldoides com o de Acacia magium e
Eucalyptus urophylla, foi baixo.
A degradação devido a combustão (oxidação) da massa deu início em baixa temperatura e gerou baixo teor de
resíduo.
Uma vantagem do uso do bambu para a carbonização é o crescimento rápido, ser um material abundante e de
fácil acesso.
O uso do bambu para produção de carvão é uma boa opção para agricultores, por que assim aumentaria as
possibilidades de seus usos. O carvão produzido pode ser utilizados em estufas, filtros de água como carvão ativado e até se
tornar uma fonte de renda alternativa. Além de apresentar um impacto ambiental menor por emitir menos gases durante a
carbonização.

AGRADECIMENTOS

À Embrapa Clima Temperado pela concessão da bolsa de iniciação á pesquisa científica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ciência Florestal, v.15, n.1, p.1-7. 2005.

1322
5SSS284
WASTE MANAGEMENT TO INCREASE THE GROWTH OF
BANANA SEEDLINGS IN THE FIELD
Juliana Domingues Lima1, Natália de Souza Bravo1, Danilo Eduardo Rozane1, Edson Shigueaki Nomura,
Silvia Helena Modenese Gorla da Silva1, Eduardo Nardini Gomes1
1
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, UNESP, Câmpus Experimental de Registro,
e-mail: juliana.d.lima@unesp.br; 2Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Polo Vale do Ribeira,
e-mail: edsonnomura@apta.sp.gov.br

Keywords: banana plantation; pseudostem; agricultural residues.

Abstract
Pseudostem is an abundant residue after the harvesting of banana bunch, serving as a source of water, nutrients and organic
substances. The present study aimed to evaluate the effect of pseudostem waste on ‘Nanica’ banana cultivar in greenhouse
under contrasting environmental conditions. For this, an experiment was carried out in a randomized block design in a 2 x 2
factorial scheme (presence or absence of waste and two seasons), consisting of four replicates of three experimental plots with
two pots per plant. One season was early November/2018 (Summer) and the other half of May/2019 (Winter). A 40 cm portion
of the pseudostem collected from of a freshly harvested plant was sectioned into 10 cm portions and placed under the substrate
of the seedling-containing pot at both times. Periodically, height, pseudostem diameter and leaf emission were evaluated. After
the release of leachate by the residue, plants were taken to the laboratory, and the area of leaves and roots, their respective
masses, and the leaf nutrient content were determined. The nutritional composition of the residue was evaluated before its
application for both seasons. In summer, accumulated dry matter in the different organs, leaf area and root area was higher in
the presence of the residue, while in winter, only root dry mass was higher (p<0.01). The application of residue had a
consistent effect on root growth, which can be exploited in the field.

INTRODUCTION
Banana plant (Musa spp.) and plantains belong to the Musaceace family and are widely grown in Brazil and
worldwide. They are tropical herbaceous plants with appearance oif trees with fibrous trunks that are false stems, referred to as
pseudostem (Akpabio et al. 2012), composed of concentric layers of leaf sheaths (HO et al., 2012). Its fruits are the second
most important fruit crop after citrus, accounting for 16% of world fruit production with 120 million tons in an area of over 8
million ha, grown in over 112 countries under tropical and subtropical conditions (FAO, 2019).
Each banana tree produces a single bunch of fruits (HO et al., 2012). In banana plantations, after harvesting,
pseudostem is cut at about 70 cm in height, and thus, several tons of agricultural residues are daily produced (NKENGAFAC
et al., 2019), and according to Ingale et al. (2014), about 220 ton ha-1 year-1.
Aiming at obtaining greater efficiency in the use of nutrients in banana plantations and preventing negative
environmental impacts, in Brazil. pseudostem waste is kept on the soil. In banana plantation in Ecuador (MANUEL, 2017) and
Canary Islands (HERNÁNDEZ and SERRANO, 2016), it has been recommended to insert a portion of the decaying
pseudostem into the daughter or granddaughter plant covering the full extent of shoots to increase annual growth.
Thus, it is assumed that the targeted distribution of pseudostem waste may contribute to the supply of water, nutrients
and organic substances (HO et al., 2012; MISAL et al, 2018). In the case of plants in the child stadium, when there is a deficit
in obtaining photoassimilates from the mother plant, for example, when there are adverse weather conditions. Regarding its
applicability, it will represent only the best distribution of the crop waste, since it is kept in the production unit on the soil,
thus, without great additional cost for its implementation. Additionally, it will be possible to infer about the viability of using
banana waste for organic fertilizer production. Thus, the present study aimed to evaluate the effect of pseudostem waste on
‘Nanica’ banana cultivar in greenhouse under contrasting environmental conditions.

MATERIAL AND METODS


The research was conducted in Registro-SP, in a greenhouse belonging to the São Paulo State University -UNESP.
The plant material were micropropagated banana (Musa spp. AAA, cv. Nanica), about 10 cm height, which were transplanted
into 20 liter pots containing a mixture of ½ soil, ¼ Carolina Soil® and ¼ Vivatto® (NOMURA et al., 2008).The soil used was
classified as Cambisol (EMBRAPA, 2013), and its pH was corrected with dolomitic limestone 60 days before the experiment,
as indicative of chemical analysis. Fertilization followed recommendation of Nomura et al. (2008), using simple substrate
superphosphate and controlled release of 20:0:20 NPK formulation 30 days after transplant (DAT).

1323
A randomized complete block design was used in a 2 x 2 factorial scheme, two seasons and presence or absence of
waste, with four replicates of three experimental plots, with two pots per plant. One season was early November/2018
(Summer) and the other half of May/2019 (Winter). To do this, a 40-cm portion of freshly harvested pseudostem was chopped
into 10 cm portions and placed under the pot substrate containing the seedling at 15 DAT in both seasons. Waste samples used
were oven dried at 65oC to constant weight to determine the dry matter content and analyzed for nutrient content and C/N ratio
using methodology proposed by Lanarv (1988) and Mapa (2014).
Plant height, diameter and leaf emission were determined at 60 DAT. Height corresponded to the distance between the
insertion of leaf 1, which is the youngest leaf completely unwound, and soil. Pseudostem diameter was determined close to the
soil with digital caliper. Leaf emission was determined by counting leaves that emerged after transplantation. Evaluations were
performed when waste no longer released leachate, when plants were sectioned into shoot and root. At laboratory, roots and
leaves were washed and dried with absorbent paper. Then, images were recorded using high resolution digital camera and
100% scale. Digitized files were submitted to the Image J® software to calculate leaf area and root. Subsequently, all plant
tissue was submitted to drying in oven with forced air circulation at 65C until constant weight for dry matter determination. A
portion of the dry leaf material was ground and the nutrient content was determined according to Souza et al. (2016).
A Datalloger from Campbell Scientific, Logan, Utah, USA, Model CR 1000 was installed to collect temperature data
at 2 cm from the substrate surface every 5 minutes. Other temperature data were obtained from the Meteorological Station
(Campbell Scientific, Logan, Utah, USA), connected to the CIIAGRO System - IAC.
Statistical analyses were carried out using the Sisvar 4.2 software (FERREIRA, 2011). Data were submitted to the Bartlett test
and analysis of variance followed by the F-test. Pearson’s correlation coefficients (r) were calculated among variables and
significance by the t-test.

RESULTS AND DISCUSSION


Growing season was an important cause of variation, affecting all variables except for root/shoot ratio (RSR) (Table
1). Climatic conditions indicate that there was reduction in the radiation availability (Table 2), and consequently in maximum
and minimum temperatures when comparing summer and winter, which is characteristic of the marginal tropical climate of the
region (LIMA et al., 2019).

Table 1. Analysis of variance for root dry matter (RDM), pseudostem dry matter (PDM), leaf dry matter (LDM),
root/shoot ratio (RSR), height (H), leaf emission (LE), pseudostem diameter (PD), leaf area (LA) and root area (RA) of
banana seedlings cv. Nanica at 60 DAT.
RDM PDM LDM RSR H LE PD LA RA
g g g cm cm cm² cm²
Treatment 62.86** 6.73* 21.93** 9.14** 3.73NS 0.17NS 6.77* 32.19** 59.02**
Season 189.62** 82.93* 198.88** 13.40** 303.05** 146.59** 159.16** 438.58** 263.08**
TxS 24.51** 7.01* 2.40NS 2.01NS 3.77NS 0.20NS 4.43* 10.54** 51.08**
Mean 23.31 17.59 19.72 0.62 29.82 7.63 4.31 199.59 38.54
VC (%) 17.22 18.61 17.36 19.24 11.19 9.59 12.05 17.28 20.28
*, p <0.05; ** p <0.01; NS, not significant to F test (p<0.05).
VC, variation coefficient.

In terms of temperature, the ideal conditions for banana cultivation are maximum averages over 21ºC, minimum averages over
15ºC, a condition that accelerates leaf emission and consequently plant development (VIEIRA, 2004). Although in summer,
average temperatures were higher, maximum temperatures exceeding 35oC are observed, as well as in winter, temperatures
below 10oC are also observed (Table 2), conditions that cease the carbon gain by plants (DONATO et al., 2015).

1324
Table 2. Climatic conditions in the cultivation period.
standard Minimum Maximum
Mean
deviation () value value
Summer Global radiation (MJ m-2) 16.53 7.39 3.47 30.57
Maximum temperature (oC) 28.75 5.09 20.41 39.68
Minimum temperature (oC) 19.28 2.31 14.10 24.86

Winter Global radiation (MJ m-2) 10.15 4.48 0.06 16.96


Maximum temperature (oC) 25.37 3.62 16.16 32.15
Minimum temperature (oC) 15.49 3.53 4.52 21.42
Summer of 08/10/18 at 21/12/18 and winter of 08/05/19 at 01/08/19.

The difference in the height of plants (H) grown in summer and winter was 17.58 cm (p<0.05), while difference in the
number of leaves was 2.48 (p<0.05), variables influenced only by the effect of season. Regardless of use of pseudostem waste,
leaf dry matter (LDM) was also 14.61 g higher in summer than in winter (p<0.05), indicating a clear growth difference
between seasons.
The effect of the presence or absence of pseudostem waste on LDM was striking and unrelated to season; plants
grown with waste accumulated 22.14 g of leaves (MSF) and without waste 17.30 g (p<0.01). MSR accumulation in seedlings
in the presence of waste was higher in both seasons (Figure 1); however, the extent of difference between presence and
absence of waste was greater in summer than in winter.
The effect of waste on pseudostem dry matter (PDM), pseudostem diameter (PD), leaf area (LA) and root area (RA) was
significant only in summer. Regardless of season, the root/shoot ratio was higher in plants that received waste (0.59) than in
those without waste (0.56) (p<0.05), indicating higher investment in root growth in terms of mass (Table 1). In terms of leaf
area (LA) and root area (RA), influence of waste was observed only in summer, as well as in pseudostem diameter (Figure 1).
Banana seedlings with more leaves and higher leaf area (LA), possibly will present larger set and initial growth in the field,
due to the higher production of photoassimilates, certainly resulting in faster inflorescence emission (SANTOS et al., 2004). A
seedling with a larger root area (RA) can occupy more space in the soil; consequently will have more success in obtaining
water and nutrients and less chance of falling in the field.
Although in winter no significant influence of waste on growth and extension of leaf area (LA) and roots was detected
(Figure 1), the absence of response was not inconsistent, since linear correlations were found between LDM and LA (r =
0.94**), and between RDM and RA (0.93**), regardless of season. Root growth promotion in both seasons is a very important
result as often plant roots are attacked by nematodes, fungi and banana weevil eggs, as well as dying from stress due to water
supersaturation in the soil.
The average DM content in waste was 5.88%, indicating that the material was a great source of water, which in this
study was not limiting due to the two daily irrigations. Regarding nutrient composition, there were no differences in the
average levels of waste used in both seasons, which were 5.00, 0.55, 81.00, 7.50, 2.20 and 0.20 g kg-1 DM, respectively, for N,
P, K, Ca, Mg and S, and 10.75, 3.00, 237.50, 171.50 and 7.50 mg g-1 DM, for B, Cu Fe, Mn and Zn. These results are in
agreement with those of Akpabio et al. (2012), Blanco et al. (2013) and Ramu et al. (2017).
The C/N ratio can be of great importance for the degradation rate of hemicellulose, cellulose and lignin,
which was high using waste (44,5/1), indicating slow degradation and use of part of N by microorganisms (OLIVEIRA et al.,
2008). This result corroborates the fact that it is mainly composed of cellulosic filaments strongly bonded by hemicelluloses
and lignins (AKPABIO et al., 2012). There were slight differences in substrate temperature at 2 cm depth in the presence of
waste, which in summer ranged from 0.2 to 0.95°C and in winter from 0.12 to 0.23°C, indicating little influence on root
growth due to temperature change.
There was no influence of the isolated effects of season and treatment, or the interaction of these factors on seedling
nutrient content, except for K and Mn, probably due to the abundance of these nutrients in waste. K was abundant possibly due
to the high supply by fertilization, while Mn was abundant due to the high soil concentration. The mean K contents ranged
from 43.67 to 48.33 g kg-1 DM, while Mn contents ranged from 292.67 to 312.67 mg g-1 DM. N, P, Ca, Mg and S contents
were, respectively, 37.50, 3.30, 6.17, 4.22, 2.20 g kg-1, and B, Cu, Fe and Zn of 20.67, 6.83, 170.00 and 20.83 mg g-1. The
contents of all quantified nutrients were above minimum values established by Borges (2004) for the same cultivar.

1325
With waste With waste
Aa Without waste Without waste
Aa
40 25
35

Dry matter pseudostem (g)


Ab
30 20
Root dry matter (g)

Ab
25
15 Ba Ba
20 Ba
15 Bb 10
10
5
5
0 0
Summer Winter Summer Winter
With waste With waste
100 Without waste 400 Without waste
Aa
90 350
80 Aa
300 Ab
70
250
Root area (cm )

Leaf area (cm )


2

60
2

50 200
Ab
40 150
30 Ba
Ba 100 Ba
Ba
20
10 50
0 0
Summer Winter Summer Winter
With waste
7 Without waste

6 Aa
Pseudostem diameter (cm)

Ab
5

4 Ba Ba
3

0
Summer Winter
Figure 1. Pseudostem and root dry matter, leaf area, root area and pseudostem diameter of banana seedlings cv. Nanica
at at 60 DAT.
Means followed by different capital letters for seasons and small letters for treatments differ by the Tukey test (p<0.05).

K and Mn exhibited identical response in summer in the presence of waste (Figure 2); plants exhibited low contents in
contrast to high LDM and LA, which reflects a dilution effect. In winter, contents were higher for plants cultivated with waste.

1326
With waste
Without waste
50
Aa Aa
48
46
44 Bb Bb

K (g kg )
-1 42
40
38
36

Summer Winter
With waste
320 Without waste
315 Aa Aa
310
305
Mn (mg g )
-1

300
295 Bb Bb
290
285
280
Summer Winter
Figure 2. K and Mn contents in leaf tissue of banana seedlings cv. Nanica.
Means followed by different capital letters for seasons and small letters for treatments differ by the Tukey test (p<0.05).

Despite the little effect of waste on nutritional status of seedlings, banana sap extracted from pseudostem can be used
as liquid fertilizer, improving yields of some crops (PATIL and KOLAMBE, 2011) and saving 20-40% fertilizer. The effect on
shoot and root growth may be associated with the fact that pseudostem waste contains growth promoting substances like
cytokinin and giberellin (PATIL and KOLAMBE, 2011; MISAL et al., 2018), in addition to high content of phenols,
flavonoids and tannins (SHARMA et al., 2017). These organic substances can act as primary antioxidants or free radical
scavengers and modulators of plant development by regulating indole acetic acid (IAA) catabolism (ARNALDOS et al., 2001).
Severino et al. (2011) showed that the liquid from the banana pseudostem applied to the soil does not improve the
growth of 'Prata Anã’ banana seedlings, but stimulates the photosynthetic rate, transpiration rate and stomatal conductance. In
Leucaena leucocephala plantlets; however, responses were manifested mainly in points of foliar and radical growth,
reinforcing the hypothesis of presence of auxins in the leachate, which could stimulate rapid cell differentiation and
proliferation in the apical meristematic tissue (DURAN et al., 2018). Iriany et al. (2018) noted that banana pseudostem along
with water hyacinth and rice straw, can be used as materials for organic mulch sheets by adding organic matter to the soil,
having strength and strength, and helping plants to adapt to climate changes.

CONCLUSION
The main perspective of this study is the promotion of root growth with the use of pseudostem waste in banana
plantation, consequently helping minimizing environmental impacts caused by its disposal and reducing the use of chemical
fertilizers.

ACKNOWLEDGMENTS
To FAPESP for granting scholarship to the second author (2017/27204-6) and to MM Mudas for providing the
plantlets.

1327
REFERENCES

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1329
5SSS286
A CIÊNCIA EM AÇÃO: CIDADANIA ECOLÓGICA E
SUSTENTABILIDADE
Juliana Silva França1, Fernanda Montebrune2, Marcos Callisto3
1 Instituto Nacional da Mata Atlântica-INMA/MCTIC, e-mail: jsfranca@yahoo.com.br; 2 Programa Gerdau
Germinar-Sustentabilidade, e-mail: fernanda.souza@gerdau.com.br; 3Universidade Federal de Minas Gerais-
ICB/DGEE, Lab. Ecologia de Bentos, e-mail: callistom@ufmg.br

Palavras-chave: recursos hídricos; ciência cidadã; conservação de biodiversidade

Resumo
Conscientizar a sociedade sobre questões ambientais através de atividades de divulgação científica e ciência cidadã com
resultados de pesquisas ecológicas complementam ações de mobilização social para a conservação e uso sustentável de rios
urbanos. O objetivo deste estudo foi desenvolver atividades de ciência cidadã sobre conservação e sustentabilidade de rios
urbanos com diferentes setores da sociedade civil na porção sul da Serra do Espinhaço (MG), nos municípios de Congonhas,
Conselheiro Lafaiete, Itabirito, Moeda, Ouro Branco e Ouro Preto. Foram realizadas atividades de ciência cidadã sobre
resultados de estudos desenvolvidos pelo Laboratório de Ecologia de Bentos/UFMG sobre ecologia aquática, conservação de
biodiversidade, bens e serviços ecossistêmicos, processos ecológicos, gestão sustentável de recursos hídricos em bacias
hidrográficas, biomonitoramento e macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores de qualidade de água. As ações
focaram em: a) atividades de curta, média e longa durações para adultos, incluindo palestras, exposições interativas, dinâmicas
de grupo, aulas práticas em campo e laboratório; b) atividades de curta, média e longa durações para crianças e adolescentes,
incluindo palestras interativas, jogos lúdicos, atividades práticas em campo e laboratório e monitoramento de um riacho
próximo à instituições de ensino básico. Ao longo de 7 anos foram realizados nove capacitações de longa e média durações
para 283 professores e colaboradores e três atividades de curta duração com palestras e exposições interativas para 209 adultos.
Para crianças e adolescentes foram oferecidas quarenta atividades de longa e média durações, incluindo um monitoramento
ecológico de qualidade de cursos d’água e a experiência de “um dia de cientista” para 1.555 jovens, além de três atividades de
curta duração abrangendo exposições interativas e atividades lúdicas para 3.173 estudantes. As atividades realizadas para mais
de 5 mil adultos e jovens nos municípios na porção sul da Serra do Espinhaço contribuíram para a divulgação e capacitação em
ciência cidadã sobre a biodiversidade aquática em riachos, conservação e uso sustentável de recursos hídricos.

Introdução
A qualidade ambiental de recursos naturais é essencial para o bem-estar humano e os bens e serviços proporcionados
pelos ecossistemas aquáticos são elementos chave para o desenvolvimento socioeconômico (Navarro-Ortega et al, 2015). A
pressão sobre os recursos hídricos resulta no seu esgotamento por desperdício, contaminação ou gerenciamento inadequado de
suas águas (Tundisi, 2008). A ocupação urbana e degradação do entorno, associadas à escassez de políticas públicas,
inviabilizam a manutenção dos ecossistemas aquáticos, comprometendo sua conservação e dificultando a oferta de bens e
serviços ecossistêmicos adequadamente (Mendonça & Leitão, 2008).
Os ecossistemas aquáticos são importantes fornecedores de bens e serviços de valores econômico e social (Tundisi &
Matsumura-Tundisi, 2010), no entanto, apesar da legislação brasileira ser rigorosa quanto aos seus usos, não garante redução
de impactos diretos sobre os cursos d’água urbanos (Mendonça & Leitão, 2008). Desta forma, historicamente, ao invés de
manter os ecossistemas aquáticos em seu curso natural, as tentativas de solução foram focadas em obras de canalização
transferindo para jusante os problemas gerados pela urbanização (Canholi, 2014).
Atualmente, o conceito de cidadania ambiental vem se fortalecendo e agregando credibilidade ao alcance da
sustentabilidade. Embora este conceito venha sendo tratado como teoria pura, traz identificações de como podemos criar
programas e abordagens na qual os indivíduos participem do trabalho coletivo em prol de um bem comum (Schild, 2015). Em
reconhecimento à complexidade dos desafios ambientais, a pesquisa sobre aprendizado em política ambiental cresceu
substancialmente nas últimas duas décadas e a proposta de ações participativas vem dando voz às pessoas na tomada de
decisões ambientais locais (Gerlak et al, 2018).
Neste contexto a abordagem da ciência cidadã traz a aproximação da sociedade com a pesquisa, considerando a
possibilidade da inserção na intitulada “cidadania científica” quando o público se envolve mais profundamente no diálogo e na
tomada de decisões em relação às questões relacionadas a riscos e ameaças ambientais (Bonney et al., 2016). Abordagens de
ciência cidadã podem envolver distintos grupos sociais, desde organizações civis voluntárias até grupos formadores como
escolares, sendo necessário definir que os resultados a serem alcançados sejam parte de um interesse amplo comum na

1330
proposição de ciência e tecnologia como melhoria de qualidade de vida (Stilgoe et al, 2014). Estas abordagens quando de
interesse de ambos os públicos envolvidos tem ganhado destaque e, tomadores de decisão e organizações não governamentais
têm aumentado o uso de cidadãos voluntários para melhorar sua capacidade de monitorar e gerenciar recursos naturais, rastrear
espécies em risco de extinção e conservar áreas protegidas (Conrad & Hilchey, 2011).
Associado às questões de envolvimento da população na pesquisa científica, as ações atuais de sustentabilidade têm
como importante foco um plano de ação global conjunta da ONU que são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), propostos em 2015. Estes objetivos, composição da Agenda 2030, vieram como sucessão dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM) ampliando o escopo do trabalho (Ashley, 2015). Neste novo documento, 17 objetivos
globais e 169 metas consideram a prosperidade do planeta, das presentes e futuras gerações e, ações participativas que
envolvam a manutenção dos recursos hídricos se incorporam na perspectiva do objetivo de “água limpa e saneamento”, com o
foco de garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para toda a população (PNUD, 2015).
Na perspectiva de se alcançar os ODS, as leis ambientais tornam-se o foco de ações de diferentes setores como
empresas, órgãos públicos, organizações não governamentais, sociedade civil organizada que, para se fomentar de bases
conceituais e tecnológicas robustas, tem se aproximado dos centros de pesquisa e universidades. O setor produtivo tem se
tornado cada vez mais sustentável com estratégias operacionalizadas de longo prazo e um conjunto abrangente de
responsabilidades, com foco em práticas éticas, funcionários, meio ambiente e clientes (Ameer & Othman, 2012). Com base
neste novo foco de soluções ambientais, o setor produtivo e os centros de pesquisa têm fortalecido parcerias para
implementação de ações de educação ambiental participativas que envolvam diferentes setores sociais. Estas ações têm como
base a legislação brasileira que determina leis e diretrizes federais e estaduais, dentre elas a Política Nacional de Educação
Ambiental-PNEA (Lei n° 9.795/1999) e a Deliberação Normativa do Programa de Educação Ambiental-PEA (COPAM n°
214/2017) (Brasil, 1999; COPAM, 2017). Diante das diversas ações focadas em atividades que envolvam a sustentabilidade
pelo setor público para organizações do setor produtivo, muitos projetos inovadores estão sendo desenvolvidos, abrindo
caminho para intervenções eficientes voltadas para a mobilização das comunidades e o desenvolvimento de um capital social
sustentável (Cardoso, 2004).
A abordagem fomentada em bases conceituais geradas pela pesquisa científica é uma das principais causas de sucesso
de ações que envolvem diferentes setores, especialmente quando o assunto é sustentabilidade. Ações que envolvam a
abordagem da manutenção ou recuperação de recursos hídricos associadas a participação da comunidade podem se tornar uma
das principais formas de conservação de ecossistemas aquáticos continentais (França et al., 2019). Nesta perspectiva, nosso
objetivo é relatar atividades de ciência cidadã sobre conservação e sustentabilidade de rios urbanos com diferentes setores da
sociedade civil na porção sul da Serra do Espinhaço (MG).

Material e Métodos
As atividades foram realizadas entre os anos de 2012 e 2017 na região central do estado de Minas Gerais. Para cada
público alvo realizamos atividades distintas com abordagens e bases conceituais individualizadas.

Atividades de longa duração para adultos:


Curso de Capacitação para professores do ensino fundamental e médio e, colaboradores do setor produtivo: Realização de
atividades teóricas e práticas com duração de 30 a 60 horas, dividida em etapas:
Etapa teórica - envolvendo discussão de aspectos relacionados (i) conservação de biodiversidade aquática; (ii)
biomonitoramento de bacias hidrográficas com ênfase em ecologia de macroinvertebrados bentônicos; (iii) mobilização social;
(iv) processos ecológicos; (v) conservação da biodiversidade de peixes e (vi) conservação da biodiversidade de mamíferos.
Etapa prática - realização de atividades em campo e laboratório, envolvendo os temas: (i) uso e ocupação da terra; (ii)
manutenção zonas ripárias; (iii) diversidade habitats e diversidade biológica em riachos de cabeceira; (iv) impactos ecológicos
sobre ecossistemas aquáticos; (v) observação e identificação de pegadas de mamíferos.

Atividades de média duração para adultos:


Curso de Capacitação para professores do ensino fundamental e médio e, colaboradores do setor produtivo
Realização de atividades teóricas e práticas com duração de 4 a 8 horas, dividida em etapas:
Etapa teórica - envolvendo discussão de aspectos relacionados ao biomonitoramento de bacias hidrográficas com ênfase em
ecologia de macroinvertebrados bentônicos e propostas de divulgação da ciência.
Etapa prática - realização de atividades em campo e laboratório, envolvendo a mensuração de habitats físicos, parâmetros
físicos e químicos de coluna d’água e sedimento e comunidades bentônicas.

Atividades de curta duração para adultos:


Palestras e Exposições Interativas para colaboradores do setor produtivo
Apresentações interativas com duração de 15 a 60 minutos.
Exposições teóricas e participativas envolvendo os temas relacionados a importância dos ecossistemas aquáticos como
fornecedores de bens e serviços ecossistêmicos.

1331
Atividades de longa duração crianças e adolescentes:
Monitoramentos participativos da qualidade ecológica de riachos
Acompanhamento de um ecossistema aquático por estudantes de ensino básico ao longo de 1 ano letivo, dividido em etapas:
Etapa 1 - capacitação de profissionais de ensino básico (Fundamental I, Fundamental II e ensino Médio) com base na
abordagem “qualidade ecológica de águas urbanas”, tendo como meta oferecer aos participantes (especialmente professores)
informações para preparação e acompanhamento de estudantes do ensino básico. Etapa 2 - treinamento com base na
abordagem “monitoramento de qualidade ecológica de águas”, tendo como meta oferecer aos participantes (especialmente
estudantes) informações para realização de um monitoramento participativo, através de metodologias participativas
simplificadas de avaliação ecológica. Após a capacitação de professores e treinamento de seus estudantes, a comunidade
escolar estava apta a realizar Etapa 3 - avaliação ecológica de ecossistemas aquáticos, baseada nos parâmetros, propostos por
França & Callisto (2019): (i) Índice Local – avaliação das condições ambientais do entorno do trecho estudado que considera a
influência na área ripária; (ii) Índice Regional - avaliação das condições ambientais do uso e ocupação da terra em uma área de
influência da sub-bacia hidrográfica que considera a influência na região de entorno da bacia; (iii) Qualidade Química E Física
De Coluna D’água - avaliação de parâmetros físicos e químicos que considera como as influências do entorno afetam a
qualidade da coluna d’água e; (iv) Índice Biológico - avaliação simplificada da comunidade de bioindicadores bentônicos, que
considera o quanto todas essas influências em conjunto, afetam a composição e estrutura da comunidade biológica. Ao fim do
ano letivo, após o acompanhamento das atividades pela equipe e monitoramento de um curso d’água pelas escolas de ensino
básico, foi realizada a Etapa 4 - Seminário para apresentação dos resultados e troca de experiências para os estudantes e
professores parceiros do monitoramento participativo. Os dados obtidos com este estudo foram validados pelos pesquisadores
envolvidos e disponibilizados à comunidade com o intuito de se estimular uma rede de acompanhamento dos cursos d’água da
região.

Atividades de média duração para crianças e adolescentes:


Atividade de participação “um dia de cientista”
Realização de atividades teóricas e práticas com duração de 7 horas, com a proposta didática indicada para contemplar
estudantes a partir do 8º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio.
Estas atividades foram oferecidas com os seguintes temas propostos e selecionados pelas escolas participantes: (i) Água um
recurso fundamental para a vida no planeta; (ii) Ciência Cidadã com bioindicadores bentônicos de água; (iii) Sem as matas
ciliares não há vida nos rios; (iv) Gestão e saúde: o recurso água na sociedade brasileira.

Atividades de curta duração para crianças e adolescentes:


Palestras e Exposições Interativas para estudantes de ensino fundamental e médio
Exposição interativa com duração de 30 minutos por turma, para estudantes de ensino infantil, fundamental e médio, com o
tema “Está limpo? Ou poluído? Quem vive no rio responde!

Resultados
Ao longo de 7 anos de projeto as atividades de ciência cidadã foram realizadas com 492 adultos e 4.728 crianças e
adolescentes, nos municípios de Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Itabirito, Moeda, Ouro Branco e Ouro Preto, no estado de
Minas Gerais.
Além do público alvo envolvido na comunidade “não científica” participaram do processo 13 profissionais entre
professores, pesquisadores palestrantes e biólogos, 10 estudantes de pós-graduação e 10 estudantes de graduação, incluindo a
realização de um trabalho de conclusão de curso, salientando a importância do perfil formador destes projetos na linha de
extensão acadêmica.

Atividades de longa duração para adultos:


Curso de Capacitação para professores do ensino fundamental e médio e colaboradores do setor produtivo
Participaram destas atividades 103 adultos entre professores e colaboradores do setor produtivo envolvidos em suas atividades
diárias com os temas abordados. Esta atividade teve 97% de aprovação dos participantes sobre as “expectativas atendidas pelo
curso” (Figura 1).

1332
(A) (B)

Figura 1: Curso de Capacitação de longa duração para adultos onde: (A) dinâmica da atividade - biomonitoramento de
bacias hidrográficas e (B) atividade prática em laboratório - identificação de organismos aquáticos.

Atividades de média duração para adultos:


Curso de Capacitação para professores do ensino fundamental e médio e, colaboradores do setor produtivo
Participaram destas atividades 180 adultos entre professores, colaboradores, estudantes de graduação e pós-graduação de
instituições da região e membros da sociedade civil organizada interessados na abordagem relacionada a meio ambiente. Esta
atividade teve 95,3% de aprovação dos participantes sobre o conteúdo, a inovação, o dimensionamento, do tempo e a utilidade
das atividades realizadas em suas profissões (Figura 2).

(A) (B)

Figura 2: Curso de Capacitação de média duração para adultos onde: (A) atividade prática de campo – avaliação
biológica de qualidade de águas e (B) atividade prática em laboratório – avaliação física e química de coluna d’água.

Atividades de curta duração oferecida para adultos:


Palestras e Exposições Interativas para colaboradores do setor produtivo
Participaram destas atividades 209 adultos entre professores, colaboradores e seus grupos familiares em busca de informações
sobre o tema meio ambiente e atividades internas inovadoras (Figura 3).

1333
(A) (B)

Figura 3: (A) Palestra e (B) Exposição Interativa para colaboradores do setor produtivo.

Atividades de longa duração para crianças e adolescentes:


Monitoramentos participativos da qualidade ecológica de riachos
Participaram destas atividades 836 estudantes do ensino básico, envolvendo Fundamental I (9-10 anos), Fundamental II (11-14
anos), Médio (15-17 anos) e Técnico (18-21 anos). Nesta atividade foram avaliados 26 ecossistemas aquáticos inseridos em 6
municípios do estado de Minas Gerais (Figura 4).

(A) (B)

Figura 4: Monitoramentos participativos da qualidade ecológica de riachos, onde (A) amostragem e (B) triagem de
organismos bentônicos para avaliação ecológica de ecossistemas aquáticos.

Atividades de média duração para crianças e adolescentes:


Atividade de participação “um dia de cientista”
Participaram destas atividades 719 estudantes do ensino básico, envolvendo Fundamental II, à partir do 8° ano (14-15 anos) e
Médio (15-18 anos). Esta atividade teve como proposta apresentar a profissão de cientista/pesquisador para os futuros
profissionais e pretensos universitários (Figura 5).

1334
(A) (B)

Figura 5: Atividades “Um dia de Cientista”, onde (A) discussão sobre o uso de metodologias científicas, proposição de
perguntas e hipóteses e (B) aplicação do método científico através da avaliação de parâmetros físicos e químicos de
coluna d’água.

Atividades de curta duração para crianças e adolescentes:


Palestras e Exposições Interativas para estudantes de ensino infantil, fundamental e médio
Participaram destas atividades 3.173 estudantes do ensino Infantil (2 a 5 anos), Fundamental (6 a 14 anos) e Médio (15 a 18
anos) de 37 escolas de ensino básico e, visitantes espontâneos das atividades realizadas para o Fórum Mundial da Água em
2018 (Figura 6).

(A) (B)

Figura 6: Exposição Interativa para crianças e adolescentes com a proposta: Está limpo? Ou poluído? Quem vive no rio
responde!”, ressaltando a importância da biodiversidade aquática para o público infanto-juvenil.

Discussão
Nós demonstramos que, com uma abordagem embasada cientificamente, diversos públicos sociais podem ser
acolhidos com informações relevantes e fundamentadas sobre conservação de ecossistemas aquáticos e manutenção de bens e
serviços ecossistêmicos, essenciais para a proposta de sustentabilidade da OMS (?).
Estamos na era da “crise ambiental global”, uma definição bastante real para a situação ambiental do século XXI,
quando as questões ambientais e sociais desafiam a nossa capacidade de abordá-las e resolvê-las (Schild, 2016). A gestão de
águas tem potencial de se tornar prática e democrática desde que envolva, além do poder público e sociedade civil, os usuários
residentes em bacias hidrográficas (Guivant & Jacobi, 2003). Nesse contexto, a disseminação de conhecimentos técnico-
científicos é importante na gestão de bacias hidrográficas, envolvendo a comunidade nas inovações da ciência e tecnologia
(Gianasi & Campolina, 2016). O envolvimento da comunidade em atividades que envolvam monitoramentos e importância da
manutenção de qualidade de águas, sob a perspectiva de bacias hidrográficas, é uma maneira de estimular a formação crítica e
a reflexão em relação aos problemas ambientais locais e regionais, além de proporcionar a busca de uma gestão descentralizada

1335
e integrada de recursos hídricos (Gianasi & Campolina, 2016; França & Callisto, 2017). Para a formação de uma consciência
ambiental em busca do manejo adequado de recursos hídricos, é fundamental que os métodos de análises disponíveis sejam
simples e eficazes na detecção de problemas ambientais (Buss, 2008). Além disso, o uso de diferentes abordagens e linguagens
de fácil compreensão em atividades de ensino e extensão contribui para uma melhor assimilação de conceitos teóricos e amplia
conhecimentos sobre o funcionamento de ecossistemas aquáticos em bacias hidrográficas (Callisto et al., 2002).
Atividades propostas por diferentes setores relacionadas as questões ambientais têm atraído muito interesse nas
últimas décadas. Embora a sociedade considere que o setor produtivo contribua significativamente para a degradação
ambiental, é de conhecimento comum também o seu grande potencial no apoio da conservação ambiental (Robertson &
Barling, 2017). Uma das maneiras mais claras do setor produtivo contribuir para a conservação ambiental tem sido buscar
parcerias com instituições de ensino e propor ações de mobilização com a comunidade de seu entorno. A população que
participa de ações que abordem a importancia da manutenção de ecossistemas e consequentemente, seus bens e serviços,
adquire embasamento para a discussão de um comportamento pró-ambiental (Ardoin et al., 2013), porém as maneiras pelas
quais esses comportamentos devam ser operacionalizados e avaliados podem variar substancialmente. As populações humanas
têm, sem dúvidas, interesse e deveres em relação a manutenção dos bens e serviços ecossistêmicos oferecidos pela natureza,
sendo o eixo principal na relação entre consumo, produção e degradação. Na atual era do desenvolvimento sustentável um bom
planejamento requer o envolvimento de vários parâmetros de referência, como técnico, social, econômico e ambiental e,
abordar questões ambientais para a população se torna um apoio extra aos tomadores de decisão (Kumar et al., 2017).
Na perspectiva dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) ações de esforço mútuo devem ser adotadas e
relações de compromisso minimizadas para que a agenda alcance seu potencial. A pesquisa e as evidências científicas têm um
papel importante no desempenho e na facilitação da implementação dos ODS por meio de avaliações e engajamento de
políticas das escalas global para local (Bhaduri et al., 2016). Quando abordamos e envolvemos a sociedade de seis municípios
que estão interligados através do setor produtivo, com a proposta de discutir sustentabilidade através de ações que envolvam a
pesquisa, nós temos como perspectiva o alcance mundial aos ODS. Neste estudo, relatamos ações especialmente desenvolvidas
sobre questões que discutam a importância da manutenção dos ecossistemas aquáticos como fornecedores de bens e serviços
ecossistêmicos, garantia de disponibilidade e manejo sustentável (PNUD, 2015).
A legislação brasileira que aborda programas e deliberações sobre Educação Ambiental normalmente não especifica
critérios para determinação da vulnerabilidade ambiental em suas diferentes dimensões, considerando que cada localidade tem
suas especificidades e complexidades inerentes ao seu contexto político, social e econômico. Porém, algumas considerações
denotam ênfase na participação e na construção da cidadania política no processo de gestão ambiental, com base em proposta
crítica, emancipatória, transformadora (Costa & Machado, 2017). Na dimensão da ecologia política, o ambiente pode ser
analisado em associação, colocando a natureza como categoria fundamental para pensar a organização da sociedade (Loureiro,
2012).
Utilizar os resultados de pesquisa científica através de ações que considerem diferentes públicos e linguagens
diferenciadas para abordar a sustentabilidade, especialmente em relação a manutenção e recuperação de recursos hídricos, traz
a proposta de envolver a população em uma organização político-ambiental. Esperamos que estas ações possam ser o início de
um trabalho conjunto em prol de se alcançar o desenvolvimento sustentável através da participação da comunidade de seis
municípios da porção sul da Serra do Espinhaço (MG). Nossas atividades foram realizadas junto a 5.220 pessoas que, a partir
de então, poderão dialogar com mais segurança com tomadores de decisão sobre conservação de ecossistemas aquáticos
continentais e sua importância para o alcance da sustentabilidade.

Considerações Finais
Nossas atividades em ciência cidadã para diferentes segmentos sociais representa uma experiência exitosa para capacitar
a sociedade e, posteriormente atenuar impactos em ecossistemas aquáticos continentais. Em busca de se alcançar metas de
desenvolvimento sustentável e aplicar legislações ambientais a afiliação de diferentes setores como a universidade e o setor
produtivo podem ser eficazes para melhorar o envolvimento da população humana na gestão ambiental, facilitando a
produtividade e as colaborações interdisciplinares, intersetoriais e interinstitucionais.

Agradecimentos
Os autores são gratos aos demais colegas do Laboratório de Ecologia de Bentos da UFMG e do Programa Gerdau
Germinar pelo apoio nas atividades realizadas. À Gerdau SA pelo financiamento, Á CEMIG – P&D Aneel GT-599, à
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo suporte
financeiro ao projeto. JSF é bolsista do Programa de Capacitação Institucional CNPq-INMA/MCTIC. MC é bolsista de
produtividade CNPq (Processo 303380/2015-2) e pesquisador mineiro FAPEMIG (PPM 00104-18).

1336
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1338
5SSS287
METODOLOGIA DE REVISÃO ENERGÉTICA BASEADA NA NBR
ISO 50001 APLICADA EM UM EMPREENDIMENTO FRIGORÍFICO
Alessandra Jaine Moraes de Oliveira1, Samara Correa Mendes2, Lucas Kister Amaral3, Barbara Janaina
Moraes de Oliveira4, Nilzo Ivo Ladwig5,
1
Universidade do Extremo Sul Catarinense, e-mail: alessandra.ambiens@gmail.com; 2 Universidade do Extremo Sul
Catarinense, Santa Catarina, e-mail: samaraa.correa@gmail.com; 3 Universidade do Extremo Sul Catarinense, e-mail:
lucas.sustantavel@gmail.com; 4Universidade do Extremo Sul Catarinense, e-mail: barbara.moraes@hotmail.com;
5
Universidade do Extremo Sul Catarinense, e-mail: ladwig@unesc.net

Palavras-chave: Energia. Eficiência; Gestão; Organização.

Resumo
Ao longo da história da humanidade a demanda de energia aliada à escassez dos recursos naturais é um dos desafios, frente à
demanda e ao uso abrangente de fontes não renováveis. A exploração em alta escala dos recursos disponíveis no planeta
evidencia a necessidade de gerir energia, isto é, utilizá-la de forma eficaz e eficiente. Diante desse texto é notável a
importância do uso racional e consciente deste recurso juntamente com projetos de eficiência energética que são apontados
como alternativas para a resolução de conflitos relacionados à sua demanda. Este artigo tem como objetivo desenvolver uma
metodologia de revisão energética para um empreendimento frigorífico localizado no Sul de Santa Catarina, com foco na NBR
ISO 50001 – Sistemas de Gestão de Energia (SGE) – lançada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em 15
de junho de 2011. Para tanto, foi realizado um aprofundamento no tema objeto da pesquisa por meio da revisão bibliográfica,
sucedida pela realização de um diagnóstico energético preliminar na organização de estudo, utilizando a aplicação de um
checklist dos requisitos estabelecidos pela ISO 50001, e um levantamento dos aspectos energéticos e tarifários do
empreendimento. Dos resultados obtidos no diagnóstico, foi elaborada uma metodologia de revisão energética para a
organização, estabelecendo fronteiras, relacionando as fontes energéticas com os usos significativos de energia e visando a
aplicação de cinco módulos temáticos a serem abordados na revisão, sendo eles: Sistema de Iluminação; Sistema de
Climatização; Motores Elétricos, Sistema de Refrigeração e Sistema de Geração de Vapor. Foram propostos Indicadores de
Desempenho Energético a serem adotados pela organização para avaliação do desempenho energético, bem como analisado
um benchmarking do ramo, que permitiu inferir que o empreendimento ainda não possui um alto desempenho energético em
sua planta. Conclui-se que as práticas de gestão de energia são inexistentes dentro da organização, e que é necessária a
validação da metodologia desenvolvida para legitimar as variáveis consideradas relevantes para revisão energética.

Introdução

A energia é um insumo substancial no dia a dia das organizações, qualquer que seja o setor ou atividade econômica à qual elas
pertencem (FOSSA; SGARB, 2018). Em organizações desprovidas de uma estrutura baseada no uso racional de energia,
fatores como o consumo descontrolado de eletricidade e/ou a utilização de equipamentos ineficientes, tornam a energia um
insumo crítico em suas operações. Este fato reflete diretamente na elevação das despesas, e pode se tornar um aspecto limitante
ao crescimento para atividades econômicas em geral.
Nessa perspectiva, o estabelecimento de práticas e métodos com enfoque na melhoria do desempenho energético podem
promover benefícios para as organizações, principalmente pelo aumento da eficiência de máquinas, equipamentos e processos,
o que reflete diretamente na redução dos gastos com energia. Além disso, o aumento da eficiência do uso de energia,
principalmente em grandes consumidores, demonstra-se como alternativa para evitar riscos de racionamento e geração de
impactos ambientais associados à implantação de novos empreendimentos energéticos.
De acordo com Santos et al. (2006), para a promoção da eficiência energética, é primordial o desenvolvimento de técnicas e
procedimentos baseados em conceitos da engenharia, economia e gestão, que culminem em um diagnóstico preciso da situação
energética da organização, para assim definir as melhores práticas energéticas a serem adotadas. Entre as metodologias
existentes, destaca-se a Norma ABNT NBR ISO 50001:2018, a qual propõe métodos para a implementação de um Sistema de
Gestão de Energia.
Na perspectiva da implementação de um sistema de energia eficiente, essa pesquisa propõe desenvolver uma metodologia de
revisão energética para um empreendimento frigorífico localizado no Sul de Santa Catarina, com foco na NBR ISO 50001 –
Sistemas de Gestão de Energia (SGE) – lançada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em 15 de junho de
2011.

1339
Material e Métodos

Caracterização da organização

A pesquisa foi desenvolvida em um empreendimento frigorífico localizado no município de Armazém, estado de Santa
Catarina. A organização se caracteriza como um empreendimento de grande porte possui como atividades econômicas
principais: o abate de suínos; a produção de carne in natura congelada e frigorificada de suínos em carcaças ou em peças; a
preparação de produtos de carne e de conservas de carne e de subprodutos, e a preparação de produtos de salsicharia e outros
embutidos de carne de suínos. Atualmente a empresa possui um quadro de 139 colaboradores.

Revisão Bibliográfica

Sob o ponto de vista da sua natureza, esta é uma pesquisa do tipo aplicada, com o “[...] objetivo de gerar conhecimentos para
aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos” (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 51). Quanto à forma de
abordagem do problema, a pesquisa caracterizou-se como qualitativa, tendo o ambiente como fonte direta dos dados. No que
tange os objetivos, a pesquisa pode ser classificada como descritiva, estando diretamente associada ao tipo de abordagem do
problema. Esta tipologia baseia-se na utilização de técnicas padronizadas de coletas de dados, tais como o checklist e a
observação sistemática (GIL, 2007). Visando alcançar os objetivos estabelecidos inicialmente, a pesquisa foi segmentada em
etapas, as quais são evidenciadas e detalhadas nos itens posteriores.
A pesquisa iniciou-se por meio da realização da revisão bibliográfica. Nesse primeiro momento também foram explicitados os
principais termos técnicos e conceitos a serem adotados. Assim, foram consultadas principalmente as normas da família NBR
ISO 50001 artigos em periódicos nacionais e internacionais, monografias, dissertações, planos governamentais, dentre outros
documentos focados em estudos de caso da ISO 50001.

Diagnóstico Energético Preliminar

Esta etapa compreendeu a realização de um diagnóstico energético no empreendimento objeto do estudo, pertencente ao ramo
frigorífico, que consistiu no levantamento dos principais aspectos energéticos da organização, a fim de subsidiar o
desenvolvimento da metodologia de revisão energética. Durante o diagnóstico também foi aplicado um checklist da Norma
ABNT NBR ISO 50001:2018 de forma global na organização, com objetivo de identificar a situação do empreendimento
quanto ao atendimento dos requisitos de implantação de um Sistema de Gestão de Energia.
Os requisitos abrangidos pelo questionário compreenderam aqueles em que possuem relação direta com o desenvolvimento da
revisão energética, sendo eles: sistema de gestão de energia (4.4); revisão energética (Item 6.3); indicadores de desempenho
energético (Item 6.4); projeto (Item 8.2); aquisições (Item 8.3); monitoramento, medição, análise e avaliação do desempenho
energético e do SGE (Item 9.1); e avaliação de compliance com requisitos legais e outros requisitos (Item 9.1.2).
O checklist aplicado baseou-se na metodologia de Bergesch, Salvador e Brondani (2014), os quais propuseram a representação
dos requisitos na forma de questões objetivas com três alternativas: não, sim e parcialmente atendido.
Ainda foi realizada uma análise histórica dos últimos 24 meses das faturas de energia elétrica da organização, para obtenção de
uma visão sistêmica dos gastos com o fornecimento de energia elétrica. Para tanto, foram analisados os seguintes fatores:
• Consumo de energia: quantidade de potência elétrica consumida em um intervalo de tempo, expresso em
quilowatt-hora (kWh) (MONQUEIRO, 2018);
• Demanda contratada: demanda de potência elétrica a ser disponibilizada obrigatoriamente e continuamente pela
concessionária na unidade consumidora, expressa em quilowatt (kW) (BRASIL, 2010);
• Demanda faturável: demanda da potência elétrica considerada para fins de faturamento, com aplicação da
respectiva tarifa, expressa em quilowatt (kW) (BRASIL, 2010);
• Horário de ponta: período de três horas em que a tarifa é mais cara, correspondente ao horário de maior consumo
da concessionária;
• Horário fora ponta: Período correspondente às demais 21 horas;
• Fator de potência: razão entre a energia elétrica ativa e a energia elétrica aparente ou total, consumida num
mesmo período especificado (MONQUEIRO, 2018);
• Período Seco: compreende o período entre junho a dezembro, caracterizado pelo baixo índice pluviométrico
(MONQUEIRO, 2018);
• Período Úmido: compreende o período entre janeiro a maio, caracterizado pelo alto índice pluviométrico
(MONQUEIRO, 2018).

1340
Desenvolvimento da metodologia de Revisão Energética

Diante dos resultados obtidos no diagnóstico, foi desenvolvida uma metodologia de revisão energética com base na norma
ABNT NBR ISO 50001:2018 para o empreendimento de estudo. Para tanto, foram seguidos os passos elencados a seguir:

 Delimitação das Fronteiras: Determinação de área ou atividades que serão abrangidas pela revisão energética dentro
da organização, podendo ser em nível de equipamento, instalação, processo ou em conjunto destes.
 Identificação das Fontes de energia: Levantamento das atuais fontes de energia, que podem incluir, entre outras,
eletricidade, gás natural, óleo combustível, biomassa ou energia fornecida externamente, como ar comprimido, água
quente e vapor (ABNT, 2016).
 Identificação dos Atuais usos significativos e consumo de energia: Relação das fontes aos usos significativos de
energia através da listagem dos sistemas, processos e equipamentos que consomem energia.

Baseando-se na relação entre as fontes energéticas e aplicação na fronteira delimitada, foram propostos módulos temáticos para
a avaliação dos usos e consumos de energia que, segundo Frozza (2013), consistem em segmentos importantes para a análise
da gestão energética. Para cada módulo temático foram levantados os fatores influenciadores na revisão energética e
estabelecida a abordagem necessária para obtenção dos dados relevantes. A abordagem compreendeu o estabelecimento de
parâmetros qualitativos e quantitativos para alcance dos objetivos da revisão, bem como o método de medição realizado.

Estabelecimento de Indicadores Energéticos

Usando o diagnóstico interno do empreendimento, foi possível definir Indicadores de Desempenho Energético estratégicos,
tanto para a realização da revisão energética, como para a implantação de um Sistema de Gestão de Energia, permitindo sua
utilização para controle do consumo de energia e para comparação com benchmarking existente no ramo de atuação.

Resultados e Discussão

Aplicação de Checklist dos requisitos da ISSO 50001

A aplicação do checklist de verificação dos requisitos da Norma ABNT NBR ISO 50001:2018 possibilitou constatar que a
organização não tem implementado um SGE e, até a realização deste estudo a diretoria não possuía conhecimento sobre a
normativa. Ainda, no que se refere as práticas de eficiência energética, observou-se que esta é incipiente dentro do
empreendimento, o que resultou no não atendimento de grande parte dos quesitos que foram analisados.
Dentre os 22 quesitos analisados, apenas 1 foi atendido, o qual se refere à consideração do desempenho energético no projeto
de instalações, equipamentos, sistemas ou processos. Por meio de vistoria in loco, foi possível identificar os esforços da alta
direção em priorizar a substituição de tecnologias obsoletas por novas de maior desempenho energético, principalmente em
equipamentos do processo produtivo, juntamente com a automatização dos sistemas, como verificado no sistema de
iluminação, comandado por sensores de presença.
Contudo, estas mudanças são consideradas pontuais, podendo acarretar uma economia quando instaladas, mas que devido à
falta de um acompanhamento ao longo do tempo, podem acabar não tendo um retorno econômico e energético como o
esperado. Não há nenhuma prática de gestão energética ou revisão energética utilizada pela organização. As manutenções nas
instalações e nos equipamentos são realizadas apenas como solução de problemas e como manutenção preventiva, não para um
controle e monitoramento do consumo e de eficiência energética.
Além disso, não há um controle dos consumos e dos gastos financeiros com fontes energéticas utilizadas no empreendimento,
o que dificulta a realização de um diagnóstico energético aprofundado, haja vista que a análise histórica dos insumos
energéticos é descrita como uma etapa fundamental para o sucesso de uma revisão energética. Também não se constata a
utilização de indicadores de desempenho energético, mesmo que de forma indireta.

Análise Tarifária

De acordo com Frozza (2013) o entendimento das tarifações da conta de energia é de extrema importância para a realização de
um contrato favorável com a concessionária, evitando multas por ultrapassagem de demanda ou gastos desnecessários com um
consumo de energia muito abaixo do contratado.
A organização enquadra-se na classe de consumidores de alta tensão, especificadamente no Grupo A e Subgrupo A4 que,
segundo o Art. 2º, inciso XXVII da Resolução Normativa nº 414, de 9 de setembro de 2010 da ANEEL, consiste em um
grupamento composto de unidades consumidoras com fornecimento em tensão entre 2,3 kV e 25 kV (BRASIL, 2010). De

1341
acordo com Monqueiro (2018), a cobrança de energia nesse tipo de consumidor é baseada em três componentes, a saber, TE
(Tarifa de Energia), a TUSD (Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição) e a demanda contratada.
O empreendimento possui um único relógio medidor de energia. Devido isso, não foi possível analisar e mensurar o consumo
de energia elétrica diretamente na fronteira definida, pois a empresa possui diversos setores e áreas produtivas. Analisando o
consumo de energia elétrica da empresa como um todo no ano de 2017 (Figura 2), mensurou-se um consumo total de
1.498.919 kWh, resultando em um gasto de R$ 605.095,67, entre o período de maio a dezembro. Foi possível constatar que
este consumo está concentrado no horário fora de ponta, que corresponde a 98,8% do consumo faturado, uma vez que a
organização possui dois geradores de energia que operam no horário de ponta, compreendido entre às 18h30 minutos e 21h30
minutos.
Apesar da existência dos geradores registrou-se um consumo na ponta em 7 meses do ano. Porém, este consumo não foi
significativo em relação ao consumo total, representando, na grande maioria desses meses, um percentual igual ou inferior a
1,5% do consumo de energia elétrica final.
Observou-se também um maior consumo energético nos meses que compreendem a primavera e o verão, também associados
ao final do período seco e durante o período úmido. Tal fato pode ser justificado pelo aumento das temperaturas neste período,
que acarreta em uma maior utilização de equipamentos de refrigeração e climatização.

Figura 2: Consumo de energia elétrica, janeiro a dezembro de 2017 (kWh).

No que diz respeito ao ano de 2018, constatou-se um consumo total de energia elétrica de 2.028.331 kWh, resultando em um
gasto anual de R$1.206.201,84 e um aumento no consumo de aproximadamente 36% em relação ao ano anterior, como pode
ser observado na figura 4. Esta elevação foi resultado da compra de maquinários novos e, consequentemente, aumento da
produção. Apesar do aumento no consumo total, houve uma redução no consumo durante o período de ponta, que representou
apenas 0,25% do consumo final.
Assim, como no ano anterior os maiores consumos foram registrados nos meses que compreendem o verão ou período úmido,
devido a fatores climáticos. Os consumos registrados no ano de 2018 são apresentados na figura 3.

1342
Figura 3: Consumo de energia elétrica, janeiro dezembro de 2018 (kWh).

Figura 4: Comparação do consumo de energia elétrica entre o ano de 2017 e 2018.

No que tange a demanda contratada, a qual corresponde a potência elétrica de 600 kW disponibilizada obrigatoriamente pela
concessionária, observa-se que esta estava acima do que é realmente consumido pela organização, passando a ser utilizada em
sua totalidade ou ultrapassada apenas nos meses finais do ano de 2018, como pode ser visto na Figura 5.
De acordo com Monqueiro (2018), uma demanda contratada muito acima da aferida comumente, fato este observado
principalmente no ano de 2017, significa que se está gastando desnecessariamente um valor superior de demanda. Ainda,
segundo o Autor, essa ultrapassagem da demanda contratada também incide em impactos negativos para o empreendimento,
uma vez que é passível de multas pela concessionária.
No que tange ao fator de potência, o Art. 95 da Resolução Normativa nº 414, de 9 de setembro de 2010 da ANEEL, estabelece
como limite mínimo permitido, para as unidades consumidoras do grupo A, o valor de 0,92 (BRASIL, 2010). Segundo a
Companhia Paranaense de Energia - COPEL (2019), este parâmetro demonstra se a empresa está em conformidade com
consumo de energia elétrica, sendo que quanto mais próximo de 1, maior é o aproveitamento energético e econômico do
empreendimento. Observando a Figura 6, o qual apresenta o fator de potência mensal obtido na organização em estudo,
verifica-se que os valores se encontram em conformidade com a legislação supracitada em todos os meses analisados,
chegando até mesmo no valor máximo, igual a 1, no mês de dezembro.

1343
Figura 5: Demanda contratada de potência elétrica (kW), 2017-2018.

Figura 6: Fator de potência (adimensional), abril de 2017 a dezembro de 2018.

Metodologia de Revisão Energética

Por ser um empreendimento complexo, com diferentes etapas e turnos de trabalho, estabeleceram-se como fronteiras os limites
físicos de todos os setores que compõem o empreendimento. Os setores encontram-se atualmente divididos em três
departamentos: direção geral (01 setor), administração (06 setores) e produção (52 setores). Ressalta-se que para o
departamento produtivo também foram considerados como setores as câmaras de resfriamento e congelamento, assim como as
estufas a vapor.

Identificação das fontes e dos usos significativos de energia

Através das fronteiras estabelecidas, foi possível identificar as fontes energéticas consumidas pela organização por meio do
diagnóstico in loco, observando-se principalmente as entradas e os processos envolvidos em cada setor. Com isto, foi
identificado o consumo das seguintes fontes energéticas: eletricidade, lenha, serra pilheira, ar comprimido, lubrificante (óleos e
graxas) e gás liquefeito de petróleo (GLP). Durante o levantamento foi identificado também à utilização em grande escala dos
gases amônia e freon, que apesar de não serem definidos como fontes energéticas, considera-se a análise desses fluídos

1344
relevante para determinação do desempenho energético do sistema o qual abastecem.
Os insumos energéticos identificados possuem usos específicos dentro da organização, sendo que alguns possuem um consumo
pouco significativo em relação a outros. A seleção dos usos mais significativos foi baseada apenas em observações na fronteira
e no contexto geral da organização, não sendo possível mensurar o consumo por fonte de energia devido à inexistência de
controle desses dados pelo empreendimento.
Desta forma, com base nos usos mais significativos de energia constatados, foram propostos módulos temáticos a fim de
facilitar o desenvolvimento de uma revisão energética nas fronteiras estabelecidas.
Através da análise dos usos significativos de energia, definiram-se cinco módulos temáticos a serem analisados durante a
revisão energética, sendo eles:
 Sistema de Iluminação;
 Sistema de Climatização;
 Motores Elétricos;
 Sistema de Refrigeração;
 Sistema de geração e distribuição de vapor.

A metodologia desenvolvida para a revisão energética de cada módulo temático é apresentada nos itens seguintes:

- Sistema de Iluminação

A iluminação é o único uso de energia presente em todas as fronteiras, devido à necessidade de luminosidade adequada para a
realização das atividades da organização. Durante o diagnóstico observou-se que o empreendimento já está em processo de
substituição das lâmpadas convencionais (fluorescentes e incandescentes) por diodos emissores de luz (LED), que consiste em
uma tecnologia mais eficiente e econômica de iluminação. Além disso, constatou-se que no departamento produtivo, o qual é
responsável pelo maior consumo de energia elétrica para iluminação devido aos turnos de trabalho e a quantidade de setores, o
sistema de iluminação já é gerenciado por meio de sensores de presença, o que resulta em uma maior economia de energia
elétrica ao evitar as lâmpadas acesas em áreas desocupadas.
A vista disso, para a realização da revisão energética no sistema de iluminação, estabeleceu-se como necessário a obtenção de
dados referentes ao dimensionamento adequado de iluminação para cada ambiente, bem como a análise da atual tecnologia
adotada pela organização.
Para a análise qualitativa, observou-se a necessidade da medição de iluminância que, segundo PROCEL (2011, p. 10) é
conceituado como a “densidade de luz necessária para a realização de uma determinada tarefa visual”, medido por meio de um
luxímetro e expresso em LUX (LX). Para o empreendimento em questão, o nível de iluminância, a ser medido nos planos de
trabalho de cada fronteira poderá ser comparado com os níveis adequados estabelecidos pela Norma ABNT NBR 5413:1990, a
qual estabelece a iluminância para as tipologias de interiores, conciliada com Portaria Nº 711, de 01 de novembro de 1995
(BRASIL, 1995), a qual aprova as normas técnicas de instalações para abate e industrialização de suínos, e define a
iluminância média para cada ambiente desse tipo de empreendimento.
Ainda compreendendo a análise qualitativa, faz-se necessário o levantamento das refletâncias das paredes, tetos e pisos, os
quais influenciam diretamente na eficiência do sistema de acordo com o material ou cor. O Quadro 1 apresenta uma síntese da
metodologia de revisão energética a ser adotada no sistema de iluminação.

Forma de obtenção/ instrumento de


Análise Variáveis de interesse
medição
Quantificação das lâmpadas Contagem in loco
Potência das lâmpadas (Watts) Tabela de modelos do fornecedor
Quantitativa Horas de funcionamento Levantamento junto aos colaboradores
Período de Funcionamento Levantamento junto aos colaboradores
Área construída (m²) Trena
Medição de iluminância (LX) nos planos de trabalho Luxímetro
Qualitativa Modelo das lâmpadas Observação direta
Refletâncias dos pisos, tetos e paredes Observação direta
Quadro 1: Síntese da revisão energética para o sistema de iluminação.

- Sistema de Climatização

Este módulo temático faz referência aos sistemas de ar condicionado verificados nos setores administrativos e da direção geral.
Através do diagnóstico preliminar foi possível identificar a utilização de equipamentos de condicionadores de ar obsoletos em
alguns setores, os quais possuem uma eficiência energética menor do que as novas tecnologias. Além disso, não foi possível

1345
constatar se os equipamentos se encontram dimensionados adequadamente para cada tipo de ambiente, fato este que influencia
diretamente no consumo energético do sistema.
Desta forma, considerou-se como aspectos relevantes a ser considerado na revisão energética deste módulo o levantamento de
dados concernentes à tecnologia e o dimensionamento dos atuais equipamentos existentes, a fim de verificar se estão
corretamente dimensionados e se há oportunidades de melhoria de eficiência energética nestes. O Erro! Fonte de referência
não encontrada. apresenta a síntese dos dados a serem obtidos na revisão energética para o sistema de climatização.

Forma de obtenção/ instrumento de


Análise Variáveis de interesse
medição
Quantidade de equipamentos de condicionamento de ar Contagem in loco
Potência de refrigeração dos equipamentos (BTU) Observação direta no equipamento
Quantidade de janelas no setor Contagem in loco
Quantitativa Área construída (m²) Trena
Quantidade de colaboradores Contagem in loco
Quantidade de equipamentos eletrônicos no ambiente Contagem in loco
Período de funcionamento dos equipamentos de ar condicionado. Levantamento junto aos colaboradores
Modelo dos equipamentos de ar condicionados existentes Observação direta no equipamento
Período de exposição de sol no ambiente Observação in loco
Levantamento junto a equipe de
Periodicidade das manutenções
manutenção
Qualitativa
Levantamento junto a equipe de
Periodicidade da substituição dos filtros
manutenção
Existência de dispositivos de desligamento automático Observação direta no equipamento
Altura de instalação dos equipamentos Trena
Quadro 2: Síntese da revisão energética para o sistema de iluminação.

- Motores Elétricos

Para o estabelecimento deste módulo levou-se em consideração a influência dos motores no consumo final de energia elétrica
na indústria. De acordo com Santos et al. (2006), para o setor industrial, a energia elétrica destinada ao funcionamento dos
motores de máquinas de produção corresponde a um percentual de 55%, liderando o consumo entre os módulos de iluminação
(2%), refrigeração (6%), processos eletroquímicos (19%) e aquecimento (18%). Além disso, Eletrobrás (2009) afirma que
todas as perdas e maus dimensionamentos mecânicos e deficiência nos sistemas motrizes acionados são refletidos nos motores
elétricos, o que torna a análise da eficiência energética destes equipamentos ainda mais importante.
A organização em estudo possui uma diversidade de máquinas instaladas no departamento produtivo que, segundo os próprios
colaboradores, são responsáveis por grande parte do consumo de energia elétrica do empreendimento. Desta forma, propõe-se
nesse módulo uma metodologia de revisão energética nos motores elétricos dos maquinários de produção, de forma a verificar
a adequabilidade quanto à potência de acionamento e o regime de funcionamento do sistema. Para tanto, considerou-se como
variáveis de interesse a serem obtidos os parâmetros apresentados por Szyszka e Américo (2004) e Eletrobrás (2009) para o
levantamento detalhado da eficiência energética e verificação de possíveis dimensionamentos inadequados dos motores
elétricos. No Erro! Fonte de referência não encontrada. são explicitadas as variáveis de interesse que compõem a revisão
energética deste módulo.

1346
Análise Variáveis de interesse Forma de obtenção/ instrumento de medição
Levantamento junto aos colaboradores ou
Horas de funcionamento
monitoramento da produção
Levantamento junto aos colaboradores ou
Período de funcionamento
monitoramento da produção
Potência fornecida pelo motor Wattímetro
Quantitativa Corrente de cada fase Amperímetro
Tensão entre fases Amperímetro
Potência ativa de entrada Wattímetro
Velocidade de rotação Tacômetro
Rendimento Nominal Placa do motor
Número de fases Placa do motor
Nome e/ou marca do fabricante Placa do motor
Modelo do motor Placa do motor
Potências nominais Placa do motor
Qualitativa
Tensões nominais Placa do motor
Correntes nominais Placa do motor
Velocidade de rotação nominal Placa do motor
Fator de potência nominal Placa do motor
Quadro 3: Síntese da revisão energética para motores elétricos.

- Sistema de Refrigeração

Segundo Santos et al. (2006) a refrigeração industrial possui como objetivo principal o controle da temperatura de alguma
substância ou meio, tendo como componentes básicos: bombas, tubos, trocadores de calor, ventiladores, compressores e dutos.
Este módulo temático foi estabelecido com a finalidade de revisar os aspectos energéticos do sistema de refrigeração nas
fronteiras de estudo, compostas exclusivamente pelas câmaras de resfriamento e congelamento, onde se encontram instalados
os equipamentos que compõem o sistema.
Em comparação com os módulos anteriores, este sistema possui maiores barreiras para a realização de uma revisão energética
devido à complexidade dos fatores influenciadores na eficiência energética, necessitando de um estudo aprofundado do
sistema. Diante disso, a metodologia de revisão energética para este sistema foi baseada apenas na abordagem qualitativa
descrita por Santos et al. (2006) e Frozza (2013), os quais estabelecem como parâmetros fatores relevantes a serem analisados:
 Nível de adequação da temperatura: temperaturas medidas em meios refrigerados abaixo das temperaturas
recomendadas resultam em um consumo desnecessário de energia elétrica.
 Existência de termostato ou pressostato: a existência destes acessórios constitui como uma importante
ferramenta de controle de desperdício de energia em refrigeradores dimensionados para funcionar em média 16
a 18 horas por dia;
 Controle da iluminação: A inexistência de controles automáticos de iluminação dentro de câmaras pode causar
um consumo desnecessário de energia;
 Ventiladores do condensador: É recomendado evitar a utilização de ventiladores axiais descentralizados em
relação à área responsável pela troca térmica e os colarinhos de proteção dos ventiladores devem ser mantidos
em bom estado para um correto direcionamento do ar para a troca térmica;
 Limpeza do condensador e do evaporador: a presença de sujeiras (poeiras, óleos, etc.) prejudica a eficiência
dos condensadores e evaporadores;
 Existência de separadores de óleo na saída do compressor: a falta de separadores de óleo na saída do
compressor, em instalações de grande porte, causa acúmulo de óleo do cárter em linhas de instalação,
comprometendo a eficiência do sistema;
 Instalação dos compressores em relação aos evaporadores: É recomendado que os compressores estejam
abaixo do nível dos evaporadores para evitar o acúmulo de óleo nesses equipamentos e nas tubulações.

O Quadro apresenta a síntese dos dados qualitativos a serem obtidos na revisão energética para o sistema de refrigeração.

1347
Forma de obtenção/ instrumento de
Análise Variáveis de interesse
medição
Tipologia do fluído de refrigeração Observação in loco
Temperatura no meio refrigerado Observação direta no equipamento
Temperatura recomendada para o meio refrigerado Consulta a regulamentação vigente
Existência de termostato ou pressostato Observação in loco
Qualitativa Tipologia dos ventiladores do condensador Observação in loco
Periodicidade das limpezas dos condensadores e Levantamento junto à equipe de
evaporadores manutenção
Existência de separadores de óleo na saída do compressor Observação in loco
Instalação dos compressores em relação aos evaporadores Observação in loco
Quadro 4: Síntese da revisão energética para o sistema de refrigeração.

- Sistema de Geração de Vapor

Este módulo foi estabelecido com objetivo de gua enc a gua encia energética da caldeira, responsável pela geração de
vapor que abastece as estufas e gua maquinários presentes na organização. De gua e com Santos et al (2006), a
gua encia térmica de uma caldeira pode ser calculada por duas maneiras distintas, os métodos direto e indireto. Para o
estudo em questão, considerou-se a realização da gua encia através do método indireto, que segundo Santos et al. (2006) é
baseada nas perdas do gerador de vapor para se obter a gua encia e apresenta maior precisão e confiabilidade em relação ao
método direto.
Para a realização do cálculo de gua encia por gu método é necessário à estimativa das perdas pela chaminé, por radiação e
convecção, por purgas, perdas associadas à temperatura das cinzas e ao combustível não convertido presente nas cinzas.
Sabendo-se previamente que o gerador de vapor trata-se de uma caldeira do tipo flamotubular e que o combustível utilizado na
queima é a lenha, estabeleceram-se como dados necessários a serem obtidos na revisão energética aqueles em que são
necessários para o cálculo pelo método indireto, os quais são descritos no Erro! Fonte de referência não encontrada..

Forma de obtenção/ instrumento


Análise Variáveis de interesse
de medição
Levantamento pelas notas fiscais de
Quantidade de lenha consumida
compra de lenha
Temperatura na chaminé (ºC) Amostragem
Umidade da lenha (%) Amostragem
Concentração de monóxido de carbono (CO) na chaminé Análise de gases em fonte estacionária
Concentração de oxigênio (O2) na chaminé Análise de gases em fonte estacionária
Quantitativa
Temperatura dos gases na entrada do sistema (ºC) Amostragem
Vazão de gua que entra no sistema (m³/s) Hidrômetro
Amostragem e análise de matérias
Massa de carbono presente nas cinzas (Kg de carbono/Kg de volátes e cinzas.
cinza) Carbono = 100 -% de cinzas - % de
matérias voláteis
Pressão de trabalho da caldeira (bar) Placa do equipamento
Tipologia da caldeira Placa do equipamento
Qualitativa
Eficiência Térmica (%) Calculado
Quadro 5: Síntese da revisão energética para o sistema de geração de vapor.

Indicadores de Desempenho Energético (IDEs)


Com base no levantamento dos principais aspectos energéticos do empreendimento foi possível estabelecer IDEs a serem
utilizados pela organização para o monitoramento do seu desempenho energético, estabelecimento de metas energéticas e para
fins de comparação com benchmarking existentes no ramo. Os indicadores de desempenho energético propostos são: Consumo
de energia elétrica/tonelada de produto produzido, Consumo de energia elétrica/animal abatido, Potência consumida total/
demanda contratada *100, Consumo de energia elétrica para iluminação, Consumo de energia elétrica para motores elétricos,
Consumo de energia elétrica para compressores, Consumo de lenha para geração de vapor/dia x produção.
Análise de benchmarking
Durante a realização do diagnóstico foi possível mensurar um dos IDEs propostos de forma global na organização, o qual já é
utilizado internacionalmente como benchmarking no ramo frigorífico, tratando-se da relação entre o consumo de energia
elétrica, em quilowatt-hora, por animal abatido. Para o empreendimento em questão, este indicador foi obtido da relação entre

1348
a média mensal de consumo energético, estimada em 147.178,92 kWh, e o número de animais abatidos mensalmente,
quantificado em 1.360 cabeças. O resultado obtido é apresentado na Tabela 1, juntamente com os benchmarking apresentados
por UNEP (2000) estabelecidos por níveis tecnológicos.

IDE mensurado para o Tecnologia Tecnologia Melhor


IDE Un.
frigorífico estudado Tradicional Média Tecnologia
Consumo de energia kwh/
108,22 125,0 50,0 30,0
elétrica/ animal abatido animal
Tabela 1 – Comparação entre o IDE mensurado e o benchmarking.

É importante destacar que o valor obtido do IDE do empreendimento pode apresentar uma redução devido ao fato de a planta
também trabalhar com matérias-primas externas, o que resulta em um maior consumo energético, tendo em vista que os
benchmarking apresentados relacionam-se apenas com o processamento dos animais abatidos no próprio frigorífico. Contudo,
comparando-se o IDE obtido com os benchmarking do ramo, e considerando uma possível redução no valor mensurado, infere-
se que o empreendimento ainda não possui um alto desempenho energético em sua planta, estando entre a transição da
tecnologia tradicional para a tecnologia média, podendo ser resultado de um uso ainda mínimo de técnicas e métodos de gestão
energética.

Barreiras Identificadas

Foram muitas as barreiras identificadas durante o desenvolvimento do trabalho. Grande parte destas barreiras está associada à
deficiência de um acompanhamento e um controle documental das entradas e saídas das fontes energéticas por parte da
organização, bem como registros de dados históricos. Este fato inviabilizou a validação da metodologia de revisão energética
proposta. Desta forma, torna-se imprescindível a realização de um banco de dados, o qual pode ser construído através de
planilhas eletrônicas, para o controle das entradas e saídas das fontes energéticas, com no mínimo seis meses de
acompanhamento, para assim realizar a revisão energética de forma adequada e eficiente.
Ressalta-se também a falta de modelos e estudos de revisão energética para auxiliar no desenvolvimento da metodologia, tendo
em vista que a Norma ABNT NBR ISO 50001:2018 apresenta apenas as etapas que compõem este requisito, não entrando no
mérito de sua aplicabilidade na organização. Este fato dificultou o estabelecimento de um período de amostragem necessário
para o desenvolvimento da revisão energética.
Outra dificuldade encontrada trata-se do estabelecimento de uma metodologia de revisão energética mais eficiente nos
módulos de motores elétricos e refrigeração, que devido à complexidade e diversidade de fatores influenciadores existentes,
faz-se necessário o conhecimento técnico mais aprofundado de profissionais das áreas de mecânica e elétrica para auxílio na
análise. Além disso, com o auxílio destes profissionais, outros módulos temáticos podem ser inseridos na revisão, como perdas
na distribuição de vapor, acionamentos, bombas de fluxo e ventiladores, conforme propõe Frozza (2013).

Considerações Finais
O desenvolvimento do estudo possibilitou concluir que a elaboração de uma revisão energética demanda tempo e um estudo
criterioso da organização objeto de análise, de forma que sejam definidas e obtidas as variáveis que efetivamente influenciam
no desempenho energético do empreendimento. Ressalta-se também a importância do desenvolvimento da metodologia de
revisão energética por uma equipe multidisciplinar, tendo em vista a complexidade dos processos envolvidos na conservação
de energia em um empreendimento frigorífico, que ultrapassam os conhecimentos técnicos de um profissional da área de
engenharia ambiental e sanitária. A metodologia adotada foi satisfatória e relevante no atingimento dos objetivos.
A validação da metodologia de revisão energética, apesar de não ter sido realizada, também é de suma importância para
legitimar as variáveis estabelecidas como relevantes, e identificar outras possíveis informações que não foram levantadas nesta
etapa. Desta forma, recomenda-se a validação da metodologia proposta na continuidade da revisão energética, pois o
diagnóstico realizado foi de suma importância para a determinação do levantamento dos dados necessários.
Com enfoque para a organização estudada, foi possível inferir que, apesar de se constatar a busca por tecnologias de maior
desempenho energético nos últimos anos, a prática de gestão energética ainda pode ser considerada como inexistente no
empreendimento, o que pode estar refletindo em desperdícios com gastos de energia. Outro fator identificado trata-se da
ausência de um controle das entradas e saídas das fontes energéticas por parte da organização, o que pode inviabilizar a
obtenção de variáveis relevantes durante a revisão energética e a análise de indicadores de desempenho. Diante disso,
recomenda-se a construção de um banco de dados para o controle das fontes energéticas utilizadas, antes da realização da
revisão energética proposta neste estudo na organização.
Outro aspecto importante abordado no estudo tratou-se da proposição de indicadores de desempenho energético, haja vista a
inexistência de indicadores deste gênero atualmente na organização. Com a implantação dos IDEs propostos, o
empreendimento poderá avaliar criteriosamente seu desempenho energético, bem como compará-los com o benchmarking

1349
existentes no ramo.

Agradecimentos
Agradecemos a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES e a Agência Nacional de Águas
(ANA) pela oportunidade de pesquisa e apoio financeiro para que fosse possível a realização deste estudo.

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ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 50004: Sistemas de gestão da energia:
Guia para implementação, manutenção e melhoria de um sistema de gestão de energia. Rio de Janeiro: ABNT, 2016a.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 50006: Sistemas de gestão da energia:
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1351
5SSS288
DRENAGEM URBANA CONVENCIONAL VERSUS DRENAGEM
URBANA SUSTENTÁVEL: BREVE REVISÃO DE CONCEITOS
Roberto Takeshi Nakahashi1, Murilo Camillo2, Mariana Borges Albuquerque3, Cristhiane Michiko Passos
Okawa4
1
Universidade Estadual de Maringá, e-mail: roberto.japa95@gmail.com; 2Universidade Estadual de Maringá, e-
mail: murilo.camilu@gmail.com; 3Universidade Estadual de Maringá, e-mail: bgsalbuquerqu@gmail.com;
4
Universidade Estadual de Maringá, e-mail: cmpokawa@uem.br.

Palavras-chave: Drenagem urbana sustentável, Manejo de águas pluviais urbanas, Planejamento e gestão municipal.

Resumo
Problemas de alagamentos, inundações e enchentes urbanas são comuns no Brasil, principalmente devido à falta de
planejamento no uso e ocupação do solo, que promove impermeabilização desordenada ocasionando aumento no volume e na
velocidade do escoamento superficial. Diante dessa situação, o objetivo dessa pesquisa é discorrer sobre os conceitos de
drenagem urbana convencional e de drenagem urbana sustentável. Portanto, este é um trabalho de revisão de literatura. Os
resultados mostraram que o uso de técnicas compensatórias de drenagem urbana tem se consolidado ao redor do mundo.
Conclui-se que o manejo das águas pluviais em meio urbano no Brasil deve ser realizado de maneira a considerar alternativas
de implantação de medidas estruturais e não estruturais provenientes dos conceitos de drenagem urbana sustentável.

Introdução
De acordo com o Ministério das Cidades (2005), no Brasil, mais de 80% da população vivem em regiões urbanas, enquanto
que no ano de 1950, eram apenas 36,2% da população. O crescimento da urbanização no país tem sido caracterizado
principalente pela expansão desordenada em direção às periferias (NUNES; FONSECA; SILVA, 2017).
Segundo Nunes, Fonseca e Silva (2017), o processo de urbanização promove uma ruptura das condições de equilíbrio do meio
ambiente, promovendo mudanças significativas, em especial os recursos hídricos, não apenas nos países em desenvolvimento,
mas também nos países desenvolvidos, onde há o desenvolvimento no contexto social e econômico, de acordo com os
princípios da sustentabilidade ambiental. A busca pelos projetos urbanos por processos de mitigação hidrológica está
crescendo, devido à necessidade de propor soluções inovadoras em drenagem urbana, resultando em uma maior qualidade
estética e funcional, configurando, assim, uma nova paisagem no ambiente urbano (SILVA, 2015).
A evolução da gestão das águas urbanas no Brasil passou por várias fases, por exemplo no início do século XX, com a política
de saneamento básico, e no ano de 1960 com os investimentos no tratamento de esgoto e no controle de águas pluviais. No
final da década de 90, a ciência mundial reconheceu a importância do solo e da vegetação no controle quali-quantitativo de
águas pluviais, ao promover a infiltração, evapotranspiração e o contato da água com as bactérias e plantas (SOUZA; CRUZ,
TUCCI, 2012).
O crescimento urbano nas cidades brasileiras, porém, encontra-se alicerçada na impermeabilização massiva de áreas e
canalizações artificiais, ampliando a escassez de água em função da baixa eficiência dos sistemas hídricos, contaminações e
baixo grau de reaproveitamento da água. Somente nas últimas décadas algumas cidades começaram a alterar a sua forma de
gerir o sistema de drenagem para a utilização de técnicas compensatórias de armazenamento da água de chuva para possibilitar
infiltração no solo, por exemplo, as cidades de Porto Alegre, São Paulo e Curitiba (SOUZA; CRUZ; TUCCI, 2012).
No Brasil, o termo técnicas compensatórias refere-se a sistemas e práticas que utilizam ou simulam processos naturais que
resultam em infiltração, evapotranspiração ou utilizam a água da chuva para preservar a qualidade das águas e seus ambientes
aquáticos associados. Esse sistema surgiu como uma alternativa aos processos convencionais de drenagem urbana, utilizado c
omumente para drenar o escoamento superficial das cidades para jusante (MOREIRA, 2016).
Ao redor do mundo, esse mesmo conceito possui terminologias diferentes: Sustainable Urban Drainage System (SUDS) é o
termo utilizado no Reino Unido, Low Impact Development (LID) ou Best Practice of Management (BMPs) são usados nos
Estados Unidos, Canadá e Europa continental e ainda Water Sensitive Urban Design (WSUD), usado principalmente na
Austrália. Embora as siglas e terminologias sejam distintas, todas abordam uma nova perspectiva para o ciclo urbano da água,
contribuindo, assim, para a implementação de ações e representando um elemento importante para a gestão de águas pluviais
usando o conceito da sustentabilidade (SILVA, 2016).
Nesse contexto, o objetivo dessa pesquisa é discorrer sobre o conceito das técnicas compensatórias comumente usadas para
promover drenagem urbana sustentável no Brasil e no mundo.

1352
Materiais e métodos
O método utilizado nesse estudo foi a revisão bibliográfica utilizando como base: dissertações, livros, teses e majoritariamente
artigos científicos de alta qualidade. A classificação bibliográfica apoiou-se na utilização de materiais já organizados de
diferentes autores, especialmente em artigos científicos, tendo como benefício a possibilidade de um alcance abrangente de
dados (GIL, 2002). Com relação à abordagem do problema, classifica-se como qualitativa, uma vez que: “há um empenho em
abordar, também, o lado subjetivo dos acontecimentos, por isso o pesquisador procura depoimentos que se decompõem em
informações relevantes para a pesquisa” (SILVA; MENEZES, 2009, p. 21).

Revisão da literatura

Impermeabilização do solo e manejo de água pluviais


As chuvas intensas de grande período de retorno e os transbordamentos dos corpos d’água que cruzam as cidades geram
impactos negativos para a população urbana. As principais causas desses fenômenos são mudanças no equilíbrio no ciclo
hidrológico em regiões à montante das áreas urbanas ou a própria urbanização não planejada ou desordenada. (SILVA, 2016).
Como consequência, o volume do escoamento superficial aumenta, causando os alagamentos, as inundações e enchentes e os
impactos nas regiões densamente povoadas, tais como drenagem urbana insuficiente, maior incidência de doenças transmitidas
pela água, casas invadidas pela água com danos ao patrimônio da população, chegando a situações de óbito por acidentes de
trânsito (GONZÁLEZ; RODRÍGUEZ; PALOP, 2018).
Outro fator que se verificou nas últimas décadas, embora esteja decaindo, foi o crescimento exponencial da população
brasileira. No processo de desenvolvimento de uma cidade, por vezes, não engloba um planejamento de uso e ocupação do
solo adequado, inclusive com a falta de controle de ocupações de áreas de risco, causando uma mudança significativa na vazão
de pico e velocidade do escoamento, devido ao aumento de superfícies impermeáveis (ZHOU, 2014).
A Figura 1 mostra o efeito da urbanização sobre o escoamento superficial. Nota-se que no meio rural o hidrograma apresenta-
se mais achatado (picos menores de vazão e tempo maior de escoamento), pois ocorre infiltração nas áreas permeáveis
resultando em volume e velocidade menores do escoamento superficial. Em meio urbano, o pico do hidrograma alcança
valores maiores em um menor intervalo de tempo, pois a impermeabilização das superfícies impede a infiltração da água no
solo, resultando em aumento significativo no volume e na velocidade do escoamento superficial (PAULA, 2013).

Figura 1 – Efeito da urbanização sobre o escoamento superficial.

1353
Diante disso, a construção de cidades representou um desafio com relação aos projetos de sistemas de drenagem de águas
pluviais, pois para o cálculo das vazões de projeto era necessário adotar um coeficiente de escoamento superficial. Em muitas
cidades brasileiras esse coeficiente foi subestimado e atualmente essas cidades enfrentam diversos problemas de
subdimensionamento da capacidade de drenagem de suas galerias de águas pluviais (ZHOU, 2014). Sendo assim, os projetos
de drenagem futuros necessitam considerar um aumento mais significativo da impermeabilização do solo, além de criar leis
municipais para os novos empreendimentos que considerem a necessidade de manutenção de área permeável em escala de lote
(CAMPOS et al., 2018).

Drenagem urbana convencional


De acordo com a Lei Federal nº 11.445/2007 (BRASIL, 2007), a drenagem e o manejo das águas pluviais urbanas são
constituídos pelas atividades, pela infraestrutura e pelas instalações operacionais de drenagem de águas pluviais, de transporte,
detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas,
contempladas a limpeza e a fiscalização preventiva das redes.
Em 2016, essa redação se alterou com a Lei Federal nº 13.308/2016 (BRASIL, 2016), que determina a manutenção preventiva
das redes de drenagem pluvial como um dos princípios básicos da Federal nº 11.445/2007, tornando-se “drenagem e manejo
das águas pluviais, limpeza e fiscalização preventiva das respectivas redes urbanas: conjunto de atividades, infraestruturas e
instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de
vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas”.
O sistema de drenagem urbana convencional é dividida em microdrenagem e macrodrenagem. De acordo com Almeida e
Costa (2014), a microdrenagem trata da coleta e afastamento de águas superficiais ou subterrâneas com o auxílio de galerias
e/ou bocas de lobo, instaladas em pontos apropriados para a coleta e transporte das águas pluviais até o ponto de lançamento,
geralmente córregos ou rios. A macrodrenagem corresponde a galerias de grande porte, sendo receptores da água coletada pela
microdrenagem.
A finalidade da drenagem urbana na infraestrutura e no saneamento de uma cidade é a remoção do excesso de água das chuvas,
que não conseguiu infiltrar-se no solo de forma mais eficiente, a fim de atenuar os riscos de alagamentos e inundações
(CAVALCANTI FILHO, 2017).
O sistema de drenagem convencional adotado no Brasil baseia-se na busca de um sistema hidraulicamente eficiente, ou seja,
representando a necessidade de drenar as águas precipitadas, criando como solução as estruturas de micro e macrodrenagem,
conduzindo-as para fora das cidades e descarregando em corpos d’água que conduzirão as águas para jusante (SOUZA, 2013).
Muitos pesquisadores levantaram os conceitos para a sustentabilidade a longo prazo das soluções de drenagem tradicionais,
explorando os seus impactos negativos no ambiente urbano. O sistema tradicional é compreendido por um largo número de
medidas estruturais, como as tubulações de concreto, sendo que os custos e o tempo necessário para a instalação, restauração
ou troca da rede de drenagem são grandes (ZHOU, 2014).
Os sistemas de drenagem urbana com a finalidade de rápido escoamento das águas pluviais tornam a situação preocupante do
ponto de vista da qualidade da água, pois esses sistemas não oferecem um mecanismo de tratamento prévio da água drenada.
Direcionada para o leito dos rios, o escoamento cria uma faixa de contaminação difusa, criando problemas para a qualidade da
água dos rios. Ainda, as técnicas de controle das vazões escoadas incorporados pelo conceito tradicional geram transtornos
como o odor e a possibilidade maior de doenças de veiculação hídrica (CAVALCANTI FILHO, 2017).
Alguns estudos avaliaram a qualidade das águas na rede, tais como Ide (1984), Chebbo et al. (2001), Pimentel (2009), Neves e
Tucci (2011). Nos trabalhos citados, é visível a relação com a gestão do saneamento básico, dando destaque à presença de
resíduos sólidos e ao lançamento de esgotamento sanitário bruto nos corpos d’água, que provocam a degradação das águas.

Drenagem Sustentável
Com a presença constante de alagamentos e inundações nas áreas urbanas, surgiu a necessidade de pesquisas para
desenvolvimento de sistemas de drenagem com maior eficiência e mais sustentáveis. Diante desse cenário, surgiu o conceito de
drenagem urbana sustentável, com o objetivo de tentar manter o ciclo hidrológico natural, com o auxílio da incorporação de
novas técnicas, diminuindo os picos de vazão e atenuando o nível de poluição presente nas águas pluviais descarregadas nos
meios receptores (LOURENÇO, 2014).
Lourenço (2014) realiza também um comparativo entre o sistema de drenagem convencional e o sustentável, citando que o
convencional processa a drenagem rápida das águas da chuva por meio de um sistema de coletores enquanto que o sustentável
visa o controle do escoamento superficial o mais próximo possível do local onde a precipitação atinge o solo, ou seja,
efetuando o controle do escoamento na fonte.
O sistema de drenagem urbana sustentável possui várias terminologias: Sustainable Urban Drainage System (SUDS), termo
utilizado no Reino Unido; Low Impact Development (LID) ou Best Practice of Management (BMPs), termo usado nos Estados
Unidos, Canadá e Europa continental; Water Sensitive Urban Design (WSUD), usado principalmente na Austrália; Técnicas
Compensatórias em drenagem urbana, termo usado no Brasil. Entretanto, todas as terminologias abordam uma nova
perspectiva para o ciclo urbano da água, contribuindo, assim, para a implementação de ações, representando um elemento
importante para a gestão de águas pluviais no conceito da sustentabilidade (SILVA, 2016). Possuem também conceitos

1354
semelhantes, em que as ações apresentadas integram os serviços urbanos, com a finalidade de buscar o equilíbrio entre o
desenvolvimento e a manutenção da conservação da biodiversidade e do ambiente (CAVALCANTI FILHO, 2017).
Pequenas diferenças entre as terminologias dos sistemas de drenagem urbana sustentável se verificam. Por exemplo, WSUD
foi proposto como uma abordagem para toda a bacia, enquanto SUDS refere-se principalmente ao planejamento para a parte da
bacia que é englobada pela cidade. Mas o importante é que todas as terminologias promovem a implementação de medidas
estruturais e não estruturais, a fim de tentar reproduzir o ciclo hidrológico natural no meio urbano (ZHOU, 2014).
As medidas estruturais são a construção de obras de engenharia com instalações para a drenagem da água superficial baseadas
na reprodução do processo hidrológico natural, utilizando frequentemente superfícies de terra com vegetação. Isso atenua os
picos dos hidrogramas ao possibilitar a infiltração da água, filtrando os poluentes na fonte. Outra obra frequentemente adotada
é aquela que permite reter a água, ainda que temporariamente. Dessa forma, o sistema sustentável pode ser orientado a fim de
melhorar a qualidade hídrica e reduzir os impactos gerados pelas chuvas intensas (HOANG; FENNER, 2015, MAK, 2015),
além de manter uma boa saúde pública e preservar a diversidade biológica e os recursos naturais para necessidades futuras
(ZHOU, 2014).
As medidas estruturais podem ser divididas em extensivas e intensivas. A primeira caracteriza-se como medidas físicas diretas
atuantes na bacia, modificando as relações entre precipitação e vazão, atuando na redução e no retardamento dos picos de
enchentes, além do controle de erosão na bacia, agindo no controle de inundações frequentes. As intensivas são estruturas
lineares e pontuais, atuando diretamente no corpo hídrico, procedendo como medidas que aceleram, amortecem e retardam o
escoamento, de desvio do escoamento, e medidas que englobam as ações individuais, com a finalidade de mitigar os efeitos
das cheias (MELLER et al., 2014).
As medidas não estruturais são aquelas de caráter preventivo ou corretivo, que são executadas com o auxílio da implementação
de diretrizes legislativas ou institucionais (MELLER et al., 2014). Para Silva (2016), pode-se citar como exemplos de medidas
não estruturais: zoneamento das áreas de risco; planejamento do uso do solo; sistemas de previsão e alerta de chuvas intensas;
seguro contra enchentes; projetos e legislação específica de políticas ambientais para sensibilização e promoção de educação
ambiental junto à população. As medidas não estruturais apresentam menores custos se comparadas com as medidas
estruturais, porém, a solução ideal usualmente é a combinação de medidas não estruturais com as estruturais (MELLER et al.,
2014).
Em resumo, sistemas de drenagem urbana sustentável que sejam corretamente projetados, construídos e com manutenção
adequada, possuem características sustentáveis em comparação com o sistema convencional: reduzem os picos de vazão ao
reduzir o volume do escoamento superficial; minimizam o transporte de poluição das áreas urbanas para os corpos d’água, não
degradando a qualidade da água; promovem a infiltração da água da chuva na fonte; promovem a recarga natural das águas
subterrâneas (LOURENÇO, 2014).
Conclusão
Conclui-se que a fase de planejamento do manejo das águas pluviais em meio urbano no Brasil deve ser realizado de maneira a
considerar alternativas de implantação de técnicas compensatórias usando os conceitos de drenagem urbana sustentável.
Benefícios podem ser alcançados pela retenção da água da chuva em escala de lote (na fonte), o que melhora a qualidade da
água nos corpos hídricos receptores da drenagem urbana.

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1356
5SSS290
COMPARAÇÃO ENTRE OS MODELOS DE ELEVAÇÃO SRTM E
TOPODATA NA DELIMITAÇÃO DA REDE DRENAGEM E LIMITE
DE BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUCU-ES
Laís Moreira Miguel1, Morgana Vaz da Silva2
1 Universidade Federal do Paraná, e-mail: lais.miguel@ufpr.br; 2 Universidade Federal de Pelotas, e-mail:
morgana.silva@ufpel.edu.br

Palavras-chave: Modelo de elevação digital; sistema de informação geográfica; hidrologia.

Resumo
Uma bacia hidrográfica é um elemento fundamental de análise do ciclo hidrológico, principalmente na sua fase terrestre que
engloba a infiltração e o escoamento superficial. Sendo definida por uma área de captação natural da água da precipitação que
faz convergir os escoamentos para um único ponto de saída, seu exutório ou foz da bacia. Compõe-se basicamente de um
conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até resultar um leito
único no exutório (Tucci, 1993).
A quantidade de dados altimétricos, particularmente úteis na delimitação de bacias hidrográficas, vem crescendo de forma
significativa nos últimos anos, especificamente, neste trabalho avaliamos o uso de diferentes modelos digitais de elevação,
derivados dos dados SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission). O objetivo deste trabalho é estudar e discutir as
propriedades qualitativas e a precisão do delineamento automático de bacias hidrográficas usando os modelos de elevação
digital, com diferentes resoluções espaciais, sendo avaliado os dados oriundos do projeto TOPODATA (30 m) e SRTM (90 m).
A área de estudo compreendida é a do rio Jucu, localizada no estado do Espírito Santo. Segundo Agência Estadual de Recursos
Hídricos (AGERH), a bacia possui uma área de 2.220 km². O rio Jucu possui nascente na localizada na cidade Domingos
Martins, desembocando no oceano Atlântico, na barra do Jucu. A bacia hidrográfica do Rio Jucu está localizada na região
Centro-Sul do Estado do Espírito Santo e abrange seis municípios capixabas: Domingos Martins, Marechal Floriano e Viana
em sua totalidade, e parcialmente os municípios de Cariacica, Guarapari e Vila Velha (Agência Estadual de Recursos
Hídricos).
A delimitação, a caracterização da bacia hidrográfica e rede de drenagem, possibilitou o cálculo dos parâmetros físicos (áreas e
comprimentos) através de cartas digitalizadas de SRTM disponibilizados pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) e
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), arquivadas e tratadas em um ambiente de informações geográficas
(SIG), especificamente o ArcGis, versão 10.5. Para delimitação e extração da drenagem foram usadas as ferramentas da função
Hydrology, do programa ArcGis, nos modelos de elevação digital.
O tratamento do MDE iniciou-se a partir da eliminação das falsas depressões do arquivo, já que as mesmas podem influenciar
e alterar o escoamento superficial. Para isso, necessitou preencher as depressões e, após esse procedimento, determinar a
direção do fluxo escoamento por meio das ferramentas Fill e Flow Direction, nesta ordem. O acúmulo do fluxo do MDE
obtido pela função Flow Accumlation foi aplicado ao resultado anterior de direção do escoamento. Feito isso, seguiu-se a
produzir uma drenagem numérica da bacia através da ferramenta stream order. A partir disso foi estabelecido um ponto
manualmente (na foz do rio) e usada a função watershed para a delimitação automática da Bacia do Rio Jucu-ES.
Com a delimitação SRTM– IBGE (90m) foi obtida uma área de 1910 km² e perímetro de 331 metros. No geral, este MDE se
mostrou eficaz na extração de dados e preenchimento das falhas. A dificuldade encontrada foi na extração da rede de drenagem
próxima à costa e necessária para expressar a foz do rio Jucu-ES.
Na delimitação SRTM – TOPODATA (30M) foi obtida uma área de 2154 km² e perímetro de 362 metros. Este método
mostrou melhor delimitação na área próxima ao litoral e na expressão da foz do rio Jucu-ES, em contrapartida mostrou falhas
nos dados que dificultaram o estabelecimento da direção do fluxo, mostrando drenagens errôneas.
Os resultados mostram diferenças expressivas em partes das redes de drenagem extraídas a partir dos diferentes MDEs,
demonstrando que a escolha dos mesmos dependerá do objetivo necessário para aplicar esses modelos, além da utilização de
alguma fonte complementar de dados para verificar a autenticidade dos resultados.
Contudo houve um melhor detalhamento da rede de drenagem no modelo com resolução de 30m, sendo que o modelo
TOPODATA se mostrou mais acurado e próximo à realidade mesmo com erros e falhas.
A delimitação de bacias através de ambiente SIG é amplamente utilizada e com avanço da geotecnologia encontram-se
disponíveis diversos MDE disponíveis e com diferentes espaçamentos que podem incluir ou descartar detalhes. Desta maneira,
torna-se essencial a avaliação do efeito dos diferentes dados orbitais para as condições da área e escala de estudo e trabalho.

1357
Introdução

A bacia hidrográfica é o elemento fundamental de análise do ciclo hidrológico, principalmente na sua fase terrestre que
engloba a infiltração e o escoamento superficial. Ela é uma área de captação natural da água da precipitação que faz convergir
os escoamentos para um único ponto de saída, seu exutório. Compõe-se basicamente de um conjunto de superfícies vertentes e
de uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até resultar um leito único no exutório (Tucci, 1993).
A bacia hidrográfica é considerada unidade mais importante para o manejo dos recursos hídricos, onde o conhecimento de sua
situação é importantíssimo para uma utilização adequada dessa unidade como instrumento para a preservação e gerenciamento
destes recursos (Silva et al., 2015).
O uso dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) tem sido considerado como metodologia promissora, com o objetivo de
fornecer dados distribuídos espacialmente nas bacias hidrográficas. A aplicação de modelos hidrológicos em nível de bacias
hidrográficas com auxílio dos SIG pode constituir um avanço quantitativo na caracterização dos parâmetros hidrológicos. São
utilizadas, na delimitação da bacia hidrográfica em SIG’s, informações de relevo representadas em estruturas numéricas de
dados correspondentes à distribuição espacial da altitude e da superfície do terreno, denominada Modelo Numérico de Terreno
(MNT), que pode ser obtido por meio da vetorização e interpolação de curvas de nível, a partir de uma carta topográfica, ou
através de imagens de sensores remotos (Alves Sobrinho et al., 2010).
Atualmente há uma quantidade crescente de dados digitais e programas de sistema de informações geográficas, técnicas
automáticas de delimitação de bacias hidrográficas substituíram as antigas técnicas de delimitação manual. Os Modelos
Digitais de Elevação (MDE) são gerados a partir de pares de imagens estereoscópicas de sensores ópticos orbitais, apresentam
algumas vantagens significativas sobre outras fontes de dados, tais como a disponibilidade de dados em nível mundial,
processamento mais rápido através de softwares sofisticados e pouco esforço manual, resolução moderadamente elevada, baixo
custo de processamento e capacidade de aquisição em qualquer condição ambiental (Subramanian et al., 2005).
O uso de Modelo Numérico de Terreno (MNT), como modelos digitais de elevação (MDE’s), na delimitação de bacias
apresentam-se atualmente como a forma mais prática, rápida e menos subjetiva. Estão disponibilizados na Internet MDE’s,
produtos SRTM, das fontes USGS e TOPODATA, além do produto ASTER. (Marques et al, 2011)
O presente estudo teve como objetivo avaliar a características e delimitação da bacia hidrográfica do rio Jucu-ES, gerados a
partir de dados do SRTM de 90 metros (Shuttle Radar Topography Mission) e da TOPODATA originadas do SRTM, tratada e
refinadas da resolução espacial original de 90 m para 30 m por krigagem (Valeriano, 2009). Tal avaliação tem por finalidade
analisar a precisão e a qualidade da delimitação de bacias hidrográficas e auxiliar na escolha do modelo digital de elevação
mais adequado para derivar atributos topográficos primários e secundários para utilização em um mapeamento digital de solos
por redes neurais.

Materiais e Métodos

A área de estudo compreendida é a do rio Jucu, localizada no estado do Espírito Santo. Segundo Agência Estadual de Recursos
Hídricos (AGERH), a bacia possui uma área de 2220 km². O rio Jucu possui nascente na localizada na cidade Domingos
Martins, desembocando no oceano Atlântico, na barra do Jucu. A bacia hidrográfica do Rio Jucu está localizada na região
Centro-Sul do Estado do Espírito Santo e abrange seis municípios capixabas: Domingos Martins, Marechal Floriano e Viana
em sua totalidade, e parcialmente os municípios de Cariacica, Guarapari e Vila Velha (Agência Estadual de Recursos
Hídricos).
Para determinações de finitas bacias, o tratamento topológico de rede considera uma área de contribuição em um universo
discretizado. A rede hidrográfica topologicamente consistente, os traçados dos limites das bacias de contribuição de cada
trecho de curso d’água e o relevo da área de estudo devem estar compatíveis entre si dentro da mesma escala de trabalho. As
ferramentas dos softwares de edição utilizadas devem permitir a comparação dos elementos vetoriais da rede hidrográfica com
os dados de relevo. Tendo os resultados, que consistem nos limites dessas bacias de contribuição, deve ser realizada uma
edição de ajuste para garantir a compatibilização entre os trechos de cursos d’água, as suas respectivas bacias e o relevo
(Teixeira et al. 2007)
Foi construída em SIG, no software ArcGis 10.5, uma base contendo: os MDEs (SRTM- IBGE e SRTM – TOPODATA), além
das malhas municipais do Espírito Santo – IBGE 2015. Os dados foram georreferenciados em projeção cartográfica UTM e
datum SIRGAS2000.
As redes de drenagem usadas como referência foram as obtidas junto aos mapas do caderno de bacias da Agência Estadual de
Recursos Hídricos (AGERH), como mostra a figura 1.

1358
Figura 2: Bacia do rio Jucu, ES (Fonte: AGERH, 2016)

Para realização do processo de obtenção das redes de drenagem e da delimitação automática da bacia hidrográfica foi feito o
mesmo processo, para cada um dos MDE’s, de resolução de 30 e 90m. Inicialmente foram utilizados as ferramentas do
Hydrology, do software ArcGis 10.5:
Fill: preenche os vazios dos dados digitais de elevação
Flow Direction: indica a direção de fluxo para cada pixel.
Flow Accumulation: cria acumulação de fluxo dos dados para cada pixel.
Stream order: cria uma ordem numérica para dos segmentos do raster.
O próximo produto gerado eliminando os rios de menores ordens e permitindo os de maiores ordem, isto é, são os pixels que
apresentam maior volume de água, deste modo obtém-se um raster mais leve e menos carregado.
O último passo foi a aplicação do algoritmo Watershed que utiliza um ponto, estabelecido manualmente, no caso a foz do rio,
para direcionamento do escoamento para a geração dos divisores de bacias hidrográficas a partir do modelo digital de elevação.

Resultados e Discussão

Os resultados obtidos para a área e perímetro da bacia do rio Jucu variaram de acordo com o MDE dos quais foram originados,
como pode ser observado na Tabela 1. A bacia do rio Jucu possui uma área de drenagem aproximada de 2.220 km². O rio
principal possui uma aproximada de 166 km até sua foz na praia de Barra do Jucu, no município de Vila Velha. (Iema, 2008)

MDE Área (km²) Perímetro (km)


SRTM 90m 1910 331
TOPODATA 30m 2154 362
Tabela 1: Área e perímetro obtidos a partir dos diferentes modelos digitais de elevação para rio Jucu.

As diferenças nas delimitações e nas redes de drenagem foram apresentadas na figura 2. A bacia do rio Jucu possui
ottocodificação 7714, de acordo a base de dados da Agência Nacional de Águas, e foi possível notar que próximo a costa há
também pequenas interbacias, que são as áreas restantes que contribuem diretamente para o curso d’água principal.

1359
Figura 2: Rede de Drenagem obtidas, para a bacia do rio Jucu-ES, obtidas pelos MDE’s. a) TOPODATA, b) SRTM. c)
Sobreposição das áreas de drenagem obtidas utilizando MDE’s SRTM e TOPODATA. d) Detalhamento das redes de
drenagem obtidas.

Observou-se na figura 1, comparando-se em ambos área de drenagem, que as diferenças da delimitação obtida e a real foi bem
próxima a costa. Na figura 1-(c) nota-se que a delimitação do TOPODATA foi mais eficiente e conseguiu identificar a foz do
rio jucu de forma mais eficaz do que a SRTM-IBGE que não foi capaz de identificar de forma correta a drenagem próxima a
costa.
Ao delimitar usando a TOPODATA mesmo com as correções e preenchimentos de vazios ainda houve erros na obtenção da
drenagem em alguns pontos, identificando de maneira insatisfatória as linhas de escoamento superficial, visto que não foram
separadas diferentes bacias e assim anexou à ela drenagens erroneamente advindas de falhas nos dados como mostra a figura 3.

1360
Figura 3: Drenagem TOPODATA sobre produto flow direction do TOPODATA.

Na delimitação usando o SRTM, mesmo com falhas consideráveis, também próximo ao litoral, o programa conseguiu
estabelecer um fluxo mais condizente, em relação a não anexar drenagens de outras bacias, mesmo assim de forma esparsa e
com falhas consideráveis no sentido do fluxo, mostrado na figura 4.

1361
Figura 3: Drenagem SRTM sobre produto flow direction SRTM.

De modo geral, dos MDE analisados, o SRTM produto TOPODATA foi o modelo que mostrou melhores resultados para a
extração automática da rede de drenagem, mesmo com falhas na captura de imagem, demonstrando maior similaridade com a
drenagem bibliográfica. O resultado do SRTM de 90 metros apresentou dificuldade de gerar a drenagem próxima ao litoral,
mas muito eficaz na obtenção da drenagem mais afastada a costa, a mesma ainda mostrou ter menores erros e falhas, ao menos
na área estudada.

Comentários finais
A delimitação de bacias através de ambiente SIG é amplamente utilizada e com avanço da geotecnologia encontram-se
disponíveis diversos MDE disponíveis e com diferentes espaçamentos que podem incluir ou descartar detalhes. Desta maneira,
torna-se essencial a avaliação do efeito dos diferentes dados orbitais para as condições da área e escala de estudo e trabalho.
Os resultados mostram diferenças expressivas nas redes de drenagem extraídas a partir dos diferentes MDEs, demonstrando
que a escolha dos mesmos dependerá do objetivo necessário para aplicar esses modelos, além da utilização de alguma fonte
complementar de dados para verificar a autenticidade do dos resultados.
Contudo houve um melhor detalhamento da rede de drenagem no modelo com pixel de 30m, sendo que o modelo
TOPODATA se mostrou mais acurado e próximo à realidade mesmo com erros e falhas.

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1363
5SSS291
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA REGIÃO NOROESTE DO RIO
GRANDE DO SUL: PERCEPÇÃO DOS GESTORES PÚBLICOS
Jeferson Rosa Soares1, Renan de Almeida Barbosa2, Sandra Mara Mezalira3, José Vicente Lima Robaina4
1Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: josoares77@gmail.com; 2 Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, e-mail: renanabh38@gmail.com; 3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail:
sandmezal@gmail.com, 4 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: joserobaina1326@gmail.com.

Palavras-chave: Educação Ambiental Crítica, Gestores públicos, Formação Continuada.

Resumo
Ao Considerar a importância da Educação Ambiental (EA) no sistema municipal, objetiva-se analizar a percepção de Gestores
Públicos sobre a temática evidenciada. A coleta de dados da pesquisa ocorreu no municipio de Palmeira das Missões/RS,
Brasil. A pesquisa é de natureza qualitativa, caracterizando um Estudo de Caso e de Cunho exploratório. Foram aplicados
questionários para 20 Gestores Públicos e em seguida realizada a tabulação, para fins de validação dos dados coletados por
meio da Análise Textual Discursiva fomentada por Moraes e Galiazzi (2016). De acordo com o estudo, notou-se que o grupo
dos Gestores Públicos apresentou uma visão conservadora sobre a EA evidenciando a falta de uma percepção critica
transformadora em relação a temática, sendo assim, a formação e capacitação permanente e continuada aspectos importantes
para a construção de um pensamento socioambiental deve ser implementada como uma alternativa para essas demandas em
ámbito municipal.

Introdução

A Educação Ambiental (EA) é uma ferramenta que estimula a reflexão, propicia conhecimento e subsidia a ação
(REIGOTA, 2010), devendo levar em consideração as condições de cada comunidade que será trabalhada, no tocante as
dimensões sociais, econômicas, políticas, culturais e históricas, além das ambientais. Portanto a EA é conceituada como um
“processo político de apropriação crítica e reflexiva de conhecimentos, atitudes, valores e comportamentos que tem por
objetivo a construção de uma sociedade sustentável do ponto de vista ambiental e social, sendo transformadora e
emancipatória” (TOZONI-REIS, 2007, p. 179).
Desta forma, a EA assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a responsabilidade dos indivíduos com o
meio ambiente é o objetivo principal para promover um novo tipo de desenvolvimento sustentável (JACOBI, 2003). No
entanto, Sauvé (1997) afirma que na maioria das vezes as propostas de EA são restritas a uma concepção específica, limitando
o principal objetivo da EA.
Nesse sentido, Reigota (2010, p.14) propõe que “[...] o primeiro passo para a realização da educação ambiental deve ser a
identificação das representações das pessoas envolvidas no processo educativo”, pois, identificar como os indivíduos percebem
o ambiente em que vivem favorece a construção de ações que os levem a mudar suas atitudes para a busca de um
desenvolvimento sustentável para o planeta (PALMA, 2005). Seguindo essa proposição, para abordagens pertinentes a EA,
torna-se necessário conhecer a realidade local e compreender as inter-relações homem e meio ambiente, suas expectativas e
insatisfações, seus valores e condutas, seus hábitos e, especialmente, suas necessidades (MELAZO, 2005; CUNHA & ZENI,
2007).
A EA está longe de ser uma atividade tranquilamente aceita e desenvolvida, porque ela implica em mudanças profundas e
nada inócuas, indispensáveis na luta pelo desenvolvimento de uma nova consciência social, política e ecológica comprometida
com melhoria da vida presente e futura no Planeta (SATO, 2002), por ser um elemento estratégico na formação de ampla
consciência crítica das relações sociais e de produção que situam a inserção humana na natureza.
Estamos passando por um momento de muitos problemas ambientais, muitas vezes, pela maneira como estamos nos
relacionando com o ambiente, por exemplo os acidentes com as barragens em Mariana e Brumadinho causando incertezas e
gerando crises de ordem social, ambiental, econômica, política etc.
Frente a estas considerações, apresentam-se neste texto os resultados de um estudo que visou investigar o conhecimento
de Gestores Públicos do município de Palmeira das Missões/RS, acerca do que entendem por Educação Ambiental e quais
seriam o Público Alvo de Ações de Educação Ambiental na visão desses Gestores, para que a partir desses conhecimentos se
possa pensar em futuras ações a serem realizadas no município.

1364
Metodologia

A pesquisa evidenciada ocorreu no município de Palmeira das Missões/RS, em março de 2019, tendo como sujeitos da
investigação, Gestores Públicos do local. Ela é de natureza qualitativa, caracterizando um Estudo de caso e de cunho
exploratório. O Estudo de caso é constituído a partir de diferentes e múltiplas fontes de evidências (YIN, 2010). Para a
obtenção dos dados, elaborou-se um questionário com três questões relacionadas à Educação Ambiental.
De acordo com Gil (1999, p. 128), o Questionário é uma “técnica de investigação composta por um número mais ou
menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças,
sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc”, sendo assim é uma técnica estruturada para a coleta de dados,
que consiste em uma série de perguntas a serem respondidas.
A coleta de informações foi realizada por meio de um questionário contendo 2 perguntas abertas, enfocando a temática
sobre Educação Ambiental e Público Alvo para ações de EA. As questões abordadas foram as seguintes: 1. Em sua opinião o
que é Educação Ambiental? 2. Quem você acha que deveria ser o público-alvo para ações de Educação Ambiental em Palmeira
das Missões?
Para a análise dos dados, utilizou-se a Análise Textual Discursiva (ATD), fundamentada por Moraes e Galiazzi (2016)
para a organização, categorização e interpretação dos dados, ou seja, para a elaboração das categorias temáticas e contextos
categóricos por meio dos discursos dos sujeitos da pesquisa. Em suma, a ATD consiste em:

[...] um processo auto-organizado de construção de compreensão em que novos entendimentos


emergem a partir de uma sequência recursiva de três componentes: a desconstrução dos textos do
corpus, a unitarização; o estabelecimento de relações entre os elementos unitários, a categorização;
o captar o emergente em que a nova compreensão é comunicada e validada (MORAES;
GALIAZZI, 2016, p. 34).s

Sendo assim, as unidades de análise que protagonizam o processo de ATD foram extraídas das respostas de cada sujeito
para a questão número 1, de forma que, em conjunto, estas unidades de diferentes atores sociais possibilitaram a busca do novo
com um significado que é emergente. Nesse sentido, cada unidade de análise, ao final do processo, é categorizada a partir das
compreensões oriundas durante a leitura e reescrita daquelas realizada pelos pesquisadores.
A partir das categorias, ocorre uma ação de elucidação sobre as semelhanças entre elas, emergindo a composição de um
metatexto. “Nesse movimento, o pesquisador, a partir dos argumentos parciais de cada categoria, exercita a explicitação de um
argumento aglutinador do todo” (MORAES; GALIAZZI, 2016, p.51).

Resultados e Discussões

O primeiro dado a considerar nesta pesquisa, diz respeito ao perfil dos Gestores Públicos. De acordo com os dados
coletados, do total de vinte (20) gestores entrevistados, a faixa etária variou de 29 a 64 anos, e com relação ao perfil do sexo,
verificou-se que 85% dos Gestores Públicos são do sexo masculino e 15% deles são do sexo feminino. Quanto ao tempo na
função, esta experiência na área, variou entre 1 a 36 anos. Dentre os Gestores Públicos, cinco (5) possuem o curso de
Agronomia e dois (2) destes com Doutorado em suas áreas, três (3) possuem cursos de Especializações em suas áreas de
conhecimento, dois (2) possuem o Ensino Médio Incompleto e o restante tem formação em diversas outras áreas o que pode ser
melhor visualizado no Quadro 1, demonstrando as habilitações específicas de cada um.
Sendo assim, ao serem perguntados “Para você o que é Educação Ambiental?”, destacam-se as categorias emergentes
por meio dos discursos dos respondentes: 1) gestão e conservação do meio ambiente; 2) formação para a conscientização
socioambiental; 3) envolvimento e transformação da realidade; e 4) capacitação e participação dos diferentes atores.
Ao realizarmos a categorização das percepções dos Gestores Públicos sobre EA, elas vão ao encontro dos dizeres de
Tozoni-Reis (2008, p. 156) quando afirma “(...) as preocupações humanas com o ambiente estão presentes de forma mais
consistente nas diferentes sociedades já há algumas décadas”.
Estas categorias serão discutidas e apresentadas na forma de metatexto, construído a partir das unidades de análise
agrupadas dentro das respectivas categorias, possibilitadas pela unitarização e posterior categorização emergente que são
características do processo de ATD.

1365
Código Idade Sexo Formação Função exercida Tempo na função

P1 61 M Administração Pública Gerente Municipal de Convênio 5 anos


P2 64 M Bioquímico Fundador Ong A mais de 10 anos
P3 50 F Ensino médio Líder Movimento Social 16 anos
P4 62 M Teologia Presidente UAMPAM 2 anos
P5 53 M Direito Agente Fiscal CREA/RS 31 anos
P6 39 M Doutorado em Agronegócios Vice-diretor Campus UFSM 1 ano
P7 42 M Tecnólogo em Gestão Pública Presidente Câmara de Vereadores 1 ano
P8 65 M Agronomia Secretário Adjunto Conderur 4 anos
P9 52 F Especialista em Ciências Ambientais Assessora Pedagógica 20ª CRE 13 anos
P10 33 M SMED Supervisor de área 3 anos
P11 25 F Engenheira Ambiental Autônoma 2 anos
P12 44 M Ensino Médio Incompleto Presidente Sindicato T. R. 6 anos
P13 42 M Ciências Biológicas Vice-presidente do Comitê do Rio 1 ano
da Várzea
P14 35 M Educação Física Sd Brigada Militar 3 anos
P15 57 M Pós-graduado Presidente Corede Rio da Várzea 09 anos
P16 29 M Agronomia/Dr. Ciência do Solo EMATER 4 anos
P17 45 M Superior incompleto CORSAN – Chefe de Unidade 5 anos de cargo
P18 47 M Agronomia AEAPAL 11 anos
P19 62 M Agronomia Planejamento, Consultoria e 22 anos
Gerenciamento
P20 59 M Pós-graduado Escola Agrícola Celeste Gobbato 36 anos
Quadro 1. Perfil dos Profissionais Entrevistados. Fonte: Os autores da pesquisa, 2019.

Gestão e conservação do meio ambiente

Quando perguntados sobre o que entendiam por Educação Ambiental, os entrevistados demonstraram, em suas
respostas, a compreensão desse processo educativo como mecanismos de preservação da natureza, apontando os recursos
naturais e o meio ambiente como objetos desses esforços preservacionistas. Essa preocupação fica evidente na fala do P20:
“...É toda a atividade voltada as questões ambientais no que se refere a recuperação, preservação”. Nota-se, portanto, uma
concepção comum entre os entrevistados sobre a finalidade e objetivo da Educação Ambiental, condicionando esta apenas a
esforços num viés conservacionista para melhores condições de vida, como reforçam as falas do P1 “...objetivando a
conservação e preservação da natureza e a sadia qualidade de vida” e do P5 “...voltadas para a preservação do meio ambiente
em que se vive”.
O discurso dos sujeitos da pesquisa demonstram, nesse quesito, a predominância da lógica hegemônica conservadora
da Educação Ambiental, na qual está fica atrelada à aspectos ecológicos, de certa maneira superficial, e que, implicitamente,
traz também concepções conservadoras de educação e sociedade, pois não questionam a estrutura social vigente em sua
totalidade, objetivando apenas reformas pontuais ou setoriais (LAYRARGUES; LIMA, 2014).
Portanto, por mais que no campo político-pedagógico a hegemonia de concepção sobre Educação Ambiental seja a
macrotendência pragmática (LAYRARGUES; LIMA, 2014), com incipiente esforço de consolidação da vertente crítica, entre
os sujeitos entrevistados que, em algum momento, atuaram como gestores ambientais do município pesquisado, há o
predomínio da macrotendência conservacionista na resolução prática das questões ambientais. Pela característica do grupo,
também existe a conexão entre o processo educativo para a gestão ambiental pública dos recursos, como demonstra a fala do
P1: “...para que estes possam gerenciar ou buscar meios de vida mais sustentáveis”.
Nesse contexto de gestão para conservação e preservação ambiental deve se dar de modo compartilhada, e a
percepção dos diferentes entrevistados se torna importante aliado para o desenvolvimento em nível municipal e do poder
público de instrumentos e ferramentas para a gestão dos recursos naturais.

Formação para a conscientização socioambiental

Em sua maioria, as falas dos sujeitos entrevistados foram agrupados nessa categoria e trazem um discurso voltado
para a conscientização dos indivíduos por meio da Educação Ambiental, aproximando-se da lógica individual de mudança de
atitudes e comportamentos sobre a questão ambiental, como pode ser observado na fala do sujeito P15: “...e principalmente é a
conscientização necessária para o envolvimento de todas as forças vivas da sociedade”.

1366
Nesse sentido, destaca-se o caráter dessa mudança individual para a “sustentabilidade”, em seus mais variados
sentidos, como aparece na fala do sujeito P13: “... Na concepção deste entrevistado os meios de educação ambiental são
necessários para inserção de uma cultura de desenvolvimento sustentável”.
Convergindo a macrotendência conservacionista, a análise realizada das concepções de Educação Ambiental desses
sujeitos ressalta esta como um meio de estudo e compreensão dos sistemas naturais para conscientização dos indivíduos para
sua preservação. Da mesma forma, salienta-se o caráter comportamental das mudanças necessárias, alinhando-se com a
macrotendência pragmática das políticas públicas de Educação Ambiental que, ao tomar o meio ambiente sem considerar os
componentes humanos, trata-o como uma mera coleção de recursos naturais em processo de esgotamento (LAYRARGUES;
LIMA, 2014), demonstrando a hegemonia de ações como a reciclagem do lixo ou o combate ao desperdício da água.
Sendo assim, predomina, entre os gestores entrevistados, uma visão comportamentalista e individualista de
enfrentamento à crise ambiental, sem colocar em discussão os aspectos políticos, econômicos e culturais do Sistema Capital,
que causa e perpetua a referida crise (LOUREIRO, 2018).

Envolvimento e transformação da realidade

Concebe a Educação Ambiental como processo educativo para participação política e transformação social,
utilizando-se de conhecimentos e informações para romper com a reprodução dos interesses de grupos dominantes sob a
população explorada (LOUREIRO, 2015), de forma a viabilizar mecanismos de ressignificação da relação sociedade-natureza.
Nesse sentido, pode-se observar o caráter transformacional implícito na fala do sujeito P2: “...Algo complicado, pois todos
temos que sair da zona de conforto e partirmos para enfrentamentos de toda ordem”; embora não ter caráter prático,
destacamos como potencializador de uma atitude crítica para uma mudança de paradigma sobre o entendimento da questão
ambiental.
Dessa forma, alinha-se com a macrotendência crítica das políticas públicas em Educação Ambiental ao tomar como
complexa à crise ambiental, exigindo um reposicionamento através de conceitos como Participação, Conflito e Transformação
Social, demandando o que seria para Layragues; Lima, (2014, p.33). “a incorporação de questão culturais, individuais e
subjetivas que emergem das sociedades contemporâneas, a ressignificação da noção de política, a politização da vida cotidiana
e da esfera privada”

Capacitação e participação dos diferentes atores

Na mesma lógica da última categoria discutida, esta compreende concepções de Educação Ambiental que pressupõem a
formação para capacitação de indivíduos para a participação política na gestão ambiental e no enfrentamento da crise
ambiental, como pode ser observado na fala do sujeito P3: “...Necessidade, precisa-se de projetos e de pessoas capacitadas e de
participação pública e dos interessados do poder estadual e municipal e de empresas públicas e privadas”.
Nessa perspectiva, a presente categoria também pode indicar uma concepção com tendência mais crítica, uma vez que
coloca em discussão, através do discurso dos sujeitos desta pesquisa, a intervenção e decisão política como característica da
Educação Ambiental. Esse apontamento se aproxima com o debate teórico do campo da macrotendência crítica, pois esta
permite a “incorporação das questões culturais, individuais e subjetivas que emergem com as transformações das sociedades
contemporâneas, a ressignificação da noção de política, a politização da vida cotidiana e da esfera privada” (LAYRARGUES;
LIMA, 2014, p.33).
Ainda, como podemos observar na fala do sujeito P9: “...É o exercício pleno da cidadania socioambiental”, a menção à
conceitos como cidadania e socioambiental corrobora com os pressupostos de uma Educação Ambiental Crítica, que implica
um conceito de cidadania como:

[....] algo que se constrói permanentemente, que não possui origem divina ou natural, nem é
fornecida por governantes, mas se constitui ao dar significado ao pertencimento do indivíduo a
uma sociedade, em cada fase histórica (LOUREIRO, 2011, p.79).

Os entrevistados quando questionados sobre quem deveria ser o público-alvo de ações de EA, tem destaque nas respostas
dos Gestores Públicos a População em Geral e as Escolas com 25% das respostas. Esses públicos demonstram a necessidade de
que a EA possa estar presente de forma permanente em diferentes espaços, e a escola como espaço facilitador e propício para o
desenvolvimento de valores que possam modificar o comportamento individual e coletivo na relação com as temáticas
ambientais, possibilitando a conscientização dos que ali se fazem presentes sobre os problemas ambientais concernentes
realidade de todos.
Em seguida com 20% das respostas os Poderes Públicos como foco de ações evidenciando uma preocupação com a
temática ambiental como pauta de compromisso de melhoria das políticas ambientais do município e da relação destes com o
ambiente e a realidade que estão inseridos.

1367
As crianças apresentaram 15% das respostas. Isso demonstra a necessidade de apresentar a esse público atividades com
temas ambientais de sua realidade estimulando-os, pois os mesmos têm uma maior integração e participação em projetos que
possam ser postos em prática, levando-os a uma maior conscientização e de disseminação do conhecimento aprendido em
ambiente escolar repassando para o ambiente familiar.
E por fim evidencia-se outros alvos com 15% relacionando diversos públicos, como adultos, técnicos em diferentes áreas
e funcionários de diferentes setores.

Figura 1 – Público-Alvo de ações de EA. Fonte: Os autores da pesquisa, 2019.

A nuvem de palavras a seguir demonstra as palavras que mais foram elencadas nas respostas dos Gestores Públicos
sobre quem seriam o público-alvo de ações de EA corroborando com os dizeres acima ao elencar a População e as Escolas
como principais alvos para a realização das ações de EA.

Figura 2 – Nuvem de Palavras abordando as palavras de maior destaque. Fonte: Os autores da pesquisa, 2019.

Comentários Finais

Ao finalizar a pesquisa, ela da destaque aos discursos elencadas pelos Gestores Públicos sobre Educação Ambiental,
sendo que ainda é visível uma visão apenas conservadora, o que dificulta a realização de uma Educação Ambiental Crítica
Transformadora como um processo decisivo a ser posto em prática. Considera-se que por meio de formação estes Gestores
Públicos sairiam da dimensão de uma visão conservadora para uma visão socioambiental sobre os aspectos relacionados a
Educação Ambiental.
Identificou-se por meio dos questionários que a temática vem sendo deixada de lado e que há uma necessidade de ser
realizada a inserção de instrumentos que possam facilitar o trabalho dos Gestores Públicos no que diz respeito a EA. Porém,

1368
percebe-se que embora os Gestores Públicos afirmem que as questões ambientais estejam sendo trabalhadas, estes não
conseguem abordar em seus discursos uma abordagem mais concreta de ações e práticas no que diz respeito a temática da EA,
demonstrando assim um posicionamento discreto nessa relação.
Diante destes resultados observar-se a necessidade de formação e capacitação permanente e continuada dos Gestores
Públicos para que os mesmos consigam realizar reflexões sobre as complexas questões socioambientais provocando assim
mudanças de atitudes e comportamentos necessárias fazendo com que a EA possa ser uma prática constante em seus que
fazeres diários.

Agradecimentos

Os Autores gostariam de agradecer primeiramente aos Gestores Públicos sujeitos da pesquisa na disponibilização de horários
para as entrevistas e diálogos realizados, em seguida a Universidade Federal do Rio Grande do Sul pelo apoio recebido.

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1369
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YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Bookman, 2010.

1370
5SSS294
IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES QUE INFLUENCIAM A
QUALIDADE DO AR DE BELO HORIZONTE
Bruna Geiza Santos Carneiro1, Gerson Breno Fernandes Mauricio 2, Kerolin Ferreira Xavier 3, Mariane
Costa Ferreira 4
1 Centro Universitário UNA, bruna.geiza7@gmail.com; 2 Centro Universitário UNA,
gfgersonbreno@yahoo.com.br; 3 Centro Universitário UNA, kerolinxavier@hotmail.com; 4 Centro Universitário
UNA, marianemvjesus@gmail.com

Palavras-chave: Poluição, Gases, Belo Horizonte.

Resumo
O monitoramento da qualidade do ar torna-se uma grande ferramenta para a gestão ambiental principalmente dos grandes
centros urbanos e industriais. O Conselho Nacional de Meio Ambiente define que cabem aos órgãos federal, estaduais e
distrital ao acompanhamento da qualidade do ar com o objetivo de evitar graves e iminentes riscos à saúde da população de
acordo com os poluentes e concentrações definidos em lei. Os centros urbanos apresentam grande concentração de fontes de
poluição, fixas como indústrias ou móveis, como a frota de veículos crescente ano a ano. Além das taxas de emissões de
poluentes das fontes fixas e móveis existem fatores Meteorológicos e não Meteorológicos que interferem na qualidade do ar.
Este trabalho visa identificar os fatores que interferem na qualidade do ar na cidade de Belo Horizonte. É importante observar
que os centros urbanos possuem seu próprio microclima onde as condições de ventos, chuvas, temperatura e insolação são
influenciados pelas edificações, cobertura do solo e fontes fixas e móveis de poluentes. Assim quanto maior o grau de
edificação de uma determinada região menor será a velocidade dos ventos e consequentemente menor a dispersão dos
poluentes. Espera-se com essa identificação a confirmação dos fatores que interferem na qualidade do ar além de contribuir
para futuras pesquisas relacionadas ao tema de qualidade do ar.

Introdução

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 7 milhões de pessoas morrem por ano devido a poluição
atmosférica e que 90% da população mundial respiram ar poluído. Os centros urbanos apresentam grande concentração de
fontes de poluição, fixas como indústrias ou móveis, como a frota de veículos crescente ano a ano.
O monitoramento da qualidade do ar torna-se uma grande ferramenta para a gestão ambiental principalmente dos grandes
centros urbanos e industriais. O Conselho Nacional de Meio Ambiente define que cabem aos órgãos federal, estaduais e
distrital o acompanhamento da qualidade do ar com o objetivo de evitar graves e iminentes riscos à saúde da população de
acordo com os poluentes e concentrações definidos em lei.
Mesmo mantendo uma taxa de emissão constante de poluentes na atmosfera a qualidade do ar pode ser influenciada pela
dispersão ou deposição desses poluentes através de condições meteorológicas como precipitação, umidade, intensidade dos
ventos, temperatura, insolação, relevo. Tornando o conhecimento dessas condições relevantes para gestão municipal de saúde e
ambiental assim como o zoneamento urbano.
Na cidade de Belo Horizonte a qualidade do ar e os fatores meteorológicos são monitorados através de quatro estações
automáticas de monitoramento distribuídas estrategicamente na capital. Após processamento dos dados estes são
disponibilizados para consulta pública diariamente.
O presente trabalho visa identificar os fatores que influenciam na qualidade do ar da cidade de Belo Horizonte através de
levantamento dos índices de qualidade do ar disponibilizados pela Fundação Estadual do Meio Ambiente e correlacioná-los
com dados meteorológicos, intensidade de tráfego e de localização.

Justificativa

A qualidade do ar está relacionada diretamente com a saúde pública e bem estar da população, sendo razão suficiente para
estudos multidisciplinares e de interesse da sociedade. Esse estudo percebeu a necessidade de identificar os fatores que
influenciam na qualidade do ar e consequentemente na vida dos belo-horizontinos. Também busca-se contribuir para futuros
estudos sobre saúde, qualidade do ar e fatores de dispersão de poluentes na capital mineira.

1371
Objetivos

Objetivo Geral
Identificar os fatores que influenciam na qualidade do ar da cidade de Belo Horizonte.

Objetivo Específico
 Levantar os Índices de Qualidade do Ar (IQAR) do período de estudo, 08/03/2019 a 04/05/2019, através do site da
Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais (FEAM) e dados Meteorológicos disponibilizados pelo
Instituto Nacional de meteorologia (Inmet).
 Elaborar gráficos que correlacionam os IQAR com informações meteorologicas.
 Realizar estudo analítico dos gráficos para avaliar a relação dos índices com fatores meteorológicos e não
meteorológicos.

Referencial Teórico
Fonte de Poluentes em Belo Horizonte
No inventário das Fontes de Emissão de Poluentes Atmosféricos da Região de Belo Horizonte, Contagem e Betim referente ao
ano de 2015 publicado pela Feam apresenta que as vias de tráfego urbanas da capital se configuram como as principais fontes
emissoras dos poluentes: materiais particulados até 10 micrômetros (MP 10), materiais particulados até 2,5 micrômetros (MP
2,5), óxidos de nitrogênio (NOx), Monóxido de carbono (CO), óxidos de enxofre (SOx) e compostos orgânicos voláteis (COV).
O ozônio é um poluente secundário, formado após reações entre os óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis na
presença de luz sola. Por ser secundário esse poluente não pôde entrar no inventário apresentado pela Feam, mas pode ser
observado que os dois principais reagentes para a formação do ozônio troposférico, NOx e COV, também tem suas principais
fontes no tráfego.

Fatores que influenciam a qualidade do ar


O tráfego urbano, maior fonte dos poluentes em Belo Horizonte, é o principal fator de deterioração da qualidade do ar e
consequente piora no Índice de Qualidade do Ar (IQAR). Porém depois de emitidos, mesmo mantendo as taxas de emissões de
poluentes na atmosfera a qualidade do ar pode ser influenciada pela dispersão ou deposição desses poluentes através de
fenômenos metereológicas como precipitação, umidade, intensidade dos ventos, temperatura, insolação. As chuvas podem
“lavar” a atmosfera retirando materiais particulado dispersos ou ajudando na dissolução de gases como NOx, CO e SOx e
melhorando a qualidade do ar. Os ventos que tem sua formação influenciada pela topografia e insolação transportam os
poluentes para fora da cidade melhorando o índice de qualidade ou podem trazê-los de outras áreas para o interior da cidade,
piorando a qualidade do ar e consequentemente o índice de qualidade. Assim, para uma mesma intensidade de tráfego, as
condições meteorológicas podem determinar uma maior ou menor concentração de poluentes na atmosfera urbana.
É importante observar que os centros urbanos possuem seu próprio microclima onde as condições de ventos, chuvas,
temperatura e insolação são influenciados pelas edificações, cobertura do solo e fontes fixas e móveis de poluentes. Assim, por
exemplo, quando maior o grau de edificação de uma determina região menor será a velocidade dos ventos e consequentemente
menor a dispersão dos poluentes.

Qualidade do ar e legislação sobre a qualidade do ar


Considerando que os Padrões Nacionais de Qualidade do Ar são parte estratégica do Programa Nacional de Controle da
Qualidade do Ar - PRONAR a resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) nº 491 de 19 de novembro de
2018 veio para revogar a antiga Resolução CONAMA nº 03 de 1990 e dispor sobre a qualidade do ar.
A qualidade do ar é definida como um dos instrumentos de gestão da qualidade do ar, determinado como valor de concentração
de um poluente específico na atmosfera, associado a um intervalo de tempo de exposição, para que o meio ambiente e a saúde
da população sejam preservados em relação aos riscos de danos causados pela poluição atmosférica.

Principais poluentes regulados


A Resolução Conama nº 491 em seu texto define poluente atmosférico como qualquer forma de matéria em quantidade,
concentração, tempo ou outras características, que tornem ou possam tornar o ar impróprio ou nocivo à saúde, inconveniente
ao bem-estar público, danoso aos materiais, à fauna e flora ou prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade ou às
atividades normais da comunidade. Os poluentes regulados pela CONAMA nº 491 são: Material particulado, dióxido de
enxofre, dióxido de nitrogênio, monóxido de carbono, ozônio, partículas totais em suspensão e chumbo.
O quadro 01 mostra um quadro geral e resumido dos principais poluentes regulados pela Resolução CONAMA nº 491, suas
características, principais fontes em Belo Horizonte e efeitos adversos à saúde e ao meio ambiente.

1372
Quadro 1 – Poluentes, características, fontes e efeitos à saúde e ao meio ambiente.
Principais Fontes em Efeitos adversos à saúde e ao
Poluente Características
Belo Horizonte meio ambiente
Partículas de material sólido ou
Danos a vegetação, deterioração
líquido suspensas no ar na
Partículas da visibilidade, agrava
forma de poeira, neblina, Vias de tráfego (69,64%),
Inaláveis problemas respiratórios, penetra
aerossol, fumaça, fuligem. Queimadas (19,66%) e
Finas profundamente no pulmão
Podem permanecer no ar e Industrias (6,93%)
(MP 2,5) podendo alcançar os alvéolos
percorrer longas distâncias.
pulmonares
Tamanho ≤ 2,5 micra.
Danos a vegetação,
contaminação do solo e água.
Partículas Partículas de sólido ou líquido Podem ficar retidas na parte
Vias de tráfego (80,95%) e
Inaláveis (MP que permanecem suspensas no superior do sistema respiratório
Queimadas (12,04%)
10) ar na forma de poeira, neblina, ou penetrar mais
fuligem, aerossol. Faixa de profundamente, alcançando os
tamanho ≤ 10 micra. alvéolos pulmonares.
Gases e vapores provenientes
Compostos Vias de tráfego: 50,42% Irritação nas mucosas, pode ser
de queima incompleta e
Orgânicos Postos de combustíveis: tóxico, alergias. Nem todos os
evaporação de combustíveis.
Voláteis 16,61 % Cov causam danos à saúde, (ex.:
Precursor na formação do
(COV) Vegetação: 13,69% emitidos pela vegetação).
ozônio.
Gás incolor de forte odor. Pode
Formação de chuva ácida,
Dióxido de ser oxidado na presença de Vias de tráfego (81,87%) e
corrosão, danos aos vegetais e
Enxofre (SO2) vapor de água formando ácido Industrias (13,99%)
redução da visibilidade.
sulfúrico.
Gás marrom avermelhado.
Formação de chuva ácida,
Dióxido de Forte odor e muito irritante.
importante na formação de
Nitrogênio Podem formar ácido nítrico, Vias de tráfego (97,29%)
ozônio troposférico, provoca
(NO2) nitratos e compostos orgânicos
danos a vegetação.
tóxicos.
Gás incolor, inodoro e insípido, A população pode apresentar
Monóxido de produzido pela combustão Vias de tráfego (85,38%) e sintomas como cansaço e dor no
Carbono (CO) incompleta. Queimadas (12,38%) peito. Agravamento de doenças
cardiovasculares.
Gás incolor e inodoro nas Os reagentes NOx e Cov Provoca a névoa fotoquímica,
concentrações ambientes. tem principal fonte de gás tóxico, pessoas com doenças
Ozônio (O3) Poluente secundário formado emissão as vias de tráfego, respiratórias podem apresentar
por reações entre NOx e COV sendo 97,29% e 50,42% tosse seca e cansaço. Prejudicial
respectivamente. à vegetação.
Fonte: Autores, 2019.

Rede de monitoramento de Belo Horizonte


Para monitorar a qualidade do ar na região metropolitana de Belo Horizonte – eixo Belo Horizonte/Contagem/Betim, a Feam
através da Gerência de Monitoramento da Qualidade do Ar e Emissões (Gesar) opera uma rede constituída de dez estações de
monitoramento automáticas, sendo 4 localizadas em Belo Horizonte. As estações automáticas de monitoramento da qualidade
do ar (Figura 01), são constituídas de cabines climatizadas onde estão instalados o monitor de PM10 e PM 2,5 e os analisadores
de SO2, CO, O3, NOx, os sensores meteorológicos e o sistema on-line de transmissão.

1373
Figura 1 – Estação de Monitoramento Automático
Fonte: Apresentação Rede de Monitoramento da Qualidade do ar - Gesar 2019

As quatro estações de Belo Horizonte possuem as localizações conforme o quadro 02. Coordenadas com Datum Sirgas 2000.

Quadro 02. Localização das Estações de Monitoramento da Qualidade do Ar de Belo Horizonte

Coordenadas Geográficas
Nome da Estação
Sul Oeste

Estação Centro Av. do Contorno 19°54'48.2" 43°56'08.87"

19°56'14.90" 43°59'41.50"
Estação Amazonas
Puc São Gabriel 19°51'35.532" 43° 55' .996"
Puc Barreiro 19° 58' 6.012" 44° 1'30.900"
Fonte: Autores, 2019.

O monitoramento da qualidade do ar é função do estado, porém é comum grandes empreendedores participarem das redes de
monitoramento com a instalação e operação das cabines de monitoramento da qualidade do ar através de exigências em
condicionantes ambientais. Em Belo Horizonte a estação da Amazonas foi instalada e é operada pela Mannesmann, as demais
pela Refinaria Gabriel Passos (Regap).

Índice de Qualidade do Ar (IQAr)


A Conama 491 define o Índice de Qualidade do Ar – IQAR como um valor utilizado para fins de comunicação e informação à
população que relaciona as concentrações dos poluentes monitorados aos possíveis efeitos adversos à saúde. Para o cálculo do
IQAR as concentrações médias dos poluentes são convertidas em um valor adimensional. Esse valor de IQAR recebe uma
atribuição de qualificação (Boa, Regular, Inadequada, Ruim e Péssima) e uma cor correspondente conforme figura 02.

Figura 02. Estrutura do IQAR

Fonte: Portal do Meio Ambiente - Feam, 2019

1374
A Gesar calcula o índice de cada poluente, divulgando no Boletim apenas o maior indice (pior). O Beletim Diário da
Qualidade do Ar com os índices são publicados no site da Feam como na figura 03.
Na figura 03, referente ao Boletim de qualidade do dia 15/03/2019 é possível observar que estação Amazonas apresentou o
IQAR 41, referente ao ozônio, ou seja, para a estação Amazonas o ozônio deve o maior índice calculado entre os poluentes
para o dia referente.

Figura 03. Boletim Diário IQAR

Fonte: Portal do Meio Ambiente - Feam, 2019

Materiais e Métodos

Coleta de dados

Índices de Qualidade do ar – IQAR


Diariamente a Feam disponibiliza os IQAR das quatro estações de monitoramento da qualidade do ar de Belo Horizonte em
formato de planilhas de excel no site da fundação mantendo o histórico de apenas sete dias anteriores. A partir do dia 08/03,
data de definição do tema do presente trabalho, a equipe acessou semanalmente o site para baixar o boletim diário até o dia
04/05/219.
Dados Meteorológicos
Através do site do Inmet foi possível acessar o banco de dados meteorológicos. Para acesso a série histórica diária é necessário
um breve e simples cadastro no site. Os dados meteorológicos também forma do período de 08/03 a 04/05/2019. Os dados são
da estação Pampulha A521 que possui as coordenadas 19°58' 36.012" S e 44° 1'30.900" Oeste, Datum Sirgas 2000. Vale
ressaltar que as estações automáticas de monitoramento da qualidade do ar também medem alguns parâmetros meteorológicos,
porém não são disponibilizados no site da Feam.

Elaboração de Tabelas e Gráficos

Todos os boletins de qualidade do ar do período de referência foram consolidados em um único arquivo excel, sendo que o
boletim de cada dia permanecesse em uma aba da planilha. Em uma aba específica foi criado uma tabela com os nomes das
quatro estações de monitoramento da qualidade do ar em linhas distintas e nas colunas as datas do período do estudo. Os dados
meteorológicos também foram dispostos em linhas com o valores medidos nas respectivas datas. Para a geração do gráfico
todos os valores foram selecionados e criados os gráficos apresentados nos resultados.

Análises dos Gráficos

Para a analisar as correlações entre os dados meteorológicos com a qualidade do ar foi utilizado apenas os índices da estação
PUC São Gabriel, pois é a estação de monitoramento localizada na menor distância da estação Inmet Pampulha, 5,9 km.

1375
Cálculo de Valores com comportamentos Inversos do gráfico IQAR e Umidade Relativa.

A partir do dia 08/03 foi somado os dias em que a umidade aumentava e o IQAR diminuía ou a umidade diminuía e o IQAR
aumentava em comparação com o dia anterior. Valores em que pelo menos um dos dois manteve constante em relação ao dia
anterior foi considerado como de comportamento não inverso. Os valores com comportamento inversos foram 37 (64,91%) de
um total de 57 dias analisados, excluído o dia 08/03.

Para o cálculo do coeficiente de correlação foi utilizado o método de Pearson (r) obtendo valores entre -1 e 1. Quando o
coeficiente se aproxima de 1 a correlação é liner positiva, ou seja, nota-se o aumento de uma variável quando a outra também
aumenta. Quando o coeficiente se aproxima de -1 existe a correlação inversa, quando uma variável aumenta a outra diminui.
Se o coeficiente se aproxima de 0 indica que não há correlação e quando mais próximo de -1 ou 1 mais forte é a correlação.

Resultados e Discussões

O gráfico 01 apresenta os dados do IQAR da estação Puc São Gabriel e a precipitação para o período de estudo.
No dia 22/03 ocorreu a segunda maior precipitação do período, 30 mm, e consequentemente o menor IQAR, 16,21, salientado
que no dia anterior também teve uma precipitação significativa de 24,6 mm que provavelmente contribuiu para uma boa
qualidade do ar no dia 22. A maior precipitação foi em 17/04, 31,1 mm, apresentando o segundo menor IQAR com 18. Porém
o valor do IQAR 18 também se repetiu nos dias 10/04 15/04, 16/04 ambas com precipitação de 0; 5,1 e 12 mm
respectivamente.
No período de estudo ocorreram precipitações em 21 dias sendo que em apenas 9 dias (42,85%) o IQAR diminuiu e mesmo
com chuvas teve piora do índice em outros 9 dias (42,85%). Considerando apenas os dias de chuva, o coeficiente de correlação
de Pearson para precipitação e IQAR foi de -0,434, correlação inversa.
Esperava-se que em todos os dias de precipitações a qualidade do ar melhorasse, porém foi verificado a diminuição da
qualidade do ar em apenas 42,85% dos dias chuvosos e mesmo com precipitações em outros 42,85% dos dias chuvosos o
índice piorou. Os dois menores valores de IQAR foram em dias com intensas chuvas para o período o que mostra que
intensidade maiores de precipitação interferem significativamente na qualidade do ar. O coeficiente de Pearson mostra que
existe uma correlação inversa entre chuva e IQAR.

Gráfico 01: IQAR (Puc São Gabriel) e Precipitação

Fonte: Autores, 2019.

No gráfico 02 mostra os valores de IQAR da estação Puc São Gabriel e a umidade relativa do média ar.
Nesse gráfico é possível verificar um comportamento inverso entre os dois parâmetros estudados, IQAR e umidade. Após
análise foi verificado que 64,91% dos dados apresentaram valores comportamentais inversos, ou seja, quando a umidade
aumenta o IQAR diminui e vice versa. O coeficiente de correlação de Pearson para umidade e IQAR foi de - 0,455, correlação

1376
inversa.
Entre os 21 dias com precipitações em 8, (38%), ocorreram aumento da umidade relativa e diminuição do IQAR e em 7,
(33%), a umidade diminuiu e o IQAR aumentou.
Assim, em 15 dias (71%) foi verificado um comportamento inverso entre a umidade e o IQAR. O coeficiente de correlação de
Pearson foi de -0,689, correlação inversa e mais forte (mais próximo de -1) do que a correlação para precipitação/IQAR.
Percebe-se que o comportamento da umidade em dias de precipitação pode ser mais determinante do que a própria intensidade
de precipitação, já que mesmo chovendo a umidade relativa média pode diminuir e tender a interferir no índice de forma
desfavorável.

Gráfico 02: IQAR (Puc São Gabriel) e umidade relativa média do ar

Fonte: Autores, 2019.

As variações de características topográficas, tipo e frota predominantes, intensidade de tráfego, peculiaridades de dispersão
local, corredores de ventos, cobertura do solo, entre outras características, refletem a predominância de determinados poluentes
em áreas específicas. Os gráficos 03, 04, 05 e 06 mostram a recorrência dos poluentes por estação de monitoramento.

Gráfico 03: Recorrência IQAR – PUC Barreiro Gráfico 04: Recorrência IQAR –Amazonas

Fonte: Autores, 20190. Fonte: Autores, 2019.

1377
Gráfico 05: Recorrência IQAR – Centro Gráfico 06: Recorrência IQAR - PUC S. Gabriel

Fonte: Autores, 2019. Fonte: Autores, 2019.

Conforme o gráfico 07 é possível observar um pico da média do IQAR das quatro estações no dia 19/04, feriado de sexta-feira
santa. O possível aumento da média deve-se provavelmente ao itenso tráfego de veículos devido ao feriado associado a baixa
umidade média do ar no dia, 52,25 %. Também é possível verificar que nos sábados e domingos, menor intensidade de tráfego,
não houve índices consideravelmente inferiores aos demais dias da semana como se esperava. Inclusive a segunda maior
média, 34,5, foi em um domingo, 31/03.

Gráfico 07: IQAR das Estações

Fonte: Autores, 2019.

A PUC São Gabriel apresentou a maior média aritmética do IQAR com 26,9 seguida pela estação Amazonas com 22,39; 21,6
PUC Barreiro e 20,68 Centro.
A PUC Barreiro e a estação Amazonas atingiram o índice regular, acima de 40, duas vezes, a Puc São Gabriel 1 vez e o centro
nenhuma. Sendo que dentre as cinco ocorrências, 4 foram no mesmo 2 dia.

1378
Considerações finais

Para uma mesma taxa de emissão de poluentes a qualidade do ar pode se apresentar melhor ou pior, a depender de fatores que
interferem na dispersão dos poluentes. O desenvolvimento do presente trabalho possibilitou a identificação de alguns desses
fatores que interferiram na qualidade do ar na cidade de Belo Horizonte no período de 08/03/19 a 04/05/2019.
A precipitação é um fator meteorológico que interfere na qualidade do ar, como foi observado nas duas grandes chuvas do
período onde ocorreram os menores índices de qualidade do ar. Entretanto esperava-se que em todos os dias de precipitações a
qualidade do ar melhorasse, mas foi verificado a diminuição da qualidade do ar em apenas 42,85% dos dias chuvosos e mesmo
com precipitações em outros 42,85% dos dias chuvosos o índice piorou. O coeficiente de Pearson mostra que existe uma
correlação inversa entre chuva e IQAR.
A intensidade de tráfego de veículos também pode influenciar no índice como pôde ser observado no feriado de sexta-feira
santa,19/04, em que ocorreu um pico da média do IQAR pelo intenso tráfego de veículos no feriado associado a uma umidade
relativa desfavorável. Embora o tráfego de veículos seja inferior nos sábados e domingos, não foram observados diferenças
significativas nos índices para esses dias, o que indica uma desfavorável condição de dispersão dos poluentes talvez associado
à estação do ano.
A localização Os gráficos de recorrências dos índices também mostraram uma significativa diferença entre as estações.
Provavelmente essas variações de tipos de poluentes mais recorrentes seja devido a localização e porte, que influencia na taxa
de emissão, dos veículos que utilizam as vias próximas das estações de monitoramento da qualidade. Assim esses fatores
também interferem na qualidade do ar local.
A umidade relativa se apresentou como o maior regulador da qualidade do ar durante o período estudado. Conforme as
análises, em 64,91% dos dados os valores de umidade foram apresentaram comportamentos inversos à umidade, já a análise
apenas para dias com precipitação mostrou que 71% dos dados apresentaram valores com comportamentos inversos, ou seja,
quando a umidade aumenta o IQAR diminui e vice versa. Quando a umidade relativa do esteve abaixo de 61% ocorreram
grandes picos médios do IQAR, mostrando sua importância como fator que influencia a qualidade do ar.

Comentários finais
Para uma mesma taxa de emissão de poluentes a qualidade do ar pode se apresentar melhor ou pior, a depender de fatores que
interferem na dispersão dos poluentes. O desenvolvimento do presente trabalho possibilitou a identificação de alguns desses
fatores que interferiram na qualidade do ar na cidade de Belo Horizonte no período de 08/03/19 a 04/05/2019.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer ao CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA pelo apoio recebido.

Referências Bibliográficas
ABG Consultoria Estatística. Disponível em http://www.abgconsultoria.com.br/blog/coeficientes-de-correlacao/. Acessado em
30/05/2019.
Qualidade do Ar. Portal Meio Ambiente. MG- Feam, 2019. Disponível em http://www.feam.br/qualidade-do-ar/qualidade-do-
ar. Acesso em 08/05/2019
Dados. Portal Meio Ambiente. MG - Feam, 2019. Disponível em http://www.feam.br/qualidade-do-ar/dados. Acesso em
08/05/2019.
Relatório Técnico Inventário RMBH 2015- Atualização do Inventário de Emissão de poluentes atmosféricos da região de
Belo Horizonte, Contagem e Betim refernete ao ano 2015. Feam e Refinaria Gabriel Passos. Disponível em
http://www.feam.br/qualidade-dor/relatorios-artigos-e-publicacoes . Acessado em 27/05/2019.
Boletim Qualidade do Ar. Portal Meio Ambiente. MG-Feam, 2019.Disponível em http://www.feam.br/noticias/1/1327-
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Ferreira, Flávio Daniel Ampliação da Rede Automática de Monitoramento da Qualidade do Ar do Estado, por meio do
Licenciamento Ambiental-Sisema 2019.Disponível em
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Qualidade do ar no estado de São Paulo,2017. Cetesb SP. Disponível em https://cetesb.sp.gov.br/ar/publicacoes-relatorios/.
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Qualidade do ar no estado de São Paulo,2011. Cetesb SP. Disponível em https://cetesb.sp.gov.br/ar/publicacoes-relatorios/.

1379
Acesso em 05/04/2019.
Opas Brasil – Organização Pan-Americana de Saúde- Organização Mundial de saúde. Disponível em
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5654:nove-em-cada-dez-pessoas-em-todo-o-
mundo-respiram-ar-poluido&Itemid=839. Acessado em 20/03/2019
Instituto nacional de Metereologia Inmet. BDMEP Banco de Dados Metereoro para pesquisa. Disponível em
http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep. Acessado em 04/05/2019.
Resolução Conama RESOLUÇÃO N. 491, DE 19 DE NOVEMBRO DE 2018. Disponível em
http://www2.mma.gov.br/port/conama/. Acessado em 25/05/219.

1380
5SSS295
ESTUDO DE IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS DE DRENAGEM
SUSTENTÁVEL EM SANTA MARIA - DF
Fernando Novaes Cornachioni Delci1, Maria Elisa Leite Costa2, Sérgio Koide3
1 Universidade de Brasília, e-mail: fernando.cdelci@gmail.com; 2 Universidade de Brasília, e-mail:
mariaelisa@unb.br; 3 Universidade de Brasília, e-mail: skoide@unb.br

Palavras-chave: Drenagem Urbana; Modelagem Hidrológico-Hidráulica; PCSWMM

Resumo
Como consequência da expansão das áreas urbanas, há um aumento da impermeabilização do solo, tal condição
amplifica problemas oriundos de chuvas intensas nas cidades, gerando alagamentos e transtornos para a população. Os
sistemas de drenagens de águas pluviais são formas desenvolvidas pela engenharia hidráulica e hidrológica para enfrentar esta
ação antrópica. Atualmente vê-se o foco das soluções dadas para a drenagem urbana mudando da visão imediatista, que
somente afastam as águas das áreas urbanas, para uma visão mais sustentável, que visa amenizar os impactos causados pelo
aumento do deflúvio, como elevadas vazões de pico, menores tempos de concentração e aumento do escoamento superficial.
O presente trabalho teve como escopo analisar a Região Administrativa de Santa Maria, no Distrito Federal, que vem,
a longo prazo, sofrendo as consequências dessa visão antiga, devido à constante urbanização e impermeabilização, gerando
alagamentos prolongados e extravasamentos de poços de visita, em função da insuficiência da rede para conduzir toda a água à
jusante em um período de tempo adequado. Focou-se em uma análise quantitativa do sistema vigente por meio do programa
PCSWMM para diferentes cenários, sendo que, foram implementadas algumas medidas adotadas pela drenagem sustentável
como bacias de detenção e valas de infiltração e verificado os impactos causados.
Definiu-se os cenários, primeiramente, considerando o recomendado pelo Plano Diretor de Drenagem Urbana do
Distrito Federal (PDDU-DF), sendo uma chuva de tempo de retorno de 10 anos e duração de 24 horas, considerado o vigente
para novos projetos de drenagem no Distrito Federal. A partir desse cenário verificou-se, também, a rede existente para o
tempo de retorno de 2 anos e de 5 anos, sendo esse último o vigente à época do projeto e implantação da rede, extrapolou-se a
análise, ainda, para chuvas menos prováveis e em situações mais adversas, com um tempo de retorno de 25 anos e, assim, para
as durações de chuva, todos os tempos de retorno seguiram com duração de 24 horas.
O Segundo cenário foi definido pela simulação de uma bacia de detenção in-line no sistema mais a jusante e, por fim,
o último cenário contemplou valas de infiltração mais a montante do sistema, desta forma, para ambas medidas sustentáveis
adotadas, tanto bacia de detenção quanto as valas de infiltração, suas simulações foram realizadas para o tempo de retorno de
10 anos e a mesma duração de chuva, de 24 horas, sendo que as valas foram simuladas para 2 anos também.
Os resultados obtidos permitiram inferir que a rede não atende as condições de urbanização em vigor atualmente,
sendo que, mesmo para tempos de retorno menores, de 2 e 5 anos, já apresenta pontos de sobrecarga em seus poços de visita e
condutos trabalhando em regime forçado, desta forma, conclui-se que a rede apresenta-se subdimensionada em grande parte de
sua extensão não sendo capaz de escoar efetivamente toda água precipitada nas contribuições da região, sendo necessário
alternativas para melhorar o comportamento da rede e atenuar os alagamentos recorrentes.
Os cenários dois e três definidos, permitiram observar como as medidas alternativas e sustentáveis adotadas
proporcionam um melhor comportamento do sistema, tanto a jusante, dado pela bacia, quanto a montante, dado pelas valas de
infiltração, devendo-se ser adotadas, conforme possível, em toda extensão da rede. Para o cenário em que houve
implementação da bacia de detenção, observou-se uma redução de pico de vazão de até 30%, mostrando-se uma alternativa
eficaz, se adotada adequadamente e em espaços propícios, já para as valas de infiltração, observou-se uma redução da vazão de
lançamento em até 52%, observada para o tempo de retorno de 2 anos e de até 40% para tempo de retorno de 10 anos. Desta
forma, essas medidas mostram-se boas alternativas, devendo-se sempre associá-las, para melhorar o desempenho do sistema
como um todo, para enfrentar os problemas e reduzir os impactos oriundos de chuvas intensas em uma região já urbanizada
como a região de Santa Maria (DF).

Introdução
A partir das décadas de 50 e 60, no Brasil, observou-se uma mudança nas relações de trabalho no campo e na cidade,
levando a uma mudança na estrutura territorial do país, caracterizada pelo êxodo rural e crescimento das cidades. Observou-se,
no entanto, que essa transição não foi acompanhada do adequado planejamento espacial e implementação de toda infraestrutura
necessária para que houvesse a correta ocupação desses centros urbanos, caracterizando um crescimento intenso e desordenado

1381
(Martine & McGranahan, 2010).
Com esse intenso crescimento populacional nos centros urbanos, sua ocupação de forma irregular traz diversas
consequências negativas às cidades (Bredariol, 2001). A partir da impermeabilização do solo, com a constante inserção de
materiais artificiais impermeáveis, como o asfalto e o cimento, na superfície de um terreno, ocorre um aumento do volume de
escoamento superficial e a diminuição da infiltração das águas da chuva no solo. Tais fatores são responsáveis diretos pela
ocorrência de inundações urbanas.
De forma a sanar tais problemas advindos da urbanização, inicialmente via-se a drenagem pluvial com um viés
higienista, em que se recomenda a rápida evacuação das áreas urbanas, levando a água à jusante. Esta visão clássica, no
entanto, teve sua eficácia questionada justamente pela velocidade de expansão dos centros urbanos, que colocava em xeque os
sistemas já implementados e, portanto, demandava novos sistemas. Surgiram, então, as técnicas compensatórias em drenagem
urbana, que buscam reduzir esses efeitos da urbanização, trazendo qualidade e preservação ambiental.
Em relação ao Distrito Federal (DF), mais especificamente na região administrativa de Santa Maria, objeto de estudo
deste trabalho, a ocupação se deu de forma intensa inicialmente, tendo sido consequência de um programa de distribuição de
lotes realizado pelo governo do Distrito Federal. Assim como as demais regiões administrativas do DF, Santa Maria, nos
primeiros anos, era dotada de pouca infraestrutura urbana.
Em virtude do contexto acima descrito, no que se refere à drenagem urbana, em 2009 foi estabelecido o Plano Diretor
de Drenagem Urbana do Distrito Federal. Esse Plano consiste em meios para o planejamento da drenagem e manejo de águas
pluviais em área urbana no DF. Para a região de Santa Maria foi feito o diagnóstico de sua rede existente, atestando que em
muitos pontos ela já trabalha em sua capacidade total. Desta forma, para situações futuras de urbanização o prognóstico
sinaliza o comprometimento de praticamente toda a rede, tornando necessária a busca de medidas, tais como as técnicas
compensatórias, como forma de melhor planejar o desenvolvimento da região.
Como uma maior forma de controle dos corpos hídricos no DF a Adasa estabeleceu a resolução de no 9, em 2011, que
regula sua competência para outorga de lançamento final das águas pluviais visando controle quantitativo e qualitativo desses
recursos, além de estabelecer diretrizes a serem seguidas e implementadas para melhor efetividade na operação dos sistemas a
serem implantados.
Maneiras de buscar esse controle qualitativo e quantitativo são as bacias de detenção, Souza et al. (2019) fez um
estudo de alternativas no Distrito Federal, que consistia na simulação, por meio do modelo SWMM, de 13 localidades para
bacias de detenção dispostas ao longo da rede de drenagem, com a finalidade de avaliar como se daria o impacto de tais
medidas na qualidade do lago da água do lago Paranoá, lago urbano com função de reservação de recursos hídricos, que vem
sendo utilizado também para abastecimento de água para a população. A efetividade das bacias foi constatada na contenção de
poluentes, assim como nas vazões lançadas, no entanto, por existir grandes restrições na implementação dessas medidas nas
áreas próximas ao emissário, propõe-se atrelá-las à utilização de medidas que permitam a infiltração das águas ora escoadas.
Em busca dessas alternativas que permitem a infiltração, Carvalho et al. (2019) realizou um estudo em uma área,
também próxima ao lago Paranoá, que não havia ainda sua infraestrutura de drenagem urbana implantada. Desta forma,
alternativas ao projeto original foram realizadas para que valas de infiltração fossem adaptadas ao urbanismo da região. O
modelo SWMM foi empregado para a realização das simulações, e a partir dos resultados gerados as medidas sustentáveis
adotadas foram capazes de infiltrar até 78% da precipitação de projeto definida, se mostrando uma boa alternativa a ser mais
bem avaliada em novos projetos para um manejo mais adequado das águas pluviais.
Neste presente estudo, foi avaliado o sistema de drenagem da Região Administrativa de Santa Maria em busca do
melhor entendimento das situações críticas em que a rede se encontra, com o uso do modelo SWMM aplicado a diferentes
cenários com a hipótese de inserção de medidas compensatórias como valas de infiltração e bacias de detenção.

Metodologia
No presente trabalho foram realizadas análises envolvendo o sistema de drenagem implementado na Região
Administrativa de Santa Maria-DF, a partir das quadras CL 112, 212 e 312 até as quadras CL 118, 218, 318, 418 e 518. Tais
quadras representam, ainda, os quatro primeiros lançamentos mais a montante do canal que compõem a drenagem urbana da
região. Tomou-se essa região para estudo, inicialmente devido a queixas apresentadas quanto à ocorrência de inundações e
alagamentos de forma recorrentemente na área das quadras CL 413/415 após eventos chuvosos.
O programa PCSWMM foi o principal instrumento utilizado para análise do comportamento da rede de drenagem
existente em diferentes cenários. Como forma de mitigar essas ocorrências foram estudadas propostas de medidas para reduzir
o problema.

Caracterização da Área de Estudo


A região administrativa de Santa Maria só integrou oficialmente o mapa do Distrito Federal por meio da Lei Distrital
no 348, 05/11/1992, no entanto, suas primeiras quadras foram ocupadas a partir de fevereiro de 1991(PDAD, 2015). Santa
Maria tem a extensão de 21.586 hectares, dos quais 1.200 ha correspondem à área urbana. A Figura 63 representa a posição

1382
relativa de Santa Maria no Distrito Federal
Quanto as questões hidrológicas, a maior parte da área drenada do Distrito Federal encontra-se compreendida pela
Bacia Hidrográfica do Paraná, que é constituída pelas bacias hidrográficas do Rio São Bartolomeu, do Lago Paranoá, do Rio
Descoberto, do Rio Corumbá e do Rio São Marcos. Santa Maria encontra-se nas bacias hidrográficas do Rio São Bartolomeu,
Lago Paranoá e o seu centro urbano está na bacia do rio Corumbá, sendo que o Ribeirão Alagado e o Santa Maria são dois
corpos hídricos principais que circundam a região administrativa e dão nome também às duas principais avenidas da cidade
(Carvalho, 2012).

Figura 63: Posição relativa da RA-XIII no Distrito Federal (Fonte: Codeplan, 2015).

A característica topográfica da RA-XIII, segundo Carvalho (2012), é composta por terrenos planos de ondulação
suave, variando de 1.100 a 1.250 metros de altitude, apresentando a declividade em direção aos ribeirões Santa Maria e
Alagado, por essa topografia plana a sua expansão e sua ocupação urbana foram facilitadas. Predominam na região os
Latossolos, associados, geralmente, a relevos de plano a levemente ondulados, característicos do Cerrado e que, por sua vez,
também facilitaram na ocupação da cidade, em menores proporções, no entanto, existem os Cambiossolos e os solos
Hidromórficos.
A rede de drenagem em Santa Maria foi implementada dos anos 2000 a 2004. Na Figura 64, tem-se uma
representação esquemática das dimensões da tubulação ao longo de toda extensão da rede de drenagem, incluindo o canal
aberto à jusante do sistema. Dada a rede existente estar consolidada há um certo tempo, os parâmetros de projetos, com os
quais foram dimensionadas, não atendem os parâmetros solicitados pelas agências reguladoras e fiscalizadores atualmente,
Novacap e Adasa. Pode-se citar, por exemplo, os diâmetros mínimos de tubulação, anteriormente determinados em 400 mm e
atualmente considerados 600 mm – sendo diâmetros de 400 mm limitados para ramais de ligação de bocas de lobo ¬, e o
tempo de recorrência da chuva de projeto, anteriormente de 5 anos, atualizado para 10 anos.

1383
Figura 64: Dimensões da tubulação ao longo da rede de Drenagem.

Foram feitas, também, visitas de campo para verificação de como se comportava o sistema de drenagem na época das
chuvas. Observa-se pelas fotos coletadas no período de janeiro de 2019, o escoamento superficial relativamente considerável
na avenida Santa Maria, próxima às quadras CL 413/415 (Figura 3 e 4).

Figuras 65 (esquerda) e 66 (direita): Lâmina d’água ultrapassando altura do meio fio e bocas de lobo atuando como
orifícios na região Próxima à CL 316/416, na Avenida Santa Maria e Alagamento próximo à CL 316/416, na primeira
rua paralela abaixo da Avenida Santa Maria, respectivamente.

1384
Modelagem Hidrológica-Hidráulica
Para realização das simulações hidrológico-hidráulicas propostas ao longo desse trabalho, levantou-se uma série de
parâmetros da bacia em questão. As informações obtidas a partir do geoprocessamento dos dados foram necessárias para o
PCSWMM, para que ele pudesse realizar as operações de modelagem da rede existente. Essas informações foram organizadas
de forma a obter-se:
• O modelo digital de elevação, para representação da topografia da sub-bacia, cuja declividade média
encontrou-se em torno de 17%, com altitude máxima de 1.249 m e mínima de 1.202.6 m;
• Delimitação da área da bacia e sub-bacias de influência ao longo da região, Figura 67, em que observam-se
quatro grande sub-bacias de contribuição ao canal existente a jusante de todo o sistema de drenagem urbano;
• Delimitação de mapa do tipo de solo existente na região, onde o solo predominante é o Latossolo Vermelho-
Escuro sendo uma pequena área representada pelo solo do tipo Areia Quartzosas;
• Delimitação de mapa de uso e ocupação do solo na região, com suas as respectivas porcentagens, assim como
os valores do parâmetro CN para cada área definida, utilizados posteriormente para modelagem, ambos representados na
Tabela 69.

Figura 67: Área de estudo do sistema de drenagem e sub-bacias de contribuição para o canal.

Tabela 69: Caracterização percentual do uso e ocupação do solo e valores de CN adotados


USO E OCUPAÇÃO ÁREA (ha) PORCENTAGEM (%) CN
Vegetação em Boas Condições 13,84 3,44 30
Terreno em Más Condições 28,08 6,99 68
Zonas Comerciais 30,89 7,69 89
Cobertura Vegetal Ruim 45,51 11,33 45
Vias Pavimentadas e Calçadas 119,58 29,76 98
Zonas Residenciais 163,92 40,79 77
ÁREA TOTAL 402,09 100 CN medio: 78,3
Fonte: Valores de CN adaptados de Tucci, 1993.

1385
• Seleção das chuvas de projeto definidas a partir dos tempos de retorno de 2, 5, 10 e 25 anos, todas com
duração de 24 horas e elaboração, a partir da curva IDF de Brasília em vigor (Equação 4), dos respectivos hietogramas,
discretizados de 5 em 5 minutos;

Equação 4

Cenário de Simulação
De acordo com PDDU (2009), foram propostos alguns locais para a locação de futuras bacias de detenção, onde
existiam espaços físicos disponíveis para que elas pudessem adequar-se ao sistema, beneficiando o aproveitamento do espaço
urbano e sua integração às medidas de controle de drenagem. Dessa forma, as descargas feitas nessas regiões podem vir a
trabalhar em conjunto com o amortecimento proposto pelas bacias de detenção e sanar problemas de sobrecarga da rede.
Assim, foram propostos 3 cenários de análise, o primeiro refere-se a uma análise da rede existentes para diversos
tempos de retorno definidos (2, 5, 10, 25 anos) com chuvas de duração de 24 horas. A bacia de detenção foi considerada para o
segundo cenário, sendo escolhido um dos locais propostos pelo PDDU e foi simulada de forma a avaliar o impacto que
causaria na rede. Por fim, no último cenário, ainda levando em conta os locais propostos pelo PDDU, pensou-se em regiões
mais a montante do sistema, sendo escolhido um desses locais, de forma a implementar duas valas de infiltração e controlar,
desde essa região, a entrada das águas pluviais no sistema.
O volume da bacia foi pré-dimensionado a partir da Equação 5 definida pela ADASA na resolução de número 9
(ADASA, 2011), considerando as áreas de contribuição da rede a montante dos pontos escolhidos.

Equação 5

Nessa equação V é o volume estimado em m3, Ai é o percentual de área impermeável contribuinte e Ac é a área de
contribuição total, em ha. Para a aplicação dessa fórmula do fator Ai é feita a partir do coeficiente de escoamento superficial
ponderado em relação a área de contribuição. A partir desse volume pré-estabelecido, buscou-se adequá-lo da melhor forma
possível à área proposta e analisar a contribuição para o amortecimento de vazões de pico e alívio do sistema. Para que não
houvesse impacto na reentrada da vazão de saída da bacia no sistema, ela foi limitada, conforme preconiza a mesma resolução
supracitada, em 24,4 L/s.ha, considerada vazão específica de pré-desenvolvimento para Brasília (DF).
O outro local de análise foi escolhido para avaliação do impacto da vala de infiltração, representada pela Figura 68, no
sistema, uma vez que se encontra mais a montante da rede.

Figura 68: Representação esquemática de valas de infiltração no Software PCSWMM (Fonte: ChiWater, 2019).

Análise e Discussão dos Resultados


Inicialmente, simulou-se a área de estudo para os tempos de retorno propostos e verificou-se como estava o
comportamento da rede. Os gráficos da Figura 69 apresentam a precipitação gerada pelas chuvas de projeto e o escoamento
que ela gera para todo o sistema.
A Figura 70 representa as vazões de extravasamento total da rede como um todo, para cada chuva de projeto.
Observa-se que para todos os tempos de retorno simulados há vazões de extravasamento – 22 m3/s para TR de 2 anos, 43 m3/s
para TR de 5 anos, 65 m3/s para TR de 10 anos e 98 m3/s para TR de 25 anos – constatando a incapacidade do sistema de
drenagem comportar chuvas críticas e intensas quando elas ocorrerem, gerando transtornos à população, assim como para
chuvas mais leves, em que o sistema encontra-se sobrecarregado desde a chuva de menor intensidade.

1386
Figura 69: Precipitação e escoamento superficial gerado para todos os tempos de retorno de projeto.

Figura 70: Extravasamentos representados na rede como um todo, para cada chuva de projeto simulada

1387
Os dados do gráfico da Figura 71 foram obtidos a partir dos condutos de chegada no canal. Nota-se que para as sub-
bacias 1 e 3, os condutos de saída não tem sua vazão máxima de operação limitada pela sua própria geometria, algo que já
ocorre para os condutos de saída das sub-bacias 2 e 4 para intervalos de tempo próximos a 15 e 35 minutos, respectivamente.
Desta forma, demonstra-se como o sistema não foi capaz de captar e conduzir toda a água escoada superficialmente. A água
não comportada pelos condutos acumula-se pela superfície do terreno e pode chegar a sobrecarregar e/ou extravasar pelos PVs.

Figura 71: Vazões de saída de cada sub-bacia delimitada calculadas pelo modelo SWMM a partir da rede existente e
chuva de TR 10 anos

Para analisar o comportamento do canal, considerou-se seu ponto final de estudo como um exutório do sistema e
mensurou-se a vazão de saída e a profundidade atingida, Figura 72, que permite inferir que a altura máxima de 1,5 metros do
canal foi atingida e que a vazão de pico é limitada em 35 m3/s, máxima vazão comportada pela geometria do canal, durante 30
minutos de ocorrência do evento pluvial, atestando comprometimento da sua funcionalidade.

1388
Figura 72: Representação da máxima profundidade e a máxima vazão atingidas pelo canal

A bacia de detenção a ser simulada encontra-se a jusante da sub-bacia 2 de análise. Aplicou-se a Equação 4, da Adasa,
para se obter um volume estimado inicial e calculou-se o diâmetro do orifício de saída para que a vazão fosse limitada em 24,4
L/s.ha, para os 49,92 ha de contribuição da sub-bacia 2, a Tabela 70 apresenta os resultados obtidos. Para atender a esse
volume, dado que a área disponível no local é estimada em 0,59 ha (5.900 m2), optou-se por uma bacia com dimensões de 50
m x 60 m de área de base (3.000 m2) e uma altura de 5 metros, estipulou-se um vertedor de largura da soleira de 10 metros e
altura da face de 0,5 metros. A Lâmina máxima d’água é limitada a 4,5 metros de profundidade para que o vertedor, em tese,
não entre em funcionamento.

Tabela 70: Dados de pré-dimensionamento da bacia de detenção


Vazão específica (Resolução 9, Adasa) (l/s.ha) 24,4
Volume (Resolução 9, Adasa) (m3) 15.690,90
Altura Máxima da Lâmina d’água (m) 4,50
Vazão Limite (m3/s) 1,22
Volume de Armazenamento Adotado (m3) 13.500
Diâmetro de Saída Estimado (m) 0,50

1389
Figura 73: Vazão de reentrada no sistema após amortecimento dado pela bacia

Como constatado anteriormente, na Figura 71, a vazão de saída simulada da sub-bacia 2, de 11,5 m3/s, é limitada pela
geometria do conduto, o qual trabalha afogado, portanto, conforme visto na Figura 73, pode-se comparar o valor da vazão de
entrada, com o valor da vazão de saída da bacia, para um mesmo ponto, onde há uma diminuição da vazão de operação do
conduto, caindo para 8,1m3/s, notando-se que o mesmo não se encontra mais em regime de conduto forçado. Desta forma,
nota-se que mesmo ainda vertendo, observado no Figura 73, pelo segundo pico no hidrograma de saída da bacia, a sua
implementação no sistema proporcionou um amortecimento de vazões em torno de 30% e um retardo do tempo de pico do
hidrograma analisado.
A bacia foi modelada a jusante de forma a avaliar a melhoria que ela poderia trazer. Como visto, com os resultados
obtidos, quando a bacia é aplicada como única medida, ela não é suficiente para atenuar o pico de propagação da onda de cheia
de forma total, uma vez que pela a área disponível para sua locação, ela verte para o volume de chegada. Deve-se, portanto,
buscar atenuar à montante a propagação de cheias ao longo das redes por meio de controle na fonte. Foi adotado o
dimensionamento pelo PCSWMM de duas valas de infiltração, uma ao lado da outra, no outro ponto definido para este projeto,
a partir dos estabelecidos pelo PDDU. A Figura 74 representa a locação das valas de infiltração e suas respectivas
contribuições.
A Tabela 71 resume os valores encontrados para as vazões de saída para a rede com e sem as valas de infiltração.
Nota-se que, para o aumento do tempo de retorno da chuva de projeto as valas tendem a perder sua eficiência do
amortecimento das ondas de cheia. No entanto, ainda se mostram bastante eficientes na redução da vazão lançada ao sistema
de drenagem a jusante.
Tabela 71: Resumo do impacto das valas de infiltração a montante
TR 2 ANOS TR 10 ANOS
Vazão Vazão
Redução (%) Redução (%)
(m3/s) (m3/s)
SEM 1,529 2,114
VALA 1 52 41
COM 0,739 1,243
SEM 1,386 2,188
VALA 2 51 34
COM 0,678 1,448

1390
Figura 74: Locação das valas de infiltração e suas áreas de contribuição

Portanto, as valas de infiltração associadas às bacias de detenção em pontos estratégicos do sistema, como os já
propostos pelo PDDU além de possíveis outros pontos, podem trazer alívio do mesmo à jusante, melhorando, também, as
condições de operação do canal, o qual atualmente encontra-se operando acima de sua capacidade.

Comentários Finais
Em um primeiro momento, para entender os fatores causadores de falhas no sistema de drenagem, foram feitas visitas
à Região Administrativa de Santa Maria. Constatou-se que as falhas podem ser causadas pela obstrução na captação da água
superficial pelos sistemas de drenagem para sua correta condução, como bocas de lobo entupidas, meio fio danificados e
malcuidados, avanços dos loteamentos alterando os escoamentos pelas sarjetas. Tais fatores causam perda da eficiência do
sistema e o aumento de alagamentos na região.
Verificou-se, também, a inexistência em grandes trechos e em muitos arruamentos de sistema de drenagem, em que
consta somente o escoamento superficial pelas ruas e sarjetas. Isso acaba gerando uma sobrecarga na drenagem rodoviária
prevista pelas sarjetas e é, também, um causador de alagamentos na região. Notou-se, ainda, muitos problemas nas cabeceiras
das redes, cujas contribuições iniciais desses ramos são elevadas e possuem tubulações começando em diâmetros de 400 mm,
mínimo admitido na época da execução destes projetos. Atualmente o mínimo admitido para tubulações de drenagem urbana
são 600 mm de diâmetro, segundo Termo de Referência da NOVACAP (2012).
Desta forma, soluções para conter e armazenar a água a montante, limitando sua vazão de saída no tempo, mostram-se
as melhores medidas para contornar os problemas enfrentados na área de Estudo de Santa Maria. Conforme pôde-se concluir
pelas simulações feitas com valas de infiltração a montante, há uma redução no pico da vazão de entrada no sistema de até
52%, promovendo, além disso, uma melhor distribuição temporal dessas vazões, atenuando o hidrograma de saída para o
sistema. No entanto, para uma melhora significativa no sistema como um todo, deve-se buscar mais pontos, além daqueles
definidos pelo PDDU, destinadas a receber essas intervenções, para que elas possam ser adotadas em maiores quantidades e
espalhadas ao longo de toda a bacia.
Além da medida adotada a montante, podem ser associadas a ela as bacias de detenção a jusante, de forma a buscar

1391
conter as vazões de lançamento final. Para o caso específico desta área de estudo em Santa Maria, as vazões devem ser
contidas de forma a não sobrecarregarem o canal existente a jusante, que já trabalha em sua capacidade máxima para todas as
chuvas de projeto simuladas.
A simulação da bacia de detenção no resultou em uma redução de pico de vazão em 30% e retardo no tempo de pico
do seu hidrograma de saída. Para seu pré-dimensionamento definiu-se toda área disponível como área superficial admissível
para ela, no entanto, a limitação do espaço reduziu também o volume útil final de forma que a bacia não se mostrou suficiente
para conter o volume de água sem que o vertedor entrasse em operação, conforme recomenda-se para um TR de 10 anos.
Por se tratar de uma área bem consolidada, intervenções estruturais de grande porte tornam-se mais difíceis de
realizar, porém, como constatado pela situação crítica a qual o sistema se encontra como um todo, devem ser melhor estudadas
para aumentarem a eficiência das medidas de controle na fonte que vierem a ser adotadas em maior escala. Para as regiões
comprometidas a montante, em que há condutos trabalhando em regime forçado logo no início do sistema, além de medidas
compensatórias, propõe-se a adequação dos diâmetros das galerias instaladas e a ampliação da extensão da rede e da captação
da água do escoamento superficial, diminuindo as situações de alagamentos prolongados e melhorando o escoamento dentro
das galerias. No entanto, só haverá eficiência quando associadas às bacias de detenção, uma vez que a vazão de lançamento no
canal, e após ele, será mais bem distribuída ao longo do tempo, devido ao amortecimento a montante, e causará menos
impactos a jusante.
Como principal ferramenta de trabalho neste projeto, o Software PCSWMM, por meio da modelagem SWMM, se
mostrou bastante eficiente nas simulações propostas, a partir dos parâmetros definidos e dos resultados obtidos, de forma que
pudessem ser analisados e comparados com outros métodos estabelecidos, dentre eles, o método racional.
Para uma melhora do prognóstico da região poderiam ser feitas diversas outras modelagens em conjunto das já
apresentadas, com seus resultados efetivos constatados e mensurados, além de simuladas outras medidas compensatórias que
talvez possam melhor enquadrar-se na área de estudo, para efetivamente minimizar os impactos oriundos da área densamente
urbanizada. Além disso, podem ser realizados estudos quanto a melhor forma de fazer os lançamentos no canal para que sua
capacidade máxima não seja sempre atingida.

Agradecimentos

Os Autores gostariam de agradecer a Universidade de Brasília pelo apoio recebido na realização desse artigo, à
CHIWATER pela concessão da licença do PCSWMM para fins acadêmicos e à Novacap e à Adasa pela disponibilização dos
dados.

Referências Bibliográficas

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Resolução No9 de 08 de abril de 2011, que estabelece os procedimentos gerais para requerimento e obtenção de outorga de
lançamento de águas pluviais em corpos hídricos de domínio do Distrito Federal e naqueles delegados pela União e Estados,
2011. Brasília, Diário Oficial do Distrito Federal.

Adasa – Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal, 2018. Manual de Drenagem e
Manejo de Águas Pluviais Urbanas do Distrito Federal. Brasília:Adasa.

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Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(COPPE/UFRJ), RJ, 244p.

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vulnerabilidade socioambiental no setor Habitacional Ribeirão/ Porto Rico. Distrito Federal, Brasília. Setembro de 2012. 89 p.
IH/GEA/UnB, Licenciatura e Bacharelado.

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Martine, G.; McGranahan, G, 2010. “A transição urbana brasileira: trajetória, dificuldades e lições aprendidas”. In:
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Pereira Souza, F.; Leite Costa, M.E.; Koide, S, 2019. Hydrological Modelling and Evaluation of Detention Ponds to Improve
Urban Drainage System and Water Quality. Water, 11, 1547.

1393
5SSS296
VARIAÇÃO DA EROSIVIDADE DA CHUVA NA BACIA DO RIO
SANTA MARIA (RS)
Thomas Gabriel Binder1, Guilherme Moreira2, Denise Berwanger3, Anderson Augusto Volpato Sccoti4,
Carina Petsch5
1Universidade Federal de Santa Maria, thomasgbinder@hotmail.com; 2Universidade Federal de Santa Maria,
guilhermems2010@gmail.com; 3Universidade Federal de Santa Maria, denise24ber@gmail.com 4Universidade
Federal de Santa Maria, asccoti2@gmail.com; 5Universidade Federal de Santa Maria, carinapetsch@gmail.com

Palavras-chave: perda de solos; erosividade; precipitação;

Resumo
A chuva é uma das maiores influenciadoras no processo de erosão, resultado de um desequilíbrio no sistema ambiental, que se
desenvolve por problemas naturais ou antrópicos. Nessa perspectiva, o presente artigo tem como objetivo calcular o índice
médio de erosão mensal e anual para o período de 1944 a 2018, utilizando como base, dados de precipitação de três estações
meteorológicas localizadas na bacia hidrográfica do rio Santa Maria (RS). A metodologia utilizada para realizar a pesquisa se
deu por etapas, primeiramente foi realizada a análise das estações meteorológicas presentes na bacia, na sequência foram
escolhidas três (Cacequi, Granja Umbu e Saica) devido à boa consistência de dados e também por conta da série histórica 74
anos. Por seguinte, foi realizada uma modelagem dos dados no Excel, para calcular a precipitação média de cada mês e de cada
estação, foi calculado o índice mensal de acordo com as equações (1) de Rufino et al. (1993) e (2) de Peñalva-Bazzano et al
(2007), e posteriormente a média anual. Foram encontrados os valores de 6588,83MJ mm ha-1 h-1 ano-1 e 11371,89 MJ mm ha-1
h-1 ano-1 para toda a bacia hidrográfica do Santa Maria, sendo classificada como uma perda de solos médio forte e muito forte,
segundo a equação 1 e 2, respectivamente. Considerando os valores mensais de erosividade, o maior valor foi em outubro e o
menor em agosto, para as três estações meteorológicas. Também ressalta-se que os resultados obtidos para bacia hidrográfica
do Santa Maria se assemelham aos valores encontrados em outras cidades do RS, como Encruzilhada do Sul, São Borja e
Quaraí, assim, validando as equações utilizadas. Além disso, pretende-se buscar dados pluviográficos para a área, para assim
fazer uma equação de correlação que seja ainda mais compatível para a bacia hidrográfica, visando estimar dados de
erosividade mais fidedignos à realidade local. Também almeja-se avançar na discussão de perda de solos da bacia, aplicando
modelos que consideram além da erosividade, a erodibilidade do solo, uso e ocupação do solo e relevo.

Introdução
De acordo com Bertoni e Lombardi Neto (1990), a chuva é um dos fatores de maior importância para a erosão, sendo que a
intensidade, a duração e a frequência são as propriedades mais importantes que afetam o processo erosivo. A erosão, enquanto
processo, é resultante da dinâmica de um determinado sistema ambiental que está em desequilibrio, e que pode estar associado
àinterferências naturais ou antrópicas (Tricart, 1977). A erosão do solo é considerada um dos maiores problemas ambientais,
pois além de causar perdas de terras agrícolas e diminuição da produção, contribui para a contaminação e a poluição dos
recursos hídricos. (Back, 2017).
O Fator R é um índice numérico que expressa a capacidade da chuva em provocar erosão, em uma área sem proteção (Bertoni
e Lombardi Neto, 1993).O método original para calcular os valores do fator R para um evento de erosividade requer registros
pluviográficos (Wischmeier e Smith, 1978).Modelos que relacionam o índice de erosividade com dados pluviométricos (por
exemplo, precipitação mensal, precipitação total anual e índice de Fournier modificado) foram propostos para obter o fator R.
Esses registros pluviométricos diários estão geralmente disponíveis para a maioria dos locais com boa cobertura espacial e
temporal, permitindo o cálculo do índice de erosividade em regiões que não possuem dados pluviométricos (Angulo-Martínez
e Beguería, 2009; Renard e Freimund, 1994; Silva, 2004).
Além disso, outras equações também podem estimar, com boa precisão, os valores mensais e / ou anuais da erosividade das
chuvas, usando registros pluviométricos, como médias anuais e mensais das chuvas (Bertoni e Lombardi Neto, 1990; Renard e
Freimund,1994). Por outro lado, para algumas regiões do território brasileiro, alguns autores encontraram boas relações com
equações lineares ou exponenciais (respectivamente: y = ax + b ou y = axb,onde x é a quantidade de tempestades, y é o fator R
do USLE, eb são constantes) usando também dados pluviométricos (De Oliveira, 1988; Rufino et al., 1993).
É primordial entender quais serão os efeitos diretos que um aumento de precipitação para a região da bacia afetará na dinâmica
erosiva e de transporte sedimentar. Para fins de planejamento, e preparação para o futuro os sistemas necessitam de
mapeamentos como estes, visto que afetará a agropecuária, áreas urbanas, dinâmica dos canais de drenagem. Nesse sentido, o

1394
objetivo do trabalho é calcular o fator R médio mensal e anual para o período de 1944-2018, utilizando dados de precipitação
de 3 estações meteorológicas localizadas na bacia hidrográfica do rio Santa Maria (RS).

Materiais e métodos
A Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria (Figura 01) situa-se a sudoeste do Estado do Rio Grande do Sul, entre as
coordenadas geográficas 29°47' a 31°36' de latitude Sul e 54°00' a 55°32' de longitude Oeste.

Figura 75: Localização dos pontos de coleta inseridos na Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria.

Abrange as províncias geomorfológicas Planalto Meridional e Depressão Central. Possui área de 15.609,11 km², abrangendo
municípios como Bagé, Dom Pedrito, Rosário do Sul, Santana do Livramento e São Gabriel, com população estimada em
220.296 habitantes (SCOTTI, 2017). Os principais cursos de água são os arroios Três Divisas, da Divisa, da Cruz e os rios
Santa Maria, Cacequi e Upamaroti. O rio Santa Maria nasce à nordeste do município de Dom Pedrito e desemboca no rio
Ibicuí. O principal uso de água se destina à irrigação. Déficits hídricos são verificados na bacia, principalmente nos meses de
verão, quando ocorrem as demandas para orizicultura.
Para realizar esta análise de erosividade da chuva na Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria, foram utilizadas como base,
dados de três estações pluviométricas obtidas no Portal HidroWeb, a qual é uma ferramenta integrante do Sistema Nacional de
Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH) que oferece dados diários de nível fluvial, vazão, chuva, climatologia,
qualidade da água e sedimentos. No entanto, devido à falta de dados de algumas estações presentes na bacia, as selecionadas
que apresentaram a menor falta de dados foram: Cacequi com informações diárias de 1944 a 2018, com os seguintes meses do
ano em aberto, setembro, outubro e novembro de 2007 e setembro e dezembro de 2009; Granja Umbu de 1977 a 2018, faltando
outubro de 1978, setembro, outubro e dezembro de 2007 e setembro, novembro e dezembro de 2009; Saica de 1977 a 2018,
com falhas em fevereiro de 1995, dezembro de 2008 e abril de 2017(Tabela 01).

1395
Período de
Estação Cidade Código Órgão responsável Latitude Longitude dados
disponíveis
Cacequi Cacequi 2954001 ANA -29,88 -54,83 1944 a 2018
Granja Umbu Rosário do Sul 3054016 ANA -30,51 -54,77 1977 a 2018
Saica Cacequi 3055004 ANA -30,03 -55,09 1977 a 2018

Tabela 1: Dados referentes às estações Cacequi, Granja Umbu e Saica.

Para obtenção dos valores de erosividade média mensal e anual, foi aplicada uma sequência metodológica disposta na figura 2.
Primeiramente foi realizado o download dos dados de cada estação (etapa 1), em sequência foram separados os dados de
precipitação, pois são os necessários para o cálculo de erosividade. Em seguida foi realizada a modelagem da tabela para fazer
o cálculo das médias de precipitação mensal de cada estação (etapa 2) e com esses dados então calcular a erosividade mensal
(etapa 3) e por seguinte calcular a erosividade anual sobre a mensal (etapa 4) com as equações de Rufino et al (1993) e
Peñalva-Bazzano et al (2008) (Figura 2).

Figura 02: Fluxograma metodológico da pesquisa.

Segundo Silva (2004) a equação (1) de Rufino et al. (1993) é adequada para representar a região sul do país fazendo a relação
entre os dados pluviográficos e pluviométricos.

Rx=19.55+(4.20*Mx) (1)

Sendo R a erosividade de determinado mês; x se refere ao mês; M é a precipitação media mensal.


Também será aplicada a equação (2) de regressão linear obtida para Quaraí (PEÑALVA-BAZZANO et al 2007):

EI30 = -754,37 + 13,50 p (2)

Sendo EI30 a erosividade mensal; e p a precipitação média mensal (mm).

Após o cálculo da erosividade mensal (etapa 3), os valores para o ano também foram calculados (etapa 4). Para classificação
da classe de erosividade e visando qualificar o índice foi utilizado um fatiamento desenvolvido por Carvalho (1994) (tabela 2).

Erosividade (MJ mm ha-1 h-1 ano-1) Classe de erosividade


R ≤2452 Baixa
2452<R ≤4905 Média
4905<R ≤7357 Média-forte
7357<R ≤9810 Forte
R>9810 Muito forte
Tabela 2: Classes para interpretação do índice de erosividade anual. Fonte Carvalho (1994).

Resultados e discussões
Para a estação Cacequi, os valores de precipitação mínima e máxima entre 1944 e 2018 foram respectivamente, 16,8 mm em
maio de 2012 e 587,2 mm em novembro de 2009. Já as médias mensais de precipitação desse período histórico variam entre
99,98 mm em agosto e 166,44 mm em outubro. Os valores de precipitação média para os demais meses foram de 123.96,

1396
124.76, 130.19, 136.7, 122.97, 144.26, 127.62 e 116.53 mm para os meses de janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho,
julho, setembro, novembro e dezembro, respectivamente.
Quanto a erosividade, na equação de Rufino et al (1993) a perda média mensal variou entre 439,5 MJ mm ha-1 h-1 e 718,6 MJ
mm ha-1 h-1 nos meses de agosto e outubro, respectivamente. Já a perda anual média, a qual é calculada em cima da mensal, foi
de 6775,76 MJ mm ha-1 h-1 ano-1se encaixando na classe média-forte conforme Carvalho (1994). Entretanto, na equação de
Peñalva-Bazzano et al (2007), os valores de erosividade média mensal variam entre 595,4 MJ mm ha-1 h-1 em agosto e 1493,0
MJ mm ha-1 h-1 em outubro. Portanto, a perda anual média calculada em cima da mensal foi de 11972,73 MJ mm ha-1 h-1 ano-1
passando a ser classificada como muito forte conforme Carvalho (1994) (figura 3).

Figura 3: Valores de precipitação e erosividade mensal de acordo com Rufino et al (1993) e Peñalva-Bazzano et al
(2007) para a estação meteorológica Cacequi.

Para a estação Granja Umbu, os valores de precipitação mínima e máxima entre 1977 e 2018 foram respectivamente, 0,6 mm
em julho de 1996 e 459,4 mm em outubro de 2015, já as médias mensais de precipitação desse período histórico variam entre
83,0 mm em agosto e 143,51 mm em outubro. Os valores de precipitação média para os demais meses foram de 114.7, 132.4,
110.8, 141.2, 115.2, 102.0, 112.8, 121.8, 106.2 e 104.9 mm para os meses de janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho,
julho, setembro, novembro e dezembro, respectivamente.
Quanto a erosividade, na equação de Rufino et al (1993) a perda média mensal variou entre 368,2MJ mm há-1 h-1 e 622,3MJ
mm há-1 h-1 nos meses de agosto e outubro respectivamente. Já a perda anual média, a qual é calculada em cima da mensal foi
de 6066,72MJ mm há-1 h-1 ano-1se encaixando na classe média-forte conforme Carvalho (1994). Entretanto, na equação de
Peñalva-Bazzanoet al (2007), os valores de erosividade média mensal variam entre 366,1MJ mm há-1 h-1 em agosto e 1183,0
MJ mm há-1 h-1 em outubro. Portanto, a perda anual média calculada em cima da mensal foi de 9693,66MJ mm há-1 h-1 ano-1
passando a ser classificada como forte conforme Carvalho (1994) (figura 4).

1397
Figura 4: Valores de precipitação e erosividade mensal de acordo com Rufino et al (1993) e Peñalva-Bazzano et al
(2007) para a estação meteorológica Granja Umbu.

Para a estação Saica, os valores de precipitação mínima e máximaentre 1977e 2018 foram respectivamente, 31,2 mm em julho
de 2018 e 483,0 mm em abril de 1992, já as médias mensais de precipitação desse período histórico variam entre 91,25 mm em
agosto e 179,25 mm em outubro. Os valores de precipitação média para os demais meses foram de 129.1, 118.4, 131.6, 164.4,
130.1, 111.8, 125.9, 149.5, 136.6, e 124.8 mm para os meses de janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, setembro,
novembro e dezembro, respectivamente.
Quanto a erosividade, na equação de Rufino et al (1993) a perda média mensal variou entre 402,8MJ mm ha-1 h-1 e 772,4MJ
mm ha-1 h-1 nos meses de agosto e outubro respectivamente. Já a perda anual média, a qual é calculada em cima da mensal foi
de 6924,02MJ mm ha-1 h-1 ano-1se encaixando na classe média-forte conforme Carvalho (1994). Entretanto, na equação de
Peñalva-Bazzano et al (2007), os valores de erosividade média mensal variam entre 477,5MJ mm ha-1 h-1 em agosto e
1665,0MJ mm ha-1 h-1 em outubro. Portanto, a perda anual média calculada em cima da mensal foi de 12449,28MJ mm ha-1 h-1
ano-1 passando a ser classificada como muito forte conforme Carvalho (1994) (figura 5).

1398
Figura 5: Valores de precipitação e erosividade mensal de acordo com Rufino et al (1993) e Peñalva-Bazzano et al
(2007) para a estação meteorológica Saica.

No entanto, foi realizado uma média dessas três estações para assim gerar o dado do índice de erosividade da bacia
hidrográfica do rio Santa Maria, portanto os valores de precipitação mínima e máxima entre 1944 e 2018 foram
respectivamente, 0,6 mm em julho de 1996 na estação granja umbu e 587,2 mm em novembro de 2009 na estação Cacequi, já
as médias mensais de precipitação desse período histórico variam entre 91,4 mm em agosto e 163,0 mm em outubro. Os
valores de precipitação média para os demais meses foram de 122.5, 125.2, 124.1, 147.4, 124.1, 116.8, 120.5, 138.5, 123.4 e
115.4 mm para os meses de janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, setembro, novembro e dezembro,
respectivamente.
Quanto a erosividade, na equação de Rufino et al (1993) a perda média mensal variou entre 403,5MJ mm ha-1 h-1 e 704,4MJ
mm ha-1 h-1 nos meses de agosto e outubro respectivamente. Já a perda anual média, a qual é calculada em cima da mensal foi
de 6588,83MJ mm ha-1 h-1 ano-1se encaixando na classe média-forte conforme Carvalho (1994). Entretanto, na equação de
Peñalva-Bazzano et al (2007), os valores de erosividade média mensal variam entre 479,7MJ mm ha-1 h-1 em agosto e
1447,0MJ mm ha-1 h-1 em outubro. Portanto, a perda anual média calculada em cima da mensal foi de 11371,89MJ mm ha-1 h-1
ano-1 passando a ser classificada como muito forte conforme Carvalho (1994) (Figura 6).

1399
Figura 6: Valores de precipitação e erosividade mensal de acordo com Rufino et al (1993) e Peñalva-Bazzano et al
(2007) para a bacia hidrográfica do rio santa maria.

Comparando com dados de outros trabalhos que analisaram dados de erosividade para o estado do Rio Grande do Sul, a bacia
do rio Santa Maria apresentou dados semelhantes. No município de Encruzilhada do Sul, o valor de índice de erosividade anual
(ELTZ et al 2011) é de 5534,3 MJ mm ha-1 h-1 (Fator "R" da USLE), valor esse, que se assemelha a média anual de erosividade
encontrado pela equação de Rufino et al (1993), que foi de 6588,83MJ mm ha-1 h-1 ano-1, mas já para equação de Peñalva-
Bazzano et al (2007), a média anual de erosividade foi de 11371,89MJ mm ha-1 h-1 ano-1, ficando assim, deveras distante do
valor encontrado em Encruzilhada do Sul. Analisando o período, os meses de janeiro a março concentram 38% da erosividade
anual, com pico maior em fevereiro (808,5 MJ mm ha-1 h-1), porém, nessa pesquisa, o pico do índice de erosividade sempre foi
no mês de outubro (ELTZ et al 2011).
Para São Borja, o mês de outubro a abril concentrou 76% da erosividade anual, sendo que em março e abril o EI30 médio
mensal foi de 1260 MJ mm ha-1 h-1, já na bacia do Santa Maria no mesmo período de outubro a abril, o valor ficou entre
60,81% na equação de Rufino et al (1993) e 62,94% para Penalva-Bazzano et al (2007). O menor potencial erosivo ocorreu em
julho e agosto (EI30 médio mensal de 268–271 MJ mm ha-1 h-1) semelhante ao Santa Maria, que também teve seu menor
potencial erosivo em agosto, mas julho foi o quarto menor nas duas equações . O valor do índice de erosividade anual para São
Borja, RS, foi de 9.751 MJ mm ha-1 h-1 ano-1 (ELTZ et al 2011), que fica entre os dois valores encontrados para a bacia
hidrográfica pesquisada . Já para o municipio de Quaraí o valor médio anual de EI30 (fator R da USLE) calculado foi de 9.292
MJ mm ha-1 h-1 ano-1 (PEÑALVA-BAZZANO et al 2007), também ficando entre os dois valores aqui encontrados.
Analisando os dados de erosividade obtidos com as fórmulas de correlação propostas por Rufino et al (1994) e Peñalva-
Bazzano et al (2007), é possível verificar que a primeira acaba suavizando os valores, apresentando respectivamente uma
variação de 6775.76, 6066.72 e 6924.02 para as estações meteorológicas Cacequi, Granja Umbu e Saica. Para a segunda
equação, que foi aplicada para dados de precipitação do município de Quaraí (RS) acompanhou a tendência dos valores de
chuva e apresentou maior variação, sendo respectivamente 11972.73, 9693.66 e 12449.28 para as estações meteorológicas
Cacequi, Granja Umbu e Saica. A equação de Peñalva-Bazzano et al (2007), também apresentou uma tendência de apresentar
valores maiores de erosividade, classificando os dados nas classes de forte a muito forte.
Possivelmente os dados de precipitação tenham variado em função de questões topográficas e de localização dentro da bacia
hidrográfica do rio Santa Maria (RS). Devido à variação dos valores se faz necessário buscar dados de outras estações
meteorológicas, para obter a erosividade média e anual de toda bacia hidrográfica do rio Santa Maria, fazendo interpolação dos
valores. Além disso, pretende-se buscar dados pluviográficos para a área, para assim fazer uma equação de correlação que seja

1400
compatível para a bacia hidrográfica, visando estimar dados de erosividade mais fidedignos à realidade local. Também almeja-
se avançar na discussão de perda de solos da bacia, aplicando modelos que consideram além da erosividade, a erodibilidade do
solo, uso e ocupação e relevo. Visto que a bacia hidrográfica do rio Santa Maria consta com uma grande área de culturas
temporárias é necessário correlacionar a variação da erosividade com o período de solo exposto, momento em que haverá
maior fragilidade do solo à erosão.

Considerações finais
Tendo em vista que a área de estudo não havia disponível dados de precipitação com escala temporal de 10 minutos, sendo
assim somente a metodologia de correlação com base em outros autores poderia ser utilizada. Os resultados ficaram de acordo
com as demais pesquisas da região, logo, é válido afirmar que as equações de Rufino et al (1993) e Peñalva-Bazzano et al
(2007) podem ser utilizadas para calcular índices de erosividade para o Rio Grande do Sul, em especial para a bacia do rio
Santa Maria.
Comparando as duas equações de correlação, a do Rufino et al (1993) apresentou suavização dos dados, o que se explica pelo
fato de ser um trabalho que aborda toda a região sul do país. Por outro lado, a equação apresentada por Peñalva Bazano et al
(2007), por ter resultante de um trabalho desenvolvido para um município em específico, e próximo a bacia do rio Santa Maria,
os valores apresentados maior amplitude e coerência com os dados de precipitação acumulada.
Levando em conta os valores de erosividade da bacia hidrográfica para equação do Rufino et al (1993) o pico ocorreu no mês
de outubro apresentando um valor de em média 704,4MJ mm ha-1 h-1, e o menor valor ocorreu em agosto 403,5MJ mm ha-1 h-1,
já o índice anual médio foi de 6588,83MJ mm ha-1 h-1 ano-1 se encaixando na classe média-forte conforme Carvalho (1994).
Para Peñalva-Bazzano et al (2007) o pico do índice de erosividade da bacia hidrográfica foi em agosto com um valor de
1447,0MJ mm ha-1 h-1, já o menor índice foi em agosto com um valor de 479,7MJ mm ha-1 h-1, e a média anual ficou em
11371,89MJ mm ha-1 h-1 ano-1 sendo classificado como muito forte conforme Carvalho (1994). Houve uma diferença nos
valores de precipitação entre os três pontos de coleta, o que pode estar atrelado a uma questão topográfica.
Para finalizar, é de extrema importância ponderar que a pesquisa sobre erosão em bacias hidrográficas é de grande valia, ainda
mais em regiões onde há um predomínio da agricultura com cultura temporária. Como próximo passo da pesquisa, pretende-se
aplicar o método de índice de erosividade para um maior número de estações meteorológicas e também considerando outras
variáveis como uso do solo, declividade, comprimento de rampa e erodibilidade do solo.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer a FAPERGS pelo apoio recebido.

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1402
5SSS297
ANÁLISE DE PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS NA LAGOA FEIA,
EM FORMOSA, GOIÁS
Matheus Santiago Vieira1, Elton Souza Oliveira2
1Universidade Estadual de Goiás, e-mail: matheusgeaueg@gmail.com; 2Universidade Estadual de Goiás, e-mail
elton.oliveira@ueg.br;

Palavras-chave: Bacia Hidrográfica; Sólidos Suspensos; Hidrossedimentologia.

Resumo
Estudos voltados para a preservação e conservação dos recursos hídricos têm ganhado força nos últimos tempos diante da
importância da água para a humanidade, onde cada vez mais as ações antrópicas têm provocado alterações negativas nas
caraterísticas físico-químicas deste recurso. Nesse sentido o presente estudo teve por objetivo analisar os parâmetros físico-
químicos da água, como, pH, temperatura, condutividade elétrica (CE) e a Concentração de Sólidos em Suspensão (CSS). Na
pesquisa foram utilizados cinco pontos de monitoramento no intuito de compreender as possíveis relações dos parâmetros
físico-químicos com alterações presentes no ambiente. Os levantamentos foram realizados nos meses de novembro de 2018,
janeiro, maio e setembro de 2019. Observou-se que os valores de CSS tiveram uma relação com o regime pluviométrico e o
uso e ocupação do solo, com áreas urbanizadas e de solo exposto. Em relação aos parâmetros físico-químicos da água, a
Condutividade Elétrica esteve maior próximo ao exutório do afluente Josefa Gomes. Já o pH e a temperatura apresentaram
pouca variação nas campanhas realizadas, e as pequenas alterações podem estar associados as caraterísticas tanto de ordem
natural como decomposição de matéria orgânica, quanto antrópicas como o o uso ocupação do solo da bacia hidrográfica.

Introdução
A água é um dos elementos essenciais para a manutenção da vida na Terra. Apesar de grande abundância, apenas uma pequena
parcela de toda água do planeta é doce, e própria para o consumo humano. Por isso, questões sobre quantidade e qualidade tem
ganhados força ao longo do tempo, a medida que as atividades antrópicas estão alterando a qualidade das águas, uma vez, que
este recurso nem sempre está disponível de maneira igual para todos. (Tucci, 2008).
Um dos problemas em relação a preservação dos corpos hídricos, é a presença em grande quantidade dos chamados sólidos
suspensos (Carvalho, 2008). Estes materiais são compostos por silte, argila, algumas granulometrias de areia, além de matéria
de orgânica e inorgânica, algas e organismos microscópicos (Sabesp, 1999) sendo suficientemente pequenos para serem
transportados em suspensão, no qual, tendem a se depositar á medida que o fluxo e turbulência da água diminui (Carvalho,
2008).
No entanto, a produção de sedimentos da bacia hidrográfica tende a variar de acordo com diversos fatores, como a declividade
da bacia, os regimes pluviométricos, cobertura vegetal, o uso e ocupação do solo e fatores antrópicos pelo qual a bacia
hidrográfica esteja inserida. Guerra (2001) destaca que os fatores que influenciam nos regimes pluviométricos e na produção
de sedimentos das bacias hidrográficas brasileiras dependem da atuação conjunta das condições naturais e das atividades
humanas, logo, quando ocorre alteração desses fatores, haverá também uma alteração na produção de sedimentos da bacia,
gerando problemáticas desde a intensa erosão hídrica do solo e o assoreamento dos corpos hídricos.
Logo, estudos voltados para o transporte de sedimentos em suspensão são importantes, pois, este processo tende a provocar
alterações nas características físico-químicas da água e implicar nos seus usos. Como, a irrigação, uso industrial, abastecimento
público, navegação, geração de energia elétrica, além do crescimento da vegetação em locais indevidos e assoreamento dos
corpos hídricos (Santos et.al, 2001; Kothiary et.al, 2002; Carvalho, 2008, ANA, 2010). E também, os sólidos suspensos podem
carrear consigo poluentes para dentro dos corpos d’água. (Carvalho, 1994). Brooks et. al (2003) destacam que embora a
produção de sedimentos da bacia hidrográfica seja frequentemente um indicador do impacto do uso da terra, eles também são
difíceis de interpretar em termos de efeitos causais, sem informação sobre como o sedimento foi produzido.
A urbanização, é um processo que vem contribuindo com a degradação no ambiente. O descarte de resíduos sólidos, o
lançamento de esgotos clandestinos e a falta de vegetação nativa as margens da lagoa (Teixeira, 2005) são problemáticas
enfrentadas na área de estudo. Cordeiro (2010) destaca que a Lagoa Feia já possui um histórico de contaminação, uma vez que
o processo de urbanização se deu as margens do córrego Josefa Gomes, os efluentes produzidos pela população eram
descartados diretamente no corpo hídrico e com isso as atividades recreativas na Lagoa Feia tornaram-se inadequadas durante
anos.
Portanto, o presente estudo tem por objetivo analisar os parâmetros físico-químicos das águas da Lagoa Feia, Formosa, Goiás.
A área de estudo está inserida em uma bacia urbana e atende aos princípios dos usos múltiplos, uma vez que suas águas são
utilizadas para banho, pesca e esportes aquáticos. Em suas margens estão presentes diversos bares e restaurantes, além de

1403
parques, clubes e casa de shows, movimentando assim, a economia do município. Além de abrigar importância social e
econômica a Lagoa Feia está inserida na área do Alto Rio Preto, um dos afluentes do rio São Francisco

Material e Métodos
Está pesquisa se baseou na descrição de variáveis quantitativas com aquisição de dados primários através de trabalhos de
campo. Para a determinação da Concentração de Sólidos em Suspensos foi seguido a metodologia proposta por Carvalho
(2000). Já para a determinação dos parâmetros físico-químicos seguiu-se a metodologia de Dias (2017).
Após o campo de reconhecimento e análise de imagens do satélite Pleiades foram definidos os locais de monitoramento, foram
um total de cinco pontos de amostragem, sendo, P1 (8277370 S - 253276 E); P2 (8277583 S - 253438 E); P3 (8277694 S -
253579 E) e P4 (8277907 S - 253718 E) respectivamente na Lagoa Feia e o ponto P5 (8278070 S - 253794 E) no exutório do
córrego Josefa Gomes. Os pontos de amostragem, figura 1, foram marcados com auxílio de GPS da marca Garmin, modelo
60Cx, e os produtos cartográficos foram gerados no software Quantum GIS (QGIS).
Após a definição dos pontos de amostragem, iniciou-se as campanhas de amostragem nos dias: 11 de novembro de 2018
(transição do período seco/chuvoso); 21 de janeiro de 2019 (período chuvoso); 05 de maio de 2019 (transição do período
chuvoso/seco) e 06 de setembro de 2019 (período seco). Em cada ponto foram realizadas medições dos parâmetros físico-
químicos e coleta das amostras para análise da CSS, com exceção do ponto P5 na campanha de 11 de novembro de 2018, do
ponto P3 na campanha de 21 de janeiro de 2019, e dos pontos P4 e P5 da campanha de 06 de setembro de 2019, devido as
péssimas condições de navegabilidade no local. Nos resultados esses pontos foram identificados como Sem Dados (SD).

Figura 1 – Definição dos Pontos de Amostragem na Lagoa Feia, Formosa/GO

Fonte: Vieira & Oliveira (2019)

Os parâmetros físico-químicos de pH, Temperatura e Condutividade Elétrica foram realizados em campo, através do aparelho
Multiparâmetro Portátil PH-1500, seguindo a metodologia proposta por Dias (2017). Após a realização das leituras, foram
coletadas amostras (àgua+sedimento), figura 2, e em seguida encaminhadas para determinação da CSS. As amostras foram
processadas no Laboratório de Geoquímica e Água (LAGEQ) do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília e no
Laboratório de Análises Hidroclimáticas da Universidade Estadual de Goiás - Campus Formosa.

1404
Para a determinação da CSS, figura 2, foram seguidos os procedimentos de acordo com a metodologia proposta por Carvalho
(2000). Os filtros de acetato de celulose de 0,45 (µm) foram secos em estufa por 1 hora a 110 °C para remoção da umidade
presente no filtro. Depois os filtros foram pesados e obtido o peso inicial. Posteriormente os filtros foram colocados nas
unidades de filtração e as amostras coletadas foram filtradas utilizando a bomba de sucção a vácuo, onde todo material das
amostras ficou retido nos filtros. Em seguida os filtros foram retirados das unidades de filtração, identificados e destinados
novamente para a estufa por 1 hora a 110 C° para que toda umidade fosse removida. Na quarta etapa os filtros foram pesados
novamente para obtenção do peso final.

Figura 2 – Procedimentos para determinação da CSS

Fonte: Vieira & Oliveira (2019)

Por fim foi calculado a CSS a partir da Eq. (1), abaixo.

𝐏𝟐 − 𝐏𝟏
𝐂𝐒𝐒 =
𝐕
Sendo:
CSS = Concentração de Sólidos em Suspensão;
P1= Peso Seco do Filtro;
P2= Peso do Filtro com material retido após secagem em estufa;
V= Volume da amostra coletada utilizado na filtração (L)

Resultados e Discussão
De acordo com os dados avaliados, gráfico 1, verificou-se que a CSS, variou de 0,0 mg/l a 7,43 mg/l nos pontos monitorados.
Sendo que os maiores valores foram identificados na 1° campanha nos pontos P3 com 7,43 mg/l e P4 com 4,56 mg/l. Tal fator
pode estar associado ao início do regime pluviométrico na bacia de contribuição, que segundo dados do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET, 2018) no mês de novembro apresentou índice pluviométrico de 164,5 mm.
Entretanto, fatores antrópicos como, o uso e ocupação do solo, com áreas de solo exposto e impermeabilizadas, e também
devido a presença de resíduos sólidos urbanos associados a lavagem de tais estruturas tendem a influenciar nos resultados,
sendo que sedimentos urbanos são potencialmente poluidores devido a capacidade de carrear metais pesados e nutrientes
consigo para dentro dos canais fluviais (Carvalho, 2008; Poleto & Martinez, 2011; Cabral & Reis, 2015; Santos, 2015). Assim,

1405
os menores valores de CSS foram identificados na 2°, 3° e 4° Campanha. No entanto, apesar do mês de janeiro ser considerado
chuvoso, segundo o INMET (2019), o mês apresentou apenas 79,8 mm, porém o que se espera é uma maior concentração de
sólidos em suspensão apenas nas primeiras chuvas. Já o mês de maio e de setembro como são considerados meses de estiagem
no município, os índices pluviométricos são baixos o que corrobora com a relação dos dados.

Gráfico 1 – Dados de Concentração de Sólidos em Suspensão (CSS)

Fonte: Vieira & Oliveira (2019)

Portanto, como evidenciado anteriormente, como novembro sendo um período de transição do seco para o chuvoso, as
primeiras chuvas tendem a lavar os materiais presentes na bacia hidrográfica (resíduos sólidos urbanos, solos expostos e
impermeabilizados) proporcionando um aumento na concentração de sólidos em suspensão.
Em relação aos parâmetros físico-químicos do ambiente, Menezes et.al (2016) destacam que o uso e a ocupação do solo da
bacia hidrográfica tendem alterar as características físico-químicas e biológicas dos sistemas naturais. Portanto, em relação ao
potencial hidrogeniônico (pH), gráfico 2, este parâmetro apresentou pouca variação, onde os valores de pH apresentaram
variação de 6,92 à 8,9 nas campanhas realizadas. Entretanto, na 4° campanha não foi possível realizar as medições de pH
devido falha no equipamento.

Gráfico 2 – Dados de pH da água

Fonte: Vieira & Oliveira (2019)

1406
A 3° Campanha se destaca pois apresentou maior valor com pH 8,9 no ponto P2. Em todos os pontos desta campanha foram
registrados pH entre 7 e 8, tal fator pode estar associado ao baixo regime de chuvas e a presença de grande quantidade de
matéria orgânica na água, oriunda da decomposição das plantas aquáticas presentes na área, (macrófitas, aguapés e orelha-de-
rato), conforme figura 3. Já nas 1° e 2° campanhas o pH esteve normal, variando de 6 a 7.
De acordo com Sperling (2005) os valores de pH, estão relacionados a fatores antrópicos como, o despejo de esgotos
domésticos e efluentes industriais – oxidação da matéria orgânica e lavagem ácidas de tanques, e a fatores naturais, como a
dissolução das rochas, oxidação de matéria orgânica e absorção de gases atmosféricos. Entretanto não foram identificadas
fontes de poluição antrópica no ambiente, apenas pode-se aferir a variação de pH a matéria orgânica presente no ambiente.

Figura 3 – Presença de macrófitas na Lagoa Feia, próximo ao exutório Josefa Gomes

Fonte: Vieira & Oliveira (2019)

Em relação com a condutividade elétrica, gráfico 3, este parâmetro apresentou variação de 122 µs/cm a 177 µs/cm entre as
campanhas e os pontos monitorados, na qual observou-se que quanto mais próximo do exutório Josefa Gomes maior foi o
valor de CE. A 2° Campanha obteve os maiores valores.

Gráfico 3 – Valores de Condutividade Elétrica da Água

Fonte: Vieira & Oliveira (2019)

1407
Tal fator pode estar associado a capacidade do córrego em carrear materiais e nutrientes para a lagoa, oriundos da bacia
urbana. No entanto, apesar de janeiro ser um mês chuvoso no município, como foi apresentado anteriormente, de acordo com
dados do (INMET, 2019) ocorreu baixo índice pluviométrico neste mês e assim a 1° campanha não obteve valores altos como
se esperava por ser um período chuvoso na região. Já na 3° campanha devido maio ser considerado um mês de seca na região,
a condutividade elétrica da água apresentou os menores valores, com valores entre 122 µs/cm e 142 µs/cm, tal fator pode estar
relacionado a capacidade da massa d’água em dissolver tais substâncias. Na 4° campanha os valores estiveram entre 150 µs/cm
e 157 µs/cm, estando mais alto que a 1° e 3° campanha. Tal fator pode estar associado ao período de transição do
seco/chuvoso, no qual todo material presente na bacia do córrego Josefa Gomes (afluente principal) tende adentrar a Lagoa
Feia.
Em relação a temperatura do ambiente, tal parâmetro não apresentou variação significativa, como mostra o gráfico 4. De
acordo com a Fundação Nacional da Saúde (2014) as temperaturas em ambientes aquáticos brasileiros variam de 20° C a 30°
C. Pode compreender que a 2° Campanha se destacou por todos os pontos apresentarem temperaturas iguais, com valor de 31°
C. Enquanto nas outras três campanhas este parâmetro apresentou pouca variação, entre 23° C e 26° C. Como não foram
identificadas fontes de poluição antrópicas, seja por esgotos domésticos ou industrias na Lagoa Feia, logo, tais valores
apresentados estão em sua normalidade, sendo apenas por fator natural.

Gráfico 4 – Valores de Temperatura da Água

Fonte: Vieira & Oliveira (2019)

Considerações Finais
Através dos dados levantados ainda é necessário um maior e mais frequente monitoramento a respeito das variáveis analisadas,
afim de descobrir se realmente o ambiente está sendo impacto direta ou indiretamente por fatores antrópicos. Na qual é
comummente presenciados na literatura a respeito da temática, envolvendo bacias hidrográficas urbanas. Apesar de não
identificadas fontes de poluição antrópicas no ambiente durante as campanhas. Lopes (2015); Oliveira (2018) ao analisarem a
degradação no córrego Josefa Gomes (afluente da Lagoa Feia), concluíram que há diversas problemáticas no ambiente, dentre
elas: processos erosivos (sulcos e erosão fluvial), assoreamento do canal fluvial, descarte de resíduos sólidos e efluentes não
tratados dentro do canal, áreas de solo exposto e canalizações, evidenciando assim a necessidade de maior atenção no
ambiente.

Agradecimentos
Ao Grupo de Pesquisa Geografia e Análise Ambiental, pelo fornecimento dos instrumentos utilizados para medição dos
parâmetros físico-químicos e as coletas das amostras.
Ao Laboratório de Geoquímica e Água (LAGEQ) do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília e ao Laboratório de
Análises Hidroclimáticas da Universidade Estadual de Goiás - Campus Formosa.

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1410
5SSS298
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO EM ÁREAS DE LAGOS E LAGOAS NO
PERÍMETRO URBANO DO MUNICÍPIO DO BONFIM-RR

Josemar Moreira da Silva 1, Arycélia da Silva Vieira 2, Vladimir de Souza3


1Universidade Federal de Roraima, e-mail: volei-rr@hotmail.com; 2Universidade Federal de Roraima, e-mail:
arycelia1@hotmail.com; 3Universidade Federal de Roraima, e-mail: vladimir.souza@ufrr.br

Palavras-chave: Fragilidades potenciais; gestão de territórios; áreas úmidas.

Resumo
Estudos relativos às fragilidades dos ambientes são de extrema importância no Planejamento Ambiental. A identificação dos
ambientes naturais e suas fragilidades potenciais e emergentes proporcionam uma melhor definição das diretrizes e ações a
serem implementadas no espaço físico-territorial, servindo de base para o zoneamento e fornecendo subsídios à gestão do
território, pois é cada vez mais perceptível a ação do homem quando se apropria dos recursos naturais, geram grandes
modificações na paisagem natural com um ritmo muito intenso em vista daqueles que a natureza imprime. A porção mais
setentrional da região amazônica apresenta uma riqueza de paisagens particulares, na região central de Roraima, a morfologia
de relevo predominante constitui-se de uma série de serras e morros preferencialmente orientados a NE-SW (Reis et al. 2003).
O setor norte desta região é limitado por uma bacia sedimentar mesozoica, estruturada em um hemigráben, cuja gênese está
relacionada a episódios de reativação tectônica do domínio Guiana Central. No interior deste hemigráben as morfologias de
relevo refletem a história evolutiva composta pelas fases pré-rift, rift e pós-rift definidas por Vaz et al. (2007). Esta região do
estado de Roraima consiste em simples exemplos da diversificação de paisagens que constituem um panorama singular na
Amazônia brasileira, composto por áreas planas, serras, florestas e savanas que formam um mosaico característico da região,
intimamente relacionado aos processos geológicos evolutivos. A importância dessa pesquisa se dá em virtude da falta de
mapeamentos das áreas potencialmente frágeis para a ocupação e expansão da cidade. Este trabalho propõe uma breve
discussão sobre a relevância dos recursos hídricos e a possibilidade de uma análise acerca da fragilidade ambiental referente ao
uso e ocupação de solos em áreas de APPs dentro do perímetro urbano do município de Bonfim/RR.

INTRODUÇÃO

A identificação dos ambientes naturais e suas fragilidades potenciais e emergentes proporcionam uma
melhor definição das diretrizes e ações a serem implementadas no espaço físico-territorial, servindo de base para o
zoneamento e fornecendo subsídios à gestão do território, pois é cada vez mais perceptível a ação do homem
quando se apropria dos recursos naturais, as quais geram grandes modificações na paisagem natural com um ritmo
muito intenso em vista daqueles que a natureza imprime.

As deformações tectônicas comandam todos os processos nos quais intervém a gravidade, favorecendo a

1411
dissecação das áreas elevadas, com incisão dos cursos d’água e crescimento correlato dos declives das encostas,
nesses meios, a morfogênese é o fator determinante no sistema natural e os outros elementos estão subordinados.

Bonfim é um município do estado brasileiro de Roraima, sendo o oitavo maior em população segundo a
estimativa de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A sede do município faz fronteira com a
cidade de Lethem, capital da região 9 na Guiana. A sede de Bonfim encontra-se
ainda conturbada à cidade guianense de Lethem, constituindo uma aglomeração urbana transnacional. As duas
manchas urbanas encontram-se separadas apenas pelo rio Tacutu, sobre o qual passa a ponte Brasil-Guiana, numa
extensão da BR-401, com uma área de 8.905,319 Km ² e uma população de 11.945 habitantes entre indígenas e
não indígenas.

OBJETIVO

Este trabalho propõe uma breve discussão sobre a relevância dos recursos hídricos e a possibilidade de uma
análise acerca da fragilidade ambiental referente ao uso e ocupação de solos em áreas de APPs dentro do perímetro
urbano do município de Bonfim-RR.

METODOLOGIA

Tricart propôs uma metodologia para classificação do ambiente com base no estudo da dinâmica dos
ecótopos, a qual ele determinou de ecodinâmica. A pesquisa propõe o mapeamento dessas áreas de APPs dentro do
perímetro urbano da sede do município de Bonfim para analisar as formas de uso e ocupação da área que acarretam
modificações impressas na paisagem e prováveis contaminações do aquífero Boa Vista. Para atingir os objetivos
propostos a presente pesquisa, pautou-se nos seguintes passos metodológicos: revisão bibliográfica e trabalho com
fotografias aéreas para delimitar essas áreas por meio do drone modelo Phanton 4 no trabalho de campo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A fragilidade dos ambientes naturais deve ser avaliada quando se pretende aplicá-la ao planejamento
territorial geoambiental. Baseando-se no conceito de Unidades Ecodinâmicas preconizadas por TRICART (1977),
uma concepção ecológica, na qual o ambiente é analisado sobre o prisma da Teoria dos Sistemas que parte do
pressuposto de que na natureza as trocas de energia e matéria se processam por meio das relações de equilíbrio
dinâmico. Esse equilíbrio, entretanto, é frequentemente alterado pelas intervenções do homem nos diversos

1412
componentes da natureza, gerando estado de desequilíbrios temporários ou até permanentes.

Diante disso TRICART (1977) definiu que os ambientes, quando estão em equilíbrio dinâmico são estáveis,
quando em desequilíbrio são instáveis. Esses conceitos foram utilizados por Ross (1990), oportunidade que inseriu
novos critérios para definir as Unidades ecodinâmicas estáveis e unidades ecodinâmicas instáveis, as quais vão
definir as fragilidades potenciais e emergentes do meio.

O conceito de áreas frágeis diz respeito à suscetibilidade do meio ambiente a qualquer tipo de dano,
inclusive à poluição. Daí a definição de ecossistemas frágeis ou áreas frágeis como sendo aqueles locais que, por
suas características, são particularmente sensíveis aos impactos ambientais adversos, de baixa resiliência ou de
pouca capacidade de recuperação. Por exemplo, são ambientalmente frágeis os lagos e lagoas, as lagunas, as
várzeas, as encostas de declividade acentuada, as áreas de recarga de aquíferos as restingas e os manguezais
(GOMES et al, 2000; 2002; 2008).

Os produtos obtidos através de fotografias aéreas por meios de drones possibilitaram a análise quantitativa
dessas formas de relevo (lagos e lagoas), assim com apoio de trabalhos de campo, técnicas de geoprocessamento e
sensoriamento remoto e fotografias áreas tiradas a partir do drone Phanton 4. Com isso, estudos dessa natureza
fornecem uma importante fonte de dados que podem ser aplicado no planejamento urbano, principalmente, nas leis
de uso e ocupação do solo urbano. Em muitos casos, é a topografia do terreno, especialmente a declividade, o
principal condicionador de sua capacidade de uso.

CONSIDERACÕES FINAIS

Xavier da Silva (1995) chama atenção, em especial, ao papel da geomorfologia como geradora de
informações importantes para o planejamento territorial e, sobretudo, pela utilização de técnicas de
geoprocessamento como ferramenta de investigação de fatos geomorfológicos, porque a ocupação do espaço
urbano não se restringe aos fatores ambientais, mas também aos econômicos, sociais, culturais e políticos
(MARÇAL; GUERRA, 2006) fatores esses que podem ser levantados em pesquisas futuras.

Agradecimentos

Os Autores gostariam de agradecer a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal Nível Superior – Brasil


(CAPES) – Código de Financiamento 001, agradecemos também ao Programa de Pós-Graduação em Gestão e
Regulação dos Recursos Hídricos – PROFÁGUA e a Universidade Federal de Roraima – UFRR por todo apoio

1413
técnico dado para a realização dessa pesquisa.

REFERÊNCIAS

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GUERRA, A. J. T.; MARÇAL, M. S. Geomorfologia ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

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1414
5SSS300
ANÁLISE HISTÓRICA DE VAZÕES DO RIO TURVO/RS
Juliana Barden Schallemberger1, Caroline Emiliano2, Malva Andrea Mancuso3, Beatriz Lima Santos
Klienchen Dalari4, Dayane Gonzaga Domingos5, Ana Silvia De Lima Vielmo6
1 4 5 6 Universidade Federal de Santa Catarina, e-mail: juli-sch@hotmail.com,
beatriz.lskd@hotmail.com, day_domingos_@hotmail.com, ana.vielmo@ifc.edu.br
2 3 Universidade Federal de Santa Maria, e-mail: caroline_emiliano@hotmail.com;
Universidade Federal de Santa Maria, e-mail: malvamancuso@ufsm.br

Palavras-chave: estação fluviométrica; precipitação; disponibilidade hídrica.

Resumo
O escoamento dos rios é caracterizado como o principal componente do ciclo hidrológico, porque está amplamente distribuído
sobre a superfície da Terra e promove um efeito pronunciado sobre a renovação dos recursos hídricos. O conhecimento acerca
das vazões máximas e mínimas de um recurso hídrico é fundamental para o dimensionamento de obras hidráulicas e para a
estimativa de enchentes e escassez de água. Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo realizar uma análise histórica
de vazões máximas e mínimas do Rio Turvo e relacioná-las com as precipitações anuais. O rio Turvo está localizado ao
noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e pertence a bacia hidrográfica dos Rios Turvo - Santa Rosa - Santo Cristo. A Bacia
Hidrográfica do Rio Turvo apresenta um curso d’água principal de 247,04 km de comprimento que se caracteriza como perene.
Os dados de precipitações e vazões máximas e mínimas correspondentes aos anos de 1980 e 2018 foram obtidos do portal
HidroWeb. As estações fluviométricas utilizadas foram aquelas localizadas ao longo do Rio Turvo, com os seguintes códigos:
74460000 e 74470000. As vazões máximas anuais foram obtidas com a média das vazões máximas registradas em cada mês do
ano e o mesmo procedimento foi realizado para as vazões mínimas. A estação fluviométrica utilizada foi a de código 0275316,
localizada no município de Miraguái. Para a determinação das precipitações anuais foi realizado o somatório das precipitações
totais mensais de cada ano. As maiores vazões máximas foram de 42,04 e 381,76 m³/s nas estações 74460000 e 74470000,
respectivamente, ambas no ano de 2014. A menor vazão mínima foi de 4,92 m³/s nas duas estações mas em anos diferentes,
2012 na 74460000 e 1981 na 74470000. A ocorrência de precipitações elevadas é acompanhada do aumento das vazões do Rio
Turvo, bem como o efeito inverso para baixas precipitações, podendo ser associada a eventos de enchentes e estiagens.

Introdução

A água é um recurso de vital importância para a sobrevivência dos seres vivos pois permite o desenvolvimento de diversas
atividades antrópicas, tais como: agricultura e pecuária, captação para abastecimento humano, processos industriais, transporte
fluvial, geração de energia e diluição de efluentes, mas principalmente, exerce uma função essencial na manutenção do
equilíbrio dos ecossistemas ambientais (Garcia; Moreno; Fernandes, 2015). Do total de água disponível no mundo, água
salgada representa 97,5% e apenas 2,5% é água doce. Dentre esse percentual de água doce, 69% está concentrado nas geleiras,
30% é água subterrânea e os rios representam somente 1% (ANA, 2019). No entanto, devido a facilidade de acesso, os rios
constituem-se como uma das principais fontes de água para o atendimento das necessidades humanas.
A disponibilidade hídrica é regida pelo ciclo hidrológico, o qual consiste na transferência contínua da água entre a hidrosfera e
atmosfera, envolvendo diversos e complexos componentes, como evaporação, precipitação, interceptação, transpiração,
infiltração, percolação e escoamento superficial (Tucci, 2009). O escoamento dos rios é caracterizado como o principal
componente do ciclo hidrológico, porque está amplamente distribuído sobre a superfície da Terra e promove um efeito
pronunciado sobre a renovação dos recursos hídricos, visto que o retorno da água depende da dimensão do reservatório e da
dinâmica de movimento da água (Shiklomanov, 1998).
A vazão do rio é uma medida de quantidade utilizada para estimar a disponibilidade ou déficit hídrico para determinada
atividade ou região. O conhecimento acerca das vazões máximas e mínimas de um recurso hídrico é fundamental para o
dimensionamento de obras hidráulicas e para a estimativa de enchentes e escassez de água. Dessa forma, possibilita a
diminuição de custos, o aumento da segurança de projetos de engenharia e a redução de riscos e impactos sociais e ambientais
associados às situações extremas, além de servir como base para a gestão e planejamento dos recursos hídricos com enfoque
nos usos múltiplos da água (Silvino et al. 2007;Vestena et al., 2012).
A variação da quantidade de água disponível nos cursos d’água ao longo dos anos é significativamente influenciada pelas
mudanças climáticas, formas de uso e ocupação do solo e interferências antrópicas nos mananciais (como captações de água
para abastecimento e irrigação, construções de barragens e usinas hidrelétricas). Portanto, a análise de séries históricas de

1415
vazões, bem como a determinação de tendências e o estudo da sua relação com outros componentes do ciclo hidrológico,
constitui-se como um instrumento essencial para compreender a disponibilidade hídrica de uma determinada região (Wei;
Chang; Dai, 2013).
O rio Turvo está localizado ao noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e pertence a bacia hidrográfica dos Rios Turvo - Santa
Rosa - Santo Cristo, o qual apresenta um maior comprometimento da disponibilidade hídrica devido aos sistemas de irrigação,
mas também registra episódios de enchentes.
Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo realizar uma análise histórica de vazões máximas e mínimas do Rio Turvo
e relacioná-las com as precipitações anuais.

Materiais e Métodos

Caracterização da área de estudo

A caracterização da área de estudo foi realizada com base no Relatório Técnico 3 - Consolidação do Diagnóstico, referente a
Elaboração de Serviço de Consultoria Relativo ao Processo de Planejamento dos Usos da Água na Bacia Hidrográfica dos Rios
Turvo - Santa Rosa - Santo Cristo (Engeplus, 2012).
A Região do Uruguai está subdividida em dez unidades hidrográficas, estando entre elas a U-30 formada pelos rios Turvo,
Santa Rosa e Santo Cristo. A Bacia Hidrográfica dos Rios Turvo - Santa Rosa - Santo Cristo se localiza ao norte e noroeste do
estado do Rio Grande do Sul, entre as coordenadas geográficas 27°07' a 28°13' de latitude Sul e 53°24' a 55°20' de longitude
Oeste. Os seus principais cursos de água são os rios Comandaí, Amandaú, Santa Rosa, Santo Cristo, Buricá, Turvo e do
Lajeado Grande, os quais drenam diretamente para o Rio Uruguai.
A Bacia Hidrográfica dos Rios Turvo - Santa Rosa - Santo Cristo apresenta uma área de 10,8 mil km², abrange 55 municípios e
inclui uma população estimada de 373,7 mil habitantes. Em relação ao uso e ocupação do solo da bacia, 55% é de áreas
agrícolas, com ênfase nas culturas de soja, milho e trigo, 23,73% de mata nativa/ciliar, 13,86% de capoeira/vegetação arbustiva
e 4,47 % de campos/pastagens. As áreas agrícolas (irrigadas/pivôts), áreas urbanizadas, açudes/curso d’água/barragens e
silvicultura, representam apenas 1%.
A população total da bacia é predominantemente rural e grau de urbanização médio é de 68,99%, valor inferior à média
estadual (88,15%). Ademais, baixas taxas de crescimento populacional e modestas taxas de crescimento econômico foram
verificadas na bacia.
Os usos consuntivos da água superficial da bacia são aqueles destinados à irrigação, criação e dessedentação animal,
abastecimento público e aquicultura, correspondendo às seguintes porcentagens, 52%, 37%, 9% e 2%, respectivamente.
A Bacia é localizada no Bioma Mata Atlântica e abrange quatro regiões fitoecológicas, as quais são Floresta Estacional
Decidual, Floresta Ombrófila Mista, Savana e Áreas de Tensão Ecológica. Estão presentes nessa bacia duas Unidades de
Conservação de Proteção Integral, o Parque Estadual do Turvo e o Parque Municipal Emília Corrêa, e uma Unidade de
Conservação de Uso Sustentável, a Reserva Particular do Patrimônio Natural Schuster.
A Figura 1 apresenta a Bacia Hidrográfica dos Rios Turvo - Santa Rosa - Santo Cristo e a sua localização no Estado do Rio
Grande do Sul, bem como a Bacia Hidrográfica do Rio Turvo.

1416
Figura 1: Bacia Hidrográfica do Rio Turvo. Fonte: Adaptado da Hasenack e Weber (2010) e FEPAM (2005).

A Bacia Hidrográfica do Rio Turvo, área delimitada para estudo, apresenta um curso d’água principal de 247,04 km de
comprimento que se caracteriza como perene, nascendo no município de Palmeira das Missões e desaguando no Rio Uruguai.
O solo da Bacia do Rio Turvo é predominantemente classificado como Latossolo Vermelho Distroférricos, no extremo norte
apresenta uma parcela de Cambissolo Háplico Ta Eutrófico e ao sul Latossolo Vermelhos Eutrófico, conforme exposto na
Figura 2.

1417
Figura 2: Classificação dos solos da Bacia Hidrográfica dos Rios Turvo - Santa Rosa - Santo Cristo. Fonte: Adaptado
de EMBRAPA.

A declividade da Bacia Hidrográfica dos Rios Turvo - Santa Rosa - Santo Cristo, com ênfase para a Bacia do Rio Turvo, está
apresentada na Figura 3.

1418
Figura 3: Declividade da Bacia Hidrográfica dos Rios Turvo - Santa Rosa - Santo Cristo. Fonte: Adaptado de FEPAM
(2005).

Em relação aos usos consuntivos da água superficial do Rio Turvo, 165,05 L/s são destinados para a dessedentação animal,
954,15 L/s para irrigação, sendo que não é utilizada para o abastecimento público e aquicultura. Os usos não consuntivos são
para a geração de energia hidrelétrica com uma potência total instalada de 25,70 MW, mineração de basalto, cascalho e saibro,
e lazer. Na bacia do Rio Turvo predominam atividades agrossilvipastoris, sendo que a presença de atividades industriais
também é relevante.

Fonte de dados

Os dados de vazões e precipitações foram obtidos do portal HidroWeb, o qual é uma ferramenta do Sistema Nacional de
Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH) que integra todas as informações coletados pela Rede Hidrometeorológica
Nacional (RHN) coordenada pela Agência Nacional de Águas (ANA). Os dados considerados foram os correspondentes ao
período de tempo entre 1980 e 2018.
As estações fluviométricas utilizadas foram aquelas localizadas ao longo do Rio Turvo, com os seguintes códigos: 74460000 e
74470000. Os dados da estação 744670000 não foram considerados pois esta apresenta apenas medições nos anos de 2011 e
2012. A localização das estações está apresentada na Figura 4.
As vazões máximas anuais foram obtidas com a média das vazões máximas registradas em cada mês do ano e o mesmo
procedimento foi realizado para as vazões mínimas.
A estação fluviométrica utilizada foi a de código 0275316, localizada no município de Miraguái, uma vez que, 98,8% da área
desse município está situada na bacia do Rio Turvo, além de que a estação possui dados suficientes para a realização do estudo
em comparação com as demais estações que apresentam falhas de dados ao decorrer dos anos. Para a determinação das
precipitações anuais foi realizado o somatório das precipitações totais mensais de cada ano.

1419
Figura 3: Localização das estações fluviométricas. Fonte: Adaptado HidroWeb e IBGE (2005).

Resultados e Discussões

A Figura 4 apresenta o histórico de vazões máximas e mínimas entre os anos de 1980 e 2018 do rio Turvo, registradas pela
estação fluviométrica 74460000.
Nessa estação, os maiores valores de vazões máximas ocorreram nos seguintes anos, ordenados de forma crescente: 2011,
1998, 1983, 2015, 1984, 2017, 1994, 1990 e 2014. Nestes anos as vazões máximas variaram de 34,86 a 42,04 m³/s em 2011 e
2014, respectivamente. Já os menores valores de vazões máximas foram verificados nos anos de 1995, 1981, 1991, 2006, 2004,
2012 e 1988, com vazões variando de 13,84 a 17,72 m³/s em 1995 a 1988, respectivamente.
Os maiores picos de vazões mínimas foram constatados nos anos de 2015, 1990, 1994, 1983 e 1998, com valores de 14,04 m³/s
(2015) a 17,05 m³/s (1998). As menores vazões mínimas ocorreram em 1981, 2012, 1991, 2006, 1988, 1995 e dentre estes anos
as vazões foram de 4,91 a 5,91 m³/s em 1981 a 1995, respectivamente.
As vazões máximas e mínimas correspondentes aos anos de 1980 a 2018 obtidas na estação fluviométrica 74470000 do Rio
Turvo estão apresentadas na Figura 5.
No ponto da estação 74470000, os picos mais expressivos de vazões máximas do Rio Turvo foram registrados nos anos de
1983, 1984 e 2014, sendo de 316,72, 320,69 e 381,76 m³/s, respectivamente. Os menores valores das vazões máximas
ocorreram nos anos de 1988, 2006, 1991, 2004 e 1981, variando de 71,16 m³/s (1998) a 41,54 m³/s (1981).
Em relação as vazões mínimas, os maiores valores foram constatados nos anos de 1998, 1983, 1997, 1994 e 1990 com
variação de 49,90 a 34,75 m³/s. As menores vazões mínimas ocorreram nos anos de 1988, 2006, 1991, 1981, 2012, dentre os
quais os valores foram de 11,92 a 4,92 m³/s.
As maiores precipitações anuais foram registradas em 1990, 2017, 1998, 1994, 2015, 1983 e 2014 com valores entre 2300,1 e
3317,4 mm/ano. Os anos que apresentaram baixas precipitações foram 2006, 2012, 1991 e 2004, com a menor quantidade igual

1420
a 811,4 mm/ano em 2006 e a maior 1309,7 mm/ano em 2004. Os anos em que as precipitações ocorreram em maior
quantidade, coincidentemente, apresentaram os maiores valores de vazões máximas e mínimas em ambas as estações
analisadas, bem como o efeito inverso foi observado nos anos com valores baixos de precipitações.
Maciel (2015) ao analisar a relação chuva-vazão na Bacia Hidrográfica do Rio Paranaíba, verificou que o aumento sucessivo
na quantidade de chuvas é acompanhado do aumento progressivo do escoamento das águas. Durante a estação chuvosa foi
constatado um aumento nos valores médios de vazões de 28,4 a 88,1 m³/s, já no período de estiagem ocorreu uma diminuição
de 69,6 a 24,6 m³/s.
Righ e Robaina (2010) realizaram uma análise geográfica das enchentes ocorridas no Rio Uruguai entre os anos de 1980 e
2005. Considerando os municípios que pertencem a Bacia Hidrográfica do Rio Turvo, apenas o município de Três Passos foi
atingido pelas enchentes ocorridas nos anos de 1983, 1984 e 1990. Nos anos de 2014 e 2017 também foram registradas
enchentes intensas que causaram diversos danos aos municípios localizados na bacia. Estiagens severas ocorreram nos anos de
2004 a 2006 e 2012 no Rio Grande do Sul. Esses eventos podem ser observados nos dados apresentados nas Figuras 4 e 5.
As vazões máximas e mínimas registradas na estação 74470000 foram maiores em comparação com as verificadas na estação
74470000. Esse comportamento era esperado, uma vez que, a estação 74470000 se encontra a jusante da estação
74470000 e, portanto, recebe toda a contribuição dos afluentes localizados a montante.

50 3500

3000
40

2500
30

P (mm/ano)
Q (m³/s)

2000

20
1500

10
1000

0 500
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018

Ano
Ano vs Q máx
Ano vs Q mín
Regressão Linear
Ano vs P
Figura 3: Histórico de vazões máximas e mínimas do Rio Turvo referente a estação 74460000. Fonte: Adaptado de
HidroWeb.

1421
500 3500

400 3000

300 2500

P (mm/ano)
Q (m³/s)

200 2000

100 1500

0 1000

500
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Ano
Ano vs Q máx
Ano vs Q mín
Regressão Linear
Ano vs P

Figura 3: Histórico de vazões máximas e mínimas do Rio Turvo referente a estação 74470000. Fonte: Adaptado de
HidroWeb.

Conclusões

As maiores vazões máxima foram iguais a 42,04 e 381,76 m³/s na estação 74460000 e 74470000, respectivamente, ambas no
ano de 2014. A menor vazão mínima foi de 4,92 m³/s nas duas estações mas em anos diferentes, 2012 na 74460000 e 1981 na
74470000.
A ocorrência de precipitações elevadas é acompanhada do aumento das vazões do Rio Turvo, bem como o efeito inverso para
baixas precipitações, podendo ser associada a eventos de enchentes e estiagens.
Não foi verificado um comportamento linear das vazões ao longo do tempo, mas sim uma variação abrupta entres os anos
analisados.
A análise histórica de vazões de um curso d’água serve como base para a determinação de tendências de comportamento,
podendo fornecer resultados que permitem a elaboração de uma adequada gestão dos recursos hídricos e de um plano de
redução de danos decorrentes de enchentes e estiagens.

1422
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1423
5SSS302
MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS: ESTUDO DA REDE DE
DRENAGEM E DE SOLUÇÕES DE BAIXO IMPACTO NA REGIÃO
ADMISTRATIVA CANDANGOLÂNDIA
Gabriela Sekeff Marques1, Maria Elisa Leite Costa2, Sergio Koide3
1Graduada em Engenharia Ambiental pela UnB. Faculdade de Tecnologia, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental. Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, e-mail: gabrielasekeff@gmail.com; 2Doutoranda
pelo Programa de Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos da UnB. Universidade de Brasília, Faculdade de
Tecnologia, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental. Campus Universitário Darcy Ribeiro, SG -12, Sala
04, Asa Norte, mariaelisa@unb.br; 3Professor do Programa de Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos da
Universidade de Brasília. Universidade de Brasília, Faculdade de Tecnologia, Departamento de Engenharia Civil
e Ambiental. Campus Universitário Darcy Ribeiro Asa Norte, SG 12. Sala 12. skoide@unb.br

Palavras-chave: drenagem urbana; SWMM; trincheiras de infiltração.

Resumo
O crescimento urbano causa diversas alterações no meio ambiente como mudanças no ciclo hidrológico, relacionadas à
quantidade, qualidade e regime dos corpos de água em meio urbano. A fim de amenizar esses impactos, tecnologias
alternativas e/ou compensatórias de drenagem urbana vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de proporcionar
desenvolvimentos urbanos mais sustentáveis. Esta pesquisa analisou o sistema de drenagem de água pluviais instalado
atualmente na Região Administrativa da Candangolândia no Distrito Federal de acordo com a legislação local, de acordo com a
resolução 09/2011 da Adasa que limita o lançamento do efluente pluvial em 24,4l/s/ha. Para isso, foi utilizado o modelo
computacional SWMM, por meio do programa PCSWMM, que permitiu a simulação dos comportamentos hidrológicos da
região antes da ocupação, a análise do funcionamento da rede de drenagem existente e a criação de um cenário com uso de
trincheira de infiltração. Percebeu que antes da ocupação da região, o escoamento superficial era absorvido pelo solo e
interceptado pela vegetação. Notou-se que as trincheiras demonstram-se bastante eficientes em infiltrar o escoamento
superficial, 65% da lâmina precipitada após as 24 horas de duração do evento para Tr de 2 anos; 62% para Tr de 5 anos e 60%
para Tr de 10 anos. Elas também ajudariam a melhorar o número de PVs extravasados e sobrecarregados na rede. Porém, a
inclusão somente dessa medida compensatória não foi suficiente para atender a legislação local, tampouco propiciar uma rede
de drenagem sem pontos de alagamento. Portanto, percebe-se que a inserção de medidas compensatórias são mais eficientes
com chuvas de menor Tr, e que sua locação deve ser distribuída ao longo da bacia de captação para que cumpra com a função
de redução de baixo impacto, se não for possível dentro de cada lote, sugere-se a inclusão dos espaços públicos, como praças,
canteiros e calçadas.

Introdução
O crescimento e a expansão dos centros urbanos de maneira rápida e desordenada acarretam num grande contingente
populacional em um espaço reduzido, com grande competição pelos mesmos recursos naturais, afetando profundamente a
biodiversidade e ecossistemas naturais. Com esse crescimento urbano, diversas alterações no meio ambiente são percebidas,
provocando mudanças no ciclo hidrológico, relacionadas à quantidade, qualidade e regime dos corpos de água em meio
urbano.
O ciclo hidrológico sofre fortes alterações nas áreas urbanas devido, principalmente, à alteração da superfície e a canalização
do escoamento, aumento de poluição devido à contaminação do ar, das superfícies urbanas e do material sólido disposto pela
população (TUCCI, 2003).
No Distrito Federal (DF), os problemas associados ao manejo das águas urbanas são também uma preocupação constante. A
ocupação de novas áreas aconteceu, sobretudo, sem devida atenção às possíveis mudanças no ciclo hidrológico da região,
provocando o aumento das inundações observadas ano após ano, devido à impermeabilização do solo, diminuição do volume

1424
infiltrado e aumento do escoamento superficial.
Dessa forma, tecnologias alternativas e/ou compensatórias de drenagem vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de atenuar os
efeitos da urbanização sobre os processos hidrológicos ao mesmo tempo que proporcionam a preservação ambiental. O
controle das águas urbanas por meio dessa abordagem é também conhecido por soluções de Desenvolvimento de Baixo
Impacto ou Low Impact Development (LIDs).
Trabalhos como o de Moreira (2017) e Silvestri (2018) adotam como princípio básico a minimização dos impactos
hidrológicos e ambientais por meio de um projeto de drenagem dotado de técnicas alternativas, acoplando-se trincheiras de
infiltração ao sistema clássico de drenagem.
Moreira (2017), por meio da ação combinada de trincheiras e células de amortecimento, verificou ganhos significativos em
termos de realimentação do lençol subterrâneo, assegurando melhores condições de sustentabilidade para o empreendimento.
Já Silvestri (2018), estabeleceu uma análise comparativa entre o método convencional de drenagem e o método de trincheiras,
verificando que estes proporcionam benefícios sociais e econômicos relacionados a redução da probabilidade de alagamentos,
e também, benefícios ambientais relacionados a redução dos processos erosivos e, consequentemente, atenuando os processos
de assoreamento e de degradação dos corpos d’água a jusante.
Essas LIDs podem ter sua eficiência estimada por modelos matemáticos como o Storm Water Management Model – SWMM
que foi desenvolvido pela Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA), amplamente utilizado para planejamento, análise
e projetos de sistemas de drenagem de águas pluviais.
O SWMM é um modelo chuva-vazão que simula a quantidade e a qualidade do escoamento superficial, sobretudo, em áreas
urbanas. O modelo pode ser utilizado para simulação de um único evento chuvoso, assim como para uma simulação contínua
de longo prazo. Para realizar a simulação, o SWMM utiliza soluções discretas ao longo do tempo, utilizando os princípios de
conservação de massa, energia e da quantidade de movimento (ROSSMAN, 2012). Os métodos utilizados para modelar o
escoamento derivado da chuva contemplam vários processos como o escoamento superficial, infiltração, águas superficiais,
propagação de chuva, inundações, comportamento e evolução da qualidade da água.
Fileni et al (2018) avaliaram técnicas compensatórias para a região da Ceilândia-DF e os resultados apontaram redução tanto
da vazão de pico como do volume total inundado, juntamente com pavimentos permeáveis. Porém a vazão de lançamento em
acordo com a legislação local só foi alcançada com a inserção de bacias de detenção.
Araujo (2018) também utilizou o SWMM para avaliar a inserção das LIDs na região do Lago Norte no DF. A colocação das
LIDs contribuiram u para redução do volume total extravasado na região, principalmente nos eventos com tempo de retorno
entre 1 e 5 anos e chegaram a reduzir em até 63% a vazão específica, porém também não atingiram a regulação local de
24,4l/s/ha.
O presente trabalho propôs a análise do sistema de drenagem de água pluviais instalado na Região Administrativa da
Candangolândia. Foram analisados os impactos causados pelo crescimento urbano no local, bem como foram avaliadas as
possibilidades de mitigação dos impactos por meio de estruturas de drenagem de baixo impacto. Para isso, foi utilizado o
modelo computacional SWMM que permitiu a simulação dos comportamentos hidrológicos, a análise do funcionamento da
rede de drenagem e a criação de um cenário com uso de trincheira de infiltração.

Área de Estudo
A área de estudo corresponde à Candangolândia, que, atualmente, corresponde à Região Administrativa-RA XIX do Distrito

1425
Federal. A Candangolândia possui seu sistema de drenagem implantado que cobre uma área correspondente à 2,52 km². A
RA-XIX teve seu sistema de drenagem implantado há pelo menos 30 anos e, ao longo desse período, a região sofreu grande
adensamento populacional e, consequente, aumento da impermeabilização no local. A Figura 1 abaixo mostra a localização da
região de estudo com seu sistema de drenagem implantado.

Figura 76: Mapa de Localização da RA XIX – Candangolândia, DF.

A área de estudo está inserida na bacia hidrográfica do Lago Paranoá e engloba o córrego Guará e curso final do córrego
Riacho Fundo. O clima da região caracteriza-se por duas estações bem definidas ao longo do ano. Uma estação fria e seca, de
maio a setembro, e outra estação quente e úmida, de outubro a abril. A temperatura média anual varia de 18º a 22º C (LEÃES,
2014). A vegetação predominante é Cerrado com manchas de cerrado denso e campo limpo. O solo possui característica de
Latossolos Vermelho-Escuros e Latossolo Vemelho-Amarelos. Estes solos são altamente intemperizados, profundos e
produzem baixo escoamento superficial e alta infiltração.

Metodologia
Os dados dos equipamentos de drenagem urbana, bem como os parâmetros de projeto utilizados foram baseados nos critérios
estabelecidos pela NOVACAP - Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil – que é o órgão do Distrito Federal
responsável pela execução dos serviços de drenagem e manejo de águas pluviais urbanas e pela Adasa – Agência Reguladora

1426
de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF.
A simulação foi feita com o SWMM, dentro do ambiente do programa PCSWMM, e simulou o comportamento dos processos
hidrológicos na RA XIX – Candangolândia em diferentes cenários. O método de quantificação do escoamento superficial e da
infiltração escolhido foi o método da Curva Número (método SCS), classificando o CN pelo tipo de uso e ocupação do solo
(Figura 2 e Tabela 1). Já a forma de escoamento foi adotada como a da onda dinâmica.

Figura 77: Variação dos valores de CN para cada uma das sub-bacias na RA XIX – Candangolândia, DF.

Tabela 1: CN adotado para cada uso do existente nas sub-bacias de acordo com Tucci (2002).

Uso do Solo CN
Vegetação em boas condições 39
Solo exposto 68
Lotes construídos 89
Ruas e pavimentos 98

1427
A chuva de projeto foi determinada por meio da curva Intensidade – Duração – Frequência (IDF), utilizando o Tempo de
Retorno de 10 anos por especificação da NOVACAP. A partir da chuva de projeto, foi estimado o evento de precipitação pelo
método dos Blocos Alternados, com uma duração de chuva de 24 horas discretizada em intervalos de 5 minutos. A simulação
foi realizada para diferentes cenários a fim de analisar os efeitos da urbanização sobre o escoamento e analisar com efeitos de
tempos de retorno de 2, 5 e 10 anos da chuva sobre as vazões de pico.
A Curva IDF é definida no PDDU/DF conforme a Equação 1 abaixo:

(1)

Onde, I é intensidade (mm/h); Tr, o tempo de retorno (anos) e t, o tempo de duração da chuva (min).

Foram simulados três cenários com arranjos que se diferenciaram quanto ao momento de ocupação e quanto à infraestrutura de
drenagem presente, a saber: cenário pré-desenvolvimento, cenário de ocupação urbana com rede construída e cenário de
ocupação urbana com implementação das trincheiras de infiltração.
A área de estudo foi dividida em sub-bacias que são unidades hidrológicas as quais são atribuídas as características de
topografia e sistema de drenagem. Para alcançar os objetivos traçados neste projeto, foi necessária a organização dos dados no
modelo hidrológico. A partir da caracterização preliminar da área em termos de hidrografia, pedologia, relevo e uso e ocupação
do solo foram geradas as informações de entrada necessárias para o modelo por meio do programa de geoprocessamento
ArcGis. Além desses dados, foi utilizada a rede de drenagem existente, Figura 2, como os poços de visita: cotas, profundidade;
as tubulações: seção, diâmetro, comprimento, como também os dados relativos às áreas de contribuição: declividade média,
área, percentual permeável do solo.
Na Tabela 2 são apresenta os dados de entrada que foram parametrizados para aplicação do modelo, segundo as propriedades
físicas das bacias de contribuição, condutos, conexões e exultório.

Tabela 2 Características gerais da rede de drenagem da RA XIX – Candangolândia.

Características Gerais da Rede de Drenagem


Área (km²) 3,65
Sub-bacias 3598
Poços de Visita (PVs) 341
Condutos 342
Emissários 5
Menor diâmetro (mm) 400
Maior diâmetro (mm) 1000
Declividade do terreno (%) 4,02
Extensão da rede (km) 15,69

1428
Figura 78: Rede de Drenagem na RA XIX – Candangolândia modelada no PCSWMM

Resultado
Com os dados de entrada sobre as características físicas da bacia em estudo inseridas no modelo, foi possível a realização da
simulação no SWMM, com as chuvas de projeto de 2, 5 e 10 anos de Tempo de Retorno (Tr). Os resultados obtidos foram
comparados com as especificações do Termo de Referência e Especificações para Elaboração de Projetos de Sistema de
Drenagem Pluvial no Distrito Federal da NOVACAP e com as recomendações da Resolução nº 09/2011 da Adasa que dispõe
sobre os procedimentos gerais de obtenção de outorga e lançamento de águas pluviais em corpos hídricos do Distrito Federal
Para o Cenário Pré-desenvolvimento, as simulações com as chuvas de projeto com os diferentes tempos de retorno não
geraram escoamento superficial. O baixo valor de CN atribuído à cobertura natural do solo, que denota uma baixa
impermeabilização da superfície, pode ser umas das causas associadas a esse resultado, que pressupõe também uma grande
lâmina de armazenamento em depressões do terreno. Dessa forma, ao final do evento chuvoso, a precipitação sobre a área se
dividiu em infiltração natural e armazenamento na superfície. Depois das 24 horas adotadas como duração do evento de
projeto, mais de 73% da lâmina de precipitação total na área havia infiltrado.

1429
O Cenário Base consistiu na análise da rede de drenagem em sua forma original, sem nenhuma intervenção. Assim, foi
possível identificar os pontos críticos da rede atual, ou seja, os pontos passíveis de extravasamento e sobrecarga. Foram
identificados uma quantidade significativa de PVs que apresentaram sobrecarga e extravasamento para todos os tempos de
retorno simulados, evidenciando a inadequação da rede de drenagem para os escoamentos gerados na região.
A Resolução n° 9 da Adasa especifica que o lançamento direto da água drenada só é permitido para valores abaixo de 24,4
L/(s.ha). A Tabela 5.2 abaixo mostra a área de contribuição de cada emissário e a respectiva vazão. Observa-se que as vazões
de pico são todas muito superiores as vazões estabelecidas. Esse fato pode ser associado à impermeabilização do solo, que
reduz o volume infiltrado, provocando o aumento das vazões.
Ainda no cenário da rede projetada, a simulação com as chuvas de projeto resultou na infiltração de aproximadamente 64% da
lâmina precipitada após as 24 horas de duração do evento para Tr de 2 anos; 61% para Tr de 5 anos e 53% para Tr de 10 anos.
Observa-se a redução na infiltração em relação ao cenário de pré-desenvolvimento para todos os tempos de retorno
empregados.
Finalmente, os resultados observados no Cenário Alternativo, que consistiu na alocação de trincheiras de infiltração
posicionadas de forma que fiquem distribuídas anteriormente ao lançamento final nos corpos d’água da região conforme
mostra a Figura 4.

Figura 79: Representação do Cenário Alternativo no PCSWMM.

1430
Os resultados mostraram que a alocação de trincheiras na região foi capaz de melhorar tanto a vazão de saída, como os
volumes de escoamento. A Tabela 3 e as Figuras 5, 6 e 7 abaixo mostram os resultados comparativos entre os sistemas de
drenagem do Cenário Base e do Cenário Alternativo.

Tabela 3: Comparação dos resultados encontrados entre o Cenário Base e o Cenário Alternativo.

Vazão de PVs PVs


Vol. de
saída
escoamento
com com
(m³)
(m³/s) sobrecarga extravasamento

Cenário
74000 22,01 77 60
Base

Cenário
Tr = 2 anos 64750 21,08 74 55
Alternativo

Redução
12,50% 4,23% 3,90% 8,33%
Percentual

Cenário
109200 40,81 151 113
Base

Cenário
Tr = 5 anos 98370 37,73 146 108
Alternativo

Redução
9,92% 7,55% 3,31% 4,42%
Percentual

Cenário
150800 79,51 231 194
Base

Cenário
Tr = 10 anos 138900 75,78 229 191
Alternativo

Redução
7,89% 4,69% 0,87% 1,55%
Percentual

1431
Figura 80: Hidogramas para o Tr = 2 anos

Figura 81: Hidograma para o Tr = 5.

1432
Figura 82: Hidograma para o Tr = 5.

O Cenário Alternativo utilizado na simulação do PCSWMM foi capaz de demonstrar o efeito da inserção de trincheiras de
infiltração em uma rede de drenagem. Houve uma melhora no sistema como um todo, tanto em termos de vazão como em
termos de desempenho da rede de drenagem, apresentando melhores resultados para o TR de 2 e 5 anos.
Ainda no cenário com trincheiras, a simulação com as chuvas de projeto resultou ainda no aumento da infiltração em
comparação com o Cenário Base. Foi observado a infiltração de aproximadamente 65% da lâmina precipitada após as 24 horas
de duração do evento para Tr de 2 anos; 62% para Tr de 5 anos e 60% para Tr de 10 anos. A análise dos resultados mostra que
a inserção de trincheiras foi capaz proporcionar melhorias no desempenho da rede de drenagem, porém, apesar desse resultado,
as trincheiras de infiltração não foram capazes de reduzir as vazões nos emissários de forma a atender as recomendações da
Resolução nº 09/2011 da Adasa.

Considerações Finais
O modelo SWMM se comprovou como uma boa ferramenta para avaliação dos sistemas de drenagem em pequenas bacias
urbanas, além de possuir a grande vantagem de fornecer a possibilidade de modelagem de dispositivos LID.
Conclui-se que a implementação de soluções de baixo impacto, como trincheiras de infiltração, foi capaz de promover
melhorias na rede de drenagem da Candangolândia. No entanto, os problemas identificados não foram plenamente
solucionados, vários pontos de extravasamento e sobrecarga permaneceram ao longo do sistema tendo em vista que a solução
se concentrou no lançamento das águas pluviais. Os resultados reforçam a necessidade de se atentar à infiltração e ao volume
de lançamento no manejo das águas pluviais urbanas, com soluções distribuídas ao longo da bacia de contribuição, tendo como
melhor solução a implantação dentre dos lotes. Por parte do poder público, a implantação de técnicas compensatória em praças,
canteiros e calçadas auxiliariam nos problemas referentes ao escoamento superficial.
Por fim, foi possível verificar que tanto a drenagem e manejo de águas pluviais, quanto a implantação de uma solução de baixo

1433
impacto apresentam questões complexas e levam a vários problemas associados que devem ser cuidadosamente estudados. Os
resultados do projeto mostram que as técnicas compensatórias de drenagem têm a capacidade de contribuir para a melhora de
um sistema de drenagem convencional, sendo uma boa alternativa complementar aos sistemas de drenagem tradicionais, de
modo a amenizar e solucionar alguns dos problemas oriundos dos impactos do processo de urbanização.

Agradecimentos
Os Autores gostariam de agradecer à CHIWATER pela concessão da licença do PCSWMM para fins acadêmicos. A
NOVACAP e à Adasa pela disponibilização dos dados.

Referências Bibliográficas
ADASA. Manual de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais Urbanas no Distrito Federal. Brasília, DF: ADASA, 2018.
ADASA. Resolução n° 9, de 8 de abril de 2011. Estabelece os procedimentos para requerimento e obtenção de outorga de
lançamento de águas pluviais. Brasília: Adasa, 2011.
ARAÚJO, A. S. Análise e proposição de medidas sustentáveis em drenagem urbana na região do Lago Norte - DF por meio de
modelagem hidráulica-hidrológica. Monografia de Projeto Final - Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia.
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental 2018.
CHI WATER. PCSWMM Support. Disponível em: <https://support.chiwater.com/>. Acesso em: 04 set. 2019.
Filene, F.; Costa, M. E. L, Alves, C.M.A. Avaliação de Técnicas de Drenagem Sustentável em Duas Sub-Bacias do Setor
Habitacional Sol Nascente, Ceilândia – DF. ANAIS do XII Encontro Nacional de Águas Urbanas - Maceió-AL. 2018.
LEÃES, J. M. Memorial Descritivo de Projeto Candangolândia. [s.l.] UnB, 2014.
MOREIRA, D., Baptista, M. Incorporação de Técnicas Compensatórias em Projeto de Microdrenagem. In: XI Encontro
Nacional de Águas Urbana, 2017, Belo Horizonte.
ROSSMAN, L. A. Epa SWMM 5.0 Modelo de Gestão de Drenagem Urbana do Usuário. João Pessoa, Paraíba: UFPB, 2012.
SILVESTRI, G. R. Avaliação da Viabilidade Técnica e Econômica de um Sistema de Drenagem por Trincheiras de Detenção
em um Loteamento Residencial. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Engenharia Civil da Universidade -
Caxias do Sul. 2018.
TUCCI, C. E. M. Drenagem Urbana. Ciência e Cultura, v. 55, 2003.
TUCCI, C. E. M. Gerenciamento da drenagem urbana. Revista Brasileita de Recursos Hidricos, v. 7, n. 1, p. 5–27, 2002.
TUCCI, C. E. M. Modelos hidrológicos. Porto Alegre, RS: UFRGS/Associação Brasileira de recursos Hídricos, 1998.

1434
5SSS303
QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS E SUBTERRÂNEAS PARA
DESSEDENTAÇÃO DE PRODUÇÃO ANIMAL: UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
Élvio Caetano1, Romeu e Silva Neto2, Vicente de Paulo Santos de Oliveira 3, Caio Henrique Ribeiro Caetano4
& Angélica de Souza Ferreira Gomes5
1Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Fluminense, e-mail: ecaetano@iff.edu.br; 2 Instituto Federal
de Educação Ciência e Tecnologia Fluminense, e-mail: romeuesilvaneto@gmail.com; 3Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia Fluminense, email:vsantos@iff.edu.br; 4Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia Fluminense, email:caiohenriquecaetano@hotmail.com; 5Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia Fluminense, email:angelfers@yahoo.com.br

Palavras-chave: Água; Dessedentação Animal; Qualidade

Resumo
O objetivo desse artigo é apresentar a relevância quanto à análise da qualidade água destinada a dessedentação animal, haja
vista que, no contexto da produção rural, a água para consumo de animais deve apresentar-se isenta de contaminantes químicos
e biológicos, pois a presença de substâncias inapropriadas e/ou com concentração excessiva contribui para a ocorrência de
inúmeros agravos danosos aos animais, inclusive com óbitos. Soma-se a isto, o fato de que altas concentrações de substâncias
tóxicas na água comprometem o desenvolvimento animal, cujo reflexo é observado na diminuição da produção da carne,
gordura, ovos, leite, por exemplo, causando assim prejuízos econômicos ao produtor rural. Nesse sentido, é fundamental que
água utilizada para dessedentação animal esteja em conformidade com os parâmetros de qualidade, bem como, com o valor
máximo permitido (VMP) estabelecidos pelas legislações: Resolução CONAMA nº 357/2005 e Portaria do Ministério da
Saúde nº 2.914 de 2011. Trata-se de uma revisão teórica, de caráter qualitativo e exploratório, realizada por meio de
publicações encontradas em bancos de dados disponibilizados na internet, como Portal de Periódicos – CAPES. Para escolha
das publicações a serem analisadas, o presente artigo utilizou como critérios de inclusão: publicações com análises de casos,
publicados nos últimos 10 anos (2009-2019).

Abstract
The objective of this article is to present the relevance of the analysis of the quality of water intended for animal water, since,
in the context of rural production, water for animal consumption must be free of chemical and biological contaminants, since
the presence of inappropriate substances and/or with excessive concentration contributes to the occurrence of innumerable
harmful damages to the animals, including deaths. This is due to the fact that high concentrations of toxic substances in the
water compromise animal development, which is reflected in the decrease in the production of meat, fat, eggs and milk, for
example, causing economic losses to the rural producer. In this sense, it is fundamental that water used for animal watering is
in compliance with the quality parameters, as well as with the maximum value allowed established by the legislation:
CONAMA Resolution 357/2005 and Ministry of Health Ordinance 2,914 of 2011. This is a theoretical review, of a qualitative
and exploratory nature, carried out through publications found in databases made available on the Internet, such as Portal de
Periodicos - CAPES. In order to choose the publications to be analyzed, the present article used as inclusion criteria:
publications with case analyzes, published in the last 10 years (2009-2019).

Introdução
A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) foi instituída no Brasil por meio da Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997,
comumente conhecida como Lei das Águas, prevê dentre seus fundamentos o uso prioritário dos recursos hídricos ao consumo
humano e a dessedentação de animais, nos casos de escassez. (BRASIL, 1997). No entanto, independente do uso a ser dado, a
água requer uma determinada quantidade, bem como, um padrão de qualidade, adequados ou suficientes para atender às
demandas dos diferentes usos.
Especificamente quanto à dessedentação, no contexto da produção agropecuária, a água disponibilizada para consumo dos
animais deve ser de boa qualidade, tendo em vista a sua importância como um nutriente fundamental para o desenvolvimento e
desempenho dos mesmos, inclusive agregando a eles valor econômico. De forma contrária, quando a água utilizada para
dessedentação dos animais estiver fora dos parâmetros considerados essenciais para consumo, como consequência, por
exemplo, poderá ocorrer prejuízo econômico em virtude do adoecimento destes, devida à veiculação de microrganismos
patogênicos que podem efetivamente interferir de forma negativa na produtividade, com possíveis ocorrências de óbitos no

1435
rebanho.
Aliás, cabe ressaltar que a atenção à qualidade da água utilizada na produção animal, no caso deste estudo, na dessedentação, é
conduzida no Brasil pela Resolução Normativa nº 357 do CONAMA (BRASIL, 2005), que determina a classificação das
águas, segundo a sua utilização, definindo inclusive os parâmetros de qualidade a serem atendidos.
Isto posto, objetiva o presente artigo apresentar, por meio de revisão de uma literatura, a relevância quanto à análise da
qualidade água destinada à dessedentação animal.
Por tratar-se de uma revisão teórica, de caráter qualitativo e exploratório, este artigo tem como estratégia prioritária a pesquisa
secundária, por meio de publicações em bancos de dados na internet, como: Portal de Periódicos – CAPES e Google Scholar.
Para seleção das publicações, o presente artigo utilizou com critérios de inclusão: publicações com análise de casos, publicados
nos últimos 10 anos (2009-2019) que estivessem na íntegra e em língua portuguesa, a partir dos seguintes descritores:
dessedentação, animal, água, qualidade.
Entende-se que este estudo seja relevante, na medida em que busca suscitar uma alternativa para o futuro abastecimento de
água de área com risco iminente de escassez de água potável, além de contribuir também nas questões de saúde pública e
ambiental, bem como para novas pesquisas.

Material e Métodos
Segundo a Portaria do Ministério da Saúde nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011, toda água destinada ao consumo humano
deve obedecer ao padrão de potabilidade, ou seja, deve apresentar um conjunto de valores permitidos como parâmetro da
qualidade da água para consumo humano. A verificação da potabilidade da água é dividida em classes de análises, sendo as
mais frequentes por meio das análises físico-químicas (pH, metais tóxicos, turbidez, oxigênio dissolvido e dureza) e dos
parâmetros de caráter microbiológico (Coliformes termotolerantes) (BRASIL, 2011).
A verificação da potabilidade das águas naturais superficiais e subterrâneas é de extrema relevância, tendo em vista a presença
de várias substâncias dissolvidas (TROVATTI, s/a), como: a) Dureza, representada basicamente pelos íons cálcio e magnésio
(Ca2+ e Mg2+), principalmente os sulfatos (SO4 2-), carbonatos (CO3 2-) e bicarbonatos (HCO3-); b) Sílica solúvel (SiO2) e
silicatos (SiO3 2-) associados a vários cátions; c) Óxidos metálicos (principalmente de ferro), originados de processos
corrosivos; d) Diversas outras substâncias inorgânicas dissolvidas; e) Material orgânico, óleos, graxas, açúcares, material de
processo, contaminantes de condensados, etc.; e) Gases, como oxigênio, gás carbônico, amônia, óxidos de nitrogênio e
enxofre; e f) Materiais em suspensão, como areia, argila, lodo, etc.
Quanto ao índice de salinidade, trata-se de um termo que descreve a quantidade de sais em uma amostra de água, que “em
termos de sólidos totais dissolvidos (STD), em miligramas de sólidos por litro (mg/l). A água salobra é, portanto, uma mistura
de água doce com água salgada” (CNPq, 2014, p. 73). A Resolução nº 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) classifica as águas de acordo com o teor de sais: a) Água Doce - com salinidade igual ou inferior a 0,5‰ (cinco
por mil); b) Água Salobra - com salinidade superior a 0,5 ‰ e inferior a 30 ‰; e c) Água Salina - com salinidade superior ou
igual a 30‰. Observa-se assim que a água obtida em terra, por exemplo, a água do rio, difere consideravelmente da água do
mar, em razão da quantidade relativa de sais encontrados nas mesmas, assim como, dos valores e da presença de outras
substâncias.
No caso das águas superficiais e subterrâneas a ocorrência de altas concentrações nos solos está intrinsecamente vinculada às
seguintes situações, que podem ocorrer de forma isolada ou associadas: material de origem rica em sais; baixa ou nula
ocorrência de chuvas, isto é, precipitação insuficiente para lixiviação do excesso de sais; alta evapotranspiração e regiões com
aporte de sais por estarem próximas ao mar (OLIVEIRA et al., 2013). No entanto, independente da origem da água, ou seja,
salgada ou salobra, a partir da remoção de um determinado nível de sais (dessalinização) a mesma pode ser destinada ao
consumo humano, à dessedentação de animais, à irrigação ou aos usos industriais (PAGAIME, 2011).
A respeito disso, Alves et al. (2010, p. 4) salienta que “a avaliação da qualidade da água subterrânea, bem como de suas
características hidrogeoquímicas, constituem uma informação de grande importância para a gestão e sua adequabilidade ao
uso, seja consumo humano, industrial, irrigação ou dessedentação animal”.
Nas áreas rurais, nos locais mais afastados das zonas urbanas, é comum a prática do consumo de água captada de poços.
Porém, há situações em que a água subterrânea se apresenta imprópria para qualquer tipo de consumo. Segundo Cerqueira et
al. (2014), uma água captada de poços rasos, por exemplo, pode apresentar uma qualidade deficiente, quer por questões
naturais intrínsecas ao meio ambiente, quer pela influência do material geológico, ou até mesmo, como bem coloca Birkheuer
et al. (2017) devida à contaminação por diversas atividades humanas, proximidade de áreas de pastagem animal, esterqueiras
ou abatedouros. Além disso, no contexto das principais interferências aos recursos hídricos no meio rural está os constantes
desmatamentos e destruição das áreas de vegetação permanentes, assim como, “a utilização indiscriminada de agrotóxicos e de
fertilizantes, que são carreados pela água com as partículas de solo ou são depositados diretamente nos mananciais hídricos
superficiais” (BORTOLI, 2016, p. 23).
No setor agropecuário, a disponibilidade de água, seja em quantidade e qualidade, para dessedentação dos animais é uma
preocupação recorrente dos produtores rurais em razão das constantes ameaças antrópicas a esse recurso natural, sendo essas
ameaças mais “intensificadas em regiões nas quais a concentração de animais por unidade de área é elevada” (PALHARES;
GUIDONI, 2012, p. 245). No entanto, em geral, muito produtores ignoram a importância da qualidade da água de

1436
dessedentação dentro dos parâmetros legais para o consumo animal, sendo, dessa forma, negligenciados um dos principais
cuidados com a saúde animal (BIRKHEUER et al., 2017). Aliás, conforme descreve Palhares (2013, p. 2) a água é um
nutriente fundamental para a saúde animal, variando seu consumo entre as espécies (Por exemplo: o consumo de água (L –
unidade de consumo e d – unidade de 1 dia) pelos bovinos é de 50 L/d, bubalinos 60 L/d, equinos 40 L/d, ovinos 7 L/d, suínos
20 L/d, caprinos 7 L/d e aves 0,36 L/d (NOBRÉGA NETO; ARAÚJO; TÁVORA, 2016). Ademais,

A água faz parte de 50% a 80% do organismo dos animais. Um animal jovem pode ter até 80% de
sua constituição orgânica na forma de água. Conforme esse animal envelhece, essa quantidade irá
diminuir, alcançando um mínimo de 50%. Quanto maior a proporção de gordura na constituição
do organismo, menor a quantidade de água. O animal pode perder 50% da proteína de seu corpo e
sobreviver, mas a perda de 10% da água corporal pode levar o animal à morte.

Os autores Valente-Campos, Nascimento e Umbuzeiro (2014) mencionam que a existência de níveis elevados de substâncias
na água consumida pelos animais tendem afetar diretamente numa diminuição da produção seja de carne, gordura, ovos, leite,
inclusive na redução da fertilidade, representando assim um risco para a saúde animal e humana, considerando a ingestão
destes alimentos pelo homem. Sobre isto, vale citar o trecho a seguir:

A regulação da temperatura corporal, assim como as funções relacionadas com a digestão e


metabolismo do animal, a exemplo da síntese e hidrólise de moléculas, excreção, regulação da
homeostase mineral, lubrificação das articulações e outras, têm contribuição significativa da água.
Ela é também excelente solvente para a glicose, aminoácidos, íons minerais e vitaminas solúveis,
além de ter atuação no transporte de resíduos metabólicos e ser um importante componente
estrutural do corpo (ARAÚJO et al., 2011, p. 71).

Por fim, é fundamental ressaltar que a salinidade apresenta-se como uma substância determinante para análise se uma fonte de
dessedentação é ou não apropriada para consumo animal, haja vista que, segundo Nóbrega Neto, Araújo e Távora (2016), em
quantidade excessiva pode causar efeitos danosos ao animal, por outro lado, em quantidade adequada pode contribuir de forma
positiva ao consumo de minerais. Os autores acrescentam ainda que, “em geral, os animais de aptidão leiteira são mais
resistentes ao excesso de sal que os animais de corte” (p. 55).

Resultados e Discussão
O Quadro 1, a seguir, apresenta as características das publicações selecionadas, num total de 05 (cinco), segundo os critérios
preestabelecidos para inclusão referentes à revisão bibliográfica.
Amorim et al. (2014) analisaram amostras de águas superficiais captadas em 05 (cinco) pontos de área de produção de milho,
utilizadas na dessedentação de animais, a fim de avaliar os seguintes parâmetros de qualidade: pH, condutividade elétrica (CE),
sólidos dissolvidos totais (SDT), magnésio (Mg2+) e demanda bioquímica de oxigênio (DBO). Os valores de pH referente à
amostra das águas captadas nos cinco pontos variaram de 7,2 a 8,9, sendo consideradas dentro dos limites permitidos para
águas salobras da classe 3 pela Resolução CONAMA nº 357/2005. Quanto ao parâmetro condutividade elétrica (CE),
considerada ideal dentro da faixa de 5,0 a 8,0 dS/m, a água captada em três pontos foi considerada satisfatória para o consumo
do gado; no entanto, a água captada nos demais pontos analisados apresentou-se acima do limite máximo satisfatório, ou seja,
inviável ao consumo animal. Com relação aos parâmetros sólidos dissolvidos totais (SDT), considerando sua correlação direta
com a CE, fora observado o mesmo comportamento com relação à amostra de água captada nos cinco pontos de coleta, ou
seja, em três pontos a água foi satisfatória para este parâmetro e não satisfatória em dois pontos. Quanto ao íon magnésio
(Mg2+), da amostra captada nos cinco pontos, apenas um ponto apresentou alta concentração deste parâmetro, excedendo esta
amostra de água os limites de tolerância para consumo animal. Por fim, a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), não foi
detectada em apenas um ponto, sendo em dois pontos detectadas com valores abaixo de 10 mg/L O2, considerado um limite
máximo aceitável para as águas doces da classe 3 pela Resolução CONAMA 357/2005; contudo, em dois pontos da amostra
captada houve excesso neste limite, destes, um ponto apresentou valor muito elevado.
Em estudo similar, Neto, Araújo & Távora (2016) propuseram analisar a qualidade da água de dessedentação animal de 06
(seis) tanques, sendo considerados alguns parâmetros, dentre eles: pH, condutividade elétrica (CE), oxigênio dissolvido e
sólidos totais dissolvidos (SDT). Quanto ao parâmetro pH, três bebedouros apresentaram valores acima do aceitável para o
consumo de animais, ou seja, acima de 9, valores estes que contribuem para a ocorrência de distúrbios digestivos e diarreias,
bem como, redução da ingestão de alimentos. Os outros três bebedouros apresentaram pH dentro do limite aceitável (entre 6 e
9). Com relação ao oxigênio dissolvido, apenas dois bebedouros apresentaram valores menores que o mínimo permitido pela
Resolução CONAMA nº 357/2005, ou seja, 4 mg/L. Por sua vez, quanto aos parâmetros sólidos dissolvidos totais (SDT), que
determina o limite máximo de 500 mg/L, todas as amostras dos seis tanques estavam acima do valor permitido. Este valor
acima do permitido também foi aferido na condutividade da água dos seis tanques, tendo em vista que a condutividade elétrica
(CE) da água indica o nível de solubilidade de sais e outros compostos no meio aquático. Quanto ao parâmetro sais totais

1437
dissolvidos, estes foram considerados baixos na amostra dos bebedouros analisados, indicando assim a possibilidade de
fornecimento destas águas para dessedentação animal.

Quadro 3: Características das publicações de revisão de literatura publicadas, selecionadas mediante os critérios
preestabelecidos para inclusão neste estudo.
Autor (es) Tipo de Publicação-Ano /Título / Objetivo
Tipo de Publicação: Revista de Ciências Exatas e da Terra UNIGRAN, v2, n.2, pp.
43-55, 2013.
Título: Análise Físico-Química e Microbiológica da água de tanques utilizados na
COSTA, L. N.; MONTEIRO, P.
dessedentação de bovinos.
L. A.; GOMES, A. A. (2013)
Objetivo: Verificar e quantificar a presença de coliformes totais e fecais assim como
sua relação aos valores de oxigênio dissolvido e verificar se há relação quanto a forma
como os tanques são abastecidos.
Tipo de Publicação: Revista Embrapa Tabuleiros Costeiros - Artigo em anais de
AMORIM, J. R. A., CRUZ, M. congresso. In: Encontro de Recurso Hídrico em Sergipe, 7. 2014.
A. S., RODRIGUES JUNIOR, L. Título: Qualidade da água superficial para dessedentação animal na região do polo de
N., GALINA, M. H., & SOUZA, produção de milho em Sergipe: diagnóstico preliminar.
L. A. Objetivo: Realizar um diagnóstico da qualidade das águas superficiais para
dessedentação animal na região do Polo de Produção de Milho em Sergipe.
Tipo da Publicação: Revista Holos, v. 3, p. 52-61, 2016.
NÓBREGA NETO, S. B.; Título: Qualidade de água de dessedentação de bovinos da fazenda-escola do IFRN-
ARAÚJO, I. I. M.; TÁVORA, Ipanguaçu.
M. A. Objetivo: Diagnosticar a qualidade da água que é ofertada para dessedentação dos
bovinos de leite da Fazenda-escola do IFRN, campus Ipanguaçu.
Tipo da Publicação: Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia –
CONTECC’2017. 8 a 11 de agosto de 2017 – Belém-PA, Brasil.
Título: Avaliação dos Poços Subterrâneos para Consumo Animal na Comunidade do
MOURA, P.S.; FARIAS, S. A. Bravo, Município de Boa Vista, PB.
R. Objetivo: Avaliar a qualidade da água de 8 poços monitorado em três anos e períodos
distintos, dezembro de 2014, maio 2015 e agosto de 2016, realizado na comunidade
rural do Bravo no município de Boa Vista-PB.
Tipo de Publicação: II Simpósio de Produção Animal da UFRPE-UAST. Mudanças
Climáticas e Avanços Tecnológicos na Produção Animal. Universidade Federal Rural
SILVA, B. E. M.; HOLANDA,
de Pernambuco, 2018.
M A.C.;
Título: Qualidade de água de dessedentação animal no município de Floresta-PE.
HOLANDA, M. C. R.;
Objetivo: Avaliar a qualidade de água utilizada por alguns produtores para a
SILVA, F. E.; SILVA, M. C. S.
dessedentação dos animais no município de Floresta-PE.
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados coletados.

Da mesma forma que a pesquisa anterior, Costa, Monteiro & Gomes (2013) também propuseram analisar amostras de três
tanques destinados a dessedentação animal. Observou-se que na análise das amostras de todos os tanques, os níveis de
contaminação foram insignificantes, sendo a água dos referidos tanques liberada para o consumo animal por estar em
conformidade com os parâmetros estabelecidos pelo CONAMA. No entanto, ao comparar os valores obtidos desta mesma
amostra de água dos tanques aos níveis de oxigênio, estes encontram-se abaixo dos valores desejáveis, tendo em vista que a
alta quantidade de biomassa de bactérias decompositoras são bactérias fixadoras de oxigênio. Na maioria das amostras
coletadas dos tanques, o pH manteve-se próximo ao neutro, considerado um valor ideal para a água de consumo animal.
Quanto aos níveis de oxigênio dissolvido, os valores apresentados foram considerados bem abaixo do que é preconizado pelo
CONAMA, ou seja, inapropriadas para dessedentação animal.
Com o objetivo de obter informações quanto à qualidade da água captada em 04 (quatro) poços artesianos tubulares, distintos,
destinada a dessedentação animal, Silva et al. (2018) analisaram as referidas amostras sob os parâmetros: condutividade
elétrica (CE) e potencial hidrogeniônico (pH). Os resultados das análises indicaram que os valores de 03 três poços
apresentaram pH dentro do considerado ideal pelo CONAMA (entre 6 e 9), exceto 01 (um) que apresentou valor inferior ao
recomendado, que se for utilizada para dessedentação animal, poderá ocasionar situações de acidose e/ou redução da ingestão
dos alimentos. Com relação à condutividade elétrica (CE), apenas 1 (um) poço apresentou resultado excelente (<1,5 dS m-1),
podendo ser utilizada para a dessedentação de qualquer espécie animal. A água de 02 (dois) poços apresentaram-se
satisfatórias quanto ao parâmetro condutividade elétrica (CE) e 01 (um) poço apresentou valores caracterizados como

1438
inadequados para o consumo animal.
Moura & Farias (2017) também objetivaram avaliar a qualidade da água destinada a dessedentação animal, captadas de 8 (oito)
poços, durante o período de três anos, a partir dos parâmetros magnésio (Mg2+) e condutividade elétrica (CE) da água. Das 24
(vinte e quatro) amostras coletadas e analisadas, os resultados indicaram que, quanto ao parâmetro condutividade elétrica (CE),
70,8% da amostra foi considerada satisfatória para o consumo de animais confinados. Com relação ao parâmetro magnésio
(Mg2+), observou-se que em 58,3% da amostra o valor era satisfatório para dessedentação animal, apresentando-se restrita aos
bovinos e ovinos em 33,3% das amostras. Em nenhum dos poços foi encontrado um valor fora do padrão para concentração de
magnésio maior que 41 mEq L-1.

Considerações Finais
As pesquisas analisadas referentes às amostras de águas superficiais e subterrâneas utilizadas na dessedentação de animais
demonstraram que quando os valores físico-químicos e microbiológicos estão em desacordo com os parâmetros legislativos
estabelecidos, esta água torna-se inapropriada para consumo, tendo em vista os inúmeros malefícios que pode causar, desde o
comprometimento da saúde do animal, das pessoas que consumiram seus derivados e até o prejuízo econômico do produtor
rural.
Fora observado também, durante o processo de pesquisa para elaboração deste artigo, a carência quanto a publicações de
estudos relacionados à análise de qualidade da água de dessedentação animal na Região Sudeste.
Nesse contexto, sugerimos que novas pesquisas relacionadas à referida análise sejam realizadas, a fim de que as evidências
científicas obtidas ratifiquem a importância da oferta de água para dessedentação animal dentro dos parâmetros de qualidade,
bem como, do valor máximo permitido (VMP) estabelecidos pelas legislações, visando assim a manutenção da saúde dos
animais e o crescimento quantitativo da produção rural, principalmente, dos pequenos produtores.
Uma outra sugestão viável, também apresentada em estudo evidenciado neste artigo, é a utilização de um dessanilizador por
osmose reversa nas amostras onde há alta concentração de sais, principalmente de água captada dos poços subterrâneos, sendo
esta via uma alternativa para o fornecimento de água com melhor qualidade aos animais.

Referências Bibliográficas
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1440
5SSS304
AVALIAÇÃO DA CINÉTICA DE CRESCIMENTO DE CIANOBACTÉRIA EM
DIFERENTES CONDIÇÕES EXPERIMENTAIS UTILIZANDO EFLUENTE DE
LATICÍNIOS
Thais Magalhães Possa1, Adriana Gonçalves da Silva Manetti2, Maria Isabel Queiroz3
1Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e-mail: thaispossa03@gmail.com; 2Universidade Federal de
Pelotas, e-mail: didialimentos@yahoo.com.br; Universidade Federal do Rio Grande, e-mail:
mariaisabel.queiroz@pesquisador.cnpq.br

Palavras-chave: cianobactéria; Aphanothece; laticínio

Resumo
O presente trabalho teve como objetivo avaliar a cinética de crescimento da Aphanothece microscopica Nägeli, sob razões C/N
e N/P cultivada no efluente da indústria leiteira. Dentro deste cenário, foi realizada a caracterização do efluente quanto aos
parâmetros pH, DQO, N-NTK, fósforo total e sólidos suspensos. Os cultivos foram conduzidos heterotroficamente em
biorreatores tipo coluna de bolhas, em sistema descontínuo, com capacidade de 4,5 L, fotoperíodo de 12 horas, pH ajustado a
7,6, aeração contíua, operando na temperatura de 30ºC, com concentração celular de 200 mg. L-1 de inóculo, retirado na fase
exponencial de crescimento do cultivo em meio padrão BG11. Foram realizados 9 experimentos, em triplicata, totalizando 27
experimentos seguindo um planejamento fatorial (32). As variáveis independentes foram as razões C/N e N/P sob os níveis
(20,40,60) e (5,10,15), respectivamente. Os resultados obtidos, sugerem que houve influência, das razões C/N e N/P, na
cinética de crescimento de Aphanothece microscopica Nägeli. Os resultados obtidos foram, concentração celular máxima de
1045 mg. L-1, velocidade máxima específica de crescimento de 0,250 h-1 e tempo de geração correspondendo a 2,77 h e tempo
de batelada para atingir a máxima concentração celular de 6h. Com isso evidencia a importância das razões C/N e N/P no
cultivo de Aphanothece no efluente de laticínios.

Introdução

Nas últimas décadas, diversos trabalhos têm sido realizados com o metabolismo destes microrganismos, explorando seus
mecanismos auxiliares como a respiração. Fato que deve ser salientado a partir da verificação que estes microrganismos
valendo-se destas rotas metabólicas auxiliares podem ser aplicados satisfatoriamente no tratamento de despejos
agroindustriais, que constituem significativas fontes poluidoras, quando lançados nos corpos hídricos, podendo se tornarem
importantes fontes protéicas, uma vez que o nitrogênio presente nesta água residuária pode ser incorporado a uma biomassa
(LOPES et al., 2003, BASTOS, 2002, QUEIROZ, 1998, DE LA NOÜE et al., 1997, ARDELEAN & ZARNEA,
1998,VILLANUEVA, 1994).
As cianobactérias possuem as necessidades mais simples de nutrição existentes, proliferando-se em qualquer ambiente que
proporcione condições autotróficas de existência, porém fatores como pH, temperatura, intensidade luminosa, salinidade,
umidade, e concentrações de fósforo e nitrogênio, interferem no seu desenvolvimento (ROMANO et al., 2000). Segundo
LOURENÇO (1996), a disponibilidade de nutrientes no meio condiciona a composição química das cianobactérias,
enfatizando que altas concentrações de nitrogênio dissolvido favorecem a síntese e acumulação de proteína, ao passo que na
presença de baixas concentrações do referido elemento, o microrganismo tende a produzir e acumular maiores quantidades de
carboidratos. Com isso, sabe-se que a concentração de nutrientes inorgânicos, que pode ser expressa como razão C/N e N/P, é
fator que influi no crescimento das cianobactérias (CRAGGS et al., 1997).
A cianobactéria Aphanothece microscopica Nägeli é uma cianobactéria de ocorrência natural nos corpos hídricos adjacentes à
cidade de Rio Grande, RS, Brasil, que vem sendo estudada sobre diferentes aspectos, no âmbito de tratamento de águas
residuárias, perspectivas de utilização como complemento da dieta alimentar, bem como, na produção de compostos celulares
de interesse industrial (ZEPKA et al., 2010; SILVA-MANETTI et al., 2011; QUEIROZ et al., 2011; VIEIRA GUERRA et al.,
2012). No entanto, no que se refere a otimização das razões C/N e N/P ainda há lacunas a serem preenchidas. Dentro deste
cenário, o objetivo deste trabalho foi estudar a cinética de crescimento de Aphanothece microscopica Nägeli, sob razões C/N e
N/P cultivada no efluente da indústria de laticínios.

1441
Materiais e Métodos

Micro-organismo

Obtenção do efluente

A água residuária do processamento de laticínios foi utilizada como meio de cultivo. O efluente foi obtido em uma indústria de
processamento de produtos lácteos (Pelotas, RS), coletado na saída do tanque de equalização da estação de tratamento de
efluentes por um período de 6 meses. As amostras foram transportadas em garrafas de polietileno para o Laboratório da
Agência da Lagoa Mirim e congeladas a -18C. O efluente foi caracterizado quanto ao pH, demanda química de oxigênio
(DQO), nitrogênio total Kjeldahl (N-NTK), P-PO4-3: fósforo total dissolvido e sólidos suspensos (SS).
As análises foram realizadas segundo os procedimentos descritos em Standard Methods para análise de águas e efluentes
(APHA, 2005). As razões C/N e N/P foram determinadas em função das concentrações de DQO, N-NTK e P-PO4-3 presentes
no efluente, conforme indicado por Hornes & Queiroz (2004).

Preparo do inóculo

Suspensões de Aphanothece microscopica Nägeli (RSMan92), foram cultivadas e mantidas em meio BG-11 (Braun-Grunow
medium) conforme indicado por Rippka et al. (1979). As condições de cultivo foram, 2 klux com fotoperíodo de 12 h, 25ºC e
pH 7,6 (QUEIROZ et al., 2004). O cultivo foi realizado em garrafa de polietileno em câmara otimizada quanto à luz e
temperatura. Foram utilizadas lâmpadas fluorescentes com intensidade luminosa e temperatura controlada.
A concentração celular na fase exponencial para tomada dos inóculos foi determinada gravimetricamente mediante filtração de
volume conhecido de meio de cultura BG-11 contendo as células do micro-organismo. A cultura foi filtrada em filtro Millipore
(0,45

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