Você está na página 1de 2

Rebeca Gama

Em uma cidadezinha afastada no interior de São Paulo, as pessoas contam a história


sobre uma ilha, longe de tudo, onde seus moradores fugiram de lá e se instalaram nesse
campo onde todos vivem agora. Os mais velhos falam que isso é besteira, dizem que é só
uma lenda, porém sempre tem aquela "véia maluca" que fala sobre como foi o dia mais
horripilante de sua vida. Depois que seus pais foram embora para terem melhores
oportunidades de trabalho, Rebeca vive com sua avó Rosa, a véia maluca, que coloca
medo nas criancinhas com suas histórias sobre uma criatura demoníaca que levou a vida
de seu pai e quase levou seu braço embora. Ninguém nunca acreditou, exceto por Rebeca,
que escutava as histórias com curiosidade e desejo de saber mais.
Quando mais velha, queria descobrir o paradeiro de sua cidade quase desconhecida.
Após muito tempo se tornou historiadora e começou a procurar e procurar, por pistas ou
qualquer coisa. Ela sabia que sua avó não era mentirosa, e se mentisse, saberia muito bem.
Porém meses e meses de procura, nada achou, pensou que tudo realmente fosse história
para criança dormir.
Um dia, dona Rosa veio a falecer. Rebeca estava morando temporariamente na cidade
grande para estudar, foi a visitar e teve a triste notícia. Em meio às coisas de sua avó,
achou um livro, um diário velho e levemente apodrecido, pertencente à “pequena Rosa”.
Nele estava diversas histórias estranhas, como pessoas desaparecendo, sons estranhos e
uma capela antiga que ninguém poderia entrar, a não ser os adultos para “parar com o
barulho”. Em uma página dizia: “Ouvi o pai e os outros dizerem que o dia está chegando,
alguém deve ser ‘o sacrifício’” e no final o que parecia um mini mapa da região litorânea de
SP com um círculo vermelho no mar. O resto do livro estava rasgado e manchado
de…sangue?
Um arrepio lhe subiu pela espinha, sua avó estava mesmo dizendo a verdade todo esse
tempo! Rebeca precisava ver o que tinha lá, em duas semanas conseguiu um barco e um
guia que a levaria para lá. Chegando lá, um lugar com uma neblina estranha, tudo cheirava
muito mal, um ambiente morto para dizer o mínimo. Avançando cada vez mais e mais
fundo, achou o que poderia ser “A Capela”. A neblina cada vez mais espessa, o ranger da
madeira a cada passo que dava, parecia anunciar algo horrível prestes a acontecer. Com
sua câmera gravando cada escritura estranha daquele lugar, a lanterna parecia morrer aos
poucos, quando de repente, o velho piso quebra sob seus pés.
Não foi uma queda profunda, mas o que estava lá, lhe fez se sentir profundamente
apavorada: um culto para alguma entidade, mais e mais escritas, o cheiro de podridão, a
neblina que quase a fazia cega, e ao fundo, uma criatura grotesca amarrada por correntes
enferrujadas, feita de carne e sangue, o que ninguém em sã consciência imaginaria. Com a
queda, ela acordou e tentou se tacar em cima de Rebeca, que mesmo atordoada conseguiu
correr, as correntes impediram por segundos da criatura chegar até ela, porém
arrebentaram com muita facilidade. Rebeca correu como nunca, o barco ainda estava ligado
como pediu, fechou as portas da capela para atrasar a criatura, e como estava muito fraca
não consegui alcançá-la.
Voltando para casa, escreveu um enorme artigo sobre o que viu. Imaginava como aquilo
poderia ser uma grande descoberta histórica, e com o vídeo daria mais veracidade para
aquilo. Seu supervisor viu, faltou chorar de tanto rir. Um lugar desconhecido com um ”ritual
satânico” e criatura desumana feita puramente de carne? Um ótimo conto. Mesmo assim ela
decidiu publicar, afinal, ele não negou.
Não muito tempo depois, um número desconhecido ligou para ela, interessado no seu
artigo sobre algo “sobrenatural”. Uma tal de Ordo Realistas…

Você também pode gostar