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EU VENCI O
MUNDO
Jo 16, 33
Introdução
Que a graça e a paz do nosso Senhor Jesus estejam com todos vocês!
Com a graça de Deus embarcamos em mais um Renascer! E é com grande alegria que apresentamos a
proposta do Curso para os nossos queridos jovens.
Falar de jovens é ressaltar, em parte, a coragem que define esta etapa de vida. O Papa Francisco, ao
comparar os jovens aos adultos, ressalta que “o jovem caminha com dois pés como os adultos, mas, ao
contrário dos adultos que os mantêm paralelos, aquele coloca um atrás do outro, pronto a arrancar, a
partir. Sempre a olhar para diante.” (CV 139)
Olhar sempre para diante requer a virtude da Coragem. Mas será que, por ser jovem,
automaticamente se possui a coragem? Nasce-se com a coragem ou é algo que se desenvolve ao
longo dos anos?
Apoiado nas Palavras de Jesus dirigidas aos discípulos: “Coragem, Eu venci o mundo”, este curso
abordará o tema da Coragem, a Virtude que nos ajuda a vencer os medos e a superar as tribulações.
Para isso, apresentaremos em primeiro lugar a coragem como virtude e graça a ser suplicada e
desenvolvida em nós. Depois, ainda no primeiro dia, deixaremos os nossos jovens falarem
abertamente sobre seus diferentes medos e angústias hoje.
Na Segunda parte trabalharemos alguns medos presentes na vida dos jovens trazendo também
respostas evangélicas, respostas à luz do Magistério da Igreja. O ponto chave desta formação será
despertar no coração dos jovens a coragem necessária para enfrentar os diferentes medos que os
paralisam e comprometem uma fecunda juventude em Deus.
Na terceira parte do curso apresentaremos a vida de alguns santos jovens que com coragem
souberam manter-se firmes em Deus diante de situações inusitadas da vida.
Nos recomendamos à Virgem Maria, a Jovem mais Corajosa, que soube fazer da sua Vida um
Verdadeiro Louvor a Deus. Nos unamos à sua Alma que canta eternamente as maravilhas de Deus.
Assessoria Jovem
Programação
A Virtude da Coragem
ANEXO I - Características da
Virtude da Coragem
1º Dia Segundo momento: Os medos e as
ANEXO II - Caminho para o Céu
tribulações na vida dos jovens
(bate-papo + Testemunho)
Os Heróis da nossa fé
OBJETIVO
MATERIAL
METODOLOGIA
OBSERVAÇÕES
Para fazer fluir a conversa e quebrar o gelo o(a) moderador(a) pode pedir para que os
jovens escrevam de forma anônima. Os papéis podem ser lidos aos poucos para poder
gerar a interação dos jovens.
O(a) próprio(a) moderador(a) deve também participar da conversa trazendo seu ponto de
vista, suas experiências pessoais a respeito dos assuntos. Para ajudar, pode instigar
sobre medos comuns como medo do futuro, medo da morte, medo de não conseguir um
emprego, etc. É importante abordar alguns males que paralisam os jovens como a
ansiedade, a depressão.
No final do dia, o moderador deve pegar todos os pontos conversados para a preparação
da pregação do próximo dia.
Trabalhando alguns medos
OBJETIVO
Após a boa conversa do segundo momento do primeiro dia abordar à luz do magistério da
Igreja e à luz do Carisma a resposta e a devida postura diante dos medos e tribulações
elencados no momento anterior e levar os jovens a terem coragem para buscar e fazer a
Vontade de Deus em suas vidas.
MATERIAL
BIBLIA - Jo 16,33
ANEXO III - Catequese do Papa Francisco
ANEXO IV - Christus Vivit, A Vocação
ANEXO V - O Medo e a Ansiedade
ANEXO VI - Perder o medo de errar
ANEXO VII- Confiar em Deus
ANEXO VIII - Coragem para decidir-se
METODOLOGIA
1º momento: Pregação ao vivo
OBSERVAÇÕES
A pregação é destinada aos jovens, portanto o pregador deve buscar ao máximo uma
linguagem que alcance este público, usando exemplos, trazendo situações da vida,
abrindo para perguntas e podendo também fazer uso de outros recursos como slides,
imagens ou outros anexos, se assim achar conveniente.
OBJETIVO
Apresentar a vida de alguns santos que com coragem venceram inúmeros medos e superam
várias tribulações para fazer a Vontade de Deus. Esta pregação tem como objetivo trazer um
exemplo concreto de vida santa aos jovens após um dia de muito conteúdo.
MATERIAL
METODOLOGIA
2º momento: Momento de Adoração (caso não seja viável a Adoração ao Santíssimo, que se
faça um momento de oração) suplicando a Deus a libertação dos medos e clamando por
uma nova coragem para viver como filhos de Deus no mundo. Que seja um forte momento
de abertura aos dons do Espírito.
OBSERVAÇÕES
- Separamos a parte da Christus Vivit (link acima) que apresenta alguns santos jovens que
demostraram coragem para fazer a vontade de Deus.
- O pregador pode e deve fazer uso de outras fontes que possam enriquecer a formação
além dos anexos como por exemplo os pequenos vídeos colocados em cada imagem abaixo.
Anexos
O MEDO E A ANSIEDADE
Rafael Llano Cifuentes
Copio um trecho de uma carta que recebi há uns meses: "Estou passando uns dias
esquisitos: ando estranho, nervoso, mexendo-me de um lado para o outro, inquieto. Faz
quinze dias que estou assim. Senti uma fisgada no peito e desde então tenho a
desagradável sensação de que me vai acontecer algo de grave. Estou acovardado. Ontem
fui ao médico e, depois das provas de esforço que me mandou fazer, disse-me que não
tinha por que me preocupar, mas a verdade é que continuo ansioso e apavorado. Que
devo fazer? Poderíamos conversar pessoalmente?" Infelizmente, não é um caso isolado. A
ansiedade, hoje, é epidêmica. Ainda há pouco tempo, dizia-me um médico que, sem
precisar de ulteriores exames, podia diagnosticar com segurança que 30% dos doentes
que iam consultá-lo sofriam de ansiedade. Isto coincide com o que têm revelado as
últimas estatísticas sobre esse problema. Mas que significa a ansiedade e qual é o seu
parentesco com o medo? O medo é um temor específico, determinado e objetivo em face
de algo que, de alguma maneira, vem de fora de nós e se aproxima trazendo-nos
inquietação, desassossego e alarme. Enquanto não passar de uma simples reação
instintiva diante do desconhecido, chega até a ter uma função estimulante: lança
adrenalina nas veias, excita a capacidade orgânica. Armando Nogueira, comentarista
esportivo do Jornal do Brasil, refere-se a este aspecto de uma maneira expressiva: "O
idioma do esporte sempre evitou a palavra medo. Prefere uma saída eufemística: fala de
tensão, de emoção da estreia. Bobagem, medo é sinal de vida. É um sentimento salutar. A
mente avisa o resto do corpo que há perigo por perto. E se a própria mente não tomar
cuidado, o juízo vai-se embotando, os músculos vão-se tesando, o corpo acaba fugindo à
luta. É a estação covardia que se instala na alma humana. Quem não conhece a velha
metáfora do «tirar o corpo fora?» Didi, antes de ser campeão do mundo em 58, não
dormia, pensando, sobressaltado, no jogo do dia seguinte. Fosse estreia, fosse final,
passava acordado a noite da véspera. Antes do jogo, era uma pilha de nervos. Mas
bastava a bola começar a rolar, e ele convertia-se num príncipe de lucidez e sangue frio.
Aqui está a chave do problema: é saber transformar em impulso a energia vital que o
medo encerra". Se o medo pode ser um fator positivo, já o mesmo não se pode dizer da
ansiedade. Trata-se também de um temor, mas de um temor difuso, vago, indefinido.
Compartilha com o medo a sensação de receio, mas, ao passo que no medo isso se
produz por alguma coisa, na ansiedade não é ocasionado por nada de concreto. Assim
como no medo se podem tomar providências para afastar o perigo, na ansiedade não se
pode seguir nenhum caminho, porque não existe um objetivo contra o qual lutar. Se, por
exemplo, no Rio de Janeiro se fizesse uma estatística das probabilidades de que um filho
que volta da escola seja atingido por uma bala perdida, veríamos que esta é mínima. Mas,
como nos últimos dois anos já morreram nessas circunstâncias algumas crianças – entre
as centenas de milhares que vão à escola cada mês -, esse fato atua como um estopim
que põe em movimento todo o mundo de temores que o morador das grandes
concentrações urbanas parece trazer no fundo do seu cérebro. É por isso que a mãe fica
ansiosa quando a criança se atrasa na volta da escola. E, da mesma forma, o disparo de
uma pistola, ou o ruído de uma violenta freada de carro, ou o toque estridente de uma
sirene - seja da polícia ou da ambulância -, ou a noticia de um contágio de Aids, da perda
de emprego de um amigo ou de um assalto no bairro vizinho, são o dispositivo que
desencadeia o processo de ansiedade que já se encontra incubado dentro das pessoas.
Onde está a causa última? Martelaremos uma e outra vez a mesma ideia: enquanto as
pessoas não resolverem as questões fundamentais da existência humana, qualquer bala
perdida que ceifou uma vida no meio da rua, qualquer dor no meio da noite
desencadeará todo o mecanismo da ansiedade.
Anexos
Quem se reconhece e se aceita - quem é humilde - não tem medo de errar. Por quê?
Porque se, depois de ponderar prudentemente a sua decisão, comete um erro, isso não o
surpreende: é próprio da sua condição limitada. São Francisco de Sales dizia-o de uma
forma muito expressiva: "Por que surpreender-se de que a miséria seja miserável?"
Lembro-me ainda daquele dia em que subia a encosta das Perdizes, lá em São Paulo, para
dar a minha primeira aula na Faculdade Paulista de Direito, da PUC. Ia virando e revirando
a matéria, repetindo conceitos e ideias. Estava nervoso; não sabia que impressão
causariam as minhas palavras naqueles alunos de rosto desconhecido... E se me fizessem
alguma pergunta a que eu não soubesse responder...? E se, no meio da exposição, eu
esquecesse á sequência de ideias...? Entrei na sala de aula tenso, com um sorriso artificial.
Comecei a falar... Estava excessivamente pendente do que dizia e nem olhava para a cara
dos alunos. Falei quarenta e cinco minutos seguidos sem interrupção, sem consultar uma
nota sequer. Percebi, porém, um certo distanciamento da "turma", um certo respeito...
Um rapaz, muito comunicativo e inteligente, talvez para superar a distância criada entre o
grupo e o professor, aproximou-se e cumprimentou-me: "Parabéns, professor. Que
memória! Não consultou em nenhum momento os seus apontamentos... Foi muito
interessante..." Respirei... Mas, desconfiado, quis saber: "Você entendeu o que eu disse?"
Admirou-se com a minha pergunta: não a esperava. Sorrindo, encabulado, confessou-me:
"Entendi muito pouco... E, pelo que pude observar, a «turma» entendeu menos ainda". A
lição estava clara: "Dei a aula para mim e não para eles. Dei a aula para demonstrar que
estava capacitado, mas não para ensinar". Faltara descontração, didática, empatia; não
fizera nenhuma pausa, nenhuma pergunta... Fora tudo academicamente perfeito, como
um belo cadáver... Fora um fracasso. Lembro-me também de que, quando descia aquela
encosta, fiz o propósito de tentar ser mais humilde, de preparar um esquema mais
simples, de perder o medo de errar, esse medo que me deixara tão tenso e tão cansado...
De pensar mais nos meus alunos e menos na imagem que eles pudessem fazer de mim...
E se me fizessem uma pergunta a que não soubesse responder..., que diria? Pois bem,
diria a verdade..., que precisava estudar a questão com mais calma e, na próxima aula,
lhes responderia... Tão simples assim... Que tranquilidade a minha ao subir a encosta no
dia seguinte!... E que agradecimento o dos alunos ao verem a minha atitude mais solta,
mais desinibida, mais simpática! Uma lição que tive que reaprender muitas vezes ao longo
da minha vida de professor e de sacerdote: a simplicidade, a transparência, a
espontaneidade são o melhor remédio para a tensão e a timidez, e o recurso mais eficaz
para que as nossas palavras e os nossos desejos de fazer o bem tenham eco. Não
olhemos as pupilas alheias como se fossem um espelho no qual se reflita a nossa própria
imagem; não estejamos pendentes da resposta que esse espelho possa dar às perguntas
que a nossa vaidade formula continuamente: "O que é que você pensa de mim? Gostou
da colocação que fiz?" Tudo isso é raquítico, decadente, cheira ao mofo do próprio Eu,
imobiliza e retrai, inibe e tranca a espontaneidade. Percamos o medo de errar, e
erraremos menos.
Anexos
CONFIAR EM DEUS
Rafael Llano Cifuentes
A nossa fraqueza reclama a fortaleza de Deus. Inezita Barroso, numa das músicas do
folclore brasileiro, cantava: "Um homem sem Deus é como um filho sem pai, como um
faminto sem pão, como um morro sem batucada". Uma criança órfã, perdida na vida,
sente medo de tudo e de todos. O homem dos nossos dias, que enfrenta o advento do
Terceiro Milênio, de uma cultura que se esvai de costas para Deus, parece sofrer do
desamparo da orfandade. Isolado, individualista, autosuficiente, é extremamente
vulnerável. A frustração, o fracasso, a solidão, a doença, a dor pairam continuamente por
cima da sua cabeça como uma espada de Dâmocles. Parece submetido à arbitrariedade
de um destino cego. E isso o apavora, como se apavora uma criança abandonada. É isso o
que provoca, em última instância, a ansiedade. Porque esse sentimento - como todas as
outras manifestações de insegurança - surge quando o homem não encontra os
elementos necessários para defender a sua frágil vulnerabilidade. A investigação
fenomenológica atual foi, pouco a pouco, pondo de manifesto que a ansiedade aparece
onde falta o sentimento ou a vivência daquilo que os alemães chamam Geborgenheit e
que se pode traduzir por "amparo afetivo". A sua expressão mais característica, mais
genuína, é a do amor paterno e materno. Mas o pai e a mãe, que nos deram a vida e nos
protegem no ambiente familiar, não têm o poder de libertar-nos dos perigos que nos
rodeiam num universo agressivo e egoísta. Para que esse "amparo afetivo" nos cubra
como uma grande cúpula protetora, tem que ser tão amplo que abranja as circunstâncias
aleatórias e os eventos cósmicos. E isso, só Deus o pode proporcionar. Deus é Pai. É a
origem e o sustentador da nossa existência; Nele vivemos, nos movemos e somos! (At 17,
18). Um verdadeiro cristão vive no regaço de Deus - que é para ele "papai" e "mamãe" -,
sentese carinhosamente protegido, seguro, como um "bebê" no colo da mãe. Entende
muito bem aquelas palavras do Senhor: Pode a mulher esquecer-se daquele que
amamenta, não ter ternura pelo filho das suas entranhas? Contudo, mesmo que ela se
esquecesse, Eu não me esquecerei de ti (Is 49, 15). E a realidade que estas palavras
encerram comunicam-lhe uma segurança que dissipa todos os medos e ansiedades.
Deus, sem dúvida, tem uma realidade objetiva, mas tem também uma ressonância
subjetiva muito profunda. Quando se acredita que Ele é Pai, um Pai amoroso que nos ama
muito mais do que nos podem amar todos os pais e todas as mães do mundo juntos,
sentimos realmente um sentimento íntimo de "amparo materno e paterno" de dimensões
universais. Quando a fé passa da cabeça para o coração, da psique para o soma, o corpo
e a alma experimentam uma paz que ultrapassa todo o entendimento humano. Quando a
palavra do Senhor que nos diz: No mundo haveis de ter tribulações, mas confiai: Eu venci
o mundo (Jo 16, 33), penetra a fundo na nossa vida, invade-nos como que uma segurança
inabalável, mudam as perspectivas da alma e também - por que não? - a química do
corpo: sentimos uma serenidade que não se consegue alcançar nem com filosofias de
"pensamento positivo" nem com os "fármacos" da última geração. A ansiedade, sem
dúvida, pode ter um fundo biológico - e nesse caso é necessário ir ao médico -, mas a
maior parte das vezes é consequência de uma falta de fé profunda. Há muitos cristãos
angustiados porque há muitos cristãos mornos, tíbios. Na realidade, há uma relação
inversamente proporcional entre a fé e a ansiedade: mais ansiedade, menos fé; mais fé,
menos ansiedade. "Que confiança, que descanso e que otimismo vos dará, no meio das
dificuldades, sentir-vos filhos de um Pai que tudo sabe e que tudo pode!" Que sentimento
de paz e de serenidade, de segurança, nos transmite sentir que, por exemplo, as palavras
dirigidas por Nossa Senhora de Guadalupe ao índio Juan Diego podem também ter por
endereço o nosso coração: "Escuta, e guarda-o no teu coração, meu filho o menor, que o
que te assusta e te aflige é nada.
Anexos
Não se perturbe o teu rosto nem o teu coração, não temas esta doença, nem nenhuma
outra doença ou coisa dolorosa e aflitiva. Não estou eu aqui, eu que sou tua Mãe? Não
estás sob a minha sombra e resguardo? Não sou eu a fonte da tua alegria? Não estás
debaixo do meu manto e em meus braços? Por acaso tens necessidade de alguma outra
coisa? Nada te aflija ou te perturbe...". Se queremos ter algum complexo, tenhamos o
autêntico e nobre "complexo de superioridade" dos filhos de Deus. Temos que saber pisar
esta terra como o príncipe pisa os tapetes do palácio de seu pai, o rei, porque o nosso Pai,
o Rei dos céus e da terra, é o dono desse outro palácio que tem como teto as estrelas e
como chão o esplêndido tapete dos campos floridos e da infinita policromia das florestas.
Anexos
A CORAGEM DE DECIDIR-SE
Rafael Llano Cifuentes
Uma das atitudes mais importantes da virtude da valentia é decidir-se. E isso representa
um risco, simplesmente porque toda a decisão se faz sobre imponderáveis, porque
representa sempre, até certo ponto, um "salto no escuro". É verdade que devemos agir
com prudência, mas também é verdade que há prudências que são simples covardias.
Winston Churchul, o grande premier inglês da segunda Guerra Mundial, que mostrou à
Inglaterra e ao mundo a coragem de resistir ao pavoroso ataque alemão, no seu delicioso
ensaio A pintura como passatempo compara o pintor diante da tela ao guerreiro diante
do campo de batalha e ao jovem diante das grandes opções da vida. Aquele que chegou a
ser, além de estadista, um pintor de certo nome, conta-nos a sua primeira experiência
diante da tela branca: "Cautelosamente, misturo um pouco de tinta azul numa palheta
com um pincel bem pequenino, e a seguir, com infinita precaução, faço na tela virgem um
ponto do tamanho de um feijão. Foi um desafio deliberado, mas tão suave, tão cataléptico
que não mereceu resposta. Nessa altura, chega a talentosa esposa de Sir John Lavery: -
«Pintando?! Mas, que está esperando? Dê-me o pincel - o grande!» Derrama a terebintina,
mistura violentamente o azul e o branco, gira freneticamente a palheta - agora já bem
suja - e, com várias pinceladas fortes de azul, pinta a tela absolutamente acovardada... "A
tela à minha frente mostra os dentes num sorriso forçado, desamparado. Quebrou-se o
encanto. As inibições doentias caíram por terra. Procurei o maior pincel que possuía e
derramei a minha fúria sobre a vítima. Nunca mais tive medo de uma tela". A vida é como
essa tela branca. É preciso enfrentá-la sem medo! O historiador Carlyle dizia que "o
primeiro dever do homem ainda é o de vencer o medo"! Nós acrescentaríamos que o
segundo dever, depois de superar o medo, é atirar-se na vida! É preciso enfrentar a vida
com o pincel grande! Sem medo de errar. Se errarmos, retificaremos. Só não podemos
retificar o que não existe, o nada. E é ao nada que nos condena a inércia provocada pelo
medo. Os insuperáveis quadros de Velázquez guardam no seu fundo - só descoberto
pelos raios X - inúmeras tentativas frustradas ou esboços iniciais retificados. Retificar é
fantástico. As pessoas que têm medo das iniciativas, que vivem submersas em inibições,
ansiedades, dúvidas e perplexidades, que titubeiam diante das decisões, não têm o estofo
de uma personalidade forte. Na vida dos homens que passaram à história observa-se
com frequência que o seu destino foi marcado por duas ou três - repetindo a redundância
- decisões decisivas. Basta recordar os conhecidíssimos exemplos de Alexandre Magno ou
de Colombo: diante das dificuldades que todos tinham para desatar o nó górdio,
Alexandre - diz a lenda - simplesmente brandiu a espada - e o cortou ao meio. O mesmo
contam que fez Colombo para pôr de pé o ovo; todos o tinham tentado sem consegui-lo,
mas para ele foi fácil: espetou-o de um só golpe na mesa. Não há vida nenhuma que não
esteja tecida de dilemas e conflitos que é preciso enfrentar continuamente e que exigem
de nós que façamos uma opção. Ou nos acostumamos a tomar decisões ou nos
converteremos em homens instáveis, de atitudes indefinidas. Em determinada
conjuntura, apresentar-se-ão várias soluções igualmente razoáveis, nenhuma das quais,
no entanto, é perfeita. Nessas circunstâncias, a única coisa que não podemos fazer é cair
na perplexidade, ficarmos parados, indecisos, à espera de nos sentirmos bem dispostos
ou preparados. Se ficarmos inertes, esperando o momento oportuno, o mais provável é
que descubramos que nunca chegará. Esperando, esperando, "matando o tempo",
perdendo as pequenas oportunidades concretas, terminamos perdendo o trem das
grandes... E em vez de "matar o tempo", matamos a vida. Um presidente americano,
muito bem-sucedido, afirmava que uma decisão imperfeita levada à prática com
determinação e garra dá mais resultado do que uma decisão perfeita, mas executada de
modo titubeante ou medíocre.
Anexos
Neste sentido, a decisão vale mais do que a precisão. Acrescentava ainda esse presidente,
para tirar o medo dos cronicamente hesitantes, que ele se dava por muito satisfeito por
ter acertado em apenas 60% das suas decisões. Perguntemo-nos: sei tomar decisões? O
medo de errar ou o perfeccionismo - a "mania" de querer acertar sempre nos mínimos
detalhes - levam-me a um estado de perplexidade que me torna ineficaz? Sei assumir os
meus erros com serenidade e depois retificar? Procuro empenhar-me com determinação
e tenacidade na execução das minhas decisões?
Num momento da sua vida, quando, diante da monumental empresa de adentrar-se num
país imenso e desconhecido, observou o medo estampado no rosto dos seus soldados,
tomou uma decisão histórica: traçou com a espada um longo risco na terra e depois,
dirigindo-se aos seus homens, disse com firmeza: "Aqui, atrás de nós, aquém da risca,
está o terreno conhecido, a vida tranquila e sossegada, a segurança de uma existência
sem problemas.
Ali, diante de nós, encontraremos perigos e dificuldades desconhecidos, uma vida dura e
incerta, cheia de privações e de sacrifícios, mas também teremos a honra de ser os
primeiros a desbravar essas florestas e a glória de conquistar novas terras para a nossa
Pátria. Quem tiver coragem, que me siga!" E atravessou o risco. Só dez homens o
acompanharam. Um grupo tão pequeno conquistou terras imensas... nada menos que o
Império dos incas. Foram chamados os dez da fama. Nós também deveríamos pensar, em
determinados momentos da nossa vida, que o destino - na verdade, a Providência divina -
traça diante de nós essa linha divisória entre a mediocridade e a magnanimidade, entre a
vida já conhecida, mastigada e digerida pela maioria, e essa outra original, que exige de
nós o esforço da criatividade pessoal, a entrega do mais fácil em troca do mais elevado...,
numa palavra, uma decisão corajosa.