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Quadrimestral
AGRIS L70
CDU619(81)(05)
Sumário
4 Editorial
20 Perfil
22 Destaques
26 Suplemento Científico
72 Medicina Preventiva
75 Administração Rural
78 Publicações
79 Agenda
ERRATA: Matéria: Biodiversidade, Saúde Ambiental e o Médico Veterinário, nº 54, pág. 10, está correto: Durante a “Rio-
92” foram elaborados o Documento do Rio ou Carta da Terra, assinado pelos chefes de Estados presentes ao evento,
e a Agenda 21 (plano de ações para mudança do modelo de desenvolvimento e recuperação ambiental do Planeta).
EXPEDIENTE
CONSELHO FEDERAL DE Conselheiros Efetivos CONSELHO EDITORIAL
MEDICINA VETERINÁRIA Adeilton Ricardo da Silva Presidente
SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 CRMV-RO nº 002/Z Eduardo Luiz Silva Costa
Brasília–DF – CEP: 71205-060 CRMV-SE nº 0037
Fone: (61) 2106-0400 José Saraiva Neves
CRMV-PB nº 0237 Antônio Felipe Paulino
Fax: (61) 2106-0444
de Figueiredo Wouk
www.cfmv.gov.br Marcello Rodrigues da Roza CRMV-PR nº 0850
cfmv@cfmv.gov.br CRMV-DF nº 0594
Amilson Pereira Said
Tiragem: 90.000 exemplares Nordman Wall Barbosa CRMV-ES nº 0093
de Carvalho Filho
DIRETORIA EXECUTIVA Editor
CRMV-MA nº 0454
Presidente Ricardo Junqueira Del Carlo
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Benedito Fortes de Arruda Raul José Silva Girio
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Vice-Presidente Conselheiros Suplentes Flávia Tonin
Eduardo Luiz Silva Costa Francisco Pereira Ramos MTB nº 039263/SP
CRMV-SE nº 0037 CRMV-TO nº 0019 Flávia Lobo
Secretário-Geral MTB nº 4.821/DF
João Esteves Neto
Antônio Felipe CRMV-AC nº 0007
Projeto e Diagramação
Paulino de Figueiredo Wouk
José Helton Martins de Sousa Duo Design Comunicação
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Tesoureiro Impressão
Amilson Pereira Said Fred Júlio Costa Monteiro Gráfica Editora Pallotti
CRMV-ES nº 0093 CRMV-AP nº 0073
OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO REPRESENTANDO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CFMV.
HELVÉCIO MIRANDA
MAGALHÃES JÚNIOR
Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (1985), especializa-
ção em Epidemiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1994), doutorado em Saúde
Coletiva pela Universidade Estadual de Campinas (2005) e residência médica pelo Instituto de
Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (1987). Possui experiência na gestão de
atividades e projetos de saúde pública no estado de Minas Gerais e no município de Belo Ho-
rizonte. Entre 2007 e 2009, presidiu o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde
(Conasems). Desde janeiro de 2011 é Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde.
O Ensino de Medicina
Veterinária Legal
no Brasil
Introdução
Medicina Veterinária Legal é uma especialidade Quadro 1
que usa conhecimentos médico-veterinários para
esclarecer questões do mundo jurídico (Merck, 2007; Lei nº. 5517, de 23 de outubro de 1968
Munro e Munro, 2008; Marlet, 2011). A utilização 99 trata do exercício da profissão do Médico Veterinário;
dos conhecimentos médico-veterinários em questões 99 estabelece competência legal para o médico veterinário
judiciais não é, como se imagina, recente. No Brasil, ela realizar perícias em:
está prevista na legislação de forma expressa desde animais, identificação, defeitos, vícios, doenças, aci-
1933, quando o exercício da profissão Médico Veteri- dentes
nária foi regulamentado pelo Decreto nº. 23.133, de 09 e exames técnicos em questões judiciais;
de setembro de 1933. Nessa ocasião, tal decreto esta- perícias, exames e pesquisas reveladoras de fraudes ou
beleceu como função privativa do médico veterinário operações dolosas em animais inscritos em competições
a realização de perícias em questões judiciais em que desportivas e em exposições pecuárias;
animais estejam envolvidos (Decreto nº. 23.133/33, perícias para fins administrativos, de crédito e de seguro;
artigo 11, b). Essa matéria foi ampliada e publicada em exames tecnológicos e sanitários em produtos indus-
forma de Lei, a de nº. 5517, de 23 de outubro de 1968 triais de origem animal.
(Quadro 1). Desde então, o uso dos conhecimentos
médico-veterinários pela Justiça aumentou paulati-
namente, passando a ser aplicado em questões rela-
cionadas à saúde pública, à defesa do consumidor, à especialmente na área cível, promoveu os primeiros
defesa da fauna, entre outras. cursos para essa área, sob a coordenação do renoma-
Nos anos 1980, a demanda por exames periciais do Prof. Dr. José Maria Marlet, em 1996. Esse curso
direcionados às Instituições de Ensino Superior (IES), repetiu-se em 1997 e em 2000, nesse último em
particularmente à FMVZ/Unesp Botucatu, havia parceria com o CRMV-SP.
crescido tanto que o Prof. Dr. Enio Pedone Bandarra O Conselho Nacional de Educação (CNE), por
percebeu a necessidade de reunir em uma única meio da Câmara de Educação Superior, lança mão da
disciplina os conhecimentos médico-veterinários e Resolução CNE/CES nº 1, de
os conhecimentos jurídicos, necessários à realização 18 de fevereiro de 2003,
de perícias. Assim, em 1989, o visionário Dr. Bandarra
criou a disciplina Medicina Legal Veterinária, ministra-
da pela primeira vez na Faculdade de Medicina Vete-
rinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista,
em Botucatu. Ele também deu grande contribuição shutterstock
para o desenvolvimento da Patologia Forense (Ban-
darra e Sequeira, 1999a, b). De fato, nesse núcleo
foram formados diversos pesquisadres e professores
universitários que vêm ampliando esse tema nas mais
variadas IES espalhadas pelo Brasil.
Também em São Paulo, o Instituto de
Medicina Social e Criminologia (Imesc), sentindo
a carência de peritos médicos veterinários,
na qual prevê as Diretrizes Curriculares Nacionais trânsito nacional e internacional de animais; Tráfico
dos Cursos de Graduação em MedicinaVeterinária. internacional de animais; Maus-tratos aos animais e
Nessa, tendo em vista o disposto no art. 9º, do § danos ao meio ambiente; Realização de exames peri-
2º, alínea c, da Lei nº 9.131, de 25 de novembro de ciais por Médicos Veterinários; Elaboração de laudos,
1995, e com fundamento no Parecer CNE/CES nº pareceres técnicos e demais documentos judiciais e
105/2002, homologado em 9 de abril de 2002, esta- Ética em Perícias (Maiorka, et al. 2007).
belece como medida a ser implantada “o ensino de
Medicina Veterinária Legal”, devido ao fato de ser ne- Especialista em Medicina
cessário a esse profissional possuir habilidade para Veterinária Legal
realização de Perícias (Quadro 2) CNE-2003. O CFMV adota o seguinte conceito de especialis-
ta: “especialista” é o profissional que se consagra com
particular interesse e cuidado a certo estudo; pessoa
que se dedica a um ramo de sua profissão, com habi-
Quadro 2 lidade ou prática especial em determinada coisa; co-
nhecedor; perito” (CME, 2008a, p. 62). O desenvolvi-
RESOLUÇÃO CNE/CES nº1, 18 de fevereiro mento da Medicina Veterinária Legal em todo o País
de 2003. levou o Conselho Federal de Medicina Veterinária,
Diretrizes Curriculares Nacionais dos em 2003, a estabelecer a Medicina Veterinária Legal
Cursos de Graduação em Medicina Veterinária como uma nova especialidade (Resoluções CFMV nº.
Art. 4º A formação do Médico Veterinário tem por objetivo dotar o 756, de 17 de outubro de 20031).
profissional dos conhecimentos para desenvolver ações e resultados
(...) além das seguintes competências e habilidades gerais: O Exercício da Medicina
XI - realizar perícias, elaborar e interpretar laudos técnicos em todos Veterinária Legal
os campos de conhecimento da Medicina Veterinária; O exercício da Medicina Veterinária Legal ocorre
XIII - relacionar-se com os diversos segmentos sociais e atuar em durante a realização de pesquisas, perícias e pare-
equipes multidisciplinares na defesa e vigilância do ambiente e do ceres e geralmente as pesquisas são realizadas nas
bem-estar social; IES. Quanto às perícias e pareceres, o médico vete-
rinário atua segundo os conhecimentos que possui
e na forma em que é chamado a participar de um
processo judicial.
A Disciplina Medicina
Veterinária Legal O Conhecimento Especializado
A disciplina Medicina Veterinária Legal tem por Para que o médico veterinário atue em proces-
objetivos a abordagem dos aspectos básicos de sos judiciais, ele deve comprovar que possui os co-
legislação, além de mostrar as áreas de atuação da nhecimentos inerentes à sua profissão, advindos
Medicina Veterinária Legal, além capacitar o profis- do curso de graduação, por meio da apresentação
sional para nela atuar. O programa dessa disciplina de seu registro profissional junto ao Conselho Re-
deve contemplar conteúdo curricular que inclua: gional de Medicina Veterinária (CRMV).
noções de Direito e Criminalística; Identificação e Existem, no entanto, casos em que os conheci-
genealogia; Avaliação e identificação de animais e mentos advindos da graduação não são suficientes
rebanhos; Verificação de parentesco; Tanatologia para auxiliar na solução da questão judicial que se
e Traumatologia Forense; Patologia Forense; Toxi- apresenta. Nessa hipótese, é preciso que o médico ve-
cologia Forense; Exames laboratoriais em perícias; terinário seja um especialista na área de conhecimen-
Identificação de fraudes e imperícias; Arbitragem de to da matéria em questão (CME, 2008a, b). A partir de
valores e custos de produção pecuária; Inventários; 2009, o médico veterinário comprova que é um espe-
Normas relativas aos produtos de origem animal e cialista na área, por meio de seu registro de especialis-
funcionamento de estabelecimentos veterinários ta no CFMV, de acordo com a Resolução CFMV nº 935.
e correlatos; Normas relativas à produção, testes, Detendo os conhecimentos necessários para
armazenamento, comercialização e controle de auxiliar na solução da questão judicial, o médico ve-
medicamentos de uso animal; Legislação e exames terinário pode ser chamado a participar no processo
de determinação de resíduos de medicamentos em como perito ou como assistente técnico. Ele atua
produtos de origem animal; Normas relativas ao como perito quando é chamado ao processo pelo
de Medicina Veterinária, aprovado pelo Decreto profissionais que atuam nesta área. Esse conjunto
nº 64.704, de 17 de junho de 1969). O registro pro- de circunstâncias permite concluir que há necessi-
fissional ou de especialista no CRMV indica que o dade de formação específica desses profissionais
médico veterinário está sob o manto da regulamen- para atender a essas demandas sociais. Outro fato
tação do CFMV, fato que confere segurança ao juiz de extrema relevância é a necessidade de formação
para utilizar o laudo como prova. docente adequada para introduzir e difundir o en-
sino da matéria em todo o território nacional. Esse
Assistente técnico é um ponto a ser explorado e normatizado em um
médico veterinário futuro próximo.
Para atuar como assistente técnico em um pro- Na atualidade, a relação homem x animal, espe-
cesso judicial, o médico veterinário deve ser con- cialmente em relação aos animais de companhia,
tratado por uma das partes envolvidas no processo. tem modificado os conceitos de ética em relação à
Sua função é acompanhar o processo e realizar constatação de maus-tratos contra essas espécies. O
trabalhos e pesquisas úteis à comprovação das ale- tratamento adequado dessas questões exige conhe-
gações da parte contratante (Aranha, 2004; Mar- cimentos específicos e estudos que apontem solu-
let, 2009). Sendo assim, o assistente técnico deve ções para essa problemática (Marlet e Maiorka,
ser uma pessoa de confiança de seu contratante. 2010). Da mesma forma em relação aos animais de
O assistente técnico não precisa ter compromisso produção, selvagens, exóticos e em relação ao meio
com a imparcialidade, como ocorre com o perito. ambiente (Marlet, 2011).
No entanto, a parcialidade do trabalho realizado No contexto de Um mundo uma Saúde, o Médico
por esse profissional não o libera de sua obrigação Veterinário a cada dia assume um papel de maior
de atuar dentro dos limites impostos pelo Código relevância. A importante atuação pode ser vista em
de Ética Profissional (Resolução CFMV nº 722). saúde pública, pela perícia em produtos de origem
animal e vigilância sanitária (Palermo-Neto, 2003).
Considerações finais Assim como em perícias ligadas aos crimes contra a
A Medicina Veterinária Legal é uma especiali- fauna (Oliveira, 2003). Nessa situação, a atuação do
dade que muito contribui com a sociedade, pois Médico Veterinário, quer seja no combate aos crimes
disponibiliza os conhecimentos médico - veteri- contra animais selvagens, ou aos danos ao meio am-
nários à Justiça, ao mesmo tempo em que oferece biente, é um vasto campo a ser explorado (Marlet,
novas oportunidades ao profissional. Os avanços da 2009). Por tudo que foi exposto, torna-se evidente
ciência e o desenvolvimento de especialidades exi- que essas atividades desenvolvidas pelos Médicos
gem o aperfeiçoamento constante. A isso se soma Veterinários nessa especialidade tem um papel de
também o fato do aumento constante de deman- suma importância, com realização de perícias que
das judiciais envolvendo animais, bem como os fundamentam a ação da Justiça.
Notas
1. A Resolução CFMV nº 756, de 17 de outubro de 2003, foi revogada pela Resolução CFMV nº 935, de 10 de dezembro de 2009.
2. Código de Processo Penal, artigo 159 do CPP. “O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de
diploma de curso superior. § 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso
superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame”.
3. Código de Processo Penal, artigo 277. “O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa de cem
a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível. Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada imedia-
tamente: a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade; b) não comparecer no dia e local designados para o exame; c) não
der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos estabelecidos.” Código de Processo Penal, artigo 278. “No caso de não-
comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade poderá determinar a sua condução.”
4. Código de Processo Civil, artigo. 33. “Cada parte pagará a remuneração do assistente técnico que houver indicado; a do perito será paga
pela parte que houver requerido o exame, ou pelo autor, quando requerido por ambas as partes ou determinado de ofício pelo juiz. Pará-
grafo único - O juiz poderá determinar que a parte responsável pelo pagamento dos honorários do perito deposite em juízo o valor corres-
pondente a essa remuneração. O numerário, recolhido em depósito bancário à ordem do juízo e com correção monetária, será entregue ao
perito após a apresentação do laudo, facultada a sua liberação parcial, quando necessária.”
Endereço de correspondência:
Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87, Cidade Universitária
São Paulo /SP - Brasil
CEP: 05508-270
Fone: 55(11)3091-1375
Fax: 55 (11)3091-7829
E-mail: maiorka@usp.br
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shutterstock
Elaboração de Laudo
Pericial em Medicina
Veterinária
Introdução Veterinário e a Justiça. Por esse motivo, eles devem
A perícia é um exame realizado por um especialista, ser redigidos em linguagem formal, utilizando,
com vistas ao fornecimento de subsídios técnicos e quando necessário, termos técnicos apropriados, de
científicos que sirvam como prova e elemento de con- modo que seu conteúdo seja facilmente compreen-
vicção para o Juiz, o Promotor, o Delegado de Polícia e dido pelo leitor.
os Advogados (França, 2008), que possibilita à Justiça O laudo pericial difere do parecer técnico pelas
fundamentar a decisão a ser tomada com base em ava- formalidades estabelecidas pelo Código de Processo
liação criteriosa, elaborada por indivíduo capacitado, Penal (CPP) para cada um deles1. Há mais formalida-
de conduta ilibada e com fé pública. Esse documento des estabelecidas para o laudo pericial que para o
oficial deve prover as conclusões do perito sobre a parecer técnico, por esse motivo, trataremos especi-
perícia levada a efeito, procedidas da sua respectiva ficamente da redação de laudos, e os critérios adota-
fundamentação. Segundo Marques (2000) o perito“res- dos para eles poderão ser adaptados para a redação
ponderá aos quesitos das partes e do Juiz, com o que de pareceres.
atingirá a perícia os seus fins e objetivos”.
Com a crescente demanda por perícias que en-
volvem animais, a saúde pública, ou o meio ambiente Redação de laudos
(Marlet, 2009; Sampaio, 2010), o Médico Veteri- Laudo pericial é um documento oficial, elabora-
nário vem sendo solicitado inúmeras vezes a prestar do por um ou mais peritos, em que deve estar des-
perícias, as quais estão previstas na Lei nº 5.517, de crito detalhadamente tudo o que foi examinado, os
23 de outubro de 1968. Em situações de maus-tratos, resultados obtidos, as conclusões a que chegaram,
– o que vem sendo bastante debatidas na sociedade e a resposta aos quesitos formulados (Mirabete,
atualmente – onde acontece o ferimento ou a morte 2008; artigo 160, caput, do CPP).
de animais, a participação dos Médicos Veterinários é O laudo tem por finalidade fornecer subsídios cien-
essencial e está garantida por força de Lei. Assim como tíficos, técnicos e artísticos, que servem como elemen-
em situações em que há suspeita de erro médico, ou tos de convicção para as autoridades policiais e judiciá-
de erro de procedimento, em que animais estejam rias acerca do fato ocorrido; daí a necessidade de que as
envolvidos a perícia por veterinário é indispensável informações nele contidas sejam claras e devidamente
(Marlet, 2011). fundamentadas (Tochetto, 2010). A clareza e a ade-
quada fundamentação das informações apresentadas
Laudo Pericial e Parecer Técnico no laudo conferem a ele a credibilidade necessária
O laudo pericial e o parecer técnico são documen- para que seja aproveitado como meio de prova pela
tos utilizados como forma de diálogo entre o Médico Justiça (Aranha, 2004; Capez, 2005). O valor do laudo
Médicos-Legistas do Estado de São Paulo, editado em área, deve procurar distribuir seu conteúdo de modo
2008. Esse manual tem por objetivos normatizar tanto a torná-lo claro, preciso e coerente. As perícias que
os procedimentos como a linguagem utilizada nos envolvem animais vêm sendo mais solicitadas a cada
laudos, a fim de melhorar a comunicação dos médi- dia a esse órgão, por isso há necessidade de os laudos
cos legistas entre si, e desses com a polícia e a Justiça. médico-veterinário também seguirem uma metodo-
Vale, porém, destacar que a normatização de pro- logia clara e normatização.
cedimentos e linguagem esbarrou em divergências
conceituais de autores distintos.
Posicionamento
do Departamento de
Posicionamento do Patologia da FMVZ/USP
Instituto de Criminalística A FMVZ/USP conta com um serviço de necropsia
O Instituto de Criminalística “Perito Criminal Dr. desde os primórdios de sua criação. Seus primeiros
Octávio Eduardo de Brito Alvarenga” (IC) da Supe- registros datam de 1936; atualmente, esse serviço é
rintendência da Polícia Técnico-Científica de São denominado Serviço de Patologia Animal e funciona
Paulo, atento à qualidade de seus laudos, elaborou no Departamento de Patologia. Os exames necroscó-
manuais de procedimentos a fim de orientar os peri- picos realizados pelo serviço são requisitados a partir
tos criminais de todo o Estado de São Paulo, nas dife- do Hospital Veterinário da instituição, clínicas veteri-
rentes áreas. Esses manuais de procedimentos foram nárias particulares, e por parte da Polícia Civil, entre
estabelecidos por diretores de núcleos do IC e pela Co- outros. Estudo recente demonstra que grande parte
missão de Planejamento Estratégico do Ceap, a partir desses foi solicitada pela Justiça e estão relacionados a
de normas e técnicas consagradas pela Criminalística casos de crimes de maus-tratos (Marlet & Maiorka,
brasileira (Moraes e Monteiro, 2005; CEAP, 2009). 2010). Os casos relacionados aos crimes de maus-
Os procedimentos preconizados abrangem desde tratos a animais têm crescido em importância e visibi-
o exame pericial, registro de dados e coleta de amos- lidade, em função do desenvolvimento da legislação
tras até a elaboração de laudos periciais. Não é possí- e do clamor social para a coibição dessa modalidade
vel ao Instituto de Criminalística adotar um único mo- de crime (Marlet & Maiorka, 2010; Merck, 2007).
delo padrão de laudo, devido à imensa variedade de Contudo, o aproveitamento dos laudos de exames pe-
perícias que elabora; mesmo entre as perícias de um riciais pela polícia e a Justiça depende do atendimen-
mesmo tipo, como no caso do atendimento de locais to a formalidades legais (CPP, Livro I, Título VII, Capítulo
de crime contra a pessoa ou de acidentes de trânsito, II), e de apresentarem informações de forma clara para
existe grande variedade de situações e dados a serem leitores com qualquer tipo de formação acadêmica,
registrados e relatados no laudo pericial. Alguns tipos e não apenas para outros médicos veterinários (Reis,
de perícia, como as realizadas em laboratórios, que 2005; CREMESP, 2008). A normatização dos laudos
adotam uma metodologia mais uniforme em seus necroscópicos de animais pode evitar a omissão de
exames, a normatização dos laudos é uma tarefa mais formalidades legais, bem como adequar o conteúdo e
simples (Espíndula, 2007; Monteiro e Moraes, a linguagem do laudo à sua principal finalidade: forne-
2005; CEAP, 2009). cer subsídios científicos que sirvam como elementos
Mesmo não sendo possível a adoção de um mo- de convicção para a polícia e a Justiça acerca do fato
delo rígido para a elaboração de laudos, posto que ocorrido (Tochetto, 2010).
não existem dois exames periciais absolutamente
iguais, os manuais de procedimentos disponibiliza-
dos pelo IC oferecem rico subsídio para todos os peri- Redação de laudo
tos criminais do Estado, cada um em sua região e área pericial de exame necroscópico
de atuação (Monteiro e Moraes, 2005; CEAP, 2009). Ao iniciar a elaboração de um laudo pericial, há
Diversos autores da Criminalística propõem modelos que se ter em mente que ele é um documento desti-
de laudos dividindo-os em partes a fim de facilitar nado à esfera judiciária, e deve atender às formalida-
a apresentação de seu conteúdo. Não há consenso des estabelecidas pela lei. Diferente de um resultado
quanto à melhor forma de se apresentar o laudo. Mas de exame laboratorial que se destina à prática médica,
há consenso quanto à necessidade de o laudo ser cla- o laudo é um termo empregado especificamente para
ro, preciso e coerente (Monteiro e Moraes, 2005). a esfera judicial. Na esfera judiciária penal, os disposi-
Sendo assim, a normatização de laudos, em qualquer tivos legais que tratam da elaboração de laudos são
Notas
1. Código de Processo Penal brasileiro. Laudo pericial: artigos160, 165, 169, 170, 178, 179, 180, 181, entre outros. Parecer: artigos 159, § 5º, II.
2. Edmond Locard (1877 - 1966) formulou um princípio básico da Ciência Forense, o Princípio Troca de Locard, segundo o qual, qualquer coi-
sa ou pessoa que entre em um local, tanto deixa como leva deste local, alguma coisa, que pode ser aproveitada pela criminalística (CASTRO
JUNIOR; LISITA; MOURA; PINTO, 2009}.
3. Lombroso é um médico italiano que viveu entre 1835 e 1909 e é um dos fundadores da Criminologia.
4. Código de Processo Penal, artigo. 159. “O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma
de curso superior. § 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.”
5. Código de Processo Penal, artigo 160. “Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e
responderão aos quesitos formulados. Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo ser
prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.”
6. Código de Processo Penal, artigo 165. “Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo
do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados.”
7. Código de Processo Penal, artigo 170. “Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova
perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.”
8. Código de Processo Penal, artigo 176. “A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da diligência.”
9. Código de Processo Penal, artigo 180. “Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas no auto do exame as declarações e res-
postas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a
autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos.”
10. Código de Processo Penal, artigo 181. “No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou contradi-
ções, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o laudo. Parágrafo único. A autoridade poderá tam-
bém ordenar que se proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar conveniente.”
12. Código de Processo Penal, artigo 176. “A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da diligência.”
13. Código de Processo Penal, artigo 160, caput. “Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examina-
rem, e responderão aos quesitos formulados.”
14. Código de Processo Penal, artigo 165. “Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo
do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados”. Art. 170. “Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão
material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou
microfotográficas, desenhos ou esquemas.”
Frederico Lieberknecht:
“É essencial ser apaixonado
pelo que se faz”
Por Flávia Lôbo Gonçalves - Jornalista CFMV / MTB nº 4.821/DF
Frederico Lieberknecht nasceu em Província de Ciências da Saúde de Porto Alegre, recebi também
Santa Fé, na Argentina, durante a Primeira Guerra vários prêmios e homenagens”.
Mundial. Morou na Alemanha até os nove anos de No apartamento aconchegante do Médico
idade, quando veio morar no Brasil. O Médico Vete- Veterinário, localizado no centro de Porto Alegre,
rinário naturalizado brasileiro, de pai alemão e mãe Lucila Lieberknecht, 87 anos, sua companheira há
russa, comemora, em julho de 2012, 98 anos. Saudá- 67 anos, acompanhava atenta à entrevista e, de
vel, otimista e com um pique de dar inveja a muitos vez em quando, interrompia-o com histórias ines-
jovens, ele relata: “conheci a solidão e a fome aos dez quecíveis. “Fala, Frederico! Conta o que você fez antes
anos. Logo depois de perder minha mãe, deixamos do nosso casamento”. Lieberknecht respondeu: “Três
(eu e minha família) a Europa para viver no Brasil. dias antes do meu casamento, contraí antraz por via
Meu pai era médico, e foi trabalhar em uma pequena cutânea. Eu estava injetando uma dose do bacilo em
cidade do Rio Grande do Sul. Para que eu conseguis- um cavalo, para produzir anticorpos, quando o ani-
se estudar, ele me enviou a um internato alemão em mal se assustou. Tomei um banho da cultura do bacilo
Porto Alegre. Aos domingos, eu era o único aluno no rosto e nos braços. Minha preocupação imediata
que não tinha família na cidade, e, pior, nem comida. foi desinfetar as partes atingidas. Em seguida, voltei
O dinheiro era escasso. Certo dia, arranjei uma vara ao trabalho”. Horas depois, quando estava fazendo
de pau e combinei com as empregadas da escola de sangria em outro cavalo, o professor sentiu uma
deixarem os pães expostos em uma parte no jardim picada de mosca no braço esquerdo. “Vi sair da
pela manhã para que eu pudesse pescá-los. E foram minha pele uma gota igual ao líquido que eu havia
assim todos os meus domingos! Com muita luta e injetado no cavalo. Nesse momento, percebi que
esforço, aprendi a ser forte. Acho que, por isso, tenho estava contaminado”, recorda. No outro dia, os
vivido muito. Acredito também que quem come sintomas confirmavam as suspeitas de Lieberk-
pouco, como eu como, vive mais”. necht. O braço tinha uma pústula (elevação da
A carreira de Lieberknecht foi incentivada por epiderme que contém pus), a mão estava inchada
um colega cujo pai era fazendeiro. “No curso de Ve- e um vergão indicava infecção. “Fiz uma cauteri-
terinária da Faculdade de Agronomia e Veterinária zação e tomei o soro anticarbúnculo para uso ve-
do Rio Grande do Sul (UFRGS) éramos dois alunos:
arquivo Frederico Lieberknecht
arquivo CFMV
A Gestão 2011/2014 do Conselho Federal de “Foram cinco dias de convívio intenso com
Medicina Veterinária (CFMV), presidida por Bene- discussões, aprendizados e definições para o
dito Fortes de Arruda, reuniu todos os membros de futuro da Medicina Veterinária e Zootecnia. As
Comissões, conselheiros e Diretoria Executiva do conclusões serão utilizadas em benefício das
CFMV de 27 de fevereiro a 1º de março, em Goiás. duas profissões. Nosso objetivo foi alcançado.
O Objetivo do encontro, sob o título de “Única Voz”, Com a participação de todos, formou-se um
foi a definição das metas para o cumprimento das grupo coeso, com uma só voz; focado em metas,
diretrizes do planejamento estratégico do CFMV. missão e valores do CFMV e no fortalecimento
das classes”, avaliou o presidente.
Ao longo do encontro, houve
grande interação entre Comis-
sões, Conselheiros e Diretoria Exe-
cutiva. Além de palestras sobre o
funcionamento e o regimento do
Sistema CFMV/CRMVs e o plane-
jamento estratégico do Conselho,
os participantes, por meio de tra-
balhos e estudos de casos, enfren-
taram vários desafios como: defi-
nição de metas para as Comissões;
unificação dos discursos para a
Medicina Veterinária e Zootecnia;
e fortalecimento, identidade e re-
conhecimento da importância das
Diretoria do CFMV, conselheiros e corregedores reunidos em Goiás. profissões para a sociedade.
O Conselho Federal de Medicina Veterinária veterinários”. Ele enfatiza que o CFMV conta com
(CFMV) espera avançar, nos próximos anos, na apoio da indústria e também dos profissionais de
regulamentação para a aquisição de Medicina Veterinária.
produtos da linha veterinária no mer- Segundo o presidente, a pre-
cado nacional e a obrigatoriedade ocupação com o uso desregulado
do receituário veterinário para implica em possível contamina-
alguns produtos. ção dos alimentos e subprodutos
De acordo com o presiden- de origem animal. “Essas ocor-
te do CFMV, Benedito Fortes rências já afetaram até a nossa
de Arruda, o Conselho espera economia com a paralisação de
retomar as conversas com o Mi- exportações para alguns paí-
nistério da Agricultura Pecuária ses por encontrarem resíduos na
e Abastecimento, como, também, carne”. Ele acredita que, com maior
avançar nos entendimentos que exis- controle e com supervisão do Médico
tem com o Ministério da Saúde para “que Veterinário problemas como esses serão evita-
consigamos obter uma portaria interministerial dos. Além disso, o consumidor interno terá ainda
de regulamentação para aquisição de produtos melhor padrão de qualidade de seus produtos.
Em 31 de janeiro deste ano, o Conselho Federal plataforma foi criada pela Universidade Aberta
de Medicina Veterinária (CFMV) deu sua contri- do SUS (Unasus) para “ser” um banco de dados dos
buição na 26ª reunião do Fórum Permanente do profissionais da área de saúde (como o Lattes), e
Mercosul para Trabalho em Saúde, o grupo que está sendo desenvolvida para agilizar o processo
trata das profissões ligadas à saúde no Mercocul. O de habilitação dos interessados em trabalhar nos
evento foi realizado no auditório da Secretaria de países-membros do Mercosul”, diz. Assim que
Vigilância Sanitária em Saúde, em disponibilizada na plataforma do
Brasília, e o presidente do Mercosul, o interessado em tra-
CFMV, Benedito Fortes balhar fora do país de origem,
de Arruda, foi represen- deverá se cadastrar na Arou-
tado pelo conselheiro ca. Em seguida, as informa-
efetivo do CFMV, o ções serão enviadas ao
Médico Veterinário Conselho de Classe para
Marcello Roza. validação. Os dados fica-
De acordo com rão disponíveis para consulta
Roza, esse último no Brasil, Argentina, Paraguai,
encontro foi dedica- Uruguai e Venezuela. Segundo
shutterstock
do basicamente ao Marcello Roza, a Arouca será
debate sobre a opera- lançada, provavelmente com o
cionalização da plata- início do acordo de livre circula-
forma Arouca. “Esta ção no Mercosul.
Em 11 de janeiro deste ano, um grupo de alu- passou a ser um órgão consultivo do Ministério
nos da Universidade Federal de Goiás (UFG) veio de Educação (MEC) para abertura e renovação
a Brasília para conhecer o Conselho Federal de de novos cursos. O Brasil tem um terço (1/3) dos
Medicina Veterinária (CFMV). Eles foram recebi- cursos de Medicina Veterinária do mundo. Preo-
dos, em nome do presidente do CFMV, Benedito cupamo-nos com a qualidade do ensino e com a
Fortes de Arruda, pelo presidente em exercício e valorização e treinamento dos docentes”.
vice- presidente, Eduardo Luiz Silva Costa, Arquivo CFMV
Abstract
Citologic exam is an important disorders diagnosis method of neoplasia, hiperplasia inflammation
and degenerations. The aim of this study was determined the prevalence of diagnosed neoplasias by
cytological examination in dogs examinated at Veterinary Hospital of Uberaba. There were 250 recor-
ds examination from pathological laboratory routine, which 33,6% were neoplastic round cells; 9,6%
were epithelial tumors cells, 6,8% were mesenchymal tumors cells, 4,85% were mixed tumors, and 4%
were benign neoplasm. The diagnosis of the processes of cellular dysfunction accounted for 41,2%.
Tabela 2. Frequência de diagnóstico citológico de neoplasias de células epiteliais no período de 2006 a 2009 no
Hospital Veterinário de Uberaba
Neoplasias de células epiteliais
Diagnóstico 2006 (50) 2007 (94) 2008 (71) 2009 (35)
citológico n % n % n % n %
Carcinoma de
3 6 5 5,32 2 2,82 1 2,86
células escamosas
Carcinoma de
2 4 1 1,06 5 7,04 1 2,86
células basais
Colangiocarcinoma 1 2 - - - - - -
Carcinoma de
- - 1 1,06 - - - -
células transicionais
Adenocarcinoma - - - - 2 2,82 - -
TOTAL 6 12% 7 7,44% 9 12,68% 2 5,72%
Arquivo do autor
Tabela 4. Frequência de diagnóstico citológico de neoplasias mistas no período de 2006 a 2009 no Hospital
Veterinário de Uberaba
Neoplasias mistas
Diagnóstico 2006 (50) 2007 (94) 2008 (71) 2009 (35)
citológico n % n % n % n %
Tumor misto
- - 5 5,32 7 9,86 - -
mamário
TOTAL - - 5 5,32% 7 9,86% - -
dividual varia de células escamosas normais, gran- as neoplasias conhecidas como tumores das célu-
des e maduras, a células pequenas a medianas, re- las basais são compostas de massas sólidas ou cís-
dondas e com pequena quantidade de citoplasma ticas de pequenas células redondas a fusiformes,
intensamente basofílico, núcleos redondos com com um núcleo ovóide e intensamente basofílico,
cromatina bastante grosseira, com padrão em cor- contendo um nucléolo solitário e escasso citoplas-
dões, contendo múltiplos nucléolos evidentes, va- ma eosinofílico (Jones et al., 2000).
riando em forma e tamanho (Cowell et al., 2009). Analisando a Tabela 3, fibroma foi diagnosti-
O diagnóstico de carcinoma de células basais cado em 2006 e 2008 com 2% e 5,64%, respecti-
representou 7,04%, em 2008. Microscopicamente, vamente. De acordo com Cowell et al. (2009), as-
Tabela 5. Frequência de diagnóstico citológico de neoplasias benignas no período de 2006 a 2009 no Hospital
Veterinário de Uberaba
Neoplasias benignas
Tabela 6. Frequência de diagnóstico citológico de outros processos de disfunção celular no período de 2006 a
2009 no Hospital Veterinário de Uberaba
Outros
Diagnóstico 2006 (50) 2007 (94) 2008 (71) 2009 (35)
citológico n % n % n % n %
Abscesso 2 4 3 3,19 - - - -
Necrose 1 2 1 1,06 - - - -
Inconclusivo 9 18 12 12,76 11 15,49 14 40
Linfoadenite
2 4 - - 1 1,41 - -
supurada
Inflamação 2 4 6 6,38 10 14,08 3 8,57
Adenoma de
- - - - 4 5,63 - -
glândula mamária
Adenoma de
- - - 2 2 2,82 - -
glândula sebácea
Adenoma - - - - 1 1,41 - -
Adenoma de
- - 3 3,19 2 2,82 - -
glândula perianal
Cisto sebácio - - 1 1,06 - - - -
Cisto epidermóide - - 2 2,12 1 1,41 - -
Cisto dermóide - - - - 2 2,82 - -
Reação inflamatória
- - 1 1,06 - - - -
alérgica
Peritonite
- - - - 1 1,41 - -
seropurulenta
Hepatite - - - - 1 1,41 - -
Hepatose - - - - 1 1,41 - -
Linfonodo reacional - - - - - - 1 2,86
Mastite - - - - - - 1 2,86
Sialocele - - - - - - 1 2,86
Dermatite - - - - - - 1 2,86
TOTAL 16 32% 29 29,76% 37 52,12% 21 60,01%
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pouco coradas, ou coradas de forma irregular e, possuírem pobre celularidade e presença de grande
em alguns casos, com presença de precipitados quantidade de matriz extracelular. Tais característi-
ou outros tipos de artefatos, que dificultam a cas tornam difícil a determinação do diagnóstico por
avaliação. meio da citologia sendo o exame histopatológico
De acordo com as características citomorfoló- fundamental para a visualização da arquitetura teci-
gicas, a prevalência das neoplasias, no estudo de dual (Ménard et al., 1986; Wellman, 1996 ).
Bracarense e Reis (1997), que avaliaram 600 amos- Constatou-se maior prevalência de tumores
tras por meio dos exames citológico e histopa- malignos em relação a tumores benignos. Esse
tológico, apresentaram resultados semelhantes. resultado é similar ao relatado em outros estudos
Os tumores de células redondas, segundo esses (Bracarense e Reis, 1997; Souza et al., 2006).
autores, representaram 37,64% dos diagnósticos Uma das hipóteses para esse predomínio é a de-
de neoplasias, seguidos pelos epiteliais e mesen- mora por parte do proprietário em conduzir o ani-
quimais, com respectivamente 26,24% e 7,31%, mal para a avaliação clínica e estabelecimento de
pois nesse estudo, os tumores de células redondas diagnóstico precoce, propiciando uma evolução
constituíram 33,6% do total de diagnósticos, se- longa e aumento da possibilidade de transforma-
guido pelos epiteliais, com 9,6%, e mesenquimais ção maligna (Rossetto et al., 2009). Também, o
com 6,8%, sendo o tumor de células redondas o fato de nódulos “malignos” aumentarem de tama-
mais diagnosticado. nho rapidamente e, às vezes, ulcerarem, determi-
Entretanto, este estudo discorda dos dados de na o encaminhamento do o animal à consulta.
Ménard et al. (1986), que constataram maior preva-
lência de neoplasias epiteliais (32,35%), seguidas
pelas mesenquimais (31,37%) e de células redondas CONCLUSÃO
(31,28%), que avaliaram 102 casos por meio dos Os tumores de células redondas foram os mais
diagnósticos citológicos e histopatológicos. diagnosticados nessa população, devido à facilida-
A maior representação dos neoplasmas de cé- de de esfoliação dessas células ao grande número
lulas redondas deve-se tanto à maior prevalência de cães errantes no caso de diagnósticos de TVT.
desse tipo de tumor na população avaliada, quan- A citologia permite diagnóstico rápido, de
to à facilidade de esfoliação e concordância entre baixo custo e acurado. É considerada no Hospital
o exame citológico e histopatológico (Dunca e Veterinário de Uberaba, como um exame com-
Prasse, 1979 ; Wellman, 1996; Guedes, 2000). plementar inicial que facilita o planejamento
A menor representação do tipo mesenquimal, cirúrgico e/ou o estabelecimento de protocolos
provavelmente, deve-se ao fato de esses tumores terapêuticos.
Abstract
Over the past decades, extensive cellular and molecular details have been elucidated regarding the regulation
of cutaneous wound healing. Numerous topical wound drugs are available today, and wounds that heal by
second intention are often managed with a dressing that covers the wound, providing protection from further
trauma and contamination, absorbing excess exsudate, and stimulating repair. Due to the unique nature of
wound healing of horses, many beneficial effects of these drugs seen in other species and in vitro have not
been reproduced in equine wounds.
Embora nem sempre possível, o histórico detalhado b. Amarelas: apresentam exsudato purulento
enfatizando o tempo decorrido da lesão, causa, tra- sobre tecidos desvitalizados, e são passíveis
tamentos adotados e evolução clínica necessitam ser de contaminação. O objetivo do tratamento
obtidos (Cockbill e Turner, 1995). é identificar se há ou não infecção, debridar
A determinação do estado sistêmico do pacien- os tecidos desvitalizados e reduzir o grau de
te é necessária tanto para realização de cuidados contaminação, preferencialmente por meio
imediatos quanto para identificação de qualquer de antibioticoterapia sistêmica;
condição que comprometa o processo de cicatriza-
ção. O envolvimento de estruturas internas (Figura c. Pretas: apresentam necrose tecidual com
1) (articulações, tendões etc.) e de outros sistemas desnaturação e aumento de fibras colá-
orgânicos deve ser avaliado durante o exame clínico genas, formando uma crosta espessa cuja
para que o tratamento adequado possa ser estabele- coloração pode variar do castanho ao preto.
cido (Orsini et al., 2004). O objetivo do tratamento é remover o tecido
necrosado com a máxima brevidade, por
HV/EV-UFMG
meio do debridamento.
O hipoclorito de sódio (líquido de Dakin) tem am- e tecido necrótico, sem lesar as células envolvidas no
plo espectro antibacteriano, sendo mais efetivo do processo de cicatrização (Liptak, 1997).
que clorexidine e PVPI contra Staphylococcus aureus. Entre as enzimas utilizadas para o debridamento
Esse efeito antibacteriano é alcançado pela libera- estão a tripsina, colagenase, fibrinolisina e a papaína.
ção de íons cloreto e O2. Entretanto, o hipoclorito de A utilização de formulações combinadas de enzimas
sódio é citotóxico para os fibroblastos em concentra- debridantes e antibióticos tópicos não são recomen-
ções acima de 0,025% e apresenta estreita margem dáveis, pois não apresentam efetividade no controle
de segurança, devendo ser utilizado somente para da infecção e, com frequência, levam ao aparecimen-
auxiliar na remoção do tecido necrótico, e nunca em to de resistência bacteriana (Farstvedt et al., 2004).
feridas limpas. Embora não seja utilizado rotineira-
mente como um desinfetante tópico, uma solução a Medicamentos de uso tópico
0,125% pode ser utilizada como debridante (Fars- Existe uma variedade de preparações para
tvedt et al., 2004). utilização tópica durante o tratamento das feridas.
Grande parte desses produtos é ineficiente e alguns
Debridamento da ferida são mais deletérios do que benéficos, devido à cons-
O debridamento da ferida consiste na remoção tante irritação imposta à ferida e estímulo à formação
de tecidos desvitalizados para assegurar o rápido ini- da hipergranulação (Martins et al., 2003). Alguns
cio da fase proliferativa da cicatrização, podendo ser medicamentos de uso tópico com bons resultados
cirúrgico, enzimático, mecânico ou hidrodinâmico no manejo das feridas traumáticas e outros em fase
(Liptak, 1997). É difícil visualizar a separação entre experimental de avaliação estão descritos abaixo:
o tecido desvitalizado e o saudável, principalmente
após o trauma, tornando-se difícil a decisão de quan- a. Mel
do interromper esse procedimento. A capacidade do A utilização do mel no tratamento de feridas
tecido em sangrar quando excisado, além da tem- data de 1700 a 2000 a.C., mas, apesar disso, as bases
peratura e aparência geral são bons indicadores da científicas para sua utilização só foram elucidadas
sua viabilidade quando do debridamento cirúrgico. no século XX (Mathews e Binnington, 2002a).
A localização e configuração da ferida são também Os mecanismos associados com suas propriedades
fatores a serem ponderados antes da remoção do cicatrizantes incluem diminuição do edema infla-
tecido desvitalizado (Lees et al., 1989). matório, quimiotaxia de macrófagos, debridamento
Inflamação, trauma cirúrgico, corpos estranhos, de tecido necrótico, fonte de energia celular, além
infecção e compressão causada por bandagens po- de auxiliar na formação de tecido de granulação sau-
dem transformar um tecido saudável em necrótico. dável. A atividade antibacteriana tem sido atribuída
Em virtude da incapacidade de prever com exatidão à alta osmolaridade, acidez, viscosidade e conteúdo
se o tecido sobreviverá ou não, é aconselhável rea- de peróxido de hidrogênio (H2O2). O baixo pH (3,6 a
valiar a ferida diariamente (Lees et al., 1989). Muitas 3,7) acelera o processo de cicatrização assim como
vezes, tendões ou ligamentos desvitalizados são aumenta os efeitos antibacterianos, além de criar e
preservados pela crença de que possam atuar como manter condições ótimas para a atividade dos fibro-
base para o processo de cicatrização. No entanto, blastos (Dart et al., 2005).
qualquer tecido necrótico na ferida inibe o processo O mel contém a inibina, enzima da glândula fa-
de reparação (Phillips, 1995). ríngea das abelhas, que dá origem ao H2O2 e ao ácido
O debridamento mecânico úmido-seco utilizan- glucônico/glucolactona que agem como desinfetan-
do gazes umedecidas com solução salina a 0,9% sob te e antibiótico, respectivamente. A geração de bai-
bandagens ou passando-as com leve pressão sobre xos níveis de H2O2 estimula a angiogênese e aumenta
a ferida é rotineiramente realizado. No entanto, além a liberação de O2. Acredita-se que a geração de H2O2
de remover tecido necrótico, esse debridamento re- auxilie o debridamento da ferida devido à reação de
tira também tecido saudável em regeneração, princi- Fenton, onde H2O2 reage com íons ferro produzindo
palmente queratinócitos em migração, devendo ser radicais hidroxila (Tonks et al., 2003).
evitado (Cockbill e Turner, 1995). Já o debrida- A ação anti-inflamatória dessa substância tem
mento enzimático é indicado em locais onde o debri- sido investigada em estudos histológicos e obser-
damento excessivo dos tecidos saudáveis deve ser vações clínicas, mas o mecanismo definitivo não foi
evitado. Quando utilizados adequadamente, esses identificado. Em particular, estudos têm demonstra-
agentes dissolvem exsudato, coágulos sanguíneos do que o efeito estimulatório do mel na cicatrização
HV/EV-UFMG
O barbatimão (Stryphnodendron
barbatiman) é utilizado no tratamento
de lesões cutâneas. A solução aquosa
obtida a partir da cascas dessa planta
possui no mínimo 20% de tanino, princí-
pio ativo que confere ação adstringente.
Os taninos precipitam proteínas dos
tecidos desvitalizados, formando uma
película protetora que favorece a repa-
ração tecidual, diminuindo a permeabi-
lidade e exsudação da ferida. Martins et
al. (2003) avaliaram o efeito do barbati-
mão, calêndula e confrei no processo de
cicatrização em equinos, e observaram
que a utilização da calêndula era mais
efetiva na fase inflamatória do processo
de cicatrização, enquanto o barbatimão
Figura 3. Ferida infectada. Observar grande quantidade de secreção purulenta na ferida.
era mais efetivo durante a fase de proli-
feração e reparação da ferida. sença de sequestro bacteriano associado a tecidos
desvitalizados (Phillips, 1995).
g. Insulina Segundo Orsini et al. (2004), uma ferida é consi-
A administração tópica de insulina aumenta o derada infectada quando preenche um ou mais dos
metabolismo celular e a síntese protéica, aumentan- seguintes critérios: a) excessiva inflamação regional e
do a taxa de multiplicação celular. A insulina normali- presença de exsudato purulento para o tipo, tamanho
za a permeabilidade celular, aumenta a fagocitose de e tempo da ferida; b) evidência de resposta inflamató-
debris celulares, diminui a hipóxia, elimina o edema e ria sistêmica (febre, leucocitose, neutrofilia, hiperfibri-
aumenta a velocidade de contração da ferida. Embo- nogenemia); c) infecção envolve estruturas ósseas ou
ra possua inúmeros efeitos benéficos sobre o proces- sinoviais e d) presença de bactérias gram-negativas na
so de cicatrização, a sua utilização é pouco difundida citologia ou cultura positiva da ferida.
(Stashak, 1991). A aplicação de antibióticos em feridas com mais
de quatro horas não tem qualquer efeito na resolução
h. Óxido de zinco da infecção (Lees et al., 1989). A administração tópica
O óxido de zinco é componente de muitas poma- ou sistêmica é menos efetiva quando a infecção já
das, pós e pastas utilizados no tratamento de lesões está estabelecida, pois a presença de coágulos, fibri-
cutâneas, e possui quatro ações: proteção, leve na, tecida o necrótico e desvitalizado impedem que
adstringência, fraco poder antisséptico e ausência uma concentração adequada do antibiótico penetre
de toxicidade. No entanto, seus efeitos são muito na ferida (Phillips, 1995). No momento da seleção
variáveis. O efeito mais benéfico do óxido de zinco da base farmacológica a ser utilizada, alguns fatores
no processo de cicatrização é a sua ação em induzir devem ser observados como espectro antibacte-
aumento da reação proliferativa (Rahal et al., 2001). riano, dose, farmacocinética, toxicidade sistêmica e
local, intervalo entre aplicações, via de administração
Uso de antibióticos tópicos e sistêmicos e tipo da preparação (Rosenkrantz, 1995).
A infecção da ferida (Figura 3) é clinicamente O tempo é vital para o tratamento das feridas
perceptível à medida que dois elementos são iden- infectadas e, portanto, não deve ser gasto com o uso
tificados: excessiva inflamação regional para o tipo indiscriminado e empírico de antibióticos. O uso
e tempo da ferida e presença de exsudato purulento. empírico de fármacos antibacterianos pode ser reali-
A antibioticoterapia empírica é, muitas vezes, eficaz zado enquanto se aguardam os resultados da cultura
na resolução da infecção. No entanto, é inadequada e antibiograma. Nesse intervalo, a combinação de
na presença de micro-organismos resistentes à base penicilina G e gentamicina administradas por via sis-
utilizada, nos pacientes imunodeprimidos, nos teci- têmica é indicada (Orsini et al., 2004).
dos em que a liberação dos antibióticos é diminuída A utilização tópica de antibióticos em feridas é
pelo baixo suprimento sanguíneo, ou devido à pre- controversa. As vantagens sobre os antissépticos uti-
No entanto, o uso contínuo durante todo o processo de absorvem quantidade variável de exsudato, auxiliam
cicatrização é deletério. Na ferida limpa e sem debris, no debridamento da superfície da ferida, mantêm um
deve-se optar por um curativo mais adequado àquela microambiente úmido no leito da ferida e são com-
fase da cicatrização. Quando esses curativos são utili- patíveis com a maioria dos medicamentos tópicos,
zados depois da fase inflamatória retiram da ferida, no além de aumentarem a atividade das colagenases
momento da sua troca, as células em processo de proli- (Dart et al., 2002a). Devido a sua compatilidade com
feração e migração (fibroblastos, queratinócitos etc.) re- medicamentos tópicos, os hidrogéis podem ser uti-
tardando significativamente o processo de cicatrização lizados para liberação de fármacos no leito da ferida
tecidual (Liptak, 1997; Stashak et al., 2004). (metronidazol, sulfadiazina de prata etc.), o que os
torna ideais para feridas com exposição óssea. Como
II. Curativos de solução salina hipertônica esse tipo de curativo é um potente estimulante da for-
O curativo de solução salina hipertônica, impreg- mação do tecido de granulação, deve ser utilizado até
nado com NaCl 20%, é utilizado onde um debrida- os primeiros sinais de formação desse tecido, sendo
mento excessivo é necessário (grandes extensões de mais adequados para ferimentos traumáticos agudos
área necrótica e gravemente contaminada). É consi- e limpos, principalmente durante a fase inflamatória e
derado um tipo de curativo interativo e funciona por de debridamento (Mandelbaum et al., 2003b).
meio de mecanismos osmóticos, dessecando todo o
tecido necrótico e bactérias. No entanto, sua ação é II. Hidrocolóide
inespecífica, devendo ser utilizado com cautela para Esses curativos em contato com o exsudato da
evitar dano aos tecidos adjacentes. Outro benefício ferida formam um gel hidrofílico mantendo a ferida
adicional advindo das suas propriedades osmóticas úmida e estimulando a angiogênese e a epitelização.
é a redução do edema intersticial. Com a diminuição Embora as feridas epitelizem mais rápido, a contra-
do edema, a pressão dos capilares no leito da ferida ção delas é diminuída devido à maior produção de
é reduzida, resultando em melhor perfusão tecidual. exsudato (Liptak, 1997). Esses curativos não devem
Como o debridamento exercido por esse tipo de cura- ser utilizados em feridas extensas ou infectadas, e
tivo não é seletivo, ele só deve ser utilizado durante os sua utilização errônea pode causar maceração dos
primeiros três dias após a lesão (Stashak et al., 2004). tecidos adjacentes (Mandelbaum et al., 2003b).
Aparentemente, a melhor utilização desse curativo
b. Curativos de polímeros fibrosos e no equino é durante o início da fase inflamatória até
partículas naturais o momento do início da formação do tecido de gra-
Os curativos de alginato de cálcio contêm o ácido nulação (Stashak et al., 2004).
alginico como princípio ativo (Mandelbaum et al.,
2003b). Esses curativos são atóxicos e aumentam a d. Curativos antimicrobianos
formação do tecido de granulação e a epitelização, Os curativos contendo iodo são muito eficazes
absorvendo 20 a 30 vezes seu peso em fluido. Esse no manejo das feridas. À medida que o curativo se
processo converte o material inicialmente seme- hidrata no ambiente úmido da ferida, o iodo elemen-
lhante a pó em material gelatinoso na superfície da tar liberado passa a exercer efeito antibacteriano e
ferida, que é facilmente removido. Devido a suas a interagir com macrófagos locais, estimulando-os
características hidrofílicas, esse curativo é utilizado a produzir TNF-α e IL-6, afetando diretamente o pro-
durante a fase inflamatória da cicatrização, princi- cesso de cicatrização (Theoret, 2004b).
palmente em feridas exsudativas e infectadas, ou A utilização dos curativos de carvão ativado é in-
durante a transição de curativos debridantes para hi- dicada em feridas infectadas, fétidas e exsudativas,
drocolóides (Stashak et al., 2004). Sua aplicação em sejam elas superficiais ou profundas. Esses curati-
feridas sem exsudato pode resultar na formação de vos propiciam um microambiente úmido, removem
crostas de difícil remoção (Swaim e Gillette, 1998). o exsudato e bactérias por adsorção, previnem a
formação do tecido de granulação exuberante,
além de diminuir o odor da ferida (Mandelbaum
c. Curativos sintéticos oclusivos et al., 2003b). Na utilização desse curativo, deve-se
e semi-oclusivos observar a formação do tecido de granulação, e
I. Hidrogel uma vez que ele esteja no mesmo nível das bordas
Os curativos de hidrogel possuem ação quimio- da ferida, deve ser substituído por outro tipo de
tática sobre leucócitos, favorecem a angiogênese, curativo (Stashak et al., 2004).
migração, além de formarem crostas de difícil remo- envolve o desenvolvimento de polímeros sintéticos
ção (Figura 6) (Wilmink e Weeren, 2004). ou biomateriais que agem restaurando a função or-
A necrose induzida aumenta a resposta infla- gânica sistêmica quando usados individualmente.
matória crônica, reativando a liberação de todos os A última abordagem terapêutica envolve o uso de
mediadores envolvidos no processo de reparação. A células com uma matriz tridimensional. Por exemplo,
contração e a reepitelização serão inibidas e um novo substitutos de pele com camada dupla composta de
pico de proliferação celular surgirá, aumentando o queratinócitos e fibroblastos incorporados dentro
tecido de granulação e sua recidiva. Embora alguns de uma matriz de colágeno biológica antes do trans-
casos tratados com esse procedimento progridam plante e, consequentemente, auxiliam melhorando
para a completa cicatrização, o resultado final é uma ou promovendo o processo de reparação tecidual
cicatriz inaceitável (Shappell e Little, 1992). (Jimenez e Jimenez, 2004).
O tecido de granulação exuberante pode ser
confundido com tumores, em particular os sarcóides Terapia com Laser
equinos. A transformação de uma simples ferida para Vários estudos têm demonstrado que o laser
um sarcóide é uma importante causa de falha do estimula a proliferação dos fibroblastos, melhora a
processo de cicatrização. Feridas faciais ou torácicas síntese de colágeno, aumenta a produção de ATP, e
geralmente desenvolvem sarcóides verrugosos, a resistência tensil e influencia a concentração de vá-
enquanto as feridas localizadas nos membros de- rias prostaglandinas (Peterson et al., 1999).
senvolvem sarcóide fibroblástico. A transformação O laser apresenta vantagens para a retirada de
da ferida em sarcóide pode ocorrer logo após o tecidos com hemorragia mínima ou de sítios ina-
trauma, comumente naquelas mantidas abertas em cessíveis com instrumentos convencionais. Adicio-
ambientes com alta densidade de moscas (Wilmink nalmente, após debridamento cirúrgico, promove
e Weeren, 2004). Nesses casos, a obtenção de uma menor formação de edema e menor sensibilidade
amostra do tecido para avaliação histopatológica é pós-operatória devido à oclusão dos vasos sanguí-
necessária (Knottenbelt, 2005). neos e terminações nervosas. A decisão para usar o
laser versus instrumentos convencionais deve variar
Enxertos de pele de acordo com cada caso. Em algumas situações, a
O uso de flapes de pele reconstrutivos ou enxer- cirurgia convencional pode ainda ter vantagem para
tos podem modificar dramaticamente o resultado alguns procedimentos, tais como: reavivamento de
final da cicatrização de feridas que apresentam défi- bordas, elevação de flaps de pele ou remoção de con-
cit na contração ou formação excessiva de tecido de taminantes da ferida (Sullins, 2004).
granulação impedindo a cicatrização. O enxerto é
indicado primariamente para feridas com excessiva Profilaxia do tétano
perda tecidual; feridas em que a formação de tecido Uma adequada proteção contra o Clostridium te-
de granulação exuberante impede a contração e tani deve ser fornecida (Caron, 1992). Embora a dose
naquelas com contração e epitelização insuficientes de soro antitetânico a administrada varie entre os pro-
para fechar o defeito. O enxerto deve ser transplanta- fissionais, uma a duas doses de 5.000 a 10.000 UI com
do para áreas com suprimento sanguíneo local ade- intervalo de 3-4 semanas entre administração, parece
quado, não sobrevivendo quando transplantados ser o regime terapêutico mais apropriado.
sobre áreas com exposição óssea, tendão e tecido
adiposo. Além disso, não devem ser fixados em feri-
das infectadas, pois contagens bacterianas de 105/g Considerações finais
de tecido estão associadas com falha no transplante Independente do tipo e da localização da ferida,
(Bristol, 2005; Hierner et al., 2005). o paciente sempre deve ser examinado minuciosa-
Atualmente, a pesquisa e o desenvolvimento de mente para que outras alterações concomitantes
tecidos e produtos celulares tem sido uma aborda- possam ser identificadas e corrigidas. Durante o
gem dos avanços do campo da medicina regenerati- tratamento, o bem-estar deve ser preconizado para
va. Três estratégias são utilizadas para o desenvolvi- que alterações como perda de apetite e estresse
mento de produtos da engenharia tecidual. A primeira não prejudiquem a recuperação. A abordagem da
estratégia envolve o uso de células sem a matriz. ferida deve ser individualizada. Após abordagem
Quando transplantadas, essas células restauram a fun- inicial, a melhor intervenção terapêutica deve ser
ção do sistema ou órgão lesado. A segunda estratégia instituída sempre evitando que novas complica-
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Resumo
Este trabalho teve como objetivo avaliar a prevalência da infecção por Ascaris suum e avaliar a frequência de
alterações macro e microscópicas em fígados de suínos abatidos na região metropolitana de Recife e da Zona
da Mata do Estado de Pernambuco. A pesquisa foi desenvolvida em três abatedouros inscritos no sistema de
inspeção estadual, nos meses de julho de 2008 a maio de 2009. Foram examinados 715 animais. Realizou-se
a aplicação de um questionário para avaliar as condições de manejo das propriedades. Os fígados foram
examinados, na respectiva linha de inspeção, para a presença de manchas leitosas, que foram classificadas
conforme o grau de lesão. As manchas leitosas foram registradas em 2,2% (16/715) dos fígados examinados,
ocorrendo em 0,6% (4/638) animais das granjas tecnificadas e em 15,6% (12/77) dos animais das granjas de
subsistência (p < 0,001). Das demais lesões diagnosticadas, constataram-se áreas de mineralização com 2,0%
(14/715), seguidas de coágulo, cirrose, espessamento de cápsula, teleangiectasia e atrofia. As alterações mi-
croscópicas nos animais que apresentaram manchas leitosas foram congestão sinusoidal, focos inflamatórios
granulomatosos, perihepatite granulomatosa, e infiltração eosinofílica nos espaços interlobulares.
Abstract
The objective of this paper was to estimate the prevalence of milk-spot lesions and structural changes in liver
of slaughtered swines from three different slaughterhouses under federal veterinary inspection located at
metropolitan region of Recife (MRR) and Zona da Mata (ZM) of Pernambuco State, Brazil. Between June 2008
to May 2009 livers from 715 animals were collected, examined and scored for lesions consistent with para-
sitic migration during meat inspection. The questionnaire survey also was carried out to identify the current
husbandry practices. The results showed milk-spot lesions in 2.2% (16/715) of livers examined being 0,6%
(4/638) from intensive animal husbandry procedures and 15.6% (12/77) from subsistence practices (p < 0,001).
Several morphologic changes including mineralization (2.0%) followed by of blood clot, cirrhosis, capsule thi-
ckening, telangiectasia and atrophy were evidenced. The results of the optical microscopy examination sho-
wed sinusoidal congestion, granulomatous inflammatory foci, granulomatous perihepatitis, and eosinophilic
infiltration in the interlobular spaces.
Tabela 1. Frequência absoluta (n) e relativa (%) da distribuição de manchas leitosas em fígados de suínos
em abatedouros da Região Metropolitana de Recife e Zona da Mata do estado de Pernambuco,
Brasil, segundo a procedência
Manchas leitosas
Positivo Negativo Total
Propriedade Valor de p
n % n % n %
Granja 1 1 1,0 98 99,0 99 100,0 p < 0,001*
Granja 2 1 0,8 118 99,2 119 100,0
Granja 3 2 4,4 43 95,6 45 100,0
Granja 4 0 0 150 100,0 150 100,0
Granja 5 0 0 59 100,0 59 100,0
Granja 6 0 0 60 100,0 60 100,0
Granja 7 0 0 47 100,0 47 100,0
Granja 8 0 0 59 100,0 59 100,0
Granja 9 12 15,6 65 84,4 77 100,0
Total 16 2,2 699 97,8 715 100,0
(*): Diferença significativa a 5,0% pelo teste Exato de Fisher.
Tabela 2. Frequência absoluta (n) e relativa (%) e valor de p e Odds Ratio (OR) da presença de manchas lei-
tosas, segundo o tipo de suinocultura, em suínos de abatedouros da Região Metropolitana de
Recife e Zona da Mata do estado de Pernambuco, Brasil
Suinocultura
Manchas Tecnificada Subsistência Total
Valor de p OR (IC a 95%)
leitosas n % n % n %
Sim 4 0,6 12 15,6 16 2,2 p < 0,001* 1,00
29,26 (9,17 a
Não 634 99,4 65 84,4 699 97,8
93,44)
Total 638 100,0 77 100,0 715 100,0
(*): Diferença significativa a 5,0% pelo teste Exato de Fisher.
te utilizando os anti-helmínticos de forma empírica manchas e 13,5% (42/311) com 8-30 lesões (Pyz-
sem a adequada orientação técnica quanto à apli- Ukasik & Prost, 1999). Vyt et al. (2004), em estu-
cação da dosagem correta descrita pelo fabricante, do na Bélgica, revelaram 11,0% (16760/152364)
dentre outros fatores. de fígados rejeitados em abatedouro devido às
Nas granjas tecnificadas, os suínos são enca- múltiplas manchas leitosas. Na Coréia, em fígados
minhados para o abate com 140 dias de idade. Às de suínos de cinco propriedades, examinados ao
vezes, esse prazo pode ser prolongado até 160 dias. abate obtiveram-se 17,9% (80/446) de positivida-
Sendo assim, esses animais são terminados e adul- de para manchas leitosas, variando de 9,8 a 29,7%
tos e provavelmente já desenvolveram imunidade entre as propriedades, sendo 82,1% (366/446) no
contra A. suum. Segundo Bernardo et al. (1990), é al- grau 0, 17,5% (78/446) no grau 1, e 0,4% (2/446)
tamente improvável que o animal tenha uma infec- no grau 2 (Hwang et al., 2004).
ção por A. suum e não apresente manchas leitosas O aumento nos valores de frequência nesses
no fígado, portanto, a monitoria de manchas leito- graus de lesões no fígado está relacionado a vá-
sas em abatedouros é mais sensível indicador de rios fatores ligados à infecção por A. suum, dentre
infecção por A. suum do que a presença do parasito eles o manejo, as condições climáticas, ciclo bioló-
adulto no intestino (Bernardo et al., 1990). Em- gico e o anti-helmíntico utilizado (Roepstorff e
bora os parasitos adultos possam estar presentes Nansen, 1994).
no intestino em pequena quantidade em suínos Os resultados obtidos mostram a necessidade
que não apresentam as referidas lesões (Pointon de se avaliar a eficácia dos programas de contro-
et al., 1999), não foram encontrados exemplares de le da infecção por helmintos nas propriedades,
A. suum no intestino delgado de nenhum dos ani- realizando-se exames coproparasitológicos dos
mais examinados no presente estudo, bem como suínos jovens e das matrizes na maternidade, defi-
as amostras fecais examinadas mostraram-se todas nir prioridades de ações no sistema de assistência
negativas para ovos de A. suum. técnica e identificar fatores de risco nas proprie-
E m r e l a ç ã o a o s g r a u s d e l e s õ e s, 9 7 , 8 % dades, conforme recomendado por Taylor (1986)
(699/715) dos fígados apresentaram grau 0 (ausên- e Bernardo et al. (1990), particularmente naquelas
cia de manchas leitosas), 0,6% (4/715) grau 1 e 1,6% propriedades em que se observaram maiores ta-
(12/715) o grau 2. Nas granjas tecnificadas, dos ani- xas de fígados acometidos (Tabela 1), levando-se
mais positivos para manchas leitosas, sendo 4,4% em consideração que, além dos custos diretos da
(2/43) da granja 3, 1,0% (1/99) da granja 1 e 0,8% infecção por A. suum, existe um potencial efeito
(1/119) da granja 2, todos apresentaram o grau 1. indireto dessa parasitose no aumento do índice de
Nas granjas de subsistência, observaram-se man- conversão e na exacerbação das patologias respira-
chas leitosas em 15,6% (12/77) dos fígados, todos tórias devido às migrações larvares (Taylor, 1986,
com o grau 2 de lesão. Bernardo et al., 1990).
Ao exame de 1.000 fígados coletados no abate Nakagawa et al. (1983), no Japão, demonstra-
de suínos da região de Lublin, na Polônia, regis- ram que, de um total de 815 suínos, 311 (38,2%) ti-
traram-se 31,1% (311/1000) de manchas leitosas, veram parte ou todo o fígado condenado por man-
com 58,2% (181/311) apresentando de 1-3 man- chas leitosas. No Canadá, Wagner e Polley (1997)
chas leitosas por fígado, 28,3% (88/311) de 4-7 obtiveram positividade de 44% em 2.500 suínos
quanto à presença de manchas leitosas. Theodo- No exame histopatológico (Tabela 4), a lesão
ropoulos et al. (2002), na Grécia, em um estudo que apresentou maior frequência foi a tumefação
avaliando as condenações por infecção parasitária celular dos hepatócitos, proliferação conjuntiva dos
na região de Trikala, de um total de 3.920 fígados septos interloburares e proliferação de ductos bilia-
de suínos de abatedouros, a única lesão observada res com 20,0% (6/30) para cada alteração.
foi mancha de leite, com 0,35%, valor inferior ao Nos fígados que apresentaram áreas de mine-
encontrado neste trabalho. Embora com frequên- ralização, microscopicamente foram evidenciadas
cias variáveis em diferentes países, os resultados congestão sinusoidal, tumefação dos hepatócitos,
permitem considerar as manchas leitosas, uma das granulomas, hiperplasia das células de Kupfer,
causas importantes de condenação de fígados de proliferação conjuntiva de ductos biliares e septos
suínos em abatedouros. interlobulares, sendo essa última o principal acha-
Dos animais avaliados 4,9% (35/715) apresen- do no fígado que apresentou cirrose. No fígado que
taram outras lesões hepáticas além das manchas apresentou teleangiectasia, ao exame microscópi-
leitosas, observando-se áreas de mineralização co detectou-se perihepatite. Em apenas um dos fí-
com 2,0% (14/715), seguidos de cirrose, coágulo, gados analisados microscopicamente observou-se
espessamento de cápsula, teleangiectasia e atrofia necrose, proliferação conjuntiva dos septos interlo-
(Tabela 3). Com exceção de manchas leitosas, as bulares com a presença de alguns granulomas.
demais lesões não têm como causa a infecção por Nos fígados que apresentaram manchas leito-
parasitos gastrintestinais. sas, foram observados congestão sinusoidal, focos
Tabela 4. Frequência absoluta (n) e relativa (%) de alterações microscópicas em fígados de suínos de aba-
tedouros da Região Metropolitana de Recife e Zona da Mata do estado de Pernambuco, Brasil
Alterações microscópicas n %
Fibrose 5 16,7
Congestão sinusoidal 5 16,7
Tumefação dos hepatócitos 6 20,0
Hiperplasia das celulas de Kupfer 1 3,3
Proliferação conjuntiva dos septos interlobulares 6 20,0
Hepatite granulomatosa 4 13,3
Proliferação de ductos biliares 6 20,0
Vacuolização 1 3,3
Degeneração gordurosa 1 3,3
Perihepatite granulomatosa 3 10
Necrose 1 3,3
Obs.: Os percentuais foram obtidos do número total de animais analisados que são iguais a 30.
Tabela 5. Frequência absoluta (n) e relativa (%) de manchas leitosas em fígados de suínos em abatedou-
ros da Região Metropolitana de Recife e Zona da Mata do estado de Pernambuco – Brasil, segun-
do as variáveis relativas ao tipo da criação e manejo das instalações
Manchas leitosas
Positivo Negativo Total
Variáveis Valor de p
n % n % n %
Tipo de exploração
Recria 2 4,4 43 95,6 45 100,0 p = 0,267
Mista 14 2,1 656 97,9 670 100,0
Qualidade de
higiene das baias
Boa 0 0 197 100,0 197 100,0 p < 0,001*
Moderada 4 0,9 437 99,1 441 100,0
Ruim 12 15,6 65 84,4 77 100,0
Fonte de água
Poço 2 0,4 544 99,6 546 100,0 p < 0,001*
Poço + açude 2 4,4 43 95,6 45 100,0
Poço + rio 0 0 47 100,0 47 100,0
Poço + barreiro 12 15,6 65 84,4 77 100,0
Tratamento de água
Sim 4 0,6 634 99,4 638 100,0 p < 0,001*
Não 12 15,6 65 84,4 77 100,0
Tipo de bebedouro
Chupeta 4 0,6 634 99,4 638 100,0 p < 0,001*
Cocho 12 15,6 65 84,4 77 100,0
Tipo de piso
Áspero 16 2,8 549 97,2 565 100,0 p = 0,031*
Liso 0 0 150 100,0 150 100,0
Limpeza das instalações
Jato d’ água 2 0,3 591 99,7 593 100,0 p < 0,001*
Remoção dos dejetos 14 11,5 108 88,5 122 100,0
Tratamento de dejetos
Sim 0 0 256 100,0 256 100,0 p = 0,003*
Não 16 3,5 443 96,5 459 100,0
Destino dos dejetos
Fossa séptica 0 0 106 100,0 106 100,0 p = 0,005*
Céu aberto 16 3,5 443 96,5 459 100,0
Lagoa de tratamento 0 0 150 100,0 150 100,0
Total 16 2,2 699 97,8 715 100,0
(*): Diferença significativa a 5,0% pelo teste Qui-Quadrado de Pearson.
ções higiênico-sanitárias das propriedades (Tabe- guem sobreviver mesmo em sistemas intensivos,
las 5 e 6), observa-se diferença significativa com estando sua prevalência e níveis de infecção liga-
todas as variáveis relacionadas à criação e ao ma- dos às condições relativas à higiene e ao manejo.
nejo das instalações (Tabela 5), com frequências A falta de tratamento dos dejetos e o destino a
mais elevadas para animais criados em condições céu aberto (Tabela 5) são fatores na propriedade
inadequadas que facilitaram a disseminação dos que favorecem a manutenção e disseminação da
ovos de A. suum. infecção por A. suum. Com a implantação do uso
Os dados estão de acordo com Roespstorff e cada vez maior de sistemas confinados, o homem
Nansen (1994), que afirmam que A. suum destaca- provocou a concentração de suínos em pequenas
-se dentre as espécies de helmintos que conse- áreas, causando grande volume de dejetos produ-
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ENFERMIDADES CIRÚRGICAS DO
APARELHO REPRODUTOR MASCULINO
EQUINO: ASPECTOS CLÍNICOS E
TERAPÊUTICOS
Surgical conditions of equine male reproductive system:
clinical and therapeutic aspects
Resumo
O aparelho reprodutor masculino é compreendido por bolsa escrotal, testículos, ductos eferentes, epidídimos,
ductos deferentes, uretra, pênis, prepúcio e glândulas anexas. Traumatismos nos testículos, pênis e prepúcio
produzem edema e, dependendo do tipo de trauma, podem acarretar hemorragia, infertilidade e outras com-
plicações, como fimose nas lesões de caráter crônico do prepúcio. Paralisia do pênis é a incapacidade do animal
retrair o órgão, com ou sem ereção, denominadas priapismo e parafimose, respectivamente. Neoplasias do
pênis e prepúcio produzem lesões que incluem tumefação e ulceração. Dor e tumefação no escroto podem ser
causadas por torção do testículo, hérnia ou orquite. Os sinais de falha parcial ou completa do descenso testicu-
lar (criptorquidia) variam com a extensão do distúrbio e com a sua condição de ser uni ou bilateral. O protocolo
terapêutico estabelecido para correção das alterações depende da patologia e gravidade e, na maioria dos
casos, a refratariedade ao tratamento sugere indicação cirúrgica. Os protocolos cirúrgicos de tratamento mais
comuns de lesões nesses locais são a orquiectomia, falectomia e falopexia.
Abstract
The male reproductive system comprehends the scrotum, testicles, efferent ducts, epididims, ductus deferens,
urethra, penis and prepuce. Trauma on testicles, penis and prepuce lead to edema, and, depending on the na-
ture of trauma, may also lead to hemorrhage, infertility and other complications, such as phimosis as in chronic
prepuce conditions. Penis paralysis is the inability of retracting this organ, with or without erection, named
priapism and paraphimosis, respectively. Neoplasias of penis and prepuce lead to lesions including swelling
and ulceration. Pain and swelling of the scrotum may be due to testicle torsion, hernia or orchitis. Signs of fail,
both partial and complete, of criptorchidism may vary according to the extension of the condition and the fact
of being uni or bi-lateral. The therapeutic protocol established for the correction of alterations depends on the
pathology and its gravity, and, in most cases, recurrences may suggest surgical indication. The most common
surgical protocols in these sites are orchiectomy and phalectomy.
manipulação tecidual também podem resultar em con- comum que a abdominal; entretanto, a incidência da
taminação bacteriana e desencadear a enfermidade. O localização abdominal diminui com a idade, o que suge-
tratamento inclui hidroterapia, antibioticoterapia e, se re que alguns testículos somente apresentam atraso na
possível, drenagem ventral pelo escroto. A funiculite, descida (Lu, 2005). A retenção unilateral é mais frequen-
se não tratada, pode evoluir para uma peritonite, ou for- te que a bilateral (Silva et al., 2003)
mação de granuloma, nesse caso necessitando de um O aumento da temperatura no testículo retido
procedimento cirúrgico reparador (Perkins & Frazer, causa alterações na espermatogênese; entretanto, a
1994; May & Moll, 2002) produção hormonal pelas células de Leydig continua
no testículo criptorquida. Há ainda aumento do risco de
Hérnias escrotal e inguinal neoplasias testiculares, sendo a mais comum, o semi-
A hérnia pode ser considerada inguinal quando se noma (Lu, 2005). Segundo Hafez (1988) e Thomassian
localiza no canal inguinal ou escrotal se o conteúdo des- (2005), cavalos criptorquidas unilaterias são férteis e os
cer até a bolsa. Esses tipos de hérnias são mais comuns bilaterais são estéreis.
em machos ao nascimento e até alguns meses após. A avaliação comportamental de animais criptor-
Elas podem se resolver espontaneamente durante os quidas é um importante componente do diagnóstico.
primeiros três a seis meses de vida, sendo necessário Geralmente, os animais apresentam comportamento
acompanhamento desses animais. Nos casos de hér- típico de garanhões como excitação sexual, ereção,
nias irredutíveis, ou seja, quando a alça intestinal não monta e agressividade. Um dos cuidados que se deve
pode ser reposicionada na cavidade abdominal, o tra- ter é que alguns animais castrados podem apresentar
tamento cirúrgico deve ser preconizado. As herniações esse comportamento de garanhão persistente. A pal-
podem ocorrer também em animais adultos após a pação externa e transretal também pode auxiliar no
cópula, exercícios ou traumas. Esses tipos de hérnias in- diagnóstico e na localização do testículo criptorquida
guinais ou escrotais adquiridas em garanhões, invaria- (Cattelan et al., 2004; Lu, 2005).
velmente provocam obstrução intestinal e cólica agu- O tratamento clínico de base hormonal não é suge-
da. O diagnóstico pode ser confirmado pela palpação rido para animais em virtude da natureza hereditária da
direta, transretal e ultrassonografia da bolsa testicular. O síndrome, recomendando-se a cirurgia (Lu, 2005).
tratamento cirúrgico imediato é essencial, devendo-se
realizar a castração do lado correspondente à herniação Enfermidades
(Mckinnon & Voss, 1992; Perkins & Frazer, 1994). Penianas e Prepuciais
Os traumas penianos e prepuciais rapidamente
Criptorquidismo desenvolvem um edema inflamatório. As causas mais
Devido à complexa natureza do descenso testi- comuns incluem coices de éguas, abrasões por pêlos da
cular, a etiologia do criptorquidismo é considerada cauda, brigas com outros cavalos e traumatismos pro-
multifatorial e envolve distúrbios no metabolismo dos vocados por objetos sólidos como cercas. Os traumas
hormônios esteróides, deficiência de andrógenos ou diretos ao pênis geralmente ocorrem quando se en-
alterações neurológicas (Silva et al., 2003; Cattelan et contra em ereção (Schumacher & Vaughan, 1988;
al., 2004; Lu, 2005). Gatewood et al., 1989; Perkins & Frazer, 1994). Essa
Acredita-se que o criptorquidismo seja hereditá- condição pode causar disúria e redução do desempe-
rio em muitas espécies de mamíferos, como suínos, nho reprodutivo (Doles et al., 2001).
caninos, caprinos, ovinos e equinos. A base genética Tipicamente, o edema é mais pronunciado na re-
da hereditariedade em equinos ainda não está bem gião do anel prepucial, contribuindo para a ocorrência
definida, mas algumas referências sugerem ser um fator de prolapso peniano. O edema gravitacional exerce
dominante, o que se torna um forte incentivo à não uti- importante papel no aumento do prolapso que, se não
lização dos animais acometidos na reprodução (Jones tratado imediatamente, torna o problema auto-perpe-
et al., 2000; Lu, 2005). tuante. A drenagem linfática e venosa fica comprome-
Em equinos, estudos epidemiológicos sugerem tida em razão do edema e do peso penduloso do pênis,
que quando o testículo retido é o do lado direito, sua além do somatório de complicações resultantes dos
localização mais frequente é inguinal (isto é, dentro do traumas físicos, pela exposição do órgão. A meta inicial
canal inguinal), enquanto, se o testículo for o do lado de terapia é providenciar suporte ao pênis e resolver o
esquerdo, esse mais comumente localiza-se dentro da edema gravitacional. Se possível, o pênis deve ser cuida-
cavidade abdominal. Os pôneis, por outro lado, apre- dosamente recolocado no prepúcio e seguro por uma
sentam frequência inversa. A retenção inguinal é mais sutura ou outro artifício pelo óstio prepucial. Uma pre-
musculatura prepucial ou resultante de trauma (Blan- (Rochat, 2001). Priapismo associado a fenotiazínicos
chard et al., 1991; Rochat, 2001), porém vários casos desenvolve-se mais frequentemente em garanhões
de paralisia já foram descritos em equinos após sedação que apresentam altas doses de andrógenos (Blan-
com fenotiazínicos (Perkins & Frazer, 1994; Rochat, chard et al., 1991; Rochat, 2001).
2001), doenças nervosas (raiva, herpesvirose, infecções Priapismo pode ser confundido com parafimose.
bacterianas, mieloencefalite protozoária equina, neo- No exame clínico de um cavalo com priapismo, a ana-
plasias e traumas) e animais debilitados ou exaustos tomia peniana e prepucial estarão normais, porém a
(PerkinS & Frazer, 1994; Aurich & Aurich, 2006). prolongada exposição pode causar edema e resseca-
O tratamento da paralisia envolve o suporte do mento tecidual. Se uma intervenção não ocorrer a tem-
pênis e terapia sintomática. Exame físico completo, po, o problema pode progredir para necrose e perda
bem como exames auxiliares são importantes para se da capacidade reprodutiva (Rochat, 2001).
identificar a doença predisponente. Em muitos casos, O tratamento inicial de priapismo deve ser iniciado
a resolução da paralisia peniana somente ocorre com o com a identificação e, se possível, eliminação do fator
sucesso do tratamento da doença primária. Se o animal predisponente. A terapia sintomática é a mesma empre-
apresentar dor intensa, pode ser necessária tranquili- gada na parafimose. Inúmeros protocolos clínicos que
zação, analgesia local ou mesmo o bloqueio do nervo incluem o uso de diuréticos, corticóides e dimetilsulfóxi-
peniano (Choe, 2000). Nos casos em que o animal do são sugeridos, porém esses têm produzido inconsis-
mostra-se refratário ou recorrente ao tratamento, deve- tentes e inadequados resultados (Rochat, 2001).
se considerar a realização de falopexia ou falectomia
(Perkins & Frazer, 1994; Silva et al., 1995b; Schu- Fimose
macher et al., 1999; Schumacher & Hardin, 1987). Fimose é considerada uma enfermidade rara em
equinos, caracterizada pela impossibilidade dos animais
Priapismo em exteriorizarem o pênis. A enfermidade pode ser con-
Priapismo é a ereção persistente do pênis na au- gênita ou adquirida em consequência de estenose do
sência de estímulo sexual, não sendo possível a redu- óstio prepucial, hematomas, neoplasias, granulomas,
ção manual para o prepúcio (Perkins & Frazer, 1994; infecções e traumatismos. A patologia pode causar re-
Rochat, 2001). Essa desordem é incomum em animais tenção de urina na cavidade prepucial com formação de
domésticos, mas já foi reportada no cavalo e é de trata- processos inflamatórios na mucosa do prepúcio (Schu-
mento imediato (Rochat, 2001). macher & Vaughan, 1988; Eurides et al., 1997).
Ereção fisiológica resulta de estímulo parassim- No primeiro mês de vida dos equinos, a fimose é
pático do fluxo sanguíneo arteriolar para o pênis. A considerada natural porque o epitélio do segmento
ausência de estímulo colinérgico e o aumento da livre do pênis é fundido com a lâmina interna da dobra
estimulação adrenérgica diminuem o fluxo sanguíneo prepucial (Schumacher, 1988). Fimose adquirida
arteriolar peniano e promove a saída do fluxo venoso pode ser causada por coices, traumatismos em arames
do corpo cavernoso do pênis, causando a detumes- e tentativas de saltar obstáculos (Eurides et al., 1997).
cência. O excessivo estímulo colinérgico e ausência de O tratamento cirúrgico da fimose baseia-se em pro-
estimulação adrenérgica podem resultar em priapis- mover o retorno da configuração anatômica do prepú-
mo. O aumento da tensão de dióxido de carbono com cio. Geralmente, a terapia medicamentosa com corticói-
estagnação das hemácias no corpo cavernoso resulta des, para a diminuição do edema e inflamação deve ser
na sedimentação das hemácias e oclusão do retorno tentada antes da intervenção cirúrgica, principalmente
venoso, o que é exacerbado pelo edema generalizado para garanhões, o ato cirúrgico pode alterar a eficiência
do pênis e prepúcio (Schumacher & Hardin, 1987; reprodutiva do animal (Gatewood et al., 1989).
Perkins & Frazer, 1994; Rochat, 2001).
As causas de priapismo relatadas na Medicina Tratamentos cirúrgicos
Veterinária incluem a administração de fenotiazínicos Quando a terapêutica estabelecida para a cor-
(Schumacher et al., 1999; Rochat, 2001), lesões reção da enfermidade reprodutiva do garanhão é
na medula espinhal associadas à cinomose, traumas, cirúrgica, alguns fatores como a localização onde o
lesões da cauda eqüina, assim como complicações animal se encontra, valor zootécnico e/ou afetivo
decorrentes de castração, constipação e irritações do animal devem ser analisados para a escolha da
do trato urinário inferior secundárias a inflamações. anestesia e técnica cirúrgica. A maioria dos procedi-
Muitos dos mecanismos exatos das várias etiologias do mentos pode ser realizada, sem maiores problemas,
priapismo nos animais domésticos são desconhecidos no campo. A anestesia, por sua vez, deve ser geral.
• Amputação parcial
do pênis
A amputação parcial do
pênis nos equinos é uma das
técnicas mais utilizadas para
o tratamento de parafimose
irredutível e recomendável na
preparação de rufiões, pois im-
possibilita a cópula, é de fácil
execução e utiliza pouco ma-
terial (Walker & Vaughan,
1980; Silva et al., 1991). Seu
uso tem sido frequente nos
casos de tumores (Schuma-
cher, 1988), paralisias, lesões
por habronema e necroses
Figura 2. Amputação parcial do pênis em equinos. Em (A), incisão longitidunal com visualização da uretra para
(Silva et al., 1991a; Waldrid- a formação do novo óstio uretral; (B), técnica de amputação utilizando o garroteamento de borracha na porção
ge & Gillis, 1996; Turner & distal do pênis; (C), técnica de amputação com extensão do óstio uretral até a linha de transecção do pênis; (D),
McIlwraith, 2002). sutura de oclusão do corpo cavernoso do pênis e da porção final do novo óstio uretral.
do epitélio peniano ao longo dos lados da incisão e submetidos ao procedimento cirúrgico que foi divi-
triangular aplicando suturas interrompidas simples dido em tempos operatórios: I. Demarcação do tecido
com fio absorvível; III. Incisão circular para transecção epitelial de revestimento nas porções caudal e cranial
envolvendo o epitélio, tecido celular subcutâneo, do pênis (Figura 3- B); II. Circuncisão, divulsão e remo-
corpo esponjoso e cavernoso e uretra. A porção distal ção do epitélio de revestimento peniano (Figura 3-C);
do pênis pode ser transfixada utilizando fio inabsor- III. Aproximação, justaposição e sutura das bordas do
vível ou mesmo um torniquete de borracha, técnica tecido epitelial de revestimento, proximal e distal. Para
chamada de Vinsot, que permanecerá até a cicatri- a circuncisão do pênis, são colocadas primeiramente,
zação completa do coto (Figura 2-B). Outra técnica quatro pinças de Kocher, equidistantes, sendo uma
mais laboriosa, de Williams, consiste em estender a dorsal, uma ventral e duas laterais na porção cranial
incisão da base do triângulo até um ângulo levemente da lâmina interna da prega prepucial externa, distan-
oblíquo na direção cranial rumo à superfície dorsal do do aproximadamente três centímetros do ponto de
pênis (Figura 2-C). A túnica albugínea é fechada sobre inserção da mesma, sobre o corpo peniano. O mesmo
os corpos cavernosos do pênis que foram transversal- procedimento é repetido com quatro pinças de Allis
mente seccionados (Figura 2-D), fazendo uso de sutu- no tecido epitelial de revestimento da porção caudal
ras interrompidas simples com fio absorvível. da parte livre do pênis, cerca de três centímetros da
coroa da glande. No tempo operatório seguinte, a
• Circuncisão peniana lâmina interna da prega prepucial externa é incisada
De acordo com Walker & Vaughan (1980), Silva et al. de pinça a pinça, circundando a região delimitada
(1995a) e Turner & McIlwraith (2002), essa técnica cirúr- por elas, evitando a formação de ângulos na intersec-
gica também é indicada para a remoção de neoplasias, ção delas. Procedimento semelhante é praticado na
granulomas, tecido de cicatrização ou espessamento porção distal do órgão. Para facilitar a dissecção, uma
crônico da membrana prepucial que impedem a re- terceira incisão, longitudinal, é realizada, abrangendo
tração do pênis. A circuncisão requer pós-operatório todo o tecido epitelial de revestimento localizado
mais criterioso, visto que a quantidade de sutura e entre as porções extremas já incisadas, estabelecidas
manipulação tecidual são maiores. O pênis e prepúcio pelas oito pinças. Após a remoção do epitélio, os vasos
são tratados segundo as normas básicas de antissepsia sangrantes são pinçados e ligados com fio absorvível.
Finalmente, realizam-se nas
bordas do tecido epitelial de
revestimento da porção cra-
nial do pênis quatro incisões
longitudinais, de aproxima-
damente 1,5 centímetro e
equidistantes das pinças,
para facilitar a coaptação
dessas e aproximá-las dos
pontos de correspondência
às pinças, localizadas na base
do pênis, com sutura em
padrão Donatti, utilizando
fio de algodão 3-0. O fecha-
mento completo da ferida é
realizado com fio inabsorví-
vel, utilizando-se sutura em
padrão simples interrompi-
do, evitando a formação de
dobras e reduzindo o pênis,
no máximo para um terço
do tamanho normal, ou para
aproximadamente 10 cen-
Figura 3. Utilização da técnica de circuncisão peniana para correção de fimose adquirida em eqüino. Em (A), estenose
prepucial impedindo a exteriorização do pênis; (B), exteriorização do pênis com demarcação do tecido epitelial de tímetros de comprimento
revestimento; (C), divulsão e remoção do epitélio de revestimento peniano; (D), aspecto final do procedimento. (Figura 3-D).
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PERFIL DO MÉDICO
VETERINÁRIO RESIDENTE
EGRESSO DE PROGRAMAS
RECONHECIDOS PELO CFMV
NO PERÍODO DE 2004 A 2010
Atualmente, o mercado consumidor apresenta- seguidas pelas federais (28,5%) e estaduais (19,5%),
-se cada vez mais exigente, atingindo, inclusive, os o que representa 370 vagas disponíveis no mercado,
prestadores de serviços, onde se encontra o Médico atendendo a 1% dos formandos no País anualmente.
Veterinário. Sendo assim, e buscando formas de Sendo assim, buscou-se parâmetros visando avaliar
aprimorar os conhecimentos principalmente dos o desempenho dos egressos dos PRMVs reconheci-
recém-formados, vários cursos de especialização são dos pelo CFMV no período de 2004 a 2010, além de
ofertados no País, mas destacadamente, encontra- suas observações e sugestões, por meio de questio-
mos os Programas de Residência que têm o objetivo nários. Dos 21 Programas reconhecidos no período
de treinamento em serviço, proporcionando ao pro- avaliado, totalizou-se 611 profissionais, onde 105
fissional o desenvolvimento de novas tecnologias (17,89%) responderam ao questionário. A Tabela 1
em benefício de seus pacientes, bem como seguran- apresenta os Programas de Residência em Medicina
ça nas intervenções. Nesse sentido, dos 170 Cursos Veterinária reconhecidos pelo CFMV, bem como o
de Medicina Veterinária em funcionamento no País, número de egressos avaliados.
60 apresentam Programas de Residência (35,3%), Observou-se que 63,8% dos entrevistados foram
porém apenas 21 (35%) são devidamente reconhe- do sexo feminino e 36,2% masculino, numa faixa
cidos pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária etária que variou de 24 a 36 anos, com uma média
(CFMV), sendo dois na Região Nordeste, três na Cen- de 27 anos. As subáreas em que desenvolveram seus
tro-Oeste, sete na Sul e nove na Sudeste, provenien- Programas foram todas contempladas nas respostas,
tes principalmente de instituições privadas (52%), sendo principalmente de Clínica Médica de Peque-
Tabela 1. Programas de Residência em Medicina Veterinária reconhecidos pelo CFMV com seu respectivo
número de egressos avaliados.
REGIÃO SUDESTE REGIÃO SUL REGIÃO NORDESTE
IES Nº IES Nº IES Nº
UFMG 2 PUC/PR 3 UFPI ----
UNESP/JABOTICABAL 12 UEL 10 UNIME 2
UNESP/BOTUCATU 14 UFPEL 4
UNIFEOB 3 UFRGS 3 REGIÃO CENTRO-OESTE
UNIMAR 7 UFSM 4 UNIDERP 3
UNIUBE 4 ULBRA 11 UPIS 4
UNOESTE 2 UPF ---- UFMS ----
USP 10 IES: Instituição de Ensino Superior
UVV 06 N: Número de egressos participantes
conforme Gráfico 1. 2 1
2 1
30 3
25 3
23,8% 3
4
20 42
5
18,1% 14
17,1% 15
PA
a
PA
gia
A
ária
a
em
gia
o
ima
línic
blic
uçã
o PO
rgia
iolo
o
g
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Ciru
stes
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irúr
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ica M
itop
Rep
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por
riçã
Insp
Ane
ica e
ica e
Pato
tico
Orn
Nut
logi
Clín
Clín
Clín
nós
Pato
20
duandos stricto sensu, dificultando o aprendizado.
21,0%
Um dos pontos muito valorizados durante os
17,1% 15
15,2% Programas de Residência envolve a vivência geral do
12,4% 10 pós-graduando nas várias especialidades desenvol-
5
vidas no Hospital Veterinário, fazendo com ele tenha
6,7%
uma visão generalista inicial para posteriormente
2,9%
0
se especializar e, nesse caso, 80% alegaram ter tido
a oportunidade de vivenciar outros setores durante
0
4
201
200
200
200
200
200
200
A DIMENSãO DO
SOFRIMENTO ANIMAL
shutterstock
As palavras dor e sofrimento são utilizadas com- e gestos de retraimento indicativos
parativamente pelo senso comum, no entanto, uma de medo ante a perspectiva de sentir
pessoa pode experimentar dor sem sofrer (sadoma- dor. As reações fisiológicas indicati-
soquismo) e pode experimentar sofrimento sem dor vas de dor são: dilatação das pupilas,
(angústia e medo). O sofrimento é qualquer percep- elevação inicial da pressão arterial,
ção de ameaça à integridade do indivíduo, compre- transpiração, aceleração do pulso e
endendo além dos danos físicos, outras emoções caso o estímulo continue, queda de
negativas decorrentes de eventos aversivos como pressão arterial.
medo e ansiedade, muito estudados em humanos Embora os seres humanos tenham
por meio de modelos animais. um córtex cerebral mais desenvolvido
A noção de sofrer como uma ameaça à integri- dentre todos os animais, essa parte do
dade de um animal tem grande importância para cérebro está mais associada às funções do pensa-
sua qualidade de vida e a extensão do sofrimento mento, e não aos impulsos, emoções e sentimentos
variará segundo a complexidade mental do animal. básicos que estão associados ao diencéfalo, estrutura
O cérebro ao mesmo tempo em que analisa toda in- bem desenvolvida em mamíferos e aves. O cérebro
formação encaminhada pelos sentidos, determina as do mamífero, por apresentar estrutura límbica facul-
respostas apropriadas. ta a esses animais algumas capacidades tais como:
Os caminhos anatômicos e químicos de percep- comunicação auditivo-vocal, brincar, sentir emoção,
ção de dor entre animais e humanos são muito seme- empatia e compaixão. As experiências obtidas por
lhantes. A maioria dos sinais externos que nos leva a meio dessas aptidões constituem o que se denomina
inferir a ocorrência de dor em seres humanos pode inteligência do animal e a sua disposição para empatia
ser observada em outras espécies, principalmente favorece o consórcio emocional com outros indivídu-
em mamíferos e aves. Os sinais comportamentais os. Em seu livro intitulado In the Shadow of Man, sobre
incluem contorções corporais e tentativas de evitar o admirável estudo realizado com chimpanzés, Jane
a fonte causadora da dor, contorções faciais, gemi- Goodall assinalou que os sinais básicos que o homem
dos, ganidos e outras expressões vocais, semblante usa para expressar estados emocionais como a dor, a
Arquivo CFMV
raiva, a alegria, a surpresa, o medo, o amor, a excitação
sexual não são exclusivos da espécie humana.
Os sentimentos de um indivíduo são aspectos
importantes de seu bem-estar, pois tanto os senti-
mentos de prazer ou desagradáveis afetarão o bem-
-estar do indivíduo. Esses sentimentos se intercalam
ao longo da vida do animal, assim como bem-estar
pobre e adequado. A angústia severa experimentada
por animais domésticos poderia estar associada ao
tédio resultante da falta de estimulação ambiental e
com as experiências de desamparo, privação de co-
mida e água ou contato social por longos períodos.
Os animais suportam sentimentos desagradáveis
intensos por dois motivos: a) causados pela ocorrên-
cia de situações que o animal tenta evitar, mas não
consegue (aversão); b) causados pela ausência de
certas condições ou de estímulos satisfatórios, ou,
ainda, por alguma barreira física ou social que impe-
çam determinado comportamento. Se o nível de mo-
Imagens: shutterstock
comprometimento da aptidão de um animal é feita cisão. Um animal pode ter aparentemente uma boa
quando sua habilidade para reproduzir e sua saúde saúde física e experimentar sofrimento se o custo
física ou psicológica são afetadas. percebido em relação ao seu ambiente psicossocial
Quando um animal estiver em seu ambiente for alto. A saúde psicológica está associada, portan-
natural, mecanismos causais levam-no a comportar- to, a um baixo custo de percepção, pois a ausência
se de modo que maximizem a aptidão. Porém, em de oportunidade para realizar um comportamento
ambientes antinaturais, esses mesmos mecanismos não implica necessariamente sofrimento para al-
podem ser ativados independentes das consequ- guns animais.
ências para aptidão. Se em determinada situação o Determinados tipos de comportamentos po-
animal avaliar que está em perigo por não conseguir dem refletir diferentes tipos de anormalidades fisio-
executar certo comportamento, sofrerá até mesmo lógicas em largo espectro de debilitação progres-
se não estiver de fato em perigo. Logo, a estimativa siva em um animal. Qualquer tipo de modificação
de sofrimento de um animal deve considerar não estrutural e/ou funcional produzida por doença no
somente o custo para preservar sua aptidão, mas organismo pode conduzir o animal a sentir dor e/
também o “custo percebido”. Por outro lado, o “alto ou mal-estar e, consequentemente, envolver algum
custo” percebido pode ou não envolver sentimentos grau de sofrimento e bem-estar pobre. A associação
desagradáveis, no entanto, quando eles estiverem da doença ao bem-estar pobre não se caracteriza
atrelados a um componente subjetivo, ele passa a ser somente pela ausência de equilíbrio orgânico, mas,
denominado estado de sofrimento. também, por diminuir a resistência ou aumentar a
A saúde física não requer somente que o animal susceptibilidade do animal a patógenos e a efeitos
esteja livre de lesões e infecções, que lhe garantam adversos. Portanto, tendo o bem-estar uma cone-
a sobrevivência e a reprodução, ele deverá estar xão importante e complexa com as patologias, o
livre também de perturbações fisiológicas menos bem-estar adequado e a proteção contra doença
óbvias, potencialmente capazes de comprometer podem ser alcançados com respostas mentais e
a sua higidez. A saúde psicológica é de igual impor- comportamentos positivos facilitados pelo apoio
tância, todavia, é mais difícil determiná-la com pre- social intra e multiespecífico.
Referências Bibliográficas
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nes on the recognition of pain, distress and Science, v. 13, p. 1-61, 1990. of view: Motivation, fitness, and animal
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an hypothesis for assessment. Veterinary GODALL, J. In the Shadow of Man. Boston: 13, p. 1-61, 1990.
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SINGER, P. Vida ética: os melhores ensaios BROOM, D. M. Assessing welfare and su- relation to pathology. Applied Animal
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Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. 420 p. 117-123, 1991.
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CHAPMAN, R. C. On the neurobiological ba- DUNCAN I. J. H. Animal rights-animal Animal Behaviour and Welfare. 4.ed.
sis of suffering. In: DAWKINS, M. S. From an welfare: a scientist’s assessment. Poultry Oxfordshire: CABI International, 2007.
animal’s point of view: motivation, fitness, Science, v. 60, p. 489-499, 1981. 438p.
Dados do Autora
Gerenciamento de
projetos para condução
do agronegócio
Introdução realizadas conforme planejado, atacando sempre os
Uma informação fundamental para o Gerencia- desvios e retardos, o gerente de projetos precisa fa-
mento de Projetos no setor do Agronegócio ou em zer um constante exercício de antecipação de futuras
qualquer outro é a definição exata do termo “Projeto”. possibilidades de falha, para minimizar os desvios ao
Muitas atividades que desempenhamos em nossas plano. A pressão para o cumprimento da meta é per-
carreiras fazem parte de projetos, mas outras não manente. Se, durante a execução do projeto, ocor-
podem ser tratadas com o mesmo enfoque. A prin- rem atrasos, estouro de orçamento, problemas téc-
cipal característica de um projeto é sua limitação no nicos etc., a pressão pode atingir níveis alarmantes.
tempo: todo projeto tem um início e um fim. Não Mesmo quando está “tudo em dia” não pode
existe projeto com duração indeterminada ou que haver esmorecimento, pois fatos novos podem sur-
dure para sempre. Alguns são definidos a partir de gir (por exemplo, concorrência ou legislação). Para
uma data inicial, outros são guiados por uma data piorar, a lei de Murphy encontra no ambiente de pro-
final, mas sempre uma dessas informações estará cla- jetos o seu hábitat natural. Por tudo isso, gerenciar
ramente definida. Um projeto sempre tem objetivos projetos é uma tarefa para profissionais experientes
claramente definidos e tangíveis. Esses objetivos po- e com um perfil adequado.
dem incluir a construção de uma unidade produtiva, De maneira ampla, podemos dizer que o pro-
o desenvolvimento de um sistema de melhoramento cesso de gerenciamento de projetos se baseia nos
genético e ou a realização de uma análise financeira seguintes pilares:
de uma fazenda. O projeto somente estará concluído 99 Estabelecimento da meta (objetivos + prazos
quando seu produto ou serviço for produzido. + valores).
Um projeto também envolve um conjunto 99 Estabelecimento do escopo (descrição do
determinado de recursos humanos, financeiros e que vai ser efetivamente produzido).
materiais que devem ser otimizados para atingir 99 Divisão do projeto em etapas.
os objetivos dentro do prazo estipulado. Essa é a
essência da Gerência de Projetos. Assim, uma de-
finição para projeto é: “a utilização coordenada de
recursos humanos, financeiros e materiais dentro
de um período limitado de tempo para alcançar ob-
jetivos tangíveis e únicos”.
Gerenciar projetos
Coordenar o trabalho de
pessoas de diversas áreas
para o cumprimento de pra-
zos, orçamento, lucrativida-
de e especificações técnicas
talvez seja mais trabalhoso,
complexo e estressante do
que o esperado.
Além de conseguir que
as atividades previstas sejam
shutterstock
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012 75
ADMINISTRAÇÃO RURAL
Em cada etapa são executados os seguintes pro- Para alguns tipos de projetos (marketing, trans-
cessos gerenciais: formação organizacional, construção etc.) a porção
I. Inicialização “valores quantitativos” da meta deve ser desdobra-
II. Planejamento da, mostrando, por exemplo, quanto se pretende
III. Execução gastar por mês e por departamento. O cumprimen-
IV. Controle to dessas metas intermediárias passa a ser igual-
V. Encerramento mente importante para garantir que a meta total
Os processos abrangem nove áreas de conheci- seja atingida.
mento: escopo, tempo, custo, qualidade, integração,
recursos humanos, suprimentos / contratação, co- Escopo e Cronograma
municação e riscos. O escopo do projeto (descrição do que vai ser
Portanto, gerenciar um projeto é executar os feito) é o detalhamento do objetivo gerencial pre-
processos gerenciais sobre as nove áreas de conhe- sente na descrição da meta e, geralmente, costuma
cimento, durante o seu ciclo de vida, para atingir a ser representado pela Estrutura Analítica do Projeto
meta preestabelecida. Por estar inserido no ambien- (EAP). É a partir da análise dos níveis mais baixos
te da organização, muitas vezes o gerente do projeto da Estrutura de Divisão do Projeto (denominados
necessita se envolver com áreas contíguas, tais como “pacotes de trabalho”) que é criado (Figura 1) o cro-
planejamento estratégico e gerenciamento da pro- nograma do projeto.
dução ou de operações rotineiras.
Horta
Fazer
a horta
Preparar Preparar
a terra Insumos
Construir sistema
de irrigação
Instalar Instalar
Figura 1. Exemplo de canos bomba
detalhamento de um projeto.
Dados do Autor
Anestesiologia Veterinária
Farmacologia e Técnicas. Texto e Atlas.
Abril Maio
Zootec 2012 Patologia Clínica
Data: 13 a 18 de maio Veterinária
Local: Cuiabá-MT Data: 13/9 a 13/10
Maiores Informações: Local: São Paulo (SP)
http://zootec2012.com Maiores Informações:
AveSui América http://www.ibvet.
Latina 2012 com.br/Front/Turmas.
Data: 2 a 4 de abril aspx?codigo=14
Local: São Paulo (SP)
Maiores Informações:
www.avesui.com
II Seminário Nacional
Procedimentos para
de Ensino de
Zootecnia Novembro
a Implementação do Data: 14 a 16 de maio
Sistema HACCP na Local: Centro de Eventos
Indústria de Carnes Pantanal
Data: 23 a 26 de abril Mais Informações:
Local: Campinas (SP) www.cfmv.gov.br
Maiores Informações:
www.ital.sp.gov.br/ctc/ Congresso
Internacional da
Ao ESPECIALISTA estará
reservado maior
sucesso profissional?
O médico veterinário é um profissional com vel para fundamentar qualquer aspiração ao título e
formação eclética, capaz de gerar e aplicar conhe- atividades como especialista.
cimentos técnico-científicos, tendo uma sólida for- Trata-se de um ledo engano achar que os
mação generalista: tratamento das enfermidades e especialistas restringem sua ação à área de espe-
dos traumatismos que afetam os animais; prevenção, cialidade. Muitos são os casos apresentados em
controle e erradicação de agravos à saúde animal comorbidade, exigindo do profissional especialista
e zoonoses; controle da sanidade dos produtos e a capacidade de diagnosticar doenças que não
subprodutos de origem animal para o consumo hu- fazem parte de sua área de interesse/estudo ou es-
mano; desenvolvimento de pesquisas em diversos tará fadado a conviver com incertezas e aos erros de
campos da saúde humana e veterinária, entre outros. diagnóstico e tratamento.
Atualmente, na Medicina Veterinária, assim Vale lembrar que a condição de especialista
como na medicina humana, a procura pela especia- ainda é incipiente em nosso país. São poucas as asso-
lização ocorre cada vez mais precocemente. Desde ciações e colégios que estão aptos a outorgar o título
a graduação, muitos estágios e cursos extracurri- de especialista. Entretanto, proliferam cursos de es-
culares são realizados em áreas específicas como, pecialização latu sensu que conferem ao aluno apro-
por exemplo, a cardiologia veterinária. O acadêmico vado o título de especialista em determinada área.
acredita que ao profissional especialista estará reser- No Brasil, a RESOLUÇÃO Nº 935, de 10 de dezem-
vado maior sucesso profissional e que poderá ofertar bro de 2009, dispõe sobre a Acreditação e Registro
um serviço de melhor qualidade aos seus clientes. de Título de Especialista em áreas da Medicina
Como consequência, negligenciam a formação ec- Veterinária e da Zootecnia, no âmbito do Sistema
lética, preconizada nos projetos pedagógicos, cuja CFMV/CRMVs, e considera que compete ao CFMV a
concepção fundamenta o alicerce da vida profissio- concessão do valor prático-profissional aos títulos
nal, até mesmo como um futuro especialista. de especialista conferidos por sociedades, associa-
A pergunta, então, é: quando e como eu devo me ções ou colégios.
especializar? É importante lembrar que para cami- Em minha área de atuação,
nhar primeiramente é preciso aprender a engatinhar. a cardiologia veterinária, com
Considero que a vivência, traduzida pela experiência frequência, surgem cursos que
na clínica, de pelo menos dois anos, seja imprescindí- prometem aprendizado rápido,
Atividade especializada em laboratório de doenças infecciosas de animais é uma atribuição do Médico Veterinário.
alguns durando um final de semana. A sedimenta- diográficos por mês. Atualmente, dados remetem a
ção do aprendizado torna-se impossível. Cito como cerca de 400 exames. Com frequência, nos depara-
exemplo, nessa área de especialidade, que os médi- mos, nos dias atuais, com colegas que sobrevivem
cos veterinários que querem atuar no diagnóstico exclusivamente da especialidade que praticam, o
de enfermidades, devem ter em mente que para a que era inimaginável até pouco tempo atrás.
realização de um ecocardiograma de bom padrão, é Também, colegas adquiriram o hábito do encami-
imprescindível ao profissional passar por uma curva nhamento de casos para aprimoramento diagnóstico
de aprendizado, que consiste no acompanhamento, e, não é raro que proprietários busquem por conta
realização e interpretação de exames sob supervisão própria o serviço de um especialista. Nesses aspectos,
de profissional experiente, por período nunca infe- e considerando o cenário econômico favorável do
rior a seis meses. Brasil, o número crescente de médicos veterinários
É inegável que o mercado de trabalho para o es- que entram no mercado de trabalho anualmente e os
pecialista encontra-se valo- animais domésticos cada vez mais presentes nos lares
rizado e em expansão. brasileiros, espera-se aumento da demanda e da pro-
Há cerca de 10 anos cura pelo profissional especialista.
eram realizados nos Diante do exposto, concluímos que a especiali-
centros diagnósticos zação é um passo importante para o desempenho e
da cidade de São Pau- afirmação profissional, uma vez que a segmentação
lo, em média, 100 do conhecimento em áreas específicas permite o
exames ecocar- aprofundamento de informações e experiências valio-
sas. Entretanto, o caminho da especialização somente
deverá ser trilhado após a sedimentação de conheci-
mentos fundamentada em bases amplas que abran-
gem todo um conjunto geral e essencial de saber.
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Mudou-se Falecido
Desconhecido Ausente
Recusado Não Procurado
Endereço Insuficiente
Não existe o nº indicado Sede do CFMV:
Informação escrita pelo Sia - Trecho 6 - Lotes 130 e 140
porteiro ou síndico Brasília-DF - CEP: 71205-060
Reintegrado ao Serviço Postal Fone: (61) 2106-0400 - Fax: (61) 2106-0444
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