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A radiografia foi o resultado da pesquisa do médico Manuel Dias de Abreu – vem daí o nome popular de “abreugrafia”. Doutor Manuel estudou
durante muitos anos uma forma de radiografar órgãos do corpo humano e, em 1936, criou o sistema que permitia gerar imagens do pulmão por
meio de chapas radiográficas.
A abreugrafia foi inventada pelo médico brasileiro Manoel Dias e ajudou a salvar milhares de pessoas da tuberculose. Imagem: Revista Brasileira de Tuberculose.
Já a máquina de escrever foi uma criação do padre Francisco João de Azevedo, que teve a ideia de adaptar um piano de 24 teclas para que ele
pudesse imprimir letras em um papel.
O câmbio automático foi desenvolvido pelo engenheiro mecânico
José Braz Araripe. Ele criou o protótipo e o projeto do câmbio em 1932.
Falaremos mais sobre ele neste e-book.
O padre paraibano Francisco João de Azevedo criou a primeira máquina de escrever no século 19.
Imagem: Unisinos.
Mas essa polêmica fica para outra ocasião, pois o brasileiro Pai da Aviação tem mais duas
realizações notáveis em seu currículo. Santos Dumont foi o responsável pelo surgimento do
relógio de pulso e o dono do primeiro veículo com motor a combustão a rodar em
terras brasileiras.
O Brasil sempre teve grandes inventores e visionários. Isso sem considerar que milhares
de engenheiros e empresários nascidos ou estabelecidos no país trabalham na indústria
automotiva em todo o mundo, gerindo projetos e desenvolvendo novas tecnologias para
a indústria da mobilidade humana.
O pedido de Santos Dumont para Louis Cartier foi um modelo
de relógio que ficasse fixo no braço e facilitasse o controle das horas.
Assim nascia o relógio de pulso. Imagem: Watchtime.
O que falta é torná-los mais conhecidos e reconhecidos pelas suas contribuições ao mundo automobilístico. Essa é a proposta deste e-book SABÓ.
Conheça alguns empresários e inventores brasileiros que ajudaram a escrever a história do automóvel no Brasil e no mundo.
SANTOS DUMONT
Alberto Santos Dumont passou sete meses em Paris, onde realizou o primeiro voo pilotado e registrado. Imagem: Amaro Aviation.
Em novembro de 1891, desembarcava no porto de Santos (SP) o primeiro automóvel. O veículo era um Peugeot Type 3 Vis-à-Vis, trazido de navio
na bagagem do brasileiro Alberto Santos Dumont. Equipado com um motor a gasolina de dois cilindros, capaz de desenvolver 3,5 cv de potência,
o modelo alcançava a velocidade máxima de 18 km/h.
Santos Dumont comprou o veículo naquele mesmo ano, durante uma viagem com a família à França, viagem esta que durou sete meses. Com
pouco mais de 18 anos e já demonstrando paixão pelos automóveis, o então jovem inventor chegou a visitar a fábrica da Peugeot, na cidade de
Valentigney, uma pequena comuna a quase 500 km da capital francesa, para fechar o negócio.
O próprio Pai da Aviação relata em sua autobiografia: Os meus balões, que as máquinas terrestres serviram para ele adquirir muitos conhecimentos:
“Daí em diante, tornei-me adepto fervoroso do automóvel. Entretive-me a estudar os seus diversos órgãos e a ação de cada um. Aprendi a tratar e
consertar a máquina. (...) Minha experiência de automobilista serviu muito para as minhas aeronaves”.
Além do Peugeot Type 3, que trouxe pessoalmente ao Brasil quando retornou daquela viagem, Santos Dumont importou ainda outro modelo
da marca: um Phaeton Type 15, ano 1897.
Santos Dumont e seus familiares a bordo dos primeiros carros da cidade de São Paulo em frente ao casarão da família. Imagem: Acervo do Museu da Energia de São Paulo.
O Type 15 também tinha motor de dois cilindros, mas rendia 8 cv – mais que o dobro do Type 3. O curioso é que esse propulsor não possuía velas,
e sim barras de metal que se aqueciam até ficarem incandescentes.
Mais tarde, outros dois veículos chegaram ao Brasil. Um veio para São Paulo trazido pela família do fundador da Polícia Militar paulista, Tobias
de Aguiar, e o outro ficou no Rio de Janeiro, encomendado pelo jornalista José do Patrocínio.
O curioso é que nenhum desses três automóveis foi o primeiro a ser registrado no país. Essa primazia coube ao conde Francesco Matarazzo, que
recebeu a placa P-1 (esse P indicava que era um carro particular) em 1900.
A família Matarazzo a bordo do primeiro carro a ser registrado em São Paulo. Ele pertenceu ao conde Francesco Matarazzo
e recebeu a placa número 1, em 1900. Imagem: Antigos Verde Amarelo.
Santos Dumont e Louis Cartier eram amigos na época. Conversando Em 1930, Américo Emilio Romi e seu enteado, Carlos Chiti, criaram
sobre suas aventuras aéreas, Dumont reclamou da dificuldade de uma pequena oficina mecânica, a Garage Santa Bárbara. A pequena
se usar o relógio de bolso. Explicou ao relojoeiro que tinha que tirar oficina ficava na cidade de Santa Bárbara d’Oeste, município da
a mão do volante e os olhos da direção por demasiado tempo, região de Campinas, a 138 km da capital paulista.
já que tinha que consultá-lo, olhando para baixo.
AMÉRICO EMILIO ROMI Pois foi a Romi, sob o comando de Emilio Romi e de Carlos Chiti, a responsável
pelo primeiro carro feito no Brasil: o Romi-Isetta. Até então, os veículos que
circulavam no país eram importados ou modelos trazidos sob a formato de CKD e
montados em oficinas das marcas no Brasil.
Obstinado, Amaral Gurgel realizou seu sonho de fabricar um veículo 100% nacional. Um sonho
que se desfez depois de 26 anos de persistência. Imagem: Gurgel Clube de SP.
Um marco importante na história da Gurgel foi a invenção patenteada do sistema de chassi chamado Plasteel. Esse mecanismo misturava plástico e
aço. O uso do Plasteel foi inovador e gerou um novo nicho de mercado.
Outro fato notável e histórico foi a produção do Gurgel Xavante, um icônico carro usado até pelas Forças Armadas. No início dos anos 1970, o Exército
Brasileiro comprou um grande lote da versão militar do Xavante.
Gurgel Xavante, um veículo adotado pelo Exército Brasileiro. Imagem: Gurgel Clube de SP.
Em julho de 1973, após o enorme sucesso dos primeiros produtos, Gurgel decidiu expandir sua fábrica, adquirindo uma grande área em Rio Claro,
para construir uma planta maior.
Ao longo das quase três décadas de existência da montadora, o Xavante teve algumas variações. Em todas elas, a peça-chave era o chassi Plasteel.
Diante desse desafio, Gurgel partiu para o projeto que se tornou quase
um símbolo da empresa: o carro elétrico Itaipu E150. O veículo recebeu
esse nome para homenagear aquela que seria a maior usina hidrelétrica
do mundo, construída entre 1975 e 1982.
Visionário, Amaral Gurgel lançou o carro elétrico Itaipu E150 em 1974. O veículo tinha espaço apenas
para o condutor e um único passageiro. Imagem: Commons/ Wikimedia.
O projeto inicial consistia em um furgão com velocidade máxima de
30 Km/h, que depois foi alterado para 60 Km/h nas versões finais. A
autonomia era de 50 Km, com 10 horas de recarga. Em valores atuais,
o veículo custaria o equivalente a R$ 60 mil.
Com preço de 3 mil cruzados (moeda vigente à época), o veículo podia ser comprado apenas adquirindo-se ações da própria Gurgel. Na prática,
a empresa buscava meios de se capitalizar, algo que ocorreu com as 8 mil unidades vendidas.
Nos anos 1990, a aposta da Gurgel em veículos populares encontraria forte concorrência. O governo de Fernando Collor de Mello abriu o mercado
nacional, isentando de IPI os veículos com motorização 1.0 litro.
A inovadora montadora brasileira vendeu 40 mil carros de 20 modelos diferentes. E ainda criou diversos protótipos que não chegaram a sair do
papel ao longo de sua trajetória, entre 1969 e 1996.
A Ibap era uma empresa 100% nacional e sua meta de produção era bem
ambiciosa: 350 carros por dia. Era uma marca impressionante para o ano
Em outubro de 1963, Nelson (de óculos escuros na foto) fundava a Ibap - Indústria Brasileira de de 1968, pois era o que a Volkswagen produzia diariamente, somando-se
Automóveis Presidente. Suas instalações ocupariam um terreno de mais de 1 milhão de metros
quadrados na cidade de São Bernardo do Campo. Imagem: Antigos verde amarelo.
o Fusca e a Kombi.
* Esse mesmo formato de capitalização da empresa seria usado, posteriormente, por João Gurgel na criação da Gurgel Motores e,
mais recentemente, por Elon Musk, empresário sul-africano-canadense, naturalizado estadunidense, que usou a mesma estratégia
para criar a Tesla, fabricante de veículos elétricos.
Como os modelos da Ibap teriam projetos 100% brasileiros, a empresa não teria que pagar royalties a nenhuma empresa estrangeira. Isso a tornaria
mais lucrativa que qualquer uma das montadoras concorrentes instaladas no país e seus veículos seriam mais baratos e atraentes.
O veículo popular deveria ser o primeiro modelo fabricado, mas uma inversão fez o Democrata passar à frente. A carroceria feita de plástico
reforçado com fibra de vidro permitiria o início imediato da produção do Democrata. Não havia a necessidade de um demorado e caro
desenvolvimento de ferramental para prensar as chapas metálicas, que o carro popular demandava.
O luxuoso Democrata poderia ter duas ou quatro portas, motor italiano (o único componente não nacional, fornecido pela Procosautom –
Proggetazione Costruzione Auto Motori), com cabeçotes de fluxo cruzado confeccionados em alumínio e montados na traseira interior, com
revestimento de madeira jacarandá.
Além disso, a companhia foi alvo de uma CPI, por suspeita de golpe
nos investidores, e um lote de 500 motores provenientes da Itália foi
apreendido pela Receita Federal, sob alegação de contrabando.
A Ibap foi investigada pela Polícia Federal e pelo governo militar. A empresa de Nelson Fernandes fechou após ser indiciada pelo crime de “coleta
irregular da poupança popular sob falsa alegação de construir uma fábrica de automóveis”.
ROGÉRIO FARIAS
Em agosto de 1996, com o primeiro veículo finalizado, o desafio era torná-lo um modelo viável em escala comercial. Rogério tinha vendido outra
fábrica que possuía e tinha US$ 1 milhão em caixa. Investiu toda a quantia na produção dos primeiros carros.
Em 2007, a Ford comprou a marca e assumiu o controle da Desde sua concepção, os veículos Troller tinham um público-alvo definido: os amantes das trilhas off-road e ralis.
produção da Troller. Na época, Rogério Farias não tinha mais Imagem: Pingback.
Em janeiro de 2021, a Ford anunciou o fim de toda e qualquer atividade industrial no país, arrastando junto a Troller. Com isso, o último T4 foi
produzido e se encerrou mais uma página da história do automobilismo no Brasil: o esforço para ter um carro 100% nacional.
Além do 4x4 Troller, Rogério também desenvolveu lanchas, um carro anfíbio e dois Bugues, o Fyber 2000 e o Fyber 3000. Hoje, o empresário ainda
vive no Ceará e desenvolve elevadores e peças para parques de energia eólica. Mas essa já é outra história.
O engenheiro e professor do CTA Urbano Ernesto Stumpf desenvolveu a tecnologia que permitiu aos automóveis
rodarem com etanol. Imagem: Força Aérea Brasileira.
O motor movido a álcool é fruto das pesquisas de um engenheiro brasileiro, o gaúcho Urbano Ernesto Stumpf. Foi ele que desenvolveu para o
governo a tecnologia que permitiu aos automóveis rodarem com o álcool hidratado, hoje conhecido como etanol.
O carro a álcool surgiu no final da década de 1970 como alternativa à crise do petróleo. E tornou o Brasil autossuficiente num combustível que
apenas nosso país utiliza em larga escala, inclusive adicionado à gasolina. Hoje em dia, a gasolina recebe cerca de 25% de etanol anidro em sua
composição para uso em automóveis.
O carro a álcool foi um marco para a indústria automobilística nacional. A tecnologia não se limitou ao veículo de passeio. Diversas montadoras
lançaram caminhões leves e médios com motores movidos a álcool.
Durante a crise do petróleo de 1973, diversos países tiveram que racionar o uso de combustíveis fósseis. O Brasil foi impactado da mesma forma que
os grandes mercados consumidores, mas, ao contrário destes, decidiu buscar um caminho um tanto radical: criar um combustível alternativo.
O Governo Federal, presidido pelo general Ernesto Geisel, determinou que houvesse uma opção à gasolina refinada pela Petrobrás.
O Dodge Polara da foto e mais dois veículos, um VW Fusca e um Gurgel Xavante, percorreram 8.500 km testando o motor a álcool desenvolvido pelo CTA. Imagem: Antigos Verde Amarelo.
Em 1979, o Fiat 147 se tornou o primeiro automóvel do mundo produzido em série movido 100% a álcool. Outros vieram no começo dos anos 1980
e o mercado chegou a ter mais de 90% das vendas de carros movidos por essa fonte de energia, ecológica e nacional.
Urbano Ernesto Stumpf morreu em 1998, aos 79 anos, sem ter visto Em 1921, o canadense Munro Alfred Horner também registrou um
o surgimento do carro flex, tecnologia nacional que unificou etanol mecanismo com funcionamento pneumático, mas sua solução não
e gasolina dentro dos motores. Hoje, 95% das vendas de automóveis funcionava tão bem na prática. A transmissão automática inventada
no país são de automóveis e comerciais leves que utilizam por Horner foi patenteada em 1923 e usava ar comprimido em vez de
regularmente tanto o álcool quanto a gasolina. fluido hidráulico. Por isso, sua invenção não tinha potência e nunca
encontrou aplicação comercial.
JOSÉ BRAZ ARARIPE E FERNANDO LEHLY LEMOS
A primeira transmissão automática usando fluido hidráulico foi
desenvolvida em 1932 pelos dois engenheiros brasileiros, que viviam
nos Estados Unidos.
Reprodução de anúncio publicitário apresentado pela General Motors para o lançamento do Oldsmobile com câmbio automático.
Imagem: Arquivo GM.
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