Você está na página 1de 53

apresenta

SALA 1

Bibliografia do Autor
Antoine de Saint-Exupéry

Da Latécoère/Aéropostale
à Air France

Cliquez ici pour le


contenu en français
Em 1918, um industrial arrojado da
cidade de Toulouse (França), Pierre
Georges Latécoère, criou uma com-
panhia de correio aéreo. O ano coin-
cidia com o final da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918).

Nesse terrível conflito (quase 10 mi-


lhões de mortos), o avião foi usa-
do como arma pela primeira vez e
Latécoère tinha fabricado centenas
dos modelos Breguet 14. Sua ideia
foi de dar funções civis àqueles
aparelhos.

Levar passageiros era quase impos-


sível: aviões pequenos, de cabine
aberta, sem muita tecnologia. Mas o
correio era outra coisa. A Linha de
Latécoère empregou muitos dos jo-
vens pilotos e mecânicos que esta-
vam desocupados depois da guerra.
A Linha prosperou e, mais tarde, em
1926, Antoine de Saint-Exupéry en-
trou para o quadro de funcionários
da empresa.

Nos planos de Latécoère estava


desenvolver o correio também na
América do Sul, onde isso não exis-
tia. Em 1924 ele mandou equipes
para estudar as possibilidades, e em
1925 organizou um raide do Rio de
Janeiro até Buenos Aires com três
aviões Breguet 14. Obviamente, es-
ses aviões não vieram voando para o
Brasil, mas desmontados, de navio.

O raide, que ocorreu em 14 de ja-


neiro, foi um sucesso que os jornais
noticiaram amplamente. Mesmo as-
sim, as dificuldades burocráticas que
Latécoère encontrou o desanimaram
e em 1927 ele acabou vendendo 95%
das ações da sua companhia para
outro empresário francês, Marcel
Bouilloux-Lafont. Este último pratica-
mente morava no Brasil e rebatizou
a linha como Compagnie Générale
Aéropostale (CGA), mais conhecida
por Aéropostale.

Voo de avião da Aéropostale sobre o Brasil (anos 1920)


Arquivo Fundação Latécoère
Latécoère se dedicaria mais à cons-
trução de aviões e é por isso que os
aparelhos da Aéropostale tinham o
nome “Laté 25”, “Laté 26” etc. Foi
nesta segunda etapa e sob a direção
de Bouilloux-Lafont que toda a infra-
estrutura sul-americana foi implanta-
da. Só no Brasil foram 11 escalas, de
Natal até Pelotas.

Voo de avião da Aéropostale sobre o Brasil (anos 1920)


Arquivo Fundação Latécoère
A importância da Latécoère-Aéro-
postale está ligada à história da avia-
ção no século 20. Seus feitos foram
eternizados graças aos escritos de
Antoine de Saint-Exupéry. E na épo-
ca a Aéropostale foi a linha mais ex-
tensa companhia aérea do mundo
(entre 1920 e 1930).

Fábrica de aviões Latécoère em Toulouse (anos 1930)


Arquivo Fundação Latécoère

Apesar de toda a sua imponência,


a empresa não resistiu à crise mun-
dial causada pelo crash da bolsa de
Nova York em 1929 e já em março de
1931 entrou em liquidação. Depois,
em 1933, ela foi adquirida por outras
quatro companhias francesas que já
estavam fusionadas. As cinco com-
panhias se tornaram, então, a Air
France, que trilha os céus do mundo
até hoje.

Mapa da escala do Rio de Janeiro da Air France, conforme era da Aéropostale


Arquivo: Museu Air France
apresenta

SALA 1

Bibliografia do Autor
Antoine de Saint-Exupéry

O que aconteceu com


Saint-Exupéry?

Cliquez ici pour le


contenu en français
Por anos especulou-se a razão do
desaparecimento do piloto-escri-
tor Antoine de Saint-Exupéry. Como
nada foi encontrado desde a manhã
de 31 de julho de 1944 em que ele
saiu para uma missão de reconheci-
mento sozinho no comando de um
Loockheed Lightning P-38, seu fim
permaneceu uma incógnita por 54
anos e deu margem a toda sorte de
especulação, entre as quais a des-
propositada ideia de que ele teria se
suicidado.

A descoberta do bracelete de prata


de Saint-Exupéry em 1998 aconteceu
por obra do acaso. O achado possui,
entretanto, a autoria do grupo de pes-
cadores de Jean Claude Bianco e de
funcionário Habib Benamor, que en-
controu o objeto calcificado. Tratava-
se, de fato, de um bracelete com que
o Saint-Exupéry fora fotografado ao
menos duas vezes; era um presente
da parte de seus editores americanos
Reynal e Hitchcock. A partir dessas
pistas, foi possível ao arqueólogo ma-
rinho Luc Vanrell, autor de importan-
tes descobertas, localizar os destro-
ços do avião pilotado pelo escritor.
A região era a do arquipélago da
ilha de Riou, no mar Mediterrâneo,
sul da França; um verdadeiro “cemi-
tério de aviões” da Segunda Guerra.

Em 2003, os destroços foram reti-


rados da água e formalmente reco-
nhecidos como sendo os do avião
de Saint-Exupéry e somente 5 anos
mais tarde é que um ex-combatente
alemão, Horst Rippert, se declarou
como autor do tiro que o destruiu.
Embora num primeiro momento as
evidências se mostrassem escassas,
com o tempo foi possível reconstituir
os fatos: Saint-Exupéry voava a bai-
xa altitude e pouca velocidade na-
quela região, certamente retornando
para sua base na Córsega (dois do-
cumentos alemães confirmam que
suas equipes de caça baseadas na
cidade francesa de Aix-em-Provence
abateram um avião francês perto do
meio-dia em 31 de julho). Os motivos
desse voo baixo e oscilante restarão
desconhecidos, mas provavelmente
se devia a uma pane de motor ou pro-
blema mecânico que obrigaram o pi-
loto a abortar sua missão de reconhe-
cimento sobre Grenoble ou Annecy
(próximo à fronteira da França com
a Suíça).

Em 2009, houve um encontro históri-


co entre Horst Rippert e o sobrinho e
afilhado de Antoine de Saint-Exupéry,
François Giroud d’Agay, filho da irmã
mais nova do piloto, Gabrielle d’Agay
(única a deixar descendentes). Foi um
encontro de perdão, pois Rippert con-
fessara ter se iniciado na carreira de
aviador incentivado pela leitura das
obras de Saint-Exupéry. Ele não po-
dia imaginar quem pilotava o avião e
apenas cumpriu sua missão de piloto
de caça. François d’Agay, que lutou
do lado da resistência francesa, per-
doou plenamente Horst Rippert para
que este pudesse libertar sua consci-
ência e terminar em paz os seus dias.
Rippert faleceu em 2013 e François
d’Agay, nascido em 1922, vive atual-
mente na mesma casa de família que
foi de seus pais, na Côte d’Azur, ci-
dade de Agay.
Saint-Exupéry em seu uniforme de capitão
Toulouse-1939 - Arquivo Succession Saint-Exupéry-d’Agay
apresenta

SALA 1

Bibliografia do Autor
Antoine de Saint-Exupéry

Saint-Exupéry
e seu Cachimbo

Cliquez ici pour le


contenu en français
Um radiotelegrafista da Aéropostale
chamado Paul-Henri Dissac deixou
uma espécie de diário de seus voos
pelo Brasil com os pilotos que aqui
operavam. Esse diário só foi redes-
coberto em 2011 e publicado como
livro: Un pionnier sans importance
(Um pioneiro sem importância). Entre
as histórias (quase todas divertidas)
que ele conta sobre os voos postais
entre Buenos Aires e Natal, ida e vol-
ta, há uma imperdível sobre Antoine
de Saint-Exupéry. Seguem seus me-
lhores trechos traduzidos:

Mas então, no terceiro dia (em


Buenos Aires), fui acordado por
volta das cinco da manhã. Batiam
na minha porta informando que
tinham vindo me buscar para par-
tir imediatamente ao Rio fazer o
BAIRIO (Buenos Aires-Rio) com
Saint-Exupéry, porque o radiote-
legrafista Prunetta, que estava
programado para essa partida,
não tinha sido encontrado.

Mal sabia eu, em 7 de maio de


1930, quando subi na cabine do
Laté 26, F-AILL para me sentar
como um sapo na poltroninha de
vime em frente ao rádio, que ia
voar com um homem que logo se
tornaria famoso. Eu ainda não ha-
via voado com Antoine de Saint-
Exupéry, mas confiava totalmente
nele. Era um homem gentil; não
havia nada da coragem alarde-
ada ou do orgulho excessivo de
alguns de seus colegas, para os
quais isso muitas vezes era um
perigo. Com ele, ao contrário, a
tendência de sonhar acordado é
que poderia ser um perigo. Ele
tinha um ar ligeiramente distan-
te, o olhar sonolento e inexpres-
sivo que, quando falava com a
gente, olhava para longe como
se estivesse sonhando porque,
como soubemos depois, ele era
um pensador.

Estávamos voando há mais de 25


minutos desde que decolamos de
Pacheco. (...) A visibilidade hori-
zontal era praticamente nula com
a garoa. Não dava para ver nada
na água, nem barco, nem canoa e
menos ainda a linha costeira. (...)
Meu relógio, o único instrumen-
to de navegação que eu tinha,
me mostrava que havíamos des-
viado ou que não estávamos na
rota habitual. Eu esperava o mo-
mento em que, mudando o curso
para a esquerda, Saint-Exupéry
se dignaria a fazer o reconhe-
cimento da costa uruguaia, que
simplesmente teríamos de seguir
para chegar a Montevidéu, nos-
sa primeira escala.

Naquele Laté 26, aberto aos qua-


tro ventos, inclinado para frente
sobre o meu rádio, eu mantinha
contato com a estação à esquer-
da, Pacheco, de onde tínhamos
acabado de sair, e com a es-
tação do aeródromo de Pando
(Montevidéu), para onde nos
dirigíamos.

Saint-Exupéry fumava um cachim-


bo e, de vez em quando, o vento
da hélice soprava a fumaça na
minha direção; era um trem de
faíscas que eu recebia no crânio
porque, para evitar que viesse di-
reto na minha cara, eu me abai-
xava rapidamente sob o para-bri-
sa minúsculo. Saint-Exupéry, um
metro e meio à minha frente, na
sua cabine, protegido atrás do
triângulo do seu para-brisa, não
parecia preocupado com a rota.
Talvez ele estivesse meditando so-
bre algum capítulo do seu próxi-
mo romance - na época, ele escre-
via Voo noturno - e eu temia que
ele estivesse distraído, porque eu
o via frequentemente se abaixar
para escrever ou anotar alguma
coisa num pedaço de papel que
ele devia ter no colo.

Não esperei mais e escrevi esta


anotação: ‘Estamos navegando
ao longo do rio há uma hora e,
se o senhor não virar 90° para a
esquerda, vamos para o mar’.
Dobrei meu bilhete na mão di-
reita, levantei-me sobre o capô
de metal que separava nossas
duas cabines e bati nas costas
de Saint-Exupéry. Ele se virou e
pegou meu bilhete. Voltei à mi-
nha cabine e o observei. Usando
a luz da lanterna, ele leu meu
bilhete. Inclinou a cabeça para
olhar para baixo, por cima da
lateral, depois se inclinou para
frente para olhar atentamente a
bússola e imediatamente inclinou
o avião para a esquerda. Ele es-
tava virando. Respirei aliviado!

Paul-Henri Dissac
Paul Henri-Dissac (à esquerda) na casa de rádio de Florianópolis nos anos 1930.
Acervo Bernard Bacquié
apresenta

SALA 1

Bibliografia do Autor
Antoine de Saint-Exupéry

Saint-Exupéry em
Petrópolis-Itaipava

Cliquez ici pour le


contenu en français
Há muitas anedotas sobre os pi-
lotos da Aéropostale no Brasil, mas
todas têm origem nos fatos históri-
cos. Uma delas que inclui o nome
de Antoine de Saint-Exupéry merece
destaque e começa com uma aven-
tura de um amigo e colega seu, o pi-
loto Marcel Reine. Eles já se conhe-
ciam fazia tempo. Quando Saint-Ex
era chefe da escala Cabo Juby, no
Marrocos, Reine teve um acidente e
precisou aterrissar emergencialmen-
te no deserto. Ele e o engenheiro que
o acompanhava foram sequestrados
pelos mouros. Isso durou de 30 de
junho até 24 de outubro de 1928,
período em que peregrinaram com
a caravana pelo deserto. As condi-
ções foram abomináveis, pois Reine
foi feito escravo. E quem conseguiu
o resgate foi Antoine, que era hábil
negociador e falava até o árabe àque-
las alturas. E haja habilidade: primei-
ro os mouros queriam um milhão de
fuzis, um milhão de camelos e um
milhão de pesetas!

Na América do Sul as coisas eram


diferentes (ainda bem!), mas difí-
ceis também. Proibiam-se mulheres
nas escalas. Ordens do chefão em
Toulouse, que dizia que elas “distraí-
am” os jovens pilotos e mecânicos do
trabalho. E a rotina era dura: horas
de voo em aviões precários, intem-
péries, escalas distantes e sem mui-
ta infraestrutura. Mas uma coisa era
certa: todos adoravam passar alguns
dias no Rio de Janeiro.

Marcel Reine comprou então uma


fazenda em Itaipava, município de
Petrópolis. Uma bela região de cli-
ma mais ameno, que ele compara-
va à França. Deu-lhe o nome de “La
Grande Vallée”. Ali ele convidava os
camaradas da aviação para intensos
dias de folga e diversão. Podiam ca-
valgar pelas florestas, preparar janta-
res e, claro, namorar, porque as mo-
ças podiam ir também. Conta-se que
Saint-Exupéry frequentou essa casa.

Nos dias de hoje, a propriedade, que


não é mais uma fazenda, mas um
lote dela, pertence a José Augusto
Wanderley. Ele conservou a casa
como era e a transformou num redu-
to da memória da Aéropostale e do
Pequeno Príncipe. O nome foi man-
tido, La Grande Vallée, e as visitas
são inesquecíveis, pois Wanderley
tem objetos, miniaturas, livros e uma
decoração com motivos da obra-pri-
ma de Saint-Exupéry. Na frente está
a fonte do Pequeno Príncipe e a praça
com uma homenagem ao seu autor.
O lindo local faz parte do roteiro turís-
tico de Petrópolis e região. A casa faz
parte do roteiro turístico de Petrópolis
e pode ser visitada.

La Grande Vallée - a casa do Pequeno Príncipe de Itaipava


apresenta

SALA 1

Bibliografia do Autor
Antoine de Saint-Exupéry

Saint-Exupéry na Air France

Cliquez ici pour le


contenu en français
A Air France foi fundada em outu-
bro de 1933. Ela é a fusão de cinco
companhias aéreas francesas, entre
as quais a famosa Aéropostale, que
na década anterior chegou a ser a li-
nha mais longa do mundo. Assim, a
Air France retomou a infraestrutura da
antiga CGA (Compagnie Générale
Aéropostale) e reformou o necessá-
rio para dar sequência às operações
de correio e de passageiros.

No Brasil, por exemplo, as antigas


escalas da Aéropostale logo se tor-
naram estações de passageiros da
Air France, bem como as agências
se transformaram em pontos para
envio do correio. Antoine de Saint-
Exupéry, porém, não será contrata-
do como piloto na nova companhia,
conforme aconteceu com a maioria
de seus camaradas.
Fotos da antiga agência da Air France em Florianópolis, que antes era a agência
da Aéropostale, número 5 da Praça XV de Novembro

Àquela altura ele já era um escritor


famoso – seu livro Voo Noturno ha-
via obtido um grande sucesso tam-
bém fora da França. Um filme base-
ado na obra foi feito em Hollywood,
com Clark Gable protagonista: o
Night Flight, realização de Clarence
Brown.

Toque aqui e assista


a um trecho do filme
O sucesso que essa obra garantiu ao
autor também foi motivo de críticas
veladas e abertas. Ele foi acusado de
ter se vangloriado de sua profissão
para fazer fama. Saint-Exupéry sofreu
muito com essas acusações infunda-
das. Um conjunto de fatores fez com
que o piloto ficasse fora dos quadros
da Air France.

No entanto – e para aproveitar seus


talentos inquestionáveis – a nova
companhia o contratou para propa-
ganda em 1934. Nessa condição,
Saint-Exupéry participou das filma-
gens de “Week-end à Alger”, que
promovia o trecho Marselha-Alger.
O sucesso desse documentário curta-
-metragem ensejou a realização de ou-
tro, o Atlantique Sud. O piloto-escritor
não permitiu, todavia, que seu nome
constasse nos créditos. Assim fez com
relação aos textos que escreveu para
a revista Air France.

Mas foi na propagação da vivência


e do conhecimento dos pioneiros
da aviação que Saint-Exupéry pôde
deixar sua maior colaboração à Air
France. Como havia adquirido o
seu avião dos sonhos, um Caudron
Simoun, ele se uniu ao então enge-
nheiro da Air France Jean-Marie Conty
e ao mecânico André Prévot (cedido
pelo antigo chefe da Aéropostale, o
famoso Didier Daurat, agora funda-
dor e dono da companhia Air Bleu),
para um programa de divulgação
das asas francesas. Os três viajaram
pela bacia do Mediterrâneo fazen-
do conferências de salas lotadas.
A eloquência de Saint-Exupéry, na-
turalmente, arrancava aplausos das
plateias, o que ajudava a enaltecer a
Air France. No final de 1935 o piloto-
-escritor já não colaborava com a em-
presa; com seu Simoun Caudron, ele
tentou o raide Paris-Saigon (Vietnã)
que quase terminou numa tragédia.
Mas a sobrevivência do piloto e de
seu mecânico dariam origem às nar-
rativas de uma obra singular e acla-
mada em 1939: Terra dos Homens.

Mapa do percurso de Saint-Exupéry na bacia do Mediterrâneo pela Air France.


Do livro de Bernard Bacquié Saint-Exupéry. Ses Combats (Editons Latrtérales).
Foto cedida pelo autor.

Veja aqui algumas imagens


de filmagens de Saint-Exupéry
apresenta

SALA 1

Bibliografia do Autor
Antoine de Saint-Exupéry

Saint-Exupéry, o inventor

Cliquez ici pour le


contenu en français
Além de sua vocação literária,
Antoine de Saint-Exupéry tem uma
faceta científica. De 1934 a 1941 ele
depositou a patente de 11 invenções
e 4 aditivos com vistas a melhorar
problemas aeronáuticos. Uma des-
sas patentes foi registrada nos EUA.
Outra delas foi sob o pseudônimo
Max Ras.

No início da Segunda Guerra


Mundial, quando Saint-Exupéry in-
corporava o grupo 2/33 e realizava
missões de reconhecimento, o inver-
no foi rigoroso. Ele sugeriu o uso
de uma solução à base de metileno-
glicol para evitar que as metralhado-
ras congelassem durante os voos em
grande altitude – experiência que vi-
venciou. E chegou a abordar as auto-
ridades militares francesas para que
essa descoberta, que atualmente ain-
da se usa, fosse aplicada.

Hoje podemos apreciar suas paten-


tes que prenunciavam o progresso
futuro. Seguem algumas delas.

1934 - Patente nº 795.308


Dispositivo para aterrissagens

Saint-Exupéry descreve um sistema


de luz para auxiliar o pouso às cegas,
medindo constantemente a altura da
aeronave em relação ao solo. Saint-
Exupéry imaginou um feixe de luz
visível, ultravioleta ou infravermelha,
que em baixa altitude desenharia um
disco ou oval no solo. Na parte tra-
seira da aeronave, um sensor óptico
giratório (com uma célula fotoelétri-
ca) mede o diâmetro desse ponto:
quanto menor ele é, mais baixa está
a aeronave. Seria um instrumento di-
fícil de realizar, mas que atenderia
a uma necessidade crucial: avaliar a
altura da aeronave na fase final da
manobra de pouso. Os aviões atu-
ais são equipados com um GPWS
(Ground Proximity Warning System),
cujo principal instrumento é um ra-
dar altímetro.

1937 - Patente nº 836.790


Novo método de aterrissagem

Saint-Exupéry abordou o problema


de aproximação para um campo de
pouso sob baixíssima visibilidade.
Ele criou um sistema de auxílio por
rádio que consiste na instalação de
dois transmissores de rádio, um de
cada lado da área de pouso (na épo-
ca dos campos de grama ou terra,
o termo “aeródromo” era usado em
vez de “pista”). A emissão dos trans-
missores se dá por uma fina escova
giratória e um indicador no painel
de bordo da aeronave que mostra
a posição do campo. Atualmente,
diferentes dispositivos são usados
para essa função. Mas a concepção
do transmissor rotativo ainda existe
no sistema de navegação aérea VOR
(Very high frequency omni-directio-
nal range).

Patente nº 837.676
Gonígrafo

Como traçar uma rota ou um ponto de


referência num mapa? Marinheiros e
aviadores tentaram de tudo. Um nú-
mero surpreendente de instrumen-
tos, mais ou menos engenhosos, foi
inventado: conjuntos de réguas, es-
quadros e controles deslizantes. O
instrumento criado por Saint-Exupéry
era particularmente eficiente, porém
tinha a desvantagem de ser muito
complexo. Ainda assim, é um instru-
mento que se pode classificar como
um dos “ancestrais” dos atuais siste-
mas de navegação utilizados.

Patente nº 838.687
Sistema repetidor de leitura
de aparelhos indicadores
ou de medição

Essa foi uma invenção extraordinária:


um instrumento capaz de centralizar
as indicações de outros instrumen-
tos e reuni-las sob o olhar do piloto.
Para conseguir isso, Saint-Exupéry
projetou um conjunto complicado de
feixes de luz, espelhos giratórios e
células fotoelétricas. Somente com-
putadores e telas planas viriam a re-
solver de vez o problema e possibi-
litar o desenvolvimento do HEAD-UP
DISPLAY, projeção no para-brisas da
aeronave das informações de voo
e de combate necessárias ao piloto
para operar a aeronave.

1938 - Patente nº 850.093


Sistema de sustentação e
propulsão para aviões

O motor foguete! Para melhorar a “ele-


vação” e a “tração” dos aparelhos,
Antoine de Saint-Exupéry pensou em
foguetes, que até já existiam (haja
vista o americano Robert Goddard)
e em outras fontes de energia que
levam à “expansão em um fluido
compressivo”; basicamente um mo-
tor a jato... Em vez de usar apenas
o impulso dessas engenhocas, Saint-
Exupéry fez com que elas soprassem
nas asas ou nos lemes para aumentar
sua eficiência (sustentação e contro-
le a baixa velocidade). A ideia ainda
é usada atualmente.

Patente nº 850.098
Aparelho que traça rotas
para navios e aviões

Este engenhoso dispositivo segue


automaticamente uma rota feita por
uma aeronave ou um navio e conse-
gue traçá-la num mapa. Seu objetivo
era supostamente substituir os dispo-
sitivos “baseados no acionamento de
uma esfera”, que Saint-Exupéry con-
siderava caros, incômodos e pouco
precisos. O piloto-escritor-inventor
simplificou o problema com um me-
canismo de relógio com velocidade
de rotação regulada de acordo com
a da aeronave e que também recebia
mecanicamente indicação de mudan-
ças de curso. Mais tarde, no entanto,
os sistemas com esferas giratórias,
que se tornaram os giroscópios ou
até mesmo unidades inerciais, cum-
pririam eficazmente tal função até
que chegasse o GPS.

1939 - Patente nº 870.607


Novo método de medição por
superposição de curvas
simétricas e aplicação dos
aparelhos indicadores
radiogoniométricos

É uma invenção inteligente que auto-


matiza uma tarefa realizada por hu-
manos. Na radiogoniométrica, um re-
ceptor de rádio sintoniza um receptor
de rádio em determinada frequência
de um dado transmissor específico
(um sinal de rádio) até ouvir-se um
sinal máximo ou mínimo. Quando a
recepção está ruim, fica complicado.
Saint-Exupéry criou um método que
podia ser usado com várias técnicas
(em especial um osciloscópio) para
suavizar ou calcular a média do sinal
e determinar esse mínimo ou máxi-
mo de forma precisa e automática.

Patente nº 861.203

Saint-Exupéry pilotava aviões com


mais de um motor. Quando uma aero-
nave possui dois, três, quatro ou mais
motores, o número de instrumentos
na cabine indicando a rotação por mi-
nuto – RPM do motor, a temperatura
e a pressão do óleo etc. se multipli-
ca. Tudo isso pode ser “centralizado
numa ou mais telas”, explicou Saint-
Exupéry, antecipando em décadas o
que estava por vir. Ele apelou para
a tecnologia da época, com oscilos-
cópios de tubo de raios catódicos e
“geradores de oscilação polifásica”
sincronizados com a rotação de cada
motor.

Patente 861.386
Novo dispositivo para ignição
de motores, principalmente
de aviões

É um acionador de água! Praticamente


não existia eletricidade nos aparelhos
da época. Não havia geradores ou al-
ternadores. Portanto, para dar partida
num motor, fazia-se de tudo: girar a
hélice com a mão, enviar ar compri-
mido para os cilindros, ou usar vo-
lantes pesados que eram girados por
métodos variados. Este último era o
mais eficaz para motores grandes, e
Saint-Exupéry o aperfeiçoou com tam-
bores que podiam ser enchidos com
água para ficarem mais pesados ou
mais leves. Quando no solo, cheios
de água, a potência de partida po-
dia ser maximizada. Em voo, a água
ia sendo evacuada, o que reduzia o
peso da aeronave. Se fosse preciso
reiniciar o motor em voo (coisa co-
mum na época), injetava-se de novo
um pouco de água, pois a hélice é
impulsionada pelo vento relativo, o
que facilitava a partida, demandan-
do menos energia (torque). Era de
fato uma invenção muito inteligente.

1940 - Patentes nº 924.902 e


924.903
Novo método de localização
por ondas eletromagnéticas

Com um conjunto de dois transcep-


tores de rádio, Saint-Exupéry proje-
tou um instrumento capaz de loca-
lizar um ponto de referência, como
uma aeronave, em termos de direção
e até mesmo de distância. O princí-
pio usava eletrônica para girar o sinal
transmitido em até “1.000 rotações
por segundo”. O sinal é emitido por
A, modificado, e retransmitido por
B, depois recebido e analisado por
A. Parece o precursor do transpon-
der que, a bordo de uma aeronave
moderna, retransmite informações
usadas para identificar a aeronave na
frequência do radar que acabou de
localizá-la.
Estudos de Saint-Exupéry sobre a ruptura do ar de uma máquina,
representada como uma aeronave.
N. des Vallières, “Les plus beaux manuscrits de Saint-Exupéry”, La Martinière, 2003
apresenta

SALA 1

Bibliografia do Autor
Antoine de Saint-Exupéry

Voo noturno ou noite adentro

Cliquez ici pour le


contenu en français
Voo Noturno é o segundo livro de
Antoine de Saint-Exupéry, publica-
do em 1931. É também a obra que
o tornará um escritor famoso e acla-
mado dentro e fora da França. Seu
enredo é sucinto, mas carregado de
imagens poéticas que glorificam as
aventuras dos pioneiros da aviação.
Saint-Exupéry, como sempre, escreve
sobre aquilo que viveu. Então, Voo
Noturno é baseado em personagens
reais, em histórias reais que levam
ao conhecimento do público aspec-
tos de uma profissão que ainda era
recente: a de aviador profissional.

Nos dias de hoje, em que a cena é


bem diferente, com aviões cruzando
oceanos e alçando voo aos milhares
todos os dias, Voo Noturno pode ser
lido como um livro de memória de
uma época e da própria história dos
profissionais da aviação.

Voar era coisa arriscada na déca-


da de 1920 (não esqueçamos que
o livro foi escrito em 1930, basea-
do em feitos dos anos anteriores).
Os aviões ainda possuíam cabines
abertas, dispunham de pouca tecno-
logia. Somando isso às intempéries
da América do Sul, onde o clima é
predominantemente tropical, a coisa
ficava muito complicada e era para
gente arrojada mesmo. E assim eram
os pilotos da Aéropostale, entre eles
Saint-Exupéry, que faziam qualquer
esforço para entregar o correio, con-
siderado por eles como “sagrado”.
Com esse intuito foram inaugurados
os voos noturnos entre Buenos Aires
e Natal, passando por quase todas
as capitais do Brasil.
Verdadeiramente, tal decisão beira-
va a insensatez. Mas não aos olhos
do piloto-poeta que se serve do tema
também para falar das questões da
alma humana: “E agora, no coração
da noite como um vigia, ele desco-
bre que a noite mostra o homem:
esses apelos, essas luzes, essa in-
quietude...” Assim mencionou numa
cartinha à sua mãe durante a redação
da obra: “Estou escrevendo um livro
sobre a noite”.

Sem dúvida, há descrições lindas de


cenas que só são captadas na escu-
ridão, durante um sobrevoo; porém
a parte “prática” dos primeiros voos
noturnos na América do Sul não é
negligenciada. Não havia luz elétri-
ca nas escalas longínquas: muitas ve-
zes habitantes locais acendiam tochas
ou lampiões num terreno preparado
como “pista” para aterrissagem.

Da noite e sobre a noite, o roman-


ce de Saint-Exupéry foi um suces-
so inconteste e se tornou filme em
Hollywood (1934). No Brasil foi lan-
çado nos cinemas com o título “Asas
da noite”. Arrebatou um prêmio es-
pecial, o Femina, cujo júri era com-
posto apenas por mulheres. É curioso
que elas tenham escolhido um livro
tratando de um universo que na épo-
ca era quase totalmente masculino.
Todavia, em Voo Noturno se destaca
uma personagem feminina, a mulher
do piloto Fabien, protagonista, des-
crita de forma singela:

Aquela mulher também falava


em nome de um mundo absoluto
e dos seus deveres e direitos. O
da claridade de uma lamparina
sobre a mesa do jantar, de um
corpo que reclamava seu corpo,
de uma pátria de esperanças, de
ternuras, recordações.

Não é à toa que um perfume veio a


ser batizado de “Voo noturno” pela
Guerlain, que o fabrica até hoje.

Frasco do perfume Vol de Nuit e estojo que pertenceram a Saint-Exupéry.


Arquivos Succesion Saint-Exupéry-d’Agay
Ministério da Cultura e PRIO apresentam

apresenta

UMA EXPERIÊNCIA

SHOPPING
APRESENTA PATROCÍNIO OFICIAL
PRONAC 220897

MARKETING BILHETERIA
APOIO APOIO INSTITUCIONAL MEDIA PARTNER DIGITAL OFICIAL

REALIZAÇÃO

Você também pode gostar