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Todas as fotos e ilustrações contidas neste livro são de DOMÍNIO PÚBLICO.
Copyright © 2014 by Rodolfo Nunhez
Título Original
Take Me Higher
A Santos-Dumont Biography
E-book
Índice
Disclaimer
Índice
No Princípio
A Família Dumont
Estudos
Paris
Dirigíveis
O Prêmio Deutsch
O Primeiro Avião Completo da História
Demoiselle
O Automóvel “Santos-Dumont”
O Adeus de Santos-Dumont à Aviação
Os Últimos Dias de Santos-Dumont
Cotações de Santos-Dumont
Tabela de Invenções
Nuvem de Nomes
Websites
No Princípio…
No princípio era o Céu, e o Céu era alto. Tão alto que sonhar em um dia voar
pertencia somente àqueles que não mais se deleitavam com os meros reflexos da
Caverna de Platão. A dor de olhar a luz compensou, e assim partiram, em uma
jornada de provas e mortes. Um preço mortal aos que um dia sonharam em
emprestar asas de pássaros, de todos os formatos e tamanhos, ainda assim, sem
conseguirem sair do chão. Que forças mantêm a nós, humanos, no chão? Se o
Céu é a morada dos anjos, porque não nos é dado o direito de voarmos?
Desde os tempos mais remotos os homens vinham tentando voar por meio de
instrumentos por sí construídos, mas nenhum parecia completar esta tarefa
satisfatoriamente. Não foi um único homem moderno que tornou a aviação
possível. Ao contrário, foi um grande número de pessoas devotas que ao longo
dos séculos se esforçaram em assentar uma ou duas pedras para revestir as vias
aéreas de hoje.
Na Grécia antiga, Ícaro ganhou um par de asas feitas por seu pai, Dédalo, mas
o sol escaldante derreteu sua cera e Ícaro caiu de seu vôo.
Henry Cavendish
O segundo balão de Giffard não teve tanto êxito. O inventor teve uma crise
nervosa e cometeu suicídio.
Gaston e Albert Tissandier, assim como os Capitães Renard e Krebs, foram
as únicas tentativas realizadas após as de Giffard. Os Tissandier eram cientistas
de grande notoriedade em função de seus experimentos em balões esféricos para
estudos das altas regiões da atmosfera. Gaston e sua equipe tiveram um trágico
acidente com seu “Zenith” em 1875 alcançando a altitude de 8.600 metros
resultando na morte, por asfixia, de Sivel e Croce-Spinelli, tripulação de Gaston,
sendo este o único sobrevivente.
Em 1885 os Capitães Renard e Krebs lançaram o “La France”, um balão
fusiforme contendo um balonete de Meusnier, motor elétrico alimentado por
uma pesada bateria, gerando 8.5hP. “La France” só voava em tempo calmo,
desta forma, muito poucos vôos foram realizados.
La France – 1884
Lawrence Hargrave
Samuel Pierpont Langley
Otto Lilienthal
Estas são apenas algumas das pessoas e seus inventos registradas pela história
antes da fabulosa jornada de Alberto Santos-Dumont no mundo dos
equipamentos mais pesados que o ar e sua preciosa contribuição para a aviação
moderna.
A Família Dumont
Henri, muito inteligente, não teve qualquer problema financeiro durante sua
estadia na França formando-se em Engenharia Civil pela Escola Central de Artes
e Ofícios de Paris - École Centrale des Arts et Métrier aos 21 anos de idade.
Depois de formado, Henri regressou a Minas Gerais onde trabalhou em obras
públicas como engenheiro na cidade de Ouro Preto. Ali conheceu sua futura
esposa, Francisca Santos, filha do Comendador Francisco de Paula Santos, de
pais portugueses.
Francisca Santos
Alberto Santos-Dumont
Uma das diversas festividades folclóricas brasileiras acontece nos meses frios
de junho e julho. As mais interessantes para Santos-Dumont certamente eram os
dias dedicados a São João e São Pedro. À noite, a população se reúne nas ruas
para acender fogueiras, iluminar o céu com fogos de artifício e construir
pequenos balões de papel de uma infinidade de cores e formatos. Ao ver os
balões subindo reforçava em sua mente as aventuras de Hector Servadac e
dentro de poucos anos Santos-Dumont partiria a Paris e traria extraordinários
avanços à aviação.
Certo dia, em 1888, Alberto viu pela primeira vez um balão original e a ideia
de voar tornou-se ainda mais intensa para Santos-Dumont.
Em 1890, durante inspeção rotineira em sua fazenda, Henri Dumont teve um
acidente deixando-o hemiplégico. No ano seguinte, Alberto e seus pais viajaram
à Europa em busca de ajuda médica em um resort em Lamalou-les-Bains no sul
da França. Esta foi a primeira viagem de Santos-Dumont à terra de seus
ancestrais.
Boulevard Montmartre - Paris (1897)
Camille Pissaro
Infelizmente as condições de seu pai não eram muito boas e no ano seguinte,
em 1892, a família retornou à França em busca de novos tratamentos médicos.
No caminho, Henri piorou e tiveram que parar na cidade do Porto, em Portugal.
De lá os pais retornaram ao Brasil, mas aconselharam o filho que fosse a Paris e
lá fixasse residência.
Terça-feira, 30 de agosto de 1892. Henri Dumont falece no Rio de Janeiro e
Alberto, já residindo em Paris, recebe a devastadora notícia, incapaz de dar ao
seu amoroso pai seu último adeus.
Balão de Andrée
Desnecessário dizer, mas esta foi a leitura predileta de Alberto pelos próximos
meses. Assim que regressou a Paris foi direto ao escritório do construtor sendo
calorosamente recebido pelo Sr. Lachambre que disse ao Alberto que um vôo de
quatro horas lhe custaria 250 Francos com todas as despesas incluídas e mais,
sem a necessidade de contratos ou seguro. Negócio fechado! Bem cedo na
manhã seguinte ali estava Alberto Santos-Dumont no parque de Aerostação de
Vaugirard, pronto para acompanhar cada movimento e cada passo do Sr.
Lachambre, tornando esta experiência em uma rara aula prática.
O balão que utilizaram tinha a capacidade de 750 metros cúbicos de
hidrogênio.
Com a sensibilidade de um poeta, Santos-Dumont narrou seu primeiro vôo:
“(…) No mesmo instante, o vento parou de soprar. Era como se o ar ao
nosso redor tivesse parado. Isto ocorre porque havíamos partido e a corrente de
ar que estávamos cruzando comunicava sua própria velocidade. Eis aqui o
primeiro fato importante observado quando se voa em um balão esférico. Este
movimento imperceptível dá uma profunda e agradável sensação. A ilusão é
absoluta. Acredita-se que não é o balão que se move, mas a terra que foge por
baixo.
“Na parte inferior do abismo abaixo de nós, a 1.500 metros de altitude, a
terra, em vez de parecer uma esfera, assemelhava-se a uma tigela devido a um
fenômeno de refração que eleva a linha do horizonte ao nível dos olhos do
observador”.
(...)
“Vilas e bosques, campos e castelos encadeados como imagens em
movimento em cujo topo trens apitam longos e agudos sons. Junto ao som de
cães latindo, estes eram os únicos que nos alcançavam até o topo. A voz humana
não alcança barreiras tão solitárias. As pessoas pareciam formigas caminhando
sobre linhas brancas - as estradas; a linha de casas parecia brinquedos de
criança”.
Vista aérea
Esta primeira experiência foi tão positiva para Santos-Dumont que a partir de
então vislumbrou a possibilidade de construir seu próprio balão com
características específicas de peso. O Sr. Machuron lhe disse que sua fábrica
havia recentemente recebido seda japonesa de alta qualidade cujo peso era
insignificante, mas Lachambre alertou o jovem que a seda japonesa, mesmo
leve, era um tanto fraca. Para tirar a dúvida, Santos-Dumont pegou um
dinamômetro e verificou. Para surpresa geral, entendendo que a seda chinesa
suportava uma tensão igual a 1.000 quilogramas por metro linear, a japonesa
suportava uma tensão de 700 quilogramas, provando ser 30 vezes mais resistente
que o necessário baseando-se na Teoria da Tensão. Além do mais, em lugar de
um balão de 250 metros cúbicos, Santos-Dumont desejava construir um de 100
metros cúbicos. Os construtores estavam relutantes, dizendo que o equipamento
não voaria apesar de seu levíssimo peso de 50 quilogramas.
No dia seguinte, mãos ágeis começaram a confecção do primeiro balão de
Santos-Dumont batizado Brasil, projetado para somente uma pessoa – um balão
esférico de 113 metros cúbicos contendo um lastro de 52 quilogramas, com vôo
inaugural para segunda-feira, 04 de julho de 1898 no Jardim da Aclimação de
Paris, localizado no Bosque de Bolonha.
Balão Brasil
Após sua conclusão, o Brasil tinha capacidade para 113 metros cúbicos. Toda
a seda utilizada pesava 3,5 quilogramas, e com o verniz, um total de 14
quilogramas. A rede de proteção envolvendo outros balões pesava em média 50
quilogramas, mas a do Brasil somente 6 quilogramas, e a corda-pendente de 100
metros pesava 8 quilogramas. A âncora foi substituída por um arpão de 3
quilogramas.
“Brasil” na decolagem
Naquela época não apenas a França mas o mundo inteiro estava tentando
solucionar o grande problema da Navegação Aérea. Muitos inventores e
balonistas estavam tentando manter o controle direcional total dos aparelhos
voadores, sem obter muito avanço.
O Sr. Henry Deutsch, um multimilionário da área petrolífera e refinado
compositor, também um grande entusiasta da problemática em torno da direção
dos balões, estabeleceu um prêmio de 100,000 Francos para o balão que,
partindo do parque do Aero Clube em Saint-Cloud, contornando a Torre Eiffel,
retornando por uma rota pré-estabelecida de e para Saint-Cloud, no tempo
máximo de 30 minutos – uma distância de 11 quilometros, seria o vencedor.
Henri Deutsch
Santos-Dumont n.4
“Le Monde Moderne” – Janeiro de 1901
Santos-Dumont n.6
Santos-Dumont n.6
Santos-Dumont n.6
“Circular a Torre Eiffel levou muito tempo. O vento era contrário. O motor
que até aquele ponto estava funcionando bem quase chegou a parar. Por um
instante fiquei indeciso e tive que tomar uma decisão rápida. Correndo o risco
de desviar da rota, soltei o leme por um instante a fim de me concentrar no
gerador elétrico de faíscas do motor. O motor que quase havia parado retomou
força e finalmente alcancei o Bosque de Bolonha.
Lá, por um fenômeno bem conhecido pelos aeronautas, o ar resfriado do
Bosque tornou o dirigível progressivamente mais pesado e por uma infeliz
coincidência, o motor perdeu sua velocidade forçando-nos para o solo ao passo
que o motor reduzia sua rotação. Para compensar a descida tive que recolher a
corda-guia e os pesos móveis. O balão tomou uma posição diagonal e subiu
vertiginosamente.
Havia alcançado o campo de corrida de d´Auteuil. O balão voou sobre o
público com sua proa excessivamente alta e eu ouvia os aplausos entusiasmados
do público quando de repente meu motor temperamental retomou sua
velocidade. Em potência máxima, o motor causou um aumento do ângulo de
inclinação ainda maior. Os aplausos cessaram dando lugar a gritos de alerta”.
Santos-Dumont n.6
Santos-Dumont n.6
Depois de duras críticas por parte de alguns de seus amigos do Aero Clube
(mas não o Sr. Deutsch), Santos-Dumont decidiu resfriar relações com o Aero
Clube na mesma tarde do anúncio do prêmio.
“Paris, 04 de novembro, à tarde.
Sr. Presidente do Aero Clube.
Tenho a honra de apresentar meu pedido irrevogável de desligamento como
membro do Aero Clube...
Santos-Dumont.”
Santos-Dumont n.7
Santos-Dumont n.9 – Revista La Nature
Santos-Dumont n.9 no centro de Paris
Santos-Dumont n.10
Santos-Dumont n.11 - Monoplano
14-Bis de Santos-Dumont
Wilbur Wright, dos Estados Unidos, viu uma foto dos 14-Bis em um jornal
publicado simultaneamente na França e nos Estados Unidos e escreveu a Ferber
dizendo que na realidade Santos-Dumont não precisava carregar o peso do trem
de pouso se ele utilizasse uma catapulta, e que mediante o pagamento de U$
50.000 em espécie, ele prontamente iria à França para demonstrar sua decolagem
com catapulta. No entanto, os franceses estavam trabalhando no sentido de dar
condições aos aviões de executarem o vôo de forma independente,
especificamente decolar, subir, mudar de direção, descer e pousar; tudo com os
próprios meios da aeronave.
Demoiselle, de Santos-Dumont
Para melhor controlar o vôo, ele utilizava as mãos para o leme, e vestindo um
colete acoplado a um aparelho nas costas, ele conseguia envergar as asas
permitindo ao aparelho inclinar, e durante o pouso utilizava luvas grossas para
frear as duas rodas. O peso total do aparelho era de 120 quilos incluindo o motor
à combustão de 25hP, voando uma distância de 15 quilometros.
Demoiselle durante vôo
Demoiselle - Detalhe
“Se você deseja me fazer um favor, declare a seu jornal que tenho o desejo de
promover a aviação, portanto, disponibilizo as patentes de minhas invenções.
Cada pessoa tem o direito de construí-los, para tal, os interessados podem me
requisitar os desenhos. A aeronave não é cara. Nem mesmo seu motor – não
chega a 5.000 Francos”.
O Modelo “Santos-Dumont”
Em 1899 dois empresários americanos - Charles
Columbus Motor Vehicle Company – Ohio - USA
W. Groff e Frank Runken estavam realizando experimentos com um automóvel
que entrou no mercado americano em 1901. Foi somente no final do ano
seguinte que o nome do automóvel foi mudado para “Santos-Dumont” porque a
autorização do piloto para a utilização de seu nome a um produto comercial não
chegou tão rápido quanto o esperado. Para sua produção, a Columbus Motor
Vehicle Company juntou um capital de U$ 50.000.
O “Santos-Dumont” era um automóvel convencional seguindo as tendências
de outros modelos norte americanos do início de1900. O motor de 12-14hP,
montado sob o assento do motorista, era refrigerado à água, tinha dois cilindros e
tração por correia ao eixo traseiro, 4 ou 5 portas (Tonneau de entrada traseira). O
preço para varejo era de U$ 1.500 e pesava 839 quilos.
Uma versão menor foi lançada no ano seguinte ao preço de U$ 1.250. Em
março de 1903, a empresa se encontrava com problemas financeiros, sendo
resgatada pelo investidor William Frisbe, subindo seu capital para U$ 100.000
tornando-se o diretor presidente. Em 1904 a empresa lançou um novo modelo
com motor refrigerado à água, 4 cilindros, gerando 20hP e preço final de U$
2.000.
Em fevereiro de 1904 Frisbe rebatizou o modelo para simplesmente
“Dumont” mas a imprensa local se referia ao carro como “Columbus”. Mesmo
havendo diversas marcas de automóveis sob o mesmo nome “Columbus”, a
confusão certamente atrapalhava sua imagem mediante um mercado crescente e
tão competitivo.
Em outono de 1904 a empresa entrou em falência.
O Adeus de Santos-Dumont à Aviação
Março de 1910.
Após um pequeno acidente com seu Demoiselle, Santos-Dumont teve um
colapso nervoso. Desde seus primeiros dias na aviação, sempre superou cada
obstáculo levantando-se com o espírito valente de um genuíno conquistador e
gênio. Agora, por motivos desconhecidos, Santos-Dumont anunciou a seu
círculo de amigos mais íntimos que estava pensando em aposentar-se da aviação.
Para ele, mais chocante de tudo, foi a unânime aprovação de todos os amigos.
Santos-Dumont
Em seu escritório
Alberto Santos-Dumont.
(assinado)
Tobias Moscoso
Amauri de Medeiros
F. Labouriau
Frederico de Oliveira Coutinho
M. Amoroso Costa
Paulo de Castro Maia
(1) O Rio de Janeiro era capital do país antes de ser transferida para Brasília em 1960.
Como dito nos primeiros parágrafos desta biografia, por toda a história da
humanidade não foi uma única pessoa que criou o vôo. Ao contrário, foi uma
escadaria de difícil acesso, um degrau por vez, um degrau dando suporte ao
outro. No entanto, Santos-Dumont chegou quando o passo para permitir que o
avião voasse em sua totalidade não parecia um degrau, mas sim um paredão a
ser escalado, e ele conseguiu! Depois de alcançar o topo da escadaria ele estava
exausto, fisicamente e mentalmente, e em seu rosto havia lágrimas no lugar de
suor.
Seu trabalho não foi em vão, Santos-Dumont.
Todo o nosso agradecimento.
“A menos que um grão de trigo
caia ao solo e morra,
permanece apenas um só grão;
mas se morre, então dá muito fruto”.
(João 12:24)
Cotações de Santos-Dumont
Santos-Dumont
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