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ב"ה
À medida que a noite avançava, e nós dois tomamos vinho de Pêssach (ele mais do que eu),
senti uma oportunidade de responder ao dilema de Julian. Perguntei a ele se estava
familiarizado com o mais original e importante de todos os Koans. A palavra hebraica “Kohen”
significa sacerdote, referindo-se aos sacerdotes que serviam no Templo de Jerusalém.
No Templo Sagrado, havia dois tipos de serviço: o dos cohanim e o dos levitas. Os levitas
serviam a D'us com cânticos, cada dia compondo uma nova melodia para louvá-Lo. Os
cohanim serviam em silêncio. Por maior que fosse o poder da canção, não pode ser
comparada ao poder do silêncio. A quietude do serviço dos cohanim acessava a dimensão
mais íntima do Divino, cuja intensidade não pode ser contida nem mesmo na mais bela
melodia.
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07/12/2020 Silêncio além do sofrimento - Torá e Estudos
Sob a nossa limitada perspectiva, o som é mais alto que o silêncio. Sob o ponto de vista da
verdadeira realidade, o silêncio é mais poderoso que o som. Não porque D'us está mais
próximo do silêncio do que está do som, mas porque o silêncio nos proporciona a capacidade
de nos elevar acima de nossa limitada percepção e sentidos para vivenciar o sublime.
Agora, disse eu a Julian, vamos voltar ao seu primeiro Koan. “Uma mão entra na água, mas a
manga da roupa não se molha. Como?” A água pode ficar molhada? Não, porque a água já é
molhada. Sob a nossa limitada perspectiva, uma mão e uma manga secas que entram na
água ficam molhadas, porque seco e molhado são dois estados diferentes. A realidade, no
entanto, não é seca nem molhada e portanto inclui e integra ambas. Quando nos sublimamos
(“tevilá”, submersão num micvê, tem as mesmas letras que “bitul”, “auto-anulação” nas “águas
puras do conhecimento,” quando sentimos o silêncio, então nossa manga e nosso braço e
todo o ser não podem se molhar, pois somos a própria umidade.
Ao seu segundo Koan: “O touro inteiro colide com a janela e a cauda não. Por quê?” Deixe-me
perguntar a você: “Por que não? Por que a cauda deveria seguir?”
Um professor de Filosofia pediu aos seus alunos para escreverem uma dissertação
respondendo a uma pergunta: “Por quê?” Todos os estudantes, escrevendo longos ensaios,
erraram, exceto dois. Um deles recebeu um ‘A’ por ter respondido “Porque sim!” O outro
recebeu um ‘A+’ por ter respondido “Por que não?”
Todas as nossas questões “por que” originam-se do fato de começarmos com princípios
definidos que são “dados” e portanto perguntamos “por quê?” No entanto, sob a ótica de D'us,
aquilo que está além de todas as definições e paradoxos, qualquer questão “por quê”, e
quanto a isso qualquer pergunta é absurda. Perante D'us “por que não?” é a pergunta mais
apropriada.
O touro, nosso lado agressivo, colide contra uma janela. Nós, nossa lógica, espera que tudo o
mais siga batendo, incluindo a cauda. Quando a cauda não o faz, perguntamos: “Por quê?”
Meu amigo, eu disse, suspenda sua lógica e fique em silêncio. E agora, “por que não?”
O francês deu um salto na cadeira. “Claro! Após todos esses anos – é claro, é claro…” Ele
continuou resmungando consigo mesmo, intercalado com breves ataques de riso…
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Ficou sentado imóvel durante algum tempo. Então olhou para mim em silêncio. Um silêncio
que era mais alto que quaisquer palavras. E ele disse: “Então por que este D'us – o seu D'us –
permitiu o Holocausto?”
Fiquei quieto. Então olhei a verdade no olho – no meu e no dele – e lhe disse: “Você acaba de
acertar o maior de todos os ‘koans’. Tendo passado a vida inteira intrigado, procurando os
mistérios do ‘koan’, você está incomodado pelo supremo koan, o supremo paradoxo.”
Ele inclinou-se para mais perto de mim, olhando-me nos olhos, ouvindo com a maior atenção.
“Por que você está preparado para aceitar as experiências transcendentais que resultam dos
paradoxos intrínsecos inerentes a todos os Koans, porém não quer aceitar o paradoxo de um
D'us bom que permite o mal? Se D'us é realidade – a inteireza da realidade – não é possível
que D'us transcenda nossas limitadas definições de bem e mal? Ou seja, que D'us não seja
bem nem mal (na maneira que definimos os termos), nem “seco” nem “molhado” nem “sim”
nem “não”, e portanto não podemos perguntar “por quê” ou nem mesmo “por que não”.
“O motivo pelo qual você – e eu, e todos, sem dúvida – agonizamos sobre este Koan é que
este atinge um ponto… outros Koans são exercícios teóricos intrigantes e podem até levar a
alguma verdade mais importante. Porém, ao final do dia, vivemos e dormimos pacificamente
sabendo que nossa lógica não compreende o som de uma mão batendo palmas, ou a mão
seca na água molhada. No entanto, não podemos dormir em paz quando sabemos e sentimos
a agonia de crianças inocentes sendo impiedosamente gaseificadas, suas cinzas dispersas
pelo vento, seu sangue indefeso sendo absorvido pela grama do solo da Bavária.
“Este, meu amigo, é o supremo Koan. E não tenho resposta para ele. Nenhum de nós jamais
terá uma resposta. Na verdade, o próprio D'us talvez não tenha uma resposta que possamos
entender, e D'us, também, não dorme em paz. Quando os romanos torturaram os maiores
sábios e santos de seu tempo, fazendo-o com uma barbárie desenfreada, os anjos celestiais
clamaram a D'us: ‘Esta é a Torá e esta é sua recompensa?!’ D'us não deu qualquer explicação
teológica. Ele disse simplesmente: “Fiquem quietos…”
Julian inclinou levemente a cabeça. Olhou para mim durante uma eternidade. E não
pronunciou mais nenhuma palavra durante toda a noite. Eu também não.
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Porém, antes de ir para casa ele me disse à porta: “É tão difícil. O sofrimento é tão profundo...”
Somente mais tarde eu soube que aquele judeu francês, além de sobrevivente do Holocausto,
é um Cohen, um sagrado Cohen.
Rabino Simon Jacobson é autor do campeão de vendas Rumo a Uma Vida Significativa: A Sabedoria do Rebe
(William Morrow, 1995), e fundador e diretor do Meaningful Life Center.
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