Você está na página 1de 5

VIDA OFF-LINE

SOLITUDE 03/07/2021
INTRODUÇÃO
Existe vida fora da internet. Essa é uma informação que precisa ser relembrada
em dias como os que estamos vivendo. Não significa que seja mais real do que
o que vivemos enquanto estamos conectados, mas é bem diferente e continua
extremamente interessante. Eu diria que necessária. Você pode, inclusive,
estar assistindo essa mensagem por uma plataforma digital, e está tudo bem.
Nossa reflexão vai na direção do equilíbrio. Será que estamos aproveitando o
melhor que a vida “analógica” pode nos oferecer? Quais serão os espaços
onde o universo digital não alcança? Além dessas indagações, queremos ainda
te convidar para desacelerar um pouco o consumo de dados, respirar e, como
numa jornada, caminhar um passinho de cada vez em direção a uma
espiritualidade mais madura. Você aceita?

INTRODUÇÃO À MENSAGEM

As variadas telas que ficam diante de nós quase que o tempo todo trazem
consigo uma enxurrada de informação. O computador permite abrir várias
abas, com o celular abrimos e fechamos aplicativos diversos, fora a antiga
conhecida televisão, que agora é até “inteligente”. Fones de ouvido com ou
sem fio, levam direto para os nossos tímpanos a música do momento, o jornal
de hoje, aquela conversa entre pessoas que eu nem conheço e até mesmo
uma voz suave lendo a Bíblia ou me mandando respirar calmamente até pegar
no sono. Pareceu quase maluquice, mas a verdade é que estamos rodeados
de um volume altíssimo de ruídos de todo tipo. Mesmo quando estamos “a
sós”, estamos ligadíssimos com outras pessoas à distância de alguns megas
do pacote de dados da nossa internet. Eu não sei você, mas já me peguei sem
conseguir ouvir meus próprios pensamentos. Como ouvir a voz de Deus em
meio a tanto barulho externo? Como saber o que eu mesmo preciso, se nunca
fico realmente a sós comigo? É sobre isso que vamos refletir hoje. Por isso
agora pare um minuto, respire, e vamos à leitura bíblica.

TEXTO: LUCAS 5.15-16


15 Mas as notícias a seu respeito se espalhavam ainda mais, e grandes
multidões vinham para ouvi-lo e para ser curadas de suas enfermidades. 16
Ele, porém, se retirava para lugares isolados, a fim de orar. (NVT)

EXPLICANDO O CONTEXTO RAPIDAMENTE

Jesus havia acabado de curar um homem leproso. Embora ele houvesse


pedido ao homem que não contasse quem ou como ele fora curado, o texto no
v.15 nos aponta que a fama de Jesus só crescia. As pessoas o procuravam por
conta do desespero da enfermidade, da miséria e da fome. Jesus não tinha
espaços vagos na agenda. Ainda assim, há diversas passagens de atitudes de
“retirada de cena”. Ficar a sós com o Pai era uma prática para além do comum
da vida do nazareno, era uma necessidade, algo que Ele tratava como
prioridade. A partir dessa breve leitura, gostaríamos de considerar alguns
apontamentos sobre a solitude, baseando-nos também na vida de Cristo como
um todo.

1 – SOLITUDE É A PRIMEIRA DISCIPLINA

Este texto e outras passagens que tratam da vida devocional individual de


Jesus usam a expressam de que “ele se retirava” ou “se afastava” para lugares
isolados. Não é possível falar em solitude sem falar em silêncio. E não estamos
falando de solidão e mudez. “O simples refrear-se de conversar, sem um
coração atento à voz de Deus, não é silêncio” (Foster). Nossa mente pode
estar extremamente barulhenta, até mais que nosso redor. Com o vício digital,
mensagens chegando, notícias atualizadas a cada minuto, também fica bem
difícil ficar realmente sozinha(o). Precisamos urgentemente de uma prática
pessoal de pastoreio dos nossos pensamentos – a disciplina do silêncio é
fundamental para uma espiritualidade madura e saudável.

"SEM SOLITUDE, É PRATICAMENTE IMPOSSÍVEL VIVER UMA VIDA


ESPIRITUAL. NÃO LEVAMOS A VIDA ESPIRITUAL A SÉRIO SE NÃO
RESERVARMOS ALGUM TEMPO PARA ESTAR COM DEUS E OUVI-LO."
Henri Nouwen

(Experiência de visitar catedrais sozinha) - Onde queremos chegar? “O silêncio


precede a palavra” (Ludovico) – a voz criativa de Deus rompe o silêncio no
momento da criação. Assim, a primeira disciplina, que nos permitirá estar em
atenção completa, prontos para a ação criadora e transformadora do Espírito, é
a prática do silêncio. Sabemos que precisamos orar, ler a Palavra de Deus,
ouvir a voz do Senhor. Não é uma tarefa fácil, aproveite os pequenos
momentos possíveis do dia. Eu tenho certeza que, se procurar, irá encontrar.

2 – SOLITUDE ELIMINA O MEDO DA SOLIDÃO

“Nosso medo de ficar sozinhos impulsiona-nos para o barulho das multidões.”


(Foster). Jesus não temia estar só, ele sabia que jamais estava sozinho.
Diferente do que na maioria das vezes fazemos, buscando aprovação das
pessoas e admiração, seguidores, visibilidade, Jesus nos dá o exemplo de
satisfação e disciplina de estar a sós com o Pai. A *conjunção adversativa,
palavra que indica contrariedade, “mas” “porém” “entretanto”, coloca a prática
da solitude em oposição ao barulho da multidão. Oposição. A atitude de Jesus
é um exemplo claro de contracultura. Jesus não busca uma atividade religiosa
barulhenta, carente de reconhecimento, ele se recolhe para estar a sós consigo
e com Deus. É ali que Ele é mais do que reconhecido. É na retirada que ele se
recarrega de sua verdadeira identidade, aquilo de que Ele mais precisa: a
presença exclusiva do Pai. A partir dali estará pronto para enfrentar mais uma
boa dose de agitação cotidiana. Mas não é a multidão que reconhece quem
Cristo é, é a voz do Pai: “Este é o meu Filho em quem tenho grande alegria”.

“NO SILÊNCIO E NA SOLITUDE, PODEMOS ENFIM LIBERTAR-NOS DA


TIRANIA DO FAZER E DO TER, E ENCONTRAR NO SER A VERDADEIRA
IDENTIDADE.” Osmar Ludovico

(Resultado da pesquisa insta) Experimente retirar-se sem medo. Experimente


agir em silêncio, deixando que Deus tome o controle. Se tememos o aparente
desamparo do silêncio, é porque precisamos nos libertar da auto-justificação.
Falamos muito, buscamos muita aprovação desnecessária. Retire-se para o
lugar onde você é completamente conhecido e reconhecido: na intimidade do
silêncio com o Pai.

3- SOLITUDE PARA VIVER RELACIONAMENTOS MAIS SAUDÁVEIS


“Podemos começar admitindo que não sabemos ouvir a Deus, nem a nós
mesmos e nem o próximo” (Ludovico). Jesus se retirava para um momento
particular de oração. No silêncio da madrugada, ele poderia nutrir seu precioso
relacionamento com o Pai. Quando compreendemos que o que nos preenche,
o que nos define, é a presença de Deus e o que Ele quer de nós, estamos
completos. Quando sabemos quem somos, não tememos ficar em nossa
própria companhia, chegamos à maturidade para nos relacionar. Mais que isso,
estamos habilitados à escuta. Ouvir mais, falar menos. Somos faladores
compulsivos – orações longas, oratórias incríveis, discursos e réplicas.

“DE FATO, SE UMA ORAÇÃO NÃO COMEÇAR NAS ENTRANHAS, NO


SILÊNCIO E NA SOLITUDE, ELA JORRARÁ SOMENTE DA BOCA PRA
FORA.” Osmar Ludovico

Ouvir é o mais forte sinal de consideração e respeito. Aquiete-se. Silencie.


Apresente-se diante de Deus em silêncio reverente. Deixe que o Espírito Santo
encontre os locais mais sombrios do seu interior, os locais que costumamos
esconder sob barulhos e distrações. A partir daqui, deixe que as palavras
brotem em sincera oração, na consciência de que Ele te conhece de maneira
plena. Não fuja, não tema. Melhor que nós mesmos, Ele é quem pode nos
conduzir pelo caminho de vida.

“OUVIR É O MANDAMENTO ZERO. POIS SÓ É POSSÍVEL AMAR QUANDO,


ANTES, OUVIMOS QUE ELE NOS AMA.” Osmar Ludovico

CONCLUSÃO

Silenciar e afastar-se é fundamental. Esta não é uma série de mensagens para


condenar nosso modelo de vida contemporâneo. É para buscar equilíbrio.
Cada tempo traz o seu próprio tipo de ruído. Precisamos, sim, PRECISAMOS
nos desapegar da busca incansável de estímulos sensoriais para preencher
espaços que, na verdade, nem existem. Precisamos amadurecer. Precisamos
seguir o exemplo de Cristo, de buscar nosso equilíbrio entre o estar só com
Deus e estar com a multidão – seja ela física ou digital. Precisamos parar para
ouvir o que Deus, aquele que nos ama verdadeiramente, quer de nós. Ouvir as
batidas do coração de Deus. Não se trata meramente de uma prática de
esvaziamento mental, é uma disciplina do coração que anseia a presença do
Mestre.

Você também pode gostar