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INTRODUÇÃO
Existe vida fora da internet. Essa é uma informação que precisa ser relembrada em
dias como os que estamos vivendo. Não significa que seja mais real do que o que
vivemos enquanto estamos conectados, mas é bem diferente e continua
extremamente interessante. Eu diria que necessária. Você pode, inclusive, estar
assistindo essa mensagem por uma plataforma digital, e está tudo bem. Nossa
reflexão vai na direção do equilíbrio. Será que estamos aproveitando o melhor que a
vida “analógica” pode nos oferecer? Quais serão os espaços onde o universo digital
não alcança? Além dessas indagações, queremos ainda te convidar para
desacelerar um pouco o consumo de dados, respirar e, como numa jornada,
caminhar um passinho de cada vez em direção a uma espiritualidade mais madura.
Você aceita?
INTRODUÇÃO À MENSAGEM
Existem algumas experiências que não precisam ser publicadas para que sejam
validadas. Fale se aquela crise de riso que você teve, com seus amigos ou sua
família, se deu tempo de lembrar que existe um celular? Além disso, existem
memórias de sabores, aromas e assuntos que você jamais irá esquecer. Estão
cravadas no seu coração e na sua mente. Essas experiências, muitas vezes,
acontecem ao redor da mesa. Numa refeição cotidiana ou numa celebração, a mesa
nos leva à intimidade. Conhecer a cozinha da casa, sentar-se a mesa, é sinal de
intimidade. Por isso, queremos convidar a todos e todas a desligarem um pouquinho
as redes e se sentar à mesa. Temos o habito de culpar a falta de tempo para não
desfrutar dessas pequenas celebrações diárias. Então sente-se conosco, nós
queremos partilhar esse breve tempo com você.
Quando chegou a hora, ele se pôs à mesa com seus apóstolos e disse-lhes:
“Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco antes de sofrer; pois eu
vos digo que já não a comerei até que ela se cumpra no Reino de Deus”.
Esta é a famosa cena da última ceia. Lindo né? Este é o cenário e o próprio
acontecimento principal do texto lido. Jesus estava em suas últimas horas de vida
antes de ser preso, julgado, crucificado e morto.
E isso não é por acaso, é cheio de significado. No mundo judaico, a mesa tem
várias simbologias, não é apenas um lugar de tomar refeições. Ela é um ponto
central na vida familiar e nas demais relações. Alguns pesquisadores vão dizer que
a mesa não é apenas um lugar onde uma necessidade física é suprida, mas é um
lugar que gera um acontecimento social e comunitário. Para um judeu, o momento
de sentar-se à mesa é um momento que estabelece comunhão não só com os
outros, mas com Deus também!
Quando chegou a hora, ele se pôs à mesa com seus apóstolos e disse-lhes:
Jesus era um jovem judeu famoso, que sempre atraia multidões, que era desejado,
procurado, querido por um grande número de pessoas (ao mesmo tempo em que
possuia alguns hater’s também). Se Jesus fosse criar um perfil no instagram, ele
teria muitos seguidores, diversos likes nas fotos do seu feed. Imagina quanto
engajamento teria uma foto de quando ele estava andando sobre as águas… O
ponto é que mesmo tendo toda essa fama e uma grande visibilidade, a aposta
principal de Jesus era na intimidade dos encontros com as pessoas. Jesus nos
ensina que o principal não é se preocupar com o que os outros vão ver ou achar de
nossas experiências e encontros, mas que o principal é tentar extrair o máximo do
momento vivendo-o com intensidade, intimidade e profundidade. (fechar a geladeira
com o pé)
As festas judaicas, como a Páscoa aqui em foco, nos apontam para tempos
sagrados. Cumprir rigorosamente os rituais das festividades colocavam o povo em
um ambiente de celebração e adoração, era o tempo de se lembrar de Deus. “A vida
judaica poderia ser definida como a santificação do tempo [...] é nos domínios do
tempo que o homem pode encontrar a Deus”. Reclamamos da falta de tempo.
Vivemos relacionamentos superficiais e desgastantes porque não consideramos
quão sagrado é o tempo que passamos com as pessoas. Jesus não queria apenas
informar que seu sacrifício estava chegando. Ele reservou um tempo especial,
íntimo, de atenção especial para aquele momento. Jesus ensinou que o tempo com
quem amamos é um tempo santo, sagrado. Pode ser comum, cotidiano, mas jamais
será um tempo banal.
"MAS TUDO QUE A GENTE AMA EXISTE SOB A MARCA DO TEMPO" Rubem
Alves
Aplicação: Com o que ou com quem estamos gastando nosso precioso tempo? Com
quem estamos desejosos de nos encontrar? Estamos conscientes de quão precioso
é o tempo que temos com as pessoas? (O último adeus a gente nunca sabe que
seria o último). – história do vô no hospital.
pois eu vos digo que já não a comerei até que ela se cumpra no Reino de
Deus”.
O Reino de Deus era algo que o povo estava esperando. Era uma promessa de
libertação que há muito era aguardada. Aqueles homens, com o próprio Cristo,
estavam na mais privilegiada posição: saber o que seria esse Reino. Diferente de
tudo que poderiam imaginar, o Reino era iniciado ali, na ceia pascal, com 13
homens simples. Jesus gasta ali um tempo precioso dando suas últimas instruções -
como os textos revelam em João 14-16. Em todos os demais Evangelhos essa ceia
é lembrada. Não porque foi um evento incrível, não por conta da multidão, ou de
algum milagre, ou qualquer outra aparição fantástica. Este momento fica marcado
pois, a partir dali, nasce a identidade dos apóstolos que levariam a comunhão “Em
memória de mim”.
“Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez
disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes
tornei conhecido.” João 15:15
Gostaria de te convidar para assistir essa cena. Jesus rodeado por seus amigos
mais chegados, Jesus com um tempo contado, chegado seu martírio. Ele resolve
gastar um tempo de extrema qualidade, profundidade e intensidade. O Reino que Ele
inicia é um Reino de partilha, de comprometimento de vida. Jesus não quer ser o
Senhor de uma comunidade de empregados, Ele quer ser o Rei onde os que fazem
parte são seus amigos, conhecem seus planos, seu coração. Um Reino de tempo
sagrado, de intimidade, de mutualidade. Pode ser à mesa, nas escadarias do templo,
nas estradas, nos becos, aqui hoje. Cristo instaura em volta do lugar mais acolhedor
da casa um Reino de amigos.
CONCLUSÃO
Se este fosse seu último dia, onde estaria a sua mesa e quem você chamaria para
passar esse jantar? Você se preocuparia em tornar público? Fazer as melhores
poses?
Viva como Jesus, cercado de pessoas amigas ou não, mas aos próximos abrindo-se
para a partilha: das coisas, dos sonhos, das alegrias, das angústias. Sente-se com
aqueles e aquelas que não tem nada também a te oferecer: pecadores, cobradores
de impostos, prostitutas e “impuros”. Valorize aqueles e aquelas que você pode
chamar no monte das Oliveiras para chorar o drama da Paixão, mesmo que eles
durmam. Chame para a mesa, sente-se à mesa de quem te chama também. O
tempo é curto, e não cabe em 15 segundos ou 10 fotos. Procure intencionalidade,
coloque as pessoas antes das telas. Este é um Reino de amigos, pois é na amizade
que estamos prontos para compreender o mistério da reconciliação.