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NATAL/RN
2022
ANA CLARA DOS SANTOS OLIVEIRA COSTA
E Arestas
N Nós
WC Contagem de Palavras
PE Arestas paralelas
RE Arestas repetidas
L1 Ciclos de um nó
L2 Ciclos de dois nós
L3 Ciclos de três nós
ATD Grau Médio Total
LCC Maior Componente Conectado
LSC Maior Componente Fortemente Conectado
LA Língua Adicional
L1 Língua Materna
L2 Segunda Língua
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
PISA Programa Internacional de Avaliação de Alunos
SAEB Sistema de Avaliação da Educação Básica
ANA Sistema de Avaliação da Educação Básica
CLIL Aprendizagem Integrada de Conteúdo e Linguagem
TOM Teoria da Mente
QI Quociente da Inteligência
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TALE Termo de Assentimento Livre e Esclarecido
ELA Artes da Língua Inglesa
SD Desvio Padrão
M Média
n Número de participantes
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO………………………………………………........…………………………11
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA………………..........…………………..14
1.1 Bilinguismo e Educação Bilíngue…………………………….........……………..14
1.1.1 Conceitos e Modelos de Bilinguismo…………………………………..........…..…..14
1.1.2 Principais conceitos em Educação Bilíngue……………………………..…............17
1.1.3 Tipos de Educação Bilíngue……………………………….…………………...........19
1.2 Biliteracia………………………………………………………………….........……….23
1.2.1 O desenvolvimento da Leitura ………………………………….……………...........24
1.2.2 Alfabetização, Letramento e Literacia……………………..........…………………..26
1.2.3 Como acontece a Biliteracia ………………………………..........………………….30
1.3 Análise de Grafos aplicada ao contexto bilíngue……………..........…………….36
1.3.1 A teoria de Grafos…………………………...………………………….........……….36
1.3.2 Os atributos da Análise de Grafos………………………………..........…………….39
1.3.3 Análise de grafos aplicada a estudos sobre bilinguismo e biliteracia.…...........….40
CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA………………………….........……………...………….42
2.1 Perguntas de pesquisa, objetivos e hipóteses………..........…………………….42
2.1.1 Participantes e contexto da pesquisa…………………..........………………….…..43
2.2 Instrumentos e procedimentos de coleta de dados……..........……………...….46
2.2.1 O screening da proficiência na segunda língua (Teste de proficiência de
Cambridge “Starters” adaptado em formato “Kahoot”)…………..........…….…………...46
2.2.2 Testes de Leitura de L1 e L2 (Running Records - Reading A to Z e texto da Lontra
- Adaptado do Projeto Acerta) …………………………….....................…………...…….47
2.2.3. Tarefas de produção oral para medir a conectividade de fala por meio da Análise
de Grafos (SpeechGraphs)…………………………………………......................………50
2.3 Instrumentos e Procedimentos de Análise de dados…...........……………….…52
CAPÍTULO 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO………….........…………………..….…55
3.1 Os efeitos da biliteracia sobre a conectividade de fala em L1 e L2….…...............…55
3.2 O impacto da biliteracia sobre a fluência e compreensão de leitura em L1 e
L2…………………………………………………………………………….........……..……61
3.3 A relação entre atributos de conectividade de fala e medidas de leitura na L1 e
L2...............................….…………………………………………….................……….…69
CONCLUSÃO….…………………………………………........……………………………74
REFERÊNCIAS….………………………………………………........………………….…76
Introdução
1
L2 = segunda língua (nesse contexto, a língua inglesa)
Dessa forma, como problemática, este estudo busca investigar os efeitos da
biliteracia simultânea com estudantes do 5º ano numa escola bilíngue. As perguntas
desta pesquisa são: quais são os efeitos da biliteracia sobre a organização do
pensamento em português e em inglês como segunda língua, medida por atributos de
conectividade de fala? Ainda, quais são os efeitos da biliteracia simultânea sobre a
habilidade de leitura em L1 e L2 de crianças em contexto de educação bilíngue? E, por
fim, qual a relação entre as medidas de conectividade da fala a as medidas de leitura
nas duas línguas?
Como objetivos desse estudo, temos o geral, que é investigar os efeitos da
biliteracia simultânea na conectividade da fala e na habilidade de leitura de aprendizes
do 5º ano do Ensino Fundamental. Além disso, os específicos são, investigar os efeitos
da biliteracia sobre a conectividade de fala, comparando atributos de grafos na L1 e L2;
examinar o impacto da biliteracia sobre a fluência e a compreensão de leitura em L1 e
L2 e analisar a relação entre atributos de conectividade de fala e medidas de leitura na
L1 e L2.
Esta dissertação está organizada em três capítulos, além da Introdução e da
Conclusão. No primeiro, intitulado Fundamentação Teórica, tratamos de bilinguismo e
educação bilíngue, biliteracia e teoria de grafos. Primeiramente, revisamos conceitos e
modelos de bilinguismo, a partir dos trabalhos de García (2009), Grosjean (2013),
Brentano e Finger (2020), Hopewell e Escamilla (2015), Baker e Wright (2017), entre
outros. Discorremos sobre como o conceito de bilinguismo foi sendo construído e
atualizado ao longo do tempo.
Em seguida, ainda na Fundamentação Teórica, apontamos os principais
conceitos acerca do bilinguismo e os tipos de educação bilíngue. Nesta seção,
observamos o conceito de educação bilíngue como práticas comunicativas usadas em
escolas com propósitos que variam, de modo a favorecer o ensino e a aprendizagem
dos alunos através do uso de duas línguas e sua bidirecionalidade (García, 2009).
Na sequência, tratamos da biliteracia, iniciando pelo desenvolvimento da leitura
discutindo como o cérebro aprende a ler, trazendo a hipótese da reciclagem neuronal e
como ocorre a leitura no cérebro (Dehaene, 2012). A seguir, descrevemos os conceitos
de alfabetização, letramento e literacia; para isso, utilizamos como referencial teórico
Soares (2003), Morais (2020), dados do relatório de 2016 do Sistema de Avaliação da
Educação Básica – Avaliação Nacional de Alfabetização (SAEB/ANA), produzido pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Scliar-
Cabral (2022) e dados do PISA (2018), acerca do panorama atual da alfabetização no
Brasil. Por fim, fazendo uma revisão de literatura sobre estudos em biliteracia, (Ahmadi,
Khoii e Taghadosian (2015), Escamilla et al. (2014), Williams e Lowrance-Faulhaber
(2018), avaliamos as possíveis vantagens da biliteracia simultânea.
Ainda na Fundamentação Teórica, trazemos a teoria e análise de grafos,
relacionando com a linguagem oral, apresentando seus atributos, elementos e a forma
como são interpretados em estudos publicados previamente (Mota et al., 2012, 2014,
2016 e 2018), Luz (2018), Lemke et al. (2021), Leandro (2021) e Deiró (2021). Nesse
tópico, buscamos observar se o atributo de conectividade da fala (LSC) pode ser usado
como preditor do desenvolvimento dos alunos na linguagem oral e na leitura de L1 e L2.
No segundo capítulo desta dissertação, tratamos da metodologia da pesquisa,
trazendo as perguntas de pesquisa, objetivos e hipóteses, os instrumentos e
procedimentos de coletas de dados e, ainda, os procedimentos de análises de dados.
No último capítulo, apresentamos os resultados e a discussão, iniciando pelos
efeitos da biliteracia sobre a conectividade de fala em L1 e L2, seguindo com o impacto
da biliteracia sobre a fluência e compreensão de leitura em português e inglês, e
concluindo com a relação entre atributos de conectividade de fala e medidas de leitura
na L1 e L2. Por fim, a conclusão deste trabalho aponta limitações e sugestões para
estudos futuros, com base nos resultados desta pesquisa e na sua relação com
pesquisas anteriores na área.
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Podemos citar cinco definições de bilinguismo, de acordo com García (2009), que
refletem o desenvolvimento histórico desse conceito: Bloomfield (1933), na primeira
metade do século passado, argumentava que apenas pessoas com níveis de controle
nativos nas duas línguas seriam consideradas bilíngues. Duas décadas depois,
Haugen (1953), sugeria que até mesmo o menor nível de proficiência nas duas línguas
já seria um sinal de bilinguismo. Na mesma época, Weinreich (1953), apresentava o
bilinguismo como um fator presente em pessoas que alternam entre as duas línguas e
Diebold (1964), por sua vez, designou como bilíngues aqueles que estão começando
a adquirir alguma competência em outra língua. Por fim, já no início deste século, Baker
(2001) aponta o bilinguismo como a habilidade de usar mais de uma língua.
Dessa forma, considerando a flexibilização do conceito de bilinguismo ao longo
do tempo, podemos apontar dois modelos, o subtrativo e o aditivo (GARCÍA, 2009). O
primeiro, trata de uma abordagem com base na linha do monolinguismo e escolas
monolíngues, nas quais acredita-se que quando as crianças aprendem uma língua,
deveriam deixar um pouco de lado a outra, da seguinte forma: L1 + L2 - L1 -> L2. O
segundo modelo, o aditivo, descreve o bilinguismo quando uma língua adicional é
integrada ao repertório do aprendiz, e as duas línguas utilizadas e mantidas, como
apontado pela autora mencionada: L1 + L2 = L1 + L2.
Numa outra perspectiva, temos ainda mais dois modelos de bilinguismo, o
recursivo e o dinâmico. No primeiro, acontecem as práticas de uso das línguas;
enquanto que o segundo modelo seria considerado o modo mais aproximado das
demandas da atualidade. Segundo García (2009, p.53), entende-se que diante da
complexidade do século XXI, o bilinguismo envolve um ciclo bem mais complexo no
qual a prática das línguas são múltiplas e ajustáveis ao modo multimodal multilíngue
do ato de comunicar. Assim, com base nos autores mencionados acima,
compreendemos que os conceitos de bilinguismo vão sendo moldados em suas
diferentes perspectivas ao longo do tempo, demonstrando que é um processo
dinâmico, com contextos e modelos diferentes.
Bilíngues utilizam as línguas que aprendem em diversos tipos de situações e com
diferentes finalidades de comunicação. Assim, para Grosjean e Li (2013, p.7), bilíngues
geralmente adquirem e usam suas línguas para diferentes propósitos, em diferentes
domínios da vida, com pessoas diferentes. Diferentes aspectos da vida geralmente
exigem linguagens diferentes. Diante dessas variáveis de intencionalidades distintas
dos aprendizes e de fatores individuais como aptidão, tempo de uso das línguas,
contextos, idade, entre outros, conhecer e aprimorar conceitos de bilinguismo é uma
prática contínua, que muda e se aprimora ao longo do tempo.
O bilinguismo envolve tanto o conhecimento como o uso de duas ou mais línguas.
Ao descrever bilíngues sabemos que podem ter níveis de fluência distintos no uso das
línguas; assim, bilinguismo não se trata de dois monolíngues em uma mesma pessoa,
e sim, de uma prática entre línguas que se complementam (Grosjean, 1989). Dessa
forma, seus níveis de fluência em cada língua se desenvolvem de acordo com as suas
necessidades e uso, normalmente variando entre L1 e L2.
Nesse sentido, Grosjean (1989) aborda o princípio da complementaridade,
quando menciona o uso das línguas em situações e com intenções que podem variar
a depender do objetivo comunicativo. Com isso, uma língua complementa a outra, e
estas estão relacionadas, assim, cada língua é ativada e o bilíngue torna-se falante-
ouvinte. Então, ele escolhe qual língua irá utilizar para se comunicar com o interlocutor,
e acessa a outra língua quando necessário, sendo que os fatores como situação,
assunto e o tipo de interação irão moldar esse uso alternado entre as línguas do
bilíngue.
Portanto, as línguas podem ser aprendidas em paralelo, ainda que em graus
diferentes. Esse uso das línguas também é adaptado aos contextos, quando os sujeitos
bilíngues se comunicam na escola, ou com parentes, situações de trabalho, viagens,
em esportes, ou saídas para lazer, entre amigos, de tal modo, moldando seus discursos
de acordo com as situações comunicativas, numa visão holística de bilinguismo, na
qual o conhecimento de uma língua está contribuindo com o da outra. Segundo
Hopewell e Escamilla (2015, apud Baker e Wright 2017),
Temos observado cada vez mais as escolas aderirem à opção bilíngue. Nesse
contexto, esse fator nos leva a fazer uma pergunta: considerando os conceitos sobre
bilinguismo discutidos na seção anterior, “Como definimos Educação Bilíngue?” Para
Brentano e Finger (2020),
Subtrativo Transitória
L1 + L2 - L1 → L2
Aditivo Manutenção
L1 + L2 = L1 + L2 Prestígio
Imersão
Concluímos, assim, que diante das variações de contextos nos locais onde
acontece a Educação Bilíngue/Multilíngue, é importante estruturar um formato que melhor
atenda aos aspectos específicos dos aprendizes e suas necessidades de uso das línguas,
para que possam desenvolver habilidades e competências de modo a se comunicar e
exercer sua cidadania.
1.2 BILITERACIA
“[...] cada região cortical, por sua conectividade, sua plasticidade, seu
viés genético inicial, possui propriedades adaptadas a sua função.
Conforme o modelo de reciclagem neuronal, a aprendizagem cultural
jamais reverte totalmente esses vieses. Ela os contorna de modo mínimo
a fim de que eles possam preencher um papel novo.” (DEHAENE, 2012,
p. 167)
Segundo Wilson (1996, apud LUZ, 2018), a Teoria de Grafos corresponde a uma
ramificação matemática que trata da relação entre elementos de um conjunto. Para
Mota et al (2012), um grafo representa uma rede com nós conectados por arestas; no
caso da linguagem, os nós correspondem às palavras e as arestas correspondem às
relações semânticas e gramaticais entre essas palavras.
O uso dessa abordagem como uma ferramenta de análise dos elementos de um
conjunto iniciou a partir do matemático suíço Leonhard Euler, que estudou sobre grafos
buscando resolver o problema das pontes de Königsberg. Como descreve Luz (2018,
p. 59), discutia-se, na cidade, a possibilidade de atravessar todas as pontes, sem repeti-
las, nesse caso, o estudioso criou um grafo, denominando as pontes como retas e seus
cruzamentos em pontos (nós).
2
SpeechGraphs - software desenvolvido por membros do Instituto do Cérebro (UFRN), por R.
Furtado, P. P. C. Maia, N. B. Mota, S. Ribeiro, M. Copelli e D. F. Slezak, disponível para download
gratuito em https://neuro.ufrn.br/softwares/speechgraphs.
densidade registra quão condensados os nós se encontram, o diâmetro, aponta quão
estreito é o arranjo dos nós e o menor caminho médio estabelece a extensão média
dos tecidos textuais.
Por fim, de acordo com Mota et al. (2018), os atributos de conectividade são o
Grau Médio Total (ATD), que estabelece a média de relações que os itens lexicais de
um texto estabelecem entre si, o Maior Componente Conectado (LCC), que mede a
conexão entre as palavras do grafo, e o Maior Componente Fortemente Conectado
(LSC), como o maior número de nós direta ou indiretamente conectados por caminhos
recíprocos. (Leandro, 2021). Esses dois últimos atributos têm sido usados nos estudos
que mencionamos aqui, como em Mota et al., 2016 e 2019), para medir padrões na fala
de crianças para apontar o alto grau de conectividade como indicador de maior
desempenho cognitivo, como nos estudos que revisamos a seguir.
2. METODOLOGIA
Fonte:
https://create.kahoot.it/details/4d5e4e06-2c92-4feb-8fa3-903746287f56
O teste tem perguntas com opções de respostas de múltipla escolha, com quatro
opções (a, b, c ou d). Os estudantes têm tempo para ler a pergunta, observar a imagem
e responder a cada questão.
Ao final, o kahoot gera um arquivo com resultados em percentuais de cada
pergunta e por participante que realizou o teste, este resultado é gerado em formato
excel e/ou pdf. O arquivo com resultados oferece a quantidade de respostas corretas
de cada questão e participante, assim como as questões respondidas e o resultado
final.
Por fim, esta tarefa foi escolhida para gerar dados de triagem acerca da
compreensão de leitura em L2. Portanto, pensamos em um formato apropriado para os
participantes tanto no vocabulário quanto na quantidade de questões e tempo para a
realização do teste.
A seguir, abordamos as tarefas que escolhemos para medir a leitura em portguuês
e inglês. Os testes apresentam formatos semelhantes em quantidade de palavras de
perguntas.
Fonte:
https://www.raz-kids.com
Uma vez que no 5º ano, a expectativa de nível de leitura dos alunos pode variar,
de acordo com as letras propostas para classificar os níveis de leitura do programa
Reading A to Z (Raz-Kids), utilizado no bloco ministrado em inglês, o nível escolhido foi
o da letra “U” para a tarefa de leitura na L2, por se tratar de uma média entre os níveis
esperados para os alunos nessa série. Ao realizar o teste, os participantes receberam
o texto e realizaram a leitura silenciosa, em seguida, a pesquisadora fez em média
cinco perguntas de compreensão do texto, em inglês.
Uma vez que o objetivo da escolha e aplicação dessa tarefa é de coletar dados
para medir o nível de leitura e compreensão dos participantes em inglês, os marcadores
descritos na parte superior da Figura 4, como autocorreção, significado, erros, estrutura
e visual, não foram avaliados durante a realização da leitura silenciosa dos alunos;
apenas medimos o tempo e perguntamos as questões sobre o texto ao final.
Para coletar dados de leitura e compreensão em português, utilizamos um texto
sobre a lontra (SARAIVA, R; MOOJEN, S; MUNARSKI, R, 2007), também usado no
Projeto ACERTA3. O texto selecionado consiste de 157 palavras e 8 perguntas de
3
O projeto ACERTA foi financiado pelo Observatório da Educação/CAPES e surgiu com o
propósito de melhor entender as mudanças que ocorrem no cérebro das crianças em fase de
alfabetização. O coordenador geral do projeto multicêntrico foi o Dr. Augusto Buchweitz, da PUC-
RS.
compreensão; portanto, com medidas de número de palavras no texto e quantidade de
perguntas de compreensão semelhantes ao teste de leitura de L2, realizado em inglês,
com um dos testes do programa Raz-Kids.
No caso do texto em L1, além da parte escrita para a leitura silenciosa dos alunos,
utilizamos também uma figura da lontra, que é apresentada impressa e colorida aos
participantes antes da realização da leitura. Na ocasião, perguntamos aos estudantes
se conheciam o animal e o que sabiam sobre ele, como forma de verificar o
conhecimento prévio e instigar curiosidade para a leitura a seguir.
Após a leitura silenciosa do texto em português, que também foi cronometrada
para fins de análise, realizamos 8 perguntas de compreensão de texto. Gravamos em
áudio todo o momento de respostas dos alunos para posterior correção dos acertos e
verificação de anotações importantes.
Ao final da aplicação das tarefas de leitura em L1 e L2, realizadas individualmente
com cada aluno, de modo que fazem a leitura em uma língua seguida da outra,
alternando a sequência entre os participantes. Para registrar os dados coletados na
aplicação desses testes de leitura, organizamos a seguir planilhas do google, conforme
a Figura 5.
Fonte:
dados da pesquisa
2.2.3. Tarefas de produção oral para medir a conectividade de fala por meio da
Análise de Grafos (SpeechGraphs)
Para coletar dados da produção oral dos alunos, com objetivo de medir a
conectividade da fala em português e inglês, realizamos tarefas com imagens
adaptadas do teste de proficiência de Cambridge. A tarefa consistia em observar as
figuras e a sequência, e a partir disso, contar a história de forma espontânea.
Os alunos realizavam essas tarefas em modo individual, assim, cada um era
chamado em uma sala, e junto a pesquisadora, recebia as instruções, e em seguida,
fazia a contação da história olhando para as imagens, ora em inglês, ora em português,
a depender da instrução (Figuras 6). No caso, a mesma história, das duas que
utilizamos, foram contadas nas duas línguas, em modo de alternância.
Fonte:
Teste de Cambridge 2018
Cada aluno era orientado a fazer o reconto de duas histórias, uma em inglês e
outra em português, reconto seguido, que tinha uma sequência de imagens, e a ordem
era alternada entre os alunos. Se o primeiro aluno iniciava contando uma das duas
histórias na L2 e terminava contando na L1, o aluno seguinte iniciava com L1 e
terminava na L2.
Durante a realização das tarefas de produção oral em L1 e L2, as falas dos alunos
eram gravadas em áudio. Após isso, salvas em google drive com nome do aluno e se
era na L1 ou L2. Posteriormente à aplicação das tarefas, cada áudio foi ouvido e
transcrito para texto, e então analisado no software SpeechGraphs.
Para organizar a sequência da participação dos alunos na realização das tarefas
de produção oral em inglês e português, escolhemos montar um arquivo no google
planilhas, em formato de quadrado latino, utilizando diferentes cores para observar qual
tarefa e/ou em qual língua cada estudante iria realizar, conforme a Figura 8.
O objetivo de escolher um modelo de quadrado latino para organizar a sequência
da realização das tarefas de produção oral foi de promover uma alternância e evitar a
repetição da mesma tarefa na mesma língua. Ao diversificar a sequência, pensamos
nesta como uma estratégia de tornar mais confiável a coleta de dados, evitando efeito
de ordem das tarefas.
Fonte:
Autora
Após a aplicação da tarefa em L1 e L2 com os 32 alunos participantes da
pesquisa, compilamos todas as gravações em áudios das narrativas das duas histórias
de cada um dos estudantes em arquivos no google planilhas, salvas em drive. Após
isso, realizamos a transcrição de cada áudio para texto escrito.
As transcrições de áudio para texto aconteceram da seguinte forma: a
pesquisadora ouvia o reconto e digitava em texto, pausadamente, um áudio por vez,
em L1 e L2. Os textos das transcrições eram salvos em google documentos, gerando
um link de acesso, anexado na planilha com os registros da coleta de dados por aluno.
Os arquivos de textos gerados nas transcrições foram salvos sem acentos e/ou
caracteres que não fossem as palavras limpas, sem pontuação. Em seguida, foram
salvos em formato txt. Esse formato de transcrição, texto e arquivo aconteceu para que
pudessem ser analisados no software SpeechGraphs.
Na última seção deste capítulo, detalhamos os procedimentos de análise dos
dados a partir dos quais realizamos o tratamento estatístico.
Fonte: Autora
A fim de medir a conectividade de fala nas duas línguas, algumas etapas foram
realizadas. Iniciamos pela verificação da normalidade na distribuição da amostra. Após
a retirada de um outlier, o teste de Shapiro-Wilk retornou positivo para normalidade. O
passo seguinte foi seguir com o teste paramétrico, Teste-t Pareado.
O Teste-t Pareado entre Português (n = 30, M = 44.1, SD = 11.14) e Inglês (n = 30, M
= 36.5, SD = 13.46), indicou que houve diferença estatisticamente significativa em LSC
entre as línguas, com vantagem para o Português (t (56): 2.38, p < 0.05). A Figura 8
apresenta esses dados.
Fonte:
autora
Fonte:
Autora
4
Segundo o suporte técnico na Minitab. LLC (2021), a correlação de Spearman avalia a relação
monotônica entre duas variáveis contínuas ou ordinais, em uma relação monotônica, as variáveis
tendem a mudar juntas, mas não necessariamente a uma taxa constante. O coeficiente de
correlação de Spearman baseia-se nos valores classificados de cada variável, em vez de os dados
brutos, enquanto a correlação de Pearson avalia a relação linear entre duas variáveis contínuas,
uma relação é linear quando a mudança em uma variável é associada a uma mudança
proporcional na outra variável.
Portanto, como foi reportado no capítulo 1 desta pesquisa, acerca da revisão de
literatura sobre os estudos de biliteracia, nossos achados dialogam com os estudos
que apontam vantagens para a biliteracia simultânea, que promove o uso de duas
línguas para aprender a compreender, falar, ler e escrever. Segundo Williams e
Lowrance-Faulhaber (2018), que analisaram cerca de 35 artigos sobre o tema, os
resultados apontam que a instrução na L1 e na L2 concomitantemente garantem
suporte uma à outra, através de um processo bidirecional.
Em seu estudo de revisão, Williams e Lowrance-Faulhaber (2018) verificaram que
os estudantes do modelo de biliteracia simultânea utilizavam estratégias como
translínguagem e transferências de habilidades na leitura e escrita. Assim como foi
observado em nosso estudo, a análise de dados apresentou resultados que
demonstram um desenvolvimento síncrono nas duas línguas, em modo bidirecional;
logo, favorecendo a aprendizagem tanto na L1 como na L2.
A título de ilustração, a Figura 10 apresenta grafos de duas crianças participantes
da pesquisa, uma que apresenta alta conectividade de fala na L1 e L2 e outra com
baixa conectividade de fala nas duas línguas. No exemplo ilustrado com grafos, foi
analisado o atributo de conectividade, o LSC = maior componente fortemente
conectado, ou seja, o componente com o maior número de nós direta ou indiretamente
conectados por caminhos recíprocos.
primeiro o paul se despede dos pais porque vai in the story after the dinner they go to the room
ficar com a avo ai depois eles vao jogar tenis e because they said that the boy have a present
ela ganha e vai para a praia correndo para so then he open its a giant battery so he plays
chegar em casa e o paul tenta seguir ela ai out loud the parents need to cover because its
quando ela chega vai jogar video game e ele too much loud
ja dormiu de tanto cansaco
uma familia estava na sala celebrando o it had a couple that had a son his name was
aniversario de seu filho com seus amigos eles paul paul is saying goodbye to his parents
estavam se divertindo tinha bolo comida ate o because he was spend the whole day with his
gato tava em seguida eles foram ver os grandma first they went to play a game and
presentes entao eles encontraram uma caixa they used hacketball to play the game after
amarela com bolinhas laranjas e um laco azul paul and his grandma went to do a walk the
turqueza era bem grande todos se grandma was really happy to spend the day
perguntaram o que era quando eles abriram with paul so she went way up high in the hill
viram que o menino tinha ganhado uma bateria and paul was trying to go after her then they
de aniversario o bebe que estava com uma went to do horsing the grandma went far away
roupa amarela estava se divertindo com o they were in the beach so with the hot sun they
papel de embrulho enquanto o garoto got really really tired after when it was already
comemorava o seu presente todos night the grandma and paul was already in
comemoravam tambem em seguida quando ja home when the parents came paul was lying
estava de noite a festa tinha acabado o menino comfortably in the sofa while grandma was
comecou a tocar bateria so que estava muito excited playing video games
forte muito mesmo e ja eram oito horas da
noite entao os pais que estavam na sala
provavelmente vendo televisao estavam muito
incomodados com o barulho tudo estava
tremendo por causa dessa barulheira toda e o
nenem estava chorando ainda por cima entao
causou uma grande baderna
Fonte:
Software SpeechGraphs
Outro resultado que nos leva a concluir que a biliteracia simultânea, no caso dos
participantes desta pesquisa, traz benefícios para o desenvolvimento de ambas as
línguas foi o número semelhante de palavras (WC) produzidos pelos participantes nas
suas narrativas orais em L1 e L2. O teste de Wilcoxon entre Portugues (n = 31, M =
68), e Inglês (n = 31, M = 54), indicou que não houve diferença estatisticamente
significativa entre o número de palavras das produções orais nas duas línguas (W =
576, p > 0.05), reforçando, portanto, o aspecto positivo da biliteracia simultânea.
Fonte:
Autora
Fonte: Autora
Fonte:
Autora
Fonte: Autora
Fonte:
Programa Reading A to Z (Raz-Kids)
Fonte: Autora
Fonte: Autora
Fonte: Autora
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